quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Uma Noite de Crime 2. Anarquia. ("The Purge: Anarchy", 2014, James De Monaco, EUA): "Deus abençoe os Novos Pais Fundadores, bem como a América, uma nação renascida".

21 de março de 2023. Dentro de algumas horas, começará o feriado anual do "Expurgo". Constitucionalizado pelos "Novos Pais Fundadores", o "Expurgo" é observado no período de doze horas que vai do anoitecer à manhã do dia seguinte. Durante o período, serviços essenciais tais como Bombeiros, Polícia e Hospitais são subtraídos dos cidadãos, assim como qualquer garantia constitucional, e todo tipo de crime é permitido. Essencialmente, a "Noite do Expurgo" foi criada para eliminar as frustrações e ansiedades da sociedade, válvula de escape legalizada para o ódio enrustido, quando pessoas, pelo menos por algumas horas, podem pegar suas armas para eliminar desafetos sem a intromissão do Estado, livres de qualquer ameaça de pena. Assim como ocorre no excelente filme anterior, nesta tarde em particular de "Uma Noite de Crime 2", a propaganda do Estado funciona a todo vapor, à favor da "tradição americana", programas televisivos enaltecendo o feriado pelos impressionantes números obtidos de baixo desemprego e pobreza praticamente inexistente.

Eva Sanchez (Carmen Ejogo) é uma jovem garçonete. Ela está louca para terminar seu horário e ir logo para casa, ficar com a filha adolescente Cali e o pai enfermo e idoso Papa Rico. Dá para se sentir a eletricidade no ar, pessoas apressadas para fechar as portas do comércio e se trancar em casa. Em downtown Los Angeles, o tráfego vem se intensificando. "Se você não estiver pretendendo participar do Expurgo, é melhor tratar de ir para casa, logo será uma guerra nas ruas", o apresentador do noticiário aconselha, enquanto Eva e as colegas assistem visivelmente apreensivas. Um rapaz, Carlos, flerta com a garçonete, brincando com algo nas linhas de estar curioso por fazer parte do Expurgo apenas para sequestrá-la por uma noite de prazer. Depois de liberados, os amigos trocam recomendações de cuidado. Tanya (Justina Machado), a melhor amiga de Eva, aproxima-se da moça e conta que Carlos "está afim". Tanya lamenta que Carlos não tenha se interessado por ela, pois, diferente de Eva, teria adorado a atenção. As duas travam um breve diálogo, quando nos é revelado que Papa Rico está muito doente e os custos com o tratamento tornaram-se particularmente onerosos para Eva, que havia pedido um aumento para sua chefe, sem sucesso. As duas se despedem.

Em um outro lugar da cidade, Sargento Leo Barnes (Frank Grillo) ocupa-se de municiar suas armas. O cara leva tanto arsenal pesado na mochila que parece que saiu direto daqueles típicos filmes de ação dos anos 80 e pretende derrubar sozinho o governo ditatorial de um pequeno país da América Latina. Pensativo, ele olha para um porta retrato no criado mudo, onde o vemos abraçado a um menininho, seu filho. Evidente que Leo não participará da "Noite do Expurgo" para "se divertir", ou seja, não é nenhum psicopata criminoso. Ocorre que Leo participará pois é movido por sede de vingança e um deturpado senso de justiça, sobre os quais aprenderemos no correr do filme.

Liz & Shane (Kiele Sanchez & Zach Gilford) escutam ao rádio do carro enquanto seguem apressados pelas ruas gradualmente evacuadas da periferia - os dois preferiram evitar as rodovias maiores por causa do engarrafamento. O casal vê gente pregando tábuas pesadas em portas, barricando-se como podem para a guerra por vir. Ainda existem algumas vozes que se levantam conta a "Noite do Expurgo", e, pela rádio, escutamos a uma discussão acalorada entre pessoas de diferentes posições. As vozes discordantes creem que os "Novos Pais Fundadores" se aproveitaram do medo que reinava no país para conseguir aprovar a emenda. Em um grande telão em downtown Los Angeles, um senhor idoso realiza um pronunciamento à nação, naquelas horas antecedentes à "Noite do Expurgo". O cavalheiro é um dos "Pais Fundadores", e através de sua fala, aprendemos que a tradição americana completará nove anos naquela data, e que desde então, os Estados Unidos passam pelo seu período mais economicamente próspero. Combatendo a propaganda maciça, há um grupo de rebeldes, encabeçados por Carmelo (Michael K. Williams). Carmelo não poupa críticas à "Noite do Expurgo" e "vai bem na ferida". Ele defende que o feriado não se baseia em extravasar raiva, mas pura e simplesmente em dinheiro. Carmelo prega que a "Noite do Expurgo" é uma estratégia inumana e cruel do Estado para eliminar pessoas mais vulneráveis, pobres e necessitadas, que jamais teriam como se defender. Deste modo, a "prosperidade" tão apregoada pelos "Pais Fundadores" é cretina, macabra, e não se sustenta, pois no frigir dos ovos, tudo o que o Estado faz é lavar as mãos para se livrar das pessoas que mais necessitam de sua proteção, tudo em nome do bem-estar da classe mais rica. Carmelo promete que naquela noite, ele e seus homens irão às ruas para defender os inocentes contra os entusiastas do Expurgo.

Eva está caminhando pelas calçadas do humilde bairro onde mora. As portas dos pequenos comércios estão sendo fechadas. Nas esquinas, os delinquentes locais oferecem serviço de proteção a civis por um determinado preço."Cortamos a garganta de qualquer desafeto seu, aceitamos vários tipos de pagamento", um dos bandidos anuncia a Eva, que não lhe dá atenção e apressa a marcha. Ao entrar pelo hall, ela cruza com Diego, um dos moradores. Eva é assediada pela segunda vez no dia quando Diego oferece seus serviços. Eva encontra Papa Rico & Cali assistindo à televisão. Papa Rico lhe passa um sermão em razão da demora: em apenas duas horas, o apocalipse vai começar. Eva trouxe os remédios de Papa Rico, mas o idoso protesta, pois a sua enfermidade é terminal, e as pílulas são demasiadamente caras. O velhinho deseja poupar financeiramente a filha, mas Eva e a neta não medem esforços para amenizar sua dor. Papa Rico as agradece e, muito comovido, lhes conta sobre o quanto as ama. Ele  diz que se recolherá ao quarto para cochilar.

Shane & Liz param em um mercantil a caminho do apartamento da irmã de Shane para comprar alguns mantimentos. Ao deixar o mercantil com os pacotes, são acostados por um ameaçador sujeito com o rosto pintado de tinta branca. Ele não lhes faz mal, mas vemos que participa de uma gangue de mascarados, "dando um tempo" no estacionamento da lanchonete, só no aguardo do início da "Noite do Expurgo". Um deles veste uma máscara de arlequim, e acena maliciosamente para os dois. Por ora, é lógico que os bandidos não lhes farão mal - se o fizessem, seriam enquadrados pela polícia - todavia assim que o feriado começar, irão à forra.

Uma tomada aérea nos mostra downtown Los Angeles já quase deserta. Começa a escurecer, os nervos estão à flor da pele. Sargento Leo Barnes escuta batidas na porta do quarto. É a sua ex-mulher. Ela explica que tentou contatá-lo por toda a tarde, sem sucesso. Ao enxergar o arsenal e várias fotos e informações sobre um determinado rapaz pregadas na parede, a moça compreende os planos do ex-marido para a noite, e suplica para que não vá atrás de vingança. Deduzimos que o rapaz das fotos exibidas na parede, Warren Grass, foi o responsável pela morte do filhinho do Sargento Leo Barnes. Warren dirigia alcoolizado à toda velocidade, quando seu carro tragicamente colheu a criança, exatos doze meses atrás. Apesar da insistência da moça em demover Leo de seus planos, o Sargento mantém-se resoluto.

Eva está tomando banho e Cali assistindo à televisão, portanto não veem quando Papa Rico parte depois de deixar uma carta sobre o travesseiro. Ele é recebido nas calçadas pelo motorista de uma limusine, que o convida a entrar. Por acreditar que se tornara um estorvo para a filha e a neta, Papa Rico resolveu vender-se a pessoas milionárias, que o matarão durante a "Noite do Expurgo". Em troca de seu sacrifício, essas mesmas pessoas depositarão uma grande soma de dinheiro na conta corrente de Eva, o que lhes dará um futuro muito melhor. Eva e Cali de nada sabem, e decidido a morrer pelo bem da filha e neta, Papa Rico parte sem dizer adeus.

Shane & Liz sobem a highway a caminho do apartamento. Ambos ainda estão sacudidos pelo encontro com a gangue, quando o carro sofre uma pane. O automóvel dá o prego bem sobre o viaduto, e o casal entra em pânico. Eles sabem a gravidade de ficarem expostos naquela região, downtown Los Angeles, justamente o ponto onde a turma se encontra para se matar durante a noite. Tomados pela angústia, contatam amigos e familiares pelo celular. Alguém precisa lhes dar uma carona, e logo. Shane acena e pede socorro a alguns carros que passam, mas em um momento tão tenso parece inexistir espaço para solidariedade. Ao verificar melhor o carro, Shane dá pela mangueira cortada, e conclui que foram os mascarados do estacionamento que armaram a cilada. O casal foi "marcado" pela gangue, que os "imobilizou" ali em plena highway, para pegá-los assim que a "Noite do Expurgo" começar. Assim que tira suas conclusões, Shane avista a gangue ao longe, no comecinho da ponte. Além de armados e em maior número, são servidos por motos e uma grande van. O arlequim, líder dos arruaceiros, exibe o taco de baseball. Como a "Noite do Expurgo" ainda não começou, os mascarados ainda não podem partir para cima do casal, e assim, Shane & Liz aproveitam para abandonar o carro e correr.

