tag:blogger.com,1999:blog-13994495594318738882024-03-28T14:43:59.768-07:00Os Melhores Filmes da Sétima ArteResenhas de grandes sucessos da Sétima Arte. Sejam todos bem-vindos!Ary Luiz Dalazen Júnior Salve Mariahttp://www.blogger.com/profile/05930396542549787102noreply@blogger.comBlogger83125tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-60586390615676394672023-03-20T16:51:00.013-07:002023-03-24T08:02:01.700-07:00Madrugadas Felinas. Um romance.<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><b>Nota do autor</b>: <i>este roteiro de cinema foi originalmente escrito em 2014 e publicado neste blog em junho do mesmo ano. Retirado para edições voltadas a poli-lo, republico-o oito anos após sua concepção original, sob novo nome</i>.</span></div><div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBK5e-dDBzziDeiHQoR1TflZdq9QuCCdzd5G_cNTvvEjGAUK501JT83g49KiwCHiy2RtlOxsD88nJYrbv26y95sRQUA-3Ym4kCmbL10qVM_gGx_1hOJ0PEm6pfmvTDdw4oL7gXPnIWDWVvyl9mdj_TPJEQSVR8eHM1fprqwaJeXfy1HxO-x2aLFDOtDQ/s932/Elenco.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="465" data-original-width="932" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBK5e-dDBzziDeiHQoR1TflZdq9QuCCdzd5G_cNTvvEjGAUK501JT83g49KiwCHiy2RtlOxsD88nJYrbv26y95sRQUA-3Ym4kCmbL10qVM_gGx_1hOJ0PEm6pfmvTDdw4oL7gXPnIWDWVvyl9mdj_TPJEQSVR8eHM1fprqwaJeXfy1HxO-x2aLFDOtDQ/w640-h320/Elenco.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: left;"><span style="font-family: times;">Vistos na ordem da esquerda para a direita: <i>Jennifer Connelly</i>, <i>circa </i>2000; <i>Burt Reynolds</i>, <i>circa </i>1979; <i>Rachel McAdams</i>, <i>circa </i>2008.</span></td></tr></tbody></table><div class="separator" style="clear: both; font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Roteiro originalmente intitulado "<i>Nosebleed</i>" e publicado em 2014, este trabalho foi escrito como veículo para as melhores qualidades dos atores acima, artistas que tive em mente ao tecer a trama. A estória firma-se sobre os pilares de duas <i>graphic novels</i>: "<i>Daredevil: Born Again</i>", de <i>Frank Miller</i>, e "<i>A History of Violence</i>", de <i>John Wagner</i>. Também, nos momentos mais importantes, deve a filmes nos quais obviamente encontrei elementos necessários para mover a estória para a frente, mantendo-a nos trilhos do verossímil. Dentre muitos filmes, a abertura da estória bebe da fonte do diretor <i>Peter Weir</i> e seu "<i>Fearless</i>", de 1993, e a conclusão, da do diretor <i>David Mamet</i>, e seu "<i>Cinturão Vermelho</i>", de 2008, esse imprescindível, sem o qual a parte mais fundamental da jornada do protagonista - o herói vivido por <i>Burt Reynolds</i> transpondo a montanha em sua vida, que é a antagonista vivida por <i>Rachel McAdams</i> - jamais teria sido imaginável.</span></div></div></div></span></div></span></div></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><b>SINOPSE</b>: <b>DANIEL LEGRAND (BURT REYNOLDS)</b> é um agente aeroportuário aos trinta anos que mora com a avó <b>GLADYS</b> <b>(CLARE HIGGINS) </b>e leva uma vida humilde e pacata. Ele parece um homem honrado e absolutamente comum; no entanto, não consegue se recordar da sua vida a partir de alguns anos para trás. A avó não acrescenta dados sobre seu passado, mesmo a pedido do neto, e assim o faz por um senso de dever de protegê-lo de seja o que for que entende como uma ameaça para ele. Daniel conhece apenas por fotografias sua cidadezinha de origem, a praia de <i>Cape May</i>, mas não se lembra do tempo no qual efetivamente caminhou por ali. Tendo sofrido um terrível acidente de estrada há seis anos, sua memória se desfez nos destroços. Para protegê-lo daquilo que o cercava na época da confusão, a avó o levou para longe, deixando <i>Cape May </i>para recomeçar a vida numa tranquila cidadezinha chamada <i>Elizabeth</i>, a apenas dez quilômetros do Aeroporto Internacional de <i>Nova Jersey</i>, onde <i>Daniel</i> passou a trabalhar. Embora grato pelas coisas boas que fazem de sua vida uma existência serena, ele jamais silenciou definitivamente o chamado dentro de si para conhecer a fundo de onde veio.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Seu melhor amigo é um veterano do serviço aeroportuário chamado <b>GIRO (STEVEN SEAGAL)</b><span style="font-weight: normal;">. <i>Giro </i>acolheu <i>Daniel</i> em 2004 como se o mesmo fosse seu filho quando a avó o levou ao serviço aeroportuário em busca de emprego. Com o passar dos anos, <i>Giro </i>e <i>Daniel </i>construíram uma bonita e desinteressada amizade. Experiente e vivido, <i>Giro </i>é o primeiro a instigar <i>Daniel</i> a recuperar o tempo perdido e alçar maiores voos. Apesar do encorajamento, o homem se acomodou ao mundo seguro do aeroporto. Ali, não se sente desafiado; ninguém o perturba com perguntas sobre o que houve antes daquele longínquo dia na estrada quando suas memórias desapareceram. No Natal de 2009, um avião da </span><i><span style="font-weight: normal;">American Airlines</span></i><span style="font-weight: normal;"> de retorno da <i>Flórida </i>sofre um acidente durante o procedimento de aterrissagem. <i>Daniel</i>, que assiste ao desenrolar do quase impacto, resolve agir e acaba salvando passageiros e tripulantes depois que o <i>Boeing </i>escorrega para a cabeceira e é envolvido em chamas. De um dia ao outro, torna-se herói nacional. Seu rosto, anteriormente anônimo, ganha as televisões e manchetes dos principais veículos midiáticos.</span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">O monumental feito desperta um renovado apetite pela vida, uma sensibilidade até então adormecida. <i>Daniel</i> toma simples, eficazes medidas para devolver a vida aos trilhos. Ele retoma os estudos com o objetivo de prestar novos concursos e deixar o trabalho meramente administrativo no setor de cargas. Também se aproxima dos passageiros, a maioria formada por estudantes de um colégio público de <i>Jersey </i>que voltavam das férias em <i>Orlando </i>quando da ocorrência do acidente. Dentre tanta gente nova, ele imediatamente gosta de <b>SUNTEE (ANDREW JACOBS)</b>, que se torna um de seus melhores aliados. A disposição de <i>Daniel</i> contagia os novos amigos, e logo ele se vê dividindo o tempo entre a rotina no serviço de carga, os sábados à noite com os amigos e os períodos de folga, quando estuda com os rapazes para um determinado concurso por vir.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><i style="font-weight: normal;">Daniel</i> recebe o e-mail de uma garota que se apresenta como <i>Simone</i>. Ela se introduz como uma amiga oriunda da época na qual morara em <i>Cape May</i>. Explica que resolveu procurá-lo após ter conhecido as matérias sobre o salvamento dos passageiros do avião da <i style="font-weight: normal;">American Airlines</i>. <i style="font-weight: normal;">Daniel</i> hesita em responder, mas o primeiro contato principia uma inocente troca virtual. Simultaneamente, movido pela curiosidade, <i style="font-weight: normal;">Daniel</i> apresenta a <i>Suntee </i>as fotos enviadas por <i>Simone</i>. Após uma minuciosa pesquisa, o rapaz não encontra rastros que o leve a algum outro site na <i style="font-weight: normal;">internet</i> onde os arquivos reapareçam, o que significa que talvez a garota seja mesmo quem declara ser. <i>Suntee </i>acredita, todavia, que pelas impressões mais genéricas do perfil na rede social, algo não bate com o que a moça diz.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Aproximadamente na mesma época, <i>Daniel</i> <i>& Gladys</i> recebem a visita de uma atriz do cinema independente chamada <b>PARKER COWAN (JENNIFER CONNELLY)</b>. Inicialmente se aproximando como parente de um dos passageiros a bordo para expressar gratidão, ela levanta suspeita, e <i>Daniel</i> logo compreende que <i>Parker</i> se serviu da mentira para reaproximar-se: na verdade, <i>Parker</i> é uma figura importante do passado em <i>Cape May</i>, cuja envergadura ele não consegue precisar. <i>Parker & Daniel</i> se apaixonam à medida que retomam o relacionamento de onde haviam deixado. Encorajado por <i>Parker</i>, <i>Gladys</i>, <i>Suntee </i>e <i>Giro</i>, ele retorna a <i>Cape May</i>, numa tentativa de reavivar<i> </i>as lembranças perdidas. Não apenas as imagens de seu último ano em <i>Cape May</i>, 2004, passam a ganhar nitidez, <i>Daniel</i> começa a enxergar melhor o que veio ainda antes, e compreende que suas dificuldades de vida atrelam-se a uma série de eventos misteriosos concatenados a partir de 1994, aproximadamente, durante a primeira adolescência.</span><br />
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: small;">À medida que se aproxima da verdade inerente ao acidente que quase lhe custou a vida, <i>Daniel</i> atrai a atenção de <b>ROBYN CORLISS (RACHEL McADAMS)</b>, a irmã de <i>Parker</i>, que parece esconder mais do que revela. De alguma maneira, o acidente de <i>Daniel</i> em 2004 caminha de mãos dadas ao misterioso suicídio de um garoto local filho de uma família muito rica, um rapaz chamado <b>AARON LANG (BRANDON ROUTH)</b>, justamente o ex-namorado de <i>Robyn</i>. <i>Daniel</i> jamais conheceu ou se relacionou com <i>Robyn</i> antes. Ou será que conheceu</span>? </span><br />
<br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><b>O ELENCO</b>: Assim como fiz com meu trabalho anterior, vinculei cada personagem ao ator ou à atriz que enxerguei na minha mente durante a escrita do enredo. Naturalmente, quando um escritor pensa numa estória, não há limites temporais para atrapalhá-lo e, por isso, embora tenha visto <i>Burt Reynolds</i> como o <i>Daniel Legrand </i>desta estória, refiro-me à sua pessoa no ano de 1979, o ano no qual eu nasci, o ano no qual ele estrelou "<i>Starting Over</i>". O mesmo vale para os demais personagens. Naturalmente, como um exercício de imaginação, um trabalho escrito detém asas para voar quão alto o autor deseje. Na vida real, a não ser pela intervenção de uma máquina do tempo, rodar um filme idêntico à proposta seria impossível, mas na mente, que é a única parte de si da qual realmente somos donos, as pessoas das quais você gosta sempre se encontram na idade certa para lhe dizer aquilo que você precisa ouvir, <i>quando </i>você precisa ouvir.</span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "times new roman" , serif;">O papel de <i>Parker </i>foi escrito na medida para a talentosa atriz<i> Jennifer Connelly</i>, minha "<i>chorona</i>" predileta. Ela sempre se saiu excelente nos papéis da melhor amiga que amou, mas não foi correspondida, ou o da namorada sofredora cujos olhos entristecidos já viram de tudo e escondem pesadíssimos segredos para poupar o amado. Na minha estória, ela se aventuraria por searas onde acho que se sairia bem. Interessam-me as nuances que teria de descobrir no repertório dramático para expressar as camadas de cizânias e sombras da personagem desta trama. Ela sempre me pareceu magnética, desde o começo, em 1985, em "<i>Phenomena</i>", de <i>Dario Argento</i>, Após o início dos anos 90, jamais veremos uma presença tão intrigante. <i>Rachel McAdams & Whitney Able</i> incorporariam os monstros para o herói de <i>Burt Reynolds</i>. Conforme aprendi com filmes do diretor <i>Paul Verhoeven</i>, vilões nos marcam muito mais quando não inteiramente perversos e principalmente se, em vez de um único, tivermos dois antagonistas, cuja interação justifica seus motivos, sem a necessidade de superexposição. Foi o <i>Sr. Verhoeven</i> quem dirigiu um de meus filmes preferidos, "<i>Showgirls</i>", de 1995, onde a atenção principal era disputada pelas duas "<i>vilãs</i>" vividas por <i>Elizabeth Berkley & Gina Gershon</i>. Creio que a dinâmica entre a <i>Robyn Corliss</i> e a <i>Bobbi Chapman </i>de "<i>Madrugadas Felinas</i>" muito devem ao filme dirigido pelo <i>Sr. Verhoeven</i>.</span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "times new roman" , serif;"><i>Rachel McAdams</i> ocorreu-me já no primeiro segundo quando comecei a pensar de onde vinha a <i>Robyn</i>. Eu me lembrei de seu mais celebrado momento, "<i>Diário de uma Paixão</i>". Ela se equilibra sobre dois mundos, com um pé numa estória de amor como a de seu filme mais famoso, e com o outro nas raias do horror sobre o qual <i>Clive Barker</i> escreve tão perfeitamente. Esse papel seria o de uma artista capaz de revezar pureza desinteressada e romântica com a frieza maquiavélica de <i>Deborah Unger & Genevieve Bujold</i>, as vilãs de "<i>Estranhos Prazeres</i>" <i>& </i>"<i>Gêmeos Mórbida Semelhança</i>", ícones femininos que elevaram os dois thrillers de <i>Cronenberg </i>ao panteão da tragédia psicológica. <i>Whitney Able</i> seria <i>Bobbi Chapman</i>, a "<i>segunda em comando</i>" na hierarquia das vilãs. <i>Whitney Able</i> me deixou uma forte impressão no extraordinário filme independente de ficção-científica "<i>Monstros</i>", do diretor <i>Gareth Edwards</i>. Ela também foi fenomenal no independente "<i>Dark</i>", de 2015; uma performance corajosa, desnudada de vergonhas ou inseguranças com idade ou identidade corporal.</span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "times new roman" , serif;"><i>Andrew Jacobs</i> fez sua estreia no excelente "<i>Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal</i>". O filme deve muito do sucesso às novidades trazidas por <i>Jacobs </i>e colegas à fórmula, reinventando-a com bom humor e originalidade. Apesar de "<i>Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal</i>" caber ao gênero horror, oferece <i>algo </i>a mais, talvez certa nostalgia ao adotar como seus protagonistas jovens aos 17, 18 anos de idade. Todos já estivemos lá, não é verdade? A expectativa pelo futuro, as aventuras, as amizades que jamais irão terminar, os amores não correspondidos. Tais elementos só parecem familiares porque seus astros não só desempenharam bem os papéis, mas também ofereceram algo a mais em termos de carisma, que ao menos para mim funcionou, deixando-me com certa nostalgia por uma época em especial de minha vida. Quando escrevi <i>Suntee</i>, o amigo em quem <i>Daniel </i>vê muito de si, pensei em <i>Jacobs</i>. Ele reúne humor e carisma na dose certa e a sua interpretação jamais pareceria muito introvertida ou espalhafatosa, mas sempre na medida certa, considerando que <i>Suntee </i>é um garoto aos 18 anos.</span><br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihyphenhyphenrraNKhLKi8n932aWIgvqIB5I7-TAvvw1BZ3ZG4OiuDtO4_ifHCry0yqxB-kQ5hu4yr3OUv8pGffFG-kSTPgi60H8LRUMlb_AxqUG59rLERfOMiJbNJ8vZJYBsR-7Tyx7SJPda4dqO6P/s1600/Elenco-secundario+filme.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="510" data-original-width="726" height="224" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihyphenhyphenrraNKhLKi8n932aWIgvqIB5I7-TAvvw1BZ3ZG4OiuDtO4_ifHCry0yqxB-kQ5hu4yr3OUv8pGffFG-kSTPgi60H8LRUMlb_AxqUG59rLERfOMiJbNJ8vZJYBsR-7Tyx7SJPda4dqO6P/s320/Elenco-secundario+filme.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i><span style="font-family: times;">Steven Seagal (Giro) & Whitney ABle (Bobbi).</span></i></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">Em comum, </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Burt Reynolds & Steven Seagal</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;"> carregaram consigo o estigma de heróis de filmes de ação, mas no caso de </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Burt Reynolds</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">, houve oportunidades pontuais onde pôde provar o talento dramático. Assim que comecei a escrever o </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Daniel Legrand </i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">de "</span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Madrugadas Felinas</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">", pensei no seu desempenho em "</span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Starting Over</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">", a comédia romântica de 1979 dirigida por </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Alan J. Pakula</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">. Na época, </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Burt Reynolds</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;"> era o Campeão de Bilheteria da América. Curiosamente, os diretores mais respeitados (com a notável exceção de <i>Sidney Lumet</i>) não o viam como ator de profundidade dramática. "</span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Starting Over</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">" contava a estória de um professor universitário introvertido, vivido por </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Reynolds</i><span style="font-family: "times new roman", serif;">,</span><span style="font-family: "times new roman" , serif;"> que, tendo sido traído pela esposa (</span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Candice Bergen</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">, indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 1979 por esse filme), muda-se para a casa do irmão e começa a paquerar uma tímida garota local (</span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Jill Clayburgh</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">, também indicada ao Oscar) que também já sofreu sua cota de desapontamentos amorosos. Previsivelmente, os dois se apaixonam, mas um difícil obstáculo se opõe ao caminho para a felicidade, pois a ex-mulher reaparece com o intento de reatar. Em sua biografia "</span><i style="font-family: "times new roman", serif;">My Life</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">", lançada em 1994, o ator discorreu</span><span style="font-family: "times new roman" , serif;"> sobre a dificuldade de romper com a imagem de herói machão e cínico dos filmes de ação que o haviam tornado astro entre 1973 e 1978, para interpretar o personagem que, nos termos do próprio, mais se assemelhava a quem ele era na vida real. Ele conta que o diretor </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Alan J. Pakula</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;"> não o queria, pois tinha em mente atores "<i>mais sérios</i>", mais intelectualizados, artistas </span><span style="font-family: "times new roman" , serif;">nova-iorquinos</span><span style="font-family: "times new roman" , serif;"> estilo </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Dustin Hoffman & Robert De Niro</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">. Quando </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Reynolds </i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">foi discutir o projeto com </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Pakula</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">, tudo o que conseguiu do cineasta foi um convite para um teste de cena. </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Reynolds </i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">escreve que </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Pakula </i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">ofereceu o teste justamente na tentativa de se desvencilhar de sua insistência: como disse, à época, </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Burt </i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">era Campeão de Bilheteria, e Campeões de Bilheteria não precisam se submeter a testes. </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Pakula </i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">o ofereceu já esperando que </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Burt </i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">se negasse e desistisse. A resposta de </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Burt </i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">deixou o diretor admirado, pois ele não apenas topou fazer a audição, foi avaliado em três ocasiões, ao fim das quais conseguiu o papel. Durante as filmagens, ele surpreendeu demasiadamente o cineasta, que ao término de cada dia de trabalho, batia à porta do trailer para dizer "</span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Burt, você foi muito bem, mas pode fazer melhor!</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">". "</span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Starting Over</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">" foi lançado nos cinemas no final de 1979, e recebido com muitos elogios. </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Alan J. Pakula</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;"> aplaudiu a performance do ator, que lhe deu o desempenho que julgara ser capaz de arrancar somente de "</span><i style="font-family: "times new roman", serif;">atores intelectualizados</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">".</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpmGtd0_bc0EuYYCv91TSjlYdODOnxY16FYGthA6RCzQTmCJZr4xwV7c4t2eMiDeK5ZZvZZUXPU1-Qq6wajhbNYbuBzWVydS3pTSOu5IqodL_uSBYehOGP9WJ4QYeijmwRxh1Kthg9BExG/s1600/Elenco-secundario.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="396" data-original-width="538" height="235" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpmGtd0_bc0EuYYCv91TSjlYdODOnxY16FYGthA6RCzQTmCJZr4xwV7c4t2eMiDeK5ZZvZZUXPU1-Qq6wajhbNYbuBzWVydS3pTSOu5IqodL_uSBYehOGP9WJ4QYeijmwRxh1Kthg9BExG/s320/Elenco-secundario.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i><span style="font-family: times;">Andrew Jacobs (Suntee) & Brandon Routh (Aaron Lang)</span>.</i></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">Diferente de </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Burt Reynolds</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">, a </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Steven Seagal</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;"> nunca foi conferida a oportunidade de explorar o desafio de personagens menos explosivos e mais introvertidos. Apesar de apreciar seus filmes, mesmo os mais simples, rodados para o mercado direto-para-vídeo, compreendo que jamais lhe foi entregue um roteiro onde seu personagem pudesse mostrar a humanidade que só pareceria real se </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Steven </i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">conseguisse desempenhar o papel com foco e comprometimento. Eu o imaginei como o </span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Giro </i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">de "</span><i style="font-family: "times new roman", serif;">Madrugadas Felinas</i><span style="font-family: "times new roman" , serif;">" porque aqui poderia ocupar a parte de mentor e melhor amigo, papel no qual você jamais o viu antes, mas que mesmo assim sente que ele faria algo memorável. Em um típico filme estrelado por <i>Burt Reynolds</i>, suponho que esse personagem teria ficado com o veterano <i>Charles Durning</i>. Aqui, eu verdadeiramente enxerguei <i>Steven Seagal</i>. Cresci vendo seus filmes e as minhas mais felizes recordações remontam `a época em que via suas loucuras nos cinemas, com meus amigos, aos 15 anos. Estou falando de 1993-1999, a era em que reinou nas bilheterias. Hoje, quando o vejo mais velho em produções mais humildes, lembro-me daquele tempo com muita saudade. Adoraria lhe oferecer um papel no qual pudesse surpreender críticos esnobes com um tipo de desempenho do qual muitos acham que ele não seja capaz. Durante a concepção da trama, <i>Giro </i>sempre vinha aos meus pensamentos na forma de um <i>Steven Seagal</i> franzino, como em "<i>Nico Acima da Lei</i>", porém de óculos e mais velho. Essa reapresentação mais <i>vintage </i>de <i>Seagal </i>iria revesti-los dos elementos vitais para compor com maestria o personagem criado exclusivamente para sua pessoa, pois, quando escrevia <i>Giro</i>, pensava a todo instante naquele a quem amo e respeito - <i>Padre Paulo Ricardo</i> - e para quem desejava escrever uma versão fictícia de quem, nessa trama de suspense e medo, irradiasse bondade, palavras sensatas e a presença luminosa de meu querido.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "times new roman" , serif;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: times, times new roman, serif;">Quando assisti a "<i>Hellraiser</i>", de <i>Clive Barker</i>, pela primeira vez, eu era uma criança. A experiência me deixou profundamente impressionado; nada até então me acertara com tamanha agressividade. Ao longo dos anos, desde então, enquanto ia crescendo, sempre revisitava as imagens e os segredos que haviam queimado tão pesadamente em minha mente, sendo que aquelas coisas iam adquirindo novos significados, a cada ano. <b>CLARE HIGGINS</b> tinha 32 anos e<i> Clive Barker</i> 35 quando o filme foi rodado, em 1987 e, para mim, décadas antes da existência da internet, quando tudo o que se tinha era uma ou outra matéria nas revistas de cinema, ambos reuniam qualidades portentosas, pessoas misteriosas responsáveis por aquela estória que tão radicalmente me pusera a pensar. Nas poucas fotos de <i>Barker</i>, todas elas elegantes e belas peças publicitárias feitas na esteira do lançamento do filme original, ele perdurou como o autor por trás de "<i>Hellraiser</i>" e aquelas estórias fantásticas do "<i>Livros de Sangue</i>", que calhava de ser idêntico ao ator <i>Hugh Grant</i> no filme "<i>Maurice</i>". De <i>Clare Higgins</i>, detalhes como o blazer com ombreiras, o cabelo e a maquiagem dos anos 80 a preservaram num âmbar, na verdade nada mais que o choque do primeiro olhar, especialmente quando a pessoa ou evento é capturado pelas lentes da criança, incapaz de processar as camadas de dubiedades e mistérios do mundo adulto. No tempo no qual entraram em minha vida como ícones, eu era um menino de sete anos, observando com fascínio a duas pessoas adultas, capturado pelo magnetismo do perigo e elegância de suas meras presenças. Aqueles adultos tão grandes e sérios teriam me suspendido no colo facilmente, como se segurassem um bichinho pequeno; hoje, entretanto, aos 43 anos, seria eu quem poderia levá-los nos braços simultaneamente, e aquilo outrora tão sensual e inalcançável se transformou na vulnerabilidade que desperta a compaixão e o amor pelos mais velhos. Agora, como uma senhora velhinha, a figura de <i>Clare Higgins</i> vestiria bem o papel da avó em "<i>Madrugadas Felinas</i>"; para trás ficaram o estranho erotismo e o bizarro apelo das peças de adoração fetichista, para a frente restou o essencial, as coisas que a passagem de tempo não apaga, como o amor por um neto e a santificação da vida quando se dedica a mesma ao lar, tornados concretos na personagem <i>Gladys</i>.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;"><i>Brandon Routh</i> e </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Danny Dyer</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;"> ficam com dois personagens vitais para o desvendamento da trama; </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Routh </i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">como </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Aaron Lang</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">, </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Dyer </i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">como </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Allen Corliss</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">. </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Brandon Routh</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;"> ficou famoso por causa de </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Superman</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">, o papel ao qual é instantaneamente associado. Algo na concepção de </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Aaron</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;"> aproxima-se d</span><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">a imagem icônica de </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Superman</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">, pois </span><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">é o garoto de ouro, o herdeiro nascido em berço esplêndido, destinado a grandes coisas. Astro dos esportes no colégio, excelente estudante e cobiçado pelas meninas da região, </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Aaron </i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">incorpora a vitória do sonho americano. Logo, o fato de se tornar a primeira vítima de inomináveis horrores funciona como um duro golpe: se o personagem emblema da fantasia de sucesso vira pó sob o peso da engenhosidade de vingança colocada em movimento pela vilã principal, todos os outros personagens também estarão "</span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">na chuva para se molhar</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">" e correrão os mais incalculáveis riscos até o desfecho. Apesar de surgir em </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">flashbacks</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">, um patético e trágico fantasma no passado de </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Daniel</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">, </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Aaron Lang</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;"> é peça imprescindível </span><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">para a compreensão da peça que o destino preparou para </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Parker, Robyn & Daniel</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">. </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Danny Dyer</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;"> é um astro britânico que atuou em alguns dos mais empolgantes filmes ingleses dos últimos anos. Cito duas joias do cinema europeu protagonizadas por </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Dyer </i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">- "</span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Football Factory</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">" </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">& </i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">"</span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Outlaw</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">"</span><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;"> - filmes que chamaram atenção e apresentaram o carismático </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Dyer</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;"> como <i>hooligan </i>volátil</span><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">. Eu o escalei como </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Allen Corliss</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">, esposo e melhor amigo da <i>Robyn</i>, porque pude antever, mentalmente, a química entre os dois atores nas cenas mais ternas, os momentos que pedem amor e incondicional companheirismo. Ao lado da <i>Bobbi </i>de <i>Whitney Able</i>, </span><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">ele é uma das pernas de sustentação para </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Robyn</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">, e suas cenas com a esposa servem para pintar um retrato mais doce da vilã do filme.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">O<b> INSPETOR DIEUDONNÉ</b> (<b>CHRISTOPHER LAMBERT</b>) não existia na primeira versão. Ao reescrever a trama, eu o criei como aliado de <i>Daniel</i>, e um tipo de "<i>substituto legal</i>" do leitor, afinal, assim como a nós, em nossa busca pela verdade num emaranhado de mistérios, sua confusão representa a do leitor, até que a verdade seja exposta à luz. Agente do MI6, <i>Dieudonné</i> entra na trama ao investigar brutais assassinatos a machadadas em <i>Londres</i>: ao passo que seus superiores acreditem na existência de um <i>serial killer </i>anônimo, ele nunca se conformou com a versão oficial, nada lhe sacando da mente o possível envolvimento de <i>Bobbi Chapman</i>, uma estrela pop vinda de uma poderosa família da máfia, no cometimento das barbaridades. Ela não seria uma <i>serial killer</i>, mas teria se esforçado para criar a ilusão de um assassino em série, operante na região. <i>O que ela buscava?</i> É quando ele vê o forte elo entre <i>Bobbi</i> e <i>Robyn</i> que <i>Dieudonné</i> parte para a ação nos <i>Estados Unidos</i>, mais exatamente em <i>Cape May</i>, o que o leva à pessoa de <i>Daniel</i> como a peça principal deste xadrez. Um daqueles rostos queridos de minha infância, nunca me esqueci do quanto gostava dos filmes de ação de <i>Christopher Lambert</i>. Dele, emanava o charme do velho continente, do velho mundo, um <i>glamour </i>europeu de maturação semelhante à do vinho, quanto mais maduro, melhor! A voz, a presença, a autoridade para a ação... Para "<i>Madrugadas Felinas</i>", a <i>Christopher Lambert </i>eu daria só uma orientação: <i>apenas seja você mesmo</i>. E lhe bastaria essa orientação por parte do diretor para tornar real aquilo que foi pensado na escrita.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7PB5Eey3FId1uxbNLIo1nxxj4d0h1dfmucBgo9MoY_mS9jXRtbyFF1zuOcGQ1bCwseBQ5cO5NZUAjIX1hIxs28TpbbSei5L-1PGyxykp1PnkhIl2vT6oDisxfCdWiTSuDvvQF4tJpqsRr17i07BFJnO8u5gsvnrXbzL4Uof-6jxedJgrpEgwwq4lfLQ/s1043/Burt%20reynolds%20Starting%20Over.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="827" data-original-width="1043" height="318" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7PB5Eey3FId1uxbNLIo1nxxj4d0h1dfmucBgo9MoY_mS9jXRtbyFF1zuOcGQ1bCwseBQ5cO5NZUAjIX1hIxs28TpbbSei5L-1PGyxykp1PnkhIl2vT6oDisxfCdWiTSuDvvQF4tJpqsRr17i07BFJnO8u5gsvnrXbzL4Uof-6jxedJgrpEgwwq4lfLQ/w400-h318/Burt%20reynolds%20Starting%20Over.jpg" width="400" /></a></div>Eu me lembro de mim, deixando o cinema aos quinze anos, no segundo semestre de 1995, após a sessão das 23:00 do circuito de arte para o filme "</span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Fervura Máxima</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">"; eu me recordo de como, após uma experiência tão eletrizante, até o céu parecia magicamente reinventado, coberto pelo manto estrelado de uma romântica noite, hoje tão afastada. Naquele tempo, em 1995, sabendo tão pouco do mundo, achava que o sonho de uma vida seria crescer para virar o diretor </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">John Woo</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">, só para colocar num filme tão marcante quanto "</span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">A Better Tomorrow</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">" & "</span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Fervura Máxima</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">" aquela gente que, à época, era a coisa mais importante no mundo de um adolescente o qual amava cinema: </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Burt Reynolds</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">, </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Jennifer Connelly</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">, a </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Clare Higgins</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">, foram tantos. Felizmente, às vezes, a melhor coisa que Deus faz é não nos dar aquilo que, quando jovens, julgamos equivocadamente uma desejável meta de vida. Por mais que tenha amado aquelas coisas lá atrás, para mim, hoje, preferiria mesmo permanecer cuidando dos gatos de rua na praia a virar </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">John Woo</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">, </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">David Cronenberg</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">, </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Clive Barker</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">, </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">John Boorman </i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">ou qualquer outra pessoa a qual, aos olhos de um garoto, assomava-se como a forma da vitória. No anonimato e no abraçar a cruz do dia a dia esconde-se, insuspeita, a felicidade, não nos filmes pensados pelos outros; entretanto, ao mesmo tempo, já que eu não virei </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">John Woo</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;"> e não pude dar a eles o meu filme estrelando </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Burt Reynolds</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">, ao menos lhes dei minha estória "</span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Madrugadas Felinas</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">", que também acabou se tornando o "</span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">meu filme</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">", do qual pude ser seu diretor, e o qual </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Burt Reynolds</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;"> pôde estrelar exatamente como eu o conservei na memória, quando apareceu - e jamais foi tão excitante quanto, posteriormente - em "</span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Starting Over</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">". E, independente do que tenha acontecido à sua carreira, aqui, perdura imutável a <i>persona</i> daquele período em particular, - 1979, quando ele protagonizou "<i>Starting Over</i>", o qual também foi o ano em que nasci, - que também é a <i>persona</i> do protagonista pensado por mim. </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Burt Reynolds</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;"> era </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Daniel Legrand</i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;"> antes mesmo de </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">Daniel Legrand </i><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">existir</span><span style="font-family: times, "times new roman", serif; text-align: left;">. Sempre foi ele, o tempo inteiro. Com reverência e carinho, deixo essa história que sempre será o filme estrelado por ele, e <i>somente ele</i>.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"></span><br /><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i><b>Este trabalho é dedicado a Richard Anthony Fry.</b></i></span></span><br /><b><i>Que sempre será minha melhor esperança e maior realização.</i></b><br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i><b><span style="font-size: large;"></span></b></i></span></span><br /><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Ele se chamava <i>Daniel Legrand</i>, e estava de pé, desocupado diante de um dos hangares de serviço, benevolente com a preguiça momentânea, compreensivo lapso de um trabalhador que embora apreciasse o ofício, vira o suficiente para se desapontar e perder parte do encanto com que começara a operar na carga. Havia sempre um elemento sensacional e inédito, entretanto, em se experimentar a chegada de uma nova manhã às margens da pista do <i>Liberty</i>. Fizera-o pela primeira vez há seis anos, com a cabeça cheia de fantasias. Desde então, à medida que a inocência esvaindo, repetia a prece ao céu aquoso e tingido por azul anil, jurando romper com o próprio conformismo e juntar as peças do quebra-cabeça que era sua vida. Seis anos haviam se passado, todavia, e a cada novo "<i>compromisso</i>", o ímpeto morria tão rápido quanto a madrugada perdia o protagonismo para a retomada</span></span><span style="font-family: arial;"> da manhã. Os dias seguiam sem novidade, o romantismo do passado mera promessa, jamais vingada. Ia assistindo aos próprios sonhos de um lugar cada vez mais afastado do meio-fio, sonhos os quais desfilavam junto à "</span><i style="font-family: arial;">banda</i><span style="font-family: arial;">" de passagem por ali, ao alcance dos olhos, mas para além do toque. "</span><i style="font-family: arial;">Eu cheguei aos trinta, e não fiz nada da minha vida</i><span style="font-family: arial;">", costumava dizer `a avó Gladys, com lágrimas nos olhos. E então, o curso de sua trajetória foi desviado com a violência de uma tesoura de vento.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">"<i>Meu Deus, o avião vai derivar!</i>", Daniel disse a si ao assistir ao <i>Boeing </i>da <i>American Airlines</i> ser súbita e gradualmente alavancado para a esquerda, puxado em toda a sua envergadura pela ação de uma fortíssima corrente de vento assim que o trem de pouso tocou a pista. Os pneus rasgaram o asfalto com um berro e o gigante de asas seguiu como expresso fumegante e furioso pista afora, "<i>descalçado</i>" pelo estrago nos trens. Legrand compreendeu que era certo: o avião avançaria para além dos limites do aeroporto. Foi o que aconteceu, muito embora não tenha visto o choque final, pois o agente portuário arrancou com a caminhonete, fazendo os pneus cantarem ao acelerar no sentido da cabeceira como se sua vida dependesse disso. Enquanto tateava o bagunçado assento do carona `a procura do celular, escondido em algum lugar entre notas fiscais amassadas, tickets de estacionamento e uma garrafa térmica de tampa desatarraxada, o estrondo mais `a frente atingiu-o em todo o seu horror. Por um ínfimo espaço de tempo, o intervalo de os olhos deixarem a marcha para voltarem ao painel, acreditou que o <i>Boeing </i>tivesse explodido.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Felizmente, não aconteceu nada parecido. Mesmo assim, o avião via-se em apuros. O trem de pouso fora arrancado na raiz ao ultrapassar a cabeceira, e agora a aeronave parecia um charuto dobrado, as pontas das asas formando um ângulo agudo com o solo, a extremidade direita apontando para o céu, como um colosso derrotado e agonizante pedindo clemência antes do golpe fulminante. O barulho das turbinas era magnífico, mas Legrand tinha somente a audição de um dos ouvidos, o que, de uma esquisita maneira, beneficiou-o naquela situação. Ele freou a caminhonete e saiu escorregando em "<i>escorregador</i>" pela cabeceira até chegar ao gramado molhado. A cena adiante vestia uma qualidade quase surreal. Pôs a cabeça para dentro por uma das aberturas produzidas pela batida desajeitada na pista, precisava examinar o corredor da cabine de passageiros de um dos lados do "<i>charuto</i>", ambos semelhantes a túneis quase tomados pela escuridão, não fosse o azulado doentio da gélida manhã que encontrava meios para burlar o negrume.</span><span style="font-size: x-small;"> </span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Alguns bancos tinham sido soltos e havia itens de bagagem no corredor. Com desapego pela própria vida, Daniel pôs em movimento o improvisado plano para salvar os passageiros, arrastando as pessoas que conseguisse até que morresse junto aos que não tivesse como retirar. Não havia estratégia, apenas voluntarismo e coragem.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: arial; font-size: x-small;"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Legrand segurou os mais assustados. Suportando-os sobre os ombros, conduziu-os ao longo de corredores até a saída de emergência a desembocar no segmento de asa em contato com o solo. Pela posição em que o <i>Boeing </i>repousara, descer pela asa funcionava como deslizar por um escorregador. Daniel carregava as pessoas mais feridas, acomodava-as ali próximo à asa, preparava-as para a descida suave pela face da mesma e retornava para o interior. Não tinha mais o casaco, que rasgara para fazer uma corda improvisada utilizada para escalar mais facilmente a asa do <i>Boeing</i> a cada nova rodada de resgate. Quando se deu conta, tirara pouco mais de cinquenta passageiros, aeromoças e comissários. Os passageiros eram, na maioria, compostos por jovens voltando da <i>Flórida</i>. Depois de retornar para a cabine de passageiros para se certificar de que ninguém ficara para trás, Legrand percebeu as chamas engolfando a cauda, pelo buraco na fuselagem da cozinha.</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Daniel desceu pelo buraco da cozinha e traçou uma corrida em semicírculo de amplo raio, contornando o corpanzil do <i>Boeing </i>a uma distância prudente para não respirar ar tóxico. Uma das turbinas ainda girava a meia-velocidade, produzindo um ronco semelhante ao de trombetas desafinadas atropelando-se pelo acorde mais escandaloso. Passageiros acenaram e gritaram para que Legrand se afastasse de vez. Daniel apontou para a cabine dos pilotos, indicando que precisava terminar o trabalho. Da cabeceira da pista onde o <i>Boeing </i>imprimira as borrachas dos pneus, vinham os gritos de bombeiros tentando passar instruções, mas os passageiros se mostraram pouco interessados em sair dali. Precisavam ver Legrand a salvo. Daniel destruiu a janela da cabine com três chutes precisos e puxou os dois pilotos pelos pulsos. Apoiava-os com os braços ao redor das cinturas e os conduzia à área para onde levara os passageiros salvos. Ao olhar para trás, Daniel encontrou os dois pedaços do avião envoltos por chamas e os bombeiros contornando os destroços para estudar por onde começariam a direcionar as potentes mangueiras. Mal sentia os joelhos, as pernas não obedeciam ao comando. Um trôpego Daniel desabou pesadamente entre os garotos da excursão. Ainda conseguiu sentir mãos vindo para cima do corpo, cuidando e socorrendo, uma sensação reconfortante antes de ceder ao cansaço e apagar. Quando acordou e se deu conta de estar sob a vigília da garotada que salvara, flashes pipocando pela janela da porta, do outro lado, compreendeu que o sossego de sua vida pretérita terminara.</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="font-size: x-small;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span><span style="font-family: arial; font-size: x-large;"><b><i>01. Eu estava quase adormecido; mas meu coração vigiava.</i></b></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="font-size: x-small;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="font-size: x-small;"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Ou melhor, foi assim que a vida começou a preparar seu encontro com o destino, a caminhada ao ringue onde em cujas cordas seria lançado após a sequência mais terrível dos golpes vindos de Robyn, as cordas que ironicamente o impediriam de ser lançado para fora e onde se apoiaria desesperadamente para não deixar que a luta terminasse antes do desfecho, antes do escoamento dos ponteiros, antes da contagem dos últimos dez segundos quando levaria todos os murros possíveis no rosto ensanguentado, convidando-a: "<i>Dê-me seu melhor!</i>". Tinham chegado a <i>Elizabeth </i>há seis anos, neto e avó; ele sem passado. Durante os seis anos, acomodara-se às direções a que os ventos o atiravam, mas então, naquele Natal de 2009, o <i>Boeing </i>da <i>American Airlines</i> caiu dos céus "<i>em cima do seu colo</i>". Não fosse pela ação do "<i>pista</i>" na cabeceira, dificilmente teria saído por mérito próprio do limbo no qual fora atirado e, principalmente, feito tantos amigos numa única manhã. Ele não se acostumaria `a atenção dos jornalistas e suas câmeras, porém sabia que o assédio não duraria, e a novidade de se sentir integrado a uma nova turma representava uma novidade que o lançava de volta ao jogo. De alguns rostos, Legrand se recordava, mas havia outros envoltos pela confusão do resgate. Os jovens presentes no quarto o receberam com sorrisos e aplausos. Confuso, Daniel procurou a avó. Tão distraído se encontrava, demorou a perceber que a senhora se encontrava um pouco atrás e ao lado da cabeceira, segurando sua mão direita, por onde entrava a sonda intravenosa. Demoraria a memorizar nomes, e devia faltar metade da turma. Aqueles que tinham aparecido alternavam-se entre o corredor, o salão de espera e o quarto. O pessoal do aeroporto também aguardava a oportunidade para conversar com Daniel. Quando a porta foi empurrada pelo médico em ingresso, também veio o rumor da horda de curiosos. Uma enfermeira tratou de fechá-la apressadamente. Visivelmente preocupado, o cavalheiro metido em jaleco branco determinou:</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Precisamos deixar o nosso homem descansar, meu povo. - Disse, com um sorriso cordato. - Vocês terão o tempo do mundo para se conhecerem! - A ordem foi recebida com a lamúria geral, mas a turma não tinha como se opor. Um dos rapazes inclinou-se ao lado do paciente para lhe falar em reservado. Daniel se recordava bem do garoto. Mesmo depois de tê-lo arrastado para fora do <i>Boeing</i>, fora o mesmo que retornara para auxiliá-lo com os passageiros restantes. </span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Voltaremos para visitá-lo, <i>meu patrão</i>. - Ele prometeu. - Compreendemos que não é uma boa hora, mas estávamos ansiosos para vê-lo. Obrigado por tudo.</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Foi uma honra! - Apertou-lhe as mãos, comovido. Por sobre os ombros do interlocutor, os demais garotos pareciam tão atentos e emocionados quanto os dois. Ainda assim, na cabeça de Daniel, só existia lugar para a avó e <i>Cyrano</i>. Ele cumprimentou os demais com um aceno de cabeça e, no mesmo segundo, ponderou com muito bom humor que jamais se comportara tão elegantemente. </span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Restaram somente médico, paciente e avó. Daniel tentou se levantar. O médico não deixou, e incrementou a inclinação da cabeceira para melhor acomodá-lo de modo a não se esforçar para buscar qualquer coisa na mesa. Ele não compreendia por que fora parar no hospital. Não se recordava de ferimento mais grave, apenas do cansaço absurdo. Daniel tivera o princípio de um ataque cardíaco, o doutor explicou, com um sorriso suave, minimizador do impacto do terrível termo. Ele estava fora de risco, mas precisava permanecer por um dia em observação. Os olhos da avó enchiam-se, aquosos e emocionados. O médico a assegurou de que o pior passara. Do televisor preso ao suporte, chegavam entradas de última hora sobre o acontecido no <i>Liberty</i>. Imagens da manhã mostravam os dois pedaços do <i>Boeing </i>sendo retirados por duas carretas que os arrastavam à tração, uma operação tecnicamente dificílima para que a estrutura restasse preservada. Não havia vítimas fatais. Num quadrinho menor no canto direito, uma foto de Daniel. Forçou a vista, não se recordou de quando fora tirada. </span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Estão falando de você em todos os lugares. - O médico contou, saboreando a confusa e grata surpresa a incandescer o rosto do paciente. - Por ora, evite televisão. - O médico a desligou pelo controle e as imagens reduziram-se com o silêncio, minimizando-se numa linha horizontal que desapareceu com uma brevíssima centelha. - Amanhã, deve voltar para casa. </span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Quanto tempo estive fora? - Perguntou, confuso, lançando olhares para a avó e ao doutor.</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Um dia se passou desde a confusão. Você ficou desacordado por um dia inteiro, Daniel, mas foi por causa dos remédios que te demos. Precisávamos te estabilizar. </span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Oh, entendo. - Ditou, mais para si do que para o médico. Levantou-se e foi caminhando à janela. Era um dia muito frio, <i>Nova Jersey</i> coberta por lençóis suaves e perfeitos de neve, a cidade sob um céu cinzento. A sua própria maneira, era um charmoso fim de tarde. Daniel ficou chocado com a multidão agregada no jardim da frente, em estilo francês, de geometria e esmerada simetria, e os repórteres falando às câmeras no coreto da pracinha mais atrás. Ele levou as mãos à lâmina de vidro da janela, ansiando pelo contato com o frio, por algo que o fizesse se sentir ressuscitado. A sensação que tomou conta do corpo foi maravilhosa. Por um momento, pôde sentir o cheiro refrescante do orvalho, típico das manhãs muito geladas quando caminhava à margem da pista antes de se reunir aos colegas para o café improvisado no terminal. - Tudo bem. Já estive apagado por tempo maior.</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Como assim? - O médico o deixou à vontade para elaborar, interessado.</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não é nada. - A avó se intrometeu. - Obrigada pela sua atenção, não sei o que seria de...</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Tem um grande neto! - Fez o positivo com o polegar. - Já deu certo!</span></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Doutor, não lhe seria possível me liberar já hoje? - Daniel tentou, mas o médico respondeu em negativo, com um sorriso paterno. - Não quero deixá-la sozinha. - Apontou para a avó com o polegar. - Uma vez, deixou o gás ligado, desatenta. Preocupo-me com vovó.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Senhora, depois de tudo, seu neto só consegue mesmo pensar nos outros. - O homem pendurou o estetoscópio no pescoço, dando-lhe um tapinha no ombro e finalizando a infrutífera negociação. - Preciso mantê-lo por mais um dia, amigo. Amanhã, voltará para casa. E a senhora... - Ele se voltou à Gladys para brincar um pouco e esvaziar a tensão. - Trate de prestar atenção no gás de cozinha! - Eles riram. <br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">O médico os deixou sós. Reconfortado pela bem-vinda privacidade, Daniel abraçou a senhora e os dois se sentaram à mesa num canto do quarto. As paredes bege davam ao lugar a intimidade que convidava ao relaxamento. Mesmo simples, parecia uma reservada e segura fuga, alheia `a loucura em curso externamente. Havia uma garrafa térmica deixada com copinhos para bebida quente. O sabor e o aroma do café jamais haviam sido capturados tão saborosamente pelos sentidos. Os dois não tiveram muito o que conversar, mas precisavam do momento. Ambos estavam jubilosos, porém as coisas ainda pareciam um tanto quanto surreais. </span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- E então... - Daniel começou, incerto, até pensar novamente no <i>Cyrano</i>. - Cadê o <i>Cyrano</i>? - A avó sacudiu a cabeça com candura, sorrindo e respondendo de pronto.</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ele está bem! Deixei ração e água! Deve estar morrendo de saudades. Não está acostumado a que passe a noite fora de casa! <i>Cyrano </i>está bem, não se preocupe com isso, querido, preocupe-se conosco, agora!</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Vovó, esse lance aconteceu mesmo?! - Levou as mãos à testa, os olhos bem abertos e surpresos. - Não acredito!</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Aproveite e recupere o tempo perdido. - Ela aconselhou. - Poucas pessoas têm a sorte de fazer algo tão sensacional, Daniel. Faça algo ainda melhor e salve a si.</span></span></span><br />
</span><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial; font-size: x-small;"><span style="font-size: small;">- Sim. - Daniel deixou a cadeira e ensaiou um hesitante retorno à janela. Preenchido pelo dever de reparação, desejou vestir suas roupas sujas para assaltar a vida o quanto antes, experimentando-a sob distintas lentes. Repentinamente, havia tantas coisas a se ver, a se fazer, e ele não queria desperdiçar um só minuto. - Um fim de tarde tão lindo e o estou perdendo aqui dentro. - Empurrou a janela de correr, deixando a brisa amena ingressar.</span> </span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span style="font-family: arial;">
"<i>Cyrano!"</i>, Daniel exclamou ao abrir a portinhola de ferro que o levava caminho adentro do jardinzinho da casa onde morava com a avó. <i>Cyrano</i>, um gato pretinho atrapalhado e gorducho que os cativara por ser um anjinho com trissomia, começou a girar em torno de si e tentar alcançá-lo com as patinhas de garras para fora. Ele correu para os braços do tutor e o cobriu de lambidas, Daniel caindo no meio do caminho e morrendo de rir. "<i>Senti saudades, rapaz</i>". A avó assistiu ao reencontro com as mãos juntas e olhos marejados. Ele procurou pela avó por sobre os ombros e explicou "<i>Não sabe de nada, não poderia se importar menos se estou em matérias de televisão, mas me ama porque eu o amo, e basta. Podemos pedir por amigos melhores?</i>". </span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">Estivera apenas dois dias fora, mas ao reencontrar suas posses, pareciam "<i>mudadas</i>". Livros, móveis, lâminas de barbear, espumas e loção. Elas ficaram conforme originalmente deixadas na manhã da ação, mas <i>algo</i> se transformara e ele não sabia precisamente o quê. Sentado na esquadria da janela a ligar sala a alpendre, distraia-se assistindo a <i>Cyrano</i> brincar com qualquer coisa no jardim. Sentia as lembranças do cansaço daquela manhã há dois dias, remanescentes na fraqueza dos músculos das coxas e braços. Na introspecção, corria um desnecessário risco. Sabia que quando começava a se deixar levar pelas divagações, geralmente a viagem para dentro de si tendia a terminar mal, até por não compreender onde se fundava a natureza de seus temores e esperanças.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">Daniel morava num simpático, aprazível e pacato loteamento logo na entrada de <i>Elizabeth</i>, a menos de dez quilômetros do aeroporto internacional de <i>Newark</i>. Achava que não precisava de mais nada para viver bem. Ia e vinha na caminhonete, de casa para trabalho e o retorno, e muitas vezes antes do sol raiar, no caso da primeira ida, apenas porque apreciava dar a volta pelo entorno do aeroporto antes de se dirigir ao terminal onde se reunia com os rapazes e recebia as instruções do dia. Daniel era "<i>pista</i>", fiscal de pátio, e você o encontraria entre servidores do tipo, aqueles cavalheiros metidos em coletes azuis, balizando aeronaves para estacionamento. A sua função, entretanto, demandava muito mais do que os olhos despreparados levariam a crer. Havia atividades específicas para cada dia, muito embora isso não consistisse uma regra rígida. Nas segundas-feiras, ficava encarregado da inspeção de segurança nos pátios e pistas de pouso e decolagem; nas terças e quartas, assumia a sinalização e operação de pontes aéreas; quintas reservavam-se à fiscalização de abastecimentos; e a melhor parte ficava para as sextas-feiras, quando trabalhava em parceria com Giro na viatura, transitando pelos pátios de manobras, para a inspeção de equipamentos. Quando o <i>Boeing </i>da <i>American Airlines</i> passou por apuros na aterrissagem, quis o destino que estivesse se ocupando da segurança das pistas, daí ter sido o primeiro a avistar o problema da aeronave em aproximação, o que lhe valeu a oportunidade de socorrer passageiros e tripulantes a tempo.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">Acomodado na soleira, refletindo sobre o passado que nem era tão passado assim, afinal ocorrera praticamente ontem, Daniel reinterpretava a vida como uma jornada que começara em algum momento no primeiro semestre de 2005, findo o curso de formação e a homologação da aprovação nos testes ao término do treinamento. Tinham sido apenas duas semanas. Recordava-se nostalgicamente daqueles dias ensolarados como se somados resultassem em décadas. Giro era o veterano responsável por lhe ensinar os macetes do ofício. Também lhe falava coisas lindas sobre Deus e Sua mãe Maria, por mais que, à época, não lhe interessassem tanto. Ao chegar ao <i>Liberty</i>, havia sido Giro, sempre paciente e bem-humorado, o responsável pela sua adaptação aos novos ares. Lembrava-se de detalhes do primeiro dia, da apresentação aos novatos no auditório, evento atendido pelos agentes políticos fortes das autoridades portuárias de <i>Nova York</i> e <i>Nova Jersey</i>, da salada de frutas servida em sequência à cerimônia, na antessala. Recordava-se que fora um dia de sol forte, do cheiro de tabaco dentro da caminhonete ao apanhá-la para dar um pulo em casa no intervalo para o almoço para comer na companhia da avó e lhe contar que era melhor do que imaginara e, para todos os efeitos, o neto estava empregado, a maior alegria de Gladys.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">Seis anos tinham se passado desde o almoço com vovó na cozinha escaldante. Sentado na esquadria da mesma janela de onde costumava observar o aeroporto distante, ansioso para terminar o almoço e voltar como quem não queria perder um só momento, reavaliava a vida com os olhos de um homem de trinta, e não mais com os de um menino fora de tempo por causa da tragédia do esquecimento. Sacudiu a cabeça e bateu palmas, chamando <i>Cyrano</i>, louco para que o gato o alegrasse. O médico que cuidara tão bem de Daniel também fora gentil e atencioso, e o hospital havia reportado à imprensa que ele sairia somente no fim de semana, uma pista falsa para manter as câmeras distante. Ramificando-se a partir da estrada que seguia para <i>downtown Newark</i>, uma das vicinais levava diretamente a <i>Elizabeth</i>, e o rapaz conseguia enxergar um carro levantando poeira ao atravessar o amplo loteamento numa velocidade que indicava a ausência de qualquer obstáculo à frente, que não asfalto e solidão, ladeado por ocasionais casinhas do convidativo deserto.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Você não vai aprender a <i>não </i>me dar trabalho, vai?! - Encontrando alguma dificuldade para sair do carro por causa da emoção, um senhor de meia-idade alto e magro, de óculos, com um grande crucifixo a adornar o peito e uma camisa branca que o deixava parecido a um padre, surgiu, vocalizando a frustração. Daniel saltou da sacada e exclamou.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Giro! - Correu para o abraço do amigo, preparando-se para o sermão. - Apenas me escute...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<div>
<span style="font-family: arial;">- Então em vez de esperar pelos bombeiros jogou-se na linha de fogo? - Deu-lhe um abraço paterno e então o apanhou pela gola da camisa para meter senso na cabeça vazia. - Da próxima vez, por que não se imola e torce para a brigada apagar o fogo a tempo?</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Não entende, Giro, eu não tive alternativa! - Com a mão na nuca do senhor, o rapaz o trouxe para dentro de casa. Giro chegara numa boa hora, e o cheiro do feijão começava a se distinguir, principalmente agora que a avó salpicava a mistura com cebola, salsa e alho, e a mexia com a colher de pau. </span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span><br /></span><span>Os três tiveram um almoço maravilhoso e sossegado. Ocasionalmente, <i>Cyrano</i> passeava por entre suas canelas e se esfregava para ganhar um pedacinho de carne dos humanos, e então ia descansar sobre a cadeira de balanço no alpendre, um cochilo que não durava, pois logo repetia o passeio para ganhar novos agrados gostosos. Era uma tarde diametralmente oposta ao dia no hospital. O sol apontava forte; entretanto, o clima jamais cumpria com a promessa do calor insuportável, ficando ligeiramente abaixo. Na verdade, havia morna amenidade na corrente de ar a soprar de <i>Newark</i>, e a mornidão remetia Daniel a aquele dia, seis anos antes, quando aparecera para assumir a vaga no terminal de cargas. Depois de terminarem, os dois amigos foram se sentar no alpendre, e a avó foi coar um cafezinho.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span><br /></span><span>- Você sabe a verdadeira proeza</span><span>? - Daniel acomodou os pés nas tábuas do parapeito, mirando a estrada distante e, mais além, o aeroporto de <i>Newark</i>, um gigante adormecido que também fazia a sesta. - Retomar a vida normal, colocar o acontecimento para trás.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span>- Você fez algo extraordinário. Precisa compreender o súbito interesse das pessoas. - Giro analisou, pensativo enquanto dobrava os óculos para guardá-los no bolso da camisa. - Mas há <i>algo </i>mais, ou estou enganado</span><span>?</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Comecei me sentir assim no hospital. - Comentou o "<i>algo a mais</i>". - Foi como um chamado da vida, dizendo-me que não há mais tempo a desperdiçar.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Penso o mesmo. - Observou, orgulhosamente. Como um cavalheiro, levantou-se discretamente `a chegada da avó e a ajudou a servir a garrafa térmica e as xícaras sobre a mesinha de tampão de vidro e armação de palha. Depois que a senhora voltou para dentro, os dois se serviram. Giro bebericou de sua xícara cuidadosamente. Pareceu ponderar por um instante e prosseguiu: - Salvar aquelas vidas te obrigou a reavaliar melhor a própria. </span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span>- Eu não tenho feito um bom trabalho com a minha</span><span>? - Daniel indagou e Giro o respondeu com um olhar confuso. - Desculpe-me, amigo, não queria constrangê-lo a...</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Não, não. - Fez um sorriso compreensivo. - Eu entendo. Você é meu amigo e lhe devo honestidade, por mais que possa desagradá-lo com meu ponto de vista. - Giro agora pôde dar um gole, o café já estava no ponto a partir do qual podia ser consumido sem sopros. Passou os dedos sobre as linhas de expressão da testa e aprofundou. - Podia fazer muito mais, isso é fato. Você não tem mais vinte e quatro anos, como quando chegou a <i>Elizabeth</i>, mas também não chegou `a minha idade. Aos trinta, há muito a se fazer, mas não tem tempo a perder. Todo trabalho engrandece, mas às vezes sinto que são outras as paragens que lhe esperam, amigo.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Teria orgulho de chegar a sua idade fazendo o que faz. - Revelou, com doçura, apertando com camaradagem o braço do amigo, que ficou enlevado.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Tudo bem, eu sei, apenas não quero que faça isso! - Giro inclinou-se, como se fosse contar um segredo. - Não se acomode. O cavalo selado aparece um par de vezes, na vida, e da próxima, não esperará até que caia na real.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">Daniel apoiou os ombros em cima do peitoral e permaneceu entretido, estudando a curva mais distante no riscado feito pela borda perolada da pista. A forma como a luz do sol incidia sobre o asfalto criava uma duma dourada e sobrenatural. De algum lugar mais ao sul do loteamento, vinha a sirene da madeireira, anunciando o horário de almoço. Esse era seu simples, modorrento e tedioso mundo. Simultaneamente, ao alcance da vista e além do aeroporto de <i>Newark</i>, ofuscada por cortinas e mais cortinas de ouro polvilhado, na verdade o espetáculo cênico perpetrado pela radiante tarde peneirada por gigantes de concreto, a promessa do sucesso irrealizado, do potencial jamais realizado, no perfil monolítico e elegante de <i>Nova York</i>.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Cheguei aqui com uma porção de ideias. - Começou, virando-se ao amigo. - Penso em voltar a estudar, a planejar alguns anos à frente. Pela primeira vez em muito tempo, acredito que existe um futuro para mim.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span>- Você acredita? Pois eu tenho certeza. E agora, você se apercebeu disso, e vive uma crise existencial. - Diagnosticou, com sagacidade. - Tudo bem, é normal. - Giro finalizou o café com um gole curto e preciso, e se juntou ao amigo no peitoral. - Seja o que for que tenha despertado essa chama, mantenha-a acesa. O que pensa em fazer com a vida</span><span>? Já tem um plano</span><span>?</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span>- Estudar. - Respondeu, com o sorriso de alguém preparado para ser duvidado. Ao contrário do esperado, Giro o encorajou. - Preparar-me para algum concurso, talvez. Poderia fazer tanto por vovó! Não acha que seja tarde para voltar a estudar, certo, Giro</span><span>?</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- A hora certa para qualquer coisa é aquela na qual decidimos começar. - Giro apoiou, a que o confiante Daniel assentiu, animadamente.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span><br /></span><span>Na segunda-feira, ao voltar à tona, Daniel foi recebido por câmeras vindas de muitas direções, no saguão da entrada, para registrarem o reencontro do herói com a turma da excursão que ele arrancara do avião em chamas. Ao se apresentar à reunião do começo da manhã, o cerimonial da <i>American Airlines</i> o "<i>raptou</i>", e o pôs dentro de uma <i>shuttle</i>. A <i>shuttle </i>o levou ao <i>Marriott</i>, o único serviço de hotelaria operante dentro da região do aeroporto internacional, onde uma recepção fora preparada. Os jovens, cuja faixa etária variava de 16 a 19 anos, compunham-se exclusivamente de estudantes da <i>East Side</i>, uma das várias escolas públicas de <i>Jersey </i>que integravam o distrito reservado `a renovação do ensino público. Os garotos da <i>East Side</i> eram oriundos da classe trabalhadora de <i>Jersey</i>, uma comunidade multiétnica e unida, batizada sob a alcunha de "<i>Ironbound</i>", graças aos trilhos armados no entorno da vizinhança, e pelo fato de os chefes de família tirarem o sustento das indústrias metalúrgicas atuantes na área. Era a vizinhança dos "<i>saloon</i>": os velhos bares resistiam à passagem do tempo, acolhendo trabalhadores exaustos que., após um duro dia de trabalho, antes de tomarem os trilhos de volta `as casas, queriam beber algumas canecas de cerveja e jogar cartas com os companheiros. Ali, nas <i>jukebox</i>, jamais se deixara de escutar <i>Sarah Vaughan</i>, sua mais célebre filha.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span><br /></span><span>Daniel contou quarenta e cinco abraços e apertos de mãos. Ao término da apresentação, sentia-se confuso, porém grato por tantas amizades tão subitamente! Seriam exigidos dele investimento emocional e tempo até conhecê-los por nome, mas adoraria tentar! Pareceram-lhe surpreendentes, os pequenos detalhes que o incitavam a reavaliar a própria vida, a percepção de quão rápido o tempo se passara. Para Legrand, quando os novos amigos se dirigiram a sua pessoa como "<i>Seu Daniel</i>", pareceu impossível que quinze anos tivessem se passado desde que fora um garoto da mesma idade, tão movido a sonhos e motivado por ingenuidades quanto os integrantes da turma. Ele tratou de pedir para que o chamassem de <i>Danny</i>. Assim como demandaria tempo para que associasse nomes a rostos definitivamente, também precisavam se esforçar para o abandono de formalismo artificial e tolo.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span><br /></span><span>Os companheiros de serviços aeroportuários compareceram e festejaram, e a manhã transcorreu aprazivelmente, animada, rica em calor humano. Sentados em torno de uma das mesas no restaurante do hotel, uma pequena multidão se formou ao redor de Daniel. Eles tiveram a oportunidade de trocar impressões sobre a assustadora segunda-feira anterior. `A medida que os convidados foram se despedindo, Daniel os assegurou de que apenas se desejavam "<i>até logo</i>". Mal os conhecia, sabia que não os deserdaria. A promessa de um novo círculo social parecia restaurar a crença que tinha por si, parte da ingenuidade com a qual costumara enxergar a vida um dia, e então fora perdida sem que se tivesse atentado a quando. Tão entretido se encontrava, um dia inteiro se passou despercebidamente. Daniel estava atrás do volante da caminhonete, um dos cotovelos apoiados na janela aberta, a brisa de inverno acariciando-o com o zelo de uma discreta e compreensiva amante, de saltos altos contra sua canela, talvez sob a mesa de algum lugar onde sorrisos e bons modos precisassem ser sustentados em nome da etiqueta. Ao lado e acima, aves animadas migravam para os lados de <i>Nova Jersey </i>em busca de ares mais quentes. 2010 batia `a porta, Daniel Legrand tinha 30 anos, porém era um recém-nascido cuja vida estava para começar. Não imaginava o quão próximo da verdade se encontrava em seus pressentimentos.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span><br /></span><span>Quando o passado começou a emergir para a quitação, Daniel de nada pôde suspeitar. Um mês se passara desde o milagre do voo da </span><i>American Airlines</i><span> e ele se readequara `a vida de antes, ou melhor, <i>quase </i>a mesma, agora mais movimentada e recompensadora. A turma da </span><i>East Side</i><span> praticamente o obrigara a abrir uma conta na rede social, e ele se sentia inserido num novo meio, com pessoas interessantes, dispostas a ouvi-lo e tê-lo por perto. Daniel memorizara eficientemente os nomes, mas as figuras mais marcantes eram mesmo Suntee e Olívia. Assim como em qualquer turma, na qual existe um líder </span><span>sagaz, espirituoso e bem-humorado sobre cujos ombros repousa a responsabilidade de manter a coesão de um grupo, a rapaziada da </span><i>East Side</i><span> tinha seu representante na figura de Suntee, o observador, compassivo e engraçado criador de casos, que não se contentara em ficar parado assistindo a Daniel colocar solitariamente a vida em jogo e, na manhã da confusão, ajudara Legrand com o resgate. Sempre que Daniel o via, Suntee o abordava cantarolando alguma música da moda, conseguindo risadas de Daniel. Legrand se recordava muito bem de Olívia. Ele se lembrava de como ela tomara sua mão, oferecida entre poltronas enxovalhadas, e fora a seus braços: parecera tão suave quanto um fardo de palha, uma lembrança muito vívida que jamais esqueceria. Ela era muito alva, e Daniel não sabia ainda se não passava de impressão, mas ao falar, fazia-o tão baixinho que sua delicadeza soava como um rondó de caixinha musical aos ouvidos. O jeitão acessível e aberto de Daniel pusera fim `as etiquetas, e logo eles se moviam `a vontade. Nas noites de sábado, despedia-se da avó, e aguardava no alpendre pela chegada dos amigos, quando seguiam para a pizza e o boliche. Giro fora arrastado para a bem-vinda e jovial realidade pelo próprio companheiro de pista. Havia momentos nos quais Daniel estava se divertindo bastante e dando gargalhadas a cada bola que arremessava desastrado pela pista, quando sentia o olhar aprovador e contente de Giro sob sua pessoa, feliz por vê-lo se divertir como nunca. O veterano funcionário da aeroporto também não tinha do que se queixar, se apenas conseguisse sobreviver `as incansáveis piadas feitas em face de seu modo de se conduzir de Giro, que lhes fariam jurar que o homem se tratava de um padre disfarçado! Os rapazes davam gargalhadas, nenhuma delas mais sonora que a de Giro, que lhes perguntava de onde tinham tirado aquele papo de ele ser padre. Era tudo uma grande festa.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br />A avó fez um belíssimo trabalho de proteger o neto da superexposição. Com o suporte das pessoas cujas vidas haviam sido tocadas por Daniel, ela começou a respirar mais aliviada quando, no início de 2010, os repórteres recrudesceram nas tentativas outrora tão invasivas contra a privacidade do neto. Gladys era a única pessoa, fora o neto, a saber que, muito embora os demais capitulassem sua história entre <i>antes </i>e <i>depois </i>dos eventos na cabeceira do aeroporto, a verdadeira cisão ocorrera seis anos antes, em 2004. A parte anterior a 2004 era especialmente dolorosa, e o neto prestara um grande serviço a avó ao evitar perguntas a respeito. Gladys temia que, cortesia da exposição, rostos do passado ressurgissem das sombras de onde avó e neto os haviam deixado. O temor, ela só o teve mitigado um mês mais tarde, quando o frisson da mídia arrefeceu, sem que ninguém do passado aparecesse.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span><br /></span><span>Daniel apreciava as interações na rede social. Ele recebia convites para amizades todos os dias. Havia um momento `a noite no qual abria o perfil para participar de grupos de discussão, adicionar novos contatos e ler e-mails. Ele havia comprado dois volumes de matemática e raciocínio lógico para concursos, e o estudo das matérias consumia suas noites. Balançava-se na rede, revisando capítulos e resolvendo exercícios de provas de concursos anteriores, enquanto <i>Cyrano</i> distraia-se sobre a cama, assistindo `a televisão, deixada ligada pelo tutor em baixo volume. Ocasionalmente, Gladys apontava na porta, orgulhosa, para perguntar se o neto desejava alguma comidinha. Legrand fazia o conhecido sinal, um espaço entre polegar e indicador, sinalizando o quanto apreciaria uma pequena xícara de café. Ao fim da noite de estudo, ao dar conta dos papéis rabiscadas sob a rede, sentia que dera mais um passo rumo ao amanhã.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span><br /></span><span>Ele jamais imaginou que se sentiria vítima de escrutínio virtual, muito menos que seria uma completa estranha a sua admiradora. Especificamente, foi numa quinta-feira na qual tudo começou, muito incipiente; entretanto, somente dois dias mais tarde, começou a se aperceber de que vinha sendo observado. Daniel estava para deletar uma porção de mensagens de <i>spam</i>, quando identificou um e-mail aparentemente genuíno. "<i>Olá, eu sou uma velha amiga sua</i>" era o título da mensagem. Havia tantas coisas a repassar naquela noite que optou por guardar o e-mail para um momento posterior de tédio, talvez. Legrand só voltaria `a caixa postal na madrugada de sábado, tendo chegado do passeio na pizzaria com o pessoal da <i>East Side</i>. Ao entrar em casa, a avó dormia, mas assim como acontecia a quase todas as vezes nas quais saia para passear, deve ter sentido a chegada, pois se levantou cerca de meia hora depois só para perguntar se precisava de algo. A casa encontrava-se mergulhada num delicioso e confortante breu. Luzes, apenas as emanadas pela televisão do quarto. <i>Cyrano</i> sacudia a cauda sobre o travesseiro da cama, o rostinho pincelado pelo azul sem charme vindo da tela. Daniel fez o sinal com o polegar e indicador, e a avó foi preparar o café antes de se recolher para dormir pelo restante da noite. Abastecido de sua xícara, sentou-se na escrivaninha com as costas para a televisão e abriu o notebook. A janela estava semiaberta, um convite à entrada da brisa fresca dos campos desimpedidos, atravessados pelas vias secundárias ramificadas ao longo do eixo da estrada principal ao aeroporto internacional de <i>Newark</i>. Daniel soprou o ar morno dos pulmões dentro das mãos, esfregando-as para encorajamento.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span><br /></span><span>"<i>Olá, eu me chamo Simone, não sei se você se recorda de mim, pois faz muito tempo desde que conversamos pela última vez. Eu fui estagiária na repartição jurídica do escritório de representação da Guarda Costeira, no Departamento de Transporte, estive lá por dois anos. Você era agente administrativo, e...</i>". Era um e-mail extenso, dois parágrafos enormes, repletos de detalhes dos quais Daniel não teria como se recordar. Imediatamente, sentiu um aperto no coração e fechou o computador, num impulso. Seria um mau presságio? Não soube precisar, mas ficou intrigado. Empenhando-se para não fazer barulho, deixou <i>Cyrano </i>distraído com um filme de horror e foi se sentar com a xícara de café na cadeira de balanço do alpendre. Levantou o vidro da lamparina à querosene, riscou o fósforo, aproximou o fogo do pavio e regulou a chama em menor intensidade, o suficiente para pincelar as tábuas do chão em lânguidas gradações ditadas pelo toque da brisa. Não custou a mariposas se achegarem para acompanharem-no em sua vigília. Balançando-se sossegadamente, os olhos não tardaram a pesar e em algum momento entre uma e uma e meia da madrugada acomodou o queixo no peito, adormecido.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span>Quando despertou, foi o sol radiante a trazê-lo de volta. Acordou com um gosto ruim na boca, a xícara vazia virada, presa a um dos dedos pela asa, encostada às tábuas do alpendre. Ele não se lembrava, mas o sonho fora bom, porque despertara com um sorriso. Na cadeira, parecia um rei cansado, refugiado no esquecimento do trono. Passou as mãos pela testa ardida e consultou o relógio de pulso. Oito horas da manhã. Sendo sábado, não se observava movimento nas unidades habitacionais mais próximas. Gladys ainda cochilava e Daniel deixou a avó seguir no sono imperturbado. Se a acordasse, sabia que ficaria preocupada, correndo para tirar a frigideira do armário e itens da geladeira, para preparar a mesa para o café da manhã.</span> Em vez de incomodá-la, tratou de retribuir o carinho e resolveu arrumar a mesa por si, para que a encontrasse perfeita quando estivesse de pé! Daniel tomou um banho quente, vestiu roupas mais leves e começou o trabalho na cozinha, desde cobrir a mesa com uma toalha nova a preparar comida. <i>Cyrano</i> lhe assistia com um olhar curioso e divertido, balançando a cauda. Enquanto fritava os ovos, sentou-se ao lado do fogão. Dando palmadas nas coxas, convocou o gatinho, que saltou sobre seu colo. Uma manhã gloriosa encontrava-se em marcha, emoldurada pelas janelas escancaradas a darem de frente ao alpendre, suas folhas rangendo discretas num articulado vai-e-vem sobre dobradiças e pivôs gastos. Gladys investigou assustada a cozinha, certamente punindo-se por ter-se permitido dormir até tarde, quando viu o neto terminando de servir à mesa pratos com fatias de queijo e presunto. Daniel fazia companhia à avó e a via comer com gosto, ao tempo em que esboçava mentalmente a maneira mais adequada para abordá-la e perguntar sobre o passado, sobre a vida antes de 2004. Em parte, sabia que cedo ou tarde a conversa precisaria acontecer, e não havia como seguir em frente sem endereçar o que levara neto e avó às margens do aeroporto de <i>Newark</i>; <i>Nova York</i> mais além e sempre ao alcance da vista como epítome de uma nova, excitante e convidativa existência. A avó o surpreendeu ao antecipar-se à questão a qual Daniel tanto hesitava abordar. Gladys lia-o muito bem e não precisava de astúcia para deduzir que o neto procuraria saber do passado, sobretudo agora, quando recomeçar lhe era um tema recorrente nas conversas.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Quando partimos de <i>North Cape May</i>, não deixamos nada enormemente importante para trás. - Ela começou, a voz arrastada pelo grave peso do dever. - Podia ter sido pior, caso fosse casado e tivesse filhos. Uma família teria te prendido para sempre. Felizmente, não havia vínculos suficientemente fortes.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Recebi uma mensagem de uma moça que se identificou como Simone. Ela escreveu que me conhece da época na qual servi na Guarda Costeira. - Daniel se abriu. Sacudindo levemente a cabeça, com um olhar confuso, continuou. - Não me lembro de nada anterior a 2004, vovó. Ela mencionou "<i>setor jurídico</i>" do Departamento de Transporte, o que faz sentido, pois sei que conclui o curso superior e passei numa prova; entretanto, o resto permanece envolto em sombras. Sinto que preciso saber mais sobre por onde passei, as pessoas que...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Não está perdendo muita coisa. - Ela deu com os ombros, fazendo parecer desimportante, ou apenas fingindo muito bem a despreocupação. - Quando você sofreu o acidente e perdeu a memória, o que se foi de sua mente não foram coisas a se reativar.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Mas não é assim, vovó. Eu tinha 24 anos, era só um rapaz. Seis anos se passaram sem que eu parasse para revisitar o que houve e por que aconteceu...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Que benefício traria? Você retornaria a <i>North Cape May</i>, mas para todos os efeitos, estaria apenas conhecendo uma cidadezinha turística à beira-mar. A vida é aquilo que faz dela no instante em que se fala, Daniel.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Às vezes, eu receio ter deixado pessoas importantes para...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim, mas e daí? Quando se é jovem, tudo parece demasiadamente sério, porém não é. - Pousou as mãos sobre os ombros do neto. - Mas e quanto a toda essa garotada cujas vidas foram salvas graças `a sua intervenção? Não são amigos em quantidade suficiente? - A avó serviu-se de leite quente à xícara onde já colocara açúcar e café, e mexeu com a colherinha. - Raciocine sensatamente. A maioria daquela gente do seu passado seguiu em frente. As vidas daquelas pessoas se afastaram demasiadamente da nossa. Focaremos no agora. Vamos deixar o passado sossegado no devido lugar: em <i>North Cape May</i>.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Gladys conformou-se com a ideia de que, para proteger o neto, precisava protegê-lo da parte de si desejosa de conhecer intimamente de onde vinha e o que realmente acontecera a ponto de ter deixado <i>North Cape May</i> aos vinte e quatro anos sob proteção federal. Ao longo do sábado, ele se manteve ocupado e aproveitou a tarde para estudar. À tarde, pegou a caminhonete para beber uma cerveja e jogar sinuca com colegas do terminal no bar onde a turma de carga do <i>Liberty</i> costumava confraternizar. Pela noite, revisitava em pensamento o e-mail não inteiramente lido e se sentia dividido entre deletá-lo assim que chegasse a casa e ler até ao fim o que Simone tinha a dizer. "<i>Você era agente administrativo, e eu estava na metade do curso de Direito</i>", uma vez de volta, retomou a leitura, sentindo um nó na garganta, o temor de sacar a censura da história que a avó procurava afastar de seu alcance. "<i>Nós nos demos bem desde o primeiro dia, por mais que nossos colegas achassem surpreendente, a amizade entre um cabeça dura e uma chatinha</i>". Daniel não conteve um sorrisinho meigo. "<i>Eu achava que sabia tudo da vida e que mesmo que você fosse mais velho, não havia nada que tivesse a dizer que eu já não conhecesse. Com o tempo, porém, tudo passou a fazer mais sentido, quando insistia para que eu me focasse em mim e no meu desenvolvimento pessoal</i>". <i>Oh, Deus</i>, Daniel pensou, não tinha ideia consciente de quem era a moça, mas suas palavras o tocavam de uma incomum maneira. Ela falava sobre a sua pessoa e o descrevia como o tipo de cara que adoraria ter sido. Simone seguia com elucubrações sobre a vida que realmente o fizeram refletir, e lamentava pelo distanciamento entre os dois, concluído o estágio e a separação em face das demandas do dia a dia. Os pensamentos se desfocaram quando <i>Cyrano</i> saltou na mesa para se esfregar no seu peito.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Quer a sua comida, é, ferinha? - Alisou-o entre as orelhas e, com os olhos ainda presos ao monitor, tateou o criado-mudo para apanhar a latinha de ração. Despejou um pouco no pote e <i>Cyrano</i> a devorou vorazmente. Daniel imprimiu o e-mail. Foi na quietude do alpendre, onde mais intensamente a friagem convergia após a passagem pela imensidão das estradas secundárias, onde concluiu a mensagem.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">"<i>As suas palavras faziam sentido, e eu me sentia lisonjeada pela atenção. Sinto muito pelo afastamento pois acho que subestimei algo sensacional: a nossa amizade. Quando percebi que passava as mesmas instruções aos demais, que lhes falava sobre a importância de estudo e preservação moral, eu percebi que tipo de pessoa era. Foi somente depois, porém, quando sai para a vida, ao me defrontar com a realidade do mundo, que passei a refletir sobre o que me dissera. Procurei encontrá-lo em North Cape May, mas me contaram sobre o acidente, e que você e a sua avó haviam deixado a cidade. Preferi não incomodá-lo, e quando menos esperava, mais de seis anos se passaram. Quando li nos jornais sobre você e o salvamento dos passageiros e tripulantes do avião da American Airlines, soube que era hora de buscá-lo</i>". O barulho de panelas remexidas entregou a movimentação de Gladys na cozinha. Ela lançou uma pergunta qualquer, mas tão absorto o neto estava, não compreendeu, tampouco prontamente respondeu.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- E então, querido? Uma boa ideia ou não: a torta de frango? - Gladys meteu a cara no vão para insistir na questão. Daniel lentamente voltou-se para a avó, o encanto da leitura momentaneamente perdido.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Oh... Não, vovó, por favor. Eu adoraria trazer uma pizza para a gente. Hoje é sábado, afinal de contas. - Justificou, com um sorriso fácil, dobrando a folha e a guardando no bolso da camisa. Levantou-se, deu um beijo no rosto de Gladys e avisou. - Vou tomar um banho para me vestir. Não coma a torta, logo estarei de volta com a pizza.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">A <i>Dominoe's</i> do aeroporto era bem-frequentada, mas nada cheia. Era a pizzaria de escolha, frequentada por sua pessoa em razão da proximidade de casa, deixada de lado uma vez que Daniel e a turma da <i>East Side</i> escolheram uma outra, mais ao centro do distrito de colégios de <i>Elizabeth</i>. Recentemente, a decoração passara por reformas, fitas de led instaladas na parte de baixo dos balcões. Daniel também não se recordava dos cordões de piscas ornamentando a subida espiralada para o segundo nível quando ali estivera pela última vez, há menos de um mês. Ao se encaminhar para a fila para pedir, foi abordado por uma porção de pessoas que o cumprimentaram e o parabenizaram. Sorridente e enrubescido, sentou-se `a mesa de um grupo de universitários enquanto esperava a ordem, compartilhando impressões daquela fantástica manhã na qual o curso de muitas vidas fora desviado. Com graciosidade, tendo recebido a caixa de pizza, precisou se escusar, tomando o caminho de volta para casa.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">A placa sinalizava a preferencial. Com um suave giro no volante, Daniel traçou a subida em contorno a guiá-lo ao retorno, <i>Nova York</i> misteriosa e distante a oeste, <i>Elizabeth</i> e sua previsível simplicidade ao norte. Daniel parou no acostamento, abaixou o vidro e restou ensimesmado. Não teria como explicar ao certo por que parara. Desdobrou a folha. Por um momento, a vista correu pelo papel sem realmente se ater a palavras, até retomar a leitura. "<i>Não sei se você se recorda de mim, porém adoraria que me escrevesse. Quando eu o encontrei na internet, e achei que isso não aconteceria pois você sempre foi muito privado, tomei como oportunidade para me introduzir. O tempo não passou só para você; sou madura para não pisar na armadilha revisionista do passado ou das falsas justificativas. Sei que sua amizade foi extraordinária e sinto saudades das coisas que me dizia, e não há razão alguma para deixar essa oportunidade escapar. Realmente aprendi muito a cada dia, ao seu lado, em North Cape May, e gostaria de saber o que tem feito da vida, fora salvar centenas de um avião em chamas! Deixo-o com um beijo carinhoso. Simone</i>". Depois disso, Daniel leu e releu o e-mail impresso uma dúzia de vezes, procurando capturar novos reveladores detalhes a cada passagem de vista. Preocupado, com a cabeça cheia de dúvidas, esqueceu-se das horas. O celular chamou: era a avó, perguntando se já podia devorar <i>Cyrano</i>, pois Daniel a estava impacientando com tanta demora! Ele riu, pediu desculpas, saiu-se com a história de que tinha se atrasado na <i>Dominoe's</i> por causa de alguns amigos de terminal que o haviam convidado `a mesa. Virou a chave, e sinalizou para fora do acostamento, um ato desnecessário, vez que, `aquela hora, seu carro era o único estacionado na imensidão da pista. Ele partiu, imprimindo velocidade.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Distraiu-se com a avó `a mesa, percebendo o quanto sua companhia era tão divertida quanto a do pessoal da <i>East Side</i>. Quando falava sobre os programas de televisão, Gladys era boca suja e engraçada e Daniel morria de rir com suas observações sarcásticas. Não tinha como conhecer profundamente a variedade de coisas a que a avó tinha acesso todas as tardes, pois o trabalho o mantinha preso ao aeroporto de <i>Newark</i>, mas sabia que mesmo tomando conta de casa, regando com dedicação e prazer os vasos e flores do jardim, jogando conversa fora com as comadres ou conversando unilateralmente com <i>Cyrano</i>, a idosa tinha, a seu modo, uma vida preenchida e satisfeita. Às vezes, quando ela não se encontrava fazendo nenhuma das atividades acima, rascunhava os passatempos caça-palavras e palavras-cruzadas, na cadeira de balanço do alpendre. Os dois só contavam praticamente um com o outro e apesar de soar como constatação deprimente, o fato não o deixava se esquecer de sua responsabilidade perante a vida.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">A problemática, portanto, passava por um delicado viés. Embora a situação atual não representasse fidedignamente o que imaginara para si aos 15 anos, havia tempo para realizar os sonhos desde que colocasse a "<i>casa</i>", sua mente,<i> </i>em ordem. Cuidava da avó e era grato pelas coisas boas, mas havia noites nas quais se imaginava numa carreira que lhe garantisse melhores dividendos e maiores responsabilidades, ou numa vida onde ao fim de cada tarde fosse recebido por esposa e filhos, num lar feliz e barulhento, onde faria caber a avó. Para colocar a vida em ordem, acreditava que precisaria investigar o próprio passado, para finalmente deixá-lo descansar em paz.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">O mercado popular de <i>Newark </i>podia ser facilmente alcançado do aeroporto `a caminhada. Certo que não era boa ideia encarar a andança em dias de sol implacável, mas para manhãs tão amenas quanto aquela terça-feira de fevereiro, não fazia diferença e uma caminhada vinha a calhar. O mercado popular de <i>Newark </i>fora ereto há quase um século e fazia parte do patrimônio cultural, da história daquela comunidade. Era um espaço enorme e valorizado, gozando de infraestrutura para guarda, conserva e serviço dos quiosques dos comerciantes. Ali, reinava uma quentura, uma rusticidade, alheia a shoppings modernos. Por isso, Daniel o apreciava tanto. Dividido em três pavilhões, separados conforme a natureza dos serviços, quem por ali passasse ao meio-dia certamente enxergaria Legrand no terraço do 2˚ piso. Existia a arejada praça central, margeada por árvores em colunas paralelas a entradas de uma variedade de serviços, de lojas de materiais de construção a chocolates. Encostado no parapeito da ponte a conectar a praça central ao setor onde se vendiam produtos não perecíveis, Daniel distraia-se todos os dias, no intervalo do almoço, quando se punha a observar o <i>Northeast Corridor</i> balizando trens da <i>AirTrain Newark</i> até a <i>Penn Station</i>, no coração de <i>Nova York</i>, a metáfora perfeita para vidas em movimento, enquanto a sua parecia estagnada. Quando chegou ao mercado, ao atravessar o pavilhão dos pequenos quiosques de alimentação, foi tomado por uma agradável sensação de sumir em meio ao coletivo palpitante. Das cozinhas minúsculas, vinha o convidativo cheiro de assado de panela. Na passagem para a praça central, alguns moradores punham-se na frente de uma televisão pequena, para o telejornal local. Falava-se do curioso mistério envolvendo queixas feitas à secretaria de agricultura por conta de mutilações infligidas ao rebanho bovino do frigorífico de <i>Elizabeth</i>, marcas de perfuração nas ancas dos animais. Daniel tinha outras preocupações em mente.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- O que motivaria alguém a mentir sobre isso? - Daniel perguntou a Suntee enquanto inseria o canudo no furo da tampa do copo de chocolate gelado. Encontravam-se na passarela, o sol a pino. - Por que me procurar por e-mail, mas não pela rede social?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- O perfil dela não me parece 100% legítimo. - Suntee inclinou-se, braços cruzados no parapeito, aproximando o papel do rosto, intrigado, mirando os parágrafos do longo e-mail. Estudara o perfil do <i>facebook</i> na noite anterior, em casa. Ele descobrira que havia uma "<i>Simone</i>" de <i>Cape May </i>na rede social. - Ela tem poucos amigos e são do mesmo meio. Quero dizer, se foi uma pessoa que bolou esse pequeno grupo de coadjuvantes, ela merece meu respeito: demandou certo esforço, certo investimento de tempo. Aos olhos de quem está habituado, entretanto, não me parece muito autêntico. Por que alguém faria isso, você quer saber? - Reformulou a pergunta sob nova perspectiva, com um olhar de divagação, e quebrou o feitiço, deixando o papel para encarar o amigo. - Bem, talvez porque tenha se adiantado, sabendo que a procuraria na rede social após o e-mail e, consequentemente, desejado dar um ar de veracidade à sua existência. E até porque talvez queira ser indiretamente descoberta, por que não? Escute, fica meio difícil...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Fica difícil sem que conheça a si. - Giro entrou na conversa. Enquanto os outros dois ainda estavam começando, ele já consumira seu chocolate. Dirigindo-se a Suntee, opinou. - Não há outra saída. Ele precisa conversar com a avó. Depois da atenção por causa do resgate, as pessoas de quem ele se esqueceu têm sua localização e contatos. Vou ser bem direto. - Dirigiu-se especificamente a Legrand. - Essa menina te procurando... Ela não é quem afirma ser. Eu posso garantir. - Ele soava tão convicto que assustou a Daniel. Como Giro podia estar tão certo assim? - Isso é só a ponta do iceberg. Vá se habituando. Logo, haverá uma porção de rostos do passado pipocando no curso dos próximos meses. Converse com a Gladys. </span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Quanto ao perfil de "<i>Simone</i>", você o trouxe impresso? Tem como eu... - Ia perguntando, mexendo os dedos, esperando que Suntee lhe entregasse qualquer coisa.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- É só o e-mail que ela mandou para Daniel, ele não imprimiu o perfil. - Suntee disse a Giro. - Encaminharei por e-mail. Cheque sua caixa postal quando voltar do trabalho. - O garoto mordeu os lábios, dando a entender que estava em vias de vocalizar algo importante. - Salvei as fotos de Simone. Usarei as ferramentas do <i>Google </i>para fazer uma pesquisa de imagens. Se essa pessoa copiou as fotos de um outro perfil, terei como saber. Agora, Daniel, escute o Giro. Agora, cabe à sua avó ajudá-lo.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Deus, que grande confusão. - Com as mãos no cenho, Daniel deixou as costas escorregarem e se sentou no chão, os cabelos melados de suor na testa.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Podemos "<i>mudar de estação</i>" por um momento? - O garoto brincou, satisfeito que o pior da conversa passara. - Sexta-feira que vem, festa na casa do McBride, só que ele não sabe. A turma preparou a surpresa, então vamos dar um susto no cara, portanto se falar com o McBride no <i>facebook</i>, não mencione o que eu disse, combinado?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sexta-feira que vem? Algo para tirar minha cabeça desta confusão. - Considerou, com um bocado de entusiasmo. - Giro está convidando também, certo?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- O Giro? Vamos fazer uma festa, cara, e não celebrar uma missa! - Eles deram risadas, mas ninguém deu risadas mais altas que Giro, sempre boa-praça quanto ao modo como as pessoas o reinterpretavam em sua palpitante fé e religiosidade.</span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Conforme prometido, Suntee enviou para Giro e Daniel o e-mail com um link para o perfil da "<i>Simone</i>" de <i>North Cape May</i>. Era uma menina bonita em seu jeito "<i>girl next door</i>". Não havia muitas fotos, apenas onze; entretanto, mesmo superficialmente, sugeriam traços de uma figura cativante; algo no olhar, como se o espelho de sua alma estivesse permanentemente capturado pelo registro da máquina. As fotos de Simone a mostravam em momentos variados com amigos, duas delas no que parecia ser a formatura; noutras, numa festa familiar. Seus cabelos eram muito pretos e desciam belamente sobre os ombros. Tinha a pele alva, sobrancelhas expressivas e um sorrisinho que parecia esconder peraltices. As proporções do rosto eram bem simétricas, maçãs mais proeminentes, testa e mandíbula estreitas. Pelas cores das imagens, pelos tons, Suntee datou as fotos como momentos acontecidos em 2002, 2003. Daniel esforçou-se, vasculhando dentro de si, atrás de alguma centelha que lhe respondesse se já a vira antes. Sentiu-se diferente, atraído por um desconhecido magnetismo `as fotos. A mensagem seguinte de Suntee o deixou mais desconfiado: a</span></span><span style="font-family: arial;"> pesquisa de imagens não o levara a terceiros. Colocando de forma simples, não obstante o perfil não parecesse 100% fidedigno, as fotos não haviam sido "</span><i style="font-family: arial;">roubadas</i><span style="font-family: arial;">" de outra pessoa, o que consistia uma surpresa. Suntee e Daniel trocaram opiniões via e-mail, Giro ficou no silêncio. Na quinta-feira, véspera da festa de McBride, Daniel respondeu a mensagem da moça. Foi educado e cortês, mas encontrou no comedimento a estratégia para não se comprometer.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">"<i>Olá, Simone. Obrigado pela sua mensagem. Foi uma feliz surpresa, receber parabéns de amigos do passado, por mais que eu tenha problemas para me recordar do que se deu antes de 2004, quando sofri um acidente que me tirou parte das recordações. Assim sendo, espero não magoá-la em minha falta, ao não me lembrar das coisas bonitas descritas tão poeticamente. De qualquer jeito, se eu signifiquei tanto, e de alguma maneira contribui para sua formação, foi uma honra, um prazer. Deus te abençoe. Daniel</i>". Legrand releu o fecho do e-mail, e sorriu com carinho. Falar em Deus era uma característica que absorvera do amigo Giro. Ele remeteu a mensagem e comprometeu-se consigo, ao menos por um tempo, a se distanciar um pouco da internet, ao menos por um tempo. Na mesma quinta, chegaram pelos correios os DVDs de vídeo-aulas encomendados. Com o pacote, Daniel ganhava acesso aos arquivos digitais e apostilas, impressas no mesmo dia, para acompanhar melhor as aulas de <i>Matemática & Raciocínio Lógico</i>, <i>Português</i>, <i>Informática </i>e os principais cursos de <i>Direito</i>. Certo de que era hora de se concentrar, a ideia de afastamento da internet veio a calhar. No dia seguinte, Giro o atiçava com a festa de logo mais: "<i>Vai ser ótimo, cara!</i>". Daniel ria ao imaginar a surpresa de McBride. Suntee ligou ao meio-dia, Daniel distraído com divagações na passarela do mercado. Ele avisou que o apanharia em casa, por volta das 21:00. "<i>Não se preocupe comigo, vou direto de casa para o local da festa</i>", Giro o despreocupou, e contou que Suntee já lhe adiantara o endereço.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Suntee o apanhou em casa e antes que Daniel o convidasse a entrar para tomar o café de Gladys, lembrou-lhe que, por causa do atraso, precisavam correr. E correr foi o que fizeram, o carro ganhando a pista com liberdade. Os ponteiros apontavam para depois das 21:00. Postes muito altos acompanhavam a corrida de lados opostos, encontrando-se à frente no infinito. Daniel não compreendeu por que as luzes da casa encontravam-se fechadas, mas quando se deu conta de que seria ele o surpreendido, não teve tempo de se preparar para o impacto. Acabou se emocionando, quando as luzes foram acesas e os aplausos e confetes desceram sobre sua cabeça. Cobriram-no com palavras de gratidão e carinho, e Daniel realmente se sentiu apanhado. Seus olhos marejados deixavam patente o impacto da homenagem. Tão aturdido com a surpresa, não viu quando Giro chegou com Gladys. Ele deu uma gargalhada e correu para abraçá-la. Com os olhos em Giro, deduziu:</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Então envolveram até mesmo vovó no plano, certo? - Daniel insinuou.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Espero que tenha gostado. - Ele respondeu, e deu um passo para o lado, para o amigo abraçar a avó.- Você merece tudo de bom e tenho orgulho de ter alguma participação em sua história.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span><br /></span><span>Suntee o chamou num canto e disse que só haviam preparado a surpresa porque queriam muito bem a Daniel. Ligeiramente albergados naquele espaço da cozinha, Legrand pôde mostrar-se mais vulnerável sem se preocupar, e Suntee agiu de maneira nobre, com o braço sobre seus ombros, insistindo que, da mesma maneira que levara o bem `as vidas das pessoas no voo da <i>American Airlines</i>, o destino se encarregaria de desatar os nós a prenderem-no a um modelo de vida que não lhe fazia mais sentido. Depois de desabafar, Daniel sentia-se menos sufocado. Olivia aguardava o homenageado do alto da escada. Ele nem introduziu o cumprimento, já chegou a abraçando, o que deve tê-la surpreendido bastante! Sentados em uma mesa do segundo nível, assistiram aos alunos dançando e celebrando na área da piscina. Quando Giro deixou Daniel e Gladys em casa, passava das 02:00. Avó e neto estavam exaustos, certos de que não tinham uma noite tão divertida em anos. <i>Cyrano</i> dormia ao lado da televisão na sala-de-estar. Ao escutar o barulho das chaves na porta, o gato lhes lançou um olhar rabugento e voltou a dormir. </span><i>Cyrano sendo Cyrano</i><span>, Daniel cochichou para a avó, que assentiu: não levaria mais do que 24 horas para que voltasse a se comportar como o velho xodó da casa.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span><br /></span><span>Daniel estendeu a rede do quarto e abriu a janela. Uma aragem fresca preencheu o alto com familiar facilidade. Ainda com roupa de festa, permaneceu balouçando-se, pensando num monte de coisas. Depois de se trocar para se recolher, a avó foi visitar o neto para desejar uma boa noite. Ao encontrá-lo introspectivo, sentou-se na cama, ao lado da rede. Algo dizia a Daniel que a hora da tão temida conversa chegara e quando Gladys começou a falar, viu que a intuição provava-se certeira.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Foi um acidente na estrada. - A avó introduziu e Daniel a respondeu com um olhar de gratidão, aliviado pela proximidade da verdade, cuja superfície logo começaria a arranhar. - Em julho de 2004. Você tinha 24 anos. Apenas dois anos tinham se passado desde sua formatura.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Formei-me em direito e fui um cidadão de <i>North Cape May</i>? - Antes que Gladys respondesse, emendou mais uma. - Eu fazia parte da Guarda Costeira, certo?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Sim, você era servidor concursado da Guarda Costeira. Entrou na Guarda no mesmo ano da graduação, em 2002, o que me deixou aliviada, porque eu queria, independente do que viesse a ocorrer, que você conseguisse se sustentar. A essa altura, seus pais já eram cartas fora do baralho.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Meu pai e mãe. - Repetiu, com pesar, os olhos vívidos de dor antes mesmo de conhecer a verdade. - Eles não estão...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span style="font-family: arial;">- Esqueça-os, eles morreram. - Gladys resumiu, determinada. - A perda não o impediu de se tornar um homem bom. Quanto a você, se procurar nos jornais da época, se fizer uma pesquisa na internet, encontrará reportagens sobre o que aconteceu em julho daquele ano. Você corria pela grande estrada da travessia do estuário de <i>Cape May</i>, no sentido da praia, quando perdeu o controle da direção, avançou na grade de proteção e despencou até parar contra as pedras do rio que eventualmente desemboca no mar. Passei semanas rezando ao seu lado até despertar. Quando o fez, não se recordava das coisas distantes.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Como eu... - Tentou esboçar, a voz embargada.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Como você era? - Ocorreu-lhe uma fugidia recordação, possivelmente um instante feliz, e ela sorriu. - A mesma pessoa que é hoje, querido, apenas mais ingênuo. Talvez acredite que tenha perdido parte de si após o acidente, mas não foi bem assim. Você só perdeu as lembranças, a parte verdadeiramente importante não se foi.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Gladys seguiu adiante e revisitou o passado, entrando em assuntos como quando Daniel tinha 14 anos e costumava chegar do colégio ao meio-dia; adorava quando a avó preparava empadinhas de frango, pois as esmigalhava para misturar ao arroz, feijão e carne moída. Falou sobre o quanto fora estudioso e amara matemática e química e que costumava pedir para que preparasse a garrafa térmica de café para deixá-la ao lado da rede onde passava a maior parte do dia, estudando e resolvendo questões na prancheta enquanto deixava passando na televisão algum de seus filmes preferidos, em fita. Disse-lhe que quando tinha 22 anos, a vida se resumia `a correria do dia a dia e tinha muitas cadeiras na faculdade, o horário ocupado de segunda a sexta-feira; à época, dava o melhor de si para concluir direito de modo a prestar o concurso para a Guarda Costeira a tempo. Ela relembrou quão sensacional era pegar o ônibus na volta para casa, pois descia pela <i>freeway</i>, sem que houvesse muitas pessoas a bordo: a pista era toda sua. Gladys contou sobre as noites parecerem mais longas e mágicas. Com a narrativa ricamente descritiva, vez que ele não conseguia evocar recordações, Daniel criou novas, assistindo-lhes em pensamento, imagens inesquecíveis, enquanto era arrastado à inconsciência.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span style="font-family: arial;"><span style="font-size: small;">Daniel teve sonhos bons. Neles, o mundo era felicidades, expectativas e o sol do meio-dia, justamente ao se mostrar mais contundente e abrasivo, ao alto do firmamento do céu impecavelmente azul. Não se recordou de detalhes, mas sabia que o que vira o tocara profundamente, lágrimas no rosto e travesseiro apenas reforçando sua conclusão. Ao despertar, voltou com um ameno sorriso, a alegria de quem reconhecia ter recuperado parte do romantismo, e abandonara a pesada carga do ranço e do cinismo vindos depois. Aguardando que os movimentos voltassem lentamente ao corpo, como se emergisse de uma piscina, pôs-se a admirar a beleza do dia a insinuar-se entre os vãos das gretas. Logo, os cabelos da nuca eriçaram ao perceber que era observado da porta.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">Parker tinha cabelos pretos, olhos verdes de uma cor semelhante à esmeralda, a voz delicada mas contundente, sobrancelhas bem delineadas, um rostinho lindo cujo formato era suavemente quadrangular, um charmoso sinal logo acima do lábio superior, tão perfeito a ponto de parecer ter sido feito a lápis apenas para deixá-la mais impressionante. Ela não era alta, em seus 1.70 metros, porém detinha uma poderosa presença. O tipo de mulher que, transitando num ambiente, concentrava as atenções sobre sua pessoa. Quando Daniel a viu ao lado da avó, não compreendeu. Ele se recordava, <i>sim</i>, de Parker Cowan, mas não pelos motivos verdadeiramente importantes. Daniel amava filmes, parte da personalidade que levara consigo mesmo após o acidente em 2004, e Parker era atriz. O que uma artista que Daniel vira em filmes de arte europeus e dois excelentes de horror fazia ao pé da porta, ao lado da avó, as duas sorrindo como se fossem conhecidas? Um tanto atônito, Daniel tentou balbuciar qualquer cumprimento para a avó, porém saiu como um gaguejado. Parker parecia não se importar. De maneira discreta e não invasiva, veio alguns passos em direção à rede.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Olá? - Ela disse. Quando Daniel começou a se levantar, ela pôs a mão gentilmente sobre o peito dele para detê-lo. - Por favor, não se levante ainda.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Você não é... - Semicerrou os olhos com reconhecimento, e Parker e Gladys se entreolharam, cheias de expectativa. - Eu não a vi em filmes?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Sim, sim. - Confirmou, escondendo muito mal uma ponta de desapontamento. Ela lhe estendeu a mão. - Parker Cowan.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Sim, claro. Eu a <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">a vi em</span> alguns filmes muito bons, mas não me recordo de tê-la conhecido pessoalmente. - Comentou, com um sorriso que a deixou à vontade e emulou um magnético sentimento de familiaridade. - Não estou...<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span>Entendendo? - Insistiu, com um olhar confuso para a avó, a qual, por suas próprias razões, parecia comovida.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Eu... - Parker subitamente se calou. Pela forma que respirou fundo e de olhos fechados, antes de recomeçar, Daniel percebeu que uma porção de coisas a <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">se sucederem </span>no quarto, não em palavras, mas através de olhares e <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">inflexões </span>as quais não conseguia ler. - Eu tenho um parente vivo pois foi arrancado de dentro do avião da <i>American Airlines</i> por suas mãos.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Oh, compreendo. - A tensão no rosto dissipou-se. - Conheci quase todos os passageiros do voo, mas me tornei mais próximo dos alunos da excursão da <i>East Side</i>. Você é...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Eu e a sua avó aguardávamos seu despertar, mas pelo que me contou, a festa de ontem à noite fez por merecer o descanso prolongado! - Parker brincou, numa intimidade adoravelmente espontânea. Houve um silêncio meio demorado, Daniel sem saber realmente para onde ir a partir dali, quando Parker retomou. - Adoraria se pudéssemos conversar mais.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Claro, será um prazer. - Concordou, com o aceno firme e breve de cabeça. - Eu vou me trocar, e então te levo para um lugar muito agradável a caminho do aeroporto. Conversaremos melhor.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- De acordo.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Nesse ínterim, as patinhas decididas de <i>Cyrano </i>puderam ser ouvidas em marcha. O gatinho desfilou indiferente para o quarto e saltou sobre o colo de Daniel. Os ressentimentos da noite anterior, quando dormira ao lado da televisão, eram águas passadas. Parker e Gladys riram com gosto. Foi um momento doce e especial, o tipo de feliz sincronia impossível de se premeditar. Parker se ajoelhou ao lado da rede e passou a mão sobre a cabecinha do anjinho, que a ficou cheirando e lambendo como se a reconhecesse de outra época. Daniel se trocou, vestindo algo mais apropriado para o frio. Apesar de dia de sol, a manhã amanhecera fria e refrescante. Enquanto vestia as botas, sorria divertido, entretido com os pensamentos, as cenas de filmes com Parker surgindo na cabeça como trailer de cinema. Encontrou a visitante sentada à mesa da cozinha, Gladys mexendo a colherinha na xícara, ao pé do fogão. Ela o recebeu com um olhar de grande felicidade, como se em vez de apenas seis minutos, tivessem se passado seis anos desde que o vira pela última vez. Havia dois pratos com talheres e copos sujos, então deduziu que Gladys já servira Parker. Ele não estranhou a proximidade, a avó era a pessoa mais confiante e gentil que conhecia, todavia, mesmo no ar, existia eletricidade de cumplicidade entre as duas que ele não conseguia pontuar muito bem.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Daniel conhecia o trabalho de Parker. Ele a vira no cinema exatamente uma vez ao longo daqueles seis anos desde que se mudara para <i>Elizabeth</i>, um filme de arte europeu chamado "<i>Distant Lights</i>", exibido no circuito de arte dos cinemas de <i>downtown Newark</i>. O filme fora produzido em 2005. Encontrando-a hoje, achou que Parker continuava tão bela quanto quando a vira no drama rodado na Itália. No filme, interpretava uma mãe que ao morrer trágica e prematuramente, deixa o filho e o marido consumidos pelo luto, até o menino chegar para o pai com um colar, garantindo que ela voltou para visitá-lo e o tem feito com frequência. O filme era melancólico e açucarado, experimentando com temas diversificados, os quais, combinados, produziam um elegante resultado, uma história dramática a ensaiar incursões na ficção científica, sugerindo em sua segunda metade a chegada de seres alienígenas à pequena vila italiana, ocupando o lugar deixado por pessoas recentemente falecidas. A premissa fantástica era lidada de maneira madura pelo diretor. Daniel se recordava da forte impressão que a performance de Parker deixara. Quase chegara a conferir a nova versão britânica de "<i>Lady Chatterley</i>" comandada por <i>John Boorman</i>, onde Parker fazia <i>Constance Chatterley</i>, mas perdera a brevíssima passagem do filme pelas salas do circuito alternativo. Como artista, Parker preferia desafios, suas escolhas tendiam a filmes independentes mais difíceis, interessantes e, portanto, menos vistos.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Parker e Daniel estavam na passarela entre os pavilhões do mercado onde ele costumava assistir à manhã indo embora e a tarde a substituindo, enquanto, bem distante, <i>Nova York</i> o seduzia a retomar as rédeas da vida como a deixara antes de os problemas terem se avolumado tanto. Os dois foram se achegando casualmente aos corrimãos da rampa e ficaram distraídos, os olhos perdidos nos contornos de arranha-céus da metrópole insone. As pessoas passavam próximas ao casal e Daniel reparava que, vez ou outra, alguns transeuntes davam mostras, em seus semblantes, de vago reconhecimento.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Então, vamos quebrar o gelo e levantar os tabus. - Parker disse, para seguir com uma brincadeira a suavizar tensões. - Você está tentando esquecer a minha cena de nudez frontal em "<i>Lady Chatterley</i>", e eu, fingir acreditar que não está pensando nisso.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Oh, não, não assisti a "<i>Lady Chatterley</i>"! - Disse, com uma gargalhada. - Perdi-o por conta do pouco tempo em cartaz. Para mim, <i>John Boorman</i> é um dos grande cineastas vivos. Imagino a honra de trabalhar sob a batuta dele!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Sim. Como estar sob a direção de <i>Fellini</i>, <i>David Lean</i>, <i>Ingmar Bergman</i>... - Ela assentiu, com um pequeno sorriso de gentil orgulho. - Eu amei a experiência.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Você fazendo cena de nudez frontal? Vou pegar o DVD hoje na <i>Blockbuster</i>. - Daniel brincou, porém, após o mordaz flerte, arrependeu-se de arriscar tão ousada paquera. Parker respondeu com uma gargalhada e eliminou seus temores de pronto.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Nudez frontal, produção britânica, ritmo lento, diálogos difíceis, diretor queridinho da crítica especializada... - Ela foi adjetivando. - "<i>Lady Chatterley</i>" tem tudo o que se espera de um filme com Parker Cowan.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Você mencionou um parente no voo da <i>American Airlines</i>... - Introduziu, mas, tão rápido mencionou, Parker delicadamente se esquivou do assunto.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Deve ter sido uma experiência ímpar. Não posso imaginar a forma como semelhante aventura muda profundamente a rota de vida de uma pessoa.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- A verdadeira aventura começou depois que a "<i>oficial</i>" acabou. - Ele concordou, com maturidade. - Sim, eu deixei a cabeceira do <i>Newark Liberty</i> transformado. Não poderia explicar mais detalhadamente, mas foi como se minha melhor parte tivesse sido arrancada de um abismo da alma. Depois que sai da experiência, escrevo melhor, estudo melhor, trabalho melhor. Pela primeira vez em muito tempo, tenho planos e há uma certa urgência para pô-los em movimento!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Você tem um amiguinho encantador. - Parker afirmou, com um olhar analítico, como se estudasse sua reação.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- O <i>Cyrano</i> está comigo desde sempre. Antes de virmos para <i>Elizabeth</i>, é o que vovó me disse.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Vocês moraram em outra cidade, antes de <i>Elizabeth</i>?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- <i>North Cape May</i>, conforme vovó. - Passou os dedos no queixo, a barba rala em sombra. Parecia ponderar uma observação importante a seguir. - Desculpe se pareço confuso quanto ao meu passado. As únicas recordações remontam há até seis anos, e nada mais para trás. Sobrevivi a um acidente e perdi a memória. Com a memória, também se foi a audição de um dos ouvidos. - Apontou para o faltoso com o indicador. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Eu entendo. - Ela disse, num sopro, e pareceu pouco surpresa com a fala de Daniel. O que parecia patente na voz era a tristeza acentuada que qualquer outra pessoa teria capturado.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Não se sinta mal por mim. - Daniel sorriu e passou gentilmente as mãos sobre os ombros desnudos da atriz, uma súbita intimidade a qual eriçou os pelos de Parker. - Não gosto de falar a respeito porque sei que as pessoas tendem a se sentir péssimas pelo meu destino.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Mas é compreensível que as pessoas se sintam assim. - Ela respondeu, cautelosamente. - Nós tendemos a nos preocupar demais com quem gostamos, e às vezes o carinho pode sufocar. Acho que consegue entender.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Certamente. Pode soar estranho, mas o que ocorreu na pista... Para mim, ao menos agora, parece-me um resgate da minha história. Antes disso, deixei que se fosse a melhor época. Eu sentia falta de... - Tentou explanar melhor, mas não parecia encontrar as palavras adequadas. - Você sabe do que estou falando, não? É diferente, uma vez que se tem 24 anos de idade e tudo se resume ao futuro. - Daniel fez como se abrisse aspas com os dedos, nominando as questões importantes. - "<i>O que vou fazer, que carreira pretendo seguir, como eu me vejo nos próximos dez anos</i>". Temos uma visão romantizada, mas então dez anos se passam, por exemplo. Nós nos vemos aos 34, mais cínicos, calejados. Nós não mantemos a mesma chama de então, ao menos não intensamente. Salvar aquela gente foi como nova ignição, e eu me sinto assim, 24 anos novamente, apenas com menos tempo para desperdiçar e mais experiência para me ajudar a escolher melhor. - Daniel prestou atenção nos olhos de Parker, que parecia simultaneamente admirá-lo e compadecer-se da excessiva ingenuidade. Ele não compreendia como conseguiam interpretar tão bem a postura corporal um do outro, quando se conheciam somente há horas. A sintonia impressionava. - Espero não assustá-la com minhas considerações!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Não, não assustando. - Ela respirou lenta e profundamente, uma brisa amena fazendo as mechas bailar, suspensas por ondas que não se viam, mas se faziam sentir, porque ele também se arrepiou. - Apenas admirada. Você é... Transparente.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Foi um elogio ímpar. Daniel ficou feliz. Parker disse que permaneceria em <i>Newark </i>apenas pela tarde, quando, ao seu fim, pegaria o voo de volta a <i>Londres</i>, onde fazia testes para uma nova produção. Permaneceria na <i>Europa </i>pelas próximas duas semanas. Daniel a convidou a almoçar e Parker aceitou no mesmo momento. Ele ligou para avisar a Gladys que a convidada se juntaria à família. A avó prometeu preparar uma comidinha especial. A manhã se passou sem contratempos. Se os três fizessem parte de uma orquestra, teriam sentado na mesma seção de cordas da filarmônica, tão afinados reagiam uns ao outros. Quando o sol começou a se pôr, Daniel a guiou ao <i>Liberty</i>. Fora a mochila, Parker não levava bagagens, afinal não planejara permanecer por mais de um dia. Ele quis oferecer uma despedida incomum. Por isso, uma vez tendo tomado café no bistrô do mirante, de onde conseguiam observar as pistas e os hangares destinados ao estoque e manuseamento de carga, apontou para a estrutura mais elevada, a da torre de controle, e a tomou pelas mãos. Mesmo quando parecia tarde demais para desistir, Parker insistia em perguntar se seria seguro fazer a "<i>visita</i>". Às risadas, Legrand respondia que "<i>não morreriam</i>", pois era agente portuário e Parker, sua convidada. Tomando-a pela mão, ia à frente, subindo as escadinhas rumo à cobertura da torre, e Parker atrás, trepidante, com uma das mãos dadas a Daniel, e na outra, os saltos altos descalçados para a subida.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Ali, golpeados pela ventania, os cabelos da atriz roubaram o brilho da panorâmica, batendo a grandiosidade das pistas e da planície intocada, a qual ficava com um honroso segundo lugar. Inicialmente, Parker pareceu um pouco incerta. A torre era mesmo muito alta e só havia corrimões nos entornos da cobertura, o que lhe emprestava a incomum sensação de voo. Olhos não familiarizados custariam a absorver ou se acostumar `a envergadura da panorâmica. Parker foi visitada por uma ligeira tontura e Daniel veio ao socorro, abraçando-a sem pensar muito a respeito. Ela ergueu os olhos suplicantes ao nível dos de Daniel. Os dedos finos dela então subiram entre os cabelos da nuca dele. Quando se deu conta, os dedos dela já pressionavam, trazendo o rosto do rapaz para perto da boca dela. O ar que deixava seus pulmões eram quentes e confortantes. Suas bocas se encontraram. Embora parecesse inicialmente tenso e temeroso, logo ele explorava a boca e as texturas de Parker como se não houvesse amanhã. Os dois ficaram nisso – o beijo – por quase cinco minutos, quando finalmente o bom senso os apartou com discrição e sorrisos constrangidos.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Oh, desculpe. - Parker enrubescera, os olhos baixos, fixos nos saltos altos que tinha em mãos.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Não, eu peço desculpas. - Daniel minimizou, executando um curto, bem-vindo e carinhoso gesto ao passar as mãos pelos ombros dela. - Você tem frio?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Muito. - Ela respondeu prontamente, tendo aguardado a pergunta. Daniel livrou-se do casaco. Insinuou-se às costas da atriz para cobri-la. - Sente-se melhor? - Indagou, sem conseguir enxergar o rosto dela, mas lhe sendo confirmado quando Parker meneou em afirmativo. - Preciso perguntar...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Sim.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Nós nos encontramos antes, não? - Ele apostou. Parker se virou, as maçãs cheias de lágrimas. - Eu imaginava que sim. Eu me sinto péssimo, pois não consigo me recordar de quando e como...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Tudo bem, não foi sua culpa. - Tentou mentir sobre quão magoada se sentia, dando com os ombros e passando os dedos suaves pelo rosto cansado.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Você não considerou me contar logo do... - Parker ergueu uma mão silenciadora e se justificou.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Sim, mas eu e sua avó conversamos e concluímos que o melhor a fazer era esperar um pouco para ver como reagiria `a minha presença. Nossa ligação foi forte o suficiente para manter uma centelha do passado acesa... - Daniel sacudiu a cabeça, confuso e vacilante. Parker esboçou um pequeno, triste sorriso e procurou acalmá-lo. - Por favor, eu não quis deixá-lo confuso.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Tudo bem. - Apertou os pulsos da atriz com candura. Teve de se sentar, procurando raciocinar uma maneira de processar as consequências de tantas sucessivas revelações. - Eu sei que minha posição é delicada, mas a sua é ainda mais difícil. Eu lamento por tudo, Parker.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Não lamente por mim. - Sentou-se ao lado dele e pôs o braço sobre os ombros do homem de uma maneira tão cúmplice que os teriam tomado por irmãos. - Será que decidi mal? Procurá-lo depois de tantos anos? Por favor, diga que não.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Não fez mal, mas por que após tantos anos? - Ele quis saber, uma pontinha de medo no tom mais grave.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Porque se não fosse agora, então nunca mais. - Colocou pragmaticamente, e Daniel teve de concordar com o ponto de vista. Dificilmente os dados atirados pelo destino repetiriam a mesma sequência. O resgate dos passageiros do avião da <i>American Airlines</i> fora algo único, uma vez em toda a vida.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Você tem que partir? - Perguntou, a dor expressa no olhar, na torcida de uma resposta negativa.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Não, se você não quiser. Eu posso passar o fim de semana com você e sua avó e pegar outro voo para <i>Londres</i> na semana que vem. Ficaria melhor?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Adoraria que ficasse. - Disse, contundentemente, simultaneamente exausto diante de tanta informação nova.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span style="font-family: arial;">- Ótimo, pois também quero! - Ela passou as pontas dos dedos por entre os cabelos de <i>Danny</i> com doçura, um gracioso gesto de trégua.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">Gladys esperava no alpendre, fazendo o passatempo caça-palavras. Quando viu a caminhonete dobrar na entrada da vicinal rumo ao loteamento, juntou as mãos, grata. Sorriu com um balanço afirmativo de cabeça ao reconhecer na figura do carona a silhueta de Parker. Daniel desceu rapidamente e subiu os três degraus num salto. Parker assistiu à reunião de neto e avó com os braços cansados sobre o capô. Precisava lhes ceder espaço. </span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Eu conversei com Parker e ela me explicou. - Adiantou. - Vovó, não quero que fique preocupada comigo.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Espero que me compreenda, querido. - Ela lamentou, emocionada.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Compreender o quê, vovó</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- O fato de não ter lhe adiantado logo...</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Daniel sacudiu a cabeça em negativo e deu dois passos para a frente, envolvendo-a com os braços. <i>Cyrano </i>apareceu na cauda da saia de Gladys e os deixou para receber Parker. <span style="font-size: small;">Avó e neto assistiram a <i>Cyrano</i> correr para as mãos da atriz, que o recebeu nas mãos e o acomodou sobre um dos ombros. Agora, parecia tudo evidente, até nos pequenos detalhes: ele até podia não se recordar de <i>North Cape May</i>, mas <i>Cyrano</i> sem dúvida se lembrava. Parker achegou-se com o gatinho, aproximando-se timidamente. Gladys e Daniel sorriram e abriram os braços para a atriz. Giro emergiu da sala para o alpendre, testemunhando a cena com um olhar meio cúmplice, meio preocupado.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Eu pedi para ela ficar. - Daniel explicou para a avó, que achou ótimo.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Só por este fim de semana. - Parker adiantou. - Teremos um domingo juntos, e será fantástico.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Oh, querida, não há melhor notícia. - Trouxe-a enfaticamente para si, como se Parker fosse uma neta.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Olá, tudo bem<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span> - Giro veio timidamente, estendendo educadamente a mão para a atriz. - Daniel deve ter falado de mim, eu espero. Supostamente, sou o seu melhor amigo! Chamo-me Giro. - Brincou, dando uma piscadela para o colega de aeroporto. - Eu sei, eu sei, é um nome idiota. Diminutivo para Girolamo.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- É um prazer conhecê-lo, Giro. - Parker o deixou à vontade, respondendo `a iniciativa com carinho, um jeitinho especial ao colocar a cabeça ligeiramente inclinada para o lado ao se dirigir a pessoas.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Daniel é um rapaz maravilhoso e merece tudo de bom. - Giro declarou, com graciosidade. - Eu acho que vocês dois têm muito a conversar.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Não o vejo há mais de seis anos. - Contou, os olhos subitamente marejados. - Ele tem muito a me contar sobre todo esse tempo; e eu, quanto ao que veio antes.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Bem, o que importa é que aqui estão. - Dispôs uma das mãos grandes sobre a cabeça de Daniel. - Não percam tempo. Vocês são jovens, mas não há tempo a desperdiçar. Lembre-se dos objetivos, Daniel, e não deixe o caminho escolhido. - Depois, dirigindo-se especificamente ao amigo, combinou. - Nós nos vemos na semana que vem. Precisamos falar sobre uma coisinha. Até lá. Boa sorte, Parker!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Giro partiu, <i>Cyrano</i> saltando dos ombros de Parker para correr atrás da viatura aeroportuária até Giro alcançar a secundária e deixar o rastro de areia ascendendo à altura da carroceria. Gladys perguntou se Parker queria tomar banho e Daniel pediu à avó para separar bermuda e camisa para que ela pudesse se vestir mais à vontade. Gladys foi preparar o quarto onde Parker dormiria, bem como separar as roupas. Daniel foi cuidar da mesa para o café. A chegada de Parker veio a desinibi-la de um modo que nem o neto conseguia. Agora, permitia-se falar abertamente sobre <i>North Cape May</i>. Daniel era mais espectador a protagonista das conversas; primeiro, à mesa para o café, depois nas cadeiras servidas no alpendre.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Daniel ria enlevado ao aprender que fora um menino estudioso e aplicado em quem a avó depositara os melhores planos. Ele especialmente gostou de saber de sua obediência canina à avó, uma conduta deveras importante após a morte dos pais. Católico que o era, Giro adoraria saber disso, e Daniel lhe contaria! Parker e <i>Danny</i> se conheciam desde a adolescência, porque haviam estudado no mesmo colégio. Quando Parker e Gladys falavam sobre 1994, a abundância dos detalhes inspirava Daniel a sentir nos braços a quentura das manhãs ensolaradas sobre as quais falavam tão romanticamente. Conhecia a parte na qual, após chegar à casa da avó, amassava as empadas de frango e as misturava a arroz, feijão e carne moída, a garrafa com café, as folhas de papel ofício borradas por gotas de café, rascunhos onde resolvia questões de matemática e química. Agora, podia reconstituir novos detalhes através do suporte da narrativa de Parker. Ela lhe devolvia a época na qual tinham se sentado lado a lado na sala de aula, quando ocupavam carteiras escolares da classe A da 8<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">ª</span> série, os trabalhos de literatura em grupo, filmes que faziam com a turma, excursões em grupo à <i>Flórida</i>, os primeiros anos de faculdade. Parker aparecia como uma personagem fundamental naquela que teria sido a melhor década da vida de <i>Danny</i>.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Parker os deixou na terça-feira seguinte. O voo partiria `as 15:00. Os três haviam combinado que Gladys e Daniel a acompanhariam até ao portão de embarque. Almoçaram juntos, e a avó preparou as empadas de frango para que pudessem esmigalhá-las e misturá-las ao almoço, como um dia o neto costumara fazer, aos 15 anos. Gladys se recolheu para um cochilo antes da chegada da hora de acompanhá-los ao aeroporto. Daniel e Parker saíram para uma caminhada pelo loteamento e, enquanto passeavam sob o exuberante manto ensolarado, também se sentiram abraçados pelo espaço e árvores os quais os ciceroneavam caminho afora. A brisa fazia as pontas das gramas curvarem-se de maneira elegante, para logo em seguida reassumirem as formações iniciais. Borboletas dançavam inseguras e vacilantes sobre flores cujas pétalas pareciam muito amarelas e finas, e que apesar de espremidas quando agraciadas pelo vento, recuperavam facilmente a altivez e então pareciam mais belas que no minuto anterior, aperfeiçoadas pelas intempéries do meio. O casal não levava <i>Cyrano</i>: era o gato o condutor, sempre orgulhoso na dianteira. Dando risadas, divertiram-se quando o viram se atirar mato adentro, em direção às flores, para brincar com as borboletas. No ar, só a eletricidade da despedida sobrepujava o calor.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Quero saber se posso voltar a procurá-lo. - Parker sumarizou o dilema. - Foi um ótimo fim de semana, mas sabíamos que ia terminar. Quando gostamos muito de uma pessoa, as horas voam.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: arial; font-size: small;">- As horas? Eu diria os anos. Sabe que sim, querida. Você viu como deixou a mim e a vovó felizes. Se antes não me recordava do que falou de <i>North Cape May</i>, nós fizemos novas recordações. - Daniel apontou para um banco de madeira ao lado de um arranjo de trepadeira de flores aos pés de um poste. Os dois se sentaram para conversar mais calmamente. Agora, <i>Cyrano</i> lhes parecia um pontinho preto bem longínquo correndo atrás de alguma novidade, provavelmente um amiguinho felino. Daniel apontou para aquele pontinho que miava e saltitava, e deduziu. - Aposto que a forma como <i>Cyrano</i> chegou às minhas mãos tem uma história, certo<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: arial; font-size: small;">- Sim, mas eu prefiro lhe contar quando estivermos em <i>North Cape May</i>. - Assim que terminou, estudou inquisitiva a expressão do rosto dele. - Você voltaria a <i>North Cape May</i>, certo<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Sim, eu... - Pareceu distraído por uma súbita, complicada consideração. - Eu não pensei a respeito. Sobre voltar a <i>North Cape May</i>. Depois do acontecido com o avião, conforme expliquei, senti-me tentado a pesquisar, ir atrás dos fatos, mas jamais pensei concretamente em regressar a <i>North Cape May</i>. Seria um passo e tanto, quase como saltar a uma nova vida!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Acho que seria ótimo para você, <i>Danny</i>. - Parker o inflamou, a que Daniel lhe respondeu com um olhar lisonjeado.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: arial; font-size: small;">- Está vendo<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? Somos próximos novamente. Chamou-me de "</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>Danny</i></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">". - Ele mencionou. Tendo tomado ciência da intimidade, Parker riu. - Nós nos damos muito bem, não acha? Éramos mais do que amigos, antes de 2004, eu suponho?</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Sim. - Ela aproximou o rosto do pescoço dele e murmurou. - <i>Amigos muito íntimos</i>. - Suas bocas se reencontraram com a intimidade perdida no acidente que custara a Daniel as melhores recordações, momentaneamente evocadas pela força da conexão a ainda mantê-los unidos após seis anos.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Eram 18:00 quando o carro de Giro parou em frente à casa dos Legrand. Depois de ter deixado Parker no portão de embarque acompanhado pela avó, o rapaz se escusara do trabalho, tendo tirado o resto da tarde para descansar. Ele abriu o notebook<i> </i>e navegou na internet até o comecinho da noite. Só de ver vídeos de algumas cenas de "<i>Distant Lights</i>", sentiu a pontada da saudade. Tomava uma canja de galinha, o prato fundo no colo, deitado na rede do alpendre. Com a chegada do amigo, deixou o prato sobre a mesinha e se sentou na beirada da rede. Giro subiu os degraus num salto, os modos fáceis e corajosos de uma pessoa de casa.</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Ei, Giro! - Daniel olhou por sobre os ombros para ver se Gladys ainda se achava na cozinha.</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Ela já partiu, então... - Mais observou do que indagou, puxando uma cadeira para se sentar. - Muitas emoções para poucos dias, não?</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Oh, boa noite! - Gladys apareceu na janela. - Ela mal chegou, deixou-nos. - A avó fez a volta por dentro e saiu para o <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">espaço do alpendre através da porta</span>. - Os dois trocaram e-mails e <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">ela </span>prometeu escrever e telefonar. Não há pressão, fiz questão de deixar bem claro que será bem-vinda sempre que desejar nos ver.</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Ela falou sobre um teste para um papel na Inglaterra, mas disse que, findo o processo de seleção, ela virá nos visitar novamente e ficará conosco por mais tempo. - Daniel deixou a rede e encostou-se à <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">grade</span>. - A Parker levantou um ponto muito interessante. Ela me convidou a voltar a <i>North Cape May</i>. É muito possível que as lembranças ocorram uma vez que eu caminhe por lugares por onde passei, um dia.</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Muito bem. - Giro fez o sinal positivo, recebendo a xícara de café das mãos de Gladys. - Talvez essa moça seja uma das ferramentas da qual precise para preencher as lacunas.</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Houve uns dez minutos iniciais nos quais neto e avó conversaram com o amigo sobre coisas recentes do cotidiano; porém, quando a avó saiu para qualquer afazer passageiro no lado de dentro, a expressão até então serena de Giro virou uma máscara tensa e retesada. Daniel ia lhe perguntar se ia tudo bem, contudo o amigo foi introduzindo:</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Escute, cara, Suntee me mandou o <i>facebook</i> da outra menina. Eu odeio ser o porta-voz de más notícias, mas ela não é quem afirma ser...</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você se refere à Simone?</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Trata-se de alguém fazendo-se passar por outra pessoa. - Giro emendou com a segunda parte antes de Daniel gaguejar qualquer comentário. - Preste atenção, apenas confie em mim. Olhe... - Giro deu um rapidíssimo, tenso olhar para dentro da casa, para verificar se Gladys estava ao alcance de suas vozes. Ao ver que não, foi adiante. - Você tem se sentido observado, seguido, nesses dias?</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Credo, Giro... - Ele pôs as mãos na coxa para sair da rede, mas Giro não deixou. - Como pode saber dessas coisas?</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Tem se sentido seguido ou não?</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não! - Sentenciou, firmemente.</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Avise-me se notar qualquer mudança! - Giro esfregou os cantos dos olhos e, com uma careta de incômodo, vestiu os óculos melhor. - Eu não sei... Para alguém fazer um <i>facebook</i> falso e começar a te escrever... Os próximos e-mails dessa menina, prometa-me que me mostrará, certo?</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Giro, mas... - Daniel não conseguiu terminar. Giro o fuzilou com o olhar de preocupação paterna e determinou.</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Quero ver. Guarde os e-mails, e me mostre! Não posso falar muito agora, Daniel!</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Tudo bem. Ficamos combinados. Os novos e-mails, eu os mostrarei.</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><br /></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Daniel ficou um pouco intrigado, mas ao tempo em que terminou de coar um café fresco, tinha novos pensamentos em mente. Antes de ir se deitar, foi checar a caixa de entrada. Havia algumas propagandas do curso onde comprara os DVDs, uma mensagem do Suntee, a resposta de Simone ao seu e-mail e a grande surpresa: uma mensagem da Parker. Daniel conscientizou-se da alegria em receber a mensagem de Parker e considerou que, caso não se conhecesse melhor, estaria "<i>caidinho</i>" por ela. Chamou Gladys para lhe mostrar a mensagem. Gladys se inclinou às costas do neto e forçou a vista desnecessariamente, já que Daniel tratou de ler o e-mail em voz alta. "<i>Queridos Daniel & Gladys, apreciei os momentos que tivemos juntos! Espero vê-los dentro de duas semanas. Daniel, a sua avó jamais se esqueceu do forte sentimento que nos uniu e ela é o nosso mais resistente elo. Deus os abençoe, até breve! Parker C.</i>". O e-mail havia sido mandado às 14:40, Parker o tendo escrito no internet café do terminal de embarque após os dois a terem deixado no portão do voo que partiria para <i>Londres</i>.</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Suntee havia escrito para combinar um cinema com o pessoal da <i>East Side</i> na sexta-feira. Ocorreu-lhe uma sensacional contraproposta: por que não fazer uma sessão domiciliar, onde se sentiriam à vontade para se entreterem, confraternizarem e comerem? Ele respondeu o e-mail de Suntee com a proposta e imaginou que os amigos a acolheriam! Sem dúvida, seria uma novidade. Daniel já tinha escolhido o filme: "<i>Lady Chatterley</i>", de <i>John Boorman</i>. Quando foi abrir o e-mail de Simone, foi tomado por antecipação, e acabou permanecendo um pouco mais no alpendre, andando vagarosamente em círculos, pensativo, voltando em pensamento à conversa com Giro, horas antes. Sentado sobre os degraus do jardim, encostado à coluna, deu-se o prazer de saborear o gostoso café com leite <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">preguiçosamente</span>. Distraído, com os olhos no distante banco de madeira onde tinham se beijado, Daniel imaginou se Parker chegara bem a <i>Londres</i>. Escutou a avó ao telefone, na sala-de-estar, com uma comadre do loteamento, consolando-a em razão de algum pequeno incidente corriqueiro. Quando os olhos começaram a pesar, Legrand preferiu deixar o torpor antes de adormecer, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">e </span>voltou ao quarto. </span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span style="font-family: arial;">Esfregou os olhos com os nós dos dedos e clicou no ícone da cartinha da mensagem de Simone. Um tipo de quentura forrou seu ser, uma grata surpresa quando ao correr a vista pela mensagem viu, na introdução, "<i>Querido Danny</i>". O contraditório "<i>desconforto</i>" ajudou-o a perceber suas limitações quanto a habilidades sociais. Ficava realmente lisonjeado e desconcertado com manifestações de afeto. Viera acostumando-se a uma vida sem intrusões, mas então ganhara a turma inteira da <i>East Side</i> como amigos fiéis, e agora <i>Parker & Simone</i>. "<i>Fiquei muito feliz ao receber a sua mensagem! Você não apenas contribuiu com a minha formação, foi a partir de nossa amizade que me senti estimulada a refletir sobre coisas que, quando se é bastante jovem, não se pensa a respeito. Você tinha uma maneira de enxergar a vida que no começo tomei como fatalista, mas vim a compreender o peso das palavras. Se lembra que costumava me dizer que tudo o que temos são emoções e não devemos ser levianos com as nossas e, principalmente, com as dos outros?</i>". Daniel achou o trecho muito bonito e murmurou consigo mesmo "<i>Não me lembro de muito, mas se disse isso, estava certo mesmo</i>". </span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">"<i>Eu espero que não tome por mal minha iniciativa de aproximação. Eu sei que deveria ter procurado você antes, porém as demandas da vida têm seu jeito de nos fazer crer que dispomos de muito tempo, quando não é bem assim. Você mencionou não se recordar de mim por causa do acidente. Adoraria ajudá-lo a se recordar. Ficaria feliz, se soubesse que estou aberta `a sua amizade. Talvez pudéssemos voltar atrás e construir uma amizade tão fantástica quanto a de antes de 2004. Com carinho, Simone</i>". Daniel ficou ali, com o queixo suportado pelos punhos cerrados, cotovelos sobre a escrivaninha, estudando a mensagem com o afinco com que fazia as lições. O celular chamou. </span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ei, Suntee, recebeu o meu e-mail? - Perguntou, ao atender.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Achei uma ótima ideia e os outros também gostarão. Próxima sexta-feira, então?</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Ou sábado. Talvez sábado seja melhor, não acha? - Sugeriu.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Sim, perfeito. Era o que eu diria, deixarmos para sábado `a noite. - Uma pausa, e Suntee puxou conversa. - <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Ocupado</span>?</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Lendo e-mails. Mais uma mensagem de Simone. - Contou, e Suntee pareceu interromper o que <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">fazia </span>para prestar atenção. - Ela parece me conhecer tão bem! Escreve coisas que parecem tão <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">pessoais</span>!</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Vamos pesquisar melhor a história dessa sua amiga, meu patrão. - Suntee não sabia como dizer ao colega que ele <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">vinha se precipitando</span>, então procurou fazê-lo indiretamente. - Você precisa conversar com a moça por telefone, não?</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Sim, porém creio que acontecerá naturalmente, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">sabe</span>? Quero dizer, relacionamentos são uma soma de etapas de comprometimento...</span></div><div><span style="font-family: arial;">- Como eu te disse... Eu não acho que essa menina seja real, cara.</span></div><div><span style="font-family: arial;">- Até você? - Daniel reclamou. - Porra, um dia desses foi o Giro. Apareceu aqui como se tivesse visto um fantasma. Falando a mesma coisa! </span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Olhe, conversaremos melhor no sábado. - Suntee capitulou. - E falando nos mistérios do coração, acho que Olivia está apaixonada por <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">ti</span>...</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Oh, não diga bobagens. - Daniel riu, mexendo a xícara quase vazia de café. - Ela é uma menina com a vida pela frente e vai encontrar alguém bem mais interessante que...</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Mais interessante que o cara que salva os passageiros e tripulantes de um <i>Boeing </i>em chamas, certo? - Suntee fez uma criativa gozação com tremendo fundo de verdade e os dois deram gargalhadas. </span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Cala a boca, Suntee! Aquilo foi pura sorte! - Daniel finalizou. - Então, ligue-me na sexta-feira `a noite, para fecharmos o cinema em casa para sábado, feito? De toda sorte, já vou postar uma mensagem no meu <i>facebook</i> para avisar a galera!</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Até sexta-feira, meu patrão, cuide-se bem.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Daniel respondeu a mensagem de Simone dois dias depois. Certo de que era o momento para se abrir um pouco mais, confessou sentir-se recompensado por receber mensagens de alguém de <i>North Cape May</i> e que há apenas alguns dias Parker Cowan o visitara. Também usava o pretexto como isca, afinal, ao introduzir o nome da atriz, esperava por fosse o que fosse que Simone tivesse a comentar sobre Parker. Se ambas compunham sua história, deviam ter se cruzado em <i>North Cape May</i>. O fato de ter se mostrado mais extrovertido e natural a convidaria `a aproximação. Agora que a muralha invisível havia sido transposta e o passado não precisava mais de desculpas fajutas de Gladys, Daniel desejava abraçá-los de uma só vez - passado, presente e futuro -, como qualquer indivíduo de integridade. Ele não falou mais de Simone a Giro, porque desejava apostar em até onde a situação iria chegar.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Daniel reabsorvera totalmente a rotina administrativa do aeroporto. Paulatinamente, o lugar restaurava a aparência de normalidade de antes do Natal de 2009. Ao meio-dia, punha-se a caminho do mercado apenas para subir a ponte, sentir o calor da terra e divagar, enquanto a vista tentava inutilmente penetrar através da imensidão do maravilhoso espaço a apontar no sentido de <i>Nova York</i>. Agora, todavia, ao se inclinar sobre o parapeito para se distrair com os trens correndo sobre trilhos, em vez de ponderações sobre a vida e o que gostaria de fazer, eram Parker e Simone quem ocupavam seus pensamentos. Não tinha como saber muito sobre a Simone. Por ora, ele se familiarizaria apenas pelo que lhe adiantasse por e-mail. Com Parker, as regras eram outras. Se quisesse, tinha como pesquisar sua vida, pois a carreira artística a deixava em evidência, todavia sabia o suficiente e preferia limitar suas conclusões ao que ela lhe mostrasse. Gladys gostava muito dela. Se a avó confiava em Parker, era porque conhecia a história a conectá-los em <i>North Cape May</i> antes de 2004.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Giro chegou `a passarela aparentando falta de fôlego, segurando dois copos de isopor com café. Entregou o de Daniel, e ao tirar o boné da cabeça, exibiu a marca vermelha deixada na testa suada. A dupla sorveu o café em silêncio, ao tempo que o engarrafamento distante sob a quentura os hipnotizava com a energia a emanar do asfalto, como entranhas de um forno. Daniel lembrou-se de dar uma excelente notícia ao amigo, que até então guardara para si.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Então, Giro. - Começou, e Giro tirou preguiçosamente os olhos da pista para prestar atenção. - A autoridade portuária de <i>Nova York</i> e <i>Nova Jersey</i> publicou edital para preenchimento de</span> cargos de níveis médio e superior. Eu realmente aprecio a área de atuação e os vencimentos são excelentes... Tenho três meses até as provas.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Oh, rapaz! - O rosto de Giro se abriu num sorriso de gradual recepção. - Estou tão feliz por isso!</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Preciso organizar os horários de estudo, mas com as provas, sigo me movendo em direção a um objetivo concreto. E agora que Parker voltou e o passado não é o mesmo oceano de mistérios, não faria sentido que me mantivesse preso a terminais de aeroporto. Por um tempo, foi uma espécie de limbo onde não precisei escolher.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Olhe, sobre Parker... - Giro abordaria um ponto delicado. Sentia-se aprisionado a uma responsabilidade e tanto, porém o rapaz tomou o ônus para si.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Eu sei, eu sei... - Num tom cúmplice, antecipou. - Eu não estou "<i>me apaixonando</i>", Giro. Eu a conheci por uma segunda vez e apreciei sua companhia, os dias em que esteve conosco. Não alimento expectativas. A única resposta que espero da Parker é que ela fique bem. Pense comigo... - Deixou por um momento o copo de café sobre o parapeito e prosseguiu. - Quantas pessoas têm a chance de recomeçar? Talvez o acidente em 2004 tenha sido a melhor coisa que poderia ter ocorrido, pois me obrigou a repensar, e melhor ainda, aos 30, agora que tenho experiência. - Entusiasmado, seguiu o discurso com <i>insight</i>. - Você mencionou Parker. Vamos supor que nossa história tenha acabado mal, lá atrás. Agora, em 2010, quando Parker retornou, ela não reencontrou o homem de antes. Eu fui moldado pelas dificuldades, e é ótimo. Hoje, não há como perder. Se Parker e eu nos envolvermos romanticamente, aconteceu! Se não, tudo bem, ambos somos maduros, teríamos como saber o melhor para nossas vidas! Você vê, Giro, levando-se em conta tempo e dissabores, não somos realmente donos de coisa alguma, como Simone escreveu no e-mail. Na maioria das vezes, estragamos as coisas por conta de um senso distorcido de posse. Leva-se a vida para se compreender em linhas bem genéricas a dinâmica das relações. Se o acidente me forçou a amadurecer rapidamente, talvez tenha sido melhor assim. Parker não tem como me ferir.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Muito bem. - Giro devolveu, com uma expressão resignada, preocupada. - Espero que saiba o que faz. O sentimento passa, sabe? Não se jogue tão destemidamente. Preze as virtudes, perguntando-se se ela é a pessoa que pode te levar ao céu, e se você, com as suas, tem como ajudá-la a chegar lá, também. Para relacionar-se com alguém, deve se livrar das fantasias. Fantasias como a de que ela te fará feliz... Mas ninguém neste mundo é capaz de fazer quem quer que seja feliz, Daniel. O que uma mulher virtuosa fará será ajudá-lo a chegar lá, o que só pode se dar no contexto da missão que é a de ser família. Cuidando dos filhos, perdoando pacientemente as falhas um do outro, e buscando a santificação: é assim que se encontra felicidade na vida, que é pouca, mas é a antessala para a felicidade plena no céu.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">Encantado com quão ressonantes as palavras de Giro soaram, Daniel concordou com um vagaroso e lento menear da cabeça, no qual só existia puro respeito. Ele voltou a estudar o <i>Northeast Corridor</i> com um olhar transcendente. Quando o sol se tornou forte o bastante, protegeu-se sob o toldo onde pombos faziam os ninhos entre pilares e a curva laminada da duma. Sorriu ao observar a obstinação de um pombo, o qual não desistia de procurar levar no bico um grande fio de palha que teimava de cair quando a ave batia as asas para o pilar. Ao ver que apoiando-se sobre o corrimão conseguiria alcançar a parte superior do pilar, tomou para si a tarefa e fez um favor ao pássaro, alinhando o fio ao esboço de ninho costurado pelo pombo.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">`A noite, aproximadamente vinte amigos da <i>East Side</i> apareceram para assistir a "<i>Lady Chatterley</i>". Suntee trouxe caixas de pizza e refrigerantes. Travesseiros no chão, todos se puseram `a vontade para assistir a Parker no filme de <i>John Boorman</i>, até mesmo <i>Cyrano</i>, recebendo afagos no lombo sobre o colo de Olivia. Quando entrou a primeira cena de Parker, Gladys bateu palmas, a que os demais não compreenderam. Daniel riu e explicou "<i>Ela é uma velha amiga</i>", referindo-se `a atriz. A produção era visualmente deslumbrante e onírica, o que era de se esperar do diretor de "<i>Excalibur</i>" e "<i>Amargo Pesadelo</i>". Parker comandava o filme com uma performance destemida e comovente. Era impossível tirar os olhos da atriz enquanto explorava o caleidoscópio de emoções. Agora, Daniel compreendia a brincadeira de Parker, quando estavam se conhecendo melhor: havia, sim, uma cena de nudez frontal. O momento era tão estética e artisticamente confeccionado, porém, que não havia traço de agressividade, somente elegante erotismo. A corajosa cena se dava no momento mais emocionalmente pesado, quando <i>Constance & Oliver</i>, os personagens do romance original de <i>D.H. Lawrence</i>, faziam amor pela primeira vez.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">Daniel deixou os travesseiros aos pés do sofá e perguntou a Olivia se poderia lhe oferecer mais uma fatia. Olivia adoraria outro pedaço de pizza. Quando Daniel foi tirar mais duas fatias, o celular chamou. Antes de atender, levou a ela o prato com dois pedaços. Antes de deixar a sala, explicou-lhes que atenderia a ligação no quarto, mas não demoraria a voltar. Para conversar mais desinibido, fechou a porta. Ao olhar para o display, não se recordou do número.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Daniel? - Assim que atendeu, a voz feminina indagou.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Parker? - Ele pensou, já imaginando que não, pois a voz de Parker teria soado mais apologética. Essa nova voz pronunciava-se mais afiada, assertiva.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Não. - Uma pausa que pareceu durar mais do que efetivamente custou. - Eu sou Simone.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Simone? - Repetiu, estratégia para ganhar tempo. Ela deve ter murmurado <i>Uh-hum</i>, a que Daniel não pôde se certificar. - <i>Oh</i>, olá. Que surpresa adorável!</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Espero não parecer ousada, procurando-o dessa forma. - O destemor não combinava com o pedido de desculpas. Simone não parecia o tipo de mulher que tinha como hábito o exercício da humildade. - Foi fácil conseguir seu número. Não estou ligando num mau momento certo?</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- <i>Oh</i>, não. - Mentiu, puxando a cadeira da escrivaninha para se sentar. - Fico feliz que tenha me procurado. Gosto muito de nossas correspondências por e-mail e acho que você também se sente parecido.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Sem dúvida. Compreendo o constrangimento, Daniel. Se eu estou te deixando...</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Não, não. - Sorriu com os cantos dos lábios, entretido. Antes que prosseguisse, ela conectou o flerte.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Você tem uma risada acolhedora. Não há indelicadezas que não possam ser corrigidas pela força de uma mera risada, não acha? - Ela falou, e Daniel respondeu a paquera com mais risadas.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Então você estagiou comigo, foi essa a história? Você sabe do acidente e que não foi minha culpa o esquecimento do que se passou?</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Não é inteiramente mau se esquecer. No seu caso, por outro lado, houve momentos bons, teria sido melhor se tivesse ficado com eles. </span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Quando subo na passarela do mercado para me encostar no parapeito e observar o <i>Northeast Corridor</i>, sei que em algum lugar da minha mente alimento a ideia de voltar a <i>North Cape May</i>. - Sentindo-se mais `a vontade, vencidos os tensos segundos iniciais, travavam o diálogo com facilidade e desenvoltura. - Simples assim. Subir na minha caminhonete e seguir dirigindo até chegar `a cidade. Você ainda reside em <i>North Cape May</i>?</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Não. Hoje, eu moro em <i>Nova York</i>. <i>North Cape May</i> é a minha cidade natal, onde nasci e onde ainda mora meu pai. Eu sempre visito <i>North Cape May</i>, ora para vê-lo, ora para resolver alguma questão no Departamento de Trânsito da Guarda Costeira. - Nesse trecho, ela pareceu censurar-se, modulando a rapidez com a qual soltava as informações, como que temendo revelar o suficiente para que Daniel lançasse questões fundamentais. Atento, compreendeu que Simone não queria falar detalhadamente de si, e manteve o papo alegre e bem-humorado.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Eu fiquei curioso. Quando mencionou que era chatinha e eu zangado, o que quis dizer? - Recebeu como troco a generosa, aberta gargalhada de Simone. Daniel soube então que restabelecera sua confiança.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Eu não sei. - Respondeu lacônica, e reconsiderou. - Talvez não passe de um ponto de vista, a maneira como me recordo de mim em <i>North Cape May</i>. Sempre achei meu nariz um pouco apontado para cima.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Mas não fez diferença alguma para mim?</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- As pessoas que passaram pelo estágio levaram lembranças muito bonitas de sua presença em seu dia a dia. Costumeiramente, dois anos. - Simone limpou discretamente a garganta, o que fez Daniel imaginar que estaria engasgada com lágrimas, o que não fazia sentido algum, afinal dera gargalhadas há segundos. - O tempo que leva. Um estágio dura dois anos. Pelo menos, foi assim no começo da década. Falava tanto sobre a vida, sobre a importância de se investir em si, em conhecimento, em crescimento pessoal e profissional. Dizia-me que contamos nos dedos aliados que nos tocam a ponto de nos transformar. Até então, 2002, eu não pensava tão frequentemente sobre assuntos existenciais. Eu fui enxergando melhor quando, no cotidiano, fui incorporando as coisas simultaneamente belas e tristes ditas por ti. Não se lembra?</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Não. Mas fico grato por você se recordar. - Ele respondeu, com encantadora espontaneidade. Daniel precisou de uma pausa para não se emocionar também, e complementou: - Se você se recordou, foi porque deixou uma forte impressão.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Quando vi o que aconteceu no <i>Liberty </i>de <i>Newark</i>, sobre como salvou aquela gente, fiquei tão feliz! Eu me sentia péssima, sei que devia ter te...</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Por favor, gosto muito de sua amizade e não precisa se explicar. - Alguém bateu à porta, e Simone também pareceu escutar. Era Suntee. Daniel avisou ao amigo, com os dedos sobre o fone para não ser escutado. - Já estarei com vocês, Suntee!</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Oh, não estou te... - Simone finalmente compreendeu que ligara em uma noite na qual se reunia com os amigos.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Oh, não. - Daniel tentou deixá-la tranquila. - Não está me incomodando e é ótimo conversar contigo. Estamos assistindo um filme, eu e a turma da <i>East Side</i>, os garotos a bordo do avião da <i>American Airline</i> com quem fiz amizade!</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Ah, um filme, com amigos. E em casa, o melhor lugar!</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Em casa. <i>Uh-hum</i>. Na sala. Estamos assistindo a "<i>Lady Chatterley</i>". Foi surpreendente quando Parker Cowan me procurou para me contar sobre como nos conhecíamos de <i>North Cape May</i>!</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Sim, claro. Também me recordo da Parker. - Ela falou, para imediatamente emendar. - Escute, Daniel, posso ligar uma outra noite?</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Será um prazer, Simone! Eu aguardarei! Acho que aprendemos mais um pouco após a conversa de hoje.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Aproveite o filme, e depois me diga se foi bom. Escreva uma de suas resenhas! - Ela finalizou, a voz avivada, novamente tão afiada quanto no começo da conversa. - Boa noite!</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Boa noite!</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Daniel desligou. Por um tempo, não mais que um par de minutos talvez, deixou que lhe esperassem, braços apoiados nos joelhos, olhos transfixados na janela escancarada, entretido com considerações transitórias e fugidias. Observava como as gramas do campo pareciam cheias de vida por causa do manto amarelado com o qual os postes acarpetavam a superfície, cadenciados por espaços desolados e quase vazios, não fossem os bancos de madeira do qual só tinha um esboço de forma na escuridão. Não soube o que o incomodava, até lhe ocorrer o motivo. "<i>Escreva uma de suas resenhas</i>", Simone dissera e Daniel não sabia interpretar a linha. Mais batidas à porta: dessa vez, era Gladys avisando pela porta que a turma estava se impacientando por causa da ausência e que requentaria as pizzas. Daniel levantou-se num salto, bateu palmas e tratou de avisar que ainda suportaria no mínimo três fatias.<span style="font-size: small;"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial; font-size: small;">No começo da semana, Parker telefonou de <i>Londres</i>, e Daniel lhe contou que havia assistido a "<i>Lady Chatterley</i>" com os amigos numa sessão de cinema caseira. Ao tecer elogios à performance dela, Parker disse que seus comentários importavam mais do que qualquer crítica da mídia impressa. Ele começaria a "<i>pegar pesado</i>" nos estudos a partir daquela semana, mas antes conversaria com o pessoal da <i>East Side</i>. Ainda jovens, aos dezoito, dezenove anos, os amigos fariam melhor passando logo num concurso do tipo. Daniel explicou que se pudesse voltar no tempo, teria traçado um plano parecido, garantindo um emprego honrado para seguir estudando e aperfeiçoando-se, galgando oportunidades de crescente retorno financeiro. Havia algo no discurso centrado, correto, que fascinava a Parker. Ele era um homem que não conquistara o desejado, mas além de parecer mover-se consistentemente para a frente, fazia-o com tocante ingenuidade. A mera sugestão do amanhecer ensolarado para onde se encaminhava era suficientemente sedutora e atraente e, em sua companhia, fosse por telefone, fosse quando se viam (o que, ao menos para Daniel, ocorrera apenas uma vez), sentia-se à vontade, de uma maneira que nenhum outro homem conseguira emular. Não havia cobranças, não existiam pressões. Ela tinha muito a aprender com Daniel. Ao seu lado, não precisava se esforçar para parecer tão magnética quanto a "<i>alienígena sedutora</i>" de "<i>Distant Lights</i>" ou a esposa infiel de "<i>Lady Chatterley</i>", imagens às quais pessoas fascinadas com cinema de arte alternativo associavam a sua <i>persona</i>. Em <i>Londres</i>, deitada na cama do confortável <i>Kensington</i>, bem no coração da cidade, fechava os olhos para se recordar do caminho da estradinha poeirenta a encontrar o alpendre da casa de Gladys, quando sentia a força asseguradora do sol incidindo sobre sua pessoa e a terra, vida emanando do solo e fazendo-a se sentir parte de algo perfeitamente integrado.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b style="font-family: arial;"><i><span style="font-size: x-large;">02. Cachinhos dourados.</span></i></b></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">Conforme decidira, mesmo raciocinando que podia ter cometido um erro, Daniel nada disse a Giro sobre o telefonema de Simone. Com o desabrochar de muitos tipos de flores, a riqueza de girassóis, jasmim e gazânias perfumadas e coloridas que desabrochavam pelos cantos, de pequenos canteiros dos jardins de casas em estilo sonho americano à imensidão da planície sobre a qual fora ereto o aeroporto de <i>Newark</i>, a primavera, em sua adorável jactância, anunciou a chegada, eliminando qualquer pretensão do inverno de deixar saudades. Daniel convocou os amigos a uma reunião importante, quando pôde escalá-los para a missão. "<i>Não é porque concorrerão a cargos de nível médio que terão de permanecer na mesma carreira pelo resto das vidas</i>", iniciou a preleção no alpendre, de pé, enquanto os amigos, sentados no chão de gastas tábuas, escutavam e assistiam com olhos atentos. "<i>Mas se eu tivesse a idade de vocês, sei que teria feito melhor dividindo meu tempo entre trabalho e faculdade</i>". Daniel conseguia lê-los através de expressões e sabia que os tinha cativado; os amigos realmente se importavam com o que tinha a dizer. Percebia que se tornara uma espécie de líder a quem respeitavam e procuravam para se aconselharem. A compreensão de seu papel o encorajava a incutir ainda mais nas cabeças daqueles jovens o que a vida, a duras penas, ensinara-lhe.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">- Eu não sei se conseguiremos sem um plano. - Suntee levantou a mão para pedir licença para falar. Reportando-se nervosamente aos colegas, explicou: - Se nós formos adiante na empreitada, precisaríamos de organização.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span style="font-size: small;">- Olhe, antes de qualquer plano, nós temos de nos comprometer. - Frisou Daniel. - Temos praticamente três meses até maio. Eu resolvi fazer as provas. Vocês vêm comigo</span><span style="font-size: small;">?</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">Mãos erguidas e o coro de suporte: Suntee deu com os ombros e, encorajado, levantou a mão por último. Daniel meneou afirmativamente com a cabeça, certo de que os convencera. Muitos enfrentariam o desafio movidos pela convicção dos poucos que já viam a importância do passo; entretanto, eventualmente, mais para frente, quando tivessem sua idade, compreenderiam por que insistira para que se juntassem a sua aventura de volta aos bancos para as provas. Sustentado sobre o incondicional apoio dos amigos, compreendeu que chegara a hora de traçar a meta de estudo. Jogando e recebendo ideias, no decorrer da tarde, o grupo rascunhou o horário semanal para as aulas. Eles se reuniriam à noite na casa de Daniel para assistir às vídeo-aulas e nos finais de semana, em qualquer uma das muitas salas livres do campus, para a resolução de questões.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span style="font-size: small;"><br /></span><span style="font-size: small;">- A sala contribuiria e muito no processo de aprendizagem. - Daniel comentou, reiterando a Suntee para ser realista. - Você tem certeza de que o seu pai vai...</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">- Papai é professor. Ele conseguirá autorização para as nossas reuniões aos sábados! - O rapaz afiançou. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Estou orgulhoso de vocês, garotos. - Declarou, cheio de contentamento. Os meninos se entreolharam como se estivessem a caminho da guerra. - Mesmo que nem todos passem no exame... A felicidade está no <i>fazer</i> e não necessariamente no <i>conseguir</i>. Por si só, <i>fazer </i>já constitui nossa grande vitória.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Nos meses seguintes, a rotina de Daniel foi tão apressada que perdeu os devaneios, o que foi bom. Era o que dizia aos colegas de estudo, por volta das 23:00, ao concluírem mais uma rodada de aprendizado: "<i>Vocês podem descansar quando estiverem mortos</i>". Os amigos não sofreram tanto para se adequarem `a rotina extenuante, e perseveravam no duro e gratificante caminho. De qualquer maneira, ainda existiam os domingos, único dia da semana no qual, consensualmente, não tocavam nos livros. Aos domingos, Daniel se sentia tão esgotado que encontrava gratificação nas coisas menores, como brincar com <i>Cyrano</i> no alpendre ou deixar o dia passar em conversas com a avó, Gladys na cadeira de balanço e ele nos degraus que davam para o caminho do jardim. Ele aprendera a balancear as presenças de Parker e Simone, a aproveitar suas amizades, a participar das novidades que pareciam lançá-lo a lugares ensolarados, arejados da mente. Parker lhe contava sobre como vinha se saindo bem nos últimos testes em <i>Iver Heath</i>, <i>Buckinghamshire</i>, nos estúdios <i>Pinewood</i>. Mencionava o frio devastador ao se levantar muito cedo; isso exigia mais do que o mero respeito pelo ofício da atuação! Simone ligava pelo menos uma vez por semana e, com as conversas e e-mails trocados, a noção e imagem de passado de Daniel iam ganhando matizes. No trabalho, Giro arrefeceu nas indagações sobre Simone e se ela o vinha procurando. Ele devia ter acreditado na mentira de Daniel, e ele, claro, sentia-se mal por isso.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Os admiráveis esforços de Daniel e a turma foram mantidos com o entusiasmo do primeiro dia da reunião até maio, mês no qual efetivamente se iniciou a contagem regressiva para o dia 23, o dia das provas. Daniel combinou com Suntee que se reuniriam até a sexta-feira anterior para a revisão de última hora, mas deixariam o sábado vago para que não fizessem nada, que não descansar. Sábado amanheceu cinza e friorento, mas nem por isso menos estranhamente encantador e estimulante. Era uma daquelas manhãs únicas do ano, uma esquisita eletricidade. Existia uma tenacidade sustentada de modo sobrenatural quanto a maneira como as nuvens escuras se mantinham bem alinhadas, em vias de desabar, mas sem realmente fazê-lo, como formações de um exército celeste preparando-se para o cerco da cidade. Em algum lugar para os lados da baía de <i>Newark</i>, um arco-íris nascia em <i>Elizabeth</i> e punha seu pé para muito depois do estuário, desaparecendo num encanto, pincelando sua superfície plácida e gelada com cores aquosas. Daniel acordou mais tarde do que de costume com os miados e arranhões de <i>Cyrano</i> </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;">na cabeceira</span></span>, aperreando-o por ração. Daniel se virou e cobriu a cabeça com o travesseiro, mas o gato não se daria por vencido. Saltou sobre a cama, abocanhando o lençol e, mesmo pequenino, tentando pateticamente arrancá-lo do tutor. Daniel não conseguia acordar de mau humor com <i>Cyrano, </i>mesmo quando o gato procurava arruinar o sono suave e tranquilo numa manhã gelada de céu escuro, apenas por conta de um punhado de ração!</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Daniel ajudou a avó no alpendre com meia dúzia de trabalhos manuais, entre eles o conserto de algumas tábuas frouxas. A manhã foi escoando facilmente. Avó e neto almoçaram sossegados, assistindo à televisão, a moça reportando de <i>Times Square</i> o tráfego quase nulo em razão das chuvas intensas que vinham caindo, somadas a um acidente menor envolvendo um carro de bombeiros, uma soma de incidentes para agravar a delicada situação, provocando consequências massivas. "<i>Prepare-se, essa frente está descendo para Jersey</i>", Gladys previu, baixinho, ao deixar seu lugar à mesa para levar as louças `a pia. O rapaz fazia nós com o pano de prato, absorto. Gladys sabia que a prova da manhã seguinte o preocupava. Ao meio-dia, um pouquinho da coroa do sol apontou. Ele a deixou a sós por um momento. Foi passear com <i>Cyrano</i>. Caminhando pelas ruas, o solo barrento aos pés, as gramas muito verdes e umedecidas como tapetes cuja extensão parecia maior do que a vista capturava numa só toada, Daniel carregava no peito muitos pensamentos e preocupações. Certamente a proximidade da prova o fazia repensar a vida; entretanto, fora o concurso, havia Parker. Apesar da felicidade que a atriz vinha trazendo, não deixava de se atentar aos perigos do envolvimento emocional. Parecia injusto a Daniel que se apegassem tão prematuramente. Pensou se as demandas de suas tão distintas vidas tenderiam a afastá-los.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span style="font-family: arial;">As nuvens "<i>seguraram</i>" a ameaça de precipitação. No começo da tarde, entretanto, o céu veio abaixo, e aí foi como se o resto do dia tivesse se tornado madrugada. <i>Cyrano </i>se meteu entre os lençóis da cama de Daniel, que "<i>se vingou</i>" e morreu de rir ao brincar com o gatinho preto, puxando-o e dando tapinhas de brincadeira em seu traseiro, o que acabou por irritá-lo a ponto de ele lhe dar uma patada e refugiar-se sob os travesseiros. A chuva não impediu Gladys de convencer o neto a levá-la ao <i>Walmart </i>para fazer as compras da semana. Enquanto bebericava um cafezinho na lanchonete<i> </i>do supermercado, vez ou outra a avó surgia no seu campo de visão, dobrando com o carrinho rumo ao próximo longo e espaçado corredor. A decoração muito branca servia bem o lugar. Em tardes muito chuvosas como aquela, sustentava uma contagiante eletricidade de saudosismos e mistérios. Gladys encontrava-se na sessão de limpeza, no outro lado do <i>Walmart</i>, quando Daniel recebeu uma mensagem de texto de Parker. "<i>Sinto saudade de sua companhia e de nossas conversas. Tudo parece mais gelado e sombrio quando não estamos juntos. Amanhã, você será coberto de felicidade. Te amo. Parker C.</i>". Grato pela surpresa, Daniel quase se antecipou a escrever a resposta, mas resolveu deixar para outro momento. Ia se levantar para pagar o cafezinho no caixa e se juntar à avó, quando notou um elegante cavalheiro de paletó gris, sentado próximo ao refrigerador dos sucos, ao lado da vitrine de salgados. Parecia vir o observando há um tempo. Vestia óculos, parecia um pouco míope, e seu corte de cabelo rente o deixava parecido a um agente policial especial. Devia ter um pouco mais do que cinquenta anos, mas podia ser mais velho; a excelente forma física o rejuvenescia. Ao se encararem, o cavalheiro levantou a xícara, como que o cumprimentando, e Daniel correspondeu ao gesto cheio de classe. Raciocinando que se tratava de alguém que o reconhecera pelo ocorrido com o avião no Natal anterior, não pensou muito a respeito. Ao deixar o supermercado com a avó, o fato evaporara de sua mente.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">Pode ter sido a exaustão dos meses de estudo intensivo, o fato de ter apostado as fichas na manhã seguinte, as mensagens reveladoras de Simone, as simultaneamente agradáveis e terrificantes declarações de amor de Parker, ou o incondicional suporte de <i>Gladys & Cyrano</i>, mas, tendo voltado para casa, ao se recolher para cochilar pelo resto da tarde, assim que repousou, Daniel começou a chorar. Uma vez que se permitiu enfrentar a turbulência, não houve volta. Chorou a ponto de achar que precisaria enfiar o rosto no travesseiro para não correr o risco de a avó ouvi-lo, mesmo com a porta fechada. O que havia dentro de sua alma era um peso emocional tão brutal que, ao deserdá-lo, levou junto suas defesas psicológicas, pelo menos por um tempo. Ele despertou às 18:00, com o rumor estranhamente confortante de torrente correndo contra as lâminas de vidro e formando pequenos riachos através das esquadrilhas. Da sala, vinha o barulho da televisão. Daniel foi urinar. Ficou um tempo sentado na beira da cama, pensativo. Foi a ligação de Suntee que o tirou de seu estado contemplativo. </span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Ei, cara, eu não posso ser o único que não consegue mais aguentar a espera, posso? - Foi o que Suntee falou assim que pôde dizer uma palavra.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Nós nos sentimos igual. A sorte é que sublimei a tensão dormindo. - Daniel respondeu com a voz monocórdia e cansada de quem acabara de deixar o sono. - Falou com o restante do pessoal</span><span style="font-size: small;">?</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">- Cada um sobrevivendo ao sábado da maneira que julga melhor. - Respondeu, com um fiapo de voz. - Escute, meu patrão, eu só liguei para te agradecer em nome de todos. Eu sei que foi um semestre cansativo, mas a gente te admira muito pelo que fez e por tentar nos ensinar os fatos da vida, que talvez os nossos pais não...</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span style="font-size: small;">- Oh, não, Suntee, não faça isso comigo agora. - Daniel estalou a espinha ao se levantar, e bocejou. Abriu a janela e se deu o direito de usufruir o acalento da brisa molhada. - Já me emocionei o suficiente por hoje. Façamos assim: quando passar, choraremos juntos, lágrimas de alegria, mas até à prova, precisamos nos comportar com frieza e resolução. Já fez o caminho para seu local de prova</span><span style="font-size: small;">?</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">- Duas vezes hoje, só para me familiarizar. - Assegurou-o, com o senso de dever cumprido, e Daniel se sentiu péssimo, pois ainda não fizera o mesmo. Tinha posse do cartão de prova, com o endereço do colégio, número de sala e os outros dados relevantes, contudo não se precavera de fazer a rota com antecedência. Nada que não pudesse ser resolvido antes do dia terminar.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">- Farei o mesmo. - Comprometeu-se, animado ao se imaginar pegando a estrada naquela tarde fresca e aprazível, uma boa pedida para "<i>fechar</i>" o dia. - Não se preocupe. Crescemos muito ao longo dos últimos meses. Passando ou não nos exames, só há razões para comemorar. Eu tenho muita fé na gente.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">Daniel explicou a avó, atarefada com o preparo da mesa para o café, que conferiria o local dos testes para se habituar ao caminho. O cheirinho de pães frescos besuntados com manteiga deixou o forno, almiscarado ao de ovos fritos, queijo prato e presunto de peito de peru. Gladys avisou que ainda prepararia pães de queijo. Daniel disse que sendo este o caso, era melhor se apressar, gostaria de comê-los quentinhos. Ele pegou a pista para fugir das vias secundárias alagadas, e realizou a curva que o colocou a caminho do centro de <i>Elizabeth</i>. Não custou a chegar ao colégio. Ao sondar com a marcha reduzida a continuação da quadra, encontrou um ótimo lugar para estacionar na manhã seguinte. Eram 22:00, quando Daniel recebeu a ligação de Simone. A avó tinha ido dormir. Ele se balançava na rede, sem nada específico em mente. A casa mergulhara no breu, mais aconchegante graças ao frio, mais acolhedora, uma vez que se contemplasse de dentro a chuva intermitente sobre <i>Jersey</i>, do jeito que Daniel fazia. Sentia as recordações formigando para emergir. Por mais que de nada soubesse quanto ao que se dera antes de 2004, acreditava que, ainda naquele ano, toda a verdade seria trazida da escuridão à luz. O celular começou a vibrar. Na terceira chamada, tinha-o em mãos.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span style="font-size: small;"><br /></span><span style="font-size: small;">- Oi, <i>Danny. </i>Peço desculpa pelo horário. Não o despertei, certo? - A voz feminina que sempre se apresentara como "<i>Simone</i>" começou, a que foi interrompida pelo bem-humorado interlocutor.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">- Não peça desculpas, fico feliz pela ligação! - Comemorou, esfregando as têmporas e consultando o rádio relógio. - Você não acreditou que eu estaria dormindo, certo?</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">- Você ainda está repassando a matéria? - Perguntou, com um tom suplicante, quase infantil, novamente incongruente a uma voz costumeiramente imperativa, firme. </span></div>
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">- Não, nada disso! - Ele riu. - Não há mais o que estudar, ao menos não a poucas horas das provas. Isso, nós o fizemos muito bem ao longo de três meses. Não foi o estudo que me manteve desperto. </span></div>
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">- A experiência te fez pensar mais a fundo sobre coisas, não? - Completou as lacunas da fala do interlocutor, certeira. - <i>Danny</i>, amanhã será o começo de <i>algo </i>sensacional. Voltará a sentir o friozinho na barriga do ano da Guarda Costeira. Quando sair o resultado desse próximo concurso, parecerá a primeira vez, já que a novidade do primeiro se perdeu no acidente da estrada.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">- Ninguém jamais colocou as coisas dentro dessa perspectiva e eu fico grato pelo que disse, pois foi muito bonito. - Comentou, esboçando um sorriso empático visto somente por <i>Cyrano</i>. O gato, que até então dormia entre travesseiros na cama, lançou ao tutor um olhar severo, repreendendo-o por conversar tão alto, e voltou a enfiar a cabecinha sob o lençol, para retomar o sono dos bons felinos. </span></div>
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">- O que fará quando o concurso ficar para trás? - Ela o questionou, convidando-o a ponderar o ponto pela primeira vez. Ela tinha razão. Dedicara-se tanto aos estudos que não considerara como seria após o decisivo domingo. Sentiria saudades quando estivesse acabado.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">- Talvez descansar para retomar os livros mais tarde. Manter o ritmo e estudar para o próximo, mesmo que seja aprovado amanhã. Só não quero me deter, porque ao menos para mim, apesar de cansativo, o preparo me deu os meses mais gratificantes dos últimos seis anos!</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">- Nesse meio tempo, pretende visitar <i>North Cape May</i>? - Perguntou, num misto de expectativa e preocupação. </span></div>
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">- Quando chegar o tempo, acontecerá naturalmente. - Daniel respondeu educadamente, e elaborou melhor: - Acho que seria um ato tão compreensível e natural que nem adiantaria preocupar-me com <i>North Cape May</i>. Um dia, uma manhã qualquer, subirei na caminhonete com planos de tomar café no aeroporto, mas mudarei de ideia. Farei o percurso até a <i>North Cape May</i>, e será fantástico. O sol quente, brilhando no retrovisor... - Foi dando voz à imaginação.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">- <i>Hum</i>... - Murmurou Simone, assistindo em sua mente às lindas imagens liricamente colocadas por Daniel.</span></div>
<div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span style="font-size: small;">- </span>O Atlântico ao leste, acompanhando-me numa curva infinita e suave. Mais para dentro, invadindo o continente e à margem da rodovia, os lírios muito amarelos com seu perfume frente ao qual nenhum outro olor rivalizaria. Perfume que só se experimenta no auge da primavera. Minhas perguntas definitivamente para trás, um mundo de possibilidades abrindo-se como um sorriso, quando estiver atravessando <i>Cape Canal</i> pela <i>Intracoastal</i>, as dunas escondendo até onde possível o mar, que quando finalmente se apresentar, o fará com um impecável azul, ondas quebrando e espumando como o melhor champanhe... - Parecia ler de um romance. Ao esfregar os olhos, constatou quão emocionado ficara.<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Escute a minha voz, agora. Escute-me. - Repentinamente, ao comando dela, Daniel galvanizou-se, como que perpassado por uma lança no coração. Ela prosseguiu. - Você consegue me enxergar entrando na quadra das competições, armada na frente da barraca, para a partida entre os colégios?</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Sim. Você desce da barraca para a arena, ajeitando uma faixa na... O que houve com seu joelho? Tem uma joelheira longa com orifício na patela, na sua perna direita. No outro pé, você está vestindo uma tornozeleira branca. - Ele ia descrevendo, e a mulher do outro lado da linha reagia comovida, murmurando "<i>Isso, isso, lembre-se, lembre-se</i>". Você não se parece com a senhorita das fotos. Você <i>está loira</i>. Você já teve cabelos loiros? - Daniel sentia, pela mera espera ao telefone, a eletricidade e importância do momento. E então, concluiu. - Não, não é que pareça diferente. Você é uma outra pessoa. - Daniel abaixou o rosto e fechou os olhos com força, deixando lágrimas rolarem. - Você se serviu de fotos de outra menina, do nome... Eu agora consigo vê-la por quem é. Por favor, quem é você?</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span style="font-family: arial;">- Essas perguntas serão respondidas em seu tempo: nem antes, nem depois; na hora certa. - A mulher jurou. - Não se angustie. As situações se encarregarão de nos levar para dentro da área da competição.</span></div><div><span style="font-family: arial;">- A área da competição? - Repetiu, vacilante, confuso e incrivelmente movido, a testa franzida em angústia.</span></div><div><span style="font-family: arial;">- A área da competição. É a bússola e o farol de nossas vidas; é o porto de chamada. E cada passo que demos, inconscientemente, só os demos para nos levar aonde precisamos nos reencontrar: dentro das linhas do quadrilátero. É a razão final de nossas vidas à beira mar. É o Corpo de Estado.</span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;"><i>Clic</i>. Ela desligou. Boquiaberto, com os olhos impressionados, Daniel ficou com suas indagações em meio ao breu. Trepidante, ainda ligou para o número deixado na lista de chamadas. Como esperava, o celular fora desligado. Ademais, convenceu-se de que devia ser um aparelho descartável de um número pré-pago. </span><span style="font-family: arial;">Ele não acreditou que dormiria, mas quando menos esperou, o mundo virara escuridão, paz e silêncio. Foi a avó, ao se levantar durante a madrugada para beber um copo d'água e visitar o quarto, que cerrou nos anéis da presilha as cortinas as quais, agraciadas pelo vento, avivavam como delicadas bailarinas em coreografia de permanentes inconstâncias. Ela passou a mão pelos cabelos deles e realizou uma prece silenciosa. Da cama, entre travesseiros, </span><i style="font-family: arial;">Cyrano</i><span style="font-family: arial;"> prestava atenção à cena, os olhinhos brilhantes fixados no mestre. Domingo amanheceu nublado, mas livre de chuva. Daniel se vestia apressadamente, enquanto a avó pedia para que desacelerasse. A prova só começaria às 08:00, e ainda tinha duas horas! Ele não quis comer muito. Tomou uma xícara de café com leite, e forrou o estômago com um generoso copo de iogurte. Antes de entrar na caminhonete, tratou de se assegurar que portava os documentos, caneta, lápis e borracha para o exame. Tascou um beijo no rosto da avó, que vestia um terço ao redor dos pulsos para abençoá-lo. Passou a mão sobre a cabecinha de </span><i style="font-family: arial;">Cyrano</i><span style="font-family: arial;"> e atravessou o jardim, rumo à caminhonete, a ventania da manhã o apanhando em cheio, bem na altura do peito. </span><i style="font-family: arial;">Cyrano</i><span style="font-family: arial;"> nem ligou para o tutor, pois logo uma abelhinha entre duas estacas do canteiro das margaridas mereceu sua atenção, e o felino gorducho teimou de tentar acertá-la com patadas, como <i>King Kong</i> no filme silencioso, abatendo os aviões sobre o <i>Empire State</i>. Gladys, todavia, assistiu ao neto partir com olhos cheios de lágrimas, as mãos juntas em oração.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">Chegou cedo ao lugar da prova, e já havia um grupinho conversando, candidatos sentados na calçada em frente ao largo portão de acesso principal. Daniel foi cumprimentá-los. Os eventos do Natal de 2009 ainda perduravam fortemente, pois foi reconhecido e saudado de acordo. Ficou lisonjeado com a generosidade, porém lhe pareceu uma cobrança extra depositada sobre os ombros. Os amigos da <i>East Side</i> fariam prova em colégios distintos. Enquanto se divertia com as histórias de outros candidatos, os quais contavam fatos pitorescos de suas longas caminhadas no universo dos concursos, pensava em Suntee, Olivia, McBride e os demais, fazendo votos de que se encontrassem relaxados e prontos. Ao se ver debruçado sobre o caderno de testes, trabalhando concentrado em cima das questões, cujo nível apresentava-se `a altura do quanto se dedicara, as tensões não existiam mais. Ele só precisava fazer um bom trabalho, e o resto deixava de importar. A manhã foi passando.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">Gladys aguardava o neto no alpendre. Daniel desceu da caminhonete com o olhar cansado e os ombros doídos, mas com o sorriso de grata expectativa pelo resultado! A avó o abraçou e disse que ia dar certo. Daniel pediu que orasse não apenas pelo seu sucesso como também pelo dos demais, seus amigos. Agora, a prioridade era espairecer. O almoço fora posto na mesa, e Gladys preparara os bifes `a parmegiana que tanto adorava. Enquanto comia, enchendo a boca com generosas garfadas antes de conseguir engolir direito, a avó lhe contava que Parker ligara há pouco para perguntar se havia chegado e como se saíra. O nome de Parker bastou para que detivesse o movimento do garfo e parasse para erguer os olhos do prato para a avó, visivelmente encantado. Repentinamente, seu peito inflamou-se de disposição. Parecia que explodiria, se não fizesse alguma coisa, <i>qualquer coisa</i>, para estar mais próximo dela, mesmo espiritualmente. Ele <i>tinha</i> de voltar.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span style="font-family: arial;">Com os vidros baixos, Legrand levou a caminhonete à pista, deixando nuvens de poeira na sua passagem, o loteamento desaparecendo no retrovisor. Gladys assistia de longe. No espelho do veículo, de seu ponto de vista, a casa se assemelhava a um pontinho longínquo.<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> Daniel compreendia que se não se detivesse antes de apanhar a rampa de acesso para a <i>Interstate 95</i>, somente pararia quando chegasse... lá. Quando ele pagou o pedágio e atravessou a cancela, encontrando pela frente a infinita corrida da <i>Interstate</i>, a qual, com a chegada do sol da tarde, parecia converter asfalto em brasa, o firmamento repentinamente tomado por incomum azul, um azul de sonhos, um azul de perfeição, soube que teria muito o que explicar a Gladys e Giro, mas, conforme sua amiga misteriosa insistira na noite anterior, existia momento para tudo. Pisou no acelerador, e a caminhonete seguiu ganhando pista. Teve um caminho desimpedido e liberto, uma viagem clássica de domingo, cidadezinhas lindas a cada dezena de quilômetros para as bandas do Atlântico. Somente parou para abastecer num posto anterior `a penúltima rotatória até <i>North Cape May</i>, justamente na perna final da não tão longa viagem. Eram 15:00 da tarde quando a caminhonete entrou na encantadora cidade de veraneio pela pista principal. Reduzindo a marcha, foi-lhe possível absorver o frescor e o delicioso cheiro da maresia, ver as costas de dunas esculpidas a descerem para formar tapetes os quais se mesclavam perfeitamente ao mar, numa fronteira não inteiramente clara se era oceano ou costa . Na rádio, sublinhava o belo momento uma doce música romântica de <i>Tevin Campbell</i>, "<i>Always in my Heart</i>". As dunas eram precedidas por tapetes de vegetação nativa entrecortadas por cercas de tábuas meio soltas que balouçavam com a ventania quente. O tapete ia subindo até as falésias cercadas pelas grades de proteção. Já ao alcance da vista, espraiava-se a cidade cuja arquitetura tropical era bem representada pelas simpáticas, belas casinhas de três cores fáceis aos olhos, janelas do térreo projetadas para fora em estilo <i>bay window</i>, todas simétricas em varandas convidativas. Sempre à esquerda, a cidade em seu melhor perfil, os hotéis mais bonitos na linha de frente. À direita, vencidas as falésias, havia a praia.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Ele precisava de um lugar para se refrescar e recarregar as energias. Só de imaginar a conversa na qual explicaria a Gladys que dirigira a <i>North Cape May</i>, sentia-se apreensivo, e a gargalhada nervosa era o melhor remédio. A vocação turística concentrava os maiores hotéis na orla, a qual chamavam de praia nova, em oposição à praia velha onde ocorrera a maior porção da história de Daniel. Ele procurou algo menor, muito simples, afastado das seduções preparadas para turistas ricos, e foi atrás de algum albergue próximo ao lado mais antigo, nostálgico e esquecido. Encontrou um <i>Holiday Inn</i> para os lados de uma divisão onde existia uma simpática quadra de serviços, como farmácias e mercadinhos. Daniel pagou uma diária adiantadamente. Até onde sabia, retornaria a <i>Elizabeth</i> na mesma tarde. Sentiu olhares conhecedores sobre sua pessoa ao se apresentar no lobby. Daniel foi simpático e acessível. Assim que viu seu rosto, a menina o associou aos eventos no <i>Liberty</i>. Deitado exausto na cama de solteiro, com a chave do carro no criado-mudo, resolveu abreviar o suspense e contatar a avó. Pela tranquilidade da voz de Gladys, imaginou que ela já esperava que lhe dissesse que prolongaria o passeio.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não acredito que fez isso! - Assim que lhe contou a verdade, ela o canhoneou com cobranças de avó super protetora, e Daniel tirou onda, sacando apenas por um segundo o fone do ouvido para atenuar o ataque, ainda assim escutando a voz amplificada pela urgência. - Pensei que conversaríamos a respeito! Jamais esperei que...</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Vovó, escute, se não fosse assim, <i>jamais</i> seria. Eu espero que compreenda minhas razões. Não fique aborrecida, não se preocupe. Não viajei para outro país, por Deus! Retornarei ainda hoje, ou no mais...</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Não, não, meu filho, eu não quero que pegue a <i>Interstate</i> numa noite de domingo! - Gladys atirou o pano de prato na pia, frustrada, e arrastou a cadeira para a frente do fogão para se sentar. - Prefiro que passe a noite no hotel e retorne amanhã cedo. Pode tirar a segunda-feira... - Gladys então se corrigiu, aborrecida com a própria moderação, e tomou partido do neto amado. - Pode tirar a semana inteira para descansar! Direi a Giro que precisa se recuperar de um resfriado. Você se doa ao trabalho como ninguém, querido. Apenas esteja de volta.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- E onde está o <i>Cyrano</i>? - Não tinha como deixar de perguntar pelo melhor amigo.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Eu te digo, esse gato entende a linguagem dos humanos, Daniel. Tá aqui me encarando com olhos tristes, e apostaria meu braço que compreendeu tudo o que foi dito!</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Avó e neto riram. Como por passe de mágica, não existia mais fricção. Daniel sufocou o ímpeto de fazer novas perguntas acerca de <i>Cape May</i>. A avó poderia instrui-lo, funcionar como a ponte entre vida pretérita e a ampla liberdade de movimentos, agora que se colocava de volta na área, mas escolheu deixar ao destino o produto daquele imprevisível lançamento de dados. Depois de desligar, a mente vasculhou probleminhas mais imediatos. Tomaria um banho antes de deixar o quarto para um passeio na orla? Ele se contentaria com uma canja de galinha, ou deveria aproveitar melhor o tempo em <i>North Cape May</i> e comer um peixe frito? Escolhas práticas não consolidaram a atenção por muito tempo, pois não demorou a divagar por searas mais profundas. Enquanto os olhos estudavam o encaixe de caibros correndo entre ripas, a aventura eletrizava cenas de um lugar distante no tempo, onde completara quinze anos, esmagava empadas de frango para misturá-las ao arroz, consumia garrafas de café para se dedicar à matemática, à tarde, e sonhava com o que existia à frente, e o mundo era apenas maravilhosas sensações. As ligações começaram quase na segunda hora após o check-in de Daniel. McBride o contatou primeiro, com ótimas notícias. A galera da <i>East Side</i> havia se reunido no campus após a prova, para trocar impressões. Genericamente, seus gabaritos batiam com o oficial. Daniel só soube o quanto os últimos meses o haviam deixado emocionalmente extenuado quando, tendo recebido a notícia, seus olhos marejaram com lágrimas de orgulho. McBride seguia falando animadamente, Daniel concordando com tudo, até o garoto indagar:</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Mas e então, como você se saiu</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Ao ser questionado tão à queima-roupa, Daniel percebeu que sequer pensara a respeito de si. Sua preocupação revolvia os amigos, e o fato de terem se saído muito bem bastava para iluminar o incomum fim de tarde. </span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Olhe, McBride, eu acho que me sai tão bem quanto vocês. - Falou com um pouco de urgência na voz. - Fiquei muito satisfeito com as questões, pois estavam de acordo com o nosso nível de preparação! Muito provavelmente, nós nos demos bem. Vamos esperar! Teremos um bom tempo até os resultados, então...</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Nossa, cara, nem me lembre disso - Comentou, ansioso. - Meses de espera!</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- O pior já passou. - Diminuiu as preocupações, com um tom reconfortante. - É hora de comemorarmos e retomarmos nossas vidas porque não podemos viver às custas de um resultado que só sairá daqui a um razoável tempo.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Sim. Falando na palavra-chave, "<i>comemorar</i>", nós o apanharemos às 19:00 para a pizza</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Cara, nem sei por onde começar... - Daniel sacudiu a cabeça, considerando, afinal de contas, que seria mais complicado contar aos amigos sobre o retorno a <i>Cape May</i> do que à avó! </span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">Logicamente, McBride, o primeiro a contatá-lo, também foi o primeiro a saber. Logo, os outros ligavam, querendo saber por que se metera em tamanha aventura, decidida praticamente de supetão. Para as perguntas disparadas, os amigos já sabiam a resposta, mesmo que indiretamente. Compreendiam que a dignidade e a entrega que Daniel exibira nos meses antecedentes ao concurso encapsulavam perfeitamente o propósito de entender o sentido para onde o destino tinha de levá-lo. Enquanto existisse vida, havia esperança, Daniel sempre soubera disso, apenas se acomodara a um nebuloso hiato, a perda da memória que o desviara do caminho, um desvio acidental do qual fora arrancado pela aventura no <i>Liberty, </i>no Natal anterior. Aos amigos, explicou que já na sexta-feira seguinte se encontrariam para a pizza, mas não gostaria que deixassem de celebrar naquele mesmo domingo apenas porque não participaria. Eles prometeram ter uma noite de muita celebração em sua homenagem. Quando Daniel conversou com Suntee e falou sobre a próxima sexta-feira, o amigo opinou que repetissem o cinema em casa. "<i>Um novo filme da Parker</i>", Suntee sugeriu, e o coração de Daniel se inflamou pela fugidia recordação. "<i>Distant Lights!</i>", ele escolheu, instantaneamente. "<i>Vocês vão amar!</i>".</span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">- Meu patrão, antes de desligar, se não me contou a verdadeira razão dessa viagem, não serei eu a amolá-lo, mas me sinto no dever de te segredar uma coisa... - Suntee aconselhava, e a atmosfera ganhou densidade e escureceu. Ambos tiveram medo. O rapaz foi adiante. - Cuidado com a mulher dos e-mails. Esperei o fim do concurso para falar. Não é apenas que essa moça não seja a menina nas fotos do <i>facebook</i>; ela se apoderou de fotos de uma pessoa morta. - Uma pausa. Daniel engoliu em seco.- A garota nas fotos se chama <i>Simone di Sofia</i>, e faleceu num acidente automobilístico com a mãe. Um cara bateu em cheio com o carro no lado do passageiro; matou as duas quase instantaneamente. Vinha na contramão. Tinha na matéria jornalística. O marido, nem mencionaram o nome, chegou em seguida, porque aconteceu a uma quadra de casa. Ainda segurou as mãos das duas, nas ferragens, à espera do helicóptero. Elas morreram na mesa de cirurgia. Não encontrei mais informações, fora o recorte.</span></div><div><span style="font-family: arial;">- Meu Deus.</span></div><div><span style="font-family: arial;">- Então, meu patrão... Existe alguém jogando com sua cabeça, eu nem tenho dúvida disso. Não se encontre com ninguém aí, cara. Até pelo fato de você não se recordar das coisas, nunca se sabe se existe uma pessoa ressentida esperando pelo acerto de contas.</span></div><div><span style="font-family: arial;">- Eu obedecerei. Suntee, não conte nada a Giro ainda, combinado?</span></div><div><span style="font-family: arial;">- Não se preocupe. Aproveite a estadia. Só não abaixe a guarda.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Quando Daniel começou a desabotoar a camisa para tomar um banho quente, a tarde arrastava-se ao sepulcro do esquecimento, talvez ao mesmo lugar onde reminiscências de sua vida pré-2004 tinham encontrado morada. </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">A</span></span>briu a janela, e o vento fez as cortinas ondularem, Daniel conseguindo sentir nas narinas os sais dissolvidos de um dia o qual parecia encapsular os muitos outros do ano na ensolarada <i>Cape May</i>. Daniel encontrou um bem abastecido mercadinho logo do outro lado da avenida. Encontraria coisas para passar mais alguns dias, caso mudasse de ideia e resolvesse adiar indefinidamente a volta para <i>Elizabeth</i>. Comprou chinelos, duas bermudas e duas camisas, itens para asseio pessoal e guloseimas para estocar no frigobar do quarto. Ao voltar ao hotel, encontrou funcionários da cozinha e da faxina no <i>lobby</i>. Eles queriam conhecê-lo e, se estivesse de acordo, registrar a ocasião com fotos. Daniel os agradeceu com cortesia e humildade, disse-lhes que seria uma honra. Convidado a jantar com os membros da <i>staff</i> na cozinha, aceitou a gentileza. Ele emergiu do quarto após tomar banho e trocar de roupa. Deliciando-se com canja de galinha e torradas de alho, narrou sua aventura com humor: uma vez que se passara o tempo, rir era o melhor remédio e, incrivelmente, encontrava coisas divertidas sobre o fato, agora ao repensá-los.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eu nasci nessa cidade, sabe? - Revelou, à certa altura.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Sabemos. - A menina da recepção tinha ciência. - As matérias sobre o que aconteceu mencionaram <i>Cape May</i>.</span></div>
<div><span style="font-family: arial;">- Fui embora em 2004. Sofri um acidente que me tirou a memória. Engraçado que sempre que via imagens daqui, sentia uma saudade indescritível, o que, a algum nível, deve implicar que ainda me lembro de coisas.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Que interessante! - O cozinheiro comentou.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Sei que fui agente da Guarda Costeira e amigo de uma moça de <i>Cape May</i> que alcançou muita notoriedade.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Parker Cowan? - A recepcionista fez o palpite, mais como afirmação do que pergunta.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Exatamente. Esteve na minha casa e a vi na soleira de meu quarto ao lado de minha avó. Ela me conhecia; para mim, foi como a primeira vez. - A sombra de nostalgia cobria as expressões, mesmo tendo dito tão pouco. - "<i>A primeira vez</i>", que bobagem minha. Na realidade, "<i>a primeira vez</i>" pode ter sido no início dos anos 90, quando éramos adolescentes, colegas na mesma classe.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Veio para ficar por muito tempo, senhor? - Indagou o rapaz.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Não sei ainda. - Juntou as mãos e esfregou os polegares, analítico. - Mesmo se quisesse permanecer, não o seria por muito tempo. Eu tenho uma vida em <i>Elizabeth</i> e vovó precisa de mim. - Deu com os ombros, e concluiu com inesperado otimismo. - Tudo bem, só o fato de estar aqui me alegra. Ainda que tenha de voltar a <i>Elizabeth</i> amanhã, creio que acabei com o "<i>mistério</i>". Vocês ainda me verão!</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Não guarda nenhum contato em <i>Cape May</i>? - Perguntou a recepcionista, franzindo a testa. - Pois se tem uma história com Parker, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">devia </span>procurar a família. - Ela olhou para os colegas, que exprimiram concordância. - Gail e Bill Cowan. A comunidade é relativamente pequena, senhor. O sr. Cowan é magistrado e professor universitário; a sra. Cowan é uma dama da sociedade, atua em projetos de caridade. A família Cowan é uma das mais antigas e prósperas de <i>North Cape May</i>.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- A chegada de Parker canalizou minha gana por voltar, e lhe sou grato. - Deu novamente com os ombros, em admirável <i>laissez-faire</i>, desprendimento emulado `a custa da dor e experiência. - Prefiro conhecê-la, assim como a família, "<i>ao longo do caminho</i>".</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Muito bem, é justo. - A menina concordou, cruzando os braços na altura do peito, curiosa. - Mas não custa nada... Procure-os, senhor. Eu sei que seria muito bem recebido, principalmente em razão de você e Parker terem uma história de muitos anos.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;">- Vou pensar. Eu preciso raciocinar com cautela. - Respondeu com a precaução de quem ainda hesitava se comprometer. - Bem, pessoal, obrigado pelo excelente jantar! - Foi deixando a cadeira e os cumprimentando. - Foi um prazer ser tão bem acolhido. Voltando ou não a <i>Elizabeth</i> amanhã, e devo me decidir hoje, a hospitalidade dos senhores me fez querer retornar.</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Daniel voltou ao quarto e o ambientou para deixá-lo ao modo de como apreciava ao se preparar para uma noite de filmes ou estudos. Quase tudo permanecia tocado pelo breu, não fosse o fulgor sem charme a emanar da televisão de quatorze polegadas. As pás do ventilador giravam num gentil rumor, e contou mentalmente que a coroa levava dez segundos para varrer, ida e volta, o espaço que ia da cama, passava pelo criado-mudo e frigobar, e terminava na porta. Por sob a porta, a discreta iluminação do corredor desenhava um borrado pálido, lembrança de que o mundo exterior seguia existindo por mais que se sentisse à parte. Daniel pensou no alpendre, na avó e em <i>Cyrano</i>. Enquanto as pupilas dilatavam a ponto de conseguir discernir caibros de telhas, ocorria-lhe o gatinho enfiando-se entre os travesseiros nas noites geladas, dormindo com a tranquilidade que a pureza lhe concedia. Então sua mente passou a devanear, colocando-o dentro da caminhonete, subindo pela <i>Interstate</i> quase deserta. Ocasionalmente, quando temores infundados ficavam prestes a irromper, salvavam-lhe os acostamentos com serviços `as margens da estrada. Postos de gasolina serviam colossos sobre muitas rodas, enquanto restaurantes de letreiros maltratados de neon convidavam ao descanso. Odor de cerveja e frituras deixavam as cozinhas sem que os velhos exaustores pudessem fazer qualquer coisa a respeito. Com pálpebras pesadas, Daniel deixou de somente imaginar a viagem de volta para afundar no sono onde vivia a jornada solitária em primeira pessoa. Quando assumiu o lugar atrás do volante, assoprou muito insistentemente nas mãos em concha, objetivando confortar-se diante do frio, pois era uma noite que tinha perante a si. Passou por duas ou três paradas iluminadas, fagulhas distantes à margem da pista que, ele entendia agora, traçava diante de seus olhos uma reta para a praia. Da praia, não havia sinais, porém podia-se sentir nos ossos que o fato de o gigante ter adormecido não tirava-lhe a existência; muito contrário, reforçava-a. A noite sobre o infinito entre a frente da caminhonete em corrida pela pista e o oceano fora tingida por pinceladas de um azul-escuro. Mesclado à escuridão, o azul promovia uma combinação mágica, e, <i>meu Deus</i>, quando as estrelas passaram a cintilar, o manto da noite adotou a forma do mais lindo espetáculo que Daniel vira em três décadas de vida. Com a velocidade empreendida</span></span><span style="font-family: arial;">, a noite começou a se diluir num inexplicável dourado. O lugar do frio foi usurpado pelo reconfortante calor que Daniel conhecera na pele na adolescência. Suas mãos não se encontravam mais na direção; ele estava em êxtase, chorando. De repente, não se limitava a calor. Daniel fora envolvido pela luz. Em seus ouvidos, ecoava as palavras de sua anônima, estranha admiradora: "<i>É a razão final de nossas vidas à beira mar; é o Corpo de Estado</i>".</span></div>
<div>
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div><span style="font-family: arial;">E então, "</span><i style="font-family: arial;">encontrou</i><span style="font-family: arial;">" o lugar para onde o sono o tragara</span><span style="font-family: arial;">, o recanto do subconsciente onde compartimentalizara parte da memória. A tarde, Daniel não teria como trazê-la consigo quando voltasse `a consciência, mas as lembranças, sim. Agora, sabia a origem de tanta luz, de tanto calor. Era uma manhã semelhante às outras de 1995. Hoje, quinze anos mais tarde, parecia nada menos do que sensacional, vez que, chegada a fase adulta, perdera as "<i>coisas</i>" de criança, o agir e o pensar delas, com os quais vivera os momentos que agora reencontrava aleatoriamente. Daniel despertou com os raios de sol, os quais venciam as gretas para encontrar sua face. Nada causava melhor impressão, todavia, que o aroma do café de Gladys. Sob a rede, existia um calhamaço de papel abarrotado e rabiscado com números e operações matemáticas. Debaixo dos papéis, caixas de filmes em VHS compradas no fim de semana anterior. A fita de "</span><i style="font-family: arial;">The Guardian</i><span style="font-family: arial;">", de </span><i style="font-family: arial;">William Friedkin</i><span style="font-family: arial;">, ejetada da boca do aparelho, indicava que o menino adormecera antes que o filme tivesse chegado ao fim, sendo a enésima vez que o via!</span><span style="font-family: arial;"> Apreciava rabiscar as questões de trigonometria entre goles de café e espiadas em momentos dos filmes mais queridos. Nas paredes do quarto, os pôsteres de coisas que compunham seu atormentado imaginário, numa excêntrica variedade que ia de </span><i style="font-family: arial;">David Cronenberg</i><span style="font-family: arial;"> aos filmes de </span><i style="font-family: arial;">Clive Barker</i><span style="font-family: arial;">, produções que surpreendentemente haviam caído no gosto de suas características pessoais. Catou os livros das quatro disciplinas do dia, enfiou-os na mochila e, tendo acordado cedo, aproveitou para ficar uns dez minutos distraído, pensativo, balançando-se na rede, os olhos nos pôsteres, a mente noutro lugar. A avó sabia onde se focava sua agonia.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br />- Reze por ela, querido. - Gladys anunciou a presença na porta com duas batidinhas e um sorrisinho amigo. - Sua mãe está a anos-luz de distância, mas se fizer suas preces, terá como escutá-lo. Eu sei, você acha que não adianta, mas oração é uma arma, meu amor.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Não é nada, vovó, sinto-me bem. - Forçou um sorriso e se segurou `a varanda da rede para sair da mesma sem dificuldade. - E quanto a você?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Gostaria de voltar a enxergar as coisas como aos quinze anos. - Ela respondeu, pensativa. - Aos quinze, não tivemos tantas experiências, então a linguagem da vida permanece mais gentil, mais humana. À medida que amadurecemos, não deveríamos mudar; entretanto, as afirmações mais doces e ingênuas desaparecem, e em nossas línguas só restam cinismo e amargura. O mundo continua o mesmo, as manhãs as mesmas, as relações humanas também. Apenas viramos pessoas machucadas. Preserve sua boa natureza, querido, porque à medida que estiver no jogo da vida há mais tempo, o tempo tentará corrompê-la.</span><br />
</span><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Vou tentar, vovó. Vou tentar. - Daniel a abraçou e emendou um assunto distinto. Não era um bom momento para falar sobre dor. - Deixe-me tomar um gole daquele seu cafezinho antes de partir.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Subitamente, para um homem desprovido de memória, mesmo que revivesse na mente uma cena de 1995, navegava pelos espaços da casa como se jamais tivesse sido separado de seus cômodos e segredos. Era um sobrado de dois níveis, muito espaçoso, arejado e sempre iluminado, por causa das janelas de correr da sala de estar e principais quartos. Daniel saltou sobre a bicicleta, devolvendo o aceno de Gladys. Antes de ele sair, a avó não faltava à janela de onde acenava para o neto. Pedalando, constatou que seria uma manhã esplêndida, mas não o era sempre para jovens aos 15 anos? </span>No estado de <i>Jersey</i>, dentre outros condados, <i>Cape May</i> se localizava mais ao sul, o melhor para se viver, um porto seguro às margens do Atlântico. Não por pouco, a ilha atraia turistas a ponto de ter hotéis e pousadas assoberbados durante o verão inteiro, inflando a população a um número próximo ao milhão. Apesar da movimentação intensa nos meses de férias, era uma cidade pacata e familiar, por mais que a agitação dos meses quentes sugerisse o contrário. Os visitantes canadenses e nova-iorquinos "<i>batiam</i>" os cidadãos da ilha numa proporção de nove para um! O tempero tropical engranzado na atmosfera era peculiar. Buxos enriqueciam o gramado desnudo entre altíssimos carvalhos os quais ladeavam a "<i>descida</i>" pela longa, ampla via principal de <i>North Cape May</i>, acompanhada por carris por onde o bonde circulava: o trem compartilhava a malha viária com o restante do suave tráfego automobilístico. Na alta temporada, o bonde era visto carregado de gente alegre. Por atender a uma demanda que não deixava assento vago, muitos passageiros seguiam a linha de pé, segurando-se às barras. Era excelente quando o bonde contornava a baía no ponto de inflexão, e sua face direita voltava-se à suave descida, a praia maravilhosa ao leste, vista de uma estupenda altura, que ia gradualmente ganhando cores e calor à medida que o bonde descia pelos carris, provocando um familiar friozinho na barriga e a altura ia sendo nivelada. Já em 1995, quando Daniel tinha quinze anos, falava-se que o encantador passeio seria substituído por uma novidade mais ágil e moderna. Havia um projeto ambicioso para se instalar <i>light rails</i> no lugar do velho bonde. Mesmo garoto, imaginava a confusão que tomaria conta de <i>Cape May</i>, durante as férias, assim que a administração começasse a executar o projeto. Trechos teriam de ser isolados. Por causa da procura, o tráfego da ilha ficaria caótico. Com a bicicleta, todavia, sempre a atravessar muito velozmente o largo e aberto cruzamento que o tirava do quarteirão e o colocava numa rota direta ao colégio, não tinha muito com o que se preocupar. Aos quinze anos, via o mundo pelo que de melhor tinha a oferecer, o futuro pelo seu absolutamente pleno, e os amigos, pelos melhores momentos, não pelos últimos. O firmamento era um azulado infinito, tão leve e hipnótico que observá-lo por um certo tempo faria as pálpebras pesarem. O céu estava riscado por nuvens de sedoso brilho que pareciam se dirigir, deslizantes, ao horizonte, entediadas pela própria perfeição.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Em 1995, Daniel Legrand era um garoto que tinha amigos e suporte para lembrá-lo de que a vida apenas começava a se espraiar inteira à frente. Notável pelo bom humor o qual o tornava um estimado colega dentre os demais, tinha "<i>olhos diferentes</i>" para um jovem, pois olhava para trás com uma variante de nostalgia própria a pessoas de passados muito dramáticos. Uma amiga especial teria definido perfeitamente seu olhar, mas para Daniel, ela era mais do que amiga; sua jornada de amadurecimento o permitiria enxergar melhor o modo como se sentia em relação a ela, ao fim. Era a segunda quinzena de setembro. O ano letivo avançava ao fim. O cansaço da turma refletia o peso do semestre. Em apenas dois anos, Daniel e os amigos estariam deixando o colégio para os <i>campi</i>, e o rapaz se lembrava da época em que a perspectiva parecera uma realidade afastada. O tempo verdadeiramente voara. Quando exercitava a imaginação quanto ao vindouro, angustiava-se. Estavam ele, Aramis, Max e Mac, seus três melhores amigos, conversando num canto no fundão da sala.</span></span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Aramis e Mac eram brincalhões, não queriam acordo com estudo. Viviam conforme a batida que melhor soasse aos ouvidos, e não havia problema: tinham tempo para se aprumarem, e a hora certa não era nem antes, nem depois; aconteceria na hora correta. Em seu devido tempo, despertariam para a chegada da maturidade e o salto para a transição ao mundo dos adultos, que, por ora, eram apenas fiadores de seus estilos de vida meio despreocupados e aéreos. Mais cuidadoso e sensível, Max portava-se um pouquinho mais comedidamente que Aramis e Mac. Assim como Daniel, Max amava filmes europeus, apreciava as artes. Apesar de suas pequenas diferenças pessoais, ali, juntos pouco tempo após a morte da mãe de Daniel, jamais haviam pertencido tanto à <i>mesma página </i>do que em 1995. Daniel demoraria muitos anos até reencontrar semelhante senso de integração, ele só retornaria à vida após completar trinta anos, ao salvar a turma da <i>East Side</i>. Aos quinze, porém, mesmo que semelhante parceria fosse bastante comum, não a subestimava, e enxergava o inestimável valor em tudo envolvido no colégio. Era o intervalo entre a terceira e a quarta e última aula da manhã. Assim como acontecia durante a "<i>passagem do bastão</i>" entre professores, a classe havia entrado em ebulição, uma grande balbúrdia.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br />Todos estavam excitados por causa do próximo domingo. Setembro era o mês dos Jogos de Praia; parte dos alunos do colégio disputaria vôlei e outras modalidades com os de outros colégios de <i>Cape May</i>. Daniel não fazia parte de coisa alguma, mas torcia pelos companheiros. Aquele ano, 1995, traria a terceira edição dos Jogos de Praia, e Daniel, que comparecera para aplaudir e torcer em 1993 e 1994, considerava passar "<i>sob o radar</i>" e recolher-se aos pequenos deveres de casa, agora que eram só ele e a avó Gladys.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu realmente não sei, pessoal. - Daniel não sabia como se escusar do próximo domingo. Pressentia o desapontamento em face de sua recusa, e já tinha vergonha de encarar os colegas. - Sabem que torço por vocês, mas, nesses dias, a solidão tem consumido meu tempo.</span></span><span style="font-family: arial;"> - Procurou explicar-se; a súplica na voz indicando seu desejo mais palpitante, o de "</span><i style="font-family: arial;">absolvição</i><span style="font-family: arial;">" dos colegas. Sabia que conseguiria ficar em casa, mas apenas se lhe acenassem com alguma resignação, algo que não o enchesse de remorsos, quando se encontrasse escondido dentro do quarto enquanto os demais desfrutavam as manhãs de sol na praia durante o tempo dos jogos.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Não pedimos por você, mas pela gente. - Aramis não o perdoou, e o olhar pidão dava a prévia de que, mesmo contra à vontade, acabaria por aparecer mesmo.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Não queremos exigir muito, mas há coisas que não se pode deixar de fazer pelos amigos, Daniel. - Sempre mais sóbrio e maduro, Max asseverou muito bem.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Escutou a voz do professor di Sofia e, como esperava, viu o pároco alto, magro, calvo e de óculos chegar à sala a passos muito tranquilos, conversando encurvado com uma aluna, a qual lhe mostrava um exercício no livro, ainda à porta da sala. Ao perceber que a aluna se tratava de Parker Cowan, um sorriso bonito em pura candura se desenhou nos lábios de Daniel. Era como se o mundo, após um período fora de foco em razão das confusões pessoais, restaurasse uma configuração familiar e aprazível. A maneira como seus olhos deitaram-se sobre Parker não passou desapercebida aos três amigos. Mac teve uma ideia e falou:</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Ela vai estar lá. - Falou, com uma indicação discreta do polegar.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Não, ela não vai jogar. Você a está confundindo com a irmã. - Aramis lembrou.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Não estou me confundindo! - Protestou. - Quis dizer, Parker comparecerá para torcer pelo time. Eu sei que quem joga é Robyn, e não Parker.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Não digam esse nome perto de mim. - Aramis grunhiu, com uma expressão de desagrado, a que os outros estouraram com risadinhas.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Bem, de um jeito ou outro, ótima notícia quanto a Parker, não? - Max pousou a mão fraternalmente sobre os ombros de Daniel. - Se soubesse o quanto gosta de você, não perderia tanto tempo com...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Escuta, você só tem quinze anos, cara. Se Daniel precisasse de conselhos, compraria livro fajuto de autoajuda ou então faria a coisa certa e pediria orientação ao Padre di Sofia, então poupe-nos de... - Aramis lutou pela última palavra.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Vá se foder e se meta com sua própria vida. - Max devolveu. Mais gargalhadas, e a soma de Parker mais as brincadeiras dos colegas acabaram por restabelecer saudavelmente a completa formatação do feliz mundo de Daniel, antes da morte da mãe. - Filho da puta, você passou o ano letivo inteiro copiando os gabaritos de minhas provas!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- E qual é o mal disso? Se existe um otário disposto a estudar para me fornecer as respostas de mão beijada, por que eu teria de estudar?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Porque não o terá pelo resto da vida. - Daniel respondeu por Max, com razão. - Não há mal algum em levar essa fase na brincadeira. - Deu com os ombros e, numa linha de raciocínio mais prudente e pesarosa, explicou. - Posso ter quinze anos, mas sei que sentirei falta, uma vez que a festa acabar. Aproveite, Aramis. Apenas saiba que tem exatos dois anos de brincadeira. Logo precisaremos cair na real... - Franziu o cenho, compreensivo e ligeiramente preocupado com a inocência do amigo.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Professor di Sofia disse "<i>Olá!</i>" em bom som, mas apesar de o terem escutado, cada grupinho metera-se demasiadamente nas suas próprias confabulações para lhe dar imediata atenção. O professor bateu palmas e assoviou, até que foram, sem pressa, virando-se para a frente, com relutante curiosidade quanto ao que o adulto tinha a falar. Daniel deu um tapinha nas costas de Aramis e pediu que os amigos voltassem a seus lugares, pois "<i>consideraria</i>" o pedido com carinho. Podia até mesmo se ver repassando a história a Gladys, mais tarde, e a avó o censurando implacavelmente com vergonha e culpa "<i>Você tem de ir, não pode fazer tamanha desfeita com seus colegas!</i>".</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Atenção, galera, sei que estão cansados e focados nos Jogos de Praia! - Declarou, abrindo os braços, em constatação. - Não temos muito tempo até as provas finais, então vão ter que se acalmar um pouco! Prestem atenção na aula, haverá três questões de regra de três no exame! Prometo liberá-los mais cedo; entretanto, por ora, deixem-me fazer meu trabalho, sim? - di Sofia deslizou a tampa do estojo, quebrou um giz ao meio e se dirigiu ao quadro negro para começar, quando Aramis levantou a mão. Com uma careta de quem desconfiava que o moleque aprontaria alguma, di Sofia deu-lhe abertura. - Sim, mocinho, o que quer<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Escute esta, turma, eu mesmo bolei: - Sequer iniciara a piada, a rapaziada já levava as mãos às bocas, contendo as risadinhas, imaginando a graça por vir. di Sofia abaixou a cabeça e a sacudiu negativamente, também sorridente. - Imaginem só:<i> professor di Sofia tá no confessionário, quando chega uma gostosa e diz que deu para o namorado e para o mecânico. 'Filha, você não se contenta com um só parceiro?', professor di Sofia pergunta. Ela responde: 'Você sabe como são as coisas, padre... Sou muito... Como é mesmo o termo? Volátil, isso'. 'Não, filha, o nome é volúvel, e não volátil', o professor di Sofia a corrige. Dois dias depois, essa sem vergonha tá de volta, afirmando: 'Dei para o padeiro e o carteiro, mas o senhor sabe como é... Sou muito... Como é mesmo o nome? Volátil'. E o professor: 'Volúvel, filha. A palavra que procura é volúvel'. Dois dias mais tarde. Adivinhem só? Essa vadia basicamente se materializa no confessionário: 'Padre di Sofia, eu trepei com o pai da minha melhor amiga e o cara que deixa o leite. Você sabe como é... Sou muito... Qual o nome mesmo?'. E o professor di Sofia: 'Puta, filha. Você é uma puta safada'. </i>- A sala veio abaixo sob gargalhadas. Brincadeira acerca do sacerdócio do querido professor: a rotina começava a parecer cansativa, mas jamais cessava de emular gargalhadas, até mesmo pelo fato de o professor levar na gozação. Não por menos, era o professor predileto, uma presença luminosa nas vidas dos alunos daquele colégio e das crianças do orfanato que dirigia. Professor di Sofia detinha a alegria de viver e o amor ao Senhor numa carismática soma, não vista desde <i>Venerável Fulton Sheen</i>! Apesar de aceitar a piada, havia o preço a se pagar por tamanha ousadia.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Ótimo, filho. Agora você já pode se dirigir para a coordenação, por favor. - Fazendo um movimento com a cabeça, indicou a porta. Antes de deixá-los, Aramis subiu no plano mais superior sobre o qual os professores davam aulas, e curvou-se para receber os aplausos, como um autêntico artista. - Vamos ver se ele vai contar para os pais que foi expulso da sala com essa mesma marra.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Os ânimos foram se acalmando. Professor di Sofia introduziu: '<i>Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém. Inspirai, Oh Senhor, as nossas ações e ajudai-nos para realizá-las, para que em Vós comece e em Vós termine tudo aquilo que fizermos por Cristo Senhor nosso, amém. Santa Maria Mãe de Deus, rogai por nós. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém</i>'. Agora, os jovens estavam serenos e inspirados, repetindo com devoção a oração puxada por professor di Sofia. Daniel sempre achava lindo o fato de di Sofia começar as manhãs com a prece em grupo, na sala. Então, o professor abordou a matéria. Houve um instante único, enquanto o professor diferenciava grandezas direta & inversamente proporcionais, quando, ao olhar novamente distraído para a saída, deu-se que Parker o observava há um tempo. Uma sensação de susto e felicidade anunciou-se bem no pé da barriga, como se lhe faltasse chão. O coração deu um salto, uma breve, benigna extra sístole que só uma poderosa emoção tinha como estimular. Ela não precisava vocalizar o quanto sentia pela morte da mãe de Daniel. O sorriso intimidado comunicava a mensagem de indubitável modo. Daniel meneou discreta e levemente com a cabeça, agradecendo. Era óbvio que precisavam - e queriam - conversar, contudo, por razões tolas, vinham deixando as oportunidades passarem. A menos de quinze minutos para meio-dia, conforme prometido, di Sofia os liberou. Max chegou a Daniel e se despediu pelo resto do dia:</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Se não o virmos nos Jogos, compreenderemos. Apenas prometa que considerará a possibilidade. - E então, como um irmão mais velho o teria feito, passou as mãos nos cabelos para bagunçar o penteado.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Daniel foi recolhendo os livros e caderno da carteira para a mochila, tentando avistar Parker por sobre os ombros de colegas, os quais o abordavam a caminho da porta pelos mesmos motivos de Max. Ele deve ter permanecido por mais uns dez minutos ali, pois logo a sirene anunciou definitivamente meio-dia, quando os alunos das outras salas e séries também foram liberados, levas e levas de jovens formando a feliz manada que começava no andar mais alto, o terceiro, e descia ao longo das escadas e corredores vazados, rampas de acesso na verdade, de onde se enxergava o restante do bloco. As salas eram muito arejadas e brancas, o campinho de futebol de salão, visível de outros pontos do prédio educacional, o maior bloco. No prédio de ensino, situavam-se a biblioteca, refeitório, cozinha, a praça de convivência no átrio central, espaços de inclusão digital e áreas para exposição de obras de arte e trabalhos artísticos. Era uma elegante unidade educacional, parecida a uma gota de tinta na tela branca que seriam as dunas naquela região essencialmente praiana. Os alunos desciam no sentido do portão principal como uma incontrolável avalanche de alegria. Daniel acreditou que seria o último a deixar. Ao vestir a mochila nas costas, deu conta do professor, sentado à mesa com a lista de chamada em mãos, batendo-a ritmicamente na borda, o terço enrolado numa das mãos.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Oh, professor. Não havia me atentado!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Como você está<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Aproximou-se, realmente não querendo soar intrusivo. Não havia jeito para abordar a questão, a não ser diretamente. - Leva tempo, você sabe.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Melhor. - Ele respondeu, sem verdadeiramente acreditar em estar "</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i><span style="font-weight: normal;">tão melhor</span></i></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">" assim. - Procurando melhorar. Sem pensar longe, com os olhos no agora, para saber onde piso. Não quero dar nenhum passo em falso.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Isso. - Silêncio. di Sofia parecia ponderar, mexendo com um pedaço de giz entre os dedos. Ele então levantou o rosto e continuou, as expressões iluminadas por aparente e súbita ideia. - Bem, imagino que vá aparecer para os Jogos de Praia.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Sim, sim. - Deu com os ombros, com bom humor. - Estão a me amolar para aparecer! - Os dois riram.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Ainda em dúvida? Mesmo sabendo que Parker comparecerá? - Mais risadas. Agora, o enrubescido Daniel entregava o sentimento "<i>secreto</i>" por Parker, escrito no rosto corado.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Mas que diabos, até você sabe?!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Olhe, não quero desapontá-lo, mas todos sabem desde aquela festa surpresa no laboratório de química! - E o professor tinha razão. Os companheiros entoando "<i>Com quem será?</i>" e respondendo com o nome de "<i>Parker</i>", no ano anterior, 1994, deixara forte impressão para mesmo hoje deixá-lo ligeiramente encabulado. - Ela se sente semelhante em relação a ti.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Eu não teria tanta certeza. - Discordou, com uma expressão cautelosa.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Bem, eu acho que ela gosta, sim, e se me perguntar por quê, acho que por ter mais idade que todas as de vocês somadas, e enxergar coisas que aos 15 anos não conseguimos... "<i>ler</i>", por falta de um termo melhor. - O professor pousou as mãos sobre os ombros do rapaz, e fez questão de lhe lembrar. - Mas, sabe, mesmo que ela não se sinta assim, a verdade é que as emoções não são tão importantes.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não são importantes?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não. Gostei do termo que usou, "<i>nenhum passo em falso</i>". Venha, vou lhe explicar.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">As esquadrias das cortinas de vidro oscilavam ao toque da brisa morna, mais abaixo. O professor o encorajou com um ligeiro tapa no braço e pediu que o acompanhasse para cima. Subiram as rampas, o colégio praticamente vazio. Na cobertura, subiram as escadinhas a levarem ao ponto mais alto. Ali fora, a vista do espaço circundante era esplendorosa, a sensação de liberdade incomum, realçada ao sabor do cálido início de tarde. Sobre o concreto, a sombra engrandecida tremulante da bandeira do estado de <i>Jersey </i>fazia ondas que pareciam mágicas, uma miragem produzida pela refração da luz solar temperada pela altíssima temperatura.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Professor, por que falou assim sobre... - Ia começando. di Sofia o interrompeu.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Isso, sobre as emoções. Eu disse que não são tão importantes, especialmente quando confrontadas com as coisas permanentes, fundamentais. Muito embora eu ache que Parker sinta tamanha emoção por ti, lembro-o de que as emoções não são as colunas sobre as quais quererá erigir sua vida.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Como assim?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Seus fortes sentimentos por Parker fazem-no crer que não haveria um maior bem do que tê-la como namorada. Mas o namoro é algo mais. - O padre olhava para o mar, à distância um borrão aquoso azulado indo ao encontro do abrasivo branco que era a praia. Ele encarou o rapaz. - O namoro é o tempo da concórdia. É o tempo de você e Parker colocarem o coração no mesmo lugar. Ou seja, concórdia é isto: coração no mesmo lugar. Se vocês pretendem um dia se casar, devem ter os corações nas mesmas coisas, as coisas importantes, as coisas que verdadeiramente importam.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu me sinto tão bem na presença dela.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu sei, e é ótimo; porém o namoro não é somente um tempo de diversão. O namoro é uma viagem com um objetivo. Se você sabe onde quer chegar, não vai se perder no caminho, não vai dar nenhum passo em falso. E o mais importante: você não correrá riscos de se machucar. O namoro é tempo de amor, mas o contrário do amor não é odiar. O oposto do amor é usar e jogar fora. Disto, depende não somente a sua salvação. Disto, depende o destino eterno, a salvação, da sua esposa, dos seus filhos, da sua família. De tudo o que fizer a partir daqui. Então, vamos lá. - di Sofia lhe deu um tapa camarada no peito, encorajando, e o virou com a mão no ombro no sentido do mar, para que o visse tão lindamente. Ele finalizou: - Medite na verdade, meu filho. Estude, reflita. Comece já jovenzinho a preparar sua viagem para o céu.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Obrigado. Obrigado, padre di Sofia. - O rapaz balbuciou, os olhos cheios de lágrima. De repente, deum uma alta risada ao reparar que era a primeira vez que se referia à pessoa do professor como "<i>padre</i>". di Sofia riu também - Sentirei sua falta quando o ano letivo terminar.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Vocês passarão para o segundo ano, porém permanecerei indo e vindo entre o colégio e o orfanato. Velhos professores como eu sempre estão por perto. Não mais como professor, mas como amigo, ao menos eu espero. Hoje, tenho meus alunos como amigos, e os meus ex-alunos, como amigos e filhos espirituais. É quando essa gente chega casualmente, após tantos anos, para conversar em um supermercado, por exemplo, para me falar que estão matriculando os filhos pequenos no mesmo colégio, que eu tenho noção de há quanto tempo estou fazendo isso!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Seguiu-se uma pausa, a quietude servindo para sedimentar o significado de um diálogo tão breve e importante. Sobre a cobertura, viam a envergadura do grande estacionamento, quase deserto, não fosse por meia dúzia de carros de professores, ainda nas imediações para adiantar a correção de exames. A brisa chicoteava suas roupas, em especial a batina de professor di Sofia, e fazia um uivo em iguais medidas triste e tocante. Embora refrescante em cima, o abrasivo sol do meio-dia castigava a terra. Daniel deu um abraço no professor e desceu correndo as escadas. Ao passo que a malha viária atingia o ápice para os lados de <i>downtown North Cape May</i>, ali, um terreno elevado a encimar a porção mais nativa da praia antiga, só havia prédios comerciais menores de cortinas de aço abaixadas, calçadas ainda preservadas em charme e beleza, e ruas muito largas, tudo mesclado a uma aura de glória do passado, agora que novos tempos haviam empurrado a sofisticação e o glamour para os lados de <i>downtown </i>ou para a praia nova. Daniel pedalava sossegadamente em direção à caserna das cancelas, quando Parker a deixou e encostou-se à guia. Daniel sorriu e traçou meio círculo, parando ao lado da colega.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Olá, Parker, tudo bem? - Perguntou, tentando soar como cavalheiro.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Finalmente chegou. Esperava por você, seu tolo! - Daniel deu um sorriso inseguro e surpreso. Ela explicou: - Ouvi falar sobre quão maravilhoso é descer pela pista principal, ao lado do bondinho. Sei que faz esse caminho de volta para casa ao meio-dia, não?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Não há nada melhor. - Elogiou, apoiando os braços sobre o guidão. - Um pouquinho assustador, também, porque, se olhar para o leste, verá o penhasco em curvas até nivelar com o mar. É uma vista incomparável justamente porque, de onde estamos, parece muito inclinado. E quando se faz a curva para downtown, há um último instante quando começamos a deixar a parte alta que dá o famoso friozinho na barriga. Eu só o sinto em duas circunstâncias.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Uma, quando desce de bicicleta, e a outra... - Parker foi citando, baixinho, com um olhar penetrante. Ela o pegou desprevenido.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- A outra, quando você me surpreende com tanta beleza que me tira o fôlego. Eu estou feliz que esteja aqui. Suba. Sempre é tempo de conhecer a descida pela via de entrada!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Daniel e Parker cruzaram as ruas muito arborizadas e tranquilas a uma velocidade moderada, entretidos com o momento. Ela o segurava com os braços ao redor da cintura, e a sensação de intimidade era sensacional. Sentia que seria o garoto mais feliz do mundo, se o passeio tivesse como durar mais; se, em vez de deixá-la saltar em downtown <i>North Cape May</i>, seguisse pedalando, Parker sempre às costas, braços o cercando na linha de cintura, por um longo, longo percurso, que durasse a tarde inteira, e talvez terminasse apenas quando atravessassem o sinal de <i>Elizabeth</i>, o lugar onde efetivamente se reencontrariam quinze anos mais tarde, como dois adultos. "<i>Preparada</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>?</i></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">", perguntou, ao frear a bicicleta no alto da avenida de acesso. Parker o apertou mais forte, os dedos de Daniel fechando-se nos espaços entre os nós. Rajadas fortes de vento golpeavam suas faces, e vários estilos de azuis, todos claros, balanceavam-se em tons harmoniosos no céu de uma inesquecível tarde em 1995. Conseguia escutar a balada suave e rítmica do </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>After 7</i></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">, "</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>Till You Do Me Right</i></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">", a romântica melodia para amores impossíveis de meados da década de 90. A recordação era tão real que, mesmo absorvido pelo sonho, lágrimas banhavam a face de um Legrand adulto, em 2010, a se recordar de tudo aquilo.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Daniel "<i>voltou</i>" a 2010 de maneira gradual, vencendo camadas e mais camadas de inconsciência até finalmente chegar a sua cama. Real que tivesse lhe parecido descer pela avenida, compreendeu que apenas revivera um dia há muito perdido. O ritmo de "<i>Till You Do Me Right</i>" permanecia nos ouvidos. Ao despertar, sentiu-se grato por ter vislumbrado uma porção da vida noutros tempos. Os olhos foram se abrindo. Além da enraizada dor no ombro sobre o qual adormecera, também sentia a presença de outra pessoa na cama, `as suas costas. Era um braço feminino, instalado sonolento no quadril. Ela o estudava com um olhar carinhoso. Daniel se virou e a viu, retribuindo a surpresa da companhia com um sorriso. Não se assustara, o que era impressionante. Mesmo depois de tantos anos, existia naturalidade entre os dois. Daniel estava curioso para escutar de Parker o que acontecia.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Parker</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - As pontas dos dedos tocaram o rosto de porcelana da atriz.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Liguei para Gladys, ontem, para saber do concurso, e ela me contou que pegara a estrada para <i>Cape May</i>. - Explicou, segurando os dedos do rapaz e lhes transmitindo calor. - Ela me contou sobre o hotel. Foi meio difícil ganhar acesso ao quarto, mas <i>ei</i>, as pessoas são fascinadas por atores e, pelo que eles me contaram, você já falou de mim. Esse hotel fica próximo a um lugar que significou muito.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Refere-se `a entrada antes da descida para a praia</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - A urgência fez de seus olhos turmalinas brilhantes pela força do marejar das lágrimas. Parker sacudiu afirmativamente a cabeça e se sentou sobre o colchão, com as pernas dobradas. - Porque eu acho que me recordei... Vi o colégio, vi o professor chamado di Sofia... - Começou a enumerar, cada descrição recebida com um sorriso crescente e confirmador por parte de Parker.</span> - Oh, Deus, parecia tudo muito real! A cobertura do colégio, o leito do mar à vista...</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Professor di Sofia, Aramis, Max, Robyn... - Ela foi nominando, enxergando muito mais adiante. - Os rostos voltarão mais facilmente se você não se precipitar, mas demorará a fazer sentido. Daniel, preste atenção... - Parker segurou as mãos dele. Agora, estava completamente desperto. O rádio relógio indicava dez para as seis da manhã. - Gostaria que não se aventurasse por <i>Cape May </i>sem mim. Se você se lembrou de um dia de 1995, então certamente me encontrou naquelas imagens...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim. - Concordou, passando as mãos sobre o rosto lívido. - Você se recorda da primeira vez que descemos a ladeira?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Recordo-me de como me senti segura às suas costas. Recordo-me da maneira que a luz do sol desenhou um traçado em seu queixo, na tarde na qual vencemos a grande descida. Você e eu ficamos `a beira da encosta... - Parker apertou o queixo de Daniel e o aproximou de seu rosto. - E nos beijamos pela primeira vez. - As bocas se conectaram, permanecendo por um tempo saboreando-se, sem que o dia que apontava por entre cortinas frustrasse suas pueris intenções de fazer o resto da madrugada durar.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br />A mala de Parker fora deixada num canto, entre um dos pés da cama e a sapateira em madeira maciça. Ela trouxera roupas, preparada para ficar com Daniel pelo tempo que ele resolvesse permanecer em <i>Cape May</i>. Depois do banho, Daniel vestiu as roupas leves compradas na tarde anterior. Os dois se deram o agrado de passarem um tempo, não mais que meia hora, abraçados, assistindo através da moldura da janela à rapidez com que a manhã ganhava ânimo de dia útil. Não custou, o rumor de vozes e motores deu ao mágico momento da transposição de madrugada para dia o familiar rosto da vida deliciosamente ordinária. De mãos dadas, o casal foi tomar o café da manhã. Parker não imaginaria que os seus filmes "<i>difíceis</i>" eram admirados por aquela gente, e embora apreciasse <i>North Cape May</i> por conseguir misturar-se sem dificuldades aos cidadãos, apreciou o contato com o pessoal familiarizado com seu trabalho. Era fascinante tornar carne e osso uma fantasia que, pelo menos para os membros da <i>staff</i>, até então, representava inalcançável mistério.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Daniel e Parker deixaram o hotel com planos de aproveitarem a segunda-feira de uma maneira suave. Parker queria levá-lo a um passeio por <i>North Cape May</i>. Quanto menos adiantasse sobre os lugares, melhor, pois talvez as lembranças viessem a seu tempo, em vez de ela o bombardear com novas informações que não fariam muito sentido, a não ser que brotassem naturalmente do próprio Daniel. Antes de subirem para a estação de embarque na interseção entre <i>Washington </i>e <i>Jackson Street</i>, compraram uma bisnaga de protetor solar e dois pares de óculos. Subindo pelas calçadas de mãos dadas, sentiram-se incrivelmente transportados para aquela tarde em 1995, o ardor da manhã rivalizando com a força do calor que emanara do piso da cobertura do colégio, na recordação da noite anterior. Parker quis apresentá-lo a um canto de onde se viam os pássaros migrantes. Cerca de quatrocentas espécies de pássaros haviam sido documentadas na região. O bondinho era tudo de que precisavam, pois circulava pelo entorno dos pontos turísticos que ela tinha em mente. Desembarcaram na estação do parque. Às dez e meia, o gramado recentemente molhado, requentado pelo sol, recebia-os como um ente vivo, volitivo, um tapete exuberante cujos humores variavam ao toque do vento. Desceram por uma trilha de pedrinhas brancas ladeada por canteiros de margaridas de grandes coroas. Sobre os galhos das árvores, passarinhos amarelos trinavam, e Daniel gostou de fantasiar que o faziam especialmente para recebê-los. Espalhadas pelo gramado, sob sombras, famílias realizavam piquenique.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">O observatório consistia num amplo arco cujo chão era formado por tábuas lustradas de madeira, e elas cheiravam a óleo de cedro. Era uma torre tão alta que se podia tocar os ramos das árvores mais frondosas, e, quando o vento avivava mais forte, segurar os galhos. Pássaros de cores heterogêneas saltavam e se bicavam ao alcance dos dedos dos visitantes. Crianças arremessavam punhados de alpiste, e os passarinhos desciam em espiral às tábuas para pôr-se a brigar pela ração, mesmo havendo comida suficiente para muitas revoadas. Parker observava as crianças com uma serena expressão de empatia, e então procurava por Daniel, que parecia sempre preocupado com o bem da companheira. Ele a abraçou por trás, e ambos se encostaram ao parapeito, um sistema de treliça de madeira. Um guia do parque discorria sobre o movimento migratório dos pássaros através das mudanças de estações. Crianças tinham mesmo uma <i>senhora </i>criatividade: um garotinho perguntou por que os bandos tendiam a voar em formação de "<i>V</i>". Mesmo Parker e Daniel esperaram pela resposta, pois jamais haviam pensado na questão! O moço lhe disse que o faziam por pura estratégia de navegação. Com a formação, as batidas de asa das aves à frente geravam deslocamento de ar e, portanto, <i>momentum </i>para as que viessem atrás. A resposta fazia sentido. </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Daniel e Parker uniram-se à área onde famílias realizavam piquenique, e se sentaram aos pés de uma árvore. Ao se sentarem, o farfalhar de muitas asas. Um bando repentinamente deixou o dossel das árvores, pareceu estacionar momentaneamente no ar, quando fez a correção para a direção do vento, e partiu para seu destino. Frente a frente, Parker tomou as mãos de Daniel e as deixou descansar no colo.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br />- Você está gostando? - Ela perguntou.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Não me arrependo de ter pegado a estrada para cá. - Foi a resposta de Daniel. - E o fato de você ter me encontrando tornou a visita melhor. Não sei o que fiz para merecer a atenção, mas farei o melhor para honrá-la. Obrigado.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Você é um homem bom. Eu me sinto grata por desfrutar de sua companhia. - Declarou, num tom que soou momentaneamente cheio de remorsos, a dor de quem sabia reconhecer nos valores de Daniel a grande importância, mas temia tê-los reconhecido tarde demais.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Em pouco tempo, tenho aprendido muito. - Devolveu, igualmente movido. Para atenuar a eletricidade, temperou com a brincadeira. - O único "<i>porém</i>": você está regulando a nossa primeira noite de amor, mas tudo bem, a espera a tornará mais importante! - </span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- A primeira</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Fingiu estranhamento. - Fizemos amor pela primeira vez lá atrás, nos anos 90!</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- E eu não me lembro, dá para acreditar</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Abraçou-a. Com o seu peso, fê-la cair de costas para a relva umedecida. - Fazer amor com uma "<i>alienígena</i>" vinda de uma galáxia tão distante!</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Bem, naquela época, faltavam muitos anos para "<i>Distant Lights</i>"! - Num impulso, foi sua vez de ficar por cima. Ela soltou os cabelos, que fizeram cócegas ao brevemente pincelar o rosto de Daniel. - Ei, eu estava apenas brincando sobre termos feito sexo nos anos 90! - Agora, os dois deram sonoras gargalhadas.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sinto-me melhor: odiaria desapontar padre di Sofia. As coisas lindas ditas sobre a seriedade do namoro, o amor, a concórdia. Sobre não usar, sobre o amor como finalidade. Olha, se for para obedecermos o padre di Sofia, agarração só para depois do casamento! - Comentou, nostalgicamente, e com bom humor. Apenas acabara de se recordar da figura daquele professor especial, mas o sentia tão próximo a sua pessoa que achou estranho. - Parker, padre di Sofia ainda vive? - Ela reagiu com surpresa à questão. Era óbvio que sabia a resposta; entretanto, esperava que estivesse claro para Daniel também. De sua boca, pareceu sair o começo de uma pergunta, como se quisesse indagar: "<i>Mas você não o reconheceu ainda?</i>". No último segundo, ela se segurou, sorriu e insistiu que não se apressasse. As respostas viriam. Daniel</span></span><span style="font-family: arial;"> a aproximou, com a mão na nuca, até acomodá-la a seu peito.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br />Os dois se desconectaram das demandas de suas vidas. Assim como aos turistas visitantes de<i> Cape May</i>, a pressa não existia. Por ora, não existia algo mais urgente que admirar a maneira como os raios de sol ultrapassavam a camada de copas das árvores. Qualquer pressa os faria perder a riqueza dos detalhes. Quando a tarde se avizinhou, voltaram no bondinho, e saltaram no calçadão na altura da praia. Parker tirou as sandálias, e Daniel os chinelos. Os dois correram para o quebra-mar com o ânimo de <i>quarterbacks </i>numa partida decisiva. Jogaram-se de mãos dadas às marés e foram engolidos pelas espumas feitas pelas ondas ao apanharem em cheio a linha da praia. O mundo, por vezes, parecia refrescante e delicioso ao se envolverem num abraço sob a água, por outras vezes, ficava abrasivo e cheio de vida ao emergirem para recuperar fôlego. De qualquer forma, não se lembravam de terem sido tão felizes quanto o eram agora. Os restaurantes da enseada, ocupados, produziam uma maravilhosa sensação de segurança e celebração. Daniel e Parker atravessaram a rua e retornaram para o hotel.</span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Existia tanta verdade nos conselhos de Padre di Sofia que o fato de Daniel ter se recordado de sua ensolarada e importante presença assumia contornos de uma operação da providência divina. Ele não teria hesitado em fazer amor com Parker, porém algo vinha trabalhando numa conversão dentro de si. Deitado com a atriz na cama do quarto, com Parker descansando a cabeça sobre seu peito, soube o quanto gostaria de caminhar pela estreita, mas recompensadora via que Padre di Sofia lhe preparara, aos quinze anos, ao vocalizar o quanto era tempo de preparar a escalada para o céu! A beleza das passagens trazia lágrimas aos olhos. Daniel a apertou nos braços e Parker lhe lançou um olhar inquisitivo. Ele murmurou: "<i>Não é nada, eu apenas te amo</i>", e ela sorriu, respondendo com uma interessante escolha a qual não rompeu o propósito da castidade de ambos, porém trouxe uma adorável proximidade e calor à forma como se entrelaçavam. Parker subiu um dos pés pela canela de Daniel, e o deteve ao tocar o pé do namorado. Ela os esquentava, seus pés nos deles. Legrand refletia sobre o discurso do professor, e somente uma hora depois notou que ela dormia. No rádio relógio, <i>Klymaxx</i> reiterava votos de amor numa linda rendição de <i>I'd Still Say Yes</i>. Seus pensamentos retornaram ao momento no qual mencionara Padre di Sofia, e ela se surpreendera perante sua pergunta, sobre se ele vivia. Era como se tivesse de saber da resposta, mas como di Sofia seria uma parte atual de sua vida, quando não conseguia vê-lo? Ou o via sempre, apenas não o reconhecia por quem ele verdadeiramente o era, o professor do colégio em 1995? Com esses mistérios interessantes, foi sendo levado ao sono. </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"> <br />
<span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Daniel acordou no finalzinho da tarde. O cansaço dos estudos dos meses anteriores e a correria do passeio daquela manhã haviam mostrado seu peso acumulado. Beijando-o um pouco abaixo da orelha, Parker recomendou: "</span><i>Durma um pouquinho mais. Tenho que dar uma saída, mas volto para apanhá-lo para o jantar</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">". Ela deixou a cama e se trancou no banheiro. Minutos depois, Daniel pôde escutar a ducha no box. Esfregou os olhos e bocejou, alongando a espinha ao se levantar. Ele redobrou as vestes cobrindo-se com o lençol para se proteger do frio que sentia e, escondido por entre cortinas semicerradas, estudou o modo como o dia cheio de aventuras ia embora sem queixas. Calculou que, `aquela hora, Giro devia ter ligado para casa procurando por ele, e Gladys lhe contara sobre <i>Cape May</i>. </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Empurrou a porta e a encontrou se enrolando na toalha. Abriu a torneira e enxaguou o rosto.</span></span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span><div class="MsoNormal">
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Volte a dormir, querido. Eu prometo não demorar. – Parker insistiu, ajoelhada ao lado da mala para apanhar roupas limpas.</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span><span style="font-family: arial;">- Para onde vai? - Perguntou, sentando-se na cadeira da escrivaninha.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span><span style="font-family: arial;">- Ver a Robyn. - Respondeu. Daniel se lembrou do sonho, da menção rápida ao nome de Robyn. - Ela ficará em <i>Cape May</i> por uma semana. - Ia seguir com os comentários detalhados, até se ater que ele não se recordava. Ela descansou o queixo sobre o joelho de Daniel e "<i>reduziu a marcha</i>". - Desculpe, querido. Robyn é a minha irmã. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span><span style="font-family: arial;">- Eu sei. - Ele disse, e Parker empertigou a cabeça, interrogativa. - No meu sonho, ou melhor, na lembrança, um dos meninos mencionou esse nome. Ela fazia parte... De um time de esportes<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span><span style="font-family: arial;">- Sim. - Respondeu, admirada. - Que bom, querido, logo se recordará do restante. - Ela o elogiou, beijando-o no joelho e apertando o abraço `a perna como um bicho preguiça. - Para nós duas, nossa ligação a <i>Cape May</i> resume-se a nossos pais e passado. Robyn é psiquiatra do Hospital Monte Sinai de<i> Nova York</i>, e eu sou uma cidadã "<i>do mundo</i>". Pelo menos, até agora. - Os dois riram, e Daniel acariciou os cabelos dela. - Depois que te recuperei, preciso me aquietar! Não quero que escape <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">entre </span>meus dedos novamente!</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span><span style="font-family: arial;">- Oh, linda... - Daniel notou a pontinha de tristeza do comentário, e não a deixou passar desapercebida. - Por que sempre menciona que me deixou escapar? Não imagino que eu tenha sido tão estúpido de ter me afastado propositalmente. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span><span style="font-family: arial;">- Prometo não demorar, tudo bem? - Usou um dos joelhos como apoio para se levantar. - Vou levá-lo para jantar num excelente restaurante `a beira mar. Muito romântico, por sinal!</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span><span style="font-family: arial;">- Eu preferiria um caldo de feijão, e poderíamos comer aqui mesmo no quarto!</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span><span style="font-family: arial;">- Sabe, acho que conseguirei te convencer a comer fora! - Parker insistiu. Após vestir-se, deu uma volta para que a visse por completo. - O que acha?</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span><span style="font-family: arial;">- Você está fantástica. - Opinou, aplaudindo. Parker sentou-se sobre seu colo e o abraçou. - Volte logo, pois estou faminto!</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">No bar do hotel, </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">lindamente ornado, com um jardim suspenso em estilo italiano, e móveis de </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>design </i></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">propositalmente rústico e elegantíssimo, </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Robyn escrutinava seu drinque, pensativa</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">. Havia uma farta mesa de frios com variedades de doces e salgados, sumos que haviam acabado de deixar o serviço de cozinha, sucos e brioches. Robyn parecia examinar a carta de café, quando Parker empurrou a porta de vidro a separar </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>Lobby Bar</i></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">de </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>lounge</i></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">. Robyn tinha 32 anos de idade, era loira, e seu rosto anguloso de traços clássicos a tornava a personificação de uma virtuosa heroína de filmes românticos baseados em romances de<i> Nicholas Sparks</i>. Simultaneamente, sob a ilusão de fantasias emotivas, existia um elemento secreto e traiçoeiro, impossível de se pinçar</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">. Só foi dar pela irmã quando a atriz se aproximou para beijá-la no rosto. Allen Corliss, o marido de Robyn, chegou logo mais, e a maneira como aparentava pressa indicava sua preocupação com o atraso para o encontro. Allen era um juiz federal e importante jurista; conhecera Robyn por causa de Bill Cowan, o pai de Robyn, afinal pertenciam ao mesmo meio jurídico e ele o via como excelente partido para a filha mais nova, a sua cachinhos dourados, a quem chamara "<i>Goldilocks</i>" quando menininha. Elegante e cordato, fazia lembrar um "<i>jovem James Brolin</i>". Seu cavanhaque perfeito era de um preto intocável, mas as entradas começavam a mostrar cabelos grisalhos. O motivo da visita a <i>Cape May</i> era a semana jurídica, quando os <i>campi </i>recebiam alunos para uma série de palestras interessantes e pertinentes aos problemas da ciência do Direito. Robyn tinha outros motivos. Antes da cadeira de pesquisadora da ala de psiquiatria do hospital Monte Sinai de <i>Nova York</i>, trabalhara na Guarda Costeira, cargo conquistado logo após seu primeiro concurso, o mesmo no qual Daniel Legrand também figurara como aprovado, quase dez anos antes. Robyn tinha muitos amigos em <i>Cape May</i>. </span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">Robyn escutava a Parker falar com entusiasmo sobre os testes para o novo filme de <i>Ken Loach</i> em <i>Londres</i>, e sobre sua personagem <i>Marie Pasteur</i>, a companheira de <i>Louis Pasteur</i>, na cinebiografia cujas filmagens começariam a se engrenar no primeiro semestre. Robyn conhecia os motivos de Parker ter voltado para casa, e quando a irmã procurou contornar a questão, compreendeu que ela se sentia insegura ao falar de Daniel. Ela se esforçou para não explicitar a frustração, comprometendo-se a se comportar, mas quando Allen fez um comentário passageiro sobre o rapaz, Robyn teve de aproveitar a oportunidade para saltar na oportunidade:</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Você já o procurou, então? – Perguntou, girando sedutoramente o copo de whisky, as pedrinhas de gelo tilintando. Antes que Parker respondesse, Robyn deu um curto gole e continuou. – Depois de tantos anos, foi um milagre terem se reencontrado.</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- <i>Eu </i>o encontrei. - Ela fez questão de corrigi-la, mesmo que não parecesse mais necessário. - Daniel não se recordava de nada. Se eu não o tivesse procurado primeiro...</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- As pessoas dariam um braço para esquecer, querida. - Robyn comentou, esforçando-se para soar fria, mas falhando por dar sinal de passionalidade quanto ao assunto. Seus olhos encurtaram, enquanto sombras bruxuleavam no rosto por conta da elegante luz de vela. Allen parecia desconfortável.</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Robyn, por favor. - Allen procurou demovê-la, com certa discrição. Parker fez um tímido gesto com a mão, indicando que a deixasse continuar.</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Não, veja bem. - Robyn sacudiu a cabeça, a tensão superada. Ao explicar-se para o marido, também o fazia para a irmã. - Apenas não quero que Parker se machuque novamente. Você consegue me compreender, não é?</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Sim, sim. - Disse, os olhos fechados, meneando a cabeça com a eletricidade de uma pessoa inofensivamente magoada. Justificou-se. - Nós estávamos aos vinte e poucos quando nos afastamos, Robyn. Você não consegue enxergar quão pequenos eram nossos problemas, dez anos atrás? Não vê que eram plenamente contornáveis, se apenas tivéssemos nossas cabeças no lugar?</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- A vida não funciona assim. - Respondeu, com empatia e realismo. - Há uma razão para a maturidade vir com tempo. Talvez não seja prudente enxergar tão bem antes do momento certo. Você afirma que os problemas que os afastaram teriam sido contornáveis, porém como saber o desdobramento se tivessem efetivamente terminado juntos?</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Robyn, eu não conseguirei fazer isso sem você! - Lamentou, a voz subitamente assustada e insegura.</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- Eu sempre estarei ao seu lado. - Segurou o pulso da irmã e a afagou na maçã do rosto com o peito da mão. - Daniel está na cidade?</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;">- <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Tão fácil deduzir</span>? - Brincou, com os olhos cheios de lágrima, mexendo nos cabelos molhados, típicos a quem recentemente deixara o chuveiro. Robyn entendeu que Daniel não apenas se encontrava em <i>Cape May</i>, tinha Parker como companheira de quarto em algum hotel na praia. - Não posso me demorar. - Parker pôde enxergar o desapontamento nas linhas de expressão da boca de Robyn, e então emendou. - Escute, Robyn, você nem o reconheceria. Nem quis transar comigo esta manhã! - Anunciou, subitamente se dando conta das palavras pesadas e olhando para os lados com medo de ter se exposto. Aquilo eliminou a tensão, os três riram da situação. Ela continuou: - Ele está tão diferente... Falando de coisas como namoro como um caminho para o céu, família... Fala-me entusiasmadamente das coisas que o di Sofia costumava dizer quanto tínhamos quinze anos! Perguntou-me se o di Sofia tá vivo, acredita?</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Como assim? - Robyn custou a crer na profundidade da amnésia de Daniel. - O di Sofia não deixou tudo para acompanhá-lo com a avó?</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Pois é; entretanto, para um homem sem recordações, ele não consegue reconhecer di Sofia! Olhe, veja bem, </span><span style="font-family: arial;">nós programamos uma surpresa para Daniel, no bar do píer. A turma da Guarda Costeira, mais os amigos dos tempos de colégio.</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim, eu fiquei sabendo. - Robyn a surpreendeu. - Os velhos amigos da Guarda Costeira também são os meus, bobinha. Eu e ele começamos juntos. Fico feliz que tenha me incluído, mesmo que em cima da hora. - Ela brincou. Com sua peculiar elegância, Allen aproximou-se por trás de Robyn para cobri-la com o blazer lápis estilo europeu, preparando-a para partirem.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Para Daniel, Parker contou que o levaria para jantar num excelente restaurante na marina, e não chegou a mentir. Realmente, levou-o `a marina, porém Daniel se deparou com uma chocante novidade ao entrar no restaurante. Ele não fora levado a um jantar comum. De supetão, luzes foram acesas, e aplausos irromperam das mesas no terraço e no mezanino, numa recepção surpresa que não teria imaginado. Ligeiramente aturdido, tentou articular palavras de gratidão, mas os amigos - cujos rostos não conseguia ainda particularizar - foram abraçá-lo e felicitá-lo. Parker o conduzia, sussurrando uma ou outra explicação, exercendo o ofício que a memória falha não tinha como atender. Uma das últimas pessoas a chegar para cumprimentá-lo foi Robyn. Por um motivo o qual lhe escapava, sentiu-se eletrizado, e abriu um sorriso mais à vontade `a presença da irmã de Parker.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Acho que Parker deve ter falado de mim? - A voz também atiçou a impressão de familiaridade. A intuição ensaiava abrir cortinas para alguma verdade importante, mas Daniel não conseguia operá-la bem. Por enquanto, precisava contentar-se com a convicção de que Robyn fora tão importante que, mesmo não se recordando diretamente de sua função, o eco da participação ressoava nas muralhas que aprisionavam o passado em algum recanto distante na mente.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Desculpe se pareço meio desleixado. - Respondeu, preocupado. - Se não recuperar as minhas faculdades completamente, espero readquirir familiaridade com todas essas gentis e prestativas pessoas presentes. Imagino que tenhamos nos conhecido?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Trabalhamos juntos na Guarda Costeira, sim. - Contou, com a afabilidade </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">de quem acabara de se recordar de um momento bonito e secreto </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">no olhar.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Interessante, pois tive um sonho, e imagino que, na verdade, trate-se de recordação. - Por um motivo qualquer, sentiu a necessidade de confidenciar. - Uma lembrança de 1995. Vi o prédio do colégio, a praia, alguns amigos que devem estar aqui hoje. E um dos garotos a chamava pelo nome. E um campeonato esportivo entre colégios de <i>Cape May</i>?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim. - Robyn sorriu, abaixando o rosto, embaraçada pela referência a seus dias mais selvagens de adolescente. Logo se recompôs, e o ajudou a preencher as lacunas, com bom humor. - Eu fazia parte de tudo quanto era time. Você está se aproximando da verdade, <i>Danny</i>.</span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Espero não demorar muito a encontrar a verdade, sabe? Eu deixei vovó em casa, sozinha, e ela me preocupa... - Ia falando, aberta e inocentemente. - Deixou uma das bocas do fogão ligada, poderia ter...</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Nossa! - Robyn comentou, genuinamente surpresa.<br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Neste ínterim, chegou um jovem cavalheiro cujas laterais do cabelo detinham um prematuro grisalho, elegante em seu traje esporte fino: o terno azul-marinho beneficiava-se da ausência de gravata, dando-lhe o charme do despojamento. Os sapatos italianos marrons combinavam com o conjunto. Antes que se apresentasse, Robyn beijou o visitante na face numa intimidade de quem o conhecia há décadas, e concluiu o encontro:</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Nós nos falamos depois, então? - Ela convidou, e Daniel meio que balançou afirmativamente a cabeça, bastante intrigado com a montanha russa de pressentimentos incitados pela misteriosa moça. - Não se preocupe. Nós teremos tempo.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Ela os deixou. Sua caminhada era casual e à vontade, desenvolta como uma modelo ao longo da plataforma da marina, um lugar muito bonito, ainda mais deleitável ao sabor da noite no litoral, quando grandes lanternas eram iluminadas nos lados das principais passagens e caminhos. Os amigos presentes `a homenagem confraternizavam na ponte. Alguns tinham sentados nos bancos de madeira existentes em distintos pontos do píer; outros de pé, encostavam-se ao parapeito. Do atracadouro, chegavam as luzinhas de pequenos barcos ancorados. Daniel divertiu-se com o pensamento impulsivo de que adoraria deixar a vida para embarcar num daqueles e experimentar a vida de porto em porto, vivendo uma existência despreocupada e transitória. Enquanto assistia a Robyn se afastar, a memória lhe fez cócegas: há meses, talvez, despertara de um sono rindo e, não obstante não se recordasse do que pensara, ver Robyn lhe dera a estranha impressão de que fora algo envolvendo a irmã de Parker. O homem recém-chegado lhe estendeu a mão. A pressão no aperto lhe pareceu estranhamente familiar, sensação que lhe ocorrera tantos momentos naquela noite. De alguma maneira, Daniel soube:</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Max?</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Daniel. - Correspondeu o reconhecimento, com um tom agradecido e cortês. Não satisfeito em apertar as mãos do amigo, deu-lhe um abraço. - Então você se recorda</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- De um dia muito feliz e distante em 1995, ao menos. - Especificou, embargado pela emoção. - Um dia do qual você fez parte. Espero me lembrar do restante.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Quando eu o vi na televisão, no último Natal, repensei aquele tempo, como um filme passando diante de meus olhos. Havíamos perdido contato, mas talvez esteja dando um passo maior que minhas pernas. - Max sorriu, um sorriso resignado, quase triste, e explicou. - Há uma porção de detalhes para explicar o contexto de meu afastamento, e o fato de não se...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- É assustador. - Daniel confirmou, com um franzir de testa conhecedor. - Por causa das circunstâncias, minha vida começou em 2004, quando eu e vovó chegamos a <i>Elizabeth</i>. Ao longo desses últimos anos, involuntariamente, apanhava-me pensativo quanto ao "<i>antes</i>", principalmente quando me punha a caminhar pela passarela do mercado, no horário de almoço. E então, o avião correu para fora da pista, o que, de alguma forma, reacendeu o desejo de investigar, de compreender melhor de onde vim.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ficará em <i>Cape May</i> por muito tempo</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu preciso conversar com Parker a respeito. - Esticou o pescoço, procurando encontrá-la, sem sucesso. - Eu terei de retornar amanhã. Eu tenho uma vida em <i>Elizabeth</i>, e a deixei para trás sem dar satisfações. Preciso pôr a casa em ordem, antes de regressar outra vez.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sem dúvida. - Max apanhou dois copos de refrigerante de um dos garçons. Entregou o copo a Daniel, e o convidou a acompanhá-lo ao mirante. Dentro de meia hora, estariam voltando ao restaurante, ao jantar em sua homenagem, e sentiu que não haveria melhor oportunidade para conversarem abertamente.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Ao olhar por sobre os ombros antes de deixar o cais, Daniel ficou feliz ao enxergar Parker dando gargalhadas numa roda de colegas. Ali, havia mais amigos de Robyn do que dela. Por mais que os conhecesse, a maioria compunha-se de companheiros da Guarda Costeira, atuantes nas vidas de Robyn e Daniel, mas não na da atriz. Daniel cruzou os braços, o frio inflamado pela súbita brisa avivada pelas ondas quebrando contra as colunas de sustentação. Max caminhava poucos passos à frente, parando sob o manto projetado pela lâmpada do poste, defronte a um banco. A estrutura do mirante parecia vibrar ao golpe das ondas, denunciando dezenas de junções de madeira cujos parafusos deviam se encontrar parcialmente corroídos pelo tempo.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não podia deixar de vir vê-lo, por mais que acredite que pareça estranho. - Max adiantou, quase tirando palavras da boca de Daniel, o qual respondeu com uma expressão de aliviada surpresa. - É importante que reencontre os amigos, mas o fato de não se recordar justifica que façamos essa abordagem mais calmamente. Espero que nós não tenhamos te assustado! - Referiu-se `a festa, abrindo os braços em direção ao restaurante, relativamente afastado do mirante</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eu fiquei encantado. - Elogiou. - Sim, não estava pronto para assimilar tanta informação, mas suponho que tenha de começar de algum lugar. - </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Nesse ínterim, pegadas na estrutura chamaram a atenção da dupla para a pessoa a aproximar-se a passos rápidos. Era Mac. Com a sua chegada, reviviam a camaradagem daquela manhã de 1995. Faltava apenas Aramis, o que deu a Daniel a ideia de indagar: - Mas onde está Aramis?</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Mac não os escutou. Chegou com algazarra, abraçando Daniel, o volume da garrafa de champanhe machucando suas costas por causa da força com a qual o abraço foi dado. Daniel não teve como deixar de notar o desconforto no rosto de Max. Era lógico que fizera uma pergunta cuja resposta ele preferiria não fornecer. Soube que algo ruim acontecera ao amigo que uma década e meia antes o fizera rir tão facilmente. Abraçado a Mac, encarava Max, ambos se entendendo pelo olhar. Max meneou negativamente a cabeça, com a lentidão do choque que também adormecera suas pernas, e Daniel fechou os olhos, pesaroso. Por enquanto, Max dissera o suficiente. Novas pegadas, mais leves, e os amigos viram Parker e seus saltos, descendo cuidadosamente os três degraus para a rampa a levar ao mirante. Mac abriu espaço para que a atriz fosse aos braços do companheiro. Daniel observou as estrelas, muitas delas, naquela noite de promessas e mistérios. Procurou rememorar a última vez que se sentira semelhante: feliz, mas contraditoriamente angustiado, o peito pressionado por expectativas. Parker descansou a cabeça no peito dele, e Daniel pensou na arte do pôster de "<i>Distant Lights</i>", o rosto de Parker, com um olhar enigmático, mesclado a uma noite de estrelas muito cintilantes e coloridas, tais quais as observadas agora.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">A noite transcorreu consoante Parker pretendera ao pôr em ação a surpresa de última hora. Daniel e Robyn cruzaram olhares por três ou quatro oportunidades - ela se sentara numa mesa próxima ao palco onde uma banda de <i>blues</i> animava a festa, Daniel distanciado, mais para o lado da fachada translúcida, os dois meios separados pelo muro verde onipresente projetado pelo paisagista que, ali dentro, ambiente de ar condicionado, dava ao lugar requinte, garbo. Parker conversava com amigos sentados `a mesa e, do mezanino, Max observava a dinâmica de tudo, eventualmente mexendo com sofreguidão o copo de whisky, triangulando as diversas variáveis envolvidas no retorno de Daniel a <i>Cape May</i>, envolvidas em se mexer num </span></span></span><span style="font-family: arial;">passado cujas peças começavam a se combinar para criar retratos de instantes reais e longínquos, imaginando como ajudá-lo. De certa forma, Max pensou, não havia comparação mais apropriada. Daniel era o homem que precisava montar o quebra-cabeça, uma imagem tão rica e complexa como a reprodução de um artista para a batalha de <i>Waterloo</i> e, `a sua frente, existia um mundo de peças. Daniel tinha entre o polegar e o indicador uma apenas - o dia em 1995 ao qual fizera menção - e precisava agregar as outras informações ao dia, a partir dali. Se um quadro magistralmente executado saltava aos olhos por abrir um viés a um mundo de detalhes, um mundo de sombras, efeitos e perspectivas, o mesmo valia para a jornada de Legrand, de </span><i style="font-family: arial;">Cape May</i><span style="font-family: arial;"> para </span><i style="font-family: arial;">Elizabeth</i><span style="font-family: arial;">, e agora de volta.</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">A banda trocou o blues por baladas românticas, e começou com "<i>Rock me tonight for old times sake</i>", de <i>Freddie Jackson</i>. A garota que defendia a letra realizou uma rendição que soou agradável aos ouvidos. Antes que Daniel tirasse a namorada para dançar, Mac cruzou o salão e estendeu a mão convidativa para Parker, com um sorriso divertido. Mesmo tantos anos após o colégio, ainda era o mesmo brincalhão, Daniel pensou, com carinho. "<i>Vai lá, querida</i>", o namorado a incentivou, e Parker concedeu-lhe a dança.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- É a única oportunidade que o cara tem para ficar com uma mulher. - Brincou, apontando para Mac.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- É, mas é com a sua mulher com quem fico, seu arrombado! - Mac devolveu, e os quatro deram sonoras gargalhadas, Daniel dando tapas nas coxas, de tão animado.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">A maioria dos convidados foi se divertir na pista. Daniel preferiu permanecer na mesa. Ali, a ficha caiu quanto a sucessão caótica das transformações. Se antes se perguntara até quando a vida permaneceria na inércia do tédio de <i>Elizabeth</i>, agora os eventos se sucediam a uma velocidade tal que era imperativo dar um passo para trás e analisar as diferentes situações apresentadas. Acompanhando o ritmo da balada romântica com as batidas dos dedos na mesa, Daniel voltou a olhar para o lado da mesa de Robyn. Ela o observava. Ficaram dois, três minutos, encarando-se à distância, ambos movidos pela emoção e pela letra triste da música "<i>Where you Are</i>", de <i>Whitney</i>, numa rendição mais lenta que, nas cordas vocais da garota da banda, não fazia feio perante a versão oficial. Então, a conexão visual foi quebrada quando Legrand viu Max descer do mezanino. Obviamente, desejava conversar. Com a urgência do tempo, sabia que aquilo era uma útil janela de oportunidade. Daniel precisava partir na manhã seguinte, e chegaria um pouco depois do meio-dia, ou seja, mais um dia de trabalho perdido. Giro e Gladys deviam estar aguardando ansiosamente pela sua ligação.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Olhe, retornarei amanhã para casa. - Quando Max se sentou no lugar anteriormente ocupado por Parker, Daniel foi ao ponto. - Fique com meu número e e-mail. - Ele lhe entregou um pedaço de papel dobrado. - Eu apreciaria contar com sua ajuda.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Pode contar. - Já se voluntariou, examinando o papel num segundo antes de dobrá-lo para guardar no bolso da camisa. - Se eu prestasse uma visita a <i>Elizabeth</i>, você...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Oh, seria uma satisfação. Você me ajudaria bastante. - Daniel respondeu, com urgência no tom. - Aramis está morto, Max</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Não havia modo de ser mais honesto, e Max respondeu com o olhar de quem havia acabado de levar um golpe nos rins.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Aramis morreu algumas semanas após seu acidente de 2004, correto. - Foi a resposta, igualmente sem protelações. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- O que aconteceu</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Moveu com a cabeça, como que buscando "<i>sintonizar</i>" uma faixa, uma sintonia, na verdade sua intuição.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Aramis morreu estupidamente numa briga com um rapaz que estudou conosco, na saída de uma festa, por conta de algo que teria dito `a namorada do cara. - Escancarou a brutal realidade, dobrando sem razão alguma o guardanapo à frente. </span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">A balada romântica terminava. Do salão, risadas de casais satisfeitos. Parker logo retornaria à mesa. - Ele estava no lugar errado, hora errada. - Suspirou. - Escutará novamente de mim, amigo. Apenas fique no aguardo. - Ia deixando a mesa, quando Daniel o segurou pelo cotovelo, para uma última pergunta. </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- "<i>Simone di Sofia</i>". - Atirou a isca, sem acrescentar explicações, apenas para testar a reação. Nas expressões acendidas do rosto, as mesmas de quando perguntara por onde andava Aramis. Havia mais uma história por trás do nome. - Uma mulher se apresentou por e-mail, um tempo após a notoriedade por causa do resgate no aeroporto, e não custou a ela ganhar uma voz, pois começou a entrar em contato por telefone. Um amigo meu de <i>Elizabeth</i>, Suntee, verificou que uma menina com esse nome realmente existiu, em <i>Cape May</i>. Ela já é falecida. E agora, esse sobrenome reaparece noutro lugar, afinal sabe que tivemos um professor, padre di Sofia. Qual a ligação entre as duas pessoas?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Você não se lembra mesmo. - Engoliu em seco. Viu Parker cada vez mais próxima. Com um olhar seriíssimo, explicou. - "<i>Simone di Sofia</i>" morreu. Se alguém tem escrito e conversado contigo, passa-se por outra pessoa, e não por acaso. Possivelmente, tentava atingir di Sofia, que sempre foi seu fiel escudeiro e se importou. Simone di Sofia morreu há muitas décadas, Daniel, quiçá antes de nascermos. Sim, obviamente há uma conexão entre as duas pessoas. Simone era a filha única do padre di Sofia. Ou melhor, professor di Sofia, pois, à época da morte, ele nem era padre. Foi a tragédia do acidente automobilístico que transformou o di Sofia como homem. Se não me engano, ele fora um homem muito rico, dono dos mais férteis parreirais da região. Sua fortuna vinha da exportação de uvas para viniculturas da <i>Europa</i>. O fato é que di Sofia abandonou tudo para entrar, já maduro, no seminário, onde se tornou quem você efetivamente viu no sonho, o "<i>Padre di Sofia</i>".</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Como pode</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? Alguém usar o nome da filha morta de um homem inocente?</span></span></span></span></span></span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Como eu disse: para feri-lo, já que di Sofia sempre foi seu maior aliado. Se alguém quisesse te atingir, começaria machucando seu melhor amigo.</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Então... di Sofia ainda vive?<br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Lógico, você não sabe? - Max lançou um olhar perplexo a Daniel. - Depois que você sumiu, em 2004, ele deixou o orfanato que dirigia, o colégio onde lecionava matemática e a paróquia para trás, pois prometera `a sua avó protegê-lo, e as circunstâncias do ocorrido contigo palpitavam de mistério. Escute... - Agora, Max tinha de se despedir, Parker chegara à mesa. - Você saberá de mim. - Pôs um ponto na conversa. As costas da camisa estavam empapadas de suor. Daniel precisava aliviar a tensão no ar, era evidente. Esforçou-se para que Parker não percebesse.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Caminhavam preguiçosamente, Daniel e Parker, lado a lado, ao longo das espaçadas calçadas guiadas pela mureta rebaixada, não muito recuada do quebra-mar. Daniel trazia o rosto voltando para cima, procurando enxergar na noite de magia o milagre que desenharia o rosto de Parker, ligando estrelas até comporem o lindo rosto dela. Parker, por sua vez, apoiava a cabeça no ombro do companheiro, e via-se bem segura pela forma como o braço forte de Legrand a trazia pela cintura. De alguma pequena lojinha artesanal da praça, recorria o tilintar de sininhos ao vento, alguma datada e charmosa armação artesanal. Ao alcance da vista, no contorno dos rochedos, um barco pesqueiro executava a curva para o regresso ao cais. Se havia problemas no mundo, então certamente <i>Cape May</i> não fazia parte do mesmo mundo. Só existiam boas novas, trazidas ao sabor da brisa a qual soprava em direção ao continente, por mais que a tensão e a voz de Max fizessem pressentir o contrário.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">No hotel, Parker se aninhou sobre o peito de Daniel, as pernas entrelaçados, os dedos dos pés contra o tornozelo dele. Inicialmente, seu peso se fez sentir, mas logo Daniel se acostumou ao "<i>encaixe</i>". Não custou a ela se tornar uma pluma. Daniel cuidou de respirar com tranquilidade, a cabeça dela subindo e descendo imperceptivelmente, num movimento discreto correspondente ao enchimento e liberação de seus pulmões. O casal era como dois vaga-lumes, dois pontinho de luz imersos na escuridão. Havia algo de incrivelmente relaxante na comparação que, naturalmente, veio à mente de Daniel. Liberto das preocupações, acolhido pela escuridão, novas perguntas lhe ocorriam. Era Robyn quem o intrigava, a eletricidade de sua mera presença, o jeito com o qual o observara à distância, no restaurante. Não percebia nada de malicioso ou sensual; pelo contrário, fora cativado pelo esquisito desespero do olhar. Ele ficou metido nas suas impressões por algum tempo, até as pálpebras fecharem.</span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Daniel despertou para uma manhã cujo céu era de estupendo azul e forte sol. Ele acordou por causa do rumor modorrento do aspirador de pó, acionado no corredor. Sentou-se na beirada da cama, pensativo. Parker permaneceu adormecida de bruços. Ele trocou de blusa, cuidando para não despertá-la, e foi quitar a estadia. Foi atraído `a entrada do restaurante por força do agradável aroma de café e frios. Ao retornar, Parker mirava a porta, esperando que entrasse. Ela o achou ainda mais belo, com os cabelos molhados penteados para trás. Daniel se aproximou, e sentou-se ao lado dela, com o joelho primeiro. Abraçou-a por trás e beijou a nuca.</span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não me beije ainda, querido, preciso tomar banho! - Parker disse, entre risadinhas.</span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Gosto do seu cheirinho assim. - Ele respondeu. Daniel a abraçou por trás, e agora estavam deitados, juntos, reflexivos. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Tem que partir, não? - Indagou, desanimada.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu te deixarei na casa de seus pais, meu amor. Não se preocupe. Não custará a nos vermos. - Ele a apertou ainda mais, e Parker se derreteu como uma gata manhosa, alongando braços e pernas, movendo para baixo e para cima os dedos dos pés. - Obrigado pela festa de ontem. Você tem se esforçado tanto para tornar tudo mais fácil para mim!</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu só espero vê-lo melhor. - Assentiu. Daniel não enxergava o rosto dela, mas sabia que Parker falara com profunda tristeza. - Posso não acertar sempre, mas desejo o melhor para ti.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu sei. A única coisa que me interessa é sua companhia, e para isso, basta que seja você mesma. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- ... E deixar que <i>você </i>seja <i>você mesmo</i>. - Parker se virou para Daniel, e os dois ficaram cara a cara. - O passado foi bonito, mas me interesso pelo que faremos a partir de agora. Torci tanto pelo seu sucesso nas provas! - Anunciou, com uma voz repentinamente adorável em sua infantil melodia confessional. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu sei. - Riu, exprimindo convicção. - Eu tenho fé em Deus que dará certo. Se eu passar, ganharei mais. Poderei pôr em movimento alguns planos para o futuro.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Há um papel para mim? - Perguntou, passando fugidiamente a língua sobre o lábio superior para secar uma lágrima. - No seu futuro?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim. - Beijou-lhe a testa. - Você e mais duas crianças. O que acha? - Soluços muito baixinhos. Parker se emocionara. - Vamos, querida, dará certo. Vamos nos recordar das coisas bonitas que padre di Sofia procurou nos ensinar. Vamos pavimentar nossa estrada para o céu. Com uma família. Não quero vê-la triste.</span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Nossa, não vejo a hora de casarmos, para finalmente fazermos amor! - Os dois riram. </span></span><span style="font-family: arial;">- Quando nos veremos novamente?</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Bem, você sabe que pode ficar conosco em <i>Elizabeth</i>, quando quiser. Pretendo voltar para <i>Cape May</i>, mas para isso, preciso escrever um memorando para os Recursos Humanos, para redefinir o período de férias. Poderíamos acomodar as nossas agendas, não acha? - Perguntou, olhando para baixo, para a face dela. - Nós teremos muito tempo para combinar férias juntos!</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Daniel e Parker tiveram um aprazível começo de manhã. Parker fez o prato do namorado, na mesa de frios, e só preparou o seu depois. Ela assistia a Legrand comer ovos mexidos, queijo, presunto e torradas de alho com generosas colheradas, e brincava com os cabelos sobre as orelhas. Ele ocasionalmente respondia aos afagos com seu sorriso e uma forma de apertar os olhos que Parker adorou conhecer. Eram nove e meia da manhã quando subiram na caminhonete. O veículo fez o caminho ganhando velocidade pela variância com a qual Legrand mantinha o movimento através das vias mais largas das dunas costeiras, dentro das indicações de Parker. Pararam diante da ampla entrada para o terraço jardim de uma mansão praiana, onde existiam uma grande piscina, churrasqueira, e cadeiras albergadas do sol sob as sombras projetadas pelos coqueirais, os quais sacudiam as folhas ao toque do vento. Os coqueirais também representavam o único obstáculo natural para a entrada irrestrita de luz, afinal não havia cortinas nas janelas. A casa era servida por três espaçosas varandas, e mesmo do átrio principal, em razão das portas de correr desimpedidas, podia-se vislumbrar a elegante sala de estar, um piano de cauda em destaque. Para os habitantes, era possível permanente contato visual com o Atlântico. Daniel a ajudou com a mala. Ele teria preferido despedir-se logo de Parker, pois por algum motivo tolo sentia-se ligeiramente encabulado em conhecer os pais dela, mas soube que se procedesse desse modo, ele a magoaria. Sorridente, mascarando o nervosismo, encontrou os Cowan à mesa - Bill, Gail, Robyn e seu esposo Allen - tomando um farto café na comprida mesa de <i>Astoria Grand</i>, num instante o qual, se fotografado, encapsularia a ideia que comerciais de margarina procuravam vender, uma harmonia de sucesso, cumplicidade e bem-estar que, `a maioria, só resta passar uma vida inteira correndo atrás. Robyn mastigava uma torrada com requeijão quando o casal apontou na porta. Assim que o viu, foi como se alguém tivesse apertado a tecla de "<i>pausa</i>" do vídeocassete. Os demais pareciam gratamente surpresos, mas o sorriso desenhado no canto da boca de Robyn era especial.</span></span></span></span></span></span></span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Allen estendeu a mão e o congratulou pelo feito heroico no <i>Liberty</i>. Bill e Gail o receberam muito atenciosamente. Parte da natural cautela podia ser explicada pelo hiato de anos durante os quais não se viam, ou talvez pela sua traumática partida de <i>Cape May</i>, da qual não conseguia se recordar. De qualquer forma, os pais de Parker foram graciosos e gentis. Aos sessenta anos, Bill era um elegante, charmoso e assertivo cavalheiro da alta sociedade; devia estar no auge das realizações profissionais e pessoais. Gail era alta, loira e esbelta, seus traços muito finos haviam sido reescritos nas duas filhas. Quando jovem, devia ter atraído a atenção dos homens da cidade praiana. Hoje, a outrora esplendorosa beleza encontrava refinamento em seu outono. Daniel passeou no caminho do jardim, tecendo elogios às flores de Gail. Durante o breve encontro, sentia o olhar de Robyn sobre si, da varanda. Houve um momento divertido. Eles tinham voltado à cozinha, e então, num <i>insight</i>, uma doce recordação ganhou vida enquanto Daniel olhava para Robyn. Ela parecia pressentir, e arqueou a sobrancelha, enquanto ele foi abrindo os olhos, com um sorriso feliz. Estalou os dedos, apontou para Robyn e narrou, para a diversão dos demais:</span></span></span></span></span></span></span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span></span></span></span></span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Lógico, lembro-me agora... De um sonho com o qual acordei no alpendre de casa, sorrindo. Eu era um menino de 13, 14 anos... Na <i>Walmart</i> do shopping center. Eu frequentava as seções de guloseimas para afanar barras de chocolate. - Agora, Robyn estava verdadeiramente sorrindo, meneando afirmativamente a cabeça. Ele nem começara a contar, ela já sabia do que se tratava. - Reunia coragem para enfiar a barra de chocolate sob a blusa, quando aparece essa menina muito bonita, cachinhos dourados, e fica parada nas minhas costas, fazendo um ruído de sucção com o canudo do <i>milkshake</i>. - Daniel apontou para Robyn, e ela fez que sim. - Eu digo a ela, contrariado: "<i>Não chamei ninguém para me ajudar a escolher</i>". E ela: "<i>Lógico que não, mas vou ficar aqui, caso precise de mim</i>". Eu me irrito, desisto do chocolate e grito, antes de deixar a loja: "<i>Cara, vá se ferrar!</i>". E ela, calmamente, fazendo aquele som de sucção com o canudo: "<i>Não, obrigada</i>". - As gargalhadas estrondaram na cozinha. Foi um grande momento, o qual os nivelou como seres humanos cujos passados entrelaçados os aproximavam, independente de por quantos anos tivessem ficado afastados.</span></span></span></span></span></span></span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Trabalhei, na adolescência, na <i>Walmart </i>de <i>Cape May</i>, nas férias de 94, 95. E eu me lembro disso, sim. Estava de olho em você desde o início das férias do meio do ano, sabia que carregava os chocolates. - Robyn fechou os olhos, com doçura, emulando o momento descrito por Legrand.</span></span></span></span></span></span></span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Adorei o detalhe, a parte na qual ele chamou a Robyn de "<i>cara</i>"! - Parker apontou, a que riram mais.</span></span></span></span></span></span></span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Estava pensando exatamente nisso! - Gail fez coro.</span></span></span></span></span></span></span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Sim, sim. - Robyn o encarou e continuou: - Para quem afirma não se lembrar de coisa alguma, Daniel se recorda dos detalhes, porque me lembro que foi mesmo assim.</span></span></span></span></span></span></span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span></span></span></span></span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Ao partir, já dentro da cabine, enquanto Bill, Gail, Allen e Parker acenavam em despedida do portão, Daniel viu Robyn observá-lo de braços cruzados na mesma varanda. Havia algo ímpar no olhar, difícil de se definir. "<i>Analítico</i>", Daniel disse para si em pensamento, satisfeito com a própria explicação, ao girar a direção para voltar à estrada principal a se afastar das mansões nas dunas.</span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Por parte do percurso - a maior parte, realmente - o sol o testou impiedosamente. Aquela terça-feira era um dos dias mais escaldantes de 2010, a ponto de Daniel precisar parar num bar de beira de estrada, na<i> Interstate 95, </i>para se refrescar. Era meio-dia quando telefonou para a avó. Gladys tirou o fone do gancho logo no primeiro toque. Daniel abriu um sorriso aliviado, certo de que a idosa estava repleta de preocupações infundadas, pois desligara o aparelho a manhã inteira, não atendera os telefonemas dela. Ele a maltratara o suficiente. Ao escutar a voz cautelosa e tensa da avó, foi atravessado por remorso e culpa.</span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não, vovó, eu estou bem! - Às risadas, tratou de se explicar, ainda que Gladys o atropelasse com perguntas e não se dispusesse a deter-se para escutar as respostas das questões com as quais ela mesma o canhoneava. Daniel falava ao celular, à beira da poeirenta estrada vazia, o asfalto em brasa. Lançou um olhar para o bar, e desejou sombra e um refrigerante gelado. - Não devo demorar, mas não quero que me espere para o almoço! Cadê o <i>Cyrano</i></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Com essa quentura toda? - Espiou pela janela e o viu se divertindo no quintal, refrescando-se com o irrigador que lançava jatos d'água concêntricos. - Tentando apanhar borboletas no meu jardim! Oh, droga, está cavando terra e arruinando as plantas novamente! - Ela exclamou, e Daniel deu uma risadinha. Era reconfortante escutá-la zangando-se com bobagens, sentia falta dos sermões. - Como foi em <i>Cape May</i>?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Proveitoso, de todas as maneiras. Tive um sonho muito vívido, ou melhor, uma recordação muito clara. Acho que estou começando a me recordar.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Oh, querido, que maravilhosa notícia! Temos muito a conversar! Não se demore!</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Não. - Respirou fundo, e reiterou a promessa. - Não me demorarei! - Quando estava para desligar, Gladys exclamou para que esperasse. - Diga, vovó!</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Dirija devagar! Não o quero correndo pela <i>I-95</i>!</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">"<i>Não vou correr!</i>", prometeu, antes de fechar o celular com uma gargalhada. Folheara muitas novas páginas de sua vida em <i>Cape May</i>; entretanto, existiam elementos imutáveis! O bar ofereceu a sombra e a bebida gelada pelas quais ansiava. Com os cotovelos apoiados sobre o balcão, desabotoou dois botões da camisa para aproveitar melhor o ar movido pelos golpes das pás do ventilador. Ali dentro, havia o raro conforto encontrado somente em tavernas velhas. No meio do nada, o tédio - interrompido unicamente pela passagem veloz de carros e carretas - encontrava no bar de letreiros vermelhos de neon, acesos diligentemente às 18:00, o último vestígio de compromisso humano. Após a latinha de refrigerante, pediu uma xícara de café. Flertou com os recortes a ilustrarem o pequeno flanelógrafo, miscelâneas do inusitado, relacionadas a aquela região. Em 1971, na<i> New Jersey Turnpike</i>, um oficial da aeronáutica da <i>Flórida</i>, de férias em <i>Nova York</i>, fotografou um objeto voador não identificado, cujo diâmetro, garantia a notícia, estendia-se por cerca de vinte metros; o objeto pairara sobre a rodovia e assustara não apenas o oficial em questão, como também meia dúzia de testemunhas, corroborando o depoimento inicial. Em 1985, de um periódico de <i>Robbinsville</i>, município germinado às margens da <i>Interstate</i>, um cidadão da localidade, de vinte e nove anos, que no começo dos anos 80 fora trabalhar para uma multinacional no <i>Japão</i>, reportava ter recebido o telefonema de sua falecida mãe, avisando-o dois dias antes para não viajar no feriado do <i>Obon </i>para <i>Osaka</i>, pois algo horrível estava para acontecer. O rapaz rasgou o bilhete que lhe teria dado lugar no voo JAL 123. Após escapar da catástrofe, largou tudo para voltar a <i>Robbinsville</i>. Quando perguntado como sabia que a voz feminina que viera do futuro para avisar sobre o acidente era a de sua mãe, respondeu "<i>Apenas sei</i>". Em 1994, um cavalheiro misterioso causou grande celeuma em <i>Staten Island</i>, um dos cinco distritos de <i>Nova York</i>, mais especificamente nas quadras do entorno da ponte <i>Verrazano</i>, a qual ligava <i>Staten Island </i>ao <i>Brooklin</i>. Vestido com roupas da era vitoriana, aterrorizou prostitutas, ferindo gravemente uma delas com uma navalha. Os depoimentos das vítimas dos ataques convergiam, quase idênticos: as roupas vitorianas, o chapéu cartola que escondia muito bem o rosto inchado e barbado, o cheiro exagerado e extravagante de colônia para pós-barba, almiscarado com outro odor, animalesco por natureza, o corpanzil desproporcional aos passinhos curtos, desajeitados e apressados, e a dificuldade de articular sentenças completamente compreensíveis. Havia uma foto na extremidade do recorte, cinco homens armados de rifles, e uma besta, mais exatamente um gorila, pendurado de ponta cabeça, no meio dos caçadores. Vestia uma expressão de mártir, trágico na forma como fora rejeitado, que tocou Daniel de uma maneira muito incomum. Aparentemente, alguém obcecado pelo conto de <i>Edgar Allan Poe</i> procurara treinar o animal e torná-lo "<i>gente</i>", com consequências desastrosas. Todas as histórias macabras giravam em torno daquela região. <i>O mundo podia ser muito estranho</i>. Dentre curiosidades do passado, notícias sobre os feitos de pessoas ilustres da cidadezinha praiana. Os Cowan apareciam em três recortes; Parker, em uma resenha favorável a "<i>Lady Chatterley</i>" ("<i>Boorman filma essa história de amor com a segurança e o capricho visual que lhe são peculiares, seu maior momento em uma produtiva carreira de meio século: Lady Chatterley é uma experiência eletrizante!</i>", laureava a crítica que saíra na página 03 do <i>San Francisco Chronicle</i>); elogios a Bill Cowan pelo seu papel de coordenador da equipe de juristas responsáveis pelo projeto de lei de isenção de impostos a indústrias doadoras de alimentos a entidades assistenciais, em 1996; e, por fim, 1999, com o destaque na página de esportes do "<i>Cape May Today</i>": "<i>Robyn Cowan vence Jogos Universitários e dá o primeiro título da NYU no caratê</i>". Fazia muitos anos desde 1999, mas, tendo reencontrado Robyn em <i>Cape May</i>, via-se que sua beleza não se alterara. Na foto, ela aparecia de braços erguidos, as mãos vestidas com luvas brancas, o nariz com um pouco de sangue, estranho na sensualidade que proporcionava quando combinado ao sorriso de realização e jubilo. O árbitro metia-se entre Robyn e a adversária, de quatro, com os olhos palermas e o rosto muito ferido, olhando-a aturdida, `a sua frente com braços sobre a cabeça como para reforçar o controle da situação. Daniel contornou o balcão, com a xícara de café, e ficou estudando o recorte, distraído, até a garçonete, de prato de ovos, bacon e fritas em mãos, pedir licença para passar. Ele estava faminto, e uniu o útil ao agradável, pedindo a mesma coisa, e voltando às mesmas ilações, os olhos galvanizados em Robyn de braços levantados.</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">O restante do caminho foi um maravilhoso passeio movido pela expectativa do reencontro. A paisagem a se estender adiante compunha um contexto mais atualizado de sua jornada de vida. Quando observou a poeira deixada para trás, pelo retrovisor, acreditou que a momentânea incursão pelo passado estava momentaneamente em suspensão. Daniel pegava a saída 13 para a <i>Interstate 278</i> em direção a <i>Elizabeth</i>, a poucas milhas de casa, e já eram 17:30. Respirou fundo, reduzindo a marcha ao contornar o parque <i>Warinanco </i>para observar os barcos de remo riscando perfeitamente a superfície platinada do lago, uma visão esplendorosa emblemática de meses mais quentes. Suas árvores pareciam cadenciadas pelo gramado sem fim onde crianças jogavam <i>softball</i>, as flores de cerejeira muito vermelhas arranjadas como rosários ao redor da fonte principal. Ele via, pela lateral, a aparição do loteamento, e imaginou que a figurinha no alpendre, uma sombra rechonchuda, seria a da avó. Quando viu que era a caminhonete do neto se aproximando, a aflição de Gladys deu lugar a um sorriso de desabafo.</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Era sensacional estar de volta. Mesmo o entardecer mudara um pouco em <i>Elizabeth</i>. Tinha o "<i>jeitão</i>" de domingo, mas se tratava de uma terça-feira útil, quando deveria estar voltando do trabalho no <i>Liberty</i>, e não de uma "<i>escapadinha</i>". O fato de reencontrar o lar exatamente como o deixara podia parecer ordinário; todavia, ao mesmo tempo, devolvia o mundo ao eixo. Ao passo que <i>Cape May</i> significava recomeço, não tinha como dar um passo de tamanha importância sem a segurança de seu mundo "<i>`a parte</i>", o "<i>limbo</i>" o qual aprendera a habitar com a avó e o adorável gatinho preto com trissomia. Tão deliciosamente previsível reencontrara seu espaço, <i>Cyrano </i>metera-se na familiar melancolia, comportamento padrão quando o tutor se aventurava a deixar o lar por mais de um dia e, por conseguinte, despertava sua ira. Viu o instante da chegada de Daniel, sentadinho na cadeira de balanço do alpendre. Assim que Daniel desceu da caminhonete, <i>Cyrano</i> fez questão de marchar como um animalzinho adestrado para dentro de casa, sem prestar atenção no dono. Avó e neto riram do gênio complicado do anjinho.</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Daniel contou entusiasmadamente as grandes surpresas em <i>Cape May</i>. Ao discorrer sobre as lembranças muito frescas de seu sonho, a avó confirmou as descrições. De fato, o neto parecia começar a se lembrar, infligindo em Gladys ansiedade e contentamento, em iguais medidas. A avó contou que, tendo estranhado a falta de Daniel no trabalho, Giro prestara uma visita na noite anterior. </span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Você sempre me escutou, querido, mas quanto a esses assuntos, prefiro que Giro o oriente. - Gladys confessou, enquanto besuntava o pão com manteiga para levá-lo ao forno e deixá-lo ao ponto. - Ele é homem, vocês dois se entenderão melhor. Sempre o respeitou como a um pai.</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim, vovó, não restam dúvidas de que eu e Giro temos muito a tratar! - Comentou, virando a xícara e terminando de consumir o café com leite. Conversava com a avó mas tinha os olhos no telejornal de <i>Cape May</i>. - Foi uma pena, passar tão pouco tempo! Eu deveria ter planejado melhor. Pretendo fazer minhas férias coincidirem com algum mês livre para a Parker. Tenho tantas perguntas!</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- A passos vagarosos, querido, a passos vagarosos. - <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Ressaltou</span>, com candura. - Então é definitivo. Você e Parker...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Estamos juntos, sim. - Disse, como conclusão de premissas bem lógicas. - Eu temia me apegar, mas acho que agora é tarde. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Isso é natural, e, inconscientemente, pode ser rastreado a seu passado recente. - Gladys sugeriu, com os dedos no queixo, pensativa. - Tem medo de se apegar porque associa aproximação a dor.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu passei por dor semelhante, antes de 2004? - Perguntou, mas o sorriso da avó já lhe indicava o caminho.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Terá de se aventurar pelo seu passado sozinho, <i>Danny</i>. Cada vagaroso passo a seu tempo.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Conheci a irmã de Parker<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">.</span> Robyn. Você deve estar familiarizada com esses nomes, não, vovó?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim, querido. Lembro-me de quando você era bebê, que dizer de sua adolescência, mais próxima na linha do tempo. - Abriu momentaneamente o forno, apenas uma fresta, para examinar se os pães tinham assumido a <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">crost<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">a </span></span>dourada, ponto ideal para servir. - Lembro-me das duas. A irmã dela, Robyn, passou no mesmo concurso, em 2002. Mesmo hoje, posso nos ver sentados num banco da pracinha do prédio da sede, aguardando a abertura do auditório para a cerimônia de posse. Fomos os primeiros a chegar, tão ansiosos estávamos! Você ficou o resto do dia, eu fui para casa... Ao meio-dia, apareceu para almoçar...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Daniel descobriu que, depois de desligar as luzes à noite, seu quarto virava um lugar rico em magia. Só isso podia explicar por que se sentia bem, de um modo o qual não se recordava sentir parecido em nenhum outro espaço, a não ser, talvez, dentro dos braços de Parker. Não sabia pinçar o motivo, mas o instante mais rico acontecia no limiar, na folga entre estado de vigília e sono. Em seu estado onírico, imediatamente anterior ao sono, detalhes do dia deixado para trás tinham como ser reavaliados, e observações fascinantes tiradas durante a recapitulação. Naquela noite, <i>Cyrano </i>acabou fazendo as pazes com o tutor. Enquanto Daniel oscilava em balanços suaves da rede, o gatinho dormia entre travesseiros da cama. Pensava sobre o que Max dissera sobre Simone. Ele foi gradualmente entrando em estado de relaxamento. O rosto pendeu para o lado, e dormiu. Foi por pouco tempo: o celular começou a chamar, despertando-o com sobressalto. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Alô! - Atendeu, com urgência, como um homem a esperar pelo telefonema que talvez jamais viesse.</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Ei, <i>Danny</i>. - Era "<i>Simone</i>" quem lhe fazia as vezes de confidente da noite. - O que faremos a respeito desse meu hábito de te ligar sempre que acaba de pegar no sono?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Fico feliz que tenha ligado. Nesse fim de semana, muita coisa aconteceu. - Ele deixou a rede, e abriu um vão na porta para verificar se Gladys ainda assistia `a novela mexicana na sala ou se já se recolhera. A avó dormia no sofá, diante da televisão, no escurinho. - Retornei para <i>Cape May</i>. Logo após o fim das provas. Acredite, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">tome minhas palavras pela literalidade: as</span>sim que a prova acabou, cismei de pegar a caminhonete e seguir dirigindo até alcançar <i>Cape May</i>!</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Oh, não acredito! - Ela comemorou. - Por que não me disse, <i>Danny</i>? Teríamos nos encontrado!</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Fiquei temeroso quanto à sua fala sobre o ringue como nosso destino. - Brincou, porém se arrepiava ao mencionar a fala.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Você me contará, da próxima vez que vier para <i>Cape May</i>, não? - "<i>Simone</i>" nem esperou pela resposta. - Quando será a próxima?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu não sei ainda. - Respondeu, respirando fundo. - Não pensei a respeito. Naturalmente, pretendo retornar para ficar com a Parker. Teríamos que combinar o mesmo período de férias.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Meio difícil, vez que Parker é atriz. - Ela levantou um ponto importante. Existiam arestas em sua voz que soavam familiares a outros tempos. - Então, estão namorando mesmo?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Você é a segunda pessoa que me pergunta, hoje. A primeira foi vovó. Se eu dissesse que <i>sim</i>, ficaria com ciúmes?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu preferia quando tinha sua atenção reservada a mim. - Ela afirmou, explicando, em seguida: - Na época do meu estágio. De alguma maneira, acho que você estava interessado. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Bem, em qualquer relação de amizade entre homem e mulher, haverá tensão, eletricidade. E se não houver, então é porque não vale à pena.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não falei</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? Você estava interessado mesmo! - Risadas de ambas as partes. Uma pausa. <i>Cyrano </i>se remexeu na cama, por um segundo ou dois, curioso pelo que aqueles humanos estranhos confabulavam.</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Quando eu voltar para <i>Cape May</i>, eu devo procurá-la</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?- Daniel perguntou. "<i>Uh-hum</i>", foi a resposta. - Onde a encontrarei</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Pergunte às pessoas pelo orfanato de crianças de <i>Cape May</i>.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Acho que sei a razão. Você quer que eu vá atrás de Padre di Sofia. Você não se chama Simone. - Daniel foi incisivo e firme. Como resposta, escutou, baixinho, "<i>Isso</i>". - Existiu uma Simone, e ela era a filha de Padre di Sofia. E ela morreu. Você pode até ter sido minha amiga quando começamos na Guarda Costeira, mas não foi nenhuma estagiária. Eu me recordei de uma manhã em 1995, e estive na cobertura do antigo colégio de onde eu e di Sofia enxergávamos a praia. Lembra-se do colégio?</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Lógico. E o</span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"> orfanato dirigido por di Sofia ainda fica a um pulo dali . Pergunte a qualquer cidadão local sobre o orfanato. Chegará ao Padre di Sofia e se assustará quando vir que ele esteve ao seu lado o tempo inteiro. - Prometeu, com um peso que aos ouvidos de Daniel soou como súbita e profunda confissão. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Orfanato de crianças. Eu chegarei ao Padre di Sofia, mas acho que por trás do mistério, você quer ser encontrada, não?</span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> Eu reencontrei um amigo em <i>Cape May</i>, o Max. Ele me prometeu que me procuraria, para conversarmos. - Sinalizou à interlocutora que sua farsa estava fadada a ruir, cedo ou tarde. - Nós nos conhecemos desde meados dos anos 90. Ele terá como preencher as lacunas mais misteriosas... E então, seu rosto, seu nome... ficarão nítidos.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Você merece tudo de bom. - Pelo seu costumeiro jeitinho sagaz, ela não parecia o tipo de mulher dada a súbitas reflexões movidas por melancolia. Agora, suas palavras traziam o peso de pessoas exaustas pelos próprios fardos. - Eu farei as minhas preces para que você e seus amigos tenham passado no concurso. Eu só desejo que seja feliz.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Obrigado. - Ele agradeceu, com um sorriso triste e cansado. Os últimos dias tinham sido uma montanha russa, e a ideia de rever os rostos e as fachadas no aeroporto internacional era atraente. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Não se esqueça. Orfanato de crianças. Na sua próxima <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">aventura em</span> <i>Cape May</i>. - Ela reiterou. Daniel novamente se comprometeu a procurá-la quando estivesse de volta.</span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Suponho que seja um passo a mais na direção do ringue?</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Boa noite, <i>Danny</i>.<br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Ao refletir sobre a conversa com a voz, Daniel compreendeu melhor os motivos do tom mais sóbrio e triste dela. Agora que sabia de Max, aquela fora possivelmente a última conversa antes de ela se revelar. Sabia que Daniel chegaria a sua real identidade. Simplesmente, Daniel não conseguiu voltar a dormir. Foi preparar uma xícara de café com leite na cozinha, com perguntas em círculos sobre sua cabeça o tempo inteiro. Sua memória voltou-se à Robyn com o mesmo fascínio com o qual a foto no jornal onde aparecia com o nariz ensanguentado o cativara, naquele restaurante de beira de estrada. Considerando as mirradas informações, desvendar os mistérios não seria diferente de escrever um suspense. O que Daniel realmente tinha em mãos? Sabia que namorara com Parker, então havia um passado do qual Robyn fazia parte, afinal eram irmãs. Pelo que "<i>Simone di Sofia</i>" adiantara, pelos poucos anos nos quais trabalhara na Guarda Costeira, fora um agente público competente que mostrara sensibilidade para com os mais jovens do programa de estágio. Entendia que havia sido um rapaz muito estudioso, então fosse o que fosse o ocorrido em 2004, o futuro ficara prejudicado após o acidente. E com esses dados muito precisos, porém desconexos, tentava ganhar perspectiva para compreender o esquema maior, sem sucesso. Quando finalmente voltou ao quarto para dormir, deitou-se com a certeza de que precisava da ajuda de Max e Giro.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">A quarta-feira começou movimentada. Daniel encontrou Giro e os colegas no refeitório, e o amigo passou a ordem do dia para as turmas que ficariam com diferentes atividades de manutenção. Um dos principais terminais da <i>American Airlines</i> não operaria por conta de obras de expansão, e Giro e Daniel precisariam organizar a remoção de passageiros e tripulantes para outro portão de desembarque, assim como evitar nervosismos e atritos durante as muitas conexões entre os voos previstos para a manhã. Daniel estava molhado de suor, indo e vindo ao longo do terminal. Quarta-feira amanhecera úmida e abafada, e a dupla convencia-se de que o sistema de refrigeração quebrara. Ele e Giro ainda não haviam tido tempo para conversar melhor. Logo chegaria o horário de almoço.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Quando faltavam dez minutos para meio-dia, ao trocar olhares com Giro, o qual prestava orientação a uma família em conexão para a <i>Flórida</i>, apontou para o relógio e então `a direção do mercado. Enquanto aguardava o amigo na passarela, a mente vasculhou os detalhes mais imediatos do problema. Precisava saber a origem do número de "<i>Simone</i>". Giro apareceu, e, em seu rosto, estampava-se a preocupação. Pelo tempo que permaneceram juntos, conversando, Giro conformou-se com o papel de escutar. Daniel contava com empolgação sobre o sonho, sobre como se vira aos quinze anos, sobre o tal padre di Sofia e sobre como, pelo que conseguira enxergar, o que havia por vir seria surpreendente.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Então é isso. - Giro dedicou-lhe um olhar severo. - Você está disposto a saber, custe o que custar</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sobre o meu passado? Sim. Eu só espero que Max procure por mim o quanto antes. Eu permaneci `as cegas por tempo suficiente. Chega. - Cismado, Daniel cobrou. - Olhe, Giro, você e vovó falam sempre de um jeito tão estranho! É como se procurassem me poupar! Sinto que sou o último a saber!</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Quando seu amigo Max procurá-lo, gostaria que me levasse, se concordar. - Pediu, nervosamente. - Preciso voltar ao trabalho. - Deu as costas, mas antes de descer, apontou ao relógio de pulso, ordenando. - Tire a tarde para descansar. O concurso, a viagem... Tem passado por coisas, ultimamente. Vá cuidar de Gladys, e lembre-se de me avisar quando Max chegar.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Daniel permaneceu um pouquinho mais na passarela. Esfregou os olhos cansados, saboreando a quentura ao segurar os corrimões permanentemente expostos às intempéries. Só os soltou quando não conseguia mais ignorar o ardor. Escolheu afastar os pensamentos e, conforme Giro pedira, dedicar o resto da tarde para dormir. Gladys tomou um susto ao acordar da sesta com o tilintar dos sinos. Ficou feliz quando o neto explicou os motivos. Um demorado banho frio o livrou do mormaço, e ele desabou pesadamente na cama. Da posição que caiu sobre o colchão, de bruços, permaneceu, até perder a consciência. Não foi um sonho bom, tampouco ruim, apenas triste. Tão triste, quando despertou, próximo às 18:00, encontrou o rosto e o travesseiro molhados de lágrimas. Não fez muito sentido, o sonho. Fora um sonho no qual ele se resumia à testemunha invisível para o protagonismo de Robyn, pois o drama se desenrolava em torno da pessoa dela. Ela saia de um consultório após conversar com o médico, chorando alto. Acabava às margens do mar, provavelmente a parte antiga da praia de sua cidade natal, <i>Cape May</i>. Do modo como sentira a força do sol impressa na pele ao se recordar da conversa com o padre na cobertura do colégio, o mesmo ocorria ao ver Robyn desabar de encontro `a faixa onde as ondas deixavam um rastro de espuma, e então regrediam como um gentil tapete recolhido. O livramento para tanta dor, ela encontrava quando se via voltando para casa, abrindo a porta e encontrando, na sala, adormecidos após tanta espera, os pais e o Padre di Sofia. Gail acordava primeiro. Emocionada, abria os braços para recebê-la. Giro despertava, e Bill também. Robyn era consolada por abraços de pessoas que lhe queriam incondicional o bem.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Seus olhos foram se focando, sem pressa, nas cortinas, as quais bailavam quando a brisa as avivava insistentemente. O azul claro do tecido esfiapado era quase translúcido, um precário filtro para a paisagem que, nos fins de tarde, expandia-se, quando a grama movimentava-se em curvas sincrônicas perfeitas, organizadas pelo capricho com que era tratada pelas correntes de ar. Esfriara. Daniel abriu a gaveta, de onde separou uma blusa branca e bermuda. Alongando os braços num movimento aberto no peitoral, bocejou e abriu a porta do quarto, para receber o friozinho que já fazia dentro de casa. Gladys mexia a panela com uma colher de pau, distraída. Da sala, chegava uma discussão mais acalorada na novela anterior ao telejornal. O rapaz beijou a avó e se sentou, braços e queixo apoiados sobre as costas da cadeira. Era agradável observá-la cozinhar. Tentava se recordar de quando vira expressões tão serenas e introvertidas quanto as de Gladys, quando enxergara gente tão em paz consigo, poupadas, por um fugidio hiato, de seus problemas cotidianos. <i>Claro</i>: o aeroporto, o pátio da praça de alimentação, as madrugadas, gente empurrando carrinhos, observando vitrines de luzes coloridas e aquosas, </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">a esperança renovada e a tranquilidade do reencontro a aproximar-se ao tiquetaquear dos ponteiros do mostrador no alto do salão. Então Padre di Sofia conhecia a família de Robyn. Claro, Legrand tivera um sonho no qual não se encontrara fisicamente presente à experiência, pois no sonho era onisciente e invisível; entretanto, sabia, no âmago de seu ser, que aqueles eventos tinham sido reais. Fazia sentido, já que Padre di Sofia fora uma figura tão importante na vida daqueles jovens a partir de 1995.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">O celular chamou. Daniel ficou cheio de expectativas, porém não era "<i>Simone</i>". Suntee perguntou se ele tinha novidades. Não esperava a aventura que o amigo reservara para lhe contar. A mera sugestão soava mais interessante que tentar se aprofundar ao telefone. Combinaram de se encontrar no mirante do <i>Liberty</i>, para café e bate-papo. Em concórdia, os dois se despediram e foram tratar dos afazeres antes de partirem para o aeroporto. Ambos famintos, resolveram descer as escadas rolantes para a praça de alimentação e escolher um lugar onde pudessem comer bastante. Foram parar na <i>Pizza Hut</i>, estranhamente muito tranquila ao se levar em conta o horário, 20:00. Conversavam sobre as expectativas para o resultado do concurso, até que Daniel, mexendo descompromissado com o saleiro, introduziu a questão, contando o sonho. A opinião de Suntee não diferia do que a avó provavelmente teria lhe dito, caso tivesse lhe dito primeiramente. </span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Fico imaginando como diferenciar fantasias de recordações autênticas. Eu não sei como poderia saber, mas vi a Robyn deixar o consultório, e ela parecia desesperada.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- O sonho me fala mais sobre ti do que sobre ela. É óbvio que gosta muito dessa moça. Você a viu há alguns dias. A tensão emocional transbordou em sonho. - Suntee parecia convicto ao defender o ponto de vista neutro, o que foi reconfortante. - Não penso que se trate de uma doença. Parece-me mais um sonho simbólico sobre seus votos de vê-la bem.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Fiquei apreensivo, imaginando uma porção de hipóteses... - Hesitou em adjetivar, mas finalmente, com uma risada nervosa, continuou. - Hipóteses macabras. Você não acredita que algo como HIV...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Não, não. - Cortou-o, sempre convencido, com um sorriso respeitoso, mas condescendente. Ele olhou para os lados, encarou-o e foi adiante, com um suspiro. - Eu tive um primo que morreu de AIDS, então sei da doença. Sua amiga Robyn não teria AIDS, Daniel. Se descreve para mim um sonho ou recordação de um fato em 2004, ela não estaria hoje com essa saúde toda, e sim manifestando o resultado de anos de coquetéis antivirais. Ou coisas como doenças oportunistas, candidíase, toxoplasmose... - Discorria com firmeza, sempre o encarando. Parou um pouco quando a garçonete chegou com a pizza e as bebidas. Suntee a agradeceu, e depois que ela os deixou, retomou. - Por mais que ela tivesse iniciado um protocolo de tratamento em 2004, algum detalhe entregaria os efeitos dos antivirais. Vá por mim, a razão desse sonho se deve a uma soma de coisas, preocupantes, claro, envolvendo um grupo de gente que ainda vive e caminhou ao seu lado, à época, mas não AIDS. - Suntee foi o primeiro a fazer o corte na pizza de calabresa. As bordas recheadas salpicaram requeijão ao toque da lâmina denteada. Ele serviu o amigo primeiro, e tirou seu pedaço em seguida.</span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Mas, sabe, Suntee, eu pensei nisso. - Franziu a testa, enquanto regia compasso nas batidas leves dos nós dos dedos na mesa. - É o <i>oposto </i>disso, compreende? Quando a vi, é como se o tempo não tivesse passado para ela; entretanto, temos quase a mesma idade! Como pode?<br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Escute, Daniel, agora me refiro a "<i>Simone di Sofia</i>", a menina morta. - Suntee trouxe `a baila o segundo assunto da noite. S</span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">eus olhos deixaram o prato e voltaram a encará-lo. Gesticulando com o garfo, como se tivesse em mãos um pedaço de giz, o garoto prosseguiu, "<i>rascunhando</i>" suas considerações no ar. - Eu não posso ser o único a pensar que essa moça, Robyn, está por trás da farsa, certo? Ligando de um celular pré-pago e descartável, ligeira para não deixar pistas.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Por que ela fingiria ser outra pessoa? - Daniel perguntou, num tom quase inaudível.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Quando me falou sobre os e-mails, imaginei uma garota maluca qualquer que te viu na televisão e "<i>se apaixonou</i>". Depois, quando me contou que ela sabia coisas de sua história, quando as informações coincidiram com as de Gladys, vi que seu relacionamento com a pessoa reporta-se mesmo a <i>Cape May</i>, então o que temos são suposições a partir de pistas dos fragmentos com os quais sonha. Você precisa conversar com seu amigo Max. </span></span><span style="font-family: arial;">- Suntee abriu um pouco mais o sorriso tranquilizador e terminou com uma mensagem de esperança. - Não se preocupe, meu patrão. Se "di <i>Sofia</i>" for mesmo a Robyn, e se ela estiver no seu encalço por algum lance do passado, você é um homem agora. Estará à altura.</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">O restante da semana transcorreu menos eletrizante do que a noite do encontro com Suntee. Daniel conversou com Parker na sexta-feira, quando a atriz ligou à noite, de <i>Londres</i>, durante o jantar. Perguntou se <i>Cyrano </i>o perdoara, e Daniel brincou, respondendo que o gatinho também tinha um coração tão grande quanto o do tutor. Ele levou o prato com o misto quente e a caneca de café com leite para a rede, onde se deitou para conversar à vontade. Parker mencionou a ideia de passarem férias juntos em <i>Cape May</i>, e ele sugeriu algo melhor. Por que não viajarem para um lugar onde nunca haviam estado anteriormente? Construir novas recordações, das quais Daniel também tivesse como participar? Com a sugestão, ele realmente a surpreendeu positivamente. Claro que aquilo não era inteiramente espontâneo. Sim, Daniel queria fazer novas lembranças, mas existiam pontos de sua história que precisava compreender. Quanto a sua obstinação em saber, todavia, reservaria para si.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">No sábado, as surpresas recomeçaram. Daniel ensaiava a retomada dos estudos. Acostumara-se tanto ao ritmo corrido que, uma semana após a separação dos DVDs e livros, sentia-se incomodado, quase culpado. Ele assistia a uma aula de matemática, quando Max entrou em contato por celular. Disse que viera de <i>Cape May</i> para conversar, e o aguardava no aeroporto, sentando num dos bancos próximos aos guichês da <i>American Airlines</i>. Depois de agradecê-lo pela consideração, Legrand insistiu em acompanhá-lo ao estacionamento. Arranjaria para que Max parasse o carro no espaço reservado a agentes portuários, para o lado dos hangares de carga, livre da cobrança de estadia pela concessionária do estacionamento. Max executou a manobra que o colocou na pista interna a caminho de um espaço mais reservado e distante dos terminais. A dupla improvisou uma carona para o terminal do <i>Liberty </i>num carrinho de cargas da <i>American Airlines</i>. Eram 18:00, quando Daniel e Max chegaram ao mirante para dialogar.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Max sabia os motivos de ter se apresentado, e foi direto ao ponto. Resumiu a história de Daniel, conforme se recordava, e a narração do amigo não diferia substancialmente do passado deduzido por Legrand pelas pistas. Simone di Sofia jamais fez parte da vida daquele grupo. Podia afirmar categoricamente: seu nome fora usado por um propósito, ferir Padre di Sofia, o anjo da guarda da vida de Daniel, anos após os fatos de <i>Cape May</i> e para além da capacidade de Daniel se recordar. Padre di Sofia fora escolhido como alvo justamente pelas suas especiais qualidades de inocente e verdadeira amizade, amor, e idealismo imaculado que só palpita nos jovens corações. Da parte de Simone, ela morrera com a mãe em 1977, desencadeando a transformação que sublinhou o arco da trajetória de Padre di Sofia, de um despreocupado e próspero vinicultor ao humilde e intelectualizado sacerdote que por toda aquela galera de <i>Cape May </i>dedicara tempo e amor incondicionais e desinteressados. "<i>Mas onde está esse cara?!</i>", Legrand suplicou para Max. Ele respondeu: "<i>Disse anteriormente, e insisto: mais próximo do que pensa. Você entenderá</i>". Daniel achou por bem levá-lo para casa; como um rosto do passado, Max brindaria a avó Gladys com uma feliz surpresa.</span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Assim que Gladys pousou os olhos no visitante, Daniel pôde ler o reconhecimento nas expressões dela. Ela enxugou as mãos no avental e o abraçou com a liberalidade de uma pessoa mais velha ao reconhecer no homem diante de si o adolescente amigo do neto. Max era uma pessoa que, mesmo há muito afastada, avivava lembranças de uma época feliz, para sublimar o distanciamento, como se não tivesse se passado um dia sequer desde a última vez. Quando Max viu as fotos salvas no computador, elementos do mistério começaram a ser esclarecidos.</span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você não apenas foi tragado para uma espiral de mentira, Daniel. - Após meio minuto alterando as fotos de "<i>Simone</i>", ele avisou: - A pessoa responsável serviu-se de duas meninas distintas para criar essa personagem a qual liga para ti, de tempo em tempo. Essas fotos, eu diria que datam de 2001, mas você só a conheceu em 2002. A menina da foto se chama Mildred.</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Como? Você não disse que era "<i>Simone</i>"?</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não. Falei que a pessoa utilizou o nome de uma menina chamada <i>Simone di Sofia</i>. Ela realmente existiu e morreu, antes de nascermos. - Max ergueu o polegar, num movimento para cima, frisando sua fala. - De posse de um nome, a pessoa precisava de um rosto, algo para conferir verossimilhança à farsa. E ela foi crudelíssima, pois escolheu essa garota aqui. - Deu uma batida leve com as pontas dos dedos na tela. - "<i>Mildred Weber</i>". Ela foi sua namorada, em<i> Cape May</i>. Faleceu em 2003. Câncer. Amigo, como pode não se lembrar disso? - Naquele ínterim, Gladys apareceu na porta, tensa. Max voltou o rosto para ela e indagou. - Senhora Gladys, ele verdadeiramente não se lembra da namorada! A senhora não disse nada a Daniel?<br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Quando ele veio me falar, entusiasmado, soube no ato que se tratava de outra pessoa. - A avó justificou, emocionada, sentando-se próxima aos dois, na beira da cama. - Eu poderia ter falado na história da menina, Max, mas por que causaria dor ao meu neto?</span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu entendo, senhora, eu entendo. - Max se desculpou.<br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Meu Deus, vovó. Essa garota, Mildred, foi minha namorada? - Uma pausa, silêncio. Ele perquiriu corajosamente: - Morreu de câncer?</span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Leucemia. - Gladys revelou, baixando o rosto e deixando as lágrimas rolarem.<br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Meu Deus. Suntee devia estar aqui. - Alcançou o celular e consultou o amigo. - Max, importa-se se eu convidá-lo a participar da reunião</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Em absoluto. Fique a vontade. - Deu liberdade, e voltou a vasculhar as fotos, os arquivos passeando na tela como um antigo rolo corrido de fotos.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Suntee passeava com os amigos da sala. Ele deixou os amigos prosseguirem com o boliche, e se pôs a caminho. Os três foram trocar ideia no alpendre. Ao sabor da luz amarelada e anêmica, conversar por ali oferecia uma aprazível atmosfera de familiaridade e isolamento. Mesmo não imaginando completamente a natureza da pessoa com quem lidava, não se tinha como negar a eletricidade envolvida na reunião. Gladys trouxe uma garrafa térmica com café e um cestinho de pães de queijo, e eles agradeceram. Daniel gentilmente a tocou no ombro e pediu que permanecesse entre eles. Gladys fazia parte de seu passado, e podia ajudá-los, dando pontos de vista inéditos à situação. Evidentemente, suas reminiscências de Mildred permaneciam vicejantes. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Daniel conhecera Mildred num momento de vulnerabilidade. Arrasado por causa do fim do relacionamento com Parker, ela reiniciara dentro de Daniel o tesouro que ele tentara entregar `a Parker. Mildred fora a primeira criança a qual originara o orfanato que se tornaria um dos maiores e melhores do país, obra de Padre di Sofia. Ela crescera sob os cuidados das freiras e recebera educação católica; virtuosa, sua vida em nada fora prejudicada pela deficiência visual. Dentro da instituição para as crianças, crescera e se desenvolvera como uma mulher de frágil compleição, mas grandiosas virtudes. O orfanato mantinha o projeto com os animais de rua; fora Mildred que, mesmo em face da cegueira, insistira na ação, e era ela a idealizadora. O abrigo promovia as feiras para adoção dos bichinhos uma vez a cada semestre. Na adolescência, Mildred tinha sobrevivido `a leucemia, e, dentre outras meninas, destacara-se pela pureza que conseguira sustentar durante a vida e até a morte. Gladys e Max explicaram que, por causa de Mildred, ele fora capaz de recuperar o foco, concluir o curso superior e ser aprovado no concurso para a Guarda Costeira. No fim de 2003, quando a leucemia retornou após anos de remissão, Daniel fracassou no intento de tentar manter-se firme e coeso após a morte dela. A tragédia que custara suas lembranças se dera na curva da entrada de <i>Cape May</i>, de onde se atirara com o carro.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Então seria esse o mistério? O "<i>acidente</i>" fora uma tentativa desesperada de tirar a própria vida, e a avó procurara protegê-lo da culpa e vergonha. Emocionado, abraçou Gladys e perguntou por que ela não desabafara naqueles últimos anos. A obstinação da avó de poupá-lo não conhecia escalas</span></span></span><span style="font-family: arial;">. Foi uma bela cena, e Suntee e Max afastaram-se para avó e neto experimentarem a reconciliação com privacidade e paz.</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Quanto às fotos, Suntee os tirou da escuridão da dúvida. Daniel perguntou como a garota teria utilizados arquivos que não seriam seus, dado que não reapareciam em lugar algum da rede de onde teriam sido copiados previamente. Se as fotos haviam sido salvas, teriam de reaparecer em qualquer outro lugar - um perfil social, um blog, qualquer outro sítio da internet. A não ser, aventou Suntee, que as mesmas tivessem sido salvas antes de deletadas. Era muito possível que, no passado, tivessem existido rastros da existência de Mildred Weber <i>online</i>. Um perfil, um álbum de fotos... Fosse quem fosse a farsante, salvara os arquivos e os mantivera consigo para utilizá-los quando a oportunidade se apresentasse. Quando Mildred morreu, também o perfil <i>online</i> se foi, a não ser pelas fotos guardadas pela estranha, reutilizadas para dar credibilidade à performance de admiradora misteriosa. Tão lógica a tese, Daniel e Max sentiram-se estúpidos por não terem enxergado os fatos de maneira lógica e imparcial.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Mais tarde, Daniel e Suntee levaram Max ao aeroporto. Daniel o convidara a repousar em casa, porém Max insistira que as obrigações de pai o forçavam a regressar a <i>Cape May</i> o quanto antes. Era tarde da noite, quando a caminhonete o devolveu ao portão do hangar de carga. Ao longe, o rumor de turbinas sendo aquecidas, para os lados dos terminais de passageiros. À aquela distância, os terminais lembravam rabiscos borrados, de onde emanavam dumas de diferentes cores, a mais determinante a amarelada. Max se despediu, abriu a porta e, antes de descer para ir a seu carro, insistiu:</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- A vida não pode ser tão simples assim. - Opinou, com o braço apoiado na janela aberta, ao lado de Daniel. - Eu não sei por que alguém faria algo <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">semelhante</span>, passar-se por outra pessoa, mas talvez esteja querendo ajudá-lo a se lembrar. </span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Concordo. - <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Apoiou </span>Suntee, do banco <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">de trás</span>. - A garota praticamente o guiou de volta a <i>Cape May</i>. Ela queria ser descoberta.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Lembre-se, Daniel, hoje você aprendeu coisas importantes sobre sua história, mesmo que desagradáveis. Esses eventos mais marcantes podem mascarar razões as quais você só encontrará nos pequenos detalhes, e não nos grandes eventos. Começou a arranhar a superfície <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">há pouco</span>. Seu quebra-cabeça somente se resolverá quando enxergar o conjunto.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Ele precisa se recordar. - Suntee fez coro. - Nós, seus amigos, podemos ajudá-lo até certo ponto, mas a verdade é uma corredeira que precisa ser vencida por ti. Sozinho.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Boa sorte, amigo. - Max repentinamente pareceu o mesmo rapaz de quem Daniel se lembrava. Mais de quinze anos tinham se passado, mas sentia que podia contar com o suporte dele, da mesma forma que aos quinze anos de idade. - Você sabe onde me encontrar.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Daniel executava o retorno para casa, na mesma altura da via onde, há algum tempo, lera o primeiro e-mail de "<i>Simone</i>", quando o celular chamou. Reflexivamente, acionou o pisca e procurou a segurança do acostamento, para conversar. Sentado ao lado, Suntee assistia ao desenrolar da cena com olhos alertas e tensos.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Ei, <i>Danny</i>. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Olá, querida. - Lançou um olhar nervoso para Suntee, que fez sinal para que continuassem a conversar normalmente. - Estou me acostumando a suas ligações aos sábados.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Frio em <i>Jersey</i>? - Perguntou, para logo concatenar. - Aqui em <i>Nova York</i>, o verão não prosperou. Nada como um temporal para arruinar o tráfego e o sábado juntos. - De fato, Daniel até conseguia escutar o rumor de água corrente descendo por caibros, do outro lado da linha.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Você está em casa? - Indagou, cauteloso para não dar vazão às emoções prematuramente.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Não. Em um coquetel no <i>Metropolitan</i>. Eu me vesti para matar. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Está tentando me seduzir? - Provocou. Seu olhar relanceado para Suntee o pegou fazendo o positivo, aprovando com o polegar. Podia fazer tempo que Daniel não flertava, mas a tirada soou inspirada.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Você, sofisticado, <i>Danny</i>? - Uma discreta risada. - Mas o que gostaria de saber é quando me perguntará o que faço em <i>Nova York</i>. - Daniel vacilou. Antes da chance de responder qualquer coisa, "<i>Simone</i>" retomou. Subitamente, o tom mudou. Se até então não se evidenciara pura maldade na incomum relação entre admiradora e admirado, ainda que ele lhe tivesse mostrado que ela mentira sobre a identidade, e pairava sobre o jogo uma ingênua doçura de platônica amizade, agora era como se as chantagens entrassem em cena para a introdução do verdadeiro jogo. Não se tratava mais de um ensaio. - Bem, no <i>Metropolitan</i>, estamos prestigiando as telas de <i>Goldman Roehmer</i>, um pintor prematuramente falecido. O talento só foi reconhecido após a morte. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Como acontece aos grandes artistas. - Complementou o atento Daniel.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Como ocorre aos grandes artistas. - Ela fez eco. - Se eles têm a infelicidade de viver muito, deixam de ser artistas <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">e, Deus os livre, viram </span>estrelas<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">. Nada </span>pior pode acontecer a um verdadeiro artista. O verdadeiro artista precisa morrer desconhecido após uma vida miserável e marginal. Morrer pelas mãos de seus excessos. - Ela ditou, persuasiva. - Roehmer explora a existência de um mundo de loucuras e fantasias coexistindo com nossa realidade. Tome por exemplo minha tela preferida, tela a óleo, um meio-dia ordinário e caótico de uma sexta-feira em <i>Times Square</i>. Há a confusão habitual, o tráfego, os transeuntes apressados, um cavalheiro entrando num <i>delicatessen </i>muito pequeno. Simultaneamente, esgueirando-se por trás dos paredões dos enormes edifícios do centro financeiro, nós vemos um gigante, maior, muito maior que o mais admirado arranha-céu nova-iorquino. - Ela limpou a garganta para continuar, sem perder a batida, sem perder o entusiasmo. - Um gigante imponente cuja cabeça toca nuvens, formado por pessoas, homens e mulheres, todos nus, atados uns aos outros pelas coxas e ombros, por tiras de borracha, numa coreografia ensaiada de detalhes que vão desde a sola dos pés, na verdade os indivíduos mais fortes, agora mortos por esmagamento, a olhos bem abertos, os mais jovens que gozam de melhor visão, destacados para a formação dos globos oculares.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Uma descrição impressionante. - Legrand podia dar forma e imaginar a delirante descrição. Ele pigarreou, engoliu em seco, sentindo-se esquisito, e mordeu a isca: - O que está fazendo em <i>Nova York</i>?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu moro aqui. - Ela respondeu, prontamente. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Bem, eu sabia que morava em algum lugar, <i>qualquer </i>lugar menos <i>Cape May</i>. No começo, não compreendia como alguém se passando por outra pessoa arriscaria me contatar, mas então entendi que seus celulares são descartáveis. - A testa de Daniel empapara-se de suor, a cabine uma prisão onde era difícil respirar o ar abafado. - Claro que você verificou se as fotos que utilizava apareciam em outros lugares da internet. E confeccionou uma persona, somando duas pobres meninas: uma, a filha de Padre di Sofia; a outra, uma garota chamada Mildred Weber. E sei que ela foi minha namorada. Como Mildred morreu há <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">quase dez anos</span>, você pôde usá-las à vontade. Por quê? Quem é você?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu fico feliz que não tenha precisado confessar. - A voz acusou <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">certo refrigério</span>. - Imaginava quando finalmente me perguntaria. Eu não fiz por mal.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu suponho que não. - De uma inexplicável maneira, tentou ver o que nela existia de bom, mesmo sem conhecer suas mórbidas motivações. - Mas precisa me dizer quem é.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu acho que você sabe.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim. - De fato, não precisava de novos dados redundantes para chegar ao resultado inevitável do mistério. Quando Robyn o chamara de <i>Danny</i>, parecera suficientemente claro que não apenas era "<i>Simone di Sofia</i>", como também tinha razões para se mover de volta ao tabuleiro. - Eu acho que não tivemos oportunidade de conversarmos melhor, Robyn. Uma voz dizia para mim que era você, desde que fomos apresentados formalmente na festa.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Ainda assim... - Ela relutou. - Sabe que não o fiz para magoá-lo?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Certo, mas se não foi para me ferir, foi por quê?. - Sentia-se perdido, e buscou por alguma orientação em Suntee, o qual, naquele instante, parecia-lhe ainda mais confuso. - Mas eu conversei com algumas pessoas e sei que Mildred existiu.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim, claro. Ela foi importantíssima. Acho que foi pela envergadura dela na sua vida que me fiz passar por ela.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- E certamente soube que eu procuraria me informar, que de uma forma ou outra chegaria `a verdade, correto?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim. Eu desejava ser pega, <i>Danny</i>. Não me peça explicações. Talvez, não tivesse coragem de me aproximar de cara limpa.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Mas agora que nos aproximamos, e eu descobri a verdade, você consegue me explicar seus motivos? Eu compreendo os de Parker, mas não os seus.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Não entende apenas porque não se lembra. - Ela diagnosticou, dando o xeque-mate. - A pergunta é: você gostaria? De se recordar?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Até o momento, não sei muito. Pretendo voltar a <i>Cape May</i> para descobrir minha história. - Falava esfregando a testa, confuso. Não estava mais tenso ou zangado, apenas perdido.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Mas eu não sou a sua inimiga, você sabe disso?</span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"> Eu sei que a ama, e Parker te ama também, mas não há como tomar as mãos da minha irmã e cavalgar rumo ao pôr do sol, <i>Danny</i>. Vocês não têm mais quinze anos, então as implicações sempre virão mais tarde, e não só para ti<i></i>. - Daniel cerrou os olhos como que apanhado por um soco no estômago. - Ou você segue a vida e deixa sua história definitivamente para trás, ou permanece e assume a Parker, desde que saiba <i>de tudo</i>, e não de partes. Não pode ficar com minha irmã sem a história completa. Não pode escolher apenas as partes agradáveis.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu prefiro saber de tudo. Você pode me ajudar, Robyn? - Perguntou, sua respiração ofegante ao telefone. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Já estou ajudando, não vê? Quando te digo para esquecer essa história e olhar para a frente, eu o faço pois me preocupo com seu bem, com o bem de Gladys. Parker fez mal ao envolvê-lo. Ela quer sua felicidade, mas foi tola ao procurá-lo. O melhor seria tê-lo deixado tocar a vida sem se recordar. Agora, só lhe resta deixá-la; não é o que gostaria de ouvir, mas eu insisto, estou tentando ajudá-lo</span></span><span style="font-family: arial;">. - Robyn respirou profunda e pesarosamente. - Você está apaixonado, certo?</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Foi tão grave assim? - Tentava jogar com suposições, mas realmente parecia fora de sua alçada. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- O suficiente para que a sua avó te tirasse <i>Cape May </i>imediatamente. As pessoas envolvidas têm suas vidas. Para que mexer neste vespeiro?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu vou chegar `a verdade, Robyn. - Daniel prometeu, fazendo soar como desafio.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu não posso deixar. Eu não sou sua inimiga, mas não vou deixar. Eu não somente tenho minhas razões, também tenho os meios para detê-lo. Por favor, pense bem antes de começar uma briga comigo.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu preciso saber. - Insistiu, como que se justificando. Sabia que a partir daquele instante, Robyn seria sua inimiga íntima. - Eu não entendo... Mas quando se fazia passar por Mildred, encorajava-me a buscar a...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim, sim. - Ela o cortou, tensa. - Mas apenas porque queria que chegasse a mim! Eu sabia que assim que conversássemos, juntaria as peças e concluiria que vinha trocando e-mails comigo o tempo inteiro!</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Ainda assim. - Daniel queria poupá-la, mas precisava ser honesto. - Eu preciso ir até ao fim.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu compreendo. - Suspirou, lamentosa. - Eu apenas não posso deixar.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu entendo. - Sacudiu a cabeça lentamente em afirmativo. Olhou ao longo da pista, vazia e pincelada pelas luzes dos postes a escoltarem a rodovia. - Boa sorte.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Pense bem antes de se envolver, <i>Danny</i>. Eu não vou deixar você ganhar. Se começarmos a brigar, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">eu só pararei depois de me convencer que não poderá mais falar.</span></span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Robyn... Aconteceu algo à sua saúde lá atrás? O que mudou, Robyn? - Legrand suplicou, com a voz embargada. <i>Clic</i>. Robyn desligou.<br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Daniel fechou a dobra do celular e desceu calado. A passos vagos, foi ganhando distância da caminhonete, caminhando ao longo do meio-fio. Suntee lhe assistia, desgostoso, pelo retrovisor. Ele o viu parar ao lado do sinal de retorno. Esperou que voltasse, mas quando Daniel permaneceu por lá, de costas, foi atrás. A noite estava muito fria, e pela tonalidade prateada que começava a avançar pela duma de <i>Nova York</i>, uma forte precipitação se encaminhava.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Você quer conversar? - Suntee ofereceu o ombro amigo. - Compreenderei se não quiser.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Do que Robyn não quer que eu saiba? - Indagou, com o semblante perplexo. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Há um elemento de macabro na equação. - Suntee verificou, coçando o queixo e meneando com a cabeça no sentido da imensidão circundante. - Seja o que for, as implicações do segredo podem trazer sérias consequências `a vida dessa pessoa. E parece disposta a te deter, custe o que custar.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Mas o que Robyn faria a mim? - Seus olhos encheram-se de emergência, marejados ao toque da luz aquosa e sem charme dos postes. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Olhe, escute... - Suntee ergueu uma mão de discernimento e resolveu deixar as suposições. - Dentro de algumas semanas, teremos o resultado do concurso. Se seu nome constar da lista de aprovados, estará disposto a deixar essa confusão?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu não sei! - Respondeu. A pergunta lhe pareceu assustadora, de tão premente a possibilidade.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Mas tem que saber! Você precisa pensar a respeito! - Suntee segurou os dois braços de Legrand pelos cotovelos. Encarando-o, insistiu. - Você tem muito a perder! Pode ser que tenha se sentido `a margem de sonhos, mas pense no que houve desde o começo do ano! Você salvou a gente do avião, e agora pode figurar entre aprovados de um concurso!</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Então, o que propõe? - Daniel deu a Suntee um gostinho das implicações do dilema. Mesmo o resoluto amigo vacilou quando confrontado com a pergunta à queima-roupa.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu não sei. - Deu com os ombros e sugeriu: - Procure saber mais sobre Robyn. No menor sinal de problemas mais graves, pule fora sem misericórdia. Retome a vida no <i>Liberty</i>, espere o resultado do concurso. No fim, nos encontraremos, todos nós, para uma festa com churrasco, e o futuro será uma grande alegria! Venha, vamos embora. - Puxou-o pelo braço. Tendo começado a chuviscar, voltaram a passos apressados ao calor confortante da cabine.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Allen anunciou a abordagem traçando um riscado gélido e úmido com a taça de champanhe sobre as costas expostas nuas, vistas através da abertura do elegante vestido azul usado pela esposa, a começar pela nuca e descer pela espinha. Robyn estudava pensativa o modo como, sem agressividade, a chuva polvilhava a <i>Fifth Avenue</i> com a <i>82nd Street</i>. A precipitação, em nenhum instante hostil, deixava-a louca para tirar os saltos e voltar para o apartamento andando de pés descalços, dançando carregada por chuviscos e ventania como num nostálgico, empoeirado filme romântico datado. Robyn se voltou ao cavalheiro e se esforçou para esboçar um sorriso resignado; contudo, o marido a conhecia melhor.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- O que posso fazer para vê-la feliz</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Perguntou, ao trazer a cabeça da esposa para o ombro, uma tentativa honesta de confortá-la. - Você está arrepiada. Sente frio? </span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Se eu dissesse que gostaria de voltar de mãos dadas a ti, caminhando pela rua de pés descalços, pareceria tão louca quanto a ideia soa aos ouvidos</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Sussurrou.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Nem um pouco mais do que você já é. - Os dois riram. Robyn respirou fundo, e deixou o ar gelado escapar dos pulmões sofregamente. Allen afagou os cabelos da mulher. - Então, se for para voltarmos a pé, é melhor tratarmos de nos apressar, antes que o tempo piore. Vamos, querida.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Como dois </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">trôpegos e inebriados </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">enamorados, Robyn e Allen seguiram caminhando, felizes e descompromissados, vencendo a </span><i>Fifth Avenue</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">, a "</span><i>linha dos milionários</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">", uma das mais caras e elegantes vias de <i>Manhattan</i>, a qual nova-iorquinos chamavam "</span><i>Fashion avenue</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">". O ano era 2010, mas ao admirar o conglomerado de arranha-céus de arquitetura arrojada, Robyn procurava transportar-se aos romances de</span><i> Edith Wharton</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">. Certamente, seu sangue se tornara azul, afinal fazia parte do seleto grupo que ditava o rumo do mundo. De Robyn, partiria uma linhagem descendente dos "<i>Legisladores</i>". À medida que se afastavam do </span><i>Metropolitan</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">, caminhando no sentido de </span><i>downtown Manhattan</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">, multiplicava-se o número de ruas geradas do manancial, que era a avenida principal. Havia carros, pessoas felizes, luzes e uma cacofonia de sons da cidade grande.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Quando chegaram ao apartamento na<i> Park Avenue</i>, eram 22:00. Robyn foi se despindo na sala, a caminho do banheiro, onde se cobriu com um roupão branco. Ao sair para o terraço, já estava à vontade, em roupas de dormir. A piscina circundava a cobertura do imóvel, e agora que a chuva se fora para revelar um manto estr<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">elado</span>, deixando para trás somente o frio, a superfície da água refletia cada centelha acima. A suíte ficava no segundo <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">nível. </span>Robyn se encostou na sacada para <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">experimentar o contato d</span>a brisa muito gelada daquela noite particularmente chuvosa em <i>Nova York</i>. O vento apanhou seus seios desnudos, seus cabelos chicotearam no rosto cuja beleza tempo e cansaço jamais teriam como obliterar. Ficou voltando mentalmente `a conversa com Legrand, tentando compreender a natureza de como se sentia em relação ao inimigo, o homem que conservara dentro de si a amizade genuína e desinteressada que, aos outros, perde-se após os 15 anos. Allen desatava o nó da gravata ao chegar ao terraço. Ficou feliz ao encontrá-la à vontade. Ela estava com uma das pernas dobradas, inclinada para examinar a sola do pé direito; pisara numa farpa. Colocara um som leve e agradável no som, <i>Tevin Campbell</i>, "<i>Could you learn to love someone</i>". Da mesma maneira que fizera no <i>Metropolitan</i>, abordou-a delicadamente. Ao toque das pontas dos dedos, ela estremeceu como se um pequeno circuito tivesse queimado.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Noite agradável, não? - Comentou Allen, mas Robyn não respondeu. Tudo o que fez foi respirar profundamente e recolher-se aos braços do companheiro, como uma garotinha embaraçada. - Qual o problema, meu amor? Vamos, converse comigo.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Os meninos estão dormindo? - Robyn perguntou. O casal tinha dois filhos, um garotinho e uma menina, seis e cinco anos de idade, respectivamente. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Como anjinhos. Acabei de vê-los. - Respondeu, ocorrendo-lhe a ideia perfeita para concluir a noite.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- A garota já... - Robyn referia-se `a <i>baby sitter</i>, uma adolescente filha de uma família do prédio. "<i>Novos ricos</i>", como os Corliss gostavam de se referir a recém-chegados ao exclusivo endereço em <i>Park Avenue</i>.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim, eu a paguei. Deixou os cumprimentos. - Allen começou a desabotoar a camisa. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Ela que os pegue e os enfie. - Veio a resposta ácida. Allen deu uma gargalhada, mas se repreendeu levando os dedos para a frente dos lábios para não acordar as crianças.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Você realmente não gosta dela, hein? - Sentou-se na beirada da cama para tirar sapatos e meias. Da sacada do terraço, Robyn entrou pela varanda, alongando os braços e bocejando.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Não leve tudo tão ao pé da letra, Allen. Mulheres chamam as melhores amigas de "<i>putinha</i>" e as inimigas de "<i>querida</i>". - Ela abriu um sorriso sensual, faminto, o de uma mulher que ansiava pelo trem de carne na boca. Não havia mais traços de cansaço. Allen aguardava para possuí-la, penetrá-la com firmeza e gulodice. Robyn deixou o robe escorregar aos tornozelos com um mero movimento de quadril. - Deixe-me tomar um banho antes.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Tenho uma ideia melhor. - Livrou-se das calças. Pousando o indicador na frente dos lábios, pediu que não protestasse quando a arrebatasse nos braços como a uma princesa. O suor lhes conferia o cheiro do sexo, já impresso à cueca e à calcinha, agora infestando suas axilas almiscaradas, suas coxas, suas virilhas e genitálias.</span><br />
