sábado, 1 de março de 2014

Sentença de Morte ("Death Sentence", 2007) Senhor absoluto do horror, James Wan demonstra a mesma maestria no comando deste absorvente thriller que poucas pessoas tiveram o prazer de conferir!Não Percam!

Por meio de vídeos caseiros, assistimos à família Hume, nos dias em que a vida parecia ser só sorrisos, alegrias e expectativas. Nick & Helen (Kevin Bacon & Kelly Preston) são amorosos pais para seus dois filhos Lucas & Brendan, cujo crescimento acompanhamos por meio desta doce sequência introdutória. Nick os ensina a jogar hóquei e passear de bicicletas, e ao longo dos anos, nós os vemos tornando-se rapazes de muito valor. Uma família unida e feliz, a harmonia está para ser rompida por conta de uma imprevisível e horrorosa tragédia. Nick é executivo de alto cargo em uma seguradora, e no começo do filme, decide a favor do pagamento de pensão à família de um ex-empregado da empresa, que morreu recentemente, deixando mulher e filho desamparados. Apesar da posição privilegiada na hierarquia da empresa, Nick é um homem decente que jamais se desapegou de seus princípios ou desconsiderou os sentimentos dos outros. Ele acredita no valor inestimável da unidade familiar, prova disso quando apanha uma folha onde a seguradora fez um levantamento sobre expectativa de vida “Pessoas com filhos vivem mais do que pessoas sem filhos, pessoas que vivem juntas vivem mais do que uma solitariamente. É um alívio saber que tudo isso ainda é verdade”. À mesa durante o jantar, Brendan pede ao pai que lhe dê uma carona para um jogo de hóquei que vai acontecer logo mais. O restante da família não poderá atender, pois na mesma noite Lucas também terá prática de futebol, então Nick fica de levar Brendan ao jogo de Hóquei, e Helen, Lucas ao treino de futebol.


Brendan marca o gol da vitória, e Nick  está presente na arquibancada para prestigiá-lo. Os dois estão voltando de carro, tarde da noite, desfrutando de um típico momento de bate papo entre pai e filho. Brendan explica a Nick que alguns de seus colegas estão conversando sobre estudar no Canadá. O pai percebe que o filho sonha com uma carreira no hóquei profissional, mas super protetor que o é, mostra-se inicialmente relutante quanto a ideia. Conhecedor do valor de Brendan, todavia, Nick acaba cedendo, e concorda que ao menos comecem a pesquisar por universidades no Canadá, onde o rapaz estaria mais próximo de seu sonho. Durante a conversa, os Hume veem dois vindos na mão contrária, à toda velocidade, com as luzes apagadas. Eles se dão conta de que estão em uma redondeza barra pesada. Os carros subitamente fazem o retorno, pareiam por alguns segundos com o de Nick, e arrancam em direção a uma curva, desaparecendo em seguida. Nick começa a ficar preocupado, "Onde diabos podemos voltar para a highway?", ele se pergunta, ao mesmo tempo em que o carro começa a sinalizar que o combustível está acabando. Pai e filho param em um decadente posto de gasolina. Nick fica um pouco aliviado. Ele vai encher o tanque, enquanto o filho pede licença para comprar algo para comer na loja de conveniência.Neste meio tempo, Nick liga para casa e deixa um recado brincalhão na secretária eletrônica "Nosso filho está indo para o Canadá jogar hóquei, e provavelmente não o veremos mais, então estou o deixando no aeroporto". É quando os carros que Nick encontrara na estrada chegam ao posto à toda velocidade. Homens mascarados descem, armados de escopetas, arrebentam a porta da loja de conveniência e anunciam o assalto. O dono do mercado parece deslizar a mão para baixo do contador, quando é morto com um tiro no peito. Brendan fica atônito, assistindo a tudo com os braços levantados. Um dos mascarados ordena ao outro, chamado Joey: "Faça isso, ou não será um dos nossos!". Mais do que um assalto, a situação parece um ritual de inicialização, onde o novato precisa provar o seu valor aos veteranos. O novato puxa uma faca e degola o indefeso Brendan. Desesperado, Nick assiste a tudo do chão, pois quando correu para defender o rapaz, um outro carro, sem intenção, colheu-o de leve, incapacitando-o por um instante, o tempo que leva para os marginais executarem o garoto. Nick se levanta e parte como um trem expresso em direção à loja de conveniência. Na confusão, os delinquentes vão logo se evadindo, tomando os seus carros e arrancando. Ainda abismado com o assassinato, Joey lentamente volta a si, e quando deixa a loja, é apanhado por Nick. Os dois têm uma breve luta, Joey consegue se desvencilhar, mas ao correr para a estrada, é acertado com força por um carro em alta velocidade. Quando Nick chega para socorrer Brendan, encontra o rapaz ainda vivo, mas agonizando. Nick grita com todo o ar dos pulmões por ajuda. Longe dali, os delinquentes estão comemorando e dando gargalhadas quanto a toda a situação. Os carros pareiam. "E quanto a Joey?", um dos marginais pergunta. "Ele é um homem agora, pode pegar o metrô", responde o outro, que parece ser o líder da gangue.


Brendan é carregado pela equipe médica direto para a mesa de cirurgia. Nick tenta ir com o filho, mas é impedido pela staff. Helen e Lucas chegam logo em seguida, desesperados, e o cirurgião surge para explicar que não foi possível salvar a vida de Brendan. Helen cai em inconsolável pranto, nos braços de Nick. Mais tarde, durante o reconhecimento na delegacia, Nick identifica o autor do homicídio, um perdedor chamado Joey Darly, 23 anos de idade. Os Hume enterram Brendan em um dia escuro, sob muita chuva. Com a morte do rapaz, a família perde em definitivo a harmonia, cada parente procurando sublimar a perda da maneira que julga conveniente. Deitados lado a lado, Helen desabafa para o marido, e ele a consola tomando-a nos braços. Lucas é o mais confuso. Mais tarde, à noite, visita o quarto do irmão e, cheio de pesar, observa um porta retrato onde aparece ao lado de Brendan. Ele começa a chorar. De seu quarto, Nick escuta a tudo, o luto e a dor estampados no seu rosto.


Em uma reunião com o promotor do caso, Nick tem as suas expectativas rechaçadas. Ele quer que o assassino do filho pegue prisão perpétua, mas a realidade é injusta, e só pode seguir dois desfechos: ou o Ministério Público faz acordo e consegue uma pena de três a cinco anos, ou empurra para julgamento, objetivando uma pena que na melhor das hipóteses não ultrapassaria dez anos, sob o grande risco de o delinquente sair em liberdade caso o júri entenda que não há indícios suficientes de autoria. O fato de o homicídio ter apenas uma testemunha torna a base da acusação muito frágil, e o prognóstico, conforme o promotor, não parece promissor. O facão, arma do crime, desapareceu, não foi encontrado sangue de Brendan na roupa de Joey Darly, e por um infortúnio do destino, o posto de gasolina não era servido por câmeras de vigilância. Acordo é a saída. Detetive Wallis (Aisha Tyler), a policial que acompanha o caso desde a noite da tragédia, conta a Nick que o acontecimento foi mais do que roubo. De fato, tratou-se de um ritual de iniciação na gangue, onde se mata alguém apenas para se conquistar o respeito dos demais. Nick sai destroçado da reunião, a sua dignidade jogada no lixo.

Na manhã do depoimento como única testemunha, Nick senta-se ao lado de Joey, que parece pouco se importar, e a Nick dirige o sorriso cínico de canalha convicto da impunidade. Durante o testemunho, Nick surpreende a todos, declarando que estava muito escuro, e portanto não tem certeza em afirmar que foi Joey o assassino. Detetive Wallis e o promotor não compreendem a atitude de Nick. Joey sai pela porta da frente, e a gangue aparece para recepcioná-lo e lhe dar as boas vindas ao grupo. De seu carro, do outro lado da calçada, Nick assiste a tudo. É a primeira vez que vê o rosto de Billy Darly (Garrett Hedlund), o líder dos bandidos e irmão de Joey. Ele abraça o irmão e fala sobre o quanto "está orgulhoso".

