
Scarlettt consegue encontrar parte da Pedra de Roseta, onde restam traduzidos os símbolos da Alquimia. Alarmes de sirenes os alertam para a iminente implosão dos túneis, e vez que o governo iraniano desconhece a presença dos dois intrusos, Scarlett e Reza correm graves riscos permanecendo no local por muito tempo. O formato da estrutura - grafada em aramaico associado aos símbolos da Alquimia - os deixa assustados, uma estátua em tamanho real de um touro. Reza insiste que o tempo se esgotou, e terminarão soterrados na caverna se não voltarem de imediato pela passagem. Scarlett realiza filmagens da estátua do touro, de modo a registrar todo aquele "compêndio" em aramaico para posterior análise, e por pouco escapa com vida do complexo, no exato minuto em que a passagem acaba soterrada pela explosão das dinamites. Inexplicavelmente, durante a comoção, Scarlett enxerga o corpo de um homem oscilando na forca, uma referência a seu pai suicida. Estaria enxergando coisas?Prova do suspense por vir, o diretor John Erick Dowdle abre o filme em grande tensão. A combinação de lanternas vermelhas predominantes ao longo das passagens na caverna, a busca de Scarlett pela saída a tempo e os avisos intermitentes pelo sistema de alarme do complexo durante a contagem para a implosão os colocará roendo as unhas!
O filme corta para um sítio de escavações em Paris. Scarlett dá um depoimento para a câmera, quando temos a oportunidade de conhecer melhor suas impressionantes qualificações - entre doutorados em Arqueologia & Simbologia, o domínio de quatro línguas faladas e duas mortas e a faixa preta em artes marciais - e de onde vem a vocação para a aventura. Desde criança, escutava as fantásticas histórias contadas pelo pai sobre Nicolas Flamel e sua Pedra Filosofal, e agora mulher adulta, pretende suceder onde o pai fracassou. Acompanhada pelo operador de câmera, Scarlett realiza um tour pela pequena rua da residência onde Flamel teria sintetizado a Pedra Filosofal e alcançado vida eterna. A arqueologista explica que após a morte do alquimista, ladrões haviam vilipendiado o túmulo em busca da substância mágica, tendo encontrado somente um sepulcro vazio, o que definitivamente fortaleceu a aura de mistério em torno de Flamel e a Pedra Filosofal. No cemitério de Paris, Scarlett nos conduz ao mausoléu do Alquimista para exibir a placa que o próprio preparara para si quando em vida. Há símbolos muito distintos que estudiosos de sua obra jamais conseguiram compreender. Essa revelação faz um link com a sequência inicial, pois deduzimos que ao filmar a Pedra de Roseta nas escavações do Irã, Scarlett buscava por um "dicionário" para pôr fim ao mistério do "recado" deixado por Flamel. Ela crê que os símbolos tragam um "passo a passo" de como mapear a localização da Pedra Filosofal.


Scarlett e George justapõem dois mapas: o da cidade, onde fixam o túmulo de Nicolas Flamel no cemitério de Paris, e o do complexo de catacumbas. A justaposição indica que os túneis chegam muito perto, mas não passam exatamente sob o epicentro desejado, o túmulo de Flamel. Ao repassar o histórico sísmico daquela região metropolitana, alvo de 3 colapsos registrados ao longo dos últimos séculos, e que no entanto manteve Paris firme e forte acima, o rapaz conclui que deva existir uma câmara oculta não prevista por mapa algum. Em uma "missão de reconhecimento", Scarlett e George visitam o trecho das catacumbas acessível aos turistas, quando a historiadora lhes conta mais sobre a origem dos túneis. Foi no começo do século XVIII que por questão de saúde pública os cadáveres precisaram ser desenterrados do velho cemitério e relocados para as catacumbas. O passeio é assustador, paredes inteiras ornamentadas por crânios humanos. Scarlett comunica a seu operador de câmera, Benji, que precisam encontrar um caminho para a área fora dos limites turísticos. Um rapaz os aconselha a procurarem por um cara de nome Papillon em um clube parisiense chamado La Vitrine. Scarlett momentaneamente se distrai quando a guia pede que não se afaste do grupo, e ao olhar para trás, não encontra mais sinal do misterioso estranho.
