Apresentado
em cinco segmentos, este quebra-cabeça psicológico junta suas histórias para compor as circunstâncias da trágica morte da garota do título. Ao longo do filme,
aprenderemos mais sobre a menina morta e, mais importante, como sua vida esteve intrinsecamente ligada a
dos outros personagens a quem seremos apresentados. O primeiro
segmento, A Estranha, trata de uma jovem chamada Arden
(Toni Collette), que jamais teve a auto estima necessária para correr
atrás de seus sonhos ou viver uma vida normal graças `a mãe
inválida e abusiva (Piper Laurie), com quem mora em uma
cidadezinha fora de Los Angeles, onde pouco acontece. Durante um passeio pelo leito do riacho,
Arden topa com o corpo de uma garota, e comunica o
ocorrido à Polícia. Logo, torna-se uma espécie de "celebridade
local", para a frustração da mãe, que a repreende por não
ter se mantido calada. Quando vai fazer compras no mercadinho local, chama a atenção de Rudy (Giovanni Ribisi), um dos
funcionários do estabelecimento. O rapaz a ajuda a colocar os
pacotes no carro, e parece genuinamente interessado em conhecê-la melhor. Ele a convida a
sair naquela noite, quando deixar o trabalho por volta de 23:00. Enaltecida
pelos elogios, Arden acaba cedendo depois de alguma relutância. Ao voltar
para casa, pela primeira vez em um bom tempo, parece dar atenção à
própria aparência. Ela pinta os cabelos e usa batom. Quando a mãe a vê
com a toalha na cabeça, deduz que Arden
está se preparando para um encontro. Amargurada, arremessa um copo de
leite na cara da filha, e diz que Deus levou o filho errado (o irmão
de Arden é falecido). A discussão vira briga, quando Arden finalmente reage à altura dos abusos que até então costumava escutar calada, e resolve se
libertar daquele inferno particular. Ela põe as roupas na valise e deixa a idosa para trás. Um pouco depois de 23:00, ela comparece ao encontro com Rudy. No carro, o papo volta-se para a garota morta. Rudy faz perguntas sobre as circunstâncias da descoberta do corpo, e de um modo estranho parece saber bastante sobre o homicídio. Ele conta a história de outro serial killer local, o assassino da estrada 405, um maníaco que costumava atacar mulheres. Ao ser pego, a Polícia veio a descobrir que tinha uma extensa folha corrida, problemas datando de quando tinha apenas doze anos, e fora pego roubando peças íntimas de mulheres. Quando Arden lhe pergunta por que alguém cometeria tais assassinatos, Rudy responde que provavelmente o tenha feito por questões não resolvidas com a figura materna. Rudy a leva a um lugar isolado para namorar. A cena se desenrola como se a qualquer instante Rudy fosse revelar-se como o assassino da garota morta. Ocorre que não é nada disso, Rudy não é nenhum assassino, apenas tem interesse por crimes e toda a psicologia envolvida. Arden, no entanto, fantasia que será morta pelo estranho, e fragilizada por anos de abuso da mãe dominadora, parece gostar da ideia. Rudy fica perturbado com a entrega de Arden, que se despe e se deita de uma forma como se esperasse a morte. Ele explica que jamais pensou em lhe fazer mal, apenas a convidou pois estava interessado e gostaria de tê-la como namorada. O gesto do homem parece salvá-la do desespero, e Arden resolve seguir com a vida. Na manhã seguinte, antes de partir com Rudy, liga para a Delegacia, lhes explica que deixou a mãe doente sozinha, e que ela poderá vir a precisar de assistência. Dentro da cabine, Arden encontra um cartaz de pessoa desaparecida. A menina estampada no cartaz (que não é a garota morta encontrada por Arden) nos levará ao segundo segmento.
A Irmã. Leah (Rose Byrne) é uma jovem bonita e inteligente que teria motivos de sobra para curtir as coisas boas da vida. Uma tragédia de dezesseis anos atrás, todavia, custou-lhe uma existência comum e ensolarada. Leah depende de antidepressivos para funcionar normalmente no dia a dia. Ela é estudante de Criminologia forense, e apesar de seu colega (James Franco) demonstrar muito carinho e parecer querer algo mais que a amizade, sua vida emocional vai de mal a pior. Há dezesseis anos, a irmã de Leah, Jenny, foi abduzida de um parque, possivelmente por algum pedófilo. Apesar das buscas incessantes, a família jamais conseguiu elucidar o mistério do ocorrido no parque, naquela fatídica manhã. A mãe de Leah (Mary Steenburgen) parece não perceber o peso da cobrança depositada sobre os ombros da filha sobrevivente. Em uma conversa com a terapeuta, Leah confessa que tudo o que mais deseja é o fim daquele pesadelo. A resolução só viria quando o corpo fosse encontrado, recebesse um enterro digno, e então os pais e a irmã sobrevivente pudessem se abraçar, chorar e desabafar. Somente assim seria possível retomar algo mais próximo a uma vida normal. Uma pequena centelha de esperança surge na forma da garota morta ainda não identificada, que chega para reconhecimento. Leah crê que a moça guarda traços semelhantes ao de Jenny, e durante o exame prévio, uma discreta tatuagem no antebraço chama a atenção. A tatuagem traz grafada uma sequência, "12:13", e ao pôr o termo no Google, chega ao trecho bíblico de Gênesis 12:13, que fala algo sobre amor entre irmãs. Impressionada, Leah passa a acreditar que a busca da família está em vias de acabar, e que se de fato a identificação for confirmada, poderão finalmente dar a Jenny um enterro digno e enfrentar o luto saudavelmente. Ao discutir a possibilidade com os pais, a mãe se coloca irredutível. Ela chora e dá uma porção de desculpas para desacreditar a descoberta. "Os olhos não são os mesmos, o rosto também não", esbraveja, antes de ficar inconsolável. Essa senhora tornou o reencontro a missão de sua vida, e agora que deve levar em consideração a possibilidade de morte, não consegue lidar com os fatos. Visitando o quarto da irmã, Leah desabafa com o pai sobre o quanto é difícil acreditar que o pesadelo chegou ao fim. Fortalecida pela brisa de alento, Leah se recorda do convite do colega, e o surpreende ao comparecer a uma festa na sua casa, naquela noite. Feliz ao vê-la, o rapaz a leva ao balanço no quintal, onde conversam mais abertamente, e ela lhe revela que toma antidepressivos. Sensível, o rapaz vai quebrando a resistência, e acabam se beijando e depois fazendo amor. Na manhã seguinte, pela primeira vez em uma década, Leah acorda de bom humor, e o rapaz é carinhoso e doce quando precisam se despedir. Ele insiste para que Leah fique, mas ela precisa receber os laudos finais que confirmarão a identidade de Jenny. Em um duríssimo golpe do destino, testes apontam que a garota morta não é Jenny. O pesadelo não acabou. Leah é novamente arrastada para as trevas da depressão. Trancada no quarto escuro, Leah recusa os telefonemas do colega. Ela escuta às mensagens deixadas na secretária eletrônica, o rapaz igualmente devastado, louco para estar a seu lado naquele difícil momento para oferecer carinho e suporte. A depressão de Leah, todavia, deixou-a inteiramente inacessível. A família se reúne à mesa de uma diner para traçar a nova estratégia de busca, quando por não mais resistir à pressão Leah escancara a dura realidade na cara da mãe: ela deseja organizar uma cerimônia religiosa para Jenny, realizar um sepultamento de caráter simbólico, de modo que não apenas o espírito da menina como também seus familiares vivos possam reencontrar a paz. A mãe permanece resoluta, e retruca que não desistirá de Jenny, assim como jamais desistiria de Leah. Emocionalmente esgotada, a moça arranca de suas paredes todos os recortes sobre o caso e os queima. Como um lampejo de esperança, ela tem a humildade para ligar para o namorado e pedir ajuda, a aceitação como o primeiro passo para a recuperação.
