quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

"La Femme du Vème" (2011, Pawel Pawlikowski) Fantasia & Realidade colidem neste filme de horror sobre um escritor norte-americano em busca de si mesmo na encantadora "Cidade das Luzes"!

Tom Ricks (Ethan Hawke, novamente se saindo muito bem em um grande filme de horror) é um escritor norte-americano que chega a Paris obstinado em reconectar com esposa e filha. Pela dinâmica do reencontro, deduzimos que Ricks se separou da mulher em péssimos termos: ao bater à porta para ver a filha Chloe, a ex-mulher Nathalie reage furiosa e tenta fechá-la na sua cara. Mesmo insistindo que só deseja entregar um ursinho de pelúcia para a menina, Ricks precisa deixar o lugar com pressa, pois a mulher liga para a Polícia. O escritor ainda consegue falar com a filha na calçada, quando está chegando da escola. Aprendemos que recentemente Ricks enfrentou severos problemas psiquiátricos, pois a menininha pergunta se o pai ainda está doente. Ricks explica que melhorou e que, diferente do que a mãe contara, não esteve preso, apenas no hospital, por algum tempo. Exausto, Ricks cochila dentro do Ônibus, e ao ser acordado no final da linha, dá conta de que suas malas foram carregadas. De uma hora para outra, o americano vê-se numa "sinuca de bico", praticamente sem dinheiro algum na carteira. Ao entrar em um rústico café parisiense, que também serve de albergue, Ricks explica sua difícil situação ao Senhor Sezer (Samir Guesmi), o dono do estabelecimento, que concorda em acomodá-lo imediatamente e receber o dinheiro só depois, quando Ricks puder quitar seus débitos.

Ricks sofre com a ruptura da unidade familiar, mas sabe que é muito cedo para tentar nova reaproximação. Ao longe, assiste a pequenas miscelâneas da vida da filha, como quando a vê deixando o apartamento para a escola. Um dia, ao visitar uma pequena livraria, Ricks é reconhecido pelo dono como escritor de um romance de sucesso. Ele o convida a um encontro literário de artistas. Meio a contragosto, aceita um bilhete com o endereço e promete aparecer. Com o passaporte retido pelo Sr. Sezer até a quitação dos débitos, a sorte de Ricks muda para melhor quando o Senhorio acena com uma oferta de emprego: basicamente, tudo o que Ricks precisaria fazer seria monitorar imagens de câmeras de segurança, em uma salinha de um comércio particular, durante toda a madrugada, deixando aqueles que trazem a "senha" correta - "Vim ver o Sr. Monde" - entrar. Por 50 euros a noite, Ricks topa o desafio.

Ricks comparece ao sarau e se sente um pouco intimidado em meio a tantos intelectuais. Entediado, subitamente tem a atenção capturada por uma dama muito elegante (Kristin Scott Thomas) que também parece alheia às rodas de conversa, quase como um fantasma. Ele a segue ao terraço, que dá para uma vista fantástica da Torre Eiffel. Ricks se apresenta à dama, que parece ter subido à cobertura apenas para que conversassem mais reservadamente. Ela se chama Margit Kaddar, viúva de um escritor húngaro que fez muito sucesso na América, nos anos 90. O breve encontro é interrompido com um doce flerte, quando Margit lhe entrega seu número e pede que a procure, "Qualquer horário depois das 16:00", ela orienta.

Ricks redescobre a paixão para escrever, redigindo seus pensamentos em um bloquinho ao longo das exaustivas horas de trabalho na madrugada. O escritor aparece nas imediações da escola e durante o recreio consegue conversar um pouquinho com Chloe. Ania, uma jovem polonesa que trabalha no café do Sr. Sezer, aproxima-se do americano com a desculpa de lhe entregar as folhas que o escritor deixara no bar, e os dois começam a se conhecer melhor. Naquela semana, intrigado pelo convite de Margit, Ricks liga para o número fornecido, mas ninguém atende. No cartão, consta o endereço do apartamento, e assim sendo, Ricks resolve visitá-la.

Margit não parece surpresa quando ele bate à porta, como se já esperasse pela visita. Eles fazem amor, e quando Ricks a deixa, sabe que retornará. Ania aborda o americano uma manhã para contar que encontrou seu romance num sebo local. Ricks pede que Ania leia um trecho, e após esperá-la terminar, diz que o ritmo fica ainda mais lindo na língua polonesa. Ricks segue encontrando Margit, e por meio dessas visitas, vamos aprendendo mais sobre o que se passa por trás de seu silêncio. Ele revela que se sente como uma versão fictícia de si próprio, e que seu "verdadeiro eu" provavelmente ainda se encontre na América, levando uma vida comum ao lado da filha. O frágil estado psicológico do rapaz logo começa a desmoronar. Durante o turno da madrugada, passa a ser perturbado por barulhos vindos do corredor. Chegando ao albergue depois de uma noite estressante, é visitado por Ania. Ela o chama para um quarto vazio, para conversar, e os dois terminam se beijando.

Ricks e Ania passeiam sobre os trilhos, ao amanhecer, e namoram no bosque. Em mais uma discreta, reveladora cena, ao comentar a obra de Ricks, a moça diz que o escritor descreve sentimentos tão ricamente que lhe deve parecer difícil diferenciar realidade de fantasia. Ao retornar para o albergue, Ricks é acostado pelo morador mal encarado do apartamento ao lado. O homem lhe diz que os viu namorando, e que o americano nem imagina o tamanho da encrenca em que se meteu, pois Ania é esposa do Sr. Sezer. Ele chantageia o escritor, dando-lhe 24 horas para arrumar mil euros, senão Sezer, um homem explosivo, ficará sabendo da verdade. Na manhã seguinte, encontra um lembrete sob a porta "Mil euros, ou você é um homem morto". Ao encontrar-se com Margit na tarde daquele mesmo dia, Ricks desabafa, e lamenta "Você não imagina do que essa gente é capaz". Os dois fazem amor, e Margit profetiza "Eles é que não sabem do que você é capaz". Quando Ricks volta para o apartamento, encontra o vizinho barbaramente assassinado dentro do banheiro. A Polícia o questiona acerca do desentendimento entre os dois, e tendo encontrado digitais do americano na nota escrita pela vítima, detêm-no temporariamente. Ricks fornece o endereço de Margit, seu álibi para o horário em que o assassinato provavelmente se deu.

Ricks aguarda na cela por um novo interrogatório. Conduzido novamente à presença do inspetor, ele lhe exibe uma foto de Margit e pergunta se a reconhece. O escritor confirma que a mulher na foto é a mesma com quem vem se relacionando, para a incredulidade do inspetor, que revela que Margit Kaddar se suicidou em 1991, depois que o marido e o filhinho morreram atropelados, não sem antes ter degolado a garganta do motorista bêbado. Abalado, Ricks não compreende o que se passa, mas então é liberado quando a perícia identifica que a faca utilizada no homicídio pertence a Sezer. O dono do albergue é conduzido à delegacia aos gritos, acusando o americano de ter armado uma cilada para que "pagasse o pato". Ricks tem consciência de que seu estado psicológico vem se corroendo. Ao retornar ao endereço onde por todas as tardes fez amor com Margit, um cavalheiro, morador do mesmo prédio, declara que o apartamento encontra-se fechado há décadas.