À distância, Nick segue os dois Mustang por uma vizinhança perigosa. A gangue deixa o novato em uma zona, dá-lhe algum dinheiro, e parte, deixando-o todo animado para "tirar o atraso" com uma prostituta qualquer. Nick volta para casa, e separa uma faca da oficina. Enquanto está separando a arma, Lucas, que não imagina as intenções macabras do pai, aparece para tentar conversar. Ele mal sabe como o irmão morreu, e se sente alienado do pai. Com a desculpa de que tem que pegar um documento importante no escritório, Nick entra no carro e parte. Nick aguarda fora da zona, dentro do carro, e quando vê Joey deixar momentaneamente o quarto para fumar um cigarro, sai do carro com vingança em mente. Quando Joey se vira e vê Nick na sua frente, assusta-se e pergunta o que está fazendo ali. Nick o ataca e só se satisfaz ao cravar uma faca em sua barriga. Ele dirige a um lugar ermo, limpa as digitais do cabo da faca, e a joga em um córrego.

Nick volta para casa e interpreta muito bem que tirando aborrecimentos de trabalho, sente-se bem. Helen e Lucas estão revisitando alguns vídeos caseiros. A esposa nota que o marido parece exausto, e ele atribui o mal estar a um escorregão quando foi apanhar o carro. Ela prepara um banho quente para Nick. No chuveiro, o pai de família parece aperceber-se do significado de se matar um ser humano, na verdade, apenas a gota d'água para todo o stress emocional que está atravessando. A sua devota esposa o vê aos prantos, e o abraça, consolando-o no chuveiro. Billy Darly só vai saber da morte de seu irmão inútil na manhã seguinte. Aprendemos que o seu pai, Bones Darly (John Goodman), é dono de uma oficina, mas também mentor de um comércio paralelo ilegal de armas pesadas. Billy costuma dividir o dinheiro dos roubos com o velho, que sabe que nenhum de seus filhos vale algo. Billy é recebido pelos companheiros no laboratório de drogas da gangue, e todos parecem consternados. Eles lhe contam que Joey Darly está morto. No trabalho, os colegas de Nick estão preocupados com o seu bem estar. A Detetive Wallis presta uma visita para Nick para lhe dizer que Joey Darly foi misteriosamente assassinado na noite anterior. Ela percebe que Nick, visivelmente tenso, fica ainda mais constrangido quando a detetive nota a sua mão enfaixada.

No bar, a gangue está brindando em homenagem ao companheiro morto. Eles estão discutindo quem poderia ter matado o rapaz. Um deles conta que a irmã viu um sujeito de paletó pelas redondezas, aproximadamente no horário que confere com o do homicídio. Cavalheiros "de paletó" não frequentam redondezas tão perigosas, e não custa a concluir-se que Nick Hume foi o responsável. Billy ordena que seu amigo leve `a irmã o jornal que estampou a foto de Nick Hume, na ocasião do assassinato de Brendan, nas capas. Ele diz que se vir a foto, poderia reconhecê-lo, o que não deixaria dúvida alguma quanto a autoria. Como esperavam, a moça confirma que Hume era a pessoa no local do crime.


No trabalho, Nick parece tenso, temeroso de que a morte seja rastreada até a sua pessoa. Ao deixar o escritório, não percebe que está sendo seguido de perto pela gangue. Ele compra curativos e anti inflamatórios em uma farmácia. Quando está voltando para casa, um dos marginais corre em sua direção, de pistola em punho. Nick se vira e o acerta em cheio na cara com a mala. Os demais, do outro lado da rua, sacam as suas armas e começam o tiroteio que deixa o quarteirão em polvorosa. São quase dez homens contra um, quando Nick sai correndo por becos apertadíssimos, os delinquentes em seu encalço, atirando e errando. Naquele ínterim, o cozinheiro de um restaurante sai pela porta dos fundos para deixar o lixo do dia, e Nick aproveita para entrar no edifício comercial. A gangue o persegue pela cozinha do restaurante e depois pelas salas. Subindo as escadas de serviço, Nick vê-se em um típico estacionamento de vários andares, comuns a grandes metrópoles. Perspicaz, ele vai chutando a traseira dos carros para provocar os alarmes, e confundir e atrapalhar os vilões. A sequência do estacionamento é o ponto alto do filme, e para evocar a exaustão proposta, é filmada quase em um take, técnica que deixaria Brian De Palma com inveja. A passagem de câmera por diferentes andares, a forma como vai e vem, dançando por volta de delinquentes e herói, em uma perseguição implacável, é a prova incontestável de que Sr. James Wan é um mestre absoluto em seu ofício. Se Hitchcock estivesse vivo, seria este tipo de sequência que estaria rodando. É realmente impressionante o que o domínio de câmera consegue provocar, sem a necessidade de retoques ou grandes efeitos. Somente câmera e talento.


Nick vai subindo os andares pelas rampas, a gangue não muito distante. Ele finalmente alcança o último andar, no topo do edifício. Um deles também alcança a cobertura, ao mesmo tempo, mas Hume se abaixa e se esconde no instante correto, de modo a não ser visto. Chegando sorrateiramente, ele se joga contra o homem e toma a sua pistola, dando início a uma feroz luta. Nick apanha a cabeça do homem e a arrebenta, usando a porta do automóvel. Ele saca outra arma, mas Nick abre a porta blindada, e os disparos não o atingem. A luta segue dentro de um carro qualquer. Nick puxa o freio de mão, e o automóvel vai descendo de ré, lentamente, cada vez mais perigosamente próximo `a beirada da cobertura. Nick se apercebe do risco, e sai agachado, a tempo de escapar do carro pela janela frontal. No segundo seguinte, o automóvel despenca das alturas, com o marginal dentro. É o segundo homem da gangue que Nick mata. Ele entra no seu automóvel e parte à toda velocidade, descendo as rampas e chegando a rua principal em segurança.


Nick recebe uma ligação de Helen, que se diz preocupada pois foi buscar Lucas no futebol mas não o encontrou. Nick diz imaginar onde o filho se meteu, desliga e arranca com o carro. No estacionamento, Detetive Wallis está periciando a cena do crime. Ela está começando a suspeitar que Nick está metido até o pescoço na situação. Em outro lugar da cidade, conforme o pai imaginara, Nick encontra Lucas na estação abandonada, às lágrimas. Ele está aos prantos, realmente perdido. Ao chegarem, Helen o toma nos braços, emocionada, aliviada por vê-lo bem. De posse da carteira que Nick deixou cair, Billy passa a vista por fotos de sua família e colhe dados sobre a vida do executivo, enquanto arquiteta a sua mais nova maldade.

Um dos marginais aparece no edifício da seguradora, com uma "encomenda" para Nick. Ele chega ao andar da firma, anunciando "Nicholas Hume!". Quando o encontra, atira-lhe um pacote. Ele é arrastado para fora do edifício, e Nick vê que se trata de sua maleta, que deixou cair na manhã em que o perseguiram, para conseguir despistá-los mais rápido. Dentro, fotos da família Hume, com os seus membros marcados por tinta de caneta porosa vermelha. No verso, um número de telefone. Nick liga, e Darly atende. Eles trocam insultos, e agora a guerra está declarada, onde um dos lados só parará quando o inimigo estiver liquidado. Nick contata Helen e pede para que não saia de casa, até que a polícia chegue. Ele então liga para Detetive Wallis, que imediatamente envia viaturas para a casa dos Hume. Ao chegar a casa, Nick fecha todas as portas e janelas.


Wallis diz a Nick que a polícia permanecerá fazendo a vigilância por toda a noite, e que um juiz expediu mandado para pôr os membros da gangue de de Billy Darly atrás das grades. Na mesma noite, Nick acorda com o barulho da buzina do carro de polícia. Quando olha pela janela, vê os oficiais executados. A gangue já está dentro da casa. Um deles persegue Nick com tiros de escopeta, escada acima. Ele o encurrala no banheiro, mas Nick se esquiva do tiro ao puxar o tapete sob os seus pés, fazendo o bandido cair. Chega mais um delinquente, que faz mira para atirar. Nick dá um pontapé na porta, que bate com força em seu braço, fazendo-o errar o disparo, e acertar o amigo ao chão, estourando-lhe o joelho. Nick voa contra o homem, e os dois saem voando, arrebentando com o peso de seus corpos o corrimão, despencando de uma altura de dois andares. Lucas e Helen são trazidos para a sala pelos demais bandidos, e levados `a presença de Billy Darly, que os fuzila friamente. Nick enlouquece e avança contra o inimigo, disposto a matá-lo com as próprias mãos. Darly acerta um tiro em Hume, e certo de que destruiu a família, vai embora com os seus asseclas.

