sábado, 8 de dezembro de 2012

Área Q o pioneirismo do cinema brasileiro em sua melhor forma.


Olá, pessoal. É com imensa satisfação que venho falar de uma grata surpresa do cinema brasileiro, que pela primeira vez experimenta com a ficção científica, e o faz muito bem!Trata-se de Área Q, do diretor Gerson Sanginitto, estrelado por Murilo Rosa, Tania Khalil e o norte-americano Isaiah Washington. Lembro-me de quando o filme foi lançado nos cinemas, em meados de 2011, chamou-me a atenção a abordagem de um tema que muito me interessa, Objetos Voadores Não Identificados. Por uma ou outra razão, não tive a oportunidade de conferir a produção nos cinemas. Recentemente, procurei ler matérias a respeito de Área Q, e me deparei com algumas resenhas pouco generosas ao trabalho do diretor Gerson Sanginitto. Ainda assim, o trailer e a estória foram o suficiente para me convencer a comprar o DVD, lançado no Brasil pela California Filmes, para formar a minha própria opinião.

Inicialmente, gostaria de ser bastante categórico em minha assertiva: Área Q não é nem de longe o filme ruim que as resenhas apontam. Muito pelo contrário, tomo por uma insensível injustiça as palavras pouco generosas reservadas a Área Q. Acredito que o empreendedorismo de um cineasta brasileiro que se esforçou para trazer às telas uma obra de ficção científica sobre OVNI deveria ser enaltecida e apoiada, e não tripudiada. Li sobre a suposta má qualidade da produção, outro absurdo equívoco. Não sei se vocês se lembram dos antigos episódios de Linha Direta Mistério, onde crimes e acontecimentos notórios da recente história policial brasileira eram reconstituídos. A produção dos episódios era esmerada, boa fotografia, reconstituições de primeira linha, efeitos visuais caprichados. Pois bem, a qualidade técnica de Área Q nos remete aos melhores episódios de Linha Direta.

Que fique claro: se você vier assistir a Área Q esperando um arrasa quarteirão extravagante semelhante a Independence Day ou Contatos Imediatos do 3° Grau, se decepcionará. Área Q oferece uma trama sobre OVNI mais ponderada e contemplativa. O filme me fez lembrar de uma produção similar, que também discutia o tema sob um olhar místico e apaixonado, o filme italiano Blue Tornado, de 1990, com Patsy Kensitt e Dirk Benedict. Dito isto, Área Q não oferece cenas bombásticas de combates aéreos entre jatos e discos voadores, ou criaturas alienígenas trazidas à vida por efeitos digitais. Ao contrário, é muito melhor do que a mesmice, pois não escolhe a rota fácil. Área Q fundamenta-se em bom roteiro, caracterização, e construção de personagens. É um trabalho de amor por parte de seu cineasta e elenco, e a sua força reside na simplicidade.

Thomas Matthews (Isaiah Washington), um repórter norte-americano, afunda-se na depressão depois que o filho desaparece misteriosamente em uma pracinha. Algum tempo se passa, e Matthews encontra um pouco de conforto no fato de que a polícia não desistiu ainda de investigar. Quando o seu chefe lhe oferece um novo trabalho, Matthews reage a contragosto, mas acaba cedendo. O trabalho envolve viajar para o Brasil, mais exatamente para a cidade de Quixadá, no sertão cearense, para coletar depoimentos de pessoas que dizem ter sido abduzidas por OVNI. Uma vez ali, o pragmatismo de Matthews vai caindo por terra, à medida que fenômenos inexplicáveis passam a se suceder e, mais incrível, parecem guardar ligação com o desaparecimento do filho de Matthews, anos antes. Matthews é visitado pela aparição de João Batista (Murilo Rosa), um agricultor que em 1979 foi abduzido por uma luz muito forte, e desde então se tornou um personagem importante na mensagem que os seres mais evoluídos precisam passar para nós humanos, em nome da sobrevivência de nosso planeta. No final, quando as coisas finalmente fazem sentido, e o amor de Matthews pelo filho prova a invencível ligação entre os dois, confesso que fui levado às lágrimas. A conclusão é muito emocionante, um desfecho doce e esperançoso.

