Olá, pessoal! Nesta oportunidade, tenho o prazer especial de tecer considerações sobre um dos meus filmes recentes preferidos, Os Estranhos. Estrelando Scott Speedman e Liv Tyler, Os Estranhos é um charmoso e nostálgico retorno ao horror dos anos 70, e foi dirigido por um novato muito talentoso chamado Bryan Bertino. O filme fez moderado sucesso nas bilheterias e a crítica o tomou pelo que de mais valoroso teve a oferecer – uma espécie de homenagem às produções de antigamente, quando, para se fazer um bom suspense, a atmosfera era praticamente metade do caminho, e a caracterização de personagens, a outra. Se os amigos prestarem atenção ao poster ao lado, a imagem os levará a crer que Os Estranhos se trata de algo datado, dirigido por algum daqueles famosos cineastas do gênero nos anos 70. Na verdade, do trabalho de arte do poster até à execução, esta foi a intenção do cineasta – a de resgatar o sentimento que os grandes diretores do passado conseguiam evocar em seu público, a de causar os mesmos arrepios sutis que os filmes antigos geravam, sem a necessidade de efeitos muito sofisticados ou de sanguinolência. O diretor Bryan Bertino alcançou o intento e realizou um feito louvável. A recepção ao filme parece ter se enquadrado firmemente entre dois polos, aqueles que o amam e os que o odeiam. Não há meio termo quanto a Os Estranhos. É muito importante destacar que aqui eu não estou desmerecendo a opinião de pessoas que não o apreciaram. Para alguns, a questão da movimentação da trama, do ritmo da ação, representa um caráter imprescindível a partir do qual a resposta que darão ao conjunto se baseará. Para outros, e eu faço parte deste grupo, o mais importante gira em torno de atmosfera, e se o diretor conseguiu provocar emoções fortes sem precisar exibir muito. Os Estranhos se encaixa na classe da atmosfera e do minimalismo, felizmente.
A Estória:


Pontos fortes:

Este é um filme sobre o que o medo faz com nosso julgamento. James tem um rifle em casa, e está bem albergado dentro da propriedade, mas os joguinhos psicológicos que os três mascarados impõem vão progressivamente minando a resistência do casal. Os visitantes não têm armas, apenas máscaras e a vontade ferrenha de atormentá-los. O casal toma decisões erradas e aparentemente estúpidas, todavia ao levarmos em conta a pressão mental a que estão sendo submetidos pelo trio de estranhos, perguntamo-nos o que teríamos feito dada a mesma situação.
Os Estranhos nos fala sobre como o medo nos coloca em um canto no qual não conseguimos pensar direito ou tomar as melhores decisões. Nestes moldes, vem-me a mente um extraordinário clássico de 1971, dirigido por Sam Peckinpah, chamado Straw Dogs. Em linhas gerais, Straw Dogs contava sobre um inteligente e pacato professor de matemática americano, que retorna com a esposa inglesa para a Grã-Bretanha, para a cidade natal da moça. Ali, a mulher reencontra um antigo ex-namorado, o hooligan local, e começa a flertar descaradamente com o sujeito. Bastante atraente, ela parece pouco valorizar o marido introvertido e pacifista. O professor de matemática interpretado por Dustin Hoffman é desrespeitado no curso do filme, pela esposa e pelos homens da vila, que o tomam como palerma. No entanto, é quando acontece uma situação adversa, próximo ao final, quando ele oferece guarida a um doente mental ameaçado de linchamento, os rapazes aparecem na porta exigindo que entregue o louco, e ele se nega, que o professor redescobre o valor como Homem e se posiciona diante dos hooligans, deixando claro quem manda ali. Quando os britânicos resolvem ganhar acesso à casa à força, descobrem que por trás da aparência cerebral e vulnerável do professor, existe um cão raivoso preparado para defender a si e suas posses. Dustin Hoffman usa das armadilhas mais engenhosas – e da mais pura violência – para derrotar os antagonistas. E mata a todos. Este magistral filme sobre o rito de passagem, quando o covarde finalmente se posiciona perante a vida e se torna Homem, e prova o seu valor diante dos valentões locais, fez-me repensar conceitos e compreender o que diferencia meninos de Homens. Assim como Os Estranhos, Straw Dogs discorria sobre como muitas vezes tão importante quanto tentar conviver pacificamente é defender ferozmente o seu território e princípios, estar preparado para o confronto que pode irromper a qualquer instante, e pronto para libertar o cão raivoso que de alguma maneira é inerente a todo Homem. Ah, e antes que eu me esqueça, sobre Straw Dogs: assistir a Dustin Hoffman executando friamente os hooligans é apoteótico, mas não chega a ser tão prazeroso quanto quando ao final, depois que mata os sete caras, escolhe pôr um ponto final no casamento e dispensa a mulher por quem um dia fora apaixonado e que o tratava como lixo, deixando-a sozinha para cumprir a sua sina de balzaca solitária e pílulas antidepressivas. Depois que ele matou os caras, eu pensei, Esse daí redescobriu a masculinidade; porém foi depois que ele deu o fora sem dó na megera e partiu deixando-a para trás, que eu conclui E agora, ele redescobriu a autoestima e a dignidade.