A Esposa. Ruth (Mary Beth Hurt) é uma sofrida senhora que passou a vida cuidando de Carl (Nick Searcy), o marido emocionalmente distante e desapegado. O casal mora em uma casa ao lado do trabalho de Carl, um parquinho de rent-a-storage, conjunto de pequenas unidades utilizadas como depósito. Carl é o responsável pelo atendimento e administração das facilidades, porém na maior parte das vezes recai sobre os ombros de Ruth o ônus do cansativo trabalho. Recentemente, o marido vem se distanciando mais de casa, sempre com desculpas de que precisa dirigir para espairecer um pouco, apenas para voltar dois ou três dias depois sem oferecer explicações para a desapontada esposa. Ruth acredita que Carl relaciona com prostitutas e depois traz para casa toda sorte de doenças. Por um acaso do destino, está para descobrir o horroroso segredo do marido. Uma noite, quando já está com chaves em mãos a caminho da porta, Ruth o interpela. Como de costume, Carl é evasivo nas respostas, e quando Ruth se irrita e questiona sobre quando pretende voltar, o marido diz não saber ainda. Ruth começa a chorar, lamentando não entender por que ele a odeia tanto. Chateado, certo de que nada do que possa fazer irá consolá-la, Carl parte para seu passeio de carro. Na manhã seguinte, conforme esperava, Ruth se vê tendo de conciliar afazeres domésticos com o atendimento no depósito, pois Carl ainda não retornou, e o rapaz que costuma ficar em seu lugar também não deu as caras. Dois cavalheiros se apresentam procurando por uma vaga, e meio a contragosto, Ruth apanha a chave de uma unidade qualquer disponível. Para sua surpresa, ao mexer em um dos armários, encontra um saco plástico lacrado contendo peças íntimas de mulheres. Ela logo se recompõe e os leva a uma outra unidade. Mais tarde, ao examinar melhor o "depósito secreto" de Carl, descobre sandálias e pares de tênis femininos, mais peças íntimas sujas de sangue e até mesmo a carteira de habilitação de uma jovem da Califórnia. Investigando as páginas policiais do jornal local, intriga-se com a notícia sobre a oitava vítima de um serial killer atacando na região. A vítima?A moça cuja carteira de habilitação encontrou nas coisas de Carl. Quando o marido retorna naquela noite, Ruth está assistindo ao telejornal. Para testar sua reação, deixou sobre o bar a notícia sobre a oitava vítima, dobrada. Ela vê quando, pensativo, Carl apanha as folhas e dá uma rápida conferida. Ao se juntar à esposa na sala de estar para assistir à televisão, Carl fala qualquer coisa sobre obras na estrada. Ela menciona os arranhões no pescoço, a que Carl justifica como resultado de uma briga no bar. A esposa não o poupa, e volta a acusá-lo de sair por aí para satisfazer "perversões" com prostitutas. Apesar de inicialmente negar, Carl perde a cabeça e grita para que o deixe em paz e vá cuidar da própria vida. Ele deixa a sala apressado, sob as ameaças da mulher, que lhe avisa saber o que tem aprontado. Pela janela da cozinha, Ruth ainda o enxerga abrindo o porta-malas para apanhar uma sacola, provavelmente as roupas de uma nova vítima. Ela acaba cochilando, e quando Carl finalmente retorna, agora com os ânimos mais calmos, prepara o jantar. Ruth faz parecer casual ao perguntar a Carl se conhece alguma daquelas garotas mortas, e ele se limita a dizer que não. Depois que o marido adormece, Ruth abre o depósito usado por Carl, e encontra roupas ensanguentadas de alguma pobre nova vítima. Ela reúne todos aqueles itens macabros que o implicam nos assassinatos, e parte com o carro. Àquela hora da noite, na estrada quase vazia, ao passar ao lado de uma caroneira no acostamento, não tem como deixar de pensar nos terríveis crimes cometidos por Carl. Por um momento, pensativa dentro do carro, defronte à delegacia de Polícia, parece hesitante em entregá-lo. Por mais que tenha sofrido ao lado de Carl, para melhor ou pior, ele é a sua única companhia na terceira idade. Ao final, o compromisso ao marido fala mais alto, e ao invés de denunciá-lo, leva os itens a um terreno baldio onde toca fogo nas provas, apagando seus rastros.
A Mãe. Melora (Marcia Gay Harden) procura pela filha Krista (Brittany Murphy) desde 1993, quando aos 16 anos, decidida a deixar a casa dos pais, foi embora sem dar explicações. Eventualmente, Krista escrevia ou telefonava, todavia jamais pareceu inclinada a estreitar o relacionamento com a mãe. Melora sabia que Krista se mudara para Los Angeles, e agora está na cidade para tentar encontrar respostas. A Polícia a procura com informações de que pode tê-la encontrado. A garota morta achada por Arden, no primeiro segmento, é na verdade a filha perdida Krista. O delegado encarregado do caso procura assisti-la em todas as necessidades, e já que permanecerá na cidade por mais um dia, Melora resolve saber onde a filha morou pela última vez. Ela quer conhecer um pouco de sua vida naquele último ano. O delegado fornece o último endereço conhecido, um motel simples de beira de estrada. Melora procura o motel e conhece Rosetta (Kerry Washington), melhor amiga e ex-colega de quarto de Krista. Inicialmente identificando-se como repórter, Melora consegue se aproximar e, por uma quantia, tem franqueado acesso ao quarto que Rosetta e a filha costumavam dividir. Rosetta conta fatos da vida de Krista que Melora desconhece, como o fato de ter fugido de casa porque o padrasto costumava abusar sexualmente dela. Melora se divorciou alguns anos antes, porém jamais imaginou que o ex-marido estuprara a menina, ou que fora por sua causa que Krista fugira de casa. Para agravar o remorso, Melora ainda aprende que Krista sempre crera que a mãe sabia de tudo, e no entanto preferira o marido. Quando Melora começa a esvair-se em lágrimas, Rosetta percebe que a visitante não se trata de repórter, mas da mãe da falecida amiga. Assim como Rosetta, Krista fazia a vida na rua como garota de programa. O passado de Rosetta, também igualmente perturbador e cruel, jamais lhe deu escolhas. Apesar de durona e cínica, Rosetta consegue nutrir alguma empatia por Melora, abrindo-se mais a sua presença. Ela fica tocada quando a mulher se abraça a uma foto de Krista e começa a desabafar. Melora a leva para almoçar, quando as duas têm oportunidade de conversar melhor. Rosetta conta que, por um tempo, a vida de Krista pareceu entrar nos eixos. Ela havia deixado as drogas para trabalhar em um salão, e queria juntar dinheiro suficiente para trazer a filhinha Ashley para morar com as duas. Para isso, vinha acumulando o trabalho no salão com outros dois, o que com o tempo a deixou tão exausta que a estimulou a consumir drogas para segurar o rojão. Inevitavelmente, as drogas causaram a fricção que lhe custou o trabalho no salão e a devolveu à mesma difícil situação. Melora vislumbra a chance da redenção quando Rosetta menciona a existência de Ashley. A menininha havia sido deixada no modesto apartamento de uma senhora cheia de crianças, que por uma determinada quantia por mês, cuidava da garotinha. Mesmo distante, quando viva, Krista costumava visitar a filha e lhe escrever cartas, ainda que a criança não soubesse ler ainda. Ela não queria que a menina crescesse a odiando, Rosetta explica. Com muito cuidado, Melora abraça a menininha, e dá dinheiro à senhora como pagamento por seus serviços. Ela se apresenta como avó, e a leva consigo. De volta ao hotel onde ficará até o dia seguinte, quando deixará Los Angeles, ela consola a criança, dá banho, põe para dormir, e cuida de Ashley com amor de mãe, aliás, duas vezes amor de mãe, vez que é avó. Depois que Ashley pega no sono, Rosetta lhe pergunta se ficará com a garota. Melora responde que sim. Comovida, Rosetta conta que por várias vezes pensou em pegar a garota, e só não o fez por não conseguir se sustentar. Pela primeira vez, toda a fachada durona de Rosetta cai por terra, e ela também chora, vocalizando o remorso por não ter mostrado mais a Krista o quanto a amava. As duas se abraçam. Na manhã seguinte, Rosetta entrega a Melora um retrato de Krista, onde aparece feliz e sorridente. No banco traseiro, Ashley está animada, comendo salgadinho. Melora a levará e a criará como sua filha. Em um momento muito emocionante, Melora estende sua mão generosa à Rosetta, dizendo que se quiser pode vir morar com as duas, endireitar a própria vida. A única coisa que Melora não toleraria seria uso de drogas, mas se Rosetta se comprometesse a se esforçar, poderia vir morar com avó e neta. Por ora, Rosetta prefere esperar. De toda sorte, Melora lhe deixa o endereço, para que escreva quando quiser. Pelo retrovisor, Melora olha para a menininha, feliz e à vontade. Juntas, embarcam em direção a um novo amanhã ensolarado, em uma cena que após todas as trevas, conclui o drama da criança com uma promessa de esperança e felicidade.
