sábado, 1 de março de 2014

Outlander - Guerreiro versus Predador ("Outlander", 2008) Brutais guerreiros vikings adoradores de Odin. Um impiedoso dragão alado assassino. Um nobre herói determinado a salvar o nosso mundo. Uma valorosa princesa por quem o herói vem a se apaixonar. Combates sanguinolentos a ferro e fogo. Outlander tem tudo isso e muito mais, meus amigos!

709 anos depois de Cristo. Uma nave espacial avariada despenca dos céus, e cai em um enorme lago da Noruega, na Era dos Vikings. Durante a queda, o rastro de fogo que risca a noite escura é avistado por um camponês local. Dois astronautas de armadura emergem da água, um deles gravemente ferido. O único sobrevivente do desastre acaba por ser Kainan (Jim Caviezel), um soldado extraterrestre envolvido em uma guerra secular contra gigantescos e perigosos dragões conhecidos como "Moorwens". Na manhã que se segue ao acidente, Kainan mergulha nas águas geladas para recuperar parte de seu equipamento de navegação. Ele enterra o capitão, e com o sofisticado aparato de inteligência alienígena, descobre que está na Terra, possivelmente para todo o sempre, vez que a única maneira de regressar a seu mundo consiste na nave, agora destruída e coberta pelo lago. Ainda assim, o guerreiro aciona o transponder com a esperança de que o sinal cruze o universo e seja capturado e compreendido pelos seus companheiros. Kainan recupera a sua sofisticada arma, semelhante a uma pesada espada que, se manuseada corretamente, transforma-se em um canhão super potente. O seu pior temor se torna realidade, quando em suas andanças se depara com uma vila completamente destruída, e todos os seus habitantes mortos. No meio da vila, a surreal presença das carcaças de uma baleia. Um dos dragões "Moorwen" acoplou-se à nave e, quando da queda, veio junto com o guerreiro para a Terra. O monstro começou a deixar o seu rastro de destruição pela costa da Noruega, aniquilando animais e gente. A chegada de dois novos e inesperados visitantes de outro planeta trará consequências desastrosas a já instável região, marcada pela beligerância entre dois povos, liderados pelos Reis rivais, Hrothgar & Gunnar (Ron Perlman).

Perdido em meio a aquela hostil terra na Península Escandinava, rica em montanhas e um emaranhado de entradas para o mar, Kainan é capturado por guerreiros vikings chefiados por Wulfric (Jack Huston), que pelo invasor vem a nutrir uma instantânea antipatia. Na luta pela captura, o guerreiro alienígena acaba por perder a sua arma, vital para o confronto com o dragão. Intrigado pela diferente figura de Kainan, Wulfric o denomina "Forasteiro" ("Outlander"), e o leva à fortaleza comandada pelo Rei Hrothgar (John Hurt). No castelo, o Rei treina a sua valente filha Freya (Sophya Miles), única descendente, na arte das espadas. Pai e filha vivem um impasse, pois apesar de Hrothgar insistir para que case com o valoroso Wulfric, pelo guerreiro a moça não alimenta qualquer sentimento de afeto. O machista Wulfric interrompe a sessão de treino, para contar ao Rei sobre o "Forasteiro". Adianta que a vila mais próxima, sob a autoridade do Rei Gunnar, foi saqueada, que e não há sinal de corpos, ignorante quanto a natureza da criatura que desencadeou a carnificina.

