




Na manhã seguinte, na saída de casa para o ponto de ônibus escolar, diferente da irmã, Danny se esquece de pegar a lancheira. A mãe chama a atenção para o esquecimento. À noite, os pais prepararam pães recheados com batata, purê, e costelas assadas, uma deliciosa refeição. Danny não quer saber, e embora fale animadamente sobre o dia, sem aparentar problemas com a saúde, a situação começa a saltar aos olhos dos agora tensos pais. Na conversa após o jantar, os dois adultos discutem a situação. Robert conta que a lancheira voltou intacta, o menino sequer provara o lanche da merenda no intervalo do recreio. Susan ainda não "entrou em pânico", afinal crianças costumam aprontar as mais inusitadas artimanhas para "fugir" das aulas. Robert cogita levá-lo logo ao pediatra da família, Dr. Weller, todavia, como Danny não demonstra febre, como a própria Susan ressalta, ainda é cedo para tomar a medida. Mesmo que se trate de virose, não há nada a ser feito, pois viroses gozam de um ciclo de vida diante do qual há pouco a fazer, que não tomar muita água e repousar.









Mary arrasta o marido pela sala, todavia através da porta de correr, enxerga Madeleine, a vizinha fofoqueira, louca para amolá-la com alguma tolice. Como o ponto de vista da vizinha não alcança além do sofá, ela não vê o corpo. Cheia de coisas de última hora para realizar, Mary reúne toda a paciência para escutar as banalidades da fútil loira, que basicamente se convida à festa de Lucy. Depois de "escapar" da vizinha, o trabalho de sumiço do cadáver sofre nova interrupção, quando alguém na campainha começa a chamá-la. Ela atende ao chamado, e não encontra ninguém, a não ser um estéreo troando um divertido rap. Subitamente, em uma cena realmente engraçada que destoa da atmosfera de horror do segmento anterior, mas em seu desconserto agrega à bizarrice do conjunto, um homem vestido de panda salta no vão da porta, e começa a performar os passos da música. Ocorre-lhe, então, a brilhante ideia de dispensar o homem e comprar a fantasia, para esconder o falecido marido dentro.














Há muito se discutia a produção de uma antologia de contos de horror comandada por mulheres. A ideia de "XX" teve incipiência em 2013, quando os produtores anunciaram os préstimos de Jennifer Lynch (filha de David Lynch), Mary Harron (mais conhecida por "Psicopata Americana"), Jen & Sylvia Soska (diretoras de curtas na antologia "ABC da Morte 2"), Jovanka Vuckovic e Karyn Kusama para a empreitada. Quando das filmagens, anos mais tarde, do time original, somente restavam Vuckovic e Kusama, tendo Roxanne Benjamin e Annie Clark (nome artístico St. Vincent) se juntado posteriormente à equipe criativa. Produzido por Nate Bolotin & Todd Brown, dois profissionais com um impressionante currículo no gênero, "XX" teve sua première no prestigiado festival de cinema de Tribeca deste ano de 2017, e em fevereiro recebeu um lançamento limitado através do inovador sistema vídeo-on-demand. Novamente, a Magnet Releasing, braço da Magnólia Pictures, prova o tino para a escolha de obras independentes refinadas e elegantes. Se fizermos um apanhado da nata do horror cult independente nos últimos cinco anos, anotaremos que as melhores surpresas foram distribuídas sob o selo da Magnet Releasing, que viabilizou comercialmente as primeiras chances de cineastas predestinados à enormidade, como Gareth Edwards. Antes das superproduções nababescas, o aclamado diretor de "Godzlla" & "Star Wars: Rogue One" ensaiou os primeiros passos atrás das câmeras com o maravilhoso "Monsters", de 2011, resultado da boa fé depositada sobre sua pessoa pelo selo. No caso do filme objeto da resenha, vindas de distintos backgrounds, cada diretora trouxe uma ideia refrescante a sua colaboração, engrandecendo o conjunto. O colorido, frutífero espectro de "XX" captura a retomada da atemporal batalha entre Bem & Mal através do segmento de Karyn Kusama ("Her Only Living Son"), a surpresa do humor negro encontrado nas mais inusitadas situações, nas mãos de Annie Clark ("The Birthday Party"), a reciclagem da clássica fórmula de pessoas comuns sob o assalto de um horripilante mal, longe das benesses da sociedade moderna, através do olhar de Roxanne Benjamin ("Don't Fall"), e a harmonia & solidez da instituição familiar viradas de dentro para fora pela ação de um monstro invisível ("The Box"), pelas lentes operadas com intimidade por Jovanka Vuckovic.