O ator principal Isaiah Washington construiu com precisão um personagem dividido entre incredulidade e fé. O desaparecimento do filho foi um duro golpe em sua espiritualidade, mas desde então é como se o seu personagem estivesse esperando por uma prova de Deus de que nada acontece por acaso. A atriz Tânia Khalil interpreta uma repórter brasileira em Quixadá que se envolve romanticamente com Matthews, e se sai muito bem. O melhor ator da produção, todavia, é Murilo Rosa, no papel do agricultor humilde transformado pela experiência da abdução, e que se torna o jogador principal dos eventos que virão a melhorar o estado das coisas no mundo.

O mais belo protagonista de Área Q, porém, é o visualmente poético município de Quixadá, neste filme exibido em profusão, em tomadas aéreas caprichosas e elegantes. Pontos turísticos tais como a passarela esguia no entorno do açude do Cedro, com a Pedra da Galinha Choca ao fundo, merecem a exploração das lentes do diretor, que se serve do potencial do lugar ao máximo. Os maciços de Quixadá, as formações monolíticas, tornam-no um espaço atemporal e encantado, o lugar ideal para se filmar uma produção sobre OVNI. Neste sentido, o diretor Gerson Sanginitto incorporou à mitologia do filme a geografia intocada como um dos personagens principais, nos moldes do que o grande Peter Weir fez com o seu seminal Picnic at Hanging Rock, em 1974.

A Califórnia Filmes está de parabéns pelo carinho com que tratou este filme. O DVD mereceu muitos extras, e a qualidade de imagem e som salta aos olhos. Área Q é visualmente estupendo de se assistir. A sequência onde Thomas interage com a esfera alienígena é de tirar o fôlego, principalmente por se dar com os monólitos de Quixadá ao fundo, estendidos até a onde a vista pode alcançar.

O filme é dedicado a um cavalheiro chamado José Rolim Gomes, “por sua imensa comemoração em tornar este projeto realidade”. Certamente, o senhor em questão se sentiria bastante honrado em ver dedicado a sua memória uma produção tão digna!

5 comentários:

  1. Parabéns a todos pela bela produção e mensagem! Digno das melhores salas de exibição!
    Paulo Costa

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  2. Excelente filme, elevou o cinema brasileiro, além da mensagem de alerta de que sofremos das forças governamentais que quer nos ocultar de qualquer possibilidade de contato e conhecimento com a vida extraterrestre.

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  3. Este filme foi uma incrivel surpresa. Acabei de o ver ha um par de horas e ando a procura para o comprar em bluray mas infelizmente so existe ainda em dvd apenas.
    Foi uma das mais interessantes historias sobre alien abductions que me passaram pela frente em muito tempo e totalmente cativante do nicio ao fim. Nem a pessima banda sonora completamente mal colocada ou uma montagem algo erratica com takes excessivamente longos estragaram o resultado final. A historia é excelente e é quase uma sequela para outro filme do genero - Dark SKies - que acaba onde este começa. Adorei os twists e achei o final muito recompensador e original tambem.
    Achei o protagonista excelente e com imenso carisma e recomendo vivamente o filme a quem gostar de ficcao cientifica que nao precise de accao ou efeitos especiais. Grande filme mesmo. Totalmente inesperado.

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  4. I agree with Perez. This was a wonderful surprise. As long time dedicated sci fi fans, we were so pleased to find an honestly new plot, *two* charismatic character leads, believable supporting cast and a DP who really controls his camera. Not to mention the otherworldliness of the location. Very well edited as well; you never get lost from bad flashbacks or dreams.
    However, and it is a big one, either the production co. ran out of money or decided to take a tax writeoff and NOT do post production captioning. As someone else said, a *crucial* Portuguese monologue at the end is entirely without captioning in either Portuguese or English. So frustrating! The film grosses less than $200,000 US. It cost $4M US. If the company would add cc in both languages to the film, they would easily recoup their costs. It has the potential to be a long lived classic.

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