domingo, 11 de agosto de 2013

V/H/S 2 - De cultos suicidas à abdução por alienígenas, este charmoso suspense tem de tudo!

A antologia de pequenos e criativos segmentos de horror V/H/S ganha uma bem vinda sequência com este intrigante e peculiar filme que reúne os mais novos e criativos cineastas do gênero para quatro inventivos e diferentes contos de horror. Desde abdução por alienígenas a ataque de zumbis, passando por fantasmas e cultos suicidas, V/H/S 2 emula com muito charme o espírito criativo e pioneiro do original, reciclando familiares elementos de clássicos de horror para melhor efeito, dando-lhes conotações ainda mais bizarras e surreais, fruto da combinação de estilos muito ousados e diferentes. Muito bem produzido, o filme também esbanja um frescor independente e marginal, diferente das produções caríssimas que chegam aos cinemas na época das férias, porém que de sofisticado nada trazem, vez que “precisam jogar seguro”, ou melhor, recuperar o dinheiro investido na empreitada. Assim como o anterior, as origens essencialmente independentes de V/H/S 2 o tornam uma excelente oportunidade para que os diretores possam exercitar as fantasias que bem entenderem. Talvez não por acaso, V/H/S 2 tenha sido concebido e distribuído comercialmente pela Magnet, a mesma produtora por trás de outros recentes e maravilhosos trabalhos de arte, tais como Monsters & Europa Report.

Um casal de detetives, que vive de flagrantes extraconjugais, investiga o sumiço de um rapaz, desaparecido sem deixar rastros. Os primeiros que deram pela ausência do garoto foram os colegas de faculdade, que então comunicaram a família sobre o ocorrido. Os detetives começam a procurar por informações e pistas em sua casa. No lugar, veem marcas de sangue na parede, os móveis revirados, e encontram um notebook  ligado a aparelhos de videocassete. Ao manipular os arquivos do computador, a moça descobre um documento de vídeo onde o garoto desaparecido fala de modo incoerente sobre ter conhecido o dono de uma loja de penhores na Armênia que lhe franqueara acesso a uma ampla coleção de fitas. Segundo o rapaz, o conteúdo dos snuff films que adquiriu é genuíno. Ele diz algo nas linhas de Nós somos todos apenas energia eletromagnética então essas fitas capturam imagens do sobrenatural. A detetive insere o primeiro tape no aparelho, para compreender sobre o que o rapaz se refere

O primeiro conto revolve um jovem que recentemente sofreu um acidente automobilístico, e perdeu a visão de um dos olhos. Uma arrojada técnica cirúrgica permitiu que os médicos restaurassem o sentido no olho danificado através da instalação de um dispositivo que não apenas lhe devolveu a capacidade de enxergar como também pode registrar as imagens. Após a consulta final com o médico, a caminho da saída, o rapaz nota uma moça parada no hall, que o encara de uma maneira muito estranha. Ele chega a sua casa, localizada em uma bela colina. Quando começa a se pôr à vontade, coisas incomuns passam a se suceder. Depois de dar uma pausa no jogo para preparar uma xícara de café, ao voltar à sala de estar, não encontra o controle, e, na cozinha, a chaleira é inexplicavelmente arremessada ao chão. O que começa estranho torna-se macabro quando ao passar para a suíte principal, vê claramente uma silhueta sob o lençol da cama. Ao puxar o lençol, não há ninguém, porém ao se virar, encontra um homem muito pálido e ameaçador, que não lhe dirige a palavra. Apavorado e incrédulo, o rapaz se tranca no banheiro. Mais tarde, encorajado a verificar o restante da casa, enxerga um novo visitante, o fantasma de uma menina. Desta vez, o visitante interage com o ambiente, pois depois que o homem procura refúgio no banheiro, a porta começa a bater do lado de fora, como se o espírito quisesse entrar. Exausto e aterrorizado, o rapaz acaba por dormir ali mesmo.