Os Estranhos nos fala sobre como o medo nos coloca em um canto no qual não conseguimos pensar direito ou tomar as melhores decisões. Nestes moldes, vem-me a mente um extraordinário clássico de 1971, dirigido por Sam Peckinpah, chamado Straw Dogs. Em linhas gerais, Straw Dogs contava sobre um inteligente e pacato professor de matemática americano, que retorna com a esposa inglesa para a Grã-Bretanha, para a cidade natal da moça. Ali, a mulher reencontra um antigo ex-namorado, o hooligan local, e começa a flertar descaradamente com o sujeito. Bastante atraente, ela parece pouco valorizar o marido introvertido e pacifista. O professor de matemática interpretado por Dustin Hoffman é desrespeitado no curso do filme, pela esposa e pelos homens da vila, que o tomam como palerma. No entanto, é quando acontece uma situação adversa, próximo ao final, quando ele oferece guarida a um doente mental ameaçado de linchamento, os rapazes aparecem na porta exigindo que entregue o louco, e ele se nega, que o professor redescobre o valor como Homem e se posiciona diante dos hooligans, deixando claro quem manda ali. Quando os britânicos resolvem ganhar acesso à casa à força, descobrem que por trás da aparência cerebral e vulnerável do professor, existe um cão raivoso preparado para defender a si e suas posses. Dustin Hoffman usa das armadilhas mais engenhosas – e da mais pura violência – para derrotar os antagonistas. E mata a todos. Este magistral filme sobre o rito de passagem, quando o covarde finalmente se posiciona perante a vida e se torna Homem, e prova o seu valor diante dos valentões locais, fez-me repensar conceitos e compreender o que diferencia meninos de Homens. Assim como Os Estranhos, Straw Dogs discorria sobre como muitas vezes tão importante quanto tentar conviver pacificamente é defender ferozmente o seu território e princípios, estar preparado para o confronto que pode irromper a qualquer instante, e pronto para libertar o cão raivoso que de alguma maneira é inerente a todo Homem. Ah, e antes que eu me esqueça, sobre Straw Dogs: assistir a Dustin Hoffman executando friamente os hooligans é apoteótico, mas não chega a ser tão prazeroso quanto quando ao final, depois que mata os sete caras, escolhe pôr um ponto final no casamento e dispensa a mulher por quem um dia fora apaixonado e que o tratava como lixo, deixando-a sozinha para cumprir a sua sina de balzaca solitária e pílulas antidepressivas. Depois que ele matou os caras, eu pensei, Esse daí redescobriu a masculinidade; porém foi depois que ele deu o fora sem dó na megera e partiu deixando-a para trás, que eu conclui E agora, ele redescobriu a autoestima e a dignidade.
Atuações:
Os atores principais de Os Estranhos estão ótimos. Recentemente, eu vi o artista principal, Scott Speedman, e um outro filme chamado Para Sempre, uma estória romântica, sobre o desafio enfrentado por um jovem casal após um acidente automobilístico que a deixa sem memórias. Scott Speedman interpretava o ex-noivo rico da moça, que, aproveitando-se do fato de ela ter esquecido o seu grande amor, procura ganhá-la de volta. Em um papel secundário, Speedman tornou a sua participação muito interessante e agregou muito a Para Sempre. Naturalmente, Os Estranhos também deram performances extraordinárias, mesmo por trás de máscaras. No filme, vimos pouco da moça que aparece no alpendre. Depois, surgem vestindo máscaras esquisitas, e quase nada falam. O perfil silente e gélido do trio, a forma como quebram psicologicamente as vítimas, aos poucos, levam-me a pensar na analogia de gatos brincando com ratinhos assustados e encurralados. Os Estranhos são interpretados por Kip Weeks (o Homem), Gemma Ward (Dollface, a menina que aparece no alpendre antes da confusão) e Laura Margolis (Pin-Up Girl, a mais assustadora). Ao final do filme, não aprendemos muito sobre quem são aquelas pessoas por trás das máscaras. Penso que os três poderiam compor uma espécie de família que já vinha cometendo homicídios semelhantes ao longo dos anos. Pin-Up Girl parece uma mulher mais madura, de seus quarenta e poucos, neste contexto poderíamos tomá-la como a mãe; Dollface, a filha adolescente em sua primeira matança; o Homem, o pai. Caso os amigos tenham ficado curiosos, eis os atores por trás das máscaras:
O diretor Bryan Bertino merece nossos aplausos pela realização de Os Estranhos. Utilizou uma premissa comum e batida, e a partir da mesma, construiu um filme diferenciado e atraente, altamente atmosférico e sinistro, incômodo ao nos fazer pensar que, no mundo, há pessoas capazes de fazer o mal aos semelhantes por nenhum motivo aparente. No final, quando a jovem pergunta aos três por que estão fazendo aquilo com os dois, a resposta vem nestas linhas “Porque vocês estavam em casa”. Os Estranhos provavelmente continuarão a jogar com os incautos, até o dia em que baterem à porta do professor de matemática errado.