Naquela mesma noite, Scarlett, George e Benji prestam uma visita ao Le Vitrine, uma casa noturna às margens do Rio Sena. Na entrada, Benji tem a atenção capturada por uma moça de olhar muito penetrante que chega a desconcertá-lo. Ele não tem tempo para lhe dirigir a palavra, pois a estranha deixa a Le Vitrine a passos rápidos. Ao perguntar por Papillon, o grupo é dirigido ao lounge do nightclub, onde encontra o único homem conhecedor de quase todos os segredos das catacumbas. Inicialmente, Papillon opõe alguma resistência, declarando não ser nenhum guia turístico. Scarlett retruca perguntando-lhe se parecem os turistas usuais. Scarlett cita a câmara oculta, e desperta o interesse do explorador ao falar sobre as riquezas que por ali se encontrariam preservadas.
Papillon reúne o time habitual, e na manhã seguinte, partem para as imediações que dão acesso `as catacumbas. Uma série de detalhes merece atenção, desde os riscos de contato com morcegos `a falta d'água. Debaixo da terra, qualquer deslize pode levar `a morte. Com o senso de dever cumprido, George se despede de Scarlett e lhe deseja sorte, mas a moça insiste que os acompanhe. `A margem do túnel de acesso, o grupo veste as lanternas frontais. Subitamente, os guardas chegam e os surpreendem. Sem opção, George, que não queria se envolver, acaba tendo de seguir os demais para dentro das catacumbas, para não ser preso. Após o entrevero, George agora definitivamente faz parte de uma jornada rumo ao desconhecido. Em um discreto momento entre Benji e Scarlett, ela explica ao operador de câmera que o rapaz evita cavernas em razão de um trauma de infância: quando pequeno, seu irmãozinho se afogou em uma gruta, deixando-o marcado. Pessoas aversas a lugares apertados não se divertirão. A partir desse ponto, "As Above So Below" se passa exclusivamente dentro de passagens muito estreitas, grutas muito apertadas. A sensação de sufoco é muito pesada, e assistindo ao produto final, não temos como deixar de imaginar as dificuldades enfrentadas pelo diretor John Erick Dowdle e seus atores para rodar o filme.
Os primeiros túneis revelam pichações, algumas feitas pelo próprio Papillon, registrando sua passagem por ali quando de outras incursões. Apesar de arriscado, aquele ponto do labirinto ainda é um lugar visitado por exploradores experientes, ou seja, em que pese o aperto de corredores e o desconforto de se caminhar por poças sujas, ainda há a possibilidade de se voltar pela passagem e encarar a Polícia. Movidos pela missão de encontrar a Pedra Filosofal, todavia, a turma segue com a descida. No caminho, em uma das grutas, encontra uma seita misteriosa orando reservadamente. Depois de um prolongado tempo de descida, o grupo chega a uma encruzilhada, onde enxerga diante de si dois caminhos distintos que em tese desembocariam no mesmo lugar, um deles aprovado por Papillon, outro preferido por Scarlett. Papillon crê que o túnel sugerido pela moça seja uma péssima aposta, declarando que outras pessoas que se meteram pela passagem jamais foram vistas novamente. Ele cita o caso de "La Taupe", um ex-integrante da equipe que resolveu descer sozinho pela rota alternativa, apenas para desaparecer misteriosamente. O discurso de Papillon tem um forte efeito sobre os demais, e acaba acordado que seguirão mesmo pela rota mais longa, todavia mais segura.



Surpreendente prova do poder da pedra filosofal, Scarlett esfrega o amuleto nas palmas das mãos e depois aperta o braço machucado de uma das moças participantes da equipe. Os ferimentos imediatamente cicatrizam. Embora tenham supostamente encontrado a pedra filosofal, o desmoronamento os obriga a procurarem por uma saída alternativa. De fato, existe tal passagem, onde restam declinados trechos próprios da Alquimia. "Assim no Céu como abaixo" significa que embora desejem voltar para a superfície de Paris, a única porta existente encontra-se a seus pés. Os exploradores descobrem mais um poço, que os leva ainda mais pelas entranhas da terra. George interpreta o aviso na entrada, "Abandone toda a esperança, vós que entrais aqui". De acordo com a mitologia, a mensagem está escrita na entrada do inferno. Ao adentrar pela "passagem", a garota membro da equipe é atacada e morta, a cabeça repetidamente batida contra a rocha por "La Taupe" (ou seu fantasma). No caminho para as profundezas, o grupo segue descendo por infindáveis poços. Benji é o próximo a morrer, empurrado em um buraco pela moça misteriosa que nos lembramos de ter visto no início, quando Scarlett, George e Benji visitaram o La Vitrine. À medida que exploram o complexo, compreendem que o lugar usa seus segredos mais inconfessáveis para desestabilizá-los. O rapaz que sugeriu a Scarlett o nome de Papillon como candidato a guia ressurge. Aprendemos que é um fantasma do passado de Papillon, um garoto que morreu tragicamente dentro de um carro em chamas, acidente causado não intencionalmente pelo guia. Nós o vemos ardendo dentro de um carro envolto em chamas, e ao se deparar com a surreal cena, Papillon grita que a culpa não foi sua. O guia é arrastado por sombras demoníacas que o carregam para dentro do fogo enquanto protesta inocência. George é atormentado por aparições do irmãozinho afogado, mas Scarlett procura lembrá-lo de que as catacumbas estão usando seus traumas para mexer com a cabeça.
