terça-feira, 26 de agosto de 2014

Sabotagem ("Sabotage", 2014) O retorno triunfal de um velho ícone da ação ao tipo de filme que faz melhor!


John "Breacher" (Arnold Schwarzenegger, em seu melhor desempenho em anos) é um calejado e legendário líder veterano de um time de elite de intrépidos agentes do DEA Antidrogas. Com Breacher no comando da maior ofensiva antidrogas dentro do país e em suas fronteiras, o narcotráfico sabe que não há como ganhar. O filme abre com Breacher cheio de remorso, assistindo a um vídeo onde uma mulher e um adolescente são vistos submetidos a ameaças e violências por parte de traficantes covardes. Como aprenderemos mais tarde, as duas pessoas são, na verdade, a mulher e o filho de Breacher, mortos como vingança pelos lordes do narcotráfico. O assassinato da família é um fantasma que ainda hoje assombra o corajoso veterano, que apesar de capitanear uma implacável perseguição aos chefões do cartel para salvar o seu país dos malefícios das drogas, lamentavelmente jamais superou o trauma de não ter conseguido proteger as vidas das duas pessoas a quem mais amava.

A ação começa logo nos minutos iniciais, quando vemos o time realizando uma batida em uma mansão que serve como central de operações para um importante chefão. A sequência serve para nos apresentar os membros do time: James "Monstro" Murray & sua esposa Lizzy (Sam Worthington & Mireille Enos), Joe "Moedor" Philips (Joe Manganiello), Julius "Sugar" Edmonds (Terrence Howard), Eddie Jordan (Josh Holloway), Tom "Pyro" Roberts (Max Martini), Bryce "Tripod" McNeely (Kevin Vance) e "Smoke" Jennings. Lizzy está infiltrada na festa como insuspeita convidada, enquanto os demais se preparam para invadir. Breacher e os rapazes avançam com o caminhão jardim adentro, e iniciada a batida, Lizzy mata o chefão antes que consiga esboçar alguma reação. Os seus asseclas puxam armas e abrem fogo, mas Lizzy foge pela varanda e encontra os colegas na entrada. Breacher e os rapazes invadem a mansão. A eficiente cena é brilhantemente orquestrada, pois jamais parece falsa. O diretor parece bastante preocupado em manter-se fiel à dinâmica do trabalho dos homens que realmente arriscam as vidas em operações antidrogas semelhantes.

Lizzy se oferece para entrar com os demais, porém Breacher não quer. Ela argumenta que sabe onde o dinheiro está escondido, e Breacher acaba cedendo. Ao vê-la com aquelas roupas provocantes, "Monstro" brinca, quando ela vai se trocar no caminhão, para ajudar na invasão, "Nossa, amor, você fica mais sexy assim!".A porta principal é derrubada por "Tripod", o especialista em explosivos, e uma vez que cada agente assumiu seu papel na formação, o time adentra, só para ser recebido a tiros de metralhadora. "Pyro", o atirador de elite, derruba o inimigo com um disparo certeiro. Pelos corredores e de sala a sala, Breacher e seus homens vão pondo abaixo a quadrilha fortemente armada, até alcançar o canto onde o chefão das drogas estoca sua fortuna. Eles encontram uma pilha de dinheiro coberta por lona - é tanta grana que mais parece um pequeno monte, bem ali no meio do escritório.

"Venham receber o seu pagamento!", Breacher comemora. Todos estão muito felizes, mas sabem que precisam correr contra o relógio: monitorados pela inteligência do DEA, que acompanha a operação por rádio, os rapazes contam com três minutos para "sumir" com uma "fatia do bolo" antes que seus superiores entrem para avaliar o resultado. O rádio de Breacher chama, e conforme o veterano espera, do outro lado da linha, os superiores o questionam sobre o motivo da demora para liberar a entrada. Breacher dá uma desculpa qualquer, cita um imprevisto de última hora. "Ainda há snipers pelos corredores, esperem até que tudo fique limpo!", Breacher pede. Na verdade, "Smoke" usará o cano d'água do vaso do banheiro para esconder a "fatia do bolo" ensacada. A ideia da turma é retornar mais tarde para apanhar a grana sem levantar suspeitas. Durante o trabalho de extravio de parte do dinheiro, um bandido surge de supetão e infelizmente acerta "Smoke". A equipe imediatamente abre fogo contra o bandido. "Smoke" foi mortalmente ferido. A turma apressa o trabalho de esconder a grana para deixar logo a casa.

"Moedor", que é um homem enorme, apanha o colega ferido e o ergue sobre os ombros, para levá-lo para fora, para a atenção dos médicos que já estão chegando. Breacher pergunta a Lizzy quanto de grana já conseguiram "surrupiar", e ela dá um número aproximado de dez milhões de dólares, mais do que o suficiente. Antes de deixarem a sala, os rapazes preparam explosivos. Breacher se alberga por trás de uma parede e atira em direção à sala, já abandonada pelos demais. O disparo aciona os explosivos e transforma a pilha de dinheiro restante em chamas: a ideia aqui é apagar todos os rastros que possam incriminar o time de Breacher. Vez que o dinheiro se transformou em cinzas, os comandantes da operação e o pessoal da corregedoria jamais terão como saber ao certo os valores, tampouco suspeitarão da fatia de dez milhões que foi espertamente protegida pelos rapazes dentro do cano d'água.

A surpresa vem depois naquela noite, quando a turma chega pelo esgoto ao local onde o dinheiro deveria estar. Eles não encontram nada. Aflitos, começam a se perguntar quem mais sabia da operação, quem poderia tê-los prejudicado. "Arriscamos nossas carreiras por nada!", um deles exclama, coberto de razão. Não demora à Corregedoria chamá-los para depor. Mesmo após todos os cuidados para apagar rastros, os superiores sabem que há dez milhões faltando, e quando menos esperam, os rapazes se veem convidados a depor. O primeiro a conversar com a corregedoria é Breacher. Os agentes dizem admirar a impecável carreira do veterano, mas afirmam que precisam descobrir onde estão os 10 milhões de dólares. A corregedoria revela que o FBI vinha realizando uma investigação paralela, e que portanto sabia-se que os valores dentro da mansão revolviam 200 milhões de dólares. A Corregedoria faz pressão sobre todos os membros do grupo de Breacher, mas eles se mantêm resolutos em não abrir a boca. Os corregedores os alertam de que se o cartel descobrir sobre os dez milhões desviados, logo os estarão eliminando, um a um.

O cerco começa a se fechar ao redor do grupo. Já há dois agentes na rua onde Breacher mora, montando campana. Os agentes acham que estão fazendo um belo trabalho de passar despercebidos, até que veem Breacher saindo pela porta da frente e se dirigindo para o carro de onde o estão vigiando. Breacher os cumprimenta e até mesmo oferece sanduíches. Não é nada pessoal, e o veterano, que já viu de tudo, sabe lidar com a situação com bom humor, sem ceder à pressão psicológica. No prédio federal, Breacher contorna o jogo dos colegas. Ele está no banheiro, quando um agente da Inteligência do DEA se aproxima para provocá-lo, perguntando por que Breacher não compra um terno melhor ou tira férias em um iate nas ilhas Cayman, agora que tem dinheiro para tanto. O veterano responde que sabe o objetivo das indiretas e piadas, e avisa que não vai morder a isca e ficar nervoso. Breacher subitamente puxa a pistola da cintura do colega e a joga no vaso, para lhe dar uma lição. "Diga a teus superiores que você me deixou desarmá-lo", Breacher ironiza, deixando-o sozinho no banheiro.

Ao voltar à mesa, John encontra um post it no monitor. "Venha me ver. Floyd". Floyd é o superior do DEA, o diretor do departamento. Apesar de respeitar Breacher, Floyd ainda crê que o veterano e seus rapazes foram os responsáveis pelo sumiço dos dez milhões. No entanto, Floyd o deixará voltar às rédeas da Força Antidrogas. Ordens vindas do alto escalão de Washington exoneraram o veterano e seus amigos de qualquer responsabilidade pelo sumiço da grana, e assim, Breacher poderá retomar o comando de seu time.

O veterano se reúne com a equipe no quartel de operações especiais. A turma também está no aguardo de novidades. Apesar da confusão em que estão metidos, o ânimo não é dos piores. "Moedor" está fazendo uma tatuagem nas costas de "Pyro": o rapaz prometeu que tatuaria uma homenagem ao camarada morto "Smoke", mas na verdade está preparando uma brincadeira, desenhando, isto sim, uma figura obscena, sem que "Pyro" tenha se dado conta. A dinâmica entre os colegas é a de família. Eles brincam uns com os outros com a intimidade de irmãos. Breacher chega e quando vê aquela "zona", bota moral. "A investigação acabou, vamos voltar ao trabalho!", ele anuncia, espalhando os distintivos na mesa, para a alegria da equipe.

Eles logo retomam a rotina de treinamento. Breacher leva a turma a uma casa abandonada usada para a prática de táticas de invasão. Ele percebe que Lizzy parece cansada, e lhe diz que a garota lhe prometera que "deixaria de usar essa porcaria", mas a moça pede para que o chefe a deixe treinar. A cena ilustra que o veterano funciona como uma espécie de figura paterna, a quem eles sempre têm como recorrer quando "a coisa aperta". Ainda, compreendemos que Lizzy sofre com problemas de dependência (seja qual for a natureza da droga), e que, da sua maneira, naquela família incomum, cada um tem seus problemas e dilemas.

