

Para a má sorte dos dois, chegam informes durante a noite que os Monstros danificaram os trilhos mais à frente, obrigando-os a desembarcar e encontrar uma nova saída. Eles saltam do vagão em plena noite fechada, e encontram guarida na casinha de uma humilde família de um vilarejo. Para agravar a situação, a solícita e gentil senhora lhes revela que dentro de 48 horas qualquer travessia, por água, terra ou ar, será bloqueada por um período não inferior a 6 meses. O jeito fácil de Sam & Kaulder para com as crianças fazem a senhora perguntar se os dois são casados. Kaulder explica que ele e Samantha são apenas amigos, mas sentimos um doce flerte entre os dois. Na manhã seguinte, Andrew & Samantha se põem a caminho. Eles precisam alcançar o entreposto a pé. Na viagem, contam com a solidariedade de cidadãos locais, acostumados com as adversidades da vida naquela perigosa região. Os colonos lhes dão carona até a rodoviária, de onde apanham um ônibus. Gareth Edwards dirige essas miscelâneas da travessia com impressionante segurança, e em instante algum parece que estamos assistindo a uma obra de ficção. A interação entre os personagens e situações parecem muito autênticas e reais, a miséria, a simplicidade daquela gente… Quase como um documentário. Em meio ao rio, testemunham sinais da guerra entre humanos e vida extraterrestre nas ferragens de um tanque destruído e abandonado, ao alcance de uma população ribeirinha.
Ao chegar `a cidade portuária, Andrew & Samantha procuram o encarregado da administração de passagens por terra & água. Fortificada por cercas elétricas que mantêm as criaturas distante, mais lembra um complexo de casinhas e serviços de condições muito primitivas, uma espécie de grande favela. Há um vai-e-vem constante de helicópteros e ônibus. Aproveitando-se do fato de estar tratando com dois norte-americanos, o encarregado dá um preço super inflacionado, 5 mil dólares. Viajar pelo rio é luxo para poucos, a maioria dos cidadãos mais pobres precisa tentar a sorte na zona infectada. O casal usa o dinheiro do pai rico de Samantha para comprar bilhetes para a balsa que partirá muito cedo na manhã seguinte. Andrew e Samantha se hospedam em quartos separados de um pequeno hotel. Pela televisão, as últimas notícias do bombardeio local não param de chegar. Enquanto Samantha toma banho, vemos o fotógrafo fazendo um telefonema para o filho. Resultado de um breve namoro, o filho cresceu longe do pai, e Kaulder se sente culpado. Samantha também guarda seus dramas, sobre os quais aprenderemos mais tarde.
A vida noturna na fronteira é muito agitada. Transitória por natureza, frequentada por pessoas de passagem, não faltam alternativas para quem busca sexo sem compromisso ou um pouco do esquecimento que o conhaque e o uísque têm a oferecer. De clubes noturnos de quinta categoria a biroscas, as portas nunca se fecham. Samantha & Andrew se divertem, experimentando as comidas locais e circulando em meio `a animada feirinha de pratos típicos. Mais tarde, assistem a uma procissão com velas, em homenagem `as mais de 5 mil pessoas mortas no conflito. Detalhe: não foram os Monstros os causadores do Horror, mas os bombardeios dos caças americanos. Depois de um desentendimento bobo, Andrew e Samantha se despedem pelo resto da noite, e o fotógrafo resolve se divertir com uma garota de programa, apenas para descobrir, na manhã seguinte, que a mulher esperou que caísse no sono para furtar os bilhetes. Samantha vai acordá-lo, apologética. Pela linguagem corporal parece arrependida pela discussão da noite anterior. Ela o convida para tomar café da manhã, antes de subir na balsa, no entanto ao vê-lo com outra mulher dentro do quarto, fica chateada. O clima de aproximação entre os dois azeda, e Samantha sai andando, entristecida. Kaulder parte em seu encalço e consegue detê-la, mas nisso a prostituta já "embolsou" o bilhete e caiu fora. Kaulder dá pela falta do bilhete tarde demais.
Samantha perde a chance de voltar aos Estados Unidos pela balsa, e agora precisa empenhar o anel de noivado para duas passagens por uma travessia mais em conta, a se dar por terra e por dentro da zona de quarentena. Há todo um esquema necessário para se cruzar a zona infectada, desde dinheiro para subornar oficiais ao pagamento dos guias por terra, que os levarão até o "paredão", a muralha que separa o México do sul do Texas. Quando Samantha troca o anel pelos bilhetes, fica claro que seu drama pessoal gira em torno do noivado, em crise. O relacionamento não anda bem das pernas. Valiosíssimo e incrustado de diamantes, o anel lhes custeia a jornada ao longo da faixa sob quarentena. Oficiais corruptos do Ministério da Saúde permitem sua passagem, e o casal é levado de camioneta `a beira de um riacho, onde sobe em um precário barquinho para cumprir parte da jornada por água.
O percurso pelo rio é tedioso e demorado. No caminho, o casal assiste aos reflexos da guerra, bem retratados por construções abandonadas e destruídas, por vilas de pessoas muito humildes, pelos restos de aviões e maquinário de guerra. O barquinho volta `a margem para abastecimento, e Samantha aproveita para se aliviar, urinando no mato. Eles escutam, mesmo muito distante, ao primeiro sinal da presença de Monstros na localidade. As criaturas emanam um choro gutural e entristecido. Embora distantes, os choros incutem nos homens a necessidade de terminarem de abastecer para voltarem ao rio o quanto antes.