Na manhã seguinte, ao acordar dentro da banheira, destranca a porta e encontra a casa toda revirada. Naquela mesma tarde, a moça que viu no hall do hospital aparece na sua porta. Ela se identifica como Clarissa, e lhe pergunta se desde a cirurgia fenômenos incomuns têm acontecido.O rapaz fica surpreso - como ela poderia saber?Clarissa lhe explica que nasceu surda, e aos 16 anos se submeteu a uma operação para implante coclear. A cirurgia lhe deu a audição, e algo mais. Clarissa passou a sintonizar determinadas frequências nos ambientes que ninguém mais conseguia perceber - ela passou a escutar os mortos. Ela conta ao rapaz que assim que entrou, escutou uma menininha chorando, e novamente ele reage com choque, vez que realmente enxergou o espírito de uma garota na noite anterior. Clarissa pede para que tenha calma. Segundo a moça, a maioria das pessoas jamais se dá pela presença de espíritos. Quando muito, veem-nos uma só vez em toda a vida, e isso se estiverem abertas o suficiente para a experiência. Dar-se pelos espíritos pode ser perigosíssimo, pois uma vez que percebam a conexão, marcam as pessoas para o resto de suas vidas, atormentando-as com queixas e pedidos. Clarissa o avisa a não interagir com os visitantes, pois quanto mais lhes der atenção, mais suscetível se tornará ao assédio, mais fácil ficará para que os espíritos o machuquem. O rapaz pergunta se a retirada do implante o ajudaria, mas Clarissa o desencoraja: de certa forma, apenas deixaria de vê-los, pois os visitantes continuariam ao seu redor, incomodando-o.Quando o rapaz se distrai e olha pela porta de vidro que dá para a área da piscina, encontra um homem de meia idade nu, de aparência realmente assustadora, a boca ensanguentada, olhando-os com ódio. Clarissa dá com os ombros, como que esperando pela visita, e lhe revela que o homem assustador em questão é o falecido tio. Ela consegue ouvi-lo; já o rapaz, enxergá-lo. Procurando distrai-lo, vez que quanto mais atenção, pior o assédio, Clarissa tira a roupa e os dois começam a fazer amor. A estratégia parece funcionar!Os dois dormem abraçados, e o visitante desaparece. 

O rapaz acorda e constata que os cômodos ainda estão repletos de manifestações esquisitas. Na cama da suíte, identifica com muita clareza um pequeno volume dormindo sob os lençóis, e ao arrancá-los, a menina morta que o atormentou na noite anterior salta em sua direção. A partir deste momento, a situação, anteriormente discreta, torna-se caótica:da sala de estar, chegam os gritos de Clarissa. Quando o rapaz procura ajudá-la, vê que a moça foi arrastada para a beira da piscina. Ele tenta lhe dar a mão, mas forças invisíveis a puxam para a água. Clarissa acaba se afogando. Ao retornar para dentro de casa, o homem dá com a menina e o homem do dia anterior, e ao correr para o quarto, ao passar pelos corredores e cômodos, enxerga novos visitantes, mais agressivos. Certo de que a sua única saída é a extração do olho operado, o rapaz o arranca "na raça", porém, conforme Clarissa alertara, a retirada do olho pouco faz para salvar a sua vida. Os espíritos entram no banheiro e o matam de uma forma horrível. 

A segunda estória oferece uma nova perspectiva para a instigante estrutura dos filmes de zumbis. Desde que George Romero praticamente inventou sozinho o estilo em 1968 com A Noite dos Mortos Vivos, outros cineastas fizeram experimentos, em um leque de distintas e interessantes visões, sendo a de Danny Boyle com o seu eletrizante 28 Days Later a mais autêntica e artística derivação da premissa. Em razão do número de filmes semelhantes, seríamos levados a crer que a fórmula não teria muito a oferecer, apenas "truques" velhos e conhecidos, mas o criativo V/H/S 2 consegue construir algo de inusitado e refrescante.Neste segmento, acompanhamos um rapaz que vai passear com a bike na estrada do parque. Ele faz uma ligação para a namorada,e promete retornar cedo, logo que terminar a prática. Durante o passeio, uma moça subitamente emerge do bosque e se joga desesperadamente na sua frente. Ela foi mordida, e implora que o homem a ajude. Menciona alguma coisa sobre o namorado, mas antes que possa se explicar melhor, começa a vomitar sangue. O rapaz lhe dá algum espaço, e ao olhar em outra direção, enxerga algumas pessoas caminhando de maneira estranha e lenta, quase como se estivessem em transe. Ele se assusta com o que vê, e quando vai ajudar a moça a se levantar, para que ambos possam dar o fora, é mordido. Cambaleante, cai mais adiante na trilha para bicicletas. 