Os agentes antidrogas invadem a casa, e atiram somente nos bonecos que representam bandidos, porém na última sala, demonstram desleixo ao desconsiderar averiguar atrás da porta. Breacher interrompe o exercício, e lhes mostra onde erraram. Mais tarde, Breacher e "Monstro" estão mais à vontade, e o chefe o pergunta o que o fez se distrair e cometer o erro. "Monstro" diz que o vacilo se deve aos seis meses em que estiveram sob o crivo da Corregedoria, e reclama que a galera deixou de fazer-se sentir uma família, para mais parecer uma gangue. Breacher imediatamente reúne todos e lhes fala sobre o quanto confia a vida aos amigos e os considera família. Para provar a confiança inabalável, Breacher os convida a realizar o mesmo exercício de invasão, porém desta vez com o veterano dentro. Qualquer erro dos companheiros, e sobrará para o veterano, no entanto Breacher não guarda nenhuma dúvida da performance de seu time. Como esperado, a turma põe abaixo os bonecos, sem causar mesmo um arranhão ao chefe, que os aguarda dentro de um dos cômodos. O exercício prontamente restabelece a confiança entre os companheiros, e naquela mesma noite, saem para beber cerveja e comemorar em um bar.

"Pyro" abre a carteira para pagar a rodada. Quando a garçonete pergunta sobre a origem do apelido, conta que os amigos o chamam assim desde que jogou uma granada em um laboratório de drogas e acabou incendiando o prédio inteiro, sem querer. "Sugar" brinca, "Que nada, chamamos de Pyro porque o traseiro dele incendeia", e todos riem. Os companheiros levantam as taças e fazem um brinde a "Smoke", e a noite segue cheia de comemoração e brincadeiras. Mais tarde, Breacher e "Monstro" sentam-se no bar e têm uma conversa reservada. O rapaz fala ao chefe sobre como todos sentiram a sua falta, e que Breacher é a alma e coração daquele time. No salão, "Sugar", visivelmente alcoolizado, causa uma grande confusão ao saltar na passarela e se pendurar nas barras usadas pelas dançarinas.

"Pyro", que mora em um grande trailer Winnebago, acorda de ressaca, sem muita lembrança da farra da noite anterior. Tarde demais, descobre que alguém dirigiu o trailer enquanto dormia até ao meio de trilhos, e uma locomotiva está a caminho. Desesperado, "Pyro" luta com a porta (deixada criminosamente lacrada para que não tivesse chance), sem sucesso. O trem colhe o Winnebago com toda a força, e mata o agente na hora. Breacher chega horrorizado ao local da tragédia, e se apresenta `a Detetive Caroline Brentwood (Olivia Williams), da divisão de Homicídios. Ela pergunta de cara se "Pyro" tinha muitos inimigos. "Só muitas ex-esposas", Breacher responde.

Na manhã seguinte, Caroline aparece na casa de Breacher. O time se reuniu para um churrasco em honra a "Pyro", e a agente da Homicídios é muito mal recebida pelos rapazes. "Monstro" avisa à galera que a moça é a detetive responsável pela investigação da morte do "Pyro". "Vem até aqui e balança esse traseiro para mim", Eddie Jordan provoca, para as gargalhadas dos demais. "Moedor" é particularmente incisivo, cheio de piadas machistas, até que Breacher chega e ordena que os rapazes parem com as provocações. Ele a chama para dentro, e a turma volta a carga com as piadas "Vai, Breacher, trepe com ela!", Lizzy brinca. As fotos molduradas no escritório fazem prova da envergadura do profissional; Breacher aparece ao lado de todos os últimos Presidentes norte-americanos.

Caroline vai apanhar Breacher à noite, para que preste depoimento quanto as circunstâncias da misteriosa morte de "Pyro". O veterano revela que apesar da má impressão, os homens de seu time são os melhores agentes secretos do DEA. Os dois dão uma passada na casa de Eddie para tomar seu depoimento, mas ao entrar, Breacher constata luzes desligadas. O susto vem em seguida, quando o casal encontra o corpo de Eddie pregado no teto, estripado. A polícia é chamada, Caroline reage com choque. "Você fuma?", Breacher pergunta, para aliviar a tensão, e Caroline retruca "Só quando encontro as testemunhas pregadas na droga do teto!". Conforme resultado da perícia, Eddie morreu após uma facada no ventrículo direito, tendo o corpo estripado posteriormente. Darius, parceiro de Caroline, não compreende como um agente altamente preparado poderia ter sido rendido e morto tão facilmente. "Só por alguém mais habilidoso", opina o legista. Fios de cabelo também são encontrados, e imediatamente enviados para o laboratório.

Àquela altura, todos se encontraram no quartel de operações especiais para montar as peças e compreender quem os está eliminando. O time fez tantos inimigos ao longo dos anos que pode ser qualquer membro de cartel. Enquanto Breacher crê em vingança do narcotráfico, "Moedor" alerta que foi por culpa do dinheiro que agora se veem caçados, e o assassino pode ser mesmo algum outro agente do DEA. Breacher ordena que "Moedor" se cale, pois até onde sabem, o lugar pode estar cheio de grampos armados pela Corregedoria. Investigando por conta própria, certa de que há mais à história do que os olhos veem, a primeira porta onde Caroline bate é a do casal "Monstro" e Lizzy. "Monstro" mostra à agente terríveis fotos em seu celular. Ele explica que é aquele tipo de brutalidade que se pode esperar do cartel Rios-Garza, uma vez que se cruze seu caminho, dando a entender que o time está sendo alvo de uma "vendetta", e que ela mal pode começar a compreender a extensão do problema ou dos riscos envolvidos.

Quando Caroline procura os superiores da Corregedoria, abre o jogo e afirma acreditar que o cartel Rios-Garza deve estar por trás das mortes no time de Breacher, como forma de retaliação. Caroline explica que para chegar aos culpados precisa compreender melhor os agentes, e pede acesso aos arquivos sigilosos do DEA, que explicariam melhor as origens de Breacher & seu time. Darius e Caroline são abordados por um agente do DEA. O rapaz, que no começo do filme vimos tratar-se de um colega de Breacher, avisa que o DEA é como uma família disfuncional, e ali não encontrarão ajuda fácil. Todavia, continua, se se aprofundarem um pouco mais, verão que talvez a explicação resida não em cartéis, mas em obra de um dos próprios membros do time. A breve conversa deixa Caroline com uma pulga atrás da orelha.

Caroline procura Breacher e lhe pergunta por que não contou anteriormente que estava sob investigação por apropriar-se de dinheiro do cartel Rios-Garza. Breacher já estava de saída: ele ia pegar um dos colegas, "Tripod", isolado em sua casa de campo desde que as mortes começaram. Caroline se oferece a ir com o veterano. Eles alcançam a casa de campo na manhã seguinte, e de cara Breacher sente que há algo de errado. De fato, o corpo de "Tripod" está aos pés da pia, na cozinha. Por flashback, o diretor revela que o agente foi morto por bandidos do cartel Rios-Garza. Apesar de ter devolvido fogo e derrubado alguns traficantes, "Tripod" não foi páreo para a cilada dos inimigos, em maior número. Caroline chama polícia e perícia pelo rádio. Nas cercanias da casa de campo, Breacher descobre os corpos dos vilões mortos por "Tripod", e várias balas próprias a metralhadoras AK-47, a arma de escolha dos cartéis.

Caroline recebe a visita de "Monstro" no prédio da Homicídios. Consoante o agente avisara no começo, se Caroline entrasse no "mundo", no cotidiano do time do DEA, descobriria somente coisas perturbadoras. O vídeo que a detetive estava assistindo, uma tortura brutal típica dos asseclas do cartel Rios-Garza, reafirma a assertiva de "Monstro". "Eles são os melhores assassinos que o dinheiro pode pagar", diz. Caroline o assegura de que quer ajudá-los, mas gostaria que "Monstro" abrisse o jogo e revelasse tudo o que sabe sobre Breacher. "Monstro" então desabafa, e fala tudo o que conhece sobre o trágico passado do chefe.

Há dois anos, Breacher e a turma haviam prendido Edgar Rios, cabeça de todas as grandes operações do cartel, na cidade de Juarez. Quando estavam para entregar o bandido no México, um dos oficiais mexicanos sacou sua pistola e estourou os miolos do chefão. O cartel não queria que Rios fosse interrogado pela Inteligência do DEA. Além de ordenar a execução de um de seus próprios chefões, o cartel também se vingou de Breacher, o "homem que pegou o homem que ninguém conseguia pegar". Em um flashback desesperador, vemos Breacher recebendo uma ligação no aeroporto, quando os traficantes lhe contaram que haviam entrado na sua casa e sequestrado esposa e filho. "Monstro" testemunhou todo o triste, doloroso instante, o impotente, aflito Breacher escutando a tudo, a dor estampada em seu rosto, os seus amigos o segurando e procurando contê-lo.

A revelação é um momento particularmente emocionante, pois por meio de flashes, aprendemos sobre o marido dedicado e pai amoroso que Breacher um dia foi. O filho Jacob era seu melhor amigo, e ele se fazia presente em todos os momentos, um homem honrado e de valor que só queria cuidar bem da família e dos amigos, e fazer o seu trabalho corretamente, livrando cidadãos do inominável mal dos narcóticos. "Monstro" prossegue com a narrativa, e conta que Breacher enlouqueceu após a morte da família. Viajou sozinho para o México, atrás dos responsáveis, sem sucesso. A turma precisou rastreá-lo em Juarez e convencê-lo a desistir e voltar aos Estados Unidos. Mesmo dois anos mais tarde, Breacher continua obcecado em encontrar os assassinos da mulher e filho. Segundo "Monstro", a turma perdeu o velho John "Breacher" no dia em que o cartel Rios-Garza matou sua família. "Monstro" só se dá pela presença de Breacher ao terminar de contar a história. "Monstro" se desculpa e afirma que só estava tentando ajudá-lo. Caroline fica bastante emocionada com a triste história. Ela lamenta pelo ocorrido, mas por ora Breacher não quer conversa com ninguém.

