quarta-feira, 26 de outubro de 2016

"Kill List" (Reino Unido, 2011) Uma aterrorizante experiência de força incomum que nos convida a enxergar a absoluta maldade por trás das interrelações pessoais em nosso mundo. Este filme é um verdadeiro pesadelo, e você pensará nele por noites a fio.

Jay (Neil Maskell) e a esposa Shel (MyAnna Buring) não vivem uma boa fase no casamento, e, desde a primeira cena, a tensão a permear a interação entre os dois acusa o cansaço de duas pessoas que se conhecem (e convivem sob o mesmo teto) há muito tempo. Como a maior parte das famílias britânicas de classe média, Jay e Shel lidam com o stress dos muitos afazeres que uma vida em comum implica. Jay pretende quitar o restante da instalação da jacuzzi, nem que eles tenham de realocar uma parte do dinheiro reservado às férias para a conclusão do serviço. Shel defende que há necessidades mais prementes. O filme abre com uma típica discussão, com Jay perguntando `a esposa como ela conseguiu gastar quarenta mil libras em apenas um semestre, e ela retrucando que o marido não trabalha há aproximadamente oito meses. Até mesmo quando Jay volta do supermercado com as compras, precisa aturar os comentários da esposa, que lhe chama a atenção por detalhes sem importância, como o número excedente de garrafas de vinho, tendo preterido outros itens mais básicos da lista. Acontece que, naquela noite, eles oferecerão jantar e recepção a Gal (Michael Smiley), melhor amigo e parceiro de Jay. Ele ficou de trazer a nova namorada para a reunião. Mais tarde, conheceremos o tipo de trabalho executado por Jay, razão pela qual será implacavelmente marcado por um inimigo cuja periculosidade foge à compreensão humana. Apesar dos frequentes atritos, Jay e Shel não conseguem permanecer brigados por muito tempo. O filhinho Sam (Harry Simpson), muito apegado ao pai, é a razão pela qual Shel procura "pegar leve" com Jay, mesmo diante de suas irritantes falhas humanas. Depois de desabafar em uma ligação para a casa dos pais, na Suécia (Shel integrava o Serviço Nacional de seu país, foi como conheceu Jay, à época soldado do MI5 britânico, em operação conjunta às forças suecas), Shel "baixa a bola" com as queixas, e quando menos se espera, vemos os três - marido, mulher e filhinho - brincando no quintal com espadas de esponja. Registrada em câmera lenta e temperada com uma melodia transcendental no "estilo Stanley Kubrick", a cena guardará irônico significado, posteriormente. Antes de me aprofundar na trama, saliento que "Kill List" foi filmado na cidadezinha (e arredores) de Sheffield, uma localidade inglesa espraiada em um vale entre sete colinas, às margens da floresta de Notthinghamshire, palco de outras inesquecíveis estórias de terror, como "Threads", a obra-prima do medo que nos contava uma apavorante versão para os desdobramentos da Guerra Fria nos anos 80, uma tal onde a Terceira Guerra Mundial era, de fato, deflagrada, e o Reino Unido, brutalmente aniquilado por mísseis russos. O filme focava o drama de cidadãos de Sheffield, uma cidade essencialmente industrial que, acreditava-se, constava do topo da lista de alvos preferenciais da ex-União Soviética, no caso do pior. A fotografia de "Kill List", empenhada na criação/sustentação de uma atmosfera abstracionista, quase onírica, ensaia um flerte com a melancolia de céus nublados, rodovias molhadas, e luzes de neon inerente a coisas como "Under the Skin", de Jonathan Glazer. Com o entardecer, e antes de Gal chegar, testemunhamos um doce momento entre pai e filho, quando Jay vai pôr o menino para dormir. O comentário de Sam sobre os gritos da mãe evidencia o monumental stress depositado pelos inconsequentes pais sobre os ombros da criança.

Gal comparece ao jantar com a nova namorada Fiona (Emma Fryer), e seus modos bem à vontade para com os anfitriões indicam que o rapaz é "gente de casa". Ao se atentar às fotos de Shel em uniforme militar, e outra de Gal & Jay juntos, é uma pergunta de Fiona que nos brinda com a oportunidade para conhecermos mais o passado do trio, basicamente amigos desde a época do serviço militar. Enquanto as mulheres terminam de preparar a mesa, Jay e Gal trocam ideia à beira de uma fogueira no quintal. Gal traz uma proposta de serviço para o amigo. Descobrimos que, tendo servido juntos no MI5, após a baixa nas Forças Armadas, e, familiarizados com táticas militares & uso de armas, Gal & Jay ganham a vida como assassinos de aluguel. Daí, a explicação sobre Jay trabalhar apenas semestralmente: ele executa um serviço, recebe uma soma suficientemente grande para que não precise se preocupar por, digamos, seis meses, o que lhe permite permanecer em casa com a família, e aguarda a poeira se assentar, até voltar à ativa. Quando Jay pergunta a Gal se ele falou a respeito da proposta com a esposa, e Gal frisa que apenas tocou na questão de modo en passant, o filme nos mostra que Shel sabe da vida secreta do marido como "hit man", e não faz objeções à maneira como ganha o sustento da casa. No quintal com o amigo, Jay cita a possibilidade da nova missão como provável razão para o recente antagonismo da esposa, e Gal lhe lembra que, como homem de casa, deve saber o que precisa fazer para garantir o futuro do filho. À mesa, a tensão entre marido e mulher descamba em uma violenta briga, quando Jay perde a paciência após as constantes, sutis ferroadas com que Shel o tira do sério. Ela faz um comentário desnecessário sobre Jay não pensar na família quando some por três meses para um serviço, "Eu me sinto como uma mãe solteira", ela reclama. Quando Fiona menciona o trabalho nos recursos humanos de uma empresa, e explica seu duro ofício de preparar listas de demissão, Jay comenta que compreende a dificuldade do dever, principalmente por se tornar alvo do ressentimento das pessoas demitidas e suas famílias. Shel o alfineta: "E desde quando você se preocupa com família?". A "Guerra Fria" entre marido e mulher se dá "sob o radar", sutilmente, perceptível apenas a olhos prontos, mas logo a situação sai dos trilhos. Jay vira o prato, levanta-se, anuncia que acabou de comer e arranca a toalha da mesa, exclamando "Abracadabra!". Ele sobe ao quarto, enquanto Shel o segue, furiosa. Da cozinha, Gal e Fiona conseguem escutar a discussão a se dar na suíte do casal no piso de cima.



Sam acorda com a comoção, e surge na porta da cozinha, confuso. Assertivo e sensível, Gal deixa calmamente seu lugar à mesa e põe o menininho no colo, para levá-lo de volta ao quarto, para dormir. Ele explica que os pais apenas beberam muito, e o faz prometer que, quando crescer, jamais porá álcool na boca. Gal permanece com a criança no quarto, por um tempo, e procura consolá-lo. "Você tem amigos, e, às vezes, briga com seus amigos, mas logo fazem as pazes, certo? Pais e mães são assim também, brigam, mas fazem as pazes. E por isso são pais e mãos, pois são melhores amigos, entendeu?", ele põe as coisas sob perspectiva. Shel reaparece na cozinha e pede desculpas a Fiona. Ela arruma a grande bagunça na mesa. Gal encontra Jay na garagem, fumando um cigarro, visivelmente arrasado. Jay pede ao amigo detalhes dessa nova proposta de serviço. Gal explica que, em tese, o trabalho não deverá oferecer dificuldades. Eles terão de executar três nomes, todos em locais do Reino Unido. Jay usa a garagem para guardar as "ferramentas" de trabalho, pesadíssimas armas de fogo, como um rifle de assalto conseguido por Shel. Eles finalmente conseguem rir um pouco quando Gal explica a forma como conheceu Fiona. Foi numa academia de boxe, onde a executiva também treina. Em dado momento, Gal deixa as brincadeiras de lado, e aconselha o amigo a esquecer o ocorrido em Kiev, oito meses atrás, durante a última missão da dupla, um enorme trauma na vida de Jay, razão pela qual o vimos, no início do filme, engolindo pílulas para depressão. O filme jamais elucida a natureza do drama de Kiev. Eu tenho algumas teorias, a serem colocadas no momento oportuno, nessa resenha. Os amigos se abraçam. "A velha equipe junta novamente, os dois mosqueteiros", Gal promete. Conciliador, Gal toma Jay pela mão e o leva de volta à cozinha, onde encoraja o casal a fazer as pazes. Não custa ao bom humor incrementar o nível da noite, e logo todos parecem sossegados, desfrutando bons momentos. Jay & Shel dançam uma música romântica, Gal e Fiona se beijam, rolando no gramado, em uma grande brincadeira, o quarteto ligeiramente "alto" após algumas doses de vinho a mais, como acontece a qualquer reunião de casais amigos. No instante da despedida, Jay e Gal até mesmo ensaiam uma luta de mentirinha. Depois que o amigo parte, Jay se senta na beirada do jacuzzi, apenas para espairecer e fumar um cigarro. Apesar do desgaste inicial, foi uma noite aprazível. Em determinado momento da reunião, todavia, houve um instante esquisito, por ora incompreensível, quando, ainda no começo do jantar, Fiona se escusara para usar o banheiro. Ela retirou o espelho da parede e talhou um estranho símbolo no papelão atrás da lâmina, devolvendo o espelho ao lugar de modo que o trabalho não fosse descoberto. Conforme aprenderemos depois, a partir daquela noite, a família estava sendo rondada por uma força maléfica que ninguém poderia antecipar.


Jay é despertado pelo filho na manhã seguinte, e aproveita a oportunidade para pedir desculpas pela discussão com a mãe. Ele encontra um coelho morto pelo gato, no quintal. Habituado a missões na selva, da época do MI5, Jay aproveita para cozinhar um saboroso guisado. Ele visita o amigo Gal, ainda de ressaca graças `as taças de vinho viradas na noite anterior. Naquela manhã, os dois se apresentarão aos novos empregadores, e lhes será fornecida uma lista com três nomes a serem eliminados. Gal se abre com Jay e conta que após terem passado a noite juntos, Fiona se foi antes que despertasse. O homem parece definitivamente apaixonado. Jay recomenda que o amigo trate de se vestir, afinal devem comparecer ao hotel ainda no período da manhã. Em um simpático hotel inglês interiorano estilo bed & breakfast de não mais que três andares, os parceiros encontram o novo patrão. O homem permanecerá anônimo no curso do filme, sendo referido apenas como O Cliente (Struan Rodger), no vazio salão de festas. Dali, O Cliente os convida à suíte, onde os últimos acertos serão amarrados. Os assassinos recebem um vultuoso pagamento, e a lista com três nomes. Ao término do encontro, uma macabra surpresa: justificando o ato como acordo de cavalheiros, O Cliente subitamente puxa uma faca do bolso interno do paletó, corta a mão de Jay e, logo em seguida, a própria. Ele puxa a mão do assassino para cima de uma folha em branco, de modo que o sangue goteje bem sobre o papel. O Cliente pede desculpas pelos modos, mas reitera que o ritual deve ser obedecido. No calor do momento, Gal chega a apontar a pistola, porém diante da serenidade do idoso, toma o ato como excentricidades de um ricaço qualquer. Antes de se despedir, O Cliente reporta-se vagamente ao passado recente dos dois matadores "Eu soube que Kiev foi uma dureza". Jay comenta, ainda assustado, "Eu ainda estou me recuperando". "Bom. É importante aprender com os próprios erros", O Cliente diz, e então se vai. Gal ajuda o amigo a lavar o corte, no lavabo da suíte, e a preparar um curativo, de modo a não despertarem suspeitas na saída do hotel pelo lobby. Ambos ficaram intrigados. Como O Cliente sabe da confusão em Kiev? Gal só tem uma certeza: ele diz ao amigo "Ele queria que soubéssemos que conhece nosso passado".