A diretora Vuckovic falou sobre a gênese do projeto, e explicou, com muita desenvoltura, a importância de seu background para a confecção do segmento. Em entrevista a Chris Alexander, do site Coming Soon, ela contou: "Nós criamos XX porque não existia nenhuma antologia de horror realizada por mulheres. Eu andava pensando em produzir o filme através de crowdfunding no Kickstarter quando, do nada, Todd Brown, da XYZ (distribuidora) me ligou e me perguntou se eu gostaria de criar a antologia ao seu lado, o que foi uma maravilhosa coincidência. Ambos notávamos o modo como cineastas mulheres eram preteridas para filmes recentes neste formato, então colocamos nossas cabeças para pensar em algo do tipo. Sem o Todd, esse filme não existiria. Ele foi o herói do projeto. Ele tinha um formato em mente, e trouxe o financiamento a bordo. E até sua sugestão de título, XX, era melhor do que a minha. Então, começamos a elaborar uma lista de cineastas que gostaríamos de trazer a bordo. XX é uma resposta direta à falta de oportunidades para mulheres em filmes, mais especificamente filmes de terror. O gênero não é inerentemente sexista, porém trata-se de uma área onde as mulheres têm sido historicamente mal representadas diante das câmeras e atrás das mesmas. As pessoas pensam que só por torná-las as vilãs, ou objetificar os homens, estão sendo progressivas. Mas estas são tentativas superficiais rumo ao horror feminista. Pessoas me perguntam o tempo inteiro o que torna um filme uma história de terror feminista. A solução, na verdade, é bem simples: para rodar um filme feminista, basta retratá-las como seres humanos. Essa questão é sintomática de uma ainda bem mais ampla questão sistêmica no cinema, mas progresso precisa começar de algum ponto, e horror é o gênero que conheço intimamente".
Jack Ketchum, um autor de dramas perturbadores, chamou minha atenção pela primeira vez há dez anos, por causa de um apavorante filme de terror chamado "The Girl Next Door". O filme transpôs para a tela a obra literária de Ketchum, que, a seu turno reciclava um horripilante e notório caso ocorrido no verão de 1965, em Indianapolis, Indiana. Ketchum parece dotado da mesma habilidade de um outro colega de tintas igualmente talentoso, Richard Matheson, pois extrai de situações hodiernas, do dia a dia no subúrbio, do drama do homem comum, o tecido para costurar tramas habitadas por horrores e fantasmas, seja no sentido literal, seja no figurado, sem jamais nos alienar. Nada surpreenderá mais do que a capacidade do coração humano para a perversidade. De "The Box", chega um atraente charme de familiaridade com as demandas cotidianas, subitamente invadidas por um horror incompreensível e sobrenatural, nos moldes do que o diretor David Koepp fez tão bem ao adaptar o romance de Matheson "Stir of Echoes". Ambas as experiências cinematográficas, "The Box" & "Stir of Echoes", revolvem jornadas ao desconhecido vividas por pessoas ordinárias que subitamente tiveram seus mundos, onde interpretavam tão bem seus predefinidos papéis, virados de cabeça para baixo, ao descobrirem a ação muito real de forças que jamais julgavam existir em meio a banalidades de uma existência sem novidades, quase predeterminada em expectativas muito modestas. "Stir of Echoes" tinha como herói um operário de fios de alta tensão para uma companhia telefônica, casado com a moça que fora sua namorada nos tempos do colégio, e pai de um espevitado menininho. Koepp retratava com muito cuidado a realidade da vida daquele trabalhador "blue collar", e capturava com fidelidade a pulsante energia de uma comunidade de bairro em Chicago. Nesse sentido, depois que esse homem se submete à hipnose durante uma festa na quadra, a título de brincadeira, e acorda com a sensibilidade aguçada, apta a "sintonizar" a presença de uma moça desaparecida meses atrás em circunstâncias misteriosas, Koepp nos apanha pela jugular, pois nos atira dentro da jornada ao lado do cara. Koepp, aliás, se move como absoluto maestro na regência da orquestra ao trabalhar em temas do tipo. Já analisado neste blog, o seu "The Trigger Effect" também guarda similitudes com "Stir of Echoes", uma família suburbana assediada pelo perigo do inesperado, nominalmente o colapso da grid elétrica de Los Angeles que lança cidadãos comuns na luta pela sobrevivência. A trama de "The Box" goza de semelhante febre. Ao longo da história, sentimo-nos investidos no drama da família, e queremos antecipar o próximo terrível desdobramento. Enquanto parece mais dificultoso familiarizar-se a pessoas metidas nas mais estapafúrdias situações criadas em blockbusters, a menor escala de uma trama estilo "The Box", "Stir of Echoes" e "The Trigger Effect" nos convida à intimidade da infância de se sentar sobre o tapete do quarto, à noite, com as amigas, lanternas em mão, para contar e ouvir histórias macabras.