Nick acaba sobrevivendo. Quando acorda da sedação, recorda-se da esposa e do filho, alvejados por Darly. Ele precisa ser novamente sedado. Wallis aparece no hospital e avisa a Nick que a guerra acabou. Se for atrás de retribuição, só vai conseguir ou ir para a cadeia ou morrer mais cedo. Cheio de remorso, Nick diz que sente que matou a própria família, e Wallis lhe conta que Lucas escapou com vida. Com a esperança renovada, ele se levanta da cama, afasta os médicos e só se acalma ao chegar ao lado de seu leito. Mesmo com o filho adormecido, Nick diz ao menino que sabe que o filho sempre acreditou que ele nunca se importou com Lucas tanto quanto se importou com Brendan. Quando Brendan, o primeiro filho, nasceu, aos olhos de Nick e Helen, foi como um milagre. Fascinados em assistir ao primogênito crescer, quando chegou a vez de Lucas, explica que o seu erro foi ter esperado um "segundo Brendan", quando na verdade Lucas tinha o seu próprio jeito de ser, e `a sua própria maneira, era um menino igualmente fantástico. `As lágrimas, Nick diz ao filho que a sua mãe significava o mundo, assim como Lucas, e que só quer que não tenha dúvidas de que o ama muito. Ele se desculpa por não ter sido um pai melhor, e o protegido mais. Nick beija a sua testa e deixa o hospital, determinado a completar a sua vingança. Ele foge pela janela, e assim que Wallis dá pelo sumiço, imagina que Nick está para se meter em confusão.

O executivo retorna para a casa, isolada por aquelas fitas amarelas usadas em cenas de crime, mas não se importa, e vai entrando. Ele troca os curativos, veste um boné, e vai ao banco sacar todo o dinheiro da conta. Nick pede para que um amigo descubra de onde partiu o número de telefone fornecido anteriormente por Billy Darly no verso da foto. O número do telefone o leva ao bar onde a gangue de Billy Darly costuma beber. Nick aparece por lá em busca de respostas. O sujeito tenta dar uma de engraçadinho, até que Nick o segura pela nuca e enfia a sua cara no balcão. O vagabundo compreende que Hume está falando muito sério, e fornece a localização de um prédio abandonado onde eles costumam virar a noite para festejar e usar drogas. Ele ainda lhe indica um excelente lugar para adquirir armas.


Nick aparece na oficina de Bones Darly, com uma sacola cheia de dinheiro, e diz que quer comprar armas. Bones lhe apresenta uma série de armas pesadíssimas, apropriadas para a envergadura da matança que pretende causar. Nick fica encantado com uma escopeta, uma pistola e um revólver. O valor da compra é de três mil dólares, mas Nick fica tão feliz, ansioso para começar a carnificina, dá cinco mil a Bones. Quando está saindo com a sacola de armas, escuta-o engatilhando uma arma. Nick descobre que Bones é pai de Billy Darly ("Você é o maluco que tá atrás do meu filho?", Bones pergunta, fazendo mira). Nick não tem receio algum de confirmar que sim, está realmente determinado a destruir Billy Darly. Para a sua surpresa, Bones abaixa a arma e diz entender os seus motivos. Bones o deixa partir, e Nick vai embora com um sorriso e a sacola cheia de armas e balas. Na oficina, ele prepara o revólver, a pistola automática e a escopeta para o confronto. Ele se livra do curativo, raspa o cabelo, veste a jaqueta de couro de Brendan, e parte para a batalha de vida ou morte.

O seu primeiro ponto é o prédio abandonado indicado pelo sujeito do bar. Nick dá um tiro de escopeta na porta, e encontra um dos homens na companhia de uma prostituta. Quando o rapaz faz menção de que vai apanhar a pistola na mesinha, toma um tiro na perna. Sob a mira do revólver, o bandido conta direitinho que Billy e os demais estão no hospital psiquiátrico abandonado, na verdade a central de operações da gangue, onde costumam preparar as drogas para comercialização. Nick coage o homem a ligar para Billy. Quando Darly atende o celular, Heco, o marginal, grita que "O filho da mãe não morreu!". Nick estoura os miolos do rapaz para que Billy escute a tudo do celular e sinta o gostinho do que está por vir. O bandido fica abismado. Naquele mesmo instante, Bones chega enraivecido, contando para o filho que há pouco Nick esteve na oficina, comprando armas, e que está a caminho para pegá-lo. Billy mata o pai, e fica com o carro. Nick, por sua vez, toma as chaves do homem que acabou de executar, e fica com o Mustang, o mesmo que no começo do filme foi usado no assalto que custou a vida de BrendanUma curiosidade: nesta cena, fica visível em um muro a pintura do famoso bonequinho ventríloquo de "Jogos Mortais", também de James Wan, uma justa homenagem do cineasta ao filme que o tornou requisitado. 

A gangue está no hospital psiquiátrico abandonado, um furgão estacionado bem na entrada. Nick pisa fundo, e enfia o Mustang no furgão, partindo-o ao meio. Nick está caminhando pelos corredores, quando um membro de gangue o vê. Nick lhe dá um tiro arrancando-lhe a perna, do joelho para baixo. Termina o serviço com outro disparo, que faz um rombo no peito. O corpo do homem voa corredor adentro, o que deixa o seu colega espantado. O bandido saca a automática e descarrega os pentes, Nick se protegendo dos disparos atrás de uma parede, aproveitando para municiar a escopeta. Nick dá dois poderosos tiros que acabam por feri-lo na perna. Desesperado, o homem sai mancando, enquanto Nick o persegue calmamente. Vez ou outra, o exasperado bandido vira-se e tenta acertá-lo com algo, apenas para errar miseravelmente. Nick o encurrala, quando o delinquente está para abrir a janela de um banheiro para saltar. O tiro de sua escopeta abre um buraco na altura do peito, arremessando-o através da janela. Hume quase é acertado por um tiro: dois marginais chegam no andar para tentar derrubá-lo. Desta vez, Nick puxa a automática, e descarrega o pente nos bandidos. Eles conseguem escapar dos disparos, mas o laboratório de drogas é completamente destruído. Nick sobe as escadas, e um dos rapazes tenta acertá-lo. Nick não hesita, detém-se momentaneamente na subida e vira-se para retornar fogo. Ele não deixa um tiro sequer sem resposta. É pura guerra!


De um dos lanços de escada, Nick põe-se de peito para fora no corrimão, apontando para baixo, e mandando um tiro vertical. Ele não fere o homem mortalmente, mas o acerta de raspão e o incapacita. Billy está chegando ao prédio naquele momento. O hospital psiquiátrico é um emaranhado de corredores decadentes, salas com paredes muito frágeis, luzes que vêm e vão. Nick escuta o seu inimigo caminhando rente a ele, do outro lado da parede, e dispara. O tiro rompe a parede e acerta o vilão no peito. Nick joga fora a escopeta, agora que a munição acabou, e empunha a pistola. Ele chega a um lugar semelhante a um palco, quando Billy Darly o apanha com disparos nas costas. Nick não desiste: ele se vira e aperta o gatilho, acertando Billy nas axilas e arrancando os seus dedos. O último comparsa de Billy chega por trás e atira no pescoço de Nick. Hume explode os seus miolos com um tiro certeiro na cabeça. Exausto, Nick senta-se em um banco de madeira, de frente ao palco. Também ensanguentado, Billy senta-se a seu lado. Os dois se olham, estupefatos com a que ponto foram capazes de chegar em suas respectivas vinganças pessoais. Nick exibe a Billy o revólver municiado e pergunta se o rapaz finalmente está preparado para morrer. Billy fecha os olhos, e lágrimas escorrem pelo seu rosto.