</span><div class="MsoNormal">
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Allen desceu as escadas de degraus de madeira muito espaçosos, as quais serpenteavam entre os dois pisos do elegantíssimo interior da cobertura. Com a mulher no colo, saiu pelo terraço inferior para a área da piscina, e entrou, Robyn primeiro, de costas `a água. Por sobre a esposa, saiu deslizando da beirada à parte mais profunda. O rumor da superfície submetida à turbulência dos corpos não bastou para vencer as portas de correr, e Allen e Robyn sentiram-se assegurados de contarem com privacidade. Primeiramente gélida, logo seus corpos se aclimataram à piscina. Quando menos esperavam, a água lhes conferia o calor que a noite de <i>Nova York</i> lhes negara. Talvez não fosse da piscina o mérito, mas dos membros, enroscados como perfeitas peças complementares, o pênis duro e irrigado do marido roçando nas coxas de Robyn, as unhas dela machucando as veias grossas do pau ereto. Ela se posicionou melhor na escadinha para receber as metidas. Um pouco depois, após o sexo, eles se prepararam para dormir. Robyn saiu do banheiro num robe preto de cetim com faixa, meio aberto a ponto de revelar os seios duros e saudáveis. Ficaram um tempo se olhando, com cumplicidade. Allen acariciou a cabeça do pênis. Ela o levou `a boca, as narinas pinicando ardidas com o fedor do líquido que antecedia o endurecimento do membro, e trabalhou um pouco nele, lambendo a base, o saco escrotal, o talo, e abocanhando a glande, até devolvê-lo ao tamanho com o qual serviria a Allen em seu intento. Nos lábios, ela salvou o gosto salgado, como se tivesse bebido água de um copo anteriormente usado para se tomar sal de frutas para acidez estomacal. Masturbando-se com a mão direita, Allen levou a esquerda aos cabelos de Robyn. Ela lhe sorria meigamente, e assistia ao ato, sua atenção modulando do rosto angustiado do marido à fricção gradualmente frenética da mão em torno do pau. A maneira como a luz aquosa das luzes externas do terraço invadiam através das cortinas e pincelavam a face de Robyn em multicores de neon a deixava uma <i>fac-símile</i> das vilãs apavorantes dos filmes de horror psicológicos de <i>David Cronenberg</i>; <i>Geneviéve Bujold</i>, de "<i>Gêmeos Mórbida Semelhança</i>", <i>Deborah Unger</i>, de "<i>Estranhos Prazeres</i>"; <i>Genna Davis</i>, de "<i>A Mosca</i>". O produto da ejaculação saiu em duas golfadas, para cima e lados, a primeira mais produtiva, apanhando o queixo e a pontinha do nariz de Robyn, a segunda obra dos espasmos sem força, deixando o restante do sêmen nos cabelos encaracolados da púbis. Ela arqueou as sobrancelhas, sorrindo, e lhe disse que ficaria bem, limpando-o com um lenço do criado-mudo. Era um momento carregado de erotismo; porém, mais significantemente, de cumplicidade e amor entre dois parceiros pela vida. Enquanto Allen dormia de bruços, Robyn deslizou a janela, voltou ao terraço e partiu ao meio o celular descartável usado previamente para conversar com Daniel. O jogo do fingimento acabara, e agora os dois reconheciam um a outro como oponentes no campo, ou melhor, no ringue, na área da competição.</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> Ela se apanhou pensando no rapaz, no quanto já sabia e a que ponto estava disposto a chegar pela verdade. Com as costas da mão, limpou a boca e o nariz da porra seca, fungando e aprumando o rosto com um olhar de cruel jactância.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Em <i>Elizabeth</i>, Gladys fechava as janelas para que não respingasse dentro de casa; poças já tinham se formado no alpendre. Daniel se encontrava na cozinha, aguardando que a avó preparasse a garrafa de café. Imaginava como se explicaria a Giro, já que Max estivera de passagem e ele não avisara o amigo a tempo, conforme prometido. Nada era mais importante, todavia, que os questionamentos deixados pela conversa com Robyn. "<i>Se eu apenas me recordasse</i>", murmurou consigo, enquanto observava <i>Cyrano</i> se aninhar no vão de passagem entre cozinha e sala. Dos armários sob a pia, veio o clangor de metais, Gladys apanhando a panela para esquentar água. Daniel não queria compartilhar a insônia com a avó, mas quando Gladys notara que o neto ia e vinha sozinho na cozinha, às claras, soube que não conseguiria dormir enquanto o rapaz sofresse calado.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- A felicidade é que amanhã é domingo. - Gladys constatou. - Não se preocupe, até porque se nos recolhermos mais tarde, não há nada melhor do que despertar tarde, lembrando-se que o fim de semana não acabou.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Isso. - Daniel não teve como discordar, e riu. - Quer uma ajuda aí, vovó?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Fique sentado, querido. - Ela acendeu a boca do fogão, produzindo um rumor tranquilizador em constância, assim que a chama se manteve. - Conte-me, o que aconteceu?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- A moça que se dizia "<i>Simone</i>", usando fotos de Mildred... - Ele ia explicar, mas a avó meneava a cabeça como se conhecesse onde desejava chegar.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim, claro que jamais poderia ser verdade. - Gladys puxou uma cadeira, momentaneamente incomodando <i>Cyrano</i>, que levantou o rostinho para repreendê-los com um olhar severo, e logo voltar a aninhar a cabeça entre as perninhas esticadas. - Mildred morreu pouco antes de deixarmos <i>Cape May</i>. Max explicou para você, não?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Pois foi Robyn quem se fez passar por Mildred. - Revelou, num só fôlego. A avó parecia surpresa, e Daniel desnecessariamente nominou melhor sua admiradora. - Robyn Cowan. Ou melhor, Corliss agora. É uma mulher casada.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim, claro. - Ela respondeu, as palavras ditas com pressa, como se monossilábica fossem. Ficou por um par de minutos estática, olhos na boca do fogão; entretanto, na verdade, era em algum outro lugar distante onde se refugiavam seus pensamentos e considerações. - O engraçado, <i>Danny</i>, é que para uma mulher se dar o trabalho de se passar por outra pessoa, tudo só pareceria sensato se houvesse uma história entre vocês dois, e eu realmente não me recordo muito da Robyn. Claro que me lembro de Parker sempre em casa, pois vocês eram muito unidos e, pelo menos por um tempo, namorados. O rosto de Robyn aparece numa ou noutra lembrança, mas no apanhado geral, eu...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Espere, vovó. - Daniel apertou os olhos e balançou a cabeça, confuso. - Você disse, "<i>por um tempo</i>". Então, Parker e eu namoramos, porém apenas por um...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim, sim. - Gladys limpou a garganta, condicionando-se a encarar a empreitada. Precisava de disposição para acessar coisas até meses atrás esquecidas e devidamente perdoadas. - Quando se conheceram, eram adolescentes ainda. Ela entrou na sua vida quando tinha 14 anos. E mais tarde, engataram um namoro; o namoro durou até 2002. - Ela franziu, para reafirmar, desta vez com segurança: - Isso mesmo, 2002. Foi o ano no qual se formou. Eu me lembro muito bem quão arrasado ficou quando ela terminou, praticamente a dois semestres do término do...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Ela me deixou, então. - Repetiu, para não deixar dúvidas.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim, foi a Parker quem... - Gladys sacudiu a cabeça, pensativa. - Escute, não quero fazer com que se sinta mal a respeito, mas são os fatos, querido. Foi Parker quem te deixou. Não me pergunte sobre motivos, só Parker poderia te explicar melhor. Ela deixou sua vida pouco antes da formatura, quando entrou a outra menina... - Gladys encarou o neto, que complementou.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- <i>Mildred Weber</i>. - Ele murmurou.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- <i>Mildred Weber</i>. - Confirmou. - Uma menina doce, cheia de gosto pela vida. Tão grata pelas coisinhas mais simples, por mais que sua história lhe desse oportunidade para odiar a vida. Mas ela sabia que revoltar-se era uma cilada demoníaca. Ela nunca se queixava, nunca se rebelava. Sempre com o terço em mãos, pedindo para que lhe lessem sobre os caminhos do Senhor, pois ela mesma não conseguia, pela cegueira. - <i>Gladys chorava</i></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>?</i> Seus olhos cheios d'água deixaram as lágrimas finalmente rolarem ao fechá-los enfaticamente. - É muito difícil revisitar aqueles anos, mas suponho que deva isso a ti, querido. </span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Então, essa foi a maior razão que a levou a se distanciar de <i>Cape May</i></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Sim. - Ela deixou a cadeira. Sem pressa, pensativa, voltou ao pé do fogão. Suspirando, ilustrou: - Foi uma singela história de amor pela pureza envolvida. O que existiu de especial foi a inocência de tudo, pois ela gostava de você por aquilo que é invisível aos olhos; ela era cega. Você quis o bem dela pelas suas virtudes, também. É uma faca de dois gumes, não</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span> - Lançou o olhar ao neto e explicou-se. - Uma história de amor, tão linda assim... Faz-me pensar que talvez tenha sido melhor esquecê-la após o acidente em 2004. De certa forma, quando perdeu as recordações, teve como sublimar um deserto de luto, e de uma maneira mais esquisita ainda, recomeçar do zero. Compreende meu dilema, certo, querido? Pela primeira vez em anos, você fala sobre ambições e planos, com os ombros livres de pesos, de implicações, de rancores. No entanto, agora quer voltar a apanhar essa bagagem de...</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Certo, mas a senhora reagiu tão bem à Parker! Se fosse assim, eu...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim, eu reagi positivamente, mas apenas porque, melhor do que qualquer outra pessoa, ela não está mais focada no passado, por mais que, diferente de ti, consiga se recordar. Ela é uma mulher com mais de 30 anos, a sua idade. - Gladys deixou transbordar um pouco do excesso d'água e começou a coar o café. - É compreensível que não tenha dado certo, na época. Nesses quase dez anos, imagino que a vida tenha ensinado muito a Parker. É evidente que seu esquecimento veio a calhar. Ela não quer que se lembre de como as coisas terminaram em 2002, porque foi a própria quem causou os problemas que acabaram por afastá-los.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Então, vovó... A senhora acha que eu faria melhor me mantendo distante de...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- <i>Danny</i>, você queria respostas. - Gladys trouxe a garrafa e as xícaras. - Agora, sabe de Mildred e a razão de termos deixado <i>Cape May</i>. Procurei protegê-lo de lembranças desagradáveis. Acho que sabe o bastante para olhar para frente e deixar o resto de lado. Se está tão obstinado a preencher lacunas..."<i>Por que Parker te deixou</i>" ou "<i>Onde foi que as coisas deram errado</i>"... De que importa? Aconteceu há dez anos. - Gladys abriu os braços, encenando a impotência diante de teses tão mirabolantes. - Não importa mais. O mundo continuou a girar, e aqui estamos nesta cozinha. Quando Parker ressurgiu, eu não me preocupei muito, porque sei que não é mais o garoto da época de <i>Cape May</i>. Está mais maduro e sofrido, saberá lidar com uma ex-namorada. Se Parker seguir doce e gentil, se deixar claro que quer seu bem, por que não? Por outro lado, se Parker "<i>virar a casaca</i>", tem idade para não se apegar e cuidar da vida. Não posso tomar decisões por você, mas posso aconselhá-lo. Você tem me surpreendido com o quanto amadureceu. - Ela serviu a xícara ao neto. - Da confusão com o avião para cá. Foi como se tivesse deixado a cabeceira da pista como um novo homem. A determinação com que estudou para o concurso reforça minha crença. Temia morrer e deixá-lo sozinho no mundo, porque mesmo aos trinta, você não vinha se conduzindo com o discernimento necessário para sobreviver lá fora. Agora, você se sairá bem em qualquer contingência. Mais vaidoso, ambicioso, maduro, assertivo... Há aspectos de seu passado que parecem negativos, mas concorreram para um bem maior.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Bem, mas com o avião da <i>American Airlines</i>, vieram esses rostos de um passado que...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- É natural, <i>Danny</i>. - Gladys se serviu do café. Ela cortou quatro rodelas de salame para enriquecer o sanduíche do neto. - Parker tem o quê? Trinta e pouco? Estava solitária e infeliz, e te viu na televisão. Lembrou-se dos bons tempos, pois não encontrou uma pessoa legal nesses últimos dez anos. Você a respeitava e cuidava. Mais do que um namorado, era o melhor amigo, e foi esse o problema: tornou-se mais um amigo do que namorado. Pergunte a qualquer homem, Giro diria a mesma coisa! - Daniel riu, meio sem jeito. Não esperava tamanha perspicácia vinda de uma senhora idosa. Gladys sorriu e continuou. - Dez anos mais tarde, como mulher madura para além do auge, Parker procura por valores que, aos vinte, não a atraiam tanto assim, e quando te viu na televisão, apareceu por aqui. Você precisa compreender, querido. - Ela apertou o pulso do neto, robustecendo o momento. - Você não tem ex-mulheres ou filhos ou pensões a quitar. É um sujeito cristalino, acima de quaisquer suspeitas, livre de recalques e ressentimentos, com um futuro pela frente, e já começou a pavimentá-lo com o concurso. Mais importante, todavia, é o fato de ter um bom coração. É lógico que hoje Parker te valorize. Eu só espero que tenha em mente seu valor, e não se deixe usar. Pessoas antenadas com sentimentos e apegadas à moral sofrem muito, <i>Danny</i>. As pessoas tiram vantagem de gente assim, que jamais recebe respeito porque põe as necessidades dos outros à frente das próprias, e a tragédia é que por não reconhecerem o próprio valor, permitem-se serem pisadas, pensando que a vida é assim mesmo. Eu sou idosa e não sei quanto tempo há para mim, querido, portanto acorde e sinta o cheiro do café. Você vale muito, <i>sim</i>, e precisa despertar para as malícias do coração humano.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Então, eu suponho que as lacunas da minha história não valem o esforço?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Você deve entender que se acha que as lacunas valem o esforço, você estará certo; se acha que não, então estará certo também. Em suma...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Depende do que quero. - Daniel concluiu a linha de raciocínio, precisamente.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim. Eu posso te oferecer algumas observações, mas não posso escolher no seu lugar. Sabe como eu me sinto quanto a Parker. Ela não é a mulher intocável que você venerou num passado recente, mas um ser humano comum, passível de erros e acertos. Se você se sente seguro, e Parker não te der provas ao contrário, não serei eu quem aconselharei contra o envolvimento. Apenas peço que não tire os pés do chão. Baseie suas decisões no que enxerga claramente.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Quando foi se recolher para descansar, levou <i>Cyrano </i>consigo. O felino protestou, respondendo com inofensivas patadas e bufadas contra o tutor, mas ao se ver depositado com cuidado e carinho sobre a cama, procurou o cantinho costumeiro, o vão entre travesseiros, para tentar "<i>retornar ao sonho</i>". Imerso na escuridão do quarto, Legrand abriu o <i>MacAir </i>e viu que Parker enviara três cartões virtuais. Abriu o primeiro, uma singela animação onde dois gatinhos namoravam na sacada de um prédio tipicamente parisiense em estilo <i>haussmanniano</i>, a algumas quadras da Torre Eiffel, embalados por uma doce melodia. Daniel sorriu, lendo e relendo várias vezes o parágrafo sob a animação: "<i>Tenho pensado sobre Paris. Consegue nos ver no lugar dos gatinhos</i></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>? Te amo. Parker C.</i>". Ao deitar-se na rede, não conseguiu relaxar facilmente. Percebeu que, noutros tempos, o fascínio provocado por Parker o teria deixado cativo. Naquela noite, entretanto, após a conversa com a avó, dava pela existência de uma zona misteriosa, cinzenta, onde as respostas verdadeiramente importantes dependiam das perguntas certas. Parker apreciava a companhia dele e vinha exibindo seus traços mais encantadores; contudo, agora que estava prestes a dar o passo para o futuro de mãos dadas à atriz, Daniel hesitava. Adormeceu repentinamente, um salto na inconsciência, o lugar onde o passado vez ou outra entrava em cartaz na tela de cinema que era sua mente.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Quando o passado "<i>voltava</i>", Legrand não apenas se recordava, ele os revivia. Os sentimentos insondáveis dentro de um ponto inacessível do espírito atingiam-no como descargas elétricas, ao vê-los pela "<i>primeira vez</i>". Efetivamente, era como se após tantos anos se encontrasse ali na curva de entrada elevada de <i>Cape May</i>. O céu estava prateado, indicando a aproximação da frente fria, a migrar do Atlântico para a costa, tornando o mar revolto, ondas quebrando enlouquecidas contra rochedos, o vento cortante desestabilizando a enseada e agitando os barcos no cais. Ali onde estava era o começo da descida, um ponto inclinado da pista que traçava a primeira curva, a mais fechada e alta, para a entrada definitiva em <i>Cape May</i>. Antes de colocá-lo na rota direta para <i>downtown</i>, a curva proporcionava a vista de uma breve, impressionante discrepância desnivelada daquele ponto com o mar, altitude suavizada `a medida que se avançava para a cidade praiana. Uma vez que a animadíssima via da orla fosse alcançada, a linha do mar coincidiria com a da cidade, e se você lançasse o olhar para trás, para a entrada de <i>Cape May</i> quilômetros de distância, ficaria surpreso com o tamanho da encosta de onde se enxergaria só um pedacinho da pista na altura da curva, e o faroleiro abandonado.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Era sobre aquela primeira curva onde Daniel caminhava de um lado para o outro, no acostamento, cabelos, calças e paletó amassados pela rebeldia da ventania, braços cruzados na frente do peito. Aos pés, preso `a coleirinha, um meigo gato, ainda filhotinho, uma bolinha de pelo gorducha e atrapalhada que reconheceu como <i>Cyrano</i>, quando bebê. Pelos elementos do sonho, parecia evidente que fora uma noite importante de janeiro de 2002, um ano antes da conclusão do curso, conforme Gladys explicara. <i>Cyrano</i> havia sido preparado com uma encantadora gravatinha vermelha. Pela caminhada em círculos e o aperreio, Daniel também entendeu que aguardava a chegada de uma pessoa. Subitamente, a parte insondável de sua alma abriu-se facilmente aos olhos para esmiuçar o evento.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Sim, Daniel se recordava melhor agora: Parker rompera com o namoro há dois ou três meses, levando consigo o ânimo e o deslumbramento com o qual enxergara o mundo ao longo dos anos entre 1995 a 2001, quando tinham sido tão felizes juntos. Agora, a curva cuja borda dava para ao perfil do Atlântico, aquele lugar que num passado recente parecera especial, principalmente após as aulas quando por ali passavam em direção a <i>downtown Cape May</i>, ou nos finais de tarde nos quais se encontravam para se sentar numa das rochas mais próximas ao desfiladeiro para assistir ao pôr do sol, era um ponto gélido e misterioso, banhado por luzes de postes que, corrompidas pelo néon da <i>diner</i>, subtraia a aura de inocência de dias gloriosos, substituindo-a por uma de mistérios e inconstâncias. De fato, Daniel esperava uma convidada. Conversara com Parker, e tinha prometido que não a atrapalharia mais. Daniel sofria por causa do distanciamento, mas era sensato o suficiente para saber que se ela não aparecesse naquela noite, faria melhor a Parker com sua ausência ao invés de presença imposta.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Ao se dar pelos chuviscos contra a fronte, ajoelhou-se para pegar <i>Cyrano</i> no colo. Tão pequenininho, conseguia segurá-lo com uma mão somente, enquanto com a outra esforçava-se para não deixar que a chuva e a ventania forte arruinassem o buquê de flores, esperançoso no surgimento de Parker quando o bondinho parasse em frente a <i>diner</i>. Ele se sentou no banco de madeira da parada. Quando o bonde deixou os passageiros saltarem, desceram apenas meia dúzia de garotos que, pelas jaquetas, seriam calouros da NYU, na praia para aproveitar o fim de semana. Eram 20:00, o horário combinado para a chegada; entretanto, ao deixar desolado o lugar, a <i>diner </i>estava fechada, e os ponteiros apontavam pouco mais de meia-noite, a última volta do bondinho, que retornava `a estação e só reassumia a linha `as 06:20 da manhã. Era janeiro de 2002, ele tinha vinte e dois anos de idade, e não sabia da primeira coisa do mundo. Até aquele ponto, Parker na sua vida fora privilégio a que acreditava não caber à sua pessoa. Não imaginava o quão errado estava, o quão pouco sabia da vida, e que em suas mãos guardava um bem que mesmo os mais ricos e tradicionais de <i>Cape May</i> não tinham como assomar do <i>nada</i>: <i>pureza de coração</i>. Suas escolhas haviam girado em torno do bem-estar de Parker; esquecera-se do próprio mas, desconsiderando os desapontamentos passageiros, fizera <i>unicamente </i>o bem. Aos 22, no auge da juventude e com um mundo de oportunidades à frente, ainda não percebia os detalhes que, mais tarde, aos 30, procuraria passar `a turma de amigos salvos do avião em chamas na cabeceira do aeroporto de <i>Jersey</i>. Pelos próximos dez anos, porém, Daniel estaria entregue à frustração gerada pela descontinuidade entre a força de seu caráter e aquilo que esperava como resposta à sua postura, quando, conforme aprenderia, agir por amor a Deus e ao próximo não significava esperar amor em troca, mas seguir <i>Cristo</i> à cruz, ali havendo a sublime felicidade: em outras palavras, o mistério da redenção que, no seu caso, viria no ringue ao se levantar contra Robyn.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Ele despertou algumas horas antes do amanhecer, sentindo-se diferente e emotivo, e buscou imediatamente pelo seu anjinho, o gatinho rabugento com trissomia. Ao vê-lo, sorriu, mergulhando sob os lençóis para abraçá-lo. <i>Cyrano</i> lhe dirigiu um olhar irritado e virou o rostinho achatado, provavelmente pensando em como o seu "<i>humano</i>" era um cara esquisito! Daniel riu mais. Afagava as costas do gato, distraído com a forma como o céu variava em gradiente, o sol ainda abaixo da linha do horizonte, porém perto de irromper. Foi um domingo agradável. Na hora do almoço, Daniel saiu para buscar pizza, e absolver a avó dos afazeres da cozinha. No decorrer da tarde, amigos telefonaram, o mesmo tema: a ansiedade pelo resultado com a lista de aprovados. Após o concurso, tão fascinado ficara pelo mistério de <i>Cape May</i> e Mildred Weber, distraíra-se das maravilhosas consequências de uma possível aprovação. Agora, trazido de volta `a realidade, também experimentava o aperto no coração pelo resultado. Durante o resto do dia, nas vezes nas quais o assunto era mencionado, desejava que as semanas se passassem rapidamente, apenas para saber o quanto antes. Gladys requentava as sobras de pizza para consumirem as últimas fatias com goles do maravilhoso café, como jantar. O neto aguardava sentado no alpendre, distraído com brincadeiras com o animado <i>Cyrano</i>, improvisadas com um pano de prato velho.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Foi somente quando a noite se deitou sobre <i>Elizabeth</i>, após o jantar, quando Gladys assistia ao programa de variedades de domingo enquanto conversava ao telefone com uma comadre, que Daniel parou para se aperceber de uma intrigante, quase imperceptível transformação. Não pensava mais tanto em <i>Cape May</i>. No início da jornada, sentira-se movido por uma súbita, inflamável paixão; entretanto, o fato de Parker tê-lo deixado esperando naquela noite gelada na curva de entrada traçara a necessária linha divisória entre fantasia e realidade. Uma pessoa era a Parker idealizada pelo seu imaginário quando a atriz retornou `a sua vida; outra, uma mulher de carne e osso a qual o ajudava a se sentir melhor, porém exatamente <i>isso</i>: um <i>ser humano</i>, com direito a suas falibilidades. Daniel não havia respondido aos cartões. Ao se preparar para dormir mais cedo, Parker telefonou.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ei, <i>estranho</i>, tudo bem? - A voz soava triste e acusatória. Sentindo-se péssimo, Legrand viu que jamais conseguiria ser rude com a atriz. - Não me escreveu ou ligou...</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Olá, querida. - Procurou simular alguma empolgação, mas soube que não conseguiria ocultar a grande confusão. - Eu pensava em ti.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Mentiroso. - Silêncio. Ela continuou: - Sabia da chegada desse dia. - Parker lamentou, suspirando cansada. - O dia no qual se cansaria de mim. A verdade começou a aparecer...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Fala de como nosso namoro terminou lá atrás? - Daniel quis elucidar. - Sim, querida, eu fiquei sabendo a respeito, e ontem tive um sonho muito real. Eu me vi te aguardando na estação do bondinho, na curva da entrada da cidade. Foi assim?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Foi, foi assim. - Subitamente, Parker soava comovida. - Por favor, quero estar contigo para explicar melhor! Não quero que continuemos à deriva e, com o seu afastamento, eu realmente...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Não, querida, não. - Daniel riu de modo caloroso e aconchegante, ajudando-a a se tranquilizar. - Não estou chateado, não procurei me afastar. Eu sinto sua falta. Apenas procuro compreender a dinâmica de como aconteceu! Sinto-me dividido, sabe?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Quero estar contigo, Daniel. - Parker reiterou para já</span></span><span style="font-family: arial;">. - Não posso ficar parada deixando que até nossos momentos recentes se percam como as recordações daqueles que vieram antes!</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Então como vamos fazer</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? Você gostaria que eu a visitasse no próximo fim de semana</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu já estou no aeroporto, seu tolo. - Ela revelou, e Daniel nem soube como responder, chocado. - Estou ligando para você do <i>Liberty</i>.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Oh, querida, uma ótima surpresa! - Disse, já sinalizando para a avó, ao passar pela sala de estar em direção ao alpendre, que gostaria de conversar, em seguida. - Muito bem, eu vou pegá-la então. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Você gostou da surpresa</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Parker jamais parecera tão insegura, a voz insistentemente vacilante, carente e chorosa. </span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Claro que sim! Vai ser ótimo, fez bem em vir. Escute, é melhor eu ir apanhá-la antes que fique tarde. Vovó ficará muito satisfeita!</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Esperarei nos bancos da rodoviária do aeroporto. - Parker anunciou, antes de desligar. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Daniel enfiou o celular no bolso da calça. Antes de se explicar `a avó, encontrou-a na soleira, estudando sua reação ao telefonema compassivamente. Daniel deu com os ombros, visivelmente surpreso, e Gladys sorriu.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Lembre-se do que eu disse, <i>Danny</i>. Ela é uma boa menina. Ela deseja seu bem. Não tire jamais os pés do chão.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Não tirarei, vovó. - Daniel sentou-se na soleira, com as mãos na testa, atônito. - Prepararei um quarto para ela.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Giro ficaria orgulhoso se pudesse ouvi-lo agora. - Gladys acarinhou os ombros do neto, empaticamente. - Ele sempre foi seu fiel escudeiro, uma ferramenta que o Senhor usou para que não se perdesse completamente.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Claro, claro. - Daniel apreciou as palavras sobre Giro, e ia pensando num insight a lhe ocorrer, quando se lembrou da exiguidade do tempo. - Na volta, passarei no supermercado para comprar algumas coisas para a geladeira. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Faça isso. Não se esqueça de ovos, café. As cápsulas, sabe? Aquelas de café com leite e canela, que amo.. - Do mesmo jeito que a avó fazia desde que conseguia se recordar das vezes quando deixava a casa apressado, Gladys beijou a cabeça do neto e reiterou que tudo ficaria bem.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Daniel identificou Parker numa batida de olhos. Vestida com uma mochila, estava de costas, metida em roupas de frio, em frente a um quiosque do <i>McDonalds</i>, da rodoviária, saboreando uma casquinha. Ele estacionou a caminhonete ao lado do meio-fio e antes que a atriz o visse, abriu uma expressão receptiva e suave. Daniel depositou uma mão sobre o ombro dela. Parker reagiu se virando devagarinho e o abraçando carinhosamente, antes de tentar dizer algo. Ele a recebeu com perguntas denotadoras de doce preocupação. - "<i>Como você está</i>", "<i>Você tem fome</i>" - mas a atriz não respondia. Certo de que ela precisava de seu suporte, Daniel deixou as questões para mais tarde, e a apertou contra o peito. Depois de bons minutos bem juntinhos, Parker colocou as mãos contra o peito de Daniel para ganhar uma brecha pela qual tivesse como encará-lo enquanto falava.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Se preferir que eu volte para casa, eu entenderei.</span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- "<i>Preferir que eu volte</i>"</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Ele repetiu, zombeteiro e brincalhão. - Você é minha prisioneira agora! - Parker ensaiou um sorriso dolorido. De qualquer forma, era um progresso. - Chegando a casa, a senhorita se refrescará sob uma ducha quente, comerá e terá uma boa noite de sono pela frente!</span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- "<i>Boa noite de sono</i>"</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Daniel quebrara o gelo, e agora Parker arriscava um flerte bem humorado. - Pensei que transaríamos feito loucos.</span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Ei, não estamos em <i>Cape May</i>, e sim na casa da vovó Gladys! - Os dois riram, a caminho da caminhonete. - Ademais, Padre di Sofia sempre esperou tanto de nós Temos de nos comportar! Principalmente por causa do <i>Cyrano</i>, com quem dividirá a cama! - Mais risadas. Parker apegou-se ao namorado, e apoiou-se ao braço forte para amenizar o fardo físico e mental das últimas semanas.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">No caminho para casa, o humor de Parker foi restaurado. O sorriso parecia mais fácil, menos imediatista e angustiado. Ela desceu com o namorado no <i>Walmart </i>de <i>Elizabeth</i>, onde passearam entre corredores atirando coisas gostosas dentro do carrinho. Daniel avisou que lhe prepararia um café da manhã especial. Mesmo diante de uma prova de carinho tão banal, os olhos dela marejaram. Gladys esperava no alpendre. Quando a caminhonete parou, desceu para recebê-la na entrada. Parker entregou os pacotes a Daniel, e recebeu o caloroso, familiar abraço de Gladys. Daniel assistiu ao reencontro com uma sensação de alívio. Era verdade que quando ela ligara para contar que viera a <i>Elizabeth</i>, Daniel assustara-se, mas agora o choque inicial havia sido absorvido pela excitante novidade.</span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">A avó a convidou a acompanhá-la à cozinha. Pedindo que sentasse, Gladys abriu a caixa de ovos e tirou o bacon do congelador. O pão, Daniel o besuntou com manteiga e o empurrou na assadeira para o forno. </span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Quando viu que demoraria um bocadinho para pães e tiras de bacon ficarem no ponto, Gladys pediu que o neto a levasse ao quarto, para que tomasse banho, refrescasse-se e vestisse roupas mais suaves. Ela ressurgiu meia hora depois, enxugando os cabelos com uma toalha felpuda laranja, vestindo uma blusa branca, saia folgada e pés descalços. `A mesa, bem-servida com itens gostosos, Parker sentiu-se fantástica por jamais precisar forçar assunto ou se sentir constrangida. A leveza e a fluidez com que Gladys falava sobre a novela ou fofocas de comadres deixaram-na com um fácil sorriso no lindo rostinho. <i>Cyrano</i> acordara e agora brincava com Parker, colocando as patinhas para ver se ganhava chamego. Vencida pela fofura do gatinho, apanhou-o e o aninhou no colo.</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Ao se recolherem para dormir, fazia um clima fresco e aprazível, uma noite realmente encantadora. <i>Cyrano</i> abandonou o tutor e foi se deitar com Parker, bem na cabeça dela, entre travesseiros. </span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Daniel adormeceu balançando-se na rede, matutando sobre a distribuição dos fatos na cronologia da sua história pessoal. <i>Cyrano</i> dormia com Parker, mas no sonho que tivera a outra noite, ainda era um filhotinho, em 2002, quando o tutor esperara pela atriz. Quase dez anos haviam se passado. Os sinos da porta que separava alpendre de cozinha tilintaram muito discretamente: Gladys fechava as luzes para se recolher. Ali, os dois mundos de Daniel se encontravam, seu tão recôndito passado e o presente ao qual vinha se acostumando no decorrer dos últimos anos. Daniel não sabia quão próximo estava da verdade.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
</span><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Daniel chegara a Mildred por força da obstinação em reconquistar Parker. Ele não sabia, porém, alguns meses antes do término, ela vinha se encontrando com outra pessoa. Alguém mais vivido teria reconhecido a situação no ato, mas não o pobre Daniel. Inspirado a fazer algo especial e diferente por Parker, estendeu a mão à ex-namorada numa tentativa final de reatamento. Fora numa das tardes nas quais aparecera na sacristia, em busca de Padre di Sofia para a confissão, que Mildred chamou sua atenção, pela primeira vez. Visitá-lo sempre o deixava com o coração menos pesado; até o simples ato de caminhar pelos jardins em direção à igreja era prazeroso, pois crianças indo e vindo ao redor era uma lembrança da bondade e inocência ainda existentes no mundo. Dentre crianças, ele a notara pela forma como se esquecia do mundo, sentada ao pé de um jacarandá púrpuro, mexendo com um gatinho. </span></span><span style="font-family: arial;">Desde o início, Mildred enxergara através da própria deficiência, e vira em Daniel as qualidades que, aos olhos saudáveis de Parker, não valeram muito, na época. Meio apressado para cumprir as tarefas, a confissão acabou ficando para depois, ao sentar-se ao lado de Mildred para conversar e descrever, da melhor forma possível, a bolinha de pelo cuidada incondicionalmente por ela. As horas voaram; foi quando o sorridente Padre di Sofia chegou, oferecendo um abraço aos seus filhos de coração. E, noutra oportunidade, depois que Daniel passou a vir frequentemente ao orfanato para ver Mildred e os gatos, Padre di Sofia lhe contou a triste história da menina. Ela destoava dos demais, e, à primeira vista, poderia ser tomada como uma professora do lugar. De fato, ela os ajudava a cuidar das crianças, mas não era somente uma servidora da instituição. "<i>Sem a Mildred, não existiria o orfanato</i>", disse-lhe Padre di Sofia, afinal fora a primeira criança chegada a suas mãos, antes da existência do lugar. Aparecera pequenininha, à noite, na escadaria principal, quando di Sofia trancava a porta após a última missa e se preparava para descansar. Chegara às mãos de di Sofia como se anjo fosse: não se soube de onde veio ou quem eram os pais. "<i>Amei-a assim que a vi</i>", di Sofia dizia, com os olhos cheios de lágrima: "<i>Lembrava-me de minha filha morta</i>". Agora como padre, pôde ensiná-la quão infinito era o amor do Senhor. "<i>Maior do que seu amor por mim?</i>", Mildred perguntaria ao padre, ainda menininha, emendando "<i>Como poderia ser maior, se o senhor me explicou que seu amor por mim é infinito?</i>". O bem-humorado di Sofia recorria à amada matemática, a disciplina que lecionava no colégio, trazendo à baila os conjuntos dos números naturais e inteiros, ambos infinitos, porém os inteiros como um conjunto ainda "<i>maior</i>" por enquadrar os números negativos. "<i>Você sabe, minha filha, ambos são infinitos, mas há infinitos maiores que outros</i>". Ao longo da vida como professor, dizia exatamente a mesma coisa a seus meninos, e eles sempre sorriam docemente, intrigados. Foi nesse contexto no qual Mildred entrou na vida de Legrand, durante a crise no namoro.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Parker, nós temos um namoro muito precioso, não deixe que alguém fique no meio. - Daniel ressaltou, visivelmente comovido, naquela uma semana antes do começo do primeiro semestre de 2002, o ano da conclusão do curso. Conversavam à mesa de um café de desenho parisiense, um dos cantinhos mágicos alheios à indiferença maciça de <i>Nova York</i>, à margem de seu mais famoso largo, <i>Times Square</i><span style="font-style: normal;">.</span> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu não quero perder sua amizade. A ideia de lhe causar dor é inimaginável. Lembre-se disso quando for tentado a me odiar. - Ela respondeu, com os olhos marejados. Apesar de ter sido Parker quem terminara, também era a própria quem mais lamentava. - Eu sei que estou dando um passo rumo à escuridão, mas não terei as mesmas oportunidades de explorar o mundo e as experiências mais tarde.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Jamais devemos nos basear nas emoções para decidir. Elas são enganosas. - Daniel afagou os cabelos molhados dela. Seus olhos tristes refletiam o apurado das luzes em movimento vindas das ruas <i>42 & 47 Oeste</i>. - Nós começamos a construir nosso caminho para o céu. Caminhar em direção ao céu é a vocação do ser humano, Parker. Não deixe que as palavras de cautela de Padre di Sofia se dissolvam e desapareçam, mesmo depois da separação.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- E talvez seja por isso que eu esteja partindo. - Parker fez menção de se levantar. As pontas dos dedos deslizaram pelo rosto do agora ex-namorado. - Mesmo partindo, seguirei dentro de ti, não conseguirá se livrar de mim. E quando eu quiser, estará de braços abertos para me receber, certo? - Ela esboçou um sorriso triste, não inteiramente melancólico. Existia um elemento a mais. Havia um resquício de crueldade na covinha que Daniel aprendera a apreciar tanto. - Há um pouco de veneno em mim. Pessoas psicologicamente danificadas eventualmente precisam destruir aquelas que as amam. É a natureza.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Não, Parker, isso é uma mentira, ou das suas fantasias, ou do mundo, que encoraja esse tipo de conversa narcisista. Eu estarei em <i>Cape May</i> no aniversário de sete anos de nosso namoro. Você sabe onde me encontrar. - Destacou, com um olhar esperançoso. - Nós nos veremos na curva.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span style="font-size: small;">- </span>Eu não vou aparecer.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span style="font-size: small;">"<i>Nós nos veremos na curva</i>", dissera Daniel, e era verdade, só que somente se tomada a sentença em seu sentido simbólico; de fato, ver-se-iam na curva da vida, dez anos no futuro. Daniel a viu atravessando com um empurrão a elegante porta giratória de madeira do café, e sendo engolida tão rápida quanto casualmente pela massa de transeuntes apressados, vidas em constante transformação como sangue a correr por malhas entrançadas de esquinas e cruzamentos, esses sim imutáveis, como insetos presos a âmbar, na forma dos atraentes e charmosos contornos da <i>NASDAQ</i>, da <i>Virgin Records</i>, da <i>Times Square</i><span style="font-style: normal;">... As memórias daquele fim de tarde chuvoso em </span><i>Nova York</i><span style="font-style: normal;"> foram descritas com riqueza de detalhes por Legrand a Mildred, quando a visitou para contar o fim do namoro.</span></span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="font-size: small;"><span style="font-style: normal;">Enquanto conversavam num banco de madeira sob o jacarandá, </span><span style="font-style: normal;">Daniel confidenciava a Mildred o quanto desejava que, tendo se avizinhado a data do aniversário do namoro, Parker mudasse de ideia. Um dos gatos chamou a atenção. Era o filhotinho </span><span>preto </span><span style="font-style: normal;">tristonho metido entre as floreiras. Ao passo que os outros pareciam não se conter de alegria, por causa da danação, a imagem daquele gatinho com trissomia tocou a Daniel de uma forma ímpar. A mãe havia sido atropelada e morta, Mildred explicou, e Daniel se sentiu um bobão ao só perceber que a narração lhe arrancara lágrimas ao sentir o gosto salgado no canto da boca. Não imaginara quão vulnerável e fragilizado permitira-se ficar, mas via no animal semelhanças que os tornavam companheiros em dor.</span></span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Daniel despertou ao fim da madrugada. Movimentando-se com muita habilidade, atento a não causar turbulências `a placidez a qual embalava a casa e as duas mulheres que dormiam, conseguiu deixar a rede para se sentar na cadeira de balanço do alpendre. Encantou-se quando ao leste apontou triunfante a alvorada, o sol comparecendo na linha do horizonte, pintando o que havia de nuvens com rajadas baunilha. O gato</span></span><span style="font-family: arial;"> anunciou a chegada com o barulho das patinhas sobre as tábuas. O coração de Daniel encheu-se de ternura, e agachou-se para receber o "</span><i style="font-family: arial;">Bom Dia</i><span style="font-family: arial;">" do amigo.</span><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span style="font-size: small;"><span style="font-style: normal;">- </span></span>Então, um dia, você foi um lindo filhotinho, hein? - Disse para o amigo num suspiro, e <i>Cyrano </i>o estudou com um olhar interessado. - Por que não permaneceu daquele tamanho? - Ele apanhou <i>Cyrano</i> como a um pacotinho e o trouxe para descansar sobre o travesseiro nas pernas. - Mas <i>não</i>. Você teve que crescer! E o pior, desenvolver um temperamento difícil!</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">O dia logo amanheceria completamente. Gladys levou um modesto susto ao deixar o quarto muito cedo, como sempre fazia, e dar com as costas de um homem – o neto – na cadeira de balanço do alpendre. Ela deu duas leves batidas no vidro, fazendo um movimento com a mão para que entrasse. "<i>Vai apanhar um resfriado, querido</i>", alertou, pedindo que encerrasse a passagem para dentro por causa da corrente de ar. A avó começaria a preparar a mesa, e Daniel disse que preferiria chegar mais cedo ao aeroporto. Comeria uma bobagem. Um pãozinho com manteiga salgada preparado no forno e uma boa xícara de café com leite lhe pareciam de bom tamanho. A avó insistiu para que se juntasse às duas, mas Daniel sentia-se ansioso, e não sabia explicar por quê, para chegar ao aeroporto e sair caminhando pelo canteiro de onde, há um tempo, testemunhara o acidente o qual alterara sua rota de vida. Às seis horas da manhã, era o primeiro agente aeroportuário do turno a se apresentar, e não levou mais que meia hora para estacionar a caminhonete e partir pelo canteiro das pistas rumo ao exato ponto onde o passado encontrara a janela de oportunidade perfeita para revisitá-lo.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Giro, procure compreender... - Daniel tratou de reparar seus erros antes mesmo de contar a verdade, durante a preleção da manhã, antes do começo do turno. - Max passou por aqui tão rapidamente que mal houve oportunidade para conversar melhor, quanto mais contar a ti sobre a presença dele. Compreende-me?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Oh, Daniel. - Pareceu decepcionado, mas felizmente resignado, como se já viesse esperando pela confissão. - Bem, eu não posso culpá-lo, posso? - Os dois se afastaram da porta da sala de operações que dava para o corredor principal, e foram conversar melhor num dos hangares da <i>American Airlines</i>.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Pegou o caminho na mesma noite e regressou para <i>Cape May</i>. Eu voltava para casa com o Suntee, depois de deixá-lo no aeroporto, quando "<i>Simone</i>" me procurou. - Daniel contava, e o olhar de antecipação do amigo indicava que conseguia prever a maior surpresa de todas. Legrand a salvara para o fim: - Nisso, eu sabia que poderia ser qualquer pessoa do outro lado, menos <i>Simone di Sofia</i>, que havia morrido. E a intuição compensou, pois de fato se tratava da pessoa que eu imaginara: a irmã de Parker.</span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Robyn?<br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Daniel fez que sim. Alguém os chamou do pátio de operações. Para Giro, foi uma trégua, não que não soubesse o que devia falar, <i>sabia</i>, apenas não desejava fazê-lo ainda. Legrand concordou que melhor oportunidade se apresentaria no intervalo de almoço. Eles foram cuidar dos afazeres. Mais tarde, enquanto os colegas resolveram aproveitar o intervalo assistindo a um jogo de futebol transmitido ao vivo, Daniel e Giro encontraram-se na passarela do mercado. Dada a exuberância do calor, Giro tomou o amigo pelo braço e o convidou a continuar o papo sob as treliças do grande pavilhão dos quiosques de carnes.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Não sei bem o que pensar. - Daniel sumarizou a confusão. - Logo depois, Parker me ligou, dizendo que viera nos visitar. Parece que o fato de Parker vir gradualmente estendendo a mão para mim encorajou Robyn a interpretar uma farsa.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Isso se chama sondagem, meu amigo. E se ela o sonda, é porque você é detentor de informações comprometedoras. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- E das quais não me lembro. - Suspirou, desencorajado. - Como a figura desse padre, o Padre di Sofia, a quem descrevem como meu anjo da guarda. Só se for um anjo mesmo, pois me é invisível! Não sei do que falam ao insistir que esse cara está por perto!</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- "<i>Não se lembra</i>", mas pode ir dormir e ter "<i>um de seus sonho</i>s", motivo para tirar a tranquilidade dessa garota.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- E eu não sei muito sobre a Robyn. - Constatou, tentando empregar veracidade ao tom - Ela foi campeã de caratê, sei disso pois vi um recorte. Eu sei que hoje ela é uma psiquiatra em <i>Nova York</i>, então é verdadeiramente inteligente e culta. É uma mulher bonita e... - Franziu o cenho, como se tivesse acabado de recordar. - Giro, é estranho... Quando a vejo nas lembranças, e a comparo `a Robyn de hoje... não parece ter envelhecido um só dia! Como pode?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Conversarei com os Recursos Humanos. Hoje à noite, em casa, redija um memorando e peça a alteração do período de férias já para a próxima semana... - Giro orientou, e Daniel respondeu com um olhar assustado.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Não há tempo para processar a folha de pagamento tão em cima da hora... - Foi a desculpa de Daniel, logo afastada por Giro.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Sim, dará tempo, ninguém negaria uma mãozinha ao herói do ano. Não se preocupe, apenas escreva o memorando solicitando a alteração das férias para a semana que vem. Depois que der entrada e receber a resposta, explicarei o restante.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Giro se despediu. A movimentação da tarde não deu tempo a Daniel para pensar detalhadamente a respeito das coisas; entretanto, acreditava que manifestar-se pelo início das férias parecia precipitado. Não obstante, por motivos os quais somente Giro conhecia, ele parecia encontrar-se adiantado no tabuleiro, o que, para Daniel, representava razão suficientemente sólida para seguir as instruções à risca. Legrand voltou para casa após um dia cansativo, e a recepção foi um consolo e tanto! Parker parecia que tinha sido ligada à tomada: elétrica, sorridente, andando de lá para cá com o celular, falando com amigas e repassando as boas novas. Gladys servia o jantar especial preparado pelas duas a Daniel, e assistia a tudo com um sorriso aberto e genuíno. Ela desligou o celular e, num saltinho, abraçou-o de frente, esfuziante.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Recebi uma ligação de meu agente no começo da tarde! O papel é meu! - Anunciou, e Daniel nem esperou para parabenizá-la. Pelo olhar ainda um pouquinho confuso do namorado, ela pôde ler a dúvida, e explicou melhor: - A cinebiografia de <i>Pasteur</i>!</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Oh, querida! - A risada alegre e espontânea percorreu-o como uma descarga de energia. Daniel ficou com ela nos braços, sacudindo-o de um lado a outro. - Lembro-me de quando me falou sobre o quanto queria o papel, você ficará fantástica! Será um filme de <i>John Boorman</i>, certo?</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Não, não <i>Boorman</i>. O outro britânico, querido, <i>Ken Loach</i>! - Pegou-o pela mão e o levou corredor adentro, para o quarto.</span><br /><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Parker trancou-se com Daniel. Agora, o entusiasmo não se devia somente `a novidade do filme. Mirava-o com olhos tão abertos que, por um instante, ponderou se Robyn teria conversado com a irmã e revelado a intrigante ligação dela com Daniel, antes que o próprio honrasse seu dever de conhecer a verdade, uma obrigação individual e intransferível. Não era o caso. Seus dedos muito delicados passearam por entre os botões da camisa, mas antes que os desabotoasse, Legrand sugeriu:</span></span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Teremos tempo para isso, querida. - Falou, e ela respondeu com uma risadinha. Daniel teve certeza de que corara - Uma pitada de espera, e o gostinho se sofisticará.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Então entre logo no box para tomar banho! - Foi empurrando o namorado, até Daniel bater com as costas contra a porta do box. - Depois, mais tarde, provarei da sofisticação que promete me mostrar!</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Nossa, agora falou como os cenobitas de "<i>Hellraiser</i>". "<i>Eu tenho a eternidade para conhecer a sua carne</i>"! - Brincou, reproduzindo a voz gutural de <i>Pinhead</i>.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Vai tomar seu banho logo, tolinho, antes que eu o encoraje a marteladas!</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">`A mesa, Daniel e Gladys escutavam fascinados `as impressões de Parker sobre o projeto. Evidentemente, conheciam os feitos de <i>Pasteur</i>, mas foi pela intimidade da atriz com a história que viram o incomum potencial para um filme extraordinário. Segundo Parker, o projeto se focaria no período mais eletrizante da carreira de <i>Pasteur</i>, a busca pela vacina da raiva numa época na qual a mordida de um animal doente significava um horroroso processo de morte. Foi quando uma mãe desesperada procurou por <i>Pasteur</i> implorando para que cuidasse do filho, mordido por um cachorro louco, que as circunstâncias perfeitas se assomaram para o cientista testar a vacina num ser humano, sob o risco de penalização, caso a criança viesse a morrer, afinal de contas, ele era cientista, e não médico. O tratamento foi um sucesso, detendo o vírus e impedindo a infecção. Logo, o laboratório virou ponto de peregrinação para pessoas vindas dos mais díspares lugares. Novos centros de vacinação contra a raiva foram abertos ao redor do mundo. O triunfo serviu de base para a fundação do <i>Instituto Pasteur</i>, em <i>Paris</i>. O roteiro fechava o profícuo período com o reconhecimento do monumental feito pelos seus pares, homenageando-o com o prêmio na Academia Francesa. Parker ia narrando os principais atos do projeto, e Daniel conseguia enxergar a mágica que um grande diretor faria com o material. Apesar de a produção focar-se na corrida de <i>Pasteur </i>contra a hidrofobia, o roteiro encontrava espaço para explorar a bonita história de amor do cientista com a bela filha do reitor da Universidade de <i>Strasbourg</i>, <i>Marie Laurent</i>, que viria a se tornar sua melhor amiga e esposa. Era o papel da Parker! Ela tinha em mãos a oportunidade profissional de uma vida, e Daniel estava certo que não seria nada menos do que brilhante. Quando a entusiasmada Parker o deixava falar, Daniel brincava, e dizia que logo mais seria trocado pelo "<i>adversário</i>", o ator que daria vida a <i>Pasteur</i>. </span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- É um cara novo, mas excelente, chamado <i>Barclay Harrison</i>. - Parker o nominou, entre garfadas nos pedacinhos de bife `a parmegiana. - Está rodando um filme de ação com <i>Renny Harlin</i> na <i>Europa</i>, e deixará as filmagens para entrar direto no projeto. </span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Diga para esse cara não mexer contigo. Ele é bonito? Já o odeio! - O trio começou a rir. - Eu estou brincando, querida. Vocês serão dinamite, amor. - Estendeu a mão para tocá-la no antebraço, ganhando o olhar marejado e a covinha tanto amados. - Eu e vovó estamos muito orgulhosos. Verdadeiro sucesso é a concretização dos sonhos da juventude, na idade madura Você com o seu filme, eu com o concurso. Espero igual sucesso, quando sair o resultado.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Eu e sua avó queremos comemorar sua vitória nesta cozinha, quando os resultados forem disponibilizados e seu nome constar da lista. Minha felicidade não se completará até ter conquistado seu objetivo também.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Obrigado, minha linda. - Apertou delicadamente os dedos dela e os beijou por sobre a mesa e os pratos. A avó prestava atenção `a troca de juras com um olhar preocupado, mas admirador. Daniel sugeriu: - Hoje, devemos celebrar, a senhora também, vovó! - Antes de Gladys se socorrer com alguma desculpa esfarrapada, Daniel sentenciou: - Isso mesmo, hoje vamos comemorar na cidade! - Limpou o canto da boca com o guardanapo, jogou o papel amarrotado sobre o prato vazio e tratou de se levantar apressado. - Vamos patinar no rinque, em <i>Jersey</i>!</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span><br /></span><span>Foi o tempo de as garotas se vestirem, Daniel regressou a </span><i>New Jersey Turnpike</i><span>. O destino do trio seria o </span><i>Jersey Garden Malls</i><span>, o maior <i>outlet </i>de <i>Jersey</i>, a apenas cinco minutos do aeroporto de <i>Newark</i>, e trinta minutos de <i>Manhattan</i>. O modo mais rápido de se chegar ao shopping era através do serviço de </span><i>shuttle</i>, que deixava<span> o aeroporto internacional a partir da estação P4, em intervalos de meia hora cada, britânicos em pontualidade. Foi por isso que preferiram estacionar no aeroporto e seguir para o shopping de <i>shuttle</i>. </span></span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span>`A parte de se encontrarem ali numa aprazível, sossegada noite de segunda-feira, com o tecido esticado do entardecer revelando, aqui e acolá, algumas centelhas a prenunciar a constelação a qual logo tomaria conta do céu após a triunfante entrada da noite, o trio não ficou parado. Gladys, Parker e Daniel vestiram patins, e a avó foi `a frente, apoiada pela dupla. Com duas voltas próxima `a grade de proteção, Gladys ganhou coragem, e o neto a deixou para correr sobre o gelo de mãos dadas `a namorada. Enquanto Gladys seguia bem devagar, mas determinada, o casal dava voltas em torno do rinque e, em intervalos cada vez menores, passavam ao lado da avó para fazerem brincadeiras, arrancando-lhe risadas nervosas.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span><br /></span><span>- Vamos, confie em mim! - Daniel exclamou, deslizando a mão para os lados dos quadris de Parker. - Mova os quadris, mova os quadris, acompanhe a música! - Daniel revezava-se, pareando com Parker, e a deixando ultrapassá-lo apenas um pouquinho para que pudesse chegar por trás e segurá-la pelos ombros.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Tenho a sensação... - Parker ia falando, alegre e ligeiramente assustada com a própria velocidade. - ... De já ter feito algo parecido...</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- No nosso passado em <i>Cape May</i>? - Daniel perguntou, os dois dando um rasante ao lado das cadeiras onde as pessoas vestiam os patins. </span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Não! Em uma comédia romântica bobinha que eu estrelei, chamada "<i>Construindo uma Carreira</i>"!</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span><br /></span><span>Foi uma noite maravilhosa. Quem os visse, tomá-los-ia por irmãos a cuidarem de sua avozinha. Daniel e Parker seriam os últimos a se recolherem. Exausta pelos esforços demandados na pista de gelo, Gladys se despediu com um beijo nas testas de seus queridos, e foi se deitar mais cedo. Ela tentou chamar <i>Cyrano</i> consigo, mas o gato seguiria como a "<i>patrulha</i>" de casa, e provavelmente insistiria em dormir com a visitante. Parker vestira um dos pijamas xadrez do namorado, e Daniel os embalava na cadeira de balanço, no alpendre, quando luzes de faróis mais poeira suspensa anteciparam a aproximação de um carro.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span><br /></span><span>- Oh, droga. Esqueci-me do memorando! - Daniel se recriminou, com a mão no alto da cabeça. Parker bocejou, a atenção despertada pela queixa do namorado.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span>- Do que está falando, meu amor</span><span>?</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Temos visita. - Avisou, contente pela surpresa. - Acho que já se conhecem. Olá, Giro!</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Giro desceu preguiçosamente do carro de patrulha, a dor nas costas visível na expressão compungida quando tentou alcançar o dorso com uma das mãos. Parker e Giro se cumprimentaram com acenos de cabeça. Daniel os apresentara noutra ocasião; novamente, vinha-lhe a impressão que ambos se conheciam há muitos anos. O amigo se juntou ao casal no alpendre, e Daniel teve vontade de adiantar que não encontrara tempo para escrever o memorando. Fez bem ao escutar a voz dentro de si que o aconselhava à discrição. Numa troca de olhares, parecia que Giro pressagiara o lapso e cuidara dos arranjos.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><br /></span>
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span>- Mais recordações</span><span> na tarde de hoje</span><span>? - Giro indagou, as mãos juntas, os dedos entrelaçados, na frente da barriga. </span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Gostaria de voltar a me lembrar. E se possível recomeçar a partir daquela tarde em 1995. - Disse, dirigindo-se a Parker, que o olhava com admiração, o mais cúmplice dos sorrisos.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span>- Ficará em <i>Elizabeth </i>por muito tempo</span><span>? - Ele perguntou a Parker. Parecia esperar uma resposta negativa, como um amigo a torcer pela privacidade para tratar de questões importantes com Legrand.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif">- Embarco para filmagens em <i>Londres</i> na semana que vem. Não devo me demorar, e sempre posso visitar <i>Jersey </i>nos finais de semana.</span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span><span>- Oh, rodará um filme em <i>Londres</i></span></span><span>? Será uma experiência e tanto, não</span><span>? - Giro comentou, esperando mais informações. Seu charme não cessava de surpreender a Daniel.</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span>- Um filme sobre a vida de <i>Louis Pasteur</i>. - Ela adiantou, com orgulho, e Giro pareceu impressionado. - Tomará conta dele certinho, não</span><span>?</span></span><br />
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span>- De quem</span><span><span>? De <i>Cyrano</i></span></span><span>? - O visitante brincou, e os três riram. De uma maneira que usualmente acontece em comédias românticas, assim que o nome foi mencionado, o felino pôs o rostinho preto achatado na porta. - Não se preocupe. Tenho cuidado bem de Daniel pelos últimos anos. - Ele fez uma pausa revisionista, sacudiu a cabeça e deu uma importante pista: - Pelas últimas décadas, eu diria. - E, tendo terminado, encarou Legrand.</span></span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel gelou, mas ninguém notou. Naquele ínterim, caia a ficha e compreendia por que aquela gente - Max, Robyn - falava sobre como Padre di Sofia jamais o deixara. De alguma forma que não conseguia precisar, <i>Giro <b>era </b>Padre di Sofia</i>. Dava conta de que jamais escutara o sobrenome de Giro; do amigo, sabia que seu primeiro nome era <i>Girolamo</i>, e que o amava como a um pai. A eletricidade correu pela espinha, o choque o tinha aturdido perfeitamente. A revelação não fora obra das recordações, mas do resultado lógico como sequência a premissas. Eventualmente, ele se lembraria, porém, agora, era a maneira de os dados darem pleno sentido um ao outro que lhe escancarava a gratíssima surpresa. Por um tempo, quando a mente revisitava o mistério, Legrand se recordava do cavalheiro que, um dia antes do concurso, erguera em cumprimento uma xícara de café, no supermercado, enquanto a avó fazia as compras, e entendia que, inconscientemente, ao se prender à figura do homem na mesa da cafeteria, deixara de enxergar a verdade de pé ao lado, Giro todos os dias como seu escudeiro, exatamente como Max preconizara.</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Conversaram até tarde. Ao introduzir o tema do filme a ser rodado na Inglaterra, Parker acabou criando ao namorado a oportunidade de se recuperar emocionalmente. Ela discorria sobre a história de Pasteur, sobre a corrida envolvida em se chegar à vacina antirrábica, sobre o modo como o suporte da esposa sustentara o valente cientista no desenlace daquela aventura aterrorizante. Giro e Parker pareciam compenetrados no diálogo resumido aos dois, Daniel como espectador. Inexplicavelmente, vendo-os ali, era como se tivesse quinze anos novamente, assistindo-lhes como adultos, enquanto ele permanecia um confuso jovenzinho, emocionalmente ferido pela loucura das figuras de autoridade de sua vida, salvo exclusivamente pela dignidade e retidão da avó Gladys e de Padre di Sofia. Legrand pensava em Robyn e em Parker, e sorria candidamente, inflamado pela súbita impressão de que as amava muito. <i>Mas como amar as duas simultaneamente</i>? </span><span style="font-family: arial;">Foi essa a pergunta de Daniel feita a Giro, quando os dois se despediram, Giro abrindo a porta do carro patrulha. Era comecinho de madrugada. As únicas luzes vinham das lamparinas penduradas do alpendre. Daniel entendeu a premência de dar um salto de fé e simplesmente eliminar o mistério. Encontraria em Giro as palavras de equilíbrio e sabedoria que haviam salvado sua vida ao longo dos anos.</span></div><span style="font-family: arial;"><br />- E então, Giro? - Indicou com o polegar por sobre os ombros, no sentido da casa. - Parker é uma pessoa e tanto, não? <br />- Sim. E não só Parker. A irmã Robyn, também. Porque começou a ver que, lá atrás, amou-as muito. Uma, declaradamente; a outra, sofrendo nas sombras, secretamente. <br />- Achei que meu amor por Parker fosse infinito. - Daniel procurou a glória da lua em seu zênite, cheia, prateada, clara como um farol. - Mas então há o amor por Robyn. <br />- Você sabe a resposta, não é, meu filho? - Eles se encararam, agora ambos emocionados, a um sopro do reencontro. Eles repetiram, baixinho e em uníssono, Daniel fazendo a conexão entre passado e presente no que tangia a Giro. - <i>Existem infinitos maiores do que outros</i>.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Oh, Giro. <i>Padre Girolamo di Sofia</i>. - Eles se uniram num abraço adiado de pai e filho. - Obrigado por tudo, Giro. Não imagino as coisas das quais abdicou para cuidar de mim e vovó. Eu te amo.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu te amo também, meu filho.</span></div><span style="font-family: arial;">- Não entendo como não vi antes! <br />- É assim mesmo. A aproximação não lhe dava a melhor perspectiva para ver, mas agora sabe. - Giro levou o braço por sobre os ombros de Daniel e os dois foram caminhando para a cabine do carro. - Eu quis contar a verdade, porém quando as coisas começaram a ficar mais claras na sua cabeça, preferi dar espaço e tempo. Você consegue entender os motivos de eu ter ficado preocupado quando te escreveram. <br />- Usando o nome de sua filha. - Eles se olhavam, ambos perplexos. <br />- Foi para me atingir, Daniel. - Giro ajeitou os óculos no rosto e massageou as têmporas, cheio de tensão e dor. - Robyn se sente ameaçada por você, mas sabe que sua ponte ao passado reside na minha pessoa. <br />- O que aconteceu, Giro, pelo amor de Deus! - Abriu os braços, exaurido. - Eu não aguento mais esperar! <br />- Se eu soubesse, não acha que te diria? Nem eu sei, filho. - Ele deu um tempo, refletindo seriamente se deveria continuar. Falou: - Meu palpite é que vocês estão conectados pelo acidente de carro de 2004. <br />- Como assim, se ela não se encontrava no carro?! <br />- Refiro-me a antes, filho. Você seria detentor de informações a respeito de Robyn. Quer a verdade? Não foi um acidente, de jeito nenhum. De alguma maneira, armaram aquele lance no carro, mas você sobreviveu! Por que acha que eu os venho protegendo desde que deixaram <i>Cape May</i>? Tem se sentido seguido? - Giro indagou, à queima-roupa. Daniel gaguejou qualquer coisa. Ele prosseguiu: - Não sei se já o notou. Há um cavalheiro no seu encalço. - Em pensamento, Daniel foi remetido ao homem brindando com a xícara de café, na tarde do dia anterior ao concurso. <br />- Acho que sim! Eu o vi, uma vez… Deixou uma forte impressão em mim! <br />- Chama-se Etienne Dieudonné. Não se preocupe, ele é um aliado. - Giro apontou para dentro. - Vá dormir. Eu o procurarei amanhã cedo. <br />- Entendo a razão de ter movido pela antecipação das férias, Giro. <br />- Claro. A hora de agir chegou. - Deu-lhe um tapinha no queixo, como a um filho. - Amanhã cedo. Trate de dormir.</span><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span>Parker e <i>Cyrano</i> dormiam sossegadamente, alheios `a chuva muito suave a polvilhar sobre <i>Elizabeth</i>, enquanto Daniel navegava de página em página, sem conseguir dormir conforme Giro pedira ou se concentrar em alguma leitura em especial. Por acaso, ocorreu-lhe a última conversa com Robyn, ela mencionando o artista cuja obra ficaria exposta por uma temporada no <i>Metropolitan</i>. "<i>Goldman Roehmer</i>", era o nome. Daniel o pôs no <i>Google</i>, e o que encontrou foi de embrulhar o estômago. Meia dúzia de páginas restringiam-se à sua arte chocante, porém a maioria tratava das circunstâncias revoltantes de seu brutal assassinato, sendo que o <i>Daily Mail </i>de julho de 2001 dava o mais aprofundado e menos sensacionalista tratamento ao crime.</span></span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span><br /></span><span>No decorrer do extenso texto, exaustivo em razão do tamanho das letras, a história era dissecada, guarnecida por reminiscências de companheiros de <i>Oxford</i>. Eram as fotos, todavia, várias fotos, que provocavam uma sensação impressionante de desesperança e claustrofobia. O corpo de Roehmer aparecia fotografado em pedaços, o maior deles o tronco, a que ficara preso um segmento da perna direita. Enquanto passeava de arquivo a arquivo, lançava olhares para a namorada e o gato adormecidos, sentindo-se péssimo por estar examinando tanta sordidez. Na mais chocante imagem, o machado de cabo médio e lâmina de duas faces jazia ao lado do que parecia ser o pênis e os testículos, e no mesmo quadro, uma máscara de <i>Mickey Mouse</i>, salpicada de sangue.</span></span></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">A paixão envolvida em se fraturar tantos ossos da estrutura corpórea apontava que o autor cometera o crime por motivos pessoais. Somente fortes emoções teriam gerado a força para a brutalidade impingida à vítima. O corpo humano é mais resistente do que se pensa. Para se desmembrar um homem daquela forma, precisava-se atravessar camadas de pele, músculos e a parte mais difícil: os ossos. Não fora um trabalho metódico, pois o cadáver se transformara num caos. A maneira como o assassino não deixara sobrar coisa alguma a lembrar que aquele saco de carne fora um homem entregava a proximidade entre autor e vítima. Daniel não teve como afugentar o trabalho da própria imaginação, onde via a lâmina no sobe-e-desce, deixando o tronco de Goldman `a parte. Daniel fechou as fotos, e leu o texto com mais atenção. Goldman Roehmer era célebre no círculo boêmio de <i>West End</i>, epicentro do teatro londrino, distrito onde se respirava e vivia arte. Filho de uma família tradicional com ligações com a Coroa britânica, estudara Artes Cênicas em <i>Oxford</i>, e a única foto na qual aparecia fora da condição de vítima, assinada pelo <i>Daily Mirror</i>, mostrava-o sob o manto de <i>enfant terrible</i>, os cabelos muito loiros e compridos, a calça jeans justíssima e a <i>denim shirt</i> aberta ao meio do peito, de modo a revelar pelos crespos. Goldman fazia lembrar um jovem, incontrolável <i>Val Kilmer</i>. Dado a polêmicas, seus quadros retratavam agressividade sem limites, as tintas fortes, as imagens uma orgia de sangue e carne, um caos a esconder motivos que só o próprio artista conhecia e que, ironicamente, pressagiaram seu fim sob a lâmina do machado. Daniel pensou na descrição de Robyn para o "<i>quadro do gigante</i>", e acreditou que somente de uma mente muito fértil e atormentada ideias semelhantes brotariam.</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Não se compreendia como o assassino executara o artista sem que os gritos tivessem despertado a atenção dos vizinhos. Roehmer fora morto em seu "<i>studio</i>", uma espécie de "<i>loft</i>" localizado a cinco minutos da estação <i>Victória</i>. Consoante a matéria, ao abordar o feito do assassino ao cometer semelhante homicídio e escapar despercebido, aventava-se a hipótese de que já no primeiro golpe, o ferimento teria incapacitado a vítima, ou ao menos o arremessado ao choque do qual não conseguira sair a tempo de evitar as descidas seguintes da lâmina. Depois de explorar suficientemente a matéria, Daniel se deu conta de que passava de duas horas da madrugada. Fechou a página do <i>Daily Mirror</i> com a convicção de que o mistério escondia um crime passional. Ainda houve tempo para explorar um segundo link, datado do começo do mês de agosto de 2001. A notícia não tratava a morte de Roehmer como manchete, mas o nome aparecia vinculado ao acontecimento principal.</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">"<i>Casal de turistas mutilado a machadadas, próximo à estação de Old Street</i>", o texto sublinhava a grotesca foto de restos espalhados entre sacos pretos de lixo num beco secundário. Seguia contando como o homicídio ocorrera por volta das 23:00, e que os turistas haviam sido provavelmente ameaçados e levados ao lugar, onde os restos acabaram encontrados. Novamente, a máscara de <i>Mickey Mouse</i>, idêntica à encontrada na cena do crime de Goldman Roehmer jazia ao lado do machado, a lâmina enterrada na parede após o trabalho de desmembramento. A forma como o <i>The Sun</i> contava a história jogava um balde de água gelada na até então firme crença de que Goldman morrera por obra de uma ex-namorada ciumenta. Agora, os cenários descreviam a atuação de um <i>serial killer</i>. Curiosamente, ao procurar por novos assassinatos onde vítimas tivessem sido esquartejadas a machadadas, não encontrou uma única linha. O <i>serial killer </i>cometera três crimes, e fora o fim do <i>frisson</i>. Para a imprensa, à época, não havia dúvidas de que o algoz do machado do caso Roehmer & turistas era o mesmo maníaco.</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Parker se mexeu um pouquinho na cama, e Daniel prudentemente abaixou a tela do <i>MacAir</i>, mas então ela se virou e voltou a dormir. Ele ainda leu duas outras matérias sobre os três assassinatos, aos quais a imprensa marrom atribuiu ao <i>serial killer</i> batizado "<i>Mickey lenhador</i>", antes de fechar o computador para tentar descansar. Cuidando para não fazer barulho, deixou o quarto, e antes de fechar a porta se alegrou ao ver o jeitinho com o qual <i>Cyrano </i>se aninhara nas costas de Parker. O anjinho ergueu o rostinho e olhou para o mestre que, sorrindo, murmurou, antes de cerrar a porta. "<i>Afanando minha namorada bem debaixo do meu nariz, hein, ferinha? Olhe lá!</i>". Daniel juraria por Deus que <i>Cyrano </i>respondeu com um sorrisinho antes de enfiar a cara entre o colchão e as costas da atriz, e voltar ao sono.</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-size: small;">Ao deslizar para a escuridão, Daniel voltou à curva que o levava a manhãs felizes e quentes da adolescência. Quando desceu do bondinho elétrico na estação da <i>diner</i>, Daniel soube que se encontrava em 1994, e sorriu ao pensar no que o passado guardara para lhe mostrar naquela noite, seus olhos investidos da inocência e idealismo palpitante tão imperativos para se entender perfeitamente o que se passara.</span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-size: small;"><br /></span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><b><i><span style="font-size: x-large;">03. "Dê-me seu melhor!".</span></i></b></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<span style="font-family: arial;">Tinha os olhos fechados, e antes de abri-los para a glória de uma linda manhã de sol na praia, foram as gotículas das ondas quebrando espumosas contra a face que o colocaram na faixa de frequência da recordação. Faixas espalhadas entre colunas e redes dos campos das barracas comemoravam a 3ª edição dos Jogos Escolares. A praia fervilhava frequentada por turistas, porém era um pouco mais acima, recuado do leito do mar, onde a grande concentração se agregara. As arquibancadas haviam sido ocupadas por estudantes e cartazes, e quando Daniel chegou, ficou um tempo à margem das fileiras, tentando identificar a turma da sala. "<i>Ei!</i>", exclamou a voz feminina, ao tempo que braços o agarraram por trás, na linha da cintura. Ele se virou, surpreso, e sorriu com espontaneidade e leveza ao dar de cara com Parker. Ele compreendeu que Padre di Sofia estivera certo ao insistir pela sua ida aos jogos, dissera-lhe que teria um fantástico dia, uma manhã a recordar! Ia levar a mão ao rostinho da namorada, mas ela foi bem mais rápida e ousada, puxando-o para o beijo. A rapaziada próxima começou a assoviar e aplaudir, fazendo gracejos. Ninguém fez mais graça, contudo, que Padre di Sofia: ele surgiu completamente diferente de como os meninos haviam se acostumado a encontrá-lo nos corredores e salas do colégio, ou na missa, ou no orfanato. De camisa florida, bermuda e chinelos, Padre di Sofia cabia naturalmente ao meio, e os jovens o amavam por isso.</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Padre! - Daniel exclamou, animando-se antes que alguém notasse o quanto ficara corado. - Você também veio!</span><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"> - Lógico, eu vim sim! - Deu uma risada e, ao abraçá-lo, explicou. - Fazendo parte da festa, afinal o coração do Senhor reflete a alegria de Seus filhos. - O professor passou com candura as mãos nos braços de Parker e a cumprimentou. Havia cumplicidade na troca de olhares. Padre di Sofia sabia o quanto Daniel a amava, e Parker também sabia que o belo sentimento caíra no conhecimento geral. - Ei, mocinha, como vai? Cadê o Aramis para fazer brincadeiras com o confessionário, hein?<br /> - Cuidado com o que diz que deseja, pode acontecer! O filho da puta aparecerá como um <i>João Pulo</i>, daqui a pouco! - Daniel fez piada, e eles acharam graça. <br /> - Robyn vai lutar, querida? - di Sofia indagou, tirando os óculos escuros e levando alguns segundos aos olhos para se acostumarem `a esfuziante claridade da manhã. <br /> - Contra recomendações do fisioterapeuta. - Disse, com um muxoxo de censura. - A Robyn torceu o pé direito num ângulo impressionante; o médico recomendou que se afastasse do caratê por causa disso, mas está determinada a competir.<br /> - Ela faz parte do time do vôlei, agora do time de caratê, tem alguma coisa que sua irmã não faça? - Daniel tagarelou. <br />- O time do colégio vai entrar em dez minutos, não? - di Sofia apontou para o marcador eletrônico. A partida corrente estava chegando ao fim, e parecia que as meninas do <i>Newark Arts</i> iam derrotar as da <i>Barringer</i>, aquela última luta apenas selando a ampla vantagem daquela sobre esta. Ao lado das mesas dos juízes, os dois próximos times esquentavam para entrar. As meninas da equipe do caratê da casa enfrentariam as visitantes da <i>East Sid</i>e, o mesmo colégio cujos estudantes Legrand salvaria do avião quinze anos mais tarde.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Parker esticou o pescoço. Ela enxergou o técnico e as meninas da <i>Lower Township</i>, a equipe da casa, mas não viu a irmã. Sussurrou no ouvido do namorado para que a esperasse, pois encontraria a irmã para levá-la à área da competição a tempo. Parker venceu a manada de pessoas e andou pelas arquibancadas. Só depois, foi ao estacionamento, onde finalmente a encontrou sentada no banco traseiro do <i>Porsche Sttutgart</i> amarelo de Aaron Lang. Ajoelhado diante de Robyn, ele a ajudava a enfaixar o pé machucado. Ao dar pela presença de Aaron, Parker baixou o rosto e fechou os olhos, desapontada. A irmã prometera repetidamente aos pais que se afastaria de Aaron. Bill e Gail conheciam a filha, reclamavam que desde que se envolvera com o rapaz mais velho, seu comportamento outrora exemplar dera uma guinada para o péssimo. Isso os deixava avesso ao namorado. Para os pais, mais preocupante que o desvio de personalidade, era a obsessão da filha. Robyn não conseguia existir sem Aaron, tampouco funcionar saudavelmente ao lado dele. Até então uma menina educada, estudiosa e gentil, foi com Aaron com quem teve acesso a um novo mundo, um mundo de jogos psicológicos onde as cartas eram o desejo, e o apego o mais arriscado blefe, quando ou tudo poderia ser ganho ou perdido. Aaron a inteirara desse poder.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ei, maninha, que cara é essa? - Robyn a puxou de lado para sacudi-la - Como espera que eu me saia bem, se te vejo tão triste? Não vai torcer por mim na arquibancada?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"> - Sua luta vai começar, Robyn. - Avisou, sem esconder a frustração. - Lembra-se do que prometeu a papai, não é?<br /> - Oh, não. - Balançou lenta e lamentosa a cabeça, os olhos subitamente se enchendo de lágrima. - Eu preciso de seu suporte agora, maninha. Não faça isso comigo!<br /> - Desculpe-me. Oh, por favor, desculpe-me. Não sei o que pensava. - Parker acomodou a cabeça sobre o ombro da irmã. Chateada, mas fazendo um honesto esforço para alegrá-la, reiterou. - Vamos, Robyn, não há tempo a perder! Vão chamar o <i>Lower Township</i>!</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Parker foi na frente. Antes de descer à área das competições, três quadriláteros ao todo, voltou-se para estimulá-la com seu melhor sorriso. Robyn fechou os olhos, grata, e acenou com a cabeça, definitivamente menos desconfortável agora que a irmã deixara de lado as cobranças com as quais já a atormentavam em casa, sempre que Bill e Gail desconfiavam que Aaron vinha se inserindo no círculo de relacionamentos da filha. Parker voltava `a arquibancada, mas Daniel não sabia, e deixara seu lugar para procurá-la. Ele subia para a barraca, praticamente vazia agora que haviam migrado em peso a arena maior, quando deu um esbarrão em Robyn. Ele a segurou, não a deixando cair, e Robyn respondeu com um sorriso constrangido e abobado. Reconhecimento passou pela sua cara ao ver que se tratava de Legrand. Ele sabia quem Robyn era, mas parecia irreal: não obstante se conhecessem de nome, até aquele momento, não se recordavam de uma ocasião onde tivessem sido formalmente apresentados.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Olá. - Robyn estendeu a mão, aceita por Daniel. Ambos vestiam expressões meio encabuladas: Daniel temia que Robyn ainda se lembrasse de sua ridícula tentativa de furtar uma barra de chocolate; Robyn receava que Daniel estivesse pensando exatamente nisso!</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"> - Desculpe, espero não ter… - Daniel começou, mas Robyn fez que não, com a cabeça, tranquilizando-o. - Procurava por Parker. A sua competição vai começar! A moça da <i>Newark Arts </i>ganhou da outra menina do <i>Berringer</i>, ficou com o segundo lugar!<br /> - Hum, que chato. - Robyn torceu o narizinho. - Tenho um ex-namorado que estuda na <i>Newark Arts</i>. Toda miséria para ele é pouco, pela dor que me causou. - Com a risada, Robyn mostrou que só brincava, com o fito de mitigar a tensão. Daniel riu também.<br /> - Você se sente melhor? - Ele indicou o o pé enfaixado de Robyn. - A Parker disse que o machucou lutando.<br /> - Eu acho que não me atrapalhará tanto. - Robyn torceu. <br /> - Faço votos de que se saia muito bem! - Daniel novamente apertou as mãos dela, e Robyn balançou afirmativamente a cabeça, enlevada. - Acho que é a primeira vez que conversamos, mas sempre ouvi coisas boas sobre você. - E Daniel não teve como deixar de pensar na brincadeirinha de Aramis, dizendo:<i> não falem o nome dela perto de mim!</i> Coisa de criança, assim como afanar barras de chocolate. Aos quinze, ele e os amigos não passavam de crianças a explorarem as etiquetas e modos de conduta do mundo real, para além das paredes do <i>Lower Township</i> de <i>Cape May</i>.<br /> - Sim, coisas boas tipo "<i>chata, arrogante, prepotente</i>". - Mais risos. Robyn o tocou no ombro de uma maneira tão delicada que Daniel soube que ela provavelmente o vinha observando há tempo, não só desde aquela tarde, às suas costas, com o canudo no <i>milkshake</i>. - Bem, é melhor corrermos para a arena, eu preciso vencer a luta! Você pode ir na frente para avisá-las de que já chego? Tenho que combinar algo com o Aaron antes de descer. <br /> - Tudo bem. Boa sorte, novamente. - Trocaram discretos acenos de cabeça, eletrizados após a primeira conversa oficial. Daniel começava a correr para as arquibancadas, quando Robyn chamou pelo seu nome, detendo-o no caminho.<br /> - <i>Danny</i>? Eu gosto muito de você. - Robyn fez soar como um desabafo engasgado. O rapaz respondeu com um sorriso triste, e falou, tão espontaneamente quanto a garota.<br /> - Eu também de você, Robyn!</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Robyn apareceu na cor branca, a menina do outro colégio veio de preto. Daniel sentiu o aperto da mão de Parker no seu punho; ela apenas não sabia que ele se sentia igualmente tenso, os ombros retesados. Robyn recebia encorajamento do professor quando o árbitro as chamou para a área de competição. Aplausos das duas torcidas, e Robyn levantou o punho confiantemente, para o reforço dos aplausos de sua turma. A luta começou e, talvez por medo, a adversária de Robyn foi agressivamente para cima. Ela só se protegeu muito bem. No primeiro minuto, a oponente apostou em socos, por causa da facilidade e rapidez com os quais poderiam lhe valer pontos; entretanto, seus ataques ou acertaram o ar, quando Robyn se abaixava para se livrar de um ataque com a palma da mão, ou foram belamente bloqueados, quando com uma defesa dupla a tentativa de soco invertido no estômago nada fez. Após a frustração do assalto, que não lhe valeu um único acerto, a adversária passou à cautela. Nos próximos dois minutos, limitaram-se a medir distância e ameaçar um assalto frontal, sem que de fato o fizessem. Desesperada por uma pontuação, a adversária avançou perigosamente e lançou um soco contorno, mas no mesmo segundo levou o cotovelo de Robyn na boca do estômago. A torcida do <i>Lower Township</i> aplaudiu entusiasmada. Agora, a irmã de Parker, na frente, crescia na competição. Parecia que, após o primeiro golpe acertado, o que se limitara a um cauteloso estudo entre as duas se transformou num combate de contato total, a seguir um padrão: o desespero da outra menina a levava a tolamente atacar com força, sem qualquer estratégia. Robyn se movia lateralmente e atacava frontalmente, pontuando com cotoveladas de cima para baixo, cotoveladas na clavícula, socos no queixo e no estômago, e ataques com a palma da mão no pescoço. Uma entrada mais agressiva da menina as deixou atracadas por alguns segundos; emoções se inflamaram num volátil desentendimento, e a garota agarrou Robyn pela lapela e a atirou para fora da área de competição. O árbitro protestou e ergueu a mão com os dedos levantados, descontando-lhe pontos. Caída, Robyn procurou avistar a irmã e Daniel. Os dois estavam inclinados, apoiados um ao outro, assustados. Ela procurou sorrir, como se dissesse que tinha a situação sob controle. Levantou-se e voltou para a área. Com o combate reiniciado, Robyn foi ao ataque. Ela precisava impor a agressividade, afinal era ela quem vencia com folga e, ao passo que anteriormente seus pontos haviam sido perpetrados ao golpear após as defesas, agora, ela pontuava ao assaltá-la com ações que partiam de sua iniciativa, socos rápidos, precisos, eficientes. Furiosa, a oponente se abria ao assalto, e o equilíbrio emocional definitivamente esgotara. Ela gritava "<i>Dê-me seu melhor! Dê-me seu melhor!</i>", e tomava os socos no rosto, com Robyn lhe dando exatamente o que a pobre garota pedia, dizendo, baixinho, porém audível para ela: "<i>Bom o suficiente? Bom o suficiente?</i>". Ao avaliar a improbabilidade de uma resistência tão dura quanto no começo da luta, Robyn foi para os chutes, para ganhar os maiores pontos e terminar logo a competição. Com um discreto salto para trás, ela fez a necessária distância para preparar o devastador chute giratório, de fora para dentro. Robyn levantou a perna com o joelho articulado e girou a cintura, finalizando com o deslocamento perfeito do pé ao maxilar da oponente. Ela caiu e ficou de bruços, a área manchada de sangue do seu nariz quebrado. Tendo usado o pé machucado, o pé com a atadura, para executar o chute, Robyn também caiu por causa da dor, e ficou de joelhos, com uma expressão de exultação e agonia momentânea. A arquibancada tremulou com aplausos e gritos. A luta estava encerrada, <i>Lower Township</i> ganhara. Parker deu um pulinho, feliz pela irmã, e beijou o namorado. Daniel ria e batia palmas. O calor das emoções passara, Robyn avançou para a oponente caída e se ajoelhou ao lado. Com a mão nas costas dela, insistia perguntar se ela estava bem. Não pôde, entretanto, fazer muita coisa, pois foi literalmente tirada dali quando a turma invadiu a área e a carregou, jubilosos.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span><span style="font-family: arial;"><span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-size: small;"><br /></span></span></span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span><span style="font-family: arial;"><span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-size: small;">A comemoração tomou conta da praia, até mesmo juntando-se ao sarau os alunos dos colégios derrotados. Não custou a rodinhas de amigos se formarem ao redor de fogueiras, onde havia espaço para violão, música e carne. Partindo-se da premissa da energia eletrizante ao alcance dos pelos eriçados dos braços, a brincadeira se estenderia até `a noite, e seria uma noite romântica! Robyn, a vitoriosa, tinha outros planos para mais tarde. Parker insistia que permanecesse com os amigos; Robyn tinha uma ideia melhor. Depois de se livrar da roupa branca salpicada de sangue usada na competição, revelou o <i>body</i> preto usado por baixo. Amarrou uma canga na cintura, e saltou, ainda descalça e toda suja de areia, sem se importar, no banco traseiro do Porsche de Aaron. Parker e Daniel aproximaram-se do carro para se despedirem, e Aaron se comprometeu a levá-la para casa antes das 21:00. Enquanto Aaron e Parker iam "<i>tesourando</i>" alguma diplomacia e tornando-se mais abertos a seus papéis conflitantes na vida de "<i>Goldilocks</i>", Daniel limitou-se a prestar atenção aos detalhes exuberantes que se revelavam em cada polegada do rosto de Robyn. Tão encantado ficou, desejou ser espectador de todas as vitórias por vir na vida dela. Robyn e Daniel se encararam, e ela levantou bem discretamente o rosto, quase se preparando para falar; então, deteve-se antes de continuar. Por alguma razão, talvez por um preciso <i>insight</i>, Legrand lhe disse que a outra garota ia ficar bem e se sentiria melhor com o tempo, afinal ela teria outras lutas e as venceria também. Robyn sussurrou "<i>Obrigada</i>". Daniel não precisou de mais do que o sorriso arrependido e melancólico de Robyn para compreender de <i>onde</i> ela vinha: assim como Daniel, também lamentava a falta da iniciativa que, noutros tempos, os teria tornado melhores amigos. Ambos se gostavam antes mesmo que tivessem se trombado por acaso, porém tinham precisado daquela manhã dos Jogos Escolares para perceberem.</span></span></span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span>
<span style="font-family: arial;"><br /></span>
<span style="font-family: arial; font-size: small;">Daniel e Parker permaneceram na praia pelo restante da tarde. Ligeiramente chateada, Parker ocasionalmente vocalizava o aborrecimento ao falar mal de Aaron Lang. Daniel imediatamente minimizava os temores dela, comentando que vira o cuidado com que ele atava o pé de Robyn e que ela detinha bom senso para fazer suas próprias escolhas. Claro que Daniel conseguia compreender os temores de <i>Bill & Gail</i>. Pela sensação de invisibilidade dos jovens, Robyn estaria dando um passo maior que as pernas, todavia, por ora, a melhor coisa a se fazer era deixá-la cuidar de seus interesses. Padre di Sofia dedilhava uma bonita melodia no violão, os alunos fazendo um movimento rítmico com os ombros, acompanhando a música. Ao fundo, o sol marchava para depois da linha do horizonte, e o manto da noite prometia encantos. Parker ligou para casa, e a primeira coisa que a mãe perguntou foi mesmo sobre Robyn.</span><br />
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-size: small;"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-size: small;">- Ela merece, mamãe. - Daniel a escutou defender a irmã. - Não, não foi com o Aaron. Eu nem o vi por aqui hoje. - O rapaz do carrinho de picolés e sorvetes vinha subindo para a barraca, e Daniel uniu o útil ao agradável, dando à namorada a privacidade para que tratasse o que quisesse com a mãe, refrescando-se após uma tarde escaldante cheia de emoções.</span></span><br />
<span style="font-family: arial;"><br /></span>
<span style="font-family: arial;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-size: small;">Daniel a recebeu com um picolé de chocolate, e Parker deu um gritinho de alegria. Os dois deixaram a festa de mansinho, sem levantar suspeitas. Subiram a baia para apanhar o bondinho. Sendo comecinho de noite, uma parte importante dos frequentadores já havia ido para casa, então a carona do bondinho, com os bancos só para o casal, foi uma bem-vinda novidade! Parker acomodou a cabeça no ombro do namorado, e Daniel, uma das pernas no braço da poltrona à frente. "<i>Vocês jovens não deviam estar comemorando na praia</i></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-size: small;"><i>?</i>", perguntou o condutor, um simpático senhor cujos sulcos no rosto amaciado entregavam a idade avançada, mas também cujo sorriso indicava apreço ao ofício.</span></span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel voltou à consciência, ao presente, tantos anos após a aventura dos Jogos Escolares. Não soube diferenciar imediatamente recordação de realidade e, com os olhos no manto da noite, tampouco soube se ainda enxergava as estrelas em 1995 ou se já alcançara 2010. Com o gosto salgado no canto da boca, esfregou os olhos com o polegar, e constatou que chorara. Foi ao banheiro se aliviar e, ao passar na cozinha para tomar um copo d'água gelado, acabou permanecendo certo tempo sozinho, a luz da lâmpada deitando um cone iluminado sobre sua cabeça e uma porção da mesa. "<i>Danny, eu gosto muito de você</i>", conseguia até mesmo evocar o tom utilizado por Robyn ao se dirigir à sua pessoa. “<i>Meu Deus, por que estou tão emotivo?</i>”, perguntou-se, baixinho, passando as costas da mão sobre o rosto banhado.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Na manhã seguinte, Parker foi deixada no aeroporto por Daniel e Gladys. Antes de se arrumar e preparar as malas para subir no voo a <i>Londres</i>, tomou um saboroso café da manhã, um momento genial, em família, com <i>Cyrano </i>ganhando fatias avulsas de bacon do benevolente tutor. Na hora da despedida, no portão de entrada, ela lhes prometeu ligar quando fizesse a escala no aeroporto de Lisboa, mais tarde. No caminho para casa, recebeu duas ligações. A primeira foi de Giro, aconselhando-o a chegar logo a casa e ficar à sua espera – Recursos Humanos mandara um e-mail, o entrave fora resolvido, Daniel poderia começar a gozar os trinta dias de férias a partir daquela mesma data. Na segunda, Suntee falava sobre quase a mesma coisa pois, no seu caso, fora o colégio, o <i>East Side</i>, que dera um “<i>refresco</i>” aos meninos com o recesso do meio do ano.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Vovó, eu sei. - Ele se limitou a dizer, sem tirar os olhos da pista, a caminhonete seguindo para casa. Gladys virou o rosto para ele, ressabiada, porém então lhe ocorreu do que o neto falava. Ele foi adiante: - Eu sei do Giro. Ou melhor, Padre Girolamo di Sofia.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Oh, meu bem. - Seus lábios tremularam, comovidos. - Graças a Deus. Graças a Deus você se lembrou.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Pude ver claramente. Ontem. E lembrarei de outras coisas. Agora, preste atenção. - Tirou uma das mãos do volante para pousá-la sobre o ombro da avó. - Giro virá nos visitar. Agora, não há mais retrocessos, avançaremos, todas as apostas na mesa. Se eu precisar ir para <i>Cape May</i>, precisa se desapegar de mim e deixar que eu cumpra meu destino.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Mas, querido… - Gladys sentia medo, tomando-o momentaneamente como um menino, ainda, um menino perdido, um príncipe sem reino.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Por favor, vovó! - Reiterou, com firmeza na voz, alguns nós a mais elevada. - Não posso recuar, porém não conseguirei sem o seu amor, sem o seu suporte. Combinado? - Gladys não pôde vocalizar a afirmativa, contudo fez que sim, com a cabeça, lágrimas correndo pelo rosto.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Assumindo o eixo principal do loteamento, Daniel foi guiando a caminhonete até enxergar o topo da casa e, logo em seguida, a patrulha do aeroporto: Giro já tinha chegado! Evidentemente, Gladys foi logo abraçando o padre. Ao trocar olhares com Daniel, Giro compreendeu que ele falara sobre o fato de Legrand tê-lo reconhecido, na noite anterior. "<i>Por Deus, Gladys, eu não via a hora desse dia chegar</i>", ele disse, baixinho. Gladys exprimiu a concordância com dois murros leves reafirmadores nas costas de Giro. “<i>Muito bem, precisamos conversar, cara!</i>”, foi ao ponto, indicando para Legrand o alpendre com o polegar. Gladys concluiu o abraço, segurou o padre nos dois braços e se voluntariou a coar o café para os dois.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- O cara com o nome complicado… - Daniel começou.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Etienne Dieudonné. - Giro o nominou. - Ele é um inspetor, um agente federal do MI6.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Como?! - Embasbacado, Daniel não podia acreditar. - Meu Deus, do que tentam me proteger, Giro?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Calma, filho. - O padre assegurou que ficaria tudo bem, e apertou suas mãos por sobre a mesa. Gladys chegava com a garrafa de café. - Dieudonné o manteve sob o radar desde 2004.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Saímos de <i>Cape May</i> sob proteção, <i>Danny</i>. - A avó se sentou ao lado de Padre di Sofia. - Você pode ter sido testemunha de, no mínimo, o homicídio de um menino local, o suicídio de outro, e o elo que une esses dois eventos em <i>Cape May</i> com os assassinatos do machado, em <i>Londres</i>.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Daí a participação de Dieudonné, um agente britânico, no caso. - Giro bebericou a xícara, estalou os beiços e continuou: - Eu sei, parece-lhe um emaranhado de informações. Sua avó, eu e Dieudonné vínhamos conversando.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Mantive-me reticente por um tempo. - A avó confessou. - Mas Giro tem razão. - Encararam-se, ela e Giro, e o padre sacudiu a cabeça em consonância, com um olhar severo.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu expliquei à Gladys. Precisamos cair para dentro, porque, senão, o outro lado virá para cima antes. Isso, se já não tiver vindo. Etienne te encontrará em <i>Cape May</i>. Não precisa se preocupar como acontecerá. Ele é um agente secreto, saberá seus passos e te encontrará.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você virá comigo, Giro? - Indagou, quase como um pedido cheio de dor.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Num primeiro momento, não. Eu aparecerei, porém você entrará lá sem alguém que possa ajudá-lo a se recordar, pois, agora, especialmente em razão de envolver algo tão grave quanto homicídio, a certeza precisará vir genuinamente da parte de seu ser que jamais esqueceu.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Suntee poderia acompanhá-lo, não acha, padre? - Gladys teve a ideia. - Seria uma companhia; entretanto, não o atrapalharia na jornada da recordação, pois não é um dos nossos, não é uma pessoa com raízes em <i>Cape May</i>.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Excelente, excelente ideia, Gladys! - Apontou para Daniel, com o cenho franzido, e instruiu: - Procure-o, hoje. A depender da resposta, se ele puder fazer a incursão inicial contigo, o tempo urge para prepararmos uma linha de ação.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Na sexta-feira da mesma semana, conforme combinado, Suntee se apresentou bem cedinho à casa do amigo. Eles tomaram o café reforçado de Gladys, e escutaram pacientemente às instruções de cautela reservadas por ela e Padre di Sofia `a dupla. "<i>Mantenham contato, uma ligação por dia, no mínimo</i>", a avó exigia, com olhos preocupados, enquanto Daniel besuntava o pão com requeijão, e Suntee saboreava o prato de tirinhas de bacon com ovos fritos. Houve uma cena muitíssimo engraçada que os fez gargalharem alto: Gladys entoava a ladainha de avó desesperada e super protetora, quando, às costas da senhora, Giro fingiu lançar a mão ao pescoço de Gladys para estrangulá-la. Quando ela viu a gozação bem a tempo, Giro corou, e os quatro riram tanto que suas barrigas doeram! Vez ou outra, Daniel consultava o relógio de pulso. Giro recomendara que pegassem a estrada antes das 09:00, pois chegariam a <i>Cape May</i> a tempo para um bom almoço, e a ideia era levar Suntee para comer no restaurante onde os amigos haviam preparado a festa surpresa um tempo atrás. No momento da despedida, Giro desejou sorte e fez duas recomendações inéditas: Daniel deveria procurar o orfanato que di Sofia dirigida quase a vida inteira, pois lembranças de Mildred viriam mais facilmente; também faria bem buscando o prédio da sede da Guarda Costeira, o lugar por onde a vida de Daniel passara antes da perda da memória. Quando os rapazes efetivamente subiam pela estrada secundária em direção a <i>Interstate</i>, o sol se deitara sobre <i>Elizabeth </i>como um lençol dourado e luminante cujo mormaço fazia ascenderem a poeira e o gostoso cheirinho de terra.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Passava de meio-dia quando alcançavam a familiar curva cuja vista emulava o friozinho na barriga, o Atlântico infinito ao leste; <i>Cape May</i> ali embaixo, à beira mar. Daniel sorriu ante a admiração explicitada no olhar de Suntee, que apoiara os braços na janela e praticamente colocara a cabeça para fora para não perder um único segundo. Daniel retornou ao albergue onde se hospedara na primeira vez. Ao vê-los entrando pelo hall, os mesmos funcionários da <i>staff </i>anunciaram, antes de abraçá-lo: "<i>O filho preferido de Cape May à casa volta!</i>". Depois de se acomodarem num quarto com duas camas, partiram para uma caminhada. Daniel foi tentado a apanhar o bondinho, mas o deixaria para outra hora. Era importante que Suntee extraísse sua primeira impressão da cidade por meio de uma sossegada, desimpedida caminhada ao longo da orla.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Suntee e Daniel almoçaram fartamente no píer, um momento de descontração antes de começarem a se aprofundar no mistério. Daniel pediu bife acebolado, um prato que servia a quatro pessoas, mas que não deixou uma só sobra quando posto à mesa para os dois, os quais o consumiram com voraz apetite. "<i>Cabia mais um nessa mesa, pena que Giro não veio conosco</i>", Daniel lamentou, bebericando a xícara de café que segurava elegantemente com dois dedos sob a asa. "<i>Tudo a seu tempo, meu patrão, Padre di Sofia sabe o que faz</i>", Suntee contemporizou, e Daniel não conseguiu segurar as risadas ao se recordar do brincalhão Giro fazendo sinal de levar as mãos ao pescoço da avó. Daniel pagou a conta, e Suntee apreciou a sugestão de caminhar pelo píer para desopilar. O rumor de ondas contra as colunas era de uma relaxante constância. Quando se sentiam mais leves, subiram pela orla para apanhar o bondinho.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Eles voltaram ao albergue e concordaram em cochilar antes da procura pela sede da Guarda Costeira. Suntee ligou para os pais e adiantou que o primeiro dia de férias começava promissor. Seduzido pelo frio proporcionado pelo ar condicionado, as pálpebras de Daniel foram pesando, a conversa de Suntee com os pais ao telefone distanciando-se, até ele eventualmente apagar. Ainda conseguiu escutá-lo falando sobre a excelente comida do restaurante onde almoçara, antes de ser abraçado pela inconsciência quando, por um breve momento, desejou se recordar de algo mais. Não aconteceu assim, porém. As lembranças não tinham hora para vir, e quando despertou, passava das 18:00. Daniel não acreditou que Suntee o tivesse deixado dormir a tarde inteira, mas o lapso viera a calhar, pois agora a visita à Guarda Costeira ficaria para a manhã de sábado.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Qual o plano para esta noite? - Suntee indagou, amarrando os cadarços.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Vamos apanhar o bondinho. Quero retornar para o lugar onde tudo começou. - Forneceu a programação, com um sorriso enigmático.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel referia-se, claro, à <i>diner </i>anterior à curva de entrada de <i>Cape May</i>, à parada onde esperara por Parker na infeliz noite na qual ela não aparecera. Sendo uma noite de sexta-feira, ao saltarem do bonde, encontraram a <i>diner </i>muito bem frequentada. Mesmo do lado de fora, reverberava a festa feita pelos jovens, entre rodadas de cerveja e partidas à beira das mesas de sinuca. A <i>jukebox </i>avivara com uma maravilhosa seleção de músicas românticas de duas décadas atrás, dando o tom certo à noite na primeira curva de <i>Cape May</i>. Daniel e Suntee ficaram um tempo observando a casa à distância, do canteiro. Incerto, o garoto perguntou se havia algum problema.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Recordei-me de estar indo e vindo nesta estrada, em frente `a <i>diner</i>, na noite na qual Parker deveria ter aparecido. - Deu com os ombros, suspirando, e lembrou. - Não aconteceu como eu pretendia. - Murmurou, desatento e pensativo, dando alguns passos para trás, voltando à pista, atrás da perspectiva certa para observar o bar.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"> <br /> Suntee não desvendava o objetivo da visita. Será que Daniel buscava uma de suas súbitas, reveladoras recordações? O amigo não lhe adiantara explicações. Limitou-se a estudar o entorno, e a se posicionar no caminho que fizera, na lembrança daquele dia. Daniel caminhou até ao outro lado da pista. Às suas costas, o rumor das marés acertava-o em cheio, as ondas quebrando mais distante e ritmicamente. "<i>Vamos, vamos, raciocine</i>", estimulava-se. Respeitando o momento do amigo, Suntee fez uma prudente escolha ao lhe dar espaço para se sentir à vontade. E então, aconteceu: Daniel abriu os olhos, e deu pela mocinha loira chorando inconsolável no banco de madeira da parada. Ela levantou o rosto apenas um pouco, o bastante para enxugar os olhos com o lenço. Daniel viu que se tratava de Robyn em 2004. Suntee nada enxergava, claro, mas compreendeu que o amigo estava definitivamente em transe, recordando-se. Vacilante, sem compreender o que se sucedia, Daniel se aproximou com muita cautela da Robyn de 2004. Mesmo sentado ao lado, ela não dava pela presença de Daniel. Ele teria levado a mão ao ombro, numa tentativa de consolá-la, quando Robyn subitamente levantou a cabeça e se pôs a falar.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sabia que gostava de mim desde aquele dia na praia, <i>Danny</i>. Respondeu-me tão naturalmente que não precisaria ter dito mais nada para que eu soubesse! - Quando Daniel segurou as mãos de Robyn, estavam tão gélidas quanto um pedaço de mármore. - Se nós tivéssemos nos conhecido melhor, se tivesse sido meu namorado, nada disso teria acontecido!</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Oh... Eu não compreendo. - Respondeu, intrigado, abraçando o fantasma, qualquer coisa para deixá-la descansar.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Então, o segundo fantasma da noite fez uma entrada triunfal. Quando avistou o rapaz bem aparentado e ricamente vestido chegando à <i>diner </i>apressadamente, empurrando a porta com força, entendeu que via Aaron Lang. O fantasma de Robyn desintegrou-se nos seus braços, e Daniel avançou para dentro, para não perder Aaron de vista. Custou a distingui-lo; entretanto, a jaqueta da NYU entregou-o cabisbaixo, encostado ao bar, próximo à cabine telefônica, para depois das máquinas de jogos. Havia um banco vago ao lado. Daniel se sentou nele, porém, antes de cumprimentá-lo, o fantasma o encarou, cheio de horror.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu apenas não quero que continue achando que eu sou um canalha. - Lamentava, com tocante sinceridade. - Enxergo as coisas melhor agora, e sinto muito tê-lo magoado.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Aaron, o que aconteceu? - Daniel tinha razões para não acreditar no que via, mas tinha Aaron diante de si, exatamente como parecera, há seis anos. Ponderou se as outras pessoas viam a mesma assombração.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Oh, Deus, eu não sei como contar a meus pais! - O rapaz surpreendentemente o puxou para um abraço. Aaron seguiu lamentando, chorando. - Não posso viver com esse segredo. Sinto que estou pagando pelos males que causei! Você me perdoa, Daniel? Você me perdoa?!</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Aaron se foi consoante a dinâmica com a qual surgiu: como num passe de mágica. Atônito, Daniel olhou para os lados, perturbado. As pessoas nem pareciam percebê-los, distraídas que estavam, interessadas nos próprios assuntos. Suntee estava de pé ao lado da cabine de telefone, e parecia igualmente pasmo. Daniel deixou o assento. A passos muito lentos, juntou-se ao amigo na porta da cabine.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- O que está acontecendo aqui, Suntee? - Não soou como pergunta; tratava-se de um pedido de socorro.</span></div><span style="font-family: arial;"> - Não parece suficientemente claro? Você começou a se recordar! - Segurou-o por sob um dos braços e o foi tirando dali. - Venha, vamos embora.<br /> <br /> "<i>Falava sobre segredo, sobre...</i>". Os amigos haviam passado a última hora dentro do quarto tentando desvendar o significado da cena vista. Daniel andava em círculos, desnecessariamente enervando Suntee. Robyn e Aaron foram namorados, e o rapaz fizera mal à garota. Daniel concluiu que vira fantasmas do passado, certo de que as conversas tinham realmente acontecido há anos. Robyn parecia arrependida de algum malfeito; Aaron, mortificado pelas consequências de seu inconsequente proceder. Os amigos especulavam possibilidades e as confrontavam. Quando Daniel ligou para casa, sentia-se menos inquieto. Falou sobre o almoço na orla e explicou que a visita ao prédio da Guarda Costeira ficaria para o dia seguinte. Durante a conversa, ocorreu-lhe uma ousada ideia, não toda antes: se conseguira enxergar tão bem a avó à janela de casa numa manhã de 1995, quando pedalara para o colégio, por que não revisitar a casa em 2010?</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Oh, <i>Danny</i>. - Gladys sentou-se pesadamente nos degraus do alpendre. - Você... Tem certeza?</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Talvez seja a última vez, vovó. Depois que eu e Suntee voltarmos para <i>Elizabeth</i>, não sei se verei <i>Cape May</i> tão cedo. - Foi sua vez de se sentar, no vão do banheiro.</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Que bobagem, querido, claro que voltará! Sua namorada também nasceu em <i>Cape May</i>! Por que não retornaria?</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- <i>Hum</i>... - Murmurou, cansado. - Mas vamos, vovó. Ajude-me, sim?</span></div><div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Tem papel e caneta?</span><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"> <br /> Gladys forneceu o endereço meio a contragosto. Daniel não fazia a menor ideia de onde o lugar ficava, mas o taxista desenrolaria o destino em minutos. A história contada pela avó era que a casa havia sido posta no mercado imobiliário no ano seguinte à partida da avó e do neto, e comprada um ano mais tarde. O investidor que a levara também adquirira outros terrenos da quadra, com planos de vender a área para uma grande rede de shopping. Daniel e Suntee ainda conversaram por boa parte da noite, e foi ótimo tirar a mente dos mistérios, substituindo-os pela expectativa do resultado do concurso. Daniel foi o último a dormir, os fantasmas ainda bem frescos nos pensamentos.<br /> <br /> No sábado, ao se sentar à mesa do restaurante para o café da manhã, a dupla acertou os objetivos do dia. Pela manhã, apanhariam um táxi que os levaria à antiga residência. Após o almoço, no começo da tarde, seguiriam de bondinho ao<i> Training Center Cape May</i>, o quinto maior centro de formação de base da Guarda Costeira nos <i>Estados Unidos</i>, o lugar onde Daniel estivera antes de perder a memória e estagnar no tempo. Ele ainda desejava fazer investigações a respeito de Aaron Lang, quem sabe encontrar a casa da família dele, para que desamarrasse os nós dessa trama. Ao caminhar pela cidade, à procura do ponto de táxi mais próximo, percebeu que vinha prestando mais atenção ao meio. Apesar de manter os nervos em xeque, e vir se portando com muita paciência, o instinto de sobrevivência lapidara seus sentidos. Mesmo assim, não podia dizer ao certo se Dieudonné o seguia ou esperava o momento para se apresentar.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Tendo sido deixados pelo taxista na calçada da casa da avó, a dupla notou que, em concordância à fala de Gladys, a quadra se tornara um espaço no limbo, um tanto quanto abandonado. Era um lugar charmoso, até nostálgico; entretanto, de uma melancólica nostalgia. Sabe o friozinho na barriga, aquele que Daniel sentira ao descer a entrada de <i>Cape May </i>quinze anos antes? A mesma eletricidade o perpassou ao empurrar o portão de ferro, que "<i>reclamou</i>", rangendo à interferência de um ser humano, uma novidade após mais de uma década. Daniel e Suntee foram entrando, Legrand `a frente. Dando com o ombro na porta do alpendre para a sala de estar, Daniel a encontrou com os móveis cobertos por lençóis poeirentos, folhas secas amareladas sobre o porcelanato, e a vidraça da janela que dava para o jardim estilhaçada. De partir o coração, porém, foi quando subiram ao piso acima e encontraram o quarto onde sua vida coubera por vinte e quatro anos até o acidente. Nas paredes, os pôsteres de filmes pessoalmente importantes haviam sido parcialmente emborralhados pelo avanço dos anos e o implacável trabalho dos fungos trazidos pela umidade. Daniel deixou as costas escorregarem contra a parede até se sentar no chão. Suntee não soube o que fazer, e eventualmente se sentou sobre uma carcomida mesinha que, noutros tempos, fora usada como criado-mudo.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Finalmente em casa. - Daniel suspirou.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- A casa bate com o sonho? - Perguntou, desnecessariamente; entretanto, tinha de sustentar os ânimos, manter o amigo interessado e falante.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Certamente. - Daniel esticou as pernas e pareceu um pugilista levado inesperadamente `a lona, recostado ao corner. - Um quarto conta muito sobre a personalidade de alguém. Olhe todos esses pôsteres!</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não conheço nenhum desses filmes! - Comentou, fascinado, sem tirar os olhos dos mesmos.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Bem, é normal! - Daniel deu uma risada, uma réstia de luz a destoar da tensão. - Somos de gerações diferentes, e a sua infelizmente não conheceu os filmes de horror mais interessantes!</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- "<i>Hellraiser</i>", hein? - Suntee pareceu intrigado, o que surpreendeu a Daniel.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"> - Conhece o filme? - Interessou-se, abraçando os joelhos, acomodando-se melhor.<br /> - Sim, assisti ao último. Meu primo alugou o DVD! - Contou, com orgulho.<br /> - Oh, não, não… - Daniel sacudiu negativamente a cabeça, e se levantou. Não me diga que alugou as continuações ruins! - Os dois estudaram um dos quadros, uma <i>still </i>do primeiro "<i>Hellraiser</i>". - Os únicos fiéis `a visão de <i>Clive Barker</i> foram os dois primeiros, os filmes rodados na Inglaterra. Os americanos compraram os direitos sobre a obra e realizaram continuações horrorosas que nada têm a ver com as ideias do autor. Os dois primeiros giravam em torno de desejo, fetiches, amores não correspondidos. Você seria levado a pensar que os cenobitas mereceriam o foco, mas fazem uma "<i>participação especial</i>". O núcleo permanece no triângulo amoroso, <i>Julia</i>, <i>Frank </i>e <i>Larry</i>. - Legrand deu duas batidinhas com os dedos na still emoldurada, <i>Clare Higgins</i> como <i>Julia </i>e <i>Frank</i>, o monstro, às suas costas, antes de recuperar a forma. - Linda, não? <i>Clare Higgins</i>. Vovó disse que, quando eu era pequeno, eu a achava a mulher mais bela do mundo, mas hoje sei que atrizes britânicas são todas belas, à sua maneira. Há um refinamento que minha inteligência não tem como analisar. Elas apenas existem, só nos restando admirar as nuances de cada diferente performance, como matizes que vimos no céu, ao entardecer, o sol se pondo, a glória diluída num tom canela, deixando para trás um breve sopro de puro encantamento, leia-se, a brisa vinda da beira-mar. Assim são elas, não? <i>Clare</i>, ou <i>Glenda Jackson</i> em "<i>Women in Love</i>" e "<i>Sunday, Bloody Sunday</i>", por exemplo. Passaram há muito do auge, do primor; contudo, há matizes próprias `a beleza cansada ainda mais interessantes e raras do que aquelas que, nas jovens, ficam tão repetitivas e banais.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Calma, meu patrão. Não conheço nenhum desses filmes, nenhuma dessas vadias! - Suntee devolveu, e ambos deram gargalhadas. - Você está inspirado, hein? Falando como um galanteador sofisticado à caça de bocetas em algum coquetel de intelectuais, hein? <i>Warren Beatty</i> em pessoa. - Novas gargalhadas.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Investigando os outros cômodos, eles conheceram o quarto que teria sido de Gladys, pois era decorado com imagens de <i>Jesus Cristo</i> e <i>Maria Santíssima</i>. Ainda existia um pequeno oratório de carvalho e, na parede, alinhado ao oratório, uma imagem de <i>Cristo</i> crucificado. A cera das velas endurecera sobre a mesa, um resquício insignificante de parafina resistente ao avanço dos anos. Após a sala de estar do nível superior, seguiram pelo corredor que confluía num quarto para serviços. Ali existia a mesa para computador e um PC Pentium praticamente reduzido a carcaças.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel e Suntee conversavam amenidades, o garoto discorrendo sobre as diferentes gerações de Pentium, quando Daniel ergueu uma mão silenciadora. Um olhar cismado fechou seu semblante. O rumor parecia vir do quarto de Gladys, mas somente Daniel parecia escutar o barulho. Mal chegou à porta, soube tratar-se de Gladys. A voz da avó não diferia de hoje, mas a de Daniel soava um pouco mais inocente, jovial. Claro, Legrand se via aos vinte e dois anos, quando ainda não inteiramente deixara de ser garoto. A avó colocava os brincos, de frente ao espelho da penteadeira. "<i>Penteadeira</i>", riu ao som do termo incomum, uma das muitas miscelâneas de mitologia particular, assim como o eram os filmes de horror, a atriz preferida, a paixão pelo ato de escrever, tudo o que o tornava, em síntese, um amigo incomum, muito mais espiritualmente envelhecido e deslocado do que a tenra idade levava a crer. "<i>Droga, não consigo amarrar essa maldita gravata!</i>", exclamou, atirando-a `a cama, a que a avó deixou os brincos e a penteadeira para acudi-lo. Daniel vislumbrou o contexto da movimentação. Virou para Suntee, o qual não enxergaria mesmo os fantasmas de Legrand, e sussurrou: "<i>A manhã da posse acontecendo perante meus olhos</i>".</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Os prédios da Guarda Costeira ficavam recuados, ocupando um mundo a parte, uma ilha insulada dentro de outra. Suntee e Daniel teriam se perdido, não tivessem sido informados de antemão que o auditório localizava-se no prédio principal, o bloco administrativo, composto de duas torres de nove andares ligadas por asas onduladas, vastos corredores, na verdade, onde operava a inteligência do órgão. Daniel continuava na sua viagem nostálgica, imagens pululando vividamente: assistiu a Gladys e sua versão mais jovem sentando-se num banco de mármore da pracinha onde existia uma fonte, à espera do início da cerimônia da posse. Daniel comentava espirituosamente a Suntee sobre o excesso de zelo que os levara a chegar ao compromisso com uma hora de antecedência, no mínimo. No entanto, logo surgiu uma moça, uma das aprovadas, acompanhada dos pais. Munida de máquina, ela a entregou ao pai para o registro do grande momento, a posse, de braços dados à mãe. Não custou a novos rostos jovens chegarem. Acomodaram-se – concursados, servidores de carreira, familiares e os diretores – no auditório, onde os aprovados receberam boas-vindas. No primeiro mês, tão atônito ficara com a mudança de rota de vida, mover-se e pensar claramente assemelhava-se a executar uma coreografia em câmera lenta, </span><span style="font-family: arial;">em meio à neblina. Sim, Daniel sentia-se ótimo, sobretudo com a notícia da remissão da leucemia de Mildred Weber, mas a ficha não caíra. Aconteceria somente um mês depois. Por conta do horário de almoço, o andar inteiro da corregedoria federal esvaziava às 13:00, e Daniel, o único a permanecer, seguia num vai e vem, pensativo. Foi quando o pânico o acertou com força total.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Procurou conforto ao racionalizar. Sua mãe saíra de cena; depois, afundaram Parker e a promessa de amor; agora, Mildred agonizava. Para um jovem de vinte e dois anos, a pressão tinha de encontrar escape - um infarto, um colapso nervoso, - mas, para Daniel, foi na forma do pânico com o qual seu peito ia encolhendo. Era uma sexta-feira chuvosa e cansativa, quando Robyn ganhou novo acesso à sua vida. Os corregedores haviam voltado mais cedo para casa, pois a chuva discreta do começo de manhã consolidara uma montanha de nuvens eletrizadas por relâmpagos, e o céu prometia precipitação pesada para a tarde. Ao longe, raios riscavam as camadas platinadas no céu, seguidos pelo ruflar muito discreto dos trovões. Estudar o fenômeno com olhos curiosos amenizava o fardo de tantas emoções, e Daniel passara a última meia hora saboreando a vista. Tão distraído, custou a tomar ciência da figura a observá-lo do corredor contíguo do hall de elevadores para o 6º andar.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Robyn? - Daniel disse, naquele dia em 2003, quando tinha 23 anos, e o fazia em simultâneo agora, aos trinta, revivendo o encontro, chamando-a baixinho, como se o fizesse a uma lembrança secreta muito sofrida.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Desculpe por não ter vindo vê-lo antes. - Ela parecia muito relaxada e à vontade, feições leves, mas cansadas, ombros soltos. - Eu fui lotada no gabinete da diretoria. - Robyn sentou-se sobre a mesa de Daniel num salto. O rapaz gostou da intimidade da aproximação. - Como estão as coisas por aqui? Falam que a corregedoria é o pior lugar para se ficar, ninguém quis vir para cá, todos protestaram, menos você!</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Fico feliz em revê-la! - Apertou-lhe as mãos. - Aqui? Sim, muito movimento; entretanto, fora isso, esses caras me deixam em paz! Mudando de assunto, sabe quem fui ver, antes da posse? Padre di Sofia!</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Nossa, faz muito tempo desde 1995! Sinto-me velha!</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não, não "<i>velha</i>". - E, corrigindo-a, brincou. - Apenas "<i>mais velha</i>". - Ambos deram risadas, risadas leves, benignas.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você foi só se confessar?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não. - Baixou o rosto, subitamente melancólico. - Fui conversar, sabe? A leucemia de Mildred voltou. Quero dizer, tenho vovó para conversar, mas prefiro conversar com outro homem, sabe?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Mildred Weber? - Robyn acrescentou o sobrenome, para ter certeza. Daniel fez que sim. - Oh, eu… Eu sinto muito. Então, você e Parker terminaram mesmo, hein? Já a esqueceu?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não sei quanto a "<i>esquecer</i>". - Apoiou o queixo sobre a palma da mão, contemplativo. - Encontro paz nas palavras de Padre di Sofia. Eu o procurei justamente para falar sobre isso.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sobre a Parker?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não sobre ela, especificamente, mas sobre amores não correspondidos. - Daniel explicou. Interessadíssima, Robyn puxou uma cadeira para escutá-lo falar. - Eu perguntei a Padre di Sofia o que fazer ao não ter meu amor correspondido. Suas palavras permanecerão para sempre comigo. Ele tem um jeito, o Padre di Sofia, de salvar minha vida sempre estou à beira do abismo.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você as compartilharia comigo?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Lógico, sim. - Daniel limpou a garganta, esperou um pouco, em busca das palavras certas, e começou: - Padre di Sofia levantava uma questão fundamental. A primeira coisa é de se perguntar se o amor é sentimento. A maior parte das pessoas detém uma noção equivocada de amor, Robyn. Veja, às vezes você está apaixonado pela pessoa, porém paixão e sentimento não são a melhor maneira de escolher uma pessoa, tampouco a forma correta de amá-la. Então, entenda-me, não é que precisemos de uma artimanha para mudar o coração dessa outra pessoa: quem precisa primeiro mudar é a gente. Padre di Sofia me contou que foi São Tomás de Aquino quem primeiro diferenciou amor de concupiscência do amor de benevolência. O amor de concupiscência acontece quando nos aproximamos da pessoa como a um objeto: é agradável, você quer aquilo para si, você quer aquilo que a pessoa pode proporcionar para você, "<i>ah, o corpo dele é bonito, ele é simpático, ele é rico, é alguma coisa que me dá prazer</i>". O verdadeiro amor, contudo, é o amor de benevolência. É o amor que quer o bem da outra pessoa. - Daniel ia discorrendo. Robyn escutava com os olhos cheios de lágrimas. - O que você quer para essa outra pessoa? Você quer o céu? Então você quer o verdadeiro bem, porque amar uma pessoa é querer que ela vá para o céu. Padre di Sofia me disse, "<i>Filho, procure diminuir um pouco seus sentimentos, distancie-se de Parker</i>". Padre di Sofia pediu-me para fazer o exercício de me perguntar diante de Deus se eu, ao lado dela, estaria escolhendo alguém que me ajudaria a ir para o céu, e eu poderia a ajudá-la a ir para o céu. Diante dessa prova, desse teste de fogo, ali muita gente termina vendo que sua paixão não é um projeto vocacional, não é desejada por Deus, porque sua paixão é uma pedra de tropeço e uma ocasião de idolatria. - Ao notar que Robyn tinha se emocionado, Daniel se assustou. Ela fechou forte os olhos, fazendo as lágrimas rolarem dos cantos, e pediu que continuasse. - Ele disse para mim: "<i>não escolha os corpos, eles envelhecem; não escolha os sentimentos, eles passam. Escolha as virtudes. Escolha a alma correta com a qual você realizará uma aliança, para juntos caminharem para o céu</i>".</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Algo na maneira como ela desviou o rosto e no sorrisinho triste desenhado apenas num dos lados da boca expressaram enraizada tristeza. "<i>Se apenas tivéssemos sido amigos mais cedo</i>", Daniel pensou, certo de que ela gostaria de desabafar, e ele adoraria escutá-la; não obstante, antes que estivessem batalhando em momentos tão complicados de suas respectivas vidas, lá atrás, tinham existido inúmeras oportunidades quando poderia tê-la convidado a assistir a filmes em casa, trazendo-a ao seu círculo, ao círculo de Gladys. A tragédia de tudo era que Robyn teria aceito o convite, se apenas Daniel tivesse pedido. A distância que os separava era ínfima, e intimamente sabiam o quanto se gostavam, mas a insegurança, a incerteza quanto ao chão minado onde pisavam, prendia-os a seus próprios dilemas silenciosos e inconfessáveis, como se ele ainda fosse o garoto tentando furtar chocolates, e ela, a moça do supermercado, puxando <i>milkshake </i>pelo canudo para intimidá-lo com sua presença.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- É estranho. - Ela sacudiu a cabeça, mordeu o lábio inferior, pensativa, e disse: - As coisas que Padre di Sofia fala para você cabem tão bem a mim! Não sei se darei um passo em falso, mas tentarei a transferência para o escritório de representação da Guarda Costeira em <i>Washington</i>. - Robyn contou. - Gostaria de ficar próxima a Aaron.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ele está morando lá?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Hoje, ele é um <i>restarauteur </i>em <i>Georgetown</i>. - Contou, agora com olhos tão tristes quanto a voz. - Claro, papai ficou furioso. Quer que eu faça residência em psiquiatria.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Vai dar tudo certo. Conseguirá a transferência e ficará perto dele. - Daniel disse de uma maneira tocante em simplicidade. Robyn imediatamente levantou os olhos dolorosos e tentou sorrir.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Engraçado, não é? - Ela comentou, e Daniel esperou que prosseguisse. Como não o fez, ele indagou, curioso.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- O quê? - Perguntou com candura, também sorrindo.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Posso contar nos dedos as vezes em que nos encontramos; entretanto, foram coisas marcantes. Da nossa briguinha quando adolescentes à conversa de hoje. O que você acha, <i>Danny</i>? Eu sou contraditória, não? Eu sinto nos meus ossos a verdade das palavras do Padre di Sofia; no entanto, vou no sentido contrário. Escolhi baseada nas emoções, quando tinha diante de mim a chance de preferir as virtudes. - Ela finalizou, e uma lágrima rolou pela face.</span><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"> <br /> E, com isso, Robyn se despediu. Ela ainda se deteve, pouco antes de dobrar no átrio para o hall de elevadores, para olhar para Legrand. Ele levantou a cabeça, com os olhos bem atenciosos, cheio de expectativa, e ela falou, baixinho: "<i>Danny? Eu gosto muito de você</i>".</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel voltou-se para Suntee, com um sorriso cansado e comovido, talvez o mesmo com o qual vira Robyn sair, em 2004. O garoto se aproximou como o faria a um irmão mais velho e cansado e, sem movimentos intrusivos ou grosseiros, trouxe-o, com muito jeito e reverência, a um banco, onde pôde se sentar. Daniel vinha experimentando flashbacks tão reais que se sentia nos mesmos lugares, passado e presente influenciando-se numa dança de vai e vem, indefinidos como a faixa de leito onde a maré quebra antes de recuar. Daniel vocalizou, baixinho, o desejo por uma xícara de café. "<i>Há um mercadinho na esquina, lembro-me de ter visto. Vamos!</i>", Suntee lhe deu um soco camarada no braço e o animou a sair dali.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Legrand e Suntee chegaram ao complexo da Guarda Costeira no meio da tarde, Legrand mais centrado, preparado. Sua chegada à portaria imediatamente chamou a atenção, e foi muito bem recebido pelos colegas com os quais trabalhara por praticamente dois anos antes da tragédia que o tirara de cena. Suntee assistia à interação entre colegas, fascinado. Não sabia em que terreno pisava e, nisso, não diferia muito de Daniel. O sol se punha, quando a dupla se dirigia ao portão de saída, próximo ao cais onde se localizavam os botes de guarda. Sobre o píer, Daniel identificou as figuras de duas pessoas, Giro e o homem "<i>do brinde</i>", o qual seria Etienne Dieudonné, de acordo com as instruções de di Sofia.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Finalmente você veio, Giro. - Agradeceu, entrando de peito no abraço. Suntee chegou em seguida, também cumprimentando o padre energeticamente.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Filho, chegou a hora de eu levá-los a um passeio pelas alamedas da recordação. - Giro trouxe pelo cotovelo o agente federal e o apresentou. - Este senhor é Etienne Dieudonné. Ele o tem acompanhado há um tempo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Desde que você apareceu na televisão no começo deste ano, Daniel, para ser preciso. - O homem com sotaque europeu explicitou, tirando os óculos de sol e apertando a mão de Legrand.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Iremos de passo em passo. Você compreenderá! - Giro apontou para o outro lado do portão. - Vamos para um lugar sossegado.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Giro estava de carro, então o quarteto saiu intencionando encontrar um melhor lugar para conversarem calmamente; no entanto, antes de escolherem o lugar, o padre quis levá-lo aos principais pontos geográficos do passado recente de Daniel. Ele reviu o colégio <i>Lower Township</i>; foi de partir o coração quando, após correrem pela pista que avançava entre as dunas, Giro chegou ao hoje abandonado estacionamento, decadente colosso que um dia recebera sol, gargalhadas e esperança no futuro. Ao se esforçar para enxergar a cobertura, sentiu o nó na garganta ao pensar sobre quando conversara com di Sofia sobre Parker. Terminaram o passeio na <i>diner</i>, onde Daniel esperara por ela com o buquê num braço e Cyrano no outro. Eles se sentaram à mesa próxima `a cabine de telefone, e Daniel pensou na visão de Aaron Lang `a beira do suicídio, em sua confusa cronologia dos fatos. Era uma noite de movimento, mas também discreta; o interior os apeteceu no instante no qual entraram, uma música romântica cadenciada, <i>Tamia </i>com "<i>This time it's love</i>", apaziguando os ânimos. Uma turminha mais jovem disputava partidas na mesa de sinuca de feltro verde gasto, canecas de cerveja, cheias ou `a espera de reabastecimento, acomodadas sobre as beiradas. Ocasionalmente, sobrevinham gargalhadas e aplausos, alguma tacada de sorte. Daniel, di Sofia, Suntee e Dieudonné olhavam para os jovens e sorriam. `A mesa, Daniel teve um interessante insight sobre sua história. Conforme di Sofia dissera, se parte da responsabilidade pela perda de memória era rastreável ao trauma na estrada, a outra o seria a um mecanismo de defesa do inconsciente, uma estratégia de autopreservação para fugir do horror, que ainda lhe era invisível. Até pouco tempo atrás, atribuía as lembranças paulatinas `as imprevisíveis consequências da volta de Parker, mas agora compreendia que a verdade vinha de dentro de si, a partir do momento no qual resolvera aceitar que sua vida fora tocada pelo horror na juventude, de alguma forma.</span><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">
<span face="Arial, Helvetica, sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span style="font-family: arial;">A reunião ofereceu a Giro a chance de se aprofundar nas razões de ter deixado <i>Cape May</i> para trás, tudo para seguir o rapaz e a avó Gladys de perto. Após a "<i>tentativa de suicídio</i>" de Legrand, durante o processo de reabilitação, Padre Girolamo di Sofia, querido professor de matemática do colégio <i>Lower Township </i>e pároco local, diretor do maior orfanato daquela porção dos <i>Estados Unidos</i>, fora procurado pelo Agente Dieudonné. Naqueles dias durante os quais Legrand não dava sinais de que sairia do coma, di Sofia praticamente dormia na sala de espera com Gladys, e era a imagem da desolação. Ele e a avó oravam todas as manhãs, e Giro conduzia missas no oratório do hospital em nome de Daniel e dos outros pacientes e familiares. Algum tempo depois, Giro foi abordado por aquele cavalheiro em questão, Agente Dieudonné. Se Giro fora abalado pela possibilidade de que Daniel tivesse tentado o suicídio, a revelação de Dieudonné tirou o chão de seus pés, e o padre enxergou a real gravidade do problema.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu praticamente o vi crescer. - Padre Girolamo afirmou, entre goles de café. Suntee sabia que assistia ao desenrolar de acontecimentos extraordinários. - Primeiro, quando você era menino, em 1995. Depois, no começo da década seguinte, ao reaparecer consistentemente na paróquia para me visitar. De um jeito ou outro, Maria Santíssima encontrou a forma de nos manter amigos no curso desses eventos.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Mas Giro, por que não chegou para mim antes, para conversar? Não compreendo! Você e Parker se cumprimentando, quando os "<i>apresentei</i>", como se já não se conhecessem! - Abriu os braços e meneou com a cabeça, os olhos bem abertos. - Não houve nada na interação de vocês que me levasse a crer que…</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Isso aconteceu pois Parker sabia tão bem quanto eu que, cedo ou tarde, você se aproximaria da verdade. Nós sabíamos da história, Daniel, mas faríamos mal se não deixássemos que descobrisse por si.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ainda assim, Giro. - Suntee voluntariou-se para contribuir `a conversa. - Você o encorajou a voltar a <i>Cape May</i>, tendo inclusive cuidado do trâmite do adiantamento das férias na Coordenação de Recursos Humanos. As surpresas não acabaram, certo?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Compreenderão melhor quando eu lhes mostrar… Agora, entraremos nas razões de Dieudonné ter me procurado no lado de fora do seu quarto, enquanto estava em coma. - Terminou o café num gole e deixou uma nota de dez dólares sob o pires. - Venham comigo.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Após a descida da primeira curva de <i>Cape May</i>, mas muito antes de se chegar a <i>downtown</i>, existia uma tranquila, pacata rota secundária a serpentear através do relevo em voltas muito espaçadas cercadas pela rala mata nativa tipicamente litorânea. Ali, a geografia fazia a suave transição de estuário à praia. Girolamo parou no acostamento de um determinado ponto. Não havia mais nada a evocar o acidente de seis anos antes, mas Daniel imaginava as razões pelas quais o amigo os levara até ali. Suntee se apoiou nas grades de proteção<i> </i>e arriscou uma espiada para baixo. Era uma devastadora queda. Daniel olhou para Giro com olhos suplicantes, e o amigo foi direto ao ponto.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Reconhece essa curva? - Fazia um frio cortante. Luzes de postes semelhantes a velas bruxuleavam rastros fantasmagóricos que começavam para os lados do Atlântico, muito distantes. Suntee notou os pelos eriçados dos braços. Respirava com antecipação.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Imagino que seja o ponto de onde me joguei?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eis o impasse, Daniel. A história oficial simplesmente não cola. - Giro sentou-se sobre a </span><span style="font-family: arial;">grade de proteção</span><span style="font-family: arial;">. Ali, num lugar tão deserto e vasto, Legrand sentia-se pequeno e oprimido, homens fora de seu ambiente, confabulando para escapar de um incompreensível mal. - Você foi encontrando dentro do carro destruído, parcialmente virado sobre as rochas do estuário. Saiu com ferimentos graves, perdeu a audição de um dos ouvidos por causa do trauma. Seu estado emocional, à época da confusão, já não vinha bem. Mildred estava morrendo. Além da menina, você parecia perturbado por outros problemas. Eu sei disso pois abria seu coração para mim, no confessionário. O que eu poderia fazer? Eu o orientei, rezei por ti. Você sofreu o acidente, voltou sem lembranças, e a tese da tentativa de suicídio colou.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Por favor, apenas seja honesto.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Quer saber? Jamais acreditei que tenha tentado se suicidar. Você tinha desnudado a alma a mim, filho, eu te conhecia, sabia que jamais tentaria um lance parecido. Eu firmei a convicção de que não era o tipo de pessoa dada a tamanho desatino. Por mais que a doença de Mildred tenha te desestruturado, sabia que enfrentaria a tempestade até voltar ao porto. - Padre di Sofia esfregou os olhos cansados, e ia continuar, a voz sem fôlego, quando Agente Dieudonné se ofereceu para falar, tomando a palavra.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ao investigar melhor os detalhes do caso, a sugestão de suicídio só passou a fazer menos sentido. Explique-me, por exemplo, como teria rolado dentro de um carro a girar barranco abaixo, sem fraturar costelas, pernas ou braços. Você sofreu um trauma nessa área da cabeça... - Apontou para o ouvido deficiente de Legrand. - O fato é que um suicida a se lançar barranco abaixo teria feito muito pior, não teria sobrado nada, porra.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Senhor, vamos ao ponto, certo? - Suntee perdia a paciência.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não está claro o suficiente? Um carro desgovernado teria avançado contra a grade de proteção, e as teria arrancado no impacto; entretanto, apenas as deformou ao atravessá-las. Daniel não estava dentro de um carro em velocidade, garoto.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- O cenário de suicídio foi forjado, menino. - Padre di Sofia abreviou, trocando um olhar breve e penetrante com Suntee.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- O carro foi empurrado à média velocidade, lançado propositalmente com Daniel dentro. - Dieudonné fez coro. - Com o velocímetro adulterado.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não faz sentido. - Podia experimentar o gosto amargo do pânico na ponta da língua. - Por que fariam algo do tipo a um cara sem inimigos?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sem inimigos? - Padre di Sofia repetiu, incrédulo. - Ora, Daniel mal se recorda da própria vida em <i>Cape May</i>! Como pode me garantir que não tinha inimigos?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- E inimigos... - Suntee pensava em voz alta, pronto a desenvolver possibilidades, quando Dieudonné retomou a dianteira.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Inimigos podem atentar contra a vida! - Sumarizou, apontando para Daniel. - Alguém com motivos bons o suficiente para querer te silenciar. Uma briga mais calorosa. Teu inimigo te acerta com um pedaço de pau, por exemplo, desespera-se ao achar que te matou num instante de forte emoção, e forja o cenário de suicídio. Deus sabe que você tinha razões para dar cabo de si, apenas sabemos que não o faria.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Quem tramaria semelhante cilada? - Daniel perguntou, os olhos marejados.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não sei, Daniel. Você nos diga.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Giro os deixou no lobby do albergue com a promessa de que ele e Dieudonné retornariam pela manhã, quando poderiam tomar café e conversar melhor. "<i>Por que não agora?</i>", Daniel opinou, recebendo o olhar intrigando do padre e do agente federal. Ele explicou que não conseguiria dormir mesmo, então fariam melhor retomando de onde haviam parado. A recepcionista gentilmente ofereceu: "<i>Poderíamos preparar uma garrafa de café?</i>". "<i>Sim, por favor</i>", assentiu com um sorriso de gratidão. Eles se sentaram em torno de uma das mesas do refeitório deserto. A garota ligou as luzes das lâmpadas em <i>spots </i>e trouxe de antemão as xícaras, enquanto uma das cozinheiras esquentava a água. Dieudonné sacou uma caderneta do bolso do paletó bege e começou a rabiscar qualquer coisa.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Quem se passava por Mildred Weber? - Perguntou, de supetão, seus olhos deixando a caderneta e se fixando aos de Daniel. - Isso mesmo, Robyn Corliss. Você resgatou o pessoal daquele avião, tornou-se herói nacional, e Parker te rastreou até <i>Elizabeth</i>, para instigar recordações. Robyn veio em seguida, e não perdeu tempo. Se Robyn se fez passar por outra pessoa, claro que queria intimidade para se tornar o ombro onde pudesse chorar as mágoas. Ela queria mantê-lo perto, desse modo ficaria um passo a frente.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Muito bem. - Daniel viu onde Dieudonné desejava chegar. - Hoje, sei que Robyn esteve me observando, a começar por aquele dia na praia, em 1995, até os primeiros anos na corregedoria. Giro, você se recorda dela? Nos anos do colégio?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Recordo-me com muito carinho e lamento o que aconteceu mais tarde. - Ensaiou um sorriso triste e experiente. A garçonete trouxe a garrafa térmica. Daniel agradeceu com um aceno de cabeça. - Mesmo após o colegial e durante os anos de faculdade, ela também aparecia na secretaria da paróquia, à minha procura, por orientação. Depois, dos aprovados no concurso, foi Robyn quem pediu transferência para <i>Washington</i>, para o escritório de representação da Guarda Costeira. Para a família, contou que buscava independência, mas seus verdadeiros motivos deviam-se ao ex-namorado, administrador de restaurantes em <i>Georgetown</i>. Não fazia sentido... Ela terminara medicina, começaria a residência em psiquiatria; entretanto, adiou a residência para assumir um carguinho de nível médio?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você me estimula a raciocinar, mas nunca revela tudo o que sabe. - Daniel provocou, enchendo a xícara. - Então, por que Robyn seria minha inimiga?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Goldman Roehmer. O nome soa familiar? - Dieudonné respondeu no lugar do padre. Bebericou o café, fazendo um estalo com os lábios ao terminar. O semblante de Daniel imediatamente se iluminou. Claro que se lembrava.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Quando Robyn revelou que estava por trás do perfil falso de Mildred, ligou-me de <i>Nova York</i>. Disse que se encontrava numa exposição no <i>Metropolitan </i>para as obras desse artista. Pesquisei e não acreditei.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Despedaçado a machadadas. Sofreu tanto que praticamente sentiu até o fim a amputação, antes de morrer de choque. - Detalhou. Suntee empalidecera, mas talvez em razão da cálida luz dos spots.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Escreveram que o autor foi um serial killer conhecido como "<i>Mickey caçador</i>".</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- "<i>Mickey lenhador</i>". - Giro corrigiu, para vir com a inesperada emenda. - Acho que "<i>Mickey lenhador</i>" jamais existiu. Creio que foi Robyn quem despedaçou Goldman Roehmer.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Pelo que sei, ele foi morto em 2001. Você precisa colocar Robyn na cena do crime.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Robyn concluía Medicina em <i>Oxford</i>. - Girolamo começou a elucidar. - E ela era namorada de Goldman. Pode não se lembrar, porém foi você quem me inteirou de tudo, lá atrás, numa de suas visitas ao orfanato, para ver Mildred.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ela não estava com Aaron?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não. - Giro hesitou, desapontado em arruinar a inocência do amigo. - Aaron tinha deixado Robyn para ficar com Parker. Foi justamente naquela época, dezembro de 2001, em que Parker terminou o namoro contigo. Parker deixou você para ficar com Aaron, e Robyn enlouqueceu. As duas irmãs deixaram de se falar, e o pai, Bill Cowan, despachou-a para a <i>Europa</i>, para terminar o curso, porém, principalmente, para se esquecer do playboy.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Pela maneira como me recordo, eu e Robyn trabalhávamos na Guarda Costeira há meses, quando ela apareceu em pessoa e me visitou no andar da corregedoria, para conversar. Isso nos coloca, cronologicamente, no início de 2003. Como Robyn poderia me falar sobre transferência para <i>Washington </i>para ficar próxima a Aaron, quando sequer namoravam?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Talvez o objetivo tenha sido seduzir o ex-namorado, recuperá-lo. - Giro repôs o café. Tomou um gole e continuou. - Ou vingar-se da irmã. O fato é que algum tempo depois desse seu reencontro com ela no prédio da Guarda Costeira em 2003, Aaron retornou para <i>Cape May</i>, num profundo quadro de depressão.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Isso! - Daniel fez o aparte. - Quando nos vi conversando, Aaron parecia uma remota sombra de como me recordava dele da época do colégio.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você só não deve se lembrar ainda que, na época, quando conversaram, Aaron se encontrava a semanas do suicídio. Se nessa história há um suicídio, não foi você quem tentou dar cabo da própria vida. Foi Aaron quem efetivamente se matou.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ajude-me a me situar no tempo. - Pediu, levantando as mãos, exasperado. - Quando eu e Aaron conversávamos na <i>diner</i>, em que ano nos achávamos?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- 2004. - Girolamo apertou os olhos. - Acompanhe o meu raciocínio, correto? No fim de 2001 ou começo de 2002, Parker termina o namoro contigo para ficar com Aaron. As irmãs brigam e Doutor Cowan arruma a transferência de Robyn para a Inglaterra. Na <i>Europa</i>, ela se envolve com esse pintor maluco. O rapaz aparece despedaçado e, "<i>coincidentemente</i>", Robyn volta aos <i>Estados Unidos</i>. O fato de Robyn e Goldman terem namorado a coloca no topo da lista de suspeitos. No entanto, quando ela já estava em <i>Cape May</i>, "<i>Mickey lenhador</i>" mata um casal de turistas em <i>Londres</i>, removendo Robyn da lista. Em 2002, assim como aconteceu contigo, Robyn é aprovada no concurso da Guarda Costeira e, em 2003, consegue a remoção para o escritório de representação em <i>Washington</i>, reaproximando-se de Aaron Lang, o qual vivia uma existência nababesca, relacionando-se com a Parker e provavelmente com uma porção de outras garotas deslumbradas. É como eu disse: Robyn era uma médica que, em vez de terminar logo a residência em psiquiatria, escolheu um cargo de nível médio. Ela precisava de uma desculpa para assediar Aaron Lang em <i>Washington</i>.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Espere, espere... - Suntee balançou a cabeça, muitos fatos novos para processar. - Enquanto tudo isso acontecia, onde Daniel estava?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Cuidando de Mildred, preparando o caminho de ambos para o céu - Foi a resposta de pronto, como se estivesse apenas esperando pela questão. Suntee sorriu com respeito e admiração: achara as palavras de Giro lindas. Jamais levara a sério, mas, agora, era o seu espírito irreverente e jovem que passava a ver sentido na fé. Até mesmo Suntee, portanto, vinha experimentando uma profunda mudança espiritual ao longo da jornada ao lado de Legrand. - Não se esqueça de que, quando Mildred entrou na vida do Daniel, tirou-o de toda a confusão, que deixou de dizer respeito à sua pessoa e cingiu-se apenas ao trio. Em 2004, Daniel tinha os próprios problemas, pois Mildred voltara a adoecer, e ele passou a se importar exclusivamente com o tratamento da moça. Foi nessa época que Aaron o procurou para pedir desculpas pelo ocorrido com Parker, porém Mildred havia feito um bem tão grande a sua vida, nem mesmo ressentimentos Daniel reservava quanto ao ocorrido.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Como sabe de tudo, Giro? - Suntee indagou.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Um pai sempre sabe a respeito dos filhos; e essas pessoas são todas filhos, para mim: alguns mais confusos que os outros, mas igualmente amados. O fato é que Aaron comprou um bilhete para <i>São Francisco</i>, e saltou da Golden Gate. - Padre di Sofia fez um sinal com a cabeça para Suntee e passou a enumerar com os dedos da mão. - Eu não sei, todavia, de tudo. Eis o que desconheço: a realidade por trás do assassinato de Roehmer na época na qual Robyn morou em <i>Oxford</i>, o papel de Robyn no estado psicológico de Aaron, a ponto de ele ter saltado, e por que Daniel acabou golpeado e arremessado naquele ponto da estrada nas dunas do estuário.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- E então, depois que Daniel despertou, em 2004, você resolveu ficar por perto. - Suntee arriscou.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sim, eu e Dieudonné, especialmente depois que ele me procurou, quando Daniel ainda não saíra do coma, concatenando pistas a apontarem à Robyn. Temíamos que ela terminasse o que não conseguiu acabar.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Robyn querendo me matar? - Pasmado, Daniel não quis acreditar.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Precisamos que se lembre de tudo! - Dieudonné salientou. - Só você tem as últimas peças!</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Naquela mesma noite, antes de dormirem, Daniel e Suntee revisaram os acontecimentos do dia. Ele falava ao garoto sobre quando conversara com Robyn, quando ainda cativo sob o encanto da mentira, e ela pedira para que procurasse o orfanato de <i>Cape May</i>. Os dois combinaram que, na manhã seguinte, começariam pelo orfanato, e dali, deixariam que as circunstâncias ditassem os compromissos. Giro se hospedou na velha paróquia, e Dieudonné ficou de apanhar Padre di Sofia e passar no albergue, pela manhã, para o começo dos trabalhos. Antes de adormecer, aquelas perguntas estranhas ficaram alçando voo ao redor da cabeça de Legrand. Daniel teve um sonho diferente. Não foi bom, nem ruim, apenas esquisito. Ele se encontrava no mesmo restaurante de beira de estrada onde vira os recortes de quando Robyn vencera o campeonato de caratê. Ao parar para examinar o quadro de notícias, percebeu novos recortes presos pelos pinos. Daniel podia ver fotos, muitas delas em preto e branco. Quando tentava ler o texto, todavia, a fonte das letras, minúscula, perdia o foco. Vez que não conseguia se inteirar das notícias, satisfazia-se com as fotos de Robyn, seu sorriso muito aberto exibindo dentes perfeitamente alinhados e brancos. Mas o que existia sob as fotos? Bem, não podia ler uma única linha inteiramente, apenas algumas palavras. "<i>Beliscão</i>". "<i>Estupro</i>". "<i>Surra</i>". "<i>Ameaça</i>". "<i>Fisting</i>". O sonho foi perdendo nitidez, até nada mais restar. Só escuridão.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Há pessoas que passam um longo período sem se verem, porém, tendo se reencontrado, não precisam de coisa alguma para se sentirem à vontade um à presença do outro; foi assim entre Daniel e uma doce, adorável senhora negra idosa chamada Lefty, merendeira chefe do orfanato e incondicional aliada de Girolamo. Fora a primeira a se juntar ao time de di Sofia no passado, quando o sacerdote assumira para si o trabalho de cuidar de crianças abandonadas e rabiscava em linhas gerais o plano de um orfanato, na verdade, um lar seguro aos desamparados de <i>Cape May</i>. A vida de Mildred correra sob o manto protetor de Giro e de Lefty, a referência feminina que cuidara da garota cega, com amor e carinho, desde sua chegada ao lugar, quando pequenina, à morte. Lefty não só criara Mildred, também se sentia mãe de todas aquelas outras almas inocentes. O filho biológico, Orlando, encontrara sob o teto da paróquia o próprio porto seguro, onde pudera viver sob a atenção e os cuidados de quem o amava. Uma pedrada o deixara mentalmente deficiente, e embora tivesse a idade de Daniel, era como se nunca tivesse deixado os dez anos. Sob o carinho e suporte da mãe e da família do orfanato, ninguém conhecia o horroroso sentimento da exclusão. Todos, absolutamente todos, pertenciam à mesma página.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Lefty, claro, recordava-se de Daniel muito novinho, sempre no orfanato para ficar perto de Mildred. Ao reconhecê-lo, riu bem alto, batendo as palmas das mãos, histérica, e o abraçando, de avental e tudo! Foi um grande momento. Atrás do orfanato, Giro construíra a casa da merendeira chefe. O quintal o remetia a lembranças do jardim da avó. Ao assistir ao proceder perenemente paciente e amoroso de Lefty para com Orlando, entendeu que o carinho da merendeira não diferia da devoção com a qual Gladys o carregara através dos maus tempos, desde a época na qual fora um homem sem perspectivas que sequer abrira livros até ao inesperado <i>comeback </i>ao jogo da vida, o melhor presente que poderia desejar após tantos anos carregando sua cruz quase solitariamente, não fossem os suportes de Padre di Sofia e de Gladys.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Lefty os convidou a sentarem. Trouxe café e pão com manteiga passada na chapa. Padre Girolamo encontrava-se numa reunião com os atuais párocos; ele comandaria sua primeira missa em anos, desde que partira de <i>Cape May</i>. Começaria logo mais, às 09:00, mas tinham tempo para o café da manhã e recordações de tempos mais felizes. Lefty os levou ao quintal onde Mildred cuidara dos gatos; os felinos continuavam a ser tratados com amor, agora sob o olhar puro de Orlando. A senhora se escusou, dizendo que ia apanhar qualquer coisa. Quando ela os deixou, Suntee perguntou:</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Tudo bem, amigo? - Sacudiu-o com a mão no braço, sorrindo solidariamente. - Muitas emoções para pouco tempo, não é, cara?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sim. - Respondeu, curiosamente à vontade, uma sensação inédita desde que tinha voltado. - Talvez a Lefty, como cidadã de <i>Cape May</i> há tantos anos, saiba de Aaron Lang. Acho que lhe perguntarei a respeito.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Faça isso. - Suntee ia falar mais, quando a escutou chegar pelo corredor da casa de portas e janelas permanentemente abertas.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Lefty trouxe um porta-retratos. Ela o depositou nas mãos de Daniel. Ele imediatamente reconheceu a foto como um dos arquivos utilizados por Robyn para se passar por Mildred. Ao revê-la, lamentou por não conseguir vincular a imagem à bela história de amor que o tinha devolvido aos trilhos, quando mais necessitara. Talvez, mesmo ausente, a força das recordações de Mildred o devolveria aos trilhos novamente. Daniel encarou a senhora, preocupado, temeroso em remexer feridas não cicatrizadas. Existia, porém, incomum resignação na maneira como Lefty tão generosamente se abria. Daniel soube que ela sobrevivera ao carregar consigo somente a parte boa da breve passagem da filha neste mundo.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Senhora, melhor do que qualquer um de nós, deve se lembrar das circunstâncias de minha partida de <i>Cape May</i>. Sabe que perdi a memória. Eu queria ter chegado hoje tagarelando sobre os grandes momentos que só eu e Mildred teríamos como saber, mas acredito que quando minha jornada tiver acabado, as histórias terão voltado, e então contarei para a senhora.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Mantive comigo as recordações bonitas da época na qual estiveram de mãos dadas, juntos, sob aquele jacarandá. - Lefty apontou para além da janela. Mesmo para além do muro, já no terreno do orfanato, viam sua copa púrpura. - Vocês se encontraram na época certa: um foi puxando o outro para frente. Suas vidas não foram fáceis; porém, em seus dramas, souberam como se ajudar e, pelo menos, para <i>Mildy</i>, durou até à morte. Eu sei o pensamento que tem em mente: "<i>Como ela pode parecer tão otimista quando a filha morreu tão jovem?</i>". A resposta, e mais alguns anos ao longo da estrada o ajudarão a compreender melhor como consigo sorrir, é que a vida tem seu jeito de descartar o que não é importante, até restar o essencial. Se tem algo feito perfeitamente pelo tempo, é afastar as coisas superficiais. Os anos avançam, e vão levando juntos camadas e mais camadas de coisas desimportantes, até restar o absolutamente essencial. Logo depois da morte de <i>Mildy</i>, não quis saber de mais nada, até acordar, numa manhã, grata. Grata pelos anos, mesmo poucos, que tive para segurar a mão de <i>Mildy </i>e ajudá-la nessa estranha, dolorosa caminhada que foi a jornada dela neste mundo. Até a brevidade me fez ver a poesia escondida por trás das agruras e dores.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"> - Lefty, eu não gostaria de assoberbá-la com o peso da minha história pessoal, mas talvez possa me ajudar. Também desejo encerrar a porta do meu passado e seguir adiante, mas antes...<br /> - Eu imaginei que voltaria, principalmente após salvar o avião da <i>American Airlines</i>. - Suntee olhou para Daniel com um agradecido, maroto sorriso, cheio de reconhecimento. Lefty sacou no ato que o menino havia sido um dos passageiros resgatados.<br /> - Espero retribuir o que esse cara fez por mim! - Suntee corroborou a acertada impressão da senhora.<br /> - Por acompanhá-lo nesses instantes tão delicados, provou-se um ótimo amigo! - Lefty enalteceu o valor de Suntee. - Independente de quem tenha te jogado da estrada, não custaria a você se interessar e começar a juntar peças para deduzir que, não tivesse sido pelas mãos de outros, jamais teria avançado contra a grade de proteção propositalmente.<br /> - Ei, então também acredita que estamos falando de tentativa de homicídio! - Suntee perguntou, porém saiu como uma afirmação de alguém ciente das mesmas contradições na versão mentirosa da tentativa de suicídio.<br /> - Eu tenho certeza que tentaram te matar. - Ela falou, convicta, mais um desabafo do que comentário. - E poderia falar sobre os aspectos na cena os quais não fizeram sentido, mas prefiro ficar com sua palavra: ela vale muito mais. <i>Mildy </i>estava a dias de morrer, quando o fez jurar que não causaria a si mal algum, e que usaria os bons momentos para levar uma vida honrada.<br /> - Eu jamais faria promessa semelhante se não estivesse disposto a bancá-la. - Segurou o braço da senhora e o apertou. - Eu acredito na senhora. E preciso conversar com vovó. Eu imagino a amargura de vovó, convivendo resignada com a versão da polícia.<br /> - Fale com Gladys. - Ela apreciou a ideia, os olhos vívidos. - Sua avó jamais mediu esforços para vê-lo bem. Gladys merece a satisfação.<br /> - Então sabe por que estamos aqui. - Suntee introduziu a questão. - Daniel precisa reaproximar-se de sua história, mas também descobrir o que aconteceu na estrada. Eu creio que ele sabia de algo que não deixaria uma outra pessoa dormir. Eu não acho que essa pessoa tenha tentado matá-lo deliberadamente. Creio que o tenha procurado para conversar. Ânimos se inflamaram, Daniel foi atingido com muita força. O agressor se desesperou. Tomando-o como morto, bolou o cenário de suicídio.<br /> - Não consigo afastar a frustração! - Daniel lamentou, abaixando o rosto e sacudindo a cabeça. - Sou a única testemunha, e não me lembro de coisa alguma!<br /> - Não faria essa afirmação: única testemunha. - Lefty demorou a falar, mas acrescentou: - Pouco tempo depois, um amigo seu tomou uma facada numa briga mal explicada e morreu. E não podemos deixar de considerar o redemoinho emocional ao seu redor, na época. Num primeiro momento, vem-nos à mente o falecimento da <i>Mildy</i>, mas mesmo afastado do redemoinho, Daniel ainda detinha um papel no sinistro triângulo amoroso envolvendo Parker, Robyn e Aaron. Eu me recordo de Aaron. Como poderia esquecê-lo? Não fosse por Aaron, você e <i>Mildy </i>não teriam se conhecido. Foi por causa de Aaron que Parker foi embora, e então você veio parar aqui, atrás de um animalzinho especial para presenteá-la, uma tentativa de reconciliação. Parece uma ideia excessivamente ingênua e doce, mas naquele tempo, aos vinte anos, deve ter parecido grandioso. Procure os pais de Aaron. Eles adorariam revê-lo. - Lefty soou convincente. Daniel começava a bolar um esboço de plano em sua mente.<br /> - Rever? - Repetiu, surpreso.<br /> - Sim. Vocês todos se conheciam do <i>Lower Township</i>, e você era um garoto muito querido pela comunidade. - Lefty parecia prestar atenção aos gatos de Orlando brincarem, mas a atenção voltava-se a lembranças muito cristalinas, pipocando na sua cabeça experiente. - De certo modo, os acontecimentos em 2004 serviram como sinal para o fim de uma era. Cada um foi para o seu lado e, desde então, nunca mais fizemos novas lembranças. Faria bem se conversasse com os pais de Aaron. Após tantos anos desde a morte do filho, imagino que queiram desafogar as impressões que não tiveram como vocalizar no calor do momento. Eventualmente, compreenderá que seu passado inteiro em <i>Cape May</i> não faz muito sentido, caso visto de muito próximo; no entanto, se der um bom passo para trás, capturará o contexto, o quadro maior, e então a história fará sentido. Eu sei que não veio movido unicamente pela ânsia de saber. Compreendo a dor de se forçar a uma vida comum, quando o chão sob seus pés parece faltar. Lembre-se, eu perdi uma filha, e até aceitar a morte da <i>Mildy</i>, aprendi sobre esse lugar sombrio que você habita hoje. Não se exaspere e continue no caminho da luz.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel prometeu que retornaria. Não caberia a Lefty rasgar as cortinas as quais revelariam de uma só vez a natureza do ocorrido na entrada, mas o ajudaria a organizar a desordenada série de imagens bonitas que o remetiam a <i>Mildy</i>: pelos bons momentos com <i>Mildy</i>, Lefty trazia à luz detalhes, até os aparentemente insignificantes, aptos a ajudá-lo a compreender melhor a pessoa que enxergava ao se olhar no espelho. Naquela tarde, Aaron Lang surgiu no motor de busca quando fez a pesquisa. Daniel conseguia entender melhor o apelo de Aaron, e por que lhe fora tão fácil atrair Parker e Robyn à mesma teia. Ele era um vórtice de emoções elevadas à enésima potência. O sorriso curto de canto de boca realçava a malícia do olhar de quem não se comprometeria com nada a não ser seu hedonismo. Tal hedonismo as tinha capturado pelas partes de si que os pais jamais conheceriam, por inconfessáveis, aquelas pelas quais Bill & Gail lhes cobravam adequação. Caso refreadas, entretanto, as irmãs tinham achado que revogariam o direito de se deixarem consumir pelas chamas da novidade e descoberta, pelo fulgor de estrela em curva descendente, virando poeira ao longo do rastro das emoções incandescentes. Em 2004, Parker e Robyn "<i>rompiam</i>" a estratosfera, ambas seres celestes lançados à Terra, arrastadas pelo poder supersônico dos desejos proibidos, para serem fodidas no rabo por Aaron. Cegas pela loucura, não viam valor naquilo que se esvaia entre os dedos a cada estocada desferida por Aaron: compaixão, pureza de coração, honestidade, as virtudes que fariam uma ponte entre as ilusões passageiras a outro ponto onde não precisariam se desesperar para serem felizes. Elas teriam rido dessas bobagens, naquele tempo, enquanto, de quatro, tomavam as estocadas violentas de Aaron. Quase dez anos haviam se passado, e os sobreviventes daqueles jogos de manipulação tentavam descobrir, em meio aos escombros da vida, como serem adultos.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Havia informações quanto às circunstâncias da trágica morte de Aaron em dois jornais municipais, o "<i>Voice of Cape May</i>" e o "<i>Cape May by the Bay</i>". A mãe recordava-se de que, pouco antes do suicídio, Aaron deixara os restaurantes de <i>Washington </i>e voltara para casa muito doente, atormentado por sintomas gastrointestinais e inflamação na garganta. Depois de se esquivar por uma semana dos pedidos insistentes dos pais para que procurasse um hospital, dera entrada na Casa de Saúde de<i> Cape May</i> com uma febre de quarenta e quatro graus. Ele deixou o leito dias depois, com a saúde estabilizada. Enquanto seus olhos corriam pelas linhas, Daniel se recordou do "<i>fantasma</i>" de Aaron com os olhos tão abertos quanto os de um bicho acuado, e imediatamente presumiu que o encontro só poderia ter se dado no mesmo período. O "<i>Cape May by the Bay</i>" seguia com a notícia, a mãe de Aaron revelando que nem mesmo um mês se passara, quando o filho se despediu, tendo comprado o bilhete para <i>São Francisco</i>, de onde fatalmente saltaria da <i>Golden Gate</i>. Conforme a matéria, cursara Artes Cênicas na NYU, mas trancara o curso para administrar os restaurantes em <i>Washington</i>. As circunstâncias do envolvimento de Parker e Aaron pareciam subitamente claras, em puro estado de flagrância. <i>Nova York</i> representava a libertação dos padrões antiquados e imensas expectativas impostas por Bill & Gail à Parker; o namoro com Aaron, a transformação da lagarta para borboleta. Daniel sentia que precisava conversar com Parker a respeito. Não seria uma conversa fácil, porém, quando consultados, Suntee e Giro concordaram que não havia como se imiscuir.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Na quinta-feira, Parker telefonou de <i>Londres</i>, morrendo de saudades e decidida a pegar o primeiro voo para <i>Jersey </i>para liquidar o vazio cavado no coração pelo distanciamento. Um fim de semana não seria muito tempo, porém a exiguidade do reencontro tinha um jeito especial de fazer com que tirassem da oportunidade seu absoluto melhor. Como de costume, Daniel foi charmoso e encantador. Parker desligou certa de que se veriam na próxima sexta-feira. Legrand, Suntee, Dieudonné e Giro tornaram a <i>diner</i> o epicentro da missão, retornando todas as noites para jogarem com hipóteses, sopesando as implicações disso e daquilo. Suntee minimizou a preocupação dos pais ao postergar o retorno para <i>Jersey </i> na manhã de sexta-feira, ao lado de Daniel. "<i>São as mais emocionantes férias de minha vida, e a senhora querendo que termine mais cedo!</i>", reclamou, com tocante honestidade. Daniel, Giro e Dieudonné trocaram olhares contentes. Às 06:00 do dia seguinte, Daniel quitou a estadia e se despediu da staff. Giro e Dieudonné aguardavam a dupla no lobby. Antes de deixarem os limites de <i>Cape May</i>, Dieudonné pareou o automóvel com a caminhonete de Daniel, buzinou e fez sinal para que abaixassem o vidro. "<i>Boa sorte em Elizabeth, Daniel! Nós nos veremos em breve!</i>", exclamou, para ser ouvido, erguendo o polegar. Daniel buzinou em resposta, Giro e Suntee acenaram e agradeceram. Dieudonné ligou o pisca e entrou na rotatória, de volta à praia. Na saída da cidade, prestaram uma visita a Lefty, que não aceitaria uma negativa a seu convite de lhes preparar o café da manhã. No momento da despedida, Lefty se encostou na janela do motorista, e lhe entregou um volumoso pacote; Daniel inicialmente não entendeu, mas então, ao rasgar a embalagem e revelar um velho álbum, compreendeu o objetivo da idosa. Por mais desapegado que a vida lhe tivesse ensinado a ser, gostava muito de Daniel, e se cobraria mais tarde se não fizesse chegar a suas mãos o livro de recordações. Não se lembrava de quase nada, mas o gesto de Lefty foi tão belo que os olhos de Daniel marejaram. Quando efetivamente se afastaram de <i>Cape May</i>, a manhã avivara-se em calor, temperada por um sol no zênite, sua força refletida desde o verde mais agressivo da relva à forma como a costa parecia pegar fogo sob um azul sem igual, o Atlântico em toda glória.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Diferente das outras aventuras, naquela oportunidade, não foi com sermões que Gladys o recebeu. A avó parecia genuinamente preocupada. Assim que a viu, abraçou-a como se não houvesse amanhã e, por alguns minutos, ela não conseguiu entender. Daniel explicou que somente hoje, ao compreender as implicações do ocorrido na estrada em 2004, via melhor o sacrifício de Gladys para preservar sua saúde física & mental. Daniel contou que não apenas Giro como Lefty acreditavam que ele não teria se atirado deliberadamente através da grade de proteção e, como que atravessada pela eletricidade de pura emoção, Gladys assentiu, lágrimas banhando a cara. A confissão retirou quase dez anos de segredos de cima dos ombros da avó. Daniel pediu a opinião de Gladys. Acreditava que a história parecia atrelada ao triângulo amoroso composto por Aaron, Parker e Robyn, e sabia que Aaron havia se suicidado à época do mistério na estrada. Pretendia conversar com Parker, que, afinal de contas, namorara o rapaz.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Seria muito elucidativo saber a maneira com a qual Parker enxerga hoje os eventos de quase dez anos, agora com experiência de vida. Eu acho que ela será muito honesta, pois confia em você e se sente segura de seu amor. - Ela desceu o peito da mão pelo rosto do neto, com meiguice, e o encorajou. - Converse com Parker, querido.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Muito bem, então. - Concluiu, resoluto. Para aliviar a tensão, mencionou a "<i>luz de suas vidas</i>". - Cadê o meu bem-humorado mascote?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">E como que capaz de compreender o mestre, <i>Cyrano</i> pôs a cabecinha para fora do cesto de roupas onde vinha dormindo, ou melhor, escutando a conversa de avó e neto, limitando-se a indicar seu novo cantinho preferido para dormir, e voltou para dentro. Daniel tomou um bom banho, trocou de roupas e foi fazer um agrado `a avó. Ele comprara um saboroso prato de filé `a parmegiana, com arroz, purê de batata e macarronada, o bastante para que não tivessem de trabalhar pelo almoço e jantar. Pouco depois do meio-dia, Daniel foi navegar na internet, mas acabou cochilando. <i>Cyrano</i> saltou para dentro da rede e foi descansar no peito do mestre.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Despertou ligeiramente preocupado, atento `a chegada de Parker para mais tarde. Suspirou aliviado ao verificar o horário: dormira até `as 16:00. Ao se virar para alcançar o rádio relógio sobre o criado-mudo, acabou por fazer o gatinho girar sobre o peito, acordando-o num sobressalto. <i>Cyrano</i> saltou para a cama e foi se aninhar em algum lugar quente, entre os travesseiros da cabeceira. Parker tinha dito que chegaria a <i>Newark</i> num voo da <i>British Airways</i> previsto para `as 19:30. Para ocupar o interregno até o horário combinado, Daniel resolveu brincar com <i>Cyrano</i>. Contra a vontade do gatinho, pôs termo a seu sono felino para levá-lo a um passeio pela trilha.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br /><span style="font-family: arial;">Daniel chegou suado do passeio, mas bem disposto. Subiu o alpendre atraído pelo cheirinho do café coado há meia hora por Gladys, olor que o convidava a largar os planos mais imediatos para se juntar a ela na cozinha. "<i>Você sabe agradar a nora, não?</i>", brincou, beijando-a no lóbulo da orelha, e sentando-se para provar uma xícara. Gladys questionou se ele pretendia levá-la para jantar fora pois, com a comida que trouxera ao meio-dia, não seria preciso. Daniel disse que preferia decidir na hora, quando a pegasse no <i>Liberty</i>. Gladys queria acompanhá-lo, porém havia muito a fazer até a chegada de Parker. Daniel pediu licença para tomar banho, pois assim a avó poderia começar a arrumar a casa mais cedo, começando pelos quartos. Foi após o banho, quando dobrava o lenço para caber mais elegantemente no bolso da blusa, que seus olhos retornaram ao álbum de fotografias. Quando Lefty o entregara, Daniel fora dominado por muitos sentimentos. Por que não pensara mais a respeito, até aquele instante? Teria se esquecido? Não funcionava assim. Parte de Daniel antevia a força das emoções que as páginas libertariam, e talvez estivesse com medo de perceber que houve um tempo na vida em que amou e foi amado de um modo que jamais voltaria a ocorrer.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span><span style="font-family: arial;">Daniel se despediu da avó com um beijo no rosto que fez estalo, e quando ela tentou contemporizar que estava cedo, o neto explicou que aproveitaria a folga para visitar colegas de trabalho no terminal de cargas. Lógico que não era essa a questão, pois acabou procurando o acostamento onde meses antes lera o e-mail de "<i>Simone di Sofia</i>". Agora, encorajado pelo isolamento e nostalgia conferidos pelo ponto do retorno a <i>Elizabeth</i>, precisava passar a vista por fotos que talvez explicassem por que, desde 2004, sentia um enorme vazio no peito. "<i>Há infinitos maiores do que outros</i>", afirmava a mensagem na contracapa, dando o tom ideal `a proposta de viagem pela contínua maré de momentos os quais viviam, morriam e reviviam. Qual fora mesmo o termo utilizado por Padre di Sofia? <i>Ah, sim</i>. "<i>Um passeio pelas alamedas da recordação</i>". As fotos eram de reconfortante simplicidade, instantâneos de pequenos, genuínos momentos os quais, num apanhado geral, tornavam mesmo as vidas mais comuns uma grande ópera. Daniel e Mildred descendo pela primeira curva de<i> Cape May</i>, ela às suas costas, fazendo uma caretinha que a deixava sapeca; Daniel e Mildred com roupas de lã, para o frio, ele de sobretudo marrom, ela de preto, uma elegante lareira capturada pelo enquadramento da câmera; Daniel e Mildred na frente do prédio administrativo da Guarda Costeira, ela um pouquinho debilitada, sustentando o sorriso confortável e confiante de quem tinha a consciência tranquila: Daniel conseguiu o que procurava. Começava a se recordar. Só que assim como ocorria aos velhos, empoeirados álbuns de fotografia, as lembranças também viriam fragmentadas em miscelâneas as quais, agregadas, comporiam uma gloriosa declaração de amor à vida. Não muito distante, o terminal de passageiros reluzia, com <i>Boeings</i> acoplados a <i>fingers</i> e, mais além, aviões taxiando pelas pistas, ora em processo de estacionamento, ora de decolagem. As recordações de Daniel não diferiam do movimento do aeroporto internacional onde passara uma porção da existência adulta. Assim como seus aviões, lembranças iam e vinham em diferentes escalas de imprevisibilidade.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel segurava a mão de Mildred, furada pelas sondas de alimentação. Distraído com a janela, observava a descida de uma garoa gelada sobre a noite de <i>Cape May</i>. Era 2002, e <i>Mildy </i>estaria morta dentro de uma semana. Legrand passava seus dias no hospital, por mais que Lefty implorasse para o rapaz descansar. <i>Mildy </i>não ficaria sozinha por um minuto; ela e Padre di Sofia revezavam-se dormindo no leito ao lado da garota. Daniel, entretanto, não quis saber, não podia aguentar se abster de segurar a mão furada da namorada enquanto houvesse tempo. Lefty dormia; mas Daniel, bem acordado, vigiava sua querida, os olhos vagando pelo quarto mergulhado num consolidado, atraente breu. Repentinamente, luz: ela veio da breve abertura da porta, na entrada de Padre di Sofia.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Vá para casa, filho. Gladys também precisa do neto! - Consolou-o, pondo a mão sobre o ombro do rapaz.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Oh, padre. - Levantando-se, chamando-o num canto. - A amargura se apoderou de minha alma. Eu preciso…</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você precisa desabafar. - Com paciência e amor cristão, Giro apontou para cima. - Vamos à cafeteria da cobertura. Poderemos conversar em paz. Deixe-as dormir tranquilamente. Agora, é hora do papo de homem para homem.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Eles se sentaram na parte descoberta. A cafeteria realmente encontrava-se vaga. Padre di Sofia pediu a Daniel para esperar, e trouxe o café com leite polvilhado de canela. Ele preferiu não fazer perguntas, deixando-o falar. Daniel exprimiu a frustração pelo fato de vir fazendo o bem, mas receber um golpe tão terrível como a doença de Mildred.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Imagine só, Aaron, feliz e garboso, saltando de cama a cama, de Robyn a Parker. - Ergueu os olhos ao nível de Padre di Sofia. - Eu que sempre fui uma pessoa digna de estar casado, com filhos, um lar, sinto-me paralisado, e já fui trocado por Parker, que preferiu o outro cara. Trabalho e estudo, como o pão que o diabo amassou. Odeio meu trabalho e, não fosse por vovó, não exageraria ao dizer que minha família está arruinada. E Aaron, que faz bagunça, sai com várias mulheres, jamais participou da santa missa, vive como um príncipe, tem a Parker sob o jugo, ganha muito dinheiro, todos prosperaram. Sabe, Giro, estou revoltado, porque era para ser o contrário. Sempre fiz o que foi certo! Por que sofro tanto? Por que minha vida está paralisada? O que devo fazer para minha vida fluir?!</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Bom, primeiramente, meu filho, vamos aqui tentar resolver um problema teológico, antes de tentar solucionar as questões da sua vida. Vamos radicalizar as coisas e colocar a situação de Jó. Jó, no Antigo Testamento, era um homem que serviu a Deus em tudo, foi sempre muito bom, e sofreu mais do que os outros, ímpios, desobedientes a Deus, não tementes a Deus, que prosperaram e foram felizes. E então, o Livro de Jó termina sem uma resposta: <i>por que o justo fenece, padece, murcha, enquanto está lá, o ímpio, gordo, robusto?</i> A resposta vem com a vida eterna. A resposta vem com <i>Jesus Cristo</i> crucificado. Nosso Senhor, Ele morre na cruz, a morte mais miserável que poderia existir, para nos abrir a felicidade no céu, e para que a gente entendesse isso, Ele proclama as bem-aventuranças. - Padre Girolamo bebericou de sua xícara. Daniel prestava atenção, com os olhos bem abertos e comovidos. - Então, comecemos por aqui. Comecemos por essa realidade. Sua avó Gladys parece que o educou muito bem, mas o educou "<i>pela metade</i>". Educou para essa terra. "<i>Seja bonzinho, e você vai prosperar</i>". Pois bem. Ela deveria ter educado você para o céu. Talvez tenha até feito isso, mas você se esqueceu. Você se esqueceu de que a verdadeira felicidade, nós devemos buscá-la não aqui na terra, mas em Deus, sabendo que Ele é nossa felicidade. Nosso Senhor não disse "<i>Bem-aventurado os espertos, porque deles é o reino da Terra</i>"; Ele disse "<i>Bem-aventurado os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus</i>". Então, filho, a primeira coisa que posso apontar é que existe alguma coisa equivocada com seu cristianismo. Seu cristianismo parece voltado para a Terra, para a prosperidade. Talvez você se sinta mais tranquilo, mais ambientado, na igreja dos protestantes, com sua teologia da prosperidade, onde prometem que se você for bonzinho, você será rico, próspero, contente, feliz e realizado aqui nessa Terra. A igreja católica nunca prometeu isso para ninguém, e se algum padre prometeu isso para você, certamente não falava em nome da tradição católica. - Giro abriu um sorriso ao lembrar de um dado pitoresco. - Eu me recordo de um testemunho de um dirigido espiritual de <i>Padre Pio</i>, que disse a ele: "<i>Padre Pio, eu gostaria de ser santo! O que eu devo fazer?!</i>".<i> Padre Pio</i> olhou para ele e respondeu: "<i>Meu filho, tudo bem que você queira ser santo, mas saiba, é uma vida de cachorro!</i>". Ou seja, num mundo onde existe o pecado, num mundo onde existe o egoísmo, quem quiser servir a Deus e viver o amor, certamente irá morrer. Certamente a cruz irá visitar você de uma forma ou de outra. Mas nós sabemos que devemos, sim, encontrar alguma felicidade nessa terra, porém felicidade nesta terra está sempre atrelada a um pouco de frustração. Alegria com um pouco de tristeza, prazer com um pouco de dor. E não existe, aqui, a realidade sem defeito, sem manchas; isso, encontraremos no céu. Essa é a promessa cristã, é a fé católica. Agora, aqui, até aqui, eu resolvi um problema teológica, mas numa direção espiritual, pensando nas coisas que me disse, eu diria para ti, Daniel, que sua conduta soa um pouco como a de Santa Terezinha antes da conversão. Hipersensível. Terezinha era assim. Ela chorava, depois chorava porque tinha chorado. Você se lamenta porque tem que trabalhar no suporte da corregedoria, como se fosse uma grande desgraça; no entanto, trabalhar pode ser uma grande graça, uma grande santificação. Porque seria muito ruim, mesmo que estivesse em casa, que não trabalhasse. Um bom e santo neto de uma avó católica certamente, tendo uma avó idosa para cuidar, vai ter muito trabalho, e, nessa vida aqui, o trabalho nos santifica. Você não pode viver uma vida esperando uma colônia de férias. A vida que passa em passatempo, ela certamente não é plena, certamente não é vida. Então, eu discordaria de ti, ao dizer que Aaron, Parker e Robyn vivem uma vida tão perfeita assim. Se eles vivem uma existência devassa, e depois têm todo tipo de regalia material, invejar isso é não entender o quanto isso é vazio. O quanto isso não preenche! O quanto isso realmente não é boa notícia! Se Deus te prometesse tudo isso, faria o papel de enganador. Por isso, Deus não engana: Ele não se engana, e não engana ninguém. Ele fez você para uma felicidade muito mais plena, uma felicidade muito mais cheia! Veja, se você quiser se aprofundar a esse respeito, leia o catecismo da igreja católica ao nos colocar a sede pela felicidade, pondo algumas citações de <i>Santo Agostinho</i>, dizendo assim: "<i>Todos queremos ser felizes, e não existe no gênero humano pessoa que não concorde com essa proposição, mesmo que antes de formulada por inteiro. Então, como Vos hei de procurar, Senhor? Visto que procurando a Vós Meu Deus, eu procuro a vida bem-aventurada. Fazei que Vos procure, para que minha alma viva, pois meu corpo vive de minha alma, e minha alma vive de vós</i>". Essa é a equação de <i>Santo Agostinho</i>. Você, Daniel… Compreenda isto: seu corpo recebe vida, não do bem-estar e dos prazeres do mundo; seu corpo recebe vida da sua alma, e sua alma recebe vida de Deus. Então, a felicidade que vem de Deus vai para sua alma. E por isso pode sustentar seu corpo. Aqui está a realidade. Só Deus pode satisfazer você. Eu, às vezes, preparo casais, no curso de noivos. E, geralmente, na primeira aula, eu pergunto, para todos: "<i>Quem aqui vai casar pra ser feliz?</i>". Eles levantam a mão, em coro, "<i>Eu vou ser feliz, eu vou ser feliz!</i>". Eu respondo: "<i>Muito bem. Só que… Deixa eu dar uma má notícia para vocês. O casamento não é a felicidade</i>". O casamento pode ser um caminho pra a felicidade. O casamento pode ser uma história de vida que te conduza à felicidade. Mas se você quiser transformar seu casamento, sua família, aqui na terra, num paraíso, então sua vida vai se transformar num inferno. Você insiste, no confessionário, que sua mãe foi embora e sua família terminou arruinada. Provavelmente, essa foi uma das causas de sua mãe ter ido embora. Ou seja, tua mãe procurava um paraíso aqui. Mas, se um pai de família, uma mãe, quiser transformar a família num paraíso, vai terminar transformando essa família num inferno, porque vai cobrar de todos a perfeição que eles não são capazes de dar, vai cobrar de todos uma felicidade que eles não são capazes de fornecer, e vai esperar da vida aquilo que Deus não prometeu. Deus prometeu que, sim, poderíamos ter, nessa vida, uma certa bem-aventurança e alegria, se tomássemos a nossa cruz e O seguíssemos, porém a felicidade virá no céu, plenamente. Para concluir, gostaria de citar a palavra de um psicólogo chamado <i>Viktor Frankl</i>. Ele diz com toda clareza que felicidade não é algo que se obtém quando se busca. Felicidade só se obtém quando abraçamos uma missão árdua, isso que nós cristão chamamos de cruz, uma tarefa árdua. Se você der sentido à vida nessa tarefa que é a busca de Deus, da santidade, você encontrará felicidade Nele, um pouco aqui na terra, mas plenamente no céu. - Padre di Sofia segurou o rapaz pela cabeça para encará-lo, como um pai a corrigir amorosamente o filho. - Não inveje os maus. Não se arrependa de ter feito o bem. A gente tem que se arrepender do pecado. Mas não se arrependa de sua pureza. Não se arrependa de sua educação católica. Jamais.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel fechou os olhos fortemente, de modo a fazer correr as lágrimas, e, ao abri-los, encontrava-se de volta ao presente. A ambientação da cafeteria foi se esfarelando, até se ver na cabine da caminhonete. Ao olhar para fora, viu a pista de retorno para </span><i style="font-family: arial;">Elizabeth</i><span style="font-family: arial;">, o aeroporto indiferente, para o lado da janela do motorista. Esfregou os olhos, aturdido. Contornava a via de acesso ao embarque e desembarque doméstico, com a mente nas doces palavras salvadoras do melhor amigo. Daniel guardou o álbum de fotografias sob o banco, e trabalhou seu melhor sorriso para receber a namorada. Quando a abraçou, fê-lo com força, gratidão. Parker sentia a turbulência emocional dele; em vez de questioná-lo a respeito, entretanto, não quis cobrá-lo, e agiu com graciosidade e amor. Daniel planejara conversar sobre Aaron na mesma noite, mas algo nos olhos de Giro, ao lhe falar sobre sua pureza de alma, encorajava-o a fazer tudo para não perdê-la, de jeito nenhum.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br /><span style="font-family: arial;">Parker parecia cansada, mas feliz. A sombra dos olhos borrara, como se viesse de uma conturbada e interrompida noite de sono. Ao lado de Daniel, entretanto, restabelecia o equilíbrio, o namorado e a avó Gladys cumprindo o papel de porto seguro da sua vida. Daniel a canhoneava com perguntas sobre as filmagens; a avó e <i>Cyrano</i> os receberam no alpendre. O jantar fora servido. Após refrescar-se e vestir roupas limpas, sentou-se com a avó e o neto para lhes contar o desafio de se fazer um "<i>filme de época</i>". Ela revelou com orgulho que o diretor tinha lhe contado que ficara com um papel anteriormente escrito para uma estrela conhecida. <i>Loach</i> ficara tão satisfeito com os testes de Parker no decurso do processo de audição que preferira a "<i>atriz dos filmes de arte</i>" `a estrela de cinema. Terminaram de jantar, quando Daniel veio com uma simpática ideia. Ele as levaria para tomar sorvete <i>downtown</i>. Mesmo a avó, que só saia de casa `a noite a custa de insistência, apreciou a sugestão, perguntando logo se havia algum sabor de sorvete parecido à canela. Quando Parker se juntou a Gladys para lavar as louças, Daniel disse que ia apanhar um documento na caminhonete, e trouxe o álbum para o quarto, `as escondidas.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Sentaram-se numa das mesinhas sobre o espaço de calçada. Prestando atenção naquela turminha jovem socializando no epicentro das lanchonetes, ocupando os salões de game, Parker se recordou dos tempos durante os quais fizera o mesmo na companhia de Daniel, a irmã e os amigos, para os lados de </span><i style="font-family: arial;">Cape May</i><span style="font-family: arial;">, no fim dos anos 90. Daniel comentou, baixinho, provocando risos por parte das mulheres de sua vida: "</span><i style="font-family: arial;">Sinto-me velho</i><span style="font-family: arial;">". Ele tinha razão. Quando se tinha a idade da rapaziada, velhice é doença que acontece aos outros; jovens são como vampiros: imortais. Não há preocupações em se ferir sentimentos, amizades se fortalecem ou desmoronam sem muito drama, as noites são semelhantes, o mundo só conhece promessas em vias de se realizar. Mais `a frente na estrada, a curva que quase não se enxerga, mas que permanece ali, apenas a alguns anos no futuro, espera pelos desavisados para lhes apresentar o essencial. Lefty estava correta. Viver traduzia-se em perder camadas e mais camadas de superficialidade, até se poder chegar ao imprescindível. Naquela noite, porém, os jovens presentes `a sorveteria tinham todo o tempo do mundo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman";"><br /></span><span style="font-family: arial;">"<i>Senhor Legrand?</i>", uma tímida voz feminina introduziu-se. Daniel se voltou e encontrou Olívia. Ele se levantou instantaneamente, com uma gargalhada espontânea de grata surpresa, e a trouxe para si com um abraço fraterno. A quase sempre tímida Olívia surpreendeu-o ainda mais, correspondendo ao abraço e exprimindo satisfação, sem reservas. Não custou a chamar pelos demais, sentados numa cafeteria estilo parisiense, do outro lado da rua da sorveteria. Daniel viu que havia cerca de dez garotos da <i>East Side</i>, amigos do avião da <i>American Airlines</i>. A galera fez uma festa ao dar pela presença de Legrand. Parker e Gladys entreolharam-se orgulhosamente. Apertos de mãos eram seguidos por abraços, gargalhadas e <i>inside jokes</i> familiares somente aos membros do seleto grupo. Daniel pediu licença para lhes apresentar a namorada, Parker, e os meninos se deram pelo fato de que a mulher era a atriz do filme que ele exibira em casa, num dos encontros, coisa de um semestre atrás. Parker recebeu os elogios com modéstia, e Daniel admirou a maneira como enrubesceu ao sabor da aclamação. Os grupos juntaram as mesas, e a conversa só foi ficando mais animada, principalmente ao girar em torno do resultado do concurso, ainda pendente, para o frangalho dos nervos dos concorrentes!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você está dormindo, querido? - Parker perguntou, num tom muito baixinho, preocupada em acordá-lo, caso positivo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Estou aqui, meu amor. - Ele se virou, para ficarem com os rostos coladinhos. - Foi uma excelente noite, não? Estou feliz por tê-la aqui.<br />- Você quer me dizer alguma coisa? - Aí está, Daniel pensou. Parker simplesmente conseguia antecipar seus movimentos.<br />- Eu estive em <i>Cape May</i> nessa semana, querida. Eu me saí bem, reencontrei algumas pessoas especiais, preenchi algumas lacunas. Não precisa mais fingir que só conheceu Giro agora. - Ele falou, e Parker arregalou os olhos, encantada. - Isso mesmo. Eu sei que ele é Padre Girolamo di Sofia, eu me lembro bem. - Massageando carinhosamente as mãos da atriz, pediu. - Podemos conversar sobre alguns pontos? Não hoje, amanhã. Pode ser?<br />- Você não precisa pedir nada, <i>Danny</i>. Sempre estarei do seu lado.<br />- Então fique mais pertinho de mim. - Abraçou-a afetuosamente. <br />- Assanhadinha, hein? Aquela menina? - Parker colocou suspeita, e Daniel a olhou admirado, sorridente. Parker apertou os olhos e com uma expressão de quem não se deixaria enganar: - <i>Danny</i>… Ela está apaixonada por você!<br />- Ora, o que é isso! Por favor! - Estalou os dedos, o que prontamente despertou <i>Cyrano</i>, dorminhoco sobre a escrivaninha ao lado do <i>MacAir</i>. - <i>Cyrano</i>, diga a Parker que ela está equivocada!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Olhe o meu equívoco! - E começou a fazer cócegas no abdômen de Daniel, deixando-o gargalhar até dizer <i>chega</i>!</span><br /><div class="western" style="font-family: "Times New Roman"; margin-bottom: 0cm;"><br /></div><span style="font-family: arial;">Não havia ocasião certa para a conversa séria. Daniel se limitaria a apresentar as evidências na mesa assim que melhor oportunidade se apresentasse. Era sábado, e os dois passeavam de mãos dadas pelas calçadas de <i>downtown Elizabeth</i>. Antes do meio-dia, Daniel perguntou a Parker se gostaria de visitar o mercado, onde costumava passar o intervalo entre os expedientes, no aeroporto. A atriz adorou a ideia, possivelmente atenta ao fato de que a passarela entre os blocos parecia o lugar apropriado para se conversar reservadamente. Havia frequentado a ponte há meses, quando o visitara pela primeira vez, agora, voltariam como namorados. O sol escaldante remetia a recordações da alta estação, quando a turma de carga mal tinha tempo de gozar o descanso do intervalo, pois se o fizesse, ao voltar, encontraria o dobro de serviço. Existia, porém, o prazer de se dar tudo de si, quase como um código de honra entre guerreiros que, ao fim do turno, apreciavam comparar machucados depois de um puxado dia de trabalho braçal honrado.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Antes de qualquer coisa, você precisa se abrir comigo. - Ele a segurou sob o cotovelo assim que a sombra do toldo os albergou. - Não importa o que se deu, ou o que você disse para mim. Nós nos magoamos, mas, na época, éramos muito jovens, nem de longe imaginávamos a dor por vir. Então, preciso que seja honesta. Você confia em mim?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Claro. - Respondeu prontamente, mas a trepidação na voz embargada não sinalizou firmeza.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Pode confiar em mim. Pois entre duas pessoas que se conhecem há tantos anos, não há pecados que não possam ser perdoados. - Ele disse, a que Parker fechou os olhos com força. Daniel esperou um pouco para começar, ambos distraídos com o movimento do <i>Northeast Corridor</i> por alguns minutos. - Eu preciso que me fale tudo o que aconteceu entre você e Aaron Lang. Por favor, meu amor, não deixe de mencionar nada. Mesmo detalhes aparentemente inúteis podem me ajudar. Eu quero saber quando o envolvimento começou, o que aconteceu... Confie em mim.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu terminei nosso namoro por causa do Aaron, sim. - Confessou, num suspiro. A dor da admissão tornou os outrora lindos traços uma máscara de sofrido constrangimento. - E briguei com Robyn por causa da mesma pessoa. Ela se sentiu traída. Eu e Aaron, nós... - Hesitava falar. Solícito e compreensivo, Daniel acariciou os cabelos dela. - Nós estávamos ficando na surdina, cuidadosos para que ninguém descobrisse. Eu e você ainda namorávamos, mas, em razão da faculdade, eu em NYU e você em <i>Cape May</i>, o distanciamento abriu uma oportunidade para a entrada de Aaron na minha vida.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Conte-me mais sobre Robyn, durante e após a descoberta. - Daniel pediu, a voz baixa e sob controle.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Robyn fazia medicina em <i>Nova York</i>. Nós brigamos, e ela voltou a <i>Cape May</i>. - O canto da boca contorceu-se de dor. Daniel a encorajou, ainda lhe afagando os cabelos. - Papai a enviou para a Inglaterra, para terminar os estudos em <i>Oxford </i>e só depois fazer a residência nos <i>Estados Unidos</i>.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Muito bem, muito bem. - Passou a mão no queixo, intrigado e atento, e começou a enumerar os fatos nos dedos. - Você terminou o namoro no começo de 2002, e então foi morar com Aaron. O sr. Cowan mandou a filha para <i>Oxford</i>, para terminar Medicina. Robyn concluiu os estudos em 2002, mas não quis saber, num primeiro momento, de residência, e voltou aos <i>Estados Unidos</i> para fazer o concurso da Guarda Costeira, ocorrido no segundo semestre do mesmo ano. Aaron Lang se joga da <i>Golden Gate</i> dois anos depois. Fale-me de 2004.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Morávamos em <i>Georgetown</i>. Robyn e eu não conversávamos. - Ela se apoiou no corrimão, pensativa, realmente vasculhando a mente. - Eu queria voltar a <i>Cape May</i>, mas a briga me mantinha cautelosa e afastada. A novidade havia acabado, Aaron não me fazia bem. Algum tempo antes de eu retornar, ele não parecia o mesmo espírito liberto e contestador de antes. Comportava-se sempre choroso e cabisbaixo. Foi em meados daquele ano em que Aaron deixou os restaurantes e voltou para <i>Cape May</i>. Eu fui em seu encalço, mas antes que conversássemos melhor, antes que me explicasse o que acontecera, partiu sem dar satisfações. Só soube que havia pulado da <i>Golden Gate</i> pelo obituário do "<i>Cape May by the Bay</i>".</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu creio que foi na mesma época na qual Mildred faleceu, e em questão de semanas, tentei me suicidar arremessando o carro contra a grade de proteção. Eu apenas... - Daniel vacilou. Parker o encarava com olhos muito abertos, verdadeiramente apavorados. - Eu apenas acho que não atentei contra minha vida. Padre di Sofia e eu conversamos a respeito. Ele insiste que eu era detentor de informações importantíssimas que teriam comprometido alguém, caso...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Quem faria algo a você, <i>Danny</i>? - Ela custava a crer.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Revisei a cronologia. - Daniel não a respondeu diretamente. - Eu me lembro de Robyn no prédio da sede da Guarda Costeira no fim de 2002, ou comecinho de 2003, portanto após ter concluído Medicina em <i>Oxford</i> e estar de volta à casa. Ela mencionava a remoção para o Escritório de Representação da Guarda Costeira em <i>Washington</i>, para ficar próxima a Aaron. Não faz sentido, certo? Por que Robyn faria questão de tê-lo ao alcance, quando você e Aaron moravam juntos?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ela queria reatar, de qualquer maneira. - Parker abaixou o rosto. Daniel sentia-se arrasado por incitá-la a rememorar assuntos tão complexos, e a tomou para si. - Eu acho que eles ficaram algumas vezes, mas então Robyn desistiu. Ela conheceu o marido, um juiz federal Allen Corliss. Exonerou-se do cargo da Guarda Costeira, tratou de se focar na residência em psiquiatria.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Obrigado, querida. Desculpe por fazê-la passar por isso novamente. Você foi muito corajosa.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu me sinto péssima pois temo que perca o respeito por mim. Você me compreende, não é? Eram outros tempos, e precisei me ver sozinha para valorizar o significado de nossa relação, e tudo o que fez por mim... Eu ainda quis procurá-lo, mas não queria magoar a Mildred. Eu a respeitava pela maneira que tomava conta de você e, portanto, consegui me contentar em eventualmente espiar suas páginas nas redes sociais.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Tudo bem, tudo bem. - Apertou-a um pouco mais e a acalentou nos braços, como numa dança. - Já sei de tudo que preciso, querida. Apenas fique aqui comigo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Após a tensão daquela primeira conversa, o dia transcorreria mais tranquilamente. Ao regressarem ao loteamento depois do almoço num rodízio de carnes, estavam harmoniosos numa nova, amistosa frequência. Sim, o semblante de Parker revelava, por vezes, tons melancólicos, somente perceptíveis por obra de esforço; entretanto, no frigir dos ovos, a conversa apenas sacramentara as bases sólidas do relacionamento. A atriz abrira mão de seus segredos, das escolhas que haviam exposto inseguranças muito humanas, e recebera suporte por parte do companheiro. Na manhã de domingo, num tom choroso, contou à mesa do café da manhã que realmente não precisava voltar tão cedo para <i>Londres</i>. A segunda e a terça-feira seriam reservadas `as tomadas externas da <i>Sorbonne </i>de <i>Paris</i>, recriada nas fachadas da cidade universitária de <i>Oxford</i>, cuja arquitetura neogótica valera sua escolha pelo diretor de fotografia, por promover o resgate de estilos passados, um <i>revival </i>das formas góticas medievais. Parker teria de se apresentar na chamada da manhã de quarta-feira, para o que seria um dia pitoresco e divertido: o pessoal da maquiagem a "<i>envelheceria</i>" para a ocasião, a comemoração do jubileu de <i>Pasteur</i>, quando tanto a atriz quanto <i>Barclay Harrison</i> deveriam parecer as idades dos personagens, ambos aos setenta anos. Daniel respondeu que não poderia pensar em nada melhor que tê-la presente por mais dois dias, mas lhe lembrou que o filme era o projeto mais interessante que cruzara seu caminho, e que não devia jogar com a sorte e deixar para apanhar o voo de volta para <i>Londres</i> em cima da hora. Ela concordou que sentia que o filme seria seu trabalho mais relevante.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Q</span><span style="font-family: arial;">uando Daniel e Gladys foram deixá-la no aeroporto, no fim do dia, e a avó pediu licença para ir ao banheiro, Parker segurou as mãos do namorado e insistiu que fosse honesto e lhe garantisse que não tinha se ressentido face a tudo confidenciado acerca de Aaron. Daniel respondeu que admirava sua coragem e que jamais poderia julgá-la. "<i>Tudo o que passamos apenas nos aperfeiçoou para que terminássemos juntos</i>", garantiu. Avó e neto assistiram ao avião da <i>British Airways</i> correr pela mesma pista que há quase um ano transformara Daniel Legrand em herói. Gladys apertou a boca de um jeito a deixar uma covinha, e Daniel perguntou se se sentia bem. Ela fez que sim, mas afundou o rosto no seu ombro, visivelmente emocionada.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Com a partida, Daniel recuperava liberdade para agir. No mesmo domingo, foi Suntee quem ligou à noite para perguntar quais seriam os próximos passos. Daniel precisava voltar a <i>Cape May</i> o quanto antes para conversar com os pais de Aaron. Antes de se decidir, precisava ligar para Lefty, para consultar a opinião da senhora. Suntee pediu que não viajasse sem lhe contar, e Daniel comprometeu-se a avisá-lo assim que traçasse uma linha de ação. Ao conversar com Lefty, a senhora reiterou que não desvendariam a história inteira apenas pelo contado por Parker. Precisava, sim, procurar os pais de Aaron em <i>Cape May</i>. Quando resolvesse voltar, pediu para que fossem direto para sua casa no anexo do orfanato, em vez de um hotel, e Daniel agradeceu o apoio. Apesar de os sinais apontarem a <i>Cape May</i>, foi dormir sem saber ao certo o que faria a partir da segunda-feira.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">"<i>Eu gosto muito de você</i>", Robyn falara, naquela manhã na praia, e desde então Daniel gostava de relembrá-la, como uma corrente de ar fresco a remetê-lo a emoções elevadas. <i>Saudades da mãe?</i> Fechava os olhos e evocava a cena de Robyn o chamando quando ela estava para lutar nos Jogos Escolares, para dizer que gostava muito dele; <i>incerteza quanto ao concurso?</i> Voltava à manhã onde tão surpreendente quanto inesperadamente a complicada irmã de Parker revelara sentimentos muito humanos, afirmando gratuitamente seu apreço por Daniel. Antes de perder parte das recordações, tanto as muito dolorosas quanto as que lhe faziam bem, como Robyn preparando-se a entrar na área da competição com um dos pés, o pé machucado, atado, dizendo tão pura e espontaneamente que gostava de sua pessoa, Robyn faria mais uma linda lembrança, para que mesmo tendo sido perdida, Daniel desse um jeito de retornar a uma certa época, quando o toque de Robyn lhe fizera tão bem que o mero eco lhe devolveria um sorriso ao rosto.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Eram as férias de julho de 1999, e Daniel se encontrava em <i>Nova York</i> para visitar a namorada. As irmãs Cowan tinham vencido uma longa distância desde os dias de <i>Cape May</i>: Parker ensaiava para uma temporada de "<i>Cabaret</i>", no Departamento de Teatro da NYU; Robyn, que fora uma campeã no colegial, agora liderava o time do caratê universitário. Ela começara defendendo o <i>Lower Township</i> quatro anos antes na praia, e agora as meninas da Medicina do NYU. Naquela época do ano, <i>Nova York</i> era um deslumbre. Diferente do que ocorria a outros lugares do mundo, a temperatura chegava a leituras altíssimas durante os dias, sempre mais longos. Amanhecia mais cedo, e o céu somente começava a escurecer lá pelas 21:00, época maravilhosa para se caminhar pela metrópole que não dormia. Todo dia prometia uma novidade. Daniel levara Parker para almoçar sanduíches de almôndega, sentados na relva do <i>Central Park</i>, quando assistiram a <i>New York Philarmonic Orchestra</i> realizar excepcionais rendições para os mais notórios temas do cinema, gratuitamente, um presente da Orquestra a <i>Nova York</i>, em comemoração pelo 04 de Julho. Ele também conseguira reservar uma mesa a tempo para passarem a noite da queima dos fogos de artifício sobre o rio Hudson, em clima de romance, num restaurante na cobertura de um arranha-céu na Avenida 12, entre as Ruas 20 & 60.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel e Parker encontraram amigos da época do colégio, agora estudando na NYU. Hospedado num hotel simples e acolhedor acima de um bar de policiais de <i>Lower Manhattan</i>, durante as tardes, o casal passeava pelo <i>SoHo</i>, visitando galerias de arte e, em geral, vivendo a vida boêmia de artistas, para retornar somente à noite, para tomar caldo de galinha no quarto, com o rumor distante de vidros tilintando, copos e garrafas sobre o balcão, no bar do andar abaixo. Era o terceiro e último domingo de competições entre as meninas do caratê, e a diferença de escores pendia para uma ligeira vantagem a favor da <i>Cornell</i>, de <i>Nova York</i>. Robyn lutaria a final e só sua vitória reverteria a pontuação a favor da NYU. O lugar das competições era o mais neutro possível, pois a <i>Columbia University</i>, que perdera logo na fase introdutória, cedera suas acomodações para a final. Daniel e Parker chegaram atrasados ao <i>Blue Gym</i>. Haviam descido do táxi e tentado entrar pela <i>119th Street</i>, mas o acesso só seria possível pelos portões do campus, na <i>116th Street</i>. Jovens barulhentos surgiam em levas, em grande festa, subindo as escadas da saída da estação que parava na <i>116th</i> com a <i>Broadway</i>, e desembocava nos portões do campus.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><span style="font-family: arial;">Ele e Parker tinham encontrado assentos próximos ao ringue. Antes do começo da competição, depois de vestir o protetor bucal, Robyn procurou a irmã e o cunhado. Ao vê-los, ergueu o punho em sinal de força. Ela teria olhado para o casal, mas o coração de Daniel lhe dizia que procurara especificamente seu rosto, e não necessariamente a irmã também. Daniel forçou um sorriso, que não saiu convincente por causa do nervosismo. Imediatamente, o sorriso se desfez, e só restou o olhar angustiado. Robyn fez um pequeno sorriso no canto dos lábios, como se pedisse para não se preocupar, manteria a outra menina sob controle. Parker apertou a mão do namorado, apreensiva, e Daniel trouxe a cabeça dela para o ombro. Ao arriscar uma olhada para trás, ficou pasmo com o massivo público presente.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br />A luta foi previsivelmente anticlimática e unilateral, Robyn mantendo a pobre oponente sob controle, do começo ao fim. A irmã de Parker era a melhor, e mesmo desafiada por outra competidora que tinha muito com que ameaçá-la, as expectativas foram por terra no primeiro chute bem desferido por Robyn, o qual desequilibrou a adversária ao apanhá-la no peito, atirando-a `as cordas, desastradamente. Não era questão de quem venceria, mas de quão definitivamente Robyn a derrotaria. Diferente do que ocorrera `as lutas anteriores, que iam ao limite e precisavam ser definidas pela diferença de escore, a agressividade imposta por Robyn ao ataque interromperia o combate muito antes que o tempo limite fosse alcançado. Para quem via, perdurava um estranho sentimento de inevitabilidade, Robyn consistente, fazendo estragos sem pressa e regularmente, a outra garota movida por resiliência <i>quixotesca</i>, suportando passivamente o castigo por trás da névoa que devia ser a confusão mental, talvez à espera da oportunidade de um golpe de sorte o qual jamais viria.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Após um tempo que pareceu mais longo do que efetivamente o foi, Robyn conseguiu encurralá-la num corner, e deixá-la aberta para impor as combinações para derrubá-la. Robyn era destra, mas atirava <i>jabs</i> com a mão esquerda, <i>jabs</i> velozes, quase impossíveis de bloqueio, por mais que a adversária erguesse os dois braços em frente ao rosto. A mão deslizava entre luvas e ia cortando supercílio e boca. Não eram murros fortes, mas o volume lançado causava terrível pressão. Reconhecendo o fim, Robyn preparou o abate. Deu alguns passos para trás e aliviou o ataque, para que a adversária preparasse alguma resposta inócua. Quando ela arriscou um chute patético que nem mesmo com força foi lançado, Robyn abaixou-se, esquivando-se, e a derrubou com um chute baixo na parte de trás do joelho, que a levou pesadamente ao chão. O árbitro viu o suficiente, e interrompeu a luta. A garota procurava desajeitadamente se levantar, engatinhando no chão. Robyn ergueu os braços em vitória, e os colegas da NYU invadiram para aclamá-la.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel e Parker sofreram para entrar na área da competição para congratulá-la. O primeiro a parabenizá-la foi mesmo Aaron; depois, as pessoas que haviam se sentado mais próximas `a arena. Vendo-a tão distante e nos braços de estranhos, Daniel resignou-se com o fato de que dificilmente conversariam. Aconteceria uma cerimônia para a entrega das medalhas e, posteriormente, o anúncio do resultado final dos jogos, a NYU tendo conquistado o primeiro título na modalidade. Enquanto Parker e os demais alunos da NYU abarrotaram as galerias, Daniel tentou se conformar que não conseguiria a desejada privacidade para parabenizá-la, e se viu sozinho, sobre o ringue vazio, segurando as cordas, pensativo. Repentinamente, um assovio por trás das cortinas que levavam às escadas do túnel de serviço. Quando Daniel se voltou e a enxergou, fez menção de que saltaria as cordas para correr até a ela. Robyn, todavia, foi mais rápida, e correu de volta ao ringue. Ficaram somente os dois ali, isolados da festa cujo rumor chegava das <i>galleys </i>principais.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Robyn chegou com tal ímpeto que Daniel acreditou que o arrebataria; no último segundo, porém, foi como se recordasse da muralha invisível existente entre os dois. Ela anulou a marcha, até chegar a um palmo de sua face. Encararam-se por alguns segundos, ambos eletrizados e sem jeito, até Daniel segurar as mãos de Robyn e felicitá-la. Robyn esboçou um sorriso triste e cansado. Daniel levou as pontas dos dedos ao rosto dela, ao lado das marcas de expressões do canto da boca. Delicadamente, deslizou o polegar, do canto da boca para o nariz. Ela apreciou o contato, mas só foi entendê-lo quando viu o vermelho muito escuro nas pontas. Daniel procurara limpá-la do sangue da adversária que respingara na cara.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Robyn, você foi excelente! Apenas não quero ver outra luta sua. Eu sofro muito assistindo! - Daniel brincou. Robyn deu uma risadinha sapeca.- Robyn, eu...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você quer me contar algo? - Ela perguntou, a antecipação queimando através dos olhos.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sim. - Daniel respirou fundo, meneando em afirmativo, lentamente, lutando contra o sentimento que o cingia num abraço cada vez pior, e disse baixinho. - Eu gosto muito de você.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu sei - Ela segurou as mãos de Daniel. Mesmo com marcas de violência impressas no rosto, através de gotículas secas de sangue, Robyn parecia linda. Ele ousou erguer uma das mãos e, ao toque dos dedos de Legrand no pescoço muito comprido e sinuoso, esboçou um sorriso confortável, aliviada. Os rumores avolumaram-se, num eco que vinha da <i>galley </i>e sugeria voltar ao quadrilátero da competição. Não tinham mais tempo. - Haverá uma comemoração no <i>lounge </i>da <i>Top of the Standard</i>. De lá, a vista é fantástica, os drinques não param, a música excitante! Podemos conversar melhor no <i>lounge</i>?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu estarei no <i>lounge</i>! - Confirmou presença, dando razões para a completude dalegria de Robyn.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Preciso me trocar, então! Não posso aparecer suada e coberta de sangue! - Os dois riram. - O sangue da outra menina. - Robyn o beijou subitamente no lado do rosto. - <i>Top of the Standard</i>, 21:00.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Estaremos lá.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Um <i>tour-de-force</i> arquitetônico, celebrado pelo arrojado, arriscado conceito de janelas "<i>de chão ao teto</i>" e a clientela classe A, o <i>lounge </i>do <i>Top of the Standard</i> franqueava vistas deslumbrantes do rio e das luzes de <i>Manhattan</i>, coadjuvantes a seu mágico interior, cuja capacidade atendia a uma elevada demanda, obra de ambientes tão flexíveis que a transição de um a outro dava-se suave e naturalmente. O bar caracterizava-se pela madeira, evidenciada no tampo do balcão e no revestimento de <i>limestone </i>em tons cinza e<i> blue marine </i>das paredes e pisos. O espaço ainda oferecia um espaço de convivência casual e descontraído. A divisória de vidro era revestida por um adesivo fosco com fotos de pontos turísticos dos mais pitorescos e celebrados lugares do mundo, separando-o da pista de dança com a leveza que setorizava ambientes sem descuidar do conforto. O <i>lounge </i>era servido por muitos sofás, de sete lugares cada, em espaços de linhas elegantes e simultaneamente clássicas. Os caixilhos de alumínio eram laminados por vidro temperado, oferecendo uma abertura visual através de um arco de 360°: devassava, consequentemente, a ilha inteira. Perene sobre a festa, a meia-luz charmosa deitada pelos lustres em cristais <i>swarovski </i>de cor fumê.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel e Parker sentiram-se intimidados já ao se apresentarem para a conferência dos nomes na lista, na recepção. O bar e a pista haviam lotado; cachoeiras de champanhe incessantes avançavam em rios sobre cristais caros, naquele exclusivo e sofisticado mundo à parte, onde cigarros chiques, consumidos charmosamente, também permaneciam sempre acesos, e jovens herdeiros das maiores fortunas da América do Norte trocavam segredos e confabulavam o futuro. Robyn exalava seu usual charme e elegância, o cotovelo sobre o balcão do bar, uma piteira entre dedos, luvas marrons sentando muito bem com a escolha pelo casaco de couro. Os cabelos loiros haviam sido soltos, e caiam atraentes sobre uma parte do rosto apenas, tornando-a, de uma estranha forma, mais atraente, talvez pelos mesmos surreais motivos que seu nariz, quando ensanguentado imediatamente após a luta, combinara tão bem com o sorriso cansado, ao parabenizá-la pela vitória. Aaron encontrava-se ao lado da namorada, e uma roda se formara ao lado e ao redor do casal. Quando o garçom passou ao lado, Parker sacou duas taças, uma para si e outra para o namorado. Ela o segurou pela mão e o guiou através do salão a um lugar vago num dos sofás do <i>lounge</i>. Antes que o casal alcançasse o espaço, entretanto, algumas colegas da NYU a cumprimentaram e a arrebataram pelos braços, levando-a a outro espaço. Ela olhou por sobre os ombros, com um olhar surpreendido, e o risonho Daniel fez o sinal de OK – depois a "<i>resgataria</i>" das "<i>comadres</i>".</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">A noite começou embalada, e a energia só foi incrementando, não apenas por força das gargalhadas e conversas as quais quase sufocavam a música ambiente, mas do show que raptava o pessoal do <i>lounge </i>para a pista. Foi naquela noite na qual Daniel conheceu Bobbi Chapman. Ela era a melhor amiga de Robyn, pelo menos fora a história contada por Parker, com uma pontinha de ciúmes da atenção da irmã. Inglesa, Bobbi se tornara amiga de Robyn quando adolescentes. Curtiam os mesmos artistas, músicas e baladas. Todos os anos, nas férias de julho, quando viajava para a <i>Europa</i>, passava ao menos duas semanas em <i>Londres</i> para visitá-la e aproveitar o verão londrino. Em 1999, aos vinte anos, Bobbi começava a carreira artística com a formação original do grupo <i>Takin’ my Time</i>, e naquela noite, as garotas apresentavam-se no palco. À sua maneira, a aparência aristocrática e britânica impunha à estrela uma falsa fragilidade: a impressão não refletia sua verdadeira natureza. Ela era muito alva, seus cabelos loiros sempre mantidos curtinhos e repicados, e olhos muito expressivos e grandes, imaginem uma <i>Kylie Minogue</i> no início da carreira.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Canhões de luz giravam com tanta velocidade e em tantas direções que uma parafernália de cores ilustrava o salão, lâmpadas rotativas de led transformando o espaço num estrelado universo em constante transformação ao alcance de olhos e mãos. Daniel procurava reencontrar a namorada. As menina do<i> Takin’ my Time </i>davam novas rendições a sucessos da década de 90, que chegava ao fim, levando consigo a inocência de uma era. Ele se afastava da pista, o palco cada vez mais longe, quando sentiu uma mão sequestrando-o pelos pulsos e o puxando para o vão entre as esquadrias das janelas do corredor antes do hall de elevadores. Ali, encostado às lâminas de vidro, seria impossível não se impressionar com a altura. Bobbi interpretava uma música do grupo <i>The Deele</i>, "<i>Two Occasions</i>", num ritmo mais lento e romântico. Daquele instante para sempre, "<i>Two Occasions</i>" seria a música que até ao fim da vida Daniel seria remetido aos momentos com Robyn. Como o espaço da passagem anterior ao hall era limitado, Robyn e Daniel ficaram praticamente colados, peito a peito. A sensação de Robyn contra o peito era de uma deleitosa intimidade. Nada se disseram, mas Daniel só precisava do sorriso triste dela. Ela pareceu hesitar, ambos sentindo nas maçãs dos rostos suas respirações quentes e tensas. Finalmente, Robyn subiu a mão que deslizara anteriormente à parte baixa das costas de Legrand para trás da nuca dele, e o puxou violentamente para beijá-lo. Ele não pensava no risco envolvido, nas consequências do segredo. Apenas desejou que Robyn tivesse a boca conectada à sua pelo piscar de olhos da concepção ao fim do universo. Quando ela terminou, novamente lhe deu o sorriso entristecido de alguém que se conformara em viver um amor secretamente. E, tão brevemente quanto como o raptara, ela partiu, juntando-se ao fluxo natural a desembocar no espaço grande da pista, longe do hall estreito. Ao longe, luzes vermelhas e verdes dançavam pelo palco e acima. À medida que Daniel foi despertando de suas recordações, era como se pilhas de um gravador, quase gastas, reduzissem a velocidade da reprodução a ponto de as vozes se embolarem e encerrarem.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Por volta das 10:00, Suntee deixava a casa para jogar basquete com os amigos na quadra do quarteirão. Sorridente e com a cabeça cheia de planos, só foi dar pela presença de Daniel, encostado à caminhonete, ao passar bem ao lado dele na calçada. Suntee abriu um sorriso, mas viu que as linhas retesadas no rosto do amigo apenas se apertaram. O garoto percebeu que o negócio era sério.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Regressarei para <i>Cape May</i> no começo da tarde. - Sumarizou. - Eu tenho uma pista e gostaria de segui-la. Os pais de Aaron Lang. Se não puder ir, eu compreenderei.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Meu patrão... - Pousou a mão sobre os ombros de Legrand. - Não há favores suficientes no mundo para recompensá-lo por ter salvado nossas vidas. Conte comigo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Preciso sacar dinheiro, pagar umas contas... Terei uma manhã muito compromissada em <i>Elizabeth</i>. Posso pegá-lo neste mesmo ponto, no começo da tarde?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você me encontrará na calçada. - Deixou-o aliviado com seu suporte incondicional. - Resolva as pendências. Eu mesmo tenho assuntos a acertar. Por exemplo, derrotar os filhos da puta na quadra de basquete, antes de partir!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Obrigado, amigo. - Daniel o abraçou, e concluiu o encontro com um soco encorajador nas costas. - Até as 13:00.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel não precisou se explicar extensamente à Gladys. Ela sabia o nome do jogo; o neto não pararia até encontrar a verdade. Gladys apenas perguntou a Daniel o que deveria dizer a Parker quando a namorada ligasse. Confuso, raciocinando enquanto dobrava as roupas para guardá-las na mala, respondeu: "<i>Não sei, vovó. A senhora pode dizer é verdade, seria melhor</i>". Gladys sugeriu que convidasse o amigo para o almoço, e Daniel achou uma simpática ideia. Ele o contatou por celular; Suntee adorou o convite, e quando os ponteiros acusavam 11:00, Daniel circulava com a caminhonete pela pista da quadra esportiva do bairro para apanhá-lo a tempo de levá-lo para comer. Enquanto Gladys conversava com o garoto num animado clima de expectativa, servindo pratos muito gostosos que o adolescente jamais provara, Daniel escrevia um e-mail para Parker, para apaziguar a saudade e esticar um pouco a folga, ao fim da qual a atriz certamente o procuraria e ligaria para <i>Elizabeth</i>. Depois do almoço, Daniel levou Suntee para a casa do adolescente, para que ele tomasse banho, se trocasse e juntasse algumas camisas e calças, em preparação para apanharem a estrada à tarde.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Não houve tempo para conversar com Giro. Daniel deixaria as explicações para mais tarde. A sensação de aventura sobre o escaldante calor do asfalto era mais forte do que o vigor com o qual o sol subia ao zênite. Suntee perguntou se ficariam na casa de Lefty; Daniel achou melhor que passassem os dois primeiros dias no velho albergue. A semana estava apenas começando, então quanto antes encontrassem os pais de Aaron, mais rapidamente concluiriam o objetivo da missão. Ao estacionarem na frente do familiar albergue e descerem, o cheirinho de sais do mar, combinado com a força do sol, determinou como a dupla passaria a primeira tarde na cidadezinha costeira: uma vez acomodados, vestiram roupas mais leves, e desceram para a praia.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Às 16:00, quando o sol começava a perder <i>momentum</i>, Daniel e Suntee visitaram o orfanato. Lefty não esperava vê-los tão cedo; ela não conteve a alegria do reencontro. A senhora idosa os cobriu de palavrões quando Daniel lhe contou que tinham voltado ao albergue, e ordenou que pegassem logo as coisas para se hospedar em casa. Daniel conseguiu acalmar a fera, prometendo que seria a primeira coisa a fazer na manhã seguinte. Lefty estava orientando o conserto do telhado do gatil, Orlando sobre o cavalete com martelo e pregos, quando a dupla chegou, e os rapazes se voluntariaram a ajudá-lo. Sob um sol enfraquecido, o trio se divertiu virando latinhas de cerveja geladas e trabalhando duro ao lado de Orlando para reparar o telhado. Lefty instalara cordas descendo pelas treliças, para evitar quedas, e armara tábuas sob as telhas, para que não perdessem o equilíbrio. Enquanto Suntee o ajudava com a infiltração e a goteira, Daniel reforçava o beiral, colocando o forro para forçar um contraponto ao vento que podia desestabilizar as telhas.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Findo o trabalho, os três homens se sentaram sobre o telhado para finalizarem o pack de cerveja. Exaustos, a sensação de dever cumprido era sensacional. Daniel brincou e afirmou que considerava voluntariar-se a cuidar do orfanato de Padre Girolamo. Suntee o apoiou e se ofereceu também. Lefty determinou que o pedido da dupla fora aceito, e a partir daquela data não sairiam mais do lugar. Eles riam e riam. Após aquelas primeiras horas descontraídas, Daniel e Suntee quiseram conversar com Lefty, focando-se nas razões da viagem. Era fácil alcançar a casa dos Lang, a primeira na subida ao cinturão das mansões acima das dunas. Lefty ofereceu-se a ir junto. Daniel agradeceu, mas explicou que sentia que precisava realizar a tarefa sozinho. Até Daniel subir na caminhonete, Suntee o acompanhou e trocou algumas palavras com o amigo, os braços apoiados no espaço da janela de motorista.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Antes de subir para as dunas, Daniel desceu para <i>downtown Cape May,</i> e fez uma parada numa floricultura para comprar um buquê muito bonito. Ao chegar à envidraçada mansão de dois terraços voltados ao oceano, já eram 18:00. Daniel estacionou do outro lado da calçada, respirando fundo antes de descer com as rosas. Sorriu ao constatar que se sentia um jovem a se apresentar aos pais da garota a quem levaria ao cinema ou ao baile. Uma secretária de uniforme azul o atendeu no portão. Tendo se identificado como um antigo amigo de colégio de Aaron Lang, a jovem pediu que aguardasse um pouco. Ele procurava se assegurar de que sairia daquele encontro com a primeira importante pista desde a volta a <i>Cape May.</i> A secretária voltou com um cordial sorriso, e empurrou o portão, convidando-o a entrar.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Os pais de Aaron se chamavam Cheryl & Adam Lang. Sob bastantes aspectos, a família de Aaron não diferia tanto dos Cowan; representantes da nata de <i>Cape May</i>, figuras socialmente relevantes, importantes. Cheryl & Gail frequentavam os mesmos círculos. Adam fizera a ponte de safena de Bill alguns anos antes. Daniel foi conduzido pela secretária até ao espaçoso terraço na cobertura cuja vista dava para a linha do Atlântico. A paisagem gozava de excelente amplitude por causa da planta em "<i>L</i>", a qual impunha efeito contínuo e ampliado quando aliada aos planos de vidro usados como janelas de correr. O terraço era composta por duas alas de paredes de vidros, oferecendo uma incomparável panorâmica do litoral. Predominância de móveis de madeira de lei e a transparência de portas e janelas proporcionavam integração completa ao extraordinário cenário das dunas.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Cheryl e Adam tomavam café à beira da piscina. Assim que a secretária conduziu o convidado ao espaço, deixaram suas cadeiras para recebê-lo bem. Daniel entregou à senhora o buquê de rosas e agradeceu a gentileza da recepção. Cheryl puxou uma cadeira para o visitante, e Daniel sentou-se. Ela cheirou as rosas e o agradeceu novamente, elogiando-o pelo bom gosto. Daniel ponderou se demonstrava nervosismo, mas soube que dentro de cinco minutos a novidade teria passado, e teriam como se concentrar no impasse. Cheryl serviu-lhe uma xícara de café com leite.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Suponho que os senhores se recordem de mim? - Daniel começou.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sim, e não exclusivamente por causa de sua ação no aeroporto em <i>Jersey</i>. - Cheryl respondeu, com um sereno e conhecedor sorriso. - Fazia alguns anos que não tínhamos ideia do que acontecera a você e sua avó, mas então assistimos às reportagens sobre o aeroporto.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Faz tempo que venho ensaiando um retorno. Reaproximei-me da Lefty, mãe adotiva de uma ex-namorada da juventude em <i>Cape May</i>. Descobri que minha relação com Padre Girolamo di Sofia remontava ao tempo durante o qual ensinou Matemática no extinto <i>Lower Township</i>. - Provou do café com leite, particularmente saboroso graças à canela. Pareceu calcular o próximo passo. Adam foi mais rápido.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Tudo isso... Eu me refiro ao desejo de saber... Começou quando a filha dos Cowan te procurou, certo?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Parker, correto. Imaginem a minha surpresa ao despertar uma manhã e me deparar com a atriz de "<i>Lady Chatterley</i>" na porta. - Os pais de Aaron viram graça no inusitado, e sorriram.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- No princípio, evidentemente, ela não me contou a verdade. Imaginei que tinha parentes no voo da <i>American Airlines</i>. Aos poucos, foi soltando pistas. Depois de combinadas, as pistas me mostraram muito claramente que eu apenas não me recordava. Voltamos a nos envolver romanticamente.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Mas então resolveu investigar... - Cheryl capitulou a introdução, chegando ao cerne.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não ficou só na investigação. O peso do ocorrido virou lembranças, e recordações passaram a vir quando eu menos esperava. Assim sendo, o que parecia ter sido uma doce, inocente história de amor entre dois jovens de<i> Cape May</i> virou um intrincado mistério. - Atento para jamais soar apreensivo, Daniel acabou entregando certa urgência ao se justificar. - Hesitei muito em procurá-los, mas Lefty me convenceu. Eu vou ser franco: eu acho que o que ocorreu comigo em 2004, numa estrada não muito longe daqui, foi uma tentativa de homicídio. Giro e Lefty concordam que eu não teria enfiado o carro contra a grade de proteção. Eu não saberia lhes explicar por quê, mas imagino que minha história tenha cruzado com as de Parker, Robyn e Aaron, especialmente em 2004. Estive na <i>diner </i>onde passei momentos importantes da juventude. Tive uma recordação muito cristalina de Aaron, às lágrimas, pedindo-me desculpas por algo que...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sim, sim. - Cheryl confirmou, num sopro triste. Adam a envolveu com um dos braços, uma tentativa patente de consolo. - Eu e Aaron conversamos muito a respeito de você nos meses que antecederam o suicídio. Ele falava sobre remorso. Acreditava ser alvo do seu ódio por ter tirado a Parker de...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Oh, não. - Daniel protestou. - Jamais o responsabilizaria. Parker faz as próprias escolhas, senhora. Não foi Aaron quem as fez por Parker, correto?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Claro, mas mesmo assim ele se sentia culpado por tê-la "<i>tirado</i>" de ti. Nós conversávamos por telefone, e Aaron falava sobre voltar a <i>Cape May</i>.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ele estava em <i>Washington</i>, correto? Administrando restaurantes?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Isso, e vivendo com Parker. - Cheryl complementou. - Ele retornou em meados de 2004.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Próximo à época da confusão na pista. - Anotou em voz alta, mais para si.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não parecia bem. Inquieto, choroso. - Uma sombra atravessou o pesado semblante de Cheryl, lembranças amargas as quais não revisitava há algum tempo. - Insistia para que ele me contasse o que acontecera em <i>Washington</i>. Vivia metido no quarto. Depois de uma semana, comprou uma passagem para<i> São Francisco</i> e se despediu. - Lançou um olhar desesperado para o mais comedido Adam, e desatou a chorar. Daniel se sentiu péssimo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Se você diz se recordar de uma conversa com Aaron, e nas suas lembranças ele parecia atormentado, provavelmente estamos falando do mesmo período. - O médico afirmou.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Aaron não me falava extensamente sobre os problemas. Eu sabia que Robyn o seguira para <i>Washington</i>, e que tinham se encontrado secretamente. - A mãe revelou.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- A senhora saberia me dizer se Robyn e Aaron continuaram a se ver secretamente por muito tempo, enquanto ele morava com Parker?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Aaron e Robyn se encontravam às escuras desde 2003. Ela morava em <i>Georgetown</i>, por causa do trabalho na...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Isso. - Concordou com um aceno de cabeça. - Ela havia sido transferida para o Escritório de Representação da Guarda Costeira. Foi um artifício para manter Aaron sob sua influência.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Daniel... Você não guarda rancores de meu filho, correto? - Indagou a senhora, olhos desesperados, inseguros, que não se fixavam, deslizantes como peixes ensaboados.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não. - Estendeu a mão por sobre a mesa para lhe apertar o antebraço. - E espero chegar ao fundo da questão, sra. Lang. Seu filho foi tão vítima quanto a minha pessoa.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Lefty assistia ao jornal da tarde com Suntee e Orlando, na sala de estar, com xícaras e pratinhos em mãos. Eles tomavam sopa de carne e molhavam pedacinhos de pães frescos nas canecas. Quando bateu os pés no tapete do alpendre antes de entrar, os amigos lançaram perguntas com seus olhares intrigados. Daniel se sentou de supetão no sofá. Lefty foi buscar sopa e xícara de café com leite. Ele provou a comida, enquanto os três lhe assistiam, aguardando com tensão que se pronunciasse. Daniel acomodou xícara e caneca num canto da mesinha de vidro e descreveu o encontro:</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Os pais pensam exatamente como Lefty e Padre di Sofia. A mãe, a senhora Lang, parece convencida de que Aaron morreu guardando segredo. Fala sobre como voltou transtornado de <i>Washington</i>. - Mais um gole de café, para retomar. - Eis a situação: Aaron está morto, Parker me contou tudo o que sabia, e vocês sabem que Robyn não vai me ajudar.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Te ajudar? - Lefty precisou repetir, incrédula. - É mais fácil Robyn mandar te matar, cara.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Preciso pensar, preciso pensar. - Repetiu, como uma oração.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Dê tempo ao tempo. Fique em <i>Cape May</i> por mais alguns dias. Talvez, não encontre respostas, mas as perguntas certas a fazer. - Lefty descreveu brilhantemente.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Agora deixem-me comer. - Ele disse, após um longo suspiro. - Depois dessa, vamos voltar para o hotel, Suntee. Precisamos de uma boa noite de sono.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Amanhã cedinho, o senhor já sabe... - A senhora indicou a Daniel. - Quite a diária daquele albergue e trate de trazer suas coisas para cá. Vocês vão ficar aqui!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><i>Uh-hum</i>, Daniel assentiu, voltando à deliciosa, encorpada sopa. Na televisão, uma matéria sobre a vindoura estação de férias, a expectativa do setor hoteleiro, a estratégia para acomodar a demanda daquele ano. Alunos de vários colégios da cidade falavam sobre as atrações da estação. Com dolorosa sapiência, Daniel constatou que uma nova geração tomara conta. Por mais que, em recordações, todo aquele período de sua vida parecesse tão palpitante – as visitas a Parker em <i>Nova York</i>, os jovens que assumiam seus cargos, tomando as rédeas da Guarda Costeira após tantos anos sem concurso, os jogos de verão na praia – agora, em 2010, Parker, Robyn e Daniel seriam tomados ou como irmãos mais velhos ou jovens pais dos meninos. Havia benefícios, entretanto, em se ficar mais velho; o reajuste da vista lhes permitia enxergar além das aparências, talvez, como quão especial todo o período mágico fora, fato constatável agora que ficava gradualmente mais afastado na cronologia.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">No quarto do hotel, deitados em suas respectivas camas, Daniel e Suntee assistiam ao filme da tela de sucessos, ao fim da noite. Em algum momento, Suntee citou, do nada, o nome de Dieudonné. O jovem tinha razão; seria importante contar com o suporte do agente, apenas não sabia como contatá-lo. Eles já tinham preparado as mochilas para partir na manhã seguinte, e Daniel via-se esperando o insight que lhe traria as perguntas necessárias, quando as novidades simplesmente caíram sobre seu colo. A recepcionista ligou para o quarto e Suntee atendeu. A sra. Lang havia ligado para o hotel desejando conversar com Daniel.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Olá, Sra. Lang, obrigado por me ligar.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não sei se irá ajudá-lo, mas certamente robustecerá um perfil de Aaron na época em que morreu. - Ela introduziu, cautelosamente refreando os ânimos. Mal sabia que sua observação seria valiosíssima. - Aaron voltou para <i>Cape May</i> muito doente. Vazava-se em diarreia, e quando se despediu para <i>São Francisco</i>, parecia muito doente. Aaron chegou a dar entrada no hospital em <i>Cape May</i>. Não nos quis por perto. Sei que fez exames de rotina, mas foi liberado alguns dias depois.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- O hospital local de <i>Cape May</i>, não é? Agradeço a informação, senhora, sem dúvida sua história coloca as coisas sob perspectiva. - Coçou o queixo, sem saber ao certo sobre quais perspectivas falava.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /> Daniel desligou revigorado. Suntee ficou na beira da cama, aguardando que lhe contasse as boas novas. Antes de fazê-lo, entretanto, Daniel ligou para Giro. Após um par de minutos de conversa, despediram-se, Giro tendo prometido que partiria para <i>Cape May</i> o quanto antes, e os encontraria na casa de Lefty. Daniel foi enxaguar o rosto no banheiro. Ao retornar ao quarto, desligou a televisão e os dois amigos tiveram uma séria conversa. Repassou as informações da Sra. Lang sobre o estado de saúde do rapaz, e disse que Aaron havia passado um período internado no hospital de <i>Cape May</i>. Antes que vocalizasse a segunda parte, foi Suntee quem mencionou que os arquivos deviam guardar algum registro de sua estadia, mas que jamais teriam acesso à pasta. Daniel guardava, porém, um trunfo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Quando ele apareceu no consultório de Max, na manhã seguinte, não foi de todo uma surpresa para o infectologista. Max sabia que Daniel seguiria pistas, o problema sendo que, até há pouco, as mesmas levavam a terrenos firmes, apenas a outras pistas as quais o afundavam num abismo de escuridão cujo fundo parecia longe de terminar. Max conservara as lembranças de Daniel num bom lugar, jamais desaprendera a lhe querer bem. Daniel se assomou à porta do escritório; entretanto, foi como se o fizesse na porta da sala, em 1995, procurando ajuda. Ele deixou o telefonema que tinha em mãos para mais tarde, e recebeu o amigo com muito carinho e atenção. Sabia que a razão da visita era difícil, e fechou a porta de maneira a terem tempo e privacidade. Daniel sondou admirado as paredes, quadros de diplomas bem distribuídos por trás da cadeira. Sobre a mesa, elegantes porta-retratos sinalizando igual sucesso na vida familiar. Max perguntou a Daniel sobre Gladys. Ao conjurar imagens da avó preparando a mesa para o café da manhã, Legrand sentiu-se negligente, uma urgência a voltar para casa. Num primeiro instante, o papo fluiu leve e bem-humorado, Daniel divertindo-se ao ouvir o cara que um dia se sentara ao lado na sala de aula, descrevendo bisbilhotices da vida em família, preocupações de pai, viagens a <i>Disney</i>, o primeiro namorado da filha. A conversa era impelida pela naturalidade, até seu curso tender a reminiscências mais distantes; foi quando o semblante de Max pareceu mais apreensivo, ambos cientes de que se avizinhavam do motivo que o levara ali.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Aaron Lang. - Daniel proferiu o nome. - Pode até ser que eu tenha deixado <i>Elizabeth </i>por razões causadas por Robyn, Parker e Mildred, mas Aaron certamente foi um personagem dessa história, ao menos àquela altura. Foi em 2004, quando voltou de <i>Washington </i>para <i>Cape May</i>.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sim. - Disse, firmemente.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Estava doente. Conversei com a Sra. Lang. Deu entrada neste mesmo hospital e permaneceu por aproximadamente uma semana até receber alta. Depois de voltar para casa, comprou um bilhete para <i>São Francisco</i>, e sabemos o resto da história. - Daniel não conseguia proferir o pedido, todavia sabia que Max tinha como pressenti-lo. Por fim, sumarizou. - Eu preciso saber qual foi o problema do rapaz. Preciso da pasta referente à passagem dele naquele verão de 2004. Não tenho acesso aos arquivos. Preciso de você, Max.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Tudo bem, tudo bem... - Levou a mão à testa, como que apanhado por um golpe forte. - Olhe, eu não compreendo. Como fichas médicas poderiam...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Registros desvendariam sua confusão mental. Eu acho que há um vínculo entre a condição de Aaron e seja lá o que for que tenha acontecido em <i>Washington</i>.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu teria acesso aos arquivos antigos, amigo, mas... - Hesitava em desapontá-lo. Daniel não tinha como julgá-lo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Apenas não sabe se seria ético. - Completou a lacuna, precisamente. Max encarou-o grato por tê-lo poupado de se explicar. Legrand continuou. - Eu jamais pediria algo semelhante se tivesse escolha. Não sei para quem mais pedir ajuda, Max. Eu não corri atrás do problema, o problema me agarrou em <i>Elizabeth</i> e me arrastou a <i>Cape May</i>. Estou envolvido até o pescoço, e não posso mais parar até saber! - Frisou a última parte.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Confia em mim? - Devolveu, com olhos impressionados. Daniel fez que sim. - Pois escutará de mim no decorrer da semana.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel voltou para a casa de Lefty com ótimas notícias. Ficou feliz ao encontrar Padre di Sofia e Dieudonné, reunidos a Lefty e Suntee, à mesa da cozinha. Ele explicou que Max não lhe dera certeza, porém sentia que a consideração à sua pessoa certamente pesaria a favor. O quarteto abriu lugar para a vinda de Legrand à mesa. Giro tinha uma porção de ideias, mas escolheu esperar a resposta de Max. Por dependerem da resposta do infectologista, resolveram acalmar-se, sacando de suas mentes, por um momento, a problemática, a qual, sem o apoio de Max, só ofereceria ilações confusas. Daniel ligou para <i>Elizabeth</i>, contou à avó que Padre di Sofia se encontrava em <i>Cape May</i> e lhe forneceu o telefone de Lefty, sempre que a avó precisasse encontrá-lo e seu celular estivesse fora de área. Eram 19:00, e Max não havia voltado para casa. Imaginava que a esposa não custaria a ligar para o consultório para saber se estava bem. Dito e feito, a ligação veio, mesmo com um pouquinho de atraso. Desempenhou bem o papel de médico assoberbado por demandas de um dia cansativo, com uma desculpa tipicamente boba e crível, uma internação que lhe exigira o preenchimento de papéis, a usual burocracia. A esposa terminou a ligação declarando o quanto o amava, e o médico sorriu ao imaginar-se fazendo amor com ela, logo mais. Fumegou, emocionalmente exaurido, metido num grave dilema. Ainda não se decidira, porém se flagrou vasculhando as gavetas, nos arquivos. Não foi nada difícil chegar ao nome de Aaron. Conforme Daniel sugerira, de fato, o rapaz fizera uma passagem de uma semana para descanso e exames, e a ficha encontrava-se nas suas mãos. Não entendeu por que os pais de Aaron não haviam buscado as informações anteriormente, mas compreendeu que não teria adiantado: o filho saltara da <i>Golden Gate</i>, talvez fosse tudo de que precisavam saber. Às 21:00, Max permanecia no gabinete, tendo analisado cuidadosamente os resultados dos exames os quais traçavam um curioso quadro sintomático. A esposa telefonou uma segunda vez, perguntando se gostaria que fosse pegá-lo, pois entardecera. Max disse que não se preocupasse, pois o bondinho ainda daria muitas voltas ao redor de <i>Cape May</i> até a última corrida da noite.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Em <i>Nova York</i>, Robyn era outra que adiara a volta para casa, mas Allen acostumara-se às noites da psiquiatra no Monte Sinai. Os motivos a manterem-na perante o monitor não se deviam ao trabalho. Ela lia resenhas de filmes de horror, de um blog mantido por um tal "<i>Cecil Thornton</i>". Vinha revisitando o blog, mesmo desatualizado, praticamente estagnado desde julho de 2004 quando o site deixara de ser alimentado. Entrava lá no mínimo uma vez ao dia, todos os dias, quase memorizara certos parágrafos escritos sobre "<i>Hellraiser</i>", "<i>Hellraiser 2</i>", mas não conseguia parar de voltar aos textos. Vez ou outra, um sorrisinho tímido brotava de seus lábios, cortesia da doçura que mesmo em críticas sobre obras de horror o autor conseguia impor aos textos. O celular chamou, mas Robyn não tirou os olhos da tela, tateando o aparelho e o trazendo ao ouvido.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Oh, Max! - Exclamou, verdadeiramente apanhada. - Desculpe-me, esperava por uma ligação de Allen.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Robyn, não quis assustá-la, desculpe. - A voz de Max soou tensa, contida por trás de trepidante cavalheirismo. - Você pode conversar?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Agora sim. - Ela fechou o blog e girou na cadeira, de modo a ficar de frente `a impressionante vista do escritório no último andar da ala de Psiquiatria. - Daniel Legrand tem feito perguntas?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Queria a ficha de Aaron. Eu acabei de ler o prontuário. Você sabia que Aaron adoecera na semana anterior ao suicídio?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Foi há quase dez anos. - Robyn mascarou a frustração. Daniel avançava com as peças no tabuleiro. Ela se sentiu ameaçada, mas não podia soar insegura. - Os pais dele estão vivos e têm suas carreiras. Qual o sentido em tocar nesse assunto?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Aaron tinha relações contigo, e com Parker. As coisas no prontuário… Os sintomas. - Não sabia como contornar o delicado problema. - Parker pode estar seriamente comprometida.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Max, por favor. - A fachada de segurança foi abaixo. Cheia de tristeza, Robyn lhe deu a oportunidade de recuar, ameaçando-o de forma delicada, mas determinante. - Se procurar no prontuário, não encontrará em momento algum o termo "<i>HIV</i>". Não se envolva. Não é a sua briga. Daniel quer se contrapor a mim, e vai perder. Por favor, não se envolva.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sim, não encontrei o nome "<i>HIV</i>", mas os sintomas! - Folheava as páginas amareladas, encucado, tentando entender como não havia um só laudo de histograma na ficha. - Oh, Deus... Você não quer saber de prontuário algum pois já sabe de tudo! Sabia antes de Aaron adoecer, não? - Observou, cheio de horror. - Você passou o vírus para ele!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Por favor. - Ela repetiu, com a voz grave e seriíssima. - Daniel é uma pessoa confusa. Ele não merece crédito, Max. A palavra de um homem tão vulnerável e atormentado não vale muita coisa contra a minha. Surpreende-me, você tê-lo em tanta estima. Você quer afundar junto a Daniel Legrand, atirar sua vida no lixo por causa dele?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não posso deixar de ajudá-lo. - Lamentou, confuso porém obstinado. - Não depois do que li. O quadro sintomatológico… Bate com os primeiros sintomas de infecção de um vírus. Um vírus como o da AIDS.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você não imagina as implicações do que fala, Max. Você não vai querer me fazer de inimiga. Eu já aceitei que Daniel não vai parar, e eu sinto muito pois ele vai sofrer bastante. Farei o mesmo a você, se continuar. - Prometeu, com muito pesar, mas com firmeza de quem sabia exatamente onde queria chegar e não perdia tempo com ameaças vazias: ela ia direto ao ponto, e não prometia uma violência a qual não cumpriria. </span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">"<i>Uma pena, uma pena</i>", Robyn lamentou, com o olhar cansado voltado para o cruzamento de duas avenidas para a lateral do edifício do Monte Sinai, sempre movimentadas, charmosas, a vida a qual Daniel deixara de viver, o futuro arrancado de suas mãos, por causa dela. Ela não voltaria ao marido imediatamente. Enquanto aguardava o táxi tomando um cafezinho no lobby, ligou para casa e conversou com Allen. Perguntou como estavam as crianças; assistiam a um DVD com o pai na sala, à beira da lareira. Era uma noite fresca, Robyn reconheceu ao deixar o hospital pela porta giratória para apanhar o táxi. "<i>Leve-me para a 230 Fifth</i>", ordenou, ao entrar. Robyn desejava perspectiva, e foi justamente o que encontrou no rooftop do bar da <i>230 Fifth</i>, a mais magnânima vista de <i>Manhattan</i>. Depois de receber o drinque, fez caminho por entre outros frequentadores impecavelmente vestidos, e chegou ao opulento <i>garden</i>, o qual dava para uma linda vista do <i>Empire State</i>. Ela se encostou ao parapeito, e a cabeça lhe deu vertigens ao buscar pela <i>26th</i> com a <i>27th Street</i>. Robyn parecia estonteante - sempre o era - porém, naquela noite, o único acessório a vesti-la melhor que o blazer <i>slim </i>executivo era a tristeza que a fazia parecer uma vulnerável jovem médica `a beira das lágrimas e à espera de seu salvador. Robyn sentou-se num dos bancos completamente vagos. A fachada do <i>Empire State</i>, ao menos a borda, recebia das lâmpadas um fulgor muito avermelhado, enquanto mais para o centro, a tendência era a diluição de um aquoso verde neon. O homem moreno de poderosa presença que se sentou ao lado não devia ter muitos anos a mais que os 31 de Robyn. A "<i>sombra</i>" no rosto denunciava desleixo com lâminas de barbear, mas parecia muito elegante, vestia-se bem, movia-se com firmeza, um "<i>macho alfa</i>". Robyn abriu o sorriso, sinalizando disponibilidade e interesse.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span><span style="font-family: arial;">Tomou mais alguns drinques com Martos, o sedutor. Embora cuidasse para se manter espirituosa, simpática e interessante, sentia-se demasiadamente cansada, a ponto de preferir avançar os sinais para acabarem atracados na cama o mais rápido possível. Mal haviam entrado no quarto de Martos, na <i>230 Fifth</i>, o conquistador tentava o cartão no leitor ótico enquanto Robyn segurava e apertava seu pau cada vez mais duro. Enquanto saltava desastradamente sobre um só pé para tirar os sapatos, meias e paletó, Robyn aliviava-se chutando os próprios saltos num canto, tirando-os do caminho com a delicadeza de uma mulher que se habituara a encontros perigosos. Martos não custou a se despir, jogando-se de costas `a cama, cruzando os braços, `a espera da amante. Robyn soltou os cabelos. Bocejando, procurou o banheiro, dizendo que logo se juntaria a ele na cama. Ela desafivelou o sutiã e deixou a calcinha deslizar, ficando inteiramente nua. Demorou-se, enlevada diante do espelho, apalpando os seios, examinando quão rijos pareciam. Robyn quase passou um lenço umedecido sobre os lábios muito vermelhos, para remover o batom, mas ao se recordar de uma tarde em especial em 1999, quando Daniel passara o polegar sobre o queixo para limpar o sangue e mesmo assim parecera linda, ao menos para os olhos dele, resolveu preservar o efeito para Martos, deixando o batom nos lábios. Robyn ressurgiu nua, sem sinais de pudor. Queria ser vista, devassada pela concupiscência e a pica de Martos e, portanto, abriu as luminárias ainda não acionadas. A repartição de pelos da vagina era perfeita, a perfeição pela qual um homem passaria a vida inteira com a boca ali, no "<i>lugar secreto</i>". Martos se sentou sobre as pernas dobradas no colchão, e Robyn se aproximou com movimentos perfeitos. Houve uma revelação: ele viu que o corpo de Robyn não estava inteiramente nu. Ela usava uma joelheira de malha, quase da cor da pele, e na mesma perna, no pé direito, uma tornozeleira branca. Martos a segurou pelos quadris. Com muita cautela, pousou-a sobre a cama. Por algum tempo, pareceu querer prolongar o exame, deixando para depois o abate. Com interesse clínico, seus dedos exploraram a superfície das bandagens, as fissuras entre as conexões, o complicado, intrincado arranjo de dobras de malha elástica sobre a pele, o cheiro de látex esticado, almiscarado aos de carne e puro desejo fisiológico. Quando seu pau finalmente explodia de tesão, eles se agarraram. Robyn, sempre por cima, investia sobre o parceiro, faminta, transgredindo papéis. Martos esperara amá-la a noite inteira; agora era ela quem o assaltava, uma sucessão de brincadeirinhas ousadas, prazeres demasiadamente agressivos que o deixavam arfando por ar. Quando procurava recuperar-se por um minuto sequer, Robyn o puxava de volta pela parte de dentro da coxa como se Martos não fosse nada, um tanto quanto humilhante para seu ego inflado. Beijos, cheiros e sensações fuzilavam sua mente, sem compaixão, convidando-o a flertar com a insanidade. Martos mergulhou num abismo sem fim, os braços e as coxas fortes de Robyn na verdade, onde sentidos se confundiam em absoluta sinestesia. Sons podiam ser vistos; as cores do arco-íris, degustadas. Os sentidos estavam completamente embaralhados, trocados. "<i>Demais… Chega, chega</i>", arfava por ar, deitado de lado, sob Robyn e entre as suas pernas, sem ganhar nada que não o indiferente, implacável assédio da amante.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Martos despertou com a réstia da madrugada penetrando através do espaço desimpedido das cortinas de seda, amarradas no meio por uma faixa amarela. Aturdido, sentindo-se confuso pela noite anterior, sentia-se inexplicavelmente grato pela volta à normalidade no quarto. Sua respiração recuperara a cadência, ele se sentia bem. A existência deliciosamente ordinária podia ser experimentada nos tons cinza predominantes no firmamento nublado nova-iorquino, ou no cheirinho de café e canela da máquina do corredor. Robyn já se vestira, mas ainda não pusera os saltos. Ela entrou no quarto com dois copos de isopor. Sorria ligeiramente ao entrar, com uma cautela a indicar que temia acordá-lo, até vê-lo bem desperto.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você se sentirá bem. - Ela lhe entregou um dos copos. - Este aqui tem leite. - Martos bebericou de seu copo e ergueu os olhos à Robyn. Ela se sentou sobre as pernas dobradas, sobre a cama e ao seu lado. - Eu sou casada. - Ergueu a mão esquerda para mostrar o dedo anelar.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu também. - As risadas se uniram num uníssono, e foi bem divertido. A tensão se fora. Agora, eram como primos que haviam experimentado uma coisa besta e secreta. Não existiam problemas, implicações, ou ao menos Martos assim pensava. - Você se recorda de mim?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu me lembro que era o corregedor chefe da Guarda Costeira quando passei no concurso há dez anos. - A psiquiatra respondeu, prontamente. Sem fôlego, Martos ficou observando, com a boca levemente aberta. Achara que só ele a reconhecera ao abordá-la na noite anterior. - Não o vi muitas vezes, mas o via por ali.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ainda sou o chefe. - Disse, com um certo orgulho. - Você tem uma boa memória mesmo. Vim a Nova York para o congresso de...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Fotográfica. Memória fotográfica. Quer um exemplo? - Robyn se ajeitou melhor sobre a cama, confortavelmente, dobrando melhor as pernas. Moveu um pouco os dedos dos pés, como que se livrando da fadiga impingida pelo frio às articulações, e prosseguiu. - Daniel Legrand. Lembra-se dele?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- O cara que trabalhou nos sistemas informatizados de processos? Na secretaria? - Apertou os olhos, perguntando, mas já conhecendo. Sua intriga não devia a qualquer esforço de memória, mas aos motivos de Robyn trazê-lo à conversa. - Foi exonerado, perdeu tudo após um acidente na estrada, até onde eu consiga me lembrar. Daí, eu o vi na televisão por causa daquele lance do aeroporto e...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Fantástico, não? - Os olhos de Robyn repentinamente iluminaram. - O lance do aeroporto… Bem, voltemos alguns anos. Os anos nos quais ele trabalhou sob sua tutela. Foi assim que eu e você nos cruzamos, Martos. Quando eu passeava no seu andar com uma desculpa qualquer, apenas para ver como Daniel vinha se saindo. - Eles ficaram em silêncio, após essa parte, até Robyn revelar: - Eu me importo muito com ele. Digamos que ele é meu projeto pessoal. Ele me preocupa e me tira o descanso. - Segredou, com um olhar divertido e esquisito.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ele está bem? - Perguntou, sem saber exatamente o que dizer diante daquela conversa estranha.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Passo algumas noites em claro, preocupada. - Ela fumegou, dando um gole no seu café com canela, agora morno e passível a ser tomado mais rapidamente. Ela ficou com um bigodinho no lábio superior e na ponta do narizinho. - Sou Psiquiatra chefe no Monte Sinai. Eu fui médica da mãe dele. - Ela pareceu esperar, mas Martos não tinha nada sobre o quê trabalhar. Não se recordava bem do servidor, apenas da reserva, da solidão de Legrand. A bem da verdade, seus sentimentos por Daniel o confundiam. Parte de Martos o desprezara; parte gostara de sua pessoa, como teria afeto a um estagiário qualquer. Mas o puto tinha que estragar as coisas com aquele ar de "<i>Conde de Monte Cristo</i>", fazendo-o se sentir como um <i>Fernando Mondego</i> privilegiado. Martos tivera de estudar como um burro de carga, tivera de sofrer para ser o chefe de Legrand e daqueles estagiários, porra. Nada lhe fora dado de mãos beijadas! Por que aquele filho da puta nunca reconhecera isso, como os outros o fizeram?! - Eu… Não sei como me sentia em relação ao cara. Acho que gosto dele. - Iluminado por uma súbita ideia, esboçou um sorriso honesto e confirmou. - Sim, gosto dele. Poxa, eu fiquei feliz ao vê-lo na televisão. Fiquei feliz, porra!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Calma, calma. - Robyn massageou-o num dos braços. - Ele confunde as pessoas, não? Mas, sabe, ele é o mais confundido de nós. Não sabe se cuidar, não sabe se virar. O que eu faço com Daniel Legrand, Martos?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Como assim? - Apoiou-se nas palmas das mãos para se encostar à cabeceira com as pernas esticadas e os pés cruzados. Robyn se ajeitou de novo, novamente arqueando os dedos dos pés, dissipando certa tensão, certa espera. - Qual a sua responsabilidade sobre a vida dele?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Um garoto tolo, tonto. - Esfregou os dedos no cenho, olhando para entre as pernas dobradas. - Quem ele pensa que é para me afrontar, fazendo perguntas, querendo descobrir o que eu… - Ela se deteve no último segundo, e levantou o rosto para olhar para o corregedor e sorrir. - Agora, sou eu quem o confunde, certo? Desculpe-me. - Ela sacudiu a cabeça, e o que era perspicácia energética foi virando serena tristeza. Agora, lágrimas rolavam pelas maçãs do rosto da psiquiatra. - Eu o amo e o odeio, Martos. E pela mesma razão: ele me faz pensar em mim mesma, em 1994, 1995, nas minhas melhores partes, em promessas puras, mas irrealizadas. Ao mesmo tempo, eu o odeio, porque as partes nunca podem ser mais importantes que o todo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Por favor, não chore. - Sacou um lenço do Clenex sobre o criado-mudo. - Robyn, onde quer chegar? Esse cara foi tão importante a ponto de…</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sou médica da mãe dele. - Ela escancarou. - Sou a psiquiatra chefe, de modo que ela se encontra sob os cuidados de outras médicas, mas eu a tratei, ainda a trato. Ela é uma interna idosa no Monte Sinai. A avó o engabelou com histórias de que a mãe teria morrido. O passado desse cara é um olhar através da escuridão. Foi jogado da casa da mãe para o do pai. A avó tentou impedir, eu não a culpo; mas avós nada podem, judicialmente falando. Nas férias de um determinado ano, voltou para casa, calado, sem conversar, urinando na cama, chupando o dedo. Finalmente, contou à mãe.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Deus, eu não sei se quero ouvir. - Cheio de dor e confusão, Martos apalpou a beira da cama para se erguer. Ele se sentou, ainda desnudo, à mesa, e ficou olhando para a cama.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Vai ouvir.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><span style="font-family: arial;">Mais tarde, noutro lugar. Robyn tomava uma ducha quente, quando Allen entrou no box disposto a namorar. Aos galanteios, Robyn respondia simpática, mas furtivamente, procurando não se esquecer de passar numa drogaria para comprar comprimidos de fluconazol. Quando o marido começou a parecer bastante ousado nas investidas, deu-lhe um selinho e pediu que fosse mais paciente, pois cuidaria dele mais tarde. As outras médicas residentes da Psiquiatria que assessoravam Dra. Robyn Corliss tinham se acostumado `a forma como ela se assomava nos corredores. Seus saltos altos faziam barulho antes mesmo de ela ter cruzado a divisória entre hall de elevadores e o braço da psiquiatria do Monte Sinai. Quando passava pelos consultórios e salas de portas abertas a caminho de seu gabinete, desejava a todos um bom dia com um sorriso apertado que a tornava uma chefe tão humana quanto cautelosa, avessa a proximidades, mas não inteiramente fria. Sobre a mesa, relatórios sobre o quadro emocional de uma paciente específica, uma certa "<i>Helena Legrand</i>". Períodos extenuantes de silêncio e solidão após vocalização de desejos de suicídio. Robyn fechou os olhos, entristecida, sua mente explorando uma leve mudança na classe do ansiolítico, porém sem se concentrar no ponto, de fato. Helena ainda se encontrava sob efeito sedativos, só voltaria a si à tarde. Naquela manhã, Robyn deixou o prédio ao meio-dia para conhecer um novo restaurante italiano do outro lado da quadra do Monte Sinai. Uma vez acomodada, ligou para Bobbi Chapman, a melhor amiga. "<i>Preciso conversar contigo, Bobbi. Será que pode pegar o voo para Nova York?</i>".</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Bobbi mandou um e-mail no final de tarde, o qual Robyn só abriria mais tarde, após dar ao marido o sexo negado no box. A amiga chegaria num voo da <i>American Airlines</i> `as 10:00. Robyn acessou o site do <i>Marriott </i>e reservou um quarto para a data. Respondeu a mensagem de Bobbi para que assim que o avião aterrissasse, apanhasse um táxi para o <i>Marriott </i>da <i>Broadway</i>. Robyn encontraria a amiga no <i>Broadway Lounge</i>, o restaurante cuja vista abrangia <i>Time Square</i>. Na manhã seguinte, Robyn chegou ao <i>Marriott </i>às 11:00; notava-se a eletricidade do lugar, de garçons preparando mesas ao clangor de panelas, da cozinha. Bobbi chegou sem malas, vestindo óculos escuros os quais não repeliam olhares curiosos de algumas pessoas as quais a reconheceram como a vocalista do <i>Takin’ my Time</i>. Um garoto que devia ter dezessete anos se aproximou, visivelmente acanhado. "<i>Olá, a senhora é…</i>", começou; entretanto, nem chegou a terminar a sentença, imediatamente derrubado pela categórica negativa da cantora, que sequer se preocupou em olhá-lo na cara para dispensá-lo. Robyn se levantou para recebê-la com um abraço. Ao receber da colega a carta de carnes, Bobbi sugeriu que subissem ao quarto e escolhessem algo para comer ali em cima.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Robyn escolhera uma suíte servida por muitos luxos. A cantora fez a opção de prato, e entre goles de vinho tinto, as amigas recuperaram o tempo perdido. O assunto que a levara a arranjar o encontro ficou para ser tratado entre xícaras de café após o almoço. Bobbi estudava o tráfego a serpentear diante dos pés do </span><i style="font-family: arial;">Marriott</i><span style="font-family: arial;">, buzinas e gritos que ao alcançar aquele tão distante andar chegavam como ecos enfraquecidos, refratados e longínquos. Raios de sol entravam paralelos, filtrados pelas persianas, desenhando franjas sombrias na face da cantora. De perfil, parecia no mínimo dez anos mais nova que suas três décadas de vida.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Daniel não sabe de muito ainda, mas eu devo confessar que vasculhou nos becos certos. - Robyn começou, oferecendo `a amiga o isqueiro assim que ela filou um cigarro da carteira. - Lembrou-se do Aaron. A última informação que tive foi a de que procurou Max Leeson, de <i>Cape May</i>, pedindo vista do prontuário médico da época.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu não me preocuparia tanto, se soubesse que Daniel pararia em Aaron. - Tragou, e deixou a fumaça quente correr pelos pulmões, requentando-a por dentro. - Você teme que ele queira bisbilhotar a história do Goldman Roehmer também?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- O que faço? - Robyn soou temerosa. - Eu devo procurar Max? Para conversar?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Agora, Daniel envolveu terceiros. - Apontou, sem hesitar. - Max seria incapaz de se negar. Podemos contar que, a essa altura, saiba do problema do Aaron e esteja preparado para entregar as informações a Daniel.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Pedi para que não se envolvesse. - Comentou, quase inaudível.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Então você não tem culpa. - Bobbi minimizou, pragmática. - Ele teve oportunidade de desistir. Você sabe o que precisa ser feito, não? - Bobbi não esperou que a amiga respondesse, fez isso por Corliss. - Claro que sim. Você se lembra quando me procurou desesperada, por causa do Goldman. Eu tomei conta de Goldman Roehmer. Dê-me alguns dias para resolver seu problema com Max. - Depois de dar seu parecer, Bobbi pôde examinar melhor a amiga, dissociada de seus problemas mais urgentes. - Meu Deus, mesmo cansado, você não envelhece um dia. Quando me concederá a conversão?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você fará a conversão, docinho. - Lançou uma piscadela, apoiando as mãos no vidro da janela. Bobbi a abraçou na linha de cintura, e a beijou no rosto com um estalo. - Não se preocupe. Já estivemos no chão antes. Nós nos levantaremos novamente.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Muito bem. - Robyn se virou. - Eu e Allen poderíamos te levar para uma peça, enquanto estiver em <i>Nova York</i>.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Então façamos isso hoje! - Aceitou, prontamente. - Algo interessante para ver na Broadway?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"> - "<i>Vincent in Brixton</i>", em breve temporada no <i>Ambassador</i>. Li fantásticas resenhas. O que acha?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Adoraria. Seria muito divertido! - Mais um dos beijos que fazia estalar, e Bobbi voltou `a mesa para repor sua xícara.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Era quarta-feira, Max ainda não tinha dado satisfações. Daniel se preocupou, não demorando aos amigos mostrarem-se igualmente nervosos. Jogavam baralho quando o celular de Daniel chamou. "<i>Oh, olá, Max</i>", Daniel disse, e os amigos silenciaram no mesmo segundo para se atentarem à conversa. A expressão tensa no rosto de Legrand foi suavizando, e eles souberam que estavam no caminho certo. Daniel sentia-se um novo homem ao buscar o frescor da varanda da casa de Lefty. Suntee ia saindo, mas Giro achou melhor não, "<i>Vamos aguardar, filho</i>", aconselhou. Daniel voltou à cozinha com o aparelho erguido, anunciando que Max resolvera falar. Os dois se veriam na <i>diner </i>a partir das 18:00 de sábado. Lefty foi buscar as latinhas de cerveja no congelador, para celebrar. Brindando e comemorando, sentiam que a sorte mudava a seu favor.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Um dia antes do combinado, Daniel distraia-se assistindo à televisão, com um dos gatinhos de Orlando no peito, quando a programação foi interrompida. Desatento, não prestou atenção, até compreender que reportavam um grave acidente ocorrido na municipalidade. Havia repórteres noticiando um pandemônio a envolver a linha férrea, e Daniel deixou o bichinho de lado. "<i>Ao vivo de Cape May</i>", lia-se na legenda branca sobre a tarja preta, na borda inferior da imagem. "<i>Oh, meu Deus</i>", exclamou, num susto suficientemente alto para assustar a Lefty e Suntee, até então ocupados com a continuidade dos cuidados `as telas do gatil. Não passava de 18:00, mas Giro acabara cochilando na rede do alpendre, de modo que mesmo quando a confusão se deu, não despertou. Dieudonné passara em casa, mas combinara de voltar ao orfanato. As imagens, horrorosas, exibiam o bonde tombado na primeira curva da descida para<i> Cape May</i>, e pessoas machucadas, estateladas ao longo da pista paralela. "<i>Foi aqui em Cape May?</i>", Lefty perguntou, mesmo que imagens e legenda explicitassem a resposta. Suntee ficou pasmo, de olhos arregalados, como que congelado, a mão um pouco à frente da boca aberta. Daniel voou para a caminhonete, Lefty foi em seu encalço. Arrancou, fazendo cantarem os pneus e, à toda velocidade, seguiu furando semáforos a caminho do epicentro.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Distantes, os berros de sirene repercutiam na praia, ambulâncias traçando as últimas manobras no sentido do local do acidente. Ainda caótico, não havia controle de bombeiros e policiais sobre a cena. Com a confusão, Daniel venceu as faixas amarelas de isolamento sem oposição, desconhecendo seu real motivo. Dentre muitas pessoas feridas, subitamente o viu: Max de bruços, coberto de sangue, as vestes todas rasgadas. Daniel ajoelhou-se ao lado e segurou, assegurador, as mãos do médico. Max estava vivo, porém em péssimo estado. Os policiais intervieram e o orientaram a lhes dar espaço, para os paramédicos trabalharem. Ao olhar por sobre os ombros, enxergou a multidão formada atrás dos cordões isolantes. Familiares e amigos haviam chegado e desesperavam-se, e os bombeiros viam-se forçados a lutar contra o bonde tombado e o princípio de pânico que prometia irromper a qualquer instante.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><span style="font-family: arial;">Logo, as programações cederam tempo de televisão ao acidente com o bonde de <i>Cape May</i>. Lefty convenceu o amigo que fariam um bem se deixassem os bombeiros e paramédicos trabalharem; por ora, achava prudente aguardar informações no hospital para onde as vítimas seriam encaminhadas. O bonde elétrico de <i>Cape May</i> tinha capacidade para vinte e cinco passageiros, e descarrilara durante uma de suas demandas de pico, `as 18:00. Médicos fora de expediente foram convocados em caráter de urgência. Não custou ao hall do hospital ser tomado por uma forte comoção, parentes desesperançados exigindo informações. Uma enfermeira mais valente subiu no cavalete para pôr ordem `a desorganização, aos gritos, exclamando que abrissem passagem para as macas. Cirurgiões tiveram de trabalhar em regime de mutirão, a totalidade dos casos envolvendo terríveis fraturas expostas. A mulher e a sogra de Max chegaram quando o paciente era preparado para entrar na mesa de cirurgia. Desesperadas, iam de enfermeira a enfermeira, pedindo informações, até enxergarem Daniel. Eles correram para abraçá-lo. Pela janelinha das portas de vai e vem que davam para o corredor da ala cirúrgica, Lefty viu Max ser carreado para a operação.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Os ponteiros indicaram 21:00. Fazia duas horas desde a entrada de Max no centro cirúrgico. Lefty as encorajava, com muita tranquilidade, segurando as mãos das mulheres e comandando preces, enquanto Daniel andava lentamente em círculos, aguardando a primeira oportunidade para abordar um dos médicos vindos da ala de operações para lhe perguntar sobre o amigo. Ele estava inclinado enchendo um copo descartável de água diante do filtro, quando o cirurgião apontou, empurrando a porta de vai e vem. Lefty e as mulheres aproximaram-se apressadamente. Daniel chegou ao grupo no mesmo minuto. O médico puxou o gorro e iniciou com um sorriso o qual lhes deu vida nova. Max se encontrava bem. Sofrera fraturas de costela e fêmur - a mais delicada causara uma hemorragia, estancada na operação - mas, agora, encontrava-se fora de perigo, e descansando. Mãe e filha se abraçaram. Enquanto Lefty as consolava, Daniel deixou a recepção a passos vagarosos, para respirar ar fresco do lado de fora.