A noite chega. Cali & Eva assistem ao noticiário News 13. A jornalista se despede, "Para aqueles que não participarão, uma noite segura. Para os que liberarão suas bestas interiores, boa caçada". Subitamente, a transmissão oficial - uma voz feminina - se inicia "Isso não é um teste. Esse é o Sistema de Transmissão de Emergência, anunciando o início do Expurgo Anual, sancionado pelo Governo dos Estados Unidos. Armas de classe 4 e inferiores estão autorizadas para uso durante o Expurgo. Todas as demais armas são de uso restrito. Aos Oficiais do Governo de ranking 10, foi concedida imunidade...", e segue com aquela preleção tétrica de arrepiar os cabelos. Sargento Leo Barnes cruza as ruas desertas em seu Mustang. Em um outro lugar, em um cruzamento vazio, Liz & Shane correm pelas suas vidas, enquanto ao fundo, pelos alto falantes, as últimas instruções são fornecidas pela voz.

Ao soar do alarme do Sistema de Emergência, aqueles dispostos a "jogar" saem às ruas.Um homem com rifle de longo alcance assume sua posição na cobertura de um prédio menor; um outro de capuz caminha com um afiado machado em mãos; há aqueles que preferem caçar em grupo, guarnecidos por cães ferozes e contando até mesmo com lança-chamas; uma gangue latina roubou um ônibus escolar, e só se enxerga escopetas pronunciando-se pelas janelas; tem gente que armou o container de uma carreta com uma super metralhadora, semelhante à bateria antiaérea. Sargento Leo Barnes não quer perder o foco, e dirige concentrado ao longo das ruas assustadoras; casualmente, testemunha um transeunte sendo morto a golpes de paulada por algum covarde doente entusiasta da "Noite do Expurgo". Mais à frente, na ponte, uma galera está metralhando um carro em chamas, para detoná-lo para levantar barricada. Sargento Barnes prefere não chamar atenção e muda de rota.

Shane e Liz procuram se proteger da melhor maneira possível, em um estreito beco, quando uma pessoa arremessada de algum andar acima quase cai sobre suas cabeças. O casal se esconde e constata que a gangue de mascarados circula nas vizinhanças. Não muito distante dali, protegidas dentro do apartamento, Eva prepara o jantar para Cali e Papa Rico. Ela não sabe ainda que o velho as deixou para ser morto por dinheiro. Só dão pelo sumiço quando Cali vai ao quarto para chamá-lo para jantar. Naquele instante, na sala de uma mansão, vemos Papa Rico sentado, amedrontado, aguardando pela morte, enquanto uma família rica dá mãos para fazer uma prece, antes de sacar seus facões. Não vemos o impacto, porém trata-se de uma cena muito triste e forte, um senhor indefeso e doente que jamais fez mal a alguém e apenas sonhava dar uma vida melhor à família, executado por ricos que acham perfeitamente justificável executar um ser humano como parte de uma tradição. Mãe e filha choram cheias de dor diante da constatação. Cali não se conforma com a ideologia por trás daquela noite maldita.

Eva e Cali são tiradas de seu torpor ao enxergar por entre as cortinas da janela a chegada de um grupo paramilitar. A porta de Eva é subitamente posta abaixo; Diego armou-se com uma escopeta, determinado a estuprar mãe e filha. Diego começa a desabafar, afirmando que fará justiça. Exclama que todos os dias Eva passa por ele sem lhe dar atenção, mas hoje vão acertar as contas. Diego está a um sopro de estuprá-las, quando escuta passos vindos das escadas. Ao averiguar, é fuzilado. Eva e Cali se albergam dentro do armário, porém os soldados as descobrem e as rendem. Eles se reportam ao superior por rádio, um indivíduo a quem chamam de Big Daddy. Cali e Eva são arrastados escada abaixo, a todo o tempo assistindo à carnificina promovida pelo grupo dentro do prédio. Por sorte, Sargento Barnes está passando pela quadra quando vê os paramilitares as arrastando para a carreta. Barnes é um homem com uma missão - executar o motorista bêbado - mas não tem como se omitir. Simultaneamente, também nas redondezas, Shane e Liz são flagrados por um dos mascarados, que uiva como coiote para chamar os comparsas.

Barnes salta armado do carro, para se aproximar da cena do sequestro com cautela. Ao se distanciar do carro, não vê quando Shane e Liz, desesperados, escondem-se no banco traseiro. Barnes chega com a metralhadora e acerta os três soldados que dominavam mãe e filha. Há mais homens do outro lado da rua. Após troca de tiros, Barnes também os derruba. Quando Barnes vai ajudá-las a se levantar, surge um homem, Big Daddy, no contêiner da carreta. Ele veste um boné com as cores da bandeira norte-americana, e Barnes só o atinge de raspão. O Sargento e as garotas entram no Mustang, a tempo de se protegerem da saraivada de balas da bateria antiaérea de Big Daddy. Não bastasse a ameaça, no outro extremo do quarteirão, aparece a gangue dos motoqueiros mascarados. O carro de Barnes, blindado, sobrevive, como que por milagre, às investidas dos tiros da bateria antiaérea. Barnes acelera e dá o fora da quadra.

Sargento Barnes pisa na tábua. Shane procura enxergar pelo vidro traseiro, diz que não há sinal da gangue dos motoqueiros. A turma se afastou do epicentro da confusão, porém não custa ao carro morrer. Uma das balas da bateria antiaérea apanhou o motor. Eles precisam começar a andar. Barnes opina que cada um siga seu próprio caminho, mas os passageiros, todos civis, sabem que não têm como sobreviver sem a perícia de Barnes. O Sargento distribui algumas de suas armas e lhes deseja sorte. Ele tem contas a acertar com o assassino do filho, e só poderá fazê-lo enquanto durar a "Noite do Expurgo". Bastante assertiva, Cali pergunta "Por que nos salvou, se logo depois nos deixaria nas ruas para morrer?". Eva conta que sua amiga Tanya não mora longe dali. Se Barnes topar levá-los ao apartamento de Tanya, Eva lhe arrumará um carro para que vá resolver o lance com o motorista bêbado. Eva liga para a amiga, que pede para que corram logo para seu lugar.

Durante o percurso, os cinco testemunham as coisas mais horríveis. A gangue dos motoqueiros age com particular crueldade. Shane pisa em uma armadilha, e é arrastado por um fio de aço até o meio da rua. O autor da cilada é um dos mascarados, que puxa a faca para Barnes mas leva um tiro no peito. Barnes sabe que o único jeito de livrar Shane é disparando no fio de aço, porém no meio de todo o entrevero, outros marginais aparecem atirando. Barnes derruba alguns, o próprio Shane consegue atirar no fio e romper a armadilha. Faltam seis horas para o término da "Noite do Expurgo". O Sistema de Emergência é hackeado, e quem entra ao vivo para conclamar os americanos a se levantar contra toda a insanidade é Carmelo.

A turma se depara com o cenário de muitos corpos estatelados aos pés de uma carreta. Não é a mesma carreta da qual fugiram anteriormente, mas Eva repara que os homens estão caracterizados como os soldados paramilitares que enfrentaram anteriormente. Barnes vasculha o contêiner e encontra nova bateria antiaérea. Ali também há monitores, alimentados por imagens vindas de todas as câmeras existentes em downtown Los Angeles. Era por isso que os vilões sabiam de antemão onde as pessoas mais vulneráveis se encontravam. Barnes crê que aquele grupo parece servir ao Estado, ajudando a "fazer o trabalho sujo", ou seja, alimentar a "Noite do Expurgo" e eliminar os mais pobres. A turma precisa se esconder quando uma nova carreta se aproxima. Eles decidem seguir para o lugar de Tanya pelos trilhos do metrô.

Durante o atalho pelos túneis, Cali procura se aproximar de Sargento Barnes, que confessa que parou para ajudá-las pois ficou admirado com a coragem com que resistiram aos soldados. Ela tenta conhecê-lo melhor, mas Sargento Barnes acha melhor não se envolver. A turma se assusta com um barulho qualquer vindo da escuridão, porém percebe tratar-se de pessoas humildes e de bem, escondidas nos trilhos para procurar sobreviver. O sossego dura pouco, quando arruaceiros munidos de lança-chamas e sobre buggies invadem os trilhos. As pessoas tentam correr, mas são sumariamente liquidadas, queimadas ou fuziladas. Sargento Barnes e a turma já estão mais à frente do túnel e correm para a saída. Em uma atitude heroica, Shane resolve ficar para sacar a metralhadora e disparar contra os arruaceiros, permitindo que seus amigos tenham tempo para fugir. Gravemente baleado, Shane ainda tem forças para dar tudo de si e atirar, conseguindo eliminar os bandidos e explodir seus veículos. Liz o ajuda a se levantar, e a turma volta às ruas para o segmento final em direção ao apartamento de Tanya.

Faltam quatro horas e meia para o término da "Noite do Expurgo". A turma avista o prédio e entra sem contratempos. Mal sabem que estão sendo vigiados por câmeras do governo que entregam sua posição para Big Daddy. Acomodados no apartamento, Sargento Barnes tem como limpar as feridas de Shane e prestar primeiros socorros. Barnes diz que Shane resistirá, mas assim que a noite acabar, deve procurar um hospital para atendimento completo. Tanya mora com mãe, pai, irmã e cunhado. A mãe prepara uma comida para a turma. Por um breve momento, cremos que tudo ficará bem. Barnes revisa seu armamento, sabe que logo deverá voltar às ruas para seguir com a missão de acertar velhas contas. A irmã de Tanya faz um comentário depreciativo, em tom de brincadeira, sobre o marido, e Tanya o defende. A cena se dá de maneira sutil, mas funciona como presságio. Ainda não nos é revelado, mas Tanya e o cunhado mantêm um relacionamento extraconjugal secreto. A irmã sabe de tudo, porém ficou quieta; pretende acertar contas com Tanya mais tarde, aproveitando-se da imunidade da "Noite do Expurgo". Claro que Tanya de nada desconfia, assim como a turma.

Barnes veste uma camisa limpa. A impressão geral é a de que tudo vai bem. O restante da turma assiste ao noticiário, que reporta a situação de diferentes pontos dos Estados Unidos ao longo da noite. Shane e Liz têm um belo momento de quietude no sofá, quando se reconciliam. Tanya declara que chega de notícias depressivas e coloca uma música latina dançante. Ela pega o cunhado pelas mãos e o convida a celebrar. Barnes chama Eva em um canto para se despedir. Ele pergunta se a garçonete tem certeza que ficará bem com aquela gente - Barnes acabou de flagrar Tanya ingerindo pílulas antidepressivas no banheiro, e o Sargento não gosta de como a moça segue consumindo drinque após drinque. Eva lhe agradece por tudo o que Barnes fez. Quando Sargento Barnes lhe pede a chave do carro, Eva abre o jogo e conta que mentiu. Ela estava desesperada e precisava de sua ajuda a qualquer custo. Eva explica que tudo o que fez foi por amor à filha. Barnes parece desapontado, mas, sendo um homem decente, consegue compreendê-la. Cali se aproxima e suplica para que o rapaz abandone a ideia de vingança contra o motorista, e permaneça ali com os demais até o fim da noite.