Ao examinar a ferida, em casa, Jay derrama um pouco de antisséptico sobre o corte, e toma mais alguns comprimidos, fato flagrado por Shel. A esposa o orienta a não consumir mais as pílulas para depressão. A cena robustece a certeza de que seja lá qual for a natureza da tragédia em Kiev, Jay saiu psicologicamente transtornado. O matador de aluguel veste seu melhor terno, prepara as malas, e, como pai de família exemplar, despede-se de esposa e filho. Assistimos à Shel acenando, com Sam no colo. A imagem de mulher & criança se torna cada vez mais pequenina à medida que o carro se afasta, enquanto uma melodia intrusiva e inquietante sugere que coisas horríveis apenas esperam o momento certo para atropelá-los. Eles ganham a estrada e partem para a cidadezinha onde se darão as mortes. A dupla se hospeda em um motel à beira da rodovia. No momento de adiantar o pagamento da estadia, o cartão de Jay não é aceito, e Gal se encarrega de quitar as despesas em dinheiro. O homem também paquera descaradamente a recepcionista. Jay liga para casa, para contar a Shel que o cartão foi recusado. Como profissionais em uma missão, eles não podem despertar suspeitas, e um cartão rejeitado chama a atenção. Uma vez acomodados, Gal exibe a ficha do primeiro alvo, um padre de 45 anos, morador da casa n° 14, na rodovia Coldwater.


Ao cair da noite, os parceiros dão um passeio pelas vizinhanças da paróquia, próxima a um campinho de futebol, apenas para "sentirem o lugar" antes do trabalho, a se dar no dia seguinte. Reunidos para jantar no restaurante do hotel, encontram um salão quase vazio, não fosse pela modesta reunião de um pequeno grupo de cristãos, sentados a algumas mesas longe da dos assassinos de aluguel. Esta cena se reveste de enorme envergadura e relevância, dada a montanha-russa de horrores prestes a desabar sobre as cabeças dos protagonistas. À mesa, uma moça agradece a um dos rapazes pela ajuda, pois desde que começou a orar e procurar por Deus, não sofre mais os ataques de ansiedades. Cheios de escárnio, os matadores de aluguel ficam tartamudeando comentários sobre "não aguentarem escutar aqueles trouxas". Cheio de desprezo, Jay confidencia a Gal o desejo de matar cada uma daquelas pessoas, não a tiros, mas a facadas, e lentamente. Um dos membros da reunião puxa o violão e o grupo confraterniza animadamente com uma canção sobre o amor de Deus. Jay se levanta da mesa, caminha em direção aos cristãos, e se comporta de modo terrível. Ele ameaça o rapaz do violão, que imediatamente se desculpa, e explica "Às vezes, o amor por Deus é demasiadamente grande para comportarmos em silêncio". Mesmo após a resposta generosa, o matador de aluguel não se dá por satisfeito, e renova as ameaças tenebrosas. Jay deixa o restaurante, e Gal o segue. Não satisfeito com a cena protagonizada pelo parceiro, Gal ainda debocha um pouco mais, disparando uma ironia qualquer sobre Deus, "Se encontrarem o Homem, peça para que interceda por nós, sim?". Nós os vemos lado a lado, ganhando o corredor a caminho dos quartos, ambos sorridentes e satisfeitos por terem se sentido importantes ao ameaçar um grupo indefeso. A cena será melhor discutida mais à frente. Pessoalmente, a partir deste momento, os dois protagonistas, Jay & Gal, perdem qualquer empatia que poderíamos nutrir pelas suas vidas, mesmo sabendo de antemão que ganhavam o sustento como assassinos de aluguel. Recolhidos aos respectivos apartamentos, ocupam-se de afazeres relacionados ao serviço da manhã por vir, tudo ao sabor de uma tétrica melodia a prenunciar a tempestade, ganhando corpo com a inevitável e rápida progressão dos eventos.
O filme utiliza, então, card titles para apresentar cada segmento. A tela escurece, e vemos a card title "O Padre" a introduzir a primeira vítima da lista. Gal e Jay observam a movimentação na casa n° 14, quando assistem a um homem trajado como sacerdote deixando a residência. Toda vez que abre a boca para falar sobre cristãos, Jay lhes reserva alguma malícia agressiva. Ele confidencia a Gal que mataria padres "de graça", e que o homem provavelmente não passa de um pedófilo. Por pior que tenha parecido na noite anterior ao debochar das pessoas à mesa no restaurante do hotel, Gal prova conservar dentro de si alguma decência, pois ao entrar clandestinamente no escritório do sacerdote para preparar o ataque, posiciona-se diante dos símbolos da Santa Igreja e faz o sinal da cruz, perceptivelmente perturbado em levar a execução adiante. Jay, a seu turno, não exibe qualquer sinal de remorso, apenas malícia e humor. Ao final da missa, depois de se despedir dos fiéis e colocar a paróquia em ordem, o padre se surpreende ao se deparar com o escritório forrado por plásticos. Jay e Gal haviam forrado o lugar para evitar acidentes com digitais e manchas de sangue. Jay surge entre as cortinas do confessionário, e o padre não parece surpreso. Na verdade, ainda chega a dizer "Obrigado". Jay o executa com um tiro na nuca. O corpo do sacerdote é enfiado dentro de um saco preto e atirado pela janela. Os assassinos transportam o saco no porta-malas, e, mais tarde, livram-se das evidências o atirando dentro de um forno crematório.


Após o trabalho, a dupla volta ao hotel. Jay liga para casa, para saber como anda a família. Shel fala sobre o pesadelo que o filhinho teve, envolvendo o gato, e pergunta como a dupla se saiu. Jay conta que o primeiro nome não ofereceu dificuldade alguma. A conversa deixa irrefutável a constatação de que Shel serve quase como agenciadora dos talentos do marido. Apesar de não apertar o gatilho, sua participação nos atos perpetrados por Jay não pode ser questionada. A mulher ainda revela que Fiona apareceu em casa, trazendo um presente para Sam. Jay acha a visita um pouco inesperada e esquisita. Shel não teve uma boa impressão da moça, na noite do jantar, mas agora diz pensar diferente sobre a namorada de Gal. Jay lembra "Não a deixe ir perto da garagem". Ele não pode deixar que a natureza de seu trabalho seja descoberta. O casal troca declarações de amor, e se despede. Ao toque dos raios de sol do entardecer, Jay se prostra pensativo na cama, talvez a refletir sobre as últimas revelações. Vez ou outra, coloca-se diante da janela, e observa a movimentação no estacionamento, entre as cortinas, como se sentisse o cerco de alguma coisa invisível. No seu quarto, na pia do banheiro, Gal queima a ficha da primeira vítima, deletando quaisquer possíveis provas de envolvimento na execução do padre.

O segundo nome da lista diz respeito a "O Bibliotecário". De prontidão dentro do automóvel, perante um depósito aparentemente abandonado, os amigos conversam, e Gal comenta a semelhança entre a próxima vítima e um tio. Esforçando-se para soar casual, Jay pergunta se o amigo tem conversado com Fiona, e revela que ela esteve visitando Shel e Sam. "É como se estivesse esperando por algo", Jay comenta, e Gal pergunta, intrigado "Por quem? Por mim?". "Bem, sim, imagino que sim", responde o amigo. Jay recomenda "Gal, dê-lhe um anel de noivado, eu não quero um fantasma de olhos brilhantes zanzando na minha sala de estar quando voltar para casa". Eles esperam a próxima vítima deixar o local, mas ao invés de o seguirem imediatamente a casa para eliminá-lo, preferem vasculhar o lugar. Gal utiliza uma chave quebra-correntes para livrar o caminho. Em um contêiner utilizado como depósito, encontram quinquilharias e revistas pornográficas, nada de muito chocante, até Gal se sentar diante de um computador desktop acomodado sobre uma mesa servida por caixas de DVDs piratas. Mesmo para um assassino experiente, o conteúdo dos DVDs, pura maldade imposta a crianças, apanha-o de guarda baixa e o deixa boquiaberto. Ao se juntar ao amigo para conferir o conteúdo, Jay, que tem um filho, chega a chorar.

O bibliotecário, um sujeito insuspeito na casa dos 50 anos, é abordado em frente ao endereço, intimidado com um murro cheio na cara, e acompanhado para dentro, sob pontapés. Amarrado a uma cadeira, o homem escuta apavorado a explicação dos matadores sobre terem descoberto o conteúdo dos DVDs no depósito. Ele jura que é apenas o arquivista. Jay quer saber quem filmou a imundice. Quando o homem nega conhecimento, recebe mais uma saraivada de murros. Jay o tortura com a ponta do cigarro. Enquanto o pedófilo leva a pior surra de sua miserável vida, Gal vai checar o andar de cima, para realizar a "limpa" no cofre. Além de libras esterlinas, encontra uma suspeita pasta. Finalmente, o homem desembucha o endereço do responsável pelos estupros. Profundamente aviltado pela sujeira nos DVDs, Jay decide matá-lo ali mesmo. Assim como o padre anteriormente, o pedófilo agradece ao carrasco. Jay saca um martelo da caixa de ferramentas e o enfia freneticamente no pedófilo, esmigalhando o joelho, depois os dedos, e, por fim, enterrando-o repetidamente no crânio até esfacelá-lo, enquanto grita e o xinga de pedófilo maldito, em uma cena absurdamente gráfica (chegamos a ver lascas de crânio se desprendendo a cada sobe-e-desce do martelo). Gal se depara com a cena e fica surpreso quando o parceiro diz que não se satisfará até executar o outro criminoso responsável pelas filmagens. Gal não sabe como reagir ao incomum pedido do parceiro, afinal já eliminaram o alvo, porém acaba acatando a determinação.

Eles dirigem a um terreno ermo, de obras de construção. Jay diz que não levará mais do que vinte minutos, e o amigo deve esperá-lo no carro. Distraído, Gal não percebe quando um automóvel estaciona do outro lado da rua, como se o motorista os estivesse observando. A demora de Jay leva o rapaz a sair do carro para encontrá-lo. Ao atravessar o terreno baldio e entrar pelos trailers, encontra um homem e seu cachorro executados a tiros e, mais adiante, no porão, um outro rapaz, com o rosto virado "para dentro", ainda sendo cruelmente massacrado por Jay. O matador o finaliza com três tiros de pistola automática, disparados contra a cara. Gal começa a temer pela sanidade do parceiro. Nas estradas vazias da madrugada, eles chegam a um posto onde abastecem o tanque, e dirigem a um local mais remoto, no campo, onde constroem uma fogueira para cremar os cadáveres. "Eles eram gente ruim, precisavam sofrer", Jay justifica a própria selvageria. As chamas se avivam por causa das lenhas, e seu vigor nos faz pensar no próprio inferno. Um dos momentos mais tétricos do filme se sucede quando, de volta ao apartamento, à noite, como em transe, Jay se achega à janela para estudar, contemplativo, um amplo espaço atrás do estacionamento do hotel, e uma figura feminina, de camisola, acena, gesto devidamente correspondido pelo assassino. Uma tomada mais fechada individualiza Fiona como a mulher de camisola, uma arrepiante revelação.