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Lefty e Daniel voltaram para casa `as 23:00. Suntee e Giro pareciam completamente capturados pela televisão, até eles entrarem pela cozinha. Passava um humorístico qualquer, mas em intervalos cada vez mais abreviados, a programação sofria interrupções diretas do local, com imagens do bonde tombado e da entrada do <i>lobby </i>do hospital de <i>Cape May</i>. Antes que os recebessem com perguntas, Daniel adiantou que Max descansava, são e salvo. Giro explicou que a repórter dissera há pouco que não houvera mortes. Ele deixou que Lefty narrasse aos outros a difícil noite no hospital, e foi se sentar num dos bancos do gatil, distante de barulho. Ele ligou o celular. Queria ligar para <i>Elizabeth</i>. Obviamente, Gladys soubera do acontecimento, e a avó atendeu após a primeira chamada. Paciente, Daniel sorriu quando a avó o silenciou sob o peso das exclamações. Tendo se acalmado após a tempestade de nervos, a avó foi avisada pelo neto que Daniel e Suntee estavam bem, e que felizmente não se tinha registro de qualquer óbito. Ela já ouvira a mesma coisa, da televisão. Daniel encurtou a conversa quando viu Giro acenando do lado de dentro, para que se juntasse aos demais.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Eles não se acalmaram a ponto de se recolherem a seus quartos. Vinha a calhar o fato de o dia seguinte ser sábado. Padre di Sofia foi preparar café, enquanto Daniel escusou-se para tomar banho e vestir roupas limpas. Enquanto se refrescava, Daniel calculou a diferença de horário entre <i>Nova York</i> e <i>Londres</i>, e deixou a ligação para Parker para a manhã seguinte. Imaginou que a atriz não soubesse de nada, então na manhã de sábado contaria o ocorrido assim que conversassem. Daniel telefonou muito cedo para o hotel em <i>Londres</i>, mas a telefonista disse que a equipe encontrava-se filmando em <i>Oxford</i>. Deixou recado, mas não mencionou o acidente, limitando-se a prometer que voltaria a ligar. Daniel e os amigos subiram para a entrada de <i>Cape May</i>, e assistiram `as difíceis, delicadas manobras dos bombeiros e técnicos da prefeitura para remover o bonde da pista paralela aos trilhos. Profissionais de perícia faziam a vistoria nos trilhos, dando o pontapé inicial no complicado inquérito do descarrilamento. Ele ligou para a esposa de Max, que atendeu o celular sentada ao lado do marido na sala de recuperação. Ainda sob efeito de sedativos, o paciente não reunia condições de falar, o que provavelmente se daria somente à tarde. Daniel confidenciou os temores aos colegas, durante o almoço na diner. Temia soar paranoico, mas não conseguiu se desvencilhar da possibilidade de Robyn ter um papel no evento. Desconhecia a extensão da influência, do número de aliados, a mera possibilidade de envolvimento o levava a considerar abrir mão das investigações. Não pensava mais em examinar prontuários, gostaria apenas de agradecê-lo pelo empenho, livrá-lo do problema.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">A enfermeira convincentemente ajudara a esposa de Max a compreender que seria de mais valia se fosse dormir em casa pois, ao voltar à vigília, ela se sentiria mais forte e preparada para retomar os cuidados ao marido. Eram 22:00, e desconsiderando alguns flertes com a consciência, o fluxo de pensamentos de Max continuava fragmentado, e precisava permanecer "<i>fora do ar</i>" por um tempo. A dedicada companheira alisou os cabelos do paciente e o beijou na testa para desejar boa noite. O hospital aparentava muita quietude, os corredores quase sobrenaturais de tão esvaziados, quando a última visita do paciente do quarto 102 surgiu. Max voltara ao estado de consciência, os olhos vasculhando com muita sofreguidão o interior sombrio do quarto, azulado por máquinas a registrarem frequências de batimentos, quando Robyn entrou sem bater. Vestida com um blazer branco, quase a teria confundido com a nova médica. Em razão do breu, seus cabelos loiros pareceram escuros, e Max considerou que o preto caia melhor a Corliss. Ela deixou o buquê de rosas sobre o criado-mudo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Como se sente, Max? - Perguntou, puxando a cadeira para perto da cama, cuidando para não fazer barulho.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Robyn? Quê… Quanto tempo estive fora? - Impacientou-se. Robyn pousou a mão sobre o peito espetado por plugues.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você está meio febril. Amanhã, acordará melhor. Lembra-se do que aconteceu?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- O bonde acelerou e voou para fora dos trilhos na primeira curva. Lembro-me de ter sido lançado para a cabine.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Refiro-me a antes. - O sorriso no lindo rosto de Robyn se apagou, sobrando uma expressão arrepiante que até então o médico desconhecia.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Do que está falando?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- De Daniel Legrand, enchendo sua cabecinha com teorias da conspiração. Você leu o prontuário do Aaron, não? - A maneira direta com a qual Robyn fez a afirmação o deixou acuado, e Max nem soube o que responder. - Nós estudamos juntos desde a oitava série, sentávamos lado a lado em 1994. Hoje, nossos filhos têm a mesma idade, ocupariam carteiras da mesma sala. Eu não quero seu mal.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- O que deseja de mim, Robyn? - Perguntou, quase sem forças.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Daniel determinou-se a ser meu inimigo. Eu só espero que não faça o mesmo. Esqueça o que viu no prontuário, e não se envolva. - Robyn estudou com frieza a reação do médico. Ele pareceu amedrontado, não havia dúvidas. - Eu sei o que concluiu com a leitura do prontuário. Você me vê como uma vilã; entretanto, é mais complicado que isso. Se ele quiser me enfrentar, vai perder. Não queira cometer o mesmo erro. Seus filhos são pequenos, precisam de um pai. Posso infernizar sua vida a ponto de afugentar sua esposa. Seu filho não merece o divórcio dos pais, Max, por favor, eu sou psiquiatra, eu sei do que falo. Pense nisso, seu filho jogado de uma casa `a outra. E a vadia da sua nova esposa poderá fodê-lo enquanto não estiver por perto. Quer que seu filho, uma criança inocente, termine assim? Quando voltar para casa, retome sua vida. Esse encontro jamais aconteceu. - Robyn se levantou, dirigindo-se calmamente para a porta. Uma das mãos fechava-se sobre a maçaneta, quando Max perguntou.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Foi você quem armou o descarrilamento do bonde?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Lógico que não. - Robyn voltou-se, a cara banhada pela luz do luar realçando o branco dos olhos. Então, elevou o olhar através da janela, para cima, e continuou: - Foi o demônio em mim. - A psiquiatra se foi, deixando Max para trás, profundamente terrificado.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman";"><br /></span><span style="font-family: arial;">Parker retornou a ligação para Daniel, na manhã de domingo, bastante perturbada. Ela só soubera do bonde naquela manhã, quando a equipe tirara o dia para descanso, e ligara a televisão do quarto do hotel. Atencioso e com sensibilidade, Daniel soube como pôr termo aos receios de Parker. A atriz queria pegar um voo para <i>Nova York</i>, mas o namorado conseguiu fazê-la entender que seria um ato inútil e dispendioso. Por volta de meio-dia, ele voltou ao hospital para visitar o amigo. Max lhe pareceu verdadeiramente transformado, temeroso de que fosse questionado sobre o prontuário de Aaron. Quase no mesmo minuto, Daniel imaginou o sucedido. Robyn devia se encontrar na cidade. Determinado a abreviar a aflição do amigo, Daniel lhe deu um forte abraço e agradeceu pela atenção. E assim, perdia um dos aliados em <i>Cape May</i>. Quando voltou `a caminhonete com Suntee ao lado, ao entardecer, acreditou que seria mais prudente dar a busca por encerrada. Tudo mudaria novamente, com uma conversa com Gladys `a mesa, na noite daquele mesmo domingo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">A recordação do restaurante de beira de estrada onde se distraíra lendo o flanelógrafo ainda estava fresca na memória, e quando o identificou no retrovisor, esperou no acostamento até não vir mais veículos para executar a cuidadosa manobra que o levou para a frente. Daniel pediu o prato principal da casa para o garoto, e enquanto Suntee entupia as veias com fritas cobertas por queijo <i>cheddar</i>, tiras tostadas de bacon e <i>catchup</i>, procurou o balcão que dava para os recortes. Os recortes continuavam lá, esquecidos, <i>memento mori</i> de um tempo que não voltava mais. Sorriu com uma ponta de nostalgia ao revisitar o recorte de Robyn, com os braços em vitória, filetes de sangue escorrendo das narinas. Sabia que assistira `a luta, e agora procurava se enxergar dentre as pessoas em volta da área de competição. Deixara <i>Cape May</i> movido pelo sentimento de que Robyn estenderia suas teias de modo a progressivamente imobilizá-lo, porém mesmo assim não conseguia ressenti-la. Passou delicadamente as pontas dos dedos sobre o recorte e, receando ser flagrado, verificou se Suntee seguia inclinado sobre seu prato à mesa. De fato, o garoto encontrava-se demasiadamente preocupado com a <i>junk food</i> para prestar atenção. Os sinos da entrada daquele restaurante perdido `as margens da estrada deserta tilintaram, anunciando com certa antecedência a entrada do ar quente vindo de todos os lados, mais especialmente da direção do manto asfáltico. Daniel cerrou os olhos e se permitiu recordar.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman";"><br /></span><span style="font-family: arial;">Noutros tempos, Daniel tinha um jeito muito especial de passar as manhãs de domingo. Fazia pouco tempo desde a dissolução do namoro com Parker, e domingos pareciam demasiadamente quietos para ficar em casa. Conhecia-se bem, a ponto de aceitar que, caso não "<i>fugisse</i>" de casa por algumas horas, quando recordações de dias mais felizes tendiam a assaltá-lo, logo voltaria a se entristecer e se desanimar, num fluxo que o distanciava do sentido ao qual gostaria de dar à vida. Ele costumava passar no supermercado, onde comprava pratos feitos - uma porção de arroz, de bife acebolado, outra de fritas - e então dirigia até ao amplíssimo, vazio e silencioso estacionamento do colégio <i>Lower Township</i>, onde parava sob a mais frondosa e alta das árvores, e punha-se a comer e lembrar-se de um tempo mais simples. A sobremesa, uma barra de chocolate, Daniel reservava ao fim, quando, tendo corrido com o automóvel pelas vias da praia, subia pela avenida das dunas até culminar no mirante dos carros, onde casais costumavam namorar sob a fantástica panorâmica da praia e do Atlântico a frente.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel entrou vagarosamente pelo espaço do estacionamento do <i>Lower Township</i>. À distância, perfilou uma familiar figura, sentada sob a sombra protetora das árvores, no gramado do canteiro principal. `A medida que foi se aproximando, sossegadamente, viu que se tratava mesmo da Robyn Corliss. Desceu do carro e foi cumprimentá-la, porém apesar de encontrá-la disposta e sorridente, não parecia surpresa. Ela se vestira distintamente de como costumava vê-la; no entanto, mesmo de saia, blusa branca e chinela de dedo, encantava-o da mesma maneira que fizera naquele dia na praia. Daniel a abraçou, e foi apanhado de surpresa quando Robyn pareceu querer prolongar o reencontro. Ele então se pôs a alisar as costas dela, numa tentativa desastrada, mas honesta, de confortá-la. Era inusitado. Havia sido seu o coração estilhaçado pela indiferença de Parker, porém agora consolava Robyn, destruída pelo fim do relacionamento com Aaron. Depois do abraço inicial, ambos ficaram um pouco sem jeito, até Daniel tirar da cartola uma ideia brilhante. Por que não dividir o almoço - e um momento de tranquilidade - ao lado da ex-colega de sala? Robyn adorou o convite. Ela deixaria o carro no estacionamento do <i>Lower Township</i>, e iria com Daniel no carro dele ao farol/mirante sobre o qual já ouvira falar, mas jamais vira com os próprios olhos. Encontraram-no vazio, numa discreta saída da avenida costeira a dar para uma vista verdadeiramente inédita. Robyn riu, divertindo-se com a bagunça na hora de mexer com pratos e talheres descartáveis. Almoçaram `as gargalhadas, e terminaram melados e felizes. Depois de reunir o lixo num saco, deixaram o carro, levaram-no ao cesto de recicláveis, e foram se sentar num conjunto de rochas na encosta que servia como ponto para se admirar melhor a abertura do privilegiado ponto de vista. Muito distante, ao leste, viram a entrada muito íngreme para <i>Cape May</i> e, protuberando por trás de uma coleção de árvores, a chaminé da <i>diner</i>.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Odiar alguém que um dia amou é a parte mais difícil somente para mim, ou para você também? - Aí estava a origem da dor de Robyn. Ela lançou a pergunta com olhos marejados, perdidos no Atlântico.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Costumava ser. - Relutou um pouco antes de responder. - Mas então encontrei conforto nas palavras do Padre di Sofia. - Robyn voltou o rosto a Daniel, interessada. - Há pessoas, Robyn, que quando nos deixam, prefiro pensar que estão tentando nos fazer um favor. Sim, eu me apeguei à Parker, mas aconteceu porque o centro de minhas prioridades perdera o eixo. Basear-se em emoções pode ser traiçoeiro para se apostar um futuro inteiro. Não apenas futuro, Robyn, sabe… Depois que a gente nasce, não morremos nunca mais. Como seria após <i>isso aqui</i>… - Abriu os braços, sinalizando o meio, a vida palpitante ao redor do farol. - Eu não sei dizer; entretanto, a pessoa que escolhemos, que é com quem caminhamos ao céu, é determinante para o destino final. Sabe… - Ele segurou as mãos da ex-colega, ela gostou da iniciativa do contato e, sentada sobre as pernas dobradas, mexeu os joelhos, acomodando-se melhor. - Pense como uma escala no aeroporto internacional. Subiremos no avião cujo destino é um lugar lindo, lindo… Acontece que se a gente se deslumbrar com as lojinhas do <i>freeshop</i>, e perdermos tempo dando um valor enorme às coisas lindas das vitrines, correremos o risco de perder o voo quando a hora do embarque chegar. Fazemos melhor ao preferirmos as virtudes.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Obrigada, querido. - O agradecimento saiu como um aliviado, doce suspiro. Daniel sentiu que havia contribuído para amenizar a angústia de Robyn. - Não estou vivendo a melhor época de minha vida. Minhas malas estão prontas para os dois últimos semestres de medicina em <i>Oxford</i>. Mas não perderei tempo no <i>freeshop</i>, não se preocupe. - Falou, brincando. Ele deu uma risadinha.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você se sairá tão bem em <i>Oxford </i>quanto se saiu naquela luta. - Elogiou-a. Como resposta, Robyn cerrou os olhos, sorrindo meio encabulada.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu ganhei a luta por você. - Ela revelou, e Daniel sorriu, estupefato de contentamento. - <i>Danny</i>, gostaria de ter sua torcida para todos os momentos da minha vida, mas me sinto péssima por dias como hoje, quando nos reunimos, pois vejo quão raros eles são.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você sempre terá minha torcida. - Disse de uma forma tão singela que derreteu o coração dela, até então petrificado pelas traições e sacanagens rasteiras capitaneadas por Aaron. Robyn se encostou à mureta e esticou as pernas. Puxou Daniel para o lado e, com a intimidade de uma irmã, pousou a cabeça dele sobre o peito, para que descansasse. A brisa a cortar o mirante era fria e molhada. Com os olhos cheios de lágrima, Robyn revelou. - Eu sei que existe algo entre a gente. Imagino o que sente por mim, mesmo que apenas muito raramente vocalizemos nossos sentimentos. Se apenas tivéssemos nos envolvido romanticamente na época certa… - Daniel permaneceu silente, e Robyn não teve como saber se ele chorava também. Abraçados, desejavam que aquele dia jamais acabasse, e que a praia e o Atlântico não apenas se fizessem sentir, como efetivamente se tornassem o mundo particular onde pudessem se livrar de tantas camadas de cizânias, vinganças e traições.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">"<i>O senhor aceita uma xícara?</i>", a garçonete perguntou, restaurando o foco de Legrand no presente. Ela se constrangeu ao dar pelos olhos emocionados de Legrand. Daniel agradeceu e tomou a xícara pela asa. Suntee limpava as mãos gordurentas com guardanapos. Finalizara sozinho uma refeição para três! Tão distraído restara, somente se deu pela vulnerabilidade de Daniel ao se sentar ao lado do amigo na caminhonete e observá-lo melhor. Imediatamente, Suntee calou a boca, sentindo-se péssimo por não ter percebido antes. Daniel apertou-lhe o antebraço, indicando a desnecessidade do rapaz em se preocupar. Ao cruzar a entrada para <i>Elizabeth</i>, ambos se sentiam exaustos. No alpendre de uma das casas do bairro de maioria hispânica onde Suntee morava, familiares e vizinhos comemoravam a formatura de um garoto, que não parecia tão mais velho. Aproximou-se do meio-fio da calçada, em frente à residência da família de Suntee.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"> <br /> - Que droga! - Suntee resmungou. - Não suporto mais a espera do resultado.<br /> - Você se saiu bem. - E, mais genericamente, elaborou. - No concurso, e ao meu lado, durante a procura.<br /> - Vou tomar um bom banho quente e dormir por uma semana. - Antes de descer, emendou. - Qualquer coisa, ligue-me, meu patrão. <br /> - Ei, não peça algo que não esteja disposto a bancar mais tarde. - Riram, risadas solidárias e doloridas de companheiros de batalha.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel tomou a avó nos braços, comprometendo-se a se esquecer por um tempo de <i>Cape May</i>. À mesa para o café, à noite, após o banho e descanso da tarde, o neto falou sobre Max. Quando fez menção ao nome do médico, Gladys finalmente se lembrou de mencionar o telefonema de Max para <i>Elizabeth</i>,<i> </i>na última sexta-feira. Max abriu o jogo com Gladys, e disse que Daniel o procurara para pedir informações sobre Aaron Lang. De posse da ficha do rapaz, descobrira o que havia de errado com a saúde dele. Basicamente, segundo Max, seria mais difícil descobrir o que <i>não </i>havia de errado. Gladys recontava a conversa ao neto, desatenta às implicações do quadro sintomatológico descrito ao telefone. O exame voltara positivo para pneumocistose, uma dentre muitas infecções micóticas que tinham consumido desde as unhas dos pés `a película da língua, tomada pela placa esbranquiçada da candidíase oral. Descrevera gânglios no pescoço, virilhas e axilas. E Max parara ali. Adiantara a Gladys a conversa que pretendia ter com Daniel; isso antes do atentado terrorista ao bonde. Daniel recolheu-se a seu quarto, inquieto. Algo não o deixava relaxar, e foi se deitar, angustiado com pensamentos embaralhados. Eram 02:00 da madrugada quando acordou, coberto por uma camada de suor frio. As informações faziam subitamente um todo coerente. Lado a lado, somadas, reportavam pleno sentido. Daniel não acordou a avó. Empenhou-se para sair sem fazer barulho. A caminhonete corria `a toda velocidade a avenida de acesso, quando ligou para Suntee e pediu para que o encontrasse no <i>Liberty</i>. Daniel estava sentado na mesma mesa da pizzaria onde discorrera sobre o terrível sonho para o qual, à época, o amigo não encontrara explicações. Pela máscara de horror na qual a face de Daniel se transformara, Suntee sabia que a questão justificava a emergência da reunião.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sim, são os sintomas mais comuns de infecção pelo vírus da AIDS. - Suntee acatou, após a descrição de Daniel quanto aos sintomas de Aaron Lang. - Mas o laudo declinava expressamente isto? "<i>Infecção pelo vírus HIV</i>"?<br /> - Explicaria o desatino que o levou a saltar da ponte em <i>São Francisco</i>. E numa das vezes em que estivemos em <i>Cape May</i>, lembrei-me de uma conversa com Aaron, aterrorizado dizendo-se arrependido de ter "<i>tirado</i>" Parker de mim.<br /> - Oh, Deus. - Suntee abaixou a cabeça, esfregando impaciente as mãos. - Ele não sabia que estava infectado; entretanto, transitava entre as camas de Parker e Robyn. Contaminou a Parker.<br /> - Não faz sentido! - Daniel protestou. - As duas parecem muito bem! Não há como…<br /> - Por favor, Daniel, não fale como um completo ignorante. O vírus fica latente por alguns anos, certo? Em alguns casos, leva pouco tempo da infecção aos sintomas iniciais; noutros, passam-se muitos anos. Provavelmente, quando esse rapaz foi contaminado, passou pela infecção aguda que varia de pessoa a pessoa, mas é observada na maioria dos casos. Parker ou Robyn podem ter sido infectadas, e porque não desenvolveram alguma infecção inicial, ou mesmo a infecção se manifestou como resfriado, hoje seriam portadoras sem se imaginarem soropositivas.<br /> - Preciso conversar com a Parker… E com a Robyn. - Nem sabia como se expressar, inseguro, as linhas gerais do plano que concebia sob o peso da terrível possibilidade.<br /> - Você deve fazer o teste, primeiramente. Você usou preservativos, com Parker?<br /> - Não, Suntee… Vai custar a acreditar em mim, porém eu e Parker jamais mantivemos relações sexuais. - E sem nenhuma consideração pela própria vida, com o mesmo altruísmo que o levara a salvar aquela gente no voo da <i>American Airlines</i>, Daniel rezou: - Oh, Deus, por favor, poupe-as dessa maldição! - Balançando a cabeça, confuso, o significado do problema só agora se assentava sobre o coração com o peso de uma bigorna. - Nem me parece possível que estejam carregando um vírus tão letal pelos últimos 6 anos.<br /> - Mas é muito possível, sim. E está correto ao querer lhes avisar o quanto antes. Se o vírus estiver presente, quanto mais cedo iniciarem o protocolo, melhores as chances de manterem a carga viral quase indetectável.</span><br /><span style="font-family: arial;"><span><br /></span>O peso da revelação tirou Daniel de centro. Necessariamente, era questão de tempo até a tensão se tornar demasiadamente urgente a ponto de suportá-la sem um ataque de fúria, um infarto ou pior. Voltaram ao estacionamento reservado aos servidores aeroportuários, o céu de um fascinante lilás a prometer dias de chuva, quando Daniel subitamente pôs-se a correr `as margens da pista. Suntee assistiu `a surreal cena boquiaberto, até vencer a inércia para ir em seu encalço. Enquanto avançava no sentido da cabeceira da pista, Daniel rememorava o Natal de 2009, quando tudo começara, e desejou jamais ter interferido e salvado as pessoas do Boeing. Claro, tratava-se de um breve pensamento egoísta, mas vinha do momentâneo desespero. Não teria sido lançado em evidência, o passado doloroso não o teria rastreado até <i>Elizabeth</i>. Nem chegou a sentir quando Suntee conseguiu lançar-se a suas costas para derrubá-lo, como numa partida de futebol americano.<br /> <br /> - Suntee, eu não tenho mais respostas. Não posso salvá-las desse problema. Antes estivessem dentro do avião: eu teria como arrancá-las da cabine de passageiros com vida! Mas essa doença é maldita, não tem cura. - Constatava, com olhos bem abertos, fitando o aparentemente infinito gramado central entre pistas. <br /> - Calma, Daniel. Calma. Não pode perder o controle no momento da decisão. Estamos perto!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman";"><br /></span><span style="font-family: arial;">Os amigos permaneceram abraçados, dois pontos insignificantes de dor humana à beira das rampas de pouso e decolagem para aqueles gigantes alados. Ao voltarem para casa, deram de frente com Gladys e Giro, aflitos. Gladys se dera pela ausência do neto. Ao ligar para o celular e cair na caixa postal, telefonara para Padre di Sofia e lhe contara a conversa com Max, a maneira como descrevera o estado de saúde de Aaron uma semana antes do suicídio. Giro pegou o carro e foi direto para a casa dos Legrand. Assim que o viram, abriram os braços para acolhê-los, juntando-se num abraço forte.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Tenha fé em Deus, <i>Danny</i>. Parker não pegou esse vírus, Robyn tampouco. - Gladys procurava animá-lo. - Você me dará razão!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Devo falar com as duas, Giro! - Decretou. - Não sei se Robyn se encontra em<i> Nova York</i> ou <i>Cape May</i>. Quanto a Parker, não posso tratar a questão por telefone! Preciso vê-la em <i>Londres</i>!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu sei de quem verdadeiramente precisamos. - Giro retrucou. - Precisamos da Lefty. Ela saberá dizer se Robyn está em <i>Cape May</i>. Você tem certeza de que quer vê-la? Não se esqueça de que foi você quem especulou a possibilidade de Robyn ter algo a ver com o descarrilamento do bonde!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu apenas sinto que preciso voltar, Giro, mas desta vez estarei pronto.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Giro cuidou de ligar a Lefty, e pedir para checar, discretamente, se Robyn voltara para a mansão costeira dos Cowan. Ele preferiu não entrar no mérito - caberia a Daniel, se assim o desejasse, esmiuçar os motivos. A senhora faria os contatos necessários e daria uma resposta antes do meio-dia. Suntee queria voltar a <i>Cape May</i> com Daniel, Giro também, mas nada parecia demovê-lo da obstinação de terminar a missão sozinho. Ele separou o passaporte e confiou a guarda à Gladys. Assim que acautelasse a Robyn em <i>Cape May</i>, subiria para <i>Jersey </i>e apanharia o primeiro voo para <i>Londres</i>. Em torno da mesa, por volta de meio-dia, o clima entre os presentes era insustentável, pura tensão. Houvera um telefonema no meio da manhã; entretanto se tratava de Dieudonné. Com urgência, o agente do MI6 e Daniel tinham conversado por cerca de cinco minutos. Dieudonné o procurara para encorajá-lo a não desistir; ficou contente ao escutar as novidades da boca de Legrand. Ele não apenas não desistiria, chegara a hora de ir para a cima. Finalmente. Alguns minutos após o meio-dia, Lefty telefonou para sinalizar que Daniel podia seguir para <i>Cape May</i> o quanto antes. Precisou aturar as recomendações de Padre di Sofia e Suntee, combinadas ao sermão de Gladys, durante seu vai e vem pelo corredor principal entre os diferentes cômodos da casa, para agrupar os itens necessários à viagem.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ficarei bem, turma! - Foi econômico na despedida. - Se quiserem meu bem, tomem conta de vovó, e aguardem meu retorno. - Apontou para a velhinha, e asseverou. - Vovó: cuidado com o gás de cozinha! - Lançou um olhar à dupla de amigos e contou: - Por duas vezes neste ano a flagrei tendo deixado o dial da boca do fogão aberto. Cuidem disso, sim, pessoal? Fiquem com ela enquanto eu não...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Foi um acidente, meu filho, eu não estou ficando esclerosada! - Gladys resmungou, meio acabrunhada. Daniel deu uma risada, assim como os amigos, e a abraçou assanhadamente.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu sei, minha velhinha linda, eu sei! - Fez um gesto com a cabeça para Giro e Suntee e brincou: - Essa vozinha é só minha, não toquem nela!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Corta essa, meu patrão, agora ela é nossa vovó, também! - E agora, os quatro se abraçaram no centro da sala. Era uma bela cena, um raio de luz, de encorajamento, antes da subida de Legrand à "<i>área da competição</i>" sobre a qual Robyn falara ao longo da jornada.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman";"></span><br /><span style="font-family: arial;">O trio assistiu `a caminhonete levantar poeira pelo eixo do loteamento, com expressões agoniadas, endurecidas. Giro e Suntee conduziram-na para dentro, e o padre foi preparar um pouco de chá. Lefty fumava feito uma chaminé, um sobe e desce pelas calçadas o qual deixou Daniel apreensivo só de ver. Não existiam motivos para mantê-la na escuridão e, sendo assim, compartilhou as conclusões que julgava a pura verdade: Aaron se matara num momento de trágico desespero, engatilhado pelo horror evocado pela possibilidade de ter contraído AIDS. Lefty perguntou a Daniel como considerava lidar com Robyn, como pretendia aproximar-se para tocar numa questão tão privada. Ele deixaria as preocupações para o último minuto, o essencial era conversarem na primeira oportunidade. Na terça-feira, caminhando por <i>downtown Cape May</i> ao lado de Lefty, observava nos cidadãos um renascimento da esperança, mesmo em face do recente evento do bonde. Naquele mês de férias, Lefty contou, cerca de duas semanas antes do término, os estudantes realizariam a tradição da festa das máscaras, a qual acontecia na <i>diner </i>frequentada por Daniel e os amigos, quando na cidade. Na noite do baile, Daniel visitou o hospital para perguntar sobre o estado dos pacientes, e encontrou apenas dez dentre os vinte e cinco ainda em observação. Max fazia parte dos dez que precisariam esperar até a próxima semana para retornar para casa. Num primeiro momento, Legrand limitou-se a observar, solitariamente. O mesmo doutor que lhes dera a feliz notícia de que Max se saíra bem repentinamente passou bem ao seu lado, apressado, sem chegar a notá-lo. O corredor o qual margeava os quartos de pacientes em recuperação se apresentava pacato, silente. Lá, luzes mais suaves davam ao espaço a tonalidade modesta, inspiradora de descanso. Daniel se dirigia ao quarto de Max para uma visita, quando a porta foi aberta e Robyn apareceu. Daniel vacilou no mesmo instante, e embora pressentisse que devia deixar o lugar, fez a ação contrária, indo ao encontro de Corliss. Quando o viu, Robyn também se surpreendeu.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Robyn, o que eu tenho a falar não pode ficar para depois. - Começou, a voz ansiosa, preocupada. - Também preciso conversar com a sua irmã em <i>Londres</i>. Eu acho que Aaron se suicidou porque descobriu que fora infectado pelo vírus da AIDS. Aaron não esperaria testar positivo para HIV, então logo imaginei que se não conhecia a infecção, pode ter… - Daniel reparou na maneira como Robyn o estudava, sem se alterar. De alguma forma, para ela, Legrand não dizia novidade.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Apenas fique calmo. - Ela o segurou pelos pulsos, num movimento muito delicado e sutil, quase imperceptível até ela tê-lo sob controle. - Você enxerga inimigos em todas as partes, mas é o único que levou uma pancada na cabeça e agora lida com as consequências. Eu expliquei `a Parker que, em vez de ajudá-lo, fez-lhe um mal ao procurá-lo. Você ainda está muito vulnerável, e seu raciocínio, confuso. Eu…</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- E por que você se fez passar por "<i>Simone di Sofia</i>" com fotos da <i>Mildy</i>?! - Jogou a pergunta à queima-roupa, furioso, e Robyn mordeu o lábio inferior, igualmente chateada. - Se você se importa tanto, por que tinha fotos de <i>Mildy </i>e as usou para interpretar um papel?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Porque me preocupo com seu bem-estar! - A resposta expressou perfeitamente a ignição por trás de suas escolhas e ações. - Também não suportei permanecer distante! Ia me deitar, e me perguntava sobre você, com essa sua cabecinha cheia de problemas… Não havia rastros na internet, apenas aquele blog idiota de resenhas de filmes estúpidos, onde costumava escrever abobrinhas até um mês antes do acidente de 2004! Ocorre que eu fui mais cautelosa do que minha irmã. Não deixei minha curiosidade fugir a meu controle, tudo permaneceu online e em conversas ao telefone! A Parker, por outro lado, foi te procurar em <i>Elizabeth</i>!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Espere, do que está falando? Sobre blog…</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não consegue perceber que não se lembra de quase nada? - Alegou, cheia de razão. - Você escrevia num blog, resenhas sobre uma porção de filmes de terror! Não sabe como voltei a seu site todos os dias, desde que se foi! - Robyn começou a se emocionar. - E desejei que postasse algo novo, qualquer coisa, e nada vinha! Há seis anos entro ali, devo ter decorado cada parágrafo escrito sobre aqueles filmes tão poderosos para sua cabeça impressionável!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Confuso, Daniel deixou o corredor a passos trôpegos. Queria chegar `a caminhonete e partir. Robyn não terminara, e o obrigaria a escutar até ao fim. Ele abria a porta quando a psiquiatra a chutou fechada agressivamente, impedindo-o de fugir. Ao se virar, Daniel a viu bastante diferente. A Robyn perante os olhos de Legrand vestia um bizarro uniforme negro de borracha estilo <i>bondage</i>, sadomasoquista, cheio de detalhes, os cabelos presos para trás, os olhos mais impactantes por causa do excesso de sombra, o rosto muito pálido em razão do pó de arroz. Fechou os olhos, angustiado e, ao abri-los, viu-a na sua "<i>forma atual</i>". Compreendeu que sua mente variava entre passado e presente, que a mente o instigava a lembrar-se de algo importante. Não conhecia as razões, mas sabia aonde ir: a velha <i>diner </i>da primeira curva para <i>Cape May</i>.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Tudo o que viera antes limitara-se à preparação. Conforme desejara, ia enfrentar a revelação sozinho. Se os amigos o tinham acompanhado até aquele ponto, seria sua a mão a puxar violentamente a cortina. Decorada por colares de pequenas lâmpadas que, vistas `a distância, faziam-na parecer mergulhada em borrões vermelhos de néon, a frente da <i>diner </i>estava tomada, jovens conversando e brincando, num surreal contexto a partir do qual vestiam fantasias. Timidamente, Legrand traçou para si o caminho ao interior, passando por três <i>Carlitos</i>, duas <i>Bette Davis</i>, três <i>Cleópatras</i>, e um montão de <i>Marilyn Monroe</i>. Ao alcançar o balcão, o barista apresentou-se já oferecendo uma bebida. Pelos canos cromados, os assistentes enchiam canecas e mais canecas de cerveja gelada para os felizes mascarados.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Lamento, mas não pedi drinque algum. - Tentou devolver o copo, educadamente.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Cortesia do cavalheiro de chapéu ali. - Elucidou, devolvendo-lhe a shot de tequila e apontando ao fundão. Daniel identificou o garoto que lhe acenava tirando o chapéu: era o próprio Daniel, a versão de Daniel Legrand antes do acidente de 2004. Na recordação, vestia o <i>trench coat</i> notabilizado por <i>Humphrey Bogart</i> em "<i>Casablanca</i>". Então, Daniel aos vinte e quatro anos de idade atravessou o salão, com ar de quem procurava uma pessoa. Como uma sombra, o Daniel de hoje empenhou-se para não perdê-lo de vista ao segui-lo pelos corredores e espaços da casa noturna. Obviamente, muita coisa estava em jogo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel viu a si mesmo abordar uma garota vestida numa fantasia justa preta. De costas, não pôde identificá-la, mas logo sua versão de 2004 sussurrou-lhe algo ao pé do ouvido, e o casal se pôs a caminho de um espaço mais reservado. Dada a oportunidade para vê-la melhor, percebeu que se tratava de Robyn, caracterizada com o <i>outfit</i>, os adereços e costumes pesadamente inspirados nos cenobitas de<i> Clive Barker</i>. As peças de borracha exibiam a olhos atentos uma riqueza de detalhes que tornava as costuras entre tiras - finas como cadarços nos dedos e na teia sobre o abdômen; largas sobre os quadris, ombros e coxas - uma extravagância sadomasoquista que a pintaria como <i>dominatrix</i>, não fossem as argolas que pareciam atravessar a carne do pescoço, as luvas de pontas cortadas, o decote em "<i>V</i>" exagerado e os restritores de couro curtido os quais começavam sobre os ombros, subiam pelos lados do longilíneo pescoço e só terminavam atrás dos lóbulos das orelhas, detalhes a tornarem-na mais fantástica que uma mera entusiasta de jogos de prazer: ali, Robyn verdadeiramente parecia uma cenobita. Ela vestia botas de saltos muito altos a subirem a pouco abaixo dos joelhos, e quando se movia mesmo para os gestos mais graciosos, os detalhes pareciam trabalhar num conjunto indissociável, obra-prima de caracterização que a deixaria muito `a vontade ao lado dos guardiões da caixa de "<i>Hellraiser</i>".</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Agora, não me diga que se vestiu assim por acaso! - Daniel brincou, os dois se sentando sobre a mureta rebaixada do canteiro, do lado de fora.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Comecei a ler seu blog e me apaixonei por toda aquela mitologia de "<i>Hellraiser</i>" sobre a qual vive escrevendo! - Acabou por se revelar fã. - Aluguei os dois primeiros filmes e assisti, vi aquelas gravuras, e as levei para uma amiga entendida de montagens, para me preparar algo à altura. - Robyn se levantou, girou `a frente dele e abriu os braços. - E… <i>Ta-Daaaaa</i>! Eis o resultado!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sabe que essas argolas enfiadas no seu pescoço e a traqueotomia exposta combinam bem em ti? - Ambos deram gargalhadas. - Agora, venha aqui e se sente ao meu lado. Como vem se saindo, Robyn?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Melhor agora. Conheci um cara legal. Ele se chama Allen. - Ao contar, os olhos cintilaram. - Recém-aprovado na magistratura federal!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Que bom, querida! - Acarinhou os cabelos de Robyn. - Um homem de muita sorte. Foi mais rápido do que eu, esse danado! - Conformou-se, com um sorriso compassivo e caloroso, dando com os ombros. - Eu não me lembro de conhecer nenhum Allen, então suponho que não seja um colega em comum?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não, eu conheci o Allen Corliss através de papai.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Mas me diga, porque me deixou curioso! Como chegou ao blog? - Robyn gostou da pergunta. Adoraria discorrer sobre suas habilidades investigativas.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você escolheu o pseudônimo "<i>Cecil Thornton</i>" para assinar o blog? Eu não custei a ver que não podia ser um nome real; era uma alcunha usada por um personagem de um filme idiota de ação dos anos 90! - Daniel riu, sentindo-se pego. Ela seguiu: - Quando comecei a ler, a realmente ler os artigos, percebi que falava muito sobre si nas entrelinhas.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não imaginei que me encontraria, ou melhor, que encontraria tamanha satisfação na leitura.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Inicialmente, não havia muito o que me atraísse, pois não gosto de filmes de horror; contudo, fui lendo, estranhamente cativada, seus textos me prendendo. Gosto do que algumas concordâncias e observações me dizem de ti. - Daniel a tocou delicadamente no rosto, e os dedos de Robyn entrelaçaram-se aos seus. Forte o bastante para introduzir uma nova questão, Robyn perguntou. - Mildred tem tomado conta de você?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ela está doente. - Parecia querer desabafar, mas temia se enfraquecer. </span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu sinto muito, <i>Danny</i>. - Robyn o respeitou. - Você sabe que eu torço muito pela sua felicidade. Eu tinha ouvido falar sobre a piora de Mildred, apenas não compreendo por que não me procurou para conversar.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você não sabe? - Não acreditou, lágrimas mornas rolando. - Não sabe mesmo por que hesito em procurá-la?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Apenas fale para mim. - Suplicou, com olhos marejados.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman";"><br /></span><span style="font-family: arial;">"<i>Senhorita Cowan?</i>", alguém pôs o rosto para fora, chamando-a. Ambos se voltaram sobressaltados. Uma das garçonetes avisou que havia uma ligação para Robyn. Ela prometeu não se demorar. Daniel a viu empurrar as portas dos fundos, voltando ao interior da casa noturna pela cozinha. Por alguns segundos, rumor de músicas e vozes chegou aos ouvidos de Daniel, para silenciar muito rapidamente, quando as portas pararam de oscilar e se encerraram. Sozinho, não tinha como afastar a sensação de que, `a meia luz dos postes, vinha sendo observado. Quando menos esperava, Aaron já se encontrava ao seu lado. O discurso confuso não fazia o menor sentido. Daniel pediu calma, e enquanto tentava tranquilizá-lo, saltou aos olhos o péssimo estado de higiene do rapaz. Ele pediu uma oportunidade para conversar, e Daniel o seguiu até `as cadeiras ao extremo do balcão, próximas `a cabine telefônica. `A medida que foi se acalmando, a marcha das palavras de Aaron reportou certo sentido, e o que ele trazia para contar era paralisante em horror.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você não é culpado, Aaron, não me tirou a Parker, ela escolheu partir. - Procurava suavizar o fardo sobre os ombros dele, porém nem mesmo isso parecia demovê-lo do frenesi.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Estou pagando pelo mal que fiz! Fui eu quem pedi que chamassem a Robyn, precisava pegá-lo sozinho. Robyn armou uma cilada para me castigar! - A boca tremia, Aaron parecia um homem possuído. - Ela me passou o vírus da AIDS!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- O quê… Não compreendo… - "<i>AIDS</i>": um termo pequeno, que fazia suar frio.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ela me procurou em <i>Washington </i>para me seduzir. Eu morava com a Parker, e a Robyn não mediu esforços para conseguir a remoção ao Escritório de Representação da Guarda Costeira. Em algum momento logo após o fim de nosso namoro, ela se descobriu soropositiva, e resolveu se vingar de mim e de Parker ao mesmo tempo. Ela deve ter pegado de alguém quando esteve em <i>Oxford</i>! Robyn foi trabalhar em <i>Washington </i>para se manter atuante em minha vida. Nós nos encontrávamos em segredo, e eu acho que só paramos depois que ela se convenceu de que tinha me infectado com o HIV. O plano era atingir a mim e a Parker de uma só vez, e conseguiu! Eu fazia sexo anal com Robyn; fiz o mesmo a Parker.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você já contou isso a Parker?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu não poderia. - Afundou desesperado o rosto nas mãos. - Não saberia explicar que transmiti HIV para Parker! Eu trouxe toda sorte de desgraças para a minha vida, mas Parker não merecia! Hoje, pode não significar muito para você, mas lamento ter azedado seu relacionamento! Jamais imaginei que seria pelas mãos de Robyn que encontraria meu fim!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Se Parker não tivesse se afastado, eu não teria chegado a <i>Mildy</i>. E francamente, Aaron, não consigo imaginar uma vida sem tê-la conhecido, sem ter conhecido o orfanato... - Declarou, com muito amor e pesar.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Aaron chorava inconsolavelmente, mas, tão absortos pela diversão os jovens pareciam, era como se nem enxergassem o dramático encontro. Daniel tentou chamar a garçonete. Levantou a voz, sem sucesso, e pediu a Aaron para aguardar, pois lhe traria um copo d’água. Após conseguir uma garrafinha, não o encontrou mais ao voltar. Daniel tentou vê-lo no estacionamento, mas desconsiderando-se alguns gatos pingados a namorarem nos bancos próximos `a parada do bondinho, não havia sinais de Aaron. Com o estômago em revolta, Daniel segurava o ímpeto de vomitar. "<i>Não pode ser</i>", murmurou consigo, atentando-se ao fato de que, com toda a água que passara sob a ponte, ainda se importava com a saúde e felicidade de Parker. Custou a perceber que sobre os degraus da entrada, Robyn o observava, interessada. Ela se aproximou cautelosamente, Daniel boquiaberto e assustado, suas ilusões perdidas num jogo de minutos.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- É verdade? - Indagou, a expectativa da resposta o bastante para lhe enlaçar a garganta num nó.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- E se for? - Robyn devolveu. -Diga-me, foi verdade quando me disse que gostava de mim? -Daniel balançou a cabeça em positivo, bastante confuso. - Pois se gosta, qualquer coisa dita por Aaron não mudaria uma palha, certo?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Parker precisa saber. - Anunciou, devastado. Robyn pendurou a cabeça, encarando-o mortificada.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você está me machucando. - Falou, com toda a seriedade do mundo, lançando punhaladas com o olhar. - Percebe?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não, Robyn. Foi você quem nos machucou. Eu preciso ir.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">E foi assim que perdeu o passado e, consequentemente, o futuro: por força da violência psicológica do segredo de Robyn, e por pura brutalidade física daquilo que sofreria na pista logo mais. Executando apressadamente curvas pela avenida deserta antes das dunas, raciocinava como e quando conversaria com a ex-namorada para lhe contar tão abominável segredo. Reavaliava o filme segmentado da participação de Robyn na sua vida, e não podia crer que alguém a quem quisera tanto bem fora a executora de um plano tão demoníaco. Trocava marchas e ganhava velocidade, e quando a avenida se estendia numa longa reta descendente, pontuou, no espelho do retrovisor, o <i>Porsche </i>vermelho vindo em seu encalço. Primeiro, Robyn pareou com o carro dele, mas como Daniel não quis ouvi-la, ela arrancou para fechá-lo. Eles desceram de seus respectivos carros, e a discussão ficou acirrada. Daniel cometeu um grave erro ao dar as costas `a garota a quem secretamente amara, ao tentar retornar para a cabine. Robyn não podia simplesmente deixar que Daniel expusesse seu tétrico segredo e, num instante de puro desespero, apanhou um pedaço solto de meio-fio para usar como arma para derrubá-lo. Daniel caiu aos pés de Robyn, e Robyn caiu na real, no instante seguinte. Ela se ajoelhou ao lado do ex-colega de sala e o trouxe para dentro dos braços, cheia de remorso. Com os olhos vidrados, Daniel podia enxergar e compreender a extensão do que acontecia consigo. Lágrimas mornas rolavam sobre seu rosto, e não soube precisar se eram suas ou da garota. Duas bolas de luzes apontaram no alto da via, um terceiro carro, aproximando-se veloz. Robyn foi flagrada por Aramis, o qual, por um golpe do destino, descia a avenida justamente naquele ínterim. Ele estacionou no acostamento, e presenciou a cena. Com os olhos na indiferente noite estrelada sobre o Atlântico, Daniel somente conseguia escutar o diálogo entre Aramis e Robyn e, ao fundo, as marés quebrando. Dando-o como morto, ela conseguiu convencer o fragilizado colega a ajudá-la a forjar uma cena de suicídio. "<i>Ele tem o motivo, a namorada está morrendo de câncer</i>", Robyn insistia, gritando. Quando o carro foi empurrado com a marcha quebrada no limite e o velocímetro adulterado, o carro avançou com todo o seu peso morto contra a grade de proteção. Daniel ainda conseguia enxergar, pelo retrovisor, a duas figuras solitárias à margem da encosta, assistindo à corrida final, enquanto Daniel afundava no abismo do esquecimento. E então, escuridão.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel caiu de joelhos, o peito afundado por uma absurda compressão. Parecia ter revivido inteiramente os segundos da apavorante descida. De volta ao presente, deu conta de ter se ajoelhado no exato ponto onde o drama se desenrolara. Max falou que Aramis fora morto numa briga estúpida quando Daniel ainda se encontrava em coma. Daniel pressentiu que a morte de Aramis guardava íntima relação com o flagrante na estrada; Aramis fora morto numa queima de arquivo tramada por Corliss. Finalmente, Daniel entendia a mecânica do segredo que custara sua memória: a condição de Robyn como portadora do vírus HIV e o macabro plano de vingança contra o namorado que ousara abandoná-la em favor da irmã. Da mesma forma que ocorrera seis anos antes, Robyn chegou à toda velocidade em seu carro, parando-o de modo a trancar a caminhonete de Daniel no acostamento. Ela desceu com o rosto abrasado.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- E então, consegue finalmente compreender? - Ela perguntou. - Se acha que foi difícil para você, vê o peso que tenho carregado sobre os ombros também, não é?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Agora, entendo melhor. - Insinuou um movimento para abraçá-la, mas Robyn esquivou-se com um tapa no pulso. - Eu não a culpo, tampouco a Aramis. Eu imagino o peso de seu segredo. Está acabado.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Se consegue se lembrar daquela noite em 2004, se recordará de que perguntei por que não me procurou para conversar quando <i>Mildy </i>voltou ao hospital por causa da reincidência da leucemia. - Daniel pareceu apanhado de surpresa, pego num segredo que preferia ignorar. - Desabafe, então! - Robyn exclamou. - Nós dois não temos nada mais a perder!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não, não... - Trepidou, mas Robyn rapidamente deu os passos que a mantiveram frente a frente a Daniel.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você me pediu explicações, mas não consegue exprimir o que se passa aqui?! - Deu-lhe um tapa no peito. - Qual é a verdade, maldição?!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu te amava! - Gritou, furioso. - Eu não te procurei porque eu te amava! Mesmo com <i>Mildy</i>, percebo agora que jamais fui capaz de esquecê-la! Mesmo agora, com Parker... - Daniel lançou um forte murro contra a porta da caminhonete e sumarizou, exclamando ainda mais alto. - Eu te amava, e apesar de ter me esquecido de praticamente tudo, não fui capaz de me esquecer de você! E isso me enfurece!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">O silêncio na estrada era ainda mais contundente por se seguir a um momento de explosão emocional tão brutalmente honesto. Interrompia-o somente o uivo da brisa praiana. Robyn o encarava como se estivesse para dizer algo quando o abraçou, comovida pela dor e o belo sentimento de Daniel, mesmo informado de seu papel no desastre que causara a perda de memória, mesmo sabendo que usara Aaron para se vingar da irmã.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu posso omitir a maneira como Aaron pegou AIDS. - Barganhou, mas Robyn meneou calma e vagarosamente com a cabeça, em negativo. - Ela jamais saberia de seu papel, e poderia começar o tratamento mais cedo!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sei que me ama, e por mais perverso que meu coração lhe pareça, há um espaço onde seu sentimento foi correspondido. Eu apenas não posso permitir que seu senso de justiça deturpado o leve a escolhas das quais se arrependerá.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Robyn, mesmo com todo o mal que procurou causar, não deixou de ser a menina que conheci "<i>ao longo do caminho</i>". Você sabe que sua condição de soropositiva não pesa como sentença de morte, não mais! Não permita que, para Parker, fique tarde demais para evitar a tomada da AIDS. Se não fizermos algo cedo, quando descobrir daqui a um tempo, acontecerá por causa de um diagnóstico tão horroroso quanto <i>Sarcoma de Kaposi</i>. Eu não vou envolvê-la, mas...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- <i>Danny</i>, você não entende. Eu nunca falei em AIDS, em HIV. Sim, ocorreu algo. Sim, existiu uma… Vamos chamar de "<i>conversão</i>". Estamos falando de algo ainda mais profundo e esquisito que AIDS. Eu não conseguiria te explicar. Eu sei que não me envolveria, mas não vai parar até descobrir como eu sofri minha conversão. E o que aconteceu ao garoto nas mãos de quem sofri a conversão. Olhe para mim. <i>Olhe bem</i>. Você nunca estranhou por que o tempo parece não passar, para mim? Por que eu jamais envelheci, após 2004? Pode lhe parecer que eu transmiti uma maldição à Parker; mas eu garanto, eu dei vida à Parker. Vida eterna.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- "<i>Conversão</i>"? "<i>Envelhecer</i>"? - Encarava-a com os olhos arregalados, numa expressão debilitada de dolorosa confusão.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- A palavra "<i>AIDS</i>" jamais partiu da minha boca, <i>Danny</i>. - Robyn batalhava para não fuzilá-lo com uma realidade que, pelo menos naquele ínterim, estaria a anos-luz de sua capacidade de compreensão.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel pensou em Goldman Roehmer, nos seus pedaços apodrecendo no chão como expurgo de açougue. Robyn não queria que ele investigasse seus dois últimos semestres de medicina, em <i>Oxford</i>. E como pretendia tomar o primeiro voo para <i>Londres</i>, para aconselhar Parker a se submeter ao exame de sangue, Robyn vislumbrava a possibilidade de que, uma vez na Inglaterra, ele começasse a levantar novas questões.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Se apenas não tivéssemos sido tão tolos! - Robyn lamentou, a voz embargada. - Se apenas tivesse ficado contigo, e não com Aaron, nada disso teria acontecido!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel voltou a <i>Elizabeth </i>na mesma noite. Estupefato, soube dosar a ansiedade concentrando-se nas dezenas de quilômetros de pista à frente. Sabia que deixaria todos muito assustados – principalmente Lefty, que não esperava que deixasse <i>Cape May</i> tão cedo e sem se despedir. O tempo urgia, e ele pretendia chegar a <i>Londres </i>o quanto antes. Durante a jornada de volta, embora bem-sucedido ao manter sob xeque a ânsia de pôr seu plano em movimento, não pôde dizer o mesmo quanto à palpável impressão de que vinha sendo seguido. Pegava-se olhando pelo retrovisor, para verificar se algum carro vinha atrás, mas a imagem recorrente era a das duas figuras solitárias à beira da estrada, assistindo a seu carro afundar encosta abaixo. Quando chegou a <i>Elizabeth</i>, encontrou as luzes do alpendre desligadas. Consultou o relógio de pulso ao subir em saltos os degraus. Eram 03:00 da madrugada. Gladys acordou sobressaltada, os olhos muito expressivos em agonia. Ele teve de se preparar para uma boa conversa com a avó antes de começar a agir.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Parker corre risco de morte. - Nem tentou mitigar o impacto da notícia, não existiam alternativas. - Quem passou o vírus a Aaron foi Robyn, por vingança, e é bastante possível que Parker tenha sido infectada, na época.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Oh, meu Deus. Oh, meu Deus. - Gladys repetia, e era a primeira vez que Legrand via a avó tão impotente. Acostumara-se ao porto seguro, o qual encontrava nos sermões inspiradores dela, em sua inquebrantável fé. Agora, Gladys não mascarava seus medos.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu temo que Robyn atente contra minha vida. Claro que a possibilidade coloca a senhora na linha de fogo. - Daniel sacou o celular e começou a discar o número de Giro. - Espere-me aqui.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Giro esteve aqui até o começo da madrugada, <i>Danny</i>. Não se preocupe, ele e Suntee cuidarão de mim!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br />Gladys esfregou as mãos, ansiosa. A cozinha lhe parecia mais claustrofóbica a cada avanço do ponteiro dos segundos. Todo o seu empenho de seis anos para proteger a vida de Daniel das ameaças que os haviam expulso de <i>Cape May</i> de nada mais valia. Por mais que quisesse fazer aquilo ao alcance para protegê-lo, o neto julgava-se preparado para deixá-la de lado e intocada pelas implicações de seu vindouro duelo com Robyn.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Falei com Giro, e ele está a caminho! Prometi que o esperaria, mas tenho de me despedir de ti, vovó! - Puxou uma Gladys petrificada e atônita contra o peito, e pediu desculpas. - Por favor, procure me compreender. Não há tempo a perder. Em breve, retomaremos nossa vida. - Agora, Gladys chorava, e Daniel começou a se emocionar também. - Por favor, cuide-se direitinho. Tome seus remédios, cuide do jardim. Antes de se meter no alpendre para a conversa com as comadres, cheque o fogão, hein? Giro e Suntee se revezarão, virão vê-la todos os dias!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel guardou o passaporte no bolso do paletó. Em menos de meia hora, estava pronto para a partida. Iria na caminhonete e deixaria a chave com o pessoal da carga. Giro poderia trazê-la de volta, na manhã seguinte. Quem acordou mais cedo do que de costume para se despedir foi <i>Cyrano</i>. Metido com seus pensamentos, só foi se lembrar do gatinho quando ele tratou de se esfregar nas suas canelas, cobrando atenção. Daniel o ergueu no ar e, estudando a sua carinha achatada de olhos meio afastados, sempre rabugento e carente, disse:</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não dê trabalho à vovó e comporte-se bem, pois quero encontrá-lo com saúde, quando eu voltar. Porque eu te amo e você é o meu melhor amigo. - Apertou a criaturinha inocente bem forte sobre o ombro e o beijou atrás da orelha. Avó e neto choraram, foi um lindo, tocante momento. Na hora de partir, procurou ser prático e rápido, mas não conseguiu deixar sem antes endereçar a relutância da avó, incerta na capacidade do neto de enfrentar uma adversária tão extraordinária, para além da compreensão. - Confie em mim. Eu levei seis anos para saber de que fibra fui feito. Não cairei sem uma luta antes. Depois que estiver resolvido, eu, você, <i>Cyrano </i>e Parker começaremos um novo caminho, juntos, como família. - Ele engatou a primeira marcha e, ao sair, reiterou, gritando pela janela. - Giro estará chegando dentro de algumas horas! Passe a notícia de minha viagem a Lefty & Suntee! Assim que o avião pousar em <i>Londres</i>, entrarei em contato! Eu te amo, vó!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel sinalizou o agente da guarita com o pisca e entrou na área reservada sem problemas. No mirante, fez um curto lanche, coxinha de frango e café com leite, e abriu o <i>MacAir </i>para adquirir o bilhete online. O voo deixaria <i>Jersey </i>para a <i>Inglaterra</i>, com escala em <i>Lisboa</i>; o avião decolaria às 07:00 daquela manhã. Resolvida a pendência da passagem, distraiu-se com a televisão. Passava um filme de suspense de baixo orçamento, rodado para o <i>Showtime Channel</i>, do tipo que só é veiculado àquela hora pois poucos gatos pingados lhe dariam atenção, e porque o canal preferia manter o horário livre da poluição da publicidade comprada. Daniel apreciava aquele tipo de coisa – tinha a cara de sua adolescência, fitas de VHS baratas, filmes previsíveis mas divertidos que guardavam certo frescor, certo charme. Sustentavam o interesse até a conclusão. Histórias de cobiça, triângulos amorosos, assassinato. A velha rotina. Em dado ponto da madrugada, as pálpebras de Daniel foram pesando, até fecharem. Despertou vinte minutos depois, meio sobressaltado, sem saber exatamente por que o fazia; entretanto, quem deixava o elevador para o mirante eram Padre di Sofia e o agente Dieudonné, ambos vestindo expressões nervosas. Daniel deixou o torpor e foi cumprimentá-los.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Consegui me lembrar! - Exclamou, orgulhoso, abraçando-os. - Não houve mesmo tentativa de suicídio! Robyn me acertou e montou um cenário forjado, sob a impressão de que eu tinha morrido. Ela não queria que eu contasse… - Ia discorrendo, entusiasmado, até se dar pelo tom de voz alterado. Carregou seus amigos, as mãos sob seus braços, até a um cantinho no mirante. - Não queria que eu contasse que infectara Aaron propositalmente, para acertá-la indiretamente quando ele a contaminasse! Havia um menino, na pista, o Aramis.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Aramis era meu filho, Legrand. - Agente Dieudonné confessou, tomado por grande alegria: apostara tudo na recordação de Daniel, e ela viera. - Eu não lhe contei para ver se você falaria aquilo que eu já esperava, quando suas lembranças voltassem.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Por que acha que um agente do <i>MI6 </i>largaria a carreira para vir aos <i>Estados Unidos</i> para segui-lo por quase dez anos, Daniel? - Padre di Sofia o ajudou nas explicações. - "<i>Amor de pai</i>", é a resposta. O filho, o Aramis, foi seu colega. Era uma questão pessoal.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ele nunca me contou a história completa. - Dieudonné lamentou. - Eu o notava profundamente angustiado, fazendo rodeios sempre que eu perguntava qual era o problema. Daniel, por favor, conte-me… Ele teve algum papel naquela pista?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Senhor, não se preocupe. - Daniel ofereceu um sorriso cansado e solidário. - Aramis foi praticamente coagido. Calhou de ter passado naquela estrada exatamente quando a situação acontecia. Robyn não "<i>pediu a ajuda</i>" de Aramis, ela basicamente o ameaçou, exigiu que a ajudasse a empurrar o carro através do barranco para as pedras do estuário, antes da praia. Max me disse que ele morreu pouco tempo depois?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Depois do acidente, Aramis ligou para mim. - Dieudonné começou a esclarecer. - Eu e a mãe éramos separados; ele morava em <i>Cape May</i> com a mãe. Falava apavorado, ao telefone, falando de ti e fazendo perguntas sobre as consequências de se testemunhar uma tentativa de homicídio. Eu não cogitei a seriedade, pensei que a ansiedade dele se devesse a... - Sacudiu a cabeça, com os lábios apertados, sem saber colocar em palavras. - Ainda pensei em vir para cá, mas não deu tempo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Aramis levou uma facada, numa briga mal explicada. - Giro retomou. - Por causa de boatos de que saía com uma menina que namorava um delinquente local. Ninguém sabe apontar a fonte do boato. - Os três então se encararam, cientes. Dieudonné meneou em afirmativo com a cabeça, murmurando: "<i>Isso mesmo. Robyn Corliss</i>".</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- O que fará agora, meu filho? - Giro demandou. - Podemos te ajudar?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Devemos! - Dieudonné vocalizou o termo correto. - Devemos! Precisamos ir contigo para <i>Londres</i>, Legrand!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Chegará a hora para isso, minha gente, porém procurem compreender meu pedido, por ora, ao insistir na permanência de vocês: vovó sozinha em <i>Cape May</i> é um convite para que me acertem! Não posso deixá-la em perigo!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ele tem razão, Etienne… - Girolamo aceitou a explicação sensata. Depois, voltando-se ao rapaz, apaziguou: - Faremos rondas no loteamento, no mínimo três vezes ao dia. Vá em frente, filho. Faça o que for preciso!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">O avião da <i>American Airlines</i> realizava a aproximação em círculos ao aeroporto de <i>Heathrow </i>às 13:00. O atraso na escala em <i>Lisboa </i>subtraíra uma hora da previsão original de chegada a <i>Londres</i>, e Daniel sentia-se extenuado. Os olhos pesavam de sono, enquanto assistia pela janelinha a alguns dos pontos mais famosos de <i>Londres</i>, como o <i>Tower Clock</i>, instalado nas cercanias das Casas do Parlamento, um intrincado esquema arquitetônico arejado por vários pequenos jardins circundantes aos pés da Ponte de <i>Westminster</i>. Para quem viesse a pé do outro lado do <i>Parliament Square</i> ao amanhecer, a vista era digna de reprodução a pinceladas nas telas dos melhores pintores impressionistas. Executando voltas lentas as quais custavam cerca de meia hora para fechar 360º, no topo da qual se enxergavam as principais atrações turísticas, uma das maiores rodas gigantes do mundo, o <i>London Eye</i>, com seus cento e trinta e cinco metros de altura, permanecia girando incessante. Com uma diferente, mas interessante forma arredondada, a prefeitura municipal de <i>Londres </i>também se localizava à beira do <i>Tâmisa</i>. O arrebatador átrio de luzes e espaços que comportava os grandes shows e eventos do ano, a <i>Trafalgar Square</i>, parecia uma joia incrustada a partir da qual raios coloridos emanavam para cima: à noite, assemelhava-se a um diamante dotado de palpitante vida própria, o coração de <i>Londres </i>cujo ritmo se sentia na variação de luzes e formas, passíveis de serem vistas somente quando chegava a noite.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Quando o avião pousou em <i>Heathrow</i>, Daniel realizou uma ligação para casa, para avisar que chegara bem, e que ficaria num <i>bed & breakfast</i> a quinze minutos de <i>Londres</i>. Precisava descansar e pensar melhor antes de qualquer coisa. Daniel conseguia escutar a voz de Giro, ao lado da avó, orientando-a a perguntar uma ou outra coisa. Ele ensaiou um pequeno sorriso de gratidão, ao perceber que o colega vinha sendo mais do que um pai na sua vida. Pediu à avó para apaziguar os ânimos de Padre di Sofia e Dieudonné, e que ambos soubessem aguardar. Lembrou-lhes que já haviam estado mais distantes da verdade, e tudo levava a crer que a aventura chegava à perna final.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><b><u>Nova York</u></b>. Robyn assinou os documentos de expediente daquela manhã, e se despediu mais cedo da <i>staff </i>médica. Diferente do que ocorrera quando Bobbi estivera em <i>Nova York</i>, ela pagou uma diária no <i>Marriott </i>sem reunião alguma em mente. Precisava de silêncio, do tráfego silente e minimizado pela distância, pontinhos a avançarem muito lentamente por artérias públicas, a movimentação implacável da metrópole, observada pela perspectiva da janela de um quarto a partir de onde tudo pareceria inofensivo e silencioso. Precisava pôr a cabeça em ordem. Ela pediu ao serviço de quarto uma xícara de café com leite e <i>croissant</i>. Liberta do cinto, os botões do blazer abertos e os saltos esquecidos na soleira do banheiro, Robyn deitou-se de bruços, e permitiu-se distrações, observando o carpete de madeira do teto. A mente estava à deriva, mas de uma forma ou outra, Daniel permanecia no enquadramento daquele grande oceano de ilações onde Robyn se perdia.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Ela só foi se ater a uma corrente de pensamento em especial quando reconsiderou a conversa definitiva às margens da grade de proteção, o diálogo o qual selara o destino de Daniel. Ele dissera que a amava e, pela primeira vez, Robyn parava para refletir o significado de um voto tão único e gratuito. Daniel exclamara com todo o ar nos pulmões que a amara mesmo naquela manhã na praia, em 1995, e somente agora, ambos adultos e amarrados aos compromissos assumidos, ela realmente compreendia as implicações da voluntariedade com a qual o inimigo a mantivera no coração e sempre lhe quisera bem; "<i>levá-la ao céu</i>", como ele mesmo dizia e, ao fazê-lo, a fazia chorar. Robyn foi se encolhendo, assumindo uma posição fetal. Por mais forte que se julgasse, viu que era tarde para evitar a tristeza prestes a assaltá-la como tempestade. Pela janela, o tempo subitamente virou com a mesma facilidade com a qual Robyn foi da reflexão para o arrependimento. Enquanto a precipitação castigava<i> Nova York</i>, a consciência a machucava por dentro. Robyn adormeceu com as lâminas de vidro trepidando dentro dos caixilhos.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Em algum momento do segundo semestre de 2002, Robyn tentara conversar com Daniel. Ela sabia que <i>Mildy </i>era sua nova namorada, então temia procurá-lo pelas redes sociais. Ouvira falar da saúde muito instável da garota, e já que havia mesmo um pequeno risco de magoá-la, preferia não abordá-lo de uma maneira tão direta quanto comunicação por perfis sociais. A outra forma de encontrá-lo só podia se dar ao telefone, e quando Goldman a decepcionara o bastante e a vida desregrada em <i>Oxford </i>lhe parecia girar em parafuso, foi a maneira encontrada para abreviar a saudade que Daniel e sua pureza invocavam. Ela estava sentada dentro da cabine telefônica, lágrimas salgadas misturadas à cerveja, nas maçãs, o rosto ardido e avermelhado de raiva. Quem atendeu o telefonema em <i>Cape May </i>não foi Gladys ou <i>Danny</i>, como desejava. "<i>Olá?</i>", <i>Mildy </i>insistiu ao não receber resposta do interlocutor. Intimidada, Robyn desligou.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">O <i>The Bear</i> era o <i>pub </i>mais antigo de <i>Oxford</i>. Apesar de pequeno, havia algo em seus corredores apertados, nos espaços muito limitados, o qual atraia o público boêmio e alternativo da cidade universitária, seus usuais "<i>colaboradores</i>". Além do bar público, existia o <i>saloon </i>onde universitários se distraiam com partidas na mesa de sinuca ou com o quadro de dardos. Sobre um pequeno palco, o "<i>music hall</i>" franqueava a bandas menores um espaço para se apresentarem aos sábados, quando a demanda era mais concorrida. Robyn abriu a cabine e se sentiu um trapo ao colocar a cabeça para fora. Goldman conversava com duas meninas no bar; moças lindas, loiras e esbeltas, no mínimo cinco anos mais jovens do que Robyn, dignas de páginas de revistas de moda.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">"<i>Não me sinto bem</i>", reclamou, falando baixinho ao ouvido do namorado. Ganhou de Goldman um olhar vagamente curioso. Ele voltou à distração oferecida pelas duas deslumbradas estudantes, e quando Robyn permaneceu no mesmo lugar, atirando adagas com os olhos, aconselhou-a a voltar para casa. "<i>Não entende. Eu não me sinto bem mesmo!</i>". Pela primeira vez num tempo recente, Robyn identificou algo parecido à preocupação nos olhos do namorado, um pouco de apego a sinalizar que ainda não se cansara de Robyn, por mais que fizesse sentir que não custaria a abandoná-la pelos prazeres mais mundanos e ilimitados da vida de artista pretensioso, atormentado e transgressor.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">"<i>Sim, ela está um pouquinho febril</i>", o médico plantonista diagnosticou, enquanto tomava apontamentos na prancheta. Levantou os olhos por sobre os aros dos óculos e, como que conduzindo um inquérito, indagou-a sobre outras manifestações fora do ordinário que julgasse importantes. Robyn podia assinalar precisamente quando começara a notar as crises intestinais a prenderem-na ao banheiro nos momentos mais constrangedores: realizava pesquisas no salão da <i>Duke Humfrey's</i>, quando tivera de correr para alcançar o sanitário a tempo. A crise só lhe dera tempo para se compor até chegar ao banheiro. Robyn não notara os gânglios, descobertos apenas pelo plantonista ao apalpar o pescoço. Um hemograma completo revelou a resistência baixa, leucócitos em número inferior ao recomendável, e um segundo exame de sangue foi solicitado. Durante a internação de Robyn, Goldman comportou-se melhor. O distanciamento de semanas atrás deu lugar a um companheiro mais engajado; entretanto, ele insistia que o mal-estar só duraria poucos meses. Depois, ele jurava, a vida de Robyn verdadeiramente começaria, e jamais terminaria. "<i>Eu lhe dei vida eterna</i>", sussurrava, e ela não conseguia entender. Robyn começou a pensar na possibilidade de ter adquirido HIV; contudo, as palavras de Roehmer não conferiam com a situação de um soropositivo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Essencialmente, Goldman, um hedonista <i>avant-garde</i>, não deixaria nenhuma premissa moral ficar no caminho da satisfação absoluta de seus desejos mais devassos e carnais, pelo menos até a chegada de Robyn. O artista se encantara pela americana e, em troca, mostrara-lhe um mundo rico em culturas obscuras e ideias perigosas, onde figuras boêmias e diferentes habitavam uma existência <i>underground</i>, lugar pelo qual apenas os muito ousados conseguiam transitar. Quando compreendera que viera a se importar com Robyn, a ponto de preferir perdê-la a lhe causar danos irreversíveis, procurara se distanciar. Após a separação de Aaron, Robyn jamais teria concordado com uma nova separação. Goldman deveria ter se atentado antes de arrastá-la a seu mundo de prazer sem limites; todavia, como na fábula do escorpião, não há como se burlar a natureza. Para recompensá-la, Goldman lhe deu "<i>o presente</i>", e quando Robyn começou a manifestar a "<i>conversão</i>", era tarde demais. As crenças mais fundamentais da vida da moça ruíram e, impotente, Goldman assistiu a tudo quieto e desolado. Incapaz de vencer o devastador impacto, Robyn não teve como confrontá-lo para perguntar a respeito da natureza de tudo aquilo. Ela juntou as coisas e deixou a casa georgiana do namorado sem se despedir. Para Goldman, a partida de Robyn soou como um presente. Durante certo período, o hedonista que desenvolvera consciência se viu livre do horror da responsabilidade pelas vidas de terceiros. Sabia que lhe dera algo valiosíssimo, mas demandaria tempo até Robyn compreender <i>o que</i> acontecera e <i>por que</i> ele o fizera. Não sabia então que Robyn presumira que o presente dado por Roehmer era o vírus da AIDS, e que ela voltaria, e quando o fizesse, viria com um machado de lâmina bifacial.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">A sentença capital de Goldman fora apregoada, e ele nem sabia disso. Condenara-se a partir do momento no qual Robyn aprendera que sua casa, a única habitada num antigo quarteirão, não chamaria atenção, mesmo que ali dentro alguém gritasse a cada descida do cutelo sobre o crânio. Robyn retornou uma semana após seu sumiço da vida do poeta. Ela não se esforçou para apanhá-lo de surpresa. Goldman escutou quando Robyn quebrou o vidro na janela da porta para abrir a maçaneta por dentro, e também escutou quando ela subiu calmamente a escada em direção ao quarto, batendo a base da lâmina contra os degraus, num macabro presságio. Goldman chegou a parar no corredor para vê-la se aproximar vestindo uma máscara de <i>Mickey Mouse</i>, com olhos arregalados de quem só acreditaria no próprio terrível fim após o primeiro golpe. Ele levantou uma mão protetora para a frente do rosto, enquanto com a outra firmou-se na parede do corredor, antevendo o impacto. Manejando o machado como um taco de <i>baseball</i>, Robyn "<i>rebateu</i>" num sentido perfeitamente horizontal, decepando quatro dos cinco dedos da mão do ex-namorado. Sangue espirrou sobre o branco do corredor, e Goldman ainda teve lucidez de pensar o quanto parecia-se com groselha.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Ele não gritou. Como qualquer pessoa em choque, foi como se ao contemplar tamanha brutalidade, sua mente tivesse "<i>desligado</i>". Goldman conheceu uma novidade: pela primeira vez na sua existência, assumia uma apavorante postura submissa, resignada, qualquer luta existente dentro de seu espírito definitivamente drenada, e Robyn seguiu o decepamento dos dedos com movimentos mais violentos, de cima para baixo e, com a força extra do peso do cabo, a fratura da clavícula, esmigalhando escápulas e deixando os dois úmeros dependurados. Músculos, ossos e carnes foram devassados como se Goldman não passasse de um boneco de Judas. A cada ferimento infligido, o artista se mantinha bem consciente para compreender o caos a tomar conta de seu quase extinto corpo terreno. Mesmo após ter a cabeça separada do tronco, pelo menos por alguns segundos, o cérebro foi capaz de processar que aquele era o fim de linha para seu hedonismo. Foi somente ao concluir o trabalho, em algum momento ao fim da madrugada, que Robyn se deu conta da loucura cometida.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Em seu favor, o <i>timing </i>foi perfeito, pois há apenas uma semana, concluíra o último semestre e recebera os papéis na prefeitura do <i>campus</i>, antecipatórios à residência em psiquiatria, a qual poderia ser feito após seu retorno aos <i>Estados Unidos</i>. Robyn voltou a <i>Cape May</i> dois dias após o massacre. Todos em <i>Oxford </i>estavam muito assustados. Robyn sabia que não custaria aos investigadores chegarem para conversar; ela fora, afinal de contas, a última namorada. Bill & Gail acolheram a filha com amor, e nunca lhe dirigiram uma só questão a respeito do ocorrido. Para os pais, os vícios de Goldman o expuseram ao tipo de bizarrice que lhe custara a vida. Agora, estavam felizes por Robyn ter concluído a residência em Psiquiatria e voltado para casa, onde um futuro maravilhoso esperava por <i>cachinhos dourados.</i></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Foi uma época amedrontadora. Robyn mantivera sua falsa convicção de que pegara AIDS em segredo. Não queria fazer um exame de sangue detalhado, de jeito nenhum. Simultaneamente, imaginava que os investigadores chegariam para conversar sobre sua relação com Goldman a qualquer instante. Quem apareceu duas semanas após sua volta a <i>Cape May</i> foi a amiga Bobbi Chapman, a única com quem se sentia segura para conversar sobre absolutamente tudo. Era uma sexta-feira nublada quando, sob a desculpa esfarrapada de querer confidenciar um segredo, Robyn a levou `a mesma <i>diner </i>onde sua vida, e as de Parker, Daniel e Aaron, haviam passado. Com olhos muito vívidos e angustiados, contou os detalhes do assassinato. Bobbi não a julgou. Quando Robyn explicou que temia que a polícia britânica aparecesse em <i>Cape May</i>, arrastando sua família para a sujeira, Bobbi lhe respondeu que tinha o plano perfeito para desviar a rota das investigações, logo no início. A única coisa que queria de Robyn eram os detalhes: o machado utilizado e onde comprara a máscara de <i>Mickey</i> que, em razão do desespero, deixara na cena do crime, para a confusão do pessoal de perícia. Bobbi se despediu de Robyn um dia depois, com a promessa de que logo os detetives estariam à procura de um <i>serial killer</i> inexistente, e seria o nome de Robyn o primeiro a riscarem da lista de suspeitos. Robyn apenas não imaginava a que ponto Bobbi se dispusera a chegar em nome da amizade.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Agora, oito anos mais tarde, deitada solitariamente naquele quarto no <i>Marriott</i>, Robyn passava a história a limpo. Era engraçado pensar naquilo tantos anos mais tarde, e descobrir como se recordava da cronologia dos eventos. Bobbi a ajudara em 2002, e agora, em 2010, quando Daniel Legrand voltava com força total, ela a ajudaria novamente, pois Robyn precisaria do incondicional suporte da amiga, mesmo certa de que Bobbi era uma psicopata perigosíssima.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel mal deixou a mochila sobre a cama, já a foi abrindo para sacar o <i>MacAir</i>. Ele se sentou na escrivaninha e, meio a contragosto, desfez a elegante arrumação na qual o computador fora encontrado. Com cuidado, empurrou de lado a charmosa máquina de escrever e uma pequena lousa para anotações menores, e acomodou o computador. Daniel encontrou facilmente o blog sobre o qual Robyn falara. Havia uma porção de resenhas, e embora seu verdadeiro nome não estivesse vinculado aos textos, e sim o de um tal "<i>Cecil Thornton</i>", não havia dúvida de que as resenhas haviam mesmo partido de sua pessoa. Tentava compreender o que Robyn dissera sobre ter aprendido sobre Daniel apenas por ler aquela porção de abobrinhas. Teria Robyn visto algo sobre Daniel que o próprio falhara em perceber? Como não tinha muito tempo, deixou os textos para a calada da noite. Tomou banho, vestiu roupas novas e foi colher informações sobre a melhor maneira de se chegar a <i>Oxford</i>.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">A melhor forma de se chegar a <i>Oxford</i>, noventa quilômetros a noroeste de <i>Londres</i>, seria apanhando o trem da <i>Rail Europe</i>, na estação de <i>Paddington</i>. A viagem duraria aproximadamente uma hora, e ele teria de desembolsar dezoito libras, ida e volta; por conseguinte, deslocar-se entre a cidade universitária e a capital não ofereceria dificuldades. Cogitou procurar Parker em <i>Londres</i>; entretanto, certo de que seu cansaço apenas o atrapalharia ao tentar comunicar fatos tão assombrosos, resolveu começar a investigar em <i>Oxford</i>. Tentaria contatá-la apenas na manhã seguinte, quando se sentisse mais descansado e forte para encarar a difícil tarefa de lhe contar a verdade da forma menos dolorosa possível. Daniel reclinou a poltrona para descansar e, preparando o despertador do relógio para dali a quarenta minutos, não se preocupou quando as pálpebras encerraram por completo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">O relógio de nada lhe serviu, pois quem o acordou foi mesmo o copeiro do carro restaurante do trem. Daniel agradeceu a atenção, e desceu em <i>Oxford </i>arrependendo-se de não ter vestido algo apropriado para o absurdo frio britânico. A temperatura girava em torno de dois graus, e os ventos corporificavam-se em sólidas massas geladas, como <i>hooligans </i>invisíveis e agressivos. A diversificada cidade recebeu-o com um bom movimento, e Daniel encontrou as portas do comércio abertas. Enquanto externamente prevalecia uma melancólica e datada atmosfera, dos pubs e restaurantes emanava convidativo calor pela lotação. Foi perto do terminal onde tomou uma revigoradora xícara de café e recebeu a instrução de um dos estudantes a procurar informações turísticas na <i>Broad Street</i>, no centro da cidade. O americano teria sido levado a crer que precisaria de um táxi para chegar a <i>Broad Street</i>, mas percebeu que a simpática cidadezinha podia ser conhecida a pé, basicamente. A caminhada da estação ao centro não lhe custaria mais de vinte minutos. A partir da <i>High Street</i>, Daniel conseguiu um mapa de <i>Oxford</i>, e começou a perambular. Franquias das principais redes comerciais britânicas, como <i>Tesco</i>, podiam ser pontuadas ao longo do eixo maior.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Às margens do Rio Tâmisa, <i>Oxford </i>destacava-se dentre as demais do condado de <i>Oxfordshire</i>, pela honra de sediar a Universidade de <i>Oxford</i>, considerada uma das dez melhores do mundo, e revestir-se da arquitetura gótica de muitos prédios históricos, os quais mais lembravam castelos a faculdades. Apesar de a <i>Londres </i>caber o título de capital, fora em <i>Oxford </i>onde reis haviam sido coroados e o destino do país resolvido, em acalorados debates no parlamento! Existiam aproximadamente trinta e seis faculdades, instituições de ensino independentes, na verdade, algumas das mais antigas e conceituadas na <i>Europa</i>, a consagrarem a proposta universitária que não somente parecia impressa em cada estrutura fundante da cidade, como também ligada permanentemente ao ar ali respirado. Daniel encontrou uma infinidade de estudantes metidos em uniformes cujas cores variavam conforme a escola ou universidade a que pertenciam.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Escurecia, e o período noturno era excelente para conhecer os pubs onde o casal investigado devia ter deixado rastros de sua história de amor. O <i>Bear Inn</i> da<i> Alfred Street</i>, o recanto predileto de Roehmer, impregnara-se de história. Ao passo que fora o frio assemelhava-se a punhaladas, o interior oferecia a melhor cerveja da região, seu compromisso o de albergar visitantes por algumas horas, ou mesmo ao longo da madrugada se assim o desejassem: era um lugar de boêmios, afinal de contas, e não havia limites, até mesmo para se encerrar a porta. Daniel passou por entre as mesas esfregando as mãos e assoprando dentro da concha que formava com as mesmas. O barista, um senhor idoso calvo, também dono do lugar, esfregava diligentemente um trapo de lã sobre o balcão molhado. Nele, Legrand teria um cúmplice, o qual poderia ajudá-lo quanto à passagem de Robyn por <i>Oxford</i>, há quase dez anos.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">O velho se chamava Soleil, e passara quase meio século tomando conta da casa; era um empreendimento que passara de geração a geração, na família. A notoriedade de Daniel Legrand, o herói da <i>American Airlines</i>, abriu portas perante o idoso, o qual imediatamente não opôs suspeições às suas perguntas. Desde o primeiro minuto, Daniel foi muito franco: não intencionava celeuma, não se encontrava lá para reabrir o caso de Goldman Roehmer. Até onde interessava aos conterrâneos de Roehmer, quem executara o poeta fora um <i>serial killer</i>, o mesmo das duas vítimas em <i>Londres</i>, antes de desaparecer sem ser pego. Ocorria, Daniel disse, que suspeitava que o verdadeiro culpado jamais fora investigado. A polícia britânica não lhe interessava, afinal, muito embora a questão passasse pelas vidas de três pessoas tão barbaramente massacradas, só lhe importava ajudar a namorada. Soleil se recordava da americana de cabelos loiros cujo sorriso iluminaria um salão de artes moderno. Entre goles de um álcool mais volátil e amaríssimo, o gosto abrasivo explicitado no cenho desenhado ao se forçar a engolir, Soleil explicou a Daniel que Robyn fora a única estudante capaz de fazer o poeta trocar marchas e reduzir o ritmo, mesmo que somente por dois semestres. Pesando a seu favor, Roehmer contava com óbvio talento natural, a fortuna e o suporte da família; entretanto, a boa fortuna não o impediu de se imolar em chamas até restarem cinzas. Como todo grande artista, conforme Daniel opinara à Robyn certa feita, Goldman fizera um brilhante trabalho em se sabotar.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Sua ascendência permanecia sacramentada nos registros de sua passagem por <i>Oxford</i>. No mesmo teor do restaurante de beira de estrada a caminho de <i>Nova Jersey</i>, o <i>pub </i>em <i>Oxford </i>também exibia uma variedade de itens num flanelógrafo. Além de vagas de estágio, fotos das distintas turmas formadas no <i>campi </i>ao longo das décadas, registros de festas, de momentos de alegria, flashes de uma juventude a qual perenemente se reciclava com rostos cheios de vida, e que portanto tornava aquele secular mundo universitário um berçário para aventuras onde apenas tijolos ou idosos como Soleil acumulavam poeira, pois, aos demais, somente existiam confetes e festas. Daniel se arrepiou ao identificar muito bem a Goldman com o braço nas costas de Robyn, sorridentes, numa época anterior ao azedamento do namoro. Era uma foto em grupo, Goldman, o ícone artístico, ao meio, abraçado à namorada. Nas mãos de Robyn, mesmo que de lado, Daniel enxergou parte da máscara do personagem de <i>Walt Disney</i>, encontrada nas cenas dos assassinatos atribuídos a "<i>Mickey Lenhador</i>".</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Andando ao longo de passeios muito vazios e congelados sobre os quais se deitavam luzes mornas e um tanto quanto empalidecidas, as quais o faziam se sentir o personagem principal de algum conto de horror de <i>Clive Barker</i>, Daniel ainda não conseguia fazer sentido da situação, graças a uma lei da Física. Robyn matara, sim, o namorado artista e, fazendo transgressor uso de sua condição de soropositiva, aproveitara-se para, na mesma oportunidade, vingar-se de Aaron & Parker. Ocorre que o crime não tinha ainda como ser rastreado à Robyn. Ela havia voltado aos <i>Estados Unidos</i> quando "<i>Mickey Lenhador</i>" atacara uma segunda vez, removendo-a de uma lista de suspeitos cuja concepção mal começara, já fora abandonada pelos investigadores. Na mesma noite, Daniel apanhou um trem para <i>Londres</i>, e só foi chegar ao <i>bed & breakfast</i> no comecinho da madrugada. Exausto, não conseguiu nem mesmo se enxugar após o banho quente. Desabou pesadamente sobre o colchão, e ficou estudando o celular em mãos, por um tempo, procurando calcular mentalmente a diferença de fusos entre Inglaterra e <i>Estados Unidos</i>, quando acabou apagando.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">"<i>Olá, Lefty!Preciso de um favor!</i>", a primeira ligação do dia foi para <i>Cape May</i>. O círculo se fechava ao redor de Robyn, contudo precisava saber até que ponto Aramis também fora vítima. Basicamente, Daniel gostaria que Lefty conversasse com o ex-colega autor do homicídio, para que soubesse das circunstâncias que os haviam levado a brigar. Daniel não tirara da boca a amarga sensação de que o homem cujas mãos tinham vertido o sangue de Aramis fora tão fantoche quanto o amigo, convencido por Robyn à beira da pista para tomar parte em jogá-lo encosta abaixo. Lefty prometeu que faria o melhor. "<i>Tenha cuidado, filho</i>", a senhora pediu, e Daniel tomou aquilo como sinal. Mesmo Lefty temia pela sua vida, e por mais que se julgasse preparado para fazer um julgamento dos riscos, ainda engatinhava em termos de compreender a extensão do que lhe fora feito por Robyn. Talvez os mais velho – Giro, Gladys e Lefty – soubessem melhor.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel ligou para o hotel onde a equipe de filmagem se hospedara, por volta do horário de almoço, mas a namorada não voltara do passeio que fora dar no <i>Hyde Park</i>. Legrand pediu ao serviço de quarto que informasse à atriz de sua ligação. Ele voltaria a procurá-la em algum ponto à tarde. Sem muito a fazer, o americano comeu solitariamente num restaurante de pastas italianas, e foi passear no mesmo parque onde, pela informação da telefonista, Parker fora passear. Claro, Daniel não esperava encontrá-la, mas lhe apetecia a ideia de visitar o lugar onde Parker teria estado mais cedo. Sem pressa, observava os patos passearem sobre a superfície do lago, braços bem apertados contra si em razão do frio. Com um sorriso triste, prestou particular atenção à maneira como a pata cuidava dos patinhos. Um casal de turistas desviou sua atenção, com risadas que só apaixonados conseguiam produzir espontaneamente. Ele escutara a risadas semelhantes antes, não? O eco das risadas de um dia cada vez mais distante atravessou o coração de Daniel como poucos gatilhos o fariam, e assim sendo, sentado num banco do <i>Hyde Park</i> defronte ao lago, pôde começar a se lembrar.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Sim, foi mesmo no dia anterior `a partida de Robyn para <i>Londres</i>, no começo de 2002. Daniel e Robyn vinham conversando mais frequentemente, ensaiando uma aproximação, e rompendo com os encontros eventuais que, embora breves, revelavam muito sobre o quanto se importavam um com o outro, o quanto se gostavam. Era uma sexta-feira nublada e depressiva: até para se ir de um bloco para a lanchonete, já era arriscado se molhar. Por três vezes, colegas tinham chamado a atenção do rapaz, perguntando se algo o incomodava, e não era por menos. Sabia que Robyn partiria no sábado para a <i>Inglaterra</i>. Por mais que seus encontros parecessem eventuais, mesmo a possibilidade de perder raros momentos os quais permaneceriam consigo e o faziam reavaliar a finalidade da própria vida o enchia de angústia. Daniel deixava o bloco por um caminho ladeado por cortinas de árvores, com a cabeça perdida para estudos, voltada unicamente à partida de Robyn, quando a fantasia se tornou realidade. Ela havia aguardado pela passagem de Daniel próxima à fonte. Daniel sorriu, porém imediatamente as linhas comutaram-se numa máscara de dor. Robyn sabia que ele estava assim pois ela partiria no sábado.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você se sairá melhor do que mim. - Daniel previu, e Robyn não compreendeu. Ele elaborou: - Desde a época do colégio, você era tão mais inteligente e socialmente vívida, uma borboleta sociável. Desde os quinze anos, eu sabia que um dia trabalharia para ti!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ainda não concluímos nossos cursos, então é muito cedo para afirmar isso! - Robyn brincou, fazendo o melhor para animá-lo. Ela passou os dedos pelos cabelos de Daniel.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- É verdade, sabe? Não tenho sua desenvoltura. - Daniel insistiu, em tocante sinceridade. - Você se tornará uma psiquiatra, ajudará muitas pessoas.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Bobagem, você é uma das pessoas mais inteligentes que conheci. Por exemplo, mesmo que tenhamos nos falado tão pouco de 1995 a 1999, quando nos encontramos em <i>Nova York</i> para celebrar minha vitória, e eu o beijei, só o fiz pois sinalizara muito bem que estava interessado, mesmo sem ter me dito algo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu temia ser muito explícito e magoá-la. - Daniel justificou.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Viu? Você é mesmo uma das pessoas mais inteligentes que conheço!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Achei que não a veria mais, e que sairia direto de <i>Nova York</i> para <i>Londres</i>. - Constatou, aliviado.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Pois é. Precisava me despedir de você. Achei que o campus seria a oportunidade, pois eu te pegaria sem a Mildred por perto. E realmente não quero machucá-la. Eu sei que se estivesse no lugar dela, ficaria enciumada, e Mildred fez tanto bem para ti que não poderia desconsiderar seus sentimentos...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não, não. - Daniel a tranquilizou, esfregando as mãos nos ombros de Robyn. - <i>Mildy </i>não é apenas minha namorada, mas melhor amiga. Ela compreenderia.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não, <i>Danny</i>. - Robyn fez um muxoxo de desapontamento, e retrucou. - Ela pode ser uma menina cuja dor lhe deu discernimento, porém mesmo assim sei que cruzei a linha ao procurá-lo desta forma. Acontece que eu não poderia ir embora... Sem dizer <i>adeus</i>...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você não está me dizendo <i>adeus</i>! - Devolveu, um pouco assustado. - Não nos veremos por um tempo, e eu sei que sentirei sua falta, mas também que preparará seu futuro profissional e, quando voltar, colherá os frutos disso.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- E você também. - Robyn se sentia péssima ao ser lançada tão a frente por Daniel, pois seu ponto de vista não lhe franqueava a visão de um horizonte tão deslumbrante. De uma estranha maneira, era como se Legrand previsse o que estava para acontecer, dali a dois anos no futuro, em 2004, quando se reencontrariam.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu espero. Prometo me esforçar! Às vezes, acho que devia deixar para trás a minha parte que continua aquele garoto em 1995. - Ele brincou, e Robyn riu, mesmo que timidamente. - Você apanhará o voo no...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sim, sim. - Ela parecia ter esperado pela oportunidade. - Apanharei o voo das 06:00 no <i>Liberty</i>. Deixarei <i>Cape May</i> nesta noite, e passarei a noite no <i>Holiday Inn</i> de <i>Jersey</i>, aguardando o horário do embarque internacional.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Entendo... - Falou, baixinho.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Se não nos vermos mais tão cedo, gostaria de agradecer pelo que fez por... - Falou, com a urgência da despedida, a voz embargada.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Vamos nos ver mais cedo do que pensa, os anos tendem a se passar rapidamente. - Levou uma das mãos ao queixo de Robyn e docemente pediu. - Não deixe de me mandar e-mails, combinado?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- <i>Holiday Inn</i>. - Ela repetiu, antes de sair andando, com olhos cheios de lágrima. - Tomarei um táxi para o aeroporto às 06:00.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel se viu revisitando a brevíssima conversa à sombra da fonte pelo resto do dia. Ela mencionara o hotel ao dar as costas para partir, e o sentimento de urgência a comprimir o peito logo após vê-la deixar somente se agravou com o avançar dos ponteiros. Até colocar a cabeça no travesseiro, não sabia se suportaria a tortura da espera. Dentro de algumas horas, Robyn deixaria sua vida, pelo menos por um ano. As poucas poderosas vezes nas quais tinham se cruzado, breves que o tivessem sido, justificavam a aflição a eletrizar seu corpo, embriagando-o com antecipação.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Aqui ou acolá, prenúncios do dia seguinte riscavam o céu estrelado da madrugada a que Daniel Legrand assistiria passar. A dor repentinamente se inflamou a ponto de não se resignar. Quando associou o fim da madrugada, sobras da extinta noite de estrelas, à imagem do avião da <i>British Airways</i> que viria a correr pela pista, levando consigo o "<i>grande mistério</i>" de sua vida, a pessoa a quem jamais completamente se declarara, mas que o mantivera com a mente sã e o coração esperançoso, resolveu agir. Precisaria se justificar à avó depois e, mais tarde, veria o que faria em relação a <i>Mildy</i>, mas se vestiu e pegou a estrada durante a segunda metade da madrugada, fazendo o carro vencer a distância de <i>Cape May</i> a <i>Jersey</i>, `a toda velocidade. Daniel encontrou o <i>Holiday Inn</i> baseando-se puramente em navegação visual, o letreiro da rede de hotéis destacando-se dentre tantos outros como os do <i>McDonalds </i>e do <i>Burger King</i>, um libertário e transitório mundo paralelo ao do aeroporto de <i>Nova Jersey</i>, entreposto para pessoas transitórias, um lugar onde ninguém era de ninguém e tudo parecia absolutamente possível. Eram 05:00, e Robyn já preparava as malas para apanhar o táxi. Meio sem jeito, Legrand se apresentou `as funcionárias da recepção e disse que procurava uma hóspede. Antes de a garota sacar o fone para contatar o quarto, Daniel deu pela presença de Robyn no topo da escada, de bermuda e blusa, enxugando os cabelos molhados, presenteando-o com o sorriso do qual viria a se recordar.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">As malas de napa escancaradas exibiam roupas para frio, dobradas e bem arrumadas. Ela lhe ofereceu um copo de suco, e Daniel sentou-se na cadeirinha ao lado do criado-mudo. Robyn não fez nenhum comentário quanto `a visita; era o que quisera desde o início, quando detalhara onde se hospedaria e o horário da partida. Também não precisou de rodeios para abraçá-lo e levá-lo à cama. Uma vez deitados, porém, depois de Daniel abraçá-la, o carinho velado sentido um pelo outro tornou impossível ao rapaz deixá-la sair de seus braços. Robyn encostou a cabeça no peito, e Daniel começou a afagá-la muito cuidadosamente. Imaginou se ela choraria, pois pôde escutar os soluços muito baixos. Ele a comprimiu ainda mais, e Robyn se tornou manteiga, derretendo-se ao toque. Para além da janela, a manhã chegara a <i>Nova York</i>, e não existiam mais escuridão corrompida por estrelas, sob as quais pudessem se amar, mesmo que por um desesperadamente breve instante. Ficaram apenas abraçados. Do rádio relógio, vinha o <i>The Deele</i>, com "<i>Two Occasions</i>", a tão linda música característica da história de ambos; das ruas, buzinas, inicialmente apenas incidentais, ganhavam força, uma adorável manhã ordinária do ano, menos aos olhos de Daniel, que vislumbrava a mágica graças a um amor proibido e irrealizado o qual estranhamente o impelia para frente no tabuleiro do jogo da vida.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Gladys recebeu-o em <i>Cape May</i> com muita compaixão e solidariedade. Ela não fez perguntas inconvenientes e difíceis. Sabia quão duro seria para Daniel, agora que o grande mistério de sua vida o deserdava, e não havia mais jogos a manterem a mente afiada e astuta. O amor por Robyn terminava sem jamais ter deixado o plano do platônico, e talvez nisso residisse sua impressionante força sobre o imaginário do rapaz. Era sábado e, no fim da tarde, Daniel apanhou <i>Mildy </i>na casa da Lefty para levá-la para comer pizza num dos <i>shoppings </i>de <i>Cape May</i>. Passeando de mãos dadas pelas passarelas largas e movimentadas da praça de alimentação, divertiram-se com Legrand descrevendo com criatividade a beleza dos elevadíssimos arcos do firmamento interior. Foi só após se sentarem para sorvete, após a pizza, que <i>Mildy </i>o surpreendeu de forma positiva, e provou quão errado estivera nas vezes nas quais se tomara como um homem que, não fosse pela avó, tinha somente a si.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sei da Robyn. - Mildred subitamente falou, de forma mansa.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu estou do seu lado, e sou grato a Deus pelos nossos momentos. - Foi a resposta de Daniel. Mildred meneou afirmativamente com a cabeça.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- O que você sente por Robyn não mudará a forma carinhosa como vejo você. Apenas não quero que minta para mim. - Ela segurou a mão dele. Daniel juntou sua mão livre sobre as duas entrelaçadas.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu não vou magoá-la. Eu só quero ser um bom namorado, e retribuir o bem que fez a mim.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Então procure acalorar o coração, não se permita ser avassalado por amargura. Robyn jamais te esquecerá, e retornará muitas vezes nos anos por vir. Proteja-se bem, Daniel. Psicologicamente, Robyn é uma garota muito ferida. E o instinto a fará tentar ferroá-lo como abelha. Cuide-se sempre, sim? Quando eu não estiver mais por aqui para lhe dirigir palavras de cautela.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Oh, não! - Daniel balançou a cabeça, irritado e incrédulo - De novo, falando bobagens sobre morrer! Você me fere tanto quando vem com essa história!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Tudo bem. - Minimizou, com um sorriso que reverteu a gravidade. - Apenas se proteja. Não se deixe arruinar apenas porque tem um grande coração, ou porque, diferente das pessoas, você ousou amar, com todas as dores envolvidas, pois amar é abraçar a cruz. Não é por isso, entretanto, que precisa apanhar a ponto de perder a clareza do raciocínio, <i>Danny</i>. Você sabe, no íntimo, o custo de amar; só quero que, ao fim, apesar das dores, esteja lúcido e de pé.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">"</span><i style="font-family: arial;">Apenas duas libras, senhor</i><span style="font-family: arial;">", Legrand despertou das lembranças, cortesia de uma velhinha corcunda vendendo flores em </span><i style="font-family: arial;">Hyde Park</i><span style="font-family: arial;">. Daniel a recebeu com um sorriso carinhoso, pois lhe lembrou Gladys, e lhe entregou duas notas. Com o ramalhete em mãos, deixou o banco de madeira, e partiu sem destino pelos outros caminhos do parque, com uma nova consciência do amor que Mildred lhe confiara, o quanto desejava seu bem. Daniel chegou ao </span><i style="font-family: arial;">bed & breakfast</i><span style="font-family: arial;"> no meio da tarde e depositou as flores sobre o travesseiro. Não havia recados. Abriu a caixa de mensagens; o e-mail que esperava receber de Parker também não viera. Daniel ligou uma segunda vez para o hotel; novamente, foi-lhe informado que a atriz não voltara do passeio. Ele disfarçou a apreensão, mas pela primeira vez no dia, a insistente ausência da namorada o deixou intrigado. Desceu em</span><i style="font-family: arial;"> Leicester Square</i><span style="font-family: arial;">, no centro do </span><i style="font-family: arial;">West End</i><span style="font-family: arial;"> de </span><i style="font-family: arial;">Londres</i><span style="font-family: arial;">, conhecido pelas baladas. Concentração de danceterias, pubs, bares, teatros e cinemas, a praça sediava as premières de filmes importantes, e o inspirado Daniel imaginou como seria emocionante ver o de Parker, sobre <i>Louis Pasteur</i>, abrindo num espaço tão exclusivo. À pé, não custou a chegar à <i>Trafalgar Square</i>, entre <i>Charing Cross</i> e <i>Strand Street</i>, com sua enorme coluna no centro da praça, cercada por quatro esculturas de leões. Quando Legrand sentou-se numa mesa de bar no <i>Piccadilly Circus</i>, já eram 19:00. Enquanto os olhos contemplavam um dos principais cruzamentos de <i>Londres</i>, sentiu-os um pouco ardidos em razão das luzes de neon a banharem as fachadas dos prédios na praça. Procurava tranquilizar-se, surgindo com uma porção de justificativas plausíveis para o atraso de Parker. Foi somente às 21:00, quando estudava fascinado a noite londrina do topo do <i>London Eye</i>, que lhe ficou perceptível a presença de uma moça muito bonita e misteriosa observando-o do outro lado da cabine. Fora os dois, havia mais cinco turistas munidos de máquinas fotográficas. Quando os olhos de Daniel casualmente passearam pela figura da moça, ela lhe brindou com um convidativo sorriso. Os passageiros guardavam uma fantástica vista da cidade, incluindo a <i>Abadia de Westminster</i>, o<i> Palácio de Buckingham</i>, a<i> Catedral de St. Paul</i>, o <i>Big Ben</i> e as <i>Casas do Parlamento</i>. Após o fim do giro, Daniel foi beber algo quente na calçada sob o toldo de um restô parisiense fortemente baseado em colunas em mármore, afrescos e grandes lustres. Havia esquecido o flerte com a estranha no <i>London Eye</i>, e examinava o corre de turistas apressados, decididos a não se molharem agora que uma garoa polvilhava a capital inglesa. Foi quando, de relance, encontrou a estranha uma segunda vez, duas mesas atrás da sua, estudando-o com olhos lânguidos, enquanto mexia o café com uma palheta.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Tão flagrante se desdobrava o flerte, não teve como ambos deixarem de rir quando seus olhares se cruzaram novamente. Com o sorriso, a moça se sentiu confiante para a abordagem. Ela se aproximou estendendo a mão e o cumprimentando. Daniel considerou que se tratasse de alguém familiarizado ao voo da <i>American Airlines</i>, mas não conseguiu afastar a sensação de já conhecê-la de outros tempos. Mesmo após se identificar como Bobbi Chapman, vocalista do<i> Takin’ my Time</i>, Daniel não ficou satisfeito. Sim, sabia da existência de uma formação musical chamada <i>Takin’ my Time</i>, porém cismara que já vira o rosto da moça muito antes da notoriedade artística. Bobbi vestia-se com a etiqueta de uma artista determinada a não ser reconhecida. As calças e a blusa de mangas compridas, muito escuras, coadjuvavam os óculos grandes em seu intento de tirar de si visibilidade. Naturalmente, Bobbi começou o elogiando por aquilo já cansativamente veiculado pela imprensa nos últimos meses. Daniel a agradeceu pelas palavras de carinho, e respondeu que jamais se habituaria a receber elogios de estranhos. Bobbi veio com a tréplica que aniquilou as incertezas, afirmando que não eram estranhos entre si, afinal tinham se cruzado noutros tempos,. Ambos tinham uma amiga em comum, em <i>Cape May</i>. "<i>Aí está</i>", pensou, para finalmente situá-la em suas lembranças. Bobbi cantara "<i>Two Occasions</i>" quando ele e Robyn se beijaram pela primeira e única vez.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Consigo me recordar agora. Faz muito tempo! - Daniel observou, as cenas daquela noite muito bonita em 1999 repassando perante seus olhos num flash.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Somos muito amigas, Robyn e eu. - Bobbi fez um sinal para o garçom; "<i>Um suco de laranja</i>", pediu sem efetivamente falar, apenas movendo a boca, sendo entendida pelo barista. - Ela sempre me falou muito de ti, mas acho que sabe disso. Ou talvez não. - Corrigiu-se, sem se levar muito a sério. - Creio que tenha problemas com suas recordações, não?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Robyn contou isso para você, também? - Daniel a ferroou de volta, apenas para testá-la sob pressão. Bobbi simplesmente sorriu, convidando-o a continuar no ataque. - Ela tem contado muitas coisas, eu creio. Eu suponho que não tenha me encontrado por acaso.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Robyn não me mandou aqui, Daniel. - Ela soou convincente, nuances de cinismo desaparecendo num olhar duro e sério. - Eu vim porque eu quis, porque acho que posso ajudá-la. Robyn conversou contigo, mas parece não ter adiantado.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Se não foi a Robyn quem te mandou aqui, respeito o que procura fazer pela sua amiga. Se Robyn a mandou, então está mais doente do que eu imaginava, e quando digo "<i>doente</i>", refiro-me às faculdades mentais. Em qualquer caso, por mais ameaçada que se sinta, a vida da Parker está em jogo. E nada do que diga mudará o fato de que ela corre seriíssimo risco de morte, quando poderia ser evitado se...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu não quero que tenha a impressão equivocada de mim. Acho que começamos com o pé esquerdo. - Bobbi se desculpou falsamente, mexendo o canudo dentro do suco que acabava de lhe ser entregue. - Eu tenho te observado desde que chegou.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Espere. Vamos colocar tudo às claras, certo? Você está me seguindo? - Ele disparou, e a resposta de Bobbi foi ainda mais chocante em sua honestidade. Ela franziu a testa e meneou a cabeça em afirmativo, como que assumindo uma pequena travessura. O fato de tomar sua perseguição como mera peraltice fez os cabelos de Daniel arrepiarem.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ora, não reaja tão surpreso! Ambos somos adultos, e levando em conta as vidas envolvidas, não há espaço para comedimento. Sim, eu segui. Eu o vi fazendo perguntas e entrando em <i>pubs</i>, em <i>Oxford</i>. Posso saber o que faz no campus onde Robyn estudou há quase dez anos?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você não pode fazer muito pela sua amiga, Bobbi, a não ser convencê-la a não colocar o orgulho à frente da saúde da irmã. - Daniel fechou aborrecido a conversa, jogando uma nota de cinco libras sobre a mesa. - O que faz pela Robyn é notável, mas se você pensar nas minhas circunstâncias, compreenderá minhas razões. Ninguém merece morrer de AIDS quando se pode evitar.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ainda essa conversa de AIDS? - Ela girou os olhos, entediada, fazendo um estalido com a língua para demonstrar desprezo pela ideia. - Robyn não tem o vírus da AIDS. Ela tem… <i>Algo a mais</i>.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Boa noite. - Finalizou.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ela é uma vampira. - Uma frase breve; uma frase louca. Não fazia sentido. "<i>Vampiros</i>" não existiam; entretanto, Daniel Legrand gelou, dirigindo-lhe um olhar profundamente perplexo. </span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Ele foi deixando a mesa gentilmente, sem chamar atenção. À frente, da praça, emanava uma duma refrescante, molhada; podia-se sentir um clima de romance e aventuras na atmosfera. O céu, platinado, oferecia o contraste quase surreal e cinematográfico à cena. Vez que ficara relativamente tarde, o número de turistas e transeuntes foi se espaçando, até tudo se assemelhar a torcedores deixando o estádio após a fim de um grande jogo, os últimos a enrolarem as bandeiras no mastro em direção aos ônibus. Daniel seguiu no sentido do grande complexo ferroviário próximo, o <i>Metropolitano </i>de <i>Londres</i>. A estação de trem mais utilizada da capital inglesa, o <i>Metropolitano </i>tinha mais plataformas e áreas de passagem do que qualquer outra estação no Reino Unido. Pairando onipresente sobre os corredores, o <i>Waterloo Station Clock</i>, apontando a urgência para que Daniel buscasse o <i>bed & breakfast</i>. Passara de meia-noite, e o movimento no interior da estação era ainda menor do que lá fora.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Sentado solitariamente num dos carros do trem da <i>Rail Station</i>, Daniel considerou ligar novamente para o hotel, mesmo sabendo que Parker provavelmente não teria voltado, caso contrário, tê-lo-ia procurado. Daniel esticou o pescoço para enxergar a janela após o vagão, mas não parecia existir passageiro naquela linha. A edição disponibilizada justamente à meia-noite pelo <i>The Observer</i> pareceu trazida às suas canelas por força do acaso. Um vento mais forte, e o calhamaço abandonado seguira bailando espalhafatoso até chegar às suas mãos. Um gosto amargo subiu à boca, como se a acidez estomacal subitamente viesse num refluxo incontrolável e cáustico. "<i>Atriz norte-americana desaparece após caminhada no Hyde Park. Serial killer Mickey Lenhador retorna após um hiato de quase dez anos</i>". No paço do parque no qual fora vista pela última vez, havia sido deixada, quase como uma mensagem à polícia, a famosa máscara de <i>Mickey</i>. Num primeiro momento, suas pernas perderam a firmeza. Ele gostaria de se levantar para descer na próxima estação, mas os músculos não obedeciam ao comando. Os olhos, vidrados, sequer haviam começado a leitura das quatro colunas de letrinhas pequenas sob uma foto de arquivo da máscara descoberta nas cenas dos homicídios atribuídos a "<i>Mickey Lenhador</i>", fosse quem fosse o homicida por trás do mistério. "<i>Não pode ser a Robyn, não tem como!</i>", Daniel murmurava para si, o suor frio se formando nas marcas de expressão da testa ardida. "<i>Robyn tinha voltado aos Estados Unidos, então mesmo que tenha matado Goldman Roehmer, uma segunda pessoa teria que ter matado aquelas outras pessoas. Mas para quê? Por quê?</i>".</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">A não ser que "<i>Mickey Lenhador</i>" não existisse; fosse uma ficção criada única e exclusivamente com o intento de livrar Robyn da lista de potenciais suspeitos pelo massacre do poeta. Daniel vasculhou cuidadosamente o cenário em sua mente cansada: Robyn descobre que pegou AIDS de Roehmer e fica louca. Num instante de fúria passional, ela o despedaça, e foge para os <i>Estados Unidos</i>, para a casa dos Cowan. Ela sabe que, cedo ou tarde, a força britânica a procurará para prestar esclarecimentos, afinal de contas era uma pessoa de interesse; por Deus, Robyn fora namorada do cara! Para que seu nome se purificasse de quaisquer máculas, Robyn teria precisado de uma pessoa de confiança. Uma melhor amiga, por exemplo, que se encontrasse em <i>Londres</i>, enquanto Robyn estivesse em <i>Cape May</i>. Uma pessoa de confiança que a amasse a ponto de empunhar um machado para matar duas pessoas inocentes, apenas para encobrir o mito do "<i>crime passional</i>" - a tese mais acertada, seguida pela força britânica, tese que os levaria a Robyn – e criar a lenda do <i>serial killer</i> aleatório o qual, quisera o destino, fizera de Goldman a primeira vítima, e agora e soltara em <i>Londres</i> para deixar um rastro de matança. Com Robyn de volta aos <i>Estados Unidos</i> durante os novos homicídios, a teoria do "<i>crime passional</i>" não teria pernas, Robyn estaria livre, e a força metropolitana, à caça de um <i>serial killer</i> inexistente, criado apenas para mascarar a natureza da morte de Roehmer e o envolvimento da americana. Bobbi deslizou a porta de correr do vagão. Daniel se levantou com olhos aterrorizados, a conexão entre as peças finalmente conclusas, a verdade muito clara. Robyn matara Goldman, Bobbi viera em socorro da melhor amiga e empunhara o machado para encarnar um <i>serial killer</i>, apenas para arremessar a polícia numa falsa pista que a distanciaria gradualmente de Robyn. Bobbi podia ver nos olhos de Daniel que o americano chegara à verdadeira conclusão, e não havia mais oportunidades para diplomacia. Ela parecia angustiada, ambos pisando numa ponte pênsil decrépita prestes a romper sobre o abismo. Algumas vidas teriam de ser arruinadas.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- O que Robyn fez foi terrível, mas eu entendo. - Daniel murmurou. Ao lançar o olhar para trás, viu que havia dois homens a caminho do vagão pela traseira, obviamente o reforço de Bobbi para contê-lo, caso as coisas fugissem a seu controle. - Ela culpava Goldman pela infecção do vírus da AIDS. O que você fez, porém, exigiu frieza. Somente com muita frieza alguém executaria tão sumariamente uma porção de gente inocente, apenas para... Para...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- De novo? Ela não tem AIDS! Eu a amo, Daniel. - Bobbi respondeu, com um tom desolado, patético. - Se eu não tivesse criado "<i>Mickey Lenhador</i>", Robyn jamais teria escapado das consequências de seu ato tresloucado. Eu precisava criar o mito, <i>serial killers</i> matam pessoas. Eu precisei eliminar algumas pessoas para fazer a história colar, não se pode fazer omeletes sem se quebrar alguns ovos, hein? - Daniel começou a sacudir negativamente a cabeça, revoltado, e Bobbi a imitá-lo, com os olhos arregalados e cheios de desespero. - E poderia ter terminado com aquelas pessoas inocentes. Você tinha de começar a mexer no passado, não é, Daniel? - Bobbi se agachou para apanhar o <i>The Observer</i>. Exibindo-o a Daniel, lamentou: - Você tinha de evocar "<i>Mickey Lenhador</i>" de dentro de mim, e eis "<i>Mickey Lenhador</i>" em toda sua glória. Eu sou "<i>Mickey Lenhador</i>".</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Por quê? - Insistiu.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Vida eterna. Robyn vai me dar vida eterna ao final de tudo. Do mesmo jeito que Goldman lhe deu, e ela interpretou errado no começo. - Bobbi deu uma risadinha, observando seus colegas, e voltou a se dirigir a Daniel: - Goldman não transmitiu HIV a Robyn. Você não entende que ele era um vampiro? Um vampiro numa linhagem de muitos, pessoas em posição de poder, dinastias cujos nomes você nem imaginaria, mas que escolheram a direção deste mundo onde nascemos. Robyn assumiu a mesma tolice que você, "<i>vírus da AIDS”</i>, e custou a ver a realidade, porém eventualmente entendeu.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Quando os homens estavam bem ao alcance para rendê-lo pelos braços, Daniel não hesitou. Ele atirou o braço com todo o peso acumulado sobre o ombro oposto, apanhando o queixo de um dos amigos de Bobbi com o golpe de direita. O outro o acertou com um chute no quadril, que o levou ao chão. Bobbi deu alguns passos cautelosos para trás, abrindo espaço para o duelo. Daniel conseguiu bloquear o segundo chute, agarrando o inimigo pela canela e o puxando com força. O trem corria suavemente, a toda velocidade, mas deve ter passado por um desnivelamento, comum a mudanças de túneis, pois, mesmo levemente, o trepidar dos carros o ajudou a fazer o inimigo perder mais facilmente o equilíbrio. Daniel o agarrou pelos cabelos e começou a enfiar a cabeça dele repetidamente no chão. Bateu com a cabeça cinco, seis vezes, até que o sujeito pareceu fora de si. Daniel vasculhou seus paletós. Ambos fortemente armados, foram-lhes tomadas as pistolas automáticas. Legrand examinou os pentes e guardou uma das armas na cintura. Quando se levantou, a seus pés permaneceram inconscientes os vassalos de Bobbi. Agora, eram só os dois. Apontou furiosamente o cano da pistola para o rosto da vocalista do <i>Takin’ my Time</i>.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Parker está sob meu poder, Daniel. - Só precisou se valer disso para fazê-lo abaixar a arma. Com a passagem por uma estação vazia, as luzes de <i>neon </i>chegavam pelas janelinhas, iluminando a face de Bobbi como um arco-íris. - Se você me matar, jamais a encontrará. Ela morrerá de inanição no subsolo de algum prédio público abandonado da prefeitura.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- A polícia inteira de <i>Londres </i>entrará no caso. Você não percebe que não pode ganhar?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você tem algo que nem mesmo a força britânica inteira possuirá: informação. - Bobbi exibiu um bilhete dobrado entre os dedos indicador e anular, e elaborou. - Mais do que qualquer outra pessoa, merece um assento de frente para o desfecho dessa história, que não começou só naquela estrada abandonada em 2004. Ela volta muito, muito atrás. Em 1994, talvez, quando você e Robyn não passavam de adolescentes. E mesmo que tenha sido por Parker por quem tenha suspirado conscientemente, eram os casuais encontros com Robyn que o mantiveram afiado e ansioso e lúcido para o <i>grand finale</i>. Vamos pôr um ponto final nessa história, gato. - Ela entregou o bilhete a Daniel. - Ninguém mais deve saber disso. Esteja lá às 08:00, caso contrário, Parker entrará na lista de vítimas de "<i>Mickey Lenhador</i>". - Quando o trem parou na <i>Oxford Railway Station</i>, Bobbi apontou para a porta e disse. - Suponho que você deva descer aqui. Aproveite o tempo, Daniel. Até às 08:00.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel regressou esbaforido ao quarto. "<i>Senhor? Senhor?</i>", a mocinha atrás da mesa da recepção insistia, sem que Daniel lhe desse qualquer atenção. Só foi atendida ao bater freneticamente à porta. Ela vestia uma expressão compungida, e segurava um exemplar do <i>The Sun</i>. O desaparecimento de Parker ganhara as primeiras páginas dos principais jornais do <i>Reino Unido</i>. Daniel sabia que era questão de tempo até Gladys e os amigos em <i>Cape May</i> saberem. A moça o convidou a realizar a ligação para os <i>Estados Unidos</i> pelo telefone na recepção, e assim Daniel o fez. Gladys atendeu sobressaltada, e o recado que Daniel precisou passar apenas a deixou mais aflita.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não queria que soubesse pela imprensa, vovó. Agora, deve fazer algo por mim. - Ia falando, enquanto procurava se manter atento ao aparelho de televisão que a recepcionista acabara de ligar. - Eu preciso que ligue para Bill & Gail e lhes conte que me encontro em <i>Londres</i>. Padre Girolamo e Suntee também terão um terrível choque, então quero que...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- <i>Danny</i>, Padre Girolamo já deve ter chegado a <i>Londres</i>! - Gladys revelou, a que Daniel ficou surpreso. Ela reiterou: - Sim, ele embarcou para <i>Londres</i>! Não suportou a ideia de deixá-lo sozinho na Inglaterra! O sr. Dieudonné se juntou ao Giro, também! Eles tiveram de obrigar o Suntee a permanecer aqui, já que você insistia numa pessoa a me checar durante os dias!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você lhes disse onde estou hospedado? - Indagou, já desconsiderando a possibilidade de que chegassem a tempo de ajudá-lo, principalmente levando em conta que tudo deveria estar acabado em horas.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sim. Lefty ligou. - Gladys soltou um palavrão irritado enquanto folheava o caderninho de notas. - A respeito do assassinato de Aramis, seu velho colega de sala de aula. Lefty conversou com o homem que cumpriu cinco anos de pena e encontra-se em liberdade condicional. Hoje, trabalha com recicláveis numa pequena firma de <i>Cape May</i>. Garoto prodígio, estudioso, tivera tudo para se tornar um grande homem, e acabou social e financeiramente arruinado após a tragédia.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- O motivo da briga, vovó! Lefty mencionou o motivo da briga!? - Daniel sentiu o nó acochar na base da garganta quando a notícia sobre o desaparecimento de Parker Cowan ganhou os telejornais da madrugada.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sim. Basicamente, alguém mandou um bilhete para o garoto alertando-o de que Aramis saía com a namorada. Veja bem, foi um grande desentendimento. O próprio rapaz se diz cheio de remorsos. Parece-me mais uma briga incitada por uma terceira parte que queria ver o circo pegar fogo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Foi Robyn. - Daniel declinou, claro como o dia.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- O quê? - Gladys não compreendeu.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Preciso ir, vovó. A BBC começou a reportar o caso. Eu te amo muito. - Ele teve dificuldades para completar a sentença, talvez porque não estivesse certo da promessa a seguir: - Nós nos veremos em breve. Trarei Parker de volta! - E desligou, não lhe dando tempo de resposta, abreviando a tortuosa conversa.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">O tempo não avançava a favor de Daniel. Enquanto esfregava as juntas doloridas sob uma ducha quente, procurava se aproximar do caos como se fossem bloquinhos de construção. Ele guardava certa noção de como seu "<i>castelo</i>" pareceria, uma vez que os blocos tivessem sido ordenados corretamente; entretanto, sua derradeira aparência, de tão perturbadora, ainda fazia com que o conjunto parecesse tão caótico quanto anteriormente à união das peças. Daniel vestiu botas novas, jaqueta para frio e luvas. Ele acomodou as duas pistolas sob o blusão de lã, e partiu sem nem mesmo fechar a porta do quarto. A uma marcha que estava a um sopro de virar corrida, ganhou a <i>High Street</i>, de <i>Oxford</i>. Do frio agressivo, não havia como se fugir. A <i>High Street</i> era uma das mais alargadas ruas que se podia conceber, e traçava uma gentil curvatura à beira de um lago, objeto de fotografias e pinturas de artistas inspirados pela leveza da visão. Ao longo do percurso, viu uma porção de construções da Universidade de <i>Oxford</i>, mas o único prédio a interessá-lo era a Igreja de <i>Todos os Santos</i>. Bobbi anotara o nome com o batom, e Daniel sabia que seria na <i>Todos os Santos</i> onde a guerra se daria. Sua corrida chamou a atenção de um grupinho de universitários na calçada da padaria. Em muitos outros lugares de <i>Londres</i>, pessoas faziam a mesma coisa, reunindo-se em frente à televisão par acompanhar o desenrolar do caso, ao passo que Legrand ia solitariamente em frente para resolver o impasse em pessoa. "<i>E agora, a nossa principal história de hoje: acredita-se que Parker Cowan, atriz de filmes independentes, tenha sido raptada pelo serial killer conhecido como Mickey Lenhador; mais notícias chegarão à redação no decorrer da manhã, porém repito...</i>". Os espectadores faziam um burburinho ao tempo no qual cenas de filmes de Parker dançavam pela tela. A Polícia Metropolitana devia apostar em peso em <i>Londres</i> como o lugar do provável cativeiro, e Daniel não alimentava expectativas de que seria ajudado em <i>Oxford</i>, o local onde o drama verdadeiramente se dava. Quando os policiais chegassem, para melhor ou pior, estaria tudo terminado.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Quando dobrou a esquina para a deserta avenida da <i>Todos os Santos</i>, os cabelos da nuca eriçaram; o sentimento de tragédia era iminente, palpável. Gárgulas encurvadas decoravam em admirável melancolia as partes mais salientes das calhas dos telhados nas duas altíssimas torres ocidentais da igreja, ladeadas por pedras bem esculpidas as quais representavam folhas estilizadas, encurvadas e repetidas, rematando as arestas dos pináculos. A impressionante postura só parecia possível graças ao arcobotante, os meio-arcos eretos na parte externa para apoiar as muralhas exteriores, repartindo o peso das paredes e colunas. O portal principal, mesmo intimidador em suas agressivas arquivoltas, apresentava-se semiaberto, e tudo o que Daniel precisou fazer foi empurrá-lo. A nave o recebeu em opressiva escuridão. Não demorou aos olhos de Daniel se acostumarem ao breu, e capturarem as elegantes, clássicas linhas arquitetônicas daquele medieval <i>revival </i>à parte. Nisso, foi ajudado pela réstia de luz do dia a penetrar através das janelas laterais mais altas e enfileiradas, na nave da igreja. O edifício era essencialmente vertical, corredores e mais corredores de rampas em interminável corrida ascendente até à abóbada, uma cobertura côncava e arqueada a qual parecia comportar uma pequena rampa, bem como galerias a levarem para o lado de fora - <i>para aqueles que não tinham vertigens</i>. Um pouco acima, a abertura circular preenchida pelo vitral horizontal a olhar para baixo, o qual combinava vários tons da mesma cor, a retratar <i>Maria Santíssima</i> com <i>Menino Jesus</i> nos braços.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel andou cautelosamente através do átrio para bisbilhotar o interior. O lugar dava a impressão de esvaziamento, mas ele conseguia pressentir olhos ameaçadores sobre sua pessoa. Daniel não duvidava: sua chegada não passara desapercebida. Caminhando entre os bancos, parou bem no meio da nave semicircular e gritou "</span><i style="font-family: arial;">Aqui estou eu, Bobbi!</i><span style="font-family: arial;">". O eco reforçou o desafio duas, três vezes, reverberando nas superfícies de muralhas mais antigas que o século XX, até se perder na altura. E então, como que em resposta ao desafio, um vulto apontou entre as duas fileiras de bancos imediatamente anteriores a Daniel. Ele ainda encontrou tempo de enxergar a sombra do inimigo erguendo o rifle em sorrateiro movimento. Daniel se virou o mais rápido que pôde, agarrando o cano da arma e o apontando para adiante. Na luta, o gatilho foi apertado, e com o fortíssimo recuo da escopeta, ambos perderam o equilíbrio. Daniel conseguiu tomá-la, e acertar o rosto do inimigo com o cabo, deixando-o fora de combate. Dois outros homens apareceram por trás da pia batismal, abrindo fogo. O barulho dos disparos era enormemente potencializado pela grandiosidade do ambiente. Daniel desatou a correr, as balas passando muito rentes ao corpo. Arremessou-se entre duas filas e permaneceu agachado. Deu conta de que não tinha balas para a escopeta, e os homens logo perderiam o respeito que a potente arma inspirava. Não levou mais do que dois minutos, pareceram compreender que o americano não tinha munição para escopeta. Avançavam a passos relutantes, na direção correta, ainda sem distingui-lo entre os móveis arrebentados no tiroteio. Daniel tentou pôr a cabeça na passagem central, mas só agravou a situação. Eles o viram e começaram a atirar. Rastejando por entre as filas, sua cabeça estava tão confusa que só então foi se lembrar de que não precisava da escopeta. Recordou-se das pistolas que tomara no vagão, ao senti-las como volumes na cintura. Ele as puxou com muita delicadeza, segurando-as na altura do rosto e ao lado.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Serpenteando entre as filas, Daniel desferiu seu melhor chute num dos bancos. O móvel deslizou como uma carreta volumosa para a passagem principal da nave. Os homens se atrapalharam, um deles quase caiu. Era a oportunidade. Saltou do meio daquela porção de filas disparando as duas pistolas, e os inimigos não tiveram tempo para reação. Depois de derrubá-los, apontou para cada uma das muitas janelas que ladeavam a igreja, e as pôs abaixo, permitindo que o dia e o gélido ar penetrassem. Foi um instante indescritível, quando a escuridão foi atropelada pela triunfante claridade de uma manhã gloriosa. Empolgado, perdeu um pouco o foco, um erro. O homem que ele colocara fora de combate previamente tinha recobrado a consciência, mas se fingia de desacordado. Quando Daniel lhe deu as costas, girou um dos bancos sobre a cabeça e apanhou Daniel bem nas costas. Ele foi ao chão, e deixou as pistolas escaparem das mãos. Girando insistentemente ao longo do corredor, as armas agora estavam perdidas ao seu detentor.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ela assusta, mas precisa de munição para funcionar, meu caro. - O inimigo municiou a escopeta com projéteis vermelhos enormes, e fez mira no peito de Legrand. - Eu te saúdo, amigo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">O vilão não chegou a apertar o gatilho. Um misto de chamas e sangue grosso estourou de sua garganta num piscar de olhos. Tanto se resumira a uma fração de segundo, ele nem parecia ter recebido um tiro no pescoço. Era como se o projétil sempre tivesse pertencido a seu ser, tão suave e naturalmente o abate se desenrolara, bem diante dos olhos de Daniel. O homem caiu primeiro com os joelhos, e então desabou para frente, como um boneco de pano, como se tivesse se lembrado de um encontro urgente com o piso. Legrand tentou triangular de onde viera o tiro, mas não enxergou o autor do disparo. Quem ele viu, todavia, foi a vocalista do <i>Takin’ my Time</i>. De uma das curvas da interminável subida espiralada, Bobbi fez sua primeira aparição da manhã. Agora que o dia penetrava pelas janelas quebradas, Daniel guardava uma boa vista da inimiga. Ela puxou para cima a máscara de <i>Mickey Mouse</i> e acomodou sobre o ombro direito a sua besta com mira de ponto vermelho. Bobbi parecia uma sombra, seu corpo tomado por um ajustado <i>outfit </i>de borracha negra, como se fosse egressa de um clube gay sadomasoquista.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel tomou a escopeta do corpo aos pés, mas quando a tinha em mãos para fazer mira, Bobbi já tinha sumido; ainda assim, apertou o gatilho, o disparo devastando um pedaço enorme do corrimão da subida. Nisso, nova surpresa: Giro e Dieudonné chutavam as cadeiras a atrapalharem a passagem pelo eixo central, Dieudonné com um revólver em mãos: fora ele o homem que salvara sua vida. "<i>Fiquem no átrio, permaneçam no átrio!</i>", Daniel ordenou, aos gritos, reunindo-se à dupla. Embora furioso, abraçou-os com carinho, grato pela presença. A emoção em especial no abraço dado a Padre di Sofia era idêntica a quando tinham se abraçado após a aventura no avião da <i>American Airlines</i>, a felicidade em se ter seu melhor amigo são e salvo após um grande risco.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Oh, vocês dois! Não se emendam, hein? - Daniel se sentia engasgado, a cabeça embaralhada por muitos sentimentos. A presença daquelas pessoas a quem tanto amava trazia o melhor de dentro de si. Ao mesmo tempo, sabia que ainda não arrancara Parker das garras de Bobbi, e ao vê-la tão desenvolta correndo pelas galerias, nutria sérias dúvidas de que conseguiria. Precisava aceitar a ajuda oferecida por Giro e Dieudonné, por mais que se sentisse péssimo ao colocá-los na linha de fogo. - Eis o que preciso que façam: deixem a <i>Todos os Santos</i> e chamem a Polícia! Imediatamente! Digam que "<i>Mickey Lenhador</i>" foi encurralado na<i> Todos os Santos</i>, e que precisam fechar as saídas do quarteirão!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não há tempo! Não vamos deixá-lo! Escute-me, Legrand… - Dieudonné ia falando, enquanto sua vista tentava pontuar algo acima de suas cabeças. - Somos alvos fáceis aqui embaixo e…</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Aramis foi mesmo morto por Robyn, senhor, ao menos indiretamente. - Daniel balançou a cabeça, cheio de decepção e dor pela dura verdade que tinha para o agente do MI6. - Eu lamento. O autor do homicídio… Foi um crime idiota motivado por uma carta mentirosa deixada no armário do cara. Alguém quis a confusão, porque precisava se livrar do testemunho de Aramis.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Oh, Deus… - Etienne abaixou a cabeça e se permitiu chorar por um minuto ou dois.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Como souberam que eu estaria aqui?! - Daniel perguntou ao Padre di Sofia.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Chegamos ao seu <i>bed & breakfast</i>, mas você já tinha partido. Encontramos um bilhete escrito a batom, e viemos. Daniel, eu não quero que...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Giro... Meu grande amigo! - Observava-o com a consideração de um filho a olhar para seu velho pai. Daniel soube naquele momento o quanto o amara, o quanto sempre o amara, como se Girolamo fosse o pai. - Amigos, deixem-me partir. Tragam a polícia! Sou grato ao que fizeram por mim, e os amo, mas preciso fazer isso sozinho!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Olha só, não aceitaremos sua recusa! - Dieudonné exclamou. - Nós vamos contigo, não vamos abandoná-lo!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- É isso mesmo. Aonde um for, os outros vão! - Giro sentenciou.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel correu para a subida com os amigos em seu encalço, e as foi ganhando facilmente. Parecia não se preocupar com o fato de estar desarmado. Ocasionalmente, detinha-se para examinar os corrimões acima, à procura de um cotovelo ou mão à mostra, qualquer coisa a entregar a posição de Bobbi. Uma flecha subitamente rasgou a parte de cima do ombro, partindo-se ao se chocar contra a parede rochosa. Daniel não pôde precisar de onde viera o disparo, apenas concluiu que os três se expunham absurdamente, abaixo da arqueira. Continuaram correndo pela subida espiralada, sem se deterem mais. Daniel conseguiu escutar muito bem a mais dois estalidos da besta, e então a crepitação com a qual as flechas se partiam quando as pontas encontravam rocha nua. Novamente, não soube de onde vinham os tiros. Queria gritar por Parker, mas anteviu que Bobbi provavelmente a incapacitara com cordas e mordaças. Exclamar pela namorada apenas entregaria a localização. Agora, encontravam-se no último andar da <i>Todos os Santos</i>. Apenas corrimões muito velhos impediam a queda impressionante até ao magnânimo eixo central. Procurando não olhar para baixo para afastar as vertigens que o derrubariam tão bem quanto as flechas, Daniel foi vasculhando as galerias que fluíam a face externa do edifício, sempre cauteloso, seus punhos como únicas armas. Finalmente, grunhidos o levaram de volta a dentro, ao beiral, onde encontrou Parker com mãos e pés amarrados, e uma mordaça que a impedira de gritar.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você está bem agora, meu amor! - Tentou oferecer algum consolo. Parker encostou o rosto no ombro do namorado, e desatou a chorar. - Vamos, precisamos sair daqui antes que ela...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Bobbi esgueirava-se para fora de uma das pilastras, o lazer da besta fechando mira no centro do pescoço de Daniel. Ela estava a um deslizar de dedo para matá-lo, e o teria feito, não fosse pelo velho Girolamo, que gritou assim que os enxergou sob mira. Automaticamente, Daniel se jogou sobre a atriz, e os dois saíram rolando pelo beiral, parando bem a tempo de evitar uma queda, desviando-se da rota da flecha, que perpassou um pedaço de tábua de rampa e perdeu-se ao cair abismo abaixo. Bobbi virou-se furiosa em direção aos inesperados visitantes, e antes que Giro e Dieudonné pudessem se albergar, receberam os disparos de flecha: Giro recebeu um tiro que lhe atravessou o braço; Dieudonné teve uma flecha cravada numa das coxas. O agente secreto gritou, xingando-a, empunhando a pistola e abrindo fogo; as balas pegaram as pilastras, a assassina se livrando por um triz. Bobbi levou a mão à aljava, para procurar por mais flechas, mas ao ver Daniel investir contra sua pessoa como um trem fumegante, jogou-a de lado. De trás da coluna, ela reapareceu com um machado de aço de cano longo mais fino, extremamente letal. A lâmina chegava a brilhar ao toque dos raios de sol. Daniel evitou o golpe em vertical ao se jogar ao chão, e com a cambalhota, conseguiu recuperar a besta desmuniciada. Utilizando a peça como escudo, ele se livrou de mais três golpes desferidos por Bobbi, que então pareceu desistir e correr para a galeria acima, para a fachada.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel e Parker ajudaram-nos a se deitarem melhor na rampa. Bem distante, vinha o rumor de sirenes, soando aos ouvidos como música. Sorriu brevemente ao considerar que a comoção na catedral, de alguma forma, chamara a atenção das pessoas. Ao passo que o machucado no Padre di Sofia tinha sido somente de raspão, Daniel precisou de cuidado no instante de ajudar Dieudonné. Ele extirpou a flecha, vagarosamente, para que a mesma não quebrasse antes de sair por inteiro da coxa. Sofrível que fosse, a breve cirurgia deu certo, e Daniel atirou a flecha de lado.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Fiquem juntos! - Afagou a namorada, e então beijou o padre na testa. - Você vai ficar bem, Dieudonné. Você também, Giro. Não posso perdê-la agora!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Para onde ela foi? - Giro indagou, os olhos fechados, os dentes trincados de dor, a mão no ombro cortado.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Para fora, através de uma das galerias! - Ele apontou.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel empunhou a besta pelo cabo como o faria a uma rudimentar arma tribal e, antes que começasse a alimentar novas dúvidas, tratou de correr para as galerias para alcançá-la antes que ela se suicidasse, atirando-se do alto. Não havia outro desfecho possível que não o duelo `a morte. Carros de polícia fechavam as vias de acesso a <i>Todos os Santos</i>, e estudantes aglomeravam-se contra os cordões costurados no entorno. Daniel percebeu que as galerias terminavam na saída para as torres e, assim sendo, forjou o caminho até alcançar as duas torres gêmeas as quais ladeavam a fachada principal, ligadas por uma estreita passagem murada. Daniel sentia tontura, as luzes do dia apanhando os olhos, livres dos filtros dos vitrais. Um helicóptero executava rasantes. De lá, a vista da multidão a cercar a rua era espantosa, tão extraordinária quanto a cena do avião da <i>American Airlines</i> tombado na cabeceira um ano antes.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel movia-se com as costas rentes à mureta, atento para não escorregar pelas beiradas molhadas. Nas esquinas mais proeminentes, no topo da igreja, enxergava os baluartes, terraços pentagonais de duas faces, dois flancos e uma gola pela qual as gárgulas se prendiam à estrutura principal da catedral. Daniel alcançava um dos baluartes, quando enxergou a sombra de Bobbi sendo projetada diante de si, machado em mãos, acima da cabeça. Ele se esquivou a tempo, quase escorregando. Manejando a besta, Daniel foi se defendendo muito bem dos golpes desferidos por Bobbi. Ela parecia movida por uma fúria apaixonada. Cada rebatida reverberava nos ossos de Daniel. Tamanha a pressão, Daniel caiu com as costas para a mureta, que impediu uma apavorante queda pelo abismo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Tudo o que eu fiz... - Ela se explicava, arfando por oxigênio, apoplética. - Eu fiz por amor! Eu lamento, Daniel! - Ela levantou o machado acima da cabeça para desferir o golpe vertical que certamente romperia a besta e encontraria a cabeça do adversário.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Antes que desferisse o golpe de misericórdia, todavia, Daniel foi mais rápido: rolando para o lado direito, a descida da lâmina encontrou somente as pedras insculpidas. Quando Bobbi conseguiu arrancar o machado do muro, e se virou para tentar um novo golpe, ele continuou um passo à frente. Fortalecido pelo impulso, lançou uma voadora que a apanhou no centro do peito, e a jogou para trás, o peso do machado dando uma ajuda extra ao impacto. No último segundo, a cunha ficou presa à boca da gárgula. Bobbi se viu dependurada, nada a livrar o corpo da queda por vir, que não um pedaço de machado preso à boca de um demônio de dentes afiados. As luvas de couro agravavam sua precária situação, pois as mãos iam escorregando pelo entorno do cabo de carvalho. Daniel se esgueirou na beirada e estendeu a mão. "<i>Por favor, por favor...</i>", Bobbi suplicava, baixinho. Ele chegou a segurar uma das mãos da assassina, mas quando ela tirou a outra do cabo para tentar se agarrar definitivamente às de Legrand, perdeu qualquer ponto de apoio, e o peso do corpo terminou de entregá-la à gravidade. Bobbi despencou para a morte sem protestar. A gravidade virou-lhe o corpo de cabeça para baixo, e caiu de cara para a calçada, a força partindo a espinha como graveto, sangue pintando o cenário num impressionante raio de no mínimo cinco metros. E assim, "<i>Mickey Lenhador</i>" chegava ao fim da linha.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel ficou ali, com as mãos na beirada do baluarte, chocado com o terrível resultado da queda, o corpo de Bobbi prostrado como um boneco de pano com as juntas entortadas em ângulos impossíveis. Os policiais invadiram a <i>Todos os Santos</i>, justamente agora que a batalha fora ganha, e existiam câmeras vindo de muitas direções. Parker veio por trás, lívida e pálida. Daniel a abraçou, o vento dando no casal com muita força, açoitando-os em seu frescor umedecido. Ele a consolou. Quando voltaram `as galerias, conseguiram pontuar os policiais alcançando o mirante da abóbada. Paramédicos atendiam a Giro e Dieudonné. Daniel e Parker se ajoelharam ao lado dos amigos, mas os médicos não lhes concederam mais do que poucos minutos, logo iniciando o trâmite de remoção dos feridos. Ao descerem os degraus para fora da <i>Todos os Santos</i>, o mundo parecia a festa após um jogo decisivo, impressionante contraste ao pesadelo das últimas horas. Sob o sol de uma deslumbrante manhã em <i>Oxford</i>, Daniel examinou os ferimentos muito superficiais de Parker. Quando a atriz se opôs ao pedido dos paramédicos para acompanharem-na ao hospital, a insistência de Daniel venceu a teimosia. "<i>Eu a vejo logo mais, meu amor</i>", e depois que ela se sentou ao lado das macas de Giro e Dieudonné dentro da ambulância, pediu: "<i>Cuide bem de nossos amigos</i>". Exausto, assistiu `a ambulância partir.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Enquanto oficiais tomavam anotações das lembranças de Parker da abdução, Daniel fora acomodado numa sala reservada no prédio da Polícia Metropolitana de <i>Londres</i>, em <i>Westminster</i>. Sua presença atraíra muita atenção, com direito ao sensacionalismo envolvido. Os fotógrafos e profissionais de tabloides não se intimidavam, mesmo mantidos afastados do prédio, gritando perguntas sobre "<i>Mickey Lenhador</i>", se ele fora finalmente apanhado. Uma oficial colocou a cara na porta, e o chamou para tomar o depoimento. Ela serviu café com leite e canela ao copo de isopor, na máquina, e o entregou a Daniel. Ele provou a bebida e espiou pela janela. Parecia conhecer aquele filme, do Natal no ano anterior. A mesma atenção, o mesmo escrutínio midiático, acontecendo novamente. Pela janela na porta, podia contar com uma vista aberta do interior da delegacia. Logicamente, os canais tratavam do mesmo assunto, e Daniel ficou feliz pelos pais de Parker, que já sabiam da libertação da filha.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não queremos fazê-lo passar por mais aborrecimentos do que o estritamente necessário. - A oficial iniciou, benevolente. Ela tinha um belo sorriso, maçãs proeminentes, as quais iam contra a gravidade, uma jovem <i>Naomi Watts</i>. - Nós pegamos nosso homem, ou melhor, nossa mulher. Bobbi Chapman é "<i>Mickey Lenhador</i>". A história confere. Ela é britânica, vivia em <i>Oxford </i>em 2004, quando as primeiras mortes aconteceram. O álibi de Bobbi? A fama. Quem suspeitaria de uma…</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Senhorita, por favor. - Daniel ergueu a mão, perturbado. - Eu não acho que seja tão simples assim. A primeira vítima, o artista, Goldman Roehmer… Eu acho que ele tenha sido morto por…</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Por Bobbi Chapman, certamente. - Ela completou, enquanto anotava alguma coisa numa folha de inquérito. - Bobbi transitava pela mesma turminha de Roehmer, Sr. Legrand. O pai de Bobbi é um homem forte da máfia local, e nunca conseguimos pegá-lo. Isso explica os homens que encontrou na <i>Todos os Santos</i>.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- E o motivo? - Daniel não gostava do rumo tomado pela conversa. Caminhava a passos largos para o arquivamento.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Parker Cowan é a irmã de uma ex-namorada de Roehmer. - Ela respondeu, levantando os olhos para Daniel de maneira minuciosa. - Creio que Bobbi era apaixonada por Roehmer e, de certa forma, quis atingir a ex-namorada.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Mas como pode afirmar algo assim com tanta certeza?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Por causa disso aqui. - Ela soltou um invólucro plástico o qual continha uma carta. - Encontramos num bolso interno da roupa dela.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"> <br /> Daniel examinou a carta, basicamente uma confissão dos crimes de 2004 atribuídos a "<i>Mickey Lenhador</i>" e uma declaração de amor incondicional a Roehmer. Bobbi basicamente puxara para si toda a responsabilidade. Pela tarde, a televisão só tratava da chocante revelação da identidade do <i>serial killer</i>. Vestindo óculos escuros e um chapéu, Daniel conseguiu passear desapercebido por entre fregueses de um <i>pub</i>, e assistir `a transmissão direto de <i>Oxford</i>. Imagens de Bobbi com o microfone em mãos, liderando o grupo num show no estádio de <i>Wimbledon</i>, intercalavam as entradas ao vivo da <i>Todos os Santos</i> e da <i>Polícia Metropolitana</i>. Daniel fez sossegadamente o caminho por <i>Londres Central</i>, uma série de lindas construções anglicanas a acompanharem-no o percurso inteiro, expostas de variados ângulos. `A beira do Rio <i>Tâmisa</i>, deteve-se para ligar para Gladys. Daniel reiterou que as coisas corriam bem, e que estava a caminho para visitar Parker. Gladys contou que já conversara com Bill & Gail. Agora, com a saturação de informações de que Parker nada sofrera, haviam sossegado um pouco. Sob os protestos de Daniel, Gladys contou que tentara dispensar Suntee da obrigação de ficar de vigília, mas o adolescente se negava a voltar para casa e, de seis em seis horas, aparecia no alpendre para checá-la. "<i>Vovó, deixe Suntee fazer o trabalho, tudo bem? A gente se preocupa contigo</i>", Daniel contemporizou. Gladys ainda revelou que Robyn voltara com o marido para <i>Cape May</i>, para acompanhar os pais no delicado momento, e somente então Daniel parou para enxergar a eficiência do plano. Com a morte de Bobbi, qualquer ligação com o assassinato de Roehmer não existia mais. De uma maneira impressionante, Bobbi se colocara na cena do primeiro crime, e levara para o túmulo a mentira que livrava a cara da verdadeira culpada. Em menos de meia hora, ele chegaria ao <i>St. Thomas Hospital</i>, e ainda não pensara em como explicaria a Parker que ela corria o risco de ser portadora do vírus da AIDS.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Atormentado pelo dilema, o conflito foi dirimido quando sua mente buscou na adolescência os momentos com Padre di Sofia. Dentre tantas coisas que ele falara, Daniel jamais se esqueceria de Giro, ao conversar com sua versão aos quinze anos, e perguntar: "<i>Você quer o céu para ela? Então você a ama, pois amar alguém é querer que ela vá para o céu</i>". Livre do peso da responsabilidade de fazer a este ou aquele feliz, afinal nada no mundo poderia tornar outrem feliz, que não uma dura missão, Daniel considerou que na árdua tarefa de apoiá-la no dia a dia, perdoando-a pelas faltas e se deixando perdoar pelos seus próprios irritantes defeitos, estariam a caminho da felicidade. Quando se apresentou no serviço de recepção do <i>St. Thomas Hospital</i>, sabia como tratar a questão com Parker. Daniel dissociou o ocorrido na <i>Todos os Santos</i> da questão da AIDS. Ele decidiu proteger Robyn – e, portanto, o nome da família Cowan - ao repassar `a atriz a versão "<i>oficial</i>": apaixonada por Goldman, a falsa melhor amiga ressentira Robyn ao longo dos anos. Fora por ciúmes que Bobbi despedaçara o artista a machadadas, e iniciara a matança a qual assombrara <i>Londres </i>por duas noites no segundo semestre de 2002. Ela pretendera atingir Robyn através de Parker. Duas policiais da Força Metropolitana acompanhavam o reencontro do casal. Para abordar o assunto sobre Aaron, pediu-lhes delicadamente certa privacidade. Deixados `a vontade, Daniel segurou as mãos da namorada e se pôs a contar como começara a se lembrar do ocorrido naquela fatídica noite na estrada. Aaron se suicidara porque se descobrira portador do HIV. Fora por essa razão que o procurara naquela noite, na festa de máscaras: pedir desculpas pelo fim do relacionamento de Parker & Daniel, responsabilidade a qual julgava sua, e desabafar sobre os temores que até então vinha requentando solitariamente. Quando Daniel perdeu o controle na estrada, foi porque acabara de escutá-lo e precisava avisá-la com urgência dos riscos de ter adquirido o vírus também. Ela escutava a tudo, os olhos abismados, o rosto uma máscara de dor.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Leva anos para se manifestar. Quando os médicos começam a investigar as causas pelas quais alguém apresenta diagnóstico de pneumocistose ou toxoplasmose, por exemplo, a pessoa já deixou a condição de portadora para a de doente de AIDS. - Invocar coragem para apoiá-la parecia ainda mais difícil do que lutar com Bobbi na torre da <i>Todos os Santos</i>, mas sabia que fazia um bom trabalho. - Seis anos se passaram, e existe a possibilidade de o vírus estar incubado. Quanto mais cedo descobrirmos, melhor. O HIV não é uma sentença de morte, Parker, mas se de fato for soropositiva, teremos de tomar os cuidados necessários para que nunca desenvolva a AIDS. Nós dois devíamos nos submeter ao teste.<br /> - Oh, <i>Danny</i>. Oh, <i>Danny</i>. - Repetia, e Daniel escondeu as lágrimas, de rosto baixo. Os músculos de seus ombros doíam, esgarçados, as juntas o torturavam. Queria se mover, respirar ar fresco, mas não conseguia. Na cabeça de Parker, a primeira imagem a lhe ocorrer foi a de uma cortina muito escura sendo cerrada, de modo a impedir a visão tão esperada de um vale muito amplo: seu futuro.<br /> - Independente do resultado, eu jamais me afastaria de… - Ele nem pôde concluir.<br /> - Seria justiça poética, não? - Abraçaram-se, chorosos. - Eu te deixei esperando naquela parada, há seis anos, quando você estava por baixo. Agora, fará o mesmo por mim.<br /> - Você não me conhece? - Rebateu. - Não seja tola. Eu não vou deixá-la. O que se passou, passou-se. Éramos muito jovens, lá atrás, Parker. Fomos vítimas. <br /> - Fica comigo? - Perguntou, com um jeitinho cândido de criança. Daniel não soube precisar se a atriz se referira a permanecer no quarto, ou `a possibilidade de um resultado positivo.<br /> - Fico, sim. - Ele subiu cuidadosamente na cama, e a abraçou.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">O médico e as enfermeiras os atendendo eram excelentes. Daniel não precisou aprofundar-se no pedido. O médico cuidou dos detalhes para o procedimento da coleta de sangue, realizado pelo casal naquela mesma tarde. "<i>O resultado sairá em cinco dias</i>", o enfermeiro responsável pela coleta de material prometeu. Parker queria deixar o lugar na mesma tarde, juntar-se ao namorado no <i>bed & breakfast</i>, mas Daniel foi contra a decisão. Com muito tato, soube refrear a impaciência, convencê-la a permanecer no <i>St. Thomas</i> pelo período julgado conveniente pela equipe médica. Ainda alimentada por uma bolsa de transfusão de sangue, o doutor lhe deu uma pequena dose de sedativo que a ajudaria a passar melhor a noite. Daniel segurava as mãos da namorada, quando Parker adormeceu. Passou nos quartos do padre di Sofia e do Agente Dieudonné. Por exigência ferrenha, Giro conseguiu se livrar do hospital com um curativo no ombro e uma cartela de antibióticos, naquele mesmo dia; Dieudonné, por sua vez, precisara de uma cirurgia na perna, e só despertaria no dia seguinte.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Famintos, pararam numa cafeteria na estação de trem para comerem alguma bobagem, mas mudaram de ideia assim que viram imagens da<i> Todos os Santos</i> na televisão. Giro sugeriu comprarem lanches rápidos na <i>Tesco</i>, e embarcaram no primeiro trem a levá-los de volta ao<i> bed & breakfast</i>. A imprensa não sabia onde Legrand se hospedara, a staff do lugar foi solidária, mantendo segredo. Receberam-no com felicitações, e mesmo após instantes tão dramáticos ao lado da namorada, não pôde deixar de esboçar um grato sorriso diante da consideração que lhe dedicavam. Deitados na cama, detidos pela exaustão, confabularam sobre os acontecimentos. Daniel não conseguia manter por muito tempo o foco do pensamento. Se resolvesse revisitar o brilhante cenário preparado por Robyn, a mente logo começaria a ameaçá-lo com uma overdose de saudade, com recordações de dias mais simples em <i>Cape May</i>, manhãs de muito sol e jogos de vôlei na praia. Depois de algumas horas de conversa, meteram-se em silêncio. Giro fazia as vezes de cuidador de Daniel. Sentado num canto, observava-o atenciosamente, os dois absorvidos pela quietude completa. Quando a recepcionista o contatou no quarto, para lhe passar uma ligação dos<i> Estados Unidos</i>, Daniel imaginou que se tratasse de Lefty. A cor em seu rosto desapareceu ao reconhecer a voz de Robyn.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Olá, Daniel. - A simplicidade do cumprimento soou irreal. - Obrigada pelo que fez pela minha irmã. Ela está bem?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Foi um terrível choque. - Daniel se levantou para empurrar as janelas de madeira emperradas. Era estranho, observar o mosaico de pedras através do caminho do jardim do <i>bed & breakfast</i>. Com a noite, a névoa surgia para obscurecer o ar pesado e úmido entre os troncos. - Bobbi se voluntariou a morrer e levar consigo a fatura pela morte de três pessoas, apenas para livrá-la da responsabilidade pela morte de Goldman. - Nisso, Giro escutava à conversa com olhos assustados e ansiosos.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"> - Contou a Parker as razões que levaram Aaron ao suicídio?<br /> - Eu me restringi a falar que ele estava convicto de que tinha AIDS. Eu subtrai seu papel na parte anterior do drama. - Daniel declarou. - Eu acho que Parker já sofreu o suficiente. Vocês já se perderam uma vez, ficaram anos sem conversar. Basta de cizânia e separação, Robyn.<br /> - Obrigada, <i>Danny</i>. - Ela voltou a agradecer, com a voz baixinha e, por um ínterim, quase comovida. - Estou curiosa, sabe? O que disse em relação a...<br /> - Como eu disse, eu não enfrentei a questão de como Aaron teria adquirido o vírus. Hoje, nosso sangue foi coletado por um enfermeiro. - Daniel sentou-se sobre a moldura da janela aberta. - Robyn, eu preciso te perguntar… Allen sabe de sua condição de soropositiva? Quanto a seus filhos…<br /> - Sim, ele sabe de meus segredos. E você também sabe, mas o assume como algo inteiramente diferente. Quando vai entender? Eu não tenho AIDS, Daniel.<br /> - Não, eu sei. - Daniel pigarreou, e corrigiu. - Você tem o vírus, e...<br /> - Eu não tenho um vírus. Eu tenho outra coisa. - Uma pausa. Daniel podia pressentir o que viria a seguir. - Uma coisa que Goldman me passou. E então, assim como Aaron, atormentei-me com a ideia de que tinha o vírus. E arquitetei uma vingança. Eu o matei e contaminei Aaron e a minha irmã, indiretamente; entretanto, foi somente depois que veio a fome, que eu soube...<br /> - Eu não a arrastarei para o mar de lama, Robyn, mas nós precisamos acertar as contas. A polícia jamais saberá, nem mesmo sua família. Ocorre que eu sei, e tudo o que peço é que sejamos sensatos. Pare com essa conversa, você me assusta! Já não foi suficientemente apavorante? <br /> - A sede, Daniel, por sangue. No início, achei que tinha enlouquecido, mas era verdade. E fiz os exames. Fique logo sabendo: o resultado do exame da Parker voltará negativo. Ela não tem HIV ou AIDS; mas ela já vem sentindo a fome há alguns anos.<br /> - A fome. A fome de sangue! - Disse, como se proferisse um absurdo, uma blasfêmia. Giro e Daniel se entreolharam, verdadeiramente terrificados. - E eu suponho que você…</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não, eu não saio por aí mordendo as pessoas. - Uma risadinha glacial. Ela prosseguiu: - Eu nunca fiz isso. Há formas de se obter sangue dos principais hemocentros do país. Quando nos convertemos, Daniel, entramos para um clube exclusivo. Parker provavelmente sofre para conseguir, porque não sabe ainda que é uma vampira como eu, então deve se virar com bezerros ou carne crua; entretanto, ela logo saberá.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Por favor, Robyn, não me diga isso!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- A conversão, Daniel. O sexo anal, pois envolve fricção, troca de fluidos e ranhuras... Sangue, compreende? Sua pureza o livrou.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Meu Deus. - Ele disse mais a Giro do que a Robyn.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não que não tenha sido tocado por sexo corrompido. Você o foi, apenas não se lembra: uma mulher mais velha tirou vantagem de você, aos 9 anos ou menos, enquanto esteve longe de sua mãe e avó. Sua mente bloqueou o evento. E embora tivesse seu corpinho de criança <i>in extremis</i>, não é a carne o objeto do pecado. É a alma. E você não podia sequer compreender a experiência apavorante que aquele saco de preservativos imundos que era aquela cadela escrota realizou sobre você. Deve se perguntar como eu sei, não?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Do que você... - Embasbacado, tentava concatenar certo sentido; porém se perdera completamente. <br /> - Saberá. Muitas coisas de sua vida, coisas perdidas de si, eu sei, Daniel. Eu soube do trauma. Eu soube do mel. Eu sei que ela chupou você e colocou na boca as bolas e o pênis simultaneamente, ela te esganou e te forçou a enfiar o seu bracinho rabo adentro dela, até a altura do cotovelo, como se quisesse te absorver. Ela torturou você e te humilhou, e após o estupro passou o tempo que tinha te ameaçando e desejando sua morte, pois morria de medo de a verdade escapar. Você saberá disso. e também verá que, quando o resultado do exame vier, virá negativo para HIV. Você já sabe, em seus ossos, que falo a verdade.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Após o fim da ligação, Giro esperou o amigo falar alguma coisa, mas os pensamentos de Daniel o levavam para longe. O padre lhe ofereceu uma garrafinha d’água. Daniel deixou as árvores em paz com a névoa, e lacrou a janela. Só a ideia de se sentar com Giro àquela hora para explicar o que Robyn insistia em dizer parecia para além de suas faculdades intelectuais para compor. Sem se preocupar com diferença de fusos horários, quis telefonar para Suntee e, ao fazê-lo, escutou-o canhoneando-o com palavrões, perguntando-lhe por que desligara o celular e demorara tanto a contatá-lo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Porra, não faça isso comigo, meu patrão! - Vociferou. Ao fundo, escutou a voz de Olívia, sugerindo outras perguntas. - Cara, eu não sabia como falar contigo, seria mais fácil uma audiência com o presidente!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Desculpe-me, amigo, desculpe-me. - Deu uma piscadinha para Giro. Pela primeira vez naquela noite, a máscara retesada do rosto do padre desfez-se um pouquinho. - Terminou tudo bem, estamos fora de risco e nos recuperando: eu, Parker, o Padre di Sofia, o sr. Dieudonné. Escute, Suntee, você tem…</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Claro, meu patrão, tenho ido quatro vezes por dia para checar a dona Gladys. Sua avó e o gato vão bem, mas, porra, você precisa dar uma satisfação a ela, sua avó tá preocupada, ela tá...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Durante a conversa, Suntee sustou a pressão sobre Daniel: o cara mal acabara de sair de uma terrível situação de refém, vida ou morte, e não obstante devesse satisfações à avó e aos amigos, era compreensível que estivesse fora do ar. Satisfeito por finalmente manterem um diálogo, Suntee acabou se desculpando pelo tom exaltado. "<i>Não se preocupe com a Gladys!</i>", o jovem reiterou, "<i>Vou dormir na casa a partir de amanhã</i>". Ao oferecer-se a ficar com a avó enquanto Legrand não retornasse, Suntee sacou um dilema horrendo da cabeça do amigo, abrindo-lhe uma janela de oportunidade para cuidar das coisas mais prementes. A confusão não demorou a chegar. Era madrugada quando Padre di Sofia e Daniel foram despertos por uma ligação do lobby. Chamavam-nos no<i> St. Thomas</i>. Ao apanharem um táxi, os amigos pensaram que se tratava de algo relacionado a Dieudonné; entretanto, ao chegarem ao hospital, viram que o agente estava repousando, fora de risco e em recuperação. O problema fora Parker. Ao saírem em disparada pelos corredores muito brancos e iluminados, rumo ao quarto da atriz, depararam-se com uma macabra cena ao olharem através da janelinha, Parker sendo contida por quatro enfermeiras, com a bolsa de sangue rasgada na boca, a bolsa que ela mesma mordera. Repentinamente, pesou sobre o pé do estômago de Legrand que Robyn não mentira. "<i>Meu Deus</i>", balbuciava consigo, amparado por Giro, afastando-se momentaneamente do quarto, pasmado e confuso. Era todo um novo jogo, um novo terreno. Nenhum dos dois sabia o que dizer ou fazer.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel teve de se recompor; somente ele teria como acalmar a namorada. Enquanto a afagava, deitado com Parker na cama, seus olhos vidrados fitavam o escuro através da janela enquanto a mente voltava a determinado ponto do ano corrente, quando, à época da reaproximação de Parker e antes da confusão, os animais do frigorífico de <i>Elizabeth </i>causaram celeuma ao aparecerem drenados por um predador desconhecido de passagem, de um dia para o outro. "<i>Jesus misericordioso</i>", Legrand pensou, "<i>Fora Parker, tentando suprir a fome, sobre a qual Robyn falara</i>". A presença de Legrand funcionou, e Parker conseguiu dormir com a ajuda de sedativos. No dia seguinte, deixaram o hospital. Giro e Parker foram muito bem atendidos pela Força Policial, que prometeu tomar conta de sua segurança pelo tempo durante o qual escolhessem permanecer em <i>Londres</i>. Parker foi recebida com carinho pela equipe de filmagem, capitaneada pelo companheiro de cena, Barclay Harrison, o mais consternado. O consenso era de que já em janeiro de 2011, o filme, ainda sem título, estaria pronto para lançamento. Parker agradeceu ao suporte dos companheiros, mas parecia decidida a se juntar ao namorado no <i>bed & breakfast</i>. Sendo assim, os três – Padre di Sofia, Parker e Daniel – estavam juntos novamente. A única falta a prendê-los a <i>Londres </i>era o resultado do exame de sangue, ainda pendente. Às vésperas do dia 28, mudando ligeiramente o foco do drama, a banca responsável pelo concurso prorrogou o prazo para a divulgação do resultado das provas, e Daniel e Suntee ganharam mais uma semana extra de expectativas até a publicação definitiva da lista de aprovados.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Na tarde na qual o casal foi chamado ao <i>St. Thomas</i>, Daniel soube que teria diante de si uma bifurcação: ou o resultado retornaria positivo para o vírus e teriam uma árdua caminhada adiante, ou a horrenda hipótese levantada pela irmã se confirmaria, e provaria quão pouco Daniel conhecia dos misteriosos caminhos e mistérios do mundo. Para a segunda possibilidade, Daniel não considerara uma forma de lidar com o desafio, era tudo tão macabro e surreal que sua mente não guardava parâmetros ou alicerces para avaliar o contexto no qual teria diante de si aquilo a que costumavam chamar de "<i>vampiros</i>". Sentados de mãos dadas, eles anteviram, no ato de entrada do infectologista, a resposta a qual tinha para dar. Ombros relaxados, movimentos ágeis, o homem tinha grandes notícias. Parker não era soropositiva.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Com o tempo, ela se sentirá absolvida deste caos. Dê-lhe algumas semanas. - A maneira gentil e aquecida com a qual o médico falava minimizava até mesmo as preocupações de Daniel. - Parker retornará aos deveres do dia a dia, os eventos se tornarão coisa do passado. Daniel... - Ele pareceu relutar, incerto se invadia uma seara muito íntima onde não lhe cabia avaliações ou conselhos. - Apesar de eu não ter dúvidas de que ela gozará de uma vida plena e feliz, livre de uma doença tão pavorosa, você consegue me entender quando eu te lembro de que precisará aprender a conviver com uma pessoa cuja psique foi profundamente tocada pelo trauma. Você compreende onde quero chegar?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu realmente a amo. - Respondeu, com tocante simplicidade, e apesar de sua declaração representar tudo o que o médico precisasse ouvir para dissipar os medos, Daniel continuou. - Os últimos momentos sobre a <i>Todos os Santos</i> só terá a importância que lhe dermos, e já adianto que para mim, não vale nada.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Acho muito valorosa, sua escolha. - Ofereceu-lhe uma mão companheira sobre o ombro. - Desejo sorte e felicidade à nova vida a dois.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Uma gama de emoções e sentimentos antinômicos descendeu em peso como tempestade sobre suas cabeças. Eles choravam de felicidade, mas também de medo. "<i>Meu Deus, Danny, no que estou me transformando?</i>", soluçava baixinho, para que somente ele a escutasse. Daniel pôs um braço em torno da cintura dela. Encontraram um fim de tarde fresco e aprazível ao saírem pelo <i>lobby </i>do belo hospital, a calçada lavada pela inofensiva chuva recente, a qual fora embora deixando a atmosfera úmida para sustentar um adorável olor de terra molhada, emanado das árvores de <i>Hyde Park</i>. Transeuntes iam e vinham, e os dois atravessaram a ponte do parlamento para observar o Rio <i>Tâmisa</i>, desapercebidos. O rio refletia um sol diluído, porém ainda presente. Incerto quanto ao que fazer para recuperar o humor da atriz, Daniel começou a praticar as mais hilárias caretas. Assim que o notou, Parker estranhou. Na segunda, começou a abrir um sorriso. Na terceira, dobrava-se em gargalhadas. Daniel então a abraçou, e ambos começaram a chorar baixinho, tristes mas esperançosos de que, de uma forma ou outra, logo mais, o futuro lhes sorriria, pois se tudo ocorria por uma permissão de Deus, Deus sabia melhor, e sabia conseguir o melhor usando estranhos caminhos.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">"<i>Eu não quero que se vá, meu amor</i>", a atriz pediu, às lágrimas. Padre di Sofia assistia à despedida, mais reservado nos seus receios, enquanto Daniel servia a mochila com suas roupas e as de Giro. Ele jurara que não custaria a se reunir a Parker. "<i>Não se livrará de mim sob circunstância alguma</i>", insistia, nas vezes nas quais ela o encarava com os olhos cheios de lágrimas. Daniel chegara à conclusão de que faria bem ao se adiantar. Sim, ele poderia aguardar o resultado do concurso já de volta aos <i>Estados Unidos</i> e começar a planejar um futuro para Gladys, <i>Cyrano</i>, Parker e para si, porém, principalmente, antes de encerrar aquele capítulo, precisava encarar Robyn e acertar as contas. Que ficasse entre os dois apenas. Sua ideia sobre a própria honra passava pelo encontro com Robyn, a subida ao ringue para o qual suas vidas haviam sido apenas uma crescente rumo ao<i> grand finale</i>.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel deixou <i>Londres </i>para<i> Nova York</i> sem um plano. Ele chegou no "<i>red eye</i>" que aterrissou no <i>Liberty </i>às 06:00, o mesmo horário que o tornara herói, menos de um ano antes. A turma de carga se encontrava por perto quando Daniel apareceu para apanhar a caminhonete. Assim que o viram, fizeram festa, deixando os afazeres para recebê-lo com aplausos e abraços. Psicologicamente esgotado, Daniel agradeceu os companheiros, e deixou que o levassem ao refeitório para um prolongado café da manhã e bate-papo. Pouparam-no de esmiuçar detalhes, apenas gostariam de saber se Parker ficara bem após a aventura. Eles lhe falaram sobre a loucura que vinha sendo no <i>Liberty</i>, a imprensa rondando, perguntando se alguém sabia quando Daniel voltaria aos <i>Estados Unidos</i>.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel não avisou a avó que chegaria, precisava ver a surpresa estampada no rosto dela, quando ele e Giro aparecessem. Ela parecia distraída, encostada no alpendre, apontando para a frente, orientando Suntee a regar corretamente as flores no canteiro, quando Legrand estacionou a caminhonete quase em frente ao portão de ferro. Os dois ficaram um tempão abraçados, bem sobre a terra remexida do canteiro, <i>Cyrano </i>saltitando e disputando a atenção do tutor com Gladys, Padre di Sofia e Suntee meio de lado, entreolhando-se, gratos por ter dado tudo certo. Giro fez o positivo com o polegar para Suntee; o jovem sorriu e falou, baixinho: "<i>Tomara que as coisas se aquietem agora</i>". Alguns vizinhos e moradores que transitavam pela rua no momento se detiveram para assistir ao bonito reencontro.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Sei que maltratei você, vovó. - Daniel lamentou, com uma xícara de café com leite em mãos, encostado no fogão. O espaço da cozinha parecia mais arejado e iluminado. - Se eu pedir para me esperar uma última vez... Uma última vez... Você procuraria me compreender?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Mas <i>Danny</i>... Você já sabe de tudo! O que há para...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não há nada mais a descobrir. - Respirou profundamente, flertando com os esboços muito primitivos do plano cujas primeiras linhas sequer rascunhara. - Trata-se de uma questão de honra. Eu preciso conversar com Robyn.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Agora, você é um homem completo. Você reclamava e se dizia um átomo solto, sem passado, sem história. Agora, é o dono da própria história. Não procure se vingar, <i>Danny</i>. Eu temo pelo que essa moça seja capaz de fazer conosco. Eu sei que gostava dela; entretanto… Ela lutava, não é? Eu me lembro que você ia assistir a Robyn quando ela competia, estou certa? Ela pode te machucar bastante.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Apoie-me somente uma última vez. - O pedido saiu num tom de súplica. Gladys fora pega em seu instante mais vulnerável. Daniel não partiria para <i>Nova York</i> sem seu consentimento.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Apenas volte logo. - Não foi a resposta esperada por Legrand, mas tampouco a que temia. - Não temos mais tempo a perder. Os anos passam muito depressa. A hora de retomar a vida é esta, e se perder o cavalo selado, provavelmente não encontrará outro tão cedo. Não se esqueça de seu concurso, e de tudo o que tem a perder. Isso vale para você, mocinho! - Apontou para Suntee, que meneou em afirmativo, respeitosamente, como se sua própria avó lhe tivesse dito a instrução!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br /></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Antes de seguir para a arrancada final rumo a <i>Nova York</i>, Daniel e Giro visitaram a passarela do mercado, deleitando-se sob o sol ao atingir seu zênite. Com os olhos na malha ferroviária da <i>Northeast</i>, Legrand ponderava uma porção de cenários para o encontro com Robyn. Simultaneamente, dava-se conta de que o resultado das provas sairia dentro de dias, e se perguntava se, perante um resultado favorável, teria como encarar mais uma grande mudança na vida e deixar <i>Elizabeth </i>para recomeçar noutro lugar com um novo e melhor trabalho. No comecinho da tarde, Daniel e Padre di Sofia desembarcaram na <i>Grand Station</i>, em <i>Midtown Manhattan</i>, sem levarem nada consigo. Eles nem tinham raciocinado em como chegar a Robyn; entretanto, se a psiquiatra se encontrasse na cidade, no mais tardar naquela mesma noite, Daniel poderia confrontá-la e, depois, regressar para casa, para <i>Elizabeth</i>, com a paz de espírito que o permitiria se concentrar em Parker e no que faria consigo a partir dali. Ao caminhar pela grandiosa estação, sobre sua cabeça, caia como uma epifania uma amostra de como a vida poderia ter sido, dos 24 aos 30 anos, e, talvez mais importante, a responsabilidade em mãos para encaminhar o futuro no sentido desejado, para reparar os desvios de rota. Daniel fez um comentário nesse sentido a Padre di Sofia; porém, o amigo contemporizou: "<i>Bobagem, filho, não entendemos os caminhos do Senhor</i>", Giro insistia. Eles se sentiram acolhidos por <i>Nova York</i> ao descerem as belíssimas escadarias para confluírem diretamente no <i>Main Concourse</i>, com suas três enormes janelas de mais de vinte metros de altura cada, e a pintura do céu e constelações na ampla abóboda. No relógio de quatro faces salvaguardado por fachadas de colunas e estátuas de <i>Hércules</i>, <i>Minerva </i>& <i>Mercúrio</i>, sobre a central de informações, viram as horas. Precisavam encontrar um lugar modesto onde pudesse passar as próximas 24 horas.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel escolheu o <i>King's Hotel</i>, o primeiro hotel barato encontrado na entrada do Brooklyn, para descanso. Por U$ 110,00, o lugar tinha seus encantos, um deles a localização, pois se encontrava a apenas três minutos da estação de trem da <i>9th Avenue</i>. Daniel e Giro fizeram um breve lanche no restaurante do hotel, e procuraram dormir um pouco. O sono de Daniel era interrompido pelo inquebrantável estado de alerta do mesmo, que acordava de quinze em quinze minutos, para lembrar-se de que precisava se informar se Robyn encontrava-se ou não em <i>Nova York</i>. Ele sabia que o Hospital <i>Monte Sinai</i> se encontrava na <i>Madison Avenue</i>, mas não imaginava até a que horas Robyn se encontraria no prédio, ou como poderia abordá-la melhor. Seu sono foi definitivamente interrompido às 15:00 quando, tendo "<i>pulado</i>" os intervalos de quinze minutos, havia conquistado algo parecido a sono. Daniel despertou assustado, e quando puxou o celular, não ouviu nada que não respiração do outro lado da linha. Ele caminhou trôpego de cansaço e susto à janela e, com os dedos frios, abriu um pequeno vão entre as cortinas. A vida seguia normalmente pelas calçadas.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Como sabe que estou em <i>Nova York</i>? - Disparou, certo de que se tratava de Corliss.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não há mesmo como demovê-lo da vingança, certo? - Veio a voz que Daniel aprendera a amar, por mais que pertencesse `a sua inimiga declarada. - Eu preciso provar a você que falo sério quando digo que vou destruir tudo o que ama, se quiser brigar comigo?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu deixei seus segredos morrerem com Bobbi. - Daniel sentiu-se verdadeiramente ameaçado. Ele jamais pensara que Robyn atentaria seriamente contra sua vida, mas agora podia afirmar, sem sombra de dúvida, que ela o mataria, sim, se ela se sentisse ameaçada. - Mas você não pode se escusar de se resolver comigo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Tentei ajudá-lo. - Robyn desistiu de firmar uma trégua, e aceitou que o acerto de contas com Daniel encontrava-se a uma questão de horas. - Estarei hoje às 21:00 no <i>Carnegie Hall</i>. - Ela desligou. Daniel permaneceu com o celular no ouvido, pensativo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel não teria como saber; entretanto, enquanto ele e Padre di Sofia tinham dormido, Suntee sofrera um acidente ao deixar a casa de Gladys para ir pegar algumas camisas em casa, numa saída secundária do loteamento. Um carro saíra sem que o motorista se atentasse aos dois lados ao passar para a estrada; não fora um acidente violento, mas Suntee ralara as canelas e sofrera uma concussão. O motorista se assustara e se evadira da cena. Uma ambulância tivera de levar o adolescente ao hospital em <i>Elizabeth</i>, contra os protestos do mesmo, que perdera o celular e, portanto, um meio de se comunicar imediatamente com os amigos. Em <i>Nova York</i>, Daniel e Giro tomavam canja de galinha numa padaria com velhos ventiladores de teto que pouco adiantavam, quando veio o horroroso impacto: o jornal da noite abria a programação com a cara de Daniel Legrand, por mais que não se tratasse exatamente de sua pessoa a notícia. O volume estava muito baixo, mas bastou a Daniel ver, com muito horror, a inclusões de imagens do Natal de 2009, para compreender que algo ocorrera em casa. Algo na sua mente sofreu um curto-circuito. <i>Meu Deus, Robyn atacara</i>. Ele partiu o celular em dois, e bloqueou da mente qualquer sentimento de luto ou perda. A partir daquele ataque, o interruptor na cabeça o tornara uma máquina de vingança. Tomando a sopa com a cabeça baixa, Giro não captara nada da terrível confusão em andamento, mas soube que algo definitivamente ocorrera quando Legrand deixou seu lugar sem dizer nada e sumindo após o tilintar da porta. Ele olhou para trás, por sobre os ombros, viu imagens da casa de Gladys em <i>Elizabeth </i>engolfada por chamas e, embaixo, a legenda: "<i>Avó do herói da American Airlines morre em incêndio doméstico causado por acidente de vazamento de gás; bombeiros debelaram as chamas</i>". Padre di Sofia saiu correndo da padaria, gritando o nome de Daniel, em pânico por tê-lo perdido de sua vigilância.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Os ponteiros indicavam 22:00 quando Daniel apanhou uma das linhas que faziam a parada na <i>7th Avenue</i> com <i>881</i>, onde se localizava a sala de espetáculos <i>Carnegie Hall</i>. Em dado momento, três jovens baderneiros entraram no vagão de Daniel, fazendo galhardeio. Um dos garotos estacionou diante de Daniel. Ele conservou seu olhar vidrado e distante, ao visitante não concedendo qualquer amostra de emoção. Ele sacou o revólver para ameaçar Daniel a entregar a carteira. Legrand reagiu tão automática e ferozmente que o assaltante nem teve chance: teve o .38 arrancado da mão pela pretensa vítima, e Daniel enterrou o cabo com toda a força na face do rapaz. O impacto afundou a parte frontal do crânio. Os outros dois, que vinham aterrorizando outro passageiro, voltaram-se `a cena, imobilizados pelo terror. Daniel avançou contra ambos como uma locomotiva sem freios. Nocauteou o primeiro com a força do corpo pesado. O terceiro fez menção de querer sacar a arma no bolso da jaqueta, mas Daniel o golpeou com a parte de aço do revólver, esmigalhando a cartilagem do nariz. Ele caiu sentado, e Daniel continuou o trabalho com pisadas na cara, detendo-se apenas por causa dos gritos da passageira, histérica ao testemunhar a extensão do estrago. O assaltante perdera completamente a face, maxilares separados e partidos, o nariz dependurado por um fio de músculo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Robyn Corliss! - Daniel berrou. - Robyn Corliss! Vocês estão me escutando?! Podem vir para cima, eu não tenho medo! Estou indo pegar a chefe de vocês! Ela pagará pelo que fez à minha avó!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel desceu na <i>Penn Station</i> coberto do sangue dos três assaltantes. Ele saiu pelas escadas a darem no <i>Madison Square Garden</i>. Precisava caminhar pouco mais de um quilômetro até alcançar o <i>Carnegie Hall</i>, e o fez com um único propósito em mente: encontrar a adversária. Ele recebeu olhares preocupados, mas não desviou a atenção ao que havia pela frente por um só segundo. Ao chegar às calçadas da quadra do <i>Carnegie Hall</i>, encontrou-o tomado por elegantes convidados. Táxis chegavam, e partiam no minuto seguinte, em levas, trazendo o público que prestigiaria o espetáculo da noite. A casa de espetáculos albergava três enormes espaços para performances – O <i>Main Hall</i>, com capacidade para quase três mil assentos; o <i>Zankell Hall</i>, para seiscentos; e o <i>Weill Recital Hall</i>, para duzentos e setenta. Naquela noite, <i>Kylie Minogue </i>se apresentaria no<i> Isaac Stern Auditorium</i>, e a nata da elite compareceria.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Não havia como não se impressionar com o <i>Carnegie</i>, um dos mais celebrados espaços culturais de <i>Manhattan</i>, originalmente erguido sem nenhuma estrutura de aço, apenas alvenaria. Daniel destoava de seu habitual público. Enquanto cavalheiros e damas impecavelmente vestidos abriam espaço para a sua passagem, o visitante traçava seu caminho folgadamente pelo <i>foyer </i>de gesso branco e pedra cinzenta, andando sob as aberturas em arcos do teto abobadado, e ladeado por pilastras coríntias, as quais pareciam reservadas ao dono da noite. Daniel tinha os cabelos desgrenhados e os punhos cerrados, pronto para a luta de sua vida. Um cavalheiro se aproximou para oferecer ajuda, e Daniel perguntou "<i>Robyn Corliss, onde a encontro?</i>".</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel seguiu acompanhado até ao <i>Rose Museum</i>, um pequeno museu voltado à preservação da história da casa de espetáculos, no segundo andar, tendo aos pés das janelas de bordas arredondadas a <i>West 57th Street</i>. Assim que o deixou às portas do museu, o cavalheiro partiu e os deixou em privado. Excluídos os dois, não havia mais ninguém. Robyn o recebeu com as costas viradas, a atenção para a avenida. Parecia distraída com o movimento na <i>57th Street</i>. Apenas passava a impressão de entretida. Não precisava que lhe anunciassem a chegada de Daniel, simplesmente conseguia senti-lo. Robyn se virou, esfregando as mãos, um gesto o qual lhe devia ser usual, enquanto psiquiatra, ao dar um prognóstico que transformaria vidas.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você foi a responsável, certo? - Daniel não queria perder um só segundo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu nunca faria uma violência à sua avó. - Ela contra-atacou, sem hesitar. Sacudindo negativamente a cabeça, lamentou. - Insinue isso novamente, e quebro sua mandíbula.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você sabe por que eu vim, não?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não há como pararmos por aqui? - Suspirou, com os olhos fechados. Quando Daniel lhe respondeu "<i>não</i>", o rosto de Robyn contorceu-se, agônico. - Você conseguiu o que queria. - Robyn concluiu, virando-se para anotar qualquer coisa num guardanapo. A passos fortes que faziam as pisadas vibrarem sob o choque contra o piso de granito, passou ao seu lado e colocou o guardanapo dentro do bolso do paletó. - Não se esqueça de trazer gelo e analgésico, pois você vai apanhar muito.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">No bilhete, o endereço de um lugar o qual Daniel não tinha ideia de onde seria. Viu apenas que não parecia distante do hotel onde se hospedara, pois se localizava logo abaixo da <i>Brooklyn Bridge</i>. Sob o endereço, Robyn estabelecera um horário: 01:00. "<i>Gleason's Gym</i>", anunciava o letreiro derrubado cujas luzes de neon não funcionavam mais para o segundo termo, "<i>Gym</i>". O local apresentava-se deserto, ao menos por fora. Ao atravessar a rua deserta para entrar, Daniel percebeu que havia luz no segundo nível da academia de boxe. Ele olhou através das vitrines de tintas descascadas do primeiro andar, mas não conseguiu pontuar coisa alguma, o primeiro piso tomado pelo breu. Chutou a porta, mas não precisava ter se dado o trabalho. Robyn franqueara a entrada a Daniel, deixando-a encostada. Ele subiu cautelosamente as escadas decadentes, guiado pelo tênue feixe de luz a se deitar sobre os degraus da escada, oriundo do segundo nível.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Robyn caminhava rente às cordas do ringue e, ao vê-lo, deu alguns passos para trás, recuando até ao centro. Ela vestia <i>legging </i>preto com cós e pezinho, um <i>body </i>muito justo de mesma cor, luvas de couro marrons nos punhos. Não havia nada mais a ser dito, apenas experimentado. Robyn parecia demovê-lo com o olhar; ela falara bastante sobre a direção a que os acontecimentos os levava mas, tendo chegado a hora, relutava. Daniel removeu calmamente o paletó e o atirou num canto. Até entrar no ringue, acreditou que trocariam algumas palavras; entretanto, conforme descobriria da pior maneira, não foi o caso.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Ele não teve a oportunidade de processar a agressão sofrida, tamanha a velocidade com a qual aconteceu. Robyn escolheu não perder muito tempo, e tirou imediatamente o equilíbrio de Daniel com um direto desferido com a mão de trás, que o apanhou em cheio no queixo. Instintivamente, ele levantou a guarda, e ao fazê-lo, Robyn lançou o cruzado que atravessou a linha frontal da guarda e o acertou no nariz, jogando-o contra as cordas com a violência do empurrão Apesar de confuso, Daniel não havia caído ainda. Robyn veio com o terceiro golpe, o <i>upper</i>, aplicado de baixo para cima, castigando o queixo uma segunda e horrível vez, e fazendo Daniel girar e cair de frente para a lona. Aturdido e patético ao se encontrar de quatro, aos pés de Robyn, levou as mãos ao nariz, e constatou com horror que estava quebrado. Sangue escorria, pincelando mãos e lona com um vermelho groselha. Daniel olhou para Robyn, com um olhar estupidificado de quem não compreendia, e ela ergueu um dos punhos à frente do rosto, exclamando:</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não sou eu quem pus tudo a perder, foi você! Você sabe como funciona, passou por isso! Um dia, você é jovem e sonha, então quando menos espera, o tempo se esvai sem que seus planos se realizem, os sonhos simplesmente evaporaram! Você teve a oportunidade única de transformar essa realidade! Você vai jogá-la fora aqui! Não faça isso! Fique no chão!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel conseguiu engolir a dor da cartilagem rompida e do malar fraturado. Os olhos lacrimejavam por causa do nariz fraturado, mas já podia enxergá-la melhor. Valente, fez um esforço galante para agarrar as cordas e se levantar. Robyn o esperou, mas não lhe deu oportunidade para recomposição. Encaixou uma eficiente sequência, afinal, atentando-se à posição de Daniel com a perna esquerda para a frente, o <i>jab </i>lançado por ela foi desferido com a mão esquerda, abrindo caminho para o golpe de direto com a "<i>mão de trás</i>", a direita, demolidora ao ser violentamente absorvida pelo rosto do adversário. Ele levou desesperadamente os braços para a guarda, protegendo melhor o rosto já claramente ferido. Robyn concentrou-se na linha de cintura, e veio com força para dentro. A perna de Robyn foi lançada com a força do giro do quadril, curvada e finalmente desdobrada no instante do choque, uma força de impacto absurda que quebrou algumas costelas de Daniel.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Ele cambaleou para trás, mas Robyn o segurou com as mãos na altura da nuca, e o golpeou com joelhadas, primeiro nas coxas, para fazê-lo se curvar de modo a receber a pior parte. Quando conseguiu o que desejava, Daniel encurvado, Robyn meteu duas, três joelhadas no rosto, as quais mancharam a <i>lycra </i>do <i>legging </i>com o sangue a correr em profusão da face. Quando ela soltou a nuca, ele caiu para trás, mas foi detido pelo corner. Deslizou com as costas contra o corner, e foi ao chão paralisado pelo choque. O olhar transtornado dirigido aos lados encheu o coração de Robyn de compaixão. Podia ser Daniel quem tomava a pior parte do castigo; porém ele não poderia sofrer mais do que Robyn.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Apenas agora Daniel entendia que dentre tantos obstáculos, via-se diante do definitivo. Assumiu uma postura defensiva, com Robyn no aguardo para o bote, o corpo na lateral, a guarda alta, os dois braços protegendo a face intacta, as mãos na altura do rosto, o quadril muito ágil num vai e vem inquieto que a qualquer segundo geraria <i>momentum </i>para produzir uma rajada devastadora de chutes. Robyn viu quando Daniel mexeu o ombro, e antes que lançasse o soco, já se abaixara para a esquiva. Ela girou no chão e o pegou com a rasteira em 360º, seu pé desequilibrando a perna de apoio do adversário e o devolvendo ao chão. Daniel caiu pesadamente com as costas na lona.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel engatinhou para o corner, para se sustentar e se levantar a tempo. Quando ainda se via ajoelhado, as mãos nas cordas, Robyn veio por trás e pareceu ajudá-lo a se erguer. Ela fazia o oposto, entretanto. Daniel não compreendeu, mas logo tornou-se evidente. Agora, ela ganhara as costas dele e o tinha para si. Daniel esforçou-se para não deixar que Robyn encaixasse o estrangulamento. Os dois foram tropeçando, ambos de pé, Robyn sempre às costas, Daniel lutando para se livrar do abraço dela, ambos grunhindo desesperados. Quando Robyn finalmente o tinha prendido numa gravata perfeita, ele achou que morreria. Passou a viver segundo a segundo, os dedos cravados no antebraço usado por Robyn para estrangular a vida de seu ser. Os dois seguiram no impasse por muito, muito tempo, de treze a quinze longos, sofridos minutos, quando mesmo sob impossível pressão, Daniel compreendeu rapidamente que precisava de calma para escapar. Ele tentara cotoveladas, mas com o passar dos minutos e a continuidade de Robyn segurando-o por trás, as cotoveladas perderam a força. <i>Daniel sofria por se ver segurado por Robyn; Robyn sofria pelo cansaço envolvido em segurar Daniel</i>. </span><span style="font-family: arial;">Robyn finalmente falou, a voz pontuada pela agonia:</span><span style="font-family: arial;"> </span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você se esquece que eu sei mais sobre você do que você mesmo? Por quem era "<i>secretamente</i>" apaixonado na época da Guarda Costeira? Por mim. Qual a única pessoa que conhece sua tristeza mais secreta? Sou eu também. Eu conheço sua pior mágoa, ainda que não se recorde dela. Sua mãe está viva, Daniel. Gladys mentiu ao dizer que ela morrera. Sua mãe vive, e ela foi minha paciente. E ela me contou aquilo que Gladys gostaria de manter afastado de sua cabeça. Eu sei de todos os seus segredos. - Robyn sussurrava num dos ouvidos. - Desista, Daniel. Desista. Desista. Desista. Desista. - À beira do pânico, Daniel retomou as cotoveladas, apanhando os flancos de Robyn. Ela tomou os golpes com estoicismo, sem aliviar a pressão, sem soltá-lo. - Isso, bata mais, bata mais, bata mais. Não me faz cócegas. Bata mais, bata mais. - Falava, com uma apavorante calma prestes a romper sob a força da água massiva contra uma represa trincada. Ela verdadeiramente suportava as cotoveladas, mas se sentia exausta por vir segurando Daniel por trás, por tanto tempo. - Você era um menino quando o estupro aconteceu. E voltou para casa, com os olhos vidrados, urinando na cama, chupando o dedo. Sua mãe e avó souberam do abuso depois, você contou a elas. O abuso sexual foi o demônio que acompanhou sua vida, da infância à adolescência, a razão de sua autossabotagem. Em cada escolha de caminho, ainda menino, o estupro caminhava a alguns passos às suas costas, sempre o espiando atrás de um beco ou corredor ou multidão. E sua avó tentou protegê-lo. Quando você perdeu a memória em 2004, ela o levou de <i>Cape May</i>, para protegê-lo. Nesse tempo inteiro, você acreditou que sua avó tentava te proteger de mim. Ela quis protegê-lo da lembrança do estupro, Daniel. Ela sabia a natureza demoníaca do abuso sexual perpetrado sobre sua pessoa, quando ainda era um garotinho, e não queria que se recordasse de algo tão satânico. <i>Amor de avó é amor de avó</i>. Pare de lutar. Realmente não tem mais jeito.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não. - Respondeu, já a um sopro de desmaiar, veias do rosto pulsando no ritmo do coração descompassado. A claridade de um sol se introduzia perifericamente e, subitamente, foi como se centenas de pessoas, de colegas do<i> Lower Township</i>, ocupassem os assentos ao redor do ringue. 1995 novamente. Na sua mente, não se achavam mais sós; o mundo assistia à luta.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel então encontrou a saída. Vez que não podia se soltar de Robyn sozinho já que ela se fortalecera tanto, resolveu utilizar o corner do lado oposto do ringue como vantagem. Daniel fez impulso e seguiu caminhando com muita agilidade, Robyn estrangulando-o às costas, levada junto em direção ao corner oposto. Quando calculou que se encontravam suficientemente perto, Daniel lançou os dois pés contra o corner e o atrito das botas lhe emprestou <i>momentum </i>para "<i>escalar</i>" rapidamente a coluna, usando a força de Robyn às suas costas como suporte. Daniel executou um mortal perfeito, desafiando as leis da física ao correr verticalmente pela coluna para se lançar num salto de ponta cabeça, bem sobre os ombros de Robyn, a superioridade física da adversária nada podendo contra a gravidade. Ele se libertara de Robyn; ela não morava mais nas suas costas, bem como não morava mais o "<i>demônio</i>" que o acompanhara a partir da infância, atravessando a adolescência e o atingindo até a aquele ponto na maturidade.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Aturdida pelo fôlego de Daniel, Robyn não teve como defender o único bom momento dele no combate, quando Daniel conseguiu conectar uma combinação perfeita na cara, a sequência idêntica a de <i>Buster Douglas </i>ao impor a <i>Tyson </i>sua primeira, amarga derrota aos pés de um adversário que não se deixara intimidar: Daniel desferiu a direita que a fez cambalear, e seguiu com a sequência de esquerda e nova direita, para atirá-la na lona. "<i>Quero que se lembre desse momento, Robyn</i>", Daniel disse, após o primeiro soco, para concluir após a finalização "<i>Quero que jamais se esqueça...</i>" Ele arfava para conseguir falar, o rosto uma máscara arrebentada, banhada por um rio de sangue de cor groselha, "<i>...Do rosto do homem que você <b>não </b>dobrou</i>". Daniel conseguiu derrubá-la, e foi sua única minúscula vitória. Robyn não tinha um único corte, muito embora tivesse perdido momentaneamente a compostura com a reação sobrenatural. A forte agonia provocada pelas costelas fraturadas, entretanto, dobraram-no, e Robyn aproveitou-se para se recompor.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Robyn se determinou a não lhe dar uma nova oportunidade para crescer. O pior golpe veio em seguida, a cotovelada que rasgou os supercílios e fraturou dois dentes molares. A força do golpe foi tão tremenda que Robyn sentiu a violência da conexão reverberar do cotovelo aos ombros. Ela sacramentou a vantagem com um chute frontal que o abriu para a agressão final. Daniel não podia mais erguer os braços, e Robyn precisava pôr um termo à luta. Ela partiu para cima com o arsenal inteiro. Vulnerável, Daniel foi devassado pelas demolidoras combinações com comovente resiliência. Havia entrado num estado de sublimação, para além da dor. Robyn o jogara para fora da pista em 2004 com a ajuda de Aramis e agora, sozinha, destruía suas chances de recobrar uma vida normal, com os punhos como ferramentas. Jabs, diretos, cruzados, ganchos... Daniel vazava-se em sangue. A lona, as cordas, o legging, o body de Parker e os assentos mais próximos eram pintados pelo vermelho da surra. A definição veio de uma estratégia: Robyn abaixou ligeiramente a guarda e se posicionou de lado, criando uma armadilha. Ao cair na armadilha, Daniel lançou um soco que o pôs para frente, exatamente como ela precisava. Quando Daniel o fez, o gancho de Robyn veio como um arco, como uma bola de aço de destruição de construções, de baixo para cima, acertando a cara e o atirando longe. Somente as cordas impediram-no de voar para os assentos. Ao fim do assalto, os olhos de Daniel viravam nas órbitas, ele prostrado entre elásticos, mantido de pé pelas cordas, numa postura de crucificação. Existia a corrida de um cronômetro num placar eletrônico suspenso sobre o ringue. Em menos de um minuto, o tempo se esgotaria. Daniel encontrou significado em ficar de pé até ao fim. Robyn aguardava uma palavra de capitulação. Em agonia, ele convidou: "<i>Dê-me seu melhor!</i>". Os golpes vieram em variedades e direções enlouquecedoras. Seu rosto foi rearranjado e desmontado, a vida virara uma lembrança. Existia a claridade de um sol inexistente sobre a arena, e a sensação de que todas aquelas pessoas de sua juventude aplaudiam e torciam para que ele suportasse. "<i>Oito, sete, seis…</i>", o cronômetro se avizinhava do fim. "<i>Dê-me seu melhor!</i>", ele gritou novamente, e a devastação seguiu sem que seu ímpeto refreasse. "<i>Cinco, quatro, três, dois, um</i>". Estava acabado. Robyn recuou três, quatro passos, incrédula em Daniel continuar de pé, sobre pernas bambas. Ele sobrevivera. Apanhara o tempo inteiro, sua saúde se fora, mas, nos últimos segundos, encontrara redenção. Era assim, na vida, não? Você às vezes apanha os 14 rounds, mas ganha o último. <i>Mildy </i>lhe dissera algo semelhante. E ele se encontrava lúcido, e feliz. Pela primeira vez, <i>feliz</i>. As pessoas, os rostos que haviam gritado e torcido e aplaudido tinham desaparecido, os assentos solitários e poeirentos. Então, Padre di Sofia se assomou, deixando a escuridão da arquibancada e aparecendo sob a luz à beira do ringue. Com olhos cheios de lágrimas, os homens trocaram olhares cheios de emoção. Giro tinha orgulho de seu menino. Reconhecendo o valor de Robyn, Daniel pousou a mão sobre o ombro dela. "<i>Desculpe-me</i>", ele sussurrou. Robyn abaixou o rosto, chorando. Ele passou ao lado dela, levantou as cordas para descer o ringue e encontrou o amigo na passagem entre as fileiras. Daniel e Padre di Sofia se deram as mãos e foram embora.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Nas primeiras horas após a luta, sentiu-se envolvido por uma névoa. Em algum momento da madrugada, ele sentiu Giro o conduzindo através de <i>downtown Manhattan</i>; entretanto, foi na <i>Grand Station</i>, onde, com a ajuda do amigo, sucumbiu nos braços de uma freira. Variando entre consciência e alucinações, a noção de tempo se perdera e, ao ser depositado sobre uma maca para a acolhida no <i>Lower Manhattan Hospital</i>, tão castigado parecia, não houve quem o reconhecesse como o herói do resgate da <i>American Airlines</i>. Imediatamente anestesiado, Daniel só foi despertar da sedação na tarde do dia seguinte, após um número razoável de cirurgias menores. Giro não se encontrava no quarto, no instante do despertar. Quando Legrand acordou, a aflição que a morte de Gladys causara foi tão imponderável que as enfermeiras não tiveram outra escolha, a não ser tratarem-no com uma dose cavalar de sedativos. Novamente, ninguém o reconheceu, e Daniel não fez questão de se identificar.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Quando despertou, foi por volta de meia-noite. Poderia ter se assustado ao se ver num quarto tomado por sombras, corrompidas pelas luzes de aparelhos os quais liam e monitoravam suas condições mas, de uma inesperada forma, o ambiente o deixou mais dócil face à agradabilidade aos olhos. Daniel se achou protegido, albergado pela escuridão, a qual convivia bem com as luzes e, melhor ainda, com o fulgor a emanar de <i>Manhattan</i>. De sua janela, enxergava a calçada do outro lado da avenida, e a faixa de pedestres ao término do cruzamento. A tranquilidade com que os nova-iorquinos navegavam pela vida amenizava suas agonias, e Daniel não custou a encontrar na contemplação do movimento da esquina a fórmula perfeita para se isolar da dor. Havia alguém sentado numa cadeira mais para trás, inteiramente coberto pelo breu. Um barulho de <i>clic</i>, e a fagulha de um isqueiro incensando o cigarro chamou a atenção de Daniel para aquela direção. O fogo revelou o rosto de Padre di Sofia. Ele deu uma profunda tragada, franzindo o cenho. Buscava as palavras. <br /><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Olá, meu filho. - Girolamo arrastou a cadeira para perto da cama.<br />- Giro... - Com os olhos marejados, o confuso Daniel perguntou: - Não foi um sonho, correto? Vovó morreu?<br />- Infelizmente, sim. - Ela lhe tomou as mãos nas suas e se permitiu se comover. - Apenas procure se acalmar. Você consegue compreender o que aconteceu, não é?<br />- Sim.<br />- Foi um acidente com o gás de cozinha. No dia da tragédia, Suntee foi apanhado por um carro que saía do loteamento por uma secundária pela qual jamais passava alguém, a não ser o moleque, de bicicleta, naquele exato segundo. - O padre o apoiou com o braço nas costas e o ajudou a posicioná-la melhor contra o travesseiro. - Meteram-no numa emergência de hospital a tarde inteira, sem celular. Foi quando ocorreu o sinistro. - As lágrimas cintilavam ao gentil toque das luzes do monitor de batimentos cardíacos. - Ela respirou o gás e morreu disso. A casa se foi em chamas, mas Gladys já tinha ido a óbito. - Giro levou a mão à testa. Agora, ele soluçava, chorando escancaradamente.<br />- Oh, vovó. - Daniel fez um gutural lamento; foi como se uma flecha atravessasse o coração de Padre di Sofia; ele preferia que a dor fosse na sua carne, não na do menino. - Desculpe-me, vovó. A culpa foi minha, a culpa…<br />- Cale a boca, porra! - Giro gritou, levantando-se e dando um chute na cadeira. - Você não foi culpado! Ninguém tem culpa, porra! - Caiu na real e lutou para recobrar o equilíbrio. Foi ao leito e deu um abraço no amigo. - <i>Danny</i>, filho… Precisamos colocar nossas cabeças no lugar. Veja… Não tínhamos como saber! Aconteceu! E… - Ele relutou, os olhos indo de um ponto ao outro, atônito.<br />- O que há, Giro? - Diante da demora, Daniel demandou: - Vamos, Giro, conte-me…</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">O padre foi andando à janela. Com as mãos na cintura, olhou para cima, como se pedisse diretamente ao Senhor por auxílio. Mordendo o lábio inferior, voltou o olhar a Daniel e iniciou:</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /> - Dois meses após o lance no aeroporto, Gladys me procurou. O acontecimento a deixara preocupada. Eu não sei se, àquela altura, Parker já havia aparecido em <i>Elizabeth</i>, mas ela me procurou para conversar. Sua avó tinha um monte de fantasmas na cabeça. - Padre di Sofia suspirou, esgotado, e se sentou no chão, com as costas para a parede. Em sua posição, as luzes dos postes e da vida exterior deitavam-se bruxuleantes sobre sua figura, num elegante efeito visual. - Falava sobre temer por ti, caso ela morresse repentinamente. Ela escreveu um testamento e confiou uma carta a mim.<br />- Uma… Carta? - Embasbacado, com os olhos bem abertos, na medida do possível, já que um deles inchara ao tamanho de um pêssego, ele repetiu.<br />- De certa forma, ela vinha se preparando para a morte, filho. Ela se preocupava em como ficaria, sabe? E, a meu ver, tratava-se de uma preocupação tola, pois você sempre terá a mim; entretanto, ela tomou alguns cuidados, e confiou a mim as orientações para a eventualidade do pior.<br />- Giro, você acha que…<br />- Um atentado? - Padre di Sofia fez que não, com a cabeça. - Nada poderia tê-la salvo, <i>Danny</i>. Foi um acidente com o gás de cozinha. É o mesmo que me perguntar se eu poderia ter salvo minha mulher e filha. Como eu poderia saber que um motorista bateria o carro e as mataria?<br />- Você não gostaria de alterar a história, caso tivesse a chance?<br />- Não, filho. Deus sempre tira o bem de um acontecimento aparentemente injusto. Naquele dia, o velho Girolamo morreu, para dar lugar ao homem de hoje. As surpresas guardam suas razões; tragédia seria não perceber o quê o Senhor espera da gente. Escute… - Apoiou-se no braço de uma poltrona para se levantar, o ombro ainda ridiculamente dolorido mesmo após uma semana da flechada na <i>Todos os Santos</i>. - Os calmantes o deixarão descansar. Eu preciso de tempo para voltar a <i>Elizabeth</i>, resolver as coisas… Quando vier te buscar, quero ter preparado tudo. Vamos, filho. - Deitou a mão sobre a testa de Daniel e realizou uma oração de bênção. Ao fim, Daniel se sentia mais apascentado.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Alguns dias vieram e se foram. Terrivelmente deprimido, Daniel agora era medicado com ansiolíticos. Padre di Sofia continuava a correr contra o tempo, resolvendo burocracias em <i>Elizabeth</i>; entretanto, Daniel não escutara nada dos amigos ou de Parker, tampouco podia: ali, era-lhe proibido celular, médicos haviam dado ordens de sua recuperação não sofrer turbulências inesperadas, a não ser pela volta iminente de Giro. A bem da verdade, a atriz estivera no <i>lobby </i>e exigira conversar com o namorado. Ao ser consultado, Daniel simplesmente se negara a recebê-la. Não quis vê-la, e não saberia explicar seus motivos. Numa manhã de muito sol, Daniel passava com o andador através dos corredores, no sentido do gazebo do jardim central. Ele esperava para usar a máquina de chocolate, de onde uma enfermeira colhia do mostruário uma barra de <i>Reese’s</i>. Ela sacou o item, sem se ater que o garfo mecânico trouxera mais de uma barra. Daniel se agachou para pegar a barra extra. Examinou o chocolate em mãos, com uma porção de pensamentos na cabeça, quando escutou o rumor de um canudo a sugar alguma bebida grossa, logo às suas costas: "<i>Vou ficar aqui, caso precise de mim</i>", a voz feminina determinou, e os pelos da nuca se eriçaram ao ouvir aquela melodia da qual tinha tanta saudade.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel e Robyn ficaram se encarando por um tempão. Inicialmente compenetrada, ela deixou que um sorrisinho brotasse do canto da boca. Graças a um jogo de sobrancelhas que só Robyn sabia fazer (e que somente Daniel sabia ler), acreditou encontrar-se diante da mesma menina com quem conversara formalmente pela primeira vez nos jogos de praia de 1995, em <i>Cape May</i>, quando Robyn derrotara a outra menina no caratê. A primeira vez que haviam se beijado tinha sido em 1999. Onze anos mais tarde, machucados pelos esquisitos rumos de seus respectivos destinos, a transformação em suas almas parecia tão evidente quanto as manchas arroxeadas em suas caras. O amor, apenas o amor proibido não mudara, de 1995 a 2010. Provavelmente, jamais mudaria.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu não conseguiria ficar longe de você. Você me ganhou naquele dia em 1995, quando tínhamos 15 anos. "<i>Eu gosto muito de você</i>", lembra-se de ter me dito? - Robyn indagou, e Daniel fez que sim, entristecido e emocionado. - Eu não poderia destruir a única pessoa que genuinamente gostou de mim. Eu não sei se se sente da mesma maneira hoje, <i>Danny</i>, mas não tenho dúvida que, naquele instante, sentiu-se assim. A "<i>sabedoria de crianças</i>", é o que dizem, e é verdade: nunca enxergamos tão bem as coisas quanto quando aos quinze. - Ela fez uma pausa. A eletricidade podia ser experimentada no ar. Robyn abreviou a expectativa. - Eu jamais machucaria sua avó. Eu precisava lutar contigo, e nós lutamos, mas jamais faria mal a sua família. Preciso que não tenha dúvidas disso. - Daniel chorou, e Robyn também. Os dois adversários de morte, que haviam trocado murros, estavam abraçados, unidos após a sangrenta batalha.</span></div><span style="font-family: arial;">- Eu lamento por tudo, Robyn. Eu não queria ter feito de inimiga alguém a quem amo.<br />- <i>Danny</i>... Hoje, pusemos um fim à nossa briga. - Afirmou, vacilante. Para sua inestimável alegria, Daniel concordou, meneando em concordância. Robyn reparou em como ele parecia esgotado, mas logo soube como poupá-lo. - Todo mundo pode perder uma luta. Acontece, faz parte da vida. Aceitamos e seguimos em frente. Não é verdade? - Daniel fez que sim. - Não se preocupe com os próximos anos. - Robyn contou, prestes a recuar e deixá-lo descansar. Ela tirou algo da bolsa, e ofereceu ao paciente. Era um jornal. - Você e seus amigos da <i>East Side</i> deixarão <i>Elizabeth </i>em breve, <i>Danny</i>. - Robyn grafara o destaque com caneta porosa vermelha. A lista dos aprovados acabara de sair. - Parabéns pela aprovação. Sabe, perdemos tantas lutas quanto ganhamos outras. Na verdade, perdemos até mais. A vida segura uma pessoa pela camisa e bate até deixá-la no chão. A vida bate ainda mais duro do que eu bati em você, <i>Danny</i>. As coisas podem parecer incrivelmente injustas e cruéis, porém elas só o são parte das vezes. Mas a vida não é todo o tempo má. Parte das vezes, é maravilhosamente gentil. E você não pode desperdiçar a parte boa, remoendo a parte má. Pensar apenas na parte má tornará tudo mal. Entendeu? - Daniel abaixou o rosto, as lágrimas borrando as letras grafadas nas frágeis folhas do <i>Courier Post</i>. Robyn girou a maçaneta para o caminho de pedras que levava à saída, e a luz invadiu o corredor com um brilho ainda mais esfuziante. Ela ainda se virou, para dizer. - <i>Danny</i>... Eu gosto muito de você.<br />- E como... - Daniel balbuciou, embargado pela emoção. - E como se faz para esquecer a parte má?<br />- Você se concentra numa tarefa interessante o bastante para merecer seu foco. Torne-a hábito. Quando menos esperar, a vida parecerá maravilhosamente gentil novamente. <br /><br />E assim, Robyn se foi.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><b><i><span style="font-size: x-large;">04. Volte ao mundo.</span></i></b></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Na manhã seguinte, Padre di Sofia veio buscá-lo em <i>Nova York</i>. Psicologicamente, Daniel havia sido estabilizado; fisicamente, sarara das pequenas cirurgias. Em <i>Elizabeth</i>, ficaria na casa de Giro. Gladys fora cremada; haveria uma cerimônia de despedida em <i>Cape May</i>, em cuja praia as cinzas seriam atiradas. Emocionalmente devastada pela recusa do namorado em vê-la, Parker não suportava mais o vai e vem entre <i>Londres </i>e <i>Estados Unidos</i>. Barclay Harrison, o colega de elenco, tornara-se um amigo de confiança e, diante da gravidade dos problemas, decidira acompanhá-la na volta aos <i>Estados Unidos</i>. Uma vez em <i>Elizabeth</i>, Suntee reencontrou o amigo assim que ele e Giro desceram do avião. Inconsolável, Suntee suplicava perdão. "<i>Você não fez nada de errado, amigo</i>", Daniel repetia e repetia. Giro tinha as mãos nas costas do jovem. Após muita insistência, a tempestade de sentimentos no rapaz feneceu. Em trio, foram para a casa de Padre di Sofia. À mesa, reunidos para o café, as emoções haviam sido amortecidas e podiam ir direto ao ponto das coisas práticas a serem feitas. Suntee recebeu de Daniel o jornal grifado de Robyn. Um pouquinho de sol para iluminar a tensão do encontro: seu nome e os dos demais constavam da lista de aprovados com pequenas diferenças de posição. O nome de Daniel Legrand surgia na 16ª colocação.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">A</span><span style="font-family: arial;">pós a homologação do resultado no diário oficial, só cabia aos vencedores a espera da posse. A Coordenação de Recursos Humanos começaria a receber exames e documentos na primeira quinzena de setembro; a cerimônia da posse aconteceria no dia 29 daquele mês. À noite, ao se recolher ao quarto extra preparado por Giro para sua estadia, antes de dormir, Daniel pensava em Parker, nas suas responsabilidades perante a namorada. Ele também revisitava a conversa final com Robyn, e quando se recordava de Corliss aparecendo no corredor para pegá-lo afanando a barra de <i>Reese’s</i>, sabia que ela tinha razão sobre absorver a parte má para não perder a parte boa. Ainda assim, algo na luta dos dois deixara um ferrão na alma. Ele recuperara o passado do qual não conseguira se lembrar, mas perdera parte da puridade que o ajudara a manter a mente clara, ao longo de todos aqueles anos no limbo do Aeroporto Internacional <i>Liberty</i>. Cabisbaixo e tristonho, Daniel olhava fotos da avó e falava em pensamento com Gladys. "<i>Cyrano, Cyrano</i>", repetia também, sorrindo ao pensar no gatinho no céu com vovó.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Antes da cerimônia de adeus à Gladys em <i>Cape May</i>, Daniel visitou o orfanato. Lefty não lhe deu nem tempo para justificar a demora: foi logo abraçando o homem como se o filho pródigo tivesse à casa retornado. Daniel e Lefty tiraram a tarde para relembrar... A primeira vez quando estivera lá para adotar o anjinho com trissomia, uma tentativa de recuperar a ex-namorada; as vezes seguintes, quando Parker começara a se tornar uma lembrança cada vez menos nítida, e <i>Mildy</i>, a nova namorada, passava a ocupar o espaço dela, nas tardes chuvosas, quando <i>Mildy </i>& Daniel assistiam ao pôr do sol sobre os avantajados telhados do gatil; Daniel descrevendo para a namorada o que sua visão capturava para os lados da praia.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Levarei essas lembranças para sempre comigo. - A noite começava a riscar o céu estrelado sobre o Atlântico, a praia era aplainada pela brisa fresca soprando direto do mar. Daniel voltou da caminhonete com uma lembrança. - O álbum de fotos. Você é a mãe, e portanto ficará melhor em suas mãos. Eu não tinha verdadeira noção do que havia perdido, até rememorar os bons momentos com sua filha. Sem a <i>Mildy</i>, eu jamais teria voltado a olhar para mim, depois da separação de Parker. Sua filha me motivou a continuar, foi a responsável por eu ter conseguido me formar e, mais tarde, passar no meu primeiro concurso, na Guarda Costeira. Foi em nome de <i>Mildy </i>que estendi a mão para aqueles meninos da <i>East Side</i>, e hoje passo adiante o bem que sua filha fez por mim.</span></div><span style="font-family: arial;"> - Continue a passar o bem que alguém fez para você para frente; e o mal também, mas antes, converta-o em bem, e só daí passe adiante. - Lefty recebeu o álbum com lágrimas nos olhos, e o apertou bem forte contra o peito. - Porque, você sabe, os demônios, ou seja, as coisas más que nos perseguem e ocorrem, eles também são ministros de Deus. Eles O odeiam, mas o Senhor em infinita sabedoria tem um propósito até para eles, porque cada demônio que nos acompanha é uma oportunidade para nos reforçarmos no amor a Deus a cada vez que lhes damos uma negativa. Entende, meu filho?<br /> - <i>Toc, toc</i>… - Giro anunciou a entrada, para a felicidade de Lefty. Os dois velhos amigos se abraçaram. Padre di Sofia se juntou a <i>Danny</i>, as mãos sobre os ombros dele. - Alguém precisa de um pai por aqui? Ou melhor, de um padre? Você já soube que nosso garoto passou no concurso?<br /> - Gladys está orgulhosa! - Ela não continha a excitação. - Bem, os senhores sabem que vão jantar minha canja de galinha, certo?<br /> - <i>Yes</i>! - Inusitadamente, Giro deu um salto com o braço para cima, e eles riram muito; um momento leve e revigorante em meio a emoções tão densas e complicadas. À mesa, a sensação de normalidade veio para debelar a insanidade dos últimos eventos.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Parker foi procurada por Bill & Gail Cowan assim que retornou aos <i>Estados Unidos</i> com Barclay Harrison ao lado. Os pais ofereceram a casa em <i>Cape May</i> para a filha e o amigo ficarem pelo tempo necessário, mas nada a demoveria de seu compromisso de reencontrar Daniel. O primeiro lugar no qual pensou foi na casa em <i>Elizabeth </i>e, agora em ruínas após as chamas que ela vira a consumindo pela televisão, a atriz testemunhava que pouco restara do lugar que lhe fora tão caro no último ano. O alpendre era a única parte remotamente semelhante a como fora. Barclay deu as mãos à amiga e eles fizeram o cuidadoso caminho entre destroços até o plano onde ainda existia a cadeira de balanço de Gladys, a mesma onde <i>Danny </i>Legrand sonhara tanto com ela, uma brisa de romantismo a qual ocorria uma única vez a vida inteira. Parker se sentou na cadeira e desatou a chorar. Barclay a abraçou por trás numa tentativa honesta e tocante de consolá-la. Eles combinaram que seria melhor seguirem para a cidade praiana; lá, os Cowan cuidariam bem da filha, Parker reveria a irmã, e Robyn poderia ter conselhos valiosos para enfrentar o intrincado período de luto.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Em <i>Cape May</i>, Daniel e Giro chegaram mais leves do jantar com a maravilhosa Lefty. Certo de que precisava agir agora, Padre di Sofia o chamou na passagem para a cozinha e forneceu ao seu filho espiritual a carta lacrada deixada por Gladys. "<i>Não se cobre para lê-la</i>", Giro avisou, com os olhos bem expressivos fixos nos do rapaz. "<i>Naturalmente, quererá abrir o envelope para ler, e quando o fizer, faça longe dos outros</i>". Reiterando seu incondicional amor a Daniel, o padre o abraçou e, dando-lhe socos na parte de cima das costas, insistiu que tudo concorreria para o bem. Ao repousar, Daniel ficou deitado de lado na cama de solteiro, examinando a carta fechada em mãos. "<i>Vovó…</i>", dizia, baixinho, e lágrimas mornas rolavam salgadas até a boca e narinas.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Uma data foi acertada para a missa em sufrágio à alma de Gladys, e ocorreria na praia, no próximo domingo. A cerimônia ganhou as bocas dos cidadãos da cidadezinha, estendendo-se de volta a <i>Elizabeth</i>, e Padre di Sofia compreendeu que haveria um comparecimento em peso, pelo fato da notoriedade de Daniel, afinal de contas, era o filho de <i>Cape May </i>que os deixara orgulhosos ao virar herói nacional um ano antes. Na semana antecedente à missa, Daniel sentia que os dias se escoavam mais demoradamente; todavia, sabia que não passava de força da ainda fragilizada imaginação. Por tantos anos, falara de <i>Elizabeth </i>como o limbo, e agora percebia que mesmo quando <i>Elizabeth </i>parecera a ilha onde passaria o resto da vida, no fim, não passou de um capítulo, um rito de passagem necessário ao crescimento Chafurdara tanto somente na parte má que se esquecera da parte boa, os muitos fins de tarde no alpendre quando <i>Cyrano </i>o caçador de borboletas arruinava as mudas plantadas por Gladys no canteiro, e ele se dobrava em gargalhadas, ou os momentos de descontração com a turma de carga do aeroporto. Uma tarde, Giro sugeriu que voltassem ao velho colégio abandonado, para a cobertura sobre a qual haviam conversado alegremente numa manhã de 1995. Assim eles o fizeram e, uma vez tendo diante de si a visão inabrangível da praia infinita, finalmente ocorreu a Daniel perquiri-lo sobre a vida de Giro antes do sacerdócio. Ele respirou fundo, provando que aguardara o momento. O entardecer acontecia deslumbrante, um amarelo de gema descendendo para trás do Atlântico para a chegada triunfal de uma noite estrelada.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu fui um homem rico e feliz. À época, eu era mais jovem que você. Eu casara cedo, ela havia sido minha namoradinha do bairro. - Giro o conduziu com uma mão sob o braço a uma bancada da qual teriam como se sentar para assistir ao anoitecer. - Nós tínhamos muitas posses; entretanto, o mais importante, eu a amava, queria cuidar da Joy, cuidar da Simone. Uma vez, eu e Joy brigamos por uma besteira qualquer. Coisa de casal, sabe? - Ele indagou, procurando-o com um olhar. Daniel sorriu um pouco e fez que sim com a cabeça. - Havíamos passado um dia sem nos falar, quando a Joy levou a Simone para trazerem uma pizza de <i>downtown Cape May</i>. Eu escutei um barulho horrível, na saída do quarteirão. Simone morreu na hora, tentei conversar com a Joy, ela só disse que tinha frio. - Padre di Sofia apontou para cima. - Elas foram tiradas de lá e levadas de helicóptero ao hospital, mas não deu certo.</span></div><span style="font-family: arial;"> - Não foi sua culpa, Giro. - Daniel o amava tanto que tinha de amenizar a dor de Padre di Sofia de qualquer forma.<br /> - Lógico que não, mas não importa. - Ele deu com os ombros e continuou: - Não consegui mais retomar a vida, simplesmente não havia mais prazer nos bens que haviam ficado para trás, uma vez que minhas mulheres tinham sido tiradas do meu convívio. Elas davam sentido ao resto da vida; sem elas, eu só tinha posses e, portanto, não tinha nada, pois posses não são nada. Eu entrei no seminário, meio tarde.<br /> - Deus supriu o seu… - Daniel ia dizer, porém Giro prosseguiu.<br /> - Não. Eu orava e me empenhava em levar uma vida virtuosa. Eu queria conhecer a <i>Cristo</i>. Eu ficava refletindo os mistérios aos pés da imagem de <i>Maria Santíssima</i>. Eu conhecia as orações, eu rezava a missa como se minha vida dependesse daquilo. E nada acontecia. Eu me sentia morto por dentro. - Os olhos de Giro marejavam. Seus olhos voltavam-se ao horizonte, no infinito, no recanto da alma de onde vinham as lembranças. - Sacerdócio não fazia sentido algum, aquilo me soava como uma perda de tempo. Até uma manhã, quando me tranquei na capela determinado a não sair de lá sem uma resposta; diante da cruz, rezei e supliquei a <i>Cristo</i> para me explicar por que tudo acontecera… O que ele queria de mim… Entende? Rezei e rezei. Naquela mesma noite, tendo adormecido diante do altar, fui despertado por batidas assustadas e curtas na porta. Era um menininho assim, <i>Danny</i>. - Giro elevou a mão a uma pequenina altura do chão para expressar o tamanho da criança. - Sujinho, assustado, pedindo para dormir na igreja pois não tinha onde ir. Eu deixei. Na noite seguinte, ele regressou, acompanhado de uma garotinha. - As palavras se atropelaram, Giro embasbacado, chorando. Daniel abriu a boca, espantado, dizendo, num sopro: "<i>Meu Deus, a Mildy?</i>". - Uma menininha cega, <i>Danny</i>, isso mesmo, a <i>Mildy</i>. Cega após tomar uma surra do pai. Novamente, suplicava por um lugar onde passar a noite com a amiguinha. E, de repente, quando eu nem tinha me dado conta, eu havia construído o maior orfanato na história dos <i>Estados Unidos</i>. Você me entende? - Padre di Sofia se levantou e ficou sobre a mureta da cobertura. Agora, a lua atingia o centro da tela que era o céu estrelado. - Ou seja, a resposta para minha vida veio na esteira de uma oração. Você quer uma resposta? Você precisa rezar, filho, não importa se não crê. Reze! Peça sua resposta.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">No meio da semana, Daniel deu uma desculpa esfarrapada a Giro e Lefty, dizendo-lhes que passaria a manhã caminhando na praia. Intencionava visitar o espaço onde, antes do incêndio, a casa da avó existira. Ele não teve problemas em chegar a <i>Elizabeth </i>e, àquela altura, o assédio midiático sobre o lugar recrudescera. Uma réstia de névoa prevalecia suspensa sobre as ruínas, como um manto meio translúcido, mesmo em sua densidade bege. Caminhando à beira dos destroços, Daniel hesitou em se aproximar do alpendre meio perpendicular a ainda preservar sua função de servir à cadeira de balanço, como se nada tivesse ocorrido. As flores e gramas tinham virado as cinzas crepitantes sobre as quais caminhava. Pensou na jornada de Giro, e embora recalcitrante em fé, fez uma prece silente. Pediu a Deus para ajudá-lo a pinçar o que se esperava de sua pessoa a partir dali. Jamais teria como se ordenar padre, pois, diferente do ocorrido a Giro, a janela de tempo de Daniel passara; entretanto, o Senhor poderia falar a seu coração. Ele se segurou à cerca e passou por cima, atravessando os escombros no sentido do alpendre. Seu coração ficou minúsculo, como o cintilar das estrelas admiradas por ele e Padre di Sofia na cobertura do <i>Lower Township</i>, na outra noite. Teria julgado a visita uma perda de tempo, até aprender que Deus dava no silêncio as melhores respostas. Um movimento mais ao lado de onde existira o quarto da avó chamou a atenção, e então, uma cena terna e encantadora o fez cair de joelhos e chorar de felicidade. "<i>Cyrano!</i>", ele gritou, ao ver o gatinho preto, mais magrinho e um pouco assustado, indo aos braços do tutor. "<i>Cyrano, você escapou!</i>", exclamou, beijando-o no focinho achatado. "<i>Nunca mais vou te deixar, garotinho. Nunca mais!</i>", e o embalou nos braços, na altura dos ombros. Legrand não sabia ainda, mas a resposta fora dada, por mais que a ficha só fosse cair mais tarde. </span><span style="font-family: arial;">Eram 14:00, uma tarde nublada, quando voltou ao orfanato, para o alívio de Lefty e Giro. Padre di Sofia ia começar a amolá-lo com reclamações paternais, até vê-lo descer da caminhonete com <i>Cyrano </i>nos braços. Giro colocou as mãos fechadas na cintura, seu olhar severo de pai se transformando num sorriso triste e grato. Estendeu as mãos para receber o gato. "<i>O senhor precisa de ração e sono num lugar quentinho, esse seu tutor é maluco!</i>", Padre di Sofia dizia, encarando o anjinho, enquanto voltava para dentro pela passagem que dava para a casa paroquial. Com a compreensão de mãe, Lefty deu um tapinha no rosto de Legrand, e o apanhou pela mão: "<i>Fico feliz que tenha dado certo; vem, vamos entrar, você também precisa comer. Sua namorada tem ligado para cá</i>".</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">"<i>Ele não quer falar comigo, mas não fiz nada!”</i>, Parker vociferava com olhos arregalados e indóceis, parada no corredor de casa, enquanto os pais tentavam consolá-la. De braços cruzados, apoiado na porta do terraço, Barclay Harrison se segurava para não se intrometer num momento indevido, e apenas observava. Tendo tentado tranquilizar o coração da filha, Gail falhara; mas a deixava esperançosa o fato de Robyn vir para a casa dos pais por ocasião da missa para Gladys. Ela chegaria a qualquer momento daquela tarde, com Allen e os sobrinhos. Quase da mesma idade, as duas irmãs se compreenderiam; Robyn conhecia as palavras certas a chegar no cerne de Parker. Barclay e Bill se entreolhavam. Como homens, havia um ponto a partir do qual era prudente deixar uma mulher descarregar a emoção. Os pais desceram à cozinha, Gail se voluntariando para preparar um chá para a filha, restando somente Parker e o colega no terraço da mansão praiana.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Ele passou por muita coisa, e agora perdeu a avó, você precisa… - Ele se aproximou, segurando nos joelhos as mãos da amiga. - Olhe para mim. Não há conversa quando as duas pessoas não desejam diálogo. Eu vim para cá por sua casa. Eu me preocupo contigo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu sei, Barc. - Chamou-o pelo nominho carinhoso que insculpira para o solícito amigo. - Eu amava a Gladys, como acha que ficou meu coração? Ele me julga responsável? Seria isso?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não, nada disso. Provavelmente passa por uma severa crise existencial, Parker. Convenhamos, as coisas pelas quais esse cara passou! - Argumentou, com a testa franzida.</span></div><span style="font-family: arial;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div>Subitamente, anunciou-se o rumor de pisadas em porcelanato, muitas pessoas chegando pela sala de estar no térreo. A algazarra infantil indicou a presença da irmã com a família. Parker e Barclay trocaram sorrisos, ambos agradecidos pela entrada da sempre forte Robyn num necessário momento. Na casa dos pais, Robyn virava a mocinha que sempre fora a princesa dos Cowan, e se comportava como a soberana do lugar. Beijou os pais nos rostos. Bill e Gail abraçaram os netos e fizeram festa. Vestido em um suéter amarelo, Allen chegou para abraçar os sogros por trás; era como uma cena perfeita de um filme de <i>Frank Capra</i>. Robyn tirou os saltos, ficou descalça, e subiu correndo as escadas para o terraço. Ao empurrar a porta de correr, Robyn deu-lhes um sorriso sensível e curtinho. Parker retribuiu, mas imediatamente sua curiosidade adquiriu tons de intriga ao notar os roxos num dos olhos e no canto da boca da irmã. Robyn abriu mais o sorriso e foi se achegando, brincando:</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Um ligeiro acidente no caratê. Devia ter visto a cara do… da outra menina. - Então, apontou com o indicador para o olho direito, fez uma pose como uma modelo fotográfica, e continuou: - O que acha, meus machucados novinhos caíram bem em mim? "R<i>obyn guaxinim</i>"? - Parker e Barc riram.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Obrigada por ter vindo, maninha! - Levantou-se com o braço oferecido por Barclay. - Cadê o Allen e as crianças? Papai e mamãe os raptaram? <br />- Meio cedo para usar essa palavra. - Ela fez a piadinha. As irmãs se abraçaram. - Fique calma, você terá sua chance, nós o pegaremos no domingo, ele não vai ter para onde fugir da gente. <br />- Eu só queria que ele me contatasse! - Com urgência, lutava para se explicar. - Por que Daniel se intrigou comigo? <br />- Ele é um menino sofrido, você sabe. Não lide com Daniel como se falasse de alguém como Allen, como o Barclay. Ele não pensa ou se comporta como um homem crescido e normal, querida, não é um homem mentalmente desenvolvido. Eu não queria falar assim dele, mas... <br />- Oi, Robyn! - Barc colocou a mão no pescoço da irmã de Parker e a beijou na face. <br />- Oi, querido, gostou de voltar para casa? - A psiquiatra indagou, a que Parker deu alguns passos para trás, para vê-los melhor. <br />- Voltar para casa? Vocês se conhecem? - E, olhando para o amigo, perguntou: - Você já esteve em <i>Cape May</i>? <br /><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Nisso, as crianças irromperam no terraço. Fazendo festa, Parker se ajoelhou com os braços abertos para acolher os sobrinhos; Barclay e Robyn abriram espaço e assistiram à terna cena com humor e cumplicidade. Os pais e o marido de Robyn chegaram ao pé da passagem naquele segundo; Robyn e eles se entreolharam, e ela deu uma piscadela, como que prometendo que, a partir dali, os ânimos melhorariam. Ela viera para ajudar. Robyn sentou-se no chão, com as pernas dobradas, ao lado da irmã, e prometeu que sairiam naquela noite para relembrar a adolescência mágica de ambas à sombra dos coqueiros e ao sabor das marés.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel se entretinha, ao entardecer, caminhando pelas calçadas do bairro do orfanato. <i>Cyrano </i>descansava ao pé do fogão da Lefty, após ter enchido a pança com porções de <i>whiskas</i>, ou "<i>uísquis</i>", o jeitinho engraçado com o qual Gladys, em vida, referia-se à comida do gato: "<i>Meu filho, não se esqueça de comprar a ‘uísquis’ do Cyrano!</i>", recomendaria, ao deixar o alpendre para pegar a caminhonete para a <i>Walmart</i>. Quanta saudade! Daniel queria assistir ao pôr do sol da cobertura do <i>Lower Township</i>. Antes que desistisse, pois seria uma longa caminhada, a torre do relógio já fora enquadrada no seu campo de visão mais amplo, protuberando por trás de uma manta de coqueiros. Faltava muita caminhada, mas não demoraria a alcançar o conjunto de prédios abandonados que um dia fora o colégio onde deixara suas melhores recordações. Involuntariamente, foi bater no jardim de uma casa abandonada. O estado das lâminas de vidro jamais teria indicado o abandono do imóvel, pois apresentavam-se limpas e perfeitas; bem como não o teria indicado o esmero com o qual o jardim perdurava como uma visão de frescor e correção, cuidado pela gente da construtora que adquirira o imóvel. Daniel soube que o local fora desocupado pela placa fincada pela imobiliária. Chamou a atenção uma gata cinzenta idosa no parapeito externo de madeira da janela, olhando para dentro, com um olhar perdido e preocupado.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><span style="font-family: arial;">"<i>Ela foi deixada para trás</i>", uma menina, que saia pela porta de trás da propriedade do outro lado da rua para pôr o lixo fora, disse-lhe: "<i>Foi morar na rua, mas todas as tardes volta, talvez esperando encontrar as portas ou janelas abertas novamente, os antigos donos aguardando na cozinha. Quem entende os gatos?</i>". Ela deu com os ombros e voltou para dentro. Daniel abriu a portinhola e foi se sentar nos degraus a darem a um deck cuja margem ficava suspensa sobre o jardim. Ele deu dois tapas na coxa, chamando a nova amiga. Sem vacilar, a gata foi andando esguia entre vasos de jarro até chegar ao lado de Legrand. Ela acomodou a cabeça na perna de Daniel, e ele começou a acariciá-la. A gata ronronava ao toque. Há muito tempo, ninguém se incomodava a lhe dar atenção, carinho... A noite chegou, luzes radiando de dentro para fora através das janelas das residências, a agradável rua numa sintonia de famílias que conversavam ao redor de suas mesas após o dia de trabalho, e Daniel permanecia com a gata. "<i>Cinzentinha</i>", ele resolveu chamá-la. Ao se aperceber que chegara ao ponto de escolher um nome, entendeu que <i>Cinzentinha </i>pertencia a ele tanto quanto Daniel pertencia à gata. Sentia a dor do animal abandonado, e compreendia que, mesmo distintos, eram semelhantes em suas esquisitas jornadas pessoais. Daniel decidiu cuidar da gata e levá-la para a paróquia. Logo após a posse, se fosse removido para outra cidade, <i>Cinzentinha </i>se juntaria a <i>Cyrano</i>. Ao fim, não ocorreria exatamente <i>daquele modo</i>, mas bem parecido: em pouco tempo, a resposta que Deus lhe dera ganharia nitidez para lhe mostrar seu novo caminho.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Giro e Lefty comoveram-se ao escutar a narração emocionada através da qual Daniel explicara seu sentimento ao vê-la solitária no jardim da casa à venda. Não custou a <i>Cyrano </i>pôr a cabecinha para fora da porta, para ver a razão da conversa no quintal. O gatinho pareceu se encantar pela amiga felina. Ele chegou meio ressabiado, querendo cheirá-la, <i>Cinzentinha </i>sacudindo a cauda, aguardando a próxima cartada do pretinho. Quando <i>Cyrano </i>foi meter a cara na tigela d’água, <i>Cinzentinha </i>deu um pulo nas costas que fez o gato enfiar atrapalhado o rostinho no pote. <i>Cyrano </i>disparou contra <i>Cinzentinha</i>, e os dois acabaram brincando e se divertindo no chão da cozinha. Logo ali, Daniel começou a se sentir um pouco melhor. A cena daquele animal de rua há poucas horas perdido e assustado interagindo agora com uma nova família, à vontade por se ver num meio onde seria tratada com dignidade e amor, desatou um nó na sua garganta. Respirava melhor, mais oxigênio corria pelos pulmões, os nervos reconheciam novamente a eletricidade da vida, da mágica mascarada por trás do amanhecer, da beleza de se estar vivo e poder fazer coisas como subir à cobertura de um colégio abandonado para contemplar, por um ínfimo espaço de tempo, as incontáveis maravilhas do universo infinito, mesmo que houvesse infinitos maiores do que os outros, do Atlântico a ditar a cadência da vida em <i>Cape May</i> ao mundo interior de complexidades e contradições de Daniel. Toda a parte má a qual o assolara e o impedira de encontrar paz, todavia, só o deserdou completamente mais tarde, naquela mesma noite, quando, após o jantar, levou os sacos de lixo para os coletores da calçada. Lefty, Orlando e Giro já tinham se recolhido e repousavam, <i>Cyrano </i>& <i>Cinzentinha </i>inclusive, ao pé do fogão na cozinha quentinha, quando Daniel se lembrou dos sacos na cozinha. Ele deixou a casa segurando os sacos e, após acomodá-los nos coletores corretos, ao retornar pelo caminho da porta dos fundos, pelo quintal, deparou-se com a gata acordada, no último degrau, o terceiro, da entrada, esperando sua volta. Ela precisara de um só gesto de carinho para que devolvesse a Daniel incondicional suporte. Ele tomou a gata no colo e voltou para dentro. Balançando-se na rede, com a atenção no estrelado céu de uma noite fria absolvida de precipitação, começou a rir ao pensar na traquinagem de <i>Cinzentinha </i>ao enfiar a carinha do <i>Cyrano </i>no pote. Risos se tornaram lágrimas, vertidas no curso da colagem de imagens a alternarem a brincadeira entre os animais com os momentos mais difíceis da vida – a solidão, o amor não correspondido, inicialmente por Parker; posteriormente, por Robyn, <i>Mildy </i>morrendo de leucemia sem o namorado sentado ao lado, pois se encontrava em coma após a confusão na pista, em 2004, os últimos anos, a se sucederem sem que conseguisse fazer algo substantivo para si ou por Gladys, Robyn o segurando por treze, quinze intermináveis minutos, sussurrando-lhe as coisas sobre uma mulher mais velha que o teria violentado quando bebê, longe da mãe e avó. Daniel revisitou as celas onde seus demônios o tinham aprisionado. Chorou e chorou a ponto de se curvar de dor; entretanto, quando acabou, as portas haviam sido abertas. Tendo perguntado ao Senhor o que Ele esperava de sua pessoa, Daniel soube que voltaria aos seus gatos. As linhas de sua vida definitiva começavam a tomar forma.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Parker se escusara da mesa. Ela deixara Robyn, Allen e Barclay na <i>diner</i>, jantando um peixe frito, afirmando que precisava ir ao banheiro. Ela o fez, todavia não quis voltar. Do outro lado da pista, dava para ver a praia a partir da margem da primeira curva. Às costas da atriz, o rumor típico para uma casa daquela natureza, um ponto de encontro, um lugar para amigos, para comemoração. As gargalhadas, as vozes altas em conversas, faziam bem a ela, pois, ao passo que se sentisse esvaziada por dentro, era um lembrete de que a alegria sempre se encontrava ao alcance. Robyn apareceu alguns minutos depois, mas se aproximou com um olhar amável e solidário. Ela não a fuzilou com perguntas. Abraçou-a por trás, na linha de cintura, e encaixou o queixo no ombro da irmã. Elas se entreolharam e, em dado instante, começaram a rir.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><span style="font-family: arial;">- Muitos pensamentos nesta cabecinha? - De dedo em riste, Robyn o encostou na testa da irmã. - Eu sei que ainda se sente confusa, maninha, mas vai melhorar. <br />- Logo após minha libertação… - Ela introduziu, pausando um minuto como que evocando as recordações mais nitidamente. - Daniel falou de Aaron, sobre os motivos do suicídio. Você sabia que ele tinha AIDS? <br />- Ele não "<i>tinha</i>" AIDS. - Robyn fungou. - Ele poderia ter adquirido o vírus HIV, mas certamente não teria a doença e, a bem da verdade, não tinha vírus algum. Ele acreditava ser soropositivo, e o desespero o fez saltar daquela ponte em <i>São Francisco</i>. <br />- Pois bem. - Parker quis ficar frente a frente com a irmã. Os cones de luz do faroleiro iluminavam periodicamente a costa, a brisa marítima uivava ao encontrar a curva da pista. - Eu também não tenho HIV, mas… <br />- Eu sei que está confusa, maninha. - Sorriu timidamente, solidária e triste. - Tem medo de me dizer, certo? Você tem outra coisa. A mesma coisa que eu tenho, e eu estou aqui para te ajudar. <br />- Robyn, você também? <br />- Nós éramos muito novas, maninha. Nós nos antagonizávamos por causa do Aaron Lang, era um troféu para a gente. Eu… - Robyn meneou negativamente com a cabeça e falou: - Eu sei quem foi o primeiro da cadeia. Você se lembra de Goldman Roehmer? Ele me agraciou com um presente extremamente raro e, ao voltar para cá e competir contigo por Aaron, terminamos compartilhando a exata mesma condição. <br />- O que… Qual o nome que se dá a isso? - A atriz parecia genuinamente aterrorizada. <br />- Você não envelheceu um único dia desde a conversão em 2004; jamais envelhecerá. Olhe para mim, maninha. - Robyn se afastou um pouquinho e abriu os braços. Pela maneira como a luz irradiada pelo faroleiro corria pela pista e a apanhava em cheio, o cardigã azul escuro de mangas longas vestido por Robyn parecia reforçar a fala dela: - Eu não lhe pareço a mesma Robyn do começo da década? Claro, refiro-me à aparência. Eu… Eu mudei, aqui. - Apontou para si, o indicador e o anelar contra o coração. - Eu não sou mais a mesma Robyn selvagem, há as crianças, o Allen… <br />- Robyn, o que eu vou fazer? Então essa é a resposta? É por isso que eu vim fazendo coisas insanas ao longo dos últimos anos? Atacando bezerros na calada da noite, qualquer coisa para não fazer o mal a uma pessoa inocente? - Parker não conseguia vocalizar, por mais que lutasse. A irmã a ajudou. <br />- Não, maninha, você não vai se transformar num morceguinho, nem vai trepidar diante da cruz. - Neste exato segundo, as duas riram um pouquinho, minimizando até onde possível a absurda tensão. - Nós não usamos esse termo que quase saiu de sua boca. Uma vez dentro do clube, você se torna parte daquilo que chamam de "<i>Os Legisladores</i>". Metrópoles inteiras nasceram sob a sombra dos "<i>Legisladores</i>", <i>Nova York</i> inclusive, os rumos do mundo são escolhidos e ditados pelos "<i>Legisladores</i>". Nenhum mal virá de encontro a ti, maninha. E, ademais… - Robyn a segurou, colhendo-a com um braço sobre os ombros. - Eu vou ensiná-la a se alimentar. Não precisará fazer mal a ninguém. Temos acesso aos hemocentros, então…<br />- Meu Deus, quanta loucura, quanta loucura!<br />- Parker, não seja infantil! Não vê a sorte? Você não conhecerá doenças, não conhecerá a velhice, a morte… O mundo é um playground para pessoas como nós! - Ela justificou, mas o tremor na voz indicava que Robyn não tinha tanta certeza que imortalidade e uma existência livre de tristezas e dores eram uma bênção.<br />- O Daniel, ele… - Novamente, pensamentos de Daniel Legrand a atravessavam como lanças. Parker sentia saudades da doçura, do amor, da pureza daquele tão peculiar solitário à margem do mundo face às circunstâncias do destino o qual os unira.<br />- Eu me preocupo com Daniel, perco noites de sono pensando nele. - Robyn o definiu pelo ponto de vista conferido pela sua dolorosíssima ausência: - Ele foi meu maior adversário, pois as coisas lindas que disse a mim iam tão de encontro a quem sou hoje que ofereciam o contraste perfeito para que eu me enxergasse novamente através de olhos puros. Eu e ele sempre estaremos conectados pelas nossas diferenças, e precisamos um do outro. - E então, após se abrir tão singelamente, Robyn novamente controlou um pouco o peso de tão pesadas revelações ao brincar um pouquinho, indicando o olho roxo. - Por mais que ele tenha me dado este presente! Mas não se preocupe, ele apanhou mais, eu o derrotei!<br />- Robyn, por Deus, vocês… Vocês brigaram?<br />- "<i>Brigar</i>" não descreveria muito bem; no nosso caso, lutamos mesmo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Ocasionalmente, escutava-se o ziguezaguear de carros passando em velocidade na estrada e só ao fundo o rumor da festa na <i>diner</i>. As duas se voltaram para trás ao se atentarem a pisadas de sapato crepitando sobre o gramado do outro lado da pista. Era Barclay, parando um pouco à beira para olhar para os dois lados, antes de atravessar a pistas. Parker reagiu com um susto, dada a conversa; Robyn parecia estranhamente à vontade, como se se tratasse de um momento acordado anteriormente entre ambos. Houvera um minuto durante a chegada da irmã à casa dos pais no qual eles haviam se cumprimentado como se já se conhecessem, ao menos fora essa a impressão. Agora, ela teria certeza, e por razões que mal teria imaginado.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><span style="font-family: arial;">- Venha para cá, Barc querido. - Robyn estendeu o braço e o mexeu os dedos da mão, convidando-o com um sorriso. - Eu e maninha atingimos o ponto a partir de onde não há retorno. A verdade, quando começa-se a contá-la, deve ser dita até ao fim. - Barc se achegou, timidamente, e só naquele segundo ergueu os olhos à Parker, ligeiramente embaraçado. - Estávamos falando de você, não é, maninha?<br />- Como assim, Robyn? - Completamente perdida, viria agora a ter a surpresa definitiva.<br />- Olhe bem para seu amigo, seu colega de elenco, Parker. - Robyn foi para as costas do homem com as mãos nos seus ombros, e continuou: - Você não fez a associação entre os rostos porque é demasiadamente extravagante; entretanto, recorde-se: a partir do momento da conversão, não se morre, não se envelhece. O que acha que ocorreu a Aaron quando ele saltou da ponte? <br />- Eu saltei da ponte, Parker, e descobri, após ter sido levado à margem, que mesmo após um afogamento eu continuava a existir. - Barclay Harrison descerrou as cortinas para a revelação. - Eu não morreria, mesmo que tentasse.<br />- E então, os "<i>Legisladores</i>" vieram. - Robyn retomou. - Aaron não poderia continuar a ser Aaron; civilmente, deixara de existir. Cheryl e Adam enterraram um caixão vazio. Deram-lhe uma nova existência, uma nova identidade. Realocaram-no. Uma vez que você é convertido, você se torna um dos senhores deste mundo, maninha. Nada é impossível, principalmente desaparecer sob uma nova identidade.<br />- Para minha nova vida, precisava voltar como ator. - Aaron sentia uma enorme gratificação ao contar: - Eu sabia o valor das artes, na sua vida, e, como artista, teria uma janela para voltar, mesmo que tivesse de esperar tantos anos para isso. E mesmo que… - Pareceu golpeado nos rins, ao fechar os olhos com força, em agonia. - Mesmo que eu não pudesse visitar papai e mamãe, vê-los, abraçá-los, dizer que nunca deixei de amá-los… Eu voltei, Parker, mas para algumas pessoas Aaron Lang continua sob as águas do <i>Golden Gate</i> de <i>São Francisco</i>. <br />- Meu Deus… Aaron. Eu não quis ver! - Com as maçãs do rosto banhadas de lágrimas, ela falava, freneticamente. - Quando o vi no set, na primeira manhã de filmagens, ocorreu-me, "<i>Já o vi antes</i>".<br />- Você vê como eu amadureci? - Indagou, com entusiasmo nos olhos. - Quero dizer, consegue nos imaginar um dia conversando a três? Depois de todas aquelas confusões e trapalhadas de nossa juventude?! - Perguntou, insistente, e os três riram, um suave, belo momento, sinal de que não havia nada fora de alcance da misericórdia do destino maturado. - Eu mudei, Parker. Eu tenho vergonha de tê-las ferido. - Apertou a mão de Robyn e, então, a de Parker. - Se eu puder fazer um pedido, Parker, eu gostaria de que me deixasse provar que não sou tão horrível quanto a figura da qual se lembra, nos anos 90, no começo dos anos 2000. Eu mudei. - Apertou a mão dela, comovido, reiterando: - Eu mudei, nós mudamos. Hoje, a Robyn é uma mamãe. No meu caso, cresci sob o molde da amargura de me resignar a ver meus pais à cautelosa distância, definhando, sem poder me aproximar para lhes contar o quanto os amo e estou bem. Nós somos melhores, agora.<br />- Parker, há coisas sob o céu para além de nossa capacidade de compreensão, e somos uma mostra desse milagre. - Robyn a sacudiu com leveza. - A partir de agora, sua confusão vai fenecer, você se sentirá melhor. Cuidaremos melhor um do outro.<br />- E <i>Danny</i>, pessoal? - Sua voz chorosa exigia saber. - E <i>Danny</i>?<br />- Maninha, você custa a enxergar pois está muito envolvida emocionalmente. Eu sou uma psiquiatra e meu olhar pode ser clínico quando quero. Ele não é o homem para você. - Robyn apertou os braços cruzados contra si, com frio. Ela estava emocionada, olhos marejados. - Se você o ama, deixe-o ser ajudado, mas não lhe exija a maturidade que se esperaria de um cara normal como o Aaron ou o Allen. O senso de Daniel, seu senso de realidade é alterado e hipersensível, o que era de se esperar de um sobrevivente de abuso. Houve o estupro sofrido nas mãos de uma mulher. A avó Gladys tentava cegamente protegê-lo de tanta ferocidade, foi por isso que o arrancou de <i>Cape May</i> assim que ele perdeu a memória. Ela não queria que o neto se atormentasse, lembrando-se, mas agora ele sabe.<br />- Então, Robyn, se ele sabe, ele pode melhorar… - A defesa de Parker faria o asfalto chorar de pena; verdadeiramente precisava salvaguardá-lo, mas a realidade se materializava muito rápida e implacavelmente na fria sensatez da irmã mais centrada e forte.<br />- Ele não vai melhorar tão fácil assim. É um menino admirável e amável, mas burro feito uma porta. Não sabe se cuidar, não sabe o que é melhor para si. Eu lhe dei uma surra mas ele continuava a voltar para levar mais, Parker. Ele não é uma pessoa normal. - Subitamente, Robyn girou os olhos, fitando o céu, e explicitou a ironia no impasse: - E olhe que somos três vampiros falando do cara. Vampiros afirmando: "<i>Esse cara não é normal</i>". - Os três deram sorrisos pela metade, meio ressabiados, meio entretidos.<br />- Eu quero conversar com <i>Danny </i>na missa da Gladys. - Determinou, tremulando minimamente com a cabeça.<br />- Ele não terá como fugir da gente. Vocês conversarão. - Robyn a abraçou de frente, Aaron as abraçou em seguida. - Ora, ora. Quem diria, hein? Dez anos depois, a "<i>gangue</i>" reunida.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Parker e Aaron teriam um momento exclusivamente para si mais tarde, após terem regressado para a casa dos Cowan. Robyn desceu com o filho no colo; Allen, com a garotinha. Quando Aaron e Parker iam abrindo as portas do banco traseiro, Robyn pôs a cara na janela e pediu que aproveitassem para conversar, entregando-lhes a chave do carro. Aaron tomou o molho de chaves no mesmo segundo; era-lhe imperativo conversar mais intimamente com a ex-namorada. Ele e Bobyn trocaram olhares cúmplices; Parker permanecia enrijecida, enlutada. A psiquiatra afagou a irmã com as costas da mão e lhe explicou que a hora de os dois se entenderem chegara. "<i>Boa sorte</i>", murmurou para Aaron antes de se virar para entrar em casa com a criança. Atrás do volante, Aaron ligou o som e guiou vagarosamente o carro através do portão. Correndo através da avenida que riscava o litoral de <i>Cape May</i> acima do estuário, antes da praia à vista pela janela do lado, Aaron tinha em mente um lugar para mostrar à ex-namorada. Quando Parker entendeu aonde o ex-namorado a levava, seu coração se estilhaçou. O pobre Aaron, agora Barc Harrison, dava-lhe uma prova de sua dor ao estacionar do outro lado da rua que dava para a mansão praiana dos Lang. No som, uma balada triste e romântica chamada "<i>Who do you tell</i>", de <i>Tamia</i>.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Aaron, pela graça de Deus você vive! - O carinho com o qual se inclinou para abraçá-lo na linha do peito detinha uma inédita qualidade fraterna. - Nós éramos selvagens, mas nunca quis seu mal.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu faria tudo diferente, se pudesse recomeçar. Eu não as teria ferido. - Então, pensando melhor, Aaron foi mais exato: - Na verdade, não machucaria ninguém. O tempo é mesmo o senhor da razão, Parker. De um jeito estranho, ele nos transforma. <br />- Eu sinto muito pelos seus pais. - Uma lágrima solitária escorreu e se alojou na covinha. <br />- Eu gostaria de fazer algo, mas dentro das circunstâncias, meu nome é Barclay Harrison. Aaron Lang morreu na <i>Golden Gate</i> naquele 2004. E é melhor assim. - Fez um gesto com o rosto em direção à casa dos pais. - Eu não imagino o transtorno à cabeça deles, caso reaparecesse com minhas razões. Minhas inexplicáveis razões. Você realmente não me reconheceu em momento algum durante as filmagens em <i>Londres</i>? <br />- Talvez a "<i>semelhança</i>" tenha cruzado minha mente; entretanto o absurdo da possibilidade me sacava a ideia da cabeça. Estranho, não é? Eu e Robyn vivíamos brigando por você; hoje, saímos para jantar com as crianças da Robyn. Meu Deus, o tempo… Para onde vai, Aaron? Para onde vai o tempo? <br />- Temos o tempo do mundo agora. - Um inesperado, luminoso sorriso trouxe o velho, belo Aaron de volta à vida. Se Robyn tivesse visto aquele olhar durante as filmagens em <i>Londres</i>, ela o teria reconhecido na hora! Ele falou: - E se já somos melhores em menos de dez anos, imagine daqui para frente. Parker… - Ousou segurá-la na mão. - Eu imagino o quanto ama Daniel. Apenas me prometa: se não der certo, pode me dar uma outra chance? Para retomarmos de onde deixamos? Será melhor agora! <br />- Oh, Aaron! - Ela soluçou, lágrimas correndo e borrando a maquiagem. Eles se abraçaram. Durante a tempestade de emoções, Aaron a segurou delicadamente pelo queixo, para encará-la. E então, o beijo aconteceu, ao som daquela bela música. Parker se recompôs, ambos meio constrangidos, mas aceitou o abraço do ex-namorado.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">O domingo chegou glorioso, um gracioso dia de sol, uma verdadeira manhã de praia, codornas trinando nos coqueiros, um ar quente e saboroso amanteigando a atmosfera com um convite à vida; todavia, predominava um admirável tom solene face à missa a acontecer nas próximas horas. A cerimônia tivera a estrutura montada numa parte mais aplainada da praia. Daniel se recordava do lugar, pois certos troncos de coqueiro que um dia tinham servido como pilares às barracas perduravam ali. Sim, fora naquele lugar, em 1995, onde Robyn lutara. Padre di Sofia conduziria a missa e, antes de saírem da casa de Lefty em direção à praia, Daniel se admirou na forma com a qual Giro preservava certas posturas e modos com os quais se recordava dele, ao pensar nas conversas sublinhadas pela ventania forte sobre a cobertura do<i> Lower Township</i>, na primeira metade dos anos 90. Padre di Sofia lhe dera um terno para a ocasião, e Lefty encontrara um jeitinho de colocar um sorriso, tímido que fosse, no seu rosto cansado e ainda marcado pelos golpes de Robyn. Giro recebeu as cinzas de Gladys numa urna. Preparara-se uma rampa de madeira sobre o píer de onde as cinzas seriam atiradas às marés. Daniel se afligia, preocupando-se com o que fazer caso esbarrasse com Parker, e pensava nesse detalhe quando o inevitável ocorreu. Parker se pôs à frente de Legrand quando ele descia a rampa para a parte de dentro da barraca, para atravessar à passagem para a arena onde se daria a missa. A atriz vinha ladeada por Robyn e Barclay. Allen se punha alguns passos atrás, de mãos dadas ao casal de filhos, um menininho e uma garotinha. Parker ia abrindo a boca, trepidante, os olhos injetados de um vermelho típico a quem vinha chorando a dias. Daniel abaixou o rosto e tentou passar ao lado; porém Parker foi mais rápida e o segurou pelo pulso.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /> - Você vai falar comigo agora! - Parker demandou, seu tom de voz subindo alguns nós. - Eu não fiz nada para feri-lo, por que me ignora?! Quem pensa que é? - Daniel conseguiu se desvencilhar e, trôpego, desceu através das mesas e cadeiras da barraca, para fora, para a praia aberta. Estupefata, Parker procurou pela irmã. Robyn mantinha os olhos tristes e angustiados nas costas do perturbado ex-adversário. - Robyn, pelo amor de Deus, o que eu faço? Eu não sei como lidar com isso! - E a abraçou, desesperada. Se alguém poderia socorrê-la, era a irmã; Robyn não apenas lidara com Daniel, ela o vencera. <br />- Então não lide com isso agora, querida. Barc… - Robyn sinalizou ao ex-namorado, apontando para a irmã, como se dissesse: "<i>Não tire os olhos dela, cuide dela</i>". - Tudo a seu tempo, deixe-o ir, deixe-o ir, ele está muito perturbado. </span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Padre di Sofia saudou os presentes. A sociedade de <i>Cape May</i> comparecia em peso, as pessoas profundamente sentidas pelo calvário de Daniel, pois tinham vindo a conhecê-lo e admirá-lo pelas boas ações. Sentindo-se deslocado em roupas tão elegantes, ele estava posto um pouco atrás de Giro e dos acólitos, acompanhando a cerimônia de um lugar mais elevado ao lado do altar. Num fugaz momento, Daniel ousou erguer seu rosto, revelando-se a imagem do abatimento; foi quando, ao visar a multidão à frente, distribuída nos bancos, pontuou a Robyn. Ela o vinha observando, atenciosamente, e quando eles se encararam, esboçou um curto, desolado sorriso no canto da boca. Robyn realmente parecia devastada. Daniel sorriu entristecido, lembrando-a de que, por mais confuso que se sentisse, era um homem grato por vê-la ali. Nos borrões púrpuras já meio diluídos em suas faces, o segredo que os unia e o qual só os dois, mais Padre di Sofia, conheciam. Robyn e Daniel haviam lutado ferozmente; ninguém o conheceria mais tão intimamente quanto Robyn depois de um acontecimento tão definitivo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br />- Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém. Queridos irmãos, tomo emprestado um evangelho pascoal por caber tão bem às perguntas que a despedida de nossa irmã Gladys Legrand, que nos deixou para se unir à felicidade completa no Senhor, deixa-nos na sua esteira. <i>Jesus</i> nos fala hoje desta realidade de dupla face do mistério pascoal: tristeza & alegria, morte & ressurreição. Vejam, essa dinâmica, a passagem de morte à ressurreição, não é algo opcional, não se trata de um rito a que possamos escolher. Se você quiser nascer de novo, ser verdadeiramente filho de Deus, algo precisa morrer. E aí somos chamados a mergulhar na realidade do <i>Cristo</i> que morre e ressuscita. Aqui, <i>Jesus</i> se encontra na última ceia e se refere `a tristeza dos apóstolos. A tristeza se dá quando perdemos algo que amamos, não? - Giro parou para olhar para trás, buscando <i>Danny</i>. Robyn notou o instante, e se arrepiou. - Os santos padres nos recordam: Deus nos deu a tristeza de presente, porque sabia que o homem podia pecar, de tal forma que, tendo perdido a Deus com o pecado, pudesse, na tristeza, cair em si e retornar para a casa do Pai. Aqui, os apóstolos vão perder o <i>Cristo</i>, pois Ele vai morrer, e ficam todos entristecidos porque sabem que aquele a quem amam partirá. Mas <i>Jesus</i> promete, "<i>Vossa tristeza será transformada em alegria</i>", e usa esta comparação extraordinária para explicar a dinâmica do mistério do sofrimento, a comparação de uma mulher no parto. Vejam, nós, infelizmente, vivemos numa sociedade na qual, muitas vezes, as mulheres preferem um parto cesariano e indolor. Vamos perdendo contato com essa realidade tão natural e tão bela. A mulher sofre, a criança sofre. Mas, logo em seguida, esse sofrimento se torna alegria. Nós também somos chamados a viver as dores do parto do nascimento do homem novo, da mulher nova dentro da gente, e é exatamente aí que enxergamos a farsa do atalho do "<i>Vamos evitar o parto natural, vamos para o parto cesariano, um parto indolor, analgésico</i>". Muita gente precisa forjar um atalho, mentindo para si de que pode viver um vida no Espírito Santo, uma vida movida pelo Espírito Santo, sem passar pelas dores do parto envolvido em matar o homem velho, a mulher velha. Não, filhos, não há vida no Espírito Santo feita somente de alegrias. Não é possível, faz parte de uma dinâmica desejada por Deus, porque Deus, que nos criou sem nos pedir nossa opinião, não quer nos salvar sem nossa colaboração. Sim, Deus quer matar o homem velho, a mulher velha, o egoísta dentro de mim, mas a redenção não virá sem que eu de fato abrace a cruz e queira, <i>queira</i> entrar nesse caminho difícil, porém cheio de alegria e esperança, afinal não estamos sozinhos. O <i>Cristo</i> virá conosco, estaremos verdadeiramente juntos a Ele, e o Espírito Santo nos dará força, pois movidos pelo Espírito Santo daremos morte ao homem velho para viver a vida nova. E durante as dores do parto, conduzido à vida nova, assim como cada criança que, dada à luz, chora, também choraremos "<i>Aba, Pai</i>", como nos ensina <i>São Paulo</i> na carta aos Gálatas. Não temos um espírito de servidão de escravidão, mas um espírito de filhos, que querem clamar "<i>Aba, Pai</i>". Seremos filhos de Deus, no Seu filho <i>Jesus</i>, e o Espírito Santo nos dará vida nova. Portanto, coragem, não tenham medo, nossa tristeza se tornará alegria. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">No momento de jogar as cinzas nas marés, Daniel teve de vencer a inércia da dor e timidez para liderar, indo à frente com a urna em mãos, com Giro, Lefty e Orlando vindo logo atrás. Com dois movimentos, Gladys foi completamente atirada ao leito, carreada pelas marés menores e espumosas, colhida a um mar de um azul perfeito. Após a conclusão da missa, Daniel não tinha um destino certo; obviamente, não desejava voltar imediatamente para a casa. Giro respeitou o estado de espírito do amigo. As pessoas conversavam e se solidarizavam, já transitando e se encontrando no calçadão para cima da praia, quando Robyn o enxergou subindo pelo caminho de lâminas de troncos que davam firmeza e conforto à subida através da areia para o calçadão. Daniel a enxergou também, e se viu numa encruzilhada. Por mais machucado que se sentisse, não conseguiria simplesmente passar pela Robyn. Ela sabia de sua força sobre o coração do ex-adversário. Face a face, encarando-o duramente, ela falava baixinho: <br /><br />- Por favor, <i>Danny</i>, não faça isso com a Parker. - Ela o fisgou, os dedos no queixo, para obrigá-lo a ficar com a cabeça levantada. - Não é muito justo, você não concorda? Você pode estar bravo comigo, eu entenderia, mas… <br />- Eu não estou bravo contigo. - Abreviou. - Jamais ficaria bravo. Robyn, eu amo muito você. - Afirmou tão diretamente que lhe tirou o fôlego. <br />- Eu quero muito bem a você. Eu estou preocupada. Eu não quero seu mal. <br />- Você fica comigo? - Agora, ele falava como o <i>Danny </i>de 1995, o <i>Danny </i>de 15 anos, o garoto confuso em relação aos próprios sentimentos, que esbravejava xingando-a quando Robyn não o deixava escapulir com um chocolate furtado do <i>Walmart</i>, mas que também por ela devotou amor ao vê-la naquele dia de sol na praia durante os Jogos Escolares. - Eu amo você. <br />- <i>Danny</i>, você não sabe o que diz. Você está muito confuso. É normal, a cabeça ficou embaralhada. - Em resposta à fala de Robyn, Daniel começou a recuar, com os olhos cheios de lágrimas ressentidas, sacudindo a cabeça como uma criança magoada e maltratada. <i>Sim</i>, era como se fosse o Daniel Legrand de 1995, aquele que se recordava muito bem da violência sexual perpetrada sobre sua pessoa. Robyn não queria perdê-lo e continuava a vir ao encontro do rapaz, tentando segurá-lo pelos pulsos. - Venha, deixe-me ir contigo para casa, quero conhecer seu quarto, quero conhecer seu gatinho, o <i>Cyrano</i>… - Daniel arrancou o braço, livrando-se do controle de Robyn, e ela o olhou insultada, devastada. - <i>Danny</i>, <b><i>não </i></b>faça isso comigo! Vai continuar a me tratar como sua inimiga? Daniel, estou falando contigo! - A voz de Robyn ganhou urgência; entretanto, Daniel saiu correndo, chorando. Ela quase tentou correr atrás, mas quando começava a tirar os saltos para conseguir correr, ele já dobrara na primeira quadra do outro lado do eixo principal a ladear a praia.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">À deriva, Daniel seguiu vagando, assombrado pela presença de Robyn às suas costas, ela que fora o grande mistério norteador da jornada, a ponta da bússola a indicar a direção para onde deveria se lançar, fossem as praias de <i>Cape May</i>, fosse o ringue onde ela finalmente o derrotara. Ainda na primeira metade do domingo escaldante, ao prestar atenção, os olhos marejados distinguiram nitidamente o faroleiro. Ele vencera a enorme distância da costa ao faroleiro abandonado. Ao fazer força com um dos ombros, não necessitou de mais de três tentativas para arrombar a porta de madeira para ganhar o ambiente interior. Subindo a escada em espiral, desejava alcançar o topo da torre, na qual tinham sido montados os espelhos refletores do aparelho ótico, como se pela força com a qual orientavam as naus no meio das trevas, pudessem lhe apontar o caminho. Ali em cima, desabotoou os botões da camisa e se livrou do paletó, agora abarrotado por ter atravessado uma tapetada de vegetação arbustiva da restinga, pouco antes do farol. Sentou-se com as costas na mureta, como um soldado da 2ª Grande Guerra a se proteger nas trincheiras, neste caso, do sol inflamado a grelhar as pedras lajinhas da torre. Seus olhos injetaram-se de um sedutor cansaço ao capturarem o azul ardósia a declamar a pureza e cristalinidade do Atlântico. Mesmo sob o sol, seu rosto deslizou pelo muro e ele foi caindo até se deitar de lado e dormir.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Daniel em uma versão menor de si: ele via claramente que se tratava de sua pessoa; entretanto, assistia a si como um terceiro independente, naquela sala escura onde havia Daniel minúsculo e inocente, e uma mulher loira. A mulher, Daniel não saberia descrevê-la bem, mas ela tinha cabelos loiros, rosto afinado, um elemento de penetrante e violador no olhar. Repentinamente, Daniel deixava a condição de espectador independente, de "<i>mosca na parede</i>". Agora, habitava novamente o corpo físico no qual experimentava a vida neste mundo pelo ponto de vista do ego. Adotara o tamanho, a simplicidade e uma mente pura e imaculada, e a mulher, o demônio de sua vida, avizinhava-se em círculos como uma leoa para devorar filhotes abandonados de uma ninhada que não a sua. Ocorria conforme Robyn lhe contara, tendo o apanhado num estrangulamento, durante a luta. Robyn descrevera perfeitamente. De fato, a estranha mulher punha testículos e pênis de uma só vez na boca grande, pois era fácil abocanhar a genitália inteira. Ele revivia agora o estupro sofrido décadas atrás, <i>Daniel sabia disso</i>, e enquanto ela o devorava, outras vozes pareciam vir para conversar com sua mente inocente, avassalada pela depravação de uma pedófila. Quando ela se contorcia fisicamente para proporcionar uma penetração absurda e extravagante de punho e braço através do ânus e o primeiro segmento do intestino baixo, era como se o indefeso, pequeno Daniel estivesse sendo sugado para o interior dela, e o interior do anjo decaído fosse um vácuo, um buraco negro pontuado por estrelas cintilantes gélidas e longínquas a aspirar sua alma para a diluição. "<i>Baixo para cima, baixo para cima</i>", ela ensinava, rangendo de dor e prazer enquanto o braço de Daniel investia à força e contra sua vontade através do tubo digestivo baixo, que o cingia com a força de uma jiboia esmagadora. "<i>Vivez la merde, embrassez la merde, dissolvez-vous dans la merde</i>", a voz afeminada de um demônio gritava entre risadinhas histéricas, e a mulher, tendo adotado a posição de uma égua no cio, abria a boca até onde as articulações da mandíbula permitiam, para expressar o prazer de ser arrombada de dentro para fora, e olhava para cima, prestes a explodir. "<i>Meu Deus, ajude-me</i>", sua versão pequenina perscrutava o coração em busca das orações ensinadas pela avó para que o mal jamais o possuísse, mas nada lhe ocorria. "<i>Mergulhe mais</i>", ele estava às portas do inferno e se segurava nas grades para não cair. O inferno nada mais era do que a mente inclinada ao diabólico. A vadia uivava como um lobo, e a cena adquiria a característica de paródia satânica. Como não sabiam criar, demônios macaquearam coisas criadas tão perfeitamente pelo Senhor. Na forma daquela criatura, os anjos provavam-se mais do que anti-cruz: eram ferozes <i>anti-feminino</i>, <i>anti-Maria</i>. A pureza e grandeza do parto era atirada à lama do profano na sucção que o engoliria, devolvendo-o para dentro do interior da mulher/demônio. Mais do que o devorarem, interessavam-se em estabelecer uma relação íntima com Daniel. "<i>Venha brincar na merda conosco, Danny. Quero apresentá-lo à minha irmã; ela é o demônio do fetiche sexual por pessoas com membros amputados</i>", declarava, pontuando com gargalhadas curtinhas e histéricas. E então, como se a todo tempo jamais o tivesse deixado, Daniel dava pela aparição de uma cruz entre seu corpo minúsculo e o corpo feminino grande e absorvedor a servir-se de quatro à frente, com o rabo levantado. Agora, a cruz afastava as presenças angelicais decaídas; primeiro, os dois demônios que, de alguma maneira, faziam-se sentir nos seus flancos, segurando-o para a violação sob o jugo da mulher; depois, a mulher de quatro que quase o engolia por trás, afundando no colchão e perdendo o domínio sobre seu braço e corpo pequenino. A voz afetada e pegajosa insistia, pois não se conformava em perdê-lo, "<i>Mas estivemos presentes durante sua existência, Danny, somos uma parte de ti</i>"; entretanto, à medida que a envergadura da cruz abria-se em luz, a efusão iluminada afastava as trevas dos anjos perversos decididos a violarem-no até ao suicídio. A vadia loira, - o demônio a levar o braço no rabo, - que até o momento permanecera, de maneira geral, quieta, finalmente olhou para trás, para encará-lo bem firme nos olhos, sorrir sensualmente e sussurrar: "<i>Eu caminho contigo desde os cinco, seis anos. Poderíamos dizer que o vi crescer, ao menos por um tempo. Você é meu. Meu nome...</i>", a voz da vadia falhava em razão da prazerosa dor de ser devassada por dentro. Daniel reconhecia: "<i>Eu sei quem é! Você foi... Você foi...</i>". Ela o cortou, ao se apresentar definitivamente: "<i>Isso mesmo. Mas pode me chamar de 'Capitã Estupro'</i>", e olhava para cima, numa poética agonia de orgasmo. As vozes afeminadas iam se anulando, suas forças viraram um fiapo, podiam ser desmontados com um sopro de tão patéticos sob a sombra da cruz redentora. Retiraram-se na esteira de uma corrente de xingamentos frustrados. E, num segundo, não havia mais nada – nenhum demônio, nenhum anjo decaído – naquele espaço. Daniel não era mais a sua versão pequena, era o Daniel adulto. E ele despertou.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Quando Daniel Legrand acordou da experiência, eram 15:00; significativamente, o horário no qual <i>Cristo</i> morre na cruz. Ele chorava, resfolegava e vomitava bile, e sentia o calor na testa como se lençóis úmidos quentes o tivessem estapeado de muitas direções. A impressão podia ser descrita como se saísse de um banho profundo; a respiração fluía mais facilmente, o oxigênio, mais abundante, capilarizava as veias aos pulmões, era um novo homem que sentia o esvanecer da névoa na mente, e a despedida definitiva das entidades que claramente haviam incutido palavras de loucura e suicídio ao ouvido. Daniel Legrand era um recém-nascido; simplesmente, rompera com seus demônios. Poderiam até recorrer numa ou noutra lembrança, porém, enquanto presenças reais, haviam ido embora. Colheu uma lâmina de pescador deixada pelo acaso, ou talvez providência divina, ao lado do sinaleiro e, sem hesitar, seccionou a palma da mão num movimento em diagonal que fez sangue espirrar. Com o sangue, escreveu na mureta: "<i>Setembro de 2010. Rompi com os demônios. Entrego minha alma para Jesus; servirei Jesus todos os dias de minha vida até ao fim</i>".</span><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br />Alguns dias se passaram. Ao passo que a tensão era tremenda, no que tangia à relação estremecida entre Daniel, Robyn e Parker, pairava um estranho, agradável senso de uma força maior atuante, mascarada por trás das circunstâncias, a conduzir o desfecho para o fim que se provaria melhor para todos. O suspense advinha do dia 29 de setembro a se avizinhar: se desejasse dar à vida a definitiva guinada sobre a qual falara tantas vezes, Daniel teria de preparar-se para a estrada a frente, pois precisaria subir na caminhonete para voltar a <i>Elizabeth</i> e se apresentar para a posse no concurso onde fora aprovado.<i> Nova York</i> o esperava, uma vida mais financeiramente confortável, gente nova… Era só voltar a <i>Elizabeth</i> e, de lá, a <i>Nova York</i> para a assinatura do termo junto aos amigos. Uma noite, enquanto jantava com Padre di Sofia, Lefty e Orlando, Giro lhe contou que sua mãe se encontrava em <i>Cape May</i>. Daniel parou de tomar a sopa. Giro revelou que a mãe, agora uma mulher idosa, desejava ver o filho; a vida lhe fora péssima e, consoante Giro, envelhecera para além de sua real idade. Aproveitando a chance, o padre também quis falar de Parker: "<i>Ela esperará por ti na diner do próximo dia 28 de setembro, meu filho</i>", Giro acrescentou, numa toada. Daniel respirou profundamente, afinal, ao tempo no qual lhe chegava a possibilidade de reencontro com a mãe, dividia-se entre a vida pretérita e a construção de uma existência diferente sem conexões com sua história pessoal, uma história nova ao lado de Parker. A namorada conseguira dar uma palavrinha com Daniel, ao telefone, dias atrás; a bem da verdade, só ela falara, mas fora perfeita na sua entrega: "<i>Daniel, temos construído algo especial entre a gente. Não deixe que nada ou ninguém fique entre a gente. Nós dois somos muito melhores, quando juntos. Precisamos passar por muitos problemas para nos merecermos, e agora que está tudo acabado, não posso aceitar a ideia de perdê-lo. Não há nada que você possa fazer que me causará dor, porque eu te amo e mesmo que passe o resto da vida me evitando, não mudarei a forma como passei a enxergá-lo. Se você não aparecer, eu compreenderei. De todos os meus filmes e realizações, você foi a minha melhor performance. Eu te amo</i>". Daniel, por conseguinte, via-se diante de uma encruzilhada.<br /><br /> - Sr. Legrand! - Uma voz feminina exclamou, de uma direção fora da casa . Lefty e Giro acompanharam-no para ver. Daniel ofereceu um honesto sorriso ao reconhecer a pessoa de Olívia à porta. - Fico muito feliz em revê-lo!<br />- Estou orgulhoso de vocês, querida. O que faz em <i>Cape May</i>? - Afagou-a um pouco acima dos ombros, como se parabenizasse a uma filha. - Acho que deve ter ouvido muito meu nome nos últimos dias.<br />- Sim. - Ela concordou, meio embaraçada. - Suntee está louco para conversar com o senhor.<br />- Não quero vê-la com esse olhar preocupado. - Sorriu, confortavelmente comportando e dirimindo os temores não verbalizados da menina. - O que passou, passou. Agora, temos motivos para celebrar. E celebrar parece o melhor a fazer para afastar a expectativa até o dia 29!<br />- E por que não começar essa noite? - Foi Suntee quem apareceu como se se materializasse do ar, para completar a reunião. Daniel gostou da ideia de uma noite acompanhando o casal a uma pizzaria da orla, mas quando saiu um pouco mais para a calçada, viu o pequeno ônibus estacionado no outro lado. De dentro, os amigos da <i>East Side</i>, agora aprovados, apareceram para abraçá-lo. Lefty e Giro testemunharam a tocante cena à distância. Daniel acenou para os dois, mas logo foi segurado pela garotada, que tratou de suspendê-lo para lançá-lo ao ar sob os gritos de <i>Hurra</i>!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">A manhã raiaria em menos de uma hora quando a turma retornava da noite de pizza na orla, para deixá-lo na paróquia. Para a galera, seriam muitas horas de viagem, afinal regressariam na mesma ocasião para casa, para <i>Elizabeth</i>. Antes que tomassem a rota para o orfanato fundado por Padre Girolamo, Daniel pediu ao motorista para lhe fazer um favor ao deixá-lo no antigo, hoje abandonado<i> Lower Township</i>, o local de suas maiores alegrias num tempo mais simples, como a presença cotidiana da jovem Robyn. O coração palpitou docemente sob a imagem de Robyn na sua mente e, a caminho da cobertura, quase se emocionou. Era uma abóboda gloriosa separada pela linha do horizonte, a qual prenunciava a vinda da manhã; naquele ínterim, Daniel puxou do bolso da calça a carta deixada por Gladys. Examinando-a ao toque, notou-a meio grossa. Havia mais do que uma carta, no envelope, e ele abriu. A letra da avó o estimulava a pensar nas palavras cruzadas e passatempos que tantas vezes a vira diligentemente preencher, no alpendre. Assim, mal havia lido a primeira linha, já chorou. Viria a chorar muito mais ao encarar a mensagem final a lhe ser estendida além-túmulo:</span><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /><i>Danny, quando ler essa carta, não posso imaginar a distância que vencemos nesses últimos dez anos até chegar ao ponto no qual abriu o envelope. Escrevo a mensagem após uma semana de sua ação no aeroporto; agora, sua vida está para mudar, um novo mundo se abrirá no seu horizonte. Eu penso bastante em você, Danny, no passado do qual, neste momento em que redijo a carta, não consegue se lembrar. Eu te imagino na prisão que se tornou a sua memória. Tento sublimar o oceano de tristeza entre nós dois, e então explico a Deus em orações como gostaria de puxar para mim a maldade que fizeram a você quando criança, para que não precisasse sofrer. E eu te vejo… Tentando adormecer na casa dos outros, no escuro, mas com medo de dormir e urinar na cama, prisioneiro de adultos que o odiavam e não o queriam por perto. Eu o imagino a milhares de quilômetros, longe de minha casa, a casa de sua avó, quando ainda era um menininho, e mesmo hoje, contigo crescido, ainda desperto chorando na madrugada, chamando seu nome na escuridão. Você sempre será meu menininho. O garoto que encontrei a brincar com os gatinhos no quintal, naquela tarde se setembro; você era a criança mais adorável que eu já havia visto. O cara que dividia todas as posses com as outras crianças, o cara que tiraria a própria camisa para dar a um completo estranho. O cara que me ensinou a amar. Eu te amo, Danny.</i></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><i><br />Então, filhinho, deixo tudo para você. Isso mesmo: diferente do que eu lhe dizia ao longo dos anos, a velha casa em Cape May jamais foi vendida. Deixei-a preparada para sua volta, após minha morte. Agora, será completamente sua, e o imóvel deverá ser o suficiente para que se mantenha de pé, principalmente nesta nova fase de empenho nos estudos. Eu não sei o que deve fazer, Danny, apenas encontre seu caminho! Eventualmente, sua mãe te procurará. A esta altura na qual lê a carta, deve saber que ela não morreu. Você se revoltará e desejará maltratá-la, chutando-a de escanteio por julgá-la responsável por tê-lo atirado, mesmo inconscientemente, a predadores. Quando o mundo se abrir diante de seus olhos, após ter entendido perfeitamente seu passado, começará a correr atrás de uma felicidade que o mundo te prometerá e, num primeiro momento, sua mãe será a última coisa a preocupá-lo. Atente-se para não cometer um erro, meu filho. Este será o conselho mais importante que terá na vida.<br /><br />Danny, para te ajudar, precisamos fazer uma reflexão sobre este novo elemento na sua vida: a busca pela felicidade. O que é a felicidade? Você foi abusado sexualmente por uma mulher mais velha, quando esteve longe de mim e de sua mãe, mas isto que vou te dizer vale para qualquer pessoa. Eu queria que entendesse que o drama que vive é semelhante ao drama de todos os outros: todos nós, seres humanos, marcados pelo pecado original, temos sempre um canto de sereia. É, trata-se de uma tentação, uma tentação, perversa, demoníaca, que diz assim: 'Seja feliz. Procure a felicidade aqui nesta terra'. É buscando essa felicidade que o alcoólatra se embriaga, que o drogado se entorpece, que a prostituta se destrói, que o adúltero acaba com sua família, que o sobrevivente de estupro mendiga afeto de relação em relação. É buscando essa felicidade que nós vivemos uma vida de tantas desventuras nesta terra; no entanto, Cristo não prometeu felicidade para ninguém aqui. Ele prometeu, sim, felicidade no céu. Ele disse: 'Eu vou preparar-vos um lugar. Na casa do meu Pai, há muitas moradas'. Na casa do pai há muitas moradas, Danny, porque diversas são as cruzes que cada um tem que carregar. Haverá uma morada para você também. Danny, deixa eu te dizer uma coisa: existe um lugar no céu com teu nome escrito. E eu gostaria que esse lugar não ficasse vazio. Eu gostaria que você chegasse lá, meu filho. Eu gostaria que você chegasse lá. Por isso, vamos nos ajudar mutuamente: você reza por mim daí, e eu rezo por você de onde estiver. Por mais que vá caindo ao tentar a santidade, você se fortalecerá pois é através do cair e levantar que se chega lá. A diferença do bom católico para o pecador não é que o católico nunca peca; e sim que o católico odeia o seu pecado. E eu vejo, desde sua infância com os animaizinhos, que você tem um coração profundamente católico. Que você odeia o pecado. Mas se você odeia o pecado, odeie também a mentira que te leva ao pecado, ou seja, a ilusão. É necessário que você combata essa palavra ilusória do demônio que te promete a felicidade com o realismo da cruz, a cruz crava nossos pés no chão. Não olhe para o mundo como um lugar onde todos vivem o paraíso e só você, pobre você, desventurado, não consegue o paraíso aqui na terra. Danny, em que mundo você anda? Eu não vejo esse paraíso para ninguém. Os heterossexuais não vivem em nenhum paraíso. Os heterossexuais vivem a dureza do matrimônio, a cruz do matrimônio. O matrimônio não é um paraíso. Pobre do cônjuge que acha que fará do outro alguém feliz, ele não vai fazer, ele não dá conta disso! Por quê? Porque a felicidade é no céu. Esta terra, este mundo onde vivemos é um tira-gosto. Sim, tira-gosto é uma coisa boa. Deus fez este mundo para a gente viver com alegria. Mas esta é somente uma vida, que no Evangelho de São João, Jesus chama de 'bios'. A vida que Ele nos promete, entretanto, é uma outra vida, é a vida com 'V' maiúsculo, 'zoé', uma palavra em grego, para dizer que a vida verdadeira vem lá; aqui é o tira-gosto, o banquete é lá no céu. Se nós nos aproximamos de uma mesa de tira-gosto com pretensão de banquete, qual o resultado? Frustração. Sim, pois tira-gosto é gostoso na boca, mas pesado no estômago. Você quer encher seu estômago com um tira-gosto muito pesado. Você precisa, ao contrário, entender que esta vida não vai preencher o seu estômago, ou seja, o seu coração. Não vai te dar essa felicidade que você quer. A vida é boa, bela, vale a pena ser vivida, mas é marcada pela cruz. Jesus não prometeu o paraíso para ninguém aqui na terra, o que Ele disse foi 'Renuncie a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia e me siga'. Você tem diante de si, Danny, a alternativa entre o falso novo mundo sem dores ou o verdadeiro caminho da santificação, através do velho caminho tortuoso que pode ser ganho através do carregar a cruz do dia a dia e de amizades genuínas e desinteressadas. Pelo caminho tortuoso, você pode, sim, alcançar aquilo que todo cristão quer: a santificação. Veja, a igreja pede e quer de todos os seus fiéis a castidade. Existe a castidade dos casados, que devem carregar a cruz de um casamento heterossexual, com seus filhos, onde não encontrarão felicidade perfeita aqui, mas que terão de se suportar e se amar mutuamente, perdoando-se no dia a dia, para encontrar a felicidade no céu. A igreja pede também de você, Danny, que não tem condição de viver o matrimônio, que viva a luta da castidade. Lutar, sim. Lute. É possível, é possível. Se você cair, levante-se, levante-se, pare de ouvir o canto da sereia, pare de ouvir uma palavra mentirosa e substitua isso pelo ouvir da palavra de Deus. Mas é necessário que seja a palavra de Deus com os pés cravados no chão. Ou seja, não caia também nestes outros cantos de sereia, de igrejas que prometem paraíso aqui na terra, 'Pare de sofrer, Deus vai resolver todos os seus problemas, Deus vai fazer um paraíso aqui', isso não existe! Não há paraíso aqui, não há terra sem males neste mundo, o que existe neste mundo é a graça de Deus que nos ajuda a ter a força moral no dia a dia para combater o mal dentro e fora de nós até ao último dia. Então, filho, concluo esta carta com a história de um monge, muito sábio. Um dia, perguntaram para ele: 'O que vocês fazem lá no mosteiro? O que vocês fazem lá dentro'. O monge então coçou a barba, e disse: 'Lá dentro? Lá, a gente cai, levanta, cai, levanta, cai, levanta. Até o dia em que Nosso Senhor voltar. E quando Ele voltar, vai ver que caímos e estamos acabando de levantar. E vai nos levantar definitivamente'. Eu tenho certeza que se você perseverar as quedas diminuirão. Seja paciente consigo mesmo. Mas é necessário uma vida de ascese, de carregar a cruz do dia a dia. Se você rejeitar a cruz, cairá no canto da sereia. Mas se você abraçar a cruz e enxergar que a cruz é de todos… Que você não é um pobre coitado, a única criatura na terra em quem Deus se vingou, atirando uma cruz nas suas costas. Nada disso! A cruz é um mistério, e Deus veio carregar a cruz conosco. Nós não estamos sozinhos, Danny, você não está sozinho. Jesus carrega a cruz contigo. <br /><br /> Eu te amo, meu filho. Eu não posso mudar seu passado, mas seu passado não pode mudar o meu amor por você. <br /><br />Gladys</i>.<br /></span><div style="font-family: "Times New Roman";"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: arial;">Ao correr os olhos pela última linha, o dia amanhecera. A resistência do envelope se devia a fotos, muitas delas, colocadas por Gladys, para que o neto conhecesse sua origem, seus pais. Sorriu afetuosamente ao passar a vista pelo maço de fotografias, sendo apresentado ao pai e a mãe "<i>pela primeira vez</i>": nas fotos antigas, a mãe, ainda jovem, fazia-o pensar numa jovem <i>Ashley Judd</i>; apreciou também a parecença do pai com <i>Fulton Sheen</i>, eles eram idênticos. Divertiu-se por um tempo, manejando as fotos como se fossem cartas do baralho, ou cartas daquele velho jogo que sempre lhe parecera imbuído de agridoce, comovente bom humor, quando adolescente, o "<i>Jogo da Vida</i>". Ele se levantou e só soube que sempre quisera ir à beira quando sua mão segurou o mastro da bandeira, firmando-se melhor na altura de onde guardava sensacional vista. Passarinhos trinavam alegremente da copa das árvores do estacionamento, e não obstante o colégio tivesse sido abandonado há uma década, ele não só soube em seu âmago que o lugar, enquanto registro histórico de 1995, permaneceria erguido para ser visto por seus olhos de modo a jamais esquecer de onde viera, também entendeu que qualquer destino longe da praia e dos gatos seria uma fuga à realidade imperativa à sua jornada pessoal. "<i>A cruz é um mistério</i>", sussurrou consigo, com os olhos marejados, e as palavras lhe fizeram tanto sentido que, ao descer as escadas para voltar, sabia exatamente o que tinha de fazer com o resto da vida. Helena se encontrava sentada no sofá da humilde, confortável e acolhedora casa de Lefty; Giro e Lefty faziam parte da reunião, servindo-lhe um café durante a espera por Daniel. Um dia, Helena fora mesmo igualzinha à jovem <i>Ashley Judd</i>; ali, entretanto, muitas décadas após as fotografias, era uma mulher idosa que parecia até mais velha do que Gladys, a avó. Houve um momento, quando Daniel se aproximou, que ela reagiu como se se encolhesse, temerosa de levar um tapa, sem saber que o filho se aproximava por uma razão diferente. Daniel abraçou a mãe idosa e cansada. Agora, eram só os dois.</span></div><div style="font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><span style="font-family: arial;">Na noite do dia 28, Parker tomava sua quarta xícara de café, sempre com os olhos mirando baixo, levantados somente para consultar as horas ou pedir qualquer coisa à garçonete. Filha de <i>Cape May</i>, mesmo quem a reconhecia preferia deixá-la à vontade, e Parker não poderia pedir por melhor cortesia. À noite, a temperatura vinha caindo muito, mas Parker sabia que o frio o qual a levava a esfregar as mãos não se devia à chegada de outono, mas à tensão envolvida na próxima hora. Quando faltava meia hora para o encontro na frente da <i>diner</i>, Parker retocou a maquiagem no banheiro, pagou a conta e deixou o lugar com os braços cruzados contra o peito. Bem no instante no qual deixava o restaurante, um grupinho de adolescentes farristas chegava fazendo algazarra. Observando-os de relance, recordava-se com remorso de quão estupidamente usara as janelas de oportunidades da juventude. A seus pés, folhas secas e amareladas deixavam o rastro até à estrada erma. Ela a atravessou e ficou do outro lado da calçada, no canto onde Daniel esperara pela sua pessoa há quase dez anos. Parker ergueu o rosto e esperou que o Atlântico lhe acariciasse com a brisa. A ventania não avivou. Outono tinha seu jeito de conjurar frio sem a precisão de brisas ou chuvas para tanto.</span><div style="font-family: "Times New Roman";"><br /></div><span style="font-family: arial;">Parker nem quis ver o tempo passar. Sentada num banquinho, limitou-se a fechar os olhos e esperar que os minutos escoassem mais rapidamente, até a chegada de Daniel. Quando os abriu, viu que eram 21:30. Depois, deu 22:00, sem sinal de seu convidado. Ela não podia realmente culpá-lo. Trouxera a situação para si, não por maldade, é certo; entretanto, na época, era tola e inconsequente, e quando somos jovens, já somos "<i>imortais</i>" antes mesmo de "<i>virarmos vampiros</i>", nenhuma atenção ou gentileza a aqueles que verdadeiramente nos amaram. Mesmo tendo conservado um olhar mais grato e generoso para as reviravoltas tomadas pela vida, reconhecia a chegada da hora para deixar de lado o orgulho e chorar. Ajudaria a lavar a alma, a aceitar a decisão de Daniel de modo a não se remoer amargamente, mais tarde. Parker chorava, com os olhos na pista, quando repentinamente escutou passinhos. Inicialmente, nem pôde imaginar de onde vinham, mas então <i>Cyrano</i> apontou para fora de um arbusto e tratou de marchar em direção à atriz. O gatinho fora preparado com uma gravata vermelha. <i>Cyrano</i> sentou-se logo à frente de Parker e a estudou com olhos tristes e pidões, pendendo a carinha de lado. Daniel surgiu em seguida, como mágica, de algum lugar às costas dela. As lágrimas da atriz irromperam com a força de uma represa sabotada. Pareceu muito natural a forma como se adaptou aos braços de Daniel. Existia uma outra presença no encontro, vindo atrás de Legrand.<br /> <br /> - Pensei que nunca mais voltaria a vê-lo. - Soluçava, discretamente.<br /> - Estive por perto, tolinha. - Revelou, com um sorriso brincalhão. - Demorei porque queria fazer surpresa. Ou melhor, eu e <i>Cyrano</i>. E uma outra pessoa também. - Fez um movimento com a mão às suas costas.<br /> - Eu demorei muito a chegar? - Parker quis saber, os olhos refulgentes de alegria.<br /> - Seis anos. - Veio a resposta. Ela chorou mais duramente.<br /> - Eu o teria perdoado, caso não tivesse aparecido para conversar. Eu compreenderia o medo, sabendo de minha condição, sabendo que sou uma… - Daniel cerrou os olhos e meneou negativamente com a cabeça, murmurando "<i>Você não é uma vampira; você é uma criação pensada por Deus</i>", indicando a Parker que afugentasse os pensamentos ruins. Parker falou: - Daniel... Você acha que eu serei feliz um dia? Mesmo diante das circunstâncias?<br /> - Parker, não é porque a rosa tem espinhos que não se pode admirar a sua beleza. - Sorriu com segurança e concluiu, guardando-a nos braços mais uma vez. - Sim, eu tenho certeza. - Ele se voltou novamente, e a outra presença finalmente se introduziu. - Aaron, venha cá, preciso conversar com vocês dois juntos.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><span style="font-family: arial;">As voltas dadas pelo mundo: há quase dez anos, um amargurado Daniel perdera Parker para Aaron naquele exato lugar; agora, pretendia uni-los e a alegria de vê-los de mãos dadas alegrava seu coração face a tudo o que pretendia fazer com seus próprios dias, dali para frente. Aaron se achegou, e Parker o olhou abismadamente. Ela sacudiu a cabeça, pressentindo a intenção de Daniel. Com desapego, tomou as mãos de Parker, e então as de Aaron, e as atou. Parker lançou um olhar inquisitivo a Daniel. <br /><br />- Parker, eu não posso partir contigo. - Ele explicou. Aaron parecia profundamente tocado. - Há o amor infinito que tenho por ti, e há o amor infinito a Nosso Senhor. Sim, ambos infinitos, mas infinitos distintos, histórias diferentes. Eu poderia ter ido embora e deixado <i>Cape May</i> e minhas dores para trás, poderia ter recomeçado do zero e reescrito minha história, fazer de conta que não foi comigo. Eu não fiz isso. Eu fiz algo melhor. Eu escolhi abraçar a minha vida anterior em toda sua miséria e infortúnio. Com o tempo, descobrirei para onde ir a partir daí. Não é o lugar onde necessariamente eu gostaria de estar, mas é o lugar onde <i>preciso</i> estar: desvendando os caminhos das dunas acima e antes de se chegar à praia, de mãos dadas à minha solidão, ladeado por gatos de rua a quem contei meus segredos. São os demônios que temem a cruz, Parker, não a gente. Para nós, quando começamos a discernir, a cruz se torna uma parte importante da caminhada. - Daniel apertou as mãos de Parker e Aaron umas às outras, para frisar. - Vocês namoraram na juventude, quando nos faltava uma correta noção do todo; ali, víamos partes, motivo pelo qual o mal e veneno que saíram de nossas bocas e escolhas, na juventude, não merecem crédito, tampouco precisam determinar nossas escolhas a partir da maturidade. "<i>Quando eu era uma criança, eu falava como uma criança</i>". Entretanto, em meio a tantas cizânias, dores e vinganças, um elemento de puro, ingênuo, permaneceu intocado pela malícia. O primeiro beijo de vocês talvez, os momentos de felicidade, de paz, de expectativa pelo futuro. Perante as discórdias do passado, vocês me diriam que, reatando agora, cometeriam um terrível erro, ao não se julgarem certos um para o outro, mas é bobagem. Trouxe algo para vocês, palavras que vão afugentar essas trevas que lhes dizem que o passado os impediria de terem suas vidas, juntos, na maturidade. Foi algo que um excelente escritor chamado <i>J.R.R. Tolkien</i> disse ao filho, ao lhe perguntar sobre parceiros de vida. Permitam-me. - Daniel sacou do bolso uma folhinha dobrada. Parker e Aaron se entreolharam, ambos emotivos e tensos. - Ele diz: "<i>Quando o deslumbramento desaparece, ou simplesmente diminui, eles [os casados] acham que cometeram um erro, e que a verdadeira alma gêmea ainda está para ser encontrada. A verdadeira alma gêmea com muita frequência mostra-se como sendo a próxima pessoa sexualmente atrativa que aparecer. Alguém com quem poderiam de fato ter casado de uma maneira muito proveitosa 'se ao menos…'. Por isso o divórcio, para fornecer o 'se ao menos…'. E, é claro, via de regra eles estão bastante certos: eles cometeram um erro. Apenas um homem muito sábio no fim de sua vida poderia fazer um julgamento seguro a respeito de com quem, entre todas as oportunidades possíveis, ele deveria ter casado da maneira mais proveitosa! Quase todos os casamentos, mesmo os felizes, são erros: no sentido de que quase certamente (em um mundo mais perfeito, ou mesmo com um pouco mais de cuidado neste mundo muito imperfeito) ambos os parceiros poderiam ter encontrado companheiros mais adequados. Mas a 'verdadeira alma gêmea' é aquela com a qual você realmente está casado. Na verdade, você faz muito pouco ao escolher: a vida e as circunstâncias encarregam-se da maior parte (apesar de que, se há um Deus, esses devem ser seus instrumentos ou suas aparências).Neste mundo decaído, temos como nossos únicos guias a prudência, a sabedoria - rara na juventude, tardia com a idade -, um coração puro e fidelidade de vontade</i>". - Quando Daniel terminou, o rosto de Parker fora banhado de lágrimas. Aaron a trouxe para si com um abraço em torno dos ombros, agradecendo-o, com uma jogada de cabeça, pela inacreditável generosidade e desapego com os quais abençoava o surpreendente desdobramento. - Vão em paz, amigos.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- E quanto a você, <i>Danny</i>? - Ela indagou, com o rosto inconsolável no ombro de Aaron.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu sou o homem cuja casa esteve na rota de passagem do tornado, Parker: ele perde todos os seus bens terrenos, mas sente uma indescritível felicidade por ter sobrevivido. Ele finalmente compreende que posses não são importante.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br /></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Ao subirem o bondinho, Aaron e Parker cumprimentaram o maquinista, que apitou em homenagem aos amores eternos. Assistindo ao adeus com uma oração interna, Daniel guardou <i>Cyrano</i> sob o paletó e foi se afastando, querendo chegar à curva, um elemento geográfico tão determinante de sua caminhada no mundo. Na curva da descida, onde em 1995 Daniel & Parker haviam se beijado, tendo feito a descida de bicicleta, posicionou-se para uma melhor vista da partida do bonde. A estação do ano podia ser a mais fria; entretanto, mesmo diante do rigor climático, outono não desbotaria o brilho das estrelas daquela perfeita noite, ou silenciar o quebrar das ondas, ou diminuir o impacto visual ao se experimentar a cidadezinha costeira como luzinhas cintilantes, as quais desenhavam formas inconstantes a variar desde brilho de espumantes a jorrarem sobre taças bem equilibradas aos sorrisos cujos lábios eram as curvas da enseada ao encontrar o Atlântico. Quem tivesse deixado a <i>diner</i> naquele momento ainda teria conseguido enxergar o bondinho executar a curva que o colocaria a caminho da movimentada, alegre orla. Na última poltrona, um rapaz chamado Aaron Lang, vulgo Barclay Harrison, conseguia manifestar o amor pela parceira na forma cuidadosa com a qual envolvia as costas dela com a jaqueta, preservando-a do frio. O bonde carregou o casal rumo ao novo amanhã, deixando que a madrugada se encarregasse das recordações deixadas às margens da <i>diner</i>, até finalmente sumir de vista para quem o observasse da estrada. Aaron e Parker partiram.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /> E foram para outras paragens. <br /><br />Daniel ofereceu um sorriso triste ao pontinho distante que era o bonde afastado e ficou um tempo contemplando os mistérios da vida. Em determinado momento, virou-se lentamente e começou a caminhar para casa sob o manto estrelado, com o gato sob a jaqueta. Seu coração fora partido uma segunda vez pela mesma mulher, sendo que, agora, fora dele a decisão de partir. Seu voluntarismo ao ajudá-la a restaurar a própria vida o consolou, absorvendo o primeiro impacto da despedida. Logo Daniel se sentiria melhor; não se tratava mais de como se sentia, e sim de fazer o moralmente certo.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">O dia 29 de setembro seria conhecido como o mais quente do ano de 2010. Daniel se encontrava no auditório para a posse dos aprovados, junto a Lefty e Giro. O trio tinha encarado horas de estrada, Daniel ao volante, para chegar a <i>Nova York</i> a tempo da consagração de seus esforços. Àquela altura, a mãe retornara para a vida de Daniel e hospedara-se na paróquia. Ela ficara em <i>Cape May</i> com Orlando e os gatos do filho. Daniel sabia que a responsabilidade pela idosa exigia de sua pessoa um plano para a retomada da vida adulta. Abraçado pelos amigos entre os assentos do auditório após a assinatura dos termos de posse, foi um lindo momento, pois ali, não comemorava uma vitória sua, mas a dos demais: resolvera não tomar posse. Ao passo que os garotos ficariam em <i>Nova York</i> para um amanhã inédito, retomaria, logo mais, o caminho de volta a <i>Cape May</i>. Não pudera, entretanto, escusar-se do dever de testemunhar a vitória e homenagear os meninos. Grande surpresa: Suntee e Olívia estavam namorando! Daniel apertou as mãos de pais orgulhosos. Giro puxou uma prece ao fim da cerimônia. Saltaram na piscina olímpica ao fim da posse, e atiraram Daniel dentro. Passava das 14:00 quando a caminhonete passou ao lado da placa que saudava os visitantes de <i>Cape May</i>. A primeira curva introduzia-se apenas numa cauda, mas era encimada pelo azul turquesa de um mar infinito sob a ação do sol que era emblemático para toda cidadezinha do litoral. Não custariam a alcançar a entrada. "<i>Aumente esse som, porra</i>", Giro brincou, girando o dial para o máximo volume. <i>Tevin Campbell</i> cantava "<i>Come back to the world</i>". "<i>Volte ao mudo</i>", Daniel murmurou consigo, emocionado, com um sorriso frágil, porém honesto. Daniel estava de volta ao mundo.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Em janeiro do ano seguinte, 2011, Daniel se adaptara ao caminho o qual trilharia ao fim. Ele foi realocado ao antigo cargo administrativo anterior ao acidente na pista de 2004, encaminhado ao lugar na ilha de computadores onde Robyn viera visitá-lo um número de vezes, na década anterior. Ciente de nada mais ter a fazer no aeroporto em <i>Elizabeth</i>, não demorou aos cidadãos de <i>Cape May</i> verem o Girolamo de volta como padre e diretor do orfanato. Todas as tardes, após o dia de trabalho, Daniel visitaria Padre di Sofia e Lefty no orfanato para rememorar os velhos tempos. No segundo semestre do mesmo ano, encorajado por Giro, Daniel voltou aos estudos. Queria tirar o diploma de licenciatura em matemática; de certa forma, revivia os passos de Padre di Sofia em direção à vida santificada. Não lhe custariam muitos anos até se formar em matemática, quatro anos no máximo, e poderia realizar um sonho de juventude na meia-idade, como professor de trigonometria para uma porção de jovens assim como Daniel o fora em 1995. Na mesma época, ele seguiu a resposta a qual pedira a Deus quando suplicara, em oração, para que lhe apontasse o caminho. Solitariamente, quando <i>Cape May</i> acabava de imergir na letargia da madrugada praiana, checava a mãe idosa para ver se ela dormia bem, e então partia para a praia antiga, para os calçadões onde havia feito as mais lindas recordações com as irmãs Cowan para alimentar os gatos abandonados. Por vezes, ao ganhar os calçadões, tremulando ao sabor da brisa fria a soprar da costa, enxergava imagens dos três, aos quinze anos, rindo e brincando e correndo como fantasmas translúcidos a se afastarem com suas genuínas gargalhadas. Longe dali, no glamour elegante nova-iorquino, ocasionalmente, era Robyn quem navegava pelas vias da memória, a caminho do Monte Sinai, ao passar pela ponte de onde avistava o ginásio, hoje aos escombros: ela jamais deixaria de se eletrizar ao se recordar dos últimos segundos da luta. Cerrava os olhos, sentida, amargurada, desejando inutilmente que tivesse terminado diferente entre os dois.</span></div><span style="font-family: arial;"><br /><b><u> 12 anos depois. </u></b><br /><br />Daniel apoiava o braço no guarda-corpos do bondinho para admirar as luzes do litoral quando ele perdia a velocidade para deixá-lo na parada onde descia todas as noites após o término da última aula de trigonometria no <i>Lower Township</i>. Em 2016, um ano após conseguir a licenciatura em matemática, a prefeitura resolvera reativar o colégio, e Daniel pôde voltar para casa, para sua segunda casa. Helena dormia, quando ele girou a chave na porta de casa para entrar; entretanto, como de costume, despertou com a chegada do filho. Deixara o jantar dentro do micro-ondas. Veio recebê-lo na sala, guardando a bolsa com os livros e o estojo com giz e apagador numa gaveta alta da despensa, para que os gatos não a estragassem com as unhas. Perguntava-lhe sempre sobre o dia; Daniel respondia indagando se ela se sentira bem o dia inteiro. Na televisão, vinha o rumor de um programa de auditório engraçado frente ao qual Helena pegava no sono todas as noites, à espera do filho. O programa já estava na parte final. Daniel se deitava na rede do quarto, diante da televisão, para se divertir enquanto comia. Esmagava a empada de frango e a misturava ao arroz e feijão. Alguns dos gatos subiam no peito para comerem diretamente do mesmo prato. Daniel não se importava; para ele, emprestava-lhe uma qualidade de desapego a se esperar de santos ou de pobres miseráveis lutando pela santidade, seu caso. A mãe indagava a respeito do dia no colégio, Daniel gostava de contar os fatos pitorescos com as turmas da 8ª série. Os ponteiros se avizinhavam de meia-noite, era quando tomava uma ducha quente para se vestir para o último trabalho antes de dormir. Abria apenas timidamente a porta para checar a mãe, que dormia, antes de sair. Naquela noite, todavia, Helena abriu os olhos ao entrar. <br /><br />- Meu filho, cuidado com os assaltos, viu? Eu tenho medo de você andar pelos lados da praia antiga durante a madrugada. <br />- Bobagem, mãe. - Ele minimizou, sentando momentaneamente na beira da cama. Daniel beijou as mãos engelhadas da idosa e pediu a bênção. Antes de partir, comentou: - Eu vou morrer alimentando os gatos da praia, num assalto, porém, quando acontecer, você já terá partido. Demorará um pouco a acontecer.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Filho, não fale essas coisas!</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Mas é verdade, mãe. - Ele apontou para cima e determinou: - Sei da minha morte, sei do assalto, sei do tiro que eu vou tomar, mas o evento se encontra espaçado mais adiante na estrada da vida. - Daniel então sorriu docemente, ao lhe ocorrer a caixa do "<i>Jogo da Vida</i>", os carrinhos vencendo os caminhos cheios de eventos e reviravoltas que, em seu fértil leque, não se antecipavam à imprevisibilidade da vida real. Pensou na própria vida, retratada numa adaptação ao tabuleiro, seu carrinho a vencer os quadrados de eventos, os dados lhe reservando o quadrado onde estaria escrito "<i>Assalto a mão armada. Você morreu assim</i>". Ele continuou a falar: - Quando ocorrer, você já se encontrará com Gladys no céu, e não estará aqui para ver. Não se preocupe.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Não brinque com sua vida, Daniel.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- </span><span style="font-family: arial;">Estraguei minha vida, joguei minha vida fora. Perdi a janela de tempo, mãe. Eu poderia ter sido tão grande quanto Padre di Sofia. Quando despertei, não havia mais o tempo para o seminário.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Os planos de Deus eram melhores que os seus, filho. Ao seu modo, Deus te deu exatamente o que pediu, apenas mais. Você vive a vida santificada. Veja um padre. Uma figura respeitada, um pilar de sua comunidade. Um padre é respeitado, admirado. Você, entretanto, como leigo, configura-se melhor ao <i>Cristo</i> crucificado, até nas perseguições e abusos que vive no dia a dia, no trabalho. Ao cuidar desses animais de rua, veem-no como um louco. Um excêntrico. As pessoas boas, Daniel, as pessoas sem suporte, as pessoas sem as costas largas, sem uma rede de amigos são exatamente isso: <i>excêntricas</i>. São espantalhos nos quais os outros gostam de bater, apenas porque, primeiro, precisam bater em alguém, e segundo, não o fariam a outras pessoas com ligações e conexões com gente socialmente relevante. - A idosa o beijou na mão, e terminou: - <i>Jesus</i> não tinha onde descansar a cabeça, ao passo que as raposas tinham onde dormir. Não se lamente tanto por seus planos não terem se sucedido conforme o desejado, filho. Deus sempre tem um plano melhor para a gente. <br />- Durma, mãezinha. - Beijou-a na testa e a cobriu com o lençol até ao pescoço, na altura do crucifixo.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Fazia muito frio ao sair; embora nas cidades de litoral os dias fossem abrasivos, as noites gelavam a espinha. Daniel caminhou até `a portinhola de ferro, para deixar a casa e, consoante fazia desde que voltara para<i> Cape May</i> há uma década, lançava o olhar para a janela do quarto da mãe - que, um dia, fora o quarto da avó. Ele sempre via, em mente, o vulto da avó, sorrindo-lhe como para desejar sorte na missão daquele dia. Daniel gostava de imaginá-la guardando a filha, Helena, protegendo-a dos males. Ele subia no bondinho para a descida para a praia velha; não era perigoso, como a mãe apregoava, mesmo na madrugada. Os boêmios avivavam o rumor vindo das barracas, as quais recebiam festeiros e turistas meio embebedados, e não deixavam a praia em completo silêncio, por mais que, como um todo, a praia verdadeiramente sustentasse uma aura mágica de quietude naquele horário tão misterioso. Com a saca de "<i>Whiskas</i>" aberta pela tesoura de pontas arredondadas, seguia distribuindo as porções para seus príncipes, os quais miavam e se assanhavam, esfregando-se nas pernas do tutor. Após servi-los, Daniel se sentava na calçada, para vê-los saciarem a fome; apreciava o ruído crocante feito pelos gatos ao mastigarem a comida. Tendo terminado a ronda, não voltava imediatamente para casa; fazia-lhe bem caminhar um pouco. Ele costumava chegar na beirada da descida para a barraca onde, em 1995, Robyn Corliss vencera a outra menina no campeonato de caratê dos Jogos Escolares. Posicionando o saco da ração contra o peito, reforçando a proteção contra o frio, o vento esvoaçava sua blusa, assanhava os cabelos. Ele se perdia nos próprios pensamentos, relaxava e, consequentemente, raciocinava melhor.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Suntee passara no concurso para delegado federal em 2019. Dois anos mais tarde, ele e Olívia se casaram; Daniel custava a crer nesses últimos eventos. Pelo seu ponto de vista, sempre seriam aqueles dois adolescentes dentro do avião da <i>American Airlines</i> do Natal de 2009. Vez ou outra ao ano, Suntee ligava para saber como Daniel estava. Nessas vezes quando se falavam, sempre riam e achavam graça de quão estúpidos e bobos haviam sido. </span><span style="font-family: arial;">Padre Girolamo di Sofia morrera há quase um ano, no segundo semestre de 2022, bem na reta final da grande pandemia. Ocorria que, pela idade, Giro, ao integrar o grupo de risco, fora aconselhado pelo bispo da diocese a descansar, deixando as missas e as confissões aos padres mais jovens; Giro não aceitara deixar a batina, e se submetera a riscos incalculáveis para seguir tomando confissões e oferecendo-se em sacrifício às missas, as quais comandava. "<i>Giro</i>", Daniel disse, num sopro, para si, "<i>Se existe um céu, você fez por merecer seu bilhete de ida, meu velho</i>". Uma lágrima rolou pela face. Lefty e Orlando mantinham vivo o legado de Giro, falando de sua pessoa como se o tivessem visto ontem; a bem-humorada, doce senhora se encarregava de garantir que as crianças do orfanato crescessem escutando os feitos daquele homem santo que, dentre tantas escolhas belas, deixara a santa igreja, por tantos anos, para garantir que Daniel ficaria bem. Esses fatos se sucediam em sua cabeça, Daniel relembrando eventos ao longo da corrida dos anos. Sua reflexão durava até chegar à casa após a volta no bondinho, quando tomava um banho e se deitava exausto na rede, tomado pela escuridão e frio do quarto, protegido pelas dezenas de gatos da casa, muitos deles a dormirem espalhados ao redor e sob o tutor.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Na manhã de quinta-feira, Daniel seguiu à risca o ritual de todas as manhãs quando levou o pratinho com sachê de carne ao molho para "<i>Neném</i>", o gato semelhante a sorvete de flocos que morava no estacionamento. Em seguida, atirou milho para os pombos, os quais o esperavam nas linhas dos postes acima. Ele subiu para se apresentar cedo ao trabalho na secretaria da corregedoria federal, na sede da Guarda Costeira, e passou o dia atarefado, mexendo nos dois sistemas usados para dar entrada e saída aos processos administrativos. Ao sobrar algum tempo, preparou as linhas gerais da aula de trigonometria a ministrar naquela noite. Após as 13:00, Martos o chamou no gabinete. Ele passou algumas instruções generalizadas para um serviço no sistema, o qual precisava de urgência. Antes de deixar o escritório, Daniel foi impedido pelo breve chamado de Martos, como se tivesse se lembrado de uma coisinha. Para sua surpresa, ele perguntou a Daniel se teria como servir o gato da Guarda Costeira para o lado da caserna, onde não chamasse atenção. Daniel concordou, porém saiu do gabinete intrigado. <i>Por que Martos lhe teria dito isso, se uma terceira pessoa não tivesse reclamado diretamente para o corregedor?</i> Claramente, uma pessoa cuja identidade ele ainda desconhecia, mas que se revelaria logo mais, na mesma tarde. Ao retornar da lanchonete para o prédio da Guarda Costeira e entrar pelo estacionamento, viu Martos deixar o local acompanhado de duas pessoas, dois amigos. Um, sem sombra de dúvida, era Allen Corliss, levando-o à conclusão lógica de que a mulher bonita, vista somente de costas, mas estranhamente de cabelos pretos, só podia ser Robyn, o que não conferia com os cabelos, afinal se recordava dela loira. Daniel custou a compreender; entretanto, em dado momento durante o turno da tarde, ocorreu-lhe: Robyn voltara a <i>Cape May</i> para ver os pais e aproximava-se com cautela. O lance do gato, de sujar o estacionamento com ração, não passava de joguinhos psicológicos por parte de Robyn para feri-lo, por qualquer razão, e, sendo amiga de Martos, servira-se dele, pois o chefe não gostava mesmo de sua pessoa.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><span style="font-family: arial;">Na noite de sexta-feira, chegava a casa mais cedo, pois ensinara trigonometria exclusivamente no primeiro período. Ele entrou deixando estojo e bolsa de ombro na poltrona da sala de estar, cumprimentando a mãe, que parecia se encontrar na cozinha preparando o jantar. Estranhamente, encontrou a sala abandonada pelos gatos, os quais haviam encontrado uma diversão nova na cozinha. Provavelmente, cercavam Helena para que ela lhes desse comida de panela. Ele ia discorrendo sobre o dia, queixando-se do cansaço e perguntando à mãe se a ração duraria o fim de semana, quando se deteve ao chegar à porta. Sentada com a mãe de Daniel, à mesa, Robyn Corliss bebia uma xícara de café e comia uma fatia da torta de frango. Ela usava cabelos pretos, e parecia especialmente linda. Vestia um blazer xadrez e um óculos de aros muito finos, o segundo elemento surpresa numa caracterização que dava ligeiros, inéditos ares a aquela pessoa que sempre seria um mistério tão fundamental de sua jornada. Como assaltado por uma descarga elétrica, fez uma careta de dor e olhou para baixo, aturdido. Helena foi se levantando para explicar, mas Robyn a segurou delicadamente pela mão e tomou a dianteira. "<i>Deixe comigo, Helena, deixe comigo</i>", Robyn pediu. No ombro da psiquiatra, uma gata frajolinha, a quem ele batizara de "<i>Charioquinha</i>", fazia a coisa mais engraçada, pois se apoiava com as patas dianteiras na ombreira do blazer de Robyn, dela recebendo pedacinhos da torta. Iluminado por um espírito de bom humor e perdão, provavelmente herdado de seu querido Padre Girolamo, Daniel fulminou a tensão ao brincar, apontando para "<i>Charioquinha</i>" e exclamando: "<i>Traidora!</i>". Os risos imediatamente eliminaram a animosidade, afinal de contas, Daniel ficara um pouco magoado pela finta que ela fizera com Martos a respeito do gatinho do estacionamento.</span></div><span style="font-family: arial;"><br /> Robyn subiu com Daniel ao quarto, onde ele pegou a saca de ração, <i>Charioquinha </i>firmada no ombro da psiquiatra como uma esfinge. Era mesmo uma visão bem engraçada! No quarto, ele puxou de um armário baixo sob o computador a saca. Robyn ficou observando as paredes enquanto ele se preparava para sair, admirando o quadro de <i>Padre Pio</i> logo atrás da divisória laminada de madeira. Tendo se dado conta de que ele colhera o que precisava para aquela noite, Robyn permaneceu no centro do quarto, em silêncio, com os braços cruzados. Era óbvio que ela precisava dizer alguma coisa e custava a vocalizar: <br /><br />- Fui eu que reclamei, sabe? Na Guarda Costeira? - Finalmente, confessou, com uma inflexão de remorso na voz. - E agora vendo a casa… Como deixou chegar a este ponto? Há gatos demais aqui, <i>Danny</i>, como fica sua saúde?! A saúde da sua mãe?!<br />- Quer saber? - Ele se irritou. - Eu realmente acho que eu deveria sair para dar comida aos gatos agora! <br />- Não, não. - Ela amenizou, com uma voz baixinha, compassiva, as palmas das mãos enluvadas com couro sobre o peito dele. - Eu só tento entender, só isso. <br />- Eu acho melhor que eu vá embora. - Ele sumarizou rebeldemente, após outra pausa para reflexão, e Robyn se enervou. <br />- Não, não, não, não, não… - Ela repetia com um tom choroso. - Por favor, por favor, por favor, eu não estou tentando… <br />- Parece que veio só para me atacar! - Disparou, furioso. <br />- Não estou tentando te atacar! - Ela se defendeu, ultrajada e entristecida. <br />- Pois parece! - Ele não refreou a barragem da revolta. <br />- Então eu sinto muito, eu sinto muito. Eu peço desculpas. - Ela se empenhava em não deixar o volátil princípio de discussão inflamar. Daniel se sentiu mal. - Procure me entender… Eu volto para <i>Cape May</i>, e nenhuma palavra sua! Não me procurou! É claro que fiquei zangada e quis… <br />- Oh, Robyn, desculpe-me. - Agora ele também se emocionara. Ambos estavam cansados, tristes e meio ranzinzas. Ele a abraçou de frente e Robyn respirou aliviada pelo fato de a parte mais delicada do reencontro ter passado. - Eu estou tão feliz por ter voltado! Desculpe-me, eu não sei onde estava com a cabeça, fico confuso e...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu também, eu também. Já passou. - Permaneceram atados um ao braço do outro, contentes, apaziguados. <i>Charioquinha </i>sentara-se na mesa do computador e se limpava, lambendo uma das patas para esfregá-la atrás da orelhinha.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu já temia reensaiarmos a revanche de nossa luta em 2010. - Ele brincou, e Robyn deu uma risadinha. - O que acha de me acompanhar hoje, na praia? Vem comigo alimentar os príncipes das marés?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Os príncipes das marés? - Franziu o cenho, sem compreender no ato, até ele explicar.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Os gatos! - Daniel esclareceu. Ela sorriu e adorou a ideia.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br />No instante da despedida, Robyn foi ter com Helena a sós. Daniel a esperou na portinhola, vendo a sombra do perfil das duas, a conversarem próximas à janela do quarto. Robyn estava de carro, de modo que uma das melhores partes de sua missão do dia a dia, o passeio no bondinho, ficaria para o fim de semana. A mãe foi deixá-la na porta e, antes de se despedirem, as duas se abraçaram com muito sentimento e calor. "<i>Continuarei a vir, não se preocupe</i>", Robyn insistiu, baixinho, para Helena, mas Daniel a escutou. Da portinhola, acenou para a mãe e avisou que era para ir se deitar sem esperá-lo. Dos degraus, aquele monte de anjinhos peludos ficou observando a saída do tutor com aquela visitante de blazer xadrez.</span></div><span style="font-family: arial;"><br /> Robyn foi guiando, conduzindo o passeio, orientada por Daniel. Tinham tempo para chegar ao calçadão para dar comida aos gatos; queria passar de carro pela praia antiga, um passeio através das alamedas da recordação, visitação de pontos em comum do passado. Os meninos do bairro jogavam futebol num excelente campo construído no recuo para a praia, à frente do qual existiam quiosques de comidas gostosas. Mesas e cadeiras adornavam a beira do calçadão. As luzes deitadas pelos postes sobre a via a contornar a costa eram como mantos dourados a injetarem rejuvenescimento e vida ao passeio. Depois de pararem no píer, já dentro da praia, os dois foram caminhando para o ponto onde Daniel alimentava seus príncipes, ele com a saca de "<i>uísquis</i>", como Gladys falava, num dos braços. Com o outro braço, envolvia a amiga, pois ela manifestava frio.