Depois de conhecermos as histórias de tantas pessoas ligadas ao mistério principal, chega o segmento que nos revelará quem efetivamente era Krista, A Garota Morta. É manhã do dia do aniversário de Ashley, e faz muito tempo que Krista não a vê. Ela compra um lindo urso de pelúcia. Agora, só precisa de uma carona a Norwalk. Tarlow (Josh Brolin), o cafetão namorado, não parece muito inclinado a quebrar o galho. Nós os vemos no shopping, onde Tarlow lhe dá uma bela joia com a palavra "Comprometida". Apesar de encantada com o presente, ela confessa que preferiria uma carona, pois quer chegar a tempo de não deixar a data passar em branco. Na praça de alimentação, uma garotinha chega inocentemente a seu lado. Revelando um jeito especial com crianças, Krista faz uma brincadeira que faz a menininha rir. A mãe chama a garota, pedindo que não a incomode, mas Krista diz que está tudo bem. A moça conta que a filha tem três anos de idade, a mesma idade que Ashley estará completando naquela data. No carro, ela se recorda de uma ocasião na infância, quando disse a mãe que queria um boneco de ventríloquo em particular, e ela apareceu com um similar, mas muito tacanho, o que a deixou desapontada. Ela se lembra de ter fingido felicidade, porém conta que a mãe sempre procurava dar brinquedos ou coisas que fizessem parte de promoção de catálogo. Krista diz que deseja que Ashley tenha tudo o que quiser, não o tempo inteiro, para não ficar mimada, mas não quer que cresça com as mesmas desilusões. Vemos que apesar de a vida a ter colocado em uma delicada posição - Krista não tem emprego fixo, e precisa se prostituir para sobreviver - sonha em ser a melhor mãe possível, o que tornará seu fim especialmente trágico. Tarlow acaba cedendo aos pedidos, e ela não consegue conter a excitação de saber que logo mais estará vendo a filha. Eles estão passando a tarde na casa de Tarlow, Krista escrevendo um cartão para acompanhar o presente, quando o rapaz recebe um telefonema urgente do trabalho. Quando Tarlow se desculpa, Krista se enfurece. O cafetão insiste que se mandar o urso pelos Correios, chegará a tempo, mas a garota não quer saber. Os dois têm uma discussão feia: Tarlow sai de casa cantando os pneus, Krista apanha o urso de pelúcia e trata de se pôr a caminho. Ao voltar para o motel onde mora com Rosetta, a encontra toda machucada. Tom, o namorado, deu mais uma de suas habituais surras. Possessa, Krista promete retaliação. O vínculo que as une é muito forte, e Krista realmente a ama. Rosetta tenta argumentar para que Krista não se envolva, mas a namorada não se deixa demover. Ela pega a moto emprestada da senhoria, e dirige até a boca de fumo onde Tom costuma ficar com prostitutas. Em um primeiro momento, ela leva a pior, pois Tom a derruba com um murro, mas aproveitando um deslize, vira o jogo e o acerta com o cano. Ela ainda picha seu carro, quebra as janelas e jura matá-lo se voltar a tocar em Rosetta. Quando a moto morre, Krista se vê à beira da estrada, com a sacola do urso nas costas, solicitando carona. Ela ainda aproveita a oportunidade para ligar para Rosetta, quando muito emocionada conta que a vingou, e fala sobre o quanto a ama e o quanto gostaria de escutá-la dizer o mesmo. Exausta e toda dolorida por conta da surra, Rosetta não tem presença de espírito para corresponder a declaração, e pede para desligar, pois precisa dormir. Como sabemos, mais tarde, Rosetta se arrependerá amargamente por não ter dito que a amava, mas então não tinha como imaginar que foi a última vez que conversaria com Krista. É noite fechada, e fora luzes distantes do centro de Los Angeles e a duma amarelada dos postes altos, não há sinal de civilização, até que um carro estaciona ao lado do meio fio. Krista embarca no carro dirigido por Carl, o marido de Ruth que também é o insuspeito serial killer responsável pela morte de oito mulheres. Inocentemente, Krista comemora quando Carl se oferece para lhe dar carona para Norwalk. Já passa de meia noite, e com a voz embargada, Krista revela a natureza de sua tatuagem, "12:13", o horário em que Ashley nasceu. Ela segue tagarelando que estará ao lado da menininha quando acordar, fará brigadeiros para a menina, aproveitarão todos os momentos... Vemos o perfil de seu rosto bonito porém simultaneamente maltratado pela vida, iluminado pela alegria que a lembrança da filha lhe traz. Infelizmente, como sabemos, o destino não permitirá a reunião, e Krista jamais dará o urso e o abraço que tanto deseja, pois cometeu um terrível erro ao entrar no carro de Carl e sua vida se acabará tragicamente na data do aniversário da criança.
A Irmã. Leah (Rose Byrne) é uma jovem bonita e inteligente que teria motivos de sobra para curtir as coisas boas da vida. Uma tragédia de dezesseis anos atrás, todavia, custou-lhe uma existência comum e ensolarada. Leah depende de antidepressivos para funcionar normalmente no dia a dia. Ela é estudante de Criminologia forense, e apesar de seu colega (James Franco) demonstrar muito carinho e parecer querer algo mais que a amizade, sua vida emocional vai de mal a pior. Há dezesseis anos, a irmã de Leah, Jenny, foi abduzida de um parque, possivelmente por algum pedófilo. Apesar das buscas incessantes, a família jamais conseguiu elucidar o mistério do ocorrido no parque, naquela fatídica manhã. A mãe de Leah (Mary Steenburgen) parece não perceber o peso da cobrança depositada sobre os ombros da filha sobrevivente. Em uma conversa com a terapeuta, Leah confessa que tudo o que mais deseja é o fim daquele pesadelo. A resolução só viria quando o corpo fosse encontrado, recebesse um enterro digno, e então os pais e a irmã sobrevivente pudessem se abraçar, chorar e desabafar. Somente assim seria possível retomar algo mais próximo a uma vida normal. Uma pequena centelha de esperança surge na forma da garota morta ainda não identificada, que chega para reconhecimento. Leah crê que a moça guarda traços semelhantes ao de Jenny, e durante o exame prévio, uma discreta tatuagem no antebraço chama a atenção. A tatuagem traz grafada uma sequência, "12:13", e ao pôr o termo no Google, chega ao trecho bíblico de Gênesis 12:13, que fala algo sobre amor entre irmãs. Impressionada, Leah passa a acreditar que a busca da família está em vias de acabar, e que se de fato a identificação for confirmada, poderão finalmente dar a Jenny um enterro digno e enfrentar o luto saudavelmente. Ao discutir a possibilidade com os pais, a mãe se coloca irredutível. Ela chora e dá uma porção de desculpas para desacreditar a descoberta. "Os olhos não são os mesmos, o rosto também não", esbraveja, antes de ficar inconsolável. Essa senhora tornou o reencontro a missão de sua vida, e agora que deve levar em consideração a possibilidade de morte, não consegue lidar com os fatos. Visitando o quarto da irmã, Leah desabafa com o pai sobre o quanto é difícil acreditar que o pesadelo chegou ao fim. Fortalecida pela brisa de alento, Leah se recorda do convite do colega, e o surpreende ao comparecer a uma festa na sua casa, naquela noite. Feliz ao vê-la, o rapaz a leva ao balanço no quintal, onde conversam mais abertamente, e ela lhe revela que toma antidepressivos. Sensível, o rapaz vai quebrando a resistência, e acabam se beijando e depois fazendo amor. Na manhã seguinte, pela primeira vez em uma década, Leah acorda de bom humor, e o rapaz é carinhoso e doce quando precisam se despedir. Ele insiste para que Leah fique, mas ela precisa receber os laudos finais que confirmarão a identidade de Jenny. Em um duríssimo golpe do destino, testes apontam que a garota morta não é Jenny. O pesadelo não acabou. Leah é novamente arrastada para as trevas da depressão. Trancada no quarto escuro, Leah recusa os telefonemas do colega. Ela escuta às mensagens deixadas na secretária eletrônica, o rapaz igualmente devastado, louco para estar a seu lado naquele difícil momento para oferecer carinho e suporte. A depressão de Leah, todavia, deixou-a inteiramente inacessível. A família se reúne à mesa de uma diner para traçar a nova estratégia de busca, quando por não mais resistir à pressão Leah escancara a dura realidade na cara da mãe: ela deseja organizar uma cerimônia religiosa para Jenny, realizar um sepultamento de caráter simbólico, de modo que não apenas o espírito da menina como também seus familiares vivos possam reencontrar a paz. A mãe permanece resoluta, e retruca que não desistirá de Jenny, assim como jamais desistiria de Leah. Emocionalmente esgotada, a moça arranca de suas paredes todos os recortes sobre o caso e os queima. Como um lampejo de esperança, ela tem a humildade para ligar para o namorado e pedir ajuda, a aceitação como o primeiro passo para a recuperação.
A Esposa. Ruth (Mary Beth Hurt) é uma sofrida senhora que passou a vida cuidando de Carl (Nick Searcy), o marido emocionalmente distante e desapegado. O casal mora em uma casa ao lado do trabalho de Carl, um parquinho de rent-a-storage, conjunto de pequenas unidades utilizadas como depósito. Carl é o responsável pelo atendimento e administração das facilidades, porém na maior parte das vezes recai sobre os ombros de Ruth o ônus do cansativo trabalho. Recentemente, o marido vem se distanciando mais de casa, sempre com desculpas de que precisa dirigir para espairecer um pouco, apenas para voltar dois ou três dias depois sem oferecer explicações para a desapontada esposa. Ruth acredita que Carl relaciona com prostitutas e depois traz para casa toda sorte de doenças. Por um acaso do destino, está para descobrir o horroroso segredo do marido. Uma noite, quando já está com chaves em mãos a caminho da porta, Ruth o interpela. Como de costume, Carl é evasivo nas respostas, e quando Ruth se irrita e questiona sobre quando pretende voltar, o marido diz não saber ainda. Ruth começa a chorar, lamentando não entender por que ele a odeia tanto. Chateado, certo de que nada do que possa fazer irá consolá-la, Carl parte para seu passeio de carro. Na manhã seguinte, conforme esperava, Ruth se vê tendo de conciliar afazeres domésticos com o atendimento no depósito, pois Carl ainda não retornou, e o rapaz que costuma ficar em seu lugar também não deu as caras. Dois cavalheiros se apresentam procurando por uma vaga, e meio a contragosto, Ruth apanha a chave de uma unidade qualquer disponível. Para sua surpresa, ao mexer em um dos armários, encontra um saco plástico lacrado contendo peças íntimas de mulheres. Ela logo se recompõe e os leva a uma outra unidade. Mais tarde, ao examinar melhor o "depósito secreto" de Carl, descobre sandálias e pares de tênis femininos, mais peças íntimas sujas de sangue e até mesmo a carteira de habilitação de uma jovem da Califórnia. Investigando as páginas policiais do jornal local, intriga-se com a notícia sobre a oitava vítima de um serial killer atacando na região. A vítima?A moça cuja carteira de habilitação encontrou nas coisas de Carl. Quando o marido retorna naquela noite, Ruth está assistindo ao telejornal. Para testar sua reação, deixou sobre o bar a notícia sobre a oitava vítima, dobrada. Ela vê quando, pensativo, Carl apanha as folhas e dá uma rápida conferida. Ao se juntar à esposa na sala de estar para assistir à televisão, Carl fala qualquer coisa sobre obras na estrada. Ela menciona os arranhões no pescoço, a que Carl justifica como resultado de uma briga no bar. A esposa não o poupa, e volta a acusá-lo de sair por aí para satisfazer "perversões" com prostitutas. Apesar de inicialmente negar, Carl perde a cabeça e grita para que o deixe em paz e vá cuidar da própria vida. Ele deixa a sala apressado, sob as ameaças da mulher, que lhe avisa saber o que tem aprontado. Pela janela da cozinha, Ruth ainda o enxerga abrindo o porta-malas para apanhar uma sacola, provavelmente as roupas de uma nova vítima. Ela acaba cochilando, e quando Carl finalmente retorna, agora com os ânimos mais calmos, prepara o jantar. Ruth faz parecer casual ao perguntar a Carl se conhece alguma daquelas garotas mortas, e ele se limita a dizer que não. Depois que o marido adormece, Ruth abre o depósito usado por Carl, e encontra roupas ensanguentadas de alguma pobre nova vítima. Ela reúne todos aqueles itens macabros que o implicam nos assassinatos, e parte com o carro. Àquela hora da noite, na estrada quase vazia, ao passar ao lado de uma caroneira no acostamento, não tem como deixar de pensar nos terríveis crimes cometidos por Carl. Por um momento, pensativa dentro do carro, defronte à delegacia de Polícia, parece hesitante em entregá-lo. Por mais que tenha sofrido ao lado de Carl, para melhor ou pior, ele é a sua única companhia na terceira idade. Ao final, o compromisso ao marido fala mais alto, e ao invés de denunciá-lo, leva os itens a um terreno baldio onde toca fogo nas provas, apagando seus rastros.