Ao longo da travessia pelo rio, Samantha & Andrew têm a chance de se conhecerem melhor. Ele fala sobre o filho de 6 anos. A mãe era uma moça que Kaulder conheceu. Os dois se relacionaram por pouco tempo, 2 meses, até que alguns anos mais tarde ela ligou do nada lhe contando sobre a existência do filho. Andrew pediu para vê-lo, mas a ex-namorada fez a ressalva de que embora aceitasse a reaproximação, Andrew jamais seria "o pai", para todos os efeitos seu atual companheiro. Samantha parece tocada com a história.
Em determinado momento daquela tarde, o motor do barco quebra, e eles se veem forçados a unir forças para consertá-lo. Eles passam uma noite muito tensa, e de madrugada, bem a tempo de o motor volta a funcionar, enxergam um fulgor vindo das profundezas d'água. Testemunham tentáculos subindo para apanhar os destroços de um jato e carregá-los ao fundo. Os viajantes se põem em movimento, e se afastam daquele ponto do rio, que acaba de se tornar extremamente perigoso. O dia começa a amanhecer, e `as margens Andrew & Samantha são apresentados ao grupo de guerrilheiros que os levará pelo último segmento da jornada `a muralha. Por um instante, congelam de Horror ao escutar um rumor muito próximo, mas respiram aliviados ao reconhecer que foi apenas uma vaca.
`A noite, acendem uma fogueira e trocam histórias sobre os Monstros. Um dos guerrilheiros conta sobre uma ocasião em que enxergou um OVNI enorme, cerca de 150 metros de diâmetro. Os mercenários dizem que se encontram em um ponto da floresta particularmente infestado. Vez ou outra, caças dão rasante para despejar arma química. Até mesmo as árvores estão infectadas, os guerrilheiros dizem, e então mostram a Kaulder & Samantha que os troncos parecem cobertos por um fungo sensitivo, na verdade a etapa que antecede a reprodução dos Monstros. Cansados, parte dos homens dorme ao redor da fogueira, enquanto a outra fica de vigília. Kaulder & Samantha têm um momento a dois, e ele se desculpa pela garota de programa da outra noite, pedindo para que não pense nele como um sujeito devasso e canalha.
Durante a madrugada, acordam assustados. Eles precisam continuar a jornada, e rápido. Por rádio, companheiros de guerrilha alertam o grupo para a presença de um Monstro enorme nas redondezas. Já se escuta o ronco dos motores de jatos executando voos sobre aquela parte da mata. Andrew & Samantha sobem na camioneta, e o comboio parte `a toda velocidade para tentar vencer o trecho até a fronteira. Para azar, um dos carros da frente morre. Andrew & Samantha recebem máscaras de proteção contra agente biológico. Repentinamente, a criatura gigantesca surge do nada, apanhando com os tentáculos a camioneta `a frente e a levantando como pluma ao ar. Os guerrilheiros do outro carro descem com as metralhadoras para enfrentar a "lula gigante", e também são mortos. Andrew & Samantha assistem a tudo do carro. O Monstro não lhes dispensa atenção, e parte, sumindo entre a névoa e as árvores mais altas.
A manhã chega, não há sinal de Monstro. Kaulder & Samantha descem e se deparam com o estrago deixado pela passagem do alienígena. Há corpos e pedaços de veículos por todas as partes. Kaulder fica surpreso ao reconhecer um dos corpos, a garota de programa com quem dormira dias antes. Ele deduz que a garota roubara a passagem não para si, mas para que algum filho ou ente querido tivesse a oportunidade de partir pelo meio seguro, a balsa, enquanto preferira tentar as chances na travessia mais arriscada. Kaulder se sente mal pelo ocorrido, colhe um par de flores e as deixa ao lado do corpo. O percurso final é vencido `a pé, o casal enfrentando a trilha ao longo de uma exaustiva tarde.
Andrew & Samantha avistam uma ruína maia, e ao escalá-la, surpreendem-se ao finalmente enxergar, logo do outro lado do rio raso, a enorme muralha que separa México dos Estados Unidos. Sentados no topo para observar aquela maravilha arquitetônica, eles parecem contemplativos, transformados pelas experiências que passaram. Kaulder pondera "É diferente olhar para a América do lado de fora, sentarmos aqui fora e olhar para dentro. Chegaremos em casa e será tão fácil esquecer tudo o que se passou. Amanhã retomaremos nossas vidas separadas, em nossas casas separadas, tudo pelo que passamos não importará mais". Kaulder se pergunta quantos anos teria uma das meninas mortas que vira na floresta. Samantha também parece emocionada.
Eles passam a noite nas ruínas, e no dia seguinte realizam a travessia, chegando ao outro lado e efetivamente pisando em solo norte-americano. O Texas virou uma terra de ninguém, uma cidade fantasma, deserdada por pessoas e fora da ingerência do governo. `A vista, apenas a ampla rodovia de acesso, e um silencioso vazio. Algumas casas estão destruídas, provavelmente resultado dos bombardeios. Uma senhora empurrando um carrinho subitamente surge, e quando Samantha lhe dirige a palavra, a mulher responde gritando, tendo obviamente perdido a cabeça. Samantha a observa se afastando com um olhar triste.