Só falta um nome para riscar, e a dupla resolve dar uma pausa. Jay morre de saudades da família. Gal o deixa em casa, e a dupla fica de retomar o serviço algum momento mais tarde. Jay é recebido carinhosamente pela esposa, contudo, para sua surpresa, encontra Fiona por ali, tomando vinho com Shel. Ele se porta atenciosamente, todavia, pelo olhar, podemos perceber a preocupação pelo assédio inusitado. Em casa por alguns dias, Jay aceita ir a um médico para checar a ferida na mão. No consultório, um médico diferente do habitual o recebe, e enquanto o rapaz insiste no ferimento, o cavalheiro lhe diz que a mão vai bem, e não é de ordem física a natureza de seus problemas. A cena se desenrola de forma ambígua, e eu creio que sirva para ilustrar a confusão mental do protagonista, ainda sob controle, porém em vias de tê-lo obliterado pelo horror. Gal também saiu dos últimos eventos visivelmente abalado. Nós o vemos choroso, sentado no chão, afogando as mágoas no uísque, passando a vista por um maço de fotos esquisitas da dupla, tiradas durante a missão. Eles estiveram o tempo inteiro sob a vigilância de uma terceira personagem. Pior, o dossiê também reúne elementos e dados sobre o lance em Kiev (que jamais conheceremos). Shel tira o marido de seu torpor ao encontrar o gatinho morto. O amigo Gal chega pouco depois, também com más notícias, assustado com o dossiê encontrado no cofre do pedófilo. Ao passo que Jay ainda deseja terminar o serviço e riscar o último nome da lista, o parceiro pensa diferente. "Conseguimos grana na outra noite, vamos deixar o serviço pela metade. Tem fotos nossas rondando a casa do padre, Jay. Eles têm até uma pasta sobre Kiev! E onde conseguiram isso? Ouça, cara, vamos abandonar o caso. Não está fazendo bem a nossas cabeças. É só um serviço, não uma cruzada, está bem? Eu andei observando como você termina as coisas! Escute, não posso mais trabalhar contigo, se você ficar alucinado toda vez que tiver um martelo em mãos! Você está parecendo um maldito viciado em crack, o que está acontecendo?". Eles brigam, e Jay o põe para fora de casa. No caminho para a porta, Gal é interpelado por uma chorosa Shel. Carinhosamente, ele leva as mãos ao rosto delicado da amiga e confidencia que o parceiro precisa de ajuda psicológica.

Jay enterra o gatinho, e leva o filho a um passeio no parque. Ele promete presenteá-lo com um cachorrinho, quando o calor do momento se dissipar. O filho o questiona sobre a alma do gato, e, para tranquilizá-lo, Jay afirma-se convicto de que o bicho foi para o céu dos felinos. Prostrado na cama, Jay conversa com a mulher. Ela o aconselha a conversar com os empregadores, encontrar uma maneira de rescindir o contrato. O Cliente os recebe em um refinado salão, acompanhado por outros cavalheiros, soturnos em seus ternos & gravatas elegantes. Gal insiste que há matadores capazes de terminarem o serviço, e aproveitam para abrir mão da última parcela do pagamento, desde que os exonerem da obrigação. "Se desistirem, nós os mataremos, depois iremos atrás das famílias", O Cliente ameaça, ao mesmo tempo que outro homem, presente à reunião, empurra maços e mais maços de dinheiro sobre a mesa, com um envelope contendo detalhes para a próxima execução. Por alguma razão, ocorre a Gal a possibilidade de ele e o parceiro já terem realizado trabalhos para aquela gente. De fato, a resposta enigmática de Cliente aponta nesse sentido. Os amigos deixam a reunião com o terrível dever de terminar a lista. Acuada, Shel decide levar o menino para o chalé, até que o marido finalize o trabalho.

Jay e Gal repassam os detalhes do próximo assassinato com muita atenção, afinal trata-se de um político importante, membro do Parlamento britânico. A dupla o eliminará em sua casa de campo, margeada por um vasto bosque. A tensão é tremenda, e quando Jay atiça o parceiro uma bobagem qualquer sobre Gal não saber escolher boas companheiras, os dois acabam trocando murros e rolando no tapete. Os amigos acabam caindo na real, e param com aquela tolice. Virando garrafas de cerveja, sentados no assoalho da sala, revisam os últimos acontecimentos e tentam fazer algum sentido da retrospectiva. Gal não consegue tirar Fiona da cabeça. Enquanto Jay conta com o suporte de Shel, Gal sente-se compreensivelmente solitário. Jay coloca as coisas sob perspectiva "Você sequer a conhece, Gal". Os amigos partem para a última missão, e uma card title nos apresenta a vítima da vez, "O Membro do Parlamento". A dupla encontra galerias subterrâneas, um facilitador para a passagem entre as margens do denso bosque e o outro lado, serpenteado pela estrada vicinal onde deixarão o carro da fuga. Eles estabelecem um ponto onde montarão vigília sobre a propriedade de campo, e Gal vai caçar algumas lebres para que possam comer durante a noite. A escuridão se avizinha sem sinais de movimentação do outro lado da propriedade.


Gal desperta com os chamados de Jay. Silenciosamente, a uma distância segura, eles acompanham estranhas pessoas munidas de tochas, algumas nuas, outras vestidas com batas brancas, em uma procissão através das veredas. Jay e Gal seguem pela margem do lago, camuflados por uma camada de árvores, e continuam no rastro das pessoas de branco até a um ponto onde existe uma forca. Uma jovem loira sobe o cadafalso e voluntariamente veste a corda ao redor do pescoço. Sob batidas de tambor, a moça se atira da plataforma e estrebucha na ponta da corda. Jay já viu o suficiente. Fazendo uso do rifle de assalto, abre fogo pesado contra os fanáticos, e a primeira pessoa atingida é o político britânico, terceiro e último nome da lista. O tiroteio principia uma grande comoção. Em que pese terem aberto fogo contra a seita, os integrantes investem destemidamente na direção da dupla, e os dois precisam correr para não morrer. Os dois chegam ao túnel previamente preparado para a fuga, e vestem lanternas de cabeça. Este talvez seja o momento mais aflitivo, graças ao desespero envolvido em uma fuga por galerias tão úmidas e escuras, o fato de se virem assediados por adoradores do diabo munidos de facas e, principalmente, a música inquietante ao sabor de esquizofrênicos violinos. Os amigos se perdem no emaranhado de túneis, pois passagens conhecidas foram apenas há pouco fechadas por tijolos ligados por cimento fresco. Eventualmente, conseguem retornar ao percurso original. Ao ficar um pouco para trás, Gal acaba atingido na batata da perna. Uma mulher mascarada monta sobre seu corpo e o esfaqueia impiedosamente, na altura do abdômen. Gal consegue eliminá-la com um tiro ao lado do rosto. Jay chega ao ponto onde o parceiro foi derrubado e procura arrastá-lo através das galerias, enquanto gritos arrepiantes vindo de cima, semelhantes aos barulhos feitos pelas baleias, os lembram de que os adoradores se encontram logo acima no bosque, sempre por perto. Jay deve alcançar o mais rápido possível a estrada vicinal para subir no carro e desaparecer. O intestino de Gal, exposto, mal pode ser devolvido `a cavidade abdominal. Ele se encontra basicamente sentenciado a uma morte certa. Determinado a não deixá-lo à mercê de inimagináveis depravações, Jay lhe dá um tiro de misericórdia, e finalmente consegue regressar para a superfície do bosque para alcançar o desejado trecho da pista e subir no carro.

Jay dirige pelas estradas do interior da Inglaterra, rodovias muito amplas, desertas e assustadoras, ao longo da madrugada. Vez ou outra, estaciona no acostamento para absorver melhor o impacto da morte do amigo e chorar, enquanto a sequência sofre a intromissão de flashbacks de dias mais felizes, ao sabor de uma melodia triste e contundente. Só na noite do dia seguinte Jay consegue chegar ao chalé, onde reencontra mulher e filho. A felicidade do encontro logo se dissipa. Tochas acesas nas cercanias indicam que os membros do culto satânico se encontram na área. Jay alimenta o rifle de assalto, e orienta a esposa a permanecer dentro de casa, para eliminar qualquer invasor. Ele efetua alguns disparos no sentido das árvores fechadas, como que para afugentar os visitantes, todavia uma coronhada vinda de trás o tira de combate. Shel utiliza uma pistola com silenciador para eliminar a silhueta que se assoma à porta da suíte. O barulho de vidros estilhaçando chama a atenção de Shel para o rés do chão, e a imagem escurece, de forma a não conhecermos imediatamente o destino da mulher e criança.

Uma nova card title nos surpreende com uma quarta vítima, até então inexistente, "O Corcunda". Jay é conduzido pelos membros da seita até a um círculo formado por gente mascarada, onde tem as roupas rasgadas, os olhos encobertos, o rosto servido por uma máscara de gravetos, e uma faca propositalmente depositada em uma das mãos. Uma outra pessoa, semelhante a um corcunda, igualmente mascarada, é guiada ao centro da arena. Os dois são obrigados a lutarem com facas, às cegas. Em dado momento, Jay aproveita a vantagem para derrubar o adversário e montar nas costas. Ele desfere uma dezena de facadas nas costas do Corcunda, e se sagra vencedor do combate. O lençol é retirado para elucidar a identidade da figura. Jay apunhalou mulher e filho, e não um oponente desconhecido, muito embora o fato de a criança ter sido amarrada à mãe tenha criado a ilusão de que Shel se postasse encurvada, o que criou o ardil. Ao ter o lençol tirado da frente do rosto, e perceber que lutou com o próprio marido, Shel ri, agonizante, e morre. Puro horror toma conta da face de Jay, agraciado por O Cliente com uma coroa artesanal servida à cabeça, enquanto o estampido seco de aplausos impessoais dão ao macabro espetáculo um tom absurdo. Não há resolução ou redenção. A imagem subitamente escurece, e os créditos começam a subir.

Eu costumo encontrar certa resistência para manter a constância na elaboração das resenhas, não por falta de paciência para trabalhar nas mesmas, pois qualquer processo criativo me agrada, e sim pelas rarefeitas oportunidades quando encontro filmes atuais encantadores, a ponto de despertarem meu interesse em arregaçar as mangas para escrever. Daí, compreende-se o fato de a maioria de meus escritos girar em torno de obras de outras épocas. Ocasionalmente, esbarro com um ou outro fenomenal filme, e não me canso de revê-los, pois sempre acho que jamais seria capaz de falar o suficiente de suas tramas, como "w Delta z" e "Under the Skin", sem descobrir antes a totalidade de seus maravilhosos segredos. Não faz muito tempo, assisti a um terror independente chamado "Starry Eyes", uma estória lúgubre e desesperançosa sobre uma moça bonita, aos vinte e tantos anos, que, assim como as outras meninas e rapazes de seu círculo de amizade, deseja o estrelato, e aguarda o convite que a tornará a nova grande estrela do cinema. À proporção que comparece a audições no submundo de agências de casting de quinta categoria, movida pela poderosa ilusão que dá à indústria uma falsa noção de sucesso e prosperidade, ela se vê obrigada a manter os pés firmados no chão, enquanto ganha a vida como simplória garçonete de uma diner em downtown Los Angeles. "Starry Eyes" me envolveu como lençóis sujos e molhados, porque, muito descompromissadamente, o diretor soube construir uma estória ideal para viabilizar a interseção de dois universos, um o do compreensível desespero de personagens transitando por um submundo de motéis e contas atrasadas, confundindo-se com um outro mundo, de promessas falsas e vazias, ferramentas com que a grande ilusão suga a alma dos inocentes com estrelas nos olhos. Embora a maior porção se ocupe dos dramas dos jovens que compõem o núcleo de relacionamentos da protagonista, "Starry Eyes" vira um filme genuinamente depressivo quando deriva para a hipótese de o ser humano perder a própria alma em nome de um determinado rito de passagem criado como salto para aclamação e riquezas passageiras e vazias. "Starry Eyes" esbanjava um clima opressivo e satanista, e quando busquei tramas similares, impressionei-me com a insistência das pessoas ao renderem homenagem a "Kill List". Após ver os dois filmes, eu compreendo as similitudes entre as duas aventuras, ambas sobre gente em momentos vulneráveis da vida - predicamento causado por suas próprias, terríveis escolhas - sob o assédio de forças ocultas, até mesmo conceitualmente abstratas, cujo maior truque é atuar em cima das fragilidades de mentes predispostas a se perderem. Diferente das mais arejadas lições de moral, os diretores não utilizaram as premissas para revisitarem a clássica narrativa do triunfo do espírito humano sobre a sedução do Mal. Muito pelo contrário, como retribuição por suas ações abjetas, os protagonistas anti-heróis apenas têm o ângulo de suas quedas tornado mais íngreme, e os abismos onde perdem as almas, mais aprofundados. Em "Starry Eyes", a chacina à faca cometida pela protagonista precede a posse definitiva de sua alma pela elite satanista; em "Kill List", a hipocrisia com que o assassino de aluguel e sua "Lady Macbeth" sustentam vidas duplas franqueia ao Mal entrada no seio do lar, deixando-o livre para a invasão da diabolice, primeiro apenas sugestivamente, como o gatinho morto sem explicações, depois mais metafisicamente, como a aparição de Fiona de camisola acenando para Jay, de um terreno baldio. Em ambos os filmes, qualquer chance de redenção resta golpeada de morte pelas ações dos protagonistas. Se formos utilizar como referencial o pessimismo com que essas melancólicas tramas trataram o destino dos protagonistas, devemos resgatar "o original", a primeira obra de horror macabro que ousou descer ao inferno, figurativa e literalmente, e nos levar junto ao passeio, ao lado do personagem principal. "Starry Eyes" & "Kill List" são frutos da mesma árvore. Nenhum dos dois existiria, não fosse pelo "tronco" de onde partiram, o filme de 1987 dirigido por Alan Parker, estrelado por Charlotte Rampling & Mickey Rourke, "Coração Satânico", baseado no romance homônimo de William Hjortsberg, sobre um detetive medíocre contratado por um homem misterioso, no ano de 1955, para descobrir o paradeiro de um cantor chamado Johnnie Favorite, muito famoso na época da Segunda Guerra Mundial. Após regressar traumatizado do conflito, Favorite foi institucionalizado, e desapareceu após ter sido visitado e levado a um passeio pela ex-namorada, filha de um homem rico, sem que ninguém tivesse mais notícia de seu paradeiro. À medida que se aprofunda nas investigações e mergulha no submundo de Nova Orleans, o detetive esbarra com pessoas que conheceram Favorite e tremem de medo só de conjecturar as circunstâncias do sumiço. Embora não se recorde, o detetive também tem um poderoso pressentimento que conheceu seu empregador em algum momento do passado. A partir dessa ideia repleta de mistérios e pistas falsas, o diretor Alan Parker criou um fantástico e atmosférico suspense, uma jornada para dentro das entranhas de seitas satanistas e da própria noção de se vender a alma ao Diabo. Discriminados os paradigmas empregados como parâmetros para a construção de uma nova trama, e levados em conta os elementos emprestados na criação, será que "Kill List" nos oferece novidades? Sim. Talvez seja uma das mais eletrizantes obras sobre a "febre satânica", tema que experimentou um revival após o recente, instigante "Regressão", de Alejandro Amenábar.