A turma não vê quando a irmã de Tanya sorrateiramente surge no corredor com um revólver. A moça atira na irmã sem vacilar, acertando de quatro a cinco disparos à queima roupa, no peito. A mãe procura segurar o braço da garota, mas ela se desvencilha. O cunhado se ajoelha ao lado do corpo ensanguentado e pergunta à esposa por que cometeu tamanha loucura. A esposa responde que havia entrado em sua conta de e-mail e lido as juras de amor trocadas com Tanya, e que agora ele também merecia morrer. O marido subitamente agarra Liz, que nada tem a ver com a história, e a usa como escudo. Ele implora para a esposa que não atire, pois a garota não tem ligação alguma com seus problemas, e se disparar, também estaria matando uma inocente. Barnes chega por trás e abre fogo contra as costas do covarde. A moça o amaldiçoa, exclamando caber somente a ela o direito de executar o marido. Logo um tiroteio se inicia no interior do apartamento, e Barnes e a turma conseguem fugir pelas escadas.

Reunidos no corredor escuro para decidir como proceder, escutam ao rumor de carretas estacionando ali próximo. Barnes consegue escutar Big Daddy dando instruções a seus asseclas. "Ele está aqui, e eu o quero. Ele atirou no meu rosto, arrancou meus dentes, e eu o quero morto, entenderam?", Big Daddy os orienta. Barnes ordena que a turma o siga, e os leva ao longo de um beco lateral. Ele os orienta a saltar sobre a tela, para o outro lado. Ainda conseguem ver os paramilitares serrando a porta de aço do prédio para invadir. Barnes e a turma passam despercebidos, mas quando menos esperam, são rendidos pela gangue dos mascarados. Eles trabalham para gente rica, capturando pessoas para serem vendidas leiloadas por uma rede de milionários. O arlequim tira a máscara, e vemos que não passa de um rapaz comum. Ele avisa a Barnes e turma que não matam pessoas, apenas as capturam para o tal leilão. Os membros da gangue enxergam a noite como oportunidade para ganhar dinheiro, nada mais. Não é nada pessoal.

Conduzidos a um salão de festas, a turma é exibida como mercadoria para pessoas vestidas com trajes de gala. Há uma qualidade surreal à cena. Um pianista dedilha música clássica, pessoas ricas e bonitas do jet set impecavelmente vestidas, levantando suas taças em brinde. O primeiro lance é de duzentos mil dólares, e só vai aumentando. Aqueles que fizeram lances ganharam a oportunidade de armarem-se até os dentes para caçar a turma de Barnes, enquanto o restante do pessoal da alta sociedade se divertirá assistindo. Os caçadores contam com visores noturnos, mais uma vantagem sobre os inocentes. Barnes e sua turma estariam perdidos, não fosse pela turma de Carmelo, os rebeldes que se revoltaram contra a odiosa "Noite do Expurgo" e todos os valores doentios e cretinos que representa. Os rebeldes invadem a arena e abrem fogo contra os ricaços covardes, salvando Barnes e os demais inocentes no processo. Tocado pelo belo exemplo de Carmelo, o homem que se levantou contra o sofrimento de gente pobre e vulnerável nas mãos dos vilões maquiavélicos, Liz se oferece para se juntar à resistência. Ela precisa de um ideal nobre para seguir em frente, principalmente agora com Shane morto (ele foi fatalmente ferido na arena). Barnes e a turma se despedem de Liz e Carmelo, e deixam o lugar em segurança, enquanto os rebeldes dominam teatro e salão. A senhora da alta sociedade que dirigia os lances é detida por Sargento Barnes, que manda que saia do carro e deixe as chaves. Ela chora pela própria vida. Barnes aponta a arma para a sua cabeça e grunhe "Olhe para mim. Você não merece viver, seu monte de lixo. Lembre-se bem do meu rosto. Agora, corra!". Poupada por Barnes, ela foge.

Acompanhado por Eva e Cali, Barnes entra no carro. O dia está amanhecendo, falta pouco para o fim do Expurgo anual. Barnes dirige a uma típica vizinhança de um bairro de classe média, e aponta para a residência do outro lado da rua. Barnes desabafa. Ali, vive o homem que atropelou seu filho. O menininho, chamado Nicolas, voltava da escola, quando ao atravessar a rua foi colhido pelo carro. Warren, o motorista, apresentava o sangue com um nível três vezes maior do que o permitido para o álcool. Graças a manobras do advogado, Warren livrou-se da cadeia, e pôde seguir a vida ao lado da esposa e dois filhos. Barnes pede para que as duas não se metam e o aguardem no carro. Cali chora, argumenta que vingança não leva a lugar algum. Barnes desce armado, contra o pedido de mãe e filha. Ele entra sem muita dificuldade, e rende Warren enquanto ainda está na cama com a mulher. Faltam cinco minutos para o término do Expurgo.

Barnes dá um bofete em Warren e ordena que ambos permaneçam calados. Íntegro, Barnes avisa que não está ali para fazer mal às suas crianças, ou à esposa, a parada diz respeito somente a Warren. O Sargento arremessa Warren no chão e o segura pelos cabelos. "Olhe para o meu rosto, você se lembra de mim?!Sabe o que tirou de mim?!Você me tirou meu menino!", grita, chorando. Warren também está chorando, genuinamente arrependido. Ele clama perdão. A esposa de Warren também pede clemência. Em um momento de lucidez, Sargento Barnes consegue superar toda a raiva e  reunir forças para perdoá-lo. Ao deixar a casa, Barnes é derrubado por dois disparos, e cai no jardim: Big Daddy, o cretino da carreta, o seguiu até ali. Com a vantagem, Big Daddy aponta a pistola para finalizá-lo, quando leva um tiro no meio da testa. Warren, o motorista que acidentalmente matou o filho de Barnes e por ele foi perdoado, efetuou o disparo que salvou a vida do Sargento. Eva e Cali correm para o lado de Barnes. Warren corre para dentro de casa para apanhar as chaves para levar o Sargento ao hospital. Apesar de machucado, Barnes sobreviverá, graças `a ajuda do homem que por muito tempo tramou matar. No final, foi a força de seu perdão que o ajudou a conquistar os seus reais inimigos e vencer a "Noite do Expurgo" ao lado de Eva & Cali.

A partir de uma premissa macabra e intrigante, "Uma Noite de Crime", estrelado por Lena Headey & Ethan Hawke, estreou em Junho de 2013 para colher dividendos da ordem de noventa milhões de dólares só nas bilheterias norte-americanas, um sucesso absoluto. Produzido por Jason Blum, o homem por trás da concepção de excelentes filmes de horror recentes, dos quais Sobrenatural (de James Wan) & Atividade Paranormal são seus melhores expoentes, "Uma Noite de Crime" foi mais uma ideia que deu certo. Era questão de tempo para que o estúdio filmasse a sequência, neste caso, pouquíssimo tempo. Mantendo-se fiel ao tom sério e sombrio e ao estilo claustrofóbico do primeiro, "Uma Noite de Crime 2" conta com o mesmo diretor do anterior, James De Monaco, no comando. Apesar de revisitar o plano de fundo do anterior - uma noite quando toda sorte de brutalidade vem à tona sob a justificativa de "mal necessário" para o bem maior da nação - o diretor acrescenta novos personagens com dramas pessoais distintos na zona de guerra que downtown Los Angeles se torna uma vez que a sirene anuncia o começo do jogo.

O mérito de um excelente filme de horror nem sempre sobrevive aos incalculáveis riscos das sequências. Se há algo que pode diluir, fulminar o impacto de obras primas à toda prova são as continuações fracas pelas quais as pessoas lamentavelmente passam a associar de imediato ideias que começaram muito bem, mas foram avacalhadas ao longo do caminho. Sempre revisitarei o exemplo de Hellraiser de Clive Barker ao abordar a questão, pois não há exemplo mais pertinente. O primeiro filme, de 1986, rodado pelo próprio Barker, que escreveu "The Hellbound Heart", o romance no qual o filme foi baseado, realizou um dos trabalhos mais importantes do cinema. O seu Hellraiser era um pequeno e macabro filme independente britânico, onde ao invés de serem os monstros o objeto do foco, eram os desejos proibidos, amores não correspondidos, frustrações & fetiche os temas arriscados que desfilavam na tela, através da história de um casal que retorna à casa onde o homem passou a juventude; a mulher descobre que o cunhado, amante secreto, morreu no sótão, nas mãos dos cenobitas, e precisa de sua ajuda para fazer a passagem para o mundo "de cá". Se você perguntar para a grande maioria das pessoas qual a imagem que lhes vem imediatamente à mente assim que se menciona o termo Hellraiser, responderão que é o "monstro cheio de pregos na cabeça". Isso não acontece por causa dos dois originais, mas exatamente em razão das sequências inferiores - muitas delas - que diluíram a importância e os temas da ideia original de Barker para focar os "monstros", o que acabou por banalizá-los. Hellraiser & Hellraiser 2, rodados na Europa e fiéis aos temas de Barker, são obras de arte, mas termina aí. Acontece que após adquirirem os direitos autorais, os produtores norte-americanos chutaram as ideias difíceis de Barker para escanteio, para rodar "filmes de monstro" mais comercialmente viáveis, a partir de Hellraiser 3, e assim, lamentavelmente, algo foi perdido na tradução da obra, durante a transição Grã-Bretanha/Estados Unidos. As pessoas que realmente conhecem Hellraiser e respeitam Clive Barker sempre associarão o título a sua verdadeira essência, qual seja a história de amor extraconjugal e a performance inesquecível de Clare Higgins, o verdadeiro monstro. Voltando a "Uma Noite de Crime 2", quanto a riscos de se rodar sequências, sinto-me grato de dizer aos amigos que o diretor James De Monaco acertou a mão, e fez um ótimo filme. Apesar de se aprofundar na mitologia oferecida pelo primeiro, enriqueceu-a sem desrespeitá-la em favor do "comercialmente viável". A fórmula deu certo, pois mesmo angustiante e difícil, "Uma Noite de Crime 2" arrecadou cento e três milhões de dólares nas bilheterias.

