domingo, 16 de dezembro de 2012

A Entidade - existe coisa mais sinistra do que velhos filmes Super 8?


Olá, pessoal. Nesta oportunidade, trago para vocês a minha opinião sobre A Entidade, o mais recente filme de horror produzido pelos mesmos profissionais por trás da execução do excelente Insidious. A Entidade (Sinister) é dirigido por Scott Derrickson e estrelado por Ethan Hawke. Eu conheço o trabalho deste diretor há algum tempo, mesmo antes de ter rodado O Exorcismo de Emilly Rose e O Dia em Que a Terra Parou. Um dos filmes sobre os quais eu falei neste blog, e a que amo profundamente, foi Hellraiser. Na minha resenha, expliquei que Hellraiser gerou apenas uma continuação digna de nota, Hellbound: Hellraiser II, todavia gostaria de aproveitar a oportunidade para fazer um adendo. Scott Derrickson dirigiu Hellraiser Inferno, em 1999, e de todas as sequências após Hellbound: Hellraiser II, sua contribuição foi a única digna de nota e que ofereceu algo a mais em termos de atmosfera e narrativa. Tratava da estória de um tira truculento e corrupto à caça de um serial killer chamado “Engenheiro”, e que ao longo do caminho deparava-se com pistas inexplicáveis e a configuração da lamentação. O filme não foi bem recebido pela crítica, sob a acusação de que em nada fazia lembrar a obra literária de Clive Barker. De fato, Hellraiser Inferno traz pouco das ideias bizarras de Barker, porém, como uma produção tomada individualmente, pode ser considerada um thriller noir de sacadas interessantes e muito bem executadas. Já ali, em 1999, via-se que este cineasta Scott Derrickson alçaria voos maiores. A Entidade consiste neste voo maior. É um filme de horror estiloso e cheio de mistérios a desvendar.

A Entidade conta a aventura de um escritor (Ethan Hawke) cujo último trabalho bem sucedido se deu há mais de dez anos. Desde então, enfrenta o ócio criativo e procura resistir ao álcool. O casamento não vai muito bem, e é perceptível a tensão entre marido e mulher. É quando se muda para uma nova cidade, com a esposa e os dois filhos, para uma residência cenário de um terrível homicídio, que a paixão por escrever e investigar renasce com força total. A família que morou na casa foi enforcada na árvore do jardim, e a filha menor desapareceu misteriosamente. Ellison, o escritor, encontra uma caixa com rolos de filmes caseiros, no sótão. Os filmes trazem imagens amadoras realizadas em Super 8, uma série de homicídios diferentes e aparentemente desconexos – o assassinato da família enforcada na árvore do jardim incluso. São imagens que remontam a diferentes épocas. Um dos assassinatos ocorreu nos anos 60, outro nos anos 70, há aquele que se deu nos anos 80...Observador, Ellison descobre posteriormente que em comum os cenários exibem a inexplicável presença de um ser vestido de preto mascarado, que aparece rapidamente ao fundo, e o fato de o filho mais novo de cada família ter sumido misteriosamente após os homicídios.

Há algo em antigos filmes Super 8 que causa arrepios, e é este o caso com A Entidade. O filme não traz variedade de cenários, em verdade o espaço parece limitar-se à casa, mais especificamente ao escritório onde o personagem principal vai montando as peças do quebra cabeça, no entanto, o excelente uso que o cineasta faz das imagens trazidas dos rolos antigos nos intriga, permite que nos sintamos como o escritor. Funciona como se estivéssemos descobrindo a verdade sob a mesma perspectiva do protagonista. Dito isto, o roteiro sustenta a atmosfera e jamais se torna entediante. À medida que Ellison mergulha nos casos, os fenômenos inexplicáveis parecem se mudar para dentro de casa e afligir a família. O filho que sofre de pesadelos noturnos tem uma das cenas mais assustadoras, em um de seus episódios de sonambulismo, engatilhado, é claro, pela energia sombria que pesa sobre a propriedade.

As imagens dos assassinatos revelados em Super 8 são muito sinistras. Não há violência excessiva ou efeitos surpreendentes. Ao contrário, tais cenas, em sua banalidade, provocam arrepios pela sutileza dos homicídios: o galho pesado do tronco da árvore caindo lentamente e a família inteira sendo atirada ao ar para morrer enforcada (esta, aliás, é a sequência que abre o filme, uma brilhante ideia do cineasta), ou mesmo a mais perturbadora, os membros de uma outra família, amarrados às cadeiras para banho de sol, arrastados para a piscina, para morrerem afogados. Acompanhando-as, uma melodia bizarra que eleva a esquisitice a enésima potência.

O ator Ethan Hawke é excelente, e sempre o respeitei bastante. Os seus melhores momentos se deram, sem sombra de dúvida, sob a batuta de Richard Linklater, em Antes do Amanhecer & Antes do Pôr do Sol, filmes memoráveis, de serena tristeza, que abordaram como poucos aquilo que entendemos como vida. Para o ano de 2013, Linklater fechará a homenagem ao amor jovem e eterno com Antes da Meia Noite, rodado na Grécia, reunindo Ethan Hawke e Julie Delpy pela última vez. Aqui em A Entidade, um filme de horror, Hawke se sai muito bem como o herói trágico e relutante. Apreciei ainda o trabalho do ator que interpreta o jovem policial que se aproxima do escritor e o ajuda na investigação, e o do especialista em oculto que descobre o significado por trás do símbolo pagão pintado nas paredes dos locais onde os assassinatos foram observados, gravuras que remetem a uma entidade chamada Bagul, um demônio que coloca sugestões nas cabeças das crianças e depois as abduz.

A partir deste parágrafo, abordarei alguns detalhes que revelam o desfecho desta trama, então se prefere descobrir por si, pare de ler a partir de agora. Quando li que os produtores deste filme eram os mesmos de Insidious, já pude prever um desfecho infeliz para os protagonistas, todavia eu me surpreendi com o final profundamente depressivo e desolador escolhido pelo cineasta. Não há salvação para estes personagens: com o auxílio de um jovem policial, o escritor descobre que as crianças jamais foram encontradas pois foram as próprias que filmaram as imagens dos crimes, e as mesmas que mataram os pais e irmãos. Após os homicídios, o demônio Bagul as abduziu para o outro lado da lente, para o filme, onde suas almas ficaram aprisionadas. O personagem descobre a verdade tarde demais, pois a filha o drogou, assim como fez com a mãe e irmão. Hawke e família são destroçados a golpes de machado, e ao final a garotinha é carregada por Bagul para o celuloide. Trata-se de um final pessimista, sombrio e chocante, e realmente foge ao clichê dos desfechos felizes e ensolarados.


A Entidade é uma excelente opção para os amantes de mistério, uma empolgante estória investigativa onde você vai descobrindo a profundidade dos segredos juntamente ao personagem principal. Com A Entidade, o cinema segue com a sua renovação do gênero horror, oferecendo entretenimento de qualidade que ao mesmo tempo traz algo de refrescante e original. 
Todos os direitos autorais reservados a Paris Filmes. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.

2 comentários:

  1. ótima analise, as musicas me deixavam muito tenso

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    1. Obrigado, amigo, que bom que gostou do filme. O uso de música neste filme realmente é seu ponto forte.

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