Ao iniciar a análise, trouxe à baila "Starry Eyes" e "Coração Satânico", mas, em termos de storytelling, "Kill List" mostra mais pontos de contato com "Regressão". Jamais encontramos a figura do Diabo, manifestações sobrenaturais reduzem-se quase a um mínimo. O filme não tenta invocar a presença do Mal pela via do fantástico, como, a título de exemplo, o apavorante segmento "Parallel Monsters" de "V/H/S: Viral", onde víamos uma dimensão paralela quase simétrica, idêntica à nossa, com o terrível diferencial de que nesta outra versão do universo, o mundo era governado por aquilo que os adeptos da Nova Ordem Mundial chamam de "luciferianismo", e mulheres tinham genitálias denteadas que subiam à altura do umbigo. No caso de "Kill List", o habilidoso diretor Ben Wheatley fia-se exclusivamente na representação humana do Mal, ou melhor, na versão com rosto humano, imediata aos olhos, muito próxima e urgente. Apesar de não enxergarmos o Diabo em carne (como ocorre em "Coração Satânico", quando o empregador de Mickey Rourke, um cavalheiro chamado Louis Cypher, revela-se o próprio), a sugestão da maldade pela ação dos membros de um culto formado por satanistas basta para requentar a horrorosa sensação de impotência e tragédia, para o protagonista, e, por que não, para a gente também, companheiros de Jay na descida a aquele bosque fechado durante o asfixiante segmento final. A figura literal do Diabo, por conseguinte, deixa de importar, de merecer qualquer preocupação por parte dos criadores, pois a "cara humana", sua representação aqui no mundo físico, encapsulada pelo misterioso grupo de pessoas de robes brancos e máscaras artesanais, encarrega-se de provocar um tipo ímpar de aflição. Nesse diapasão, ao passo que a esposa com dois amantes praticantes de swing em um universo satanista de "Parallel Monsters" chegue a fazer arder os olhos, tamanha a perversidade de um conceito tão sinistro, Wheatley não precisou se servir do Deux ex machina de um portal entre dimensões de inspiração tipicamente cronenberguiana. A facilidade com que "Kill List" vira um filme incrivelmente angustiante no espaço de 10 minutos após o início muito deve à tragédia da corrupção humana, à falibilidade da alma, à suscetibilidade do homem para cair diante das coisas ruins ao alcance dos olhos, elementos muito bem destrinchados pelo diretor/roteirista. A queda do homem, envergado pelo peso dos dramas diários, acumulados sobre a espinha até causar a ruptura, sempre se provou um excelente combustível para memoráveis e evocativas estórias de terror, desde que o cineasta trabalhe com a sensibilidade para não tornar os desdobramentos tacanhos ou forçados. Cito "Session 9" como o perfeito exemplo de terror psicológico onde o processo de desmantelamento da mente de um bom homem, impotente em lidar com as demandas de chefe de família, dá o pontapé a uma inesquecível sucessão de tragédias envolvendo um hospital psiquiátrico abandonado, assombrado por imponderável carga de tristeza e más energias, e a forma como este tipo de energia encontra um meio de interferir e arruinar as vidas de pessoas espiritualmente fracas & exaustas. Não obstante "Kill List" faça constantes referências a satanismo, e "Session 9" não, o ponto de contato dos dois filmes consiste no lento, aflitivo processo de desintegração/dissociação mental dos protagonistas. "Session 9" lançou a carreira do diretor Brad Anderson, que desde então tem dirigido produções maiores estreladas por atores muito famosos, como "Stonehearst Asylum" (Michael Caine, Ben Kingsley e Kate Beckinsale) & "O Maquinista" (Christian Bale). Apesar de reger filmes tão grandes, Anderson nunca mais reencontrou o brilhantismo que lhe permitiu criar uma autêntica obra-prima ("Session 9" foi rodado em 2001 - como o tempo voa!). O cineasta trabalhou como um autêntico artesão ao criar "Session 9", mas, sejamos honestos, parte do mérito recai sobre o belíssimo trabalho do elenco principal, em especial Peter Mullan, o homem por trás de uma das performances mais inesquecíveis que eu vi em minha vida. Tenho reparos quanto a afirmações muito categóricas, portanto quando me refiro ao trabalho de Mullan, nada mais faço do que lhe dar o crédito devido: hei de ver outro desempenho a rivalizar a força bruta com que Mullan criou o Gordon Flemming de "Session 9". Como se já não bastasse, o elenco secundário dá show, com David Caruso provando-se excelente ator no papel do melhor amigo do Gordon, e Stephen Gevedon, que além de ter ajudado no roteiro, a seu personagem menor nuances que o tornam interessantíssimo & complexo (a partir do ponto de vista de Gevedon, através de rolos de tapes antigos contendo entrevistas de psiquiatra/paciente, somos apresentados ao caso de uma moça, Mary Hobbes, que passara a vida inteira institucionalizada no hospital psiquiátrico, por, quando criança, ter esfaqueado pais & irmão, tendo inclusive morrido de idade avançada nas dependências, e cuja história reflete a via crucis atravessada pelo imigrante irlandês Gordon, hoje, tantas décadas após os eventos contidos no tape). Teria Ben Wheatley contado com um elenco igualmente excitante para nos mostrar a sua versão de inferno?

A sua maneira, cada ator deu uma contribuição pessoal para afiar os personagens, dar-lhes identidades muito coloridas, sólidas. Seria incorreto exigir de Neil Maskell o dever de reproduzir o tipo de empatia evocada, por exemplo, por Gordon em "Session 9". Peter Mullan vivia um imigrante irlandês, dono de um pequeno grupo de limpeza de asbestos Hazmat, lutando para "manter a cabeça fora d'água" e superar o stress financeiro a assolar a classe média blue collar, agora que a mulher, aos 40 e tantos anos, é mãe de um bebezinho, e ele, pai de primeira viagem. Maskell interpreta um personagem no outro extremo do espectro, que mais parece pertencer a filmes de gangsteres britânicos dirigidos por Guy Ritchie ou Nick Love, o tipo de papel que transformou Tamer Hassan e Danny Dyer em astros. Jovem, energético, durão e com uma tirada confortável e esperta para cada situação, não custa ao personagem de Maskell descobrir que quando pôs os pés naquele submundo, as regras de conduta que o haviam tornado um assassino de aluguel tão eficiente de nada mais valiam. Nós tendemos a nos identificar melhor com a luta de Gordon, mas nem por isso deixamos de compreender o dilema de Jay. À medida que a trama avança, e a fachada de bravatas cai por terra, revelando um homem apavorado cercado por um Mal inimaginável, Maskell consegue dar ao desespero do personagem matizes humanizadoras de remorso, mesmo levando em conta seus terríveis pecados. MyAnna Buring, familiar a fãs do gênero pelo papel principal no excelente "The Descent", de Neil Marshall, de 2005, interpreta a esposa do personagem principal. Como mulher de um matador de aluguel, eventualmente fazendo as vezes de agenciadora, parece óbvio que Shel jamais se portaria como uma afável mãe de família dedicada a preservar o lar e as pessoas dentro. Ela é durona - quiçá melhor assim, afinal a provação vivida pela família demanda nervos de aço - contudo, devo admitir que seus modos chegam ao ponto de dar nos nervos. Sua moral corrompida não ganha nenhum ponto conosco, não permite qualquer tipo de solidariedade. Eu a tomei como uma "Lady Macbeth" do século XXI, versão anabolizada da personagem da tragédia "Macbeth" escrita por William Shakespeare: Lady Macbeth não tinha escrúpulos para alcançar os objetivos, e convence o marido a matar o rei; Shel se empenha em instrumentalizar o ofício secreto do cônjuge, e em muitos momentos demonstra ascendência sobre o rapaz, a ponto de saber sobre um vindouro serviço antes mesmo do matador. Natural que quando o parceiro cai, ela desabe junto. É apenas uma pena que Sam, uma criança inocente, pague pelos pecados de dois adultos idiotas e sem pista. No papel do melhor amigo e parceiro, Michael Smiley rouba o filme e traz para seu lado a torcida inteira. Sim, ele ganha a vida executando alvos, todavia, algo no jeito brincalhão, nos moldes de, digamos, um roqueiro aposentado, ao se pronunciar como a marca mais explícita de Gal, acaba por eximi-lo da gravidade das próprias ações. Ao me sentar para escrever este trabalho, percebi que apesar de termos visto o menino interagir bastante com o pai, é precisamente na cena em que Gal o pega nos braços e o leva para cima, para o quarto, após a discussão daqueles dois tolos, que se risca uma faísca do esboço paterno naquele meio desordenado e corrompido. Gal também cumpre a função de "Grilo Falante", e as sugestões mais lógicas partem de sua pessoa. Na cena em que Gal visita Jay e os dois têm uma conversa na garagem, eu pensei em um dos melhores momentos de "Audition", de Takashi Miike, quando o colega do protagonista, agindo como um verdadeiro amigo, tenta colocar senso na cabeça do protagonista, que se apaixonou por uma moça misteriosa cujas referências não batem com as investigações do amigo. Assim como o homem não dá ouvidos ao amigo e segue feliz & satisfeito dançando à beira do abismo, as insistentes advertências de Gal em "Kill List" caem em ouvidos surdos. Em uma participação modesta, mas vital à trama, Emma Fryer nos brinda com enervantes aparições, uma espécie de "sinal para os maus tempos". A personagem se move como um tigre a estudar, de uma área mais alta, as zebras desatentas de um vale. "Eu não gostei dela, no começo", Shel explica ao marido, ao conversar com Jay pelo skype. Interessante que o caráter de "Lady Macbeth" insufla Shel com um poderoso sexto sentido quanto à malícia alheia. De fato, desde o começo, Fiona marcara a família para o abate. Uma das cenas pivotais envolve a aparição de Fiona, vestida em camisola, acenando para Jay, que da janela do quarto vê somente uma figura feminina, sem fazer a conexão de que se trata da namorada do amigo. In bonam partem, a narrativa corre pelos trilhos clássicos do suspense político, quase nos moldes de coisas setentistas, tipo "The Parallax View" (Wheatley inclusive cita o filme de Alan J. Pakula como inspiração). Só em uma rápida passagem, "Kill List" tempera a jornada de Jay com uma pitada fantástica, afinal a visita de Fiona jamais é explicada. Teria ela seguido os dois matadores até a cidadezinha, apenas para acenar para Jay? Como antever que o rapaz se posicionaria diante da janela? Melhor ainda, como adivinhar o número do apartamento? A escassez de informações muito básicas deixa o ar tão rarefeito que à nossa imaginação cabe fechar lacunas. Eu levantei algumas questões dignas de debate: qual a ligação entre as pessoas da lista e a seita satânica? Por que um padre constava da lista? Por que as pessoas da lista evidenciavam um ar de alívio à visita do assassino, a ponto de o agradecerem por estarem sendo mortas, como se fosse uma honra?