No que diz respeito à sequência, a estratégia dos criadores de "Uma Noite de Crime" me faz pensar no último filme da franquia Atividade Paranormal. Depois de três continuações, a ideia começava a mostrar sinais de cansaço. Foi quando o novo diretor, Christopher Landon, preferiu experimentar um pouco com a velha fórmula, ambientando o filme na comunidade latina e escrevendo novos personagens para uma trama que apesar de guardar ligação com a ideia original, ousava "ir a lugares diferentes". O resultado foi um filme que não apenas redimiu a franquia como também superou o original, em todos os sentidos. A proposta de Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal vingou, retirando o suspense das limitações de uma casa para levá-lo às ruas de um bairro de gente humilde e trabalhadora e a surpresa de novos protagonistas apenas assoprou frescor ao produto final. O último filme - uma misteriosa história de bruxas e assombrações que se passa no contexto de uma charmosa e muito latina "coming-of-age story" - pode ser considerado como o grande responsável por salvar a série e lançá-la a uma direção onde muitos outros poderão revezar-se "passando a tocha" para o próximo. Em "Uma Noite de Crime 2", o diretor James De Monaco, também autor do roteiro, segue o mesmo viés de Christopher Landon, e aposta alto ao criar uma variedade de novos personagens que, ao invés de confinados a suas casas durante o período do Expurgo, veem-se subitamente nas ruas de downtown Los Angeles, onde não há ilusão alguma de proteção. Seu filme desenvolve o potencial do primeiro (temos uma melhor noção da envergadura e do impacto do Expurgo sobre a sociedade americana), porém respeita a tradição que tornou o anterior eficiente, bem representada pela fotografia opressiva e angustiante e a trilha sonora orquestrada por teclados modernos e sintetizadores, homenagem aos velhos filmes de John Carpenter, como Halloween & Assault on Precinct 13. Em termos de estrutura narrativa, assim como tem-se observado o surgimento de dramas urbanos compostos por várias histórias que se cruzam, nos últimos anos, "Uma Noite de Crime 2" assemelha-se a uma versão mais macabra desse estilo de storytelling, pois de modo semelhante temos muitos personagens em cena - não se pode falar em um protagonista apenas - mas todos os seus dramas se complementam muito bem em função do objetivo maior, a mensagem final, uma forte crítica ao egoísmo e a mesquinhez humana e a sua dificuldade de enxergar algo mais que os próprios interesses.

O elenco formou um dos pilares sobre os quais De Monaco sustentou seu bom filme. Carmen Ejogo interpreta a garçonete sacrificada que faz de tudo pelo bem da filha, e em iguais medidas emana vulnerabilidade e determinação; Zach Gilford & Kiele Sanchez jamais soam forçados como o jovem casal que enfrenta dificuldades comuns ao dia a dia de todo casal jovem, e cujos laços são fortalecidos quando submetidos ao teste de fogo; Frank Grillo, como Sargento Leo Barnes, é um eficiente herói de ação, em muitos momentos fazendo lembrar um jovem Burt Reynolds em Deliverance. Os entusiastas do gênero Suspense que gostaram do primeiro, mas ficaram com o gostinho de que poderia ter sido melhor, aprovarão essa elegante continuação. Apesar de criar um filme tenso e angustiante, De Monaco jamais descamba para a violência desnecessária ou explícita. Há duelos com armas de fogo, muitos tiros e pessoas feridas, todavia De Monaco jamais "vai longe demais", preferindo explorar o horror pelo viés da atmosfera apocalíptica de um futuro muito próximo, evitando exageros que não apenas quebrariam as pernas do filme como o tornariam desinteressante ao grande público. Os amigos que se recordam do final dos anos 80 e começo dos 90 perceberão o quanto "Uma Noite de Crime 2" se assemelha a aqueles suspenses que costumavam passar no Supercine, cheios de mistério e reviravoltas, duas horas de roer as unhas. Recordo-me de um filme que assisti quando criancinha, exibido no SBT, na segunda metade dos anos 80, não me lembro do nome, mas sei que era estrelado pelo ator Richard Thomas, do seriado Os Daltons. Um casal está de passagem em Nova York, o homem para uma entrevista de emprego. Por conta de um erro banal, o rapaz acaba indo para o bar errado, onde espera inutilmente pelo dono da firma, que não chega. Ao perceber o engano, já ficou muito tarde, e o comércio local está fechando as portas. Ele se vê em uma região de Manhattan da qual não se lembra, não há táxis por perto, os telefones públicos não funcionam, e uma gangue cisma com o cara e a esposa. "Uma Noite de Crime 2" foi realizado em uma escala muito maior, bem mais grandioso e atualizado, porém preserva algo desses pequenos filmes datados e poeirentos de TV, do final dos anos 80, um gostinho de madrugada em claro talvez, de horror assistido no escurinho do quarto sob lençóis, por causa do frio do ar condicionado, a mágica de se acompanhar o suspense por olhos de criança, quando tudo é muito maior do que efetivamente o é.

"Uma Noite de Crime 2" estreia no Brasil no próximo dia 04 de novembro, não percam a oportunidade de prestigiá-lo. Eu gostaria de aproveitar a oportunidade para recomendar que se mantenham antenados, pois não custará a outros maravilhosos filmes semelhantes chegarem no Brasil, o mais imediato deles Annabelle. Os amigos devem se lembrar da boneca assustadora de Invocação do Mal; pois bem, Annabelle trata da história da referida boneca. Se vocês realmente gostaram de Invocação do Mal, não podem perdê-lo. O filme não é dirigido pelo grande James Wan, mas o homem no comando, John R. Leonetti, foi o diretor de fotografia que deu aos filmes de Wan o tom tétrico e sombrio que os tornou singulares. Aqui, pela primeira vez, arrisca a mão na direção, e torcemos para que tenha se saído bem. Annabelle chegará ao Brasil no dia 3 de outubro. Um pouco mais distante no horizonte, mas nem por isso menos interessantes, teremos Área 51, do mesmo diretor de Atividade Paranormal, sobre a notória área militar restrita no deserto de Nevada, onde se diz ser possível avistar OVNIs; Ouija, sobre amigos que mexem na famosa tábua pela qual se acredita ser possível contatar os mortos, esperançosos de conversar com um amigo falecido recentemente, apenas para despertarem um espírito malévolo; Incarnate, sobre um exorcista (Aaron Eckhart) que precisa enfrentar demônios de seu passado ao assumir o caso de uma criança possuída de nove anos; Sobrenatural 3, que por duas razões foi uma grata surpresa: a primeira, pois os produtores deram a um ator dos dois filmes anteriores, Leigh Whannell, a oportunidade de dirigir, a segunda, será estrelado por um ator muito talentoso a quem jamais foi realmente concedida a chance de brilhar, Dermot Mulroney; e o mais promissor dessa leva, cuja estreia está mais distante, lá para 2015, 6 Miranda Drive, dirigido pelo talentoso criador de Wolf Creek, o australiano Greg McLean, e estrelado por Kevin Bacon & Radha Mitchell, sobre duas famílias que após férias no Grand Canyon descobrem ter trazido para suas casas forças sobrenaturais que supostamente assombram a localidade. Só nos resta a parte mais difícil, esperar, mas o melhor da festa é mesmo esperar por ela!Obrigado pela leitura, um abraço carinhoso, e não se esqueçam de se divertir com "Uma Noite de Crime 2", 04 de novembro nos cinemas!

Todos os direitos autorais reservados a Universal Pictures. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Sabotagem ("Sabotage", 2014) O retorno triunfal de um velho ícone da ação ao tipo de filme que faz melhor!


John "Breacher" (Arnold Schwarzenegger, em seu melhor desempenho em anos) é um calejado e legendário líder veterano de um time de elite de intrépidos agentes do DEA Antidrogas. Com Breacher no comando da maior ofensiva antidrogas dentro do país e em suas fronteiras, o narcotráfico sabe que não há como ganhar. O filme abre com Breacher cheio de remorso, assistindo a um vídeo onde uma mulher e um adolescente são vistos submetidos a ameaças e violências por parte de traficantes covardes. Como aprenderemos mais tarde, as duas pessoas são, na verdade, a mulher e o filho de Breacher, mortos como vingança pelos lordes do narcotráfico. O assassinato da família é um fantasma que ainda hoje assombra o corajoso veterano, que apesar de capitanear uma implacável perseguição aos chefões do cartel para salvar o seu país dos malefícios das drogas, lamentavelmente jamais superou o trauma de não ter conseguido proteger as vidas das duas pessoas a quem mais amava.

A ação começa logo nos minutos iniciais, quando vemos o time realizando uma batida em uma mansão que serve como central de operações para um importante chefão. A sequência serve para nos apresentar os membros do time: James "Monstro" Murray & sua esposa Lizzy (Sam Worthington & Mireille Enos), Joe "Moedor" Philips (Joe Manganiello), Julius "Sugar" Edmonds (Terrence Howard), Eddie Jordan (Josh Holloway), Tom "Pyro" Roberts (Max Martini), Bryce "Tripod" McNeely (Kevin Vance) e "Smoke" Jennings. Lizzy está infiltrada na festa como insuspeita convidada, enquanto os demais se preparam para invadir. Breacher e os rapazes avançam com o caminhão jardim adentro, e iniciada a batida, Lizzy mata o chefão antes que consiga esboçar alguma reação. Os seus asseclas puxam armas e abrem fogo, mas Lizzy foge pela varanda e encontra os colegas na entrada. Breacher e os rapazes invadem a mansão. A eficiente cena é brilhantemente orquestrada, pois jamais parece falsa. O diretor parece bastante preocupado em manter-se fiel à dinâmica do trabalho dos homens que realmente arriscam as vidas em operações antidrogas semelhantes.