Ricks espera anoitecer para vasculhar o lugar, e desta vez a encontra a sua espera. Confrontada com a acusação de Ricks, de que ela não pode ser real, Margit responde que é o amor mais real que o escritor encontrou em toda a vida, e tendo ambos perdido tanto, agora se pertencem. Assustado, ele pede que Margit mantenha-se distante. A trama complica-se quando Ricks é despertado por policiais, que o alertam que Chloe está desaparecida. O dia está amanhecendo, e ao ser escoltado pelos policiais pela calçada, Ricks vê a mulher no banco de uma das viaturas. Emocionado, pede que a ex-mulher abaixe o vidro, quando promete que recuperará a criança. Certo de que Margit tem alguma responsabilidade no sumiço, Ricks retorna ao apartamento, onde a confronta, suplicando para que devolva a menina. Indiferente ao desespero do americano, ela o aconselha a desistir da filha e da ex-mulher, o lugar de Ricks agora é a seu lado. Naquela mesma manhã, vemos que, felizmente, nada aconteceu à menininha: ela havia saído para passear, e se perdera no bosque. Um carro de Polícia avista a criança e a leva para a mãe. Ricks assiste ao feliz reencontro a uma certa distância, aliviado. Ao final, escreve uma carta à menina, despedindo-se. Ricks aceita que há um traço muito sombrio de sua personalidade que só coloca as pessoas a quem ama em risco, e portanto se afastará por tempo indeterminado. Ricks pede para que Chloe conserve consigo sua parte boa, a parte de si que enxerga a vida sob um prisma mais ingênuo e doce. Incapaz de dissociar-se de suas fantasias, Ricks desiste do relacionamento com Ania. O filme termina ao vermos o escritor ascendendo ao apartamento da misteriosa dama, para mais uma tarde de amor, sem respostas para as muitas perguntas que a história deixa.

Atmosférico filme de suspense que novamente aproveita o charme natural do ator Ethan Hawke no gênero, "La Femme du Vème" é uma raridade em meio a thrillers tão genéricos de hoje. Saudosos de uma época em que histórias misteriosas realmente absorviam as pessoas têm muito a comemorar com este envolvente suspense lançado no Brasil sob o título "Estranha Obsessão". Em termos de estilo, "La Femme du Vème" salta aos olhos como uma espécie de versão modernizada de "Inverno de Sangue em Veneza", de Nicolas Roeg. Mais alinhado ao estilo dos antigos film noir da década de 70, o diretor Pawel Pawlikowski criou uma obra intrigante que nos desafia a prever o próximo desdobramento, ao mesmo tempo que não temos a mínima ideia de onde parará essa empolgante valsa na escuridão. Hawke, um ator muito querido pela crítica, recentemente descobriu-se em casa no gênero Horror protagonizando com muita autoridade os ótimos e diversificados "Uma Noite de Crime" & "A Entidade". Aqui, empresta a sua persona de "herói relutante" estilo "Harrison Ford", a uma história igualmente assustadora, porém mais estilística e elegante. Apesar de refrescante em tom, é necessário saber o que esperar, porque as qualidades que o tornam especial são as mesmas que levaram algumas pessoas a ignorá-lo. Semelhante ao ocorrido com "Under the Skin", de Jonathan Glazer, - obra prima para uns, entediante para outros - "La Femme du Vème" não é um filme de terror, mas não duvidem que se trata de um filme aterrorizante, e sim, há uma diferença entre filmes de terror & aterrorizantes, muito embora algumas vezes confundam-se.

Coisas como "Ouija O Jogo dos Espíritos" & "A Entidade" ilustram o que há de mais interessante em filmes de terror, o tipo de programa que você precisa fazer no cinema acompanhado por amigos: não há nada mais divertido do que assistir a um bom filme no escurinho do cinema, uma experiência completa onde, juntamente ao restante da plateia, você reage ao que é apresentado conforme as direções que o diretor deseja te levar, de modo que você rói as unhas, pula na poltrona, assusta-se, até mesmo dá risadas e, no total, diverte-se pra valer!O que eu costumo chamar de filmes aterrorizantes são obras diferentes, vez que raramente exibidas nos cinemas, e por não caírem no gosto popular, sobre as mesmas pouco se escuta. A peculiaridade que diferencia filmes de terror de aterrorizantes é a forma como estes deixam um sabor amargo na boca, um gosto que leva tempo para deixar - às vezes, não há tempo no mundo que cure as marcas de algo tão psicologicamente devastador. Recentemente, o polêmico "Under the Skin", um "conto de fadas" sobre uma extraterrestre seduzindo homens nas rodovias da Escócia, assaltou como uma avalanche as salas do circuito alternativo, dividindo pessoas entre grupos daqueles que o amaram, o odiaram, e aqueles que até hoje não sabem ao certo como se sentir a respeito. Unanimemente, uma vez que se assiste ao trabalho de Jonathan Glazer, não há como se apagar tão cedo da cabeça a imagem de "Isserley", a extraterrestre andando entre nós, um "milagre do século XXI" tão espetacular quanto imperceptível em meio a manhãs nubladas e frias no centro monolítico de Glasgow. Há os filmes ainda mais raros que conseguem simultaneamente perturbar e reunir as qualidades de um grande blockbuster. O talentoso James Wan, diretor de "Invocação do Mal" & "Sobrenatural", cria cinema pipoca com o senso de estilo que imprime sua identidade ao frame, lançando obras claramente pessoais que também fazem centenas de milhões nas bilheterias. "Hellraiser" & "Hellbound: Hellraiser 2", do mestre do macabro Clive Barker, não apenas comprova a diferença acima, como revela lições interessantes sobre arte e a expressão da mesma a um nível muito pessoal. Quando os direitos sobre os personagens foram vendidos a produtores norte-americanos e novos roteiristas tentaram "retomar" de onde Barker havia parado com "Hellbound: Hellraiser 2", as continuações foram ficando gradualmente menos relevantes, por mais que "Hellraiser 3", por exemplo, tenha feito bom dinheiro nas bilheterias. O filme de Barker, a adaptação de seu romance "The Hellbound Heart", era uma jogada de risco, prova disso o orçamento reduzido que recebeu para rodá-lo. Quis o destino que o conto moral sobre um triângulo amoroso proibido, segredos inconfessáveis e fetiches sadomasoquistas caísse no gosto popular, por mais que as pessoas não soubessem pontuar ao certo o quê em "Hellraiser" & "Hellbound: Hellraiser 2" as havia cativado tanto. Quando os produtores americanos selecionaram um ou outro elemento do original para retomar a franquia - no caso, os cenobitas exclusivamente, deixando de lado os pontos verdadeiramente explosivos propostos pelos dois primeiros - criaram, a partir de "Hellraiser 3", filmes de terror que nem de longe pareciam igualmente perturbadores. Apenas aqueles que verdadeiramente saíram marcados pela obra de Barker reconhecerão que os cenobitas jamais foram os monstros da história. Eles eram apenas seres mágicos que faziam uma "participação especial" em um conto hedonista sobre amores não correspondidos, fetiches e desejos proibidos.