Um jovem casal o encontra, e dentro da mesma dinâmica do que aconteceu previamente, são mordidos ao procurar ajudá-lo. As pessoas no bosque parecem infectadas por um vírus semelhante ao da Raiva, só que potencializado. O tempo entre a mordida e a manifestação dos sintomas é exíguo, questão de segundos, e assim, logo o Mal se espalha entre os ciclistas e corredores na trilha das bicicletas. Mais adiante no parque, uma família celebra o aniversário da filha, alheia ao que se passa nas cercanias. A alegria é interrompida pelos gritos da menininha, que quando está para assoprar as velas, enxerga os zumbis chegando. Em uma cena brutal, a carnificina toma conta do lugar, com alguns pais sendo mordidos; outros, resistindo ao ataque dos zumbis e os enfrentando. Duas famílias conseguem fugir em seus carros. O rapaz do começo do segmento, o ciclista, é colhido por um dos carros, e ao ser atirado ao chão, acaba por discar involuntariamente para a namorada, com quem conversara antes de toda a confusão. Mesmo tomado pelo vírus, a voz da namorada parece resgatar um pouco da humanidade que resta ao infectado, e ao tomar conta de que se tornou um zumbi, consegue ter a lucidez para pegar um rifle que apareceu no meio da comoção, e se matar, pondo fim ao processo de transformação. 

O terceiro episódio é o melhor da coletânea. Dirigido por um maravilhoso cineasta que recentemente deixou o mundo boquiaberto com o cinético filme de ação The Raid - Operação Invasão, o segmento, intitulado Safe Haven, é o mais longo dos quatro, e funciona como um inexplicável, enriquecido e surreal pesadelo, onde cada peça é única e peculiar, mas cuja soma não faz sentido algum. Logicamente, o fato de as peças não se encaixarem levariam as pessoas a classificar o filme como incompleto, mas quando se compreende que a atmosfera do segmento é a de um esquisito sonho, a montagem faz perfeito sentido. Ademais, a força cinética esbanjada por Gareth Evans em The Raid - Operação Invasão dá as caras em Safe Haven, que em seus claustrofóbicos trinta e cinco minutos nos deixa em um estado de nervos que somente as melhores montanhas russas seriam capazes de reproduzir. Talvez não por acaso, os produtores tenham concedido a Evans maior espaço de tempo para explorar suas ideias, em um sinistro conto que envolve seitas religiosas, zumbis, apocalipse e a concepção do Anticristo. 

Na Indonésia, uma equipe jornalística composta por quatro pessoas - um casal de repórteres, o operador de câmera e som e o produtor - encontra-se em um restaurante com um recluso líder religioso a quem chamam de O Pai, para uma breve entrevista. O Pai é o mentor espiritual de um lugar conhecido como "porto seguro", recanto para pessoas de passado problemático, sedentas por aceitação e um novo começo. A nenhuma equipe jornalística foi franqueado acesso ao interior da comunidade. O Pai tem seus motivos para manter distância da mídia, pois acredita que suas convicções jamais seriam levadas a sério, e as pessoas os enxergariam como aberrações. Ele fala que o mundo como o conhecemos é passageiro, e que há uma ordem superior, um novo plano, onde só existem felicidade e paz para os fiéis que realmente creem em uma nova dimensão. O Pai conta que os fiéis estão convictos de que o momento de cruzar os portais para o paraíso se aproxima. Intrigada com as palavras do homem, a repórter lhe solicita uma entrevista mais aprofundada, a ser filmada dentro da comunidade. O Pai rejeita o pedido, mas a moça o vence pela insistência. Ela argumenta que compreende sua aversão à imprensa, mas promete que a abordagem da equipe se pautará pelo respeito às suas crenças - ela reafirma que apenas deseja lhes dar um espaço para colocarem as ideias da seita.