Lizzy se oferece para entrar com os demais, porém Breacher não quer. Ela argumenta que sabe onde o dinheiro está escondido, e Breacher acaba cedendo. Ao vê-la com aquelas roupas provocantes, "Monstro" brinca, quando ela vai se trocar no caminhão, para ajudar na invasão, "Nossa, amor, você fica mais sexy assim!".A porta principal é derrubada por "Tripod", o especialista em explosivos, e uma vez que cada agente assumiu seu papel na formação, o time adentra, só para ser recebido a tiros de metralhadora. "Pyro", o atirador de elite, derruba o inimigo com um disparo certeiro. Pelos corredores e de sala a sala, Breacher e seus homens vão pondo abaixo a quadrilha fortemente armada, até alcançar o canto onde o chefão das drogas estoca sua fortuna. Eles encontram uma pilha de dinheiro coberta por lona - é tanta grana que mais parece um pequeno monte, bem ali no meio do escritório.

"Venham receber o seu pagamento!", Breacher comemora. Todos estão muito felizes, mas sabem que precisam correr contra o relógio: monitorados pela inteligência do DEA, que acompanha a operação por rádio, os rapazes contam com três minutos para "sumir" com uma "fatia do bolo" antes que seus superiores entrem para avaliar o resultado. O rádio de Breacher chama, e conforme o veterano espera, do outro lado da linha, os superiores o questionam sobre o motivo da demora para liberar a entrada. Breacher dá uma desculpa qualquer, cita um imprevisto de última hora. "Ainda há snipers pelos corredores, esperem até que tudo fique limpo!", Breacher pede. Na verdade, "Smoke" usará o cano d'água do vaso do banheiro para esconder a "fatia do bolo" ensacada. A ideia da turma é retornar mais tarde para apanhar a grana sem levantar suspeitas. Durante o trabalho de extravio de parte do dinheiro, um bandido surge de supetão e infelizmente acerta "Smoke". A equipe imediatamente abre fogo contra o bandido. "Smoke" foi mortalmente ferido. A turma apressa o trabalho de esconder a grana para deixar logo a casa.

"Moedor", que é um homem enorme, apanha o colega ferido e o ergue sobre os ombros, para levá-lo para fora, para a atenção dos médicos que já estão chegando. Breacher pergunta a Lizzy quanto de grana já conseguiram "surrupiar", e ela dá um número aproximado de dez milhões de dólares, mais do que o suficiente. Antes de deixarem a sala, os rapazes preparam explosivos. Breacher se alberga por trás de uma parede e atira em direção à sala, já abandonada pelos demais. O disparo aciona os explosivos e transforma a pilha de dinheiro restante em chamas: a ideia aqui é apagar todos os rastros que possam incriminar o time de Breacher. Vez que o dinheiro se transformou em cinzas, os comandantes da operação e o pessoal da corregedoria jamais terão como saber ao certo os valores, tampouco suspeitarão da fatia de dez milhões que foi espertamente protegida pelos rapazes dentro do cano d'água.

A surpresa vem depois naquela noite, quando a turma chega pelo esgoto ao local onde o dinheiro deveria estar. Eles não encontram nada. Aflitos, começam a se perguntar quem mais sabia da operação, quem poderia tê-los prejudicado. "Arriscamos nossas carreiras por nada!", um deles exclama, coberto de razão. Não demora à Corregedoria chamá-los para depor. Mesmo após todos os cuidados para apagar rastros, os superiores sabem que há dez milhões faltando, e quando menos esperam, os rapazes se veem convidados a depor. O primeiro a conversar com a corregedoria é Breacher. Os agentes dizem admirar a impecável carreira do veterano, mas afirmam que precisam descobrir onde estão os 10 milhões de dólares. A corregedoria revela que o FBI vinha realizando uma investigação paralela, e que portanto sabia-se que os valores dentro da mansão revolviam 200 milhões de dólares. A Corregedoria faz pressão sobre todos os membros do grupo de Breacher, mas eles se mantêm resolutos em não abrir a boca. Os corregedores os alertam de que se o cartel descobrir sobre os dez milhões desviados, logo os estarão eliminando, um a um.

O cerco começa a se fechar ao redor do grupo. Já há dois agentes na rua onde Breacher mora, montando campana. Os agentes acham que estão fazendo um belo trabalho de passar despercebidos, até que veem Breacher saindo pela porta da frente e se dirigindo para o carro de onde o estão vigiando. Breacher os cumprimenta e até mesmo oferece sanduíches. Não é nada pessoal, e o veterano, que já viu de tudo, sabe lidar com a situação com bom humor, sem ceder à pressão psicológica. No prédio federal, Breacher contorna o jogo dos colegas. Ele está no banheiro, quando um agente da Inteligência do DEA se aproxima para provocá-lo, perguntando por que Breacher não compra um terno melhor ou tira férias em um iate nas ilhas Cayman, agora que tem dinheiro para tanto. O veterano responde que sabe o objetivo das indiretas e piadas, e avisa que não vai morder a isca e ficar nervoso. Breacher subitamente puxa a pistola da cintura do colega e a joga no vaso, para lhe dar uma lição. "Diga a teus superiores que você me deixou desarmá-lo", Breacher ironiza, deixando-o sozinho no banheiro.

Ao voltar à mesa, John encontra um post it no monitor. "Venha me ver. Floyd". Floyd é o superior do DEA, o diretor do departamento. Apesar de respeitar Breacher, Floyd ainda crê que o veterano e seus rapazes foram os responsáveis pelo sumiço dos dez milhões. No entanto, Floyd o deixará voltar às rédeas da Força Antidrogas. Ordens vindas do alto escalão de Washington exoneraram o veterano e seus amigos de qualquer responsabilidade pelo sumiço da grana, e assim, Breacher poderá retomar o comando de seu time.

O veterano se reúne com a equipe no quartel de operações especiais. A turma também está no aguardo de novidades. Apesar da confusão em que estão metidos, o ânimo não é dos piores. "Moedor" está fazendo uma tatuagem nas costas de "Pyro": o rapaz prometeu que tatuaria uma homenagem ao camarada morto "Smoke", mas na verdade está preparando uma brincadeira, desenhando, isto sim, uma figura obscena, sem que "Pyro" tenha se dado conta. A dinâmica entre os colegas é a de família. Eles brincam uns com os outros com a intimidade de irmãos. Breacher chega e quando vê aquela "zona", bota moral. "A investigação acabou, vamos voltar ao trabalho!", ele anuncia, espalhando os distintivos na mesa, para a alegria da equipe.

Eles logo retomam a rotina de treinamento. Breacher leva a turma a uma casa abandonada usada para a prática de táticas de invasão. Ele percebe que Lizzy parece cansada, e lhe diz que a garota lhe prometera que "deixaria de usar essa porcaria", mas a moça pede para que o chefe a deixe treinar. A cena ilustra que o veterano funciona como uma espécie de figura paterna, a quem eles sempre têm como recorrer quando "a coisa aperta". Ainda, compreendemos que Lizzy sofre com problemas de dependência (seja qual for a natureza da droga), e que, da sua maneira, naquela família incomum, cada um tem seus problemas e dilemas.

Os agentes antidrogas invadem a casa, e atiram somente nos bonecos que representam bandidos, porém na última sala, demonstram desleixo ao desconsiderar averiguar atrás da porta. Breacher interrompe o exercício, e lhes mostra onde erraram. Mais tarde, Breacher e "Monstro" estão mais à vontade, e o chefe o pergunta o que o fez se distrair e cometer o erro. "Monstro" diz que o vacilo se deve aos seis meses em que estiveram sob o crivo da Corregedoria, e reclama que a galera deixou de fazer-se sentir uma família, para mais parecer uma gangue. Breacher imediatamente reúne todos e lhes fala sobre o quanto confia a vida aos amigos e os considera família. Para provar a confiança inabalável, Breacher os convida a realizar o mesmo exercício de invasão, porém desta vez com o veterano dentro. Qualquer erro dos companheiros, e sobrará para o veterano, no entanto Breacher não guarda nenhuma dúvida da performance de seu time. Como esperado, a turma põe abaixo os bonecos, sem causar mesmo um arranhão ao chefe, que os aguarda dentro de um dos cômodos. O exercício prontamente restabelece a confiança entre os companheiros, e naquela mesma noite, saem para beber cerveja e comemorar em um bar.

"Pyro" abre a carteira para pagar a rodada. Quando a garçonete pergunta sobre a origem do apelido, conta que os amigos o chamam assim desde que jogou uma granada em um laboratório de drogas e acabou incendiando o prédio inteiro, sem querer. "Sugar" brinca, "Que nada, chamamos de Pyro porque o traseiro dele incendeia", e todos riem. Os companheiros levantam as taças e fazem um brinde a "Smoke", e a noite segue cheia de comemoração e brincadeiras. Mais tarde, Breacher e "Monstro" sentam-se no bar e têm uma conversa reservada. O rapaz fala ao chefe sobre como todos sentiram a sua falta, e que Breacher é a alma e coração daquele time. No salão, "Sugar", visivelmente alcoolizado, causa uma grande confusão ao saltar na passarela e se pendurar nas barras usadas pelas dançarinas.

"Pyro", que mora em um grande trailer Winnebago, acorda de ressaca, sem muita lembrança da farra da noite anterior. Tarde demais, descobre que alguém dirigiu o trailer enquanto dormia até ao meio de trilhos, e uma locomotiva está a caminho. Desesperado, "Pyro" luta com a porta (deixada criminosamente lacrada para que não tivesse chance), sem sucesso. O trem colhe o Winnebago com toda a força, e mata o agente na hora. Breacher chega horrorizado ao local da tragédia, e se apresenta `a Detetive Caroline Brentwood (Olivia Williams), da divisão de Homicídios. Ela pergunta de cara se "Pyro" tinha muitos inimigos. "Só muitas ex-esposas", Breacher responde.

