sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A Árvore da Maldição.


Olá, pessoal. Hoje, o objeto da resenha será o filme The Guardian – A Árvore da Maldição, do aclamado diretor William Friedkin. Lançado pela Universal no começo dos anos 90, o filme não foi bem acolhido, e de modo geral, foi tomado como mais um exemplar da fase criativa ruim de seu diretor, que depois de ganhar prêmios da Academia por Operação França, de 1971, e O Exorcista, de 1973, jamais conseguiu capitalizar o momentum gerado por suas duas primeiras grandes obras. De toda sorte, pouco importa que The Guardian tenha sido meio que esquecido pelo público: é um filme de horror interessante, atmosférico, divertido e cheio de estilo, e que merece ser redescoberto. Da mesma maneira que, por exemplo, você assiste a um filme e graças ao estilo pode afirmar com convicção que foi dirigido por um gênio como Brian de Palma, você pode afirmar o mesmo sobre Friedkin, que guarda um olhar somente seu, uma personalidade forte refletida na sua obra e que causa impressão.

Baseado no romance de Dan Greenburg, The Guardian foi lançado em 1990 pela Universal, um período onde filmes do gênero faziam muito dinheiro para os estúdios. No ano anterior, Pet Sematary gerara muitos dividendos, trazendo para a Paramount quase sessenta milhões de dólares nas bilheterias. The Guardian foi concebido nesta onda criativa de horror, mas os lucros na bilheteria ficaram aquém do esperado. Depois de uma breve passagem pelo cinema, onde gerou dezessete milhões de dólares, foi esquecido nas prateleiras de vídeo.

Uma pena. Muito embora Friedkin não tenha criado uma obra tão memorável quanto O Exorcista, realizou um filme muito habilidoso e com alguns momentos realmente assustadores. O filme revolve um jovem casal de classe média, aos seus trinta e poucos anos, felizes pais de primeira viagem, cheios de expectativa pela chegada do bebê. Uma jovem britânica aparece na porta da casa, dizendo-se indicada por uma determinada agência de babás, e imediatamente angaria a simpatia do casal, apesar de mais tarde a esposa fazer um comentário brincalhão com o marido, sobre como sentia que estava cometendo um grande erro ao contratá-la, pois Camila, a babá, era uma jovem muito bonita – e uma concorrente em potencial.

Mas o fato de Camila ser bonita e interessante acaba sendo o menor dos problemas. Este não é um filme sobre casos extraconjugais. O diretor William Friedkin explora a lenda dos druidas, sacerdotes oriundos da sociedade celta, adeptos da filosofia natural, que tinham na árvore do carvalho o seu grande guia, adeptos de sacrifício humano. Pouco se sabe sobre essa sociedade, mas os sacerdotes celtas tinham uma ligação muito forte com a natureza, e acreditavam na sua magia. Coisas bizarras começam a se suceder, depois que Camila se muda para dentro da bela casa à beira do bosque. Ela parece muito ligada ao bebê, e em dado momento chega até mesmo a lhe dar de mamar. Depois de uma recepção para os amigos, o vizinho, jovem arquiteto, conhece Camila e se interessa pela moça. Ao investigar sobre a babá, o rapaz desaparece misteriosamente. Acontecimentos inexplicáveis passam a se suceder. O pai começa a olhar com mais atenção para as peças do quebra cabeça, e as investigações o levam a uma sofrida senhora cujo filho fora sequestrado anos antes, e que jura que foi Camila, então com outro nome, a responsável.

A previsibilidade é compensada pela habilidade do diretor veterano, que concebe momentos memoráveis. O destino do tal vizinho, que some misteriosamente, é particularmente assombroso, muito bem executado. Uma noite, ao procurar por Camila para convidá-la a sair, a avista de longe, entrando no bosque. Grita por ela, mas a babá parece não o escutar, e então a segue. É quando ele testemunha a moça em um ritual druida aos pés de um enorme carvalho. Surpreendido por Camila, o rapaz é perseguido - do bosque para sua casa, por lobos, e por uma força sobrenatural que prova se materializar em todos os cantos - até ser finalmente morto dentro de casa. É interessante, uma vilã assustadora que tem a seu favor o misterioso comando sobre a fauna e a flora local. Os lobos obedecem a seus comandos, e as árvores de carvalho têm vida!Pode parecer um pouco tolo, mas nas hábeis mãos de Friedkin não o é. O cineasta também faz excelente uso de música, nos moldes do que aconteceu com os filmes recentes de horror A Entidade e Sobrenatural, onde as súbitas entradas de violinos histéricos agudos criam momentos de eriçar os cabelos da nuca.

Jenny Seagrove interpreta Camila, e dá mais uma das grandes performances de atrizes britânicas em filmes de horror. Clare Higgins continua sendo a melhor, no sinistro papel de Julia, assassinando homens com marteladas na cabeça em Hellraiser, ou drenando o sangue e os nutrientes de uma vítima em Hellbound: Hellraiser II. Jenny, no entanto, deixou impressão marcante, principalmente na referida sequência em que o vizinho arquiteto é devorado dentro de casa após escapar do bosque. Dwier Brown é o protagonista, o pai de família que precisa enfrentar o mal sobrenatural secular para proteger a mulher e o bebê, e se sai muito bem, como o sujeito comum, bem-sucedido, que ama a família e protege os amigos, e em momentos de horror, consegue descobrir em si a coragem para subjugar o mal. Árvore da Maldição foi lançado no mercado de vídeo, no começo dos anos 90, mas a transposição para DVD jamais aconteceu, no Brasil. É possível encontrá-lo em sítios de compartilhamento de vídeo, todavia sem legendas, sob o nome The Guardian. Corra atrás de The Guardian – ou Camila aparecerá à noite na sua sala de estar!
Todos os direitos autorais reservados a Universal Pictures. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.

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