O grande blockbuster de 2014 "Godzilla" lançou os filmes-catástrofes de monstros `a estratosfera, e seu retumbante sucesso de público & crítica valeu ao diretor, Gareth Edwards, o convite para rodar uma continuação ainda mais grandiosa, a lançar seu monstro principal, Godzilla, num confronto contra a Mothra & King Ghidorah. 2018 ainda parece distante, mas há muita gente salivando pela oportunidade de ver o que Edwards fará com o suporte de um grande estúdio, disposto a apoiar a sua visão, seja lá qual for. Antes de 2014, todavia, quando Gareth Edwards ainda se aperfeiçoava como especialista de efeitos visuais em documentários como "Na Sombra da Lua", foi o seu primeiro relevante trabalho como diretor, um pequeno filme independente produzido pela Vertigo a um custo de oitocentos mil dólares, que despertou fãs de ficção científica e grandes estúdios à sensibilidade & talento do cineasta. Edwards foi indicado a muitos prêmios importantes, o mais valioso deles o BAFTA, uma espécie de Oscar britânico, como Melhor Cineasta Estreante. "Monstros" não foi um sucesso estrondoso, mas assim como outras maravilhosas produções da Vertigo, como "w Delta z", mereceu uma espetacular carreira no circuito cult, e abriu as portas dos grandes estúdios para Edwards, que seria o homem responsável pelo renascimento de Godzilla.
4 anos após o lançamento de "Monsters", o filme ganhou uma continuação. Aqueles que realmente haviam amado o primeiro não esperavam muito de uma sequência filmada nas mais adversas circunstâncias. Seria difícil reproduzir os pontos fortes que tinham tornado o primeiro tão especial, e sua história de amor, espinha dorsal e parte do motivo pelo qual o original soava tão pessoal, não teria como ser revisitada, vez que o destino de seus protagonistas terminara bem resolvido. Eis que o praticamente estreante Tom Green conseguiu realizar uma obra que embora prestigiasse o original, agregava novos, próprios valores ao amplo imaginário do anterior. Embora distinto, a mesma brisa de frescor do original agracia a continuação, mais especificamente o ar elegante e artístico que o torna revestido de um estilo que o aproxima do cinema de arte europeu. Os filmes não dividem a mesma história, mas não há dúvida que pertencem ao mesmo pacote.

Eles jogam basquete na quadra do quarteirão, e Michael e Frankie trocam impressões sobre a jornada por vir. Ambos falam sobre os tempos em que apoiavam um ao outro, e se comprometem a se ajudar mutuamente no Oriente Médio. Aprontando e tirando sarro uns com os outros, os quatro mostram o quanto são unidos, e que ali entre os membros do grupo não há nenhuma espécie de reserva. Eles comparecem a uma "rinha", onde a galera barra pesada do bairro põe cachorros para brigar com Monstros menores e faz apostas, e depois "tomam todas" em um bar local onde arrumam prostitutas. Em um quarto de motel barato, os rapazes se divertem com as meninas e consomem toda sorte de drogas para relaxar e tirar a cabeça da aventura por vir.




A unidade chega a um sítio afastado, supostamente utilizado como ponto estratégico para atividades terroristas. Frater e os garotos esperam a noite chegar, e quando tudo parece quieto, invadem com visores noturnos. Não há mais jihadista algum na propriedade, apenas um senhor idoso que parece revoltado. Ele se queixa da morte do filho, cuja vida fora perdida após um dos bombardeios. Explica que não é terrorista, apenas um homem comum que vive da terra. Naquele momento, à frente das colinas, Frater e os demais avistam um Monstro enorme se aproximando muito vagarosamente. Agitado, o velho causa toda sorte de problemas, até levar uma coronhada que o silencia. Frater e os rapazes apanham as armas mais pesadas e derrubam o Monstro a tiros. Ao retornarem para a Base, levam uma dura do Sargento. Ele os acusa de não terem agido mais rapidamente com o velho, e que tiveram sorte de que não se tratava de um homem-bomba. Da próxima vez, poderão lidar com um suicida com bombas atadas ao corpo. Frater tem uma filha em casa, e quer voltar vivo para os Estados Unidos. Os soldados jamais o viram tão exaltado. "Essa guerra é real, metam isso nas suas cabeças de uma vez por toda!", ele grita. Mais tarde, Forrest presta uma visita a Frater, e até consegue fazê-lo sorrir ao contar de maneira brincalhona sobre a noite de amor com a esposa na última vez que esteve em casa. Vemos o Sargento no corredor, realizando uma ligação para os Estados Unidos. A mulher soa fria e distante, o casamento não vai bem, porém tudo o que Frater deseja é escutar a voz da filhinha, o que acontece e o deixa com os olhos cheios de lágrimas.