Breacher a visita para que os dois façam as pazes, e aproveita para apresentar um dossiê: os atiradores que derrubaram "Tripod" eram soldados das Forças Especiais da Guatemala, que vieram de Juarez para os Estados Unidos com vistos roubados. Breacher fornece um invólucro com teste de digitais retiradas de latas de cerveja, pela Imigração, do quarto onde os atiradores estiveram hospedados. Ao perguntar por que lhe confiava tão valiosa informação, Breacher explica que apenas não quer que nada lhe aconteça. Tocada, Caroline o abraça e os dois se beijam e fazem amor.

De posse das digitais, Caroline procede a uma identificação, e daí, consegue a expedição de mandado de prisão por parte de um juiz para agir. No quartel de operações, Breacher e os homens aguardam para dar o próximo passo. Graças a uma inocente ligação de Caroline, Breacher fica sabendo sobre o endereço de uma das fortalezas do cartel Rios-Garza, onde o dono das digitais provavelmente se encontra com o restante dos asseclas que mataram "Tripod". Breacher resolve agir de imediato, contrariando as instruções de Caroline para não se envolver. A turma parte para a ofensiva, e invade o decadente prédio do bairro latino, com toda a violência. Mesmo em meio à eletricidade do momento, Breacher e a galera invadem sem ferir civis inocentes. Só vão encontrar o bandido do cartel do outro lado de uma porta fechada. Breacher o liquida com um tiro de escopeta nas costas. Ainda há mais homens espelhados pelo prédio decadente, Lizzy e Sugar derrubam mais vilões. "Monstro" prova a sua perícia e frieza quando, ao se deparar com o último traficante, que mantém uma garota inocente como refém, bota as mãos para cima e finge se render, só para se aproveitar de um momento de distração do vilão, puxar a automática e lhe explodir os miolos. "Grande tiro, baby!", sua esposa Lizzy o elogia.

"Monstro" percebe aterrorizado que apesar de terem matado traficantes que não valiam nada e inclusive mantinham um laboratório de metanfetamina, os seis caras não pertencem às forças especiais da Guatemala, ou seja, não são soldados do cartel Rios-Garza. Longe dali, um barco de pescas casualmente encontra corpos amarrados em telas, no fundo de um lago. Os legistas constatam que os corpos tiveram os dedos do polegar removidos, e apresentam a tatuagem característica das forças especiais da Guatemala. A conclusão é somente uma: não obstante seja verdade que o cartel Rios-Garza esteja à procura da turma de Breacher, e tenha inclusive executado "Tripod", os outros membros do DEA não foram mortos por Rios-Garza, mas por alguém de dentro do time, que quis jogar toda a responsabilidade sobre os ombros do cartel. Quem seria o misterioso assassino?

A turma - Breacher, Lizzy, "Monstro", "Moedor" & "Sugar" - se encontra em um local ermo, todos com expressões sérias e tensas. Agora que se sabe que um deles pode ser o assassino, a confiança foi quebrada para sempre. "Quem diabos está nos caçando?", Breacher pergunta. "Quem você acha, Breach?É um de nós", Lizzy simplifica. A tensão é tamanha, "Monstro" e "Moedor" apontam-se pistolas e jogam a culpa sobre seus colos como batata quente. "Isso é loucura!Por quê?", Breacher procura manter-se sensato. "Você sabe por quê, Breach. Foi a droga do dinheiro", Lizzy opina com muita propriedade. Um dos presentes à reunião roubou a grana, e agora está matando os restantes para não dividir o bolo de dez milhões de dólares. "Moedor" se cansa de toda a ladainha e parte na moto. Antes de deixar, jura "Se eu vir novamente um de vocês, eu os mato!". 

Breacher não se conforma. "Agora vamos nos dividir?E nos espalhar ao vento?", ele pergunta, ao ver o grupo que ajudou a criar ruir por conta da desconfiança. A situação desagradável se torna pior quando, subitamente, Lizzy revela ao marido "Monstro" que o vem traindo com "Sugar". "Sugar" fica furioso, pois não era hora ou lugar para falar sobre o caso. Ele se desculpa com "Monstro", que perde a cabeça e parte para cima dos dois. Lizzy entra no carro de "Sugar", que arranca, deixando Breacher e "Monstro", o marido traído, para trás. "Nós arruinamos tudo, Breach", "Monstro" lamenta, inconsolável.

"Moedor" vai atrás de Caroline, cheio de remorsos. Ele não aguenta mais guardar segredo, e quer falar a verdade. Começa dizendo que todo o horror começou após o desvio dos dez milhões, quando a grana sumiu. "Moedor" explica que a ideia foi de Breacher, que queria recompensar os amigos por todos aqueles anos de trabalho mal recompensado. "Moedor" acha que o dinheiro só pode estar com um dos três colegas sobreviventes, Lizzy, "Monstro" ou "Sugar". Breacher também desabafa com Caroline. Ela conta que "Moedor" deseja abrir o jogo com o DEA, e Breacher acata a solução como a melhor para o caso. Breacher e Caroline marcam um encontro com "Moedor" em uma diner para discutir o assunto. Sentados em uma mesa do lado da janela, o casal vê quando o rapaz chega em sua moto. Breacher tranquiliza o amigo e o assegura de que ambos estão fazendo a coisa certa, quando se escuta um estampido. O vidro da janela explode e "Moedor" é mortalmente atingido. Breacher joga Caroline no chão para protegê-la. Alguém - Lizzy, na verdade - está disparando de uma das janelas do prédio defronte à diner, porém só conseguiu apanhar "Moedor".

Breacher e Caroline chegam ao quarto de onde o atirador abriu fogo, e colhem depoimentos. Uma guarda de tráfego viu quando Lizzy deixou apressadamente o prédio com uma bolsa (onde guardava o rifle), na companhia de um homem negro. Breacher "faz a matemática" e conclui que foi mesmo Lizzy quem tentou matá-los, e agora procura fugir com "Sugar", o amante. Preocupado com o amigo "Monstro", ao visitá-lo, Breacher descobre que o rapaz foi morto por Lizzy. Por flashbacks, vemos o que aconteceu, basicamente uma discussão acalorada que acabou tragicamente. "Monstro" não se conformou em perder a mulher para o amigo, e ameaçou rasgar o passaporte de Lizzy para atrapalhar os seus planos de fugir com o amante. Lizzy reagiu com fúria, e com um movimento brusco e impensado com a faca de cozinha, cortou a jugular de "Monstro". Vemos que ela imediatamente se arrependeu, pedindo perdão a "Monstro", tentando estancar a hemorragia, mas já era tarde demais.

Lizzy e "Sugar" não têm mais nada a perder, e Breacher sabe disso. O casal prepara uma cilada para o veterano. Lizzy liga com voz chorosa, pedindo para se entregar em uma vaga do vasto estacionamento comercial de shopping center. Depois de acertar o encontro, ela e "Sugar" abduzem uma mulher inocente para usá-la na armadilha contra Breacher. O veterano vai ao "encontro" no estacionamento, preparado para eventuais surpresas (Breacher vestiu um colete à prova de balas). Ele se aproxima cautelosamente do carro, mas constata que Lizzy não está ali dentro. Breacher apenas enxerga a refém, mãos atadas e amordaçada, aos prantos, no banco do carona. Lizzy está no porta-malas do outro carro estacionado logo atrás, fazendo mira. Ela consegue acertar Breacher com um tiro de rifle nas costas. "Ele caiu, ele caiu!", Lizzy grita para "Sugar", que está na direção. Apesar de deixar o veterano aturdido, a bala "ficou no colete". Breacher ainda está em apuros, pois Lizzy prepara o próximo disparo. É quando Caroline acelera e se põe na linha de fogo, para proteger o amigo. Surpresa, Lizzy exclama "Droga, é aquela vadia!". Há uma breve troca de tiros, e Breacher se alberga dentro do carro. "Sugar" arranca com Lizzy pelas íngremes rampas do estacionamento, Caroline & Breacher no encalço. Não custa a atingirem as ruas, e uma implacável perseguição se inicia bem no centro da cidade, uma sequência excelentemente filmada, onde perseguidor e perseguido trocam tiros em alta velocidade, tudo em meio a carros de gente que nada tem a ver com a confusão. "Sugar" se distrai por uma fração de segundo, e colhe um ciclista. Sem visão, "Sugar" "entra com tudo" na traseira de um reboque.

Breacher e Caroline chegam aos destroços logo depois. Lizzy é a única que ainda está viva, mas dada a gravidade dos ferimentos, não sobreviverá por muito tempo. Ele pergunta por que Lizzy matou todas aquelas pessoas, e finalmente compreendemos as motivações dos personagens. Lizzy ficou ressentida quando os dez milhões foram furtados, e matou o time para tentar chegar a aquele responsável pelo sumiço da grana. Breacher revela que foi ele quem pegou o dinheiro. Lizzy entende que Breacher pegou a grana para viajar para o México, subornar a corrupta polícia de Juarez e chegar à identidade dos vilões do cartel Rios-Garza responsáveis pela tortura e morte da mulher e filho. "Nada do que você faça os trará de volta, John", Lizzy lamenta e morre.

