sexta-feira, 26 de setembro de 2014

"Afflicted" (Clif Prowse & Derek Lee, 2013) Produto da determinação de dois amigos - que rodaram o filme com ajuda de familiares - este extraordinário suspense é prova de que todos os sonhos são possíveis desde que você acredite o suficiente!

Derek Lee & Clif Prowse são melhores amigos, e estão para se meter na aventura de suas vidas!Quando o filme começa, a dupla está celebrando com amigos. Na manhã seguinte, Derek & Clif se despedirão de suas obrigações pelo período de um ano, para encararem uma viagem por todos os mais cobiçados pontos turísticos do mundo. No total, a dupla deverá estar perfazendo trinta países em seis continentes, com direito `a Torre Eiffel, as Pirâmides do Egito & a Grande Muralha da China. Será uma aventura épica, e Derek sabe que esperou a vida inteira por uma oportunidade semelhante. Derek & Clif se conhecem desde a adolescência. Desde então, Clif exercitava o talento artístico rodando filmes amadores, onde sempre havia um papel para o amigo Lee. Vemos imagens desses filmes caseiros, ambos muito jovens, aos quinze anos, em cenas meio toscas de ação filmadas por câmeras amadoras. Profissionalmente, Clif & Derek trilharam caminhos diferentes - Clif não se distanciou de seu amor pelo cinema, e fez dos filmes um meio de vida, como diretor de documentários; Derek se apaixonou por Tecnologia da Informação, e por cinco anos permaneceu focado no trabalho, até se dar conta de que chegara aos trinta e poucos e a ideia de permanecer sentado numa escrivaninha na frente de um monitor não representava necessariamente o que imaginava para si pelo resto da vida - todavia jamais deixaram que os laços de amizade e companheirismo que os unia se afrouxassem. Derek percebe que se quiser realizar seu sonho, a hora é esta.

A decisão de Derek - reservar um ano de sua vida para a viagem ao redor do mundo - é muito corajosa. Há alguns meses atrás, após sentir fortes dores de cabeça, Derek foi parar no hospital, onde médicos realizaram uma ressonância magnética e diagnosticaram um vaso sanguíneo hipertrofiado no cérebro, uma raríssima condição que poderia colocar sua vida em risco. As probabilidades de algo sério ocorrer são modestas, menos de 4%, no entanto, como o próprio irmão Jason observa, Derek estará jogando com a própria vida. Encorajado por Clif, Derek não se deixa intimidar. Se realmente deseja ver o mundo, não haverá momento melhor, afinal ainda é jovem e sempre poderá voltar mais tarde ao trabalho com Tecnologia de Informação. Por ora, Derek precisa se divertir e conhecer o mundo. Não quero olhar para trás mais tarde e desejar ter feito algo melhor! Ele confessa. Antes de partir, consulta seu médico, que apoia a decisão, porém pede que se mantenha atento aos sinais: se Derek sentir alguma dor de cabeça muito forte, deve procurar imediatamente o hospital mais próximo.

Clif documentará toda a espetacular jornada e postará vídeos e fotos no blog interativo "Back in one year" (De volta dentro de um ano!) para que os amigos acompanhem cada momento da aventura. A galera poderá fazer comentários ou pedidos, e o animado Clif explica melhor Por exemplo, quando estivermos no Camboja e quiserem ver o Derek comendo grilos, não tenham vergonha de pedir!Na festa de despedida, a turma faz muita gozação com a dupla. Um dos amigos propõe um brinde e lhes deseja sorte, com uma brincadeira que faz todo mundo dar gargalhada Rapaz, que bom que finalmente vocês dormirão juntos!Derek homenageia o amigo lhe dando de presente uma pedra jade. Conforme a tradição chinesa, a pedra jade afasta maus espíritos, e jamais pode ser comprada, somente ganha. Derek tira um sarro ao se ajoelhar para entregar a Clif a lembrança, tal qual um homem quando vai propor casamento a uma dama. O clima é de muita expectativa e descontração, todos certos de que a viagem será um sucesso!