As atuações uniformemente sólidas me deixaram interessado em conhecer os trabalhos anteriores destes atores. Habituada ao horror, Natalie Brown, que aqui interpreta a mãe, parecerá familiar aos fãs do gênero. Ela atua na série de televisão produzida por Guillermo del Toro, "The Strain", sobre o surgimento de um terrível vírus que transforma as pessoas em vampiros, em Nova York. No tipo de personagem que ficaria excepcional nas mãos de Jennifer Connelly, Natalie Brown transcende a ingratidão do brevíssimo tempo do segmento para imbuir seu papel da profundidade cerne do projeto. "XX" não foi dirigido por mulheres acidentalmente. Aqui, buscou-se redescobrir o horror, recriá-lo pela perspectiva feminina, peculiar em todos os seus conflitos e dilemas. Através da performance disciplinada de Brown, é emblemático que Susan saia como a única sobrevivente da tragédia. Aos 30 e tantos, em que pese a aparência atraente, são pelas rugas de preocupação e detalhes como o cigarro consumido ao toque do vento frio no parapeito que compõem uma mulher real, e não uma caricatura da figura feminina. Mãe observadora & esposa devota, transcende papéis definidos pela sociedade e salta das telas como um ser humano de carne e osso, com direito a fraquezas e falhas, rescaldo de uma jornada da qual emerge como mulher falível, mas principalmente porto seguro de seu homem & crianças. Seu senso de responsabilidade pelo bem da família e a dor da culpa encontram representação perfeita na gráfica cena do pesadelo, Susan deitada sobre a mesa, sustentando os corpos da família através do sacrifício da própria carne. Para muitos, a surpresa escatológica parecerá um truque barato por parte de Vuckovic para pincelar seu segmento com o gore, mas quem sopesar o peso da condição feminina da cineasta e o modo como a mesma reverbera na manifestação criativa encontrará um profícuo solo de discussões para arar. Os demais membros do elenco também não deixam a desejar, apenas não têm muito o que desenvolver, visto que se trata de um show de/para mulheres. Jonathan Watton, cuja filmografia inclui um papel no último filme de Cronenberg, "Maps to the Stars", me faz pensar no "Louis Creed" de "Pet Sematary", o apavorante romance de Stephen King que, entre tantas coisas horripilantes, esmiúça com sensibilidade as coisinhas doces e simples do dia a dia de jovens pais, através da jornada de Louis, o médico recém-chegado à cidadezinha para assumir a vaga de coordenador dos serviços médicos da Universidade do Maine, e sua esposa Rachel. Ao lado de Clive Barker, Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft, o assertivo King sempre foi um dos grandes senhores do horror, e prova-se ainda mais grandioso ao escrever sobre personagens "gente como a gente". King descreve com muita paixão os esforços destes jovens pais de criarem bem os filhos pequenos Gage e Elie, e ainda assim encontrarem pequenas maneiras de manter a chama da paixão acesa. Assim como acontece a todos, a chegada de crianças tem seu jeito de empurrar para a sombra o desejo que se mostrava tão palpitante no início da relação. Subitamente, coisas que um dia tinham sido tão importantes... já eram. Tornam-se semi-importantes, quiçá desimportantes. Filhos lembram seus pais da própria mortalidade. De um dia para o outro, você descobre que "não pode ir embora", e portanto não deve mais viver tão perigosamente, porque precisa cuidar dos filhos até que saibam se virar sozinhos, e não quer perder nenhum instante das crianças, desde o momento n° 1. No romance de Stephen King, havia doçura em momentos como quando Louis e Rachel confabulam "tirar as crianças" de casa para passar um fim de semana com os avós, e finalmente encontram a privacidade para "namorar", ou quando Louis a presenteia com um belo pingente, e Rachel, de olhos marejados, comenta que será a única peça que não tirará quando fizerem amor logo mais. Coube aos talentos da diretora Vuckovic e dos atores a árdua missão de nos oferecer um conteúdo igualmente rico, em tão pouco tempo. Dentre os demais, "The Box" me parece o segmento ideal para se destrinchar em uma longa-metragem. E por que não? Já aconteceu anteriormente. Cinéfilos familiarizados com "V/H/S" devem saber que o segmento "Amateur's Night", sobre um demônio sucubus e o azarado trio de rapazes que o acaba levando a um motel na esperança de sexo fácil, apenas para ser triturado, gerou uma longa-metragem chamada "Siren", onde o conceito foi ampliado e enriquecido. Ao mesmo tempo, posso soar contraditório, porém não sei se a engorda de um conceito criado dentro dos parâmetros da curta-metragem beneficiaria o sabor deixado pelo original. Explico: sim, adoraria um filme mais detalhado baseado nos personagens de "The Box", porque novas informações satisfariam meu apetite, todavia, não posso me imiscuir da defesa tão bem feita pelo grande Chaplin ao recusar rodar filmes sonoros & em cores, quando da chegada do technicolor, em 1922. Chaplin dizia que se rodasse um filme onde O Vagabundo falasse, estaria matando a criação. A magia do ícone residia no seu silêncio e no mistério do sorriso triste e resiliente. Uma vez eliminado o mistério, também estaria fulminada a ideia antecedente do mistério. Embora meu apetite reclame por mais de "The Box", os melhores pratos são os menores, justamente porque jamais satisfazem o apetite, e nos deixam querendo mais.
