
Treze anos mais tarde, o detetive Harry D'Amour está investigando um caso de fraude a seguros em Los Angeles. O detetive aproveitou a oportunidade para se distanciar do escritório e se recuperar emocionalmente – a sua última investigação, que acabou no apavorante exorcismo de uma criança, em Nova York, o deixou profundamente abalado, e tudo o que Harry quer agora é algo trivial e simples. Durante o trabalho de vigilância ao fraudador de seguros, D'Amour acaba em uma loja para “leitura de sorte”, que calha de pertencer a um homem que no passado foi um dos companheiros de Swann durante o confronto com o “Puritano”, no deserto do Mojave. O homem está amarrado à cadeira e perfurado por lâminas. Ao seu lado, um estranho de modos afeminados, metido em roupas apertadas e extravagantes, manipula as lâminas. Chocado diante da surpreendente cena, D'Amour é apanhado de surpresa pelo comparsa do estranho, um sujeito enorme de incomum força. Durante a luta, o estranho das facas escapa habilidosamente, e o homem enorme é arremessado pela janela por D'Amour, caindo de uma considerável altura. D'Amour procura socorrer o vidente, mas antes deste morrer, consegue apenas reunir forças para alertá-lo “O Puritano está retornando”. Harry reporta o incidente para a polícia, e para sua surpresa não encontra o corpo do homem arremessado da janela ao estacionamento.
Swann, hoje um famoso ilusionista nos moldes de “David Copperfield”, mora em Beverly Hills com a esposa, a bela Dorothea (Famke Janssen). Depois de tomar conhecimento da morte de seu antigo colega pelos jornais, o ilusionista alega à esposa que os prováveis responsáveis pela execução do homem foram os membros do culto do deserto do Mojave, e que ele pode ser o próximo. Harry é procurado por Valentim, assistente pessoal do ilusionista, que o sonda para um trabalho. Durante o enterro de Quaid, o vidente assassinado, Valentim apresenta D'Amour a Dorothea, que expressa a intenção de contratá-lo, para possíveis investigações quanto as circunstâncias da morte do antigo colega do marido. Encantado pela beleza e charme de Dorothea, D'Amour aceita o convite, e os dois comparecem juntos ao novo grande espetáculo do ilusionista. Durante o espetáculo, o mais arriscado truque de Swann, que envolve a queda de espadas afiadas enquanto precisa se libertar de amarras a tempo, dá errado, e, na frente de sua plateia, o ilusionista tem uma morte terrível. Durante a confusão que segue a tragédia, D'Amour avista a dupla que vira na cena da morte de Quaid. O homem de trejeitos afeminados, que parece o líder, chama-se Butterfield. Certo de que a dupla está igualmente envolvida na morte do ilusionista, D'Amour os persegue pelos bastidores do show, e volta a lutar com o mais forte, desta vez o matando, empalando-o em uma peça pontiaguda da cenografia do espetáculo.

Butterfield invade a mansão enquanto Swann e D'Amour não se encontram, ataca Valentim e sequestra Dorothea, usando-a como trunfo para coagir Valentim a lhe mostrar onde exatamente o corpo do “Puritano” foi enterrado. Butterfield recupera o corpo e o leva à antiga casa no deserto. Os outros membros da seita, que depois da morte de Nix em 1982 tinham reconstruido as suas vidas e formado famílias, já estão presentes à propriedade para o retorno do “Puritano”. Assim que tinham ouvido falar da notícia do retorno de Nix, os fanáticos deram cabo de suas famílias e deixaram as próprias vidas para trás, tudo para aguardar pelo regresso do mestre. Butterfield remove a máscara de ferro e Nix recobra a consciência. Swann e D'Amour chegam a casa para salvar Dorothea e pôr termo aos planos do “Puritano”. Nix declara que somente Swann é digno de seus conhecimentos e poder, e então o chão sob os pés dos membros do culto adquire a consistência de areia movediça, engolindo todos. Nix abre um buraco no chão, e, segurando Dorothea, fica pairando sobre o abismo. D'Amour chega a tempo de impedir que o “Puritano” jogue Dorothea no abismo. Com a ajuda do poder de Swann, D'Amour consegue derrotar o feiticeiro, e dar o golpe que o desequilibra e o arremessa em direção à fenda, na verdade uma passagem para o inferno. Durante o confronto, Swann é fatalmente ferido, e morre nos braços da esposa. Consolando-a, D'Amour a conduz para fora da propriedade, e os dois deixam o lugar abraçados, caminhando pelo deserto, banhado pela fraca luz do luar, finalmente juntos e livres daquele pesadelo.

Além da mão segura de Barker nas rédeas da produção, a visão literária foi transportada para as telas com a mesma riqueza visual que emana das páginas do autor através de uma fotografia realmente encantadora que parece reconstruir em uma época muito atual os principais elementos do clássico film noir. A estória se aventura pela aridez do deserto do Mojave, leva-nos a uma Nova York chuvosa e abafada, dá o pontapé ao suspense ao deslocar o protagonista à ensolarada Las Vegas, onde a fotografia recria o mundo dos ricos e poderosos do entretenimento, com impressionante atenção a detalhes, e chega ao clímax devolvendo a ação ao mesmo deserto onde tudo começou, desta vez não mais em um dia ensolarado, mas na escuridão da noite. Produzido em um grande estúdio, “Lord of Illusions” talvez tenha dado a Barker a oportunidade de “brincar” com generoso orçamento e incondicional suporte técnico, sem a ingerência de terceiros. Quando ocupou a cadeira de diretor para “Lord of Illusions”, Barker havia acabado de sair de uma sofrida experiência com a 20th Century Fox, durante as filmagens de “Nightbreed”, um espetacular filme que, para a surpresa de nós fãs de Clive Barker, não o agradou, pois, conforme o próprio, não representou integralmente a sua visão original. Com “Lord of Illusions”, a Metro-Goldwin Mayer pareceu deixar que Barker satisfizesse a sua visão, e o resultado talvez seja o seu trabalho de direção mais bem acabado.