O diretor corta para carros de polícia parando na entrada da casa dos Hume. A Detetive Wallis encontra Nick `a beira da morte, sentado na sala, assistindo aos vídeos de família, lembranças de dias mais felizes, antes de toda a loucura. Ela lhe conta que Lucas se recuperou e já não corre mais risco de vida. Um agonizante sorriso de gratidão passa pelo rosto do agonizante Nick, e o filme acaba.


Sombrio e pesado suspense rodado `a moda antiga, momento incomum na carreira do talentosíssimo James Wan, que nos anos seguintes viria a se tornar um dos cineastas mais respeitados e importantes do gênero Horror. Com uma filmografia invejável, onde impera filmes envolvendo assombrações e demônios, foi com "Sentença de Morte" em que James Wan pôde tentar algo diferente, e o veículo escolhido foi um enredo nostálgico, vagamente baseado em romance de Brian Garfield. Mesmo aqui, poucos anos após a estreia com "Jogos Mortais", e antes da consagração com "Sobrenatural" e "Invocação do Mal", Wan já ensaiava características que viriam a se tornar uma constante ao longo de sua carreira. Em seus trabalhos, a parte visual sempre encontra uma forma de se destacar. O colaborador habitual de Wan, John R. Leonetti, dá a este angustiante suspense uma tonalidade granulada, borrada, maltratada, como se alguém tivesse derramado café sobre os rolos de filme, resgatando uma atmosfera setentista que torna a experiência ainda mais sufocante e especial. As cores fortes e o roteiro seco e direto fazem com que momentos como o da perseguição nos andares do estacionamento arranquem efetivamente o oxigênio da plateia.


Sempre fiel a seus atores, Wan trouxe o seu amigo Leigh Whannell, participação constante de seus filmes, para compor um dos membros da gangue de Billy Darly (Whannell interpreta o bandido esmagado quando Nick arremessa o Mustang contra o furgão, durante o clímax). A veterana Judith Roberts também causa forte impressão, em seu papel muito breve, praticamente uma participação especial. As pessoas familiarizadas com a filmografia de Wan se recordarão de Roberts em "Dead Silence", no papel de Mary Shaw, uma ventriloquista que, dizia-se, tinha uma coleção de bonecos bizarros que, mais do que ventríloquos, possuíam vida própria e obedeciam a seus comandos. Shaw é morta pelos habitantes da cidadezinha, mas seu espírito passa a assombrar o lugar através dos bonecos macabros. Apavorante em "Dead Silence", aqui a atriz habita uma personagem mais comum, mas nem por isso menos memorável.


As atuações estão fantásticas. O talento de seu diretor parece tão incontestável a esta altura que conseguiu atrair grandes nomes, como John Goodman, uma maravilhosa adição, mesmo em seu pequeno papel. Parece claro que Goodman topou participar do filme pela oportunidade de trabalhar sob a batuta de um diretor tão habilidoso, e em um papel que teria ficado ordinário e pouco impressionante nas mãos de outro artista menos experiente, Goodman traz algo `a mais com a sua ótima performance. Kevin Bacon interpreta o protagonista, e dá o tipo de desempenho que o papel pede, não o de herói de filmes de ação, mas o do homem comum, em consonância com as linhas de Brian Garfield, ao criar a história original. É uma atriz sobre quem nunca pensei a respeito, porém, que se sobressai como o "porto seguro" da família Hume. Kelly Preston interpreta Helen Hume, e a sua interação com filhos e marido sintetiza a ideia da importância da unidade familiar que o diretor procura passar. Assim como John Goodman traz algo de especial a seu papel aparentemente menor, foi por causa do talento de Kelly Preston que muitas cenas importantes, como quando conforta o marido no chuveiro, trouxeram maior ressonância, maior impacto. Ela foi a grande surpresa entre os colegas de elenco, com uma personagem que prova que por trás de uma família unida, há uma mulher honrada que sabe o seu papel na dinâmica de tudo. Pelos bons e maus momentos, permanece fiel a seu marido e filhos, até o trágico fim. Depois que ela se vai, não há como ignorar que é hora da retribuição. É impossível não torcer pelo herói. Preston foi um triunfo, a sua melhor performance em anos!

Em um tema que seria recorrente em sua filmografia, novamente, o cerne de "Death Sentence" é o da unidade familiar sob ataque: em "Invocação do Mal" e "Sobrenatural 1 & 2", sob o ataque de forças sobrenaturais, aqui, sob o assédio de uma gangue. "Death Sentence" é o seu filme mais triste, mais sombrio. Se na maioria dos outros o bem triunfa, neste, a vingança só atrai surpresas cada vez menos recompensadoras para ambos os lados em conflito, e o seu final é um dos poucos onde não há resolução satisfatória alguma. Possivelmente, o olhar mais pessimista não seja exclusividade de Wan, mas da fonte original, o romance de Brian Garfield. Talvez os amigos não saibam, mas a fonte de "Sentença de Morte" é a mesma do clássico de 1974 "Desejo de Matar", com Charles Bronson.


No filme de 1974, o personagem principal era o arquiteto vivido por Charles Bronson, um homem pacifista que inclusive ao servir os Estados Unidos na Guerra da Coreia, fê-lo como médico de pelotão, tudo por causa de sua aversão a armas e `a violência. A mulher e a filha são barbaramente estupradas, a mulher morre e a filha fica louca, e aquilo parece provocar uma profunda transformação em suas convicções. É quando faz uma viagem a trabalho ao Arizona que conhece um magnata que vem a se tornar seu amigo. Quando o homem o leva a um daqueles shows de Velho Oeste, onde heróis e bandidos encenam um tiroteio para divertir os visitantes, começa a alimentar a ideia de vingança. Na despedida, o magnata lhe empurra um "presentinho": um raro e letal revólver Colt belíssimo e prateado. Quando o protagonista regressa para Nova York, começa a ensaiar na vida real o que antes guardava só na fantasia. Ele passa a apanhar os metrôs nas horas mais perigosas, a meter-se nas mais descuidadas situações, como se quisesse ser abordado pelos vagabundos. Quando os delinquentes acham que o apanharam de calças curtas, ele saca o revólver e os executa sem dó. Não custa a se tornar o "Vigilante" da cidade, ao mesmo tempo que um veterano detetive, que intimamente é simpático a sua causa, tenta detê-lo. 