Os homens cometem o grave erro de relaxar do lado de fora. Uma bala vara a cabeça de Inkelaar, matando-o instantaneamente. Frankie também é atingido. Subitamente, muitos jihadistas surgem e assaltam a construção, tomando-os como reféns. Frater sussurra a Michael que não perca a cabeça e tenha paciência. Os 3 sobreviventes são levados à central de operações dos jihadistas. Amarrados nas cadeiras e submetidos a interrogatórios, só lhes resta esperar. Lamentavelmente, Frankie sangra até a morte, para a desolação dos companheiros. A noite chega, e tremores de terra sinalizam que os Monstros estão se aproximando. A maioria dos jihadistas sobe nas camionetas, e os veículos arrancam. Sobram apenas alguns guerrilheiros na base, incluíndo o líder da célula, que foi o mais cruel de todos. Frater usa o ombro para tirar momentaneamente o equilíbrio de um dos guerrilheiros, e quando o jihadista cai, quebra-lhe a cara e o pescoço sob o peso de suas botas. Frater ajuda o companheiro Michael a se desamarrar. É o próprio Michael que tomado de fúria satisfaz a vingança sobre o líder terrorista. Surpreendido, o terrorista ainda tenta esboçar uma reação, mas Michael usa um cano para golpeá-lo até a morte, em uma cena violentíssima.
Michael corre para fora do prédio, e enxerga o Monstro vagando perigosamente ao lado da construção. Os clarões vindo de dentro indicam que Frater está fuzilando os jihadistas retardatários. Os americanos encontram duas motos e partem pelo deserto, em direção ao vale. Michael não suporta mais a pressão, e chega a descer da moto e se ajoelhar no chão louco para desistir. Frater insiste que não perca a cabeça. Eles seguem com a jornada em meio a uma tempestade de areia, e quando começa a entardecer, alcançam trilhos no entorno de um canal. O vagão certamente foi mais uma casualidade dos bombardeios. Ainda inteiro, oferece guarida para que passem a noite com segurança. Pela primeira vez, Frater se abre um pouco, discorrendo sobre como os tours pela zona o transformaram por dentro. Da última vez que voltou para casa, sentiu-se, por um breve momento, pelo olhar da filha, um completo estranho. Ela não parecia reconhecê-lo mais. Frater está cheio de remorsos e acha que se encontra há tantos anos no meio daquela confusão no Oriente Médio que pensa estar se tornando um desconhecido para a família.
No dia seguinte, encontram os restos de um Monstro, derrubado na noite anterior por bombas americanas. Como efeito colateral, o ataque também atingiu um ônibus de refugiados que procurava deixar o canal. Frater & Michael encontram uma criança, ainda viva. O Sargento explica que o mais humano a fazer seria a eutanásia, mas Michael o impede de finalizar o garoto. Repentinamente, jihadistas a cavalo aparecem, e os colegas veem que não terão chances caso os inimigos queiram lutar. Para sua surpresa, os jihadistas não lhe fazem mal. Sob o pano, percebe-se que a líder dos homens é uma jovem mulher, mãe do garoto. Michael entrega a criança nos braços. Os jihadistas abaixam as armas.


Na manhã seguinte, Frater & Michael têm uma discussão acalorada. O Sargento não quer que o soldado se envolva com aquela gente, principalmente no segmento final da missão. Ele explica que precisam seguir caminho, e assim se põem à pé rumo ao vale, o local onde acreditam que encontrarão a unidade perdida, o ponto de extração. Mesmo no meio daquela paisagem quente e inóspita, os americanos encontram um inocente menininho local mexendo com uma latinha. Ao abri-la, nos revela uma nova manifestação de vida alienígena, desta vez uma colorida, bela libélula. A libélula tem uma cabeça com pequeninas trombas, uma espécie de rascunho da versão adulta. Ela bate as asas e voa, e ao pousar na areia, se divide em várias fitas, que penetram na terra e desaparecem. Mesmo tendo puxado a pistola para atirar, Frater não o faz, encantado com a criatura, e talvez, pela primeira vez, movido por todo o drama.


Enquanto o cinema independente gerou fenômenos como "V/H/S" & "The Babadook", oxigenando o gênero Horror como os "abre-alas" de uma década que promete ser tão produtiva e imperdível quanto a dos anos 70, a Ficção-Científica também atravessa um processo de amadurecimento e reaproximação a raízes mais sérias, com filmes como "Europa Report" & "Under the Skin". "Monsters" & "Monsters: Dark Continent" pertencem a esta mesma safra, e prova de seu valor é o fato de Gareth Edwards ter sido imediatamente "sequestrado" pelos grandes estúdios para realizar aquilo que toda a soma do mundo não consegue criar: imprimir aos blockbusters um sabor de identidade, personalidade, algo que o torne notável em meio a tantas histórias esquecíveis produzidas e lançadas nos cinemas. Incrivelmente originais, "Monster" & "Monsters: Dark Continent" se complementam de maneira perfeita, em que pese a distinção entre enredos & personagens. Da fonte original, "Monsters: Dark Continent" leva consigo a matriz, mas se aventura com a premissa por outro viés. Aqui, não há de se falar no melhor filme, porque em suas diferenças parecem individualmente perfeitos, mas sempre frutos da mesma árvore.
Filmado a um custo de 500 mil dólares, o primeiro "Monsters" deixou os fãs atônitos com o que se é possível produzir com pouco dinheiro e muita paixão. Edwards partiu de uma premissa cansativa - a invasão de alienígenas - e criou um universo de ricos detalhes, o que alavancou sua visão, destacando-a pela originalidade, separando-a da maioria de ficções-científicas aprisionadas ao lugar comum. Difícil de categorizar, parece injusto pensar em "Monsters" como filme de Horror. Lembro-me de uma excelente resenha que o ilustrou como uma versão mais sombria de "Antes do Amanhecer", a obra-prima de Richard Linklater sobre dois jovens que se encontram em um trem e aproveitam ao máximo uma romântica madrugada em Viena, vez que na manhã seguinte precisarão dizer Adeus. Ímpar e eletrizante no senso de urgência criado, "Antes do Amanhecer" bem serve para se definir, ao menos em parte, o significado que Edwards queria imprimir a "Monsters". Muitas coisas ao mesmo tempo, por mais intrigante que pareça, "Monsters" busca em última análise o desenvolvimento de uma história de amor, contada no estilo de um autêntico, melancólico, internacional e transitório "road movie".