Wheatley nos confiou a tarefa de conectarmos os pontos segundo nossas convicções. Eu creio que as pessoas da lista compunham as hostes do culto, e que morte pelas mãos de Jay representava uma honra, motivo de lisonja. No final, depois de esfaquear e matar mulher e filho, Jay, em estado catatônico, recebe uma coroa, sob os aplausos dos satanistas. Do instante em que Fiona sinalizou as costas do espelho, Jay estava "na engorda". Por mais que as aparências apresentassem o caso como mais um serviço, era óbvio que aquela gente da lista esperava pelos ataques, e sorria de satisfação sob a mira da pistola. A cada nova morte, Jay ganhava pontos dentro das hostes, de modo que apunhalar mulher e filho cristalizava a aclamação absoluta. Os satanistas queriam "coroar o rei", e por ter se permitido corromper, Jay perdeu sua alma. O papel do padre nos abre oportunidade para considerações intrigantes. Se ele conhecia e atuava no esquema do culto, sua existência poderia ser rastreada a um ataque do luciferianismo à sagrada instituição da igreja. Quando o vimos conduzindo preces no altar do presbitério, os fiéis oravam genuinamente tocados, mãos dadas na nave, alheios à real face do "agente infiltrado". A verdadeira natureza do padre, portanto, reforçaria a tese de que o Mal encontra variantes para nos sabotar, indo ao extremo de ardilosamente adicionar farsantes nas nossas casas e instituições para nos destruir por dentro. Fiona, por sua vez, pode ser interpretada como o súcubo, um demônio de aparência feminina, prova contundente de que aquela gente imoral não somente apreciava comportamentos e coisas negativas, como também havia estabelecido uma conexão direta com o Diabo, representado na Terra por Fiona, o demônio. De qualquer forma, a ausência de respostas nos deixa aturdidos, perdidos em um emaranhado de símbolos e imagens fortes. A própria menção ao "ocorrido em Kiev", ao trauma responsável por ter lançado o protagonista em oito meses de "aposentadoria forçada", engolindo pílulas para depressão, nos convida a refletir. Tenho suspeitas quanto ao acidente em Kiev, e vislumbro conexão entre os eventos em um lugar tão longínquo quanto a capital da Ucrânia, na Europa Oriental, e os fatos verificados em casa, na Grã-Bretanha. Durante a consecução do trabalho em Kiev, Jay deve ter acidentalmente matado uma criança, um imperdoável pecado, mesmo para um matador de aluguel. Se for o caso, seu inominável crime certamente assinalou o termo de venda da alma. Nesse caso, há oito meses, Jay já firmara a própria sentença, ainda que demandasse pouco mais de um semestre até que os planos do Diabo se pusessem em curso. Lembrem-se, O Cliente dá a entender a Jay e Gal que os matadores já lhe haviam oferecido seus préstimos no passado.


O diretor de fotografia imbui "Kill List" de elegantes enquadramentos reminiscentes de Stanley Kubrick em "O Iluminado" & "De Olhos Bem Fechados". Os planos capturam a essência do interior da Inglaterra, e a soma de detalhes junta peças do quebra-cabeça, um amplo plano de fundo que vai desde bairros típicos do working class britânico, tão bem imortalizados pela poesia visual de Ken Loach, a terrenos de construção com contêineres onde segredos imundos clamam por serem revelados, de motéis de cidadezinhas ao bosque às margens dos palácios dos ricos & privilegiados. Em contraponto ao plano de fundo (ou, melhor, justaposto ao mesmo), Laurie Rose rascunha para o diretor Wheatley construções verdadeiramente mefistofélicas, dignas de filmes igualmente perturbadores como "Lords of Salem", de Rob Zombie. O assassinato do membro do parlamento britânico, no bosque, utiliza visões similares às das obras de Zombie. Como sabemos, "Lords of Salem" nos choca com uma overdose de nudez frontal feminina, símbolos satânicos e representações pagãs. A sequência do bosque merece uma abordagem à parte, e ao introduzir a discussão, permitam-me pegar emprestada a trilha sonora de "Kill List", pois minha análise fará um link aos temas saídos da cabeça de Jim Williams, autor da mesma.

Todos os direitos autorais reservados a Rook Films Ltda. O uso de parte da música é para efeito meramente ilustrativo da resenha.

A trilha sonora de um filme pode ser encarada como metade do caminho para se chegar aos corações das pessoas. Não quero me limitar ao cinema, no que toca o ponto: quando sentimos saudades de Ayrton Senna, que música nos ocorre quase automaticamente? O tema da vitória, a canção instrumental do maestro Eduardo Souto Neto. O que teria sido de "Rocky", sem um compositor chamado Bill Conti? Alguns de vocês devem perguntar Mas quem é Bill Conti? Claro, vocês conhecem Sylvester Stallone, Carl Weathers, Talia Shire, Dolph Lundgren Burgess Meredith, mas estranham o nome Bill Conti. Será que "Rocky" teria o mesmo impacto, não fosse a belíssima trilha que sublinha lindamente momentos cruciais, como quando Rocky sobe exultante os degraus do Museu de Arte da Filadélfia e ao final levanta os braços em celebração ("Gonna Fly Now"), ou o próprio desdobramento da luta, quando ele, mero pugilista de clubes vagabundos, encara o Campeão Mundial, e Apollo, que no começo não leva a luta a sério, logo passa a defender desesperadamente o título ao descobrir que, mesmo apesar de toda a surra imposta, não há nada que fará Rocky se entregar ("Going the Distance")? A trilha sonora ou catapulta um filme às estrelas, ou o afunda de vez. Filmes de horror precisam de mais do que imagens absurdas e apavorantes, elegante fotografia, enquadramentos caprichosos. A melodia a cercar a jornada possivelmente representa metade do caminho à unanimidade de público & crítica. "Under the Skin", a sinistra ficção científica dirigida por Jonathan Glazer, se serviu da trilha sonora de Mica Levi para reproduzir, melhor do que performances ou palavras, o sentimento de alienação, na estória de uma alienígena abduzindo homens nas estradas do interior da Escócia. Eu mencionei anteriormente que, no caso de "Kill List", não nos custa nem 10 minutos para prever o horror prestes a desabar sobre a cabeça dos protagonistas como lâmina de guilhotina. Há dois momentos-chave que eu gostaria de individualizar na trilha acima. Primeiro, aos 11:52, eis o instante em que Jay se prostra na cama, banhado por um sol muito fraco de fim de tarde, cujos raios penetram através do tecido puído das cortinas. Ele acabou de eliminar o primeiro nome da lista, e parece pensativo, com toda aquela breve conversa com Shel, depois de ela ter contado sobre a visita de Fiona. Existe algo na quietude da cena que trabalha como a calmaria antes da tempestade, e o matador de aluguel, cheio de saudade do filho pequeno, parece pressentir a tragédia iminente. Segundo, aos 19:10, temos a claustrofóbica descida pelas galerias subterrâneas ao bosque, quando os amigos são caçados por aquela gente estranha, dezenas de mulheres nuas com facas e instrumentos cortantes em mãos, avançando por espaços muito fechados, sem se deixarem intimidar pelos tiros do rifle de assalto de Jay. No instante em que os violinos passam a arranhar a melodia macabra, quando vi o filme pela primeira vez, senti como se o oxigênio tivesse deixado meu corpo. É uma cena genuinamente inquietante, e ao sabor de violinos, consegue se agravar ainda mais. A fuga pelos túneis sob o bosque me lembra uma cena de outro filme, "Estranhos Prazeres", de 1996, de David Cronenberg, sobre um publicitário e sua esposa, arrastados a um mundo de fetiches habitado por narcisistas ainda mais malignos que os protagonistas, que atrelam o prazer do sexo ao "rearranjo" do corpo através de acidentes automobilísticos. Eles reconstituem desastres famosos, como as mortes de James Dean e Jayne Mansfield, e, no ato da encenação, obtêm gratificação sexual ao colocarem suas próprias vidas em jogo. Em dado momento, o personagem vivido por James Spader assiste, ao lado da médica interpretada por Holly Hunter, à recriação da batida causadora da morte de James Dean. Subitamente, a Polícia Aeroportuária realiza uma batida na pista (o grupo dos fetichistas costumava se servir do local, uma pista periférica, não exatamente dentro do aeroporto de Toronto, mas nas cercanias, para as aventuras), e a turma inteira debanda para dentro do bosque, evadindo-se das autoridades. Na cena, você vê as réguas de giroflex dos carros de Polícia varrendo o espaço com luzes aquosas coloridas de neon (azul & vermelho) ao longe, no sentido da floresta escura, e as pessoas do seleto grupo morrendo de rir, correndo para dentro do bosque fechado, felizes por terem conseguido enganar novamente os agentes portuários. Naquele momento, o personagem de James Spader contempla que acaba de cruzar um limite muito perigoso. Ele colocou os pés em um mundo surreal, sem sentido, um universo habitado por narcisistas muito, muito piores que o próprio Spader, que virão para cima com toda sorte de manipulação e joguinhos psicológicos conhecidos pela humanidade, mesmo pelos mais astutos sociopatas. Os americanos têm uma expressão para definir situações do tipo, "All bets are off", ou, "Todas as apostas foram levantadas", em outras palavras, qualquer resultado pode acontecer. A mesma ideia se aplica à dupla de "Kill List". Esqueçamos, por um minuto, a questão do Diabo. Independente da existência ou não do próprio Lúcifer, que em filmes como "A Bruxa" assume inicialmente a forma de um bode e depois mais se assemelha a um pirata, as pessoas acima das galerias são gente má. Ali, deve haver pedófilos, estupradores, maníacos, praticantes de sacrifícios, entusiastas da "Nova Ordem Mundial" e, pior, a nata da high society, pessoas conectadas a atores dos bastidores do poder, como empresários, políticos e magistrados. Lembrem-se, os dois acabam de executar um membro do Parlamento Britânico! O culto não somente pode apanhá-los ali no bosque para impor Deus-sabe-o-quê a seus corpos. Eles têm meios de arruinar as vidas dos opositores e saírem impunes, e o mundo não é grande o suficiente para escondê-los, Jay & família, por muito tempo. A cena nas galerias me deixou indelével impressão pois somente naquele instante caiu a ficha, para mim, que deixar o bosque com vida não significa coisa alguma, apenas o protelamento do clímax. Assim como acontece a "Kill List", ainda que o Diabo não fale como o bode "Black Phillip" de "A Bruxa" ou adquira a forma humana de pirata, as pessoas que acreditam em tamanha maldade, no mundo real, podem ser ainda piores que sua referência intelectual.