A Mãe. Melora (Marcia Gay Harden) procura pela filha Krista (Brittany Murphy) desde 1993, quando aos 16 anos, decidida a deixar a casa dos pais, foi embora sem dar explicações. Eventualmente, Krista escrevia ou telefonava, todavia jamais pareceu inclinada a estreitar o relacionamento com a mãe. Melora sabia que Krista se mudara para Los Angeles, e agora está na cidade para tentar encontrar respostas. A Polícia a procura com informações de que pode tê-la encontrado. A garota morta achada por Arden, no primeiro segmento, é na verdade a filha perdida Krista. O delegado encarregado do caso procura assisti-la em todas as necessidades, e já que permanecerá na cidade por mais um dia, Melora resolve saber onde a filha morou pela última vez. Ela quer conhecer um pouco de sua vida naquele último ano. O delegado fornece o último endereço conhecido, um motel simples de beira de estrada. Melora procura o motel e conhece Rosetta (Kerry Washington), melhor amiga e ex-colega de quarto de Krista. Inicialmente identificando-se como repórter, Melora consegue se aproximar e, por uma quantia, tem franqueado acesso ao quarto que Rosetta e a filha costumavam dividir. Rosetta conta fatos da vida de Krista que Melora desconhece, como o fato de ter fugido de casa porque o padrasto costumava abusar sexualmente dela. Melora se divorciou alguns anos antes, porém jamais imaginou que o ex-marido estuprara a menina, ou que fora por sua causa que Krista fugira de casa. Para agravar o remorso, Melora ainda aprende que Krista sempre crera que a mãe sabia de tudo, e no entanto preferira o marido. Quando Melora começa a esvair-se em lágrimas, Rosetta percebe que a visitante não se trata de repórter, mas da mãe da falecida amiga. Assim como Rosetta, Krista fazia a vida na rua como garota de programa. O passado de Rosetta, também igualmente perturbador e cruel, jamais lhe deu escolhas. Apesar de durona e cínica, Rosetta consegue nutrir alguma empatia por Melora, abrindo-se mais a sua presença. Ela fica tocada quando a mulher se abraça a uma foto de Krista e começa a desabafar. Melora a leva para almoçar, quando as duas têm oportunidade de conversar melhor. Rosetta conta que, por um tempo, a vida de Krista pareceu entrar nos eixos. Ela havia deixado as drogas para trabalhar em um salão, e queria juntar dinheiro suficiente para trazer a filhinha Ashley para morar com as duas. Para isso, vinha acumulando o trabalho no salão com outros dois, o que com o tempo a deixou tão exausta que a estimulou a consumir drogas para segurar o rojão. Inevitavelmente, as drogas causaram a fricção que lhe custou o trabalho no salão e a devolveu à mesma difícil situação. Melora vislumbra a chance da redenção quando Rosetta menciona a existência de Ashley. A menininha havia sido deixada no modesto apartamento de uma senhora cheia de crianças, que por uma determinada quantia por mês, cuidava da garotinha. Mesmo distante, quando viva, Krista costumava visitar a filha e lhe escrever cartas, ainda que a criança não soubesse ler ainda. Ela não queria que a menina crescesse a odiando, Rosetta explica. Com muito cuidado, Melora abraça a menininha, e dá dinheiro à senhora como pagamento por seus serviços. Ela se apresenta como avó, e a leva consigo. De volta ao hotel onde ficará até o dia seguinte, quando deixará Los Angeles, ela consola a criança, dá banho, põe para dormir, e cuida de Ashley com amor de mãe, aliás, duas vezes amor de mãe, vez que é avó. Depois que Ashley pega no sono, Rosetta lhe pergunta se ficará com a garota. Melora responde que sim. Comovida, Rosetta conta que por várias vezes pensou em pegar a garota, e só não o fez por não conseguir se sustentar. Pela primeira vez, toda a fachada durona de Rosetta cai por terra, e ela também chora, vocalizando o remorso por não ter mostrado mais a Krista o quanto a amava. As duas se abraçam. Na manhã seguinte, Rosetta entrega a Melora um retrato de Krista, onde aparece feliz e sorridente. No banco traseiro, Ashley está animada, comendo salgadinho. Melora a levará e a criará como sua filha. Em um momento muito emocionante, Melora estende sua mão generosa à Rosetta, dizendo que se quiser pode vir morar com as duas, endireitar a própria vida. A única coisa que Melora não toleraria seria uso de drogas, mas se Rosetta se comprometesse a se esforçar, poderia vir morar com avó e neta. Por ora, Rosetta prefere esperar. De toda sorte, Melora lhe deixa o endereço, para que escreva quando quiser. Pelo retrovisor, Melora olha para a menininha, feliz e à vontade. Juntas, embarcam em direção a um novo amanhã ensolarado, em uma cena que após todas as trevas, conclui o drama da criança com uma promessa de esperança e felicidade.
Depois de conhecermos as histórias de tantas pessoas ligadas ao mistério principal, chega o segmento que nos revelará quem efetivamente era Krista, A Garota Morta. É manhã do dia do aniversário de Ashley, e faz muito tempo que Krista não a vê. Ela compra um lindo urso de pelúcia. Agora, só precisa de uma carona a Norwalk. Tarlow (Josh Brolin), o cafetão namorado, não parece muito inclinado a quebrar o galho. Nós os vemos no shopping, onde Tarlow lhe dá uma bela joia com a palavra "Comprometida". Apesar de encantada com o presente, ela confessa que preferiria uma carona, pois quer chegar a tempo de não deixar a data passar em branco. Na praça de alimentação, uma garotinha chega inocentemente a seu lado. Revelando um jeito especial com crianças, Krista faz uma brincadeira que faz a menininha rir. A mãe chama a garota, pedindo que não a incomode, mas Krista diz que está tudo bem. A moça conta que a filha tem três anos de idade, a mesma idade que Ashley estará completando naquela data. No carro, ela se recorda de uma ocasião na infância, quando disse a mãe que queria um boneco de ventríloquo em particular, e ela apareceu com um similar, mas muito tacanho, o que a deixou desapontada. Ela se lembra de ter fingido felicidade, porém conta que a mãe sempre procurava dar brinquedos ou coisas que fizessem parte de promoção de catálogo. Krista diz que deseja que Ashley tenha tudo o que quiser, não o tempo inteiro, para não ficar mimada, mas não quer que cresça com as mesmas desilusões. Vemos que apesar de a vida a ter colocado em uma delicada posição - Krista não tem emprego fixo, e precisa se prostituir para sobreviver - sonha em ser a melhor mãe possível, o que tornará seu fim especialmente trágico. Tarlow acaba cedendo aos pedidos, e ela não consegue conter a excitação de saber que logo mais estará vendo a filha. Eles estão passando a tarde na casa de Tarlow, Krista escrevendo um cartão para acompanhar o presente, quando o rapaz recebe um telefonema urgente do trabalho. Quando Tarlow se desculpa, Krista se enfurece. O cafetão insiste que se mandar o urso pelos Correios, chegará a tempo, mas a garota não quer saber. Os dois têm uma discussão feia: Tarlow sai de casa cantando os pneus, Krista apanha o urso de pelúcia e trata de se pôr a caminho. Ao voltar para o motel onde mora com Rosetta, a encontra toda machucada. Tom, o namorado, deu mais uma de suas habituais surras. Possessa, Krista promete retaliação. O vínculo que as une é muito forte, e Krista realmente a ama. Rosetta tenta argumentar para que Krista não se envolva, mas a namorada não se deixa demover. Ela pega a moto emprestada da senhoria, e dirige até a boca de fumo onde Tom costuma ficar com prostitutas. Em um primeiro momento, ela leva a pior, pois Tom a derruba com um murro, mas aproveitando um deslize, vira o jogo e o acerta com o cano. Ela ainda picha seu carro, quebra as janelas e jura matá-lo se voltar a tocar em Rosetta. Quando a moto morre, Krista se vê à beira da estrada, com a sacola do urso nas costas, solicitando carona. Ela ainda aproveita a oportunidade para ligar para Rosetta, quando muito emocionada conta que a vingou, e fala sobre o quanto a ama e o quanto gostaria de escutá-la dizer o mesmo. Exausta e toda dolorida por conta da surra, Rosetta não tem presença de espírito para corresponder a declaração, e pede para desligar, pois precisa dormir. Como sabemos, mais tarde, Rosetta se arrependerá amargamente por não ter dito que a amava, mas então não tinha como imaginar que foi a última vez que conversaria com Krista. É noite fechada, e fora luzes distantes do centro de Los Angeles e a duma amarelada dos postes altos, não há sinal de civilização, até que um carro estaciona ao lado do meio fio. Krista embarca no carro dirigido por Carl, o marido de Ruth que também é o insuspeito serial killer responsável pela morte de oito mulheres. Inocentemente, Krista comemora quando Carl se oferece para lhe dar carona para Norwalk. Já passa de meia noite, e com a voz embargada, Krista revela a natureza de sua tatuagem, "12:13", o horário em que Ashley nasceu. Ela segue tagarelando que estará ao lado da menininha quando acordar, fará brigadeiros para a menina, aproveitarão todos os momentos... Vemos o perfil de seu rosto bonito porém simultaneamente maltratado pela vida, iluminado pela alegria que a lembrança da filha lhe traz. Infelizmente, como sabemos, o destino não permitirá a reunião, e Krista jamais dará o urso e o abraço que tanto deseja, pois cometeu um terrível erro ao entrar no carro de Carl e sua vida se acabará tragicamente na data do aniversário da criança.