A esta altura, só restam três pessoas nas catacumbas - George, Scarlett e Zed, o "Segundo em Comando" de Papillon. Com o cerco das trevas se fechando, George se abre para Scarlett e lhe confessa que a semana que passou a seu lado na Turquia foi a melhor de sua vida. O labirinto não custa a afetar a cabeça de Zed também. Na sequência mais apavorante, o trio se depara com uma criança metida em capuz, sentada em uma cadeira. Zed a reconhece como um filho indesejado: no passado, engravidara a namorada, porém despreparado para as responsabilidades, preferira deixar o bebê sob os cuidados da mãe, deixando ambos para trás. Agora, o remorso voltou para consumi-lo. Gárgulas assustadoras ganham vida, uma delas mordendo George no pescoço, a ponto de tirar carne. Seriamente ferido, George precisa do milagre da Pedra Filosofal. Ao usar o amuleto em vão, Scarlett percebe que foi vítima de um ardil. Ela apanhou um amuleto falso, não a verdadeira Pedra Filosofal. Ela suplica que Zed cuide do companheiro enquanto retorna pelo labirinto, para a cripta original, de onde pretende encontrar a verdadeira Pedra e assim salvá-lo. A sequência do retorno de Scarlett pelo labirinto rivaliza com outro excelente filme de John Erick Dowdle, "Quarentena", sobre o vírus da Raiva em um condomínio fechado tornando os moradores zumbis. O puro desespero também merece os mesmos elogios que o segmento "Safe Heaven", de "V/H/S 2" (quem assistiu ao filme ou leu minha resenha a respeito entenderá do que estou falando). O labirinto canhoneia a exploradora com imagens sinistras, a mais bizarra quando encontra uma figura balançando sob a corda, e ao retirar o capuz pensando tratar-se do pai vê a si mesma. Ela acaba encontrando a verdadeira Pedra Filosofal através do reflexo de um espelho, e cumprindo o intento do desafio - rezam os símbolos inscritos na tumba "Pela retificação, encontrarás a pedra escondida" - finalmente fazendo as pazes com o passado ao se deparar com o corpo do pai e lhe pedindo desculpas por não ter atendido o telefone na noite em que se suicidou, tornando-se legítima possuidora da Pedra Filosofal.
Scarlett consegue voltar pelo labirinto ao ponto onde deixou George. Ela o beija apaixonadamente, e repentinamente todo o sangue e as feridas desaparecem. Há uma única saída somente, um profundíssimo poço que parece não ter fim. Scarlett explica que os três precisarão saltar, mas antes precisam se perdoar pelos eventos do passado. Ela revela a George que o rapaz só consegue enxergar o irmãozinho porque algo na morte do mesmo o atormenta, e agora precisa confessar o que exatamente aconteceu para efetivamente se libertar. "Quando meu irmão ficou com a perna presa, eu prometi que voltaria com ajuda, mas me perdi no caminho e ele se afogou", George confessa, cheio de dor. Zed desabafa sobre o filho abandonado e o quanto se arrepende por jamais ter sido o pai que o garotinho precisou. Libertados pelo poder da verdade, saltam no poço, uma queda vertiginosa e imprevisível. Milagrosamente, eles saem por um bueiro nas calçadas de Paris, vivos e gratos pela Segunda Chance. Depois de todo o Horror, só a verdade foi capaz de tirá-los das trevas. O trio se abraça emocionado, cada um com uma longa missão de reparar os equívocos do passado pela frente.
