quarta-feira, 15 de maio de 2013

Caçadores de Mentes ("Mindhunters", 2004) - Por um breve momento, Renny Harlin recupera a glória do passado.


Caçadores de Mentes” é a divisão do FBI que arregimenta profissionais habilidosos na arte de delinear os perfis e o modus operandi de assassinos em série. Buscando aperfeiçoá-los ainda mais nesta arte, o instrutor Jake Harris (Val Kilmer) os leva a uma ilha na costa da Virgínia, mantida pela Polícia Federal, que abriga uma cidade fictícia, onde uma série de diferentes cenários será arquitetada para testar o conhecimento e a habilidade dos jovens agentes. Harris elaborou todo um novo caso, envolvendo um serial killer que responde pela alcunha de titereiro, um maníaco que mata as vítimas e as dependura em ganchos, como se os mesmos fossem bonecos de ventríloquo. A tarefa dos agentes revolve compreender o modus operandi para apanhar o serial killerde mentirinha” através das pistas que as cenas dos crimes têm a oferecer. Depois que chegam a ilha, Harris lhes apresenta o lugar e parte no helicóptero, deixando-os por conta própria. Os agentes começam a investigar, e encontram, em uma típica diner, uma cena de homicídio forjada, um manequim “assassinado”, dependurado por ganchos no teto. Para a surpresa dos agentes, uma armadilha letal envolvendo nitrogênio líquido foi preparada, resultando na morte de um dos estudantes. Assustados, os agentes procuram pelo barco na doca, mas no momento em que correm pelo píer para apanhá-lo, a doca vai pelos ares. Agora, os mais habilidosos profilers do FBI se veem aprisionados à ilha, com um serial killer “de verdade”, e uma série de armadilhas desenhadas conforme as fraquezas de cada um. 