"La Femme du Vème" não pertence ao gênero Horror, todavia há elementos da história que o tornam um filme aterrorizante. Em termos de estrutura, faz-nos pensar bastante no antigo, excitante film noir de Alan Parker "Coração Satânico", com Mickey Rourke. Assim como o clássico de 1987, o protagonista de "La Femme du Vème" está em busca de respostas tão horrorosas que faria melhor não as encontrando. Contar uma história pela ótica de um protagonista emocionalmente instável é desafio para poucos diretores. David Cronenberg, por exemplo, fez bonito com seu "Spider", de 2002, um suspense desenrolado diante dos olhos de um homem esquizofrênico, personagem de Ralph Fiennes. Também digno de nota, ambos os filmes, "Coração Satânico" & "La Femme du Vème", oferecem um "saborzinho" de road trip, de uma viagem assustadora sem destino certo. Em "Coração Satânico", o detetive Harry Angel, personagem de Mickey Rourke, aceita rastrear o paradeiro de um desaparecido croner chamado Johnny Favourite, o que o arremessa a uma jornada de auto descobrimento que o leva de Nova York ao interior do Sul dos Estados Unidos, com o clímax em Nova Orleans, tudo no ano de 1955, menos de dez anos após o fim da Segunda Grande Guerra; em "La Femme du Vème", o escritor Tom Ricks busca reconectar com a ex-mulher e a filha na sempre romântica & misteriosa Paris, mas ao conhecer a enigmática dama vivida por Kristin Scott Thomas acaba por encontrar diante de si fragmentos do quebra cabeça de sua própria vida, elementos que preferiu descartar por muito tempo e agora se vê forçado a redescobrir. Ainda em comum, os dois film noir evocam como poucos um extraordinário feeling de se estar vivenciando uma outra época & lugar, "Coração Satânico" no Sul dos Estados Unidos dez anos após o fim da Segunda Grande Guerra & "La Femme du Vème" na "Cidade das Luzes" no começo da nova década, em 2010.

Pawel Pawlikowski não apenas rodou um impressionante suspense; talvez involuntariamente, tenha criado como poucos imagens muito impressionantes de Paris, fotografias que publicitários contratados pela Prefeitura teriam dificuldade de reproduzir tão bem para uma campanha turística. A saga de Ricks o leva desde o tenso desembaraço na Imigração no começo do filme aos cantos mais diversificados da "Cidade das Luzes", ora espaços pequenos e íntimos, ora grandiosos a se perder de vista, de mesas rústicas em pequenos cafés `as ruas e calçadas que aprendemos a amar por imagens em livros ou filmes, mas até as conhecermos pessoalmente, não nos damos conta de que são ainda mais maravilhosas do que pensávamos, e aí estou falando do Arco do Triunfo, Champs Elysées, o Castelo de Versalhes, a Catedral de Notre Dame… Nenhuma outra produção desde "Albergue Espanhol", de 2002, fez tanto pelo turismo de um local através de imagens.
"La Femme du Vème" é um convite explícito `a aventura na Europa. Backpackers, fiquem certos de que esse estiloso suspense dará aquele empurrãozinho extra de que precisam para vestir as mochilas e partir para se aventurar pelos cantos mais fantásticos deste enorme, belo mundo!Aproveitem bem, pois cada dia fica tarde demais.

Falando de Europa, não é de hoje que o astro Ethan Hawke se move com desenvoltura e autoridade em meio a cenários tão atemporais e repletos de história & significado. Se cada ator tivesse de ser lembrado por um único filme, seu melhor, a primeira imagem que viria `a mente quando se falasse de Ethan Hawke seria a de suas andanças ao lado de Julie Delpy pelos recantos mais românticos de Viena em "Antes do Amanhecer" (foto), a ode do diretor Richard Linklater ao amor jovem & eterno e a um mágico momento de nossas vidas - 20 e poucos, no auge da saúde & juventude, quando o mundo resume-se ao que está por vir, é só expectativas, sonhos em vias de se realizar - a que, mais tarde, uma vez o tendo perdido, tentamos reencontrar, sem sucesso. Em "Antes do Pôr do Sol", a continuação de 2004, dez anos depois do primeiro portanto, os dois heróis do original, agora aos trinta e poucos, tendo colecionado sua cota de desapontamentos e desilusões, reencontram-se novamente, desta vez na mágica Paris, o mesmo cenário que mais tarde serviria de plano de fundo para "La Femme du Vème", e no decorrer de uma tarde, precisam decidir se sós lhes restam as recordações daquelas férias em 1994 ou se têm um futuro a compartilhar. No mais recente, "Antes da Meia Noite", nós os reencontramos de férias na Grécia, ambos aos quarenta, pais de lindas filhas gêmeas, enfrentando - e vencendo - as pequenas crises que aparecem para qualquer casal e apenas os deixam mais fortalecido. "La Femme du Vème" dá a Hawke a oportunidade de caminhar por espaços semelhantes cruzados com Julie Delpy no segundo filme da série, dessa vez em uma história de amor sombria e misteriosa, porém igualmente impactante em termos de estonteante cinematografia.

O diretor Pawel Pawlikowski merece elogios pela maturidade com que lida com o material, a todo momento confiando no talento de seu elenco e na qualidade do roteiro e jamais se perdendo com violência gratuita ou excessos que não teriam beneficiado a história de modo algum. Há cineastas igualmente talentosos que precisaram de mais tempo para confiar no próprio talento para "largar as armas", ou melhor, os excessos. Tomemos como exemplo o francês Pascal Laugier, que rodou um dos filmes mais brutais de todos os tempos, o desnecessário "Martyrs", porém só foi criar algo humana & sentimentalmente relevante quando exercitou a compaixão e a elegância com o intrigante "The Tall Man - O Homem das Sombras", um filme tanto de terror quanto aterrorizante (pelas razões certas), com muita sensibilidade abordando questões difíceis sobre pais e filhos, adoção, e a falibilidade daqueles a quem crianças depositam toda a expectativa de proteção e segurança. Por alguns anos, o nome de Laugier esteve associado ao ainda não produzido remake de "Hellraiser"; por uma razão ou outra, as negociações entre a Dimension e o cineasta ruíram, definitivamente uma pena para aqueles que amam a obra de Clive Barker e compreendem que a adaptação de um romance tão complexo e psicologicamente intrincado precisa de um homem com sensibilidade por trás das lentes. O gótico "La Femme du Vème" podia valer a Pawlikowski um lugar entre os concorrentes para o cargo. Se produzido da maneira correta - ensaiando um retorno `as raízes melancólicas dos dois primeiros, devolvendo o enredo aos britânicos - Pawlikowski se sentiria em casa para realizar algo especial. Em meu amor pelo cinema, uma chama que remonta a minha infância, "Hellraiser" & "Hellbound: Hellraiser 2" são os dois filmes a que adoraria ter emprestado a minha visão, até pelo fato de o poder visceral dos dois derivar de uma época quando mais estamos abertos à "magia". E antes que os amigos digam agora, brincando, que "Agora vem a parte onde ele vai dizer que escolheria Jennifer Connelly para o papel de Julia", estão cobertos de razão!Se ela já é uma mulher fantástica e uma atriz talentosíssima, agora adicionem a tudo o encantador sotaque britânico que a Jennifer teria de fazer para o papel. Ela arrebataria vítimas muito antes que o primeiro golpe de martelo descesse sobre suas cabeças ou lhes desse o beijo que lhes drenasse sangue, nutrientes e vida juntos.


