Mulher neurótica em processo de divórcio submete-se a extravagante tratamento nas mãos de renomado psiquiatra (Oliver Reed, um dos mais brilhantes astros da Grã-Bretanha, imortalizado na Sétima Arte pelas suas contribuições com o cineasta Ken Russell), que encoraja os pacientes a entrarem em contato com rancores e mágoas, para que as extravasem fisicamente. O ex-marido, um homem ponderado que teme pela vida da filha pequena, move desgastante e fracassada batalha pela guarda da criança. No decorrer do tratamento, os rancores da ex-mulher canalizam o desenvolvimento de um útero externo, a partir do qual passa a gerar criaturas de lábios leporinos sem umbigo, produto de seus sentimentos ruins enrustidos. Pessoas do círculo social da mulher doente, alvo de seu desafeto, passam a ser mortas pelas criaturas. Desencorajado por uma Justiça excessivamente benevolente a mulheres, temeroso pela vida da filha pequena, e bastante suspeito da terapia comandada pelo psiquiatra, o ex-marido luta para compreender a natureza de todas as mortes que vêm ocorrendo ao seu redor. As investigações o levam à clínica do psiquiatra, onde uma terrível revelação o aguarda... Os filhos do medo!

Diferente dos outros filmes de terror do período, David Cronenberg dá personalidade a Os Filhos do Medo pela maneira como investe o horror de características psicológicas assustadoramente próximas e honestas. O elemento fantástico (monstros gerados em um útero externo, produtos de rancores e de ressentimentos) encontra fundamento em condições essencialmente humanas e verdadeiras (traumas, a influência da somatização de emoções negativas no nosso organismo, o peso do passado nas nossas vidas presentes). Em alguns momentos, aspectos desta obscura incursão pelo horror orgânico me fizeram pensar no tristíssimo Dear Zachary A letter to a son about his father. A combinação de fantasia com os fatos da vida real que não apreciamos visitar ou aceitar foi o que tornou os trabalhos de Cronenberg obras de horror que pertencem a uma classe somente sua, bastante imitadas, jamais igualadas.
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