O "porto seguro" parece funcionar como uma típica comunidade isolada. Há câmeras instaladas pelos corredores e cômodos do complexo habitacional, erguido em um lugar remoto, distanciado da cidade. Os fiéis contam com o suporte de médicos e confortáveis salas de aula para as crianças. A equipe chega ao "porto seguro", e é recebida no portão por uma mulher e uma menina. Após a troca inicial de cordialidades, a garota presenteia a repórter com uma espécie de colar feito de raízes, e quando esta lhe pergunta se tem outras meninas com quem possa brincar na comunidade, a garota lhe diz que não é mais "menina", porque O Pai já a transformou em mulher. A senhora da seita imediatamente a silencia, e emenda um outro assunto. O momento sutil muito nos fala sobre a natureza da liderança e fascínio que O Pai exerce sobre as mulheres da comunidade. Nas entrelinhas, parece óbvio que O Pai costuma "purificar" as meninas e "transformá-las" em adultas, ou seja, ele é um maldito pervertido e as pessoas na comunidade são tão ou talvez mais doentes do que o guru. A equipe jornalística tem um mau pressentimento sobre a situação. 

Antes de serem levados ao encontro do Pai, a mulher os convida a um passeio através do complexo. No jardim, há crianças pulando corda, e em um dos salões, rapazes ajoelhados fazendo suas preces. Também visitam a sala para atendimento médico, o refeitório, e a sala de aula. Apesar da aparência de paz e tranquilidade, um clima tétrico e perigoso paira sobre o ambiente. O complexo é um lugar que muito embora sugira normalidade esconde segredos sujos. Já no gabinete do Pai, a equipe começa a preparar a entrevista. Ao prender o microfone na lapela da camisa do Pai, o operador de som vê manchas de sangue, e discretamente comenta o ocorrido com o repórter. Quando estão para começar a rodar a entrevista, a jornalista passa mal e se escusa. O jovem produtor diz ao repórter que a acompanhará ao banheiro, e que podem começar os trabalhos, pois não se demorará. A entrevista é desconfortável e tensa. O jornalista questiona O Pai sobre a delicada natureza do relacionamento entre o guru e as meninas do "porto seguro".

Caminhando enjoada pelos longos corredores vazios do "porto seguro" rumo ao toalete, a atenção da repórter é capturada pela sala de aula e as crianças, concentradas na atividade de rabiscar desenhos. Ela entra distraidamente, cumprimenta as crianças, mas então sofre um terrível susto quando, ao se virar, vê, paradas na porta e a observando com olhares analíticos e frios, a mulher mais velha e a menina que conhecera na chegada ao complexo. Ligeiramente assustada, a repórter procura amenizar a situação, com um comentário sobre o quão lindas são as crianças. A mulher responde com "Mas não tão lindas quanto a sua será". Esta cena é um dos instantes mais horripilantes do filme - nada de violento acontece, mas entonações de voz e olhares ambíguos deixam bastante explícito que toda a equipe de reportagem caiu em uma armadilha, e a comunidade do "porto seguro" tem planos para os visitantes. Há um truque de câmera, e se os amigo prestarem muita atenção compreenderão o efeito perturbador que o cineasta Gareth Evans procurou imprimir: quando a mulher e a menina se aproximam da repórter, com todo aquele papo esquisito de que "vai ter um filho muito especial", as duas parecem "deslizar" sobre o chão, parecem aproximar-se da moça sem caminhar, ao menos aparentemente. É um efeito muito sutil e discreto, que poucas pessoas vão perceber, mas que sem dúvida eriçará os cabelos de muitos, por razões que sequer saberão nominar. 