Breacher deixa tudo e viaja para Juarez, uma típica cidadezinha mexicana de fronteira, vizinha a El Paso, Texas. Ele coloca os dez milhões de dólares sobre a mesa do delegado local e pede para que lhe diga onde os homens responsáveis pela morte da família estão. O delegado acaba cedendo, e entrega a Breacher o dossiê com os dados dos bandidos. O veterano os segue até a um bar da região, frequentado pela escória do narcotráfico. O chefão é guardado por um forte esquema de segurança, soldados armados de metralhadoras automáticas, mas Breacher não se intimida. Quando o chefão vai ao banheiro com uma prostituta, Breacher o segue e rapidamente o rende. Ele se identifica como o homem cuja família o cartel torturou e matou, e sem hesitação lhe dá um tiro na nuca. Breacher sai do banheiro de revólver em punho, pronto para o duelo. Os seguranças do chefão o recebem a bala, mas Breacher é como uma locomotiva desgovernada, avançando implacável em direção ao bar, devolvendo os tiros sem um único segundo de vacilo ou temor, derrubando os bandidos um a um. Resta apenas um capanga, que pateticamente procura recarregar a pistola. Breacher se aproxima com toda a calma do mundo, enquanto o bandido, acabando-se de medo, entregando a sua verdadeira natureza covarde, treme a ponto de não conseguir encaixar o cartucho a tempo. Breacher lhe dispensa um sorriso de escárnio e lhe estoura os miolos. A guerra acabou. Breacher se senta à mesa, acende um charuto, serve-se de um drinque, e relaxa. Breacher também foi baleado, e não sobreviverá. Ainda assim, pela primeira vez, o vemos sossegado e contente, absolvido do remorso, preparado para reencontrar a família amada, do outro lado. Por um breve momento, conhecemos o "velho John Breacher" sobre o qual seus amigos tanto falavam, o homem corajoso, pai amoroso, marido dedicado, amigo fiel e figura paterna para todos os demais agentes, um homem incorruptível à toda prova, pedra no sapato da escória do narcotráfico. Após colocar a corja de traficantes no lugar que merece, mortos no chão e a seus pés, Breacher reconquista a sua paz e morre.

Magistral filme de ação/suspense, realizado por David Ayer, um diretor que certamente cresceu admirando os antigos, grandes trabalhos do astro Arnold Schwarzenegger, e tantos anos após o afastamento do ícone das telas, deu o melhor para trazê-lo de volta, conduzindo com mão forte este eletrizante veículo de ação e mistério que encapsula o que há de melhor nas saudosas produções do gênero policial, da década de 80 e começo de 90. Embora renda homenagem aos velhos clássicos, "Sabotagem" também se beneficia de autenticidade, filmado de uma maneira que melhor seria descrita como "tática de guerrilha". Em termos de atmosfera e fotografia, muito lembra "Dia de Treinamento". Ao invés de criar um espetáculo de ação cheio de licenças, o diretor Ayer preferiu imbuir seu trabalho de um olhar realista capaz de capturar a agressividade, o calor, a energia cinética do impiedoso mundo do narcotráfico e do combate às drogas nas ruas das grandes cidades. Em anos recentes, só um outro filme, "Selvagens", do diretor Oliver Stone, encapsulou o narcotráfico tão visceralmente. Apesar de o filme de Stone retratar a realidade do mercado com semelhante honestidade, o seu foco é "antipático", pois opta por preocupar-se com a dinâmica das pessoas que movem aquele tipo de negócio cheio de traições e mortes, até mesmo as tornando romantizados anti heróis, enquanto o de Ayer foca-se no dia a dia dos homens de valor, nos dramas e nas tentações dos corajosos agentes que põem suas vidas todos os dias na linha de fogo para combater este terrível malefício.

Escrito pelo próprio Ayer, que bolou o roteiro de "Dia de Treinamento" (daí a semelhança entre os dois filmes), "Sabotagem" evoca a empatia dos espectadores pelos personagens de imediato. Em nenhum momento, eles soam falsos ou exagerados. Tentados pela sedução do lucrativo submundo do narcotráfico, os homens do time de Breacher precisam passar por cima de obstáculos incalculáveis para realizar um tipo de trabalho que a maioria das pessoas não consegue enxergar, mas que se prova vital para o futuro dos jovens de um país. Em "Sabotagem", os heróis são "boca suja", nem sempre parecem as companhias mais civilizadas ou agradáveis, todavia, no frigir dos ovos, colocam as suas vidas em jogo pelo bem do próximo. Tudo com o que parecem contar são a família e uns aos outros, alguns deles como Breacher somente uns aos outros, vez que sua família foi executada. O plano de fundo do filme - batidas em pontos do narcotráfico, o sangue frio e absoluta maldade da corja que comanda o show - justifica e reforça o senso de união e camaradagem que dá o tom à peculiar amizade entre os membros do time de Breacher. Todos os atores estão de parabéns, porque mesmo em papéis menores dão aos personagens nuances, personalidades. Nas cenas em que os vemos confraternizando ou mesmo trabalhando em equipe, não há como negar que esses caras estão absolutamente à vontade uns com os outros. Eles já passaram por tantos perigos e aventuras juntos que não há mais nada que possa constrangê-los.

Embora não se possa negar que são duas pessoas do próprio time de Breacher que colocam em prática os assassinatos que movem a trama, Lizzy e "Sugar" não parecem "vilões". Sim, meio que acabam como responsáveis pelo próprio terrível fim, mas compreende-se o ressentimento de Lizzy, todos aqueles anos correndo riscos monumentais e angariando o ódio dos cruéis lordes da droga para tentar sobreviver com um salário mediano e agentes prepotentes da corregedoria azucrinando as suas vidas, só para perderem os dez milhões que foram tentados a carregar consigo. Na verdade, a origem de todo o mal parece basear-se nos chefões frios e calculistas que não hesitam em torturar mulheres e crianças para passar uma mensagem. Assim, enquanto só se tenha como sentir pena de Lizzy e "Sugar", quando seu carro entra na traseira do reboque, a satisfação só realmente chega quando Breacher, o herói, elimina a real fonte do Mal, os sorrateiros e poderosos lordes em Juarez.

Esteticamente, o cineasta opta por um estilo de "story telling" mais "old school", à velha moda. Ayer teve o bom senso de afastar pirotecnia e efeitos visuais comuns a filmes de ação mais modernos, e primou por uma feitura mais barroca, agressiva, granulada, sem arestas aparadas. Ayer raciocinou que já que pretendia ambientar a história em um mundo tão traiçoeiro quanto o do combate às drogas, sua mais importante ferramenta seria o compromisso com a veracidade. Por esse viés, "Sabotagem" não nos oferece o ritmo ininterrupto de grandiosas explosões, no entanto, quando a violência irrompe, não é nada menos que honesta e visceral, exibida pelos seus mais francos ângulos. Quando você assiste a um filme do mestre chinês John Woo, "Fervura Máxima" a título de ilustração, você o faz boquiaberto, encantado pela graciosidade dos movimentos, a perfeição das tomadas que capturam tiroteios em câmera lenta, a montagem impecável de um inconfundível balé da violência. Imbuir tal estilo, todavia, a um filme tão compromissado com a verdade quanto "Sabotagem" equivale a dar um tiro no pé. Ao contrário, a abordagem mais seca e simplificada explicita a brutalidade em sua pior forma, e deixa claro que apesar de obra de ficção, a história dos personagens equivale a de muitas pessoas que dedicam suas vidas para encarar de frente o rosto feio do tráfico.

Com um elenco de talentosos atores, soa ingrato escolher o grande destaque. De uma maneira ou outra, todos aproveitaram a oportunidade que lhes foi dada para brilhar: Josh Holloway como Eddie Jordan, ao tirar um barato com a cara da policial, para a diversão dos companheiros, ao dizer algo nas linhas de "vem aqui e rebola esse rabo para mim!", uma cena realmente muito engraçada; Max Martini como "Pyro", ao contar no bar a história por trás de seu apelido; Sam Worthington como "Monstro", em incontáveis momentos, o mais tocante quando se consola com Breacher após ser deixado pela mulher, e Breach lhe diz "eu te avisei"; Terrence Howard como "Sugar", ao procurar se desculpar com o colega pelo envolvimento com Lizzy; John Manganiello como "Moedor", o atirador durão e tão grande quanto uma porta, ao se arrepender do furto dos dez milhões de dólares e vocalizar para Caroline o desejo de consertar as coisas e falar a verdade; Olivia Williams como Caroline, uma valente mulher provando seu valor em um meio impiedosamente machista, que simultaneamente demonstra ternura ao se compadecer da dor de Breacher pelo seu triste passado; Mireille Enos como Lizzy, rápida e mortal ao lidar com a escória, compreensiva com o marido "Monstro", brincalhona e irreverente com os colegas de equipe, trágica ao se arruinar por conta da própria cobiça.