Questionado violentamente por Wulfric, que tem certeza de que foi Kainan o responsável pela destruição que assolou a vila nas terras de Gunnar, o alienígena acaba por revelar que está à caça de um implacável dragão voador. Com a sua confissão, só acaba provocando mais animosidade e ceticismo por parte dos vikings. À noite, machucado e aprisionado, Kainan faz uso de um pedaço de ferro em brasas para romper as cordas que o aprisionam a uma coluna. A filha do Rei visita o prisioneiro para cuidar de suas feridas, e parece ficar encantada com o "Forasteiro". Com a chegada de um novo dia, Hrothgar expõe para Wulfric a sua preocupação. Ele avisa ao sobrinho que precisam dar um jeito para que Gunnar compreenda que seja qual for a natureza da catástrofe que se abateu sobre a sua vila, não foi o pessoal da fortaleza de Hrothgar que provocou tão impiedoso e mortífero ataque. Wulfric não é simpático a entendimentos com Gunnar. O rapaz acha que o mesmo foi responsável pela morte do pai, e defende que as suas tropas deveriam aproveitar a sua momentânea vulnerabilidade para surpreendê-lo e massacrar a sua fortaleza. A voz da razão, Hrothgar posiciona-se claramente contra qualquer provocação, pois crê que a guerra não é a resposta. "Não é a sua espada que te tornará Rei, mas sim a forma como lida com a sua cabeça e o seu coração", ensina o Rei para o sobrinho.

Freya está tratando os ferimentos causados pela surra de Wulfric, quando nota que Kainan apenas finge estar de mãos atadas. Naturalmente, assusta-se e grita, o que atrai um dos guerreiros, o enorme Bjorn. Pela primeira vez, vemos as habilidades de Kainan em combate, que não apenas se esquiva muito bem de um golpe de machado, põe Bjorn para dormir com uma bem dada cotovelada. Ele fica com o machado de Bjorn e procura fugir na calada da noite. Wulfric e os demais soldados estão no paredão da fortaleza, à espera de alguma provocação por parte dos homens de Gunnar. Não sabem que estão sendo estudados pelo dragão, escondido por entre as árvores do bosque circundante. Quando um dos homens encarregados da vigília é morto pelo dragão (que usa a cauda muito afiada para degolar as vítimas), os habitantes da fortaleza acordam em polvorosa. Todos sobem os paredões e ocupam o adarve, o caminho no topo das muralhas. Ao invés de encontrarem o exército de Gunnar, só veem as árvores do bosque tomadas pela névoa. Não há sinal de inimigo. Novos gritos, quando um outro soldado é perpassado pela cauda da criatura, que agora está dentro da fortaleza. Os soldados estão atônitos, não conseguem identificar por qual flanco estão sendo atacados. Os cavalos saem do estábulo aterrorizados, e logo a construção é consumida por chamas. O dragão está ali dentro. Espadas comuns nada podem fazer diante da fantástica criatura. Quando Bjorn tenta feri-la com um forte golpe, tudo o que consegue é quebrar a lâmina. Kainan ainda assiste ao monstro saltando em toda a sua glória sobre a muralha, levando uma das vítimas consigo. Por ora, o confronto entre os dois centenários inimigos terá de ficar para depois, e o dragão alça voo. 

Dentro da fortaleza em chamas, Kainan é recapturado, e o pessoal está com a paciência esgotada. Estupefatos com os vergalhões nos corpos de seus compatriotas, Wulfric e Hrothgar discutem quanto ao que seria capaz de causar ferimentos semelhantes. Assistindo à tristeza que toma conta do povoado, que acaba de perder seus membros mais queridos, cerca de dez homens brutalmente mortos, Kainan não tem como deixar de pensar na sua própria história. O passado de Kainan nos é mostrado através de flashbacks. O guerreiro vem de um planeta onde homens e dragões enfrentaram-se pela hegemonia sobre um distante planeta. A raça a que Kainan pertence, uma avançada e belicosa civilização extraterrestre, conquistou o mundo dos Morweens e lá estabeleceu as suas colônias, expulsando os dragões, os habitantes originais daquele terreno selvagem. Apesar de em um primeiro momento a civilização ter conseguido vencê-los, os novos exploradores da colônia jamais gozaram de paz, já que os dragões remanescentes declararam guerra aos invasores. Quando Kainan deixa esposa e filho para partir para novas conquistas, um dragão sobrevivente arma uma nova e letal investida, e massacra a todos, a família de Kainan incluída. Movido por um senso de vingança pessoal, Kainan se voluntariou para capturar a besta, o que conseguiu fazer. No retorno para o seu planeta, todavia, o monstro se soltou, avariou a nave, e ambos caíram na Terra, na Península Escandinava.