Em razão das continuações que o filme gerou, as pessoas associam "Desejo de Matar" ao gênero ação, mas se esquecem do que tornou o primeiro tão fantástico. Em primeiro lugar, é importante frisar que o personagem principal jamais consegue satisfazer o desejo de vingança, pois jamais consegue encontrar os marginais que estupraram a mulher e a filha. Tudo o que faz é exteriorizar o ódio sobre outros delinquentes. Neste sentido, um estranho e triste sentimento de injustiça, frustração e dor acompanha o anti herói, que jamais encontra alguma coisa semelhante `a paz. Em segundo, "Desejo de Matar" não é um filme de ação, mas um drama. A ação, ou melhor, as sequências de tiroteio, ficam lá para o final, e não dizem respeito ao herói enfrentando um super adversário, um grande traficante, por exemplo, mas sim a delinquentes e bandidos desavisados acostumados a tocar o terror, que têm a infelicidade de mexer com um cara louco para lhes dar alguma retribuição. Se os amigos revisitarem o primeiro "Desejo de Matar", e depois conferirem "Sentença de Morte", perceberão que ambos os filmes parecem "tirar o fôlego" pelos mesmos expedientes, com histórias muito difíceis, ou mesmo a fotografia granulada e berrante do filme de Wan, propositalmente imposta para evocar a impressão de se estar assistindo a algo produzido nos anos 70, uma homenagem a seus inesquecíveis thrillers tais como o primeiro "Desejo de Matar", e "Straw Dogs", de Sam Peckinpah. Ao mesmo tempo em que rende a justa homenagem `a engajada década de 70, James Wan propõe um ritmo mais ágil e acelerado `a sua versão modernizada, focando na sangrenta guerra sem tréguas entre o homem comum e os delinquentes de gangue. O resultado é um thriller original e empolgante, superior `a maioria de similares contemporâneos, tudo porque, por trás da câmera, há um verdadeiro artista, que a cada filme parece lapidar ainda mais o seu absoluto comando sobre o cinema de horror inteligente e com personalidade. Em um ponto, porém, o filme de James Wan não bate o original: o quesito do desfecho. No original, o detetive encarregado de apanhar o vigilante acaba sumindo com a arma do crime, a única prova que liga o personagem de Bronson `as execuções. Ele o visita no hospital e diz que apesar de entender o que fez, não pode permitir que um justiceiro armado continue pelas ruas julgando e condenando conforme critérios pessoais. Eles fazem um rápido acerto, e Bronson concorda em deixar Nova York. Ao final, o vemos chegando `a estação de trem de uma grande cidade, a serviço de um novo escritório de arquitetura. Bronson vê uma garota sendo hostilizada, quando vagabundos vandalizam as suas malas, jogando-as no chão e saindo rindo. Ele se agacha para juntar as coisas da menina, enquanto os marginais deixam a estação, rindo de toda a situação e fazendo sinais obscenos para os dois. Bronson devolve o sorriso, aponta o indicador para os marginais, sinalizando um revólver, e a tela subitamente fica escura, para entrarem os créditos acompanhados pela melodia de Herbie Hancock. Se os amigos não viram, procurem assistir, é um dos finais mais memoráveis já colocados em celuloide. "Sentença de Morte" foi disponibilizado em DVD pela Paris Filmes, e tanto para saudosistas quanto entusiastas de filmes de horror, é uma experiência obrigatória, um valoroso substituto ao espaço deixado pela morte de Bronson, em 2003, o epítome do herói de ação de um tempo cada vez mais longínquo e que deixou saudades, época quando a diferença entre certo e errado parecia mais clara, e homens eram Homens.
Todos os direitos autorais reservados a Twentieth Century Fox. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.

Outlander - Guerreiro versus Predador ("Outlander", 2008) Brutais guerreiros vikings adoradores de Odin. Um impiedoso dragão alado assassino. Um nobre herói determinado a salvar o nosso mundo. Uma valorosa princesa por quem o herói vem a se apaixonar. Combates sanguinolentos a ferro e fogo. Outlander tem tudo isso e muito mais, meus amigos!

709 anos depois de Cristo. Uma nave espacial avariada despenca dos céus, e cai em um enorme lago da Noruega, na Era dos Vikings. Durante a queda, o rastro de fogo que risca a noite escura é avistado por um camponês local. Dois astronautas de armadura emergem da água, um deles gravemente ferido. O único sobrevivente do desastre acaba por ser Kainan (Jim Caviezel), um soldado extraterrestre envolvido em uma guerra secular contra gigantescos e perigosos dragões conhecidos como "Moorwens". Na manhã que se segue ao acidente, Kainan mergulha nas águas geladas para recuperar parte de seu equipamento de navegação. Ele enterra o capitão, e com o sofisticado aparato de inteligência alienígena, descobre que está na Terra, possivelmente para todo o sempre, vez que a única maneira de regressar a seu mundo consiste na nave, agora destruída e coberta pelo lago. Ainda assim, o guerreiro aciona o transponder com a esperança de que o sinal cruze o universo e seja capturado e compreendido pelos seus companheiros. Kainan recupera a sua sofisticada arma, semelhante a uma pesada espada que, se manuseada corretamente, transforma-se em um canhão super potente. O seu pior temor se torna realidade, quando em suas andanças se depara com uma vila completamente destruída, e todos os seus habitantes mortos. No meio da vila, a surreal presença das carcaças de uma baleia. Um dos dragões "Moorwen" acoplou-se à nave e, quando da queda, veio junto com o guerreiro para a Terra. O monstro começou a deixar o seu rastro de destruição pela costa da Noruega, aniquilando animais e gente. A chegada de dois novos e inesperados visitantes de outro planeta trará consequências desastrosas a já instável região, marcada pela beligerância entre dois povos, liderados pelos Reis rivais, Hrothgar & Gunnar (Ron Perlman).

Perdido em meio a aquela hostil terra na Península Escandinava, rica em montanhas e um emaranhado de entradas para o mar, Kainan é capturado por guerreiros vikings chefiados por Wulfric (Jack Huston), que pelo invasor vem a nutrir uma instantânea antipatia. Na luta pela captura, o guerreiro alienígena acaba por perder a sua arma, vital para o confronto com o dragão. Intrigado pela diferente figura de Kainan, Wulfric o denomina "Forasteiro" ("Outlander"), e o leva à fortaleza comandada pelo Rei Hrothgar (John Hurt). No castelo, o Rei treina a sua valente filha Freya (Sophya Miles), única descendente, na arte das espadas. Pai e filha vivem um impasse, pois apesar de Hrothgar insistir para que case com o valoroso Wulfric, pelo guerreiro a moça não alimenta qualquer sentimento de afeto. O machista Wulfric interrompe a sessão de treino, para contar ao Rei sobre o "Forasteiro". Adianta que a vila mais próxima, sob a autoridade do Rei Gunnar, foi saqueada, que e não há sinal de corpos, ignorante quanto a natureza da criatura que desencadeou a carnificina.

Questionado violentamente por Wulfric, que tem certeza de que foi Kainan o responsável pela destruição que assolou a vila nas terras de Gunnar, o alienígena acaba por revelar que está à caça de um implacável dragão voador. Com a sua confissão, só acaba provocando mais animosidade e ceticismo por parte dos vikings. À noite, machucado e aprisionado, Kainan faz uso de um pedaço de ferro em brasas para romper as cordas que o aprisionam a uma coluna. A filha do Rei visita o prisioneiro para cuidar de suas feridas, e parece ficar encantada com o "Forasteiro". Com a chegada de um novo dia, Hrothgar expõe para Wulfric a sua preocupação. Ele avisa ao sobrinho que precisam dar um jeito para que Gunnar compreenda que seja qual for a natureza da catástrofe que se abateu sobre a sua vila, não foi o pessoal da fortaleza de Hrothgar que provocou tão impiedoso e mortífero ataque. Wulfric não é simpático a entendimentos com Gunnar. O rapaz acha que o mesmo foi responsável pela morte do pai, e defende que as suas tropas deveriam aproveitar a sua momentânea vulnerabilidade para surpreendê-lo e massacrar a sua fortaleza. A voz da razão, Hrothgar posiciona-se claramente contra qualquer provocação, pois crê que a guerra não é a resposta. "Não é a sua espada que te tornará Rei, mas sim a forma como lida com a sua cabeça e o seu coração", ensina o Rei para o sobrinho.

Freya está tratando os ferimentos causados pela surra de Wulfric, quando nota que Kainan apenas finge estar de mãos atadas. Naturalmente, assusta-se e grita, o que atrai um dos guerreiros, o enorme Bjorn. Pela primeira vez, vemos as habilidades de Kainan em combate, que não apenas se esquiva muito bem de um golpe de machado, põe Bjorn para dormir com uma bem dada cotovelada. Ele fica com o machado de Bjorn e procura fugir na calada da noite. Wulfric e os demais soldados estão no paredão da fortaleza, à espera de alguma provocação por parte dos homens de Gunnar. Não sabem que estão sendo estudados pelo dragão, escondido por entre as árvores do bosque circundante. Quando um dos homens encarregados da vigília é morto pelo dragão (que usa a cauda muito afiada para degolar as vítimas), os habitantes da fortaleza acordam em polvorosa. Todos sobem os paredões e ocupam o adarve, o caminho no topo das muralhas. Ao invés de encontrarem o exército de Gunnar, só veem as árvores do bosque tomadas pela névoa. Não há sinal de inimigo. Novos gritos, quando um outro soldado é perpassado pela cauda da criatura, que agora está dentro da fortaleza. Os soldados estão atônitos, não conseguem identificar por qual flanco estão sendo atacados. Os cavalos saem do estábulo aterrorizados, e logo a construção é consumida por chamas. O dragão está ali dentro. Espadas comuns nada podem fazer diante da fantástica criatura. Quando Bjorn tenta feri-la com um forte golpe, tudo o que consegue é quebrar a lâmina. Kainan ainda assiste ao monstro saltando em toda a sua glória sobre a muralha, levando uma das vítimas consigo. Por ora, o confronto entre os dois centenários inimigos terá de ficar para depois, e o dragão alça voo. 