Na manhã seguinte, Caroline aparece na casa de Breacher. O time se reuniu para um churrasco em honra a "Pyro", e a agente da Homicídios é muito mal recebida pelos rapazes. "Monstro" avisa à galera que a moça é a detetive responsável pela investigação da morte do "Pyro". "Vem até aqui e balança esse traseiro para mim", Eddie Jordan provoca, para as gargalhadas dos demais. "Moedor" é particularmente incisivo, cheio de piadas machistas, até que Breacher chega e ordena que os rapazes parem com as provocações. Ele a chama para dentro, e a turma volta a carga com as piadas "Vai, Breacher, trepe com ela!", Lizzy brinca. As fotos molduradas no escritório fazem prova da envergadura do profissional; Breacher aparece ao lado de todos os últimos Presidentes norte-americanos.

Caroline vai apanhar Breacher à noite, para que preste depoimento quanto as circunstâncias da misteriosa morte de "Pyro". O veterano revela que apesar da má impressão, os homens de seu time são os melhores agentes secretos do DEA. Os dois dão uma passada na casa de Eddie para tomar seu depoimento, mas ao entrar, Breacher constata luzes desligadas. O susto vem em seguida, quando o casal encontra o corpo de Eddie pregado no teto, estripado. A polícia é chamada, Caroline reage com choque. "Você fuma?", Breacher pergunta, para aliviar a tensão, e Caroline retruca "Só quando encontro as testemunhas pregadas na droga do teto!". Conforme resultado da perícia, Eddie morreu após uma facada no ventrículo direito, tendo o corpo estripado posteriormente. Darius, parceiro de Caroline, não compreende como um agente altamente preparado poderia ter sido rendido e morto tão facilmente. "Só por alguém mais habilidoso", opina o legista. Fios de cabelo também são encontrados, e imediatamente enviados para o laboratório.

Àquela altura, todos se encontraram no quartel de operações especiais para montar as peças e compreender quem os está eliminando. O time fez tantos inimigos ao longo dos anos que pode ser qualquer membro de cartel. Enquanto Breacher crê em vingança do narcotráfico, "Moedor" alerta que foi por culpa do dinheiro que agora se veem caçados, e o assassino pode ser mesmo algum outro agente do DEA. Breacher ordena que "Moedor" se cale, pois até onde sabem, o lugar pode estar cheio de grampos armados pela Corregedoria. Investigando por conta própria, certa de que há mais à história do que os olhos veem, a primeira porta onde Caroline bate é a do casal "Monstro" e Lizzy. "Monstro" mostra à agente terríveis fotos em seu celular. Ele explica que é aquele tipo de brutalidade que se pode esperar do cartel Rios-Garza, uma vez que se cruze seu caminho, dando a entender que o time está sendo alvo de uma "vendetta", e que ela mal pode começar a compreender a extensão do problema ou dos riscos envolvidos.

Quando Caroline procura os superiores da Corregedoria, abre o jogo e afirma acreditar que o cartel Rios-Garza deve estar por trás das mortes no time de Breacher, como forma de retaliação. Caroline explica que para chegar aos culpados precisa compreender melhor os agentes, e pede acesso aos arquivos sigilosos do DEA, que explicariam melhor as origens de Breacher & seu time. Darius e Caroline são abordados por um agente do DEA. O rapaz, que no começo do filme vimos tratar-se de um colega de Breacher, avisa que o DEA é como uma família disfuncional, e ali não encontrarão ajuda fácil. Todavia, continua, se se aprofundarem um pouco mais, verão que talvez a explicação resida não em cartéis, mas em obra de um dos próprios membros do time. A breve conversa deixa Caroline com uma pulga atrás da orelha.

Caroline procura Breacher e lhe pergunta por que não contou anteriormente que estava sob investigação por apropriar-se de dinheiro do cartel Rios-Garza. Breacher já estava de saída: ele ia pegar um dos colegas, "Tripod", isolado em sua casa de campo desde que as mortes começaram. Caroline se oferece a ir com o veterano. Eles alcançam a casa de campo na manhã seguinte, e de cara Breacher sente que há algo de errado. De fato, o corpo de "Tripod" está aos pés da pia, na cozinha. Por flashback, o diretor revela que o agente foi morto por bandidos do cartel Rios-Garza. Apesar de ter devolvido fogo e derrubado alguns traficantes, "Tripod" não foi páreo para a cilada dos inimigos, em maior número. Caroline chama polícia e perícia pelo rádio. Nas cercanias da casa de campo, Breacher descobre os corpos dos vilões mortos por "Tripod", e várias balas próprias a metralhadoras AK-47, a arma de escolha dos cartéis.

Caroline recebe a visita de "Monstro" no prédio da Homicídios. Consoante o agente avisara no começo, se Caroline entrasse no "mundo", no cotidiano do time do DEA, descobriria somente coisas perturbadoras. O vídeo que a detetive estava assistindo, uma tortura brutal típica dos asseclas do cartel Rios-Garza, reafirma a assertiva de "Monstro". "Eles são os melhores assassinos que o dinheiro pode pagar", diz. Caroline o assegura de que quer ajudá-los, mas gostaria que "Monstro" abrisse o jogo e revelasse tudo o que sabe sobre Breacher. "Monstro" então desabafa, e fala tudo o que conhece sobre o trágico passado do chefe.

Há dois anos, Breacher e a turma haviam prendido Edgar Rios, cabeça de todas as grandes operações do cartel, na cidade de Juarez. Quando estavam para entregar o bandido no México, um dos oficiais mexicanos sacou sua pistola e estourou os miolos do chefão. O cartel não queria que Rios fosse interrogado pela Inteligência do DEA. Além de ordenar a execução de um de seus próprios chefões, o cartel também se vingou de Breacher, o "homem que pegou o homem que ninguém conseguia pegar". Em um flashback desesperador, vemos Breacher recebendo uma ligação no aeroporto, quando os traficantes lhe contaram que haviam entrado na sua casa e sequestrado esposa e filho. "Monstro" testemunhou todo o triste, doloroso instante, o impotente, aflito Breacher escutando a tudo, a dor estampada em seu rosto, os seus amigos o segurando e procurando contê-lo.

A revelação é um momento particularmente emocionante, pois por meio de flashes, aprendemos sobre o marido dedicado e pai amoroso que Breacher um dia foi. O filho Jacob era seu melhor amigo, e ele se fazia presente em todos os momentos, um homem honrado e de valor que só queria cuidar bem da família e dos amigos, e fazer o seu trabalho corretamente, livrando cidadãos do inominável mal dos narcóticos. "Monstro" prossegue com a narrativa, e conta que Breacher enlouqueceu após a morte da família. Viajou sozinho para o México, atrás dos responsáveis, sem sucesso. A turma precisou rastreá-lo em Juarez e convencê-lo a desistir e voltar aos Estados Unidos. Mesmo dois anos mais tarde, Breacher continua obcecado em encontrar os assassinos da mulher e filho. Segundo "Monstro", a turma perdeu o velho John "Breacher" no dia em que o cartel Rios-Garza matou sua família. "Monstro" só se dá pela presença de Breacher ao terminar de contar a história. "Monstro" se desculpa e afirma que só estava tentando ajudá-lo. Caroline fica bastante emocionada com a triste história. Ela lamenta pelo ocorrido, mas por ora Breacher não quer conversa com ninguém.

Breacher a visita para que os dois façam as pazes, e aproveita para apresentar um dossiê: os atiradores que derrubaram "Tripod" eram soldados das Forças Especiais da Guatemala, que vieram de Juarez para os Estados Unidos com vistos roubados. Breacher fornece um invólucro com teste de digitais retiradas de latas de cerveja, pela Imigração, do quarto onde os atiradores estiveram hospedados. Ao perguntar por que lhe confiava tão valiosa informação, Breacher explica que apenas não quer que nada lhe aconteça. Tocada, Caroline o abraça e os dois se beijam e fazem amor.

De posse das digitais, Caroline procede a uma identificação, e daí, consegue a expedição de mandado de prisão por parte de um juiz para agir. No quartel de operações, Breacher e os homens aguardam para dar o próximo passo. Graças a uma inocente ligação de Caroline, Breacher fica sabendo sobre o endereço de uma das fortalezas do cartel Rios-Garza, onde o dono das digitais provavelmente se encontra com o restante dos asseclas que mataram "Tripod". Breacher resolve agir de imediato, contrariando as instruções de Caroline para não se envolver. A turma parte para a ofensiva, e invade o decadente prédio do bairro latino, com toda a violência. Mesmo em meio à eletricidade do momento, Breacher e a galera invadem sem ferir civis inocentes. Só vão encontrar o bandido do cartel do outro lado de uma porta fechada. Breacher o liquida com um tiro de escopeta nas costas. Ainda há mais homens espelhados pelo prédio decadente, Lizzy e Sugar derrubam mais vilões. "Monstro" prova a sua perícia e frieza quando, ao se deparar com o último traficante, que mantém uma garota inocente como refém, bota as mãos para cima e finge se render, só para se aproveitar de um momento de distração do vilão, puxar a automática e lhe explodir os miolos. "Grande tiro, baby!", sua esposa Lizzy o elogia.

"Monstro" percebe aterrorizado que apesar de terem matado traficantes que não valiam nada e inclusive mantinham um laboratório de metanfetamina, os seis caras não pertencem às forças especiais da Guatemala, ou seja, não são soldados do cartel Rios-Garza. Longe dali, um barco de pescas casualmente encontra corpos amarrados em telas, no fundo de um lago. Os legistas constatam que os corpos tiveram os dedos do polegar removidos, e apresentam a tatuagem característica das forças especiais da Guatemala. A conclusão é somente uma: não obstante seja verdade que o cartel Rios-Garza esteja à procura da turma de Breacher, e tenha inclusive executado "Tripod", os outros membros do DEA não foram mortos por Rios-Garza, mas por alguém de dentro do time, que quis jogar toda a responsabilidade sobre os ombros do cartel. Quem seria o misterioso assassino?

A turma - Breacher, Lizzy, "Monstro", "Moedor" & "Sugar" - se encontra em um local ermo, todos com expressões sérias e tensas. Agora que se sabe que um deles pode ser o assassino, a confiança foi quebrada para sempre. "Quem diabos está nos caçando?", Breacher pergunta. "Quem você acha, Breach?É um de nós", Lizzy simplifica. A tensão é tamanha, "Monstro" e "Moedor" apontam-se pistolas e jogam a culpa sobre seus colos como batata quente. "Isso é loucura!Por quê?", Breacher procura manter-se sensato. "Você sabe por quê, Breach. Foi a droga do dinheiro", Lizzy opina com muita propriedade. Um dos presentes à reunião roubou a grana, e agora está matando os restantes para não dividir o bolo de dez milhões de dólares. "Moedor" se cansa de toda a ladainha e parte na moto. Antes de deixar, jura "Se eu vir novamente um de vocês, eu os mato!". 