Para a sorte da repórter, o produtor chega à sala, perguntando se ela se sente melhor. Os dois deixam o lugar juntos para tomar um pouco de ar. A moça desabafa, emocionada, revelando-lhe que está grávida. Além da gravidez inesperada, confidencia que crê que o pai do bebê não seja o marido repórter, mas o próprio produtor: os dois mantêm um caso, obviamente desconhecido pelo marido. Neste ínterim, o repórter segue com a entrevista. O Pai justifica a íntima ligação com as crianças como uma forma de purificá-las para que possam atravessar límpidas os portais do paraíso. O rapaz retruca, perguntando como crianças, em sua inocência, teriam "impurezas" a serem corrigidas, porém O Pai insiste na mesma ladainha de paraíso e purificação. Enquanto O Pai defende inspiradamente a nobreza de seus ideais, o operador de som se inclina no ouvido do repórter e lhe avisa que a bateria está acabando. O jornalista explica o imprevisto técnico, e pede para que O Pai aguarde um pouco, pois irá apanhar novas baterias no carro, para que prossigam com a entrevista. Ao procurar por baterias na van, o repórter presta atenção a um dos monitores. A sua esposa tinha sido preparada com uma microcâmera no bolso da blusa, para capturar imagens aleatórias do "porto seguro" sem o conhecimento dos fiéis. Desavisadamente, quando começou a contar ao produtor sobre a gravidez e o romance extraconjugal, a moça não se atentou ao fato de que estava transmitindo a imagem, e para seu azar, o marido se encontrava na van, observando o monitor, bem no momento em que confidenciava seus temores e segredos. 

No escritório, O Pai usa o microfone para se dirigir aos fiéis pelo sistema de som do complexo. Ele diz que por todos aqueles anos foi a bússola de suas vidas, e que muito embora a espera tenha sido muito longa, a "hora" finalmente chegou. Mulheres da seita aparecem na sala de aula oferecendo copos d'água, e O Pai lhes diz para não hesitar, devem beber até a última gota. O operador de som, que até então escutara a tudo calado e perplexo, tenta conversar com O Pai, mas este ordena que se mantenha calado. Enquanto a transmissão chega aos corredores do complexo, o produtor acaba entrando em uma sala semelhante às de parto, e ao puxar o lençol sobre um volume, encontra o corpo de uma mulher com a barriga rasgada. Ele entra em pânico e sai correndo. No gabinete, O Pai entoa entusiasmado o seu sermão, e começa a se despir. Antes que o operador possa fazer alguma coisa, O Pai puxa um estilete e o mata. A repórter vê as crianças bebendo a água oferecida, e fica estarrecida quando começam a morrer. Ao fim do longo corredor, as mulheres da seita surgem vestindo máscaras antissépticas brancas e a dominam. 

O produtor, amante da moça, dá com as crianças mortas sobre as carteiras da sala de aula. Ele trata de correr para encontrar a repórter. Por seu turno, alheio à comoção que acontece dentro do complexo, o marido, bastante aturdido pela descoberta do romance extraconjugal, também retorna correndo para "porto seguro", e cruza com um grupo de rapazes bem vestidos de camisas brancas, de armas em punho. Após uma oração, estouram os próprios miolos. Um dos fiéis, rifle em punhos, tenta acertar a testemunha, mas erra o disparo. Inicia-se uma luta, o jornalista consegue tomar a arma e atirar no inimigo. A vitória, todavia, dura pouco, quando mais três homens entram no salão e conseguem rendê-lo.O produtor chega bem na hora em que o amigo está de joelhos, prestes a ser executado por um dos fiéis. Ele pede para que o homem não mate o colega, mas o jornalista diz para que o esqueça e vá atrás da mulher para tirá-la dali. O fanático aperta o gatilho e estoura os miolos do marido traído. Antes de voltar o cano contra a própria boca e atirar, despede-se do produtor "Foi um prazer conhecê-lo, senhor". 

Munido de estilete e completamente nu, coberto por sangue e dançando como um louco, O Pai lidera as mulheres da comunidade, que arrastam a repórter pelo corredor escuro em direção a um galpão onde O Pai promete que "passarão" pelos portões do paraíso. O amante apanha uma enorme barra de ferro, e espera que os fanáticos entrem no galpão para apanhá-los de surpresa. Ele está caminhando rumo ao galpão, quando as portas explodem, e uma espécie de demônio magérrimo e desengonçado surge pelo teto e sai em disparada, dobrando ao final do corredor e desaparecendo. Logo em seguida, aparece O Pai, declarando que o ciclo foi fechado. O rapaz se prepara para enfrentá-lo, porém O Pai implode, literalmente indo pelos ares. Galpão adentro, o produtor usa a barra para matar as fanáticas que seguram a amante em um leito de parto. Depois de vencê-las, trata de ajudar a moça, porém ela parece ter entrado em processo para dar à luz. A barriga move-se como se uma coisa forçasse o movimento por dentro. Desesperado, o rapaz insiste para que o acompanhe, para que deixem o lugar, mas a dor a impede de se mover. Repentinamente, a barriga explode. O produtor corre, mas ainda consegue enxergar uma enorme, monstruosa criatura, semelhante a um touro musculoso, saindo das entranhas da amante. 