Talvez a mais gratificante surpresa seja mesmo Arnold Schwarzenegger, finalmente de volta ao gênero que ajudou a consagrar, após uma longa ausência. Como bom vinho, a passagem dos anos só o beneficiou, e do mesmo jeito que assistir ao confronto de Clint Eastwood com os rivais ao final de "Os Imperdoáveis" eriça cabelos da nuca, é impossível não sentir a mesma emoção ao se ver um envelhecido Arnold Schwarzenegger duelando com os traficantes no bar da cidadezinha de Juarez. Grande herói do passado, todos guardam recordações dos excelentes filmes de ação do astro, onde fazia as coisas mais incríveis, mas o impacto de sua aparição em "Sabotagem", tantos anos mais tarde, por alguma razão, parece muito maior. Não me lembro de ter torcido tanto para ele quanto quando ao desfecho de "Sabotagem". Diferente de seu ápice, aqui Schwarzenegger é um leão velho, gordo e vulnerável, um herói obsoleto, que mesmo pesada e desajeitadamente, saca a arma e enfrenta os vilões de peito aberto. Você torce emocionado para que consiga derrotar os traficantes, e a vulnerabilidade de sua velhice nos faz temer, ao menos por um momento, que a corja leve a melhor. Vê-lo, portanto, como o único homem de pé ao final, o Bem triunfando sobre o Mal, reveste-se de eletricidade tal que os filmes quando era jovem e indestrutível apenas sonham reproduzir. Expoente da segunda geração de astros de ação (a primeira encabeçada por Clint Eastwood e Burt Reynolds nos anos 70), Schwarzenegger começou a atuar em filmes de grande sucesso e a despontar como talento na segunda metade dos anos 80. Firmou-se em produções cada vez mais caras e sofisticadas, que o tornaram campeão de bilheteria e o ajudaram a conquistar o imaginário do grande público. Schwarzenegger entrou a década de 2000 um pouco desgastado, sem conseguir os mesmos resultados dos sucessos do passado, e acabou se voltando à carreira política. Ele deixou um enorme vazio, gradualmente suprido pela chegada de uma nova leva da qual Jason Statham e Scott Adkins fazem parte. Jamais saiu totalmente, porém, dos corações dos fãs de ação que sentem sua falta e lhe querem bem. Seu gradual retorno ao cinema, iniciado em 2010 com um pequeno papel em "Os Mercenários", tem se dado de maneira cautelosa, e "Sabotagem" é seu melhor momento até agora. Recentemente, com a trágica morte do talentoso artista Robin Williams, que nos deixou muito prematuramente, li um comentário muito inteligente e assertivo que também serve a Arnold Schwarzenegger ou a qualquer outro ator querido por quem temos carinho. Essa pessoa dizia que ao longo daqueles anos, assistir aos filmes de Robin Williams, vê-lo sempre com bom humor naqueles filmes, o tornara uma espécie de tio querido, ou um grande amigão de infância que você não vê há tempos, e só casualmente reencontra, mas sabe que terá a liberdade para trocar ideias, conversar, rir, desabafar, chorar... Quando o ator morreu, a pessoa do comentário escreveu que foi tão inesperado e sem sentido quanto perder um ente querido. Eu compreendo tais sentimentos, e percebo que Schwarzenegger, felizmente, assim como Williams e tantos outros, também é objeto do carinho e da atenção dos fãs. Não o conhecemos, mas lhe desejamos bem, e seus filmes, de uma ou outra forma, fazem parte de distintos momentos de nossas próprias vidas, o que os torna queridos conhecidos a quem temos como recorrer nos dias mais tristes. Quantas vezes nos vimos chateados ou desapontados com alguma coisa, e então colocamos o vídeo de um ator querido no aparelho, e pelo menos por 120 minutos esses caras conseguem nos devolver o sorriso, nos brindar com um pouquinho do entretenimento e da diversão que mesmo de maneira passageira nos salva de nossas dores?Sempre me senti assim em relação a uma porção de gente, em relação à Jennifer Connelly (eu a vi pela primeira vez em 1991 ao alugar "Rocketeer", me apaixonei, e conservo uma chama daquele bonito sentimento em meu coração desde então!), a Burt Reynolds, ídolo de infância e juventude, a todos os demais velhos astros de ação e mesmo essa turma nova, a diretores como o David Cronenberg, o Brian De Palma e o Clive Barker. Sinto que fui amadurecendo e essa galera crescendo junto comigo, e por eles tenho todo o carinho do mundo. Hoje, tantos anos depois de 1991 quando vi a Jennifer pela primeira vez, ou assistia em VHS poeirentos a aqueles filmes de corrida e ação de Burt Reynolds, é gratificante e enche o coração de paz saber que esse pessoal se saiu - e vem se saindo - bem. Jennifer hoje é a mãe de três crianças e esposa de um respeitado ator britânico e homem de valor; Burt teve uma carreira brilhante nos anos 70 e começo dos 80, e, mais importante, é pai de um menino que hoje está com 25 anos e só lhe dá orgulho; De Palma, Barker e Cronenberg continuam a rodar seus excelentes suspense, e o restante continua atuante no fantástico mundo do cinema. Ao menos para mim, não há como evitar um doce sorriso diante da felicidade de toda essa galera.

"Sabotagem" marca o triunfal retorno às telas de um astro muito querido. Cheio de suspense, ação e reviravoltas, é uma excelente opção a aqueles um pouco saturados de blockbusters essencialmente visuais e barulhentos, que se sentem saudosos da simplicidade de um filme de ação mais direto. Prestigiem este excelente suspense, amigos, e torçamos para que este grande herói da ação não nos deixe mais por muito tempo. Arnold, seja bem vindo de volta!Você é um homem de valor!
Todos os direitos autorais reservados a Universal Pictures. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha. 

domingo, 6 de julho de 2014

"Under the Skin" (Jonathan Glazer, 2013) Um evocativo, melancólico e misterioso conto de fadas!Impecavelmente montado e dirigido, não percam um dos melhores filmes de horror deste - ou de qualquer outro - ano!

2012 assistiu `a concepção do perturbador "As Senhoras de Salem", de Rob Zombie, um filme de horror extravagante e de difícil digestão que dividiu opiniões e foi largamente ignorado pelo grande público. Pessoas buscaram um filme de horror usual, mas se depararam com um suspense psicológico cheio de simbolismos e imagens agressivas. Parte saiu bastante decepcionada. Era impossível assistir ao filme e não reconhecer a bizarra influência de estilos tão distintos – câmeras e uso de trilha sonora remetiam a Stanley Kubrick; ritmo e erotismo, a Ken Russell, o diretor britânico de "Women in Love"; cores e extravagâncias ao Dario Argento dos delirantes anos 70. O arrecadado em bilheteria mal custeou os gastos para produzi-lo, porém "As Senhoras de Salem" veio a ter uma sobrevida exemplar no mercado de DVD. Se Rob Zombie queimou a oportunidade de se firmar como um cineasta comercialmente viável – nenhum grande estúdio lhe dará milhões para rodar o filme de sua escolha, vez que o seu estilo se provou bastante incomum, extravagante demais para a digestão do grande público – simultaneamente, agregou inestimável valor ao que ao verdadeiro artista mais importa. Mais interessante do que ser rotulado como financeiramente viável, Zombie parece preocupar-se mais em ser reconhecido como cineasta de visão. Todos os seus filmes, muito difíceis, denotaram preocupação com estilo e personalidade. Desde o primeiro, vê-se que o seu diretor é um artista metido na busca pelo aprimoramento do próprio olhar, as lentes dirigidas a suas próprias obsessões. De mais formas do que poderia citar, o que todo esse grupo conseguiu – Rob Zombie, Clive Barker, Brian De Palma, David Cronenberg, entre tantos outros – foi imbuir os seus filmes de elegância e senso de estilo. Por mais que não tenham sido inteiramente compreendidos pelo público, lhes deram a identidade que falta a diretores modernos. Com o lançamento do assombroso, ressoante "Under the Skin", os amigos podem adicionar o diretor Jonathan Glazer a esta seleta lista.

Há aproximadamente nove anos, o mesmo diretor rodou um filme cujos pontos fortes seriam aperfeiçoados para esta sua nova ficção científica. "Birth" foi lançado no começo de 2005, no Brasil, já sinalizando os traços da peculiar criatividade do diretor Glazer, que assim como acontece a todos os "autores", parece estar enraizada na influência dos mestres que vieram antes. Em tom, estilo e narrativa, "Under the Skin" difere de tudo o que os amigos já viram. Aqueles que o odiaram não pouparam críticas ao ritmo lento e `a "falta de sentido", quando da soma de suas partes. Ironicamente, ao afirmarem que "nada acontece" durante o tempo de projeção, parecem ter perdido a riqueza dos detalhes sobre os quais toda a atmosfera desse filme foi montada.

O filme não perde tempo, e já inicia visualmente instigante e cheio de mistérios: tudo o que vemos é uma luz na escuridão, na verdade uma estrela entrando em supernova, acompanhada por uma música de batida tétrica. Aos poucos, conseguimos escutar à voz de uma moça (que acaba pertencendo à protagonista). Ela não diz coisa com coisa, apenas fica repetindo letras, vogais e palavras, quase como um robô revisando a programação. Nova cena surrealista exibe algo semelhante `a acoplagem de um globo escuro, supostamente uma nave extraterrestre, a uma estrutura própria de aterrissagem. Vemos então um homem misterioso sobre moto correndo pelas auto estradas, até parar em uma curva deserta, na calada da noite, próximo a uma van, deixada preparada no acostamento. O cenário é bem desolador, abandono completo, a estrada banhada por aquelas luzes muito fracas, amareladas, de postes de rodovia. O motoqueiro salta a guard-rail e entra no mato. Ele reaparece segundos depois com um corpo sobre os ombros, e o guarda dentro da van estacionada.

Em uma cena bastante surreal, vemos que o corpo tirado pelo motoqueiro é o de uma mulher. No que parece o estéril, esbranquiçado interior de uma espaçonave, somos apresentados à protagonista, que no romance que originou o filme, escrito por Michel Faber, chama-se Isserley. Neste filme, A Extraterrestre não recebe nome, permanecendo uma grande incógnita, todavia para efeito de melhor explicação, eu a tratarei como Isserley, a personagem da atriz Scarlett Johansson. Isserley está nua e debruçada sobre o corpo da garota. Estranhamente, as duas são idênticas, e fica evidente que Isserley, a alienígena, pretende tomar a identidade da garota morta. Ela despe o corpo, veste as roupas e, depois de todo aquele demorado ritual, já vestida, põe-se a observar o cadáver. Em um dos primeiros momentos estranhíssimos, algumas lágrimas correm pelos olhos vidrados da garota morta. Isserley se agacha ao enxergar uma formiguinha, e fica encantada examinando-a, enquanto a mesma corre pelo seu dedo, ao sabor da luz muito branca que reina no interior daquele espaço - que novamente, suponho que seja uma nave extraterrestre.