Um
dos últimos filmes da saudosa e inesquecível atriz Brittany
Murphy, A Garota Morta foi rodado em 2006, quando sua
carreira não vinha particularmente bem, e grandes projetos não
chegavam mais às mãos de seus agentes. Pouquíssimo visto, foi
exibido no circuito alternativo por apenas duas semanas, não recuperando nas bilheterias sequer os custos de produção, o que foi
mais um duro golpe do destino da atriz, vez que além de
drama fenomenal, traz seu definitivo desempenho. Triste, contundente,
sombrio e surpreendentemente humano, A Garota Morta é um
filme que merece ser redescoberto e admirado, principalmente por
cinéfilos que se recordam de Brittany Murphy
primordialmente por As Patricinhas de Beverly Hills. Seguindo uma generosa
tendência recente, A Garota Morta não se firma em uma única
protagonista. A sua força reside na teia de interessantes
personagens que cria em torno do mistério principal. Sustentado por
performances excepcionais de um vasto elenco de nomes muito
talentosos, o filme reafirma a crença de que não há papéis
pequenos, a todos concedida a oportunidade de brilhar.
Estilisticamente,
o filme adota a mesma proposta do ótimo Crash
No Limite, de Paul Haggis (não confundir com o
brutal suspense homônimo de David Cronenberg lançado em
1996), uma miscelânea de vidas perdidas que no curso de uma
noite se esbarram com resultados imprevisíveis pelas vias de Los Angeles. O que A Garota Morta
guarda como carta na manga é uma história mais trágica e sensível, em
torno da qual os diferentes dilemas de seus personagens orbitam. Um
verdadeiro mergulho no lado mais escuro e perverso da vida, a
experiência se torna mais claustrofóbica e poderosa graças à
competência com a qual o filme foi rodado. Demonstrando habilidade
em sua primeira vez atrás de uma produção de envergadura, a
diretora Karen Moncrieff cercou-se de uma equipe de primeira
para estrear com um trabalho verdadeiramente relevante, que lhe valeu
uma promissora carreira (ela dirige o novo filme da estrela Kate
Beckinsale, The Trials of Cate McCall) e ainda revelou o
potencial de muitos artistas que se tornariam astros nos anos por
vir (Kerry Washington & Rose Byrne & Josh Brolin).
Em
sua primorosa fotografia, reminiscente do extraordinário Menina
de Ouro, do diretor Clint Eastwood, A Garota Morta
parece em iguais, generosas doses granulado, melancólico e deprimente. O filme veste
um véu sombrio, mas ocasionalmente permite-se instantes de
pequenas, simples alegrias, que tão exponenciais face ao contexto
sufocante e desesperançoso mais se assemelham a momentos de
absoluta glória, a entrada de um sol radiante para afastar a escuridão, mesmo que por alguns frágeis minutos. O
filme segue nessa linha de montanha-russa de conflitantes emoções –
horror, desesperança, fé, alegria – e Moncrieff usa a
perícia de sua equipe ao máximo. Em seu segmento final, a história
da "garota morta", o filme me lembra a atmosfera criada
por Morten Soborg para o apavorante suspense w Delta z,
principalmente na cena em que Krista procura conversar com a
amiga por um telefonema que faz de uma cabine: você a enxerga ali,
diminuta, insignificante (o take é realizado a uma certa
distância), a noite fria e indiferente, postes muito altos deitando
uma luz fraca e amarelada sobre a cena, neon borrado vindo de
vitrines de comércios fechados, à beira da estrada, composição perfeita para um
cenário de abandono e oportunidades perdidas.
Produzido com um orçamento modesto, A Garota Morta não parece apenas um trabalho de amor para sua diretora. O elenco, composto por nomes de peso, catapulta o filme a um patamar realmente invejável, não deixando dúvida alguma de que aquelas pessoas estão envolvidas por compartilhar do mesmo entusiasmo de Moncrieff pelo material. Famosos pelos grandes filmes em que atuaram – quem não se recorda de Rose Byrne em Insidious, por exemplo? - os atores devem ter aceitado o trabalho pelo pagamento de escala, apenas pela oportunidade de terem seus nomes vinculados a uma obra tão dramaticamente importante. Rose Byrne, cujos olhos tristes sempre a tornam muito expressiva, dá uma grande performance como a irmã Leah, uma jovem mulher que deixa a flor da juventude ir embora anestesiada pelo luto que é forçada a vestir, graças à incapacidade da mãe de aceitar os fatos da vida. Byrne ilustra a batalha diária da vida a partir de momentos absolutamente ordinários, através dos quais enxergamos como a depressão vem corroendo e arruinando o período que teoricamente deveria ser o melhor, mais produtivo de sua vida. Com muita dignidade, James Franco dá vida ao colega de trabalho que consegue "enxergar além", e, com muita paciência, desarmar a couraça que a personagem de Byrne veste para conseguir conviver com a terrível dor. A cena quando primeiro consegue "rachar" a armadura – os dois no balanço, alheios à festa, quando Franco a beija – só funciona em razão da honestidade que ambos investem na cena. Diferente de filmes românticos onde tudo parece "muito perfeito", aqui o primeiro beijo traz um gostinho especial de sinceridade. Nenhum dos dois parece certo em dar o primeiro movimento, e quando Franco a toca, o faz de maneira hesitante, até o beijo acontecer. O natural constrangimento até o instante em que seus lábios se conectam dá o tom ao tratamento que o roteiro concederá ao restante de seus personagens e à forma como contará a história: diferente das resoluções fáceis de produções maiores e formuláicas, A Garota Morta captura a vulnerabilidade humana e as contradições de seus personagens por lentes mais honestas. Nem sempre parece bonito, mas jamais soa desonesto ou falso. Em papéis menores, veteranos como Bruce Davison, Mary Steenburgen, Piper Laurie e Toni Colette prestam valiosas contribuições. Mais lembrado pelo seu importante papel em Longtime Companion, uma das primeiras produções a abordar o impacto da AIDS na comunidade gay, Davison interpreta o pai de Leah, o único capaz de enxergar o mal causado pela cega obstinação da esposa em apegar-se à ilusão do retorno da filha. Em seus momentos ao lado de Byrne, Davison emana o calor e a compreensão que a salva momentaneamente de seu dilema. Piper Laurie basicamente resgata sua personagem mais famosa, a Margareth White do primeiro Carrie, A Estranha (a versão dirigida pelo grande Brian De Palma nos anos 70). Aprisionada à cama por alguma enfermidade, sublima a frustração cobrindo a filha de abusos verbais. Ainda assim, consegue alternar a perversidade com pequenas, imprevisíveis revelações de vulnerabilidade, como quando descobrimos que tem medo de dormir sozinha e só consegue repousar se a filha estiver presente. Toni Colette ganhou notoriedade como a mãe solteira sofredora de O Sexto Sentido, mas felizmente jamais pareceu o tipo de atriz que ambicionava o "estrelato", optando por um caminho mais artisticamente satisfatório. Em A Garota Morta, compõe com muita sensibilidade a personagem de uma "criança" presa ao corpo de mulher adulta. Os abusos psicológicos sofridos nas mãos da mãe a aleijaram de qualquer ferramenta social necessária para ao convívio em grupo, e o seu mundo parece resumir-se à enorme casa ou ao mercadinho onde conhece o personagem de Giovanni Ribisi, o homem que a incita a acessar a própria sexualidade e questionar seu lugar no mundo. Mesmo com o pouco tempo que lhe foi concedido, Mary Steenburgen causa forte impressão como a mãe apegada à irreal crença de que a filha desaparecida retornará. Ela acaba por destruir a vida da outra filha, que insiste em ficar a seu lado na cruzada que vem lhe custando uma existência normal e feliz. Outras magníficas performances também enriquecem o filme, e Marcia Gay Harden & Kerry Washington se completam maravilhosamente no penúltimo segmento, quando começamos a nos aproximar da verdadeira identidade da garota morta. Apesar de não se poder falar propriamente em uma única protagonista, ao lado de Brittany Murphy, Marcia Gay Harden e Kerry Washington capitaneiam a linha de frente, e às duas recai a difícil missão de "definir o jogo" com algumas das cenas mais difíceis e memoráveis. Depois de toda a dor que vimos nas histórias anteriores, cabe às duas atrizes "equilibrar a balança", e conseguir fazer brilhar algum tipo de centelha de alento, em meio à escuridão. Se a jornada até o encontro das duas foi extremamente melancólica, ao menos a escuridão serviu a seu propósito, pois somente nos momentos mais sombrios conseguimos enxergar o sol em toda sua glória ao retornar - e o sol sempre encontra o jeito de subir para expulsar as trevas. Washington & Gay Harden comunicam essa mensagem em instantes muito doces e especiais, como quando A Mãe (Gay Harden) & Rosetta (Washington) visitam o pequeno apartamento onde Krista deixou a filhinha, e a vemos chorosa e confusa em meio a uma porção de outras crianças de sua idade. A forma como Gay Harden a chama para si e a abraça como própria filha muito bem simboliza a ideia da entrada do sol após uma noite que parece ter durado mais do que devia; a mesma sensação requentada de redenção ocorre quando lhe assistimos dando um banho na menininha suja, vestindo-a com roupas novas, dando de comer e depois a colocando para dormir. Quando as duas se despedem, a história das duas personagens felizmente termina em uma nota positiva, Melora levando a neta para criá-la como filha, e deixando o cartão para que Rosetta a procure, se um dia desejar deixar a vida terrível de garota de programa. No segmento encabeçado pelas duas, eu me recordei de um outro filme igualmente pouco visto, mas bastante especial, chamado Freedomland, com Samuel L. Jackson. Em Freedomland, Samuel L. Jackson interpretava um policial veterano investigando o desaparecimento do filho de uma sofrida mãe solteira. Ele acaba descobrindo a verdade: o menino não havia sido sequestrado, mas morto. É que para poder sair com o namorado, a mãe acabou dando um comprimido para dormir para o filhinho, que morre por uma reação inesperada ao remédio. Cheia de remorso e horror, ela forjou toda a história, ao final desvendada pelo detetive. O filme não a retrata como vilã, na verdade sentimos muito pela sua situação. Há uma cena bonita, no