Primeira parada: Barcelona. A dupla começa a cruzada pela Europa via Espanha. Clif trouxe consigo um verdadeiro "estúdio improvisado": munido de várias minúsculas câmeras, esses caras não vão deixar nenhum instante mágico da aventura se perder!A dupla anuncia oficialmente o começo da "viagem de um ano" em frente à famosa estátua de Cristovão Colombo em Barcelona. Eles resolveram começar por Barcelona por causa de dois grandes amigos, Zach & Edo, músicos da banda de rock Unalaska, de passagem pela cidade em grande turnê. Os quatro se reunirão, e daí seguirão juntos para a França, onde a Unalaska fará shows em Paris. Antes da noite chegar, concordam em conhecer melhor Barcelona por um meio nada convencional, mas muito divertido, sobre um GoKart, um carrinho europeu semelhante a um pequeno buggie. Por dois dias, o quarteto se diverte, dias sempre ensolarados, noites cheias de agitação e paquera, em baladas onde conhecem lindas moças. Clif anuncia que as filmagens capturadas são belíssimas, de tirar o fôlego, e o mais importante é que Derek parece bastante feliz e despreocupado. Os amigos estão realmente fazendo valer todos os momentos. Chegam a saltar de paraquedas!

Uma semana mais tarde, o quarteto explora a vida noturna às margens do Rio Sena, na encantadora Paris. Ei, Derek, se você não traçar uma francesa bem gostosa esta noite, é melhor voltarmos para casa, o amigo Clif brinca. Zach e Edo avisam que têm um pressentimento de que Derek se dará bem na balada. O confiante Zach presenteia seus companheiros com preservativos, convicto do sucesso com as francesas. Em um ponto da boemia parisiense, a banda Unalaska realiza sua apresentação, enquanto Clif & Derek azaram garotas no bar. Derek se aproxima de uma moça de olhos tristes que lhe chama a atenção. À distância, Clif observa a tudo, e logo fica claro que a garota corresponde o interesse de Derek. Os dois começam a se beijar apaixonadamente em um canto, enquanto as pessoas se divertem com o show. Clif e os amigos músicos combinam de pregar uma peça no rapaz, invadindo seu quarto para dar o flagra.

O filme então "começa a ficar estranho". Clif e os músicos invadem o quarto em algazarra, mas ao invés de encontrarem-no namorando, dão com Derek sujo de sangue e inconsciente. Derek desperta meio atordoado, sem lembranças claras do que se sucedeu. A garota, chamada Audrey, sumiu misteriosamente, deixando para trás roupas e bolsa. Os amigos contemplam levá-lo ao hospital, porém Derek os assegura de que está bem. Na manhã seguinte, os músicos os levam para a estação de trem, e Derek & Clif seguem para a próxima parada, a romântica Itália. Clif posta no blog um vídeo cuja vista é de tirar o fôlego, à beira de recifes que dão para o mar. Derek sente-se cansado, e assim que chega à pousada, desaba na cama para dormir. Clif não leva a situação muito a sério, e até mesmo faz piadas no vídeo, afirmando que a menina havia sido boa demais para Derek e agora partira seu coração ao deixá-lo. Dois dias se passam, Derek metido no quarto sem interagir. Clif abre as cortinas, anunciando que o amigo já dormiu o suficiente, porém a luz do sol parece incomodá-lo. Derek desperta faminto, e os dois vão almoçar em um belo restaurante erguido na costa dos recifes e sobre o Mediterrâneo. Derek devora um prato generoso de pasta, mas se sente mal e começa a vomitar. Constrangido, deixa o local correndo, e Clif o segue para ajudá-lo.

Clif aconselha o amigo a procurarem um hospital. Os sintomas apresentados por Derek levam a crer em algum tipo de infecção viral. Derek subestima as manifestações, e joga a culpa em intoxicação alimentar, algo passageiro e sem importância. Na manhã seguinte, Derek acorda bem disposto. A aventura do dia consistirá num passeio sobre trilhos pela vinícola de Bartolo, um gentil morador grande entendedor de vinhos. Ali, mesmo as mais humildes casinhas são servidas por tonéis nos porões, a degustação de vinho faz parte da cultura local. Clif prepara câmeras para capturar as belezas do passeio pelos contornos da suave costa da cidadezinha mediterrânea. Durante o passeio, novamente o sol deslumbrante machuca Derek, e Bartolo o percebe bastante avermelhado, quase queimado. Derek refugia-se dentro do casebre, e somente a escuridão lhe devolve alguma paz. Mais tarde, Clif conversa com a câmera sobre não compreender a extensão do ocorrido nas vinhas, mas que precisa convencer Derek a voltar aos Estados Unidos, onde médicos saberão o que fazer. Clif pede para que Derek procure compreendê-lo. Como amigo, não poderia ficar com a consciência tranquila se não vocalizasse suas preocupações ou deixasse de fazer algo para impedir o processo. Frustrado, Derek desfere um soco na parede, sem se dar conta de sua nova, extraordinária força. O golpe arranca um pedaço da parede como se a mesma fosse uma lâmina de gesso, e deixa ambos perplexos.