John Erick Dowdle, diretor de "Poughkeepsie Tapes", mantém vivo o estilo "found footage" com mais uma inventiva, original obra, um mix curioso de intriga internacional com tonalidades sobrenaturais. Prova da maturidade de Dowdle, "As Above So Below" mostra um cineasta bem mais à vontade e menos afoito, seguro de si e do potencial do intrigante roteiro escrito pelo próprio, que em uma única oportunidade costura elementos de grandes sucessos tão queridos, como "Os Caçadores da Arca Perdida" & "O Código Da Vinci" em um cenário semelhante ao de "O Exorcista". As pessoas apreciadoras de envolventes intrigas em torno de releituras de fatos históricos se fascinarão com essa interessante fantasia sobre a busca da Pedra Filosofal. Entusiasta confesso do estilo "found footage", Erick Dowdle, que vinha aperfeiçoando a técnica com "Poughkeepsie Tapes" & "Quarentena", realiza seu melhor trabalho até agora dentro do sistema dos grandes estúdios. Apesar de inferior a "Poughkeepsie Tapes", seu primeiro e mais impressionante filme, "As Above so Below" disputa acirradamente o "primeiro lugar de 2014" com outra obra "found footage" igualmente relevante, o fantástico "Afflicted", de Clif Prowse & Derek Lee. Não apenas rodados conforme a proposta "found footage", ambos os filmes também se parecem em termos de ambientação, com protagonistas aventurando-se em tramas internacionais cheias de mistério; "Afflicted", com seus dois melhores amigos viajando pela Europa até um deles ser mordido e virar vampiro, "As Above so Below" com a heroína na busca pela Pedra Filosofal que a leva de cavernas no Irã aos encantos da eletrizante "Cidade das Luzes", e depois `as catacumbas.
A atriz britânica Perdita Weeks dá vida à protagonista com a entusiasmada energia de quem reconhece como um papel poderá alavancar sua promissora carreira. Mais conhecida pela performance no aclamado "The Tudors", Perdita Weeks recebeu de John Erick Dowdle seu primeiro papel de envergadura na grande tela. Aqui lembrando-me uma jovem "Katherine Heigl britânica", Perdita oferece uma performance digna de nota ao fugir de armadilhas fáceis, interpretando a personagem com modos mais suaves, agradáveis e elegantes. Em filmes parecidos, onde as rédeas acabam nas mãos de personagens femininas, os diretores tendem a construi-las como super heroínas capazes de empunhar armas de fogo ou realizar movimentos acrobáticos em cenas de luta irreais. O clichê torna-se cansativo. O diretor John Erick Dowdle e sua atriz principal evitaram a cilada, com uma protagonista que jamais soa artificial. Ao contrário, a doçura com que Perdita dá vida à Scarlett talvez represente a verdadeira "Pedra Filosofal" de Dowdle, que definitivamente contou com a pessoa e o desempenho corretos para capitanear a produção.
John Erick Dowdle ganhou uma chance no sistema dos blockbusters graças a seu inquestionável talento. Apesar de pouco visto (até hoje inédito em DVD), seu "Poughkeepsie Tapes" se tornou a lenda sobre a qual fãs de horror cochichavam. Ironicamente, foi esse pequeno filme de horror "maldito" de 2007 que despertou a atenção de gente como M. Night Shyamalan, que o escolheu a dedo para rodar "Devil". Mesmo se tratando de sistemas de trabalho tão distintos - filmar uma produção independente diverge completamente de realizar um blockbuster para a Universal - há algo de "Poughkeepsie Tapes" que sobrevive nas incursões de Dowdle pelo cinema comercial, como "Quarentena", "Devil" e "As Above so Below", talvez o amor do diretor por clássicos do passado, impresso em discretos pequenos instantes de seus filmes, como quando em "Poughkeepsie Tapes" a melhor amiga de Cheryl Dempsey diz algo nas linhas de que "foi difícil me recordar da garota que eu amava e conhecer a mulher que voltou", que nos faz pensar em quão bons e intrigantes eram os suspenses de nossa infância, e constatar a maestria com que Dowdle sabe endereçar semelhantes sentimentos. Não apenas com suas raízes cinematográficas fincadas firmemente no fértil terreno das décadas de 70&80, quando Cronenberg, Barker, De Palma e Argento eram Reis, Dowdle se expressa com um rebuscado sabor a mais, provavelmente a melancolia tão inerente a quem ama o gênero.