final, quando Samuel L. Jackson vai visitá-la na prisão, e eles têm esse bonita conversa, onde ele procura colocar as coisas sob perspectiva e lhe convencer que ainda terá outra oportunidade na vida para ser uma mãe melhor para outro filho. Ele entende a dor da moça, pois o caso acabou por forçá-lo a refletir sobre a própria vida, onde reconhece que não foi um bom pai, e que é dificílimo colocar uma criança neste mundo e cuidar (no filme, apesar de um brilhante tira, o Samuel L. Jackson não conseguiu ser um pai presente na vida do filho, que acabou na cadeia por alguma delinquência qualquer). Eu transcrevo aqui essa linha de diálogo emocionante, ponto alto de Freedomland, e talvez o melhor momento da carreira de Samuel L. Jackson "... E os meus amigos dizem, você não é culpado por ele ter parado na prisão, ele tem que assumir a responsabilidade pelo que fez. Mas cá entre nós, a culpa foi minha. Eu me sinto responsável porque ele é o tipo de homem que eu o ensinei a ser: egoísta, fora de controle. Eu nunca estive presente diariamente, e quando eu estava, ficava brigando com a mãe dele. É sim, era assim que eu era. Na época, eu não dava a mínima. Agora ele está na prisão, e provavelmente vai entrar e sair da prisão pelo resto da vida. Já é tarde demais, mas tudo o que eu quero agora é não abandoná-lo. Mas com filhos, não importa o que você fez ou o quanto você errou, Deus sempre acha o jeito de nos dar outra chance. Pode não ser com aquele garoto em particular. O que eu estou tentando dizer é que a graça de Deus é meio retroativa, e então todas as crianças dos casos em que trabalho são o meu filho, eles não têm o meu sangue, mas posso conviver com isso. E sou feliz. Minha vida é boa".
Produzido com um orçamento modesto, A Garota Morta não parece apenas um trabalho de amor para sua diretora. O elenco, composto por nomes de peso, catapulta o filme a um patamar realmente invejável, não deixando dúvida alguma de que aquelas pessoas estão envolvidas por compartilhar do mesmo entusiasmo de Moncrieff pelo material. Famosos pelos grandes filmes em que atuaram – quem não se recorda de Rose Byrne em Insidious, por exemplo? - os atores devem ter aceitado o trabalho pelo pagamento de escala, apenas pela oportunidade de terem seus nomes vinculados a uma obra tão dramaticamente importante. Rose Byrne, cujos olhos tristes sempre a tornam muito expressiva, dá uma grande performance como a irmã Leah, uma jovem mulher que deixa a flor da juventude ir embora anestesiada pelo luto que é forçada a vestir, graças à incapacidade da mãe de aceitar os fatos da vida. Byrne ilustra a batalha diária da vida a partir de momentos absolutamente ordinários, através dos quais enxergamos como a depressão vem corroendo e arruinando o período que teoricamente deveria ser o melhor, mais produtivo de sua vida. Com muita dignidade, James Franco dá vida ao colega de trabalho que consegue "enxergar além", e, com muita paciência, desarmar a couraça que a personagem de Byrne veste para conseguir conviver com a terrível dor. A cena quando primeiro consegue "rachar" a armadura – os dois no balanço, alheios à festa, quando Franco a beija – só funciona em razão da honestidade que ambos investem na cena. Diferente de filmes românticos onde tudo parece "muito perfeito", aqui o primeiro beijo traz um gostinho especial de sinceridade. Nenhum dos dois parece certo em dar o primeiro movimento, e quando Franco a toca, o faz de maneira hesitante, até o beijo acontecer. O natural constrangimento até o instante em que seus lábios se conectam dá o tom ao tratamento que o roteiro concederá ao restante de seus personagens e à forma como contará a história: diferente das resoluções fáceis de produções maiores e formuláicas, A Garota Morta captura a vulnerabilidade humana e as contradições de seus personagens por lentes mais honestas. Nem sempre parece bonito, mas jamais soa desonesto ou falso. Em papéis menores, veteranos como Bruce Davison, Mary Steenburgen, Piper Laurie e Toni Colette prestam valiosas contribuições. Mais lembrado pelo seu importante papel em Longtime Companion, uma das primeiras produções a abordar o impacto da AIDS na comunidade gay, Davison interpreta o pai de Leah, o único capaz de enxergar o mal causado pela cega obstinação da esposa em apegar-se à ilusão do retorno da filha. Em seus momentos ao lado de Byrne, Davison emana o calor e a compreensão que a salva momentaneamente de seu dilema. Piper Laurie basicamente resgata sua personagem mais famosa, a Margareth White do primeiro Carrie, A Estranha (a versão dirigida pelo grande Brian De Palma nos anos 70). Aprisionada à cama por alguma enfermidade, sublima a frustração cobrindo a filha de abusos verbais. Ainda assim, consegue alternar a perversidade com pequenas, imprevisíveis revelações de vulnerabilidade, como quando descobrimos que tem medo de dormir sozinha e só consegue repousar se a filha estiver presente. Toni Colette ganhou notoriedade como a mãe solteira sofredora de O Sexto Sentido, mas felizmente jamais pareceu o tipo de atriz que ambicionava o "estrelato", optando por um caminho mais artisticamente satisfatório. Em A Garota Morta, compõe com muita sensibilidade a personagem de uma "criança" presa ao corpo de mulher adulta. Os abusos psicológicos sofridos nas mãos da mãe a aleijaram de qualquer ferramenta social necessária para ao convívio em grupo, e o seu mundo parece resumir-se à enorme casa ou ao mercadinho onde conhece o personagem de Giovanni Ribisi, o homem que a incita a acessar a própria sexualidade e questionar seu lugar no mundo. Mesmo com o pouco tempo que lhe foi concedido, Mary Steenburgen causa forte impressão como a mãe apegada à irreal crença de que a filha desaparecida retornará. Ela acaba por destruir a vida da outra filha, que insiste em ficar a seu lado na cruzada que vem lhe custando uma existência normal e feliz. Outras magníficas performances também enriquecem o filme, e Marcia Gay Harden & Kerry Washington se completam maravilhosamente no penúltimo segmento, quando começamos a nos aproximar da verdadeira identidade da garota morta. Apesar de não se poder falar propriamente em uma única protagonista, ao lado de Brittany Murphy, Marcia Gay Harden e Kerry Washington capitaneiam a linha de frente, e às duas recai a difícil missão de "definir o jogo" com algumas das cenas mais difíceis e memoráveis. Depois de toda a dor que vimos nas histórias anteriores, cabe às duas atrizes "equilibrar a balança", e conseguir fazer brilhar algum tipo de centelha de alento, em meio à escuridão. Se a jornada até o encontro das duas foi extremamente melancólica, ao menos a escuridão serviu a seu propósito, pois somente nos momentos mais sombrios conseguimos enxergar o sol em toda sua glória ao retornar - e o sol sempre encontra o jeito de subir para expulsar as trevas. Washington & Gay Harden comunicam essa mensagem em instantes muito doces e especiais, como quando A Mãe (Gay Harden) & Rosetta (Washington) visitam o pequeno apartamento onde Krista deixou a filhinha, e a vemos chorosa e confusa em meio a uma porção de outras crianças de sua idade. A forma como Gay Harden a chama para si e a abraça como própria filha muito bem simboliza a ideia da entrada do sol após uma noite que parece ter durado mais do que devia; a mesma sensação requentada de redenção ocorre quando lhe assistimos dando um banho na menininha suja, vestindo-a com roupas novas, dando de comer e depois a colocando para dormir. Quando as duas se despedem, a história das duas personagens felizmente termina em uma nota positiva, Melora levando a neta para criá-la como filha, e deixando o cartão para que Rosetta a procure, se um dia desejar deixar a vida terrível de garota de programa. No segmento encabeçado pelas duas, eu me recordei de um outro filme igualmente pouco visto, mas bastante especial, chamado Freedomland, com Samuel L. Jackson. Em Freedomland, Samuel L. Jackson interpretava um policial veterano investigando o desaparecimento do filho de uma sofrida mãe solteira. Ele acaba descobrindo a verdade: o menino não havia sido sequestrado, mas morto. É que para poder sair com o namorado, a mãe acabou dando um comprimido para dormir para o filhinho, que morre por uma reação inesperada ao remédio. Cheia de remorso e horror, ela forjou toda a história, ao final desvendada pelo detetive. O filme não a retrata como vilã, na verdade sentimos muito pela sua situação. Há uma cena bonita, no final, quando Samuel L. Jackson vai visitá-la na prisão, e eles têm esse bonita conversa, onde ele procura colocar as coisas sob perspectiva e lhe convencer que ainda terá outra oportunidade na vida para ser uma mãe melhor para outro filho. Ele entende a dor da moça, pois o caso acabou por forçá-lo a refletir sobre a própria vida, onde reconhece que não foi um bom pai, e que é dificílimo colocar uma criança neste mundo e cuidar (no filme, apesar de um brilhante tira, o Samuel L. Jackson não conseguiu ser um pai presente na vida do filho, que acabou na cadeia por alguma delinquência qualquer). Eu transcrevo aqui essa linha de diálogo emocionante, ponto alto de Freedomland, e talvez o melhor momento da carreira de Samuel L. Jackson "... E os meus amigos dizem, você não é culpado por ele ter parado na prisão, ele tem que assumir a responsabilidade pelo que fez. Mas cá entre nós, a culpa foi minha. Eu me sinto responsável porque ele é o tipo de homem que eu o ensinei a ser: egoísta, fora de controle. Eu nunca estive presente diariamente, e quando eu estava, ficava brigando com a mãe dele. É sim, era assim que eu era. Na época, eu não dava a mínima. Agora ele está na prisão, e provavelmente vai entrar e sair da prisão pelo resto da vida. Já é tarde demais, mas tudo o que eu quero agora é não abandoná-lo. Mas com filhos, não importa o que você fez ou o quanto você errou, Deus sempre acha o jeito de nos dar outra chance. Pode não ser com aquele garoto em particular. O que eu estou tentando dizer é que a graça de Deus é meio retroativa, e então todas as crianças dos casos em que trabalho são o meu filho, eles não têm o meu sangue, mas posso conviver com isso. E sou feliz. Minha vida é boa".