Os dois "tiram a teima" naquela mesma noite, em um terreno de construção. Derek hesita, mas Clif pede que vá adiante e procure quebrar o obstáculo. Aos pés de Derek, um bloco maciço de pedra. Ele desfere um golpe semelhante a aqueles de karatê, e desintegra a rocha como se fosse feita de madeira de bálsamo. Depois, suspende uma van pesada sem esforço algum. Derek também atinge velocidades impossíveis. Clif sobe na moto e disputa uma corrida com o amigo. Derek precisa apenas da rapidez das pernas para batê-lo facilmente. Clif está estupefato, e pergunta ao amigo a sensação de viver como super herói. Embora inicialmente tivessem considerado voltar aos Estados Unidos, agora que Derek guarda poderes sem limites, os dois resolvem que a viagem ao redor do globo seguirá.

Os olhos de Derek se transformam, pois agora pode enxergar no escuro. O apetite retorna, e o vemos devorando o que há na geladeira. Jason conversa com Clif pelo skype. A família está preocupada, e confia a Clif a missão de convencê-lo a voltar. Clif insiste que apesar de o ter aconselhado a retornar, Derek está determinado a prosseguir. Quando Clif vai procurá-lo no quarto, Derek prega um susto ao saltar da parede: agora, o rapaz também consegue escalar paredes, tal qual o "Homem Aranha". Apesar das mudanças radicais, Derek sente-se muito bem. Durante a madrugada, Derek o leva para a praça do centro histórico onde há muitos prédios. Inicialmente, Clif não compreende o que o amigo deseja lhe mostrar, mas então Derek desata a correr e salta pelas marquises da igreja. Ele escala a enorme construção como se fosse a coisa mais simples do mundo. Ele salta entre prédios e não sofre um único arranhão. Quando ao caminharem desatentamente pelas ruas do centro fazem um automóvel em alta velocidade desviar, os rapazes descem e bancam os valentões. Derek empurra um dos garotos, que sai voando, e depois cuida do outro. Depois de lidar com os valentões, Derek se dá conta de que há sangue nas mãos, e as lambe. Clif faz o upload desse material no blog. Derek forra a janela de seu quarto com jornais velhos, e Clif o chama para uma conversa séria. O cineasta começa a imaginar a natureza do problema do amigo. Derek vinha pensando na mesma coisa.

Juntos, os dois pesquisam sobre vampirismo na internet. Apesar de possuidor de todo esse poder extraordinário e da assustadora possibilidade de estar se tornando vampiro, em seu coração, Derek segue o mesmo bom rapaz. Ambos citam Audrey como a provável fonte de contágio, afinal de contas as manifestações começaram logo após a bizarra noite, quando a moça o mordeu e então o deixou desacordado. Derek deve saciar a sede, e agora precisa de Clif para lhe arrumar sangue. No décimo quarto dia, Derek não consegue mais conter a fome. Derek volta com uma garrafinha de sangue de boi, que conseguiu do açougue. A garrafinha não dá nem para aplacar o apetite, ademais Derek põe tudo para fora. Como vampiro, o único tipo de sangue que lhe serve é humano, e fresco.