À essa altura, a tensão e o horror custaram a sanidade do rapaz. Ele percorre desesperadamente os corredores, sobe e desce escadas, procurando pela saída do "porto seguro". Uma sirene de alerta arrepiante, parecida com aquelas que escutamos em filmes sobre guerra nuclear, passa a soar. No corredor que dá para a sala de aula, o produtor reencontra o amigo operador de som, o mesmo que fora esfaqueado até a morte pelo Pai. Agora um zumbi, o operador avança em direção ao rapaz, mas este consegue se desvencilhar. Na sala de aula, as crianças parecem estar aprendendo música, mas uma rápida constatação demonstra que também foram transformadas em mortos-vivos. Caminhando pesadamente, o furioso demônio/touro a que a amante deu à luz minutos antes surge esmurrando as paredes, fazendo-as tremer. Antes de alcançar o estacionamento, o produtor ainda precisa se desvencilhar de dezenas de zumbis, o último sendo o amigo a quem traiu e que teve os miolos explodidos. O fato é que eventualmente consegue subir os últimos degraus e chegar ao jardim. Ele quebra a janela do carro, entra e dá a partida. No caminho do portão, nós escutamos um horroroso rugido, o que nos leva a crer que o Minotauro se encontra nas imediações.

O carro corre em zigue-zague pelas estreitas vias do bosque, e por um momento acreditamos que o pior passou, até que uma violentíssima pancada no lado do motorista o joga para fora da via. O rapaz sobrevive ao acidente, mas está extremamente ferido. Ele tenta sair pela janela traseira, mas então o demônio ressurge. O Minotauro tem asas, e também chifres semelhantes aos de uma cabra. O demônio o reconhece e diz, com uma voz horripilante "Papai". O rapaz começa a rir descontroladamente, a mente completamente perdida para a loucura e o horror. 

Pela descrição do enredo, como os amigos podem perceber, há partes deste conto que não parecem fazer sentido, a não ser se as aceitarmos consoante a intenção do diretor: a de nos oferecer uma experiência a mais próxima possível a de um pesadelo. As peças jamais se encaixariam como um todo, todavia o "todo" jamais foi uma preocupação de Gareth Evans. Na verdade, o segmento é alavancado por momentos, por "peças", e da mesma forma que os mais terríveis pesadelos não fazem sentido, o filme passa longe de explicações. Nós temos de acatar o horror que nos é oferecido, sem respostas exatas, sem motivações fornecidas. Aqui, vale lembrar o que o grande Clive Barker disse, certa feita, em uma entrevista, ao discorrer sobre seu amor à pintura, que o ateliê tornara-se seu lugar preferido. Por quê?Nas palavras do próprio, o seu ateliê "(...) é um lugar onde me sinto seguro, e onde eu posso fazer as minhas criações sem ser questionado, sem que as pessoas me perguntem 'por quê'. O grande inimigo da arte é o 'por que', a arte deve ser a sua própria justificativa, a arte não requer perguntas, a arte não requer respostas, a arte é a sua própria resposta, e se não o for, então não é arte. Eis toda a minha filosofia sobre arte". Partindo da filosofia do extraordinário Barker, o segmento dirigido por Gareth Evans tem como razão de existir o sentimento de angústia e eletricidade, evocado em peças individualmente perfeitas - a melodia da sirene, o touro alado com chifres de cabra, os zumbis, o romance extraconjugal entre a mulher e o melhor amigo do marido - que, se montadas, não comporão um todo coeso, mas um aterrorizante caos imperfeito, material do qual pesadelos são feitos. 