Na manhã seguinte, Kainan acorda com um garotinho ajoelhado na sua frente, observando-o com curiosidade. Ele se chama Eric e é órfão. Simpático à presença do "Forasteiro", divide a sua comida com Kainan, porém é afugentado por alguns soldados que estão de passagem e assistem à cena. Hrothgar está reunido com o conselheiro Boromir, o sacerdote e demais homens de valor, cada qual com uma ideia diferente para o que se deu. Kainan é conduzido à presença de Hrothgar, que lhe concede a oportunidade de falar a respeito do dragão que tanto apregoa existir. À distância, os "Morween" parecem "borrões de luz na escuridão", pois de seus corpos emanam fulgor avermelhado e charmoso, utilizado para atrair as suas vítimas. Wulfric fala que não existe criatura semelhante naquela região, e Kainan responde que é compreensível, vez que o dragão veio do espaço, quando da queda do nave, no lago.

Incrédulo, o intrigado Rei Hrothgar acaba acatando a sugestão de Kainan para que ao menos permitam que os acompanhe, quando partirem para caçar o dragão. Antes de montar o cavalo, tem os pulsos amarrados, e ao protestar que não terá como lutar de mãos atadas, um dos soldados lhe avisa que não é considerado "um deles", e fará parte da cavalaria apenas para orientar e assistir. O exército de Hrothgar avança bosque adentro, e em determinado momento, o Rei e Kainan começam a conversar. "O que ele (o monstro) fez com a sua vila, ele fez com a minha", Kainan avisa. Vergalhões em troncos de árvore sinalizam a presença do monstro, e os homens resolvem se separar, o que Kainan diz ser uma péssima ideia. Aqui, cabe escrever que todas as cenas ao ar livre são de tirar o fôlego, dadas a fotografia belíssima e a riqueza do intocado cenário que alterna colinas e cachoeiras. Apesar de um orçamento apenas razoável, a equipe técnica poupou muito dinheiro ao ambientar a história em um meio que não precisa de muitos efeitos para retratar a Noruega da época dos Vikings. De muitas formas, assistir a "Outlander" remeterá os amigos às lembranças de quando viram "O Senhor dos Anéis" pela primeira vez: o diretor Howard McCain não mediu esforços no que se refere a visuais grandiosos, e o seu filme é mesmo uma festa aos olhos.

Separados dos demais, Hrothgar e Boromir seguem a trilha de sangue, e encontram um dos cavalos dilacerados. Gritos vindos de uma caverna deixam todos de alerta. Dentro da gruta, é Kainan quem salva a vida de Hrothgar, quando um urso muito grande os ataca. Depois de juntos matarem o enorme animal, os homens "fazem pouco" do "dragão", atribuindo ao urso todos os problemas. Ao menos, Kainan ganha o respeito e a confiança dos demais. Hrothgar desce a espada em um golpe perfeito que rompe as cordas que mantêm os punhos de Kainan atados. À noite, uma grande festa é organizada, e o urso, servido como banquete. Kainan é recebido como herói e senta-se ao lado do Rei. Durante a festa, Freya descobre que foi por causa do "Forasteiro" que o seu pai escapou da gruta com vida. Kainan acaba fazendo amizade com o garotinho que lhe dera comida anteriormente. Wulfric convida Kainan a um jogo onde competidores correm por sobre filas de escudos, erguidas pelos companheiros, por sobre os ombros, até que um deles caia.Assistindo e torcendo, parece óbvio que Freya está se apaixonando por Kainan. Em uma conversa, Kainan avisa a Freya que apesar de todos estarem convictos de que os problemas acabaram, não foi o urso o responsável pelas mortes, mas sim o dragão "Morween".