Tendo traçado considerações sobre o primeiro, para que se compreenda o mérito do segundo, faz-se necessário um aparte. Agora que enxergamos o valor do trabalho de Gareth Edwards, sua contribuição ao processo de renovação pelo qual atravessa o gênero de ficção-científica, voltemos um pouco no tempo, ao ano de 2003, quando após uma sucessão de desapontamentos, o diretor britânico Danny Boyle fez "28 Days Later", redimindo a carreira e fazendo ressurgir como a fênix das cinzas o filão dos "mortos-vivos". Apesar do sucesso fenomenal de "28 Days Later", Danny Boyle criou "28 Days Later" como algo íntimo, um filme de arte pela definição literal da palavra. Encabeçado por atores de muita coragem e talento, `a época largamente desconhecido, "28 Days Later" emanava um senso de estilo que o tornava mais experimento do que típica produção de Horror. Em suas peculiaridades e diferenças, o filme de Boyle "matava a bola no peito" e corria com a mesma, como artilheiro, levando a ideia a lugares magníficos, sacadas geniais. Não obstante em seu cerne apenas requentar um dos maiores temores da humanidade - o colapso da sociedade como a conhecemos durante uma crise mundial incontrolável, no caso a disseminação de um letal, potencializado vírus da Raiva, acidentalmente vazado de um laboratório na Grã-Bretanha por ativistas do Greenpeace, - Boyle reinventou a fórmula, contando a mesma história por um novo prisma, mais apropriado a filmes de arte europeus. Enriquecido por algumas das cenas mais plasticamente belas possíveis, que tornam a experiência parecida a algo como admirar uma exposição de obras de arte, uma trilha de batida contundente e angustiante, uma fotografia granulada que captura Londres e o interior da Inglaterra como alguns dos recantos mais chuvosos, frios, cinza e sombrios da face da Terra, "28 Days Later" nasceu do amor do diretor Danny Boyle e do cuidado do roteirista Alex Garland, que pelo modesto orçamento, 8 milhões de dólares, jamais esperavam criar um blockbuster. Queriam, isso sim, apenas concretizar aquilo que estava em seus corações, cuidar do desenvolvimento daquela "criança", o filme por assim dizer, da maneira que melhor compreendessem. Quis o destino que "28 Days Later" caísse na graça do grande público, um feito raro e apenas para poucos.
Era inevitável que o estúdio desse carta branca para a continuação, a ser produzida em grande escala, e em 2007 chegou aos cinemas "28 Weeks Later". As pessoas que tinham amado o primeiro, com direito a todas as "esquisitices" do Danny Boyle, não souberam como reagir diante de "28 Weeks Later". Não obstante escrito como continuação direta, focando-se nos efeitos da disseminação do vírus da Raiva, que torna os infectados máquinas de matar, e na luta dos norte-americanos para restaurar a ordem em uma Inglaterra destruída, o filme não possuía nem de longe uma pequena parte do charme do original. Quando falo sobre a dificuldade de se criar magia, sempre cito o exemplo do filme de Danny Boyle. O sucesso de "28 Days Later" encorajou um grande estúdio a não poupar esforços para produzir algo ainda maior, e de fato, com "28 Weeks Later", a ação e os efeitos e a escala foram potencializados. Ocorre que tudo o que tornara o primeiro tão especial, tão aterrorizante, tão único, jamais poderia ser reproduzido, por mais dinheiro que o estúdio estivesse disposto a investir. No final, apesar de oficialmente parte de uma mesma história, "28 Weeks Later" não pareceu mais do que um regular filme de ação, algumas cenas bem feitas, mas comum demais para deixar alguma marca, gozar de alguma relevância. Retomando os eventos do primeiro, o diretor Juan Carlos Fresnadillo se provou um excelente "diretor de filmes de James Bond". Soube onde colocar as câmeras, seguiu a cartilha, fez as suas cenas de ação grandiosas. Apenas se esqueceu daquilo que jamais falta a um Cronenberg ou a um De Palma ou a um Clive Barker ou a um James Wan. Pura paixão. A coragem para correr riscos, destemor completo em expressar qualquer desejo ou obsessão, traduzindo dores muito pessoais em imagens para as telas.
Eu precisei da comparação acima para ilustrar quão fácil teria sido para os criadores de "Monsters" caírem na mesma armadilha. Assim como "28 Days Later", "Monsters" ganhou status de cult pois foi crescendo nos corações das pessoas pelo tom incomum com que o diretor Gareth Edwards contou a história de amor para seus tão bem escritos personagens e a honestidade com que tratou os "Monstros", nos sugerindo o cenário mais plausível para a vinda de seres extraterrestres `a Terra. Considerando a importância do original, a concepção de uma sequência parecia uma péssima ideia antes mesmo que algo sobre o enredo tivesse sido veiculado. Quando "Monsters: Dark Continent" entrou em gestação, eu mesmo imaginei que teríamos uma ficção científica frouxa e barulhenta que em nada homenagearia a paixão e o frescor tão marcantes no anterior. Qual foi a surpresa, o segundo filme apenas agregou mais originalidade e valor `a premissa.