Por um brevíssimo momento, quando o diretor nos "devolve" para "nosso mundo", para uma tomada externa da cidade - sobre a qual paira um céu lúgubre, cinza e fechado - vemos "dançar" (muito discretamente) por dentro das nuvens escuras as luzes de um OVNI, que logo desaparece, sem despertar atenção. Isserley desce as escadas de um hotel barato para apanhar a van deixada na calçada. O motoqueiro também é visto. Ele é o "chefe" de Isserley, e o veremos "nas redondezas", durante todo o filme, preparado para cuidar de imprevistos que possam atrapalhar a "sua missão". Isserley o vê partindo à toda velocidade, e também se põe em movimento. Ela se mistura muito bem a pessoas comuns em um shopping. Não há quem desconfie de sua verdadeira fantástica natureza. Ela compra os itens de que precisa para parecer mais atraente, e então vai "à caça".

Aí começa o mistério. Sublinhada por uma trilha realmente incômoda que eriça os cabelos, Isserley percorre as avenidas muito largas do monolítico centro comercial de Glasgow, Escócia. O diretor de fotografia Daniel Landin aproveita ao máximo o inestimável potencial do elegantíssimo cenário. Conhecida como a "Cidade Europeia da Cultura", o centro traz uma sucessão de lojas, pubs, restaurantes e prédios históricos, cujos design e arquitetura baseiam-se fortemente no estilo vitoriano, espetáculo à parte que dá ao lugar uma estranha sensação atemporal. Coadjuvadas pela trilha surrealista, as cenas rodadas naquelas avenidas e calçadas, cercadas por gigantes monolíticos sob o céu perenemente nublado, impõem ao filme uma bizarra atmosfera de sonho e fantasia. Em um primeiro momento, as interações de Isserley com os transeuntes parecem ordinárias e flertivas. Ela puxa conversa com rapazes que enxerga na calçada. Para o primeiro garoto, diz que está à procura da autoestrada. O solícito rapaz vai passando as direções, mas ela nem parece prestar atenção, só à espera da oportunidade para se aproximar melhor. Depois que termina, Isserley pergunta se o está atrapalhando. Algo na garota parece alertá-lo para a armadilha. Quando lhe pergunta para onde está indo, o rapaz responde "encontrar alguém", e educadamente se despede. Lamentavelmente, os outros homens que Isserley chamará à janela da van para "pedir direções" não vão resistir a seu charme. Esses vão se ferrar "de verde e amarelo".

A tarde vai passando, e começa a escurecer. Se Glasgow já parece uma cidade bonita mas lúgubre e melancólica, imaginem quando começa a anoitecer. A persistência de Isserley começa a mostrar resultados. Ela para num acostamento,  e ensaia a mesma ladainha para um rapaz que prontamente vai à janela do motorista para conversar, "Estou perdida, quero chegar à auto-estrada". Antes que o rapaz comece a passar direções, Isserley pergunta se ele está "à pé", e lhe oferece uma carona. Ele comete o terrível erro de entrar no carro. O rapaz vai logo adiantando que é solteiro, mora sozinho, e a sua casa nem é tão longe dali. Isserley vai dando corda para o cara se enforcar, e ele, todo alegre, achando que tirou a "sorte grande", vai contando sobre o que faz e o que quer da vida. É importante salientar que a direção fenomenal de Glazer, a atuação da atriz principal e a melodia de Mica Levi tornam até mesmo instantes aparentemente banais insustentáveis em tensão. Há "algo de errado" nestas situações, e o pressentimento de que algo de horroroso vai acontecer às pessoas que entraram no carro é esmagador. Os dois seguem o flerte, e o diretor corta para a próxima cena. Anteriormente, vimos que era fim de tarde; agora, noite fechada, e só há Isserley à vista. Novamente, a melodia esquisita de Mica Levi entra com toda a força, e mesmo que não tenhamos visto, podemos deduzir que ela fez algo tenebroso ao rapaz - assim como o fará a todos os outros que caírem na armadilha.

Isserley não deu a noite por encerrada. Um cara chamado Andy, por exemplo, escapa por pouco. Todo encantado, ele passa direções e responde às perguntas da sedutora motorista, quando alguém o chama da esquina. Isserley se assusta, talvez temerosa em ser reconhecida, e acelera. A próxima vítima entra no carro, e pela primeira vez, o filme nos mostra a natureza dos horrores sofridos pelos abduzidos. Isserley leva o garoto a uma casinha estreita de alguma rua dilapidada de Glasgow, obviamente sob pretexto de sexo. É difícil explicar racionalmente uma sequência tão surreal e incomum, mas creio que a casa para onde Isserley os leva seja um "portal" para a nave. Eles entram em um salão absolutamente gelado e escuro, e Isserley começa a tirar a roupa, recuando convidativa. O rapaz também se livra das roupas e avança, sem se dar conta de que parece estar entrando em uma superfície de material gelatinoso, até ser completamente envolvido, enquanto Isserley segue recuando, na superfície, até que a sua vítima esteja completamente envolvida e imobilizada.

O filme não oferece explicações, mas a missão de Isserley é abduzir homens para entregá-los aos outros extraterrestres, que submetem as vítimas a um período de engorda para depois os mutilarem. No planeta de onde as criaturas vêm, carne humana é uma iguaria de luxo, e de tempos e tempos, os extraterrestres retornam à Terra e usam os serviços de Isserley para atrair mais vítimas para engorda e sacrifício. Na versão cinematográfica, somos apresentados ao superior de Isserley, o homem na motocicleta, e muito rapidamente vemos a aeronave alienígena entre nuvens pesadas, mas nada mais nos é revelado sobre a natureza da civilização extraterrestre.

As pessoas que saíram impressionadas com o clima tétrico do filme parecem mencionar a mesma cena, que se dá em seguida. Isserley se interessa por um rapaz que está mergulhando mais próximo aos rochedos de uma praia. Não muito distante, há uma família - um senhor, sua esposa, uma criancinha e o cachorro - divertindo-se às margens do mar. Na Escócia, as praias são de cascalho, e a corrente pode se tornar perigosíssima para quem não está habituado à força com que as marés arrastam a tudo quando o mar recua. Isserley usa o script de sempre na abordagem - "Sabe se há lugares bons para se surfar por aqui?", "Você não é daqui?De onde é?", "Por que está na Escócia?". Nisso, o homem dá pelos gritos desesperados da mulher. O cachorro está sendo arrastado pela corrente, e ela se jogou ao mar para tentar salvar o animal. É claro que esse terrível acidente engatilhará um efeito dominó tenebroso: a mulher se jogou na água, para salvar o cão; agora, o marido mergulhou para resgatar a mulher. O rapaz que conversava com Isserley - familiarizado com aquela turbulenta praia - assiste a tudo com muita apreensão e resolve agir. Ele deixa Isserley ali, parada, e avança para o mar, para ver o que pode fazer para desarmar a volátil situação.

A força avassaladora da cena reside em quão banal tudo acontece, em como nossas vidas não se diferenciam de um sopro; uma hora estamos aqui e somos imortais, no minuto seguinte, a escuridão. Ali estavam homem, mulher e criança, e em um programa aparentemente inofensivo, agora todos estão sendo puxados para uma morte horrível. Revelando a sua natureza alienígena, Isserley testemunha a tudo com muita frieza, sem mostrar uma única reação que se assemelhe a compaixão ou terror. O diretor Jonathan Glazer captura o momento à distância, seus personagens meros pontinhos de nenhum valor diante da energia com que o mar, depois das rochas, os arrebata implacavelmente para dentro. O mergulhador consegue salvar o homem, mas infelizmente mulher e cachorro se afogam. Os dois chegam às margens exaustos, o marido inconsolável e aos prantos. O mergulhador nem tem como segurá-lo, quando, movido pelo desespero, insiste em retornar para o mar, até inevitavelmente acabar carregado pela corrente que já lhe custou esposa e cachorro. Ali um pouco acima do quebra mar, o bebezinho fica chorando assustado, obviamente sem compreender a extensão dos eventos. Isserley se aproxima do mergulhador, arfando por ar na beirada, e o golpeia com uma pedra, para desacordá-lo. Depois, sem atenção alguma quanto ao destino da criancinha inocente, Isserley apanha a caça pelos pulsos e a arrasta dali para a van, deixando o bebê entregue a um destino incerto, a alguns metros do mar revolto. O choro da criança, ali tão vulnerável, enquanto a alienígena vai embora sem lhe conceder um só olhar, é de partir o coração. Anoitece, e quem aparece pela praia fria e deserta é o superior de Isserley, o estranho sujeito da moto. Você é levado a pensar, ao menos por um breve momento, que a criatura teria compaixão e ao menos levaria a criança para um lugar seguro, mas o estranho limita-se a apanhar o casaco de Isserley - isso mesmo, ele foi apanhar o casaco da colega, nenhuma importância dada `a vida do bebê - e partir.

Nas imediações do aeroporto, Isserley bate os olhos em uma potencial vítima fácil, e o segue pelas calçadas. O rapaz atravessa a rua, mas ela parece hesitar. Isserley está voltando para a van, quando um grupo de garotas praticamente a seguram pelo braço, e a levam consigo para a nightclub onde a sua presa acabou de entrar (dentre as muitas semelhanças entre o cineasta Jonathan Glazer e o homem que o inspirou, Stanley Kubrick, esta cena parece uma homenagem direta ao filme de Kubrick "De Olhos Bem Fechados", quando o protagonista está caminhando altas horas por calçadas muito largas, e um grupo de jovens baderneiros praticamente o jogam para fora ao passar). Isserley nunca esteve dentro de um nightclub, e fica impressionada com a música e o jogo de luzes que torna o interior um labirinto inconstante. Ela reage tensa, mas acaba reencontrando o garoto que vira na calçada. Seduzido, ele não oferece resistência, e é atraído para o mesmo lugar sinistro onde os rapazes anteriores foram imersos. Diferente do que ocorreu anteriormente, desta vez, vemos o processo com impressionante riqueza de detalhes. Isserley tira as botas e as roupas, e segue recuando, de modo que o rapaz nem se dê conta de que está submergindo no meio alienígena à medida que avança.