Naquela mesma noite, são os soldados de Gunnar que chegam para trazer o terror. Conforme pressentira, a presença do dragão na região apenas trouxe instabilidade, e agora, no meio de todo o problema, tribos rivais declaravam guerra uma a outra. Os guerreiros partem para o confronto direto, encontrando-se em uma carnificina sem igual, ambos os lados sofrendo grandes perdas. Gunnar é o mais feroz de todos. Ele é um gigante que faz uso de dois enormes martelos para lutar. Gunnar e Hrothgar se enfrentam, e Kainan interfere bem no momento em que Gunnar ia desferir o golpe de morte em Hrothgar. O exército de Gunnar acaba retrocedendo, e deixando derrotado a fortaleza.Ele promete a Hrothgar que só descansará depois de arrancar o seu coração. 

Não custa a Gunnar entender que a ameaça não vem dos seus antigos rivais, mas de uma criatura cuja natureza escapa a compreensão. Um de seus homens é morto à beira do lago, depois de atraído pelo fulgor vermelho que emana do monstro. Logo em seguida, um a um, os sobreviventes do exército de Gunnar são arrematados do chão, como se nada fossem. Certo de que enfrenta uma ameaça incomum, Gunnar regressa à fortaleza de seu inimigo, que abre  as portas e o deixa entrar. Kainan pede para que não se enfrentem, e os chama para o passo da muralha, onde todos assistem aterrorizados a um dos homens ser suspenso pelas altíssimas árvores, por um ser iluminado, capaz de se camuflar. "Isso aí não é um urso", Boromir murmura, atônito.

Todos se reúnem dentro do castelo de Hrothgar, para discutir o que fazer. Kainan escuta com ceticismo as bravatas de Wulfric, que ainda não percebeu que os guerreiros não tem como derrotar uma criatura tão poderosa apenas com espadas e ladainhas de encorajamento. O "Forasteiro" e Wulfric começam a discutir, e Rei Hrothgar declara que apesar de Kainan não ser nórdico, a razão cabe ao "Forasteiro". Eles não tem como matar diretamente o dragão. A ideia gira em torno de aprisioná-lo. Assim, constroem uma armadilha capaz de comportar o monstro. Eles enchem o poço com óleo de baleia, um inflamável natural que será utilizado para atear fogo ao dragão. Mais tarde, Hrothgar explica a Kainan que se quiser, depois que tudo estiver acabado, poderá permanecer naquela terra. 

À noite, Freya e Kainan conversam e se conhecem melhor, e ele tem a oportunidade de explicar as suas origens. Ele narra a chegada de sua civilização ao planeta dos "Morweens", e sobre como destruíram milhões de dragões com o uso de bombas. Por este viés, Kainan consegue compreender o revanchismo dos dragões, e sente-se envergonhado pela natureza beligerante de seu povo, que foi quem efetivamente começou a guerra, apenas para se apoderar de uma terra que jamais fora sua. Kainan fala sobre o filho e a esposa, e sobre como a família precisou pagar com a vida pela sua inconsequência, quando ao deixar o planeta, o "Morween" sobrevivente retornou para devastar a colônia.

Todos os guerreiro estão de tocaia, sobre as muralhas, observando por entre os vãos dos parapeitos, à espera do dragão. Wulfric e Kainan abrem o portão principal munidos de tochas, oferecendo-se como iscas. Pressentindo que o dragão está pelas cercanias, Kainan arremessa a tocha longe, e quando a mesma cai pelos lados da ponte, revela muito brevemente o rosto assustador do dragão. A enorme criatura começa a avançar implacavelmente, e Hrothgar ordena que os arqueiros fiquem de prontidão e esperem pelo momento correto para atirar. Subitamente, o sacerdote surge entoando uma oração em latim, e acaba sendo o primeiro a morrer. Wulfric e Kainan jogam as suas tochas contra o "Morween", e a guerra começa. Conforme esperavam, ao correr em direção à dupla, o monstro derruba as tábuas do piso falso da armadilha e o seu extraordinário peso o faz afundar no fosso cheio de óleo de baleia. A Besta é aprisionada, todavia os arqueiros não podem ainda atirar as suas flechas inflamadas, pois Wulfric caiu junto com o monstro, e Kainan tem de tirá-lo o quanto antes. Kainan lhe dá a mão, arranca o colega do buraco, e no mesmo instante os soldados atiram as flechas. Uma enorme explosão faz a construção irromper em chamas. Os soldados da fortaleza comemoram, crentes de que está tudo acabado. A aventura está apenas começando.