Este suspense dirigido pelo experiente Renny Harlin (“12 Rounds”, “5 Dias de Guerra”) não oferece nada de novo ao gênero, mas a habilidade do cineasta acaba provando-se o diferencial que torna o produto final mais atraente e empolgante do que os suspenses similares que chegam aos cinemas todos os anos. O elenco é formado por grandes nomes (Val Kilmer, Christian Slater, Jonny Lee Miller), mas é a atriz Kathryn Morris, mais conhecida pela série Cold Case (e aqui basicamente reciclando a mesma personagem), quem se sobressai entre os colegas, no papel da relutante protagonista, que mostra pouco de si, mas esconde muito. Devo mencionar que fiquei espantado com a semelhança entre Morris e uma artista brasileira muito talentosa chamada Babi Xavier. Confiram, elas são parecidas!Muito bem produzido, Caçadores de Mentes é visualmente rico e atmosférico. O diretor de fotografia Robert Gantz (“Assalto a 13ª DP”) empresta o seu olhar elegante e caprichoso à produção, criando uma ambientação simultaneamente atraente e traiçoeira, familiar e surreal: enquanto a cidade erguida pelo FBI assemelha-se a uma típica e pacata small town do meio Oeste norte-americano, há algo de incongruente no lugar, a sensação de tragédia iminente, talvez causada pela aura que remete aos anos 50. A cidade parece saída diretamente do passado, com o agravante do isolamento e abandono, suas ruas e calçadas acumulando folhas, a diner com sorridentes bonecos representando cidadãos sentados às mesas com suas refeições, o cinema local exibindo “O 3° Homem”, de Orson Welles, e uma série de outros detalhes que arruínam a primeira boa impressão sobre o lugar e te deixam arrepiado. Se o roteirista Wayne Kramer não ganha prêmio algum por originalidade, ao menos consegue sustentar o ritmo e amarrar a colcha de retalhos a serviço do diretor, familiarizado ao gênero ação.Kramer cria interessantes situações similares às engenhosas armadilhas da série Jogos Mortais. Lamentavelmente, a falta de profundidade dos personagens, de motivações, os torna um tanto quanto unidimensionais, exagerados, subtraindo do filme parte de seu charme e poder. O diretor Renny Harlin, um dos mais expressivos diretores de filmes de ação dos anos 90, que perdeu a mão depois de uma série de produções caríssimas medíocres, parece somente agora recuperar a velha forma, justamente após perder o posto entre os principais cineastas de Hollywood. A sua carreira é similar a do excelente diretor chinês John Woo. Woo chamou a atenção de produtores norte-americanos com as obras-primas que rodou em seu país de origem, entre elas o extraordinário “Fervura Máxima” (assisti a este filme aos 15 anos, em 1995, no circuito de filmes de arte, uma das experiências cinematográficas mais emocionantes e inesquecíveis de minha vida, equivalente a um violento passeio pela mais aterrorizante montanha russa concebível). Uma vez em Hollywood, Woo não se saiu bem ao filmar dentro de um novo modelo, e seus trabalhos pareceram fracos e sem brilho, muito diferentes dos dias de glória na China. Foi apenas nestes últimos anos, ao retornar para o país de origem e recuperar a liberdade criativa para fazer o que ama, que o velho John Woo de “Fervura Máxima” renasceu com força total, em filmes maravilhosos tais como “A Batalha dos 3 Reinos”. É o caso de Harlin, que somente nestes últimos anos, dirigindo filmes menos ambiciosos tais como “12 Rounds” e “5 Dias de Guerra”, pareceu realmente se divertir em um set de filmagem, ao recuperar a magia “do primeiro olhar”, a paixão pelo que faz, a criatividade, algo nas linhas do que Julie Delpy diz em Antes do Pôr do Sol, próximo ao fim, ao chegar na vila onde mora, com Ethan Hawke, e lhe mostrar o gatinho que cria “Sabe o que eu mais admiro neste animalzinho?É que todas as manhãs, ele olha para esse jardim com o mesmo encanto como se o estivesse vendo pela primeira vez”. O problema com estes grandes diretores me parece evidente. Acredito que os produtores enxergam o talento de um cineasta, convidam-no a rodar um filme, disponibilizam orçamentos estratosféricos, porém “podam” o diretor, a sua criatividade, suas ambições artísticas pessoais, em nome da “segurança” do investimento, sob a expectativa do retorno financeiro. Esta receita para o desastre me parece o destino comum a maravilhosos cineastas impedidos de realizar o filme que gostariam, em nome da necessidade de assegurar retorno financeiro nas bilheterias. Aconteceu com John Woo nos Estados Unidos, e Renny Harlin na segunda metade dos anos 90. Recentemente, o talentoso cineasta brasileiro José Padilha foi recomendado para a direção de RoboCop. Parece caso semelhante aos exemplos ilustrados acima, produtores de um grande estúdio enxergam a paixão e o talento de um cineasta, que fez dois filmes extraordinários, Tropa de Elite 1 & 2, chamam-no para dirigir o seu roteiro, oferecem centenas de milhões para um trabalho tecnicamente confortável, porém, na hora em que o diretor procura transbordar  sua criatividade, sua paixão nas telas, os produtores imediatamente o “refream”, frustram-no, procuram mantê-lo “no cabresto”, para que não “ouse demais”, novamente em nome da necessidade de se assegurar retorno financeiro ao investimento de centenas de milhões. Só nos resta esperar que os produtores deem a este grande diretor a liberdade para fazer o RoboCop que deseja fazer, e não aquilo que os produtores do estúdio esperam. Quanto a Renny Harlin, torço que o seu renascimento artístico continue. Harlin está para lançar um projeto interessantíssimo, baseado em um aterrorizante caso real ocorrido na ex-União Soviética, chamado The Dyatlov Pass Incident, envolvendo OVNIs... Mas este filme ficará para uma próxima resenha. 

Todos os direitos autorais do trailer acima reservados a Dimension-Sony Pictures. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.

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