Breacher não se conforma. "Agora vamos nos dividir?E nos espalhar ao vento?", ele pergunta, ao ver o grupo que ajudou a criar ruir por conta da desconfiança. A situação desagradável se torna pior quando, subitamente, Lizzy revela ao marido "Monstro" que o vem traindo com "Sugar". "Sugar" fica furioso, pois não era hora ou lugar para falar sobre o caso. Ele se desculpa com "Monstro", que perde a cabeça e parte para cima dos dois. Lizzy entra no carro de "Sugar", que arranca, deixando Breacher e "Monstro", o marido traído, para trás. "Nós arruinamos tudo, Breach", "Monstro" lamenta, inconsolável.

"Moedor" vai atrás de Caroline, cheio de remorsos. Ele não aguenta mais guardar segredo, e quer falar a verdade. Começa dizendo que todo o horror começou após o desvio dos dez milhões, quando a grana sumiu. "Moedor" explica que a ideia foi de Breacher, que queria recompensar os amigos por todos aqueles anos de trabalho mal recompensado. "Moedor" acha que o dinheiro só pode estar com um dos três colegas sobreviventes, Lizzy, "Monstro" ou "Sugar". Breacher também desabafa com Caroline. Ela conta que "Moedor" deseja abrir o jogo com o DEA, e Breacher acata a solução como a melhor para o caso. Breacher e Caroline marcam um encontro com "Moedor" em uma diner para discutir o assunto. Sentados em uma mesa do lado da janela, o casal vê quando o rapaz chega em sua moto. Breacher tranquiliza o amigo e o assegura de que ambos estão fazendo a coisa certa, quando se escuta um estampido. O vidro da janela explode e "Moedor" é mortalmente atingido. Breacher joga Caroline no chão para protegê-la. Alguém - Lizzy, na verdade - está disparando de uma das janelas do prédio defronte à diner, porém só conseguiu apanhar "Moedor".

Breacher e Caroline chegam ao quarto de onde o atirador abriu fogo, e colhem depoimentos. Uma guarda de tráfego viu quando Lizzy deixou apressadamente o prédio com uma bolsa (onde guardava o rifle), na companhia de um homem negro. Breacher "faz a matemática" e conclui que foi mesmo Lizzy quem tentou matá-los, e agora procura fugir com "Sugar", o amante. Preocupado com o amigo "Monstro", ao visitá-lo, Breacher descobre que o rapaz foi morto por Lizzy. Por flashbacks, vemos o que aconteceu, basicamente uma discussão acalorada que acabou tragicamente. "Monstro" não se conformou em perder a mulher para o amigo, e ameaçou rasgar o passaporte de Lizzy para atrapalhar os seus planos de fugir com o amante. Lizzy reagiu com fúria, e com um movimento brusco e impensado com a faca de cozinha, cortou a jugular de "Monstro". Vemos que ela imediatamente se arrependeu, pedindo perdão a "Monstro", tentando estancar a hemorragia, mas já era tarde demais.

Lizzy e "Sugar" não têm mais nada a perder, e Breacher sabe disso. O casal prepara uma cilada para o veterano. Lizzy liga com voz chorosa, pedindo para se entregar em uma vaga do vasto estacionamento comercial de shopping center. Depois de acertar o encontro, ela e "Sugar" abduzem uma mulher inocente para usá-la na armadilha contra Breacher. O veterano vai ao "encontro" no estacionamento, preparado para eventuais surpresas (Breacher vestiu um colete à prova de balas). Ele se aproxima cautelosamente do carro, mas constata que Lizzy não está ali dentro. Breacher apenas enxerga a refém, mãos atadas e amordaçada, aos prantos, no banco do carona. Lizzy está no porta-malas do outro carro estacionado logo atrás, fazendo mira. Ela consegue acertar Breacher com um tiro de rifle nas costas. "Ele caiu, ele caiu!", Lizzy grita para "Sugar", que está na direção. Apesar de deixar o veterano aturdido, a bala "ficou no colete". Breacher ainda está em apuros, pois Lizzy prepara o próximo disparo. É quando Caroline acelera e se põe na linha de fogo, para proteger o amigo. Surpresa, Lizzy exclama "Droga, é aquela vadia!". Há uma breve troca de tiros, e Breacher se alberga dentro do carro. "Sugar" arranca com Lizzy pelas íngremes rampas do estacionamento, Caroline & Breacher no encalço. Não custa a atingirem as ruas, e uma implacável perseguição se inicia bem no centro da cidade, uma sequência excelentemente filmada, onde perseguidor e perseguido trocam tiros em alta velocidade, tudo em meio a carros de gente que nada tem a ver com a confusão. "Sugar" se distrai por uma fração de segundo, e colhe um ciclista. Sem visão, "Sugar" "entra com tudo" na traseira de um reboque.

Breacher e Caroline chegam aos destroços logo depois. Lizzy é a única que ainda está viva, mas dada a gravidade dos ferimentos, não sobreviverá por muito tempo. Ele pergunta por que Lizzy matou todas aquelas pessoas, e finalmente compreendemos as motivações dos personagens. Lizzy ficou ressentida quando os dez milhões foram furtados, e matou o time para tentar chegar a aquele responsável pelo sumiço da grana. Breacher revela que foi ele quem pegou o dinheiro. Lizzy entende que Breacher pegou a grana para viajar para o México, subornar a corrupta polícia de Juarez e chegar à identidade dos vilões do cartel Rios-Garza responsáveis pela tortura e morte da mulher e filho. "Nada do que você faça os trará de volta, John", Lizzy lamenta e morre.

Breacher deixa tudo e viaja para Juarez, uma típica cidadezinha mexicana de fronteira, vizinha a El Paso, Texas. Ele coloca os dez milhões de dólares sobre a mesa do delegado local e pede para que lhe diga onde os homens responsáveis pela morte da família estão. O delegado acaba cedendo, e entrega a Breacher o dossiê com os dados dos bandidos. O veterano os segue até a um bar da região, frequentado pela escória do narcotráfico. O chefão é guardado por um forte esquema de segurança, soldados armados de metralhadoras automáticas, mas Breacher não se intimida. Quando o chefão vai ao banheiro com uma prostituta, Breacher o segue e rapidamente o rende. Ele se identifica como o homem cuja família o cartel torturou e matou, e sem hesitação lhe dá um tiro na nuca. Breacher sai do banheiro de revólver em punho, pronto para o duelo. Os seguranças do chefão o recebem a bala, mas Breacher é como uma locomotiva desgovernada, avançando implacável em direção ao bar, devolvendo os tiros sem um único segundo de vacilo ou temor, derrubando os bandidos um a um. Resta apenas um capanga, que pateticamente procura recarregar a pistola. Breacher se aproxima com toda a calma do mundo, enquanto o bandido, acabando-se de medo, entregando a sua verdadeira natureza covarde, treme a ponto de não conseguir encaixar o cartucho a tempo. Breacher lhe dispensa um sorriso de escárnio e lhe estoura os miolos. A guerra acabou. Breacher se senta à mesa, acende um charuto, serve-se de um drinque, e relaxa. Breacher também foi baleado, e não sobreviverá. Ainda assim, pela primeira vez, o vemos sossegado e contente, absolvido do remorso, preparado para reencontrar a família amada, do outro lado. Por um breve momento, conhecemos o "velho John Breacher" sobre o qual seus amigos tanto falavam, o homem corajoso, pai amoroso, marido dedicado, amigo fiel e figura paterna para todos os demais agentes, um homem incorruptível à toda prova, pedra no sapato da escória do narcotráfico. Após colocar a corja de traficantes no lugar que merece, mortos no chão e a seus pés, Breacher reconquista a sua paz e morre.

Magistral filme de ação/suspense, realizado por David Ayer, um diretor que certamente cresceu admirando os antigos, grandes trabalhos do astro Arnold Schwarzenegger, e tantos anos após o afastamento do ícone das telas, deu o melhor para trazê-lo de volta, conduzindo com mão forte este eletrizante veículo de ação e mistério que encapsula o que há de melhor nas saudosas produções do gênero policial, da década de 80 e começo de 90. Embora renda homenagem aos velhos clássicos, "Sabotagem" também se beneficia de autenticidade, filmado de uma maneira que melhor seria descrita como "tática de guerrilha". Em termos de atmosfera e fotografia, muito lembra "Dia de Treinamento". Ao invés de criar um espetáculo de ação cheio de licenças, o diretor Ayer preferiu imbuir seu trabalho de um olhar realista capaz de capturar a agressividade, o calor, a energia cinética do impiedoso mundo do narcotráfico e do combate às drogas nas ruas das grandes cidades. Em anos recentes, só um outro filme, "Selvagens", do diretor Oliver Stone, encapsulou o narcotráfico tão visceralmente. Apesar de o filme de Stone retratar a realidade do mercado com semelhante honestidade, o seu foco é "antipático", pois opta por preocupar-se com a dinâmica das pessoas que movem aquele tipo de negócio cheio de traições e mortes, até mesmo as tornando romantizados anti heróis, enquanto o de Ayer foca-se no dia a dia dos homens de valor, nos dramas e nas tentações dos corajosos agentes que põem suas vidas todos os dias na linha de fogo para combater este terrível malefício.