Mas o que habita a caixa? Alguns poderão ficar frustrados ao saber que a pergunta permanecerá na escuridão. A julgar pela forma como Danny transforma as vidas do pai e da irmã ao sussurrar ao pé do ouvido seu testemunho, podemos deduzir que se tratava de alguma coisa horrivelmente ímpar. Na caixa, poderia existir algo do mais surreal, como a visão enlouquecedora de uma fada amordaçada, a outra coisa mais ordinária, mas nem por isso menos repugnante, como fotos nojentas em preto-e-branco de pedofilia. Simultaneamente, já imaginou quão terrível seria... se nada existisse na caixa? Sim, terrível, afinal refletiria a evidência da inconstância da harmonia familiar, em frangalhos diante do vislumbre de um "nada" existencial. Se formos sinceros conosco, enxergaremos que, em nossa estupidez humana, parte das escolhas divisoras de água de nossas vidas foram tomadas pelas razões mais egoístas ou risíveis possíveis. Pelo exercício de imaginação do conteúdo da caixa, nossas mentes evocam as surpresas mais delirantes, mas, sejamos francos, seriam elas mais apavorantes que o fato de que tudo não passou de uma caixa vazia, e o menino simplesmente foi dormir para despertar sem vontade de comer, engatilhando a tragédia familiar culminante em três mortes? Eu entenderia o impacto do trauma de se abrir uma caixa e se deparar com uma fada minúscula enclausurada, tornozelos e pulsos presos por acessórios de couro sadomasoquista, uma visão digna de mandar a sanidade às favas, mas a aleatoriedade de se resolver autodestruir-se de uma hora para a outra soa mais tétrica e aterrorizante. Imagino que em nossas vidas jamais veremos "Sininhos", mas talvez o que exista dentro de nossas mentes torne o impossível & surreal um mero passeio no parque, em comparação. A maldade do coração humano não precisa de embalagens para presente, é real e íntima. Pouco importa quão rico em amigos ou bens você se julgue, uma noite dessas haverá um monstro esperando para pular em cima de ti assim que você dobrar na esquina.
Talvez o "Patinho Feio" da antologia tenha sido o segmento dirigido por Annie Clark (foto), "The Birthday Party". Em seu primeiro trabalho como diretora, Clark consegue filmar uma trama exasperante, colocando-nos no desesperador encalço da protagonista, vivida por Melanie Lynskey. Intriga-me como uma aventura passada exclusivamente dentro de uma casa emula parte da energia de um "Shallow Grave", por exemplo, o filme de horror britânico de Danny Boyle, também ambientado dentro de uma casa, desesperador e sufocante nas reviravoltas envolvidas em se ocultar o corpo de um viciado em heroína que morreu ao lado de uma mala abarrotada de dinheiro sem procedência conhecida. Clark reveste seu segmento com o manto da clássica comédia de humor negro, um bem-vindo contraponto ao quase generalizado horror das outras tragédias. Ela afirma: "Eu não gosto de filmes de horror. Pode soar óbvio, mas eles são tão assustadores para mim. Então eu pensei, se horror é sobre as coisas que mais nos apavoram, como eu poderia reproduzir isso, com minha própria voz? E a voz acabou sendo a comédia de humor negro. Eu penso que a estranheza do mundo ao redor da protagonista e a maneira como o segmento foi estilizado ajudaram-me enormemente a desenvolver o absurdo de toda a premissa. Porque, na superfície, se você lê-la – uma mãe acordando, encontrando o marido morto, e tentando blindar a filha da verdade por apenas algumas horas a mais até a festa – eis uma premissa muito, muito negra". A diretora nomina a principal influência por trás das escolhas de "The Birthday Party". O nonsense nos faz pensar no Cronenberg da década de 70 ("Shivers" & "Rabid"), porém principalmente em Lynch. Clark conta: "O que acontece com David Lynch... é que me parece que ele costuma apanhar dois polos distintos, para trabalhar a partir daí. Como em Twin Peaks, os dois polos são os anos 80 & 50, e por causa de tanto anacronismo vindo de todos os lados, concebe uma timeline que passa a impressão de se dar em um mundo inteiramente distinto, paralelo. Temos um timeframe indefinido. Assim, nesse sentido, eu escolhi as décadas de 60 & 90 como referências visuais e tentei mesclá-las".