À caça de sangue, os amigos discutem a ética envolvida em consumir um animal de estimação. O rapaz antecipa que o cachorro deva ter um dono, e que não estaria levando em consideração seus sentimentos caso simplesmente apanhasse o primeiro bichinho que visse. Derek e Clif retornam às vinhas de Bartolo, pois se lembram de que ele criava porcos. Na calada da noite, Derek entra no chiqueiro sem fazer barulho e apanha um porquinho. Mesmo coberto de remorso, não tem escolha a não ser consumi-lo. Apesar de ter aplacado um pouco a fome, suspeita que somente a saciará a partir do momento em que consumir sangue humano. Derek nem contempla a possibilidade de matar um ser humano, portanto adota a estratégia menos macabra possível: assaltar o banco de sangue do hospital local. Usando seus poderes, Derek invade o banco sem dificuldades, mas ao entrar, encontra policiais preparados. Derek evade-se do local com Clif. Aparentemente, mesmo a Polícia Local vinha acompanhando os vídeos postados no blog Back in One Year. Os dois não sabem mais como proceder para arrumar sangue, quando sirenes acusam a aproximação casual de uma ambulância. Derek impede a passagem do veículo, arranca o motorista do assento e entra. Com a maior cara de pau, Derek pergunta à paramédica se há um pouco de sangue por ali!A jovem não sabe falar inglês, e na confusão, Derek perde a paciência e faz menção de atacá-la. Clif consegue segurar o amigo e ajudá-lo a raciocinar corretamente, convencendo-o a simplesmente deixarem a ambulância. Enquanto correm, Derek faz uma constatação aterrorizante, ao confessar a Clif que por pouco não matou a paramédica. Prometa-me que se eu piorar, você se afastará antes que eu o machuque, Derek faz Clif jurar.

Derek piora muito ao entrar nos últimos estágios da transformação. Apesar do perigo que corre, Clif sabe que dentro daquele corpo há resquícios do amigo a quem aprendeu a amar como irmão, e não se afasta. Decidido a ajudá-lo, Clif abre um corte no próprio corpo para extrair sangue e ajudá-lo. Ao procurá-lo no quarto, dá com a janela escancarada. Derek foi à caça, e o primeiro lugar em que Clif pensa são as vinhas de Bartolo. No galpão de ferramentas, Clif o acha, e quando vai oferecer a garrafinha, é atacado. Agora vampiro completo, Derek não tem como resistir à sede, e mata o melhor amigo. Ao cair em si, consumido pela culpa, tenta o suicídio, atirando contra a própria cabeça.

Derek é um vampiro, e portanto não pode morrer. Ele jamais se perdoará por ter matado Clif, e sente que a única maneira de pôr termo ao pesadelo será retornando a Paris para rastrear Audrey, a causadora de sua transformação. Já se passaram 22 dias desde que Derek e Clif chegaram à Europa. Determinado a prestar um tributo a Clif, Derek pretende gravar os próximos passos para que eventualmente o material de sua impressionante jornada seja descoberto. Correndo contra o tempo, Derek também precisa despistar a Interpol, agora em seu encalço por conta da invasão ao banco de sangue e a confusão com a ambulância. Os agentes batem à porta da pousada, e Derek salta pela janela do terceiro andar. Os agentes não acreditam no que veem. Derek põe-se em movimento; além dos agentes, precisa se esquivar da luz do dia. Mesmo sob tiros, empreende espetacular fuga pelas vielas da cidadezinha italiana. Ao despistá-los, Derek descansa na escuridão de um beco até a noite chegar.

À pé, após caminhar por toda a noite em direção a Paris, Derek chega a uma cidade a leste de Nice. Derek entra como clandestino em um trem e chega mais tarde à estação ferroviária de Paris. Ele também encontra um porão abandonado que oferece o básico - água, eletricidade - para a sua permanência, ao menos por um tempo. No blog, amigos preocupados postam mensagens pedindo que o rapaz se entregue. No site da Interpol, há mandados de prisão expedidos em nome de Derek Lee & Clif Prowse.