"Kill List" desperta recordações de dois notórios, pérfidos escândalos, os casos de Jimmy Savile e "Franklin Cover-up". Jimmy Savile foi um dos mais poderosos apresentadores da televisão britânica, e manteve-se sob os holofotes por muitas décadas, dos anos 60 aos 90. Seu programa infantil "Jim'll Fix It" (1975-1994) não passava de desculpa esfarrapada para deixá-lo mais próximo de crianças desassistidas. Meu irmão, quinze anos mais velho do que eu, lembra-se do programa deste cara, e já então pressentia algo de errado com Savile. Ele gozava de livre trânsito pelos círculos do poder, e suas conexões com Margaret Thatcher (a quem chamava de "Maggie") e a família real britânica eram notórias, tendo inclusive lhe valido o título de "Sir Jimmy Savile". A internet está repleta de fotos onde o vemos na companhia do Príncipe Charles e outros membros da elite. O apresentador morreu em outubro de 2011, aos 84 anos, e aproximadamente um ano após o falecimento, a Polícia inglesa iniciou investigações acerca das denúncias de escândalos sexuais envolvendo seu nome. A Scotland Yard afirma que Savile estuprou um número próximo a trezentos indivíduos (números não-oficiais apontam abusos sexuais da ordem de quinhentos vulneráveis, a partir de crianças de dois anos de idade, em diversas instituições, como os estúdios da BBC, quatorze hospitais gerais e vinte hospitais para crianças espalhados pelo Reino Unido), no curso de quase meio século. A verdade pode ser muito pior e mais perturbadora. No grande esquema das coisas, o apresentador não passava de peixe pequeno em uma rede de pedofilia envolvendo gente responsável pelo destino de países. Savile tinha "as costas largas", graças a amigos poderosos cujas carreiras podem ser rastreadas aos bastidores da Downing Street. Muitas décadas antes da descoberta de seus horrendos segredos, Savile havia construído para si uma fachada de respeitabilidade, cortesia dos trabalhos para caridade. Entre outras instituições, ele arrecadou fundos para o Stoke Mandeville Hospital, Leeds General Infirmary e Broadmoor Hospital. Nos anos 80, Savile atuou ativamente em duas instituições de caridade que levavam o seu nome. Nos hospitais de Stoke Mandeville e Broadmoor, ele tinha seus próprios aposentos. Das fotografias que denotam os laços de amizade entre Savile e "Maggie", a mais notória é uma onde aparecem em um almoço para arrecadação de fundos para o Stoke Mandeville, em 1981. Crê-se hoje que, por trás da aparência da generosidade, Savile usava a posição privilegiada para pôr em prática seus desejos doentios. Em 2012, o Daily Telegraph publicou uma matéria sobre o caso, o depoimento de uma enfermeira da ala psiquiátrica de Broadmoor, nos anos 80. Ela garantia ter conhecido uma paciente que, à época, suplicou por socorro, dizendo-se vítima frequente do assédio de Savile. Em contrapartida, foi ridicularizada, porque ninguém acreditava na palavra de uma pessoa comum. O inquérito sobre o Broadmoor compilou denúncias de onze vítimas (seis ex-pacientes, dois servidores e três crianças). Dois dos casos de abuso sexual envolveram crianças do sexo masculino. Outra senhora, paciente do Leeds General Infirmary, testemunhou ter flagrado Savile aproveitando-se de uma menina com paralisia cerebral, confinada em uma cadeira de rodas. Savile fingia prestar visita, mas se realizava sexualmente graças à vulnerabilidade da paciente. Investigadores apontam o Leeds General Infirmary como o hospital onde mais colheram informações sólidas e incriminadoras. Mais de duzentas pessoas, entre membros de staff e ex-pacientes, tiveram depoimentos tomados. Os abusos cometidos variaram de comentários condescendentes e sexualmente carregados a apalpões e agressão, além de três casos confirmados de estupro. Alegações similares foram feitas sobre Savile quanto aos "trabalhos voluntários" no Stoke Mandeville. Uma mulher, Caroline Moore, afirma ter sido atacada aos treze anos, quando esteve no hospital para tratar lesões na espinha, em 1971. Ela diz "Eu me encontrava do lado de fora do ginásio, e ele chegou para mim e simplesmente enfiou a língua na minha boca e através da minha garganta. Eu contei a minha família, na época, mas eles não levaram a sério, pois ele era muito famoso". Como se vê, não obstante a avalanche de evidências contra o pedófilo, as mesmas só foram veiculadas um ano após sua morte. A timeline de conduta imprópria remonta a 1955, o primeiro incidente registrado pela Polícia de Manchester. Em 1960, Savile levou um menininho que lhe pedira autógrafo para dentro de um quarto de hotel e o assaltou sexualmente. Os estupros praticados no Leeds General Infirmary e no Stoke Mandeville Hospital iniciaram-se em 1965. O período mais ativo dos crimes começou em 1966, e se estendeu por uma década. No curso desses dez anos, registros indicam que foi em 1970 que as meninas da escola para garotas de Duncroft denunciaram as maldades cometidas pelo apresentador, e em 1972 houve registros de conduta obscena (carícias a um menino de 12 anos e duas garotinhas) durante a gravação do programa, "Top of the Pops". Em algum momento da década seguinte, anos 80, a Polícia Metropolitana recebeu a queixa de uma moça, apalpada por Savile no estacionamento da BBC de Londres. Estranhamento, a ficha do caso sumiu, e a queixa foi descartada. Nos anos 90, ele foi condecorado e recebeu o título de Sir Jimmy Savile. O pedófilo tentou sair de cena para se amoldar a uma vida mais discreta. Não surgiram novas denúncias envolvendo seu nome. Em 2009, a Polícia de Surrey reabriu os casos pendentes de Duncroft. Apenas dois anos mais tarde, em 29 de outubro de 2011, Savile morreu de causas naturais. Tendo em vista a timeline acima exposta, foi em outubro de 2012, um ano após o falecimento, portanto, que a emissora ITV exibiu um programa enriquecido por depoimentos de diversas mulheres, vítimas de Savile quando meras crianças. A matéria foi o estopim do tenebroso escândalo, quando diversas outras vítimas ousaram se manifestar, trazendo semelhantes depoimentos em grandes veículos. Até mesmo o então primeiro-ministro David Cameron se pronunciou, e disse que a BBC, como emissora de TV detentora de concessão pública, tinha muito a explicar. A história do escândalo de Franklin, Nebraska, por sua vez, começou com Lawrence E. King, importante figura local, diretor do Franklin Federal Credit Union, nos anos 80, até ser avassalado por tenebrosas acusações. As fontes de informação sobre o caso, escassas, podem ser contabilizadas nos dedos de uma mão. Muitas pessoas ou tiveram as vidas arruinadas ou morreram ao investigar a história. As bases para a reconstituição do ocorrido se devem a quatro trabalhos: um documentário produzido por um estúdio de TV de Yorkshire, Inglaterra, cujos jornalistas viajaram para Franklin para desvendar os segredos, e trabalharam com o pessoal do Discovery Channel, intitulado "Conspiracy of Silence", um livro escrito pelo jornalista investigativo Nick Bryant chamado "The Franklin Scandal: A Story of Powerbrokers, Child Abuse and Betrayal", um trabalho escrito pelo ex-senador e advogado John DeCamp intitulado "The Franklin Cover-up", e, finalmente, as transcrições do depoimento da vítima de abuso Paul Bonacci, no julgamento de Lawrence E. King. Estrela do Partido Republicano (em 1988, durante a Convenção Nacional Republicana, coube-lhe a distinção de cantar o hino nacional), King vivia de aparências, entusiasta de um estilo de vida repleto de festas extravagantes e viagens ao exterior, assessorado por uma entourage de guarda-costas e secretários. O papel de homem acima de suspeitas começou a ruir em novembro daquele ano, 1988, quando investigações preliminares da Receita Federal revelaram sua liderança no rombo de quarenta milhões de dólares nos ativos do Franklin Federal Credit Union (uma espécie de esquema Ponzi), mas só viria abaixo pouco depois, sob a acusação de sete crianças, que o reconheceram como mentor de abusos sexuais e lenocínio. Logo, pessoas do círculo íntimo de King também foram desmascaradas. Jarret e Barbara Webb (ele, membro da diretoria do Franklin Credit, ela, prima de King) tiveram suas problemáticas vidas íntimas devassadas, quando se soube dos horríveis abusos emocionais e físicos a que submetiam as crianças adotadas pelo casal. Uma das meninas do lar dos Webb, Eulice Washington, voluntariou-se para testemunhar que as crianças estavam sendo transportadas a várias festas em diferentes áreas de Franklin, onde Lawrence E. King e outras importantes figuras da sociedade local as violentavam. Eulice revelou que King levava algumas crianças em viagens através do país, em jatos particulares, para participarem de orgias montadas por pedófilos. Submetida a vários testes em detectores de mentira, Eulice passou em todos os exames. A Foster Care Review Board, uma espécie de ouvidoria para instituições de adoção, atuou ativamente na representação dos interesses das crianças, escrevendo muitas cartas para o Advogado Geral de Nebraska, recomendando investigações, mas os pedidos foram negados. Rumores ganharam robustez. King explorava as crianças de Boys Town, uma instituição de caridade católica para órfãos. Testemunhos reconstituíram a frequência de King no campus, onde escolhia as vítimas para o esquema. A diretoria negou conexões com King, porém, documentos comprovaram a ligação entre Boys Town e Franklin Federal Credit Union. Gente importante do FBI fez telefonemas para encerrar as diligências, declarando antecipadamente que as queixas não tinham fundamento. As autoridades locais se eximiram da responsabilidade com a desculpa de que haviam cumprido seu papel, diante das reclamações apresentadas. Posteriormente, entretanto, revelar-se-ia que nenhuma das autoridades entrevistara Eulice, ou mesmo tomara apontamento dos testemunhos das outras crianças, pelo menos até três anos após a formalização das queixas. Mesmo assim, o Chefe de Polícia de Omaha afirmou à imprensa que o trâmite administrativo fora cumprido. Na verdade, as crianças jamais foram procuradas pelo Chefe de Polícia, mais tarde apontado por pelo menos quatro meninos como participante das festas de King. Oficiais de polícia de menor hierarquia se empenharam para manter o inquérito sob segredo, ao menos por um tempo, porque pressentiram que o Chefe de Polícia agiria no sentido de encerrar os trabalhos. As denúncias tinham gravidade tal que oficiais redigiam os expedientes a mão, evitando o uso dos computadores e terminais do Departamento de Polícia de Omaha. Os agentes da unidade chegaram a mentir, quando o Chefe de Polícia os agraciou com uma visita surpresa para lhes perguntar se estavam trabalhando no caso de Lawrence E. King. Não satisfeito, o Chefe de Polícia arranjou a transferência de uma das mais combativas agentes, e a desacreditou ao enviar um ofício ao diretor do Omaha Public Safety, recomendando que a moça passasse por avaliação psiquiátrica. Muitos não acataram a versão oficial de que as denúncias não valiam mais que meras fantasias infantis. Um grupo de doze congressistas, encabeçado pela senadora Loran Schmit, criou uma comissão paralela de inquérito. Partindo da brilhante ideia de seguir o dinheiro envolvido no esquema Ponzi de King, o grupo rastreou os valores a despesas com festas sexuais. Loran Schmit diz que na mesma época recebeu uma ligação anônima, de um membro do Legislativo, que a orientou a encerrar os trabalhos da comissão do escândalo do Franklin Federal Credit Union, pois os efeitos colaterais respingariam nas sujeiras íntimas de gente da casta do Partido Republicano. A senadora largou o caso, e pôde se considerar bem afortunada, pois o assédio não passou da esfera moral. Não aconteceu o mesmo, por exemplo, ao investigador principal do comitê no senado, Gary Caradori. Ele era membro do comitê escalado para revisar os eventos em Nebraska. Patrulheiro aposentado e dono de uma firma de investigação, Caradori tinha um talento nato para encontrar crianças desaparecidas. Em novembro e dezembro de 1989, entrevistou três jovens aos seus 20 e poucos anos cujas infâncias haviam sido destruídas por Lawrence E. King. Caradori gravou mais de vinte horas de entrevista em fita. Os meninos entregaram o esquema das orgias, e pessoas de muito prestígio social assustaram-se com a possibilidade de vazamento. Caradori havia voado para Chicago, onde conseguira fotografias e provas das orgias. Antes de subir no avião para retornar a Nebraska, avisou a mulher que as pessoas envolvidas não teriam como negar seus papéis, as provas falavam por si. Ele retornava para casa em um pequeno avião particular, com o filho pequeno, quando a aeronave explodiu em pleno ar, segundo os relatos de testemunhas em terra. Reportagens da grande mídia, porém, ventilaram uma versão diferente (o avião teria explodido no impacto com a terra), certamente um complô para descaracterizar o óbvio trabalho de sabotagem. A pasta pessoal de Caradori, com as fotografias, jamais foi encontrada, e sua memória e honra pessoal sofreram viciosos ataques nos anos seguintes, uma tentativa de desacreditá-lo. A morte de Caradori assustou as testemunhas, e o caso foi progressivamente esquecido. O escândalo de Franklin, todavia, continua a intrigar uma série de pessoas familiarizadas com a lenda urbana. Como um vespeiro, quanto mais se mexe nos fatos, mais coisas absurdas e loucas surgem com seus desdobramentos. O escândalo de Franklin permanece intimamente ligado a um outro, tão sinistro quanto, o da abdução de Johnny Gosch, em 1982. Se eu fosse falar sobre o caso Johnny Gosch, a resenha derivaria, e perderia o foco, a discussão sobre o filme. Basta dizer que é um dos desdobramentos mais horríveis do escândalo de Franklin. Absolutamente inacreditável.