Apesar de diversificados em enfoque, para ambos os filmes o plano de fundo segue imutável, qual seja a vida extraterrestre em sua mais extravagante, melancólica forma. Não apenas se repete o plano de fundo, mas também o tratamento que os cineastas Gareth Edwards & Tom Green dispensam a seus mistérios, mantendo-os nas sombras, respeitando-os, retratando-os em sua divindade e magia com muita discrição. Eu prefiro tratar sobre pontos tão importantes fazendo um comparativo entre os filmes objeto de minha resenha e os grandes clássicos a partir dos quais parece mais fácil falar sobre tudo o que veio depois. Assim, Gareth & Tom devem ter aprendido com Clive Barker e sua obra seminal "Hellraiser" que "menos é mais", e que o beijo da morte para qualquer filme de Horror acontece quando seus monstros ou maravilhosos encantos perdem o mistério pelo pecado da super exposição, o tiro no pé que mais derruba histórias do tipo. Ao contrário, quanto menos se mostra, e mais crédito se dá `a criatividade humana para preencher as lacunas, eis o caminho para um grande filme de Terror. Cinéfilos que amam os Monstros verão uma representação fantástica e surreal de vida alienígena. Deslumbrantes e enormes e poéticas, as criaturas fogem a qualquer categorização, difícil explicar. Lembro-me de um conto do grande Clive Barker, "The Skin of Their Fathers", onde descreve monstros do tipo como enormes e extravagantes, "um pássaro desenhado por um esquizofrênico". Alguém precisaria da genialidade de Clive Barker para procurar reproduzir o impacto de tão impressionantes criações, em uma resenha, portanto tomo a liberdade de transcrever um trecho para que pela leitura de sua prosa tenham uma noção da poesia envolvida na concepção dos Monstros dos dois filmes. Mesmo obras distintas - o conto de Barker & os filmes de Edwards & Green - o tratamento ao elemento da fantasia é o mesmo:
"Fora da casa, Lucy tinha ouvido o diálogo. Abandonou o refúgio de sua choça, sabendo o que ia ver contra o céu deslumbrante, mas nem por isso menos atraída pelas monumentais criaturas que se reuniram em torno da casa. Sentiu angústia ao recordar as alegrias perdidas daquele dia, seis anos antes. Ali estavam todas aquelas criaturas inesquecíveis, uma incrível seleção de formas...
Cabeças
piramidais coloridas de rosa, torsos de uma proporção clássica, que caíam
em franjas de carne murcha. Uma beleza chapada e acéfala cujos seis braços de
madrepérola brotavam em torno de uma boca que ronronava e pulsava. Uma
criatura parecida com uma onda de corrente elétrica, em constante movimento,
que emitia um som doce e modulado. Criaturas muito fantásticas para serem
reais, muito reais para duvidar, anjos caídos. Tinha uma cabeça que
balançava para frente e para trás sobre um pescoço muito fino, como se fosse
um pêndulo absurdo, azul como o céu de uma noite que chega antes de tempo, e
salpicado de uma dúzia de olhos como outros tantos sóis. O corpo de outro pai
se parecia com um leque que se abria e fechava de excitação, e cuja carne
laranja se avermelhou ainda mais quando soou de novo a voz do menino.
– Papai!" (Clive Barker, Livros de Sangue, "As Peles dos Pais")
No texto acima, há um elemento de fantástico, de conto de fadas, e ao se falar na representação das criaturas de "Monsters", semelhante tratamento se aplica. No primeiro "Monsters", as criaturas guardam um certo padrão, lulas gigantes grandalhonas, mas não tão enormes assim, cheias de tentáculos, emitindo uma charmosa fosforescência. Para a continuação, o diretor Tom Green procurou trabalhar em cima de um maior leque criativo, com monstros que atingem o tamanho de prédios de 20 andares, aproximadamente, outros menores, que correm como búfalos em manada, e alguns semelhantes a libélulas, capazes de serem guardados dentro de caixinhas. Em ambos os filmes, as criaturas inspiram um poderoso sentimento de tristeza. Ali estão os monstros, primeiramente na América Central, depois no deserto do Oriente Médio, confusos, em um mundo que não o seu. As criaturas não pediram pela guerra, foram arrastadas para o confronto forçadas por um acidente com a sonda da NASA, que trouxe os esporos. A vida daqueles seres misteriosos resume-se a perambular por cenários desolados enquanto são incansavelmente perseguidas e odiadas. Atrapalhadas e irracionais, guiadas por puro instinto de sobrevivência, não diferem quase em nada de um animal selvagem, por exemplo, solto na civilização. Dia desses, estava assistindo a um filme de um ator até hoje muito querido, Christopher Lambert. Quando eu tinha 14, 15 anos, eu me lembro que Christopher Lambert fazia aqueles filmes de ação que costumavam passar nos cinemas, estilo "Marcado para Morrer" & "Os Franco-Atiradores". Eu não os perdia, jamais, do mesmo jeito que não deixava de conferir as coisas que o Steven Seagal e o Van Damme lançavam todos as férias de meio de ano. Estamos falando de 1994, 1995, eram outros tempos, mais simples, e as pessoas ainda não haviam se tornado tão cínicas. Enfim, nessa proposta nostálgica, eu me recordo do primeiro filme do Christopher Lambert, que o tornou astro, nos anos 80, um drama histórico chamado "Greystoke", a lenda de Tarzan. Christopher Lambert interpretava o protagonista tirado das selvas e trazido de volta ao convívio da sociedade britânica depois de ter passado toda a vida na natureza selvagem e feito dos animais selvagens sua família. Ao visitar um zoológico, ele reconhece o gorila que na selva fora seu pai, e o animal selvagem também o reconhece. Decidido a ajudá-lo, ele abre a jaula e o ajuda a escapar, mas quando ambos são encurralados em um parque e o animal sobe na árvore para se proteger, é abatido a tiros, para o desespero do personagem do Christopher Lambert, que chora e diz que aquele era seu pai. Essa cena permaneceu na minha cabeça, por todos esses anos, e a acho emblemática para definir a tragédia das criaturas de "Monsters" & "Monsters: Dark Continent": incompreendidas, no lugar errado, afastadas de seu habitat natural, perseguidas, odiadas, amedrontadas, acuadas. A destruição causada, a razão primordial do Horror, não se deve a nenhum senso de antagonismo ou maldade, apenas ao medo e `a incongruência do convívio entre seres tão enormes e incompreensíveis em um mundo de seres humanos míopes e odiosos.