Derek deve encontrar Audrey, e nem sabe por onde começar a procurar, até revisitar as filmagens do documentário de Clif, que filmara todos os momentos. No registro da noite em que Derek fora encontrado desacordado por Clif e os músicos, o melhor amigo capturou imagens das roupas e bolsa de Audrey. Dentro da bolsa, Audrey deixou o celular. Derek compreende que precisa voltar ao hotel para procurar o celular. Para sua sorte, o hotel oferece serviço de achados & perdidos, e Derek encontra o aparelho. De posse do celular, quando vai deixar o hotel pelo hall, encontra o irmão Jason. O rapaz veio com a Interpol, preocupadíssimo com Derek, suplicante para que deixe aquela loucura e os acompanhe de volta à América. Muito emocionado, Derek pede para que Jason não se envolva, pelo próprio bem. Ao sair, encontra carros de polícia, mas agora com seus super poderes, dá-lhes "um chapéu", saltando sobre os mesmos e escalando a fachada de uma enorme catedral. No topo da catedral, há um agente da Polícia Parisiense. Na confusão, o agente perde o equilíbrio, e se vê dependurado na beirada. Mesmo vampiro, Derek corre para ajudá-lo. Ele lhe estende a mão e por alguns segundos consegue segurá-lo. Lamentavelmente, o policial não consegue escalar a beirada e despenca para a morte. Com a tragédia, os demais agentes da Interpol, sem entenderem que na verdade Derek tentou ajudá-lo, abrem fogo. Depois de uma fuga espetacular, Derek grava um desabafo para a família, e jura que quando tudo estiver acabado, voltará para casa.

Derek sofre de "crise de abstinência", e recolhido a um depósito abandonado, manda text-messages para todas as pessoas na lista de contato, na esperança de que Audrey venha a seu encontro. Alguns dias se passam, quando um homem da lista de contato responde e marca encontro em uma praça. Derek comparece, mas não se apresenta. Ele se limita a observar o estranho, e quando este deixa a praça para apanhar o trem, Derek o segue até sua casa. Ele o surpreende e o amarra a uma cadeira. Derek vê uma marca de mordida no ombro do estranho, e conclui que o rapaz, chamado Maurice, também é mais uma vítima de Audrey. Agentes das Forças Especiais fazem uma batida no prédio, e mesmo alvejado por tiros de metralhadoras, Derek derrota todos.

Passaram-se 28 dias, quase um mês, desde o começo da viagem, quando Audrey finalmente ressurge. Derek insiste para que lhe aponte uma saída, uma cura, porém uma vez que você se torna vampiro, não há retorno. Ela o aconselha a se alimentar, mas Derek diz que não é de sua índole matar inocentes. Com os olhos marejados, Derek declara que não conseguirá assassinar alguém a cada dez dias. Revoltado, o rapaz a ataca, mas é facilmente dominado. Audrey procura explicar que Derek faria melhor aceitando sua nova condição. Ele precisará aprender a matar, não em período de dez em dez dias, mas no máximo de cinco em cinco. Se você não consumir sangue humano semanalmente, você se tornará um verdadeiro monstro, e aí será pior, pois ao invés de matar alguém toda semana, matará muitos, todos os dias! Audrey o avisa. Há um consolo para o dilema moral de Derek, e Audrey explica Você não tem escolha, precisará matar, todavia poderá escolher quem matar. Quando Audrey se prepara para deixá-lo, Derek pergunta por que o escolheu. Audrey explica que ficou com muita pena de Derek na noite em que se conheceram. O fato de ele conviver com uma condição no cérebro que poderia causar a morte fez com que Audrey se atraísse pelo rapaz e procurasse ajudá-lo, concedendo-lhe vida eterna. 

A jornada de autoconhecimento de Derek conclui com um triste monólogo para a câmera. O rapaz grava uma mensagem final às pessoas a quem mais ama, mãe, pai e irmão. Ele diz que espera que uma vez de posse das imagens, a família possa ter uma melhor ideia do que lhe ocorreu. Ele pede perdão por todas as preocupações causadas, e declara seu amor incondicional. Agora como vampiro, não poderá regressar para os Estados Unidos. Derek deixa para trás a vida que conhecia, e se torna uma criatura da noite parisiense. Mesmo vampiro, ainda se conduz dentro de um código de ética, pois já que precisa se alimentar, escolhe somente a escória do submundo, de modo a poupar gente inocente. O filme conclui com gravações de um grupo de adolescentes locais se metendo em confusão e invadindo as vinhas de Bartolo à noite. Tudo parece tranquilo, até que são atacados por um monstro apavorante, que descobrimos tratar-se de Clif Prowse, agora também uma criatura das trevas. Em seu desfecho, "Afflicted" deixa muitas aberturas para continuações, quem sabe os dois melhores amigos, agora criaturas da noite, enfrentando-se em um duelo de morte, Vampiro do Mal contra Vampiro do Bem?!