Aproveitando o mote de "Hellraiser" & Clive Barker, o enredo de "La Femme du Vème" muito se assemelha a um daqueles melancólicos, eletrizantes contos que Barker escreveu para suas coletâneas "Books of Blood". Em diversos momentos ao longo do filme de Pawlikowski, pensei em alguns de meus preferidos, como por exemplo "Novos Assassinatos na Galle Morgue", pelo fato de a história também se desenrolar na "Cidade das Luzes", e "Jaqueline Ess", no que importa `a presença misteriosa da dama vivida por Kristin Scott Thomas e a maestria com que Barker cria personagens femininas fascinantes em força e crueldade. Como admirador de sua obra, eu considero filmes estilo "La Femme du Vème" joias raras, pois mesmo sem ligação alguma com o escritor britânico, evocam um estilo próprio do mesmo. Recentemente, o novo horror de John Erick Dowdle, "As Above So Below", também capturou o feeling de uma autêntica obra gótica estilo Barker ou Edgar Allan Poe, e portanto subiu a minha lista dos melhores do ano. "As Above So Below" será o próximo filme sobre o qual espero falar no meu blog. Creio que o que as linhas de Barker e filmes como "La Femme du Vème" têm em comum seria a propriedade de nos absorver com tramas onde, por mais contraditório que pareça, muito acontece quando menos parece acontecer. Dos encontros de Rick & Margit emana uma peculiar quietude, pois mesmo isolados no mundo externo por cortinas muito vermelhas contra molduras de janelas, há um tipo de eletricidade antecedente à tragédia permeando o ar, e você simplesmente sente que o horror é eminente. Simultaneamente, assim como o anti herói, experimentamos os mesmos temores ao vê-lo circulando por entre pequenos cafés parisienses enquanto a inquietante historicidade daqueles prédios públicos imortais os torna o palco perfeito para um conto sobre amores proibidos, desejos inconfessáveis e memórias reprimidas.

A falta de resolução aproxima "La Femme du Vème" de seus pares - os chamados filmes aterrorizantes de arte que terminam sem nos dar explicações, estilo "Under the Skin". Seria Margit um segmento da imaginação de Ricks?E se Sim, como explicar que a mulher na foto apresentada pelo inspetor corresponda exatamente à forma como Ricks a idealizou, ainda mais levando-se em conta que jamais a conhecera?Qual a natureza dos problemas psiquiátricos que o levaram a permanecer por tempo indeterminado em uma instituição?Pawel Pawlikowski e Douglas Kennedy, autor do romance original, preferiram nos reservar a intrigante tarefa de preencher lacunas, por mais fantásticas que as perguntas soem, por mais incompreensíveis que as respostas pareçam. Talvez os motivos permaneçam encobertos pela parte do coração de Ricks que se permita tamanha perversão, o mesmo tipo de melancolia que, por exemplo, encorajou um sujeito chamado Frank a se apaixonar pela emocionalmente instável esposa do irmão e brincar com um certo quebra cabeça chamado Configuração da Lamentação...

Todos os direitos autorais reservados a Califórnia Filmes. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

"House of Sand and Fog" (2003, Vadim Perelman) O melhor ainda está por vir.

Deixada pelo marido, Kathy Nicolo (Jennifer Connelly, em grande performance) é uma jovem mulher em busca do recomeço. Ex-dependente de drogas, Kathy mora sozinha na bela casa que herdou do pai, em San Francisco. O filme abre sugerindo seu passado sombrio quando a vemos despertando pelo telefonema da mãe, que liga apenas para saber como vão as reuniões dos Alcoólicos Anônimos. Apesar de insistir que se sente melhor, o caos na cozinha sugere exatamente o contrário. Kathy também oculta da mãe a separação recente. Tendo ignorado o pagamento de taxas referentes ao imóvel em razão da confusão emocional provocada pelo divórcio, Kathy é pega de surpresa quando um Oficial de Justiça bate à porta acompanhado por policiais para realizar o despejo. Encarregado de ajudá-la a preparar as malas para deixar o imóvel, o xerife Lester Burdon (Ron Eldard) simpatiza com seu drama, presta auxílio com a remoção dos móveis e lhe fornece o número de uma boa advogada, a aconselhando a recuperar a residência pelas vias legais.
Massoud Amir Behrani (Sir Ben Kingsley), um orgulhoso e honrado oficial de alta patente das Forças Armadas do Irã, deixou a terra natal com sua família – a esposa Nadi & os filhos Esmail & Soraya – em busca do Sonho Americano nos Estados Unidos. No início do filme, o vemos orgulhoso fazendo um brinde ao casamento da filha. Ao pai é concedida a honra da primeira dança com a noiva. Massoud trabalha em uma série de empregos menores, como asfaltar vias públicas durante o dia e trabalhar à noite como operador de caixa de um posto de gasolina, tudo para preservar a aparência de próspero homem de negócios. Ao ver um anúncio de leilão da casa de Kathy nos Classificados, Massoud aproveita a oportunidade para comprar a residência por um quarto de seu valor de mercado, intencionando reformá-la para depois vendê-la por uma grande soma. Com a ajuda de Lester, Kathy move suas coisas para um depósito e se acomoda em um motel. Obedecendo aos conselhos de seu novo amigo, Kathy contrata os serviços de uma advogada que a assegura de que a Prefeitura devolverá a casa assim que provarem que as taxas não foram pagas apenas por uma questão de erro da própria Prefeitura – Kathy jamais recebera as cobranças pelos Correios.
Enquanto tenta retomar a vida em meio à expectativa, vemos que assim como Behrani, Kathy precisa trabalhar duro para se sustentar, desde que o marido a abandonou. Uma noite, ao visitar o depósito para apanhar parte de suas coisas, Kathy é visitada por Lester. O xerife explica que está de folga e a convida a comer alguma coisa na diner, quando os dois têm oportunidade de se conhecerem melhor. Kathy repara na aliança no dedo de Lester e lhe pergunta se tem filhos. O xerife parece um pouco envergonhado por ter sido "pego". Ela conta que apesar de também usar aliança, seu marido a deixou oito meses atrás. Ao lhe dar uma carona ao motel, ele entrega um papel com seu número, e pede que ligue caso precise de algo. Quando o cartão de crédito de Kathy é recusado pela administradora, ela se vê literalmente na rua, na verdade no seu carro, o lugar onde passa a dormir. A guerra pessoal entre Kathy & os Behrani se inicia quando ao passar pela casa a moça vê homens trabalhando na reforma do deck. Furiosa, ordena que os carpinteiros parem imediatamente com os serviços na sacada, mas quando retrucam que precisa pedir diretamente ao Sr. Behrani, ela desce as escadas alterada, preparada para confrontar o novo dono. Kathy está descalça, e acidentalmente pisa nos pregos de uma tábua solta. Socorrida por Nadi & Esmail, Kathy não se conforma em encontrar uma nova família habitando o imóvel. Nadi enfaixa o pé da ex-proprietária e a deixa descansando na sala. Mais emotiva, Nadi parece mais receptiva à presença de Kathy, que também alimenta natural simpatia pela Senhora Behrani. Apesar da solidariedade e simplicidade de Nadi, Kathy deixa o lugar determinada a recuperar a casa.
Kathy liga para a mãe e mente ao deixar um recado na secretária eletrônica apenas para despistar, dando a impressão de normalidade. Nós a vemos cuidando do pé machucado, atando uma faixa limpa ao redor do tornozelo. Massoud atende a uma convocação da advogada de Kathy, que pretende negociar a devolução da casa. Tendo gastado muito dinheiro para melhorar as comodidades da residência, Massoud se recusa a devolvê-la por qualquer quantia menor do que está pedindo no mercado. Ao perceber que a sua única alternativa será processar a Prefeitura – um longo e dispendioso trâmite que pode não resultar em nada – Kathy decide tomar a frente da situação e conversar pessoalmente com Massoud. O encontro não termina bem, pois ela o procura no mais inapropriado dos instantes, quando Behrani está mostrando as comodidades para uma família interessada em adquirir o imóvel. Tons de voz sobem, e os dois acabam trocando insultos. Desesperada por uma solução mais imediata, Kathy procura Lester no Distrito Policial. Feliz por revê-la, ele a leva ao píer para conversarem reservadamente. Ambos interessados em romance, Lester assume a posição de protetor e a leva para um lugar onde possa se acomodar.
Na mesma noite, ele a leva para jantar em um lugar especial, e a atração entre o dois termina concretizando-se mais tarde, quando, mesmo hesitante, Kathy o convida para entrar. Os dois acabam fazendo amor. Ao voltar para casa apenas na manhã seguinte, Lester denuncia indiretamente sua indiscrição a Carol, a esposa, que não demora a desconfiar do romance extraconjugal. Más notícias esperam por Kathy: a advogada lhe explica que já usou todas as manobras judiciais possíveis, e não há como recuperar a casa pela via legal. Enquanto Massoud tenta manter as aparências ao receber a filha casada no novo deck, ele vê que Kathy e o namorado seguem na espreita, ao assistir ao carro entrando na rua discretamente, como que sondando a movimentação do lugar. Naquela noite, protegendo-se por trás de um nome falso, Lester presta uma visita aos Behrani e entre outras ameaças promete deportar Massoud junto à família se ele se recusar a devolver a propriedade. À essa altura, o xerife encontra-se profundamente comprometido com o impasse. Ele acabou de contar à mulher sobre o caso, e que pretende separar-se, deixando mulher e filhas para apostar todas as fichas em Kathy. Os Behrani têm uma infeliz discussão, e Massoud perde a cabeça ao dar um tapa na esposa. Cheio de remorsos, ele conversa com o filho na manhã seguinte e pede que jamais repita o erro do pai quando um dia for casado. Massoud não se deixa levar pela intimidação do xerife, e procura a Polícia. Ele identifica Lester por uma foto de arquivo, e a Corregedoria aplica uma punição administrativa que não parece demovê-lo.