Dentro do meio, a pessoa tem como respirar, porém permanece em suspensão, em um espaço muito escuro e abstrato, que parece infinito. É apavorante, porque uma vez submersa, a nova vítima vê o homem pego anteriormente - o mergulhador golpeado na praia - submetido ao processo de engorda, há mais tempo. Os dois ficam pairando naquele meio, frente a frente, separados por alguns metros. O mergulhador ainda consegue estender a mão para a nova vítima, como que pedindo socorro. O silêncio é absoluto, o que torna tudo ainda mais inquietante. Subitamente, o mergulhador tem o seu interior "aspirado". Ele literalmente murcha, carne, ossos e músculos drenados em um sopro, restando somente a pele, que então tremula como fantasia ao sabor do vento.

Isserley segue na van em busca de mais vítimas. O tráfego vagaroso a prende um pouco no semáforo, atrás de uma porção de carros. Um rapaz bate à janela da van com uma rosa - um sujeito, na outra mão da avenida, comprou-a para Isserley, encantado pela sua beleza. A extraterrestre recebe a rosa, mas então percebe que há um pouco de sangue nos dedos, provavelmente um ferimento menor durante a abdução da noite anterior. Mais tarde, em algum outro ponto de Glasgow, Isserley escuta no rádio que o corpo de um homem foi encontrado por um turista em uma praia perto de Arbroath, mas a esposa e filho seguem desaparecidos. É revelado que o morto era professor universitário em Edimburgo. A rádio também revela a identidade da esposa. Quando Isserley tropeça na calçada, as pessoas mais próximas imediatamente a ajudam a se levantar. Inesperadamente, um rascunho de consciência começa a brotar de dentro de seu ser, como se estivesse se tornando, aos poucos, mais humana.

Naquela noite, Isserley estaciona a van ao lado de um homem solitário de capuz, a caminho do supermercado Tesco. Ela o encontra em um ponto muito ermo da cidade (pode-se mesmo escutar o rumor vindo dos trilhos próximos), e oferece carona. Meio a contragosto, o homem acaba aceitando. Dentro da van, ele tira o capuz e revela o rosto deformado. O homem é portador de uma doença congênita conhecida como "Neurofibromatose". O seu rosto acabou desfigurado por causa dos tumores subcutâneos hipertrofiados que provocam incomum inchaço. Isserley parece não se assustar com a aparência. O homem explica que só costuma ir a Tesco àquelas horas, vez que dificilmente há outras pessoas por perto, e ele não precisa suportar os olhares cheios de julgamento que lhe são dirigidos. Apesar de sua natureza extraterrestre, Isserley, ao contrário dos humanos, enxerga beleza naquele homem. Ela elogia as suas mãos e diz que são bonitas. Aos poucos, Isserley vai quebrando a sua resistência. Ela diz que sabe que o estranho a acha bonita, e que não há problema algum em admitir. Segurando as suas mãos, as leva para o rosto, para que possa tocá-la melhor.

Isserley o leva para a casa deserta onde abduz as pessoas. Fascinado pelos seus encantos, o estranho começa a ficar nervoso, mas novamente ela consegue contornar toda a resistência. "É um sonho, estamos sonhando", procura tranquilizá-lo, após tirar a roupa. Diferente do que ocorreu das outras vezes, porém, Isserley reluta, e decide salvá-lo. Na manhã seguinte, nós a vemos deixando o lugar, permitindo que o homem escape da morte. Há um breve instante quando Isserley se olha demoradamente no espelho. Ao demonstrar compaixão, está se tornando a sua própria fantasia. Piedade não é um conceito de sua natureza extraterrestre, no entanto ela não quer mais machucar as pessoas. O gesto de Isserley trará consequências graves para si.

Furioso, o seu "chefe" aguarda pela chegada do homem deformado no quintal de casa, e assim que o rapaz consegue voltar, confuso, dá de cara com o motociclista, que o elimina imediatamente. Do outro lado da calçada, uma senhora assiste ao motociclista jogando o corpo no porta-malas do carro e partindo à grande velocidade. Isserley segue na van, pelas autoestradas, até que uma névoa muito espessa a detém. Ela abandona o veículo no acostamento e se enfurna no meio da neblina. Não se pode ver mais de um metro à frente, tamanha a intensidade. Em um take de tirar o fôlego, o cineasta nos mostra, por lentes muito amplas e distantes, os dois mundo e o ponto onde se encontram - de um lado, a autoestrada ainda com boa visibilidade, um pouco adiante, o "limbo" onde a claridade é sufocada pela bruma. O take parece representar simbolicamente o estado mental da vilã. Se anteriormente Isserley cumprira o seu dever com louvor, levando uma porção de sujeitos desavisados e carentes para uma cilada de morte, agora descobriu uma humanidade que jamais fez parte de sua essência, mas que encontrou o jeito de cativá-la.

Isserley começa a perambular por aquela região mais distante e isolada da Escócia, aos pés de serras muito altas. Em uma cafeteria à beira do lago, permite-se experimentar o simples prazer de um pedaço de bolo. Caminhando às margens da estrada daquela cidadezinha, chama a atenção de um cavalheiro local, que a orienta a aguardar o ônibus no ponto. Dentro do ônibus, ele puxa conversa com Isserley. Preocupado, percebe que ela não está bem e se oferece para ajudar. Isserley aceita a mão que lhe é estendida, e o homem a leva para casa. Ela é muito bem recebida. Enquanto lava pratos, o homem liga o rádio e, ao som da música, Isserley é vista batendo os dedos ritmicamente na mesa, como se estivesse apreciando o som. O seu corpo também desperta para a própria sexualidade. O homem a acomoda no quarto de hóspedes e lhe traz chá, deixando-a à vontade. Isserley se despe diante do espelho e examina cuidadosamente as curvas, os seios e a genitália. Ela parece estar mais à vontade com a sua fantasia de humana.

Tão apaixonado o rapaz se mostra, na manhã seguinte, quando estão passeando pela floresta, coloca-a no colo apenas para que não molhe as botas. Ele a leva a um lindo, enorme castelo, onde a ventania açoita muito intensa. Apesar de temerosa, Isserley suprime os medos e o segue por aquele emaranhado de passagens e torres. Ao final, ele a parabeniza pela sua coragem, "Você conseguiu". À noite, eles fazem amor. Enquanto tudo isso acontece, extraterrestres do mesmo planeta de Isserley estão percorrendo a costa da Escócia, com a missão de trazê-la de volta, custe o que custar.

No dia seguinte, Isserley desperta muito cedo, sem o conhecimento do cavalheiro que a havia levado para casa e parece amá-la, e volta para a floresta onde, lamentavelmente, vem a se perder. Ela encontra o trabalhador de uma madeireira, que a aconselha a não entrar muito pela trilha, pois corre o risco de se perder. Isserley vai parar em uma cabana reservada a visitantes que precisem se albergar da chuva ou contar com suas facilidades, em caso de emergência. Ela acaba cochilando, mas é acordada pelo mesmo operário, que a havia rastreado. O seu intento é estuprá-la. Isserley corre, mas infelizmente é apanhada mais à frente. Durante a luta, o homem a corta nas costas, revelando parte de sua verdadeira natureza alienígena, escondida sob a pele. Horrorizado, o agressor foge. Isserley vai se despindo muito lentamente da fantasia. Em sua forma natural, ela tem traços muito suaves e femininos, e mais se assemelha a uma graciosa sombra. Por um tempo, fica ajoelhada, contemplando a forma humana que vestiu, com um olhar triste. O estuprador retorna, e joga gasolina nas suas costas. Isserley se levanta e começa a cambalear, mas o homem ateia fogo em seu corpo, antes que possa escapar, pondo fim a sua existência. No final, as suas cinzas ascendem junto à neblina, subindo pelos pinheiros e desaparecendo no meio do nada, como se a extraterrestre jamais tivesse existido.

Filme triste, difícil e sombrio, sem dúvida um resgate de todos os elementos que fizeram dos anos 60-70 a grande época da ficção científica. Se há muitos anos o gênero tem se perdido em efeitos especiais, "Under the Skin" redime o mágico prazer de se sair para a sacada à noite para contemplar estrelas. A obra de Jonathan Glazer veste e transpira elegância, a começar pelo seu belíssimo poster retrô. Rodado na Escócia, "Under the Skin" sobressai-se dentre os demais filmes de arte por mesmo em meio a tanta dor e pessimismo, comuns ao estilo, conseguir sintetizar em alguns instantes muito passageiros uma "amarga doçura", que beira datado, ingênuo e adorável romantismo. Tão sombrio quanto o céu cor de chumbo ou as noites muito escuras que pairam sobre os personagens durante todo o tempo de projeção, são em momentos discretos como quando Isserley elogia as mãos do homem deformado ou o cavalheiro a põe no colo apenas para que ela não molhe os pés em que o filme realmente decola. Apesar de não temer desagradar, o diretor também não receia injetar alguma humanidade, que para os esnobes pareceria piegas.