Há um segundo "Morween", um pouco menor do que o primeiro, o seu filhote. O dragão adulto, mesmo envolto em chamas, emerge cheio de fúria do fosso, investindo como um touro contra as casas e as pessoas. Freya protege Eric do dragão menor, e Hrothgar chega a tempo para ajudá-la no combate. O Rei acaba gravemente atingido, e não resiste aos ferimentos. Wulfric e Kainan enfrentam juntos o dragão maior, mas não conseguem fazer muito contra a fera, que novamente se retira para o bosque. As baixas foram enormes. Agora, Kainan explica que a única saída consiste em vencer a Besta no seu esconderijo. Para isso, precisam de armas melhores, e portanto recomenda que retornem ao lago onde a nave de Kainan caiu, mesmo que precisem buscar nas profundezas geladas pelos itens necessários para o derradeiro enfrentamento. Freya se candidata a ir junto, mas Kainan recusa o pedido. Ela não aceita a negativa. O monstro matou o pai, então se sente no direito de acompanhá-los. A contragosto, Kainan finalmente acata o pedido.

Kainan, Wulfric e Freya remam até o ponto onde a nave afundou. Kainan mergulha, enquanto os dois permanecem à espera no barco. Enquanto está vasculhando os destroços sob a água, o "Morween" menor passa nadando nas suas costas, e Kainan começa a subir freneticamente para avisá-los de que os dragões estão por perto. Ao chegar à superfície, encontra Wulfric desacordado sobre destroços de barco, mas nenhum sinal de Freya. Kainan resgatou de dentro de sua nave um incomum tipo de metal, que o ferreiro usa para forjar uma espada diferente de todas as outras. Ao empunhá-la, Kainan corta uma barra de aço como se a mesma fosse de papel. Com essa lâmina, poderá matar os dragões e resgatar Freya. Distante dali, a princesa desperta na toca onde o monstro estoca os corpos de suas vítimas. Estranhamente, nenhum dos "Morween" lhe fez mal. 

Kainan, Wulfric, Boromir e mais dois homens exploram o complexo de túneis da caverna. Cheia de fossos, a gruta é o lar perfeito para os monstros. Um dos homens é arrebatado do chão e carregado pelo "Morween" menor por entre os passos do complexo. Kainan, Wulfric e os demais sobem a gruta e chegam ao seu alto nível, onde encurralam a criatura. Boromir é mortalmente ferido, restando somente Wulfric e Kainan para completar a missão. Aos gritos, Freya atrai os guerreiros ao seu paradeiro, mas também o "Morween" menor. Ela consegue matá-lo com a espada que Kainan lhe atira. Ainda resta o grande dragão, que ao encontrar o filhote morto, fica enlouquecido. O trio segue em direção a luz do dia. A saída os leva a uma pequena plataforma em um altíssimo paredão, que dá para uma cachoeira, o rio muito distante abaixo. Eles estão a uma inacreditável altura. Wulfric luta para ganhar tempo para que os amigos fujam. O dragão abocanha Wulfric no quadril, e o sacode como a um boneco de pano. O guerreiro consegue feri-lo também. Kainan empunha a espada forjada do metal de sua nave e parte para o confronto. A luta implacável os leva à beira do precipício, quando a criatura consegue se segurar à borda. As suas garras se fecham no braço de Kainan: se é para morrer, o instinto o move a querer levar o guerreiro junto. Com a espada, Kainan decepa o braço do dragão, que despenca paredão abaixo, carregado pela cachoeira, desaparecendo em meio ao turbilhão de água.