Esse comovente desfecho de Freedomland encapsula maravilhosamente a mensagem deixada após o fim de A Garota Morta, e fundamenta a minha opinião de que apesar de triste e sombria, essa história não deixa seu sofrimento obscurecer aquilo que a vida ainda tem a oferecer de belo, doce e generoso. Apesar do final trágico de Krista, a "garota morta", é através da menininha que deixa para trás que Deus encontra o jeito de dar uma segunda chance à mãe. Não exatamente a criança originalmente perdida - Krista - mas sua filhinha, neta de Melora, o que torna a segunda oportunidade uma bênção de Deus. Filmes podem ser ferramentas importantes pelo impacto com que transmitem uma mensagem, e entre os mais difíceis prefiro aqueles que encontram uma forma de homenagear as coisas boas da vida, por mais caótica e maluca que pareça. Eu me recordo de uma resenha que li sobre Boogie Nights Prazer Sem Limites, o filme com Burt Reynolds, sobre a ascensão e queda de um astro do cinema pornô dos anos 70 e a "família substituta" liderada pelo diretor interpretado por Burt Reynolds. O cavalheiro que escreveu a resenha - não me vem à memória seu nome - dizia que no cerne, se você conseguisse, como passe de mágica, subtrair toda a violência, as drogas, a sordidez e o sexo corrompido da história, o tema de Boogie Nights não diferiria de algo que você encontraria em um desenho da Disney estilo Rei Leão, por exemplo. Em desenhos da Disney, uma importante mensagem sempre é transmitida, e a mensagem subliminar de Boogie Nights parece clara: permaneça ao lado dos seus, vigilante e fiel a sua família, não deixe o poder corromper sua integridade, não torne seus pais os inimigos, o reino que se desune se destrói. Se você revisitar o filme, a mensagem parecerá convalidada pela trajetória de seus protagonistas: o personagem de Mark Wahlberg é acolhido pelo diretor e figura paterna interpretado por Burt Reynolds, juntos a turma se torna imbatível, e então chegam os anos 80, quando Mark Wahlberg & Burt Reynolds se separam após uma briga estúpida e os personagens vão se afundando em drogas e desespero, à medida que o mercado para o cinema pornô vai desaparecendo com a chegada da Era do Vídeo Cassete. A perspicaz descrição do autor cabe como luva ao filme A Garota Morta. Se os amigos conseguirem focar a mensagem principal, e não os elementos que o tornam uma jornada tão perturbadora, extrairão uma belíssima mensagem de fé e esperança.
Eu tirei tanto proveito de A Garota Morta para minha vida pessoal que mais tarde, quando ousei escrever a minha própria história, com meus próprios personagens, soube que precisava reutilizar o momento em que a mãe da garota morta consegue recuperar a netinha e levá-la consigo para uma vida melhor. Em meu roteiro, Nenhum Passo em Falso, escrevi o personagem principal, Eric Dudley, especialmente com Burt Reynolds em mente. Todo o trabalho nasceu do meu amor incondicional por estes dois, a Jennifer Connelly e o Burt Reynolds, e meu sonho de escrever algo exclusivamente para os dois. Eu queria escrever um protagonista que fosse um verdadeiro herói, um homem honrado, o tipo de cara que adoraria vê-lo interpretar, se um dia tivesse a chance de lhe oferecer o papel. Em linhas muito amplas, Nenhum Passo em Falso é um suspense sobre um publicitário viúvo (personagem de Reynolds) que após anos sofrendo secretamente pelo amor secreto que sente pela melhor amiga (a personagem da Jennifer Connelly), conhece uma nova moça durante o processo de casting para uma mini série, e se apaixona. Os dois começam um relacionamento, para a frustração da referida melhor amiga, e o homem passa a esquecê-la em favor dessa mulher, até que ela desaparece misteriosamente, e a história, que começa como drama/comédia romântica, assume tintas de filme de horror. Enfim, de toda forma, há um momento, em Nenhum Passo em Falso, quando Eric Dudley descobre o passado da namorada desaparecida (ela havia sido atriz pornô e dependente química), ele encontra a filhinha que ela costumava deixar aos cuidados de uma amiga, por uma determinada quantia mensal. Eric descobre onde a menininha está, a encontra sujinha e entristecida, e resolve levá-la consigo para criá-la como própria filha. Essa cena foi diretamente inspirada em A Garota Morta, a sua motivação a mesma: irradiar o facho de luz que repentinamente afugenta a escuridão quase predominante da história.A Garota Morta permanecerá o momento definitivo da carreira da talentosa Brittany Murphy, uma atriz que partiu muito prematuramente, mas nos deixou a inesquecível marca registrada de seu sorrisinho sagaz e traquejos espevitados. Naquele distante 19 de julho de 1995, quando As Patricinhas de Beverly Hills estreou nos cinemas, Brittany dava o pontapé inicial em uma carreira que ficaria marcada, em grande parte, por comédias românticas despretensiosas que trariam alegria para muita gente. Seu papel em A Garota Morta veio em um momento difícil da carreira, quando grandes produções não passavam mais pelas suas mãos e uma nova geração de atrizes preparava-se para relegar as estrelas dos anos 90 `a margem da indústria. Muitas das atrizes da década de 90 se reinventaram - Alicia Silverstone, Jennifer Love Hewitt, Sarah Michelle Gellar - e encontraram na TV novos veículos, em aclamadas séries de muita qualidade; outras, insistiram nos filmes, e acataram com graciosidade a transição de filmes de estúdio para trabalhos no mercado direto-para-DVD ou papéis secundários em grandes produções. Curiosamente, A Garota Morta não foi nem filme para mercado direto-para-DVD, tampouco superprodução. Ao contrário, a diretora Karen Moncrieff financiou um belíssimo filme independente e concedeu a Brittany a oportunidade única de uma carreira para interpretar o centro moral dessa história sobre pais & filhos. Rodado em 2006, apenas três anos antes de sua morte, A Garota Morta só foi descoberto recentemente, após sua partida. O fato de o filme não ter merecido uma maior amplitude `a época do lançamento foi trágico - A Academia realmente ficou lhe devendo uma indicação a Melhor Atriz, em um momento que poderia ter engrenado não apenas uma reviravolta positiva para a vida profissional como para a pessoal. Coincidentemente, poucos meses após a morte de Brittany, foi a vez de Corey Haim, um outro jovem talento, perder tragicamente a vida. A morte de Corey Haim particularmente me assombrou por um tempo, pois apesar de eu guardar lembranças queridas de seus filmes na época do estrelato - Sem Licença para Dirigir & Os Garotos Perdidos - desconhecia a extensão dos problemas pessoais pelos quais atravessou, batalhando contra desemprego, ostracismo, problemas financeiros e dependência química, ao longo dos anos 90 e 2000. Na segunda metade dos anos 2000, o canal A&E produziu um reality show chamado The Two Coreys, que basicamente promovia o reencontro de Corey Haim & Feldman, astros dos anos 80, agora tantos anos após o estrelato já homens crescidos. Corey Haim, um ator desempregado, foi morar por um tempo na casa do melhor amigo, Feldman, um artista que ainda se mantinha ativo na indústria, e agora era homem casado e pai de família. Apesar de todas as confusões (a esposa do Feldman não suportava Haim), a amizade entre os dois realmente se destacava. O programa fez muito sucesso, deu-nos uma dimensão mais humana desses dois ícones do passado. Eu me recordo que passei a enxergá-lo de forma mais gentil, e que torci muito para que conseguisse reerguer a própria vida. Claro que não esperava que Corey Haim voltasse a ser super astro de Hollywood, mas gostava da ideia de vê-lo voltar a atuar em filmes menores, ou no teatro, na Broadway, quem sabe superar de vez os problemas da dependência, encontrar uma moça legal, casar, ter filhos… Foi um grande homem, Chico Xavier creio eu, quem disse algo nas linhas de você não ter como reescrever o passado, mas poder definir um novo desfecho para sua própria história. Por um tempo, eu achei que a vida do Corey Haim entraria nos eixos, mas apenas dois anos após o fim do reality veio a notícia de sua morte. As circunstâncias como tudo ocorreu ficaram grafadas na memória, pois eu ficava pensando nesse vídeo feito no final de 1989 onde ele falava sobre onde se via, dali a vinte anos, e dizia imaginar-se morando em uma casa de praia onde os dias seriam mais longos pois o sol sempre brilharia mais forte, e se distrairia vendo as ondas quebrando, os peixes brincando, enquanto seguiria