"Monsters: Dark Continent" utiliza os Monstros com o mesmo propósito, como o onipresente elemento fantástico indiferente, no plano de fundo, observadores imparciais dos dramas de gente comum em uma terra onde impera a magia. Como drama central, o diretor Tom Green realizou o tipo de filmes que as pessoas que apreciaram "Guerra ao Terror" vão salivar diante do prospecto. Ambientado no Oriente Médio, "Monsters: Dark Continent" atira um grupo de amigos norte-americanos e nós juntos em uma jornada pelo coração dos mais desoladores, perigosos recantos. Os Monstros, aqui diferentes e evoluídos desde que os vimos pela primeira vez, não são a maior preocupação dos heróis. Visto como suspense de guerra, "Monsters: Dark Continent" em nada fica devendo a "Guerra ao Terror", e assim como o premiado filme de Kathryn Bigelow, parte do bom desenvolvimento dos personagens para criar algum sentimento de empatia e identificação. Do momento em que "compramos" essa turma como autênticos amigos e sabemos identificá-los por suas diferentes personalidades, o diretor Tom Green nos "coloca no bolso", e nos carrega juntos para a linha de fogo. Sabemos que a maioria daqueles rapazes não resistirá até o final, mas a antecipação de quem será o próximo a cair torna a experiência um "ataque cardíaco" de aproximadamente duas horas de duração. Enquanto o trunfo de Gareth Edwards tenha sido o desenrolar de uma história de amor, uma espécie de "Antes do Amanhecer" sombrio e aterrorizante, o diretor Tom Green reúne tudo o que há de melhor nos filmes de guerra e nos conta como um conflito pode transformar a dinâmica de relacionamentos e os espíritos dos soldados, imbuindo sua sequência com um ar de "Heart of Darkness" de Joseph Conrad, onde ao invés do misterioso rio, os homens precisam atravessar vales desertificados para cumprir a missão. Vocês veem como os dois filmes se complementam muito bem. Apesar de não retomar a continuação exatamente a partir de onde a história deixara os protagonistas, "Monsters: Dark Continent" obedece o modus operandi do original, respeitando a mitologia de suas criaturas, mas explorando outros terrenos. Edwards, que volta como produtor executivo do segundo filme, não podia ser mais generoso ao colega Green, tendo lhe concedido a liberdade para escrever sobre o que quisesse. O cineasta sempre disse que um dos aspectos que mais o fascinara no primeiro era a intervenção do Estado e a administração da crise, a ocupação militar de americanos em terras estrangeiras. Fica patente a razão por que Green seguiu a proposta de soldados no Oriente Médio.
Edwards & Green merecem reconhecimento pela sensibilidade com que trataram o "diferente". Apesar de seus Monstros renderem cenas inesquecíveis em termos de visual e impressionantes efeitos, as criaturas exercem um papel muito claro nos dois filmes, permanecendo a maior parte do tempo vagando ao fundo, enquanto os protagonistas humanos que tanto temem as criaturas se veem mais vítimas de seus próprios sentimentos ou da maldade dos semelhantes do que da presença de vida extraterrestre. Não foi a primeira vez que a ideia foi explorada, e ultimamente tivemos excelentes suspenses sobre a visita de alienígenas, o mais notório deles "Os Escolhidos". "Monsters 1&2" se destacam por ousarem experimentar com a premissa, contar uma história de amor fadada ao término assim que o fim da jornada chegar, por exemplo, no primeiro, ou sobre como soldados voltam tão diferentes para casa após suas guerras, a externa, da qual escapam com vida, e interna, que precisarão carregar consigo para sempre, no segundo. Pela ousadia, destacam-se como os dois melhores filmes de monstros da última década. De certa forma, não diferem muito de "Ôdishon", de Takashi Miike. O filme de Miike começa como drama, o herói perdendo a esposa para o câncer e amargando 7 anos de viuvez, depois adquire cores dos típicos romances açucarados com leves momentos de humor estrelados por Rachel McAdams, quando o amigo do herói o incentiva a encontrar uma namorada a partir de um processo de audição de atrizes para um filme, e o cara conhece uma misteriosa bailarina de olhos tristes, e finalmente vira um pesadelo "cronenberguiano" quando as informações dadas pela moça naquele dia da audição não batem com a realidade, e o protagonista passa a desconfiar de que ela é uma serial killer. Os filmes de Edwards, Green & Miike exploram arcos narrativos e correm riscos, e em uma época de pouca a nenhuma ousadia, verdadeiros artistas surgem em poucas luas. Aproveitem.