Antes de dar o último suspiro, Wulfric, sucessor natural do Rei Hrothgar, reconhece o valor do "Forasteiro", concedendo-lhe o brasão de monarca e pedindo para que reine como um soberano justo e correto. O "Forasteiro" e Freya sobem a escarpa e enxergam a esquadra de barcos vikings que levam os habitantes da fortaleza abandonada. Agora que o dragão foi vencido, poderão voltar à fortaleza e às suas vidas. Kainan e Freya se beijam apaixonadamente.Antes de assumir o seu lugar como rei daquela gente, Kainan regressa ao lago. Naquele exato momento, uma nave extraterrestre oriunda de sua civilização está sobrevoando a órbita do planeta Terra, atraída pelo sinal do transponder. Kainan destrói o dispositivo com a espada, pois sente que ali é a sua nova casa. A nave deixa a Terra sem o "Forasteiro", que se torna Rei, tendo Freya como devota esposa. No final, à beira da cachoeira onde o horror de suas vidas foi vencido, todos se reúnem para a cerimônia de adeus aos heróis mortos na batalha. Os corpos de Rei Hrothgar e Wulfric são dispostos em esteiras e depositados em um barco viking. Quando o barco se encontra a uma considerável distância, levando os dois heróis mortos, Kainan faz mira e atira uma fecha em chamas nas velas da embarcação, anteriormente banhada por óleo. O barco é imediatamente envolvido pelo fogo, e os corpos cremados. Todos ficam muito emocionados com a despedida, mas certos de que os seus heróis poderão descansar em paz, e que a existência material neste mundo é apenas uma etapa de um longo caminho rumo à eternidade, alcançada somente pelos melhores.

Inventivo e incomum filme de ficção científica, "Outlander" é um trabalho muito pessoal para o seu diretor Howard McCain, que começou a escrever a premissa quando ainda era estudante, fascinado pela origem dos Vikings. Inicialmente uma história baseada em elementos exclusivamente históricos, McCain logo se convenceu a acrescentar elementos fantásticos ao enredo, quando o roteiro finalmente começou a ganhar substância e chamar a atenção de grandes nomes do cinema, que leram a história e se candidataram rodar a versão para as telas. O talentoso Renny Harlin foi um desses cineastas interessados. A concepção do projeto cinematográfica remonta a 2005, quando o ator Karl Urban, que recentemente fez um maravilhoso filme chamado "Dredd O Juiz do Apocalipse", ainda era a primeira escolha de McCain para viver Kainan. Quis o destino que na última hora, fosse preterido por James Caviezel, um ator que diferente de Urban, traz vulnerabilidade ao papel, o que contribui para a construção de um herói hesitante, a chave para a identificação com o público. Como os grandes heróis do cinema, Kainan experimenta medo, apanha, sofre, mas ao final do filme, triunfa sobre as adversidades. O herói relutante cria maior empatia que o estoico implacável que durante a projeção não sofre um único arranhão, um ponto que resta sacramentado se analisarmos cuidadosamente a carreira de Steven Seagal. Grande ícone da ação mesmo hoje em que seus filmes são rodados em menor escala, a questão que refreou um pouco a sua carreira foram os roteiros que apesar de virem recheados de suspense e aventura, insistiram no equívoco de não se preocuparem com uma caracterização mais enriquecida para os seus personagens. Vilões mal chegam perto, Steven Seagal os elimina com impressionante destreza e facilidade. Isso não representa exatamente um problema, devemos respeitar o seu estilo, e eu sempre apreciei todos os filmes de Steven Seagal, sobretudo os rodados direto para o mercado de DVD, onde se goza de maior liberdade criativa. Sou levado, todavia, a me recordar de um comentário que um cavalheiro fez, na internet movie database, quando nos dizia como seria maravilhoso, se Steven resolvesse tentar algo diferente: ao invés de um herói silencioso e imbatível, por que não um ex-policial corrupto e alcoólatra, um ser humano falível, que deixou a família há anos, e então descobre estar com câncer, por exemplo?A doença o ajuda a reavaliar a própria vida, e como consequência, retorna para a cidade natal, para tentar reatar os laços com a esposa e o filho. Ao voltar, encontra a sua comunidade sob o jugo de uma gangue, e resolve fazer justiça com as próprias mãos, usando o pouco tempo que lhe resta para livrar o bairro dos traficantes e mostrar à mulher e ao filhinho o quanto se sente mal pelos seus erros, os ama e deseja uma nova oportunidade. Eis uma premissa interessante e dramaticamente enriquecida, que não apenas permitiria a Steven seguir fazendo o que conhece de melhor, a ação em sua forma mais explícita, como o desafiaria com algo novo, um leque de cenas puramente emocionais e psicologicamente difíceis, que traria à tona o que há de melhor dentro de si, como artista, não exclusivamente como astro de ação. Muitas pessoas iriam querer assistir a este filme. Como não odiá-lo, quando ele vive um ex-alcoólatra que tinha muitas amantes, batia na mulher, negligenciava o filho, recebia propina, e chegou a abandonar a própria casa?Como não amá-lo, ao final, quando retorna como um homem mudado, amoroso, esposo e pai dedicado, que com absoluto altruísmo lança-se sozinho em uma cruzada de um homem só, contra traficantes perigosíssimos, livrando a comunidade dos bandidos, a custa da própria vida, e se tornando um herói aos olhos do filho, ao longo da aventura?Eu estou certo de que o próprio Steven Seagal gostaria de receber roteiros semelhantes.