Apesar de raso, "The Birthday Party" vale como exercício de estilo, e por mais que Clark cite como inspiração as obras de Lynch, por uma razão qualquer, o segmento me fez pensar nas comédias românticas estreladas por Tom Selleck na segunda metade da década de 80/primeira metade dos anos 90, tipo "Adorável Sedutora" & "3 Solteirões & uma Pequena Dama". Se Clark desejou criar um "universo paralelo", definitivamente resgatou um ingênuo frescor oitentista, há muito perdido, o último ingrediente que você esperaria em um filme de terror, uma salada de gêneros semelhante a "Rec 3", o thriller espanhol que deu vida nova à franquia, cortesia da capacidade de ousar ao realocar a proposta do incontrolável vírus da Raiva para dentro de uma festa de casamento! No final, o segmento cumpre a função de adicionar tempero ao prato principal, mas nos deixa com a impressão de experimento. Não fosse o exercício da mistura e o desfile de estilos, a trama não teria nem mesmo justificado a duração de uma curta-metragem, pois simplesmente não há material para fermentar. Outrossim, como nos mostrou o brilhante De Palma em seus momentos menos consagrados, como "Síndrome de Caim" ou "Femme Fatale", o romantismo do olhar proporciona visuais que, se não substituem, ao menos compensam qualquer carência narrativa. A desenvoltura de Clark atrás das câmeras sublima o escasso set-up, e nos brinda com um energizado, estilístico jogo de cena. "The Birthday Party" seria, portanto, um saboroso "fast food", um tira-gosto. O prato principal, nós o encontramos nos segmentos entre os quais o de Clark se insere.
Quem assistiu ao impressionante "Almas Gêmeas", de 1994, se surpreenderá ao reencontrar Melanie Lynskey no papel de mamãe estressada. O filme pelo qual Peter Jackson iniciou a longa caminhada até o comando de "O Senhor dos Anéis", "Almas Gêmeas" também catapultou as carreiras dos membros do elenco, e deu à atriz Kate Winslet seu primeiro papel de relevância, apenas três anos antes do estrelato. Baseado no chocante caso Parker-Hulme, ocorrido em 1954, em Christchurch, Nova Zelândia, "Almas Gêmeas" reconstituía a amizade de duas meninas vindas de diferentes realidades sociais, que desenvolviam uma paixão platônica uma pela outra, e criavam um mundo imaginário por meio do qual sobreviviam às agruras da adolescência. Quando mundo imaginário & real passam a se misturar sem clara distinção, os resultados são horrendos. Ainda uma menina no filme de Jackson, aqui, Lynskey, já mulher, se assemelha à Winona Ryder, e interpreta com muito gosto o papel da mamãe determinada a criar o mundo perfeito para a filha, apenas para tragicamente lhe causar um trauma maior. Para quem a reconhece do filme de 1994, "XX" lhe proporcionou o encontro com a justiça poética, ou melhor, cinematográfica: em "Almas Gêmeas", matava - figurativa & literalmente (à base de tijolos estocados dentro da meia de nylon) - a mãe, e em "XX", finalmente como adulta, sofre pelo bem-estar da filha, que aqui não deve ser muito mais nova do que a atriz, quando trabalhou com Jackson, em 1994.
No apanhado geral, essa comédia de humor negro não quebra o ritmo, e se presta a ilustrar o conjunto com novidades na paleta de cores, um "happy hour" antes "do bicho voltar a pegar" com "Don't Fall", esta sim uma clássica história de horror digna de discussões ao redor da fogueira. Roxanne Benjamin (foto) dirigiu com muita segurança o segmento que nos remete ao clássico gênero "survival", cujo cardápio inclui desde ameaças extraterrestres, como em "Alien O Oitavo Passageiro", a canibais, como em "Viagem Maldita", de Alexandre Aja, rodado em 2006, refilmagem do original de Wes Craven, "The Hills Have Eyes", de 1977. A trama se assemelha à introdução de um excelente suspense do ano passado, "The Darkness", dirigido por Greg McLean, sobre uma família egressa de uma excursão a um sítio arqueológico, que acaba levando consigo uma espécie de demônio ao regressar para a cidade. O filme, estrelado por Kevin Bacon, encadeava uma série de intrigantes desdobramentos, dando-nos um espetáculo à velha moda, digno de prender a atenção, estilo "A Árvore da Maldição", o subestimado, desconhecido e maravilhoso thriller do grande William Friedkin. No caso de "Don't Fall", a diretora se focou no conceito de um demônio à solta na natureza selvagem, algo nos moldes do "Wendigo" sobre o qual Stephen King tanto escreveu em "Pet Sematary", e fez bom uso do choque do primeiro contato. Como não precisou se preocupar com um desenvolvimento à altura da duração de longa-metragem, Benjamin usou a criatividade para engordar o que para grandes produções não passaria de prólogo, e se divertir com os poucos minutos, rodando um filme tenso e cheio de mistérios fadados à incógnita.