Entre o terceiro e o quarto segmento, V/H/S 2 nos leva de volta à primeira estória do casal de detetives. O homem chama pela parceira, e a encontra morta no chão, em frente ao aparelho de televisão. Ele acha uma fita cassete onde a moça escreveu "Assista-me" com o batom. No último segmento, a garotada realiza filmes caseiros com uma câmera, acoplada ao cachorrinho da família, Tank. A família mora em uma confortável e espaçosa casa, com um celeiro à margem de um plácido lago. Partindo de férias, os pais se despedem dos filhos – uma adolescente e um garotinho – e pedem para que tomem conta da propriedade enquanto estiverem fora. Assim que os adultos partem, a garota traz o namorado e o restante da turma. O clima é de festa e brincadeiras. A galera tem a casa para si, e pretende aproveitar a liberdade com muitas festas. No píer, os amiguinhos do menino preparam pistolas d'água e provocam os mais velhos, “fuzilando-os” com jatos por todos os lados. O garoto que maneja a câmera portátil pula no lago, e por um momento, a câmera nos mostra, submersa, uma figura humanoide nadando em direção à superfície. A turma não percebe nada de diferente, e a atmosfera é de absoluta descontração e algazarra. Mais tarde naquele mesmo dia, os meninos arquitetam um plano para assustar a irmã e o namorado, que estão a sós e em clima de romance no quarto. A garotada invade o quarto com luzes estroboscópicas e música alta, interrompendo o namoro e enfurecendo o casal.

Quem prestar atenção nesta cena dará conta de um som semelhante ao gutural apito de um trem expresso, e a oscilação da tensão elétrica da casa. Os meninos, todavia, parecem não prestar muita atenção. A criançada deixa a casa correndo, o rapaz mais velho e a moça saem no encalço. Os meninos fogem para o píer no lago. Enquanto se escondem, os meninos notam luzes fortes elípticas do outro lado da margem, mas não conseguem identificar do que se trata. As luzes somem e os meninos são apanhados pelo namorado e a moça, que lhes tomam as câmeras. Mais tarde, o casal resolve se vingar e aprontar com a meninada. Eles chegam de mansinho pelo corredor e dão o flagrante nos garotos, que estavam assistindo a um filme de mulheres peladas. A brincadeira é interrompida por um breve flash de luz que vem do lado de fora, e novamente o som assombroso semelhante ao apito de um expresso. Aterrorizados, o grupo percebe a presença de silhuetas altas e magérrimas posicionando-se do lado de fora. O namorado deixa a sala e volta com um rifle em mãos.Quando sai para o alpendre para investigar, é implacavelmente atacado pelas figuras altas e magras, os "Cinzas".

Desesperada, a namorada do rapaz sai correndo em direção às estranhas figuras, que o estão arrastando para longe do alpendre. Os meninos também são sequestrados pelos "Cinzas" e arrebatados para a nave espacial. O irmão da moça e o cachorrinho se refugiam em um saco de dormir, porém também são puxados pelos "Cinzas". Os membros remanescentes os salvam, mas o garoto está desacordado. Enquanto a irmã realiza a respiração boca a boca, as luzes estroboscópicas mostram os "Cinzas" emergindo do lago e escalando o píer. Uma vez que o garotinho recobra a consciência, os sobreviventes correm para a floresta, para se protegerem por trás das árvores. Dali, assistem a luzes vermelhas e sirenes, à distância. Crentes de que a polícia chegou, deixam o esconderijo. Na verdade, as luzes e o som vinham da espaçonave dos "Cinzas". Mais sobreviventes são abduzidos, restando, por fim, somente a moça, o garotinho, e Tank, o cãozinho. Eles conseguem alcançar o celeiro, e a irmã insiste para que o garotinho suba com Tank, e se esconda no sótão. O garoto ainda enxerga a irmã sendo apanhada pelos alienígenas. Ele abraça o cachorro e procura não fazer barulho. A espaçonave estaciona logo sobre o celeiro, e o telhado é subitamente arrebentado. Garoto e cachorrinho são suspensos por uma força invisível, que os vai puxando pela altura, em direção à nave. O cachorrinho acaba escorregando das mãos do dono e cai de volta ao celeiro, enquanto o menino é abduzido e desaparece com os visitantes, engolido pelo céu escuro.  

