quinta-feira, 25 de abril de 2013

O Misterioso Assassinato de uma Família ("Atrocious", Espanha): a mente é um labirinto onde qualquer um pode se perder.


Cristian e July são dois irmãos adolescentes espanhóis que gostam de investigar lendas urbanas e compartilhar o produto das pesquisas em um site que mantêm, sobre o sobrenatural. No feriado da Páscoa, os pais os levam para a casa de veraneio da família em Sitges. Lá, os irmãos pretendem investigar a lenda de Melinda, uma menininha que teria se perdido no bosque da região, nos anos 40, e cujo espírito estaria assombrando a floresta desde então. No curso do fim de semana, uma emergência de trabalho força o pai a retornar a Madri e a deixar a família para trás na casa de veraneio. Depois que o pai parte, acontecimentos inexplicáveis começam a se suceder, deixando os irmãos bastante assustados. O cachorro do irmão menor José desaparece, e pouco depois aparece morto dentro de um poço. Os dois adolescentes passam a acreditar que o ataque foi obra do espírito da garota. Eles começam a registrar com as câmeras os desdobramentos da investigação no bosque. Os acontecimentos esquisitos apenas se agravam, até a última e trágica noite em que Cristian e July são impiedosamente perseguidos por uma figura armada de machado. Cinco dias mais tarde, a Polícia encontra os corpos despedaçados de Cristian, July e José, e os tapes com as imagens do que foi capturado pelas câmeras, que elucidam a natureza da ameaça que vitimou a família.

Este interessante filme espanhol dirigido por Fernando Barreda Luna, exemplar do gênero “found footage”, foi lançado em DVD no Brasil pela PlayArte sem muito alarde, mas é uma excelente pedida para os fãs de filmes de horror. Parte do charme se deve à dupla de artistas principais, que interpreta os adolescentes Cristian e July, e aos mistérios do bosque onde a história foi filmada. Assistir a este filme é tão atmosférico e saboroso quanto escutar a contos de assombrações com os amigos ao redor da fogueira, talvez pelo fato de o filme se descortinar aos olhos (e câmeras) de três crianças. O diretor foge à previsibilidade, concluindo o filme com uma surpresa realmente inesperada: muito embora o enredo sugira alguma presença sobrenatural causadora das perturbações que afligem a família durante o fatídico fim de semana, o segredo acaba por se revelar muito mais aterrorizante do que a presença de espíritos.

A memorável sequência final esclarece o mistério. Depois que Cristian e July são perseguidos à noite pelo labirinto do bosque e conseguem alcançar a casa principal, acabam por se separar: Cristian procura se refugiar no quarto de cima e July é morta no andar de baixo. O garoto permanece trancado por um bom tempo, até que começa a ouvir uma voz vindo da sala de estar. Relutante e apavorado, em dado momento da madrugada, resolve descer as escadas para investigar a origem do rumor. No aparelho de televisão, compreende que a voz que escutava tratava-se da narrativa de um psiquiatra sobre um caso em particular, sobre uma paciente que sofrera um surto esquizofrênico quando do nascimento da terceira filha e matara o bebê. Segundo a explicação, a paciente insistia que quem matara a filha fora uma estranha a quem batizara Elvira. Elvira, na verdade, era a própria paciente, que parecia sofrer de distúrbio dissociativo (múltiplas personalidades). Ao examinar melhor as imagens, o rapaz fica chocado: a paciente em questão é a própria mãe, que no passado sofrera de problemas mentais e com o tempo viera a melhorar a ponto de levar uma vida praticamente comum. De alguma forma, o pai mantivera este trágico capítulo do passado muito bem camuflado e esquecido. O filme conclui com a cena da mãe surgindo desapercebida na sala e despedaçando o filho a golpes de machado. Assistindo ao filme uma segunda vez, as pistas que o diretor colocou aqui e acolá sobre a culpabilidade da mãe parecem mais claras: há uma cena onde a vemos dormindo com a luz do abajur acesa, o que confere com a informação posterior de que a personalidade de Elvira tendia a tomar conta da mente da mulher à noite. Por isso, desenvolvera o hábito de dormir com as luzes acesas - para evitar o "retorno" de Elvira. De uma forma geral, todas as cenas em que aparece com os filhos, antes da revelação, sinalizam a sua vulnerabilidade psíquica. Que o pai tenha deixado os filhos com a mãe, sozinhos, conhecedor do histórico prévio de doenças mentais da esposa, representa o único detalhe incompreensível deste impressionante filme. Talvez caiba ao pai o famoso ditado Quem com fogo brinca...
Todos os direitos autorais reservados a Celluloid Dreams. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo desta resenha.

Um comentário:

  1. Péssimo filme, fotografia escura, cansativo, sem nexo. Perda de tempo!

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