O segmento é elevado a um competitivo patamar graças à magistral fotografia de Tarin Anderson, cujos créditos incluem a curta "Tape 49", espinha dorsal de "V/H/S 2". Ela exibe, com lentes muito amplas, tomadas da imensidão capazes de tirar o fôlego. Sua elegância o enriquece com uma atmosfera quase épica, e uma visão da abóbada celeste riscada por estrelas cadentes traçadoras de arcos dourados de nos deixar embasbacados. Se levarmos em conta que o elenco não teve como trabalhar motivações, a forma como rascunham personalidades bem delineadas àquelas pessoas tão transitórias reforça o talento envolvido no processo criativo. Breeda Wool se destaca como a assustada Gretchen, peixe fora d'água cujo corpo se torna objeto da possessão do demônio indígena. A cena em que desperta no meio das rochas, à noite, e testemunha a aproximação da entidade que lhe tomará o corpo salta aos olhos, especificamente pela reação genuína e apavorada da atriz. Angela Trimbur tem causado uma forte impressão no circuito cult e lhe sobra talento para virar a nova rainha dos filmes "indie", à la Kate Lyn Sheil. Ela será brevemente vista no aguardado "Psychopaths", de Mickey Keating, diretor do ótimo "Ritual", onde interpretará o papel de uma serial killer misândrica. O filme "Psychopaths", inclusive, tem causado celeuma por onde passa; no festival de cinema de Tribeca deste ano, deixou as pessoas falando a respeito. Tecerei considerações sobre o ambicioso projeto ao final da resenha. Aqui em "Don't Fall", Trimbur dá vida a uma das amigas, e tem uma morte terrível. Seu rosto, bastante expressivo, vira uma máscara de pavor quando o horror os assalta, principalmente na cena em que ela e um amigo tentam fazer sentido dos estranhos fatos através da janela embaçada do trailer, por onde não se vê muita coisa.
Sobre sua narrativa mais straight forward, a diretora Benjamin explica o intento: "Para esse trabalho, eu quis fazer algo que as pessoas dissessem 'Estamos mesmo diante de um filme de terror!' desde o primeiro segundo. Por isso eu o abri com as title cards que entram de maneira extravagante. Todos os elementos conformam-se com a fórmula clássica do horror. Eu apenas queria brincar com a fórmula, e me deixar levar por um passeio na montanha russa. Esse é o grande barato de se rodar uma curta-metragem, você não precisa se preocupar com um grande volume de desenvolvimento de personagens ou reviravoltas, então tudo o que tem a fazer é se divertir com a experiência!". Ela ainda fala sobre os efeitos especiais utilizados para retratar a criatura: "Eu trabalhei com Russell FX, que é ótimo. Eles haviam trabalhado comigo em 'Southbound' (outro filme de horror, também dirigido por Benjamin). Eles são maravilhosos. Eu lhes dei uma ideia do que eu gostaria de ver, tipo essa criatura surgindo da terra seca desse lugar deserto, e iniciamos a criação a partir daí. Deveria saltar aos olhos como uma coisa seca, e todos seus movimentos deveriam parecer desajeitados, desconectados, como um louva-a-deus. É por isso que previamente eu havia mostrado um louva-a-deus, no começo, porque era parte importante do conceito gráfico. Eu acho que ele botou pra quebrar! As pessoas devem achar a criatura esquelética e seca, quase como uma múmia ao voltar à vida". O demônio, memorável detalhe do segmento, habitará seus pesadelos por algum tempo. Quem assistiu ao brutal "Martyrs", filme francês de Pascal Laugier, se recordará que um dos elementos da trama consistia na aparição de uma coisa magérrima e horrenda, na verdade uma mulher, algoz de uma menina esquizofrênica assombrada pelo remorso. Claro, a criatura não existia, emblematizava a consciência atormentada da moça, e somente ela a enxergava. Quando a criatura lançava seu implacável assalto sobre a menina, na verdade era a própria quem estava se machucando, batendo-se contra móveis e cortando-se com lâminas. O monstro de "Martyrs", uma visão animalesca e impossivelmente magra, causou grande impacto à época do lançamento, e a escolha de Benjamin ao criar seu monstro parece render homenagem à assombração de Laugier.