Inconformada com o fim do casamento, Carol aparece no trabalho de Lester para armar um escândalo. Com os filhos no banco traseiro, ela surpreende o marido ao jogar na sua cara que está sabendo do caso extraconjugal. O xerife tenta acalmá-la, mas Carol responde desferindo socos nas suas costas ao tentar entrar no Distrito. Lester consegue segurá-la, os filhos assistindo a tudo apavorados, chorando e suplicando para que o pai retorne. A briga desperta o xerife para o fato de que precisa voltar para casa, para consolar a mulher e preparar os filhos para o rompimento. Ao pedir um tempo para Kathy, ele a acaba deixando insegura, o que traz à tona os velhos demônios. Ao bater à porta da velha casa, Kathy é atendida por Nadi. Por sorte, Massoud não se encontra, de modo que as duas têm como conversar melhor. Ao contrário do marido, Nadi não nutre antagonismo algum por Kathy, que sabe que tem melhores chances de explicar a situação para a mulher. Kathy diz que quer colocar um ponto final naquela briga. Nadi chora e vocaliza o temor de acabar deportada de volta ao Irã. Kathy tenta consolá-la.
Emocionalmente instável, Kathy não demora a sair dos trilhos. Ela primeiro considera matar os Behrani ateando fogo à casa, mas depois de se alcoolizar, muda de ideia e resolve tentar o suicídio na calçada. A arma falha, e quando Massoud a vê tentando seguir em frente com a tentativa, toma a arma e a leva para dentro. Kathy tenta o suicídio por uma segunda vez, engolindo pílulas, mas Nadi a induz ao vômito. O casal carrega Kathy para um quarto onde poderão cuidar de sua recuperação melhor. Lester, que não sabe que os Behrani na verdade salvaram a moça, rende a família sob a ameaça da pistola e os prende no banheiro. O xerife avisa que só os deixará sair quando os Behrani aceitarem devolver a residência. A ideia gira em torno de Massoud vender a casa de volta à Prefeitura pelo valor pago e entregar o dinheiro para Kathy, para que ela a recupere. Lester concorda com a oferta de Behrani, e decide conduzi-los à Prefeitura, para finalizarem a transação.
Nas escadarias da Prefeitura, Massoud aproveita um instante de distração de Lester - um subalterno aparece para agradecer o xerife pela atenção - para virar o jogo. Esmail toma a pistola das mãos do xerife, mas durante a confusão, guardas interpretam erroneamente o entrevero e o tomam como um bandido. Eles atiram no adolescente, que sofre ferimentos gravíssimos. Massoud é tomado pelo desespero, gritando nas escadarias com o filho nos braços. Lester assiste a tudo chocado, cheio de remorso. O xerife assume a responsabilidade pela confusão e termina preso. Uma vez esclarecida a situação, Massoud é liberado. Rezando de joelhos para que Deus poupe a vida do filho, comprometendo-se a se tornar uma pessoa melhor se apenas ganhar uma segunda nova oportunidade, Massoud tem suas esperanças rechaçadas quando o adolescente não resiste aos ferimentos e morre. Devastado pela dor, Massoud volta para casa e põe a esposa querida "para dormir", após lhe dar pílulas o suficiente para que não desperte mais. Em seguida, o veterano veste o uniforme militar, cobre a cabeça com um saco plástico e a prende com fitas, de modo a morrer asfixiado, de mãos dadas à esposa. Kathy encontra o casal morto sobre a cama, e desesperadamente tenta socorrê-los, sem dar conta de que ambos não podem mais ser salvos.
Um dos melhores filmes de suspense da década passada, "House of Sand and Fog" permanece largamente desconhecido pelo grande público. Lançado em uma temporada particularmente competitiva em 2003, o filme foi obliterado pelos mais aclamados "21 Gramas" e "Monster", ambos excelentes dramas que renderam indicações ao Oscar às suas atrizes, Naomi Watts e Charlize Theron, Theron tendo inclusive ganhado pelo seu papel como a serial killer Aileen Wuornos. Mesmo sufocado pelos fortes concorrentes, "House of Sand and Fog" colheu elogios da crítica especializada, e não apenas rendeu indicações ao prêmio da Academia para Sir Ben Kingsley & Shohreh Aghdashloo como também confirmou a talentosíssima Jennifer Connelly como uma das melhores atrizes de sua geração, seguindo o ressurgimento artístico iniciado com "Uma Mente Brilhante". Sir Ben Kingsley, o ator britânico tão aclamado que lamentavelmente vem sendo escalado como o "vilão da hora" de grandes produções, aproveita a oportunidade para criar seu melhor personagem em décadas, o tipo de desafio que nos faz lembrar que o ator é o mesmo homem que interpretou figuras tão queridas quanto Gandhi. Ron Eldard completa o elenco principal como o policial bem intencionado que vem a se apaixonar por Jennifer Connelly. Aqui me fazendo lembrar um jovem John Travolta, Ron Eldard não destoa dos colegas em sua performance afinada, realmente capturando a confusão do homem comum dividido entre a vontade de refazer a vida e as limitações impostas pelo delicado momento quando a única coisa que não está ao alcance parece o ímpeto de jogar a vida pretérita pela janela para recomeçar ao lado de uma nova companheira. Alguns anos mais tarde, Jennifer Connelly atuaria em um drama muito interessante onde veríamos um protagonista metido em semelhante dilema. Refiro-me a "Pecados Íntimos" e ao personagem vivido por Patrick Wilson, casado com a fotógrafa interpretada pela Jennifer e perdidamente apaixonado por uma moça do bairro, vivida por Kate Winslet: anestesiado pelo tédio de anos de convivência e rotina, é a chegada de uma nova pessoa e o romance impossível que arrancam de dentro de si o tipo de paixão que julgava ter perdido há muito com a juventude. Em "House of Sand and Fog", a angústia do dilema entre acomodar-se à segurança familiar para arriscar tudo com o novo amor fica bem representada pelo impasse que o personagem atravessa até o desastroso fim. Em que pese a tragédia dever-se ao atrapalhado plano colocado em movimento por Lester, Ron Eldard atua tão bem que não perdemos de vista suas boas intenções, a todo instante transmitindo a imagem de um homem movido por objetivos altruístas, mas despreparado a ponto de pôr tudo a perder, principalmente quando desapega da razão para se deixar levar por pura emoção.