Muito raramente, um pequeno filme produzido sob condições impossíveis surge do nada para deixar a comunidade cinematográfica boquiaberta ao tomá-la de assalto. Os exemplos podem ser enumerados nos dedos da mão, e posso lhes citar alguns. Recordo-me de 1986, quando o então jovem escritor e enfant terrible britânico Clive Barker, aos 34 anos, adaptou a versão cinematográfica de seu romance "The Hellbound Heart". Hellraiser, um dos filmes mais importantes do século XX, foi rodado a um custo de pouco menos de um milhão de dólares, porém a sua autoridade há de ser rivalizada quase trinta anos desde o lançamento. Mais tarde, James Wan estabeleceu-se como força imaginativa com o maravilhoso Sobrenatural - Insidious, e o gênero Horror passou `a sua Era mais produtiva, nas mãos de determinados cineastas do circuito independente tais como Rob Zombie e o time criativo por trás dos impecáveis V/H/S 1 & 2 (e atenção, pessoal, V/H/S 3: Viral vem aí). Pois bem, aqui está o exemplo clássico de um filme que sai do nada e imediatamente se reveste da autoridade que o alavanca ao panteão dos melhores. Produto direto da força de vontade de dois grandes amigos, "Afflicted" vem levando todos os prêmios dos principais festivais do cinema fantástico e botando as superproduções do ano "na vergonha". Seus méritos foram laureados nos Festivais de Cinema de Sitges (Espanha), Toronto & Austin. Com um modesto orçamento de trezentos e dezoito mil dólares - parte desse dinheiro oriunda de amigos & familiares - Clif Prowse & Derek Lee, cuja experiência anterior restringia-se a curta-metragem, mandaram-se para a Europa, para filmagens em Barcelona, Paris & Itália.

Em tempos onde Vampiros tornaram-se tema de superproduções recheadas de efeitos, Derek Lee & Clif Prowse resgataram suas raízes românticas e melancólicas em um filme de gestação mais datada e à velha moda, curiosamente acomodado às modernidades do século XXI, tais como blogs & facebook. Apesar de seu ritmo ágil, "Afflicted" veste um tom gótico e "road movie" muito bem coadjuvado pela estupenda fotografia da vida boemia na Europa. O filme me fez pensar em Um Lobisomem Americano em Londres, o clássico de horror de 1981 sobre dois norte-americanos de férias em North Yorkshire, Inglaterra, que ao visitarem as belíssimas colinas da região, acabam se perdendo em uma encruzilhada e são atacados por um lobo enorme. Apenas um escapa com vida, trazendo consigo a maldição do lobisomem. Um Lobisomem Americano em Londres se tornou um filme bastante querido porque mesmo em sua proposta aterrorizante, encontrou oportunidades para criar um protagonista bondoso e de valor por quem torcemos, contou uma doce história de amor entre o herói e a enfermeira britânica, e até mesmo nos brindou com o bom humor que deixou a aventura mais humana e palatável. Com "Afflicted", o relacionamento entre Derek Lee & Clif Prowse também irradia da tela de forma tão sincera que não temos escolha a não ser torcer por esses caras. A naturalidade com que contracenam talvez se deva à amizade que gozam na vida real. Imagens das fitas produzidas por Clif Prowse, quando ambos não deviam ter mais do que 15 anos e faziam pequenos filmes de ação caseiros bem toscos, corroboram a ideia de que se tratam de dois melhores amigos da vida real que felizmente encontraram juntos o caminho para a consagração. Apesar de essencialmente um filme sobre "monstros" (vampiros), "Afflicted" jamais é "inumano". Mesmo a roteirização de Audrey, uma personagem secundária que aparece apenas em dois segmentos, início e conclusão, não cai na armadilha fácil do clichê de vilões do Horror. A principal motivação por trás de sua mordida não se deve ao desejo de causar mal, mas sim à pena que sentia por Derek em razão de sua precária condição de saúde. Impressiona-me como este humilde filme de "monstros" consegue falar sobre temas tão importantes - verdadeira amizade, compaixão, amor de família - enquanto a grande maioria, muitas vezes que nem "monstros" traz, se torna tão superficial e descartável. Em sua origem criaturas trágicas e romantizadas, os vampiros foram banalizados em superproduções que entre outras ideias nocivas chegaram a metê-los em guerra contra lobisomens, os dois lados munidos de metralhadoras e coisas igualmente inócuas. Desde a noiva hidrófoba vivida por Sadie Frost em Bram Stoker's Dracula (foto) - um grande filme que nesta personagem trazia a representação mais tétrica da figura mitológica - vampiros jamais estiveram tão bem representados quanto no personagem de Derek Lee deste "Afflicted".