Karyn Kusama (foto), diretora do último segmento, não é tímida ao gênero. Ela dirigiu um dos melhores filmes de terror do ano passado, "O Convite", e para bolar uma aventura para "XX", escolheu rascunhar um argumento partindo do desfecho de um clássico do passado, o aterrorizante "O Bebê de Rosemary", de Roman Polanski, sobre uma ingênua jovem cujo marido, um ambicioso ator da Broadway, "cede" o ventre da esposa para os vizinhos, uma influente família de satanistas novaiorquinos, de modo que ela possa gerar, totalmente alheia à ardilosidade, o filho do Diabo. Rodado em 1968 e indicado a dois Oscar (vencedor de Melhor Atriz Coadjuvante para Ruth Gordon, pelo papel da tétrica vizinha), "O Bebê de Rosemary" consta de toda lista dos melhores filmes de terror do século XX. Curiosamente, "O Bebê de Rosemary" foi uma das grandes oportunidades perdidas por Burt Reynolds na juventude: em 1968, aos 32 anos, ele fez testes para ficar com o papel do marido de Rosemary, mas Polanski acabou optando pelo excelente John Cassavetes. Kusama explica o impacto de "O Bebê de Rosemary" sobre seu imaginário: "E se uma personagem como a Rosemary tivesse sido capaz de escapar inicialmente das circunstâncias, o que teria sido atirado no seu caminho, ao longo dos anos? Porque o que acho interessante é que as ramificações de sua vida ainda continuariam bem apavorantes, sabe? A ideia de você ter um filho fora de controle, e à medida que ele cresce, possa se tornar perigoso, de um jeito que você não consiga mais fazer frente a sua força, porque ele não é mais criança. Isso me tocou como uma história muito humana, e me deixou intrigada o impasse de que mesmo se Rosemary tivesse conseguido se evadir daquele meio, com o filhinho, a vida ainda lhe teria sido muito ingrata".
"Her Only Living Son" imagina os desdobramentos para aquele terrível evento do filme de 1968, e reencontra a personagem dezoito anos depois, mais cansada pelo peso da fuga sobre os ombros, tentando juntar os cacos da vida após a horrenda traição do ex-marido, fazendo o melhor para proteger o filho das garras de um mal invisível que jamais os perdeu de vista. Uma história sobre o amor de mãe por filho, o anticristo, nos levaria a crer que seria Andy o personagem a se temer, porém Kusama, astuta demais para cair no clichê, prefere se concentrar nas implicações da escolha de Cora, e no assédio moral de inimigos cujos rostos se adaptam e camuflam muito bem entre outros de gente do dia a dia. Christina Kirk desempenha seu papel com maravilhosa vulnerabilidade, e retrata muito bem as consequências psicológicas de uma perseguição a longo prazo. Todos nós temos família, e concordaremos que seria preferível o cometimento de uma injustiça sobre nossas cabeças a algum mal a um ente querido. Kusama explicou que as implicações da decisão de Cora ao fugir a intrigavam, e a cineasta agiu corretamente ao sugerir apenas sutilmente a transformação a ocorrer na puberdade de Andy, preterindo-a em nome do genuíno horror advindo de pessoas com notórios traços de psicopatia, rondando seu lar, mesmo que por algum tempo "invisíveis", desde o momento do rompimento com o ex-marido, quase vinte anos antes.
Ela alcançou o objetivo graças à afinidade com o gênero e, em parte, às performances sólidas do elenco secundário, com especial menção ao talentosíssimo Mike Doyle, um ator já utilizado por Kusama no excepcional "O Convite". Como todo character actor com desenvoltura no ofício, Doyle transita muito facilmente pelo caminho entre duas vias. Inicialmente, surge como o quintessencial, simpático e solícito homem comum, o carteiro boa praça e empático aos dramas da vida daquela mãe solteira, o tipo de personagem que fez de Jimmy Stewart uma estrela de cinema em filmes de Frank Capra; posteriormente, em um instante verdadeiramente inquietante, vagarosamente, Doyle vai deixando a máscara cair, revelando que sabe mais sobre Cora do que ela imaginava. O rosto de Christina Kirk vai desmoronando, à medida que se toca que aquele homem tão solícito, que ao longo dos últimos anos sempre interpretara muito bem o papel de simpático carteiro, está metido até o pescoço no esquema dos satanistas, uma parte da agenda imunda. Sobre a sensação de impotência enfrentada por Cora, ao se descobrir cercada por satanistas, Kusama discorre, mais especificamente acerca da reunião na sala da coordenadora: "Há algo errado com esse menino, mas então ela se depara com a resposta mais arrepiante da confusão, 'não vamos fazer nada a respeito'. Na verdade, os professores puxam para si a responsabilidade de protegê-lo, mais do que a menina atacada. É uma discreta cena, neste modesto, minúsculo segmento, mas eu definitivamente me diverti ao escrevê-la, porque me fez pensar no tipo de perversidade a permear a realidade diária vivida hoje". Surpreendentemente, Kusama acha espaço no exíguo tempo para temperar a trama com uma linda mensagem sobre amor materno, e o modo como o comprometimento de uma mãe transcende as mais terríveis ameaças, os mais malévolos antagonistas. Diante da tão sombria perspectiva de reinado satânico, mãe e filho se redimem ao escolher a morte, e o segmento, embora pesado e claustrofóbico, termina em uma nota positiva, a maneira perfeita para "embalar" o filme como um conjunto, dentro de um lindo e sentimental pacote de presente, tal qual aquele objeto da curiosidade do menino Danny em "The Box".