Todos os direitos autorais reservados a Vertigo Filmes. O uso dos trailers é para efeito meramente ilustrativo da resenha.
"Monsters: Dark Continent" utiliza os Monstros com o mesmo propósito, como o onipresente elemento fantástico indiferente, no plano de fundo, observadores imparciais dos dramas de gente comum em uma terra onde impera a magia. Como drama central, o diretor Tom Green realizou o tipo de filmes que as pessoas que apreciaram "Guerra ao Terror" vão salivar diante do prospecto. Ambientado no Oriente Médio, "Monsters: Dark Continent" atira um grupo de amigos norte-americanos e nós juntos em uma jornada pelo coração dos mais desoladores, perigosos recantos. Os Monstros, aqui diferentes e evoluídos desde que os vimos pela primeira vez, não são a maior preocupação dos heróis. Visto como suspense de guerra, "Monsters: Dark Continent" em nada fica devendo a "Guerra ao Terror", e assim como o premiado filme de Kathryn Bigelow, parte do bom desenvolvimento dos personagens para criar algum sentimento de empatia e identificação. Do momento em que "compramos" essa turma como autênticos amigos e sabemos identificá-los por suas diferentes personalidades, o diretor Tom Green nos "coloca no bolso", e nos carrega juntos para a linha de fogo. Sabemos que a maioria daqueles rapazes não resistirá até o final, mas a antecipação de quem será o próximo a cair torna a experiência um "ataque cardíaco" de aproximadamente duas horas de duração. Enquanto o trunfo de Gareth Edwards tenha sido o desenrolar de uma história de amor, uma espécie de "Antes do Amanhecer" sombrio e aterrorizante, o diretor Tom Green reúne tudo o que há de melhor nos filmes de guerra e nos conta como um conflito pode transformar a dinâmica de relacionamentos e os espíritos dos soldados, imbuindo sua sequência com um ar de "Heart of Darkness" de Joseph Conrad, onde ao invés do misterioso rio, os homens precisam atravessar vales desertificados para cumprir a missão. Vocês veem como os dois filmes se complementam muito bem. Apesar de não retomar a continuação exatamente a partir de onde a história deixara os protagonistas, "Monsters: Dark Continent" obedece o modus operandi do original, respeitando a mitologia de suas criaturas, mas explorando outros terrenos. Edwards, que volta como produtor executivo do segundo filme, não podia ser mais generoso ao colega Green, tendo lhe concedido a liberdade para escrever sobre o que quisesse. O cineasta sempre disse que um dos aspectos que mais o fascinara no primeiro era a intervenção do Estado e a administração da crise, a ocupação militar de americanos em terras estrangeiras. Fica patente a razão por que Green seguiu a proposta de soldados no Oriente Médio.
Edwards & Green merecem reconhecimento pela sensibilidade com que trataram o "diferente". Apesar de seus Monstros renderem cenas inesquecíveis em termos de visual e impressionantes efeitos, as criaturas exercem um papel muito claro nos dois filmes, permanecendo a maior parte do tempo vagando ao fundo, enquanto os protagonistas humanos que tanto temem as criaturas se veem mais vítimas de seus próprios sentimentos ou da maldade dos semelhantes do que da presença de vida extraterrestre. Não foi a primeira vez que a ideia foi explorada, e ultimamente tivemos excelentes suspenses sobre a visita de alienígenas, o mais notório deles "Os Escolhidos". "Monsters 1&2" se destacam por ousarem experimentar com a premissa, contar uma história de amor fadada ao término assim que o fim da jornada chegar, por exemplo, no primeiro, ou sobre como soldados voltam tão diferentes para casa após suas guerras, a externa, da qual escapam com vida, e interna, que precisarão carregar consigo para sempre, no segundo. Pela ousadia, destacam-se como os dois melhores filmes de monstros da última década. De certa forma, não diferem muito de "Ôdishon", de Takashi Miike. O filme de Miike começa como drama, o herói perdendo a esposa para o câncer e amargando 7 anos de viuvez, depois adquire cores dos típicos romances açucarados com leves momentos de humor estrelados por Rachel McAdams, quando o amigo do herói o incentiva a encontrar uma namorada a partir de um processo de audição de atrizes para um filme, e o cara conhece uma misteriosa bailarina de olhos tristes, e finalmente vira um pesadelo "cronenberguiano" quando as informações dadas pela moça naquele dia da audição não batem com a realidade, e o protagonista passa a desconfiar de que ela é uma serial killer. Os filmes de Edwards, Green & Miike exploram arcos narrativos e correm riscos, e em uma época de pouca a nenhuma ousadia, verdadeiros artistas surgem em poucas luas. Aproveitem.