O diretor Howard McCain raciocina de maneira semelhante, e portanto foi cuidadoso ao criar um herói que, apesar de valoroso, enfrenta, ao longo do filme, questionamentos, dramas e incertezas ao longo do filme, o que nos convida abertamente a investir emocionalmente e nos envolver com a sua jornada. Jim Caviezel, que interpretou Jesus Cristo, tem um certo tipo de profundidade, de dor e de nobreza em seu olhar, que o torna o homem com o perfil correto para interpretar protagonistas trágicos e valorosos que alcançam o impossível mesmo cercado por adversidades. Mesmo que não inteiramente destrinchados em suas complexidades, os personagens secundários beneficiam-se do elenco de talentos que os habita. John Hurt desempenha o seu papel com a autoridade de um monarca, e mesmo com um material de ficção científica, onde diálogos soam mais simplórios, entoa as suas linhas com o profissionalismo e a dedicação de um artista veterano de primeira grandeza, que não dá nada menos do que o seu melhor tanto em filmes de arte quanto em aventuras de ficção científica semelhantes. Surpreendentemente, Ron Perlman acaba mal aproveitado. O seu personagem, Rei Gunnar, é uma das sacadas mais interessantes do filme, um colosso munido de duas marretas, monarca do clã rival. As suas poucas cenas só nos fazem lamentar o fato de o diretor McCain não ter encontrado uma maneira de usá-lo mais. Teria sido fantástico vê-lo em mais cenas de ação, principalmente enfrentando os dragões. Inesperadamente, Rei Gunnar sai de cena quando o dragão o decepa com a cauda, um destino muito decepcionante para um guerreiro tão enorme quanto o monstro que enfrenta. É possível que a agenda de Perlman não tenha permitido que ficasse no set de filmagem por muitos dias, o que explicaria a sua participação limitada. Sua adição ao elenco contribuiu em muito, porém por sua sub utilização, fica um gosto de desapontamento.

Para reconstituir a Península Escandinava da Era dos Vikings - muitas ilhas, e uma área continental caracterizada por montanhas, platôs e fiordes - o diretor rodou o filme em Bay of Islands, Newfoundland, uma província às margens do Oceano Atlântico, de paisagens lindas e selvagens, onde ao longo da costa se encontra a diversidade que vai de icebergs a baleias. Tomando como base uma autêntica embarcação da Era Viking, exposta no museu de Oslo, o time reproduziu uma réplica idêntica, que é utilizada na cena da cremação de Rei Hrothgar, no desfecho. A fortaleza é fiel a gravuras de livros históricos sobre a Era dos Vikings, tendo custado à equipe três meses para levantá-la. "Outlander" é um encanto visual, sustentado por uma fotografia belíssima capturada por tomadas aéreas de tirar o fôlego, que fazem cada take de terreno selvagem um quadro, uma obra de arte para se admirar.