E esse, a meu ver, é o único ponto que deixa a desejar. Glazer poderia ter utilizado o segmento final - quando Isserley se vê na cidadezinha aos pés das serras e conhece um gentil cavalheiro local - para nos brindar com aquilo pelo que muitas pessoas procuram filmes. Sabemos que o cinema nos permite o final feliz, os instantes de pura magia que a vida na maioria das vezes nos nega, e essa é parte da atração que o torna uma experiência transcendental. Filmes de arte fogem à regra ao evitar a saída mais formulaica do final feliz - que comercialmente rende - todavia assim como acontece a fórmulas fáceis, devemos lembrar que também o pessimismo exacerbado parece atrapalhar o resultado. Com todo o respeito ao que o talentoso diretor fez com seu excelente filme, humildemente creio que se ele tivesse ousado sonhar, a doçura teria funcionado a favor da obra. O excesso - sacarose, isso sim - prejudica, simplifica, elimina a profundidade do trabalho; ao mesmo tempo, apesar de sacarose fazer mal, doçura jamais o fez. Filmes aclamados como "Cinema Paradiso" são atemporais em sua propriedade de arrancar lágrimas, no entanto jamais deixaram de tratar as reviravoltas de suas histórias com um tipo de discreta doçura que apenas os tornou mais saudosos e queridos. Assim sendo, sinto que o diretor Glazer procurou o desfecho rápido justamente quando o filme chegava a seu segmento mais promissor, com a história de amor de Isserley com o morador local que, salvo engano, sequer recebe nome. Aí, havia muito potencial, lamentavelmente inexplorado, e vez que não há nada de vergonhoso em doçura, "Under the Skin" desperdiça a oportunidade de se aprofundar na questão sobre o que nos torna humanos - o amor, principalmente - quando o roteiro cria a ocasião perfeita para tanto. Muito embora não ache que o diretor devesse ter preterido o final a favor de uma feliz conclusão, estou convicto de que um melhor desenvolvimento no "meio de campo" teria tornado esta empolgante, diferente ficção científica um clássico absoluto, em todos os sentidos.

Esteticamente, "Under the Skin" talvez seja o mais deslumbrante filme que veremos todo o ano. A maioria de suas imagens parece saída das telas de um caprichoso pintor, porém incrivelmente, com o espetacular cenário que tinha a sua disposição, tudo o que a equipe precisou foi de um diretor de fotografia com senso de estilo. Quando assisti ao filme e pensei sobre a sua maravilhosa atmosfera, automaticamente me recordei de "w Delta z", outra máquina de suspense cujo pilar é a sustentação da atmosfera. Ao pesquisar sobre locação, compreendi por quê parecem tanto, em termos de fotografia. Ambos os filmes foram rodados nas ruas de Glasgow, sendo que no caso de "w Delta z", o cineasta Tom Shankland a usou "anonimamente", vez que seu suspense se desenrola nos Estados Unidos. O céu lúgubre e as autoestradas largas cheias de mistério não deixam dúvida, porém, que estamos falando do mesmo lugar.

Conforme já colocado parágrafos acima, o suspense deve muito à melodia triste e assombrosa que Mica Levi compôs para os mais importantes momentos. Essencialmente abstrata, a trilha serve como luva ao estranho mundo surreal onde a história é ambientada, encapsulando a proposta de alienação que a vilã - e nós também, por tabela - experimentamos pelas calçadas e ruas que, embora aparentemente comuns, parecem saídas de um sonho. Ao escolher entregar a carta na manga aproximadamente após meia hora de projeção, o diretor confia às cenas aparentemente banais o desafio de criar momentos de eriçar os cabelos. O poder da sugestão, subestimado por tantos que creem precisar de efeitos especiais e sanguinolência para criar horror, não exige mais que a melodia triste de Levi, por exemplo, ou a performance de Scarlett Johansson. Como vilã, vê-se toda a letalidade através da fachada, do mesmo jeito que venezianas deixam passar, aqui e acolá, alguma réstia de luz. São em seus gestos mais ordinários, sorrisos entre flertes, olhares mais prolongados, quando somos lembrados que Isserley é a predadora, e os homens, sua presa. Ao mesmo tempo, agrada-me o fato de Isserley "redimir-se": apesar de pessoas ingênuas terem sido arrastadas para mortes horríveis, ela desenvolve a consciência que primeiro lhe incitou a salvar o homem desfigurado e, mais tarde, a apaixonar-se por um cidadão de uma cidadezinha interiorana. É essa contradição que para uma excelente atriz representa prato cheio, o tipo de desenvolvimento de personagem que me agrada: a vilã sem compaixão acaba por transformar-se pela força do amor, e quando se vai, deixa saudades. A cena final até nos traz algumas lágrimas - o seu destino é muito trágico - todavia, jamais lamentaríamos por Isserley se não tivéssemos nos interessado o suficiente. Quanto a isso, só há duas pessoas a agradecer, quais sejam a talentosa atriz e o roteirista que soube destrinchá-la.

Assim como "As Senhoras de Salem" anteriormente, esteticamente, o filme evoca o estilo do diretor Stanley Kubrick. Não é a primeira vez que Jonathan Glazer sugere sua admiração pelo cineasta. "Birth", de 2004, era recheado de takes muito iluminados e truques de câmera realmente impressionantes em sua capacidade de reproduzir os elementos que haviam tornado os filmes de Stanley Kubrick trabalhos realmente impactantes. Mesmo a abordagem estéril e abstrata de elementos mais fantástico nos faz lembrar de "2001 Uma Odisseia no Espaço". Simultaneamente, o elemento mais ordinário e comum é tratado com o olhar distanciado e frio que imprime a cenas como as em que Isserley está dirigindo pelas ruas de Glasgow estranha sensação de dissociação ao sabor da luz do dia. Os amigos que apreciam a ficção científica nos moldes com que é produzida hoje devem entrar em "Under the Skin" certos de que o filme de Jonathan Glazer mais convida à reflexão do que ao entretenimento. Com ritmo muito parecido ao de "Solaris", de Andrei Tarkovski, "Under the Skin" não tem a pretensão de divertir, mas exige contemplação e entrega total, bem como uma belíssima pintura o faria.

O elenco se sai muito bem, a atriz Scarlett Johansson dando sua melhor performance em anos, tendo como aliado um diretor que praticamente lhe confiou as rédeas do filme. Tamanha a crença de Glazer em sua  capacidade dramática, pode-se contar nos dedos as cenas de diálogo. Ao contrário, ela precisa apenas de olhares e expressões para acessar o universo de emoções pelas quais a sua personagem passa. Somente uma artista talentosa poderia dar vida a personagens tão diferentes. Se os amigos se acostumaram a vê-la como a garota doce e de bom coração que se apaixona por um viúvo, de "Compramos um Zoológico", se surpreenderão com a facilidade com que precisa de pouquíssimo para assustar. Assim como Selma Blair em "w Delta z", o extraordinário do desempenho reside nos detalhes. Ali, dentro da van, com sorrisos e flertes inofensivos, Scarlett Johansson é de arrepiar os cabelos da nuca.

Possivelmente, demore algum tempo até que algum outro filme igualmente desafiador assalte as salas de cinema, mas isso não nos impede de torcer, pois ainda teremos muito suspense até o final do ano!Agora em julho, chega aos cinemas "Uma Noite de Crime 2", que parece potencializar o horror do primeiro ao levar o suspense para as ruas, quando o carro de um casal dá o prego bem no feriado do "expurgo anual", e os dois precisam lutar com ferocidade para sobreviver à noite do ano em que todo tipo de crime é permitido. Falando em "Uma Noite de Crime", lembro-me de Lena Headey, a atriz principal do filme original. Acho que os amigos ficarão felizes de saber que Lena Headey foi contratada para atuar no filme "Jacqueline Ess", baseado no conto do mestre Clive Barker. Creio que já discorri bastante sobre o quanto o admiro. "Jacqueline Ess" foi um de seus contos mais marcantes, a história de uma mulher aos quarenta e poucos que sofre de depressão e se vê atolada em um casamento sem amor com um homem que a trai, e que ao sobreviver a uma tentativa de suicídio, descobre propriedades telecinéticas sobre a matéria. Ela arrebenta o marido com o poder da mente, e se aproxima de um advogado chamado Oliver, velho colega do falecido, que vem a perdidamente se apaixonar pela protagonista. Ele a ama tanto, aceita perdê-la quando Jacqueline se vai. Interessada em aprender sobre poder e como exercitá-lo, ela deixa o advogado e se envolve com um homem de negócios bilionário chamados Titus Petiffer. O secretário mais próximo de Petiffer começa a investigar, e descobre o passado macabro de Jacqueline, mais especificamente o misterioso e brutal assassinato do marido. Jacqueline abandona Titus que, temeroso de seus poderes, envia seus mercenários para rastreá-la. Jacqueline derrota a todos e desaparece. Oliver, que jamais a esqueceu, não desiste de encontrá-la, até finalmente rastreá-la até Amsterdã, onde Jacqueline assumiu nova identidade e vive como uma notória prostituta cujas habilidades são de amplo conhecimento na noite do submundo europeu. A história de Barker, extremamente cinematográfica, dá de mãos beijadas todo um potencial fora de série que poderá ser traduzido em um suspense atmosférico inesquecível. Resta-nos esperar e torcer!

Enquanto todos esses filmes de horror promissores não veem, fiquem com "Under the Skin", a ficção científica lenta e difícil que ao final acredita no romantismo, e nos apanha de surpresa ao nos convidar a derramar algumas lágrimas pelo fim de sua aterrorizante, mas finalmente humana vilã. Conforme o seu poster vintage sugere, e o filme apenas confirma mais tarde, depois de "Under the Skin", quando forem à sacada para buscar o céu à noite, enxergarão as estrelas com renovado romantismo e mistério, uma nova espécie de olhar que somente algo tão profundo e evocativo como a imagem melancólica e glacial de Isserley pode provocar.

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