O filme conclui com a estória do casal de detetives. Depois de assistir ao quarto segmento, o detetive também vê o último arquivo gravado pelo rapaz desaparecido. Seu discurso é confuso, e, diante da câmera, acaba colocando uma pistola sob a mandíbula e apertando o gatilho. O estrago arranca a arcada inferior, mas para a surpresa do detetive, que assiste ao vídeo, o cadáver se levanta e deixa calmamente o recinto com metade do rosto explodida. A companheira, agora um zumbi, subitamente o ataca, mas ele consegue quebrar seu pescoço. O zumbi continua avançando, e somente depois de fuzilá-la, o detetive consegue efetivamente detê-la. Antes que acredite que está tudo acabado, o corpo do garoto desaparecido ressurge na escuridão e o apanha por trás.  

Em um ano de excelentes filmes de horror, V/H/S 2 é mais uma bem-vinda adição ao recente renascimento do gênero, e uma pedida obrigatória para os fãs. Até onde sei, tanto o primeiro quanto o segundo V/H/S não foram lançados no Brasil, e eu lhes assisti em DVD importado, porém com o advento da internet, o acesso a todo esse excelente material tem se tornado mais simplificado. Os dois filmes possuem um charme a mais, eu diria que um "apelo marginal", quase como uma visita aos antigos clássicos de horror dos anos 70, feitos na base da "tática de guerrilha": eram produções rodadas a baixo orçamento, marginalizadas, tidas como arte de baixo calão, porém encontravam, no circuito alternativo e nos teatros de cinema mais pobres, um mundo só seu, onde podiam prosperar e ocupar o fértil imaginário dos fãs. Os dois filmes são bem produzidos e seu valor artístico é inquestionável, porém a abordagem seca e direta e os enredos bizarros nos fazem rememorar uma profícua época do cinema de horror, a era do "exploitation", que ficou definitivamente para trás e deixou saudades, quando Dario Argento e David Cronenberg eram seus Senhores absolutos. 

E, afinal de contas, qual é o melhor filme?O primeiro V/H/S ou a sequência?Uma pergunta difícil. Eu diria que ambos são excelentes, todavia o primeiro tem algo que o segundo não trouxe. Muito embora todos os segmentos do segundo tenham sido empolgantes, em especial o dirigido por Gareth Evans, o primeiro nos brindou com um segmento em particular que o elevou ao patamar de clássico. "Segunda Lua-de-Mel" era o episódio onde um jovem casal faz uma viagem pelas rodovias do Arizona, e entre motéis de beira de estrada e cidadezinhas turísticas que recriam o Velho Oeste, é assediado por uma misteriosa garota. O que esse segmento, ou melhor, o seu diretor, fez com maestria, foi sustentar a atmosfera e uma atemporal aura de mistério, que o tornou o ápice da série V/H/S. Eu sempre acreditei que "Segunda Lua-de-Mel" merecia mais tempo para que Ti West, o diretor, lapidasse seu talento em sustentar atmosfera e tensão, o que sempre faz de maneira sutil e elegante. Mesmo em sua curta duração, porém, foi perfeito. Assim, apesar de V/H/S 2 fazer parte do grupo dos cinco melhores filmes de horror do ano, faltou algo a mais, talvez um conto tão atmosférico e climático quanto "Segunda Lua-de-Mel", para superar o primeiro. Mesmo assim, o resultado final é excelente, e V/H/S 2 é a minha indicação para quem ama o horror, uma forma de segurar as pontas até que chegue setembro, quando o novo filme de James Wan, The Conjuring - Invocação do Mal estreará nos cinemas. Eu vi o filme de James Wan, sobre a investigação verídica do casal Warren em uma casa assombrada, e posso declarar: os amigos não encontrarão melhor filme em 2013. Foi Invocação do Mal que me fez ter a certeza de que esse rapaz é o melhor diretor de filmes em atividade no mercado. A minha próxima resenha abordará o filme. Um forte abraço e até a próxima!
 
Todos os direitos autorais reservados a Magnet Releasing. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha. 

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