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Robyn apreciou assistir ao trabalho de Daniel, que cumpria com a missão com carinho e respeito pelos animais. O trabalho era feito numa pequena plataforma sob uma laje; a casa abrigava um projeto social para crianças de comunidades carentes durante o dia; via-se nas paredes, ilustradas com cartolinas com pinturas, e o minúsculo jardim ornado aos mínimos detalhes, com direito a casinhas para passarinhos, que existia uma doce, suave inteligência por trás da manutenção do lugar. As pessoas não se opunham a que Daniel os alimentasse ali; os gatos davam ao espaço uma aura de ingenuidade e pureza, sentida antes mesmo de se chegar ao projeto social: já da calçada, ao se pôr os olhos na descida pelo calçadão rumo à casa, sentia-se uma boa, acalentadora impressão. Ela o ajudou servindo água aos potes; os animais pareciam mais sedentos do que famintos. Após o trabalho, com a cabeça, fez um movimento para lhe chamar a atenção à casa ao lado. Fora em 2019 quando conhecera a família do lugar. Na época, Daniel ainda realizava o trabalho com os gatos na praça da frente, religiosamente, todos os fins de tarde, o que acabou por chamar a atenção de um casal de idosos, o qual costumava sentar no primeiro deck superior, o deck frontal, que dava para o calçadão e a praça. Eventualmente, um dia, o solícito e simpático senhor se aproximou para conversar sobre os gatos e, após um semestre, haviam construído uma bela, genuína e desinteressada amizade. O senhor o aconselhou a alimentá-los para dentro do calçadão, para dentro da praia; o espaço, mais generoso, albergava melhor os felinos. De fato, ao se prestar atenção às barracas, era como se a entrada da praia representasse uma faixa de barracas que constituíam o mundo seguro, à parte para os felinos, a vaguearem sobre as telhas, protegendo-se e dormindo entre os espaços e as caixas sob as lonas das áreas de serviço, sempre cheias durante os dias, esvaziadas e misteriosas à noite. Era uma existência charmosa à beira-mar! Eles haviam chegado a <i>Cape May</i> há mais de duas décadas, em 1997. A casa onde moravam tinha sido a barraca de onde haviam tirado o sustento e criado dois filhos, da infância à fase adulta. Quando Daniel os conheceu, em 2019, eles não abriam mais a barraca, a qual adquirira a qualidade de lar; entretanto, preparavam-lhe bolinhas de peixe, camarão, batata frita... Eles o recebiam bem, a consideração era mútua. Daniel vinha visitá-los todos os sábados e domingos, a variar quanto ao horário. Pela manhã, gostava de aparecer às 10:30 pois dava tempo de passar na galeteria, localizada na grande avenida a qual desembocava na praia, para levar dois frangos assados desossados, baião e paçoca, pelos quais agradeciam e costumavam fuzilá-lo com sermões de que não precisava ter se preocupado! Ele e Guillermo - era esse o nome do cavalheiro - punham as cadeiras na passagem do deck superior dos fundos, a dar diretamente para a praia, e viam o tempo passar num aprazível, reflexivo bate-papo que usualmente terminava quando a mãe lhe ligava para saber se Daniel demoraria a chegar. Dona Josi, a esposa, costumava trazer as latas de refrigerantes e coisinhas gostosas como tira-gosto. Se fosse à noite, melhor ainda, pois vinha pela outra extremidade da praia antiga, subindo por um caminho onde antes passava por um restaurante ao ar livre com espetinhos variados e, depois, ao lado de um <i>self-service</i> aonde Gladys o levara, na adolescência, o qual se encontrava apenas fisicamente no mesmo lugar, pois fora abandonado, e também ao lado do maior e mais rico buffet da região. Esses espaços podiam ser vistos na subida. Quando se chegava ao platô das dunas, antes da descida fenomenal `a praia, a entrada para a direita levava ao cinturão das mansões de <i>Cape May</i>, dentre as quais havia a casa dos Cowan. A bifurcação não distava tanto assim da parte de trás, as vias a serpentearem pelos estuários, onde ele sofrera o acidente aos vinte e quatro anos. Ao visitá-los na parte da noite, trazia os espetinhos no papel laminado, e ele e Guillermo se acomodavam nas cadeiras servidas por Josi no deck de frente ao mar, para uma conversa regada a goles de café.</span></div><span style="font-family: arial;"><br /> - Seu Guillermo jamais tira a minha cadeira, Robyn, ele sabe que dou um pulo aqui para espairecer ao fim da madrugada! - Daniel a conduzia pela mão, subindo a escadinha a desembocar no deck superior. Os vasos de flores no expositor eram um elegante toque a embelezar o espaço. - Quando venho fazer o trabalho com os gatos, ele e Dona Josi já se recolheram, mas sempre deixam o deck preparado para minha visita, sabem que faço um pouso por aqui para olhar a praia! Veja, também deixam café! - Apontou para a mureta, para além da qual existia a praia e o mar envolto parte pela escuridão parte pelo luar, uma visão linda, linda. <br />- Tem certeza que não vamos acordá-los? - Ela saltitava sobre um dos pés para tirar o salto faltante; queria ficar descalça para não causar barulho. Segurando-se ao ombro de Daniel, não tinha como cair. - Nossa, a vista daqui… <br />- Não se chega mais perto da praia do que aqui, não? - Puxou a cadeira para perto dela, para que ela a aceitasse. Ele se sentaria sobre a mureta. Foi desatarraxando a garrafa térmica para servir o café quentinho. A mureta estendia-se num suave, confortável declive, de sorte que tinham como ficar sobre o topo para assistir à lua, se o quisessem. Ao encará-la, ele entendeu que ela pensava o mesmo. Então, subiu primeiro na mureta e ofereceu o braço para que Robyn se juntasse a ele. Sentaram-se com as pernas esticadas. Robyn arqueou os dedos dos pés, doloridos por causa dos saltos, sentindo-se melhor com a flexão. Daniel estudava os telhados das barracas vizinhas, e ria ao avistar seus amigos espalhados naquele mar de caibros e telhas, ou namorando, ou dormindo ao sabor do luar.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- </span><i style="font-family: arial;">Danny</i><span style="font-family: arial;">, você ainda tem aquele gatinho preto gordinho com o focinho achatado? - Ela sorriu ao evocar o famoso primeiro gatinho de Daniel.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- <i>Cyrano </i>virou estrelinha, assim como <i>Cinzentinha</i>, já há muitos anos, em 2014. - Ele contou, com uma voz morna acalentadora. - Veio a calhar, você mencioná-lo, agora que estamos aqui, prestando atenção aos gatos nos telhados. É que eu me lembro de uma conversa com seu Guillermo sobre quão misteriosos são os gatos. Falávamos sobre uma gatinha da praia, sumida há semanas; eu tinha um especial apreço por ela. Era bem parecida com a <i>Charioquinha</i>, a minha gata que subiu na sua ombreira. - Ele disse, Robyn abriu um sorriso e fechou os olhos, enrubescida. - Enfim, eu dizia a Guillermo, "<i>Mas, poxa vida, cara, acho que ela morreu</i>". E ele me disse algo nestas linhas: "<i>Daniel, os gatos não morrem; os gatos somem</i>". Por qualquer razão, soou-me poeticamente real… Jamais esqueci a fala do seu Guillermo. <br />- <i>Gatos não morrem; eles somem</i>. - Robyn repetiu, pensativa, com os olhos na linha do mar. <br />- Então, lembrei-me do <i>Cyrano</i>, da <i>Cinzentinha</i>. Há um ponto, no outro extremo da velha praia, aquele onde se chega ao se escolher o caminho pela curva descendente de <i>Cape May</i>… Os arbustos, a vegetação dão uma firmeza às primeiras dunas, há até uma parte de uma casa que entra praia adentro, para ter ideia. Quando o <i>Cyrano </i>morreu, eu o enterrei num determinado lado com arbustos, n</span><span style="font-family: arial;">as dunas, separado dos coqueirais por uma descida ao mar. Um dia, pensei, "</span><i style="font-family: arial;">Rapaz, o seu Guillermo está errado; os gatos morrem, sim, recordo-me de onde enterrei o Cyrano</i><span style="font-family: arial;">" e, numa manhã, no fim de semana, voltei ali, tentando encontrar o ponto onde o pus para descansar. Deixara o lugar marcado com uma grande pedra branca. Pois, sabe, Robyn… - Ele olhou para a amiga, com um olhar cheio de significados a serem lidos, e sabedoria. - Seu Guillermo estivera certo o tempo inteiro, não se tratava de uma questão de soar poético apenas. Eu não consegui encontrar o lugar, sequer me recordava do lado onde o enterrara. Você pode dizer que Guillermo não errou ao afirmar: "</span><i style="font-family: arial;">Gatos não morrem; gatos somem</i><span style="font-family: arial;">". - Uma pausa. Daniel a apertou contra si pois, se já de jaqueta tinha frio, imaginou o quão gélido parecia à Robyn.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Você só tem tempo para os gatos ou está namorando? - Indagou, um tanto quanto incerta, sem esconder uma pontinha de irritabilidade na voz ao aventar a hipótese. Daniel riu.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Meu tempo vai para os gatos, para as coisas de Deus e, claro, para ti, pois rezo todos os dias para sua felicidade. Afinal de contas, o que é amar outra pessoa, senão...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">-... Desejar o céu para ela? - Robyn complementou como uma espetacular pupila. Daniel fez que sim, orgulhoso. - </span><span style="font-family: arial;">Não sei se chegarei lá. - Abaixou o rosto, desencantada. Ela dobrou as pernas para se sentar melhor. - Eu não sei o que sou mais, <i>Danny</i>.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Eu sei. - Daniel a defendeu, atropelando a consternação de Robyn com uma mais poderosa verdade: - Você é um ser humano muito amado e feito à imagem e semelhança de Deus. Nunca existirá outra Robyn. Mesmo as oposições de ordem espiritual, que enfrentamos no dia a dia, dentro de nossos corações, Robyn, elas não são inimigas de Deus, por mais que O odeiem. São ferramentas da providência pois, de uma estranha maneira, concorrem para nossa redenção, ajudam-nos a chegar lá meritoriamente. Independente do ângulo pelo qual encare a condição humana, é a graça de Deus que nos sustenta; fora da graça, não temos onde nos apoiar. Não aceitar a graça foi a "<i>queda</i>" dessas forças que operam em nossas vidas, mas tudo o que podem fazer é mentir, para nos levar ao desespero. A decisão final permanece conosco, é do encargo de nosso arbítrio. E dentre tantas reviravoltas nos pontos onde nos encontramos ao longo de nossas jornadas, você fez exatamente aquilo que o Senhor esperava de ti quando bolou a "<i>Robynzinha</i>" no instante de seu nascimento, em 1978. Todas as pessoas nascem originais, mas a esmagadora maioria morre cópia carbono. Ou seja… São tantas as modas deste mundo barulhento que vamos copiando comportamentos até nos esquecermos de onde viemos. Mas você vai ser sempre cachinhos dourados, por mais que pinte o cabelo de preto… Que por sinal ficou lindo! - A risada de Robyn foi de uma pureza tal que ele não se recordava de ter ouvido desde a adolescência. Era como se tivessem quinze anos novamente. Daniel se levantou, com cuidado, e a segurou pelas mãos para ajudá-la a se pôr de pé; queria lhe mostrar algo. Eles subiram para a caixa d’água, ainda mais alta que o deck. O campo de visão capturava os principais telhados da quadra, e parecia haver gatos em cada um deles. - Você acredita que seu passado selou seu destino, Robyn, mas a verdade é que nada vai convencer Deus a desistir de você. O ponto de vista da salvação é diferente do seu. Olhe para os gatos. Vendo-os interagir, é óbvio que gatos formam alianças, estabelecem inimizades, disputam território… Seus dias são preenchidos por esquemas de interesse e jogadas, alguns aliados, outros adversários. Trata-se de uma visão maniqueísta, como vê; entretanto, para aquele que vê de cima, as cores adquirem contrastes mais ricos e complexos. Eu os vejo todos e sei que os amo. Suas desavenças não me valem nada; quando os vejo se metendo em encrencas entre si, eu lamento quando eles se machucam, mas os amo todos, e só quero que fiquem bem e felizes. Para você, do nível onde se encontra, seu passado a provoca a ponto do desespero, mas aquele que vê tranquilamente do ponto de vista da salvação reza por ti, te ama, quer te levar – e vai te levar – para o céu. Porque mesmo seus piores segredos não valem nada diante do amor de Deus. E do meu também. - E então, tendo se lembrado de algo dito uma vez a <i>Cyrano</i>, um retrato da singeleza e sinceridade de seu compromisso com o gatinho, explicitou o mesmo amor ao concluir: - Porque eu te amo e você é a minha melhor amiga.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">- Obrigada, querido. - Eles se abraçaram. Emoldurados pela lua cheia alta, a preencher o centro de um manto estrelado, foi um momento que se incorporaria a suas recordações.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br />Sábado não demoraria a vir. Sentia-se na substituição do frio pela mornidão que a manhã apontaria em menos de uma hora. Robyn pretendia levá-lo para casa; entretanto, Daniel preferia ser deixado perto do farol. Robyn só se lembrou ao entrar na ladeira que dava para o planalto do mirante: estivera ali com Daniel há muitos anos. Daquela posição privilegiada, assistiam à maneira como um novo dia se insinuava sobre o mar, como uma camada de um dourado gradual a irradiar a partir do horizonte e vir avançando para a costa à medida que um azul deslumbrante tingia o outrora estrelado manto crepuscular. Não se resumia a um espetáculo visual; sobretudo, tratava-se de uma sinfonia aos sentidos. À audição, pois a terra produzia o ronco afinado ao ritmo das vidas à margem da praia; ao olfato, pois a maresia agradável e úmida varria a costa com a rebentação forte das ondas nas quebradas; ao tato, pois foi com as pontas dos dedos com que Robyn sentiu o rosto de Daniel. Ela levou as mãos vestidas em pelica à face do passageiro, e Daniel fez o mesmo. Robyn não envelhecera mesmo um único segundo após a conversão por Goldman Roehmer nos seus tempos de <i>Oxford</i>. Eles se beijaram desesperadamente, Robyn o firmando com a mão fortemente posta por trás da nuca dele, pressionando-o contra seu rosto. Robyn deslizou a mão livre para a sua coxa, e não refreando o desejo provocado pela iniciação do beijo, afundou-a mais até o meio de suas pernas, apertando-o no pênis. Os olhos de Daniel ora fechavam, ora giravam; sentia-se, indubitavelmente, confuso. Num dos passeios da vista através do caleidoscópio de imagens atraentes e cheiros da cabine, prestou atenção na parte de Robyn a escapar da saia do blazer; ela vestia uma peça de neoprene anatômica num dos joelhos, com um orifício frontal na região da patela, para aliviar a pressão; possivelmente, ossos do ofício, levando-se em conta que ela ainda lutava. Daniel se concentrou e manteve o desejo em xeque; amava-a demasiadamente para ir adiante. Com carinho, foi se desvencilhando vagarosamente da mão no meio das pernas, devolvendo-a ao colo dela. Finda a tremenda eletricidade do momento, ambos com os olhos marejados, Daniel a encarou e, com um sussurro, lembrou-a daquilo que era verdadeiramente importante. Apontando para cima, repetiu: "<i>O céu… O céu</i>". </span><span style="font-family: arial;">Por uma janela de tempo muito exígua, Robyn se apresentou a Daniel em sua forma ocasional. Suas pupilas tinham adquirido o formato de filetes verticais, como era próprio a uma gata, para filtrar o excesso de sol que, naquele ínterim, penetrava gloriosamente enseada adentro. Ao passar docemente a mão pela maçã do rosto e o queixo de Robyn, ela abriu um pouco a boca para não esconder os caninos subitamente pontiagudos e predatórios. Em nenhum momento Daniel se assustou; muito ao contrário, sorriu ternamente a ela e repetiu o quanto a amaria para sempre. "<i>Eu só não contava que, em minha humanidade, eu me apaixonaria perdidamente pela minha melhor amiga</i>", Daniel murmurou. Ela abaixou a cara, lágrimas traçando algumas gotinhas na elegante saia riscada, e ao levantá-la, voltou a ser a Robyn de sempre. Passou a língua entre os lábios, absorvendo o gosto salgado das lágrimas. "<i>Posso convertê-lo, se quiser… Você jamais morreria, e poderíamos ficar juntos…</i>", ela quase implorou. "<i>Nós já ficaremos juntos no céu</i>", ele declarou, com a firmeza do homem cujo ponto de vista lhe garante plena vista de seus dramas e desencontros, acrescentando: "<i>Mas preciso me focar em preparar o nosso céu, desde já, até `a minha morte</i>". Robyn concordou, com um lento aceno afirmativo de cabeça.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br /></div><span style="font-family: arial;">Antes de ela ter de ir, Daniel e Robyn passearam um pouquinho pelo mirante. Robyn lhe contou que ela e a família fariam um cruzeiro no iate de Allen, um mês entre as ilhas gregas mais conhecidas. Daniel a parabenizou pela aventura, imaginou o quanto se divertiriam. Ambos os adultos, Robyn & Allen, careciam de descanso, especialmente após os últimos dois exaustivos anos de pandemia. Ela deixaria <i>Cape May</i> logo mais; trouxera o marido e os filhos no começo da semana, uma breve passagem pela casa dos pais antes da partida para a <i>Grécia</i>. Embora o reencontro tivesse sido rico em lágrimas e emoções, na hora da momentânea despedida, ambos riam e falavam sobre o futuro. No ensejo da <i>Grécia</i>, Daniel contou à Robyn um fato até então desconhecido quanto a Padre Girolamo, pois antes do sacerdócio e logo em sequência à morte da esposa, Giro amara a <i>Grécia</i>. Fora lá onde vagara perdido, sem saber o que fazer da vida, antes de o Senhor tê-lo trazido de volta ao mundo para compreender o sentido por trás do aparente caos. Ela insistia em levá-lo para casa, pois temia que Helena despertasse e ficasse nervosa ao não vê-lo no seu quarto; Daniel explicou que a mãe se acostumara às vezes nas quais dormia fora de casa, ou melhor, passava as madrugadas de sexta-feira a sábado vagando pela praia e pelos lugares fundamentais de sua jornada. Ao ligar o carro, ela avivou o som. Houve um segundo no qual, já dentro do carro e prestes a partir, Robyn o olhou melancolicamente, com um sorriso feito charmoso, cortesia da mordida no lábio inferior, uma expressão de tristeza duramente mantida sob controle. <i>Tamar Braxton</i> cantava "<i>If you don't wanna love me</i>". Era um momento absolutamente eletrizante e comovente. Daniel insistiu no sorriso inteiramente feliz: <br /><br />- Devo ser forte por nós dois, pois tenho uma longa missão pela frente, até quando Deus quiser. - Ele se aproximou pela janela do motorista, trazendo-a para si num abraço paternal, e lhe disse: - Robyn… Tristeza é um olhar voltado para si mesmo. Felicidade é o olhar voltado para o céu. <br />- Tudo bem. - Ela concordou, emocionalmente estremecida, mas resignada. - Você conseguirá preparar o nosso céu? <br />- Eu morrerei preparando o nosso céu; mesmo não o tendo terminado ainda, eventualmente o céu estará lá, não se preocupe. Ainda não sei se sou duro o suficiente, então me diga: você me deu tudo de si naquele dia em 2010? Ou você refreou para não me machucar demais? <br />- Atirei absolutamente tudo o que tinha, mas você não caiu. - Ela suspirou, a lembrança recorrendo-lhe, dolorosamente. - Sim, eu fiz tudo ao meu alcance, mas você foi apenas muito duro. <br />- Então, acho que temos uma chance. - Beijou-a na testa. - Cuide-se e me escreva lá da <i>Grécia</i>!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;">Ao chegar ao cimo do farol, Daniel pôs as mãos na cintura e se deu uma folga de tempo para apreciar o litoral. Sábado mal irrompera; entretanto, antevia um espetacular dia ensolarado, gente brincando e se bronzeado ao longo da faixa de areal, jovens esportistas praticando o kitesurf no comecinho do mar, as barracas lotadas, garçons indo e vindo com pratos enormes de peixe frito e guarnições. A brisa lhe parecia dotada de volição, um jeito de Deus para falar a sua pessoa. Com tantas dúvidas e temores, por um ínfimo de segundo, adquiriu plena convicção de que fora aquele caminho, não havia caminho algum. Assim como as outras pessoas a caminharem no mundo, a fé trepidava em recuos e avanços; contudo, ele sempre sabia, em momentos muito seletos, que não havia retorno, por mais que o demônio, ou melhor, a operação demoníaca de sua história, "<i>Capitã Estupro</i>", agisse recorrente em sua memória, não mais como presença, mas como recordação, lembrando-o de onde viera, lembrando-o de seu passado; então, Daniel refletia sobre a permissão divina para a atividade diabólica, e enxergava o enorme amor por trás de tão misterioso assenso, afinal, com isso, firmar-se-ia na obstinação de jamais voltar para a vida anterior. Em face das pessoas para quem a solidão o tornava uma figura excêntrica, o único que sairia ao fim com tudo o que desejava nos braços – <i>e muito mais</i> – seria justamente aquele a quem julgavam incapaz de sair com qualquer coisa: <i>ele mesmo</i>. Daniel se sentou com as costas na mureta, e deslizou os dedos sobre a primeira linha da jura de sangue feita naquela tarde, hoje tão afastada na cronologia dos eventos.</span></div><span style="font-family: arial;"><br /> Não era que não estivesse feliz; <i>sim</i>, sua expectativa fora depositada nas coisas certas, mas sentia-se bastante cansado, <i>oh, tão cansado</i>. As pontas dos dedos terminaram de correr sobre o sangue, escuro e apagado, e os olhos foram pesando. Ele disse para si que dormiria por uns dez minutos somente, apenas até recuperar as forças. Tinha uma noção do que havia no caminho para sua pessoa. Sr. Futuro lhe acenava distante de algum ponto mais adiante da estrada quando, ao alimentar os gatos na madrugada, tomaria o tiro num assalto mal sucedido e morreria lá. Via a morte e antevia o segundo seguinte, vendo-se devolvido aos 17 anos, chegando do colégio e atirando a mochila com livros na cama, Gladys exclamando que lavasse as mãos para almoçar enquanto o neto a abraçava por trás para beijá-la na face, <i>Cyrano </i>festejando e disputando a atenção do tutor, esfregando-se a suas canelas. Viu a felicidade palpitante envolvida em se conhecer somente partes da verdade, jamais a verdade inteira a respeito do mistério da vida e do mistério de Robyn, a mesma Robyn com quem cruzaria no recreio, com quem trocaria olhares significantes de um milhão de coisas não vocalizáveis, porém suficientemente claras, como o "<i>Daniel, eu gosto muito de você</i>", em 1995, antes de ela lutar; viu a importância do contraponto da tristeza, das pontadas angustiadas ao fim das tarde de domingo quando apoiaria o queixo nos braços, na esquadria da janela do quarto, com vista para a praia já esvaziada sob o toque da noite, lembrando-o de que o próximo dia também seria um passo a mais em direção à Robyn. Em paralelo a seu mundo interno, no mundo externo, a melodia da praia sob a ocupação de gente, de pessoas vivas, foi chegando aos ouvidos e, para coadjuvar as lindas imagens conjuradas pela mente, a sensação de calor e cuidado do sol nas primeiras horas da manhã o embalou como um manto reassegurador, afastando o frio dos anos durante os quais correra através das madrugadas felinas, aproximando-o de um amanhã costurado de partes de muitas outras manhãs avulsas de 1995, de 1997, onde o sol reinaria para sempre no zênite de um perfeito firmamento azul sobre uma casa que lhe era perfeita em suas imperfeições, tão necessárias quanto gotas do acre que tornam os melhores sabores ainda mais deleitantes.</span><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><br /></span><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div style="font-family: "Times New Roman"; text-align: center;"><b></b></div><div class="western" style="font-family: "Times New Roman"; margin-bottom: 0cm; text-align: center;"><b></b></div><div style="font-family: "Times New Roman"; text-align: center;"><b></b></div><div class="western" style="font-family: "Times New Roman"; margin-bottom: 0cm; text-align: center;"><b><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></b></div><div class="western" style="font-family: "Times New Roman"; margin-bottom: 0cm; text-align: center;"><b><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">FIM</span></b></div><div class="western" style="font-family: "Times New Roman"; margin-bottom: 0cm; text-align: center;"><b><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></b></div><div class="western" style="font-family: "Times New Roman"; margin-bottom: 0cm; text-align: center;"><b><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></b></div><div class="western" style="font-family: "Times New Roman"; margin-bottom: 0cm; text-align: center;"><b><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></b></div><div class="western" style="font-family: "Times New Roman"; margin-bottom: 0cm; text-align: center;"><b><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></b></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: center;"><div align="CENTER" class="western" style="font-family: "Times New Roman"; margin-bottom: 0cm;"><br /></div><div align="CENTER" class="western" style="font-family: "Times New Roman"; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: courier; font-size: large;"><i><br /></i></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: center;"><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: center;"><span style="font-family: courier; font-size: medium;">TRISTEZA É UM OLHAR VOLTADO PARA SI MESMO. </span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: center;"><span style="font-family: courier; font-size: medium;">FELICIDADE É O OLHAR VOLTADO PARA O CÉU.</span></div></div><div class="western" style="font-family: "Times New Roman"; margin-bottom: 0cm;"><br /></div><div align="CENTER" class="western" style="font-family: "Times New Roman"; margin-bottom: 0cm;"><b style="font-family: courier; font-size: xx-large;"><u>BURT REYNOLDS</u></b></div><div align="CENTER" class="western" style="font-family: "Times New Roman"; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: courier; font-size: xx-large; text-align: justify;"><b>MADRUGADAS FELINAS</b></span></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>Ary Luiz Dalazen Júnior Salve Mariahttp://www.blogger.com/profile/05930396542549787102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-4976446494679869432022-02-26T13:47:00.000-08:002022-02-26T13:47:47.255-08:00"The Dark and the Wicked" (idem, 2020/ Diretor: Bryan Bertino/ Elenco: Marin Ireland, Michael Abbott Jr., Tom Nowicki, Xander Berkeley, Ella Balentine).<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg9-3p7rGB2y17KcVUXxmoAaPPX-I929fjp0HPtREWrPH4olXBS6e35Hj34fHwz3MaLPBuQf6Cg51FVRJyI72cqfx6xG00eERPG17gwUD57Y_t-nLHVHwowvhMYSHCbd4pxo0myElRKmV_fiwWXJ5m25CZ5YzSlgOOT0ytx_IDHDdqzQ9R9eszkipcpKw=s1600" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1080" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg9-3p7rGB2y17KcVUXxmoAaPPX-I929fjp0HPtREWrPH4olXBS6e35Hj34fHwz3MaLPBuQf6Cg51FVRJyI72cqfx6xG00eERPG17gwUD57Y_t-nLHVHwowvhMYSHCbd4pxo0myElRKmV_fiwWXJ5m25CZ5YzSlgOOT0ytx_IDHDdqzQ9R9eszkipcpKw=w270-h400" width="270" /></a></div><div style="text-align: justify;">Após muitos anos, <i>Louise </i>& <i>Michael Straker</i>, dois irmãos adultos que construíram vidas para si longe dos pais, retornam para a fazenda onde foram criados, no Texas, para apoiar a mãe idosa, cuidadora do pai, acamado por uma doença terminal. Desde os minutos iniciais, o filme estabelece um poderoso sentimento de abandono e melancolia através de tomadas que exibem em ângulos muito abertos a vastidão do cenário natural onde se insere a propriedade, marcada por uma enorme torre de cata-vento. Somos apresentados a momentos nos quais vemos a mulher idosa focada nos desgastantes afazeres envolvidos em se cuidar de tamanho lugar. A esta sensação desoladora, soma-se um aterrorizante elemento, exógeno ao cenário: há um demônio assediando a propriedade. Sua presença se revela em detalhes que, aos irmãos, custarão a ser percebidos; entretanto, para os olhos bem abertos da mãe, o fato é dado como certo. As ovelhas parecem sentir a presença angélica, e a idosa sabe que só pode se tratar de uma visita invisível quando as garrafas de vidro, penduradas como sinos, principiam uma cacofonia sem que vento algum as tenha animado. Ao preparar solitariamente os legumes na cozinha, pressente a coisa às suas costas, mas, quando se vira, não encontra monstro algum. A cadeira, porém, foi virada na sua direção, indicando a ação de alguma força misteriosa sobre os móveis da casa, uma força desejosa de se comunicar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg2_R2QcYFNPxSUtqDCUop6UgXVq9G-fWKIya6rX-sqw2fJ9fYA1su28UmoTyuh_coQgKnbmAEZZ7du8bxTeCYV4HZt02jDNga3CSOGSKf9MFgPuEYH0WFTLOw-5wnt7yQLm_DmqyWMbpXbmxJOVq2MhhEp68u1YsOqKsd06Ir_T8dQTahJKsYHLY-hzA=s1189" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1189" data-original-width="951" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg2_R2QcYFNPxSUtqDCUop6UgXVq9G-fWKIya6rX-sqw2fJ9fYA1su28UmoTyuh_coQgKnbmAEZZ7du8bxTeCYV4HZt02jDNga3CSOGSKf9MFgPuEYH0WFTLOw-5wnt7yQLm_DmqyWMbpXbmxJOVq2MhhEp68u1YsOqKsd06Ir_T8dQTahJKsYHLY-hzA=w320-h400" width="320" /></a></div><div style="text-align: justify;"><i>Charlie </i>(<i>Tom Nowicki</i>), um simpático e prestativo amigo da família, mora num trailer do sítio vizinho, e tem cuidado da idosa durante a ausência dos irmãos. Profundo conhecedor da região, ele pressente a sombra a pairar sobre a propriedade, mas não sabe explicar a natureza de sua má impressão, tampouco conversa a respeito. O rapaz e a moça se dão bem com o bem-humorado velho, cujo braço forte sempre se encontra à disposição dos <i>Straker</i>,<i> </i>especialmente para trabalhos de manutenção que precisam da força de um homem habituado à roça. À mesa de jantar, a idosa se mostra contrariada com a presença dos filhos. Quando o pai adoecera, pedira-lhes para não vir, possivelmente por não querer envolvê-los num embate que nem mesmo ela compreende. Ateus, <i>Louise </i>e <i>Michael </i>terão seus mundos sólidos e racionais estilhaçados após uma série de fenômenos sobrenaturais que acontecerão ao longo de uma semana de assédio e inferno. Para <i>Louise</i>, o demônio não se apresenta com estardalhaço. Pelo contrário, a porta para o alpendre, gentilmente aberta no meio da noite, indica-lhe, de uma maneira incipiente e sutil, a visita de uma força incorpórea, mas por ora é só. Evidentemente, <i>Louise </i>se arrepia ao pôr a vista no vão, mas ao fechá-lo para voltar ao quarto, já tirou da mente seus medos. O trem começa a descarrilar na noite seguinte. Concentrada no corte dos legumes, de um segundo ao outro, a idosa não reluta em passar a afiada faca sobre os dedos, fatiando-os em pedacinhos como se fossem pedaços de cenoura. A mutilação ocorre como se uma tentadora, pérfida sugestão tivesse sido suspirada ao pé do ouvido, e ela tivesse de se estraçalhar para satisfazer o ímpeto. Os irmãos só vão descobrir o fato no dia seguinte, ao encontrarem muito sangue e pedaços de dedos na pia. Sem nenhum sinal da mãe, eles correm desesperados pelo terreno, gritando por ela. No cercado das ovelhas, encontram-na pendurada pelo pescoço. Ela cometeu suicídio por enforcamento.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhnCFPFpXfTh_KUHBhmSNiS5nGao7OiiJ0fsqRnkbRn8vy2I5FpvHY5p43rRgq-ZT6bmgTfnXOfQFxcKOg5BCCpXLfE5CA9fFky9gT0Rbl3ZzDS3SH5iw2ut8ihhrKIsgISefrb6H8QFYdofVRyNXy3N430fB87H_pMkeksaVd5Tpge6XBCz_NVy71UVg=s1193" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1193" data-original-width="941" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhnCFPFpXfTh_KUHBhmSNiS5nGao7OiiJ0fsqRnkbRn8vy2I5FpvHY5p43rRgq-ZT6bmgTfnXOfQFxcKOg5BCCpXLfE5CA9fFky9gT0Rbl3ZzDS3SH5iw2ut8ihhrKIsgISefrb6H8QFYdofVRyNXy3N430fB87H_pMkeksaVd5Tpge6XBCz_NVy71UVg=w315-h400" width="315" /></a></div><div style="text-align: justify;">No meio da semana, o assédio demoníaco assume um tom agressivo perante os irmãos. Eles são apresentados a uma senhorita, a enfermeira do pai acamado. Com os irmãos em estado de choque, a enfermeira procura inteirá-los de observações que haviam chamado sua atenção nas semanas anteriores ao suicídio. Ela frisa ter flagrado a mãe no que parecia ser uma conversa com uma presença invisível, no quarto do marido doente. Quando <i>Michael </i>acidentalmente encontra o diário da idosa, ele o lê, e, passa a desvendar a natureza do medo da mãe. Na maioria dos registros até o dia do suicídio, constavam anotações sobre como ela dava pela proximidade de um demônio faminto pela alma do marido, atuante na fazenda, à espera de sua morte. A idosa afirmava escutar a voz e as gargalhadas do demônio dentro de sua mente. O homem doente jamais interage com os filhos. Ele se encontra invalidado pelo que parece ser uma condição de coma profundo. Mesmo assim, uma manhã, ao terminar o banho e puxar a cortina para deixar o box, <i>Louise </i>encontra o pai, ou melhor, uma visão do mesmo, atrás das cortinas, com os olhos brancos e a cabeça convulsionando para os lados como se fosse um desenho animado. A cena a lança no histerismo. Ela se encolhe, gritando num canto, e <i>Michael </i>chega apavorado. <i>Louise </i>não consegue explicar o ocorrido. Durante o dia, ao vagar pela oficina onde a mãe guardava os vestidos que desenhava e costurava, encontra um lindo vestido de noiva com seu nome escrito numa etiqueta, e fica comovida. Os irmãos visitam o necrotério para a liberação do corpo para sepultamento. O médico-legista lhes entrega um item encontrado num dos bolsos, um crucifixo, sendo que, até onde sabiam, a mãe não frequentava igreja. À noite, o demônio reaparece como visagens, sendo <i>Michael </i>o escolhido para receber a violência. Ele desperta com a luz do quarto, que "<i>teima</i>" em acender, por mais que repetidamente a desligue. Tendo perdido o sono, desce para a cozinha, quando o primeiro, indubitável fenômeno sobrenatural se somatiza diante de seus olhos apavorados: do lado de fora, enxerga a mãe morta, metida na camisola com a qual a vira deitada no necrotério. Sorridente, ela ascende ao céu de braços abertos (a cena, aliás, ilustra um dos pôsteres do filme). O rapaz dá alguns passos para trás, atônito, e ao olhar novamente para a mesma direção, não enxerga a aparição.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhnJhvINxIrrxh362V4zpMkRmn1yhRnAfFY_x3o95vFjqTpgQc7EThVUaa88cwCY0P8yrDDkgZFPUxJApFz4wCeMbnxt1ZUoyylQjvufnKC3TgVoaOnt-bygmwT8i3tWCjegKjZUcH5ISpKRbgaKuusPGLbnzfAjcBJ9OV9xLqlLUtTHv3iOL-i8s0x4Q=s1205" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1205" data-original-width="947" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhnJhvINxIrrxh362V4zpMkRmn1yhRnAfFY_x3o95vFjqTpgQc7EThVUaa88cwCY0P8yrDDkgZFPUxJApFz4wCeMbnxt1ZUoyylQjvufnKC3TgVoaOnt-bygmwT8i3tWCjegKjZUcH5ISpKRbgaKuusPGLbnzfAjcBJ9OV9xLqlLUtTHv3iOL-i8s0x4Q=w314-h400" width="314" /></a></div><div style="text-align: justify;">Na manhã de sexta-feira, ao se olhar no espelho ao despertar, é a irmã quem tem uma horrível surpresa. Ela se depara com o reflexo de seu rosto ensanguentado (uma ilusão, pois a face, nós vemos, apresenta-se normal, livre de hematomas ou cortes). Ela sofre outra inesperada, enervante visão, envolvendo o pai comatoso, quando vê uma aranha desatar a correr pelo lençol após deixar seus lábios. Na entrada da fazenda, <i>Michael</i>, que está chegando à propriedade na sua camioneta, enxerga um homem de preto, parado tranquilamente sob a suave garoa de fim de tarde, esperando um convite para entrar. O estranho se apresenta como padre da paróquia local, e exibe um crucifixo idêntico ao encontrado no bolso da mãe na ocasião do suicídio. <i>Michael </i>e <i>Louise </i>recebem-no à mesa, na cozinha. O rapaz não consegue mascarar o ressentimento, afinal, tendo lido as anotações, firmou dentro de si a convicção de que fora o homem quem colocara ideias de "<i>demônios</i>" na cabeça da mãe. Embora mais comedida e respeitosa para com o visitante, <i>Louise </i>tampouco crê que a noção tenha brotado espontaneamente da idosa, pois a tinha como uma pessoa pragmática e desprovida de crença religiosa. Paira sobre a mesa a acusação velada de que as mãos do padre estariam "<i>sujas de sangue</i>", pois teriam vindo de sua pessoa as conversas sobre demônios, o que envenenara a mente da senhora. Antes de partir, o padre misterioso lhes fornece um número de telefone, e explica que tomar demônios como elementos de fábula não os ajudará. Seria como se aventurar numa floresta, arriscando-se a encontrar lobos vorazes. Por mais que você não acredite nos lobos, eles não deixarão de devorá-lo apenas porque não reconhece sua presença. Dominado pela fadiga emocional, <i>Michael</i>, homem casado e pai de duas filhas a quem ama fervorosamente, liga para casa e desabafa com a esposa. Paralelamente, no estábulo, junto às ovelhas, <i>Louise </i>lê trechos horripilantes do diário. Eles se encontram do lado de fora, sob um toldo, na noite chuvosa, para recapitularem os últimos eventos e trocarem impressões. <i>Michael </i>fala sobre a visão do outro dia - a mãe de camisola, voando sorridente do lado de fora - e afirma estar morrendo de medo. Naquela noite, a presença maligna retoma a dianteira do assédio. Às três horas da madrugada, despertam com uma visita no alpendre. Ao darem uma espiada, tomam um susto ao verem o padre, que os chama para conversarem ali fora. <i>Michael </i>sai furioso, mas antes de ter a oportunidade de esbravejar, é detido pelo horror ao se dar conta dos olhos brancos e inumanos do visitante. Ele pergunta, em dom de deboche, com um sorriso cínico, se alguém ali precisa de corda para se enforcar, e desaparece. Fica claro aos dois que estiveram diante de uma manifestação demoníaca. O telefone da cozinha chama ininterruptamente, todavia, tão assustados ficaram após a aparição, resolvem tirá-lo de serviço.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj5BdlwFxv_jUMDV026UVvaqqGOz6OHhlRAg0SaJu7-kRlDLdZXq8A31CyfPKaNXKkMlm_nlszuo03STJHb_qCmZw3QIaVVYvm4gbhWBHB1bGizHwaPcrflucxoNir-MmXCYugo2dkQN4I63uiytIZFN93s_0kVBBVLzTjPLG2IerYilWQHCUY8cST0GQ=s1205" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1205" data-original-width="955" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj5BdlwFxv_jUMDV026UVvaqqGOz6OHhlRAg0SaJu7-kRlDLdZXq8A31CyfPKaNXKkMlm_nlszuo03STJHb_qCmZw3QIaVVYvm4gbhWBHB1bGizHwaPcrflucxoNir-MmXCYugo2dkQN4I63uiytIZFN93s_0kVBBVLzTjPLG2IerYilWQHCUY8cST0GQ=w318-h400" width="318" /></a></div><div style="text-align: justify;">Quem tentou desesperadamente contatá-los foi o vizinho, <i>Charlie</i>. Em seu trailer, ele transparece inquietação e pavor, sentado na beira da cama, murmurando súplicas para que atendam ao telefone, pois sabe o que se encontra em jogo. Do lado de fora, o inquietante uivo de lobos prenuncia a proximidade do mal. Repentinamente, o rumor de passos sobre as tábuas soltas da soleira denuncia a entrada de uma pessoa. Ele municia a espingarda e, vacilante, vai investigar. O que se segue é uma das cenas mais visualmente impactantes. Ele se depara com uma versão ligeiramente alterada e bizarra de <i>Louise</i>. Você vê que se trata de uma paródia pois a "<i>Louise de mentira</i>" se conduz com movimentos estranhos e alquebrados, sem continuidade no fluxo dos movimentos, como uma imagem gerada por um projetor antigo que falha aqui e acolá. De seus lábios não sai um único som discernível, por mais que fique a sussurrar acusações estranhas contra o velho. Ele sabe que se encontra perante o demônio, que após ter atacado os irmãos na fazenda na fantasia de um padre, veio amolá-lo como uma paródia de <i>Louise</i>. A visitante exibe uma faca e começa a se desfigurar perante o desesperado <i>Charlie</i>. "<i>Você fez isso</i>", ela o acusa, e estraçalha a própria garganta, encenando suicídio, semeando na intenção do homem o desejo de fazer o mesmo consigo. Finalmente, ele não resiste ao assédio, coloca o cano na boca e aperta o gatilho, explodindo o tampão do crânio.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiet5pSjZcCCAr77taEVs0kaZdCLkqWHFhRfiu8rZMC_nKcjzBrZB78pTYjKhbh2qmlnYTJ56HMhn4Q-RSak5mjj6BO4-ZwJso_4T-WwFaIV3fG-Wu7GHsrcDZ0cjLflCf4KDX18lL_hNQQMj7t2HySCZCgKMkK8wJDMfnSUCcsTetH_BFIpWqUWCsrXQ=s1593" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1593" data-original-width="947" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiet5pSjZcCCAr77taEVs0kaZdCLkqWHFhRfiu8rZMC_nKcjzBrZB78pTYjKhbh2qmlnYTJ56HMhn4Q-RSak5mjj6BO4-ZwJso_4T-WwFaIV3fG-Wu7GHsrcDZ0cjLflCf4KDX18lL_hNQQMj7t2HySCZCgKMkK8wJDMfnSUCcsTetH_BFIpWqUWCsrXQ=w380-h640" width="380" /></a></div><div style="text-align: justify;">Na manhã seguinte, os irmãos tentam contatá-lo, sem suspeitarem de que o vizinho se suicidou na madrugada anterior. Eles concordam em trazer um médico para casa. A ideia gira em torno de obter autorização para tirar o pai da propriedade e levá-lo a um centro hospitalar na cidade, longe dos acontecimentos inexplicáveis que estão deixando a vida na zona rural insuportável. Simultaneamente, <i>Louise </i>liga para o número fornecido pelo padre. De fato, quem atende é um senhor com a mesma voz do sacerdote misterioso, mas ele afirma não conhecer a família. Quanto à afirmação de <i>Louise</i> de que estivera na propriedade na tarde anterior, responde incrédulo que nunca viajou para o estado do Texas em toda sua existência. O número de telefone pertence a sua pessoa, correto, mas ele se encontra em Chicago. O padre acrescenta que o fato de ela se chamar <i>Louise </i>soa como brincadeira de mau gosto, pois a filha, que se suicidou anos atrás, recebera de batismo o mesmo nome. <i>Louise </i>não tem mais como fugir da verdade. O inimigo é mesmo uma entidade espiritual, livre de limitações de espaço & tempo, empenhada em levá-los à loucura. Durante a visita do médico, novas más notícias. O estado precário de saúde do idoso rechaça qualquer possibilidade de transporte ao hospital. Se apanharem a rodovia, mesmo numa ambulância, ele morrerá no caminho; logo, médico algum lhes dará aval para a tão desejada remoção.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEh0f0Ne-btOFIMMvCkq-Cnja8d7H9U7k5NcWyCN8agKCtb65u5yoaXznz2R6Kf5bvCNqbQINvsBJ3Ns38-BJfE6NOc21CqIuSH1alyCE16_A2urTEfHDNFr-MRJGA1TAJjHKZgKEFcNyrmvRZJtJruTR0kc2gdVGRMnIAVrPzjOV1JghL0PAGmU66oYYw=s2009" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2009" data-original-width="951" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEh0f0Ne-btOFIMMvCkq-Cnja8d7H9U7k5NcWyCN8agKCtb65u5yoaXznz2R6Kf5bvCNqbQINvsBJ3Ns38-BJfE6NOc21CqIuSH1alyCE16_A2urTEfHDNFr-MRJGA1TAJjHKZgKEFcNyrmvRZJtJruTR0kc2gdVGRMnIAVrPzjOV1JghL0PAGmU66oYYw=w302-h640" width="302" /></a></div><div style="text-align: justify;">Com o cair da noite, eles são afligidos pela violência do demônio. Em um terreno mais acima da propriedade, próximo à fonte d'água do córrego, quase todas as ovelhas foram mutiladas e mortas com crueldade. É o irmão quem primeiramente nota o ocorrido, pois se surpreende ao avistar uma ovelhinha regressando à fazenda, saltitando sem uma das patas. Ao averiguar, depara-se com o massacre do rebanho. <i>Michael </i>é psicologicamente forte para se concentrar no que pode fazer de concreto para remediar a situação, e consegue salvar alguns filhotes com suas mães. Naquela noite, no estábulo, dando mamadeira a uma ovelhinha, <i>Michael </i>é visitado pelo demônio na forma do cadáver nu e errante da mãe. O espírito tenta desesperá-lo, incitá-lo ao suicídio. O impressionante nível de stress o põe a beira do precipício; por um segundo, ele encosta a lâmina da faca sobre o pulso, como se estivesse cogitando acabar de vez com o impasse; no entanto, <i>Michael </i>resiste e não leva adiante a sugestão. <i>Louise </i>sofre pesadelos apavorantes e desperta aos gritos, ao lado do pai. No pesadelo, enxergou-o no teto, desperto do coma, com a mão estendida, pedindo ajuda. A cena mais memorável vem a seguir. Não se trata da mais visualmente brutal, mérito que cabe ao momento no qual <i>Charlie </i>é visitado por "<i>Louise demônio</i>", mas certamente é a parte mais desesperadora e ressoante, sobre o qual tecerei comentários durante a análise do mérito filosófico da obra. Na cena, vemos <i>Louise </i>atender a batidas na porta, e não há nada a sugerir a presença de um elemento incomum, afinal faz sol, a manhã se encontra em pleno curso, o ambiente se apresenta bem iluminado e arejado. Uma moça de expressão compungida e solidária se apresenta como neta de <i>Charlie </i>e pergunta se ela se recorda de sua pessoa. Da última vez que a vira, era uma criança. A garota lhe conta sobre a morte do avô, mas <i>Louise</i>, atônita, custa a crer. Ela sacode nervosamente a cabeça e, com os olhos marejados, fala que o viu no outro dia. Não é possível que tenha morrido! Confortando-a, com uma expressão pesarosa, a menina explica que <i>Charlie </i>foi encontrado morto dentro do trailer. <i>Louise </i>vai entrando em casa, inconformada, e a convida a juntar-se a ela. A moça para na soleira e esboça uma pergunta compassiva, quando, aos poucos, um sorriso cheio de malícia se desenha na sua face e ela indaga: "<i>Louise, diga-me... Você já consegue sentir o cheiro vindo do seu pai? Eu consigo. Ele está apodrecendo</i>". Ocorre a <i>Louise </i>que ela está sendo visitada pelo espírito, e vai em disparada ao quarto do pai intentando protegê-lo, mas o susto a põe para desmaiar. Ao acordar, chama pelo irmão, mas ele não se encontra à vista. Ao tentar contatá-lo pelo celular, perde as esperanças quando <i>Michael </i>revela se encontrar na estrada, a caminho de casa, da mulher e filhas. Ela chora, inconsolável, perguntando-lhe como fora capaz de partir sem se despedir, principalmente agora, quando a família se resume aos dois. <i>Michael </i>discorda, apontando que a esposa e as filhas, estas sim, são sua família. A enfermeira chega para trabalhar e, sentada ao lado do idoso, escuta à dramática briga. Subitamente, ela passa a impressão de ter entrado em um transe súbito, como se escutasse a um comando. Ainda perturbada, sentada com o telefone em mãos, no chão, <i>Louise </i>escuta um grito de terror vindo do quarto. A enfermeira enfiou uma enorme agulha de costura na maçã do rosto e esbraveja coisas incompreensíveis. Sob a influência demoníaca, a enfermeira investe sobre <i>Louise </i>e, com a força do impacto, desacorda-a com o peso de seu corpo. Fora de si, a enfermeira se rende à influência do espírito, e se mata ao enfiar as agulhas de costura nos dois globos oculares, empurrando-as até cravá-las no cérebro.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhbaytDb5xGQIfY-SbbmTyS7CaaxLQfTrGwVX12xkG-6G4ob-gTQg2r2SOwhmBwcO1bpQGOcIVVwbc_1i4gNfKLqgM4NTINtBoZjWOoGxjksDHVm8sOeuAjvJsP8si591zyw6M5Yxsuoa_-jUPUtDmNwT2th3kBMWR-C55l2T7n35e1bcixZGChja0udw=s1601" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1601" data-original-width="945" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhbaytDb5xGQIfY-SbbmTyS7CaaxLQfTrGwVX12xkG-6G4ob-gTQg2r2SOwhmBwcO1bpQGOcIVVwbc_1i4gNfKLqgM4NTINtBoZjWOoGxjksDHVm8sOeuAjvJsP8si591zyw6M5Yxsuoa_-jUPUtDmNwT2th3kBMWR-C55l2T7n35e1bcixZGChja0udw=w378-h640" width="378" /></a></div><div style="text-align: justify;"><i>Michael </i>chega à sua casa após uma noite de viagem na estrada. Ele está louco para ver as mulheres de sua vida, especialmente após tanta dor; entretanto, o destino lhe reservou um cruel revés. Sobre a mesa da cozinha, as filhas têm os rostos enfiados em tigelas de cereais. Elas foram degoladas e o sangue jorra de suas gargantas estraçalhadas, acumulando poças nas pontas dos pés. No chão, a esposa, suposta autora do duplo homicídio, jaz morta, com os olhos vidrados e uma faca na mão. <i>Michael </i>conseguira afugentar as sugestões diabólicas na fazenda, porém aquilo é demasiado trágico para se resistir ao impulso de dar cabo da vida. Ele passa a lâmina na jugular e abre uma hemorragia irreversível. Enquanto espera a morte, dá conta de que o que vira fora uma alucinação, uma fantasia semeada na parte criativa de sua mente pelo demônio. Na verdade, ao dar o último suspiro, testemunha esposa e filhas entrando alegremente pela porta. Ele jogou a vida fora graças a uma ilusão satânica e passageira, e não há como reparar o grave erro. Longe dali, ao cair da noite, <i>Louise </i>desperta. Por um momento, cogita fugir, mas, no derradeiro momento, resolve permanecer ao lado do pai agonizante. Ela fica com o idoso até o instante da morte, que se dá quando a vela votiva em honra a <i>Maria Santíssima</i> se vai com um sopro, e, uma vez que nada mais lhe resta, uma presença surge para abraçá-la por trás, levando-a consigo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgUhgmWjE6fh_SRKv0qyF1BR1FiB7U1CpOpDRgDVo3YXsbhwkyXOyPknX3aAwubTDCa6q6Aq4nEPCAKMq7H7NqKvWrXeOKkhc8bOeF39QGrQxAgITdcJGn6YCESh3_caw7PX1fbjAROWKY8q0ewCDZ4-oW1LjzWNApYxfIatr601L8GFUXqyZnQdW7TUA=s2009" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2009" data-original-width="951" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgUhgmWjE6fh_SRKv0qyF1BR1FiB7U1CpOpDRgDVo3YXsbhwkyXOyPknX3aAwubTDCa6q6Aq4nEPCAKMq7H7NqKvWrXeOKkhc8bOeF39QGrQxAgITdcJGn6YCESh3_caw7PX1fbjAROWKY8q0ewCDZ4-oW1LjzWNApYxfIatr601L8GFUXqyZnQdW7TUA=w302-h640" width="302" /></a></div><div style="text-align: justify;">Desde que fez um nome para si com "<i>Os Estranhos</i>", de 2007, o diretor <i>Bryan Bertino </i>vem trabalhando consistentemente no gênero que o consagrou. Os resultados têm variado, destino muito comum a cineastas que começaram suas carreiras com filmes excepcionais, porém, mais tarde, encontraram dificuldades para evocar o brilhantismo do primogênito. Dentre os filmes realizados por <i>Bryan Bertino</i> após a elogiada estreia, "<i>The Dark and the Wicked</i>" é seu melhor momento, possivelmente superior a "<i>Os Estranhos</i>". Aqui, como cineasta maduro, pôde realizar uma obra tétrica em elegância e discrição, quase sem violência, exibindo habilidades ainda não tão dominadas quando rodou a primeira obra há 13 anos. O filme que o consagrou trazia um trio de mascarados misteriosos - um homem e duas mulheres - aterrorizando um casal que passava a noite numa casa de campo afastada, após uma frustrada tentativa, por parte do rapaz, de propor casamento à namorada. Do clássico cenário de inocentes assediados por monstros, vieram grandes sucessos, influentes até hoje, sendo, talvez, "<i>Halloween: A Noite do Terror</i>" o "<i>vovô</i>" do gênero e seu mais longevo representante. O diretor <i>Bertino</i> reciclou elementos do nicho de <i>stalkers</i> e, ao lhes dar nova roupagem, montou um empolgante suspense, produto de regras que não tinham sido inventadas pela sua pessoa, mas detinham um inédito uso dos ditames clássicos, revisitados sob um olhar atmosférico e estilístico que me lembrava <i>Brian De Palma</i>. De fato, embora "<i>Os Estranhos</i>" possa ser dividido em "<i>antes & depois</i>" (na primeira parte, vemos o jovem casal chegar à casa de campo e se aclimatar ao silente cenário até que coisinhas bizarras e insólitas passam a sugerir, ainda muito prematuramente, a existência de uma ameaça exterior; na segunda, vemos o assédio se transformar em ataque declarado), é no "<i>antes</i>" no qual o cineasta verdadeiramente decola. Do jeito que conta essas pequenas passagens menos extravagantes, parece apreciar a calma anterior à tempestade, razão pela qual, não obstante o desenvolvimento previsível, "<i>Os Estranhos"</i> nos cativa nas cenas onde pouco ocorre, como quando uma conversa emocional entre namorados, à meia luz, na cozinha, durante a madrugada, é interrompida por discretas batidas na porta e se assoma a silhueta de uma moça loira e bonita de penetrante olhar, perguntando-lhes se "<i>Tamara se encontra"</i>. Quando a ameaça velada vira assalto explícito, o filme perde um pouco o <i>momentum</i>, porém o tropeço não se deve propriamente a qualquer falta de <i>Bertino</i>. Toda estória restringida a certo espaço & tempo sofre da síndrome do cansaço. A não ser que os eventos se desdobrem muito eficientemente, o filme acaba esfriando. Filmes sobre assédio, sobre assalto, sobre pessoas ordinárias submetidas a fenomenal stress fazem excelente uso de dois, três dias como janela narrativa, como é o caso do melhor deles, a obra-prima de <i>John Boorman</i>, "<i>Deliverance</i>", de 1972. Num espaço de três dias para o decorrer dos eventos, a transformação nas almas dos personagens ganha a nitidez a partir da qual a quietude das melhores cenas, sobre a qual escrevo, faz inteiro sentido. "<i>The Dark and the Wicked</i>" foi o primeiro filme no qual o diretor <i>Bertino</i> manteve magistral controle sobre trama e personagens ao longo da estória inteira. Ao passo que seus três excelentes trabalhos anteriores exibem uma ou outra fraqueza, "<i>The Dark and the Wicked</i>" poderia rivalizar-se com "<i>O Iluminado</i>" em termos de esmagadora opressão psicológica e a imponderável aproximação da tragédia diante da qual não se há nada a fazer. A abordagem contemplativa e madura de temas sobrenaturais o aproxima do melhor de todos os horrores psicológicos, um filme independente de 2002 chamado "<i>Session 9</i>", do diretor <i>Brad Anderson</i>. Antes de se assistir a "<i>The Dark and the Wicked</i>", é fundamental examinar as expectativas que você leva consigo para o cinema. Quem aprecia o desfecho ensolarado de obras mais comerciais dará de cara com o desapontamento, pois, aqui, enquanto pouco se vê de ação, transborda um pessimista, niilista clima próprio a uma visão mais entumecida da vida, muito observado nas recentes obras europeias de horror vindas na esteira da filosofia da "<i>New French Extremity</i>". Deste modo, o lançamento do diretor <i>Bertino</i> parece mais afeito a apreciadores de um terror mais intelectual e profundo, ponto de partida para interessantes discussões filosóficas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjN-pzr-Ck2XJOTBICQybISAIJqdvGcG7Cm_R5Rs60SAz4zLkFZY--dkpXV61d2ZGJWd0SCUSX2vT8BIe-SAlZixkXOFYwvXMl9Z-XyqIDQXWCtuIIWb5-F1rVJXJKv6p10q9SkAABjYGSGV8wl5eqSlPcGtu_3mAVyRUFYOAaXVMDLU1TDQGxzXw2qVA=s931" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="621" data-original-width="931" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjN-pzr-Ck2XJOTBICQybISAIJqdvGcG7Cm_R5Rs60SAz4zLkFZY--dkpXV61d2ZGJWd0SCUSX2vT8BIe-SAlZixkXOFYwvXMl9Z-XyqIDQXWCtuIIWb5-F1rVJXJKv6p10q9SkAABjYGSGV8wl5eqSlPcGtu_3mAVyRUFYOAaXVMDLU1TDQGxzXw2qVA=w400-h266" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;">Este filme tem como seu monstro um misterioso vilão, liberto das limitações de espaço e tempo, plenamente atuante na pior das searas, a da mente humana. "<i>The Dark and the Wicked</i>" explora, com uma assertividade quase tão certeira quanto a de <i>Hubert Selby Jr.</i> em seu livro "<i>The Demon</i>", a ação de um demônio sobre um núcleo familiar, sem nos oferecer qualquer explicação para tanto. O demônio simplesmente se faz ativo no lar que atravessa o pesado fardo de ter seu patriarca acamado, e age com o fito de induzir as vítimas à prática do suicídio. Sua ação confere com o ataque do outro espírito ruim do livro de <i>Selby Jr.</i>, altamente recomendável pela perfeita descrição de um processo de obsessão, neste caso sobre um homem que teria tudo para se sair bem, não fossem os fetiches que o vão aproximando de situações cada vez mais arriscadas, fetiches sem motivos reportáveis à libido, inteiramente plantados por um demônio que calha de cismar com sua miséria. No caso de "<i>The Dark and the Wicked</i>", a ação diabólica jamais assume a agressividade de um assalto frontal incessante; ou seja, este filme exibe um vigor dramático que dispensa a ação ininterrupta vista em "<i>Os Estranhos</i>", já que a "<i>tática</i>" do inimigo decorre da sutileza com a qual deprecia suas vítimas, impulsionando-as a praticarem por si mesmas o trabalho sujo, qual seja, o ato de dar cabo da própria existência. Antes mesmo de enxergarmos as sugestões mais explícitas da ação demoníaca, o diretor potencializa o sentimento de opressão pela habilidade de, nos elementos mais hodiernos e banais, encontrar o que, nestas coisas, há de bizarro e enervante. Em "<i>Os Estranhos</i>", por exemplo, <i>Bertino</i> sabe o quanto o som de uma campainha acionada na madrugada gera inquietação. Eu me recordo de algo dito por <i>Padre Paulo Ricardo</i>, ao discorrer sobre como, na juventude, nossos sonos são tão restauradores: um adolescente de 14 anos vai à cama tarde da noite e é capaz de despertar ao meio-dia, descansado, revigorado e sorridente. À medida que se passam, entretanto, os anos introduzem no subconsciente a constatação da mortalidade. De uma forma ou outra, as noites que antes eram tão reanimadoras tornam-se mais abreviadas. Qualquer ruído à noite é capaz de nos deixar sobressaltados a ponto de perdermos o sossego. A um nível subliminar, uma parte sua reconhece que o tempo está se esgotando. Ao me recordar de "<i>Os Estranhos</i>", a sutileza que me vem imediatamente à mente é a cena do primeiro encontro do casal com a moça loira, uma das assassinas do trio de mascarados. Não há ação, não há muito diálogo; contudo, aquilo que permanece subentendido pelo processo cognitivo basta para impingir um insuportável clima de antecipação da violência por vir. "<i>The Dark and the Wicked</i>" é um filme erigido inteiramente sobre elementos discretos e arrepiantes, sustentando, durante a estória, o interesse pela tragédia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Conforme escrevi, <i>Bryan Bertino </i>sabe que aspectos aparentemente ordinários do dia a dia são capazes de infligir inquietação e incômodo a depender de quão demoradamente sejam observados na escuridão e, antes que se sedimente a convicção da presença demoníaca, instila terror a partir dos elementos mais banais ao redor da matriarca. Acontece no começo, ao fechar a oficina de costura. Algo na substância de manequins lhes confere a tétrica capacidade de, mesmo em sua indiferença sem vida, parecerem estranhos vasos para espíritos ou coisas ruins invisíveis aos olhos, especialmente quando tocados pelas sombras. Do tilintar das garrafas ao sabor do vento, ou melhor, da presença demoníaca, <i>Bertino</i> também soube tirar proveito, havendo similaridades entre as garrafinhas e a cena da campainha de "<i>Os Estranhos</i>". O diretor goza de um convincente senso de espaço e filma, em grande escala, a desolação de uma enorme propriedade rural no meio do nada, para onde não existe a onde fugir. Partindo do exterior para o interior, suas câmeras capturam com familiaridade o mal à espreita na escuridão de corredores ou por trás de cortinas. Em dado momento, o filme levanta o ponto de por que os irmãos não se retiraram já no início do assédio. <i>Bertino</i> foi inteligente ao estabelecer, através da visita do médico, a impossibilidade da manobra, afinal, ao cingir o destino do idoso acamado à propriedade, colocou seus filhos contra a parede e determinou que, a partir daquele ponto, o dilema deixasse de girar em torno de uma discussão em torno da lógica, e se tornasse um teste de fé para gente que jamais dera crédito ao mundo espiritual, mas agora se via em guerra declarada contra um demônio. Deste modo, além de executar perfeitamente o filme em termos de técnica e acuidade visual, o diretor, também autor do argumento, soube para onde desejava ir com a estória, e cumpriu magistralmente o itinerário. "<i>The Dark and the Wicked</i>" acompanha o processo de ruína da couraça racional até restar a fé - ou mesmo sua ausência.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">À medida que a estória se desdobra, o tom vai deixando a agressividade das visões aterrorizantes em favor de uma charmosa, decadente melancolia, como nas conversas entre irmãos sentados no alpendre ao sabor da luz do candeeiro, ambos tentando fazer sentido dos estranhos fenômenos. Também se destaca a serena tristeza da cena na qual, tendo visitado a oficina de costura da mãe após o suicídio da mesma, <i>Louise</i> encontra um caprichoso vestido de casamento feito para sua pessoa, e lágrimas de arrependimento rolam pelas maçãs do rosto. Com olhos tão grandes e expressivos quanto os da atriz <i>Natascha McElhone</i>, <i>Marin Ireland</i> não precisa de muitos artifícios para exprimir dor. A serenidade do remorso comunica muito bem a tristeza de uma personagem que deixou os antigos, melhores sonhos escoarem pelo ralo, e cujas pontas dos dedos, muito embora devessem sentir a maciez da seda do vestido, experimentam-no tão áspero e hostil quanto as consequências das escolhas feitas no passado. À época, na juventude, parece crível que votos de casamento lhe tenham soado como coisa de gente ultrapassada e ingênua, principalmente para uma menina, quando a vida se resume ao que ainda de sensacional e eletrizante se encontra por vir; no entanto, ao encontrarmo-la na oficina, as circunstâncias são outras, e <i>Louise</i> se dá conta de que o mundo, de uma forma muito cruel, pregou-lhe uma peça, tendo a encorajado a se assoberbar apenas para enganá-la mais adiante da estrada ao continuar a girar sem esperar pelo seu despertar. Agora solitária e perdida, amigos se foram e até mesmo o irmão subiu no carro na calada da noite para voltar para esposa & filhas. Ela está desnorteada, mais desamparada do que jamais pensara ficar. O encontro do vestido de noiva que a mãe tão docemente preparara para a única filha escancara aos olhos de <i>Louise</i> a dura realidade: era a idosa quem enxergara mais claramente a natureza da vida, lá atrás, e não as fantasias criadas na sua mente pelos impulsos pueris encorajados por um mundo que gira e ri de ti depois que você comprou suas próprias desculpas mentirosas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No papel da enfermeira, a atriz <i>Lynn Andrews</i> soube que teria uma grande oportunidade ao interpretar uma memorável cena. Refiro-me ao diálogo da enfermeira com <i>Michael</i>, quando as coisas, tendo fugido ao controle de suas capacidades físicas, chegam ao ponto de eles reconhecerem uma conotação espiritual na dramática situação. Na conversa, pela primeira vez, ela se abre com o rapaz, e confessa que também se encontra no seu ponto mais vulnerável. Ela lhe fala sobre os fatos da vida com uma assertividade que permanecerá com <i>Michael</i>, dizendo-lhe o seguinte: "<i>Michael, eu consigo ver o medo em vocês. Eu posso senti-lo nesta casa. Eu sei que não acreditam em Deus, e está tudo bem... mas eu acredito. E eu creio que há coisas neste mundo, coisas horríveis, maliciosas... e elas vêm para pegar seja lá quem for com quem cismaram. Mas também há amor no mundo. E uma alma necessita de amor para se manter a salvo</i>". <i>Michael Abbottt Jr.</i> dá um ótimo desempenho como o cético rapaz, e a cena na qual desabafa com a enfermeira abre uma discreta brecha pela qual acata a aproximação do mundo invisível, bem mais definitivo que o material. Só após a conversa com a enfermeira é que reúne coragem para revelar à irmã a visão da mãe morta. <i>Ireland</i>, como disse, carrega o filme nas costas e esbanja competência, interpretando o papel sob um prisma concentrado, introvertido, sofrido e engrandecedor. Por mais que hesite diante dos obstáculos, <i>Louise</i> age com coragem e altruísmo, e a experiência reacende no seu ser os votos de fidelidade para com o que há de mais sagrado, a família.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiLm3HYuBwTPwOaaxsqbqw-RPgtZIYgj97ZQsjHwNLgnzSdqhvj_TbxJcE2rwErjA8KH0Fvjjz8y7MnltfbVnBngnJV0krhpuTBjinCFTqf8kQzzDz1iIN5yrmfYhEpr8PNvrbnh7zdS9NKyvextTE9H1_84GflRFuBZmq6jD5Y3acVidYTsscS7kCowQ=s950" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="950" data-original-width="800" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiLm3HYuBwTPwOaaxsqbqw-RPgtZIYgj97ZQsjHwNLgnzSdqhvj_TbxJcE2rwErjA8KH0Fvjjz8y7MnltfbVnBngnJV0krhpuTBjinCFTqf8kQzzDz1iIN5yrmfYhEpr8PNvrbnh7zdS9NKyvextTE9H1_84GflRFuBZmq6jD5Y3acVidYTsscS7kCowQ=s320" width="269" /></a></div><div style="text-align: justify;">A mais memorável performance vem numa brevíssima cena desempenhada por <i>Ella Ballentine (foto)</i>, uma atriz com quem o cineasta <i>Bryan Bertino</i> trabalhara em "<i>Um Monstro no Caminho</i>", e que aqui faz uma participação especial de bastante impacto. Dentre tantas performances valorosas, destaco a aparição da garota pelo significado da personagem e o sóbrio jeito com o qual o cineasta representa fisicamente o satânico.<i> Ella Ballentine</i> desempenha o papel da neta de <i>Charlie</i>, a solícita adolescente parada diante do alpendre, que se apresenta para contar à <i>Louise</i> a morte do avô. Sabemos, evidentemente, que a "<i>menina</i>" não é a neta do vizinho, e sim uma aparição demoníaca, assomando-se para incrementar a pressão psicológica sobre as vítimas. O discretíssimo embate foi um pequeno momento que se destacou. Semanas depois da exibição, era essa a cena que minha mente revisitava. A quietude a teria deixado passar despercebida, uma cena como outra qualquer, não fosse pelo fato de sabermos o que de fato acontece no alpendre. Em um piscar de olhos, você testemunha a face do demônio na transformação de expressões, que vai da ligeira apreensão da suposta neta "<i>preocupada</i>" com o bem de <i>Louise</i> até ao esboço do sorriso de canto, quando, aos poucos, indaga se <i>Louise</i> "<i>já consegue sentir o cheiro do pai</i>", que apodrece. Este momento acontece depois de outro similar, neste caso na forma do padre. A visita do espírito apresentando-se como a menina dá um baile na do padre pois, diferente da do padre, <i>Bertino</i> não se serve de artifícios para pintar o demônio com afetação. Para o padre, por qualquer motivo, achou interessante dar aos olhos a cor branca como indicativo do sobrenatural, ao passo que, para a menina, confiou na capacidade da atriz em comunicar com o canto dos lábios a sua verdadeira natureza. Como produção cinematográfica, era de se esperar um filme capaz de entreter e assustar, elementos que você espera de uma boa estória de horror; entretanto, quiçá sem se ater ao que fazia, o cineasta imprimiu tanta veracidade à forma de retratar um anjo decaído que, guardadas as devidas proporções, tomo "<i>The Dark and the Wicked</i>" como uma das mais intrigantes expressões da natureza dos demônios e a sua maneira de introduzir desastre nas vidas das pessoas. Ao longo do tempo de projeção, o cineasta soube manter-se humilde e comedido nos momentos de criar os assaltos do anjo ruim, porém a fantástica cena consagra a atriz <i>Ella Ballentine</i> como a senhora da performance excepcional dentre seus colegas. Com pouquíssimo tempo, foi quem melhor emprestou uma representação física a um conceito tão filosófico e abstrato, necessitando, para isso, apenas do controle sobre as nuances entre o fingimento e a malícia irrepetente. Se você sair da cena com um mau gosto na boca, é porque uma parte de si reconhece a presença metafísica da maldade no sorriso, um gesto raptado como veículo para a manifestação diabólica perante os sentidos. Demanda sensibilidade para se começar a ver - não meramente enxergar, falo de verdadeiramente <i>ver </i>- os indicativos somente capturáveis por uma parte que trazemos conosco desde o momento no qual viemos ao mundo. Certos acontecimentos inesperados e pontualmente traumáticos podem estimular a propensão para se enxergar. Até mesmo o passar dos anos nos socorre, pois nele há o contexto para que o amontoado de coincidências aponte no sentido correto. O "<i>demônio</i>" não pode ser visto como uma representação única; na verdade, trata-se de uma colagem, uma colcha de retalhos costurada com pedaços de distintos e aparentemente aleatórios eventos da vida, da infância ao seu último dia. Não habita o inferno, e mora nas sutilezas quase imperceptíveis, mas indeclinavelmente reais, especialmente ao se unirem as peças do quebra-cabeça, visual & individualmente diversificadas. Cada existência detém suas circunstâncias, e leva tempo até que o caos visual adquira uma coesão auto evidente. Às vezes, pela simplicidade de um clique, o contexto adquire nitidez e nos perguntamos como não vimos antes. No meu caso, o "<i>demônio</i>" toma a aparência da colcha que, posta a uma distância adequada da vista, revela um cenário autoexplicativo montado pelas peças coladas por uma besta chamado "<i>transtorno de personalidade narcisista</i>". O clique que iluminou a tela foi uma foto - ou melhor, fotos e desenhos - de algo a que se costuma chamar, em inglês, de "<i>The narcissistic smirk</i>", um jeito muito especial que pessoas do tipo olham e se relacionam com a sua pessoa. O <i>clique </i>me fez estudar o fenômeno, desconhecido até pela maioria dos psicanalistas, e a partir daí minha compreensão veio muito rapidamente. A partir da infância, passando pela adolescência e acompanhando-me à vida adulta, "<i>coincidentemente</i>", pessoas detentoras da condição entram e saem do meu caminho; muito embora sejam indivíduos que jamais se conheceram, no frigir dos ovos, <i>são a mesma coisa</i>. Malícia demoníaca não acontece como nos filmes de mentira, e não se ater a isto significa não se dar conta da proximidade entre uma outra história que ocorre em paralelo a esta nossa história miserável em curso na "<i>cidade dos homens</i>", em oposição à história na "<i>cidade de Deus</i>", conforme escreve <i>Santo Agostinho</i>. E se você procurou saber como se parece o "<i>narcissistic smirk</i>" e lhe ocorreu que alguém já te sorriu assim, passe a aceitar o duro fato de que essa mesma pessoa esteve seguramente planejando sua morte todas as vezes em que se encontraram.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i>Bryan Bertino</i> não achou necessário estabelecer um background para a família. Jamais saberemos se foi algo feito pelo homem enfermo no passado que convidou o demônio. Talvez a sugestão ofereça certo refrigério, pois, por este viés, eles estariam colhendo o produto da semeadura; entretanto, o pensamento cartesiano e racional de causa vs. consequência não se aplica a uma transformação tão radical na rota de vida das pessoas. Os demônios vêm para aqueles a quem devem vir, e não será a lógica a justificativa da eleição. Evidentemente, não se deve facilitar e brincar com uma situação tão volátil. O famigerado "<i>jogo da tábua</i>" é uma loucura. Essa coisa é colocada à venda como uma singela brincadeira; as pessoas acreditam que invocar demônios funciona como invocar "<i>pokémon</i>". O jogo não abre portas para o além, claro, pois isso não existe; a poderosa sugestão abre, isto sim, portas na sua própria mente, o domínio dessas coisas, onde elas tentam falar, onde tentam interagir contigo, estabelecer uma amizade interesseira, aconselhá-lo a matar e se matar. O perigo é potencializado quando a pessoa que mexe com a tábua traz consigo um histórico de vida pavoroso. Sobreviventes de abusos sexuais ocorridos no passado, na infância, são os preferidos de demônios, pois demônios, assim como narcisistas, estão sempre atrás de gente vulnerável, isolada ou sem pontes ou conexões relevantes com outras pessoas que as amem e estejam preocupadas com seu bem-estar. Narcisistas não tocam em pessoas com estruturas familiares sólidas. Um sobrevivente de abuso sexual que procura estabelecer amizade com seja lá o que for que exista para depois da superfície da tábua está, na verdade, deixando uma tigela com sangue na porta da frente de casa, acreditando tolamente que não haverá problemas, quando atrairá toda sorte de bichos perigosos e peçonhentos. Excetuando-se a possibilidade de se convidar o problema estupidamente para si, casos de obsessão não podem ser explicados. Somente a fé na providência daria resposta não somente a esta questão, como às demais, mas fé na providência tem seu custo e só vem no momento seguinte à hora certa, a qual chamo de o lugar mágico, o <i>fundo do poço</i>, para o qual todos deveriam se preparar, reservando um espaço no próprio coração para depositar suas agruras de modo a vivenciá-lo, o fundo do poço, com dignidade, convicto de que será a partir dali, tendo se perdido todos seus aliados e álibis para as próprias mentiras e desculpas, que se começará a encontrar resposta para as perguntas mais fundamentais do universo. É importante ressaltar que o sangue derramado durante o filme jamais é vertido pessoalmente pelo demônio. Não obstante sua impropriedade em "<i>tocar</i>" o mundo físico, faz de suas intenções uma força cogente através do poder da sugestão e do convencimento. O anjo mau não segura a faca para arrancar os dedos da mulher, mas soa muito convincente ao pé do ouvido, a ponto de, por um segundo, ao achar o absurdo uma ótima ideia, a idosa não hesitar em fatiar os dedos junto aos legumes na tábua de cortes. O demônio não manipula as agulhas de costura, porém a tristeza incutida no estado de espírito da enfermeira faz com que prefira enfiá-las nos olhos a encarar os fatos da vida que, também por um breve segundo e por força da ação diabólica, pareçam-lhe desesperadores e intransponíveis. As particularidades das pessoas determinam a ferida afetiva a ser atiçada. Para <i>Michael</i>, atormentado pela culpa de ter se distanciado porque intencionara construir um caminho para si, o demônio aparece como a mãe subindo ao céu. Para <i>Louise</i>, vem de muitas formas, a mais tocante delas o remorso que toma conta de sua psique ao encontrar o vestido de noiva. Pondo-nos no lugar dos membros da família, a situação nos parece o pior cenário possível; entretanto, por mais dolorosa que seja a jornada dos <i>Straker</i>, as aparições e fenômenos trazem o alívio de lhes conceder uma certa ideia de fisicalidade e antecipação. Os irmãos veem a aproximação do monstro, e encontram conforto na chance de se prepararem para o impacto. É na vida real e individual, todavia, onde a ação se dá em seu mais ardiloso modus operandi, albergada pelas aparências `as quais as pessoas delegam a bússola de suas vidas durante a existência material. O escritor <i>Hubert Selby Jr. </i>escreveu a estória definitiva sobre obsessão demoníaca, a mais realista descrição de semelhante drama. Para um livro chamado "<i>The Demon</i>", o "<i>protagonista</i>" permanece oculto por um tempo absurdo - não se fala em "<i>demônio</i>" antes de se ter passado dois terços da trama - até não se poder mais negar a presença de uma força externa ao rapaz, invisível ao mundo, empurrando o protagonista no sentido da autodestruição. O livro conta a estória de um homem chamado <i>Harry White</i>, um sujeito comum, bom filho, e promissor executivo que se encontra em plena escalada para uma carreira bem-sucedida e a construção de uma família ao lado de uma mulher honrada. De uma forma imprecisa, ou melhor, distantemente percebível (a coisa entrou na sua vida na primeira infância), esse camarada desenvolve o apetite por mulheres casadas, levando-as à cama e as deixando em seguida. Ele mente para si, e crê que, de um jeito estranho, ajudou-as, pois a culpa as tornaria esposas melhores para os companheiros. Aos poucos, o sexo fica mais extravagante e o desejo carnal deixa de ser seu elemento justificador; agora, o sexo parece brotar de uma necessidade de machucar e ser machucado. O fetiche faz transbordar a perversidade encenada entre quatro paredes na sua vida profissional & pessoal, de sorte que seus amigos começam a notar uma ou outra coisinha intrigante, e aquilo que aos outros parecia um exótico cacoete ou gosto de <i>Harry </i>se revela um abismo escuro sem fim. Ele começa a chegar atrasado, sua ascensão funcional detém-se no caminho. Na vida privada, a companheira, uma mulher amável e honesta, prefere voltar para a casa dos pais a ter de lidar com o errático comportamento do homem. As pessoas à sua volta não conseguem explicar o processo em curso na sua vida. O psicanalista devassa a infância do moço em busca de algo capaz de oferecer uma pista racional; simplesmente, não se trata de nada <i>dele</i>, e sim de algo que atua de fora para dentro, e concentra a ação na mente. Fortemente ancorado no catolicismo, o autor cria oportunidades nas quais <i>Harry</i>, caso tivesse confiado a Deus sua salvação ao admitir a impotência diante da "<i>coisa</i>", poderia ter sido redimido. Lamentavelmente, como acontece à maioria, o homem não resiste à tentação da soberba ao arrogar para si o protagonismo de agente da própria redenção, falhando miseravelmente. Ele sucumbe à loucura, no tresloucado ato de homicídio à arma branca. A obra do escritor <i>Selby Jr.</i> e o filme de <i>Bryan Bertino</i> coincidem na finalidade com que a ação se conduz: parece um exame, um teste da fé, cujo resultado ou pode ser absolutamente trágico (suicídio) ou curativo & redentor. No que se refere à manifestação mais explícita do demônio, como quando <i>Michael</i> vê coisas como a mãe morta de camisola levitando, manifestações só se dão explicitamente a um número pequeno de indivíduos, provavelmente escolhidos para suportarem o massivo ataque em nome de um bem maior, como a salvação de almas. Aconteceu na vida de <i>São Vianney</i>. <i>Padre Pio </i>também "<i>enxergava demônios</i>" desde a infância, durante a qual um anjo decaído o procurava na forma de um cão preto enorme que se materializava para conversar. Na biografia de <i>São João Bosco</i>, há registros da presença insistente de semelhante anjo no decorrer de sua jornada, um cachorro cinza a que chamavam "<i>Grigio</i>". Apresentava-se para oferecer resguardo físico em momentos espraiados ao longo de décadas, nos quais o padre quase fora assaltado ou morto. <i>Grigio</i> aparecia para pôr assaltantes para correr, de maneira a preservá-lo de qualquer violência. Pessoas notavam o absurdo da situação, pois o cachorro jamais era visto comendo, como o faria um vira-latas perambulante, e, à medida que décadas vinham e iam embora, o animal continuava a surgir e desaparecer da vida do padre com a mesma idade que tivera ao aparecer do nada na sua frente pela primeira vez, a ponto de não fazer sentido vê-lo ali junto a <i>Dom Bosco</i>, quando qualquer outro animal já teria morrido há muitos, muitos anos. Há uma foto do cachorro, batida por um cavalheiro, um motorista que conheceu <i>Dom Bosco</i>. Trata-se de uma foto antiquíssima, meio borrada, onde se vê o cão, quietinho, descansando do lado de fora da paróquia, e há um elemento de arrepiante no registro, como se, ali, uma minúscula abertura tivesse rompido o véu entre as duas cidades de <i>Agostinho</i>. Seria o cachorro um anjo cuja missão fora a de protegê-lo tão devotamente? Seria um demônio, a quem fora permitido caminhar ao seu lado para, no final das contas, aperfeiçoá-lo pelo assédio, tornando-o mais sólido na sua obstinação no serviço a Deus? A última pergunta, faço-a na esteira da tese de que até os demônios são agentes da vontade de Deus, não é verdade? De um modo estranho, acabam sendo atores da providência. É certo que não o fazem voluntariamente, como os anjos bons que amam a Deus e trabalham conosco de acordo com Sua vontade. Demônios odeiam a Deus e se mantêm obstinados em sua oposição. Diferente do que ocorre conosco, para quem o aprendizado é um processo linear e construtivo, com idas e vindas, demônios detêm a verdade e o conhecimento infusos desde o princípio, de forma que não há de se falar na possibilidade de se "<i>arrependerem</i>". É diferente, por conseguinte, de como ocorre conosco; pelos erros, vamos sendo trabalhados pela graça; pelos contratempos, trabalhados pela humildade; e seguimos nos aproximando do amor a Deus à medida que deixamos o culto a si para amar nossos companheiros de miséria neste vale de lágrimas, o mundo decaído, amaldiçoado, o mundo após a queda. Os demônios sabiam as implicações de sua recusa. Para eles, o destino foi selado, diferente do que acontece a nós: neste momento, qualquer ser humano pode mudar o desfecho de sua história, se o desejar fervorosamente. Ao agirem contra o homem, portanto, demônios nos prestam um inestimável favor, pois assédios ou obsessões demoníacas escondem um presente, a chance perfeita de se resistir até ao fim às opressões ou ilusões passageiras em nome da confiança no enorme mistério da fé e, por obra da provação, torná-lo ainda mais palpitante. Para usar uma linguagem cinematográfica, já que estou escrevendo sobre filmes e apenas indiretamente discorrendo sobre a fé para explanar aspectos filosóficos da trama objeto de estudo, servir-me-ei de um outro para criar a alegoria da ideia. Quando escrevo sobre o assunto, minha mente sempre volta ao primeiro "<i>Rocky</i>", o original. Foi o melhor filme "<i>não religioso</i>" a retratar o mistério da fé tão sublimemente. Durante suas duas horas de projeção, o nome "<i>Jesus</i>" não é vocalizado uma única vez; entretanto, a presença se encontra subentendida. A arte, em suas diferentes acepções, serve-se do arquétipo definitivo e, por mais que adquira distintas cores e reviravoltas, perdura fidedigna à história real, à história inserida em nosso espaço & tempo, estabelecida há milênios, a fonte da qual todas as formas de expressão artística se serviram para encontrar substância & voz. Tentarei explanar melhor. A esta altura, todos já o viram, sendo que as continuações devem ter permanecido mais vívidas na memória. Se você começar a vê-lo, contudo, sob um prisma mais amadurecido, em particular o primeiro, ficará mais nítido. Você se recorda da primeira imagem assim que o título termina de correr da direita para a esquerda e a estória é introduzida? Pois eu me lembro. O filme abre com uma imagem do <i>Cristo</i>, e então a câmera desce, estabelecendo a trama ao mostrar um clube empobrecido e decadente, onde, em 1975, dois pugilistas estão trocando socos por trocados, fazendo espetáculo para uma dúzia de bêbados que não dão a menor importância ao que ocorre dentro do ringue. Um dos pugilistas é um homem pobre, burro e praticamente analfabeto, uma pessoa de bom coração a quem ninguém respeita, mas de quem todos tiram vantagem, o personagem-título. Para sintetizar, o filme estabelece sua jornada quando, por obra do acaso, o campeão mundial de boxe decide dar a um desconhecido a oportunidade de entrar no ringue com a sua pessoa e, pelo menos por alguns minutos, gozar de fama, uma estória de "<i>Cinderela</i>" onde, mais por uma questão de publicidade do que de bondade, o maioral da estória cairia nas graças da mídia ao "<i>abençoar</i>" um mortal com a oportunidade de se encontrar dentro de um ringue na sua presença. Ao ter seu nome pinçado de uma lista, a jornada de redenção do protagonista se inicia. À época, já tinha mais de trinta anos e as oportunidades pareciam ter ficado para trás, mas é aí que a verdadeira jornada começa. Cito o filme para ilustrar meu ponto de vista sobre a mensagem do arquétipo, a da precisão do adverso, da tensão das dificuldades como ponte para se transpor o abismo da miséria rumo `a compreensão do mistério da fé, sendo os obstáculos aparentemente invencíveis perante o protagonista as únicas ferramentas das quais realmente precisa para moldar-se a aquilo que corresponde a seu chamado. Até aquele ponto no arco do personagem, <i>Rocky </i>é a definição do fracasso, assim como também o foi o <i>Cristo</i>, o arquétipo, que na morte deu literalidade à palavra derrota na sua figura debochadamente pendurada como carne cuspida, toscamente pregada a marteladas num pedaço vagabundo de madeira. É o que ocorre posteriormente, todavia, que rasga o véu para a exposição da verdade salvífica por trás da momentânea aparência do fracasso, pois, no arquétipo, na história real, mesmo tendo sido obsediado de todas as maneiras pelo demônio para desistir de se deixar massacrar por amor ao homem, ele se mantém firme aos planos do Pai e vence a morte em definitivo;<i> pari passu</i>, no filme, o estúpido ignorante de bom coração sobe ao ringue para servir de objeto de olhares curiosos e chacota do mundo que está de olho na luta, tendo como mestre de cerimônias o campeão mundial. <i>Apollo </i>recebe o adversário com o bom humor de um homem convicto de que vai conceder dois, três rounds ao desconhecido, deixará que ele conecte alguns golpes, mas terminará o espetáculo com um nocaute rápido para que todos possam voltar felizes para casa. Por sua generosidade, as pessoas lhe serão gratas e terão se entretido com o show, e o pugilista de clube poderá retornar ao ostracismo sabendo que teve seu momento ao sol. A luta começa e, quando menos se espera, um drama começa a se descortinar diante de nossos olhos. Dois, três rounds vêm e vão sem que a luta se defina conforme <i>Apollo </i>prometera, e o que era brincadeira muda de figura. <i>Apollo </i>desperta para o fato e trata de levar a situação <i>muito </i>a sério: de um minuto a outro, seu show de boa vontade precisa se transformar numa luta feroz. A montagem surge e evanesce e surge novamente em cenas que documentam a progressão dos rounds, todos bem semelhantes, onde a superioridade técnica do campeão lhe vale folgada vantagem, mas é contrabalanceada pela determinação ferrenha e cega do adversário. À medida que o tempo passa e o pobre pugilista amador prova deter uma incomum capacidade de absorver um inacreditável volume de castigo, <i>Apollo </i>começa a viver a luta de outra forma, pois do mesmo jeito que está dando uma surra, está tomando outra. Enquanto <i>Rocky </i>se encontra no fim recebedor da pior parte do castigo, porém segue avançando e batendo, <i>Apollo </i>não consegue acreditar que seu adversário se recusa a cair ou aceitar que, a esta altura, é virtualmente impossível que vença. Chega o décimo quarto round, o penúltimo de uma luta programada para quinze, e <i>Rocky </i>mal consegue erguer os braços para se defender. Ele está perdido. "<i>O que o mantém de pé, eu não sei!</i>", exclama o narrador. <i>Apollo</i> abre espaço com um cruzado e segue com o soco do nocaute ao conectar um gancho que o derruba de um modo fenomenal e aparentemente definitivo. Ele ergue os braços em vitória, provavelmente pensando: "<i>Finalmente</i>", e se afasta, indo em direção ao corner. "<i>No chão, no chão, fica no chão!</i>", <i>Mickey </i>implora. Na lona, <i>Rocky </i>se vê sozinho - ninguém acredita mais nele, todos desistiram de <i>Rocky </i>a não ser <i>Rocky </i>- e dele se espera a resignação com o inevitável desfecho, afinal, para alguém com sua história, o chão não seria um lugar tão mau. <i>Rocky </i>sobreviveu até ao décimo quarto assalto, e chocou o campeão mundial, fez seu melhor, seria o suficiente para se orgulhar. Agora, todos podem voltar para casa, não? Mas então, <i>Rocky </i>dá o passo de fé. Ele rasteja para as cordas e as segura com dificuldade e agonia para realizar o impossível e se levantar a tempo. Ele sabe que precisa ir até ao fim. Existe alguém que, na vida real, tenha experimentado semelhante solidão? Alguém que ao se ver no mesmo predicamento - o de se pôr na posição do pária - tenha tido os olhos abertos para a glória que é enxergar o mundo sob o ponto de vista de uma carta fora do baralho? A recapitulação do arquétipo responde a indagação: <i>Cristo</i>, na cruz, quando é abandonado por todos, e os apóstolos acovardados saem correndo, contempla a perfeita consumação de sua paixão. Agora, ele sabe que o melhor está por vir. O demônio fizera seu melhor para demovê-lo da rota; entretanto, ao confiar na missão, ele compreende, na solidão da madeira, que tudo concorrera para a perfeição do plano original. A cruz não fora um evento triste e furtuito da jornada, <i>Cristo </i>não fora apenas um "<i>cara legal</i>" que entoara sermões sobre "<i>justiça social</i>" e que, por força da perseguição dos poderosos da época, tivera os planos rechaçados ao ser sentenciado à morte, a cruz como um "<i>acidente de percurso</i>". Ao contrário, ele sabia que nascera para a cruz, cada dia um passo na direção dos pregos e martelo, pois a experiência da morte lhe escancaria a janela para triunfar sobre a mesma, o que aconteceria dali a três dias, para horror dos demônios. Não era <i>Jesus</i>, tampouco os cristãos, que temiam a cruz. Os demônios, sim, passariam a temê-la. Ali, pela primeira vez desde a queda do homem, ser-lhes-ia impingida uma amarga derrota nas mãos do único homem a quem não tinham conseguido dobrar. Deixemos momentaneamente o arquétipo, retomemos o filme. <i>Rocky </i>se segura às cordas e faz dos cacos estilhaçados um todo muito coerente de sua vida, uma vida que, antes de pulverizada pelo gancho de <i>Apollo</i>, já fora duramente golpeada pelas circunstâncias invisíveis, a terrível má sorte que o acompanhara até aquele ponto. Ele se levanta, num ato contrário ao bom senso, contrário à orientação de <i>Mickey</i>, contrário `as expectativas do mundo, e o árbitro segura suas luvas, como quem perguntasse se realmente deseja prosseguir. Assim como <i>Cristo </i>deve ter visto sincronia e perfeição na soma das incontáveis agruras durante o percurso à madeira, <i>Rocky </i>enxerga idêntica perfeição sincrônica na suposta "<i>má sort</i>e" que o seguira durante a vida até aquelas cordas com as cores da bandeira norte-americana. Não fora má sorte; na verdade, fora a benção que o guiara até aquele exato lindíssimo instante, quando <i>Apollo </i>se vira e, com olhos cheios de horror, vê que o adversário se levantou. "<i>Não acabou ainda, venha, dê-me seu melhor</i>", <i>Rocky </i>sinaliza com as mãos, chamando-o para dentro, e a cara de <i>Apollo </i>vai ao chão: a cabeça cai, seus olhos incrédulos procuram a staff no corner, atônito. O ator <i>Carl Weathers</i> interpreta <i>Apollo</i>, e como excelente artista dramático que o é, comunica uma pletora de emoções para além da expressão em palavras. Aos olhos de qualquer pessoa uma visão do tipo seria eletrizante, aos olhos de <i>Apollo</i>, torna-se transformadora. Tristeza, frustração, esgotamento, medo, todas as emoções correm pela sua cara. A noite começara como uma brincadeira; agora, <i>Apollo </i>se meteu numa desesperadora situação que pode lhe custar as coisas que lhe são mais caras. Nos minutos finais, qualquer coisa pode acontecer, não se sabe como aquilo vai terminar, e é apavorante para o campeão, o homem que tem tudo a perder vs. o homem que nada tem. Após a convocação do árbitro para a retomada da luta, depois que <i>Rocky </i>se levanta, você vê o talento do ator ao interpretar o modo como <i>Apollo </i>se aproxima: cauteloso, temeroso. É como se estivesse morrendo: <i>Apollo </i>jamais se sentira assim, nunca se imaginara tão inseguro. Claro, como já sabemos, <i>Rocky </i>golpeia duramente <i>Apollo </i>nas costelas e, no último assalto, lança seu arsenal num campeão quase inconsciente, que toma os socos encurralado nas cordas e é salvo por muito, muito pouco, ao toque do sino. <i>Apollo </i>ganha por uma exígua diferença de pontos, porém ninguém parece se importar. As pessoas não se recordarão da luta por uma debatível decisão de pontos, elas se lembrarão pela tenacidade cega e canina com a qual o <i>João ninguém </i>chega ao último segundo sem retroceder. Assistir ao filme após tantos anos sempre revela novas descobertas: é interessante como até <i>Apollo </i>termina como um homem melhor, mais humilde, mais "<i>mortal</i>", ele desceu alguns degraus do pedestal o qual tomava como exclusividade sua. "<i>Não vai haver revanche, não vai haver revanche</i>", contemporiza ao toque do sino, abraçado a <i>Rocky</i>, ambos exauridos. "<i>Eu também não quero</i>", <i>Rocky </i>responde. De uma maneira intrigante, eram duas peças que precisavam se juntar, pois se cabiam perfeitamente e, unidas, compunham o quadro que dava sentido a suas tristezas e inseguranças. Pobre <i>Rocky</i>: sua ingenuidade e boa natureza o impediam de ver malícia enquanto havia tempo de não deixar que lhe tirassem vantagem, sua estupidez e ignorância lhe custavam o bom senso pelo qual teria entendido que, às vezes, é melhor ficar no chão do que arriscar a própria vida ao tomar as piores surras. Pobre <i>Apollo</i>: sem seu inegável talento, jamais teria conquistado o cinturão dos pesos-pesados, nada lhe acontecera <i>de graça</i>; seu bom humor e personalidade faziam dele uma figura maior do que a vida; entretanto, por mais envaidecido que a aclamação o tivesse deixado, precisou perder a fantasia e encarar a mortalidade ao se ver diante de um estúpido cabeça dura que se recusaria a se render, consoante o próprio treinador lhe diz, na parte 2, ao tentar convencer <i>Apollo </i>a esquecê-lo: "<i>Não precisamos desse cara, Apollo. Eu vi você bater nesse cara como eu nunca vi ser humano nenhum apanhar... E o cara continuava vindo para cima de você!</i>". "<i>Rocky</i>" é um filme essencialmente fundado sobre os alicerces do arquétipo. Não importa que a estória tenha tomado rumos que levaram a série para longe da inocência do primeiro; sua essência sempre restará imortalizada, preservada em âmbar, na cena na qual ele se levanta e acena para continuar. Sob a música de <i>Bill Conti</i>, - que eleva espiritualmente o clímax, mas cabe às demais lutas neste mundo imperfeito, do homem pobre que, na terceira idade, rabisca num caderno de caligrafia seu nome, empenhado a aprender a ler & escrever, ao jovem batalhando por uma vaga no mais disputado concurso público; da menina que anseia por encontrar uma voz própria com a perspectiva da vida adulta e, com ela, o refrescante, delicioso sabor da expectativa e da antecipação, até à viúva idosa que mora na periferia e toma vários ônibus para chegar ao hospital onde faz solitariamente sua quimioterapia, sobrevivendo dia após dia ao prognóstico do câncer, "<i>Going the Distance</i>" é o hino de autoafirmação perante a vida - é um momento sublime do qual nada mais feito posteriormente chegou próximo. Todo o arcabouço da trilha assinada por <i>Bill Conti</i> para a saga, aliás, é um patrimônio da humanidade. Ainda dentro da linguagem cinematográfica, outra obra que retratou o despertar espiritual de um protagonista submetido a monumental stress foi o filme de horror de <i>David Fincher</i>, "<i>The Game</i>", lançado em 1997. Era a estória de um magnata estagnado numa modorrenta existência sem novidades até ter suas crenças viradas ao avesso quando o irmão lhe recomenda os serviços de uma empresa que tornaria sua vida mais interessante. Após atender ao encontro inicial e se submeter a testes de aptidão física e mental, é surpreendido com a recusa da empresa em fornecer o serviço, sob a desculpa de que ele não detém o perfil adequado. O homem retoma os afazeres; porém, não custa a ser assolado por pequenos aborrecimentos que, a princípio, não sugerem nada que não uma passageira má sorte. Minúsculas chateações vão se avolumando numa escalada do horror. Uma noite, encontra, deixado no caminho do cul-de-sac de casa, o boneco de um palhaço. Na mesma noite, enquanto se distrai solitariamente com o telejornal, não acredita quando o jornalista da bancada se dirige pessoalmente à sua pessoa e trava uma conversação. O que começara como traquinagens infantis vira um pesadelo sem previsão de acabar. O patrimônio é perdido, seus bens são leiloados e liquidados em questão de semanas, imagens horrendas de pornografia infantil são plantadas em sua pasta pessoal e disco rígido. Ele vira um fugitivo da lei. Ao procurar explicações no local onde visitara a empresa de recreação pela primeira vez, descobre que o andar inteiro fora uma fachada, um espaço alugado. Legalmente, a empresa não existe. O irmão o procura, desesperado, dizendo que aquela gente estranha também está no seu encalço e que não há soma de dinheiro no mundo capaz de pará-los. À medida que a estória avança, pronuncia-se a mudança na personalidade do protagonista. Ele começara sua jornada como alguém certo de si: no mundo, nada restava para surpreendê-lo, assim imaginava. Agora, sob ataque de uma oposição massiva e anônima, via o benefício espiritual que, bizarramente, seus inimigos lhe haviam incutido, pois as adversidades lhe construíram um novo centro moral. Antes da perseguição, seus olhos encontravam-se vendados; só depois do processo de descrédito - moral e material, afinal sua fortuna é liquidada - ele passa a executar as manobras mais certeiras para se pôr à frente dos vilões. Ele revisita pessoas que havia passado para trás ou magoado, redime-se, e consegue chegar aos misteriosos inimigos. O processo vivido pelo personagem chama-se "<i>gang stalking</i>", uma operação de assédio cuja execução exige um grande número de pessoas trabalhando conjuntamente. Depois de ler sobre o fenômeno, parece óbvia a conotação espiritual do "<i>gang stalking</i>"; por mais que salte aos olhos a camada mais superficial do assédio, ou seja, as investidas mais agressivas e escandalosas, é provável que até aos perpetradores escape o verdadeiro agente por trás de suas ações. Conforme demonstrado, a linguagem cinematográfica deve suas manifestações a estruturas que se repetem e caracterizam a jornada humana, arquétipos dos quais não podemos fugir, e nos quais a criatividade bebe como fonte para se inspirar e escrever ou filmar a arte. Mais importante que as obras artísticas, contudo, são os testemunhos oferecidos pela experiência veraz e solitária, que atesta o antagonismo da força dispersiva como arma de redenção. Em nossas vidas, movemo-nos consistentemente em direção à unidade, um termo que deve ser lido no seu sentido mais <i>lato</i>, por envolver diferentes searas. Seja profissionalmente, seja familiarmente, a experiência nos arma com habilidades sem as quais jamais nos avizinharíamos da unidade. Com a maturidade, "<i>negociamos</i>" com adversidades e obstáculos que agem aplicando força no sentido contrário ao de nosso perpétuo movimento. Neste sentido, a vida é uma tensão constante entre duas forças, a associativa vs. dispersiva. Ao passo que a dispersiva leva a pecha de "<i>vilã</i>", acaba sendo dela de onde extraímos o material do qual precisamos para chegar à unidade, que é, nas palavras do <i>Professor Olavo de Carvalho</i>, os sonhos da juventude performados no outono da vida. A história do psiquiatra austríaco <i>Viktor Frankl</i> ilustra a assertiva. Nascido na Áustria, o estudioso <i>Frankl </i>morava com os pais e a mulher grávida em Viena quando os carniceiros do nacional-socialismo invadiram o país para anexá-lo à Alemanha. Àquela altura, <i>Frankl </i>havia sido convidado a estudar nos Estados Unidos, porém, dividido entre os estudos e o sentimento de dever para com os pais velhinhos, não soube o que fazer, pelo menos até o dia em que, ao passar casualmente por uma sinagoga bombardeada, viu o pedaço de uma rocha de onde se sobressaía o mandamento "<i>Honrarás pai e mãe</i>". Ele tomou aquilo como sinal e, ao se comprometer a permanecer com os pais na Áustria, foi mandado a Auschwitz com os idosos e a mulher grávida. O caso tem todos os desdobramentos funestos que fariam um observador externo olhar para esse homem e interpretar sua vida como um fracasso trágico, a história de uma pessoa honrada, filho devoto & bom marido, que teve seus bonitos sonhos esmagados pelo peso da força dispersante das circunstâncias, vindas para fulminar sua sede pela unidade. O que acabou ocorrendo, todavia, foi o contrário, pois ao ser atirado no campo de concentração com pais e mulher (que morreriam ali dentro), seria da experiência apavorante de Auschwitz que tiraria o substrato para o magistral estudo ao qual se dedicaria até ao fim da vida: a <i>felicidade</i>. Seu ponto de partida girava em torno de por que algumas pessoas resistiam tão bem à experiência e saiam fortalecidas, enquanto outras eram completamente obliteradas. Ao se ver dentro daquele lugar miserável de morte, <i>Frankl </i>entendeu que as pessoas fortalecidas eram aquelas que haviam tomado para si um objetivo poderosíssimo o suficiente para corroborar a tese de que, no predicamento onde se encontravam, deixava-se de ser uma questão de "<i>como</i>", e passava-se a ser uma outra, a do "<i>por quê</i>". A resposta ao "<i>por que</i>" não se encontrava dentro do assalto perpetrado pela força dispersante, neste caso a do partido nacional-socialista, mas sim fora do núcleo do assédio. Aquelas pessoas precisavam sair dali sãs, pois, para além das muralhas encimadas por arames elétricos, mesmo em meio às trevas, começavam a fazer sentido de um novo mundo a surgir diante de seus olhos, e, juntamente ao novo mundo, um sentido inédito para o sofrimento momentâneo. Elas conseguiam ser felizes no instante em que desistiam de encontrar ativamente a felicidade e simplesmente abraçavam com fervor o ônus dos dissabores, do sacrifício, da jornada a ser empreendida a qualquer custo. Como o destino só liga as extremidades do círculo quando <i>fora do círculo e para além da jornada</i>, é a jornada, por conseguinte, <i>que é tudo</i>, e não o destino em si.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O processo descrito na obra literária "<i>The Demon</i>" e o filme "<i>The Dark and the Wicked</i>" retrata a obsessão a um nível pessoal. Se observada imparcialmente de cima, entretanto, de um ponto de vista a partir do qual deixa de fazer sentido separar <i>passado</i>, <i>presente </i>e <i>futuro</i>, também a História humana, a "<i>história para os lados da cidade dos homens</i>", - se me permitem o uso da expressão de <i>Santo Agostinho</i>, - revela movimentações de onde se pinça a ação diabólica como peça de um complicadíssimo maquinário num quase inabarcável contexto a que estudiosos chamam de "<i>Nova Ordem Mundial</i>". <i>In casu</i>, o elemento demoníaco teria se infiltrado nas convenções da vida globalizada e se enraizado através de filosofias perniciosas no "<i>espírito do mundo</i>", <i>zeitgeist </i>cujo pessimismo é diretamente proporcional ao que a sociedade amealhou tecnologicamente num ínfimo espaço de tempo, um estado de espírito cujo combustível, o ressentimento, comprova o dito de que é mais fácil enganar uma pessoa a convencê-la depois que ela caiu num ardil. Ao passo que o mundo diminuiu a ponto de caber na tela do smartphone, as pessoas jamais estiveram tão perdidas e desesperadas, com crianças no divã de terapeutas que lhes prescrevem ansiolíticos e antidepressivos, e famílias alternativas onde não há qualquer resquício de identidade. Como nas empresas, seus membros se submetem à constante possibilidade de substituição ao sabor das circunstâncias, e pessoas são demissíveis <i>ad nutum</i>. Parceiros decidem se casar consoante o calor de uma momentânea, enganosa emoção, pois a sociedade empresarial pode ser facilmente rescindida no cartório mais próximo. Assim que a emoção se for, parceiros dissolverão o acerto ao riscado da caneta: uma única visita ao serviço notarial deverá pôr fim ao impasse. Idosos devem ser encaminhados a asilos e, no tempo devido, eliminados discretamente pela eutanásia. Neste diapasão, a velocidade da informação no seio da aldeia global trouxe consigo a banalização, o macaquear de sentimentos humanos. Declama-se facilmente amor, mas se sequestrou a palavra para fazê-la caber à nova semântica pela qual você usa as pessoas, e posteriormente as descarta. Agora, famílias são tão "<i>famílias</i>" quanto os lobos da alcateia de lobos ou as abelhas da colônia. Se você forçar o termo, poderá chamá-las de família, porém ali não há família. A maioria perdura de pé enquanto refugos varridos pela tragédia do divórcio ou de separações após uniões de araque, dependentes de um Estado assistencialista que gradualmente avança na ambição de tomar crianças para si e cooptá-las no momento de suas existências quando a personalidade maleável pode ser cunhada por cinzéis, ao gosto dos intelectuais de esquerda. Seus agentes são movidos pelos mesmos propósitos satânicos com os quais os porcos raptaram os filhotes da cadela, no livro de <i>George Orwell</i>, a reprogramação contínua de suas mentes e o estabelecimento de uma mentalidade revolucionária alimentada por ressentimento e inveja, de forma que, uma vez eliminada a família, o Estado se torne o centro de <i>tudo</i>. As pessoas mais idosas parecem deter ciência desta verdade, muito embora nem sempre consigam exprimir <i>o quê exatamente</i> ocorreu. Criaram seus filhos num seio familiar que, por mais problemático que tenha sido, forneceu-lhes a primeira experiência de unidade; todavia, repentinamente, algo deu errado em suas vidas adultas ao deixarem o ninho. Juntaram-se, "<i>desjuntaram-se</i>", juntaram-se novamente, filhos preciosíssimos de relacionamentos distintos e brevíssimos vieram ao mundo e foram deixados de lado ao sabor da mudança dos ventos, seguiram se afastando da casa onde conheceram, pela primeira vez, o senso de unidade, a unidade foi se esvaindo, ilusões do mundo romperam uma barragem de sentimentos não vocalizados no tempo certo, e a torrente os carregou para longe de modo que, da vocação humana gregária, só restaram fotos apagadas num álbum mofado esquecido no criado-mudo, um álbum que ninguém mais quer ver. Existe, portanto, indícios claros da ação angelical decaída na direção a que o mundo tenta arrastar as pessoas, bombardeando-as por muitos flancos, - <i>entretenimento</i>, <i>moda</i>, <i>tendências</i>, <i>propaganda</i>, <i>padrões</i>, - com ideologias que divergem completamente da estrutura da realidade, filosofias esquisitas e estimulações macabras baseadas no "<i>Faze o que tu queres, há de ser o todo da lei</i>", de <i>Aleister Crowley</i>. Como estamos a falar de ideologias, elas não precisam de nenhum ponto de contato com a verdade; a ideologia só precisa se pôr à disposição das inflexões de seus intelectuais. Do doloroso despertar para a situação parece não se ganhar nenhum benefício imediato, pois não nos torna imunes ou livres do mal; simultaneamente, o que teria sido ganho, espiritualmente falando, seria um olhar mais aprimorado e grato a recantos que, mesmo num mundo decaído, conservam a refrescância promissora com a qual foram originalmente criados, revelando muita beleza e sentimentos reconfortantes. Por si, a gratidão basta para nos encorajar a "<i>continuarmos aqui</i>". Quando Deus te dá a graça de ver as coisas pelo que realmente o são, também te abençoa com o contraste perfeito, pois após a descida a um vale horroroso, a visão que se tem depois, do lindo horizonte, torna-se amplificada e reverberante. Só percebemos o belo após a experiência do feio, ou o "<i>fundo do poço</i>", o canto mágico onde os mistérios da vida são respondidos. Sempre chamou-me a atenção o bom humor santificado e a paciência com os quais as pessoas mais velhas escutam os jovens. Face à ridicularização com a qual são tomados por relíquias de uma época há muito esquecida, idosos detêm algo de apaixonante e belo em seus olhares. Mesmo em face da ridicularização, vê-se que jamais perdem de vista o que resiste de potencialmente puro e bom nos corações dos mais novos; um pai ou mãe jamais desistirá de seu filho. O envelhecimento parece um fechamento do círculo, o reencontro com a primeira infância. Quando começamos a nos situar espacialmente no mundo, na infância, temos nossas cabeças abertas para a essência das coisas. Os olhos permanecem bem atentos, fascinados com a estrutura da realidade, sendo todo o resto desinteressante. Não deixamos o ego ficar à frente do aprendizado empírico. Evidentemente, a mente infantil adiciona fantasias à estrutura, fantasias somatizadas por feridas afetivas; contudo, a espinha dorsal da realidade resta claríssima para qualquer criança, pelo menos durante um breve período. Permito-me o parêntese para acrescentar que me recordo de algo dito por um personagem num filme de horror muito antigo, de 1999, a que assisti no cinema, "<i>Arlington Road</i>", a estória de um professor profundamente traumatizado pela morte da mulher, que ao se ver como a única referência adulta de casa, fazia o melhor para cuidar amorosamente do filho pequeno. O filme mostrava suas batalhas contra os demônios internos no dia a dia, pois o fato de lecionar um curso sobre terrorismo doméstico o mantinha sempre psicologicamente conectado à falecida mulher, uma agente do FBI morta numa ação contra uma milícia extremista. O filho também sinaliza ressentir-se da atual namorada do pai, julgando-a usurpadora do lugar da falecida mãe, adicionando um stress extra à situação. Ao acidentalmente encontrar um menino da vizinhança perambulando após um acidente doméstico com fogo, o professor salva a vida da criança ao levá-la a tempo à emergência do hospital. Ao assim proceder, acaba atraindo a atenção dos pais da criança, um simpático casal recém-chegado à rua. Para resumir uma intrincada trama, os vizinhos não custam a envolvê-lo emocionalmente, pois a oferta de amizade do casal lhe parece uma tábua de salvação atirada ao náufrago; ocorre que, gradualmente, o misterioso casal vai tomando nota de sua vida para usá-lo como executor involuntário de um devastador atentado terrorista a um dos pilares do governo federal. Causa uma sensação esquisita, o fato de este filme ter sido rodado apenas dois anos antes do ataque às torres gêmeas. O fato é que os olhos do professor vão se abrindo aos poucos à natureza diabólica daquela gente. A cena sobre a qual gostaria de tecer comentários ocorre na primeira metade, quando seu convencimento, ainda em formação, não lhe permite saber se está sendo apenas paranoico. O professor encontra o solidário vizinho exercitando seus movimentos com um taco de baseball no campo telado do parquinho. Eles começam a bater papo, até que, por alguma razão, a conversa se volta ao filho, e o vizinho comenta qualquer coisa sobre o fato de o garoto vir sofrendo silenciosamente o enlutamento pela morte da mãe. O professor se surpreende: o menino jamais conversara sobre coisas tão profundas e sombrias com o pai; no entanto, tinha diálogos do tipo com o adulto da casa ao lado. Ele percebe que subestimara a profundidade psicológica da criança. O homem olha para o professor e elucida: "<i>Especialistas chamam-na de 'sabedoria de criança', e estão certos, sabe, Michael? Nunca mais na vida enxergaremos as coisas tão claramente quanto quando o fizemos como crianças</i>". É uma cena horripilante, porque já ali há uma centelha da malevolência por trás dos olhos do homem, que está a preparar a ruína do professor, a se dar dali a algumas semanas, quando será usado como "<i>boi de piranha</i>" para ser sacrificado e, na ação, levar a responsabilidade num atentado sem precedentes que custará a vida de milhares. Seu destino fora selado no instante no qual, com a guarda baixa, vocalizara a tristeza e a saudade da falecida esposa. Assim como agem os narcisistas, seus vizinhos demoníacos sentem o gosto de sangue, veem que ele não tem pontes ou conexões, e o elegem para o assédio. Retomando minha explanação sobre enxergar-se claramente, uma vez finda a infância a estrutura da realidade desfoca-se e a vida adulta nos toma emprestados para uma longa, ilusória existência melindrosa onde a verdade será subjugada em nome da aceitação dos pares. <i>Prof. Olavo de Carvalho </i>escreveu algo nas linhas de que a vontade de aceitação faz da juventude o período no qual você "<i>ama aqueles que te desprezam e odeia os que te amam</i>". Nós só recuperamos a inocência do primeiro olhar no terceiro e último ato. Ao chegarmos a este ponto, compreendemos por que infância e velhice parecem faces da mesma moeda, <i>prólogo & epílogo</i>, coexistentes. Suas extremidades se encontram, sua união ata o círculo. Talvez daí venha o senso aguçado de verdade por parte dos velhos, agora que não temem perder o respeito do mundo, afinal, de um jeito ou de outro, a falsa bajulação se escoou junto à juventude. Como experiências aparentemente individuais, <i>viver </i>acaba significando a exata mesma coisa que <i>perder</i>, afinal o que o tempo mais faz é retirar camadas e mais camadas de artificialidades, superficialidades, até restar o absolutamente essencial: a necessidade inerente ao homem da verdade. Contemplar a estrutura da realidade cobra o caríssimo preço de trazer para si o desrespeito e o descrédito de um sistema mundial erigido sobre mentiras, e suportar o ostracismo advindo da escolha, sem perder de vista que, paralelamente, a escolha retribui tamanho amor pela verdade com o maior dos presentes, que se adapta muito bem `as poéticas palavras do <i>Prêmio Nobel de Literatura Orhan Pamuk</i>, o escritor turco nascido às margens do Bósforo, o estreito entre dois continentes, considerando-se que, emblematicamente, ao vivermos <i>neste mundo</i>, também mantemos um dos pés nas margens do outro, e a vida, com suas contradições, é um inconstante caminhar entre as duas margens, que, titubeante que o seja, não deixa de ser muito lindo e de valer à pena até durante os escorregões. <i>Sr. Pamuk </i>afirmou: "<i>Morar próximo da água, vendo a outra margem à frente, o outro continente, me fazia lembrar o tempo todo do meu lugar no mundo, e isso era muito bom. E um dia foi construída uma ponte que ligava os dois lados do Bósforo. Quando subi na ponte e olhei a paisagem, compreendi que era ainda melhor, ainda mais belo ver as duas margens ao mesmo tempo. Entendi que o melhor era ser uma ponte entre duas margens. Dirigir-se às duas margens, sem pertencer totalmente nem a uma nem à outra, revelava a mais bela das paisagens</i>". Seria um equívoco de minha parte chegar ao fim da resenha sem fazer um minúsculo reparo nas minhas observações sobre as estações de nossas vidas e a temporada na qual detemos, ainda que fugidiamente, a verdade ao alcance. Cito a infância e a terceira idade como seus ápices; entretanto, como poderia não mencionar a exceção na pessoa do bem-aventurado <i>Carlo Acutis</i>? Você não o conhece? Ele fugia à regra. Tendo morrido adolescente, aos quinze anos, não era exatamente uma criança; ademais, estava a anos-luz da terceira idade, detinha uma vida inteira por vir. Ainda assim, manteve a verdade consigo ao atravessar a ponte da infância para a maturidade; não a perdeu por um único segundo. Para mim, <i>Carlo Acutis</i> é a pessoa em cuja honra faço serviços aos gatos de rua; para os outros, acima de tudo, foi um jovem que fez da vida um serviço ao semelhante. Desde a idade mais tenra, exibiu seu inegociável amor a Deus naturalmente, afinal, até àquela altura, seus pais não eram católicos praticantes. A mãe sofreu uma profunda conversão por conta do filho, acompanhando-o, inicialmente "<i>arrastada</i>", e mais tarde voluntariamente, todos os dias, à missa, onde eles comungavam. Até o nascimento de Carlo, em 3 de maio de 1991, <i>Antônia Salzano</i> só estivera dentro de uma igreja três vezes - para a primeira comunhão, a crisma e o casamento, - mas o exemplo estabelecido pela criança operaria profundas transformações no seu ser, e no do pai,<i> Sr. Andrea Acuti</i>s. "<i>Viver ao lado de uma pessoa como o Carlo significava que você jamais poderia se manter neutro diante de tanta fé</i>", ela explicou sua conversão ao catolicismo. Sua vida foi abreviada após o diagnóstico de uma leucemia fulminante, e morreu a 12 de outubro de 2006. Embora sua morte esteja imbuída de inabalável convicção e fé - até o último segundo, ofereceu suas dores à igreja e ao Papa <i>Bento XVI</i>, - os quinze anos anteriores também foram igualmente riquíssimos, se não mais, nos exemplos e passagens que lhe valeriam a santidade. Como se em alguma parte de sua mente pressentisse o escoamento do tempo, deu sentido à vida ao encapsular a antítese do hedonismo e do narcisismo. "<i>A tristeza é um olhar voltado para si, a felicidade é o olhar voltado para o céu</i>", <i>Carlo </i>ensinou, lançando-se ao perene agir voltado ao bem do semelhante. Aliava-se a coleguinhas atazanados por <i>bullies </i>e os defendia, ensinava os companheiros com dificuldade nas lições, pacientemente resgatava e recuperava aqueles que haviam enveredado pela pornografia ou experimentavam com drogas, e quando um amigo viveu o horror da desintegração do lar na esteira do divórcio dos pais, trouxe-o ao seio do lar dos <i>Acutis</i>. Sua vibrante caridade o impelia a organizar ações no sentido de organizar e distribuir bebidas quentes e alimentação a moradores de rua, enquanto consumia a mesada comprando sacos de dormir e roupas apropriadas para o frio. Atrelado às obras sociais, não perdia de vista o amor ardente ao <i>Cristo</i>, e sua profissão de fé representava seu melhor serviço à caridade. Desde os 11 anos, ensinava o catecismo para inspirar os jovens a se empenharem para alcançar a santidade, e lhes fornecia uma lista de nove passos como "<i>kit</i>" para uma vida digna: amar a Deus com todo o coração, tentar ir à missa todos os dias, receber a comunhão, rezar o Rosário, ler ao menos uma passagem das Escrituras, visitar o <i>Cristo </i>no Tabernáculo, submeter-se à confissão semanalmente, empenhar-se em ajudar o próximo o máximo possível e estabelecer uma relação de confiança e amizade com seu anjo da guarda. A Eucaristia, segundo Carlo, consistia no caminho desimpedido para o céu, e lhe fascinava tanto que aventurava-se ao visitar lugares do mundo para documentar milagres ligados ao corpo do <i>Cristo</i>, para ou partilhá-los online ou em exibições, como o fez por cinco continentes, em 2002. Após sua morte, a mãe compilou o material que ele também fazia de suas visitas a lugares onde haviam acontecido aparições marianas, o que nos leva ao grande amor de sua vida. "<i>Maria Santíssima foi a única mulher na minha vida</i>", costumava dizer, e sua forte ligação com <i>Maria </i>o tornava curiosamente perceptivo à existência e à ação dos anjos decaídos. Embora não fosse o eixo de sua vida, <i>Carlo </i>os percebia, o que se denota, mesmo indiretamente, de muitas afirmações atribuídas a sua pessoa. "<i>Cada minuto que se passa é um minuto a menos que você tem para agradar a Deus. O que importa se você é capaz de vencer milhares de batalhas se você não foi capaz de vencer as suas próprias paixões corruptas? A verdadeira batalha ocorre dentro da gente</i>", <i>Carlo </i>disse, e não obstante não haja menção à palavra "<i>demônio</i>", é justamente disso que está falando. Quando eu decidi, anos atrás, dedicar qualquer bem feito aos animais de rua a <i>Carlo Acutis</i>, eu fi-lo porque, tendo conhecimento da admiração de <i>Carlo </i>por<i> São Francisco de Assis</i>, vi na homenagem a oportunidade para honrá-lo. Como se sabe, <i>São Francisco</i>, considerado protetor dos animais e padroeiro da ecologia, tratava-os como se pessoas o fossem. No início de sua vida, eram os pássaros que pousavam nas árvores mais próximas para ouvi-lo pregar, quando ninguém mais o fazia. Em 2022, dezesseis anos após sua morte, <i>Carlo </i>teria aproximadamente 31 anos de idade, a faixa etária dos antigos amigos de sala de aula que, mesmo hoje, recordam-se de sua figura como uma lembrança acalorada e alegre, tendo perdurado em suas memórias o bem que lhes fez: as ajudas com deveres de casa, a defesa dos mais vulneráveis, os conselhos, o modo como consolava coleguinhas que passavam pelo drama do divórcio. O curto período de tempo ao longo do qual esteve no mundo detém um quê de tragédia, sempre é lastimável quando alguém se vai sem que sua existência adulta tenha começado; entretanto, é provável que o próprio <i>Carlo </i>não pense assim a respeito do destino. Diante desta frase sua, - "<i>Nossa meta deve ser o infinito, não finito. O infinito é a nossa pátria. Desde sempre o Céu nos espera</i>" - sua passagem não foi breve, tampouco longa; apenas esteve a serviço do infinito por vir, e isso <i>Carlo </i>fez, e fez tão bem. Foram muitas as graças atribuídas à sua intercessão, inclusive no Brasil. Pessoalmente, posso atestar uma valiosa graça à minha vida, pois até conhecê-lo, encontrava problemas com a entrega completa e irrestrita ao amor a Maria Santíssima. Para mim, era complicado conseguir amar tanto alguém cuja face eu não conhecia; evidentemente, imagens de Maria oferecem uma ideia, mas sua presença permanece envolta em mistério. Quando li que, a partir da infância até sua morte, <i>Padre Pio</i> via <i>Maria Santíssima </i>e demônios, ative-me à conclusão de que, se eu tivesse direito a fazer uma única pergunta a ele, indagaria: "<i>O que você viu?</i>". Os demônios, eu já os conseguia "<i>ver</i>", essas coisas imateriais que tomam fisicalidade na discrição do sorriso narcísico capturado numa fração de segundo. Eu os via perfeitamente bem. De Carlo, consegui a graça de, em seu lindo rosto, passar a enxergar o de Maria, o que deu fisicalidade, tangibilidade, tornando meu amor à mãe de Deus mais urgente. Ele forneceu o mapa para uma vida digna, lembrando que, ao passo que as pessoas nascem originais, as distrações do mundo acabam tornando-as, chegado o momento da morte, meras fotocópias. Ou seja, são tantos os vetores nos convidando a ser como esta ou aquela pessoa que qualquer vestígio de originalidade se dissipa com o tempo. O exemplo de <i>Carlo </i>leva-nos a crer que, por mais excludente que seja, é imperativa a experiência da solidão. Sem se estar preparado para ela, se a temermos a ponto de preferirmos perder a originalidade a deixar de pertencer a um grupo, então até mesmo as pessoas a quem nos pomos a serviço se perderão junto `a manada. A seu próprio modo, <i>Carlo </i>foi uma pessoa à parte, e embora a escolha deva ter lhe valido alguns momentos difíceis, - a morte pela leucemia galopante o mais dramático, - teria sido horroroso se seus companheiros e colegas e amigos não o tivessem conhecido em sua plenamente colorida, peculiar personalidade. Sobre a precisão de se voluntariar a perder o mundo para indiretamente recuperá-lo, em toda a sua glória, penso num doce filme italiano dos anos 70 dirigido por <i>Dino Risi</i>, hoje praticamente esquecido, estrelando o grande <i>Vittorio Gassman</i>, "<i>Profumo di Donna</i>", sobre um capitão aposentado cego que, sob os cuidados de um garoto, cadete da escola militar, empreende uma jornada de Turim a Nápoles. O propósito aparente da viagem, entretenimento & diversão, mascara as intenções do homem, pois uma vez que tenha chegado a Nápoles, pretende dar cabo da própria vida. Ao longo do caminho a Nápoles, faz amizade com o garoto, o clássico enredo de dois estranhos que começam não se gostando, mas acabam se amando, quando chega a hora de se dizerem adeus na conclusão. Gosto do filme por várias razões, principalmente por me fazer pensar no meu pai. É cheio de diálogos que permanecem contigo depois que acaba, e a conversa final entre o menino e o velho ilustra minhas observações sobre o Carlo, ao abordarem o motivo por trás do plano original de terminar a vida, que, felizmente, não é levado adiante. Há esse grande amor à espera do coronel, porém ele não consegue aceitar a ideia de ela vê-lo cego. Na despedida, o velho dá um tenro tapinha camarada no rosto do garoto e lhe diz, reforçando que estão se dizendo <i>adeus</i> e agora tomarão caminhos separados: "<i>Não foi uma jornada inútil, foi? Você viu tantas coisas. Te mostrei o quê é ser um homem. Você sabe o que eu sou, meu filho? Um onze de espadas</i>". O garoto retruca: "<i>Um onze de espadas não existe</i>". O homem retoma: "<i>Exatamente. Uma carta fora do baralho. Que não serve para jogar. Tchau, meu velho</i>". "<i>11 de Espadas</i>": existe melhor palavra para aqueles que conseguem enxergar de fora? Meu pai era uma carta assim, como o <i>Vittorio Gassman</i> de "<i>Profumo di Donna</i>". Quando conheceu minha mãe e se casou com ela, trazia sobre si o peso do mundo na forma do passado do qual tentava fugir, tendo o deixado na Europa. Fora ali onde perdera o amor de sua vida. Antes do Brasil, havia sido um homem prosperamente casado, até a manhã na qual a mulher saiu para o trabalho e não voltou mais. Morreu num acidente de trânsito, num cruzamento a algumas dezenas de metros de casa. Ele se encontrava em casa quando soube do ocorrido pela comoção ali perto. Correu em direção ao carro da mulher e chegaram a conversar, antes que um helicóptero a levasse ao hospital de onde não sairia viva. Soa tolo pensar nisso agora, entretanto, quando sua vida sofreu tamanho revés, os dois haviam tido uma típica briga de casal que estabelecera um afastamento silencioso de um dia, de sorte que, quando ela morreu, ainda estavam emocionalmente intrigados. Parece bobagem, pois todos os casais brigam, porém o detalhe foi poderoso a ponto de ditar o restante da vida desse homem. Até o dia de sua própria morte, é provável que seu último pensamento tenha girado em torno do remorso. Emblematicamente, seu caminho foi o mesmo performado por <i>Vittorio Gassman</i> na comédia dramática de <i>Dino Risi</i>, com a substituição de Europa até ao Brasil, em vez de Turim até a Nápoles. Minha mãe foi uma boa esposa e é uma viúva digna. Soube retribuir sua presença e o fato de tê-la assumido, dando-lhe um nome, e jamais ousou usurpar o lugar da primeira mulher. Manteve-se no seu devido lugar, mesmo ao casualmente descobrir que, atrás de uma foto dos dois, conservara, secretamente, a foto do amor de sua vida. Jamais teve coragem de abordar a questão. Avizinhando-se a morte por causa da enfermidade, por qualquer razão, enquanto ela cuidava dele, ao abrir a carteira para procurar a foto que escondera atrás da de ambos, não encontrou nada. Nunca soube o quê ele fez com a foto; contudo, seria a última coisa da qual ele precisaria, agora reunido ao amor de sua vida. Costuma-se dizer que ninguém pertence a ninguém, mas isto não é, de todo, verdade. Eu pertenço ao meu pai. Sempre pertenci. Muitos, muitos anos antes de nos cruzarmos pela primeira vez, quando um espaço infinito nos separava geograficamente, parecíamos um com o outro nas particularidades lançadas pelo destino; eu aos 15 anos, caminhando pelas calçadas muito largas acima das dunas, onde ia, solitariamente, contemplar a Praia do Futuro, ao lado de gatos de rua a quem contei meus segredos; ele vagando solitariamente, trôpego, por vielas e ruazinhas de uma ilha grega qualquer, após atentar afogar na sangria de alguma taverna local o remorso. Era 1995, não nos conhecíamos, não nos conheceríamos por muitos, muitos anos, porém ao me recordar de quando eu me punha de pé sobre a calçada ao gentil cair da tarde enquanto a Praia do Futuro se estendia ao horizonte, e imaginá-lo se colocando de pé sobre a parte mais alta da ilha, diante do Mediterrâneo, passo a acreditar de que há um propósito maior por trás dos infortúnios. <i>Ir & vir</i>, isso não significa nada.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"<i>The Dark and the Wicked</i>" propõe intrigantes questões para debates entre amigos, mas também pode simplesmente perfazer o modesto objetivo o qual seus criadores tinham em mente ao filmá-lo: <i>entreter</i>. Aprofundei-me nos aspectos mais psicologicamente relevantes por não me recordar de nenhum outro filme de horror recente tão fértil quanto a temas espirituais relevantes, considerando-se o momento corrente do mundo. Quem deseja ser apresentado a uma novidade capaz de remetê-los de volta a uma época mais refinada de terror, quando tínhamos clássicos como "<i>O Exorcista</i>", não terá de procurar em outro lugar, pois esta produção assinada por <i>Bryan Bertino</i> foi feita na medida para os nostálgicos por um estilo de terror que, a todo instante, dá a impressão de ter sido filmado há quarenta anos. Quem se interessa pela premissa e os pontos em comum entre a estória fictícia e a insuspeita, muito real vida do dia a dia, apreciará as intrigantes possibilidades levantadas pelo misterioso "<i>vilão</i>" em seu suposto "<i>papel</i>" no arco narrativo dos personagens, por mais que "<i>The Dark and the Wicked</i>". De qualquer forma, ao nos inserirmos na mesma barca assaltada pela tormenta, é sempre atual guardar em mente a verdade asseguradora de que, após tantos dramas típicos da jornada humana nesta terra, são eles, os demônios, que precisam temer a cruz, e não os seres humanos, para quem a voluntariedade com a qual nos lançamos à mesma é justamente o atendimento ao chamado da redenção. Se qualquer dia desses você resolver fazer como <i>Carlo </i>e abraçar a dor do mundo em vez de o mundo falso sem dor, por trazer dentro de si a impressão de que, neste jogo da vida, desde o começo, sempre foi o "<i>11 de Espadas</i>", a carta fora do baralho, regozije-se. Se passar a ser perseguido por alimentar moradores de rua ou gatos indefesos sem eira nem beira, se demônios confabularem para criar ciladas onde armarão com sagacidade a tempestade perfeita para que você mesmo, inocentemente, humilhe-se ou mine suas já precárias chances materiais, enxergue nisso a bênção por trás da eleição. No final, para depois da jornada, o que constará do seu livro de vida serão as pessoas a quem amou incondicionalmente, não as de quem não recebeu amor. Constará, ali, que você as amou todas, consoante esperado pela providência que te colocou aqui, por mais que dentre todas aquelas, aliás a maioria, tenham existido demônios que trabalharam ativamente para destruí-lo. Essa informação - a de que viveram como vassalos de anjos perversos - constará do livro de vida <i>delas</i>, não do seu. Para essa gente será absurdo crer nos próprios olhos quando a jornada chegar ao fim, mas dentre tantos, o único que sairá carregando tudo o que sempre desejou nos braços, e ainda muito mais, será justamente aquele que jamais imaginaram ser capaz de sair carregando qualquer coisa: <i>você</i>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/zM-jmNmX50Q" width="320" youtube-src-id="zM-jmNmX50Q"></iframe></div><i style="background-color: #eeeeee;">Todos os direitos autorais reservados a RJLE Films. O uso do trailer & imagens é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i>Ary Luiz Dalazen Júnior Salve Mariahttp://www.blogger.com/profile/05930396542549787102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-28965202170835440322022-01-24T16:44:00.000-08:002022-01-24T16:57:00.383-08:00Hellraiser 2 - Renascido das Trevas (Hellbound: Hellraiser 2, Inglaterra, 1988) - Da primeira vez, Clive Barker nos convidou a explorar os limites. Desta vez, ele nos levará além!<div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiTxsZTB9wTo2Bj-yWcfemQzD1JzhdjoyqaKgtvydPdtdyiXjKfYeBKXoif9j4n_KpVzdvlWsWdkSARof9_zD2JZyZXZvo2lnF3WPjNfJVjWePpHI-NEkmrdC6423GBcWN63kY51CT2nJKyEKGQwH6AWuKcd7C3-_VVM2gNjVgEKJejj_EsHzkGh_2b3g=s478" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="478" data-original-width="290" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiTxsZTB9wTo2Bj-yWcfemQzD1JzhdjoyqaKgtvydPdtdyiXjKfYeBKXoif9j4n_KpVzdvlWsWdkSARof9_zD2JZyZXZvo2lnF3WPjNfJVjWePpHI-NEkmrdC6423GBcWN63kY51CT2nJKyEKGQwH6AWuKcd7C3-_VVM2gNjVgEKJejj_EsHzkGh_2b3g=w242-h400" width="242" /></a></div></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Alguns anos após o fim da Primeira Grande Guerra, um capitão do Império Britânico põe as mãos em uma caixa conhecida como "<i>configuração do lamento</i>". Reza a lenda que, se manipulado da maneira correta, o quebra-cabeça abriria o portal para a dimensão dos cenobitas, seres ambíguos e misteriosos, mestres supremos de prazeres e experiências sensoriais extraordinárias, para além da capacidade humana de compreensão. O capitão trabalha na resolução do cubo e invoca os cenobitas. As experiências que lhe oferecem, todavia, não correspondem `a sua ideia de prazer. Arrastado para uma dimensão de humilhação, dor e desespero, ele deixa a vida que conhece, e é transformado pelo encontro, tornando-se semelhante a seus algozes, e o novo guardião da caixa.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Quase cem anos mais tarde, o filme retoma o enredo do primeiro "<i>Hellraiser</i>". <i>Kirsty </i>(<i>Ashley Laurence</i>) desperta de seu torpor em um hospital psiquiátrico, onde é questionada sobre os inexplicáveis acontecimentos na casa da<i> Lodovico Street</i>, envolvendo a morte do pai e da madrasta <i>Julia </i>(<i>Clare Higgins</i>). Assistida pelo diretor do hospital Dr. <i>Channard </i>(<i>Kenneth Cranham</i>) e o seu assistente Dr. <i>Kyle MacCrae</i> (<i>William Hope</i>), <i>Kirsty </i>insiste que destruam o colchão onde o corpo da madrasta esfaqueada foi encontrado. <i>Channard </i>assegura a <i>Kirsty </i>que o pior já passou, que cuidará bem dela, e que não há mais nada a temer. <i>Kyle </i>se afeiçoa à novata quase instantaneamente, e se torna seu aliado. Intrigado pelas súplicas de <i>Kirsty</i>, <i>Channard </i>pede aos policiais que lhe franqueiem acesso à cena do crime e ao material encontrado no local dos homicídios.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjOKihse-jvUGLemrGDhCcjrrEuCq_xoi6iEi2_I3eIlKs5Qpu1zn1AK_ibgU6tDwDntDYgNka1xuD98dH6bKLBFfLHWGM3VvNNIxMsC1cGXksrkMiG_v9qxR-WOxV5sxkL4GcIPidhu0qpbfRKrd2qE73EaxuJJ_t-PtxZjkirftpAWpmw-1Lrm0I1tw=s3089" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3089" data-original-width="1919" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjOKihse-jvUGLemrGDhCcjrrEuCq_xoi6iEi2_I3eIlKs5Qpu1zn1AK_ibgU6tDwDntDYgNka1xuD98dH6bKLBFfLHWGM3VvNNIxMsC1cGXksrkMiG_v9qxR-WOxV5sxkL4GcIPidhu0qpbfRKrd2qE73EaxuJJ_t-PtxZjkirftpAWpmw-1Lrm0I1tw=w398-h640" width="398" /></a></div></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Uma noite, ao perambular pela ala dos internos, <i>Kirsty </i>tem a atenção capturada por uma garota loira sentada solitariamente no assoalho do quarto, compenetrada com a resolução de um quebra-cabeça. Ela se chama <i>Tiffany </i>(<i>Imogen Boorman</i>) e, segundo <i>Kyle</i>, mora no hospital desde a primeira infância. <i>Tiffany </i>é autista, não fala, e seu passatempo foca-se na manipulação de quebra-cabeças, o que o faz como ninguém. <i>Kirsty </i>acena para a menina, tentando estabelecer contato, mas a garota permanece indiferente, trancada no próprio mutismo. Naquela noite, <i>Kirsty </i>tem um terrível pesadelo, onde enxerga uma figura decrépita escrevendo "<i>Ajude-me, estou no inferno</i>", com as pontas dos dedos sangrentos, no azulejo branco do banheiro. Na manhã seguinte, fala sobre a visita sobrenatural a <i>Kyle </i>que, embora inicialmente cético, crê que parte da história fantástica guarde certa verossimilhança. <i>Kirsty </i>definitivamente acredita no que diz. <i>Channard </i>visita a paciente, e, com riqueza de detalhes, ela lhes conta sobre o tio <i>Frank</i>, o cubo que liberta as criaturas conhecidas como cenobitas, e o romance extraconjugal envolvendo a madrasta e o cunhado, segredo macabro que levou <i>Julia </i>a seduzir e assassinar homens para que o amante pudesse se alimentar, e seu corpo decrépito recuperar a forma, antes que os cenobitas dessem pela sua ausência do lado de lá da Cisão e retornassem para levá-lo ao inferno.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Quando <i>Kyle </i>acidentalmente escuta a <i>Channard </i>ao telefone, em conversa com o investigador do caso, pedindo para que encaminhe o colchão ensanguentado para sua residência, o jovem psiquiatra passa a suspeitar do comportamento do mestre. Impressionado com as histórias de <i>Kirsty </i>sobre cenobitas, o médico sorrateiramente invade a casa de <i>Channard </i>para averiguações. Certo de que o psiquiatra não se encontra, o rapaz bisbilhota o gabinete e encontra provas incriminadoras, mais graves do que teria suposto. Para sua surpresa, põe as mãos em gravuras, artigos científicos, artefatos e mapas que o levam a crer que <i>Channard </i>manteve uma parte importante de sua vida em segredo: ele é obcecado por teosofia e ocultismo, e não apenas conhece rumores sobre a referida caixa, vem estudando uma forma de abrir o portal para a dimensão dos cenobitas. Na escrivaninha, sob dumas de vidro, <i>Kyle </i>encontra várias configurações semelhantes à da história de <i>Kirsty</i>. <i>Channard </i>retorna para casa, trazendo consigo, numa camisa de força, um instável e perigoso paciente esquizofrênico. Em seus delírios, ele enxerga insertos por todo o corpo. <i>Kyle </i>se esconde por trás da cortina para não ser flagrado.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhBeKEjPBon1zw42mwBaJcDzwBzON1erTvS5WtRlRvqkyTWQSj77g5gbHGgyeQIxBaKa_TZA5kaK78xCrH5BwSnM7KRuB7YyHoDLt12s2uEQruiJn9TA0UrgG9HWW7VvzABCqWACpbHEThU3d57UFrkjDwhT0jTyIctaUO4LCPFR7ZnxRkj_1rM_re7GA=s3073" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3073" data-original-width="1897" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhBeKEjPBon1zw42mwBaJcDzwBzON1erTvS5WtRlRvqkyTWQSj77g5gbHGgyeQIxBaKa_TZA5kaK78xCrH5BwSnM7KRuB7YyHoDLt12s2uEQruiJn9TA0UrgG9HWW7VvzABCqWACpbHEThU3d57UFrkjDwhT0jTyIctaUO4LCPFR7ZnxRkj_1rM_re7GA=w397-h640" width="397" /></a></div></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><div>Estupefato, <i>Kyle </i>assiste clandestinamente a <i>Channard </i>desatar a camisa de força, entregar ao esquizofrênico uma navalha afiada e acomodá-lo no colchão ensanguentado onde <i>Julia </i>fora esfaqueada. Enlouquecido por alucinações de insetos cavando a carne, ele começa a deslizar a lâmina pelos braços, pernas, virilha, pescoço e tronco, na tentativa desesperada de se livrar de larvas que, na verdade, não estão ali. A cada passagem da navalha, jorros de sangue espirram e melam o colchão. Mesmo se vazando na hemorragia, a força da loucura o mantém se flagelando em um frenesi furioso e incomum. Subitamente, braços pronunciam-se para fora do colchão e o seguram por trás; depois, são pernas que se cruzam ao redor do quadril da vítima. Finalmente, o rosto de <i>Julia </i>emerge do colchão. Graças ao material orgânico derramado pelo paciente de <i>Channard</i>, <i>Julia </i>volta à vida como uma primitiva criatura. Como uma parasita, ela se adere ao louco que, por um breve momento, parece recuperar a lucidez. Quando se vê nos braços da monstruosidade, o instinto de sobrevivência é mais poderoso que a loucura, e o homem passa a lutar para fugir dos braços de <i>Julia</i>. Extremamente vulnerável, ele ainda ensaia passos em direção às cortinas, mas quando está para puxá-la, <i>Julia </i>consegue segurá-lo pelos tornozelos e trazê-lo de volta ao chão. Depois que cai, acabam-se as esperanças: ela rapidamente consegue escalar as costas do homem e dominá-lo, acoplando-se à vítima como uma mochila. <i>Julia </i>enfia os dedos na nuca da presa, ferindo-o de morte, e começa a se alimentar dos nutrientes. Enquanto esse bizarro processo de luta/nutrição/morte acontece, <i>Kyle </i>consegue vencer a inércia e fugir pela janela.</div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj4iENQMRaA5unZXGyQur2zslxWjtDm6eeNJLI7WrddFd4AlmtJSoTX9TqiRdDUQ56KsvSySQKJRf8eKW0RI3obHGmbCOt7VMD06etY9C5r6lMO7awKeYUR4WmFzj1S-oTcGmuz8uYEG5nWFXAVstwRrls9l4gVWy3Kk6ZRvLNjTRU92ohoTBahzxIiww=s3073" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3073" data-original-width="1881" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj4iENQMRaA5unZXGyQur2zslxWjtDm6eeNJLI7WrddFd4AlmtJSoTX9TqiRdDUQ56KsvSySQKJRf8eKW0RI3obHGmbCOt7VMD06etY9C5r6lMO7awKeYUR4WmFzj1S-oTcGmuz8uYEG5nWFXAVstwRrls9l4gVWy3Kk6ZRvLNjTRU92ohoTBahzxIiww=w392-h640" width="392" /></a></div><div>Fascinado pelo testemunho em primeira pessoa do fenômeno sobrenatural, não custa a <i>Channard </i>se apaixonar pela sedutora <i>Julia</i>. Ele enfaixa o corpo para proteger os músculos viscosos e terminações nervosas da exposição, e passa a trazer os loucos mais severos para que ela siga se nutrindo e, aos poucos, estabilize a cicatrização e recupere a pele, nos moldes do ocorrido a <i>Frank </i>no filme anterior, "<i>Hellraiser</i>". Além dos jogos de sedução de <i>Julia</i>, o que atrai o psiquiatra à volátil aliança é a obsessão por realidades desconhecidas. Durante parte da vida adulta, escutara histórias sobre a Ordem do Gash, os cenobitas, as experiências incomparáveis oferecidas aos corajosos; no entanto, jamais tivera uma prova concreta da existência de semelhante lugar, vez que as pessoas que supostamente teriam feito contato haviam deixado o mundo sem deixar vestígios. Ele sabe que, com a ajuda de <i>Julia</i>, poderá finalmente cruzar a fronteira entre o mundo conhecido e uma versão redesenhada da existência, onde dor equivale a prazer, e vice-versa. <i>Kyle </i>procura <i>Kirsty </i>e lhe conta que agora acredita na história. Confessa o que viu com os próprios olhos: <i>Channard </i>coleciona caixas, e usou o colchão para trazer a madrasta de volta. <i>Kirsty </i>resolve deixar o hospital para confrontar <i>Channard</i>. Ela acredita que o pai, morto no primeiro filme por <i>Julia </i>e <i>Frank</i>, precisa de sua ajuda, perdido em uma dimensão que só pode ser alcançada através da manipulação do cubo. <i>Kyle </i>suplica a <i>Kirsty </i>para não ir sozinha, e se oferece para acompanhá-la. Inicialmente, ela recusa, pois não quer que o médico se arrisque por um problema que não lhe diz respeito, mas diante da insistência do amigo, acaba aceitando o apoio.</div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiGgz02vSK1aEg6PwkgsHfoEFB1lu3z2GRfhOMyesHfFgt62wF52BRaa3Nn4SDKTvLr2ENwyJa11DroAWgIW-TLQerlnQsW4ftgLXi-CYUvXSiJvSIWoqv_Brf4zUYgZ61FzDTqhPxYhSCW-l-1RpqkWzQSaa1pGsKQTsY1NexgKMDSb8PILMJAOQe8Dw=s3065" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3065" data-original-width="1881" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiGgz02vSK1aEg6PwkgsHfoEFB1lu3z2GRfhOMyesHfFgt62wF52BRaa3Nn4SDKTvLr2ENwyJa11DroAWgIW-TLQerlnQsW4ftgLXi-CYUvXSiJvSIWoqv_Brf4zUYgZ61FzDTqhPxYhSCW-l-1RpqkWzQSaa1pGsKQTsY1NexgKMDSb8PILMJAOQe8Dw=w392-h640" width="392" /></a></div><div><i>Kirsty </i>e <i>Kyle </i>aguardam no bosque pela saída de <i>Channard</i>. Quando o veem deixando o lugar, o casal invade a residência. No gabinete, <i>Kirsty </i>surpreende-se ao encontrar diferentes versões do cubo sob dumas de vidro. <i>Kyle </i>pede a <i>Kirsty </i>para não tocar nos objetos até que investigue cada cômodo, a fim de se assegurar de que a monstruosidade que vira anteriormente não se encontra por perto. Ele sobe as escadas e, ao hesitar diante da porta do sótão, justamente o cômodo onde <i>Julia </i>consumiu os pacientes, tem uma surpresa. Ao se virar, toma um susto ao dar de cara com uma mulher parada atrás de si. Imediatamente, ela ergue um dedo silenciador na frente dos lábios, sinalizando para que não levante a voz. Evidentemente, trata-se de <i>Julia</i>, sua pele quase regenerada, mas o jovem psiquiatra não desconfia disso. <i>Kyle </i>não compreende que a atraente mulher é a monstruosidade que consumiu o homem da navalha, e não entende o risco. <i>Julia </i>consegue acalmá-lo, e diz que também "<i>não sabe</i>" se a criatura se encontra por ali. Obviamente, <i>Kyle </i>não pensa muito a respeito da estranha clandestina. Talvez pelo seu ponto de vista, a visitante lhe tenha parecido uma secretária pessoal, ou mesmo uma amante do discreto chefe. <i>Kyle </i>entra no sótão, e se depara com a brutal cena de corpos sugados e secos, cascas penduradas pelos pulsos, por todos os lados. Assim que entra, <i>Julia </i>o segue e fecha a porta para se ver a sós com o visitante. Somente quando se dá pelo barulho da porta e compreende que está sozinho no sótão com a estranha, é que ele entende o ardil. <i>Julia </i>aproxima-se e parece intentar confortá-lo. Ela abre os braços para o médico, oferecendo consolo, e ele o acata. <i>Kyle </i>não enxerga a parte superior das costas de <i>Julia</i>, que pelo ponto de vista da câmera está ensanguentada: ali, a pele não foi remendada. Uma vez nos braços de <i>Julia</i>, tudo acontece rapidamente. Ela escolhe não perder tempo, e já para incapacitá-lo, insere os dedos na nuca do jovem psiquiatra, um método bastante similar ao usado para imobilizar e drenar a vítima no colchão (no filme anterior, vemos <i>Frank </i>usar a mesma técnica em pelo menos duas cenas). <i>Julia </i>segue a traição beijando-o apaixonadamente, o que serve para sufocar os gritos de dor. No andar inferior, no escritório de <i>Channard</i>, <i>Kirsty </i>põe as mãos em um álbum de recortes, recheado de esboços de diferentes configurações do lamento, e um retrato em preto e branco muito antigo de quem parece ser um altivo capitão do império britânico, na época da Primeira Grande Guerra. Ela vê a semelhança entre o elegante e imponente estranho e o <i>Cabeça de Pregos</i>, o cenobita líder do quarteto que a aterrorizou no primeiro filme. Enquanto <i>Kirsty </i>examina as evidências, continua alheia ao lento e sofrido drama a se desenrolar no sótão, <i>Kyle </i>sendo morto por <i>Julia</i>. A câmera passeia em torno do casal, e nos revela que as costas de <i>Julia </i>agora estão quase regeneradas nas bordas, a casca crescendo sobre os músculos. <i>Kyle </i>está incapacitado e bastante ferido, pondo sangue pelo nariz e pelos ouvidos, um caroço enorme dependurado do pescoço, provavelmente um gânglio podre. Ele não consegue reagir ou escapar, <i>Julia </i>é muito mais forte, e está matando-o pelo beijo, drenando seus nutrientes para completar a cicatrização. Durante o processo, há um som horroroso semelhante à sucção de um líquido viscoso, pontuado por gemidos de protesto e dor. Tendo drenado o possível do organismo do médico, <i>Julia </i>finalmente o solta, e <i>Kyle </i>desliza vagarosamente ao chão, tendo perdido os sentidos. Com o estampido provocado pela queda do corpo pesado contra o assoalho, <i>Kirsty </i>recorda-se do companheiro, e chama pelo seu nome. Como não há resposta, deixa o álbum para investigar.</div></span></div><div style="text-align: justify;"><span><div style="font-family: arial;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; font-family: arial; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEic0Nmd-dLsNNbgBBf0GqAog-0rMskFpHwyPucMNfL88fzrGtEeTIyqlzb4-JbTV-TQqyDTq5Nloxbzej5u5Kn-7uPAU_CIkFNKQHHnogOJtBo556-uVM9cliUK2c4wyGXwE2GlQ1M58BubB8ttlQgdggUUn-M-a6ohgm9YyR1Uj5UQZJ0gBaE_3V8olA=s4145" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4145" data-original-width="1769" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEic0Nmd-dLsNNbgBBf0GqAog-0rMskFpHwyPucMNfL88fzrGtEeTIyqlzb4-JbTV-TQqyDTq5Nloxbzej5u5Kn-7uPAU_CIkFNKQHHnogOJtBo556-uVM9cliUK2c4wyGXwE2GlQ1M58BubB8ttlQgdggUUn-M-a6ohgm9YyR1Uj5UQZJ0gBaE_3V8olA=w274-h640" width="274" /></a></div><div style="font-family: arial;"><i>Kirsty </i>encontra a fileira de cadáveres amarrados e, mais à frente, o corpo de <i>Kyle</i>, em avançada decomposição. <i>Julia </i>aparece para a enteada. Há um princípio de confronto que não leva a lugar algum para a moça, pois a madrasta a derrota com um tapa que a põe para dormir. Neste ínterim, <i>Channard </i>retorna à sua casa, acompanhado de <i>Tiffany</i>. A ideia de <i>Channard </i>gira em torno de se servir do incomum talento da menina autista para a correta solução da configuração do lamento, de modo a abrir o cisma que os levará à dimensão de <i>Leviatã</i>, o "<i>Deus da carne, da fome e do desejo</i>", nos termos da própria <i>Julia</i>. Ela ainda alerta que há tempo de desistir, caso ele não se sinta emocionalmente pronto para tão profunda experiência, mas <i>Channard </i>lhe assegura que por toda a vida desejou explorar sensações e prazeres que pelos outros jamais seriam conhecidos. O psiquiatra explica a <i>Julia </i>que entende os riscos envolvidos em tamanho passo, e afaga o rosto da amante com candura. <i>Tiffany </i>põe as mãos na caixa e seus dedos começam a passear habilidosamente sobre a superfície laqueada. A cada movimento acertado dos polegares, a sala parece responder com vibrações de energia, prestes a liberar a passagem para os cenobitas. Subitamente, a invocação tem sucesso, e os limites entre nosso mundo e o da realidade dos cenobitas se confundem, mesclando-se. As paredes se abrem e os cenobitas fazem a transição. Para mais além, há o cinzento e infinito labirinto, uma espécie de coliseu frio e sombrio sobre o qual reina <i>Leviatã</i>, um Deus cuja forma é a de um gigantesco paralelepípedo em constante estado de suspensão e giro sobre o próprio eixo. Quando a cenobita fêmea ergue a faca para trucidar <i>Tiffany</i>, o <i>Cabeça de Pregos</i> surge e interfere. "<i>Não são mãos que nos chamam, e sim desejo</i>", ele contemporiza, referindo-se a <i>Julia </i>e <i>Channard</i>, ambos os verdadeiros responsáveis pela invocação, que já adentraram no labirinto para exploração. Deixada em paz pelos cenobitas, <i>Tiffanny </i>também atravessa o portal. Entra em uma versão pervertida de parque de diversões, com estranhas maluquices saídas de uma "<i>bad trip</i>" de ácido, entre elas um bebê gigantesco que costura a própria boca. Nos espelhos mágicos, enxerga distintos momentos de sua vida pretérita, até então bloqueados pela memória. Quando esteve no hospital psiquiátrico pela primeira vez, ela assistiu a <i>Channard </i>dando cabo da mãe para se apoderar de sua pessoa e assumir sua tutela, justamente para, anos depois, fazer uso de seu dom quando a oportunidade para atravessar o portal finalmente se assomasse.</div><div style="font-family: arial;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; font-family: arial; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiAcR-P-YQa9tjMadTgTCsM0SlbhiIqaGeLAmwsxpvLvy8he3bwdm9me9MhgvKtj7JzmfDPryMlOH1Dfs75thrUBCy5YgqLVYuQvRsBQhmVCPNLLcUV_H9y3sJ121ZfoE4ARSTzBxyd-Ktkaj75nLYbmEB2_bqjqL_KDT0a8D9wiCnVwFoeMMj3i2rcRQ=s4113" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4113" data-original-width="1903" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiAcR-P-YQa9tjMadTgTCsM0SlbhiIqaGeLAmwsxpvLvy8he3bwdm9me9MhgvKtj7JzmfDPryMlOH1Dfs75thrUBCy5YgqLVYuQvRsBQhmVCPNLLcUV_H9y3sJ121ZfoE4ARSTzBxyd-Ktkaj75nLYbmEB2_bqjqL_KDT0a8D9wiCnVwFoeMMj3i2rcRQ=w296-h640" width="296" /></a></div><div style="font-family: arial;">No sótão, <i>Kirsty </i>lentamente recupera os sentidos, e percebe que a passagem entre os dois mundos foi escancarada. Percorrendo os corredores do labirinto, acaba reencontrando os cenobitas. <i>Kirsty </i>explica ao <i>Cabeça de Pregos </i>que está atrás do pai, mas este lhe responde que Larry não se encontra ali. <i>Cabeça de Pregos </i>avisa que sua paciência se esgotou, e que o que realmente deseja é provar sua carne, porém como no labirinto terão a eternidade para "<i>brincar</i>", incentiva a visitante a explorar o lugar um pouco mais. Enquanto isso, <i>Julia </i>e <i>Channard </i>caminham por uma das incontáveis pontes sobre o emaranhado de túneis. O psiquiatra conclui que não estava psicologicamente preparado para revelações tão poderosas, e começa a entrar em pânico. <i>Julia </i>diz que aquela é uma viagem só de ida, lembrando-o de que quando lhe perguntara se tinha certeza do que queria, ele respondera afirmativamente. Quando um dos fachos de luz emitidos pela onipresente forma geométrica o atinge em cheio na cara, <i>Channard </i>é invadido por horrorosas recordações de sua adolescência, que nos mostram que desde cedo vinha alimentando uma obsessão por teosofia e ocultismo. <i>Julia </i>o conduz a uma câmara de transformação, e antes que ele possa fugir, é aprisionado por uma parafernália de tentáculos. Ele será transformado em cenobita.</div><div style="font-family: arial;"><br /></div><div style="font-family: arial;"><i>Kirsty </i>reencontra <i>Tiffany</i>, e explica à menina que somente pelo trabalho em equipe conseguirão sair vivas do lugar. As duas partem labirinto adentro em busca do pai. O que encontram é uma passagem que as leva a uma "<i>cela individual</i>", um espaço emblemático do inferno particular de <i>Frank</i>. O tio de <i>Kirsty </i>admite que não fora o pai quem lhe pedira socorro nos sonhos, mas o próprio <i>Frank</i>, que o fizera para atraí-la ao labirinto. <i>Frank </i>habita uma morada composta por fornos crematórios adornados por lençóis brancos que se movem sinuosamente, revelando as formas das costas atraentes de mulheres no ato do sexo. Uma vez que os lençóis são puxados, todavia, não há nada ali. É o castigo de <i>Frank</i>: ele, que sempre procurara prazeres sem limites e em razão do hedonismo fora parar no labirinto, está sentenciado a passar a eternidade desejando amantes para satisfazer a libido, tendo apenas fantasmas para lhe fazer companhia. No meio da comoção, <i>Julia </i>chega à morada de <i>Frank </i>e arranca o coração do amante, uma vingança pelo seu assassinato no filme anterior. As duas meninas aproveitam o reencontro dos amantes para fugir.</div><div style="font-family: arial;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; font-family: arial; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgu8CEWAHPHOFWWKwjy51mrPAv0y0aQxJ756dhkmFAyPI4iPq8VYH1Uz-eFsKug1G3jee7MN-NFOFs5MxQ4xE3zwJJumLfnbWg-ER3xWzilvIl5yGTLpDrQhltc9T7wxiSvaLOc7f-JTaNU6gKqP1RZgrkWj3he3NfvktS6teV1ihofJSPmo5zcD_zY_w=s4105" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4105" data-original-width="1815" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgu8CEWAHPHOFWWKwjy51mrPAv0y0aQxJ756dhkmFAyPI4iPq8VYH1Uz-eFsKug1G3jee7MN-NFOFs5MxQ4xE3zwJJumLfnbWg-ER3xWzilvIl5yGTLpDrQhltc9T7wxiSvaLOc7f-JTaNU6gKqP1RZgrkWj3he3NfvktS6teV1ihofJSPmo5zcD_zY_w=w282-h640" width="282" /></a></div><div style="font-family: arial;">Elas se metem em um túnel de vento e por pouco não perdem o equilíbrio. <i>Julia </i>aparece um pouco atrás, também se segurando como pode às paredes para não ser arrebatada pela corrente. A inocente <i>Tiffany </i>vê que <i>Julia </i>está a um sopro de ser arrastada e se apieda. Estende a mão para a vilã, sob os protestos de <i>Kirsty</i>. A moça suplica para que a amiga não lhe dê ouvidos. <i>Julia </i>se segura a <i>Tiffany</i>, porém as costas, ainda não firmemente coladas após a drenagem de <i>Kyle</i>, rasgam, como se um zíper de vestido tivesse sido puxado. Aos berros, <i>Julia </i>tem o corpo extirpado da casca que foi a pele, engolida pelo túnel de vento. As meninas desbravam os túneis até finalmente encontrarem o caminho que as leva de volta ao mundo. No hospital, descobrem que o portal entre as duas realidades não foi selado. As bizarrices da dimensão de <i>Leviatã </i>"<i>resvalaram</i>" para o lado de cá. Aventurando-se pelo hospital psiquiátrico, as meninas encontram os pacientes massacrados. Subitamente, Dr. <i>Channard</i>, agora renascido como um poderoso cenobita, atravessa majestosamente as cortinas da janela do jardim principal, suspenso por um perene e enorme tentáculo preso ao crânio, triunfante no uso dos novos poderes. <i>Kirsty </i>conclui que para selarem o portal, precisarão regressar ao labirinto e usar a configuração do lamento para "<i>fechar</i>" o <i>Leviatã</i>.</div><div style="font-family: arial;"><br /></div><div style="font-family: arial;">Quando retornam ao labirinto, as meninas dão com o quarteto de cenobitas liderado por<i> Cabeça de Pregos</i>, que reafirma o interesse pelos seus corpos e não por habilidades de barganha. <i>Kirsty </i>usa como trunfo a fotografia do coronel do império britânico, colhida no álbum de <i>Channard</i>. Ela pede a <i>Cabeça de Pregos</i> para escutá-la uma última vez, e o cenobita concorda. <i>Kirsty </i>repassa a fotografia e o <i>Cabeça de Pregos</i> pergunta se se trata de um outro fugitivo do quarteto, talvez alguém como <i>Frank</i>. A moça explica que a pessoa na foto é o próprio <i>Cabeça de Pregos</i>. O cenobita reage com confusão, pego de surpresa. <i>Kirsty </i>lhe conta que o homem se chama <i>Elliot Spencer</i>, capitão condecorado do império britânico. Por alguma razão, a caixa chegara às mãos daquele homem, <i>Spencer</i>, após a carnificina da guerra. Abri-la foi o ato que o condenara, e a partir do qual deixara a humanidade para trás, para se tornar no que era hoje. Ela insiste que aquele homem da foto e <i>Cabeça de Pregos</i> são a mesma pessoa. A cenobita fêmea se cansa da história, e ergue a faca, mas <i>Cabeça de Pregos</i> a impede de machucá-las. Ele murmura pesarosamente que consegue se recordar. <i>Kirsty </i>se dirige aos demais, implorando para que se esforcem para lembrar. Pelas expressões compungidas nas suas caras, os cenobitas parecem acatar momentaneamente a própria humanidade, e abaixam as armas. <i>Channard </i>surge em meio a escuridão para finalmente arrebatar as meninas, mas então o quarteto, que acaba de se recordar de suas origens, passa para o lado do Bem. Em um discreto e comovente momento, <i>Kirsty </i>troca sorrisos de gratidão com <i>Cabeça de Pregos</i>, que parece satisfeito por ter redescoberto sua verdadeira natureza. Os cenobitas se redimem, enfrentando o poderoso <i>Channard </i>e dando às meninas tempo para chegarem à ponte para terminar de anular <i>Leviatã </i>com a configuração do lamento. Enfraquecidos pela revelação de seus passados, os cenobitas não são páreos para habilidades do inimigo, que os mata facilmente.</div><div style="font-family: arial;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; font-family: arial; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEitXZ8gTdS_eCNRDHxqQZdV4ZDeHPIV5gh22RN59WA2d2bQim-ZVTPr1rjdiTYiU9dBrpJYvcMgT98gXkh8_-KDRYArrIkwnbApG-RzMRvKWOKGoWmQIGgSv89HSLoCXfnOlYay9fk2SSzxQhILlb11F-OLtgrcsDuo1jmRmaSxHimXgC5LKst_HKC_gQ=s4113" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4113" data-original-width="1775" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEitXZ8gTdS_eCNRDHxqQZdV4ZDeHPIV5gh22RN59WA2d2bQim-ZVTPr1rjdiTYiU9dBrpJYvcMgT98gXkh8_-KDRYArrIkwnbApG-RzMRvKWOKGoWmQIGgSv89HSLoCXfnOlYay9fk2SSzxQhILlb11F-OLtgrcsDuo1jmRmaSxHimXgC5LKst_HKC_gQ=w276-h640" width="276" /></a></div><div style="font-family: arial;">O tentáculo preso à cabeça confere a <i>Channard </i>autonomia de voo acima do labirinto. Sobre a ponte, bem diante de <i>Leviatã</i>, <i>Channard </i>aterroriza <i>Tiffany </i>com tentáculos brotando das palmas das mãos. Ele a conduz a uma armadilha, à mesma câmara de transformação onde se tornara cenobita. Quando se põe a um passo da câmara, uma figura surge e segura a menina por trás. Trata-se de <i>Julia</i>. Bastante feliz por revê-la, <i>Channard </i>esquece a garota, e os dois trocam um beijo apaixonado. <i>Julia </i>põe as mãos sobre os ombros de <i>Tiffany </i>e a força a se abaixar. O que <i>Julia </i>está tentando fazer é tirá-la do campo de visão da criatura para salvá-la.</div><div style="font-family: arial;"><br /></div><div style="font-family: arial;"><i>Julia </i>distrai o monstro, e <i>Tiffany </i>recupera a configuração do lamento. Eficazmente manipulada, a caixinha começa a emitir raios que surtem efeito sobre a forma geométrica. <i>Leviatã </i>começa a se desmontar em giros e a perder o controle sobre seu próprio universo. Assustado, <i>Channard </i>vence a inércia causada pela sedução de <i>Julia</i>, e volta a focar a atenção em <i>Tiffany</i>. <i>Channard </i>não quer perder tempo com distrações, e parte para o ataque final. Arremessando os tentáculos contra os pés da menina, o monstro erra o golpe e as lâminas acabam prendendo-se na ponte. Sem controle, <i>Leviatã </i>puxa a tromba conectada à cabeça de <i>Channard</i>, que a seu turno vê-se preso à ponte pelos tentáculos fincados no chão. A força fenomenal do paralelepípedo em suspensão acaba por alavancar a tromba para cima, levando consigo a parte superior da cabeça de <i>Channard</i>.</div><div style="font-family: arial;"><div><br /></div><div>O corpo de <i>Channard </i>despenca no abismo. Terrificada com a espetacular visão, <i>Tiffany </i>perde o equilíbrio e, por pouco, não cai junto. Ela não conseguirá se segurar por muito tempo. Tudo estaria perdido, não fosse por <i>Julia</i>. A vilã surge na beirada e oferece a mão. <i>Tiffany </i>hesita, mas escolhe aceitar a mão. <i>Julia </i>começa a puxá-la para cima, mas então, na altura do ombro, a pele parece se destacar, e começa a deslizar sobre os músculos. <i>Julia </i>completara o restante da regeneração ao esvaziar <i>Kyle</i>, mas as feridas não se moldaram perfeitamente. Por um momento, a salvação parece impossível, mas <i>Julia </i>consegue terminar de puxá-la com o braço bom. Acuada, <i>Tiffany </i>não consegue entender por que a vilã se esforçou tanto para salvar sua vida, porém <i>Kirsty </i>arranca o rosto de <i>Julia</i>: não fora <i>Julia </i>quem a salvara, e sim <i>Kirsty</i>, que vestira a pele da madrasta para enganar <i>Channard</i>. As duas se abraçam, vitoriosas. Agora que <i>Leviatã </i>se meteu em um processo de autodestruição, as meninas precisam correr para chegarem a tempo na fenda que culmina na passagem para o mundo real. No último segundo, <i>Kirsty </i>e <i>Tiffany </i>conseguem atravessar o portal, e o cisma é definitivamente encerrado, separando as duas dimensões. <i>Kirsty </i>e <i>Tiffany </i>partem juntas pelo corredor do amplo e geométrico jardim do hospital psiquiátrico, deixando o assombroso hospício para trás, após a aventura de suas vidas. O hospital é fechado, e a casa de <i>Channard</i>, cenário de tantos homicídios, interditada. Em um dos quartos do lugar, porém, ainda resta o colchão por onde <i>Julia </i>voltou, e pelo qual, um dia, poderá ressurgir.</div></div><div style="font-family: arial;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; font-family: arial; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEifABDUXZVp82WXShlm-jhz2M0PwczqSEaTxYXOXBbOenIW4c4tkEtrGtEBXmNDi24V1aUb_kYAvBiTaXxspMHYeEW9_Awzxs7Rcrf7TcqD8sCqgC-yFEGTTxcoinWH3kNDoXFatNXo48wAWeSXILocywJlHYa9DR5bTPXXwJatBvjPrumxINLRth4nIQ=s4145" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4145" data-original-width="1889" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEifABDUXZVp82WXShlm-jhz2M0PwczqSEaTxYXOXBbOenIW4c4tkEtrGtEBXmNDi24V1aUb_kYAvBiTaXxspMHYeEW9_Awzxs7Rcrf7TcqD8sCqgC-yFEGTTxcoinWH3kNDoXFatNXo48wAWeSXILocywJlHYa9DR5bTPXXwJatBvjPrumxINLRth4nIQ=w292-h640" width="292" /></a></div><div style="font-family: arial;">Essa fantástica sequência de 1988 foi um feito monumental: ela deu prosseguimento a um dos filmes de horror mais importantes do século XX, "<i>Hellraiser</i>", e, respeitando as quatro linhas traçadas pelo antecessor, levou a estória a uma arrojada direção, ampliando a mitologia da qual o primeiro oferece somente um vislumbre. Enquanto grandes clássicos se viram em dificuldade quando se tentou dar continuidade à saga, "<i>Hellraiser</i>" teve, na sua continuação imediata, o melhor representante do espírito e das intenções de <i>Clive Barker</i>, o<i> enfant terrible</i> britânico que, com muita folga, foi um dos cinco melhores escritores do século passado. Nenhum outro autor chegou perto do tipo de horror sobre o qual o sr. <i>Barker </i>escreveu tão bem, justamente por guardar tão íntima relação com as experiências de vida. <i>Barker </i>escreveu o livro "<i>The Hellbound Heart</i>" e, insatisfeito com versões cinematográficas de suas estórias (mais especificamente dois contos da coletânea "<i>Books of Blood</i>"), resolveu que, no caso de "<i>The Hellbound Heart</i>", encarregar-se-ia de transpor os conceitos da obra literária para a tela". O resultado foi "<i>Hellraiser</i>", um dos filmes mais influentes do gênero, cujo impacto deixou um frutífero legado, lamentavelmente desgastado em razão da incapacidade de outros artistas e criadores de conteúdo ao lidarem com um material tão volátil e à frente de seu tempo. Dentre tantas sequências, pode-se seguramente afirmar que "<i>Hellraiser 2</i>" foi a única obediente aos cânones das ideias de <i>Barker</i>. Ao passo que a série foi se tornando algo distinto com o passar do tempo, as duas primeiras produções, rodadas na Inglaterra, preservaram as difíceis, intrincadas visões de <i>Clive Barker </i>sobre desejos, amores não correspondidos, sofrimento psicológico, a busca por algo para além da mundana existência terrena e, finalmente, prazer pela dor.</div><div style="font-family: arial;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; font-family: arial; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiK0cFhaWyPYU9hh7wojoF6_LwTTUuFbTxsD4R1u_V2XcFEPsjT00_fx2RYP-hdTxQSx_tnMcfywEF9XTHkSBTEZAEvT2VqgSnu_Yp_cVLSAGiF-50szN-tARj80zLkXvhPUh_EdWM7zq5NuJqmdsyK8W8qO67I3Z6dQ8k-A-jf2na0f5kJZE-yuOtA1w=s4121" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4121" data-original-width="1911" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiK0cFhaWyPYU9hh7wojoF6_LwTTUuFbTxsD4R1u_V2XcFEPsjT00_fx2RYP-hdTxQSx_tnMcfywEF9XTHkSBTEZAEvT2VqgSnu_Yp_cVLSAGiF-50szN-tARj80zLkXvhPUh_EdWM7zq5NuJqmdsyK8W8qO67I3Z6dQ8k-A-jf2na0f5kJZE-yuOtA1w=w296-h640" width="296" /></a></div><div style="font-family: arial;">Como costumava ocorrer com as continuações de filmes nos anos 80, "<i>Hellraiser 2</i>" abre com uma montagem dos principais momentos do filme anterior, para aqueles que não o viram. O recurso funciona, pois o segmento estabelece a força de caráter e o passado de determinados personagens, a ponto de não haver uma impressão de descontinuidade para quem será apresentado à saga a partir do segundo filme. Conhecer o filme original de <i>Barker</i>, entretanto, seria imprescindível, assim como me parece razoável ler e estudar a fonte literária, "<i>The Hellbound Heart</i>". Hoje, enquanto escrevo a resenha, digna de nota é a editora <i>Darkside</i>, pois foi pelo refinado faro de seus editores que as principais obras de <i>Barker </i>ganharam vida nova no mercado editorial brasileiro. Pela <i>Darkside</i>, os senhores encontrarão os dois primeiros volumes da coletânea "<i>Livros de Sangue</i>" e "<i>The Hellbound Heart</i>", lançado sob o título "<i>Hellraiser: Renascido do Inferno</i>". Curto e de fácil leitura, eu recomendaria a análise da obra, e somente depois a experiência cinematográfica: essa forma de conhecer o material deixará a experiência completa e proveitosa. Foi no romance onde <i>Barker </i>nos apresentou a ideia do cubo, a "<i>configuração do lamento</i>", um dispositivo por meio do qual, observadas as demandas de circunstância e ritual, seria possível ao indivíduo responsável pela manipulação a abertura momentânea de uma dimensão de prazeres sensoriais desconhecidos pela humanidade. <i>Frank </i>foi o homem responsável pelo feito, um aventureiro descrito como um hedonista dedicado unicamente a satisfazer sua sede por conhecimento. Na estória, <i>Barker </i>descreve como "<i>foi em Dusseldorf, para onde contrabandeara um pouco de heroína, que tornou a ouvir falar da caixa de Lemarchand. Sua curiosidade voltou a ser aguçada, mas, desta vez, ele seguiu a história até a fonte. O nome do homem era Kircher, embora provavelmente ele tivesse mais uma dúzia de outros. Sim, o alemão podia confirmar a existência da caixa e, sim, podia dar um jeito para que Frank a tivesse. O preço? Pequenos favores aqui e ali. Nada excepcional. Frank fez os favores, lavou as mãos e exigiu o pagamento. Kircher dera instruções sobre qual era a melhor maneira de quebrar o selo do dispositivo de Lemarchand, instruções que em parte eram pragmáticas, em parte metafísicas. Ele disse que resolver o enigma era como viajar ou algo mais ou menos assim. Aparentemente, a caixa não era apenas o mapa da estrada, mas a própria estrada em si. Aquele novo vício o curou rapidamente das drogas e do álcool. Talvez houvessem outras maneiras de fazer o mundo se curvar e enquadrar no formato dos seus sonhos. Ele voltou para a casa na Lodovico Street, para a casa vazia onde, agora, se encontrava prisioneiro por trás das paredes, e se preparou - conforme Kircher detalhara - para o desafio de resolver a Configuração de Lemarchand. Ele nunca estivera tão abstêmio na vida, nem tão focado num só objetivo. Nos dias que antecederam o massacre da caixa, ele levou uma vida que teria feito inveja a um santo, focando todas as energias na cerimônia por vir. Ele fora arrogante na forma com que negociara com a Ordem de Gash, percebia isso agora; mas havia em todos os lugares - naquele mundo e fora dele - forças que encorajaram tal arrogância, porque eles barganhavam com ela. Aquilo por si só não o teria desfeito. Não, seu erro de verdade tinha sido a ingenuidade de acreditar que a sua definição de prazer era a mesma dos Cenobitas. Da forma como foi, eles trouxeram sofrimento incalculável. Eles o inundaram com tanta sensualidade que sua mente oscilou entre a loucura, então, o iniciaram em experiências que faziam seus nervos convulsionarem só de lembrar. Eles chamavam aquilo de prazer e, talvez, estivessem falando sério. Talvez, não. Era impossível de saber ao certo em se tratando deles, que eram tão irremediavelmente ambíguos. Eles não reconheciam os princípios de recompensa e punição pelos quais Frank esperava obter algum respiro das torturas, nem se sentiam tocados pelos apelos dele por misericórdia. Ele tentara aquilo, durante as semanas e meses que separavam a resolução da caixa do dia de hoje. Não havia compaixão daquele lado da Cisão; havia apenas o pranto e as gargalhadas. Às vezes, lágrimas de alegria (por uma hora sem pavor, ou até o tempo de um respiro), lágrimas que vinham como um paradoxo diante de um novo horror, elaborado pelo Engenheiro para gerar aflição. Mas havia ainda outra sofisticação na tortura, concebida por uma mente que compreendia totalmente a natureza do sofrimento. Os prisioneiros eram capazes de ver o mundo onde outrora viveram. Seus locais de descanso - quando não estavam submetidos ao prazer - permitiam ver as próprias locações onde no passado tinham trabalhado na Configuração que os levara até ali. No caso de Frank, no quarto do andar de cima do número 55 da Lodovico Street. Durante a maior parte do ano, tinha sido uma vista escura: ninguém havia entrado na casa. Então, eles chegaram. Rory e a adorável Julia. E a esperança retornou...</i>".</div><div style="font-family: arial;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; font-family: arial; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhucZSGEYOPouRPTR_gVv84xOVTkILNcU7BInycoEhFXME-Nzd_uouW6xKrEioPC40lJTmc1cLe_YPz7w489zd5BoHTt_KTvzZpPn4llz4jf06k5jBi1JWVc6M-AvHyiS0zyfOl06KQBbr6j5NE58ycfQruR-p7TXdG6Q5Drcf-iVBCACQr9SmoECLONA=s4129" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4129" data-original-width="1889" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhucZSGEYOPouRPTR_gVv84xOVTkILNcU7BInycoEhFXME-Nzd_uouW6xKrEioPC40lJTmc1cLe_YPz7w489zd5BoHTt_KTvzZpPn4llz4jf06k5jBi1JWVc6M-AvHyiS0zyfOl06KQBbr6j5NE58ycfQruR-p7TXdG6Q5Drcf-iVBCACQr9SmoECLONA=w292-h640" width="292" /></a></div><div style="font-family: arial;">O trecho destacado de "<i>The Hellbound Heart</i>", ilustra o destino de <i>Frank </i>nas mãos dos cenobitas, o que põe em movimento a engrenagem da trama, pois mudam-se para a casa o irmão <i>Rory </i>e a esposa <i>Julia</i>, e um segredo sórdido entre <i>Frank </i>e <i>Julia </i>precipita os explosivos eventos que trarão os cenobitas no seu encalço. Estabelece-se, desde o início, o fato de <i>Julia </i>sentir-se aprisionada; a mudança para a casa apenas piora o azedume, afinal se ela já se sente dividida por ter se casado com um homem a quem não ama mais, habitar a propriedade reacende recordações do cunhado <i>Frank</i>, verdadeiro motivo de seu luto. No começo, na época em que nutrira afeto pelo esposo, ficara fascinada com os relatos de <i>Rory </i>sobre a "<i>ovelha negra</i>". Ao invés de antipatizar-se com a sua pessoa, as histórias acabaram por instilar em seu ser uma esquisita curiosidade pelo rapaz. A dois dias do casamento, <i>Frank </i>apareceu na porta de casa para se apresentar e conhecer a noiva. A atração, forte demais para se resistir, verteu-se em um encontro sexual intenso e escuso marcado por toda a violência e a tristeza de um estupro, conforme escreve <i>Barker</i>. Depois do sexo, <i>Frank </i>partiu sem informar o paradeiro, deixando o coração de <i>Julia </i>em pedaços. Ela nunca mais o esqueceu, e o casamento, que já começara errado, seguiu fenecendo, numa anticlimática passagem de anos que levara consigo a vivacidade, a parte da mulher adúltera desejosa de uma grande aventura, um grande amor, antes que o tempo tivesse dado cabo de seu auge físico e poder de barganha. Depois que o casal regressa para a propriedade, <i>Frank</i>, cujo destino permanece um mistério para a família, enxerga uma oportunidade de fugir do jugo dos cenobitas. A chance perfeita se assoma quando o irmão se corta durante a mudança, espirrando sangue sobre as tábuas do sótão onde <i>Frank </i>fora trucidado pelas criaturas. O material lhe dá forças para ensaiar uma aparição à <i>Julia</i>, em uma das visitas da cunhada ao sótão. <i>Frank </i>consegue refrear o horror inicial da amante, e se identifica. Custa a ela associar a monstruosidade à pessoa de <i>Frank</i>, mas assim que entende o ocorrido, ela se voluntaria a ajudá-lo, seduzindo homens e os levando ao sótão sob o pretexto de sexo, apenas para matá-los e fornecer os corpos ao amante. Cegamente apaixonada, ela vira uma assassina, enquanto o marido de nada suspeita. Quando a melhor amiga de <i>Rory</i>, <i>Kirsty</i>, passa a suspeitar de algo sinistro, a trama vira uma corrida contra o tempo, pois <i>Frank </i>sabe que, cedo ou tarde, os cenobitas darão pela sua ausência, e não medirão esforços para capturá-lo de volta à sua dimensão de dor e sofrimento.</div><div style="font-family: arial;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; font-family: arial; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg4suGY9Hk0WSQWVbbhLDUrogVgHb6AlxxFIGYZsmxbnAHLw5brrUGhDtWxmHcC-qFj02miG9YaZrJ4qdcvZDJvFfFSQJ9kaOFbW668aBesBfhhM380JJuc3DWOsvBUgU-mqSlVZMHNoBN39C2hU8FpCjb2KKPIeR-QPB3vhAaBg-AZn_KECGlyVRMG7Q=s2045" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2045" data-original-width="1909" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg4suGY9Hk0WSQWVbbhLDUrogVgHb6AlxxFIGYZsmxbnAHLw5brrUGhDtWxmHcC-qFj02miG9YaZrJ4qdcvZDJvFfFSQJ9kaOFbW668aBesBfhhM380JJuc3DWOsvBUgU-mqSlVZMHNoBN39C2hU8FpCjb2KKPIeR-QPB3vhAaBg-AZn_KECGlyVRMG7Q=s320" width="299" /></a></div><div style="font-family: arial;">A adaptação cinematográfica modifica certos elementos da fonte literária; entretanto, o miolo permanece sincero aos conceitos de <i>Barker</i>. Quem começar a análise pelo livro e depois partir para o filme notará a principal alteração: no livro, a personagem <i>Kirsty </i>é uma colega de trabalho que, por <i>Rory</i>, nutre um amor não correspondido; no filme, trata-se da filha do primeiro casamento de Larry (que, aqui, não se chama <i>Rory</i>). A versão do cinema fez de <i>Pinhead</i>, o líder dos cenobitas, um ícone, cuja perturbadora imagem adornou pôsteres ao redor do mundo; todavia, na estória, o personagem é descrito como uma figura feminina (sua voz "<i>a de uma garota excitada</i>"). A cena de abertura, na obra escrita, revolve a invocação dos cenobitas por <i>Frank</i>, que àquela altura supõe, erroneamente, que os "<i>prazeres sem limites</i>" conferem com as idealizações da sua libido. Dadas as limitações técnicas, <i>Barker</i>, como diretor, deparou-se com dificuldades para trazer à vida sua imaginação fértil, motivo pelo qual se compreende sua opção por filmar o primeiro encontro de <i>Frank </i>com os cenobitas sob um ponto de vista mais misterioso e discreto. Ainda assim, é uma sequência poderosa, com ganchos surgindo da caixa para despedaçá-lo. No frigir dos ovos, o autor precisou condensar, em menos de um minuto, aquilo que, no livro, dura muitas páginas. O sr. <i>Barker </i>descreve o esforço de <i>Frank </i>para montar a configuração e o encontro: "<i>Encorajado pelo sucesso, Frank continuou a trabalhar na caixa fervorosamente, encontrando com rapidez novos alinhamentos das aberturas estriadas e cavilhas lubrificadas, as quais, por sua vez, revelavam ainda mais meandros. E, a cada nova solução - a cada meia torção ou puxada - outro elemento melódico era trazido em cena, de modo que o tom era contraposto e desenvolvido, até a tônica inicial se perder em meio à ornamentação. A certa altura dos esforços dele, o sino começara a tocar - um dobre constante e sombrio. Ele não escutou, ao menos, não conscientemente. Mas, quando o enigma estava quase concluído - as entranhas espelhadas da caixa desnudadas - ele percebeu que seu estômago se agitara tão violentamente ao som do sino, que este poderia estar tocando por metade da vida. Frank olhou para seu trabalho. Por alguns momentos, supôs que o barulho estivesse vindo de algum lugar na rua, lá fora, mas dispensou a proposição rapidamente. Já era quase meia-noite quando começara a mexer na caixa do fabricante de pássaros; muitas horas haviam se passado desde então - horas que ele nem ao menos se lembraria de terem transcorrido, se não fosse pela evidência marcada em seu relógio. Não havia igreja na cidade, por mais desesperada que estivesse por fiéis, que tocaria um sino de convocação àquela hora. Não. O som vinha de um local bem mais distante, atravessando a mesma porta (embora invisível) que a caixa milagrosa de Lemarchand fora criada para abrir. Tudo o que Kircher, que lhe vendera a caixa, prometeu, era verdade! Ele estava no limiar de um novo mundo, uma província infinitamente distante do quarto onde se sentava. Infinitamente distante, e de repente tão próxima. O pensamento fez sua respiração acelerar. Ele antecipara aquele momento com enorme sutileza, planejando aquele despedaçar do véu com toda a sagacidade que possuía. Em poucos momentos, eles estariam ali - aqueles que Kircher chamou de Cenobitas, teólogos da Ordem de Gash. Trazidos dos seus experimentos nos recessos mais altos do prazer para expor suas mentes eternas a um mundo de chuva e fracasso. Ele tinha trabalhado incessantemente na semana anterior na preparação do quarto para eles. As tábuas nuas do assoalho haviam sido meticulosamente esfregadas e cobertas de pétalas. Na parede a oeste ele montara uma espécie de altar para eles, decorando com o tipo de oferendas apaziguadoras que Kircher assegurara que estimularia o lado bom deles: ossos, bombons, agulhas. Um jarro com sua urina - fruto de sete dias de coleta - ficava à esquerda do altar, caso eles exigissem algum gesto espontâneo de auto profanação. À direita, um prato com cabeças de pombas, o qual Kircher também o aconselhou a ter à mão. Ele observara todas as partes do ritual de invocação. Nenhum cardeal, ávido pelas sandálias do pescador, poderia ter sido mais diligente. Mas, agora, conforme o som do sino tornava-se mais alto, sufocando a caixa de música, ele teve medo. 'Tarde demais', murmurou para si próprio, esperando reprimir o pavor crescente. O dispositivo de Lemarchand estava desnudo; o truque final havia sido desvendado. Não havia tempo para evasivas ou arrependimentos. Além disso, ele não tinha arriscado a vida e a sanidade para tornar aquela descoberta possível? Naquele instante, a porta se abria para prazeres que apenas um punhado de humanos sabia da existência e menos ainda tinham provado - prazeres que redefiniriam os parâmetros da sensação, que o libertariam do círculo maçando do desejo, sedução e desapontamento que, desde o final da adolescência, o obstinava. Ele seria transformado pelo conhecimento, não? Nenhum homem poderia experimentar a profundidade de tal sentimento e permanecer imutável. A lâmpada nua no centro do quarto esmaeceu e brilhou, brilhou e esmaeceu novamente. Ela adotara o ritmo do sino, fulgurando em seu máximo a cada vez. Nos intervalos entre a luz e as trevas, o quarto se tornava pleno; era como se o mundo que ele ocupara durante vinte e nove anos tivesse deixado de existir. Então, o sino soava de novo e a lâmpada queimava tão forte que parecia que jamais esmoreceria e, por poucos e preciosos segundos, ele se via de pé num local familiar, com uma porta que levava para fora, para a rua e uma janela pela qual - se ele tivesse a vontade (ou a força) de puxar as persianas - poderia obter um vislumbre da alvorada. A cada ocasião, a luz da lâmpada revelava mais. Por meio dela, ele viu a parede leste esfolar; viu a solidez dos tijolos se afrouxar momentaneamente e explodir; viu, naquele mesmo instante, o lugar além do quarto de onde o sino tocava. Seria um mundo de pássaros? Enormes pássaros negros voando numa tempestade eterna? isso foi tudo que os seus sentidos puderam discernir da província de onde os hierofantes chegavam; uma planície em confusão, repleta de coisas frágeis e quebradiças que ascendiam, caíam e preenchiam novamente o ar escuro com seu pavor. Então, a parede voltou a ser sólida e o sino ficou em silêncio. A lâmpada apagou. Desta vez, sem esperança de voltar a acender. Ele ficou nas trevas, sem nada dizer. Mesmo se pudesse se lembrar das palavras de boas-vindas que tinha preparado, sua língua não as teria dito. Ela estava brincando de morta na boca. Então, a luz. Ela veio deles: do quarteto de Cenobitas que, agora, com a parede selada ao fundo, ocupava o cômodo. Uma fosforescência espasmódica, como o brilho de peixes das profundezas: azul, frio e sem encanto. Ela golpeou Frank, que jamais imaginara como seles se pareceriam. Sua imaginação, embora fértil quando o assunto era logro e trapaça, era pobre naquele quesito. A habilidade de vislumbrar aquelas eminências estava além dele, portanto, não havia nem ao menos tentado. Por que, então, ele estava tão aflito de observá-los? Seriam as cicatrizes que cobriam cada polegada dos corpos deles, a carne cosmeticamente perfurada, cortada e infibulada, sendo a seguir coberta de cinzas? Seria o odor de baunilha que eles traziam consigo, a doçura que mal conseguia disfarçar o fedor que havia por detrás? Ou seria que, conforme a luz aumentava e ele os examinava mais atentamente, ele não viu nada de alegria ou mesmo de humanidade em seus rostos mutilados, apenas desespero e um apetite que fazia suas entranhas se retorcerem? 'Que cidade é esta?' - um dos quatro perguntou. Frank teve dificuldade em adivinhar o gênero do falante com alguma segurança. Suas roupas, algumas das quais estavam costuradas à pele, escondiam as partes privadas e não havia nada na voz ou nas feições intencionalmente desfiguradas que oferecesse a menor pista. Quando falou, os ganchos que transfixavam as pálpebras dos olhos - unidos por um intricado sistema de correntes que atravessavam carne e ossos a ganchos similares no lábio inferior - balançaram ao movimento, expondo a carne lustrosa sob eles. 'Eu fiz uma pergunta' - ele disse. Frank não respondeu. O nome da cidade era a última coisa que tinha em mente. 'Você entendeu?' - a figura ao lado do primeiro falante questionou. Sua voz, diferente da do companheiro, era leve e arejada - a voz de uma garota excitada. Cada centímetro da cabeça era tatuado com um intrincado padrão e, em cada intersecção de eixos verticais e horizontais, havia um alfinete cravejado, enterrado até o osso. Sua língua era decorada de forma parecida. 'Você ao menos sabe quem somos?' - perguntou. 'Sim' - Frank disse, enfim. - 'Eu sei'. Claro que ele sabia; ele e Kircher passaram longas noites conversando sobre insinuações aprendidas nos diários de Bolingbroke e Gilles de Rais. Tudo que a humanidade sabia sobre a Ordem de Gash, ele sabia. Não obstante... ele esperava algo diferente. Esperava algum sinal dos esplendores sem fim que eles tinham acessado. Ele imaginara que, ao menos, trariam consigo mulheres; mulheres untadas, mulheres defraudadas, mulheres depiladas e musculosas de tanto executar o ato do amor; os lábios perfumados, as coxas ansiosas para se abrirem, as nádegas grandes, da forma como ele gostava. Ele esperava suspiros e corpos lânguidos espalhados pelo chão como um tapete vivo; esperava vadias virgens cujo cada orifício fosse seu para explorar e cujas habilidades o levariam - para além, para além - a êxtases jamais sonhados. Ele se esqueceria do mundo nos braços delas. Seria exaltado pela concupiscência, em vez de desprezado. Mas, não. Nenhuma mulher, nenhum suspiro. Somente aquelas coisas assexuadas, com a ele corrugada. Agora, o terceiro falou. Suas feições eram tão terrivelmente escarificadas - as feridas nutridas até incharem - que os olhos eram invisíveis e as palavras corrompidas pela desfiguração da boca. 'O que você quer?' - ele perguntou. Frank examinou este questionador com mais confiança do que fizera aos outros dois. Seu medo diminuía a cada segundo que passava. As lembranças do local aterrador além da parede já estavam ficando para trás. Ele fora deixado com aqueles decadentes decrépitos, com seu fedor e aguda deformidade, com sua evidente fragilidade. A única coisa que tinha a temer era a náusea. 'Kircher me disse que haveria cinco de vocês' - disse Frank. 'O Engenheiro virá se o momento merecer' - foi a resposta. - 'Agora, mais uma vez, perguntamos: O que você quer?'. Por que ele não deveria responder de forma direta? 'Prazer' - replicou. - 'Kircher disse que vocês sabem sobre prazer'. 'Ah, nós sabemos' - afirmou o primeiro deles. - 'Tudo o que você sempre quis'. 'Mesmo?'. 'É claro, é claro' - a criatura o encarou com seus olhos demasiados nus. - 'O que você aspira?'. A questão, posta de modo tão aberto, o confundiu. Como ele poderia articular a natureza dos espectros que sua libido criara? Ele ainda procurava as palavras quando um deles falou: 'Este mundo... o desaponta?'. 'Bastante' - ele respondeu. 'Você não é o primeiro a se cansar das suas trivialidades' - foi a resposta. - 'Houve outros'. 'Não muitos' - o de rosto gradeado colocou. 'É verdade. Um punhado, no máximo. Mas poucos ousaram utilizar a Configuração de Lemarchand. Homens como você, famintos por novas possibilidades, que ouviram dizer que possuímos habilidades desconhecidas em seu mundo'. 'Eu esperava...' - começou Frank. 'Nós sabemos o que esperava' - respondeu o Cenobita. - 'Nós entendemos profundamente a natureza do seu frenesi. É totalmente familiar para nós'. Frank grunhiu: 'Então, sabe com o que sonhei. Pode suprir meus prazeres'. O rosto da coisa se contorceu, seus lábios ondulando; o sorriso de um babuíno: 'Não da forma como você compreende' - ele respondeu. Frank fez menção de interromper, mas a criatura ergueu a mão, silenciando-o. 'Há condições nas terminações nervosas do tipo que sua imaginação, por mais febril que seja, não é capaz de evocar'. '... é mesmo?'. 'Sim. Decerto. Sua depravação mais caprichosa é brinquedo de criança se comparada às experiências que oferecemos'. 'Você tomará parte delas?' - disse o segundo Cenobita. Frank olhou para as cicatrizes e ganchos. Sua língua voltou a ficar deficiente. 'Tomará parte?'. Lá fora, em algum lugar próximo dali, o mundo logo estaria despertando. Da janela de seu quarto, ele o observara acordar em rebuliço, dia após dias, para mais uma rodada de buscas infrutíferas. E ele sabia, sabia, que não havia restado nada lá fora capaz de excitá-lo. Nenhum ardor, somente esforço. Nenhuma paixão, somente a súbita luxúria e, então, uma indiferença tão repentina quanto. Ele dera as costas à tamanha insatisfação. Se, para fazê-lo, teria de interpretar os sinais que aquelas criaturas haviam trazido, então tal era o preço da sua ambição. Ele estava preparado para pagá-lo. 'Mostre-me' - disse Frank. 'Não há como voltar atrás. Você compreende isso?'. 'Mostre-me'</i>". O recorte acima busca contextualizar a análise. Sem uma recapitulação do livro ou do primeiro filme, a análise ficaria incompleta, pois me reporto frequentemente a seus elementos. Se a estória e as ideias parecem complexas e intrincadas, deve ter sido ainda mais delicado para o time criativo achar um impulso sólido para "<i>Hellraiser 2</i>". O roteirista <i>Peter Atkins</i> começa de onde o primeiro filme deixara, minutos após o massacre na casa da<i> Lodovico Street</i>. Trabalhando em perfeita sintonia com o diretor <i>Tony Randel</i>, <i>Atkins </i>tomou uma direção inesperada. Enquanto o filme de <i>Barker </i>é um horror psicológico intimista passado numa claustrofóbica casa, o filme de <i>Randel </i>se assemelha a uma extravagante, febril e grandiosa ópera, como uma louca fantasia de <i>Dario Argento</i> e <i>Ken Russell</i>. O time não se conformou em receber a bola e seguir carregando; eles resolveram nos levar diretamente à dimensão dos cenobitas. E, como ponto de partida, renderam homenagem ao potencial de um hospital psiquiátrico como trampolim para a loucura. Poucos lugares gozam de uma atmosfera tão tétrica quanto hospícios. As locações garantem uma densa, pesada neblina que permeia a estória de começo a fim. <i>Atkins </i>respeitou o legado de <i>Barker</i>, mas ao ir um pouco além, deu ao filme algo de pessoal, criando, com detalhes, a realidade habitada pelos cenobitas. O inferno foi bem explorado nesta continuação, porém quando a terceira parte entrou em produção, no final do ano de 1991, a ideia foi descartada e nada mais se viu do labirinto. Curiosamente, quando se teve o insight de se retomar os cânones de "<i>Hellraiser</i>" via <i>graphic novels</i>, o labirinto e <i>Leviatã </i>voltaram a ocupar o centro da trama.</div><div style="font-family: arial;"><br /></div><div style="font-family: arial;"><i>Christopher Young</i>, o compositor da trilha do primeiro filme, retorna com um escore épico. Ao passo que a música de "<i>Hellraiser</i>" encantava pela tristeza gótica, para "<i>Hellraiser 2</i>", <i>Young </i>preferiu uma excitação extravagante. Visualmente, a cena de tirar o fôlego em que <i>Julia </i>e <i>Channard </i>adentram o labirinto e contemplam o giro de <i>Leviatã </i>pela primeira vez ganha muita potência, fruto da trilha de <i>Young</i>. Ele preparou uma suíte para cenas específicas, como na volta de <i>Julia </i>através do colchão, quando a batida assume um frenesi tribal e erótico. Independente das nuances, uma qualidade comum aos cenários é sua absoluta majestade. O trabalho de orquestra nos leva a crer na seriedade e compromisso envolvidos no ato de se contar essa inesquecível estória.</div><div style="font-family: arial;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; font-family: arial; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgZJP_LAWoqBnglviayC6ue-ktbdQ3k_MvCrFuU0wEuSDfXT0vQ1wgcECDgvawDvhIUsm4ILWvhJ4nXxCU_bMIalq2XLzdV5uP0pbb-5RB2aJABMfWuzNExgdXfuvF74dAQHqIGAcHJEotQTRRpbFsvoDDGymNOrp2lyLXcjzpgHm0RdnSepX5UHw-V6g=s625" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="625" data-original-width="406" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgZJP_LAWoqBnglviayC6ue-ktbdQ3k_MvCrFuU0wEuSDfXT0vQ1wgcECDgvawDvhIUsm4ILWvhJ4nXxCU_bMIalq2XLzdV5uP0pbb-5RB2aJABMfWuzNExgdXfuvF74dAQHqIGAcHJEotQTRRpbFsvoDDGymNOrp2lyLXcjzpgHm0RdnSepX5UHw-V6g=w260-h400" width="260" /></a></div><div style="font-family: arial;">Décadas antes do surgimento do que veio a ser batizado de "<i>New French Extreme</i>", ou seja, "<i>Novo Extremo Francês</i>", "<i>Hellraiser 2</i>" deixou as pessoas estupefatas pela crueza e brutalidade da violência. O filme não é apenas violento, ele detém uma perversa malícia que beira o satânico. Se só pela soma de detalhes se erige algo único, o time criativo sabia o que fazia ao conceber as minúcias, desde as fotos emolduradas no gabinete da obsessão de <i>Channard </i>(onde se vê imagens de <i>Aleister Crowley</i> e recortes de títulos bizarros) à longa demora do processo de ressurreição de <i>Julia</i>. No documentário "<i>Leviathan: The Story of Hellraiser and Hellbound: Hellraiser 2</i>", o ator <i>Oliver Smith</i> compartilha com muita simpatia e bom humor suas reminiscências das filmagens. Ele esteve no primeiro filme, no papel de <i>Frank </i>ressuscitado sem pele, e foi escolhido pelo porte franzino, facilitador do processo de aplicação de prostéticos e maquiagem. Para "<i>Hellraiser 2</i>", escalaram-no para o papel do paciente psiquiátrico alucinado com insetos no corpo. Veterano de filmes e séries de TV britânicas onde sempre fazia pequenos papéis, <i>Smith </i>acostumou-se a se dar mal: ele já havia sido despachado em explosões, tiros, fatiado ao meio e todo o mais; entretanto, "<i>Hellraiser 2</i>" ofereceu uma novidade! Ele brinca, dizendo que ao chegar a casa após um dia inteiro de filmagem, anunciou alegremente para a família: "<i>Ei, pessoal, adivinhem só o que me aconteceu no trabalho?! Eu fui comido por uma mulher! E eles: 'Foi nada!'. E eu: 'Fui, sim!'</i>". Na cena, registra-se um brevíssimo, fundamental toque de mestre por parte do diretor <i>Randel</i>. Enquanto o brutal renascimento de <i>Julia </i>se desdobra, <i>Channard </i>observa o drama vestindo um olhar fascinado, até que em sua face se revela o susto, no instante em que um jato de sangue atinge sua cara. O detalhe, um improviso de <i>Randel </i>para o qual o ator não estava preparado, funciona eficientemente. Foi obtido com o uso de uma pistola d'água, usada pelo cineasta para atirar sangue falso. No roteiro de <i>Atkins</i>, a cena foi escrita como uma sequência visceral e gráfica, com <i>Julia </i>reaparecendo como uma massa amorfa acoplada às costas do homem esquizofrênico. Aos poucos, a forma e as curvas sinuosas de uma pessoa do sexo feminino vão se evidenciando, à medida em que o pobre homem tem seus nutrientes drenados. <i>Atkins </i>imagina o momento como uma perversa paródia de cópula. Do jeito que a cena foi filmada, a sequência continua quase tão devastadora e psicologicamente exasperante quanto o texto. A modelo sul-africana <i>Deborah Joe</i>l dá um belíssimo desempenho, de expressão puramente corporal, e o embate dos dois colegas cria a terrível sensação de durar uma eternidade pela selvageria, ambos rolando agarrados pelo colchão melado de sangue, ele escapando, mas sendo pego pelos tornozelos e puxado de volta ao chão, ela reassumindo as costas da vítima e enfiando os dedos na nuca para lhe tirar os movimentos, ele gritando e agitando os braços em desespero... Em entrevista ao documentário, <i>Cranham </i>descreve sua impressão como a de "<i>dois coelhos cujas peles foram arrancados, rolando agarrados e lutando</i>". Em um lançamento em DVD de 2001, <i>Ashley Laurence</i>, <i>Atkins </i>e <i>Randel </i>assistiram ao filme juntos para a gravação de uma trilha de comentários, uma dos bônus do disco. Durante a cena do colchão, não obstante se note o bom humor e as brincadeiras entre os dois homens para amenizar a tensão, a voz abalada de <i>Laurence </i>denuncia o peso da violência, insuportável mesmo após tantos anos desde as filmagens. No primeiro lançamento do filme no Brasil, pela Paris Filmes, alguns segundos foram suprimidos, nominalmente um take onde vemos a mulher inserir os dedos na nuca do homem para paralisá-lo, e um outro, do ponto de vista de <i>Kyle</i>, que assiste à cena detrás das cortinas, quando vemos <i>Julia </i>abraçar sua vítima por trás, ambos no chão, ela investida no ato de sucção dos nutrientes na altura da nuca ferida, ele se debatendo e esperneando, sem conseguir se virar.</div><div style="font-family: arial;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; font-family: arial; text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiut-h5CJhl3SolrmZBAXm7sHluLxInEyp6BzUzKgV-BcqaP-93t52jPGQC5srD6sIFbEmoWAJXoCh2ZuNy0MwryuBfB5-8aRyTwvVA4FiK0x3nCQ1l-mAI00P05wNLX-ruQU_eCu1GYWNeb3nxBnkTw8yLNJJ8ccWMNCxaUdlp219Ih6Kue_gmPl89DQ=s1177" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1177" data-original-width="715" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiut-h5CJhl3SolrmZBAXm7sHluLxInEyp6BzUzKgV-BcqaP-93t52jPGQC5srD6sIFbEmoWAJXoCh2ZuNy0MwryuBfB5-8aRyTwvVA4FiK0x3nCQ1l-mAI00P05wNLX-ruQU_eCu1GYWNeb3nxBnkTw8yLNJJ8ccWMNCxaUdlp219Ih6Kue_gmPl89DQ=w388-h640" width="388" /></a></div>O documentário "<i>Leviathan</i>" traz uma outra lembrança paradoxalmente engraçada da cena. O ator <i>William Hope</i> conta que, na época, sua sogra visitava Londres com seu sobrinho pequeno e, sabendo que o tio trabalhava num filme, o menino amolou-o para que o levasse ao set. O ator realizou o desejo bem no dia no qual rodaram a cena do colchão: o garoto adorou a experiência; a sogra ficou chocada e embasbacada! A carreira de <i>Hope </i>gozava de cacife, em 1988, afinal, apenas dois anos antes, atuara em "<i>Aliens, O Resgate</i>", de James Cameron. Ele interpretava o inexperiente <i>Tenente Gorman</i>, em quem os soldados que descem à colônia exterminada infestada pelas criaturas não confiam. <i>Gorman </i>se redime com um heroico gesto de sacrifício no final da estória, mas foram o nervosismo e ineficácia do personagem os elementos que chamaram a atenção dos produtores de "<i>Hellraiser 2</i>" para convidarem-no para o semelhante papel de <i>Kyle</i>; tão despreparado e ingênuo quanto o <i>Gorman </i>de "<i>Aliens</i>". <i>Kyle </i>intenciona o bem, porém não compreende a gravidade da situação, e paga um preço caríssimo. Na época das filmagens, o ator revezava seu tempo entre peças de teatro em Londres e o trabalho no cinema. Assim que terminava a última apresentação da tarde, um carro o apanhava e o levava para o estúdio Pinewood, onde rodavam "<i>Hellraiser 2</i>". No set, fez amizade com o ator <i>Ken Cranham</i>, um pregando peça no outro, um modo de amenizar a enorme tensão, dada o desgaste das imagens violentíssimas filmadas dia após dia. Veterano e dono de uma eclética filmografia, <i>Hope </i>atuou, desde então, em uma impressionante gama de filmes e peças. Em "<i>Hellraiser 2</i>", desempenhou o papel de interesse romântico da heroína com a dose certa de caráter e bom mocismo. Seu personagem serve ao propósito de criar uma falsa impressão de segurança. Quando <i>Julia </i>o mata, por não termos esperado tal desfecho, o choque é ainda pior. A devastadora cena de sua morte muito deve aos atores em cena, à sensibilidade do diretor ao capturar a ação, e ao técnico de efeitos <i>Geoff Portass</i>, o homem por trás da prostética cuja função é a de retratar o processo de degradação de <i>Kyle</i>. <i>Randel </i>dirige o momento com maestria e poucos cortes; na verdade, opta por um só take de movimento de câmera para documentar o sofrimento do jovem médico, do instante no qual é pego até ser solto, quando basta a força da gravidade para levar sua casca ao chão. <i>Portass </i>criou uma prótese na forma de uma placa de borracha aderida ao lado do pescoço e começo do perfil de <i>Hope</i>, e o artifício comunica eficientemente a pletora de informações sobre o processo de nutrição em curso. No script, <i>Atkins </i>descreve a cena da seguinte forma: "<i>Kyle olha ao redor. Todas as oito vítimas foram sugadas até a secura. Ele está cercado por carcaças. Seu rosto empalidece. Ele dá a impressão de que vai desmaiar. Ele assente, com a cabeça. Sua voz sai como um suspiro derrotado. 'Sim, sim, é terrível'. Julia atravessa rapidamente o sótão em sua direção. A face dela é a imagem da empatia. 'Oh, você parece terrível. Pobre menino. Venha cá...'. Enquanto fala, Julia abre os braços para ele. Kyle vê o conforto oferecido e vai em direção a ela. Ao se encontrarem, a câmera se move ao redor dos dois e vemos, pela primeira vez, que Julia ainda está incompleta; suas costas ainda estão em carne viva, os ossos da coluna vertebral claramente expostos. Os braços de ambos envolvem seus corpos bem no momento em que Julia termina de falar: 'Vem para a mamãe'. Assim que as mãos de Kyle tocam a carne grudenta e cheia de muco dos ombros dela, fica instantaneamente claro para ele o que ocorreu. Por um momento, ele congela de terror. Estabanado, ele retira os braços dela e joga a cabeça para trás. Mas Julia é muito forte agora e seu abraço não relaxa. A expressão de Kyle é uma mistura de terror e confusão ao encarar a bela face do monstro. Julia sorri para ele, um sorriso cheio de apetite e excitação. 'Qual é seu nome?'. Kyle mal pode falar, de tanto medo. 'Kyle...'. 'Eu sou Julia'. Ela ergueu uma mão das costas dele para a nuca, e pressiona o rosto dele em direção ao seu. Julia executa o momento exatamente como um beijo sensual e apaixonado, sua boca bem aberta, sua cabeça se movendo rítmica e sinuosamente. A reação de Kyle é um tanto diferente; seus braços sacodem de pânico (apesar de apenas a partir dos cotovelos - o abraço de Julia impede qualquer coisa além disso) e sua cabeça convulsiona para trás. A câmera se move ao redor do casal abraçado até se deter atrás de Julia. As costas de seu vestido, como sabemos, é extremamente baixa. À medida que o beijo prossegue, vemos a pele crescer sob o perfil do vestido até a base da espinha, fluindo até as extremidades se encontrarem e se complementarem perfeitamente no pescoço e ombros. Julia ficou completa. Enquanto esse processo acontece, Kyle está morrendo lenta e horrivelmente nos braços dela, sua energia vital sugada através de suas bocas abertas. Seu corpo, ao tempo em que ela está regenerada, está drenado, vazio e seco. Julia tira os braços do corpo de Kyle e dá um passo para trás, permitindo que a casca caia no chão. Julia lambe os lábios e olha para baixo, com afeto, para o cadáver. Ela sorri: 'Obrigada, Kyle'</i>". No filme, o detalhe que subverte a cena vem do inesperado efeito sonoro de sucção e o tocante lamurio choroso do jovem. Por termos esperado certo protagonismo de sua parte, vê-lo reduzido a choros, impotente diante da situação, joga-nos ao encontro da intenção do diretor, a de nos questionarmos como as duas meninas farão para transpor obstáculos tão horrendos, à medida que seguem perdendo seus aliados.</div><div style="font-family: arial;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; font-family: arial; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj1xhcU1xEmbzO76xJ85Uc7_m7Q6jeSbCxvPhYXpSIP8Of75wDuQYEstSM_NsgWy0U8UN97VvufKvxNSHxUnEe0w8P0bvpX_oPO6X9GY7acC6RXsiu5K7SlGmjZBg1AeXkTnxxBp9FKJWDsYI5i2XcLOZKjBSnIRJtYafnhfSWZHtxZvh4HtHHy_a_O2g=s1024" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="819" data-original-width="1024" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj1xhcU1xEmbzO76xJ85Uc7_m7Q6jeSbCxvPhYXpSIP8Of75wDuQYEstSM_NsgWy0U8UN97VvufKvxNSHxUnEe0w8P0bvpX_oPO6X9GY7acC6RXsiu5K7SlGmjZBg1AeXkTnxxBp9FKJWDsYI5i2XcLOZKjBSnIRJtYafnhfSWZHtxZvh4HtHHy_a_O2g=w400-h320" width="400" /></a></div><div style="font-family: arial;"><i>Clare Higgins</i> retorna no papel de <i>Julia</i>, e o diretor <i>Tony Randel</i> fala sobre a diferença entre seus desempenhos nos dois filmes. Ele explica que, no primeiro, ela teve de criar uma vilã, pois <i>Julia </i>vai do papel de mulher adúltera à homicida; em "<i>Hellraiser 2</i>", ela já surge como vilã completa. Embora figure como destaque nos materiais publicitários da época, e seu nome venha em primeiro lugar nos créditos, <i>Clare Higgins</i> assume uma posição coadjuvante. Ela só aparece após cerca de 40 minutos de projeção, o que lança as atrizes <i>Ashley Laurence</i> e <i>Imogen Boorman</i> como as reais protagonistas. <i>Higgins </i>recebeu elogios pela performance, tendo sido, inclusive, indicada ao <i>Saturn Award</i> do ano de 1990 como melhor atriz coadjuvante (ela perdeu para <i>Sylvia Sidney</i>, vencedora pelo trabalho em "<i>Os Fantasmas se Divertem</i>"). Veterana do teatro britânico, <i>Higgins </i>é uma das atrizes mais importantes da Inglaterra, verdadeiro tesouro nacional, e consta do panteão de nomes como o de <i>Helen Mirren</i> e <i>Judy Dench</i>. "<i>Hellraiser</i>" ocorreu "<i>por acaso</i>" na vida da atriz, que se eternizou pelo sinistro papel de <i>Julia</i>, porém jamais compreendeu o apelo do material: ela admite ojeriza a filmes de horror, e revela que nunca assistiu aos dois integralmente. <i>Peter Atkins </i>e <i>Clive Barker</i> consideraram fortemente construir uma franquia em torno de <i>Julia</i>, seria para esta direção a que as primeiras ideias de um "<i>Hellraiser 3</i>" levariam a saga; entretanto, depois de vocalizar a escolha por se afastar de filmes violentos, <i>Higgins </i>atirou um balde de água gelada no time criativo. Foi quando eles se inteiraram do impacto cultural advindo da elegante, macabra presença do<i> Cabeça de Pregos</i>, e ele virou o "<i>novo monstro</i>" para estampar pôsteres de continuações. Quando vi o filme pela primeira vez, foi em VHS, no começo dos anos 90, 1990 ou 1991. Eu era uma criança de dez anos de idade, e "<i>Hellraiser 1&2</i>" queimaram em minha memória uma imagem muito poderosa e ofuscante das personagens. Isso foi uma década antes do aparecimento da internet. Ao longo dos anos, enquanto crescia, via-me sempre retornando a aquele material tão volátil cuja inesquecível impressão fizera sulcos em meu imaginário. Olhando para trás, décadas mais tarde, percebo que o material refletia certa dissonância cognitiva minha, na época, ao observar, com olhos da infância, o indecifrável, distante mundo dos adultos. "<i>Hellraiser</i>" jamais foi, a meu ver, uma simples fantasia de ficção-científica. Ele tocava em temas muito reais e perturbadores, por mais que, a uma criança, escape-lhe o domínio de conceitos tão filosóficos e profundos. Algo no subconsciente me falava sobre a perversidade por trás de coisas como quando você vê a entrada dos cenobitas após a invocação da menina autista, e eles entram em cena por túneis recém-abertos, sob a batuta da trilha sonora bombástica de <i>Christopher Young</i>: assista à cena, e me diga se nas roupas, por exemplo, nas peças de couro, nos adornos apertados e nas lâminas como armas de escolha, você não consegue enxergar um peculiar tipo de crueldade... trata-se de uma malícia de natureza sexual, sadomasoquista e perigosa, por estender-se de uma filosofia. O conhecimento de Barker da natureza humana fazia de seu material um paiol em flerte com a explosão, pois sabia, em seu âmago, que era daquilo que as pessoas "<i>não haviam visto</i>" de que elas se recordavam. Os dois primeiros "<i>Hellraiser</i>", os únicos frutos da "<i>filosofia</i>", transcendem os parâmetros do horror ordinário, e expõem à luz uma amálgama de neuroses que elimina qualquer possibilidade de encerramento de discussão no que tange ao significado completo da obra. Ao se recordar do primeiro filme, no qual ela atuou em 1986, a atriz <i>Ashley Laurence</i> cita muitas cenas cuja essência só compreenderia mais tarde, como mulher adulta. Ela cita uma cena do filme de 87, na qual, tendo voltado com o marido para a casa onde <i>Frank </i>morara, <i>Julia </i>passa a vista por um maço de fotos encontradas no quarto do cunhado, e nas quais vê-lo na companhia de uma prostituta. <i>Laurence </i>fala que, na época, não entendia o intento de <i>Barker </i>ao escrever a cena; mais tarde, entretanto, soube ler perfeitamente a verdade por trás das nuances do desempenho da colega<i> Clare Higgins</i>. Na cena, ela tentava comunicar - e o fez perfeitamente - a tristeza de uma mulher cujo primor ficara para trás e, encarando o peso do tempo, enlutava-se ao, nas fotos, reconhecer o único homem por quem sentira amor, justamente aquele que a rejeitara tão cruelmente ao pôr seus prazeres acima de qualquer outro compromisso. O figurino e a caracterização de <i>Julia</i>, uma atração à parte, catapultam-na acima do abismo entre antes & depois. A mulher entristecida vira uma assassina implacável; a blusa e o terno executivo, as ombreiras estilo <i>Joan Collins</i> e a maquiagem funcionam como a "<i>pintura de guerra</i>", o contraste extravagante, revelador do ponto a partir do qual melancolia e abandono femininos chegam ao ponto de fervura, e precisam ser extravasados a marteladas na cabeça. Paradoxalmente, para uma artista cuja marca foi a de uma personagem tão icônica, <i>Higgins </i>encontrou seu nicho nos papéis mais dolorosos e introvertidos, como o da viúva dona do pensionato por quem um jovem <i>Van Gogh</i> vem a se apaixonar na premiada peça de teatro "<i>Vincent in Brixton</i>", ou o da sofrida esposa companheira do saudoso <i>Brian Dennehy </i>na aclamada montagem de "<i>Death of a Salesman</i>". Para os seus trabalhos artísticos, a maravilhosa atriz traz um pouco da bagagem de vida, já que de seu turbulento passado parece irradiar a melancolia que invoca para realizar desempenhos tão poderosos. Filha de professores, ela fugiu de casa na adolescência para se aventurar pelo mundo, uma aventura que culminou na gravidez inesperada aos dezessete anos, o que a levou a entregar a criança para a adoção. Nos anos seguintes, o tempo se encarregou de levá-la ao olimpo dos principais nomes do teatro britânico, porém, nem mesmo o clamor conseguia substituir o incomensurável vazio no peito, explicável pela ausência do filho de quem abrira mão décadas antes. A dor só foi dirimida ao rastreá-lo em 1995, àquela altura um homem adulto, com a sua própria vida, e casado. O reatamento da relação abriu novas perspectivas para ambos, que desde então seguiram alinhados. Quando assisti ao filme pela primeira vez, e por todos estes anos nos quais, não havendo internet, sabia tão pouco sobre ela, eu não poderia supor uma vida tão rica de acontecimentos por trás das duas performances que a galvanizaram na minha mente. Ela teve uma vida verdadeiramente fenomenal, repleta das surpresas e reviravoltas que nem mesmo <i>Clive Barker</i> seria capaz de conceber, por mais que, na fantasia, tenha escrito a personagem pela qual os <i>connoisseurs </i>se lembrariam imediatamente dela. A título de curiosidade, há alguns anos, descobri uma jovem atriz que é uma <i>fac-símile</i> da <i>Clare Higgins</i>, chamada <i>Analeigh Tipton</i>. Os olhos, o nariz e a estrutura facial são idênticos. Ambas lindas mulheres, em momentos diferentes da escala de barganha.</div><div style="font-family: arial;"><br /></div><div style="font-family: arial;"><i>Ashley Laurence</i> e <i>Imogen Boorman</i> encabeçam o elenco nos papéis centrais de <i>Kirsty </i>& <i>Tiffany</i>. Mais experiente e adulta, <i>Laurence </i>soa crível como heroína, bem coadjuvada pela estreante <i>Imogen Boorman</i> no papel da menina autista. As duas exibem fantástica química, e sua dinâmica nos faz pensar na relação de duas irmãs. Em "<i>Hellraiser</i>", <i>Laurence </i>dava uma interpretação de criança assustada; aqui, ela toma as rédeas do próprio destino, e desafia o inferno para "<i>trancar</i>" o <i>Leviatã </i>em definitivo. Cito as <i>graphic novels</i> desenvolvidas pela <i>Boom! Studios</i>, que ao imaginar sequências para "<i>Hellraiser 2</i>", trouxeram <i>Kirsty </i>& <i>Tiffany</i>, melhores amigas tantas décadas após a aventura no hospício. O trabalho da <i>Boom! Studios</i> é altamente recomendável. Com argumentos escritos pelo próprio <i>Barker</i>, temos um vislumbre das direções para onde o cinema poderia ter levado tão fantástica saga. No papel do vilão principal, <i>Dr. Channard</i>, <i>Ken Cranham</i> expressa o mesmo dissabor da amiga <i>Clare Higgins</i> no tocante ao gênero. <i>Cranham </i>trabalhava em uma peça com o ator <i>Gary Oldman</i>, quando os executivos o convidaram para viver o cenobita. <i>Cranham </i>conta como o colega <i>Oldman </i>sentiu uma pontinha de inveja, pois sempre lhe apetecera trabalhar em um filme assustador. Seu sonho se tornaria realidade poucos anos mais tarde, ao ser escalado para "<i>Drácula de Bram Stoker</i>", do diretor Francis Ford Coppola. O ator <i>Cranham </i>aceitou o papel de <i>Channard </i>pela mesma razão de <i>Higgins</i>: ambos eram amigos na vida real, e por mais que não pinçassem do roteiro o cabedal de dramas humanos que usualmente atrai atores shakespearianos a projetos, seria uma oportunidade de trabalharem juntos, vez que se gostavam muito. <i>Cranham </i>encarou com estoicismo as longas horas demandadas para a "<i>transformação</i>" em cenobita, e o sacrifício compensou, dada a longevidade de suas cenas apavorantes como o "<i>filho preferido</i>" do <i>Leviatã</i>. Em uníssono, elenco e equipe técnica jamais se esqueceriam do trabalho no famoso estúdio <i>Pinewood</i>, o "<i>berço</i>" dos grandiosos filmes de <i>James Bond</i>. Em 1988, dividiam o espaço com a equipe um outro filme, a do primeiro "<i>Batman</i>", de <i>Tim Burton</i>. A equipe de "<i>Hellraiser 2</i>" se lembra da empolgação dos membros, na hora do almoço, quando partilhavam o refeitório, e a apenas algumas mesas de onde se sentavam, podiam ver os astros <i>Michael Keaton</i> e <i>Jack Nicholson</i> em seu momento de descanso.</div><div style="font-family: arial;"><br /></div><div style="font-family: arial;">"<i>Hellraiser 2</i>" foi lançado no Natal de 1988, e fez uma boa soma nas bilheterias. A partir daquele momento, <i>Clare Higgins</i> se despediu do gênero, e os direitos autorais foram parar nas mãos dos americanos. O produtor <i>Lawrence Kuppin </i>comprou os direitos e comissionou <i>Atkins </i>para escrever o roteiro da terceira aventura. A seriedade e crueza dos filmes perderam espaço para uma desastrosa tentativa de adaptar a série ao gosto do "<i>mainstream</i>" e, em 1991, as filmagens de "<i>Hellraiser 3</i>" se iniciaram na Carolina do Norte. Lançado em 11 de setembro de 1992 nos Estados Unidos, "<i>Hellraiser 3</i>" recuperou financeiramente o investimento, mas a melancolia da ideia original restaria comprometida por décadas; a versão final pouco exibia da elegância dos antecessores, mais se aproximando dos clichês de "<i>A Hora do Pesadelo</i>", na época um fenômeno comercial. Algumas sequências problemáticas se seguiram, e, dentre tantos filmes, um ou dois se salvaram, o melhor deles "<i>Hellraiser: Inferno</i>", de 2000, estrelando <i>Craig Sheffer</i>. O fascínio dos dois primeiros filmes ficou apagado, e diante da menção de "<i>Hellraiser</i>", as pessoas pensavam nas continuações medíocres, alheias aos dois primeiros, duas obras primas esquecidas com o avançar dos anos. Em 2006, a tendência deixou de girar em torno da realização de continuações e assumiu um tom mais promissor, pois foi a partir daquele ano no qual se começou a se discutir seriamente a refilmagem.</div><div style="font-family: arial;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; font-family: arial; text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Em 2007, a <i>Dimension</i>, detentora dos direitos autorais, aventava o diretor <i>Jim Sonzero</i> para o projeto, responsável pelo remake do clássico japonês "<i>Kairo</i>", intitulado "<i>Pulse</i>", mas nada de concreto adveio do encontro, que não a mera expressão de vontades. Naquele mesmo ano, dois cineastas franceses, <i>Julien Maury & Alexandre Bustillo</i>, haviam chamado a atenção por causa de um tenebroso, aterrorizante expoente do "<i>New french extremity</i>", um suspense chamado "<i>À L'interieur</i>", lançado no Brasil sob o título "<i>A Invasora</i>", pela <i>California Filmes</i>. Os franceses foram convidados para apresentarem um tratamento para um possível remake. Não houve progresso após as tratativas iniciais, logo abortadas quando os franceses solicitaram maior liberdade criativa. Os executivos da <i>Dimension</i> encarregados de pôr o projeto nos trilhos sabiam que o tom apropriado para um reimaginação deveria conferir com a seriedade e a angústia existencial europeia. Assim, o próximo nome na lista foi um outro francês, outro prodígio da "<i>New french extremity</i>". A bola da vez se chamava<i> Pascal Laugier</i>, de cuja mente brotara uma das coisas mais perturbadoras vistas nos últimos anos, o transgressor "<i>Mártires</i>", dono de um niilismo difícil de ser rivalizado.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"> <i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhz0d7OqvScSAs0-a0PFedG4W8b5LN2NY9SCCFkjwb5MUJMFa4qdbpGLPi3eLEopf7jMbOWY3O4c_sGFv58obDZt5MwT7MKCm8V3ouQEe-8aYsRu7tbRLUp1QbGsLOsmvsFkcKbfXwhykmiusQqKm0oDCktZyvUkPP_Sr-V6I6vlnJQSsO8kmXa5paTzw=s1477" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1477" data-original-width="745" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhz0d7OqvScSAs0-a0PFedG4W8b5LN2NY9SCCFkjwb5MUJMFa4qdbpGLPi3eLEopf7jMbOWY3O4c_sGFv58obDZt5MwT7MKCm8V3ouQEe-8aYsRu7tbRLUp1QbGsLOsmvsFkcKbfXwhykmiusQqKm0oDCktZyvUkPP_Sr-V6I6vlnJQSsO8kmXa5paTzw=w322-h640" width="322" /></a></div>Barker</i> vocalizou o entusiasmo com os boatos sobre <i>Laugier</i>. Ele sabia que uma reinvenção só daria certo se as rédeas passassem às mãos de alguém louco e destemido o suficiente, afinal, quando fizera "<i>Hellraiser</i>", ele mesmo, <i>Barker</i>, viera para mudar as regras do jogo, um revolucionário. Quando <i>Laugier</i> perdeu a paciência com a demora e se atarefou com novos projetos ("<i>O Homem das Sombras</i>" & "<i>Incident in a Ghostland</i>"), o estúdio riscou seu nome e foi para o "<i>enfant terrible do momento</i>", um diretor turco chamado <i>Can Evrenol</i>. Chamaram-no para escrever uma premissa de "<i>Hellraiser</i>", com a promessa de que, se o estúdio gostasse, o negócio seria fechado e a produção entraria na fase de filmagem o mais rápido possível. Era 2015, e <i>Evrenol </i>caíra na graça dos fãs do gênero após a exibição de "<i>Baskin</i>", um horror similar a "<i>Hellraiser 2</i>", no <i>Toronto International Film Festival</i>. <i>Evrenol </i>fala sobre a época, discorrendo enigmaticamente sobre as ideias que, infelizmente, não deram certo. O cineasta disse: "<i>Logo após a première de Baskin em Toronto, meus agentes me disseram: 'A Dimension quer falar contigo a respeito de um remake de Hellraiser'. Nós escrevemos uma bela abertura, onde veríamos uma estátua, uma estátua da Suméria, e a sua cara é subitamente arrebentada com uma marretada. Nós vemos terroristas do ISIS vandalizando um museu, um museu arqueológico. Eles começam a matar as pessoas presentes, e então surge esse outro cara que chega e mata os terroristas. Ele era um membro do ISIS e os havia usado para entrar no museu arqueológico. Ele abre uma porta e desce pelas escadas até um sarcófago. Ele abre o sarcófago e, dentro, encontra um torso com correntes conectadas ao mesmo. E ele diz: 'Olá, papai'. E arrebenta o crânio como se quebrasse um ovo. De dentro da cabeça, ele retira o cubo... A 'Configuração do Lamento'. Nós pusemos essa abertura em desenhos de storyboard e levamos para a Dimension... mas nada adveio disso aí</i>". Mais de uma década tinha se passado desde que se falara no remake pela primeira vez, e nada acontecera. Surpreendentemente, embora a refilmagem não tivesse saído do papel, a <i>Dimension </i>produzira, a toque de caixa, dois filmes direto para DVD que só serviram para denegrir o legado dos primeiros filmes dos anos 80. Os direitos autorais expiraram, e a <i>Dimension </i>perdeu em definitivo qualquer pretensão de produzir a refilmagem. Quando o serviço de streaming <i>Hulu </i>entrou em campo, as coisas mudaram: <i>Barker </i>foi trazido a bordo, e em um tempo relativamente exíguo, as peças para um remake já se encontravam nos seus devidos lugares. Ao diretor <i>David Bruckner</i>, um dos nomes vindos para ficar, revelado no começo da década de 2010 com "<i>V/H/S</i>", foi confiada a cadeira de diretor. Ele escalou um elenco intrigante, e de agosto a outubro de 2021, escolheu a Sérvia como locação. Sob forte expectativa, "<i>Hellraiser</i>" promete estrear simultaneamente na <i>Hulu </i>e nos cinemas, em data ainda não definida de 2022. Dentre as poucas coisas que se sabe da produção, a notícia mais interessante é a escolha de <i>Bruckner</i> para o rosto por trás do novo "<i>Cabeça de Pregos</i>". Buscando uma adaptação mais literal de "<i>The Hellbound Heart</i>", o diretor <i>Bruckner</i> parece ter se atentado ao fato de que, no romance, "<i>Cabeça de Pregos</i>" é uma mulher! E, assim, a missão de reinventar o novo "<i>Cabeça de Pregos</i>" coube a uma atriz chamada <i>Jamie Clayton</i> (<i>foto</i>). Ao passo que quase nada se saiba sobre a estória, as falas de <i>Barker </i>e <i>Bruckner</i> lançadas na mídia impressa estimulam-nos a pensar no que vem aí. <i>Barker </i>diz: "<i>O design do filme é incrível, é algo que eu não esperava. David e sua equipe mergulharam na mitologia de Hellraiser. Seu objetivo é prestar homenagem ao original, enquanto o revoluciona para que possa capturar as novas gerações</i>". O sr. <i>Bruckner</i>, a seu turno, teve o seguinte a acrescentar: "<i>Estamos trabalhando muito. Para mim é uma alegria e sonho poder mergulhar nesse mundo. Tudo o que posso dizer é que pretendemos ser o mais fiel possível ao material de origem. 'The Hellbound Heart' (a estória original de Clive Barker) também é nossa principal fonte de inspiração</i>". Os outros nomes elencados deixaram-me intrigados quanto a quem interpretarão. Há um quarteto de jovens atores, todos ainda na casa dos vinte anos: <i>Drew Starkey</i>, <i>Brandon Flynn</i>, <i>Odessa A'zion</i> e <i>Selina Lo</i>. Não obstante eu não possa afirmar, provavelmente os dois rapazes farão <i>Rory </i>& <i>Frank</i>. A atriz <i>Odessa A'zion</i>, citada como a heroína desta versão, pode ser <i>Kirsty</i>, a colega de trabalho secretamente apaixonada por <i>Rory</i>. A indagação revolve a misteriosa figura de <i>Julia</i>. Seria a novata <i>Selina Lo</i> a sua intérprete? Dois outros nomes me fizeram pensar em como caberiam nesta estória: <i>Goran Visnjic</i> e <i>Hiam Abbass</i>. Ambos são veteranos, <i>Visnjic </i>um rosto familiar por causa de seu papel de galã na série "<i>E.R. Plantão Médico</i>"; <i>Abbass</i>, uma respeitada atriz palestina vista em produções intelectualizadas como "<i>Blade Runner 2049</i>". O ponto de interrogação consiste no seguinte ponto: sim, ambos os atores, bem aparentados e donos de bagagem dramática, reúnem cacife de protagonistas; todavia, a discrepância da idade aponta como quase impossível que <i>Visnjic </i>viva <i>Frank </i>ou <i>Rory</i>, ou que <i>Abbass </i>interprete <i>Julia</i>. Os dois atores, maduros, não batem com a descrição de <i>Barker </i>dos dois personagens. Há uma diferença de quase duas décadas. Creio que eles possam vir a integrar o quarteto de cenobitas liderado por<i> Jamie Clayton</i> e, tendo lido muitas vezes a obra literária, imagino qual seria o cenobita vivido por <i>Abbass </i>(transcrevo, mais abaixo, o trecho do livro onde se menciona a cenobita que me parece ser o papel da sensual e madura atriz). Em termos de direção, existe uma compreensível expectativa pela condução do cineasta <i>David Bruckner</i>. Ele esbanjou habilidade na condução do suspense psicológico sobrenatural "<i>The Night House</i>", estrelando <i>Rebecca Hall</i> (por falar nisso, é de se pensar a razão pela qual ele não a trouxe a bordo de "<i>Hellraiser</i>", ela teria sido uma estupenda <i>Julia</i>). De qualquer jeito, só saberemos as respostas a partir do segundo semestre, quando "<i>Hellraiser</i>" chegar à plataforma. Segue o trecho sobre o qual escrevi acima. Na primeira versão para o cinema, <i>Clive Barker</i> apresentou uma sequência diferente, resumida; crê-se que, nesta refilmagem, o diretor <i>David Bruckner</i> irá até o fim para transpô-la para a linguagem cinematográfica com literalidade: "<i>Eles não precisavam de outro convite para levantar a cortina.
Ele ouviu a porta ranger como se fosse aberta e virou-se para ver
que o mundo além da soleira havia desaparecido, sendo
substituído pelas mesmas trevas repletas de pânico de onde os
membros da ordem haviam saído. Ele olhou para os Cenobitas,
buscando alguma explicação para aquilo, mas eles tinham
desaparecido. Contudo, sua passagem não ficara sem registro.
Eles haviam levado as flores consigo, deixando apenas tábuas
nuas e, na parede, as oferendas que Frank preparara estavam
enegrecidas, como se estivessem no calor de uma chama feroz,
contudo, invisível. Ele sentiu o cheiro acre da combustão delas;
ele pinicou suas narinas tão firmemente, que Frank estava quase
certo de que elas sangrariam.
Mas o cheiro de queimado foi só o início. Assim que ele o
registrara, meia dúzia de outros odores preencheu sua cabeça.
Perfumes que ele mal notara até então, de súbito, fizeram-se
imensamente fortes. O persistente cheiro de flores furtadas; o
cheiro da pintura do teto e da seiva na madeira sob seus pés —
tudo inundou sua cabeça. Ele podia até sentir o cheiro das trevas
além da porta e, dentro delas, o excremento de cem mil
pássaros.
Ele levou a mão à boca e ao nariz para impedir que o ataque
o possuísse, mas o fedor da perspiração dos seus dedos lhe deu
vertigens. Ele poderia ter se sentido nauseado se novas
sensações não inundassem seu sistema e germinassem em
cada uma das terminações nervosas.
Era como se ele pudesse, repentinamente, sentir a colisão
dos grãos de poeira contra sua pele. Cada exalação irritava seus
lábios; cada piscadela, os seus olhos. Bile queimava no fundo da
sua garganta e um bocado do bife do dia anterior que ficara
alojado entre seus dentes enviou espasmos por todo o sistema
ao liberar uma gotícula de calda sobre a língua.
Seus ouvidos tornaram-se tão sensíveis quanto. Sua mente
foi preenchida por milhares de ruídos, alguns produzidos por ele
próprio. O ar que tocava seus tímpanos era um furacão; a
flatulência das suas entranhas, um trovão. Mas havia outros sons
— incontáveis — que o atacavam, vindo de um lugar que não era
ele próprio. Vozes erguidas em raiva, juras de amor sussurradas,
rugidos e agitações, trechos de músicas e lágrimas.
Seria o mundo o que ele estava escutando — a alvorada
irrompendo em incontáveis lares? Ele não teve oportunidade de
ouvir com atenção; a cacofonia arrancara qualquer poder de
análise da sua mente.
Mas havia algo pior. Os olhos! Deus do céu, Frank nunca
imaginou que eles poderiam ser tamanho tormento; ele, que
achara que não restara nada na Terra que poderia desconcertá-lo. Agora, ele recuava! Visão em todos os lugares!
O gesso plano do teto era uma espetacular geografia de
golpes de pincel. O tecido da sua camisa lisa, uma insuportável
elaboração de fios. Num canto, ele viu um rato se mover com a
cabeça de uma pomba morta e piscar para ele, ao perceber que
Frank o vira. Demais! Demais!
Consternado, fechou os olhos, contudo, havia mais do lado de
dentro do que fora; memórias cuja violência o abalou ao ponto de
quase desacordá-lo. Ele sugou o leite da mãe e engasgou; sentiu
o braço de seu irmão envolvê-lo (uma briga ou um abraço
fraternal? De qualquer modo, ele sufocou). E mais, muito mais.
Uma vida curta de sensações, todas escritas de modo perfeito
em seu córtex, transgredindo-o com sua insistência de serem
lembradas.
Ele sentiu-se próximo de explodir. Sem dúvida, o mundo fora
da sua cabeça — o quarto e os pássaros além da porta —
apesar de todos os seus guinchos excessivos, não poderia ser
tão opressor quanto suas memórias. Melhor aquilo, ele pensou, e
abriu os olhos. Mas eles não descolaram. Lágrimas ou pus ou
agulha e linha os haviam selado.
Ele pensou nos rostos dos Cenobitas: os ganchos e
correntes. Será que tinham efetuado alguma cirurgia parecida
nele, trancando-o atrás dos próprios olhos com o desfile da sua
história?
Temendo pela sanidade, ele começou a se endereçar a eles,
embora não estivesse nem ao menos seguro de que eles se
encontravam dentro do alcance de suas palavras.
— Por quê? — ele perguntou. — Por que estão fazendo isto
comigo?
O eco das palavras ribombou em seus ouvidos, mas ele mal
as percebeu. Mais impressões dos sentidos vinham nadando do
passado para atormentá-lo. A infância ainda persistia na sua
língua (leite e frustração), mas havia sensações adultas juntando-se a ela agora. Ele havia crescido! Usava bigode e era poderoso,
mãos pesadas e coragem.
Os prazeres da juventude tinham substituído o apelo das
novidades, mas, conforme os anos passavam e sensações
moderadas perdiam sua potência, experiências mais e mais
fortes eram necessárias. E aí vinham elas de novo, mais
pungentes por serem despidas nas trevas, nos recessos da
mente.
Ele sentiu incontáveis sabores em sua língua: amargos,
doces, azedos, salgados; temperos fortes e merda e os cabelos
da sua mãe; viu cidades e céus; viu velocidade, viu profundezas;
dividiu pão com homens agora mortos e foi escalpelado pelo
calor da saliva deles em sua bochecha.
E, claro, havia as mulheres.
Sempre em meio à confusão e agitação, memórias de
mulheres surgiam, aturdindo-o com seus odores, texturas e
sabores.
A proximidade deste harém o excitou, apesar das
circunstâncias. Ele abriu as calças e acariciou o pau, mais ávido
por espalhar sua semente e se livrar daquelas criaturas do que
pelo prazer em si.
Estava levemente ciente, conforme executava a tarefa, de
que devia ser uma visão digna de pena: um cego num quarto
vazio, excitado por um sonho. Mas o orgasmo sem alegria
fracassou em sequer desacelerar a impiedosa demonstração.
Houve um espasmo de dor quando ele atingiu o chão, mas a
resposta foi varrida antes da chegada de outra onda de
memórias.
Ele rolou de costas e gritou; gritou e implorou para que aquilo
acabasse, mas as sensações só aumentavam, elevadas a novas
alturas a cada prece que ele fazia para que cessassem.
As súplicas se tornaram um só som, palavras e sentidos
eclipsados pelo pânico. Parecia não haver fim para aquilo, senão
a loucura. Nenhuma esperança, senão perder a esperança.
Ao que formulou este último e desesperado pensamento, o
tormento cessou.
Tudo de uma vez; todo ele. Se foi. Visão, som, tato, odor,
paladar. Ele se viu, abruptamente, privado de todos. Então,
houve segundos em que duvidou da própria existência. Duas
batidas do coração, três, quatro.
Na quinta, ele abriu os olhos. O quarto estava vazio, as
pombas e o pote com o mijo haviam sumido. A porta estava
fechada.
Ele se sentou com cautela. Seus lábios formigavam; a
cabeça, punhos e bexiga doíam.
Então, um movimento do outro lado do quarto chamou sua
atenção.
Onde poucos momentos antes havia um espaço vazio, agora
ele via uma figura. Era o quarto Cenobita, aquele que não tinha
falado nem mostrado o rosto.<span> <span style="font-size: x-small;">(nota do autor: eu penso ser este o papel da atriz Hiam Abbass)</span></span><span style="font-size: x-small;">.</span> Agora, Frank percebia que ele era
ela. O capuz que vestia fora descartado, assim como as vestes.
A mulher por baixo delas era acinzentada, contudo, reluzente; os
lábios vermelhos como sangue, as pernas separadas de modo
que a elaborada escarificação do púbis ficasse à mostra. Ela
estava sentada sobre uma pilha de cabeças humanas
apodrecidas e sorriu, dando boas-vindas.
O choque de sensualidade e morte o consternou. Teria ele
alguma dúvida de que ela havia, pessoalmente, despachado
aquelas vítimas? A podridão delas estava sob as unhas da
criatura, e as línguas — vinte ou mais — estavam dispostas em
grupos sobre suas coxas untadas, como se aguardassem entrar.
Ele também não duvidou de que os cérebros que agora
escorriam pelos ouvidos e narinas tinham sido levados à
insanidade antes que um golpe ou um beijo tivesse parado o
coração.
Kircher tinha mentido — ou isso ou ele também fora
horrivelmente enganado. Não havia prazer no ar; ou pelo menos,
não como a humanidade o entendia.
Ele cometera um erro ao abrir a caixa de Lemarchand. Um
erro terrível.
— Oh, então você parou de sonhar? — perguntou a Cenobita,
estudando-o, ao que ele permanecia ofegante sobre as tábuas
nuas. — Bom.
Ela se levantou. As línguas caíram no chão como uma chuva
de vermes.
— Agora podemos começar — ela disse</i>".</div></div><div class="separator" style="clear: both; font-family: arial; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; font-family: arial; text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjuKbyqJxikZ5bTcoOANam4ID9u7YURxLpO87FLT7PU_e553EYkhmsG_lUjL_OmrMdy1HfwTgV5wLi71D4j0X0I4BbHpCJwhbfuTtd9AVPhNEw1u_CIqIf1HGjSN9U2h48-VolV_b10vtRDlsTv6J-uD8gLWtxjWQUZ7nQf_gL1OUhwheTr-zQQWdI-hA=s1700" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1700" data-original-width="1360" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjuKbyqJxikZ5bTcoOANam4ID9u7YURxLpO87FLT7PU_e553EYkhmsG_lUjL_OmrMdy1HfwTgV5wLi71D4j0X0I4BbHpCJwhbfuTtd9AVPhNEw1u_CIqIf1HGjSN9U2h48-VolV_b10vtRDlsTv6J-uD8gLWtxjWQUZ7nQf_gL1OUhwheTr-zQQWdI-hA=w320-h400" width="320" /></a></div><i>Clive Barker</i> foi um dos autores mais influentes sobre o meu imaginário, durante a infância e adolescência. Aquelas cenas esquisitas de "<i>Hellraiser</i>", - o blazer e as ombreiras de <i>Julia</i>, a maquiagem e os cabelos dos anos 80, a crueldade sexual e o sadomasoquismo - somaram-se à plêiade de <i>David Cronenberg</i>, <i>John Boorman</i>, <i>John Frankenheimer</i>, <i>Dario Argento</i> e <i>Brian De Palma</i>, compondo, junto às <i>personas </i>icônicas de<i> Jennifer Connelly</i>, em "<i>Rocketeer</i>" e <i>Burt Reynolds</i>, em "<i>Starting Over</i>", uma desfocada, hipersensível concepção dos <i>affairs </i>adultos, vistos através da ótica da infância, que a tudo registra, por mais que nem sempre entenda. Aos dez anos, eu contemplava as poucas fotos que encontrara dos dois, <i>Barker </i>e<i> Clare Higgins</i>, e tentava desvendar o que existia por trás da expressão, como se a resposta, passível de extração a duras penas daquela gente tão sedutora em seu sorridente e estático mistério, pudesse elucidar as pessoas ao meu redor, e embora eu visse aquele rapaz parecido com <i>Hugh Grant</i> em "<i>Quatro Casamentos e um Funeral</i>" e aquela moça semelhante a uma jovem <i>Charlotte Rampling</i>, também recriava, com tintas fortes e desmedidamente, os "<i>meus próprios adultos</i>", moldando-os à única linguagem que eu conhecia bem, a do cinema. "<i>Gêmeos - Mórbida Semelhança</i>" trouxe um desses vislumbres do pesadíssimo jogo psicológico do qual adultos complicados tomam parte, jogos reinterpretados pelas lentes do sr. <i>Cronenberg</i>. Eu tinha 14 anos quando assisti ao filme pela primeira vez, em 1994, na televisão, e depois fui atrás da fita de vídeo. Eu tinha a caixa em VHS empoeirada da F.J. Lucas junto aos meus alfarrábios. Baseado no livro "<i>Twins</i>", de <i>Jack Geasland</i> & <i>Bari Wood</i>, o filme, que pega muito emprestado do tétrico caso real dos gêmeos <i>Stewart & Cyrill Marcus</i>, contava a estória de dois célebres cirurgiões ginecologistas que, incapazes de viverem existências independentes, costumavam dividir os diferentes aspectos demandados pela vida adulta como se fossem uma só pessoa, um se passando pelo outro pela mera diversão, enganando pacientes e colegas. Compartilhavam parceiras sexuais, méritos e aventuras, e tudo ia muito bem, até a chegada de uma mulher muito especial, que põe tudo a perder. A história real fervilhava com escândalos impossíveis de transposição para as telas, mesmo nas mãos de um gênio criativo como <i>David Cronenberg</i>. Permanece no filme o abuso de heroína; mas a obra não toca nos detalhes mais sórdidos, como a prática de masturbação mútua. O filme introduz, como elemento exógeno catalisador da destruição dos irmãos, a figura de uma mulher, uma atriz em declínio que procura um deles por causa do desejo de engravidar. Ela deseja suprir seu vazio existencial. O mais vulnerável dos irmãos se apaixona pela unicidade das minúcias que ela traz consigo (o útero trifurcado), e acaba por se obcecar pelo oceano de mistérios daquela fêmea em particular, que veio para enriquecer seu "<i>mundo de detalhes</i>". Daí para frente suas vidas entram numa espiral de loucura e autodestruição. Eu me lembrei do filme pois, nesta toada de remakes feitos para novos tempos, "<i>Dead Ringers</i>" será o próximo. O serviço de <i>streaming Amazon Prime</i> lançará, ainda neste ano, o remake do filme de <i>David Cronenberg</i>, desta vez com mulheres, isso mesmo, <i>mulheres</i>, nos papéis centrais. Se no filme de 1988 o ator <i>Jeremy Irons</i> desempenhou os papéis dos gêmeos <i>Elliot </i>& <i>Beverly Mantle</i>, e <i>Genevieve Bujold</i> criou a personagem da mulher manipuladora que se mete entre eles e introduz o processo de desintegração de suas vidas, em 2022, será a atriz <i>Rachel Weisz</i> quem habitará o papel dos irmãos, ou melhor, das duas gêmeas, cirurgiãs ginecologistas, as "<i>irmãs Mantle</i>". Nada se sabe sobre as novidades desta versão. O que causará a desarmonia e loucura entre as irmãs? Será um homem que entrará no caminho da mais sensível, a ponto de, ao se apaixonar pelo rapaz, ela principiar o processo de queda? Ou será uma outra mulher, um romance homossexual? Consta, no elenco, o nome de uma respeitada atriz chamada <i>Jennifer Ehle</i>. Será ela quem dividirá os lençóis com as duas irmãs, jogando uma contra a outra? Recentemente, <i>Rachel Weisz</i> foi fotografada em Nova York ao lado de uma colega, filmando uma cena de "<i>Dead Ringers</i>". Observando cuidadosamente a linguagem corporal e o modo de vestir das duas atrizes, não tenho como deixar de ser remetido à eletricidade quando, na infância, vi "<i>Hellraiser</i>" pela primeira vez. O que há por trás de blazers, ombreiras, cardigãs, saltos altos e óculos grandes demais para o rosto, extravagantes em suas cores berrantes? Eu escrevia este trabalho quando, num exercício de nostalgia, fui levado de volta a 1987, 1988, aos meus 9, 10 anos de idade. Pensei no colégio, em pequenas coisas como quando, na hora de ir embora, via uma elegante senhora, a mãe de um colega, ali à espera do filho para levá-lo todos os dias, na hora do almoço, para casa. Sua imagem permaneceu forjada na minha mente pela semelhança entre a sua "<i>pintura de guerra</i>" (a maquiagem, o blazer, a moda) e a "<i>pintura de guerra</i>" daquelas fantasias de carne e osso oriundas dos pesadelos de <i>Barker, Cronenberg </i>e<i> De Palma</i>. Eu sorrio afetuosamente ao pensar nisso, pois a via como alguém para além de minhas capacidades intelectuais de sustentar um diálogo de igual para igual e, no entanto, percebo que, ali, em 87 e 88, aquela pessoa devia se encontrar na casa dos 30, ao passo que eu, aos 42 anos, estou mais velho do que aquela <i>personagem</i>, aquela figura "<i>do mundo adulto mesclado ao meu mundo na infância</i>". Paradoxalmente, na minha mente, ela continua mais velha, mais "<i>adulta</i>", para além da possibilidade de conversação. Nas poucas vezes em que nossos caminhos se cruzaram, sempre foi doce e acolhedora. Era a mãe deste colega que, naquela época, vivia a azucrinar-me, porém que, logo mais, tornar-se-ia amigo, tendo me levado junto a passeios como um feriado na casa de campo da família. Foi daí que veio a lembrança mais duradoura que tenho da mulher, eu deixando a piscina do sítio e ela vindo na minha direção e me cobrindo com a toalha, um afeto materno, gentil. Isso se deu em 1992. Não era uma mulher alta, porém era definitivamente muito bonita. Eu ainda me recordo de seu rosto, com os "<i>óculos grandes demais</i>", óculos escuros, típico de executivas nos anos 80 e começo da década de 90 (ela era dentista). Imagino o mundo de acontecimentos que ela viveu neste completo mistério que é o hiato entre 1992 e 2022; os anos se passando... Se me fosse possível voltar a algum ponto do "<i>passado</i>", 1999 talvez, diria a ela uma só coisa, meigamente. Pediria: "<i>Pode me fazer um favor? Prometa-me que continuará linda assim</i>". E ela não precisaria se esforçar. Deve ter permanecido linda, dentro & fora, seja conduzindo-se por trás da armadura que é a classe do tailleur e por sobre a estupenda força das mulheres de caráter que precisam provar a capacidade num mundo injusto para com o "<i>sexo frágil</i>" após os trinta anos, seja executando passos nas aulas de aeróbica, movendo-se graciosa, descalça, bela em <i>leggings </i>pretas com cós e pezinho. Um dia desses, enquanto eu bebericava uma xícara de café na cozinha, com minha mãe, e mencionava todas essas coisas, perguntei se ela se lembrava dessa mulher, na minha infância. Nos últimos cinco anos, acho que houve uma outra conversa do tipo, quando comecei a trazer essas paradas à tona. E ela disse algo nos moldes do que disse da última vez: "<i>Meu filho, isso aí ocorreu há tanto, tanto tempo. Por que está falando sobre essas coisas agora?</i>". Quando eu escrevia esta resenha, reconsiderei a pergunta da minha mãe, sobre se lembrar, contudo não se trata de se recordar. É possível que eu simplesmente não tenha esquecido. Foi um momento como tantos outros da vida, o diferencial sendo somente o período no qual ocorreu, a infância, o tempo no qual o cerne da personalidade do homem é programado. Para muitos, reminiscências do tipo teriam se perdido ao longo da estrada; por qualquer razão, detalhes de fragmentos permanecem comigo como se não existisse distinção entre o que foi, o que é e o que será, como se tudo acontecesse ao mesmo tempo - você é uma criança, diante de quem, em 1987, a mulher elegante com cardigã e blazer (ou um <i>tailleur </i>conservador, ou mesmo uma calça brim mais amarronzada), saltos altos, óculos escuros e ombreiras guarda uma dimensão de mistério maior que a vida; porém, no exato "<i>momento</i>", você também se encontra caminhando pelas calçadas que passam na rua do colégio onde tudo aconteceu, em direção ao supermercado, numa tarde em 2022, e embora esteja aos 42 anos de idade, mais velho, inclusive, que a mulher da lembrança, ao ver de relance o espaço onde ela se sentara todas as manhãs para esperar o filho, no século passado, seus olhos subitamente reassumem o ponto de vista de um garoto aos 7 anos, e é assim que se captura, por uma fração de segundo, a mentira que é o tempo. Quando você começa a se perceber no mundo, tudo começa na primeira infância, que simbolicamente é a sala de brinquedos onde as peças de montar foram misturadas por todos os lados: a partir dali, a vida de um homem é a busca pela unidade. Prof. <i>Olavo de Carvalho</i> dizia que o homem de sucesso é aquele que, na fase adulta, consegue tornar real sonhos desejados no ardor da juventude. E no espaço entre as peças espalhadas até à unidade que se busca alcançar, existe o mundo habitado pelos detalhes que um homem vai juntando à medida que persevera.</div></span></div><p></p>Ary Luiz Dalazen Júnior Salve Mariahttp://www.blogger.com/profile/05930396542549787102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-84151960593370797822020-11-12T05:02:00.001-08:002020-11-12T05:04:29.921-08:00"Um Monstro no Caminho" ("The Monster", 2016/ Diretor: Bryan Bertino/ Elenco: Zoe Kazan, Ella Ballentine, Scott Speedman). Estrelas: **** de *****.<div style="text-align: justify;"></div><span style="font-family: arial;"><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDsxm15wGSjCixFr-rfBU2NbpdRa1T_RYICefSpvSbmPJJSRIBn2Lw-N-Kse_i2Lka7TAdeWQ49C4gM6pxBoOMrn6htrZZjAATexk8wWjVxLOTUSMAWvp39DFHdVZwz-7f4spn86k6nDn5/s780/Um+monstro+no+caminho.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="429" data-original-width="780" height="220" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDsxm15wGSjCixFr-rfBU2NbpdRa1T_RYICefSpvSbmPJJSRIBn2Lw-N-Kse_i2Lka7TAdeWQ49C4gM6pxBoOMrn6htrZZjAATexk8wWjVxLOTUSMAWvp39DFHdVZwz-7f4spn86k6nDn5/w400-h220/Um+monstro+no+caminho.jpeg" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Tendo feito um nome para si com "Os Estranhos" e dividido opiniões com "Perseguidos pela Morte", o diretor Bryan Bertino, tão criticado pela absurdidade do esquisito grupo de vândalos anônimos da produção anterior, deu um passo a frente sem temer os riscos, e rodou "Um Monstro no Caminho", a terceira obra de sua intrigante filmografia que reforça a tendência do cineasta de retratar o mal em um campo metafísico. Kathy (Zoe Kazan, em grande performance) é uma jovem mãe incapaz de dar à filha precoce Lizzy (Ella Ballentine) o amor desejado. Fruto de um lar desfeito, a garota vive "de uma casa para a outra". Embora passe a maior parte do tempo com a mãe, imagens em flashback testemunham a dificuldade no convívio entre as duas. Bastante jovem e imatura, a mãe parece presa às inconsequências da juventude, desperdiçando os melhores anos com relacionamentos fadados ao fracasso, em um estilo de vida desregrado marcado por álcool e festas. Quando Kathy precisa levar a filha para o fim de semana na casa do pai, e a viagem acaba atrasando por causa de uma tempestade inesperada, ela comete o erro de insistir no percurso e atravessar o trecho da autoestrada que cruza um fechado bosque durante a noite, ocasião na qual perde momentaneamente o controle do volante, gerando um acidente de certa relevância que lança o carro no acostamento e as prende ao meio do nada. À primeira vista, a situação não implica nada grave, que não o aborrecimento de as duas terem de aguardar o guincho, mas não custam a aparecer sinais de que mãe e filha não se encontram sozinhas na floresta. Elas achavam que tinham atropelado o lobo visto no meio da pista; entretanto, ao examinarem melhor o corpo, marcas de dentada no animal levam a crer que ele fora atacado por algum predador maior antes do atropelamento. Inexplicavelmente, passam a ser vigiadas por um monstro, mas seria o monstro uma criatura puramente física ou um aspecto muito mais profundo e sombrio da psique humana?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Assim como aconteceu a "Perseguidos pela Morte", é difícil encontrar um meio-termo para "Um Monstro no Caminho". As pessoas ou gostaram bastante do filme ou o odiaram; de qualquer modo, não as deixou mornas. Parte do desapontamento das críticas desfavoráveis deve-se à frustração de quem esperava um "filme de criatura" de algo intitulado "Um Monstro no Caminho", mas acabou assistindo a um pesado drama familiar. De fato, os admiradores de filmes de monstro se decepcionarão se procurarem a obra sem uma ideia prévia dos conceitos e estilo de abordagem do diretor. A estória é melhor descrita como um visceral drama sobre a falibilidade dos pais e como certos traumas de infância guardam força para alterar irremediavelmente a trajetória de vida de uma pessoa. Em termos da presença física do monstro, embora executada com gabarito, pouco se vê da criatura enorme que caminha e se posta como um furioso gorila, e possui uma mandíbula cheia de dentes afiadíssimos e tortos que transmitem a bizarra impressão de permanente sorriso. Sempre envolvida pela escuridão e chuva, conserva o mistério graças à discrição com a qual o diretor revela o suficiente. Fãs de efeitos especiais e clássicos de ficção científica se alegrarão com o fato de que nada do que se vê foi criado digitalmente. Os realizadores conceberam a criatura "na marra", e suas aparições gozam do frescor da nostalgia, motivo pelo qual, apesar de não se ver muito, sua figura causa uma lembrança tão icônica. Dele, termina-se o filme sabendo-se pouco: aprendemos que a coisa, aparentemente um híbrido, detém tremenda força, a ponto de arrancar o braço do homem do guincho e, mais tarde, rasgar a lataria de uma ambulância para puxar a paramédica como se fosse uma boneca de pano. O monstro também se move com bastante agilidade: depois que Kathy consegue assumir o controle do volante da ambulância e voltar à pista, ela é interceptada pela coisa segundos depois e muito à frente, quando o monstro ressurge da margem e, com a força do impacto, lança o veículo para dentro do bosque, prendendo-as novamente à floresta. As manifestações muito visíveis do monstro, todavia, mascaram a natureza de um vilão muito mais profundo e incrustrado na dinâmica de mãe e filha, e uma cena pivotal faz eco a um horror profundo e espiritual ao qual não se pode simplesmente atribuir face.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Embora a linha narrativa mais visível gire em torno da luta de mãe e filha contra o assédio de um monstro misterioso, esta é intercalada por uma série de segmentos, secretamente conectados à presença física do monstro. Quando as intromissões dos flashbacks pausam a ação, "Um Monstro no Caminho" se torna um filme distinto. A mudança não se deve a qualquer descuido do diretor Bertino quanto ao foco, mas à gradual realização de que não está interessado em realizar somente um thriller de sobrevivência. A luta diz respeito a uma ameaça muito mais abstrata e enraizada, de forma que o papel do monstro serve como alegoria para o verdadeiro terror na jornada espiritual das protagonistas. Os flashbacks trabalham como janelas semiabertas cuja vista dá direto ao passado, e a abertura franqueia breve acesso a horrorosos aspectos da vida de Kathy que mais tarde parecem se "materializar" na inexplicável presença da floresta. Os segmentos apresentam uma miríade de sofrimentos vividos pela jovem na luta contra o alcoolismo, a partir do qual sua vida segue se desintegrando em uma sucessão de escolhas desastrosas, desde o relacionamento abusivo com um homem violento à decadência de cair desacordada sobre o próprio vômito no banheiro, diante dos olhos da filha. Apesar de antipatizarmos com o comportamento desagradável e cruel de Kathy para com Lizzy, certos momentos provam que ela tenta, desastradamente, fazer a coisa certa. Quando bate boca com a menina na porta da garagem, a razão se deve a um motivo nobre, pois, como mãe, só queria levá-la `a apresentação do teatro; ao manifestar a preferência para que Kathy não compareça, Lizzy acaba por enfurecê-la, pois a vergonha da filha aprofunda o sentimento de rejeição que Kathy sente por si. Nesta toada, quando Lizzy encontra a mãe desacordada no banheiro e cuidadosamente junta-se ao seu lado para abraçá-la por trás, o filme nos ensina que apesar da loucura e abuso do alcoolismo, as duas se amam. Elas se apresentam como pessoas reais, amando-se como as pessoas tendem a se amar neste mundo muito imperfeito. O "monstro" nasce das consequências nefastas do ressentimento requentado pelo álcool, e a luta da mãe e filha contra a presença na floresta reverbera, em cores mais extravagantes, o esforço no âmbito de suas vidas pessoais ordinárias, de encontrarem conciliação e paz em meio ao monstro da impossibilidade de perdão. Simbolicamente, ao pôr fim ao pesadelo ateando fogo ao monstro, Lizzy elimina do coração aquela presença - as recordações ruins, o ódio, o rancor - e encontra reconciliação e perdão. A partir daí, poderá crescer e se tornar senhora da própria vida. Se elastecermos o escopo da ideia, "Um Monstro no Caminho" caberá como uma luva às pessoas que precisaram lidar com conflitos e dramas durante o crescimento. De um jeito ou outro, todos ou já matamos os nossos dragões pessoais, ou tentamos fazê-lo numa base diária, numa longa batalha que, para muitos, dura a vida inteira. Chama-me a atenção a cena em que o monstro, numa posição semelhante a de um massivo gorila sobre quatro patas, põe-se diante da menina e a encara analiticamente, sem atacá-la. Ele acaba de despedaçar a mãe, mas a menina, ele não chega a agredir; apenas a encara, como se esperasse uma resposta, uma escolha. Ele parece cobrar, com seus olhos luminosos de predador: "Eu te conheço e pertenço a você, eu habito sua mente e quero que me arraste consigo para sua vida adulta". Quando Lizzy "diz não ao monstro", facilmente o derrota. Ela ateia fogo na criatura, que vai se afastando, patética, aos berros, até cair como uma porção carbonizada. Ao escrever a resenha, ocorreu-me a história do pugilista Benny "The Kid" Paret, um peso-pena cubano cujo trágico legado se deve às trágicas circunstâncias de sua morte. Em 1962, ao subir ao ringue para enfrentar Emile Griffith, Paret era considerado um promissor candidato ao cinturão. Àquela altura da vida, tinha uma jovem, bela esposa e um filho pequeno, e, profissionalmente, acumulara um bom cartel. Na véspera da luta, Paret inadvertidamente brincou com Griffith, insinuando que o adversário era homossexual. Em uma época profundamente conservadora e hipócrita, Griffith, um bissexual "no armário", enfureceu-se com as implicações, e, durante o combate, ao levar Paret às cordas, perdeu o autocontrole e, mesmo diante de um oponente irresponsivo, acertou-o com uma energética combinação na cabeça que o levou à lona. Paret foi ao chão e jamais despertou, falecendo dez dias após o encontro. Em 2005, um documentário chamado "Ring of Fire: The Emile Griffith Story" recontou a tragédia de Griffith, já um homem idoso e doente, tendo como ponto de partida as muitas ondas concêntricas de consequências geradas naquela distante noite em 1962. O filme revisita a viúva de Paret, em 2005 uma simpática, doce velhinha que nos fala da saudade do falecido marido e como escolheu jamais casar novamente, tendo optado por criar o filho em sua simplória, pacata existência, seu "pequeno mundo de detalhes". Por imagens de arquivo, vemos o pequeno Alberto Paret crescer, passando da infância à adolescência em vinhetas de época - anos 60 e começo da década seguinte - como um garoto curioso e saudável, que embora até tenha tentado o boxe amador, preferiu tomar outro rumo. O documentário nos conta como Alberto Paret amadurece para se tornar um homem valoroso e trabalhador, um cidadão de valor. Simultaneamente, simpatizamos com as dificuldades de Griffith, preso à solidão de alguém cuja vida jamais foi gozada em plenitude, resoluto em não assumir a homossexualidade e viver uma existência solitária. Griffith nos conta como costuma acordar com o mesmo pesadelo: assiste a uma luta no Madison Square Garden ao lado de um cavalheiro qualquer, com quem conversa animadamente e troca impressões sobre o combate; entretanto, em dado momento, toma conta de que a pessoa ao lado tem a mão muito gélida e, na verdade, é um cadáver falante, mas não um morto qualquer: ali ao lado, encontra-se sentado Benny Paret, o homem que ele matara em 1962. Griffith fala sobre o remorso, o arrependimento, sobre como após aquela noite em 1962 perseguem-no constantemente pensamentos acerca do "filho do Paret", sentado solitariamente no meio-fio da rua, com o uniforme e o taco de baseball, esperando a chegada de Benny, crescendo sem uma figura paterna. Griffith também é assediado por pensamentos de que o menino, hoje um homem, aparecerá um dia para assassiná-lo como retaliação, e desperta coberto de suor. O documentário conclui com um passeio que Griffith faz no Central Park, numa gloriosa manhã. Ele enxerga um cavalheiro de seus cinquenta anos se aproximando, vindo do outro sentido da passarela, até parar diante de sua pessoa. Ao dar conta da identidade do "estranho", Alberto Paret, o idoso desabafa. Com os olhos marejados, olha para a equipe de filmagem, atrás de confirmação: "Esse aí é o garoto...?". Paret não perde tempo e esclarece que não deseja mal ao idoso, estendendo-lhe as mãos. Ainda assustado e relutante, Griffith aceita o aperto de mão. No minuto seguinte, o idoso desaba num pranto inconsolável e se abraça ao homem como a uma tábua de salvação, suplicando perdão. É uma linda, linda cena. O documentário conclui com uma tomada dos dois, sentados lado a lado num banco de madeira no Central Park, deliciados com o espetáculo do fim da tarde no Outono. O que me levou a realizar a associação entre a jornada de Griffith & Alberto Paret e este filme de horror de Bryan Bertino foi a reação a um comentário feito na internet sobre a reconciliação entre os dois. Alguém havia dito algo muito mesquinho, nos moldes de "Não sei como esse cara foi capaz de chegar aos 50, tendo perdoado o assassino do pai!"; entretanto, foi a sábia resposta de uma outra pessoa que me marcou. A elegante resposta devolvia misericórdia à questão: "Meu amigo, se esse cara não conservasse perdão no coração, jamais teria chegado aos 50 anos de idade. Teria acabado na cadeia ou estourado os próprios miolos anos antes". Eu me recordei da resposta, e pensei "Aí está o filme do diretor Bryan Bertino. Eis a mensagem por trás da aparência de um mero filme de monstros". Na vida real, tanto quanto a Lizzy de "Um Monstro no Caminho", Alberto Paret também se viu diante de um demônio que se convidava a consumi-lo por dentro; Lizzy encontrou o inimigo dentro do bosque, o menino Paret o encarou sentado no meio-fio da calçada, à espera de Benny. Assim como Lizzy faz no filme de Bertino, na vida pessoal, Paret escolheu a alternativa da redenção ao lançar a besta às chamas sem qualquer negociação. A graça, como se sabe, é estendida a todos; mas precisa de permissão para operar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As sensacionais performances das duas atrizes tornam possível a ambiciosa ideia do diretor Bertino de oferecer dois filmes - a luta pela redenção da alma & o enfrentamento do monstro - em um único pacote. Zoe Kazan dá vida à mãe como uma jovem ora patética, ora amável, mas sempre humana e, por conseguinte, merecedora da graça. Sua trágica presença acentua o poder destrutivo com que álcool e relacionamentos abusivos partem para cima de nossas almas, como um monstro no bosque. Ella Ballentine, que interpreta Lizzy, aparece no último lançamento do cineasta, "The Dark and the Wicked", a ser resenhado por mim. O ator Scott Speedman, de "Os Estranhos", faz uma aparição surpresa como Roy, o abusivo namorado de Kathy. Em flashbacks de violência doméstica, seu personagem é mesquinho e assustador ao arrancar das mãos da menina a chave do carro e deixá-las para trás. Tecnicamente, o filme foi muito bem concebido, e imagens como as luzes do giroflex de uma ambulância no meio da floresta escura e o tapete d'água acumulado na superfície da pista pela tempestade retratam perfeitamente o ambiente ideal para uma estória de horror. O diretor Bertino sabe filmar lugares desertos a máximo efeito, conforme já demonstrado em "Os Estranhos", e enquanto nos dois filmes anteriores seus cenários limitaram-se a residências, aqui lança mão dos elementos de um bosque escuro para provocar medo a partir da imprevisibilidade de não se saber a posição do inimigo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Analisados como conjunto, os filmes do diretor indicam a tendência para a maturidade de um cineasta preocupado em explorar o terror em suas explicações menos fantásticas e mais metafísicas. Ao se afastar da objetividade dos três mascarados de seu primeiro trabalho, Bertino prefere conferir a crueldade a hospedeiros em cujos rostos a nitidez segue se diluindo, à medida que opta por se aprofundar nas contradições da mente humana. Em "Perseguidos pelo Mal", não se trata mais de um trio, e sim de uma coletividade de vândalos complexa e intrincada cuja extensão foge aos olhos; com "Um Monstro no Caminho" alcoolismo e abuso infantil somatizam-se na figura da criatura cuja envergadura se vê apenas raramente. Em sua última obra, "The Dark and the Wicked", os protagonistas enfrentam os demônios familiares que instigam-nos ao desespero e ao suicídio, porém desta vez não se verá mais nada, já que completa restará a transposição tão aperfeiçoada pelo olhar do cineasta: a de descartar a falsidade das aparências para devolver a crueldade dos anjos à realidade do puramente espiritual.</div></span>Ary Luiz Dalazen Júnior Salve Mariahttp://www.blogger.com/profile/05930396542549787102noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-56066214652496388012020-11-11T13:18:00.000-08:002020-11-12T05:04:22.449-08:00"Perseguidos pela Morte" ("Mockingbird", 2014/ Diretor: Bryan Bertino / Elenco: Alexandra Lydon, Audrey Marie Anderson, Todd Stanshwick, Spencer List) Estrelas: *** de *****.<p style="text-align: justify;"></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLryszU5htdUZjAScWlDUv9UrV9Cu5yM_L-5HnmTBSCJhDA7s8mTiGlqj71RpRC5Mv8f5JLQbQOFVujcqmz5zmItmIR3m_GmjxCQrZWiSi3fXI3jjno6hTwIQuk-9CwypAXnRTpDaFm0hc/s1280/Perseguidos+pela+morte.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLryszU5htdUZjAScWlDUv9UrV9Cu5yM_L-5HnmTBSCJhDA7s8mTiGlqj71RpRC5Mv8f5JLQbQOFVujcqmz5zmItmIR3m_GmjxCQrZWiSi3fXI3jjno6hTwIQuk-9CwypAXnRTpDaFm0hc/w400-h225/Perseguidos+pela+morte.jpg" width="400" /></a></span></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Em uma noite chuvosa no ano de 1995, três famílias têm suas vidas radicalmente transformadas quando, sem qualquer explicação, recebem na porta de casa caixas contendo câmeras, acompanhadas de uma orientação: a de não pararem de gravar. Os núcleos em torno dos quais se tecerá essa estória de horror são compostos por Tom e Emmy, um jovem casal que no começo da noite espera uma "trégua" para namorar, já que o tio levará as filhas para um rinque de patinação; Leonard, um rapaz irresponsável que mora com a mãe alcoólatra e sonha ganhar uma quantia capaz de lhe valer a independência financeira; e, por fim, Beth, uma jovem em vias de dar o primeiro passo à vida adulta, agora que começará os estudos da universidade e morará sozinha numa casa apartada do campus, geograficamente distante da mãe superprotetora. Inicialmente, eles creem que a surpresa se deve ao fato de terem sido sorteados por acaso graças a cupons preenchidos em supermercados; entretanto, não custam a compreender que se veem gradativamente isolados, sem comunicação com o mundo exterior e sob o assédio de um anônimo grupo de vândalos, um passo à frente de seus movimentos. A sucessão de horrores que ocorre em paralelo convergirá num trágico desfecho onde o encontro das vítimas revelará a estratégia por trás da aparente "aleatoriedade" dos assassinos.</span></p><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Bryan Bertino, diretor do eficiente suspense "Os Estranhos", dirige "Perseguidos pela Morte", o projeto seguinte `a sua bem-sucedida estreia. Mesmo voluntariamente cingido pelas regras do "found footage", ele tirou proveito do paradigma ao criar um filme no qual os personagens acabaram "dirigindo" sua via crucis. Por executar a ideia com habilidade, ele realiza uma jornada tensa, claustrofóbica e, principalmente, muito esquisita. Nesse sentido, vale-se da maestria esbanjada em "Os Estranhos" e revisita o tema de pessoas ameaçadas dentro de casa por visitantes sem motivo aparente, aqui deixando de lado a direção mais cinematograficamente estilística de "Os Estranhos" e, conforme dito, reciclando a proposta sob a perspectiva do "found footage", ou seja, a ideia de que aquele evento verdadeiramente se deu e que o que nos é apresentado não é um filme, mas um genuíno documento dos homicídios. O filme também goza de elegante frescor graças à "esquisitice", cortesia de certas escolhas no modo de contar a estória e a sensibilidade de, mesmo em tão curto tempo, retratar os personagens com nuances que fazem dos mesmos protagonistas que deixam impressão. Sublinhando a autoconfiança do cineasta ao criar tão insólito espetáculo, especial menção vai aos detalhes que só ao serem percebidos após uma segunda ou terceira exibição revelam a complexidade do esquema das pessoas a unirem forças para criar aquele aleatório pesadelo nas vidas dos três núcleos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Encabeçam as acertadas escolhas de Bertino dois aspectos: a opção por uma época em particular para emoldurar a trama, e o desempenho acima da média do elenco, formado por atores desconhecidos e talentosos. O filme abre com uma intrigante title card: "Era uma vez em 1995...". A introdução instila na trama uma charmosa melancolia nostálgica pela qual somos apresentados a vinhetas estreladas por gente ordinária, às voltas com os aborrecimentos e alegrias banais a perfilarem uma vida nos longínquos meados dos anos 90 - um casal determinado a manter o interesse romântico vivo enquanto lida com a criação de duas meninas sapecas e saltitantes; a senhorita cujo bom humor e entusiasmo escondem a vulnerabilidade de uma jovem que busca a vida adulta longe da mãe - e consideramos que em dado ponto, há vinte e cinco anos, tais dramas "existiram" e os personagens caminharam neste mundo, encafifados com suas circunstâncias, até terem o chão tirado de seus pés numa terrível noite de assassinato. Chama a atenção a sensibilidade do roteiro que, ao tempo que mostra tão casualmente os protagonistas, vale-se de certos artifícios para explicitar a fragilidade das pessoas visadas pelos vândalos. Dentre os arcos narrativos, o de Beth foi aquele que pareceu adequadamente delineado: sobre ele, é possível enxergar o cuidado do diretor em nos fornecer dados importantes. À primeira vista, ela surge como uma forte presença feminina, encantada com a surpresa da câmera, tomando-a como brincadeira de um possível pretendente; aos poucos, ao vermos a conversa com a mãe, entendemos de onde vem a serena tristeza. Não há muito tempo, ela sofreu uma desilusão romântica. À medida que os fatos passam a se suceder muito rapidamente, sua fortaleza psicológica vai abaixo, e a mente assume o estado de pura sobrevivência. Evidentemente, parecido processo se dá com o casal, o qual vai se afundando sob o peso de escolhas estúpidas tomadas em circunstâncias desesperadoras; outrossim, por contarem um com o outro, a situação não se desdobra tão freneticamente quanto a de Beth, aterrorizada por uma pletora de maldades, desde um boneco macabro sentado no jardim até o braço de um garoto que surge de uma gaveta acima, com uma faca de cozinha. Em peso, filmes de terror pecam ao não trabalharem muito bem a caracterização dos personagens. "Perseguidos pela Morte" atravessa a linha de chegada com louvor. Sendo um filme de terror atrelado às limitações do subgênero "found footage", faz da simplicidade sua melhor aliada, e pelo ponto de vista amador de câmeras, quando exibe nuances e detalhes daquela gente pelo ponto de vista desastrado da primeira pessoa, cria um singular clima de autenticidade e verossimilhança.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">"Perseguidos pela Morte" não foi recebido com unanimidade. Parte das pessoas posicionou-se vocalmente contra a obra. As pessoas que não o apreciaram queixaram-se da incredulidade de semelhante manipulação sobre três casas distintas em um mesmo tempo. A reclamação, todavia, não se sustenta, afinal o elemento fantástico não pode desabonar os criadores, que da criatividade retiraram a matéria-prima do trabalho. Claro, para se arquitetar uma ação do tipo, os algozes precisariam de uma teia de envolvidos em número suficiente para "direcionar" as pobres vítimas ao fim em mente; entretanto, através de pistas, o diretor Bertino, também autor do argumento, sugere que, sim, aquelas pessoas anônimas eram coordenadas com sincronia, posicionando-se em pontos estratégicos da cidade, integrais a aquela noite de horror, de modo a garantir que o casal, a moça e o palhaço terminassem no salão cheio de balões da casa abandonada. Durante sua aventura pela cidade, quando Leonard estaciona em frente a um mercadinho como uma das etapas da "brincadeira", uma silhueta de um cavalheiro dentro do telefone público na calçada, por exemplo, sinaliza que a presença não se encontra ali por acaso: trata-se de um integrante do grupo, um dos muitos "olhos" com que o insólito, bizarro grupo de anônimos conta para antecipar os passos de pobres pessoas incapazes de se defender ou ao menos compreender as motivações por trás do ataque. No rinque de patinação, uma mulher se oferece para tirar a foto do palhaço com as duas meninas, filhas de Tom e Emmy: eis mais uma cúmplice do jogo misterioso. As coincidências integram-se escandalosamente a favor dos assassinos, mas, de modo geral, as reviravoltas não chegam às raias do absurdo. O mundo é um lugar imprevisível e estranho, apenas não tão improvável quanto a mente humana, de onde saem casos que fazem da trama de "Perseguidos pela Morte" uma estória banal, principalmente quando comparada aos fatos da vida real. A título de exemplo, na esteira desse filme sobre stalkers, procurem ler a respeito do homicídio da família Miyazawa, naquilo que ficou conhecido como "Setagaya Murders". Evento ocorrido na virada do século XX ao XXI, o caso foi objeto de um fantástico podcast disponível no Youtube e, mais do que nunca, lembra-nos de que por mais absurdo que seja o terror cinematográfico, o mundo real nos reserva pesadelos ainda mais impensáveis.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Conforme explicado acima, o diretor Bryan Bertino começou a carreira com "Os Estranhos", onde víamos o casal interpretado pelos atores Liv Tyler & Scott Speedman acuado por três mascarados - duas mulheres e um homem - em uma casa de campo isolada. Nos filmes seguintes - "Perseguidos pela Morte", "The Monster" e "The Dark and the Wicked" - percebe-se uma intrigante metamorfose no "rosto" do vilão de suas estórias. Aquilo que começara bem objetivo e sólido na figura dos três mascarados de "Os Estranhos" foi se diluindo num grupo anônimo que quase não se vê, até assumir uma conotação mais alegórica em "The Monster" (o "monstro" como metáfora para o alcoolismo e abuso infantil) e finalmente se dissolver perfeitamente no mal abstrato e metafísico de "The Dark and the Wicked" (o "monstro" agora como a voz que, nos momentos de dificuldade, nos impele ao suicídio), desprovido de qualquer nitidez, porém extremamente contemporâneo. O processo abstrativo do mal sinaliza a maturidade de um diretor ciente de que mais do que a mera presença física, é justamente na seara do invisível onde residem os horrores.</span></p>Ary Luiz Dalazen Júnior Salve Mariahttp://www.blogger.com/profile/05930396542549787102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-55938505016219607172020-05-21T04:31:00.000-07:002020-05-21T04:31:52.915-07:00"Cemitério Maldito" ("Pet Sematary", 2019, Kevin Kolsch & Dennis Widmyer): O mais apavorante romance de Stephen King volta à vida trinta anos após o lançamento do filme original, e sua força reside na performance de uma atriz e algumas interessantes adaptações para nosso tempo.<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEif2hrF8ZjpAx_owAUgd8xSZt-KgsDEx28KJHzUSIsFZogX_Mmir5VKc_MbCnMnIfff_VzVomowZeUP2Gk2SEUMXb5LBYpD-uF-_YBEPwNPlrNIwgDWvDbpCzLEq53PqVZbzciO57os9sey/s1600/Pet-sematary-movie-still.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1000" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEif2hrF8ZjpAx_owAUgd8xSZt-KgsDEx28KJHzUSIsFZogX_Mmir5VKc_MbCnMnIfff_VzVomowZeUP2Gk2SEUMXb5LBYpD-uF-_YBEPwNPlrNIwgDWvDbpCzLEq53PqVZbzciO57os9sey/s400/Pet-sematary-movie-still.jpg" width="332" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O romance "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Pet Sematary</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" ainda se destaca como o ápice da carreira do escritor norte-americano </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Stephen King</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, um fato revelador da pura força bruta da estória: lançada em 1983, quase quarenta anos separam aquele momento de hoje; entretanto, mesmo levando-se em conta a extensa bibliografia do autor, impressiona-nos o fato de ele nunca ter conseguido repetir o impacto daquele trabalho. Curiosamente, quando se fala em arte, seja filmada ou escrita, o fenômeno se observa em muitos outros casos, inclusive cinema. O diretor canadense </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">David Cronenberg</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, por exemplo, viveu os momentos mais frutíferos da carreira no passado, durante a década de 70, e por mais que tenha filmado obras interessantes nas décadas seguintes, anos 80 & 90, para todos os efeitos, já no início dos anos 2000 ele nada mais tinha a dizer. O aclamado cineasta italiano </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Dario Argento</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> estabeleceu as bases de um estilo delirante e atmosférico de terror europeu com um número de clássicos como "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Suspiria</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" & "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Phenomena</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", realizados ao longo dos anos 70 & 80, mas os anos 90 não lhe foram generosos e os projetos minguaram. O caso de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Pet Sematary</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" chama a atenção, pois não foi somente o ponto alto da vida do homem de cuja mente nasceu a trama: a cineasta responsável pela primeira adaptação cinematográfica, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Mary Lambert</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, também não conseguiu chegar perto de rodar algo tão excelente quanto sua versão para o romance. O mesmo pode ser dito quanto aos atores principais, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Dale Midkiff</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> & </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Denise Crosby</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, o </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Louis </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">& </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Rachel Creed</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> originais. Eu me recordo que ao tecer considerações sobre o primeiro filme, afirmei que esses dois pareciam </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">pertencer ao mesmo frame</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">à mesma página</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Embora tenham me cativado desde aquele dia há tantos anos quando vi o filme em vídeo, ainda criança, nenhum dos dois cumpriu o destino que lhes parecia reservado após o grande momento. Pelo modo como comandavam atenção só pelas suas meras presenças, o primeiro filme parecia o ponto de partida para duas estrelas de cinema em ascensão. Lamentavelmente, não aconteceu assim, e apesar de ambos terem ido adiante com carreiras sólidas, jamais consolidaram o estrelato que lhes parecia justamente devido. A proposta de uma refilmagem da obra vinha circulando estúdios há pelo menos vinte anos, pois desde 2003 apareciam boatos sobre ideias para uma nova versão, mas foram necessárias duas décadas até que o projeto vingasse pelas mãos e criatividade de jovens talentos que comandariam a reimaginação da trama. A refilmagem deu certo? Ela foi bem servida pelas surpresas que a dupla de cineastas agregou à estória original? Explorarei os pontos mais adiante, após a breve sinopse.</span><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjikQQ_HNf138ZiZ9xpSAZEHe5SJz8odxx_e0Ht7Ox1ZmCIkO7J2jsCzvxU2SuhVByUJcVOERUDXfrkQ9w814XQIJYF9MIX2O7s8zJV49HfOAtf0jlSh3BAXinlVrPOWny1npTX6HpRFrXS/s1600/Pet+sematary+moviel+still+2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjikQQ_HNf138ZiZ9xpSAZEHe5SJz8odxx_e0Ht7Ox1ZmCIkO7J2jsCzvxU2SuhVByUJcVOERUDXfrkQ9w814XQIJYF9MIX2O7s8zJV49HfOAtf0jlSh3BAXinlVrPOWny1npTX6HpRFrXS/s400/Pet+sematary+moviel+still+2.jpg" width="400" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2FLsHTu7qhM9SoORjtG9uVmT6Qoxm27e-aDlF15sjq-56Iqih7aF4BotFmH2LYiLPb3VEFfmgmiKWVEt_7Z1GMulmEwcsbPdOXGmpKIYjEpw5FjnSKJUVz79zRkBmkBKFkXM-ccNjrTrw/s1600/Pet+sematary+movie+still+3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2FLsHTu7qhM9SoORjtG9uVmT6Qoxm27e-aDlF15sjq-56Iqih7aF4BotFmH2LYiLPb3VEFfmgmiKWVEt_7Z1GMulmEwcsbPdOXGmpKIYjEpw5FjnSKJUVz79zRkBmkBKFkXM-ccNjrTrw/s400/Pet+sematary+movie+still+3.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Breve sinopse</b>: Logo a partir da primeira cena, "<i>Cemitério Maldito</i>" mostra a que veio de forma misteriosa e intrigante. Uma bem-executada tomada aérea captura a imensidão de um bosque fechado que, conforme aprenderemos, é em si uma importante personagem da trama, e segue filmando por cima a copa de árvores muito altas até se deter em um confuso cenário de homicídio: duas casas próximas uma à outra. Enquanto uma delas arde em chamas, a outra exibe sinistras pegadas de solo barrento que levam ao alpendre cheio de sangue. O filme, então, volta ao passado recente para que compreendamos os motivos por trás do caos exibido na introdução. A família <i>Creed </i>está de mudança para <i>Ludlow</i>, uma pacata cidadezinha do interior do <i>Maine</i>, e quando somos apresentados a eles, encontramos uma típica família feliz: ao volante, <i>Louis Creed </i>(<i>Jason Clarke</i>) é o líder natural, um homem bem-apessoado aos seus trinta e tantos anos, um médico que optou por tirar mulher e filhos da movimentada <i>Boston </i>para assumir o cargo de diretor do serviço de medicina do campus universitário; ao lado de <i>Louis</i>, <i>Rachel </i>(<i>Amy Seimetz</i>, que dá a performance excepcional do filme), devota esposa e mãe carinhosa das duas crianças no banco detrás, <i>Ellie </i>(<i>Jeté Laurence</i>), a irmãzinha mais velha, e <i>Gage </i>(<i>Hugo Lavoie</i>), um bebê. Há um outro passageiro muito especial entre os <i>Creed</i>, cujo arco servirá para impulsionar a trama em direção ao cenário de absoluto horror. Trata-se de <i>Church</i>, um felino da raça <i>Maine Coon</i> que é a "<i>razão de viver</i>" de <i>Ellie</i>. Para esta refilmagem, <i>Church </i>foi reimaginado como um gato enorme e peludo, distinto do <i>Church </i>original (tanto no romance quanto no filme de 1989, ele é descrito como um <i>British Shorthair</i>). </span>O começo exibe com
graciosidade e leveza a chegada dos <i>Creed </i>à espaçosa residência onde
estabelecerão suas vidas, uma casa de dois andares com um belo alpendre e uma árvore com balanço. O cenário encanta a
todos, sobretudo a menina, que recebe do pai as chaves para ser a primeira a abrir a porta da frente. Nisso, um rumor súbito e
estridente vindo da pista assusta
<i>Rachel</i>. Aquilo funciona como um tipo de aviso, pois embora tenham se
realocado para uma agradável cidadezinha, a propriedade dos <i>Creed
</i>situa-se às margens de uma autoestrada cujo movimento incessante
deve-se ao fluxo de carretas e veículos de grande porte que levam e
trazem mercadorias das principais cidades ao interior do <i>Maine</i>. Muito
ternamente, <i>Louis </i>põe <i>Rachel </i>no colo antes de atravessar a soleira
da porta. Aqui, devo dizer que um de meus
principais temores ao assistir à refilmagem foi eliminado. Explico:
um dos elementos mais duradouros na minha memória ao assistir ao filme quando criança fora a sintonia maravilhosa entre o
<i>Louis </i>e a <i>Rachel </i>da produção de 1989. Eu temia que semelhante química
não fosse emulada para a reimaginação. Para minha feliz
surpresa, <i>Jason Clarke</i> & <i>Amy Seimetz </i>exibem a mesma facilidade e harmonia na maneira de se coadjuvarem.
Acreditamos na força da união entre os dois adultos da estória
desde o momento no qual ele a toma nos braços e a eleva do chão para transpor a entrada. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Na calada
da noite, servidos pelo silêncio, enquanto <i>Church </i>dorme a seus pés
na cama, <i>Rachel </i>conversa amorosamente com o marido, querendo saber se
ele ficou feliz pela mudança. Claro, em seu tom ainda há certa apreensão, afinal trata-se de uma importante mudança de trajetória de vida.
Eventualmente, <i>Louis </i>indica que, sim, ele verdadeiramente crê no
aspecto positivo da corajosa decisão. Cócegas entre os dois geram
beijos e abraços, e eles vão dormir.</span><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjz1V5qn1sAdI-AVIfYTcL_tohenIwli0a1kc2cmKt2wmL-De0bAb0gHNLdTMVRVGgj7rpnn0Nxmk7aiYfABwEzgLvnIjuBUEkrVbGVlQY69X2sw3rUDftzT1e_kp0NSw375c69IiXXe2Fn/s1600/Pet+sematary+movie+still+8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjz1V5qn1sAdI-AVIfYTcL_tohenIwli0a1kc2cmKt2wmL-De0bAb0gHNLdTMVRVGgj7rpnn0Nxmk7aiYfABwEzgLvnIjuBUEkrVbGVlQY69X2sw3rUDftzT1e_kp0NSw375c69IiXXe2Fn/s400/Pet+sematary+movie+still+8.jpg" width="400" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDcl886iiy45vUq7iG3UgOZl6Ob9FO5Gk_s3uL-Q2Trq6RcSe6BNng560eBPb8tzZ2k87ameHa02OnkLTCSCc6sS8rOIDsgdUy6RTikT3kDUm9Tug89ywK3gQsBXWk7UE9ehCARUpntlZz/s1600/Pet+sematary+movie+still+7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDcl886iiy45vUq7iG3UgOZl6Ob9FO5Gk_s3uL-Q2Trq6RcSe6BNng560eBPb8tzZ2k87ameHa02OnkLTCSCc6sS8rOIDsgdUy6RTikT3kDUm9Tug89ywK3gQsBXWk7UE9ehCARUpntlZz/s400/Pet+sematary+movie+still+7.jpg" width="400" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZYrm-pThLM2rUPdw0tf24PW2ZZI4h1PSJn9ZrRsJ4V_VSusBbVxf-631Ij8vgiTWDDQn6eTkDqtQ7wiyQUApfnkAxT6T6ygnixkjnafiUHM5L1CmzLraGVLRWdneoO9vJga1GkeYAaJWC/s1600/Pet+sematary+movie+still+9.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZYrm-pThLM2rUPdw0tf24PW2ZZI4h1PSJn9ZrRsJ4V_VSusBbVxf-631Ij8vgiTWDDQn6eTkDqtQ7wiyQUApfnkAxT6T6ygnixkjnafiUHM5L1CmzLraGVLRWdneoO9vJga1GkeYAaJWC/s400/Pet+sematary+movie+still+9.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Na manhã seguinte,
<i>Louis </i>conhece o campus onde comandará os serviços médicos. O local chama a atenção, o campus é amplo e agradável, linda arquitetura de prédios antigos. Como dona de casa,
<i>Rachel </i>cuida das crianças e se encarrega de tirar as coisas das caixas para
arrumar a mudança. Enquanto ela se distrai conversando ao
telefone com a mãe, que a canhoneia com perguntas sobre se a filha
gostou da mudança, <i>Ellie </i>se aproveita do descuido e dá uma escapulida,
motivada pelos batuques que escuta vindo do bosque fechado para depois das árvores. Ela vai parar em um bucólico, infantil cemitério
originalmente organizado por crianças locais para enterrarem seus
animaizinhos mortos na pista, por conta da movimentação
dos veículos de grande porte que dia e noite não cessam suas
viagens. Crianças locais vestidas com máscaras de bichinhos marcham em uma pequena cerimônia fúnebre para um animalzinho. O mais interessante, entretanto, gira em torno de uma
espécie de "<i>muralha</i>", na verdade um gigantesco amontoado de
galhos e pedaços de tronco ali erigido para criar uma barreira
natural de modo que não se possa ir além do cemitério dos animais
rumo o caminho que verdadeiramente leva ao coração do bosque
e, mais além, a um platô alto originalmente povoado pelos índios
<i>Micmacs</i>. Quando se prepara para ganhar os galhos e transpor a
barreira, <i>Ellie </i>se assusta por causa de um idoso que aparece e lhe chama a
atenção. Ela perde o equilíbrio e cai; nada grave, mas o suficiente para deixar um arranhão na
canela. O idoso é o vizinho dos <i>Creed </i>e se chama <i>Jud</i>. Ele viveu
ali a vida inteira e conhece os segredos da terra. A menina logo se
põe à vontade na companhia de <i>Jud</i>, que lhe conta muito
superficialmente o passado do cemitério de animais. <i>Rachel </i>chega à
cena, naturalmente apreensiva e zangada com a filha fujona. <i>Jud
</i>se apresenta à <i>Rachel </i>como vizinho, e após as saudações e uma casual conversa, eles se despedem. De certa
forma, a experiência mexe com a cabeça da menina, pois à noite,
quando pai e mãe vão pô-la na cama, a menina lhes
dirige perguntas sobre a razão de os animais não viverem tanto
tempo quanto as pessoas. </span>A conversa entre pai
e filha sobre metabolismo e os fatos da vida incomodam <i>Rachel</i>, que
tem razões pessoais para não falar sobre morte. O trauma de <i>Rachel
</i>remonta a infância, quando ela assistiu à irmã mais velha <i>Zelda
</i>definhar por causa de uma penosa enfermidade provocada pela meningite raquidiana. <i>Louis </i>crê que a esposa comete um erro na sua
obstinada superproteção da filha no que tange a morte, um dos fatos fundamentais
da vida, porém nada parece demovê-la, e as marcas deixadas por <i>Zelda </i>ganham vida através de <i>flashbacks </i>aterrorizantes. Em uma das lembranças, quando a menina <i>Rachel </i>vai
levar a comida para a irmã no quarto, vemos <i>Zelda </i>passageiramente deitada sobre a cama, mas a imagem de suas costas magérrimas parece
aterradora, sobretudo para uma criança.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWPAsXQSfQ5sOw137mg1VDMKhZEUiH8QTBaOQEMgdrwHVT41tEI2b8CYu7hUYsIk1LnbMVwS1xgGCcF2aO1uA-jccPO43LPtxoVY66MEXJ75DOSW5GospXgDA7xSYHSPKP4h8bq2bhoQ9q/s1600/Pet+sematary+movie+still+4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWPAsXQSfQ5sOw137mg1VDMKhZEUiH8QTBaOQEMgdrwHVT41tEI2b8CYu7hUYsIk1LnbMVwS1xgGCcF2aO1uA-jccPO43LPtxoVY66MEXJ75DOSW5GospXgDA7xSYHSPKP4h8bq2bhoQ9q/s400/Pet+sematary+movie+still+4.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRyqI1FgNUJP76dAv_FaCTseiVVhg5xxR8LoxJXHZlHzzRaPB0twyHUgCcasN86IP3x1UEXYulpzTjzBsSvrQX0_GNG3lX4TUAahmUmbedEp1-Y74lA3hUZ918PZ9avVh9Um9yWfG5k4-A/s1600/Pet+sematary+movie+still+5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRyqI1FgNUJP76dAv_FaCTseiVVhg5xxR8LoxJXHZlHzzRaPB0twyHUgCcasN86IP3x1UEXYulpzTjzBsSvrQX0_GNG3lX4TUAahmUmbedEp1-Y74lA3hUZ918PZ9avVh9Um9yWfG5k4-A/s400/Pet+sematary+movie+still+5.jpg" width="400" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx_wj2jFqWr-C3QWvoJpXZBiBR9dC28Mm4lcTr7T4d_Eux84SY3rllinP3cW2Zy2yClVE1qZcwLBz92RxpELuGX-5xPzdo54AMfsuiTZO5NU3Xod5j-g3wAaWChsxjaJa62NMJmwv9iDjd/s1600/Pet+sematary+movie+still+6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx_wj2jFqWr-C3QWvoJpXZBiBR9dC28Mm4lcTr7T4d_Eux84SY3rllinP3cW2Zy2yClVE1qZcwLBz92RxpELuGX-5xPzdo54AMfsuiTZO5NU3Xod5j-g3wAaWChsxjaJa62NMJmwv9iDjd/s400/Pet+sematary+movie+still+6.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Aqui, ocorre uma
das cenas cruciais, uma centelha do horror por vir. O modo
como os diretores contam o momento encontra perfeita
consonância com um dos temas da estória, já que no frigir dos ovos
a espinha dorsal de "<i>Cemitério Maldito</i>" revolve a luta de uma
família sob o assédio de uma entidade demoníaca. Voltarei ao tema
posteriormente, durante a análise do mérito. De qualquer modo, a
cena nos mostra <i>Louis </i>em seu ambiente de trabalho, em uma manhã
ensolarada de um dia que promete ser igual aos demais desde a chegada a <i>Ludlow</i>. Há movimento, mas sem nenhuma importante novidade no centro médico. <i>Louis </i>está louco para tirar um tempo para descanso, pois passou a
manhã atendendo estudantes. Subitamente, vem do corredor uma comoção,
e não por menos: um jovem chamado <i>Victor Pascow</i> (<i>Obssa Ahmed</i>) sofreu
um violentíssimo atropelamento. Ao dar entrada no ambulatório, levado sobre a maca, seu estado deplorável causa
arrepios nas enfermeiras. O atropelamento foi severo a ponto de causar uma fratura craniana caracterizada pelo esmagamento de um lado do rosto que permitiu
vazamento de massa encefálica. Mesmo acostumado a cenas do tipo, <i>Louis </i>se assusta. Ele mantém a compostura para executar
o trabalho com muito profissionalismo. <i>Louis </i>tenta a ressuscitação
e presta os primeiros socorros. Fica claro, outrossim, que o rapaz precisa
ser imediatamente realocado para um grande centro, visto que precisará
passar por delicadas e extensas cirurgias. Lamentavelmente, enquanto espera a chegada de uma ambulância para o deslocamento de <i>Pascow</i>, <i>Louis
</i>testemunha o último suspiro do rapaz. Ele se afasta da cama,
pesaroso, e dá as costas para o leito. As lâmpadas de LED começam
a trepidar, o que o faz se voltar para a cama, quando sofre um
terrível susto. Ele enxerga <i>Victor </i>ali, sentado na beirada,
com aquele rosto esmigalhado terrível, alertando-o de que "<i>a
barreira não foi feita para ser desrespeitada</i>". <i>Louis </i>só desperta
da cena de horror pelos chamados insistentes da enfermeira mais
velha. Livre do torpor, ao olhar para o mesmo canto, vê o cadáver imóvel na cama, como se o breve, aterrorizante instante jamais tivesse
ocorrido. Na volta para casa, à noite, passa um tempo dentro do
carro, à margem da pista maior, refletindo sobre os acontecimentos
da manhã. A esposa sente a mágoa do marido e se aproxima para conversar,
no alpendre. <i>Louis </i>lhe explica os motivos da tristeza. Íntima do
marido, <i>Rachel </i>sempre encontra o jeito certo de reassegurá-lo.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr9SwBI0EA-I_YLm2RtGYNk8TmXEqRw29f_pEYy3UHzayuNIHiq7Lt1cHvc5dGp_xo7X87QMy8W_taR8aaKZHFpNqyxsLrF6YwWcZ2dNawYHvHOx0nQLJZ5pupaamBWyXw5Qc0N0-PN44n/s1600/Pet+sematary+movie+still+13.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr9SwBI0EA-I_YLm2RtGYNk8TmXEqRw29f_pEYy3UHzayuNIHiq7Lt1cHvc5dGp_xo7X87QMy8W_taR8aaKZHFpNqyxsLrF6YwWcZ2dNawYHvHOx0nQLJZ5pupaamBWyXw5Qc0N0-PN44n/s400/Pet+sematary+movie+still+13.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaWIyXB_hNbyaRYAkNL2KgjAUEA05v7zaUxeLvHjI7mVMg-sBtodMRwuje5A9QH7M3Vu_5XKy0PXu9mVA0pJLNC0g88ADfPE4cdSKQRGYUhItHL-NwTmY-yKEiubdNb4hG2m4UuX-75ByZ/s1600/Pet+sematary+movie+still+14.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaWIyXB_hNbyaRYAkNL2KgjAUEA05v7zaUxeLvHjI7mVMg-sBtodMRwuje5A9QH7M3Vu_5XKy0PXu9mVA0pJLNC0g88ADfPE4cdSKQRGYUhItHL-NwTmY-yKEiubdNb4hG2m4UuX-75ByZ/s400/Pet+sematary+movie+still+14.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Para todos os
efeitos, na manhã seguinte</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, entre os <i>Creed</i>, a morte de <i>Pascow </i>parece
assunto encerrado. <i>Ellie </i>visita <i>Jud </i>e repara nas fotos em cor
sépia de uma mulher muito bonita. <i>Jud </i>fala à menina da falecida esposa, morta há alguns anos em decorrência de uma
doença. Docemente, a menina opina que ela estaria no
céu, olhando por todos. A menina discorre sobre seu gato e
como o nome veio de <i>Winston Churchill</i>, "<i>um homem que viveu há
muito tempo</i>". <i>Jud </i>lhe diz que sabe quem <i>Winston Churchill</i> foi, e
<i>Ellie </i>complementa, inocentemente: "<i>Então ele deve ser bem velho mesmo</i>".
Os dois dão boas risadas. Logo, a família <i>Creed </i>começa a se aproximar bastante do simpático, solitário idoso, e eles o acolhem em casa
para um almoço. <i>Ellie </i>pratica balé e executa um belo
número em homenagem ao convidado. <i>Church </i>salta sobre o colo do visitante. Se essa turma fizesse parte de uma orquestra, eles se sentariam com seus
instrumentos na mesma fileira, tão harmonicamente se relacionam.
Naquela noite, <i>Louis </i>vive uma experiência horripilante. Tudo ocorre
magicamente, como se ele se encontrasse no mundo dos sonhos. <i>Pascow
</i>se materializa perante o médico no quarto e "<i>abre uma passagem
mágica</i>" através da qual o leva diretamente ao
coração do bosque cuja envergadura <i>Louis </i>ainda não conhece por
causa da barreira. <i>Pascow </i>lhe traz alertas insistentes sobre como o
solo é amaldiçoado e não tem nada de bom para oferecer, por mais
tentador que a ideia lhe pareça. <i>Louis </i>desperta com os gritinhos de
<i>Gage </i>na cama. Por um minuto, suspira aliviado, crente de que o "<i>passeio</i>" se resumiu a uma noite mal dormida, porém ao puxar os
lençóis e encontrar os pés sujos de barro, fica em dúvida se dormia ou chegou
a efetivamente caminhar através do bosque na companhia do homem
morto.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF65qsYSn1M2Ge-b06ApmtMuxc-2QnuOWFnBSMa4P6NtilSWYZ4VQ6fAOVumMg1Y_8RfuRFbCgKLVYm0cY62I1kcwhQFioxmHkXPdxBDiaBi_ezAg6QAAqEE3apuV9uy5uyZ1xxgiGfs87/s1600/Pet+sematary+movie+still+15.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF65qsYSn1M2Ge-b06ApmtMuxc-2QnuOWFnBSMa4P6NtilSWYZ4VQ6fAOVumMg1Y_8RfuRFbCgKLVYm0cY62I1kcwhQFioxmHkXPdxBDiaBi_ezAg6QAAqEE3apuV9uy5uyZ1xxgiGfs87/s400/Pet+sematary+movie+still+15.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTGt4vPCKmx_s4JQLIyCLtBu7j7JyNzdCr8HfMAXbGv5YKQfHDpABHjKX_2qyQ7RmFrVCAh6VposTtcTP_2S154THNe8boRQsbd6xqvMitsxkgpQ8F2IzIOlYd8BHt6FufJPzTvP0DfJSQ/s1600/Pet+sematary+movie+still+16.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTGt4vPCKmx_s4JQLIyCLtBu7j7JyNzdCr8HfMAXbGv5YKQfHDpABHjKX_2qyQ7RmFrVCAh6VposTtcTP_2S154THNe8boRQsbd6xqvMitsxkgpQ8F2IzIOlYd8BHt6FufJPzTvP0DfJSQ/s400/Pet+sematary+movie+still+16.jpg" width="400" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEib-NmkYdZvLdRIVcNkowOIfxB8O5juyu62O4XJ4NTDcUr2oZ19o6QbZyV8Ve3aj30dlgUN_4DQf1ofPHj-MM9x-1rDsbhq4VwnpoAx0J52Z_a8rW64AqmA8xXjE51V-yY70cXCGImWvvIU/s1600/Pet+sematary+movie+still+17.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEib-NmkYdZvLdRIVcNkowOIfxB8O5juyu62O4XJ4NTDcUr2oZ19o6QbZyV8Ve3aj30dlgUN_4DQf1ofPHj-MM9x-1rDsbhq4VwnpoAx0J52Z_a8rW64AqmA8xXjE51V-yY70cXCGImWvvIU/s400/Pet+sematary+movie+still+17.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">É feriado do <i>Dia
das Bruxas</i> e, na manhã seguinte, <i>Louis </i>se despede
dos filhos fantasiados, que irão de casa em casa para
pedir doces ou travessuras. Da margem de sua propriedade, <i>Louis
</i>vê <i>Jud </i>o chamando discretamente com a mão, na beira da pista. Ele não tem boas
novas, e precisa cumprir o pesaroso dever de inteirá-lo da morte de <i>Church</i>. Ele provavelmente fora atropelado na noite
anterior ao passear. Justamente por gostar tanto da
menina, <i>Jud </i>quis conversar com <i>Louis </i>primeiro, para poupá-la do
desgosto de encontrá-lo morto. O médico não sabe o que fazer, mas <i>Jud </i>lhe explica que,
por ora, nada deve acrescentar à <i>Ellie</i>. O idoso deseja vê-lo naquela mesma noite, pois terão um "<i>trabalho</i>". Sem compreender, <i>Louis
</i>concorda, e omite da filha o triste acontecimento. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Louis
</i>revela somente à esposa a morte de <i>Church</i>. Como sabemos, <i>Rachel </i>não sabe
lidar com a morte, e chora com pena do gatinho. O atropelamento de <i>Church
</i>a encoraja a desabafar, e, pela primeira vez, marido e mulher conversam sobre seu trauma. De uma forma ou outra, <i>Rachel </i>se julga responsável pela morte de <i>Zelda</i>. Como tinha muito
medo de se aproximar da irmã, enviava as refeições do dia
através de um "<i>elevador</i>" da casa onde punha a bandeja que ia
parar no quarto de <i>Zelda</i>. No dia em que <i>Zelda </i>faleceu, não foi a
meningite raquidiana a razão, e sim um terrível acidente. <i>Zelda
</i>se metera "<i>dentro</i>" do estreito canal através do qual se movia o
elevador. Ainda hoje, como mulher adulta, <i>Rachel </i>se recorda do susto
quando o elevador caiu com força por causa do peso do corpo da
irmã. <i>Louis </i>lembra que <i>Rachel </i>era apenas uma criança.
De fato, se há responsáveis, estes foram os pais das meninas,
extremamente descuidados a ponto de terem confiado a uma criança assustada os
cuidados de um enfermo terminal.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsTC_bzgi1PS3qPOc7B5n5JcOcdGJ6JrMB5rx7VQqb-zfzECGdWgr22jB95axMmU7Xjhpab82mVu-2qu6_9n0FjzAu_5sACfvKPhnNac-A5xPI_XpuI5wXnZo4oKGbkOpU7LnHU-pbX2Uo/s1600/Pet+sematary+movie+still+18.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsTC_bzgi1PS3qPOc7B5n5JcOcdGJ6JrMB5rx7VQqb-zfzECGdWgr22jB95axMmU7Xjhpab82mVu-2qu6_9n0FjzAu_5sACfvKPhnNac-A5xPI_XpuI5wXnZo4oKGbkOpU7LnHU-pbX2Uo/s400/Pet+sematary+movie+still+18.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXC2tUz8u6CL6uerFLGwDJGBFj1s-nA5XGsYucrMoztBKsS-ojTcTJCgWbYu-dG_Qy-RDugTHQ-Kmg5xqO2mqhJlWPeNprRD2-ryb7Evh9gLQN-8RLmoW7gZ6QnMKNOs36Asgzxw7d3T24/s1600/Pet+sematary+movie+still+19.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXC2tUz8u6CL6uerFLGwDJGBFj1s-nA5XGsYucrMoztBKsS-ojTcTJCgWbYu-dG_Qy-RDugTHQ-Kmg5xqO2mqhJlWPeNprRD2-ryb7Evh9gLQN-8RLmoW7gZ6QnMKNOs36Asgzxw7d3T24/s400/Pet+sematary+movie+still+19.jpg" width="400" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSARCpfRTXJMqtKCNUrlpw9JLUiV0HLBq96hJE-oMaMUjn7IhaXxb6IA6iwCDnAj0-nF_dthDIn3OS8xTuJ-K1oHMYu3B5eYl-K9V7YuJjtRn6gAfZ-q7ErAd0TjB1tcztU9TR3VJQ5oJk/s1600/Pet+sematary+movie+still+20.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSARCpfRTXJMqtKCNUrlpw9JLUiV0HLBq96hJE-oMaMUjn7IhaXxb6IA6iwCDnAj0-nF_dthDIn3OS8xTuJ-K1oHMYu3B5eYl-K9V7YuJjtRn6gAfZ-q7ErAd0TjB1tcztU9TR3VJQ5oJk/s400/Pet+sematary+movie+still+20.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Naquela noite, <i>Jud </i>conduz <i>Louis </i>por
uma jornada através do bosque para além da barreira, o médico com
uma pá e o gato morto no saco. À noite, a jornada pelo bosque é
eletrizante. Cercados por árvores fechadas, os dois são
assolados por uivos e gritos que podem vir de animais, mas não sabem precisar ao certo. Os homens finalmente culminam no platô cuja
vista permite uma excelente panorâmica da vastidão vencida até aquele ponto. <i>Jud </i>ordena que <i>Louis </i>trate de cavar. Claro,
o médico acha o trabalho uma grande inutilidade: por que não enterraram <i>Church </i>no quintal de casa? O fato é que <i>Louis </i>enterra o gato no solo
do misterioso platô sob o vigilante olhar de <i>Jud</i>, que fuma um
cigarro. Ele chega a casa quando a madrugada já se encontra em
curso. É manhã, quando <i>Louis </i>e <i>Rachel </i>visitam o quarto de <i>Ellie </i>para
lhe contar uma versão mais atenuada do ocorrido. Em vez de confessarem que o gato
morreu, optam pela mentirinha de que o gato foi passear. Como ainda
não voltou, talvez tenha preferido morar na natureza. A menina não
esboça preocupação, e conta aos pais que <i>Church </i>regressou pela janela naquela mesma madrugada. <i>Louis </i>não acredita no que vê! Ele
encontra <i>Church</i>, vivo e ronronante, dentro do armário. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Louis </i>procura <i>Jud
</i>para conversar sobre o ocorrido. O médico deseja do velho uma explicação
lógica, racional. <i>Jud </i>não tem nenhuma resposta adequada para
apaziguar a mente cartesiana do médico. Simplesmente, no mundo, há
lugares como a terra dos extintos <i>Micmacs</i>, de onde jamais tirarão
explicações lógicas. "<i>É o seu gato agora, Louis</i>", <i>Jud </i>avisa, despertando o médico para o seu papel. Querendo ou não,
foi ele quem o enterrou no solo, e repousa sobre seus ombros a
responsabilidade pelo regresso de <i>Church</i>, independente da nova
natureza do gato. <i>Ellie </i>jamais poderia imaginar o ocorrido, mas, a seu
próprio jeito, sente o quanto a personalidade de <i>Church </i>mudou. Ele se comporta mais
impaciente, e, uma noite, quando ela tenta penteá-lo, <i>Church </i>desfere uma
patada em seu braço e a assusta. <i>Louis </i>faz um curativo no
braço da filha e tenta assegurá-la de que tudo terminará bem.
<i>Ellie </i>aventa a possibilidade de voltarem para <i>Boston</i>. <i>Louis
</i>diz que antes de tomarem a decisão, precisam dar
uma chance a aquela mudança, e torcer para que dê
certo. Satisfeita, a filha se recolhe à cama e o pai se despede com
um beijo na testa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhy2PCIo_qqXA8mQD-4gibtICHCYkrKdHS8I9XBgw84enH3uPlxkpxIuL5HPHmP9NWwc1a7Iy8kwEYvCXBNou7KUi84QAMMOI54vsifkKQ1P0ifcD43W3aoxaAth28bCzR0Day8HG9XxwxN/s1600/Pet+sematary+movie+still+21.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhy2PCIo_qqXA8mQD-4gibtICHCYkrKdHS8I9XBgw84enH3uPlxkpxIuL5HPHmP9NWwc1a7Iy8kwEYvCXBNou7KUi84QAMMOI54vsifkKQ1P0ifcD43W3aoxaAth28bCzR0Day8HG9XxwxN/s400/Pet+sematary+movie+still+21.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh19ueVcCdxfnVmHzd2qVK5UKilxKexYJAjT9tkICQ5lsOmlsGdchlG9Dr9uQ_2TIVtKPraWu5f_GEtccVWcScytWWWKGPuXhw2o_4KSKjuCSsJM6io1NaJZ06W296F5HMvRrbjIRlAAp4K/s1600/Pet+sematary+movie+still+22.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh19ueVcCdxfnVmHzd2qVK5UKilxKexYJAjT9tkICQ5lsOmlsGdchlG9Dr9uQ_2TIVtKPraWu5f_GEtccVWcScytWWWKGPuXhw2o_4KSKjuCSsJM6io1NaJZ06W296F5HMvRrbjIRlAAp4K/s400/Pet+sematary+movie+still+22.jpg" width="400" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjpsJkipaxcWuwZXT3uabbm7a6oOe07hh0jHOQzI7On2eYxxcBiGv0r17DyOHQ2VjwGV-mQOCEKN_-Q8Qjool4uvxo-HObMyxyS6f7Kt9ilgLsrUbKaHiRLCsbZpTjxWrPntZSgnnKDi12/s1600/Pet+sematary+movie+still+23.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjpsJkipaxcWuwZXT3uabbm7a6oOe07hh0jHOQzI7On2eYxxcBiGv0r17DyOHQ2VjwGV-mQOCEKN_-Q8Qjool4uvxo-HObMyxyS6f7Kt9ilgLsrUbKaHiRLCsbZpTjxWrPntZSgnnKDi12/s400/Pet+sematary+movie+still+23.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Louis </i>e <i>Rachel
</i>conversam na privacidade do quarto. Ela sabe o quanto o marido está
mentalmente exausto, e o consola. Eles se beijam e abraçam em uma cena muito
sensível e bem realizada. Subitamente, <i>Church </i>sobe na cama e os
assusta, carregando na boca um pássaro ainda vivo. <i>Louis </i>segue o gato
ao porão, e novamente vive um episódio de realidade alternativa,
pelo qual se vê de volta ao bosque na companhia de <i>Pascow</i>. O
fantasma o avisa de que a destruição da família é iminente. Ele
não é o único a ter encontros com o sobrenatural naquela casa. <i>Rachel </i>também
escuta o barulho semelhante ao do elevador da antiga casa onde a irmã morreu, na infância, e ao abrir a portinhola do armarinho no
banheiro, depara-se com o espaço livre do elevador para a comida através
do qual o corpo de <i>Zelda </i>rapidamente se assoma em queda livre. Embora
assustados, <i>Louis </i>e <i>Rachel </i>não querem desistir tão prematuramente.
Distraindo-se vendo a filha desenhar, um dos desenhos deixa o médico
intrigado, pois exibe um homem de cuja cabeça brota um vermelho
muito intenso. Claramente, trata-se de uma representação do
falecido <i>Pascow</i>. <i>Ellie </i>conta ao pai que foi <i>Gage </i>o autor do desenho.
De alguma maneira, o filho consegue enxergar a presença na casa. <i>Louis </i>vê <i>Church </i>dentro do berço, em um bizarro estado
de vigília ao lado do bebê, que chora inconsolável. O médico resolve
conversar mais detalhadamente com <i>Jud </i>acerca do mistério.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuKEbloEQIIrCnHJxbizXfEqOnzr0YxC5gvp7AB26kCkFMqsXu9Kc_jfdysNTqNYNR4V71-yfItqJcpd0RkC541Hum8j9vIPk2R5gqUtXH2EhuD8qTOxXw0Xe7bnEC5FfNmZFLU1QN_RO2/s1600/Pet+Sematary+movie+still+10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuKEbloEQIIrCnHJxbizXfEqOnzr0YxC5gvp7AB26kCkFMqsXu9Kc_jfdysNTqNYNR4V71-yfItqJcpd0RkC541Hum8j9vIPk2R5gqUtXH2EhuD8qTOxXw0Xe7bnEC5FfNmZFLU1QN_RO2/s400/Pet+Sematary+movie+still+10.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXiptMki5iU-fywwQFwerBU4aosnm4mzdTshChJlkoO83FvX60rYPJNqiJcoL8gbi8Gg-dVG0GPOgmBCGv5OiFnMCJeZbFEw_4YvcO7zDuIcmEqj63K178kQW_CuZLQL7Q9hES9D5zMV6u/s1600/Pet+sematary+movie+still+24.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXiptMki5iU-fywwQFwerBU4aosnm4mzdTshChJlkoO83FvX60rYPJNqiJcoL8gbi8Gg-dVG0GPOgmBCGv5OiFnMCJeZbFEw_4YvcO7zDuIcmEqj63K178kQW_CuZLQL7Q9hES9D5zMV6u/s400/Pet+sematary+movie+still+24.jpg" width="400" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjT2XjI8kIAMTnBRfx1MDk3nSj75xwV9BLsR9zuLfxDhmTiQxt2bC3F_m4NDEqR7KO0xSquBGOMuIkWhJd5DIvCqRyZMNtxa40BPScPWhQ9cIXTZmUkrKcb7lfdrxsdmPr15y7tIUPwfCb6/s1600/Pet+sematary+movie+still+25.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjT2XjI8kIAMTnBRfx1MDk3nSj75xwV9BLsR9zuLfxDhmTiQxt2bC3F_m4NDEqR7KO0xSquBGOMuIkWhJd5DIvCqRyZMNtxa40BPScPWhQ9cIXTZmUkrKcb7lfdrxsdmPr15y7tIUPwfCb6/s400/Pet+sematary+movie+still+25.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Jud </i>tinha onze anos
de idade quando seu cãozinho <i>Spot </i>se feriu no arame farpado da cerca e a ferida
infeccionou. Sem muito a fazer pelo animal que não abreviar o
sofrimento, o pai de <i>Jud </i>se viu obrigado a sacrificá-lo. Foi o desespero da imensa perda que o levou ao solo dos
<i>Micmacs</i>. <i>Jud </i>foi apresentado às propriedades sobrenaturais do solo
através de um bêbado chamado <i>Stanny Bouchard</i>, conhecedor da região
para além dos bosques. Foi <i>Bouchard </i>quem o levou, quando criança,
ao platô onde os índios, no passado, costumavam realizar cerimônias pagãs. <i>Spot </i>retornou da cova como uma criatura malévola. Quando atacou a mãe de <i>Jud </i>e por pouco não a matou, o
pai se viu forçado a sacrificá-lo pela segunda e definitiva vez.
<i>Jud </i>colhe da estante alguns livros sobre folclore indígena e mostra a <i>Louis </i>um
desenho do <i>Wendigo</i>, um demônio no qual os índios acreditavam e temiam, e que costumava errar pelo norte do país. Graças às terríveis experiências com o solo, os
índios <i>Micmacs </i>haviam desenhado espirais nas árvores mais antigas do
bosque, erigido a "<i>muralha</i>" com galhos e troncos decaídos, e
fugido da região para nunca mais voltarem. Isso acontecera há
centenas de anos; entretanto, seus avisos de nada tinham valido,
conforme <i>Jud </i>demonstra, afinal ele conhecera o lugar aos onze anos, e agora levava <i>Louis </i>através do bosque ao mesmo platô. <i>Jud </i>reconhece que cometeu um erro. Uma vez que se conhece o
poder do solo, é como se o demônio tivesse fincado as garras na mente da pessoa. A partir daí, não se pode simplesmente dar as
costas para o segredo. O lugar exerce um fascínio muito significante sobre a mente de quem conhece o mistério. <i>Jud </i>explica ao médico que encontramos os motivos mais estúpidos para justificarmos nossos erros. Parte de si quis acreditar que, no caso de <i>Church</i>, por ter sido em vida um bom gatinho, ele regressaria diferente de <i>Spot</i>. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Louis </i>não sabe como corrigir seu erro. Ele cogita performar a eutanásia do gato, porém descobre não ter coragem de seguir adiante. Finalmente, conclui ser mais humano apenas carregar <i>Church </i>na casinha até o ponto mais afastado do bosque e soltá-lo, na esperança de que consiga se adaptar à vida na natureza e seguir seu caminho em paz. Ao deixar o gato na porção mais afastada da estrada que serpenteia a margem do bosque, <i>Louis </i>o olha de maneira triste e compassiva e lhe deseja sorte. À medida que dá a ré no carro para partir, <i>Louis </i>o vê o encarando de uma forma peculiar, um presságio para os maus tempos.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1ovnInYW2x0h9QoweciErfoR8k7UpBl8Qpsd6LMOaJDieT3JVhA1aOFjUiLbf2hWT8hVbm6sABe3Z_UkeyY9OlVXZT-ALqJlT0wViZLXV4g-pxs79b54ttelg9WiZwvj1i1YOy2R1I_W_/s1600/Pet+sematary+movie+still+27.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1ovnInYW2x0h9QoweciErfoR8k7UpBl8Qpsd6LMOaJDieT3JVhA1aOFjUiLbf2hWT8hVbm6sABe3Z_UkeyY9OlVXZT-ALqJlT0wViZLXV4g-pxs79b54ttelg9WiZwvj1i1YOy2R1I_W_/s400/Pet+sematary+movie+still+27.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaEfc5wvP8x3-gIEUBQ0Xs-G1T-b5YsbGGcleqriAqoZrwrR-1X8ClOTTg6O-bRl12Mv6a7MUGkxt6-MJWR8GgqCshkru08AubyWcxg7sOxw6kDWXJmyDrem2akNBweKCMsiIotH9Q-Kr8/s1600/Pet+sematary+movie+still+28.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaEfc5wvP8x3-gIEUBQ0Xs-G1T-b5YsbGGcleqriAqoZrwrR-1X8ClOTTg6O-bRl12Mv6a7MUGkxt6-MJWR8GgqCshkru08AubyWcxg7sOxw6kDWXJmyDrem2akNBweKCMsiIotH9Q-Kr8/s400/Pet+sematary+movie+still+28.jpg" width="400" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgV5jcxWSlKRStiC8lai5Lyslqar-6d0nyY2_6hCsgDSXzYwc5oI0jYwG7sKh3JyVzRPGBY3vvmDp_DX4mbHisH10Q8qeQjcEW0R6dawoKSnHXSbv-xFac6TG61KRgsKxxSu3rYagLJvEgy/s1600/Pet+sematary+movie+still+26.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgV5jcxWSlKRStiC8lai5Lyslqar-6d0nyY2_6hCsgDSXzYwc5oI0jYwG7sKh3JyVzRPGBY3vvmDp_DX4mbHisH10Q8qeQjcEW0R6dawoKSnHXSbv-xFac6TG61KRgsKxxSu3rYagLJvEgy/s400/Pet+sematary+movie+still+26.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A poderosa sensação de tragédia advinda do evocativo olhar prova-se real. Agora supostamente livre da mácula deixada pelo segredo do bosque, <i>Louis </i>crê que a família retomará o prumo. Mal imagina quão difícil será romper a aliança estabelecida com o demônio após ter enterrado o gato na terra dos <i>Micmacs</i>. Para consolidar o começo de um período mais tranquilo, <i>Louis </i>prepara uma festinha de aniversário para os nove anos de <i>Ellie </i>e chama os amigos de <i>Boston</i>. <i>Ellie </i>não esconde a tristeza, pois sente muita saudade do gato. O pai conversa com a filha e lhe dá um presente bem ao gosto da menina, uma gatinha de pelúcia que mia ao ser apertada. Animada, <i>Ellie </i>deixa a tristeza de lado e vai brincar com as crianças. Algo na pista, contudo, a demove da brincadeira, e ela vê bem distante <i>Church </i>retornando para casa. Solitariamente, sem que nenhum adulto perceba, ela vai encontrar o gato no meio da pista. O pequeno <i>Gage </i>segue a irmã, sem conhecer o perigo oferecido pelos veículos pesados que vez ou outra passam à toda velocidade. Quando <i>Louis </i>se dá pelo descuido, o bebê já se encontra correndo sobre suas perninhas bambas bem no centro da pista. Ele parte como um zagueiro de futebol americano em direção ao filho para tirá-lo do curso de um enorme caminhão-tanque que se aproxima distraidamente em alta marcha. <i>Louis </i>arranca o bebê da estrada e o salva de ser colhido. Com o susto, o motorista golpeia o pedal com o pé, levando o caminhão para fora, inadvertidamente executando um movimento que faz o tanque se soltar do pino da carreta e sair deslizando. Tragicamente, é a menina quem acaba atingida pelo tanque. Seu corpo vai parar no acostamento. <i>Louis </i>a abraça, sem acreditar. O corpo de <i>Ellie </i>é baixado à terra sob profunda consternação dos presentes. Durante a cerimônia, <i>Jud </i>observa <i>Louis </i>com um olhar analítico e preocupado, como quem antecipasse os próximos passos na confusa cabeça do médico. O raio de ação de <i>Louis </i>é potencializado quando os pais de <i>Rachel </i>levam a filha e o neto para passar um tempo com eles, longe do epicentro da tragédia.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8Y4KiV7Y1rHvJoC2iWB3j4TDAJ3qA2IcNMfFhisOHXAf6ntr9PAhwu8UUuZ3Ga7Q1SlnwHzcRK1uwfjx_NziD7vzerWMX1-KInNfc3bjFjOY0E1TTcNxMcbNbe1zrjNOV4RWm84oTu6W9/s1600/Pet+sematary+movie+still+29.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8Y4KiV7Y1rHvJoC2iWB3j4TDAJ3qA2IcNMfFhisOHXAf6ntr9PAhwu8UUuZ3Ga7Q1SlnwHzcRK1uwfjx_NziD7vzerWMX1-KInNfc3bjFjOY0E1TTcNxMcbNbe1zrjNOV4RWm84oTu6W9/s400/Pet+sematary+movie+still+29.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGfKCi9ZJK2KbMLj-WjKoGSMA1BOsOjQ5HIXJ0IhN_Bw_5X5LFRIJ-f7-WUiGjq7KAPkd5s_REobSGi6gN6z2VmTg8ae1nHi_ARHd6WDgMJy9eg965GlJvb98JosoPFQOfDi-rYG_7s1mo/s1600/Pet+sematary+movie+still+30.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGfKCi9ZJK2KbMLj-WjKoGSMA1BOsOjQ5HIXJ0IhN_Bw_5X5LFRIJ-f7-WUiGjq7KAPkd5s_REobSGi6gN6z2VmTg8ae1nHi_ARHd6WDgMJy9eg965GlJvb98JosoPFQOfDi-rYG_7s1mo/s400/Pet+sematary+movie+still+30.jpg" width="400" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpRkrwEplyS7QuBFr2TL9YQfYaWz4qgqcN-8MZogIxv7qZeHoPU-i1oR1nSgdk426JkLW2Lg9qi4zKoIs9UZ1WJUuFX9B3FbFckYDdE2ysjBlZnnO-xDwQKQH7fBejoECPENsyN9NILZVI/s1600/Pet+sematary+movie+still+31.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpRkrwEplyS7QuBFr2TL9YQfYaWz4qgqcN-8MZogIxv7qZeHoPU-i1oR1nSgdk426JkLW2Lg9qi4zKoIs9UZ1WJUuFX9B3FbFckYDdE2ysjBlZnnO-xDwQKQH7fBejoECPENsyN9NILZVI/s400/Pet+sematary+movie+still+31.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">À noite, <i>Louis </i>come solitariamente no escuro reinante da cozinha. Ele avista a luz de uma fogueira para os lados da casa de <i>Jud </i>e faz uma visita ao amigo, trazendo consigo garrafas de cerveja. Desatento e comovido, o velho não vê quando o médico polvilha sonífero na sua bebida. O vizinho ainda consegue vocalizar observações muito pertinentes para a difícil situação. Ele sabe o que há na cabeça de <i>Louis</i>. Ele cogita seriamente desenterrar a filha para arrastar o corpo bosque adentro, rumo ao platô. "<i>A coisa se alimenta do luto, Louis</i>", <i>Jud </i>suplica, na tentativa de demovê-lo da loucura. Com o vizinho fora de ação e sob efeito de calmantes, <i>Louis </i>volta ao cemitério de <i>Ludlow </i>para secretamente desenterrar a menina. Distante do marido, <i>Rachel </i>pressente algo de errado. <i>Gage </i>chora e aponta para um canto escuro onde enxerga claramente a medonha presença de <i>Pascow</i>. O fantasma também surge para <i>Louis </i>durante a viagem através do pântano. <i>Louis </i>escuta um rumor semelhante a um profundo, constante rugido. Ele consegue chegar ao topo, onde enterra o cadáver, confuso por força da grande emoção. Uma vez tendo chegado da cansativa viagem, <i>Louis </i>mal dorme algumas horas. Ele é despertado por uma presença no andar inferior. Ao examinar o alpendre, encontra a porta aberta e pegadas cheias de barro que culminam no porão. Ele permanece um tempo com os olhos arregalados fixos na despensa escura, na expectativa de que a filha surja da escuridão; entretanto, <i>Ellie </i>chega por trás. Chocado, <i>Louis </i>a abraça, grato por tê-la de volta.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpn_LbGgqf72tAkjh89GWkaL-wyPIuhCzcHGSORdWbgUft7aG7_9AcB9VT0j0cKojlHBLBd-cdStFe7zNVkeWVgaqcUq5EmWy0951XkY48jCQx2WYBV0fiiEynOB5IsMv4SsKTnQfU8HDX/s1600/Pet+sematary+movie+still+32.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpn_LbGgqf72tAkjh89GWkaL-wyPIuhCzcHGSORdWbgUft7aG7_9AcB9VT0j0cKojlHBLBd-cdStFe7zNVkeWVgaqcUq5EmWy0951XkY48jCQx2WYBV0fiiEynOB5IsMv4SsKTnQfU8HDX/s400/Pet+sematary+movie+still+32.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_wmb91sVqWZ8WGCjnr8INwpLSA5onzDSG2Ua1Uw8s5MP2GhuRvDWDmZFQAcNdznCQwNhQbUwQZi8MLBWNRPHU9Plk4OGnJG3IZEKJj2bYisKrkIU-VYl1BgxiqoltIqAnMKtknikYvmq-/s1600/Pet+sematary+movie+still+33.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_wmb91sVqWZ8WGCjnr8INwpLSA5onzDSG2Ua1Uw8s5MP2GhuRvDWDmZFQAcNdznCQwNhQbUwQZi8MLBWNRPHU9Plk4OGnJG3IZEKJj2bYisKrkIU-VYl1BgxiqoltIqAnMKtknikYvmq-/s400/Pet+sematary+movie+still+33.jpg" width="400" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5ciTXzJFsUYykJRJ4PzKaS_8HlLSyT8rxNYZSsft-MdO0BI7rhAIRU6ET85uLNDt-n8Q_9qDwKMcd_QKdnf8dYcmJ7GMJ8OYRWnXHFi-JR__wLRXlqMs3cLpwWDQcTEvi9LjTNMUqTcXW/s1600/Pet+sematary+movie+still+34.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5ciTXzJFsUYykJRJ4PzKaS_8HlLSyT8rxNYZSsft-MdO0BI7rhAIRU6ET85uLNDt-n8Q_9qDwKMcd_QKdnf8dYcmJ7GMJ8OYRWnXHFi-JR__wLRXlqMs3cLpwWDQcTEvi9LjTNMUqTcXW/s400/Pet+sematary+movie+still+34.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A situação é demasiadamente confusa para que <i>Louis </i>se comporte racionalmente. Se por um lado devia se sentir feliz pelo retorno da filha, parece-lhe óbvio que <i>Ellie </i>não voltou como a mesma menina, e sim como uma macabra paródia, semelhante ao ocorrido a <i>Church</i>. Ele a leva à banheira para limpá-la da terra. Ao escovar seus cabelos, encontra, pela primeira vez por trás dos mesmos, a costura de fios metálicos que o serviço funerário fizera na parte detrás do crânio, para o velório. Depois de colocá-la na cama, como fizera tantas vezes no passado, a menina lhe dirige perguntas sobre a mãe e o irmão, sobre se voltarão a ser uma família como antes do acidente. Ele a leva para dormir consigo na cama. <i>Jud </i>desperta no decorrer da manhã seguinte, atordoado. Ele "<i>ficou fora</i>" por um bom tempo, cortesia do sonífero na bebida. A fogueira da noite anterior não passa de um amontoado de cinzas. <i>Jud </i>recebe uma ligação de <i>Rachel</i>. Àquela altura, ela resolveu deixar a casa dos pais levando consigo o filho, pois está muito preocupada com <i>Louis</i>. Presa a um engarrafamento quilométrico, por mais que tenha partido cedo da casa dos pais, <i>Rachel </i>precisará de um dia inteiro até chegar a <i>Ludlow</i>. Ela pede ao idoso que cheque a casa porque o marido não atende as ligações. Alarmado, <i>Jud </i>bate à porta de <i>Louis</i>. Pela expressão suspeita e sem graça no rosto do médico, o vizinho constata que ele cometeu a loucura sobre a qual tanto avisara: <i>Louis </i>enterrou a menina no solo dos <i>Micmacs </i>enquanto o idoso dormia na noite anterior. Ele reitera para <i>Louis </i>que se ele cometeu algo tão pecaminoso, ainda não é tarde para voltar atrás. Ao sair apressadamente da casa do amigo, ao casualmente se voltar, assusta-se ao reconhecer a silhueta da criança morta na janela da varanda do quarto superior. <i>Jud </i>se tranca em casa e municia a pistola. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Ele vasculha os cômodos com a arma em punho, certo de que a menina, ou melhor, o demônio que agora possui o corpo de <i>Ellie</i>, encontrará um jeito de entrar para matá-lo. Após uma detalhada vasculha, <i>Jud </i>só encontra um único visitante, o gato <i>Church</i>. Por um minuto, ele ri aliviado, mas então leva um golpe de bisturi no calcanhar. Ele sai rolando escada abaixo, gritando. No alto da escada, <i>Ellie </i>surge vestindo uma máscara de gato. <i>Jud </i>se arrasta para tentar recuperar a arma. <i>Ellie </i>tira a máscara de gato e, no lugar da menina morta, <i>Jud </i>enxerga o rosto da falecida mulher, que logo reassume as feições infantis de <i>Ellie</i>. A menina salta sobre o corpo do velho e passa a esfaqueá-lo sem misericórdia. No livro, o sr. <i>Stephen King</i> descreve uma cena ainda mais tetrica, pois com a voz da falecida esposa, o demônio atormenta o idoso recheando a fala com um monte de malícia sexual. "<i>Norma</i>" (na verdade, o <i>Wendigo</i>) lhe fala sobre como, na juventude, traíra <i>Jud </i>com os seus amigos mais próximos, e dera boas gargalhadas abraçada aos corpos suados dos amantes, na cama, após o sexo, divertindo-se com a ignorância do pobre homem. No romance, os <i>Creed </i>chegavam a conhecer a gentil <i>Norma</i>, ela ainda estava viva àquela altura da estória. A velhinha, todavia, morria no decorrer da trama, um pouco antes de os maus tempos se precipitarem sobre a vida dos <i>Creed</i>. Escrita como uma doce e querida senhora que amava a família da casa ao lado com o mesmo fervor com que cuidava de <i>Jud</i>, a ideia do sr. <i>King </i>de fazer o demônio usar a voz da mulher, quando jovem, para dizer coisas tão sexualmente carregadas e horrorosas para o marido machuca tão profundamente quanto uma estocada de bisturi. É de se pensar se <i>Norma </i>realmente traiu <i>Jud</i>, na juventude, e a dúvida depositada na mente pela ação demoníaca dá ainda mais dramaticidade e melancolia à estória: mesmo que o tivesse traído, como desconsiderar todas as boas coisas que fizera pelo marido e pelas pessoas no curso de sua vida, principalmente no Outono da existência? Será que ela não teria direito à redenção? A Sr. ª <i>Norma </i>era uma trágica e inesquecível personagem; sua ausência no filme de 1989 e nesta nova versão subtrai das adaptações cinematográficas alternativas muito interessantes para torná-las mais psicologicamente robustas.</span><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvSlYFR-U7huZRcEykhDOO8OvQIIor94Ncr62wGE8yn4buKfwwp7PXzBOQAGjJg7mqc74teVWWsXzW_9DIuPw3QEP2puuDn3lNMaQesWTlPeaVooU5RSdYBgFp9pV-BPU0YwFVTqr8fzmf/s1600/Pet+sematary+movie+still+35.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvSlYFR-U7huZRcEykhDOO8OvQIIor94Ncr62wGE8yn4buKfwwp7PXzBOQAGjJg7mqc74teVWWsXzW_9DIuPw3QEP2puuDn3lNMaQesWTlPeaVooU5RSdYBgFp9pV-BPU0YwFVTqr8fzmf/s400/Pet+sematary+movie+still+35.jpg" width="400" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7N6BCh18BXsfAG3sYPh6yhmS8uLpQpF8wJV0LU3skpHUlLYHNpbewThg4OVQ2IBCQqx4HX4yRS8drD2k8YY2XEWnoAl2wCv5CUXW1fR_xzFClYRJRDEpxIeTs5u0bzGbxVtU456AgnH5G/s1600/Pet+sematary+movie+still+36.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7N6BCh18BXsfAG3sYPh6yhmS8uLpQpF8wJV0LU3skpHUlLYHNpbewThg4OVQ2IBCQqx4HX4yRS8drD2k8YY2XEWnoAl2wCv5CUXW1fR_xzFClYRJRDEpxIeTs5u0bzGbxVtU456AgnH5G/s400/Pet+sematary+movie+still+36.jpg" width="400" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTp6f_EucOomvE-D6Wig9Q9w_O_wlj9dBckiT6qNOiiYp_MuShnaKfVDtal33sUbN3ciJIGbg8KFx6gb77dQq8mgfBkBNEeSTi4YCVTAD7zskuWV5-8a-XNQQigcqcQtJeWkWq1RD4mG_m/s1600/Pet+sematary+movie+still+37.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTp6f_EucOomvE-D6Wig9Q9w_O_wlj9dBckiT6qNOiiYp_MuShnaKfVDtal33sUbN3ciJIGbg8KFx6gb77dQq8mgfBkBNEeSTi4YCVTAD7zskuWV5-8a-XNQQigcqcQtJeWkWq1RD4mG_m/s400/Pet+sematary+movie+still+37.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Rachel </i>só vai chegar ao fim da tarde. <i>Louis </i>os recebe com naturalidade, tomando o filho no colo e a beijando na face. <i>Rachel </i>logo se cala em estado de profundo choque quando <i>Ellie </i>surge no corredor e a abraça na linha de cintura. Como o marido, ela também experimenta a confusa sensação de que deveria se sentir feliz, mas parte de si reconhece o espírito maligno na pessoa da "<i>filha</i>". A mulher sobe a escada e se tranca no quarto com o bebê. <i>Louis </i>procura chegar a um denominador comum com a esposa. Ele perdeu completamente a sanidade, vez que se propõe a ir até o fim com seu intento. Ao deixar momentaneamente a casa para verificar o vizinho, <i>Louis </i>a acaba deixando a mercê da ação da menina possuída. Dentro de casa, <i>Rachel </i>é assaltada por seus próprios medos. Ela sofre um horroroso pesadelo no qual se vê de volta à infância, presa à cama da falecida irmã, assolada pela meningite raquidiana que a matou. Por um momento, ela recobra a lucidez e se vê devolvida ao quarto do casal com o bebê no berço, mas então a filha, na verdade o <i>Wendigo </i>no controle do corpo, aparece com uma faca de cozinha e pula sobre a cama para matá-la. Enquanto xinga a mãe, <i>Ellie </i>manuseia a lâmina na tentativa de acertá-la definitivamente; por ser uma mulher adulta e mais forte, ao menos no começo, <i>Rachel </i>obtém êxito ao refrear a agressão. <i>Louis </i>compreende a extensão de seu engano ao encontrar o corpo do vizinho. A verdadeira <i>Ellie </i>jamais teria levantado um dedo contra o velho; ela o amava. Temendo pela mulher, o médico volta correndo. E ele não poderia ter vindo mais depressa. De fato, <i>Rachel </i>foi se albergar dentro do banheiro com o bebê nos braços, encurralada no estreito espaço, enquanto o demônio lança murros à porta, determinado a esfaqueá-la. Ocorre-lhe quebrar a janela para descer o garotinho, pois a queda não é tão grande. <i>Louis </i>assiste a tudo da rés de chão. Ele consegue apanhar o filho no ar; entretanto, quando <i>Rachel </i>está para passar pela esquadria, recebe uma violenta facada na coluna e vai abaixo, sob a risadinha do demônio, que observa a cena com um esquisito ar de contentamento.</span><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidW0MZmfoevZys2ek7KTAyP3-gxZLvbwTlVGWNQZEAVG74FjlINMyYyV5tDI_ILJko5HA17a1NCvKUXnO4PZ5DnSCBbDxyWPSnDrKocZego2YwwCtEebKq9LqeEtbD5pjgPt9NoXKze6M4/s1600/Pet+sematary+movie+still+39.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidW0MZmfoevZys2ek7KTAyP3-gxZLvbwTlVGWNQZEAVG74FjlINMyYyV5tDI_ILJko5HA17a1NCvKUXnO4PZ5DnSCBbDxyWPSnDrKocZego2YwwCtEebKq9LqeEtbD5pjgPt9NoXKze6M4/s400/Pet+sematary+movie+still+39.jpg" width="400" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-LFFxGXE4qBOExEwFO3uIYWOGSRbExVQDPtf6kniOIxLtQSF4r9jul1ZxrR1w432YTWpq_ACMYXOb6ReAMKg89iO6F6m1s3RMzx0T4VPcKCAXIES3wv5H2cLvxTliXuWVVqlmwD81cuhyphenhyphen/s1600/Pet+sematary+movie+still+38.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-LFFxGXE4qBOExEwFO3uIYWOGSRbExVQDPtf6kniOIxLtQSF4r9jul1ZxrR1w432YTWpq_ACMYXOb6ReAMKg89iO6F6m1s3RMzx0T4VPcKCAXIES3wv5H2cLvxTliXuWVVqlmwD81cuhyphenhyphen/s400/Pet+sematary+movie+still+38.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O médico tem a presença de espírito de trancar o filho no carro, o último reduto seguro. Ele tenta socorrer a esposa agonizante. <i>Rachel </i>suplica para que o marido não a enterre no solo indígena: ela não deseja voltar, pois sabe que "<i>retornaria</i>" como veículo para o demônio. Não há sinal da menina. <i>Louis </i>não consegue fazer muito para estancar a hemorragia da mulher, pois logo desmaia graças a um golpe na nuca vindo das costas. <i>Ellie </i>arrasta o corpo da mãe ao longo do caminho do bosque. <i>Louis </i>desperta confuso, sem entender o ocorrido. Ele corre para fora de casa até o cemitério de animais. Em meio à neblina raza, sem visão clara daquilo ao redor, chama o nome da filha e pergunta o que ela fez a <i>Rachel</i>. <i>Ellie </i>salta da escuridão sobre as costas do pai com uma faca na altura do pescoço. Depois de uma breve, intensa luta, <i>Louis </i>consegue prendê-la ao chão, firmando-a ali ao pisar sobre o peito de <i>Ellie</i>. Ele prepara a pá para o golpe final, mas no último segundo o demônio consegue embaralhá-lo ao emular a voz da garota, da época em que <i>Ellie </i>era apenas uma criança, e não um fantoche do <i>Wendigo</i>. Ao vacilar, <i>Louis </i>é subitamente empalado por trás. Um pedaço pontiagudo de ferro trespassa o peito do médico e ele cai pesadamente ao lado da "<i>filha</i>". Ao cair, vemos a responsável pelo golpe: <i>Rachel</i>, com a lança de ferro em mãos. Agora, o demônio não somente arregimentou a menina e o gato, ele também trouxe para si a pobre <i>Rachel</i>, que nos últimos minutos de vida suplicara a <i>Louis </i>para que não a colocasse no solo dos <i>Micmacs</i>. Explorarei a criatividade do roteiro desta nova versão mais tarde, mas o <i>modus operandi</i> do <i>Wendigo </i>parece obedecer a certos critérios. O demônio gosta de "<i>arregimentar</i>" pessoas. Agora, <i>Rachel </i>e <i>Ellie </i>levam o corpo de <i>Louis</i> a uma jornada. Já imaginamos o plano da dupla para o médico morto. A última cena retoma o começo, quando fomos apresentados ao cenário de múltiplos homicídios ocorridos na propriedade dos <i>Creed</i>. Por uma tomada do ponto de vista de dentro do carro onde <i>Gage </i>assiste a tudo com olhinhos assustados, testemunhamos o "<i>regresso</i>" dos <i>Creed</i>, os três deixando o bosque sob o sol muito fraco das primeiras horas da manhã. Por um brevíssimo momento, aos olhos da criança, os três parecem a mesma família; entretanto, ao se aproximarem, vemos as expressões sem vida e malevolentes de suas faces. <i>Church </i>salta sobre o capô e observa o menino enquanto passa a língua nos lábios, faminto. A criança está apavorada. O filme conclui com o bipe do controle remoto acionado por "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Louis</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" para a abertura das portas. Antes de sabermos o horroroso destino da pobre criança nas mãos do quarteto de demônios, a imagem é envolvida pela escuridão e os créditos começam a rolar.</span><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4r54qc0UIQhakd0wJV9NvzAx9NHV-yJvtik_e8Sz33w4bHvzu2gwvx-jJqUjLlwJtko4mapH7x4HZR3qAluQNKulfJYQZ0x786VJWZvHP4zWCb8C3SRD_qJ30MHzo3JdCbnvO1NFVmiL9/s1600/poster-cemiterio-maldito.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1024" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4r54qc0UIQhakd0wJV9NvzAx9NHV-yJvtik_e8Sz33w4bHvzu2gwvx-jJqUjLlwJtko4mapH7x4HZR3qAluQNKulfJYQZ0x786VJWZvHP4zWCb8C3SRD_qJ30MHzo3JdCbnvO1NFVmiL9/s400/poster-cemiterio-maldito.jpg" width="255" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Resenha</b>: Às vezes, as dificuldades ao se tentar viabilizar uma ideia ao
cinema acabam sendo a melhor força criadora do projeto. Ao longo de duas
décadas, grandes nomes estiveram associados à noção de uma
refilmagem da estória do escritor <i>Stephen King</i>, porém os sucessivos
adiamentos permitiram que o melhor timoneiro possível, o
tempo, encarregasse-se de encontrar o tom e as pessoas corretas para
a transposição definitiva. Embora nomes de cineastas de vulto
tivessem sido ventilados nas duas décadas anteriores, e estrelas de
cinema cotadas para os papéis principais, a melhor resposta encontrada pela passagem dos anos consistiu na revelação de dois nomes desconhecidos, <i>Kevin Kolsch</i> & <i>Dennis
Widmyer</i>, que cinco anos antes haviam rodado um filme independente
muito reverenciado chamado "<i>Starry Eyes</i>", e na escolha de dois
atores relativamente desconhecidos cujas opções de carreira
demonstravam comprometimento com a arte da interpretação, <i>Amy Seimetz</i> & <i>Jason Clarke</i>.