Um dos mais importantes segredos é fugir da superexposição. Steven Spielberg pode atestar a assertiva pela forma como regeu o seu Tubarão. Apesar de dar nome ao filme, a criatura mal aparece, no entanto a mera referência a sua existência eleva o suspense à potência máxima. Quando Ridley Scott dirigiu Alien O Oitavo Passageiro, mostrou ter aprendido a lição com o filme de Spielberg, e seu alienígena magérrimo, alto e macabro não fez mais do que uma "participação especial", muito embora nas poucas cenas em que tenha surgido, sua imagem tenha se tornado icônica. Muitos filmes se seguiram, o mais notório deles Aliens O Resgate, de James Cameron, que canhoneou as pessoas com superexposição de criaturas e todos os tipos de efeitos. Apesar do mérito de suas cenas de ação, Aliens O Resgate nem chega perto do horror puro evocado pela sutileza e absoluta maestria de Ridley Scott com sequências como a dos túneis, por exemplo, quando Capitão Dallas percorre os dutos atrás da criatura, e seus amigos, que o acompanham pelo radar, gritam para que dê logo o fora dali pois a criatura está se aproximando!Por mais que as pessoas mencionem Cabeça de Pregos como a primeira coisa que lhes ocorre quando escutam o termo Hellraiser, esquecem-se de que os cenobitas ocupam segundo plano para a história de horror envolvendo o triângulo amoroso entre Julia, Frank & Larry. Barker sabia que metade do caminho para o sucesso consistia no desafio de manter o mistério sobre as criaturas da caixa. Ao longo dos dois primeiros filmes, os cenobitas não foram menos do que verdadeiros milagres da Era Moderna, criaturas especializadas na arte do prazer pela dor. Depois que os direitos autorais foram vendidos aos norte-americanos e outras continuações inúteis vieram, os cenobitas perderam aquilo que lhes tornava especiais: o mistério. Ao tratar desse assunto - mistério - lembro-me de um filme que eu adorava, o King Kong rodado nos anos 70. Todo mundo conhece a história do King Kong. Os americanos viajam até a essa ilha distante, e contra os conselhos dos habitantes locais, capturam o King Kong e o levam à América, para explorá-lo em shows. Depois que apanham o King Kong e o colocam dentro do petroleiro para levá-lo à América, havia essa cena em que o personagem de Jeff Bridges lamentava o ocorrido, e dizia algo nas linhas de Olha, fulano, daqui a alguns anos, quando voltarmos a essa ilha, encontraremos toda essa gente destruída pelo álcool, bebida e tédio. Quando vocês pegaram o King Kong e o levaram embora, vocês subtraíram o mistério, o mito, das vidas dessas pessoas. Agora, nada resta. Na época, não compreendia o significado dessas palavras, mas depois de alguns anos, sim. Todos nós precisamos do mistério, dos sonhos, do fantástico, da esperança de algo extraordinário e maior do que nós mesmos para sobreviver. King Kong também foi um filme especial porque como poucos me fez debulhar-me em lágrimas. Eu era criança quando o vi na TV, mas me recordo das duas cenas que me afetam ainda hoje. A primeira envolvia King Kong exibido no grande show, quando o vemos dopado e indefeso, dentro de uma jaula gigantesca, com uma coroa de rei fajuta na cabeça, toda aquela gente tirando fotos, e Ele com os olhos assustados e confusos. A segunda, no final, dava-se quando Kong havia escalado o Empire State Building, e os helicópteros chegavam para derrubá-lo. A personagem da Jessica Lange chorava desesperada, querendo abraçá-lo, para que assim os atiradores o poupassem, só que o monstro que viera a amá-la prefere afastá-la para tomar os tiros e morrer sozinho. Mesmo hoje esses momentos me comovem, e se você assistir ao filme ao meu lado, se prestar muita atenção, escutará um barulho semelhante a vidros sendo quebrados, e será o meu coração se partindo em pedaços. Mesmo criança, quando assisti ao filme pela primeira vez, conseguia me pôr no lugar da criatura e imaginar como devia estar se sentindo; hoje, tenho certeza que sei. Com "Afflicted" Clif & Derek executaram maravilhosamente as duas cartadas de mestre referidas acima - primeiro, o termo Vampiro somente vem a ser mencionado depois de uns bons 30 minutos de projeção, a mitologia jamais é banalizada; segundo, os cineastas nos deram um "monstro" com coração, uma criatura fantástica por quem torcer e amar. Derek Lee & Clif Prowse nos devolveram o mistério.