Dentro da fortaleza em chamas, Kainan é recapturado, e o pessoal está com a paciência esgotada. Estupefatos com os vergalhões nos corpos de seus compatriotas, Wulfric e Hrothgar discutem quanto ao que seria capaz de causar ferimentos semelhantes. Assistindo à tristeza que toma conta do povoado, que acaba de perder seus membros mais queridos, cerca de dez homens brutalmente mortos, Kainan não tem como deixar de pensar na sua própria história. O passado de Kainan nos é mostrado através de flashbacks. O guerreiro vem de um planeta onde homens e dragões enfrentaram-se pela hegemonia sobre um distante planeta. A raça a que Kainan pertence, uma avançada e belicosa civilização extraterrestre, conquistou o mundo dos Morweens e lá estabeleceu as suas colônias, expulsando os dragões, os habitantes originais daquele terreno selvagem. Apesar de em um primeiro momento a civilização ter conseguido vencê-los, os novos exploradores da colônia jamais gozaram de paz, já que os dragões remanescentes declararam guerra aos invasores. Quando Kainan deixa esposa e filho para partir para novas conquistas, um dragão sobrevivente arma uma nova e letal investida, e massacra a todos, a família de Kainan incluída. Movido por um senso de vingança pessoal, Kainan se voluntariou para capturar a besta, o que conseguiu fazer. No retorno para o seu planeta, todavia, o monstro se soltou, avariou a nave, e ambos caíram na Terra, na Península Escandinava.

Na manhã seguinte, Kainan acorda com um garotinho ajoelhado na sua frente, observando-o com curiosidade. Ele se chama Eric e é órfão. Simpático à presença do "Forasteiro", divide a sua comida com Kainan, porém é afugentado por alguns soldados que estão de passagem e assistem à cena. Hrothgar está reunido com o conselheiro Boromir, o sacerdote e demais homens de valor, cada qual com uma ideia diferente para o que se deu. Kainan é conduzido à presença de Hrothgar, que lhe concede a oportunidade de falar a respeito do dragão que tanto apregoa existir. À distância, os "Morween" parecem "borrões de luz na escuridão", pois de seus corpos emanam fulgor avermelhado e charmoso, utilizado para atrair as suas vítimas. Wulfric fala que não existe criatura semelhante naquela região, e Kainan responde que é compreensível, vez que o dragão veio do espaço, quando da queda do nave, no lago.

Incrédulo, o intrigado Rei Hrothgar acaba acatando a sugestão de Kainan para que ao menos permitam que os acompanhe, quando partirem para caçar o dragão. Antes de montar o cavalo, tem os pulsos amarrados, e ao protestar que não terá como lutar de mãos atadas, um dos soldados lhe avisa que não é considerado "um deles", e fará parte da cavalaria apenas para orientar e assistir. O exército de Hrothgar avança bosque adentro, e em determinado momento, o Rei e Kainan começam a conversar. "O que ele (o monstro) fez com a sua vila, ele fez com a minha", Kainan avisa. Vergalhões em troncos de árvore sinalizam a presença do monstro, e os homens resolvem se separar, o que Kainan diz ser uma péssima ideia. Aqui, cabe escrever que todas as cenas ao ar livre são de tirar o fôlego, dadas a fotografia belíssima e a riqueza do intocado cenário que alterna colinas e cachoeiras. Apesar de um orçamento apenas razoável, a equipe técnica poupou muito dinheiro ao ambientar a história em um meio que não precisa de muitos efeitos para retratar a Noruega da época dos Vikings. De muitas formas, assistir a "Outlander" remeterá os amigos às lembranças de quando viram "O Senhor dos Anéis" pela primeira vez: o diretor Howard McCain não mediu esforços no que se refere a visuais grandiosos, e o seu filme é mesmo uma festa aos olhos.

Separados dos demais, Hrothgar e Boromir seguem a trilha de sangue, e encontram um dos cavalos dilacerados. Gritos vindos de uma caverna deixam todos de alerta. Dentro da gruta, é Kainan quem salva a vida de Hrothgar, quando um urso muito grande os ataca. Depois de juntos matarem o enorme animal, os homens "fazem pouco" do "dragão", atribuindo ao urso todos os problemas. Ao menos, Kainan ganha o respeito e a confiança dos demais. Hrothgar desce a espada em um golpe perfeito que rompe as cordas que mantêm os punhos de Kainan atados. À noite, uma grande festa é organizada, e o urso, servido como banquete. Kainan é recebido como herói e senta-se ao lado do Rei. Durante a festa, Freya descobre que foi por causa do "Forasteiro" que o seu pai escapou da gruta com vida. Kainan acaba fazendo amizade com o garotinho que lhe dera comida anteriormente. Wulfric convida Kainan a um jogo onde competidores correm por sobre filas de escudos, erguidas pelos companheiros, por sobre os ombros, até que um deles caia.Assistindo e torcendo, parece óbvio que Freya está se apaixonando por Kainan. Em uma conversa, Kainan avisa a Freya que apesar de todos estarem convictos de que os problemas acabaram, não foi o urso o responsável pelas mortes, mas sim o dragão "Morween".

Naquela mesma noite, são os soldados de Gunnar que chegam para trazer o terror. Conforme pressentira, a presença do dragão na região apenas trouxe instabilidade, e agora, no meio de todo o problema, tribos rivais declaravam guerra uma a outra. Os guerreiros partem para o confronto direto, encontrando-se em uma carnificina sem igual, ambos os lados sofrendo grandes perdas. Gunnar é o mais feroz de todos. Ele é um gigante que faz uso de dois enormes martelos para lutar. Gunnar e Hrothgar se enfrentam, e Kainan interfere bem no momento em que Gunnar ia desferir o golpe de morte em Hrothgar. O exército de Gunnar acaba retrocedendo, e deixando derrotado a fortaleza.Ele promete a Hrothgar que só descansará depois de arrancar o seu coração. 

Não custa a Gunnar entender que a ameaça não vem dos seus antigos rivais, mas de uma criatura cuja natureza escapa a compreensão. Um de seus homens é morto à beira do lago, depois de atraído pelo fulgor vermelho que emana do monstro. Logo em seguida, um a um, os sobreviventes do exército de Gunnar são arrematados do chão, como se nada fossem. Certo de que enfrenta uma ameaça incomum, Gunnar regressa à fortaleza de seu inimigo, que abre  as portas e o deixa entrar. Kainan pede para que não se enfrentem, e os chama para o passo da muralha, onde todos assistem aterrorizados a um dos homens ser suspenso pelas altíssimas árvores, por um ser iluminado, capaz de se camuflar. "Isso aí não é um urso", Boromir murmura, atônito.

Todos se reúnem dentro do castelo de Hrothgar, para discutir o que fazer. Kainan escuta com ceticismo as bravatas de Wulfric, que ainda não percebeu que os guerreiros não tem como derrotar uma criatura tão poderosa apenas com espadas e ladainhas de encorajamento. O "Forasteiro" e Wulfric começam a discutir, e Rei Hrothgar declara que apesar de Kainan não ser nórdico, a razão cabe ao "Forasteiro". Eles não tem como matar diretamente o dragão. A ideia gira em torno de aprisioná-lo. Assim, constroem uma armadilha capaz de comportar o monstro. Eles enchem o poço com óleo de baleia, um inflamável natural que será utilizado para atear fogo ao dragão. Mais tarde, Hrothgar explica a Kainan que se quiser, depois que tudo estiver acabado, poderá permanecer naquela terra. 

À noite, Freya e Kainan conversam e se conhecem melhor, e ele tem a oportunidade de explicar as suas origens. Ele narra a chegada de sua civilização ao planeta dos "Morweens", e sobre como destruíram milhões de dragões com o uso de bombas. Por este viés, Kainan consegue compreender o revanchismo dos dragões, e sente-se envergonhado pela natureza beligerante de seu povo, que foi quem efetivamente começou a guerra, apenas para se apoderar de uma terra que jamais fora sua. Kainan fala sobre o filho e a esposa, e sobre como a família precisou pagar com a vida pela sua inconsequência, quando ao deixar o planeta, o "Morween" sobrevivente retornou para devastar a colônia.