Shohreh Aghdashloo recebeu uma indicação pelo seu pequeno mas importante papel. Como a matriarca, ela figura como o porto seguro da família Behrani, razão maior pela qual Massoud Amir vem batalhando duramente pelos últimos quatro anos em um país estrangeiro. À medida que o cerco se fecha, e ele se vê ameaçado por Kathy & Lester, é no seio do lar onde encontra o suporte que nos outros nem espera conseguir. Aliás, aos olhos dos demais, como o próprio Behrani desabafa em dado momento, ele é visto com um ar de "Olha esse árabe de meia tigela aí". Cúmplices ao longo de uma atribulada, difícil vida, quando Massoud comete suicídio imediatamente após a morte da esposa, a resolução parece perfeitamente compreensível para duas pessoas que não parecem capazes de sobreviver individualmente. Após "House of Sand and Fog", Shohreh Aghdashloo atuou em filmes notórios e importantes, em especial uma generosa participação no aterrorizante "O Exorcismo de Emily Rose". Apesar de desempenhar regularmente nas telas, talvez os amigos se recordem mais dessa ótima atriz pelo seu trabalho no seriado "24 Horas".

Em uma longa carreira repleta de filmes importantes, até "House of Sand and Fog", Sir Ben Kingsley vinha sendo "escalado" para papéis de vilões em filmes de ação. Parece um mal que recai consistentemente sobre atores britânicos. Alan Rickman & Jeremy Irons cravaram seus rostos nas mentes das pessoas graças aos vilões macabros, porém os seus melhores trabalhos são justamente aqueles que os escalaram para coisas mais leves e românticas. No caso de Rickman, eu sempre penso nele como o herói de uma doce comédia britânica de Anthony Minghella chamada "Truly, Madly, Deeply"; no entanto as pessoas tendem a associá-lo ao ardiloso e tétrico terrorista de barba por fazer metido em um elegante terno Armani de "Duro de Matar". A profundidade humana de Massoud Amir Behrani significou um convite e tanto para o ator, que pelo seu desempenho também foi indicado ao Oscar. Prova da força do roteiro, "House of Sand and Fog" não divide os personagens em categorizações simplificadas, quando se denota uma distinção clara entre "Bem" & "Mal". Embora o drama se desenrole a partir da negativa de Massoud em devolver a casa, Ben Kingsley constrói um anti herói que exibe características que o tornam muito humano e até mesmo admirável a nossos olhos. Sua postura apenas inicialmente parece moralmente repreensível, porque logo mais, quando o diretor nos abre uma janelinha para dentro da família Behrani, enxergamos por trás da inflexibilidade a determinação de um homem sofrido tentando manter mulher e filho sob suas asas protetoras. As atitudes de Behrani são redimidas pela sua obstinação de manter-se fiel à missão de cuidar da família. Qualquer indivíduo com alguma obrigação moral de preservação do núcleo familiar compreenderá suas atitudes. Assistindo `a performance de Ben Kingsley, eu não tive como deixar de pensar no meu falecido avô, não apenas porque fisicamente os dois se pareçam, mas principalmente pelas características que finalmente definem o personagem, autoritarismo e inflexibilidade que em primeiro momento o descrevem como o último dos patriarcas, na verdade nada mais do que ferramentas para defender a unidade familiar. `A primeira vista incongruente, uma vez que você o conhece melhor, Massoud talvez seja  o justo dos justos. Ele é um pilar de dignidade e moral, e teria sido melhor compreendê-lo  dessa forma desde o início, não fosse pela falibilidade humana que o torna um homem tão difícil de se entender. O ator Ben Kingsley mereceu a indicação ao Oscar - a cena em que ele abraça aos gritos o filho baleado machuca como um golpe nos rins, um de seus melhores momentos desde a performance definitiva de carreira em Gandhi. A dimensão multifacetada dos personagens pode ser compreendida pelo quilate da fonte original, o romance homônimo de Andre Dubus. Digno de nota, foi o diretor Perelman quem escreveu o roteiro e conseguiu condensar em apenas duas horas uma história que rendeu um volumoso romance.

A batalha entre Kathy & Lester contra Behrani dá oportunidade de sobra para que o diretor explore o suspense em torno de como o embate acabará, porém surpreendentemente "House of Sand and Fog" mais assemelha-se a um pequeno e intimista drama a um típico thriller. Ao não fazer diferença alguma entre os dois lados em conflito, o filme não nos "empurra" para a "torcida" de nenhuma das partes. Todas elas guardam limitações muito compreensíveis e qualidades admiráveis, mesmo ao final não nos deixando confortáveis para "escolher" um vencedor. Em uma brava opção, a história não oferece o "lado certo". Assim como acontece na vida real, aos personagens fragilizados graças aos próprios problemáticos passados não cabem resoluções bem amarradas, todavia diferente do lugar comum de filmes similares, no caso das personagens de "House of Sand and Fog", ao menos eu senti muito pelos becos sem saída onde haviam se metido, principalmente por o terem feito por ignorância, e não malícia. Kathy aparece na vida de Lester e por mais que suas responsabilidades o proíbam, ele se apaixona, algo louvável, mas perigoso. Ele está disposto a ampará-la no momento mais delicado da vida, mas então suas escolhas temerárias para salvá-la os afundam em situações das quais não podem sair impunemente. Massoud sacrifica a vida em prol do bem estar de sua família, todavia seu orgulho cego embaralha o senso de preservação. Sublinhados por um sentimento de decência e justiça, é na execução no mundo real onde trocam os pés pelas mãos e definitivamente se perdem cada vez mais. A história segue nessa sucessão de erros até o final desastroso, enquanto assistimos ao doloroso processo impotentes.

"House of Sand and Fog" não apenas foi produzido por um grande estúdio, também parece grandioso. As pessoas que se encantaram com San Francisco e sua ponte, tão pronunciada em produções recentes como "Zodíaco", de David Fincher, se deslumbrarão novamente com o panorama do lugar, explorado ao máximo pelas lentes de Roger Deakins, o profissional que, entre tantos outros filmes, - desde obras de M. Night Shyamalan aos trabalhos dos irmãos Coen - assinou a direção de fotografia de "As Montanhas da Lua", de Bob Rafelson, um dos filmes mais visualmente impecáveis de todos os tempos. Os fãs de cinema que gostam dos filmes da Jennifer Connelly se surpreenderão com uma peculiar coincidência de sua carreira: assim como acontece em "Réquiem para um Sonho" & "Cidade das Sombras", novamente a vemos caminhando ao longo de um píer em uma sequência dramática, no caso de "House of Sand and Fog" o píer de Pacifica, em Pasadena. Diretores de fotografia sabem que colocá-la como um pontinho ao fim de um longo píer rende uma cinematografia verdadeiramente encantadora, mas afinal de contas, quando se tem a Jennifer Connelly em um frame, tudo parece mais deslumbrante, não apenas pontes contra cujas colunas as ondas quebram.