Eu ilustrei o trabalho com as tétricas histórias acima para reiterar uma opinião: no caso dos personagens de "Kill List", a única coisa pior do que se perder a alma é a implicação das tempestades para onde pessoas insuspeitas caminham, quando deveriam saber melhor. Não difere tanto assim do protagonista de "De Olhos Bem Fechados", ao "se convidar" à festa na mansão Somerton, dos Rothschild, e entrar clandestinamente na orgia perpetrada pelos Illuminati. De uma hora à outra, você se descobre no horrível mundo real, bastante diferente da versão mentirosa que nos é enfiada goela abaixo. Refiro-me ao mundo por trás das cortinas, de onde poucas pessoas inescrupulosas dirigem os eventos do mundo e nos movem no sentido do caos. Faço proveito de uma brilhante linha de diálogo de um filme do grande Sidney Lumet, cena entre o veterano Albert Finney e um maravilhoso character actor, presença constante nos filmes de Lumet, já falecido, Leonardo Cimino. O personagem de Finney acaba de ter descortinado por Cimino, diante dos próprios olhos, o envolvimento dos filhos em uma tragédia familiar, seus papéis os de mentores do assalto que resultou na morte da esposa (e mãe dos rapazes), e ele desaba pesadamente sobre a cadeira, quase em estado de choque catatônico, arfando por ar. Cimino então lhe diz, de forma sabedora "O mundo é um lugar terrível, Charlie. Algumas pessoas ganham dinheiro com isso, outras são quebradas ao meio". Em "Kill List", Gal e Jay são atraiçoados pela falsa sensação de impunidade. A experiência nas Forças Armadas e o fato de virem enriquecendo o currículo vitorioso com serviços bem-sucedidos (Kiev excetuado) embargaram o sexto sentido de predador que, ironicamente, os levou longe na carreira pelo submundo. Embora Gal caia na real após o segundo assassinato e até sugira que deixem o trabalho, Jay se sente imbatível, acha que não há ninguém tão malvado quanto ele. Mesmo convicto da própria frieza, lembremos que Jay chorou ao assistir aos vídeos do pedófilo no computador. Mesmo matador, ele ainda é chefe de família, afinal de contas, e não concebe violência direcionada a crianças. Nesse diapasão, Jay se esquece de que as pessoas atrás das câmeras, responsáveis pelo ato, não nutrem uma gota de remorso pelo cometimento dos abusos. Violência do gênero, para gente tão louca, não vale mais do que passeio no parque. Quando Jay transitou pelo submundo de satanistas e pedófilos, ele se arvorou no direito de encarar as trevas, iludido com a invencibilidade do passado. Ele acabou queimado. Jay não esperava que as trevas o encarassem de volta. A conclusão não nos diz muito sobre o que será de Jay, mas o olhar demonstra claramente um espírito quebrado. Ele sai da experiência como cacos de vidro cujas partes jamais voltarão a se encontrar. Para os membros do culto, o resultado serviu como uma luva. A brincadeira se resumiu a um jogo de cartas marcadas, ao charme da espera. Quando você dança com o Diabo, não é o Diabo quem muda. O Diabo muda você.

Todos os direitos autorais reservados a Optimum Releasing/Studio Canal UK. O uso do trailer & imagens fotográficas é para efeito meramente ilustrativo da resenha.

Eu deixei a discussão acerca da mais importante e reveladora cena de "Kill List" para o final da resenha. Sua releitura exige uma percepção com mais acuidade. Uma vez concluído o ato de assistir ao filme, o motivo pelo qual Ben Wheatley a deixou na versão final me parece a pedra angular do arco dessas personagens. Eu me refiro à cena em que Jay se aproxima de um grupo de cristãos, e os humilha com ameaças vazias, deleitando-se com sua ascendência sobre gente pacífica, sem que nenhum deles esboce uma reação à altura, sequer levante o tom de voz. Depois de tantas desilusões e ciladas, quando a trama se desfecha e a cena em questão é relembrada, é interessante como nos atentamos mais facilmente que as pessoas à mesa, objeto do desprezo do protagonista, representavam a última tábua de salvação na curva da queda para onde os dois estavam sendo cuidadosamente manobrados, o único bastião apto a impedi-los de serem engolidos pela escuridão. Ainda assim, são justamente os cristãos os escolhidos por Jay para humilhar. Paralelamente, é revelador que a "sagacidade" do matador não funcione tão bem quando aplicada aos empregadores, os monstros por trás das cortinas. A malícia, a experiência e as armas de fogo são rechaçadas pelos satanistas, no tempo certo. Eles não tinham pressa para dar o bote, e no momento do Gran finale, surpreenderam com a presença de espírito de adicionar insulto à injúria, ao coroar o "herói", quando esfregam na sua cara que a manipulação produzira o efeito desejado. Jay lutara com mulher & filho sem muita necessidade de convencimento, e os apunhalara até a morte, apagando da face da Terra seu mais precioso legado, o filho inocente. Por fim, a "cereja do bolo", a coroa artesanal improvisada com gravetos, transveste o rito de passagem com a "gozação das gozações", a paródia para aniquilar quaisquer resquícios de amor próprio do super-homem nietzschiano. É curioso, pois a comparação acusa gritante disparidade: desnudo e humilhado por satanistas, Jay veste a expressão da pura resignação. Aos insultos que lhe são proferidos, toma-os com a passividade e resignação de uma ovelha no abatedouro. Antes disso, todavia, ele agiu diferente com os cristãos à mesa do restaurante do hotel, cujo erro imperdoável, aos seus olhos, foi o de vocalizar o amor a Deus através da música, não? O bullying verbal usado para intimidar nos agride pelo absurdo envolvido, afinal, será que o uso do violão justificaria tão velada hostilidade contra os mansos, os inofensivos? Será que Jay teria feito o mesmo se as pessoas conversando alto ao lado fossem os islâmicos, por exemplo? Acho que não. Jay me parece o tipo de gente cuja coragem é algo curiosamente seletivo & prudente. Quando protagonizam cenas daquela espécie, sabem onde pisam. Cristãos sempre foram perseguidos, pois não há nenhuma outra religião que ensine os fiéis a oferecerem a outra face. Sai quase gratuito, aterrorizar e humilhar pessoas que têm como um dos princípios amar os inimigos. Ninguém fez tão completo sentido no trato da questão quanto um senhor cujos vídeos eu acompanho, Leonardo Bruno. Ele descreveu, com os incríveis talento & eloquência que lhe são habituais Os Cristãos são perseguidos justamente por aquilo que eles não são. Eles não são violentos, não são hostis, não são radicais e são extremamente tolerantes. Nós cristãos somos atacados pelas virtudes que nós temos, e não pelos nossos defeitos, ainda que nos sejam atribuídos defeitos que não existem entre nós, ou que são muito poucos, entre nós. Eu me lembro então do sofrimento de Maria ao acompanhar e assistir às agressões feitas contra Jesus Cristo, e ao prestar atenção ao mundo que nos cerca, vejo que mesmo hoje, continuam a ser assaltados com malícia e animosidade. O volume acirrado e o baixo nível dos ataques às imagens de Jesus & Maria, o desrespeito a suas memórias comprovam que mais de 2000 anos desde a morte de Cristo, há uma tendência muito forte para eliminar traços das lições deixadas no rastro de sua passagem. Aos 37 anos, e, portanto, dono de uma melhor compreensão de mundo & pessoas da que eu tinha, digamos, aos 27 anos, meus olhos detêm uma sensibilidade mais aguçada para ler nas entrelinhas. Meu processo de despertar talvez tenha começado a um nível de micro consciência, íntimo (eu tinha a necessidade de compreender como & por quê algumas figuras adultas de meu passado haviam agido de determinada maneira; a nuvem só se dissipou quando comecei a ler extensivamente sobre transtorno da personalidade narcisista, e montar as peças do modus operandi dessa gente, a partir daí foi mais simples mover-me para frente com minha própria vida, sem olhar para trás), e somente então evoluído a uma consciência do macro (procurei desenvolver um senso crítico com mais afinco, para entender a dinâmica do mundo, a razão pela qual correntes seguem determinado sentido, foi quando estudei e compreendi coisas como marxismo cultural, algo verdadeiramente insidioso, pois imperceptível aos distraídos). Uma vez discernido o ardil, bem escondido em meio `a malícia característica do atual estado de coisas, pontua-se mais claramente o curso de ação dedicado a minar os pilares sobre os quais a sociedade ocidental se fundamenta: o direito romano, a filosofia grega e o cristianismo. O assalto se dá de distintas frentes, e simultaneamente. A televisão e a propaganda são ponta de lança, seu golpe o de relativizar as coisas que nos afastam de Deus a ponto de perdermos o senso da autocrítica. Há pouco tempo, atores e atrizes de uma emissora de televisão apareceram em um vídeo pró-aborto, com perucas azuis e barrigas postiças, uma imagem verdadeiramente agressiva, odiosa e debochada. A ideia defendida bastaria para criar aversão à maioria das pessoas, que mesmo canhoneada pela propaganda, recusa este tipo de maldade. Não satisfeitos em levantarem a bandeira, o nível do ataque, a intensidade do ódio no discurso emanava da televisão como quentura de pura vingança. A forma como se deturpa a história de Maria e se tenta atirá-la à lama para justificar uma ideia tão perversa valeu ao vídeo um número recorde de avaliações negativas, felizmente. Uma moça escreveu, com assertividade, denunciando a maquiavelice dos idealizadores da jogada Parece que mesmo hoje, nos nossos dias, Herodes ainda quer as cabeças de nossos filhos. Em paralelo aos ataques a uma religião fortemente definida pelo perdão & amor ao próximo, a tendência encoraja animosidades ao subir algumas notas o tom do politicamente correto dos discursos, estranhando-nos cada vez mais de nossas convicções pessoais, ou mesmo de verdades absolutas que existiam muito antes que tivéssemos posto os pés no mundo. A pessoa contemporânea se tornou dependente de gente com diplomas, compromissada com uma determinada agenda. Aquilo sentido na privacidade do íntimo, instintivamente, deixou de importar. Voltando ao ponto sobre o qual discorria, sobre a percepção do que me foi feito vs. percepção de mundo, parece-me intrigante como as coisas se reproduzem de modo similar, apenas em distintas escalas, quando deixam o micro para reverberar na compreensão particular do macro. Quando passei a me aprofundar na leitura sobre o transtorno da personalidade narcisista, e me identificar como alvo circunstancial da chantagem psicológica de pessoas do tipo, durante a segunda metade da infância até o fim da adolescência, mesmo que por um curto espaço de tempo, 4 semanas para cada ano, aprendi que transcender lembranças de desrespeitos sofridos requer a construção de todo um novo arcabouço moral, até porque as recordações que trazemos conosco foram viciadas. Uma das características mais pérfidas dessa gente é a habilidade de incutir no sistema de crenças da vítima a falsa noção de que elas mesmas motivaram o castigo, as agressões, os abusos psicológicos, de que as vítimas, por alguma razão, trouxeram os problemas para si. Transcender narcisistas exige a eliminação de ilusões. Por mais que você revisite fatos e procure compreendê-los pela luz do racional, a simples, dolorosa constatação é a de que, do momento em que sua narcisista entrou na sua vida, ela trazia consigo um plano armado, sabia exatamente o que queria. Ela apenas foi acrescentando testes no caminho para descobrir a melhor maneira de obter suprimento emocional (drama), o único real interesse dos narcisistas. Nesse sentido, vencer a narcisista passa por um processo de travessia através do vale do luto, com direito aos cinco clássicos estágios do modelo de Kubler-Ross: Negação, Raiva, Negociação, Depressão & Aceitação. O luto se dá como resposta natural à "morte" de uma "pessoa que nunca existiu". Entender os mecanismos do narcisismo desarma as artimanhas com que nos aprisionam, uma delas a enganosa crença de que, de um jeito ou outro, mesmo quando agem com crueldade, se importam conosco. Eu me lembro de algo que um senhor disse, com brilhantismo, ao tecer considerações sobre o transtorno da personalidade narcisista. Assisto aos seus vídeos e aprendo um pouco mais a cada nova postagem. Com razão, ele comparava o calvário de relacionar-se com uma narcisista a um passeio de carrinho através da "casa de espelhos", no parque de diversão. Vocês devem conhecer uma "casa de espelhos", não? Nada dentro de uma "casa de espelhos" parece real. Na verdade, os criadores a bolaram com o intuito de nos divertirem, entreterem. No que tange a verdade, porém, vocês jamais a encontrarão ali dentro. Você entra na "casa de espelhos", assusta-se com os reflexos, admira-se com as fantasias visuais no percurso, da entrada até a saída, e aceita a proposta do lugar: distração. Quando uma narcisista te puxa para dentro dos jogos, acontece a mesma coisa, só que a pessoa marcada para sofrer os abusos psicológicos embarca no trem daquela "casa de espelhos" com as melhores intenções, sem ideia de onde se enfiou, esperando encontrar honestidade, verdade, amor e proteção, como qualquer pessoa saudável ao entrar em uma relação. Dentro da casa, porém, você só enxerga armadilhas, distrações, chantagens. Você não se conforma, esperneia para tentar encontrar alguma lógica na escuridão. Você sai momentaneamente frustrado da "casa de espelhos", mas jamais deixa de revisitá-la. Nos passeios seguintes, aplica ainda mais lógica à análise. Tenta encontrar verossimilhança, verdade, correspondência e afeto, e consegue cruzar a linha de chegada ainda mais confuso, duvidando de si mesmo, da capacidade de percepção, crê que há algo de errado na equação, não na "casa de espelhos", mas na própria conduta, uma culpa que carregamos conosco para a fase adulta, a cicatriz preferida imposta pela narcisista. Este pessoal necessita de alguma garantia de que jamais os esqueceremos, mesmo anos depois do "descarte". Assim como qualquer rito de passagem, compreender o transtorno da personalidade narcisista, penoso que seja, permite fazer as pazes com a constatação de que o tempo inteiro, você apenas transitou dentro de uma "casa de espelhos" projetada para não fazer sentido, e a culpa jamais foi sua. Trata-se da natureza da "casa de espelhos", apenas isso. Não é nada pessoal, na verdade. A razão de existir do passeio atende somente à finalidade de entreter, chocar e divertir, simultaneamente, nada real, ou mais profundo ou sério. Você "dá adeus" ao narcisista, e a imagem fantasiosa se perde depois de um traumático rompimento. Uma vez substituída pela constatação de que nada daquilo foi genuíno e você foi escolhido e assediado pelas suas boas qualidades, a imagem se desmancha como uma fotografia borrada. Você consegue reencontrar paz, reconhecer ciladas, e jamais, jamais querer qualquer envolvimento com coisas do tipo. É compreensível a raiva que experimentamos por um tempo após o despertar, contudo quando levamos em consideração que este joguinho começa na infância, quando somos crianças, entendemos que não havia nada que pudesse nos salvar das garras dessa gente, só o tempo. Eu me sinto como o homem cuja casa esteve na rota do tornado: ele perde todas as posses, a vida é virada de cabeça para baixo, o interior ao avesso, as roupas rasgadas e a cara esfregada na lama, mas ele transcende a provação e sente uma felicidade incomparável por ter sobrevivido. Aos 37 anos, eu também cheguei à conclusão de que, assim como ocorre aos narcisistas, há mais ao mundo do que possamos capturar a olho nu, e quanto mais os anos passam, mais rapidamente percebo que, do mesmo jeito que fizeram comigo lá atrás, o próprio mundo, por vezes, se presta ao jogo de cenas onde as verdadeiras forças se aproveitam da corrente do momento para tentar "nos ganhar" através de barganha e truque. Eu tenho lido sobre a elevada temperatura da geopolítica mundial, por exemplo, pessoas ventilando as chances de um grande conflito mundial. O mundo nunca mais verá um confronto aberto com a mesma escala do de 1939-1945. O cenário delineado por coisas como "O Dia Seguinte" torna-se menos provável. A discussão, mais filosófica do que bélica, passa obrigatoriamente pelo crivo da salvação individual. Como o psicopata Antonio Gramsci explicou, "o mundo civilizado tem sido saturado com cristianismo por 2000 anos, e um regime fundado em crenças e valores judaico-cristãos não pode ser derrubado até que as raízes sejam cortadas". Com a inversão do processo revolucionário, com a realocação da estratégia, pinçada dos fronts e inserida nas mentes, Gramsci deu o diabólico salto evolutivo desapercebido pelos precursores, e salvou sua causa maldita. Quando as pessoas tiverem sido alienadas a ponto de terem esquecido de onde vieram, ou perdido a noção de onde desejam chegar, as armas serão obsoletas, pois as ovelhas estarão dançando festejantes, à beira do abismo, até mesmo gratas aos escravizadores. Nada então poderá reverter o processo. Vocês não conseguem realmente enxergar uma conexão entre coisas como a propaganda de artistas pelo aborto & as instruções diabólicas descritas por Gramsci? O conflito se no tabuleiro das ideias, do arcabouço moral individual, das convicções pessoais, sem que uma bala precise ser disparada. A Terceira Guerra Mundial começou há muitos anos, quiçá nos anos 60. Hoje, encontra-se praticamente resolvida, apenas não na forma do clímax encenado pelos filmes. Quando me permito eventuais recordações da "casa de espelhos", e noto quão fácil as aventuras passageiras ocorridas no meu parque se repetem com outras matizes no mundo para além da janela do quarto, do micro ao macro, fico cada dia mais certo que todos nós nos encontramos sob um teste. Esta galáxia inteira é um teste. Que Deus nos proteja.