Graças a seu estilo "travelogue", nos sentimos como terceiro participante mochileiro desta fantástica e misteriosa caçada através da encantadora Europa. "Afflicted" serve como um impressionante cartão postal para aquelas belíssimas regiões do mundo. Após o filme, os amigos provavelmente terão muita vontade de caminhar pelas atrações por onde os protagonistas passaram!A cinematografia deslumbrante é reminiscente da fotografia de guerrilha de obras primas modernas como Session 9 & 28 Days Later, tendência preponderante entre darlings do circuito de arte. A maneira que Derek Lee & Clif Prowse encontraram para envolver a Interpol e as Forças Especiais Francesas dão à trama um gostinho meio A Identidade Bourne, o suspense de orçamento épico que também envolvia um protagonista metido numa correria pelos mais pitorescos recantos do Velho Continente. Guarnecidos pelos efeitos mais modernos que vultosas somas de dinheiro tinham como proporcionar, os filmes da série A Identidade Bourne se superaram a cada novo lançamento, recheados por sequências cada vez mais inacreditáveis. "Afflicted" me espantou pela habilidade de reproduzir sequências semelhantes - se não melhores - onde você perde o fôlego ao assistir a Derek Lee escalando catedrais, correndo pelas sacadas de coberturas, despistando agentes armados das Forças Especiais, realizando proezas nas alturas, tudo documentado por câmeras em ritmo frenético. Pode até ser que as cenas mais cinéticas tenham sofrido manipulação visual, todavia não há um único segundo em que você imagine tratar-se de efeitos digitais. As sequências parecem chocantemente reais, e "Afflicted" dá uma surra em A Identidade Bourne. Também digno de nota, ao reduzir marchas durante instantes mais introspectivos, o filme ensaia o retorno à atmosfera que fãs do Horror geralmente procuram em clássicos de Dario Argento como Suspiria & Phenomena. Se não me falha a memória, recentemente, só outro suspense foi igualmente bem sucedido ao filmar a elegante boemia de Paris pelos seus mais favoráveis ângulos: Estranha Obsessão (La femme du Vèmme), de Pawel Pawlikowski. Ao analisar separadamente todas essas distintas facetas de "Afflicted", a maestria com que acomoda intriga internacional, suspense, mistério e vampirismo em um todo coeso e interessantíssimo de meros 85 minutos de projeção é um testamento à habilidade desses dois grandes diretores, que se aqui já criaram algo fantástico dentro de um modesto orçamento, têm tudo para se tornarem tão grandes quanto James Wan nos próximos anos!Aguardarei com expectativa pelo próximo projeto da dupla, temeroso quanto à perfeição de "Afflicted". Penso no talentoso Brad Anderson, que criou um dos filmes de horror mais impecáveis, Session 9, e em como foi incapaz de sustentar a mesma excelência nos projetos seguintes. Talvez seja um receio infundado: mesmo que não atinjam o mesmo ápice, ao menos com "Afflicted", tocaram a superfície da perfeição. Poucas são as pessoas que conhecem seus ápices, realizam seus sonhos. A existência de "Afflicted" prova que às vezes as circunstâncias mais felizes do mundo simplesmente se alinham, e você não pode desperdiçar a oportunidade. O sucesso deste filme, o triunfo de dois cineastas iniciantes cheios de paixão que produziram algo tão memorável, fazem com que Cinderela pareça uma história triste!Derek & Clif, vocês trabalharam duro e fizeram um filme maravilhoso com coragem, garra e paixão. Todo a felicidade do mundo para os dois, e que este seja apenas o primeiro capítulo de sua história de sucesso!

Todos os direitos autorais reservados a IM Global. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo desta resenha.

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