Dirigido pelo relativamente novato Vadim Perelman, "House of Sand and Fog" desenrola-se com as voltas e reviravoltas que jamais o deixam perder ritmo. A ligação de Perelman à história ressoou a um nível muito íntimo, pois assim como o Massoud Amir Behrani, Vadim conheceu as dificuldades envolvidas em recomeçar em um país estrangeiro. Nascido em Kiev, Ucrânia, o diretor experimentou uma infância difícil de pobreza absoluta, até encontrar no cinema sua verdadeira vocação. Criterioso ao extremo, custa a escolher um projeto a se dedicar, pois quando se compromete, o faz de corpo e alma. Não por menos, logo após o lançamento de "House of Sand and Fog", em 2003, seu nome tenha sido vinculado ao complicado projeto de refilmagem do clássico "Poltergeist". Apesar de a execução ainda não ter começado, Perelman tem dirigido esporadicamente obras menores e interessantes, como o intrigante "Life Before Her Eyes". Assim como alguns outros nomes, Perelman é mais um dedicado cineasta criador de uma excelente obra original à espera do novo projeto que o consagre de vez como nome forte. Esse intervalo anti climático entre o sucesso de uma primeira experiência e a expectativa do filme que virá para superar o anterior me lembra a situação de outro excelente cineasta, o diretor Brad Anderson, que após rodar "Session 9", um dos melhores filmes de horror da década passada, ainda está para criar uma nova produção tão marcante quanto o primeiro trabalho.


O conjunto tão inspirado, da equipe técnica ao elenco, tem no desempenho da Jennifer Connelly (na foto ao lado do colega Ron Eldard na estreia do filme) a cola que mantém o todo coeso. Rodado em 2002, "House of Sand and Fog" parece o veículo perfeito para a atriz, `a vontade para interpretar personagens atormentadas e problemáticas. Sua Kathy Nicolo não difere tanto assim da Marion Silver de "Réquiem para um Sonho", ambas mulheres assombradas, perdidas, a quem Jennifer empresta a melancolia que somente seus olhos tristes podem imprimir. "House of Sand and Fog" prova que como artista, Jennifer Connelly prefere desafios a uma carreira mais comercialmente confortável. Sua escolha por dramas independentes complexos como "Pecados Íntimos" a produções mais financeiramente rentáveis - a atriz Naomi Watts deve sua carreira `a Jennifer Connelly, afinal de contas à Jennifer foi primeiramente oferecido o papel da protagonista de "O Chamado", por exemplo - reflete sua obstinação de se pôr `a prova sob desafios, o que vem rendendo uma carreira muito interessante em suas peculiaridades. Sua personagem, uma mulher atormentada, paga um alto preço até mesmo ao conquistar o suporte de um homem, afinal, como sabemos, ao encontrá-la, Lester é um homem casado que precisa voltar todos os dias são & salvo para casa, para esposa e filhas. Tudo fluiria mais facilmente não fosse pela boa natureza de Kathy, que se sabota por não conseguir viver consigo mesma ao "arrancar" um pai de família do lar. Jennifer mostra seu absoluto melhor com personagens semelhantes, vilãs intrigantes com consciência e sentimentos. Kathy entrega a relutância em momentos distintos, como no carro com Lester, por exemplo, quando ambos sabem que fatalmente acabarão na cama, mas ela sente que precisa mencionar a esposa porque parte de si odeia-se por estar "roubando" o homem de outra. Simultaneamente, nos faz perfeito sentido quando, apesar da racionalização tacanha de Lester - ele explica que hoje Carol se tornou mais sua melhor amiga do que esposa - Kathy escolhe silenciar o próprio remorso para finalmente seduzi-lo à cama e concretizar a traição. De fato, vilãs humilham e destroem, ocorre que as de Jennifer Connelly o fazem com olhos marejados e semblantes entristecidos, como uma algoz sem alternativas. Em qualquer outra atriz, tristeza e olhos expressivos não valeriam muito, mas em Jennifer Connelly significam o mundo. Por mais que haja tempo para se afastar, suas vítimas não fazem muito sentido do que está acontecendo, até que "deixar" não represente uma alternativa: a única opção é sucumbir à destruição. Não bastasse o canto de sereia que emana tão facilmente, seus olhos têm visão "Raio X". Enquanto ela mais se assemelha a um segredo guardado dentro de um enigma, por mais que você tente mascarar seus próprios sentimentos, ela consegue enxergar através dos estratagemas. De mais formas que eu conseguiria enumerar, eu realmente acredito que só diretores mais melancólicos ou sombrios como David Cronenberg, Clive Barker ou Brian De Palma explorariam melhor a eletricidade existente logo atrás da superfície de cada performance de Jennifer Connelly. Eu assisti ao último filme do cineasta David Fincher - o criador de obras tão macabras quanto "Zodíaco" & "Se7en" - e imaginei que teria se saído extraordinária como a vilã de "Garota Exemplar", o suspense sobre um rapaz casado arremessado a uma cilada pelas mãos da esposa. Tendo crescido assistindo fascinado a seus filmes, também sempre fui apaixonado por cinema, e quis estar "do lado de lá", dirigindo aquelas histórias e gente que deixaram uma impressão tão importante sobre meu imaginário, como Clare Higgins em "Hellraiser" & Genevieve Bujold em "Gêmeos Mórbida Semelhança". Como minha atriz preferida, é claro que eu queria tê-la visto ao lado do meu ator favorito, Burt Reynolds, e talvez porque soubesse que jamais seria um diretor, tenha começado a "fazer filmes" de maneira diferente, afinal de contas, rodar filmes não deve diferir muito de escrever histórias. Enxergando as qualidades sobre as quais falei acima, sobre a Jennifer Connelly, procurei escrever algo que aproveitasse tais elementos, daí minhas três incursões pelo "mundo da escrita". Escrevendo "Nenhum Passo em Falso", soube de imediato que estava incorrendo em risco ao enquadrar sua persona de vilã para logo humanizá-la, a ponto de criar a empatia de quem lê a história pela sua figura, e é aí onde acho que a aposta deu certo, pois quanto mais confusas as pessoas se sentissem em relação aos protagonistas, mais saberia que estava no caminho certo para criar uma história interessante. "Nenhum Passo em Falso" foi uma das três histórias que nasceram dessa necessidade de expressão, o tipo de coisa que como amante do cinema gostaria de ter assistido ou oferecido aos dois, a quem amo, pois acho que teriam feito algo extraordinário com os papéis, e mesmo que tenha permanecido no plano da fantasia, sempre declinei antes dos trabalhos que aquelas pessoas haviam sido criadas especialmente para os dois. Em "Nenhum Passo em Falso", quando um publicitário viúvo (o personagem que escrevi para Reynolds) resolve reconstruir a vida emocional ao lado de uma moça que conhece durante um processo de audição para uma mini série, ele provoca a fúria da melhor amiga (personagem escrito para a Jennifer Connelly), por quem o homem foi apaixonado pelos últimos seis anos desde que perdeu a esposa para um câncer. Quando ela percebe que está perdendo aquela devoção incondicional, a revelação é apenas o estopim para uma situação explosiva de sentimentos mal resolvidos. O suspense gira em torno do misterioso desaparecimento da nova namorada, e das voltas que a história dá para reaproximar os dois protagonistas - a melhor amiga & o publicitário - para compreender a natureza do amor que os liga ao colocá-los em puro confronto psicológico. Embora verdade que de minhas próprias experiências eu tenha tirado o material para criar essas situações, também o é que foi pelo cinema que aprendi a como contá-las, as coisas de Brian De Palma, David Cronenberg, e Clive Barker, entre tantos outros, ou mesmo os empoeirados, datados filmes de Sessão da Tarde estrelados pela Jennifer, ou pelo Burt, moldes para tirar referidas ideias do imaginário para traduzi-las em imagens, ou melhor, palavras, por mais que no frigir dos ovos eu não passe de apenas um cara que admira a arte dessa gente e os ama tanto quanto ama a própria vida. Pela influência cinematográfica desses filmes, por exemplo, escrevi momentos dos quais realmente me orgulho na história, como quando o personagem de "Nenhum Passo em Falso" vai dar um beijo de boa noite no filho pequeno. Nesta altura da história, o garotinho, que é louco pela tia (a personagem que eu escrevi para a Jennifer Connelly), sente o pai "diferente" quando a mesma está por perto. Se no começo o garotinho a amava, passa a ressenti-la quando pressente que os dois começam a se apaixonar, porque acha que "tomará o lugar" da mãe morta. Enfim, na cena, o garotinho pergunta ao pai se ela (na história, ela se chama Kylie; e o personagem de Burt Reynolds, Eric) substituirá a mãe e se o pai a ama. A resposta que ele dá sintetiza toda a confusão envolvida no impasse, quando Eric diz algo nas linhas de que amor não deve ser tomado como aquilo a que as pessoas costumam assistir em dramas românticos estrelados por Rachel McAdams. Talvez o menos compreendido dos sentimentos existentes neste mundo, o amor só pode ser compreendido em partes, porque na verdade ninguém realmente "o viu". Ao contrário, ao longo de uma vida, e com muita sorte, um ser humano enxerga - não apenas ver, mas sim enxergar - algumas evidências de sua presença, pequenos momentos reveladores pelos quais parece ao alcance dos dedos, todavia apenas por alguns segundos. Amor seria o extremo oposto da posse ou da amizade requentada quando duas pessoas se acostumam ao que se convenciona chamar casamento, por exemplo. Eric faz questão de destacar ao filho que amar & perder se confundiam pois eram praticamente a mesma coisa. Amar era querer tanto bem a alguém que nada parecia mais forte do que a vontade de tê-la por perto; tão forte que paradoxalmente se sentia liberado por deixá-la partir com outra pessoa apenas porque sabia que teria uma vida mais confortável, algo que jamais ocorreria com os dois juntos, porque sabe que dois seres humanos não poderiam jamais sobreviver por muito tempo a um sentimento tão poderoso. De certa forma, o que ele acaba passando para o filho Charly é que amar a tal amiga havia sido uma missão onde simultaneamente tivera o coração partido, e no entanto fora compensado de forma incomum. Diferente do começo, quando ele ainda estava se apaixonando, o objetivo aparentemente desejado - terminar a seu lado - passa a não importar muito ao final. Na verdade, falando-se de amor, o resultado seria o de menos; a jornada, tudo. O fundamental não é o alcance do objetivo, mas a força da fantasia envolvida. Na história, ela só parece enxergar de maneira semelhante a Eric quando ele finalmente procura dar as costas para a experiência, em busca do recomeço com outra mulher, como se o significado de tudo finalmente penetrasse sua mente justamente ao perder a posição privilegiada na vida do amigo, o que dá início ao suspense. E quando Eric termina sua fala, e dá o beijo de Boa Noite para deixá-lo, e o filho, uma criança inocente, lhe pergunta por que as pessoas falam tão bem de amor e fazem votos de experimentar algo semelhante, quando o sentimento só traz dor, ele responde "Eu não sei, Charly. Eu gostaria de saber". Ao assistir `a performance assombrosa de Jennifer em "House of Sand and Fog", eu soube que para uma história que aborda amor de uma maneira tão brutalmente honesta, uma vilã só poderia convincentemente existir pela sua persona. Ao menos, o protagonista é maduro o suficiente para saber o que esperar ao arriscar amá-la. E ao final, quando ela o destrói, ela o faz com os olhos tristes que não justificam, mas reiteram toda a filosofia de Eric sobre o assunto.