Curiosamente, semelhante concepção se deu com a primeira adaptação,
de 1989, pois a diretora <i>Mary Lambert</i> não gozava de uma extensa
filmografia, e <i>Dale Midkiff</i> & <i>Denise Crosby</i> jamais haviam
encabeçado uma grande produção anteriormente. Da mesma forma que a
versão de 1989 polemizara por ter seguido uma rota completamente inesperada, pela qual privilegiara a qualidade visceral
das performances e a afiada direção em vez de nomes saturados, a nova versão de "<i>Cemitério
Maldito</i>" muito deve ao time por trás da reimaginação. Não obstante produto de um grande estúdio, a <i>Paramount</i>, qualquer pessoa que assista ao filme notará uma arrojada qualidade de cinema independente vinculada à origem dos diretores. Não seria recomendável discutir o mérito das mudanças e reimaginações propostas pelo novo time criativo sem discorrer um pouco sobre "<i>Starry Eyes</i>", o elogiado filme independente que lhes deu peso.</span><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7Mw4ZJpLbhB4r7y0cr1CYm0SK2NqsVaWog2a0BE2VNCY-VzVdjYJqeN_iJH3etlItq6YEjqu3nl0C05__pmagWFHZmGD_8pkYYvpaED3ZvCQ7SRqkyYT8NY7yQA8ywT4eP0eVa_wVc84P/s1600/eyes+wide+shut+still.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="567" data-original-width="1000" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7Mw4ZJpLbhB4r7y0cr1CYm0SK2NqsVaWog2a0BE2VNCY-VzVdjYJqeN_iJH3etlItq6YEjqu3nl0C05__pmagWFHZmGD_8pkYYvpaED3ZvCQ7SRqkyYT8NY7yQA8ywT4eP0eVa_wVc84P/s400/eyes+wide+shut+still.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Já resenhado no blog, "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Starry Eyes</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" é uma produção realizada em 2014 e um pioneiro no gênero. Por mais que tenhamos uma variedade de nuances do horror, nenhum outro filme antes lançou um olhar tão duro através da natureza macabra da indústria cinematográfica. Com um orçamento minimalista, os diretores souberam contar com muita sensibilidade a realidade satânica do mundo falso e idólatra do cinema, utilizando como fio narrativo a jornada de uma moça que tenta sobreviver e vencer a qualquer custo. Visto que o gênero foi saturado por uma miríade de tolices sem algo importante a dizer, podem ser contados nos dedos os filmes verdadeiramente sóbrios e apavorantes que lançaram luz sobre assuntos pertinentes, como Nova Ordem Mundial e satanismo. Eu os nominaria com muita firmeza: produções como "<i>De Olhos Bem Fechados</i>", "<i>Kill List</i>", "<i>Regression</i>" e "<i>The Conspiracy</i>" assemelham-se em sua impressionante honestidade quanto às profundas questões filosóficas envolvidas no satanismo, em nada assemelhado a tolices emblematizadas por tipos excêntricos como <i>Anton Lavey</i>. O imaginário popular ficou povoado por imagens extravagantes de pessoas de robe preto ou adolescentes rebeldes sacrificando animais em cemitérios; entretanto, a noção criou uma aparência caricatural e falsa que mais serve a sustentar uma aura de fantasia do que efetivamente entender a coisa como ela o é. Puro satanismo é subterrâneo, no sentido de não se deixar expor à vista. Pessoas guardam uma ideia equivocada da coisa inteira. Trata-se de uma filosofia de vida meticulosamente fundamentada sobre crenças, sobre uma "<i>mitologia</i>", por assim dizer, que, para aquela gente, é sólida o suficiente a ponto de abrirem mão do bom senso em favor da convicção de que realizaram a escolha mais lógica. Satanistas jamais usam o termo "<i>Lúcifer</i>" e se referem a essas coisas por outros nomes, tais como "<i>grande arquiteto</i>" ou outros termos ridículos, convictos de que nos prestam um favor ao promover a "<i>emancipação</i>" do homem, o passo natural após a "<i>infância</i>" de uma humanidade que por tanto tempo se valeu da desculpa de Deus para acomodar-se à passividade com a qual desprezou "<i>descobrir o próprio caminho</i>". No fundo, essa gente busca exatamente a mesma coisa que qualquer outra criatura vivente sobre a face da Terra, a felicidade, apenas no lugar equivocado, cultuando uma figura solitária e estranha que odeia o homem. Em um trabalho de doutrinação oriundo da macabra <i>Escola de Frankfurt</i>, no início do século passado, intelectuais basicamente criaram em tubo de ensaio o mundo ateu onde vivemos hoje, onde o homem não aceita que embora lhe seja possível experimentar alegrias no decorrer da existência cronológica, felicidade não se encontra à disposição, e mesmo se em dado momento a tivermos ao alcance, será parcial e nos abandonará na hora da morte. O mais próximo que alguém conseguiu relatar o modo de agir, pensar, socializar-se, sorrir e mover-se desse pessoal foi o sr. <i>Stanley Kubrick</i>, com "<i>De Olhos Bem Fechados</i>" (<i><span style="font-size: x-small;">foto</span></i>). A orgia sexual satânica rodada em <i>Mentmore Towers</i> encapsula perfeitamente quão eclético é o grupo, um amálgama de personalidades. Todos desempenham papéis de relevância no dia a dia e sob seus cuidados e orientações nos submetemos sem a menor ideia de suas identidades. Há aqueles que agem compassivamente para com o próximo e são capazes de atitudes aparentemente altruístas (esse segmento geralmente se ocupa com "<i>projetos sociais</i>" e "<i>obras de caridade</i>"); há outros moralmente imparciais e frios, interessados exclusivamente no poder que as conexões entre distintas teias da sociedade lhes valem dentro da pirâmide de influências; outros mascaram desvios psiquiátricos gravíssimos e são verdadeiros psicopatas viciados em pornografia, fetiches e pedofilia ou, mais comumente, narcisistas malignos, submissos passivo-agressivos ou histéricas. Em comum, diferente do sugerido pelo imaginário popular, eles não amarram inocentes em tábuas de sacrifício, tampouco acreditam na bobagem risível de uma criatura fantástica capaz de se assomar na sua presença caso vocalizem comandos mágicos secretos. O que eles efetivamente fazem - e é pior, vez que muito sutilmente, quase imperceptivelmente - é fomentar confusão e militar a favor de ideias e movimentos concentrados em sabotar os pilares (o Direito Romano, a Filosofia Grega e a Igreja Católica) que fizeram da sociedade ocidental a mais bem-sucedida dentre as outras, por mais que no âmbito de suas vidas privadas e profissionais se conduzam com uma pretensa preocupação social, e aquilo em que eles acreditam em nada se parece com criaturas fantásticas cuja aparência mais deve ao folclore do que `a realidade, mas ganha forma e personalidade pelo viés de comandos, ideias e novas formas de reger a vida, tais como o "<i>Do what thou wilt</i>", de <i>Aleisteir Crowley</i>, cuja filosofia do "<i>Thelema</i>" personifica perfeitamente o <i>Baphomet </i>de seios femininos e cabeça de bode. Diferente de como raciocinamos sobre qualquer outra coisa, como, por exemplo, quando digo a palavra "<i>gato</i>" e você imediatamente se serve de imagens de gatos vistas ao longo da vida para construir o pensamento que espontaneamente lhe ocorre ao escutar o termo, ao se falar naquilo que supomos serem anjos decaídos, referimo-nos a algo muito acima da condição humana e, por conseguinte, desprovido de corpo físico. Ao examinarmos a natureza, distinguiremos, na escala da evolução, uma fotografia do amor de Deus ao determinar uma ordem para Sua criação, e se, diferente dos animais, somos dotados da capacidade de conhecer a verdade e amá-Lo, é bastante natural que, considerando-se a distância a se vencer entre Ele e a criação humana, essa imensidão seja habitada por uma parte superior. Ocorre que mesmo o ato de pensar a respeito dessa casta hierarquicamente elevada prova-se uma quimera. Por raciocinarmos através de signos, jamais teremos como pensar corretamente sobre a natureza de anjos decaídos, já que desprovidos de corpos e absolutamente distintos de tudo o que vimos e a partir do qual teríamos como criar uma espécie de familiaridade visual. Para se ter uma ideia de quão enlouquecedora é a verdade, ao pinçarmos episódios descritos nas Sagradas Escrituras como a queda após a "<i>guerra que houve no céu</i>", por exemplo, notaremos que esse divórcio entre os dois foi ainda mais poético e delirante que a mais selvagem das imaginações, afinal se anjos não detêm corpos e tampouco brigam com punhos e espadas, estamos falando de uma guerra de intelectos. Partindo-se da premissa de que jamais nos será permitido compreender inteiramente como essas coisas atuam na dimensão na qual nos inserimos e interferem no livre arbítrio, soa bastante verossímil que a única forma de pensar a respeito fixe-se a variáveis face as quais o pensamento aristotélico nada pode. Ao tempo que nos parece tão inatingível e fantástico a ponto de a mera visão nos levar à loucura, esse tipo de coisa também nos conhece intimamente e participa de aspectos dos dramas cotidianos, insinuando-se nas mentes e até mesmo alterando radicalmente rotas de vida, albergados pela aparência ordinária, como atesta o caso do sr. <i>Joseph Sciambra</i>, um homem cuja saga mencionei extensivamente em outro artigo, assim como o fiz quanto ao caso do sr. <i>Joe Martinez</i> e sua "<i>foto do cachorro</i>". Eu fiz a breve preleção para explicar meu apresso por "<i>Starry Eyes</i>", uma estória de satanismo diversa de qualquer outro filme que você tenha visto, fortemente ancorada nos fatos como eles se apresentam em nossas vidas hodiernas, e, por conseguinte, genuinamente marcante, tão memorável quanto "<i>De Olhos Bem Fechados</i>" ou "<i>Kill List</i>". Para sua estreia no controle de um ambicioso e grande filme de estúdio, os diretores reciclaram muitas das surpresas tão eficientemente lapidadas em "<i>Starry Eyes</i>", e o resultado fica além do que o trepidante roteiro, a parte mais vulnerável do conjunto, garantiria. A nova versão de "<i>Cemitério Maldito</i>" tropeça em um só obstáculo, claro desde o início: o curto espaço de tempo e as implicações em se ter de "<i>apressar</i>" a narrativa de forma que caiba dentro de uma hora e quarenta minutos. As deficiências do roteiro não se devem à escrita, mas à pressa com que a trama caminha para chegar ao desfecho na marca de uma hora e quarenta minutos. O veículo ideal para uma impecável adaptação de "<i>Cemitério Maldito</i>" se daria pelo viés de uma minissérie, digamos, de cinco capítulos, nos moldes do que a HBO fez com o macabro "<i>Chernobyl</i>". Um dos eventos mais fascinantes do século XX, a catástrofe de <i>Chernobyl </i>nunca recebera o tratamento cinematográfico devido, e eu imaginava como teria sido sensacional se um cineasta como o diretor <i>John Boorman</i> tivesse se interessado em rodar semelhante projeto, uma ambiciosa produção destrinchada ao longo de três horas de projeção. Mesmo assim, as coisas acontecem no melhor momento, pois pela via da minissérie, os diretores contaram com cinco horas para apresentar a cronologia da tragédia de forma eficiente e eletrizante. Depois de assistir a "<i>Chernobyl</i>", percebi que era esse o elemento faltante a "<i>Cemitério Maldito</i>", o veículo correto, ou seja, uma minissérie cuja janela de tempo permitisse aos diretores reensaiarem os elementos que, no romance original, saltavam aos olhos, pela originalidade, pela sensibilidade e, claro, pelo puro horror. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"<i>Cemitério Maldito</i>" não se tornou o filme magistral que esperávamos, porém a experiência de <i>Kevin Kolsch</i> &<i> Dennis Widmyer</i> com "<i>Starry Eyes</i>" e a evidente segurança de ambos no comando de tamanho projeto nos deram um resultado muito superior à média dos lançamentos do gênero no ano de 2019. Quais os pontos fortes já exibidos em "<i>Starry Eyes</i>" que os diretores reaproveitaram para "<i>Cemitério Maldito</i>"?</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyhxRofNJjvKpnw5etrhQVEih_G9Gwfi9w8dGlGo3vAOzoRmOjF6gY0EkXnJNwnY8UHce-meuBKRYomDfdbisl9HWvafr_czgkmvL3RxT4bKFIctzp_84Zsp7PGWcllHA69pRGF71vyln0/s1600/Starry+eyes.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="388" data-original-width="574" height="270" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyhxRofNJjvKpnw5etrhQVEih_G9Gwfi9w8dGlGo3vAOzoRmOjF6gY0EkXnJNwnY8UHce-meuBKRYomDfdbisl9HWvafr_czgkmvL3RxT4bKFIctzp_84Zsp7PGWcllHA69pRGF71vyln0/s400/Starry+eyes.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Quando assisti a "<i>Starry Eyes</i>" (<span style="font-size: x-small;"><i>foto</i></span>), durante o filme e antes que a estória chegasse a sua parte mais sangrenta, eu já havia me impressionado com a sensibilidade dos diretores ao retratarem o aspecto humano da tragédia. Como a trama seguia a jornada de uma garçonete aspirante a atriz vivida por <i>Alex Essoe</i>, o filme tinha o dever de nos cativar com os dilemas e dramas experimentados pela protagonista. O "<i>monstro</i>" do filme não era algo tangível, mas nascia do apetite que as circunstâncias muito deprimentes tinham incutido no coração da moça, de maneira a galvanizar na sua mente a crença de que valia quaisquer sacrifícios pessoais pelo estrelato, até mesmo abrir mão da própria alma. Em vez de monstros ou efeitos especiais, os diretores apoiaram-se no pior dos antagonistas, abstrato demais para que se possa enfrentá-lo perfeitamente. No dia a dia de um grupo de jovens tão díspares e perdidos como átomos soltos, <i>Kevin Kolsch</i> & <i>Dennis Widmyer</i> passeavam suas câmeras pelo deck da piscina de um motel batido e deprimente onde iam desperdiçando suas vidas, através de antessalas de processos de audição para papéis em filmes B, através da cozinha de pequenas diners da parte mais periférica e pobre de <i>Los Angeles</i>, através das calçadas das glamourosas avenidas de <i>Hollywood</i>, que, à noite, denunciam a transitoriedade e mentira de tudo aquilo, estampadas nos rostos tristes e desencantados das almas errantes que passam vidas inteira ali, esperando o tão sonhado dia em que receberão uma ligação para um papel de cinema que lhes dará a felicidade do estrelato. No impecável tratamento dado ao verdadeiro monstro, <i>Kevin Kolsch</i> & <i>Dennis Widmyer</i> realizaram um feito e tanto, demonstrando uma visão tão afiada e inovadora quanto a do escritor <i>Hubert Selby Jr.</i>, por exemplo, ao escrever sua evocativa obra literária "<i>The Demon</i>", a mais lúcida e realista descrição de um processo de obsessão diabólica, da qual tomei nota graças a Prof. <i>Olavo de Carvalho</i> ao ministrar o curso "<i>A Consciência da Imortalidade</i>". Além da assertividade dos cineastas, a magistral atuação do jovem elenco garantiu a "<i>Starry Eyes</i>" o status de clássico instantâneo. Cinco anos após "<i>Starry Eyes</i>", os diretores se reuniram para comandar "<i>Cemitério Maldito</i>", e ao se verem às voltas com a política de um grande estúdio mais preocupado com o tempo de projeção (que reflete no número de vezes que um filme pode ser exibido por um dia e, portanto, na bilheteria) do que com a autêntica, poética expressão artística, eles souberam que a melhor forma de tratar o projeto seria encontrando pequenas maneiras de instilar na produção pequenas, refrescantes sacadas e modo de pensar do cinema independente que dão ao filme uma elegância muito agradável, bem como tratando o <i>Wendigo </i>como um inalcançável mistério, notado exclusivamente pelos rastros deixados no mundo físico.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWo5uKucBuaabqtj18fA8s0VWPvBTB3RH-EQuIt_9soipShh1Lk4R0PNqegTUu8qFvEy__7eeLbNrsv2xyOW5xlSsUZJJUe-NQw9NhISRfsimUYs1yRhSF5gx9ATraGNpBpvhCub0unadO/s1600/Pet+Sematary+9.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWo5uKucBuaabqtj18fA8s0VWPvBTB3RH-EQuIt_9soipShh1Lk4R0PNqegTUu8qFvEy__7eeLbNrsv2xyOW5xlSsUZJJUe-NQw9NhISRfsimUYs1yRhSF5gx9ATraGNpBpvhCub0unadO/s400/Pet+Sematary+9.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-3YLRN-PbKzRvolQmEDdYouqiyDgdh5sp8V0dW64ODEvEg57teqH2AJZsjstGk0asGh9GSsfg_eybt4BzxhH0wXAcMS6ZCeIEPYyr9tqldNZ0dPOFIfxDcypCQYg2yRA5nm7SaWb2ce1h/s1600/Pet+Sematary+movie+still+11.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-3YLRN-PbKzRvolQmEDdYouqiyDgdh5sp8V0dW64ODEvEg57teqH2AJZsjstGk0asGh9GSsfg_eybt4BzxhH0wXAcMS6ZCeIEPYyr9tqldNZ0dPOFIfxDcypCQYg2yRA5nm7SaWb2ce1h/s400/Pet+Sematary+movie+still+11.jpg" width="400" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMgmc_zJvgrSEfshgqkDr3trgRNGFuEQqy2DOyCyGirMzE3gIKkLIacmtD2j3VjiKu_Eq7YzSbEETGUnif9aPjX7O326oyEviSkNgtf6vnTTnC99-TJT6c446sJi6fKom4k4QZjGUahzMW/s1600/Pet+Sematary+movie+still+12.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMgmc_zJvgrSEfshgqkDr3trgRNGFuEQqy2DOyCyGirMzE3gIKkLIacmtD2j3VjiKu_Eq7YzSbEETGUnif9aPjX7O326oyEviSkNgtf6vnTTnC99-TJT6c446sJi6fKom4k4QZjGUahzMW/s400/Pet+Sematary+movie+still+12.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Já que o roteiro apressava-se para chegar ao fim, descompromissado com um desenvolvimento psicológico mais criterioso, eles sabiam que tinham de escalar um time de primeira, capaz de emprestar vida e exuberância aos personagens sem a precisão de muito tempo para estabelecerem suas personalidades. <i>Rachel</i>, <i>Louis </i>e o resto da turma deviam nos encantar como gente de nosso convívio. Só atores muito talentosos saberiam evocar autenticidade sem necessitarem de bastante exposição. Ao tempo que precisavam evitar estrelas de cinema, pois a presença de celebridades apenas azedaria a proposta de originalidade e inovação, <i>Kolsch </i>& <i>Widmyer </i>tinham de se socorrer de atores talentosos capazes de dar a personagens que no script ficaram meio superficiais o desenvolvimento e a riqueza mais frequentemente vistos no circuito alternativo de arte ou em filmes europeus. Único nome mais célebre do elenco, o veterano <i>John Lithgow </i>usa o estrelato conquistado ao longo da ilustre carreira para dar vida ao benevolente, compreensivo <i>Jud</i>, e sua natural autoridade perante os colegas de elenco lhes concede autoconfiança para roubarem a cena com muita disposição e protagonismo. A presença de <i>Lithgow </i>vira a teia de segurança para que seus companheiros se ponham à vontade e conduzam as performances naturalmente. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jeté Laurence</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> tira maravilhosos frutos da experiência, uma revelação no papel de <i>Ellie Creed</i>. Na primeira parte do filme, ela veste no olhar com que processa os fatos a inocência própria à infância; mais tarde, quando sua presença não passa de conduto para a atuação do demônio no mundo físico, ela é capaz de nos congelar de medo pela malícia do mesmo olhar. O ponto alto do trabalho de <i>Jeté Laurence</i> ocorre pouco antes da morte na pista, em sua doce reação ao distinguir o gato voltando para casa. O reencontro toca meu coração. Inicialmente, há a alegre surpresa, e em seguida ela vai se achegando cautelosamente, como se o estivesse conhecendo pela primeira vez, eletrizada pela volta de <i>Church</i>. Existe toda uma magia na maneira com a qual a pequena atriz o observa candidamente com um sorriso e se ajoelha perante o querido animalzinho. Até mesmo o gato ajuda na construção de uma memorável cena, pois retribui o olhar com um movimento de cabeça que todos no cinema acharam lindo e suspiraram! "<i>Church, you came home</i>", ela diz baixinho, ignorante quanto a verdadeira natureza do gato, àquela altura um instrumento do <i>Wendigo</i>. Assumindo o importante papel de pai de família, o ator <i>Jason Clarke </i>prova-se à altura do desafio de protagonizar uma ambiciosa produção. Ele interpreta <i>Louis </i>com generosas e equilibradas doses de bom humor, coragem, voluntarismo e deslumbramento diante do sobrenatural. Foi muito interessante acompanhar a mudança interna do médico, inicialmente um homem cético, e participar de sua aventura de autodescoberta. Ao se deparar com o ignoto, <i>Louis </i>reluta e repudia as forças que cercam a família; entretanto, gradualmente, permite que as emoções assumam o lugar da sobriedade, tomando decisões desastrosas nas quais o demônio se fia para se apoderar do lar. O ator interpreta o processo de ruína mental do médico na medida certa, sem carregar nas tintas, optando pela rota da loucura silenciosa da maioria das pessoas que, quando colocadas a teste e tendo perdido tudo, descobrem-se capazes dos mais inominados atos de violência. A performance excepcional do elenco fica nas mãos da atriz <i>Amy Seimetz</i>, a melhor escolha possível para o papel da <i>Rachel</i>. Presença fácil no circuito independente, a atriz também transita com desenvoltura pelo gênero horror e, curiosamente, parece apreciar filmes do tipo. Vocês se recordarão dela como a irmã fratricida de "<i>The Sacrament</i>", a versão do diretor <i>Ti West</i> para o massacre de <i>Jonestown</i>, A cena dolorosamente demorada na qual ela mata o irmão incapaz de se defender perdura como momento mais dramático e inesquecível daquele filme. Ela também participou do elenco de muitas outras produções do tipo, como o ótimo "<i>You're Next</i>". Há muito tempo, quando ainda só se falava da possibilidade de uma refilmagem de "<i>Cemitério Maldito</i>", pensei no quanto <i>Jennifer Connelly</i> teria ficado ótima no papel. Quis o destino que a parte recaísse sobre o colo de uma atriz completamente inédita e inesperada, que provou que ninguém mais teria feito um melhor trabalho que a sua pessoa! Tendo lido muitas vezes o romance, a <i>Rachel Creed </i>sempre me pareceu a personagem mais fascinante. Ela levava consigo até a vida adulta o trauma da infância causado pela enfermidade da irmã e as angústias psicológicas a que fora submetida por uma situação que não causara. Interessava-me entendê-la, psicologicamente. Seu pai especialmente ressentia <i>Louis</i>, pois o tomava, mesmo subliminarmente, como o "<i>homem que roubara a filha de casa</i>" quando haviam começado a namorar e <i>Louis </i>era um residente de Medicina. Movendo-se contra a forte oposição dos pais possessivos, ela casara com <i>Louis </i>por genuinamente amá-lo, fato que a encorajara a quebrar os grilhões que a mantinham sob as asas e os olhares dos pais, numa casa onde era, sim, a princesa, mas sem vida e luz próprias. Devota esposa e dedicada mãe, <i>Rachel </i>era como um jarro de flores muito raro e feito da mais fina porcelana. Em meio `as intempéries, enquanto lemos a trama e achamos que ela quebrará em estilhaços, ela resiste bravamente em meio aos desafios e se mantém fiel ao lado de seu homem e filhos. É o seu incondicional amor de mãe, por exemplo, que tanto no romance quanto na primeira versão a levam a ser estraçalhada pelo filho, que a mata a golpes de bisturi. Para <i>Kolsch </i>& <i>Widmyer</i>, a carta na manga revelou-se a atriz <i>Amy Seimetz, </i>porque ela atendeu com sucesso o chamado de criar a riqueza cativante da personalidade de <i>Rachel </i>por recursos distintos da precisão de meras linhas de diálogo. Ao contrário, foi na maneira de olhar, de se comportar, de sorrir, de se mover, de chorar e de cuidar que ela nos comunicou seu compromisso para com o marido e filhos melhor do que qualquer outro meio. Sua beleza jamais é vulgarizada, e mesmo durante uma cena mais forte, na qual abraça o companheiro na cama, o momento sustenta uma aura de doçura e parceria que desnuda camadas e mais camadas de delicadeza até revelar onde repousa a essência do matrimônio, hoje tão assediado e atacado. A breve cena a mostra trazendo o marido para cima de si, na cama. Ela usa as pernas como pinças, para trazê-lo para mais perto do alcance de seus braços e mantê-lo ali quieto, porém não há uma única gota de erotismo envolvido no ato. Ao contrário, o cuidado com que <i>Seimetz </i>representa fisicamente o encontro reflete a compaixão daquela que, além de parceira, é a melhor amiga de <i>Louis</i>, e o conhece profundamente em suas imperfeições e fraquezas, de modo que volume algum de diálogo lido exprimiria tão bem a intimidade quanto o movimento com o qual <i>Rachel </i>o acolhe e o puxa para dentro. Apesar de <i>Louis </i>pôr-se à frente como o chefe de família na condução do lar e, mais tarde, na luta contra o horroroso demônio, quem se sobressai, mesmo por sobre os ombros do marido e sempre atenta, é a doce <i>Rachel</i>. Ela me lembra a <i>Adrian</i>, em "<i>Rocky V</i>", quando <i>Rocky </i>se descobre traído pelo pupilo <i>Tommy</i>, e marido e mulher brigam por um momento na rua, sob a luz dos postes. <i>Rocky </i>esbraveja sobre respeito, e <i>Adrian </i>devolve, também em um tom alto "<i>Eu o respeito! Todas as surras que você levou no ringue, eu as tomei contigo!</i>". Os dois então se abraçam. Eu era uma criança quando vi o filme no <i>Cinema São Luís</i>, em 1991, mas já naquele tempo a cena me comovera por motivos que, à época, eu não saberia reconhecer. Evocada pela interpretação de <i>Amy Seimetz</i>, a <i>Rachel Creed</i> da nova versão possui um coração tão acolhedor quanto o da <i>Adrian</i>. Mesmo imperfeitos e ocasionalmente se engalfinhando por conta de discordâncias, <i>Rachel </i>é a melhor amiga que <i>Louis </i>poderia desejar, o seu verdadeiro "<i>lar</i>": quando ela o pinça com as pernas, o vemos "<i>voltando para casa</i>", para os braços de alguém de quem ele nada pode esconder. A performance me levou a pensar naquilo que o sr. <i>J.R.R. Tolkien </i>escreveu para o filho, um trecho da carta que eu já parafraseei no blog, em outro texto. Ele falava sobre a tolice da ideia de "<i>almas gêmeas</i>", e insistia que os casamentos, mesmo os mais desastrosos, aqueles que à primeira vista parecem falidos, escondem um inestimável valor que não pode ser desrespeitado, porque o que os torna sagrados não é a falsa expectativa de perfeição ou romantismo, e sim a paciência e o respeito com que duas pessoas precisam se perdoar e cuidar uma da outra e dos filhos ao longo de suas vidas na caminhada em direção à felicidade do céu. <i>Tolkien </i>escreveu: "</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Quando o deslumbramento desaparece, ou simplesmente diminui, eles [os casados] acham que cometeram um erro, e que a verdadeira alma gêmea ainda está para ser encontrada. A verdadeira alma gêmea com muita frequência mostra-se como sendo a próxima pessoa sexualmente atrativa que aparecer. Alguém com quem poderiam de fato ter casado de uma maneira muito proveitosa 'se ao menos…'. Por isso o divórcio, para fornecer o 'se ao menos…'. E, é claro, via de regra eles estão bastante certos: eles cometeram um erro. Apenas um homem muito sábio no fim de sua vida poderia fazer um julgamento seguro a respeito de com quem, entre todas as oportunidades possíveis, ele deveria ter casado da maneira mais proveitosa! Quase todos os casamentos, mesmo os felizes, são erros: no sentido de que quase certamente (em um mundo mais perfeito, ou mesmo com um pouco mais de cuidado neste mundo muito imperfeito) ambos os parceiros poderiam ter encontrado companheiros mais adequados. Mas a 'verdadeira alma gêmea' é aquela com a qual você realmente está casado. Na verdade, você faz muito pouco ao escolher: a vida e as circunstâncias encarregam-se da maior parte (apesar de que, se há um Deus, esses devem ser seus instrumentos ou suas aparências). [...] Neste mundo decaído, temos como nossos únicos guias a prudência, a sabedoria (rara na juventude, tardia com a idade), um coração puro e fidelidade de vontade</i>". Ao render homenagem ao trabalho dos atores, cometeria um erro se não mencionasse a sensibilidade da dupla de diretores. Eles criaram momentos propícios a partir dos quais seus astros puderam realocar da página para celulóide, em gestos e olhares, a riqueza psicológica encontrada no romance original. <i>Kolsch </i>& <i>Widmyer </i>imprimem a "<i>Cemitério Maldito</i>" a mesma atenção às contradições da condição humana tão bem retratadas na tristeza e solidão de<i> Alex Essoe</i> e suas amigas em "<i>Starry Eyes</i>". Muito novas, imaturas e ocasionalmente competitivas, às vezes elas se apoiavam; noutras, sabotavam-se com comentários baixos com o intento de magoar. Não eram pessoas más, apenas jovens e confusas quanto às prioridades. De toda sorte, <i>Kolsch </i>& <i>Widmyer </i>não perdiam de vista a sombra da melancolia das vidas desperdiçadas, quando se perde a familiaridade com a verdade por conta das ilusões passageiras. O desaviso de <i>Alex Essoe</i> ao desperdiçar a juventude esperando pelo telefonema de algum produtor de cinema que a faria estrela parece-se com os sinais ignorados por <i>Louis</i>, crente de que o solo indígena devolverá a família à época anterior ao trágico atropelamento.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_zgVLhyphenhypheniHdIbv2uwV4Soz_vW-OFjSENK7RJhINneowFO303Mna75Xq1u0wjNLF7ADL9uQgw_gTxs5mF-05x9pXBDKBqjXIw8XwjJXYCW4Ftr_w-OQUnbtD8OawkMfIaSVDHZL24r-FbZv/s1600/joseph-sciambra.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_zgVLhyphenhypheniHdIbv2uwV4Soz_vW-OFjSENK7RJhINneowFO303Mna75Xq1u0wjNLF7ADL9uQgw_gTxs5mF-05x9pXBDKBqjXIw8XwjJXYCW4Ftr_w-OQUnbtD8OawkMfIaSVDHZL24r-FbZv/s400/joseph-sciambra.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Tecnicamente, pessoas familiarizadas a "<i>Starry Eyes</i>" também notarão um interessante aceno dos cineastas ao filme. Como sabemos, "<i>Starry Eyes</i>" explora a lenta desintegração mental da protagonista. Ela "<i>vende a alma</i>" ao Diabo pelo estrelato. Durante a descida ao abismo, ela executa os amigos com quem coabitava a mesma casa, enquanto eles transitavam de audições a audições, à espera do sucesso. O assassinato mais chocante ocorria quando a personagem de<i> Alex Essoe</i> enfiava a lâmina em um rapaz aspirante a diretor de cinema, que por ela nutrira simpatia e até mesmo ajudara no começo da trama. Ela desfere uma estocada na barriga do rapaz e ele não tem tempo de reagir. O rapaz cai sentado na poltrona, em estado de choque, ao lado da assassina, enquanto a atriz sustenta a faca nas entranhas e vai adicionando insulto à injúria lhe falando imoralidades. Em "<i>Cemitério Maldito</i>", <i>Kolsch </i>& <i>Widmyer </i>imaginaram uma cena parecida, quando <i>Ellie </i>acerta <i>Rachel </i>com uma facada na espinha dorsal. Logo depois, enquanto <i>Rachel </i>agoniza, a vemos sentada no chão ao lado da mãe, agora sustentando uma segunda, mais violenta estocada em um dos flancos, um assassinato idêntico ao performado por <i>Alex Essoe</i> em "<i>Starry Eyes</i>". Em termos de mudanças propostas pelo time criativo, gostaria de tecer considerações a respeito de algumas delas. A mais explícita e corajosa deve-se à mudança da criança atropelada na pista. No romance, <i>Gage </i>era apanhado de frente por uma potente carreta ao deixar o piquenique e correr em direção à estrada atrás da pipa, num momento de desatenção dos pais. Essa versão de 2019 repete o horror da pista, e não obstante os diretores arquitetem a cena de forma a acharmos que será novamente <i>Gage </i>a criança colhida, uma fração de segundo muda completamente o desfecho, pois ao passo que o bebê é arrancado da "<i>linha de fogo</i>" por <i>Louis</i>, é a pobre <i>Ellie </i>quem recebe o pesado tanque deslizante. A proposta traz seus prós e contras, e, incrivelmente, tais pontos são exatamente idênticos, pois somente mudam ao sabor do ponto de vista. Ao escolher a menina mais velha como veículo para o demônio, os diretores abriram uma maior frente de ação. Agora, ao demônio são franqueadas ações impossíveis a um bebê. Dentro do corpo de uma criança de nove anos, o demônio pode se movimentar desenvolto e falar mais ameaçadoramente. De fato, na execução de <i>Jud</i>, <i>Ellie </i>causa arrepios pelos movimentos esquisitos com ombros e quadris, um jeito quase felino, realizado no alto da escada e, obviamente, pelo uso da máscara de gato. Ela também soa crível durante o homicídio da mãe, quando lhe fala palavras ruins enquanto a mantém em xeque graças à facada nos flancos. Simultaneamente, quando o romancista e a diretora do original escolheram o bebê como ferramenta do <i>Wendigo</i>, não podemos negar quão intrigante tornava-se o mistério da "<i>ressurreição</i>" e a forma como o demônio se relacionava com a mente da pessoa. A doçura da infância está para a malícia de um anjo decaído assim como água para óleo: não se misturam, não combinam. Justamente pela incongruência, a escolha do autor nos confundia e criava uma situação enormemente desconfortável e apavorante. Não podemos nos esquecer da cena do homicídio de <i>Rachel </i>pelas mãos do bebê <i>Gage</i>. Não testemunhamos uma cena tão gráfica quanto a do matricídio da versão recente, porém está para ser superada a contundência de uma mãe que abraça seu bebezinho, esperando confortá-lo só para tomar inadvertidamente os golpes de um afiado bisturi. Nesta refilmagem, <i>Kolsch </i>& <i>Widmyer </i>também parecem dar ao <i>Wendigo </i>uma "<i>inteligência macabra</i>" por trás da estratégia. Ao longo do filme, ações supostamente isoladas somam-se em estratégia, denunciando um propósito. O demônio deseja pacientemente apoderar-se das mentes de todos e arregimentar os <i>Creed </i>como ferramenta para se relacionar com o mundo material. Na qualidade de puro espírito, não tem como relacionar-se com nosso meio sem um corpo. O <i>Wendigo </i>não se satisfaz com <i>Church</i>. Logo, afia as garras para pegar os demais. Sua amplitude de ação se potencializa ao entrar em <i>Ellie</i>. A partir daí, fica mais simples arrastar os demais à armadilha. A impressão oferecida pela última cena, quando através do ponto de vista do bebê dentro do carro pontuamos a aproximação do trio e, em seguida, do gato que salta sobre o capô, é que o heterogêneo grupo resume-se à exata mesma entidade. Suas mentes perderam a individualidade. Eles viraram brinquedos manipulados pelo demônio por trás de suas ações aparentemente espontâneas. A fisicalidade dada por <i>Kolsch </i>& <i>Widmyer </i>ao demônio me surpreendeu pela maturidade. A dupla levanta possibilidades que apontam o quanto devem ter pesquisado e estudado durante o polimento do script. Eles desejaram compreender o mistério, e trataram o tema com o protocolo que confere com os fatos da vida. Retomo a passagem na qual <i>Louis </i>tenta salvar a vida de <i>Pascow </i>no ambulatório do campus. Ao permanecer para trás, sozinho com o cadáver, e ter seu nome chamado pela aparição sentada na maca, <i>Louis </i>vive seu primeiro contato com um aspecto do mundo para além da compreensão. No instante seguinte, uma enfermeira, presente ao ambulatório e alheia à cena, chama-o pelo nome, inteiramente imune à fugaz visão. Aqui, mesmo que insuspeitos, os diretores descreveram genialmente o <i>modus operandi</i> da psicologia demoníaca. Indiscutivelmente, <i>Louis </i>viu <i>algo</i> e não me refiro a uma invenção da mente. Sua cabeça não armou a visão, mas foi a plataforma pela qual a cena se desdobrou, ou melhor, para que fosse armada pelo demônio. "<i>Nossa luta não é contra carne e sangue</i>", afirma o apóstolo <i>Paulo</i> ao explicar como guerreamos contra "<i>principados e potestades; contra os dominadores deste mundo tenebroso; contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes</i>". Interpreto a cena como uma representação dramática impecável da ação demoníaca. A enfermeira porta-se normalmente, pois não enxerga o mesmo. <i>Pascow </i>falante com olhos injetados de sangue e cabeça estourada é algo real para o médico, mas só no âmbito da mente, o campo onde anjos decaídos fazem uso de nossas faculdades, inseguranças e medos mais enraizados para estabelecer um ponto de contato entre um âmbito superior que escapa de nossos olhos e o mundo físico onde efetivamente nos relacionamos. A colega de Louis não enxerga o "<i>fantasma</i>" pelo mesmo motivo que se você tirar uma foto de ondas de raio não as capturará - mas ondas de raio <i>existem</i>. Há uma qualidade espiritual ao mundo, porém como o próprio nome insiste, é <i>espiritual</i>. Nossos vícios e equívocos ao observar a coisa, por outro lado, nos frustram, pois nos levam a um absurdo viés, um beco sem saída onde a noção vira uma sugestão estapafúrdia digna de gozações. Perdemos tanto a acuidade do discernimento que ao examinarmos um caso como o do sr. <i>Joseph Sciambra</i> (<i><span style="font-size: x-small;">foto</span></i>), ao qual fui apresentado por um vídeo de <i>Padre Paulo Ricardo</i>, não conseguimos enxergar o mal justamente quando se encontra defronte de nossos olhos, tão explícito quanto <i>Pascow </i>com a cabeça estourada, avisando a <i>Louis </i>sobre não desrespeitar a barreira do bosque. Eu não escreverei detalhadamente sobre o caso <i>Joseph Sciambra</i>, pois encontrarão extenso material online acerca da história. Cristão renascido, o sr. <i>Joseph Sciambra </i>narra sua jornada através do inferno no livro "<i>Swallowed by Satan: how our Lord Jesus Christ saved me from pornography, homosexuality and the occult</i>", onde descreve como, por trás das aparências do cotidiano, a perversidade se insinua na mente e no coração sem qualquer tipo de extravagância ou espetáculo, razão pela qual a tentação é a mais insidiosa das armadilhas do demônio. Ela se traveste do banal, pois assim lança-se no tempo, ocasião na qual causa estragos às vezes irreparáveis. Sr. <i>Joseph Sciambra</i> era um garoto quando encontrou revistas de mulheres mal vestidas em poses sensuais nas gavetas do pai. Ele não passava de uma criança atrás de um propósito de vida, todavia o encontro ordinário estabeleceu seu primeiro contato com um mal que o acompanharia até a vida adulta e alteraria drasticamente seu caminho. Quando menos esperava, o apetite gerado pelas fotos reclamava um material mais explícito. Passou a buscar revistas com fotos mais agressivas explorando o ato sexual entre homem e mulher e, logo mais, apenas entre mulheres, e então entre homens. Aproximadamente na mesma época, o lançamento de vídeo-cassetes revolucionou a indústria pornográfica, estimulada a produzir e desaguar suas produções nas locadoras para atender a uma demanda crescente. Para abreviar uma longa, dolorosa história, detalhadamente descrita no livro, <i>Joseph </i>mergulhou no pesadelo que consumiu uma fatia considerável da vida, ensaiando nos coitos perigosos mantidos nos becos das ruas da <i>Castro Street</i> de São Francisco as cenas tenebrosas dos filmes pornôs que fervilhavam na sua mente desde a infância. De ator de produções marginais especializadas em fetichismo à prostituição, ele foi perdendo pelas calçadas a vivacidade e a própria alma. Isso durou até o dia em que, tendo desempenhado uma cena de sexo em grupo, voltou para casa com uma hemorragia e precisou sofrer uma intervenção cirúrgica. Enquanto a mãe chorava orando na sala de espera, pela primeira vez ocorreu-lhe rezar o Pai nosso. Durante a experiência de quase morte, sentiu a presença de dois demônios ao lado lhe instruindo: "<i>abra!</i>". Ao terminar a oração e ser trazido de volta pelos médicos, <i>Joseph </i>sentia que nascera pela segunda vez. Ele descreve a impressão dos primeiros dias como se uma névoa pesada tivesse se dissipado. Confuso, no ano seguinte à experiência, fugiu de <i>São Francisco</i>. Seu despertar e a aproximação ao Senhor são bem documentados no livro e no vídeo de aproximadamente uma hora de duração, disponível no Youtube, onde revisita locais e pontos fundamentais da jornada por <i>Castro Street</i>, ao longo de uma tarde ensolarada, e rememora episódios da época em que caminhara pelas mesmas calçadas. Assolado pelas recordações muito pesadas e gráficas, em certo momento ele se deixa ser avassalado pela emoção, e vomita e chora copiosamente. Muitos leriam sobre o caso e assistiriam ao documentário, e ficariam satisfeitos por terem conhecido a história. Simultaneamente, falhariam na tentativa de achar a conexão entre os eventos da vida de <i>Joseph </i>com o fenômeno da obsessão diabólica. Essas mesmas pessoas provavelmente leriam o livro de <i>Hubert Selby Jr.</i> e se indagariam, após fecharem-no, tendo concluído a leitura: "<i>Bem, mas onde fica o demônio?</i>". "<i>Ele</i>" não pode "<i>ficar</i>" em algum lugar, já que nem corpo tem para "<i>entrar</i>" ou "<i>sair</i>" do protagonista, <i>Harry White</i>. Nós é que, às vezes, "<i>estamos neles</i>". Desconsiderando casos raríssimos de assédio, nos quais se manifestam muito agressiva e visivelmente por consentimento da providência divina, como nas vidas de <i>Santo Padre Pio</i> ou <i>São João Maria Vianney</i>, sua ação preferencial e ordinária, a tentação, permeia-se nas mais diversas searas da vida. A psicologia de anjos decaídos é corretamente examinada numa analogia criada pelo pastor <i>Neil T. Anderson</i> ao narrar um episódio da infância. Quando criança, os passeios nas cercanias da fazenda com o pai e o irmão nunca eram uma ocasião de sossego, pois o cachorrinho da propriedade vizinha tinha por hábito correr atrás do garoto a ponto de lançá-lo numa escalada árvore acima, onde ele costumava esperar até que o bicho se fosse, depois de latir até cansar. Pai e irmão não prestavam atenção ao cachorrinho, que a eles não causava nenhum mal; entretanto, para o garoto, o bicho não lhe dava trégua, até o dia do pai o orientar: "<i>Meu filho, apenas pare de fugir quando ele vier! Seja homem! Ele o deixará em paz!</i>". <i>Anderson </i>assim procedeu, e adivinhem só? O cachorrinho avançou e latiu, mas ao se surpreender com o desprezo e a pouca importância com que o menino o recebeu, deu meia-volta e nunca mais o atormentou. Sr. <i>Neil T. Anderson </i>pergunta: "<i>Afinal, que real poder tinha aquele cãozinho minúsculo e ridículo para me colocar no alto daquela árvore? Nenhum! Ele se serviu da minha mente, das minhas emoções, minha vontade e minhas pernas para me colocar em cima da árvore</i>". Ele arremata, ao voltar à questão dos demônios: "<i>Eles verdadeiramente não possuem poder algum, apenas aquilo que você dá a eles, e na realidade é tudo uma decepção, uma mentira essencialmente, ele é o pai da mentira, mas se você crê numa mentira, a mentira tem força para te devorar por dentro</i>". Sr. <i>Anderson </i>aborda o perigo da sedução que essas coisas exercem sobre a curiosidade do homem comum e descreve a resposta adequada a questões do tipo: "<i>Essas coisas já foram devidamente desarmadas na cruz, então, para nós, resume-se a reclamar a nossa autoridade sobre as mesmas e calá-las. Eu não preciso conhecer o inimigo porque ele só está comprometido com a mentira, e ele jamais é o mesmo, muda constantemente. É por isso que você não encontra quase nada nas Escrituras em termos de estrutura no que importa às táticas de Satanás, pelo simples fato de que ele é um mentiroso, ao passo que o oposto é verdade para o Senhor: Ele é o mesmo de ontem, hoje e amanhã, Ele nunca mudará, e é por causa de Sua consistência que eu tenho estabilidade na minha vida. Então, o fundamental não é aprender as táticas do demônio, não existe consistência nelas, a consistência se encontra em Cristo. Não é a mentira que eu tenho que buscar conhecer, é a verdade</i>". Aprofundando-se na sua experiência com pessoas que sofreram obsessão, ele se vale de alguns casos para ilustrar pontualmente a ação ordinária do demônio, dentre eles o de uma mulher sobrevivente de abuso criada dentro do satanismo. Ela procurou sr. <i>Anderson </i>com a queixa de que vinha despertando com arranhões nas costas, braços e pernas, e não sabia explicar a origem do ataque. O pastor o nomina seu caso mais pesado: após investigar a fundo, descobriu que era a própria moça quem causava os hematomas no corpo. Ocorria que, assim como acontece à maioria de sobreviventes de abusos acontecidos na infância, ela desenvolvera DID (<i>Dissociative Identity Disorder</i> - <i>Desordem da Dissociação de Personalidade</i>, antigamente conhecida como <i>Múltiplas Personalidades</i>), e não entendia que uma "<i>outra parte de si</i>" vinha se manifestando à noite, mantendo-a naquele meio macabro, quase como em estado de sujeição demoníaca. Se você esperava uma surpresa extraordinária, pela qual o pastor rastrearia um demônio alado gigantesco assomado no meio da sala de estar, você tomaria o desfecho do caso como anti-climático. Muito pelo contrário, o desdobramento da história prova-se muito mais tenebroso do que a mais fértil das imaginações conceberia, principalmente por ser a verdade. <i>Neil T. Anderson</i> prossegue: "<i>Se você vive enganado, você não passa de um instrumento do inimigo, mas ele ainda precisa de seus braços e boca e cordas vocais para agir, ele sozinho não pode, um anjo decaído não tem braços ou cordas vocais ou pernas, então, em essência, ele necessita de objetos animados para se relacionar com o mundo físico, daí casos onde, por exemplo, grupos de orações não conseguem rezar por causa de cães que começam a ladrar sem razão aparente justamente quando querem orar. Bem, demônios não conseguem ladrar, eles não têm boca, não têm cordas vocais. E por sinal, eis uma questão muito interessante, é muito, muito importante que você entenda: quando as pessoas me procuram dizendo que ouvem vozes, o que elas estão efetivamente ouvindo? Bem, para se ouvir, no mundo natural, você necessita de uma fonte de som, e aqui eu meramente descrevo um fenômeno físico, a contração e retração das moléculas no ar que 'batem' no tímpano, que por sua vez manda sinais elétricos para meu cérebro. Como eu vejo, no mundo natural? Eu preciso de uma fonte de luz que reflita um objeto material, e a informação chega aos meus nervos óticos que mandam os sinais elétricos para o meu cérebro. Agora, se eu apagasse as luzes, você não me veria, pois você precisa de uma fonte física de luz. Então quando pessoas me contam que estão vendo coisas horrorosas no meu gabinete, quando as atendo - e eu já testemunhei isso - o que elas realmente estão vendo? Porque eu olho para o mesmo canto e não vejo nada. 'Nossa luta não é contra carne e sangue'. O demônio não está lá fora, ele reside aqui dentro (e ele aponta para a cabeça), e a coisa usa sua mente para encenar toda a experiência</i>". Este foi o primeiro aspecto muito interessante da representação de "<i>Cemitério Maldito</i>" para a ação demoníaca, pois para <i>Louis</i>, a experiência com <i>Pascow </i>no ambulatório se sucede explicitamente perante os olhos (na verdade, a mente); a enfermeira, entretanto, não enxerga o tenebroso cenário. Nessa toada, não há de se falar no "<i>fantasma</i>" de <i>Pascow</i>, e sim numa encenação, um estratagema da coisa para capturar a atenção do chefe de família, que àquele ponto já tem seus pensamentos embaralhados pela existência do evocativo poder do bosque. O outro aspecto que emoldura excelentemente o assédio se dá pelo viés da estratégia do <i>Wendigo </i>de "<i>arregimentar</i>" a família inteira. Refiro-me, claro, à tomada pela qual os diretores reúnem no mesmo <i>frame </i>os <i>Creed </i>caminhando em direção ao carro, a partir do ponto de vista da criança sentada do lado de dentro. <i>Rachel</i>, <i>Louis </i>e <i>Ellie </i>vão se achegando vagarosamente, e <i>Church </i>salta repentinamente sobre o capô. Eles vestem o mesmo olhar malévolo e faminto. Sendo uma obra de ficção, é lógico que os diretores se valeram do exagero da linguagem poética; entretanto, o <i>frame </i>em questão - um grupo de pessoas em relação simbiótica - também confere com a noção que se tem dos demônios na vida real. Se prestarem atenção à cena, concluirão que não obstante vejamos três indivíduos distintos - um homem, uma mulher e uma menina -, o trio, na verdade o quarteto, incluindo-se o gato, dá ao <i>Wendigo </i>o perfeito conduto para canalizar sua ação no mundo físico. Aquelas pessoas deixaram de existir individualmente; agora, viraram uma coisa só, uma mente demoníaca, e embora só tomemos consciência após certa reflexão, eis a cristalina imagem do <i>Wendigo</i>: pessoas dentro de um mesmo <i>frame</i>, um mesmo enquadramento, uma mesma frequência de ação. Antes de explicar a razão de meus elogios à sensibilidade da dupla de cineastas, devo falar sobre minha própria experiência. Escrevi claramente acima que viemos ao mundo para nos sairmos bem em dois flancos: amar a Deus no próximo & conhecer a verdade. "<i>Renuncie a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia e me siga</i>", ordenou <i>Cristo Jesus</i> a quem quisesse ouvi-Lo, reafirmando, nas entrelinhas, um trecho da petição na oração de Pai nosso, quando pedimos para que não nos deixe cair em tentação e nos livre do Mal. Aprendemos que nos cabe rogar para resistirmos às tentações; entretanto, elas virão. O catecismo segue na mesma linha: "</span><span style="text-align: start;"><i>Embora Satanás atue no mundo por ódio a Deus e o seu reinado em Jesus Cristo, e embora a sua ação cause graves prejuízos – de natureza espiritual e indiretamente, também, de natureza física – a cada homem e à sociedade, essa ação é permitida pela divina Providência, que com vigor e doçura dirige a história do homem e do mundo. A permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério, mas nós sabemos que Deus colabora em tudo para o bem daqueles que O amam</i>". </span>De uma estranha forma, conforme diz <i>Padre Marco Tosatti</i>, em entrevista ao site de <i>Padre Paulo Ricardo</i>, sobre seu livro "<i>Padre Pio contro Satana: la battaglia finale</i>", o fato de lutarmos até o fim contra um inimigo tão misterioso nos torna pessoas melhores. Ele opina: "<i>Vemos que Deus se serve do demônio, de forma misteriosa, como um instrumento, um instrumento estranho, vá lá, mas que serve à santificação das pessoas. É um mistério. É como ver um bordado pela parte de trás: parece-nos um caos, um emaranhado de fios e cores. Mas o bordador, que o vê de cima, costurando o desenho, sabe bem o que faz</i>". Se durante nossa caminhada humana parte daquilo que nos ocorre se introduz sem que tenhamos compreensão de onde vieram, à medida que crescemos, não acumulamos somente tempo. A experiência de vida calibra o alcance dos olhos, também passamos a ver os detalhes. Do mesmo jeito que a cada um de nós há uma peculiaridade, uma regularidade para determinado problema ou drama que parece nos seguir, com o tempo eu vim a discernir essa presença na minha vida pessoal - e acerca do problema já escrevi esporadicamente -, algo bem identificável e concreto, chamado "<i>transtorno de personalidade narcisista</i>". Entrou na minha vida quando eu tinha cinco ou seis anos através da pessoa de uma mulher loira que, no seu primeiro encontro comigo, costumava me visitar à noite para tirar a minha blusa para me beliscar. Ela o fazia à noite porque podia agir mais livremente. Depois, conformou-se em me ameaçar e acuar, mas o que verdadeiramente desejava era me matar. Ela só não o fez por conta das complicações que teria. Se tivesse dependido da vontade, estou certo de que teria me matado com o travesseiro já naquelas duas ou três semanas nas quais convivemos pela primeira vez. Essa presença teve um período certo para me atormentar: foi de 1986 a 1991, salvo engano, quando nunca mais a vi, embora ela tenha descoberto o telefone da casa de minha avó e me procurado em 2003, a que foi completamente ignorada. Dela, eu me recordo dos abusos a que me submeteu, e o fato de que ela era a cara de uma atriz canadense chamada <i>Deborah Unger</i> no filme "<i>Crash Estranhos Prazeres</i>", de 1996, do diretor <i>David Cronenberg</i>. Pessoas vindas mais tarde repetiam o mesmo padrão comportamental. Por alguma razão, elas se viam atraídas por mim. Eu me recordo que minha avó, a pessoa a quem eu mais amei, parecia perceber aquele estranho, curioso fenômeno, porém, ao não compreender a natureza da coincidência, não sabia como me ajudar, a não ser me amando e protegendo. Foi somente anos depois, aproximadamente um semestre após o falecimento dela, há quatro anos, que chegou à minha atenção um artigo sobre o transtorno de personalidade narcisista. Intrigado, passei a ler os textos, a assistir aos vídeos. Ocorreu-me que o motivo de eu jamais ter me sentido bem-recebido em lugar algum, a não ser sob o teto de minha avó, podia ser rastreado ao transtorno, pois quase todos os adultos que de uma maneira ou outra haviam entrado e saído de minha vida exibiam os sintomas clássicos. Não apenas isso, o mais arrepiante consiste na realidade de que mesmo hoje, aos meus quarenta anos, a coisa parece não ter ido completamente embora. Ainda vejo em olhares traços daquelas representações da minha infância, e me lembro que antes de ler qualquer linha sobre a doença, ao encontrar tais olhos voltados na minha direção, eu costumava dizer para mim mesmo: "<i>Rapaz, não pode ser, mas eu já conheço essa besta, esse monstro de algum lugar!</i>". E por isso, quanto a "<i>Cemitério Maldito</i>", acho genial que <i>Kevin Kolsch</i> & <i>Dennis Widmyer</i> tenham colocado os <i>Creed </i>num mesmo frame para emprestar fisicalidade a um demônio abstrato e intangível, porém muito real e ativo. Conforme me ensina a experiência de vida, a mulher loira e as pessoas vindas nos anos seguintes até o dia de hoje são mais íntimas do que pensam, ainda que não tenham se relacionado anteriormente: <i>elas são a mesma coisa</i>. Quando a verdade se assomou e eu formei a convicção de que a natureza do inimigo transcendia psicopatas ou gente puramente hedonista, pus sob perfeito contraste a identidade da coisa que durante meu crescimento despertava-me à noite, da coisa cujo assédio minha avó não compreendia bem, mas que a preocupava o suficiente para que, quando me via distante de sua proteção, chamasse agoniada pelo meu nome na escuridão, perguntando-se se eu estaria bem, ao acordar de madrugada. Os céticos dariam com os ombros e me diriam, "<i>Mas claro que a coisa existe, e a coisa tem um nome, não há nada de anormal! Chama-se transtorno de personalidade narcisista</i>". Possivelmente, eu responderia com um aceno de cabeça para finalizar o assunto, mas no íntimo sei que aqui o senso comum não cabe, não fornece o quadro mais amplo</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Aquela gente não se liga somente por conta de um mesmo transtorno psiquiátrico. Trata-se de algo muito abstrato e espiritual dotado de ascendência e magnetismo sobre suas cabeças. Por qualquer razão, entrou na minha vida lá atrás, aos seis anos, e me acompanhou por todos esses anos, até eu a ter visto. A coisa sempre me odiou e quis minha ruína e desgraça. Emblematizada no olhar assassino da mulher loira que erguia o indicador sobre os lábios para que eu me mantivesse calado enquanto me beliscava, se a coisa a tivesse possuído naquela noite no distante ano de 1985, ela teria me sufocado com um travesseiro. Não o fez pois sobre sua mente não exercia possessão, somente um curioso estado de sujeição. Quando a coisa notou que eu a via, trinta anos mais tarde, elevou o tom do ataque, o que fica atestado nas perseguições aparentemente aleatórias que sofro até hoje. Embora tenha atormentado minha vida, particularmente na época em que se escondia por trás das aparências, eu lhe devo gratidão, pois dela tirei grandes bênçãos. Não fosse a presença misteriosa da coincidência que liga esse elenco de pessoas, desde a mulher loira a aqueles em cujo soslaio do olhar eu ainda vejo a coisa, eu não teria conhecido o amor de minha avó. Ao tentar me proteger, ela me deu a definitiva prova de que ninguém me amou tanto quanto sua pessoa, e são pouquíssimas as pessoas amadas assim: os narcisistas mesmo jamais são verdadeiramente amados, e para eles este é o pior insulto, o insulto que os paralisa no tempo como crianças birrentas, arrogantes e cruéis. Minha história pode soar chocante para qualquer um que chegou ao artigo interessado no filme e agora lamenta ter lido até aqui, porque as coisas que escrevi o farão pensar sobre uma pletora de temas, mas você sabe que, no âmbito pessoal, também escuta o canto de sereia, a mentira diabólica que o prende ao problema do qual não consegue se desvincular. Pensar a respeito da mensagem trazida no artigo, todavia, poderá levá-lo a desejar a verdade, a única arma para se fazer frente `a palavra ilusória do demônio que te promete uma falsa felicidade. "<i>Mas o que você vê?</i>", você me perguntaria, louco para ler acerca da fisicalidade da "<i>coisa</i>". Bem, eu lamento decepcionar, não tenho surpresas. Eu não tenho adjetivos para descrevê-la, mas posso usar a analogia para ilustrar o caso: se em dado momento você amou alguém, se estabeleceu os pilares da vida em torno desse amor, então os bens que construiu ou juntou para viabilizá-lo puderam ser vistos e tocados em determinado ponto do tempo. Eles efetivamente existiram no mundo material; por outro lado, você nunca viu o seu amor. Você jamais viu um coraçãozinho vermelho sorridente de luvas brancas atravessando a faixa de pedestres, como aquele pessoal fantasiado dos parques de <i>Walt Disney</i>. O coraçãozinho jamais se assomou diante de seus olhos ou estabeleceu uma relação face a face; não obstante, entre vocês, existiu uma relação pessoal, e você empregou seu tempo no mundo para apostar todas as fichas em cima de um sentimento invisível pois parte de si soube o tempo inteiro que ele era mais real que os bens ao alcance dos sentidos. De fato, à medida que o tempo vai passando, são os bens aqueles que se esfarelam e desaparecem engolidos pela névoa, e as coisas invisíveis as que ficam fortes como rochedo. A constatação se explicita melhor se você prestar atenção a uma foto de si aos quinze anos e notar que aquela pessoa um dia foi você. Ao passo que nossas células foram trocadas a ponto de nenhuma delas ser a mesma de vinte anos atrás, a certeza da continuidade se manteve e jamais mudou. O mistério gira em torno da identidade do elemento constituinte o qual permite que ao nos recordarmos de um fato ocorrido aos quinze anos, por exemplo, ainda nos identifiquemos com a experiência. Não pode ter sido sua identidade social, sempre em perene transformação. Considere o que houve entre os quinze anos e hoje, e listará um leque de mudanças. Você se formou, casou, teve filhos, perdeu e ganhou dinheiro, mudou de trabalho... Seu "<i>eu social</i>" rotineiramente lhe causa angústia e preocupação, pois as transformações, mesmo quando para melhor, nos deixam inquietos perante o desconhecido: "<i>Afinal, devo ou não aceitar tomar posse neste ótimo, novo cargo, mas distante de casa? Afinal, devo ou não seguir adiante e casar com fulano? afinal, devo...</i>". No "<i>eu social</i>" jamais encontramos estabilidade, pois nessa constelação de símbolos inconexos nos vemos sempre nos adaptanto a circunstâncias inéditas, não pode ser ele o elemento de onde vem sua familiaridade com a foto antiga. Não deve ser o "<i>eu presencial</i>", pois ele tampouco oferece consistência, a não ser o recebimento dos estímulos exteriores filtrados pelo caráter seletivo da percepção presente e a resposta imediata aos estímulos. Agora, você presta atenção na leitura do texto, mas há meia hora fazia algo completamente diferente e o artigo não compunha um elemento de sua vida; daqui a meia hora, dificilmente se recordará do que leu, pois então outra coisa lhe ocupará a mente, enquanto tantas outras ocorrerão em simultâneo sem que jamais tenham parecido fazer parte do mundo. É verdade que o "<i>eu presencial</i>" sempre esteve aí, pois ninguém se recorda de "<i>ter estado no nada</i>", mas o "<i>eu presencial</i>" jamais se apresenta de maneira contínua. O conjunto de notas percebidas e desligadas umas da outras muda ao sabor do tempo. O "<i>eu biográfico</i>", descontínuo e pouco confiável, não elucida o mistério, pois ele também não conta a vida que transcorreu, mas a versão que demos a ela, uma versão dependente das narrativas que não conferem com a totalidade do ocorrido. Fora os enormes blocos perdidos de memória que não voltam mais, também prejudicam a percepção as pequenas coisas que não absorvemos no momento do acontecido, mas que mais tarde se mostraram importantíssimas. Cito minha experiência com os narcisistas malignos. Seus olhares voltados à minha pessoa a partir da infância até a vida adulta eram notados, contudo só se revelaram importantes à medida que conheci o transtorno da personalidade narcisista. Olhares que aquelas pessoas lançavam sobre mim chamavam-me a atenção pela malícia; entretanto, no minuto seguinte, eu já não pensava mais a fundo. Mais tarde, descobri que ali existiam votos pela minha desgraça e me encaravam daquela forma por se divertirem com meu desconhecimento do que estava em jogo. O mesmo houve quanto a olhares de afeto os quais eu não soube captar à época em que teriam feito toda a diferença; ali havia pessoas que tinham gostado muito de mim, e eu não pude reconhecer e retribuir o carinho por ignorância e imaturidade da juventude; na verdade, afastei-as. Recordo-me de quando tinha dezessete anos, em 1997, de uma ocasião na qual esperava ser buscado pela minha mãe, à noite, na porta do colégio pré-universitário, após um aulão de véspera. Uma menina da sala se aproximou com naturalidade e cortesia, e me cumprimentou. Seu único intento era introduzir uma conversa, ser minha amiga, alguém com quem eu pudesse contar. Eu dei uma resposta bem arrogante e cretina, e ela se afastou, pega de surpresa. Já ali, eu me senti absolutamente envergonhado. Perguntei-me, em pensamento, "<i>Meu Deus, por que eu fiz isso?!</i>". Foi tão aleatório e gratuito. Em todos esses anos, eu nunca consegui esquecer minha grosseria. Ela estudou, tornou-se médica, casou-se, provavelmente é uma mamãe, e nem deve se lembrar daquela noite, em 1997, mas eu jamais esqueci meu pecado. Faz tanto tempo, porém ocasionalmente penso nela, e espero que ela e a família estejam bem e felizes. Isso sem falar em momentos cruciais os quais não testemunhamos, mas que se consolidaram em nossas histórias pessoais. Você se recorda de ter nascido? A resposta é negativa, mas acredita nisso porque alguém te contou, ou seja, a ocasião do nascimento não foi parte de sua memória, mas da memória alheia, incorporada à sua. Os fatores com os quais você reconta sua jornada, em síntese, eliminam a pretensão de que ela pareça imutável e retilínea. Não foi seu passado que mudou, e sim a narrativa dos fatos. Os três "<i>eu</i>" acima compõem-se de fragmentos desconectados e sem nenhuma unidade efetiva, não nos ajudam a responder a questão porque não apontam a localização exata da experiência perene do "<i>eu definitivo</i>". Não sabemos de onde vem o sentimento da continuidade, não tem como ser reportado a outro fator que o constitua. Não há como o referirmos ao corpo, à linguagem, a nenhum outro elemento, a não ser ao próprio, a que chamamos de "<i>eu substancial</i>". Tudo depende do "<i>eu substancial</i>", pois ele é o verdadeiro senso de continuidade, diferente dos demais sentimentos picotados e inconstantes dos outros "<i>eu</i>", sublinhando-os todos, conectando os fragmentos descontínuos da percepção e os colando numa coesa e lógica unidade que, por exemplo, permite-nos, ao piscarmos, sabermos que ao abrirmos os olhos nos encontraremos no mesmo lugar, ou nos reconhecermos nos sonhos, ainda que inconscientes. Sua presença é inerente à existência do ser humano. Não sabemos de onde vem, contudo é coextensivo à nossa vida, inclusive no período pré-uterino. É como um rio sempre correndo por baixo da estrutura do mundo, ao qual podemos voltar quantas vezes quisermos. Esse rio é incognoscível, ele não é pensável, tampouco redutível a um mero conteúdo da mente. Não pode ser comportado por uma representação do pensamento, e corre para além de nosso alcance, sem poder ser detido. Tudo o que nos acontece, se dá dentro dele, escapando ao dogma da Psicanálise, segundo a qual o "<i>eu</i>" seria uma construção do inconsciente. Como o "<i>eu substancial</i>" não pode ser constituído por qualquer coisa, porque sua presença é pré-requisito para a de todas as outras, ele não é produto da mente, tampouco algo que a mente possa conhecer. A única maneira indireta de "<i>conhecê-lo</i>" é admiti-lo como algo que não temos como mentalmente dominar ou representar, porém emblematiza o que há de mais consistente em nós, e que só se conhece através da experiência do existir. Só Deus conhece o "<i>eu substancial</i>" de cada pessoa, e embora seja tão misterioso, não existe nada mais verdadeiro. O resto limita-se a um tecido de aparências costurado pela mente, cujo trabalho é apenas superficial e descontínuo e depende diretamente da firme estrutura ontológica do "<i>rio corrente</i>" que a acompanha, sustenta e sublinha, o "<i>eu substancial</i>", que mantém a coesão entre as formas físicas e psicológicas que você experimenta no decorrer do tempo, e onde verdadeiramente repousa sua força decisória. Por nos constituir em uma individualidade completa e irredutível, tornar-nos indivíduos perfeitamente reais, tudo o que podemos conhecer de Deus se dá através da aceitação dessa individualidade irredutível. Questões que tanto preocupam a humanidade - livre arbítrio, determinismo, Bem & Mal, pecado & graça - se reportam e são respondidas pelo "<i>eu substancial</i>", e não pelo binômio mente & corpo. Encontramos o "<i>eu substancial</i>" sempre que, diante da enormidade e imprevisibilidade da vida, nos perguntamos a razão de nos encontrarmos aqui. Como o "<i>eu substancial</i>" não tem o menor fundamento e, na verdade, estamos em queda livre no ar, como ele não é comportado por algo maior que o justifique, como o conhecemos só pelo dado de algo que está aí, e não como um processo causal que fundamenta minha existência, só há uma resposta: eu estou aqui porque Deus quis e nada pode revogar minha existência. Somos criaturas do amor divino. Ele não era obrigado a nos criar; no entanto, o fez. Vivenciar a nossa falta de fundamento é o momento em que falamos com Deus, a única experiência de Deus possível. Não avançamos um único passo além disso, a não ser que Ele avance em nossa direção. No frigir dos ovos, a história da jornada humana passa pela compreensão do "<i>eu substancial</i>"; nele reside a diferença entre salvação e danação, pois na resposta que seu "<i>eu substancial</i>" dará à constatação de que você é uma criatura sem fundamento algum, a não ser o amor divino, duas coisas podem acontecer: você se põe humildemente como um ser do amor divino ou você não o aceita e resolve ser seu próprio fundamento. Não aceitar o amor foi a queda, foi o "<i>Não servirei</i>" de <i>Satanás</i>, foi a guerra dos anjos que, conforme escrevi, não se deu com punhos ou espadas, mas no intelecto. No final, todas as coisas felizes ou tristes que o futuro nos reserva serão apenas isso, <i>coisas que aconteceram</i>. Por quanto tempo <i>Cristo </i>sofreu? Uma semana. Há quanto tempo ele goza da beatitude da contemplação de Deus? Não há comparação entre uma coisa e outra. E quanto ao fato de termos nos chafurdado tanto na lama a ponto de suplicarmos que nos tire esse "<i>maldito livre arbítrio</i>", já que somos uma sucessão de pecados e fracassos? Como nossa miséria humana se compararia à misericórdia divina de um Pai que, diante do erro do filho, age perdoando-o e trazendo-o para mais perto de Si, sendo suficiente que apenas se peça? Nossos pecados não definirão nosso destino final. Até o mais desgraçado dos párias pode, se quiser, levantar-se da calçada imunda da sarjeta como homem e se tornar um santo maior que <i>Pedro</i>, o príncipe dos apóstolos. <i>Paulo</i> mesmo foi um frio assassino de cristãos, até o dia em que caiu do cavalo. Por extensão, creio que tampouco as mais fantásticas realizações pesem tanto, pois apesar de agradarem a Deus, Ele não precisa da gente para nada. No instante decisivo, não se resumirá a uma questão de merecimento. Até o mais perfeito dos homens, alguém como <i>Padre Pio</i>, a meu ver o <i>homem definitivo do século XX</i>, não merece <i>de per si</i> a misericórdia divina. Acontece que Deus vai dá-la até ao pior dos párias, porque nos ama, e é isso. O que definirá a história será a resposta ao "<i>eu substantivo</i>". Se por um lado você pode abraçá-lo e saltar para a eternidade da contemplação de Deus, seja lá o que isso for, visualmente falando, por outro lado você tem a escolha de virar as costas e sair andando. E, tendo dado as costas a Ele, só resta deixar-se diluir no oceano de escuridão que é a mente diabólica.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikuAsKAY40G7SZTUhjXWkuajcaFGs5nRy79YGXqJLxEC9zITcPPajePZ9uXwXl9TvFKBmS2tUmIKNrimQeZXakfUcDBNFovmYgMJfmH8o_muncBO5VxRfqyEpGM2p2m5LyYdkmRMxzRZyc/s1600/Ellie+e+o+gato.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="690" data-original-width="552" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikuAsKAY40G7SZTUhjXWkuajcaFGs5nRy79YGXqJLxEC9zITcPPajePZ9uXwXl9TvFKBmS2tUmIKNrimQeZXakfUcDBNFovmYgMJfmH8o_muncBO5VxRfqyEpGM2p2m5LyYdkmRMxzRZyc/s400/Ellie+e+o+gato.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"<i>Cemitério Maldito</i>" não é somente um filme de horror. Oriundo de um romance de escol psicológico, mesmo não tendo cumprido inteiramente o potencial, ele já dispara à frente de quase todos os filmes do gênero de 2019. Ao privilegiar a família como o centro da ação do <i>Wendigo</i>, o filme nos toca a um nível muito íntimo ao nos remeter à nossa própria família, intrigando-nos com desdobramentos a partir dos quais partem perguntas fundamentais: se fosse de seu conhecimento semelhante lugar, você teria sido levado pela mentira do inimigo e enterrado um filho ou a esposa no solo? Simultaneamente, na obra literária, "<i>Cemitério Maldito</i>" tempera o terror da ação demoníaca com episódios dramáticos da vida ordinária familiar, encantando-nos em momentos belamente descritos, razão pela qual, além de recomendar este filme dos srs. <i>Kevin Kolsch</i> & <i>Dennis Widmyer</i>, insisto para que leiam o romance. Dentre tantas bonitas passagens, recordo-me de quão genuínas soavam as conversas e momentos entre <i>Louis </i>e <i>Rachel</i>, detalhes e dilemas adoráveis que nos levavam juntos na aventura de dois seres humanos aos trinta e tantos anos, pais e parceiros românticos, certo que falíveis, mas singulares em sua boa vontade. Ambos reconheciam os respectivos calos. Próprio a amigos cujas histórias viemos a conhecer e participar, esse vibrante sentimento se encontra pulsante nas páginas do livro. A estória não termina após fecharmos o romance; os <i>Creed </i>seguem conosco para sempre, e no decorrer dos nossos dramas diários reais, vasculhamos as lembranças atrás dos quatro para estabelecer uma comparação criativa entre nossas escolhas e as de <i>Rachel </i>e <i>Louis</i>. O guia da intrigante jornada, obviamente, é o misterioso <i>Church</i>. Sendo um gato, não há melhores olhos através dos quais testemunharíamos os estranhos fatos na casa dos <i>Creed </i>tão afiadamente, mas devo dizer que <i>Church </i>não foi o primeiro felino a servir como testemunha da jornada humana. Em "<i>Coraline & o mundo secreto</i>", um inesquecível filme que somente de fachada é um desenho, mas no cerne trata-se de um drama sobre narcisismo maligno, a protagonista também é guiada por um misterioso gato preto que some e aparece conforme as necessidades, e a vai conduzindo no doloroso processo do despertar da consciência. Gatos também compuseram o pano de fundo da minha vida, eles sempre estiveram por perto. Eu os servia sempre, mas neste infeliz momento, vi-me forçado a me manter longe dos meus gatos da praia, a quem eu tinha por serviço dar comida nas sextas-feiras, sábados e domingos, na verdade um tributo à memória do bem-aventurado <i>Carlo Acutis</i>. Hoje, acompanho-os de longe, pois é a família da barraca que não lhes deixa faltar nada. Isso não durará para sempre, pois logo a pandemia terá se dissipado, e eu voltarei aos meus príncipes. Como sabem o tamanho de minha saudade, enviam-me pelo celular, ao fim do dia, vídeos dos gatos comendo a ração sobre a passagem que dá para a praia. De qualquer maneira, tudo o que eu fizer será muito pouco em comparação às lições que me ensinaram no silêncio e na naturalidade do agir. Meus <i>insights </i>ocorrem em momentos nos quais os observo lá de cima, da sacada, os gatos da minha quadra, aqueles que ainda posso alimentar nas manhãs e tardes, já que mais próximos. Eu pensava nas minhas palavras sobre o "<i>eu substancial</i>", sobre a única diferença entre danação & salvação, e, de repente, ocorreu-me a identidade entre algo infinitamente complexo e a singeleza e simplicidade de gatos que se movem e se relacionam ao longo de um quarteirão esvaziado de humanos. Ao subtrair as pessoas, as circunstâncias potencializaram o alcance da lente pela qual os compreendo tão intimamente. Vendo-os na lida social, ninguém faz política como os felinos. Eles formam parcerias, convivem na hora de comer porções de ração, protegem-se da chuva sob a segurança oferecida pelo terreno onde a construção de um edifício foi paralisada, triangulam o ataque aos pombos durante o comecinho da manhã... Quando desço do automóvel para servi-los, reforçam território, tramam uns contra os outros por domínio de espaço... Imagino que para eles, nas suas cabecinhas, esses pitorescos elementos cotidianos representem os dramas mais fundamentais do mundos. E, no momento seguinte, ao suave toque da noite, quando me posiciono na sacada muito acima e deles guardo visão mais abrangente, ao tempo que os observo se conduzindo conforme seus interesses, consoante a política dos gatos, para mim não há distinção. Por mais que entre si suas individualidades lhes valham a riqueza de imprevisibilidades que caracteriza suas breves existências, muitas vezes findas tragicamente, aos olhos daquele que observa de cima, a questão fica mais clara: não há diferença entre eles. Eu verdadeiramente os amo todos, e ora emocionando-me ao vê-los brincar, ora tentando apartá-los quando se metem em brigas territoriais, eu torço pelo melhor. Às vezes, eu me pergunto se nossas vidas neste mundo louco não seriam observadas da mesma maneira, do ponto de vista dessa miríade de anjos, os bons e os decaídos, e do ponto de vista de Deus. Pergunto-me se, ao tempo que experimentamos a vida achando que são as coisas do mundo as mais definitivas e importantes, Deus não estaria nos observando pacientemente, sem estabelecer diferenças, amando indistintamente e torcendo para que cheguemos lá. Dos anjos, não tenho certeza de onde ou como nos observam; agora, no meu caso, minha certeza de presença repousa sobre os gatos. Eles sempre estiveram por perto, mais me observando do que sendo exclusivamente observados de cima, já a partir de minha meninice, quando crescia sob o olhar de uma avó amorosa. Os gatos, permanecem de pé sobre uma espécie de ponte, ali ao lado da minha avó, ligando minha infância à conversão, por mais que desde aquele tempo, em 1995, ainda tão longe da verdade, minha mente de criança já pressentisse que ao subir na ponte eu cruzaria a fronteira a partir da qual </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">as aparências passariam a se esfarelar até sumirem envoltas pela névoa, e os bens invisíveis se pronunciariam para fora dos sonhos, tão discerníveis quanto o tipo de verdade a qual não se pode negar.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/VllcgXSIJkE/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/VllcgXSIJkE?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<i><span style="background-color: #eeeeee; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Todos os direitos autorais reservados a Paramount Pictures. O uso do trailer & imagens é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</span></i></div>
Ary Luiz Dalazen Júnior Salve Mariahttp://www.blogger.com/profile/05930396542549787102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-27532339623839253822020-03-29T09:47:00.003-07:002023-03-13T07:34:09.760-07:00Nenhum Passo em Falso. Um roteiro de cinema escrito por Ary Luiz Dalazen Júnior.<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i><b>Nota do autor</b>: este roteiro foi originalmente escrito em 2013 e publicado neste blog no ano seguinte. Retirado para edições voltadas a poli-lo, republico-o sete anos após sua concepção original.</i></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i><br /></i></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdaTmiDIj_9ai4ChxzGkohS_DaMquXhTOtKU5xax-ZG7s9bmLq8qwUfzLisUt736NQ4a5amcH_G_TQm1rahOKj2vMDz1mX94jh5ve_SnGpCImd-6_L681dggOw1B9pxx9H7CDm2Zjoqf6a/s1600/os-atores-principais.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="345" data-original-width="672" height="205" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdaTmiDIj_9ai4ChxzGkohS_DaMquXhTOtKU5xax-ZG7s9bmLq8qwUfzLisUt736NQ4a5amcH_G_TQm1rahOKj2vMDz1mX94jh5ve_SnGpCImd-6_L681dggOw1B9pxx9H7CDm2Zjoqf6a/s400/os-atores-principais.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i>Jennifer Connelly como Kylie Grattan; Burt Reynolds vive Eric Dudley.</i></td></tr>
</tbody></table>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Olá, pessoal. A vocês que vêm prestigiando meu trabalho há algum tempo, tenho a satisfação de trazer neste começo de ano "<i>Nenhum Passo</i> <i>em Falso</i>", o roteiro que escrevi para a "<i>reimaginação</i>" do filme "<i>Ôdishon</i>", de <i>Takashi Miike</i>. Previamente analisado no blog, no fechamento da resenha de "<i>Ôdishon</i>", mencionei que dentre todos os suspenses refeitos por Hollywood ao longo da década passada o filme de <i>Miike</i> foi um dos poucos que não mereceu o mesmo tratamento de "<i>O</i> <i>Chamado</i>", por exemplo, talvez pela dificuldade que cineastas ocidentais teriam para transpor temas tão próprios à cultura que o gerou. Baseado no romance de <i>Ryo Murakami</i>, o filme foi estrelado por <i>Ryo Ishibashi</i> no papel de <i>Aoyama</i>, um homem honrado e honesto que alguns anos após o duro golpe da perda da mulher para o câncer resolve acatar a sugestão do amigo, o produtor de cinema <i>Yoshikawa</i>, para forjar um processo seletivo para o elenco de um projeto que existe somente no papel, apenas para que <i>Aoyama</i> conheça novas moças e quem sabe encontre alguma que demonstre afinidades que ele busca em uma futura companheira.</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Em linhas bem simples, <i>Aoyama</i> se apaixona por uma jovem atriz muito bonita e misteriosa chamada <i>Asami</i>. Encantado pela sua beleza e timidez, deixa de enxergar sinais muito explícitos que apontam para problemas seriíssimos logo à frente. <i>Yoshikawa</i> investiga as referências fornecidas pela moça e descobre que as peças não se encaixam. As informações preenchidas no formulário levam apenas a becos sem saída. <i>Aoyama</i> não dá ouvidos ao melhor amigo, que suplica que não ponha a emoção acima da razão. O que se sucede é um filme de horror muito forte e de incomum estrutura, jamais experimentada anteriormente. "<i>Ôdishon</i>" começa com uma tragédia (a esposa morrendo), assume a aparência de comédia romântica, estilo os filmes protagonizados por <i>Rachel McAdams</i>, e então, quando menos se espera, torna-se um mistério de horror claustrofóbico sem tréguas. Apesar de brilhantemente executado, compreendo que o filme perde parte do charme ao descambar para a escatologia de seu terço final. A crueza brutal e desnecessária das cenas mais violentas prejudica a elegância tão bem sustentada pelo cineasta durante a primeira metade. Minha observação não significa que o filme falhou, muito pelo contrário: "<i>Ôdishon</i>" é uma máquina de suspense. Em minha humilde opinião, entretanto, creio que teria sido beneficiado pelo exercício da paciência e discrição.</span><br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgjlqpP_spP9l38jBY_D_nqV0NBB7F8EiaLOBcwc_Dcsnuz9kBerCc52dFyow-G3PBQpwFstRAa5ayfN7XuTIme-j9TXIzuAAinTHYVlbBaMA5LoWkw7sj4Dawmx73y5nMt6w64CUMadA6/s1600/o+elenco+secundario.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="361" data-original-width="1179" height="193" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgjlqpP_spP9l38jBY_D_nqV0NBB7F8EiaLOBcwc_Dcsnuz9kBerCc52dFyow-G3PBQpwFstRAa5ayfN7XuTIme-j9TXIzuAAinTHYVlbBaMA5LoWkw7sj4Dawmx73y5nMt6w64CUMadA6/s640/o+elenco+secundario.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i>Scott Speedman é Cary St. Pierre; Rick Hoffman vive Jason Hammond; Caroline Dhavernas completa o elenco como Lacy Morel.</i></td></tr>
</tbody></table>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Quando comecei a escrever "<span style="font-style: normal;"><i>Nenhum</i> <i>Passo em Falso</i></span>", a <i><span style="font-style: normal;">derivação</span> </i>imaginada para a <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">trama </span>de <i>Murakami</i>, não esperava que o destino dos personagens fosse mudar tanto, tampouco considerava a introdução de novos protagonistas. O apelo misterioso de Tóquio, já tão bem explorado em filmes como "<i>Kairo</i>", de <i>Kiyoshi Kurosawa</i>, cedeu lugar ao sentimento de transitoriedade e melancolia de Toronto, anteriormente explorado nos horrores de <i>David Cronenberg</i>. <i>Aoyama</i> se tornou "<i>Eric Dudley</i>", o personagem escrito exclusivamente para o ator <i>Burt Reynolds</i>, um papel que teria sido brilhantemente interpretado por ele, principalmente em 1999, dois anos após o renascimento artístico obtido com "<span style="font-style: normal;"><i>Boogie</i> <i>Nights Prazer Sem Limites</i></span>". <i>Yoshikawa</i>, o melhor amigo e voz da razão, sofreu uma "<i>cisão</i>", produzindo dois novos rostos: "<i>Jason Hammond</i>", o amigo publicitário de <i>Eric</i>, e "<i>Colby Rodriquez</i>", um rapaz que <i>Dudley</i> conhece por acaso, ao procurar por uma lanchonete próxima ao aeroporto internacional onde possa sobreviver `as noites insones virando xícaras de café nos primeiros anos após a morte da esposa. <i>Rick</i> <i>Hoffman</i> ("<i>Os</i> <i>Condenados</i>") é um ator de cinema muito versátil que sabe equilibrar humor cínico e seriedade dramática em doses salutares. Só um artista capaz de balancear comédia e drama de forma suave teria a desenvoltura para fazer do machista "<i>Jason Hammond</i>" de "<i>Nenhum Passo em Falso</i>" um personagem interessante e não uma caricatura, cujo arco serve à jornada dos protagonistas.<span style="font-style: normal;"> </span><i>Andrew Jacobs</i>, um jovem ator latino novato que acaba de estrelar o excitante "<i>Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal</i>", tem todas as características que pensei ao escrever "<i>Colby Rodriquez</i>". <i>Colby</i> é um estudante universitário cursando Direito durante o dia e virando as madrugadas atendendo no balcão da atemporal <i>211 Bel Air Café</i>, a lanchonete situada nas imediações do aeroporto internacional. Ao longo do filme, o rapaz desenvolve uma grande amizade com <i>Eric</i> <i>Dudley</i> e tem a oportunidade de fazer algo grandioso e <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">heroico</span> no terço final da história. <i>Asami</i>, a psicopata fria e implacável, tornou-se "<i>Lacy Morel</i>", em quem vi o rosto da talentosa <i>Caroline Dhavernas</i>. A atriz havia me deixado forte impressão no eletrizante "<i>O Voo da </i><i>Coruja</i>", onde esbanjou a sedução e o mistério que levariam um homem comum a se apaixonar cegamente e desprezar todos os maus sinais. Assim como no original de <i>Miike</i>, <i>Dudley</i> é um dedicado pai para o filho, que aqui foi chamado de "<i>Charly</i>". Do trabalho original de <i>Murakami</i> como ponto de partida, aproveitei a premissa do homem que perde a mulher para o câncer e atravessa anos de depressão até procurar se abrir para um novo e grande amor com consequências desastrosas. Ao longo da história, homenageio o filme do Sr. <i>Miike</i> em uma cena de pesadelo (a famosa "<i>cena da criatura dentro do saco</i>" foi recriada para "<i>Nenhum Passo em Falso</i>") e uma linha de diálogo ("<i>Viver <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">nada mais é do que se ap<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">roximar</span></span> da morte gradualmente</i>"). Apesar da premissa intacta, novos personagens e situações distanciaram esta "<i>reimaginação</i>" da fonte original. Vocês veem que praticamente mencionei todas as contrapartidas para os personagens do original; entretanto, dois protagonistas de "<i>Nenhum</i><span style="font-style: normal;"> </span><i>Passo em Falso</i>" sequer existem em "<i>Ôdishon</i>". <i>Selma Blair</i> dá vida a "<i>Jordan Harwood</i>", uma tenente corrupta da força policial de Toronto ligada ao passado de um dos personagens centrais por um tétrico segredo. Para fechar o elenco principal, <i>Scott</i><span style="font-style: normal;"> </span><i>Speedman</i><span style="font-style: normal;"> </span>foi o artista que visualizei assim que comecei a desenvolver o papel de "<i>Cary St.</i><span style="font-style: normal;"> </span><i>Pierre</i>", o marido e aliado da protagonista, "<i>Kylie Grattan</i>". <i>Speedman</i> atuou em um filme romântico muito interessante chamado "<i>Para Sempre</i>", com <i>Rachel McAdams</i> e <i>Channing Tatum</i>. Ele interpretava o ex-noivo rico que jamais tinha esquecido a heroína. Depois que ela perde a memória em um acidente, procura "<i>roubá-la</i>" do personagem de <i>Channing Tatum</i>. Nas mãos de um ator medíocre, o personagem teria descambado para o clichê, com tintas fortes, o que não foi o caso do excelente "<i>Para Sempre</i>", onde <i>Speedman</i>, apesar de antagonizar o herói, não me parece propriamente "<i>vilão</i>", mas um homem em conflito, ainda apegado ao recente passado romântico. Ao tratar de "<i>Cary St. Pierre</i>", sou levado a finalmente falar sobre a personagem principal da história, a "<i>Kylie Grattan</i>", que só poderia ser mesmo vivida por uma única pessoa.</span> </div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">O filme praticamente pertence a <i>Jennifer Connelly</i>, que imaginei como "<i>Kylie Grattan</i>". Não gostaria de falar sobre a personagem, pois tudo gira em torno de sua jornada. Parece-me importante que entrem na história às escuras. Ao lado do "<i>Eric Dudley</i>" de <i>Burt Reynolds</i>, a "<i>Kylie"</i> de <i>Jennifer Connelly </i>comanda "<i>Nenhum</i> <i>Passo em Falso</i>". O mistério está ancorado na conexão entre esses dois personagens, e o show recai sobre os ombros de <i>Jennifer & Burt</i>. Até a alguns parágrafos antes do desfecho, acredito que os amigos não terão como adivinhar se os dois terminarão juntos.</span> </div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Senhores, espero que apreciem a "<i>Nenhum Passo em Falso</i>" do mesmo jeito que foi um prazer escrevê-lo. Imaginar histórias e rodar filmes são processos criativos distintos, mas tamanha a influência do cinema sobre a minha vontade de expressão, penso que criei uma história cuja linguagem descritiva em muito ensaia os suspenses que ajudaram a formar a minha consciência apreciativa de arte. Eu disse certa feita que escritores são cineastas frustrados que jamais "<i>aconteceram</i>", porém creio que deva falar apenas por mim. Se pudesse traduzir meus sentimentos para uma linguagem exclusivamente cinematográfica, baseado nas minhas inspirações, penso que "<i>Nenhum Passo em Falso</i>" seria rico nos movimentos de câmera e o <i>split-screen</i> de <i>De Palma</i>, na atmosfera e na profundidade psicológica de <i>Cronenberg</i>, nas personagens femininas ambíguas e interessantes de <i>Clive Barker</i>, no olhar melancólico rico em luzes de neon verdes e vermelhas de <i>Morten Soborg</i>, nas performances de J<i>ennifer Connelly</i> e <i>Burt Reynolds</i>, ambos na época e com idades certas para defenderem seus personagens, e na melodia de <i>Ennio Morricone</i>, à vontade tanto em sequências eletrizantes como quando <i>Clint Eastwood </i>chega a tempo de se jogar na frente da bala destinada ao Presidente dos Estados Unidos, em "<i>Na</i> <i>Linha de Fogo</i>", quanto em cenas de beleza estonteante, como a que serve de introdução a "<i>Malena</i>", de <i>Giuseppe Tornatore</i>, ou "<i>Lolita</i>", de <i>Adrian Lyne</i>. É a soma de partes que refletem o que eu amo na arte que me inspira a imaginar obra tão ambiciosa assim, praticamente inatingível. Como <i>Ethan Hawke</i> disse em "<i>Antes do Pôr-do-Sol</i>", entretanto, a felicidade está no "<i>fazer</i>", não necessariamente no "<i>alcançar</i>". </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Com os senhores, "<i>Nenhum Passo em Falso</i>", a obra onde encontrei felicidade ao fazer, por mais que jamais tenha se concretizado.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
</div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">_________________________________________________________________________</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><b><i><br /></i></b></span></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><b><i>Este trabalho é dedicado ao Sr. Richard Anthony Fry.</i></b></span></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><i><b>Todos os direitos autorais reservados ao autor Ary Luiz Dalazen Júnior. </b></i></span></span><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Quis o destino que Allie Dudley desse seu último suspiro sem que o homem que a acompanhara durante o doloroso e inútil processo de tratamento estivesse aos pés do leito hospitalar para a despedida. Eric foi acordado de um sono profundo, sem sonhos, às dez para as quatro da tarde, pela secretária. Ela não teve de lhe dizer muito. Assim que foi arrancado da inconsciência por causa do barulho da porta, aberta de supetão, parte de si soube que o pior acontecera, e abreviou a difícil missão da empregada, abraçando-a e a assegurando de que se esforçaria para lidar com tudo com muita classe. Não houve tempo para cenas emocionantes ou recordações comoventes. Isso só ocorreria mais tarde e ao lado da mais improvável das companhias. Para sua própria surpresa, Eric pareceu aceitar a morte da esposa com impressionante estoicismo. No minuto seguinte, a mente já calculava o modo de como lidar com o processo do luto de uma maneira metódica, distanciada e segura: telefonemas a fazer, serviço funerário, o cerimonial. Era tolice ocupar a cabeça com bobagens, mas as diferentes etapas da burocracia da morte pareciam ajudá-lo a sublimar a dor que obviamente não queria reconhecer.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Apanhar Charly na escola e lhe contar que mamãe partira, porém, era o desafio a se enfrentar sozinho. Sensibilidade de criança é uma coisa impressionante. No carro, ambos metidos em introspecção, Eric ensaiava a introdução menos agressiva, até Charly quebrar o gelo e lhe poupar o trabalho "<i>Papai, eu sei o que quer me dizer. A dança acabou</i>". "<i>Isso, Charly, acabou. É mesmo uma dança. Mamãe e eu tivemos momentos maravilhosos, mas a banda deixa de tocar, e cada um tem de voltar a seu lugar</i>". E foi o suficiente para que toda a dor, amortecida pela praticidade com que se conduzira até então, apanhasse-o pelo pescoço e o impedisse de raciocinar logicamente. Os minutos iniciais, teoricamente os mais delicados e a que Eric sobrevivera com dignidade, não valiam mais nada. Agora, estava sentindo dor do mesmo jeito.</span></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"></span>
<br />
</span><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric estava em marcha acelerada, ganhando a highway 409, quando, ao olhar pela janela, teve a atenção capturada pelos hangares do terminal 01. Subitamente, pensou que "<i>fugir de toda a dor</i>" não seria de todo uma má ideia. O menino não se oporia, "<i>férias surpresa</i>". Não fazia ideia de onde ir, mas a promessa de libertação representada pelas pistas justificava qualquer capricho. Contanto que fugisse `a dor, qualquer decisão deveria ser compreendida pelos familiares e amigos, ou ao menos Eric desejava crer. Apesar das falsas promessas de libertação prometidas pelo aeroporto - com as suas portas automáticas abrindo e fechando convidativamente - Eric acabou indo para o acostamento de uma vicinal, que por sua vez o levou a uma simpática cafeteria próxima ao <i>Pearson</i>.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Quando conheceu Colby, não foi um bom encontro. Eric havia se sentado com o filho no segundo piso, e queria consumir um expresso antes de comprar as passagens. Tentava ganhar tempo, colocar um pouco de senso na cabeça antes de embarcar no próximo voo, por mais tentadora que a ideia de desaparecer soasse. Era a primeira semana de Colby na lanchonete, e assim como Eric, trazia a cabeça "<i>cheia de coisas</i>", por razões distintas. Colby errou na medida do volume de água quente para o expresso, e preparou um café aguado e sofrível, o que acabou por surpreendentemente canalizá-los ao esboço de uma inocente conversa. Com bom humor, desculpou-se se o café não oferecia o melhor sabor, a que Eric sorriu e respondeu estar bem. A breve troca de cordialidades evoluiu para um diálogo. Algo na simplicidade e sorriso fácil de Colby fazia Eric imaginar que o garoto poderia ser seu filho. Dudley não chegou a terminar a xícara. Colby foi convidado a se sentar à mesa, e assim Eric conseguiu ganhar tempo suficiente para recobrar o bom senso e não cometer a tolice de deixar Toronto. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">De costas encurvadas para a escada voltada ao mirante, Eric não viu a chegada de Kylie Grattan, mas a escutou. Ela viera sozinha. A forma como fazia os saltos altos pisarem o chão era única, algo peculiar na urgência das batidas, talvez. Kylie colocou as mãos sobre os seus ombros, e Eric levantou-se para abraçá-la, sempre o apaziguador, mesmo que fosse seu o mais estraçalhado dos corações. Colby assistia a tudo com olhos assustados. Percebia que algo de gravidade acontecera. Quase reflexivamente, deu alguns passos para trás, limitando-se a assistir ao encontro do casal a uma distância segura. Não foi possível escutar o que conversavam, mas o casal teve uns bons dez minutos de tratativas até que outro cavalheiro também apontasse nas escadas da lanchonete. Era um jovem homem elegante e muito bonito aos seus trinta e pouco anos, <i>Cary St. Pierre</i>, a quem Colby reconheceu de imediato. Era filho do prefeito de Toronto. O visitante já foi abraçando Eric.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Olá, amiguinho. Posso fazer algo por você? - Colby perguntou a Charly, a imagem do cansaço. Apoiara os cotovelos sobre a mesa, a cabeça afundada nas mãos. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não. - E Charly complementou, quase como dever. - Mamãe morreu. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Colby não soube o que dizer. Solidário, limitou-se a passar as mãos nas costas do garotinho, e retornar para trás da caixa registradora. Enxergou-os deixando o segundo piso, desaparecendo um pouquinho mais a cada degrau. Quando foi apanhar a xícara na mesinha, acabou por se sentar ali, procurando fazer sentido do que vira e de como se sentia a respeito. Recriminou-se por não ter acrescentado algo de valia ao cavalheiro com quem conversara há pouco. Colby voltou os olhos para as pistas. O céu estava sombrio e havia uma fila de aeronaves aguardando a autorização da torre. Seria mesmo uma longa tarde. Colby considerou que logo precisaria solicitar mudança de turno por causa do começo das aulas. Com um suspiro cansado, levou a xícara no pratinho e tratou de enxaguar o amontoado de louças da pia.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Era julho de 2004. Nas semanas posteriores `a morte de Allie, Eric sentia-se sufocado por um nevoeiro muito fechado. Os familiares estavam sempre entrando e saindo de casa, mas Eric escolhera não notá-los. Voltou ao trabalho, para o escritório de publicidade. Passava as tardes navegando pela internet, lendo e relendo notícias desinteressantes, sobrevivendo `a entediante passagem dos ponteiros, para ao fim de todas as tardes retornar `a miséria emocional de uma cama vazia. Quem tomou a dianteira da situação e o guiou através do luto foi Kylie, a melhor amiga. Tomou conta de Charly, foi competentíssima quanto ao tratamento das burocracias referentes ao "<i>trâmite da morte</i>", e esteve por perto para que Eric chorasse sobre seus ombros. Kylie era assessorada por Cary, que a seu turno telefonava de dois em dois dias, e sempre dava um jeito de visitá-lo no escritório, ao término das tardes, para convidá-lo para passear, tomar drinques, desabafar. Não havia amigos melhores, Eric pensava, a aquela altura.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Quando completou um mês da morte, Eric começou a se habituar ao nevoeiro no qual as circunstâncias o haviam aprisionado. De repente, não existiam mais tantos familiares pelas salas e corredores, de modo que precisou aprender a cuidar do filho sozinho. Eric não conseguia descansar bem e, uma noite, depois de verificar se Charly dormia, pegou o carro e retornou para o aeroporto internacional. Às duas da madrugada, a highway era toda sua. Imprimia velocidade máxima ao carro, a gélida e umedecida brisa nas janelas ajudando-o a recobrar os sentidos, a "<i>dissipar o nevoeiro</i>". Sorriu ao reencontrar Colby, que não o enxergou imediatamente, e vestia uma expressão de tédio enquanto folheava um livro aberto no balcão.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Olá. - Disse, batendo levemente a chave do carro na mesa. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ah, olá! - Ficou satisfeito por revê-lo. Parecia ter ensaiado algo a dizer, algo que no momento não lhe ocorria com melhor clareza ou naturalidade.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Lamento por <i>aquilo</i>. - Eric disse, tomando a iniciativa. - Eu não estava nas melhores condições.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- O menininho me contou o acontecido. Eu sinto muito. - Colby fechou o livro e estendeu a mão para cumprimentá-lo. - Chamo-me Colby Rodriquez.</span><br />
</span><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sim, sim, você já tinha me dito. Difícil esquecer um nome tão incomum. - Eric brincou, mas imediatamente se arrependeu. Colby reagiu com uma gargalhada. Tranquilizado pela aceitação da gafe, Eric se sentiu à vontade para rir também.- Eric Dudley. Ainda tem aquele expresso horroroso a que chama de café?</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não acha que está abusando de minha boa vontade? - Mais risadas. Colby puxou o banco alto para que Eric se acomodasse aos pés do balcão. - Melhorei muito desde a última vez. Precisa me dar um tempo, senhor. Eu comecei faz pouco.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- É, deu para notar. - Eric examinou o cardápio plastificado. - Um croquete de carne seca com abóbora acompanharia bem o café. </span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Colby definitivamente havia feito o dever de casa. Eric esteve distraído por não mais do que cinco minutos, quando o rapaz veio servir o croquete e o café. O aroma era delicioso. Enquanto os experimentava, os olhos de Colby o estudavam com antecipação. Eric abaixou a xícara e exibiu o polegar em aprovação. Colby sacudiu afirmativamente a cabeça, sorrindo com orgulho e balançando quase reflexivamente a cabeça ante a resposta. </span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Prepare-se, você me verá muito por aqui. - Fez um gesto com a xícara em direção às cinco vastas pistas. - Eu não consigo ficar quieto, à noite. Se eu me deito, sei que passarei a madrugada às claras. É como se as pistas estivessem me chamando para cá.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ei, será um prazer recebê-lo, a <i>211 Bel Air Café</i> agradece a clientes pagantes. São lindas, não? Ao passo que você não consegue dormir porque fica pensando nas pistas, eu não consigo estudar por causa delas. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- O que estuda?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Primeiro ano de Direito. - Levantou o livro com uma careta de desagrado e exibiu seu grosso tomo de "<i>An Introduction to the Principles of Morals and Legislation</i>", de <i>Bentham</i>. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- É admirável. Eu trabalho com publicidade, mas quando vejo os advogados que compõem a banca da <i>La Fabrique</i>, gente como <i>Cary</i>, conversando sobre legalidades, sei que não conseguiria compreender uma linha. - Deu um gole e se corrigiu. - Bem, mas hoje, nem mesmo publicidade consigo compreender tão bem. Depois da confusão, os sócios tomaram conta. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não me admire tanto, eu ainda não terminei um capítulo sequer! - Colby empurrou o livro de lado e elaborou. - Eu comecei o curso neste semestre. Não estou muito `a frente, mesmo dos leigos.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ainda assim, está fazendo o curso. É admirável. - Eric rasgou o plástico com os talheres. Quando enfiou o garfo no croquete quente, o branco viscoso da abóbora escorreu para fora. - Quando comecei com a publicidade... Houve uma época em que me questionei se fizera a escolha certa. Não me arrependo de ter persistido, mas no começo foi muito duro... Uma das coisas mais duras pelas quais passei, desde... - E os dois ficaram em silêncio. Pela graciosidade com que Eric ensaiava romper o tabu e abordar o delicado assunto, Colby perguntou mais claramente.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- O que aconteceu com a sua esposa, senhor?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Câncer. - Eric respondeu com um suspiro, os olhos perdidos na pista. Um grande Boeing da <i>Star Alliance</i> aquecia seus motores <i>Rolls Royce</i> na cabeceira antes de iniciar a corrida da decolagem. Eric abaixou o rosto e levou os dedos ao septo. - Foi muito rápido, não levou um ano sequer. E por incrível que pareça, fomos mais unidos nos últimos meses do que antes. Não que tenha sido um casamento ordinário, pelo contrário. Gosto de pensar que foi maravilhoso. Ei, ao menos te asseguro que o foi para mim. É que nunca estivemos tão emocionalmente investidos quanto nos últimos meses. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Naquela tarde em que apareceu... - Colby começou a compreender.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Foi a tarde da morte. O Charly, o menininho...Charly é meu filho.Eu estava tão confuso que pensei em comprar duas passagens para o próximo voo para o Brasil. - Eric deu um sorriso condescendente ao se recordar da estupidez. Meneou com a cabeça e prosseguiu. - Péssima ideia. Achei que bastaria sumir para que os problemas desaparecessem completamente, em Toronto. Depois de vir parar na lanchonete e revisar o plano na cabeça, vi a quantidade de furos. Quero dizer, dá para passar um trem pelos buracos desse "<i>plano</i>". Mesmo que quisesse, não poderia levar Charly tão fácil. - Concluída a bebida, Colby tomou a iniciativa de puxar a xícara e preparar uma segunda. Antes de colocar a cápsula na máquina, procurou a aprovação do cliente, que sinalizou afirmativamente.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Havia uma moça muito elegante e bonita... - Assim que Colby mencionou a "<i>estranha</i>", a primeira que chegou para conversar com o viúvo, Eric sentiu-se reconfortado quando a lembrança de Kylie se avivou em sua mente.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Kylie. - Eric fez menção de que teceria maiores comentários sobre a estranha que chamara a atenção de Colby - e de todos os homens - mas algo pareceu perder-se no instante em que abriu a boca para vocalizar o que tinha em mente, e realmente não soube continuar. Antes que se apercebesse de que Kylie lhe era suficientemente cara para deixá-lo sem palavras, Colby emendou.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Pensei que se tratasse da sua filha. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eu pareço tão velho assim, é? - Fingiu-se zangado. - Ora, dane-se! - Os dois começaram a rir. - Com um nome desses, que direito tem de...</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Deixe meu nome em paz, coroa! - O rapaz desligou a máquina, que ainda espirrou um pouco de leite na xícara. Colby mexeu a bebida com uma palhetinha e a entregou a Eric. - Garanto que está melhor do que o primeiro que tomou por aqui!Esta é o "<i>chococino</i>", uma bebida à base de chocolate quente.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- <i>Chococino</i>... - Eric repetiu divertidamente, como se quisesse memorizar o curioso nome antes de experimentar o primeiro gole.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">E foi naquela noite em que a improvável amizade entre o publicitário e o rapaz da <i>211 Bel Air</i> começou. O espontâneo bom humor que o jovem imprimia ao bate papo tornava as rodadas de xícaras de café mais amenas e espirituosas, e muito embora a melancolia jamais deixasse de mantê-lo acordado à noite, ainda que Eric precisasse retomar o rumo para o aeroporto, agora tinha um amigo com quem podia dar risadas sobre as bobagens do dia-a-dia. Eric e Colby conversavam sobre filmes e esportes, o que era especialmente importante para o viúvo, pois o ajudava a recuperar a impressão de normalidade. Eric guardava a chaves os instantes mais valiosos desfrutados com Allie. Eventualmente, compartilhava-os com Colby, o que trazia certo conforto ao coração. Havia os dias certos para Eric aparecer na lanchonete. O viúvo começava a visitar a <i>211 Bel Air</i> nas quintas-feiras e seguia retornando pelas próximas duas noites, ou seja, até sábado. A <i>211 Bel Air</i> geralmente recebia uma clientela muito jovem nos finais de semana, mas como Eric aparecia por último, o lugar jamais deixou de lhe parecer exclusivo. Eric era praticamente o último cliente. Havia uma quietude própria à lanchonete que o viúvo afirmava não ter encontrado em lugar algum. Ao estacionar o carro, detinha-se para estudar com os olhos a vicinal que fazia a ligação da lanchonete à estrada que serpenteava no sentido do aeroporto. Entre os dois mundos, achava-se dividido: havia a promessa de redenção, simbolizada pelas pistas onde aviões corriam e deixavam; existiam o dourado fraco dos charmosos postes da <i>211 Bel Air </i>e as luzes de neon vermelhas e verdes que fulguravam de dentro da cafeteria, quando Eric se sentia só, como se a vida lhe tivesse pregado uma peça da qual não conseguia fazer sentido. Sentava-se à mesa do segundo piso, pois somente dali ou do deck tinha como admirar o aeroporto internacional, quando procurava se decidir se permaneceria na sua realidade pouco promissora em Toronto ou simplesmente fugiria.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Uma tarde chuvosa de setembro, Eric chegava a <i>La</i> <i>Fabrique de Films</i>, seu escritório de publicidade, quando estranhou as portas trancadas. Ao examinar a situação pelo lado de fora, através das janelas, constatou o desligamento das luzes. Girou rapidamente a chave e entrou apressado. Foi apanhado pela certeira chuva de confetes e serpentinas. As luzes foram ligadas em força total, revelando os colegas de profissão estrategicamente posicionados por todos os cantos: em cima de cadeiras, ao redor das pranchetas, até mesmo uma das secretárias sentada sobre o último degrau de um cavalete, terminando de amarrar balões coloridos no lustre da sala!Eric levou as mãos à cabeça e somente então deu-se pelo fato de completar anos naquela data. Relutante em se emocionar, procurou fazer graça da situação e emendar brincadeira após a outra. Por dentro, fora profundamente tocado, e desejava ficar momentaneamente a sós para que não se preocupasse se choraria ou não. "<i>Discurso, discurso!</i>", começaram a gritar. Eric pensou "<i>Essa não!</i>". </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eu sei que tenho parecido ausente nos últimos meses. - Eric começou, e o rumor dos amigos feneceu, como se alguém tivesse reduzido o volume no controle remoto. - Eu sinto muito se não tenho sido de grande valia para vocês mas os amo todos. Eu... - Entre tantos rostos queridos, foi o de Kylie que ganhou sua exclusiva atenção. Ocorreu-lhe quando ela aparecera pela <i>La Fabrique</i> seis anos antes, uma estagiária falastrona que não parecia compreender muito bem a dinâmica das relações sociais e, pior, do mundo. Conhecera-a uma menina maluquinha, e agora ali estava, aquela pessoa que ficara no lugar da menina, uma mulher elegante, sofisticada, cujos olhos enigmáticos e tristes reforçavam sua autoconfiança. Portava-se com graciosidade, autoridade e segurança, comandando os ambientes pelos quais transitava, fossem mesas de negócios ou confraternizações. Kylie tinha os cabelos pretos curtos que `as vezes insistiam em cair em uma mecha, era esbelta e alta. Vendo-a ali parada ao pé da escada, Eric imaginou como pareceria ainda mais exuberante, estivesse vestindo longas luvas de seda que subissem um pouco acima dos cotovelos. Era interessante, pois por muito tempo a enxergara como a amiga maluquinha, e agora era, bem, uma fascinante, <i>fascinante </i>mulher. Quando os seus olhares se encontraram, Kylie lhe sorriu, e Eric fez sinal de que conversariam mais tarde. - Eu sou um homem abençoado. Eu não sei se mereci muitos anos de felicidade ao lado de Allie. Poucos homens teriam merecido, realmente. Eu sou grato pelas lembranças e as levarei comigo para sempre. - Do segundo piso, as palavras de Eric foram respondidas com aplausos imediatos de Kylie. No mesmo segundo, os demais fizeram coro, e o estúdio veio abaixo em palmas. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Seja bem vindo de volta, querido. - Kylie anunciou. Os companheiros se concentraram no centro do salão e o abraçaram. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Foi uma feliz noite de reencontros, celebrando a oportunidade dos recomeços. Um buffet havia sido contratado e os convidados puderam conversar e se divertir, embalados pela excelente performance de um grupo musical que passou a noite ensaiando, em sax, lindas rendições dos temas mais inesquecíveis do cinema. Eric tentava encontrar Kylie no salão quando Hermione o apanhou pelo braço e o guiou à sua mesa. Hammond e Alexandra não o deixaram mais sair, afoitos para lhe contar o projeto para a grade das noites de segunda-feira para a Fox TV. Enquanto escutava os amigos ilustarem muito amplamente a ideia da atração - algo sobre criar oportunidades para que pessoas se declarassem umas às outras - os olhos de Eric vasculhavam o estúdio. Somente mais tarde, quando parte dos convidados se fora e o sax lançava melodias mais tristes e românticas, Eric a encontrou. Viu as suas costas muito sinuosas, ainda mais atraentes graças à generosidade com que o vestido vermelho as revelava ao cair. Cary a acompanhava à mesa. Um cigarro descansava entre os dedos de Kylie, a réstia de fumaça ascendendo preguiçosamente com o neon azulado e sobrenatural a contrastando. "<i>Desculpem-me</i>", Eric se escusou.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric reconheceu a balada romântica que preenchia o salão de incomum desespero amoroso. O grupo dava a versão para "<i>The Hallway</i>", da trilha de "<i>The Prince of Tides</i>". Escutá-la traria lágrimas aos olhos dos mais sensíveis. Era linda <i>assim</i>!Eric aproximou-se da mesa de Cary e Kylie e a tirou para dançar. Bailando solitariamente entre confetes e serpentinas, cercados por mesas em grande parte vazias, Kylie descansava a cabeça no peito de Eric, que finalmente parecia menos resistente à ajuda e ao carinho daqueles que se importavam com seu estado emocional. Kylie seguia murmurando o quanto sentia muito, e Eric, de olhos bem fechados, deixava que algumas lágrimas escorressem. Ocorreu-lhe que desde a morte de Allie, era o primeiro verdadeiro momento somente seu e de Kylie, o instante em que conversavam francamente sem que o viúvo procurasse sair pela tangente ou negar a forma como sua presença mexia com seu comportamento. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Lembro-me de quando chegou. - Sussurrou, a que Kylie fez "<i>Uh-Hum</i>". - As meninas te achavam metida. - Kylie deixou o peito de Eric e o encarou com um sorriso espevitado. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eu era mesmo metida, não?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Mesmo então, eu enxerguei além. Eu apreciei a sua companhia desde o primeiro instante. - Kylie voltou a repousar o rosto no ombro do amigo. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Sim. As aparências diziam tudo o que os outros queriam saber sobre mim. Família rica, roupas elegantes, beleza...As meninas se fartaram com adjetivos aos montes para me rotular. Você enxergou através. - Constatou, com a voz estremecida pela dor da recordação. - É sensacional voltar a dançar contigo. - Ela observou, a voz ou triste, ou cansada, Eric não soube precisar. - Lamento por...</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eu sei, eu sei. - Impediu-a de continuar. - Não se sinta culpada. Você tem sido fantástica.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Tinha medo de me intrometer. <i>Allie </i>poderia vir a considerar ideias erradas e eu não suportaria que me odiasse gratuitamente. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- <i>Shhhh</i>, está tudo bem. - Apertou-a contra si, assegurando-a com dois socos leves na parte alta das costas. - Apenas fique aqui comigo até a música acabar.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Só até a música acabar? - Kylie insinuou e imediatamente se arrependeu. - Desculpe-me. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Cary aproximou-se com discrição, talvez por reconhecer a exclusividade do momento. Queria se despedir e marcar uma <i>happy hour</i> para a noite do próximo sábado. "<i>Na minha casa</i>", Eric topou e pediu que avisasse os demais do círculo de amigos. "<i>Cuidarei dos detalhes e entrarei em contato no decorrer da semana</i>", Cary se despediu. Kylie também precisou se despedir e aproveitou a carona oferecida pelo amigo. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Quando Eric voltou para casa, foi recebido pela secretária, senhora Medina, a competente funcionária que todos os dias cuidava do menino, das roupas e da comida, e só ia embora depois da chegada do viúvo. Ela deixara o jantar preparado, dentro do microondas, e tinha colocado o menino para dormir com no mínimo uma hora de antecedência. Antes de sair, mencionou um certo "<i>brilho</i> <i>diferenciado</i>" em seu olhar, a que o viúvo reagiu com um sorriso encabulado. Corações podiam ser tão facilmente lidos assim? Por um tempo, contentou-se com o breu reinante na sala, encontrando sossego no refúgio do silêncio, não se atentando a nada que não o rumor da precipitação a descender consistentemente sobre Toronto. Procurou distinguir um certo barulho, um ritmo peculiar que começou a notar à medida que os olhos foram se adaptando à escuridão, e seus ouvidos à chuva. Era um rumor diferenciado, definitivamente não o de água torrencial pelos caibros. Não conseguia defini-lo muito bem, pelo menos até desistir de capturá-lo exclusivamente pela audição. Não, o rumor presente não podia ser capturado, apenas sentido. O rumor reverberava do passado, uma eletricidade usualmente oriunda de recordações, e se tornava mais perceptível ao colidir violentamente com o presente. Momentos de outra época, de doce ingenuidade, grandes felicidades, invadiam o presente de contradições, de amarguras e expectativas, de culpas e desejos não vocalizados. O resultado? o distinto rumor que Eric<i> </i>Dudley<i> </i>somente naquela noite passava a compreender melhor. As pálpebras foram pesando, e por entre resquícios de neon e explosões de raios prateados a riscarem o céu muito longe, enxergou a si nos braços de Kylie, ambos embalados no meio da sala principal, mais vazia após a morte de Allie, ao sabor de "<i>The Hallway</i>" em sax. Sobre o piano de cauda, o porta-retrato com a foto da esposa morta, o retrato perdendo a cor, como se assistisse com olhos muito dolorosos a Dudley e Grattan conversando baixinho, abraçados. Eric foi arrastado para a inconsciência sem se aperceber de quão rapidamente imergia na escuridão. Somente mais tarde, quando acordou sobre a poltrona, deu-se pelo quanto estava emocionalmente exaurido.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Cuidando para não fazer barulho, Eric visitou o quarto de Charly para ver se o menino tinha se coberto. Quando estava para deixar, Charly o chamou. Eric sentou-se na beirada da cama. O carrossel com recortes de cavalos e soldadinhos girava vagarosamente em torno do eixo, a lâmpada do abajur projetando um mundo de aventuras em constante movimento nas paredes e em seus rostos. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ficou acordado, filho?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eu vi você dormindo na sala mas tive pena de acordá-lo para subir. - Explicou, com a vozinha sonolenta. O pai puxou o cobertor à altura dos ombros da criança, revelando a gata, a "<i>Pernetinha</i>", a nova moradora da casa, que dia desses Charly convencera o pai a deixar criar, dormindo aos pés de seu mestre. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Pode me chamar sempre que quiser. - Eric vacilou por um momento, mas retomou. - Charly, eu sei o quanto está sendo duro para você também, mas não quero que alimente a tristeza. Precisamos passar por isso unidos, e realmente queria que desfrutássemos de mais tempo juntos. Você sabe que eu te amo, né?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Está tudo bem, papai. - Rolou no colchão, ficando de costas ao pai. Eric<i> </i>tomou a deixa como momento para deixar o filho dormir sem maiores amolações. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Durma bem, Charly. - Beijou-lhe a testa. À porta, foi detido por um inesperado pedido da criança.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Papai, tia Kylie será a minha nova mãe?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ora, tia Kylie é a melhor amiga de papai, e quer que sejamos muito felizes. Ela não pretende ocupar o espaço deixado por mamãe. O que te fez pensar que eu e Kylie...</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Antes de mamãe adoecer, o senhor parecia diferente com tia Kylie. - Uma pausa. Eric<i> </i>procurou rememorar se desde então vinha demonstrando o quanto começava a se interessar romanticamente pela melhor amiga.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Tia Kylie jamais faria algo para nos machucar. Ela gosta muito de você. Até mesmo por não ter filhos, ela te enxerga nestes moldes. Não quero que a antagonize. Eu não estou pensando em trazer mulher alguma. Procure se lembrar do que disse, está bem, Charly?Combinamos de enfrentar o recomeço juntos e é o que vamos fazer. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Quando diz "<i>juntos</i>" inclui tia Kylie?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Charly, deixe de preocupações infundadas, vamos. - Eric sacudiu a cabeça. - Que mal tem se ela vier nos visitar, como sempre faz?Ela se importa muito com...</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Você a ama, papai? - A pergunta à queima-roupa deixou Eric boquiaberto. Charly<i> </i>se virou e decretou. - Se eu tivesse feito essa pergunta há alguns anos, você teria respondido no mesmo segundo. Teria dito "<i>Claro que</i> <i>sim, ela é a minha amiga</i>". Hoje, o senhor não responde, porque sabe que a ama, <i>sim</i>, mas não como "<i>amiga</i>". Você a ama... Diferente. - E voltou a se encolher, abraçando-se ao travesseiro e à gata. Soltou um bocejo e nada mais falou. Eric ficou grato por Charly<i> </i>não ter continuado a disparar sua metralhadora de assertivas. Raciocinaria uma melhor maneira de conversar sobre o assunto com o garoto. Desejou-lhe "<i>Boa Noite</i>", mas não recebeu resposta alguma.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Reuniram-se no sábado seguinte Kylie, Hermione, Alexandra e Hammond. Cary não pôde aparecer, e o sexto sentido de Eric lhe dizia que havia algo a ser dito e seria o último a saber. Kylie era a única que não integrava mais o time da <i>La Fabrique de Films</i>. Ela era a CEO de seu próprio grupo publicitário, o <i>Avant!</i>, mas devia o profundo conhecimento aos anos passados sob a proteção de Dudley na <i>La Fabrique</i>. Ainda assim, parecia que jamais deixara a turma, e confraternizações sem sua presença seriam incompletas. Eric parecia o "<i>patriarca</i>" da turma, o mais velho. O restante mal haviam chegado à casa dos 30 anos. Hermione era sempre a austera imagem do compromisso, a executiva pragmática desprovida de sentimentalismos; Alexandra, a mocinha de fala suave e mansa, vítima da própria inocência, sempre "<i>em perigo</i>" e pedindo para ser salva; e Hammond, o machista realista e esclarecido que enfurecia e provocava as meninas da <i>La Fabrique</i> com os comentários ferozes e politicamente incorretos. A reunião acontecia sempre na casa de Eric, aos finais de semana, e obedecia a uma espécie de maravilhosa agenda cultural: um filme era especialmente escolhido pelo grupo, na sala de projeção, e depois faziam a mesa redonda, regada a café e a charutos, quando confrontavam diferentes pontos de vista. Quando a turma passava para a sala de jantar, o bate papo ficava mais descompromissado. Pediam pizzas e soltavam as línguas por causa do álcool. Ao fim da noite, alguns estariam cochilando sobre o carpete, outros, conversando à beira da lareira, homens discutindo política ou esportes no alpendre, mulheres fofocando maldades sobre colegas executivas do escritório. Era sempre uma ocasião de muito prazer e alegria. Pela primeira vez depois de muito tempo, o período do diagnóstico do câncer de Allie até a sua morte mais exatamente, os amigos retomavam o costume, e parecia que a última vez tinha sido ontem: lembranças boas têm seu jeito de parecerem frescas e recentes. Naquela noite, a turma havia assistido a <i>Gritos e Sussurros</i>, de <i>Ingmar Bergman</i>, e Hammond estava despedaçando o sueco.<br /><br />- Vocês sabem... - Ironizava, entre baforadas de charuto, indiferente ao julgamento das meninas. - Quando <i>Ingmar</i> rodou <i>Gritos e Sussurros</i>, estava na melhor fase da sua vida. Só há uma única tentativa de suicídio em todo o filme. - As meninas vaiaram, mas Eric teve de dar boas gargalhadas!<br />- Filmou tudo com o filtro vermelho, que escolha... - Eric comentou, meneando com a cabeça, meio que se censurando por cair na tentação de se juntar a Hammond no linchamento da obra.<br />- Eu diria que o vermelho simboliza o interior de seus personagens. Você não diriam o mesmo? - Disse Hammond, com seriedade. Quando ele e Dudley se entreolharam, voltaram à carga com as gargalhadas.<br /><br />Hammond estava visivelmente "<i>alto</i>", porém o café refreara a língua ferina. Felizmente, era Alexandra quem o devolveria à casa. Como de se esperar, Alexandra ficara somente com os sucos, e dentre seus amigos, era a única realmente sóbria - ou talvez <i>não</i>, vez que se dava o trabalho de responder às críticas dos bêbados acerca da obra de <i>Bergman</i>!Kylie flertava com Dudley e cuidava para não o fazer tão escancaradamente. Sentia-se em casa. Estava descalça e nem se recordava de onde tinha deixado seus saltos. Hermione sentou-se no braço da poltrona de Hammond e eles engataram uma conversa acalorada sobre aquilo que o publicitário acusava como a destruição da família tradicional: o feminismo. Eric se viu à vontade com Kylie, os dois sentados ao chão, perto da lareira. As lascas de madeira estalavam baixinho, criando uma convidativa atmosfera de intimidade. Sobre a tenaz apoiada nos tijolos, havia uma precoce meia vermelha, alusão ao Natal.Encarando-se em silêncio, Kylie e Eric estavam para ficar envergonhados, quando o viúvo passou delicadamente a mão sobre sua testa, tirando a mecha de cabelo que descia até acima do lábio superior. Sua boca ganhava expressividade por causa de um incomum vermelho de batom, realçado pelos dentes muito brancos que expunha ainda mais quando abria o sorriso de tirar o fôlego. Desceu os dedos ao queixo de Kylie e tocou o pequeno pontinho preto, o sinal que existia no canto superior esquerdo. Ela subitamente vestiu um olhar de tristeza e preocupação. Ele não precisava dizer mais nada. Parecia suficientemente claro que estava se apaixonando e ela se preocupava muito em não feri-lo. Os seus dedos se entrelaçaram. Repentinamente, Eric compreendeu que não eram seus olhos os único marejados. Kylie também parecia emocionada.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eles teriam muito o que conversar, mas como se entendiam através do olhar, diálogos seriam secundários. Ambos estavam divididos, lutando contra sentimentos de culpa e remorso. Alheio e inocente, Charly apareceu e saltou sobre o peito do pai, surpreendendo a ambos. Eric sabia que a preocupação do filho sobre Kylie passaria. Colocava-se no lugar do menino, compreendia que era muita informação para processar. Kylie abraçou o garotinho por trás e rolou com o menino sobre o tapete. Já estava tarde para Charly ficar no meio de adultos. Habilidosa, Kylie soube a maneira de reconquistar a confiança da criança. Não precisava que Eric lhe contasse sobre conversas como a que tivera na outra noite para entender o menino. Sabia que na cabecinha de Charly, estava sempre correndo o risco de passar dos limites, parecer a "<i>invasora</i>". Kylie tinha apanhado o garotinho pelas costas e o desafiava a se soltar. Charly dava risadinhas e obviamente não avançava muito nas suas tentativas de se desvencilhar.<br /><br />- A Kylie é o tipo de mulher que luta, Charly. É melhor desistir! - Gritou Hammond, soando definitivamente mais sóbrio, do outro lado da sala.<br />- Bem, se não tem como levá-lo para dormir sozinho... - Eric se debruçou sobre os dois e os arrebatou no colo. - Eu levo a ambos. Vocês vão comigo!Nossa, como pesam!<br />- Eric! - Kylie exclamou ao ser suspensa. Foi uma bonita cena, o viúvo ganhando os degraus da elegante escada de corrimãos de fina madeira, com Kylie e o menininho nos braços. Hammond assoviou e aplaudiu, muito brincalhão, e certamente Alexandra e Hermione ficaram com inveja.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric empurrou a porta da suíte com o pé, cantarolando <i>Toni Braxton</i>. "... <i>I dont want to</i> <i>Hum another Melody</i>...", Eric entoava com inesperado talento, e Kylie o acompanhava, carregando na parte que mais apreciava, fazendo soar "<i>Melodeeeee</i>". O viúvo os pousou suavemente sobre a cama. O rumor do ar-condicionado jamais soava intromissivo e o primeiro contato com o frio era delicioso. O volume da televisão havia sido reduzido, e eram tocados somente pelo caleidoscópio de luzes a emanar da tela. Depois de acomodá-los, ajoelhou-se aos pés da cama.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Chocolate gelado, chocolate gelado! - Charly<i> </i>pediu, acompanhando a ordem com palmas. Kylie<i> </i>molhou os lábios e fez que sim. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Depois que os convidados se foram, sobraram apenas Eric, Kylie e Charly. Quando subiu e os encontrou dormindo abraçados, seu coração foi assaltado por amargura. Parte do filho temia que Kylie ocupasse o vazio deixado pela mãe, mas outra desejava intensamente uma figura feminina materna capaz de suprir a carência seguinte à morte de Allie, a necessidade emocional com que Eric jamais saberia lidar muito bem, afinal era homem. Ele fechou a porta e os deixou dormindo na suíte. No dia seguinte, um domingo, propôs uma aventura, e Kylie topou antes mesmo que levasse os planos à mesa. O trio apanhou o ônibus na pequena rodoviária de <i>Bay Street</i>, decididos a se permitirem uma bela manhã em <i>Niagara Falls</i>. Com Charly se aventurando afoito pelas passarelas, Kylie teve de ficar o tempo inteiro correndo atrás do menininho, sob as gargalhadas de Eric. À beira da grade, aguardavam a vez de serem molhados pela "<i>Ferradura</i>", a super catarata de mais de oitocentos metros de largura, toneladas e toneladas de água despencando por segundo!Exaustos, foram descansar no terraço do <i>Edgewaters Tap & Grill</i>, sobre o qual Niagara parecia, ao longe, silente e pacata. Servidos de um excelente churrasco e uma garrafa de vinho, os dois adultos tiveram a abertura para conversar enquanto o garotinho, exausto, dormia com a cabeça no colo de Kylie. Quando precisou se despedir, Charly pediu que ela ficasse. Eric e Kylie se encararam, o desejo e a dor sem deixarem jamais os seus olhares. </span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Naquela mesma noite, Eric apareceu na <i>211 Bel Air Café</i> mais cedo do que de costume, e de humor reparado. Colby recebia encomendas dos fornecedores e não deu imediatamente pela chegada do amigo. Só ao concluir o assessoramento à descarga das caixas e enxugar a testa com o lenço, provavelmente imaginando o trabalho que teria para colocar os salgados na estufa quente, deu pela presença do viúvo, escorado no balcão. Imediatamente, abriu um sorriso de grata surpresa e foi cumprimentá-lo. </span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Deixe-me ajudá-lo, garoto. - Deixou as chaves sobre o balcão e arregaçou as mangas. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Por favor, não faça...</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ande, me diga logo como eu te ajudo</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Não lhe deu ouvidos e se agachou ao lado dos recipientes de isopor.</span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric estava animado para contar sobre a festa surpresa, sobre como engatilhara novamente os sábados de exibição de filmes para os amigos mais próximos. Lia-se a satisfação nas fáceis expressões de Colby, louco para escutá-lo. Eric sentia que trazia muito no peito para desabafar, para conversar, e queria pedir a opinião de Colby sobre sua situação com Kylie. Quando o movimento diminuiu um pouco, Rodriquez teve como puxar o banco para conversar com o amigo. Ele se interessou pelas sessões de cinema e se convidou para a próxima. Eric disse que seria muito bem acolhido pelo grupo. Seguiram conversando até a lanchonete parecer tão vazia quanto nas madrugadas, seu horário preferido. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- ... Mas não sei se seria uma boa ideia, até porque agiria movido por emoções, e não pela razão.<br />- O que o atormenta?Se me permite a honestidade, senhor Dudley...<br />- Sim, claro. - Eric o deixou à vontade. Precisava de sinceridade e as observações de Colby seriam de muita valia. - Apenas converse comigo, livremente.<br />- Bem, acontece que, inicialmente, acreditei que você estivesse atormentado pela possibilidade de vir esquecendo a sua esposa Allie, "<i>rápido demais</i>". Até aí, nenhuma novidade. Cônjuges sobreviventes passam pelo luto e a superação da culpa é apenas uma parte da jornada. Hoje, todavia, e em face de tudo o que me conta sobre sua amiga Kylie, eu me arriscaria a opinar que seus sentimentos pela moça advém de uma época anterior ao câncer. - Eric impressionou-se e Colby soube que desvendara o mistério inconfessável, mesmo que todos os elementos da equação, somados, apontassem para uma conclusão perfeitamente clara. - Agora, é bastante possível que o tenha negligenciado, o sentimento, o "<i>friozinho</i>" quando Kylie se encontra por perto, mas se for sincero, entenderá que sua dor sempre esteve aqui. Você fala sobre momentos e detalhes com uma precisão tão cirúrgica que fica óbvio que a reparava antes mesmo do problema com a sua mulher. - Com um sorriso compassivo, Colby bateu o punho contra o peito, na altura do coração. - E não há nada de mal nisso, senhor Dudley. Isso não o torna um mau marido ou um pai irresponsável. Somos seres humanos, animais passionais, e estamos aqui para "<i>sentir</i>". Imagine quantas coisas conquistamos ao longo da vida, e pense no instante de nossa morte. Somos donos de uma coisa somente, e refiro-me a nossas emoções. Somos depositários do restante. - Colby seguia enumerando com os dedos. - Casas, carros, contas bancárias, bens, tudo emprestado. As nossas emoções, porém, elas nos seguem mesmo depois que vamos embora. Você não pode... - Colby temeu soar muito direto, mas sentia que devia ao amigo o benefício da assertividade de um observador imparcial. - Você não pode negligenciar as emoções. Se você gosta dessa moça, a Kylie, precisa parar de fugir do que sente. Porque mesmo que Kylie diga que não sente o mesmo, estará se libertando para amar uma outra pessoa, uma outra mulher, que mereça emoções tão nobres e engrandecedoras quanto a sua. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Tão engrandecedoras que... - Seus olhos fecharam-se pela dor, ou "<i>friozinho</i>", que Colby descrevera tão perfeitamente. Mesmo falar sobre isso era angustiante. - ... que mal consigo comportá-las. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Você vai ficar bem, coroa. - Consolou-o. - Permita-se <i>sentir</i>, porque quando parar de lutar contra as emoções, enxergará melhor. Você não tem como perder!</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Obrigado, garoto. Eu aprendo sempre um pouco mais contigo! - Eric ergueu a xícara, como brinde, e brincou. - E você está cursando Direito</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> em vez de Psicologia?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Pois não é</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Colby deu com os ombros. - Em vez</span> de estar ganhando rios de dinheiro, estou perdendo meu tempo dando conselhos gratuitos a perdedores como você, senhor Dudley... - Os dois deram sonoras gargalhadas. </span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric encontrava-se na highway voltando para <i>downtown Toronto</i>, quando o celular chamou. Hammond contou que estivera mais cedo na sua casa, mas não o encontrara. Ele disse que deixou o convite para a estreia do "<i>Not Easily Broken</i>", o novo programa que ocuparia o horário nobre da Fox TV nas segundas-feiras. O lançamento seria ao vivo e a presença de Eric era esperada pelo time artístico que tornara o projeto uma realidade. O viúvo agradeceu pelo convite, porém tentou se esquivar. O projeto fora levado à frente pelo mérito da equipe de Hermione, Alexandra e Hammond, exclusivamente, afinal ele estivera distanciado por causa da mulher, não queria tirar o holofote do trio de amigos neste momento de glória. Eric escutou então a voz das meninas ao fundo, em protesto. </span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Tá ouvindo, Eric</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Hammond reiterou, levantando o celular acima dos ombros e o voltando para trás. - Você faz parte deste time!A sua presença é obrigatória. Nós te queremos conosco!<i>Toronto Congress Centre</i>, amanhã às 18:00, para as filmagens e a coletiva de imprensa.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Muito bem. Avise-as que eu os encontrarei por lá. - Eric ficou tocado com a insistência dos amigos. - Foi um ótimo sábado. No próximo tem mais, combinado</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Contanto que não seja <i>Bergman</i>! - Hammond gozou. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não. - E Eric entrou na onda. - <i>Tarkosvki</i>!</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Oh, droga, "<i>Solaris</i>" de novo</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? Uma tarde chuvosa de sábado regada à filosofia soviética</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span>Se fode aí! - Eric estourou em risadas e desligou o telefone antes de perder o controle da direção! </span></span></span></span></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric passou a noite de domingo para segunda-feira às claras. Na rádio, a voz de <i>Kenneth B. Edmonds</i> entoava "<i>Where Will You Go</i>". Procurava imaginar como seria o momento da conversa com Kylie, a maneira como passaria a limpo os lindos sentimentos que lhe reservara. Decidiu sentar-se ao computador para escrever uma carta, que de certa forma representaria o primeiro verdadeiro passo para um amanhã ensolarado Ninguém antes parecera fazer mais perfeito sentido do que Colby, que estava absolutamente correto ao afirmar que o resultado de sua declaração - Kylie terminando ou não ao seu lado ao fim - era o elemento menos importante da história inteira. A partir de sua escolha de pôr termo às indefinições, saberia para que direção levar a vida. Se ela aceitasse o seu pedido de namoro, Eric estava convicto de que faria seu melhor. Se não, saberia que Kylie não o enxergava da mesma maneira, e eventualmente encontraria alguém que o amasse da maneira que precisava. Tomou conta de que o esforço consumira toda a madrugada quando o céu escurou começou a se diluir em um azul profuso. Imprimiu a carta para lê-la, o que o fez da sacada, com o amanhecer ao fundo. Achou um pouco de graça, pois mesmo na sua idade existia uma invejável e doce ingenuidade na forma de se expressar. Escrevera coisas bonitas, coisas que julgava não ter o talento para expressar ou a pureza para ainda acreditar. </span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric alugou um smoking para a festa e encontrou Hammond para almoço, ocasião em que o amigo lhe entregou a programação para a noite. Eric não tinha de se preocupar em responder perguntas pois os outros fariam o trabalho, mas precisava compor a bancada na coletiva de imprensa. Haveria produtores e executivos da Fox TV. Depois do programa, que seria feito ao vivo, a turma se encontraria no restaurante do centro de convenções para uma festa de gala. Eric estava impressionado com a envergadura da noite de gala. </span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Mas sobre... Afinal, o que é o programa, do que se trata</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- "<i>Not Easily Broken</i>". - Hammond puxou o folder do paletó e o entregou a Eric. Na primeira página, o design criativo de um coração partido e o nome da atração acima sugeriam a temática. - Referindo-se ao coração, entende</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?Decepções amorosas, declarações de amor... É esse tipo de programa. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Está me assustando. - Eric brincou. - Levando em consideração os últimos dias, vou começar a pensar que o convidado da atração será a minha pessoa!</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- A ideia é criar uma super produção para que um homem possa se declarar para a sua outra... Como é mesmo o termo que usam</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Hammond riu com o deboche de quem não acreditava em coisas do tipo e completou, ao se lembrar. - Ah, sim, "<i>metade significante</i>". Submetemos a pessoa a todo um processo de produção, melhoramos a sua aparência, restauramos a auto confiança, ensaiamos coreografias, forjamos uma mentirinha para levar a "<i>metade</i> <i>significante</i>" ao programa, e então a grande surpresa: a declaração de amor.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- É impressão minha ou a maioria destes casos acabará com corações arruinados por "<i>foras</i>" monumentais em rede nacional</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ei, eu concordo co<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">ntigo</span>. Não acredito nisso, Eric, mas eu sou um executivo e vendo o produto. Se bobalhões que não compreendem o mundo e vivem na "<i>friendzone</i>" querem passar atestado de otário, o problema é deles. </span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Quando foram juntos pegar os carros no estacionamento-garagem, Eric procurou fazer parecer casual ao perguntar para Hammond se Kylie apareceria na festa. Hammond respondeu que sim e o aconselhou a apanhar um táxi com uma hora de antecedência no mínimo. "<i>Nós nos vemos no foyer, no coquetel que antecederá a coletiva</i>", Hammond determinou. Eric não apareceu na <i>La Fabrique</i> à tarde. Ele foi direto para casa, esperar o horário da festa. Com a antecedência recomendada, tomou banho, vestiu o smoking e ligou para o serviço de táxi. Novamente, a senhora que cuidava da administração do lar confessou que o sentia "<i>diferente</i>". </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ansioso. - Eric nominou melhor, com um sorriso apreensivo. Esfregou as palmas das mãos e refez a mesma pergunta usada para se esquivar. - Você ficará bem com o Charly, não é</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Vai dar tudo certo! - A senhora Medina assegurou, passando a mão sobre a sua cabeça, como uma mãe faria ao filho antes de uma importante partida de futebol. - Vá, e não se preocupe conosco!</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Como estou</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Indagou, lançando o olhar para o topo da escada, onde Charly brincava com o videogame portátil. O garotinho deixou o game de lado e acenou com os dois polegares. - Agora sim, eu estou confiante!</span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">A visão do <i>Grand Ballroom</i> enchia os olhos pela pujança, e Eric se sentiu intimidado ao contemplar, do mezanino, a sua abertura. Ali havia lugar para mais de três mil pessoas, e o trio prodígio da <i>La Fabrique</i> mereceria todas as atenções em cima do palco. As filmagens do primeiro episódio do "<i>Not Easily Broken</i>" se dariam no grandioso salão de festas, cuidadosamente preparado com câmeras sobre trilhos, montadas para recontar a história de amor a ser abordada naquela noite. Aconteceu como um sonho, e a estreia foi extraordinária; entretanto Eric tinha outras preocupações. A todo instante, fantasiava vários cenários para a conversa com Kylie. Quando o programa já chegara a meio caminho, platéia, coreografias e explosões de cores a todo vapor no Salão Principal, ele se afastou e seguiu caminhando pelos corredores do elegante centro de convenções até se ver diante do salão do bar. Empurrou a porta de vai-e-vem e foi acolhido pelas reconfortantes sombras aprofundadas. Havia monitores pelo corredor, e agora Eric via que também existiam pelo bar, para que a equipe técnica não perdesse o controle da atração. Ainda assim, não havia pessoal de produção por ali. De olhos arregalados, Eric tateou a parede até encontrar o interruptor. Quarenta bancos de almofadas vermelhas, em formato de ferradura - um dia possivelmente bastante concorridos vez que de frente ao bar - agora encontravam-se vazios e poeirentos. A comoção distante que vinha do <i>Ballroom</i> ressoava amortecida por causa do carpete das paredes. Eric se agachou para examinar melhor o monitor, quando a sombra de Kylie foi projetada sobre o piso laminado de madeira. </span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Oh, Kylie... - Eric se levantou reflexivamente, como alguém apanhado em indiscrições. Ele bateu as palmas empoeiradas das mãos e as enfiou no bolso do paletó, tocando a carta dobrada. Naquele instante, não soube se iria adiante com o plano. - Você está linda!Estive procurando por...</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eu sei, eu o segui até aqui. - Cortou-o de modo doce e aparentemente casual. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Espere um pouco. - Eric a segurou pelos braços e a afastou um pouco para observá-la melhor. - Deixe-me vê-la melhor. - Sobre Kylie, deitava-se o verde e o vermelho neon vindos das placas led de alto brilho, o letreiro luminoso do bar, com as palavras "<i>Aberto, Café</i>" e o desenho de uma xícara de café com o vapor a ascender pelas bordas. Ela parecia saída de sua imaginação, ou melhor, da maneira que um dia a imaginara, ao alto das escadas da <i>La Fabrique</i>. Vestia o retrô preto longilíneo, estilístico e elegante com que <i>Audrey Hepburn</i> aparecia na primeira cena de<i> Bonequinha de Luxo</i>, na <i>Fifth Avenue</i>, a cintura valorizada pela exibição dos quadris, a diferença apenas na saia, um pouquinho mais aberta que a do filme. As luvas brancas eram de seda e subiam até a pouco acima dos cotovelos. Kylie Grattan era uma femme-fatale saída de um filme de suspense ambientado nos anos 40, alguns anos após o término da Segunda Grande Guerra, um <i>revival </i>do <i>New Look</i> de <i>Dior</i>, de 1947. - É a maneira pela qual quero me lembrar para sempre de você. - Eric explicou, e os olhos de Kylie ficaram mais tristes. - Você disse que me seguiu até ao bar</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eric, você está falando comigo, lembra-se</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span>Não consegue esconder nada de mim, ao menos não por tanto tempo. Eu imaginei que quisesse me contar algo, no mínimo desde o fim de semana na sua casa. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Você jamais foi o problema. Eu sempre confiei em você, Kylie, e sempre me senti à vontade para ser quem eu realmente sou quando estou contigo. O problema era comigo, com uma falsa culpa, talvez.</span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Repentinamente, explosões de fogos no <i>Ballroom</i>. Kylie e Eric assistiram pelo monitor `a chegada do momento da declaração. O lugar parecia um inebriante baile de excessos e ostentações, homem e mulher no centro do <i>Ballroom</i> enquanto as centenas que participavam do episódio assistiam ao desenrolar e torciam pelo melhor. A produção fizera uma maravilhosa escolha para a trilha. </span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- <i>Morricone</i>, <i>Love affair</i>. - Kylie reconheceu a faixa de imediato. Os seus olhos deixaram preguiçosamente o monitor e retornaram aos de Dudley. - <i>Finding Each Other Again.</i> Escolheram muito bem, eu diria.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Quando falei de culpa, referi-me à Allie. E tinha um pouco de medo da rejeição. Foi apenas depois de conversar com meu amigo que comecei a enxergar a questão sob um novo prisma. Ele falou sobre como somos essencialmente emoções. A maioria das coisas pelas quais nos jogamos na linha de fogo não permanece em nossas mãos, uma vez que vamos embora, mas as emoções, elas são as nossas verdadeiras impressões digitais. E quando você está por perto, ou mesmo longe, a sua lembrança traz essa eletricidade, definitivamente uma forte emoção. - Eric mordeu os lábios, surpreso e concentrado. Não esperava que soaria tão espontâneo e confiante. Kylie segurou suas mãos. Mais aplausos reverberando pelas paredes do bar: pelo monitor, viram que a moça dissera "<i>Sim</i>" ao pedido de namoro, e agora os dois se beijavam sob a tempestade que jorrava dos lança confetes chuva de prata. Era uma linda cena, e a música de <i>Morricone</i> alavancava o momento a um escopo épico. Simultaneamente, ali estavam Kylie e Eric, vivendo uma experiência similar, ao sabor da mesma <i>Love Affair</i>, mas distantes de câmeras e de olhares. - Quando eu a vi abraçada a Charly na cama, e na tarde do dia seguinte precisou partir, a distância me disse claramente... Que eu te amo.- Uma das mãos de Kylie deslizou para trás da nuca de Eric, e com os dedos da outra, levantou-lhe o rosto pelo queixo, forçando-o a encará-la enquanto falava.- E sabe, era tolice temer tanto a resposta, se a resposta seria "<i>sim</i>" ou "<i>não</i>", pois seja lá qual for, trata-se de um sentimento espetacular, e mesmo que não funcione entre a gente e exista um outro cara a quem ame, ficarei feliz por ter me livrado do segredo, e por saber que você se sentirá bem!E eu só quero que fique bem, realmente. Preparei...Uma... - Eric tateou o paletó até puxar do bolso a carta dobrada. - ...É uma carta. Sinto que me expressei melhor através da escrita. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eu me preocupo tanto contigo, Eric. - Trouxe-o para si, para seu ombro. - Você me mata de preocupações. - Os dois ficaram abraçados e Kylie parecia não querer largá-lo. - Eu leio seus pensamentos. Eu sabia que se apaixonara por mim desde antes de Allie morrer. Eu ficava arrasada, pois enxergava muito claramente o que a doença da Allie e sua autocensura estavam fazendo contigo. Eu realmente queria ajudá-la, mas era um passo que precisava dar sozinho, querido. Eric, preste atenção... - Kylie hesitou. Via-se que o que estava para dizer lhe traria enorme dor. - Eu e Cary estamos juntos. </span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Agora, as pistas se somavam de forma a oferecer um todo coerente. Cary meio que se "<i>ausentara</i>" do círculo de amizades pois sabia que eventualmente Kylie contaria a Eric que tinham começado a namorar. Depois de tanto temer a rejeição, Eric se surpreendeu com o quão positivamente lidou com a resposta. O que sentia por Kylie era tão genuíno, diferenciado, um sentimento verdadeiramente raro e nobre, que mesmo diante do "<i>não</i>", sentia-se muito feliz por Kylie ter encontrado alguém. Reconheceu com humildade que o fato de ambos serem igualmente jovens tornava os seus mundos, o de Cary & Kylie, mais próximos e semelhantes. </span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Fico feliz. Você merece. - Eric a parabenizou. Foi tomado por angústia quando Kylie começou a chorar no seu peito. - Oh, não, não faça isso, Kylie! - Ele a trouxe para si. Alisando seus cabelos, procurou consolá-la. - Eu não queria deixá-la confusa com toda essa história.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não quero magoá-lo. - A voz carregava uma urgência de partir o coração. Era Kylie quem temia perdê-lo. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Você não me magoou. - Segurou-a pelo rostinho e insistiu, com um sorriso compreensivo e aliviado. - Você é excelente e eu te amo!Acho fantástico que esteja com Cary pois o que me importa é saber que ficará bem. Não me magoou, fique convicta disso! </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Odeio a ideia de perder o que temos aqui! - Ela mostrou os dedos cruzados. - Somos unha e carne, e eu não conseguiria sobreviver sem a sua amizade, Eric, realmente...</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- <i>Shhhhh</i>, você tem a mim, sua boba, você tem a mim! - E igualmente comovido, brincou para amenizar a situação. - Quem levou o fora fui eu, e não você! - Conseguiu minimizar o suspense da conversa, e Kylie, rir e apartar-se momentaneamente das lágrimas. - Vai ficar tudo bem, sua boba. Eu te amo. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eu te amo também. Você deve me prometer... Você deve me prometer que jamais se distanciará!</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Sim, eu prometo. Você vai se sentir melhor, fique comigo aqui um tempo...</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Uma última coisa. - Eric lhe dirigiu um olhar questionador e Kylie fez o pedido. - Eu quero que me entregue a carta.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Oh, Kylie, mas talvez não seja uma boa ideia. Você tem um companheiro agora e...</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Entregue-me a carta. Preciso lê-la, quero tê-la.- Kylie tomou delicada e decididamente o envelope das mãos de Eric. Ela o deslizou para dentro da luva de seda branca. - Eu preciso tê-la, para relê-la, para me lembrar do que sentiu por mim em uma dada altura de nossas vidas. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Tudo bem. Você se sente melhor</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Não veio a resposta. Agora, Kylie voltava a chorar. Eric estudou o ambiente, seus olhos mais acomodados ao breu. Tinha a sensação incomum, até mágica, de que subitamente o lugar ganharia luz e vida, e por todos os lados irromperia um baile de máscaras saído diretamente dos anos 40. - Vamos, Kylie. Fique comigo, vai passar, vai passar...</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">No <i>Ballroom</i>, a parafernália de efeitos visuais laureava o "<i>Sim</i>" tão batalhado pelo herói da vez. A noite havia sido um sucesso para o casal da história... E também para um outro, aquele que se resolvera afastado das câmeras, cercado exclusivamente pelo silêncio e os arcos de penumbra do elegante, atemporal bar de hotel. <i>Sucesso</i>, pois agora Eric tinha a resposta e podia se sentir mais aliviado por ter escolhido o caminho mais correto, por mais difícil que tivesse parecido vocalizar as emoções, a única parte de si que o acompanharia mesmo depois da morte, consoante Colby brilhantemente colocara. A orquestra chegava às notas finais da obra prima do genial <i>Morricone</i> e o compasso do coração de Kylie retomava a batida usual. "<i>Vai passar</i>", Eric insistia. Enquanto que para a multidão no <i>Ballroom</i> a chuva de papéis picados prateados não parava de polvilhá-los, a que descia sobre Kylie e Eric era verdadeiramente invejável, uma formada por verdadeiras estrelas, a penetrar pelas gigantescas <i>Bay Windows</i> de madeira. </span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Uma semana se passou. Eric preferiu se ausentar por um tempo do trabalho. Para não levantar suspeitas, fingiu um problema desimportante de saúde. Com isso, pôde guardar distância da <i>La Fabrique</i> e não cruzar acidentalmente com Kylie. Quando disse que a amaria para sempre, fora honesto. Em um primeiro momento, no entanto, parecia prudente permanecer sozinho para investigar melhor os sentimentos, principalmente depois de uma experiência tão importante. Quando Eric apareceu na <i>211 Bel Air Café</i>, o seu bom humor era tamanho que Colby pensou que Kylie e o amigo tivessem terminado juntos. Eric explicou que muito embora o final feliz pretendido tivesse sido reservado somente ao casal do "<i>Not Easily Broken</i>", sentia-se mais leve. Torcia pelo sucesso de Kylie e sabia que ao lado de Cary St. Pierre ela receberia todos os cuidados e atenções. Quando Hammond ligou para o viúvo na sexta-feira, para perguntar se se sentia melhor, Eric acabou contando o que ocorrera no início da semana. O amigo o convidou para drinques, mas Eric fez melhor. Resolveu levá-lo para provar o café da <i>211 Bel Air</i>. </span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eu lamento, Eric. - Hammond acabara de ouvir a tudo. Coçou a têmpora, cismado, ponderando um prognóstico. Filou um cigarro do maço. Naquela noite, o cliente mais assíduo da <i>211 Bel Air Café</i> tinha companhia: calouros da universidade "<i>esquentavam</i>" para a noite de amadores e, barulhentos, faziam a festa nas últimas mesas, mais próximas à máquina de jukebox. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não lamente, eu me sinto bem! - Frisou, apertando-lhe a mão com camaradagem. - E não apareci ainda apenas para dar um tempo. Seria um pouco constrangedor...</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- A Kylie surgiu ontem te procurando. Falou pouco e quando eu disse que você não se encontrava, não se demorou. Conversamos sobre alguma coisa referente ao "<i>Not Easily Broken</i>" e ela logo se escusou.- Hammond deu uma tragada e mexeu com sofreguidão a xícara de chocolate quente. Depois de considerar um pouco mais, aconselhou, de pronto. - Não fuja mais. Acho que cometeu um grande erro ao não aparecer no trabalho, pois sinalizou fraqueza emocional. Precisa delimitar seu território. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Como assim, "<i>erro</i>"</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> ?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ao faltar pelo restante da semana, você sinalizou a Kylie que ela guarda enorme poder sobre seu emocional. Quando Kylie ressurgir, trate-a muito bem, tenha uma postura bem-humorada e atenciosa, mas a saque de vez da mente, porque ficou bem claro que essa história de amor que alimenta na cabeça não vai acontecer!Chega de prestar favores gratuitos ou atender a todas as ligações que ela fizer. Você precisa se proteger, assegurar-se de que ela não está te usando como muleta afetiva!</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ela não é o tipo de pessoa que... - Eric tentou defendê-la, mas Hammond prontamente o atropelou.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Isso não a torna uma pessoa má. Mesmo inconscientemente, Kylie está te usando, sim, para se validar. Não acho que faça por mal, mas se serve de sua presença em um contexto utilitário, pedindo conselhos, servindo-se de seu ombro amigo para desabafar. Você é um homem muito bom, e "<i>homens muito bons</i>" tendem a convenientemente preencher o vazio existencial de mulheres "<i>independentes</i>". Quer a minha previsão</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?Kylie vai ficar com o Cary e assim que ele a tratar mal e precisar de alguém que repare a auto estima, procurará por ti. Ela te enfiou no inferno da "<i>friendzone</i>". </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Mas... Afinal de contas, o que é a "<i>friendzone</i>"</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Eric indagou, sem cuidar de que falava em um tom um pouquinho mais elevado. Os calouros pareceram ouvi-lo, pois do outro lado do bar atiraram-lhe a resposta em todo seu doloroso realismo.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- "<i>Friendzone</i>" é quando um homem e uma mulher se tornam amigos muito próximos e então o homem se apaixona!</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- É isso. - Hammond grunhiu, sinalizando os calouros com o polegar por sobre os ombros. - Eles sabem pois já devem ter passado pela experiência. - Hammond exibiu a xícara para Colby, expressando desejar mais. - Eu não nasci sabendo de tudo, Eric. Assim como você, tive as minhas experiências, e pus em prática o que aprendi. Eu faço votos de que aprenda com a sua. Colby estava certo quando o aconselhou a se abrir. - O garoto encheu a xícara nos canos cromados da máquina, despejando o chocolate quente e complementando a metade da xícara com o leite. - Você precisava conversar com a Kylie para se ver livre da prisão emocional. Agora, escute ao que eu tenho a dizer: não siga analisando minuciosamente o que se deu. Desanuvie a cabeça, pare de enxergá-la sob um prisma fantástico e como uma criatura perfeita e angelical. Dedique-se a si e a Charly. Houve o tempo em que passei por essa maré de azar até descobrir que havia algo errado com a maneira com a qual vinha encarando o mundo. Pare e raciocine, e compreenderá que mulheres não colocam os "<i>alfas</i>" na <i>friendzone</i>. Artistas famosos, gângsteres, empresários poderosos, você não vê mulheres colocando caras do tipo na "<i>zona da amizade"</i>. Elas fazem isso com vulneráveis ou sujeitos reféns dos próprios valores. Para os destacados, jogam-se aos pés. São boazinhas e ingênuas para os destacados, mas jamais para os corretos. Tome cuidado com as aparências, Eric. Kylie é uma mulher independente, rica, aventureira e manipuladora. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Mas Senhor Hammond, você não acha que tamanha generalização leva a equívocos? - Colby sugeriu. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Olhe, Colby, depois de tudo pelo que passei, posso afirmar que meu tom duro apenas reflete a realidade crua, não há nada de subjetivo em meu discurso. - Hammond apoiou-se com a ponta do sapato no balcão para girar o banco alto e se pôr de frente para os calouros. - Pensem comigo: Eric está aos pés dessa bela mulher, a ponto de não distinguir "<i>direita</i>" de "<i>direto</i>". A moça vai telefonar para Eric queixando-se do canalha com quem saiu, Eric fará a coisa nobre e decente, aconselhá-la, massagear o ego com lindas palavras. A pergunta é: Eric vai transar com a Kylie? - Todos riram, mas a pergunta fora colocada seriamente. - Levantem as mãos, aqueles que acham que Eric vai transar com a Kylie. - Silêncio. Ninguém levantou a mão. - Eric <i>não </i>vai transar com a Kylie. Sabem o cara que ela chamou de canalha ao telefone?Eu garanto a vocês, esse cara vai comer a Kylie novamente.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eu entreguei uma carta a Kylie e acho que consegui me explicar melhor. - Assim que Eric falou, Hammond levou as mãos `a testa, em desconsolo. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não devia ter feito isso. - Sentenciou, em um sopro desapontado.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eu não queria dar, mas ela insistiu tanto que eu...</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Cometeu um erro.</span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eles permaneceram na <i>211 Bel Air Café</i> pela madrugada inteira, conversando e trocando ideias. Hammond revisitou um pouco o seu "<i>background</i>" e a partir do momento em que Colby e Eric conheceram o seu passado, pareceu mais claro de onde vinha a sua postura. Hammond conhecia "<i>friendzone</i>", estivera trancafiado naquele inferno por muitos anos e, conforme as palavras usadas pelo próprio, perdera um valioso tempo com coisas das quais hoje fugiria `a mera desconfiança. Tinha sido a partir do momento em que se pusera em primeiro lugar que a vida sofrera uma impressionante guinada. Hoje, Hammond não apreciava ficar com a mesma mulher por mais que um semestre. Ele era machista e centrado no próprio desenvolvimento e sucesso, mas se conduzia conforme um nobre código de ética. Recompensava uma mulher quando se portava como dama honrada; era gélido e indiferente com as espertinhas, e invariavelmente as largava assim que a menor sombra de joguinhos psicológicos deitava-se sobre o seu pescoço, como a perspectiva da guilhotina, armadilha em que caíra no passado as vezes necessárias até aprender. </span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Hammond e Eric caminhavam juntos pelo estacionamento. O frio era rigorosíssimo e a noite já começava a se rasgar como fina seda tensionada, revelando o amarelado de uma nova manhã. Eric se voltou para acenar para Colby. O garoto devolveu o aceno e retornou para a cozinha, onde existia uma pilha de xícaras e pratos sujos que deixara amontoar para apreciar a boa conversa com os amigos mais velhos. Correndo pela highway, conseguiam ver muito claramente a <i>CN Tower</i>. Hammond sugeriu que subissem ao topo. Eric gostou da inesperada sugestão, e os dois amigos foram parar no ponto turístico mais famoso de Toronto, sobre a cobertura a quase quinhentos metros de altura de onde se podia enxergar a panorâmica da cidade inteira. Aconchegante em seu silêncio, era como se dali de cima seus problemas parecessem insignificantes. Tinham feito bem em realizar a visita cedo, não havia mais ninguém. </span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Então... - Eric introduziu a questão. - Você acha que eu cometi um erro.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Sim. - Respondeu, convicto, os olhos sequestrados pelo magnetismo urbanístico do centro financeiro de Toronto, ainda adormecido. - Dependendo do que escreveu, e eu acredito que deva ter jogado todos os seus sentimentos confusos no papel, pode ter dado a Kylie munição para que ela possa te castigar sempre que quiser. Você revelou o seu coração, Eric, e não se faz isso `a mulher alguma, a não ser à mãe.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eu não vejo como uma carta possa voltar para me assombrar, de verdade. - Disse, ansioso para que Hammond revelasse os detalhes que tinham escapado a sua despreparada percepção da realidade. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Kylie sabe que a ama e sempre que tentar se distanciar, quando ela ler a carta, sentirá saudades do seu apego, e irá te procurar. Venha, vamos sentar... - Hammond o convidou a esticar as pernas na passagem que dava para o terraço. - Não se preocupe. Apenas me prometa que procederá com maior cautela. Ponha-se em primeiro plano, com Charly. A sua fé inabalável e o amor que vocês têm um pelo outro são a única verdadeira força que os sustenta, Eric, e por isso deve sempre manter a guarda. Promete-me</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Sim, prometo. - Apertou o braço de Hammond, e com a voz emocionada o agradeceu. - Obrigado por tudo. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Quero que fique claro: penso que foi bonito que tenha passado a limpo os seus sentimentos pela Kylie. Não é feio sentir carinho por alguém. - Levou a mão aos ombros de Eric. - Apenas achei uma tolice entregar a carta. Também preocupo-me com o que fará a partir de agora, mas já sabe como proceder. <i>Desapego</i>, para tocar a vida para frente. "<i>Bomba ninja</i>" na Kylie, desapareça por uns tempos. Quando reencontrá-la, quero que a trate normalmente. Gentil, atencioso e elegante. Não se encante com palavras bonitas. Seja econômico com seu tempo. Depois da troca de cordialidades, continue caminhando, por mais que se sinta devastado ao deixá-la para trás. No começo, será difícil, porém eventualmente se habituará. A verdadeira felicidade encontra-se dentro de ti. Uma mulher legal agregará `a sua felicidade, representará algo que te deixará ainda mais satisfeito, porém o cerne encontra-se dentro de ti. Procure a felicidade no seu centro.</span><br />
<br />
</span><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div><span style="font-family: helvetica;">
E então, após as palavras de sabedoria de Hammond, Eric Dudley retomou o rumo de volta à vida e fez aquilo que parecia a parte mais difícil: seguir em frente sem pensar muito na Kylie. Nos dias seguintes, fracassou terrivelmente e não conseguiu se concentrar em objetivo algum; entretanto, quando a semana aproximava-se do fim, sentia-se definitivamente mais bem-humorado. Estava faltando as tardes para passar mais tempo com Charly. Ele gostava de ficar ouvindo o menino falar sobre os filmes cujos pôsteres decoravam as paredes de seu quarto. Eram cartazes de filmes de suspense. Eric achava o gosto do filho diferenciado. Mesmo tão novo, Charly explicitava evidente melancolia, quase como um principezinho trágico e sem reino, e Eric começava a compreender o enorme apelo de Kylie sobre sua mente sugestionada. Além do fato de ser a sua melhor amiga, quando ele via o filho tão feliz nos braços dela, não tinha como deixar de imaginar os três como uma família comum e realizada. Um fim de tarde, descia as escadas do escritório para a sala do time criativo, quando deu com Kylie. Determinado, comportou-se conforme as orientações sugeridas por Hammond. Foi espirituoso, atencioso e gentil; porém, após as felicitações, afirmou que tinha pressa para apanhar Charly na escola. Kylie esforçou-se para sorrir, contudo fracassou, o desapontamento maior que o seu rostinho lindo (sobre o qual a mecha sempre parecia cair, o detalhe que Eric tanto apreciava) conseguia esconder. Ele tirava as luvas para pô-las nos bolsos. Esfregando as palmas para se esquentar, procurava pelas chaves, quando Kylie veio para tirar satisfações.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div><span style="font-family: helvetica;">
- Charly não está na escola e você sabe disso. - Disse, em um tom sufocado. Eric se virou assustado. Ela estava com os olhos semicerrados, o que denunciava frustração e raiva contida. - Eu sei, pois te procurei primeiro em casa. Por que mentiu para mim<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Oh, eu sinto muito, querida. - Eric tentou a reaproximação, mas a sombra perigosa de eletricidade não deixou o olhar de Kylie. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Agora vamos jogar esse jogo</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?O que foi que me disse, quando conversamos</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu...- Eric não sabia a que parte Kylie se referia. Ela se impacientou.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Você disse que jamais iríamos nos perder, um ao outro. Uma mentira</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Kylie estava chorando e Eric ficou preocupado. Tentou consolá-la, contudo dessa vez recebeu um gesto agressivo de repúdio. - E as coisas lindas que me escreveu</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?Passei a semana lendo e relendo sua maldita carta, procurando entender por que se afastou de mim!Como alguém que escreve coisas tão bonitas dá as costas tão facilmente</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?Como alguém que escreve que "<i>gostaria de dormir nos seus braços todas as noites, e de esquentar os meus pés nos seus, nas mais frias</i>", e coisas semelhantes simplesmente deixa de me procurar, de me ligar ou de me dar notícias</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?Você escreveu a mesma coisa para outras mulheres</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> ou foi somente comigo que exercitou pretensões literárias? - Girou os olhos, como uma pessoa que acaba de se descobrir como objeto de uma pegadinha. Ela estava furiosa! - Foi apenas para dar gargalhadas depois de me deixar?</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Você me conhece melhor do que ninguém e antes de eu ter aberto o jogo contigo, pressentia o meu carinho. Eu te amava. Eu ainda amo. Depois que conversamos, e me contou sobre Cary, eu precisei dar espaço para nós dois... Para compreender... - Eric falava a verdade. O fato de realmente amá-la, porém, tornava a experiência apenas mais dolorosa e desgastante. - Venha, entre comigo, vamos sair daqui. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Kylie perdeu-se em um profundo pranto do qual Eric não conseguia demovê-la. Preocupado, voltou direto para casa, onde poderia cuidar melhor da amiga. Charly testemunhou o pai entrando apressadamente pela porta da sala de jantar, com a mala sob um dos braços, e Kylie apoiada no outro ombro. "<i>Abra espaço, filho, vamos</i>", ordenou, deixando a mala cair sobre a mesa, para que pudesse segurá-la com os dois braços. Com a ajuda da empregada, carregou-a até a suíte, acomodando-a sobre a cama e fechando a porta após a passagem. Ele cerrou as cortinas. Charly estava sentado na escada, os braços fechados em torno dos joelhos, com cara de choro. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Filho, vá para seu quarto e fique por lá. Depois papai te chama. - Deu a mão para que o menino se levantasse do degrau e o entregou nas mãos da senhora Medina. - Por favor, preciso que fique com o garoto. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Senhor Dudley, não seria melhor levá-la a um hospital</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - A senhora Medina perguntou, as mãos bem apertadas em improvisada oração, a voz trêmula de susto. </span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Kylie teve uma péssima semana e o que aconteceu foi a somatização de uma porção de coisinhas acumuladas. - Explicou, lançando um olhar intrigado para o quarto. - Creio que eu consigo dar conta do recado. Mantenha Charly ocupado, certo</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Encontrou Kylie de bruços, o rosto enfiado no travesseiro, debulhando-se em lágrimas. Eric reafirmou aquilo que Kylie devia saber - e o que Hammond suplicara para que não vocalizasse: que seu sentimento não se atrelava a condições, e que somente se afastara para que pudesse reavaliar melhor a direção para onde conduziria a vida, agora que a mulher a quem amava comprometera-se com outro homem. Eric deitou-se ao lado e a abraçou por trás. Queria comparecer, mostrar que se encontravam na mesma barca. Pediu desculpas por tê-la magoado com o distanciamento e confessou que pela última semana também se sentira em suspensão, que o que perdera com o afastamento tinha sido horroroso, deixado um vazio irreparável. Enquanto falava, ia afagando seus cabelos, deixando os dedos deslizarem por entre os mesmos, a cada paciente e cuidadosa passagem. Não demorou até o choro reduzir-se a soluços cada vez mais espaçados. Em dado momento, pareceu adormecer. Eric cuidou para se levantar sem movimentos bruscos. Quando foi checar Charly, o menino pegara no sono. No quarto do garoto, a senhora Medina assistia a uma telenovela mexicana com o volume reduzido. Antes que lhe perguntasse sobre Kylie, Eric exibiu um dedo silenciador e a convidou para o corredor. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Consegui tranquilizá-la. - Sussurrou, com os braços cruzados e um olhar clínico. - A senhora pode ir, creio que darei conta. </span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não prefere que eu durma aqui, senhor Dudley</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não. Recomendaria que a senhora descansasse, fez muito por mim hoje! - Deu um abraço inesperado e caloroso na idosa e lhe entregou o dinheiro da diária. - Faça um retorno seguro para casa. Amanhã, coloco-a a par do que vier a acontecer esta noite. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Foi uma noite em que Eric não conseguiu relaxar. Kylie caiu em um sono profundo e Eric viu as horas passar, vagando silenciosamente de um quarto ao outro para checar filho e amiga. Vez ou outra, descia as escadas e ia se distrair, preparando café. Somente quando a madrugada avançara quase completamente, Eric deitou-se ao lado da Kylie e o cansaço encarregou-se do resto, apagando-o de um minuto ao outro. Quando despertou, passava de meio-dia, e o que o fez acordar foi o cheiro forte, familiar e harmonioso de ovos fritos, queijo, presunto, pães frescos e café. Eric suspirou aliviado ao se deparar com a suave e inspiradora imagem de Charly ajudando a tia Kylie a pôr a mesa com a ajuda da senhora Medina. Kylie vestia camisa de botão e bermuda emprestadas de Eric. A turma nem se deu pela presença do viúvo, que ao cansar da invisibilidade, deu duas batidinhas na porta e anunciou:</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- "<i>Toc, toc</i>", olá, alguém precisa de um pai por aqui</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Ajoelhou-se para receber o abraço do filho. Deu um beijo na nuca de Kylie e perguntou, baixinho. - Você acordou melhor</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sim. - Respondeu, em um sopro resignado, com o olhar comprometido de alguém que parecia prometer não voltar mais ao lugar mental sombrio que a colocara no estado do dia anterior. - Preparamos o café da manhã, ou melhor, Charly preparou!</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Olhe, Senhora Medina, você sabe o trabalho que Charly me dá. Agora, o que acha de eu criar essa grandona aqui?! - Gozou, agarrando Kylie por trás e tentando levantá-la. Todos riram. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Eles comeram juntos à mesa, abrindo uma encantadora janela cuja vista permitia que Eric enxergasse uma fatia daquilo que tanto queria: uma vida normal em família. Posteriormente, quando Eric e Kylie tiveram a oportunidade de conversar melhor, Eric disse que não era porque `as vezes estavam afastados que a esquecera. Kylie pareceu mais assegurada. Ao fim do dia, quando lhe deu carona para casa, ela pediu desculpas se o perturbou com o destempero. Kylie morava pelos lados de Bloor-Yorkville, uma das regiões mais caras e exclusivas de Toronto, procurada pela nova geração de jovens profissionalmente bem-sucedidos. Deixou-a no portão, mas Kylie pediu que descesse. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não sei se seria uma boa ideia. - Eric comentou, com certo constrangimento na voz. Temia magoá-la, mas parecia hesitante em aceitar o convite.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu estou com Cary e aprecio a sua companhia, mas sou dona de minha própria vida e ele sabe que para estar comigo, eu escolho meus próprios termos. Quero que entre.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Kylie serviu uma bebida a Eric e os dois foram se sentar na cadeira de balanço do alpendre. No jardim organizado, simétrico e bem-cuidado, flores de cerejeira e lavanda desenhavam colunas coloridas, formando caminhos forrados de pétalas que pareciam confluir em um bosque. Uma visão incomum, sem dúvidas. Em pleno bairro movimentado e badalado, era como se o lugar de Kylie tivesse sido pinçado de uma serra e deixado ali, o melhor dos dois mundos. Kylie colocou os calcanhares sobre o balanço, abraçou os joelhos e encostou a cabeça no ombro de Eric. Passarinhos trinavam ao mergulhar cautelosamente na piscina que era a fonte. Borboletas bailavam em torno das flores, desgovernadas, como pilotos da Primeira Grande Guerra mergulhando sobre Londres destruída, agora flores de um amarelo reforçado e exuberante. Com os olhos cheios de tensão, Eric raciocinava uma maneira de "<i>se safar</i>" do apego, mas de modo a deixá-la bem. Kylie o lia como poucos, e dela Eric pouco conseguia esconder.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu estava bem. Cary e eu vínhamos nos encontrando e nos conhecendo melhor. Até que eu li sua maldita carta. - Ela contou, os olhos perdidos em algum lugar para além da faixa das tulipas. - A maneira como colocou os sentimentos, <i>algo</i>, talvez a doçura nostálgica que pontuei em várias passagens, como quando fala sobre o quanto você gostaria de dormir em meus braços e... - Eric ficou corado. Ela prosseguiu. - Ninguém jamais falou sobre emoções semelhantes, não com essas palavras. Claro, eles queriam me ter em suas camas, mas a todos faltavam a pureza datada e o amor que você conseguiu demonstrar naquele papel. Você jura que se sente assim em relação a mim?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sim. - Deu com os ombros e, resoluto, aprofundou-se. - A pior parte foi aceitar que eu estava me apaixonando pela minha melhor amiga. Eu estava bastante dividido por causa da doença da Allie. Por algum tempo, vivi sob a sombra da culpa, até que depois de uma conversa com um grande amigo, resolvi me permitir voltar à vida. Ele discorria sobre como o que sentimos, as nossas emoções, são realmente tudo o que temos, em oposição a todas essas coisas materiais que estamos enxergando e que no fim de nada valem. Não apenas deixei de reprimir meus sentimentos, durante o processo aprendi que o resultado seria o menos importante, pois não havia como perder. Se ficasse ao meu lado, eu acredito que seríamos muito felizes. Se você dissesse não, também ficaria em paz, porque sei que ficaria melhor com um outro alguém. O importante seria deixar de negligenciar os meus sentimentos e foi o que eu fiz. A carta que leu, as palavras, eu as tirei de lugares dentro de mim que sequer imaginava existirem.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;">- Então por que se afastou de mim<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Acho que para não sofrer, para me desapegar. Eu fiquei feliz por você, e imaginei que seria bastante feliz ao lado do Cary. Pensei que se deixássemos de nos encontrar por um tempo... A mudança faria bem para...</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Mas eu não quero perdê-lo. - Meneou angustiadamente a cabeça, os lábios bem fechados, inconformados com qualquer escolha cujo resultado forçasse o distanciamento. - Nada valeria perdê-lo. Eu sei que deve me achar egoísta, mas há coisas na vida que acontecem, e não há muitas razões. Nós dois... Nós somos uma dessas coisas, que acontecem de tempo em tempo e para as quais não existem explicações. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric esboçou um doce, concordante sorriso. Admirado com a beleza com que Kylie enxergava o incomum relacionamento, trouxe-a para si e a abraçou desinibidamente.O sol estava para concluir o trajeto descendente para trás da linha do horizonte. Por mais prateada que fosse a tonalidade que a noite vindoura prometesse vestir como véu, o frio era estupendo, e somente nos braços de Eric - e de ninguém mais - Kylie encontrava o conforto que o seu ego parecia demandar. A aquela altura, fins de 2004, Kylie começava a perceber que, de uma forma ímpar, Eric se tornara parte de seu sistema. Ele tinha um papel importantíssimo, insubstituível, tocando-a em sentimentos a que os homens com quem se envolvia sexualmente não tinham acesso. De certa forma, Eric era a promessa de redenção, a grande incógnita da vida de Kylie, que sentia que sempre ficaria bem, se ao menos não desistisse de lhe esperar, não deixasse virar cinzas as belas emoções que redigira tão bem na carta.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Tendo os ânimos suavizado, Eric a levou para jantar. Eles conversaram bastante sobre o quanto haviam aprendido na última semana, e concluíram que a experiência os tinha aproximado ainda mais. Kylie explicou o quanto as mentiras, mesmo as menores, podiam ferir, e que ficara bastante magoada por saber que Eric inventara a história de apanhar Charly na escola apenas para não conversar. Eric segurou-lhe as mãos muito suaves e prometeu que jamais partiria seu coração novamente. Ao desfecho da noite, o casal passeava pelas animadas calçadas ladeadas por vias muito largas, acompanhadas no sentido do infinito por postes dos quais emanava a relaxante duma amarelada que compunha uma casta sobrenatural, e cintilantes luzes, muita luzes, como se o Natal tivesse chegado mais cedo. O engarrafamento só conseguia enaltecer a frágil harmonia de um cenário que parecia imaginado para uma história romântica passada às vésperas do Natal. Apesar da grande movimentação de transeuntes e carros, as pessoas pareciam bem-humoradas, e o que existia de cantigas, gritos e rumores, a típica cacofonia de <i>downtown Toronto</i>, soava como boas novas para outros tempos. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">"<i>Você sabe que ela está jogando com os seus sentimentos</i>", Hammond advertiu. Eric estava de costas ao parapeito da NC Tower, e Hammond a sua frente, torturando-o com uma dura expressão de julgamento. Às 22:30, o terraço era bastante disputado. Visto de cima, Toronto assemelhava-se a um circuito de trilhas e luzes, uma fatia do planeta Terra, escrutinada por lentes. Os dois ainda pretendiam visitar a <i>211 Bel Air</i>, hábito que Hammond incorporara a sua semana. O publicitário levou o cigarro à boca e, protegendo-o com as mãos, teve-o aceso por um solícito garçom, de passagem. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Você está se permitindo envolver e, inevitavelmente, perdendo a objetividade. Assuntos do coração... - Nominou, sacudindo a cabeça e dando uma risadinha. - Colocamos a emoção onde faria melhor somente a razão, e tomamos as decisões mais tacanhas possíveis. Você não venceu o apego. Pode ter contrastado o problema, porém falta muito até vencê-lo. Desculpe-me, não quero parecer excessivamente pessimista. - Levou a mão aos ombros de Eric e disse. - Venha, vamos tirar o gosto da bebida virando as xícaras de cafés que somente Colby sabe preparar!</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Na cafeteria, o trio se divertiu ao assistir uma nova reprise do "<i>Not Easily Broken</i>". O programa fazia um sucesso absurdo. Durante a exibição, a rapaziada que estava por ali se achegou ao balcão, para ver melhor as trapalhadas de um trouxa apaixonado. Quando o rapaz havia terminado de se declarar e estava beijando a mão da moça, Hammond xingou a televisão e grunhiu, a que todos quase caíram de rir de seus bancos: "<i>Coloca a boca no lugar certo, seu veado</i>". Foi somente ao fim da noite na <i>211 Bel Air</i>, todavia, quando estavam pegando o carro, que Hammond reservou os conselhos que, dentre os demais, mais viriam a pesar sobre sua cabeça, causar-lhe poderosa impressão. Hammond basicamente falou que entendia de onde vinha a hesitação de Eric. Ele era um bom homem, e aí residia a problemática. O fato de se sensibilizar com os dilemas de Kylie, mesmo depois de ter lhe dito que namorava outra pessoa, a sua comovente determinação a poupá-la, abria toda uma porta para que se impusessem sobre a sua vulnerabilidade as chantagens emocionais, os pedidos comoventes, os olhares carentes, as palavras de lisonja. Hammond confidenciou que mesmo quando lhe dera os conselhos sobre "<i>sumir</i>" por um tempo, sabia que bastaria Kylie reaparecer reclamando sobre o afastamento e o encurralando contra a parede que Eric se sentiria o mais cruel dos homens. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- O que acontece é que pessoas boas sofrem muito nesta vida. - Hammond desabafou, e no timbre da voz Eric pôde reconhecer a amargura de um homem que um dia acreditara ter sido tão bom quanto, mas precisara se transformar em face das decepções que só haviam se amontoado. - Às vezes, "<i>bom</i>" não é o suficiente, Eric.Inicialmente louváveis, não custa a atitudes semelhantes `as suas sinalizarem aos outros que podem chegar e sapatear em cima de seus sentimentos, apenas para saírem impunemente. Você pode ser um bom homem, mas não pode fugir das consequências de um coração desarmado. Lembre-se de minhas palavras, amigo. Seja prudente, adquira um pouco de malícia, não ponha as necessidades dos outros à frente de seu bem-estar. Do jeito que está se conduzindo, apenas comprará um bilhete só de ida para a amargura. Você não merece passar por...</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Tudo bem. - Eric capitulou, levando as mãos às têmporas, atordoado. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu sei que a Kylie te faz se sentir ótimo, e que nela enxerga qualidades que nem a própria encontra. - Hammond esfregou as mãos nas calças, para esquentá-las. Olhou para os lados, e, bem distante, avistou o <i>link train</i>, em perene movimento entre os terminais 1, 2 e 3, emanando descargas vívidas de fulgor, tal qual uma alienígena enguia elétrica, um azul borrado e sem charme, e emanando um ronronado distante e manhoso, o de uma sedutora preguiçosa que acabava de despertar ao lado do amante. - Todos os caras na <i>La Fabrique</i> adorariam sair com a Kylie, apenas porque ela é mesmo uma mulher lindíssima. Eu mesmo adoraria, mas há algo em seus olhos...Que me dá arrepios. Você, porém, prefere enxergar o que tem de melhor, apega-se `as nuances positivas que a própria Kylie está descobrindo somente agora por sua causa, e apenas porque você a ensinou a se olhar no espelho sob esse maravilhoso prisma. É por isso que te perder não é aceitável. Ela poderá vir a se apaixonar por você, mesmo tornar-se possessiva. E ela vai arruinar a sua cabeça. Kylie não precisaria de força física para te derrotar. Basta usar os sentimentos, os bons sentimentos, as suas fraquezas, a sua parte que quer resumir as pessoas ao melhor que mostraram, mesmo naqueles que estão jogando com as suas carências. Ela pegará todas as coisas boas e as voltará contra você, dada a oportunidade. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ei, pessoal... - Era Colby, dirigindo-se à dupla da porta de vai-e-vem. Ele desligou as luzes, as últimas a apagarem, as dos letreiros de neon. - Ainda estão aqui fora</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Podemos te oferecer uma carona, garoto</span></span></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Eric perguntou.</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- De forma alguma, amigos, obrigado. A linha do monotrilho passa em frente ao meu bairro. - Apontou rapidamente para o aeroporto e disse. - Mas se quiserem me dar uma rápida carona à frente do <i>Pearson</i>...</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Entra aí, garoto. - Hammond respondeu, abrindo as portas com o alarme. - Já está ficando gelado. Pense sobre o que conversamos, cara. - Finalizou com Eric.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric se despediu de Hammond e Colby, e voltou ao carro. Correndo pela highway, os seus olhos buscavam o aeroporto através do retrovisor, e o aeroporto ia gradualmente afundando no espelho até restar somente a rodovia vazia e postes muito altos, passando e passando. Dontown Toronto era uma pérola preciosa, a vida noturna bem representada pela luz que emanava e parecia subir até a um determinado ponto do arco celeste. Temeroso em razão do sono, avivou o rádio, trazendo o volume ao máximo. Ao chegar em casa, foi só o tempo de se livrar das roupas: caiu exausto sobre o colchão, lençóis de seda e ar-condicionado os facilitadores que o induziram rapidamente ao relaxamento total e `a inconsciência. Não escutou quando menos de uma hora depois o telefone do escritório começou a chamar. A secretária eletrônica recebeu a chamada. Enquanto Eric e Charly estavam absolvidos das preocupações cotidianas, a voz urgente de Hammond era gravada. </span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Eric foi despertado algumas horas depois – já começo da manhã – por batidas insistentes na porta. Hermione e Alexandra não deram atenção à senhora Medina e marcharam para dentro mesmo que o viúvo desconhecesse a chegada das duas. A secretária e o garotinho ficaram ali, ao pé da porta, o menininho abraçado à empregada pelo avental, a senhora Medina resmungando em latino. Eric ficou abismado ao dar pela chegada das amigas, incapaz de conceber o que se dera enquanto dormia. As duas exibiam olheiras profundas, e o excesso de maquiagem que diariamente usavam parecia desbotado agora que lágrimas as tinham descompensado. Elas se sentaram na beirada da cama e o canhonearam com as notícias. Assustado, Eric as interrompeu e exigiu:</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Muito bem, aconteceu algo a Kylie? - Mas não havia sido nada com a melhor amiga, como pôde constatar no minuto seguinte, quando o barulho de passos a ganharem as escadas antecederam a chegada dela ao lado de Cary St. Pierre. No casal, a mesma expressão que existia nos rostos de Hermione e Alexandra. Pura confusão. Kylie escutou quando Eric perguntou se acontecera algo a ela e houve um pequeno momento onde a sua gratidão desenhou o tímido sorriso no canto da boca, no lado onde logo sobre o lábio superior existia o sinal.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Hammond está morto. - Kylie sumarizou de forma muito direta. Não se preocupou em narrar detalhes, concentrou-se nos fatos, e a verdade era que Hammond fora assassinado. Saíra com Eric Dudley para tomar as xícaras de café da <i>211 Bel Air</i> e agora não existia mais, tudo em questão de horas, poucas horas. Eric sentiu a cabeça girar e a visão escurecer.</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span style="font-size: small;">- O que ocorreu?</span> </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Eric reagiu ao assassinato do amigo de forma similar ao que ocorrera na ocasião da morte de Allie. Atônito, repetia que não era possível. Os dois haviam virado xícaras de chococino na <i>211 Bel Air</i> há poucas horas. Kylie pediu para ficar a sós com Eric. Enquanto o viúvo recolhia algumas peças de roupa do armário e as jogava de qualquer jeito sobre a cama, Kylie lhe dizia que tinham tentado contatá-lo assim que sabido da confusão.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Havia mais de vinte ligações na sua secretária eletrônica. - Ela contou, enquanto acendia um cigarro, voltada para a janela. As venezianas faziam com que os vestígios da manhã se mantivessem fora, ou ao menos parcialmente. Os raios que adentravam realçavam a bela silhueta de Kylie. Em parte, parecia a mocinha estagiária metidinha na <i>La Fabrique</i> de muitos anos atrás; noutra, movimentos entregavam que agora era uma mulher ilegível e elegante protegida por trás de uma fachada que fazia difícil, se não impossível, conhecer o que existia atrás do mistério. Soltou uma baforada. A fumaça subiu pesada e densa por entre as venezianas, colorindo-as momentaneamente de um bege datado. - Hermione, Alexandra, a turma da <i>La Fabrique</i>, essa gente toda ligou para contar o que se deu, ou ao menos versões do que se deu. Fiz a gentileza de apagar esse monte de inutilidades.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Oh, obrigado, Kylie. - Eric se sentou, a gravata ainda desatada em volta do pescoço. Afundou o rosto nas mãos, desconsolado. Começou a chorar. - Oh meu Deus, alguém me diga...O que aconteceu com Hammond?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Imagino que tenha sido um assalto, Eric. Encontraram-no em uma esquina, baleado nas costas. Descarregaram o revólver no Hammond. - Disse de forma direta e imparcial, virando o rosto para que a fumaça não atingisse o seu rosto, soltando-a simultaneamente pela boca e pelo nariz. - Carregaram carteira e relógio. Aconteceu em um ponto da <i>Dundas Street</i>, imagine só.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Oh...Oh meu Deus. - Eric sentia o corpo dormente e acreditou que desmaiaria.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">-<i> Shhhhhh</i>, querido. - Kylie o abraçou e o ajudou a se deitar. Ela se ajoelhou sobre a cama e ao lado e segurou as mãos gélidas e suadas. - Você não vai desmaiar. Olhe para mim, olhe para os meus olhos, e respire devagar. Está tudo bem. Estou apertando as suas mãos. Olhe-me nos olhos. Eric... - Kylie e a sua voz foram se afastando como uma <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">televisão antiga ao ser desligada. Quando Kylie era apenas um borrão de café no cantinho do campo de visão, todo o resto era a escuridão. </span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div><span style="font-family: helvetica;">
Em menos de vinte e quatro horas, a polícia já tinha seu culpado. Há câmeras que tornam o crime perfeito em <i>Dundas Street</i> impossível. Não demorou a enquadrarem um jovem problemático e dependente de drogas com extensa ficha policial como o autor dos disparos. Um mês após a prisão, o rapaz foi encontrado morto, no que pareceu ser um caso típico de suicídio por enforcamento. Ele amarrara a calça em um dos encanamentos da cela e no pescoço e saltara do beliche. As duas mortes muito trágicas, dadas em intervalo curto, causaram muita consternação. Podia-se dizer que o assassinato havia sido o primeiro grande crime em anos, em <i>Downtown Toronto</i>. Depois do impacto inicial, os veículos de comunicação pareceram perder o interesse quanto ao que se sucedera naquela madrugada em <i>Dundas Street</i>. Dudley perdia muito com a morte de Hammond. Privado não somente da companhia de um grande amigo, agora também se fora a voz de cautela que o tinha guiado por tempos incertos. Agora, Eric se sentia realmente inseguro quanto a seus sentimentos por Kylie.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div><span style="font-family: helvetica;">
Colby também passou por um período de depressão, atormentado pela culpa. Não tinha muito como ajudar à força policial. A última vez que vira o Hammond, estava atravessando as portas automáticas do <i>Pearson</i>, quando o publicitário deu duas buzinadas para se despedir e Colby respondeu com o aceno, incapaz de imaginar o que se daria em questão de minutos. Ainda enxergou o amigo dando a preferencial para os carros que trafegavam pela rodovia antes de ligar o sinaleiro e entrar na highway assim que o caminho ficou desimpedido. No último dia do ano, em 2004, uma sexta-feira, Eric apareceu na <i>211 Bel Air</i> e o encontrou aborrecido, os cotovelos sobre a mesa, o queixo apoiado sobre os punhos cerrados. Não havia gente por ali, quase todos, que não Eric e Colby, tinham mais o que fazer na virada de ano. Chorar as mágoas na cafeteria de um aeroporto internacional jamais fora idéia de diversão. Charly estava esperando a queima de fogos na grande festa prestes a acontecer `a beira-mar. Ele fora passar as férias na casa de praia da tia Virgínia, irmã de Allie, em Ward's Island. Servia de consolo a Eric saber que os parentes de Allie amavam o menino e a todo instante queriam estar por perto para verificar como se sentia e do que precisava. Amenizavam um pouco o peso de sua responsabilidade, de modo que tinha como lidar com o luto sem ter de fingir estar bem a todo instante por causa da criança. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div><span style="font-family: helvetica;">
- Um brinde a Hammond. - Deixou a xícara estendida, esperando que Colby desfechasse o brinde. Bateram os cafés, e Eric ergueu-a para cima, honrando-o onde quer que se encontrasse. - Jamais esquecerei as suas palavras, amigo. Espero não desapontá-lo.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div><span style="font-family: helvetica;">
"<i>Amém</i>", Colby disse baixinho, com um sorriso orgulhoso. Veio a contagem regressiva. A televisão transmitia a virada nas principais capitais do mundo. Eric e Colby assistiram à chegada de 2005 da cobertura da <i>211 Bel Air</i>, sentados sobre caixotes de madeira. Bem distante, em <i>downtown Toronto</i>, elipses verdes e vermelhas deslumbrantes explodiam em uma parafernália pirotécnica. Por dentro, ambos se sentiam desencorajados, mas faziam o possível para demonstrar o contrário. Eric estava voltando para casa, quando recebeu a ligação de Kylie fazendo votos de felicidade e saúde. Kylie se encontrava com amigas no badalado Bistrô 333. Ela o convidou a esticar a noite na sua companhia, na festa do andar de cima, no Club Ménage.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div><span style="font-family: helvetica;">
Eric valorizara os conselhos de Hammond. Não era porque não os seguira a risca que não lhes dera importância. Reconhecia muitas das constatações irrefutáveis de seu amigo, porém parte de si, a que Hammond nominara de "<i>parte boa</i>", parecia mantê-lo cativo dos velhos paradigmas. Naquela virada de ano, Eric teve sua primeira lição prática da necessidade do desapego. O Club Ménage atingira o ponto de ebulição. Eric concluiu que se metera fora de seu meio. Ali, a maioria era formada por gente entre vinte e cinco a trinta anos. O chão era de madeira, os lustres clássicos de cristal. A decoração imbuía a casa de um ar de requinte e elegância. O conjunto de telões de LED exibiam gaivotas em voo sobre a linha do mar, sob um lindo céu azul. Enquanto procurava enxergar a Kylie, Hermione chamou-o de um ponto do mezanino. Eric respondeu com um aceno e foi se sentar com o pessoal da <i>La Fabrique</i>.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div><span style="font-family: helvetica;">
Kylie não estava à mesa, mas na pista. Dançava com Cary St. Pierre, a quem em seus braços se entregava enquanto "<i>All Because of You</i>" do Miami Sound Machine lhes dava a justificativa perfeita para o exibicionismo. Eric assistiu a tudo, Kylie lançando a cabeça para trás e dando gargalhadas aos comentários cada vez mais sacanas de Cary. Muito embora se recordasse de que o seu bonito sentimento por ela a nada se atrelasse, escolheu partir. À varanda do apartamento, tocado pela entusiasmada brisa fria, Eric sorriu com nostalgia e gratidão ao se recordar das palavras do amigo Hammond. Kylie era maravilhosa e o lançava em direção à vida, porém não era tão simples assim. Como o próprio nome sugere, o jogo da paixão era exatamente isso: um jogo. Ingênuos como Eric acreditavam que filmes românticos equivaliam à vida real. Quão mais equivocados poderiam estar<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span>Assim como a maioria, sabia que mesmo tendo pisado repetidas vezes na mesma armadilha, o ego o manteria por muito tempo preso ao ciclo. Acreditara que quando estivesse apaixonado, finalmente poderia encontrar alguma felicidade ao lado de alguém com quem poderia ser o que era, sem pressões ou subterfúgios. A paixão, entretanto, era o imprevisível e implacável campo de batalha onde joguinhos psicológicos cada vez mais complicados e ferozes se sucediam muito rapidamente, onde tolos apegados acabavam arruinados, levados à loucura passional ou ao suicídio. Fora ingênuo ao pensar que escaparia ileso de Kylie, depois de em linhas tão encantadoras e sinceras ter exposto as imagens românticas que o mantinham preso a ilações de como poderia ter sido. Ousara dizer que a amava e agora havia o preço a pagar por tamanha ousadia: o jogo do "<i>afasta-aproxima</i>", a realocação de culpa, a inversão de papéis, a chantagem emocional, a manipulação e o mais terrível castigo de todos, o apego. Nesse jogo, para os vencedores, haveriam as noites tão perfeitamente descritas por Eric na carta, noites de amor irrestritas e sem limites nos braços da mulher por quem se sofria, por quem se torturava emocionalmente, todas as dúvidas por fim esclarecidas pela força de um simples beijo morno demorado, a prévia de prazeres inenarráveis por vir. Para os psicologicamente enfraquecidos, a destruição completa. Era uma valsa na escuridão, um passeio sobre a corda bamba.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><u><b>Seis anos mais tarde</b></u>. Muito pode acontecer em seis anos. Enquanto seus amigos seguiram com suas vidas, conheceram novas experiências e prosperaram, Eric ficou à deriva, e tudo o que lhe aconteceu foi mais do mesmo. Produziu bons trabalhos, mas nada excepcional, voltou a ocupar o tempo com compromissos e obrigações. Emocionalmente, porém, se sentia à deriva. O contraste entre as vidas dos amigos e a imutabilidade entediante da sua existência era um excelente indicador de que não soubera retomar as rédeas de onde deixara os próprios planos após a morte de Allie. Charly se tornou um adolescente que não dava dores de cabeça ao pai. Ele era um menino estudioso e apreciador da companhia dos amigos e agora paquerava uma colega de sala. Colby estaria se formando no fim do ano, e Eric adorava as noites de sexta e sábado, quando aparecia para jogar papo fora, e o rapaz lhe falava sobre todas as coisas que imaginava para o futuro e a maneira como pretendia ajudar a avó e os primos. Eric incentivava-o, e já adiantara o convite: assim que passasse no exame, que procurasse a <i>La Fabrique</i>, pois o incorporaria à banca de advogados do estúdio. Eric avisou que Colby alçaria voos maiores, mas que aprenderia muito na <i>La Fabrique</i>. "<i>Veja o exemplo da Kylie</i>, <i>que começou como estagiária e hoje é a CEO da Avant!, o melhor escritório de publicidade de Toronto</i>", ele citou.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric percebia que pronunciar o nome de Kylie ainda o movia com sentimentos complicados. Dentro desse hiato de seis anos, Kylie havia se casado com Cary St. Pierre, porém jamais se afastara completamente do viúvo. Agora que algum tempo tinha se passado desde a morte de Hammond, Eric entendia por que o amigo vocalizara votos de se manter sempre por perto para incentivá-lo com os aconselhamentos certeiros. Muito frequentemente, a sedução da fantasia devolvia os supostamente esclarecidos ao limbo das indefinições, que a longo prazo acabava lhes parecendo mais aprazível do que a dura, mas certa realidade. Eric não tinha mais idade para isso, mas existiam noites em que se via pensando em Kylie, em como estaria, em como teria sido se tivessem saído juntos naquela noite de estreia do "<i>Not Easily Broken</i>", em quão diferente teriam sido as coisas agora. Estariam juntos hoje, "<i>unha</i> <i>e carne</i>", como a própria Kylie colocara</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span>Ainda assim, Grattan e Dudley eram faces da mesma moeda e não se podia pensar em um sem citar o outro. Havia momentos em que Eric poderia jurar que estava na mente de Kylie, e vice versa. Não imaginava a assertividade desse pressentimento.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">2009 foi embora e 2010 chegou sem novidades. Toronto parecia vestir perenemente o mesmo luto da alma de Eric. Pelas manhãs e tardes, o céu nada tinha de sorrisos a oferecer, a sua carranca sempre plúmbea. Somente quando a noite se punha a meio caminho, todo o cinza era substituído por um deslumbrante e melancólico prateado. Eric errara nos passos, na área de "<i>approach</i>", e a bola saiu direto para a canaleta. Agora, estava sendo vaiado pela turminha do filho, que adorava levá-lo junto em suas saídas para o <i>Ballroom Bowl Bar Bistro</i>. Dando gargalhadas e protegendo a cabeça dos tapas, Eric voltou ao seu lugar para deixar que os jovens concluíssem a partida. Depois do jogo, levou o filho e os colegas para comer pizza no restaurante logo ao lado, na praça de alimentação. Eric era o "<i>pai preferido</i>" da garotada, aquele que invariavelmente acabava levando a meninada nos passeios. De seu próprio jeito, Eric substituía a ausência de Allie com a algazarra e a alegria que toda aquela galerinha trazia para dentro de casa. Nos finais de semana, muitos amigos do Charly iam jogar e assistir a filmes em casa, e Eric achava tudo muito bom, mesmo que a turma não se fizesse de rogada nos barulhos e nas bagunças!</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Uma noite, uma sexta-feira chuvosa de janeiro, Eric chegou assoberbado de trabalhos da <i>La Fabrique</i>, esperando ser recebido pelo barulho da turminha de Charly, que regularmente estaria vendo filmes na sala. Dessa vez, porém, não havia ninguém. A senhora Medina contou que Charly tinha ido jogar com os meninos do condomínio no campinho. Tinha feito o prato especial de Eric, o peixe frito à milanesa com rodelas de tomate, que preparava uma vez por semana para seu grande deleite. Sentado à mesa comprida da sala de jantar, o viúvo jantou solitariamente. Quando estava para terminar, o filho chegou. Ao ver o peixe, perguntou se havia mais.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- A senhora Medina deixou para você. - Apontou para a cozinha. - Dentro do forno. Você pode requentar no microondas. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ah, não. O senhor já terminou</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span> - Lamentou, atirando a mochila no sofá e indo lavar as mãos no banheiro social. </span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu fico aqui para conversar, filho. - Procurou enxergá-lo na cozinha, mas só via o seu vai-e-vem, manipulando o depósito com o peixe e pré-aquecendo o microondas. - Faça um café para mim. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Apenas não espere algo no nível do que o Colby prepara para você na Bel Air! - Charly gritou da cozinha. - Vou esquentar a água.</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Ei, você não trocando açúcar por sal já fica de bom tamanho! </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Entre garfadas de peixe, Charly contou ao pai que vinha fazendo planos para depois que se formasse, e o interessava o curso de cinema. A ideia agradou a Eric, que saberia como ajudá-lo no meio publicitário, intimamente ligado à experiência cinematográfica. Charly estava escrevendo um roteiro, e comentou que os amigos participariam de seu primeiro experimento por trás das câmeras. Orgulhoso, pediu para que lhe mostrasse o roteiro, mas ele respondeu que não tinha terminado. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Quase pronto, não falta muito, mas ainda não terminei! - Explicou, enquanto pingava gotas de limão na cauda crocante. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- E do que se trata</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Uma história de amor. - Sumarizou, sem oferecer detalhes. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ótimo, agora vou morrer de curiosidade. E o que vocês jovens entendem de amor</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Eric sorriu, virando a xícara para terminar o café com leite. - Filhão, é mais complicado do que parece. Precisará viver muitos anos para poder saber a primeira coisa sobre amor.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Mas ficar trancado dentro de casa não o ajudará a encontrar outro, papai. Você não pensa em se casar novamente</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não quero cometer um erro, na minha idade. Se tiver de acontecer, terá que ser com a pessoa certa. Tenho medo de... Bem, depois que a sua mãe morreu, houve apenas uma única pessoa em quem me interessei. Mas... Foi complicado. - Eric temeu que Charly trouxesse à mesa o nome de Kylie e logo emendou um outro assunto. - Se os seus amigos quiserem aprender a fazer filmes, a <i>La Fabrique</i> abrirá seleção para uma nova minissérie a ser rodada em Toronto e Ontário. Vamos escalar atores e atrizes, rostos novos para papéis secundários. Seria uma ótima oportunidade, não</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?De eles acompanharem a dinâmica de...</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não. - Os olhos do menino repentinamente estavam bem abertos e iluminados, como que se uma ideia espetacular tivesse lhe ocorrido. - Uma ótima oportunidade para conseguirmos uma nova namorada para o senhor!</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Do que está... Oh, não, Charly. - Eric riu, embaraçado, mas o filho não arredou. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Claro que sim!Receberá currículos de muitas mulheres interessantes!Que mal há em unir útil a agradável</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?E se encontrar uma moça que não se encaixe nos moldes do que a personagem exige, porém nos do que procura em uma companheira, por que não</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Claro, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">mesmo que ela não consiga o papel, seria ótimo para vocês dois, certo</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?Você precisa retomar a vida, papai, mas para isso tem de se dar a oportunidade. Por que não agarrar a oportunidade</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Colby escutava a Eric com os olhos bem surpresos e encantados, um sorriso espertalhão no rosto. Era como se o resto não importasse. Vez ou outra, a rapaziada presente a Bel Air lançava exclamações e insultos à televisão, pois uma importante partida de futebol estava sendo travada, e o time local, perdendo. Alguém na mesa próxima à máquina de jukebox exclamava que o pedido não havia chegado, e já esperara mais de meia hora. Colby só estalava os dedos para as outras garçonetes, para que tratassem de resolver as pendências dos fregueses. Por enquanto, só tinha ouvidos para Eric.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Então Charly disse que queria me acompanhar nas seleções, para depois trocarmos impressões. O fato é que criaria a oportunidade para que eu conhecesse novas pessoas, e se levarmos em conta o número de candidatas a todos os papéis femininos, então aumenta a probabilidade de existir alguma mulher que atenda as expectativas do que eu espero em uma esposa.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Mas então, senhor Dudley, o que espera de uma esposa</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Eric foi pego de surpresa e ficou em silêncio. - Espero que não se importe de eu ter perguntado.</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Oh, não, não. - Deu uma risada e o apanhou pelo braço com camaradagem. - Surpreendi-me porque não pensei a fundo na questão que me acabou de fazer, "<i>O que eu espero de uma namorada</i>". - Levou os dedos ao queixo, os olhos perdidos na janela que dava para a <i>Pearson</i>. Eric caçava dentro de si a resposta. Depois de um tempo, soube precisar melhor. - Eu diria uma mulher madura, de trinta e cinco a quarenta anos. Inteligente, decidida, alguém com experiência de vida, uma carreira profissional a honrar. Entenda... Eu não tenho mais tempo a perder com aventuras. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Por Deus, o senhor faz soar como se tivesse noventa anos! - Colby estourou em gargalhadas, quase deixando espirrar o café. - Você ainda nem chegou aos sessenta anos, homem!</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Bem, quanto mais penso a respeito, menos má me parece a ideia. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Claro que não. - Passou um pano umedecido em movimentos circulares sobre o balcão, a que Eric levantou os braços e a xícara para que terminasse a limpeza. - Eu também achei uma sacada muito inteligente. Só não recomendo que vá escutar as opiniões de seu filho quanto a mulher certa!Ele é um menino de dezesseis anos, o que saberia da vida</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu tenho mais de cinquenta e não sei de nada, imagine uma criança!Foi o que eu disse a Charly. Cá entre nós, apenas me apoderei da ideia porque foi boa! - Novas risadas, e os dois amigos seguiram conversando enquanto o restante do público da Bel Air amolava-se com a péssima performance do time de Toronto. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Caminhando apressadamente pelo hall do prédio da <i>La Fabrique</i>, Hermione resumia para o chefe a premissa do projeto a ser produzido pela Toronto Network. Também os acompanhava a diretora de casting. Hermione fazia considerações sobre o enredo, as aparentes necessidades de produção, demandadas pelo período da narrativa (século XIX em Londres, o que prometia um peso extra para o pessoal de cenografia e figurinos), e sobre os rostos que julgava interessante para o elenco principal. Entraram no gabinete de Eric, Hermione fechando a porta após a sua passagem. Dudley sentou-se pesadamente sobre a cadeira de couro e a colega jogou-lhe a pasta com o prospecto. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Para a heroína, a personagem principal... - Hermione mordiscava a ponta do lápis, os óculos de aros muito finos dando-lhe um ar arrogante. - Alguém com beleza clássica, britânica. Nada vulgar, quero uma beleza elegante, aristocrática. Precisamos de uma jovem <i>Charlotte Rampling</i>, vocês entendem o que eu tenho em mente, não</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu gostaria de uma cópia do roteiro. - Eric recomendou. A secretária bateu à porta para perguntar se precisavam de algo. Hermione pediu um copo d'água. - Vocês me falaram sobre o enredo, porém quero conhecer a história mais detalhadamente. Naturalmente, os rostos aparecerão na minha cabeça à medida que eu for avançando. Tem mais uma coisa, Hermione. - Ela levantou a vista da folha para os seus olhos. - No que concerne ao elenco principal, haverá um período certo para discussões, e então tratativas com agentes e por aí vai. Para os papéis menores, todavia, penso que poderíamos acelerar o processo de seleção na semana que vem.</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Precisamos de marketing, precisamos de alcance. Com intromissões nos intervalos dos programas de horário nobre teríamos toda a publicidade de que precisamos! - Hermione opinou. Batia impacientemente o lápis no aro, até detê-lo no ar, como se uma lâmpada tivesse acendido dentro de sua mente. - Precisamos da <i>Avant!</i> de Kylie. Com a sua ajuda, teríamos publicidade para tornar o projeto um grande sucesso antes mesmo que a primeira cena fosse rodada. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Só para esclarecer, Hermione. - Eric colocou os óculos para examinar as demandas deixadas na prancheta. - O roteiro é baseado no livro do Henry James, que eu não li, mas sei que estaremos atualizando o enredo para os nossos tempos. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Ótimo, menos preocupações para mim! - Ela suspirou, sorrindo, riscando com o lápis as considerações prévias que levantara sobre cenografia e figurinos. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Naquele fim de semana, houve uma festa na cidade cenográfica da Toronto Network, uma noite de gala para comemorar a década de existência do canal. Embora não se sentisse mais tão seguro em festas de confraternização, Eric deixou sua zona de conforto. Ele não sabia, mas a sua maior abertura ao mundo e aos outros devia muito à expectativa que advinha da possibilidade de conhecer uma nova mulher. Sentia-se mais resoluto e sorridente, e é claro que a primeira pessoa a notar a mudança de comportamento foi a senhora Medina. </span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">A cidade cinematográfica da Toronto Network era justamente isto: uma cidade. O centro administrativo ocupava uma ampla região de mais de duzentos mil metros quadrados. O projeto arquitetônico respeitava a expressão cultural canadense. O edifício esbanjava paredes em curvas, e internamente favorecia a integração perfeita entre <i>ballrooms </i>de alta capacidade, corredores para fluxo e salões para encontros e coquetéis, permitindo a combinação perfeita entre negócios e prazeres. O coquetel acontecia no <i>ballroom</i>, enquanto no nível superior o pessoal do cerimonial preparava a sala para a conferência onde o presidente do canal receberia o título de comendador, a ser concedido pelo pai de Cary, prefeito de Toronto. Alguns convidados subiam ao mezanino para observar melhor a deslumbrante festa e gozar de um pouco de espaço, e Eric foi uma dessas pessoas. Girava discretamente o copo com champanhe, tentando fazer a bebida durar, enquanto se deleitava com uma música triste romântica de Peabo Bryson, <i>Shower You with Love</i>. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ei. - Veio a voz melodiosa e feminina. Mesmo dentre outras, mesmo em meio a músicas, fez-se perfeitamente distinta aos ouvidos acostumados de Dudley. </span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Kylie. - O viúvo reconheceu, precisando escutar o nome de sua própria boca para saber que não fantasiara o reencontro. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Olá. - Beijaram-se duas vezes na face, dois elegantes e discretos adultos amigos. Kylie usava um vestido branco <i>one-sholder</i> com transparência e pedras bordadas. Eric esperou encontrar alguma inspiração para soar charmoso e bem-humorado, mas nada lhe ocorria. Ele ainda amava a amiga, mesmo após tantos anos. Kylie sorriu e ajeitou sua gravata. - Permite-me</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Obrigado. - Recordou-se de Hammond, naquela madrugada gelada na cafeteria do aeroporto. "<i>Seja gentil e bem-humorado, e siga andando, por mais devastado que se sinta</i>". - Você parece ótima. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- É mesmo</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Eric sentiu uma ponta de impaciência em Kylie. A sua pergunta soou como crítica. "<i>É isso que te preocupa</i></span></span></span><i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?Como eu pareço</span></span></span></i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>?</i>", isso sim era o que Kylie quis dizer. </span></span></span></span></span></span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- É. Suponho que deva escutar muito isso por aí. - Disparou, começando a fracassar na tentativa de mascarar ressentimentos abertos. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- O que quer dizer com isso</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Enquanto Eric começava a rachar e mostrar sinais de apego, Kylie parecia explicitamente furiosa. </span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Faço votos de que tenha uma boa noite. - Deu as costas para se retirar, mas Kylie não estava disposta a escutar ironias e ficar quieta.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Você não vai a lugar algum, idiota!Eu falei contigo! - Segurou-o pelo pulso e se aproximou. Seus rostos ficaram a um palmo um do outro. Eric pôde sentir a raiva emanando de Kylie. - O que quer dizer com isso</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?Eu escuto muito o quê por aí</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Desculpe-me. - Abaixou o rosto, envergonhado. Amava-a, porém tentara azucriná-la pelo fato de ela ter casado com outro. - Às vezes eu sou um pouco atrevido. Não sei o que me deu. - Os dedos de Kylie imediatamente se afrouxaram ao redor do pulso. A humildade de Eric e o fato de ele prontamente pôr-se em retirada a deixaram cheia de remorsos.</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eric, espere. - O viúvo a obedeceu. - Eu não quero ser a sua inimiga. - O seu rostinho, sempre lindo com o narizinho arrebitado, olhos tristes e a mecha, transformou-se momentaneamente numa máscara de dor quando ela diminuiu o tom, e a raiva a deixou. - Eu te amo tanto. Orgulho-me pela forma como criou Charly e pelo homem que você é!</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Estou confuso, estou confuso. - Sacudiu a cabeça e fechou os olhos. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Olhe para mim, por favor. - Ela segurou o rosto dele de maneira intromissiva, e quando Eric abriu os olhos, reiterou. - Não quero ser a sua inimiga!Por que vem fugindo de mim</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?Ainda tenho a sua carta guardada!Por que não consegue me encarar quando menciono essa carta</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?Eu conheço o seu coração, revisito a sua alma, todas as vezes em que a abro!</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não. - Atordoado, Eric foi se afastando, cambaleante. Precisava chegar ao elevador e deixar o lugar. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Ele conseguiu apanhar o elevador vago e escolheu o número que o levaria ao andar mais alto, qualquer lugar que o afastasse da mulher que amava, e que imaginava jamais poder possuir. Enquanto uma pletora de sentimentos girava como um redemoinho na cabeça, recordava-se das palavras de Hammond. <i>A</i> <i>felicidade está dentro de si</i>, Hammond ensinara, mas se assim o era, por que não conseguia experimentá-la <i>hoje</i>, quando não a tinha ao lado</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?Isolado dentro do elevador, arrancado do mundo dos ricos e privilegiados, Eric foi escorregando com as costas contra a parede até cair no tapete do elevador, que seguia subindo e subindo. O seu rosto estava banhado de lágrimas. Quando conseguiu chegar a <i>211 Bel Air</i>, já passava das três horas da madrugada. Colby colocava o lixo para fora, e viu que Eric parecia em péssimo estado, mesmo dentro do carro, a testa encostada ao volante. Auxiliou-o a descer do automóvel e o levou para a cozinha. Empurrou um banquinho e pediu que se sentasse. Encheu um copo d'água e o entregou a Eric. O viúvo o bebeu em poucos e demorados goles. Era surpreendente o quão bem se conheciam, pois mesmo que nada tivesse sido dito, Colby o abordou com muita perspicácia:</span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Senhor Dudley, você um dia dará risadas de tudo, porém deve dar o primeiro passo para se libertar dessa situação. Verá que conhecer uma pessoa legal o ajudará a entender que o mundo é mais importante do que essa mulher, a Kylie. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Ela veio em minha direção... - Começou a contar sobre a festa, a voz o reflexo do cansaço da alma. - Se ela apenas não mencionasse a maldita carta!Não sei o que ela quer de mim!</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Escute, o senhor preocupa-se mesmo com gatilhos emocionais</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Colby o mirou com o olhar severo e pôs as coisas sob perspectiva. - Sabe de uma coisa</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?Precisa fazer amor com essa moça logo para desmistificá-la!Quando fizer, enxergará que ela era apenas isso: uma mulher! - Graças à simplória colocação, Colby conseguiu extrair um sorriso divertido do emocionado amigo. - Menciona a questão da carta, e o que Kylie estaria querendo te dizer todas as vezes em que levanta o assunto... Senhor Dudley, não conhecemos completamente nem mesmo a nós. Siga tentando adivinhar a mecânica do pensamento dessa mulher e terminará louco. Pessoalmente, imagino que deva ter se emocionado, pois homem algum escreveria coisas tão bonitas ou profundas. Por isso, ela jamais se esqueceu do que escreveu e sempre estará trazendo à tona suas palavras. O que acha</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Na semana que vem, a Toronto Network começará a veicular as chamadas para a minissérie, e então os formulários preenchidos começarão a chegar. - Eric deitou a mão sobre o ombro do rapaz e fez um pedido. - Ajuda-me a passar a vista pelos currículos, a escolher</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Aos meus vinte e quatro anos, eu não tenho nem de longe sua experiência. Se ainda acredita, porém, que eu serei de valia nessa nova empreitada da sua vida, adoraria ajudá-lo! - Os dois bateram os punhos cerrados em camaradagem e Colby jurou. - Apenas me avise quando chegar o momento, e eu estarei lá!</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Você é um dos poucos amigos que me sobraram, Colby. - Eric decretou, de uma forma muito sincera. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ei, não será simples assim! - O brincalhão Colby imediatamente restaurou o bom humor e afugentou preocupações e tristezas. - Eu o ajudarei a escolher uma noiva para você, mas quero outra para mim também, hein</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?!</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">A briguinha com Kylie na festa da Toronto Network definitivamente introjetou novo fôlego `a determinação de Eric, que agora focava-se em virar a página e retomar a vida o quanto antes. Quando explicou a Charly que os currículos começariam a chegar na semana seguinte, e que em menos de duas estariam realizando a seleção, o filho o parabenizou e expressou que não via a hora de conhecer "<i>a sua nova mãe</i>". Até mesmo a senhora Medina o estudava com um sorriso divertido, a que o viúvo explodia em gargalhadas ao perguntar "<i>Por que raios estão me</i> <i>olhando diferente</i></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>?!</i>". Repentinamente, era como se Eric tivesse conseguido</span></span></span> restaurar a autoconfiança que o tornara um homem tão interessante dez anos atrás. Um fim de tarde, Eric retornava da <i>La Fabrique</i> para casa, o tráfego detido por um terrível engarrafamento causado por uma batida de automóveis bem no centro de um importante cruzamento de <i>downtown Toronto</i>, quando escutou pela primeira vez, pela rádio, a gentil intromissão de uma voz feminina, da Toronto Network, anunciando a chamada para a minissérie e prestando instruções para as jovens atrizes que pretendiam dar vida a uma importante personagem feminina romântica da trama. </span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">"<i>Você já parou para pensar que um dia até mesmo as maiores estrelas de cinema passaram desapercebidas entre tantas outras garotas</i></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>?Se você sempre aspirou uma oportunidade para participar da indústria, eis a sua grande chance!Wings of the Dove, a obra imortal de Henry James sobre vingança e o poder redentor do amor, ganha nova roupagem nesta versão adaptada para os dias de hoje!Estrelando Rupert Friend como Merton e Gina McKee como Milly, a trama também oferece um grande leque de personagens importantes que estão esperando para serem escalados... Isso mesmo, uma das personagens pode ser sua!Mande seu currículo para a Toronto Network, e participe da seleção. Você poderá vir a brilhar junto às grandes estrelas do cinema!</i>". A voz feminina então orientava quanto ao procedimento de remessa de currículos e os critérios de seleção. Eric achou a chamada perfeita. Soava emocional, misteriosa e prática. Com as mãos pacientemente descansadas sobre o volante, ele soube que daria tudo certo. O tráfego deixou de importar, e quando chegou a casa, mais de uma hora mais tarde, e entrou pela porta da sala de estar, banhado de chuva e abarrotado de papéis, era a contraditória imagem do ânimo e entusiasmo, sob uma noite onde o céu vinha abaixo e quase todos que trabalhavam provavelmente estavam cansados e impacientes. </span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric jantou com o filho, e os dois desfrutaram de uma noite animada e aprazível. Da cozinha, a senhora Medina sorria de contentamento ao escutar as gargalhadas de pai e filho vindas da sala de estar. O filho também estava excitado, motivado pelas próprias razões e projetos. A expectativa quanto ao filme que pretendia rodar com os coleguinhas vinha consumindo seu tempo fora do colégio, e a senhora Medina disse a Eric que a dedicação do garoto ao projeto era impressionante. Metido no quarto, o menino usava a tarde para escrever e rescrever o roteiro, atendendo ligações, recebendo os amigos para discutir questões de câmeras e o trabalho de montagem. Mais uma semana se passou até Hermione compilar as candidatas em um colecionador. Ela o repassou a Dudley. Eric recebeu a pasta com currículos e fotos de jovens atrizes interessadas no papel de "<i>Kate Croy</i>", a vilã de "<i>Wings of the Dove</i>". Sentado na escrivaninha do gabinete, a lareira estalando as lascas de madeira e afugentando o frio de uma das noites mais severas do ano em Toronto, Eric foi folheando os papéis do colecionador, encontrando candidatas que cobriam um amplo espectro de variáveis que um homem consideraria antes de escolher sua esposa.</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Entre tantas mulheres de interesses e habilidades díspares, foi uma de rosto anguloso e sorriso aberto e espontâneo quem mais lhe chamou a atenção. "<i>Lacy Morel</i>" era o nome, 31 anos de idade, natural de Montral, Quebec, estudara música no <i>Royal</i> <i>Conservatory of Music</i> até o acidente que rompeu os ligamentos do tornozelo e interrompeu precocemente sua carreira. Com o fim da perspectiva da dança, Lacy partiu para a atuação. Quando Eric leu que Lacy orgulhava-se de uma participação em um filme romântico onde interpretava a vilã metida e arrogante que acabava sendo atirada em uma piscina pela heroína, não teve como segurar o ligeiro sorriso que a doçura da descrição estimulou. Algo que somente uma moça ingênua e pura faria questão de declinar, sem dúvida. Interessado em descobrir coisas novas de Lacy, Eric vestiu o sobretudo, apanhou as luvas que já estavam guardadas nos bolsos laterais, e resolveu verificar se a locadora do bairro possuia o filme, uma bobagem água com açúcar chamada "<i>The best so far</i>".</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Eric conseguiu o DVD, à custa de muito esforço do menino da Blockbuster, que foi bastante atencioso ao pinçar o filme da sessão "<i>Romance</i>". Consultando a internet, Eric descobriu que a produção havia sido lançada em alguns festivais de cinema da Europa, em 2002, de modo que parecia ter sido rodado, no mínimo, dois anos antes. O enredo não oferecia nada de novo, era o que Eric costumava chamar de "<i>entretenimento indolor</i>", filmes que até tinham algo de bonito e gentil para oferecer, porém que no grande esquema das coisas, não encontravam como sobreviver nos multiplexes e invariavelmente acabavam acumulando poeira na sessão de DVDs, isso quando conseguiam ser lançados. A fotografia parecia ótima, mas aqui e acolá os valores limitados da produção se evidenciavam, e eram elegantemente escondidos pela montagem competente. "<i>The best so far</i>" era a história de um hippie norte-americano exilado em Amsterdã, dono de uma loja de livros raros e antigos, que fugira para a Europa nos anos 60 para se esquecer das dolorosas recordações de um grande amor. O americano está sendo pressionado por um gângster espertalhão local a vender o imóvel para que a filial japonesa de um grande conglomerado de fast-food instale novas franquias na boardwalk. O hippie é o único que não quer entrar na composição. Um dia, uma jovem muito bonita entra na livraria. Investida em uma jornada de autodescoberta, de férias por Amsterdã, ela acaba formando uma bonita amizade com o americano. O frescor e o espírito aventureiro e positivo da garota acabam por evocar recordações da sensacional história de amor que o velho experimentara, mais de quarenta anos antes. Enquanto seu presente é invadido por lembranças de épocas mais felizes, reviravoltas no enredo trazem à história a mãe da menina... Justamente o grande amor perdido do hippie. Um romance açucarado e bonitinho, que jamais sobreviveria ao lado dos grandes filmes de estúdio. Simplório demais para a sustentação visual que o público frequentador de cinema espera, honesto e puro a ponto de não ter como vencer o cinismo e a ironia que parecem ditar as mensagens dos filmes de hoje em dia. Eric se surpreendeu com os olhos marejados ao término da produção, e responsabilizou a vulnerabilidade a toda a questão envolvendo a Kylie e o grande deserto que estava por atravessar em busca de uma nova chance. No filme, havia, sim, a antagonista para a heroína. A vilã era a ex-namorada de seu pretendente rico, e conforme Lacy escrevera no currículo, sobre o quanto se divertira ao ter sido atirada à piscina, Eric deu boas gargalhadas quando o surpreendente momento aconteceu. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">A sala para o processo de audição era bem espaçosa e arejada, e o seu revestimento de vidro translúcido fazia com que quem passasse pelos corredores não enxergasse mais do que vultos de pessoas e perfis de móveis de escritório. Por dentro, a frente dava para a esquadria retangular de correr, por cujas lâminas parte dos raios que não era refratada penetrava preguiçosamente para se assentar somente sobre o espaço onde fora colocada a cadeira da entrevista. À mesa a frente, os avaliadores, entre eles Eric, anotariam as suas impressões. Hermione e a diretora de casting tinham comparecido, mas eram Eric e Colby os mais animados, aqueles de quem partiam as mais divertidas perguntas. As concorrentes eram muito diversificadas, porém os avaliadores tinham como categorizá-las dentro de padrões. Algumas, profissionais liberais que haviam colocado em prática o desejo de se aventurar em novos projetos; outras, advindas do meio artístico, ligeiramente desapontadas por não terem ainda "<i>feito grande</i>" no cinema ou na televisão. As mais jovens, em sua maioria, tinham raízes no teatro, e paixão por romances de época, em especial obras de <i>Jane</i> <i>Austen</i>. Eram "<i>heroínas</i>" que em suas existências diárias menos interessantes, viviam as fantasias e intrigas sobre as quais <i>Austen </i>e <i>Henry</i> <i>James </i>escreviam tão magistralmente. A programação do dia estava acertada para que os avaliadores fizessem uma interrupção ao meio-dia, para almoço, e retomassem às 14:00.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Ao longo da manhã, Colby e Eric haviam entrevistado mais dez candidatas, e declinado nas folhas de rosto observações pertinentes. Para o papel de "<i>Kate Croy</i>", a manhã fora promissora, mas até então não aparecera nenhuma outra garota que tivesse parecido remotamente interessante aos olhos de Eric quanto Lacy Morel. Eles se preparavam para a pausa do meio-dia, para retornar às 14:00. Hermione sublinhava com uma caneta azul os nomes das meninas mais interessantes para o papel de Kate, e outros com a vermelha, as que achava que ficariam excelentes como personagens periféricas. Eric foi lavar as mãos, e ao passar pela ante-sala, a dama que estava de costas para a sua pessoa, sozinha à mesa, lendo um pocket book, chamou-lhe a atenção. Era Lacy, ele pôde dizer. Enquanto as outras candidatas se mantinham ocupadas acessando os celulares pela rede wireless, conversando umas com as outras ou folheando revistas, Lacy parecia entretida em seu próprio mundo. Depois de tantos anos em que mantivera Kylie no coração, a visão de Lacy oferecia a mesma eletricidade, talvez até mais, de quando, por exemplo, vira-a na estreia do "<i>Not Easily Broken</i>" em 2004, e se declarara. Eric revivia o passado e, desta vez, tinha a chance de fazer funcionar.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Hermione prometeu retornar para o prosseguimento dos testes. Eric não se dispôs a interromper a continuidade das entrevistas. Ele se despediu da colega e prometeu que dariam sequência à seleção pela tarde. Depois que a colega foi embora, explicou para Colby que a próxima moça seria a candidata que lhe chamara a atenção. A secretária abriu a porta e fez um semi-arco com o braço, convidando-a a entrar e se sentir à vontade. Ela se movimentava com a graciosidade de uma ex-dançarina clássica, mas o que a deixava mais interessante era a impressão de vulnerabilidade transparecido em momentos que somente podiam ser capturados pela sensibilidade, como quando cumprimentava os avaliadores, com uma certa urgência na forma de baixar respeitosamente o joelho e a cabeça, ou se sentava `a cadeira, somente após pedir – e lhe ter sido concedida – licença para tanto. Eric sustentava um sorriso ameno e aberto, deixando às claras o seu encanto, enquanto Colby a observava com olhos impessoais e analíticos. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Senhorita Lacy Morel, cavalheiros. - A secretária anunciou, para em seguida se escusar.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Como vai? - Eric foi o primeiro a falar, e esperou não denotar uma certa ansiedade. - Por favor, sente-se, senhorita Morel.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Vou muito bem. É um prazer conhecê-los, senhores... - Apertou levemente os olhos, à espera da resposta, que veio de Eric, novamente antecipando-se a Colby.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Chamo-me Eric Dudley, e este é Colby Rodriquez. - Colby parecia surpreso com a desenvoltura de Eric. O amigo definitivamente não parecera igualmente extrovertido nas audições anteriores. Pelo contrário, o encontro com Lacy mais se assemelhava a reencontro de amigos do que processo seletivo. - Li o seu currículo. Gostei muito do filme que você... - Ela deu uma risadinha envergonhada e Eric sorriu. - … Que você fez, "<i>The best</i> <i>so far</i>". Envergonha-se do filme?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não, de maneira alguma. - Corrigiu o mal entendido de imediato. - Aprecio o filme, sim... Mas foi uma experiência de tantos anos atrás!Imagino que deva me achar bastante diferente de quando eu...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Olhe, parece mais linda. - Ousou. Colby voltou-se ao colega e o olhou com discreta preocupação. Desejava sinalizar para que retirasse o pé do acelerador. Lacy sorriu. Tão alva era, ficou muito explícito o enrubescimento, em razão do evidente galanteio. - Talvez concorde comigo, o filme foi ótimo, apenas achei que, no contexto maior, a doçura da história não tenha como sobreviver em uma época tão cínica!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Sim, sim. - Concordou, cruzando elegantemente as pernas e, nisso, mostrando as compridas botas de couro que sentavam muito bem com a calça jeans justa. - Aos vinte e poucos, me pareceu uma obra prima. - Os dois riram quase simultaneamente. - É claro que, com o tempo, eu fui percebendo que não foi tão espetacular assim. O que restou da experiência foi o sabor de nostalgia. Foi algo ingênuo e puro, que à época parecia maior do que a minha própria vida.Quantos de nós podemos afirmar que tivemos algo semelhante</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Em alguns minutos de conversa, Lacy exibia uma incomum profundidade quanto a questões de vida e destino. No seu jeito de falar, sobressaiam-se pinceladas de remorsos e tristezas que convidavam Eric a enxergar a si com outros olhos. Lacy lhe transmitia a segurança de quem apreciava o momento, sinalizando para que prosseguisse em sua aventura de autodescoberta. Colby, que mais fizera questões nos testes anteriores, não conseguia retomar a liderança na condução da entrevista. Enquanto lhes assistia, compreendeu que, no que importava a Lacy, Eric não estava preocupado com "<i>Wings of the Dove</i>" ou com quem faria o papel de "<i>Kate-não-sei-das-quantas</i>". Também enxergou que a contrapartida era verdadeira. Agora, Lacy lhe falava sobre o tornozelo ruim, e como tivera de substituir um sonho, a dança, por um outro, a atuação.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu me lembro de um excelente filme chamado "<i>Bridges of Madison County</i>". - Eric se recordou, a observação servindo ao assunto como uma luva à mão. - <i>Clint Eastwood</i> disse uma frase que guardei e da qual gosto de rememorar quando as coisas não andam conforme as tracei originalmente. <i>Clint </i>dizia "<i>Os antigos sonhos foram bons sonhos. Não se realizaram, mas foi bom tê-los</i>". - Uma dor muito serena dava ênfase `a frase, e a expressão de saudade teria passado desapercebida por alguém sem a sensibilidade necessária para identificar dores do tipo. Como Eric, Lacy também era uma daquelas raras pessoas que quanto mais sutis as emoções, mais fortes as contrastavam. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- A frase o reconforta quando pensa em alguém que se foi, eu imagino</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Como sabe</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;">- Você acabou de me dizer. - Respondeu, referindo-se à verdade estampada no olhar maltratado. Ela limpou a garganta, fez um esforço óbvio para se recompor, e prosseguiu. - </span></span> "<i>A morte deixa no coração a dor que ninguém pode sarar; o amor, a memória que ninguém pode roubar</i>".</span></span> Essa frase é minha.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Não havia mais o que fazer. Eric encontrara o que havia procurado e o restante parecia inexpressivo. Hermione e Alexandra apareceram às 14:00 para a continuidade do processo seletivo. A secretária lhes disse que Eric fora para casa, porém que pedira que continuassem mesmo sem sua presença. As duas não suspeitaram de coisa alguma. Quando deixou Colby na vizinhança da <i>211 Bel Air</i>, o rapaz aproveitou a privacidade e falou a Eric o que desejara transmitir com o olhar discreto.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não perca a objetividade, senhor Dudley. - Esperou não soar intromissivo ou prepotente. Com a pouca idade, sabia que conselhos vindos de sua boca podiam soar esdrúxulos para um homem de cinquenta e poucos anos. - Seria pertinente confrontar todo o histórico que Lacy forneceu, não acha?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Gostei dela. - Eric desabafou, soltando a tensão dos ombros rígidos, os olhos presos às relaxantes luzes dos semáforos, vários deles, cadenciados ao longo da pista, o fulgor borrado. - Inteligente, assertiva, sensível, vê-se que tem bons modos. Algo em seus olhos...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- <i>Isso</i>. - Colby disse em um sopro, os olhos bem alertas. - Também reparei.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Algo em seus olhos me agrada. Um certo mistério, um mundo de possibilidades apenas esperando para que eu o desbrave e possua.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não. Não me compreendeu. - Colby destravou o cinto para a descida e inclinou-se para o motorista, falando em um tom mais sério e grave. - "<i>Algo em seus olhos</i>". Não vê que ela o atrai justamente por evocar o mesmo perigo que a mulher por quem foi apaixonado por todos estes anos?Não se prenda a coisas do passado, senhor Dudley. Eu não acho que... - O motorista do ônibus que esperava passagem sinalizava a saída para a esquerda e começava a impacientar-se. Colby teve de saltar do automóvel, mas pediu para que Eric aparecesse pela <i>211 Bel Air</i>, quando terminariam a conversa.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric apareceu na <i>211 Bel Air</i>, muito tarde da noite. Apresentou-se com uma expressão serena e fácil, seus modos muito leves como há muito não pareciam. Colby, muito pelo contrário, parecia um pouco tenso. Já do estacionamento, ao lançar o olhar para dentro e vê-lo mexer em algo na cafeteira industrial, Eric o notou meio contrariado. O publicitário abriu passagem para dois policiais que deixavam a <i>Bel Air</i> com copos de isopor em mãos. "<i>Boa noite</i>", disse ao passar pela dupla, e um dos oficiais ergueu o copo e lhe sorriu, retribuindo a atenção. Diferente das outras circunstâncias quando esteve na <i>Bel</i> <i>Air</i>, Colby o recebeu com olhos assustados que não se fixavam aos seus por muito tempo, furtivos como peixe em mãos ensaboadas.</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Apenas seja honesto comigo e me diga o que realmente pensa. - O viúvo facilitou, enquanto mexia o café com a palhetinha de plástico.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não me parece prudente, é tudo! - Disparou, deixando seu pano de prato de lado. - Não se esqueça do que custou para chegar até aqui.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Você fala como se essa moça fosse um perigo, como se ela fosse me ferir.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- E você, como se ela <i>jamais</i> fosse te ferir! - Cruzou os braços na frente do peito e sacudiu desanimado a cabeça. - Ora, a sua amiga Kylie não queria magoá-lo propositalmente, correto?E veja o que aconteceu, homem!Ela quase te matou, com todo o apego que provocou!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Mas Colby, não foi Kylie quem... - Tanto não guardava certeza do que dizia, soava trepidante. Colby imediatamente o interpelou.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ora, senhor Dudley, está falando comigo. Coloquemos as cartas na mesa. Kylie jogou com a sua cabeça do instante em que entrou no seu escritório de publicidade pela primeira vez. O senhor Hammond saberia explicar melhor. Ela jamais se afastou porque mesmo hoje precisa da validação. Agora, explique-me a lógica de se jogar de cabeça em um novo relacionamento, sem realizar ao menos uma consulta prévia sobre as referências que...</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Uma jovem bem-vestida, provavelmente uma executiva de passagem por Toronto, a caminho do <i>Pearson</i>, que ali parara para jantar, intrometeu-se entre os dois pela mera presença, parando de pé bem ao lado. Colby deixou de falar para lhe lançar um olhar inquisitivo, a que a mulher explicou-se, pacientemente, afirmando que esperava para ser atendida. Deixou para que a mocinha, a garçonete da noite, cuidasse de fritar ovos e repor xícaras de café com leite, e concedeu a si um intervalo. "<i>Lá para cima</i>", indicou a Eric, referindo-se ao terraço de onde conseguiam admirar as pistas do aeroporto.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Naquela noite, só se via aviões nos terminais, conectados aos fingers. As pistas, enormes, passavam a impressão de desolamento quando desertas, banhadas por luzes brancas e douradas geradas pelas lâmpadas a vapor de sódio de alta pressão. Eric encontrou o rapaz no terraço, de costas para a escada, os punhos cerrados na cintura. Mesmo tendo dado pela chegada do viúvo, Colby não se virou. Eric parou ao lado do rapaz, e ambos permaneceram em silêncio por alguns minutos, o vento correndo por entre seus corpos, chicoteando seus cabelos para os lados. Por fim, Colby rompeu o silêncio:</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Quando as pessoas querem muito algo, seja o que for, acontece sempre da mesma maneira. - Os dois se entreolharam. - Perdemos a capacidade de enxergar o óbvio. Precisamos tanto que os fatos se amoldem às nossas expectativas, relevamos as bandeiras vermelhas que pipocam no caminho ao precipício. Essa moça daí traz mais bandeiras vermelhas que um campo minado.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;">- Você sabe de alguma coisa que eu não<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;">- Eu sei que ela conseguiu encantá-lo em um encontro apenas, senhor Dudley, e isso sempre fica perigoso. - O rapaz esfregou os dedos nos olhos cansados e continuou. - Pense bem. Lacy é bonita, inteligente, elegante e os seus modos são requintados. Uma mulher assim cairia tão fácil<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> no nosso esquema?</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Ainda ficamos de nos conhecer. Não podemos tirar conclusões tão prematuramente!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Muito bem, nisso, nós concordamos. Procure aproximar-se dessa nova situação da mesma forma que procede com os negócios, homem. Seja cauteloso, aja racional, não emocionalmente. Investigue a fundo as referências que ela te forneceu. Alguma coisa vai aparecer! - Eric parecia não querer acreditar, porém Colby foi incisivo e duro, fuzilando-o ao concluir. - Não pode ser tão fácil assim. </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Nada</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> é tão fácil assim.</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"></span></span></span>Eu preciso ir. -Ele mentiu, obviamente sem sucesso. - Eu agradeço pelo seu suporte, garoto.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não quero desanimá-lo, amigo. Procure me entender. Pode não soar agradável, mas tem de escutar. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Nós nos vemos depois. - Eric vestiu as luvas e lhe deu um tapa camarada no ombro. - Retorno para contar as novidades.</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Eric abrira mão da prudência por causa da emoção, e Colby sabia disso. No dia seguinte, não se concentrou em tarefa alguma. No gabinete na <i>La Fabrique</i>, ficou mexendo na internet, procurando outros créditos artísticos onde aparecesse o nome de Lacy Morel. Consoante a página da internet movie database, o maior filme do qual participara fora mesmo o "<i>The best so far</i>"; entretanto, havia algumas participações em séries menores, das quais Dudley jamais ouvira falar. Averiguou os créditos das produtoras e nada digno de nota apareceu. Com os pés para cima da mesa, os dedos entrelaçados por trás da nuca, Eric assistiu ao tráfego modorrento correr as highways de Toronto para além da janela, raciocinando uma forma segura de levar a aventura adiante. Com a folha de Lacy em mãos, relia informações que já conhecia de cor, e vez ou outra seus dedos tocavam o teclado do telefone. Ele queria ligar, mas uma série de pequenas coisinhas o mantinha relutante quanto a ideia. Imaginava se pareceria apegado ao procurá-la, ou mesmo se a apanharia em boa hora. A cada possibilidade, muitas novas derivações apareciam, até que Eric resolveu afugentar as ilações, teclar os números e deixar que o acaso tomasse conta do restante.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Olá, boa noite... Senhorita Morel? - Eric conquistou o nervosismo. Temia soar extremamente formal, porém ao menos tinha deixado a zona de conforto.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sim. - A voz sonolenta anunciou. - Sou eu falando.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Oh, como vai?Aqui é Eric Dudley, da <i>La Fabrique de Films</i>... - Ele se identificou, e então a voz de Lacy pareceu se encher de vida.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Ah...Olá!Aguardava a sua liga... Digo, a ligação do pessoal da <i>La Fabrique</i>!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Espero não tê-la acordado. Pela voz, imagino que estivesse dormindo.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Por favor, não! - Uma risada, seguida pelo barulho semelhante ao de livros depositados sobre um criado-mudo. - Eu esperei que me chamasse. Estava temerosa que... - Ela se calou e Eric sorriu. Sentia que Lacy estava tão ansiosa quanto o próprio, e agora tinha cometido o deslize de mostrar mais do que desejava.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu estive pensando se poderia levá-la para tomar um café uma noite dessas. - Sugeriu, e esperou a resposta, girando o lápis nas mãos, os olhos na imensidão de <i>downtown Toronto</i>.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Adoraria, adoraria. - Veio a resposta. Então, constrangedor silêncio, que nem chegou a somar um minuto, mas que, ao fim, levou ambos às risadas.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Imagino que não seja muito bom nisso. - Eric confessou, a voz calorosa e sempre inspirando confiança.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Você se saiu bem! - Mais risadas, e Lacy brincou. - Não se preocupe. Tampouco eu. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Eric a levou a um excelente e discreto restaurante de carnes e grelhados na esquina da <i>Dundas St.</i> com <i>Greenwood Av.</i> A fachada e interior obedeciam aos ditames da arquitetura dos charmosos cafés parisienses. Não era um espaço concorrido ou conhecido, sendo a sua exclusividade um dos motivos pelos quais o viúvo passara a frequentá-lo. Eric a convidou a se sentar no charmoso terraço aberto de onde se podia contemplar a estrutura do asfalto da <i>Dundas St. </i>em sua magnitude. A amenidade do clima fazia do jantar à luz de velas a escolha mais apropriada para um primeiro encontro. Escolhendo do cardápio forrado a couro, Lacy fez o pedido, e Eric, os cortes de sempre. Depois que o garçom se retirou, Lacy perguntou encantada por que ele a olhava de forma tão enlevada.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não há nada mais sedutor do que assistir a uma mulher bonita lendo pratos cujos nomes soam complicados. - Eric disse. Ela ruborizou, o que lhe deu a motivação perfeita para deslizar a mão sobre a mesa para tocá-la. - Aprecio a sua companhia. Fico feliz que tenha aceitado o convite.</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Temia que não me procurasse mais. - A urgência na voz de Lacy era honesta. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não precisa temer. Eu estou aqui contigo. - Encarou-a com o respeito que homem algum lhe reservara no passado. No sorriso de Lacy, surgiu o alívio de alguém que tivera o coração partido mais do que o suportável. Lacy e Eric eram mesmo parecidos, ambos almas sensíveis em um mundo que não poderia se importar menos, pessoas que haviam queimado a cota de desilusões e se cruzavam no que parecia ser a oportunidade de suas vidas. - Sobre o papel...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Oh, não. - O franco sorriso minimizou a importância da questão. - Não se preocupe. Eu me sinto grata por desfrutar de sua companhia.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Saberemos mais adiante. As meninas te chamarão para novos testes, com câmeras. Minissérie à parte, gostaria de conhecê-la melhor.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu também. - Fez discretamente com a cabeça em afirmativo.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Gosta de lugares como este? - Varreu o terraço com os olhos e então a encarou. - Espero que aprecie a noite.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sim, gosto. - Ela começou a se soltar, a parecer mais à vontade. - É um lugar muito agradável, quieto, excelente opção para se jantar e conversar. - Arqueou as sobrancelhas e revelou. - Trabalhei em <i>Dundas Street</i>, há muitos anos atrás. Em uma casa de show, que ficava mais para baixo.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Deve ter sido difícil abdicar de algo que amava. Refiro-me a dança.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Certamente. - Ela tossiu, o franzido da testa evidenciando a sombra do pesar. Lacy pareceu considerar algo em especial, antes de retomar. - Profissionalmente, a dança está acabada para mim, mas ainda hoje eu a pratico.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sério?Onde você estuda dança?</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Na <i>Órbita</i>, no terceiro andar. Se caminhar pela calçada às segundas e quartas, por volta das 21:00, conseguirá nos ver pelas janelas muito grandes, ensaiando coreografias.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Prestigiarei a sua performance, uma noite qualquer. - Eric a provocou, e Lacy pareceu gostar da ideia, mostrando-se aberta e interessada na proposta. - Suponho que deva dançar estupendamente, mas creio que deva fazer trabalho ainda melhor como atriz.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Por quê? - Perquiriu, formando uma covinha, no doce e encantador instante quando uma mulher se torna uma menininha intrigada.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Há certa tristeza em seu olhar. Eu tinha um amigo que afirmava que mulheres muito felizes tendem a virar atrizes medíocres. Ele acreditava que são as mais tristes as que mais têm emoções interessantes para mostrar. A minha análise lhe parece acertada?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não sei. - Ponderou, para responder honestamente. - Não saberia dizer quanto a "<i>tristeza</i>". Eu diria que o meu olhar traz peso, sim, talvez gravidade, mas apenas em razão de tudo pelo que passei. Quando começamos aos dezoito anos o mundo nos parece nosso, temos os segredos em mãos. Alguns anos de estrada funcionam para nos deixar mais humildes. Acho que as minhas experiências de vida estão muito bem representadas pelo meu olhar. Se isto me tornou uma atriz melhor, eu não saberia dizer.</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- E as minhas, pelo peso sobre meus ombros. - Indicou, para explicar no momento seguinte. - O mesmo amigo também dizia que a tensão de uma vida tende a se acumular sobre os ombros. Ele afirmava que pelo caminhar de uma pessoa, pode-se dizer muito sobre o momento de sua vida. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- O peso sobre os ombros. - Ela sinalizou com a ponta do indicador. - Vem se amontoando desde a morte de sua esposa</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não sei, imagino que sim. - Considerando a pergunta um pouco mais, encontrou a certeza para se corrigir. - Sim, certamente sim. Não só pelo câncer da Allie, mas por uma série de outras variáveis. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Houve alguma mulher depois de Allie</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sim. Se quiser pensar em um contexto exclusivamente platônico, houve sim. - Eric se abria, enquanto examinava as mãos, talvez em dúvida entre acrescentar prematuramente muita bagagem sobre si, àquela altura, ou esperar. - Foi uma época muito sombria. A nossa história remonta ao passado, quando a Kylie apareceu na <i>La Fabrique</i>, muitos, muitos anos antes, na década de 90. Eu acompanhei toda a sua evolução, pois surgiu como uma mocinha inexperiente e se tornou uma mulher fora de série. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Então, quando menciona o termo "<i>platônico</i>", foi um amor que jamais se concretizou</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Bem, ela soube dos meus sentimentos. Na época, todavia, não deu certo. - Era como se Eric assistisse aos últimos anos passando como uma sucessão de imagens de trailer de cinema bem diante de seus olhos. Interessante, pois ali, acompanhado por Lacy, as imagens não surgiam envoltas pela amargura de antes, e sim somente por nostalgia, por serena tristeza, no sentido de não ter funcionado. - Ela é uma dama muito especial. Eu fico grato por ter se saído tão bem. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Ainda... - Lacy sentiu-se presa a um dilema, mas Eric adiantou-se.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Se eu ainda a amo</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Ele passou os dedos nos lábios secos antes de provar um gole do vinho, e encarou a pergunta com muita coragem e sinceridade. - Sim, porém não de uma maneira ordinária. Eu a amo incondicionalmente, sim, pelas lembranças bonitas que mesmo hoje me proporciona. Foi a parte "<i>boa</i>" do amor, que eu consegui separar dos sentimentos de apego, de posse, para trazer sempre comigo. A Kylie se casou com um homem responsável que cuida bem dela, e é tudo o que importa. Sim, eu a amo, mas me libertei para viver um grande amor, e não permitir que a lembrança da Kylie persista como a coisa mais importante da vida. - Eric esperou que Lacy o tivesse entendido bem, e ficou feliz que sim. Lacy o compreendera, e a admiração estampada no olhar era prova da assertiva. - Deixemos Kylie de lado. O que acha de nos concentrarmos no que podemos fazer daqui para frente</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu acho melhor. - Disse, candidamente, apertando-lhe a mão com carinho, como se selassem um acordo. O garçom trazia os pedidos. No terraço, os dois estavam à vontade, separados de <i>downtown Toronto</i>, mesmo que praticamente aos pés da highway. O céu esticava-se magnificamente em uma perfeita noite. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Espero que aprecie o jantar. - Eric desejou. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Aprecio estar contigo. - Veio o inocente flerte. Os dois brindaram a recomeços, e Eric a ajudou a dispor o guardanapo no colo antes que começassem a comer. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Quando chegou o momento da despedida, Eric preferiu respeitá-la. Os dois trocaram um discreto e breve beijo antes que Lacy descesse do táxi mais adiante, quase ao fim da <i>Dundas Street</i>. Tinha sido uma noite de descobertas e aproximações. Sem dúvidas, ambos dançavam ao sabor do mesmo tema, os dois interessados, instigados pelo jogo do cortejo e sedução. Eric a viu ficando cada vez menor enquanto o táxi ganhava distância do calçadão, uma sombra em meio às luzes de semáforos, carros e comércios na insone <i>Dundas Street</i>. Quando ainda estava no táxi, recebeu uma ligação de Charly. O garoto perguntou se ele poderia trazer novas caixas de <i>nuggets</i>, pois o estoque havia acabado. Eric solicitou que o motorista parasse um quarteirão antes do condomínio fechado, onde existia uma mercearia muito acolhedora. Costumara comprar bobagens em noites insones antes de se aventurar pela <i>211 Bel Air Café</i>.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: helvetica;">
Eric colocava as caixas de <i>nuggets </i>e uma latinha de café com leite no contador, quando deu pela aproximação de um cavalheiro bem-vestido. Cary St. Pierre estendeu a mão, e, embora inicialmente surpreso, Eric devolveu o cumprimento e esboçou um sorriso amistoso. A menina da caixa enfrentava problemas de leitura do código de barras do café com leite, e Eric pensou "<i>ótimo, coisas assim sempre acontecem nos piores momentos</i>". Ele jamais ressentira Cary. Respeitava o seu caráter, talento e dignidade. Depois que Kylie surgiu entre os dois, porém, sentia-se menos à vontade na sua presença. Eric acreditou que o encontro ficaria nas cordiais saudações; entretanto, depois que a menina finalmente conseguiu ler o código de barras para passar a mercadoria, Cary o convidou a tomar um café do outro lado da rua.<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Escute, deixe-me adiantar que não há problema algum! - Foi dando as razões da inesperada reunião, à mesa, enquanto aguardavam os expressos. - Não precisamos de problemas para conversar, certo? Quero dizer, éramos amigos, Eric.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Olhe, até onde eu saiba, ainda somos, Cary. - Eric afastou as impressões bobas. - Você entende a minha situação com a Kylie, eu espero.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sim, e eu gostaria que soubesse que pode discutir comigo a respeito.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Nós éramos da mesma turma, você se recorda bem: eu, a Kylie, você, Hammond, Hermione e todo o resto. - Com inesperado saudosismo, revisitou os encontros daqueles tempos. - Os filmes de arte, a mesa redonda, os drinques e pizzas...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Foi uma época maravilhosa! - Sacudiu a cabeça concordante, tão encantado quanto Eric ao se recordar de dias mais simples. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não esperava vir a me apaixonar pela Kylie, e sejamos muito sinceros, sabe que eu me apaixonei por ela, certo?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu imaginava que sim, mesmo antes de se abrir. Por essa razão, distanciei-me, pouco tempo antes de terem a conversa. Você se recorda, não?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Como me esquecer? - Provou o expresso e ilustrou. - A estréia do "<i>Not Easily Broken</i>".</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Ela está muito dividida, porque sabe que as coisas nunca mais foram as mesmas. - Impaciente, Cary passou a mão sobre a boca e foi mais direto. - Olhe, ela me falou sobre a festa na Toronto Network. Kylie está arrasada. Ela não sabe como te abordar para conversar. Ela não suporta ficar em maus termos contigo, Eric. Eu a amo muito e odeio vê-la cabisbaixa. Gostaria que resolvessem a situação, ou melhor, que aceitasse o meu pedido de...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Cary, você é um homem honrado e generoso. - Frisou, abrindo-lhe um sorriso gratuito de camaradagem e compreensão. - Muito embora eu tenha ficado, sim, bastante triste por Kylie e eu não termos terminado juntos, o fato de cuidar tão bem dela me diz tudo o que preciso saber. Eu a amo e nunca deixarei de amá-la, porém meu papel na vida dela cumpriu seu ciclo depois que a Kylie deixou o estágio e se tornou uma mulher absolutamente independente. Diga a ela que sempre a manterei no coração e lamento por nossa briga.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Você é um verdadeiro cavalheiro, Eric. - Elogiou-o, firmemente. - Eu espero que encontre alguém para ocupar o espaço deixado por Allie. Ela era uma grande mulher, então imagino que será um pouquinho difícil, mas...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Acho que conheci. - Disse baixinho, atento ao outro lado da rua, onde as luzes brancas dos postes tornavam o espaço uma sofisticada e luminosa extravagância.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Conheceu<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span> - Cary insistiu, surpreso. Eric voltou ao amigo e, com um discreto movimento de cabeça, confirmou.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Creio que sim. - Então, deu com os ombros, e declarou sensatamente. - <i>Espero</i> que sim!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Charly assistia a um DVD com uma colega do colégio, uma garota muito bonita, cabelos curtinhos em franja, nariz arrebitado e o jeitinho de menina maluquinha com que Eric se recordava de Kylie quando a conhecera em meados dos anos 90. Ficou feliz por encontrar o filho movendo-se tão independentemente, cheio de projetos e sonhos, e agora começando a ensaiar aproximação com as meninas. Havia muito aprender, e Eric sorria ao constatar que mesmo fadado a ter seu coração partido eventualmente, a descoberta de um sentimento maior do que qualquer outro era realmente incomensurável. Eric exibiu as caixas de <i>nuggets</i>.</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- A senhora Medina preparará para vocês. - Deixou-as sobre a bancada da cozinha. - Filho, não está muito tarde para a sua amiga...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Oh, não. Moro logo na casa a uma quadra abaixo, senhor Dudley! - Ela explicou. - Aqui no condomínio.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Ah, então está bem. - Eric olhou para o filho, e apontando para a visitante, orientou-o. - Ainda assim, Charly, eu não quero que a deixe voltar para casa desacompanhada. Acompanhe-a até a volta, combinado, filho?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não gostaria de ficar para comer conosco? - A jovem o convidou, mãos dadas, balançando os braços como a um pêndulo, uma menininha ansiosa.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não, querida, eu jantei há pouco. Vou subir para o gabinete. Tenho de tomar banho e passar a vista por alguns trabalhos. Sinta-se à vontade. Charly, juízo. - Antes de deixá-los para que assistissem ao filme, Eric e Charly trocaram olhares, enquanto a garota levava as caixas para a cozinha, e o pai fez o sinal de positivo, aprovando a escolha do filho, a que Charly balançou discreta e afirmativamente a cabeça, sorridente e orgulhoso!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Livrou-se do casaco, com um suspiro esgotado, e o deixou sobre o cabideiro. Desatou a gravata, desabotoou a camisa e socorreu-se das pedras de gelo no congelador do frigobar do gabinete para deixar o <i>whisky</i> no ponto. Uma vez sentado e completamente relaxado, soltou um novo, prolongado suspiro, desta vez de alívio, e deixou que o breu que tomava conta do escritório o engolisse junto às coisas. A ideia de a escuridão o tragar para o silêncio e a inconsciência, reforçada pelo frio, parecia atraente, tudo o que mais queria naquele instante. De olhos fechados, pensou em Allie, e construiu em pensamento, como arquiteto de castelos de areia, como seria se apenas retornasse para conversar, só por aquela noite, e...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Allie regressou da terra dos mortos como uma altiva princesa de conto de fadas. Bastou ao viúvo fechar os olhos e desejar de seu âmago. Quando os abriu, Eric a encontrou ali, ao lado das cortinas da janela de mansarda do escritório. Primeiramente, não conseguiu delinear traços bem definidos, mas a silhueta era definitivamente a de Allie. Quando a vista se acostumou à escuridão, e ele pôde enxergar o rosto, viu que se tratava mesmo da falecida esposa, o olhar um pouquinho lânguido, talvez em razão dos esforços demandados para encontrar o caminho de volta ao vale dos vivos. Ele sorriu convidativo, e a finada se aproximou, encantada com a naturalidade da recepção. Sem sustos, sem dramas, a mesma serenidade com que Dudley fora informado sobre sua morte, seis anos antes, ele voltava agora a exibir, quando de seu retorno. O reencontro desafiava os conceitos da Física, de modo que não havia alternativas, que não a de viver a experiência, às favas com a sanidade. O mundo que habitara há pouco - o das <i>highways</i> que levavam a <i>downtown Toronto</i>, o do livre acesso aos círculos mais exclusivos da sociedade, que vez ou outra o aproximavam ou distanciavam de Kylie Grattan, a própria Kylie sentada de pés descalços e pernas dobradas, no tapete, à beira da lareira, trabalhando a sua sedução no imaginário do desavisado Eric – ficara para bem depois da porta. Ali dentro do gabinete, imerso no breu, a vida parecia reencontrar as raízes de quando os cânones do mundo ainda eram escritos. Era um lugar mágico e sobrenatural, onde não existia a morte, ou melhor, vida e morte se confundiam, quase a mesma coisa, e grandes amores retornavam de lugares muito longínquos, talvez tão distantes quanto o que Eric reservara em seu coração para as más recordações, tudo por um último instante ao lado de seus amores. Uma conversinha, antes que Eric se apaixonasse por Lacy e seguisse em frente com a vida, antes que com o seu esquecimento deixasse-a aprisionada para sempre nos mistérios do descanso final. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Foi uma boa noite? - Allie perguntou, escorando-se na escrivaninha e cruzando os braços, mal contendo a curiosidade.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Tão boa quanto às que tivemos quando você estava viva, quer dizer? - Perguntou, com humor. - Eu acho que ela gosta de mim. - E então, cheio de si, revelou. - E no fim, nós nos beijamos.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Fico feliz. - Ela riu facilmente. - Já era tempo de deixar que eu descansasse.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Fez uma longa viagem? - Eric perguntou, sem saber exatamente por quê a fizera, qual a lógica da questão.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não chega a ser tão distante. - E então, abrindo mais os olhos e voltando-se para a janela, distraída por um galho mais revolto a arranhar a superfície do vidro, elaborou. - É impressionante, uma vez que se morre, e se chega lá, percebemos a porção de arquétipos equivocados que levamos conosco para o <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">"</span><i>outro lado</i>". Mas é questão de perspectiva, não concorda? Não há um "<i>Outro lado</i>". Existimos apenas nós, e a aceitação de que a consciência não termina nunca, por mais que a vida no lado de cá seja apenas transitória, uma gota no mar.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Como é estar morta, meu amor? - Eric odiava sentimentalismos, mas ali se flagrou fazendo perguntas cujas respostas o acabariam machucando.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não difere muito de viver. Este é o problema, afinal de contas. Quando estamos para morrer, funciona como se estivéssemos com os dedos na cortina, a ponto de puxá-la para finalmente revelar o Mágico de Oz. Depois que morremos, porém, descobrimos que não há nada... de especial. - Em um salto com as costas para a prancheta, ela se sentou bem diante de Eric. - Há os dias de tédio, os dias de aventura, os dias de... - Allie seguiria numerando, mas acreditou que explicitara muito bem seu ponto. - Morrer é apanhar as chaves do carro para ir comprar o leite na padaria. Nada mais extraordinário que isso. O fato é que nós mortos continuamos a pagar impostos, a esperar na fila para comprar ingressos, a ferrar com o regime no mês de dezembro por causa da ceia de Natal, a correr na esteira para tentar queimar desesperadamente o peso que ganhamos...Acontece que quem parte não consegue mais cruzar com os que ainda estão por aqui. Uma... Incompatibilidade de horários. - Allie o tocou, as pontas gélidas de seus dedos nas maçãs do rosto fizeram eriçar todos os cabelos da nuca do viúvo. - Quando estou em casa, você ainda não terminou a reunião no trabalho. Quando você está em casa, eu estou queimando calorias na esteira da academia da esquina. Ou descendo de um táxi. Ou tirando o dinheiro da carteira para pagar pelo meu expresso, no bar do mesmo restaurante onde jantou hoje com a Lacy.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Então tudo é verdade? - Eric perguntou, as lágrimas correndo.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Tudo era verdade, <i>baby</i>. - Como esposa conhecedora de todos os botões a apertar, Allie filou um cigarro <i>Charm</i> de um maço <span style="font-style: normal;">guardado na gaveta. </span>Quando o acendeu, Eric pôde observar o seu rosto melhor. Ainda era linda, mas agora que morrera, a pele adquirira a polidez de porcelanato. Deu uma tragada, soltou a fumaça de forma a desenhar anéis que subiam e esbranquiçavam ainda mais o seu sorriso fácil, e sumarizou. - <i>Tudo</i> era verdade. Deus é um astronauta, Oz está sobre o arco-íris, e a morte não existe. O que há é apenas incompatibilidade de horários. Venha cá, venha, querido. - Chamou-o com o dedo, de uma forma sedutora. Ela se inclinou sobre o seu ombro e sussurrou em seu ouvido. - Em 2004, quando eu... "<i>morri</i>"...Lembra-se?Pois bem, eu estive na festa de abertura para o "<i>Not Easily</i> <i>Broken</i>". Sabe quando entregou a carta para a Kylie? O bar não estava vazio, não. Na última bancada, à esquerda, logo atrás das caixas registradoras muito antigas e poeirentas, estive com um suco de laranja em mãos assistindo a tudo e torcendo por vocês.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Oh, Allie. - Eric foi deslizando para fora da cadeira reclinável, abraçando-se às pernas de Allie. Usava um vestido azul longo, que descia um pouco abaixo do joelho, e ao tocar as suas canelas, pareceu-lhe tocar azulejos gelados. - Charly sente a sua falta. Nós temos vivido a "<i>vida louca</i>" desde que partiu, meu amor.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Partir? - Allie meneou negativamente com a cabeça. - Por onde você estiver, Eric, eu estarei descendo de um táxi ou passando pelas portas automáticas de um shopping. Quando for tomar café na <i>211 Bel Air</i>, preste atenção aos rostos dos gatos pingados que surgem de madrugada, porque eu estarei lá estes dias. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric sentiu a cabeça pesar, e o que era fantasioso ficou ainda mais confuso quando momentos de épocas distintas se sobrepuseram, e a escuridão da sala se tornou o mostruário para toda a riqueza de emoções. Morte e vida pareciam a mesma coisa, porém também o eram passado, presente e futuro. Quando despertou, o gosto na sua boca era amarg. A cabeça latejava. Enxaguou a cara para apagar da memória o pesadelo horroroso, e quando levantou a tampa para urinar, encontrou a bituca de cigarro <i>Charm </i>com manchas de batom. Quando foi ao quarto de Charly, já passava de duas horas da madrugada, e o menino dormia. Eric tomou um banho quente, e ao perceber que não conseguiria dormir, rolando na cama e mudando de canais, resolveu se vestir e procurar pelas xícaras de café e os conselhos de Colby Rodriquez. </span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: helvetica;">
"<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>E então, estava lá no jornal: casal coloca apartamento novo à venda para assistir à Copa do Mundo. Os dois adiaram o sonho da casa própria para custear viagem, estadia, bilhetes e alimentação para os jogos na África do Sul. O apartamento ele já perdeu, agora vai perder a mulher também para deixar de ser burro. No fim, ela vai dizer que o marido perdedor é o culpado por tamanha loucura, e ao perceber que não tem amor próprio, vai lhe dar um pé no traseiro</i>". Colby conversava com os cotovelos no balcão, com um visitante que saboreava a torta de limão e escutava as histórias do rapaz entre deliciosas gargalhadas. Eric os cumprimentou e pediu a mesma coisa que o cavalheiro ao lado saboreava. Entre colheradas de torta de limão e xícaras de café, o trio se entreteve, Colby destilando os comentários realistas sobre relacionamentos. O homem estava de passagem, aguardando o horário do voo que o levaria de volta à Dinamarca, seu país de origem. Apreciara a estadia em Toronto, e na conversa Eric aprendeu que o turista visitara o mesmo restaurante onde levara Lacy. Duas horas antes da previsão de embarque, o dinamarquês lhes estendeu a mão, grato pela madrugada de boa conversa, e deixou pela porta de vai-e-vem, o vento gélido adentrando a <i>211 Bel Air</i> após a porta ter sido delicadamente empurrada.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Bem, agora que estamos a sós, vá contando o que se deu. Assim que o vi entrar, soube que havia algo errado. Acertei?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sim. - Eric fez um muxoxo de aborrecimento antes de introduzir a questão. - Um pesadelo muito real com a Allie. Entrou no meu gabinete e conversou comigo. Como se não tivesse morrido. No começo, foi maravilhoso vê-la, mas daí caiu a ficha e achei que finalmente tinha enlouquecido. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Ainda não consegue vocalizar, não é? - Colby compreendia a dificuldade, mas precisava insistir realisticamente. - A vida precisa continuar, senhor Dudley, quer queira ou não. Não foi a senhora Allie quem o visitou esta noite no gabinete, foi uma parte de si que o recrimina desde que começou a se mover para a libertação.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Libertar? Você se refere a …</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- A qualquer uma das duas "<i>mulheres de sua vida</i>". - Colby pôs a colherinha sobre o pratinho onde servira a torta e levou as louças para a pia. Da cozinha, ofereceu seus <i>10 cents</i>. - Pode ser autocensura, porque estendeu a mão à vida, mesmo que Allie esteja morta; remorso, por vir apagando os rastros da Kylie de sua história recente. Até Lacy surgir, parece-me que o distanciamento de Kylie virara sua zona de conforto. Você se apegava à ideia de que só por ter procurado se afastar, tinha vencido o apego magnético que os conectava. Acontece que Lacy significa a ruptura total e completa do passado recente. Amputaria a Kylie de seu imaginário, e isso é assustador demais para dar esse passo.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Gostei da teoria. - Eric passou as mãos pelos bolsos do paletó. - Colby, acenda meu cigarro, por gentileza.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Aqui está. - Riscou o fósforo e Eric deu uma relaxante tragada. - A Lacy... Eu acho fantástico que tenha se permitido amar novamente, senhor Dudley. Não podemos aceitar que nossos corações acabem empedernidos, mesmo diante da morte de pessoas queridas. Tudo o que pedi foi que procedesse com cautela. Pode ser que a Lacy represente exatamente o que transparece. Ou não. Apenas não quero que se machuque. Há mais coisas em jogo do que coração partido. Você perdeu a esposa, mas Charly perdeu a mãe, e não tem a cabeça preparada para lidar com essas transformações malucas que vêm ocorrendo ao longo dos últimos seis anos. É muito para uma criança internalizar, concorda?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Charly... - Murmurou, e quando pensou no filho, se deu conta de que, ao contrário do que `as vezes considerava, era ele quem mais tinha a perder. - Eu não podia desejar um filho melhor. É tão maduro para a idade. Charly gosta de filmes. – Os olhos de Eric subitamente despertaram, como os de pessoas que descobrem maravilhosas histórias para compartilhar. - E decorou a parede com os cartazes dos filmes dos diretores que ama. Para um adolescente de dezesseis anos, ele consegue conciliar muita coisa. Estuda, escreve roteiros, sonha em rodar os próprios trabalhos. - Ambos sorriram. Colby estava enchendo uma nova xícara de chococino para o amigo. - A ingenuidade de crianças... - Concluiu, em um murmurinho desolado.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;">- Aqui está a bebida. - Empurrou vagarosamente o pires para não derramar o chocolate quente. - Sou só eu, ou todo esse neon dá nas vistas<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Bem, não me incomoda, mas também não sou eu quem passo a semana inteira aqui. - Assoprou antes de provar. O vapor pareceu ganhar volição ao toque do sopro, desenhando um arco ascendente de curva quase perfeita.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Tem cartazes de filmes sérios e tristes demais para uma criança apreciar!Charly tem dezesseis anos, mas o seu gosto gira em torno de filmes de <i>David Cronenberg</i>, <i>Clive Barker</i>... Imagino que os seus amigos de sala prefiram coisas mais ensolaradas a dramas densos como "<i>Gêmeos Mórbida Semelhança</i>" ou "<i>Hellraiser</i>".</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Coloque-se no lugar do garoto. Os dramas no decorrer de seu processo de conhecimento favoreceram essa espécie de melancolia. Ele só procurar encontrar na arte uma maneira de extravasar a somatização das experiências, e não há nada de errado nisso.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Às vezes, sinto-me um pai fracassado. - Lançou-lhe um olhar aflito, respondido por Colby com um sorriso compreensivo, que meneou negativamente com a cabeça. - Ele é um garoto tão maravilhoso, apegado às artes, apegado a filmes... Meio que se viu obrigado a substituir a ausência emocional do pai por estrelas de cinema e filmes, e...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Você não se ausentou. Não pode esperar suprir, ao menos não completamente, o vazio deixado pela mãe do menino. Foi uma tragédia que precisaram enfrentar.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Charly tem uma sensibilidade tão surpreendente. Ele crescerá para se tornar um adulto a quem tirarão vantagens ou machucarão facilmente. - Levou a mão à testa e fechou os olhos, atormentado pelos fantasmas que eram as consequências de suas más escolhas. - Tinha 11 anos, foi alguns meses após a morte da mãe. Eu estava chegando da <i>La Fabrique</i>, a senhora Medina me contou que Charly tinha ido brincar no playground do condomínio. Eu o vi a uma certa distância e já reparei que estava sozinho, mas falando com alguém. Eu me aproximei para ver o que acontecia, fiquei atrás do escorregador. Charly conversava com um gatinho pequenino, que aparecera por ali. Literalmente conversando com o animalzinho "<i>Você vem comigo, eu vou cuidar de</i> <i>você</i>", daí ele se afastava alguns passos, e o gatinho o seguia, chorando. Ele parava, falava que ia ficar tudo bem, dava mais alguns passos, e o gatinho miando, atrás. O animalzinho estava com a pata toda machucada, imagino que tinha sido atropelado. Então, Charly pegou o bichinho no colo, deu o abraço mais doce que já vi. "<i>Você nunca mais vai</i> <i>ficar sozinho</i>", insistia, enquanto o acariciava. A cena me assaltou como uma forte bordoada na cara, porque tive como enxergar toda sua dor e carência. Encarei a minha impotência de suprir o que lhe faltava, o quanto Charly sentia a necessidade de mesmo não contando com o afeto da mãe cuidar dos outros, até um animalzinho, com carinho e atenção. - Eric começou a chorar, e Colby preferiu dar espaço para que o amigo desabafasse. Solidariamente, passou as mãos nas costas do publicitário, consolando-o baixinho "<i>tudo bem, tudo bem</i>". - O fato é que... - Sabotou o choro com uma risada nostálgica e revelou. - O gatinho... Descobrimos depois que era uma gata. Levei-a na mesma tarde ao veterinário, claro que tiveram de lhe amputar a patinha ferida, mas ela sobreviveu. Há seis anos, era uma filhotinha, hoje tá uma gata enorme. Só dorme com Charly, meio que o elegeu como seu mestre.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Bonita história, amigo. - Colby saiu de detrás do balcão e ocupou um dos bancos altos, ao lado do amigo. Ficaram em silêncio por um par de minutos, Colby ruminando a tristeza da lembrança.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Tantos anos que venho aqui, atormentando-o com meus dramas. - Limpou o canto da boca com o guardanapo de papel e, mais animado, emendou. - Não o escuto falando sobre os seus problemas, mas o amolo com os meus. Eu também estou aqui para escutar. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Você quer saber qual a minha montanha a transpor, por assim dizer. - O rapaz melhor definiu, e Eric assentiu. - Quer saber qual a minha "<i>Kylie Grattan</i>". - Os dois riram ao mesmo tempo. Colby repensou a própria vida por um instante e respondeu. - Eu acho que um conjunto de coisas, senhor Dudley. Certamente os nossos dramas diferenciam-se. O seu, muito bem definido, a morte de Allie, e todas as implicações vindas posteriormente. O meu, uma adição de coisas, mas que também envolvem dores parecidas. A perda de pessoas amadas, o sentimento de se ver às margens dos sonhos enquanto a banda segue marchando. Apenas a forma como as peças se encaixam e o produto final diferem um pouco.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Colby o convidou ao terraço. Era uma madrugada especial para se admirar a noite. A visão panorâmica permitia que estudassem </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">a infinita envergadura do horizonte esticado, e a aproximadamente oitenta quilômetros acima de Toronto, as nuvens notilucentes, eletrizadas por cristais de gelo minúsculos, que refletiam a luz solar, mesmo o sol ainda por nascer, abaixo da linha do horizonte, pincelando o céu, a tela de um Deus artista, de extravagância e romantismo. </span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- No meu caso, creio que foi crescer sem o meu pai biológico. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- O que quer dizer, "<i>pai biológico</i>"</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Colby se divertiu com a confusão do amigo. </span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- É uma longa história. - Deu com os ombros e respirou fundo, a sua alma provavelmente assaltada pelo desgaste que lembranças más traziam. - Meus pais eram separados e viviam distantes. Cresci afastado de meu pai, mas não quero dizer que não o via. Eu o via nas férias, e o meu pai biológico fez o possível para estar o mais presente possível. Por esse motivo, quando o senhor me fala sobre a culpa que sente no que se refere a Charly, compreendo-o muito perfeitamente. Quando o meu pai morreu, foi uma tragédia, pois jamais recuperamos o que se perdeu durante o meu crescimento. Quando o meu outro pai morreu... O meu padrasto... Foi como sobreviver à mesma dor, duas vezes. Entende agora, o uso dos termos "<i>pai biológico</i>", "<i>o outro pai</i>"</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Que bonito, Colby. Eu lamento pelos seus dois pais. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não lamente, senhor Dudley. Poucos podem afirmar que tiveram tamanha sorte, porque se se pode dizer que sobrevivi a grandes perdas consecutivamente, também experimentei o amor, o mesmo número de vezes. Eu e o velho não tínhamos o mesmo sangue e vínhamos de mundos distantes, mas jamais encontrei uma pessoa tão semelhante a mim. A mesma visão de mundo, as mesmas histórias. De muitas formas, éramos a mesma pessoa. Ele era de fora, e apesar de eu não, cresci me sentindo assim, como um forasteiro, porque enquanto todos os outros garotos tinham os pais, eu não. Quando conheceu a minha mãe, fazia dois anos que perdera a esposa num acidente automobilístico. Tinha suas razões para se sentir uma carta fora do baralho, em relação ao restante da família, pois os filhos já estavam crescidos. Era um "<i>outsider</i>", não pertencia. Por isso, eu sentia que de muitas maneiras, éramos a mesma pessoa. Ambos sentíamos o que significava "<i>não pertencer</i>". À medida que os anos foram passando, e ele transformou a minha vida e nos tornamos amigos, chegou o dia em que percebi que "<i>não pertencer</i>" não importava mais. Tínhamos um ao outro, e pela primeira vez em minha vida, fosse o que fosse a que eu tivesse desejado pertencer, não precisava mais da aprovação daquela gente. Se hoje tenho alguma dignidade, o que é possível, e não necessito mais "<i>pertencer</i>", eu devo ao velho. - Uma lágrima rolou pelo rosto de Eric, que exprimiu sua admiração pelo garoto dando-lhe um cúmplice soco no peito. - A vida não foi fácil, porque depois de sua morte, cinco anos mais tarde, a minha mãe também faleceu, e ficamos apenas eu e vovó. Mas temos um ao outro, e não pararei de olhar para frente e esperar grandes coisas dos anos por vir. Senhor Hammond estava correto ao afirmar que o que nos define não é aquilo que fizeram conosco, mas sim <i>o que nós fizemos com o que os outros fizeram conosco</i>. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Um brinde a não precisar "<i>pertencer</i>". - Mostrou o copo de isopor com o chococino. Colby estendeu o seu, e os dois brindaram. - Ao velho.</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Ao velho. - Colby fez coro. - Espero honrá-lo um dia. Espero fazer algo extraordinário por alguém, do mesmo jeito que fez por mim. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Conversaram tanto que não se aperceberam da chegada do novo dia. Quando se despediram, Colby pediu para que lhe contasse sobre o próximo encontro com Lacy. No trabalho, Eric passou o dia dividido entre ligar para Lacy e simplesmente aparecer na Órbita, onde ela treinava dança. Até a alguns minutos antes de vestir o casaco para frio, ao desfecho da tarde, e deixar a <i>La Fabrique</i>, não sabia como proceder, até que resolveu aparecer no estúdio onde Lacy dizia treinar. Da calçada, Eric procurou enxergar o salão do terceiro andar, o único do pequeno prédio iluminado e ladeado por esquadrias de alumínio por onde as grandes lâminas de vidro corriam. Sem conseguir ver muito, que não a réstia de luz que emanava do estúdio, Eric aproveitou quando um rapaz saiu pela porta da frente do outro prédio que ficava defronte Órbita para entrar. Dudley ganhou as escadas e em um minuto chegou à cobertura, cuja vista para o salão era fantástica. Chuviscava, mas Eric não poderia se importar menos. Encostado ao parapeito, não apenas teve como enxergar Lacy compondo entre as colegas os movimentos graciosos de uma valsa, chegou a escutar a melodia harmoniosa que ditava os passos. Vendo-a tão desenvolta, ficou parado, admirando-a, sem ação. Era como se a alguns metros, a última oportunidade de se redimir de uma vida medíocre que vinha se arrastando há seis anos suplicasse para ser aproveitada.</span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Lacy despediu-se de duas colegas de turma, todas sorridentes após as confidências de alguma história engraçada, quando Eric se aproximou. Ela não o notou, mas o viúvo a abordou brincando "<i>Oh, olá, senhorita, acho que te conheço</i>". "<i>Não me amole</i>", Lacy contemporizou, sem se deter de seus passos firmes. "<i>Não, não, eu te conheço sim, não é você que saia com aquele bonitão, Eric-não-sei-das-quantas?</i>". Lacy se deteve, como que percorrida por um forte choque. Voltou-se com um sorriso de grata surpresa, a que Eric arrematou: "<i>Olá, querida</i>".</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Os dois se sentaram em um bistrô a duas quadras do Órbita, cuja arquitetura inspirava-se nas linhas parisienses. Em dias quentes, a seção ao ar livre ficava cheia de cadeiras, mesas e guarda-sóis, um estilo típico do velho continente. À noite, porém, parecia deserta, e quem se encontrava do lado de dentro bebericando a sua xícara só podia imaginar o frio que devia fazer nas calçadas. Lacy e Eric eram praticamente os únicos clientes, que não por um jovem que mais parecia concentrado em seu notebook, fazendo uso do hotspot do café, do que no prato de fritas. Assim que se sentaram, não demorou a Lacy encostar o bico da bota na canela de Eric. Ele não soube precisar se o fizera propositalmente, mas apreciou, e deixou que o jogo de sedução começasse.</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sobre "<i>Wings of the Dove</i>". - Eric limpou a garganta, e pareceu encorajar-se a adentrar na questão, algo que visivelmente o entristecia em precisar falar. - Hermione me disse que os produtores têm em mente uma atriz mais conhecida para fechar o triângulo amoroso.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Tudo bem. - Veio a resposta. Com muita simpatia, Lacy parecia mostrar que o papel era a questão menos importante. - Os nossos encontros se tornaram muito mais sobre nós dois do que sobre o papel.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu lamento, Lacy. Agora, Hermione e o pessoal realmente gostariam de vê-la em um dos papéis secundários, isso se não julgar abaixo de...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Estaria ótimo assim! - Contente, abriu um sorriso luminoso. - Só a experiência, o envolvimento em algo tão artisticamente relevante, significaria o mundo para mim.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Ótimo, ótimo. - Eric se sentiu mais aliviado, agora que tinham vencido a parte mais delicada. - Você dança lindamente. Eu fico feliz por não ter parado, mesmo depois de ter ferido o tornozelo. Vendo-a, eu jamais imaginaria seu problema.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Obrigada, querido, mas até as coreografias mais simples exigem muito esforço por causa da dor.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- E mesmo assim, continua a dançar. Um forte testamento sobre seu comprometimento para com o que ama.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- O termo perdeu o significado. "<i>Amar</i>" se tornou facilmente utilizável, uma cortesia descartável, o objeto do "<i>amor</i>" facilmente substituível pela novidade do momento. As pessoas que mais sofrem são aquelas que o tomaram ao pé da letra.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Você acredita que amar traduz dor?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Amar não traduz dor, mas te vincula à dor por mais que afirme o contrário. Se for honesto, concordará que as recordações que mais apertam o seu peito são justamente as das pessoas a quem amou. Pode ser a lembrança de alguém que amou e se foi...Ou a de alguém que ainda está aqui.</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Tão certeira Lacy fora, as suas palavras dobraram a Eric como um forte golpe nos rins o faria. Quando fechou os olhos, enxergou o rosto de Kylie, e percebeu que assim como Grattan, Lacy era outra pessoa que o lia como poucos. A convidada obviamente enxergou que o acertara em cheio com as muito pertinentes observações, e em um segundo de arrependimento apanhou as suas mãos. Quando ela as apertou, Eric ergueu-as à altura da boca as beijou. Passeando de mãos dadas pelo <i>walkside</i>, os seus ombros estavam lado a lado, como um casal adolescente ligeiramente bêbado e feliz. Não custou a Eric cercá-la com um dos braços. Tão fascinados se sentiam, alguns casais que passavam por Eric e Lacy tinham que se voltar, impressionados com a sintonia que eles deixavam transparecer pelos mais insignificantes detalhes. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">As calçadas encontravam-se quase vazias, mas <i>downtown Toronto</i> sempre parecia muito seguro. Caminhavam por um quarteirão composto de pequenas, estreitas ruas, e comércios de ambos os lados. As calçadas eram enormes, as vias não tanto, o que era fantástico, já que ali não fora mesmo projetado para tráfego de carros. Muito embora as lojas estivessem fechadas, as cortinas e cordões luminosos pisca-pisca avivavam o centro adormecido. Quando passeavam em frente a uma livraria, cuja vitrine parecia deslumbrante, luzes douradas caindo como cascatas sobre cartazes promocionais dos best-sellers de 2010, Eric a apanhou pelos braços e a levou para a frente do espelho. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- O que quer me mostrar</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?Quer me mostrar um livro</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- <i>Você</i>, quero lhe mostrar <i>você</i>. - Passou a mão sobre sua testa, livrando-a momentaneamente de algumas mechas, da mesma forma que um dia fizera a Kylie. - Olhe esse rostinho lindo seu, a forma como o seu sorriso ilumina a tudo. Faz ideia de quão linda é</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Oh, bobagens. - Foi enrubescendo, mas Eric continuou a enaltecê-la. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Você está de tirar o fôlego. - Ela pareceu aceitar os comentários. A presença daquele novo homem na sua vida a remetia a lembranças dos dias em que o mundo fora feito de possibilidades e o destino nao escapara das próprias mãos. Os dois se entreolharam, ela forçando um pouco o pescoço, para encará-lo. Em algum lugar, podia-se escutar a <i>Janno Gibbs</i> entoando a bonita e romântica <i>Fallin</i>, da série de TV "<i>Full House</i>". Quando estavam para se beijar, Eric disse. - Vamos, querida. Vamos apanhar um táxi. Gostaria de levá-la para casa.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Não há momento certo para se afirmar que a partir de agora duas pessoas entraram em um relacionamento. As coisas simplesmente acontecem. No caso de Lacy e Eric, todavia, foi no instante em que o táxi acostou na calçada de um luxuoso shopping do centro, onde Lacy desceria, que Eric soube que ambos haviam se envolvido romanticamente. Antes de descer, Lacy o agradeceu pela memorável noite e o beijou demoradamente na boca. Eles não se incomodaram com o taxista, e o camarada motorista pareceu não se importar. Devia ter visto cenas semelhantes anteriormente!Os dois concordaram em se reencontrar no decorrer da semana. Eric sentia que era apropriado frequentar a noite de Toronto ao lado da nova namorada. Lacy fazia por merecer o respeito de Dudley. Pegou Charly acordado, reescrevendo folhas de rascunho após folhas de rascunho sobre a prancheta de plástico, a gata dormindo ao lado de seu computador desktop, apenas a luz da luminária ligada. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu achei que esse dia não fosse chegar, papai. Só espero que não se machuque. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não sou mais garoto, Charly. - Eric o tranquilizou. - Tenho a cabeça no lugar e sei o que quero de uma namorada. Lacy tem sido uma grata surpresa. Ela se porta bem, conversa bem... Parece um pouco ferida. Emocionalmente ferida, eu diria. Creio que eu possa ajudá-la. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Todas elas têm uma história semelhante, não</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Ele simplificou. </span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Todos nós, Charly. Às vezes, a vida nos bate tanto que paramos de acreditar. Mesmo quando alguém maravilhoso se insinua em nossas vidas. Não podemos deixar o passado definir nossas escolhas.</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Tampouco esquecê-lo completamente. Estaríamos condenados a cometer os mesmos erros. - Ele respondeu. Charly folheava o caderno onde anotava ideias para o roteiro. Não parecia prestar real atenção `as notas. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Penso em passar o fim de semana fora com a Lacy. Levá-la a algum lugar especial, talvez a Niagara Falls. - Eric revelou o plano. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Você realmente confia em Lacy</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Os olhos repentinamente deixaram o caderno para se focar no rosto contente do pai. - Não acha que pessoas emocionalmente machucadas possam ser perigosas</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? </span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Charly, pensei que estivesse feliz por me ver namorando novamente! - Eric contestou.</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- E eu fico, papai. - O menino se sentou na beira da cama, ao seu lado. - É que... Acho que fui crescendo com a esperança de que um dia, você e tia Kylie terminariam juntos. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;">- Ora, quando pequenininho, dizia ter medo de que a Kylie substituísse o lugar de sua mãe, e agora isso</span></span></span></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? </span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Bem, antes eu tinha dez anos de idade! - Colocou as coisas sob perspectiva. O pai riu e lhe afagou os cabelos. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Vai dar tudo certo, filho. Tenha fé em seu pai. - Eric apanhou o prato sujo que o filho deixara sobre a mesa. Antes de sair, Charly desabafou.</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sinto falta de quando você e tia Kylie eram mais unidos. - Eric pôde jurar sentir nos ossos a tristeza vinda do filho. - De muitas maneiras, o que houve entre vocês dois equivaleu a uma separação, pai!</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu amo a Kylie, Charly, é algo que separação ou tempo jamais tirarão de mim. Eu apenas precisei me distanciar um pouco para que ela seguisse com sua vida ao lado do homem que escolheu. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Ela sente a sua falta. - Falou, de maneira misteriosa.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Como assim, Charly</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Eric devolveu o prato à escrivaninha e se aproximou da cabeceira. </span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Trocamos e-mails e nos falamos online. - Charly contou, com os olhos bem abertos e intensos. - Ela sempre me pergunta de você. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;">- Oh, Charly. - O coração de Eric pareceu se estilhaçar. - E como ela está</span></span></span></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;">? </span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Bem!Ela se preocupa comigo, como estou me saindo. Expliquei que sinto muita saudade de quando estava sempre aqui, vendo filmes, quando nós três saíamos juntos... Você não</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? </span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Tenho muita, Charly. - Deu um suspiro cansado, o ar lhe deixando como a um exausto soldado. - Não sabe como a situação me divide. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Ela te ama, pai. - Charly insistiu, como uma súplica. Era como se pedisse para abortar a relação com a Lacy para procurar Kylie novamente. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu a amo também, meu filho. Agora, durma. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Mas Charly ainda tinha mais a dizer. Ele não era mais o menininho incapaz de vocalizar as frustrações, a confusão causada pela morte da mãe e o envolvimento do pai com a melhor amiga. Agora, Charly sabia verbalizar o conjunto de suas confusões, e o drama era que nem mesmo Eric sabia fazer sentido do delicado contexto em que ambos estavam inseridos. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;">- Como pode ser amor se nos causa tanta dor, pai</span></span></span></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;">? - Indagou, deixando a prancheta no criado-mudo, os olhos cheios de confusão. Naquele ínterim, a gata acordou sobre a escrivaninha para investigar o barulho. Ao ver que não era nada, o bichinho bocejou e se acomodou em uma nova posição. </span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Amor não é aquilo que vê em filmes estrelados por <i>Rachel McAdams</i> ou lê em romances açucarados. Como tudo na vida, a realidade é mais complicada do que nos levam a crer. Amor é doação e desapego, Charly, e em grande parte jamais é recompensado... E nem deveria, pois uma das condições a que se vincula é a do desapego. O que vê nos filmes, ou mesmo no meio que o cerca, em sua maioria, não é amor. <i>É apenas um momento</i>. E depois que acaba, é cada um por si. Amor não é assim. Amor só pode ser identificado quando lançado ao tempo, pois somente ao longo dos anos nós definitivamente temos como separá-lo do <i>momento</i>. </span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;">- Então, se é tão doloroso assim, por que dizem que os poucos que amam são os verdadeiramente sortudos</span></span></span></span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;">? </span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;">- Eu não sei, Charly. Eu gostaria de saber. - Beijou a cabeça do filho, apanhou o prato e o deixou. - Agora, deixe o roteiro de seu filme para depois, porque amanhã tem colégio.</span></span></span></span></span></span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Nos dias que vieram em seguida, Eric e Lacy frequentaram restaurantes e cinemas juntos. Parecia que Eric voltara a ser jovem, reconectando-se `as delícias do primeiro amor – os encontros ligeiramente constrangedores, as mãos dadas, o beijo gelado no rosto que a namorada lhe dava entre lambidas na casquinha comprada no quiosque do <i>McDonalds</i>, as mãos, umas sobre as outras, sobre a mesa, na praça de alimentação, os beijos prolongados no escuro do cinema. Neste resgate, Eric tinha a vantagem da experiência, e desenvoltura para tornar a redescoberta ainda mais especial e perfeita. Não demorou ao relacionamento cair no conhecimento de seu círculo social, e logo Hermione e Alexandra trataram de espalhar que Dudley namorava novamente e parecia muito feliz com a sua Lacy. Na semana seguinte, recebia cumprimentos de colegas, que chegavam para abordá-lo com cumprimentos nas linhas de "<i>soubemos de sua nova namorada, parabéns, boa sorte</i>". Dudley achava tudo muito divertido, e pela primeira vez em anos, não apenas em pensamento, como no coração, Kylie começava a se afastar. Quando pensava em quando entrara na <i>La Fabrique</i>, como estagiária, não era mais atropelado pela culpa. Sentia-se inexplicavelmente bem, e no paradoxo descobria que realmente a amara nos moldes de como hoje identificava o verdadeiro amor: Eric a colocara para a frente, preparara-a para a vida, e parte da mulher elegante e bem sucedida que se tornara era produto do encontro que haviam tido lá atrás. Eles não tinham terminado juntos, mas para quê prova maior de amor? Eric a deixara partir, e a única coisa verdadeiramente importante passara a ser a sua felicidade pessoal. Liberto do remorso e da culpa, Eric renascia para a vida com a força dos amanheceres que ao longo dos últimos anos acompanhara indiferente e psicologicamente congelado do terraço da<i> 211 Bel Air</i>.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;">Era uma noite de quinta-feira, e Eric e Lacy tinham jantado juntos no exclusivo bar do Hazelton Hotel, no requintado bairro de Yorkville, um dos mais nobres de Toronto. Lacy trajava um vestido vermelho, três dedos acima dos joelhos, costas e ombros em renda, e na frente um flerte com o "<i>tomara que caia</i>". Elegantemente vestido em seu terno branco, Eric escutara os conselhos de Colby, que falara sobre o seu querido pai, e que o velho lhe apresentara a sofisticação de se usar um lenço bem dobrado no bolso da camisa ou blazer, e sinalizava elegância com um preto, contraste ideal ao terno branco. Os dois deixavam o lugar de mãos dadas, quando cruzaram com Kylie e Cary cumprimentando o <i>maitre</i><span style="font-style: normal;">, enquanto os garçons lhes preparavam a mesa. Sempre regido pela classe, por mais ardente que fosse o calor do momento, Cary imediatamente estendeu a mão a Eric, que a aceitou. Trocaram saudações muito curtas, e então Eric tocou Kylie no ombro e lhe disse que parecia ótima. Ela sorriu sem graça, e lançou um breve olhar para Lacy antes de voltar a encará-lo. Enquanto Cary se apresentava a Lacy, que lhe contava ser atriz, houve um diálogo muito singelo entre Kylie e Eric.</span></span></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;"><span style="font-style: normal;">- Como está Charly</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-style: normal;">?</span></span><span style="font-style: normal;"> - Ela perguntou, emendando. - Nem mais parece o menininho que eu conseguia segurar no tapete.</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Está bem, escrevendo o roteiro para um filme! - Disse, a que Kylie sorriu, arqueando a sobrancelha. - Ele te ama muito, Kylie.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- E eu o amo também. - A resposta saiu pesada, arrastada pelo fardo da frustração. Lacy deu as mãos a Eric. A hora de partir chegara.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Cuide-se bem, querida.</span> - Beijou-a na face, mas o mais encantador foi quando passou com muita candura as mãos pelas maçãs de seu rosto e como nos velhos tempos livrou parte da testa da mecha de cabelo. - Estou orgulhoso de você.<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Eric fez o convite a Lacy no caminho de casa. Reservara um quarto em um<i> bed & breakfast </i>dentro de <i>Niagara on the lake</i> para que o casal passasse o fim de semana em Niagara Falls. Os olhos de Lacy iluminaram. Ela adorou o convite. Ao mesmo tempo, após o pedido, foi tomada por evidente urgência. Dizia ter de resolver algumas pendências antes da sexta-feira. Beijaram-se e trocaram declarações. Na mesma quinta-feira, assim que Dudley voltou para casa, fez uma ligação para Hermione e explicou que não apareceria na <i>La Fabrique</i> na sexta-feira. No dia seguinte, pela manhã, Eric apanhou Lacy e os dois chegaram juntos a <i>Union Station Rail</i>, onde fizeram um frugal café da manhã, para logo embarcarem em um dos trens da <i>VIA Rail</i>. O trem partiu de Toronto rumo às cataratas de Niágara. Foram duas horas de viagem. Abraçados e consequentemente absolvidos do frio, Lacy e Eric desfrutaram as arrebatadoras paisagens naturais entre Toronto e o Lago Ontário, na fronteira com os Estados Unidos, que iam pipocando `a janela. Gradualmente, a linha de edifícios banhada pela Toronto Bay foi ficando cada vez menor, e o frio, maior. Lacy encolheu-se nos braços de Eric, que lhe beijava o pescoço e dizia que tudo ia ficar bem. O céu fechava-se em compacto plúmbeo à medida que o trem avançava às margens do lago a caminho das cataratas; entretanto, um arco-íris desafiava até as mais sombrias nuvens, desenhando com gigantescos lápis de cores quatro rajadas de vermelho, amarelo, azul e anil. Quando o trem aportou, a estação era um novo e pulsante mundo, o ar cheio de eletricidade e descoberta. Apanharam as malas e trataram de caminhar rumo ao <i>bed</i> <i>& breakfast</i>. Em dado momento, Lacy saltou sobre as costas de Dudley, que lhe sustentou ao passar os braços sob as suas coxas, enquanto ela lhe cavalgava. </span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">As circunstâncias em que fizeram amor pela primeira vez foram casuais, mas o momento inesquecível. Ambos molhados de chuva, Lacy foi logo entrando com as malas, enquanto Eric ficou para pagar antecipadamente pela estadia na recepção, e pedir sugestões de passeios turísticos pelos dois dias em que permaneceriam em <i>Niagara by</i> <i>the lake</i>. Quando entrou no quarto, a atmosfera abafada e quente já induzira Lacy a livrar-se das roupas pesadas. Eric a achou na beirada da cama, puxando as botas e tirando as meias. Os seus olhos se encontraram, aparentemente casuais, mas logo maliciosos de mais puro desejo. Pouco precisou ser dito. Lacy tomou-o pelas mãos e o trouxe para si. Deu as costas para Eric e deixou a calça comprida cair aos tornozelos. Eric deslizou uma das mãos para dentro do sutiã preto meia-taça, sentindo os seios muito mornos, e por sob os mesmos, as batidas de seu apaixonado coração. Depois, tudo aconteceu muito rápido, quase instintivamente. O mundo pareceu uma conjunção confusa e deliciosa de sensações, quando Lacy e Eric saíram rolando abraçados sobre o colchão, alternando-se, ora por cima, ora por baixo, Eric embriagado pelo cheiro e o salgado sabor do suor de Lacy. Adormeceram exaustos, Eric nos braços de Lacy. Ao acordar, deu pela escuridão. Estava gelado em <i>Niagara by the lake</i>, e ele ficou ali deitado, voltado para cima, a perna e o braço direitos ligeiramente adormecidos por causa do peso de Lacy, que apagara sobre parte de seu corpo. Fumava um cigarro e deixava que os seus olhos se habituassem à escuridão sem pressa, como sempre fazia, quando o sexo com Allie era gostoso. Quando virou o rosto em direção à porta, encontrou-a com a cara parcialmente metida para dentro, contemplando o leito de amor. Allie lhe deu um sorriso de constatação, sem julgamentos, dizendo-lhe, com tristeza serena "<i>Você fez bem, a vida tem que continuar</i>". Depois, partiu para onde quer que estivesse, e Eric foi arrastado à inconsciência sem sonhos. Novamente, a escuridão. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">As cataratas de Niágara ficavam a duas horas de <i>Niagara-by-the-lake</i>, mas o objetivo principal da viagem fora curtir a cidadezinha, notória pelas vinícolas e o festival de teatro anual. O pacote adquirido por Eric incluía visitas guiadas a algumas delas, as menores e mais rústicas, </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;">as de preferência de Dudley, </span></span>preservadoras de um momento distante na linha do tempo, como inseto preso a âmbar. Na manhã seguinte, os dois despertaram bem dispostos e felizes, e namoraram um pouquinho antes de vestirem as suas roupas mais grossas para frio e tomarem café da manhã na cozinha do <i>bed & breakfast</i>. A senhora que tomava conta do lugar era uma figura, conversadora e muito simpática!Quando lhe entregaram a chave para apanhar o ônibus e conhecer as vinícolas, o casal saiu dando gargalhadas, quando Lacy falou sobre uma das fotos que vira em um porta-retratos sobre a chaminé da cozinha. Era uma foto de duas velhinhas e um cavalheiro, porém bem no cantinho, a senhora do <i>bed & breakfast</i>, quase como que "<i>se</i> <i>intrometendo</i>" por acidente!</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Caminhar à tarde por <i>Niagara-by-the-lake</i> era toda uma nova, rejuvenescedora aventura. De mãos dadas a Lacy, parecia a Eric que os dois estavam protagonizando o seu próprio "<i>Antes do Amanhecer</i>". Existia um sentimento muito romântico, e por vezes desesperador, de efemeridade, em toda a coisa. Não fosse pela velhinha que viram caminhando calmamente com seu guarda-chuva, pelas ruazinhas regulares, entre as quadras uniformes, sê-lo-ia pelos hotéis e casinhas de tábuas, com ar de período colonial, réstias de fumaça de lenha deixando chaminés, mesclando-se ao ar sempre molhadinho e friorento, enquanto os cafés e as lojinhas de chocolate seduziam turistas a se refugiarem ali dentro. Ao fim da tarde, quando uma noite estupenda de brilhantes estrelas estava para apontar, Eric levou Lacy a um passeio de charretes. Foram parar às margens do entorno de uma pequenina, charmosa vinícola. O cocheiro entregou a Eric um balde com o melhor champanhe, e uma toalha, para que ele cobrisse o chão onde fariam um breve pequenique. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Venha, você está com muito frio? - Eric indagou, trazendo-a para perto de si. Lacy se abraçou ao seu peito. Eric abriu o champanhe com a ajuda da namorada. Encheu duas taças, a bebida espumando nos cristais, cintilando como as estrelas acima. Eles brindaram ao encontro. Lacy lhe explicou que por sua causa a vida não poderia estar melhor, e lhe era grata por todos os momentos. Eric também deixou claro que vinha sendo fantástico redescobrir o amor nos seus braços, e que esperava que permitisse que seguisse tomando conta dela.</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu temo que uma vez que canse de mim, não dure. - Lacy comentou, tentando mascarar a súbita angústia.</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;"></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Você quer me contar alguma coisa? - Eric perguntou com o tom de cumplicidade convidativa que lhe era próprio, um dos motivos de Lacy ter se apegado tão rapidamente: Eric sabia como deixá-la à vontade, ser o que era.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu tenho uma filhinha. - Veio a revelação, muito subitamente. - Eu devia ter contado no começo.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Devia, sim, querida. Devia ter contado, mas não porque fosse me fazer mudar de ideia quanto a como me sinto em relação a ti, e sim porque devemos confiar um no outro a ponto de não permitirmos segredinhos, não concorda?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não queria que me visse como uma mãe solteira empenhada em desencalhar. A maioria dos homens pensaria assim, e eu particularmente não me orgulho do passado. - Sacudiu a cabeça em desalento, a atitude defensiva reflexo da amargura.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu vivi mais do que você, imagino de onde venha sua dor. - Com carinho, apertou-lhe o queixo entre o polegar e o indicador, e pediu que prestasse atenção. - Há duas maneiras muito claras de trabalhar o passado, Lacy. Há pessoas que deixam que o passado as defina. Acomodam-se `a crença de serem tão más quanto o que se passou. E há as pessoas que são definidas pelas lições que aprenderam com os erros do passado. Não importa quão mal tenham escolhido, quão péssimas tenham sido tratadas. Pessoas assim tiram lições valiosas uma vez que se vai a parte má, e o mais importante, permitem-se mudar. Elas não se tomam como os piores seres do mundo, apenas vivem confortáveis com o fato de que não foram perfeitas, e portanto estão aqui em um constante processo de melhoramento. Do passado, levam consigo somente os ensinamentos. Eu não sei o que se deu no seu passado, porém acho que aprendeu com a experiência. E, para mim, você é <i>este</i> <i>momento</i>, e não algo que aconteceu há dez anos.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu te amo, Eric. - Lacy anunciou. Se apenas alguém lhe tivesse reservado aquelas palavras quando tivera tempo para mudar o curso da vida. Dudley apertou o seu narizinho e dela conseguiu arrancar um sorriso. - Vamos voltar para o <i>bread & breakfast </i>e nos acabar de fazer amor?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Ainda tem muito a aprender sobre a vida ao ar livre. - Respondeu, abarcando o seu fino pescoço com as enormes mãos, e a beijando apaixonadamente. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Quando voltaram ao <i>bed</i> <i>& breakfast</i>, disputaram o chuveiro, que seria de quem se despisse primeiro. Correram para o box, Lacy quase tropeçando nas botas no caminho. Foram parar os dois juntos sob o chuveiro, às gargalhadas, ela dando pulinhos, os pés machucando só de encostarem o assoalho gelado. Eric acionou a torneira errada, e foi como se pedras de gelo os apanhassem sem misericórdia. Lacy deu um gritinho, Eric a agarrou forte, morrendo de rir, e então corrigiu girando a chave correta. Sob a ducha quente, Eric novamente a amou, sem pressa ou constrangimentos. Seus corpos enlaçados eram como peças que se não encaixadas não tinham razão de existirem individualmente. Estavam em harmonia, pertenciam ao mesmo <i>frame</i>, à mesma folha. Depois que desligaram o chuveiro, tinham pouco tempo para sair do box, pois logo o quarto lhes pareceria a coisa mais gelada do mundo! Assim, atiraram-se para a cama, desnudos, ela agarrada às costas de Eric, e se enfiaram sob as cobertas. Lacy deslizou a mão para fora, só para desligar o interruptor e deixar que o breu os envolvesse tão eficientemente quanto os lençóis e o frio. Não importava, estavam sob as cobertas, e tinham os seus corpos mornos para se esquentarem. Lacy enlaçou as pernas às de Eric, e não demorou a aquecê-lo, usando seus pés descalços, esfregando-os aos de seu amor. Enquanto se sentia mergulhar com segurança em um mar de satisfação e prazeres desconhecidos, a voz de Kylie chegava aos ouvidos de algum lugar muito distante, trazendo de volta uma amarga recordação "<i>Como alguém que escreve que 'gostaria de dormir nos seus braços todas as noites, e de esquentar os meus pés nos seus, nas noites frias', e coisas semelhantes simplesmente deixa de me procurar, de me ligar ou de me dar notícias?Você escreveu a mesma coisa para outras mulheres, ou foi somente comigo que exercitou pretensões literárias, apenas para dar gargalhadas depois de me deixar?</i>".</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Na última noite, Eric e Lacy pegaram o transporte local da WEGO para visitar as cataratas. O casal retornaria a Toronto na manhã seguinte, e sentia que a viagem não seria completa caso não visse as quedas d'água. Era um encantador fim de tarde, o sol deixando uma duma dourada no firmamento, ao partir, quando Eric e Lacy chegaram a Table Rock, o complexo de atrações que revolviam Niágara. Eles embarcaram na "<i>journey behind the falls</i>", os mirantes e passagens a serpentearem ao longo do complexo das cataratas. Permitiam-lhes a impressão de estarem passeando por entre as mesmas, de onde a força maciça das águas se fazia reverberar. Em dado momento, ambos molhados e de cabelos desgrenhados, de pé sobre um dos mirantes, enquato o restante do grupo seguia pelas passagens, Eric tomou as mãos de Lacy, e talvez por algum instante premonitório, a garota pôde antever o que viria. "<i>Case-se comigo</i>", Eric a arrebatou nos braços e insistiu "<i>o passado tem a importância que lhe damos. Não podemos ficar presos, senão não construiremos o futuro. Case-se comigo, eu sei o que eu quero, e o que quero é você</i>". "<i>Sim, sim</i>", ela respondeu, a voz abafada pelas quedas, embargada pela mais pura emoção. Por um momento, a vida de Lacy foi perfeita e tudo o que ocorrera ao longo de sua complicada história não tinha valor algum. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">A crise de consciência veio na manhã seguinte, quando preparavam as malas para voltar a Toronto. Eric lhe deu espaço para que desabafasse, sua única condição para que ficassem juntos: a sinceridade. Não existiria mácula alguma no passado de Lacy que Eric não estivesse disposto a relevar, mas se ambos queriam dar o importante passo, precisavam ser honestos um ao outro. Entre soluços, Lacy pôs-se a elucidar os mistérios de sua insegurança. A primeira grande decepção tinha sido com o pai da filha, o relacionamento que parecera dar sinal para os maus tempos, quando experiências ruins, uma após a outra, foram se amontoando sobre seus ombros, desbotando um pouco da exuberância da juventude, quando se acha que se pode transformar o mundo e as pessoas. Eric compreendia o temor de Lacy ao entrar em um novo relacionamento, mas com muito tato foi contornando a reação, até deixá-la assegurada de que entre os dois aconteceria diferente. No fim, as experiências ruins os tinham aperfeiçoado, de modo a hoje se merecerem. Quando chegaram a Toronto, no término da tarde, Lacy parecia confortada e esperançosa. Como nos melhores filmes românticos, Dudley a pôs nos braços e a carregou escada acima. Preparou-lhe um café, e ficou ao seu lado na cama até adormecer. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Girava a chave na fechadura, as malas aos pés, quando conseguiu escutar as gargalhadas que vinham de dentro. Pontuou claramente as vozes de Charly e da amiguinha do condomínio, porém notou uma terceira presença. Ao ranger da porta, Charly e a garota foram recebê-lo, derrubando sem querer um balde de pipocas que fez a gatinha dar um salto e se refugiar detrás do sofá. Eric abraçou os dois, e quando se deu por Kylie assistindo a sua chegada do corredor, com o ombro escorado na parede e os braços cruzados, um sorriso tímido desenhado nos suaves lábios, o publicitário ficou momentaneamente envergonhado, como se a tivesse sido flagrado na traição. De uma incomum maneira, do mesmo jeito que ocorrera na noite do "<i>Not Easily</i> <i>Broken</i>", era como se tivesse sido pego em uma indiscrição. Certamente, Charly contara que o pai tinha ido passar um fim de semana com a nova namorada no lugar onde, numa tarde há seis anos, levara-a com o filho quando ele ainda era criança e os três haviam se divertido bastante. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;">- Fez uma boa viagem? - Kylie substituiu o "<i>olá</i>" pela indagação, e o abraçou com a familiaridade de uma esposa que aguardara ansiosamente o retorno do marido. - "<i>Niágara Falls</i>", Charly me contou. Com a nova namorada, certo<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Só um pouco cansado. - O filho apanhou uma das malas do pai, e a senhora Medina não demorou a vir para receber o patrão e auxiliar com o restante. - Estou tão feliz por vê-lo!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não faz ideia do quanto também estou. - Semicerrou os olhos, como uma menina a preparar uma peraltice, e anunciou. - Agora, nós podemos jantar. O que acha de irmos comer uma pizza, todos nós?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- E o que acha de em vez de sairmos de casa, alugarmos um filme muito assustador e pedirmos as pizzas para comermos aos pés da lareira, vendo DVD?! - Estalou os dedos e apontou para o filho. - De terror!Topam ou não?!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Você sempre com as melhores ideias. - Os braços de Kylie deslizaram ao redor do pescoço de Eric até prendê-lo, e ela não deu a entender que queria deixá-lo tão cedo. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Mesmo a senhora Medina interrompeu os serviços de cozinha e se juntou ao restante da família depois que Eric pediu três pizzas grandes e Charly trouxe o DVD de "<span style="font-weight: normal;"><i>A Órfã</i>"</span>. "<i>Certamente, mais empolgante do que aqueles filmes d<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">o</span> Ingmar</i>", Eric definiu, ao pé do ouvido da Kylie, que riu ao se recordar de "<i>Gritos & Sussurros</i>". Era aconchegante comer pizza e assistir ao filme na intimidade do chão, entre almofadas, o fogo reavivando cada vez que Eric o atiçava com a tenaz, exatamente como o fora em épocas mais simples. O filme foi ótimo, as pizzas deliciosas. Todos fartos, a senhora Medina levou as caixas vazias para a cozinha, para depositá-las mais tarde no lixo. Ela foi se deitar. Passaria a noite na casa dos Dudley, vez que era muito tarde para apanhar o ônibus. Charly e a namorada estavam em um canto da sala, conversando amenidades e falando sobre as surpresas do enredo, enquanto Kylie estava deitada com o braço apoiado em uma macia almofada branca com pintas pretas, e Eric alimentava a lareira com mais lascas.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Deitada no tapete de sua casa, depois de assistir a um filme. - Descreveu, e constatou, nostalgicamente. - Jamais imaginei que voltaríamos a fazer um programa do tipo.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Fico feliz que esteja aqui, querida. - Eric apertou sua mão, a que Kylie sorriu de um canto somente da boca. - Charly é louco por ti, sentia muita saudade.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Mas você não. - Ela complementou, e logo se arrependeu. - Desculpe-me, não quero começar uma briga.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não, tudo bem. - Eric sentou-se sobre as pernas dobradas e deixou a tenaz encostada à lareira. Estendeu o braço de modo a alcançar a garrafa de vinho no balde. - Mais um pouco?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Por favor. - Entregou a taça, com um ar de insatisfação, a sombra de contratempo bem visível. - Gostaria de conhecê-la. <i>Lacy</i>, não é?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- <i>Uh-Hum</i>. - Ele disse, e imediatamente se lembrou de quando Kylie respondera a uma pergunta de maneira semelhante, seis anos antes, quando haviam dançado ao sabor de "<i>The Hallway</i>" em sax, da trilha de "<i>The Prince of Tides</i>". Kylie deve ter se lembrando também, porque no mesmo segundo lhe dedicou um olhar familiar e divertido. - Poderíamos jantar juntos.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Interessa-me que você se sinta melhor. - Uma pausa. Ela precisou respirar fundo para vocalizar o pedido que certamente vinha requentando. - De toda forma, gostaria de voltar a participar de sua vida e que Lacy me compreendesse.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Ela entenderá. - Eric assegurou, o sorriso de quem prometia convictamente.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Então, vocês dois estão namorando sério. - Ela disparou, e ao menos para Eric, soou mais como afirmativa do que pergunta. - Ótimo. - Ela murmurou, com os olhos hipnotizados no vermelho forte do vinho, que balançava ritmicamente dentro da taça. - Ótimo...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">A semana começou cansativa, mas Eric era mesmo um homem renascido. Levando-se em conta que acabara de chegar de <i>Niagara-by-the-lake</i> e dormira poucas horas, compareceu a <i>La Fabrique </i>cheio de ideias e muito bem-humorado. Antes de chegar, passou no supermercado e comprou sacas de chocolate & avelã, apenas porque lhe dera na cabeça. Conversou com Lacy por duas vezes durante o dia. Ela ligou no horário de almoço, quando estava sentando em um banco de madeira da pracinha defronte a <i>La Fabrique</i>, apenas para observar os passarinhos trinando de alegria ao mergulhar na fonte; na segunda, foi Eric quem a procurou ao fim da tarde, para perguntar como fora o seu dia, e dizer que estava ansioso para um novo encontro, que combinaram de realizar dali a alguns dias, na sexta-feira. Eric guardou o carro na garagem, pagou a diária da senhora Medina e, enquanto ela terminava de preparar o jantar, avisou que atravessaria a rua para comprar o café com leite em lata, no mercadinho. Antes de ir, tomou um banho quente demorado e vestiu um moletom cinza e surrado. A passos tranquilos e fáceis, procurou se recordar de quando se sentira tão bem quanto na última semana.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: helvetica;">
"<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>Eric Dudley?</i>", a voz feminina e emocionalmente <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">vaga </span>anunciou seu nome. Jordan Harwood era uma mulher bonita que parecia ainda mais elegante sobre os seus 1.80 metros, a que bem servia o corte de cabelo retrô "<i>Joãozinho</i>". Os seus olhos pareciam peculiarmente marcantes, quase como se tivesse usado rímel nos cílios, sem o ter de fato. Ela tinha olhos expressivos e um formato de rosto bonito, maçãs largas, maxilar e têmporas em ângulos muito suaves. O seu queixo era pequeno. Era "<i>pin-up</i> <i>girl</i>" sedutora, escondida por trás da seriedade sugerida pelo blazer feminino preto e a blusa branca. O seu distintivo da Força Policial ficava bastante pronunciado, pendurado no pescoço como um amuleto de orgulho e poder. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não me reconhece? - Ela lhe estendeu a mão e o cumprimentou como a um amigo próximo. - "<i>Jordan Harwood</i>"?Nós nos cruzamos em circunstâncias menos felizes em 2004. </span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Desculpe, eu... - Os olhos de Eric pareciam perdidos, evidentemente não tinha pistas.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Compreendo que não se recorde bem, afinal foi uma época atribulada. Provavelmente agora tudo pareça muito nebuloso. - Jordan olhou por sobre os ombros de Eric, e deu pela pequena fila que se formara atrás do viúvo, para o caixa. - O senhor aceitaria tomar um café?Parece mais apropriado.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Oh... - Eric deu com os ombros e não viu mal algum. - O que a senhorita diz de tomarmos esse café na minha casa?É logo ali na frente. Se não se importar com o meu filho adolescente e a minha secretária falastrona... - Brincou um pouco, aliviando a tensão do encontro.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Seria ótimo. - O bom humor e a simpatia de Eric não lhe deram alternativas e Jordan teve de concordar, grata pelo convite.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">A senhora Medina e o filho lhe dirigiram olhares de confusão quando Eric entrou pela cozinha com a moça. O viúvo os apresentou a Jordan, que disse se tratar de uma amiga do passado, e que tinham se encontrado por acaso no mercado. Eric a convidou a se sentar na sala de estar. Vez ou outra, senhora Medina passava pelo corredor entre cozinha e sala de estar e lançava olhares curiosos em direção ao casal. Antes que Jordan introduzisse as explicações, as expressões mais tensas no rosto de Eric já tinham começado a relaxar, à medida que começou a se lembrar.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Oh, claro, começo a me recordar. Eu a encontrei no distrito policial, foi na época em que... Hammond... - <i>Sim</i>, Eric se lembrara. Jordan bebericou o café e o pousou momentaneamente sobre um jornal dobrado na mesinha de vidro.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sei que foi um capítulo especialmente horroroso de sua vida e que esteve como em transe, por todo o processo, dopado com remédios. - Ela se lembrava melhor, mais do que o próprio Eric. - Eu me recordo da confusão e de como a morte de seu amigo atingiu a todos.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sim. - Disse em um sopro. - Meu Deus, eu estive tão por fora de toda a situação. - Esfregou as pontas dos dedos nas têmporas. - Quando comecei a deixar o nevoeiro, o delinquente que havia assaltado o Hammond cometeu suicídio dentro da cadeia.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Isso. - Mais um gole. - Eu tenho memória fotográfica. Recordei-me de seu rosto do instante em que o vi duvidoso entre uma marca de café e outra.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Deus, penso em Hammond todos os dias, mas é a primeira vez que percebo que jamais entendi inteiramente as circunstâncias de sua morte. - Constatou, abismado em como deixara passar questionamentos tão fundamentais adormecidos. O que perdurara de Hammond em suas lembranças tinham sido os valorosos conselhos. Surpreendentemente, jamais se perguntara como o amigo os havia deixado.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Bem, se um dia lhe convier, senhor Dudley, sabe onde me encontrar. - Jordan forneceu-lhe um cartão de visita, elegante e espesso, com gramatura maior do que a dos mais comuns. - Posso ajudá-lo a compreender a dinâmica do que se desenrolou em <i>Dundas Street</i> naquela madrugada.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Obrigado, senhorita Harwood. - Agradeceu, passando a vista pelo cartão e o guardando na carteira. - Sem dúvida, sinto que é algo que deveria fazer antes de... - Deu conta de que estava começando a falar demais sobre a vida pessoal. Jordan lhe esboçou uma reação confusa, esperando que prosseguisse. Eric foi adiante. - 2004 foi um ano particularmente terrível e os seguintes apenas reciclaram pouco da mesma coisa. Estou para recomeçar a vida, casar... Creio que eu deva, sim, procurar saber sobre o Hammond, antes de seguir definitivamente em frente.</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Parabéns, faço votos de que seja feliz, senhor Dudley. - Ela o parabenizou e novamente fez parecer tudo muito natural, como se falasse a um amigo de longa data. Jordan era muito desenvolta socialmente, uma borboleta social. Ela sabia cativar.</span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Subitamente, a gata saltou sobre o braço do sofá e começou a exercitar as unhas. Jordan disse que gostava de gatos e trouxe o felino ao seu colo. Uma observação inocente levou à outra, e logo dialogavam sobre coisas rotineiras. Naquela noite, por mais agradável e comum que tivesse sido o encontro, quando Eric pôs a cabeça no travesseiro, deitou-se cheio de pensamentos conflituosos. Era como se em meio à aparência da tranquilidade, existisse algum problema que não conseguia distinguir melhor. Metido em divagações, acabou pegando no sono. Na manhã seguinte, Eric levantou muito cedo, e conseguiu pegar Colby no fim do horário da madrugada. O amigo lhe serviu uma torta de frango deliciosa e crocante que derretia na boca e o mais puro e forte café preto. Entre colheradas e goles, Dudley lhe contou sobre o encontro casual na noite anterior, atento às reações do amigo. Se nada manifestasse, saberia que se portava paranoicamente. Eric se surpreendeu com a intriga do olhar que Colby lançou em resposta à história que o viúvo acabara de contar. "<i>Outro dia, foi o marido da Kylie. Agora, uma policial que participou das investigações da morte do senhor Hammond. Ou coincidência, ou essa turma toda descobriu algo de especial em uma mercearia absolutamente comum que calha de ficar a uma quadra da tua casa. Eu estaria preocupado, no seu lugar</i>". </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não consigo enxergar a ligação. - Respondeu Eric, perdido à análise.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu tampouco, e por isso a "<i>coincidência</i>" me amedronta. - Colby disse.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;">À tarde, Hermione apareceu com a planilha extensiva do orçamento de todos os serviços que as filmagens de "<i>Wings of the</i> <i>Dove</i>" exigiriam. O elenco precisava começar a ensaiar na semana seguinte, e Hermione pediu para que Eric avisasse Lacy para procurar o diretor de <i>casting</i><span style="font-style: normal;">. Depois de passar parte do dia vasculhando a "</span><i>ligação</i><span style="font-style: normal;">" a que Colby fizera referência, nada tendo encontrado, a boa nova veio em oportuno momento. Eric deixaria para ligar quando estivesse em casa, pois assim poderia chamá-la para jantar fora, uma pequena comemoração por um bom papel na minissérie. </span><span style="font-style: normal;"> </span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span style="font-style: normal;">Quando a apanhou em seu apartamento, encontrou-a muito emocionada e inquieta. Lacy comportou-se, por um momento, como se o tivesse perdido. Eric considerou que a instabilidade fragilizada da namorada se devia à sucessão muito rápida de eventos recentes e as consequências que trariam para o futúro próximo. Quanto mais provava o seu forte sentimento por Lacy, mais a garota parecia temer deixá-lo escorrer entre os dedos. O jantar foi ótimo, uma noite agradabilíssima, música ao vivo, excelente serviço, o passeio pelas calçadas um deleite. Lacy repetia que temia perdê-lo e que gostaria que jamais duvidasse de seu amor. Quando contou sobre "</span><i>Wings of the Dove</i><span style="font-style: normal;">", foi o único momento em que Lacy não pareceu interessada em algo que Eric dizia. Ela fez questão de afirmar que não pensava mais na minissérie e que faria melhor deixando a oportunidade para alguma outra atriz. Depois que tinham iniciado o jogo do cortejo, "</span><i>Wings of the Dove</i><span style="font-style: normal;">" se tornara um pedacinho de seu passado, o motivo pelo qual aparecera na </span><i>La Fabrique de Films</i><span style="font-style: normal;">. Agora, existia algo muito mais importante em jogo: seu amor por Eric.</span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Lacy, eu não acho a sua escolha justa. - Eric opinou, envolvendo-a com o braço nas costas. - Hermione e Alexandra assistiram a "<i>The best so far</i>" e gostaram bastante de seu desempenho. Elas têm um bom papel em mente, nos moldes do que fez naquele filme. Eu não quero saturá-la, mas preferiria que também mantivesse a sua carreira artística e não se esquecesse dos seus sonhos. Basta querer. Há espaço e tempo para a carreira e para o nosso relacionamento.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Preciso pensar. - Dividida, parecia querer ceder, mas a preocupação com detalhes que Eric desconhecia a mantinha cautelosa. - A exposição não servirá à nova proposta de vida que pretendo agarrar, Eric.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- É um papel pequeno, mas te permitirá brilhar bastante. Uma coisa levará à outra, Lacy. Aproveite enquanto há tempo. Você lembra do <i>call sheet</i> para "<i>Wings of the Dove</i>"?</span></div>
<div><span style="font-family: helvetica;">
- "<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>Atrizes entre 25 a 35 anos</i>". - Ela citou fidedignamente. Bufou de um modo que Eric achou graça: parecia uma menininha contrariada!Ela prosseguiu. - O tempo está passando e a cada ano aproximo-me mais do limite de seu <i>call sheet</i>. - Balançou a cabeça com os olhos cerrados, mal escondendo o desapontamento com as próprias realizações. - Tenho muito medo de chegar aos quarenta anos sem ter feito nada de minha vida! - Cobriu o rosto com as mãos, chorosa.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Você está fazendo muito com a sua vida. - Eric respondeu, em um tom bastante assegurado, quase paternal, a voz da razão que mesmo em tão pouco tempo de relacionamento resgatava Lacy da beira do precipício que era o seu atormentado coração cheio de cicatrizes. - Sabe algo extraordinário que já fez?Você reconheceu que desperdiçou parte de sua juventude e sabe o que <i>não</i> <i>quer</i> da vida. Só isso é um passo extraordinário. Muitos persistem no ciclo que os mata. Buscam uma salvação, desesperadamente, mas do primeiro momento estão fadados ao fracasso, porque no fundo não estão dispostos a romper o ciclo, e a tragédia é que a cada vez que são arrastados de volta à sujeira, não conseguem aprender que foram os próprios os seus piores inimigos. Você me contou sobre a sua filhinha. Não é motivo suficiente para repensar toda a vida?Se você se sente tão péssima quanto a forma como se conduziu, precisa de razão melhor para amadurecer?Sua menininha precisa de uma mãe. Ela enxerga em você um exemplo. Crianças nos dão a chance suprema de nos redimir, Lacy. Precisa parar de se martirizar. Sabe o peso nos seus ombros, a dor no seu olhar?É castigo suficiente. Não deixe a amargura tomar conta do seu coração, apenas em razão do que se passou e não volta mais. Por piores que tenham sido, foram os seus erros o instrumento que a trouxe para mim. Eu tenho muita fé em você!Sou grato por todos os instantes ao seu lado!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- E eu tenho fé em nós dois. - Eles se detiveram na caminhada. Lacy afundou o rosto no peito de Eric. - Oh, Eric, como eu temo te perder!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;">- Não vai. Agora... Vai me contar o que está havendo<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Você prometeu aceitar-me. Falou sobre como eu sou <i>este </i>momento. - Olhou-o em súplica e Dudley confirmou com a cabeça. - Nós teremos um futuro, mas para deixar o passado, preciso reencontrá-lo neste próximo fim de semana.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;">- Você não quer me falar a respeito<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;">- Promete esperar-me<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? - Perguntou, a expressão em seu rosto aflita pela aprovação. - Retornarei para ti e daí o nosso caminho será a via de um sentido somente.</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Prometo esperar. - Ele a reconfortou, e voltou a arrebatá-la com o abraço que não apenas a protegia de seus piores temores, como também a redimia de um misterioso passado.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Nas vezes em que voltaram a se encontrar no decorrer da semana, Eric sutilmente introduziu a questão sobre o próximo sábado, ocasionalmente perguntando a Lacy se precisava de ajuda, fosse o que fosse o significado de "<i>reencontrar o passado</i>". Ela jurava que não havia nada a temer e mudava de assunto. Foi uma semana arrastada e terrível para ambos. Ligava para Lacy antes de ir se deitar. Existia um senso de tragédia iminente sobre os seus ombros, mas procurava se desvencilhar de pressentimentos ruins, culpando o stress somatizado pelo amontoado de coisas que se propusera a resolver: Charly, a <i>La Fabrique</i>, a minissérie, os novos contratos de publicidade e a adaptação à reinserção de Kylie em seu dia-a-dia. A melhor amiga o rondava com ligações ou visitas à casa sob o pretexto de querer ver Charly. Na sexta-feira, no turno da manhã, Kylie ligou para a <i>La Fabrique</i> e o convidou a jantar fora. Recomendou que estendesse o convite a Lacy e perguntou se haveria problemas se trouxesse Cary junto. Eric brincou e disse que não, não morreria de ciúmes como da última vez, na festa da virada de 2004. Não teve como dizer se Kylie corou com a ousada brincadeira, pois não estavam cara a cara, mas houve uma pausa, e depois de alguns instantes uma risada relaxada. Também não pôde precisar se a ferira ou não com a brincadeira, se a risada fora ou não honesta. Eric fez parecer crível a desculpa de que Lacy viajaria na manhã seguinte e, compreensivelmente, precisava descansar. Pretendia passar a sexta-feira com a namorada. Kylie não se conformou e insistiu que não tomariam muito o seu tempo. Logo após o jantar, ela e Cary poderiam deixá-lo na casa da namorada, se assim o desejasse. Eric aprendera a antever as estratégias de Kylie para conseguir seus intentos, apenas não se fortalecera a ponto de dizer "<i>não</i>" tão facilmente à mulher que um dia amou e a quem talvez ainda amasse. Ele acabou concordando, porém pediu que se encontrassem mais cedo para o jantar, por volta das 18:00.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">À mesa com Kylie e Cary, Eric sentia-se um ex-paciente psiquiátrico. O casal comportava-se como uma dupla de analistas intelectuais distantes, a examinar o bem-estar de seu problemático, pouco confiável doente preferido. Por mais que reafirmasse que se sentia muito melhor desde o envolvimento com Lacy, Eric jamais identificava um olhar cúmplice vindo dos dois. Era como se o julgassem por cada palavra emitida pela sua boca. Não demorou a Eric se sentir bastante desconfortável, a cabeça baixa, os olhos nos talheres. `A cada compartilhamento de instantes mais felizes ao lado de Lacy, seguia o comentário cético e demolidor de Kylie, que desmontava a sua autoconfiança, engenhosamente.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Apenas não queremos que venha a se desapontar. - Kylie justificou, determinada a evocar de Eric alguma reação que entregasse resquícios de apego. - Atrizes mentem com facilidade e a sua cabeça ainda não parece certa.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não sei, Kylie. - "<i>Não perca o equilíbrio, não se zangue</i>", o viúvo repetia para si como mantra. Precisava vencer o combate que se daria em um campo exclusivamente psicológico, onde o apego era a mais letal das armadilhas e o autocontrole o único meio de sair vitorioso. - Eu acho que não saberei, se não tentar. Por enquanto, Lacy parece resgatar um velho Eric de quem eu sinto falta. Perdi <i>algo</i> quando a Allie morreu. - Era perceptível que a tranquilidade de Eric decepcionava Kylie. Ao apertar os botões, ela esperara reações previsíveis e emocionais, mas ele estava se saindo muito bem. - Lacy o substituiu por partes de mim que eu nem sabia existir.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: helvetica;">
- "<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>Partes de mim que não sabia existir</i>"</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?V</span></span></span>amos comprar clichê, agora? - Kylie girou os olhos com cinismo. Retomou, visivelmente exasperada, demandando. - Não quero que Charly se machuque.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu também não, eu asseguro que ele está feliz por mim. - Eric respondeu. Kylie meneou negativamente com a cabeça, frustrada com sua inesperada segurança.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;">- Sei. Você também assegurou que ele estava feliz há seis anos, mas os pôsteres de filmes no quarto do garoto mostram quão "<i>ensolarado</i>" é o seu imaginário. - Kylie atacou. - Não vê que o seu filho sofre ou é mesmo tão ingênuo assim<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span> - Eric ia responder, mas ela retomou, o tom um pouquinho mais elevado e agressivo. Olhando de soslaio para Cary, comentou. - Bem, a sua ingenuidade encantadora é um poço sem fundo. O seu "<i>amor</i>" incondicional por sua namorada atriz não exigiu muito que não um fim de semana em <i>Niagara-by-the-lake</i>, não<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Kylie, amor... - Cary acariciava o braço da parceira. Ela tinha ido longe demais.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não, ele vai me ouvir! - Ela respondeu com estupidez. Perdera a calma e agora queria partir para o confronto, mas Eric a venceria pela contenção.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu tenho que ir. Ficará tudo bem, Kylie. Você sabe de meus sentimentos por ti. - Limpou a boca com o guardanapo e começou a se levantar.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Você vê, ele está fugindo. - Kylie desprezou, com um sorriso malévolo. - Bastante maduro, não diria</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu só quero que fique sempre bem. - Ele insistiu, em um sopro de voz, com tocante devoção, e cumprimentou a Cary <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">com um discreto <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">meneio </span>de cabeça.</span></span></span></span></div>
<div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Quando escreveu para a Lacy, usou o mesmo modelo da carta que redigiu para mim? - Kylie perguntou entre os dentes trincados de um sorriso cheio de ódio.</span> - Ao menos, aproveitou aquela parte sobre ela esquentar os pés nos seus<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?Meu trecho preferido. </span></span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- A carta que eu escrevi, eu a fiz somente para ti. - Ele explicou, encarando-a. - Quer queira, quer não, foi a expressão de meu fiel sentimento àquela altura do campeonato. Eu tenho que ir, Kylie, eu não quero brigar. Nós conversaremos depois.</span></div>
<div>
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Vá atrás da Lacy, ainda dá tempo. - Alfinetou, exibindo o relógio de pulso enquanto se desvencilhava das mãos de Cary. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric impacientou-se quando as batidas na porta não foram prontamente atendidas. Começou a chamar por Lacy. Os seus dedos tocavam o teclado do celular quando a porta finalmente foi aberta e uma Lacy de olhos sonolentos e sorriso gratuito apontou na soleira. Dudley os correspondeu com outro sorriso, não tão delicado quanto o da namorada. Eles se abraçaram e Lacy pediu para que entrasse. </span>Voltou a insistir em acompanhá-la no sábado, porém nem mesmo no cansaço venceria a batalha. Lacy pediu que ficasse até que dormisse. Eric desligou os interruptores e o apartamento foi banhado pelo sobrenatural anil, cortesia das placas luminosas de neon dos pequenos comércios do quarteirão onde a namorada vivia. Na televisão, um filme de horror mudo em preto-e-branco. "<i>Fantasma da Ópera?</i>", Eric acreditou identificar <i>Lon Chaney</i>, ao ver <i>Christine</i> arrancando a máscara do fantasma ao piano, revelando o monstro de aparência repugnante que contraditoriamente por ela nutria o belo amor como ninguém mais o faria. Depois que Lacy adormeceu, Eric a cobriu e escreveu uma pequena nota pedindo para que retornasse logo para Toronto para que casassem e fizessem do <i>presente </i>o melhor momento de todos. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">O grande dia veio e Eric nem chegou a vê-lo: vez que só foi para casa de madrugada, depois de cuidar de Lacy, foi tragado por um sono pesado do qual conseguiu sair somente por volta de meio-dia, e isso só porque o filho veio despertá-lo. A tarde chegou e Eric começou a se preocupar. Passara-se tempo suficiente para que Lacy tivesse resolvido os seus assuntos particulares, ao menos poderia ter deixado uma mensagem de texto avisando que tudo terminara bem. Eric não queria ligar, pois temia atrapalhá-la; entretanto, quando a tarde se foi e finalmente tentou contatar a namorada, cujo celular encontrava-se fora de área, a aflição começou a assumir tonalidades de ainda contido desespero. Charly não se encontrava em casa e a senhora Medina tirara a folga do fim de semana. O seu gabinete gradualmente lhe pareceu menor e sem oxigênio. Chocado e sem apoio, Eric procurou raciocinar um curso de ação, enquanto pela janela os olhos corriam pelos muros com concertinas, procurando ater-se a qualquer coisa ou talvez nada. Ora batia a borracha do lápis contra os dentes, ora ilustrava rabiscos sem significando algum, apenas para consumir o grafite. A gatinha insinuou-se pela porta entreaberta, e Eric se levantou para apanhá-la nos braços. "<i>Lacy, onde você está</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>?</i></span>", murmurou, algo semelhante a horror no tom aparentemente calculado.</span><br />
<br />
</span><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Eric cruzou com o filho na saída. Charly chegava com uma sacola de filmes que havia alugado. Pela aparência soturna do pai, imaginou que Eric tivera o coração partido. O menino tentou conversar com Eric, mas ele pediu que ficasse de sobreaviso, pois dentro em pouco ligaria. As batidas na porta foram infrutíferas. Pelo pequeno espaço entre porta e piso, percebeu que as luzes tinham sido todas desligadas. Ligou para o celular da namorada e a chamada foi parar na caixa postal. Esperou por mais de uma hora, sentado no chão, as costas contra a porta. Até um pouco antes, parte de Eric lhe dissera para manter a calma e a compostura, pois não demoraria a tudo se explicar; todavia agora sentia muito medo e se via tão confuso quanto na época da morte de Allie.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não posso procurar pela Polícia, pois faz pouco tempo, mas estou convicto, algo ruim aconteceu a Lacy. - Eric dava passadas muito largas sobre o terraço da <i>211 Bel Air</i>, desenhando meias-voltas, enquanto Colby assistia com minucioso olhar.</span></div>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Fez bem em não deixar o nervosismo enturvar a lógica. - Ele decretou, os dedos sobre os lábios, pensativamente. - Se algo tiver ocorrido à moça, o fato de se jogar contra a porta para pô-la abaixo já te colocaria dentro de um cenário incompreensível.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- O que eu devo fazer, Colby? - Esperava de braços abertos por uma resposta.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não há muito, a não ser aguardar. - Colby mordeu os lábios e passou a mão sobre a testa, exasperado. - Deus, que situação fodida...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não conseguirei voltar para casa... - Eric protestou, inconsolável, puxando o caixote para se sentar. - Se Lacy apenas tivesse me dito para onde ia... Mas não!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Esqueça, não se atormente. Pode ficar aqui se quiser, cara. - Colby pousou uma das mãos sobre os ombros do amigo. - Vinte e quatro horas, precisamos esperar vinte e quatro horas. A Polícia somente fará alguma coisa depois das vinte e quatro horas.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Oh, eu devia ter lembrado antes! - Estalou os dedos ao lhe ocorrer o encontro com Jordan Harwood, o que deflagrou todo um novo curso de ação. - Eu sei a quem procurar. Não custa tentar. - Eric concluiu, angustiado, já teclando os números enquanto com a outra mão segurava o cartão.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Tá falando da policial que foi tomar café na tua casa? - Colby indagou, a que Eric confirmou, olhando-o de relance, ocupado com os números.</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Eric se afastou um pouquinho de Colby para ter com a policial reservadamente, no parapeito do terraço superior. O vento soprava insistentemente, enchendo as suas roupas de ar gelado, girando o biruta do <i>Pearson</i> como se o mesmo fosse uma bússola desorientada. Do térreo, vinha longínqua uma modinha romântica do rádio de pilhas que Rodriquez costumava deixar avivado quando não havia clientes para azucriná-lo e não queria se sentir tão só. Enquanto deixava que Eric gozasse de privacidade para tratar com a policial, Colby teve de rememorar o que o viúvo dissera sobre Jordan Harwood, sobre o encontro casual no mercado do quarteirão. Alguma peça não pertencia ao quebra-cabeça, e como que dotado de sexto sentido, o rapaz presumia a imperfeição da encenação, que prometia ruir a qualquer instante e revelar algo muito mais sinistro, precariamente encerrado por trás de fantasias. Distraiu-se em suas deduções e reviravoltas até Eric chamar pelo seu nome do outro lado do terraço.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Consegui contatá-la! - Anunciou, fechando o celular e o devolvendo ao bolso do paletó. - Prometeu acionar a força assim que o Sol raiar. Pediu-me que aguardasse até amanhã. Se Lacy não aparecer, Jordan e eu poremos a porta abaixo e a Polícia entrará no caso.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Procure se acalmar, senhor Dudley. - Colby ensaiou um sorriso conformado, mas não parecia inteiramente satisfeito. Não era o melhor momento para colocar mais pressão sobre a cabeça do viúvo. - Gostaria de ajudá-lo também, mas realmente não sei...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Você já faz muito ao deixar a demanda para conversar, garoto! - Deu-lhe um abraço e Colby sentiu-se péssimo pelo amigo, que seguia colhendo problemas em razão de sua natureza excessivamente confiável, a ingenuidade sobre a qual Hammond alertara seis anos antes.</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Eric telefonou para casa e contou a Charly sobre Lacy. Pediu que o filho recebesse as ligações e anotasse os recados, pois passaria a noite fora. A polícia somente entraria no caso na manhã seguinte, contudo Eric explicou ao filho que se encontrava na delegacia prestando os primeiros depoimentos, a maneira que encontrara para justificar uma noite passada longe de casa. Eric sabia que não conseguiria dormir e francamente tudo o que precisava era atravessar a noite na quietude insone da <i>211 Bel Air</i>. Às 06:00 de domingo, tentou o número de Lacy pela última vez. Fracasso. Colby testemunhou a decepção que tomou conta do rosto do amigo. Foi como se um fusível tivesse queimado dentro. Jordan prometeu que esperaria sua chegada no saguão do prédio de Lacy. Tendo concluído a jornada da madrugada na <i>211 Bel Air</i> e entregado a cafeteria ao pessoal do turno da manhã, Colby se prontificou a acompanhá-lo. Quando Eric e Colby entraram com o carro na rua de Lacy, mesmo ainda dobrando a esquina, deram pela presença da Polícia, os giroflex em régua emanando os sinais luminosos intermitentes, as combinações estroboscópicas de azul e vermelho pincelando a fachada do pequeno prédio em cores que não duravam e seguiam se revezando.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Temos o mandado de busca. - Jordan foi anunciando, assim que Eric se aproximou. Ela exibiu a folha, a que Dudley não poderia ter prestado menos atenção, e os dois trataram de entrar e subir as escadas até ao andar do apartamento de Lacy, Colby e os demais policiais em seu encalço.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Jordan indicou a porta do apartamento com o polegar e abriu espaço para que Dudley a pusesse abaixo a chutes. Eric não sabia o que procurar. Atônito, de pé no meio da sala, procurou particularizar algo fora do ordinário. Em um primeiro momento, tudo parecia igual a quando estivera com Lacy na sexta-feira antes de ela partir. Jordan se aproximou e murmurou baixinho em seu ouvido para que prestasse muita atenção e que não removesse coisa alguma do lugar. Eric se sentou na cama onde cuidara de Lacy até que dormisse. Nos lençóis, resquícios de seu perfume semelhante ao de canela. Ele os abraçou e fechou os olhos, deixando as lágrimas rolarem, discretamente. Jordan assistiu a tudo e baixou o rosto, pesarosa. Colby ajoelhou-se diante do amigo e pediu para que o encarasse, procurando consolá-lo. "<i>Isolem o local</i>", Jordan ordenou, apontando para a porta. "<i>Quero tomar depoimento da staff da recepção. Vocês conhecem a rotina</i>".</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Eric venceu a inércia do choque e voltou a se atentar `a posição dos objetos do quarto. Ao examinar as gavetas e armários, encontrou apenas algumas poucas peças de roupa, a maioria carregada, assim como as duas valises também o haviam sido. Não havia sinal da carteira e da bolsa. Eric comentou o fato a Jordan, que nada disse e se limitou a examinar novamente gavetas e armários. O apartamento não estava bagunçado, não podiam ser pontuados sinais de comoção. Era como se Lacy tivesse precisado fazer uma viagem que lhe custaria muitos dias fora, daí a quantidade de roupas levadas. Jordan reconheceu cansaço nos olhos de Eric e pediu, ou melhor, exigiu, que fosse para casa dormir. Tomaria seu depoimento, conversariam a fundo sobre detalhes, anotaria apontamentos, mas por ora a sua confusão apenas os levaria a pistas falsas ou conclusões atrapalhadas. Charly estava na casa da namorada, quando Eric chegou. Ele pediu à senhora Medina que servisse o melhor café da manhã a Colby e depois o conduzisse ao aposento de hóspedes.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Preciso dormir um pouco. - Explicou-se. - Faça uma boa refeição e depois descanse. Mais tarde, depois que eu acordar, se você quiser, eu posso levá-lo para <i>downtown Toronto</i>, para conversarmos com Jordan.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Parece ótimo, descanse também. - Colby ficou feliz pelo amigo. Junto à senhora Medina, assistiu-lhe ganhar os degraus como se cada passo fosse um fardo. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Você não se recorda de alguma informação, mesmo uma que julgue insignificante?Ela não mencionou o lugar? - Jordan encarava-o por cima dos óculos.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Apenas se referiu a "<i>resolver o</i> <i>passado</i>", o que pode significar um ex-namorado enfurecido, uma inimizade, ou uma porção de outras coisas que nem sei por onde... - Calou-se, as mãos na cabeça, desolado.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- A sua relação com Lacy... - Gesticulou com a mão, sinalizando que desenvolvesse o tema à vontade.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sim. Ela apareceu na <i>La Fabrique</i> para concorrer à vaga de atriz em "<i>Wings of the</i> <i>Dove</i>", para um papel secundário. - E, iluminando o semblante, um bonito sorriso, retrato da instantânea e fugidia recordação de um beijo, de uma noite de amor talvez. - Nós nos demos bem e creio que a relação aconteceu naturalmente.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Seleção para atriz, <i>hum</i>... - Jordan repetiu, como se mantivesse a informação fresca enquanto digitava no teclado. - Se o senhor pudesse me franquear acesso à ficha de Lacy, seria de muita valia...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Quando a senhora achar conveniente. - Respondeu, a que Jordan devolveu com um cordato sorriso. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;">- Ainda hoje, eu creio. Não temos tempo a perder. <span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"> </span></span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;">Eric esforçou-se para prosseguir com a vida. Ele ainda apareceu na <i>La Fabrique</i> na segunda-feira, mas o estado emocional precário o devolveu mais cedo para casa. Não apareceria pelo restante da semana. A vida se tornou uma intermitente espera por telefonemas. De Lacy, que jamais vinham. De Jordan, de quem esperava as respostas para as perguntas que se intrincavam ao sabor dos ponteiros. Dudley recebeu uma ligação de Jordan. Pelo que ela lhe explicou, antes de começarem a pensar em encontrar as respostas, tinham de conhecer as implicações de todas as perguntas. </span></span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">O contato que fornecera para o <i>Royal Conservatory</i> da universidade de Toronto levava a mais um beco sem saída. Aparentemente, o tal de Pryce Stephens, diretor do departamento onde Lacy treinara por alguns anos antes de machucar o tornozelo, desaparecera no fim de semana anterior em circunstâncias muito semelhantes às do sumiço de Lacy. Jordan conversou com a irmã de Pryce, que esteve em seu apartamento e, de forma parecida ao que ocorreu a Lacy, apontou a falta das roupas e das valises. As pistas começavam a revelar a possibilidade de duas pessoas que vinham planejando há muito "<i>recomeçar</i>", "<i>desaparecer</i>", para começarem vidas novas em um outro lugar. Eric perguntou se podia se encontrar em um lugar menos formal com Jordan e recomendou a <i>211 Bel Air</i>, para a noite. Quando estava à mesa com Jordan, na solitária cafeteria, Eric convidou Colby a se juntar à discussão.</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Senhor Dudley, compreende que Nova York fica quase ao lado, correto? - Ela começou, com muito esforço, receosa em expor uma hipótese que certamente o magoaria. - Diabo, há várias maneiras de se deixar Toronto para desaparecer em Nova York. O garoto, que praticamente trabalha no aeroporto, poderia lhe dizer melhor. - Mirou Colby para dar ênfase e citou os meios que lhe vieram à cabeça, desafiando-o a contestá-la. - A <i>West Jet</i>, a <i>Air Transat</i>, a <i>Jet Blue</i>... São muitas as companhias que fazem a ponte aérea em menos de meia hora, estou certa? - Colby balançou a cabeça em afirmativo. E ela nem chegara a metade das companhias. </span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Mas ainda não consigo... - Eric bracejou, com um olhar incomodado.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;">- Sei também da linha férrea do Amtrak. Parte de Toronto e vai parar na Penn Station, por Deus! - Lembrou, com a voz um tanto quanto emocional. - A linha te joga diretamente na 34<sup>th</sup> Street com a 7<sup>th</sup> Avenue!Senhor Dudley, Toronto é uma cidade famosa pela transitoriedade das pessoas. O que estou tentando te dizer não parece suficientemente claro<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Vejo onde quer chegar. - Colby fez um aparte e meneou dolorosamente com a cabeça para o amigo Eric, explicitando. - Acho que a senhora Harwood sugere que Lacy e o diretor tenham fugido juntos.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não. - A negativa deixou a boca de Eric com um esmagador peso de desapontamento.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Quão bem conhece a sua namorada<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span> - Jordan insistiu. - Se a garota contou uma história sobre o passado e a existência do tal Pryce Stephens foi mencionada, é uma possibilidade muito verossímil que os dois tivessem um caso. Não temos como diferenciar quais as partes do passado de Lacy que conferem com a verdade daquelas que foram geradas pelas suas fantasias. Temos de assumir <i>todas</i> as possibilidades!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Qual o interesse dos dois em simplesmente fugir<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span> - Indagou Colby.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- O mesmo interesse de um professor universitário, de um caso prévio, ainda bem no começo de minha carreira, em 2000. - Lacy provou o chococino, passando lentamente a língua no lábio superior, com o pensamento distante, enquanto contava. - Casado com uma bela francesa há mais de trinta anos. Foram passar as férias em uma praia, e enquanto a mulher apanhava sol, resolveu se aventurar no mar para não voltar mais. A mulher ficou louca. Cismou que o cara tinha se afogado. Quando um semestre depois o corpo de uma pessoa apareceu na praia da região, pensamos que finalmente teríamos a prova definitiva da morte. Era uma outra pessoa. O que quero dizer é: nada ficou comprovado, mas até hoje sinto que o sujeito simplesmente deu as costas para a vida anterior e tratou de sumir, de se reinventar com um outro nome, em um outro lugar. - Filou um cigarro do maço. Antes de acendê-lo, murmurou, de forma sombria. - Toronto é um lugar transitório.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">A possibilidade de Lacy tê-lo deixado jamais o incomodou. Conhecia-a como poucos, mesmo os familiares mais próximos não a teriam enxergado pela vulnerabilidade que era a característica mais marcante de sua atribulada alma. Não, Lacy não o deixara. Eric temia que Jordan passasse a tratar o caso com o ceticismo de diferenças entre amantes brigados e deixasse de se aprofundar na investigação que, dirigida de maneira correta, poderia levar a terceiros que a aquela altura ele não conseguia enxergar. Eric fez menção ao staff da recepção, porém Jordan imediatamente o desencorajou, afirmando que não tinham sido de grande valia. A policial foi enfática, ao se despedir da dupla, naquela reunião informal na<i> 211 Bel Air</i>.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não tome para si um trabalho que não é seu. Ainda que o caso se revele mais complicado do que pareça, a intromissão de familiares angustiados somente atrapalharia. - Jordan fazia as últimas considerações no estacionamento, encostada ao carro. Estava frio e nublado. Logo perto, um caminhão de lixo da prefeitura apitava, enquanto os homens recolhiam os sacos pretos de plástico. - Eu não quero deixar a impressão de que o desaparecimento passará a ser tratado como desentendimento amoroso de casal, senhor Dudley, apenas insisto que pense bem em </span><i>todas</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> as possibilidades.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Colby e Eric esperaram que Jordan se distanciasse e retornaram ao bancos da <i>211 Bel Air</i>. Dudley apoiou os braços sobre a mesa de fórmica suavemente bege e descansou a cabeça. Colby passou um pano na placa de aquecimento da cafeteira, encheu o pequeno reservatório, e logo, do tubo de gotejamento, passou a descer o melhor expresso que se poderia desejar. Entregou a xícara em um pires e não precisou que Eric pedisse para acompanhar a bebida com uma fatia da torta de limão.</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Farei as minhas próprias investigações. - Desabafou, comprometido. - Lacy não me deixou.</span><br />