Amigos, gostaria de aproveitar a oportunidade para deixar meus votos de Feliz Natal & Próspero Ano Novo, caso não volte a postar até dezembro. Não posso agradecê-los o suficiente pela generosidade de acompanhar o trabalho no blog. Permitam-me desfechar a resenha com um trecho do livro "Introdução à Nova Ordem Mundial", do Sr. Alexandre Costa, cuja sensibilidade lhe permitiu descrever com objetividade parte dos temas explorados pelo filme:


"A NOVA ORDEM MUNDIAL SERÁ UMA DITADURA totalitária disfarçada de democracia, mas sem alguns dos seus principais parâmetros. Não teremos liberdade de expressão, presunção de inocência, igualdade de direitos perante a lei e outros direitos naturais. Continuarão existindo partidos, cargos e um sistema eleitoral, mas só serão permitidos candidatos que estejam dentro de um espectro político bem estreito, e mesmo seus extremos devem continuar dentro da margem de segurança. Esta farsa já está em funcionamento em muitos países, inclusive no Brasil.


As liberdades individuais serão extintas, e os interesses da coletividade estarão sempre acima dos direitos individuais. O poder do governo será total e todas as atitudes humanas serão controladas.


Os valores serão invertidos, as virtudes serão perseguidas e os pecados exaltados. A promiscuidade será regra, como previu Aldous Huxley em Admirável mundo novo.


Família e laços de amizade incondicional serão proibidos ou vistos como atrasados, 'não solidários' ou até mesmo como atos perniciosos. A educação infantil será em tempo integral para permitir melhor condicionamento. Passarão o dia todo na escola e sua convivência com familiares se dará apenas nos finais de semana sem atividades escolares programadas. As pessoas serão cooptadas pelo sistema desde a infância, da mesma forma e com os mesmos interesses que os porcos raptaram os filhotes da cadela em A Revolução dos Bichos.


Vigilância e controle estão na essência da Nova Ordem Mundial. Os indivíduos serão vigiados no trabalho, nas ruas e em casa. Sob algum pretexto de segurança, serão obrigatórias câmeras nas residências, como no livro 1984 de George Orwell. Todos os objetos, pessoas e documentos serão rastreáveis. Os chips indicarão tratamentos médicos obrigatórios. Todos serão obrigados a exames frequentes para prevenir 'doenças' ou possíveis comportamentos inconvenientes ou 'perigosos'.


O sistema financeiro internacional controlará a vida do indivíduo na medida em que o dinheiro físico não mais existirá e o lastro não será nem mesmo lembrado. O dinheiro eletrônico vai permitir o poder econômico absoluto em pouco tempo, ou seja, ao produzir dinheiro do nada, os bancos internacionais tendem a controlar todas as propriedades e recursos do planeta em não mais do que algumas décadas após o fim do dinheiro em espécie.


O chip de identificação (RFID), que já é uma realidade, será obrigatório. Seu substituto natural será menos invasivo e talvez apenas uma marca na pele seja suficiente. Próteses e implantes não serão mais acessórios indesejados e passarão a ser objeto do desejo e sinal de status. Como no livro Neuromancer, de Willian Gibson, implantes serão utilizados para amplificar a capacidade e a potência dos sentidos e dos órgãos. Não será incomum pessoas amputarem seus membros para substituí-los por próteses sofisticadas. O transumanismo fará parte do dia-a-dia, assim como a misturas genéticas entre humanos e animais. Implantes de órgãos sensoriais interligados com sistemas de informação poderão gravar e transmitir todas as informações vividas e os aparatos de controle estarão dentro do indivíduo.


Rebeldes serão caçados por redes integradas de câmeras e sensores, ou deletados do sistema e desta forma não poderão comprar, viajar nem entrar em qualquer edifício. Qualquer resistência enfrentará o mais sofisticado sistema de repressão já conhecido, com poder e tecnologia inimagináveis.


Todas as formas de comunicação serão efêmeras. Os registros da História serão todos feitos em suporte digital, o que permitirá recontar fatos históricos de acordo com a circunstância e o interesse do governo.


No início, apenas a religiosidade vazia será permitida. Mais tarde toda e qualquer forma de manifestação religiosa será desmotivada, reprimida e punida. O ateísmo será a religião oficial, mas o objetivo dos planejadores da Nova Ordem Mundial é o satanismo, que eles costumam chamar de luciferianismo.


Estes são os desdobramentos que vejo para a situação atual. Minha previsão é realmente negra. Acredito que se não acontecer uma interferência divina, teremos um futuro macabro. Mas como a História é dinâmica, muita coisa pode mudar, algumas podem atrasar, outras podem acelerar. Nada mais posso dizer sobre o futuro".


(COSTA, ALEXANDRE. Introdução à Nova Ordem Mundial. 2ª Edição. São Paulo: CEDET – Centro de Desenvolvimento Tecnológico e Profissional, 2015. 133 p.).


"Eu sou o Caminho, e a Verdade, e a Vida". - Jesus Cristo.