"House of Sand and Fog" permanece o melhor filme da carreira da Jennifer Connelly em sua fase pós Oscar. Neste considerável espaço de tempo desde 2003, ela tem continuado atuando em produções interessantes, casou-se com o talentoso ator britânico Paul Bettany, e tornou-se mãe de mais duas crianças. 2015 marcará sua volta ao tipo de material onde se sai melhor - os dramas mais pesados, difíceis - pois se iniciarão as filmagens de "American Pastoral", baseado no romance de Phillip Roth, sobre uma família de imigrantes que durante os anos 60, nos Estados Unidos, vê sua harmonia ameaçada quando a filha se une a um grupo radical e se torna terrorista. Jennifer Connelly interpretará a mãe, enquanto Ewan McGregor & Dakota Fanning completam o elenco como o pai & e a filha. Esse novo filme estrelado por Jennifer Connelly será dirigido por Phillip Noyce, o mesmo diretor de "Jogos Patrióticos" (foto). E aqui uma sugestão: já que Jennifer Connelly se saiu tão bem em "House of Sand and Fog" e o diretor Vadim Perelman vem desenvolvendo há anos o remake de "Poltergeist", por que não escalá-la para o papel da mãe?"Poltergeist" provavelmente fará muito sucesso nas bilheterias - vide o renascimento do gênero e a arrecadação de produções similares como "Ouija O Jogo dos Espíritos" - e do mesmo jeito que Jennifer se beneficiaria de um grande sucesso comercial no currículo, o diretor só teria a ganhar com uma artista tão talentosa no elenco. Falando em filmes de horror, e levando em conta que na maioria das vezes esse blog aborda filmes semelhantes, os amigos talvez não saibam, mas logo após o lançamento de "House of Sand and Fog" nos cinemas, a Jennifer Connelly e o marido Paul Bettany estiveram a um passo de trabalhar com Clive Barker em um terror chamado "Born", que teria sido produzido por Guillermo del Toro, baseado em uma história de Barker. Quem acompanha o blog há muito tempo sabe que Clive Barker foi uma figura muito importante no meu imaginário, seu filme de estreia, o primeiro "Hellraiser", uma experiência muito importante, principalmente tendo em vista que eu era apenas uma criança, dez anos de idade, quando o vi em uma fita de vídeo no começo dos anos 90. Por uma ou outra razão, "Born" jamais aconteceu, mas quem sabe, nos próximos anos, possamos assistir a essa interessante colaboração, Jennifer Connelly & Clive Barker? Vamos torcer. De todo modo, a Jennifer Connelly "estará por perto" por muitos, muitos anos, em romances ou dramas ou thrillers, sempre nos presenteando com seu charme. Para sua vida pessoal & profissional, nada caberia melhor do que o título da música, "The Best is yet to come" - "O melhor ainda está por vir".
Todos os direitos autorais reservados a Dreamworks. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.