Escrito pelo próprio Ayer, que bolou o roteiro de "Dia de Treinamento" (daí a semelhança entre os dois filmes), "Sabotagem" evoca a empatia dos espectadores pelos personagens de imediato. Em nenhum momento, eles soam falsos ou exagerados. Tentados pela sedução do lucrativo submundo do narcotráfico, os homens do time de Breacher precisam passar por cima de obstáculos incalculáveis para realizar um tipo de trabalho que a maioria das pessoas não consegue enxergar, mas que se prova vital para o futuro dos jovens de um país. Em "Sabotagem", os heróis são "boca suja", nem sempre parecem as companhias mais civilizadas ou agradáveis, todavia, no frigir dos ovos, colocam as suas vidas em jogo pelo bem do próximo. Tudo com o que parecem contar são a família e uns aos outros, alguns deles como Breacher somente uns aos outros, vez que sua família foi executada. O plano de fundo do filme - batidas em pontos do narcotráfico, o sangue frio e absoluta maldade da corja que comanda o show - justifica e reforça o senso de união e camaradagem que dá o tom à peculiar amizade entre os membros do time de Breacher. Todos os atores estão de parabéns, porque mesmo em papéis menores dão aos personagens nuances, personalidades. Nas cenas em que os vemos confraternizando ou mesmo trabalhando em equipe, não há como negar que esses caras estão absolutamente à vontade uns com os outros. Eles já passaram por tantos perigos e aventuras juntos que não há mais nada que possa constrangê-los.

Embora não se possa negar que são duas pessoas do próprio time de Breacher que colocam em prática os assassinatos que movem a trama, Lizzy e "Sugar" não parecem "vilões". Sim, meio que acabam como responsáveis pelo próprio terrível fim, mas compreende-se o ressentimento de Lizzy, todos aqueles anos correndo riscos monumentais e angariando o ódio dos cruéis lordes da droga para tentar sobreviver com um salário mediano e agentes prepotentes da corregedoria azucrinando as suas vidas, só para perderem os dez milhões que foram tentados a carregar consigo. Na verdade, a origem de todo o mal parece basear-se nos chefões frios e calculistas que não hesitam em torturar mulheres e crianças para passar uma mensagem. Assim, enquanto só se tenha como sentir pena de Lizzy e "Sugar", quando seu carro entra na traseira do reboque, a satisfação só realmente chega quando Breacher, o herói, elimina a real fonte do Mal, os sorrateiros e poderosos lordes em Juarez.

Esteticamente, o cineasta opta por um estilo de "story telling" mais "old school", à velha moda. Ayer teve o bom senso de afastar pirotecnia e efeitos visuais comuns a filmes de ação mais modernos, e primou por uma feitura mais barroca, agressiva, granulada, sem arestas aparadas. Ayer raciocinou que já que pretendia ambientar a história em um mundo tão traiçoeiro quanto o do combate às drogas, sua mais importante ferramenta seria o compromisso com a veracidade. Por esse viés, "Sabotagem" não nos oferece o ritmo ininterrupto de grandiosas explosões, no entanto, quando a violência irrompe, não é nada menos que honesta e visceral, exibida pelos seus mais francos ângulos. Quando você assiste a um filme do mestre chinês John Woo, "Fervura Máxima" a título de ilustração, você o faz boquiaberto, encantado pela graciosidade dos movimentos, a perfeição das tomadas que capturam tiroteios em câmera lenta, a montagem impecável de um inconfundível balé da violência. Imbuir tal estilo, todavia, a um filme tão compromissado com a verdade quanto "Sabotagem" equivale a dar um tiro no pé. Ao contrário, a abordagem mais seca e simplificada explicita a brutalidade em sua pior forma, e deixa claro que apesar de obra de ficção, a história dos personagens equivale a de muitas pessoas que dedicam suas vidas para encarar de frente o rosto feio do tráfico.

Com um elenco de talentosos atores, soa ingrato escolher o grande destaque. De uma maneira ou outra, todos aproveitaram a oportunidade que lhes foi dada para brilhar: Josh Holloway como Eddie Jordan, ao tirar um barato com a cara da policial, para a diversão dos companheiros, ao dizer algo nas linhas de "vem aqui e rebola esse rabo para mim!", uma cena realmente muito engraçada; Max Martini como "Pyro", ao contar no bar a história por trás de seu apelido; Sam Worthington como "Monstro", em incontáveis momentos, o mais tocante quando se consola com Breacher após ser deixado pela mulher, e Breach lhe diz "eu te avisei"; Terrence Howard como "Sugar", ao procurar se desculpar com o colega pelo envolvimento com Lizzy; John Manganiello como "Moedor", o atirador durão e tão grande quanto uma porta, ao se arrepender do furto dos dez milhões de dólares e vocalizar para Caroline o desejo de consertar as coisas e falar a verdade; Olivia Williams como Caroline, uma valente mulher provando seu valor em um meio impiedosamente machista, que simultaneamente demonstra ternura ao se compadecer da dor de Breacher pelo seu triste passado; Mireille Enos como Lizzy, rápida e mortal ao lidar com a escória, compreensiva com o marido "Monstro", brincalhona e irreverente com os colegas de equipe, trágica ao se arruinar por conta da própria cobiça.

Talvez a mais gratificante surpresa seja mesmo Arnold Schwarzenegger, finalmente de volta ao gênero que ajudou a consagrar, após uma longa ausência. Como bom vinho, a passagem dos anos só o beneficiou, e do mesmo jeito que assistir ao confronto de Clint Eastwood com os rivais ao final de "Os Imperdoáveis" eriça cabelos da nuca, é impossível não sentir a mesma emoção ao se ver um envelhecido Arnold Schwarzenegger duelando com os traficantes no bar da cidadezinha de Juarez. Grande herói do passado, todos guardam recordações dos excelentes filmes de ação do astro, onde fazia as coisas mais incríveis, mas o impacto de sua aparição em "Sabotagem", tantos anos mais tarde, por alguma razão, parece muito maior. Não me lembro de ter torcido tanto para ele quanto quando ao desfecho de "Sabotagem". Diferente de seu ápice, aqui Schwarzenegger é um leão velho, gordo e vulnerável, um herói obsoleto, que mesmo pesada e desajeitadamente, saca a arma e enfrenta os vilões de peito aberto. Você torce emocionado para que consiga derrotar os traficantes, e a vulnerabilidade de sua velhice nos faz temer, ao menos por um momento, que a corja leve a melhor. Vê-lo, portanto, como o único homem de pé ao final, o Bem triunfando sobre o Mal, reveste-se de eletricidade tal que os filmes quando era jovem e indestrutível apenas sonham reproduzir. Expoente da segunda geração de astros de ação (a primeira encabeçada por Clint Eastwood e Burt Reynolds nos anos 70), Schwarzenegger começou a atuar em filmes de grande sucesso e a despontar como talento na segunda metade dos anos 80. Firmou-se em produções cada vez mais caras e sofisticadas, que o tornaram campeão de bilheteria e o ajudaram a conquistar o imaginário do grande público. Schwarzenegger entrou a década de 2000 um pouco desgastado, sem conseguir os mesmos resultados dos sucessos do passado, e acabou se voltando à carreira política. Ele deixou um enorme vazio, gradualmente suprido pela chegada de uma nova leva da qual Jason Statham e Scott Adkins fazem parte. Jamais saiu totalmente, porém, dos corações dos fãs de ação que sentem sua falta e lhe querem bem. Seu gradual retorno ao cinema, iniciado em 2010 com um pequeno papel em "Os Mercenários", tem se dado de maneira cautelosa, e "Sabotagem" é seu melhor momento até agora. Recentemente, com a trágica morte do talentoso artista Robin Williams, que nos deixou muito prematuramente, li um comentário muito inteligente e assertivo que também serve a Arnold Schwarzenegger ou a qualquer outro ator querido por quem temos carinho. Essa pessoa dizia que ao longo daqueles anos, assistir aos filmes de Robin Williams, vê-lo sempre com bom humor naqueles filmes, o tornara uma espécie de tio querido, ou um grande amigão de infância que você não vê há tempos, e só casualmente reencontra, mas sabe que terá a liberdade para trocar ideias, conversar, rir, desabafar, chorar... Quando o ator morreu, a pessoa do comentário escreveu que foi tão inesperado e sem sentido quanto perder um ente querido. Eu compreendo tais sentimentos, e percebo que Schwarzenegger, felizmente, assim como Williams e tantos outros, também é objeto do carinho e da atenção dos fãs. Não o conhecemos, mas lhe desejamos bem, e seus filmes, de uma ou outra forma, fazem parte de distintos momentos de nossas próprias vidas, o que os torna queridos conhecidos a quem temos como recorrer nos dias mais tristes. Quantas vezes nos vimos chateados ou desapontados com alguma coisa, e então colocamos o vídeo de um ator querido no aparelho, e pelo menos por 120 minutos esses caras conseguem nos devolver o sorriso, nos brindar com um pouquinho do entretenimento e da diversão que mesmo de maneira passageira nos salva de nossas dores?Sempre me senti assim em relação a uma porção de gente, em relação à Jennifer Connelly (eu a vi pela primeira vez em 1991 ao alugar "Rocketeer", me apaixonei, e conservo uma chama daquele bonito sentimento em meu coração desde então!), a Burt Reynolds, ídolo de infância e juventude, a todos os demais velhos astros de ação e mesmo essa turma nova, a diretores como o David Cronenberg, o Brian De Palma e o Clive Barker. Sinto que fui amadurecendo e essa galera crescendo junto comigo, e por eles tenho todo o carinho do mundo. Hoje, tantos anos depois de 1991 quando vi a Jennifer pela primeira vez, ou assistia em VHS poeirentos a aqueles filmes de corrida e ação de Burt Reynolds, é gratificante e enche o coração de paz saber que esse pessoal se saiu - e vem se saindo - bem. Jennifer hoje é a mãe de três crianças e esposa de um respeitado ator britânico e homem de valor; Burt teve uma carreira brilhante nos anos 70 e começo dos 80, e, mais importante, é pai de um menino que hoje está com 25 anos e só lhe dá orgulho; De Palma, Barker e Cronenberg continuam a rodar seus excelentes suspense, e o restante continua atuante no fantástico mundo do cinema. Ao menos para mim, não há como evitar um doce sorriso diante da felicidade de toda essa galera.

"Sabotagem" marca o triunfal retorno às telas de um astro muito querido. Cheio de suspense, ação e reviravoltas, é uma excelente opção a aqueles um pouco saturados de blockbusters essencialmente visuais e barulhentos, que se sentem saudosos da simplicidade de um filme de ação mais direto. Prestigiem este excelente suspense, amigos, e torçamos para que este grande herói da ação não nos deixe mais por muito tempo. Arnold, seja bem vindo de volta!Você é um homem de valor!
Todos os direitos autorais reservados a Universal Pictures. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.