Ao situar boa parte da história de "As Above so Below" no labirinto abaixo de Paris, John Erick Dowdle parece prestar uma homenagem a um clássico muito querido do passado, "Hellbound: Hellraiser 2". Assistindo ao sufoco vivido pela turma liderada por Scarlett, recordei-me da violentíssima última hora de "Hellbound: Hellraiser 2", quando as protagonistas exploram o domínio de Leviathan, o inferno descrito como um estéril, cinzento labirinto, um "coliseu infinito" perenemente mergulhado nas sombras, sobre o qual paira girando o Leviathan, uma figura gigantesca e indiferente em forma de tetraedro. Embora haja mais espaço para fantasia e imaginação no filme dirigido por Tony Randel e produzido por Clive Barker, "As Above so Below" também recaptura a claustrofobia de se penetrar em um reino onde regras de Lógica e Física não se aplicam. Em ambos os filmes, ainda mais em "Hellbound: Hellraiser 2", pesando sobre as imagens delirantes, um clima tétrico e pesado acompanha os personagens ao longo da "descida". Não obstante o diretor Dowdle mirar nos blockbusters mais clássicos estilo "Os Caçadores da Arca Perdida", "As Above so Below" quase ensaia o impacto de "Hellbound: Hellraiser 2". Mesmo quase trinta anos após o lançamento, todavia, a crueldade e a força de suas imagens simultaneamente gráficas e erotizadas ainda estão para ser rivalizadas, e talvez ciente disso, Dowdle nem tentou, limitando-se a discretamente a acenar com o chapéu para um dos clássicos que definitivamente fizeram parte de sua formação de cineasta.
O "rebuscado sabor a mais" a que me refiro alguns parágrafos acima se destaca na primeira metade de "As Above so Below", antes da descida às catacumbas. Como poucos diretores conseguem, Dowdle aproveita ao máximo as oportunidades que a ambientação da história permite. Há algo no Velho Continente, em cidades tão românticas quanto Paris, que faz o gênero se ver "em casa" novamente. Não só dos antigos filmes de Dario Argento me recordei, como também experimentei um tipo de eletricidade que revisito todas as vezes que leio a coletânea de Clive Barker "Books of Blood". De certa forma, "La Femme du Vème" foi outro suspense recente que também reuniu as qualidades que o aproximaram das tintas do mestre britânico do Horror. As catacumbas podem parecer o último lugar que você gostaria de visitar se fosse fazer turismo em Paris, mas então por que virou ponto turístico a ponto de atrair backpackers de todos os cantos do mundo?Existe um estranho apelo romântico na coexistência de um lugar que há séculos serviu de morada final para as pessoas vitimadas pela Peste & as delicadas ruas com pequenos, antiquíssimos prédios, seus cafés e tabacarias, a ideia da Morte convivendo harmoniosamente com a criativa boemia artística e os encantos da "Cidade das Luzes" acima.

Para quem jamais se esqueceu daquelas saudosas aventuras sobre tesouros e civilizações perdidas e também "aprecia o prato" com uma pitadinha de Horror, "As Above so Below" é o filme da vez, um motivo de celebração. Filmes do tipo acontecem raramente. Adicionem ao desinteresse dos grandes estúdios a marcação cerrada que fazem sobre "diretores artísticos", ou seja, cineastas que prezam por imprimir identidade à obra, por maior que seja a escala de produção, e compreenderão o milagre da existência de "As Above so Below". O mesmo diretor deve lançar seu próximo filme em breve, "The Coup" (ou "O Golpe"), estrelando Owen Wilson, sobre uma família norte-americana viajando por um país estrangeiro, de férias, quando um golpe de Estado derruba o governo e causa caos, os rebeldes executando sumariamente os estrangeiros. Aproveitando o ensejo, 2015 deverá ser um ano maravilhoso para o gênero, que segue na curva ascendente graças à nova geração de diretores que trouxe consigo o melhor dos mestres do passado. Entre os diversos filmes interessantes, há os de lançamento mais imediato, e outros a que só nos resta aguardar. Entre os mais próximos, eu acho que "Unfriended" deixará uma forte impressão, sobre seis adolescentes perseguidos pelo fantasma de uma moça que se suicidou um ano atrás, depois que os amigos a haviam filmado alcoolizada, postado o vídeo na internet como brincadeira e a chamado de palavras de baixo calão. De muitas maneiras, a proposta se assemelha `a do ótimo "Ouija O Jogo dos Espíritos". Mais distante, no grande esquema das coisas, há "Jacqueline Ess", a adaptação de um dos melhores contos de Clive Barker, um veículo para a atriz Lena Headey, a Cersei de "Game of Thrones", que viverá a heroína da história, a "Jacqueline Ess", uma mulher que somatiza as frustrações do casamento e as traições do marido no poder telecinético sobre a matéria. Barker jamais escreveu com tanta propriedade sobre mulheres excepcionais. Resta imaginar se o diretor da adaptação enxergará os detalhes que tornam o escritor - e as mulheres concebidas por sua mente - tão singulares.
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