fazendo filmes relevantes de sucesso. Vinte anos mais tarde, estava morando de aluguel com a mãe em Oakwood, um condomínio famoso entre atores novatos de passagem em Los Angeles para realizar audições, e que precisam de estadia barata por uma ou duas semanas. Depois de todo o sucesso nos anos 80, Corey terminava praticamente onde havia começado: um condomínio simplório usado por atores de passagem. Um rapaz que morava em Oakwood e falou com a imprensa após a morte de Corey disse que costumava vê-lo passeando pelo condomínio, como à procura de alguém para conversar. Na época, ele procurava se reerguer psicologicamente, pois precisava ser forte para a mãe, que enfrentava um câncer de mama. Na noite em que morreu, a mãe disse que ele havia acordado assustado, e perguntado se podia se deitar a seu lado, pois não estava se sentindo muito bem. Pouco depois, sofreu o ataque cardíaco que lhe custou a vida. Após a morte do Corey Haim, muitos colegas se manifestaram. Havia essa atriz canadense, Nicole Eggert, hoje uma senhora, que parecia particularmente devastada. Ela o havia conhecido no início dos anos 90, no auge da juventude e beleza, quando rodaram juntos um suspense. Eles se apaixonaram, Corey ficou de propô-la em casamento, mas por alguma razão os sonhos não se materializaram. Eles se distanciaram, e os anos foram se passando. Foi só recentemente, em uma entrevista, que Corey Feldman falou sobre as razões para o tormento do amigo. Ele dizia que estava revisitando fotos do álbum de fotografia, dos tempos em que ambos eram muito jovens, quinze, dezesseis anos de idade no máximo. Feldman viu essa foto de seu aniversário de quinze anos, onde aparecia sentado ao lado de Haim, e pela primeira vez caiu a ficha de que a maioria dos adultos que também constavam no retrato eram pedófilos ou predadores sexuais que mais tarde seriam pegos em indiscrições com outras vítimas. Somente tantos anos mais tarde, reavaliando a história com olhos de adulto, Feldman percebia o quanto, aos quinze anos, ambos pareciam alheios à toda aquela gente ruim em volta, à maneira como tiravam proveitos financeiro e sexual da falta de discernimento da dupla, e se perguntou horrorizado onde estavam seus pais, que os deixaram a mercê do pior tipo de escória. Há alguns paralelos entre as histórias de Corey Haim & Brittany Murphy, pois ambos parecem ter sido vítimas da traiçoeira aclamação passageira. A pressão do sucesso pode ser terrível, principalmente quando a indústria passa a descartar seus artistas mais queridos em favor das sensações do momento. Hoje, espero que tenha encontrado o caminho para a praia sobre a qual tanto falava, onde os dias seriam mais longos, o sol sempre quente, as marés frescas, e as ondas semelhantes a espumantes ao quebrarem na costa. Quando ele falou sobre como via a própria vida dali a vinte anos e fez essa descrição da praia, penso que é o tipo de coisa que um garoto diria, e talvez seja por isso que o fim destes dois atores pareça tão assombroso e semelhante. Eram pessoas muito jovens, e podiam fazer tanto ainda com suas vidas. Lamentavelmente, quando jovens, somos também ingênuos demais para saber melhor. Dia desses, eu vi um documentário muito interessante sobre a vida do Mike Tyson. Para mim, Tyson é tão fascinante quanto alguém como Burt Reynolds porque muito facilmente encontramos exemplos de pessoas que alçaram grandes voos e então aprenderam a descer graciosamente do topo para conviver saudavelmente com o "segundo lugar", mas apenas muito raramente conhecemos histórias de outras que estiveram sozinhas no topo, em uma classe só sua, para depois perderem absolutamente tudo. Tyson foi o fenômeno do boxe que por sete anos manteve-se imbatível - Marciano, Dempsey, Ali, não havia ninguém capaz de tocar sua graça - mas então perdeu tudo com o divórcio que ferrou sua cabeça e seu Waterloo particular, os punhos de James Buster Douglas. Burt Reynolds foi Número Um nas bilheteria por cinco anos consecutivos (1977-1981), e então tudo acabou com a chegada dos anos 80 e uma nova geração de astros de ação encabeçada por Stallone e Schwarzenegger. Mais ou menos na mesma época, sofreu uma fratura na mandíbula que transformou sua vida, pois não conseguia mais se alimentar normalmente, e emagreceu como um homem vitimado por doença terminal. Estamos falando de um tempo em que a AIDS parecia coisa de filme de horror. Não custou a invejosos plantarem rumores sobre ele estar morrendo de AIDS. No mesmo ano, a atriz Sally Field, ainda amargurada pelo fim do relacionamento, deu uma entrevista à revista Playboy, e ao ser perguntada sobre os rumores, disse algo nas linhas de que "onde há fumaça, há fogo", o que definitivamente causou mais dano `a sua carreira. Depois que a verdade finalmente apareceu - ele não tinha AIDS - o estrago havia sido feito, e se tornara definitivamente um ex-astro de ação. O fato de Tyson e Burt Reynolds terem sobrevivido a tantos altos e baixos, Reynolds inclusive ter sido atraiçoado pela mulher que um dia amou, é um testamento à força do espírito humano e sua capacidade de superação, e por isso gosto de prestar muita atenção ao que os dois têm a falar. De toda sorte, voltando ao ponto anterior - o quanto não sabemos muito quando jovens e o caríssimo preço que o desconhecimento nos custa - em dado momento do documentário, Tyson falava sobre o casamento com Robin Givens e como os anos lhe deram uma nova perspectiva sobre a própria história. Na época, eram garotos, ambos aos vinte e poucos. A imprensa o ilustrava como o homem mais violento e perigoso do mundo, e ela como uma alpinista social inescrupulosa interessada em dinheiro. No final, e após todos aqueles anos, percebia que não era nem uma coisa ou outra. Eram apenas garotos, jovens demais para saber melhor. Hoje, apesar das circunstâncias, depois que a fachada de mito caiu por terra com as derrotas que se seguiram, distanciado da glória do passado e pai de 8 crianças, consegue enxergar o mundo com mais clareza e gratidão. Em 1989, quando começou a se perder, e pensava saber tudo sobre as pessoas, Robin era a vilã e inimiga. Agora, como pai, reconhecia que então ambos eram praticamente crianças, em um mundo que pode ser implacável para ingênuos e despreparados. Somente o tempo poderia tê-los salvo, pois com os anos, teria vindo junto o discernimento que lhes permitiria compreender que por maiores que os problemas parecessem, depois de um tempo, não passariam de bobagem, já que em um contexto mais amplo, a vida sempre se prova muito maior. Muitos - Corey Haim, Brittany Murphy - não conseguiram resistir `a pressão do sucesso, mas aqueles que de fato sobreviveram `a loucura - Tyson ou o próprio Burt Reynolds - exibem a recompensa inestimável de enxergar tudo o que se passou sob uma perspectiva mais generosa e gentil. Por mais tarde que pareça, como o próprio personagem de Samuel L. Jackson em Freedomland disse, a graça de Deus é retroativa, e por mais que tenha errado, Ele sempre nos dá a oportunidade de fazer dos limões uma limonada. Desde o lançamento de As Patricinhas de Beverly Hills em meados de 1995, o começo de sua história de sucesso, até a despedida, em 2009, Brittany Murphy teve praticamente 15 anos de experiências para desenvolver um novo tipo de percepção que falta a todos no início da jornada. Apesar de nos ter deixado já mulher adulta, espero que assim como a Haim, Deus a tenha preservado como a mesma menina do começo. É bem verdade que viver equivale a perder. Os anos se asseguram de arrancar camadas e mais camadas de superficialidade, levando junto a beleza ou as posses ou a saúde ou as falsas bajulações até nos restar o absolutamente essencial: caráter, coração, capacidade de empatia pelo próximo, aquilo que verdadeiramente nos humaniza. Apesar de este doloroso processo de aprendizagem fazer parte de nossas vidas, espero que após a partida, Deus tenha conservado aqueles que se foram cedo demais em um momento antecedente `a perda das ilusões, no caso de Brittany, aquele verão de 1995 quando As Patricinhas de Beverly Hills estreava, preservado como inseto em âmbar, quando um ano custava a eternidade para se acabar, a vida inteira estava por vir, e dias alegres costumavam vir acompanhados pelo mais caloroso sol possível. Apesar de sensacional enxergar o mundo pelos olhos de adulto, jamais nos sentiremos tão bem quanto uma tarde qualquer em 1995, quando o mundo era expectativas, e éramos garotos.