- <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Claro que não. - Colby o animou. Eric lhe dirigiu um olhar surpreendido. Então, o garoto seguia a mesma linha de raciocínio. - Algo ocorreu e eu não sei o quê, mas seja lá o que for, </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">não se deu por vontade da própria Lacy.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Na manhã seguinte, Kylie procurou-o na <i>La Fabrique</i> e depois em casa. Conversou brevemente com a senhora Medina, que sabia pouco sobre o ocorrido, mas vinha testemunhando muito proximamente o impacto do sombrio mistério sobre o bem-estar emocional de Eric. Discretamente em um bistrô da calçada boêmia que passava em frente ao prédio de Lacy, Dudley examinava o fluxo circunstancial. Havia duas viaturas estacionadas em dois pontos distintos da quadra, como que preservando o lugar. Enquanto "<i>lia</i>" o jornal, estudava, na verdade, a quadra. Queria traçar um plano que o conduzisse desapercebido à janela do apartamento de Lacy. Kylie ligou para Eric. Apesar de o último encontro ter ficado manchado pelo conflito psicológico à mesa, Dudley ficou feliz ao escutar sua voz. Havia uma frase que saíra de sua própria cabeça e Eric a apreciava. Todas as vezes em que queria ficar triste ou com raiva de Kylie, ele reativava o comando em sua mente, apegando-se ao mesmo como um mantra "<i>Jamais desaprendi</i> <i>a amá-la</i>". Kylie queria conversar com o amigo, mas o telefone não parecia o meio adequado. Ele se comprometeu a aparecer no escritório da <i>Avant!</i>, às 19:00, no mais tardar.</span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Se apenas os policiais se distraíssem então Eric teria como subir as escadas externas de incêndio que escalavam a fachada do pequeno prédio como trepadeiras prateadas de aço. Eric calculou uma rua distante no máximo a duas quadras dali. Foi a um telefone público e anunciou que um assalto acontecia naquele momento. Em seguida, conforme imaginou, as rádios dos carros, os mais próximos da chamada, realocaram-nos para a "<i>ocorrência</i>". Recriminando-se pela conduta repreensível, ao menos, Eric aproveitou a oportunidade para dar seu máximo. Os pneus dos carros cantaram, borracha queimando asfalto, quando arrancaram `a toda velocidade. Dudley já se via na escada de incêndio exterior do prédio, no andar de Lacy, quando os carros mal haviam atravessado o cruzamento, que, uma vez vencido, levá-los-ia até a duas quadras ao norte, culminando na cena do crime imaginário. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Uma vez vencido o susto inicial dos primeiros dias, o</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> exame minucioso do apartamento provou razoável a intriga de Eric. Ele não precisou de novas informações para reconhecer a cilada por trás da aparência ordinária de mais um caso de desaparecimento. O apartamento apenas "<i>sugeria</i>" a normalidade com que Lacy o deixara, na manhã em que partira. Havia os itens de cozinha, mesa e banho que se encontravam, sim, organizados, porém não da maneira deixada, ou melhor, da forma com que se recordava da posição dos objetos na última noite em que estivera ali. Sentado no chão, com as costas para a cama, procurando se concentrar, Eric fechou os olhos e repassou as observações que julgara pertinentes até o presente momento. Quando os abriu, viu a falecida esposa sentada no sofá da sala de estar, observando-o com um olhar analítico e preocupado. Eric sorriu.</span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Definitivamente eu estou ficando louco. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eu lamento por tudo, querido. - Allie cruzou a sala de estar e se sentou ao lado do marido no chão. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- O que aconteceu por aqui, Allie?Parece-me um apartamento bem arrumado, as coisas nos seus devidos lugares... Por que não soa natural</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Simples. Porque o apartamento foi revirado. Alguém fez uma varredura e então tentou arrumá-lo para lhe devolver a aparência de normalidade. - Ela lançou um olhar por sobre a cama e apontou para o banheiro. - Fizeram um péssimo trabalho com o banheiro. Não sabem que mulheres têm um jeito especial de arrumar perfumes e loções?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Isso! - Eric se levantou em um salto. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Tentavam encontrar alguma coisa, sem sucesso, eu suponho. - Allie opinou. - Depois, forjaram essa farsa das roupas. Sua namorada não deixou o lugar com as valises, querido. Ela partiu para um encontro muito provavelmente esperando retornar em questão de horas. Ao cair da noite, no mais tardar. Alguém a apanhou, e depois fez uma visita ao apartamento para dar sumiço na mala e nas roupas e criar a ilusão de que ela deixou o lugar voluntatiamente. Teve até mesmo o cuidado de não levar todas as peças. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- E o professor... O professor de música... - Eric dizia a si mesmo, os olhos semicerrados, a cabeça girando. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- O álibi perfeito para a historinha da mocinha fugitiva. O professor é apenas um paspalho que foi arrastado `a loucura. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Por quê?! - As peças começavam a se pertencer, mas faltavam mais elementos. - Por quem?! - Ao se virar para Allie, não mais a encontrou ao lado. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Quando o viu entrando exasperado em casa, no fim da tarde, Charly cobriu o pai de perguntas. Antes que o filho terminasse de falar, ele lhe deu um abraço, o que o silenciou, e pediu que confiasse em seu julgamento. Tratou com a senhora Medina para que pelos próximos dias dormisse em casa para cuidar do filho e da administração do lar, já que dificilmente pararia. Não imaginava para onde as novidades o levariam. Eric tomou um demorado banho e suspirou aliviado ao verificar que ainda tinha no mínimo uma hora de descanso até o encontro acertado no escritório da Kylie. Deitado para cima, de braços abertos, os seus olhos percorreram o teto vasculhando cada entrância e imperfeição entre os caibros. Absorto em pensamentos muito díspares, não conseguia se ater a apenas um por mais que alguns segundos. Quando a vista começou a pesar, Eric foi enxaguar a face e se vestir. Colocou uma roupa limpa e o paletó e partiu para o encontro com Kylie Grattan.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Ao vencer o átrio do edifício onde Kylie erguera seu império de publicidade, apresentar-se à recepção e ter de esperar no salão para que sua subida fosse comunicada e autorizada, caiu a ficha quanto a envergadura do poder e das conquistas que fizera da estagiária "</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>maluquinha</i>" uma das executivas mais importantes do Canadá. Sentado em uma extremidade do sofá modular escuro que serpenteava através do hall, banhado pelo elegante lustre de cristal de onde efluía as cascatas de luzes que mais se assemelhavam a cachoeiras do champanhe mais caro, Eric se recordava, melancolicamente, das suas conversas com Kylie na época do estágio nos idos dos anos 90. A forma como o escutava com olhinhos bem assustados e interessados enquanto ele ia expondo seus pontos de vista sobre a vida e de como era importante aprender com os erros dos mais velhos para não pisar nas mesmas armadilhas, costumava lhe apertar o coração, pois naquela época temia que Kylie não desse conta da transição para a vida adulta. Hoje, a estagiária era uma mulher sofisticada e ocupada e os seus visitantes tinham que ser devidamente anunciados. "<i>O mundo dá voltas</i>", Eric murmurou consigo mesmo. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br />A jovem da recepção, uma bela senhorita em um elegante blazer verde, de pele muito alva e lábios vermelhos em semelhante generosidade, anunciou que o publicitário podia se pôr a caminho. Rumo à cobertura, no 25° andar, Eric observava Toronto pelos mais generosos ângulos graças aos privilégios do elevador panorâmico. Quanto as portas se abriram, dando para o largo corredor ladeado por caríssimos quadros, Eric conseguiu escutar o rumor vindo do salão de ginástica de Kylie, no braço oposto a aquele que levava ao escritório. Uma secretária o cumprimentou e o conduziu, mão em um dos ombros, em direção ao salão. Havia um ringue com cordas cujas cores eram as da bandeira norte-americana na seguinte ordem a começar pela superior: vermelho, branco e azul. De seu campo de visão, enquanto percorria o longo corredor, não enxergava a movimentação que ocorria no ringue, pois só podia ver seu centro, pela lateral. O que escutava muito bem eram grunhidos de dor e fragor molhado, em cheio, eco de patadas apanhando as partes de um adversário qualquer. Eric se deteve na entrada da academia particular e assistiu ao desenrolar do treino. Kylie chegara à faixa preta de karatê ainda durante a faculdade, quando levara os principais campeonatos. Ali, tantos anos mais tarde, ao escolher homens para o seu exercício, parecia endereçar inseguranças antigas, equilibrar equações injustas pela violência e seriedade que imprimia ao ritmo do confronto. No corner do ringue, havia um homem prostrado, os braços erguidos em posição de bloqueio, fracassando horrivelmente enquanto os jabs de Kylie sucediam-se em uma sequência que parecia não ter fim. Murros e combinações desferidas com os diferentes braços castigavam o rosto, rasgando o supercílio, cortando e estragando a carne; os chutes, o mesmo trabalho de destruição, só que invisivelmente, no tronco, roubando força e agilidade das pernas de sua vítima. No corner oposto, outro homem, visivelmente muito machucado, parecia ter se restabelecido para tentar alguma novidade, e ensaiava caminhar em direção ao canto onde Kylie se encontrava. Ela pareceu pressentir, pois então largou o adversário em quem investira todo o ataque. Em uma corrida através do ringue, apanhou o outro com o chute por cobertura que esmigalhou o seu nariz, quando o calcanhar desceu com toda a força sobre a face. Sangue espirrou, o adversário foi ao chão instantaneamente, sem reação alguma. O outro ensaiou alguns passos para a frente, procurando vencer o choque da situação, esboçar <i>algo</i>. Ele não pôde pretender muito. Mesmo de costas, quando Kylie se virou para acabar o que começara, ela o golpeou com um chute semicircular, de fora para dentro, a sua patada conectando à face com todo o impacto acumulado pela cinética do movimento. O homem foi lançado para trás, por sobre as cordas e para fora do ringue. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric se aproximou com alguma cautela, impressionado com a extensão das consequências. Ele segurou as cordas, e foi quando Kylie finalmente o notou. Ela sorriu à chegada, o rosto salpicado do sangue que não era o seu. Kylie ofereceu a mão e Eric a aceitou, passando por entre as cordas e se juntando à melhor amiga no centro do ringue. Não apenas o rosto, o corpo estava borrado de muito sangue, das luvas às ataduras quase brancas que cobriam os tornozelos e parte dos pés de Kylie. Ela abaixou o rosto e suspirou, evidenciando o desgaste envolvido na sessão. Deixou as luvas caírem, e quando levantou a cara, passou o peito da mão sobre boca e nariz para limpar o sangue. Ao fim, inspirou breve e profundamente, como se o aborrecimento não tivesse valido à pena, apenas um ligeiro contratempo. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eles vão ficar bem, querida? - Eric perguntou, abismado com a rapidez com que homens fortes haviam sido tão facilmente silenciados. Agora, eram massas ensanguentadas e imprestáveis aos seus pés. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Estão muito machucados, mas acredito que sim. - Despiu um dos braços do quimono e seguiu se livrando da peça. E então, para amenizar a gravidade da situação, fez uma gracinha, e com uma careta travessa indagou. - E então, gostou do que viu?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Sim, mas não quero que se machuque, Kylie. Não é melhor se trocar? - Eric travava o diálogo, que lhe soava absolutamente surreal, ambos conversando enquanto aos pés aquelas duas pessoas pareciam mortas. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Você pode me esperar no escritório?Tomarei um banho para me vestir. - Os dois deixaram o ringue. Quando passou pela secretária, Kylie a orientou, indicando com o polegar. - Providencie para que os garotos recebam os cuidados necessários. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric admirava as fotos emolduradas nas paredes do escritório, em sua maioria do dia que deveria ser o o mais feliz da vida da executiva: o do casamento com Cary. Quando Kylie voltou, parecia refrescada e de tirar o fôlego, metida em um terno feminino preto, releitura do traje masculino que em uma mulher tão linda quanto ela simbolizava poder, classe e distinção. Ela usava lindas botas acamurçadas. Os seus cabelos pingavam um pouquinho, e ela trazia uma toalha para secá-los. Eric sorriu ao vê-la, porém foi apenas um meio-sorriso, e Kylie pôde discernir a sua preocupação no que se referia a Lacy. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Conheço Jordan desde 2004, por causa da confusão com o Hammond em <i>Dundas Street</i>. - Kylie revelou e Eric achou a introdução perfeitamente razoável. - Nós temos conversado sobre o caso. Você já sabe do tal Pryce?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- O diretor do departamento, sim. - Comentou, desanimado, mas prestes a arrazoar a nova teoria. - Desapareceu. Jordan crê que no mesmo sábado em que Lacy partiu. Eles não simplesmente fugiram juntos, Kylie. Sinto nos meus ossos. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Você está muito apegado a Lacy. - Propôs, estudando-o com benevolente preocupação. - É natural que a idealize ou não aceite nenhuma outra hipótese que possa manchar sua reputação. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Retornei ao apartamento da Lacy. Consegui entrar fazendo uso daquelas escadas de incêndio armadas ao longo da fachada. O lugar parecia em ordem, sim, mas organizado por terceiros!Alguém entrou no lugar depois de Lacy partir e mexeu nas coisas. Não imagino o quê, ou a razão, mas acho que Lacy foi vítima da própria ingenuidade.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eric, eu lamento que Hammond não esteja mais aqui para aconselhá-lo. Você está se voluntariando excessivamente, o que me parece compreensível, pois sei que é um homem bom, mas pessoas assim acabam feridas. Por que investe tanto nessa menina?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Lacy tem uma filhinha. - Eric se sentou pesadamente no sofá. Kylie se achegou e ficou no braço do móvel. - Não estou arrasado apenas pelo meu carinho pela Lacy. A criança também precisa da mãe. Penso em ir buscá-la. - Levantou o rosto. - Adotá-la, sabe? Não vou deixar uma criança sem sua mãe. Não posso. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Oh, querido. - Acariciou as suas costas. - Eu dizia antes, em 2004, e continuo a dizer: você me enche de preocupações. Acompanhe-me ao heliporto. - Tomou-o pela mão, e com a outra, pegou uma pasta que repousava sobre a maciça mesa de mogno. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric foi levado por Kylie corredor afora e escada acima ao heliporto elevado. Quando abriram a passagem para a cobertura, a gélida ventania os agraciou como convidados de uma festa de gala. Os dois se dirigiram à área de segurança e Kylie identificou o helicóptero traçando uma curva descendente vários quarteirões ao sul, ainda um pontinho cintilante vermelho. Ela colocou a pasta no chão e a prendeu entre as pernas. A mecha chicoteava o seu rosto, e a cena, de uma forma muito peculiar, enterneceu o coração do viúvo. Depois que Eric inesperadamente a abraçou, até mesmo a suspendendo um pouquinho do chão ao fazê-lo, Kylie perguntou, com um sorriso surpreso, por que fizera aquilo. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Saudades de abraçar a minha melhor amiga. - Explicou, com os olhos marejados. Emocionalmente, estava um caco. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Kylie não soube o que dizer. Queria demovê-lo da busca por Lacy. Ao longo dos últimos anos em que estivera casada com Cary, sentia que persistia como a exclusividade na vida de Eric até Lacy chegar e subverter a ordem dos papéis. Mesmo em sua ausência, Lacy chegava a influenciar mais energeticamente as decisões de Eric do que seria capaz com a sua presença. Não havia prova melhor da força da rival. O helicóptero completou o giro por sobre a torre e começou a descender sobre a área de toque do heliporto elevado. A ventania era extraordinária. Kylie agarrou-o pelo pulso e o guiou consigo para a área de <i>Take-off</i>. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Venha comigo, querido! - Ao fazer o convite, o seu rostinho iluminou, mas talvez tenha sido apenas a forma como Eric gostaria de se recordar de Kylie quando se recordasse daquela conversa.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Oh, Kylie, mas... Onde vai me deixar?! - Ele deu com os ombros e seguiu com uma gargalhada divertida. - O campinho de futebol de meu condomínio não comportaria um helicóptero, exatamente!</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Seu bobo, eu te deixarei no heliponto do Sheraton próximo ao condomínio!Eu já posso preparar um rádio-táxi para apanhá-lo no restaurante. - Ela explicou, mas Eric não se convenceu. Kylie não estava disposta a deixá-lo sozinho. - Por favor, venha comigo. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Muito bem, sua "<i>maluquinha</i>". - Vacilou quando a porta de correr foi aberta e os dois convidados a entrar para a partida, mas se convenceu a enfrentar o passeio. - Porque, para mim, às vezes você deixa de ser a executiva sofisticada e me lembra a minha estagiária louca, e eu me lembro que não conseguia dizer "<i>não</i>" para ti, naquela época.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Você não consegue dizer "<i>não</i>" a ninguém, em época alguma, tolo.</span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Kylie e Eric sentaram-se lado a lado, ele muito próximo à janela. Vestiram os cintos e a aeronave começou a ascender vertical e lentamente, a quadra da <i>lift-off area</i> gradualmente distanciada abaixo. A vista ao leste era encantadora, Toronto como uma placa de circuitos energizada de luzes e vidas que pulsavam, moviam-se, interagiam, saltavam aos olhos. Tamanha beleza acabou por requentar contagiante tristeza dentro de Dudley. Ele não queria evidenciar a dor, vez que Kylie se esforçava tanto para ajudá-lo a se sentir melhor, porém, como aprendera, a melhor amiga o lia, pura e simplesmente. Quando Kylie apertou sua mão, até então absorto com a panorâmica que se estendia em ângulos variados às janelas, Eric voltou-se com um sorriso de gratidão. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eu gostaria de convencê-lo a me devolver a abertura que eu tinha em sua vida, e que vem tentando fechar. - Eric quase meneou em negação, querendo se justificar, mas Kylie o impediu. - Não quero discutir, querido, nós apenas nos desgastaríamos. Mesmo certa dos danos que essa menina causou `a sua vida não justifiquem o meu suporte, eu prometo que te ajudarei. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric notou que Kylie vestia elegantes luvas escuras de palmas de couro, que acompanhavam muito bem o terno. As costuras eram incrivelmente detalhadas e o fecho com zíper era uma das "<i>coisinhas</i>" que deixavam a peça mais diferente e sensual. Quando Kylie segurou-lhe a mão, Eric pôde escutar a fricção do couro quando movido e apertado contra os nós dos dedos. Kylie ergueu a outra mão pelas costas de Eric e foi subindo até se deter na altura da nuca. Ela o trouxe para si, a cabeça ao ombro, e os dois se abraçaram. Era o típico instante de cumplicidade de que Eric sentia muita falta. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não faça justiça com as próprias mãos. Prometa-me que confiará no trabalho da Polícia e se afastará de uma situação mais imprevisível. - Kylie suplicou. - Eu não quero vê-lo ferido. Não acabará bem para você. Por favor. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eu prometo. - Eric disse, sem convicção alguma em suas palavras. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">A última vez que Eric esteve na <i>La Fabrique</i> foi para entregar a chave do gabinete a Hermione. Pediu que a colega assumisse o comando do escritório. O trabalho não podia esperar até que superasse sua crise, e a bola agora precisava ir para as mãos de alguém mais jovem, enérgica e capacitada. Os colegas o surpreenderam com uma pequena surpresa, com salgadinhos e refrigerante, uma maneira gentil e generosa de dizer "<i>até logo</i>" e transmitir os votos de que logo os maus tempos fossem substituídos por melhores. Charly havia começado a rodar o filme nos muitos espaços da casa e das cercanias. Por algumas manhãs, o pai ficava sentado à janela, bebericando café, admirando o talento do adolescente para dirigir os amiguinhos, sua percepção de posicionamento de câmeras e toda a parte técnica. O projeto era a distração perfeita para que o menino não reparasse no pai em frangalhos. Charly e a mocinha do condomínio seguiam namorando firme, e a Eric sempre pareceria encantador o quão fantástico era enxergar o mundo sob uma ótica tão mais ingênua e bondoso que a dos adultos, mesmo que apenas por uma breve estação, ou por um intervalo entre as mesmas, verão a outono quiçá, quando as árvores ficavam amareladas e liberavam as folhas, antes de virarmos adultos, quando sabemos tão pouco sobre o mundo que nos cerca.</span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Em uma das noites em que esteve na <i>211 Bel Air</i>, Eric foi perguntado por Colby se guardara as fotos de Lacy. Na madrugada seguinte, Eric surgiu com a máquina digital com a qual registrara momentos de dias mais felizes em <i>Niagara-by-the-lake</i>. O rapaz apoiou os cotovelos no balcão e ficou a observar os arquivos, examinando-os com muita atenção, sem nada acrescentar. Quando se despediram, Colby pediu para que mandasse no mínimo duas daquelas fotos por e-mail, pois queria fazer uma busca online. À medida que o desaparecimento de Lacy foi se tornando cada vez mais distante e informações novas mais cadenciadas e insignificantes, Eric transigiu o acordado com Kylie e retomou as investigações pelos próprios precários meios. Ele voltou ao prédio de Lacy e se reuniu com as duas pessoas que estiveram na recepção no sábado em que ela partiu. Em um primeiro momento, o casal se mostrou temeroso, porém eventualmente concordou em narrar o acontecido. Lacy deixara o lugar aparentando alguma tensão, porém jamais fizera crer que partia para sempre. As malas, a garota contou, foram levadas depois, na noite do mesmo sábado, quando dois homens subiram ao apartamento e ressurgiram uma hora mais tarde com as valises. A tensão palpável em seus lívidos rostos, Eric poupou-os de novas perguntas e por si começou a ligar os pontos. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Enquanto escutava a Colby falar sobre o que achava da natureza das pessoas que haviam aparecido no mesmo sábado para carregar as valises com as roupas de Lacy, Eric mordiscava um fósforo, no canto da boca, e com olhos perdidos na placa de neon com a xícara e a fumacinha a deixar pelas bordas, construía a própria tese, para apenas posteriormente verificar se a estrutura resistia. Quando Eric comentou casualmente que pensara em procurar Jordan Harwood para falar sobre os estranhos que haviam estado no apartamento, Colby nem esperou que concluísse, mesmo sabendo que Dudley não cometeria tamanha estupidez. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não me diga uma coisa dessas! - Exclamou. - Provavelmente, os homens são policiais, senhor Dudley. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Jordan está metida no desaparecimento, é isso? - Não parecia inteiramente improvável e Colby tendia `a mesma conjectura. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- É possível, embora eu não enxergue o contexto. Se for o caso, você tem entregado a Jordan todos os seus movimentos. Ela sempre estará um passo a frente. Ademais... - Colby apontou para lugar algum, apenas para explicitar a súbita constatação, complementando. - Vocês dois "<i>se encontraram por acaso</i>" no mercado da quadra poucos dias antes de Lacy sumir. A hipótese é assustadora. Jordan estava "<i>rondando</i>" tua vida antes de dar o golpe. Afaste-se dessa mulher!</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Preciso saber... Preciso saber o que aconteceu a Lacy! - Protestou, o rosto uma máscara de confusão e angústia. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Qual a ligação dessa Jordan com teu passado?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Ela cuidou do inquérito do assassinato do Hammond em 2004. A questão não gira em torno de minha "<i>história</i>" com Jordan, mas da história de Jordan com Lacy, se houver. Elas se conheciam?</span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">No rosto de Colby, como resposta `a hipótese levantada, uma expressão vazia e ilegível. Eric coçou a barba por fazer e tomou alguns segundos para concatenar melhor o que tinha a dizer ao rapaz. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- A filhinha dela, eu temo pela garotinha. Vive com uma colega da Lacy, a quem dava dinheiro todos os meses para as necessidades da criança. Eu estive pensando...</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Faça isso. - Colby adiantou-se e Eric gostou da maneira como o amigo o interpretou antes que precisasse falar. - Você tem um grande coração, senhor Dudley. Tanto é verdade, posso prevê-lo com facilidade. O tipo de cara para quem torcemos nos filmes, sabe?Acontece que na vida real, finais felizes são para poucos, pois uma vez que seu código moral é também o maior inimigo, também te engessa e te torna mais suscetível aos <i>outros</i> inimigos. Mesmo assim, penso que deva procurar a menininha, sim, e cuidar de sua segurança, ao menos até que a confusão passe. Priorize aqueles que lhe são caros, amigo, não deixe que te acertem tão fácil. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Primeiro, procurarei compreender em que terreno estou pisando. Se os eventos se encaminharem para revelações mais sombrias, pedirei para que a irmã de Allie fique com Charly e a criança. Não sei, Colby. Acho que estou correndo riscos. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Acha?Pois eu estou certo disso. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Uma vez que a possibilidade de Jordan vir jogando com a sua cabeça pareceu muito verossímil, Eric concluiu que precisava visitar o apartamento de Lacy por uma última vez antes que a policial desconfiasse que o viúvo enxergava agora as peças sobre o tabuleiro. Ele não precisou se preocupar em subir as escadas de incêndio. A recepcionista compreendia seus motivos e prometeu não falar a respeito para ninguém. Ali dentro do apartamento de Lacy, a devastadora solidão golpeou-o como os chutes e socos que vira Kylie desferindo. Eric imaginou que tantos dias após o desaparecimento de Lacy, familiares teriam comparecido para recuperar a menininha, encaixotar suas coisinhas, enfim, tratar das demandas que restavam agora que Lacy não estava mais presente. Diferente do imaginado, tudo seguia no mesmo lugar e ninguém chorara seu desaparecimento – provável assassinato – que não a criança e Eric Dudley. Entre todas as coisas simples que haviam feito parte da vida da atriz por alguns anos, havia um item que escapara aos olhos de Eric: um quadro, na parede, uma foto com a filha dentro de um carrinho num parque de diversões. Um pouco mais atrás da dupla, um vendedor de algodão doce, caracterizado como palhaço, fazendo graça para a câmera. Eric se recordou da velhinha dona do <i>bed &</i> <i>breakfast</i> em que tinham se hospedado em <i>Niagara-by-the-lake</i>, o mesmo jeito hilariante de involuntariamente acabar em um registro para o qual não fora convidado! Sorrindo, Eric retirou o quadro da parede, para examiná-lo melhor, quando reparou que estivera acobertando uma lâmina de gesso que dava para um fundo falso. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric bateu de leve com os nós dos dedos em cima da lâmina. Ao redor, as batidas soavam cheias, mas o quadro fora colocado estrategicamente sobre aquela parte oca para mascarar um esconderijo, ou melhor, o lugar provavelmente projetado como caixa de ar-condicionado. Ele precisou apenas de dois murros fáceis para romper o gesso. Havia um saco plástico <i>zip lock</i> com um objeto dentro. Eric rasgou-o e examinou os pedaços de um aparelho celular, quebrado pela metade. O chip fora preservado. Eric havia pinçado o fio da meada. Guardou o celular no bolso interno do paletó e deixou o prédio o mais rápido possível. Eram 21:30 quando estacionou o carro na garagem e entrou às pressas em casa. Dudley trancou-se no gabinete e apanhou um celular que não usava mais, para o experimento. Adaptou o chip do aparelho encontrado no fundo falso do apartamento de Lacy ao celular antigo. Assaltado pelo horror, descobriu que o chip encontrado pertencia ao amigo morto Hammond. Eric passou a traçar em uma folha de papel tudo</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">o que sabia, a diagramar o que as suas investigações tinham produzido de concreto para que assim capturasse o máximo de ângulos. A análise provou-se produtiva. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Jordan, Hammond e Lacy estavam ligados por <i>algo</i>, que só podia ser o assassinato do publicitário. Ao revisitar a ficha de Lacy, Eric não encontrou informações que a conectassem a Jordan ou Hammond, que o levasse a um mesmo interesse, a um mesmo lugar onde um dia poderiam ter se conhecido. Lacy falara muito por cima que trabalhara uma época em <i>Dundas Street</i>, mas a via era um mundo de tão grande. Os três só podiam estar conectados circunstancial e exclusivamente pela noite em que Hammond fora assassinado. Em péssimo estado à época dos eventos, em 2004, Eric havia deixado as circunstâncias do homicídio passarem batidas e agora se via diante da missão de completar as lacunas de um crime que mesmo em linhas muito amplas não compreendia e que havia se dado há seis anos. Naquela noite, Eric dormiu prevendo estratégias, ligando pontos, imaginando pistas para lacunas, por mais fantasiosas que as premissas parecessem. Quando os homens estiveram no apartamento para revirar as coisas, procuravam o celular de Hammond. Acreditou que não conseguiria dormir, porém estranhamente apagou ao menos esperar. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Ele teve um pesadelo horroroso, um sonho que o desestruturou de forma que mesmo a realidade não teria conseguido. Enxergava a si durante os estágios muito iniciais do namoro, a doce paquera, o inocente joguinho do flerte, os encontros nos bares, olhares e sorrisos a se interpretar, a bota de Lacy encostada `a sua canela, e sentia-se um espectador de uma comédia romântica, ao que Hammond chamaria de "<i>um filme de Rachel</i> <i>McAdams</i>". O mistério então o envolvia como lençóis molhados. Não tinha como identificar o instante em que a comédia romântica virara terror, mas agora se flagrava sufocado e não conseguia se desvencilhar dos lençóis. No pesadelo, enxergava a si considerando ligar para a Lacy, e então conseguia ver a namorada sentada no vão da sala, ao lado do aparelho, a cabeça baixa e deprimida, e um saco grosso e grande de lona, como que cheio de batatas, esquecido no mesmo vão que dava para a cozinha. Quando o apego vencia a prudência, Eric ligava e o telefone começava a trinar. Lacy esboçava um tétrico sorriso, a única coisa que ele conseguia realmente enxergar, por causa dos cabelos compridos. O saco se mexia bruscamente, revelando que havia <i>uma coisa</i> dentro. A coisa se insinuava para fora do saco, grunhindo como um bicho agonizante, e então Eric percebia que não era Lacy ali sentada esperando sua ligação, mas a Kylie. As imagens se misturavam a recordações de Allie, e enquanto de um lado havia o monstro do saco e Kylie lhe dando um receptivo, faminto e cruel sorriso, do outro, a falecida esposa emergia da cama, pálida como a neve, aflorando entre lençóis muito brancos, com o braço estendido em sua direção prometendo apanhá-lo, murmurando "<i>Viver é se aproximar da morte gradualmente</i>". Eric acordou sem fôlego e resvalou para fora da cama, batendo a testa no criado-mudo. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Nem cogitou se levantar. Exausto, permaneceu prostrado aos pés da cama, os cabelos desgrenhados, o coração saindo pela boca, a recordação do pesadelo ainda muito fresca na mente. Somente depois de um par de minutos, os ouvidos capturaram o barulho da televisão ligada na sala de estar. Eric se assustou. Tentou imaginar se seria o filho ou a senhora Medina, mas nenhum dos dois tinha razão para tanto. Do fundo falso do armário, pegou da caixa o revólver .38 de seis tiros. Alimentou as câmaras e encerrou o tambor. Engatilhou o cão e partiu para a varredura. A porta do quarto do menino <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">encontrava-se </span>fechada, então não era Charly quem <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">assistia à televisão ali embaixo</span>. Foi descendo, degrau a degrau, o revólver apontado para cima, o dedo sobre o arco. A janela da sala encontrava-se aberta, a ventania silvando ao sacudir as cortinas brancas de seda, as esquadrias em um vai-e-vem incessante. <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Ele encontrou a televisão ligada</span>, mas não <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">enxergou </span>muito bem as imagens exibidas. Parecia um filme pornô.</span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Ao chegar à sala, Eric ligou os interruptores. A senhora Medina surgiu às pressas, cobrindo-se melhor com o roupão, ajeitando os óculos, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">o rosto uma máscara de expectativa</span>. Eric <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">pediu </span>para que checasse <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">o menino</span> e permanecesse com <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Charly,</span> <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">ambos trancados</span> no quarto. Depois de averiguar os cômodos, Eric voltou `a sala para assistir ao vídeo. As imagens tinham péssima qualidade, assim como o som, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">essencialmente </span>uma cacofonia de gemidos de prazer e palavrões imundos. O conteúdo da fita de vídeo deixada no aparelho era repugnante e desprezível, um filme pornô rasteiro e malicioso de última qualidade, o tipo de lixo que ocupava as prateleiras sujas de locadoras de quinta, ainda especializadas em fitas VHS. Os olhos de Eric <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">preencheram-se </span>de dor quando descobriu que a moça devorada pelos atores sobre uma palafita era Lacy Morel. Talvez dez anos mais jovem, o que lhe colocaria aos vinte anos de idade quando das filmagens, Lacy vestia essa expressão gélida e indiferente, uma pessoa que desistira da própria dignidade em troca de algum dinheiro que custeasse a próxima dose de heroína. Eric começou a chocar. Tentara ajudá-la e finalmente compreendia a dor e a tristeza que não conseguira sarar por completo. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">"<i>Não somos o passado, somos a soma do que aprendemos com o passado</i>", Eric recordou-se de ter dito. Agora que<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> concluíra </span>que Lacy fora assassinada, ao considerar o carinho e a compreensão que tinham dado o tom à relação, sentia-se reconfortado por ao menos ter apaziguado parte da amargura de sua trágica vida. Eric ejetou a fita do aparelho. O VHS não trazia adesivo identificador, apenas uma fita virgem, gravação de algum lixo pornográfico dos anos 90. Apareceu no quarto do filho, abraçou o menino e a secretária simultaneamente. "<i>Ficará tudo bem</i>", Dudley declarou, escondendo o revólver por sob o pijama. Até mesmo a gatinha <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">assistia </span>a tudo de cima do armário, assustada. Eric a apanhou e a devolveu ao colo de Charly. "<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>Venha</i></span><i>, Pernetinha, você está segura</i>", o garoto a abraçou. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Antes de partir para o ataque, Eric resolveu que o filho precisava passar um tempo na casa da tia. Charly não iria sozinho para a casa de praia. Eric decidiu que agora a vida da filhinha de Lacy cabia à sua responsabilidade. Guardara em um caderninho de notas o endereço que a namorada fornecera. A menininha se chamava Terri e seu rostinho já exibia os sinais de tristeza e tragédia que aos olhos de Dudley tornara Lacy tão marcante. A amiga de Lacy era uma ex-stripper de meia idade e acima do peso que vivia de pensão e das mesadas que os pais das outras crianças de quem cuidava – isso mesmo, ela cuidava de doze crianças – pagavam ao fim do mês. Terri tinha três anos, e quando Eric <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">a visitou</span>, em um condomínio barato e pobre que mais lembrava aqueles típicos <i>Days Inn</i>, a colega de Lacy, Consuelo, teve dificuldades para encontrá-la em meio à bagunça de crianças e brinquedos quebrados. Eric se ajoelhou e abriu os braços para recebê-la, e por motivos que jamais compreenderia, a criança correu para dentro dos mesmos, aceitando-o sem vergonha ou constrangimentos. Era como um bichinho desconhecedor, sujo, ignorante e puro, sem chances contra um mundo de gente narcisista e perversa. "<i>Não vou te abandonar, lindinha. Não vou te abandonar jamais. Sou o seu pai agora</i>". Eric entregou um envelope com mil dólares para Consuelo, que ao examinar o conteúdo não quis saber do destino da criança. Ele estava salvando Terri de uma vida de silente e indescritível horror. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric guardou o conteúdo do zip lock no cofre. O chip do celular de Hammond teria muito a revelar se apenas conseguisse coletar as informações e ler os segredos que sua carta coringa guardava. A senhora Medina afeiçoou-se à criança do instante em que Eric voltou para casa com Terri nos braços. Depois que a senhora Medina deu um banho na menininha, alimentou-a com chocolate quente e pastéis de carne e a colocou para dormir na cama de Charly. Eric reuniu os dois na sala para uma imprescindível conversa. </span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Dentro de alguns dias eu terei de mandá-los para passar uma temporada com tia Virgínia. - Charly e a senhora Medina se entreolharam, não realmente surpresos. - Senhora Medina, se preferir, eu a dispensarei por algumas semanas. Continuarei pagando seu salário mesmo durante o afastamento. Se puder acompanhar as crianças, porém, ficaria grato. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Oh, papai, eu não compreendo. - Charly foi em direção à janela e então indagou ao pai. - Por que invadiram a nossa casa?</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Não sei por quê, mas o fato é que entraram enquanto dormíamos. Não precisamos de uma nova invasão para <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">agirmos</span>. Amanhã, conversarei com tia Virgínia. - Eric se levantou em um salto e suspirou, exasperado. - Bem, pessoal, é isso. Considerando os horrores da noite passada, procurem recuperar o sono. Permanecerei mais um pouquinho por aqui. Senhora Medina, durma com a menininha, combinado?</span><br />
</span><div style="min-height: 14px;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric inspecionou todas as janelas e portas. A esquadria pela qual o visitante entrara não tinha sido rompida a culpa fora inteiramente de Dudley, que passara a confiar incondicionalmente na segurança do condomínio a ponto de abandonar as preocupações mais elementares. Quando conversou com o serviço de segurança, os homens não encontraram explicação para a entrada do misterioso visitante que nada levara, apenas deixara a fita rodando no aparelho. Passando o VHS de mão a mão, Dudley procurava reunir ânimo e frieza para assistir a<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">o conteúdo integralmente</span>, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">porém </span>a revelação ainda estava por demais fresca. Antes das conversas com Colby, teria procurado por Jordan Harwood, mas depois do que o rapaz dissera, sobre a policial estar um passo a frente a cada curva, enxergou a cilada em que se meteria caso agisse conforme o primeiro instinto. </span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Quando a residência dos Dudley imergiu em breu e silêncio, Eric cuidou para não fazer barulhos e ligou o computador desktop para acessar a <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">internet</span>. Pesquisou o nome "</span><i>Jordan Harwood</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">" e a maioria das respostas o levou a sítios com resultados de distintos concursos públicos entre 2002 e 2003 e `a página do distrito policial onde hoje Jordan servia como tenente, atualizada diariamente. Harwood não aparecia em redes sociais. No entanto, foi o último endereço na lista de resultados que interessou <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">o viúvo</span>. Era uma coluna social eletrônica cujas matérias giravam em torno da vida dos ricos e privilegiados de Toronto. Datada de julho de 2002, a matéria abordava as "</span><i>baladeiras</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">" da formatura da Universidade de Toronto daquele semestre em particular. Não havia nada de profundo ou revelador naquelas linhas – </span><i>Patricinhas</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> comportando-se como </span><i>Patricinhas</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> – mas a foto que encabeçava o texto funcionou como um estridente chamado de despertar para o publicitário. Havia uma foto, quatro moças muito bonitas, visivelmente alegres e apenas "</span><i>um pouco</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">" alcoolizadas, caminhando ombro a ombro com enormes sorrisos ao longo do caminho de pilares de pedra do </span><i>Bennet Gates</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">. Ao fundo, um montão de outros formandos fora de si, exibindo garrafas de champanhe e vinho. Dizia a legenda, nominando as privilegiadas enquadradas, da esquerda para a direita, nessa ordem: </span><i>Megan</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span><i>Larkin</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">, </span><i>Marion Lambèrt</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">, </span><i>Jordan Harwood</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> e </span><i>Kylie Grattan</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">. </span><i>Jordan</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> e </span><i>Kylie</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> estavam de braços dados e à vontade, uma ao lado da outra. Elas se conheciam, mas não por causa da morte de Hammond em 2004. O envolvimento remontava a bem antes da confusão em </span><i>Dundas Street</i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">, pelo menos dois anos antes, isso se tivessem se conhecido somente no último semestre, o que era improvável.</span><br />
<br />
</span><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Eric digitou "<i>Dundas Street</i>, <i>2004</i>, <i>Hammond</i>" e o motor de busca listou várias páginas policiais da época. Ele as abriu e imprimiu para lê-las com mais calma e fazer as anotações interessantes. Separou os textos e começou a analisá-los ao sabor da luminária da escrivaninha. Com variações pouco significantes, o cerne do caso obedecia o mesmo parâmetro: assalto seguido de morte. O carro fora achado parado no meio-fio com a porta aberta, o corpo à beira de um cruzamento que, durante o dia, era movimentadíssimo. Pelas fotos, Eric não imaginava o que levara Hammond a estacionar o carro e descer com tanta pressa. Na hora do assalto, não havia bares abertos e o comércio <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">trazia suas portas abaixadas</span>. Sabia-se que o delinquente o pegara depois que Hammond descera do automóvel. A poucos metros do corpo crivado de balas, notou um telefone público com o fone oscilando pelo cordão reforçado.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não percebe? - Uma voz feminina pronunciou-se baixinho e Eric se acalmou quando viu que se tratava do fantasma de Allie, debruçada sobre sua cadeira, examinando o material impresso com o mesmo interesse. - Hammond tinha algo muito sério para falar a alguém, tão importante que não pôde esperar. Ele não teve como usar o celular. Como sabe, alguém, por um motivo qualquer, quebrou-o ao meio, possivelmente para evitar que Hammond tivesse a conversa em questão.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sim. - Eric aquiesceu, intrigado.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Enxerga a dinâmica?O que sabemos até o momento, querido?</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sabemos isto: Hammond testemunhou uma cena que colocaria pessoas respeitadas em maus lençóis. Os flagrados o abordaram, dando sequência a uma briga que foi ficando mais calorosa, quando apanharam o celular e o quebraram ao meio para impedi-lo de falar.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Hammond assustou-se. - Allie complementou, servindo-se do whisky no bar do gabinete. - Entrou no carro e pisou fundo. Morria de medo e queria conversar. Como não podia esperar, freou o automóvel no primeiro telefone público que encontrou às margens da interseção entre <i>Dundas</i> e <i>Yonge</i> <i>Street</i>. Lembre-se que tudo ocorreu na calada da madrugada.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Mas, veja, Allie, a sua tese soa ótima, porém não explica o delinquente que efetuou os disparos!Ele não teria motivos para... - Eric se deteve, quando Allie respondeu com risadas. - Por Deus, amor, não ria alto senão acordará Charly!</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eric, baby, eu sou apenas um segmento da sua imaginação. Eu já morri, esqueceu?Charly não tem como me ouvir, só você. - Retrucou, provando o gosto da bebida, fazendo os gelos tilintarem. - Agora, escute-me... Está preparado? - Eric fez que sim, às cegas sobre como Allie refutaria sua observação. - O marginalzinho de <i>Dundas</i> com <i>Yonge</i> era um palhaço. Ele não teria os motivos ou a capacidade intelectual para armar o assassinato. Apenas um desavisado que passou a juventude entrando e saindo de reformatórios, manipulado psicologicamente por uma mente mais ardilosa e maquiavélica. Alguém como uma tira jovem e bonita, por exemplo, com livre acesso a lugares cheios de desavisados semelhantes, como reformatórios, e que deve ter fodido com o idiota até fritar seus neurônios a ponto de subverter o juízo para que seguisse qualquer comando sem contestar.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Muito bem. - Fez um triângulo com as mãos e as pousou sobre a face. - Então, eis o nosso cenário: Hammond deixa Colby no <i>Pearson</i>, depois segue com o carro para casa. Tá subindo a <i>Dundas Street</i>, quando uma cena lhe chama a atenção. Onde se deu a cena?Provavelmente em uma boate. Às altas horas da madrugada as casas de show fervilham. Ele estaciona o carro, confronta o problema, a discussão esquenta, Jordan toma o celular... - Allie ergueu uma mão silenciadora e o corrigiu.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Jordan ou alguém que <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">a acompanhava</span>. Tenha em mente que Jordan e Hammond não se conheciam, então um terceiro elemento precisa ligá-los. </span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Vamos enriquecer o cenário: Hammond confronta duas pessoas, uma das pessoas ele conhece, a outra, Jordan Harwood, não. Um novo problema: essa<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> versão</span> não põe o celular de Hammond nas mãos de Lacy.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não põe? - Perguntou, incrédula por Eric não enxergar o óbvio. - Eric, acorde!Hammond confronta as duas antagonistas. No calor da discussão, acusações são trocadas. Uma das duas toma o celular de Hammond e o <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">atira </span>longe. Você encontrou o celular quebrado de Hammond no apartamento de Lacy pois foi sua namorada quem esteve presente e testemunhou <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">o drama</span> seis anos atrás!</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Por que teria testemunhado?Coloque-a na cena! - Eric desafiou.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Ela era uma sobrevivente. Usava a beleza para batalhar pela vida. Entre filmes pornôs, enquanto sonhava com a redenção de um grande papel, ganhava trocados como dançarina ou garçonete de boates. Por que não?Lacy testemunhou a cena porque a discussão entre os três, Hammond, Jordan e a terceira misteriosa, deu-se nas calçadas de alguma grande casa <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">noturna</span> onde sua namorada trabalhava. Acompanhe a cena comigo. Hammond fica furioso, entra no carro e antes de fazer os pneus cantarem, avisa que irá entregar para ti seja qual for a sujeira que testemunhou. O carro parte a toda por <i>Dundas Street</i>. Jordan e o estranho se desesperam e a tira decide usar o "<i>Romeu apaixonado</i>" para fazer o trabalho sujo, ou seja, esperar por Hammond no primeiro orelhão ao longo de <i>Dundas</i>, justamente na cafeteria sobre as calçadas da <i>Yonge</i>, para tirá-lo de cena. Lacy se deu conta de que mesmo indiretamente, assistira `a conspiração para homicídio. Para <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">se precaver</span>, recolheu o celular do chão para guardá-lo e usar como trunfo caso Jordan batesse a sua porta para coagi-la ou ameaçá-la de morte.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Quem foi a terceira pessoa na discussão com Hammond e o que Jordan e o estranho teriam feito para deixar Hammond tão transtornado? Para quem Hammond tentou ligar?</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Está arranhando a superfície, mas ainda não chegou lá. - Virou o copo e terminou sua dose. - Faça um levantamento das chamadas realizadas com a linha do Hammond. Seria possível traçar a localização por GPS que te colocaria no lugar onde o celular foi quebrado. Se for uma casa de show, pode apostar a vida que se apresentar fotos da Lacy e perguntar se a staff a conhece, confirmarão que sua namorada trabalhou ali seis anos atrás. </span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Muitos detalhes. Quando Eric terminou de rascunhar as ideias, viu que Allie havia regressado para a <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">parte de sua alma</span> que jamais a esqueceria. Dudley teria de esperar até a manhã seguinte para ligar para a operadora e solicitar o registro das chamadas feitas com o chip de Hammond. Não sabia como fazer para descobrir de quais números teriam vindo ligações para seu número residencial na madrugada do assassinato, porém supôs que a logística de coleta dos dados seria muito semelhante. Manteve em mente que a estratégia poderia ou não funcionar, a operadora impor dificuldades, ou mesmo demandar ordem judicial para tanto. Precisava de um plano reserva. Quando o dia chuvoso finalmente apontou, Eric ainda estava acordado e estudando papéis. Encontrou a senhora Medina deixando cuidadosamente o quarto de Charly.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Deixe-os dormir. Depois do que aconteceu nestes dois últimos dias é provável que acordem somente <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">mais tarde</span>.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Senhor Dudley, pensei sobre o seu pedido. Eu gostaria de acompanhar os meninos. - Contou, enrolando o cachecol no pescoço sem tirar os olhos urgentes do viúvo.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Obrigado, senhora Medina. - Eric a abraçou. - Telefonarei para Virgínia amanhã no mais tardar. Em breve, teremos um plano mais bem <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">delineado</span>.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Depois de tomar o café da manhã, Eric passou silenciosamente no quarto de Charly. Pelo vão da porta entreaberta, assistiu-lhes dormirem, com ternura. A menininha <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">pegara no sono</span> com o polegar na boca e <i>Pernetinha</i> se aninhara<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span>ao lado da cabeceira. Quando Eric telefonou para a cunhada e pediu que tomasse conta da família, esperava que Virgínia fosse mostrar preocupação, mas ela reagiu ainda mais contundentemente. Virgínia aceitou no mesmo segundo que Charly, Terri e senhora Medina deixassem Toronto para as águas calmas da praia, porém ficou emocionada ao perguntar se Eric <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">atravessava</span> algum problema mais grave. O cunhado atenuou a seriedade, e, esforçando-se para evidenciar bom humor, avisou que haveria um "<i>quarto convidado, de quatro patas</i>": a gatinha, que a família levaria junto. Eric considerou levar todos para a casa de praia no fim de semana seguinte. A solícita e preocupada Virgínia sugeriu que a própria pegasse o carro e os visitasse em Toronto, dentro de dois dias, o tempo necessário para que Eric conversasse com o diretor do colégio de Charly, e a senhora Medina com as filhas e os netos.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Eric insistiu para que Charly fosse para o colégio<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">:</span> era importante resgatar algum senso de normalidade pelos próximos dois dias. Deixou para lhe contar as últimas informações sobre as "<i>férias improvisadas</i>" durante o jantar. Depois que Charly seguiu no ônibus escolar com os amigos do condomínio e que a senhora Medina levou Terri para brincar no playground, Eric revisitou a fita de vídeo. Ele carregou o aparelho para o gabinete, de modo a assistir ao filme sem temor de que a senhora Medina ou os filhos passassem para ver as imagens. A produção era um zero artístico, uma sequência repugnante de cenas imorais explícitas, um lixo feito sob medida para cinemas especializados, um dólar o ingresso. Uma das moças humilhadas para as câmeras era definitivamente Lacy Morel; entretanto, nos créditos daquela porcaria, aparecia com um nome falso, expediente comum a atores seduzidos a participar de coisas <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">semelhantes</span>.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Ao meio-dia, Eric pegou o carro se dirigiu a <i>downtown Toronto</i>. Guardou o carro em um estacionamento pago, vestiu a capa de chuva e partiu <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">para colher </span>informações que o levassem ao profissional indicado ao serviço desejado. Ao procurar guarida da chuva em uma lojinha de eletrônica tão estreita quanto a porta frouxa que dava acesso ao interior, Eric encontrou o que buscava. O coreano dono do lugar disse que Dudley precisava de um leitor espião de chip de celular, cujo manuseio revelava-se bastante simples. Mesmo um leigo conseguiria <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">operá-lo sem <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">dificuldades</span></span>. O charmoso aparelhinho de cor azul translucida, que se assemelhava a um pendrive, tinha um cartucho onde o chip era deslizado e conectado. Bastava inserir o chip do celular no pendrive e o software fazia o resto, verificando o registro de ligaç<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">ões e</span> as mensagens SMS armazenadas no cartão SIM. Eric comprou o pacote do pendrive e CD-ROM com driver e softwares por duzentos dólares.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">A mesa ainda estava posta, mas a senhora Medina, Terri e Charly já tinham almoçado. A menininha assistia à televisão com a secretária na sala. Eric chegou, beijou-a na cabecinha e avisou à senhora Medina que almoçaria mais tarde, mas que não se preocupasse, pois requentaria a comida. Abriu o notebook no centro da mesa, no escritório, e esperou o sistema inicializar, em uma espera que pareceu dolorosa, tamanha a expectativa. Previsivelmente, os derradeiros registros que constavam do chip remetiam à madrugada do assassinato. O último número discado fora para a casa de Eric, que calculou que<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> se encontrava na cama</span> no horário declinado. Inicialmente, não fazia sentido, pois Dudley ponderou que a secretária eletrônica teria registrado a chamada. Veio à mente a manhã em que <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">acordara </span>com a comoção da morte de Hammond, Kylie e Eric conversando no quarto e a melhor amiga determinando que cuidara de apagar as mensagens na máquina, vez que na maioria referiam-se a telefonemas de colegas da <i>La Fabrique</i> avisando sobre o crime. A duração da chamada de celular registrou um intervalo curtíssimo, de nove a dez segundos, o tempo que o aparelho chamara, antes que a briga que <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">culminara </span>com o celular arremessado e partido em pedaços frustrasse a tentativa.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Com a chegada da tarde, o tempo fechou e a chuva virou tempestade. Eric <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">esquentava</span> feijão, arroz e bife acebolado, quando a campainha soou. O publicitário teve o cuidado de procurar enxergar pelas cortinas seu alpendre para verificar quem era e ficou feliz ao ver Kylie. Ela estava fechando o guarda-chuva, os cabelos pareciam salpicados. Eric se sentiu dividido. A foto em que aparecia ao lado de Jordan, quase dez anos atrás, o deixara muito confuso. Ao mesmo tempo, existia uma ligação muito forte entre os dois, uma conexão que não tinha como romper. Parecia prudente esperar o <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">desfecho </span>da investigação até concluir com clareza o papel de Kylie na história, isso se tivesse um papel. Ele abriu a porta de supetão e já foi dando um abraço na amiga, convidando-a a entrar. Kylie se livrou do casaco molhado, resmungando. Sentou-se com Eric, à mesa, e o viúvo achou graça quando assoprou para tirar a mecha molhada que descia até a ponta de seu narizinho arrebitado.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Posso tomar um banho? - Perguntou com um sorrisinho.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Vou separar uma bermuda e uma blusa para você. Venha comigo. Charly ficará feliz em te ver!</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">O casal seguiu escada acima, o friozinho delicioso, a brisa consistente acariciando as esquadrias das janelas. Charly deu um salto da escrivaninha e correu para abraçar sua tia preferida. A menininha, que folheava uma revista em cima da cama, lançou um olhar surpreso e um pouquinho envergonhado para a moça bonita que <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">acabara </span>de chegar. Eric a apresentou à criança e Kylie foi até à cama para abraçá-la. Depois de separar blusa e bermuda, Eric <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">a deixou à</span> vontade para usar o banheiro da suíte. Encontrou a senhora Medina na cozinha, que lhe perguntou se Kylie ficaria para almoçar. Eric respondeu que se positivo, poderia pedir uma pizza. Enquanto Kylie se refrescava, Eric terminou de almoçar e preparou a mesa para que conversassem sem pratos sujos por perto. A senhora Medina tratou de coar o café fresquinho. Kylie deixou pegadas de seus pés descalços nos degraus da escada e quando apareceu à porta da cozinha, seu ânimo parecia revigorado. Ela usava uma bermuda bege e uma camisa branca com listras de botão. Eric telefonou para a Pizza Hut de sempre e pediu uma <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">média só </span>para Kylie. Ela se sentou ao lado de Eric, apoiou os pés na borda da cadeira e abraçou os joelhos, morrendo de frio. Enquanto repunha o café, Eric distraía-se assistindo a Kylie comer. Vários pensamentos passaram pela mente, naquela tarde, e teve um momento em que considerou quão diferente teriam sido os últimos seis anos se Kylie o tivesse escolhido naquela noite distante no passado, quando "<i>Not Easily Broken</i>" estreou. Depois que ela terminou, Eric a convidou à cadeira de balanço no alpendre. Toronto resfriara. Kylie agarrou-se ao braço de Eric, enquanto o casal admirava a resiliência das rosas e lírios do jardim, que a todos os rigores resistiam.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sinto-me terrível pelas coisas que falei sobre a Lacy. - Kylie disse. - Ela tem uma filhinha linda. Você é o melhor homem que eu conheci em minha vida, Eric.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Kylie, não... - Quis minimizar, mas Kylie insistiu.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Você é, sim. Enxerga as coisas de uma forma tão peculiar, bonita. Quando te conheci aos vinte e poucos, te achei tão sério e fechado, mas então começamos a conversar e me surpreendeu com atitudes a que ninguém mais se voluntariava. Agora, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">cuida</span> da menininha. Reconforta-me saber que há alguém como você no mundo.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não é para isso que veio me visitar. - Eric opinou e Kylie ficou quieta. - Não precisa se preocupar, querida, apenas diga o que quiser. - Apertou-a mais forte e Kylie encolheu as pernas sobre o balanço.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu quero que desista. - Ela falou, exprimindo o que o viúvo já esperava. - Você tem muito pelo que viver, e agora, dois filhos para criar. Eu tenho acompanhado os seus movimentos. Prometeu-me que não agiria como detetive, mas mentiu.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu preciso saber. - Murmurou, a voz hesitante. - Eu devo isso a Terri. Ela precisa saber o que houve com...</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Terri precisa de um pai e um lugar seguro para crescer e se desenvolver. Ela não precisa saber dos detalhes sórdidos que giraram em torno do desaparecimento da mãe.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu não quero que fale da Lacy assim! - Eric se zangou, porém Kylie não o deixou sair do balanço, e com os olhos cheios de lágrima tentou evitar nova discussão.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eric, eu odeio continuar me incompatibilizando contigo! - Suplicou, com doçura. - Eu me sinto arrebentada por dentro, todas as vezes que começamos a conversar sobre Lacy e terminamos brigados!Eu não quero virar a vilã da sua vida!Não quero que pense em mim de uma forma diferente daquela com que pensou na noite da estreia do "<i>Not Easily Broken</i>", quando consegui sentir a dor no seu olhar!Não desejo lutar com o meu melhor amigo! - Chorando, Kylie explicitou melhor a natureza de seus temores. - Não quero que mude a opinião a meu respeito!</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Eric pareceu ter sido atravessado por uma lança. Acatando que perdera o controle muito facilmente, levou as mãos ao rosto e sacudiu a cabeça em desalento. Por vezes, sentia-se mais próximo da verdade; já em outras, indagava-se se realmente precisava saber da verdade, quando podia se ferir ou prejudicar outras pessoas a quem amava com a sua busca. Ele voltou a pôr os braços ao redor dos ombros de Kylie e pediu desculpas pela breve centelha de animosidade.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não é sua culpa, eu compreendo. Sei que está muito nervoso e não estou conseguindo te abordar de uma maneira menos intrusiva. - Ela o consolou, passando a mão pelos seus cabelos como uma irmã o faria.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Dudley não pôde adiantar os planos, pois Kylie <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">permaneceu </span>a tarde inteira na sua casa. Seu jeito com as crianças era admirável. A desenvoltura lhe valera o ganho instantâneo d<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">a confiança de </span>Terri, que logo ocupava o colo de Kylie, os três jogando videogame no quarto de Charly. Mais tarde, Charly fez questão de exibir para a tia as imagens que já tinha realizado do projeto de curta-metragem. Todos na casa tiveram um dia agradável e suave, que fluiu com a facilidade com que a brisa trazia o friozinho de Toronto para dentro. Eric escondeu papéis, apagou o histórico de navegação do desktop e se manteve alerta para não soltar, de maneira alguma, dados que pudessem levar Kylie a crer que <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">ele suspeitava de </span>Jordan.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Depois do jantar, Kylie vestiu o terno executivo, calçou os saltos, beijou <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">as <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">crianças</span></span> e prometeu <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">retornar</span>. "<i>Em breve</i>", avisou. Então, Charly fez o que Eric temia, e contou, inocentemente, que visitariam a tia Virgínia na casa de praia por algumas semanas, menos o pai. Kylie fingiu grata surpresa, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">parabenizando-os</span> pelas férias bem no meio de uma semana de aulas, mas Eric notou que ela ficou pensativa. Quando foi deixá-la na porta do táxi, Kylie o convidou a entrar e pediu que o motorista não partisse de imediato.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Está <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">mandando os meninos</span> para longe, então? Para dispor de maior amplitude de ação. - Perguntou, forçando um sorriso com os lábios bem apertados. - Não sabia que agora consegue mentir tão bem para mim.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Preciso saber. - Reiterou, determinado a honrar a memória de Lacy.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Por favor, não faça isso. - Ela devolveu, sucintamente. - Você tem tudo a perder, os meninos te amam e eu também. Não jogue sua vida fora. Dê as costas para a situação, com as crianças, e retome a vida. - Kylie aproximou o rosto e lhe deu um beijo na testa. Eric desceu do carro e o táxi partiu. Ele ficou ali, na calçada, próximo à cancela do condomínio, cheio de dúvidas torturantes.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Naquela noite, Eric visitou a <i>211 Bel Air</i>, para a habitual conversa pontuada a goles de café, porém foi surpreendido por uma novata, uma mocinha de cabelos ruivos, parecida com aquelas enfermeiras elegantes em filmes de guerra. Ela lhe avisou que Colby não aparecia na cafeteria há dois dias. Em seis anos de amizade, Colby jamais faltara a uma jornada de trabalho, e agora isso. Deduziu que um problema sério o impedira de sair, e pediu seu endereço. A garçonete o apresentou ao gerente, que lhe forneceu os dados. Eric perguntou se sabia de alguma coisa e o gerente mencionou problemas com a namorada. A história não colou, não <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">fazia </span>sentido algum. Colby jamais mencionara namorada. Sim, costumava ficar com uma menina do bairro, mas jamais revelara a existência de uma namorada, tampouco se abrira quanto a eventuais problemas com a mesma.</span><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><br /></span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Era tarde, quando Eric guiou até o bairro de Colby. À baixa luz, foi conduzindo o carro em baixa marcha até encontrar o número da <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">residência</span>. A rua era agradável e arborizada, existia uma energia diferenciada naquele lugar<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">, tipicamente latina</span>. Moradores mais velhos levavam as cadeiras para as calçadas, para jogar cartas ou conversar, e os mais jovens andavam em grupo e pareciam sempre ocupados. Dudley ia acionar a campainha, quando ao olhar por uma das janelas enxergou Colby ali parado, assustado. O rapaz chegou para abrir a porta e o convidou a entrar. Da televisão da sala, cômodo contíguo ao pequeno jardim, chegava a discussão acalorada de um pai mais severo que descobria a gravidez da filha na trama de uma novela mexicana. Colby pediu para que Eric se sentasse. Pela primeira vez em seis anos, o café que serviria naquela noite seria trabalho somente seu, e não das máquinas da <i>211 Bel Air</i>. O rapaz trouxe a xícara sobre o pires e Eric a recebeu cuidadosamente. Ele diminuiu o volume do aparelho, explicando que a avó estava dormindo. Rodriquez foi direto ao ponto.</span><br />
</span><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu entrei pela janela de sua casa e deixei a fita no aparelho. - Foi como se tivesse paralisado Eric com a verdade. Dudley deteve até mesmo o ato de erguer a xícara do pires. Seus olhos viraram a imagem do puro desapontamento. - Queria que assistisse ao filme. Faltei os últimos dias pois a garota com quem eu saia, no bairro, calhou de procurar a delegacia para me acusar de agressão.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não entendo. - Eric inclinou um pouco a cabeça, ansioso para que Colby "<i>puxasse a cortina</i>" e revelasse o <i>Mágico de Oz</i>.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Entenderá. - Enquadrou-o, com um olhar duro. - Quando Lacy apareceu na <i>La Fabrique</i> para a audição, ocorreu-me a impressão de já tê-la visto em algum lugar. Você sabe que trabalhei como projecionista na Cinemax em <i>downtown Toronto</i>, antes da <i>211 Bel Air</i>. Quando me enviou uma mensagem do correio eletrônico com algumas fotos suas ao lado <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">da</span> Lacy, imprimi-as e as levei a um colega que hoje está concluindo o curso de cinema. Ele a reconheceu de imediato, mas não pelo nome "<i><span style="font-weight: normal;">Lacy Morel</span></i>". Na trilogia de pornôs <i>softcore</i> em que atuou, ela está creditada como <i>Cheryl-alguma-coisa</i>. Não lembro o sobrenome, pouco importa. Custei a acreditar, até o Seth me trazer as fitas desse lixo, e não duvidei de que Cheryl e Lacy são a mesma pessoa.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Por que não chegou até a mim e me contou diretamente<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span> - Questionou-o, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">magoado</span>.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Porque assim como <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">ocorre a você</span>, a minha vida corre riscos. Ao dar o meu jeito para que visse a fita, não pretendi jogar a honra de Lacy na lama. O meu objetivo foi provar de uma vez por todas que as pessoas não são quem parecem ser e todo esse caso parece apenas a fachada para coisas muito mais sinistras que estamos para descobrir... E que não deveríamos!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Também me sinto inquieto. Uma armadilha está sendo <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">urdida</span>. - Eric lutou contra a vontade, antes de admitir, em um sopro. - Eu acho que isso foi uma queima de arquivo. Jordan mandou matar Hammond, Lacy sabia da parada e, mais tarde, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">tendo </span>como provar seu envolvimento no assassinato, despertou a preocupação de Jordan. Quando eu e Lacy nos apaixonamos Jordan temeu que Lacy vazasse informações e tramou um cenário para a "<i>fuga</i>" com o diretor do departamento de dança.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Como pôs três pessoas tão díspares no mesmo cenário<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span> - Colby franziu a testa.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Eric deu voz à teoria que "<i>escutara de Allie</i>". Quando acabou de defendê-la, ele e Colby tinham deixado a casa da avó e chegado ao fim da rua de restaurantes típicos do quarteirão. Procuraram descansar em uma pracinha localizada entre as duas calçadas de passeio defronte a uma loja de artigos religiosos. Uma Nossa Senhora de olhos tristíssimos era alumiada pelo terço de pisca<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">-</span>pisca azul que a envolvia pelo pescoço. Os amigos se sentaram no banco de madeira da pracinha.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Agora, tenho uma ótima explicação para a acusação daquela vadia contra mim. - Colby grunhiu. - Ela deve estar metida nessa treta.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Nós vamos apertá-la. - Eric recomendou. - Um pouco de pressão e ela dirá a verdade.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- O que <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">fará</span> agora<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Amanhã, Charly, Terri e a senhora Medina deixarão Toronto, o que me traz certo alívio. - Eric emitiu um murmúrio desafogado e esfregou as mãos geladas. - Preciso de alguém que a partir do chip do celular coloque-me no lugar exato onde Hammond tentou fazer a ligação para minha casa.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Amanhã, apareça para almoçar conosco. - Colby deu a dica, levantando-se do encosto e estalando a espinha, com certa dor. - Traga o chip. Acho que a sorte finalmente virou a seu favor.</span><br />
<span><br /></span><span>Antes de amanhecer, Eric acordou as crianças para conversarem e prometeu que logo se reencontrariam. Charly estava muito feliz pois já conversara com a tia Virgínia e ela achara ótimo que o menino quisesse levar a <i>Pernetinha</i> para passar férias na praia! Por seu turno, a vida difícil de até então fizera da menininha Terri uma sobrevivente, e ela lidava muito bem com tantas novidades. </span><span>Na hora da despedida, foram os adultos que criaram uma cena, não as crianças. A senhora Medina e Virgínia pressentiam que Eric estava para dar um passo maior do que as pernas, em nome de seu severo código de honra, porém nada podiam fazer, a não ser rezar.</span><br />
<span><br /></span><span>Eric compareceu ao almoço e apreciou a oportunidade de conhecer a avó de Colby, uma velhinha muito simpática que tinha no neto a grande razão de viver. `A mesa, Eric e Colby falaram sobre momentos felizes, tais como as conversas na <i>211 Bel Air</i>. Dudley perguntou se a velhinha se sentia realizada agora que em menos de um semestre o neto estaria se formando, e já o olhar que a idosa dirigiu ao rapaz disse tudo! Eric foi convidado a permanecer para o café, e antes que dissesse sim, Colby respondeu pelo mesmo, afirmando que Eric ficaria para a sobremesa, porém que gostaria de levá-lo para conhecer o bairro, uma breve caminhada pela comunidade para que conhecesse a essência alegre e latina daquela gente. A velhinha pediu que fossem sossegadamente, pois assim daria tempo para preparar algo especial. Os dois amigos deixaram a casa pelo caminho do pequeno jardim, Colby fechando a precária portinhola de ferro ao passar por último. Os dois seguiram caminho pelas calçadas.</span><br />
<span><br /></span><span>- Não há outra escolha para o seu problema do chip. – Colby justificou-se. – Nem todos do bairro vivem honestamente, contudo prefiro não julgá-los. Alguns escolhem o caminho mais fácil e sabem que terão de prestar contas mais adiante. De toda sorte, há um amigo meu que terá como decifrar os mistérios do chip do Hammond.</span><br />
<span>- Olhe, não se preocupe, ninguém saberá como descobri. Apenas preciso de informações que me coloquem no lugar da última ligação.</span><br />
</span><div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Você as terá agora. – Colby se comprometeu.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><span>O amigo de Colby se chamava Lou, e apesar de inicialmente reticente em ajudar um estranho, a consideração por Colby foi mais forte do que a natural desconfiança, Os dois foram levados corredor adentro até a uma salinha onde Lou administrava as operações ilícitas que lhe rendiam muito dinheiro, tais como clonagem de cartão e por aí afora. Ele puxou a cadeira de uma escrivaninha de verniz gasto, ocupada por cacarecos eletrônicos desmontados a revelar placas de chips e parafernálias que nenhum dos dois leigos tinha como entender. A "</span><i>mágica</i><span>" era feita por um software desenvolvido clandestinamente, que não apenas guardava a propriedade de ler dados de chip como também vincular cada chamada `as estações de Toronto encarregadas da conexão original. A análise do chip de Hammond comprovava que estivera em algum ponto de um determinado quarteirão da </span><i>Dundas Street</i><span>, cuja casa mais notória e fervilhante era a do "</span><i>Hard Rock Café</i><span>". Agora, Colby e Eric sabiam onde procurar. Triunfantes, tomaram o caminho de volta para a casa, para o café e a sobremesa.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><span>Antes de regressar para o condomínio, Eric contou a Colby que imprimiria algumas fotos de Lacy em casa e as levaria ao "</span><i>Hard Rock Café</i><span>". Se ela tivesse assistido a seja lá o que fosse que tinha ocorrido a Hammond e Jordan, as pessoas da casa, pelo menos as veteranas, se recordariam. Considerando a difícil história de vida de Lacy, não estava ali a passeio, mas trabalhando, provavelmente como garçonete. O rapaz aconselhou que guardasse bem o celular de Hammond, seu único verdadeiro trunfo contra ameaças que sequer conseguiam compreender. "<i>Aparecerei </i></span><i>na 211 Bel Air depois de conseguir as respostas na Dundas</i><span>", Eric prometeu. "</span><i>Quanto `a sua namorada, a problemática passa pelo mistério de quem a teria convencido a te...</i><span>".</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Eu cuidarei dela, Eric. Não lhe farei mal algum, mas precisamos conversar e só me satisfarei quando ela me disser o nome de quem armou essa treta para cima de mim!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><span>- Conversaremos na <i>211</i>! – Acertou, e entrou no carro, ao passo que Colby deu uma breve corrida para baixo do alpendre de casa antes que a chuva engrossasse.</span><br />
<span><br /></span><span>Por volta das 18:00, Eric tomou banho e se vestiu. Preparava alguma bobagem para comer antes de sair, quando Charly ligou de </span><i>Ward’s Island</i><span> para dizer que tinham todos chegado bem. Sentiu-se muito melhor ao escutar a voz do filho falando com um tipo de entusiasmo a deixar claro que mesmo que estivesse crescendo muito rapidamente, ainda conservava traços da infância. Virgínia pediu para que Eric se juntasse `a família, e foi o primeiro momento desde o sumiço de Lacy quando verdadeiramente considerou pôr termo `a volátil situação, talvez retomar a simplicidade da vida que conhecia até antes de esbarrar em Lacy na seleção para "</span><i>Wings of the Dove</i><span>". Tinha se afastado da <i>La Fabrique</i>, esquecera os cuidados mais primários com a saúde e a higiene, a barba por fazer representava muito bem seu péssimo estado. Com os olhos fechados e em dura reflexão, percebeu que subestimara a tranquilidade da época em que passara madrugadas virando xícaras de café na <i>211 Bel Air</i>, jogando conversa fora com Colby. Depois de desligar o telefone, porém, percebeu que estava definitivamente aprisionado `a própria obsessão e tinha de descobrir o que acontecera a Lacy, quem armara a cilada e por quê. Enquanto parte de si o incitava a jogar celular, chip, fotos e artigos no lixo, a outra parte que o amarrava ao passado já o tinha conduzido meio caminho a </span><i>Dundas Street</i><span>.</span><br />
<span><br /></span><span>Forjando seu caminho entre baladeiros em direção ao bar do "</span><i>Hard Rock Café</i><span>", Eric recordou-se da razão pela qual odiava festas. A música alta, os gritos, as pessoas se esbarrando até para caminhar, a soma de todos os elementos que o faziam se sentir datado traduzia a constatação de que Eric não pertencia ao meio. O solícito bartender que enxugava copos com uma pequena toalha aproximou-se do balcão para atendê-lo. Eric explicou que procurava uma amiga que trabalhara no lugar há muitos anos, datando de 2004. O rapaz explicou que prestava serviços há apenas um semestre no "</span><i>Hard Rock Café</i><span>", porém o apresentou a uma garçonete veterana que trabalhava na casa desde a inauguração, em meados dos anos 90.</span><br />
</span><div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><span>Eric a convidou a se sentar, e os dois foram conversar em um lugar do mezanino de onde podiam enxergar a pista de dança. O viúvo apresentou as impressões das fotos de Lacy e o reconhecimento restou patente no olhar da mulher. Conhecera Lacy e sabia de sua vida. Não sabia o que tinha acontecido `a amiga, pois ela deixara o "</span><i>Hard Rock Café</i><span>" no início de 2005.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><span>- Sou o namorado de Lacy, senhorita. Ela desapareceu há algumas semanas sem deixar pistas. A polícia não tem sido de muita valia e estou lutando para descobrir a verdade sobre o que aconteceu. Acredito que Lacy tenha sido assassinada como queima de arquivo, mas nada posso provar ainda. Acho que Lacy esteja indiretamente ligada a um homicídio relativamente notório que se deu em Toronto, seis anos atrás. "</span><i>Jason Hammond</i><span>". O nome lhe é familiar?</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Eu me recordo de tudo. – Respondeu, a voz deixando-a pesarosa e preocupada ao morder a isca.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Por favor, ajude-me. – Eric suplicou, segurando-a pela mão. Algo no contato os aproximou e a garçonete o respondeu com um olhar cúmplice. – Eu tenho uma ideia, mas necessito de alguém que me coloque na cena que se desenrolou naquela madrugada em 2004.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><span>- O caso envolve gente muito poderosa. Acompanhe-me.</span><br />
<span><br /></span><span>Os dois atravessavam o túnel que levava `a saída, quando a moça se deteve e explicou que fora ali onde tudo começara. Hammond apontava o dedo para duas mulheres que haviam saído da festa e a discussão foi se tornando cada vez mais alta. Lacy voltava do bar quando se deparou com a cena. Provavelmente constrangido, Hammond começou a deixar o "<i>Hard Rock Café</i>", mas foi perseguido por uma das moças, a de cabelos compridos, enquanto a outra, de cabelos curtos, tentava contemporizar, sem sucesso. Lacy e a garçonete veterana permaneceram no túnel assistindo `a briga que agora fora parar na calçada. Contrariando o conselho da amiga para que deixassem o trio resolver as próprias diferenças, Lacy lentamente foi atravessando o túnel, aproximando-se da delicada situação, sem ser percebida, ao menos inicialmente. Em dado momento, Hammond exibiu o celular, furioso, e disse "</span><i>vou contar tudo para <b>ele</b></i><span>". A garota de cabelos compridos tomou-o de suas mãos, partiu-o ao meio e arremessou os pedaços no meio-fio. O rapaz perdeu a paciência e já foi entrando no carro, enquanto a moça ficou dando murros no vidro, ordenando que a escutasse.</span><br />
</span><div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><span>Eric e a garçonete encontravam-se agora na calçada onde tudo se desdobrara. Tanto na história quanto naquele exato momento, seis anos após o homicídio, apesar do glamour e do festival de sinais gigantescos e vivos em neon em <i>Dundas Street</i>, o cenário possuía uma qualidade quase irreal a respeito, pois não havia transeuntes ou carros nas ruas. Toda a agitação e a festa concentravam-se dentro das boates, e o lado de fora ficava apenas com uma elegância nostálgica e melancólica. Depois que Hammond arrancou com o carro, </span><i>highway</i><span> afora, as duas garotas começaram a discutir feio e a de cabelo curto pareceu ligar para alguém, enquanto a outra começou a chorar. A garçonete que agora contava a história não soube precisar com quem a moça conversara, o teor da discussão, todavia viu claramente que uma vez que percebera que Lacy tinha assistido a tudo, a amiga fora enquadrada no canto e ameaçada. Somente depois que as duas partiram, Lacy deu conta do celular e teve a ideia de guardá-lo consigo, para depois devolver ao dono. Na manhã seguinte, quando o assassinato ganhou destaque em todos os canais, Lacy decidiu escondê-lo, caso fosse ameaçada pela mesma mulher.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><span>- A senhora pode me fazer mais um favor? – Eric perguntou em um tom ainda mais imperativo, sem esperar concordância. – A senhora vê algo que lhe chama a atenção nesta foto aqui? – Tirou do bolso do paletó a impressão da coluna social, do artigo de 2002, a foto das meninas celebrando em </span><i>Bennet Gates</i><span>.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><span>A mulher apontou para a dupla `a direita no quadro, Jordan e Kylie, e sentenciou, sem hesitação: "</span><i>Essas duas, correto. Elas eram namoradas, costumavam frequentar a casa. Não sabíamos muito sobre as duas, só que eram de famílias muito ricas. Elas sempre foram muito discretas, mas tinham um caso, ao menos `a época, pois depois da confusão, deixaram de vir. Em janeiro de 2005, sem dar explicações, a Lacy me agradeceu por tudo e pediu demissão ao dono. E foi a última vez que a vi</i><span>". Parecia tão simples que Eric se sentiu estúpido por não ter somado as pistas antes. Hammond o aconselhara a se afastar de Kylie, então já existia animosidade entre os dois. Hammond confrontara Kylie e Jordan no "</span><i>Hard Rock Café</i><span>" e ameaçara contar a verdade a Dudley. A última ligação fora uma tentativa desesperada de avisá-lo de Kylie.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">Mesmo profundamente abalado e cheio de horror, Eric não se imiscuiu do dever de visitar Colby na <i>211 Bel Air</i>. O rapaz parecia esperar a sua chegada, pois aguardava na área dos cestos de lixo reciclável, esfregando as mãos, indo de lá para cá, impaciente. Eric estacionou o carro do jeito que entrou na <i>211 Bel Air</i> e foi saindo do carro com as novas e devastadoras informações. Colby também foi muito rápido e conseguiu atropelá-lo para começar na dianteira. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><span>- Aquela mulher policial, ela está tramando algo terrível! Armou para cima de nós dois! Consegui arrancar a verdade da Aparecida! – Colby foi arrastando o amigo cafeteria adentro pelo braço. – O irmão da Cida sempre teve problemas com arruaças de gangue e brigas. A tira, Jordan, tinha toda a ficha do moleque. Ela a chantageou. Avisou que faria a ficha do moleque desaparecer, caso pudesse lhe prestar um "</span><i>favor</i><span>". Ela ameaçou a Cida, que caiu como pata e fez aquela acusação mentirosa. Jordan está nos alertando, "</span><i>Parem por aqui, posso fazer pior</i><span>". Não temos como enfrentar a Polícia, senhor Dudley!</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Ela matou o Hammond. – Declarou, secamente, com a convicção de quem apostaria a própria vida na afirmação. O segundo trecho exigiu mais a Eric, que ainda custava a acreditar, ou talvez apenas não quisesse. – Talvez Kylie esteja envolvida. Hammond viu as duas juntas no "<i>Hard Rock Café</i>", elas tinham um romance na época.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Se ela voltar ao apartamento de Lacy, e vir o rombo que ficou na parede, vai deduzir que descobriu a localização do celular, a única coisa que ligava Lacy `a madrugada da morte de Hammond e fazia da tua namorada a testemunha-chave. – Colby concatenou, pondo e comprimindo o pó de café no grupo de extração da cafeteira. – E agora?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Agora? – Repetiu, incrédulo. – Preciso confrontar a Kylie a respeito. – Ao imaginar as terríveis implicações do assassinato para a vida de Kylie, se deu conta de que ainda lhe reservava o mesmo cuidado que na noite da estreia do "<i>Not Easily Broken</i>" permitira que a parabenizasse mesmo que não a tivesse ganhado, apenas porque sabia que se sentiria melhor ao lado de Cary, o homem que preferira. Novamente, Eric recebia um duro golpe. Desejava que os temores não vingassem, para o próprio bem da Kylie, não propriamente para o seu. – Estou com medo, Colby.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><span>Os dois se entreolharam em silêncio. Uma família composta pelos pais e um casal de filhos fez o sino tilintar ao entrar na <i>211 Bel Air</i>. Eric sinalizou com um discreto movimento de cabeça para que fosse atendê-los e não se preocupasse com sua pessoa. Na televisão, um filme de horror estava para começar e parecia promissor. "<i>Baseado na obra de Patrícia Highsmith</i>", afirmava a legenda. Da cozinha, vinha o rumor de Colby trabalhando, fritando ovos e tiras de bacon, e do restaurante a conversa animada de uma família unida e feliz.</span><br />
<span><br /></span><span>Quando tomou o caminho de casa, a chuva adquirira uma agressividade torrencial. Mesmo dirigir parecia complicado, e enquanto esperou a cancela subir, na entrada do condomínio, arrepiou-se ao considerar que se Colby já conseguira entrar para deixar uma fita de vídeo na sala, alguém que desejasse lhe fazer mal encontraria uma maneira ainda mais sutil. A casa encontrava-se mergulhada na escuridão, abrasiva de tão fria. Eric acendeu as luzes da cozinha e corredor. Pousou as chaves do carro e casa sobre a mesa, produzindo um barulho que soou reconfortante. Ele foi trabalhar no gabinete. Sentado `a mesa, não soube exatamente o que fazer, muito embora sentisse nos ossos que precisava agir rapidamente. Ele ligou o aparelho de televisão e o filme baseado na obra de Patrícia Highsmith havia acabado. No jornal da madrugada, uma matéria sobre uma carreta que transportava troncos e tombara logo na principal <i>highway</i> no sentido de Ontário. As cenas de engarrafamento eram épicas, enormes, como que tiradas de um filme de horror onde havia a evacuação de uma cidade após uma grande catástrofe, talvez um vírus potencializado da Raiva transformando pessoas comuns em monstros assassinos. Eric sorriu e considerou que passara tempo demais cercado pelos cartazes dos filmes prediletos de Charly. A reportagem a seguir, entretanto, lançou-o novamente `a escuridão das dúvidas e incertezas, quando Dudley identificou claramente a foto de Lacy Morel. Assim que viu o rosto de Lacy, soube que o pior ocorrera. Em um grande esforço, levou o volume ao máximo. Suas pernas pareciam não obedecer mais ao comando.</span><br />
<span><br /></span><span>"</span><i>... Lacy Morel, trinta e dois anos de idade, e Pryce Stephens, cinquenta e três, encontrados mortos em um motel em Hell’s Kitchen, no que parece ter sido um caso de homicídio seguido de suicídio. A jovem havia estudado sob a tutela de Stephens, até que uma torção no tornozelo a obrigara a parar. Não se sabe ainda quando o romance entre professor e aluna desabrochou, mas...</i><span>". E foi tudo o que Eric conseguiu ouvir. Inconsolável, as mãos foram ao rosto molhado e o corpo deslizou lentamente ao chão, a mente gradualmente obscurecendo e fechando. A pior parte de despertar foi dar conta de que o horror não fora produto do pesadelo. Enquanto ocupara o misterioso limiar entre inconsciência e despertar, Dudley esteve em dúvida se o pior de fato acontecera ou se ao acordar encontraria Lacy feliz e sorridente ao lado na cama.</span><br />
</span><div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">Era uma manhã cinzenta e hostil, as lâminas de vidro das janelas trepidando ao castigo da chuva incessante. Quando acordou, Eric tomou conta de se encontrar no chão, o rosto banhado de lágrimas. Mesmo no limbo entre inconsciência e despertar, parte de si sabia que Lacy morrera e toda esperança, inexpressiva que fosse, jamais seria validada por uma boa notícia. Ele não se levantou de imediato. Ficou ali, as costas contra a parede, pensativo. Pesquisou na internet, e pelas últimas horas, novas informações haviam chegado sobre a morte da aluna e professor em Hell’s Kitchen. Ele previu astuciosamente que os culpados buscariam simular uma fuga entre dois amantes – uma jovem e um sujeito mais velho – todavia não anteviu o fim que lhes dariam. Mesmo na conclusão da cilada, a pessoa que armara o plano tinha sido maquiavelicamente estratégica. Parecia sensacionalista e contemporâneo: o professor mais velho, inseguro e ciumento atirando no rosto da namorada e se matando com uma overdose de barbitúricos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">Havia uma porção de ligações de Colby na secretaria eletrônica, todas solicitando que correspondesse ao telefonema assim que possível, pois tinham surgido fatos novos. Admirou o cuidado e a compaixão do amigo, que se esmerou para não simplesmente deixar tão horrorosa notícia sem conversar pessoalmente com Dudley. Havia outras mensagens da turma da <i>La Fabrique</i>. Eric contatou um dos advogados do setor jurídico do escritório e pediu que acompanhasse o caso pessoalmente em Nova York e a qualquer custo resolvesse os entraves da polícia e da Justiça para trazer o corpo de Lacy de volta a Toronto. Depois, a ligação seguinte foi para Ward’s Island. Virgínia soou assustada e inconsolável. Eric sentiu que parte de si morreu ao conversar com a pura e inocente Terri. A menininha perguntou quando se veriam novamente.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Não conversem sobre o assunto, não abram televisão esta semana. – Enfatizou, e a senhora Medina, sempre seu braço direito, assumiu o compromisso.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- A menina jamais saberá, senhor Dudley. Não se preocupe. Apenas venha para cá!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><span>- Breve! – Jurou.</span><br />
<span><br /></span><span>Sabendo que os colegas insistiriam em conversar sobre Lacy, Eric desligou o celular e se trancou no gabinete para conseguir raciocinar. Dispusera-se a juntar as evidências mais palpitantes e levá-las a Nova York, onde o tratamento `as provas seria imparcial e Jordan acabaria tendo muito a explicar. Depois que a verdade começara a aparecer, Eric vinha se sentindo cada vez mais isolado. Não podia confiar na Polícia e não sabia o quanto Jordan temia que ele falasse. A posse do celular de Hammond poderia derivar para duas situações: Jordan proporia um acordo para deixá-lo em paz desde que entregasse o chip; Jordan viria para cima com tudo, para consegui-lo sem acordos, através da força. Conhecia pouco sobre Harwood para tentar imaginar seu próximo movimento de peças, todavia se convencera de que não custaria a procurá-lo. Embora fossem muitas as possibilidades, seu código de honra não lhe permitiria outra saída que não lutar para que Jordan pagasse pelo crime. Revisitava as hipóteses, mentalmente. Sua estratégia parecia sólida, forte. Quando pensava em Kylie, contudo, a segurança caía por terra e ele hesitava. A solução obrigatoriamente passava por Kylie e, portanto, Eric precisava conversar com a amiga antes de deixar Toronto. Tinha de saber que ela não participara diretamente do homicídio.</span><br />
<span><br /></span><span>As horas demoravam a passar, Eric preso ao dilema moral a envolver Kylie. Vestiu uma boa roupa para frio e apanhou o táxi para <i>downtown Toronto</i>. Não quis usar o próprio carro, focava-se em passar desapercebido. O anonimato lhe serviria tão bem quanto a coberta quente nas noites mais geladas. Sob anonimato, os pensamentos lhe ocorriam com mais clareza. Desceu do táxi uma quadra antes do destino original pois não tolerou o engarrafamento. Entregou uma nota de 50 dólares ao motorista e não fez questão de esperar o troco. Eric precisou se sentar em uma das mesas exteriores de uma lanchonete, quase defronte `a agência de viagem, apenas para examinar melhor as pessoas e o ambiente, assegurar-se de que não fora seguido. Depois de esperar bastante, quando o semáforo fechou, atravessou a avenida, entrando discretamente na agência, de cabeça baixa.</span><br />
<span><br /></span><span>O voo deixaria o <i>Pearson</i> `as 23:00 do dia seguinte. Eric guardou o bilhete e voltou a se diluir na multidão, esperando que as horas se passassem mais rapidamente. Houve um momento em que ligou o celular apenas para ver se Colby o tinha procurado. Não havia chamadas do rapaz, um alívio, já que nada de diferente acontecera desde a última vez a ponto de meritar a chamada; no entanto, encontrou mais de 20 ligações variadas, entre os números o de Kylie, que aparecia num total de 7 chamadas ignoradas. Naquele mesmo fim de tarde, foi de última hora que Eric resolveu arrumar a bolsa com as roupas e as coisas, fechar a casa e aguardar a hora do voo em algum hotel mais próximo ao aeroporto. Caminhava apressadamente para o terminal do ônibus do shopping-center, quando ao passar próximo a um bistrô da praça de alimentação pôde sentir quando uma figura deixou a mesa, de imediato, apenas para abordá-lo. Em um segundo, a pessoa tinha as mãos sobre seus ombros. Era Cary St.Pierre.</span><br />
<span><br /></span><span>Pensou em quase todos os ângulos, não em todos, porque, curiosamente, acabou por se esquecer de elementos muito simples, tais como o fato de que a cobertura de uma das torres comerciais que compunham o shopping sediava o endereço profissional de Cary St. Pierre. O advogado o abordou com um olhar preocupado e um sorriso vago, quase desconfiado. Eric forçou a simpatia, apertando-lhe a mão e fingindo pressa, mas Cary voltou a detê-lo. Mencionou o celular desligado e que tanto ele quanto Kylie tinham passado o dia procurando entrar em contato em razão do acontecido a Lacy. Eric explicou que precisava voltar para casa, pois temia deixar as crianças a sós, principalmente por causa da filha de Lacy, que de nada sabia. Cary fez questão de lhe mostrar que sabia que Eric mentia. "</span><i>Kylie me contou que mandou as crianças para ficar com a tia</i><span>", ele retrucou. Eric começou a gaguejar, realmente atordoado pelo flagra, mas Cary foi mais rápido. "</span><i>Por favor, venha comigo</i><span>", disse, e praticamente o pôs dentro do elevador panorâmico.</span><br />
<br />
</span><div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">Confuso, Eric foi conduzido ao escritório do advogado. Ele não adiantou praticamente nada do que havia a tratar. As mãos de Eric suavam. Imaginou se o rapaz conseguia enxergar sua ansiedade. Cary ocupou seu lugar `a mesa e fez um gesto com a mão, convidando-o a fazer o mesmo na cadeira diante de si. Repentinamente, os saltos altos golpeando o mármore reverberaram corredor adentro, e quando Eric se voltou para trás, encontrou Kylie entrando no escritório. Ele deveria ter sabido melhor, mas a morte de Lacy embaralhara a cabeça. Agiu desastradamente ao procurar pela saída. Vendo que Eric tentava fugir, Kylie imediatamente se trancou com os dois e encostou-se com força `a porta para não deixá-lo passar.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Sinto muito. – Kylie introduziu, sem que Eric soubesse precisar se sentia muito por Lacy ou por ter de trancá-lo ali. De qualquer modo, bastante emocionado, Eric não se importou. - Não vai a lugar algum. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Tudo bem. – Eric respondeu, em um fiapo de voz. Kylie e Cary se entreolharam, compreendendo-se sem a precisão de palavras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Queríamos conversar contigo. Lamentamos por Lacy. Nós ligamos, mas você deixou o celular irresponsível. Foi uma cretinice da sua parte, mas nós entendemos. – Cary passou a mão sobre a boca, analítico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Por quê tentou fugir de mim? – Kylie indagou, puxando outra cadeira e se sentando ao lado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Eu não estou... – Gaguejou, porém Kylie imediatamente rechaçou a mentira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Sim, está. Não é apenas da gente que fugiu. – Ela se levantou e deixou que uma convidada especial fizesse as honras. Jordan saiu da sala de reuniões adjacente, um pouco tensa, e entrou no escritório.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Está fugindo da cidade. – Jordan sumarizou com um olhar muito sossegado. – Não acreditou que nós não estivéssemos acompanhando os seus passos, certo? O que pretende fazer em Nova York?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">Eric estava perdido. Não enxergava estratégias imediatas que o ajudassem a antecipar o que se observaria naquele encontro. Ele tinha cometido um terrível engano ao não fugir quando tivera tempo. Apoiou-se com as mãos e começou a se levantar. Kylie segurou-o pelo ombro em uma tentativa inútil e enérgica de acalmá-lo, porém Eric continuou a se erguer. Ao perceber que ele poderia tentar qualquer coisa, Kylie se levantou também e o segurou pelos dois pulsos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Vocês mataram o Hammond. – Acusou, sem acreditar que vocalizara o horror preso na garganta. – E depois mataram a Lacy porque ela assistiu a parte da trama naquela madrugada em 2004. – Eric esperava causar um grande impacto, mas Kylie e Cary pareceram absolutamente tranquilos, como se já esperassem a acusação. – O Hammond queria me avisar...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Eric, eu sei de tudo. – Cary sacudiu lentamente a cabeça com uma expressão despreocupada. – Até mesmo da coluna social que encontrou na internet, da foto que o ajudou a concluir que a Jordan e a Kylie se conheciam desde aquele tempo. O que parece não ter percebido é que eu também apareço na foto, bem atrás. – Eric olhava para os lados, lívido. – Eu, a Kylie e a Jordan somos amigos desde a faculdade. Viemos da mesma turma, frequentávamos as mesmas rodas sociais, tínhamos as mesmas histórias. Não pense que eu não sabia que a Kylie e a Jordan namoraram.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Hammond não gostava de mim pois sabia de seus sentimentos por mim. – Kylie denunciou, a voz suave, sempre sob controle. Ela não se intimidava e persistia segurando o amigo pelos pulsos. – Ele queria destruir a imagem que você nutria a meu respeito. Quando me encontrou nos braços da Jordan, naquela maldita noite, achou que finalmente a oportunidade perfeita para me arruinar aos seus olhos se apresentara.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Quando você ainda montava as peças do quebra cabeça, já estávamos lá na frente assistindo a tudo de cima. – Jordan emendou. Tendo passado o choque inicial, Eric teve a lucidez de procurar enxergar se a policial portava uma arma. Não tinha como saber.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Foi um acidente. – Cary minimizou. – Kylie ficou desesperada, quando ele puxou o celular e avisou que contaria a história inteira. Ela tomou o celular e o quebrou, mas no calor da confusão não percebeu que a sua namorada, a Lacy, pegou o que sobrou e escondeu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- O plano era dar uma boa surra no Jason para que pensasse duas vezes antes de se intrometer entre nós dois. – Kylie atacou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Não esperava que o garoto fosse atirar no seu amigo, Eric. – Jordan anunciou, encostando-se `a mesa e, com o movimento, revelando o volume sob a blusa. Sim, ela portava uma pistola. – As coisas aconteceram. Kylie estava furiosa e eu sugeri que lhe déssemos o susto. Talvez eu tenha o sangue de Hammond nas mãos, afinal o garoto a quem incumbi de realizar o serviço era um pouco desestabilizado. Ao contrário do que pensa, também não "<i>queimei arquivo</i>". Ele tinha problemas emocionais e sabia que jamais aguentaria puxar tantos anos de cadeia. Não foi assassinado. Ele se pendurou do chuveiro com a calça porque entre a vida na cadeia e a simplicidade da morte, escolheu a saída fácil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Vocês mataram a Lacy! – Exclamou, fazendo um movimento muito brusco que finalmente o desvencilhou das mãos de Kylie. – Temiam que nos relacionássemos a ponto de um dia me contar sobre Hammond!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><span>- Não tínhamos como saber se Lacy contaria ou não, Eric. – Kylie retrucou, novamente procurando controlá-lo pelos pulsos. Eric avançava com as costas para a porta. Kylie fazia o possível para atrasá-lo. Quando ele estava para pôr as mãos na maçaneta, Kylie conseguiu abraçá-lo de frente e, com muita habilidade, manter o abraço até se colocar inteiramente `as suas costas. – Não tínhamos pelo que nos preocupar, pois ainda que Lacy falasse, seria a palavra dela contra a nossa. Lacy era uma mulher muito confusa e atrapalhada. Eu sei que reencontrou o amor em sua vida quando a conheceu, mas ela era uma sobrevivente, uma mulher ferida. Jamais se pode antecipar as reações de uma pessoa psicologicamente ferida. Aceite que Lacy fugiu com o professor e a sua própria conduta de risco acabou por lhe dar o fim que encontrou!</span><br />
<span>- Você não vê que não teríamos como armar uma farsa do tipo? – Jordan se aproximou dos dois e Cary também já se levantava. – Lacy e o professor foram encontrados em Nova York. Ele era um velho amante, de quem Lacy provavelmente jamais se esquecera. Até acreditemos que Lacy fosse voltar para você, como havia prometido. A viagem seria uma espécie de... – Jordan pensou no melhor termo. Cary o tinha na ponta da língua.</span><br />
<span>- De despedida. Quando quis definitivamente a associação com o professor para voltar para ti, para reconstruir a própria vida, o homem não aceitou. Mais um caso de homicídio passional. Duas pessoas desavisadas que deveriam saber melhor, mas cujos próprios apetites apontavam o desajuste.</span><br />
</span><div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Não estamos julgando a Lacy, Eric. – Kylie reforçou. – Não queremos destruir a imagem que fazia dela. Acontece que está se voltando contra mim. Precisa escutar a verdade, mesmo que não te agrade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Entende agora, Eric? – Cary estava de frente ao viúvo, analisando-o com olhos alarmados. – Não conseguiu esconder muita coisa da gente. A Kylie não é a sua inimiga e não vamos machucá-lo. Não traga uma tragédia que aconteceu há seis anos `a tona. Acabou!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- Não. – Disse, em um lamento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;">- O que pensa que vai fazer? – Kylie perquiriu, apertando-o mais forte, sussurrando em seu ouvido. – Ir para Nova York com uma porção de fantasias? Eu não posso deixar!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Eric foi indo ao chão. Por causa da gravidade, Kylie não teve como segurá-lo <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">melhor</span>. Quando ela acabou por se atrapalhar, Eric se desvencilhou dos braços e, em uma rápida, atrapalhada corrida, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">atirou</span>-se para fora do escritório e saiu em disparada rumo ao hall dos elevadores. Kylie ainda tentou correr e possivelmente em outras circunstâncias o teria pego, mas graças aos saltos perdia a velocidade necessária para detê-lo. O elevador panorâmico descia com Dudley dentro, encolhido em um canto, a vertigem fazendo a cabeça girar. Considerou que Cary estaria orientando o suporte de segurança a barrar as entradas e saídas das torres e do shopping. Quando o elevador <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">estacionou </span>no nível do shopping-center, Eric pôs os pés no hall e ficou encantado com a decoração de um mundo luxuoso e iluminado, `a parte de uma Toronto chuvosa e <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">cinzenta</span>. Luzes brancas e douradas emanavam do grande centro, cores diferenciadas em neon para cada loja, um <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">fluxo </span>interminável de pessoas. Na praça de alimentação, gargalhadas e conversas por todas as mesas e mesmo entre as mesmas, garçons circulando com alguma dificuldade, levando pedidos. Aos pés da escada rolante, uma mãe procurava convencer o filho de que a escada não era um monstro e o punha acima dos ombros. O shopping era um novo mundo em gestação. Próximo `as grandes portas de saída para o estacionamento, Eric pontuou dois homens com uniforme de segurança. Depois de toda a confusão emocional, teve a presença de espírito para saber o que fazer. Ao fingir procurar o toalete, passou ao lado do botão de emergência de incêndio. Desferiu um golpe com o cotovelo e o acionou. Quando a enorme confusão generalizada se formou dentro de um minuto, evacuou a torre absorvido pela horda de rostos desconhecidos. <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Por ora, estava a salvo</span>.<span style="font-size: small;"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Eric precisava deixar Toronto naquela mesma noite. <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Como </span>os três sabiam que tinha comprado o bilhete para o dia seguinte, o esperariam no portão de embarque no <i>Pearson</i> para evitar que entrasse no avião. <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Caminhando <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">ao longo do passeio público</span></span>, devia se sentir como mais um rosto anônimo em <i>downtown Toronto</i>, porém se eles tinham encontrado os meios de afirmar que comprara o bilhete, algo que não compreendia como fora <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">possível</span>, não conseguia se sentir mais seguro, mesmo protegido pelo anonimato de uma cidade enorme e transitória, como a própria Jordan adjetivara a cidade. O encontro com o trio acabou por encorajá-lo, pois agora acreditavam que ele teria mais vinte e quatro horas em <i>downtown Toronto</i>, quando na verdade pretendia deixar a cidade naquela mesma noite. Eric entrou e saiu de bares decadentes, comprou blusa e calça jeans em um brechó e trocou de roupa ali mesmo. Ele foi se "<i>mimetizando</i>" até adquirir a confiança necessária para entrar na primeira agência que apareceu no caminho e <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">torcer </span>para que tivessem um tícket para a mesma data. Eric precisou desembolsar a última quantia em espécie que trazia consigo para custear o ágio e levar o bilhete "<i>premiado</i>" que o tiraria de Toronto em um novo voo a se dar às 21:00. Tudo acertado, Eric sacou algum dinheiro de um caixa rápido e buscou um motel qualquer, o mais próximo possível do <i>Pearson</i>. Pagou por uma diária, embora pretendesse descansar por apenas algumas horas, e subiu ao apartamento simplório, guarnecido por cama, escrivaninha, banheiro e pequena cozinha. Semicerrou as cortinas e deixou a sacola com o celular de Hammond sobre o móvel da televisão de quatorze polegadas. Quando se sentou na poltrona que puxara até a frente da janela, depois de apoiar os pés na sacada, concedeu-se trégua <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">para </span>observar, sem pensar em coisa alguma, o movimento modorrento a tomar conta das vias periféricas do centro. Vidas que iam e vinham, trabalhadores voltando para casa com expressões cansadas, mulheres de mãos dadas a crianças travessas, sacolas de compras no outro braço, jovens sempre apressados, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">usualmente </span>em um ritmo mais frenético <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">que o das mães ou trabalhadores</span>, talvez por ainda creditarem aos sonhos a energia que os mantinha tão frescos enquanto corriam atrás dos mesmos. As cortinas puídas bailavam ao toque do vento frio. O resquício da tarde estava a rasgar, esticado, uma peça magnífica e gigantesca de seda a esconder muito mal a noite magnífica e estrelada. Em um rádio de pilhas ligado em algum ponto do corredor, uma melodia romântica forçava Dudley a vasculhar as recordações. Escutara a música na época em que dias pareciam mais longos, noites menos atribuladas, vida mais inocente. Não se recordava do título, mas jamais esquecera dos meses, do semestre, em que não se ouvia outra coisa nas rádios. A balada romântica alcançara o terceiro lugar na lista da Billboard naquele ano, 1988, e mesmo alguns anos após o estrondo, Eric eventualmente voltava à doce melodia de <i>Rhythm & Blues</i>, revisitando a faixa número 03 ou 4, não se recordava ao certo, do álbum <i>Tell it to my Heart</i>, a coletânea da fase mais romântica da <i>Taylor Dayne</i>. As pálpebras de Eric pesaram. Não queria baixar a guarda, adormecer, porém foi o que aconteceu.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Preso à consciência por um fio, insistia na meta de não se deixar levar pelo cansaço. O voo deixaria o terminal 02 às 21:00, porém deveria chegar com antecedência. Precisava conversar com Colby, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">recomendar</span> pessoalmente <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">que se afastasse </span>da questão, agradecê-lo enquanto tinha a chance, vez que assim que chegasse a Nova York não <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">haveria </span>como prever como a sorte se desenlaçaria. Se Lacy fora queimada por Jordan e seu pessoal, nada a impediria de tentar tirá-lo do jogo. Uma infeliz tragédia nos moldes do homicídio passional, talvez freios soltos e o seu carro em chamas, ou um <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">trágico </span>assalto dentro do qual ele terminaria fuzilado tal como acontecera a Hammond. As análises e conclusões racionais foram ficando turvas, e recordações gradualmente surgindo para substituí-las com a mesma delicadeza da deslumbrante noite estrelada a nascer bem diante de seu corpo adormecido e afugentar a tarde. Eric teve um breve sonho que curiosamente em um momento bastante atribulado de sua vida não poderia ser mais bonito ou feliz. No sonho, revivia a noite em 2004 quando "<i>Not Easily Broken</i>" estreava, mas em vez de ali estar para assistir ao primeiro episódio, era ele o objeto da homenagem.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">No sonho, Eric achava que tinha sido indicado a um prêmio publicitário, em uma noite de gala no <i>JW Marriott </i>de Toronto, o belíssimo hotel de luxo localizado no centro da cidade, com suítes integradas ao melhor shopping, o<i> Eaton Centre</i>, via escadas elegantes e curvilíneas oriundas de uma outra época. O <i>JW Marriott </i>era dividido em conjuntos temáticos integrados pelo excelente serviço de <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">conexões</span>. A turma do "<i>Not Easily Broken</i>" preparara uma fantasia delirante para o conjunto "<i>Cinema</i>", o pavilhão de mais de trinta e seis mil metros quadrados de vários níveis e pavimentos, sendo o térreo um <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">amplo </span>anfiteatro central a toda a <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">envergadura </span>da construção, rodeado por rampas de circulação que corriam pelos muitos níveis. <i>Halls</i> revestidos pelo mais fino e caro mármore, a refletir as luzes dos holofotes como espelhos, tamanho o esmero com que <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">haviam sido </span>polidos, atraiam os convidados ao átrio, ao <i>Grand Ball Room</i> para além das esquadrias de lâminas de vidro que corriam, um espaço de magia, classe, romance e mistérios, onde lustres caríssimos deitavam a incandescência que jorrava em profusão, onde damas flertavam com cavalheiros entre tragadas <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">nas </span>piteiras, às mesas do bar, e homens ainda se portavam como <i><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">gentlemen</span></i>. O lugar era o sonho de arquitetos e designers que ambicionavam produzir uma fantasia sem limites. Em vermelho iluminado, "<i>Marriott</i>" fora grafado na fachada da torre do edifício. Eric sentava-se em uma das mesas e, no momento do brinde, havia uma inesperada brincadeira, a coreografia exaustivamente treinada pela equipe de criação artística do "<i>Not Easily Broken</i>", quando o <i>Grand Ball Room</i> se tornava o palco para o festival de luzes, fogos e encantos preparados unicamente para o protagonista. Era Kylie Grattan quem emergia do alto das escadas, enquanto as esquadrias vibravam ao som dos aplausos e ao sabor de <i>Peabo Brysson</i> com "<i>By the Time</i> <i>this Night is Over</i>". Quando se alcançavam, o <i>Grand Ball Room</i> mergulhava no silêncio. Kylie lhe dizia o quanto o amava e Eric respondia com o abraço que selava o seu destino, a deixa para que fogos de artifício fossem atirados ao céu estrelado, o caleidoscópio de luzes em elipse o rasgasse e os aplausos catapultassem o momento a uma noite única e imortal. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric acordou assustado. Consultou o relógio de pulso<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">.</span> 18:30. Tomou um banho rápido, vestiu-se, separou as coisas na mochila e ligou o celular para contatar Colby. Não explicou coisa alguma, apenas avisou que passaria para visitá-lo mais cedo do que de costume, naquela noite. Quando o rapaz lhe perguntou se tudo <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">se encontrava em<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> ordem</span></span>, Eric respondeu que conversariam melhor pessoalmente. Ainda permaneceu por quase meia hora assistindo à televisão, não realmente prestando atenção, apenas navegando pelos canais. Eric desceu com a mochila e avisou que não passaria a noite. Despediu-se da moça da recepção, que foi gentil em <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">lhe </span>chamar um táxi e servir café enquanto aguardava pela chegada do motorista no lobby. A televisão do escritório do motel estava sintonizada no jornal do fim da tarde, alguma reportagem desinteressante sobre um surto de gripe que irrompera no campus da universidade de Toronto deixando os médicos mais atarefados do que de costume. O táxi <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">aguardava </span>que os carros passassem, do outro lado da rua, para fazer a conversão que o levaria `a entrada. Eric apertou as mãos da moça, agradeceu por tudo e partiu a caminho do <i>Pearson</i>.</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;">Colby deduziu que Eric <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">partiria</span> naquela mesma noite quando o enxergou do outro lado da avenida, no ponto de ônibus onde o táxi o deixara, esperando o momento certo para atravessar a highway. Correu solitariamente sob o neon vermelho dos anúncios, a luz dourada mais acima, até alcançar o canteiro da <i>211 Bel Air</i>. Cada passo que dava em direção ao aeroporto internacional o fazia se sentir mais distante, comum a quem não vê <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">a hora</span> de partir. Como era cedo, havia alguns gatos pingados por lá, mas as garçonetes da tarde ainda não tinham deixado, o que dava a Colby a liberdade para conversar. Sendo muito cedo, teriam folga de uma hora até que Eric precisasse subir no <i>link train</i> que o levaria ao terminal 02. Daquela vez, Eric foi surpreendido quando Colby lhe deu um abraço camarada. Existia o sentimento de urgência no ar e o rapaz antevia a gravidade da situação. Colby podia notar que vez ou outra Eric dirigia uma consulta nervosa ao relógio, voltava a vista para o <i>link</i> <i>train</i><span style="font-style: normal;"> e então para <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">o amigo</span>. Quando os ponteiros apontavam 20:00, Eric soube que chegara o momento da despedida. A eletricidade <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">na atmosfera</span> podia ser cortada com uma faca. Ambos <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">se sentiam </span>tensos, era difícil mesmo respirar. Apesar do ar condicionado, estavam empapados de suor.</span></span></span> </span></div>
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;"></span></span><br />
</span><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;"><span style="font-style: normal;">- Cuide-se bem, amigo. - Eric o abraçou e deu dois murros contra as suas costas. - Obrigado por tudo o que fez por mim. Quando tudo estiver acabado, procure-me na </span><i>La Fabrique</i><span style="font-style: normal;">, pois terá um emprego garantido!</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-family: helvetica; font-size: small;"><span style="font-style: normal;">- Obrigado, coroa. - E fazendo uma brincadeira, mitigou um pouco a tensão. - Não está esquecendo alguma coisa</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-style: normal;">?</span></span><span style="font-style: normal;">Ficou de me arrumar uma namorada bonita, oriunda d<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">o processo de audição</span>, não se recorda</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-style: normal;">?</span></span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Quando eu voltar de Nova York, apresentarei para você uma estagiária nova do escritório que tem tudo a ver <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">contigo</span>!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;"><span style="font-size: small;"><span style="font-style: normal;">- Você, me apresentar uma mulher</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-style: normal;">?</span></span><span style="font-style: normal;">Com o seu gosto por mulheres, o gosto que te meteu nessa cilada</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-style: normal;">?</span></span><span style="font-style: normal;"> - Perguntou, fingindo inconformismo. Eric já começou a rir. - Dane-se, coroa. Agora sou eu quem não vou te procurar na </span><i>La Fabrique</i><span style="font-style: normal;"> mesmo!</span></span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Não havia mais gente por ali. Colby ofereceu-se a acompanhá-lo até a passarela, quando a sombra de Jordan <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">projetou-se </span>para dentro depois que os sinos tilintaram e a porta foi aberta. Dois outros homens a acompanhavam. Com os olhos galvanizados na entrada, Eric pôde ver de relance a vitrine que dava para o canteiro do estacionamento e calculou que seria a única rota <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">de</span> fuga viável. Procurando mascarar a insegurança, deu um jeito de muito vagarosamente posicionar-se ao lado da janela. Colby deixou o balcão e foi ficar com o amigo. Os dois observavam atônitos os visitantes à espera de quem faria o primeiro movimento. "<i>Você não tem nada com isso, garoto, saia daqui, vá embora</i>", Eric sussurrou e Jordan pareceu não se opor. Colby tinha a chance de sair livre da arriscada e volátil situação, porém escolheu permanecer com o amigo.</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Então, Eric. - Jordan limpou a garganta, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">balançando </span>a cabeça, como quem não tivesse escolha, e iniciou. - Não posso deixar que embarque para Nova York. Será que não podemos ambos dar um passo para trás e desarmar <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">uma situação tão perigosa</span>?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu preciso saber se a Kylie sabia sobre Hammond. - Ele respondeu, o tom monocórdio e frio.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu sabia. - Veio a voz que a seu ouvido sempre o inspirara ao melhor. Era Kylie quem entrava pela outra porta da <i>211 Bel Air</i>. - Eu concordei com Jordan, quando propôs dar um susto em Hammond. Nenhuma de nós duas esperávamos que fosse terminar do jeito que acabou. - Os olhos de Kylie estavam brilhantes, lágrimas de dor prestes a <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">serem vertidas</span>.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu acredito em você. - Eric disse, aflito só de vê-la a um passo de chorar. - Eu lamento por tudo o que aconteceu. Eu preciso saber de Lacy...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Eric, eu jamais faria mal a Lacy, por mais que ela estivesse te <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">tirando </span>das minhas mãos! - Foi como se Kylie tivesse sido atravessada por uma lâmina. A dor desenhada nos lábios tornava inegável que acreditava na própria afirmação. - Eu te amo, mas não consegui lidar com o peso do sentimento da mesma maneira que conseguiu ao me deixar ir para os braços de outra pessoa. Da carta que me escreveu, as coisas que disse, à maneira como me olha até hoje... Você é... Incorruptível. - Terminou, e as lágrimas rolaram sem desculpas.</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Jordan parecia mais retesada. Agora que o amor de Kylie por Eric não podia ser negado, sentia-se preterida e enganada. Sabia conviver com a ideia de que Kylie vivesse como esposa de Cary St. Pierre, mas não que nutrisse sentimentos tão incomuns por alguém que não a própria Jordan.</span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu matei a Lacy. - Jordan confessou, como quem admitisse uma pequena indiscrição. Colby, Kylie e Eric voltaram-se para a policial. Ela tirou uma pistola automática do coldre peitoral. - E o fiz por você. - Jordan <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">f</span>ulminou Kylie com o olhar magoado.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Jamais pedi para... - Kylie não quis acreditar. Estava perdendo a segurança, o terror se assentando sobre seu tom e gestos.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não me pediu, mas estou <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">convicta </span>de que não se importou quando a Lacy desapareceu. - Jordan deu alguns passos apressados em direção à ex-namorada e suplicou. - Fiz por você!</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não. - Kylie não aceitou as desculpas.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu te amo!Tudo o que fiz foi em nome de nosso amor, Kylie! - Pela primeira vez desde que a conhecera, Eric via <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Jordan perder </span>a frieza que inicialmente o fizera temê-la. Ela era uma menina assustada, dispensada por um grande amor. Jordan esperava aceitação, mas tudo o que recebeu foi o tapa que apanhou o rosto em cheio e a fez dobrar os joelhos e cair no chão, as mãos no rosto avermelhado e ardente.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Se você a matou, pagará pelo que fez. - Kylie sentenciou.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">No momento seguinte, o trem descarrilou muito rapidamente. Jordan não aceitou o descarte e as duas deram início a uma violenta discussão. Houve um momento em que Kylie procurou consolá-la, mas antes que Eric pensasse em alguma coisa para ajudar a colocar panos <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">mornos </span>na imprevisível briga, Jordan levou a pistola à altura da cintura de Kylie e disparou. Ela caiu com as mãos no canto e Jordan dirigiu ao rival o olhar assassino de quem se decidira a pôr tudo a perder, principalmente agora quando a morte parecia mais atraente do que a ideia de terminar os seus anos na cadeia. Jordan e os dois outros homens, ambos policiais do mesmo distrito, metidos em toda a imundice, ergueram as armas, porém Colby investiu a tempo como um expresso fumegante na linha de fogo. "<i>Não</i>!", Eric gritou, quando o amigo se pôs a sua frente para receber os disparos, vários deles. Eric se arremessou contra a lâmina de vidro, fazendo-a ruir como chuva de estilhaços com o impacto de seu corpo pesado, resvalando para o canteiro e escapando ileso.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Com os tiros, a parte elétrica restou danificada e a <i>211 Bel Air</i> foi tomado por sombras, ocasionalmente desafiadas pelo fulgor emanado da máquina da <i>jukebox </i>ao <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">alternar discos</span>. Eric conseguiu conversar um pouco com Colby. "<i>Pegue-os por mim, coroa</i>", o rapaz pediu, a voz embargada pela dor. Eric meneou com a cabeça e deixou-se ser novamente engolido pela escuridão protetora. Jordan e os dois comparsas estavam à procura de Eric no canteiro, quando um deles o avistou correndo pela transversal que dava para as escadas em rampa a culminar na estação do <i>link train</i>. "<i>Ali está, vamos!</i>", Jordan <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">exclamou</span>. A uma certa distância dos inimigos, Eric desafiava os limites de seu precário preparo físico e mantinha bom ritmo, <i>downtown Toronto</i> a prostrar-se ao horizonte, o plano de fundo da caçada. Eric atingiu a rampa de embarque, lançando olhares preocupados em direção aos trilhos, esperando avistar o trem. Havia colunas, várias delas, que acompanhavam <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">a plataforma</span>, cadenciadas por jardas de aproximadamente dez metros. A faixa de embarque era ladeada por lanternas vermelhas que imprimiam ao lugar uma tonalidade fantasmagórica, principalmente quando o frio sobre <i>downtown Toronto</i> descia acompanhado pela cerração que atrapalhava a visão a mais de uma dezena de metros. Havia muitas pessoas a espera do transporte sobre trilhos que os levaria ao terminal 02 e Eric temia que os três tentassem algo em meio aos inocentes. Compreendia que se tratava de uma feroz luta de vida ou morte. Jordan não tinha mais nada a perder e esperava morrer naquela mesma noite, levando-o consigo, claro. Os faróis do trem atravessaram a cerração e quando o <i>link train</i> estava para estacionar, um dos homens passou bem ao lado sem se aperceber que Eric se encontrava albergado atrás da coluna. Eric investiu contra suas costas, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">desequilibrando</span>-o. Agarrou-<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">o </span>pelo casaco e o jogou de volta à coluna, nocauteando-o com o impacto. Tomou-lhe a pistola e quando estava para guardá-la na cintura, chegaram os dois guardas da estação. "<i>Esse homem é um criminoso!Estão tentando me matar!</i>", Eric exclamou. Confusos, os guardas não perceberam quando Jordan e o aliado chegaram a cerca de dez passos atrás, sacando as armas e disparando em direção a Eric e aos seguranças. Os guardas responderam ao fogo. Quando as portas do <i>link train</i> foram abertas, Eric entrou no vagão mais à frente, Jordan e o colega cinco vagões para trás. Antes que os guardas tivessem como render a policial, o <i>link train</i> seguiu sobre os trilhos.<span style="font-size: small;"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Quando as pessoas entraram no trem, elas o fizeram por medo. Agora, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">viam-se</span> encurraladas nos vagões em movimento. Certo de que Jordan vinha a caminho de seu carro, Eric disparou contra uma das janelas laterais e terminou de quebrá-la a cotoveladas. Depois de guardar a arma na cintura, procurou sair pela janela e alcançar o topo do<i> link train</i>. Os cacos de vidro cortaram as palmas das mãos, mas não perdeu a firmeza. Apoiando um dos pés no assento rente à janela, projetou todo o corpo para fora do trem e começou a escalar <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">até </span>o topo. O vento chicoteava o corpo e Eric ameaçava perder o equilíbrio a qualquer curva mais pronunciada. Tinha de se firmar o quanto antes. Enxergava ainda distante uma parte da pista onde enormes Boeings taxiavam em aproximação ao terminal 02. Subir ao teto <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">provou-se a parte mais difícil</span>. Caminhando com as pernas bem afastadas para não perder o equilíbrio, Eric inclinava a cabeça `a beira do vagão para ver de cima <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">através das</span> janelas se Jordan surgia em seu campo de visão. Ela podia não ter aparecido, mas sem dúvida vinha logo abaixo. Os tiros vieram seguidos e inesperados<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">. P</span>assaram rentes aos braços de Eric, não o apanhando por pouco, porém lhe tirando o equilíbrio. Ao cair pesadamente, o colega de Jordan acreditou que o tinha pego e usou o mesmo artifício de Eric. Arrebentou a janela a chutes e saiu para cima. Quando pôs o rosto sobre o vagão para investigar, recebeu um chute bem desferido na cara, o que o tirou de ação. Jordan o arrastou para dentro do vagão, nocauteado, e voltou a disparar para cima, Eric correndo para escapar da trajetória inclinada<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> e ascendente </span>das balas. Não podia responder fogo, por causa de todos os inocentes presos ali embaixo.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">A duração do passeio não ultrapassou três minutos. O trem parou no terminal 02 e os passageiros se atropelaram ao evacuar os carros, apavorados. Jordan esperou que desembarcassem. Ela saiu do trem e subiu <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">o vagão pelo lado da</span> cabine do maquinista, que era menos íngrime e portanto possibilitava uma escalada mais simples. Eric não se encontrava mais no teto. "<i>Ande, venha me pegar</i>", ele gritou, saltando as catracas mais à frente. Jordan fez mira e <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">efetuou </span>dois disparos. Um tiro pôs abaixo o vidro de uma lojinha de conveniências, o outro raspou o ombro de Eric. Ele perdeu o equilíbrio e caiu. Escutou as botas de Jordan avançando <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">em corrida</span>, em direção à conexão ao aeroporto. Procurou fazer mira, e quando Jordan se insinuou em seu campo de visão, tentou acertá-la com dois tiros. Ela foi mais rápida e se jogou ao chão, deslizando sobre o assoalho, as balas <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">perfurando </span>cabines de ticket e um telefone público. Não demoraria à Polícia do <i>Pearson</i> chegar e Jordan estaria liquidada. Ela sabia disso. Determinara-se a derrubar Eric antes de ser eliminada <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">pelas </span>mãos dos colegas que chegariam à cena, atraídos pelo barulho do tiroteio. Eric apontou a automática para as lâmpadas fluorescentes do corredor e as pôs abaixo com o restante das balas. Agora, tirara a visibilidade de ambos.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Belo </span>tiro. - Jordan elogiou, a voz regida pelo distanciamento emocional que incomodara Eric desde a primeira vez que a conhecera.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Impressão minha ou está começando a ficar com medo<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">?</span> - Eric provocou e Jordan respondeu de imediato ao apontar para a direção de onde viera a voz e disparar. - Não desperdice os tiros do pente, Jordan. Quando os seus colegas aparecerem, precisará de uma extra para se matar. Lembre-se que já desperdiçou parte dos dez disparos.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Tenho no mínimo mais um para você e outro para mim. - Ela disse, esforçando-se para enxergar algo na escuridão que <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">se alastrava `</span>a frente. Luzes, somente as do fulgor muito longínquo do <i>Pearson</i>.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Mesmo que me acerte, ainda conseguirei pôr as mãos em <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">ti</span>. - Um quase silêncio, desrespeitado apenas pela maneira como a ventania sibilava ao rasgar as arestas da estação e a sola das botas de Jordan esmigalhando pedacinhos de vidro. - Tem certeza de que está disposta a morrer aqui<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">? </span>Pois algo me diz que trepidará no último minuto.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-size: small;">Sirenes até então vagas tornavam-se progressivamente urgentes. Jordan sabia que logo a encurralariam. Até então c<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">onvicta da disposição de</span> sacrificar a própria vida, hesitou. Enquanto tinha balas no pente, arriscaria suas chances. Jordan saiu correndo para dentro do <i>Pearson</i>. Eric assistiu a ela <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">deixar </span>as sombras da estação para ganhar o hall principal de ingresso no aeroporto internacional e saiu <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">em seu </span>encalço, preocupado com o que pretendia fazer. "<i>Saiam da frente, saiam da frente!</i>", Eric gritava, mostrando a pistola levantada "<i>Parem essa mulher, ela está armada</i>". Jordan <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">interrompeu </span>a corrida, detendo-se de uma forma tão brusca que chegou a escorregar. Fez mira e jogou um tiro em direção a Eric. A bala explodiu <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">as bolas de enfeite de uma árvore de Natal </span>em um balcão para <i>check</i>-<i>in</i>, bem atrás de onde Eric estava. Jordan exibiu a arma para os agentes federais que guardavam o portão de embarque e os dois homens reflexivamente levantaram os braços e a deixaram passar. Agora, uma pessoa perigosa com uma arma de fogo gozava de <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">livre </span>acesso a qualquer avião conectado aos <i>fingers</i> de embarque.</span> </span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">O detector de metal vibrou quando Eric adentrou <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">no </span>salão de embarque, derrubando as cabines do portão de arma em riste. As poucas pessoas que não tinham corrido <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">viam-se</span> encurraladas no chão com as mãos nas cabeças. A vista do salão era misteriosa e incomum, as lojinhas e cafés abertos, porém vazios, assim como as salas de espera, as poltronas todas <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">deserdadas</span>. Ao fundo, a pista do <i>Pearson</i> a perder de vista alastrando-se pelo horizonte contemplado <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">através de painéis</span> em esquadrias retangulares que ladeavam os terminais. "<i>Para onde ela foi?</i>", Eric indagou a uma senhora, que apontou para o <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">fim </span>do corredor. O corredor desaguava no portão 10. Correndo a um ritmo mais reservado, Eric mantinha a cabeça baixa e a pistola pronta para disparo. Quando estava para chegar ao salão da porta 10, percebeu, ao longo do <i>finger</i> de entrada na aeronave do pátio, a comoção de tripulantes e passageiros gritando e se atropelando, uma manada enfurecida que em um primeiro momento impediu Eric de enxergar as melhores vias de acesso para dentro d<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">a aeronave</span> ou de perseguir Jordan até ali dentro. Escutou um tiro e as luzes da aeronave foram encerradas. Os únicos elementos que proviam alguma orientação espacial eram as pastilhas de <i>Led</i> de brilho alto, a levar ao caminho à porta do avião e, uma vez dentro, os anúncios luminosos de "<i>Não Fumar</i>" e "<i>Apertar os Cintos</i>". Arrastando-se no corredor do <i>finger</i> que <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">conectava </span>o salão de embarque à aeronave, Eric procurava distinguir algum som que acusasse a localização de Jordan no Boeing. Examinou o pente da pistola antes de prosseguir e constatou que, para a sua sorte, havia mais uma bala. Se quisesse derrubá-la, agora que engatinhava para dentro da aeronave em direção ao longo corredor da cabine pincelada por sombras falhas, não podia dar <b>NENHUM PASSO EM FALSO</b>.</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span><br />
</span><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Dudley tinha a pistola apontada para sua frente, para o fundo do avião, a atenção centrada nas cortinas da cozinha, a qualquer movimentação que apontasse a localização da inimiga. Não viu Jordan emergir da cabine semiaberta dos pilotos. O tiro apanhou-o no braço. Com o impacto, ele girou e caiu sentado no corredor, a arma voando de suas mãos, engolida pela escuridão. Arrastando-se pelo carpete, Eric afastava-se de Jordan, que se aproximava lentamente, até mesmo com cautela. Mesmo certa de que o pegara, não menosprezava a possibilidade de que Eric lhe reservasse algum tipo de carta na manga. O interior era varrido por clarões aquosos verdes e vermelhos produzidos pelos giroflexes dos carros da Polícia que ganhavam a pista em direção ao terminal. Jordan apontou a pistola. Quando estava para apertar o gatilho, uma sombra irrompeu o fulgor que chegava <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">através das </span>janelas, apanhando-a por trás. Eric não teve como distinguir o invasor, mas então Jordan o golpeou com o cotovelo para tentar se livrar de seu abraço. Quando a pancada conectou ao rosto e o seu salvador teve a cara <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">atirada </span>para trás, Eric viu que se tratava da Kylie. O golpe fez as duas cambalearem, mas não caírem. Em vez de conseguir <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">se soltar</span>, tudo o que Jordan fez foi deixar Kylie mais diligente na sua obstinação de segurá-la, sem que a adversária surgisse com uma reação `a altura.</span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Kylie tinha prendido um dos braços de Jordan para trás, desarmado-a e tirado completamente sua liberdade de movimento. Com o antebraço, apertava o pescoço dela, tentando desesperadamente estrangulá-la o mais rápido possível. Com a mão livre, Jordan apertava o braço de Kylie, procurando arrancá-lo de seu pescoço, aflita para sair antes de ter suas forças esgotadas. Jordan lançava-se para trás, chutava e esperneava, acertava <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">pontapés </span>nos braços das poltronas e nas cadeiras, golpes em tudo, menos em quem verdadeiramente desejava atingir. Xingava e amaldiçoava, seus olhos abrasados de puro ódio, enquanto Kylie mantinha-se quieta e não lhe fazia concessões, com o olhar sereno e concentrado. Sentia-se péssima por sacrificá-la, porém não existia outra maneira. Jordan perdia fôlego rapidamente, e logo não lutava para se soltar com a mesma paixão de amante vingativa disposta a destruir a parceira que ousara romper com sua história de amor. Kylie cingiu ainda mais o aperto, o rosto resignado sobre o ombro esquerdo de Jordan. Ela grunhia e gemia, perdida, movida por alguma esperança de que tudo ficaria certo, como se em um piscar de olhos pudessem ambas ser devolvidas aos finais de tarde de clima ameno quando namoravam embaladas pelo segredo e o silêncio do dormitório da residência <i>College </i>na Universidade de Toronto, enquanto do piso abaixo vinham gritos e uivos de uma festa qualquer. Tudo o que veio de Kylie foi apenas ao fim, quando ela deu um suspiro exausto, de alguém que não suportava mais segurar a rival por um segundo a mais. Quando Kylie a soltou, Jordan tombou como um saco de batatas, o peso do corpo morto produzindo duas pancadas cheias e consecutivas, a primeira ao desabar sobre os joelhos, a segunda quando a gravidade trouxe o corpo à frente, o cadáver repousando de bruços aos pés de Kylie em uma posição patética e lamentável. Kylie a estudou, cheia de dor, visivelmente <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">devastada <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">pel</span></span>a forma como o dilema terminara.</span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Você está bem, querida? - Eric não acreditava, comovido. Passou a mão em seu quadril ensanguentado e teve o peso do mundo retirado da consciência ao constatar que o tiro fora de pele, nada mais. Kylie precisaria de assepsia na ferida, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">talvez </span>alguns pontos para fechar o corte, mas era só. Enquanto a <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">checava</span>, Kylie fazia o mesmo a Eric. A bala atravessara o ombro de Dudley, apanhara apenas tecido mole e saíra do outro lado. Eric passou o polegar sobre o lábio superior de Kylie, revelando o seu sinal, sorrindo ao vê-la tão linda e radiante <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">como </span>sempre. O nariz de Kylie parecia quebrado e ela punha sangue pelo canto da boca e pelas narinas, mas jamais parecera melhor. Quando Eric esfregou a mão para limpar o sangue, Kylie passou a língua sobre os lábios de um jeitinho tão meigo que Eric teve de abraçá-la.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Então não sabe? - Perguntou, o nariz correndo, lágrimas escorrendo dos olhos por causa da emoção e da cotovelada de Jordan. Sorrindo docemente, ela completou. - Eu "<i>não me quebro facilmente</i>".</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eles ficaram se olhando por um tempo, as sirenes dos carros de polícia e bombeiros cada vez mais emergenciais e escandalosas. Kylie levou as mãos ao pescoço e ombros de Eric. Vestia a mesma luva de couro em detalhes que ele achara tão interessante quando a vira pela primeira vez no heliporto. Não precisavam dizer coisa alguma. Por mais que lutasse contra os sentimentos, Eric jamais venceria o fato muito natural de que a amava mais do que a qualquer outra coisa no mundo e jamais conseguiria se desvencilhar de seus olhos tristes e misteriosos. Kylie o puxou para si em um beijo com a tensão e o desejo acumulados ao longo de todos aqueles anos de silente sofrimento, de paixões não vocalizadas, de feridas jamais completamente saradas, de sentimentos impossíveis. As noites que Eric passara em claro contorcendo-se de dor aos pés do balcão da <i>211 Bel Air</i> de repente não valiam mais nada. Kylie trabalhava a boca de Eric em seu beijo, movendo rítmica e sinuosamente a cabeça como se não houvesse amanhã, mas apenas um instante em toda a vida. Perderam a ideia de espaço, e jamais deram conta de quanto tempo ficaram se beijando. Ao terminar, Kylie pôs a mão em seu peito e lhe sorriu. O sangue na boca e no nariz de Kylie agora parecia mais seco e parte dele ficara no rosto de Eric. Sujos e exaustos, todo o amor que os mantinha ligados parecia bem explicitado pela dor de seus olhos e coragem de seus sorrisos.</span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu sempre te amei. - Ela desabafou. - Eu jamais conseguiria machucá-lo propositalmente. - Ela sacudiu a cabeça. Com lágrimas <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">correndo como riscos pela face, por causa da maquiagem borrada</span>, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">lamentou</span>. - Apenas jamais esperava me apaixonar pelo meu melhor amigo.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Tudo bem, querida. - Estavam abraçados. Eric sussurrou ao ouvido: - Ninguém precisa saber sobre Hammond. Darei fim ao celular quebrado. Deixemos que acabe por aqui. Eu gostaria que você seguisse com sua vida e também preciso permitir que Lacy descanse em paz.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Obrigada, Eric. - Kylie murmurou. Dudley a apertou contra o peito, sua força sinalizando que o pior definitivamente passara. - Obrigada.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Lamento pela sua amiga. Eu não queria que tivesse acabado assim.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Ela não quis me dar alternativas. - Chorou, inconformada. - Imagino a dor e o transtorno que a levaram a agir tão enlouquecida.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Agora, Jordan não está mais sofrendo. - Apoiando-a com o ombro bom, Eric <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">colocou as coisas sob nova perspectiva, restaurando<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">-a emocionalmente</span></span>. - Você não foi culpada, querida. Venha, vamos embora. Precisamos cuidar dessas feridas. Preciso saber de Colby.</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric e Kylie se separaram quando os médicos os levaram. Ele se sentia melhor, mas quando aplicaram a anestesia para suturar o ombro, foi envolvido pela escuridão de um<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">a inconsciência </span>sem sonhos. Quando despertou, era a manhã do dia seguinte, um céu muito chuvoso e frio sobre <i>downtown Toronto</i>. Kylie surgiu aos seus olhos de calça jeans, blusa branca e chinelas, sentada no sofá do quarto, lendo jornal, esperando que acordasse. Ela o recebeu com um deslumbrante sorriso que fez pouco importar quão zangado parecia o tempo. Eric procurou se sentar, porém Kylie não deixou. Acomodou-o melhor com almofadas na cabeceira para que ficasse um <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">pouquinho </span>mais elevado. Eric recebia soro intravenosamente. Em uma das cadeiras vazias da escrivaninha, repousavam as roupas, botas e mochilas. Ao se sentar, Kylie fez uma careta de dor ao sentir o lado do quadril, levando a mão ao curativo sob a blusa. Na televisão, um programa de atrações, com o quadro sobre culinária, uma simpática senhorinha muito parecida com a querida senhora Medina mostrando como preparar o delicioso filé à milanesa com a mais seca das crostas. Eric fechou os olhos e lhe <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">ocorreu</span> o rosto de Lacy, tão distante quanto aquela noite em que a levara para jantar fora.</span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric conseguiu convencer Kylie e os médicos de que se sentia melhor e arrancou do braço o gotejador. Vestiu a roupa e avisou aos <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">médicos </span>que precisava passar rapidamente em casa, mas que retornaria para "<i>virar a noite</i>". Deu uma piscadela para Kylie, como quem dissesse "<i>Não imaginam o quanto vão esperar!</i>". Antes de deixar o hospital, conversou com a amiga e lhe explicou que daria fim ao celular, de sorte a pôr logo um ponto final no mistério. Antes de apanhar o táxi na pracinha em frente à lanchonete do hospital, Eric foi convidado pelo cirurgião-geral a visitar o teimoso hóspede da sala de convalescença.</span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Esqueça o lugar na banca de advogados da <i>La Fabrique</i>, coroa. Eu quero a diretoria inteira! - Colby resmungou, fuzilando-o com o olhar. Eric e o médico entreolharam-se, o publicitário visivelmente comovido. Eric correu para abraçar o jovem na cama. Sentada em um canto, segurando um rosário, estava a velhinha avó de Colby. - Fico feliz que tudo tenha terminado bem, senhor Dudley.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Lembra-se o que disse sobre o velho, teu padrasto?Que um dia esperava fazer algo igualmente grandioso por um completo estranho da mesma maneira que ele fez por ti?Você o fez. Não deve mais nada a ninguém. - Puxou-o a um abraço de pai e agradeceu. - Obrigado, meu filho.</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> Eu te amo muito, cara.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Eric cumprimentou a velhinha, e insistiu que tudo ficaria bem. "<i>Quero estar andando sem muletas para a formatura!</i>", Colby avisou ao médico, energeticamente. "<i>Vamos</i> <i>ver</i>", veio a resposta. "<i>Volto para te visitar durante a semana</i>", Eric se comprometeu, estalando os dedos e apontando para o amigo. "<i>Vai estar na formatura?</i>", Colby indagou, cheio de expectativa. Dudley sorriu e, com muito orgulho, meneou afirmativamente com a cabeça. "<i>Cuide-se bem, filho. Tem a vida inteira pela frente!</i>".</span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Ao sair pela entrada do hospital e receber a brisa glacial de um novo dia cheio de eletricidade em Toronto, sentiu-se de uma maneira como jamais <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">anteriormente</span>. Era um homem renascido e contente e não havia absolutamente mais nada de que precisasse para que se sentisse <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">satisfeito</span>. Dudley estava em paz com as derrotas e as vitórias, e aprendia que devia se <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">empenhar </span>para ser um homem melhor. Se não por si, por Charly e Terri, que precisavam de um pai e <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">teriam </span>a oportunidade de se desenvolverem e se tornarem adultos maravilhosos. Apertando o casaco e fechando os braços contra si, Eric se juntou à maré das vidas que fluiam pelas calçadas e vias de <i>downtown Toronto</i>, satisfeito em saber que assim como ocorria para a sua pessoa, cada <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">indivíduo </span>carregava consigo um fardo a suportar, uma montanha a transpor, e era o desejo de acertar que os deixava conectados, por mais que não se dessem conta. O desejo de acertar, e a garoa da manhã, a descender sem pressa consoante a mesma placidez com que estações se sucediam, com que anos chegavam e iam embora sem que nos déssemos conta de como o tempo escorria entre nossos dedos.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Quando chegou a casa, ainda no ato de girar a chave e abrir a porta, foi <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">acolhido </span>pelo refrescante e familiar rumor de vida vindo da cozinha logo ao lado da sala de estar. Eric já imaginou do que se tratava, mas fez questão de fingir surpresa, pois sabia que assim Charly ficaria mais feliz. Ao abrir, encontrou <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">o interior </span>decorad<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">o</span> por balões coloridos, Charly, Terri e a senhora Medina esperando pela sua entrada logo ao pé da porta, e os amigos do filho, que de quebra também eram os seus, mais ao fundo, distribuídos entre degraus da escada, cozinha e a bancada do bar. Saudado por aplausos e assovios, Eric brincou, erguendo os braços em vitória e logo soltando um lamento de dor ao sentir o ombro. Claro que a senhora Medina o segurou e o obrigou a se sentar. Mais à vontade em uma cadeira na cozinha, cumprimentou a todos. À mesa, servida com guloseimas preparadas especialmente para a ocasião, contou, com a menininha ao colo (e a gatinha nos braços da criança!), o que se <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">sucedera </span>no aeroporto. A galera o convidou a assistir ao projeto cinematográfico acabado de Charly, e Eric achou uma ótima ideia, mas <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">os deixou momentaneamente</span> para comprar refrigerantes no mercado da quadra. Ele apanhou o carro, mas em vez de ir comprar refrigerantes no mercado, deixou para o segmento final do itinerário. Dirigiu até ao estuário do rio Humber, no lago Ontário, e arremessou o celular quebrado e o chip de Hammond. "<i>Agora pode descansar em paz, Jason. Eu e Kylie pegamos a cretina ontem</i>". Permaneceu por um tempo ali, o silente lago a seus pés, a resolução de uma história de mistério submersa sob toda a água e o gelo que se podia esperar da mais cinzenta estação do ano.</span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">E então, uma manhã, as nuvens escuras foram embora, abrindo espaço para que raios de sol voltassem a banhar <i>downtown Toronto</i>. Antes de retomar a vida com força total, havia algo mais a fazer. Vez que parentes não haviam reclamado os restos de Lacy, Eric tomou o voo para Nova York para trazê-la de volta para casa. Lacy foi cremada e Dudley fez questão de regressar a <i>Niagara-by-the-lake</i>. Ficou no mesmo <i>bed & breakfast </i>onde se hospedara com a namorada naquele inesquecível fim de semana, que para sempre resistiria intocado à passagem do tempo em seu coração. Foi corajoso quando a senhora perguntou sobre a noiva e por que não o acompanhara, e então lhe contou que na verdade viera com Lacy, <i>sim</i>, ao exibir a urna com as cinzas. Ela compreendeu, abaixando o rosto envergonhada e entristecida. Eric lhe deu um abraço, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">assegurando-a de que ficaria</span> tudo bem. O passeio de charrete o levou à mesma curva onde namorara com Lacy. As tochas haviam sido inflamadas ao longo do caminho que dava para as videiras esbranquiçadas pela geada e preenchidas pela cerração. Eric retirou a tampa e disse baixinho, como se ainda falasse a seu amor:</span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Nós não somos os erros do passado<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">, mas </span>o produto das lições que tiramos de nossos erros. As humilhações, as dores, as decepções não nos definem... Somos <b><i>este </i></b><span style="font-style: normal;">momento. </span>- E finalmente erguendo a urna para que a brisa carregasse as cinzas encosta abaixo, despediu-se. - Não somos tão ruins quanto nossos erros. Somos tão bons quanto o que aprendemos com nossos erros. Eu te amo, Lacy.</span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Foi depois de retornar a Toronto que Eric disse "<i>adeus</i>" a um outro grande amor. Voltava a pé para casa após uma tarde na <i>La Fabrique</i> com um sorriso largo, óculos escuros, o paletó pendurado <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">sobre um dos ombros</span>, uma das mãos dentro do bolso da calça cáqui, o sol se pondo às costas, a abóbada celeste que convidava dia e noite a bailarem uma <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">breve </span>valsa antes da despedida das 19:00 envolvendo-o como uma duma. Os cafés da ruazinha já <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">dispunham </span>as lousas com o cardápio para a noite, rascunhado a giz em sofisticado hábito parisiense importado, e lampiões fluorescentes avivados davam o tom elegante. Quando Eric parou no caminho a fim de aguardar o momento certo para atravessar a rua e olhou ao lado, deparou-se com Allie, sentada garbosamente, as pernas cruzadas, em uma das mesinhas de madeira da calçada onde o movimento de apaixonados jamais refreava, ora escrutinando uma xícara de café quente, ora levantando a vista para paquerar o companheiro à mesa. Allie deu pela chegada de Eric. Com seu marido vivo, ela trocou olhares e, logo mais, sorrisos. O viúvo resolveu que seria a última vez que enxergaria seu fantasma e preparou para se despedir efetivamente de suas lembranças. Fechou os olhos, desejou que Allie ficasse em paz e abriu os olhos... Mas Allie seguia estudando-o com um olhar divertido e curioso. Mesmo o convidado à mesa interessara-se e fitava a mesma direção, intrigado com o que raios chamara a atenção da parceira. Eric meneou um cumprimento respeitoso com a cabeça e atravessou a rua serenada. Em algum lugar naquele cantinho de cafés de estilo europeu e hábitos requintados, a voz belíssima de <i>Regina Belle </i>cantava "<i>If I could</i>". Eric fingiu alguns passos ao sabor da fabulosamente triste melodia sem jamais se deter para olhar para trás. Conseguia escutar risadas que se afastavam, possivelmente as de Allie, satisfeita por vê-lo em paz. Agora, sabia que vida e morte eram a mesma coisa desde que se acreditasse piamente na magia e no romantismo datados de tardes como aquela. A morte jamais separava verdadeiros amantes. Apenas precisava-se aceitar os desencontros causados pela mudança de horários, conformar-se a reencontros aparentemente casuais, aprender a ler os sinais. A qualquer momento, o rosto de alguém a quem você amou mais do que a própria vida seria visto de relance à mesa de uma praça de alimentação no shopping ou descendo o trem na estação em horário de grande movimento, quem sabe erguendo-lhe uma xícara de café em um elegante bistrô, discreto cumprimento com sabor de coisa proibida. A morte era uma ilusão, pois mesmo <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">nos </span>mínimos detalhes a vida sugeria que a mágica era a sua própria matéria e a morte não passava da outra face da mesma moeda. À mágica, nada era impossível.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">Os meses escoaram suavemente. Logo se estava às portas de 2011. Kylie e Eric conversavam regularmente, mas não havia sinal do enorme investimento psicológico de outrora, quando <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">existira </span>a questão de sentimentos reprimidos, remorsos, declarações a serem ditas, sensações de oportunidades perdidas, de resgates a honrar. Ao ser lançado de volta à vida, Eric encontrava aquilo que Hammond ressaltara por tantas vezes. Passara a vasculhar dentro de si para encontrar a verdadeira felicidade, utilizando como ferramentas as coisas que compunham o cotidiano, as criações artísticas geradas pela sua imaginação, ou mesmo a maneira carinhosa e dedicada com que cuidava da educação de Charly e Terri. Kylie foi perdendo parte do encanto e agora Eric se sentia mais à vontade, pois podia apreciar sua companhia de igual para igual, liberto da ideia de que para tê-la precisava machucar-se. Ao reencontrar o próprio valor, passou a acreditar que não apenas aprendera com a presença de Kylie na sua vida como também fora uma via de mão dupla. Dudley conseguia repensar a vida sob um olhar mais calibrado e enxergar que servira como o porto seguro para a amiga, algo com que pouquíssimas pessoas contam em suas vidas, o suporte que tantas vezes faz a diferença e emblematiza o empurrão para a mudança radical de rota que a maioria desperdiça. Depois de <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">servir como </span>o porto para o qual Kylie <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">pudera </span>retornar sempre que a vida batia nela como mar revolto no barquinho, havia chegado o momento de deixar de olhar para os outros em busca de salvação, para encontrá-la dentro de si. Com Terri e Charly, aprendia coisas maravilhosas a cada dia, nuances de um novo mundo, ou talvez o mesmo, apenas diferente, pois filtrado pelas lentes da <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">infância</span>. No trabalho, a produção criativa alcançara o ápice e quando Hermione chegou com o papo de que estava preocupada em arrumar-lhe uma nova namorada, respondeu que "<i>o melhor da festa</i> <i>era esperar por ela</i>". <i>Sim</i>, uma companheira atenciosa, agradável e carinhosa adicionaria muito – <i><b>adicionaria</b></i> a algo que já <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">precisava existir </span>dentro de si: o senso de valor inerente a cada um e que dependia somente de Eric e mais ninguém.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: helvetica;">
"<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>Os muito ricos são diferentes de você e de mim</i>", <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">escrevera </span><i>F. Scott Fiztgerald</i><span style="font-style: normal;">, e Kylie Grattan fora a princesinha fascinante que ilustrara a máxima, ao menos no imaginário impressionável do Eric do passado, a "</span><i>Daisy Buchanan</i><span style="font-style: normal;">" na medida para </span>seu <span style="font-style: normal;">"</span><i>Jay Gatsby</i><span style="font-style: normal;">".</span> À medida que a personalidade de Dudley <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">foi </span>mudando, a maneira com que Kylie o enxergava passou pela sua própria transformação e todo o mundo dos ricos e privilegiados tornou-se uma grande bobagem, principalmente levando-se em conta o que existia para além das fantasias, algo muito mais deslumbrante, humano e real. Kylie sentia saudades de sua presença e voz. Ao telefone, quando se despediam, ela não gostava quando tinham de desligar. Quando se encontravam nas mesmas rodas sociais, após as cordialidades e os cumprimentos, ao lhe assistir deixá-la ao bar com Cary para conversar com os outros colegas de publicidade no salão, a desenvoltura de Eric a <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">levava a </span>crer que finalmente poderia vir a perdê-lo. Ela tentava não demonstrar tristeza, mas Cary aprendera a ler nas entrelinhas. Importava-se bastante com Kylie para vê-la definhar apenas por causa da miséria <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">das </span>aparências.</span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Você o ama, Kylie? - Ele perguntou, aos pés de um opulento bar de hotel, em uma noite fria e cheia de luzes, mais uma festa de ostentação qualquer que compunha a semana corrida dos <i>St. Pierre-Grattan</i>. Kylie fez que sim, os olhos marejados. Cary sorriu com compreensão e calor. Abraçou-a e <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">abreviou </span>o dilema: - Então <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">corra </span>atrás dele.</span> <span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span><br />
<br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><span style="font-style: normal;">Eric encontrava-se em </span><i>downtown Toronto</i><span style="font-style: normal;">, no dia da grande virada, para resolver assuntos de última hora. Não estava ali para pegar as comidas e bebidas para a festa da contagem, a senhora Medina já cuidara do </span><i>buffet</i><span style="font-style: normal;"> com a antecedência pertinente à <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">costumeira</span> cautela. </span><i>Pernetinha</i><span style="font-style: normal;"> amanhecera pela segunda manhã espirrando e a veterinária explicou a Eric que a tinha levado no momento certo, pois sem os cuidados, qualquer gripe poderia evoluir para um quadro mais sério. Ela já tinha tomado as doses de antibiótico e agora Eric tentava segurá-la com um braço enquanto abria <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">a porta do carro </span>com o outro. Uma voz familiar chamou seu nome. Kylie descia a escada rolante de uma bem frequentada livraria das redondezas. <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Usava</span> óculos escuros, vestida de maneira muito casual: chinelas de dedo, calça jeans de um azul claro muito desbotado e blusão branco. Sorridente, <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">e</span>la tirou os óculos e lhe deu um abraço cheio de saudades.</span></span> <span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br />
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Oh, o que houve, querida? - Eric indagou, preocupado, o polegar deslizando sobre a mancha roxa de sangue pisado que Kylie exibia no canto do olho direito. O seu narizinho arrebitado também parecia ligeiramente inchado. Kylie deu uma risadinha.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não vá tirar satisfações com o Cary, não foi ele! - Eric também riu. - Não, querido. Lembra-se daqueles dois caras que me viu bater...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Sei, os dois caras que você derrotou no ringue? - Dudley fez ar de quem havia compreendido. - Quer dizer que um deles conseguiu fazer mais do que apanhar?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">- Mais ou menos. Eu o derrotei novamente, mas ele conseguiu conectar um soco antes que eu o derrubasse. - Kylie deu com os ombros e com um sorrisinho sapeca justificou. - Acho que eu esqueci de me esquivar, não?</span><span face=""trebuchet ms" , sans-serif"> </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Mais risos, e então o silêncio constrangedor. Sem os óculos, Kylie permitia a Eric não apenas ver a sua coleção de machucados. Ela, que sempre tivera olhos muito tristes, parecia particularmente arrasada. Eric levou uma das mãos aos seus ombros, uma pequena iniciativa que sinalizou que não existia nada sobre o que não <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">pudessem </span>conversar. A gatinha nos braços foi o ponto de partida para que Kylie retomasse o diálogo. Alisando a cabecinha, elogiou os pelos cinza muito macios e Eric contou as circunstâncias que haviam trazido o animalzinho a sua casa, muitos anos atrás.</span> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Daqui a pouco, completará sete anos. - Eric comentou.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eric, eu não estou mais com Cary. - <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">Por fim, anunciou, levando</span> as mãos delicadas ao peito do publicitário. - Ele é o meu querido amigo desde a época da faculdade. Compreende-me em uma mera troca de olhares. Procurei fazer de conta... - Ela vacilou, mas ao fechar os olhos e respirar profundamente, encontrou coragem para terminar. -... Que eu não sentia a sua falta. É mais do que <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">eu consiga </span>suportar.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Mas... Nós continuamos nos falando e...</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Não é disso que eu estou falando. - Kylie não queria mais se enganar, tampouco deixaria que Eric desperdiçasse um único minuto. - Disse que completará sete anos que Charly trouxe a gatinha? Pois se atentou que faz mais de dez anos que eu e você estamos neste jogo de gostar um do outro e fingir que não? Precisamos de mais dez anos para perceber que esse orgulho bobo não nos levou a lugar algum? - Eric <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">abaixou </span>a cabeça, mas Kylie não aceitou. Forçou-o a encará-la. - Por favor, Eric. Eu não quero ficar sozinha, perguntando-me como teria sido. - Inclinou levemente a cabeça ao lado, cheia de dor, e soltou em um lamento. - Eu te amo, mas não mais pela ideia de você. Amo-o aqui neste instante, em todos os momentos ao meu lado. Não estamos ficando mais jovens, porém os anos se passam sem que consigamos enxergá-los indo embora, e não esperarão pela gente.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-family: helvetica;">- Eu fico feliz que tenha passado a se sentir assim quanto a mim. - Cercou-a com o braço e a deixou apoiar-se ao seu peito e ombros. <i>Pernetinha</i> não custou a protestar com um miado que os lembrou do bichano apertado entre seus corpos. Rindo, Eric passou o polegar sobre o olho roxo de Kylie, removendo as lágrimas, e assinalou. - Eu cuidarei bem da gente. Venha, vamos para casa. A nossa casa. Já se passou tempo suficiente.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: helvetica;">
"<span face=""trebuchet ms" , sans-serif"><i>Os muito ricos são diferentes de você e de mim</i>", <i>Fitzgerald</i> não apenas escrevera para seu conto "<i>The Rich Boy</i>", como também, acredita-se, dissera a <i>Hemingway</i>, que teria retrucado: "<i>Sim. Eles apenas têm mais dinheiro</i>". Apesar de todo o <i>mise-en-scène</i>, Kylie e Eric sempre tinham se sentido de maneira muito semelhante a respeito do outro, e no ar dos ambientes em que haviam circulado e eventualmente se cruzado, perdurara a promessa de que se esbarrariam quantas vezes fossem necessárias até que aprendessem. A vida guardava seu modo especial de surpreender, e muito embora todas as outras ocasiões em que haviam se encontrado tivessem vestido a aparência do extraordinário e grandioso, fora apenas naquela aprazível e ordinária manhã de sexta-feira, quando tinham se visto livres dos padrões elevadíssimos exigidos pelo glamour de melhores hotéis ou de elegantes <i>Ball rooms</i>, que puderam ser exclusivamente eles próprios –<i> Kylie e Eric </i>– livres das versões que terceiros, ou os próprios, faziam de suas próprias pessoas, preparados para descobrirem juntos quem de fato eram. Não demorou aos eventos no aeroporto perderem o impacto sobre Eric. Inicialmente com as lembranças de toda a ação muito frescas <span face=""trebuchet ms" , sans-serif">na</span> memória, logo o <i>link train</i> deixou o seu sistema e sua eletricidade passou a correr exclusivamente pelos trilhos suspensos nos contornos das torres e terminais do aeroporto internacional. O neon da <i>211 Bel Air</i> passou a acompanhar novas almas torturadas por amores impossíveis, os tubos das máquinas de café a esquentar xícaras para outros heróis que preferiam enganar-se pelo espaço de uma madrugada, por <i>todas</i> as madrugadas, a acatar o amor com suas contradições, dores e recompensas. Havia um novo funcionário do outro lado do balcão para servir bebidas quentes e dar conselhos de cautela. Ali pela <i>211</i>, costuma-se cochichar que o mundo é um lugar mágico, e vida e morte são a mesma coisa.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<div style="font-style: normal;">
<br /></div>
<div style="font-style: normal;">
<br /></div>
<i><b>De Brian De Palma, diretor de Vestida para Matar e Dublê de Corpo, chega uma nova razão para se temer a noite. </b></i><br />
<i><b><br /></b></i></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: small;"><b><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">JENNIFER CONNELLY SELMA BLAIR e BURT REYNOLDS</span></b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b><span face=""trebuchet ms" , sans-serif" style="font-size: x-large;">NENHUM PASSO EM FALSO</span></b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><b><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">ANDREW JACOBS RICK HOFFMAN </span></b></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><b><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">com SCOTT SPEEDMAN e CAROLINE DHAVERNAS <span style="font-size: x-small;">como LACY.</span></span></b></span></span><br />
<br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><b><span face=""trebuchet ms" , sans-serif">FIM </span></b></span></span></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
Ary Luiz Dalazen Júnior Salve Mariahttp://www.blogger.com/profile/05930396542549787102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-46496838196763547542019-09-30T13:24:00.000-07:002019-11-29T06:33:22.107-08:00"Sonata de Tóquio" ("Tokyo Sonata", Japão, 2008): O perene chamado de volta à casa restaura os frágeis laços que unem uma doce família japonesa em queda livre, nesta obra-prima do sensível cineasta Kiyoshi Kurosawa.<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWEfLh4gBgzkvUTkXxhWqpCf-VVLyQg3NoRj-NBa2q8bnYNbsnvj4QNQAFo9DxQo4HA3km10RRYetYvJBo8_CaiuL57xlYCWr2Brq5D8aE_Dbbv7IYSvLeFHHbKlAr6RRmyxzFpiDbnh0c/s1600/tokyo-sonata-4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="1499" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWEfLh4gBgzkvUTkXxhWqpCf-VVLyQg3NoRj-NBa2q8bnYNbsnvj4QNQAFo9DxQo4HA3km10RRYetYvJBo8_CaiuL57xlYCWr2Brq5D8aE_Dbbv7IYSvLeFHHbKlAr6RRmyxzFpiDbnh0c/s320/tokyo-sonata-4.jpg" width="320" /></a></div>
<b style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;"><u>Breve sinopse</u></b><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">:
Numa manhã sem novidades no escritório da firma, o executivo </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Ryuhei
Sasaki</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> (</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Teruyuki Kagawa</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">) é chamado à sala do chefe, que não </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">lhe traz boas novas</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Com o Japão </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">desmoronando graças a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">uma das mais agudas crises financeiras de
sua história, as multinacionais japonesas se </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">viram </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">forçadas a "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">enxugar</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" os
gastos com servidores, e como a fusão com os chineses lhes valerá mão de obra barata, muita gente caiu na lista de corte. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">
Ryuhei </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">não pretende se adequar às imposições do escritório, e se vê subitamente desempregado, tendo de carregar as coisas em duas sacolas</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">,</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> caminhando pelas calçadas do centro comercial de Tóquio, sem direção certa. Na mesma
manhã, ele procura uma agência de emprego, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">determinado a encontrar </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">uma posição financeiramente equivalente à anterior</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Ele</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> se surpreende com a fila. Muitos cidadãos japoneses procuram oportunidade</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, pois a crise não poupou <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">nenhum<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a categoria de <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">trabalhador</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Quando a tarde se vai, <i>Ryuhei </i>volta <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">para casa, num típico bairro de classe média, como se nada <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de
muito sério tivesse ocorrido<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Ele</span> omite da esposa, <i>Megumi </i>(<i>Kyoku
Koizum</i>i), a demissão. Eles têm dois filhos: <i>Kenji </i>(<i>Kai Inowaki</i>)
é o garotinho <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">inteligente </span>e m<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">elancólico</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">,
que ao regressar da escola sempre atravessa o caminho do pai ao
desembocarem na <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">calçada </span>que dá para a casa; e <i>Takashi </i>(<i>Yu Koyanagi</i>), o mais
velho, sonha em viver uma grande aventura<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, longe de casa. <i>Ryuhei </i>entrega à <i>Megumi</i> o <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">salário </span>da semana, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">provavelmente ponderando até quando será capaz de manter a farsa e esconder da família<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a preocupante situação.<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> O filme nos apresenta momentos do dia a dia dos <i>Sasaki</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. A</span>os poucos, vamos desvendando <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">dramas e sonhos não necessariamente vocalizados<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Travesso </span>na escola, a rebeldia de <i>Kenji </i>se deve à <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">intransigência de <i>Ryuhei</i>, que ao<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">s filhos reserva pouc<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a atenção e uma dura disciplina</span>. O menino <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">vive atormentando o compreensivo Prof. <i>Kobaiyashi </i>(<i>Kazuya Kojima</i>), amolando-o e o provocando,<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> uma válvula de escape para as tensões <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de casa, principalmente em razão do fato de o professor jamais perder a paciência e o tratar benevolentemente. Uma tarde, ao voltar para casa, uma linda melodia de piano chama a atenção da criança para a sala de estar da casa d<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">p</span>rofessora de <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">música </span><i>Kaneko </i>(<i>Haruka Igawa</i>)<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Tamanha beleza desperta no garoto o interesse pelo piano; contudo, durante o jantar, ao expressar a vontade ao pai, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">é respondido com a recusa de <i>Ryuhei</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. O pai, um homem <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">meio antiquado</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, considera piano uma arte para mulheres<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e proíbe o filho de <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">frequentar </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">as aulas de <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">música. <i>Ryuhei </i>sustenta a farsa de sair de casa toda manhã para fingir que vai à firma, mas seus dias se passam sem grandes novidades. Um dia, próximo à hora do almoço, enquanto espera os voluntários de uma instituição de caridade que provêm refeições a moradores de rua, reconhece <i>Kuroso</i>, um velho amigo dos tempos de escola, por ali passeando. Com muito bom humor, <i>Kuroso </i>o cumprimenta. Ele dá a impressão de um executivo ocupado, tendo de interromper a conversa para atender uma ligação de negócios. <i>Kuroso </i>aponta para as pessoas carentes, e, como quem não soubesse, pergunta do que se trata a fila. <i>Ryuhei </i>também finge desconhecimento, e responde que voluntários providenciam quentinhas para as pessoas mais humildes. <i>Kuroso </i>o convida a se integrarem à fila, afinal seria uma ótima oportunidade de matar a curiosidade quanto ao sabor da refeição. Evidentemente, após a refeição improvisada, enquanto conversam mais à vontade em um canto da praça, os amigos se abrem um ao outro. <i>Ryuhei </i>admite o desemprego; <i>Kuroso </i>também perdeu a posição de destaque há três meses. Como manter as aparências o ajuda a acalmar os nervos, <i>Kuroso </i>programa o celular para chamar regularmente, pois assim transparece a imagem de um executivo ocupado, daí a ligação de há pouco, quando haviam acabado de se encontrar. Ele se torna companheiro de caminhadas de <i>Ryuhei</i>, e, dia após dia, passam a atravessar a cidade de ponta a ponta, em busca de emprego. <i>Ryuhei </i>resiste às oportunidades de colocações mais braçais. O cavalheiro da agência de reposicionamento procura lhe explicar que seria praticamente impossível conseguir um emprego do mesmo nível do anterior. Assim como <i>Ryuhei</i>, <i>Kuroso </i>sustenta as aparências de modo a esconder da mulher e filha o desemprego, e, uma noite, chama <i>Ryuhei </i>para jantar em casa. À mesa, eles conversam como dois colegas de escritório, preocupados com as demandas diárias da firma, uma forma de enganar a esposa e a filha do amigo. Algo no semblante da mulher e da adolescente, entretanto, aponta a suspeita do pior. De fato, ao se escusar para ir ao banheiro para lavar as mãos, <i>Ryuhei </i>é procurado pela adolescente, que o espera do lado de fora. Ao vê-lo, a menina lhe pede para cuidar bem do pai. Enquanto <i>Ryuhei </i>tenta assimilar as regras de sobrevivência, tais como a conta onde deve depositar o seguro-desemprego para fazê-lo durar, os outros membros do lar vivem os próprios dramas. <i>Kenji </i>guarda o dinheiro do lanche e o usa para financiar as aulas de piano. Ele se prova um fantástico aprendiz, e vem a formar uma bonita amizade com a professora, uma mulher muito deprimida, traumatizada por um turbulento divórcio. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Sempre serena, <i>Megumi</i>, que pass<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ou a vida cuidando de casa, ensaia seus primeiros passos rumo à independência ao obter sucesso no exame de direção e receber a carta de motorista, uma metáfora para desejos de juventude irrealizados, quando o mundo estivera ao seu alcance e a vida se resumia ao futuro. Ela tenta mediar o<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">s conflitos entre o amargurado <i>Ryuhei </i>e os filhos, mas nem sempre consegue evitar os atritos, e sua fortaleza emocional mascara um lado triste e carente. Eventualmente, <i>Takashi </i>embarca na tão sonhada aventura além-mar, contra o<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">desejo do pai, mas ajudado pelo suporte da mãe, e <i>Kenji </i>passa a se aperfeiçoar no piano com a professora <i>Kaneko</i>. À medida que <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a dura realidade </span>segue se assomando<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> diante da família, tornando cada vez mais insustentável a farsa de <i>Ryuhei </i>e testando o comprometimento de todos para com os valores do lar<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, os <i>Sasaki </i>entendem que por mais que a sequência de adversidades os afaste de maneira a torná-los átomos soltos, seus corações insistem em levá-los de volta à casa, onde reside seu melhor tesouro.</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilsQTqEAzs9GDIC1O7OQXQmRsG-7F6orCTCVWZsE_z_t_i2b3hGdtPmK6lH_u2z9zhO4w5eIhhzvowIKmN52_AXIjIqIytBlMAHp57dC6uASTjHWbOHVDovq7nBD3VsYq8yLDmBwdTR0rl/s1600/tokyo-sonata-3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="1499" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilsQTqEAzs9GDIC1O7OQXQmRsG-7F6orCTCVWZsE_z_t_i2b3hGdtPmK6lH_u2z9zhO4w5eIhhzvowIKmN52_AXIjIqIytBlMAHp57dC6uASTjHWbOHVDovq7nBD3VsYq8yLDmBwdTR0rl/s320/tokyo-sonata-3.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><u>Resenha</u></b>: O talentoso cineasta <i>Kiyoshi Kurosawa</i>, celebrado pelos perturbadores filmes de horror fantástico, rejeita o
rótulo de diretor de gênero, e realiza um drama sensacional. Com sensibilidade agridoce, ele retrata a inter-relação de dois mundos
aparentemente indissociáveis: o microcosmo das relações familiares inserido no <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">macrocosmo</span> dos problemas sociais de nosso tempo, em especial
da sociedade nipônica, onde as emoções tendem a ser empurradas ao
âmbito mais íntimo, num artifício de enclausurá-las, com consequências
sufocantes. Apreciadores do terror japonês reconhecem o nome do talentoso cineasta, responsável por um dos
melhores exemplares do gênero, "<i>Kairo</i>", já resenhado há alguns anos neste blog. Após "<i>Kairo</i>", rodado em 2001, <i>Kurosawa </i>revisitou
o horror com frequência, sempre lançando mão de abordagens gradualmente delicadas, dando às obras uma contundência existencial
engrandecedora, num processo semelhante ao acontecido ao cineasta <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Brian De Palma</i></span>, que num espaço de praticamente quinze anos foi da
escatologia à tétrica elegância de "<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Vestida para Matar</i></span>". Se
prestarmos atenção ao primeiro grande momento do Sr. <i>Kurosawa</i>, o suspense "<i>Cure</i>",
de 1997, sobre um detetive psicologicamente exaurido à caça de um
serial killer, pontuaremos sua preocupação em evocar uma sensação de
abstração intelectual, num estilo reminiscente do saudoso <i>Andrei Tarkovski</i>,
e, a partir daí, trabalhar os elementos mais usuais do gênero. A adaptação de ambições artísticas tão ímpares a fórmulas consagradas do horror
resultou em filmes maravilhosos, sendo "<i>Kairo</i>" seu mais elogiado
momento, possivelmente o trabalho responsável por tê-lo colocado no mapa dos
grandes diretores contemporâneos. À medida que a filmografia foi
crescendo, o terror foi perdendo a importância, e se em "<i>Kairo</i>" já
se observava a assertividade do diretor ao analisar a alienação do homem moderno,
foram nas obras seguintes que ele verdadeiramente lapidou a sensibilidade, livre das amarras das expectativas geradas pelo
passado no cinema fantástico. Recebido com aclamação pela crítica, "<i>Sonata em Tóquio</i>" foi o grande vencedor do conceituado prêmio do juri "<i>Un certain regard</i>" do festival de cinema de Cannes de 2008. Entre tantos elogios, nenhuma resenha o definiu tão bem quanto a do sr. <i>Tom Mes</i>, do "<i>Midnight Eye</i>", ao acenar ao passado de <i>Kurosawa </i>para saudar
seu mais profícuo período, encontrando, no exercício comparativo, pontos
de correlação entre o horror fantástico & o drama existencial. Sr. <i>Tom Mes </i>escreve: "<i>'Sonata em Tóquio' é a epítome das
qualidades cinematográficas de Kurosawa. Conforme mencionei, o filme não
contém elementos s<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">obre</span>naturais: nada de fantasmas, assassinos, ou fauna
& flora monstruosas. Ainda assim, é o filme mais aterrorizante
rodado pelo Sr. Kiyoshi Kurosawa: é aterrorizante, pois se trata de nós</i>".</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Certos
filmes gozam de uma certa inflexão na tristeza que lhes valem vantagem. Ao assistir a determinadas histórias, não há nenhum momento onde você se recorde de ter se debulhado em lágrimas; entretanto, elas permanecem contigo muito após a exibição. Eu me recordo
de ter me sentido semelhante ao ver "<i>Antes do Pôr do Sol</i>", a sequência de
"<i>Antes do Amanhecer</i>". O americano vivido pelo ator <i>Ethan Hawke</i> escreve
um romance baseado no belo encontro ocorrido dez anos antes, em 1994, com
uma jovem parisiense, e no último dia de tour na Cidade da Luz para a promoção da obra, é visitado pela mesma pessoa, hoje uma mulher aos trinta e poucos. Eles têm apenas uma tarde até a hora
do voo do escritor para conversar, e ao longo do dia, com Paris a
ocupar gloriosamente o pano de fundo, trocam reminiscências daquele dia tão longínquo, formando dentro de si a convicção de que o
reencontro não foi mero fruto de acaso, mas uma grande oportunidade de recomeço. Recheado
por instantes psicologicamente ricos, "<i>Antes do Pôr do Sol</i>" permanece na memória
graças a uma pletora de momentos muito contundentes, como quando a mulher afirma não apenas se recordar de todos os passos daquele dia em 1994, como também se lembrar especialmente do modo como a luz do sol brilhou no
cavanhaque do rapaz, "<i>na manhã em que você partiu</i>"; ou quando, ao chegar
a hora da despedida, depois de o rapaz tê-la deixado no condomínio, e culminarem no jardim, a moça vê seu gato entre as flores, e fala algo nas
linhas de "<i>Você sabe o que eu mais admiro nele? É que toda manhã, olha
para esse jardim como se fosse pela primeira vez</i>". Você provavelmente definiria o filme como uma interessante história, mas algo intrigante acontece:
uma, duas semanas mais tarde, você se dá conta de que fica
insistentemente revisitando passagens como as mencionadas acima, num processo de reciclagem
de uma serena, silenciosa e elegante melancolia. Poucos filmes deixam marcas tão profundas. Eu citaria os documentários "<i>A Ponte</i>", de <i>Eric Steel</i>, e o
recente, magistral "<i>Gatos</i>" como duas obras cinematográficas capazes de
evocar sentimentos muito poderosos, de sorte a terem sua melancolia
distribuída a posteriori. "<i>Sonata de Tóquio</i>" une-se ao
panteão da concorrida lista, e faz do tempo seu melhor aliado para
reafirmar o poder de mensagem & voz. Ao assistir à história da
família japonesa pela primeira vez, nada de muito espetacular salta aos olhos; contudo, diferente do que acontece à maioria dos filmes, no
caso deste drama do sr. <i>Kiyoshi Kurosawa</i>, a força da mensagem consiste
na determinação com a qual a trama simplesmente se recusa a deixar nossas cabeças, bem como ocorre à vida real, consoante, aliás, o próprio
personagem do sr. <i>Ethan Hawke</i> explica, na introdução de "<i>Antes do Pôr do
Sol</i>". Ele discorria sobre como, embora sua jornada não tivesse sido recheada de intriga política ou perseguições em alta velocidade, soava ainda mais interessante pela magia por trás da suposta "<i>previsibilidade</i>". O que o movera a
escrever o livro fora justamente a tentativa de resgatar, capturar um desses eventos simples e mágicos, mais exatamente o
encontro no trem para Viena com a moça parisiense em 1994, afinal, a seu
ver, era ali onde se escondia seu <i>joie de vivre</i>, e a vida se engrandecia nos momentos
especiais mascarados por trás da impressão de ordinariedade. "<i>Sonata de
Tóquio</i>" foi concebido nessa batida. Não há nada de particularmente
intrigante ou fora de série na jornada dos <i>Sasaki</i>, mas seu arco
permanece conosco, ajudando-nos a enxergar muito de nós mesmos por uma
ótica mais gentil e compassiva. O sr. <i>Kurosawa </i>não arma um dramalhão para
descortinar o infortúnio do desemprego e da depressão, preferindo a
discrição do silêncio para nos convidar a refletir sobre uma dor capaz de levar um cidadão aparentemente forte como o amigo <i>Kuroso</i><i> </i>a dar cabo de si e da mulher. <i>Kuroso </i>é um personagem secundário, porém sua relação com <i>Ryuhei </i>se destaca como a melhor parte da primeira hora de projeção. Em suas andanças, eles parecem homens à espera da redenção, e a amizade resgatada aperfeiçoa-se através dos ensinamentos professados pelo amigo, desempregado há mais tempo e, consequentemente, familiarizado com os esquemas e a etiqueta para "<i>continuar respirando</i>", um dia de cada vez, aguardando a manhã na qual será contemplado com uma vaga. A cena na qual <i>Ryuhei </i>vai procurá-lo em casa, e a vizinha lhe conta que <i>Kuroso </i>se suicidou com a esposa através do vazamento proposital de gás, na data anterior, encapsula o sentimento de tristeza enrustida que faz da história da família uma jornada tão imprevisível e tocante: antes de voltar para casa após um dia de notícias horrendas, <i>Ryuhei </i>força-se sorrisos, ensaiando-os ansiosamente antes de abrir a porta, como uma marionete que precisa macaquear felicidade antes de entrar no palco, quando, na verdade, começa a duvidar seriamente se ele não será o próximo. Outra semelhante cena ocorre na sequência em que a Sr. ª <i>Megumi </i>sonha com a visita do filho, após a estadia além-mar a serviço das forças armadas americanas, e o recebe de volta como um homem mudado, triste e metido em introspecção. Após o mau presságio, ela desperta do pesadelo com o coração aflito, preocupada com os paradeiros do rapaz, e tenta contatar oficiais das forças armadas capazes de lhe dar notícias de <i>Takashi</i>. Ela não quer que o desejo de desbravar o mundo, tão <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">próprio a</span>os jovens, acarrete sequelas psicológicas ao filho. O sonho incute medo, quase como um<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> aviso premonitório</span>.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtC0SUd4sFs1ZWqoTnZ5CsTZ76irF-y5peMad44umOuzCh5aL3aobZbTO1_OW2rtAx60YK2fPdxgzxK7nK8fXlt50tXElbr53sjQrzx3MUeOkjm9R3SP178FRKptpiwa4Kc86Cu1nz7gFH/s1600/filme-tokyo-sonata-drama.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="585" data-original-width="877" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtC0SUd4sFs1ZWqoTnZ5CsTZ76irF-y5peMad44umOuzCh5aL3aobZbTO1_OW2rtAx60YK2fPdxgzxK7nK8fXlt50tXElbr53sjQrzx3MUeOkjm9R3SP178FRKptpiwa4Kc86Cu1nz7gFH/s320/filme-tokyo-sonata-drama.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Muitas
pessoas apontam aos elementos puramente </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">orientais ao
discorrerem sobre a excelência de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sonata de Tóquio</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. R</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">espeitosamente, penso de maneira </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">diversa</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. O drama dos <i>Sasaki </i>transcende</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> origens </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">culturais, e fala a qualquer </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pessoa </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a
um nível muito íntimo e familiar. Eu vislumbro, por exemplo, similaridades entre este
filme do sr. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Kurosawa </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">O Quarto do Filho</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", do italiano </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Nanni Moretti</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Ao passo que os dramas se </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">dão </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">em </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">realidades <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">cultura<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">lmente distintas</span></span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">as pessoas experimentam perda e dor de forma parecida. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Se, em última análise, "<i>Sonata de Tóquio</i>" enfoca a resiliência do espírito humano<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">,
"<i>O Quarto do Filho</i>" também <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">revolve </span>uma história de sobrevivência, ao
nos <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">apresentar `</span>a saga de uma família italiana - o psicanalista <i>Giovanni</i>, a
editora de moda <i>Paola</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e a filha <i>Irene </i>- que, de uma hora para a outra, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se veem surpreendidos </span>pela fatalidade, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">quando o f<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ilho <i>Andreas </i>sai com os amigos para mergulhar depois que o pai precisa atender a uma consulta de últi<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ma hora, e acaba se afog<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ando dentro de uma gruta. A morte inesperada subitamente escancara aos olhos da família a <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">efemeridade </span>da segurança com a qual contavam para alicerçar <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o dia a dia</span>, e
eles precisam desbravar uma nova direção,
descobrindo, na jornada, se são fortes o suficiente para permanecerem
juntos <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">após a tragédia</span>. "<i>Sonata de Tóquio</i>" explora um outro manancial de dores, o do desemprego, o da falta de alento de um homem incapaz de
prover pela família<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">; porém, </span>seja pela perda de um ente querido como no
caso de "<i>O Quarto do Filho</i>", seja pela impossibilidade de cuidar da família como em "<i>Sonata de Tóquio</i>", é quando o homem chega ao fundo
do poço, não tem como cair mais fundo, perde todos os amigos, e junto a eles os álibis, que
passa a desvendar os mistérios fundamentais da vida. Ambos os
filmes, dessemelhantes que sejam, pertencem à
mesma classe dramática, explorações <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">da inconstância humana</span> filmad<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span>s por
cineastas de poética alma, capazes de capturar camadas e nuances de tragédia. Ao passo que<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, muito provavelmente, o sr. <i>Kurosawa </i>tenha realizado "<i>Sonata de Tóquio</i>" sem influência alg<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">uma de "<i>O Quarto do Filho</i>", é muito revelador que haja tantos <i>insights </i>em comum<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, independente das culturas <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">que os tenha gestado</span>. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">As <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">etapas da jornada dos <i>Sasaki </i>não diferem das da jornada dos italianos<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Ele<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">s iniciam <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a longa caminhada à recuperação confusos e <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">acuados</span>, e só <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">depois de</span> um lento processo <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ca<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">t<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ártico <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">libertação </span>da dor e juntada dos cacos, redescobrem um denominador comum a partir do qual podem sonhar com <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">uma nova vida ainda que imperfeitamente juntos. Durante o período mais delicado do luto, em amb<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">as as produções, raramente se vê os<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> membros da família pelo mesmo enquadramento: cada um se mete no seu espaço seguro para sofrer<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> isoladamente, à medida que os laços vão se desfazendo<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, tornando o que antes era uma família num arregimentado de pessoas sem identidade, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a </span>não ser pelo horror<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> do desemprego ("<i>Sonata de T</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>óquio</i>")
ou da morte ("<i>O Quarto do Filho</i>"). Há uma cena emocionalmente idêntica ao desfecho do filme italiano, quando a Sr. ª <i>Megumi </i>leva o filho à rodoviária e permanece ao <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">lado do rapaz</span>, à espera <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">da <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">partida </span>do </span>ônibus. No momento da despedida, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">p</span>ouco é dito com palavras, mas quando pela janela ele presta continência à mãe, à medida que o ônibus vai se afastando, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ocorre-nos que nada pode ser tão bem expressado quanto olhos marejados</span>. Por falar em semelhanças, curiosamente, ambos os filmes recorrem, no segmento final, à aparição de um personagem inesperado para ajudar as famílias a enxergarem seus dilemas sob refrescante perspectiva. Em "<i>O Quarto do Filho</i>", <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a </span>namorada do menino morto surge para visitá-lo, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e </span>a família, surpreendida pela visita, a informa do afogamento. Ela está somente de passagem, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">então </span>a levam à fronteira da Itália com a França, em uma viagem através da autoestrada ao longo da madrugada. Enquanto os meninos (a filha, a<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> ex-namorada do menino morto e um colega)</span> dormem no banco detrás, o psicanalista e a esposa têm a oportunidade de conversarem melhor e fazer as pazes. Ao fim, ao sabor <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">da visão do de<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sl</span>umbrante céu da manhã</span>, tendo chegado à fronteira com a França, a família é vista <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">dentro <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">do</span></span> mesmo frame. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">No caso de </span>"<i>Sonata de Tóquio</i>", a Sr. ª <i>Megumi </i>é surpreendida pela invasão de um assaltante. Apesar do susto inicial, o ladrão revela-se um atrapalhado amador, um sujeito meio bobão, sem verdadeira maldade dentro de si: ele a "<i>sequestra</i>" e a leva a uma praia, ironicamente por insistência da pobre dona de casa, e não sua! Com o estranho, a Sr. ª <i>Megumi </i>se abre sobre a própria tristeza, e, enquanto ela dorme à beira do mar, no curso da madrugada, um bonito sentimento redentor brota no assaltante trapalhão, que se dá conta da própria estupidez, e desiste do crime. Ele abandona o carro ali mesmo na praia, e resolve voltar à vida de sempre, por mais difíceis que sejam as necessidades materiais de qualquer homem honesto. Até aquele instante, a </span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Sr. ª <i>Megumi </i>estava pronta para desistir de casa, da vida, mas por uma surpresa do destino, conseguiu recobrar os sentidos sobre o valor das coisas que tolamente cogitara abandonar. Naquela mesma noite, <i>Ryuhei </i>vaga pela sarjeta, tomado pela desesperança, também determinado a não regressar. Ele chega a dormir nos becos, entre latas de lixo. <i>Kenji </i>se mete numa aventura, ao tentar ajudar um amiguinho a fugir de casa; felizmente, o pai do garoto impede a fuga, e <i>Kenji</i>, trancado no mutismo graças à depressão, passa uma noite no distrito policial, ao se recusar a contar aos policiais quem são os seus pais ou fornecer qualquer número de telefone dos responsáveis. Depois desse período de desencontros, como por uma graça de Deus, os <i>Sasaki </i>conseguem se reunir à mesa para o café na manhã seguinte. Algum tempo se vai, e ao reencontrarmos <i>Ryuhei</i>, o vemos melhor aclimatado ao trabalho de limpeza no shopping. A família atende ao concerto de <i>Kenji</i>, e ele performa divinamente. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Após o exaurimento do luto, assim como se vê numa manhã ensolarada </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">após </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a passagem da torm</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">enta, as famílias dos dois filmes finalmente <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">desembocam no</span> mesmo quadro, como unidade: eles <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sobreviveram, e alcançaram a aceitação</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">.
Quando os créditos sobem, só Deus sabe como se reorganizarão, porém, ao menos, atravessaram a tormenta, e estão genuinamente juntos após muito tempo, mesmo em face de todas as adversidades que a vida lançou sobre seus <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">colos.</span></span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhT4-SzGGhUE7bIM6gPXitIU3gGMWcsOahngGJBmmkHxqBJLxYzw13GvjdPrXuAE5sQbgSOvW8-jkJP1WtWh1AAm_WXmeUoGdeDfd5Os1q-0hsW0Pxt0fVSJzvqgM4RTW1eX5eOUrY0JUkV/s1600/refilmagem-pet-sematary.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1001" data-original-width="1500" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhT4-SzGGhUE7bIM6gPXitIU3gGMWcsOahngGJBmmkHxqBJLxYzw13GvjdPrXuAE5sQbgSOvW8-jkJP1WtWh1AAm_WXmeUoGdeDfd5Os1q-0hsW0Pxt0fVSJzvqgM4RTW1eX5eOUrY0JUkV/s320/refilmagem-pet-sematary.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sonata de Tóquio</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" é um </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">lindo filme</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> cujo impacto depõe sobre a desintegração das relações de nosso tempo. Ao passo que </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">nos mostra uma difícil, dolorosa história </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a respeito das consequências</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> destr</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">utiv</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">s e desagregador</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">s do desemprego</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, também nos permite redescobrir o redentor poder curativo </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">existente ao menos potencialmente em todo lar. O filme não </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">apresenta</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> soluções fáceis, e o desfecho pouco acrescenta quanto `a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">inédita </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">realidade financeira dos </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sasaki</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">; entretanto, o cineasta </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Kiyoshi Kurosawa</i> <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sublima o apego a</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> respostas, e se foca na essência</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Se nem mesmo os </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sasaki </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">parecem muito preocupados em conseguir um desfecho </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">redondinho; por que haveríamos de nos importar? Ora, a mensagem do filme reside na lição d</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">as coisas realmente duradouras</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">entre elas </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a família, que teria de justificar as mais importantes escolhas que tomamos. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Independente de quão preparado </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o indivíduo </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se ache</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, a tragédia sempre dará um jeito de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">visitá</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">-lo. A janela de vida humana </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">transcorre </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">repleta de dramas e impasses, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e a tentativa de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">driblar </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a infelicidade deságua </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">em situações ainda mais gravosas</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Pouco importa, pois a questão sequer precisa de um debate mais aprofundado: simplesmente, felicidade neste mundo </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">é uma ilusão fugaz, e mesmo que não a fosse</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, seria </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">parcial, tênue, e nos abandonaria na hora da morte. A família</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, unida ou em crise, destaca-se como o denominador </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">da tocante jornada dos </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sasaki</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> porque </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mesmo em face da inevitabilidade da dor</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, a casa para onde voltamos no fim da tarde</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> vale muito mais do que os dissabores do lado </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de cá</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. A constatação remonta à parábola do filho pródigo. Indiferente </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">quantos elementos da história </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">variem </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ao sabor </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">do tempo, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a espinha dorsal </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">permanece</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> inalterada</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, aplicando-se aos lares de diferentes épocas</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. P</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">or mais diligente que um homem se </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">conduza quanto a questões de família, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">inevitavelmente, a tragédia ou o encontrará, ou tocará um dos seus. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Do mesmo jeito que ocorre a "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sonata de Tóquio</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", o tamanho da dor jamais obliterará o propósito da mesma</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">: o que importa,</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;"> isto sim</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, é a resposta à chegada da tragédia. Na parábola do filho pródigo, conforme afirma o evangelho de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">São Lucas</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, o filho mais </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">novo </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pede </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">parte da herança e </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">vai embora</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Ele desperdiça a herança financiando prazeres efêmeros e ilícitos, e, tendo perdido as posses,</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> aprende que nada suprirá seu vazio. Ele precisa regressar para casa. Ao invés de rejeitá-lo, o pai</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">reage com alegria por tê-lo de volta após tantos anos. Eu percebi a flexibilidade e a maleabilidade </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">da <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">parábola</span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, adaptável a qualquer </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">tempo, porque tanto ontem quanto hoje jamais </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se foge da dor</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Até </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o homem que tenha preservado a família e caminhado pelas veredas do Senhor</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> não se livrará de seu gosto azedo. Ainda que crie bem </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">os filhos, os eduque na vontade de Deus, a inconstância da vida não lhe garantirá, por exemplo, que um deles </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">não</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">enveredará </span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">por um mau caminho</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Nesse ex</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ato ponto, todavia, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">enxerga-se melhor </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o pilar da </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">parábola do filho pródigo</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. N</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o frigir dos ovos, só uma questão </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">importa</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">: quando a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">vida vier para cima</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e ela virá, você terá um</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">plano? U</span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">m lar para </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">onde voltar? Algum tempo atrás, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">p</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">or mais que um</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> jovem </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">deix<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">asse</span> </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sua casa completamente </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">embriagado pelas ilusões do mundo, por mais que se </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">entreg<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">asse</span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> às </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">seduções <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">passageiras </span>com que </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">espírito deste <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">tempo</span></span> <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">nos <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">bombardeia </span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a cada volta, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">uma vez que a vida </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">viesse </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">com toda a fúria para cima</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e ele </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">saísse chamuscado </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">dos horrores, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sempre haveria o consolo de um lar a esperar pacientemente o retorno</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Se </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a família permaneceu, até os párias, após uma existência na sarjeta, não morrem sozinhos</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Eles morrem</span> <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">nos braços dos pais</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">consolado </span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pel</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o calor humano de seus parentes</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Hoje, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">poucos </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se recordariam do caminho de volta a suas casas</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">; famílias foram </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">premeditadamente </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">encorajadas à dissolução pelas <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mentiras ardilosas do "<i>espírito deste temp</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>o</i>"</span></span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o lar restou pulverizado</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> em núcleos sem verdadeira </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">conexão</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sonata de Tóquio</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" me comoveu por </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">abordar </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o drama com muita sinceridade</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e a maestria com a qual o diretor </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Kiyoshi Kurosawa</i> <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">re</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">alça a importância da casa</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> como o último bastião contra o avanço da desumanização lhe vale</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> o merecimento de uma fatia maior de público</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Recentemente, eu assisti a "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Pet Sematary</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" (<i>foto</i>), a nova versão do aterrorizante romance do escritor <i>Stephen King</i>. Pela maior parte da vida até há pouco tempo, eu </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">apreciei filmes de horror. Uma de minhas alegrias</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> era imaginar como diretores e atores concebiam aquelas imagens cheias de luzes, cores e imaginação. H</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">oje, penso diferente. Uma vez que se desperta para a vida, e tendo eu retornado aos bancos da igreja para onde minha avó me levara na infância, afastei-me daqueles filmes por ter ganho discernimento quanto aos perigos instilados por suas "<i>fantasias inofensivas</i>". Os</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> anos se passam, e por mais que quando criança tenha</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mos apreciado certas coisas</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, você vê que, independente do número de voltas e desencontros, a vida acaba te levando ao Senhor como centro do universo</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, apartando</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">-o<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">das efemeridades</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, conforme </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">preconiza </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Coríntios</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">: "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança; desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". Assim como fiz a fitas e discos de filmes, também atirei fora os pôsteres que até aquela altura haviam decorado as paredes do gabinete. Quando eu menos esperava, tolices que um dia haviam sido tão fundamentais tinham perdido a razão de existir: eu estava enjoado de ver os mesmos rostos todo santo dia. As pessoas nas imagens, eu vim a perceber, haviam sido "<i>avatares</i>" de gente real aos quais eu me apegara quando criança para suprir um vazio, mas então meus olhos se abriram ao fato de que tanto as estrelas de cinema quanto as figuras cujos lugares haviam tomado não só eram seres imperfeitos e problemáticos, como também jamais me dariam o que um único minuto da eucaristia faria por mim sem pedir nada em troca. A aprovação deles não significava mais coisa alguma. Agora, embora cinema não me valha nada, quando penso em me entreter, ainda lhe concedo algum tempo: vou à Paulinas e procuro conteúdo realmente agregador, tais como a vida de São <i>Filipe Neri </i>ou a de Santo <i>Padre Pio</i>. Abri uma exceção, obviamente, a</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o novo "<i>Pet Sematary</i>" pelos valores inesperadamente católicos encontrados tanto no romance original quanto no saudoso, extraordinário filme de 1989</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">:</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> ali, não se tratava de horror, e sim, em última análise, d</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e um poderoso testemunho da resiliência d</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a família quando sob </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ataque </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de uma entidade demoníaca obstinada a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">arruiná-la. Como arma para </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">seduz<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">i-la à destruição</span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, o demônio se serve d</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a sugestionabilidade humana ante a morte, prometendo um</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> "<i>atalho</i>" para burlá-la, na forma da terra para além dos bosques, originalmente ocupada pelos índios Micmacs, onde</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> tudo aquilo que se põe para </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>descansar</i></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" acaba voltando para você. Quando a família é testada por uma tragédia (o atropelamento de uma criança por uma carreta), o demônio logo vem lhes sussurrar no ouvido para "<i>retomarem a felicidade</i>", enterrando o menino naquela terra. Embora contasse com momentos genuinamente apavorantes, no cerne, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"<i>Pet Sematary</i>" ainda é uma obra atual</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> pela riqueza psico</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">lógica dos personagens e pela descrição muito intensa do stress que atravessam. Com adorável as</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sertividade, o sr. <i>St</i></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>ephen King</i> discorria sobre a vida d</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">os protagonistas com amável sensibilidade. Ele </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">nos </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">cativava ao descrever </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">momentos a partir dos quais os personagens se tornavam gente como a gente. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A relação de <i>Lo</i></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>uis </i>e <i>Rachel</i>, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o rochedo da história, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">era destrinchada de modo a nos vermos inseridos nos dramas do dia a dia do casal, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">gente jovem aos trinta e poucos anos de idade, procurando manter viva a chama do romance em meio às demandas do trabalho do homem como médi</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">co do campus de uma cidadezinha do interior e dos afazeres </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">diários da</span> mulher <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">como mãe de duas crianças pequenas e levadas. Quando a tragédia bate à porta, já estamos emocionalmente investidos na jornada da família, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">projetando em <i>Louis </i>e <i>Rachel </i></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">facetas de nossas próprias personalidades. Além de escrever honestamente sobre a identidade de uma família, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o sr. <i>Stephen King</i> também narra muito realisticamente </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a desesperada luta d</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">os protagonistas contra uma força espiritual </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">cuja natureza não se compreende </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">claramente</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, porém que </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se serve d</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">artifício </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">inventado pelo</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> demônio, a promessa da felicidade. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A terra para depois do bosque "<i>promete</i>" </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">devolver um ente querido, mas jamais o entrega "<i>completamente</i>", pois parte do "<i>espírito dos ares</i>" volta servindo-se do corpo como "</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>veículo</i>". O demônio não precisa de fisicalidade para influenciar a vida da família, basta-lhe </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">quela parte de nós que verdadeiramente deseja suprir a angústia existencial com coisas ou pessoas, por mais lícito que seja amá-las</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Ele apenas ri e aguarda pacientemente;</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> quem efetivamente introduz a cadeia de trágicos eventos é o protagonista</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">convicto de que, enquanto </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a nenhuma outra pessoa a felicidade se</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">assomou</span>, o<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">correrá </span>diferente no seu caso. Quanto ao mérito do filme, eu apreciei a refilmagem, com certas ressalvas<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Infelizmente</span>, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o impacto e a drama<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ticidade da história origina<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">l <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pareceram<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">-<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">me</span></span></span></span></span></span></span></span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> diluíd<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o</span>s em favor de um ritmo mais <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">movimentado </span>e escancaradamente apavorante. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O </span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">novo filme cumpre <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o esperado pela nova geração: os realizadores adaptaram a trama ao século XXI, de modo a <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">desovar </span>um espetáculo de horror <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">desenfreado</span>, enfatizando as inesquecíveis aparições da irmã de <i>Rachel</i>, <i>Zelda</i>, morta em decorrência de meningite. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O original, todavia, perdura como a melhor versão, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">afinal de contas, suas ambições jamais giraram em torno d<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o puro terror</span>. Sim, tínhamos uma cadeia de eventos aterrorizantes; entreta<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">nto, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mais do que um mero filme de horror, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">trata<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">va-se de </span></span>um tocante drama <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">assolado </span>por </span>acontecimentos horrorosos, e não o caminho inverso proposto pelos <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">diretores da versão de <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">agora</span>. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">E</span>u tive de citar "<i>Pet Sematary</i>" para contrapor as visões <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">das épocas distintas das produções do original & refilmagem, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e revelar </span>o <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">olhar m<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ais pujante do <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">primeiro quanto </span>a questões de família, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a espinha dorsal de qualquer boa história. É uma obra de ficção, mas sua descrição do mal, principalmente na versão literária, onde adquire contornos mais intangíveis, confere perfeitamente com a verdade, com a forma como ele age em nossas vidas, o que naturalmente me faz escrever sobre dois casos muito reais a partir dos quais compreende-se melhor <i>São Paulo</i>, ao escrever, em <i>Efésios</i>: "<i>Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais</i>". Ao se compreender melhor os fatos da vida, você percebe que a existência de demônios nada tem a ver com as formas icônicas a povoarem o imaginário moderno. Um indivíduo como <i>Anton Lavey</i> emblematizaria essa percepção exacerbada, mas nada é mais distante da realidade. Trata-se de uma filosofia de vida muito bem estruturada onde seus integrantes acreditam piamente na atuação objetiva do demônio. Eles desprezam o comportamento e as crenças dos desajustados que tomam por satanismo vestir-se de túnicas pretas e oferecer sacrifícios. Os verdadeiros satanistas genuinamente creem na força criativa do Mal, que apenas desejaria nos salvar da "<i>infância evolutiva</i>" para cumprirmos nosso potencial, tornando-nos "<i>como Deus</i>". Eu creio que a descrição mais acertada dessa gente foi dada pelo sr. <i>Stanley Kubrick</i> ao rodar "<i>De Olhos Bem Fechados</i>", em duas prolongadas cenas, para ser mais específico: aquela que abre o filme, a festa de Natal de <i>Victor Ziegler</i>, e a da orgia. Estilísticos, charmosos, inteligentíssimos, refinados, lindos, bem-humorados e no topo da hierarquia social: esses são os verdadeiros satanistas que sabem que anjos decaídos não são "<i>figuras de linguagem</i>", verdadeiramente existem, apenas não da forma ridícula como o imaginário popular criou para lidar com algo além da capacidade de compreensão. Pensamos através de "<i>signos</i>": se eu digo a palavra "<i>gato</i>", você consegue pensar num felino, pois usa partes de vários gatos que viu antes para construir uma imagem associada à palavra. Entretanto, como fica se eu falar sobre "<i>anjos</i>"? "A<i>njo</i>" refere-se a uma criatura que, na escala da criação, encontra-se muito acima do homem. Nem de corpo precisa, pois foi concebida espiritualmente. Sendo assim, guarda uma inteligência infinitamente superior, e conhece as coisas intuitivamente; anjos não são como a gente, que precisamos aprender e conhecer a verdade gradualmente. Anjos, mesmo os decaídos, de tudo sabiam, do princípio ao fim, pois lhes foi apresentado o plano de Deus. Alguns escolheram não servir, "<i>non serviant</i>": Deus não criou o diabo, Deus criou um anjo chamado <i>Lúcifer </i>e desejou o bem, foi <i>Lúcifer </i>quem "<i>criou</i>" <i>Satanás </i>ao cair. Simultaneamente, não experimentam sensações que somente nós, em nossa maravilhosa, doce vulnerabilidade, somos capazes de sentir, de provar: eles ignoram, por exemplo, o que seria se deliciar com uma torta de chocolate, ou até mesmo amar. Ao mesmo tempo, possuem algumas semelhanças conosco, e as usam para nos perder. Anjos decaídos entendem soberba, sabem o que é sentir inveja, orgulho. Dentre todos, o querubim que é o chefe deles é quem mais sofre, pois tendo sido criado tão belo, não suportou que a seres tão imperfeitos e falíveis como nós Deus tivesse reservado puro amor, a ponto de se rebaixar e morrer pregado num monte de tábuas vagabundas apenas para nos mostrar o alcance de Seu convite salvífico. Embora pareça uma constatação tão extraordinária, quando olhamos para as vidas de homens como o sr. <i>Joseph Sciambra</i> e o sr. <i>Joe Martinez</i>, sobre cujos casos discorrerei adiante, familiarizamo-nos com essas coisas mesmo que só indiretamente, dado o paradoxo de sua natureza. Sempre pensei nisto: formigas existem e foram criadas de determinada forma. Agora, se pegássemos uma só formiga e passássemos a vida tentando lhe transmitir que dois mais dois são quatro, elas jamais entenderiam. Sua capacidade não alcança uma verdade tão indiscutivelmente simples quanto a de uma operação matemática elementar. Nós somos a formiga; essas coisas são mais do que "<i>Matemática Básica</i>", elas são "<i>Cálculo Integral</i>", "<i>Matemática Estrutural</i>", infinitamente mais complicadas. Ora, se comparativamente não nos livraremos nunca do impasse oferecido por dois mais dois, que dizer de <i>Limites</i>, <i>Derivadas </i>e <i>Integrais</i>. Sabemos pouco: são puros espíritos e meras criaturas, não gozam de onipresença e onisciência, sua ação é sempre limitada, "<i>cães numa coleira</i>". Por não terem acesso direto a nossa alma, tiram conclusões ao compensarem a desvantagem nos observando muito bem, afinal sempre estiveram aqui. Como disse antes, "<i>anjos decaídos</i>" conhecem intuitivamente. Não há de se falar em "<i>arrependimento</i>" por parte de demônios, não é como se fossem um dia entender o peso do "<i>non serviant</i>" e voltar para casa restaurados. Eles sabiam exatamente o que faziam ao não servir, pois viram as consequências do ato até o fim. Presos a um destino selado, nos odeiam profundamente, pois não querem a salvação de criaturas inferiores, especialmente quando eles mesmos estão fadados ao pior. Como a única pessoa capaz de levar alguém ao inferno é ela mesma, é assim que agem. Servem-se das ferramentas que nós lhe confiamos, usando fantasias, feridas afetivas, qualquer coisa para nos perder, prometendo a mentira de sempre, um falso senso de felicidade, de distanciamento de Deus, daí a falácia da Nova Era ao tentar nos apregoar conceitos vazios do tipo "<i>todos somos Deus</i>", a mais antiga das mentiras, proferida aos nossos primeiros pais antes da queda, por sinal. Recordo-me de algo dito pelo sr. <i>Adam Blai</i>, demonologista da Igreja Católica, ao descrevê-los como "<i>legalistas</i>". Demônios atravessam seu caminho quando, conscientemente ou não, você lhes dá senhorio sobre sua vida pela via do pecado, por mais que não tenha compreendido a gravidade do mesmo ao cometê-lo. Nas vidas de grandes santos como <i>Padre Pio </i>e <i>São João Maria Vianney</i>, o demônio tomou uma surpreendente fisicalidade. Ambos foram violentamente agredidos e, de uma estranha forma, o assédio crescia proporcionalmente ao bem que praticavam, como se pagassem na própria saúde o custo do pecado das pessoas salvas pela confissão diária. <i>São Vianney</i> acostumara-se tanto à vexação que dizia: "<i>O diabo? Ora, o diabo e eu somos praticamente camaradas!</i>". Ele foi um homem extremamente humilde, simples e desapegado, e seu corpo macilento foi levado ao limite. Só comia algumas batatas por dia, e dormia apenas um par de horas depois do almoço, pois, à noite, os gritos e provocações de <i>fosse o que fosse</i> que o seguia não o deixavam em paz. A coisa parecia odiá-lo especialmente pela humildade, pois lhe exigia, aos berros, por que não pregava pomposamente como os "<i>veste roxa</i>", os bispos da época, uma raça de víboras orgulhosas e prepotentes que a Jesus só conheciam de nome e da boca para fora. Quando estava para fechar os olhos de exaustão, o pobre idoso era arrancado do sono pela voz desencarnada, jurando possui-lo. Ele respondia tranquilamente: "<i>Você não me põe medo</i>". Já no caso de <i>Padre Pio</i>, ele conheceu o inimigo na infância, na forma de um homem muito alto que o visitava consistentemente. Da sua entrada ao seminário até a morte, seria constantemente procurado, ora por um cachorro preto falante, ora por um distinto, elegante e inteligentíssimo cavalheiro cujo rosto <i>Padre Pio</i> jamais via nitidamente por causa da tela do confessionário, dado a se fingir de fiel arrependido apenas para lhe falar as piores, mais maliciosas imoralidades, e desaparecer com um riscado no chão assim que o sangue de Cristo e o nome de <i>Maria</i> eram invocados. </span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Sobre a permissão para a ação diabólica nas vidas dessas pessoas santas, sr. <i>Marco Tosatti</i>, autor do livro "<i>Padre Pio contro Satana: la battaglia finale</i>", tem isto a dizer: "<i>O caso do Padre Pio é especial porque sua luta não era apenas espiritual, mas tinha também momentos extremamente físicos. Tanto é que os frades que com ele viviam escutavam os barulhos da luta vindos de sua cela e, na manhã seguinte, encontravam os ferros da cama retorcidos, como se uma força sobrenatural os tivesse dobrado. Viam ainda o Padre Pio com contusões e golpes, como se o tivessem espancado. </i></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>O superior chegou a pedir-lhe, quando ele ainda era um jovem frade, antes de ser enviado a San Giovanni Rotondo, que rezasse ao Senhor pedindo que não permitisse ao demônio fazer tantos ruídos, já que os outros irmãos ficavam apavorados. Era algo muito visível. Isso acontecia com o Padre Pio quando ele lutava para arrancar almas das mãos do demônio. De fato, houve muitos santos que lutaram com o demônio, mas o Padre Pio é especial porque sua luta foi contínua, física, evidente, a ponto de a verem inclusive outras pessoas… […] São santos que selecionei porque creio ilustrarem que, embora tenha um amplo campo de ação, o demônio está limitado por Deus. Por exemplo, o que sabemos de Mariam Baouardy está atestado em documentação científica da época. Assim como muito do que sabemos sobre o Padre Pio. É como se o mundo quisesse fechar os olhos para o sobrenatural, mas o sobrenatural não se deixa esconder. Vemos que Deus se serve do demônio, de forma misteriosa, como um instrumento, um instrumento estranho, vá lá, mas que serve à santificação das pessoas. Vemos gente de grande santidade pessoal, mas que sofre sob o poder do demônio, às vezes até mesmo possessos, durante um tempo, embora mantendo-se livres na alma e na vontade. Sempre me chamou a atenção a familiaridade com que o demônio, no Livro de Jó, se aproxima do trono de Deus, e Ele o recebe tranquilamente, e conversam… O demônio não passa de outro instrumento de Deus. É um mistério. É como ver um bordado pela parte de trás: parece-nos um caos, um emaranhado de fios e cores. Mas o bordador, que o vê de cima, costurando o desenho, sabe bem o que faz</i>". Por outro lado, para a maioria da qual fazemos parte, ele age diversamente, diria até pior, afinal dentro da aparência de normalidade causa os piores danos, espertamente distribuídos ao longo da vida. Nas jornadas particulares dos dois cavalheiros mencionados, sr. <i>Joseph Sciambra</i> e sr. <i>Joe Martinez</i>, é impressionante assistir ao desdobramento de duas histórias "<i>do lado de fora</i>", pela perspectiva de observador. Embora aos homens tantos anos tenham sido desperdiçados até que se dessem conta da presença de algo misteriosamente maior, revisando-se tudo como conhecedor dessas coisas nos leva a cogitar:<i> mas como eles não perceberam isso antes?</i> Conheci a história do sr. <i>Sciambra </i>graças a um vídeo de <i>Padre Paulo Ricardo</i>, e, a partir do primeiro contato, encontrei um documentário de aproximadamente uma hora de duração, no qual o sr. <i>Sciambra </i>reconta sua jornada ao longo de uma tarde de visitas a lugares-chave do passado no distrito de Castro, em San Francisco. Quando criança, aparentemente por obra do acaso, encontrou uma revista com fotos sensuais de mulheres bonitas nas coisas do pai, e se fascinou com as imagens. Ele não imaginava o que convidava para sua vida, mas já estava fisgado, porque quando se morde a isca, não se morde somente a isca; na verdade, você morde a fisga por trás da isca, e a partir daquele momento a adicção estabelece uma relação pessoal contigo. Um novo mundo secreto se abriu perante os olhos do menino, inocentemente. À medida que os anos foram se passando, também foi aumentando a profundidade do abismo. De repente, as fotos de modelos mal vestidas não saciavam a curiosidade, e ele partiu para as revistas mais pesadas, cujas imagens ofereciam uma nudez mais explícita e agressiva. Não custou-lhe desejar uma ação dentro de um contexto. Justamente nessa época, segunda metade dos anos 70 e começo dos anos 80, os videocassetes começaram a se popularizar. Produtoras independentes desovavam filmes pornôs aos borbotões em locadoras de bairro, e assim teve acesso a um material mais extravagante e vívido, em movimento, o oposto de simples fotos. A ação entre homem e mulher logo deixou de despertá-lo, e ele procurou filmes com cenas entre mulheres somente, mas logo isso também perdeu o valor da novidade, e <i>Joseph </i>buscou coisas piores. Ele chegou muito jovem ao distrito de Castro, e não lhe faltaram homens mais velhos para "<i>adotá-lo</i>" e sustentá-lo. A introdução do sr. <i>Sciambra </i>ao submundo pornográfico como ator se deu em vídeos amadores rodados pelos homens mais velhos, que depois trocavam as fitas entre si. Dali para frente, por mais de uma década, iniciou seu passeio pela escuridão, e o documentário reconstitui seus passos pelas palavras do próprio sr. <i>Sciambra</i>. As imagens conservam uma qualidade quase surreal, pois as filmagens se desenrolam ao longo de uma tarde de sol, capturando a linda paisagem de San Francisco, porém o conteúdo das revelações trata de uma indescritível feiura, uma história de horror especial para cada lugar por onde passou, como os armazéns alugados para a gravação de pornô. Aproximadamente em 1999, algo aconteceu ao sr. <i>Sciambra </i>que reformulou seu modo de enxergar o mundo. Ele participava da gravação de uma cena de sexo em grupo, e ao voltar para casa, começou a passar mal. A mãe o levou ao hospital, onde os médicos diagnosticaram a hemorragia interna. Tudo aconteceu rapidamente, pois ele logo foi preparado para a cirurgia. O sr. <i>Sciambra </i>estava morrendo, quando, por uma razão inexplicável, tentou desesperadamente rezar, sem sucesso. Ele se esquecera de qualquer oração. Finalmente, conformou-se em pedir chorosamente por Cristo. Ele se recorda da impressão muito nítida, enquanto o drama se desenrolava, de duas presenças horrorosas o ladeando, presentes no centro cirúrgico para levá-lo embora, até que foi devolvido ao corpo. A partir daí, voltou como um homem transformado, subitamente muito ciente da realidade espiritual que o cercara ao longo da vida. De fato, o sr. <i>Sciambra </i>descreve a sensação de volta à vida como se um nevoeiro tivesse se dissipado, e sua vista calibrada enxergasse agora à distância. Por alguns anos após a experiência de quase morte, desapareceu do radar, e fugiu. Ele deixou San Francisco, traumatizado pelos eventos, mas acabou regressando por sentir um especial chamado para arrancar ex-amigos e companheiros daquela existência macabra. Escreveu um livro sobre sua aterradora jornada, "<i>Swallowed by Satan: How Our Lord Jesus Christ Saved Me from Pornography, Homosexuality and the Occult</i>", e voltou à Santa Igreja Católica. Ainda hoje, sofre com os impulsos e tentações da antiga vida, mas mantém-se firme em seu amor a Cristo e no propósito de n'Ele buscar consolo para jamais voltar a cair. Para o sr. <i>Sciambra</i>, recontar sua história escancara emoções viscerais. Em diversos momentos, ele precisa parar e chorar. Noutros, tem ânsia de vômito, e o diretor se vê movido a interromper as filmagens. A história do sr. <i>Sciambra </i>muito tem a ver com a do sr. <i>Joe Martinez</i>, um sofrido homem que provavelmente teria prosseguido no caminho da autodestruição, não fosse uma foto que salvou sua vida. O sr. <i>Martinez </i>ficou famoso por causa de um elemento extraordinário do caso, a "<i>foto do cachorro</i>". Assim como o sr. <i>Sciambra</i>, ele precisou da perspectiva do tempo para perceber a natureza daquilo que agia, e de uma ajuda extra do destino, na forma de uma fotografia. Resignado a constantes batalhas perdidas com a dependência química, o sr. <i>Martinez </i>não prestou muita atenção ao posar com a esposa <i>Patty </i>na festa de bodas dos sogros. Na verdade, somente cerca de dez anos mais tarde, durante uma das recaídas na luta contra a dependência, ao voltar casualmente ao álbum, horrorizou-se com a foto ao examiná-la mais detalhadamente. Para seu terror, deu-se conta da presença do que parecia ser um cachorro esticando a cabeça por sobre um de seus ombros. Não havia cachorros na festa, e pelo ângulo de enquadramento não fazia sentido que um cão se encontrasse na posição só para dar uma de penetra na foto. "<i>Era um demônio</i>", <i>Joe </i>afirma, convicto, sentado ao lado da esposa <i>Patty </i>para uma matéria para o canal <i>Fox News</i>. De olhos marejados, o sr. <i>Martinez</i> conta que após a surpresa, conseguiu definitivamente atirar fora os vícios da vida pretérita. Carregando-a sempre consigo na carteira para se focar em não recair, ele explica que a imagem lhe traz o conforto de saber que o pior ficou para trás: "<i>Existe o Bem e o Mal nesta vida. Aqui nesta foto há o Bem à minha direita (a esposa) e o Mal à esquerda (o cachorro)</i>". As histórias desses homens ilustram comoventemente o modus operandi habitual do Mal, e nos mostram por que na seara do abstrato o demônio é ainda pior. Retomo a questão do "<i>legalismo</i>" necessário para o assédio, pois em ambos os casos anjos ruins foram "<i>convocados</i>" pelas escolhas das vítimas, ainda que à época não compreendessem inteiramente a gravidade do próprio hedonismo, um ao jogar a vida fora com drogas, o outro ao se lançar de cabeça no mundo da pornografia e do sexo corrompido. Ambos procuravam a felicidade, a concretização de uma promessa não cumprida, raiz de todo pecado. Ao comparar os casos, recordo-me de uma conversa com o pároco da Catedral Metropolitana, quando ele me falava sobre como, sendo puro espírito, essas coisas tinham de recorrer a "<i>instrumentos</i>", "<i>ferramentas</i>", nada mais que as pessoas ou coisas deste mundo. Para o sr. <i>Martinez</i>, uma revista com mulheres mal vestidas não teria bastado para arruiná-lo, pois não era essa - a pornografia - sua fraqueza; para o sr. <i>Sciambra</i>, tomar drinques com amigos provavelmente não passaria de uma <i>happy hour </i>prolongado, e não lhe teria custado a sanidade, afinal sua pedra de tropeço residia na pornografia, e não nas drogas. É a forma como o demônio atua, pois para cada pessoa ele confecciona um plano. Conhecem-nos desde sempre, pois se encontram aqui há milhões de anos, de sorte que gostam de se fingir de guias espirituais, anjos da guarda ou parentes mortos para estabelecer uma relação de intimidade; a escolha do curso de ação depende da imaginação da vítima. Toda a farsa já foi dissecada pelos brilhantes trabalhos do sr. <i>Lamartine Posella</i> ao abordar a maldade intrínseca da "<i>Nova Era</i>". Fico pensando na cena introdutória de "<i>A Paixão de Cristo</i>", a agonia do Senhor no horto das oliveiras. Entre tantas grandes escolhas que o sr. <i>Mel Gibson</i> tomou, merece especial elogio pela maneira com a qual retratou Satanás. Ele foi o primeiro cineasta a lhe emprestar uma fisicalidade correspondente ao charme do Mal: uma atriz muita bonita interpreta Satanás, mas ela transcende a aparência, e se encarrega de imbuir a performance de uma candura tão convincente que, ao aparecer no Horto das Oliveiras, você chega a trepidar e cogitar quando ela apresenta seus ótimos argumentos a nosso Salvador. Hoje, dois mil anos após aquele impasse intelectual que durou minutos e ninguém sabe especificar como se deu, enxergamos o significado, o indescritível peso do duelo. Ali, nossa salvação esteve seriamente em risco, e foi o mais próximo que nos encontramos do abismo, do qual fomos salvos no último momento, quando <i>Cristo </i>resolve carregar a cruz monte acima para quitar nossas dívidas no madeiro. O encontro durou apenas alguns minutos, mas mudou para sempre o mundo como o conhecíamos. Quanto à beleza de Satanás no filme, acontece semelhante com o magnetismo atrativo do Mal no mundo, não? O Mal é igualmente convincente, atraente e tentador; todavia, em algum lugar no recesso de nossas mentes, tentamos calar a voz que nos avisa "<i>Algo não anda inteiramente correto aqui</i>". De fato, basta prestar atenção ao redor. O mundo recicla o Mal por um esquisito combustível de gratificação. Os mais devassos, cruéis e malvados são justamente os que prosperam e do mundo recebem lauréis; pessoas genuinamente boas e caridosas são implacavelmente transformadas em espantalhos, desumanizadas, perseguidas, ridicularizadas e assediadas por narcisistas que são poços sem fundo de puro orgulho. Por que o mundo, em sua maioria, é perverso</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">? Por que se escolhe o pecado, ou seja, Satanás, e pretere-se a glória de Deus</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">? Para responder, volto a</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> <i>Paulo</i>: "...</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". A briga não </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se desenrola do lado de fora, meus amigos, e sim dentro de nossas mentes. O papel de parede e um jogo de luz se somaram para criar o estranho "<i>cachorro</i>" acima do ombro do sr. <i>Martinez</i>, até porque anjos decaídos não se assemelham a cachorros ou a qualquer outra coisa, eles não tem corpos. Uma série de acasos "<i>criaram</i>" o cachorro; entretanto, o "<i>cachorro</i>" faz breve eco ao anjo muito real & objetivo que passou a vida perseguindo o sr. <i>Martinez</i>. A fotografia é legítima, e registra a imagem de um demônio, apenas não inteiramente da forma que esperamos. Não aconteceu só aos senhores <i>Sciambra </i>& <i>Martinez</i>, nós trazemos conosco demônios igualmente insistentes e cruéis. Ao passo que de vez em quando possamos "<i>vê-los</i>" de relance, num canto do plano de fundo talvez, como o sr. <i>Martinez</i>, a guerra se trava primordialmente no âmbito interior. Entenda que a escolha não se resume a servir a Deus ou a Satanás. Se as escolhas fossem assim tão claras, ninguém escolheria o inferno. Mas acontece que nosso destino eterno não resulta de uma única escolha direta e explícita entre o céu e o inferno, e sim das pequenas escolhas nas quais vamos nos esquecendo de Deus aos poucos. Se minhas palavras parecem pessimistas, na verdade lhe peço para se alegrar, fazendo eco à profética palavra do sr. <i>Marco Tosatti</i>. Na grande jornada humana, os demônios são absolutamente necessários, pois através da terrível tentação a que nos submetem, surge a oportunidade perfeita para exercitarmos o livre arbítrio, coisa que anjos decaídos não têm mais, e amar a Deus acima de todas as outras coisas. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Fora "<i>Pet Sematary</i>", ao escrever a resenha de "<i>Sonata de Tóquio</i>", ocorreu-me<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> um episódio da série "<i>Além da Imaginação</i>" que, em meros vinte minutos, descortinava uma história fantástica, igualmente <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">memorável, </span>baseada na derradeira escolha pela família. O episódio se chama "<i>Achados & Perdidos</i>", apresentado pelo grande <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ator </span><i>Forest Whitaker</i>, e estrelado por<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> um <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">rapaz <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mais conhecido pelo "<i>Barrados no Baile</i>" original. No episódio, ele interpretava o <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">CEO de uma grande empresa do café, às vésperas de vender o negócio por uma soma inimaginável. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Visitado por uma misteriosa jornalista que deseja escrever uma peça sobre a transação, ele é levado a reavaliar fatos da vida graças a uma série de coincidências. Por exemplo, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">depois da primeira entrevista com a mulher, ele encontra, na gaveta, uma bola de baseball<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> cuja <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">origem atrela-se a escolhas feitas lá atrás. A bola, assinada por um lendário batedor, pertencera ao falecido pai. Q<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">uase há vinte anos, quando <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o protagonista cursava o colegial, ele <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">furtara a bola para vendê-la a um colecionador, de modo a juntar dinheiro para sair de casa, mudar-se de cidade e começar o próprio negócio longe da família. Embora tenha construído uma vida para si graças à ambição, sua atitude ger<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ou consequências desgraçadas: o pai morreu desiludido algum tempo após a partida do filho; sua mãe, tendo entrado em depressão, tornou-se mentalmente instável <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">por conta da desintegração do lar. Ele também tinha uma namoradinha do colegial, que o amava i<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ncondicional<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mente. Juntos, haviam feito planos de permanecerem juntos, mas quando a oportunidade para começar seu império em outro lugar se materializou, ele a abandonou sem hesitação, nem chegando a se despedir. Naquela mesma noite, após a entrevista, ainda emocionalmente chacoalhado, ao fazer amor com uma garota de programa de luxo na cobertura, depara-se com a jaqueta do colegial, com as iniciais grafadas. O dia a dia do homem é invadido por lembranças inesperadas, e por mais que tente se livrar da bola de baseball, ela sempre encontra um jeito de voltar às suas mãos. Ao ligar para o jornal onde a misteriosa mulher supostamente trabalha, ele tem uma surpresa. Lá não há ninguém com o nome fornecido, e o rapaz passa a crer que<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> a repórter </span>é a namorada do colegial. Ela mudou muito, a ponto de não tê-la imediatamente reconhecido, mas passa a crer que, sim, trata-se da ex-namorada. Ademais, a facilidade com que ela surge e interage fá-lo cogitar que ela tenha morrido em algum ponto do passado, e esteja vendo um fantasma. Cheio de remorso, o homem repensa as escolhas, e durante a apresentação para selar a venda, ao invés de assistir à peça publicitária, vê um vídeo amador filmado por ele mesmo, no fim dos anos 80, com os pais defronte ao jardim de casa, felizes e saudáveis, e a namorada, com a jaqueta do colégio, em alguma manhã ensolarada. Incapaz de lidar com a crise existencial, ele busca a mãe para lhe entregar a bola, mas ela não a quer mais. De certa forma, a mulher o culpa pela dissolução da família. Hoje, viúva e psicologicamente incapacitada, espera o ônibus todas as tardes, para amenizar a saudade. Com a vida consumida pela culpa, o homem regressa para o lugar onde tudo começou, a casa onde morou com os pais. A mulher ressurge, e confirma ser a namorada do colegial. A essa altura, com profundo pesar, o homem enxerga a vida sob um prisma diferente. Como por concessão divina, ao ter diante de si a chance de recomeçar, vê-se subitamente devolvido a aquela tarde no fim dos anos 80, quando seus pais eram felizes, ele tinha a namorada, e o futuro inteiro estava para acontecer. Ao voltar, ele desiste do furto</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> da bola, e resolve traçar uma nova trajetória. Ele permanecerá ao lado da família, incondicionalmente. O protagonista abraça a namoradinha, e se despede dos pais, pois precisam correr para chegar a tempo da sessão de cinema daquela tarde em 1988. O pai ainda pergunta ao filho se precisa de algum dinheiro para os ingressos. Ele sorri e arremata: "<i>E</i></span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">u já tenho tudo de que preciso</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". No desfecho, o grande <i>Forest Whitaker</i>, o apresentador, volta à cena para a despedida, apontado-nos que acabamos de assistir a história de um homem que abriu mão de qualquer soma de dinheiro deste mundo, por uma chance de zerar a vida e começar de novo. Particularmente, o episódio me falou volumes. Costumo dizer que não consigo entrar numa igreja sem me emocionar, especialmente quando olho para um padre, um homem que pôs aos pés de Cristo crucificado a razão para tudo o que faz. Eu me emociono pois me deparo com a versão que genuinamente desejaria para minha vida. O tempo, lamentavelmente, não quis a mesma coisa. Mencionei esse episódio específico ao padre da Catedral Metropolitana com quem sempre converso, e quando o disse, à época, imaginei que não existiria melhor presente, a oportunidade de atuar concretamente na seara da alternativa. Se apenas eu tivesse escutado melhor a minha avó, a única pessoa que sempre fez de tudo para me preservar, se apenas tivesse zingrado a juventude indo de mãos dadas a ela à missa e adorado aos pés de <i>Maria</i>, se apenas aos dezessete anos tivesse tido discernimento para antever o sacerdócio, pois então haveria tempo de sobra para os anos de seminário, se apenas eu tivesse me atirado de cabeça na vida intelectual... Eu sei que jamais seria um <i>Padre José Augusto</i>, um <i>Padre Paulo Ricardo</i>, pois esses homens estão em um outro nível acima, mas ao menos seria infinitamente mais rico. O padre olhou para mim bem sério e perguntou se eu queria emprestada sua garrucha velha. Ele então abriu um sorriso compreensivo, para mostrar que só estava brincando, colocou a mão sobre meu ombro e concluiu: "<i>Sua vida já vale à pena, meu filho</i>". A conversa instilou algo de positivo em mim, mas eu só compreenderia melhor mais tarde. Eu pensei neste episódio de "<i>Além da Imaginação</i>" ao ver "<i>Sonata de Tóquio</i>" pois mesmo com um tempo de duração reduzido, a história reforça uma importante mensagem sobre o valor daquilo que pomos em jogo dia após dia. "<i>Sonata de Tóquio</i>" afirma a mesma coisa, apenas sem a atuação de um elemento fantástico para corrigir a rota dos personagens. Felizmente, mesmo sem a sobrenatural reparação dos velhos erros, o desfecho de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sonata de Tóquio</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" é igualmente redentor, afinal o ato de os </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sasaki </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">saírem de cena juntos indica a escolha pela família, independente dos desencantos. De certa forma, a cena equivale ao momento do episódio de "<i>Além da Imaginação</i>", na conclusão, a tarde ensolarada na qual o rapaz e a moça se despedem para chegar a tempo da sessão de cinema: todos estão cientes da responsabilidade de seus papéis, certamente o dever mais recompensador que a vida oferecerá gratuitamente a qualquer criatura. Aquele que não desperdiçar a família, não a deixar se desintegrar com artimanhas como abortos, adultérios e divórcios, jamais morrerá sozinho. Ele morrerá nos braços dos pais, tios e irmãos. E mesmo cem anos após partir, ainda continuará a melhorar o mundo, pois aqui estarão netos e bisnetos dando continuidade a um projeto iniciado um século atrás. Se a sua história familiar tem sido falida até agora, se as pessoas erigiram um castelo de cartas inconstante derrubado ao primeiro sopro, rompa definitivamente com qualquer paradigma distinto do da caminhada com Deus e escreva uma nova história para si e para a família que você ainda vai constituir sem qualquer tipo de temor ou relutância: quando o demônio tentar te desanimar te lembrando de onde você veio, lembre-o de para onde ele vai, que é um lago de fogo, e siga andando.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: 12pt;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A
resenha não ficaria completa sem um olhar mais apurado </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">à instituição do </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">casamento</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">,
pois da momentânea insatisfação de marido & mulher também se
denota uma força de tensão no lar, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">fora
</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o
desemprego. Quando a situação adquire contornos desesperadores, e
os membros da família viram átomos soltos</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, a necessidade </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de uma escolha por parte</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">
da Sr. ª <i>Megumi </i>a põe </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sob</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">
o derradeiro teste, na noite na praia, quando, felizmente, enxerga a verdade e volta </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ao
lar enquanto há tempo</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">.
Ao acompanharmos o dilema da Sr. ª <i>Megumi</i>, a dinâmica com a qual
pondera os prós e contras e toma </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a
direção correta</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">,
compreendemos de onde vem a tentação que quase lhe custa a família. Todo casal
deve passar por </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">semelhante
impasse. D</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">epois
de um tempo, perguntam-se se </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a
vida a dois reproduz fidedignamente a imagem
ideal construída por suas mentes no começo. A armadilha esconde-se
por trás do sedutor, mentiroso fanfarreio do mundo, que entre tantas mentiras romantiza o conceito de supostas "<i>almas gêmeas</i>",
pessoas "<i>feitas umas para as outras</i>" que, tendo se encontrado,
farão dessa vida a felicidade absoluta. Há uma série de elementos
cruelmente enganosos no conceito, o mais grave deles o
desconhecimento da natureza verdadeiramente decaída do mundo, e o
veneno sutilmente instilado nos corações das pessoas, pelo qual se
alimenta irreais expectativas já no início da
caminhada, a artimanha perfeita do demônio para preparar o caminho
para adultério, divórcio e toda sorte de vicissitudes que custam a alma.
De certa forma, o assunto coadjuva perfeitamente o parágrafo acima,
onde descrevi o mecanismo de ação do Mal. Tanto acima quanto aqui, a
resposta perfeita perante a palavra ilusória do demônio que promete
a felicidade sempre será a cruz onde nossas digressões foram definitivamente remidas e quitadas no madeiro. A cruz que crava os
nossos pés no chão é a única, verdadeira arma, e embora
pareça pouco diante do volume de iniquidades, é tudo de que
precisamos. A análise perfeita do tema cabe ao sr.
<i>J.R.R. Tolkien</i>, que em uma carta ao filho desnudou a discussão acerca de ilusões passageiras e descreveu a família com a lucidez que o
Senhor espera da gente. Escreveu: "</span><i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal;">Quando
o deslumbramento desaparece, ou simplesmente diminui, eles [os
casados] acham que cometeram um erro, e que a verdadeira alma gêmea
ainda está para ser encontrada. </span><strong style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-weight: normal;">A
verdadeira alma gêmea com muita frequência mostra-se como sendo a
próxima pessoa sexualmente atrativa que aparecer</span></strong><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal;">.
Alguém com quem poderiam de fato ter casado de uma maneira muito
proveitosa 'se ao menos…'. Por isso o divórcio, para fornecer
o 'se ao menos…'. E, é claro, via de regra eles estão
bastante certos: eles cometeram um erro. Apenas um homem muito sábio
no fim de sua vida poderia fazer um julgamento seguro a respeito de
com quem, entre todas as oportunidades possíveis, ele deveria ter
casado da maneira mais proveitosa! </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Quase
todos os casamentos, mesmo os felizes, são erros</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">:
no sentido de que quase certamente (em um mundo mais perfeito, ou
mesmo com um pouco mais de cuidado neste mundo muito imperfeito)
ambos os parceiros poderiam ter encontrado companheiros mais
adequados. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Mas
a ‘verdadeira alma gêmea’ é aquela com a qual você realmente
está casado</span></i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal;"><i>.
Na verdade, você faz muito pouco ao escolher: a vida e as
circunstâncias encarregam-se da maior parte (apesar de que, se há
um Deus, esses devem ser seus instrumentos ou suas aparências).
[...] Neste mundo decaído, temos como nossos únicos guias a
prudência, a sabedoria (rara na juventude, tardia com a idade), um
coração puro e fidelidade de vontade</i>".</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2uKAVexgW8Cl97o__X_JsJoqmwXFJCkRZgV93Gm-iSo2gE2Z1kT04TN-DVgKsGB1fpl1n3tdORIVpqqUaObDdD6lpdbkTr3t9J0me9mEH4Drj_5xqL8Lkp-9Df1_FcTqtD_Jd2OMCqBCz/s1600/tokyo-sonata-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2uKAVexgW8Cl97o__X_JsJoqmwXFJCkRZgV93Gm-iSo2gE2Z1kT04TN-DVgKsGB1fpl1n3tdORIVpqqUaObDdD6lpdbkTr3t9J0me9mEH4Drj_5xqL8Lkp-9Df1_FcTqtD_Jd2OMCqBCz/s320/tokyo-sonata-1.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Mesmo alheio à religião, "<i>Sonata de Tóquio</i>" é uma das histórias mais cristãs feitas em anos recentes. O diretor <i>Kiyoshi Kurosawa</i> documenta com muita empatia e carinho os esforços de uma família na tentativa de permanecer com a cabeça fora d'água, quando suas vidas parecem irremediavelmente avassaladas pelos problemas financeiros. Ele reafirma sua fé no espírito humano ao guiá-los magistralmente à conclusão, quando encontramos os <i>Sasaki </i>juntos, para além das dificuldades. O filme tem muito a oferecer em termos de comunicar uma mensagem pertinente à atualidade, nos quais o desemprego aumenta exponencialmente, e as pessoas encontram muita dificuldade na reinserção no mercado de trabalho, a maioria das vezes passando anos em busca de novas oportunidades. O recado do filme consiste em estabelecer que, embora a vida seja marcada pelo carregar da cruz, infortúnios como o desemprego, no caso dos <i>Sasaki</i>, ou o divórcio, como no caso da professora de piano, sempre são temporais, limitados a uma certa janela de tempo. Nossas ambições não podem se conformar a coisas regradas pela janela do tempo, e sim atender a um chamado para a realização fora do mundo passageiro, espraiada na eternidade, num ato de fé para o qual a família sempre será o primeiro e mais importante passo. E aqui volto `aquela manhã quando o padre me disse, sorrindo: "<i>Sua vida já vale à pena, meu filho</i>". Ele tentava abrir meus olhos para quão frágil era minha fé, e me mostrar que independente do quanto eu me preocupasse por não ter antecipado meu chamado ao sacerdócio enquanto houvera tempo, a verdade era que, como leigo, Deus me preparara algo distinto da vida de padre, porém igualmente significativo. Pode-se até duvidar desta lógica, ao se contrastar a distância entre aquilo que se imagina para si, no começo da caminhada, e o que efetivamente se consegue materialmente conquistar, mas você verá claramente mais tarde, principalmente se levar em conta que as coisas permanentes são as invisíveis: o tempo inteiro, mesmo lá atrás ao permitir as tribulações, o Senhor sempre tem um plano melhor para você e sua família.</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
Ary Luiz Dalazen Júnior Salve Mariahttp://www.blogger.com/profile/05930396542549787102noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-74364245537822541962019-05-16T04:01:00.000-07:002019-05-16T04:04:15.824-07:00"The Crush" (Estados Unidos, 1993): Revisitando eventos de sua vida pessoal, o diretor Alan Shapiro realiza um filme verdadeiramente apavorante que, além de extraordinário suspense, conserva um período de tempo impossível de se reaver!<br />
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLxmzoGvHJtbGiYmsd5TVvo2g_LsFWZQGe6J13ZKoQd0Fzh22Iu56vDVJxtkssQPKK6L99ECggrz97FtPWneaw_RzE9X3uJXqINgDJIhutd_5lC0jQ_zmzgMHLUToRFSc8nsNknfMiIJ5F/s1600/foto-do-flme-the-crush-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; display: inline !important; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="1545" height="207" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLxmzoGvHJtbGiYmsd5TVvo2g_LsFWZQGe6J13ZKoQd0Fzh22Iu56vDVJxtkssQPKK6L99ECggrz97FtPWneaw_RzE9X3uJXqINgDJIhutd_5lC0jQ_zmzgMHLUToRFSc8nsNknfMiIJ5F/s320/foto-do-flme-the-crush-1.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Breve <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">s</span>inopse</b>: <i>Nick Eliott</i> (<i>Cary Elwes</i>) é um talentoso e intelectualmente privilegiado jornalista de 28 anos, recém-chegado a Seattle para trabalhar na conceituada <i>Pique Magazine</i>, onde espera honrar todo o potencial criativo e desenvolver a própria voz, ainda ostracizad<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a</span> sob a sombra do legado de seu avô, um dos maiores profissionais do jornalismo norte-americano. Tendo fracassado em encontrar um lugar adequado para <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">morar </span>pelo custo <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">apropriado a sua situação</span> financeira, <i>Nick </i>finalmente acha um belo apartamento conjugado a uma grande propriedade, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">n</span>um bairro de classe média alta, pertencente aos <i>Forrester</i>, um afluente e simpático casal que, como executivos, vivem viajando. <i>Nick</i> começa a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">apressar</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>a mudança das caixas ao <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">apartamento conjugado</span>, e acaba atraindo a atenção de <i>Darian </i>(<i>Alicia Silverstone</i>), uma adolescente precoce de 14 anos que vem a se apaixonar perdidamente pelo inquilino. <i>Nick </i>se apresenta à redação, e embora angarie a atenção dos colegas e o interesse da fotógrafa <i>Amy</i>, descobre que <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o </span>chefe <i>Michael </i>não se <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">mostra </span>muito tolerante <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">aos </span>erros dos subordinados. De cara, ele recebe uma matéria investigativa dificílima, envolvendo um caso de corrupção, sem pistas aparentes. Para trabalhar ao lado do novato, <i>Michael </i>escala a simpática e jovial <i>Amy</i>, uma profissional tão perspicaz que<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> logo põe o colega na direção <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">correta </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">para descobrir fatos <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">inéditos </span>sob<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">re <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o caso</span></span></span></span>. Tendo concluído a mudança, e organizado <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">naquele espaço seu escritório</span>, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">uma noite, <i>Nick </i>recebe </span>a visita de <i>Darian</i>. Com um jeito obviamente paquerador, ela lhe <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">dirige </span>perguntas sobre <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a </span>vida. Surpreso com a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ousadia </span>da adolescente, o jornalista<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> a </span>leva na esportiva, e não se preocupa muito com a atenção da garota. Eles flertam inocentemente, e <i>Darian </i>parece gostar de fazê-lo ruborescer. Durante a semana, ao levar o artigo para a redação no disquete, ele se assusta ao <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">passar a vista pel</span>o texto, pois descobre que a matéria foi totalmente reescrita. <i>Nick </i>se surpreende ainda mais quando o redator explica que adorou o artigo, e o parabeniza publicamente perante os <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">colegas </span>pel<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a habilidade</span>. <i>Darian </i>passa a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">perambular pel</span>o <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">apartamento </span>durante as manhãs, e após muita insistência, convence-o a aparecer na casa para a festa <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a ser dada pelos pais</span> no fim de semana seguinte. Chegada a grande noite, <i>Nick </i>sente-se um tanto quanto deslocado <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">entre </span>convidados <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">pertencentes <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a uma classe mais elevada</span></span>. Ele vê <i>Darian</i> entretendo os convidados, tocando piano com impressionante <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">talento</span>, e quando trocam olhares e ela o reconhece, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o </span>rosto<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> da adolescente</span> se acende. Reunidos num lugar mais distante do salão de festas, <i>Darian </i>se abre sobre a solidão. Ela se sente <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">apartada </span>do mundo por causa dos pais super protetores, e até mesmo a única amiga, <i>Cheyenne</i>, só é sua colega porque os pais <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">frequentam </span>o mesmo círculo social. <i>Nick </i>a consola, e <i>Darian</i> <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">confessa-se </span>a pessoa por trás <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">da reescrita do </span>artigo<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Ela <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">entrara </span></span>no conjugado enquanto <i>Nick</i> estivera fora<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, e </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">escrevera </span>o texto para ajudá-lo. <i>Darian </i>pede <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a</span>o rapaz <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">para</span> lev<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">á-la</span> a um lugar <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">muito especial</span>, o Farol dos Namorados, onde jovens casais trocam <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">juras </span>de amor. Lá, eles acabam se beijando<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. </span><i>Nick </i>imediatamente se arrepende e diz que vai levá-la de volta <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a </span>casa, pois está ficando tarde. No decorrer da semana, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ela </span>dá um jeito de <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">seguir </span>fechando o cerco <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ao redor d</span>a vida social do rapaz, inclusive expondo-se à beira da piscina para um banho de sol, de forma a atrair olhares. <i>Nick</i> resiste as avanços, e quando a turma da <i>Pique Magazine</i> se encontra no amplo gramado da propriedade para uma confraternização em honra do aniversário de <i>Nick</i>, <i>Amy </i>e o rapaz se aproximam sentimentalmente. A fotógrafa conhece a garota quando vai catar gravetos para preparar os marshmallows para o fogo, e se depara com um casulo de vespas. <i>Darian </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">surge</span> e a orienta a se afastar do casulo, vez que vespas, se provocadas, atacam em grupo. Mais tarde, enquanto ajuda o colega a arrumar o apartamento após a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">festa</span>, <i>Amy </i>explica que a adolescente dá sinais de paixão pelo jornalista. <i>Nick </i>não entende: ele realmente não fez nada para provocá-la. Outrossim, para se fazer entender melhor, <i>Nick </i>decide procurá-la. Ele a encontra se <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">balançando ao</span> pé da árvore, mas as explicações sobre a diferença de idade entre os dois e o fato de ela poder contar com a sua pessoa como amigo parecem surtir pouco efeito sobre o ânimo da menina. A confusão escala quando, tendo pintado e recuperado o carro, <i>Nick </i>o encontra vandalizado com palavrões riscados no capô. Ele leva <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">as </span>suspeitas aos <i>Forrester</i>, que questionam a filha, de saída para a aula de equitação. Ela nega qualquer envolvimento com um sorriso, mas o rapaz consegue enxergar que <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Darian</i> foi </span>a autora do vandalismo. Os <i>Forrester</i>, entretanto, acreditam na palavra da filha, e dão a questão por encerrada. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">No cair da tarde, enquanto tenta polir e recuperar o estrago feito ao <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">automóvel</span>, <i>Nick </i>é visitado por <i>Cheyenne</i>, a melhor amiga de <i>Darian</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. M</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">uito <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">discretamente, ela antecipa que precisa conversar com o rapaz, e <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">escolhe </span>um lugar no <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">bosque<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> para se encontrarem mais tarde, pois <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">precisa <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">repassar </span>informações importantes sobre <i>Darian</i>. Eles não se dão conta, mas <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a garota </span>observa o breve encontro, escondida entre as cortinas da janela d<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o </span>quarto. Na aula de equitação, propositalmente, <i>Darian </i>sabota a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">sela da amiga, e <i>Cheyenne </i>acaba <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">derrubada do cavalo após um salto<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Ela </span>quebra o braço. A menina conseguiu evitar o encontro dos dois, e quando <i>Nick </i>comparece ao bosque, depara-se com <i>Darian</i>, e não <i>Cheyenne</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Ele</span> toma um <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">susto.</span> Com um olhar gélido, <i>Darian </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o ameaça sutilmente, contando<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">-lhe </span>a história da queda e comentando o quanto jamais se pode ter cuidado demais. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Nick </i>fica ali no bosque, atônito e genuinamente <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">angustiado</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. A par<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">tir daquela tarde, os ataques se <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">intensificam</span>, principalmente quando <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ele </span>se envolve romanticamente com <i>Amy </i>e <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">os dois dormem juntos</span>. Às vésperas da apresentação d<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a </span>matéria à redação, em um primeiro momento, <i>Nick </i>não encontra o disquete. Vai vê-lo sob o tapete que dá para o porão do conjugado, como se alguém quisesse atrair sua atenção <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a</span>o lugar secreto. Ao descer ao porão, ele se arrepia<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. O</span> local assemelha-se a um santuário para <i>Nick</i>, cheio de fotos suas, cercadas por velas acesas e bilhetes de incondicional paixão. Apavorado, ele sobe as escadas, lacra a passagem com pregos, e trata de reescrever furiosamente a longa matéria, enquanto <i>Darian </i>enche sua secretária eletrônica com <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ameaças, </span>insistindo que os dois conversem. Por um triz, <i>Nick </i>termina <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o artigo </span>a tempo e <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o </span>apresenta aos colegas de redação. O susto lhe valeu a lição<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Agora</span>, precisa encontrar um outro lugar para morar. Ele acha um quarto na casa de uma simpática idosa, e acerta com a proprietária os detalhes da mudança. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O foco da fúria da adolescente <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">foca-se na rival</span></span>, e ela usa seu conhecimento de vespas para lanç<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">á-las pelo duto de ventilação de um<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> laboratório </span>de fotografias enquanto a moça se encontra <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">trancada pelo lado de fora. Ao remover a adversária de cena, <i>Darian </i>insiste em se aproximar <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">emocionalmente do jornalista, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">sem resultados. Furiosa, arruína os planos de <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">mudança</span>, ao ligar para a proprietária e <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">sujar</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> o seu bom nome ao conectá-lo a atividades de tráfico de drogas</span>. Na confraternização de fim de ano da <i>Pique Magazine</i>, <i>Darian </i>aparece no salão com o uniforme de equitação e causa um escândalo ao esbofetear o rapaz na cara. Para destruí-lo por completo, ela apanha do lixo um preservativo usado <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">pel<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o jornalista ao fazer amor com <i>Amy</i>, e "<i>planta</i>" o material genético em si, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">dando<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> credibilidade à acusação de estupro</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O pai da menina avança sobre <i>Nick</i>, intentando matá-lo, e a vida dele é salva pelos policiais por um triz. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Profundamente abalado, seu editor paga a fiança e o livra da cadeia, mas <i>Nick </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">resolve deixar a cidade, com a vida em frangalhos. Ele visita o conjugado por uma última vez, à noite, para recolher <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">as </span>coisas,<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> quando <i>Cheyenne </i>aparece. Eles finalmente têm a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">oportunidade de conversar, e a menina <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">expõe </span>fatos da vida de <i>Darian</i>, como a misteriosa morte de um professor por envenenamento, há alguns anos<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Ele fora objeto da paixão da garota, porém ao recusar qualquer envolvimento romântico, morrera de forma misterios<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a.<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> Os sinais ap<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ontam para a dimensão do perigo enfrentado pelo rapaz.<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> <i>Darian </i>preferirá matá-lo a deixá-lo partir<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">.</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiW_k_73cG8XEqX6ZIb8cEJWI4zlsdFRDcIyHbX7PbFP-SxSiCSl05hJrJwdoRF_Bwtc_hbQq9xhgBPWSOCpAtotFcuaRnljbA10obzAbXMzQoPwkxjeKSR52QfYeCsJP3WfL_7KJTx1tVB/s1600/foto-do-flme-the-crush-4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiW_k_73cG8XEqX6ZIb8cEJWI4zlsdFRDcIyHbX7PbFP-SxSiCSl05hJrJwdoRF_Bwtc_hbQq9xhgBPWSOCpAtotFcuaRnljbA10obzAbXMzQoPwkxjeKSR52QfYeCsJP3WfL_7KJTx1tVB/s320/foto-do-flme-the-crush-4.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Resenha</b>: Só o mérito como suspense fora de série gabarita "<i>The Crush</i>" a elogios; todavia, revisitado quase três décadas <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">mais tarde</span>, o filme preserva em âmbar um passado recente <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">de nostálgico apelo</span>. Lançado nos cinemas em 1993, "<i>The Crush</i>" remonta a uma época pré-internet mais prolífica e descomplicada, quando uma produção não necessariamente dependia de estrelas para merecer lançamento nas salas. Estrelado por <i>Cary Elwes</i> & <i>Alicia Silverstone</i>, o filme não chegou a registrar uma marcante carreira nas bilheterias, por mais que tenha recuperado os custos (rodado por seis milhões de dólares, "<i>The Crush</i>" fez modestos treze milhões durante sua passagem <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">pelos </span>cinemas), mas, ao longo dos anos, foi sendo descoberto por novas pessoas, e o alto gabarito da produção <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">reanimou </span>o interesse pelo então esquecido thriller, a ponto de vir sendo relançado em sucessivas edições em DVD. Compará-lo a qualquer filme de nossa época levará a instigantes conclusões, a mais importante delas a discrepância entre os estilos de se rodar filmes de terror no passado & agora. Ao passo que as superproduções forçaram os profissionais da câmera a adotarem uma montagem mais hábil <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">para </span>sustentação visual, os suspenses de três décadas atrás encantavam pela condução dramática & psicológica, numa charmosa marcha lenta pela qual se <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">permitia</span> aos espectadores uma degustação mais agradável dos desdobramentos, sem precisarem ser atropelados por <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">exageros</span>. O público moderno, surpreendentemente, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">manifesta </span>o desejo pela retomada de um tempo mais simples, e ao testemunharmos o impressionante sucesso do diretor <i>James Wan</i>, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">um</span> cineasta à velha moda, autor de filmes fantásticos de horror fortemente imbuídos de nostalgia, como "<i>Invocação do Mal 1&2</i>", percebemos que, independente de quanto tempo <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">se passe</span>, inesquecíveis histórias de terror são justamente isso, <i>inesquecíveis</i>, e, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">consequentemente</span>, atemporais. Se você vem de uma geração mais recente, provavelmente notará, logo de cara, o ritmo <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">desacelerado </span>de "<i>The Crush</i>", <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">mas</span> se verá psicologicamente investido nos eventos de uma forma que, a novos filmes, tem ficado cada vez mais raro. Hoje, para merecerem um lançamento de <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">maior </span>alcance, as produções se atrelam <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">à capacidade de </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">espetáculo</span>, de sorte que assistir a um lançamento não diferiria, por exemplo, de comprar ingressos para um show musical. Mais contundentemente, os suspenses enfrentam uma crise de identidade, e enquanto os realizadores permeiam as tramas com efeitos <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">de ponta</span>, desavisadamente alienam<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> o</span> público pagante, interessado em assistir a dramas mais sinceros com <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">cujos personagens</span> possam se identificar e encontrar alguma catarse para os problemas <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">do dia a dia</span>. Nesse sentido, se você não viu "<i>The Crush</i>", mas apreciou o recente "<i>Invocação do Mal</i>", dou como certa a sua apreciação deste empolgante e misterioso suspense de 1993.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgp9Ovld15pgFpaleTL0CzTR1KCywjD9BUHpv-JIAVu33N3h9ZN-Ym1ykmJX6wwDIRdbJjrQ3nEMY5vkPYlPz8OjVzUojPw5YtYBcAPiEJ0h4FaWV0y2ido89xJ7gCqfgRZlxKw9kAiim3m/s1600/foto-do-flme-the-crush-5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="575" data-original-width="1024" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgp9Ovld15pgFpaleTL0CzTR1KCywjD9BUHpv-JIAVu33N3h9ZN-Ym1ykmJX6wwDIRdbJjrQ3nEMY5vkPYlPz8OjVzUojPw5YtYBcAPiEJ0h4FaWV0y2ido89xJ7gCqfgRZlxKw9kAiim3m/s320/foto-do-flme-the-crush-5.jpg" width="320" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgxM0_-NnLs7xF6UAd8oa1pmeiezOeJdO2CFxeg6XWW780xx-kOVZUaR4sMuEpgIurzeiB7l7dzAtJsQlg1amfeOFtYFXVuAfffDJtd_TezCUrPybTBwen8f7Vpo5gokA-YekBCMHxy7Fs/s1600/foto-do-flme-the-crush-6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgxM0_-NnLs7xF6UAd8oa1pmeiezOeJdO2CFxeg6XWW780xx-kOVZUaR4sMuEpgIurzeiB7l7dzAtJsQlg1amfeOFtYFXVuAfffDJtd_TezCUrPybTBwen8f7Vpo5gokA-YekBCMHxy7Fs/s320/foto-do-flme-the-crush-6.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"<i>The Crush</i>" <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">foi muito comparad<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o a</span></span> "<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Play Misty for Me</span></i>", estrelado pelo grande <i>Clint Eastwood</i>, o suspense inaugural do subgênero das histórias de horror sobre <i>stalkers</i>. Uma das maiores bilheterias da década de <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">70</span>, "<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Play Misty for Me</span></i>" muito revela sobre os hábitos e a cultura de seu era. Por que "<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Play Misty for Me</span></i>" tocou fogo nas bilheterias e recebeu tanta aclamação na época do lançamento? A resposta talvez se insira no contexto do tempo no qual foi produzido. "<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Play Misty for Me</span></i>" contava a história de um <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">radialis<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ta paquerador e irresponsável </span></span>que, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">numa noite num bar</span>, conhece uma moça muito bonita & interessante, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e dorme com ela</span>. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A estação de rádio vinha recebendo ligações</span></span> de uma moça <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">de</span> voz triste que sempre lhe pedia para tocar a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">mesma música, </span>"<i>Play Misty for Me</i>"</span>, e <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">depois da noite de amor, o radialista descobre que a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">garota</span> bonita é a dona da voz. Ele </span>crê que ali, tacitamente, resta findado seu <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">envolvimento</span> com a moça. Quando ela começa a procurá-lo no trabalho, ele compreende a profundidade do problema causado pelo momento de fraqueza. Certamente, a carreira bem-sucedida do filme não se deve só aos excelentes artistas. O modo como foi escrito - concisa & realisticamente - estabelecia um liame entre os espectadores e o drama, pois os homens conseguiam projetar as ansiedades no pesadelo vivido pelo protagonista. Ainda hoje, "<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Play Misty for Me</span></i>" cativa as pessoas <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">com impressionante facilidade. Seu charme</span> nada tem a ver com movimentação, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e sim </span>a forma como <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o </span>diretor<i> Clint Eastwood </i>consegue inserir nos instantes de espera ou contemplação o peso das complicações trazidas pela <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">mera </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">convivência humana</span>. Produzido <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">quase vinte e dois </span>anos após "<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Play Misty for Me</span></i>", "<i>The Crush</i>" oferece uma experiência de suspense igualmente <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">imersiva</span>, e assim como o <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">pai </span>do subgênero, fia-se em drama, e não nas emoções fáceis; em horrores verossímeis, e não nas fantasias. O roteiro, escrito pelo próprio diretor <i>Shapiro</i>, encadeia os momentos de crescente assédio numa ordem <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">cronológica </span>e irrefreável, a ponto de experimentarmos a impotência horrorosa do protagonista. Os episódios de esquisitas manifestações de amor introduzem-se ingenuamente na vida do rapaz, e antes que se dê conta, também a obsessão. A diferença fundamental entre as duas histórias reside no tipo de emoção despertada pelos protagonistas. Em "<i>The Crush</i>", o jornalista não fez nada de substancial para atrair para si o ódio da vilã; em "<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Play Mist<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">y for Me</span></span></i>", o comportamento irresponsável & mulherengo do personagem principal dificulta qualquer empatia pelos seus problemas, e isso se formos generosos, pois, no frigir dos ovos, se houve um responsável pelo horror, foi exatamente a sua pessoa. Explico: em "<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Play Misty for Me</span></i>", até o ínterim no qual ele <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">aborda a moça no bar</span>, ainda há tempo <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">de </span>parar. Ele sabia muito bem que se seguisse adiante, feriria <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a namorada "<i>oficial</i>"</span>, pois <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o comportamento adúltero </span>é um pecado terrível; <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ademais</span>, além <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">de seus amigos</span>, havia outra pessoa com quem se preocupar, justamente a mulher <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">sentada naquele banco na extremidade do bar</span>. Se ele tivesse escutado a razão e pedido para parar, teria sido mais nobre deixar aquele <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">night club </span>e regressar para casa. Quando o personagem leva adiante o impulso e dorme com a moça, uma memorável interpretação da atriz <i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Jessica Walters</span></i>, ele acredita que sairá da experiência intocado. No curso da história, porém, à medida que desvenda o passado traumático da mulher e o seu frágil estado psicológico, amadurece com a lição das consequências. Quando a mulher franqueou ao protagonista acesso <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">à sua intimidade</span>, ela lhe confiou a alma. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Se para </span>muitas mulheres tudo não passaria de um caso passageiro<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, a</span>s circunstâncias do passado da moça imprimem ao ato um poderoso simbolismo <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">compromissório</span>, e ao virar as costas e deixar, o homem comete o maior <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">dos insultos. Tendo </span>levado consigo algo tão caro à mulher, sua intimidade, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">passa</span>-lhe a mensagem de que a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">usou </span>como meio para alcançar um prazer momentâneo, nada mais. Nada justifica o comportamento da mulher, mas, por esse viés, passa-se a enxergar o homem como alguém igualmente irresponsável e imaturo, em grande parte causador de todas as coisas ruins. A atriz <i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Jessica Walters</span></i> se tornou uma estrela de cinema por causa do papel, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">mas vocalizou a preferência pelo roteiro original, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">que lhe dava</span></span> uma janela de redenção, pois finalmente nutriríamos compaixão e passaríamos a enxergá-la não como vilã, mas vítima do amante. Quando o diretor <i>Eastwood </i>insistiu na mudança, reescrevendo o desfecho <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">como </span>um duelo de vida ou morte<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">,</span> a atriz se sentiu <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">desapontada</span>. Ainda assim, a edição final permite que a enxerguemos como um ser humano que, ao cometer erros tão graves, o <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">fez</span>, em parte, por causa de um agente causador que tripudiou em cima de seu afeto. No filme, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">há </span>um "<i>Por que</i>", enquanto em "<i>The Crush</i>" tudo permanece encoberto pelo mistério. O detalhe diferencia as duas obras e revela qualidades distintas. Ao passo que "<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Play Misty for Me</span></i>" é um filme mais psicologicamente enriquecido e sofisticado, "<i>The Crush</i>" prefere investir no suspense crescente, e mesmo não contando com a mesma <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">densidade </span>psicológica do anterior, o primoroso roteiro não desperdiça o potencial da história, e cumpre com o esperado, ou seja, nos aterroriza lenta e gradualmente, até <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">olharmos de frente para </span>o abismo do qual esse cara está dependurado. </span><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0zIvuDD679YB-mRurYt35_4v7ULwYEhqEDfIYqmLlhgJA2MHZCATaTEovllQov2hfNKz6Ltu_vq3zbO2I8B9pCdGsAiqSnxTm6_7LGiqElB5nNneyiiXTeyjSIcRDK3tYH2j6bnlX5-AX/s1600/foto-do-flme-the-crush-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="575" data-original-width="1024" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0zIvuDD679YB-mRurYt35_4v7ULwYEhqEDfIYqmLlhgJA2MHZCATaTEovllQov2hfNKz6Ltu_vq3zbO2I8B9pCdGsAiqSnxTm6_7LGiqElB5nNneyiiXTeyjSIcRDK3tYH2j6bnlX5-AX/s320/foto-do-flme-the-crush-2.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Uma das melhores qualidades do escritor <i>H.P. Lovecraft</i>, um dos mestres do pessimismo existencialista & materialismo científico, era a absurdidade do horror. Ele sabia como escrever <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">acerca d</span>a solidão humana face a um cosmo que enxergava como indiferente e macabro. Ao assistir a "<i>The Crush</i>", faço a associação às obras literárias de <i>Lovecraft </i>em razão da aleatoriedade envolvida no <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">destino </span>do protagonista. Em um brevíssimo período de tempo, <i>Nick </i>vê sua vida <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">se desintegrar </span>num fluxo irrefreável, e lutar contra uma menina superprotegida de quatorze anos se revela uma batalha tão perdida quanto contra a correnteza do mar. Para mim, "<i>The Crush</i>" é um filme que <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">reproduz <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o</span></span> claustrofóbico sentimento de se encontrar na situação de uma pessoa <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">assediada por</span> um psicopata. A engenhosidade com a qual a menina vai isolando o rapaz <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">lembra</span> "<i>Poughkeepsie Tapes</i>", mais especificamente a parte na qual assistimos <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">abordagem </span></span>do "<i>Carniceiro de Water Street</i>" ao sequestrar uma pobre moça, <i>Cheryl</i>, a sua "<i>preferida</i>"<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. A</span>ntes de dar o bote, o monstro se diverte com as minúcias do procedimento. Em "<i>The Crush</i>", a vilã parece se deleitar com a forma como corrói, lenta e <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">incansavelmente</span>, o senso de segurança e autoconfiança do rapaz, e o diretor<i> Alan Shapiro</i> evoca das armadilhas da garota situações de extrema tensão. O roteiro, muito bem amarrado, cria uma história de <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">extremo </span>horror, ao passar a impressão de que a jornada do protagonista poderia ser vivida por qualquer pessoa, dadas as circunstâncias. <i>Nick </i>não principiou nenhuma ação para merecer o assédio, mas não acontece assim na vida real, nos dramas vividos por todos<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> nós?</span> Não "<i>pedimos</i>", por exemplo, por uma doença, porém então, inadvertidamente, um diagnóstico de uma <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">enfermidade </span>letal bate à porta e transforma nossos mundos. Atores gabaritados dão vida ao roteiro com vivacidade e eloquência. Do ator <i>Cary Elwes</i>, sempre se pode esperar uma <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">primorosa </span>performance, e o papel principal em "<i>The Crush"</i> parecia o veículo ideal para lhe abrir as portas <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ao</span> estrelato. Não obstante não tenha virado "<i>estrela de cinema</i>", ele consolidou uma maravilhosa carreira, cheia de desempenhos <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">notáveis. R</span>ecentemente, foi redescoberto por uma nova geração, graças à franquia "<i>Jogos Mortais</i>". O brilhante cineasta <i>James Wan</i>, um fã de cinema dado a restaurar as carreiras de seus atores preferidos, honrou o potencial de <i>Elwes </i>ao escalá-lo para o papel do Dr. <i>Gordon</i>, no primeiro e melhor filme. Como o <i>Nick </i>de "<i>The Crush</i>", do ator emana uma aura de honradez, cavalheirismo e bom-mocismo. Ele realmente se sobressai como uma íntegra presença, por quem <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">é</span> fácil torcer. Em nenhum momento age com canalhice e oportunismo, e ao passo que deseja o bem para <i>Darian</i>, deve encarar a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">crueza </span>dos fatos, pois razões nobres de nada <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">valem </span>quando se está sob o ataque de uma psicopata. No papel periférico de <i>Cheyenne</i>, <i>Amber Benson</i> brilha nas poucas cenas, entre as quais se encontra a mais atmosférica, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ao </span>se encontrar com <i>Nick </i>e o colocar a par da gravidade da situação. O momento da rememoração de fatos sobre a estranha morte do professor por quem <i>Darian</i> <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">nutrira <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">sentimentos </span></span>descortina diante de <i>Nick </i>a profundidade da ameaça: ele se encontra na linha de fogo, e se a menina não hesitou em envenenar um homem <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">antes</span>, sua vida também corre perigo. A breve conversa dá ao suspense, até aquele instante muito bem rendido, uma conotação de <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">irrestrito </span>horror, vez que não se trata mais de sustos <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">bolados</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>por uma adolescente apaixonada, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e </span>sim de um jogo onde alguém sairá morto. Muitos excelentes filmes de terror fiam-se nesse expediente: um ator talentoso capaz de roubar a cena aparece, desempenha seu papel, usualmente para explicitar a dimensão de um problema, e sai de cena, nos deixando embasbacados. Eu poderia citar o trabalho do sr. <i>J.K. Simmons</i> no aterrorizante "<i>Os Escolhidos</i>", no qual interpreta um estudioso dos "<i>Cinza</i>", responsável por repassar a uma pobre família objeto do assédio a realidade das criaturas por trás do pesadelo, na verdade seres extraterrestres. Eles resistiam a crer na natureza extraterrestre do assédio; o diálogo com o especialista rasga o véu do mistério e lhes dá uma necessária <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">amostra </span>de realidade. Para conceber cenas genuinamente horripilantes, um cineasta não precisa de muito<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">B</span></span>ons atores, diálogos empolgantes e um senso de atmosfera bastam para instilar eletricidade na história. Quando assisto a filmes de suspense, sempre torço para que o diretor nos abençoe com um momento do tipo, onde você se sente convidado a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">participar <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">da trama</span></span>. Eu poderia citar um grande número de momentos cinematográficos do tipo, mas a cena de "<i>Os Escolhidos</i>" sumariza a referida magia. No seu primeiro grande papel, <i>Alicia Silverstone</i> criou uma vilã memorável. "<i>The Crush</i>" abriu muitas portas para a atriz, mas ela levaria um par de anos até o estrelato, com "<i>As Patricinhas de Beverly Hills</i>". "<i>The Crush</i>" já nos apresenta ao<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> seu imenso carisma</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O</span></span> modo como<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> trabalha</span> faz da personagem um grande mistério. <i>Darian </i>é superdotada, exímia pianista estudiosa de insetos<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Ela </span>coleciona notas excelentes e integra o time de equitação; por outro lado, faltam-lhe <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">elementos de sociabilidade</span>, uma notória ausência até mesmo no jeito com que troca um olhar e esboça o sorriso de flerte <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">para </span><i>Nick</i>, ao embargar a passagem ao <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">conjugado</span>, sentada no caminho, nas escadas. A atriz é tão expressiva que consegue recriar um traço próprio aos psicopatas, difícil de descrever. Trata-se de uma superfície polida, quase como um quadro em branco, onde se enxergam <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">emoções exageradas</span>, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">que mais parecem <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">imitadas </span>do que espontâneas</span>. Após "<i>As Patricinhas de Beverly Hills</i>", <i>Alicia Silverstone</i> esteve no topo por alguns anos, findos os quais deixou os papéis principais para se focar em produções menores e mais artísticas. Ela fez parte da geração dos anos 90, anterior à vinda da <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">década seguinte, </span>com "<i>Meninas Malvadas</i>", de 2004, o grande sucesso <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">revelador de </span>atrizes como <i>Rachel McAdams</i> e<i> Amanda Seyfried</i>. Muitas estrelas dos anos 90 não conseguiram capitalizar o sucesso de seus primeiros papéis; <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">algumas </span>migrariam para material mais sério<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, fazendo</span> uma transição serena à fase adulta <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">da carreira</span>. Houve aqueles que não resistiram a pressão. Recentemente, o elenco de "<i>As Patricinhas de Beverly Hills</i>" se reuniu para um especial, no qual trocavam reminiscências das filmagens, realizadas tantos anos atrás, em 1994/1995. Evidentemente, é surpreendente ver o quanto as pessoas mudam, num certo hiato de tempo. Os atores não só pareciam mais maduros (e melhores do que nunca), mas interiormente engrandecidos. Embora marcada por bom humor e felizes recordações, pesa sobre a reunião a ausência da atriz <i>Britanny Murphy</i>, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">companheira </span>de elenco, falecida prematuramente em 2009, quando tentava realizar a transição para papéis mais <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">sérios</span>. A reunião do elenco é muito marcante, pois nota-se, o tempo todo, o quanto parecem comovidos em razão da trágica ausência da falecida colega. Quando os atores discorrem sobre aquele período de tempo no qual fizeram "<i>As Patricinhas de Beverly Hills</i>", nos levam a um nostálgico passeio pelo túnel do tempo, e passeios do tipo tendem a ou terminar em risos de alegria ou em lágrimas de saudade. No caso do elenco, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">os artistas </span>parecem divididos entre as emoções: risos pelos bons tempos & tristeza pela sentida ausência de uma <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">colega</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, e, no encontro, há um pouco de cada<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWWSPQGD6_68ZS-AIgFKjhONQN0KLHfQ2o0rMi58VtFBWB3azk6E3-4EKU4EX0Gj449eJ7WBvDsRwh1IZ4r6nlHt_qZ_Y09wbuPDXZRXgxm_jlgAz1ZjI35Kjmb5RbIIs3jMuGqKvB0Czi/s1600/foto-do-flme-the-crush-7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="575" data-original-width="1024" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWWSPQGD6_68ZS-AIgFKjhONQN0KLHfQ2o0rMi58VtFBWB3azk6E3-4EKU4EX0Gj449eJ7WBvDsRwh1IZ4r6nlHt_qZ_Y09wbuPDXZRXgxm_jlgAz1ZjI35Kjmb5RbIIs3jMuGqKvB0Czi/s320/foto-do-flme-the-crush-7.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimchiju4gTIlxETQMiF6bRJYY9XjrGpw5SM3_bWxnzu73q0UY6uIHstYP7TYn-zNv5yP7FnBDevBsNpj1sP54V76aI_78eic1ZN1hong_J2jUZxrmK3d8WZwYlYW9X5r5DxB034sHQQnII/s1600/foto-do-flme-the-crush-3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimchiju4gTIlxETQMiF6bRJYY9XjrGpw5SM3_bWxnzu73q0UY6uIHstYP7TYn-zNv5yP7FnBDevBsNpj1sP54V76aI_78eic1ZN1hong_J2jUZxrmK3d8WZwYlYW9X5r5DxB034sHQQnII/s320/foto-do-flme-the-crush-3.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Assistir a "<i>The Crush</i>" não apenas <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">recupera </span>um modelo mais simples e eficiente de se fazer cinema; o filme também nos devolve a uma saudosa época, impossível de se reaver. Recentemente, encantei-me com um lindo vídeo <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">com</span> belas imagens de Nova York, tomadas em 1993, com uma câmera de alta resolução, sublinhadas por uma comovente música. Impressiona-me como, embora <i>antes </i>pouco se <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">diferencie </span>de <i>hoje</i>, a sutileza mostra o contraste, afinal, de fato, ali em 1993, vivia-se um ar de ingenuidade, tão <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">tangível </span>na atmosfera daquela<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> gente</span> caminhando sem celulares pelas largas calçadas<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. C</span>om o tempo, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">essa</span> impressão viria a se rarefazer. Mesmo na pueril troca de olhares apaixonad<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">os</span> de um casal à espera para atravessar a rua, pronuncia-se um adorável tom de concordância e harmonia, há muito desaparecido. Sobre o vídeo, um senhor comenta como o 11 de setembro levou consigo parte daquela tranquilidade, e quão distintos <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">se contrastam </span>os dois mundos, Nova York em 1993 & hoje, por mais que se precise de sensibilidade para pontuar <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">tais </span>diferenças. "<i>The Crush</i>" nos brinda com semelhante surpresa. Enquanto suspense, sustenta a atenção, mas não extrapola os limites do bom gosto; enquanto drama, trata seus personagens como seres humanos com os quais podemos nos identificar. Em termos de estilo, leva-nos para um passeio de volta aos anos 90, convidando-nos a nos recordar de onde nos encontrávamos na linha do tempo. O filme foi lançado no Brasil em VHS, em 1994, sob o título "<i>Paixão sem Limite</i>". Particularmente, ao revisitá-lo, sempre me lembro com carinho de meados dos anos 90, com uma nostalgia semelhante à evocada pelo vídeo de Nova York, em 1993. Eram outros tempos, e as estrelas de cinema. Recordo-me do Natal daquele ano de 1994: <i>Jean Claude Van Damme</i> era astro, e "<i>Street Fighter</i>" havia acabado de chegar aos cinemas brasileiros. Fomos ver o filme na estreia, eu e um amigo, acho que todo garoto daquele tempo se apaixonou pela <i>Kyle Minogue</i>, que no filme interpretava a <i>Cammy</i>! <i>Jean Claude Van Damme</i> teria mais alguns bons anos pela frente, até sua estrela enfraquecer a partir da década seguinte, pondo fim a uma era ensolarada, e inaugurando novos, incertos e tristes tempos, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a começar por</span> uma certa manhã em setembro de 2001.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Engrandecido por uma premissa intrigante, direção precisa, performances fantásticas e momentos de suspense de roer as unhas, "<i>The Crush</i>" é o candidato perfeito para receber o tratamento da refilmagem. Vejam o que aconteceu ao clássico "<i>Pet Sematary</i>", refeito para uma nova geração<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">.</span> Todos esperamos ansiosamente a estreia no próximo dia 09! Antes que <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o mesmo destino </span>ocorra a "<i>The Crush</i>", todavia, seria preferível que as pessoas procurassem a fonte, pois há elementos inerentes à época do lançamento responsáveis por torná-lo um suspense fora de série, e um dos toques de magia, impossível de se reproduzir, dá-se nas particularidades do período no qual veio ao mundo pela primeira vez, inigualável como <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a fragrância das flores na esteira da adorável chegada da primavera</span>.</span></div>
Ary Luiz Dalazen Júnior Salve Mariahttp://www.blogger.com/profile/05930396542549787102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-81167391612567680032019-04-27T13:04:00.001-07:002019-04-27T15:25:33.505-07:00"A Better Tomorrow" (China, 1986): O grande diretor John Woo inicia a sua caminhada ao topo neste impressionante, violento e lírico filme de ação!<br />
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAih0lq0OqSv6Isrm1YZp2eJ9fCleJ_S7Z-vsQ2i4P21i_j8IwD2-bJ3Fyt4hzZIkM0w3iRr2fOzisHgD0EzWIh-HPnWXUYWa2KVlhoVapasX_i263fBi2jMjUqe29v9tD2mU9X9DGWCfB/s1600/a+better+tomorrow+1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; display: inline !important; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="928" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAih0lq0OqSv6Isrm1YZp2eJ9fCleJ_S7Z-vsQ2i4P21i_j8IwD2-bJ3Fyt4hzZIkM0w3iRr2fOzisHgD0EzWIh-HPnWXUYWa2KVlhoVapasX_i263fBi2jMjUqe29v9tD2mU9X9DGWCfB/s320/a+better+tomorrow+1.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>Sinopse</b></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">: </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung Tse-Ho</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> (</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Ti Lung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">) e </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Kit</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> (</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Leslie Cheung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">) são dois irmãos numa encruzilhada. No início do filme, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Kit</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> acaba de se formar como policial da força de combate ao crime em Hong Kong, e sonha em se tornar superintendente. Ele vive o melhor período de sua vida, pois conta com o suporte e apoio do irmão mais velho, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, com o amor do velho pai enfermo e o carinho de sua doce namorada </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Jackie</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> (</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Emily Chu</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">). Embora sempre presente na vida do irmão mais jovem, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> mantém oculto seu trabalho como um gângster membro da Tríade chinesa. O pai doente sabe da vida secreta do filho mais velho, e mesmo conhecendo o orgulho do gângster pelo fato de o irmão ser um incorruptível homem da lei, lembra-o de quando ambos eram crianças e brincavam de polícia v. bandido: ninguém acabava se machucando, mas então tudo era brincadeira. O pai não quer que acabem brigando na vida real. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> se sente muito dividido e cheio de remorsos. No dia a dia, ele performa operações ilegais envolvendo a distribuição de notas falsas, ao lado do melhor amigo, o bem humorado e honrado </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Mark Go</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> (</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Chow Yun-Fat</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">). No sindicato, ambos são tratados com veneração, e os desdobramentos parecem indicar que, chegada a hora da sucessão, um dos dois ocupará o lugar de chefe da Tríade. Com irreverência, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> e </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Mark</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> acolhem o novato desajeitado </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Shing</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, um principiante no mundo do crime, e seguem desempenhando as tarefas do sindicato no dia a dia. Ambos se conduzem com estilo, vestindo elegantes casacos e óculos pretos, e inspirando respeito por onde passam. Compreensivelmente, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Shing</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> impressiona-se com glamour da máfia, e fica deslumbrado em se tornar um gângster capaz de inspirar temor e reverência. Ele terá a oportunidade de provar seu valor quando, ao invés de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Mark</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> como de costume, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> levar </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Shing</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> para um trabalho em Taipei, no dia seguinte, uma espécie de "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">prova de fogo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" para o neófito. O trabalho em Taipei se prova uma verdadeira cilada, e depois de uma intensa troca de tiros da qual </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> e </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Shing</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> escapam por pouco com suas vidas, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> baleado inclusive, os bandidos responsáveis pela emboscada despacham um assassino para a casa do pai de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Kit</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> para usá-lo como barganha, caso </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> seja preso e acabe tentado a falar tudo o que sabe para entregar a turma inteira à polícia. O pai reage e luta com o vilão. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Kit</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> chega a tempo de se deparar com a confusão e ajudar o idoso, mas o velhinho acaba morrendo. Da pior maneira, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Kit</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, um rapaz honesto e obediente às leis, descobre que o irmão fazia parte da Tríade e atraíra para dentro de casa complicações que resultaram na morte do amado pai. Em Taipei, o acuado </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> prefere se entregar à polícia, que montou um cerco na área. Assim, ele dá ao colega </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Shing</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> a oportunidade de se evadir por outra direção sem ser capturado. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Mark</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> vem a ler sobre o ocorrido no dia seguinte, ao comprar o jornal. Entristecido pelo querido parceiro, resolve se vingar. Aprende que o responsável pela emboscada fora o sobrinho do outro chefão de Hong Kong: o rapaz se juntara a uma gangue menor de Hong Kong e passara a perna no tio, fingindo-se soldados do grupo numa transação legítima, quando, na verdade, armavam o golpe o tempo inteiro. Como a honra vale ouro para os verdadeiros homens da Tríade, o chefão passa a </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Mark</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> todos os dados de que ele precisa para acertar as contas com o sobrinho traidor, e oferece armas & homens. Numa sequência empolgante muito reveladora da habilidade do diretor </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> em arquitetar cenas estilísticas de ação, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Mark</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">se mistura</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" aos presentes no restaurante com uma garota de programa até chegar à mesa onde o sobrinho traidor e sua turma jantam. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Mark</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> abre fogo e executa os vilões, porém leva um tiro na perna durante a fuga. Os anos, então, se passam muito rapidamente, e vemos como </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Kit</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> se torna um dos melhores policiais da força de Hong Kong. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> cumpre a pena com resignação, e ao ser posto em liberdade, deixa a cadeia obstinado em fazer as pazes com o irmão e viver uma existência limpa como motorista de táxi. Durante aquele tempo, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Mark</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, outrora um respeitado membro da Tríade, virou um humilde cuidador de carros, por conta da perna deficiente, e ninguém o respeita mais. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Shing</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, a quem conhecemos como um inocente aprendiz, ascendeu ao topo da organização; agora, é o impiedoso chefão. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> procura o velho amigo </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Mark</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, e eles ajudam um ao outro no longo processo de reabilitação, longe das garras da Tríade. Simultaneamente, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> batalha para conquistar o perdão do ainda ressentido irmão. Quando </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Shing</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> passa a armar um plano maquiavélico para trazer </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> de volta ao mundo do crime, os três sabem que precisam unir forças para derrubar o verdadeiro vilão.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtV6yYmcNx7TTPGqCSoUBD-zc9SqJmqMLH2jz982C173JKK4IoVpHTHNuoHPWx3m-3bqtJBqXDNAiOUzHxpfkF95XR4tIr-P3t6IFAPMP1mjczGQkmn97FWUGfJa4McZ2IALnAccN6bfxQ/s1600/a+better+tomorrow+3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="955" data-original-width="805" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtV6yYmcNx7TTPGqCSoUBD-zc9SqJmqMLH2jz982C173JKK4IoVpHTHNuoHPWx3m-3bqtJBqXDNAiOUzHxpfkF95XR4tIr-P3t6IFAPMP1mjczGQkmn97FWUGfJa4McZ2IALnAccN6bfxQ/s320/a+better+tomorrow+3.jpg" width="269" /></a></div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Resenha</b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">: Por um período relevante, o diretor </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> foi um dos cineastas mais admirados da Sétima Arte, tendo sido convidado a reger projetos impressionantes, realizados dentro do sistema dos grandes estúdios, sucessos de bilheteria que, paradoxalmente, viam a liberdade criativa do cineasta recrudescer à medida que o escopo das produções se elastecia. Para muitos, o nome do diretor é imediatamente recordado pelos sucessos filmados em Hollywood - "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">O Alvo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Broken Arrow</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Outra Face</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Missão Impossível 2</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" e "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">O Pagamento</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" - mas o alcance dessas ambiciosas produções acabaram por diluir o seu melhor período, anterior à vinda aos Estados Unidos. Na época do lançamento na China, "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Better Tomorrow</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" foi catapultado à estratosfera das bilheterias, um honorável recorde que só alguns anos mais tarde seria quebrado. Para se ter uma ideia do fenômeno popular de "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Better Tomorrow</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", os óculos escuros Ray-Ban usados pelo ator </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Chow Yun-Fat</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> tiveram seus estoques esgotados semanas após a estreia. Os jovens não só adotavam os óculos, como também coadjuvavam o estilo com o longo trench coat e o detalhe do palito de fósforo no canto da boca. Embora extremamente bem-sucedida, a experiência também trouxe dores de cabeça a </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Tsui Hark</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, produtor, e o diretor </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, pois parte da imprensa os acusou de, com o filme, glamorizarem a temerária vida da máfia chinesa, conhecida como Tríade. Ainda que sob percalços, "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Better Tomorrow</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" emblematizou o começo da maturidade de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> enquanto cineasta, visto que deixava a ação pela ação para rodar obras cujas tramas se aproximavam dos ambiciosos dramas dirigidos pelo norte-americano </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Martin Scorsese</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> no período mais cultuado de sua filmografia. A partir de "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Better Tomorrow</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, um artesão da violência, preocupou-se em ir além do puro espetáculo visual, explorando o drama interior de seus heróis, usualmente homens violentos regidos por um rígido código de honra. Seus protagonistas podiam agir passional e violentamente, mas sempre faziam escolhas baseados em valores transcendentes ao ego, desde o nobre remorso do assassino profissional de "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">The Killer</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" ao carinho do tira </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Tequila</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> por sua ex-mulher em "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Hard Boiled</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". Em "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Better Tomorrow</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> sublinha a ação e pirotecnia com o drama de dois irmãos em lados opostos da lei. Do puro, belo amor fraterno, belissimamente rendido pelo sensível cineasta, ele encontra o fio narrativo apropriado para uma tocante jornada rumo à redenção. Quem assistir a "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Better Tomorrow</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" esperando ação encontrará algo mais recompensador, pois </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> imbui a trama de ímpar profundidade humana. O filme traz consigo uma poderosa bagagem asiática, entretanto o núcleo dramático, a busca pela redenção, soará familiar a qualquer cristão. Com uma trilha sonora simultaneamente comovente e eletrizante a dar um ar romântico aos procedimentos, "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Better Tomorrow</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" se destaca como uma produção realmente à parte, com a qual o diretor </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> ensaia as características responsáveis pela sua identidade como poeta visual da violência.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAVMZS4G8ktpoN1Nz86t7YFdXbec9SM3X2W6D6Gzq1z108axS5mpYgoIs-CCkRynTXd5q8psD35fo4PetUgnthidalZX8vZNEBPsPkq2zPs8b4EiWoP4DIwVb3bnTLDCvFlBVvdtp8MeSw/s1600/a-better-tomorrow.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="716" data-original-width="1280" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAVMZS4G8ktpoN1Nz86t7YFdXbec9SM3X2W6D6Gzq1z108axS5mpYgoIs-CCkRynTXd5q8psD35fo4PetUgnthidalZX8vZNEBPsPkq2zPs8b4EiWoP4DIwVb3bnTLDCvFlBVvdtp8MeSw/s320/a-better-tomorrow.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Ti Lung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> e </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Leslie Cheung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> estrelam o filme como os dois irmãos em lados distintos, e se destacam como atores magistrais, cada um por motivos especiais. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Lung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> encarna o paradigma do anti-herói clássico de uma obra-prima do mestre. Como um gângster, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Lung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, no papel de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung Tse-Ho</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, sabe que para sobreviver no submundo do crime precisa atirar primeiro e não se permitir emoções como compaixão. Ao mesmo tempo, o semblante triste denuncia a preocupação com o futuro do irmão </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Kit</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, a quem ama e deseja uma vida distinta da sua, e a fidelidade ao velho amigo </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Mark</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, por cuja deficiência se julga responsável. Mesmo na luta pela sobrevivência no submundo à margem da lei, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> age como um homem íntegro obediente a um código moral, e por seus valores paga um alto preço, conforme vemos durante a emboscada da polícia, quando sacrifica a liberdade e se entrega de modo a dar ao colega </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Shing</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, que anos mais tarde o trairá, uma chance de escapar do cerco. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Leslie Cheung </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">dá vida a </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Kit</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, e confere ao personagem a energia e suavidade arrogante dos jovens, ainda desconhecedores dos muitos tons regedores da dinâmica do mundo. Conhecemo-o como um cadete idealista, testemunhamos a evolução como tira, e culminamos com o seu perfeito desenvolvimento quando, ao fim, perdoa o irmão e o aceita pelo que é, ao perceber as próprias falhas e o fato de, no mundo, a verdade nem sempre vir em preto e branco. Lamentavelmente, o ator </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Cheung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, uma alma gentil e atormentada, cometeria suicídio em 2003, após muitos anos de uma batalha perdida para a terrível enfermidade da depressão. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Chow Yun-Fat</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> se consagraria como o ator preferido de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, inaugurando uma parceria semelhante a de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Martin Scorsese</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Robert De Niro</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Quando foi escalado para o vital papel de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Mark</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Yun-Fat </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">encarou o convite como uma bênção, afinal vinha de uma sequência de fracassos e trabalhos inexpressíveis. "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Better Tomorrow</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" salvou sua carreira e o estabeleceu como um astro do mercado asiático. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Mark</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> serve de estepe aos dois irmãos, contudo, mesmo como coadjuvante, praticamente "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">rouba</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" os holofotes dos dois protagonistas, conduzindo-se com a elegância & letalidade de uma pantera, tal qual na cena onde caminha abraçado a uma garota de programa, ambos aos beijos, abraços e gargalhadas, ao longo de um corredor de restaurante, e vai aproveitando a encenação para ir depositando pistolas automáticas carregadas nos vasos de flores, numa brilhante estratégia de escapada a preceder o ataque aos bandidos à mesa. Ele desempenhou o trabalho com um charme tal que, mesmo morrendo ao fim, os produtores deram um jeitinho de trazê-lo de volta em "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Better Tomorrow 2</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" como </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Ken</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, o irmão gêmeo de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Mark</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Quando </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Ken</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> morreu no desfecho da segunda parte, os caras, determinados a trazerem-no de volta, trataram de bolar uma </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">prequel</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, uma trama passada antes dos eventos do primeiro filme, qualquer coisa para justificar a contribuição do carismático astro! </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> dirigiu o segundo, e </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Tsui Hark</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, outro habilidoso artífice da ação, comandou o terceiro, ambos ótimos filmes, mas muito diferentes.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzI9if8alwtlmCBecKN4L6lLVvnRaam9mEAGgrpRf9kKi5U5u2dD1yVB3kRj-IrvTCJfNq3IGulhyK-4atunKTLSBGqdpHn9r_OnBsV6YPH58dl3J3-8tn_cH3F41PRGZecVrfUAp2wxyV/s1600/a+better+tomorrow+2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="304" data-original-width="565" height="172" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzI9if8alwtlmCBecKN4L6lLVvnRaam9mEAGgrpRf9kKi5U5u2dD1yVB3kRj-IrvTCJfNq3IGulhyK-4atunKTLSBGqdpHn9r_OnBsV6YPH58dl3J3-8tn_cH3F41PRGZecVrfUAp2wxyV/s320/a+better+tomorrow+2.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Em "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Better Tomorrow</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", pinçamos as qualidades responsáveis por terem feito de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> um dos diretores instantaneamente reconhecidos em termos de visual & estilo. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> encontrou a identidade ao balancear a ação cinética, tão própria dos asiáticos, com a poesia do enquadramento das imagens. Para sintetizar magia, estetizou os tiroteios e a violência com tomadas em câmera lenta, reminiscentes das obras-primas de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sam Peckinpah</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. A redução proposital da velocidade, a aplicação de zoom e os movimentos inesperados de câmera instilaram no seu olhar uma conotação lírica & shakespeariana, e, a partir de "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Better Tomorrow</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", com muita razão, as pessoas passaram a esperar de cada novo trabalho seu uma festança aos olhos. Ele não desapontou, atingindo o ápice criativo com o melhor filme de ação do século XX, "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Hard Boiled</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", lançado no Brasil como "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Fervura Máxima</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", uma ópera de tiroteios, traições e duelos de homens com duas pistolas nas mãos! Após "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Fervura Máxima</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> seria assediado por Hollywood, interessada em importar o talento do chinês. O intercâmbio se realizaria em 1993, com "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">O Alvo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" ("</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Hard Target</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"), estrelado por </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Jean Claude Van Damme</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, então um nome em ascensão. Os desconhecedores da filmografia de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> tiveram a oportunidade de descobrir o talento do cineasta com "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">O Alvo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", uma superprodução de enorme visibilidade. Já ali, todavia, pronunciava-se o problema que viria a assolar os dez anos nos quais dirigiria em Hollywood: por reger filmes de estúdio, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> também precisava lidar com os massivos egos de estrelas internacionais, vaidosas demais para permitirem que o estilo do cineasta ofuscasse suas presenças. Não obstante excepcional, "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">O Alvo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" esgotou o cineasta emocionalmente, cortesia das constantes discussões com </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Van Damme</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, mas </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> sagrou-se vencedor, imprimindo ao filme a sua marca autoral. A experiência seria diferente com "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Missão Impossível 2</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", seu primeiro grande desapontamento com o sistema de trabalho dos super estúdios. Quando o astro </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Tom Cruise</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> inaugurara a franquia em 1996 com o primeiro "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Missão Impossível</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", ninguém sabia se a série daria certo. Para a cadeira de diretor, foi escalado um dos maiores virtuosos do suspense moderno, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Brian De Palma</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, com quem o astro </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Tom Cruise</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> protagonizaria discussões pelo efetivo controle da caríssima produção. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">De Palma</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> ganhou o duelo de vaidades, dirigiu o filme à sua maneira, e o resultado foi uma das maiores bilheterias de todos os tempos. Quando </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> se apresentou no set de "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Missão Impossível 2</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", o equilíbrio de forças era distinto, e </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Tom Cruise</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> tinha detrás de si o estrondoso sucesso do primeiro filme para dar as cartas. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> lutou para emprestar ao projeto sua visão, mas ao bater de frente com as opiniões do ator principal, sem o mesmo poder de barganha, acabou derrotado. Lançado para absoluto sucesso no competitivo verão de 2000, "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Missão Impossível 2</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" consolidou o nome de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Tom Cruise </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">como herói de filmes de ação, porém quem se recordava de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> pelos filmes rodados em Hong Kong décadas atrás não mais reconhecia na tela a típica paixão poética. Sua direção passava a impressão de lassidão, quiçá frouxa e quase automática. Três anos depois, ao comandar a ficção-científica "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">O Pagamento</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", encabeçada por outro astro, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Ben Affleck</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> viveria o mesmo drama ao ter a liberdade criativa tolhida em nome das vaidades do elenco de estrelas. Em 2003, a experiência de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> no Ocidente somava quase uma década. Não apenas o brilho do diretor se dissipara: genericamente, os filmes de ação haviam sofrido uma guinada a partir de "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Matrix</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", de 1999, e o público, ao menos em sua maioria, não mais nutria interesse por diretores de visão, afinal o espetáculo, e não as personalidades, havia passado a ser tudo. Não somente </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> amargaria essa realidade; visionários um dia tidos como os maiores agora também agonizavam e se viam obrigados a comandar projetos menores, como o finlandês </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Renny Harlin</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Depois de o ter importado, Hollywood não sinalizava que daria a </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> a tão sonhada liberdade criativa de antigamente, e ele regressou para a China.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhC1S5_pwK5R3P1_sAK2skp0HSmFnbkJiqP9l-96xXVJG0LnRammuQW6IOfnsVM_9ybS0-ZvUcs396KA9VYAGINHe9vWhuP3gCTI9IJoTZYyMg2fsiOs8PXtkFickCxoEA5pFN2u4n6y5EC/s1600/manhunt.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhC1S5_pwK5R3P1_sAK2skp0HSmFnbkJiqP9l-96xXVJG0LnRammuQW6IOfnsVM_9ybS0-ZvUcs396KA9VYAGINHe9vWhuP3gCTI9IJoTZYyMg2fsiOs8PXtkFickCxoEA5pFN2u4n6y5EC/s320/manhunt.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">De volta a sua terra, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> reencontrou o prumo. O cineasta retomou a liberdade a partir da qual poderia reaver as melhores qualidades responsáveis pela sua marcante filmografia no período pré-Hollywood. A partir de 2008, com "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Batalha dos 3 Reinos</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", ressurgiria como o familiar, maravilhoso virtuoso de "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Better Tomorrow</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", num impressionante processo de retomada artística das origens. Na China, dirigiria um de seus trabalhos mais excitantes: para os fãs, "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Manhunt</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", de 2017, encapsularia o </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">vintage</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, onde as excentricidades mais malucas e maravilhosas se viriam reunidas num pacote só, anos-luz à frente das superproduções de Hollywood. Sem estrelas de cinema para azucrinarem-no, com "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Manhunt</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> fielmente dirigiu um projeto nascido de suas visões e crenças, e os fãs reagiram com gratidão por tê-lo de volta. Hoje, tantos anos mais tarde da passagem pelos Estados Unidos, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> se recorda do período sem nenhum tipo de mágoa. Ele fala sobre como se sentiu enaltecido com os projetos que chegavam à sua escrivaninha, e com especial apreço se recorda de como ficou lisonjeado quando os criadores de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">James Bond</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> o convidaram pessoalmente para reger "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">007 contra Golden Eye</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">": ele não topou, mas apreciou o convite! Mais amadurecido, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> transmite a sapiência de um homem cujo melhor projeto encontra-se a alguns anos no futuro. De várias maneiras, a saga do diretor nos convida a pensar na realidade de muitos outros artistas de abençoadas visões. Eu poderia citar o sr. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">José Padilha</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, o elogiado cineasta responsável por "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Tropa de Elite 1&2</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", entre outros premiados trabalhos no cinema & TV. A energia exibida em "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Tropa de Elite</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" valeu ao sr. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Padilha</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> o convite para comandar o aguardadíssimo remake de "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">RoboCop</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", um projeto que durante a concepção passou pelos gabinetes de cineastas respeitados, como </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Darren Aronofsky</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Lançado em 2013, o remake de "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">RoboCop</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" se destacou como um filme muito bom e antenado `as revisões narrativas demandadas pela adaptação de algo originalmente concebido em 1987. Ocorre-me, porém, a impressão de que sr. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Padilha</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> não chegou a entregar o produto originalmente desenhado pela sua privilegiada mente. É muito possível que o cineasta tenha reservado a "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">RoboCop</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" sacadas geniais, todavia, ao apresentá-las ao estúdio na pré-produção, precisou suportar as interferências dos produtores responsáveis pelo dinheiro da feitura da produção. Possivelmente temerosos com os dividendos financeiros, os executivos devem ter limitado o leque de escolhas de um cineasta interessado em realizar seu melhor filme. Semelhante impasse ocorreu a outro consagrado diretor brasileiro, sr. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Walter Salles</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, cujo portfólio chamara a atenção dos grandes estúdios, interessados em tê-lo a bordo de um grande projeto. Pelo sistema de Hollywood, o brasileiro rodou "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Água Negra</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", refilmagem de um celebrado filme de horror japonês, realocado para os Estados Unidos, e produzido em 2005, na esteira do absurdo sucesso de "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">O Chamado</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". A misteriosa história de fantasma, sobre uma mãe falível empenhada em cuidar da filha, ambas habitando um apartamento de um condomínio onde, alguns anos antes, uma pobre garotinha vítima de abusos desaparecera misteriosamente, foi reimaginada para a realidade & tensões ocidentais pelo sensível </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Salles</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Em que pese as qualidades, "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Água Negra</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" não chega a criativamente decolar, destino do qual se infere uma interferência do estúdio no processo de filmagens. Da experiência, certamente uma das melhores recompensas do sr. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Salles</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> deve ter sido dirigir a talentosíssima atriz </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Jennifer Connelly</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, a estrela do projeto. Ela, inclusive, vocalizou satisfação com o trabalho do sr. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Salles</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> e fez votos de participar de outros projetos seus. Enfim, voltando ao cineasta objeto da resenha, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, as últimas movimentações de sua carreira apontam a felicidade de um homem novamente detentor de um eixo criativo e em pleno controle de sua capacidade para escolhas artísticas, hoje temperadas por maturidade, e bem-assessoradas pelo respaldo dos chineses à sua autoridade.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgo4NBqW83F1FuA9_GgEckfNVlJwMMxyHDseTOwAjlaW7mpBqqiYeVvcMWVuJYhd2Qu2ZmxnnkJ7WslfMriKU128q4d5i-kr7SbBiEhFYQu-WWbc_GlUPCB2UIXdUHOvFJI7C1qmloejIge/s1600/capa-de-vhs-alvo-duplo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1217" data-original-width="1600" height="243" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgo4NBqW83F1FuA9_GgEckfNVlJwMMxyHDseTOwAjlaW7mpBqqiYeVvcMWVuJYhd2Qu2ZmxnnkJ7WslfMriKU128q4d5i-kr7SbBiEhFYQu-WWbc_GlUPCB2UIXdUHOvFJI7C1qmloejIge/s320/capa-de-vhs-alvo-duplo.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Os cinéfilos ainda alheios `as origens de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> ficarão felizes em saber que todas as principais produções do período pré-Hollywood podem hoje ser facilmente encontradas em DVD por um valor quase irrisório diante de sua relevância histórica. Lançado com todas as honras em DVD, "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Better Tomorrow</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" teve imagem & som restaurados graças a um empenhado processo de transferência. Curiosamente, o DVD não foi o primeiro contato dos fãs brasileiros com a obra, afinal, em 1994, a </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Flashstar</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> o lançara em fita de vídeo com o título "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Alvo Duplo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", para "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">surfar na crista da onda</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" do então recente sucesso de "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">O Alvo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", com </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Van Damme</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Se você estiver interessado em iniciar estudos da carreira de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> pelo seu melhor trabalho, "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Fervura Máxima</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", eu recomendaria "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Better Tomorrow</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" como mais apropriado ponto de partida. Aqui, encontrarão interessantíssimos esboços das técnicas que ele lapidaria nos anos seguintes, tanto dramática quanto esteticamente. Em termos de recursos dramáticos, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> trata os vilões com seu familiar apreço por antagonistas. O grande público se recordará do franzino, memorável </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Lance Henricksen</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> no papel do vilão </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Emile Fouchon</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, de "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">O Alvo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">": magérrimo, intelectualizado e entusiasta pianista, ele portava uma super pistola e se movia com uma desenvoltura capaz de intimidar o musculoso herói vivido por </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Van Damme</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. O carinho de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> ao retratar a extravagância dos vilões como criaturas maiores que a vida, todavia, inicia-se muito antes, em 1986, com "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Better Tomorrow</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", onde o vilão </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Shing</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, interpretado por </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Waise Lee</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, corrobora a assertiva. Na primeira parte do filme, o jeito amador e atrapalhado nos convida a enxergá-lo com a benevolência e bom humor reservados aos principiantes, mas, com o desenvolvimento da trama, aprendemos como o poder, uma fraqueza tão corruptível, transforma até mesmo ingênuos em monstros. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Shing</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> é um homem corrompido pelo poder, pois tendo sido salvo por </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Sung</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> no começo da trama, ao invés de usar o sacrifício do colega para se tornar um ser humano melhor, deixa o ego tomar conta e permite-se galgar implacavelmente degraus cada vez maiores dentro do sindicato do crime, até se tornar o Senhor da Tríade. Esteticamente, "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">A Better Tomorrow</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" turbina a violência ao revesti-la com uma melancólica beleza, como se os duelos se dessem consoante coreografias milenares de uma dança secreta, protagonizada em tiroteios de tirar o fôlego. Como um todo, o cinema asiático costuma impressionar pelos exuberantes espetáculos de lutas. Eu nunca gostei de artes marciais, com a exceção talvez do pugilismo por causa dos grandes boxeadores do passado, mas admiro os atores e atrizes que performam tais modalidades perante as câmeras, mesmo sob riscos à saúde. Muitas atrizes sofrem sérios reveses ao desempenharem proezas, como a inglesa </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Kate Beckinsale</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, que em um dos filmes sobre vampiros v. lobisomens causou em si mesma uma hérnia, salvo engano umbilical, por causa de um salto e um chute acrobático realizados sem o devido preparo. Artistas de cinema ganham bons salários, mas sofrem no corpo as demandas exigidas pelo processo de filmagem! Ninguém realiza tão bem os saltos e movimentos como os chineses. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> adaptou as proezas das artes marciais, reciclando-as nos duelos à pistola, e em invés de a saltos e super golpes, direcionou seu olhar poético à acrobática troca de fogo.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBoYSdP_QEve2fEzler64qdQTIBG3tW_my5ZnM0070TMxJF2kUfnKif8JZxJe0x_-pdrg8230lQITzEd62kiKSayuGR-D5Zf4PlID-Kr6M5ca6QmC_F3TxwT_0mKNNa8-yUstPgEAtQRdy/s1600/a-better-tomorrow-final.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="640" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBoYSdP_QEve2fEzler64qdQTIBG3tW_my5ZnM0070TMxJF2kUfnKif8JZxJe0x_-pdrg8230lQITzEd62kiKSayuGR-D5Zf4PlID-Kr6M5ca6QmC_F3TxwT_0mKNNa8-yUstPgEAtQRdy/s320/a-better-tomorrow-final.jpeg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Muitos cineastas confessam a influência de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> em seus trabalhos, e devem as carreiras ao peculiar modo do artista chinês ao retratar a ação. O ótimo</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;"> Isaac Florentine</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> temperou suas duas melhores obras, "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Ninja 1&2</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", com pitadas estilísticas claramente emprestadas de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Exaustivamente copiado, o diretor perdura numa classe só sua, e em especial para as pessoas que foram adolescentes nos anos 90, seu trabalho conserva um doce chamado nostálgico, convite a uma época mais simples. A meu ver, </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> faz parte de um seleto grupo de cineastas e artistas por quem reservei muito apreço enquanto crescia. Aos quinze anos, recheava as paredes do quarto com pôsteres de todos aqueles filmes e estrelas. Claro, na época, tentava substituir um enorme vazio interior com aquelas imagens fantásticas, mas então não sabia que um mero minuto de eucaristia teria me dado tudo o que os filmes jamais conseguiriam. De qualquer modo, por todas essas obras de arte do cinema, eu sempre terei singelo carinho, e se o texto levar meia dúzia de leitores a conhecerem a filmografia de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, terei retribuído o mestre do cinema por todo o bem que me fez, em particular. Eu me recordo de 1995, quando "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Fervura Máxima</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" foi trazido aos cinemas brasileiros com quatro anos de atraso (afinal, foi filmado em 1991) e exibido no circuito de arte: eu tinha quinze anos, minha mãe levara a mim e a um grande amigo para vermos o filme, e assistir à obra-prima de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> na tela grande, naquela noite distante de 1995, foi uma experiência mágica, até agora muito fresca na minha memória. Mesmo hoje, quando passo pelo espaço no shopping onde existia o cinema onde vimos o filme, arrepio-me ao me recordar das pessoas em suas poltronas assistindo ao espetáculo eletrizadas. Quando criança, eu sonhava em ser cineasta, e queria me tornar uma espécie de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Aqui, ao examinar quão pouco se sabe da vida na adolescência, descrevo meus sentimentos com uma fala do sr. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Clint Eastwood</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, em "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">As Pontes de Madison</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". O sr. </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Eastwood</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> afirma: "</span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Os velhos sonhos foram bons sonhos. Eles não se realizaram, mas foi bom tê-los</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". E então: o que você está esperando para procurar ainda hoje a obra de </span><i style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">John Woo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, o maestro do balé da violência?</span></div>
</div>
Ary Luiz Dalazen Júnior Salve Mariahttp://www.blogger.com/profile/05930396542549787102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-24113254830978622692018-01-31T17:18:00.000-08:002019-04-03T10:21:46.366-07:00Verônica ("Verónica", 2017, Espanha, Paco Plaza) Ela só queria brincar com o jogo do copo, mas alguém atendeu a seu chamado.<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1t4gsdchknyMBVPNhaSU2b2AMwVKo4fnhluvbDyaV4H-FKTDr4NFHI64uPyrs13inaKvz2r23kl1GVnN9nBwVX7joKxzN555wJz2X7ygsKdgbmF0Ecoi9ROVfIDjIGL1M2cqM21DtaZI/s1600/poster-ver%25C3%25B3nica.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="800" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1t4gsdchknyMBVPNhaSU2b2AMwVKo4fnhluvbDyaV4H-FKTDr4NFHI64uPyrs13inaKvz2r23kl1GVnN9nBwVX7joKxzN555wJz2X7ygsKdgbmF0Ecoi9ROVfIDjIGL1M2cqM21DtaZI/s320/poster-ver%25C3%25B3nica.jpg" width="256" /></a></div>
<b style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><u>Baseado
em fatos reais</u></b><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Madri, 15 de junho de 1991. Às 01:35 de uma madrugada chuvosa,
a polícia recebe o desesperado telefonema de uma família, e </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">enquanto a despachante tenta manter a pessoa na linha até a chegada dos socorristas, </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">dois carros correm
para atender o</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> caso do bloco n° 08 da rua <i>Gerardo Núñez</i>. A vítima mal pode conter o terror e explicar
satisfatoriamente a natureza da emergência. "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Está dentro, está dentro</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", a
pessoa insiste, levando a despachante a imaginar, compreensivelmente, que se trata de uma invasão domiciliar. O inspetor e os policiais chegam a um condomínio
de blocos residenciais, e já se pode notar certa comoção entre os moradores, reunidos no pátio, por conta da gritaria vinda do apartamento em questão.