Todos os guerreiro estão de tocaia, sobre as muralhas, observando por entre os vãos dos parapeitos, à espera do dragão. Wulfric e Kainan abrem o portão principal munidos de tochas, oferecendo-se como iscas. Pressentindo que o dragão está pelas cercanias, Kainan arremessa a tocha longe, e quando a mesma cai pelos lados da ponte, revela muito brevemente o rosto assustador do dragão. A enorme criatura começa a avançar implacavelmente, e Hrothgar ordena que os arqueiros fiquem de prontidão e esperem pelo momento correto para atirar. Subitamente, o sacerdote surge entoando uma oração em latim, e acaba sendo o primeiro a morrer. Wulfric e Kainan jogam as suas tochas contra o "Morween", e a guerra começa. Conforme esperavam, ao correr em direção à dupla, o monstro derruba as tábuas do piso falso da armadilha e o seu extraordinário peso o faz afundar no fosso cheio de óleo de baleia. A Besta é aprisionada, todavia os arqueiros não podem ainda atirar as suas flechas inflamadas, pois Wulfric caiu junto com o monstro, e Kainan tem de tirá-lo o quanto antes. Kainan lhe dá a mão, arranca o colega do buraco, e no mesmo instante os soldados atiram as flechas. Uma enorme explosão faz a construção irromper em chamas. Os soldados da fortaleza comemoram, crentes de que está tudo acabado. A aventura está apenas começando.

Há um segundo "Morween", um pouco menor do que o primeiro, o seu filhote. O dragão adulto, mesmo envolto em chamas, emerge cheio de fúria do fosso, investindo como um touro contra as casas e as pessoas. Freya protege Eric do dragão menor, e Hrothgar chega a tempo para ajudá-la no combate. O Rei acaba gravemente atingido, e não resiste aos ferimentos. Wulfric e Kainan enfrentam juntos o dragão maior, mas não conseguem fazer muito contra a fera, que novamente se retira para o bosque. As baixas foram enormes. Agora, Kainan explica que a única saída consiste em vencer a Besta no seu esconderijo. Para isso, precisam de armas melhores, e portanto recomenda que retornem ao lago onde a nave de Kainan caiu, mesmo que precisem buscar nas profundezas geladas pelos itens necessários para o derradeiro enfrentamento. Freya se candidata a ir junto, mas Kainan recusa o pedido. Ela não aceita a negativa. O monstro matou o pai, então se sente no direito de acompanhá-los. A contragosto, Kainan finalmente acata o pedido.

Kainan, Wulfric e Freya remam até o ponto onde a nave afundou. Kainan mergulha, enquanto os dois permanecem à espera no barco. Enquanto está vasculhando os destroços sob a água, o "Morween" menor passa nadando nas suas costas, e Kainan começa a subir freneticamente para avisá-los de que os dragões estão por perto. Ao chegar à superfície, encontra Wulfric desacordado sobre destroços de barco, mas nenhum sinal de Freya. Kainan resgatou de dentro de sua nave um incomum tipo de metal, que o ferreiro usa para forjar uma espada diferente de todas as outras. Ao empunhá-la, Kainan corta uma barra de aço como se a mesma fosse de papel. Com essa lâmina, poderá matar os dragões e resgatar Freya. Distante dali, a princesa desperta na toca onde o monstro estoca os corpos de suas vítimas. Estranhamente, nenhum dos "Morween" lhe fez mal. 

Kainan, Wulfric, Boromir e mais dois homens exploram o complexo de túneis da caverna. Cheia de fossos, a gruta é o lar perfeito para os monstros. Um dos homens é arrebatado do chão e carregado pelo "Morween" menor por entre os passos do complexo. Kainan, Wulfric e os demais sobem a gruta e chegam ao seu alto nível, onde encurralam a criatura. Boromir é mortalmente ferido, restando somente Wulfric e Kainan para completar a missão. Aos gritos, Freya atrai os guerreiros ao seu paradeiro, mas também o "Morween" menor. Ela consegue matá-lo com a espada que Kainan lhe atira. Ainda resta o grande dragão, que ao encontrar o filhote morto, fica enlouquecido. O trio segue em direção a luz do dia. A saída os leva a uma pequena plataforma em um altíssimo paredão, que dá para uma cachoeira, o rio muito distante abaixo. Eles estão a uma inacreditável altura. Wulfric luta para ganhar tempo para que os amigos fujam. O dragão abocanha Wulfric no quadril, e o sacode como a um boneco de pano. O guerreiro consegue feri-lo também. Kainan empunha a espada forjada do metal de sua nave e parte para o confronto. A luta implacável os leva à beira do precipício, quando a criatura consegue se segurar à borda. As suas garras se fecham no braço de Kainan: se é para morrer, o instinto o move a querer levar o guerreiro junto. Com a espada, Kainan decepa o braço do dragão, que despenca paredão abaixo, carregado pela cachoeira, desaparecendo em meio ao turbilhão de água.

Antes de dar o último suspiro, Wulfric, sucessor natural do Rei Hrothgar, reconhece o valor do "Forasteiro", concedendo-lhe o brasão de monarca e pedindo para que reine como um soberano justo e correto. O "Forasteiro" e Freya sobem a escarpa e enxergam a esquadra de barcos vikings que levam os habitantes da fortaleza abandonada. Agora que o dragão foi vencido, poderão voltar à fortaleza e às suas vidas. Kainan e Freya se beijam apaixonadamente.Antes de assumir o seu lugar como rei daquela gente, Kainan regressa ao lago. Naquele exato momento, uma nave extraterrestre oriunda de sua civilização está sobrevoando a órbita do planeta Terra, atraída pelo sinal do transponder. Kainan destrói o dispositivo com a espada, pois sente que ali é a sua nova casa. A nave deixa a Terra sem o "Forasteiro", que se torna Rei, tendo Freya como devota esposa. No final, à beira da cachoeira onde o horror de suas vidas foi vencido, todos se reúnem para a cerimônia de adeus aos heróis mortos na batalha. Os corpos de Rei Hrothgar e Wulfric são dispostos em esteiras e depositados em um barco viking. Quando o barco se encontra a uma considerável distância, levando os dois heróis mortos, Kainan faz mira e atira uma fecha em chamas nas velas da embarcação, anteriormente banhada por óleo. O barco é imediatamente envolvido pelo fogo, e os corpos cremados. Todos ficam muito emocionados com a despedida, mas certos de que os seus heróis poderão descansar em paz, e que a existência material neste mundo é apenas uma etapa de um longo caminho rumo à eternidade, alcançada somente pelos melhores.