Talvez "XX" prove-se intrínseco a mulheres, afinal de contas, vez que dirigido pelas mesmas, somente o coração feminino será capaz de capturar a gama de temas explorados. Eu enxerguei o heroico voluntarismo da mulher enquanto esposa/mãe do lar em "The Box", o forte remorso a atormentá-las na difícil missão de criar filhos em "The Birthday Party", e o amor abnegado de mãe em "Her Only Living Son". Os criadores conseguiram experimentar com um maravilhoso formato, já tão bem explorado na franquia "V/H/S", para nos brindar com algo refrescante, palatável e assertivo. Acima da questão do sexo dos criadores, o filme se sustenta com as próprias pernas pelo talento criativo envolvido na concepção, e esbanja uma elegante fotografia como abre-alas para uma antologia digna das fantasias mais delirantes de Poe, Lovecraft ou Barker, homens do horror que, surpreendentemente, compreenderam as mulheres com incomum sensibilidade, e as desenharam, pela pena ou pela câmera, com belíssimos contornos, com o perfeccionismo à altura destas maravilhosas, complicadas criaturas. A visão de Natalie Brown, como Susan Jacobs, anestesiando as preocupações com um cigarro, na varanda frienta, enquanto abraça o próprio peito, com frio, e sustenta uma expressão angustiada, me lembra Clare Higgins contemplando o próprio reflexo no espelho, com o rosto salpicado de sangue, após o primeiro homicídio no sótão, em "Hellraiser", de Clive Barker. Nos dois instantes cinematográficos, as duas personagens parecem lutar inutilmente contra a consciência, afoitas por um senso de lógica, da racionalidade dentro do caos do mais trevoso horror. Eu não teria sabido como pontuar a semelhança entre dois momentos aparentemente tão díspares, até me lembrar que há coisas sobre as quais a lógica deita, sim, sua luz, e há outras tantas somente acessíveis a corações devassos.
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Concluo a resenha tecendo alguns comentários sobre o suspense "Psychopaths", o novo filme do diretor Mickey Keating, um talentoso cineasta especializado no gênero que vem criando uma belíssima filmografia para si, com títulos muito interessantes e elogiados. Desde "Ritual", de 2013, já analisado neste blog, até o recente "Carnage Park", a evolução como cineasta de primeira grandeza de Keating tem acontecido a olhos vistos. Seu último filme, "Psychopaths", foi exibido no festival de Tribeca, neste ano de 2017. Considerado seu mais ambicioso trabalho, com "Psychopaths", ele presta reverência a mestres do passado, nesta trama que, em linhas amplas, revolve uma surreal noite onde serial killers e almas perdidas - uma ex-paciente de hospital psiquiátrico que se imagina viver em um mundo glamouroso nos anos 50, uma serial killer fetichista (Angela Trimbur, de "Don't Fall", vocês a verão no clip abaixo) que odeia homens e os atrai para o porão de casa para torturá-los e matá-los, um estrangulador que vitimiza mulheres ingênuas, e um hitman mascarado cujo último trabalho o levará a um nightclub do submundo - colidirão, gerando trágicas consequências. Abaixo, colacionei um clip do filme, que nos mostra as prováveis influências por trás deste grande diretor. A técnica de split screen e o mise-en-scène nos remetem ao Brian De Palma dos tempos de "Vestida para Matar", "Um Tiro na Noite" e "Dublê de Corpo", a fantasia de couro sadomasoquista escapuliu de algum pesadelo de Clive Barker, e, finalmente, o esplendoroso trabalho da fotografia reitera a tese de que assim como ocorre a trilhas sonoras, a atmosfera também representa uma importantíssima parte do percurso. Reparem no excelente uso de luzes para criar o noir, em como o noir principia a imersão nos sonhos, nos mistérios da calada da noite. Tudo fruto do noir. Um de meus filmes de horror preferidos, "w Delta z", contava com uma fotografia que contava a história daquelas tristes pessoas antes mesmo que os atores proferissem as primeiras linhas. Pela palpitante paixão sentida no curto trecho, por "Psychopaths" sinto a mesma empolgação de 2014, às vésperas do lançamento de "Under the Skin", de Jonathan Glazer. E não importa se o resultado ficar aquém do esperado: um artista pode cometer quase todos os pecados, menos o da chatice. E mesmo que diretores estilísticos como Brian De Palma, Clive Barker, Cronenberg e agora Mickey Keating se compliquem ao darem passos maiores do que as pernas, jamais deixam de empolgar.
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