Três crianças choram na calçada molhada, e, bastante assustada e confusa, a mãe chega naquele instante para abraçá-las. O detetive e dois policiais entram com lanternas e pistolas em riste, e encontram um cenário de
desolação repleto de detalhes macabros, como símbolos esquisitos rabiscados à
lápis de cera pelas paredes do corredor e um crucifixo no chão. Cautelosos, ao abrirem a
porta da sala-de-estar, seus rostos se enchem de puro pavor ao testemunharem uma
cena cujo teor, nesse ponto, ainda não nos será revelado. O filme, então, volta no tempo,
para nos contar como os fatos se desenrolaram até chegar ao trágico desfecho.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFLDmI15GnvyznBczmQVs-scscOTrH2vyhM25i-CwL1MHRyjMD1rLBYByo3T1YGO4MnVQJKfcIoL7UNNDDcCSYVeYL0FsT63GQtfRsas2Pz6uGY62Mzev3-Xq7KDddgNnvbXpcGKxuyjU/s1600/veronica-movie-still-20.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="591" data-original-width="1103" height="171" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFLDmI15GnvyznBczmQVs-scscOTrH2vyhM25i-CwL1MHRyjMD1rLBYByo3T1YGO4MnVQJKfcIoL7UNNDDcCSYVeYL0FsT63GQtfRsas2Pz6uGY62Mzev3-Xq7KDddgNnvbXpcGKxuyjU/s320/veronica-movie-still-20.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhebhhbQpM3p5PQXxX5Eq3s5lrpoOHOYS3hm049QCGiTU4l60IZ_q0wftL7NPsoHY7QlSnieQDIH9VxUFqQq5u-hk4KCJOVIchG9xu1ibjBLIYAvyzt0ivT_8d5g4pkxhrWwNNTb29TnLU/s1600/veronica-movie-still-19.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="589" data-original-width="1099" height="171" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhebhhbQpM3p5PQXxX5Eq3s5lrpoOHOYS3hm049QCGiTU4l60IZ_q0wftL7NPsoHY7QlSnieQDIH9VxUFqQq5u-hk4KCJOVIchG9xu1ibjBLIYAvyzt0ivT_8d5g4pkxhrWwNNTb29TnLU/s320/veronica-movie-still-19.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">A confusão começou três dias antes, e a trama se inicia apresentando o transcorrer de uma típica manhã na vida da menina </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">(</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Sandra Escacena</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, em grande atuação), uma adolescente de quinze anos dedicada aos três irmãos pequenos: </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Lucia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Irene </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">e o caçula, um doce, inocente menininho chamado </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Antoñito</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Cabe à adolescente o compromisso diário de despertá-los e prepará-los para a escola. As meninas cuidam de certas incumbências, como pôr a roupa suja na máquina de lavar e preparar a mesa para o café da manhã; </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Antoñito </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">exige mais atenção, pois, sendo o menor, costuma urinar na cama, uma resposta do subconsciente às tensões familiares que, logo mais, conheceremos melhor. Há certa urgência no ar. À mesa do café, as meninas procuram negativos de filme para o "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">grande evento</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". Um raro eclipse ocorrerá naquela manhã. No dia anterior, a coordenadora recomendou que as crianças trouxessem negativos para observarem, da cobertura do prédio, o belo fenômeno do encobrimento do sol pela lua. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">termina de amarrar os cadarços do tênis do menino, e, caminhando distraidamente pelo corredor, dá com o crucifixo no chão, uma espécie de presságio das coisas ruins por virem. Com cuidado, ela empurra a porta da suíte, e checa a mãe, adormecida sob os lençóis. O pesar com que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">passa a vista pelas fotos do pai sugere a razão da tensão, ou seja, sua recente morte. Deprimida e atarefada com os cuidados da pizzaria da família, a mãe, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ana</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, confia à filha as tarefas mais prementes do dia-a-dia. A senhora então desperta, e a adolescente recomenda que ela trate de descansar um pouco mais, pois cuidará dos afazeres.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSP_TTybveFznXjnnoulPSPTsKMRqJh7qr-Z5yliFNrq6waWy6fKbyGhUVNKMmtrfP2aEh2YiusnCPd1padgHESX3L3Mk5_QSlkMKfoKy3gG3_bMUeSjyP3rhQ3bvuM7NwlO2kqQ-jwVE/s1600/veronica-movie-still-32.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="591" data-original-width="1099" height="172" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSP_TTybveFznXjnnoulPSPTsKMRqJh7qr-Z5yliFNrq6waWy6fKbyGhUVNKMmtrfP2aEh2YiusnCPd1padgHESX3L3Mk5_QSlkMKfoKy3gG3_bMUeSjyP3rhQ3bvuM7NwlO2kqQ-jwVE/s320/veronica-movie-still-32.jpg" width="320" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKIcGZaEBh3ANexDk8IjD3auZhHqQOezkPsT24dtzFGu9pTvhEZDLxpzjEj4hcy5cDkQW8T-qVFJsNVo_HBbQc5YhRsLTLDVR1qtoWDHRarreQnEMKrwl2V5ptMnkE1q5BxacQbzSD9LM/s1600/veronica-movie-still-33.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="593" data-original-width="1099" height="172" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKIcGZaEBh3ANexDk8IjD3auZhHqQOezkPsT24dtzFGu9pTvhEZDLxpzjEj4hcy5cDkQW8T-qVFJsNVo_HBbQc5YhRsLTLDVR1qtoWDHRarreQnEMKrwl2V5ptMnkE1q5BxacQbzSD9LM/s320/veronica-movie-still-33.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Na sala de aula, a professora explica a dinâmica do eclipse. <i>Verônica </i>e sua melhor amiga <i>Rosa </i>não parecem interessadas nos slides. Elas trocam recadinhos através de bolinhas de papel, e <i>Verônica </i>aponta para a bolsa, indicando a tábua para o jogo do copo. A professora exibe um slide com gravuras medievais, e discorre sobre as superstições atreladas à ocorrência do eclipse, como a crença de culturas primitivas, crentes de que o céu reproduz o que ocorre na Terra. Por esse viés, o eclipse marcaria o período dentro do qual o mundo se encontraria submerso na escuridão espiritual. Chega o momento de subirem à cobertura para o grande evento. <i>Rosa </i>e <i>Verônica </i>conseguem despistar o grupo, e se encontram com uma terceira menina, <i>Diana</i>, para somente então partirem para o porão onde performarão o ritual do copo. <i>Verônica </i>deseja conversar com o pai, já <i>Diana</i>, ex-namorada de um rapaz falecido tragicamente num acidente de moto, tem seus próprios motivos para se unir ao círculo. Elas usam lanternas para encontrarem um canto apropriado para o ritual. Velas são acesas, e uma foto do pai de <i>Verônica</i>, preparada no meio do círculo. As meninas põem os dedos indicadores sobre o copo e convidam qualquer espírito presente a se manifestar.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiejo37-LJTz1T-MtuK1ez8ox_2XR78ONsgWZ9s3Qtibk5G8vbfbeDsgzN_Ov3rPJ_pLx0MHY70KW2GCYXfS1t7iV1rFzrlAj-2asRLxexQSv8-y8HTU_gxpn8pZeXkoeVXPk3ZFTD1POA/s1600/veronica-movie-still-14.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="593" data-original-width="1099" height="172" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiejo37-LJTz1T-MtuK1ez8ox_2XR78ONsgWZ9s3Qtibk5G8vbfbeDsgzN_Ov3rPJ_pLx0MHY70KW2GCYXfS1t7iV1rFzrlAj-2asRLxexQSv8-y8HTU_gxpn8pZeXkoeVXPk3ZFTD1POA/s320/veronica-movie-still-14.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWciwNIs0ub8-dpVmJu5lBdLIB_Sp5L5beTJfLArLB8aSYH-XRtOn7CoLTegQ1vAIWeehwSs5ICKqK0fAdJ9oqEK6cJxEcQQ4-mcLsNb50PgWFrAyHQT4GxDKSMR2Pv3vdxtyNULMJlP8/s1600/veronica-movie-still-13.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="591" data-original-width="1097" height="172" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWciwNIs0ub8-dpVmJu5lBdLIB_Sp5L5beTJfLArLB8aSYH-XRtOn7CoLTegQ1vAIWeehwSs5ICKqK0fAdJ9oqEK6cJxEcQQ4-mcLsNb50PgWFrAyHQT4GxDKSMR2Pv3vdxtyNULMJlP8/s320/veronica-movie-still-13.jpg" width="320" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij_xHglpls8CLqRkm5mJxLq_K4qdjCv-JX4oRrN3_c7SqGoVWdxAauxDP1KTy9c0xGFWYxre5D-2ZjyGLuxsn3HuCzgjloE2SR7IRSB6KleLJN68r3T-P0F8zrBqHWJ8dMrLOo9Vhtpo0/s1600/veronica-movie-still-123.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="589" data-original-width="1095" height="172" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij_xHglpls8CLqRkm5mJxLq_K4qdjCv-JX4oRrN3_c7SqGoVWdxAauxDP1KTy9c0xGFWYxre5D-2ZjyGLuxsn3HuCzgjloE2SR7IRSB6KleLJN68r3T-P0F8zrBqHWJ8dMrLOo9Vhtpo0/s320/veronica-movie-still-123.jpg" width="320" /></a><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Elas esperavam contatar o espírito do pai de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">ou </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Manolo</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, o ex-namorado morto, porém tudo o que conseguem atrair é um demônio malicioso. Enquanto as adolescentes tentam compreender o movimento aleatório do copo, as crianças e professoras daquele colégio católico assistem ao impressionante escurecimento quando a Lua se põe entre o Sol e a Terra. De fato, o acontecimento parece canalizar uma energia de outro mundo, pois mesmo os pássaros, em revoada, batem em retirada, alarmados. No porão, o copo subitamente estaciona sobre o ícone do sol, e se estilhaça, cortando o dedo de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. As duas outras meninas, que jamais esperavam um encontro tão intenso com o sobrenatural, se afastam, mas </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, em transe, deixa que gotas de sangue pinguem sobre a imagem do sol, na tábua. Um pequeno fogo risca o tabuleiro partido, e logo se extingue, junto às velas. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Rosa </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Diana </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">perdem </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">de vista, e enquanto esta sobe as escadas para buscar ajuda, aquela penetra no breu com a lanterna para tentar encontrá-la. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">está prostrada no chão mais adiante, hipnotizada. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Rosa </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">se ajoelha ao seu lado e aproxima o rosto para escutar o estranho murmúrio da amiga. O que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">afirma a deixa estupefata. O conteúdo da fala será apresentado mais tarde. Subitamente, para o susto de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Rosa</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">deixa o transe com um grito impressionante e consistente. Logo mais, ela desmaia.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7FicqlKIZ046xjKImTkPb3HJb44_hUJ4KZJ56Z0698x0yJapbZFpYC8_c_oA8YkiZDRrlRu628LiReI3t9kGVhZlfdj1trknnwQaoTLLUhrU_wBwE2XWu4xmvYTTKb5rmRqDyomtGQLQ/s1600/veronica-movie-still-30.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="849" data-original-width="1600" height="169" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7FicqlKIZ046xjKImTkPb3HJb44_hUJ4KZJ56Z0698x0yJapbZFpYC8_c_oA8YkiZDRrlRu628LiReI3t9kGVhZlfdj1trknnwQaoTLLUhrU_wBwE2XWu4xmvYTTKb5rmRqDyomtGQLQ/s320/veronica-movie-still-30.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfjvjBIEC4mRwD0b0V4AzC3hZZztrHPTTl7w9Ur5S-mRcDw_cnO5tugg3A5AEugDptJM7PAh9BjW-Tt7c6jiyDVgQUHve4RqmeL_zKFJ4OIgTcH5ldbTRab98H9wE3dSKh8MlfH0mXUxU/s1600/veronica-movie-still-29.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="899" data-original-width="1600" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfjvjBIEC4mRwD0b0V4AzC3hZZztrHPTTl7w9Ur5S-mRcDw_cnO5tugg3A5AEugDptJM7PAh9BjW-Tt7c6jiyDVgQUHve4RqmeL_zKFJ4OIgTcH5ldbTRab98H9wE3dSKh8MlfH0mXUxU/s320/veronica-movie-still-29.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">desperta na enfermaria, com uma médica examinando suas pupilas. Ela lhe dirige uma série de perguntas, mas, afinal de contas, conclui que a síncope se deveu à baixa pressão sanguínea. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">apanha os irmãos e os faz prometerem que nada revelarão à mãe. Na saída, uma das meninas comenta que "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Irmã Morte</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" as está "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">observando</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" da janela da diretoria. "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Irmã Morte</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", na verdade, chama-se "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Irmã Narcisa</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", uma freira idosa cuja cegueira lhe empresta um ar macabro e soturno, principalmente entre as sugestionáveis crianças. Aprenderemos, no transcorrer do filme, que a senhora tem razões para sua reserva, mas trata-se de uma boa pessoa com uma histórico pessoal muito trágico, envolvendo comunicação com o "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">outro lado</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". No caminho para o condomínio, as crianças dão uma passada na pizzaria. Como de costume, a mãe vê-se atropelada por tarefas perante os fregueses, e, impaciente, não lhes dispensa muita atenção, para a visível frustração de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, que gostaria de lhe contar o ocorrido.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirJ5RXKS5hI58kWqdU5zbYK2L8B0heG68Kjd-gWi7zxBLf2SisaIivdc_vQ20o771H7Ak2-SxSYGkM47XWeq_Weg625-37ZU-kqgNXmLi8EzSj6FDeZeZ5WRYPomjXJ4It7I-NHqdc1Y8/s1600/veronica-movie-still-31.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="899" data-original-width="1600" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirJ5RXKS5hI58kWqdU5zbYK2L8B0heG68Kjd-gWi7zxBLf2SisaIivdc_vQ20o771H7Ak2-SxSYGkM47XWeq_Weg625-37ZU-kqgNXmLi8EzSj6FDeZeZ5WRYPomjXJ4It7I-NHqdc1Y8/s320/veronica-movie-still-31.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Não faz nem vinte e quatro horas que as adolescentes estupidamente mexeram com o jogo do copo, e já ao retornar ao apartamento, incidentes bizarros se precipitam muito sutilmente sobre a vida da garota, indicativos da presença de uma entidade malévola que seus olhos, despreparados, ainda não conseguem ver, ao menos diretamente. <i>Verônica </i>guarda a bolsa com a tábua partida em cima do guarda-roupa, contudo basta deixar o cômodo para que a mesma seja jogada ao chão. Na primeira vez, ela não pensa muito a respeito, todavia na segunda, depois que devolve a bolsa ao guarda-roupa, dá as costas e a mesma volta a ser atirada, se toca da presença da entidade do porão, agora no apartamento. As meninas e o garotinho se reúnem à mesa para o almoço, um saboroso prato de almôndegas, e o clima entre os irmãos é de pura descontração, até que <i>Verônica </i>se mete num inexplicável transe, estacionando o garfo diante da boca, como se não conseguisse engolir. Naquela tarde, as meninas atendem a uma ligação de <i>Rosa</i>, desmarcando o compromisso de se encontrar com <i>Verônica </i>no apartamento. <i>Verônica </i>estranha o fato de <i>Rosa </i>não ter pedido para falar pessoalmente com ela, e quando a adolescente retorna a ligação para a casa da amiga e a mãe de <i>Rosa </i>atende, a mentira cai por terra, pois a senhora inocentemente conta que a filha saiu com <i>Diana </i>e esperava que <i>Verônica </i>também tivesse ido ao encontro das duas. Por alguma razão, <i>Rosa </i>a evitou.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-2gKaWwAsvzBkAchz-vUbyWVe6OhlgpBfewq1cEPoBH8NPle60liTBwWwkczfZXRlBlyAWZbJS7P8ht0nBb94HoMw7SaOQlWXQrJbkMFFwIsY7Db4CrBqywY1eXDvcOXspC-rgVNPteM/s1600/veronica-movie-still-15.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="589" data-original-width="1095" height="172" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-2gKaWwAsvzBkAchz-vUbyWVe6OhlgpBfewq1cEPoBH8NPle60liTBwWwkczfZXRlBlyAWZbJS7P8ht0nBb94HoMw7SaOQlWXQrJbkMFFwIsY7Db4CrBqywY1eXDvcOXspC-rgVNPteM/s320/veronica-movie-still-15.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYJEK8Go0uZbaiuqCWW-BtRgR0bb79kk8y-MbfVBNUFQ8CrXxdryCJb-ja45vYXvNnDaYubNHtwNEaXzuNhr7CizNvcKCFY_xYmOA9mXmZjbRM2kLSGFaiiZ0gtzsx5h6OgUZ3SMptr7c/s1600/veronica-movie-still-16.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="599" data-original-width="1103" height="173" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYJEK8Go0uZbaiuqCWW-BtRgR0bb79kk8y-MbfVBNUFQ8CrXxdryCJb-ja45vYXvNnDaYubNHtwNEaXzuNhr7CizNvcKCFY_xYmOA9mXmZjbRM2kLSGFaiiZ0gtzsx5h6OgUZ3SMptr7c/s320/veronica-movie-still-16.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ela dá um banho no irmãozinho, até ser interrompida por um barulho gerado na sala. Ao pôr a cabeça no corredor para pedir para as meninas se comportarem, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">constata que elas se encontram no outro lado do apartamento, de modo que não poderiam ser as autoras da comoção. Um brinquedo genius tem as luzes coloridas acionadas, sem que ninguém o tenha tocado, e a lâmpada do corredor dá sinais de instabilidade de tensão. Repentinamente, a porta do banheiro se encerra sozinha, e o garotinho começa a gritar. À custa de muito esforço, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">abre a porta e fecha a torneira. A água quente fora acionada, sem explicação aparente, e o incidente provocou queimaduras em </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Antoñito</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Nada grave, mas definitivamente assustador. Ela consegue tranquilizá-lo, e o enxuga e o prepara para a cama. Pondo-o para dormir, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">passa pomada no peito do menininho, e se desculpa pelo descuido. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Antoñito </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">responde que a culpa não foi da irmã. Depois de lavar a louça, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">se prepara para a noite. Misteriosamente, a televisão aviva-se, com uma música radiante e banal de uma telenovela qualquer. A adolescente desliga o aparelho e finalmente se recolhe.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQzLUdIHuX_l0aDeIDOGk2MfYXIFa7ace5MLhDHk_ycxIspwZz3j0Ck6t9RgHUtI_9vteEnCLZPF9A6Pg2VntCcqAV5vJ4Mz1M8rIiTbO7YkO4cTA7-2Z6S6aYIze7NIc1lE3ZH3LGWrs/s1600/veronica-movie-still-17.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="597" data-original-width="1103" height="173" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQzLUdIHuX_l0aDeIDOGk2MfYXIFa7ace5MLhDHk_ycxIspwZz3j0Ck6t9RgHUtI_9vteEnCLZPF9A6Pg2VntCcqAV5vJ4Mz1M8rIiTbO7YkO4cTA7-2Z6S6aYIze7NIc1lE3ZH3LGWrs/s320/veronica-movie-still-17.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpRXwQIstO2cT6_-BkaZGeg3IFblD1kRcJWeLh8qMW98fdC9sKcB7jQvTaB2AZJ2ts63MVmrhvU7wQ_vWMIoE-B-J6BwfPYMs7dQRZoTugw-A4imsBcpELnJNWjqP3qekKhWzIzR_brMU/s1600/veronica-movie-still-18.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="591" data-original-width="1101" height="171" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpRXwQIstO2cT6_-BkaZGeg3IFblD1kRcJWeLh8qMW98fdC9sKcB7jQvTaB2AZJ2ts63MVmrhvU7wQ_vWMIoE-B-J6BwfPYMs7dQRZoTugw-A4imsBcpELnJNWjqP3qekKhWzIzR_brMU/s320/veronica-movie-still-18.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Naquela noite, ela sofre um horrendo pesadelo, onde encontra as irmãs encolhidas e atemorizadas dentro do guarda-roupa e, mais à frente, um vulto que a chama pelo nome. À medida que o vulto se aproxima, e penetra sob a cobertura da luz do abajur, materializa-se como o pai morto das crianças. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> recua, amedrontada, até cair com as costas contra a cama, de onde muitos braços surgem para segurá-la, enquanto o demônio se põe bem ao lado do colchão e enfia os dedos através de sua garganta. Ela desperta arfando por ar, e descobre que a manhã já se pôs em curso, de maneira que chegarão atrasados à escola. Durante a aula, sua impressão sobre </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Rosa</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> se confirma quando a garota, ao invés de atirar bolinhas de papel com recadinhos para ela, manda-as à </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Diana</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, sua nova melhor amiga. As duas estão mesmo a tratando friamente. Desapontada, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> inventa uma desculpa qualquer para o professor e escusa-se para ir ao toalete. O semblante de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Rosa</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, então, se fecha, uma manifestação do remorso que, naquele ínterim, faz suas expressões pesarem.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O porão passa a impressão de abandono. Tocadas pela escuridão, os móveis empoeirados e ferramentas inúteis dão ao lugar uma atmosfera opressiva. Pensativa, <i>Verônica </i>apanha a foto do pai, deixada no chão no dia anterior. Ela toma um susto quando <i>Irmã Narcisa</i> anuncia a presença ao se levantar da escada. Usando uma metáfora, a senhora discorre sobre como não se precisa de visão para saber o que há na mesa ao se sentar para o café: você sente o cheiro de canela, de pão quentinho, de leite, de café no bule, e percebe que olhos pouco importam para se guardar uma noção muito real daquilo que se encontra perante a si. <i>Irmã Narcisa</i>, evidentemente, refere-se à sessão do jogo do copo do outro dia, e de como, mesmo cega, consegue "<i>enxergar</i>" o ocorrido. Ela até mesmo menciona o machucado na mão de <i>Verônica</i>, provocado pelo estilhaço do copo, e lhe explica que a brincadeira do tabuleiro nada traz de bom. "<i>Não importa com quem você quis falar, e sim a coisa que efetivamente te respondeu!</i>", ela frisa, e, dando uma baforada no ar a sua frente, exclama para que "<i>parem de se mover</i>". <i>Verônica </i>retruca que não há ninguém ali, fora as duas, e <i>Irmã Narcisa</i> a corrige: "<i>Você não está mais sozinha, algo respondeu a seu chamado e agora anda contigo</i>". O sino do recreio trina com algazarra e põe termo à breve reunião. <i>Verônica </i>deixa o porão. <i>Irmã Narcisa </i>performa uma curta prece para o bem-estar e a libertação da adolescente.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgI9TBkdoJ42d8pwdtY9TZJ30UE_YbN9SY0nfo9bbmsMJTONYe8ldZMKMTRSP__wuSZOqN7aT8NQiNychZMn6r4N38gHEnEEx7DLMtK5uOXA26upO1o6Y3Zb5x8CrV5f3A541UNP6R-Wro/s1600/veronica-movie-still-4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="986" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgI9TBkdoJ42d8pwdtY9TZJ30UE_YbN9SY0nfo9bbmsMJTONYe8ldZMKMTRSP__wuSZOqN7aT8NQiNychZMn6r4N38gHEnEEx7DLMtK5uOXA26upO1o6Y3Zb5x8CrV5f3A541UNP6R-Wro/s640/veronica-movie-still-4.jpg" width="394" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ao fim da manhã, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> resolve conversar com </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Rosa</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> para esclarecer a situação da amizade. Agora, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Rosa</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Diana</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> parecem melhores companheiras, e quando </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> cita o jogo do copo como motivo para o esfriamento da relação, a menina reage meio constrangida. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Diana</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> se aproxima e menciona uma festa que as duas darão no apartamento de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Rosa</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, naquele fim de semana, desastradamente provando que as desculpas da garota para o distanciamento - tarefas delegadas pelos pais - não passam de argumentos esfarrapados. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Rosa</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> parece ainda mais arrependida e envergonhada, mas </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Diana </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">logo a toma pela mão e a leva dali, lembrando-a de que logo as lojas do shopping-center fecharão. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">fica parada, assistindo às duas se afastarem. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Rosa </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">ainda olha para trás e pede que a ex-melhor amiga apareça no fim de semana, para a festa.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Verônica </i>foca-se nas recomendações de <i>Irmã Narcisa</i> sobre proteger os irmãos. Ela pesquisa meios de defesa espiritual em revistas do oculto, e encontra uma matéria a respeito de símbolos célticos capazes de afugentar demônios. <i>Verônica </i>reproduz os desenhos em folhas de papel e, enquanto as meninas brincam insuspeitas sobre suas camas, pendura as gravuras no teto, como uma espécie de amuleto, sem dar maiores explicações. <i>Verônica </i>é assomada à porta por batidas. A vizinha do andar inferior, uma senhora antipática por quem os condôminos nutrem aversão, reclama da "<i>algazarra</i>" das crianças. <i>Verônica </i>explica que ali ninguém está fazendo barulho, porém a mulher retruca que a impressão é a de que uma festa de arromba se encontra em curso bem sobre sua cabeça! Ela também cita uma mancha negra no teto. O borrão, pela posição, deve vir do quarto da unidade do andar superior, ou seja, do cômodo da adolescente. Em dado momento da noite, <i>Verônica </i>separa as roupas para levá-las para a lavanderia. Através das janelas vazadas, guarda boa visão do interior do apartamento e da janela do quarto das crianças. Distraída com a tocante visão de um pai que visita a filha entretida com os estudos, para lhe dar boa noite, alguns andares abaixo, <i>Verônica </i>deixa o lençol soltar-se do varal e cair. Depois de recolhê-lo e subir as escadas, ao retornar para a lavanderia, pela primeira vez, enxerga a forma materializada do demônio que a persegue, através da janela, transitando livremente dentro do quarto das meninas, enquanto uma voz semelhante a um prolongado chiado insiste em chamar seu nome pelo rádio de brinquedo.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrlRHPP4uCZd-NBowP7HZwffOn3HCqFhYwUlkDQlf0AO-lhuA95fv8l6LTpOpuBjxJZ6PFb9-xWmBCuTJRAT010xTpaYiwPE-c1kIISZ0VRKxLBedPpdxOtR2_3ILxgTrrG0bYVY4X7AQ/s1600/veronica-movie-still-8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="824" data-original-width="804" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrlRHPP4uCZd-NBowP7HZwffOn3HCqFhYwUlkDQlf0AO-lhuA95fv8l6LTpOpuBjxJZ6PFb9-xWmBCuTJRAT010xTpaYiwPE-c1kIISZ0VRKxLBedPpdxOtR2_3ILxgTrrG0bYVY4X7AQ/s320/veronica-movie-still-8.jpg" width="312" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzi03CjKwGBlac5RZmy-xy2qp6YhMfexKie7WFpRrKFKYW1U38JlYpGkmP9P8ruskUv1uksoEJUwfkLFljRmf0qZ3_EeIH3vOFqmd4hlbod-rGIrNhJ_1z-kf61yKCtnpLial9jRDu4T4/s1600/veronica-movie-still-7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="640" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzi03CjKwGBlac5RZmy-xy2qp6YhMfexKie7WFpRrKFKYW1U38JlYpGkmP9P8ruskUv1uksoEJUwfkLFljRmf0qZ3_EeIH3vOFqmd4hlbod-rGIrNhJ_1z-kf61yKCtnpLial9jRDu4T4/s320/veronica-movie-still-7.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">O demônio se vale das luzes do jogo genius para criar uma película sobre a qual projeta a sombra contra a parede, tingindo-a com as cores produzidas pela fanfarra do escandaloso brinquedo. "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" não foi o primeiro filme a tomar emprestado o potencial macabro do genius. Quem assistiu a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", já resenhado no blog, se recordará de que os criadores do melhor exemplar da franquia se valeram do mesmo expediente. Ao tocar com a sombra as folhas de papel onde a adolescente rabiscou o amuleto céltico, o demônio os consome com suas chamas. Uma grande confusão se precipita, e as crianças despertam, apavoradas. Agora, a adolescente anuncia que dormirão juntos, na suíte da mãe. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">acaba cochilando, e, em determinado momento da madrugada, acorda preocupada. Uma voz masculina gutural a chama pelo nome, até a sala de estar. A cena, muito bem coreografada, executa uma intrigante "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">mescla</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", pois gira em torno de um contexto onde "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">dois mundos se encontram</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". Explico: paralelamente à ação (</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">entrando cautelosamente na sala, para proteger as irmãs de uma sombra, que ela enxerga através do vidro fosco no passadiço para a cozinha), se vale de um filme de horror espanhol dos anos 70, a que as meninas assistem, deitadas no colchão na sala-de-estar, e cujo estilo, datado e extravagante, acaba por embaralhar o drama que se confunde com a ficção exibida na telinha. Algo no estilo resgata a atmosfera daqueles nostálgicos filmes de horror de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dario Argento</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, como "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Suspiria</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" e "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Phenomena</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">reúne as irmãs na cintura, ergue o crucifixo em direção à porta e desafia o demônio. A porta é aberta, e as crianças suspiram aliviadas ao perceberem que se trata da mãe, em casa após uma estafante noite na pizzaria. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ana </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">toma um susto ao se deparar com as crianças naquela inusitada posição. Ela ordena que os menores tratem de dormir, e vai conversar com a adolescente no quarto.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRvw0mNLvWa6oOgXN3F6WITOj88V-76wCSr0OYAJ83ZTqRq1n3os3UqtnPdUmTa8sqAgt8SJeyvqID5T8RgD5lQFMOi1Vx2eAaG8f49N0JSSMyNCeUiJEMFEObqzikMhHI9azxu4CZDDM/s1600/veronica-movie-still-10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="673" data-original-width="1251" height="172" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRvw0mNLvWa6oOgXN3F6WITOj88V-76wCSr0OYAJ83ZTqRq1n3os3UqtnPdUmTa8sqAgt8SJeyvqID5T8RgD5lQFMOi1Vx2eAaG8f49N0JSSMyNCeUiJEMFEObqzikMhHI9azxu4CZDDM/s320/veronica-movie-still-10.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfG1xDx7K7_RY2VGjppWE1XgrhMHs715zGE4nt973U6RwuS1sBXQ7yxqFEBgrX2SKCvFjt8asnEfyNwQOGUNEoZe9Rd-j70DnGXdSQLDm1RC1zJjOKm2V9uMP3aMMriIqLJQFEvm9EUIw/s1600/veronica-movie-still-11.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1261" height="169" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfG1xDx7K7_RY2VGjppWE1XgrhMHs715zGE4nt973U6RwuS1sBXQ7yxqFEBgrX2SKCvFjt8asnEfyNwQOGUNEoZe9Rd-j70DnGXdSQLDm1RC1zJjOKm2V9uMP3aMMriIqLJQFEvm9EUIw/s320/veronica-movie-still-11.jpg" width="320" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh57vUuk0kGiw_wrbvuWgFy6jfo__mj-O0Zq29daK_UroQNnhnodHnR7PYIWFZMu0wU0Ex2IsZF8HUP0LYGBkQvuiWpj7FysAySXMv1TYCpdENwLOopfzLTINH1LGueJCcMUjCPY3Qi1sU/s1600/Lori-Cardille-Dia-dos-Mortos.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="680" data-original-width="1600" height="136" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh57vUuk0kGiw_wrbvuWgFy6jfo__mj-O0Zq29daK_UroQNnhnodHnR7PYIWFZMu0wU0Ex2IsZF8HUP0LYGBkQvuiWpj7FysAySXMv1TYCpdENwLOopfzLTINH1LGueJCcMUjCPY3Qi1sU/s320/Lori-Cardille-Dia-dos-Mortos.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Para desgosto da mãe, <i>Verônica </i>revela sua brincadeira com a tábua dos espíritos, alguns dias atrás, e explica que só quis conversar com o pai. Há uma forte tensão entre mãe e filha, e a menina se queixa da ausência de sua ausência. <i>Ana </i>costuma exigir da filha o comportamento de mulher madura, pois ficou sozinha, no entanto, enterra-se nos afazeres para sublimar a dor da perda. A mãe pede para que a adolescente durma, pois conversarão melhor na manhã seguinte. <i>Verônica </i>sofre um novo pesadelo, onde desperta com os irmãozinhos pulando ao seu redor, em cima da cama. Mesmo esbravejando para que deixem de traquinagens, os irmãos a surpreendem com dentadas, e passam a devorá-la. Nisso, a mãe aparece, na cabeceira, e com uma expressão soturna, anuncia: "<i>Necessito que você amadureça</i>". Sangue jorra através do lençol, como se <i>Verônica </i>menstruasse pela primeira vez, copiosamente. Se momentos antes o diretor homenageou o estilo dos melhores trabalhos de <i>Dario Argento,</i> aqui, presta saudações a <i>George Romero</i>, mais especificamente a "<i>Dia dos Mortos</i>", de 1985, no que tange às gráficas cenas de canibalismo. O filme, aliás, deve compor o imaginário de <i>Paco Plaza</i>, pois mesmo anteriormente, na cena em que <i>Verônica </i>cai de costas ao colchão e vários braços pretos emergem para agarrá-la por todos os lados, temos uma possível referência à introdução do filme de <i>Romero</i></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> (<i>última foto</i>)</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, quando a personagem de<i> Lori Cardille</i> é apanhada por inúmeros braços escurecidos saídos repentinamente da parede (também um pesadelo). Ao despertar, coberta de suor, <i>Verônica </i>nota a mancha de sangue no lençol; de fato, durante o sono, menstruou pela primeira vez.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ao devolver um livro infantil à estante e perguntar por que <i>Antoñito </i>foi mexer com o mesmo, visto não ter idade para lê-lo, o garotinho a surpreende ao tagarelar sobre a visita do pai, na noite anterior. Segundo <i>Antoñito</i>, o pai o visitou para explicar que não demoraria a levá-lo. Angustiada, <i>Verônica </i>o orienta a não escutar o "<i>pai</i>" jamais, a tapar os ouvidos e gritar pelo seu nome, se ele retornar, pois assim virá a seu socorro. Ocorre-lhe a ideia de levantar o colchão do menino, e ela descobre uma mancha negra, como mofo, do outro lado. A mancha forma uma figura, como se o vulto de uma pessoa grande tivesse repousado naquele espaço. As camas das meninas também apresentam a mesma mancha. <i>Verônica </i>se recorda da vizinha encrenqueira, quando apareceu dias antes para se queixar de uma mancha negra no teto do apartamento, que, pela disposição das unidades, só podia vir do chão do quarto da adolescente. Disposta a agir, ela precisa de liberdade para investigar, e visita a mãe com as crianças, no restaurante. Como se trata de sábado, não terão de se apresentar no colégio. <i>Verônica </i>se justifica com a desculpa de terminar um dever de casa com <i>Rosa</i>, e <i>Ana</i>, acreditando, oferece-se a ficar com os meninos pelo dia.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQ7doDCfM12zyZRIt2mYc6q2AVebO3ntixUhql5_SisPbEXFITGQq1Ny0QMLrTfwip0u88D87Ntomf4rtsg0LnPDr8_gssdsHFxBSTcxkSNLkbXPx7idiZGYZc8vrHsrRsp5HcGTo9PX8/s1600/veronica-movie-still.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="1200" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQ7doDCfM12zyZRIt2mYc6q2AVebO3ntixUhql5_SisPbEXFITGQq1Ny0QMLrTfwip0u88D87Ntomf4rtsg0LnPDr8_gssdsHFxBSTcxkSNLkbXPx7idiZGYZc8vrHsrRsp5HcGTo9PX8/s320/veronica-movie-still.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlBwv_j2z5ettK1XPhWrxIwa0gmpIS591t8xYcPh3OsSLoDNWQbfH8amkHGFF31Furpk1JOrI3H39WVpieGxY27ZTM9598qeQZ1MSsgb904-hGrlk4jJ7E0AAMD6h5w-KsV2ETR6ZS-80/s1600/veronica-movie-still-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="865" data-original-width="1600" height="173" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlBwv_j2z5ettK1XPhWrxIwa0gmpIS591t8xYcPh3OsSLoDNWQbfH8amkHGFF31Furpk1JOrI3H39WVpieGxY27ZTM9598qeQZ1MSsgb904-hGrlk4jJ7E0AAMD6h5w-KsV2ETR6ZS-80/s320/veronica-movie-still-2.jpg" width="320" /></a><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Verônica </i>visita o colégio, e encontra <i>Irmã Narcisa </i>absorta em reflexões no mesmo porão onde as garotas brincaram com o jogo do copo. Ao pedir por orientações, <i>Verônica </i>recebe de <i>Irmã Narcisa</i> a mais importante instrução para lidar com o mal: ela trouxe o problema para sua vida ao se esquecer de "<i>fechar a porta"</i>, ou seja, despedir-se do demônio no âmbito do próprio jogo. <i>Irmã Narcisa</i> sabe o que fala. Quando tinha a mesma idade da aluna, sendo profundamente sensitiva, enxergava aparições que a enchiam de angústia, e não ficou cega por acidente. Na verdade, as feridas causadoras de sua cegueira foram provocadas pela própria<i> Irmã Narcisa</i>, desesperada para deixar de vê-las. <i>Verônica </i>encontra, numa banca de revistas, uma tábua do jogo do copo à venda, acompanhada por uma pequena brochura com recomendações básicas para o ritual. Ali, lê que não se pode terminar a sessão sem se despedir do demônio. Se uma pessoa não disser "<i>adeus</i>" após a sessão, a coisa permanecerá nessa dimensão. Quando <i>Verônica </i>aparece à porta do apartamento de <i>Rosa</i>, depara-se com a festa organizada pelas duas, <i>Rosa </i>e <i>Diana</i>, para a qual mal foi convidada. <i>Rosa </i>abre a porta com uma expressão apreensiva. Ela a convida a entrar, mas <i>Verônica </i>vai direto ao assunto, tentando explicar por que as três devem revisitar a tábua do jogo o quanto antes. <i>Verônica </i>reage nervosamente quando <i>Rosa </i>tenta acalmá-la, e basicamente invade o apartamento "<i>na marra</i>", vencendo uma porção de gente a lotar os cômodos, exclamando o nome de <i>Diana</i>. Os rapazes acabam a pondo para fora, mas <i>Rosa </i>ainda tenta colocar um pouco de senso na cabeça da colega. Com os olhos assustados, ela lhe conta que, naquela manhã, ao entrar em transe, <i>Verônica </i>repetira que morreria naquela data. <i>Rosa </i>se apavora quando enxerga a mancha roxa na mão de <i>Verônica</i>, prova do assédio do demônio. Aturdida com o choque de realidade, <i>Verônica </i>se dá conta de que, para todos os efeitos, ficou sozinha nessa aventura. Ela dá as costas para a amiga e vai embora.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhFZFpcKBbL6k24aIBKy6jjvy5qVZPXVoNRNku-FjTvWMn-6IFrAhWZ9s0dJYRpKdsuriF7qP8MbGVSiz8b6l1WUdwyW2a-RS7_6NfJVl9s9Zbv-oyfCpJJCr4JtLWCVMyz1t6Mr4omCE/s1600/veronica-movie-still-23.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="599" data-original-width="1111" height="172" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhFZFpcKBbL6k24aIBKy6jjvy5qVZPXVoNRNku-FjTvWMn-6IFrAhWZ9s0dJYRpKdsuriF7qP8MbGVSiz8b6l1WUdwyW2a-RS7_6NfJVl9s9Zbv-oyfCpJJCr4JtLWCVMyz1t6Mr4omCE/s320/veronica-movie-still-23.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzoAoJLslQYeIuzBpW8xiycqdm2nWps1UtsNatCD3GAscU2m9ek-Pl6XXtfJJ82tIP6r8Op-eTPN-puxbByIBOxeQtRf3wWvh59KqUlX353kILsGQG_dbJhFjGEzRS4BsZ4XqQtbAK1sA/s1600/veronica-movie-still-22.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="589" data-original-width="1101" height="171" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzoAoJLslQYeIuzBpW8xiycqdm2nWps1UtsNatCD3GAscU2m9ek-Pl6XXtfJJ82tIP6r8Op-eTPN-puxbByIBOxeQtRf3wWvh59KqUlX353kILsGQG_dbJhFjGEzRS4BsZ4XqQtbAK1sA/s320/veronica-movie-still-22.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Em desalento, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">caminha pelas ruas, com a cabeça encurvada sob o peso de maus pensamentos. Aqui, há um interessante momento, quando ela gradualmente desperta para a presença de uma moça vindo do sentido oposto, na calçada, e só um pouco depois se toca de que se trata dela mesma. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">cessa os passos, se vira e enxerga a si mesma, em um breve encontro com o sobrenatural, alusivo ao marcante "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">mockumentary</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" australiano de 2008, "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">O Segredo do Lago Mungo</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". A movimentação na pizzaria aumenta exponencialmente nos fins de semana, porque os fregueses se reúnem para confraternizar e assistir às partidas de futebol pelo televisor. Como de se esperar, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">encontra a mãe metida num entra-e-sai, da cozinha às mesas, com os pratos. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ana </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">fica feliz ao vê-la, comentando que já era hora de ela ter aparecido, pois as crianças precisam ir para casa. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">se empenha em comunicar a natureza de seus medos. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ana</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, uma excelente mãe, se esforça, contudo o problema reside na sua descrença nas "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">estórias</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" da filha, e no desconhecimento da real gravidade do problema. Ela promete reservar um tempo para as crianças no domingo, como se um mero passeio fosse resolver tão terrível impasse. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">desiste de pedir socorro à mãe, e volta para o apartamento, para o duelo final.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Verônica </i>junta os dois pedaços da tábua e a conserta. Ela orienta <i>Antoñito </i>a desenhar o símbolo celta de proteção nas paredes do corredor, para a guerra espiritual. </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O tempo chuvoso reflete o estado de ânimo dentro do apartamento. </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alguns minutos antes da meia-noite, <i>Verônica </i>inicia a tentativa de contato através da tábua. As três irmãs sentam-se no chão, formando um círculo, ladeadas por velas. <i>Verônica </i>começa a elaborar perguntas para a entidade, pedindo para que a mesma anuncie sua presença, se for o caso. A porta da sala-de-estar fecha-se solitariamente. <i>Verônica </i>afirma que realiza a sessão para se despedir da entidade, para que parta e não os incomode mais, todavia a coisa se nega a obedecer. As três meninas entoam uma música alegre, a da novela, usando-a como mantra para afastar o demônio. Uma série de batidas nas paredes deixa os nervos das meninas à flor da pele. Um sopro espontâneo e inexplicável extingue as velas, e o copo sai rolando, obedecendo a um comando invisível, até ir de encontro à porta de um quarto fechado.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Verônica </i>abre a porta, e se ajoelha diante da mancha do colchão. Um braço negro emerge da superfície, e por pouco não a puxa para dentro. As manifestações do demônio ganham envergadura, e um corpo esguio "<i>vaza</i>" da cama, ganhando uma fisicalidade ameaçadora e urgente. <i>Plaza </i>novamente tira o chapéu para outro clássico do passado, porque aqui acena para um dos momentos mais brutais de "<i>Hellraiser 2</i>", quando <i>Julia </i>emerge do colchão como uma forma grotesca reduzida a músculos e sangue, acopla-se a um doente mental debilitado que se auto-mutilara a golpes de navalha, e se alimenta de seus nutrientes até deixá-lo como uma casca sem vida. A adolescente corre para a sala-de-estar e liga para a polícia. Tamanho o nervosismo, não obtém êxito em comunicar razoavelmente a situação explosiva, e entendemos que a cena se reporta ao começo do filme, quando policiais atenderam a ocorrência na Rua <i>Gerardo Núñez</i>. Durante a confusão, <i>Antoñito </i>é apanhado pelo demônio, e arrancado da sala para o corredor. Uma frenética busca se inicia pelos corredores, até <i>Verônica </i>escorregar no banheiro e bater com a cabeça no chão. Ao recobrar a consciência, pega o irmão nos braços e corre com as meninas para fora do prédio. Em termos de iluminação e claustrofobia, a sequência nos lembra o clímax do excelente "<i>Insidious</i>", de <i>James Wan</i>, com a família <i>Lambért </i>tentando resgatar o filho mais novo do limbo, e o mundo sobrenatural mescla-se ao natural, gerando um pavoroso "<i>meio term</i>o" entre as duas realidades, habitado por gente e também por espíritos atormentados.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikdTg8u7zf7WzrTDtYSIHcwqDVLZmiasS0RQb9IprgfVt3az2MzvMWEFK8voKDENBrWJgeRoJyiij4FDCoei3VLtjCEZJaRyIvvBRX8K07KjYYqQHbGS6EzzsrNu_a0qOMLL5Ek5KLblU/s1600/veronica-movie-still-25.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="987" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikdTg8u7zf7WzrTDtYSIHcwqDVLZmiasS0RQb9IprgfVt3az2MzvMWEFK8voKDENBrWJgeRoJyiij4FDCoei3VLtjCEZJaRyIvvBRX8K07KjYYqQHbGS6EzzsrNu_a0qOMLL5Ek5KLblU/s640/veronica-movie-still-25.jpg" width="394" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Só depois de alcançar a segurança da calçada, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">enxerga a ardilosidade do demônio, pois </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Antoñito</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, diferente do que pensava, não se encontra nos seus braços. O demônio criou uma ilusão para levá-la a crer na salvação do irmão, mas ali na calçada só há as duas irmãs. Determinada a tirá-lo com vida do apartamento, ela retorna sozinha para a zona de guerra espiritual, mais reativa do que nunca. Objetos são atirados durante a passagem da adolescente pelo corredor, e as luzes, instáveis, atingem picos como se o prédio estivesse sofrendo intensas variações de tensão. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">encontra </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Antoñito </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">dentro da banheira. Ao prestar atenção ao próprio reflexo, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">se dá conta da direta e gradual influência do demônio sobre seus pensamentos. Com um pedaço de vidro do espelho quebrado e um olhar perturbador, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">chama pelo irmão, agora à solta dentro do apartamento. Caminhando vagarosamente pelo corredor e movida a más intenções, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> traz consigo o demônio nas costas. A sombra da coisa se movimenta através da superfície da parede, e vai rasgando pôsteres até se deter diante do guarda-roupa e abri-lo, revelando a criança atemorizada. Com as mãos nos ouvidos, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Antoñito </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">obedece as instruções dadas pela irmã noutra oportunidade, a recomendação de que não desse ouvido ao demônio e apenas a chamasse pelo nome. Diante da firmeza do irmão, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">reage `a poderosa influência do demônio sobre sua mente. A entidade tenta corromper seu coração, para conseguir que ela cometa alguma maldade contra a criança. No derradeiro momento, o amor por </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Antoñito </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">fala mais forte do que as sugestões diabólicas, e, preferindo a morte a fazer mal ao irmão, ela golpeia o próprio pescoço com o pedaço de vidro, bem no instante que o Inspetor e os dois policiais militares entram no apartamento (como visto no início do filme). O inspetor e os policiais testemunham os últimos segundos de vida da adolescente. Ela é flagrada praticamente levitando, em uma posição irreal, explicável somente pela assunção de que uma força invisível consegue ampará-la. Na calçada, com muita dor, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ana </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">pressente a tragédia. Ela esbarra com os paramédicos removendo a filha na maca, ainda com vida, e, numa cena comovente, tem a oportunidade de chamar a adolescente por nomes doces, uma manifestação do amor materno. Lamentavelmente, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">não resiste ao ferimento, e morre.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioVoiuSIy8lxyNTRx6rCW06w4A7b4ASx0EK51QMx-csHXzxE-t-HGKkTJ-HKpt6v7zunhta7Om9BclGeayXnuCYaPMKu6Kj4qbGZ22PuTCEZqzi80M9CuhLuhG75mtl33Ngcw_vJ3MOKc/s1600/veronica-movie-still-27.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="585" data-original-width="1095" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioVoiuSIy8lxyNTRx6rCW06w4A7b4ASx0EK51QMx-csHXzxE-t-HGKkTJ-HKpt6v7zunhta7Om9BclGeayXnuCYaPMKu6Kj4qbGZ22PuTCEZqzi80M9CuhLuhG75mtl33Ngcw_vJ3MOKc/s320/veronica-movie-still-27.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3qAhFHZaforcRcRlJaRUpia8F3BbjwSKNtCm3rtslqwsQVEGSSwr3kgBVll7vaNUTdC1lZRpSk7pgjV5rSRFCeAQpKlnP7unPee0gPej9cYThAvLhv6MnuMFXJstOKKQbukcSk5pbUi8/s1600/veronica-movie-still-28.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="589" data-original-width="1101" height="171" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3qAhFHZaforcRcRlJaRUpia8F3BbjwSKNtCm3rtslqwsQVEGSSwr3kgBVll7vaNUTdC1lZRpSk7pgjV5rSRFCeAQpKlnP7unPee0gPej9cYThAvLhv6MnuMFXJstOKKQbukcSk5pbUi8/s320/veronica-movie-still-28.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Na cena do crime, o inspetor vistoria o recinto, ainda apegado à crença nas explicações racionais. Ele queima os dedos ao tocar num porta-retrato com a foto de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, e se surpreende quando o mesmo sofre combustão espontânea. As luzes retornam como se nada tivesse acontecido, bem no instante em que recebe pelo rádio a notícia da morte da adolescente. Na escuridão do gabinete, de volta à delegacia, o inspetor se debruça sobre a máquina de escrever, atônito em face de fatos muito além de sua capacidade de compreensão como homem de polícia, homem de ciência. Ele acende um cigarro, contemplativo, até finalmente se pôr a descrever a dinâmica dos estranhos fatos. Um texto conclui com os seguintes dizeres: "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Em quinze de junho de 1991, o inspetor da polícia José Ramon Romero (Inspetor Negri, no caso real) acudiu o domicílio situado na rua Gerardo Nuñes, número oito, em Madri, respondendo a um chamado de emergência. Na colhida dos depoimentos, familiares da menina explicaram que após ter participado de uma sessão do jogo Ouija, a jovem havia começado a manifestar uma série de estranhos sintomas, e que fenômenos paranormais tinham começado a se suceder dentro de casa. Dois dos agentes que inspecionaram o imóvel subitamente precisaram abandonar o lugar, depois de terem sofrido de fortes náuseas, vômitos, tremores e perda de visão, e permaneceram duas semanas de licença do serviço. Um mês após os eventos, o Inspetor Romero solicitou a transferência a outro distrito policial. Em seu relatório, testemunhou a ocorrência de fenômenos qualificados literalmente como 'sob qualquer ponto de vista, inexplicáveis'. Trata-se do único relatório policial na história da Força espanhola onde um policial presta testemunho de atividades paranormais</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">".</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">2017 foi um ano espetacular para o gênero fantástico, riquíssimo em motivos para o regozijo dos cineastas estrangeiros de horror, sobretudo aqueles com um forte vínculo com a Espanha e sua cultura. Embora mexicano, o cineasta </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Guilhermo del Toro</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, último vencedor do Globo de Ouro como melhor diretor por "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">A Forma da Água</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", começou a chamar a atenção há aproximadamente dezesseis anos, com "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">El Espinazo del Diablo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", uma nostálgica, melancólica estória de fantasmas ambientada nos terríveis últimos dias da sangrenta guerra civil espanhola, em um orfanato esquecido no escaldante deserto. O filme o "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">colocou no mapa</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", e mesmo que grandes filmes de estúdio tenham sucedido "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">El Espinazo del Diablo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", o romantismo sobrenatural deste ainda está para ser repetido por <i>del Toro</i>. Outro diretor que já mostrou a que veio, e que em 2017 lapidou o próprio talento a ponto de lhe reinventar com elegância, foi <i>Paco Plaza</i>, o cineasta por trás do excelente "<i>Verônica</i>". Os fãs do terror, entretanto, já se lembram de <i>Plaza </i>desde 2007, quando tomou o cinema fantástico de assalto com sua visão particular de inferno.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiI4BKxzCJ2-4KKe5JOYZ7zxszGbbM8U-qstst4ZjVCzSAhKtbSNshB6nfeEUf06TATJNnvjPPHgeG3GBl5VebS73IyatRUYhOabg7JeCFIDiKZR2nBQZkitmrvZVls2duHU0pCa-5yFAk/s1600/rec-paco-plaza.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="640" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiI4BKxzCJ2-4KKe5JOYZ7zxszGbbM8U-qstst4ZjVCzSAhKtbSNshB6nfeEUf06TATJNnvjPPHgeG3GBl5VebS73IyatRUYhOabg7JeCFIDiKZR2nBQZkitmrvZVls2duHU0pCa-5yFAk/s320/rec-paco-plaza.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Naquele tempo, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Plaza </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">e seu amigo </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jaume Ballagueró</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> foram laureados nas passagens pelos principais festivais europeus com o impressionante "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">[REC]</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", uma intrigante adição ao nicho que poderíamos classificar como "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">filmes de George Romero</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", ou seja, tramas envolvendo pessoas em cenários apocalípticos sob o assalto de uma ameaça exterior, seja uma horda de mortos-vivos, seja uma de maníacos sexuais com estupro em mente ("</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Shivers</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", de 1975, de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">David Cronenberg</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">). Em "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">[REC]</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Plaza & Ballagueró</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> ambientaram o drama em um condomínio fechado de Barcelona onde, aos poucos, emergem sinais de uma infecção por uma poderosíssima variante do vírus da Raiva. "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">[REC]</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" gerou duas boas continuações e um fraco último filme, bem como uma excelente refilmagem, comandada por </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">John Erick Dowdle & Drew Dowdle</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, os irmãos responsáveis por "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">The Poughkeepsie Tapes</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPnvcvdjv6ALATYUa_YBMXyYSKVvsRbx5RmFCZdA0sknkhjGrDiSFG6_Hrg4o2_i5mj1cEzwUdwXTLAuATyLFVs4xfIcTMI-nvV5ZMoHjkFHTPLCh0wwM0YfHfCBpTI9t_lOEgtqqXgeE/s1600/veronica-diretor-paco-plaza.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="401" data-original-width="690" height="185" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPnvcvdjv6ALATYUa_YBMXyYSKVvsRbx5RmFCZdA0sknkhjGrDiSFG6_Hrg4o2_i5mj1cEzwUdwXTLAuATyLFVs4xfIcTMI-nvV5ZMoHjkFHTPLCh0wwM0YfHfCBpTI9t_lOEgtqqXgeE/s320/veronica-diretor-paco-plaza.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Após o sucesso de "<i>[REC]</i>", aguardávamos o próximo passo de <i>Paco Plaza</i> </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">(<i>foto</i>)</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Não obstante se pensasse que o cineasta se renderia ao sistema dos grandes estúdios e filmaria um projeto nos moldes da mesmice do gênero fantástico, as consequências da aclamação guiaram <i>Plaza </i>a uma direção diametralmente oposta, e o resultado, "<i>Verônica</i>", exibe o charme e a melancolia européia que nos conquistaram previamente com "<i>[REC]</i>", há dez anos. Diferente de <i>del Toro</i>, que após o fantástico, profundo "<i>El Espinazo del Diablo</i>" mudou-se com malas para Hollywood e lançou "<i>Blade 2</i>", "<i>Hellboy 1 &2</i>" e "<i>Círculo de Fogo</i>", <i>Plaza </i>preferiu "<i>ficar em casa</i>", para a sorte dos apreciadores dos filmes <i>cult</i>, e rejeitar a conformação a regras e paradigmas de um modelo que dá sinais de sistêmico cansaço. Assim como outros grandes artistas estrangeiros antes dele, <i>Plaza </i>parece inclinado a ditar o próprio ritmo, e determinado a não se distanciar do estilo que melhor lhe serviu. Infelizmente, sabemos o preço pago, criativamente falando, quando um talento é "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">importado</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" para Hollywood. O francês </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Pascal Laugier</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, criador dos polêmicos "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Martyrs</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" & "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">The Tall Man</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", tem muita história para contar, pois sentiu na pele a dor do desapontamento quando, após o sucesso de "<i>Martyrs</i>" no circuito europeu, foi "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">convidado</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" a integrar o sistema dos estúdios, e teve de ver os sonhos ruírem quando produtores praticamente o deixaram de mãos atadas, criando toda sorte de entraves para impedi-lo de rodar a sua poderosíssima reimaginação para o clássico "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hellraiser</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". <i>Laugier </i>saiu da experiência bastante magoado. O chinês <i>John Woo</i>, o poeta da violência, espécie de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">segunda vinda de Sam Peckinpah</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", deu a <i>Jean Claude Van Damme</i> seu mais sólido veículo, "<i>O Alvo</i>", em 1993, após ser "<i>adotado</i>" por Hollywood, tendo feito história na China com suas obras-primas "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">A Better Tomorrow</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" & "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hard Boiled</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". Tudo o que veio depois, em Hollywood, infelizmente, desapontou os fãs da poesia de <i>Woo</i>, uma sucessão anti-climática de superproduções chatas estreladas por nomes famosíssimos, sem uma gota da saudosa paixão, tão palpitante no período chinês da carreira. <i>Woo </i>só reencontrou a inspiração ao dar as costas para a América, regressar à China e redescobrir suas raízes. Seus fãs devem saber que o novo "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Manhunt</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", em vias de lançamento, marca o reencontro de <i>Woo </i>com os "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">cop thrillers</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" icônicos recheados de cenas de tiroteio e banho de sangue em câmera lenta, emblemáticos de suas verdadeiras convicções. O brasileiro </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">José Padilha</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> fez por merecer um convite para filmar lá fora após a recepção dos ótimos "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tropa de Elite 1 & 2</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". Hoje, sabe-se que a refilmagem de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Robocop</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", um filme um tanto quanto raso, não traduziu as verdadeiras intenções do ótimo cineasta, vítima da interferência do estúdio, do "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">pessoal do dinheiro</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Paco Plaza</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> presta um favor a si e se poupa da desilusão. Não se sabe quais foram os convites feitos pela América ao diretor, todavia se o preço da recusa foi "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", sua esnobada valeu à pena.</span><br />
<i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></i>
<i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Plaza </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">escolheu um tipo de filme cujos elementos, quando esmiuçados, contrastam duas formas - européia & americana - de se contar estórias. Nos Estados Unidos, o recente "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ouija</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" também nos brindava com uma trama muito parecida, sobre jovens desavisados que cometem um grave erro ao mexer com o jogo do copo e despertam um espírito malévolo e atuante, engajado em destruí-los. Distingue-os, outrossim, o tom utilizado pelos criadores. Como gostos diferem pela dosagem, há aqueles mais afetos à tristeza de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", e outros, interessados em uma maior movimentação, com um desfecho bem-amarrado e apto a satisfazer as suas expectativas. As qualidades clássicas de um típico "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">crowd pleaser</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", de um "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">blockbuster</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", saltam mais aos olhos em "<i>Ouija</i>", onde ritmo suplanta credibilidade. Sustos e ações ganham vida graças a bem-orquestrados efeitos visuais, valendo ao produto a energia cinética de algo alinhado a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">O Chamado</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", com direito à familiar estrutura narrativa baseada numa heroína que, para vencer o mal, precisa correr contra o tempo numa aterrorizante aventura investigativa cheia de revelações e reviravoltas. Comparada a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ouija</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" satisfará melhor o gosto de quem aprecia um estilo de horror digerido em salas multiplex barulhentas, com os amigos, em uma sessão regada à pipoca. "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" supera o similar americano, por outro lado, se desprezarmos ação em favor de certo requinte europeu, de certas sofisticação e elegância não encontradas no </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">mise-en-scène</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> do espetáculo inconsequente ou no barulho do horror pelo horror. Com efeitos especiais assinados pela equipe de produções como "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">O Vingador do Futuro</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" e "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Transformers</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ouija</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" colore as terríveis mortes dos personagens com excessos, e as aparições da vilã, o espírito da menina de boca costurada, concebida com a acuidade visual dos grandes estúdios, concede à estória um impressionante ar de espetáculo. Modesto em efeitos, "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", na contramão, não pretende ingressar no clube do "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">cinema espetáculo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", e ao adotar um </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">approach </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">mais dramático e pesaroso, ganha a autenticidade que, no caso de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ouija</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", passa longe. E eis o diferencial: "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ouija</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" nos carrega com os altos e baixos da montanha-russa; já "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", sendo mais quieto e gentil em concepção, nos cativa pelo significado dos momentos silenciosos, pela doçura com que crianças reagem à tragédia, e pelo realismo envolvido nas consequências de uma morte familiar, o que, diferente de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ouija</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", nos estimula a refletir. Sob as variáveis da vida, a verdadeira tragédia tende a se insinuar sem glamour ou efeitos visuais. Se, para efeito de comparação, "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ouija</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" foi o passeio na montanha-russa, "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" propõe uma experiência mais meditativa. Um passeio na montanha-russa tende a deixar nossas lembranças do instante em que saímos do trem, afinal não há significado mais profundo, uma montanha-russa, afinal de contas, foi projetada para entreter. Uma proposta mais européia e sofisticada, entretanto, deixa um sabor mais duradouro. Não leiam minha constatação de modo equivocado. "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" oferece, sim, sequências muito bem coreografadas, porém <i>Paco Plaza</i> as realiza com o comedimento de, digamos, <i>James Wan</i>, nos dois "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Insidious</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". O demônio do filme de <i>Plaza </i>ganha fisicalidade como uma elegante sombra sem expressões dada a projetar-se nas paredes dos quartos e mover quadros e objetos com as mãos, como uma perene presença no seio daquela família madrilenha, nas linhas do demônio chegado a aparar as unhas enormes no amolador do primeiro "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Insidious</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", ou da simplicidade visual, no segundo, da "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Mãe de Parker Crane</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", uma aparição graficamente incômoda e tensa.</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> As manifestações do demônio também foram criadas com a simplicidade de técnicas muito antigas e mecânicas, quase sem retoques de efeitos digitais, uma ode ao compromisso com o realismo. A cruz de Jesus Cristo, sob o constante ataque que a lança da parede sem tréguas, e os objetos e móveis, atirados por forças invisíveis, resgatam lembranças da eletrizante, sóbria eficiência de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">O Exorcista</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", cuja protagonista, aliás, convida para si o demônio <i>Pazuzu </i>através do mesmo erro, mexendo com a tábua do jogo dos espíritos. As duas personagens, também similarmente, vêm de lares desfeitos, e a pressão das respectivas tragédias sobre suas mentes parece abrir a pequena, ideal fresta para a entrada do invasor. A ausência da figura paterna, seja pelo divórcio, no caso da menina </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Reagan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">O Exorcista</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", seja pela morte, no caso de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, as seduz à desesperada procura para suprir uma lacuna impossível de ser satisfeita, ao menos pelas coisas desse mundo. Os resultados são desastrosos. Diferentes nas vertentes criadas pelos seus respectivos calvários, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Reagan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">dividem, entretanto, o mesmo chamado de sereia, pois os que as seduz à tábua é a irresistível palavra ilusória do demônio, prometendo uma perfeita felicidade que nada desse mundo poderia, no frigir dos ovos, proporcionar.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyk-1_BTX7PNEnfWZckIuIF8cIatSeYVCLk9EKmTI2nDSSm5HRZmldNwwtbP3eQd4RprAEg0K_0iHDqJFNGlTowXxiSBU_jhMSUWxhB_GgvixS9iBsxwXxURcZdH41-AxB531KNH78WgA/s1600/Veronica-elenco.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="664" data-original-width="1180" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyk-1_BTX7PNEnfWZckIuIF8cIatSeYVCLk9EKmTI2nDSSm5HRZmldNwwtbP3eQd4RprAEg0K_0iHDqJFNGlTowXxiSBU_jhMSUWxhB_GgvixS9iBsxwXxURcZdH41-AxB531KNH78WgA/s320/Veronica-elenco.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">A protagonista, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, interpretada pela atriz </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Sandra Escacena</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, nos é apresentada como uma menina absolutamente comum, dotada de uma espécie de conhecimento de vida advindo da dor, o que a torna uma espécie de mãe substituta para os irmãos pequenos. Mesmo sem jamais perder de vista as pesadas responsabilidades de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">naquele carente contexto familiar, o diretor </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Plaza </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">foge da armadilha de pintá-la como uma espécie de mártir. Sim, ela sofreu uma imensa perda, e a ausência temporária da mãe a sobrecarrega com responsabilidades irreais perante as crianças, porém as interações com as amigas, no colégio, ou com os irmãozinhos não nos deixam perder de vista que, independente da ocasional melancolia externa, ela é só uma adolescente com direito a pisar nas armadilhas de sempre, porque somente precisa de tempo para amadurecer. A construção do caráter, muito justa, indica a preocupação do também roteirista </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Plaza </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">em nos oferecer um filme inteligente e fora do lugar comum, um esmero verificado mais regularmente em pequenos filmes de horror, como o recente "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Starry Eyes</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", um projeto fundado no âmbito da campanha na internet, realizado com baixo orçamento, riquíssimo na caracterização de personagens, todos donos de vozes e personalidades interessantes.</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> Ángela Fabián</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Carla Campra </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">(uma espécie de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Rachel McAdams da terra de Cervantes</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">") auxiliam o diretor </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Plaza </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">a criar em </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">uma presença humana, deliciosamente honesta, pois o convívio entre as três meninas injeta verossimilhança à proposta de lugar/espaço usada como palco para a estória, Madri, em 1991. Suas conversas e pequenos planos nos transportam para um específico tempo nas nossas próprias vidas, quando o mundo, menor que fosse, incutia empolgação, vez que mágico, preenchido por vinhetas compostas por expectativas e brincadeiras nos corredores do colégio, por conversas secretas sobre colegas de classe objetos de nossa devoção, romanticamente falando, pela execução das pequenas traquinagens típicas de adolescência, como se aproveitar da viagem dos pais para organizar uma festa dentro de casa. Chama-me a atenção a sensibilidade com que o roteiro desenvolve a proximidade entre </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Rosa</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, afinal, mais tarde, quando mesmo depois de nos ter sugerido tão inquebrantável elo, as meninas se afastam por causa da interferência de uma "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">forasteira</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Diana</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, a sacada retrata com muita fidelidade a transitoriedade de qualquer relação humana, e a confusão da protagonista perante o choque do desmoronamento de uma amizade tida como sólida reflete o despreparo quando se é jovem, e, desavisadamente, espera-se do mundo ou das pessoas perfeição e absoluta felicidade. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">continuará a se permitir caminhar voluntariamente para dentro de tempestades onde o único desfecho será o de um coração partido, até que o tempo se encarregue de cumprir com seu papel, dar-lhe a compreensão que do momento que se nasce ao que se morre, viver demanda um constante exercício de eliminação de mentiras, algumas fundamentais, outras menores, incrustadas em nossas almas e responsáveis diretas pela miopia com que enxergamos e reagimos equivocadamente às coisas próprias do mundo, um lugar de certa beleza onde, sim, é possível alguma bem-aventurança, mas uma alegria acompanhada por um pouco de frustração; felicidade, por um pouco de tristeza; prazer, por um pouco de dor. Foi o ator </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Sylvester Stallone</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> quem disse a </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">James Lipton</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, do </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Inside the Actor's Studio</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, que a vida fatalmente arrancará, aos poucos e inexoravelmente, para cada um de nós, camadas e mais camadas de trivialidades, até nada mais restar, que não o essencial. Em outras palavras, apenas constatou os fatos da vida com uma descrição muito didática e visualmente bela, não tão bela quanto uma outra, que desemboca na mesma conclusão, apenas a descreve mais sublimemente: a representação de viver encontra correspondência na imagem de uma longa e feliz noite de núpcias, e, por consequência, também na de uma lenta caminhada rumo à lua de mel. Você não precisa ser necessariamente casado para compreender o impacto da alegoria, pois mesmo os solteiros presumirão quão especial é para duas pessoas que trocaram alianças a privacidade da noite vindoura. Até o grande momento, o do bem-vindo silêncio da privacidade entre marido & mulher </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">enfim sós</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, há uma etiqueta a se seguir, uma escalada até o clímax, ou, melhor escrevendo, uma festa de núpcias cheia de convidados inesperados de última hora, cujas mesas visitamos, para abraçá-los e derramarmos juntos algumas sufocadas lágrimas salgadas e gostosas, vindas de algum lugar sincero do coração. "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Eu estou feliz por vocês, boa sorte!</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", os convidados fazem votos, ao apertarem as mãos dos recém-casados, todavia será quando a noite começar a avançar e o salão a esvaziar que se assentará na convicção dos consortes a real escala de felicidade possível aqui na Terra, a medida de uma felicidade que necessariamente implica em um pouco de tristeza; da alegria do reencontro, temperada com uma pitada de frustração ao se dizer "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">adeus</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">"; de prazer, embaralhado por um pouco de dor, sobre o qual </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Clive Barker</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> escreveu e filmou de modo tão magistral em "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hellraiser</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". A política da vida se confunde com a noite de núpcias, e convidados estão constantemente se levantando das mesas para nos parabenizar e nos deixar a sós, à medida que a noite se aproxima do desfecho e a orquestra vê seu repertório diminuir. E se por um lado o esvaziamento do salão de festas parece trágico, há um sabor de consolação na enorme expectativa de logo mais, quando consortes terão a calada da noite para o momento da consumação do compromisso, e tudo o que importa são as duas pessoas que trocaram alianças. Por mais que tenha sido o máximo reencontrar pais, amigos e familiares na grande festa do salão, não se caminha para a consumação do ato na suíte esperando-se levar consigo toda essa gente: a intimidade, ou melhor, as expectativas em torno da mesma, só serão liquidadas entre marido & mulher. Paralelamente ao desenrolar da festa, sucedem-se as perdas naturais da vida. Beleza, saúde, amigos: a perda desses bens corresponde aos convidados que deixam as mesas para se despedirem. No silêncio da suíte, depois que os convidados já se foram e marido & mulher se encontram para se amar por trás do manto da privacidade, temos o ser humano face a face com sua noiva, a própria mortalidade, quando nada mais lhe resta, a não ser se entregar com destemor aos seus braços, à consumação do ato, ou melhor, `a consolação de se saber que mesmo após a morte, você estará deixando para trás uma vida vivida sob compasso moral. E como acontece a objetos, cuja razão de existir jamais se encontra na coisa em si, e sim fora dela, a mortalidade crava nossos pés no chão ao nos lembrar que o mistério da cruz suportada por cada um nesse mundo jamais será respondido agora, somente mais tarde, uma vez encerrado o capítulo da curta estadia por essas paragens. Mas é mesmo como </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Sylvester Stallone </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">declinou, no penúltimo filme do </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Rocky</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, de 2006, "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Seja mais gentil e humilde para com o mundo, meu caro, e isso é só o começo da história, porque você encontra pessoas enquanto está subindo a montanha, mas as reencontra depois que começa a descer</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">".</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjz7dN5YixY0dr54OSxn4AkOuOhfQvN5KRw5hgisYCdPx1mUbW5HE86ezP5RKEwXKYwMKD39ZBuvk9xNm6MAM8UEoxAjblboI7MX0smPpiETSHO7bIIDioHzd6982XaasO1yjrsID3pUf8/s1600/veronica-caso-real-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="470" data-original-width="770" height="195" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjz7dN5YixY0dr54OSxn4AkOuOhfQvN5KRw5hgisYCdPx1mUbW5HE86ezP5RKEwXKYwMKD39ZBuvk9xNm6MAM8UEoxAjblboI7MX0smPpiETSHO7bIIDioHzd6982XaasO1yjrsID3pUf8/s320/veronica-caso-real-1.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXbId_Klw2SQzg3xysd3dpvNN-fGZ3AzFWMnPsrviEKBbLKZPM24BpkqShpP8lz8l0rzTz5hSOnZDD8jfqOCJ6lT2sClcTSySGcf6k8vr7O1XPfAIUHMnOqPXeyf2M0BpPoP_zMfDwWBk/s1600/veronica-caso-real-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="410" data-original-width="650" height="201" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXbId_Klw2SQzg3xysd3dpvNN-fGZ3AzFWMnPsrviEKBbLKZPM24BpkqShpP8lz8l0rzTz5hSOnZDD8jfqOCJ6lT2sClcTSySGcf6k8vr7O1XPfAIUHMnOqPXeyf2M0BpPoP_zMfDwWBk/s320/veronica-caso-real-2.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Uma competente campanha de publicidade bastaria para propalar o sucesso de "<i>Verônica</i>" no mercado estrangeiro, afinal o mérito dramático/criativo da produção se encarregaria do restante para chamar a atenção do público internacional e garantir um resultado muito superior a similares do gênero, um excitante entretenimento para as pessoas órfãs dos filmes de terror de <i>James Wan</i>, agora que o talentoso diretor parece ter deixado seus dias de "<i>Insidious</i>" e "<i>The Conjuring 1&2</i>" para trás, para se focar nos filmes de ação para o verão americano. Ainda, impressiona-me sobremaneira o fato de "<i>Verônica</i>" basear-se numa impressionante história real. </span>O caso ocorreu em 1991, em um
distrito de Madri conhecido como Vallecas, e vitimou uma menina chamada<i>
Estefania Lazáro</i> </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">(<i>fotos</i>)</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Duas semanas após a morte da avó, <i>Estefania</i>, então uma jovem aos dezoito anos, começou a agir de modo esquisito. Ela brincara com o jogo do
copo, numa tentativa de se comunicar com a avó, e subitamente passara a sofrer
convulsões, que evoluíram para ataques epilépticos. Os professores contaram à
polícia que <i>Estefania </i>e as amigas haviam usado uma tábua na tentativa de contatarem espíritos. Durante a sessão, o copo se despedaçou, e, em seguida,
materializou-se uma espécie de fumaça muito
densa e escura. A fumaça desapareceu ao penetrar pelas narinas de <i>Estefania</i>. A
partir daí, ela mergulhou em uma coma cataléptica, da qual jamais se recuperaria. A
moça morreria algumas noites depois, em uma crise de gritos e convulsões, bem
diante do olhar aterrorizado dos pais. A autópsia nada pôde apontar de verossímil para a súbita morte por paradas cardíaca & respiratória, levando-se em conta sua tenra idade. O verdadeiro
horror, contudo, se introduziria na vida da família após a morte, com a eclosão de inexplicáveis fenômenos de poltergeist dentro de casa. Do banheiro, viriam os apelos de uma estranha voz feminina, clamando "<i>mamãe, mamãe</i>". Quando a porta era aberta, os familiares da menina nada encontravam. Isso ocorreria sempre de madrugada. Embora o quarto de <i>Estefania </i>tivesse sido fechado, lençóis e objetos seriam achados espalhados em uma grande bagunça pelo chão. Com o tempo, os pais e irmãos distinguiriam um rumor ao longo do corredor em direção ao quarto da garota. Não demoraria para que o som se aperfeiçoasse até virar uma clara, distinta risadinha "<i>semelhante à de uma velha</i>". Com a chegada do outono, no ano da morte de <i>Estefania</i>, a família recorreria ao expediente de empurrar móveis contra as portas, para evitar que as mesmas fossem abertas por uma força invisível e insistente. A precaução de nada adiantaria.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Um dia, uma foto de <i>Estefania </i>foi atirada da parede e sofreu combustão. O fogo se concentrou no rosto sorridente da garota morta. Vizinhos não demoraram a reportar sombras atravessando as paredes dos apartamentos. Na mais apavorante manifestação de poltergeist, as irmãs de <i>Estefania </i>despertaram de madrugada sob a forte impressão de assovios para o lado da porta, um som logo comutado em um grunhido intimidador. À medida que a luz do lado de fora da janela foi se assentando dentro do quarto, as meninas viram claramente uma sombra de rosto preto e sem expressões rastejar no tapete. Logo, a coisa passou a engatinhar maliciosamente em direção às crianças, ao mesmo tempo em que as bonecas nas estantes pareciam vivas, dada a força com que eram atiradas. Quando os gritos das meninas se avolumaram a ponto de atraírem os pais, o fenômeno esvaneceu. Em novembro de 1991, o inspetor da polícia <i>José Negri</i> e seus soldados atenderam a uma ocorrência no apartamento, às 02:40 da madrugada, depois de terem sido informados acerca de "<i>sombras muito altas e estranhas</i>", uma declaração interpretada por <i>Negri</i>, à primeira vista, como típico caso de invasão domiciliar. Seu relato impressionante serve como confirmação da atividade do poltergeist. Consoante declarações de <i>Negri</i>, eles assistiram a gavetas perfeitamente fechadas se abrirem sem nenhuma manipulação, e a uma toalha sobre a mesa do telefone exibir uma repugnante substância viscosa de cor amarronzada, como o babado de um animal selvagem, tipo um lobo. <i>Negri </i>visitou os quartos, onde assistiu a um crucifixo pôr-se de cabeça para baixo, sozinho, e ter a figura do Cristo extirpada, com um súbito impulso invisível. <i>Negri </i>relata como os cabelos da nuca se eriçaram ao visitar os cômodos, um sentimento confirmado pelos soldados. Mesmo hoje, tantos anos mais tarde, e tendo esgotado um leque de tentativas para lidar com a coisa, de visita de sacerdotes a exorcismos, a família declara que jamais se viu inteiramente absolvida do assédio do demônio, não obstante o antigo apartamento, hoje habitado por uma nova família, não mais servir de palco às manifestações. A "<i>coisa</i>", afinal de contas, parece atrelada a pessoas, e não a lugares. Nesse ponto, recordo-me da melhor cena de "<i>Atividade Paranormal</i>", quando o casal cuja residência serve de cenário para fenômenos insólitos recebe a visita de um parapsicólogo. Ao tomar o apontamento das reminiscências da moça, queixosa da condição de alvo dos tormentos sobrenaturais desde a infância, ele observa: "<i>Então, se você me explica que se trata de algo que te seguiu de onde você morava aos oito anos, para outro lugar onde você vivia aos treze, e agora até aqui, parece-me que é com isso com que estamos lidando, com algo conectado a você. Minha área de expertise revolve lidar com fantasmas, foi como construí uma carreira, ajudando pessoas a contatarem entes falecidos, ou seja, espíritos de gente morta. Um demônio é algo diferente. Trata-se de uma entidade relacionada a algo não-humano. Há muito debate e discussão acerca da natureza desse 'algo', mas não é uma pessoa. Lidar com demônios não é minha área, sinto-me muito desconfortável com isso, e te digo, francamente, que sinto a presença da coisa nessa casa. Você não pode fugir disso, ela vai te seguir. Ela pode permanecer adormecida por anos. Algo pode engatilhá-la, tornando-a mais ativa, e ela tentará, de tempo em tempo, estender a mão para se comunicar</i>". Outra história real semelhante ao caso de <i>Estefania</i>, onde a "<i>cisma</i>" do demônio provocou um tipo de assédio capaz de se estender por décadas, foi o caso da família <i>Smurl</i>, de <i>West Pittston</i>, <i>Pensilvânia</i>, já contado no apavorante filme "<i>A Casa das Almas Perdidas</i>", disponibilizado gratuitamente em sítios de vídeo.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ainda sobre casos reais, há uma outra poderosa história que, com o tempo, se tornou uma espécie de lenda urbana, pois jamais foi esclarecida. O caso merece ser descoberto, e se assemelha bastante aos fatos do filme de <i>Paco Plaza</i>. Trata-se da história de uma senhora identificada somente como <i>Clarita</i>, que, em 1995, ligou para um programa de rádio mexicano. Naquela data, comemorava-se o dia das bruxas, e a rádio reservara o horário para contar estórias mentirosas de terror, numa grande gozação. Tudo ia bem, até essa senhora entrar ao vivo. Embora se pensasse que ela narraria alguma lorota, desabafou a centenas de ouvintes sobre o drama do filho. Após brincar com o jogo do copo, sua vida virara de cabeça para baixo, e estranhas manifestações haviam tornado a vida dentro de casa insustentável. Os senhores podem encontrar o vídeo com muita facilidade, basta procurar, no sítio de vídeos, pelo termo "<i>O menino possuído - Caso Clarita</i>". O cavalheiro responsável pelo vídeo realizou uma excelente pesquisa, e lhe cabem aplausos por ter redescoberto e disponibilizado o áudio da conversa, ainda arrepiante, mesmo depois de tantos anos. Desafio-os a escutarem até o final sem se inquietarem. "<i>Verônica</i>" rende um produtivo debate sobre a veracidade do jogo do copo. Muitos o tratam como uma grande diversão, e o fato de vir sendo comercializado como brinquedo pelo selo Hasbro indica a pouca seriedade reservada ao tabuleiro. O "<i>valor</i>" da brincadeira se deveria, nesse diapasão, ao enorme poder sugestivo da mente, aos sentimentos e impressões que a manipulação da "<i>lenda urbana</i>" despertaria. Há, todavia, um limbo de casos reais mal-explicados envolvendo a Ouija, e a zona cinzenta alimenta uma lacuna de mistérios. Só Deus, em Sua infinita graça & sabedoria, conhece a verdade por trás de tais segredos.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Digno de destaque, também, é o senso de intimidade com que o diretor nos leva à jornada de <i>Verônica</i>. Quando assistimos a filmes de terror demasiadamente fantásticos, desafiamos os nossos medos a uma distância segura, dado o absoluto abismo entre os eventos na tela e a realidade de quem lhes assiste. <i>Clive Barker</i> já falou algo nesses moldes, sobre como uma das melhores qualidades de filmes de horror consiste na simulação do medo, um convite a "<i>vivê-lo</i>" de maneira indolor. "<i>Verônica</i>", entretanto, foi concebido com tamanha fidelidade aos elementos da vida cotidiana de uma família comum madrilenha que seria impossível não nos vermos um pouquinho nas pequenas alegrias e enormes tristezas típicas do rito de passagem de toda criança/adolescente. Nesse sentido, a realidade dos personagens, por ressoar tão intimamente às coisas do nosso cotidiano, vale importantes pontos ao conjunto, revestindo-o com um refrescante aroma de familiaridade e empatia. "<i>Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal</i>" se prestou anteriormente a semelhante propósito; dentre os outros filmes da franquia, sobressai-se como o mais instigante, e parte do destaque rastreia-se à genial sacada de sediar a trama no coração de um palpitante bairro latino em <i>Los Angeles</i>, uma cultura religiosa, vibrante e cheia de vida, apegada a valores como o da família. Em "<i>Verônica</i>", <i>Paco Plaza </i>volta as câmeras para a realidade de cidadãos espanhóis madrilenhos no começo dos anos 90, e nos reconecta a sensações que emergem em nossos corações, dada a tocante, doce sinceridade do resgate. Para imbuir o passeio pelo túnel do tempo de veracidade, utiliza uma trilha sonora cheia de batidas de sintetizadores, reminiscentes dos velhos filmes de <i>John Carpenter</i>, e, mais recentemente, de "<i>Corrente do Mal</i>". "<i>Verônica</i>", um filme que pertence ao seu próprio tempo graças aos fatos em torno do caso verídico, também veste com louvor um anacronismo muito peculiar, cortesia das escolhas e licenças artísticas adotadas pelo cineasta.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Finalmente, mas não menos importante, preciso reservar algumas linhas ao fundamental papel das crianças nessa estória. Em filmes de horror, a presença de atores-mirins sempre acaba atraindo como poderoso ímã as atenções, e "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" não foge à regra. Em "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">The Babadook</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", um poderosíssimo drama sobre o demônio da depressão, o garoto <i>Noah Wiseman</i> conquistou corações no papel de <i>Samuel</i>, filhinho de uma mulher amargurada sob a perversa influência de uma "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">coisa</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", de um demônio chamado "<i>Babadook</i>", que, alegoricamente, poderíamos interpretar como a agonia do luto pela morte do marido. A representação de tal demônio, no filme, surge como uma figura triste e patética com um sorriso cartunesco e estúpido, metida em sobretudo e cartola ridiculamente enormes para seu real tamanho, uma horrenda, memorável representação para tão nefasto e sufocante sentimento. Em "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">El Espinazo del Diablo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", uma evocativa estória sobre as relações viciadas entre adultos perversos dentro de um orfanato no meio do deserto, nos últimos dias da guerra civil espanhola, o obscuro segredo de um fantasma que assombra os carcomidos prédios do local se descortina perante nossos olhos através do ponto de vista das crianças, testemunhas acuadas de toda espécie de sexo corrompido e joguinhos psicológicos entre a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">gente grande</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" em cujas mãos repousam seus destinos individuais. Com "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Verônica</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", <i>Plaza </i>confia a responsabilidade às crianças, <i>Bruna González</i>, <i>Cláudia Placer</i> e <i>Iván Chavero</i>, que dá a performance excepcional. As duas meninas pequenas comportam-se com certa autoconfiança, porque mesmo como crianças, sendo as filhas "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">do meio</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", guardam melhor discernimento das demandas da vida. <i>Antoñito</i>, entretanto, nos arrasa pela tocante inocência. Por trás dos óculos, seus olhinhos assustados absorvem eventos muito além de sua capacidade de processamento. O amor de <i>Verônica </i>pelo menino, tangível nos detalhes, como o carinho com que dá banho ou passa pomada em seu peito para amenizar a dor das queimaduras, torna o destino da moça ainda mais trágico, não tanto por <i>Verônica</i>, e sim pela criança, sobre cujos ombros pesará a ausência. Tanto é verdade que filmes nos encantam em demasia, que costumamos construir castelos no ar, "<i>imaginar</i>" desdobramentos para aquilo que veio depois, para os personagens, uma vez encerrada a estória. <i>Richard Linklater</i>, o talentoso cineasta responsável pelas obras-primas "<i>Antes do Amanhecer</i>" e "<i>Antes do Pôr-do-Sol</i>", dizia algo nessas linhas, no "<i>making-of</i>" de "<i>Antes do Pôr-do-Sol</i>", de 2004. Ele afirmava algo sobre como qualquer filme que você faz continua existindo na sua mente, "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">especialmente esses dois (os personagens de Ethan Hawke e Julie Delpy), eles sempre permaneceram crescendo (no hiato entre o primeiro filme, de 1994, e o segundo, de 2004)</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". No primeiro, "<i>Antes do Amanhecer</i>", <i>Julie Delpy</i> diz algo parecido, num plácido, pequeno cemitério em Viena, ao personagem de <i>Ethan Hawke</i>. Ela confidencia ao rapaz o quanto lhe parece estranho contemplar aquela lápide de uma menina falecida prematuramente, aos quinze anos: todos os anos, ao ali passar, não deixa de notar a lápide, e vai para casa pensativa, refletindo que embora esteja ficando mais velha, a menina seguirá com seus quinze anos de idade. Retomando a análise de "<i>Verônica</i>", entre os demais personagens, <i>Antoñito </i>se destaca como a lembrança a se levar do filme, porque a ingenuidade e pureza de criança sempre roubam a cena. Como cada adulto um dia foi criança, qualquer um pode atestar que em nenhum outro tempo nossos canais se veem tão abertos. Faça um experimento e procure revisitar mentalmente um espaço/tempo quando, para parafrasear Coríntio 13:11, você pensava como criança, sentia como criança e falava como criança. Você dá de barato, afinal de contas, que reminiscências de um tempo a longo perdido não significam tanto assim, pois são tão inconstantes quanto o mundo daquela época. Ora parecem ocorridas há uma hora, ora há um século. A verdade, claro, encontra-se em algum lugar no meio.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/GlalMcEiwZQ/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/GlalMcEiwZQ?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><i style="background-color: #eeeeee;">Todos os direitos autorais reservados a Sony Pictures. O uso do trailer e das imagens é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i></span></div>
</div>
Anonymousnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-64173555770579939052017-07-13T14:18:00.001-07:002021-03-18T16:48:29.360-07:00"Corra!" ("Get Out", 2017, EUA, Jordan Peele) & "The Void" (2016, EUA, Steven Kostanski & Jeremy Gillespie) & "Em Busca de Vingança" ("Aftermath", 2017, EUA, Elliot Lester): "Somos só eu e você agora, amigo".<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9Qk3beEAy7MjP_wtLoCrcK6eSKlyiFMSuhy2Fs-ltL-ArC3_TbtLJXkiyq91AaZQhC-h_8CTj6-jjhrZUqyzB3MQbV2glG58fFjG60DKqg4MKP1p-rW2oZzMegsZtVie5XhyBantKgwo/s1600/Get-Out-movie-still-1.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="731" height="243" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9Qk3beEAy7MjP_wtLoCrcK6eSKlyiFMSuhy2Fs-ltL-ArC3_TbtLJXkiyq91AaZQhC-h_8CTj6-jjhrZUqyzB3MQbV2glG58fFjG60DKqg4MKP1p-rW2oZzMegsZtVie5XhyBantKgwo/s320/Get-Out-movie-still-1.jpg" width="320" /></span></a></div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Um jovem negro caminha solitariamente pelas arborizadas calçadas de um bairro de classe média alta, habitado, em sua maioria, por gente branca. É noite, portanto se nota certa apreensão na voz do rapaz, que pelo diálogo ao celular parece conversar com a namorada. Ele encontra dificuldades para se situar, mas leva a situação na esportiva, e brinca um pouco na tentativa de dissipar a natural apreensão de se ver em um local desconhecido. O rapaz se despede da namorada, e segue na tentativa de se orientar através das placas. Um Porsche branco surge, vindo vagarosamente pela rua deserta no sentido contrário ao de sua caminhada, com as luzes baixas. O rapaz nem chega a prestar atenção, empenhado em achar a avenida principal. O motorista realiza uma meia-volta, e pareia com o jovem, o que definitivamente lhe causa uma má impressão. Receoso, determinado a não se passar de vítima, ele muda o sentido da caminhada e incrementa a marcha, murmurando enraivecido que não se sente no humor para lidar com brigões. Quando se prepara para atravessar a pista e seguir outro caminho, o rapaz nota que o motorista abriu a porta, em uma aparente intenção de descer. Atônito, não vê quando uma segunda pessoa, presente à cena, mas até então escondida atrás das árvores do canteiro, deixa seu esconderijo e o põe para dormir com um pano embebido em clorofórmio. Rendido, o jovem é discretamente abduzido, e desaparece de uma hora para a outra, arrastado para o Porsche. Ninguém mais ouve falar do rapaz, nem a família, nem os amigos.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNg7MDytQoUxFev888wLFQGzQXtuEnLmdm3wAOmlimLq6TsL-qWcjy8flT4XSusPQA4sOSRqe-ZV1clVWl5UBnSCWu8Cxk_H4CWyni51B5ZYizlVwLYWF7nyvvcKst9UfPWYGPNERyM_c/s1600/get-out-movie-still-1+%25281%2529.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1355" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNg7MDytQoUxFev888wLFQGzQXtuEnLmdm3wAOmlimLq6TsL-qWcjy8flT4XSusPQA4sOSRqe-ZV1clVWl5UBnSCWu8Cxk_H4CWyni51B5ZYizlVwLYWF7nyvvcKst9UfPWYGPNERyM_c/s320/get-out-movie-still-1+%25281%2529.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-hgaxd83kRY2AnUKJR1AY1u3uewsuF1LcenTTMDgz4ZWBro1Z3e3cXZv0MfpEp4hE_sSFm_2ZB2Zr_3pvtkg9anaC0VchMyeLArieBsQapR7xHxBP65Ix-SaBba6o238232jN8Cwz_Os/s1600/get-out-movie-still-2.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="553" data-original-width="1349" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-hgaxd83kRY2AnUKJR1AY1u3uewsuF1LcenTTMDgz4ZWBro1Z3e3cXZv0MfpEp4hE_sSFm_2ZB2Zr_3pvtkg9anaC0VchMyeLArieBsQapR7xHxBP65Ix-SaBba6o238232jN8Cwz_Os/s320/get-out-movie-still-2.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><b>Meses depois</b><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. </span><i>Chris Washington</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> (</span><i>Daniel Kaluuya</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">) é um jovem que, não obstante tenha sofrido um evento extremamente traumático do passado, cresceu para se tornar um excelente fotógrafo e uma pessoa feliz, saudável e bem-humorada. Quando o vemos pela primeira vez, ele está cuidando dos últimos preparativos para a viagem. </span><i>Chris </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">faz a barba diante do espelho, e aguarda a chegada da namorada, </span><i>Rose Armitage</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> (</span><i>Allison Williams</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">), que não custa a bater à porta, trazendo croissant e guloseimas para o café da manhã. </span><i>Chris </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">veste um ar circunspecto enquanto deposita roupas e materiais de higiene pessoal na mala aberta. A namorada percebe o nervosismo, e dá um tempo nas brincadeiras com </span><i>Sid</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, cãozinho de </span><i>Chris</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, para tranquilizá-lo. </span><i>Chris</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> é negro, e </span><i>Rose</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, branca. Ele teme a reação dos pais da moça quando forem apresentados a sua pessoa. </span><i>Rose </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">tenta dissuadi-lo de suas preocupações, e insiste que a família não é racista. Dirigindo pela estrada do bosque, </span><i>Rose </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">mantém os olhos à frente, porém, em uma manifestação de carinho, tem a presença de espírito de atirar o maço de cigarro de </span><i>Chris </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">pela janela. Os ânimos parecem dos melhores, naquela manhã de sol glorioso. Ele liga para o melhor amigo </span><i>Rod </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">(</span><i>LilRel Howery</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">), um simpático servidor aeroportuário a quem </span><i>Chris </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">incumbiu de cuidar de </span><i>Sid </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">ao longo do fim de semana. </span><i>Rod </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">também bate papo com </span><i>Rose</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, e brinca ao comentar que, dos dois amigos, ela escolheu o cara errado!</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZZbrIrXWj7-b-l0rG5QQTyR7LmcpuLjCZuvzn2jHCoVYdC9QtJA_BPH32LU4Oh33tHlYD-i18X7iSFCMTjEHSFbJ_APzQ12tkx0voZSLAzr7POE7nBMchPL4zvkLa_TtloBFXOtcWABo/s1600/get-out-movie-still-3.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1349" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZZbrIrXWj7-b-l0rG5QQTyR7LmcpuLjCZuvzn2jHCoVYdC9QtJA_BPH32LU4Oh33tHlYD-i18X7iSFCMTjEHSFbJ_APzQ12tkx0voZSLAzr7POE7nBMchPL4zvkLa_TtloBFXOtcWABo/s320/get-out-movie-still-3.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDRdwKomct7Hip6bX1iXmSjtU55klioI8ywk8Pk7LhwFShFbFkF6Dc6tVUqWkd2kFRnX8CPUzVNtaDUZIDfxX45ejk1jGYZ96hfDEJZ13rZTfT2L39Shyphenhyphen7Z6FuCnFVQPo55mM2VNM3Z3E/s1600/get-out-movie-still-4.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1353" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDRdwKomct7Hip6bX1iXmSjtU55klioI8ywk8Pk7LhwFShFbFkF6Dc6tVUqWkd2kFRnX8CPUzVNtaDUZIDfxX45ejk1jGYZ96hfDEJZ13rZTfT2L39Shyphenhyphen7Z6FuCnFVQPo55mM2VNM3Z3E/s320/get-out-movie-still-4.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><br />
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5wpc8Zvg6j53WJ_j2AGd4aZoUNaaazt92qMgzIlF2owqddVFWAK3Im7cFXXL0chsksa0zIqZ0kfF-JhabsXgkryVjsjy-K2EzGoxq9-U5ZNY_sRh4YPn3Ad-alMhe0Q00MQqaF-dO92Y/s1600/get-out-movie-still-5.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1351" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5wpc8Zvg6j53WJ_j2AGd4aZoUNaaazt92qMgzIlF2owqddVFWAK3Im7cFXXL0chsksa0zIqZ0kfF-JhabsXgkryVjsjy-K2EzGoxq9-U5ZNY_sRh4YPn3Ad-alMhe0Q00MQqaF-dO92Y/s320/get-out-movie-still-5.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Subitamente, um veado cruza a estrada com espantosa velocidade, não dando ao casal tempo hábil para evitar o impacto. A frente do carro infelizmente apanha o animal. Não há sinais do veado no acostamento, mas então <i>Chris </i>entra um pouco no bosque e, conforme esperado, encontra o animal, agonizante. Cheio de remorso, algo no subconsciente de <i>Chris </i>resgata o traumático evento da infância que até hoje o assombra. Um policial atende a ocorrência, e recomenda que a moça troque a lâmpada frontal, danificada por causa do impacto. O oficial se conduz de maneira preconceituosa ao pedir alguma forma de identificação de <i>Chris</i>, mesmo tendo sido avisado por <i>Rose </i>que não era o namorado ao volante quando do acidente. Superado o entrevero, eles retomam a estrada, e não demoram a chegar à bela casa da família <i>Armitage</i>. Recebidos na porta pelos pais da namorada, <i>Dean </i>& <i>Missy </i>(<i>Bradley Whitford</i> & <i>Catherine Keener</i>), <i>Chris </i>tem seus temores dirimidos quando os hóspedes o tratam calorosamente.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmqaOjqXDEkFnMHspoTKGVE8ROh3wkFtrfkz2oJXIk45gbUH1yyHZglZVKPCzeKDXp_7QLphze8jm71UZHKyxrycjcsZQnUh8UetrZOHYt8QRe8BqYV4vO18UPHo88n7ZqD1o1aKrjAJU/s1600/get-out-movie-still-6.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1357" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmqaOjqXDEkFnMHspoTKGVE8ROh3wkFtrfkz2oJXIk45gbUH1yyHZglZVKPCzeKDXp_7QLphze8jm71UZHKyxrycjcsZQnUh8UetrZOHYt8QRe8BqYV4vO18UPHo88n7ZqD1o1aKrjAJU/s320/get-out-movie-still-6.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZDLxAKvb-Zl1hhKH7fTfR0R7fAe32BONTrUTZfpe3pNUVCfomabVpK5IsiUWNpeThJR38caHfyQj5SF_ECMww0sGtII0MjADPj8IR4amIgMWygMXoctA8C3N3HtDYus9BVskG-0Rvejc/s1600/get-out-movie-still-7.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1355" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZDLxAKvb-Zl1hhKH7fTfR0R7fAe32BONTrUTZfpe3pNUVCfomabVpK5IsiUWNpeThJR38caHfyQj5SF_ECMww0sGtII0MjADPj8IR4amIgMWygMXoctA8C3N3HtDYus9BVskG-0Rvejc/s320/get-out-movie-still-7.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><br />
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvW-hDQqJ7ew3htbNXnfKsYEQtHGLPjCZnnFmJYMySvpB0smJ285TvDHF9211fpWnq7KAuBGGCLO0bGCxvqjEsCtHAKJNE9zoueVsKpYCIu18dUS5BDp8LTHx8wdPI3cnXYwpIBR68v9g/s1600/get-out-movie-still-8.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1357" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvW-hDQqJ7ew3htbNXnfKsYEQtHGLPjCZnnFmJYMySvpB0smJ285TvDHF9211fpWnq7KAuBGGCLO0bGCxvqjEsCtHAKJNE9zoueVsKpYCIu18dUS5BDp8LTHx8wdPI3cnXYwpIBR68v9g/s320/get-out-movie-still-8.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Após uma descontraída recepção na sala de estar, <i>Dean </i>conduz o genro por um passeio pela ampla propriedade de campo, enquanto discorre sobre a pitoresca história da família. </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">O irmão de <i>Rose</i>, <i>Jeremy</i>, estuda Medicina, e deve chegar naquele mesmo dia, mais tarde. </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Neurocirurgião, <i>Dean </i>afirma que o rapaz quis seguir seus passos. </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Missy </i>é uma conceituada psiquiatra, e atende os pacientes no escritório da casa. Ele exibe uma fotografia emoldurada no corredor, em preto-e-branco, e conta uma interessante história sobre seu pai ter ficado em segundo lugar, nas Olimpíadas pela qual <i>Jesse Owens</i>, ao conquistar o ouro na prova da corrida, provara a falácia da tese de superioridade ariana do governo nazista, partido no poder, na Alemanha, à época das provas. <i>Chris </i>é apresentado à <i>Georgina </i>(<i>Betty Gabriel</i>), uma secretária do lar negra, com modos um pouco infantis que parecem indicar algum tipo de retardo mental. <i>Walter </i>(<i>Marcus Henderson</i>), por sua vez, faz as vezes de copeiro, e se ocupa de uma gama de tarefas diárias, desde varrer as folhas amareladas caídas das árvores a consertos e trabalhos de carpintaria. <i>Dean </i>e <i>Chris </i>caminham a um gazebo, quando o rapaz dá conta da total privacidade em torno da propriedade. De fato, cercada pelo bosque, a casa parece apartada do mundo exterior, e a residência mais próxima se encontra após o rio que corre dentro da floresta. Embora o jeitão descontraído do neurocirurgião ponha fim à timidez do visitante, <i>Chris </i>não consegue livrar-se da sensação de que Dean "<i>tenta muito</i>" transparecer a imagem de camaradagem e nobreza espiritual, enriquecendo o discurso com termos joviais e descolados, e insistindo não ser preconceituoso.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCu1wFXyu08ayHqmo8H5P-naVGVMJNDkRm73Ju3Z_q1-AJTYfgHItC0vi2LxgBR9OLMkincvAFS5IGdIGACsoJBcissPYbsZjf9r3-CcltSl0mBhiIinOeSQvM-1Dm1XdRVMwmc6lZXZA/s1600/get-out-movie-still-9.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1353" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCu1wFXyu08ayHqmo8H5P-naVGVMJNDkRm73Ju3Z_q1-AJTYfgHItC0vi2LxgBR9OLMkincvAFS5IGdIGACsoJBcissPYbsZjf9r3-CcltSl0mBhiIinOeSQvM-1Dm1XdRVMwmc6lZXZA/s320/get-out-movie-still-9.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNij4hmzo_d9KyG_SJJJuTlFuz0JOsZ_znPDkmeO_VZYa1djabbUpE_r24iilHkxzW26GSVIE3PEEKAwwKCI1Foe5SP2VFPrK5rQMmcilEAaHbmnTb6fkg0wAqz2jEtn1hNkjtQo-8lmU/s1600/get-out-movie-still-10.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1353" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNij4hmzo_d9KyG_SJJJuTlFuz0JOsZ_znPDkmeO_VZYa1djabbUpE_r24iilHkxzW26GSVIE3PEEKAwwKCI1Foe5SP2VFPrK5rQMmcilEAaHbmnTb6fkg0wAqz2jEtn1hNkjtQo-8lmU/s320/get-out-movie-still-10.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><br />
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigLTePHJ1cYdT1RrvjIED69CN5mxuLufmHwwcy8BqbCft1bZ_SCPYn4i2Cxq99_oHW2qf7dFkr3pO3owxBLgo3g2K01DBM2s1Y3TSeOMVbS-2A9HpiMwCf0dGFaxrMpzkgRwH2k8fHBSE/s1600/get-out-movie-still-11.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1353" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigLTePHJ1cYdT1RrvjIED69CN5mxuLufmHwwcy8BqbCft1bZ_SCPYn4i2Cxq99_oHW2qf7dFkr3pO3owxBLgo3g2K01DBM2s1Y3TSeOMVbS-2A9HpiMwCf0dGFaxrMpzkgRwH2k8fHBSE/s320/get-out-movie-still-11.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Sentados à mesa do lado de fora tomando chá, os quatro se conhecem um pouco melhor. <i>Chris </i>acrescenta algo sobre o próprio passado, em linhas gerais, como o fato de seu pai jamais ter sido uma figura presente, e o de a mãe ter morrido quando ele completara onze anos de idade. Na conversa, surge a informação de que <i>Missy </i>consegue hipnotizar pacientes para livrá-los de traumas ou vícios. A menção aparece quando <i>Chris </i>confidencia a incapacidade em abandonar o vício da nicotina. <i>Dean </i>revela que após quinze anos como fumante, bastou submeter-se à sessão de hipnose da esposa que hoje mal consegue sentir o odor de cigarro sem querer vomitar. Habilmente, <i>Chris </i>agradece a oferta, mas recusa a proposta, afinal de contas, desconsiderada a simplicidade do processo de hipnose, submeter-se ao hipnotista significa permitir que alguém mexa com sua cabeça. <i>Georgina </i>chega com uma jarra cheia para reabastecer os copos. <i>Missy </i>fala sobre a confraternização anual de amigos & familiares realizada naquele fim de semana, uma tradição iniciada pelo falecido pai de <i>Dean</i>, mantida pelos esforços do neurocirurgião. Durante a conversa, <i>Chris</i>, solidário à <i>Georgina</i>, tenta fazer contato visual com a simpática, simplória criada, mas ela não o nota. Em dado momento, certa eletricidade angustiada passa pelo rosto da pobre moça, e ela derrama um pouquinho de chá na camisa do visitante. A criada pede desculpas, e <i>Missy </i>a dispensa, pedindo que se recolha pela tarde para descansar, pois parece exausta. <i>Chris </i>evidencia preocupação pelo bem-estar da moça. Dada a oportunidade, ele verdadeiramente gostaria de conhecer sua história. Quem aparece para o fim de semana é o extrovertido <i>Jeremy </i>(<i>Caleb Landry Jones</i>), o irmão mais novo de <i>Rose</i>.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNbLO0zBBAi6OCkUMPYgC9jhyphenhyphencoGTvFxb6b2XziV1MtipEqdtm09XjSr-G7zeWxLtPEl155iZgEtsAQh7_Q-_dYewuuZmgh6KJmo_hYwTLTTkFUWUnR5aHwl7WmHSd0HM2le509f98B1M/s1600/get-out-movie-still-12.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="555" data-original-width="1353" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNbLO0zBBAi6OCkUMPYgC9jhyphenhyphencoGTvFxb6b2XziV1MtipEqdtm09XjSr-G7zeWxLtPEl155iZgEtsAQh7_Q-_dYewuuZmgh6KJmo_hYwTLTTkFUWUnR5aHwl7WmHSd0HM2le509f98B1M/s320/get-out-movie-still-12.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgb35tN2AkVwTWrTbj3EeFhd8Zz_i4Be3LvYfunnekojbhlJU42SMrhDZU1tiqdfwRL5iEXuAI7q_mUkSsMrJAw2jvBOR4CVFia3PrwDtUhp988Mqb1kAhgU8r1ewQjR8FfCDHgFAsytmA/s1600/get-out-movie-still-13.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1351" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgb35tN2AkVwTWrTbj3EeFhd8Zz_i4Be3LvYfunnekojbhlJU42SMrhDZU1tiqdfwRL5iEXuAI7q_mUkSsMrJAw2jvBOR4CVFia3PrwDtUhp988Mqb1kAhgU8r1ewQjR8FfCDHgFAsytmA/s320/get-out-movie-still-13.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">À mesa, no jantar, o clima não podia ser melhor, pois os presentes se comportam alegre e desinibidamente. <i>Jeremy </i>se diverte ao expor os "<i>podres</i>" de <i>Rose</i>, para desespero da irmã, que escuta a tudo com gargalhadas. Ele enumera os pecadilhos dos ex-namorados da juventude de <i>Rose</i>, como um rapaz desajeitado que, em uma festa na casa da família <i>Armitage</i>, tentou furtar um beijo da moça, apenas para ter o lábio mordido. <i>Jeremy </i>conta a história de um modo muito espirituoso. Quando a conversa se volta a preferências esportivas e artes marciais, <i>Jeremy </i>se entusiasma, e ao se levantar para tentar mostrar para <i>Chris </i>um golpe, acaba criando uma situação um pouco desconfortável, pela qual o rapaz prontamente se desculpa. A questão é rapidamente largada, todavia ao subir para o quarto na companhia de <i>Rose </i>para descansar, parece claro que a má impressão ronda a mente do fotógrafo. O rapaz navega pela internet do notebook, enquanto <i>Rose </i>escova os dentes e se prepara a se juntar ao parceiro na cama, rememorando os eventos do dia e se escusando pelo desleixo da família. Compreensivo e bondoso, <i>Chris </i>contorna a tensão com humor e lhe explica que não há nada pelo qual <i>Rose </i>tenha de se desculpar.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi18ezxGBvBkJJDQsKwC_CAxyEnVzTTbtIQxEveT7E-KqN9Dl9s5VjnjD3GAAQkrGCjB2hv8A81o4hDUYRFBH-OLWlOBU_kdcbr1D8Y14NdvbbxWRSZKZNHaPF-3P-Yp_wnb4WOvGDXewQ/s1600/get-out-movie-still-14.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="557" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi18ezxGBvBkJJDQsKwC_CAxyEnVzTTbtIQxEveT7E-KqN9Dl9s5VjnjD3GAAQkrGCjB2hv8A81o4hDUYRFBH-OLWlOBU_kdcbr1D8Y14NdvbbxWRSZKZNHaPF-3P-Yp_wnb4WOvGDXewQ/s640/get-out-movie-still-14.jpg" width="222" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Pensativo, ele não consegue adormecer, e após permanecer um tempo metido em reflexões, olhando pela janela, resolve descer para caminhar um pouco ao redor da propriedade, uma maneira de espairecer. Nada parece fora do ordinário, até ele se ater a uma figura surgindo à distância entre as árvores e correndo em sua direção, implacavelmente. Quando a pessoa se aproxima da luz, <i>Chris </i>a identifica como <i>Walter</i>. Após o susto, o rapaz se vê vítima de outro pior, porque ao voltar a atenção para a casa, testemunha <i>Georgina </i>parada diante de uma janela, passando os dedos pelos cabelos, como se os estivesse penteando. Cismado, ele volta para dentro, e é flagrado por <i>Missy</i>. Ela se encontra no consultório onde costuma receber os pacientes, tomando chá. Bastante amigável, o convida a se sentar, para que tenham uma chance de conversar. Como habilidosa psiquiatra, <i>Rose </i>domina artifícios de manipulação psicológica, e um bate-papo sobre hipnose leva o rapaz a pensar sobre a infância. <i>Missy </i>cita a mãe de <i>Chris</i>, o que engendra recordações daquele dia, muitos anos atrás, quando ele a perdeu. O rapaz é conduzido a resgatar detalhes da manhã, como a chuva forte, e agora consegue escutar o rumor da tempestade. A mãe voltava para casa, quando sofreu um atropelamento do outro lado da rua, quase defronte à casa. <i>Chris </i>sentiu tanto medo que não ligou para o socorro, e quando paramédicos finalmente atenderam a ocorrência, ela estava morta. Enquanto revisita o evento, lágrimas jorram de seus olhos. Ele não consegue se mover, e, repentinamente, <i>Missy </i>sentencia "</span><i>Agora... afunde no chão. Afunde</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". Em uma sequência visualmente impactante, que eu creio ser a mais perfeita representação gráfica de se franquear a um narcisista maligno acesso a sua mente, <i>Chris </i>afunda no abismo, como se estivesse caindo de costas no silencioso, escuro e gélido espaço sideral, enquanto <i>Missy </i>e a sala se tornam praticamente imagens em uma tela plana, cada vez menor e mais afastada. Com um sorriso macabro, <i>Missy </i>elucida "</span><i>Agora, você está no lugar profundo</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". <i>Chris </i>apaga, e quando desperta, eletrizado e coberto de suor, vê-se de volta à cama, como se tudo não tivesse passado de um pesadelo.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPKu2ZQAIfcAu9hGfQGUJkG3XRje7NNYoqgnANYRpI8w9l0OlMeKRJn4Oyo3fKyc4WW8-PMYwg8mjL-7JxYTmlnwXvwFh6Zd1aR4SYNBwOT7QvPGdURr9hGgsVjymSZfwK7dbc6k2pMwE/s1600/get-out-movie-still-16.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="555" data-original-width="1357" height="130" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPKu2ZQAIfcAu9hGfQGUJkG3XRje7NNYoqgnANYRpI8w9l0OlMeKRJn4Oyo3fKyc4WW8-PMYwg8mjL-7JxYTmlnwXvwFh6Zd1aR4SYNBwOT7QvPGdURr9hGgsVjymSZfwK7dbc6k2pMwE/s320/get-out-movie-still-16.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhItQGgZ0VDtFzkydpblyLRj5Kh7Usw_FXtmReT15TANvLD1TGBKYNCpiIDRsDBDUylKKEgPrDUnkm_SOmolDZWu4zIXykSS6ifxVcHBXV4XxWKWlT6UwY20shuiMCYEPRi2kirvBC-go/s1600/get-out-movie-still-17.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1353" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhItQGgZ0VDtFzkydpblyLRj5Kh7Usw_FXtmReT15TANvLD1TGBKYNCpiIDRsDBDUylKKEgPrDUnkm_SOmolDZWu4zIXykSS6ifxVcHBXV4XxWKWlT6UwY20shuiMCYEPRi2kirvBC-go/s320/get-out-movie-still-17.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">O jovem passeia pela propriedade, e tira algumas fotos. Em frente ao gazebo, várias cadeiras foram arrumadas. Amistosamente, </span><i>Chris </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">se aproxima de </span><i>Walter</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, àquela hora cortando lenha para a lareira. Sua gentil tentativa de aproximação é recebida com um banho de água fria, com uma frieza robótica. </span><i>Walter </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">pede desculpas pelo susto dado a </span><i>Chris </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">na noite anterior, e ele se dá conta de que, de fato, o encontro não se resumiu a um pesadelo, aconteceu mesmo. </span><i>Chris </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">se abre com a namorada, confidencia suas impressões de, na noite anterior, ter sido hipnotizado por </span><i>Missy</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. </span><i>Rose </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">minimiza a importância do encontro. Os visitantes para a confraternização anual começam a chegar para o café da manhã. </span><i>Rose </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">torna as apresentações menos constrangedoras para </span><i>Chris</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, porém o jeito tacanho com que as pessoas interagem com o rapaz tendem a exagerar a diferença de cor da pele, como é o exemplo de um casal simpático que, ao se referir ao hobby por golfe, sente-se na obrigação de mencionar o "</span><i>Tiger</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" (</span><i>Tiger Woods</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">), e o caso de uma mulher casada com um senhor idoso, que perde a linha ao ousar com a brincadeira sobre o "</span><i>tamanho do documento</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" de homens negros, para evidente surpresa e embaraço de </span><i>Chris</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRBKPavHQ-YOmJpyrk0v90VORmeRTQ8MSu9HwGtL_3pbWP1KZb_ricRn7R6tTAjmkoaP0p8_vOjsMy1stY7x_0AJtOcD74xVYoDH2eDh_st0SuEocS-XCnekAWkuxOmM_v4qY05F7tjLg/s1600/get-out-movie-still-18.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1355" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRBKPavHQ-YOmJpyrk0v90VORmeRTQ8MSu9HwGtL_3pbWP1KZb_ricRn7R6tTAjmkoaP0p8_vOjsMy1stY7x_0AJtOcD74xVYoDH2eDh_st0SuEocS-XCnekAWkuxOmM_v4qY05F7tjLg/s320/get-out-movie-still-18.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9XZL5pORVrlnmFpaaAzHOLxK0yxDlDfgLEe0pts80APCQ6q2k6n6usoSA-BLagcjWkaapPgh0Hzl6cyKiFnPhfrpkmqZRS3vE1popwoXBchq3uk8IbXTiep4Th1oXHqSzlJFM55eJoEM/s1600/get-out-movie-still-19.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1355" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9XZL5pORVrlnmFpaaAzHOLxK0yxDlDfgLEe0pts80APCQ6q2k6n6usoSA-BLagcjWkaapPgh0Hzl6cyKiFnPhfrpkmqZRS3vE1popwoXBchq3uk8IbXTiep4Th1oXHqSzlJFM55eJoEM/s320/get-out-movie-still-19.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">O rapaz se sente melhor ao enxergar um cavalheiro negro, de chapéu, de costas, diante da mesa do ponche. <i>Chris </i>se aproxima, repousa amistosamente a mão sobre seu ombro e se apresenta: "<i>Bom encontrar um irmão por aqui</i>". O cavalheiro se vira, e, para a nossa surpresa, trata-se do mesmo homem visto no começo do filme, abduzido enquanto procurava direções em um bairro afastado. Algo na doçura exagerada e quase infantil do cavalheiro destoa completamente da energia exibida no início do filme, quando parecia um sujeito comum, inteligente e articulado. Em vez de cumprimentá-lo com a liberdade fraternal de duas pessoas vindas da mesma realidade, o homem parece tolhido de qualquer senso de autoconfiança, e se apresenta como "<i>Logan King</i>". <i>Chris </i>sente-se péssimo, e fica particularmente alarmado quando uma mulher branca, no mínimo trinta anos mais velha, se aproxima e se apresenta como a esposa do rapaz. Eles se escusam, e <i>Chris </i>observa o casal se afastar, sem conseguir dissipar o sabor da suspeita.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4PrhyrJOnvB0Jm0VysVkHMU8zUfRKZgcGUx_P_hHZ2xs0yWcR8hYmR_0KqZsWRLcmfWWGbxgj3DAHJKcSwkEVJgFm6qCHqxq-R3gAWLnJK2ldcKrWp-s8ngWTDwV4rD2WuJEylI_ICEo/s1600/get-out-movie-still-21.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1357" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4PrhyrJOnvB0Jm0VysVkHMU8zUfRKZgcGUx_P_hHZ2xs0yWcR8hYmR_0KqZsWRLcmfWWGbxgj3DAHJKcSwkEVJgFm6qCHqxq-R3gAWLnJK2ldcKrWp-s8ngWTDwV4rD2WuJEylI_ICEo/s320/get-out-movie-still-21.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6eiYy3HfLIJSSRvzDmsNvTs4TJ88obw3MtPlDV3oV49wMm0lHy3J3OQ4fy-SLZTR5xn-r-1nWZ-CVfsjpwSHyn74Dcp99LD7DEpG76S6MHYdTH6ThBMfN2zfrjzB4h4-tLN-FG0iYvpo/s1600/get-out-movie-still-20.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1357" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6eiYy3HfLIJSSRvzDmsNvTs4TJ88obw3MtPlDV3oV49wMm0lHy3J3OQ4fy-SLZTR5xn-r-1nWZ-CVfsjpwSHyn74Dcp99LD7DEpG76S6MHYdTH6ThBMfN2zfrjzB4h4-tLN-FG0iYvpo/s320/get-out-movie-still-20.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Caminhando sem destino certo, <i>Chris </i>vai parar nas cadeiras servidas à margem da casa do coreto, onde há um senhor maduro (<i>Stephen Root</i>) sentado solitariamente. O estranho inicia a conversa, solidarizando-se com o constrangimento experimentado pelo fotógrafo. Ele tenta contemporizar, "<i>Eles (as pessoas na festa) são ignorantes. Têm boas intenções, mas não sabem lidar com gente real</i>". O homem se apresenta como <i>Jim Hudson</i>, e <i>Chris </i>imediatamente o reconhece pelo nome, pois é dono da conceituada <i>Hudson Galleries</i>. <i>Jim </i>o surpreende ao mencionar a familiaridade com o trabalho de <i>Chris</i>. Embora cego graças a uma doença hereditária, sua assistente costuma descrever obras de arte para o curador, e as fotografias que <i>Chris </i>tira para jornais e revistas sempre tiveram um jeito de encantá-la pela melancolia. Os dois conversam sobre a vida, e <i>Chris</i>, por fim, se sente um pouco mais à vontade. O senhor filosofa sobre como a vida, às vezes, parece destituída de qualquer critério de justiça. Ao retornar à casa, ocorre uma cena curiosa. Há muitos convidados socializando na sala de estar, confraternizando com seus drinques. <i>Chris </i>sobe as escadas enquanto as pessoas se comportam normalmente. Depois que se encontra no segundo piso, os convidados silenciam e tratam de olhar para cima, como se quisessem escutar o próximo movimento do fotógrafo. A partir desta cena, resta patente que existe algum tipo de cilada orquestrada para "<i>pegar</i>" o rapaz mais à frente.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZNtS5i0QMqMdECcXccWt97hnXNyr_T66tH0gZWn1i4-ZSnOmQrWjLQdpIYGhWPKPNnFsrcVU-Gy_Mo57eTMzHrXbPRVbTVSkYB6IjEUIuPeLZzRVCaru05qHA473flmg98GrPX8airGY/s1600/get-out-movie-still-23.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1357" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZNtS5i0QMqMdECcXccWt97hnXNyr_T66tH0gZWn1i4-ZSnOmQrWjLQdpIYGhWPKPNnFsrcVU-Gy_Mo57eTMzHrXbPRVbTVSkYB6IjEUIuPeLZzRVCaru05qHA473flmg98GrPX8airGY/s320/get-out-movie-still-23.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtfrZV08UaJ3PpfNPjpexnYlaHVBJWWcqo1LVfF3xcVsquruLEENYop_kCMoV1dueS2SSJHlTxYuqhAZcApHD3PTXYmUZ6tPNR3-sHTpTHWtgz5mS7XT6pLA8biOoOfbFA1vw49hXl9XQ/s1600/get-out-movie-still-22.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1355" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtfrZV08UaJ3PpfNPjpexnYlaHVBJWWcqo1LVfF3xcVsquruLEENYop_kCMoV1dueS2SSJHlTxYuqhAZcApHD3PTXYmUZ6tPNR3-sHTpTHWtgz5mS7XT6pLA8biOoOfbFA1vw49hXl9XQ/s320/get-out-movie-still-22.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Chris</i> encontra o celular desconectado do carregador, e forma dentro de si a impressão de que a traquinagem foi obra de <i>Georgina</i>, quiçá hostil a sua pessoa<i> </i>pelo fato de ele namorar uma mulher branca. Ele expõe suas impressões à <i>Rose</i>, que sentiu sua falta durante a parte final da festa. <i>Chris </i>desabafa ao ligar para o amigo <i>Rod</i>, e ao tocar na questão da noite anterior, quando foi hipnotizado contra a vontade, recebe uma brutalmente honesta dose de realidade. <i>Rod </i>evita rodeios e vai direto ao ponto, perguntando-lhe como após tamanha manipulação ainda não reúne medo o suficiente para deixar o lugar. Não obstante dito de uma maneira ligeiramente cômica graças ao tom dramático de <i>Rod</i>, o alerta levanta um ponto importante, ao sugerir que aquelas pessoas possam desejá-lo como escravo sexual. Para fazer um ponto, <i>Rod </i>cita o caso de <i>Jeffrey Dahmer</i>, o psicopata responsável pela morte de dezessete homens/garotos. O <i>serial killer</i> costumava convidar homens para aventuras sexuais no apartamento, mas as pessoas seduzidas pelas promessas de <i>Dahmer </i>acabavam sofrendo mortes terríveis demais para se descrever. <i>Chris </i>tem a presença de espírito para explicar como as pessoas negras naquele lugar agem muito diferente, quase infantilizadas. <i>Rod </i>traz de volta ao bate-papo a manipulação da hipnose. Ao desligar, <i>Chris </i>parece desconfiado. Repentinamente, <i>Georgina </i>surge à porta, causando um grande susto. Ela pede desculpas por ter desconectado acidentalmente o celular do carregador. Mesmo ao se expressar para dizer algo tão simples, exibe uma confusão mental entre estranha euforia e palpitante desespero. Enquanto abre um largo sorriso, lágrimas chegam a escorrer de seus olhos. <i>Chris </i>tem pena da moça, contudo sempre se vê intimidado pelo comportamento quase esquizofrênico da criada, e, francamente, respira aliviado depois que ela se vai.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRRJ9wfs0MRVNNBNr9weMX-NVaVXYdTC8S27zTunI6Q6BiNP1N_0MUApd2un2sqBeLS2cOf0KEfyiPXPF6tTbckHFcUTqon5kKavArYgrwAieVrTIBA3TFBBiSlH2cntfBKVBzZWQpPjQ/s1600/get-out-movie-still-18+%25281%2529.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1357" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRRJ9wfs0MRVNNBNr9weMX-NVaVXYdTC8S27zTunI6Q6BiNP1N_0MUApd2un2sqBeLS2cOf0KEfyiPXPF6tTbckHFcUTqon5kKavArYgrwAieVrTIBA3TFBBiSlH2cntfBKVBzZWQpPjQ/s320/get-out-movie-still-18+%25281%2529.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinvDVnylEKZBvU-kedxEO70jZb_gmFzFzIRheMPSkCdp084l_YblIiomi_PIOTje5i7IEHFetEoE3eta8a6ldl7SqA1PIlsTBBe1MoMF3twNcdWqnwBVagxX-bm4HkxG5Amd_qf2kUM5c/s1600/get-out-movie-still-19+%25281%2529.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1353" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinvDVnylEKZBvU-kedxEO70jZb_gmFzFzIRheMPSkCdp084l_YblIiomi_PIOTje5i7IEHFetEoE3eta8a6ldl7SqA1PIlsTBBe1MoMF3twNcdWqnwBVagxX-bm4HkxG5Amd_qf2kUM5c/s320/get-out-movie-still-19+%25281%2529.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Ao se empenhar para evocar algum bom-humor, <i>Chris </i>volta à festa no jardim. Um senhor japonês indaga ao fotógrafo se ele crê que afro-americanos gozam de um número maior de privilégios do que os brancos. <i>Chris </i>vê <i>Logan </i>circular pela área social, e, tentando integrá-lo à roda, repassa-lhe a questão, vez que o rapaz também é negro. Muito polidamente, porventura excessivo na expressão de afeto à mulher branca com quem se casou, <i>Logan </i>tece considerações inofensivas sobre como a experiência tem sido fantástica, e que jamais poderia dar uma opinião sobre a vida social, já que a desconhece, pois aprecia a simplicidade caseira do matrimônio. <i>Chris </i>aproveita a distração do homem, e saca o celular para, discretamente, tentar conseguir uma foto, de forma a mandá-la a <i>Rod </i>para que ele tente reconhecê-lo. Quando o flash é acidentalmente acionado durante o registro, e a luz atinge os olhos de <i>Logan</i>, ele sofre uma terrível transformação, como uma pobre vítima a deixar, por alguns segundos, a hipnose. Ele suplica, aos gritos, para que Chris "<i>corra</i>". Os convidados o contêm. <i>Jeremy </i>o segura por trás, e o leva para dentro, para prestar assistência.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjge9hWgbOFmpGu9sacGrWRR2r-s9EBw-6lP3-wqrPkQSxhQ7JSV_8A0xM6GPnafYwsztXerugnU6abm1qREH5h5N9f7g40td4KDQj0W4BwGV6UbV8433mSvZ3-82_oEAk_WAt6JW7QOzQ/s1600/get-out-movie-still-20+%25281%2529.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1357" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjge9hWgbOFmpGu9sacGrWRR2r-s9EBw-6lP3-wqrPkQSxhQ7JSV_8A0xM6GPnafYwsztXerugnU6abm1qREH5h5N9f7g40td4KDQj0W4BwGV6UbV8433mSvZ3-82_oEAk_WAt6JW7QOzQ/s320/get-out-movie-still-20+%25281%2529.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEju665IiBWXv59V-u4GjQMrLNiEZ0JlaVLEA5SX6CFuGR6HRNVmZcuhfw0kcIeajDg3NpX_HeA_a5EmogYsoIE_WF_UGZ6NTEhY8DQcwDIkGrT716VtOri8V-V49x_Otg4tUKTIjctDp10/s1600/get-out-movie-still-21+%25281%2529.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1353" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEju665IiBWXv59V-u4GjQMrLNiEZ0JlaVLEA5SX6CFuGR6HRNVmZcuhfw0kcIeajDg3NpX_HeA_a5EmogYsoIE_WF_UGZ6NTEhY8DQcwDIkGrT716VtOri8V-V49x_Otg4tUKTIjctDp10/s320/get-out-movie-still-21+%25281%2529.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Dean</i> e <i>Missy </i>custam a tranquilizar o preocupado <i>Chris</i>, mas <i>Logan </i>ressurge, após algum tempo apartado no escritório da psiquiatra. Agora, parece ótimo. Levando o susto na brincadeira, ele pede desculpas aos presentes pela "<i>cena</i>", enquanto <i>Dean </i>defende que tudo não passou de um episódio de epilepsia engatilhado pelo flash. <i>Logan </i>se dirige a <i>Chris </i>e diz sentir muito por qualquer constrangimento a que o tenha submetido. Mesmo aliviado pela melhora do rapaz, <i>Chris </i>ainda sustenta um olhar intrigado, entristecido. Com muita habilidade, <i>Dean </i>devolve a festa aos trilhos, e <i>Rose </i>resolve levar o namorado para passear em uma porção mais afastada da casa de campo, para o lado do lago, um lugar realmente quieto e reservado, principalmente ao entardecer. O fotógrafo põe as cartas na mesa. Ele crê que a mãe da namorada conseguiu "<i>entrar na sua cabeça</i>", pois desde o evento da hipnose, tem pensado em coisas horrorosas, as quais há muito tempo não revisita. Ele cita a confusão com <i>Logan</i>. Não obstante não se recorde de conhecê-lo de outros tempos, quando o rapaz sofreu o "<i>ataque</i>" e partiu para cima, aconselhando-o a correr, por um breve instante, foi tomado por uma estranha convicção de já o ter conhecido, em outra época, talvez na adolescência. Comovido, <i>Chris </i>rememora a morte da mãe, e fala sobre a culpa que o consome por não a ter ajudado. Se tivesse agido prontamente, a teria salvo da morte por atropelamento. Quando <i>Chris </i>confessa que deseja ir embora, a namorada o questiona se ele seria capaz de deixá-la para trás. O namorado explica que jamais faria o mesmo `a moça, nunca a abandonaria. Com os rostos banhados de lágrimas, os dois se abraçam, e ao retornarem à casa, uma noite fechada já se deita sobre o campo.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFrir1rdwiuSmDeJoqiDlIUaReSPnb1tHyjfCoYMd5g_usu6PmHg4EdA2ibFbHYYK1X2v84Ub5WB3m3jH-fvU9TLSMT9d8rSTcRSlUPETHnL-1Kw4RrfHkATGxGhr9uZr9d62TARXpjCM/s1600/get-out-movie-still-23+%25281%2529.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="563" data-original-width="1355" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFrir1rdwiuSmDeJoqiDlIUaReSPnb1tHyjfCoYMd5g_usu6PmHg4EdA2ibFbHYYK1X2v84Ub5WB3m3jH-fvU9TLSMT9d8rSTcRSlUPETHnL-1Kw4RrfHkATGxGhr9uZr9d62TARXpjCM/s320/get-out-movie-still-23+%25281%2529.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjI61QQFNWgJ2K84t71kKAsff6b2ryD27kkrcdACbioS2LVgHVQa84i9dVrzkRxuZkd2NtLc-OJB2kF-rBN2ValnAC297OXByKfDZfp4izkEiLo7u2M7-rOpdtiDsujebYnnYdMKpGOcSY/s1600/get-out-movie-still-22+%25281%2529.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1353" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjI61QQFNWgJ2K84t71kKAsff6b2ryD27kkrcdACbioS2LVgHVQa84i9dVrzkRxuZkd2NtLc-OJB2kF-rBN2ValnAC297OXByKfDZfp4izkEiLo7u2M7-rOpdtiDsujebYnnYdMKpGOcSY/s320/get-out-movie-still-22+%25281%2529.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><br />
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgM9BOq3LSwrDSnp5m-MJhRSjEaVEIS0cSWi6jzOZ4kt-Dz5-zAthjW6nCVFZk6Biqo5sd-3D1yRPUbdPlkLvIZ-Fcfy5ezT7hFxQCyYc_zPxTlSC9HAI5gHsmCTIAC2Goum7vzuXMYjYg/s1600/get-out-movie-still-24.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1355" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgM9BOq3LSwrDSnp5m-MJhRSjEaVEIS0cSWi6jzOZ4kt-Dz5-zAthjW6nCVFZk6Biqo5sd-3D1yRPUbdPlkLvIZ-Fcfy5ezT7hFxQCyYc_zPxTlSC9HAI5gHsmCTIAC2Goum7vzuXMYjYg/s320/get-out-movie-still-24.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Tendo retornado para seu quarto, <i>Chris </i>encaminha a foto de <i>Logan </i>para o amigo <i>Rod</i>, e quase imediatamente recebe uma ligação do rapaz. Ele traz informações que reforçam a cilada em andamento. A pessoa na foto, o tal "<i>Logan</i>", chama-se <i>Dre Hayworth</i>, um rapaz com quem ambos tinham crescido no bairro. <i>Rod </i>vai dando as coordenadas. De repente, as peças se encaixam e revelam o contexto no qual a figura do rapaz se insere. <i>Dre </i>namorava <i>Verônica</i>, irmã de <i>Teresa</i>, e trabalhava como projetista, quando cursavam a oitava série. Tudo faz sentido. <i>Chris </i>vai fazendo as associações corretas. Ele discute com <i>Rod </i>os motivos pelos quais o rapaz teria mudado tanto, e ao mencionar a esposa trinta anos mais velha, corrobora automaticamente a tese anteriormente levantada. O amigo insiste: "<i>Chris, você tem que sair daí! Você se meteu em uma situação tipo 'De Olhos Bem Fechados', saia...</i>". A ligação sofre uma interrupção e cai, com o esgotamento da bateria. Para todos os efeitos, <i>Chris </i>se vê isolado em um meio onde não se sente querido, apartado até mesmo do melhor amigo, a única pessoa de confiança no seu círculo. Determinado a partir, ele esbarra com <i>Rose </i>na porta do quarto e, ainda calmamente, com a voz firme, ressalta à moça a imperatividade de se despedirem dos anfitriões. Ele pede que <i>Rose </i>arrume as malas, e não se importe com o que estiver faltando. O foco resume-se em se despedirem dos <i>Armitage</i>, entrarem no carro e deixarem o lugar.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilWIsiRopHlPNsq-QLFTB9fXoK1yrHdvZG3KlchJbHxY28Ni_tWziURFcSkifJEDo5_2LfvT_aM7u_-Wjkxs_L_p-PvnzqypXDv9kN9LcUp7aS8OxQQjuE9FIYzdECoekxbqOvHJLuNv0/s1600/get-out-movie-still-25.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1349" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilWIsiRopHlPNsq-QLFTB9fXoK1yrHdvZG3KlchJbHxY28Ni_tWziURFcSkifJEDo5_2LfvT_aM7u_-Wjkxs_L_p-PvnzqypXDv9kN9LcUp7aS8OxQQjuE9FIYzdECoekxbqOvHJLuNv0/s320/get-out-movie-still-25.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgl4rpFZQCsJDMTy3xO7VdlQtJ8jg-ayyugN8fjIGRMBQLJ6PJPbBcK-M-RXDIogRMAtwJU__FhnTj3bx3eqtHsu7QXnZXWVWzAc5m8Apn6mkcpWqTwViUmYMj4W5meG48d_FgRE_j9o4M/s1600/get-out-movie-still-27.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1353" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgl4rpFZQCsJDMTy3xO7VdlQtJ8jg-ayyugN8fjIGRMBQLJ6PJPbBcK-M-RXDIogRMAtwJU__FhnTj3bx3eqtHsu7QXnZXWVWzAc5m8Apn6mkcpWqTwViUmYMj4W5meG48d_FgRE_j9o4M/s320/get-out-movie-still-27.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><br />
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjimCyx8jmnXOFAntu2PDEmPDwBluMcPA-_qFqNvI0t19-9cbN04t1MEn-6edNy4x44t77uqCMe-CuJZGFdZfIHKNhJzAR7EDw7_Aqrn0SPiasyqKShjiGbOP8Gar7NOyZbIvKETlH6Tpk/s1600/get-out-movie-still-26.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="563" data-original-width="1353" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjimCyx8jmnXOFAntu2PDEmPDwBluMcPA-_qFqNvI0t19-9cbN04t1MEn-6edNy4x44t77uqCMe-CuJZGFdZfIHKNhJzAR7EDw7_Aqrn0SPiasyqKShjiGbOP8Gar7NOyZbIvKETlH6Tpk/s320/get-out-movie-still-26.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><br />
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrSZ0lafRkxT1XX85DfV9OVSxbt41VTdRiF-n9zm2ZmapCfuuRoazR7yyty_wA5KW21uTUiabxVLoeh5T1_pySBaScAGPCp9h0OIPlJfQlyveWAtyH4a4LtmDbKboQm-9mHyBkcWueSxI/s1600/get-out-movie-still-28.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1355" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrSZ0lafRkxT1XX85DfV9OVSxbt41VTdRiF-n9zm2ZmapCfuuRoazR7yyty_wA5KW21uTUiabxVLoeh5T1_pySBaScAGPCp9h0OIPlJfQlyveWAtyH4a4LtmDbKboQm-9mHyBkcWueSxI/s320/get-out-movie-still-28.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><i>Chris </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">já viu o suficiente para saber que aquelas pessoas não são confiáveis, porém seu coração será estilhaçado com a descoberta a seguir. Ao recolher as roupas e vasculhar o closet à procura da máquina fotográfica, ele topa com uma caixinha, onde há um maço de fotos. As primeiras fotografias acompanham o crescimento de </span><i>Rose</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, da infância à adolescência. Ao chegar à puberdade, o horror o assalta, quando a vê em registros íntimos, próprios a jovens casais apaixonados, com pessoas a quem foi apresentado no curso do fim de semana. Ele a enxerga com </span><i>Walter</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, hoje o atual copeiro, com outros jovens negros e, por fim, com </span><i>Georgina</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, cuja aparência e ânimo, na foto, diferem bastante da versão apresentada ao fotógrafo, as duas abraçadas em uma relação obviamente homossexual. As fotografias datam de alguns anos atrás, e </span><i>Chris </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">chega à apavorante conclusão que aquelas pessoas, gente comum do dia a dia, haviam sido induzidas a uma relação por </span><i>Rose</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, apenas para serem levadas a aquela casa de lago sob uma desculpa esfarrapada, como convite para conhecerem os pais da moça, onde seriam submetidas à hipnose que as conformaria a seus novos papéis na dinâmica da família </span><i>Armitage</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. Destroçado, </span><i>Chris </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">sustenta compostura para continuar interpretando o papel de bom moço, sem atirar cobranças e perguntas à </span><i>Rose</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. Por ora, concentra-se em partir sem maiores alardes. </span><i>Chris </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">sabe que pode lidar com as contradições mais tarde, uma vez devolvido à segurança do lar. Sagaz e atenta, </span><i>Rose </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">nota a sutil mudança no humor do namorado.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: arial;"><br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeDEYXb0HkNqjNLbNMxjYCs6aWEt71ckm37vmhXXNna_dTTKGO1Ka4rS-VYEswCXhSiDCbLFGYdnU1AG53-b5XM1fTEIVF9hLhh2AE6vQWy-0AlerKVbMuZqulnRwfS51nCkdt6Kq9VRM/s1600/get-out-movie-still-29.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="563" data-original-width="1355" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeDEYXb0HkNqjNLbNMxjYCs6aWEt71ckm37vmhXXNna_dTTKGO1Ka4rS-VYEswCXhSiDCbLFGYdnU1AG53-b5XM1fTEIVF9hLhh2AE6vQWy-0AlerKVbMuZqulnRwfS51nCkdt6Kq9VRM/s320/get-out-movie-still-29.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtQOZ3Vp3IMAFLMzgMdxRPMe_V3v5P969kRRX625TP2MPzDvLEOOBTOTEZ0yI8mAwr3gXcUDKBxxeYD2CNJKiu3lQm_QbmUfhV_Nz6AjDLNxrGk_4qUU2L-FEpTQkIMSephjUtTDtoV6c/s1600/get-out-movie-still-30.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1353" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtQOZ3Vp3IMAFLMzgMdxRPMe_V3v5P969kRRX625TP2MPzDvLEOOBTOTEZ0yI8mAwr3gXcUDKBxxeYD2CNJKiu3lQm_QbmUfhV_Nz6AjDLNxrGk_4qUU2L-FEpTQkIMSephjUtTDtoV6c/s320/get-out-movie-still-30.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Chris</i> desce as escadas, em direção à porta, e não tem como evitar os <i>Armitage</i>, reunidos ali embaixo. Gentil e resoluto, justifica a necessidade de deixá-los com a desculpa do adoecimento repentino do cachorrinho, o que exige seu retorno imediato. Enquanto procura manter as emoções em xeque, <i>Chris </i>fica lembrando à <i>Rose </i>a chave do carro, que ela finge procurar dentro da bolsa. O olhar angustiado do rapaz denuncia a desconfiança. Logo, o tom dos membros da família soa mais malicioso e constrangedor. Até então preocupado, mas amigável, <i>Chris </i>passa a entregar, na voz, a urgência de partir. Parece-lhe claro que os <i>Armitage </i>querem lhe fazer mal. A máscara de <i>Rose </i>cai quando, repentinamente, ela o encara com dureza e lhe explica que infelizmente não pode lhe entregar a chave, afinal participa da farsa. <i>Chris </i>investe contra a porta numa tentativa de escapar, mas <i>Missy </i>o imobiliza ao bater a colherinha por duas vezes na xícara, hipnotizando-o e o fazendo mergulhar no "<i>lugar profundo</i>". <i>Chris </i>se vê afundar no meio escuro e infinito, com uma "<i>pequena tela</i>" acima, na verdade os <i>Armitage</i> reunidos ao redor de seu corpo, o carregando a alguma espécie de sótão, para a "<i>operação</i>". Sua única esperança, o amigo <i>Rod</i>, só vai se atentar à ocorrência do desaparecimento mais tarde no dia seguinte, após tentar por muitas vezes contatar o fotógrafo, sem sucesso. Ele visita o apartamento de <i>Chris </i>para servir a ração ao cachorrinho. Tristonho, o cãozinho parece sinalizar o cometimento de algum mal ao dono, para o incômodo do gentil, observador <i>Rod</i>. Ocorre-lhe "<i>jogar</i>" o nome de <i>Dre Hayworth</i> no Google, e os resultados o deixam definitivamente estupefato. <i>Rod </i>descortina notícias sobre o desaparecimento misterioso de <i>Dre</i>, morador do Brooklyn abduzido num bairro de classe média alta, e enxerga o padrão no sumiço de <i>Hayworth </i>e o inexplicável silêncio de <i>Chris</i>.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkBFO9cptM57-_Nd5sccdaxzkYwRcD3PkSAvkA4byU_6bRAOYXB1yT0aglACgDC0fSZhMWijJTQd1O4kaFJ497bWac5NTLG3E90fKQ10j8TyO9ZJRd-5BbFwkQvuFe7RFyd4BpbXEiB2I/s1600/get-out-movie-still-31.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="555" data-original-width="1355" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkBFO9cptM57-_Nd5sccdaxzkYwRcD3PkSAvkA4byU_6bRAOYXB1yT0aglACgDC0fSZhMWijJTQd1O4kaFJ497bWac5NTLG3E90fKQ10j8TyO9ZJRd-5BbFwkQvuFe7RFyd4BpbXEiB2I/s320/get-out-movie-still-31.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQYf-_iKyb8NGmtEZFyMLyU2wqCMxR00GNdMNGGpOAMeQAVoqQlmaGw-0PvlbCOtCkZ9_7jTQVmQSYkuQASJHEfrRpWX70fE1ymfYCoiha9peJ5f4OKjChbr6W_2_AoYa63A7e4RnkVbc/s1600/get-out-movie-still-32.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1357" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQYf-_iKyb8NGmtEZFyMLyU2wqCMxR00GNdMNGGpOAMeQAVoqQlmaGw-0PvlbCOtCkZ9_7jTQVmQSYkuQASJHEfrRpWX70fE1ymfYCoiha9peJ5f4OKjChbr6W_2_AoYa63A7e4RnkVbc/s320/get-out-movie-still-32.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><br />
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQS3KNWfQoOtD2_BR5oHkayBmC9uS0s-vPptLtZk5eY5WWERm1gxQDAS2NvdWpyU6c2HetsK4Y3g5L7iJm3qLR4Yfvcqk6ns6SP6nG7eWmwVDDHqPNJM0vKyLchzQXBEAPr0PaJjxO28g/s1600/get-out-movie-still-33.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="555" data-original-width="1355" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQS3KNWfQoOtD2_BR5oHkayBmC9uS0s-vPptLtZk5eY5WWERm1gxQDAS2NvdWpyU6c2HetsK4Y3g5L7iJm3qLR4Yfvcqk6ns6SP6nG7eWmwVDDHqPNJM0vKyLchzQXBEAPr0PaJjxO28g/s320/get-out-movie-still-33.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">O fotógrafo desperta acomodado em uma poltrona, com os punhos e tornozelos amarrados, dentro de uma espécie de elegante gabinete, onde se encontra exposta como troféu de caça a cabeça de um veado. Há uma televisão à frente de <i>Chris</i>, onde lhe é exibido um material publicitário sobre uma coisa experimental batizada de "<i>Coagula</i>". Um cavalheiro idoso surge filosofando sobre o sonho de se viver eternamente, "<i>de corpo em corpo</i>", e conta que para as pessoas de sua "<i>ordem</i>" (gente da Nova Ordem Mundial, talvez?), a ambição da imortalidade se encontra cada vez mais factível, cortesia dos avanços feitos pelo "<i>Coagula</i>". Diante de uma casa que <i>Chris </i>identifica como sendo a fachada da propriedade de campo dos <i>Armitage</i>, o senhor idoso convida os interessados a "se <i>juntarem à família</i>". Em um tétrico instante, nós os vemos abraçar uma senhora idosa, a matriarca, e um jovem casal, versões mais novas de <i>Dean </i>& <i>Missy</i>. <i>Rose </i>& <i>Jeremy </i>também aparecem ao lado dos pais, ainda crianças. A imagem é substituída por uma outra onde a colherinha faz a borda da xícara tilintar, devolvendo <i>Chris </i>ao "<i>lugar profundo</i>". <i>Rod </i>procura a polícia e tenta explicar os motivos da preocupação. Ele recapitula a viagem e o desaparecimento do amigo, e adiciona ao depoimento a descoberta de <i>Dre Hayworth</i>, sumido há seis meses em um subúrbio afluente e hoje cidadão em um condado do interior, sob novo nome, casado com uma mulher mais velha. <i>Rod </i>comete a trapalhada de vocalizar a suspeita de que gente do bairro tem sido abduzida e encaminhada para reprogramação como escravos sexuais. Os policiais reagem com gargalhadas, não o levando a sério. <i>Rod </i>será forçado a agir por conta própria, caso queira salvar o amigo. </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Como um autêntico detetive, reduz a termo todas as informações ainda frescas na memória, e se empenha na ingrata tarefa de fazer sentido da salada de dados sem aparente conexão. Ao tentar contatar o celular de <i>Chris</i>, sua chamada é finalmente respondida, mas não pelo fotógrafo. Do outro lado da linha, <i>Rose </i>interpreta a donzela preocupada, e conta uma historinha mentirosa. Ela "</span><i>revela</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" que <i>Chris </i>partiu há dois dias, após uma discussão acalorada, e se esqueceu do aparelho. <i>Rod </i>desconfia da garota após questioná-la sobre a companhia de táxi usada pelo rapaz. Ao senti-la titubeante, <i>Rod </i>passa a gravar o colóquio, todavia, perspicaz, ela retoma o papo com uma mentira qualquer que nada tem a ver com o assunto, afirmando que <i>Rod </i>telefonou porque, no fundo, sente-se atraído pela namorada do amigo e crê que ela lhe deu abertura. Furioso, <i>Rod </i>revolta-se e desliga o telefone.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKAvXZF61GuwSsg-f8nxqBzBQVSAaW9Xp_Del9BVXMT2sET1mfpsuikdVF9cnG0MKv8VadymwCjv9PzaQ4o2GzPqaPxII_g7AvuwwRHV5BpoBUTWLVLTPiqqziDNroS-rRVw95VDPEw3k/s1600/get-out-movie-still-35.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1359" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKAvXZF61GuwSsg-f8nxqBzBQVSAaW9Xp_Del9BVXMT2sET1mfpsuikdVF9cnG0MKv8VadymwCjv9PzaQ4o2GzPqaPxII_g7AvuwwRHV5BpoBUTWLVLTPiqqziDNroS-rRVw95VDPEw3k/s320/get-out-movie-still-35.jpg" width="320" /></span></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWyUarPAwyytDIdrKmW4cC9Cxhwf1vmock8SdSHvyu29T49JHK2AbQLfQrKHnc4LZeJSY4CoL8ADvcHY8kBmCFbe_61iiwPBMDrTJoQaiSUQMe-3LV0Y0qlYhd8SlK-IH3UQSX8pHB5Vs/s1600/get-out-movie-still-34.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1351" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWyUarPAwyytDIdrKmW4cC9Cxhwf1vmock8SdSHvyu29T49JHK2AbQLfQrKHnc4LZeJSY4CoL8ADvcHY8kBmCFbe_61iiwPBMDrTJoQaiSUQMe-3LV0Y0qlYhd8SlK-IH3UQSX8pHB5Vs/s320/get-out-movie-still-34.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Chris </i>desperta no mesmo gabinete, e assiste a um vídeo gravado. Para sua surpresa, ele vê <i>Jim Hudson</i>, o célebre empresário, dono de galerias artísticas. <i>Hudson </i>esclarece o motivo da abdução, e simplifica o que teria sido uma longa explicação, para sintetizar que tudo não passou de uma série de estágios até a etapa final do procedimento, o transplante, na verdade uma cirurgia cerebral que passará a consciência de <i>Hudson </i>para o corpo de <i>Chris</i>. </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">A única maneira de salvar <i>Hudson </i>de uma doença terminal se dará pela via do transplante de consciência.</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Como uma pequena parte do cérebro de <i>Chris </i>permanecerá ativa para a manutenção de vida no corpo, ele não "<i>morrerá por completo</i>", pois embora sua matéria se torne veículo para o intelecto de <i>Jim</i>, haverá um pouquinho da consciência de <i>Chris</i>, assistindo ao passar dos anos sem nada poder fazer, à deriva no lugar profundo. <i>Hudson </i>elucida: "<i>Sua existência passará a ser a de um mero passageiro</i>". Ao escutar aquela loucura, seu rosto se contorce de dor, porque ele compreende que <i>Walter</i>, <i>Georgina </i>e <i>Dre </i>sofreram a mesma maldade e não tiveram como evitar o pior. A cena da colherinha contra a xícara volta à tela, e <i>Chris </i>adormece. Em uma outra sala, o neurocirurgião se prepara para performar a troca.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6nViVpjIFVvPHiXnjlYXdg2g6ZfwYxsCDhLcfVpMH2x5DuruTmkSVMkIqyiFHu_8l3AmDkdHSzjpYOQpuf73bRhy-DBmgAgS_PyUN5gCh-IhmqOAEy0HlKTY6Lsu9ZqC85QLNtXBskNI/s1600/get-out-movie-still-38.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="555" data-original-width="1357" height="130" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6nViVpjIFVvPHiXnjlYXdg2g6ZfwYxsCDhLcfVpMH2x5DuruTmkSVMkIqyiFHu_8l3AmDkdHSzjpYOQpuf73bRhy-DBmgAgS_PyUN5gCh-IhmqOAEy0HlKTY6Lsu9ZqC85QLNtXBskNI/s320/get-out-movie-still-38.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEix7iTU_zFlZGP5X0otlQ7IhtH2rV5gW0P-CU2lmXzD5Mq9xrRqDqr9IIqLszvAsfdWglF0q-Hx_yKtev5P1EMPLktMEJpTG6ezur-28KBajum8EVcmotYXXUq63KNfzMEOc1ZPzkzE8VQ/s1600/get-out-movie-still-39.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="555" data-original-width="1351" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEix7iTU_zFlZGP5X0otlQ7IhtH2rV5gW0P-CU2lmXzD5Mq9xrRqDqr9IIqLszvAsfdWglF0q-Hx_yKtev5P1EMPLktMEJpTG6ezur-28KBajum8EVcmotYXXUq63KNfzMEOc1ZPzkzE8VQ/s320/get-out-movie-still-39.jpg" width="320" /></span></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVc7VeLAx-Vldv4GxL046_o7bOcFxaNqVpt-ZoA3foFNbpSY8kHer9dfV1ZL01WbIznXqSD75pJRQNLZEPIVWPAFHylhObtrbli65pVhgJHdBOpSXGIvoi7KnSpuMqUjS-THe7Amd5QIA/s1600/get-out-movie-still-40.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="563" data-original-width="1353" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVc7VeLAx-Vldv4GxL046_o7bOcFxaNqVpt-ZoA3foFNbpSY8kHer9dfV1ZL01WbIznXqSD75pJRQNLZEPIVWPAFHylhObtrbli65pVhgJHdBOpSXGIvoi7KnSpuMqUjS-THe7Amd5QIA/s320/get-out-movie-still-40.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Ele começa a cirurgia por <i>Hudson</i>, àquela altura anestesiado e já com o escalpo arregaçado, para a exposição do crânio, que será serrado. <i>Jeremy </i>vai apanhar <i>Chris </i>com a cadeira de rodas, e ao desamarrá-lo, é surpreendido com a reação do fotógrafo. <i>Chris </i>o nocauteia com um inesperado, duríssimo golpe na cabeça. Insuspeito, <i>Dean </i>não imagina o imprevisto. Ao dar pela demora do filho, ele coloca a cara no corredor, e é empalado: <i>Chris </i>chega como um trem fumegante, com a cabeça do cervo nos braços. Ele executa um golpe perfeito, fazendo os chifres perfurarem o abdômen do neurocirurgião, o ferindo de morte. Agonizante, <i>Dean </i>vai derrubando uma porção de apetrechos ao cair, entre eles as velas, cujas chamas não custam a incendiar os lençóis do centro cirúrgico. Sob o efeito da anestesia geral, <i>Hudson </i>se vê cruelmente a mercê de uma horrenda morte, engolfado em chamas, sem ter como reagir. A próxima a morrer é <i>Missy</i>. A psiquiatra não acredita quando o vê ali de pé na cozinha, e antes que consiga pegar a xícara para hipnotizá-lo com as batidas da colher, <i>Chris </i>quebra a louça. Ela tenta esfaqueá-lo com um abridor de carta. <i>Chris </i>amortece o golpe com a palma da mão. Possesso pela fúria, ele nem chega a esboçar reação perante a dor. Simplesmente crava o abridor de cartas na psiquiatra, acertando-a com um golpe fatal que lhe vara o pescoço. A um sopro de abrir a porta para fugir, <i>Jeremy </i>chega por trás e o segura numa gravata. <i>Chris </i>arranca a maçaneta e estoqueia o rapaz na coxa. Depois que <i>Jeremy </i>o solta, <i>Chris </i>o chuta na cabeça, primeiramente o derrubando, depois o pisoteando freneticamente na face, até esmigalhar os ossos. </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Alheia ao drama no andar inferior, <i>Rose </i>navega com o notebook na internet, com fones de ouvido, sobre a cama. <i>Chris </i>encontra as chaves e dá a partida no carro. Ele contata a polícia, porém antes de conseguir se explicar melhor, acidentalmente e de uma maneira moderada, bate com o lado do automóvel na criada <i>Georgina</i>, que surge inesperadamente no portão. Imediatamente, <i>Chris </i>associa o acidente à fatídica manhã, quando sua mãe fora atropelada e, por medo, sua inação lhe custara a vida. Bravamente, ele desce para ajudá-la a entrar no lado do passageiro. Ele não a deixará para trás. Esta sequência chamou a minha atenção por uma sacada maravilhosamente emocional da edição, pois quando o fotógrafo a observa desacordada no chão, a imagem é entrecortada por uma cena anterior, lá pela primeira hora, <i>Georgina </i>com lágrimas nos olhos, pedindo desculpas a <i>Chris </i>pelo carregador de celular, o momento pelo qual o rapaz sentiu compaixão pela infantilizada criada, tendo percebido que ela não passava de vítima de uma misteriosa maldade, àquela altura ainda oculta aos seus olhos. De toda sorte, ele se lembra da mãe, e também daquele instante, a indefesa <i>Georgina </i>com olhos marejados, e parte para a ação. <i>Chris </i>consegue acomodá-la, mas com o barulho da pancada entrega sua fuga à <i>Rose</i>, que tira os fones e desce para investigar. Subitamente, a namorada aparece no alpendre, com um rifle em mãos. Ela faz mira. Como o carro se encontra a certa distância, não arrisca o disparo.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNoJv1MA0tV0NwzNPsMhhAMF3rfj0wE4CeFiVIY7k_V70pkqoI1U07Vlr7M0wTTJBTkbcEivPN3boRmISjgA1DDgE3GcCoQkhvcbWeZOKa0jSUPkpezDLzwMaBaP7ANQAkI9S5zWAJMo4/s1600/get-out-movie-still-36.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="555" data-original-width="1359" height="130" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNoJv1MA0tV0NwzNPsMhhAMF3rfj0wE4CeFiVIY7k_V70pkqoI1U07Vlr7M0wTTJBTkbcEivPN3boRmISjgA1DDgE3GcCoQkhvcbWeZOKa0jSUPkpezDLzwMaBaP7ANQAkI9S5zWAJMo4/s320/get-out-movie-still-36.jpg" width="320" /></span></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7Z3kPs7Nl75dih15XY3I2Xvo1Ty-wP8f-2rSjBL5NqxdcEKwyVlPVBu4YgsIDc5xvypa4d_7IpHm1BbZWcWcg14MEsW_c33yT72NMVNLAZASdrbqvUGxrSZBLOJ-F7MSMXdbzCLgqyUg/s1600/get-out-movie-still-37.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1349" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7Z3kPs7Nl75dih15XY3I2Xvo1Ty-wP8f-2rSjBL5NqxdcEKwyVlPVBu4YgsIDc5xvypa4d_7IpHm1BbZWcWcg14MEsW_c33yT72NMVNLAZASdrbqvUGxrSZBLOJ-F7MSMXdbzCLgqyUg/s320/get-out-movie-still-37.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Georgina</i> desperta do torpor, e, ainda alienada, ataca <i>Chris</i>, causando a momentânea perda da direção. O carro choca-se contra uma árvore, e a criada morre instantaneamente. Uma bala vara o vidro da janela e passa rente ao fotógrafo. Ele entende que se trata de <i>Rose</i>. <i>Chris </i>deixa o carro, novamente se esquivando dos disparos. <i>Rose </i>ordena a <i>Walter </i>que o derrube. Ferido, <i>Chris </i>é facilmente rendido pelo copeiro, porém ao clicar propositalmente o celular de modo a disparar o flash diante de seus olhos, acaba por ajudá-lo a romper a hipnose. Por um breve momento, <i>Walter</i>, outra infeliz vítima alienada dos <i>Armitage</i>, recupera o protagonismo sobre a própria mente, bem no instante em que <i>Rose </i>chega para finalizá-lo. Ele pede o rifle à <i>Rose</i>, oferecendo-se, aparentemente, para executar o fotógrafo, mas acaba atirando na parte baixa do abdômen da patroa. Surpresa e cheia de sangue na boca, ela dá as costas como se fosse tentar correr, e vai ao asfalto. <i>Walter </i>e <i>Chris </i>ainda trocam olhares de reconhecimento. Pela primeira vez vemos o copeiro sem chapéu, a cicatriz na testa como prova das torturas sofridas por <i>Walter</i>, objeto dos experimentos de <i>Dean</i>. Cheio de dor e consciente de que jamais voltará a ser o homem de antes, <i>Walter </i>resolve abreviar seu calvário, e se suicida com um tiro no queixo. <i>Chris </i>se aproxima de <i>Rose</i>, para checá-la. Ainda viva, ela tenta seduzi-lo com promessas de amor. <i>Chris </i>considera vingança ao segurá-la pela garganta, pronto para matá-la estrangulada, mas, sendo moralmente superior e não trazendo dentro de si a mesma maldade, desiste do ato, a deixando para trás. </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Rose </i>morre de hemorragia, estatelada no meio do asfalto. </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Rod </i>surge na escura estrada ladeada por veredas em um carro da polícia, e o resgata.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifHoOj1HHo4tLx6FWqVYfXuEkPNBeCKrJLIJ61xHqo6cDlH1r5qBYSzw9ulgYyj-p7dmobUrv90yI12lCKlSDbrUWfP7SaaMQ66ehOJzLVNspTujitl7P9S3OqTnd5hEcY6mUbRhFtt-Y/s1600/get-out-poster-do-filme.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="1500" data-original-width="947" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifHoOj1HHo4tLx6FWqVYfXuEkPNBeCKrJLIJ61xHqo6cDlH1r5qBYSzw9ulgYyj-p7dmobUrv90yI12lCKlSDbrUWfP7SaaMQ66ehOJzLVNspTujitl7P9S3OqTnd5hEcY6mUbRhFtt-Y/s320/get-out-poster-do-filme.jpg" width="202" /></span></a></div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">A discussão em torno de "</span><i>Corra!</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" não se resume apenas a seu recente lançamento. O filme vem causando forte impressão muito antes da exibição nos cinemas. A ideia do projeto esteve no centro do furacão que hoje rege as rodas de conversa. Muitos se serviram do argumento do filme para validar (ou enfraquecer) o discurso em torno da questão racial. Surpreendentemente, ao assistir a "</span><i>Corra!</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", a contenda sobre racismo parece exaurida já dentro dos primeiros dez minutos. Eu explico: sim, a cor de </span><i>Chris </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">se pronuncia como um relevante detalhe, afinal se reporta às razões maquiavélicas pelas quais se veria alvo das manipulações da namorada, no começo, e do restante da família, mais tarde, entretanto, depois que a locomotiva narrativa passa a correr sobre os trilhos, a trama parece submergir a uma profundidade muito mais psicológica, eu diria filosófica, sobre a fragilidade da condição humana, e quão poderosamente maldades infligidas sobre nossas mentes, na infância, podem nos curvar, ou ao menos nos deixar conformados a perigosos padrões, dificílimos de serem rompidos. "</span><i>Corra!</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" foi beneficiário & vítima da própria celeuma, pois não obstante a polêmica tenha levado multidões às bilheterias, a superficialidade do debate impediu muitos de assistirem ao filme com um pouco mais de atenção e boa vontade. Em que pese o sucesso instantâneo, só o tempo fará justiça a este maravilhoso filme de terror que tem muito a dizer, não apenas a um grupo, mas a um amplo espectro de pessoas que, por uma razão ou outra, jamais se sentiram integradas a um meio, ou pior, conheceram a dor envolvida em transitar desavisadamente para dentro de uma situação onde não se é bem-vindo, e tudo o que precisa fazer resume-se a dar as costas e partir o mais rápido possível. A profundidade psicológica do filme junge-se ao excepcional desempenho do protagonista, e explorarei o tópico no momento oportuno.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Produzido pela Blumhouse, o fenômeno criativo de onde chegam os melhores filmes de terror dos últimos anos, "<i>Corra!</i>" foi realizado por um irrisório custo, cinco milhões de dólares, rendendo cinquenta vezes o valor do orçamento (duzentos e cinquenta milhões só nas bilheterias norte-americanas). O sucesso o consagrou como o título mais rentável e bem-sucedido da produtora até hoje. Dirigido por <i>Jordan Peele</i></span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, um ator que, sob o manto de cineasta, não tinha um único título no portfólio, "<i>Corra!</i>" soma-se ao panteão de clássicos dirigidos por "<i>marinheiros de primeira viagem</i>", diretores sem nenhuma (ou quase nenhuma) experiência que, não obstante a pressão da estreia, criaram obras as quais, mesmo após décadas, pessoas não se cansam de revisitar, pois sempre descobrem elementos novos escondidos entre suas camadas de complexidade. Em muitas resenhas, cito os exemplos de sempre ao escrever sobre cineastas marcados pela dádiva/maldição de terem criado a perfeição. <i>Brad Anderson</i> &<i> Tom Shankland</i> me vêm automaticamente à mente, este com "<i>w Delta z</i>", aquele com "<i>Session 9</i>", filmes sobre os quais me aprofundei neste blog, e os quais sempre resgato para ilustrar diversos pontos. Mais tarde nas suas carreiras, os dois sofreram criativamente, pois independente das tentativas de descobrirem vozes mais pessoais, usualmente se viram confrontados pela majestade de seus clássicos, régua para tudo o que viria posteriormente. Com "<i>Corra!</i>", <i>Jordan Peele </i>realizou um terror extraordinário, e em que pese viver um grande momento da carreira, tendo o nome vinculado a muitos projetos, provavelmente será assombrado pela primeira magistral criação. <i>Peele </i>negocia a vaga de diretor do cobiçado, aguardado "<i>Akira</i>", adaptação para as telas do mangá homônimo, projeto que se encontra no mínimo há três décadas em fase de pré-produção e finalmente parece às vésperas de se concretizar. A escolha ilustra o inédito cacife do diretor, porém pode feri-lo como tiro no pé. Sabemos que estúdios tendem a contratar prodígios do momento, apenas para os podarem assim que lhes são dadas centenas de milhões para filmarem superproduções. Aconteceu com <i>José Padilha</i>, ao realizar "<i>Robocop</i>", e custou a carreira ocidental de <i>John Woo</i>, poeta chinês da violência trazido a Hollywood após a descoberta de seus clássicos. <i>Woo </i>permaneceu por alguns anos realizando grandes produções na qualidade de "<i>diretor operário</i>", ou, como costumo chamá-los, "<i>diretores de filmes de James Bond</i>", cineastas capazes de administrar um farto orçamento, mas resignados o suficiente para jamais se rebelarem contra a fórmula delegada pelos interesses acima. <i>Woo </i>só reconquistou a paz de espírito ao regressar para a China e voltar a fazer seus filmes menores, mais espetaculares do que qualquer blockbuster americano, pois livres da ingerência de terceiros. Só o tempo dirá se <i>Jordan Peele</i> gozará da impressionante longevidade de <i>James Wan</i>, por exemplo, o único caso de um cineasta relativamente jovem que manteve altíssimo padrão e consistência nas escolhas.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">A equipe técnica trouxe uma gama de talentos a bordo, dentre eles <i>Gregory Plotkin</i>. Eu já ouvira falar no nome, e, ao pesquisar onde o vira antes, recordei-me: <i>Plotkin </i>dirigiu "<i>Atividade Paranormal: Dimensão Fantasma</i>", sólida sequência e último exemplar da franquia, quase tão maravilhoso quanto "<i>Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal</i>", este sim o título definitivo da série, deliciosa realocação do tema para dentro de uma febril, energética e romântica comunidade latina. Em "<i>Corra!</i>", <i>Plotkin </i>empresta seu entusiasmo & perícia para a precisa edição que elimina a ameaça da redundância e sopra no filme o fôlego para a corrida de eletrizantes 104 minutos. <i>Toby Oliver</i>, o diretor de fotografia, reveste a trama com certa elegância, mas seu rebuscado olhar chama mais a atenção justamente na sequência inicial, a abdução de <i>Dre Hayworth</i>. Sabemos que o filme abre com a cena do jovem caminhando bem-humorado, porém apresentando sinais de apreensão, por um bairro tipicamente afluente e suburbano, à noite. Mesmo na quietude envolvida na suposta casualidade de uma pessoa em busca de direções, o olhar de <i>Toby Oliver</i> constrói um dos momentos mais angustiantes da história, quando algo que nos é comum & primitivo grita em nossos ouvidos que o mal arrebatará aquela criatura assim que ela dobrar na esquina, como, de fato, acontece. Para criar um senso de atmosfera, ele aproveita o potencial de ruas largas, calçadas espaçosas e fachadas de prósperas residências banhadas pela cândida luz dos postes. Por outro lado, <i>Oliver </i>também utiliza o potencial da natural iluminação a máximo efeito quando a trama se transfere à propriedade de campo, onde a copa & ramagens das árvores e a superfície do lago cuidam de polir a já benevolente cortesia de um lânguido sol ao entardecer. <i>Michael Abels</i>, autor da trilha, faz sua estreia em "<i>Corra!</i>", e nos encanta com uma batida energética, como o cântico tribal a preceder as batalhas. Todas estas talentosas mentes uniram forças para facilitar o trabalho do diretor. Graças a um time altamente capacitado, <i>Jordan Peele</i> obteve êxito ao tentar nos oferecer um filme no mínimo tecnicamente impecável.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Escalar o elenco de uma história tão psicologicamente exaustiva parece-me a mais árdua parte na feitura do filme, pois uma vez que se tenha os atores certos para habitarem papéis tão memoráveis, tudo o que passa a preocupar o cineasta são as posições das câmeras. Basta reclinar a cadeira, acomodar-se, gritar "<i>ação</i>" e deixar que seus extraordinários artistas criem magia. <i>Jordan Peele</i> gozou da perspicácia extra que falta a muitos diretores experientes, pois entendeu que sua precisão não girava em torno de rostos famosos, e sim de competência. Talvez pelo <i>background </i>como ator, <i>Peele </i>tenha se guiado pelo <i>feeling </i>natural por diferenças de estilo dramático para pinçar, dentre nomes pouco conhecidos, os protagonistas da aventura, "<i>escalando-os</i>" como "<i>centroavantes</i>" (<i>Daniel Kaluuya</i> & <i>Allison Williams</i>), sem deixar de primar pela fineza, escolhendo <i>character actors</i> veteranos de ilibadas filmografias para fecharem o time como "<i>meio campistas</i>". Os veteranos <i>Bradley Whitford</i> e <i>Catherine Keener</i> aproveitaram a oportunidade para brilhar como os líderes espirituais da família <i>Armitage</i>. Para a atriz, o papel lhe deve ter parecido uma volta para casa. Habilidosa em dramas sombrios e sinistros, ela recicla a sua personagem do aterrorizante "<i>An American Crime</i>", de 2007, onde interpretou uma frustrada, reprimida mãe solteira de meia idade, que encontra uma válvula de escape ao vitimizar uma pobre menina indefesa, sob a sua tutela por algumas semanas, até a morte. O filme, uma dramatização do notório, tétrico caso "<i>Sylvia Likens</i>", encontrou na figura da elegante atriz o equilíbrio perfeito entre ressentimento & redenção, criando uma vilã tão odiosa quanto patética. Aqui, <i>Keener </i>volta a soprar vida noutra mulher malévola, e a força da performance reside na naturalidade com que a personagem coexiste em um meio onde pessoas conviveriam com <i>Missy </i>e pagariam caro seus altos honorários de psiquiatra sem imaginar seu processo de pensamento psicopata. No papel da criada <i>Georgina</i>, <i>Betty Gabriel</i> não precisou de muita exposição para nos deixar curiosos, e suas aparições, poucas, mas contundentes, criaram um retrato trágico da tensão cultural a perfilhar o pano de fundo, emblema perfeito para a filosofia por trás da maldade dos <i>Armitage</i>. Sobre sua personagem, ela teve o seguinte a dizer: "<i>Georgina também simboliza séculos de escravidão. Mesmo hoje, mulheres e crianças negras ou pardas têm sido vendidas a algum tipo de escravidão, escravidão sexual. Então, por exemplo, na cena em que Rod procura a polícia para lhes contar o que tem acontecido e todos riem na sua cara, é todo um novo jeito pelo qual podemos perceber 'Ora, ele está certo!'. Ao passo que não a vemos, ela se encontra presente, em algum nível. Portanto, a depender do prisma, ela (Georgina) pode representar várias perturbadoras realidades</i>".</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">No seu primeiro papel de relevância no cinema, <i>Allison Williams</i> quase rouba o filme no papel de <i>Rose</i>. No frigir dos ovos, o drama de <i>Chris</i> assume contornos de tragédia, porque qualquer pessoa vítima de injustiça poderá depor a respeito da amargura que acompanha o sobrevivente, mas testemunhar a única pessoa em quem você depositou confiança assumir um papel importante na farsa, com a chave tilintando nos dedos, deve ser particularmente doloroso. A atriz desempenha com naturalidade e desenvoltura o papel da namorada moderna e compreensiva. Embora se mova e fale com liberalidade, destacando-se como uma pessoa sincronizada com os próprios objetivos de vida, <i>Rose</i> parece reservar um enorme espaço no coração para <i>Chris</i>, de modo que quando a máscara se vai, e a farsa da parceria cai por terra, soa crível a horrenda decepção a tomar conta de seus olhos arregalados. Como namorada e cúmplice, <i>Williams</i> não erra no tom, aproximando-se do perfil de boa companheira, a parceira que com uma única palavra carinhosa consegue <i>fazer </i>a semana do namorado. Quando ela se "<i>transforma</i>", a atriz desempenha a mudança de <i>girl next door</i> para assassina implacável com a preocupante rapidez de um veloz toque no interruptor. De cabelos presos em rabo de cavalo e rifle em mãos, ela me lembrou da eletrizante performance de <i>Carrie Snodgress</i> como a antagonista do herói no violentíssimo "<i>O Vingador</i>", o suspense de 1986 estrelado por <i>Charles Bronson</i> em um de seus últimos papéis de importância. A personagem de <i>Williams</i> ainda exigiu mais perícia no <i>approach </i>da atriz, pois há uma mudança de caráter envolvida no seu arco. Enquanto em "<i>O Vingador</i>" <i>Snodgress</i> mostra a que veio desde a primeira agressiva cena, quando executa um homem com um tiro na boca aberta, <i>Williams</i> exercita o comedimento que a mantém fiel ao arquétipo da namorada preocupada, até a revelação da chave e o clímax, onde deixa a casa com rifle em mãos, um momento no mínimo visualmente inesquecível, reminiscente de um outro, em "<i>O Vingador</i>", quando <i>Joan Freeman</i>, personagem de <i>Snodgress</i>, elimina o ex-parceiro de <i>Bronson</i> com o disparo de uma escopeta, com a indefesa vítima aos seus pés no chão da cabine. O impacto da cena dispensa a captura do produto do tiro, e sagazmente foca-se na energia exigida e na reação da predadora, como o sangue a salpicar seu rosto, os lábios bem apertados em uma expressão de esforço, ou o significativo recuo do cabo, pesado e bruto, mas, ainda assim, amparado por mãos & força feminina. <i>Williams</i> não teve a chance de "<i>sujar as mãos</i>" como a vilã de "<i>O Vingador</i>", todavia, pelo breve espaço de tempo envolvido em seu duelo com <i>Chris </i>na escura estrada do bosque, acessa uma agressividade ímpar, acende uma peculiar centelha de ódio nos olhos, chamas da certeza de seu comprometimento em descer muito além do que o abismo a que o dedo sobre o impessoal inox do gatilho é capaz de levar. Não, ela estaria pronta a chafurdar a carne, voluntariar-se a pôr as mãos no corpo do outro, em quebrar ossos com punhos que acertam com a pontaria & <i>momentum </i>de um cruzado lançado por um pugilista mais experiente, a sequência de três cruzados com que <i>Buster Douglas</i> encerrou a aura de invencibilidade de <i>Tyson</i>, em 1990, pondo-o humilde, ensanguentado e atônito aos seus pés. Nesse sentido, apesar das diferenças, <i>Rose </i>em "<i>Corra!</i>" & <i>Joan </i>em "<i>Murphy's Law</i>" são praticamente o mesmo demônio, bem imortalizado no tiroteio final de "<i>O Vingador</i>", no abandonado Hotel Bradbury, quando, armada de besta & flechas, <i>Joan </i>vai desafiando <i>Bronson </i>a enfrentá-la nas trevas das entranhas do prédio: "S<i>omos só eu e você agora, amigo</i>".</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Nenhum colega de elenco, todavia, brilhou mais do que <i>Daniel Kaluuya</i>, a quem este filme verdadeiramente pertence. Eu deixei para escrever sobre sua performance por último, pois de sua sólida atuação brota um manancial de questões menores e instigantes, dignas de discussão. Para um filme tão importante, o diretor poderia ter incorrido na pressão de escalar um nome conhecido para criar seu herói. Felizmente, em vez de tropeçar na armadilha de escolher seu time pela expectativa de terceiros, confia a um competentíssimo ator a missão de criar um protagonista realmente especial em sua adorável humanidade. A maravilhosa surpresa reside no tom escolhido pelo artista para dar forma & substância à criação. Em filmes do gênero, atores menos sensíveis e mais obtusos insistiriam no mesmo equívoco, performar a mais básica, tentadora das emoções, a raiva. Eu me recordo de quando <i>Sylvester Stallone</i> fez "<i>Copland</i>", o drama independente de 1996 pelo qual recebeu as melhores resenhas da carreira. O ator interpretava um xerife envelhecido, acima do peso e surdo de um ouvido, uma alma tímida e generosa que vira a vida passar, contentando-se em assistir ao progresso dos demais, à margem das próprias minúsculas ambições. Quando chegam a suas mãos provas do envolvimento de colegas policiais da cidadezinha com o crime organizado novaiorquino, do outro lado da ponte, esse cara redescobre a própria honra e parte para o embate com a força policial inteira. Para realizar o excelente trabalho, <i>Stallone </i>precisou dar um passo de fé, e repelir a vaidade em nome de uma performance mais sensível e introvertida. Ao desnudar a alma para as câmeras sem medo de ser visto barrigudo, deprimido e reservado, para além das aparências, gerou um herói tão inesquecível quanto o <i>Rocky</i>, finalmente visto como artista dramático, e não estrela de cinema. Muitos homens da ação reconectaram-se ao que há de melhor em seus corações através de papéis nos quais jamais imaginaríamos vê-los um dia. Infelizmente, as pessoas não conseguem afastar o hábito da acomodação, e portanto grandes momentos dramáticos de astros da ação passam largamente desconhecido. <i>Samuel L. Jackson</i> foi catapultado ao estrelato pelos seus personagens energéticos e cheios de artimanhas, mas pouquíssimos tiveram a <i>honra</i>, e eu friso o termo <i>honra</i>, de assistirem a seu emocionante, comovente desempenho em "<i>Freedomland</i>", ainda não resenhado por mim, todavia sobre o qual já teci profundas considerações nos meus trabalhos sobre os filmes "<i>A Garota Morta</i>" e "<i>Big Game</i>". <i>Robin Williams</i> se foi em 2014, deixando para trás muitos filmes onde restaram imortalizados sua maestria sobre o bom humor e o entusiasmo de criança. As pessoas se recordarão das gargalhadas proporcionadas pelo talento de <i>Williams</i>, mas, lamentavelmente, poucos tomarão conhecimento que, do mesmo jeito que sabia fazer rir, <i>Williams </i>poderia acessar recantos de nossas almas e derrubar nossas defesas em um piscar de olhos para nos fazer verter uma represa de lágrimas. Nossos olhos se acenderão sob a menção dos seus clássicos, não? "<i>Jumanji</i>", "<i>Sociedade dos Poetas Mortos</i>", "<i>Patch Adams</i>"... mas e quanto a "<i>Boulevard</i>", "<i>Retratos de uma Obsessão</i>" e "<i>Segredos da Noite</i>"? Embora seja louvável sua destreza para arrancar risadas, foram nos dramas menores que o astro nos franqueou visitas a uma atormentada parte da sua alma, uma atitude que lhe exigiu intrepidez, mas que permanece obscura sob o manto de seu próprio estrelato e as limitações de nossa miopia. Retomando a análise de "<i>Corra!</i>", <i>Daniel Kaluuya</i> tratou o personagem com o mesmo esmero e senso de responsabilidade, não envilecendo o núcleo gentil de sua alma. Como protagonista de um filme de terror, se o ego tivesse subido à cabeça, <i>Kaluuya </i>não teria hesitado em "<i>devorar o cenário</i>". Como "<i>menos é mais</i>", entretanto, assimilou que com seu recato contaria a <i>backstory </i>inteira de <i>Chris </i>sem precisar desperdiçar nosso tempo com linhas e mais linhas de diálogo. Ponderado, humilde, inteligente e moralmente superior, <i>Chris </i>transcende a ameaça da unidimensionalidade e cumpre com louvor o seu arco como uma figura real por quem torcemos a cada curva da imprevisível jornada. Seu passado ganha vida própria e nos fornece informações ausentes do quebra-cabeças através da dor de um olhar ou a resignação por trás de um sorriso. O caráter do personagem não "<i>pede</i>" para ser validado, suas ações falam por si, e a admiração que nutrimos pelo rapaz desdobra-se espontaneamente das virtudes demonstradas pelo fotógrafo durante a aventura. Eu teci estas considerações sobre <i>Chris </i>para justificar por que, ao contrário da maioria, não creio que "<i>Corra!</i>" ancore-se exclusivamente na questão do preconceito racial. Se prestarmos atenção ao material publicitário, verificaremos que membros do elenco e da equipe técnica ilustraram uma porção de observações muito válidas para ratificar o debate. Honestamente, creio que o diretor seja maior do que a simplória compartimentalização, e seu filme precise ser saboreado com mais acuidade, para só assim se ganhar real noção de importância/envergadura dos detalhes. Se a tipificação de preconceito racial reclama um sentimento de antagonismo generalizado subtraído de qualquer exame crítico, o termo, conceitualmente, não cabe aos <i>Armitage</i>, porque o fogo que consome suas almas é ainda mais diabólico e melindroso, vai além da cor da pele. No século XXI, qualquer pessoa que acredite que uma pessoa possa ser definida pela cor jamais será levada a sério, e se dará um tiro no pé, porque se voluntariará ao ostracismo social. Não há espaço para pensamento tão diminuto. Há, entretanto, uma agenda secreta por trás de uma força oculta que fomenta a animosidade entre pessoas de cores diferentes, e um pequeno grupo interessado em se tornar "<i>porta-voz</i>" de comunidades, com interesses mascarados, maliciosamente maquiados como "<i>altruísticos</i>". A mídia comprometida com a agenda globalista estimula com flagrante insistência a tensão com o propósito de criar confronto, jogando "<i>uns contra os outros</i>" para o benefício de poucos, desmoralizando pessoas ou agentes de bem, como policiais, e quando meta capitalistas financiam ONGs e empurram o mundo ao colapso onde "<i>família</i>" se tornará um termo obsoleto ou aplicável a qualquer conjunto, e cristãos sofrerão um tipo de perseguição jamais visto antes, acomodam-se nas poltronas e dão gostosas risadas ao assistirem aos desavisados introjetando valores absurdos e voltando-se contra suas famílias ou origens, enquanto os manipuladores preservam as próprias. A leitura atenta de textos sobre Gramscismo deslindará a cruel psicopatia e a ardilosidade por trás do curso que os eventos históricos têm tomado, no Brasil e no mundo. Desta feita, retomando a discussão após o válido aparte, "<i>Corra!</i>" não merece o rótulo pelo qual incendiou os debates, pois os <i>Armitage </i>não agem a partir do horrendo pecado do racismo. Na verdade, parecem antagonizar o protagonista por um rancor fundado no plano espiritual. Eles não escolheram <i>Chris </i>porque supunham que o rapaz fosse uma criatura inferior, mas justamente por obra de irrestrita inveja. A seu modo, depondo a seu favor, <i>Chris </i>dispunha de uma impressionante gradação de maravilhosas qualidades, que aos <i>Armitage </i>faltava. A abdução do garoto não se cingia à solução imediata para a doença de <i>Jim</i>, à tragédia da perda da visão. Como o próprio homem confessa, em dado momento, "<i>eu quero seus olhos</i>" não deve ser tomado ao pé da letra. Mais do que as córneas, <i>Jim </i>desejava a sensibilidade, a poesia de uma alma capaz de voar mais alto, uma qualidade que não lhe fora naturalmente dada. A mesma observação aplica-se a <i>Missy</i> & <i>Dean</i>. Para se induzir uma pessoa inocente a erro e lhe fazer tamanha crueldade, aproveitando-se da vulnerabilidade, só se concebe semelhante ato pelo viés de um sentimento de ordem diabólica. <i>Missy</i> e <i>Dean</i> tinham motivos para ressenti-lo. <i>Chris</i> os fazia lembrar da juventude há muito perdida, e por ter crescido para se tornar um homem de valor após tão traumático evento na infância, atirava nas caras de ambos a própria feiura. Eles se sentiam no dever de arruiná-lo porque sabiam que assim como jamais teriam como girar os ponteiros para trás, também não o teriam, para frente. A facilidade com que <i>Chris</i> nos ganha para seu lado deve-se à habilidade de <i>Daniel Kaluuya</i> em dar vida a um personagem crível e moralmente irrepreensível e elevado. Eu me impressionei com sua inabalável fé, única possível explicação pela qual passou a maior parte do filme perdoando as pessoas, consistentes no ato de pisar em cima de seus calos. Suas decisões vinham de um lugar dentro de si que queria dar aos semelhantes o benefício da dúvida, enquanto o mesmo não se pode afirmar sobre <i>Rose</i>. Aliás, é de se pensar: seria a garota ao telefone com <i>Dre Hayworth</i>, no começo do filme, a própria <i>Rose</i>?</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">O teste definitivo de qualidade de qualquer filme é definido por quantas vezes você o procurou para assistir, e se a cada nova exibição, descobriu coisas novas. "<i>Corra!</i>" demanda repetidas exibições até revelar o rosário de mistérios no coração da proposta. Por diversas vezes, puxei da minha mente outra história de horror similar ao drama de <i>Chris</i>, sobre a qual escrevi anteriormente neste blog. Eu me refiro a "<i>Creep</i>", o magistral thriller psicológico dirigido & estrelado por <i>Mark Duplass</i>, junto a seu amigo <i>Patrick Bryce</i>, sobre um cinegrafista amador que atende a uma proposta de emprego no Craiglist. Ele se encontra com o excêntrico empregador numa cabine da montanha, e o homem lhe faz uma proposta, pela qual, em troca de determinada soma de dinheiro, o filmará ao longo do dia inteiro. O bem-humorado, simpático cavalheiro, dado a abraços & amostras constrangedoras de fraterno carinho, explica que, sendo paciente de uma doença terminal, em vias de se tornar pai, deseja deixar ao filho um tributo, um filme pelo qual o menino venha a descobrir quem seu genitor foi. À medida que o dia avança, e o homem vai desrespeitando, primeiro sutilmente, e depois ostensivamente, os limites do cinegrafista, o filme, que começa como comédia, vai adquirindo tonalidades de puro horror. Quando, por fim, o rapaz compreende que seu empregador é um psicopata, e um <i>serial killer</i> responsável pelo desaparecimento de centenas, já é tarde demais para agir, porque o homem se apaixonou por sua pessoa e não o deixará em paz. Quando eu li recomendações sobre este suspense, pouco interesse tive de procurá-lo, porque, francamente, a premissa não deixava o lugar comum. Ao finalmente dar uma chance a "<i>Creep</i>", descobri uma eletrizante lição em exercício psicológico, e no minuto seguinte à primeira exibição, tive de assistir ao filme novamente. Mesmo hoje, ao revisitá-lo, descubro inéditos, importantes pormenores, impossíveis de serem capturados em uma única sessão. Assim como ocorre a "<i>Creep</i>", "<i>Corra!</i>" também investe em detalhes para deixar em aberto o convite do "<i>volte sempre</i>", e, de semelhante forma, bebe da rica fonte da fragilidade da mente humana para instigar o debate que lhe vale um lugar especial entre similares do gênero. Em ambos os filmes, predomina o dilema "<i>Até onde basta?</i>", "<i>Quão longe você se permitirá ser desrespeitado até impor limites?</i>". Em "<i>Creep</i>", a generosidade e gentil alma do cinegrafista, farejada de longe pelo predador, declara sua morte. Sua primeira linha, ao lhe pregar um tremendo susto na janela do carro, gira em torno de "<i>Vamos nos divertir muito hoje... você tem um rosto realmente bondoso e gentil</i>", um substitutivo ao que realmente se passa na sua cabeça doente: "<i>Eu vou testá-lo com joguinhos psicológicos cada vez mais atrevidos até te desrespeitar completamente, e mesmo assim você continuará me dando oportunidades de azucriná-lo seguidamente, porque precisa acreditar na bondade dos outros, nem que seja à custa do próprio bem-estar</i>". Mesmo numa crescente de sinais estranhos dados pelo esquisito patrão, o rapaz parece cair em si só mais tarde, quando se vê obrigado a passar a noite na cabine da montanha, e o homem lhe conta uma horrorosa história sobre seu passado, envolvendo uma esposa com fetiche por bestialismo. Com a confissão, o cinegrafista é sacudido para fora da própria letargia, para fora da carência por aceitação, e entende que precisa deixar o lugar imediatamente. Eu me lembro de ter pensado, "<i>Bom, aí está, amigo: você teve muitas chances de partir, e as foi eliminando, até se ver sentado à mesa em uma cabine deserta com esse cara, para justamente então se dar conta de que está lidando com uma maldade além da própria compreensão. Boa sorte com isso</i>". Em "<i>Corra!</i>", o primeiro forte sinal de que <i>Chris </i>entrou em uma perigosa situação acontece na primeira noite, quando <i>Missy </i>o induz a se aprofundar nas dolorosas recordações sobre a mãe, e o hipnotiza contra a vontade. Neste ponto, eu disse a mim mesmo que, fosse eu na situação, teria partido ao raiar do sol, sem dar nenhum tipo de explicação. Teria simplesmente deixado a propriedade a pé, sem nem mesmo me arriscar a chamar um táxi e precisar aguardar na sala. <i>Chris</i>, entretanto, persiste na dura missão de desculpar as pequenas ofensas, na missão de perseverar até que alguém, qualquer um, possa lhe dar uma genuína prova de bondade. Quase interpretei o erro de julgamento de <i>Chris </i>como desleixo do roteiro, mas aí me recordei de que, no filme, o fotógrafo sequer chegara aos trinta anos. Aos trinta e oito anos de idade, não me cabe projetar minhas observações sobre as escolhas de um jovem de vinte e cinco. Quando somos jovens, sofremos para sustentar um absurdo policiamento sobre o senso crítico que nos é inerente desde o instante que chegamos ao mundo, e nutrimos uma irreal expectativa pelas coisas, sensações e pessoas deste mundo, performando contorcionismos para "<i>fazer caber</i>" a sua realidade a um modelo de perfeição alimentado por fantasias de altruísmo deturpado. Eu me lembro de uma linha do maravilhoso "<i>Romeo is Bleeding</i>", de 1993, a história de um tira corrupto que recebe "<i>por fora</i>" de mafiosos novaiorquinos, e vive uma existência dupla, dentro e fora da lei. Até o dia em que uma psicopata, assassina serial a serviço da máfia, atravessa seu caminho, e embora não tire a sua vida, lhe custa a sanidade. De toda forma, há uma interessante linha proferida pelo tira, após cair na real, que cabe a minha explicação: "<i>Você sabe o que é inferno? Inferno é quando você teve a chance de dar as costas e partir, mas resolveu ficar</i>". Tendo este relevante aspecto em mente, enxerguei que mais do que uma superficial história de horror baseada em preconceito racial, o filme, no frigir dos ovos, tenta nos contar uma parábola sobre empáticos (<i>Chris</i>) e narcisistas (a família <i>Armitage</i>), ou melhor, sobre um certo tipo de fenômeno associado a essa perturbadora realidade, chamado "<i>gangstalking</i>". <i>Chris </i>nega-se a enxergar a realidade descortinada diante dos olhos por causa da decência que o impele a negá-la, mesmo quando o sexto sentido acusa e exclama a um nível subconsciente que não está por "<i>imaginar coisas</i>", que embora jamais obtenha uma honesta confissão daquelas pessoas, elas lhe querem muito mal, sim, por uma gama de razões, a mais palpitante delas, talvez, não a cor da pele, mas o altruísmo, a empatia tão intrínseca ao rapaz, impossível de ser condensada por narcisistas, meros copiadores de nobres sentimentos, sem, <i>de facto</i>, experimentá-los a um nível pessoal. "g<i>angstalking</i>" é um termo recorrente ao tema, e assim como a palavra "<i>Gaslightning</i>", aparece consistentemente na literatura sobre o transtorno, muito embora os entusiastas de teorias de conspiração levem o assunto à vertente de "<i>implante de chips</i>", experimentos macabros perpetrados pela CIA ou seja lá o que for, o que, lamentavelmente, solapa a credibilidade de uma seriíssima questão. <i>Não</i>, "<i>gangstalking</i>" não se amolda à noção fantasiosa dos febris teoristas. Na verdade, é tão real quanto o dia após a noite, embora não pelas razões e instrumentos apregoados pelos malucos que enxergam um ângulo, um esquema para cada faceta da vida. Seus motivos parecem atrelar-se a questões de ordem espiritual, de sorte que jamais nos caberá compreendê-lo inteiramente (por mais que haja ampla documentação online da verossimilhança das alegações das vítimas), e se trata de um assalto recorrente, sobretudo a pessoas que em algum momento da vida tenham sido tocadas por abusos emocionais perpetrados por narcisistas malignos. Cuidadosamente escrito, "<i>Corra!</i>" enverga com sagacidade o passado de <i>Chris </i>sob o peso da dor da traumática perda da mãe, para assim criar a ferida emocional que, em boa parte, atrai o assédio perpetrado tantos anos mais tarde, conduzidos por narcisistas. Ainda sobre esse aspecto, a representação do mergulho da hipnose como imersão em um meio tomado pelo breu e sem fim à vista encapsula com muita sensibilidade a representação do tormento emocional infligido por narcisistas, principalmente quando, como abusados, não temos conhecimento do transtorno ou de como se manifesta, e, por conseguinte, nos metemos na mais absurda confusão ao procurar por lógica dentro de um túnel fantasma, ou de um espaço sideral com uma tela plana flutuando acima de nossas cabeças.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg03UgtMApkM4L_8QPdY2HHyYlaVS7iFDIW2QD1EbQSoGuv35qmc7iJaCW7L4VAY4Omy8f2tPl730JMz0qRkYaOGTc2N9X6WadcGel7sJDI0DDS7wFUZpyvapjG0jIwZMPJCxFwCty5uaE/s1600/get-out-cena-cortada.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="640" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg03UgtMApkM4L_8QPdY2HHyYlaVS7iFDIW2QD1EbQSoGuv35qmc7iJaCW7L4VAY4Omy8f2tPl730JMz0qRkYaOGTc2N9X6WadcGel7sJDI0DDS7wFUZpyvapjG0jIwZMPJCxFwCty5uaE/s320/get-out-cena-cortada.jpg" width="320" /></span></a></div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Assim como vimos em tantos outros filmes, como "<i>Os Estranhos</i>" & "<i>O Dia Seguinte</i>", "<i>Corra!</i>" esbanja um invejável habilidade em <i>build up</i> que, contraditoriamente, me faz pensar no seu único ponto fraco: com 104 minutos, se o diretor o tivesse esticado por mais 16, teríamos sólidas duas horas que teriam beneficiado o resultado final. Nós vemos o carro se afastar na estrada do bosque, com <i>Chris </i>dentro, a salvo, e os créditos sobem, entretanto teria sido prudente acompanhá-lo na sua "<i>volta ao mundo</i>", após tão traumático evento, pois guardaríamos uma noção de como o rapaz assimilou o acontecido, e retomou a vida. Vez que o filme, primordialmente, nos conta o drama de um homem objeto de <i>gangstalking </i>perpetrado por narcisistas, a profundidade psicológica da tragédia oferece um leque de situações que, de uma forma ou de outra, teria alicercado interessantes desdobramentos e explorações. Claro, o clímax, com direito à "<i>realocação</i>" de consciência e troca de corpos, beira as raias do horror fantástico, mas tudo o que vem antes pode - e deve - acontecer na nossa realidade, sem que nem mesmo tomemos conta da manipulação. Ainda no tocante ao produto final, há algumas cenas vistas no trailer, ausentes do filme, que podem nos ajudar a compreender as ações dos personagens. A primeira cena vista no trailer e ausente no lançamento nos mostra o protagonista na escuridão, usando um isqueiro para se orientar, quando, repentinamente, um esqueleto revelado pela precária luz salta do breu. Na versão derradeira, o diretor faz questão de nos mostrar a cabeça do veado, exposta como troféu de caça no gabinete onde <i>Chris </i>é mantido em cativeiro. A cabeça será usada mais tarde, quando <i>Chris </i>recorrer à mesma para, com os chifres, empalar o neurocirurgião. Pois bem, o esqueleto que salta sobre o rapaz, na cena cortada, compõe um pesadelo do fotógrafo, e pertence, obviamente, ao veado morto cuja cabeça exposta o deixou tão impressionado. A segunda cena, vista em TV Spots à época do lançamento nos cinemas, reporta-se à abdução de <i>Dre Hayworth</i>, e exibe, claramente, uma misteriosa figura vestida como cavaleiro medieval, atacando o rapaz. A aparição sugere o papel mais ativo de <i>Dean </i>na abdução, pois, na casa dos <i>Armitage</i>, vemos uma armadura idêntica exposta na sala de estar. Existe uma terceira cena, jamais vista no cinema ou no trailer, que põe em xeque o caráter final de <i>Rose</i>. No filme, ela é claramente uma vilã. porém o diálogo, caso tivesse permanecido, teria levantado a importante questão de que até ponto livre arbítrio estava em jogo, no tocante a suas macabras ações. A cena se dá quando <i>Chris </i>procura a namorada na manhã seguinte à hipnose para lhe contar que <i>Missy </i>o induziu ao transe, contra a vontade. O momento excluído revolve o comentário da moça. Ela fala algo nas linhas de que a mãe fizera o mesmo a sua pessoa, quando criança, por causa de seu pavor em se apresentar nas peças escolares, e que, embora se recorde de ter sofrido de pesadelos horrendos por um tempo, de fato, a hipnose a livrou do medo de atuar nas peças. Se <i>Missy </i>foi capaz de submeter a filha à hipnose, por que não deixar um gatilho através do qual a manipulasse a fazer suas vontades, como tomar parte no sórdido segredo da família? O filme deixará perguntas, e talvez por não as ter respondido, o diretor esteja criando o mistério que deixará as pessoas falando a respeito de "<i>Corra!</i>" por muitos anos.</span><br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: arial;"><iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/DzfpyUB60YY/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/DzfpyUB60YY?feature=player_embedded" width="320"></iframe></span></div>
<span style="font-family: arial;"><span><i style="background-color: #eeeeee;">Todos os direitos autorais reservados a Blumhouse Productions. O uso do trailer & imagens é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i></span><br />
<span><i style="background-color: #eeeeee;"><br /></i></span>
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5X-k3E33bP83yGreqoaXyJsEUdzQSN5761oNPnJfmhNAyyHQfq6EanX_qsLRonzCSVdfCPRfUy9nvHAVU0W-SBhhId5BkosC96o75wG6uRrEV_ngKs3GC46EJwvzmKwjO3HAkyUA-9BY/s1600/The-void-movie-poster.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="671" data-original-width="445" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5X-k3E33bP83yGreqoaXyJsEUdzQSN5761oNPnJfmhNAyyHQfq6EanX_qsLRonzCSVdfCPRfUy9nvHAVU0W-SBhhId5BkosC96o75wG6uRrEV_ngKs3GC46EJwvzmKwjO3HAkyUA-9BY/s320/The-void-movie-poster.jpg" width="212" /></span></a></div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Um dos mais sensacionais filmes independentes fantásticos de 2016, "</span><i>The Void</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" é o primeiro lançamento em um bom tempo a render uma elegante, merecida homenagem a</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> </span><i>H.P. Lovecraft</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, o maestro do horror cósmico, inspiração para os maiores escritores & cineastas do século XX. Dirigido & escrito por</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> </span><i>Jeremy Gillespie</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">&</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> </span><i>Steven Kostanski</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, também autores do argumento, "</span><i>The Void</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" ganha febril vida na forma de um caleidoscópio de puro</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> </span><i>gore </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">e terror espacial que revisita os mais palpitantes temas da obra literária de</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> </span><i>Lovecraft</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, cujas adaptações para cinema usualmente transitam sobre a corda bamba da inconstância, gerando ou maravilhosos resultados, ou produtos aquém do esperado. Curiosamente, "</span><i>The Void</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" não adapta nenhuma obra específica do autor. Trata-se de um trabalho original dos diretores, todavia jamais existiria se não tivesse pegado emprestado o núcleo das terríveis, assombrosas ideias de</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> </span><i>Lovecraft</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, nos moldes do que</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> </span><i>Koji Shiraishi </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">fez em 2008, ao procurar inspiração para filmar "</span><i>Okarutu</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", outro trabalho pessoal fortemente assentado sobre filosofia</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> </span><i>lovecraftiana</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">.</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> </span><i>James </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">(</span><i>Evan Stern</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">), um jovem problemático e dependente de drogas, se atira para fora de uma cabine, em cuja porta resta pintado um misterioso símbolo em forma de triângulo, e corre em direção ao denso, escuro e assustador bosque, visivelmente apavorado. Em seguida, uma moça deixa a cabine. Ela não goza da mesma sorte do colega, pois é derrubada com um certeiro tiro nas costas. Seu corpo se torna uma bola flamejante depois que</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> </span><i>Vincent </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">(</span><i>Daniel Fathers</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">) e seu filho</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> </span><i>Simon </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">(</span><i>Mik Byskov</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">) lançam gasolina e um fósforo aceso sobre a garota.</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> </span><i>Vincent </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">observa o bosque, desgostoso, e decreta que</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> </span><i>James </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">não conseguirá chegar muito longe. A todo instante, o filho veste um olhar dolorido e preocupado, a expressão de alguém que não se acostumou a cenas tão brutais. À primeira vista, assumimos que pai & filho são homicidas impiedosos, pelo cometimento de tão terrível ato, porém as reviravoltas à frente nos apontarão que não ocorre consoante as primeiras impressões. Enquanto</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> </span><i>James </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">foge desesperadamente, ao longe, testemunhamos bizarras figuras metidas em capuzes, com pinceladas pretas na parte do rosto a lhes emprestarem uma simetria triangular idêntica ao símbolo na porta, assistindo à ação, sem se intrometer.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAodAuOXCIldk1LDEpgEWjZMWHYUZw8xaeQnR5PBDHmPwrz-TevRDPApBkkhFR8AF2IloZXH7mcvBjrLWUc6Ss_IR6AlgpH896J-8i6EWxMCvwL8DM9CUiGcG_K1pjHWw8gaQfniAuUyI/s1600/the-void-movie-still-9.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1357" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAodAuOXCIldk1LDEpgEWjZMWHYUZw8xaeQnR5PBDHmPwrz-TevRDPApBkkhFR8AF2IloZXH7mcvBjrLWUc6Ss_IR6AlgpH896J-8i6EWxMCvwL8DM9CUiGcG_K1pjHWw8gaQfniAuUyI/s320/the-void-movie-still-9.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjClukg1e1be8MxUEg6DhKGEzbx8HKgi2k5se4xeJ4ZMZnbyKr19VYP35bfr3TVCVuUzGjQpJ2j6BeEi7n_NDlPZ0DB8gj6Cb4rMdeuR1NzyKkJGJl4vvc8a707c52DS67Q_nD89HzBDV8/s1600/the-void-movie-still-8.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="555" data-original-width="1355" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjClukg1e1be8MxUEg6DhKGEzbx8HKgi2k5se4xeJ4ZMZnbyKr19VYP35bfr3TVCVuUzGjQpJ2j6BeEi7n_NDlPZ0DB8gj6Cb4rMdeuR1NzyKkJGJl4vvc8a707c52DS67Q_nD89HzBDV8/s320/the-void-movie-still-8.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Não muito distante dali, o policial rodoviário <i>Daniel Carter</i> (<i>Aaron Poole</i>, do excelente "<i>The Conspiracy</i>", já resenhado no blog) cumpre o cansativo turno noturno, à espera de qualquer ocorrência, dentro de seu automóvel, estacionado em uma das vicinais do bosque. A atendente da linha de emergência entra em contato. Para todos os efeitos, trata-se de mais uma noite sem novidades, em uma modorrenta cidade do interior, quando, subitamente, o policial dá por uma movimentação nas árvores mais à frente e, após melhor averiguação, percebe que se trata de <i>James</i>, o jovem fugitivo. Ele manda um sinal de rádio `a atendente e solicita informações sobre o melhor hospital nas redondezas. <i>Daniel </i>resolve levá-lo ao hospital de <i>Marsch County</i>, porque, caso contrário, o próximo no mapa demandará mais 20 minutos de corrida na pista, e ele não quer barganhar com a vida do rapaz. Há uma razão pela qual <i>Daniel </i>parece meio contrariado em aparecer no hospital de <i>Marsch County</i>, entenderemos seu motivo posteriormente.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiq3DrL74Lr3hCJjRfMYbs8O9c-YxH8xrb5lFP5By2X3bxoZyolLp4SNLGycJJH3gcUWLD0rQIjH3sVmieeV8EtyKatFa7Yw6H8gimSC2LCTM7RVeNiX0C2WKLN49vV3p_g1WkQ8B4QNQc/s1600/the-void-movie-still-10.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1353" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiq3DrL74Lr3hCJjRfMYbs8O9c-YxH8xrb5lFP5By2X3bxoZyolLp4SNLGycJJH3gcUWLD0rQIjH3sVmieeV8EtyKatFa7Yw6H8gimSC2LCTM7RVeNiX0C2WKLN49vV3p_g1WkQ8B4QNQc/s320/the-void-movie-still-10.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwzLDgeV0MSAkQFeSdpdJdL5Ce2v9KQPnItlwq3FC4F4IfvBFrH0UfO1MMolGECLwUFP7mFDclI4eUdUPrlKUoxXFOEZR1Dlgthyphenhyphen4DdiVijIOzxNT2YEwXO-S2ALXSuVxOqCfr-UnGyIA/s1600/the-void-movie-still-11.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1353" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwzLDgeV0MSAkQFeSdpdJdL5Ce2v9KQPnItlwq3FC4F4IfvBFrH0UfO1MMolGECLwUFP7mFDclI4eUdUPrlKUoxXFOEZR1Dlgthyphenhyphen4DdiVijIOzxNT2YEwXO-S2ALXSuVxOqCfr-UnGyIA/s320/the-void-movie-still-11.jpg" style="cursor: move;" width="320" /></span></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEih-iEp-6YEprASCl_2kmxySz5KJQtjM313sgVMTkvEGwsa9qVNEJwPZJXOo1cfhBNtcGfPqSZWAFqpy7Xpgh-S9HnfugUW-13tl9UrQkJna5oriTMQZ4rmmYK6MstIQK6xLusJ1Krfems/s1600/the-void-movie-still-12.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1363" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEih-iEp-6YEprASCl_2kmxySz5KJQtjM313sgVMTkvEGwsa9qVNEJwPZJXOo1cfhBNtcGfPqSZWAFqpy7Xpgh-S9HnfugUW-13tl9UrQkJna5oriTMQZ4rmmYK6MstIQK6xLusJ1Krfems/s320/the-void-movie-still-12.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">O movimento no saguão do hospital, mínimo, reflete a desolação e tristeza reinantes sobre o local. O lugar trabalha com uma staff mínima, porque, dentro em breve, a equipe médica e enfermeiras estarão de mudança definitiva para um prédio muito maior e melhor. O hospital foi vítima de um incêndio misterioso, alguns meses atrás, e a prefeitura achou mais conveniente realocá-los a um espaço mais apropriado. Caixas fechadas espalhadas pelos cantos da recepção e gabinetes robustecem a impressão de transitoriedade. Na recepção, o policial encontra as enfermeiras </span><i>Allison </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">(</span><i>Kathleen Munroe</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">) e </span><i>Beverly </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">(</span><i>Stephanie Belding</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">), que imediatamente cuidam de depositar o paciente sobre a maca. A staff trabalha sob a direção do brilhante Dr. </span><i>Richard Powell</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> (o veterano </span><i>character actor Kenneth Welsh</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, em extraordinária performance após uma longa carreira de papéis secundários), e conta ainda com o suporte da rebelde residente de Medicina </span><i>Kim </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">(</span><i>Ellen Wong)</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. Embora praticamente deserto, há ainda mais dois pacientes sob cuidados, </span><i>Cliff </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">(</span><i>Matt Kennedy</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">), um rapaz boa praça e simpático recuperando-se de uma cirurgia menor, e </span><i>Maggie </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">(</span><i>Grace Munro</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, em sólida atuação), uma moça grávida acompanhada do dedicado, bondoso avô, o Sr. </span><i>Ben </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">(</span><i>James Millington)</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQwN5mu558D53cqcF5xVe4sCoXq5qYHlFoQXJuMJ8COujCN6pk95gW9VW7Hgx8qcYTuifJGxR-mmJ7392e8FAtNEa9JPaU8oarZVxJNC51deoyozw6uW3i9rLjGHpubuzeiKVa8WE6_gU/s1600/the-void-movie-still-16.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1353" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQwN5mu558D53cqcF5xVe4sCoXq5qYHlFoQXJuMJ8COujCN6pk95gW9VW7Hgx8qcYTuifJGxR-mmJ7392e8FAtNEa9JPaU8oarZVxJNC51deoyozw6uW3i9rLjGHpubuzeiKVa8WE6_gU/s320/the-void-movie-still-16.jpg" width="320" /></span></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoSeeyub7GtcEd5qmL0WZX43Yaorp2_ZWxJvshKppOn6G8ZLtm2ycCVkeZ96b76VESCv_SpLpq7hegEveOo2nr9KZGnaKUvKa30_4qqcgsLMl2VGW7lk_p1P83SGirJadEGnU65ggfBzY/s1600/the-void-movie-still-15.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1351" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoSeeyub7GtcEd5qmL0WZX43Yaorp2_ZWxJvshKppOn6G8ZLtm2ycCVkeZ96b76VESCv_SpLpq7hegEveOo2nr9KZGnaKUvKa30_4qqcgsLMl2VGW7lk_p1P83SGirJadEGnU65ggfBzY/s320/the-void-movie-still-15.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>James </i>é conduzido para a emergência na maca. Em outro quarto, <i>Cliff </i>se distrai com o humor irreverente de <i>Kim</i>. Ela lhe mostra as fortíssimas imagens de livros de estudantes de Medicina. Para <i>Kim</i>, sangue faz parte do dia a dia, porém <i>Cliff </i>não tem um estômago igualmente forte, e nem arrisca espiar. Ele resolve cochilar um pouco. Há uma oscilação das lâmpadas do corredor, e a televisão, que exibe "<i>A Noite dos Mortos Vivos</i>" naquele horário, também varia entre a imagem do filme e faixas de ruído. Embora seja cedo demais para deduzir, há um peso sobrenatural projetando-se sobre as pobres pessoas no hospital. Na sala de espera, <i>Daniel </i>escuta ao extrovertido vovô vocalizar a expectativa pela chegada do neto. A comoção na sala de emergência chama a atenção de <i>Daniel</i>, que ao verificar a situação, encontra Dr. <i>Powell </i>debruçado sobre <i>James</i>, aplicando um sedativo que o colocará para dormir. O médico e as enfermeiras creem que <i>James </i>esteja passando por uma crise de abstinência. Marcas no braço indicam o apetite por agulhas, e seu estado agitado coincide com a sintomatologia de dependentes químicos. O rapaz finalmente adormece sob o efeito dos calmantes. <i>Daniel </i>percebe que sua camisa ficou um pouco salpicada de sangue. Quando ele vai passar álcool no tecido, dentro do almoxarifado, entendemos por que o rapaz procurou o hospital de <i>Marsch County</i> a contragosto. A enfermeira <i>Allison </i>vai ao seu encontro para ajudá-lo com a camisa, e, pela conversa, compreendemos que os dois foram casados em algum ponto. Uma separação prematura meio que deixou a história do casal em suspensão.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3qexXkoHoetljGaXtXFWdkVJYrro8xy9cv7HNNzuGxhLhWUGp601PTjbiiZK9-PjTGN6kTeHTnM-W8tzwts9NULFSBn8vnnaCE3NjpW6UUfBybIk2dLL93sHYd5xDagWxx11lnF7IcI0/s1600/the-void-movie-still-17.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1351" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3qexXkoHoetljGaXtXFWdkVJYrro8xy9cv7HNNzuGxhLhWUGp601PTjbiiZK9-PjTGN6kTeHTnM-W8tzwts9NULFSBn8vnnaCE3NjpW6UUfBybIk2dLL93sHYd5xDagWxx11lnF7IcI0/s320/the-void-movie-still-17.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMwM52t9AAO9DXRbl8sl1vTKjE46eF0hQAPLcJKMLqY4mlu_07ffNUDNf3cHtj2Bis1GtroM86N_1tZ0KoWQyEb1jrPj_CBtXlialKTQ-caxUHqG9OYQMjZ6EOuRbW1wFFArI-fdfNxAA/s1600/the-void-movie-still-18.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1355" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMwM52t9AAO9DXRbl8sl1vTKjE46eF0hQAPLcJKMLqY4mlu_07ffNUDNf3cHtj2Bis1GtroM86N_1tZ0KoWQyEb1jrPj_CBtXlialKTQ-caxUHqG9OYQMjZ6EOuRbW1wFFArI-fdfNxAA/s320/the-void-movie-still-18.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Dr. <i>Powell </i>surge para dar as últimas informações a respeito do paciente, e entra acidentalmente em cena. Depois que a enfermeira se escusa para ir buscar qualquer coisa, policial e médico têm a privacidade para dialogar melhor. <i>Powell </i>recomenda que <i>Daniel </i>exercite a paciência ao conversar com <i>Allison</i>. Pela fala do médico, aprendemos que foi pela trágica morte de um filho que os dois se separaram. Também descobrimos algo sobre <i>Powell</i>, vez que, tendo perdido a filha <i>Sarah</i>, ele dá conselhos com conhecimento de causa. Com a madrugada em curso e as coisas em aparente ordem, <i>Daniel </i>caminha pelo corredor da ala de pacientes, praticamente vazia, e se detém ao escutar um barulho vindo de um dos quartos. Ele encontra a enfermeira <i>Beverly</i>, de pé ao lado do leito de <i>Cliff</i>, e pergunta se a moça se sente bem. A enfermeira se vira, e revela o caos da cena: enfiou uma tesoura em um dos olhos do paciente, após usá-la para extirpar o próprio rosto como se o mesmo fosse uma máscara de limpeza. <i>Beverly </i>parece tomada por um surto psicótico. "<i>Esse não é meu rosto</i>", ela murmura, confusa, com um sorriso, "<i>Essa não sou eu!</i>". A enfermeira manipula a tesoura de um jeito que acusa a intenção de usá-la em <i>Daniel</i>. Lamentavelmente, o policial precisa efetuar um disparo para tirá-la da ofensiva, o que chama a atenção da equipe médica.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9USHhcBZnVyLwQQGgH8M8uCizE1z1Z-_3RmbGZYuCnDR8KRmVp9DzTWKGWJ-ZlRSLDzkLQ8A-4cZJ0cDqcE3z7602W8xFJ88piYZcBqyVisuLsecYPGvc0xgDdW4-2kXQZWXF5Ems_Wc/s1600/the-void-movie-still-13.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1353" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9USHhcBZnVyLwQQGgH8M8uCizE1z1Z-_3RmbGZYuCnDR8KRmVp9DzTWKGWJ-ZlRSLDzkLQ8A-4cZJ0cDqcE3z7602W8xFJ88piYZcBqyVisuLsecYPGvc0xgDdW4-2kXQZWXF5Ems_Wc/s320/the-void-movie-still-13.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVP77GpPGgDZzwr3I_Ttl7qgjgDqZyDPu3k2gwOaQUl1zxPQf3Fm8Wfxi9GWFyNK5YK67IvNIUER_uVb4J8kkSqn7S8ahG-fqfKEXlNZvmi4UuWsE3GQrC_6VkK7GBWfzaNJealp4Kfpg/s1600/the-void-movie-still-14.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1361" height="130" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVP77GpPGgDZzwr3I_Ttl7qgjgDqZyDPu3k2gwOaQUl1zxPQf3Fm8Wfxi9GWFyNK5YK67IvNIUER_uVb4J8kkSqn7S8ahG-fqfKEXlNZvmi4UuWsE3GQrC_6VkK7GBWfzaNJealp4Kfpg/s320/the-void-movie-still-14.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Daniel</i> procura se refrescar no banheiro, passa mal e desmaia. Há a intromissão de bizarras cenas que não parecem relacionadas à narrativa. Conhecedores da obra literária de <i>Lovecraft</i>, óbvia inspiração para este filme, interpretarão as tomadas de nuvens formando imagens esquisitas no céu e a superfície estéril e rochosa do que parece ser outro planeta como referências ao horror cósmico tão característico do mestre, sobre o qual tecerei comentários mais adiante. <i>Daniel </i>desperta com os chamados de <i>Allison </i>e Dr. <i>Powell</i>. Ele teve uma síncope. O patrulheiro <i>Mitchell </i>(<i>Art Hindle</i>, entusiastas de <i>Cronenberg </i>se recordarão dele como o pai divorciado de "<i>Os Filhos do Medo</i>") se encontra no átrio do hospital, para coletar informações sobre a confusão envolvendo <i>Beverly</i>. <i>Daniel </i>conta o ocorrido - a enfermeira assassinou <i>Cliff </i>com uma estocada de tesoura no olho, depois partiu para cima do policial, não lhe dando alternativas. <i>Mitchell </i>revela que algo estranho se encontra em curso na região, naquela noite. A vinte milhas ao norte, soube de um verdadeiro banho de sangue, e <i>James</i>, o visitante, parece envolvido na carnificina. Ele levanta a hipótese de o homem ter dado alucinógeno para a enfermeira, o que explicaria o modo como ela perdeu a cabeça, matou <i>Cliff </i>e atacou <i>Daniel</i>.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1LneDQIMqiVQUzDVjfQorOiRtfay85L0feuxPyhN6FnBByljiN_XLXzAL6GJQvWAabu42fZGF2BaavVxJ3LAxE3NgAIasjUhT4XhCgUVTXw5xtns_wVQcU4qbB_Lzhz1iY0OFx-wbu6Q/s1600/the-void-movie-still-19.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1355" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1LneDQIMqiVQUzDVjfQorOiRtfay85L0feuxPyhN6FnBByljiN_XLXzAL6GJQvWAabu42fZGF2BaavVxJ3LAxE3NgAIasjUhT4XhCgUVTXw5xtns_wVQcU4qbB_Lzhz1iY0OFx-wbu6Q/s320/the-void-movie-still-19.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQ17SJGcBXJEzgCBMyrXWyxV4p3piPuObd81uMcFUK43DyJM3UqHqIJapYPpHLN4wikiFe9RpOvNcclBZO00ptxsuUeFbLqdpLYqsPo7sJ7-vzQFKghPhYLtb0YHH_boD9Udjm0e7Vjfg/s1600/the-void-movie-still-20.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1355" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQ17SJGcBXJEzgCBMyrXWyxV4p3piPuObd81uMcFUK43DyJM3UqHqIJapYPpHLN4wikiFe9RpOvNcclBZO00ptxsuUeFbLqdpLYqsPo7sJ7-vzQFKghPhYLtb0YHH_boD9Udjm0e7Vjfg/s320/the-void-movie-still-20.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Ao tentar uma ligação para a delegacia, para chamar a perícia, </span><i>Daniel </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">estranha ao constatar o telefone mudo. Ele deixa o hospital momentaneamente, para procurar utilizar o rádio, que também não dá sinais de serviço. Ao olhar de forma casual na direção do bosque, </span><i>Daniel </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">enxerga uma pessoa sob capuz branco, semelhante a aquele visto no início do filme. Diante do silêncio do estranho, </span><i>Daniel </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">deixa o automóvel e lhe pergunta se pode ajudá-lo. Subitamente, ocorre uma queda generalizada de energia. Ao fundo, ecoa o ressoante, tétrico rumor de um berrante semelhante aos utilizados para tanger gado. O estranho saca um punhal e parte para cima do policial. Apesar de atingido em uma parte do ombro, </span><i>Daniel </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">consegue golpeá-lo, desvencilhar-se e buscar refúgio no lobby do hospital. Logo, outros membros do culto deixam a escuridão, e sob a luz cálida e amarelada dos postes, emergem, às dezenas. Ferido, </span><i>Daniel </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">perde a consciência e recebe atendimento ao desfalecer no chão. Dr. </span><i>Powell </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">e as enfermeiras precisam estancar a hemorragia no ombro. O policial sofre novas visões, a mais impressionante a de uma colossal movimentação no tecido esgarçado do céu estrelado.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLP_j7MnyW6_eSwxrHGVsT2T15XbPk5Zz_QqZd3ip2sPsm7UjtTpdRmm_I5FmFs27mzld709JXIhXPzQZwWloIwcbFTJ8PdPUuPvz9NTCvR1Baacz8PbTcgq70AQAGMGFI16I-d3oW66g/s1600/the-void-movie-still-21.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1357" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLP_j7MnyW6_eSwxrHGVsT2T15XbPk5Zz_QqZd3ip2sPsm7UjtTpdRmm_I5FmFs27mzld709JXIhXPzQZwWloIwcbFTJ8PdPUuPvz9NTCvR1Baacz8PbTcgq70AQAGMGFI16I-d3oW66g/s320/the-void-movie-still-21.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9z8VtDjfgFhNI5EzUK3JDr7K7u1VV5t4TaC7VmHDKEXoRRNb_WTWJzgiK6_6SiXVg7fYgDDEr5vXhB1bhMZDbQdHNocSDsIE4hvFl3YQhWthzBTx7DxsEUqvoi5dGC564aVBsrfpM9Hs/s1600/the-void-movie-still-22.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="563" data-original-width="1357" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9z8VtDjfgFhNI5EzUK3JDr7K7u1VV5t4TaC7VmHDKEXoRRNb_WTWJzgiK6_6SiXVg7fYgDDEr5vXhB1bhMZDbQdHNocSDsIE4hvFl3YQhWthzBTx7DxsEUqvoi5dGC564aVBsrfpM9Hs/s320/the-void-movie-still-22.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">O pesadelo só está por começar, e os gritos de desespero vindos do quarto onde </span><i>James </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">foi acomodado lançam o grupo numa corrida para examinar o ocorrido. Eles dão de cara com uma macabra cena, mais selvagem que seus piores pesadelos. Como suspeito de assassinato, o dependente químico foi algemado à grade da cama, e suplica que o libertem. A alguns metros da cama, do corpo de </span><i>Beverly </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">brotou uma coisa disforme e monstruosa. Não há como descrever a aberração, não se pode pontuar olhos, ou bocas, trata-se de uma coisa amorfa com tentáculos e tromba, crescida a partir do cadáver da enfermeira, agora pendurada ao monstro como mero anexo, praticamente uma casca inerte. </span><i>Daniel </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">quebra a grade da cama a chutes, liberta o rapaz e ordena que deixem o quarto. Ele encerra a porta e a chaveia com a esperança de mantê-la aprisionada. Com uma cotovelada, </span><i>Daniel </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">arrebenta a caixa de segurança e puxa o machado para incêndio. Ele explica a </span><i>Mitchell</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, sob a aterrorizante atenção dos demais, que precisam abrir caminho até seus carros, no estacionamento, para evacuar o lugar. Nisso, </span><i>Vincent </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">e o filho </span><i>Simon </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">aparecem esbaforidos, o homem de posse do rifle.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiY4BsLIuFdXtkVWC7KQq9sgIs4kZl1TvGjty8P0gCji89ydIsaAz_meFdcEgU2S0Yjj82vEncNKTApR0C7tY7zUhL7jKLo9iOCq77oKWXtjR1-v7dETMcAR0t6mkBv6B5tJKzfvJzNZzA/s1600/the-void-movie-still-23.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1361" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiY4BsLIuFdXtkVWC7KQq9sgIs4kZl1TvGjty8P0gCji89ydIsaAz_meFdcEgU2S0Yjj82vEncNKTApR0C7tY7zUhL7jKLo9iOCq77oKWXtjR1-v7dETMcAR0t6mkBv6B5tJKzfvJzNZzA/s320/the-void-movie-still-23.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6Ra7iIzLBr5BSmL3r6e6AAmkuoe6iWzuiAoj9VQDLLOGNf_uyjKfZmoFcLhAx_KSw6biRgW_Ox1QcQ57fgwog3h-AcYP6iXIS8PZS8FOw1ZLyQ54KQC4m_i47UB5wYfyMYnL1ongyf6Q/s1600/the-void-movie-still-24.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="565" data-original-width="1357" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6Ra7iIzLBr5BSmL3r6e6AAmkuoe6iWzuiAoj9VQDLLOGNf_uyjKfZmoFcLhAx_KSw6biRgW_Ox1QcQ57fgwog3h-AcYP6iXIS8PZS8FOw1ZLyQ54KQC4m_i47UB5wYfyMYnL1ongyf6Q/s320/the-void-movie-still-24.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Perante a intromissão de <i>Vincent </i>e <i>Simon</i>, <i>James </i>se vale da confusão generalizada para pôr as mãos no bisturi do médico e tomar a menina grávida como refém. <i>Vincent </i>o mantém sob a mira do rifle. Dr. <i>Powell </i>tenta negociar com o delinquente, mas acaba levando um golpe na jugular, um ferimento fatal. Ao fazer gestos exagerados com a mão armada, <i>James </i>dá oportunidade para que o Sr. <i>Ben </i>o segure pelo pulso e o desarme com um bem-lançado murro no maxilar. Enquanto o embate se dá no corredor, o monstro consegue mover a tranca do quarto para cima, e libertar-se. <i>Mitchell </i>não percebe o perigo a tempo, e a criatura o apanha por trás, enlaçando-o com os tentáculos. O patrulheiro é arrastado para uma sala escura, aos gritos, e pouco há a fazer. A monstruosidade, que preserva o cadáver da enfermeira morta como uma "<i>capa de chuva</i>", enfia os tentáculos, semelhantes aos de polvos, por todos os orifícios da pobre vítima. <i>Vincent </i>e <i>Simon </i>abrem fogo contra o monstro, e quando os tiros não funcionam, "<i>fatiam</i>" a fera a machadadas. Gosma jorra do corpo da besta enquanto a lâmina segue no sobe-e-desce, até deixar o monstro silente. Após a confusão, <i>James </i>é algemado junto ao corrimão, e o grupo tenta fazer sentido da loucura. <i>Daniel </i>e <i>Vincent </i>demoram a se entender, porque o policial não quer deixá-los fazer mal a <i>James</i>. Os dois visitantes parecem compreender a natureza do sobrenatural, mas a febre do momento deixa todos de cabeça quente, gerando intensas discussões.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Allison </i>preocupa-se com <i>Maggie</i>, porque a menina está em vias de parir, e o parto deverá ocorrer a qualquer momento daquela madrugada. <i>Vincent </i>exclama que consegue ouvir os berrantes mesmo a milhas do hospital. Os membros do culto ou já se posicionaram ao redor do hospital deserto ou estão a caminho para reforçar a vigília. Os sobreviventes atiram os restos da criatura sobre um carrinho e o empurram, em chamas, através do lobby, até a coisa cair no estacionamento. Reunidos em uma sala, eles se esforçam para chegar a um acordo. <i>Allison </i>aponta ao marido que os rapazes devem recuperar o carro, enquanto ela precisa visitar o depósito para reunir os itens necessários para realizar a cesariana. <i>Daniel </i>pede que ela aguarde sua volta para ir ao depósito. <i>Vincent </i>e <i>Simon </i>têm um rifle, mas nenhuma munição. O policial explica que se eles o ajudarem a vasculhar o carro, lhes fornecerá balas para o rifle. Os três partem em direção ao escuro estacionamento, intencionando alcançar o carro. Dentro do hospital <i>Allison</i>, <i>Kim </i>e o Sr. <i>Ben </i>ajudam <i>Maggie </i>a se deitar, e a cobrem com lençóis, por causa do frio.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1PlKEOpQSA9xN-mL8fT0YJDbb0mjutHX2Knwx5MRQ29TOq0FKyfRsFuV2sI7lYrBdPml0CZq5fwbqjr5mJJu81AuHh-ekqGu-Ioa4o7Oc8NIsS9eKR9-6TSR_noyLGHpWV7CTX51Bcqo/s1600/the-void-movie-still-28.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="565" data-original-width="1355" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1PlKEOpQSA9xN-mL8fT0YJDbb0mjutHX2Knwx5MRQ29TOq0FKyfRsFuV2sI7lYrBdPml0CZq5fwbqjr5mJJu81AuHh-ekqGu-Ioa4o7Oc8NIsS9eKR9-6TSR_noyLGHpWV7CTX51Bcqo/s320/the-void-movie-still-28.jpg" width="320" /></span></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3LgOtKOoFiImPGvl7uLbMA6hvH8MC0Wi3g5q0FUQy9bEQyurATGJrmEO6D3zGN5lUZVRwWWUR75ofoZPaQIHs_QY7wEwk6qlIu0shOfvfhnLdafFj6PoyjT45k22P-kubImPr8APzwqk/s1600/the-void-movie-still-29.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1357" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3LgOtKOoFiImPGvl7uLbMA6hvH8MC0Wi3g5q0FUQy9bEQyurATGJrmEO6D3zGN5lUZVRwWWUR75ofoZPaQIHs_QY7wEwk6qlIu0shOfvfhnLdafFj6PoyjT45k22P-kubImPr8APzwqk/s320/the-void-movie-still-29.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">À primeira vista, não há sinal dos integrantes do culto pelas vizinhanças, e enquanto <i>Daniel </i>vira o interior do automóvel de ponta-cabeça para juntar projéteis suficientes, <i>Simon </i>e <i>Vincent </i>recomendam pressa, do lado de fora, ambos de machados em mãos, na expectativa. No hospital, <i>Allison </i>descumpre sua parte no trato, e parte sozinha para o almoxarifado, para colher anestésicos e demais itens necessários à cesariana improvisada. A tomada da cena a mostra separando frascos, e, quando a moça se abaixa, acusa a presença de uma figura na porta, mais especificamente Dr. <i>Powell</i>, que, para todos os efeitos, tinha morrido ao tomar a facada no pescoço. Quando <i>Daniel </i>aciona o giroflex, a aquosa combinação de luz vermelha & azul deita-se sobre o culto, em massa, seus membros mais à frente do carro, pessoas de branco munidas de punhais. <i>Vincent </i>grita para que o policial trate de pegar o restante das balas para darem o fora dali. Um dos estranhos fere o garoto com uma punhalada na palma da mão, mas <i>Daniel </i>o derruba com um tiro de escopeta. Eles retornam para dentro, e o policial fica furioso quando <i>Kim </i>lhe conta que <i>Allison </i>não quis esperar e partiu sozinha para o almoxarifado.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGekMupFFeWnJ68egsbn0ZMflzE4NVLL9r55kbb0SEjKK2Ux3hZIYpDRWmqn8G3sWE7UVOIzmSNtKt10OCUonaDnOnZojhiOBBG190EK3A6YZRpTx39zKQ36n091X8h1dRG-fI2iMMg8Q/s1600/the-void-movie-still-25.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1361" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGekMupFFeWnJ68egsbn0ZMflzE4NVLL9r55kbb0SEjKK2Ux3hZIYpDRWmqn8G3sWE7UVOIzmSNtKt10OCUonaDnOnZojhiOBBG190EK3A6YZRpTx39zKQ36n091X8h1dRG-fI2iMMg8Q/s320/the-void-movie-still-25.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK19PRig7CwHHZkuEgEolaJQ9M1BN5rLsvq5-gBUsn2ZbU4oSDvmhJdM3HvHprtGD72PDUjRrw8lqHYIZbXmtuM1qeSQukQ4cbcGLLtxR9hT4O68C8p5pASOxwDskRJNkG2jmcKGa0LG4/s1600/the-void-movie-still-26.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1359" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK19PRig7CwHHZkuEgEolaJQ9M1BN5rLsvq5-gBUsn2ZbU4oSDvmhJdM3HvHprtGD72PDUjRrw8lqHYIZbXmtuM1qeSQukQ4cbcGLLtxR9hT4O68C8p5pASOxwDskRJNkG2jmcKGa0LG4/s320/the-void-movie-still-26.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><br />
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjV6eiNhatvABXrk-KX4NqufQSuEQBI24k6g9BbV-UsKsx_1wxs9YFVXUoZguV2YBklnGCyU5ZkSaabtskyJh36L3ayjK42AXTG9o5C0WVOW_kzzpHVfwjgqgHJXMWg3uZrIB-UJxHKdYk/s1600/the-void-movie-still-27.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1357" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjV6eiNhatvABXrk-KX4NqufQSuEQBI24k6g9BbV-UsKsx_1wxs9YFVXUoZguV2YBklnGCyU5ZkSaabtskyJh36L3ayjK42AXTG9o5C0WVOW_kzzpHVfwjgqgHJXMWg3uZrIB-UJxHKdYk/s320/the-void-movie-still-27.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Daniel</i> e <i>Vincent </i>partem juntos, munidos de lanternas, hospital adentro, para buscar <i>Allison</i>. Um hospital escuro sempre será inquietante em seu silêncio, imaginem sob as presentes circunstâncias! Os dois são atraídos por chamadas do telefone do gabinete do Dr. <i>Powell</i>, e pelo display, <i>Daniel </i>constata que a ligação vem de dentro do hospital, da ala do necrotério. Ao atender, escuta a voz de <i>Powell</i>, do outro lado da linha. Ele diz, com uma voz gutural "<i>Você enxergou algo, enquanto esteve apagado... pude perceber no momento em que voltou a si. Posso mostrar mais dessas coisas, se desejar. Sei que é difícil entender, Beverly também achou difícil, mas lhe asseguro, minhas intenções são altruístas. Você deseja tanto seguir as pegadas de seu pai, Daniel. Quer realmente segui-lo até onde ele foi? Eu entendo como o luto deixa as pessoas desesperadas, como na noite em que você trouxe Allison para mim, a vida dentro de seu ventre, desesperada para sair. Perder a minha filha também foi algo que me transformou... mas estou fazendo o necessário para reparar a perda. Você entenderá, em breve. Não se preocupe com Allison, Daniel. Eu a ajudarei. Eu ajudarei todos vocês</i>". Enquanto o monólogo se sucede, a câmera passeia pelo interior do gabinete, e vemos uma foto de <i>Powell</i>, cerca de uma década mais jovem, ao lado de uma menina muito magra, que presumimos ser sua filha morta. <i>Vincent </i>encontra fotos polaroide dentro de uma maletinha branca, e o conteúdo, de revirar o estômago, exibe revoltantes imagens de orgias envolvendo jovens em alguma espécie de culto satânico. Os cadernos de <i>Powell </i>indicam sua obsessão pelo oculto, pois há pentagramas e símbolos preenchendo folhas e mais folhas. Acima de qualquer suspeita, o importante cirurgião presidira o culto e promovera orgias e rituais satânicos escudado pela impressão de respeitabilidade e estatura social.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Daniel </i>carrega o rifle e se prepara para entrar até as vísceras do hospital para resgatar <i>Allison</i>. Antes de partir, entrega um revólver para a assustada <i>Kim</i>, e pede à moça para defender as vidas de <i>Maggie </i>e do Sr. <i>Ben </i>enquanto estiver ausente. <i>Vincent </i>e <i>Simon </i>passam a vista pelas macabras fotos polaroide, e lhes ocorre a ideia de arrancar a verdade, mesmo que à força, do viciado <i>James</i>, metido até o pescoço na sujeira (o rapaz aparece nas nauseantes fotos de bacanal). Sob a ameaça de surra, inclusive de ter um dos dedos da mão quebrado a marteladas, <i>James </i>revela o que sabe, e insiste na responsabilidade de <i>Powell</i>. Quando <i>Daniel </i>explica que mesmo após ter sido golpeado no pescoço o médico se encontra perambulando pelas entranhas do prédio, o viciado se desespera. Ele relembra as circunstâncias de como o conheceu. <i>James </i>era basicamente um andarilho vagabundeando pelas estradas do interior, movido pela loucura de consumir drogas, quando uma moça o abordou e o convidou a ir a essa boca de fumo onde encontrariam cristal a baixo custo. Ao chegar à boca de fumo, na verdade o sítio visto no começo do filme, <i>James </i>descobriu tarde demais que o lugar, chamado por Dr. <i>Powell </i>de "<i>igreja</i>", albergava orgias, e jovens consumiam drogas ininterruptamente sob a direção do médico, o "<i>sacerdote</i>", que ordenava sacrifícios e matanças para "<i>enriquecer</i>" os eventos. As pessoas se vestiam com robes brancos cujas faces, cobertas por capuz, exibiam o esquisito triângulo, a imagem tão recorrente ao longo do filme. <i>James </i>afirma, categórico: "<i>Eu não acredito no inferno, mas essa parada é muito pior! Eu vi pessoas se transformarem. Eu vi!</i>". <i>Daniel </i>o livra das algemas, e decreta que o rapaz os acompanhará na descida, para seu desgosto. Ele implora para que apenas tratem de fugir do hospital, mas o furioso <i>Vincent </i>o obriga a olhar através das janelas do lobby: o número de estranhos aumentou, eles agora tomam conta do perímetro completo do hospital.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Sabemos que o prédio sofreu um incêndio, meses antes, então o aspecto do porão causa grande opressão claustrofóbica. O quarteto precisa cruzar um emaranhado de corredores muito estreitos e empoeirados para atingir o necrotério. Eles desembocam em novas passagens que originalmente não compunham a planta do hospital. O local fora preparado clandestinamente para práticas satânicas. <i>Allison </i>desperta em uma maca do necrotério. Ela foi drogada de modo a não conseguir se mover, todavia escuta a voz distante de Dr. <i>Powell</i>, esterilizando instrumentos cirúrgicos na cuba. Mesmo no torpor, <i>Allison </i>pergunta como o médico pode estar ali, se ele foi morto. <i>Powell </i>expõe sua agenda secreta, basicamente uma missão movida pela depravação sem limites de conseguir, através do oculto, trazer a filha de volta ao mundo dos vivos. <i>Allison </i>servirá como conduto para o regresso, o "<i>portal</i>" entre o mundo dos vivos e dos mortos. Na sala onde <i>Kim </i>toma conta do Sr. <i>Ben </i>e da jovem grávida, a situação se deteriorou. Ela se vê a um sopro de entrar em processo de parto. Também nas vísceras do hospital, a turma se depara com uma porta marcada pelo triângulo ícone do culto luciferiano. Ao empurrarem a porta, os rapazes visitam um espaço semelhante a um açougue. O fedor é medonho. No necrotério, <i>Powell </i>segue se aprofundando nas suas teses para uma atônita <i>Allison</i>: "<i>Você sabe para onde vai, depois que morre? Eu sei. Você segue a viagem, renasce em outra coisa, como o lagarto ao se tornar mariposa. Até agora, eu só fui capaz de rastrear a mariposa dentro do casulo. O corpo precisa se ajustar, claro. Ele se adapta. Não fomos feitos para esse tipo de coisa. Eu admito, no começo, realizei erros. Alguns destes erros ainda se encontram nas entranhas do hospital, conosco. Para falar a verdade, meus 'erros' causaram o incêndio que quase destruiu o hospital. Você sabe... eles querem morrer, mas eu não vou deixar. Não chore, Allison, eu a ajudarei. Esse é o fim do ciclo de vida & morte. Você deseja este mundo, realmente? Este mundo que tirou teu filho de ti? Sabe o que aconteceu na noite em que você pariu? Cordão umbilical ficou preso, embolado ao redor do pescoço do bebê, em um nó cada vez mais apertado, até que ele não tivesse mais forças para lutar. Irônico, não? Que algo tão emblemático da ligação de vida entre mãe & filho tenha atuado como a forca que lhe custou a vida. A aleatoriedade do destino</i>".</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWunhU6nGi-2XN04AX8T0L_1zjsJKgkoB1Nv2rQXXjO1q0C5eR9tprzXauVaFBX6y0TAy77T3t0wlAf1OQXSek9H2PvzFla8ZwrbjdGVtuseK9bclJoIwtLYTWIbUGCummLrmLw6v2WB0/s1600/the-void-movie-still-4.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="967" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWunhU6nGi-2XN04AX8T0L_1zjsJKgkoB1Nv2rQXXjO1q0C5eR9tprzXauVaFBX6y0TAy77T3t0wlAf1OQXSek9H2PvzFla8ZwrbjdGVtuseK9bclJoIwtLYTWIbUGCummLrmLw6v2WB0/s400/the-void-movie-still-4.jpg" width="241" /></span></a></div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">No salão explorado pelo quarteto, as imagens são de puro vandalismo, irrestrita profanação. Pedaços de corpos presos por ganchos, depravação por todos os cantos. Há um número absurdo de gente morta espalhada por todas as direções. Repentinamente, os corpos sinalizam vida. Há um zumbi tentando inutilmente se matar, enfiando a cara em um cano, sem conseguir desligar. Mortos-vivos marcados pela deformidade deixam a escuridão e avançam contra os quatro aventureiros. </span><i>Daniel </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">e </span><i>Simon </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">se veem forçados a recuar, e retardam o avanço dos zumbis com fogo cerrado. </span><i>James </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">é pego e arrastado por uma coisa que se parece com uma tarântula, pois se movimenta de quatro, sobre pés & mãos. Dominado psicologicamente, </span><i>Vincent </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">caminha direto para uma fenda, uma passagem para outra dimensão, aparentemente. Enquanto isso, no lobby do hospital, </span><i>Kim </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">se vê forçada a realizar a cesariana, quando </span><i>Maggie </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">entra em trabalho de parto. Sr. </span><i>Ben </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">segura a residente pelos braços e grita para colocar um pouco de senso na sua cabeça, pedindo coragem, lembrando-a de que se não ir adiante com a cirurgia, a neta morrerá. Repentinamente, Sr. </span><i>Ben </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">tem a garganta retalhada por um golpe de bisturi, e, na cena mais memorável do filme, vai ao chão, revelando a neta </span><i>Maggie </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">às suas costas, com um sorriso histérico, quase como se tivesse atingido o nirvana. Diante de uma estupefata </span><i>Kim</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, </span><i>Maggie </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">expõe a verdade: Dr. </span><i>Powell </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">é o pai da criatura em seu ventre, concebida em uma das bacanais do culto. As luzes do gerador se vão, e o chamado do berrante chama a atenção de </span><i>Kim </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">para os encapuzados, agora no interior do hospital.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsI88n7Zq93KW6rho8MIzl7YNeuVt2S9e9QeY2cixF-Q66M8rAvd0ef-GrIqzvxbla734epNoa296hEsh6tNuzsEhrw8bYTUu-BDpTNndScAiID2WMdaruiccgc1UDme0ijc2PoBZzFUo/s1600/the-void-still-5.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1286" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsI88n7Zq93KW6rho8MIzl7YNeuVt2S9e9QeY2cixF-Q66M8rAvd0ef-GrIqzvxbla734epNoa296hEsh6tNuzsEhrw8bYTUu-BDpTNndScAiID2WMdaruiccgc1UDme0ijc2PoBZzFUo/s400/the-void-still-5.jpg" width="321" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Nas entranhas do hospital, </span><i>Simon </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">segue </span><i>Vincent </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">até uma cela recriada exatamente como a sala de estar da antiga casa, no tempo em que a mãe e a irmã estavam vivas. </span><i>Vincent </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">briga com o filho, por pouco não o estrangula, enquanto exige saber por que o rapaz não impediu a morte da mãe & irmã. O roteirista não se preocupou em esmiuçar o passado de </span><i>Vincent</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, porém podemos deduzir que o rapaz, </span><i>Simon</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, foi o elo fraco da família, aquele que, por ignorância, se meteu com o culto. Possivelmente, ao tentar romper com a seita, a perseguição dos satanistas tenha precipitado a morte de membros da família. </span><i>Vincent </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">cai em si e mantém as emoções sob controle. </span><i>Daniel </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">finalmente chega ao necrotério, e por um momento crê que </span><i>Allison </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">ficará bem, pois a encontra prostrada no leito, com os olhos marejados. A voz de </span><i>Powell </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">aviva o ambiente, e o policial se dá conta de que onde antes suas mãos se encontravam, a barriga de </span><i>Allison</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, agora existe somente um punhado de cinzas, e ao invés da bela mulher, uma monstruosidade de tentáculos, como um </span><i>híbrido </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">de polvo e tarântula, ocupando a cama numa posição obscena. </span><i>Powell </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">ataca a ferida emocional de </span><i>Daniel</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, e afirma que no dia em que </span><i>Allison </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">perdeu o bebê, enxergou alívio, e não pesar, nos olhos do policial. Determinado a abreviar o sofrimento da mulher/besta, </span><i>Daniel </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">finaliza sua vida a golpes de machado.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaF7CmT6dqTHiALg1i2D23S2F-zPoPRvQKQoBUEEpTRvNRP3KHA00Fh7SXQwyYQ4EMqDYaAC5yjFQ7Bn9-sUS3D1VVY4fsJC8wO102-yStQzRSZXirENowR-1Asyf22N4lcZMOJY0kItY/s1600/the-void-still-6.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1238" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaF7CmT6dqTHiALg1i2D23S2F-zPoPRvQKQoBUEEpTRvNRP3KHA00Fh7SXQwyYQ4EMqDYaAC5yjFQ7Bn9-sUS3D1VVY4fsJC8wO102-yStQzRSZXirENowR-1Asyf22N4lcZMOJY0kItY/s400/the-void-still-6.jpg" width="308" /></span></a></div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">A antessala do necrotério virou um ambiente estéril e escuro, como o interior de uma nave extraterrestre, ou o meio pelo qual a </span><i>Isserley </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">de "</span><i>Under the Skin</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" abduzia suas vítimas. Na parede, da folga entre a moldura do portal e a estrutura triangular, emana uma luminescência esbranquiçada que nos faz pensar na natureza do além. A voz onipresente de </span><i>Powell </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">apregoa seu desafio a Deus: "</span><i>Passei a vida resistindo à morte, mas agora entendo. Eu devo abraçá-la. Terei minha bela filha Sarah de volta. Só preciso cuidar de um último detalhe</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". </span><i>Daniel </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">não tem como evitar a facada desferida por </span><i>Maggie</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, que o acerta nas costas. Ela rasteja até o altar onde Dr. </span><i>Powell </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">ressurge, como um sacerdote pervertido, cuja aparência evoca a dos cenobitas fetichistas de "</span><i>Hellraiser</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". O policial vai ao chão e assiste aos desdobramentos da sinistra cerimônia. </span><i>Powell </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">convida a moça a se juntar a ele no altar, e </span><i>Maggie </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">se ajoelha aos seus pés. Ele abre as mãos em direção à passagem e exclama "</span><i>Observe o abismo se abrir diante de mim</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". Entoando dizeres de encantamento em uma língua estranha, </span><i>Powell </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">move a passagem e exibe o grande "</span><i>vazio</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" do outro lado, uma enormidade de luz branca que ofusca a vista. Ele deposita a mão na cabeça de </span><i>Maggie </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">e a moça entra em definitivo trabalho de parto. </span><i>Powell </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">decreta que sua filha </span><i>Sarah </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">viverá pelo ventre de </span><i>Maggie</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCq_y9hEe-8d_eTn8i8yaRU4Jtt8WS1tYepbCTdhs5WphyAzrWX6QqtpH-Lv2Svwgv6w70SfKZc1r5TQx0K-Kpaee7YPZldOhKH7K5ZsRzdUJ0uDT6YhUBV3mRzQkRfwK9fGWb55w4ogk/s1600/the-void-still-7.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1276" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCq_y9hEe-8d_eTn8i8yaRU4Jtt8WS1tYepbCTdhs5WphyAzrWX6QqtpH-Lv2Svwgv6w70SfKZc1r5TQx0K-Kpaee7YPZldOhKH7K5ZsRzdUJ0uDT6YhUBV3mRzQkRfwK9fGWb55w4ogk/s400/the-void-still-7.jpg" width="318" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Uma besta horrenda, semelhante a um búfalo melado, rasga furiosamente a barriga da moça e emerge do útero, embebida em sangue e gosma. Assim como ocorreu à </span><i>Beverly</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, </span><i>Maggie </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">permanece conectada à monstruosidade como um "</span><i>apêndice</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" primitivo, um trapo a ser arrastado. </span><i>Vincent </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">surge com o rifle e abre fogo contra a criatura. Ela o derruba com patadas, e embora </span><i>Vincent </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">conte com o suporte de </span><i>Simon</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, é fatalmente apanhado pela besta, que o impala no peito com as trombas. Ele se banha em gasolina, e grita para que o filho lance o sinal luminoso, o que fatalmente os imolará - homem & besta - no fogo. Com o sacrifício, </span><i>Vincent </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">perde a vida, mas também leva consigo a "</span><i>filha</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" de </span><i>Powell</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. </span><i>Simon </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">consegue fugir do necrotério através do duto de ventilação. Ele e </span><i>Kim </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">serão os únicos a deixar o hospital com as vidas. Gravemente atingido, </span><i>Daniel </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">decide usar suas últimas forças para acabar com </span><i>Powell</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, de pé diante do portal, falando sobre estrelas alinhadas e sabedoria cósmica. O policial o atinge com um golpe no ombro, e enterra a lâmina com tanta força que expõe o úmero. Usando o peso do próprio corpo, </span><i>Daniel </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">lança-se contra o médico, e ambos atravessam a passagem, rumo ao "</span><i>outro lado</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". Em um desfecho que como nenhum outro retrata graficamente a obra literária de </span><i>H.P. Lovecraft</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, criador do mito de "</span><i>Cthulhu</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" e da ideia de seres extraterrestres tomando residência no nosso planeta, o filme termina com uma épica tomada panorâmica de </span><i>Daniel </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">e </span><i>Alysson </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">reunidos em uma realidade alternativa, um mundo sombrio, deserto, uma espécie de "</span><i>Egito alienígena sob sombras eternas</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" sobre o qual paira uma monolítica pirâmide alienígena, e tetraedros se pronunciam por trás das costas dos promontórios.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtpKp7BhgGOZxdDqC7J9x72ulPgKEUQpGMoq3PHKS8fVK5O98f2Z0Ax_xqg3RrOqdpMRrwb5VFUQ117AtYZm6Wm77WzG5IKOiNHgX-zLUy2uyF2lUDKKx49wqyRCHKToz-Ff0iMLNW0Y0/s1600/the-void-poster-do-filme-2.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="1500" data-original-width="1012" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtpKp7BhgGOZxdDqC7J9x72ulPgKEUQpGMoq3PHKS8fVK5O98f2Z0Ax_xqg3RrOqdpMRrwb5VFUQ117AtYZm6Wm77WzG5IKOiNHgX-zLUy2uyF2lUDKKx49wqyRCHKToz-Ff0iMLNW0Y0/s320/the-void-poster-do-filme-2.jpg" width="215" /></span></a></div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Para quem cresceu nos anos 80, na época das "<i>locadoras de bairro</i>", esta grata, bem-vinda surpresa "<i>abrirá o portal</i>" para aqueles dias tão afastados no passado, devolvendo-nos às noites de filmes de terror, quando fitas de vídeo empoeiradas ainda preservavam mistério, e das mínimas coisinhas tirávamos alegria. Há muito não se vê algo como "<i>The Void</i>", temática & estilisticamente. O único cineasta ainda na ativa cuja obra confunde-se tão significativamente com o trabalho literária de <i>H. P. Lovecraft</i>, <i>Stuart Gordon</i>, lançou seu último longa inspirado no mestre há mais de quinze anos, com a excelente coprodução espanhola "<i>Dagon</i>", vista por poucos, basicamente de exclusivo conhecimento de um nicho mais sofisticado. Desde 1985, todavia, o diretor tem tentado transpor para as telas as ocasionalmente infilmáveis ideias do mestre. Sua atração pela fantasia <i>lovecraftiana </i>começou em 1985, com "<i>Re-Animator</i>", e prosseguiu, nos anos seguintes, com uma variedade de produções de baixo orçamento recebidas com opiniões acirradas dos críticos, como "<i>Do Além</i>" (1986) & "<i>Castle Freak</i>" (1995). Mesmo depois de se aventurar no cinema com a adaptação das obras de <i>Lovecraft</i>, <i>Gordon </i>ainda tentou traduzir o peculiar horror do romancista, não para o cinema, mas para a TV, com "<i>Dreams in the Witch House</i>", curta-metragem rodada para a série da Starz Media, "<i>Mestres do Horror</i>". Outros cineastas especializados também toparam a dificílima empreitada de recriar em imagens & sons os tão abstratos delírios <i>lovecraftianos</i>, com destaque para <i>Dan O'Bannon</i>, o diretor do maravilhoso "<i>The Ressurected</i>", de 1991, estrelando <i>John Terry</i>, <i>Chris Sarandon</i> e <i>Jane Sibbett</i>, adaptação do conto "<i>The Case of Charles Dexter Ward</i>". Curiosamente, se analisarmos individualmente estas obras, observaremos que nenhum diretor arriscou uma adequação literal das tramas <i>lovecraftianas</i>. No caso de <i>Gordon</i>, em suas incursões, ele tomou emprestado "<i>pedaços & partes</i>" de distintas ideias originárias de dois ou três contos e, através da adição de ingredientes e da experimentação com os resultados, todos derivados da vasta, febril mente de <i>Lovecraft</i>, temperou construções cinematográficas que mais ou menos traduziam uma parte de suas obsessões. Bem-intencionado e talentoso, <i>Gordon </i>pecou, a meu ver, pelo exagero que imprimiu aos filmes ao exacerbar o <i>gore</i>, deixando de lado a elegância, pilar da prosa do escritor. Pelas transposições do trabalho de <i>Lovecraft </i>para as telas, aprendemos duas importantes lições. Primeira lição, como a adaptação literal dos conceitos beira as raias do impossível, se analisarmos as versões cinematográficas, anotaremos que os diretores sempre aproveitaram outros conceitos do mestre, e, munidos de liberdade criativa, suavizaram-nos, tornando as tramas passíveis de captura pela lente. <i>Lovecraft </i>não foi o único autor cujas obras, quando filmadas, foram submetidas a um processo de "<i>recriação</i>", de preparação para outro tipo de mídia, mais avesso a propostas tão inflamatórias: o mesmo fenômeno acontece a <i>Edgar Allan Poe</i>, outro nome sagrado da literatura, cujos trabalhos continuam a inspirar os românticos, os melancólicos e os entusiastas do horror gótico. O escritor, um homem atormentado de cuja mente brotavam as mais tenebrosas ideias, mas contraditoriamente possuía a sensibilidade e bondade para amar os animais, mais especificamente adotando gatos de rua com que abarrotava a capacidade de seu humilde apartamento, morreu a 7 de outubro de 1849, crê-se, vejam só, de raiva virótica, e deixou um conjunto de obras que, ao longo dos séculos, infundiu de paixão um riquíssimo portfólio, desde séries brasileiras como "<i>Contos do Edgar</i>", a filmes dirigidos por luminares do gênero, como <i>Dario Argento</i> & <i>George Romero</i> ("<i>Dois Olhos Satânicos</i>") e o próprio <i>Stuart Gordon</i> ("<i>O Poço & O Pêndulo</i>"). Em "<i>Dois Olhos Satânicos</i>", por exemplo, <i>Romero </i>e <i>Argento </i>adaptaram para o mundo contemporâneo o universo dos contos "<i>The Facts in the Case of Mr. Valdemar</i>" e "<i>The Black Cat</i>", e, no último caso, <i>Argento </i>agregou à trama elementos de outros contos, "<i>Berenice</i>" e "<i>The Fall of the House of Usher</i>". No que importa a estes dois grandes escritores, portanto, qualquer versão cinematográfica representará visões particulares filtradas da argamassa, da superestrutura dos trabalhos reduzidos a termo e sacramentados nos cânones da dramaturgia dos séculos XIX e XX. Lição n°2, surpreendentemente, o melhor caminho para honrar o legado destes dois grandes nomes consiste no expediente da "<i>reimaginação</i>", ou melhor, no ato se desapegar dos textos e dar asas à imaginação, utilizando-os como ponto de partida, mas se afastando da literalidade das folhas de papel. Os cineastas devem se voluntariar a retomar os delirantes sonhos de onde foram deixados pelos pensadores originais, para aí sim rodarem os filmes que bem entenderem. Neste sentido, não filmariam página por página, entretanto, não haveria melhor presente aos mestres do que lhes apresentar novas visões decorrentes de seus pesadelos pessoais. Os cineastas e artistas mais interessantes de nossa época, como <i>David Cronenberg</i> e <i>Clive Barker</i>, beberam da fonte, e trabalharam em cima da centelha deixada por <i>Poe </i>& <i>Lovecraft</i>. Foi assim que os cineastas <i>Steven Kostanski</i> & <i>Jeremy Gillespie</i> criaram "<i>The Void</i>", uma joia rara e um dos melhores filmes de horror dos últimos cinco anos, que embora gerada da mente de seus diretores, traz em si encrustada a mitologia <i>lovecraftiana</i>.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6p88eM5HjtRxmjwh7P_2iH6xKvNGkuhiKpf-QaOG637rtennCyyTM5_HJ1sOj3ZNwvLSrIAlDICRLnt7me8UlCxNf2a0_IdcCi78CvUdluI-El3XbPS3kXNccOIR7AfFj8kGf_nwAkeQ/s1600/autor-hp-lovecraft.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="412" data-original-width="620" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6p88eM5HjtRxmjwh7P_2iH6xKvNGkuhiKpf-QaOG637rtennCyyTM5_HJ1sOj3ZNwvLSrIAlDICRLnt7me8UlCxNf2a0_IdcCi78CvUdluI-El3XbPS3kXNccOIR7AfFj8kGf_nwAkeQ/s320/autor-hp-lovecraft.jpg" width="320" /></span></a><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" style="font-family: arial;">"<i>A mais antiga e poderosa emoção do ser humano é o medo, e o mais antigo e poderoso tipo de medo é o do desconhecido</i>", escreveu <i>Lovecraft</i>, o legítimo sucessor de <i>Edgar Allan Poe</i> como mestre do macabro, e um homem cuja sofrida vida pessoal em muito espelhou a caótica arte do terror antropológico. Tendo perdido o pai na infância, <i>Lovecraft </i>conheceu intimamente os horrores das "<i>doenças da alma</i>" desde cedo, já que o pai lutou por boa parte da vida com a esquizofrenia, a mãe veio a desenvolver a condição, e o próprio <i>Lovecraft</i>, na infância, teve o desenvolvimento escolar sabotado por longos períodos de distanciamento engatilhados por colapsos emocionais, requentados por aguda depressão. Sentindo-se alienado de seu meio, ele veio a lapidar a temática que perduraria nos seus contos, através da proposta de um horror indiferente à luta entre <i>Bem </i>v. <i>Mal</i>. Para <i>Lovecraft</i>, <i>Cthulhu</i>, <i>Azathot </i>& Yog-<i>Sothoth</i>, deuses mais antigos do que o tempo, integrantes dos complexos cânones nascidos da mente do romancista, nos observam, de fora, com curiosidade, casualmente expondo suas horrendas caras para denunciar a inutilidade da empreitada humana na busca pela lógica, vez que da desordem tudo veio, e à desordem voltará, sem sobreaviso. <i>Lovecraft </i>tinha fascínio incomum pela astronomia, o estudo das estrelas, e os "<i>insondáveis mistérios do cosmo</i>" (termo utilizado na sua melhor história, a magistral "<i>A Cor que veio do espaço</i>"). Nas tramas, apreciava criar personagens estudiosos compromissados com a cerebral, enlouquecedora missão de descrever e desvendar a natureza das coisas. <i>Guillermo del Toro</i>, diretor de "<i>O Labirinto do Fauno</i>", discorre muito bem sobre sua singularidade, ao arrazoar que <i>Lovecraft </i>foi o primeiro escritor a forjar "<i>uma escala pela qual se pode mensurar a pequenez do homem diante do cosmo</i>". Quando eu escrevi, no parágrafo acima, que o melhor <i>approach </i>ao mestre se dá pelo caminho da imaginação, ilustro o meu ponto citando "<i>Okarutu</i>", de <i>Koji Shiraishi</i>, resenhado no blog, em artigo cuja leitura recomendo. Ali, no filme de <i>Shiraishi</i>, testemunhamos em primeira mão a revolução de perene movimento pela qual a realidade como a conhecemos, particularmente a paisagem de um dos mais celebrados pontos turísticos do Japão, o cruzamento na estação de trem de Shibuya, coexiste com uma outra dimensão, visível só a olhares mais sensíveis, uma outra existência, habitada por sombras gigantescas semelhantes a lulas voadoras e malevolentes, em suspensão no meio amorfo e abstrato superposto ao céu. `A lógica, portanto, não cabe a importância dada, porque o olhar racional jamais capturará a envergadura enlouquecedora da natureza das coisas. A lógica não passa de um soluço de equilíbrio, prestes a ser sufocado. No pináculo de suas colossais dimensões, os deuses de impronunciáveis nomes encapsulam um universo cujas miríades encontram-se além da compreensão do "<i>cérebro órgão</i>", mas talvez dentro dos segredos da glândula pineal ("<i>From Beyond</i>"), proposta anos-luz dos fantasmas escritos pelos seus contemporâneos, que, pessimistas que o fossem, reservavam uma importância à redenção, recurso absolutamente ausente, estranho ao tom implacavelmente niilista das obras do mestre do macabro. <i>Lovecraft </i>também foi o precursor da "<i>politização</i>" de suas criaturas, uma atenção posteriormente emulada pelo grande <i>Clive Barker</i>, o homem que adora humanizar seus monstros e escrevê-los (ou filmá-los) nos seus ângulos mais mundanos e reveladores, como o olhar sabedor que atravessa o rosto da monstruosidade assim que ela prova uma taça de champanhe, apenas horas após ter emergido de uma poça de sangue, lutado e drenado um pobre doente mental agonizante por causa de maciça hemorragia, sobre um colchão, em "<i>Hellbound: Hellraiser II</i>", ou o deleite com que <i>Frank</i>, a criatura sem pele, clandestina no sótão, "<i>esquenta</i>" a fumaça do cigarro nos pulmões com uma elegante tragada, na escuridão, enquanto a amante lhe fornece cadáveres de homens executados a marteladas. Força de um "<i>atavismo intelectual</i>", <i>Barker </i>e <i>Cronenberg </i>sobrelevavam-se como última fronteira para as obsessões <i>lovecraftianas</i>, tochas tremulantes de criativo talento, intimidadas por uma implacável noite escura, marcada pela "<i>ascensão dos medíocres</i>", do "<i>horror dos multiplexes</i>". Após muitos anos de apatia, período dentro do qual os gênios silenciaram (Quando <i>Barker </i>dirigiu pela última vez? Para onde foram os cenobitas fetichistas de "<i>Hellraiser I&II</i>"? Quando <i>Cronenberg </i>perdeu a sedutora "<i>melancolia cronenberguiana</i>", o entusiasmo pelo<i> body-horror</i>, e se conformou em virar uma espécie de "<i>James Ivory dos pobres</i>", com o volúvel "<i>Um Método Perigoso</i>"?), destemidos surgiram do anonimato como novos guerreiros do horror clássico. Nos últimos anos, acompanhamos o nascimento de <i>Mickey Keating</i> ("<i>Darling</i>", "<i>Psychopaths</i>"), <i>Ben Wheatley</i> ("<i>Kill List</i>"), e <i>Kolsch </i>& <i>Widmeyer </i>("<i>Starry Eyes</i>"). Agora, <i>Kostanski </i>& <i>Gillespie </i>se voluntariaram para levar adiante as chamas do terror gótico com "<i>The Void</i>", o filme que não se baseia em conto algum de <i>Lovecraft</i>, mas deixaria o mestre orgulhoso do imaginário que sua pena convidou os jovens de hoje a arquitetar.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span style="background-color: white; color: #333333;">Escaldados na célebre, proporcionalmente inversa regra da "<i>qualidade de perfumes & tamanho de frascos</i>", </span><span style="background-color: white; color: #333333;"><i>Kostanski </i>& <i>Gillespie </i>procederam com muita cautela nos vários departamentos envolvidos na produção do filme, e, felizmente, escolheram o caminho mais difícil, ou seja, reduziram manipulação digital a um mínimo, voltando-se aos efeitos especiais perpetrados "<i>na raça</i>"</span><span style="background-color: white; color: #333333;">. "<i>The Void</i>" rompe com o expediente dos efeitos especiais via CGI, calcanhar de Aquiles da maioria das produções no cinema atual, e <i>Stefano Beninati</i>, o supervisor, cria mágica às custas de suas maravilhosas armaduras, reminiscentes dos monstros de "<i>O Labirinto do Fauno</i>", apenas um pouco mais grotescas, vez que, no filme de <i>del Toro</i>, as criaturas exibiam um certo nível de requinte e senso moral, e no de <i>Kostanski </i>& <i>Gillespie</i>, a "<i>poesia da carne</i>", incongruente e desbalanceada, basta para depor a favor da fortuidade do universo, do desprezo com que o mesmo lança os dados da sorte. Tendo dispensado efeitos em CGI, os diretores de "<i>The Void</i>" criaram uma obra na veia dos horrores <i>lovecraftianos </i>mais datados de <i>Stuart Gordon</i>, tipo "</span><i style="background-color: white; color: #333333;">Re-Animator</i><span style="background-color: white; color: #333333;">" e "</span><i style="background-color: white; color: #333333;">Dagon</i><span style="background-color: white; color: #333333;">". A execução, a "</span><i style="background-color: white; color: #333333;">impressão</i><span style="background-color: white; color: #333333;">" do fantástico no celuloide me lembram a proficiência do time técnico por trás de "</span><i style="background-color: white; color: #333333;">Hellbound: Hellraiser 2</i><span style="background-color: white; color: #333333;">", responsável por imagens verdadeiramente perturbadoras executadas com a maestria dos velhos mágicos, absolvidas da artificialidade dos computadores. "<i>The Void</i>" não nos poupa de cenas ensandecedoras de absoluta escatologia, onde monstruosidades com gânglios e trombas movem-se com o auxílio de tentáculos, e enquanto procuramos compreender a natureza, a espinha dorsal da origem da coisa, perguntando-nos se mais se assemelham a monstros do abismo do mar ou algo mais ostensivamente satânico, daquela massa disforme de caos chegam os gritos que mais se parecem ao berreiro de criança pequena, uma contradição que realça o absurdo da coisa, ou, como preferiria <i>H.P. Lovecraft</i>, a total irracionalidade sobre a qual fundamos nossas vidas sob a vã expectativa de segurança e longevidade. Tão importante quanto aquilo mostrado explicitamente é a mitologia que sustenta o <i>mise-en-scène</i>. <i>Lovecraft </i>criou uma das mitologias mais intrigantes e duradouras da literatura, e o testemunho da longevidade da mesma se observa no merchandising que se faz hoje em dia em torno de figuras como a de <i>Cthulhu</i>, estampado em camisas, poster, bonés, e bonecos, entre outros. Quando escreveu "<i>The Hellbound Heart</i>", dirigiu "<i>Hellraiser</i>" e produziu "<i>Hellbound: Hellraiser II</i>", <i>Clive Barker</i> também bolou uma mitologia para os cenobitas na forma do labirinto (<i>fotos</i>), evocando uma sensacional intimidade que, uma vez vendidos os direitos autorais para produtores americanos, custou à franquia a identidade. Costumo afirmar que só há dois "<i>Hellraiser de Clive Barker</i>", o primeiro e o segundo, onde palpitam os fetiches, o masoquismo, e o drama da paixão não-correspondida, tão ou talvez até mais singular `a alma do projeto do que meramente as figuras dos cenobitas. Sob a benção de <i>Barker</i>, <i>Peter Atkins</i>, o roteirista de "<i>Hellraiser 2</i>", estendeu o escopo do filme anterior, e descortinou um labirinto a perder de vista, sobre o qual paira o monólito em forma de gigantesco diamante, a girar indiferentemente. Trata-se de <i>Leviatã</i>, o "<i>Deus da Carne, Fome & Desejo</i>", na definição dada por <i>Julia</i>, às portas do abismo do inferno. Também autores do roteiro de "<i>The Void</i>", <i>Kostanski </i>& <i>Gillespie </i>foram responsáveis por um feito monumental, porque, se levarmos em consideração que no caso de "<i>Hellbound: Hellraiser II</i>" <i>Peter Atkins</i> foi poupado de criar um background, tarefa já levada a efeito com louvor no primeiro filme de <i>Barker</i>, para se voltar apenas à concepção de uma mitologia, anotaremos que os dois diretores realizaram duas grandes conquistas, em simultâneo, pois imaginaram um background ao mesmo tempo em que nos abriram uma pequena janela para que flertássemos com a mitologia, não escancarada, mas sempre presente. Em ambos os filmes, encontraremos homens cultos obcecados com outra dimensão. Em "<i>Hellbound: Hellraiser II</i>", Doutor <i>Channard</i>, vivido competentemente pelo veterano <i>Kenneth Cranham</i>, esconde, por trás da fachada de requinte e elegância, a perseguição por assuntos sobrenaturais, tendo priorizado seus interesses a um nível quase religioso. Por mais que a lógica se encontre impressa nos alfarrábios a abarrotarem a escrivaninha e as paredes do gabinete (chamado, por Atkins e o diretor <i>Tony Randel</i>, de "<i>obsession room</i>"), o britânico fleumático anseia por dar um passo em direção ao abismo ("<i>I have to see, I have to know</i>", <i>Channard </i>diz docemente à <i>Julia</i>, afagando-a no rosto com candura). Dr. <i>Powell </i>esconde fotografias em polaroide de orgias satânicas; Dr. <i>Channard</i>, recortes de jornais ou artigos científicos, onde se lê coisas como "<i>Is death the fourth dimension?</i>" & "<i>Children of the vortex</i>". A primeira cena de <i>Channard</i>, quando comanda uma cirurgia cerebral ao mesmo tempo em que faz uma preleção aos estudantes de Medicina - "<i>Nós podemos trazê-los (pacientes psiquiátricos) de volta, mais frequente do que a ortodoxia científica possa levar a crer, senhoras e senhores. E o bisturi, longe de ser o inimigo da análise, é usualmente seu melhor aliado em resolver o quebra-cabeças da psicose. Análise isola e massageia. Cirurgia pontua e corrige. Agora, neste caso. Uma psicose enrustida, severa o suficiente para produzir aterrorizantes e frequentes ataques de histeria. 'Incurável', diriam alguns. Nada disso. Análise isola. Bisturi expõe. Medicamento controla. E então, senhoras e senhores, nós reconstruímos. Com todo o cuidado e conhecimento que nossos anos de treinamento nos deram... nós os trazemos de volta!</i>" - repercute em "<i>The Void</i>" através da voz gutural de Dr. <i>Powell</i>, enquanto a câmera segue executando uma movimentação em trilhos, uma perfeita técnica de <i>travelling</i>, invadindo vagarosamente as entranhas do hospital deserto, ao tempo que <i>Powell </i>vai vocalizando sua real agenda ao protagonista <i>Daniel </i>através de uma ligação telefônica. Coincidem, também, as escolhas para ambientação das tramas em hospitais onde pressupõe-se a predominância da lógica do homem congruente</span><span style="background-color: white; color: #333333;">, todavia em cujas galerias segredos vis e diabólicos só esperam para emergir, e nada poderá detê-los quando o caldo transbordar. Dr. <i>Channard </i>escondia os pacientes mais atormentados dos olhares curiosos estocando-os no subterrâneo, mais tarde as pobres almas seriam utilizadas pelo médico como sacrifício para <i>Julia</i>; Dr. <i>Powell </i>conduzia missas satânicas no porão do hospital, e entre seus bens pessoais, a maleta escondia as fotografias em polaroides reveladores de sua vida dupla. Os dois homens da ciência exploravam e destruíam almas vulneráveis. <i>Channard </i>mandou para a morte dezenas de pacientes incapazes de se defender, e <i>Powell </i>se valeu do desespero de jovens problemáticos para se aproximar de seu intento. Os dois cirurgiões reservam aos hospitais o papel de templo, de escada para o alcance da vida eterna, não uma vida eterna galgada pelo mérito das virtudes, e sim uma outra, barganhada pela intercessão do profano, com seus macabros atalhos. Neste diapasão, para <i>Clive Barker</i>, mais lhe interessava a jornada, o destino vinha em segundo plano. Em "<i>Hellraiser I&II</i>", a manipulação da configuração do lamento fazia mais do que "<i>convidar</i>" os cenobitas. O quebra-cabeças não representava apenas o mapa para se chegar aos cenobitas, a configuração era a própria estrada, o atalho, para se alcançar o destino desejado. Em "<i>The Void</i>", especificamos a mesma personalidade obcecada pelas minúcias do oculto na figura de Dr. <i>Powell</i>, cujo portal para a outra dimensão é precedido pelo mesmo tratamento, pelo incansável estudo e intensa paixão semelhantes aos reservados por <i>Channard </i>à caixa, em "<i>Hellraiser 2</i>". Ambos os filmes, por conseguinte, esbanjam um macabro cientificismo subvertido por uma confusa adequação ao profano, e criam riquíssimas mitologias particulares, onde não há parâmetros pré-estabelecidos. Acerca desta característica, trago à baila o exemplo do segmento "<i>Parallel Monsters</i>", de "<i>V/H/S Viral</i>", uma curta-metragem espanhol de cujos poros exala pura, absoluta maldade, sobre um cientista brilhante construtor de um portal para outra dimensão. Ao abrir uma cisma para um universo paralelo e conhecer uma versão de si mesmo, ele convence seu "<i>outro eu</i>" a trocar de lugares, de universos, apenas por uns quinze minutos. O desavisado cientista descobre que o universo paralelo reproduz quase inteiramente sua realidade, com uma importante diferença: ali, reina o luciferianismo e a promiscuidade, homens têm pênis semelhantes a trombas com bocas cheias de dentes, as vaginas das mulheres abrem-se até os umbigos como plantas carnívoras, e, quando sexualmente excitada, daquela estranha gente emana uma fulgurante luminescência dos olhos & bocas. Ele se depara com uma cena macabra na sala de estar da casa do seu "<i>outro eu</i>", onde topa com uma prática de <i>swing </i>com atributos de adoração satânica envolvendo dois estranhos e a "<i>sua esposa</i>", <i>Marta</i>, na verdade uma "<i>outra Marta</i>". Angustiante e devastador, o segmento de <i>Nacho Vigalondo</i> experimenta com tópicos típicos a <i>Lovecraft</i>, igualmente presentes em "<i>The Void</i>" (cientificismo v. luciferianismo). Em termos de imagens mais abertas, por outro lado, a cosmovisão de <i>Lovecraft </i>jamais foi tão bem destrinchada quanto no labirinto de "<i>Hellraiser 2</i>" & na paisagem deserta de "<i>The Void</i>", dois filmes estigmatizados pelo legado do autor, ironicamente desvinculados de sua caneta. Pela razão acima exposta, considerando todas as adaptações da obra literária do romancista, ainda creio que o caminho mais rápido a seu coração comece pela reinterpretação, não pelo apego à forma.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiadYw9WXL3fVb0FrPywOkeBuEbcxOf7zL6USJ_b5_P3t33Hs4tVhmeo7REQZY7COOwFtfYrk3its1PShMgUG2YAn4P3cMTCTUwyywLSGAZd7e3cEEMvhCOd66VAiwCb5Ypj_08ol2to6A/s1600/Jeremy-Gillespie-and-Steven-Kostanski.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="440" data-original-width="630" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiadYw9WXL3fVb0FrPywOkeBuEbcxOf7zL6USJ_b5_P3t33Hs4tVhmeo7REQZY7COOwFtfYrk3its1PShMgUG2YAn4P3cMTCTUwyywLSGAZd7e3cEEMvhCOd66VAiwCb5Ypj_08ol2to6A/s320/Jeremy-Gillespie-and-Steven-Kostanski.png" width="320" /></span></a></div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Kostanski</i> & <i>Gillespie</i> <i><span style="font-size: x-small;">(foto)</span></i> mencionam o nome de <i>Lovecraft </i>em muitas das entrevistas concedidas para promover o trabalho. No frigir dos ovos, de três fontes <i>lovecraftianas </i>os cineastas beberam, "<i>The Call of Cthulhu</i>", "<i>The Dunwich Horror</i>" & "<i>The Shadow Over Innsmouth</i>", três contos sobre seitas e sacrifícios humanos em honra de deuses antigos alienígenas. Perguntado sobre a influência do autor, <i>Kostanski </i>afirma: "<i>Foi mais o tom geral que queríamos capturar, pois eu amo coisas que se fazem sentir lovecraftianas sem serem exclusivamente adaptações de suas histórias. Eu também não creio que suas histórias se traduzam ao cinema muito bem, pois parecem enraizadas em origens literárias baseadas em cartas e coisas antigas, e o modo como são escritas realmente as deixam intraduzíveis para a mídia visual. Assim, qualquer coisa que invoque um senso de pavor cósmico traz o tipo de tom buscado pela gente com nosso filme, e também extraímos muita influencia de outros filmes e até videogames</i>". Reparem no termo usado pelos cineastas, "<i>intraduzíveis</i>". </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Qualquer filme inspirado em <i>Lovecraft </i>trará imagens bombásticas e grandiosas numa galante tentativa de sublimar a impossibilidade da literalidade. <i>Guillermo del Toro</i> falou sobre a capacidade ímpar do autor para descrever e dirigir emoções e sensações, como se estivéssemos naquele pequeno <i>escaler</i>, perdidos no Oceano Pacífico, no começo do século XX, em "<i>Dagon</i>", ou como se nosso próprio pedaço de terra, a que chamamos de lar, encontrasse-se a mercê da volição de uma coisa indescritível, além da compreensão humana, vinda de outro universo, trazida por um meteoro, como em "<i>A Cor que veio do espaço</i>". Graças ao olhar do diretor de fotografia <i>Samy Inayeh</i>, desenvolto em produções do gênero, <i>Kostanski </i>& <i>Gillespie </i>rechearam "<i>The Void</i>" com visuais extasiantes, à altura da loucura cósmica mesclada à nossa desprotegida, falsa noção de realidade. Em "<i>The Void</i>", as intromissões das referidas cenas dão à jornada um ar místico, cuja escala ultrapassa a cronologia das vidas daquelas pessoas, e sugere um estado de espírito típico das obras de <i>Lovecraft</i>, afeto a escrever sobre um período muito anterior ao da formação das rochas e primeiros organismos, ou quiçá do próprio tempo. Quando filmou "<i>Okaruto</i>", uma trama que, na superfície, revolve o maior ataque terrorista da história do Japão, <i>Koji Shiraishi</i> também cortejou com um sobrenatural oriundo da criação do próprio cosmos através de imagens ímpares, abstratas demais para serem categorizadas e guardadas pela estrutura normal do pensamento, e, talvez por isso, emblemáticas de um período anterior ao próprio tempo. O aspecto <i>lovecraftiano </i>da trama, claro, perfilha cada minuto de um filme que, inicialmente, parece documentar a tragédia da patética vida de uma alma solitária e errante, um típico </span><i>Net cafe refugee</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> de Tóquio, mas que logo descamba para o caos quando do mesmo homem vem o planejamento de um maciço ataque terrorista em pleno cruzamento da estação de Shibuya, ato que que muda o curso da história do Japão, e nos faz pensar em questões envolvendo fatalismo e predestinação. Somos ainda levados a pensar em "<i>Stargate</i>", de 1994, pelo fato de o portal deter uma importância tão determinante nas vidas dos personagens. Pela escolha visual da equipe de "<i>The Void</i>", o triângulo reúne o arcabouço de crenças do culto, mas talvez principalmente emblematize o portal interstelar que faz as vezes de túnel entre galáxias, como acontece, com tintas menos aterrorizantes e mais aventureiras, em "<i>Stargate</i>", ou mais apavorante e discretamente na forma da configuração do lamento de "<i>Hellraiser</i>".</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">As performances uniformemente excelentes são dadas com o entusiasmo de profissionais sabedores da chance única de participarem de tão relevante projeto. <i>Aaron Poole</i> soma ao currículo mais um genial filme de horror, dando seguimento ao vencedor <i>momentum </i>que começou com o papel principal no empolgante "<i>The Conspiracy</i>", em 2011, e continuou, no ano seguinte, com o intrigante "<i>The Last Will and Testament of Rosalind Leigh</i>" (recomendado, inclusive, por <i>Clive Barker</i>). No papel da esposa, <i>Kathleen Munroe </i>ganha pontos pela veracidade com que representa uma jovem ainda marcada pela morte do bebê no parto, e pelo carinho reservado ao ex-marido. Uma bela mulher dotada do biotipo canadense, ela me lembra uma jovem <i>Caroline Dhavernas</i>. <i>Grace Munro</i> torna sua breve participação um motivo de celebração, em uma das cenas pivôs. A forma como surge sorridente às costas do avô após degolá-lo com um bisturi impacta pela surpresa da premeditada traição, justificável somente pelo fervor com que a jovem se entregara ao culto. <i>Kenneth Welsh</i>, veterano canadense de tantos filmes, possui até mesmo o primeiro nome que o artista por trás do similar Dr. <i>Channard</i>, <i>Kenneth Cranham</i>! E, assim como <i>Cranham</i>, <i>Welsh </i>também construiu para si a respeitabilidade de um ator eclético à vontade em qualquer gênero. Quis o destino que, nos dois casos, do horror viessem os personagens pelos quais seriam para sempre lembrados. No papel da residente de Medicina <i>Kim</i>, <i>Ellen Wong </i>tempera a seriedade com uma salutar dose de humor e jovem rebeldia, uma personagem muito bem-vinda a filmes do gênero, por lhes prestar o incomensurável serviço de mitigar o enorme peso de temas tão sérios.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">A trilha sonora, assinada pelo grupo <i>Blitz/Berlin</i>, fia-se em sintetizadores reminiscentes dos filmes oitentistas de <i>John Carpenter</i>, uma tendência retomada há alguns anos por outros compositores, como <i>disasterpiece</i>, autor da melodia do chocante "<i>Corrente do Mal</i>", já resenhado no blog. Pulsante, a música de<i> Blitz/Berlin</i> ensaia as batidas de um coração eletrônico pesado e indiferente, nos moldes da suíte introdutória de <i>Howard Shore</i> para o macabro "<i>Estranhos Prazeres</i>", de<i> David Cronenberg</i>. A trilha sonora de "<i>The Void</i>" resgata tão perfeitamente a atmosfera dos filmes de <i>John Carpenter</i> que a primeira coisa a vir à mente durante a fuga da estudante <i>Kim </i>através dos corredores iluminados por um neon vermelho alienígena, durante a invasão dos membros do culto, são as cenas de clássicos como "<i>Assault at Precinct 13</i>" e, mais contundentemente, o primeiro "<i>Halloween</i>", de 1978. Falando de reminiscências, a escolha da paleta de cores no segmento da invasão ao hospital de "<i>The Void</i>" parodia os mais importantes trabalhos de <i>Dario Argento</i>, como o extravagante "<i>Suspiria</i>", em suas gloriosas, agressivas cores, com realce rubro. O imaginário de <i>Argento </i>sempre encontra um jeito de emanar do subconsciente desses novos <i>wunderkinds </i>do horror, basta conferirem "<i>Demônio de Neon</i>", de <i>Nicolas Winding Refn</i>, um trabalho praticamente levantado sobre o esqueleto estrutural de "<i>Suspiria</i>".</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Os efeitos especiais datados nos remetem aos saudosos anos 80, quando terror era mais difícil de ser filmado, e exigia a execução diante das câmeras, para funcionar. Nem por isso, "<i>The Void</i>" é menos eficiente do que os ricos e modernos similares. Na verdade, <i>Kostanski </i>& <i>Gillespie </i>vestiram a camisa do horror <i>vintage </i>e pintaram a tela com uma carnificina que parece real, e ainda há de ser rivalizada pelos concorrentes. O uso de CGI tende a virar um tiro no pé, pois encoraja diretores a descambarem para um festival de <i>nonsense </i>e tolices. No <i>commentary track </i>gravado para a edição especial em DVD de "<i>Hellbound: Hellraiser 2</i>", de 2001, <i>Tony Randel</i> levantava uma questão importante sobre seu filme ao afirmar que uma das forças residia nos excelentes efeitos realizados sem CGI e a aplicação da técnica de <i>stop-motion</i>. Ao tecer comentários sobre sua aversão a CGI, <i>Randel </i>citava "<i>Stuart Little</i>", e reclamava que, no referido filme, os efeitos especiais simplesmente não pareciam críveis. No caso do seu filme, as passagens mais fantásticas foram executadas longe da manipulação do CGI, e visões inesquecíveis como o labirinto sobre o qual gira o gigantesco monólito em forma de diamante, o Leviatã, criadas a partir de um conjunto de técnicas aplicadas em conjunto, como a <i>matte painting</i> de <i>Cliff Culley</i>, e os efeitos com a manipulação do diamante, em menor escala, girando sobre um eixo. Depois que as composições foram enriquecidas pela trilha sonora de <i>Christopher Young</i>, o produto final, a descida ao inferno de "<i>Hellbound: Hellraiser 2</i>", sagra-se como um dos momentos mais genuinamente perturbadores da história do horror moderno. O restante do esquisito magnetismo repousa na elegância das performances, com ênfase a <i>Clare Higgins</i>, e na contundência de sensibilíssimos detalhes, como a mitologia dos cenobitas, estranhos e amorais sadomasoquistas diferentes de qualquer coisa vista antes no cinema, ou a perversidade em sequências eletrizantes embriagadas por malévolo erotismo, como a do ressurgimento de <i>Julia </i>como uma monstruosidade sem pele através do colchão, uma passagem especialmente prolongada e violenta envolvendo a batalha do "<i>monstro</i>" com um doente mental após o mesmo ter se despedaçado com uma navalha, movido pela esquizofrenia a levá-lo a enxergar larvas pelo corpo. Ele agora luta desesperadamente pela própria vida enquanto <i>Julia </i>se adere às costas da vítima como um parasita, para drená-lo até a morte e recuperar a força e a velha forma de mulher. Mesmo hoje, três décadas após tê-lo visto pela primeira vez, quando criança, a sequência constrange pela ferocidade envolvida nos desdobramentos da confusão em cima do colchão. Embora não haja nada de belo na duríssima imagem da "<i>coisa</i>" e do homem ferido rolando agarrados pelo chão, não temos como não pensar que, em termos de ficção, trata-se de uma "<i>mulher</i>" montada sobre a patética vítima, e <i>Clive Barker</i>, graças à duração exagerada do encontro e à obsessão por detalhes, como o modo como filma o trapézio e os músculos das coxas e braços de <i>Julia</i>, durante um exaustivo embate de dois corpos nus, consegue conceber uma cena marcada pela macabra libidinagem sadomasoquista frequente na sua bibliografia. E nada cabe melhor a uma cena tão psicologicamente embaralhada quanto uma frase dita sobre a condição humana por <i>Lovecraft</i>: "<i>O mundo é deveras cômico, mas a piada está na raça humana</i>". Voltando a "<i>The Void</i>", o mesmo foi produzido quase trinta anos mais tarde que "<i>Hellraiser 2</i>", mas o charme dos efeitos permanece inalterado. Há algo próprio ao feito à mão e demandante de sacrifícios que escapa aos olhos de quem pensa que a ilimitada ilusão criada pelo CGI pode crescer nos corações de quem verdadeiramente aprecia terror.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">"<i>The Void</i>" precisa ser descoberto. Como um dos filmes de terror mais relevantes dos últimos anos, faz parte da seleta lista da nata do gênero, que inclui obras-primas como "<i>Kill List</i>", "<i>Session 9</i>", "<i>Hellraiser 1 & 2</i>", e "<i>w Delta z</i>", dentre (poucos) outros. Seu alcance suplanta a <i>mise-en-scène</i> de conceitos inaugurados pelos mestres do passado, e transcende o lugar comum do medo físico em favor do niilismo cósmico catalisador da abertura de portais estelares e adoração a deuses mitológicos. Suas delirantes fantasias devassam profundezas de febril imaginário, e se prestam como ponto de partida para a pesquisa de um horror mais metafísico. Daí, a necessidade de conhecer a obra de <i>Lovecraft </i>antes de assistir a "<i>The Void</i>". </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Hoje, com o advento da internet, encontrar materiais para aprofundamento nos estudos encontra-se a um clique de distância. Contraditoriamente, o drama não consiste em coletar informações, afinal são muitas as fontes, e sim fortalecer a disciplina para separar e categorizar esse material: de tão vasto, conhecê-lo exige foco. Há um canal chamado "<i>Impensável</i>", pelo qual seu criador bolou uma série chamada "</span><i>Inenarrável</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". Com muita disposição e talento, esse cavalheiro apanhou os principais contos de <i>H.P. Lovecraft</i> e prestou um valorosíssimo serviço ao traduzi-los para o Português e lê-los sob efeitos de áudio, criando experiências imersivas impossíveis de serem experimentadas antes do advento da grande rede. Dentre suas excepcionais performances, recomendo com especial entusiasmo o conto "<i>A Cor que veio do espaço</i>", um dos mais intrigantes trabalhos de <i>Lovecraft </i>que, na voz do narrador, adquire contornos épicos, e serve como perfeita introdução para cinéfilos que não conhecem ainda a febril imaginação de um dos pilares do horror fantástico moderno.</span><br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: arial;"><iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/W2ot6ogGZNc/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/W2ot6ogGZNc?feature=player_embedded" width="320"></iframe></span></div>
<span style="font-family: arial;"><span><i style="background-color: #eeeeee;">Todos os direitos autorais reservados a Screen Media Films. O uso do trailer & imagens é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i></span><br />
<span><i style="background-color: #eeeeee;"><br /></i></span>
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiliZSD0ytikKKE880MKmuMzBsFmK5vsH73rhhaGiImvNVefxcuGD0_Afp4XeDHgQOO8yA6IdtGzx-K4T2Z1iSTQPW69LrggVd8FXIVX1kRbLsXwu23fXIP7zipW76d0qWrL5t6wmfFNMc/s1600/aftermath-movie-poster.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="720" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiliZSD0ytikKKE880MKmuMzBsFmK5vsH73rhhaGiImvNVefxcuGD0_Afp4XeDHgQOO8yA6IdtGzx-K4T2Z1iSTQPW69LrggVd8FXIVX1kRbLsXwu23fXIP7zipW76d0qWrL5t6wmfFNMc/s320/aftermath-movie-poster.jpeg" width="213" /></span></a></div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><b>Baseado em fatos reais. </b></span><i>Roman Melnyck</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> (</span><i>Arnold Schwarzenegger</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, no melhor desempenho de sua carreira) é um trabalhador honrado & homem de família que mal pode esperar para rever a mulher e a filha grávida logo mais à noite, no horário programado para a chegada do voo. Profissional do ramo da construção, </span><i>Melnyck </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">leva seu ofício com muita seriedade, e nem mesmo a aguardada volta da família o demove do canteiro de obras, onde lida com os problemas rotineiros da construção com experiência, habilidade e muito bom humor. Seu chefe </span><i>Matt </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">se surpreende com a eficiência da coordenação dos trabalhos sob o manto de </span><i>Roman</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. O 6° andar ficou pronto, e o 7° andar não levará mais de três horas para ser concluído também. A construtora está adiantada no cronograma, graças ao talento do homem. Embora </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">resista um pouco, </span><i>Matt </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">consegue convencê-lo a adiantar-se e ir para casa, para evitar imprevistos como tráfego congestionado. Ele tampouco quer ver o amigo no canteiro de obras na manhã seguinte: </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">tem o direito de curtir a família, e celebrar uma nova fase da vida, agora como avô.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-gjHdw-Hcfl7BOmCdR8Tn_I-vMjnPSY7QMjEk_32nbf7gQEFNOjr1fKdD4QIxxMcce5GFkdfK09ug-phCqf97KuXXGYhOTTVYbHNT4_-A35-V5w_j0KJLgptjDmp78kHjEc9aXHQblLM/s1600/aftermath-movie-still-1.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="555" data-original-width="1359" height="130" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-gjHdw-Hcfl7BOmCdR8Tn_I-vMjnPSY7QMjEk_32nbf7gQEFNOjr1fKdD4QIxxMcce5GFkdfK09ug-phCqf97KuXXGYhOTTVYbHNT4_-A35-V5w_j0KJLgptjDmp78kHjEc9aXHQblLM/s320/aftermath-movie-still-1.jpg" width="320" /></span></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDPUx5UmpTtQjaduND6LXF9zjtEz4VyX_BubkFX8PPyu32EG6UpS-z-eKyrjc6w_3Jlh609owVKn5y3NXYdnE23N3atMyDz4Bive82RupH5ATe5PtN873J-hsgRGvPKYrjqCoc9dqlHsI/s1600/aftermath-movie-still-2.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1363" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDPUx5UmpTtQjaduND6LXF9zjtEz4VyX_BubkFX8PPyu32EG6UpS-z-eKyrjc6w_3Jlh609owVKn5y3NXYdnE23N3atMyDz4Bive82RupH5ATe5PtN873J-hsgRGvPKYrjqCoc9dqlHsI/s320/aftermath-movie-still-2.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><i>Roman</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> mora em um típico bairro de trabalhadores "</span><i>blue collar</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", e foi pelo suor do rosto que comprou a casa, conquistou seus bens e criou dignamente a família. No rádio, só se fala sobre a proximidade do Natal, e músicas natalinas dão o tom correto à festiva época. No interior do lar, vê-se o esmero com que </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">preparou as faixas de boas-vindas para mulher e filha. Ele também mobiliou o quarto para a chegada do netinho. Preso ao espelho, podemos observar o ultrassom do bebê, destacado pelo orgulhoso vovô, uma forma de amenizar a ansiedade da espera. Cheio de expectativa, </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">toma banho e se veste para aguardar a chegada do voo no aeroporto, para onde parte com certa antecedência, intencionando fugir de congestionamentos imprevistos, conforme </span><i>Matt </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">o orientara. </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">aproveita a folga de tempo para adquirir um lindo buquê de flores. Quando o horário da chegada chega e se vai sem novidade no painel eletrônico, ele resolve procurar o guichê da companhia aérea. Seu humor é dos melhores, não há nenhuma linha de angústia no seu rosto. Ao se aproximar do guichê, dá um "</span><i>encontrão</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" em um passageiro qualquer, que leva a situação no bom humor. Ao se despedir do estranho, </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">ainda brinca "</span><i>Você é um bom dançarino</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". Ele fornece ao cavalheiro do guichê o número do voo, AX 1-12, originário de Kiev, com escalas em Frankfurt e Nova York. Uma senhorita da empresa escuta a conversa, e o aborda com muita delicadeza, convidando-o a segui-la à sala de operações. O mundo de </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">está prestes a desabar, e ele parece não desconfiar da gravidade da situação.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgytAHnaJxZ4YPo7AmI1mFDoV2IrLi3VvtMoXkicf3qAC3SrIX-bvLfTsLDYfZwZD4bxETDaTA_Xw5H9e1_7OGNTMrzj44RWHKf05fmtsnFf-BW3AqS9gWSqANBLQqSZw4GcnFr7g3LjEc/s1600/aftermath-movie-still-3.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1355" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgytAHnaJxZ4YPo7AmI1mFDoV2IrLi3VvtMoXkicf3qAC3SrIX-bvLfTsLDYfZwZD4bxETDaTA_Xw5H9e1_7OGNTMrzj44RWHKf05fmtsnFf-BW3AqS9gWSqANBLQqSZw4GcnFr7g3LjEc/s320/aftermath-movie-still-3.jpg" width="320" /></span></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigMnDaxHGHfc6kQhjLgP1BF6gFhj_XXFLMmKLO93_Q-njRtrlD_zUvQSZftpfxMJdo5BpD6-nZqx8PV8W8ICFq8KWh74tLQbKXn7iXbzlB5sYhMPRWKiTRa6kocEKJyHIB6IEbQ9GRogI/s1600/aftermath-movie-still-4.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1357" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigMnDaxHGHfc6kQhjLgP1BF6gFhj_XXFLMmKLO93_Q-njRtrlD_zUvQSZftpfxMJdo5BpD6-nZqx8PV8W8ICFq8KWh74tLQbKXn7iXbzlB5sYhMPRWKiTRa6kocEKJyHIB6IEbQ9GRogI/s320/aftermath-movie-still-4.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Roman</i> segue a senhorita por corredores do andar operacional da companhia, e há um interessante momento onde, ao seu lado, vindo no sentido oposto, um senhor de mesma idade acaba de deixar o escritório, com a face transtornada pela dor. O choque do homem não passa desapercebido aos olhos de <i>Roman</i>, que já começa a pressentir a ocorrência de algum sinistro. Inquieto, ele pergunta à moça, com urgência na voz, se houve algum imprevisto no voo, se há uma nova previsão de aterrissagem. Quem finalmente presta esclarecimentos é uma jovem agente aeroportuária chamada <i>Eva Sanders</i>. Ela desempenha a pesarosa, duríssima incumbência de se sentar à mesa diante do pobre <i>Roman </i>para lhe dar a horrorosa notícia: o avião sofreu um terrível acidente, e embora àquela altura não haja informações sólidas sobre a tragédia, é seguro afirmar que não há sobreviventes. <i>Roman </i>mal consegue esboçar uma resposta. "<i>Ela estava grávida</i>", murmura, em choque, e sofre o princípio de um ataque cardíaco, desabando inconsciente no chão. Atendido na enfermaria, ele consegue descansar, e a agente <i>Sanders </i>lhe fornece todos os contatos de que precisa nesse momento de grande dificuldade. </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Roman </i>não consegue voltar para casa. A madrugada se põe em curso, e o vemos dentro do carro, no estacionamento deserto, digerindo a horrenda surpresa que não pode ser expressa em palavras.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQlki7xDExfX_seZtbSPzWCBuVgIHv7FGw7fO2JnEbTqF9um6J5mpI5C5QGcNvn5M0SjiY_9wDG4MGs4W_TF0LfMVfi9ezWaTvJsuSeOX8io90mm2RC4bhmDyF2WmQE8JKw5PjkhGNPV8/s1600/aftermath-movie-still-5.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1359" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQlki7xDExfX_seZtbSPzWCBuVgIHv7FGw7fO2JnEbTqF9um6J5mpI5C5QGcNvn5M0SjiY_9wDG4MGs4W_TF0LfMVfi9ezWaTvJsuSeOX8io90mm2RC4bhmDyF2WmQE8JKw5PjkhGNPV8/s320/aftermath-movie-still-5.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxgujD2goiJre1I56Bvnea778gqtj81RK9i_B_ax-VyhiI1SgNNXm9EjLCRKOvPYjjEXNtyOtp4brtje-P0Apsq_J50xBl8CjXtsbvxXv771A7Y5aYTVdunDvla8FvDrSy6ihFvDQRNmY/s1600/aftermath-movie-still-6.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1351" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxgujD2goiJre1I56Bvnea778gqtj81RK9i_B_ax-VyhiI1SgNNXm9EjLCRKOvPYjjEXNtyOtp4brtje-P0Apsq_J50xBl8CjXtsbvxXv771A7Y5aYTVdunDvla8FvDrSy6ihFvDQRNmY/s320/aftermath-movie-still-6.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">O filme, então, nos apresenta ao segundo protagonista desta história, o Sr. </span><i>Jacob Bonaos</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> (</span><i>Scoot McNairy</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, de "</span><i>Monsters</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">"), cujo acidental papel na cadeia de eventos foi determinante para a ocorrência da terrível tragédia no ar. Nós o conhecemos na noite em que acontece a colisão aérea. Controlador de voo, </span><i>Jacob </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">vivia uma existência comum & feliz ao lado da esposa </span><i>Christina </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">(</span><i>Maggie Grace</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, de "</span><i>Busca Explosiva</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">") e do filho </span><i>Samuel </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">(</span><i>Judah Nelson</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">), e sua primeira cena nos dá uma amostra da harmônica existência dos </span><i>Bonaos</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, quando o vemos fazendo amor com a mulher, e eles precisam tomar cuidado para não despertar o menino, no outro quarto. </span><i>Jacob </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">se apresenta na torre, sua intimidade com as rotinas do controle patente pela desenvoltura com que se conduz. Quis o destino que, naquela noite, fosse realizada uma manutenção nas linhas, que não custaria mais de seis minutos, mas transformaria as vidas de centenas de pessoas para sempre. </span><i>Bonaos </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">estava instruindo a tripulação do voo AX 1-12, durante a aproximação, porém então, sobre seu colo, recaiu a responsabilidade para, em simultâneo, orientar um outro voo, a ser deslocado para o aeroporto de Pittsburgh. Enquanto tenta contatar via telefone o pessoal da torre de Pittsburg, </span><i>Bonaos </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">"</span><i>se desliga</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" um pouco do rádio, e deixa de prestar assistência ao voo DH 6-1-6, cujos pilotos tomam a desavisada decisão de descer, o que o colocará no corredor aéreo do outro voo. O fato é que quando fica ciente de que os voos AX 1-12 & DG 6-1-6 encontram-se em rota de colisão, é tarde demais para tomar providências em tempo hábil para remeter. Desesperado, </span><i>Bonaos </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">ainda tenta conversar com a tripulação de um dos voos para que deixe o corredor, porém os sinais subitamente desaparecem do radar. Os aviões colidiram no céu. Diante da horripilante constatação, </span><i>Bonaos </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">custa a processar a chocante verdade. Seu remorso, tremendo, lança-o no puro desespero.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3RmX7CR8-j59gWNUGw_VGn0blYTFs0Sv9hHY0ZW19_TvsuNu4Qjb4r4Vu45NZF9OUji-qqrY4PbzCg7HRvpdR9p-UY1K9Wo8yZr4T2s0d_WcMhh8qWOzZ-7KF5p5tXMnoRs3xCnyh2es/s1600/aftermath-movie-still-8.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1359" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3RmX7CR8-j59gWNUGw_VGn0blYTFs0Sv9hHY0ZW19_TvsuNu4Qjb4r4Vu45NZF9OUji-qqrY4PbzCg7HRvpdR9p-UY1K9Wo8yZr4T2s0d_WcMhh8qWOzZ-7KF5p5tXMnoRs3xCnyh2es/s320/aftermath-movie-still-8.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXXG-YlPiiWjMpWzIv_Sz2apK-dh-8JdbSCPCiLKM_zJpRg74_MsQj9zvTLyuWUOaCk9b_qfGcn9CPk8p7Mndqdx5J5NJvcn5BXd1Ze3ttOu_DC7mEn7L69AnDWYajwo0b2W04VjO7Z_Y/s1600/aftermath-movie-still-7.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1355" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXXG-YlPiiWjMpWzIv_Sz2apK-dh-8JdbSCPCiLKM_zJpRg74_MsQj9zvTLyuWUOaCk9b_qfGcn9CPk8p7Mndqdx5J5NJvcn5BXd1Ze3ttOu_DC7mEn7L69AnDWYajwo0b2W04VjO7Z_Y/s320/aftermath-movie-still-7.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Assim como ocorreu a <i>Roman </i>quando lhe foi informado sobre o desastre, <i>Bonaos </i>também se move como zumbi, como se estivesse vivendo um pesadelo. <i>Robert </i>(<i>William Donovan</i>), seu diretor, o recebe no auditório e lhe conta que telefonemas reportam destroços e fuselagens não muito distante dali. Os aviões definitivamente colidiram. O diretor traz lágrimas nos olhos, visivelmente preocupado com o pobre <i>Bonaos</i>, um homem que há algumas horas vivia uma existência comum, e agora precisava suportar sobre os ombros o esmagador peso de centenas de vidas perdidas na altura. </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Na manhã seguinte, ainda lívido, <i>Jacob </i>encontra o diretor e os companheiros da torre para repassar as lembranças da fatídica noite. Antes de apanhar o carro para casa, ele escuta os conselhos de um colega, que pede para o rapaz não atender a telefonemas e permanecer na segurança do lar. Ao retornar para casa, ele encontra a chorosa <i>Christina </i>assistindo à cobertura televisiva da tragédia. Eles se abraçam, em desalento.</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmeoKPyRhqzWptEY1IvNDSzhP06zaPJq29jIdrGPQz2zu-8H4HNjFe-P_Yecd069Bs7t7CdOEq_AsNwG8-R7DDdzLgvSPca774oSGhkTE7pG8-dDvtv7-ImPiz4BSnHoequM86gp4kKoQ/s1600/aftermath-movie-still-9.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1357" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmeoKPyRhqzWptEY1IvNDSzhP06zaPJq29jIdrGPQz2zu-8H4HNjFe-P_Yecd069Bs7t7CdOEq_AsNwG8-R7DDdzLgvSPca774oSGhkTE7pG8-dDvtv7-ImPiz4BSnHoequM86gp4kKoQ/s320/aftermath-movie-still-9.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEIF9Gd7Bdy7H8RX5APLTuja8e8G1dQOYaMIy_3mkOJjrIBOM8vzZw5zirWNkuxcwHjd-Sn878Y0TrEDXhrt97O7OgsbjZWUnEisHquTwDBU5-CeWcCN0g6D7VXK1rbzqSsPgNezOqKvs/s1600/aftermath-movie-still-11.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1359" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEIF9Gd7Bdy7H8RX5APLTuja8e8G1dQOYaMIy_3mkOJjrIBOM8vzZw5zirWNkuxcwHjd-Sn878Y0TrEDXhrt97O7OgsbjZWUnEisHquTwDBU5-CeWcCN0g6D7VXK1rbzqSsPgNezOqKvs/s320/aftermath-movie-still-11.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><br />
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisbhlymTPULks4QCVMnEZuJCEQiQQBZwd1nEAHnFXULrTTawYOi1L6HsOWM3vLQ_64XLmtFh-qrDYlgW3m_o2XoD9bgTbYk67DhJUVIMVltA8nPb5JNt63_XdvgYrV2ZoE2UpkcgOtujE/s1600/aftermath-movie-still-10.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1355" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisbhlymTPULks4QCVMnEZuJCEQiQQBZwd1nEAHnFXULrTTawYOi1L6HsOWM3vLQ_64XLmtFh-qrDYlgW3m_o2XoD9bgTbYk67DhJUVIMVltA8nPb5JNt63_XdvgYrV2ZoE2UpkcgOtujE/s320/aftermath-movie-still-10.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Roman</i> também acompanha as últimas informações do caso pela televisão, e recebe um telefonema da agente <i>Sander</i>. Ela deseja que o viúvo procure o centro de atendimento a familiares das vítimas, porém lhe ocorre uma ideia melhor. <i>Roman </i>apanha o carro e dirige para o bosque onde os destroços dos aviões se concentraram. Ao chegar à cena, ele se depara com vans de equipes jornalísticas, ambulâncias, bombeiros, um verdadeiro aparato de operação militar, organizado para a varredura da região. <i>Roman </i>se apresenta como voluntário, e os soldados acabam aceitando sua oferta de solidariedade, assim como a de dezenas de outras pessoas tocadas pela tragédia. Não obstante falemos do choque de dois Boeings em pleno voo, surpreendentemente, há pedaços da aeronave que preservaram a forma original, como porções da cabine de passageiros, com cadáveres, alguns intactos, ainda presos aos assentos pelos cintos. <i>Roman </i>recebe um traje Hazmat e segue recolhendo pertences de passageiros mortos e os pondo em sacos, para posterior reconhecimento. Ele encontra o colar da esposa, e pouco mais à frente se depara com o cadáver da filha, estatelado sobre uma árvore. Às lágrimas, ele a devolve ao chão, e a abraça, inconsolável. Posteriormente, o corpo da esposa também é identificado. <i>Roman </i>se senta entre os sacos da mulher e da filha, em um hangar reservado aos cadáveres achados no bosque. </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Ele se afoga na depressão, e ao visitar o túmulo da amada família, acaba dormindo ao pé da lápide. Um funcionário do cemitério precisa abordá-lo com muita sensibilidade para convencê-lo a ir para casa.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: arial;"><br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifcvOGLDi9KJdHtiaCVbgWzW9o1gFlTewC2M6ZgM7T3mV0EFcEZxDiEtd5Q5s5aE5FG_WqYrTs85GSz5pZqw661SFRwamUpY5ObyA7p1ra230CEfTzr_alECZ5pjpgO-SNHhYiyZCGOy8/s1600/aftermath-movie-still-12.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1355" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifcvOGLDi9KJdHtiaCVbgWzW9o1gFlTewC2M6ZgM7T3mV0EFcEZxDiEtd5Q5s5aE5FG_WqYrTs85GSz5pZqw661SFRwamUpY5ObyA7p1ra230CEfTzr_alECZ5pjpgO-SNHhYiyZCGOy8/s320/aftermath-movie-still-12.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdQlLKzXEQuffQdOp_3mBWOMg3etHxSxNvCsfiz67FIdAsnn3K8TyQSVqtxUcec-uVnTMfqI9axE0kGP0M2RmdiOuCgfrMFELfQHw3_eA06vYrANVeDKG7Wy69mcqhLC0hFUVhED86AOA/s1600/aftermath-movie-still-13.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1355" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdQlLKzXEQuffQdOp_3mBWOMg3etHxSxNvCsfiz67FIdAsnn3K8TyQSVqtxUcec-uVnTMfqI9axE0kGP0M2RmdiOuCgfrMFELfQHw3_eA06vYrANVeDKG7Wy69mcqhLC0hFUVhED86AOA/s320/aftermath-movie-still-13.jpg" width="320" /></span></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCCzVLpqf2BrE2uhk5Oot0C-dBMPySO8dRYlLhINySGg4iFE_iz82ca-Q8yCwQhOf1F2U656zz5MdlZj_6RjRwzcuR9Rx7vNct4b2J3cn1h6XnHujuGnV2EPM5TewEklQ2lDKFR-emk_M/s1600/aftermath-movie-still-14.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1353" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCCzVLpqf2BrE2uhk5Oot0C-dBMPySO8dRYlLhINySGg4iFE_iz82ca-Q8yCwQhOf1F2U656zz5MdlZj_6RjRwzcuR9Rx7vNct4b2J3cn1h6XnHujuGnV2EPM5TewEklQ2lDKFR-emk_M/s320/aftermath-movie-still-14.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Bonaos </i>sente o peso da culpa e a depressão o impede de deixar a cama. Sua vida virou do avesso, e a fachada da casa da família foi pichada com os dizeres "</span><i>assassino</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". Ele se tornou uma sombra do homem visto no começo da história. Perdeu peso, traz profundas olheiras, e seu péssimo aspecto geral retrata o intenso sofrimento psíquico. Logo, <i>Christina </i>e <i>Bonaos </i>passam a brigar por qualquer coisinha, como quando o homem desajeitadamente tenta preparar ovos mexidos para o filho. O casamento encontra-se em risco. <i>Roman</i>, a seu turno, afoga as mágoas assistindo a vídeos antigos realizados durante dias mais felizes, como a ocasião quando a esposa presenteou a filha com o colar encontrado no cenário do acidente. Quem bate à porta é uma moça chamada Tessa (<i>Hannah Ware</i>), uma jornalista empenhada em escrever um livro sobre a tragédia. Silente, <i>Roman </i>não atende às batidas pois quer ser deixado em paz. Algo no olhar, todavia, indica o interesse nas informações que a jornalista promete lhe fornecer. Por ora, o viúvo escolhe não se expor. Após a partida da jornalista, ele examina os papéis, os recortes deixados. À noite, <i>Matt </i>aparece no alpendre, trazendo almôndegas preparadas pela esposa. A turma sente falta de <i>Roman</i>, e os colegas mandaram lembranças. Ele vocaliza o desejo de voltar ao canteiro de obras, mas se vê obrigado a cuidar de detalhes antes de retomar a vida.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDGb5XfA0o9S6XVvMRkYPw0CPZEWuKpTKAPRCZIqMseQTGJrZbm6BJYX_gnlTev8wCDhsbPjbu6t7-rnCxP1ndAhY-y5pXRdyqETgHioB05pLWgRdeH4QD48DQmCOZNkS3eRMWRMFhSjo/s1600/aftermath-movie-still-15.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1355" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDGb5XfA0o9S6XVvMRkYPw0CPZEWuKpTKAPRCZIqMseQTGJrZbm6BJYX_gnlTev8wCDhsbPjbu6t7-rnCxP1ndAhY-y5pXRdyqETgHioB05pLWgRdeH4QD48DQmCOZNkS3eRMWRMFhSjo/s320/aftermath-movie-still-15.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjYsetNL3hEZdqF-Jz6pHyLqtJU0FAgqEICqqaQOyEQYdau2k1o1U9tfJNv0CVgvXSS9nnzat68YEQ7sbqZWLGFPfO5Ph-QAMMaM2l33FJklUY0D5B3IdQ6KZOkKGYh0jh02BZsJlicOQ/s1600/aftermath-movie-still-16.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1351" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjYsetNL3hEZdqF-Jz6pHyLqtJU0FAgqEICqqaQOyEQYdau2k1o1U9tfJNv0CVgvXSS9nnzat68YEQ7sbqZWLGFPfO5Ph-QAMMaM2l33FJklUY0D5B3IdQ6KZOkKGYh0jh02BZsJlicOQ/s320/aftermath-movie-still-16.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><br />
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_igdop2ud80SAh0F8JGwu8gaYNlr6MKUGdIIY5bi2R6oaH-xm7rJODuPiqvAVEMbu7Kfmf3LDGD0N1bsD4rYiJbyR4YdTz_Vc-B-M4N_ec-hPbrRpsGw5E5bo7bxsFImXp0UMXuczsuo/s1600/aftermath-movie-still-17.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1357" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_igdop2ud80SAh0F8JGwu8gaYNlr6MKUGdIIY5bi2R6oaH-xm7rJODuPiqvAVEMbu7Kfmf3LDGD0N1bsD4rYiJbyR4YdTz_Vc-B-M4N_ec-hPbrRpsGw5E5bo7bxsFImXp0UMXuczsuo/s320/aftermath-movie-still-17.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">O casamento de </span><i>Jacob </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">& </span><i>Christina </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">azeda. A mulher recomenda que se afastem somente por um tempo, pouco tempo, até ganharem melhor perspectiva do futuro. Ela levará o menino e passará alguns dias na casa da irmã, até que o marido consiga se sentir melhor. </span><i>Jacob </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">contempla o suicídio ao visitar uma loja de armas. Ele adquire uma pistola para pôr termo à própria vida. </span><i>Bonaos </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">assiste solitariamente à televisão, envolvido pelo breu, com a arma no colo, decerto criando a coragem que nunca vem. A administração do aeroporto o convida a uma reunião, onde encontra dois de seus melhores amigos, entre eles o diretor </span><i>Robert</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. Apesar de viver o período mais conturbado de sua existência, </span><i>Bonaos </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">conta com colegas que realmente se preocupam com seu bem-estar. </span><i>Robert </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">preparou um excelente plano para reerguê-lo após tão lamentável golpe do destino. Eles querem que </span><i>Jacob </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">mude de nome e cidade, tal qual as testemunhas inscritas no programa de proteção, e aceite um cargo de semelhante remuneração. Embora a oferta demande enorme fé para que </span><i>Bonaos </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">dê um passo rumo à incerteza por vir, ele sabe que não haverá melhor proposta, e aceita.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: arial;"><br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1fpIG1_8xC8sLokaIjc7ksQLhteSjihRYzA05YH1qLzlYVcrHrEvjXtSiAKKVbM2a8gQc5xQnP32opvNcM74nDyuEkI4HAJsfz7qqyFlUQNQ2zkLpLIjJZg3Y3wXv3ZdpHMjlct6fY2s/s1600/aftermath-movie-still-18.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1347" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1fpIG1_8xC8sLokaIjc7ksQLhteSjihRYzA05YH1qLzlYVcrHrEvjXtSiAKKVbM2a8gQc5xQnP32opvNcM74nDyuEkI4HAJsfz7qqyFlUQNQ2zkLpLIjJZg3Y3wXv3ZdpHMjlct6fY2s/s320/aftermath-movie-still-18.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3jb6KHteRAvdbtfhSUerVCIIHmUC2oEiemuunj-wzf0zwcsIF-UKPtjQaHBi_wq5iyMF1RgrvWg_tnL4G_4Y_PhUGeHUt64-C_hkoD61IkY7-L1D-E1EvLrDA5i7kRqtiKCJfEHQ5rD8/s1600/aftermath-movie-still-19.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1359" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3jb6KHteRAvdbtfhSUerVCIIHmUC2oEiemuunj-wzf0zwcsIF-UKPtjQaHBi_wq5iyMF1RgrvWg_tnL4G_4Y_PhUGeHUt64-C_hkoD61IkY7-L1D-E1EvLrDA5i7kRqtiKCJfEHQ5rD8/s320/aftermath-movie-still-19.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><i>Roman</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> comparece a uma reunião com os advogados da companhia aérea. Ele não está atrás de uma vultuosa indenização, e sim de um pedido de desculpas. Quando </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">percebe que aos olhos do time jurídico a tragédia pode se resumir a números, ele se levanta do lugar e exibe furiosamente a fotografia da esposa e da filha, explicando-lhes que precisa de um pedido de desculpas, não de um acerto financeiro. </span><i>Bonaos </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">comparece a sessões com o terapeuta, contudo se limita a pedir as pílulas, dispensando conselhos. Ele se recolheu a um mundo à parte, e não quer saber de falar sobre sentimentos conflitantes. Naquela noite, </span><i>Bonaos </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">tenta o suicídio ao engolir um punhado de pílulas. O instinto de sobrevivência o impele a vomitá-las, antes que possam fazer efeito. Em outro lugar, em uma mercearia de esquina, </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">compra uma garrafa de uísque, enche a cara e dirige para o canteiro de obras, altas horas da noite. Ele sobe até a cobertura do edifício em obras, e seriamente cogita saltar. </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">acaba não cometendo a insanidade.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnJtY1Qgw_rR8loE1eYWq-M3ROWEEDZdN35KUat0priSs_SQyoygGw2wRZsFqEpLKs-Mykdczru9f5gHBLKm6U-Xf_9KYzkUhoSANi9HWp9UAXLX9EsDHvOKpFuHoKJere-QjVUi7bztw/s1600/aftermath-movie-still-20.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1357" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnJtY1Qgw_rR8loE1eYWq-M3ROWEEDZdN35KUat0priSs_SQyoygGw2wRZsFqEpLKs-Mykdczru9f5gHBLKm6U-Xf_9KYzkUhoSANi9HWp9UAXLX9EsDHvOKpFuHoKJere-QjVUi7bztw/s320/aftermath-movie-still-20.jpg" width="320" /></span></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5U5umS5XLImxS7XtLWFlpJzCBcC_iEFwLZUpF_t-NHDhZYFyo58Bbacy78NQr1YEqR8zw-v5H3EDPgMlM4O7gKVSpccsMkEEP03OpkvZbb0NDcKGIubRl6f-ccm-yLyhfLGdeOVhhtFM/s1600/aftermath-movie-still-21.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1359" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5U5umS5XLImxS7XtLWFlpJzCBcC_iEFwLZUpF_t-NHDhZYFyo58Bbacy78NQr1YEqR8zw-v5H3EDPgMlM4O7gKVSpccsMkEEP03OpkvZbb0NDcKGIubRl6f-ccm-yLyhfLGdeOVhhtFM/s320/aftermath-movie-still-21.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Um ano se passa. </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Um sacerdote realiza um belo discurso sobre o altar do presbitério improvisado às portas do gélido bosque, na cerimônia organizada no exato lugar onde caíram os destroços. A inauguração do monumento rende homenagem às vítimas, e os familiares se comovem com as palavras do padre. Lembram-se do cavalheiro visto por <i>Roman </i>no corredor, no começo do filme? Pois bem, ele se aproxima para se apresentar. Chama-se <i>Andrew Berg</i>, e perdeu a esposa e os cunhados na tragédia. Ele leu no jornal a história do colar da filha de <i>Roman</i>, utilizado como base para o design do monumento. Com dor no olhar, <i>Andrew </i>lhe indaga como tem lidado com o luto, vez que mal sabe o que fará de uma hora para a outra, enquanto vê a vida escoar pelo dreno, sentado na sala escura. <i>Roman </i>lhe diz que, um dia, o homem finalmente encontrará uma boa razão para tirá-lo de cima da cama e trazê-lo de volta ao jogo da vida.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxJUn4H1-p_Iu8RSxJ8Kbf4mNAUpqCmNFd-_vKXQVZOylHYQ_8BqPq94-2xW77jiA_8xpsG7FKqp5G4ZeBX2quPk4c5HdXjWVZIdXcSVVGrQaItP1hzewfCUmpjO4KJyoMWUyv_jLGvcs/s1600/aftermath-movie-still-23.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1357" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxJUn4H1-p_Iu8RSxJ8Kbf4mNAUpqCmNFd-_vKXQVZOylHYQ_8BqPq94-2xW77jiA_8xpsG7FKqp5G4ZeBX2quPk4c5HdXjWVZIdXcSVVGrQaItP1hzewfCUmpjO4KJyoMWUyv_jLGvcs/s320/aftermath-movie-still-23.jpg" width="320" /></span></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuyR5oVWkUpmFePpgmw9xdL2Jwh6zJnpUeGE09qWYm8c0aRE-l_CvZqY3dXTyfMXCNKegNxgsSW4PsK64CwGvR83NJRvDb3EnTPVk1NE2ben3h79KT4oUwwflVMqiq9jfdKFzWltT6pws/s1600/aftermath-movie-still-22.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="555" data-original-width="1353" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuyR5oVWkUpmFePpgmw9xdL2Jwh6zJnpUeGE09qWYm8c0aRE-l_CvZqY3dXTyfMXCNKegNxgsSW4PsK64CwGvR83NJRvDb3EnTPVk1NE2ben3h79KT4oUwwflVMqiq9jfdKFzWltT6pws/s320/aftermath-movie-still-22.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Para todos os efeitos, <i>Jacob Bonaos</i> "<i>deixou de existir</i>". Ele agora é "<i>Pat Dealbert</i>", e trabalha em uma agência turística sem despertar atenções sobre seu terrível passado. Ele vendeu um pacote de cruzeiro para um casal. Embora trabalhe com gosto, a cena não deixa de nos provocar um sabor amargo, pois somos levados a pensar na boa vida de <i>Bonaos</i>, no começo da trama, quando ainda contava com a mulher e o filho, e ocupava um valorizado cargo, o que contrasta com sua precária situação atual. Hoje, <i>Bonaos </i>mora em um flat, um confortável lugar, porém anos-luz do bairro de classe média alta da vida pretérita. Ele mais se assemelha a um solteirão desprovido de vida social, uma sombra do homem requintado que um dia fora. O mundo de <i>Roman </i>também diminuiu. Ele se conformou em trabalhar em empreitadas menores, e está concluindo as cercas da propriedade do simpático vizinho. O cavalheiro o elogia pela impressionante perícia, porém comete uma gafe ao comentar algo nas linhas de que a esposa adorará o resultado final. Instintivamente, o vizinho parece se arrepender da fala, pois jamais intencionara esfregar a felicidade pessoal, sua vida de casado, no rosto do viúvo. <i>Roman </i>leva na esportiva, mas sai do bate-papo visivelmente abalado, mais uma vez lembrado da tragédia que consome sua vida.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhp7Z2suKmkGMCuhyphenhyphenE1d3Kbrb9eNNly6lKyz2kJILrXoo-BvOzTBFggGFpk09aGLy37xROOCRL3wQ-kCKgo0Ot4vTdX1tASZ9jLIcaq4Do0pVt1TXStkdP4XeZTSvxHxsszonBc3ymcFGg/s1600/aftermath-movie-still-24.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1361" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhp7Z2suKmkGMCuhyphenhyphenE1d3Kbrb9eNNly6lKyz2kJILrXoo-BvOzTBFggGFpk09aGLy37xROOCRL3wQ-kCKgo0Ot4vTdX1tASZ9jLIcaq4Do0pVt1TXStkdP4XeZTSvxHxsszonBc3ymcFGg/s320/aftermath-movie-still-24.jpg" width="320" /></span></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg55xl2evVPMREoMdUWRLzfut-wJxTnjHTlp_f5JoRS34P4ASvQ_6DHoVul1544ujpGhnIHOyJrCSKi3mOfQ1q5wDrH078G1cZgS0XbuP948s-tioIAfdrIgZ0dAvQ-5_Ez14eGabCSGng/s1600/aftermath-movie-still-25.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1355" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg55xl2evVPMREoMdUWRLzfut-wJxTnjHTlp_f5JoRS34P4ASvQ_6DHoVul1544ujpGhnIHOyJrCSKi3mOfQ1q5wDrH078G1cZgS0XbuP948s-tioIAfdrIgZ0dAvQ-5_Ez14eGabCSGng/s320/aftermath-movie-still-25.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Uma noite, </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">toma a iniciativa de procurar </span><i>Tessa</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, a jornalista que dentro de algumas semanas lançará o livro sobre os eventos por trás da tragédia. O viúvo deseja saber o paradeiro de </span><i>Bonaos</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. Aparentemente, </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">deseja conversar, resolver o impasse, escutar a versão do controlador, em uma franca, honesta tentativa de superar o luto e perdoar o homem a quem atribui inteira responsabilidade pelo choque entre os Boeings. </span><i>Tessa </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">não fornece ainda as informações sobre </span><i>Bonaos</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. Ela prefere visitá-lo antes na sua nova cidade, por ocasião da véspera do lançamento do livro. </span><i>Bonaos </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">vocaliza o desejo de que a jornalista explique aos familiares das vítimas que jamais foi uma má pessoa e que nunca imaginou que por um deslize de segundos causaria tanta dor. Dias depois, </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">recebe uma ligação de </span><i>Tessa</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, marcando um encontro para logo mais, em uma diner qualquer. A jornalista vai direto ao ponto, e revela ao viúvo que o encontrou. Ela discorre sobre as novas circunstâncias da vida de </span><i>Bonaos</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">pede o endereço do rapaz, e </span><i>Tessa </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">titubeia, incerta se deve ou não fornecer os dados. Com sinceridade, o viúvo explicita seu intento. Apenas quer mostrar a foto da mulher e da filha, e exigir um pedido de desculpas. Ninguém conseguiu amenizar sua dor, nenhum agente aeroportuário, ou advogado da companhia aérea. Retomar a vida depende diretamente de um nobre pedido de desculpas. Comovida, </span><i>Tessa </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">lhe entrega um envelope com o paradeiro de </span><i>Bonaos</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhunMVmFWN6s3OvkDufhA-MMS81FtXV1AJ7UMAeUcUKBkrbTOmSCPnC-eQBJ7M7ul8pvhCLffGfhJICosRITEoXrDVi6cuI8Nsw2ya6GR8TMRfbQgweqV7ipKVmb6bHySNF2kQ-S55E8rk/s1600/aftermath-movie-still-27.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1361" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhunMVmFWN6s3OvkDufhA-MMS81FtXV1AJ7UMAeUcUKBkrbTOmSCPnC-eQBJ7M7ul8pvhCLffGfhJICosRITEoXrDVi6cuI8Nsw2ya6GR8TMRfbQgweqV7ipKVmb6bHySNF2kQ-S55E8rk/s320/aftermath-movie-still-27.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0wfvxHpGxGkHjLeZ2Iofg93yI1J_16sNPN4dvA3qLufQBBe-QPEri1syaBUHOYz1MBwwqzhyphenhyphenPYniwlglIrfEfdMNjVmfcbrqpXPy7oiGWS0R2OZQQ1EKAkmB2GECaIx8FC4A0rigTa7Q/s1600/aftermath-movie-still-26.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1355" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0wfvxHpGxGkHjLeZ2Iofg93yI1J_16sNPN4dvA3qLufQBBe-QPEri1syaBUHOYz1MBwwqzhyphenhyphenPYniwlglIrfEfdMNjVmfcbrqpXPy7oiGWS0R2OZQQ1EKAkmB2GECaIx8FC4A0rigTa7Q/s320/aftermath-movie-still-26.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Bonaos</i> prepara o jantar, até escutar a campainha. Por um momento, imaginamos que ao abrir a porta se deparará com <i>Roman</i>, mas quem ali se encontra são a mulher e o filho. Emocionado, ele os abraça, cheio de amor e saudade. Para sua felicidade, apesar do calvário inicial, <i>Bonaos </i>não perdeu o vínculo familiar. Após um tempo alienados um do outro, <i>Christina </i>e <i>Bonaos </i>conversam mais tranquilamente e em sintonia, ao sabor de taças de vinho, enquanto a criança dorme sossegadamente no sofá. Ele comenta que se a esposa se mudasse com <i>Samuel </i>para ali, seu progresso se daria mais rapidamente. Quando <i>Bonaos </i>comenta que reservou sua cama para a mulher e o filho, e ficará com o sofá, <i>Christina </i>responde, com os olhos marejados, que há lugar suficiente para os três, e marido e mulher se abraçam. Na manhã seguinte, uma tomada feita de cima registra a bela cena, os três acordando na mesma cama, novamente unidos como família. Para a má sorte de <i>Bonaos</i>, entretanto, <i>Roman </i>também resolveu prestar uma visita, e se encontra na cidade. <i>Christina </i>fica preocupada quando a campainha chama, e não encontra ninguém à porta. Em um quarto de motel, a algumas quadras de onde <i>Bonaos </i>tenta reconstruir a vida, <i>Roman </i>aguarda para agir, enquanto imagens horríveis envolvendo a queda do Boeing lhe causam um sono inconstante e cheio de perturbações.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijikuo1TkMJB1wEWEU-YDKl0CGezF7s8s1TVM9Exho8-sEn7_1RXBh-CxuoZ6ejwHFNJzo0R2hwwsb6ylAMQhDNQKbFOgEvVWtb11aSdn1pHM_iF7hjZV4NEYcEfRLsqV3ESqGCPgTqi8/s1600/aftermath-movie-still-28.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="555" data-original-width="1361" height="130" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijikuo1TkMJB1wEWEU-YDKl0CGezF7s8s1TVM9Exho8-sEn7_1RXBh-CxuoZ6ejwHFNJzo0R2hwwsb6ylAMQhDNQKbFOgEvVWtb11aSdn1pHM_iF7hjZV4NEYcEfRLsqV3ESqGCPgTqi8/s320/aftermath-movie-still-28.jpg" width="320" /></span></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCi_5SRto6FzXJjj4pcP8wCBDBNXr_OHIjn25bwEVA-qB__Tc86CmZaCgBS4UyRhGzJDuabNxXsnrD0WjoQ834XhyCKDDsv7b6iAW-yNnhh9NqTXyTbDiJlNiwPui9DCOv__8MLxVd_iQ/s1600/aftermath-movie-still-29.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1359" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCi_5SRto6FzXJjj4pcP8wCBDBNXr_OHIjn25bwEVA-qB__Tc86CmZaCgBS4UyRhGzJDuabNxXsnrD0WjoQ834XhyCKDDsv7b6iAW-yNnhh9NqTXyTbDiJlNiwPui9DCOv__8MLxVd_iQ/s320/aftermath-movie-still-29.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Naquela noite, quando a campainha chama novamente, e <i>Bonaos </i>atende, o controlador de voo se vê cara a cara com o viúvo. Sem perder tempo, <i>Roman </i>ergue a foto da mulher e da filha na altura dos olhos do rapaz. Por um azar do destino, ambos perdem o temperamento. <i>Roman </i>extravasa a pressão escaldante do luto, e <i>Bonaos </i>suplica para que o viúvo deixe o apartamento, pois a mulher e o filho se encontram, e não quer assustá-los com nenhuma espécie de confrontação ou vozes alteradas. Acidentalmente, um movimento mais brusco e involuntário por parte de <i>Bonaos </i>acerta a foto na mão de <i>Roman </i>e a atira ao chão. O viúvo toma o acidente como total desrespeito por parte de <i>Bonaos</i>, e, cego de raiva, saca uma lâmina. Ele o golpeia duas vezes, furando-o no peito e na carótida, causando uma maciça hemorragia impossível de se estancar. <i>Christina </i>e <i>Samuel </i>chegam à sala bem no momento, e testemunham desesperados os últimos segundos de vida do ex-controlador de voo. <i>Roman </i>jamais foi um criminoso ou covarde, e após cometer o homicídio sob violenta emoção, senta-se no sofá, estoico, à espera da polícia. Ele compreende que precisa ser responsabilizado pelos seus atos, e cumprir pena.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWe1vc6TFO0JeiGACtJhe0QL_ZoNJ13xtCtsnLqnwxZmVXfBdHTQTDHRAmMjYm-IS2NJX3ZHZDim3Scoz2tEsOh59TLNi_EXyIRPPT8UCm_ouEHKuPzqXAKkNMxj2KXT32_fr5Txd1hGM/s1600/aftermath-movie-still-30.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1355" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWe1vc6TFO0JeiGACtJhe0QL_ZoNJ13xtCtsnLqnwxZmVXfBdHTQTDHRAmMjYm-IS2NJX3ZHZDim3Scoz2tEsOh59TLNi_EXyIRPPT8UCm_ouEHKuPzqXAKkNMxj2KXT32_fr5Txd1hGM/s320/aftermath-movie-still-30.jpg" width="320" /></span></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUkQwVeuQrudorLCfwPH7vCc_qqtbmJDRJXHA-W2NNS65KOalXXYGJBPsPd_3io9rnwY3wu9PrgltDGW4dFUMWNucUv2LXOtHMDGpAC6rca3rpA6qWklYxSZGVduEuBgDOujxPGtt_X18/s1600/aftermath-movie-still-31.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1353" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUkQwVeuQrudorLCfwPH7vCc_qqtbmJDRJXHA-W2NNS65KOalXXYGJBPsPd_3io9rnwY3wu9PrgltDGW4dFUMWNucUv2LXOtHMDGpAC6rca3rpA6qWklYxSZGVduEuBgDOujxPGtt_X18/s320/aftermath-movie-still-31.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Roman</i> tenta se adaptar à existência atrás das grades, e vive como um homem magoado e reservado. As estações vão se sucedendo, e graças a uma belíssima montagem de folhas amarelas caindo ao toque do vento, nos é vendida a ideia da inexorável passagem dos anos. Quando menos se espera, uma década se foi. Um dia, ele recebe a visita do advogado, que traz boas novas. O juiz de execução penal resolveu rever sua pena e levar em consideração as circunstâncias atenuantes, reduzindo drasticamente a estadia na prisão. Dentro de quatro meses, <i>Roman </i>deixará o sistema carcerário. Claro, terá de comparecer semanalmente a sessões com um psicólogo, que redigirá relatórios sobre seu progresso, porém jamais precisará regressar à prisão. <i>Roman </i>deixa o presídio, e o primeiro lugar visitado é o cemitério onde suas amadas esposa & filha foram deixadas para descansar. Ele tem a oportunidade de depositar o colar sobre a lápide e lhes dizer o último adeus.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRW_RXEasbehzaCSU2sp9GaoiR7TNiemyE16EQ1t9dTpdPAx8ooh8E0wOGz_rhWa3iTB5s5pAlCNTy1B7C2YyIEaXMqzxzghw4vy5XNMWQKRep4wNwElitKxxYLCs0yNWiyuPEQsFmCYc/s1600/aftermath-movie-still-33.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="563" data-original-width="1349" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRW_RXEasbehzaCSU2sp9GaoiR7TNiemyE16EQ1t9dTpdPAx8ooh8E0wOGz_rhWa3iTB5s5pAlCNTy1B7C2YyIEaXMqzxzghw4vy5XNMWQKRep4wNwElitKxxYLCs0yNWiyuPEQsFmCYc/s320/aftermath-movie-still-33.jpg" width="320" /></span></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0rqRCBZG8PVNt5uuohCX2MC44kpn6BGVRuDuPBHfftudLe-6yFDtCqZ18GOaZSqQ_KUxqLk5oabbJA-MRfbT42G3abwX_xXIV0piVQIH90clOXIjHZSFM0sFJorMRUkjMNPWVBQFbk7U/s1600/aftermath-movie-still-34.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="563" data-original-width="1353" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0rqRCBZG8PVNt5uuohCX2MC44kpn6BGVRuDuPBHfftudLe-6yFDtCqZ18GOaZSqQ_KUxqLk5oabbJA-MRfbT42G3abwX_xXIV0piVQIH90clOXIjHZSFM0sFJorMRUkjMNPWVBQFbk7U/s320/aftermath-movie-still-34.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">No que se assemelha a um encontro casual, um jovem que não deve ter mais do que vinte anos gentilmente se aproxima e pergunta a </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">se conhece a saída do cemitério. Atenciosamente, o viúvo aponta as direções necessárias para se alcançar a saída, e se oferece a guiá-lo até lá, vez que já terminou a visita. No caminho, o rapaz comenta que jamais esteve no cemitério. Com dor na voz embargada, </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">recorda-se de que a última vez que caminhou por aquelas trilhas, foi há onze anos. Eventualmente, o viúvo pressente a eletricidade do momento, e se convence de que o rapaz o conhece de outras paragens. De fato, o jovem saca a arma e ordena que não se mova. Trata-se de </span><i>Samuel</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, agora já crescido. Ele disse que seguiu </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">do momento em que deixara a prisão, e imaginava que a lápide da família seria o primeiro lugar visitado. Embora a ausência do pai o tenha deixado amargurado, no último segundo, o jovem, que carrega dentro de si os bons ensinamentos da mãe, desiste da vingança, e sentencia que a saga de animosidade entre as famílias deve terminar ali. </span><i>Roman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">segue seu caminho em paz. Livres do ódio, ambos podem olhar para o futuro em vez de reviverem diariamente aquela trágica noite da queda do voo AX 1-12.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Baseado em fatos verídicos, a colisão de um avião da Bashkerian Airlines com outro da DHL, em julho de 2002, no céu da cidadezinha alemã de Uberlingen, "<i>Aftermath</i>" adapta o fatídico encontro de dois personagens inexoravelmente ligados pelas consequências da tragédia, um cavalheiro chamado <i>Vitaly Kaloyev</i>, arquiteto russo que perdeu esposa e duas filhas no acidente e, no filme, é reimaginado como <i>Roman Melnyck</i>, e outro senhor chamado <i>Peter Nielsen</i>, o controlador de voo de plantão na torre de Zurique, Suíça, na data do sinistro, vivido, em "<i>Aftermath</i>", pelo ator <i>Scoot McNary</i> no papel de "<i>Jacob Bonaos</i>". <i>Kaloyev </i>jamais superou a perda, e sustentou <i>Nielsen </i>como responsável pela sua desgraça pessoal. Ele rastreou o paradeiro de <i>Nielsen</i>, e lhe prestou uma visita na cidade de Kloten, próximo a Zurique, em 24 de fevereiro de 2004. Assim como visto no filme, <i>Kaloyev </i>exibiu a foto da família e demandou um pedido de desculpas por parte de <i>Nielsen</i>. Um desentendimento fez com que o viúvo se enfurecesse, sacando uma faca e ferindo o outro homem de morte. <i>Kaloyev </i>não ofereceu resistência quando policiais o prenderam em um quarto de motel perto da cena do crime, e três anos após o início do cumprimento da sentença, magistrados levaram em conta seu estado emocional à época do crime, ajustando . Ele foi solto em novembro de 2007, e recebido como herói na sua cidade natal em Ossétia do Norte.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWVlqN_XWO1zssYr-E1POJoZMRSQK9wIa3X4MGyHkRJhO5auun-TalyCD6tYpK6OopEG_UNWNetEtUfhmROJ3nSfcIqI1jFTRRfiywuwJoMJ5HO9EnEVl5wMzZauswXc2hxQFW-if-SGA/s1600/aftermath-movie-still-36.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="555" data-original-width="1355" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWVlqN_XWO1zssYr-E1POJoZMRSQK9wIa3X4MGyHkRJhO5auun-TalyCD6tYpK6OopEG_UNWNetEtUfhmROJ3nSfcIqI1jFTRRfiywuwJoMJ5HO9EnEVl5wMzZauswXc2hxQFW-if-SGA/s320/aftermath-movie-still-36.jpg" width="320" /></span></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNDsZSE6h7XaC9M92fXZUnyLCdWrK7MjKJs0P_o-3xjywV7VnplvfUrq5mtuCfKMlsJPriWLdqMnkLwy1PFEHvS7BX7BbqFxTXI9VxHzcd2kc8gRTXavmJtptWWErgGEMnF7dna4kRD1Y/s1600/aftermath-movie-still-37.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1359" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNDsZSE6h7XaC9M92fXZUnyLCdWrK7MjKJs0P_o-3xjywV7VnplvfUrq5mtuCfKMlsJPriWLdqMnkLwy1PFEHvS7BX7BbqFxTXI9VxHzcd2kc8gRTXavmJtptWWErgGEMnF7dna4kRD1Y/s320/aftermath-movie-still-37.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Após décadas consolidado como astro de ação, ironicamente, só foi após o ápice que </span><i>Arnold Schwarzenegger</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> viu chegar às mãos os roteiros mais humanos e gentis, coisas que deveria ter buscado muito antes, e só agora ganham maravilhosa vida por força das surpreendentes performances do ator. Em uma atuação comedida, humilde e melancólica, </span><i>Schwarzenegger </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">exibe fôlego dramático, e, em exercício de desapego, não hesita em se despir do glamour de herói de ação, como na breve cena em que, sem roupa, permite-se ser filmado mais velho e gordo. O resultado da aposta deu certo. Ao passo que a velha </span><i>persona</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, tão explorada nos </span><i>blockbusters </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">das décadas de 80 & 90, ainda crispe em seus olhos, um novo tipo de herói, o herói do mundo real, emerge em toda a glória. Em um projeto que o próprio astro jamais tocaria há, digamos, trinta anos, ele redescobre a grandeza pertinente à dignidade do </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">homem simples, comum e honrado, e de modo jamais feito anteriormente, nos convida a seguir suas atribuladas e falhas pegadas, visto que se trata de um ser humano de carne e osso, e não apenas uma delirante fantasia, como os papéis em filmes de ação que o tornaram muito, muito rico, mas deram pano para manga para que os maliciosos questionassem seu talento artístico. A guinada na carreira do ator pode ser rastreada à perna final do reinado como homem de ação, pois mesmo em "</span><i>O Último Desafio</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", um veículo apropriado para suas habilidades, já se enxergava uma bem-vinda mudança no tom do astro, que, </span><i>sim</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, dava vida a um valoroso xerife exército-de-um-homem-só, pronto para encarar dezenas de vilões, mas parecia mais surrado pela vida, e, mesmo triunfante sobre as adversidades, apanhava muito até fazer a vontade prevalecer sobre os planos dos perversos. Depois de "</span><i>O Último Desafio</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", </span><i>Schwarzenegger </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">ousou então encabeçar uma produção exclusivamente ancorada em performance dramática, e o resultado foi a atuação vencedora no drama "</span><i>Maggie</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", onde interpretava um valoroso chefe de família tentando cuidar da família em um Estados Unidos distópico assolado por uma catástrofe, mais especificamente um vírus potencializado da raiva para o qual não há vacina. Quando sua filha é mordida, e fica patente que se trata de uma questão de tempo até que desenvolva raiva, o pai, vivido pelo astro, toma para si a responsabilidade de cuidar da menina e, chegada a hora da transformação, lhe dar uma morte digna. Em um papel que de diversas maneiras nos faz pensar na belíssima performance de </span><i>Tommy Kirk</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> no clássico norte-americano "</span><i>Old Yeller</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", talvez o primeiro filme da história que tenha legado à raiva uma importante função na trama, </span><i>Schwarzenegger </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">recicla as qualidades que tanto nos fizeram amá-lo na sua chegada ao cinema, e do mesmo modo que faria anos mais tarde neste "</span><i>Aftermath</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", sintetiza uma nova sensibilidade que, ao retratá-lo como homem comum, o torna ainda mais admirável.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Sinalizando o compromisso com o novo momento, aqui, <i>Schwarzenegger </i>divide generosamente o escrutínio dos holofotes com seus colegas de elenco, igualmente brilhantes e merecedores de autonomia para encontrarem a própria voz. <i>Scoot McNary</i>, o segundo protagonista, chamara minha atenção no excepcional "<i>Monsters</i>", de 2011, a ficção-científica romântica dirigida por <i>Gareth Edwards</i> que deu fôlego aos filmes de monstro e lhe garantiu a cadeira de diretor de "<i>Godzilla</i>", de 2014. Em um típico filme de <i>Schwarzenegger</i>, o roteiro jamais concederia espaço ou tempo além do estritamente necessário para personagens que não o do herói, todavia, evidenciando o entusiasmo do astro pela incursão na fase <i>character actor</i>, o diretor <i>Elliot Lester</i> gozou de liberdade criativa para reservar ao controlador de voo o mesmo tratamento dedicado ao colega mais famoso. <i>McNary </i>teve tempo de sobra para criar nuances para a figura do atormentado "<i>antagonista</i>". Neste diapasão, ao assim proceder, <i>Lester </i>exercita a compaixão necessária para afastar da história a armadilha da banalização do drama de <i>Roman</i>, e enriquece a discussão ao nos lembrar da humanidade do controlador de voo, também chefe de família, do preço pago, tão caro quanto aquele depositado sobre as costas de <i>Roman</i>. As cenas de paz no seio da próspera vida familiar interpretadas por <i>McNaary</i>, <i>Maggie Grace</i> e o menino <i>Judah Nelson</i> nos brindam com um natural frescor que em vez de ilustrá-los como "<i>família de comercial de margarina</i>", mostra-os como um núcleo cúmplice e feliz, com direito a seus triunfos e dramas. A narrativa jamais abandona essas duas <i>highways </i>paralelas - o drama de <i>Roman </i>& e o conflito de <i>Bonaos </i>- e se alterna entre vias, rabiscando um quadro amplo & justo sobre as consequências do estranho senso de humor do destino.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Poucas produções abordaram com sensibilidade dramas sobre desastres aéreos, pois a maioria foca-se no acidente em si, e, quando menos se espera, tudo gira em torno do momento do impacto, e não do drama reverberado pela catástrofe. Ironicamente, apesar de "<i>Aftermath</i>" nos contar a história cuja premissa começa com a colisão de dois Boeings, não vemos um único avião no curso da trama, a não ser como pontinhos luminosos no monitor. Gratamente, o diretor preferiu relegar o cenário do desastre ao fundo, elegendo como prioridade as consequências do evento sobre aquelas pessoas, e não o evento <i>per si</i>. Ao assim proceder, "<i>Aftermath</i>" recupera a empolgação de produções mais antigas capazes de fazer os cabelos da nuca se eriçarem à romantizada visão de aeroportos, como foi o caso de "<i>Fearless</i>", de 1993, do diretor <i>Peter Weir</i>. No drama de <i>Weir</i>, um engenheiro sobrevivia à queda de um avião, levado abaixo em um milharal por problemas hidráulicos, e, no momento seguinte, salvava os demais passageiros, conduzindo-os através da cabine até à segurança do milharal, longe das chamas. Aclamado como herói, ele se aliena dos entes queridos graças à sensação de invencibilidade gerada pela vitória sobre a morte, e enquanto um terapeuta tenta ajudá-lo a se reconectar com a esposa e o filho, ele se apaixona por outra sobrevivente, uma jovem mãe devorada pela culpa por não ter abraçado o filho, um bebezinho, com força suficiente, no instante da queda, o que lhe custou a vida. Sempre conservei "<i>Fearless</i>" no coração, desde que o vi quando menino, em fita de vídeo, em 1994, e até mesmo encontrei inspiração na abertura, quando escrevi uma história chamada "<i>Nosebleed</i>", introduzida praticamente pelo mesmo expediente, um homem humilde e comum, neste caso um agente aeroportuário, metendo-se voluntariamente no aterrorizante cenário da queda de um Boeing na cabeceira da pista, salvando vidas e virando, de uma hora à outra, uma espécie de herói local, o que lhe rende a indesejável atenção de pessoas do passado, que ele teria feito de tudo para afastar. Eu me servi de três distintas fontes para conceber o roteiro, a cena introdutória do filme de <i>Weir </i>e as <i>graphic novels</i> "<i>A History of Violence</i>", de <i>John Wagner</i> (pelo viés do passado obscuro emergindo para assombrar o herói), e "<i>Daredevil: Born Again</i>", de <i>Frank Miller</i> (pela vertente da vilã pondo em movimento uma maciça campanha secreta de desmoralização da reputação do protagonista, e a luta de boxe entre os dois no ringue, no clímax, quando ele é massacrado, perde e diz algo nas linhas de "<i>eu não capitulo, mesmo sob a perspectiva da morte</i>", referência óbvia ao duelo entre o <i>Demolidor </i>e o <i>Rei</i>). De toda sorte, voltando a "<i>Aftermath</i>", assim como <i>Weir </i>realizou anteriormente, ele se policia para que o acidente em si não se transforme na coisa mais importante da trama, surpreendentemente intimista, e mesmo o aproveitando como o substrato sobre o qual brotaram as vertentes dramáticas, a coluna vertebral da tragédia não eclipsa os conflitos gerados pelo evento. Um acontecimento tão transformador quanto um desastre aéreo abre qualquer filme com a força de um dínamo, mas por não supervalorizá-lo, o diretor areja a história com espaço para que a força das performances e a assertividade do script se encarreguem de torná-lo um bom filme, e não somente um espetáculo do macabro.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">"<i>Aftermath</i>" utiliza muito bem o conceito do correr do tempo em benefício do arco dos personagens. Ao desprezar a tragédia aérea e preferir explorar o lado humano, o diretor precisava estudar os desdobramentos nas vidas individuais após o acidente, e como acontece à pintura, só se produz um quadro completo se ao artista forem dados espaço & tempo para carregar as tintas na poesia. Assim, o diretor <i>Lester </i>lança mão do recurso da passagem dos anos para "<i>prestar visitas periódicas</i>" aos atormentados protagonistas em distintos momentos: nos dias seguintes à confusão, um ano após a queda, e então dez anos após o acerto de contas entre <i>Roman </i>e <i>Bonaos</i>. A liberdade narrativa estimula um afiado desenvolvimento psicológico, porque em um período relativamente longo, captura o espírito, a disposição e as mudanças interiores daquela gente, elementos impossíveis de serem individualizados dentro de um espaço usualmente reservado a jornadas mais imediatas por parte dos protagonistas de filmes do gênero. Neste sentido, "<i>Aftermath</i>" esbanja a profundidade que o lança à frente de histórias com o mesmo ponto de partida, e, a sua maneira, faz-me pensar no aterrorizante "<i>The Poughkeepsie Tapes</i>", sobre o qual já escrevi no blog. "<i>The Poughkeepsie Tapes</i>", um dos melhores exemplares do subgênero "<i>mockumentary</i>" (filmes rodados como autênticos documentários, mas "<i>de mentirinha</i>"), exibia o drama das famílias de vítimas deixadas no encalço de um <i>serial killer</i> chamado "<i>O Açougueiro de Water Street</i>" através de filmagens de época e, principalmente, da saga de uma moça chamada <i>Cheryl Dempsey</i>, uma garota absolutamente normal até ter sido abduzida da casa dos pais em 1998, e mantida por quase dez anos em cativeiro, onde foi transformada em escrava sexual e cúmplice de homicídio. Quando a polícia estoura o claustro e a liberta, a infantilizada mulher insiste em "<i>ser devolvida para casa</i>", referindo-se ao calabouço de perversões sexuais do homem a quem, antes de tirar a própria vida, deixa uma carta por meio da qual jura amor eterno. Vez que o diretor <i>John Erick Dowdle </i>espraiou o conceito do "<i>Açougueiro de Water Street</i>" ao longo de uma década, ele acabou cavando certa profundidade psicológica ao filme, que pode ser considerado um dos mais perturbadores do tipo, justamente pela sensibilidade humana submetida ao escrutínio do microscópio do "<i>documentário</i>" (ou "<i>mockumentary</i>", como preferir), e as reverberações acusadas pelo contraste da passagem do tempo versus as diferenças de tom entre os distintos atos. No caso de "<i>Aftermath</i>", não fosse pela perspectiva do avanço dos anos, o dilema determinante nesta trama, o poder do perdão, jamais teria funcionado, pois lhe faltaria a legitimidade da verossimilhança. Por outro lado, porque conhecemos <i>Samuel </i>menininho, e depois o reencontramos como jovem homem, o amadurecimento e desenlace da questão soa justo e legítimo. A cronologia de uma década nos confere uma percepção mais honesta dos arcos individuais das pessoas envolvidas na tragédia, desde a confusão e raiva à reconciliação final.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Tecnicamente, percebe-se o cuidado da produção em desglamourizar a fotografia com o intuito de criar uma experiência a mais próxima possível da realidade. O diretor de fotografia <i>Pieter Vermeer</i> opta por um filtro acinzentado, quase averso a cores, conferindo à trama uma tristeza surrada e desesperançosa. A arte de <i>Vermeer </i>me faz pensar no visual de <i>Rodrigo Pietro</i> para o angustiante drama existencial de <i>Alejandro González Iñárritu</i>, "<i>21 Gramas</i>", ambos distintos em execução, mas, em seus respectivos fins, idênticos: "<i>21 Gramas</i>" prima por cores saturadas para sustentar uma sufocante atmosfera de luto, "<i>Aftermath</i>" escolhe a parcimônia da paleta para retratar um mundo de desalento e perda através da cor cinza; dos dois jeitos, os dois filmes primorosamente enfocam o peso da inesperada ruptura familiar, e, da mesma forma que "<i>21 Gramas</i>" oferece certa poesia em determinadas cenas de beleza em meio a dor, "<i>Aftermath</i>" flerta com o surrealismo, mais exatamente no recorrente pesadelo a atormentar <i>Roman</i>, onde vemos a queda pela perspectiva de quem devia se encontrar do lado da janelinha com a visão para a asa, no instante do mergulho final. O filme também traz uma tétrica cena de arrepiar os cabelos, quando <i>Roman </i>se junta à equipe de resgate. Embora não vejamos os corpos diretamente, o diretor mostra só o suficiente para sabermos que estão lá, e, por algum motivo, o fato de permanecerem íntegros, alguns ainda nas cadeiras, dá ao momento uma macabra atmosfera digna de filme de terror. Em termos de estratégia de direção, <i>Elliot Lester</i> demonstra humildade e sabedoria ao preferir manter o ego sob controle para deixar que seu maravilhoso elenco conte a história. O cineasta <i>Mark Romanek</i> agiu semelhante há quinze anos, quando executou o impecável "<i>Retratos de uma Obsessão</i>", um sensível, profundo </span><i>character study</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, prejudicado por uma equivocada campanha de marketing, iludida ao vendê-lo como o típico suspense sobre stalkers, quando, na verdade, fiava-se na performance vencedora de <i>Robin Williams</i> para contar a história de um sobrevivente de estupro na infância que sublimava a dor do trauma através da incondicional e secreta devoção a uma família a que julgava perfeita, e desejava como sua. Há uma cena onde o personagem de <i>Robin Williams</i> aparece no jogo da liga infantil para assistir à partida do menino, o filho do casal. Após o jogo, <i>Williams </i>caminha lado a lado com o garoto, e em uma breve conversa, fala sobre a própria dolorosa infância. <i>Romanek </i>limita-se a pôr as câmeras a uma certa distância, sem movimentos, sem estardalhaços. Ele sustenta a lente nos dois atores, e <i>voilá</i>, a magia toma frente, pela força do talento e, claro, do lindo, melancólico pano de fundo, folhas amareladas desprendendo-se das copas das árvores ao toque da ventania de outono. Em "</span><i>Aftermath</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", fiel ao compromisso do comedimento, <i>Lester </i>não tenta "<i>aparecer mais</i>" do que seus astros, e felizmente não se põe no caminho de uma história que já reúne elementos suficientes para gerar um excelente filme. Ele prepara as câmeras nos lugares certos, acerta com o diretor de fotografia a captura das cenas em tomadas e luzes encantadoras, mas não procura imprimir uma marca em particular, estando submetido e a completo serviço do bem maior.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">"<i>Aftermath</i>" o fará pensar na vida através de uma ótica mais cuidadosa e reflexiva, porque ao tempo que tramas do tipo lancem o escrutínio sobre a inconstante vastidão do coração humano, pouco produzem, em termos de análise, por uma mera questão de "<i>amostragem</i>". Um filme nos apresenta personagens em momentos de crise, e não obstante dificuldades nos ensinem muito sobre alguém, sequer arranham a complexidade do caráter. Essa história em particular analisa escolhas dentro de um período relevante de vida. Tendo assistido a muitos filmes, somente uma porcentagem mínima consegue permanecer conosco anos após a primeira exibição. Seguindo a tradição desta pequena parcela, "<i>Aftermath</i>" rondará seus pensamentos, e também o convidará a lançar um olhar sobre sua própria vida. No caso de <i>Roman</i>, um personagem pelo qual torci, a tragédia se deveu `a incapacidade de reagir propriamente ao predicamento a que sua vida fora jogada de supetão. Na mesma oportunidade, questiono: que tragédia não envolve exatamente o mesmo impasse? Um longo processo de perplexidade ante o sofrimento? Dia desses, ao passear por uma loja de departamento, deparei-me, na seção de brinquedos, com o "<i>Jogo da Vida</i>". As pessoas maduras o suficiente saberão que o "<i>Jogo da Vida</i>" circula há no mínimo trinta anos, pois eu me recordo das partidas com os colegas, na infância. Faz muito tempo desde que o vi pela última vez, mas guardo noções sobre como o negócio funciona. Você começava como um pino dentro de um carrinho onde existia espaço para outros pinos, leia-se a família que você formaria ao longo do caminho, e diante de si existia um tabuleiro atravessado por uma longa estrada, a começar por um específico ponto de partida, que terminava uma vez que o jogador chegasse ao destino. No curso da jornada, a depender da sorte envolvida na força aplicada sobre o giro da roleta, sua vida era mais ou menos guiada consoante uma série de variáveis. Hoje, as novas edições do jogo prometem inéditas situações, e não restam dúvidas de que as circunstâncias previstas nos lances da roleta mudaram muito desde minha última vez, no começo dos anos 90. Foi algo no contexto das doces, pueris ilustrações da caixa, entretanto, que me puseram a refletir sobre a singeleza a partir da qual alguém tenta realocar para um colorido tabuleiro toda a riqueza de distintas situações, próprias ao drama humano. Em gentil traçado, o desenhista condensa na superfície da caixa muitas divertidas situações como o universitário sorridente exibindo o canudo do diploma, o jovem casal deixando a igreja, a moça nos braços do homem, a garotinha com um buquê de flores correndo em direção aos contentes pais, e o bebê recebido neste mundo pela mãe, os avós presentes para acolhê-lo logo ao lado. Existe um quê de promessa nas imagens que dá ao contexto um irremissível fatalismo, um sabor agridoce. Sim, a vida pode nos reservar lindos momentos, dignos dos lápis coloridos do talentoso desenhista, para estampar a caixa de uma brincadeira chamada "<i>Jogo da Vida</i>", mas eu me flagrei me perguntando por que passar a vista sobre as gravuras me causava tão forte impressão, até mesmo me estimulava a pensar no filme sobre o qual eu escreveria uma resenha - o protagonista consumido pela perda e incapaz de "<i>voltar para a casa</i>", para o seu "<i>velho eu</i>". Eventualmente, compreendi o mistério. Reparem, o termo é importante, eu disse <i>mistério</i>. E a compreensão do mistério está na vanguarda da história do filme, transcendendo a imagem no ecrã, </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">mesmo que invisível aos olhos, e só perceptível indiretamente, desde que se preste <i>muita </i>atenção. E o advérbio também leva ênfase, porque poderá, um dia, salvar sua vida também.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Eu
compreendo a fundo a questão do transtorno da personalidade
narcisista pois pela maioria da vida eu estive no fim recebedor
desse tipo de abuso emocional. Embora tenha sofrido essa espécie de violência psicológica há muito tempo, só recentemente vim
a me atentar que essa "<i>coisa</i>" tem um nome. Depois que li de maneira <i>en passant</i>
materiais sobre a condição, enxerguei características de pessoas naquele quadro e me aprofundei no
assunto. Com o tempo, a verdade foi trazida à luz. O transtorno da
personalidade narcisista deve ter sido introduzido na minha vida aos seis
anos, eu diria, quando fui apresentado à primeira narcisista, um
assédio de puro ódio que deve ter começado em 1985, eu imagino,
embora não me lembre claramente. Esticou-se
por mais alguns anos, por mais que, mesmo depois de minha absolvição de qualquer convívio, a mesma figura tenha acompanhado minha
vida à distância com fervorosa dedicação. A primeira manifestação de maldade por parte dessa pessoa permaneceu fresca na memória, mesmo
embaralhada pela névoa das recordações mais afastadas, ela
aparecendo na beira da cama, a uma hora avançada da noite, de modo que
outras pessoas estivessem dormindo, fazendo questão de recomendar que eu não abrisse a boca, e me beliscando como
se quisesse arrancar a pele, pelo simples prazer da agressão. Ela agia conforme a cartilha de sempre, beliscar e tartamudear ameaças para sustentar um clima de eterna intimidação, era uma brutalidade contida, claro, para que na manhã seguinte não houvesse
hematomas roxos nos braços. Ali naquele ato perpetrado por uma
mulher que à época devia ter seus trinta & poucos anos contra
uma criança de seis, na calada da noite, a vida me apresentou a um
esquisito tipo de maldade que eu só compreenderia décadas mais tarde. Em distintas formas & pessoas, o narcisismo me revisitaria até
que eu tivesse maturidade suficiente para compreendê-lo. Ao escrever esta resenha, ocorreu-me a ferocidade com que
o filme de <i>Cronenberg</i>, "<i>Estranhos Prazeres</i>", ancorou-se a minha
mente, e me dei conta do quanto elementos da figura da primeira narcisista
apareciam na personagem da atriz <i>Deborah Unger</i>. Mesmo fisicamente, as
duas se assemelhavam, ambas loiras, o mesmo tipo de frieza robótica. Com o atropelo dos anos, a crueldade dessa promíscua sifilítica deve ter se encarregado de secá-la, mas, quando ela me fez a
primeira de muitas ameaças que viriam pelos próximos anos, era como se o fizesse a própria "<i>Catherine
Ballard</i>" daquele pesadelo de filme, com toda a efervescência de alguém com completo controle sobre uma criança de seis anos.