Inventivo e incomum filme de ficção científica, "Outlander" é um trabalho muito pessoal para o seu diretor Howard McCain, que começou a escrever a premissa quando ainda era estudante, fascinado pela origem dos Vikings. Inicialmente uma história baseada em elementos exclusivamente históricos, McCain logo se convenceu a acrescentar elementos fantásticos ao enredo, quando o roteiro finalmente começou a ganhar substância e chamar a atenção de grandes nomes do cinema, que leram a história e se candidataram rodar a versão para as telas. O talentoso Renny Harlin foi um desses cineastas interessados. A concepção do projeto cinematográfica remonta a 2005, quando o ator Karl Urban, que recentemente fez um maravilhoso filme chamado "Dredd O Juiz do Apocalipse", ainda era a primeira escolha de McCain para viver Kainan. Quis o destino que na última hora, fosse preterido por James Caviezel, um ator que diferente de Urban, traz vulnerabilidade ao papel, o que contribui para a construção de um herói hesitante, a chave para a identificação com o público. Como os grandes heróis do cinema, Kainan experimenta medo, apanha, sofre, mas ao final do filme, triunfa sobre as adversidades. O herói relutante cria maior empatia que o estoico implacável que durante a projeção não sofre um único arranhão, um ponto que resta sacramentado se analisarmos cuidadosamente a carreira de Steven Seagal. Grande ícone da ação mesmo hoje em que seus filmes são rodados em menor escala, a questão que refreou um pouco a sua carreira foram os roteiros que apesar de virem recheados de suspense e aventura, insistiram no equívoco de não se preocuparem com uma caracterização mais enriquecida para os seus personagens. Vilões mal chegam perto, Steven Seagal os elimina com impressionante destreza e facilidade. Isso não representa exatamente um problema, devemos respeitar o seu estilo, e eu sempre apreciei todos os filmes de Steven Seagal, sobretudo os rodados direto para o mercado de DVD, onde se goza de maior liberdade criativa. Sou levado, todavia, a me recordar de um comentário que um cavalheiro fez, na internet movie database, quando nos dizia como seria maravilhoso, se Steven resolvesse tentar algo diferente: ao invés de um herói silencioso e imbatível, por que não um ex-policial corrupto e alcoólatra, um ser humano falível, que deixou a família há anos, e então descobre estar com câncer, por exemplo?A doença o ajuda a reavaliar a própria vida, e como consequência, retorna para a cidade natal, para tentar reatar os laços com a esposa e o filho. Ao voltar, encontra a sua comunidade sob o jugo de uma gangue, e resolve fazer justiça com as próprias mãos, usando o pouco tempo que lhe resta para livrar o bairro dos traficantes e mostrar à mulher e ao filhinho o quanto se sente mal pelos seus erros, os ama e deseja uma nova oportunidade. Eis uma premissa interessante e dramaticamente enriquecida, que não apenas permitiria a Steven seguir fazendo o que conhece de melhor, a ação em sua forma mais explícita, como o desafiaria com algo novo, um leque de cenas puramente emocionais e psicologicamente difíceis, que traria à tona o que há de melhor dentro de si, como artista, não exclusivamente como astro de ação. Muitas pessoas iriam querer assistir a este filme. Como não odiá-lo, quando ele vive um ex-alcoólatra que tinha muitas amantes, batia na mulher, negligenciava o filho, recebia propina, e chegou a abandonar a própria casa?Como não amá-lo, ao final, quando retorna como um homem mudado, amoroso, esposo e pai dedicado, que com absoluto altruísmo lança-se sozinho em uma cruzada de um homem só, contra traficantes perigosíssimos, livrando a comunidade dos bandidos, a custa da própria vida, e se tornando um herói aos olhos do filho, ao longo da aventura?Eu estou certo de que o próprio Steven Seagal gostaria de receber roteiros semelhantes.

O diretor Howard McCain raciocina de maneira semelhante, e portanto foi cuidadoso ao criar um herói que, apesar de valoroso, enfrenta, ao longo do filme, questionamentos, dramas e incertezas ao longo do filme, o que nos convida abertamente a investir emocionalmente e nos envolver com a sua jornada. Jim Caviezel, que interpretou Jesus Cristo, tem um certo tipo de profundidade, de dor e de nobreza em seu olhar, que o torna o homem com o perfil correto para interpretar protagonistas trágicos e valorosos que alcançam o impossível mesmo cercado por adversidades. Mesmo que não inteiramente destrinchados em suas complexidades, os personagens secundários beneficiam-se do elenco de talentos que os habita. John Hurt desempenha o seu papel com a autoridade de um monarca, e mesmo com um material de ficção científica, onde diálogos soam mais simplórios, entoa as suas linhas com o profissionalismo e a dedicação de um artista veterano de primeira grandeza, que não dá nada menos do que o seu melhor tanto em filmes de arte quanto em aventuras de ficção científica semelhantes. Surpreendentemente, Ron Perlman acaba mal aproveitado. O seu personagem, Rei Gunnar, é uma das sacadas mais interessantes do filme, um colosso munido de duas marretas, monarca do clã rival. As suas poucas cenas só nos fazem lamentar o fato de o diretor McCain não ter encontrado uma maneira de usá-lo mais. Teria sido fantástico vê-lo em mais cenas de ação, principalmente enfrentando os dragões. Inesperadamente, Rei Gunnar sai de cena quando o dragão o decepa com a cauda, um destino muito decepcionante para um guerreiro tão enorme quanto o monstro que enfrenta. É possível que a agenda de Perlman não tenha permitido que ficasse no set de filmagem por muitos dias, o que explicaria a sua participação limitada. Sua adição ao elenco contribuiu em muito, porém por sua sub utilização, fica um gosto de desapontamento.

Para reconstituir a Península Escandinava da Era dos Vikings - muitas ilhas, e uma área continental caracterizada por montanhas, platôs e fiordes - o diretor rodou o filme em Bay of Islands, Newfoundland, uma província às margens do Oceano Atlântico, de paisagens lindas e selvagens, onde ao longo da costa se encontra a diversidade que vai de icebergs a baleias. Tomando como base uma autêntica embarcação da Era Viking, exposta no museu de Oslo, o time reproduziu uma réplica idêntica, que é utilizada na cena da cremação de Rei Hrothgar, no desfecho. A fortaleza é fiel a gravuras de livros históricos sobre a Era dos Vikings, tendo custado à equipe três meses para levantá-la. "Outlander" é um encanto visual, sustentado por uma fotografia belíssima capturada por tomadas aéreas de tirar o fôlego, que fazem cada take de terreno selvagem um quadro, uma obra de arte para se admirar.

Não há como se fazer uma resenha sobre "Outlander" sem falar sobre o impacto do "Morween". Cortesia da criatividade do designer Patrick Tatopoulos, o dragão parece ter inspirado um outro grande cineasta chamado Gareth Edwards, diretor do maravilhoso "Monsters" (2010), que teria usado conceitos visuais semelhantes, dois anos mais tarde. Foi da mente de Tatopoulos que saíram outras agressivas, impressionantes imagens do cinema moderno, tal como a da noiva vampira hidrófoba, tão pálida quanto neve, vivida por Sadie Frost, em "Bram Stoker's Dracula". Em "Outlander", o que mais chama atenção é o fato de na criatura coexistir tão equilibradamente ameaça e elegância, horror e beleza. O monstro tem como mais interessante característica a bioluminescência, então por mais que pareça assustador, a cena em que suspende, por exemplo, uma vítima defronte as árvores de um bosque, e emite uma fria luz avermelhada no processo, consegue provocar o sentimento de encanto, como se a existência de tão extraordinário monstro parecesse tangível. Outra tomada belíssima é a da Besta pendurada no passo, à beira do precipício, e então sendo arrastada pela cachoeira rente ao paredão. Dificilmente imagens tão lindas são encontradas em produções independentes menores. Edwards "pegou emprestada" a bioluminescência para as criaturas de sua obra-prima. Este recente clássico do cinema de horror, que catapultou Edwards ao panteão dos cineastas atuais mais interessantes (Edwards acaba de dirigir o esperadíssimo remake de "Godzilla"), muito deve a "Outlander", porém poucos devem saber disso.

"Outlander" chegou a ser lançado sem alarde nas salas de cinema dos Estados Unidos, em 2009, mas foi no mercado de DVD onde encontrou sucesso. No Brasil, o filme foi disponibilizado pela Imagem Filmes, no começo de 2010, comercializado a um preço muito justo, R$ 12,99, fazendo desta ficção científica uma aquisição obrigatória aos fãs de filmes de horror que procuram descobrir joias que talvez tenham deixado passar desapercebidas quando do lançamento original. Muito embora ignorado pelos esnobes, o filme terá um lugar todo especial nos corações das pessoas que cresceram nos anos 80 e viveram a era dos VHS, quando filmes de horror semelhantes eram disputadíssimos, e tinha de se colocar o nome nas listas de espera das locadoras. O fato de "Outlander" ter sido rodado recentemente é a prova concreta do carinho com que tais filmes até hoje são lembrados pelos seus fãs, hoje adultos, pais de crianças que provavelmente têm a mesma idade que possuíam ao descobri-los em fitas de vídeo. Quando os seus criadores o fizeram, foi pela mesma razão que em convenções de filme, pessoas comuns vestem-se como os seus personagens preferidos - elas sentem falta. E não há nada tão capaz de manter lembranças muito presentes e atuais quanto a saudade.

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