Não há como se fazer uma resenha sobre "Outlander" sem falar sobre o impacto do "Morween". Cortesia da criatividade do designer Patrick Tatopoulos, o dragão parece ter inspirado um outro grande cineasta chamado Gareth Edwards, diretor do maravilhoso "Monsters" (2010), que teria usado conceitos visuais semelhantes, dois anos mais tarde. Foi da mente de Tatopoulos que saíram outras agressivas, impressionantes imagens do cinema moderno, tal como a da noiva vampira hidrófoba, tão pálida quanto neve, vivida por Sadie Frost, em "Bram Stoker's Dracula". Em "Outlander", o que mais chama atenção é o fato de na criatura coexistir tão equilibradamente ameaça e elegância, horror e beleza. O monstro tem como mais interessante característica a bioluminescência, então por mais que pareça assustador, a cena em que suspende, por exemplo, uma vítima defronte as árvores de um bosque, e emite uma fria luz avermelhada no processo, consegue provocar o sentimento de encanto, como se a existência de tão extraordinário monstro parecesse tangível. Outra tomada belíssima é a da Besta pendurada no passo, à beira do precipício, e então sendo arrastada pela cachoeira rente ao paredão. Dificilmente imagens tão lindas são encontradas em produções independentes menores. Edwards "pegou emprestada" a bioluminescência para as criaturas de sua obra-prima. Este recente clássico do cinema de horror, que catapultou Edwards ao panteão dos cineastas atuais mais interessantes (Edwards acaba de dirigir o esperadíssimo remake de "Godzilla"), muito deve a "Outlander", porém poucos devem saber disso.

"Outlander" chegou a ser lançado sem alarde nas salas de cinema dos Estados Unidos, em 2009, mas foi no mercado de DVD onde encontrou sucesso. No Brasil, o filme foi disponibilizado pela Imagem Filmes, no começo de 2010, comercializado a um preço muito justo, R$ 12,99, fazendo desta ficção científica uma aquisição obrigatória aos fãs de filmes de horror que procuram descobrir joias que talvez tenham deixado passar desapercebidas quando do lançamento original. Muito embora ignorado pelos esnobes, o filme terá um lugar todo especial nos corações das pessoas que cresceram nos anos 80 e viveram a era dos VHS, quando filmes de horror semelhantes eram disputadíssimos, e tinha de se colocar o nome nas listas de espera das locadoras. O fato de "Outlander" ter sido rodado recentemente é a prova concreta do carinho com que tais filmes até hoje são lembrados pelos seus fãs, hoje adultos, pais de crianças que provavelmente têm a mesma idade que possuíam ao descobri-los em fitas de vídeo. Quando os seus criadores o fizeram, foi pela mesma razão que em convenções de filme, pessoas comuns vestem-se como os seus personagens preferidos - elas sentem falta. E não há nada tão capaz de manter lembranças muito presentes e atuais quanto a saudade.

Todos os direitos autorais reservados a Imagem Filmes. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha. 

2 comentários:

  1. quem é o segundo astronauta que sai da nave junto com kainan ?

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    1. Veja, faz algum tempo que eu vi o filme, portanto não posso afirmar com convicção, porém creio que o astronauta a quem você faz menção seja colega do protagonista, um aliado na missão de exterminar o dragão, que lamentavelmente, durante a entrada da nave na atmosfera e subsequente queda veio a sofrer ferimentos que causaram sua morte, restando a Kainan o dever de caçar sozinho a criatura (mais tarde, claro, com a ajuda dos vikings que inicialmente lhe são hostis, mas logo se tornam amigos).

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