quarta-feira, 29 de maio de 2013

Ninja (2009) - Isaac Florentine é a melhor coisa que aconteceu ao gênero ação.


Casey (Scott Adkins) é um jovem norte-americano que, ainda criança, presenciou o suicídio do pai, que costumava surrar a sua mãe, e fugiu para o Japão. No Japão, Casey foi adotado pelo clã de Takeda (Togo Igawa), um velho guerreiro honrado e valente obstinado em manter vivo o legado dos ninjas. Sob a guarda de Takeda, estão a última armadura real dos ninjas e as suas armas de poderes lendários, entre elas a mortífera espada katana. Takeda promete que concederá o legado dos ninjas ao aluno que se provar imbuido dos melhores valores. Masazuka (Tsuyoshi Ihara), um guerreiro japonês que praticamente cresceu no lugar, julga-se detentor do direito natural à armadura e às armas, pois é veloz, perspicaz, destemido, em suma, um guerreiro forjado pela arte da guerra. Ocorre que Masazuka não reúne o caráter de Casey, que além de habilidades para combate, conduz-se com os mesmos valores inerentes aos verdadeiros ninjas: honra, respeito, compaixão, e coragem absoluta, mesmo sob as mais terríveis adversidades. Quando vê que Takeda o preterirá pelo estudante norte-americano, Masazuka fica cego pela raiva e, durante um treino de espadas, ataca Casey. Por seu descontrole, Takeda o expulsa do clã. Para Masazuka, não há punição pior. Dedicou toda a vida para se aperfeiçoar, para se tornar o último dos ninjas, e então, por um momento de descontrole emocional, pôs tudo a perder. O desapontamento o transforma em uma máquina de matar malévola disposta a acertar as contas com Casey, a quem culpa por toda a desgraça. Masazuka se torna um assassino perigosíssimo, a serviço de uma poderosa facção do crime organizado chamada O Círculo. Ele retorna para o dojo, para reclamar o espólio dos ninjas, mas Takeda se recusa a lhe entregar a armadura e a espada. Certo de que o ex-aluno voltará, o velho mestre incube CaseyNamiko, a filha, de levarem o baú para os Estados Unidos, onde o espólio dos ninjas poderá ser mantido bem distante das mãos de Masazuka. Conforme Takeda imaginara, Masazuka retorna ao dojo, mata os demais alunos e exige do mestre o baú. Quando Takeda recusa-se a ceder, mesmo sob a ameaça de morte, Masazuka o decapita. O assassino descobre que Casey e Namiko estão a caminho de Nova York, e parte para os Estados Unidos, para o confronto final entre os dois melhores ninjas do clã Takeda.

Este filme ágil e magistralmente executado revela os talentos de seu diretor Isaac Florentine e astros Scott Adkins e Tsuyoshi Ihara, todos destinados a grandes coisas em suas carreiras. Mesmo que filmado sob um orçamento modesto, dez milhões de dólares, o diretor Florentine, como de costume, parece multiplicar os recursos, criando um espetáculo de ação que parece maior do que o efetivo custo, de excelente fotografia, excitantes cenas de ação, e performances acima da média, algo incomum a obras do gênero. É impressionante a habilidade com que Florentine orquestra as cenas de luta, encantadoras aos olhos graças a suas diversificadas coreografias cinéticas e impossíveis. Arquitetar as lutas, todavia, não é sua única habilidade. Nos moldes de John Woo, Florentine imprime à ação impressionante sincronia, como se estivesse orquestrando um balé de violência, sendo várias as cenas em Ninja que provam a assertiva: a luta dentro dos vagões no metrô, o confronto com o ninja Masazuka sobre a cobertura de um prédio, e o tiroteio nas calçadas de Nova York, quando o herói por pouco escapa com a vida. Mesmo com o orçamento modesto, o olhar de Florentine traz muita beleza e energia, enaltecidas pelo efeito da câmera lenta, mais uma semelhança entre o cineasta e o grande John Woo. Novamente, Florentine se reúne ao astro principal Scott Adkins, com quem trabalhara no ótimo Undisputed II, e dele extrai uma carismática atuação. Um filme de ação é tão bom quanto o vilão, e aqui Florentine ganhou um valiosíssimo aliado em Tsuyoshi Ihara. Adkins é o herói, porém é Ihara quem se destaca. Filmes de ação tendem a valorizar exclusivamente as cenas movimentadas, as lutas, os tiroteios, não há muita atenção para construção de personagens, ou mesmo desenvolvimento. Com Ninja, a armadilha não se repetiu. O roteiro de Boaz Davidson tece uma trama um tanto quanto previsível, no entanto, são a habilidade do diretor e a atuação do elenco, mais especificamente de Ihara, o trunfo que alavanca o material a um mais sofisticado patamar. Deve-se ao talento e magnetismo de Ihara a capacidade de criar um personagem que nas mãos de um amador qualquer teria parecido um clichê redundante, mas que em suas mãos evolui para um vilão complexo e trágico. O seu Masazuka é um triste anti-herói. Ele encapsula o que há de mais letal na arte do combate mas seu senso de posse, de preferência quanto ao legado dos ninjas, desperta a inveja e a ambição que acabam por distanciá-lo do caminho dos verdadeiros guerreiros. Também dá profundidade ao personagem o fato de enxergar Takeda como pai, e portanto razão se sentir imperdoavelmente traído quando o mestre escolhe o norte-americano como o herdeiro da armadura e da katana. Ihara exala carisma e magnetismo no papel de Masazuka, parece letal em seus suaves movimentos, tais quais os de um tigre mortífero, e pelo desempenho impecável, força o que há de melhor em Adkins, que precisa estar à altura de tamanho desafio. Ninja foi rodado em Sofia, Bulgária, assim como a maioria das produções da companhia Nu Image. Olhos despreparados, todavia, não perceberão que o filme foi rodado na Europa, vez que sempre que a estória exige tomadas externas, supostamente nos Estados Unidos, o estúdio reproduz muito bem uma avenida novaiorquina. No momento (2013), encontra-se em pós-produção a continuação, Ninja 2,que felizmente foi regida por Florentine, e novamente estrelada por Scott Adkins. Se a contribuição original surpreendeu, só nos resta salivar de expectativa pelo lançamento da sequência. Procurem por Ninja nas locadoras. O DVD foi lançado sob o selo da California Filmes.

Todos os direitos autorais do trailer acima reservados a California Filmes. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.

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