Trago na minha memória seu olhar muito oblíquo quando me acuava para me hostilizar sem descanso, e penso que deve ter sido o mesmo com que <i>Nero </i>dedilhou cordas de harpa enquanto Roma ardia em chamas, naquela que seria a primeira parte de seu plano para jogar a culpa nos cristãos e depois atirá-los ao coliseu, onde seriam despedaçados por leões. Mais tarde, livre da proximidade desse demônio, gente nova com semelhantes traços entrou e saiu de minha vida, regularmente, com menor ou maior ascendência, a variar conforme o conhecimento de mundo que eu havia adquirido para me desvencilhar mais prontamente. Deus age de forma misteriosa, pois só mais tarde, cerca de um ano após a morte de minha avó, uma pessoa que me amou incondicionalmente e quis meu bem, comecei a "<i>deixar a neblina</i>", uma penumbra difícil de se dissipar da vida das pessoas que tiveram de aturar narcisistas e seus jogos desde a infância. Eu credito minha descoberta a sua intercessão, pois em menos de um ano desde abril de 2016, sob a impressão de casualidade, cheguei a materiais que me despertaram para a existência do problema, e serviram como ponto de partida para a investigação. Também foi aproximadamente nessa época que, em uma manhã de domingo, procurei voluntariamente a antiga igreja próxima ao colégio militar, onde ela, minha avó, tanto costumara me levar quando criança. Cheguei ao lugar com o intento de prestar uma breve visita para me recordar de um tempo há muito perdido, porém fiquei até o fim, e desde então, nunca mais deixei os bancos aos domingos. Com o tempo, atentei-me que a missa era frequentada por crianças trazidas pelos pais, a chamada "<i>missa das crianças</i>", e pensei comigo mesmo sobre a forma como Deus trabalha, e espera o momento certo. Eu havia deixado aquela casa há décadas, quando criança, e ao regressar, totalmente às cegas, quis o destino que eu entrasse pela nave da igreja junto a pais da minha idade com suas crianças pequenas, como se estivesse retomando algo de onde havíamos parado. Por causa de minhas leituras, e da retomada de uma fé que já existia em mim por causa de meus avós, uma fé que até há pouco tempo, antes de meu retorno voluntário, me parecia uma questão longínqua da infância, uma coisa superada, pude enxergar melhor as razões da recorrência desse mal na minha vida, e encontrar conforto na verdade pela qual vi que não, as experiências ruins não haviam sido provocadas por mim, tampouco eram coisas da imaginação fértil de uma criança. Minhas experiências com diferentes narcisistas em distintos períodos são, isso sim, testemunho pessoal da existência deste transtorno comportamental, tido na história da Psiquiatria como uma das manifestações mais corrosivas de que se tem notícia. Não são poucas as pessoas que, submetidas a semelhante tratamento, desenvolvem dissonância cognitiva, doenças arrítmicas ou cânceres, ou mesmo põem termo à própria vida, dado o grau de inconstância, opressão e incerteza que essa gente deliberadamente cria. Suas trágicas vítimas morrem sugadas sem sequer saber que há um nome para a diabólica condição, e que existem formas de anular a perversão, até mesmo afastá-la. Minhas experiências me abençoaram ao calibrar meus olhos para discernirem os sinais dessa "<i>coisa</i>", desse "<i>monstro</i>", dessa "<i>besta</i>" que, ocasionalmente, manifesta-se ao tomar morada em novos personagens. Quem atravessou o drama deve ficar certo de que só no tempo encontra-se a desejada redenção, porque a partir do momento que se regressa espontaneamente à cruz, mesmo quando você chegar aos 90 anos e tiver apenas mais um dia nesse mundo, ou se sua longevidade não gozar de tamanho alcance e se vir incapacitado por uma doença terminal, por exemplo, <i>ainda assim</i>, você se dá conta de que a vida está apenas começando, e o melhor ainda está por vir. À medida que o narcisista envelhece, ao contrário, e sua influência escoa pelo ralo junto com o poder de barganha para encontrar trouxas úteis para ajudá-lo a drenar as vidas de suas vítimas preferenciais, eles se dão conta de que não lhes foi concedida nenhuma garantia, pois a morte está aí, e basta estarmos vivos para morrermos. À proporção que a vida neste mundo se tornar cada vez mais difícil, e estamos caminhando a passos largos para isso, basta olhar com atenção para o que acontece no Brasil e se encontra em curso na Europa, com a destruição da instituição familiar e dos próprios valores cristãos através de imigração em massa, o drama existencial dessa gente só se agravará. O narcisista vai se descobrindo cada vez mais excluído, dadas as pontes implodidas ao longo da vida, até não lhe restar mais nada a não ser a autofagia de um indecifrável buraco negro interior e a maldade de outros narcisistas mais jovens e muitos piores. Afinal de contas, como as considerações acima se relacionam com o "<i>Jogo da Vida</i>", ou como o "<i>Jogo da Vida</i>" se reporta ao filme objeto da resenha?</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 107%;">Há um cavalheiro cujos vídeos venho acompanhando ao
longo do último ano, o Rvmo. Padre Paulo Ricardo, cuja generosidade o moveu a dispor online seu vastíssimo conhecimento
através do qual muitos têm sido tocados e inspirados a "<i>voltar para
casa</i>", mesmo quando a fé cristã se tornara "<i>algo acontecido muitos anos
atrás</i>". Em um de seus vídeos, pelo qual prestava aconselhamentos a um
jovem católico atormentado por um drama de ordem pessoal, discutia o conceito que se tem da palavra "<i>felicidade</i>", e discorria sobre o
quanto a procura por uma felicidade absoluta aqui nesta existência levava ao mais
irrestrito desespero justamente porque felicidade não se encontra neste plano,
ao menos não plenamente, vez que o ser humano foi criado para
transcender. Em busca da pretensa felicidade, dizia Pe. Paulo Ricardo, o
adúltero arruína a própria família, a prostituta se destrói, as pessoas mais
carentes passam suas vidas mendigando migalhas de afeto, e o alcoólatra se mata
aos poucos... ele ilustrou um amplo espectro de tragédias humanas introduzidas
através de um "</span><i>canto de sereia</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" que, para
dinamitar as vidas das pessoas, usa
apenas uma linha ilusória de significado vazado: "</span><i>Seja feliz</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". O
jovem em questão queixava-se do sofrimento de âmbito íntimo, afinal, por conta das convicções
religiosas, precisara abdicar de uma determinada conduta particular, tida pela
Igreja Católica como pecaminosa, e admitia a revolta contra a própria fé
ao crer que perdia uma parte da vida, porque a renúncia não o fazia feliz. Em síntese, Pe. Paulo Ricardo oferecia sua orientação com uma
brilhante resposta, que para o jovem em particular certamente deve ter servido
para lhe abrir os olhos. Para mim, cujo drama difere da cruz do jovem em questão, porém
é igualmente pesada, as palavras me serviram como uma lufada de ar fresco.
Aqui, como jamais conseguiria em meus termos reproduzir o impacto de sua exposição, parafraseio suas
destemidas palavras: "</span><i>Para ajudar você, nós devemos fazer uma reflexão sobre a
felicidade, e o que eu vou falar para você vale para qualquer fiel católico.
Eu queria que você entendesse que o drama que você vive é semelhante ao drama
de todos os outros. Todos os seres humanos marcados pelo pecado original têm
sempre um canto de sereia, trata-se de uma tentação, uma tentação perversa,
demoníaca, que diz assim 'seja feliz, procure a felicidade aqui na Terra'. É
buscando essa felicidade que o alcoólatra se embriaga, que o drogado se
entorpece, que a prostituta se destrói, que o adúltero acaba com sua família, é
buscando essa felicidade que vivemos uma vida de tantas desventuras nessa
Terra. No entanto, Nosso Senhor não prometeu felicidade para ninguém aqui, Ele
prometeu, sim, felicidade no céu. Ele disse 'Eu vou preparar-vos um lugar, na
casa de meu Pai há muitas moradas'. Na casa do Pai existem muitas moradas porque diversas são as cruzes que cada um tem que carregar. Haverá uma morada para você também. Existe um lugar no céu com teu nome escrito, e eu gostaria que esse lugar não ficasse vazio. Eu gostaria que você chegasse lá. Por isso, vamos nos ajudar mutuamente: você reza por mim, e eu rezo por você. Eu vou caindo por aqui, você cai por aí. Quedas diferentes, é verdade, mas é através do cair & levantar-se que nós um dia chegaremos ao céu. A diferença do bom católico para o pecador não é que o católico nunca peca, mas é que o católico odeia o seu pecado. E eu vejo pelo seu e-mail que você tem um coração profundamente católico, que você odeia seu pecado. Mas se você odeia o pecado, então odeie também a mentira que te leva ao pecado, ou seja, a ilusão. É necessário que você combata essa palavra ilusória do demônio que te promete a felicidade com o realismo da cruz, a cruz crava os nossos pés no chão. Veja, não olhe para o mundo como se fosse um mundo onde todos vivem o paraíso, e só você, pobre você, desventurado, não consegue o paraíso aqui na Terra. Em que mundo você anda? Eu não vejo esse paraíso para ninguém. A felicidade é no céu. Essa Terra, esse mundo em que vivemos é um tira-gosto. Sim, tira-gosto é coisa boa, Deus fez esse mundo para a gente vivê-lo, e vivê-lo com alegria, mas essa é somente uma vida, que no Evangelho de São João Jesus chama de 'bios', é a vida biológica. Mas o que Ele nos promete é uma outra vida, é a vida com 'v' maiúsculo, 'zoe', uma outra palavra em grego, para dizer, a vida verdadeira vem lá. Aqui é o tira-gosto, o banquete é lá no céu. Se nós nos aproximamos de uma mesa de tira-gosto com uma pretensão de banquete, sabe qual é o resultado final? Frustração. Sim, porque tira-gosto é coisa gostosa na boca, mas pesada no estômago. Você está querendo encher o seu estômago com um tira-gosto muito pesado. Você precisa, ao contrário, entender que essa vida não vai preencher o seu estômago, ou seja, o seu coração. Não vai te dar essa felicidade toda que você quer. A vida é boa, bela, bonita, vale à pena ser vivida, mas ela é marcada pela cruz. Jesus não prometeu paraíso para ninguém aqui na Terra, o que ele disse foi 'Renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga'. Você vai encontrar uma palavra concreta e real da Igreja, que diz a você que através do carregar a cruz no dia a dia, e de amizades desinteressadas, você pode sim alcançar aquilo que todo cristão quer, a santificação. Lute, é possível. Se você cair, levante-se, levante-se, pare de ouvir o canto da sereia, pare de ouvir uma palavra mentirosa e a substitua pelo ouvir a palavra de Deus, mas é necessário que seja uma palavra de Deus com os pés cravados no chão. Ou seja, não caia também nesses outros tantos cantos de sereia de igrejas que prometem o paraíso aqui na Terra, 'pare de sofrer', 'Deus vai resolver todos os seus problemas', 'você vai fazer o paraíso aqui', isso não existe, não há paraíso aqui, não há terra sem males nesse mundo, o que existe nesse mundo é a graça de Deus que nos ajuda a ter força moral no dia a dia para combater o Mal dentro e fora de nós até o último dia. Então, eu concluo contando para você a história de um monge muito sábio. Um dia, perguntaram para esse monge 'Escuta, o que vocês fazem lá no mosteiro?'. O monge então coçou a barba e disse assim 'Lá dentro? Lá, a gente cai, levanta, cai, levanta, cai, levanta, até o dia em que Nosso Senhor voltar. E quando Ele voltar, Ele vai ver que nós caímos e estamos acabando de levantar. E vai nos levantar definitivamente'. Eu tenho certeza que se você perseverar, as quedas diminuirão. Seja paciente consigo mesmo, mas é necessária uma vida de ascese, de carregar a cruz do dia a dia. Se você rejeitar a cruz, você vai cair no canto da sereia, mas se você abraçar a cruz e enxergar que a cruz é de todos, que você não é um pobre coitado, a única criatura na Terra que Deus se vingou e jogou a cruz nas suas costas, nada disso, você não vai cair. A cruz é um mistério, e Deus veio carregar a cruz conosco. Nós não estamos sozinhos, você não está sozinho, Jesus carrega a cruz com você. E se com </i><i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Ele morremos, com Ele viveremos no céu. Tem um lugar para você no céu. Persevere, meu filho, continue. Deus te abençoe".</span></i><br />
<span face=""arial" , sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 120%;"><br /></span>
<span face=""arial" , sans-serif" lang="PT-BR" style="line-height: 120%;">Depois que assisti à bela mensagem,
entendi a natureza do que existe de invisível naquela caixa de "<i>Jogo da Vida</i>",
e por que a sua presença jamais permitirá que se perca a emoção do momento. Ao escrever sobre o
arco do protagonista deste filme, o <i>Roman</i>, enxerguei melhor a forma como os
pontos se conectam e até mesmo me remetem de volta a minha própria vida, ou ou o fariam a qualquer outra pessoa. Ali, sobre a caixa, sobre a simplicidade de desenhos representantes de belas vinhetas para possibilidades da vida, pesa a sombra daquilo
que a todos é comum, a cruz que cada um carrega sobre os ombros. Pe. Paulo Ricardo frisa "<i>a vida é boa, bela, vale à pena ser vivida</i>", conforme
as ilustrações de "<i>O Jogo da Vida</i>" nos fazem lembrar, todavia é sob a força daquilo
que não precisa ser impresso que o tempo, o senhor da razão, chega para complementar o que ao Padre já é familiar, "<i>...
mas é marcada pela cruz</i>". No filme objeto da análise, temos a tragédia clássica
de dois homens desesperados, <i>Roman </i>& <i>Bonaos</i>, impotentes em enxergar a
natureza das diferentes cruzes sobre seus ombros, <i>Roman </i>tendo perdido a
família, <i>Bonaos </i>a paz de espírito pelo sentimento de culpa, ambos recorrendo a extremos em busca de uma felicidade, uma satisfação que, neste contexto, jamais virá nesta vida, e só os afundará mais irremediavelmente no abismo. E mesmo que naquela noite o sinistro não tivesse ocorrido, <i>Roman </i>tivesse abraçado mulher e filha, e <i>Bonaos </i>seguido a vida perfeita, por mais que os anos vindouros lhes tivessem reservado momentos cheios de alegria - como as ilustrações na caixa de um jogo - qualquer felicidade, neste plano, sempre variará muito a depender das circunstâncias. A única conduta que lhes teria salvo seria a fé necessária para carregar a cruz, porque a consciência da transitoriedade dessa existência torna as ilustrações na caixa do "<i>Jogo da Vida</i>" ainda mais relativas. Para a minha vida pessoal, ao assistir a este filme e depois à fala de Pe. Paulo Ricardo, vim a compreender porque o transtorno da personalidade narcisista, esta "<i>fera</i>", este "<i>monstro</i>", tão recorrente desde a infância no meu caminho, jamais foi embora totalmente, e ainda hoje, tendo tomado morada em pessoas novas, ocasionalmente, estica o pescoço para me checar. Trata-se de um teste, uma cruz a ser carregada com dignidade e alegria, algo que jamais será explicado, pelo simples fato de que a cruz é justamente isso: um mistério. É pelo realismo da cruz, entretanto, que resistimos à poderosa ilusão criada pela mentira, e ao pontuarmos que, afinal de contas, nada é mais próprio ao narcisismo do que a criação de fantasias, constataremos que a arma que te fere, a cruz, acaba sendo a mesma que te salva. Recordo-me frequentemente de minha avó, e em meu coração firmei a convicção de que foi obra de seu amor o fato de eu ter regressado à igreja, e encontrado nome e explicação para um mal que tomou minha vida de assalto, quando pequeno, e vem perdurando até hoje. Ela sabia que haveria o tempo certo para que as peças se encaixassem em um conjunto claro e coeso. Eu sei que ela devia pressentir a natureza das pessoas completamente loucas e extremamente perigosas na minha vida, mas só lhe cabia orar, primeiro, para que não me fizessem mal, afinal narcisistas são instáveis, explosivos, imprevisíveis e de uma ferocidade demoníaca, e, segundo, que eu chegasse a uma resposta por mim mesmo, porque há constatações que ninguém mais pode fazer pela gente, a não ser nós mesmos. Como diz a música, "<i>As coisas fundamentais se aplicam, à medida que o tempo se vai</i>". Muitos anos se passaram desde que eu fui apresentado a um tipo de cruz que assume muitas faces, de sorte que hoje não me assusto mais, porém, de lá para cá, dentre tantos rostos distintos, ainda me impressiono com a única constante: <i>é o mesmo olhar</i>.</span><br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: arial;"><iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/ZN8toxhSn9Y/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/ZN8toxhSn9Y?feature=player_embedded" width="320"></iframe></span></div>
<span lang="PT-BR" style="font-family: arial; line-height: 120%;"><i style="background-color: #eeeeee;">Todos os direitos autorais reservados a Lionsgate. O uso do trailer & imagens é para uso meramente ilustrativo da resenha.</i></span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<o:p></o:p></div>
</div>
Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-78058537744430087392017-05-26T17:41:00.000-07:002019-05-07T09:51:50.362-07:00"XX" (EUA, 2017, Roxanne Benjamin, Karyn Kusama, St. Vincent & Jovanka Vuckovic) A perspectiva feminina traz à luz um universo de nuances que só a sensibilidade de uma mulher seria capaz de devassar. Quem diria que elas podem nos ensinar tanto sobre horror?<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSU6uZJ5OB7bYZ373AU7qcQbikzKPolkYr8K4GK6kX1sLou6GJF12a2fcOV-5SxvoV0QEdkZB7jwVtj7dZUEVnziQY9faw7gJOcIWQDKjf678qdGu6pVsD3dXLofZlGb3pxOj1Ro2WZio/s1600/the-box-movie-still-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="519" data-original-width="1269" height="162" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSU6uZJ5OB7bYZ373AU7qcQbikzKPolkYr8K4GK6kX1sLou6GJF12a2fcOV-5SxvoV0QEdkZB7jwVtj7dZUEVnziQY9faw7gJOcIWQDKjf678qdGu6pVsD3dXLofZlGb3pxOj1Ro2WZio/s400/the-box-movie-still-2.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A antologia de horror "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">V/H/S</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" rompeu com o paradigma ao
nos presentear com um novo formato, e também nos deu um vislumbre do futuro
comercial de coisas do tipo. Há todo um mercado na mídia </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">vídeo on demand</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, onde,
após a passagem por festivais independentes especializados, essas pequenas, geniais obras do
cinema cult desembocam, cortesia de uma perfeita, ágil
e cômoda ferramenta de longo alcance, modo de
fazer frente ao poder aniquilador de blockbusters monopolizadores de multiplexes. Compostos por segmentos amarrados por uma linha narrativa principal, os
filmes da antologia "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">V/H/S</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" viabilizaram oportunidades para que jovens
cineastas experimentassem com os argumentos mais bizarros imagináveis e nos mostrassem quão talentosos o eram,
o que dava ao conjunto um delicioso gostinho de aventura através do passeio pela "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">boca do
lixo</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", nos mesmos moldes do gênero </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">exploitation
</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">dirigido por gente como </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Cronenberg</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Romero </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Argento</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, no submundo da
contracultura, nos anos 70, quando extravagâncias como "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Deep Throat</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" tinham seus títulos exibidos ao lado de nomes de produções </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">mainstream </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">nas marquises. A resposta feminina para a testosterona de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">V/H/S</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" não demorou, e agora temos "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">XX</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", uma antologia dirigida exclusivamente por
mulheres cineastas, imbuídas de poderosa sensibilidade, cujas lentes lhes emprestam um refrescante ponto de vista ao fascinante elemento do macabro, em um universo
caótico e em plena revolução. Composto por quatro contos dirigidos por
diferentes cineastas, conectados por um gótico trabalho em stop-motion que presta homenagem a </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Tim Burton</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> ("</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">O Estranho Mundo de Jack</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"), "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">XX</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" satisfará os cinéfilos
saudosos da criatividade de guerrilha dos três filmes "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">V/H/S</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">".</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVzPemmxQuWhbaj4lpPsjWc9u94SSJlrMVs2i1fAUQZn5cEpRWtpj6eqYiWiXIhqtwfy8NqCWSqQJOlw5Z8qaaOVcewAedhG4Jk93RTNsJPYzPhuWMkRMOH-42HQq6YsfJr7PUsw7zTKU/s1600/the-box-movie-still-3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1273" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVzPemmxQuWhbaj4lpPsjWc9u94SSJlrMVs2i1fAUQZn5cEpRWtpj6eqYiWiXIhqtwfy8NqCWSqQJOlw5Z8qaaOVcewAedhG4Jk93RTNsJPYzPhuWMkRMOH-42HQq6YsfJr7PUsw7zTKU/s320/the-box-movie-still-3.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMgw6_d0Ndpqzr2ZRuv4RAZf92ApaG-Y2rdfZI8fVKVNdBYs1T8TiOQIEJr6p6AE74eEVmP0xv9dQmBpxrEjoRyxYBZMCtVBW9wau5OCF6Fku4PULQM16esKOwF4W5N-ZUYRAUmyVpeBQ/s1600/the-box-movie-still-4.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="527" data-original-width="1275" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMgw6_d0Ndpqzr2ZRuv4RAZf92ApaG-Y2rdfZI8fVKVNdBYs1T8TiOQIEJr6p6AE74eEVmP0xv9dQmBpxrEjoRyxYBZMCtVBW9wau5OCF6Fku4PULQM16esKOwF4W5N-ZUYRAUmyVpeBQ/s320/the-box-movie-still-4.jpg" width="320" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhg757bKu9-74U7MZG-L9uWnZo9P_NQ7nz8J0LLHszmr9TjE3KhsQVfRVJHgyn9vXvPscYpZojSos7khIwK6GMIN_YQWmnHkEDdxCVATBO20vZKG5jOXyR8avbV0DT2CUKCjuqdKrRpbW8/s1600/the-box-movie-still-5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="527" data-original-width="1277" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhg757bKu9-74U7MZG-L9uWnZo9P_NQ7nz8J0LLHszmr9TjE3KhsQVfRVJHgyn9vXvPscYpZojSos7khIwK6GMIN_YQWmnHkEDdxCVATBO20vZKG5jOXyR8avbV0DT2CUKCjuqdKrRpbW8/s320/the-box-movie-still-5.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"XX" </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">quase </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">teria sido um completo </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">affair </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de "<i>Clube da Luluzinha</i>", porém os homens não foram de todo imprestáveis! Concebido sob a batuta de competentíssimas diretoras, também teve os argumentos escritos pelas mesmas, excetuando-se "</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>The Box</i></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", a </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">short story</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> de <i>Jack Ketchum</i>, nome conhecido pelos apaixonados por romances doentios e macabros. O segmento baseado na obra de <i>Ketchum </i>abre o filme com a atmosfera desejada, e o clima jamais se perderá pelos próximos 80 minutos até o desfecho do último segmento. É véspera de Natal, e <i>Susan Jacobs</i> (uma performance vencedora de <i>Natalie Brown</i>), uma elegante mamãe novaiorquina aos 30 e poucos anos de idade, leva os filhos <i>Danny </i>(<i>Peter DaCunha</i>) e <i>Jenny </i>(<i>Peyton Kennedy</i>) para casa, no trem, depois de um dia inteiro conduzindo-os por passeios ao cinema e ao rinque de patinação. Espevitadas, as duas crianças notam um discreto, sombrio cavalheiro vestido em sobretudo e chapéu, com uma chamativa caixa vermelha no colo. O incherido <i>Danny </i>pergunta na "<i>cara dura</i>" o que há na caixa, para a divertida surpresa do cavalheiro. Constrangida, <i>Susan </i>desculpa-se com o estranho e manda o menino deixá-lo em paz. Bastante receptivo, o homem não apenas desarma a situação ao afirmar que está tudo bem, também levanta um pouquinho a tampa, para que <i>Danny </i>veja o conteúdo. A câmera não revela o interior do presente, porém algo no olhar e franzido da testa do menino indica que se trata de algo no mínimo estranho. O cavalheiro se despede logo em seguida, e desembarca na próxima estação.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8XclXLyprbVgQFSNtuC0j8Nzu7aw-oKO99V02-jorCWwIUkwv7jBG2YEA7rVGEG2OUKiSp8w6UPGCFSksrC2Gyr5rRMsRPoGiFPzghTxTQ3o0z8eFYs_NQmmTAontqwFavWJFoRsnpZY/s1600/the-box-movie-still-6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1273" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8XclXLyprbVgQFSNtuC0j8Nzu7aw-oKO99V02-jorCWwIUkwv7jBG2YEA7rVGEG2OUKiSp8w6UPGCFSksrC2Gyr5rRMsRPoGiFPzghTxTQ3o0z8eFYs_NQmmTAontqwFavWJFoRsnpZY/s320/the-box-movie-still-6.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUa3eN5T_sJRpBTdaltq8RzykJoXKDdHCOG8ctG-QcbM4bsFlOYx_qlrstzIfb08b6pfIYJ4insr4PvS6YydLErPaoZS9T8zJOg0QHVklCL21aAy4MPzhiyUH89y2AoNmDdmmHiyMxYq4/s1600/the-box-movie-still-7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="527" data-original-width="1277" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUa3eN5T_sJRpBTdaltq8RzykJoXKDdHCOG8ctG-QcbM4bsFlOYx_qlrstzIfb08b6pfIYJ4insr4PvS6YydLErPaoZS9T8zJOg0QHVklCL21aAy4MPzhiyUH89y2AoNmDdmmHiyMxYq4/s320/the-box-movie-still-7.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Robert</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, o pai das crianças e esposo de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Susan</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, já se encontra à espera da família, tendo preparado o jantar. Na chegada à casa, enquanto se livram dos casacos e tênis, a menina pergunta ao irmão o que havia dentro da caixa. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Danny </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">é ambíguo, e minimiza a importância do encontro ao responder que não existia nada. À mesa, o pai preparou um delicioso jantar. Os </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jacobs </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">parecem uma típica família unida e feliz, mas a estrutura do lar está para desmoronar por causa do aparentemente inócuo encontro no trem. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Robert </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Susan </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">estranham quando </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Danny</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, sempre tão esfomeado na hora do jantar, não toca na comida, ao passo que </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jenny </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pede para repetir o prato. O pai estranha, mas não muito: como haviam comido no passeio, parece razoável que o menino realmente não tenha desejo de jantar. Reunidos na sala de estar para assistir a "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">A Noite dos Mortos Vivos</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", todos agem com naturalidade e alegria. A mãe os observa da poltrona onde se acomodou, enquanto </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Robert </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jenny </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">comem pipoca da tigela, e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Danny </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">faz brincadeiras, sentado no tapete.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7XLIZdZ9W2-ShvS1a_vSTQNBouc50sWwLqxD3EIs3xDyM5SpkpORlrkjVfdRgxuLN-QvZ9Sp5jDa9YcOVHJzdBkv1g97G44bomBajKTV4EZ7S0l4B9Xn22Wx20vHvjWQIq50s4n0uGZk/s1600/the-box-movie-still-8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1273" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7XLIZdZ9W2-ShvS1a_vSTQNBouc50sWwLqxD3EIs3xDyM5SpkpORlrkjVfdRgxuLN-QvZ9Sp5jDa9YcOVHJzdBkv1g97G44bomBajKTV4EZ7S0l4B9Xn22Wx20vHvjWQIq50s4n0uGZk/s320/the-box-movie-still-8.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiil6uX2oiN19wp8g2UQQEKPv65Rg6vRgasopmJWjZyphDxHcEnXREHN_f01doL9KpRyQyCjot1LvqgBfFeVZhy-JuaZVDIQfhj_EjJ_EHHZ0ZX8mI87iZrpLMuYomsepM9tiGsP1DC6HE/s1600/the-box-movie-still-9.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1275" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiil6uX2oiN19wp8g2UQQEKPv65Rg6vRgasopmJWjZyphDxHcEnXREHN_f01doL9KpRyQyCjot1LvqgBfFeVZhy-JuaZVDIQfhj_EjJ_EHHZ0ZX8mI87iZrpLMuYomsepM9tiGsP1DC6HE/s320/the-box-movie-still-9.jpg" width="320" /></a><br />
<span lang="PT-BR" style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Na manhã seguinte, na saída de casa para o ponto de ônibus escolar, diferente da irmã, <i>Danny </i>se esquece de pegar a lancheira. A mãe chama a atenção para o esquecimento. À noite, os pais prepararam pães recheados com batata, purê, e costelas assadas, uma deliciosa refeição. <i>Danny </i>não quer saber, e embora fale animadamente sobre o dia, sem aparentar problemas com a saúde, a situação começa a saltar aos olhos dos agora tensos pais. Na conversa após o jantar, os dois adultos discutem a situação. <i>Robert </i>conta que a lancheira voltou intacta, o menino sequer provara o lanche da merenda no intervalo do recreio. <i>Susan </i>ainda não "<i>entrou em pânico</i>", afinal crianças costumam aprontar as mais inusitadas artimanhas para "<i>fugir</i>" das aulas. <i>Robert </i>cogita levá-lo logo ao pediatra da família, Dr. <i>Weller</i>, todavia, como <i>Danny </i>não demonstra febre, como a própria <i>Susan </i>ressalta, ainda é cedo para tomar a medida. Mesmo que se trate de virose, não há nada a ser feito, pois viroses gozam de um ciclo de vida diante do qual há pouco a fazer, que não tomar muita água e repousar.</span></span><br />
<span lang="PT-BR" style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmMwlDZ3CUx1n9-TqsAkUxh22p3HWQ6D-BTFZrZvNCrhTpQtyuu0nB9d6AbTGaeC14SaguNil_IXe5bLVdwZN7eEAZVQ56Iafwl-wfHNLF0QNKFZVXAqEPWJANF2R547lx53AUIv7YBc0/s1600/the-box-movie-still-11.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1271" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmMwlDZ3CUx1n9-TqsAkUxh22p3HWQ6D-BTFZrZvNCrhTpQtyuu0nB9d6AbTGaeC14SaguNil_IXe5bLVdwZN7eEAZVQ56Iafwl-wfHNLF0QNKFZVXAqEPWJANF2R547lx53AUIv7YBc0/s320/the-box-movie-still-11.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjA0OAjzFddFxG58mUFvbMO3X5sKrYuXU9mP96CTOjdE5ozkt9pYfAkRXaL-vYAzIhYQMSdlPpkrO6zZa3I0tmqBHbwgAW_TsBL86N_z4PHjxZs48E5DlU6opnN9Ctf4-B3C1K8Sil5xdg/s1600/the-box-movie-still-10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1273" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjA0OAjzFddFxG58mUFvbMO3X5sKrYuXU9mP96CTOjdE5ozkt9pYfAkRXaL-vYAzIhYQMSdlPpkrO6zZa3I0tmqBHbwgAW_TsBL86N_z4PHjxZs48E5DlU6opnN9Ctf4-B3C1K8Sil5xdg/s320/the-box-movie-still-10.jpg" width="320" /></a><span lang="PT-BR" style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Almôndegas com espaguete pinceladas por molho de tomate e pãezinhos de alho tostados: só de ver os pratos, surge água na boca. <i>Jenny </i>devora sua porção sem dó, <i>Danny </i>apenas encara a comida, apático. Dessa vez, os pais chamam a atenção do garoto, e insistem que faz três dias desde sua última refeição. <i>Jenny </i>levanta a hipótese de o menino ter pegado catapora, e ao ilustrar com exagerados gestos os efeitos da doença em uma coleguinha, o irmão a interrompe para avisar que apenas perdeu o apetite. Os pais o escusam, mas vestem olhares enervados. A gota d'água ocorre na noite seguinte, quando <i>Robert </i>perde a paciência, desfere um murro na mesa e sentencia que o filho não os deixará até comer seu pedaço de pizza. <i>Robert </i>acaba às lágrimas, visivelmente cheio de remorso por ter gritado com o filho. Mais centrada, <i>Susan </i>se serve da sensibilidade de mãe para pôr panos quentes na volátil discussão. No dia seguinte, os <i>Jacobs </i>procuram o Dr. <i>Weller</i>.</span></span><br />
<span lang="PT-BR" style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO44fJo6Bty5avI3o1HSvxRYIIXCvoq_z2s_cBECraIMQggf8RqluyRQeLvYjE03FAURk5FmGl3sbdF6nOuAAA2HLY4Bt5o3bXCyY4OkXQ_xXKzbf3kOgH3tiytgY17X12U0fBVcGRjj8/s1600/the-box-movie-still-12.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="527" data-original-width="1275" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO44fJo6Bty5avI3o1HSvxRYIIXCvoq_z2s_cBECraIMQggf8RqluyRQeLvYjE03FAURk5FmGl3sbdF6nOuAAA2HLY4Bt5o3bXCyY4OkXQ_xXKzbf3kOgH3tiytgY17X12U0fBVcGRjj8/s320/the-box-movie-still-12.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjooO8iJesL02NjYYcBKZ0oIvtG3crbrnS8eqGI-8X2aEni32_CUKu0HW52wZokXjWvh3p7kENWUN-T0xa6xYazJGjeX_OG4W31VdDExsWnHE8YvqgmWO1iwRN14VFxC4xorKCZ3v2ejdQ/s1600/the-box-movie-still-13.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1277" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjooO8iJesL02NjYYcBKZ0oIvtG3crbrnS8eqGI-8X2aEni32_CUKu0HW52wZokXjWvh3p7kENWUN-T0xa6xYazJGjeX_OG4W31VdDExsWnHE8YvqgmWO1iwRN14VFxC4xorKCZ3v2ejdQ/s320/the-box-movie-still-13.jpg" width="320" /></a><span lang="PT-BR" style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Reunidos em uma ilha do atendimento de urgência do hospital, Dr. <i>Weller </i>repassa os principais sintomas na tentativa de pinçar a natureza do mal. Ele os questiona sobre febre, vômitos ou diarreia. Os pais explicam que, excluída a apatia, o menino parece perfeitamente bem, por mais que não coma há mais de cinco dias. Perspicaz, o pediatra<i> </i>solicita privacidade com o paciente, obviamente preocupado com a possibilidade de a criança vir sendo vítima de abusos por parte dos pais. A explicação do garoto o deixa mais confuso. Os pais nada lhe fizeram, <i>Danny </i>apenas perdeu o apetite, de uma hora para a outra. "<i>Há pessoas famintas ao redor do mundo, se não correr, eventualmente morrerá</i>", ele tenta colocar as coisas sob perspectiva. O garoto retruca: "<i>E daí?</i>". Quando em nova reunião os pais acrescentam que o filho não tem tido problemas em casa, tampouco no colégio, Dr. <i>Weller </i>levanta a hipótese de a falta de apetite se dever a questões de fundo emocional, e fornece o nome de um terapeuta, amigo seu, para atendê-lo. O objetivo principal agora, segundo Dr. <i>Weller</i>, é ajudá-lo a voltar a se nutrir. <i>Danny </i>sequer se senta no seu lugar à mesa, durante o jantar. Ele continua metido no misterioso retiro.</span></span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirqkv4Fl0sdyeLVO_DyMxmI9_Y0aqA7umUjYzIFMBH0b1PYglA4UWydOh_EZ_mVS5KiupqtGX66LgY3pZJ5ONAP_u-tRYgSRoptmDkiOgOtSzp7K-gShOdK7LQ9CloCbSphLtPtnAIYy4/s1600/the-box-movie-still-18.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1271" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirqkv4Fl0sdyeLVO_DyMxmI9_Y0aqA7umUjYzIFMBH0b1PYglA4UWydOh_EZ_mVS5KiupqtGX66LgY3pZJ5ONAP_u-tRYgSRoptmDkiOgOtSzp7K-gShOdK7LQ9CloCbSphLtPtnAIYy4/s320/the-box-movie-still-18.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSTyY6OZi8a9HSpqPafgJ4m8cqq3RKVNPnUEkTUyEGg7vH6yCAqcV85KKDfCBnQwAh9c5Gryr6NUrjPXxYi9SRWF1zeJZwQpFucJk0xsUf7izRIufmdlMezIqlYiEEaiwIunLVAqIumn4/s1600/the-box-movie-still-16.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1277" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSTyY6OZi8a9HSpqPafgJ4m8cqq3RKVNPnUEkTUyEGg7vH6yCAqcV85KKDfCBnQwAh9c5Gryr6NUrjPXxYi9SRWF1zeJZwQpFucJk0xsUf7izRIufmdlMezIqlYiEEaiwIunLVAqIumn4/s320/the-box-movie-still-16.jpg" width="320" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiG4zs8lS-c5Xd35wQbHPP6_Dyd31YIrMpv8uLEukMTCYD23in4S84oPBvgzcEqZyT-mRO3XaibJfZ9SD6JpIIEpzTL8WyZuWfmUq7IOH1rdUkLeS6IZp_iBE7WcOmxZ1zD1Ao11GxxxOE/s1600/the-box-movie-still-17.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1271" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiG4zs8lS-c5Xd35wQbHPP6_Dyd31YIrMpv8uLEukMTCYD23in4S84oPBvgzcEqZyT-mRO3XaibJfZ9SD6JpIIEpzTL8WyZuWfmUq7IOH1rdUkLeS6IZp_iBE7WcOmxZ1zD1Ao11GxxxOE/s320/the-box-movie-still-17.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Uma noite, atraída pelo rumor de conversa vindo do quarto do filho, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Susan </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">os vê, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Danny </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">& </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jenny</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, metidos em confidências, na cama, tartamudeando segredos. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Susan </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">deseja saber o tema, porém </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Danny </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jenny </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">escapolem com um "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">nada, apenas coisas</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". Nem mesmo a insistência da mãe os demove do propósito de guardar para si o terrível segredo de seja lá qual for o drama que deva ter lançado </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Danny </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">na greve de fome, e poderá custar as vidas dos demais membros da família. Intrigada, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Susan </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">fuma um cigarro na varanda, e a forma como aperta os braços contra si entrega o calafrio experimentado, seja pelo sibilar da ventania fria da noite, seja pelo sexto sentido que aponta a presença de um mistério muito mais profundo a pairar sobre a casa. Para a terrível surpresa de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Susan</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, na despedida a caminho do ponto do ônibus escolar, a espoleta e extrovertida </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jenny </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">recusa o café da manhã. Ela foi acometida pelo mesmo mal de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Danny</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e quando a noite chega e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Robert </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se dá conta que só restam os dois à mesa, discute com </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Susan</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, queixando-se de não entender como a esposa é capaz de comer quando os filhos passam por tamanho drama. O comentário a enche de culpa. Desolado pela impotência de se conectar ao filho, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Robert </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o visita no quarto, e finalmente o convence a desabafar sobre sua aflição. A câmera captura a ação a uma distância que nos impede de ouvir o sussurrado da criança ao pé do ouvido do pai, contudo pela expressão atônita subitamente acesa na cara do homem, deduzimos a gravidade das razões para </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Danny </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">para não comer.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBIHUWw9mZDBGx70vcdlHsoa8Ovg147FwQXMWtAkytIgTfzkSaQ0uIicQoDiTLwZzU9SM9IinOYQTiqQ2yF5aNtO40oy3q2TIlaqzRpoOX3rssndkNKHZHTxhCAeNQK-mJ0_5lUbRwW5o/s1600/the-box-movie-still-14.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="529" data-original-width="1275" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBIHUWw9mZDBGx70vcdlHsoa8Ovg147FwQXMWtAkytIgTfzkSaQ0uIicQoDiTLwZzU9SM9IinOYQTiqQ2yF5aNtO40oy3q2TIlaqzRpoOX3rssndkNKHZHTxhCAeNQK-mJ0_5lUbRwW5o/s320/the-box-movie-still-14.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqi0UBb6E7De_yASMhrX33tbGZeiM7BMo1AS7Y94OffrepWzQiCah6Le-ixMIVyVm3thNwgtbTdZAiziesPo_unwIYxB4zwcg7bkfuDI-EXebw8EufuWj-lYNYDNJ8UCLG3yoHwxAltrI/s1600/the-box-movie-still-15.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1275" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqi0UBb6E7De_yASMhrX33tbGZeiM7BMo1AS7Y94OffrepWzQiCah6Le-ixMIVyVm3thNwgtbTdZAiziesPo_unwIYxB4zwcg7bkfuDI-EXebw8EufuWj-lYNYDNJ8UCLG3yoHwxAltrI/s320/the-box-movie-still-15.jpg" width="320" /></a><span lang="PT-BR" style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Naquela noite, ao se recolher com a mulher aos aposentos, <i>Robert </i>se deita pensativo ao lado de <i>Susan</i>, e em uma arrepiante surpresa, ao lhe ser perguntado o que a criança havia dito, ele responde laconicamente "<i>nada</i>". <i>Susan </i>sofre de pesadelos horrorosos, onde se vê prostrada na mesa da sala, tendo parte do braço e coxa mutilados para produzir carne para os filhos, que consomem as ensanguentadas postas de filé cheios de apetite. A timeline do filme se dá com o Natal se avizinhando, e, ao final, o feriado mais importante do ano chegou, como resta comprovado pela cena onde os vemos abrindo presentes ao redor da árvore, uma cena surreal: embora represente uma tradição cristã engrandecida pela reunião familiar, aqui neste segmento veste ares de macabro, através da explícita magreza de três dos membros da família <i>Jacobs</i>. A imagem de pai e filhos emaciados choca pela crueza, ainda mais amarga quando confrontada com a aparência saudável da mãe, a única pessoa poupada da maldição. O ato da entrega de uma caixa de presente vermelha por <i>Danny </i>às mãos de <i>Susan </i>imediatamente a estimula a pensar naquele dia, semanas antes, quando retornavam de trem para o subúrbio, e o elegante cavalheiro saltou na estação seguinte depois de ter levantado só um pouquinho a tampa, de modo que <i>Danny </i>enxergasse o conteúdo. A mulher associa o drama da família ao elegante cavalheiro, senta-se com o filho ao pé da árvore e o perquire sobre o encontro. Dentro de si, <i>Susan </i>forma a convicção de um liame causal entre o drama e o conteúdo da caixa.</span></span><br />
<span lang="PT-BR" style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5gMondz33IdKJIAmJf0F23IbaH9ZegyAmfUBgmEoT14oFjA2_hmSXp0FVE7Z97XkeD6mIR_tccM5xgOEnUbLtNfcK3idstuHlSqS0bcb1M95rF2lFzeGJ3qF1x51TJyVdYjpLm7Q2S9k/s1600/the-box-movie-still-19.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1271" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5gMondz33IdKJIAmJf0F23IbaH9ZegyAmfUBgmEoT14oFjA2_hmSXp0FVE7Z97XkeD6mIR_tccM5xgOEnUbLtNfcK3idstuHlSqS0bcb1M95rF2lFzeGJ3qF1x51TJyVdYjpLm7Q2S9k/s320/the-box-movie-still-19.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiblt6pnBjsTap3D6qrB2IYbWl2VhddJ3UChLJk4W-7Is2uypPTEm3n3t1RuQnetZkWeSOakfgHB8RWBWVih6GxlxOocJs2gXVByB2mKHIYrdWi20mPOvc9SLcPz22F-FoQCuFD6y532uY/s1600/the-box-movie-still-20.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1275" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiblt6pnBjsTap3D6qrB2IYbWl2VhddJ3UChLJk4W-7Is2uypPTEm3n3t1RuQnetZkWeSOakfgHB8RWBWVih6GxlxOocJs2gXVByB2mKHIYrdWi20mPOvc9SLcPz22F-FoQCuFD6y532uY/s320/the-box-movie-still-20.jpg" width="320" /></a><span lang="PT-BR" style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Danny</i> morre em 17 de janeiro do ano seguinte. <i>Jenny </i>parte no dia 3 de fevereiro. <i>Robert </i>agoniza por mais um tempo, até perder a luta para a inanição a 27 do mesmo mês. Durante as dolorosas semanas de calvário e morte de marido e filhos, indo de casa para hospital em vigília, <i>Susan </i>toma o trem, desejosa de reencontrar o homem elegante para elucidar o mistério da caixa. Uma tarde, ela pensa que o encontrou na figura de um sujeito de costas, sobretudo e chapéu. Ao tocá-lo no ombro, porém, dá conta de que se trata de outra pessoa. "<i>Preciso encontrá-lo, para saber o que meu filho sabia, e passou para os outros. É o único modo de eu conseguir me sentir próxima a eles, agora. Eu quero ver, eu tenho que ver... estou faminta</i>", a narração de <i>Susan </i>assinala, ao fundo de uma tomada onde a vemos em desalento, sentada ao lado da janela, decerto a reviver a inquietante casualidade daquele encontro meses antes no trem que custou a felicidade da família.</span></span><br />
<span lang="PT-BR" style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdqOXG4VQCmYSHHohDDTSDcR0BAd8ShX-IvyB4ZsFujtC181KpvIqDVIRt83FdnoXGIQN3NyM0LhuvfAqu0LgQhYal1Sus6TTgYt0cIfR4no7Lw-nfmFSEgeugbiXKnQlwNC-bN_xM_Kg/s1600/the-birthday-party-movie-still-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1275" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdqOXG4VQCmYSHHohDDTSDcR0BAd8ShX-IvyB4ZsFujtC181KpvIqDVIRt83FdnoXGIQN3NyM0LhuvfAqu0LgQhYal1Sus6TTgYt0cIfR4no7Lw-nfmFSEgeugbiXKnQlwNC-bN_xM_Kg/s320/the-birthday-party-movie-still-1.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqqkgheLWPLw-1YmZGzSzdImYHdVnmw7zx6CI0DqV8Z6Yd8pXM13VktfPncdEQJQ1YF2lpP_g8uQ39QURiWAt4_LW9Hmx0iiQmK0e5BEllvTIMj7mDWg0IltUed_KyUmzzwyPiOlncvug/s1600/the-birthday-party-movie-still-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1271" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqqkgheLWPLw-1YmZGzSzdImYHdVnmw7zx6CI0DqV8Z6Yd8pXM13VktfPncdEQJQ1YF2lpP_g8uQ39QURiWAt4_LW9Hmx0iiQmK0e5BEllvTIMj7mDWg0IltUed_KyUmzzwyPiOlncvug/s320/the-birthday-party-movie-still-2.jpg" width="320" /></a><span lang="PT-BR" style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Em "<i>The Birthday Party</i>", <i>Mary </i>(uma divertida, inusitada aparição da atriz <i>Melanie Lynskey</i>, em papel diametralmente oposto às performances que lhe valeram fama) tenta organizar a melhor festa de aniversário possível para a filha <i>Lucy </i>(<i>Sanai Victoria</i>), mas as circunstâncias aleatórias da manhã parecem trabalhar contra suas melhores intenções. Naturalmente estressada, <i>Mary </i>ainda precisa aturar a onipresença da secretária <i>Carla </i>(<i>Sheila Vand</i>, atriz principal do aclamado filme de vampiro "<i>A Girl Walks Home at Night</i>"), uma bonita mulher de penteado impecável, metida em um vestido preto, que surge nos momentos mais inconvenientes, para a má sorte da pobre <i>Mary</i>, louca por um pouco de privacidade. Mesmo ao despertar, cheia de coisas para resolver, <i>Mary </i>encontra a misteriosa criada no caminho. Não devemos esperar profundidade de um segmento de antologia, contudo podemos deduzir, pelo diálogo entre as duas, a existência de alguma desavença entre marido e mulher, pois <i>Mary </i>comenta algo sobre a ausência de <i>David</i>, o marido, e <i>Carla </i>retruca que viu o carro do homem mais cedo na driveway.</span></span><br />
<span lang="PT-BR" style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidKJ8T3qfv0FUMt-kUkCjVmU81aQAORKMrqeE5vv7jWb2kJB_NxJnWGoymRq16iGK9nuTNuhnzpwuqvYOphIW2YA9aj8n3_LggWXV6sCeNy-FpK8D_de5TybBa61Xz4XaVASGcOHjhj6A/s1600/the-birthday-party-movie-still-3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1275" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidKJ8T3qfv0FUMt-kUkCjVmU81aQAORKMrqeE5vv7jWb2kJB_NxJnWGoymRq16iGK9nuTNuhnzpwuqvYOphIW2YA9aj8n3_LggWXV6sCeNy-FpK8D_de5TybBa61Xz4XaVASGcOHjhj6A/s320/the-birthday-party-movie-still-3.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIe-dVYZ5fQGjAID7rKyql65ZWOY3iT7uSkVOi35xw_NR1_3go2vPMA5hlWg3WD2y83SXA3L_JkSc9BFtyXzjrnnVILzJF9PCupuDf3oXqGEEjwGbyGiADsd8cJZyuEFA8PatE1UlFpN4/s1600/the-birthday-party-movie-still-4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="527" data-original-width="1273" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIe-dVYZ5fQGjAID7rKyql65ZWOY3iT7uSkVOi35xw_NR1_3go2vPMA5hlWg3WD2y83SXA3L_JkSc9BFtyXzjrnnVILzJF9PCupuDf3oXqGEEjwGbyGiADsd8cJZyuEFA8PatE1UlFpN4/s320/the-birthday-party-movie-still-4.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Mary</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> encontra o marido sentado na poltrona de couro do gabinete, de costas para a porta. Ela entra tagarelando sobre a expectativa para a festa, e a necessidade de procurarem resolver seus problemas conjugais, pois a ansiedade de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Lucy</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, conforme o terapeuta da filha asseverou, parece se dever ao papel dos pais sobre sua impressionável cabeça. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Mary </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">custa a perceber o estado do marido, e só ao abraçá-lo por trás e senti-lo frio, percebe que ele está morto, bem no momento em que </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Lucy </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">anuncia o despertar chamando pela mãe no corredor. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Mary </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">oculta a má notícia, e tenta se comportar como se nada tivesse acontecido. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Lucy </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">urinou na cama e sujou a fantasia para a festa de logo mais. A mãe se ocupa de bolar uma nova fantasia para a filha, na base do improviso (ela faz dois furos no lençol para transformá-la numa fantasminha), e enquanto tenta cumprir com eficiência o papel de boa mãe, procura se livrar do cadáver de maneira a não despertar atenção e estragar a festa. A ingrata tarefa é sempre prejudicada pelos casuais encontros com a secretária, uma espécie de vulto vigilante, uma ave de mau agouro. Até mesmo no gabinete, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Carla </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se mete. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Mary </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se esconde apenas a tempo de evitar que a secretária se depare com o cadáver. A distraída </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Lucy </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">acaba por exigir a atenção de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Carla</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e as duas se afastam, lhe dando espaço e privacidade para pensar no que fazer com o corpo.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggXXOZTnyappOiTNFQ7gHiCz3J4-yu6YOGvBNfw3uF9YqDJoLrwDJKvBDdHqExVunHTl_ijA6ssCejj4lhmidRoxcPL7_2NM7U1GGIzrVx3ZTZaKkjBOCg-PuWg2EXaYBay9ni-IG7-IU/s1600/the-birthday-party-movie-still-5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1273" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggXXOZTnyappOiTNFQ7gHiCz3J4-yu6YOGvBNfw3uF9YqDJoLrwDJKvBDdHqExVunHTl_ijA6ssCejj4lhmidRoxcPL7_2NM7U1GGIzrVx3ZTZaKkjBOCg-PuWg2EXaYBay9ni-IG7-IU/s320/the-birthday-party-movie-still-5.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNhzq7_pryDbhKuZn6Lo8h3d24tkGb4RUWU7UqAsCg7IndgrJO7g4CpAgzEYxzDMC8hBOAejYxaR1AJQv4XIeKYvi_JjCwsf_hQRHI_lDkDgdFK1VzX9fq0zgpvQ-8xK3gySFPu18FCfs/s1600/the-birthday-party-movie-still-6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1275" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNhzq7_pryDbhKuZn6Lo8h3d24tkGb4RUWU7UqAsCg7IndgrJO7g4CpAgzEYxzDMC8hBOAejYxaR1AJQv4XIeKYvi_JjCwsf_hQRHI_lDkDgdFK1VzX9fq0zgpvQ-8xK3gySFPu18FCfs/s320/the-birthday-party-movie-still-6.jpg" width="320" /></a><br />
<span lang="PT-BR" style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Mary</i> arrasta o marido pela sala, todavia através da porta de correr, enxerga <i>Madeleine</i>, a vizinha fofoqueira, louca para amolá-la com alguma tolice. Como o ponto de vista da vizinha não alcança além do sofá, ela não vê o corpo. Cheia de coisas de última hora para realizar, <i>Mary </i>reúne toda a paciência para escutar as banalidades da fútil loira, que basicamente se convida à festa de <i>Lucy</i>. Depois de "<i>escapar</i>" da vizinha, o trabalho de sumiço do cadáver sofre nova interrupção, quando alguém na campainha começa a chamá-la. Ela atende ao chamado, e não encontra ninguém, a não ser um estéreo troando um divertido rap. Subitamente, em uma cena realmente engraçada que destoa da atmosfera de horror do segmento anterior, mas em seu desconserto agrega à bizarrice do conjunto, um homem vestido de panda salta no vão da porta, e começa a performar os passos da música. Ocorre-lhe, então, a brilhante ideia de dispensar o homem e comprar a fantasia, para esconder o falecido marido dentro.</span></span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZkujwWHI0WR0i9oPdCQ1pEx8bA4qWGpvBVC58QUIkI3hctujlytaWzhGXkmnlCnlZkUdAj3FK7A8wUXuawPQnx8p7zxPCf1hu9NqWC82POkF1tPp3-gYIxnIZtyyCTDHNEAFOkiD9RJI/s1600/the-birthday-party-movie-still-8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1275" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZkujwWHI0WR0i9oPdCQ1pEx8bA4qWGpvBVC58QUIkI3hctujlytaWzhGXkmnlCnlZkUdAj3FK7A8wUXuawPQnx8p7zxPCf1hu9NqWC82POkF1tPp3-gYIxnIZtyyCTDHNEAFOkiD9RJI/s320/the-birthday-party-movie-still-8.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIYVX6iLy4_SInp819JdhucBJijCzkBOhCY4Rl2Z24u0FSuVY469mcxF_THcwOaPYTXPNM3EjcBsX81YN1WtXqMLFaNIVheYo5sUwmQslSvjBazaowl7SDNc22zy0QSVTR8XAZc-2iKA0/s1600/the-birthday-party-movie-still-7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1277" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIYVX6iLy4_SInp819JdhucBJijCzkBOhCY4Rl2Z24u0FSuVY469mcxF_THcwOaPYTXPNM3EjcBsX81YN1WtXqMLFaNIVheYo5sUwmQslSvjBazaowl7SDNc22zy0QSVTR8XAZc-2iKA0/s320/the-birthday-party-movie-still-7.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A mulher "<i>recheia</i>" a fantasia de panda com o cadáver minutos antes da chegada dos convidados. Após as fortes emoções da manhã, <i>Mary </i>finalmente consegue se sentar à mesa, enquanto <i>Carla </i>abre a porta para os convidados. Do outro extremo da mesa, o "<i>animador</i>" vestido de panda permanece sentado, imóvel, até ter o bolo colocado bem diante de si. A cabeça "<i>pende</i>" e ele cai com o "<i>focinho</i>" em cima. Ao "<i>arrancar</i>" a cabeça do panda, <i>Carla </i>acidentalmente revela que se trata de <i>David</i>, o pai de <i>Lucy</i>, morto. A gritaria toma conta da festa, enquanto a desesperada <i>Mary </i>estica a mão em direção ao cadáver, desesperada, impotente para evitar a horrenda, traumática cena de um homem morto sob a fantasia. O segmento encerra com a apresentação do subtítulo: "<i>A Festa de Aniversário. Ou: A memória que Lucy suprimiu de seu aniversário de sete anos, que não foi realmente culpa de sua mãe (embora seu terapeuta diga que provavelmente foi por causa do evento que hoje ela tema intimidade)</i>".</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQJLgPM5zekPi5VuPhG0vWlh7qHL5vSNV4JS990c22h9K-Y-gsKE2YbJSWOFefWh2mciLR_zuDLGOW15SswPgQtxMb0TeEmNWYCIr3yXTcepM2NvwONmX7XBP1mKZ2vOVCcHfYxc0i7Cs/s1600/dont-fall-movie-still-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1277" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQJLgPM5zekPi5VuPhG0vWlh7qHL5vSNV4JS990c22h9K-Y-gsKE2YbJSWOFefWh2mciLR_zuDLGOW15SswPgQtxMb0TeEmNWYCIr3yXTcepM2NvwONmX7XBP1mKZ2vOVCcHfYxc0i7Cs/s320/dont-fall-movie-still-1.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_rBAHXakuR8dA5DOjH_da078bjZTkZJNNdBwsEjF-dPa5iL30slsd_pRZV7iV_5BehfPFH9_oZ8OH8YDGi28wmUcH5wv45xa3Upt887kEuIEZ_06r2XXMVWLzgxLw7-3P7x7eKnsZQ7k/s1600/dont-fall-movie-still-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1275" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_rBAHXakuR8dA5DOjH_da078bjZTkZJNNdBwsEjF-dPa5iL30slsd_pRZV7iV_5BehfPFH9_oZ8OH8YDGi28wmUcH5wv45xa3Upt887kEuIEZ_06r2XXMVWLzgxLw7-3P7x7eKnsZQ7k/s320/dont-fall-movie-still-2.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O segmento seguinte, "<i>Don't Fall</i>", dirigido por <i>Roxanne Benjamin</i> (uma das produtoras dos filmes da franquia "<i>V/H/S</i>"), revisita um dos mais queridos e explorados motes para tramas de horror. Sem dúvida, já assistimos a coisas do tipo antes: um grupo de amigos cheio de boas intenções resolve se meter em uma viagem para camping, apenas para quebrar a cara ao descobrir que a natureza, ao invés de inerentemente boa, esconde segredos que tendem a permanecer descobertos, vez que são poucos os sobreviventes para contar a história. A diretora pega emprestado elementos do clássico "<i>The Hills Have Eyes</i>", de <i>Wes Craven</i>, e parte da mesma premissa do filme de 1977: pessoas muito próximas se vendo alvo do assédio de inominável horror; no filme de <i>Craven</i>, tínhamos uma família, e a ameaça se devia a uma quadrilha de canibais, no segmento de <i>Benjamin</i>, seus protagonistas são jovens amigos, e o horror parte de um demônio da natureza, tipo "<i>Wendigo</i>", uma ideia recentemente aproveitada por <i>Greg McLean</i> para o ótimo "<i>The Darkness</i>".</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEie0dvHrDFdCYdbAQoHH8b5rjFo2q3QEH1WTghdRbGBLT3rpRIoyncpCLcK_AfGFLoQt9FXqEa9legoWyTIMCuSHvk63j7N05O4cN4hzVwm_cfEdL6uP7YTub5tw_05B79y-BIoUmyz0oM/s1600/dont-fall-movie-still-3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="521" data-original-width="1267" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEie0dvHrDFdCYdbAQoHH8b5rjFo2q3QEH1WTghdRbGBLT3rpRIoyncpCLcK_AfGFLoQt9FXqEa9legoWyTIMCuSHvk63j7N05O4cN4hzVwm_cfEdL6uP7YTub5tw_05B79y-BIoUmyz0oM/s320/dont-fall-movie-still-3.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdWlw0EyjGJKwNKuJt38sj403qdgxhyphenhyphenL-YjSXQ88sYap9fgIPgwrGnvYhXNOlsY91oR253etxDu6Tp9DM3fqB4hAc9EhS-RE3KALm8oZD9ugYeqXqtdEahnl_A5gKZmZXL3_pmEy1YpCQ/s1600/dont-fall-movie-still-4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="521" data-original-width="1277" height="130" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdWlw0EyjGJKwNKuJt38sj403qdgxhyphenhyphenL-YjSXQ88sYap9fgIPgwrGnvYhXNOlsY91oR253etxDu6Tp9DM3fqB4hAc9EhS-RE3KALm8oZD9ugYeqXqtdEahnl_A5gKZmZXL3_pmEy1YpCQ/s320/dont-fall-movie-still-4.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Quatro amigos - </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Paul </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">(</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Casey Adams</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">), </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gretchen </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">(</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Breeda Wool</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">), </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jess </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">(</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Angela Trimbur</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">) e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">(</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Morgan Krantz</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">) - exploram uma belíssima, inóspita região montanhosa, em busca de aventuras. A deslumbrante fotografia introduz tomadas à distância que capturam com maestria a indiferença da natureza perante aquelas criaturas, meros "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">pontinhos</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" no deserto. Do topo de um cânion, os amigos guardam a espetacular visão de uma clareira pontuada por gramíneas e pequenos arbustos, um grandioso espaço a explorar. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gretchen</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, a mais nervosa do grupo, passa por um aperto quando </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jess </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">chega por trás e a abraça na linha da cintura, furtando-a do equilíbrio. Claro, a amiga jamais a deixaria cair, porém para uma pessoa com acrofobia, brincadeiras do tipo não têm graça. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jess </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pede desculpas, e elas fazem as pazes. O grupo encontra pinturas misteriosas na rocha, e as atribuem ao trabalho de indígenas, há milhares de anos.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjChmH2mbrA8woDuSrn7RlVq1ZRQEco9kjITVo33ltJXq1PL-Ena-74HBJAIYxXbWQ_oTH6W1ElcpRsM8G-rkoAClTZdiWak_oTbCpBimtBeufcDx3eb_yKZ29ru7fdyJ6i0Xw7L7gFHf8/s1600/dont-fall-movie-still-5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="527" data-original-width="1273" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjChmH2mbrA8woDuSrn7RlVq1ZRQEco9kjITVo33ltJXq1PL-Ena-74HBJAIYxXbWQ_oTH6W1ElcpRsM8G-rkoAClTZdiWak_oTbCpBimtBeufcDx3eb_yKZ29ru7fdyJ6i0Xw7L7gFHf8/s320/dont-fall-movie-still-5.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjl09gKL9dEUyHCs3jO84q2WK-pIg3G0tCjrZ4de7S4h76lRsUpHtdh6Xe4pwHRqDTk2TmSA8XEY-JgGdKETnZtXA-wtfo9FMDPZdUw6A7HgM_MSUky_NgnVG18q7c5M7XPNxHDpY5EZZ8/s1600/dont-fall-movie-still-6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1271" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjl09gKL9dEUyHCs3jO84q2WK-pIg3G0tCjrZ4de7S4h76lRsUpHtdh6Xe4pwHRqDTk2TmSA8XEY-JgGdKETnZtXA-wtfo9FMDPZdUw6A7HgM_MSUky_NgnVG18q7c5M7XPNxHDpY5EZZ8/s320/dont-fall-movie-still-6.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Os amigos prepararam o trailer para passar a noite na clareira, com o infinito firmamento celeste polvilhado por lindas, brilhantes estrelas cadentes. Eles puseram as cadeiras e a mesa do lado de fora, onde bebem cerveja, curtem a vista e conversam sobre a origem da pintura. <i>Paul </i>prega uma peça ao se escusar para ir urinar, quando desaparece, apenas para mexer com os nervos de <i>Gretchen</i>. Ele ressurge e dá um susto na namorada. Sonolenta, <i>Gretchen </i>se recolhe ao trailer para descansar um pouco. A lua aponta gloriosa no céu, trata-se de uma noite de lua cheia. Aqui, é importante mencionar que previamente, no início, <i>Gretchen </i>se machucara, um pequeno corte na mão durante o exame das pinturas. À noite, enquanto os demais confraternizam do lado de fora, a jovem é visitada por uma entidade amorfa, como uma ventania, que parece carregá-la para longe, sem que, em sua inconsciência, perceba a abdução. Ela desperta nas vizinhanças da rocha grafada com desenhos, e, para seu desespero, depara-se com um demônio. Antes que consiga reagir, o demônio avança sobre sua pessoa.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZFMIBwZ2ttpKeiBzUECpFfbbibyfs4QGo9Pr-UbymeWjptrJhyZ-NC0Zre9K0fRZSIxA4sq2CvLBotwn9Pq8T7nwDi8JXwXkWw0g_n1WNeryZ8SmaeoNvxnlhab-QyxtzQUCM38pkgeU/s1600/dont-fall-movie-still-7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="517" data-original-width="1275" height="129" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZFMIBwZ2ttpKeiBzUECpFfbbibyfs4QGo9Pr-UbymeWjptrJhyZ-NC0Zre9K0fRZSIxA4sq2CvLBotwn9Pq8T7nwDi8JXwXkWw0g_n1WNeryZ8SmaeoNvxnlhab-QyxtzQUCM38pkgeU/s320/dont-fall-movie-still-7.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4KLR8AkABFO3uwyIFg6_iQIM8m96wmbThnYnvCYJiUw_NP6K0V_IOcErKM6k916KBZ44MvTxdMHMW516r7M8aYW176fE15mebXMGvXByHCkjrpNfS9GuFQOHC1iK3Vr2KT6dvpqs1usw/s1600/dont-fall-movie-still-8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1275" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4KLR8AkABFO3uwyIFg6_iQIM8m96wmbThnYnvCYJiUw_NP6K0V_IOcErKM6k916KBZ44MvTxdMHMW516r7M8aYW176fE15mebXMGvXByHCkjrpNfS9GuFQOHC1iK3Vr2KT6dvpqs1usw/s320/dont-fall-movie-still-8.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Jay</i> acorda de madrugada, quando dá pela ausência da amiga. O frio externo é terrível, e ele aperta os braços contra o peito, na tentativa de suportá-lo. Ele encontra <i>Gretchen </i>ali fora, e pergunta o que aconteceu. De costas para o rapaz, <i>Gretchen </i>se transforma em um horroroso demônio com dentes pontiagudos, garras como galhos de árvore, e uma espinha dorsal cheia de reentrâncias. Com a comoção da entrada de <i>Jay </i>no trailer, os demais membros da expedição despertam, cheios de temor. <i>Jay </i>assume a direção, e ao ligar os faróis, revela a figura de <i>Gretchen </i>mais à frente. O rapaz nem consegue explicar aos amigos por que não devem deixar a segurança do trailer: exclamando que a amiga parece ferida, <i>Paul </i>e <i>Jess </i>preparam-se para sair do veículo. <i>Paul </i>chega a deixar o trailer, <i>Jess </i>ainda não. Ela finalmente entende a gravidade da ameaça quando o corpo estripado de <i>Paul </i>é atirado de volta ao trailer, através da janela.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIIXqebQNmaNcB9S30iopsDIVEq5Nyr2gJ9QL2nxzsc7GxN_Wjgqj9ZZMXyD-JD7O4lu1fZg_DaEuXZenUIH7TWn3v58HQoKnaKHQ0mWMeGJE0wAtIrQhi4cyYLUovyhkCm4hATLyw3FY/s1600/dont-fall-movie-still-9.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="529" data-original-width="1273" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIIXqebQNmaNcB9S30iopsDIVEq5Nyr2gJ9QL2nxzsc7GxN_Wjgqj9ZZMXyD-JD7O4lu1fZg_DaEuXZenUIH7TWn3v58HQoKnaKHQ0mWMeGJE0wAtIrQhi4cyYLUovyhkCm4hATLyw3FY/s320/dont-fall-movie-still-9.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisJxwYLMtXNjhlJfD5sEDXWCK1gpXxLuQEKsYSrrmC61HE9HBh_N8dhfvHkVRG9KrgRpkKm9-P0SNVZUaR8ePECAQUCksTRJ5q_zMBw90O-4FTJnw_a53ohpsvTDaEpORvRgzXgGJNskk/s1600/dont-fall-movie-still-10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1273" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisJxwYLMtXNjhlJfD5sEDXWCK1gpXxLuQEKsYSrrmC61HE9HBh_N8dhfvHkVRG9KrgRpkKm9-P0SNVZUaR8ePECAQUCksTRJ5q_zMBw90O-4FTJnw_a53ohpsvTDaEpORvRgzXgGJNskk/s320/dont-fall-movie-still-10.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jess</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> corre rumo ao deserto friento, com o intento de fugir do demônio. A porta acidentalmente bate, movida pelo vento, prendendo o rapaz dentro do veículo. Ele é atacado e morto, e vemos jatos de sangue tingirem as janelas do trailer, nos dando uma ideia do massacre a se dar. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jess </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">foge através da noite fechada, deixando para trás o terrível cenário de morte. No frenesi da corrida pela sobrevivência, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jess </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">tropeça, sofre uma queda e acaba se vendo no fundo de uma ravina, com uma fratura exposta. Na esperança de resistir à noite, se apenas o demônio não a encontrar, engole a dor e permanece silente. Não adianta: o espírito, uma grotesca figura com a forma feminina de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gretchen</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, aparece no topo da ravina, e salta sobre sua presa.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHrK4rKvJmMRLnzKNXYO5KvQ5iqnOcT6q3sC-G8whT0NrXTAg5PL4kIDgkVDky6FPriRVSH-FWvORDlOHQ2wh4d_HkrLhxvrCn3nx2zYDcFOb0J1oPPDFlIuNnY96aWAfXcEzUi_z8fAA/s1600/her-only-living-son-movie-still-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1275" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHrK4rKvJmMRLnzKNXYO5KvQ5iqnOcT6q3sC-G8whT0NrXTAg5PL4kIDgkVDky6FPriRVSH-FWvORDlOHQ2wh4d_HkrLhxvrCn3nx2zYDcFOb0J1oPPDFlIuNnY96aWAfXcEzUi_z8fAA/s320/her-only-living-son-movie-still-1.jpg" width="320" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhW2IQcYq8330JNykzuTwiwX2Tl4OqKmOrG2pltMc4lcm9YTodVb28T-UNcCmBWxDsZJ9VBI3kXhtE74BvoErQPrqohXwPIGH3HOZlkvOEt2DB7jCbf24lrpgJQ9pIKRrlWKmITcMJ7G1w/s1600/her-only-living-son-movie-still-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1273" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhW2IQcYq8330JNykzuTwiwX2Tl4OqKmOrG2pltMc4lcm9YTodVb28T-UNcCmBWxDsZJ9VBI3kXhtE74BvoErQPrqohXwPIGH3HOZlkvOEt2DB7jCbf24lrpgJQ9pIKRrlWKmITcMJ7G1w/s320/her-only-living-son-movie-still-2.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Dirigido pela hábil <i>Karyn Kusama</i>, "<i>Her Only Living Son</i>" parte de uma interessantíssima premissa. O segmento reimagina um certo aclamado filme do passado, ou melhor, <i>Kusama </i>parte do desfecho da obra em questão para flertar com desdobramentos para a história original. Não citarei agora o filme a que a diretora faz referência, pois desvendar a conexão faz parte da brincadeira! <i>Cora </i>(<i>Christina Kirk</i>, em grande performance) praticamente vive em função do filho <i>Andy </i>(<i>Kyle Allen</i>), às vésperas de completar 18 anos. Ela trabalha como garçonete, e há muito se esqueceu da felicidade pessoal para criá-lo sem que o rapaz precise passar por nenhuma privação. O segmento abre com um flashback a ilustrar um importante momento do passado de <i>Cora</i>. Nós a vemos mais jovem, quando tinha acabado de dar `a luz o filho, conversando cheia de aflição com o médico. Pelo diálogo, infere-se que a pobre, inocente mulher precisou fugir muito rapidamente de um grande mal, e o médico a ajudou com dinheiro, para que conseguisse "<i>sumir do mapa</i>" com mais facilidade, sem deixar rastros.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeQHdmMcreXaXHVlzH2pDs4agN0j5GNPzF-njgt8m9N_WzU6C3fywdT8U4RfMUOpVf_MtOTGCayJ5OsYv9kkuQB7HxQQnhSlN5XKAbK0CHZVnz90AUeMOi_VSuiHbd_wdSD8dsFyNNIkU/s1600/her-only-living-son-movie-still-3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1269" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeQHdmMcreXaXHVlzH2pDs4agN0j5GNPzF-njgt8m9N_WzU6C3fywdT8U4RfMUOpVf_MtOTGCayJ5OsYv9kkuQB7HxQQnhSlN5XKAbK0CHZVnz90AUeMOi_VSuiHbd_wdSD8dsFyNNIkU/s320/her-only-living-son-movie-still-3.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikhLGDOAH2nLarVgb6BeQZl-ChOAQMPB1ib33oQ5OxR9jg27FUkSzBrl2e-8iL9c9Dfrgaas_sCrK1DN71Wj87acU6j_lXogMg4Dax29bUrqtJaPpmR6WTQutCDkKyJKu9CvJezj4EfZQ/s1600/her-only-living-son-movie-still-4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1271" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikhLGDOAH2nLarVgb6BeQZl-ChOAQMPB1ib33oQ5OxR9jg27FUkSzBrl2e-8iL9c9Dfrgaas_sCrK1DN71Wj87acU6j_lXogMg4Dax29bUrqtJaPpmR6WTQutCDkKyJKu9CvJezj4EfZQ/s320/her-only-living-son-movie-still-4.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Cora</i> desperta do sonho. A aflição no rosto indica seu desejo de apagar as lembranças. Como mãe zelosa, observa o filho dormir e, mais tarde, brincar com o cachorro. Ele a ajuda a preparar o café da manhã, e, à mesa, discutem a programação do dia seguinte, quando completará 18 anos. Aprendemos que o pai de <i>Andy </i>é algum astro de cinema, pois o rapaz quer ver seu novo filme em cartaz. A mãe tenta criá-lo de forma a suprir a carência advinda da ausência da figura paterna, e não perde a oportunidade de falar mal do homem. Os dois se despedem, e <i>Andy </i>vai para a escola. Enquanto <i>Cora </i>preparava o café da manhã, pouco antes, escutara um barulho semelhante ao ganido de um animal, no quintal. Ao verificar, encontra um esquilo morto. As circunstâncias apontam a maldade como obra do rapaz. O segmento voltará a apresentar novos fatos confirmatórios da mente doentia de <i>Andy</i>.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAdVmLipwA6EDoDYbtXiAretV2Uz63eL_3qpcfzYiBJ4iEUEwhKHfQSEMvdQqOH5xxOFdTNhsQ1B50owPD1XQFfxZ-5zTKbLEom3EnhNPLyb65H8DOe3aPYdPFmPqwT5V2OI8Qy5irQxY/s1600/her-only-living-son-movie-still-5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1275" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAdVmLipwA6EDoDYbtXiAretV2Uz63eL_3qpcfzYiBJ4iEUEwhKHfQSEMvdQqOH5xxOFdTNhsQ1B50owPD1XQFfxZ-5zTKbLEom3EnhNPLyb65H8DOe3aPYdPFmPqwT5V2OI8Qy5irQxY/s320/her-only-living-son-movie-still-5.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrTkar9GRuqXizNytUWkuWwmAiNGtfVbdr850MDTikhDdCrNbCy6SZAoOCyhgA41FWsbKR4xDvfObF_4T5lQtQfNtt3XgEoDA5yCN12LkhpF5tYLI90vO_AUyim9btmFlTkOZrrGynSFM/s1600/her-only-living-son-movie-still-6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="521" data-original-width="1273" height="130" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrTkar9GRuqXizNytUWkuWwmAiNGtfVbdr850MDTikhDdCrNbCy6SZAoOCyhgA41FWsbKR4xDvfObF_4T5lQtQfNtt3XgEoDA5yCN12LkhpF5tYLI90vO_AUyim9btmFlTkOZrrGynSFM/s320/her-only-living-son-movie-still-6.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Chet</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> (</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Mike Doyle</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">), o carteiro, conhece o drama de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Cora</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Entregador naquela região por muitos anos, tornou-se um rosto frequente e querido na vida da mãe solteira, sempre chegando com suas cartas e o animado bate-papo ao sabor de um cafezinho no alpendre. Embora viva convidando a garçonete a sair, seus galanteios jamais são inteiramente aceitos, afinal a felicidade sentimental jamais se destacou como prioridade na vida da solitária mulher. Chamada à diretoria da escola, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Cora </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">encontra a mãe de uma outra aluna, agredida por </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Andy </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">durante a aula. A menina passa bem, porém teve de ser levada em caráter de urgência ao pronto-socorro. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Cora </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">arrazoa que o filho jamais foi violento ou cruel, contudo a outra mãe não quer saber de desculpas. Enerva-a ainda mais a insistência da diretora e de um professor de minimizar a briga, batendo na tecla de que devem escutar a versão de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Andy </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">para os fatos, ainda obscuros. A mãe deixa a sala furiosa, avisando-lhes que devem esperar retaliação por parte de seu advogado. Mesmo solidária ao filho, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Cora </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">acha justa a imposição de um castigo, e pede que </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Andy </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sofra uma suspensão. Ela estranha quando não apenas a diretora se manifesta no sentido de não puni-lo, ainda o enaltece como uma espécie de inspiração para os outros alunos, um "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">líder nato</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", pelos últimos quatro anos no colégio.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUNFxTWLiLVnkMla37xV65k7qUBCIYdutfFbA9G9sBYviy1WvMevLQkZC5uO4bu0Gxi8-KfqpXI4hsWHUSrMu_xRrWgsTiGkyOlD_fVc-cJA4aE1KfMd6Y70hzo9oBPoFfMmmL4RqINvo/s1600/her-only-living-son-movie-still-7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1275" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUNFxTWLiLVnkMla37xV65k7qUBCIYdutfFbA9G9sBYviy1WvMevLQkZC5uO4bu0Gxi8-KfqpXI4hsWHUSrMu_xRrWgsTiGkyOlD_fVc-cJA4aE1KfMd6Y70hzo9oBPoFfMmmL4RqINvo/s320/her-only-living-son-movie-still-7.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmWVpGnvYcapyXv1KArPGtZ4qomtd7O_E4TIrfAt8fxsGBJ2bTO80XVCA_O2X5kXDIYbm0JYH9m43n2P0HC1mNdxEQqwYnguIhhf6noh7l-KrP7HgY5dBJTPJRVyxuiAOVeeakw3BGjSg/s1600/her-only-living-son-movie-still-8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1273" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmWVpGnvYcapyXv1KArPGtZ4qomtd7O_E4TIrfAt8fxsGBJ2bTO80XVCA_O2X5kXDIYbm0JYH9m43n2P0HC1mNdxEQqwYnguIhhf6noh7l-KrP7HgY5dBJTPJRVyxuiAOVeeakw3BGjSg/s320/her-only-living-son-movie-still-8.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Ao voltar para casa, ela encontra, sobre a mesa, uma nota escrita pelo filho, avisando que dormirá na casa de um amigo, mas retornará no dia seguinte. Ela prepara solitariamente o bolo de aniversário, na cozinha, e ao ir dormir, rememora o momento em que "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">a bolsa estourou</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" e ela pariu. Há uma arrepiante imagem, pela qual </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Cora </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se vê na cama, metida no breu, e um menininho com um sorriso macabro a afaga no rosto. Ela desperta de madrugada com barulhos vindos do banheiro, e ao chamar o filho com uma voz chorosa, escuta o que se assemelha ao relinchar de um cavalo. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Cora </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">empurra a porta, preocupada, e encontra o garoto. Ela só consegue enfurecê-lo, pois o rapaz exclama que se ela deseja lhe dar um excelente presente, agradeceria se começasse pela privacidade. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Andy </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">bate a porta do quarto na cara da mãe. Ao examinar o banheiro, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Cora </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">apavora-se com manchas de sangue no assoalho.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSOyh8Mykl6eHZsBaO4BL-2b6Ng8-N2TS3KlShMwzHwxNMl31WDy1xRlvAlCJQDye6eZd4OSwV0DzLbhkrgJ3rQy5c4HlIC0iI1Is3EVkrbVvnV6za4aSjwNR4MZ4v96Agn4EOtoEBzjc/s1600/her-only-living-son-movie-still-9.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="521" data-original-width="1275" height="130" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSOyh8Mykl6eHZsBaO4BL-2b6Ng8-N2TS3KlShMwzHwxNMl31WDy1xRlvAlCJQDye6eZd4OSwV0DzLbhkrgJ3rQy5c4HlIC0iI1Is3EVkrbVvnV6za4aSjwNR4MZ4v96Agn4EOtoEBzjc/s320/her-only-living-son-movie-still-9.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrY9k3V5NZNT0j7JASm_sss1E3yrPyvOo-wxreEBNi_O_tU6EjFedBbT6m3mW8FRHK_Ahu8PHToVhPwyJbfEjiPJa_0gHo00so0eysblOuZk4j89TlnurI9K5dmYCV2Py5Oj0zZ8Ffpvw/s1600/her-only-living-son-movie-still-10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="529" data-original-width="1273" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrY9k3V5NZNT0j7JASm_sss1E3yrPyvOo-wxreEBNi_O_tU6EjFedBbT6m3mW8FRHK_Ahu8PHToVhPwyJbfEjiPJa_0gHo00so0eysblOuZk4j89TlnurI9K5dmYCV2Py5Oj0zZ8Ffpvw/s320/her-only-living-son-movie-still-10.jpg" width="320" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr968Z3lQcKgAKtNVytEfvft7COWB95j9B_TMt-6u-ZRKXhQJIKkD4Go2ChFG8BetGa5WMzuxyb3TKbc2Hclv1bWx9uemSJgLhSEK-NjXQzEfGGuZPs1eRSGP7xlSrvxKlZT_d7SKXda4/s1600/her-only-living-son-movie-still-11.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1269" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr968Z3lQcKgAKtNVytEfvft7COWB95j9B_TMt-6u-ZRKXhQJIKkD4Go2ChFG8BetGa5WMzuxyb3TKbc2Hclv1bWx9uemSJgLhSEK-NjXQzEfGGuZPs1eRSGP7xlSrvxKlZT_d7SKXda4/s320/her-only-living-son-movie-still-11.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Na manhã seguinte, ela estende roupas molhadas no varal, cheia de tristeza no rosto. <i>Chet </i>subitamente chega de bicicleta, uma bem-vinda visita à <i>Cora</i>, que no pretendente sempre encontra palavras de suporte e encorajamento. Ela confidencia, com muito pesar, que há algo errado com o filho. <i>Chet </i>tenta mitigar as impressões da garçonete, "<i>Ora, ele está amadurecendo, só isso, virando um homem</i>". Quando ela retruca "<i>Ele não é meu Andy mais</i>", a resposta de <i>Chet </i>a deixa arrepiada, pois entrega que o carteiro sempre participou do esquema. Ele comenta "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Mas ele jamais foi realmente seu, certo?</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". <i>Chet </i>começa a filosofar com conhecimento de causa, espantando a garçonete com a precisão de detalhes conhecidos sobre sua jornada. Até aquele instante, aos olhos de <i>Cora</i>, <i>Chet </i>sempre soara como um bom amigo e pretendente romântico. Ela se vê face a face com a agenda secreta do homem, na verdade um "<i>infiltrado</i>" que vem acompanhando sua vida no curso dos últimos 18 anos. O pai de <i>Andy</i>, um famoso astro, fizera um pacto com o Diabo, pelo qual amealharia riquezas e fama, ao custo de ceder a mulher a Lúcifer para que em seu ventre gerasse seu filho. A adulação em torno do problemático adolescente, portanto, acusa a rede de satanistas atuantes na sociedade, que de tão bem camuflados nas mais diferentes esferas jamais despertam suspeitas. "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">É claro, eu apenas escutei a sua história umas mil vezes, e certamente histórias tendem a ficarem distorcidas à medida que são repassadas, mas aconteceu. E eu fiz minha contribuição... eu gosto de crer que fiz uma diferença no esquema maior das coisas, fui abençoado ao vigiá-lo ao longo desses anos... e vigiar o Andy, preparar o mundo para esse glorioso dia. Não há nada a temer, Cora, é o tempo dele, só isso. Abençoada seja sua escuridão</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", o carteiro repete, de maneira horripilante, lançando a garçonete no desespero. Ela se tranca em casa pelo resto do dia.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicnPUARcjObn0nxabTQGCCwVjXqzAhS-TIoqtKPFi04QJ4kB1XovRq59Db_Lo1V14BimcNCGZMVBMqgSgU0tF2gn8LdO6dZcWdZhHptL-z9fRBIp0_7OA67fsIbLu3vVV7WlVdAAuxfFM/s1600/her-only-living-son-movie-still-12.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="521" data-original-width="1267" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicnPUARcjObn0nxabTQGCCwVjXqzAhS-TIoqtKPFi04QJ4kB1XovRq59Db_Lo1V14BimcNCGZMVBMqgSgU0tF2gn8LdO6dZcWdZhHptL-z9fRBIp0_7OA67fsIbLu3vVV7WlVdAAuxfFM/s320/her-only-living-son-movie-still-12.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCvRHkk6sCcbkue1wyYH2AHdraELFTaDieXaRxgO0vTuhByHypErpEj3tifD-EVVIZ6wQEem97TMG1IBcm53798_plUbuUlNL6lzp7r4FGtWfwErbIcFkbADrwgAlAdWiVEDpfIX3keDw/s1600/her-only-living-son-movie-still-13.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="519" data-original-width="1273" height="130" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCvRHkk6sCcbkue1wyYH2AHdraELFTaDieXaRxgO0vTuhByHypErpEj3tifD-EVVIZ6wQEem97TMG1IBcm53798_plUbuUlNL6lzp7r4FGtWfwErbIcFkbADrwgAlAdWiVEDpfIX3keDw/s320/her-only-living-son-movie-still-13.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Ao vasculhar o quarto do filho, <i>Cora </i>topa com uma caixinha repleta de unhas, mas não unhas comuns. As mesmas parecem ter sido arrancadas de algum bicho, como um bode, e foram tiradas desde a raiz. Surpreendida com a inesperada chegada do rapaz, <i>Cora </i>se esconde dentro do closet, de onde guarda um bom ângulo da cama, graças aos espaços entre as gretas. <i>Andy </i>se senta no colchão, e a mãe entende a origem da caixa: as unhas são dos dedos dos pés do rapaz, que precisa apará-las com frequência para que não fiquem enormes. Ao testemunhar a inusitada, bizarra revelação, <i>Cora </i>solta um suspiro, involuntariamente entregando sua presença clandestina. Ela encontra o filho de costas, na cozinha, e ele exige respostas. <i>Andy </i>conta que um dia desses uma mulher estranha o abordou, do nada, para lhe falar sobre como ele era especial. O rapaz revela sofrer de pesadelos horrendos sobre o dia em que finalmente imporá um regime de maldade e miséria sobre a humanidade. <i>Cora </i>põe as cartas na mesa, e desabafa sobre os inimagináveis perigos corridos por mãe & filho, no curso dos anos, sempre tendo de fugir, de cidade a cidade, para escapar dos satanistas. Ela conta que na época da gestação, lhe foi feita uma proposta pela qual poderia abdicar do filho e entregá-lo, o filho do Diabo, aos satanistas, ou optar por ficar com a criança, e ter de passar o resto da existência fugindo das garras da organização. O amor de mãe falou mais forte, e agora, às vésperas de <i>Andy </i>completar 18 anos, <i>Cora </i>sabe que definitivamente jamais desistirá do garoto. Eles se abraçam, plenos de amor, à medida que a sala escurece sob as trevas, sinal da vigília de Satanás ao redor da casa. Mesmo diante de uma força tão malévola, a ligação entre mãe e filho prova-se maior que a influência diabólica, e os dois sucumbem juntos, no assoalho da cozinha, mortos, mas livres das garras do mal.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiya4TLvDbeQ6dtr9-7zx8kjTvxU4KNzrBVN6BYCRBApr_Xb9DVHjHYMY7yF3JeZEah4lt9Ut0gxe5UienGxUrmetR4vVuq8QEQToYUuwKJYIHjjdS_PsUnBByy91Yt3GOvZ5VkdJ5Xci0/s1600/xx-movie-poster.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1500" data-original-width="1012" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiya4TLvDbeQ6dtr9-7zx8kjTvxU4KNzrBVN6BYCRBApr_Xb9DVHjHYMY7yF3JeZEah4lt9Ut0gxe5UienGxUrmetR4vVuq8QEQToYUuwKJYIHjjdS_PsUnBByy91Yt3GOvZ5VkdJ5Xci0/s320/xx-movie-poster.jpg" width="215" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">Há muito se discutia a
produção de uma antologia de contos de horror comandada por mulheres. A ideia
de "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">XX</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">" teve incipiência em 2013, quando os produtores anunciaram os préstimos de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Jennifer Lynch</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> (filha de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">David Lynch</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">), </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Mary Harron</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> (mais conhecida por "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Psicopata
Americana</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">"), </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Jen & Sylvia Soska</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> (diretoras de curtas na antologia "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">ABC da
Morte 2</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">"), </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Jovanka Vuckovic</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> e </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Karyn Kusama</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> para a empreitada. Quando das filmagens, anos mais tarde,
do time original, somente restavam </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Vuckovic </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">e </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Kusama</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, tendo </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Roxanne
Benjamin</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> e </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Annie Clark</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> (nome artístico </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">St. Vincent</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">) se juntado posteriormente à equipe criativa. Produzido por </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Nate Bolotin
& Todd Brown</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, dois profissionais com um impressionante currículo no gênero,
"</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">XX</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">" teve sua première no prestigiado festival de cinema de Tribeca deste ano de 2017, e em fevereiro recebeu um lançamento limitado através do
inovador sistema</span><i style="font-family: arial, sans-serif;"> vídeo-on-demand</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. Novamente, a Magnet Releasing,
braço da Magnólia Pictures, prova o tino para a escolha de obras independentes
refinadas e elegantes. Se fizermos um apanhado da nata do horror cult
independente nos últimos cinco anos, anotaremos que as melhores surpresas foram
distribuídas sob o selo da Magnet Releasing, que viabilizou
comercialmente as primeiras chances de cineastas predestinados à enormidade, como
</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Gareth Edwards</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. Antes das superproduções nababescas, o aclamado diretor de "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Godzlla</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">" & "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Star Wars: Rogue One</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">" ensaiou os primeiros passos atrás das câmeras com o
maravilhoso "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Monsters</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">", de 2011, resultado da boa fé depositada sobre sua pessoa pelo selo. No caso do filme objeto da resenha, vindas de distintos backgrounds, cada diretora trouxe uma ideia refrescante a sua colaboração, engrandecendo o
conjunto. O colorido, frutífero espectro de "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">XX</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">" captura a retomada da atemporal batalha entre Bem & Mal através do segmento de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Karyn
Kusama</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> ("</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Her Only Living Son</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">"), a surpresa do humor negro encontrado nas mais
inusitadas situações, nas mãos de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Annie Clark</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> ("</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">The Birthday Party</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">"), a
reciclagem da clássica fórmula de pessoas comuns sob o assalto de um horripilante mal, longe das benesses da sociedade moderna, através do olhar de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Roxanne
Benjamin </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">("</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Don't Fall</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">"), e a harmonia & solidez da instituição familiar viradas de dentro
para fora pela ação de um monstro invisível ("</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">The Box</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">"), pelas lentes operadas
com intimidade por </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Jovanka Vuckovic</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">A diretora <i>Vuckovic </i>falou sobre a gênese do projeto, e explicou, com muita desenvoltura, a importância de seu <i>background </i>para a confecção do segmento. Em entrevista a <i>Chris Alexander</i>, do site Coming Soon, ela contou: "</span><i><span lang="PT-BR" style="background: white; font-family: "arial" , sans-serif;">Nós
criamos XX porque não existia nenhuma antologia de horror realizada por
mulheres. Eu andava pensando em produzir o filme através de crowdfunding no
Kickstarter quando, do nada, Todd Brown, da XYZ (distribuidora) me ligou e me
perguntou se eu gostaria de criar a antologia ao seu lado, o que foi uma
maravilhosa coincidência. Ambos notávamos o modo como cineastas mulheres eram
preteridas para filmes recentes neste formato, então colocamos nossas cabeças
para pensar em algo do tipo. Sem o Todd, esse filme não existiria. </span><span style="background: white; font-family: "arial" , sans-serif;">Ele foi o herói do projeto. Ele tinha um formato em mente, e trouxe o financiamento a bordo. </span></i><span lang="PT-BR" style="background: white; font-family: "arial" , sans-serif;"><i>E até sua sugestão de título, XX, era melhor do
que a minha. Então, começamos a elaborar uma lista de cineastas que gostaríamos
de trazer a bordo. XX é uma resposta direta à falta de oportunidades para
mulheres em filmes, mais especificamente filmes de terror. O gênero não é
inerentemente sexista, porém trata-se de uma área onde as mulheres têm sido
historicamente mal representadas diante das câmeras e atrás
das mesmas. As pessoas pensam que só por torná-las as vilãs, ou
objetificar os homens, estão sendo progressivas. Mas estas são tentativas
superficiais rumo ao horror feminista. Pessoas me perguntam o tempo inteiro o
que torna um filme uma história de terror feminista. A solução, na verdade, é bem
simples: para rodar um filme feminista, basta retratá-las como seres humanos.
Essa questão é sintomática de uma ainda bem mais ampla questão sistêmica no
cinema, mas progresso precisa começar de algum ponto, e horror é o gênero que conheço intimamente</i>".</span><br />
<span lang="PT-BR" style="background: white; font-family: "arial" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><i>Jack Ketchum</i>, um autor de
dramas perturbadores, chamou minha atenção pela primeira vez há dez anos, por
causa de um apavorante filme de terror chamado "<i>The Girl Next Door</i>". O filme transpôs
para a tela a obra literária de <i>Ketchum</i>, que, a seu turno reciclava um
horripilante e notório caso ocorrido no verão de 1965, em Indianapolis, Indiana.
<i>Ketchum </i>parece dotado da mesma habilidade de um outro colega de tintas igualmente talentoso, <i>Richard Matheson</i>, pois extrai de situações hodiernas, do dia a dia no subúrbio, do drama <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">do homem comum</span>, o tecido para costurar tramas habitadas por horrores e fantasmas, seja no
sentido literal, seja no figurado, sem jamais nos alienar. Nada surpreenderá mais do que a capacidade do coração
humano para a perversidade. De "<i>The Box</i>", chega um atraente charme de familiaridade com
as demandas cotidianas, subitamente invadidas por um horror incompreensível e
sobrenatural, nos moldes do que o diretor <i>David Koepp</i> fez tão bem ao adaptar o
romance de <i>Matheson </i>"<i>Stir of Echoes</i>". Ambas as experiências
cinematográficas, "<i>The Box</i>" & "<i>Stir of Echoes</i>", revolvem jornadas ao
desconhecido vividas por pessoas ordinárias que subitamente tiveram seus mundos, onde interpretavam tão bem seus predefinidos papéis, virados de cabeça para baixo, ao descobrirem a
ação muito real de forças que jamais julgavam existir em meio a banalidades de uma existência sem novidades, quase predeterminada em expectativas muito modestas. "<i>Stir of Echoes</i>" tinha como herói um operário de fios de alta tensão para uma companhia telefônica, casado com a moça que fora sua namorada nos tempos do colégio, e pai de um espevitado menininho. <i>Koepp </i>retratava com muito cuidado a realidade da vida daquele trabalhador "<i>blue collar</i>", e capturava com fidelidade a pulsante energia de uma comunidade de bairro em Chicago. Nesse sentido, depois que esse homem se submete à hipnose durante uma festa na quadra, a título de brincadeira, e acorda com a sensibilidade aguçada, apta a "<i>sintonizar</i>" a presença de uma moça desaparecida meses atrás em circunstâncias misteriosas, <i>Koepp </i>nos apanha pela jugular, pois nos atira dentro da jornada ao lado do cara. <i>Koepp</i>, aliás, se move como absoluto maestro na regência da orquestra ao trabalhar em temas do tipo. Já analisado neste blog, o seu "<i>The Trigger Effect</i>" também guarda similitudes com "<i>Stir of Echoes</i>", uma família suburbana assediada pelo perigo do inesperado, nominalmente o colapso da grid elétrica de Los Angeles que lança cidadãos comuns na luta pela sobrevivência. A trama de "<i>The Box</i>" goza de semelhante febre. Ao longo da história, sentimo-nos investidos no drama da família, e queremos antecipar o próximo terrível desdobramento. Enquanto parece mais dificultoso familiarizar-se a pessoas metidas nas mais estapafúrdias situações criadas em blockbusters, a menor escala de uma trama estilo "<i>The Box</i>", "<i>Stir of Echoes</i>" e "<i>The Trigger Effect</i>" nos convida à intimidade da infância de se sentar sobre o tapete do quarto, à noite, com as amigas, lanternas em mão, para contar e ouvir histórias macabras.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8iQSf-LZFRpqIaFwMdGhHbPcgCFm7mLVzF7kC-VpfRgRwbgy8frEHyxXv03UTmWxkRA60Sz44pSPbQtHRHjihhjKvwdawpyaWK7qKm5HtOqNPBA9X5wHwx-58uvDwZWM-aN7GyZiIzeg/s1600/natalie-brown-and-director-xx.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8iQSf-LZFRpqIaFwMdGhHbPcgCFm7mLVzF7kC-VpfRgRwbgy8frEHyxXv03UTmWxkRA60Sz44pSPbQtHRHjihhjKvwdawpyaWK7qKm5HtOqNPBA9X5wHwx-58uvDwZWM-aN7GyZiIzeg/s320/natalie-brown-and-director-xx.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">As atuações uniformemente sólidas me deixaram interessado em conhecer os trabalhos anteriores destes atores. Habituada ao horror, </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Natalie Brown</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, que aqui interpreta a mãe, parecerá familiar aos fãs do gênero. Ela atua na série de televisão produzida por </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Guillermo del Toro</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">The Strain</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">", sobre o surgimento de um terrível vírus que transforma as pessoas em vampiros, em Nova York. No tipo de personagem que ficaria excepcional nas mãos de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Jennifer Connelly</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Natalie Brown</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> transcende a ingratidão do brevíssimo tempo do segmento para imbuir seu papel da profundidade cerne do projeto. "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">XX</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">" não foi dirigido por mulheres acidentalmente. Aqui, buscou-se redescobrir o horror, recriá-lo pela perspectiva feminina, peculiar em todos os seus conflitos e dilemas. Através da performance disciplinada de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Brown</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, é emblemático que </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Susan </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">saia como a única sobrevivente da tragédia. Aos 30 e tantos, em que pese a aparência atraente, são pelas rugas de preocupação e detalhes como o cigarro consumido ao toque do vento frio no parapeito que compõem uma mulher real, e não uma caricatura da figura feminina. Mãe observadora & esposa devota, transcende papéis definidos pela sociedade e salta das telas como um ser humano de carne e osso, com direito a fraquezas e falhas, rescaldo de uma jornada da qual emerge como mulher falível, mas principalmente porto seguro de seu homem & crianças. Seu senso de responsabilidade pelo bem da família e a dor da culpa encontram representação perfeita na gráfica cena do pesadelo, </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Susan </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">deitada sobre a mesa, sustentando os corpos da família através do sacrifício da própria carne. Para muitos, a surpresa escatológica parecerá um truque barato por parte de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Vuckovic </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">para pincelar seu segmento com o </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">gore</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, mas quem sopesar o peso da condição feminina da cineasta e o modo como a mesma reverbera na manifestação criativa encontrará um profícuo solo de discussões para arar. Os demais membros do elenco também não deixam a desejar, apenas não têm muito o que desenvolver, visto que se trata de um show de/para mulheres. </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Jonathan Watton</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, cuja filmografia inclui um papel no último filme de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Cronenberg</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Maps to the Stars</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">", me faz pensar no "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Louis Creed</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">" de "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Pet Sematary</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">", o apavorante romance de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Stephen King</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> que, entre tantas coisas horripilantes, esmiúça com sensibilidade as coisinhas doces e simples do dia a dia de jovens pais, através da jornada de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Louis</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, o médico recém-chegado à cidadezinha para assumir a vaga de coordenador dos serviços médicos da Universidade do Maine, e sua esposa </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Rachel</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. Ao lado de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Clive Barker</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Edgar Allan Poe</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> e </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">H.P. Lovecraft</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, o assertivo </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">King </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">sempre foi um dos grandes senhores do horror, e prova-se ainda mais grandioso ao escrever sobre personagens "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">gente como a gente</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">". </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">King </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">descreve com muita paixão os esforços destes jovens pais de criarem bem os filhos pequenos </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Gage </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">e </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Elie</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, e ainda assim encontrarem pequenas maneiras de manter a chama da paixão acesa. Assim como acontece a todos, a chegada de crianças tem seu jeito de empurrar para a sombra o desejo que se mostrava tão palpitante no início da relação. Subitamente, coisas que um dia tinham sido tão importantes...</span><i style="font-family: arial, sans-serif;"> já eram</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. Tornam-se semi-importantes, quiçá desimportantes. Filhos lembram seus pais da própria mortalidade. De um dia para o outro, você descobre que "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">não pode ir embora</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">", e portanto não deve mais viver tão perigosamente, porque precisa cuidar dos filhos até que saibam se virar sozinhos, e não quer perder nenhum instante das crianças, desde o momento n° 1. No romance de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Stephen King</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, havia doçura em momentos como quando </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Louis </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">e </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Rachel </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">confabulam "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">tirar as crianças</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">" de casa para passar um fim de semana com os avós, e finalmente encontram a privacidade para "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">namorar</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">", ou quando </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Louis </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">a presenteia com um belo pingente, e </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Rachel</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, de olhos marejados, comenta que será a única peça que não tirará quando fizerem amor logo mais. Coube aos talentos da diretora </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Vuckovic </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">e dos atores a árdua missão de nos oferecer um conteúdo igualmente rico, em tão pouco tempo. Dentre os demais, "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">The Box</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">" me parece o segmento ideal para se destrinchar em uma longa-metragem. E por que não? Já aconteceu anteriormente. Cinéfilos familiarizados com "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">V/H/S</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">" devem saber que o segmento "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Amateur's Night</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">", sobre um demônio sucubus e o azarado trio de rapazes que o acaba levando a um motel na esperança de sexo fácil, apenas para ser triturado, gerou uma longa-metragem chamada "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Siren</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">", onde o conceito foi ampliado e enriquecido. Ao mesmo tempo, posso soar contraditório, porém não sei se a engorda de um conceito criado dentro dos parâmetros da curta-metragem beneficiaria o sabor deixado pelo original. Explico: sim, adoraria um filme mais detalhado baseado nos personagens de "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">The Box</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">", porque novas informações satisfariam meu apetite, todavia, não posso me imiscuir da defesa tão bem feita pelo grande </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Chaplin </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">ao recusar rodar filmes sonoros & em cores, quando da chegada do technicolor, em 1922. </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Chaplin </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">dizia que se rodasse um filme onde </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">O Vagabundo</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> falasse, estaria matando a criação. A magia do ícone residia no seu silêncio e no mistério do sorriso triste e resiliente. Uma vez eliminado o mistério, também estaria fulminada a ideia antecedente do mistério. Embora meu apetite reclame por mais de "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">The Box</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">", os melhores pratos são os menores, justamente porque jamais satisfazem o apetite, e nos deixam querendo mais.</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">Mas o que habita a caixa? Alguns poderão ficar frustrados ao saber que a pergunta permanecerá na escuridão. A julgar pela forma como <i>Danny </i>transforma as vidas do pai e da irmã ao sussurrar ao pé do ouvido seu testemunho, podemos deduzir que se tratava de alguma coisa horrivelmente ímpar. Na caixa, poderia existir algo do mais surreal, como a visão enlouquecedora de uma fada amordaçada, a outra coisa mais ordinária, mas nem por isso menos repugnante, como fotos nojentas em preto-e-branco de pedofilia. Simultaneamente, já imaginou quão terrível seria... se <i>nada </i>existisse na caixa? Sim, <i>terrível</i>, afinal refletiria a evidência da inconstância da harmonia familiar, em frangalhos diante do vislumbre de um "<i>nada</i>" existencial. Se formos sinceros conosco, enxergaremos que, em nossa estupidez humana, parte das escolhas divisoras de água de nossas vidas foram tomadas pelas razões mais egoístas ou risíveis possíveis. Pelo exercício de imaginação do conteúdo da caixa, nossas mentes evocam as surpresas mais delirantes, mas, sejamos francos, seriam elas mais apavorantes que o fato de que tudo não passou de uma caixa vazia, e o menino simplesmente foi dormir para despertar sem vontade de comer, engatilhando a tragédia familiar culminante em três mortes? Eu entenderia o impacto do trauma de se abrir uma caixa e se deparar com uma fada minúscula enclausurada, tornozelos e pulsos presos por acessórios de couro sadomasoquista, uma visão digna de mandar a sanidade às favas, mas a aleatoriedade de se resolver autodestruir-se de uma hora para a outra soa mais tétrica e aterrorizante. Imagino que em nossas vidas jamais veremos "<i>Sininhos</i>", mas talvez o que exista dentro de nossas mentes torne o impossível & surreal um mero passeio no parque, em comparação. A maldade do coração humano não precisa de embalagens para presente, é real e íntima. Pouco importa quão rico em amigos ou bens você se julgue, uma noite dessas haverá um monstro esperando para pular em cima de ti assim que você dobrar na esquina.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTDJtXv1FT0NZklTDjZVHuNpPU5QI8w1bhO8CsWR3WVRg-jq9ITxUyjtBlAQiDOm2t9ZNAMt8xXYoc5xyw28Kq4yCTRhNs3km9QI6ZcYWftuMa7uBRpGdQAQGMfYaRlX4pnVam4kCuKCA/s1600/diretora-annie-clark.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="513" data-original-width="410" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTDJtXv1FT0NZklTDjZVHuNpPU5QI8w1bhO8CsWR3WVRg-jq9ITxUyjtBlAQiDOm2t9ZNAMt8xXYoc5xyw28Kq4yCTRhNs3km9QI6ZcYWftuMa7uBRpGdQAQGMfYaRlX4pnVam4kCuKCA/s320/diretora-annie-clark.jpg" width="255" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Talvez o "<i>Patinho Feio</i>" da antologia tenha sido o segmento dirigido por <i>Annie Clark</i> (</span><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><i>foto</i></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">), "<i>The Birthday Party</i>". Em seu primeiro trabalho como diretora, <i>Clark </i>consegue filmar uma trama exasperante, colocando-nos no desesperador encalço da protagonista, vivida por <i>Melanie Lynskey</i>. Intriga-me como uma aventura passada exclusivamente dentro de uma casa emula parte da energia de um "<i>Shallow Grave</i>", por exemplo, o filme de horror britânico de <i>Danny Boyle</i>, também ambientado dentro de uma casa, desesperador e sufocante nas reviravoltas envolvidas em se ocultar o corpo de um viciado em heroína que morreu ao lado de uma mala abarrotada de dinheiro sem procedência conhecida. <i>Clark </i>reveste seu segmento com o manto da clássica comédia de humor negro, um bem-vindo contraponto ao quase generalizado horror das outras tragédias. Ela afirma: "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Eu não gosto de filmes de horror. Pode soar óbvio, mas eles são tão assustadores para mim. Então eu pensei, se horror é sobre as coisas que mais nos apavoram, como eu poderia reproduzir isso, com minha própria voz? E a voz acabou sendo a comédia de humor negro. Eu penso que a estranheza do mundo ao redor da protagonista e a maneira como o segmento foi estilizado ajudaram-me enormemente a desenvolver o absurdo de toda a premissa. Porque, na superfície, se você lê-la – uma mãe acordando, encontrando o marido morto, e tentando blindar a filha da verdade por apenas algumas horas a mais até a festa – eis uma premissa muito, muito negra</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". </span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A diretora nomina a principal influência por trás das escolhas de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">The Birthday Party</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". O nonsense nos faz pensar no </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Cronenberg </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">da década de 70 ("<i>Shivers</i>" & "<i>Rabid</i>"), porém principalmente em </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Lynch</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. <i>Clark </i>conta: "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">O que acontece com David Lynch... é que me parece que ele costuma apanhar dois polos distintos, para trabalhar a partir daí. Como em Twin Peaks, os dois polos são os anos 80 & 50, e por causa de tanto anacronismo vindo de todos os lados, concebe uma timeline que passa a impressão de se dar em um mundo inteiramente distinto, paralelo. Temos um timeframe indefinido. Assim, nesse sentido, eu escolhi as décadas de 60 & 90 como referências visuais e tentei mesclá-las</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">".</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Apesar de raso, "<i>The Birthday Party</i>" vale como exercício de estilo, e por mais que <i>Clark </i>cite como inspiração as obras de <i>Lynch</i>, por uma razão qualquer, o segmento me fez pensar nas comédias românticas estreladas por <i>Tom Selleck</i> na segunda metade da década de 80/primeira metade dos anos 90, tipo "<i>Adorável Sedutora</i>" & "<i>3 Solteirões & uma Pequena Dama</i>". Se <i>Clark </i>desejou criar um "<i>universo paralelo</i>", definitivamente resgatou um ingênuo frescor oitentista, há muito perdido, o último ingrediente que você esperaria em um filme de terror, uma salada de gêneros semelhante a "<i>Rec 3</i>", o thriller espanhol que deu vida nova à franquia, cortesia da capacidade de ousar ao realocar a proposta do incontrolável vírus da Raiva para dentro de uma festa de casamento! No final, o segmento cumpre a função de adicionar tempero ao prato principal, mas nos deixa com a impressão de experimento. Não fosse o exercício da mistura e o desfile de estilos, a trama não teria nem mesmo justificado a duração de uma curta-metragem, pois simplesmente não há material para fermentar. Outrossim, como nos mostrou o brilhante <i>De Palma</i> em seus momentos menos consagrados, como "<i>Síndrome de Caim</i>" ou "<i>Femme Fatale</i>", o romantismo do olhar proporciona visuais que, se não substituem, ao menos compensam qualquer carência narrativa. A desenvoltura de <i>Clark </i>atrás das câmeras sublima o escasso <i>set-up</i>, e nos brinda com um energizado, estilístico jogo de cena. "<i>The Birthday Party</i>" seria, portanto, um saboroso "<i>fast food</i>", um tira-gosto. O prato principal, nós o encontramos nos segmentos entre os quais o de <i>Clark </i>se insere.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Quem assistiu ao impressionante "<i>Almas Gêmeas</i>", de 1994, se surpreenderá ao reencontrar <i>Melanie Lynskey</i> no papel de mamãe estressada. O filme pelo qual <i>Peter Jackson</i> iniciou a longa caminhada até o comando de "<i>O Senhor dos Anéis</i>", "<i>Almas Gêmeas</i>" também catapultou as carreiras dos membros do elenco, e deu à atriz<i> Kate Winslet</i> seu primeiro papel de relevância, apenas três anos antes do estrelato. Baseado no chocante caso <i>Parker-Hulme</i>, ocorrido em 1954, em Christchurch, Nova Zelândia, "<i>Almas Gêmeas</i>" reconstituía a amizade de duas meninas vindas de diferentes realidades sociais, que desenvolviam uma paixão platônica uma pela outra, e criavam um mundo imaginário por meio do qual sobreviviam às agruras da adolescência. Quando mundo imaginário & real passam a se misturar sem clara distinção, os resultados são horrendos. Ainda uma menina no filme de <i>Jackson</i>, aqui, <i>Lynskey</i>, já mulher, se assemelha à <i>Winona Ryder</i>, e interpreta com muito gosto o papel da mamãe determinada a criar o mundo perfeito para a filha, apenas para tragicamente lhe causar um trauma maior. Para quem a reconhece do filme de 1994, "<i>XX</i>" lhe proporcionou o encontro com a justiça poética, ou melhor, cinematográfica: em "<i>Almas Gêmeas</i>", matava - figurativa & literalmente (à base de tijolos estocados dentro da meia de nylon) - a mãe, e em "<i>XX</i>", finalmente como adulta, sofre pelo bem-estar da filha, que aqui não deve ser muito mais nova do que a atriz, quando trabalhou com <i>Jackson</i>, em 1994.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxWLGFrG6d4Njs6rVE2PkbcESLU55n5s5fiB1YY84LXKD66UvDj4LT5wM4nOtH_RBELoXGqC7eFRXtOcT_Qi3rX-LkK0SOqs47OT1tey-83D3gyPiJhXsG-2SdujYskJbliwyujxO5wXc/s1600/diretora-roxanne-benjamin.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="667" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxWLGFrG6d4Njs6rVE2PkbcESLU55n5s5fiB1YY84LXKD66UvDj4LT5wM4nOtH_RBELoXGqC7eFRXtOcT_Qi3rX-LkK0SOqs47OT1tey-83D3gyPiJhXsG-2SdujYskJbliwyujxO5wXc/s320/diretora-roxanne-benjamin.jpg" width="213" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">No apanhado geral, essa comédia de humor negro não quebra o ritmo, e se presta a ilustrar o conjunto com novidades na paleta de cores, um "<i>happy hour</i>" antes "<i>do bicho voltar a pegar</i>" com "<i>Don't Fall</i>", esta sim uma clássica história de horror digna de discussões ao redor da fogueira. <i>Roxanne Benjamin</i> (</span><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><i>foto</i></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">) dirigiu com muita segurança o segmento que nos remete ao clássico gênero "<i>survival</i>", cujo cardápio inclui desde ameaças extraterrestres, como em "<i>Alien O Oitavo Passageiro</i>", a canibais, como em "<i>Viagem Maldita</i>", de <i>Alexandre Aja</i>, rodado em 2006, refilmagem do original de <i>Wes Craven</i>, "<i>The Hills Have Eyes</i>", de 1977. A trama se assemelha à introdução de um excelente suspense do ano passado, "<i>The Darkness</i>", dirigido por <i>Greg McLean</i>, sobre uma família egressa de uma excursão a um sítio arqueológico, que acaba levando consigo uma espécie de demônio ao regressar para a cidade. O filme, estrelado por <i>Kevin Bacon</i>, encadeava uma série de intrigantes desdobramentos, dando-nos um espetáculo à velha moda, digno de prender a atenção, estilo "<i>A Árvore da Maldição</i>", o subestimado, desconhecido e maravilhoso thriller do grande <i>William Friedkin</i>. No caso de "<i>Don't Fall</i>", a diretora se focou no conceito de um demônio à solta na natureza selvagem, algo nos moldes do "<i>Wendigo</i>" sobre o qual <i>Stephen King</i> tanto escreveu em "<i>Pet Sematary</i>", e fez bom uso do choque do primeiro contato. Como não precisou se preocupar com um desenvolvimento à altura da duração de longa-metragem, <i>Benjamin </i>usou a criatividade para engordar o que para grandes produções não passaria de prólogo, e se divertir com os poucos minutos, rodando um filme tenso e cheio de mistérios fadados à incógnita.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O segmento é elevado a um competitivo patamar graças à magistral fotografia de <i>Tarin Anderson</i>, cujos créditos incluem a curta "<i>Tape 49</i>", espinha dorsal de "<i>V/H/S 2</i>". Ela exibe, com lentes muito amplas, tomadas da imensidão capazes de tirar o fôlego. Sua elegância o enriquece com uma atmosfera quase épica, e uma visão da abóbada celeste riscada por estrelas cadentes traçadoras de arcos dourados de nos deixar embasbacados. Se levarmos em conta que o elenco não teve como trabalhar motivações, a forma como rascunham personalidades bem delineadas àquelas pessoas tão transitórias reforça o talento envolvido no processo criativo. <i>Breeda Wool</i> se destaca como a assustada <i>Gretchen</i>, peixe fora d'água cujo corpo se torna objeto da possessão do demônio indígena. A cena em que desperta no meio das rochas, à noite, e testemunha a aproximação da entidade que lhe tomará o corpo salta aos olhos, especificamente pela reação genuína e apavorada da atriz. <i>Angela Trimbur</i> tem causado uma forte impressão no circuito cult e lhe sobra talento para virar a nova rainha dos filmes "<i>indie</i>", <i>à la Kate Lyn Sheil</i>. Ela será brevemente vista no aguardado "<i>Psychopaths</i>", de <i>Mickey Keating</i>, diretor do ótimo "<i>Ritual</i>", onde interpretará o papel de uma serial killer misândrica. O filme "<i>Psychopaths</i>", inclusive, tem causado celeuma por onde passa; no festival de cinema de Tribeca deste ano, deixou as pessoas falando a respeito. Tecerei considerações sobre o ambicioso projeto ao final da resenha. Aqui em "<i>Don't Fall</i>", <i>Trimbur </i>dá vida a uma das amigas, e tem uma morte terrível. Seu rosto, bastante expressivo, vira uma máscara de pavor quando o horror os assalta, principalmente na cena em que ela e um amigo tentam fazer sentido dos estranhos fatos através da janela embaçada do trailer, por onde não se vê muita coisa.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Sobre sua narrativa mais <i>straight forward</i>, a diretora <i>Benjamin </i>explica o intento: "<i>Para esse trabalho, eu quis fazer algo que as pessoas dissessem 'Estamos mesmo diante de um filme de terror!' desde o primeiro segundo. Por isso eu o abri com as title cards que entram de maneira extravagante. Todos os elementos conformam-se com a fórmula clássica do horror. Eu apenas queria brincar com a fórmula, e me deixar levar por um passeio na montanha russa. Esse é o grande barato de se rodar uma curta-metragem, você não precisa se preocupar com um grande volume de desenvolvimento de personagens ou reviravoltas, então tudo o que tem a fazer é se divertir com a experiência!</i>". Ela ainda fala sobre os efeitos especiais utilizados para retratar a criatura: "<i>Eu trabalhei com Russell FX, que é ótimo. Eles haviam trabalhado comigo em 'Southbound' (outro filme de horror, também dirigido por Benjamin). Eles são maravilhosos. Eu lhes dei uma ideia do que eu gostaria de ver, tipo essa criatura surgindo da terra seca desse lugar deserto, e iniciamos a criação a partir daí. Deveria saltar aos olhos como uma coisa seca, e todos seus movimentos deveriam parecer desajeitados, desconectados, como um louva-a-deus. É por isso que previamente eu havia mostrado um louva-a-deus, no começo, porque era parte importante do conceito gráfico. Eu acho que ele botou pra quebrar! As pessoas devem achar a criatura esquelética e seca, quase como uma múmia ao voltar à vida</i>". O demônio, memorável detalhe do segmento, habitará seus pesadelos por algum tempo. Quem assistiu ao brutal "<i>Martyrs</i>", filme francês de <i>Pascal Laugier</i>, se recordará que um dos elementos da trama consistia na aparição de uma coisa magérrima e horrenda, na verdade uma mulher, algoz de uma menina esquizofrênica assombrada pelo remorso. Claro, a criatura não existia, emblematizava a consciência atormentada da moça, e somente ela a enxergava. Quando a criatura lançava seu implacável assalto sobre a menina, na verdade era a própria quem estava se machucando, batendo-se contra móveis e cortando-se com lâminas. O monstro de "<i>Martyrs</i>", uma visão animalesca e impossivelmente magra, causou grande impacto à época do lançamento, e a escolha de <i>Benjamin </i>ao criar seu monstro parece render homenagem à assombração de <i>Laugier</i>.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqz8wVnrgb3JJlY7zknGd9xD1cuQaCGLoGD7Q46D_6m7WTS7uFciTV2ZwgJIWbit-Qu9_ZIwF8rwrVmjD2gFApUmNQOM1BIz-mtZYhTrhxO9iENnjK2vq5NodINXkF1V9n6GZoQT5jRKM/s1600/diretora-karyn-kusama.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="405" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqz8wVnrgb3JJlY7zknGd9xD1cuQaCGLoGD7Q46D_6m7WTS7uFciTV2ZwgJIWbit-Qu9_ZIwF8rwrVmjD2gFApUmNQOM1BIz-mtZYhTrhxO9iENnjK2vq5NodINXkF1V9n6GZoQT5jRKM/s320/diretora-karyn-kusama.jpg" width="216" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Karyn Kusama</i> (</span><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><i>foto</i></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">), diretora do último segmento, não é tímida ao gênero. Ela dirigiu um dos melhores filmes de terror do ano passado, "<i>O Convite</i>", e para bolar uma aventura para "<i>XX</i>", escolheu rascunhar um argumento partindo do desfecho de um clássico do passado, o aterrorizante "<i>O Bebê de Rosemary</i>", de <i>Roman Polanski</i>, sobre uma ingênua jovem cujo marido, um ambicioso ator da Broadway, "<i>cede</i>" o ventre da esposa para os vizinhos, uma influente família de satanistas novaiorquinos, de modo que ela possa gerar, totalmente alheia à ardilosidade, o filho do Diabo. Rodado em 1968 e indicado a dois Oscar (vencedor de Melhor Atriz Coadjuvante para <i>Ruth Gordon</i>, pelo papel da tétrica vizinha), "<i>O Bebê de Rosemary</i>" consta de toda lista dos melhores filmes de terror do século XX. Curiosamente, "<i>O Bebê de Rosemary</i>" foi uma das grandes oportunidades perdidas por <i>Burt Reynolds</i> na juventude: em 1968, aos 32 anos, ele fez testes para ficar com o papel do marido de <i>Rosemary</i>, mas <i>Polanski </i>acabou optando pelo excelente <i>John Cassavetes</i>. <i>Kusama </i>explica o impacto de "<i>O Bebê de Rosemary</i>" sobre seu imaginário: "<i>E se uma personagem como a Rosemary tivesse sido capaz de escapar inicialmente das circunstâncias, o que teria sido atirado no seu caminho, ao longo dos anos? Porque o que acho interessante é que as ramificações de sua vida ainda continuariam bem apavorantes, sabe? A ideia de você ter um filho fora de controle, e à medida que ele cresce, possa se tornar perigoso, de um jeito que você não consiga mais fazer frente a sua força, porque ele não é mais criança. Isso me tocou como uma história muito humana, e me deixou intrigada o impasse de que mesmo se Rosemary tivesse conseguido se evadir daquele meio, com o filhinho, a vida ainda lhe teria sido muito ingrata</i>".</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"<i>Her Only Living Son</i>" imagina os desdobramentos para aquele terrível evento do filme de 1968, e reencontra a personagem dezoito anos depois, mais cansada pelo peso da fuga sobre os ombros, tentando juntar os cacos da vida após a horrenda traição do ex-marido, fazendo o melhor para proteger o filho das garras de um mal invisível que jamais os perdeu de vista. Uma história sobre o amor de mãe por filho, o anticristo, nos levaria a crer que seria <i>Andy </i>o personagem a se temer, porém <i>Kusama</i>, astuta demais para cair no clichê, prefere se concentrar nas implicações da escolha de <i>Cora</i>, e no assédio moral de inimigos cujos rostos se adaptam e camuflam muito bem entre outros de gente do dia a dia. <i>Christina Kirk</i> desempenha seu papel com maravilhosa vulnerabilidade, e retrata muito bem as consequências psicológicas de uma perseguição a longo prazo. Todos nós temos família, e concordaremos que seria preferível o cometimento de uma injustiça sobre nossas cabeças a algum mal a um ente querido. <i>Kusama </i>explicou que as implicações da decisão de <i>Cora </i>ao fugir a intrigavam, e a cineasta agiu corretamente ao sugerir apenas sutilmente a transformação a ocorrer na puberdade de <i>Andy</i>, preterindo-a em nome do genuíno horror advindo de pessoas com notórios traços de psicopatia, rondando seu lar, mesmo que por algum tempo "<i>invisíveis</i>", desde o momento do rompimento com o ex-marido, quase vinte anos antes.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Ela alcançou o objetivo graças à afinidade com o gênero e, em parte, às performances sólidas do elenco secundário, com especial menção ao talentosíssimo <i>Mike Doyle</i>, um ator já utilizado por <i>Kusama</i> no excepcional "<i>O Convite</i>". Como todo <i>character actor</i> com desenvoltura no ofício, <i>Doyle </i>transita muito facilmente pelo caminho entre duas vias. Inicialmente, surge como o quintessencial, simpático e solícito <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">homem comum</span>, o carteiro boa praça e empático aos dramas da vida daquela mãe solteira, o tipo de personagem que fez de <i>Jimmy Stewart</i> uma estrela de cinema em filmes de <i>Frank Capra</i>; posteriormente, em um instante verdadeiramente inquietante, vagarosamente, <i>Doyle </i>vai deixando a máscara cair, revelando que sabe mais sobre <i>Cora </i>do que ela imaginava. O rosto de <i>Christina Kirk</i> vai desmoronando, à medida que se toca que aquele homem tão solícito, que ao longo dos últimos anos sempre interpretara muito bem o papel de simpático carteiro, está metido até o pescoço no esquema dos satanistas, uma parte da agenda imunda. Sobre a sensação de impotência enfrentada por <i>Cora</i>, ao se descobrir cercada por satanistas, <i>Kusama </i>discorre, mais especificamente acerca da reunião na sala da coordenadora: "<i>Há algo errado com esse menino, mas então ela se depara com a resposta mais arrepiante da confusão, 'não vamos fazer nada a respeito'. Na verdade, os professores puxam para si a responsabilidade de protegê-lo, mais do que a menina atacada. É uma discreta cena, neste modesto, minúsculo segmento, mas eu definitivamente me diverti ao escrevê-la, porque me fez pensar no tipo de perversidade a permear a realidade diária vivida hoje</i>". </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Surpreendentemente, <i>Kusama </i>acha espaço no exíguo tempo para temperar a trama com uma linda mensagem sobre amor materno, e o modo como o comprometimento de uma mãe transcende as mais terríveis ameaças, os mais malévolos antagonistas. Diante da tão sombria perspectiva de reinado satânico, mãe e filho se redimem ao escolher a morte, e o segmento, embora pesado e claustrofóbico, termina em uma nota positiva, a maneira perfeita para "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">embalar</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" o filme como um conjunto, dentro de um lindo e sentimental pacote de presente, tal qual aquele objeto da curiosidade do menino <i>Danny </i>em "<i>The Box</i>".</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Talvez "<i>XX</i>" prove-se intrínseco a mulheres, afinal de contas, vez que dirigido pelas mesmas, somente o coração feminino será capaz de capturar a gama de temas explorados. Eu enxerguei o heroico voluntarismo da mulher enquanto esposa/mãe do lar em "<i>The Box</i>", o forte remorso a atormentá-las na difícil missão de criar filhos em "<i>The Birthday Party</i>", e o amor abnegado de mãe em "<i>Her Only Living Son</i>". Os criadores conseguiram experimentar com um maravilhoso formato, já tão bem explorado na franquia "<i>V/H/S</i>", para nos brindar com algo refrescante, palatável e assertivo. Acima da questão do sexo dos criadores, o filme se sustenta com as próprias pernas pelo talento criativo envolvido na concepção, e esbanja uma elegante fotografia como abre-alas para uma antologia digna das fantasias mais delirantes de <i>Poe</i>, <i>Lovecraft </i>ou <i>Barker</i>, homens do horror que, surpreendentemente, compreenderam as mulheres com incomum sensibilidade, e as desenharam, pela pena ou pela câmera, com belíssimos contornos, com o perfeccionismo à altura destas maravilhosas, complicadas criaturas. A visão de <i>Natalie Brown</i>, como <i>Susan Jacobs</i>, anestesiando as preocupações com um cigarro, na varanda frienta, enquanto abraça o próprio peito, com frio, e sustenta uma expressão angustiada, me lembra <i>Clare Higgins</i> contemplando o próprio reflexo no espelho, com o rosto salpicado de sangue, após o primeiro homicídio no sótão, em "<i>Hellraiser</i>", de <i>Clive Barker</i>. Nos dois instantes cinematográficos, as duas personagens parecem lutar inutilmente contra a consciência, afoitas por um senso de lógica, da racionalidade dentro do caos do mais trevoso horror. Eu não teria sabido como pontuar a semelhança entre dois momentos aparentemente tão díspares, até me lembrar que há coisas sobre as quais a lógica deita, sim, sua luz, e há outras tantas somente acessíveis a corações devassos.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/LGH-zJ9_uFs/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/LGH-zJ9_uFs?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><i style="background-color: #eeeeee;">Todos os direitos autorais reservados a Magnolia Pictures & Magnet Releasing. </i></span><i style="background-color: #eeeeee; font-family: times, "times new roman", serif;">O uso do trailer & imagens é para efeito meramente ilustrativo da resenha. </i><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><i style="background-color: #eeeeee;"><br /></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Concluo a resenha tecendo alguns comentários sobre o suspense "<i>Psychopaths</i>", o novo filme do diretor <i>Mickey Keating</i>, um talentoso cineasta especializado no gênero que vem criando uma belíssima filmografia para si, com títulos muito interessantes e elogiados. Desde "<i>Ritual</i>", de 2013, já analisado neste blog, até o recente "<i>Carnage Park</i>", a evolução como cineasta de primeira grandeza de <i>Keating </i>tem acontecido a olhos vistos. Seu último filme, "<i>Psychopaths</i>", foi exibido no festival de Tribeca, neste ano de 2017. Considerado seu mais ambicioso trabalho, com "<i>Psychopaths</i>", ele presta reverência a mestres do passado, nesta trama que, em linhas amplas, revolve uma surreal noite onde serial killers e almas perdidas - uma ex-paciente de hospital psiquiátrico que se imagina viver em um mundo glamouroso nos anos 50, uma serial killer fetichista (<i>Angela Trimbur</i>, de "<i>Don't Fall</i>", vocês a verão no clip abaixo) que odeia homens e os atrai para o porão de casa para torturá-los e matá-los, um estrangulador que vitimiza mulheres ingênuas, e um hitman mascarado cujo último trabalho o levará a um nightclub do submundo - colidirão, gerando trágicas consequências. Abaixo, colacionei um clip do filme, que nos mostra as prováveis influências por trás deste grande diretor. A técnica de <i>split screen</i> e o <i>mise-en-scène</i> nos remetem ao <i>Brian De Palma</i> dos tempos de "<i>Vestida para Matar</i>", "<i>Um Tiro na Noite</i>" e "<i>Dublê de Corpo</i>", a fantasia de couro sadomasoquista escapuliu de algum pesadelo de <i>Clive Barker</i>, e, finalmente, o esplendoroso trabalho da fotografia reitera a tese de que assim como ocorre a trilhas sonoras, a atmosfera também representa uma importantíssima parte do percurso. Reparem no excelente uso de luzes para criar o noir, em como o noir principia a imersão nos sonhos, nos mistérios da calada da noite. Tudo fruto do noir. Um de meus filmes de horror preferidos, "<i>w Delta z</i>", contava com uma fotografia que contava a história daquelas tristes pessoas antes mesmo que os atores proferissem as primeiras linhas. Pela palpitante paixão sentida no curto trecho, por "<i>Psychopaths</i>" sinto a mesma empolgação de 2014, às vésperas do lançamento de "<i>Under the Skin</i>", de <i>Jonathan Glazer</i>. E não importa se o resultado ficar aquém do esperado: um artista pode cometer quase todos os pecados, menos o da chatice. E mesmo que diretores estilísticos como<i> Brian De Palma</i>, <i>Clive Barker</i>, <i>Cronenberg </i>e agora <i>Mickey Keating</i> se compliquem ao darem passos maiores do que as pernas, jamais deixam de empolgar.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/Upq3w0HZdYU/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/Upq3w0HZdYU?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="background-color: #f3f3f3;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Todos os direitos autorais reservados a Glass Eye Pix. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</span></i></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="PT-BR"><o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-73559202205091881052017-01-29T16:10:00.000-08:002019-05-16T03:17:19.615-07:00"Starry Eyes" (EUA, 2014) Um horrendo olhar através da elite pedófila & satanista que margeia a indústria das ilusões passageiras & promessas vazias.<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><b><i>- Esta resenha é dedicada à memória de Corey Ian Haim. - </i></b></span></div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><b><i><br /></i></b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6UpnmcdGAbmDoTHRUvz5_7-ke1PmtGJM08RlANXw8MnMsIY4P0q69Sqmbyf74xUCuaZc0tIgTkyCm58UMAWfxDsLIXcyUmV6_ZIC_0hc8vSGugS4V6FV2fnsuCvvIERQCYVlm8FPTRiU/s1600/starry-eyes-movie-still-12.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="529" data-original-width="610" height="277" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6UpnmcdGAbmDoTHRUvz5_7-ke1PmtGJM08RlANXw8MnMsIY4P0q69Sqmbyf74xUCuaZc0tIgTkyCm58UMAWfxDsLIXcyUmV6_ZIC_0hc8vSGugS4V6FV2fnsuCvvIERQCYVlm8FPTRiU/s320/starry-eyes-movie-still-12.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Assim como milhares de outras jovens anteriormente, <i>Sarah </i>(</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Alex Essoe</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">) chegou a Hollywood movida pelo sonho do estrelato. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">C</span>onforme estabelecido desde o início, somente encontrou a indiferença das promessas falsas e vazias, e o olhar gélido das pessoas "<i>atrás das mesas</i>", responsáveis pelas escolhas de <i>casting</i>, nos processos de audição</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Enquanto o convite para o papel definitivo não chega, <i>Sarah </i>trabalha como garçonete em uma diner chamada <i>Big Tater's</i>. Quando o filme começa, nós a vemos se examinando perante o espelho. A insegurança não se deve à <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">paranoia</span>, afinal, mesmo relativamente jovem (sua idade não deve chegar a mais de 25), seus melhores anos estão para se exaurir à medida que se aproxima dos trinta, sem ter realizado, durante o primor, parte dos objetivos. Enquanto navega pela cozinha da diner para trazer pratos sujos e levar os pedidos às mesas, <i>Sarah </i>se distrai checando o celular, na esperança de o currículo ter sido visualizado por algum estúdio, desejosa de um projeto, qualquer oportunidade que lhe proporcione a chance de revelar o talento dramático. <i>Carl </i>(</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Pat Healy</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">), o chefe, lhe dispensa um tratamento paciente e compreensivo, ainda que <i>Sarah </i>não se encontre inteiramente <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">investida</span> nos afazeres. Ela lida com as responsabilidades da diner de forma desligada, um emprego temporário para ajudá-la a pagar as contas do apartamento onde mora com a amiga <i>Tracy </i>(</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Amanda Fuller</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">), outra menina atraída a Hollywood pelas promessas vazias de estrelato. O filme nos apresenta uma palinha da rotina de <i>Sarah</i>, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">transitando </span>entre as responsabilidades da lanchonete e audições para projetos que nunca se concretizam. Em um momento de desabafo após uma audição fracassada, <i>Sarah </i>revela sofrer de tricotilomania, o destrutivo hábito de puxar os cabelos após grandes frustrações. Nos primeiros minutos de projeção, os diretores de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Starry Eyes</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" fazem um belíssimo trabalho <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">em </span>resumir, apenas por imagens, a gravidade da encruzilhada vivida pela protagonista, jovem o suficiente para planejar o futuro, mas a cada dia mais </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">descrente </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de um suposto "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">convite</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", jamais materializado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSetRhY4a-4qiW0VztYyH_GvZ7YOlSRRDNAfLoQfUmJdq4oMqK5Zoda-XDThVCRQDduGyXyhnLo6WM_cqYCtHKx7xaDzkokGITYhmDlq3TKN0j1IDWgN5yPpij3hOPTl5LuETKoGXQfOU/s1600/starry-eyes-movie-still-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="527" data-original-width="1271" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSetRhY4a-4qiW0VztYyH_GvZ7YOlSRRDNAfLoQfUmJdq4oMqK5Zoda-XDThVCRQDduGyXyhnLo6WM_cqYCtHKx7xaDzkokGITYhmDlq3TKN0j1IDWgN5yPpij3hOPTl5LuETKoGXQfOU/s320/starry-eyes-movie-still-2.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZiaN1T0dBXWeCSeBNhYS1_1eBnEoQIxUUUwcsd003YfE8UiNHuJ7k51MaS5AMzSyt-vFAKNH-KTEy6wN6_Eu_c6xYODclMDyVie_aI6gGs9Dd3_uQvVjTX4fUnocaGmxckaqUEJNrTIQ/s1600/starry-eyes-movie-still-3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="529" data-original-width="1277" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZiaN1T0dBXWeCSeBNhYS1_1eBnEoQIxUUUwcsd003YfE8UiNHuJ7k51MaS5AMzSyt-vFAKNH-KTEy6wN6_Eu_c6xYODclMDyVie_aI6gGs9Dd3_uQvVjTX4fUnocaGmxckaqUEJNrTIQ/s320/starry-eyes-movie-still-3.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">À noite, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">comparece a festas descompromissadas onde encontramos outros jovens iniciantes e inexperientes, metidos no mesmo impasse, gente à espera de uma chance, desesperada por um bilhete ao estrelato. Embora fantasiem com superproduções, ganham algum sustento como figurantes em séries de TV, ou estrelando filmes independentes limitados ao circuito cult. Em uma dessas reuniões, o filme nos apresenta os </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">colegas </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">: </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Poe </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">(</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shane Coffey</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">) parece inclinado a elaborar roteiros - durante a festa, enquanto recita um trecho </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">da peça</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, as pessoas presentes não poderiam se importar menos - </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Danny </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">(</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Noah Segan</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">) se dedica aos preparativos para dirigir um roteiro muito pessoal, e sua vocação reside atrás das câmeras como cineasta, ele também dá sinais de interesse romântico por </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">; </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Erin </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">(</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Fabianne Therese</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">) nutre perceptível rivalidade pela protagonista, não apenas por competirem </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">por </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">papéis em comerciais ou produções menores: envolvida romanticamente com </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Danny</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, a menina pressente o sentimento do parceiro pela rival, o que inflama a sutil animosidade; e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Ashley </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">(</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Natalie Castillo</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">), melhor amiga de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Erin</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e completamente desconhecedora da dinâmica do mundo. Ela parece servir como "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">ponta de lança</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" para </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Erin</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Apesar de maliciosa, ocorre-nos a impressão de se comportar cruelmente por influência direta de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Erin</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, essa sim </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">familiarizada </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ao meio onde, quando as pessoas não se encontram procurando financiadores para projetos que jamais se realizarão, já estão combinando uma nova noitada do gênero. Embora veterana em um concorrido universo povoado por gente maquiavélica, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">conserva certa ingenuidade, e não parece se aperceber da inveja que desperta nas outras pessoas do convívio. Mesmo quando </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Erin </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">pede desculpas</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" por ter roubado o trabalho ao ficar com o papel </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">no </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">comercial, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">parece assimilar a revelação de modo benevolente, sem se ater à maldade por trás da estratégia da outra menina para provocá-la. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Erin </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a convida a um sarau, e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">promete prestigiar o evento. "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gostei de seus sapatos</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", ela comenta para uma desatenta </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, depois da cortês despedida, fazendo a cínica ofensa soar como comentário casual. Por mais que os saraus se apresentem como oportunidade para vender a imagem, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">não consegue abaixar a guarda e relaxar. Ao passo que as outras meninas sempre interagem tão descontraídas, a ponto de darem escândalo graças ao álcool, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">não se sente à vontade, em razão da boa natureza, o que definitivamente </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">inflama </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o interesse de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Danny </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pela aspirante ao estrelato.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfnqS5pX8ATVUz8jplQpLXhO_IQY8jVjHIK15RQZi2Zik7NoXFyMIWht4blV9_mEEpH9AUNe4IIVsqHOreKqUZss9sOcqmFbdi9hqipGguwuXQ6Nf8YfQwblM8gqu8sZEJib66JcrnoKc/s1600/starry-eyes-movie-still-14.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1269" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfnqS5pX8ATVUz8jplQpLXhO_IQY8jVjHIK15RQZi2Zik7NoXFyMIWht4blV9_mEEpH9AUNe4IIVsqHOreKqUZss9sOcqmFbdi9hqipGguwuXQ6Nf8YfQwblM8gqu8sZEJib66JcrnoKc/s320/starry-eyes-movie-still-14.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVgmIUjmCmEBYIz7jO9zUYJtO2sckVqUT4pRpuu9geV5uJg_sCoDcEwt4__amIvnKtoR5r81_czy9uDIirHHV33DVpLp3QoZpc9GZzSYLqB_UH2HBY4uCmKcVMN9ZlXR3llil4yoSshVI/s1600/starry-eyes-movie-still-13.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="527" data-original-width="1271" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVgmIUjmCmEBYIz7jO9zUYJtO2sckVqUT4pRpuu9geV5uJg_sCoDcEwt4__amIvnKtoR5r81_czy9uDIirHHV33DVpLp3QoZpc9GZzSYLqB_UH2HBY4uCmKcVMN9ZlXR3llil4yoSshVI/s320/starry-eyes-movie-still-13.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Cuidado com aquilo que você deseja, pode acabar acontecendo</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", há quem diga. O aplicativo do celular de <i>Sarah </i>comunica a seleção do perfil da atriz para uma audição. O projeto, um filme de horror, soa legítimo, quem sabe a oportunidade de uma carreira sólida. Ela retornava para o motel, caminhando solitariamente pelas largas calçadas do centro, as ruas meio esvaziadas, principalmente tão tarde da noite, quando recebeu a chamada. <i>Danny </i>vinha logo atrás, a passos rápidos, para alcançá-la. Ao conseguir abordá-la, ele reitera o convite para o sarau, e propõe que faça parte da equipe do filme. <i>Erin</i>, <i>Tracy </i>e <i>Ashley </i>logo chegam à cena. <i>Sarah </i>nem parece escutá-los, e revela a razão da excitação: um estúdio a convidou para uma seleção. Naquela noite, ela tem um terrível pesadelo, onde se vê no meio d<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o teste</span>, e desempenha uma péssima apresentação, as letras do texto <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">em</span> mãos desaparecendo, sangue espirrando nas folhas. No dia do teste, <i>Sarah </i>encontra um monte de meninas da mesma faixa etária, no corredor, à espera da audição. A moça anterior à <i>Sarah </i>deixa o local aos prantos. Visivelmente excitada pela chance, a expectativa de <i>Sarah </i>mal pode ser comportada por trás da apreensão. A diretora de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">casting </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e o assistente, porém, não vestem expressões amistosas, e o contraste entre as esperanças da atriz e a indiferente frieza dos examinadores expõe o preço que os aspirantes ao sucesso em um negócio primordialmente assentado <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sobre a </span>vaidade humana têm de pagar. <i>Sarah </i>menciona a foto que trouxe consigo, para o caso de desejarem anexá-la ao portfólio. O assistente desmerece a fotografia e responde com algo nas linhas de que será a performance no teste, não uma foto, o diferencial entre a escolhida para o papel e as centenas de atrizes fracassadas já experimentadas. O teste, excelente, expõe o talento dramático de <i>Sarah</i>. Ao final, contudo, mesmo tendo feito um encantador trabalho, ela sai desapontada com a apatia dos examinadores. Tomada por desespero, na saída, ela se tranca na cabine do banheiro, e desfere golpes na porta<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, chegando </span>a arrancar os cabelos. Ao abrir a cabine, toma um susto ao se deparar com a diretora de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">casting</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Aparentemente, a indiscrição da atriz valeu a atenção da mulher, que a convida a <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">voltar à sala</span>. Para a segunda oportunidade, a mulher e o assistente não querem saber de leitura de roteiro, instruindo-a a reviver, ali na frente, o ataque de pânico. Algo associado à <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">suscetibilidade </span>da moça agrada os executivos do estúdio. <i>Sarah </i>vai ao chão, gritando, arrancando chumaços do cabelo. Os examinadores reagem <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">com surpresa</span>, intrigados com a demonstração de puro horror. Eles prometem entrar em contato, nos próximos dias. <i>Sarah </i>chega abatida ao apartamento. <i>Tracy </i>lhe comunica os planos da turma para a noite e a convida a se juntar à reunião. Desapontada, <i>Sarah </i>dá uma desculpa esfarrapada e se recolhe ao quarto. Ali no breu, permanece por um tempão sentada na beira da cama, estudando com olhos pidões e tristes as fotos de estrelas a decorarem as paredes.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2c514ej29slz78Dz0Yx_CZ7stAjWF35ED2iQdt90PdSuAUxF-9FrDdaTLW4vA82DLcGklaPsLfm5yIKZs91f7wZ-Pwmkay-T-qrLL0qfazUn6ridTC8cBnIjkxkuE9m99QLxZXIvkP_Y/s1600/starry-eyes-movie-still-15.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="529" data-original-width="1269" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2c514ej29slz78Dz0Yx_CZ7stAjWF35ED2iQdt90PdSuAUxF-9FrDdaTLW4vA82DLcGklaPsLfm5yIKZs91f7wZ-Pwmkay-T-qrLL0qfazUn6ridTC8cBnIjkxkuE9m99QLxZXIvkP_Y/s320/starry-eyes-movie-still-15.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiluVXmFKq7_AyzaWsEjcwn1li3QrmPjWexCzbIg9-R3cZeSQeW1csj4aEOwYllDM1dzCSs5toahB8CsFN6Do5sZF9O5gEozTkySVmPmaRWGAcGRqGIyOVumdxG2_ntRcJr-Vdxj2mSLr8/s1600/starry-eyes-movie-still-17.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="531" data-original-width="1269" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiluVXmFKq7_AyzaWsEjcwn1li3QrmPjWexCzbIg9-R3cZeSQeW1csj4aEOwYllDM1dzCSs5toahB8CsFN6Do5sZF9O5gEozTkySVmPmaRWGAcGRqGIyOVumdxG2_ntRcJr-Vdxj2mSLr8/s320/starry-eyes-movie-still-17.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Sarah</i> recebe uma ligação do assistente de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">casting</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Os executivos pediram para vê-la, e querem agendar um novo encontro. Sem entrar em detalhes, ele antecipa que a próxima audição diferirá bastante da primeira. Com os ânimos reenergizados, <i>Sarah</i> não se importa quando <i>Carl</i> lhe chama a atenção por conta da distração. Ele a avisara a não trazer o celular para a diner, porque o aparelho a deixava desatenta aos serviços. Chamada ao escritório para uma conversa mais séria, ela escuta com aborrecimento às queixas do chefe<i></i>. Ele não repreende a funcionária pelos sonhos de estrelato, apenas não quer que <i>Sarah </i>destoe do restante da equipe. Atender a demanda da diner pode não corresponder às fantasias sofisticadas da moça, mas muitas garotas dariam tudo por uma oportunidade de trabalho estável. Cheia de si após o convite do<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> estúdio</span>, <i>Sarah </i>retruca que a diner tem atrapalhado sua caminhada ao<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> estrelato</span>, e abre mão do cargo de garçonete. Desavisadamente, ainda engata que não é como as outras garotas as quais <i>Carl </i>se refere, aquelas que agradeceriam por um trabalho estável.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqnxmw5Mcpd-M5OxAsZr5F06Okp6BA_5wRrBrwFTMbJmixdfRILDW6SKyH0ZXKluM3sb6K9xn3z2jqBQH3GyL7-tocFFRJy_udNpQCwxQGfJyDehXidik_tZ63XPuXIhY92Lzc4WF9OAw/s1600/Starry-eyes.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="516" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqnxmw5Mcpd-M5OxAsZr5F06Okp6BA_5wRrBrwFTMbJmixdfRILDW6SKyH0ZXKluM3sb6K9xn3z2jqBQH3GyL7-tocFFRJy_udNpQCwxQGfJyDehXidik_tZ63XPuXIhY92Lzc4WF9OAw/s640/Starry-eyes.jpg" width="206" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Quando <i>Sarah </i>comparece ao estúdio e é encaminhada à audição, o novo encontro, de fato, se prova totalmente diferente do que poderia imaginar. As luzes do auditório foram apagadas, excetuando-se um canhão que projeta o facho a um determinado ponto do palco, onde <i>Sarah</i> se posta para aguardar instruções. Pode-se ver silhuetas à mesa, atrás do canhão. Trata-se da diretora de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">casting </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e o assistente do encontro anterior. A atriz conta com a leitura de falas do roteiro, porém o assistente lhe informa que já conhece sua habilidade para memorizar textos. Deseja tentar algo diferente. Orientada a se despir, ela se livra completamente das roupas. No rosto, vê-se a hesitação por se apanhar em uma situação inesperada e imprevisível. O homem procura pô-la à vontade, e o canhão de luz passa a oscilar, criando um inquietante efeito estroboscópico, à medida que lhe é pedido que "<i>procure se tornar uma pessoa diferente</i>". A cada retorno do clarão, percebemos a mudança na <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">expressão </span>da moça, inicialmente <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">retesada </span>e desconfortável, agora solt<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span>, devass<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span> e quase possuíd<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span>. Ao sabor de uma <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">batida </span>eletrônica e macabra, nos moldes da trilha de "<i>Corrente do Mal</i>", essa sequência, muito marcante, parece <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">reportar-se</span> ao recorrente tema do "<i>Projeto Monarch MK Ultra</i>", a ser abordado mais adiante. <i>Sarah </i>deixa a audição extasiada. Ela não se dá conta do ninho de cobras onde se meteu.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Naquela tarde, ao voltar para o motel onde mora com <i>Tracy</i>, encontra os amigos <i>Danny</i>, <i>Ashley</i>, <i>Poe </i>e <i>Erin</i>. Acomodado com a máquina fotográfica na poltrona flutuante, <i>Poe </i>tira fotos de <i>Ashley </i>e <i>Erin</i>, as duas de biquíni, saltitando à beira da piscina, enquanto <i>Danny</i>, da cadeira para banho de sol, parece ocupado com qualquer outra coisa na máquina filmadora. A aparência de leveza e felicidade de <i>Sarah </i>chama a atenção do grupo, e <i>Danny </i>pergunta como a moça se saiu. Ela vocaliza a satisfação com o encontro, mostrando-se bastante <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">esperançosa</span>. A perspectiva do trabalho, claro, desperta a inveja de <i>Erin</i>, que, mesmo inocentemente, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ventila </span>palpites sobre a legitimidade do projeto e do estúdio. <i>Danny </i>aponta que a <i>Astraeus</i>, um dos principais de Hollywood, está por trás de um número impressionante de <i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">blockbusters</span></i>. <i>Sarah </i>sobe ao apartamento, e cruza com <i>Tracy</i>, no caminho para a festa na área de lazer. A menina <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">anima-se </span>com as boas novas. Subitamente, escutam uma certa comoção vinda da piscina. <i>Ashley </i>escorregou na beirada e deu de cara com o chão. Ela quebrou o nariz, nada grave, mas muito bagunçado. O acidente a fez espirrar sangue por todos os lados. O caráter de <i>Sarah</i>, conforme acompanhamos nesse exato momento, passa por um processo de subversão, pois ela reage ao incidente com uma risadinha. <i>Tracy </i>estranha o flagrante, <i>Sarah </i>sempre lhe pareceu uma menina sensata. Como pode rir do horror de alguém? Ela imediatamente sufoca a risada com uma expressão mais sóbria e dura, policiando-se pelo lapso, mas deixando uma péssima impressão para a colega de quarto. <i>Tracy </i>desce as escadas para ajudar a socorrer a outra menina. <i>Sarah </i>tem sonhos esquisitos envolvendo a última audição, e acorda de madrugada, para espairecer um pouco do lado de fora, onde uma nova manhã já se principia sobre Hollywood. Ela recebe uma inesperada ligação da diretora de <i>casting</i>: o produtor deseja vê-la pessoalmente.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1UIJkVnX13w6nottgvyeb7L8ldv9VxbYsbSFGvv_X34levM9lldFIucy0t5VtZFzdAYZkYd18UEwP1q3yFBCHxuU44DFftT4qJttLY3Nq7WV7IPVvesc16oIylanTW2LqiGy-5t5L0Io/s1600/starry-eyes-movie-still-20.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1265" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1UIJkVnX13w6nottgvyeb7L8ldv9VxbYsbSFGvv_X34levM9lldFIucy0t5VtZFzdAYZkYd18UEwP1q3yFBCHxuU44DFftT4qJttLY3Nq7WV7IPVvesc16oIylanTW2LqiGy-5t5L0Io/s320/starry-eyes-movie-still-20.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_0VodMOOSe9mTmM_e4M17031-JWyGb7oS-W8Mc_H_9UGpWGgythLtdE3iJxfMzzlb3snhRfqI2i1nEEiYM16uWp92LGClC4sQ3sfNkw5QMVe91AJdnH1HfgPD8FdxIDn9althE9xWhlA/s1600/starry-eyes-movie-still-19.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="527" data-original-width="1267" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_0VodMOOSe9mTmM_e4M17031-JWyGb7oS-W8Mc_H_9UGpWGgythLtdE3iJxfMzzlb3snhRfqI2i1nEEiYM16uWp92LGClC4sQ3sfNkw5QMVe91AJdnH1HfgPD8FdxIDn9althE9xWhlA/s320/starry-eyes-movie-still-19.jpg" width="320" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT7_QIAjJqxQaVVN4tcBbAAFEwtEugqTHgVpacXkXAV_7ZX99sItuW2yGe2d-w6PaLqp8R6NYVi4QNZoFOtLauWijKkAsVGRtptKv_khKe-7ZZBkyyAKkIr8kIv3Em_hmViCgAUGJjOg0/s1600/starry-eyes-movie-still-18.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="521" data-original-width="1261" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT7_QIAjJqxQaVVN4tcBbAAFEwtEugqTHgVpacXkXAV_7ZX99sItuW2yGe2d-w6PaLqp8R6NYVi4QNZoFOtLauWijKkAsVGRtptKv_khKe-7ZZBkyyAKkIr8kIv3Em_hmViCgAUGJjOg0/s320/starry-eyes-movie-still-18.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Sarah</i> está "<i>vestida para matar</i>", linda em um vestido vermelho a realçar seu natural charme. Os colegas se reuniram no apartamento para assistir a filmes e comer pipoca, e quando ela desponta na porta da sala de estar, a caminho do encontro, os rapazes perdem o fôlego com <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">tanta</span> beleza. Jamais a viram tão radiante. Vem de <i>Erin</i>, lógico, a voz <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">discordante</span>, ao opinar que ela teria se excedido na sensualidade do vestido. Encorajada pelos demais, principalmente por <i>Danny</i>, <i>Sarah </i>não se deixa intimidar, e parte para a reunião com o criador da <i>Astraeus</i>. Ela é recebida no portão pela diretora de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">casting</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, que a <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">acompanha</span> para o gabinete do <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">empresário</span>. O cavalheiro, elegantemente trajado, aparenta idade suficiente para se passar por avô da menina. Ele reafirma a sorte da aspirante, pois poucas artistas tiveram a honra de serem recebidas no recinto. Convidada à mesa, <i>Sarah </i>escuta os planos do homem para aquele projeto cujo papel ela tanto almeja. O diretor o descreve como uma carta de amor a Hollywood, um lugar criado à base da ambição, "<i>um sentimento primitivo, intrigante</i>", e, consoante o próprio, razão pela qual <i>Sarah </i>se encontra sentada diante de si. <i>Sarah </i>encarava o projeto como um mero filme de horror. O criador da <i>Astraeus</i> o define como algo filosoficamente mais profundo, cujo motivo de existir se baseia n<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a captura d</span>a feiura do espírito humano. O cavalheiro prova conhecê-la intimamente, ao citar os ataques de ansiedade</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, ca<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">nalizadores </span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">do problema da tricotilomania. <i>Sarah </i>revela a incidência dos ataques, a acompanharem-na desde a infância, e descreve o gesto de puxar os cabelos como uma <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">maneira de</span> manter o foco. O produtor revela suas reais intenções ao determinar que, sim, a deseja para o papel, apenas à custa de um voto de confiança. Ele se senta ao lado da atriz e a toca <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">entre as </span>coxas. Ela o encara com pavor, e o cavalheiro declara que aquele instante representa a verdadeira audição. <i>Sarah </i>se apavora e deixa o gabinete às pressas. Recebida com olhares questionadores quanto ao resultado da noite, limita-se a sumarizar "<i>Nada bem</i>", e se tranca no quarto, onde chora sob os lençóis. <i>Tracy</i>, verdadeira amiga, a procura, e se esforça para confortá-la. A atriz revela as intenções do produtor de usá-la sexualmente. Em uma genuína, galante tentativa de reparar a autoestima da amiga, <i>Tracy </i>lhe lembra que <i>Danny </i>ainda a quer para o projeto d<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o filme</span>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlunSH3O1poVgD7qcGJosinrBjPvblFVz0IlUxdZr-3Rp5UOMFwZuQ5I2bi0TlXaWFiDn10w3G6b_4oFb8kZEX0T4V07sNmX23DfFeeQ1UF0b6EwQqcSfUEmR2ifeSlECgZkYwewTuLRY/s1600/starry-eyes-movie-still-21.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1269" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlunSH3O1poVgD7qcGJosinrBjPvblFVz0IlUxdZr-3Rp5UOMFwZuQ5I2bi0TlXaWFiDn10w3G6b_4oFb8kZEX0T4V07sNmX23DfFeeQ1UF0b6EwQqcSfUEmR2ifeSlECgZkYwewTuLRY/s320/starry-eyes-movie-still-21.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiaO2dCr23tqLekmT5uU0FOvA3fcX7CBGFyutvWzAdc8JHkmuVFIBWjV60ZxdJGGM5Hd0XUPUPtXqzQW_pCSZOntf4sxiBOJb0x07Ei5iEKfmzbEmsB1H6xerHWFBQbDxelRB2AszVwn0/s1600/starry-eyes-movie-still-22.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1265" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiaO2dCr23tqLekmT5uU0FOvA3fcX7CBGFyutvWzAdc8JHkmuVFIBWjV60ZxdJGGM5Hd0XUPUPtXqzQW_pCSZOntf4sxiBOJb0x07Ei5iEKfmzbEmsB1H6xerHWFBQbDxelRB2AszVwn0/s320/starry-eyes-movie-still-22.jpg" width="320" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjI7NnyZZRmIAm7lgz5BurcXCjiG7S-WhgJv-2jQ884fyMCqDTqm87o7ll-7sHVWUYVFMgSYGd_JeNTz_VZuJK91bFyNr6nWezAY6NOkV6WbixVkLhkTJGr5PvgqxSIosgVU3f07OEdpJA/s1600/starry-eyes-movie-still-23.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="527" data-original-width="1273" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjI7NnyZZRmIAm7lgz5BurcXCjiG7S-WhgJv-2jQ884fyMCqDTqm87o7ll-7sHVWUYVFMgSYGd_JeNTz_VZuJK91bFyNr6nWezAY6NOkV6WbixVkLhkTJGr5PvgqxSIosgVU3f07OEdpJA/s320/starry-eyes-movie-still-23.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Na manhã seguinte, humilhada e abatida, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> presta uma visita a <i>Carl</i>. Ela pede desculpas pelo comportamento do outro dia. Embora </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">volte atrás </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e lhe devolva o emprego, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Carl </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">enfia um pouco de senso na cabeça da menina. Assim como </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, ele conheceu centenas de outras pretendentes com histórias semelhantes, recém-chegadas a Hollywood com o estrelato na cabeça. Até a grande oportunidade vir, contudo, o emprego no <i>Tater's</i> permitiu a estabilidade financeira que lhes deu alguma liberdade de manejo. Ele ressalta que até conseguir seu nome na estrela da calçada da fama, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> terá de se adequar às regras da casa. Assim, a moça regressa à vida de antes, e uma tomada a capturá-la sentada no chão, do lado de fora da diner, com um copo de milkshake e sanduíche ao lado, a cabeça entre os joelhos, em um momento de desolação, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mostra </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a total desesperança de alguém desavisad</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> e ignorante, que associa valor próprio a ter ou não o nome em letras garrafais na marquise. Ao final da tarde, no quintal da casa alugada por alguns dos membros da trupe, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> se reúne aos </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">colegas</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, onde alguém dedilha o violão e outros se esforçam para puxar uma modinha. A visão daquela gente jovem, vidas inteiras pela frente, perdendo tempo com inutilidades à espera do favor de terceiros dá o tom correto ao desespero a sublinhar o enredo do filme. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> se afasta e vai se sentar em uma poltrona de carro, modificada e remanejada para fora da van. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Danny</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> aproveita a circunstância para se aproximar e conversar melhor com a atriz. Ela lhe pergunta se </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Danny</span> </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mora na van, estacionada no quintal da propriedade. De fato, a van foi equipada como um cômodo provisório, com a cama e facilidades como estante para livros. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Danny</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> põe as coisas sob perspectiva: por que deveria pagar 1.500 dólares por um quarto, quando pode reservar o dinheiro para outras necessidades mais prementes e dormir na van? Ele conta que </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Tracy</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> revelou o ocorrido entre </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> e o produtor da </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Astraeus</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e lamenta pela constrangedora situação. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> retruca que ao </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ter ret<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ornado </span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ao </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Tater's</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, acredita já ter vendido a alma. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Danny</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> dá mostra de fraqueza de caráter ao contemporizar que se </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> crê ter vendido a alma ao pedir o emprego de volta, por que não pode dormir com o produtor por um papel? Ele faz um </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">movimento </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">com o braço, em direção à roda de amigos, e comenta que, diferente daquel</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">as</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> pessoa</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">s</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, que passam as tardes à espera de um milagre, talvez devessem agir e fazer algo de concreto pelos próprios sonhos. Após as palavras de encorajamento, o cineasta lhe oferece um "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">barato</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", uma nova droga. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> consome a pílula, e os dois voltam à festa para curtir uma noite na piscina.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzHQVRLKFQ3MYjTO8eOLZGF06u2AgLE6t0ADNRj0Ek7l3c8ggVzCQr3HTRKvyFJvohlfCEpBbhyphenhypheneGvcR46O-jSSC24lGUNpLIc_JrSRefRci-vjW-EWW6BtmM_x7GvSgpQumxUZP2LwFc/s1600/starry-eyes-movie-still-24.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1263" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzHQVRLKFQ3MYjTO8eOLZGF06u2AgLE6t0ADNRj0Ek7l3c8ggVzCQr3HTRKvyFJvohlfCEpBbhyphenhypheneGvcR46O-jSSC24lGUNpLIc_JrSRefRci-vjW-EWW6BtmM_x7GvSgpQumxUZP2LwFc/s320/starry-eyes-movie-still-24.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdcQUPgQcRptf8D9FRkWzTz-8m5TzSIC9COLRnwPz6yv4IQZ4fduxROOvdj-ml-GSwqVObZEdLHY3pwiSGg2uhlgRaaNOsvcylZrpufHkTIUmcIUylftaIklaL2zncer4OGa2_gHwDEhM/s1600/starry-eyes-movie-still-26.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1265" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdcQUPgQcRptf8D9FRkWzTz-8m5TzSIC9COLRnwPz6yv4IQZ4fduxROOvdj-ml-GSwqVObZEdLHY3pwiSGg2uhlgRaaNOsvcylZrpufHkTIUmcIUylftaIklaL2zncer4OGa2_gHwDEhM/s320/starry-eyes-movie-still-26.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Sarah</i> e os amigos mergulham na piscina, todos aparentemente sob o efeito de drogas. Ao submergir, a luz da lâmpada da piscina nos faz lembrar da segunda audição, quando <i>Sarah </i>foi submetida a uma experiência com contornos de controle mental. A droga a desinibe, e ela entende que se realmente quiser vencer em Hollywood, precisa dar aquele passo. Em um impulso, liga para a equipe do dono da <i>Astraeus</i>, e comunica a vontade de vê-lo novamente. Naquela mesma noite, <i>Sarah </i>se adorna com um sensual vestido, curiosamente preto, e toma o metrô rumo à mansão do velho. Antes de lhe franquear acesso ao gabinete, a diretora de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">casting </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">admoesta "<i>Não haverá uma terceira oportunidade, Sarah</i>". Inicialmente intimidada diante da silente presença do produtor, ela gagueja perguntas sobre uma nova leitura do roteiro, até se desequilibrar e cair de joelhos no chão, ainda sob o efeito de narcóticos. No íntimo, <i>Sarah </i>sabe o que precisa ser feito. O homem se levanta e se posta diante da moça. Ele precisa saber a que ponto <i>Sarah </i>está disposta a abdicar da vida anterior por uma nova existência. O produtor determina que ela prove o compromisso. <i>Sarah </i>abaixa o zíper da calça do homem, para lhe oferecer gratificação oral. Ao pôr as mãos nos cabelos da moça para puxar o rosto para a frente de suas partes, o produtor revela a marca do pentagrama. "<i>Mate sua vida anterior, Sarah. Enterre-a na terra e junte-se a nós nos céus</i>", o homem apregoa, enquanto figuras encapuzadas e satânicas, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">cuja natureza permanece indeterminada</span>, observam o desenrolar da cena a uma certa distância, na escuridão. Os desdobramentos do encontro satânico/sexual se embaralham na cabeça confusa da garota, e, quando desperta na manhã seguinte, ela se vê na cama do quarto, sem nítida lembrança do <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ocorrido</span>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNsTUYiouqu1kGJqSPIgDZhFkrxkSeastQVt2hownyonSJL_ehy8i-I29lBWzbwFF0O9C6cGDzbf10r0B6DnJatDVdfN2zmY6IA62BsJ6yzUvIW69sW33RjbNycQ9x-aPBxywFHUIf9HA/s1600/starry-eyes-movie-still-27.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1259" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNsTUYiouqu1kGJqSPIgDZhFkrxkSeastQVt2hownyonSJL_ehy8i-I29lBWzbwFF0O9C6cGDzbf10r0B6DnJatDVdfN2zmY6IA62BsJ6yzUvIW69sW33RjbNycQ9x-aPBxywFHUIf9HA/s320/starry-eyes-movie-still-27.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnaOdQz8Le4Xklb5YVJvBksQlXxV9qyoMvpT1xB6zHZ7hM-RmDtvV_0XEE5E1x92pg0xZGGdPPFsSroV58f52RF8IhL_vXdcOaU3hH7fFdTkNASPysILWSiAjZPv15XJvKEgF3nWZSJ4w/s1600/starry-eyes-movie-still-28.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="521" data-original-width="1263" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnaOdQz8Le4Xklb5YVJvBksQlXxV9qyoMvpT1xB6zHZ7hM-RmDtvV_0XEE5E1x92pg0xZGGdPPFsSroV58f52RF8IhL_vXdcOaU3hH7fFdTkNASPysILWSiAjZPv15XJvKEgF3nWZSJ4w/s320/starry-eyes-movie-still-28.jpg" width="320" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiimwKwYvYxOg9Rpru5dbIbQFkpv0Qk2ZwUGPXSvMhZVZdR4U2iOv0G5E8wvCMVks77IgSr_HnW9fZciySnp5Je9p2qyCOAtMQ9dc6mA8YJYQmblDLlCa0YXFpptRe2dhJHLS9cp-PJ0N4/s1600/starry-eyes-movie-still-29.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1267" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiimwKwYvYxOg9Rpru5dbIbQFkpv0Qk2ZwUGPXSvMhZVZdR4U2iOv0G5E8wvCMVks77IgSr_HnW9fZciySnp5Je9p2qyCOAtMQ9dc6mA8YJYQmblDLlCa0YXFpptRe2dhJHLS9cp-PJ0N4/s320/starry-eyes-movie-still-29.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> não desempenha bem </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">as </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">funções na diner, e passa a impressão de estar alcoolizada. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Carl </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se desaponta ao </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">encontrá-la</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> naquele estado, e recomenda que tire o restante do dia de folga. Quando ela se nega a sair, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">principia-se uma discussão</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> que culmina com um tapa de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">no rosto de um surpreso, chocado </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Carl</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Sem escolha, ele a demite no </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ato</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">parte, cheia de remorso. Ao cair da noite, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a moça </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se sente ainda </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mais estranha</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Ela liga para a </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Astraeus Pictures</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, mas a chamada cai na secretaria eletrônica. Por não entender </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a dinâmica da transformação</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">atravessa um enorme pavor à medida que seu corpo começa a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se desintegrar</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Reunida com os amigos na pista de skate, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ela </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">passa mal, e quando </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Tracy </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">intervém para impedir que </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Poe </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se aproveite da vulnerabilidade da amiga para filmá-la e usar a imagem </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mais tarde</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, a moça acaba se voltando justamente contra a colega, a empurrando. Depois da briga, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">parte solitariamente, engolida pela</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">s sombras</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, deixando os amigos atônitos, na pista de skate. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Aparecer </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">no portão do produtor da </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Astraeus</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> também não surte efeito, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">afinal </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ninguém aparece para recebê-la. Caminhando pelo centro de Los Angeles, ela se assemelha a uma jovem em franca crise de abstinência. Na cama, sofre solitariamente, ardendo em febre, enquanto consegue escutar </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ressoantes </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">na cabeça as palavras do produtor, sobre enterrar a velha </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e juntar-se à elite como uma </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">diferente </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pessoa. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Tracy</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> só tem noção da gravidade do problema da amiga ao acordar no outro dia e encontrá-la vomitando no banheiro, o cabelo caindo, uma péssima aparência geral. Ela </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se assemelha a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">uma pessoa possuída, e exala um odor terrível. Seu comportamento também mudou. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">culpa </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Tracy </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pelos problemas, a amaldiçoa por ter contado sobre a audição e o assédio do produtor </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">aos demais</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, que inicialmente eram amigos de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Tracy</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e apenas conhecidos de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Vocês são como veneno para mim, vivem de me drenar</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", ela critica. A verdade, todavia, não bate com as confusas fantasias</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;"></i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Foi </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">quem não contribuiu com o aluguel pelos últimos dois meses. Ela se surpreende ao encontrar um envelope com a rubrica da </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Astraeus Pictures</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, chei</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> de maços de dinheiro. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">abre a porta e entrega o dinheiro para a colega, exclamando para não </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">amolá-la mais</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Pensativa, sob os lençóis, tenta compreender como a quantia apareceu ali.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguNrfNqrUumukzNnsj4qF83KVNohL_o8sMttKyUnnUDcNfqmpQ1FbDsW5BFEJ6u_cCCUmEfVz5Qgc_9MVeErSS7o1_Z5GPfe-J-Qqc46HvL2YbkDuLIDvdvbaB8-jbXEa82gI9Wczb3UY/s1600/movie-starry-eyes.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguNrfNqrUumukzNnsj4qF83KVNohL_o8sMttKyUnnUDcNfqmpQ1FbDsW5BFEJ6u_cCCUmEfVz5Qgc_9MVeErSS7o1_Z5GPfe-J-Qqc46HvL2YbkDuLIDvdvbaB8-jbXEa82gI9Wczb3UY/s320/movie-starry-eyes.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> é visitada pela diretora de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">casting</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Antes que possa dizer algo, a mulher a amordaça e a orienta a dormir. Atormentada por terríveis visões, enxerga uma visão de si, apenas mais bela e glamourosa, uma autêntica estrela de cinema em uma outra versão da vida. A imagem subitamente se vai, e resta a parede com as fotos em preto</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">branco das estrelas de cinema a quem </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">devotou parte da vida adulta. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Em simultâneo </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ao processo de decadência física, dentro da casa, é vigiada, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">insuspeita</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, pelas entidades de capuz vistas no gabinete do produtor. Ela sangra como no período de menstruação, e seus cabelos se </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">vão</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Em absoluto desespero, consegue ligar para o número da </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Astraeus </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e ser atendida pelo produtor. A elite sabe exatamente a natureza da metamorfose. O homem lhe </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">adianta </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Você está, sim, morrendo. Pode ir para o chão e ser esquecida para sempre ou renascer. Será que você esperava que fosse indolor, que seria fácil, que simplesmente acordaria numa manhã com tudo o que sempre quis? Eu lhe disse, Sarah. Sonhos demandam sacrifício. E nós também. Eu posso lhe dar o que você quer. Mas você precisa abraçar quem você realmente é. É hora de se tornar um de nós. É hora de ser lembrada</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">".</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxAFNOfc58LefMGjTx9YiFsc9asi44Y0fpFNXOkxfpD5HXC9ZMOW6_9wmB48H6iKl0NNHsInn34NbevOHmRbo_9slM1Kf8kWg1wP0Bot0Sa9q7QW-1JWsXhL9Mr7FT9BxrhBaqJVHI7GY/s1600/starry-eyes-movie-still-4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="531" data-original-width="1269" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxAFNOfc58LefMGjTx9YiFsc9asi44Y0fpFNXOkxfpD5HXC9ZMOW6_9wmB48H6iKl0NNHsInn34NbevOHmRbo_9slM1Kf8kWg1wP0Bot0Sa9q7QW-1JWsXhL9Mr7FT9BxrhBaqJVHI7GY/s320/starry-eyes-movie-still-4.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisF5ShW-FqS3ICOSH4SKPCj1dO5Yk0-SfXMOeLHzjzLuXTBTlyI7gkof_3CgCaDWjBCkp3W2d1Oor1hGSDFEWrRd8bDRoivr8MpYAr1gHZ9ihrEpKXmQJJFQt2UqYlCQwiRmkNLV3IE0E/s1600/starry-eyes-movie-still-5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1259" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisF5ShW-FqS3ICOSH4SKPCj1dO5Yk0-SfXMOeLHzjzLuXTBTlyI7gkof_3CgCaDWjBCkp3W2d1Oor1hGSDFEWrRd8bDRoivr8MpYAr1gHZ9ihrEpKXmQJJFQt2UqYlCQwiRmkNLV3IE0E/s320/starry-eyes-movie-still-5.jpg" width="320" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAmRwg1rmaMVQd2E6028WahiysEZjGJ1F0kpirDjARQqirjW-Rm6zth7T3mJsAck6wYjt_iXsDK0ykpWlXDJOHpjRfiAza04TODgJeuSdNJ-rf5TVatqiYXe3jiYzR0wEGX9zjR7EqQa8/s1600/starry-eyes-movie-still-6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="527" data-original-width="1269" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAmRwg1rmaMVQd2E6028WahiysEZjGJ1F0kpirDjARQqirjW-Rm6zth7T3mJsAck6wYjt_iXsDK0ykpWlXDJOHpjRfiAza04TODgJeuSdNJ-rf5TVatqiYXe3jiYzR0wEGX9zjR7EqQa8/s320/starry-eyes-movie-still-6.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">É noite fechada quando, em um blusão </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> moletom com capuz, <i>Sarah </i>chega silenciosamente à casa onde moram <i>Erin</i>, <i>Ashley</i>, <i>Poe</i> e <i>Danny</i>. Ela entra sorrateiramente para examinar os ocupantes. <i>Poe</i> dorme com <i>Ashley</i> em um cômodo, e <i>Erin</i> com <i>Danny</i>, no quarto improvisado dentro da van. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Em um primeiro momento<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">,<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> n</span></span></span>inguém dá pela presença da atriz. <i>Erin</i> se escusa para urinar, e promete retornar logo. Barulhos a atraem à cozinha, onde toma um susto ao encontrar a atriz em um canto. Protegida pelo capuz, ela acusa <i>Erin</i> de manipular <i>Danny</i> para ficar com o papel principal de seu projeto. Ela se defende, explicando que o conhece há muito tempo, e indaga se lhe ocorreu a hipótese de <i>Danny</i> ter lhe dado o papel por acreditar em sua capacidade. <i>Erin</i> <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">diz </span>lamentar a forma como a amiga enxerga o mundo. <i>Sarah </i>tenta sabotar a importância do projeto ao insultá-la, dizendo que lhe parece patético que imaginem que ela aceitaria participar <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de um </span>filme amador. <i>Erin</i> responde à altura da malícia no discurso de <i>Sarah</i>. Ela abre o jogo ao expor que <i>Tracy</i> lhes contou sobre o envelope com dinheiro e insinua que <i>Sarah</i> não guarda estatura moral para julgá-la, não quando vende o corpo para ascender no ranking da elite. Até aquele momento, <i>Erin</i> não tem noção da degradação mental/física a assolar a amiga, pelo menos até acender a luz e observar melhor a cara d<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a visitante</span>. Movida por boas intenções, declara que precisa levá-la a um hospital. Quando <i>Erin</i> tenta abraçá-la, <i>Sarah</i> apanha uma faca d<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o bo<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">x </span></span>da cozinha e desfere um golpe que fere violentamente a colega no rosto. <i>Erin</i> recua trôpega até cair no chão, e <i>Sarah</i> também abre espaço ao dar alguns passos para trás, talvez pela primeira vez <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ciente </span>do que está para levar adiante. <i>Sarah</i> avança contra a menina e a esfaqueia <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">três </span>vezes n<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a barriga</span>. <i>Poe</i> aparece <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">inocentemente </span>no corredor, a caminho do banheiro. Como não chegou a escutar a confusão, nada lhe parece fora do comum, e, portanto, limita-se ao acenado sonolento <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">com a </span>cabeça, antes de fechar a porta do toalete. Com o quarto livre para <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a ação</span>, a atriz se arma com um halteres, e sobe cuidadosamente na cama, de modo a não acordar <i>Ashley</i> antes do tempo certo. A menina só vai abrir os olhos quando <i>Sarah</i> já se encontra montada sobre sua cintura, de halteres em punho. Ela nem tem tempo para compreender o ataque, pois logo recebe um golpe fortíssimo na testa. Os golpes seguintes a apanham </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mais na parte central do rosto,</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> afundando </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a face </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e tornando o travesseiro uma grande confusão de cabelos, massa encefálica, sangue e ossos. Ela estrebucha a cada descida de halteres. <i>Sarah</i> só </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">interrompe o assalto </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">após nada mais restar. O choque da brutalidade envolvida no ataque é tamanho que <i>Poe</i>, espectador da cena, mal consegue se mover, permanecendo ali, olhos tão </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">esbugalhados </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e assustados quanto os de um veado no meio da estrada ao se dar pela aproximação de um carro<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, pelas </span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">luzes dos faróis. Quando finalmente rompe a inércia, escorrega no </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sangue do assoalho</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, dando à <i>Sarah</i> </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a chance de</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> alcançá-lo e matá-lo ali mesmo, com estocadas na altura da espinha dorsal e rins. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Seve<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ramente ferida, <i>Erin</i> rasteja com sacrifício, na tentativa de evadir-se da cozinha</span></span>. <i>Sarah</i> envolve a cabeça da menina com um saco plástico, e a segura por trás, para estrangulá-la. As duas saem rolando pelo assoalho melado de sangue. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">As ex-amigas </span>lutam por um tempo dolorosamente prolongado e ag<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">onizante</span>, mas <i>Erin </i>não monta nenhuma reação significativa. A violência da hemorragia e a falta de oxigênio logo dão cabo de sua vida. Distraído deitado no "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">quarto <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">improvisado</span></i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", <i>Danny</i> não suspeita do terrível risco de permanecer <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">n<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">as cercan<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ias</span></span></span>. Ele abre a porta preparado para chamar a namorada dentro de casa, pois estranha a demora, porém se detém ao encontrar <i>Sarah</i>, sentada na poltrona, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">vestindo</span> o capuz, contemplativa. Atencioso, pergunta o que ela faz no quintal, de madrugada, e fala sobre o quanto todos estão preocupados com seu estado psicológico. Ele promete que pode ajudá-la, apenas <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pede </span>que se abra a respeito dos problemas. Quando <i>Danny </i>se aproxima para oferecer um abraço, leva uma facada no abdômen. Caído na poltrona, ele suplica para ter a vida poupada. <i>Sarah</i> levanta o capuz e revela sua aterrorizante face risonha. Ela segue o ataque inicial com mais cinco facadas n<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> barriga</span></span>. "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Eu não tenho amigos. Só há uma coisa no mundo que eu realmente queira. E eles me darão</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", ela murmura.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWD3nho9cRYhbpwGTP1cxFla5Hv7gRjmFxgYUcbrKqpFobDkUSTIjORl8v62DAM-pEqyOWjhFBskvpEwJQ2-H4QvGI4vzQlAI705p5UF6inLOiK6HtmeC9V-r9ATJ9LnQBQXNAJMMzbNw/s1600/starry-eyes-movie-still-9.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="529" data-original-width="1269" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWD3nho9cRYhbpwGTP1cxFla5Hv7gRjmFxgYUcbrKqpFobDkUSTIjORl8v62DAM-pEqyOWjhFBskvpEwJQ2-H4QvGI4vzQlAI705p5UF6inLOiK6HtmeC9V-r9ATJ9LnQBQXNAJMMzbNw/s320/starry-eyes-movie-still-9.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ7IJ8SxfXfChJ-FsB9MVcmjfHPS89ukFYJd0dSgZHU5eSvNo5Ul66ci4ah8p88VnHsvmOSzd3PFfyn2WCvJVRmlreJ8M-DyVK5mhuZbJxqoLeDREmqaIvetn1k910b0TyU5D5cRq7Ppo/s1600/starry-eyes-movie-still-10.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="527" data-original-width="1267" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ7IJ8SxfXfChJ-FsB9MVcmjfHPS89ukFYJd0dSgZHU5eSvNo5Ul66ci4ah8p88VnHsvmOSzd3PFfyn2WCvJVRmlreJ8M-DyVK5mhuZbJxqoLeDREmqaIvetn1k910b0TyU5D5cRq7Ppo/s320/starry-eyes-movie-still-10.jpg" width="320" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTLJzdsSg7RuSke4wnrvDcD75LEd5TOziCVlHGiEGM-xshUemVY9PGwWT50fsXQ1OU7jx6zGig_FBpIjvsVokT1gnK3QhnA3fRJ-AdZqOJ7BxVil6rhDPeUl0NqeOOo2RhrgeFFZHxzWg/s1600/starry-eyes-movie-still-8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="531" data-original-width="1271" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTLJzdsSg7RuSke4wnrvDcD75LEd5TOziCVlHGiEGM-xshUemVY9PGwWT50fsXQ1OU7jx6zGig_FBpIjvsVokT1gnK3QhnA3fRJ-AdZqOJ7BxVil6rhDPeUl0NqeOOo2RhrgeFFZHxzWg/s320/starry-eyes-movie-still-8.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Nisso, as entidades vistas nas sombras durante o encontro de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> com o produtor ressurgem. A elite comparece em peso, gente da indústria, pessoas elegantemente vestidas, munid</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">s com velas, em um ritual satânico. Hipnotizada, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> é encaminhada a um</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a cova</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, onde é enterrada. Ao redor do túmulo, os membros da elite realizam seus passes diabólicos. Ao raiar do sol, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> emerge da terra, e encontra uma caixa de presente ao lado da cova, com um cartão onde lê "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Feliz Aniversário</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", uma felicitação no mínimo emblemática, levando-se em conta a simbologia de se deixar o se</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pulcro como uma nova pessoa</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Tracy</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> desconhece os últimos acontecimentos, contudo, ao visitá-la no quarto e vê-la fulgurante, os olhos cor esmeralda, pressente que algo importante aconteceu. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> pede para </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Tracy</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> deitar-se ao seu lado, e a trai com um beijo de Judas, que tira sua vida. Diante do espelho, ela estuda sua nova, perfeita aparência, uma autêntica estrela de cinema, alinhada com aquela gente das fotos a adornarem a parede. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sarah</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> está preparada para deixar a vida </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">anterior </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">para se unir à nova família, a elite satânica & pedófila que escolhe quem terá ou não sucesso no show business. Ela pendura o pentagrama no pescoço, assinalando o próprio destino, e os créditos sobem.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLSOaxv9GfYAIjqf6Ql3Vg0C3thXJrP7lRHAeMKBZQr6ox_rzTXrfvzHANYz-GzYKWXuodzKEP7LhIFSMMm6QCR0bxFlIaj-_ucIm5AbKhhNPXryqUb3j0S1zWhc4TcN_IVnBZjdo3gYU/s1600/starry-eyes-movie-still-11.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="527" data-original-width="1273" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLSOaxv9GfYAIjqf6Ql3Vg0C3thXJrP7lRHAeMKBZQr6ox_rzTXrfvzHANYz-GzYKWXuodzKEP7LhIFSMMm6QCR0bxFlIaj-_ucIm5AbKhhNPXryqUb3j0S1zWhc4TcN_IVnBZjdo3gYU/s320/starry-eyes-movie-still-11.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Quem nunca quis se tornar estrela de cinema, para dar forma e substância a ilusões que, projetadas na tela prateada, guardam tão </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">veemente </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">influência sobre o imaginário das pessoas, sobretudo crianças? Mesmo ao inegociável custo de perdê-las mais tarde? É uma pena, quando nossos sonhos de criança se vão, irremediavelmente estilhaçados uma vez alcançada a idade para melhor discernimento dos fatos da vida. À medida que o tempo segue arrancando camadas e mais camadas de superficialidade até restar somente o essencial, conforme o ator </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sylvester Stallone</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> explicou certa feita a </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">James Lipton</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, ocorre-nos a compreensão de que aparências estiveram em nosso caminho justamente para nos distanciar da verdade, mantê-la a uma distância segura, de modo que os poucos que a conheçam a usem com a maldade da manipulação. O ardil enraíza o </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">veneno </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a todos os aspectos envolvidos no amadurecimento, não? Inicia-se quando descobrimos em tenra idade a fraude por trás de personagens queridos de contos de fadas, e segue se desdobrando em uma imprevisível vinheta de eventos que, no curso da infância, põe em xeque o confronto da inocência com`a indiferente realidade dos fatos. Não há nada mais </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">alegórico </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">da referida aprendizagem do que a jornada particular do sobrevivente de agressão emocional narcisista, daí o impacto desse filme sobre mim. Talvez, não por menos, o submundo retratado por "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Starry Eyes</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", povoado por gente cuja maldade carrega </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">elementos</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> do mais palpitante narcisismo maligno, permita-me enxergar um pouco da minha própria ingenuidade naqueles amigos alheios à verdadeira natureza daquilo que julgam desejar. Como um brilhante, assertivo cavalheiro especializado no transtorno frisou anteriormente, abuso narcisista não difere de se </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">voluntariar a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">uma volta no túnel do trem fantasma, ou casa de espelhos, como queira, sem conhecer sua razão de existir, e </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">entrar ali <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">esperando </span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">encontrar algo de genuíno ou real. Alguém experiente prestar</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ia</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> atenção na marquise do prédio e </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">enxergaria </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">em grandes letras "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">trem fantasma</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", de modo que, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">caso entrasse</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">saberia </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">perfeitamente o que esperar de um entretenimento do tipo. Para os desconhecedores do mal, todavia, é como se a marquise não existisse, você se sentasse no carrinho, as portas se fechassem, e, ali dentro, depois de antecipar um mundo em ordem, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">enfiasse a cara na</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> mais irrestrita insanidade. Ali, a ordem das coisas, ou melhor, as virtudes, parecem ter sido invertidas, e você se frustra ao se apegar a lógica para a análise. Quanto mais percebe que a mesma não se aplica, mais acredita que há algo de errado com a própria cabeça, e segue revisitando o túnel, tentando pinçar fatos </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">para </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">fazer sentido do quebra-cabeça das brincadeiras do trem, pelo menos até que finalmente a natureza do mal infligido sobre sua boa vontade seja trazida à luz, e entenda que não se pode esperar nada de real, concreto ou humano, falando-se </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">narcisistas malignos. N</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ada se pode fazer</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, que não fichar a experiência numa pasta que costumo chamar de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">faculdade da vida</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", e seguir a regra da distância & não contato até seu último dia nesse mundo. Hollywood foi erguida por narcisistas, e embora nem todo narcisista necessariamente vire estrela de cinema, afinal a maioria desses </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sacripantas </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">vive uma existência útil e produtiva, mesmo que apenas de fachada, não podemos perder de foco que a indústria do cinema fundamenta-se sobre o terrível sentimento que lhes é comum, a inveja. E é a "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">ascensão</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" ao estrelato, por lhes roubar a identidade assim que se vendem para atender a agendas específicas, que lhes dá o famigerado olhar analítico e indiferente, algo como o gorila entediado examinando uma fruta em mãos, comum aos psicopatas. Ninguém nesse mundo, nenhuma estrela de cinema, embolsaria somas tão irreais de dinheiro, dezenas de milhões de dólares, se não fizesse parte de um seletíssimo grupo cujo ingresso como membro demanda sacrifícios inimagináveis, dos quais a elite guarda provas. Como na própria máfia, onde você jamais será promovido a sentar-se à mesa com o chefe a menos que cometa um horrível crime ou inominável depravação dos quais eles guardem evidências para implicá-lo caso alimente ideias estúpidas de entregar o esquema inteiro, as estrelas de cinema obedecem à rigorosa hierarquia criada por quem organizou e financiou o negócio das ilusões. "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Eu gostaria que todas as pessoas pudessem conquistar fama & fortuna, apenas para que entendessem que posses não são a solução para nada</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", disse, com melancólico conhecimento de vida, o ator </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jim Carrey</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, apropriado da desenvoltura de quem sobrevive no meio há boa parte de quase 25 anos. Foi no verão de 1994, afinal de contas, que ele se tornava astro, do dia para a noite, com "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Ace Ventura</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". Seu valioso conselho se reveste da autoridade de alguém que ao longo de duas décadas viu segredos das vísceras da indústria que a nós só cabe imaginar. Se apenas os personagens de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Starry Eyes</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" tivessem sido mais prudentes, ou alguém lhes tivesse reservado essas mesmas linhas sobre autopreservação...</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRLqvWkobiOyp2eWeP2n_f85e1Smljh7gUNF0bxWiPtbfIC_ZdSML8Y8VMDSw8EXNwtCVjwM5NLYZFRJ9kAEdbaNJFR1Glu9FeJYhWY9qbhm_TRgdyeUElFy1YtS9kg14pQNOvwziT59Y/s1600/ste-still-3-1920x976.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="813" data-original-width="1600" height="162" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRLqvWkobiOyp2eWeP2n_f85e1Smljh7gUNF0bxWiPtbfIC_ZdSML8Y8VMDSw8EXNwtCVjwM5NLYZFRJ9kAEdbaNJFR1Glu9FeJYhWY9qbhm_TRgdyeUElFy1YtS9kg14pQNOvwziT59Y/s320/ste-still-3-1920x976.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Escrito e dirigido por</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;"> Kevin Kolsch</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> & </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Dennis <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Wydmeier</span></i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Starry Eyes</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" foi financiado no Kickstarter, e a concepção revela o amor de seus criadores pelo tema, reflexo das experiências dos próprios cineastas no competitivo mundo do cinema. Originalmente imaginado como uma produção menos ambiciosa, foi o interesse da produtora </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Dark Sky Films</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> ("</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">House of the Devil</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" & "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Hotel da Morte</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">") que incrementou o valor de custo e distribuição e, consequentemente, ampliou o alcance final, potencializado após a grande comoção deixada no rastro de sua passagem pelos principais festivais do gênero. Na première em Nova York, uma pessoa na audiência passou mal e desmaiou, para desespero dos acompanhantes, durante a sequência da chacina. A sessão precisou ser interrompida, e a garota, socorrida no lobby. Em Boston, outra pessoa, por não suportar o clímax, levantou-se e deixou o teatro lançando impropérios à tela. Como o diretor </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Kevin Kolsch</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> explicou, em entrevista ao site de cinema "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">You've Got Red on You</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", o histórico de marcantes performances por onde foi exibido emprestou a "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Starry Eyes</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" um "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">ar de perigo</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" que, a filmes do tipo, cria um ar de mistério em torno do marketing.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQSQ1v0cwbh7sfmTnwI_YuiyA04CSUCKuNg5tcVAtggEVeNC6ByXNwQra-W6Mp0PMT5F1agycrucZlHaNYPe-pQrsCa76bvEA71b_R2QdgDYGZhE1k17zeusRjt0i1iak4xPcmgYPFhms/s1600/starry-eyes-movie-still-30.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1269" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQSQ1v0cwbh7sfmTnwI_YuiyA04CSUCKuNg5tcVAtggEVeNC6ByXNwQra-W6Mp0PMT5F1agycrucZlHaNYPe-pQrsCa76bvEA71b_R2QdgDYGZhE1k17zeusRjt0i1iak4xPcmgYPFhms/s320/starry-eyes-movie-still-30.jpg" width="320" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVxLmERZPG8JfaywVHcSmyp5ByKlbSlBfLD-rvnGm-2XnGSRkrN_oF-9V-77JBpIq8DwG72yXHWC8HNJf-Z1XAjtnlQeiClwAVxVfaG1Tg9HSFYT1986_Ytyer7ZxgxrPLBRcTMDGxsvY/s1600/starry-eyes-movie-still-31.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="1271" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVxLmERZPG8JfaywVHcSmyp5ByKlbSlBfLD-rvnGm-2XnGSRkrN_oF-9V-77JBpIq8DwG72yXHWC8HNJf-Z1XAjtnlQeiClwAVxVfaG1Tg9HSFYT1986_Ytyer7ZxgxrPLBRcTMDGxsvY/s320/starry-eyes-movie-still-31.jpg" width="320" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVQ4FC-jRnb17xyPnHVtVlqbC8N3W2RMHqnQ9PuUGab_hXcT4Xo-CMRcZ38Stf_gzcjAIm48IQwhQUaIlXYhJdKswpk97vMfl2BI21mhvLDfMeIJqd9AghyrIv4Fjhz_XtzB6yR2Taru8/s1600/starry-eyes-movie-still-32.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="1269" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVQ4FC-jRnb17xyPnHVtVlqbC8N3W2RMHqnQ9PuUGab_hXcT4Xo-CMRcZ38Stf_gzcjAIm48IQwhQUaIlXYhJdKswpk97vMfl2BI21mhvLDfMeIJqd9AghyrIv4Fjhz_XtzB6yR2Taru8/s320/starry-eyes-movie-still-32.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Tendo visto um número relativamente grande de filmes de <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">horror</span>, eu <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">espero </span>"</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">algo a mais</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" para <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">investir meu tempo n<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span></span> trama. No caso de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Starry Eyes</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", um dos muitos pontos sólidos<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span>foi o <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">perfurante </span>desalento evocado através <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">do cuidado à atmosfer<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span></span>. Diferente de tantas outras histórias, os criadores preferiram empurrar a elite satanista para o plano de fundo, ao menos pel<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a maior parte do tempo</span>, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ocupando-se</span> de monstros mais próximos, familiares a qualquer pessoa que, nos dias de hoje, precise correr atrás dos <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">objetivos</span>: a impotência de vencer o círculo de apatia que nos prende à inação, o desespero <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ao se constatar </span>o escoamento do<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">s anos </span>como areia entre os dedos, à medida que <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">tempo vai marchando e</span> os sonhos ficando cada vez menores. <i>Kolsch </i>& <i>Wydmeier </i>extraem horror da escassez financeira e espiritual daqueles jovens bem-intencionados, ignorantes, e moralmente falidos, submissos a qualquer humilhação desde que lhes traga a chance de integrar uma elite. Nesse sentido, o filme se alinha a outros pesadelos assentados na realidade, como "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Réquiem para um Sonho</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", de <i>Darren Aronofsky</i>, o brutal drama sobre drogadição que revelou o talento de <i>Jennifer Connelly</i>. No filme de <i>Aronofsky</i>, primeiramente, o roteiro nos oferecia a <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">chance<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span></span>de nos acostumarmos a aquela gente, os vermos por suas qualidades mais confortáveis, por mais falhos que o fossem, quando as drogas ainda não haviam se tornado a principal coisa de suas vidas, e as usavam com um cunho "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">mais recreativo</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. O diretor então engatava, </span>na segunda metade, a descida ao inferno, quando a dependência adquiria contornos de puro desespero, um poder quase demoníaco, satânico. Ao pensar em "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Réquiem para um Sonho</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", e elencar os elementos comuns ao drama de <i>Darren Aronofsky</i>, vejo semelhanças em ritmo & fórmula, porque em termos de ritmo, ambos<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span>se permitem o benefício do tempo para deixar o horror se sedimentar, e, no que interessa à execução, as duas experiências, absolutamente selvagens, não nos poupam do medo envolvido em se perder a cabeça para a loucura, uma jornada eletrizante. Embora "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Starry Eyes</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" se destaque mais proeminentemente como uma história sobre a perda da alma para a corrupção, e o filme de <i>Aronofsky </i>não faça menção alguma às ciladas satânicas a cada curva da vida, o que seria a destruição de um lar, de uma família, por obra da droga, se não <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">produto do toque do D<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">iabo</span></span>? Cruzou-me a mente agora um programa televisivo, que eu assisti há alguns anos, sobre moradores da cracolândia de São Paulo. Havia esse cavalheiro, entrevistado entre tantas outras almas perdidas. Ele perdera trabalho, família e casa, arruinado pelo vício. Ao travar uma conversa com o repórter, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">chamavam-me a atenção</span> a educação e os bons modos de um homem que definitivamente vivera dias melhores. O cavalheiro oferecia as impressões sobre uma nova droga comercializada nas ruas, que chegara para substituir o crack, em razão do custo reduzido de produção, e discorria sobre seus efeitos devastadores, sobre o "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">portal</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" que parecia emular, por onde passavam toda sorte de visões e ideias bizarras: "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Às vezes, eu acho que (a droga em questão) foi criada pessoalmente pelo Diabo</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". E da mesma forma que em "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Réquiem para um Sonho</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" a personagem da <i>Jennifer Connelly</i> e seus amigos se viram envolvidos pela maldade quando já era tarde demais, as promessas vazias da "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Cidade dos Anjos</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", em "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Starry Eyes</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", gozam do insidioso veneno anestésico que impede as vítimas de agirem <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pela prudência enquanto há tempo</span>. As pessoas foram tão ludibriadas pelas mentiras que seguem alheias aos sinais acusados pela intuição.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0U2ND_c_Z6smRLcuyHJri8uXUEz1BYl2lDaAcmzJqkZ7Cij-1GrYY5_y_9mWxqnth-iUmx1rqfvs_loSNV31RS4g-3o1KO15KtRMIMMr7RvtQtghSjoDht6yyxDevWcnxk9EfMhZDEJM/s1600/starry-eyes-movie-still-7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="681" data-original-width="1600" height="136" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0U2ND_c_Z6smRLcuyHJri8uXUEz1BYl2lDaAcmzJqkZ7Cij-1GrYY5_y_9mWxqnth-iUmx1rqfvs_loSNV31RS4g-3o1KO15KtRMIMMr7RvtQtghSjoDht6yyxDevWcnxk9EfMhZDEJM/s320/starry-eyes-movie-still-7.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Essa questão do<i> modus operandi</i> da fama transitória sobre cabeças fracas me leva a um aspecto <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">particularmente <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">extraordinário </span></span>do filme<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">,</span> a caracterização dos personagens. Um diretor de cinema pode trabalhar sob as mais adversas condições, e <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ainda </span>assim criar uma magnífica obra. Baixo orçamento, um cronograma apertado,<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> nada disso importa</span>. Um artista verdadeiramente apaixonado pela ideia rodará sua obra-prima, e nenhuma limitação financeira o impedirá de deixar a marca <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pessoal <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">no produto</span></span>. Há um aspecto, todavia, que, caso ereto sobre pernas bambas, porá a estrutura inteira abaixo, e dinheiro nenhum no mundo o salvará. Refiro-me ao carinho e cuidado reservados aos personagens no momento <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">da </span>concepção. Se um cineasta consegue estabelecer o liame de causa & efeito entre as ações dos protagonistas e o julgamento de seu público, ele já nos tem fisgados, de anzol & linha. Quando <i>Brad Anderson</i> <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">realizou </span>"<i>Session 9</i>", um dos principais filmes dos últimos vinte anos, ele o fez dentro de um orçamento de 1.5 milhão. O jovem cineasta criou, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">não obstante</span>, o inquestionável marco face ao qual as demais obras de sua filmografia seriam julgad<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span>s - e perderiam feio, por maiores que seus orçamentos tivessem se tornado, ou mais poderosas fossem as estrelas no elenco. Ainda hoje, <i>Brad Anderson</i>, competentíssimo cineasta, "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">patina no gelo</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", na tentativa infrutífera de recuperar o ápice criativo, imortalizado em "<i>Session 9</i>". O que o impediu de criar outra obra igualmente <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ímpar</span>? O impasse não se restringe a dinheiro, pois hoje os maiores estúdios bancam seus projetos, tampouco elenco, afinal, grandes estrelas (como <i>Michael Caine</i>, <i>Ben Kingsley</i> e <i>Kate Beckinsale</i>) reverenciam suas instruções. <i>Não</i>, foi na caracterização da gente de "<i>Session 9</i>" onde <i>Brad Anderson</i> esgotou a "<i>magia do primeiro amor</i>", a generosidade do primeiro olhar. Ele nunca mais conseguiu imprimir aos filmes a empatia que dedicou a aqueles trabalhadores <i>blue collar</i> sob enorme stress, cada qual <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">atormentado por </span>um drama particular. Eles precisavam desfechar em tempo recorde de uma semana a limpeza de asbestos de um hospital psiquiátrico condenado pela prefeitura. Em minhas resenhas, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">costumo utilizar </span>"<i>Session 9</i>" como paradigma. Eu escrevi um artigo sobre o filme de<i> Brad Anderson</i>, e os remeteria à leitura do texto, pois <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">meu ponto lhes pareceria mais claro. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">P</span></span>or ora, basta destacar que o melhor pilar de "<i>Session 9</i>" consiste na sensibilidade de nos oferecer, como heróis da trama, gente como a gente, que compreende os dilemas do cidadão comum<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, empenhado em </span>trabalhar pelo sustento da família. <i>Kolsch </i>& Wydmeier também acertaram a mão ao apararem as arestas mais fantásticas do roteiro até que das páginas <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">emanasse alguma sinceridade</span>. Eu tenho lido opiniões sobre o filme, e quando <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">passo a vista pel</span>os interessantíssimos debates sobre o caráter final daquela gente, a discussão a respeito da natureza humana submetida a stress, vislumbro, nos detalhes, o cuidado dedicado pelos diretores no desenvolvimento dos garotos de "<i>Starry Eyes</i>". Assim como na vida, também no filme fica difícil julgá-los, quando consideramos que situações de falência moral só encorajam o lado mais feio e egoísta <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">da personalidade</span>. Na primeira <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">parte</span>, a trama cria situações para induzir nossa antipatia por <i>Erin </i>e aprovação por<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span><i>Danny</i>: <i>Erin </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">age </span>conforme um desagradável sentimento de inveja por <i>Sarah</i>, e parece desencorajá-la a cada nova oportunidade; <i>Danny</i>, ao contrário, passa a impressão do comprometimento, porque parece um amigo fiel, mesmo que pouco possa fazer pela carreira da moça. Ele também se ocupa de sobreviver, enquanto estúdios não descobrem seu talento como cineasta. A segunda metade, entretanto, cria oportunidades, através <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de </span>percalços, para torná-los pessoas mais reais, e não meramente <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">clichês</span>. <i>Erin </i>pode não esconder muito bem a inveja, mas como culpá-la? Em Hollywood há anos, batalhando para chegar ao fim do mês com a sua parte do aluguel, desempenhando papéis em comerciais ou pontas, não passa de uma menina inexperiente. Se em filmes mais rasos <i>Erin </i>se revelaria a antagonista, aqui, em "<i>Starry Eyes</i>", foi tratada com a consideração de um ser humano. Eis a palavra-chave<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">,</span> <i>ser humano</i>. E, como qualquer outra criatura passível de falhas, <i>Erin </i>não é perversa, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mas </span>precisa de tempo para crescer. Ao passo que manifesta o odioso sentimento da inveja, também se compadece ao testemunhar o declínio de <i>Sarah</i>, aproximando-se da moça para tocá-la no brevíssimo minuto de redenção, o que lhe custa a facada no rosto, o pontapé inicial para a chacina seguinte. Simultaneamente, as imperfeições de <i>Danny </i>o afastam do cansativo, unidimensional destino de "<i>cavaleiro branco</i>". Embora atue consistentemente no sentido de reparar o ânimo de <i>Sarah</i>, principalmente quando as coisas não vão bem, foi de <i>Danny </i>de quem partiu a oferta do comprimido que a desinibiu, a ponto de <i>Sarah</i>, em dado momento da festa na piscina, ter se encorajado a contatar o produtor e pedir uma nova audição, onde sucumbiria aos desejos pervertidos. As outras pessoas do grupo parecem igualmente confusas, perdidas, e atordoadas, cada <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">uma </span>com seus problemas e anseios. De "<i>Starry Eyes</i>", assim como de "<i>Réquiem para um Sonho</i>", <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">chega </span>uma aura muito evocativa de tristeza, de sonhos perdidos, de oportunidades desperdiçadas. Eu poderia dedicar o meu texto inteiro a discorrer sobre os aspectos explicitamente satânicos da trama, todavia o que mais me atraiu foram momentos surpreendentemente comuns, mundanos, como o fim de tarde quando <i>Sarah </i>chega ao motel onde mora com <i>Tracy</i>, e encontra a galera na piscina, as garotas saltitando na beirada. Instantes assim detêm um poder subliminar muito mais reflexivo que <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">os</span> mais violent<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o</span>s, porque vibram com uma inacreditável sensação de impotência. Ali, vemos gente jovem, vidas inteira pela frente, pessoas que deveriam estar estudando, buscando as coisas boas de Deus, potencializando o tempo. E<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">m oposição</span>, eis os personagens metidos na letargia da ociosidade, as mentes ocupadas pela expectativa de noites improdutivas das quais não advirá saldo algum. Subtraiam a chacina do desfecho, e o destino daquela gente não teria incrementado <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">muito</span>. Somente dois resultados adviriam do predicamento<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">.<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> O</span></span>u realizariam o sonho <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">do estrelato</span>, ou perderiam o auge da vida (e juventude) <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">perseguindo</span> uma miragem, amargando uma existência desperdiçada em quartos baratos de moté<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">is </span>e pontas em filmes do underground. Tendo em vista o cenário acima delineado, ainda creio que seria preferível <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a não concretização d</span>o "<i>estrelato</i>", <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">porque </span>sempre haveria a probabilidade do desdobramento de que, um dia, despertassem para a verdade e restaurassem as próprias vidas. Ao contrário, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">no </span>outro cenário, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">alcan<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">çado</span></span> o "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">estrelato</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", e uma vez que tivessem se adapta<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">do</span> `a elite em seus papéis <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">como </span>"</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">porta-vozes</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" da agenda diabólica e relativista, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">entenderiam<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> o significado d</span></span>aquilo que <i>Jim Carrey</i> afirmou, "<i>Eu gostaria que todas as pessoas pudessem conquistar fama & fortuna, apenas para que entendessem que posses não são a solução para nada</i>". Experiência e tempo se encarregam de esmiuçar as escolhas, mesmo as mais mesquinhas, trazê-las à luz. Eventualmente, enxergaremos que há, sim, uma dimensão espiritual para toda ação colocada em prática nesse mundo. Uma batalha cujo preço será nossa própria salvação vem sendo travada diariamente, sem nos atentarmos. O Diabo, assim como mostrado no filme "<i>Starry Eyes</i>", tenta ferozmente deter o propósito e o destino por Deus dado. O Diabo procura "<i>abortar</i>" seu propósito, não só figurativamente, mas literalmente. Basta recordarmo-nos da publicidade demoníaca protagonizada por "<i>artistas</i>", metidos em perucas azuis e barrigas postiças, apregoando coisas como aborto, enquanto com caras & bocas faziam momices à imagem de Maria. O Brasil, felizmente ainda formado por gente contrária à imundice, repudiou veementemente a propaganda, tendo uma senhora, inclusive, comentado com muita perspicácia: "<i>Parece que ainda hoje, Herodes está atrás de nossos filhos</i>". Como escrito no Livro de Jó, o Diabo vive de "<i>rodear a Terra e passear por ela</i>", em busca de oportunidades para provocar a queda das pessoas. E, aqui, para fazer referência a outro filme mencionado na resenha e já abordado no blog, parafraseando uma linha, rememoro o desfecho de "<i>Session 9</i>", uma tomada aérea do hospital psiquiátrico deserto em uma tarde enfadonha qualquer, ao sabor de uma voz amassada de gravador no fundo, "<i>Eu vivo nas pessoas fracas & feridas, doc</i>". Em que pese seu tom muito opressivo, "<i>Starry Eyes</i>" deixa uma poderosa mensagem sobre a batalha por nossas almas, e a reveste de credibilidade ao adicionar à história elementos hodiernos do estranho senso de humor do destino, como quando <i>Ashley</i> e <i>Erin</i> caem bêbadas no chão da cozinha (mais tarde, <i>Ashley</i> escorregará na beira da piscina e quebrará o nariz, e, no final, uma agonizante <i>Erin</i> lutará pela vida no assoalho, enquanto se esvai em sangue e <i>Sarah</i> tenta asfixiá-la com um saco), ou quando <i>Sarah</i> recebe o telefonema da staff do produtor da <i>Astr<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ae</span>us</i>, a convidando para um novo encontro, e a câmera exibe, sobre o criado-mudo, o halteres com o qual ela esmagará o crânio de uma das amigas. No início, na porção mais plácida da trama, pessoas atentas notarão a gravura de um anjo, na cabeceira da cama de <i>Sarah</i>. Mais adiante, a referida gravura passará para o outro lado do quarto. Depois que o filme se transformar numa jornada sombria, máscaras venezianas, semelhantes às usadas por membros da elite durante a orgia em "<i>De Olhos Bem Fechados</i>", ocuparão o mesmo espaço.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Baseado em assertiva, inteligentíssima escrita, "<i>Starry Eyes</i>" não desperdiça a atmosfera de ameaça e decadência associada a um horror urbano do tipo. Somos colocados no encalço da angústia de vidas marginais, nos moldes de "<i>A Garota Morta</i>", de <i>Karen Moncrieff</i>, com direito a calçadas e rodovias capturadas nas mais avançadas horas da noite, lugares tristes e isolados, banhados pelo fraco manto dourado projetado por postes, ou o borrado neon de semáforos de cruzamentos, atravessados por poucos, desesperados, na maioria das vezes, durante a madrugada. Conquanto a violência me desagrade, e eu repudie o desserviço de excessos, reconheço que a agonizante sequência dos homicídios dentro da casa ofereceu um desafio aos cineastas. Eles precisavam fazer um manifesto sobre até onde a protagonista chegara. <i>Kolsch </i>& <i>Wydmeier </i>lidaram com o massacre com sensibilidade, maduros para não caírem na armadilha das extravagâncias, perspicazes ao preferirem filmar o ato realisticamente, suficiente para render um visceral segmento, sem muita exposição, apenas dolorosa honestidade. Ao desglamourizarem a violência, os diretores imprimem peso à escolha, e às consequências da ação. A chacina parece ter sido incendiada por um pequeno, desavisado entrevero. <i>Erin </i>quis socorrê-la, à força, <i>Sarah </i>não gostou, e o corte aberto no rosto trouxe à tona toda a maldade enrustida, requentada pela influência da elite satânica na mente da protagonista. O corte sinaliza a <i>Sarah </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o</span><i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span></i>"<i>agora ou nunca</i>", e a partir daí, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">os assassinatos </span>se desenrolam com a dolorosa, irrefreável lentidão de um rito de passagem sangrento e implacável. O realismo d<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a execução </span>de <i>Ashley</i>, que tem o rosto afundado por golpes de halteres, nos lembra o brutal filme francês "<i>Irreversível</i>", de <i>Gaspar Noè</i>, sobre uma mulher que é selvagemente estuprada e espancada por um cafetão dentro de um túnel para pedestres de Paris, e a jornada pela noite <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">empreendida </span>por dois homens muito diferentes, o esquentado namorado e o mais centrado & pacifista ex-marido, ambos atrás de vingança. A noite aterrorizante os leva a uma boate do submundo, e culmina com a notória "<i>surra do extintor</i>". Quem assistiu a esse quase insuportável filme compreenderá as semelhanças entre "<i>Irreversível</i>" e "<i>Starry Eyes</i>", no que concerne ao assassinato por esmagamento. Entre <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">outros </span>amigos, terminamos sabendo pouca coisa de <i>Poe</i>, a não ser que os pais <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">foram falhos</span>, pois, caso contrário, o filho não habitaria aquele limbo de almas <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ociosas e enganadas</span>. No momento da morte, sua humanidade transborda através do olhar aflito dirigido a <i>Sarah</i>, quando não consegue acreditar no ocorrido <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">à </span><i>Ashley</i>, muito menos contemplar a própria mortalidade diante da proximidade do ataque. Quando <i>Danny </i>é pego, o que chama minha atenção é a <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">fortuidade </span>como o <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">assalto </span>ocorre. Ele vai se aproximar para tentar confortá-la, e recebe <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">uma estocada </span>na barriga. Não vemos a faca, não há sangue espirrando, apenas testemunhamos a rapidez com que <i>Sarah </i>desfere o golpe, quase como um soco na barriga, e é respondida com o grunhido do rapaz. Em termos de ritmo, de escolhas, a sequência do massacre me lembra "<i>Os Imperdoáveis</i>", o confronto final do pistoleiro aposentado interpretado por <i>Clint Eastwood </i>com o xerife vivido por <i>Gene Hackman</i>, dentro de um bar, em uma noite chuvosa, quando <i>Eastwood </i>entra soturno e solitário, sem se preocupar em esconder a identidade, e, bem no meio do salão, diante do atônito xerife e espantados asseclas, anuncia, de espingarda em mãos, "<i>Eu vim aqui para te matar, Little Bill. Pelo que você fez ao Ned</i>". <i>Eastwood </i>executa o massacre, quando seu personagem mata xerife e o bar inteiro praticamente, de modo seco, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">desglamourizado</span>, e energético, ao sabor do ruflar de trovões. Em "<i>Starry Eyes</i>", o sacrifício também nos acerta </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">em cheio, pela repelência das ações, sem atrativos, sem amenidades. Os cineastas a filmaram pela feiura inerente ao ato de matar, e embora não mostrem vísceras saltando para fora, um chocado grunhido de alguém ao receber uma furada inesperada consegue nos cativar ainda mais.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Parte de "<i>Starry Eyes</i>" rende homenagem aos primeiros, mais criativos anos da carreira de <i>David Cronenberg</i>, o inventor do "<i>body horror</i>", termo cunhado a partir de suas obras mais antigas, "<i>Calafrios</i>" & "<i>Enraivecida - Na Fúria do Sexo</i>". <i>Cronenberg </i>deixou indelével marca com tramas bizarras sobre parasitas transformando moradores de um condomínio de luxo em maníacos sedentos por sexo, em um banho de sangue carregado de estupros e orgias ("<i>Calafrios</i>"), uma mulher divorciada e neurótica submetida a uma revolucionária terapia psicossomática que a faz desenvolver um útero externo onde gera criaturas concebidas a partir dos ressentimentos de infância ("<i>Filhos do Medo</i>"), e outras ideias igualmente estranhas cujo denominador comum, a invasão do organismo/mente por um agente exógeno, seja vírus, seja parasita, o trauma da mutação, o desmonte da carne velha para a criação da novidade, o elevou ao panteão dos principais nomes do horror melancólico moderno, bem ao lado do de <i>Clive Barker</i>. <i>Kolsch </i>& <i>Wydmeier </i>reservam uma porção relativamente generosa para o processo de decadência física e desconstrução a recair sobre <i>Sarah</i>, e a atriz <i>Alex Essoe</i> dá vida à assustadora transformação como se ensaiasse uma agonizante crise de abstinência, o que, a seu turno, faz reverberar reminiscências da aterrorizante segunda metade de "<i>Réquiem para um Sonho</i>", ao som da pulsante trilha sonora eletrônica de <i>Jonathan Snipes</i>, declarada homenagem às <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">melodias </span>dos filmes de <i>John Carpenter</i> & <i>Dario Argento</i>, em toda sua glória de sintetizadores & teclados oitentistas. A fotografia de <i>Adam Bricker</i> serve ao propósito de mostrar uma Los Angeles distinta da versão mais <i>mainstream</i>. O icônico sinal de Hollywood jamais agracia a tela, pois as cores de <i>downtown </i>Los Angeles compõem a fachada de "<i>outro mundo</i>", não a do habitado pelos personagens de "<i>Starry Eyes</i>", lúgubre e cinzento. <i>Adam Bricker </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">tenta </span>nos <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sequestrar para dentro da trama </span>através de caminhadas por recantos mais tristes ou desnudados de graça, tais como as portas do fundo de uma diner, calçadas espaçosas e desertas na madrugada, e motéis simplórios onde jovens desperdiçam <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">seu </span>mais precioso bem, o tempo. Em termos de fotografia, vimos <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">anteriormente </span>a importância da correta captura do meio para manipulação de atmosfera. O filme que mais me despertou a atenção para o <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">imprescindível</span> trabalho desses talentosos profissionais foi a obra-prima "<i>w Delta z</i>", um dos principais (e largamente desconhecidos) filmes de horror da década passada, uma trama de segredos e vingança, sustentada, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">fu<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ndamentalmente</span></span>, pela atmosfera perfeitamente emulada por <i>Morten Soborg</i>, o genial diretor de fotografia.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmnVtKelUhVtkfUu9ugU8pLTDQR5mtxZqTYVH6RlXSjA92yTMT-dkYJ2RQ-mujEcJAwjOCKbjN9ldHtpjlfl22KkRNLGWNjhq691BRE7NxafoWWDA9ieq0Npci179ABdwwvSMnikYBslU/s1600/eyes-wide-shut.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="853" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmnVtKelUhVtkfUu9ugU8pLTDQR5mtxZqTYVH6RlXSjA92yTMT-dkYJ2RQ-mujEcJAwjOCKbjN9ldHtpjlfl22KkRNLGWNjhq691BRE7NxafoWWDA9ieq0Npci179ABdwwvSMnikYBslU/s320/eyes-wide-shut.jpeg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">As performances sólidas <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">atestam </span>que um diretor não necessita de <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">nomes de peso </span>para contar uma boa história. Nada mais justo que um filme sobre almas perdidas e anônimas vagando pela cidade d<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">as mentiras</span> fosse encabeçado por atores iniciantes e desconhecidos. Seus rostos dão um ar de inocência e veracidade à trama, que mostra, como nenhuma outra, a verdade sobre o culto à imagem. <i>Alex Essoe</i> impressiona ao <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">coabitar </span>tão naturalmente dois distintos estados de espírito. Primeiro, ela passa a vulnerabilidade que <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se </span>espera encontrar de um animal de rua abandonado. Sente-se real compaixão pela garota, e, intuitivamente, sabe-se que nada de positivo pode recair sobre uma pessoa tão inofensiva. Depois, completada a transformação psíquica/física, provoca legítimos arrepios pela maneira como derruba, um a um, as pessoas dentro da casa. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Noah Segan</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> & </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Fabianne Therese</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> compõem a linha de frente do elenco secundário, retratando muito bem as contradições envolvidas em se manter <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">laços de amizade </span>dentro de um ambiente <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">naturalmente </span>competitivo. O <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">m</span>ais maduro <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">entre os colegas de elenco</span>, <i>Pat Healy</i> empresta equilíbrio e sensatez ao papel do veterano cansado e experiente que já viu incontáveis pretendentes ao estrelato entrarem na diner e saírem frustradas, ao longo dos anos, e que, mesmo diante da batalha diária para ganhar o sustento, consegue reservar conselhos à protagonista, em diversos momentos agindo com profunda generosidade, jamais respondida com gratidão. <i>Marc Senter</i> interpreta o inquietante assistente de <i>casting</i>, e ele permanece como uma incógnita até o final. A aura de mistério, porém, não o impediu de se destacar como uma das coisas mais memoráveis do filme. Eu imagino que pessoas calejadas por anos de sobrevivência em Hollywood devam conhecer o tipo. No primeiro encontro com a protagonista, ele age com deboche e cinismo, e é visto no ritual satânico ao fim. A performance de <i>Marc Senter</i> me fez pensar que o ator nasceu para viver no cinema o personagem <i>Patrick Bateman</i>, do romance "<i>American Psycho</i>", de <i>Bret Easton Ellis</i>, pois aqui em "<i>Starry Eyes</i>", parece fiel <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">egresso </span>das páginas de tratados científicos clássicos sobre narcisistas malignos/psicopatas. Li críticas ao trabalho do ator <i>Louis Dezseran</i> como o <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">magnata </span>do estúdio <i>Astraeus</i>. Há quem categorize sua performance como afetada por <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">tintas fortes</span>. Eu discordo. O desempenho extravagante foi proposital. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">De um jeito particular</span>, <i>Dezseran </i>tentou incorporar elementos dos personagens bizarros e surreais comuns aos pesadelos cinematográficos de <i>David Lynch</i>. Seu trabalho de encantamento sobre <i>Sarah</i>, quando cada palavra proferida parece seriamente <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sopesada</span>, de maneira a não assustar a garota antes de inexoravelmente corrompê-la, assemelha-se ao olhar hipnótico da cobra antes do bote. Sua figura recicla as bizarrices das <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">tramas </span>de <i>David Lynch</i>, e exibe traços de um certo personagem do filme de <i>Stanley Kubrick</i>, "<i>De Olhos Bem Fechados</i>" (<i>foto</i>), outra <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">história </span>sobre a elite satanista. Refiro-me ao elegante cavalheiro na festa que abre o filme<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Você se recorda? Por um momento, a</span> personagem da atriz <i>Nicole Kidman</i> repousa <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a </span>taça na mesa, e o cavalheiro a toma e a leva à boca, como estratégia para quebrar o gelo e iniciar o trabalho de encantamento, que culminará numa lenta e íntima dança no salão. Olhar, inflexões, pedidos, apelos à <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">lisonja</span>... O cavalheiro lança mão de um impressionante rol de técnicas para dobrá-la, levá-la à cama. Seu esforço também veste ares de uma naja a paralisar a presa antes da mordida. Após compreendermos que o homem provavelmente <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">compunha a </span>elite e abraçava o estilo de vida satânico da turma que parece <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ditar o destino do mundo desde sempre</span>, nos apanhamos pensativos, imaginando se já ali, durante a valsa no salão, estava pondo em prática técnicas de controle mental para incitar a mulher casada a atraiçoar o marido, a corromper-se, para se deitar na cama consigo ao mero convite. <i>Dezseran</i> <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">im<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">bui o papel do produtor de semelhan<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">te, hipnótica energia</span></span></span>.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiX6ynTMdyq4Qyf8Dq-5uQEJT8D31bP6nU8SmAazBsJGlvWehr9Q3ZhsImW3JMYAUUX1zH1GjGBCvk4P4k4yr38BgBfIpXk-INTaPA4WxU5jIrZo4zAz-eVTTQVABmXqhnJqj9V54C6948/s1600/Eyes-Wide-Shut-1999-poster.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="681" data-original-width="501" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiX6ynTMdyq4Qyf8Dq-5uQEJT8D31bP6nU8SmAazBsJGlvWehr9Q3ZhsImW3JMYAUUX1zH1GjGBCvk4P4k4yr38BgBfIpXk-INTaPA4WxU5jIrZo4zAz-eVTTQVABmXqhnJqj9V54C6948/s320/Eyes-Wide-Shut-1999-poster.jpg" width="234" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">S</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e tenho algum reparo, ousaria nominar o segmento do "<i>renascimento espiritual</i>" de <i>Sarah</i>. Até o momento dos homicídios, os diretores conduzem a trama com muita desenvoltura<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> e</span> habilidade<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, jamais perdendo</span> as rédeas muito fugidias de um desfecho que em mãos menos habilidosas poderia <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ter caído </span>no ridículo dos excessos. Eles chegam a reintroduzir as estranhas figuras vistas nas sombras quando <i>Sarah </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">desempenhou </span>gratificação oral no produtor, no "<i>rito de passagem</i>" ao vender a alma. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Baseado na segunda audição com luzes estroboscópicas</span>, imaginei que o filme <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">derivaria para </span>algo <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">alinhado ao</span> controle <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mental </span>promovido pelo <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">terrível </span>Projeto MK Ultra. A <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">promessa</span>, todavia, ficou na sugestão. Quando começamos a estudar a verdade por trás das aparências, o Projeto MK Ultra invariavelmente surge inserto no contexto da <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">nata </span>de Hollywood. Se levarmos em conta que a indústria cinematográfica é uma força de manipulação regida por interesses além da compreensão do homem ordinário, soa muito apropriado que essa gente aplique técnicas do controle mental Monarca sobre peões do xadrez. De fato, muitas de suas estrelas manifestam alteração de <i>personas</i>, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"<i>falhas</i>" </span>capturadas de um segundo ao outro, consoante amplamente encontrado em vídeos na internet. Astros da música & cinema sofreriam, portanto, de múltiplas personalidades, cisão facilitada pelo fato de muitas dessas pessoas virem de infâncias ricas em abuso</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, como se já estivessem sendo preparadas para assumir seus "<i>cargos privilegiados</i>". </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O projeto MK Ultra foi o viés através do qual cientistas buscaram aperfeiçoar aquela que seria a mais definitiva arma de combate, a guerrilha psicológica. Sua origem remonta à Alemanha nazista, a uma filosofia do governo chamada "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">weltenshunkrieg</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", ou "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">visão mundial de guerrilha</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". Sua ideia consistia em impor, pelo caminho do menor esforço, a ideologia nazista sobre os cidadãos dos territórios ocupados. A Inteligência <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Norte-americana</span> apreciou a ideia e a importou para os Estados Unidos, para adaptá-la à realidade do país, batizando-a de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">guerrilha psicológica</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", nada mais que o uso de propaganda e outros meios com o intuito de influenciar ou confundir o pensamento e minar a autoestima do inimigo. Ao final da Segunda Guerra Mundial, a Inteligência preocupou-se em instrumentalizar o controle absoluto do governo, tanto sobre o indivíduo quanto sobre a grande massa. Anistiados pelos Estados Unidos, cientistas oriundos da Alemanha nazista e Itália fascista foram trazidos para o país, em 1946, com a graça do Presidente <i>Truman</i>, em um projeto orquestrado pela CIA, batizado de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Operation Paperclip</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". A Inteligência sabia que se não "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">adotasse</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" e trouxesse para perto aquelas mentes <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">brilhantes</span>, o novo inimigo, nominalmente a União Soviética, os acolheria e tomaria posse d<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">os </span>estudos, pesquisas e projetos. Eram mais de 700 cientistas estudiosos de propulsão de foguetes (estes foram realocados para o programa espacial), e 600, especialistas em controle <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de </span>mente (acomodados no complexo industrial militar, inclusive colégios e universidades). O MK Ultra foi a "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">nova roupagem</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" dada aos americanos ao programa <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">originalmente concebido pelos</span> nazistas, a tentativa da CIA de experimentar com controle mental aplicado a interrogatórios e sobre seus próprios agentes, de modo que se tornassem imunes <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">à tortura </span>dos inimigos. A CIA fez experimentos, inicialmente, com soldados do próprio exército, ao lhes <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">fornecer </span>drogas alucinógenas sem prévio conhecimento, e depois, a partir dos anos 50, com civis, mais especificamente pacientes psiquiátricos do Allan Memorial Institute em Montreal, através de lavagem cerebral como ferramenta de doutrina<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ção</span> e transforma<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ção</span> radical<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">d</span></span>as crenças e posturas individuais. Os cruéis experimentos foram dirigidos por um médico chamado <i>Ewen Cameron</i>, pioneiro no uso de técnicas com sons repetitivos para quebrar padrões de pensamento, de modo que mensagens predeterminadas pudessem ser naturalmente <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">gravadas nas</span> suas mentes. Experimentos envolvendo privação sensorial, abusos (inclusive estupros), <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">intimidação </span>verbal e outras formas de manipulação psicológica foram <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">aplicados</span> </span>com o <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">aval </span>da CIA. A partir do Projeto MK Ultra, descobriu-se <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a possibilidade de </span>alterar comportamentos com <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">quase nenhum contato físico, </span>uma ótima maneira de manipular sem deixar <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">vestígios</span>. O projeto gerou desdobramentos, e foi aplicado com fins políticos, até entrar em declínio depois que agentes da CIA envolvidos nos estudos perderam o controle sobre <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a besta </span>que haviam criado, e logo caíram em um espiral de festas privadas para consumo de LSD e depravações sexuais. Um dos agentes, <i>Frank Olson</i>, saltou voluntariamente da janela de um quarto de hotel no décimo terceiro andar após ter sido drogado com LSD, dias antes. Pouco se sabe do MK Ultra, porque, oficialmente, o programa <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se encerrou </span>em 1973. Foi em 1977, quando o Comitê de Inteligência do Senado revisitou os arquivos daquela época sombria, que resmas e mais resmas <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a somarem mais </span>de vinte mil laudas <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">contendo </span>resultados de experimentos expuseram os sórdidos segredos da <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">agência</span>. No curso do reinado de terror, mais de trinta universidades e instituições estiveram envolvidas em testes e experimentos baseados em drogar clandestinamente cidadãos comuns. Muitos dos testes se deram pela administração de LSD. O Projeto MK Ultra costuma emergir quando se fala <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sobre a </span>Nova Ordem Mundial, pois, mesmo ignorantes a respeito, a profissionais do cinema foi reservad<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span> uma função clara. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Eles </span>são <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">adequados <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a </span></span>posições estratégicas, para desenvolverem manifestações artísticas atreladas a propósitos, como degradar, de modo sutil, valores familiares gravemente ameaçados, mas ainda resistentes. Sem a secularização <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de</span> valores, o que se entende como Nova Ordem jamais <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">passará </span>do plano das intenções para a realidade ao alcance dos olhos, por mais que elementos dessa terrível utopia diabólica já se encontrem em pleno movimento <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">na </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">locomotiva d<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a geopolítica</span></span>. Se eu tiver conseguido aguçar o interesse dos senhores pelo assunto, recomendo que acessem os vídeos de "<i>whistleblowers</i>" sem os quais esses horrorosos pecados <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">teriam p<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ermanecido secretos</span></span>. <i>Cathy O'Brien</i>, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">talvez </span>a mais célebre das denunciantes, falou incansavelmente sobre o <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">passado traumático, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a começar d</span>a infância, quando foi submetida a abusos perpetrados pelo pai, até ser "<i>vendida</i>" à elite de Washington, personificada p<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">or </span><i>Gera<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">l</span>d Ford</i>, 38º Presidente dos Estados Unidos<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, comandante máximo da nação entre 1974/1977. </span></span></span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">Forçada pela CIA a participar
do Projeto MK Ultra, ela foi transformada em escrava sexual, e conheceu as
entranhas da outra História Americana<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> </span>não contada <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">nos </span>livros. Vítimas do
programa eram adestradas <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">e se tornavam</span> prostitutas, garotas de recado ou assassin<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">a</span>s.
<i>Cathy </i>realiza palestras denunciando a perversão <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">predominante</span>
nos bastidores do alto escalão, onde decisões que <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">alterarão </span>o curso da <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">História <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">são </span></span>tomadas. A mensagem que essa senhora nos trouxe serve de alerta para que
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">abramos </span>os olhos <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">`</span>a realidade do meio que nos cerca, desde propagandas
que ditam tendências <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">`</span>as artimanhas a nos afastarem de Deus. A grande
mídia <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">move </span>absurdos esforços para desacreditar as vozes acusadoras do muito
real e diabólico processo contemporâneo de globalização via "<i>Cavalos de
Troia</i>", <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">especificamente </span>o multiculturalismo, que embaralha a identidade de países,
mina a moral interna e vira os valores de ponta-cabeça. Isso se encontra em fase de implementação na Europa: países como Suécia, Alemanha e França perderam, há muito, <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">a </span>configuração original<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. S</span>eus políticos/cidadãos, tolos sem raízes, não estão sabendo como lidar com o problema, pois até falar sobre a questão os deixa acovardados, te<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">merosos de não estarem sendo politicamente corretos</span>. A candidata derrotada da eleição norte-americana, por quem
muitos se solidarizaram, cruzou o caminho de <i>Cathy O’Brien</i>,
em outra época, 1983<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. D</span>ela, <span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><i>O'<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">B</span>rien</i> </span>guarda horripilantes lembranças. Ela fala
sobre ter sido levada à presença da então esposa do Governador <i>Clinton, </i>pela
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">mulher </span>de seu <span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><i>handler</i>/encarregado </span><i>Bill Hall</i>, sem compreender <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">por quê. <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">E</span></span>mbora a
conhecesse de passagem, como <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">Primeira-dama</span> do Arkansas, nunca haviam
conversado formalmente. Sem dispensar um olhar sequer para a moça, tratando-a como uma peça de carne oferecida <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">no</span> rodízio, H. se
dirigiu à mulher de <i>Hall </i>e perguntou se <i>Cathy </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">mantinha-se limpa</span>, eufemismo para doenças
venéreas. <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">A </span>operadora explicou que <i>Cathy </i>recebera o selo de "</span><i style="font-family: Arial, sans-serif;">Presidential model</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">"<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. P</span>assada de mão em mão pelos membros da alta casta, fora sempre tratada com muito
cuidado para permanecer saudável. Seus abusadores jamais precisavam se preocupar com preservativos, pois o <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">status </span>de "<i>Presidential model</i>" equivalia, ironicamente, à mais alta honra, em termos de conservação, que uma escrava sexual podia receber. H. estava deitada, espreguiçando-se na cama da suíte, numa cabine do Swiss Villa-Lampe, Missouri, quando <i>Cathy </i>foi levada a sua presença. Ela<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> </span>partiu para cima da moça, devorando-a sem pudores, ali
mesmo diante de terceiros, sem se <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">deixar intimidar</span>. Consoante narrativa da
própria <i>Cathy</i>, na autobiografia "<i>Trance Formation of America</i>", <i>Bill </i>subitamente bateu à porta e entrou, sem dar valor algum à cena. Quando viu a esposa "<i>trabalhando</i>" em cima d<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">a </span>pobre vítima, deu com os ombros, um arremedo simbólico e casual para o "<i>c'est la vie</i>". <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">T</span>otalmente
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">concentrada no assalto à moça</span>, consumindo-a de todas as maneiras, a <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">Primeira-dama</span> do Arkansas levantou o rosto, até então bem inserido entre as coxas de <i>Cathy</i>, e <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">lanç<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">ou um olhar interrogativo </span></span>para o marido, apenas para perguntar como fora a reunião.
<i>Clinton </i>respondeu com algo sobre sentir-se exausto. Entediado, atirou o
paletó na cadeira e anunciou que tiraria um cochilo no <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">aposento ao lado</span>, até que a
esposa "<i>terminasse</i>", reagindo ao episódio como se a tivesse flagrado vagamente metida em ocupações de cozinha. A derrota dessa mulher no último sufrágio eleitoral, <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">que chegou ao grande di<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">a da eleição vestindo garbosamente o chapéu de</span></span> <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">favorita </span>pela grande mídia para dar continuidade ao câncer globalista <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">que desfigura </span>paulatinamente a sociedade ocidental, foi recebida <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">com temor pela elite</span>, que não esperava<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> assistir a tanta gente <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">saindo d</span>o torpor</span>, `a manifestação d<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">a suprema vontade </span>da maioria silenciosa. Por trás dos panos, os rios de dinheiro revertidos para <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">sua </span>campanha <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">vieram das fundações de <i>George Soros</i></span>, o mega<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">investidor </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">especialista em</span> fazer fortunas manipulando o câmbio<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, </span>falindo nações, e <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">alimentando </span>grupos de ódio, <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">como <i>Planed Parenthood</i></span>, <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">numa</span> ardilosa <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">cartilha </span>de dividir para conquistar. Hoje, estamos vivenciando um importante momento da História, agora que o mundo parece inclinado a dar uma guinada na direção correta, contra forças malévolas que tendem a puxá-lo de volta às trevas do conformismo. Lembro-me daquilo que o Sr. <i>Alexandre Costa</i> escreveu, no seu esplêndido "<i>Introdução à Nova Ordem Mundial</i>", no desfecho, após ter espraiado um cenário verdadeiramente satânico ao discorrer sobre os desejos dos planejadores da Nova Ordem. Para nosso alívio, ele contrapõe o cenário com uma lufada de esperança: "<i>Mas, como a História é dinâmica, muita coisa pode mudar</i>". Eu citei o Projeto MK Ultra poi<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">s há um breve momento, no filme, em que <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">fui levado a crer na exploração do mesmo como vertente da cena d<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">o segundo teste na <i>Astraeus</i></span>, <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">quando a moça é bombardeada p<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">elo canhão de luz estroboscópica e, aos poucos, vai revelando um<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> espectro de expressões</span> - da timidez, ao prazer, ao <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">demoníaco </span>- chegando a <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">flertar </span>com a verídica dissociação de personalidades, forte <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">ingrediente do programa de controle mental, espinha dorsal do que <i>Richard Condon</i> descreveu há tantas décadas em "<i>The Manchurian Candidate</i>". Muitas das mais <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">disputadas</span> "<i>celebridades</i>" têm seus nomes <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">vinculados </span>ao controle mental, e não deixa de ser curioso que a campanha presidencial da referida senhora tenha contado com a participação <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">entusiasmadas </span>de artistas "<i>da elite</i>" que patrocinaram a causa como se suas vidas dependessem do resultado das eleições. Mesmo <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">após<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> </span></span>o chocante resultado, sem se darem<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> por vencid<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">os</span>, <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">estrelas habitantes de um "<i>mundo à parte</i>", condomínios exclusivos e fechados, <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">reagruparam-se </span>em vídeos <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">onde praticamente se humilharam com súplicas</span> para que o colégio eleitoral revertesse a decisão. A reação veio da maioria silenciosa, as pessoas que <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">efetivamente levantaram os Estados Unidos com o valor do trabalho individual, e hoje</span> se v<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">eem</span> <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">assoladas por violência e desemprego crescentes<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. Cidadãos comuns reagiram </span></span>com profundo repúdio à manobra, negativand<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">o <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">o vídeo/mensage<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">m </span></span>até que a contagem fosse desabilitada pelos postadores originais. Como se vê, há um liame entre ascender ao topo, servir como fantoche à ideologia de uma<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> determinada agenda política e reverenciar coisas malévolas. "<i>Starry Eyes</i>" quase derivou para essa eletrizante possibilidade. Ao final, todavia, nada fez com a <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">proposta<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, o que é uma pena, porque, ainda que tenhamos um filme de horror devotado ao Projeto MK Ultra ("<i>Banshee Chapter</i>"), <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">nada há</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> </span>sobre a conexão do programa de controle mental com as figuras mais poderosas da ind<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">ústria dos p<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">razeres passageiros. <i>Kolsch </i>& <i>Wydmeier </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">optaram por unicamente explorar o ângulo do culto satanista <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">como a força por trás da loucura da menina<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, o que, a seu modo, não deixa de ter <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">relação </span>com <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">Projeto MK Ultra <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">e</span> <span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">i</span>nd<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">ústria cinemato<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">gráfica, apen<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">as não tão ostensivamente</span>.<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> Ademais, como culpá-los? Tal ambição jamais seria bancada por estúdio algum. Por que fariam prova contra si? Os d<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">iretores <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">se preocuparam</span>, <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">ao menos através da sugestão</span>, em criar uma zona cinzenta onde o mundo sobrenatural <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">coexiste </span>com o dos interesses <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">políticos. Um exemplo ocorre depois que <i>Sarah</i> acabou de massacrar jovens inocentes, espalhando sangue e provas pelos cômodos <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">da casa. A parte diabólica <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">sai de cena para a entrada <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">d</span></span>a corrupção e perversidade desse mundo. Obviamente, a elite possui meios para garantir que <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">os homicídios </span>sairão impunes. </span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">Em algum momento, os pais dos jovens começarão a fazer perguntas sobre o paradeiro dos filhos. <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">Não obstante a natureza agressiva do crime,<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> gente infiltrada <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">em instituições <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">do <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">Estado <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">cuidaria de sumir com as pistas do horror, </span>como se nada tivesse acontecido, limpando a cena, ou mesmo direcionando a investigação para algum trouxa útil. Depois de um tempo, não <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">passariam </span>de cabeças de vento que tinham resolvido <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">se </span>aventurar e usar drogas, e nunca mais retornaram. </span></span></span></span></span></span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">Cito "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">De Olhos Bem Fechados</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">" novamente, porque a única cena cortada da versão original reitera a assertiva. </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">No segmento <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">da orgia na </span></span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Mentmore Towers </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">dos </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Rothschild</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, o personagem principal, clandestino </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">por trás </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">de uma má</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">scara veneziana e capa, </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">explora cômodos, frequentemente testemunhando coisas horríveis</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">gente poderosíssima cometendo os atos mais vis.</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">Em dado momento, ao percorrer o corredor, ele se detém diante de uma porta semiaberta</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> que dá para um aposento mergulhado no breu. Ali, muito rapidamente, mira o chão, e vê um pentagrama desenhado nas tábuas. Essa cena não dura sequer um minuto, mas e</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">studiosos do filme lamentam a subtração do instante. Breve que fosse, denotava </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">a verdadeira natureza daquel</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">e pessoal mascarado. Eles estavam obviamente metidos com </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">adoração do Diabo</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. Numa festa de depravação para a troca de "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">energia sexual</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">", o pentagrama aponta as implicações luciferianas </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">da filosofia por trás da orgia<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">Aquele estúpido, desavisado homem se meteu em uma situação para a qual ninguém está preparado, tal qual o personagem de <i>James Spader</i> em "<i>Crash Estranhos Prazeres</i>", de <i>David Cronenberg</i>, durante a encenação do desastre automobilístico de <i>James Dean</i> nas pistas vicinais do aeroporto de Toronto. Para ambos, a ficha cai quando já se veem apanhados até o pescoço. "<i>All bets are off</i>". Ou "<i>A whole new ball game</i>", como diria o personagem de "<i>Carlito's Way</i>", depois que seu advogado, sem sobreaviso, assassina um mafioso e seu filho a golpes de remo nos crânios e os atira ao mar, os metendo numa situação impossível para a qual não sairão mental & fisicamente ilesos. <i>Carlito Brigante</i>, que apenas cometera a burrada de embarcar dentro do iate para ajudá-lo a resgatar os dois <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">gângsteres</span> de uma boia e levá-los à terra firme, e não imaginava que o amigo cometeria tamanha loucura, o avisa que por mais que se julgue valente, nada os salvará dos outros mafiosos, assim que derem pela morte dos dois homens: "<i>Parabéns, David. Você não é mais um advogado. Agora, é um gângster. Um jogo de bola completamente diferente. Não se aprende na escola. E tampouco se começa de velho</i>". Na orgia de "<i>De Olhos Bem Fechados</i>", dois mundos coexistem, em frágil harmonia, ameaçando destronarem-se a cada minuto, um o d</span></span>a depravação humana representada pelo sexo corrom</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pido</span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e o outro, sobrenatural e metafísico, <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">s</span></span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">imbolizado </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">pelo pentagrama, ausente na versão final vista nos cinemas. </span>Os <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">dois braços fortes do Mal - <span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">satanismo & <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">corrupção tangível</span></span> -</span></span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> <span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">atuam em conjunto, até se devorando, em curiosa autofagia</span>, não somente nessa história, mas também na nossa realidade, por uma <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">mera aplicação de desdobramento lógico<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> sobre a matéria</span>: a candidata à presidência preparada pelos globalistas e financiada por <i>George Soros</i> <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">conta </span>com o incondicional suporte de astros cujas fortunas encontram-se na casa das centenas de milhões, e <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">investigações <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">reforçam </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">a <span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">estreita <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">liga<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">ção </span></span></span>dos mesmos com uma artista performativa da alta sociedade chamada <i>Marina Abramovic</i>. Se vocês não se familiarizaram ao nome, procurem pelo termo "<i>spirit cooking</i>"<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> e deem uma olhada nas estrelas de cinema presentes às exposições de<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">ssa mulher</span>. <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">Abram </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">os olhos para o mundo real e as pessoas dentro dele, cavalheiros<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. A</span> versão<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> falaciosa, o sofisma <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">com o </span>qual fomos induzidos a crer <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">em pérfida engenharia social</span> não <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">condiz </span>com a verdade, e por mais dolorosa que seja, a realidade sempre será <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">preferível à tripudiação.</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><br /></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi98vz0f-VcRW8E-8lIBlhp3fCZtW4OdVdziejz_pPB000lcQPeVaHJJfPEb5Keh_EFf-eVHOIiYVlDBFBqzeNiyzrnNbZZBnAWvgUvrFj8xlc2Vp-ILnNvGLdGcToAx-jsh8u4Wb_VeB4/s1600/starry-eyes-movie-still-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi98vz0f-VcRW8E-8lIBlhp3fCZtW4OdVdziejz_pPB000lcQPeVaHJJfPEb5Keh_EFf-eVHOIiYVlDBFBqzeNiyzrnNbZZBnAWvgUvrFj8xlc2Vp-ILnNvGLdGcToAx-jsh8u4Wb_VeB4/s320/starry-eyes-movie-still-1.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"<i>Starry Eyes</i>" utiliza muito bem <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">os símbolos </span>para dar profundidade ao sugestionado estado psicológico da protagonista. A fantástica sacada de ilustrar o simplório quarto com fotografias em preto e branco <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de </span>estrelas de cinema da Era de Ouro parece servir ao <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">propósito</span>. Os diretores quiseram insinuar, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">levemente</span>, a consistência de atribulações<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">v</span>ivenciadas por aquela gente do passado, e por <i>Sarah</i>, no presente, na etérea jornada do ser humano para atingir o estrelato e ganhar a imortalidade, quando, na verdade, o Senhor Jesus já nos deu todas essas coisas em sua infinita bondade. Independente da semelhança ou não de circunstâncias, imagens icônicas têm um enorme peso nessa história. As câmeras as capturam com facilidade, expostas nos espelhos e paredes ao alcance de nossos olhos, objetivando romper o limitado alcance dos sentidos. A aflição da personagem desabrocha à vista, mas só até certo ponto; depois, detalhes como as fotos ao fundo nos contam, mesmo subliminarmente, de onde essa menina veio e para onde deseja ir. Há uma forte ligação entre o indivíduo e as imagens que o acompanham. Eu me recordo de algo que li em um fórum sobre cinema, uma senhorita dizendo algo sobre admirar uma determinada estrela. Ela contava que, quando criança, recortava matérias sobre <i>Lady Diana</i>, arquivava as fotos, e decorava o caderno e o quarto com as mesmas. Ela falava sobre como existia algo de peculiar em seu olhar, uma certa tristeza, que não lhe dera outra escolha, quando criança, a não ser admirá-la, tomá-la como alguém íntima, mesmo que platônica e inofensivamente. Uma imagem jamais se limita a um instante capturado em ecrã. Por natureza, ícones não podem existir por si, e sua sobrevida depende do exercício mental associativo que terceiros fazem sobre a imagem. Há uma história por trás de imagens. Ao assistir ao filme novamente para escrever a resenha, não tive como deixar de pensar na história de vida de um ator muito celebrado em sua época, anos 80/início dos 90, cuja trajetória me lembra a saga da personagem <i>Sarah</i>. Quando se fala sobre a maldade em Hollywood, não há como não citar, mesmo que de passagem, a história de <i>Corey</i> <i>Haim</i>. Os mais velhos se recordarão do nome. Quem cresceu nos anos 80 provavelmente se lembrará do garotinho de cabelos loiros, sorriso fácil e boca quase sempre meio aberta, em filmes queridos como "<i>A Inocência do Primeiro Amor</i>" e "<i>Sem Licença para Dirigir</i>". <i>Haim</i> e seu habitual parceiro de cena <i>Corey</i> <i>Feldman</i> se apossaram de um tipo de fama semelhante à dos astros de franquias "<i>da hora</i>", como a saga "<i>Crepúsculo</i>". Segundo a versão oficial, depois de alguns anos de sólido trabalho em filmes bem-sucedidos, <i>Haim</i> entrou "<i>mal das pernas</i>" na década seguinte, anos 90, por causa dos problemas com as drogas. Grandes estúdios não quiseram mais contratá-lo, e, a partir daí, a filmografia acumulou somente filmes B dispensáveis e desprovidos de qualquer mérito artístico. A partir de julho de 2007 a junho de 2008, o canal A&E produziu o reality show "<i>The Two Coreys</i>", no ar por duas temporadas. A ideia revolvia reunir os dois <i>Corey</i>s, muitos anos após o reinado nas bilheterias nos anos 80. <i>Corey</i> <i>Haim</i> se mudava para a casa do amigo <i>Feldman</i>, agora um homem casado, e tentava juntar as peças da vida para se reinventar como artista, e voltar aos trilhos. A proposta soava inofensiva, leve, e até mesmo cheia de bom humor, porém, o olhar mais conhecedor capturaria as trevas do verdadeiro drama por trás do show. Quem assistiu aos episódios pôde conhecer um pouco, só um pouquinho, da vida de <i>Haim</i>, apenas um vislumbre de relance dos reais motivos por trás do declínio profissional e da alma atormentada. Sabe-se sobre sua luta para se libertar das drogas, sobretudo de um relaxante muscular com efeito sedativo chamado Soma, sobre o abuso sexual sofrido aos 15 anos no set de "<i>A Inocência do Primeiro Amor</i>", e sobre os problemas financeiros, todavia a outra parte da verdade permaneceu encoberta por proposital campanha de desinformação, vez que envolvia gente muito poderosa da indústria. Mesmo os leigos sabem que <i>Haim</i> e <i>Feldman</i> foram passados de mão em mão por pedófilos, e o próprio <i>Feldman</i> nos brindou com um revelador testemunho ao contar que, após a morte de <i>Haim</i>, em 2010, ao repassar a vista por fotos antigas para se recordar do amigo, chamou-lhe a atenção uma em particular, instante em que teve uma epifania. Tratava-se de uma fotografia da festa de aniversário de 15 anos de <i>Feldman</i>, e ele se lembrava de que a mesma havia se dado na agência de casting do pai. Na foto, <i>Feldman</i> e <i>Haim</i> apareciam sentados no sofá, tendo aos lados e ao fundo uma porção de amigos, todos adultos, profissionais do cinema, como agentes, maquiadores e relações públicas. Ao passar a vista pela foto, lhe ocorreu que, sem exceção, cada uma daquelas pessoas seria, no curso das próximas décadas, pega em algum escândalo sexual envolvendo menores. <i>Feldman</i> sumariza: "<i>Estávamos rodeados por pedófilos. Rodeados. E nem sabíamos. Eles estavam por todas as partes, como vultos</i>". O grande público, entretanto, não sabe que os problemas de <i>Haim</i> datam de antes das filmagens de "<i>A Inocência do Primeiro Amor</i>". <i>Haim</i> já havia sido "<i>marcado</i>" desde tenra idade, ao ser introduzido àquele meio à força. Sua irmã, <i>Carol</i>, também o acompanhou nas primeiras audições, não tanto por pretensões artísticas próprias, e sim para mantê-lo sob controle. Eu colaciono à resenha trechos da fala de <i>Michael Hur</i>, um pesquisador das nefastas influências por trás dos maiores estúdios. É de se pensar até que ponto a análise de <i>Hur </i>confere com a verdade. Eu temo que tenha acertado a maioria dos pontos. <i>Hur </i>conta "<i>A vida da família de Corey era disfuncional. Seus pais discutiam constantemente, e o tratavam como se pertencesse a outra família. Corey Haim não tinha ideia que seus pais o haviam vendido a Satã (assinalado um contrato com a casta dos Illuminati pelo qual abdicavam do filho por uma vida de riquezas) quando ainda era bebê. À medida que foi crescendo, sua mãe o matriculou em aulas de drama. Depois que o menino completou 10 anos, ela foi avisada pelo contato nos Illuminati para levar o garoto a um determinado processo de casting, onde já estava acertado que ele receberia seu primeiro papel como ator mirim, na série canadense de TV The Edison Twins. No início, quando a mãe e a irmã o informaram de que trabalharia no cinema, ele não quis ir, porque não gostava de atuar. Como qualquer garoto da idade, colecionava revistas em quadrinho, dedilhava o teclado compondo música e era um jogador de hockey júnior, mas a mãe o forçou a comparecer à audição. Assim, ele foi, e ganhou o papel na série de TV</i>". Sobre o processo de ingresso de <i>Haim</i> na indústria, <i>Hur </i>prossegue "<i>Logo, os executivos de Hollywood membros do 'Baphomet' (Illuminati satanista) vieram para liquidar a fatura do trato com Judy (a mãe). Um dia, Judy entrou no quarto do menino e começou a preparar as malas e acomodá-las no carro. Ao assistir à cena, Corey ficou confuso e muito assustado. Ele insistiu em perguntar repetidamente o que ela estava fazendo, mas ela nada adiantou. Uma vez que as malas estavam prontas, seus pais o levaram para o aeroporto, e voaram para Nova York. Corey foi levado a um set de filmagem, onde Judy apresentou o filho aos executivos Illuminati, que o olharam como se ele não passasse de um pedaço de carne, afinal eram pedófilos. Depois desse primeiro encontro, os pais de Corey foram convidados a uma festa, onde ele recebeu um papel no filme 'Firstborn', também estrelando Sarah Jessica Parker, Robert Downey Jr. e Peter Weller, o homem que interpretou 'Robocop'. Corey começou a chorar, pois sentia que havia algo errado. Seus pais sabiam por que ele estava chorando, mas tentaram confundir sua cabeça, manipulando-o a achar que tudo se encontrava em ordem. Seus pais iam, na verdade, deixá-lo por ali na festa, com os Illuminati. Os pais logo se socializaram com as estrelas presentes, e começaram a dançar, enquanto Corey assistia a tudo de um canto, e chorava. Os pais foram abordados por Sarah Jessica Parker e Robert Downey Jr., integrantes do projeto de controle mental dos Illuminati. Eles começaram a lhes falar sobre os planos da organização de Satã para a vida do menino. Depois desse encontro, Corey perdeu os pais de vista, pois eles basicamente 'o esqueceram' ali. Sarah Jessica se aproximou, enquanto ele chorava procurando os pais, e o levou para o lado de fora da festa, para confortá-lo, insistindo que tudo ficaria bem. Na verdade, nada jamais ficaria bem. Downey Jr., namorado de Parker na época, apareceu e lhe explicou, de maneira sucinta, que juntos fariam um filme, e que agora ele pertencia à indústria Illuminati, porque era especial & escolhido. Robert lhe explicou que o menino moraria com os dois em um loft. Downey Jr. e Parker prepararam o quarto de hóspedes, montaram uma lâmpada-bola de led giratória, arrumaram a cama, e lhe deram dinheiro, comida, rádio, televisão e brinquedos. Quando Corey trabalhou em 'Firstborn', ele morou com Parker e Downey Jr. por dois meses, e ao longo desses dois meses, os astros de Hollywood ensinaram a Haim práticas de adoração satânica, bem como se vestir de acordo com a moda e fumar Cannabis. Também o estimularam a ser sexualmente imoral e permissivo. Vez ou outra, para dar um ar de normalidade à situação, a mãe de Haim o visitava para ver se tudo corria bem</i>". Aproximadamente na mesma época, <i>Haim</i> foi sexualmente violado. <i>Hur </i>expõe o ocorrido "<i>Nestes dois meses, Corey foi gravemente corrompido por satanistas. Seu pai se tornou seu agente, e ele só tinha preocupações quanto ao dinheiro a fazer em cima da fama do filho. Isso resultou em atritos entre o pai e a mãe pelo patrimônio de Corey, e os dois logo se divorciaram por conta do egoísta, perverso motivo. No primeiro dia de trabalho de Corey, no set de 'Firstborn', ele tinha de fazer uma cena com o amargurado ator Peter Weller. Depois de concluída a cena, por respeito e admiração, Corey foi até a Peter para cumprimentá-lo, e assim que o fez, Peter se levantou da cadeira e o agarrou violentamente pela gola da camisa. Ele o sacou do chão, o atirou contra a parede e começou a gritar ferozmente com o menino para que nunca mais lhe dirigisse a palavra depois de um take. Foi preciso a intervenção de 3 membros da equipe para arrancá-lo de cima do garoto. A experiência o chocou profundamente, e Haim ficou aterrorizado em trabalhar com Weller. É importante frisar que nem Parker, nem Downey Jr. se importavam com Haim. Eles estavam apenas fazendo o papel de corromper um menino impressionável para direcioná-lo a uma vida de adoração satânica, imoralidade sexual e drogas. Foi com Parker que Haim perdeu a virgindade, às vésperas de completar 11 anos. Ele só tinha 10 anos quando o abuso aconteceu. Experiências do tipo em uma idade tão tenra traumatizariam qualquer um, e foi o caso de Corey. Seu sofrimento estava apenas por começar</i>". <i>Hur </i>segue reconstituindo os primeiros anos da carreira do ator: "<i>Depois de terminadas as filmagens, a mãe de Corey o levou a Los Angeles. Ali, Corey seria, aos 11 anos, submetido ao 'Baphomet', abusado sexualmente e integrado ao programa de controle mental. Corey Haim foi alguém que a indústria Illuminati drenou até a última gota. Ele era um ator naturalmente talentoso, que tinha um espírito jovial e maravilhosa personalidade, por isso os satanistas quiseram usar os dons de Corey para subvertê-los e reutilizá-los para corromper a juventude. Para lidar com a dor da humilhação e se sentir melhor, Corey começou a consumir drogas cada vez mais pesadas. Entre 1985 e 1986, Corey apareceu em filmes menores, como 'Secret Admirer' e 'Murphy's Romance', ao lado da atriz Sally Field, também uma ocultista. Ele ainda atuou em um filme para TV chamado 'A Time to Live' como o filho doente de Liza Minnelli. O filme que o tornou famoso foi 'A Inocência do Primeiro Amor', também estrelado por Kerry Green, Charlie Sheen e Winona Ryder, todos os três também membros do 'Baphomet'</i>". <i>Hur</i>, então, aborda a transição de ator mirim para estrelato <i>"O papel de Lucas (em 'A Inocência do Primeiro Amor') não apenas lhe valeu uma carreira promissora, mas também o reconhecimento da indústria como um excepcional, metódico talento. Nessa época, Corey Haim conheceu um outro aspirante que também havia se juntado ao 'Baphomet' no começo da vida e fora usado pelos pais na indústria. Ele vinha de uma família Illuminati, muito influente no meio. Essa pessoa era Corey Feldman. Quando Haim conheceu Feldman, os dois rapidamente se deram muito bem, e viraram bons amigos. Eles geralmente iam a festas e consumiam drogas juntos. Quando Haim completou 14 anos, ele já estava namorando e fazendo sexo com mulheres de 18 a 26 anos. 'A Inocência do Primeiro Amor' estreou nos cinemas, e o filme foi aclamado especificamente pela brilhante performance de Haim. Roger Ebert lhe escreveu uma generosa resenha, chamando-o de 'o próximo grande ator de sua geração'. Logo, Hollywood inteira falava sobre Corey Haim, e isso fez com que Feldman o invejasse, por mais que jamais tivesse mostrado o sentimento ao amigo. Secretamente, Feldman requentava ressentimento pelo sucesso do outro Corey. Pouco depois, Haim trabalharia no filme 'Os Garotos Perdidos', que os transformariam, Haim & Feldman, em astros mundiais. As filmagens foram realizadas, na maior parte, nas praias de Santa Cruz, Califórnia, um notório ponto de encontro de jovens satanistas e adolescentes fugitivos. Além dos dois Coreys, os atores Kiefer Sutherland, Jason Patric e Jamie Gertz compunham o elenco. Na folga entre filmagens, os dois Coreys celebravam intensamente no hotel onde haviam sido acomodados, e também participavam de festas com o pessoal do ponto de encontro na praia de Santa Cruz, um lugar nada seguro de se visitar, se você não conhecesse alguém de dentro. A época das filmagens de 'Os Garotos Perdidos' é descrita como o melhor período da vida de Haim. O filme foi lançado em meados de 1987, e se tornou um grande hit. A partir daí, Corey Haim viraria um dos mais bem pagos atores adolescentes da indústria. Os dois Coreys passaram a frequentar um lugar chamado Alphy Soda Pop Club, um point exclusivo para estrelas menores de idade. Esse clube localizava-se no Hollywood Roosevelt Hotel, e entre os frequentadores incluíam-se nomes como os de Drew Barrymore, Debbie Gibson, Alyssa Milano, Kirk Cameron e sua irmã Candice. Praticamente todos os astros menores de idade daquele tempo se encontravam no lugar para usar drogas. Eles eram jovens, vivendo uma existência satânica e desregrada, e ali achavam momentânea libertação da dor de não representarem mais do que posse para a indústria. O dinheiro ganho por Corey Haim fez de seus pais pessoas ricas, e os Illuminati administravam os ganhos e despesas do ator. Naquela época, após o debut de 'Os Garotos Perdidos', o rosto de Haim ilustrava as capas das revistas e ele apreciava o status de símbolo sexual para jovens influenciadas pela idolatria. No mesmo período, Haim experimentou crack, e se reuniu com Feldman, ainda invejoso do sucesso do amigo, para capitalizar o sucesso de 'Os Garotos Perdidos' com o hit de 1988 'Sem Licença para Dirigir'. Durante a produção, o diretor Greg Beeman teve constantes atritos com Feldman e Haim por causa da indulgência da dupla por trás das câmeras. Eles compareciam diariamente ao set de filmagem, contudo logo desapareciam para consumir crack, cocaína e Canabis. Em 1988, atuaram juntos em 'Dream a Little Dream'. A trama baseava-se na crença satânica de que quando alguém se torna espírito, pode possuir alguém mais jovem e viver através dessa pessoa. No curso das filmagens, os dois Coreys se envolveram pesadamente no esquema das festas de Hollywood, e usaram drogas constantemente. O filme chegou às telas em 1989 e foi recebido com muito sucesso, tendo como música tema o hit de Michael Damian, 'Rock On', n. 1 no Billboard. A dupla era um fenômeno mundial, modelo de comportamento para seus pares, redefinindo o estilo da cultura pop, à medida que tal cultura adotava sua atitude e estilo</i>". <i>Hur </i>explica o declínio da dupla e levanta suspeitas quanto as circunstâncias da morte de <i>Haim</i>: "<i>Quando o ataque dos Illuminati estava para ser perpetrado sobre a cabeça de Haim, ele se encontrava no topo como o mais popular ídolo jovem do mundo. Garotas o rondavam, e ele recebia milhares de cartas, a maioria de fãs obcecadas. Muitas vezes, coisas aterrorizantes aconteciam a Haim nas ruas de Los Angeles. Graças à obsessão pelo ídolo, quando as fãs não conseguiam autógrafos, elas o atacavam e rasgavam sua camisa. Por vezes, lançavam seus carros contra o de Haim. Experiências do tipo perturbavam e assustavam o ator. Enquanto haviam permanecido na graça dos Illuminati, a lei fora bastante flexível com a dupla. Agora, a mesma lei seria voltada contra os dois durante o ataque. Primeiro, foram atrás de Corey Feldman. Ele namorava Drew Barrymore, que rotineiramente ia a festas com os dois Coreys. Um dia, Feldman dirigia com Drew no banco carona, e ele levava consigo muita cocaína. A Polícia os parou, e ordenou que saíssem do carro. Uma breve revista bastou para que descobrissem a cocaína. O que Feldman não sabia era que o cara de quem comprara a droga era informante da polícia e espião a serviço dos Illuminati. Ele reportava à elite as peripécias dos astros menores de idade. Depois que Feldman comprara a cocaína e deixara o nightclub com Drew, o informante havia ligado para a Polícia para dedurá-lo, armar o flagrante e destruir sua carreira. Depois que ele foi preso, os membros de sua família receberam instruções para não se intrometerem, e não o fizeram, pois foram financeiramente compensados. Após a prisão, a mídia o desacreditou como um modelo nocivo à juventude. O vicioso ataque feriu de morte sua carreira. Feldman perdeu o emprego no segundo filme da franquia 'Teenage Mutant Ninja Turtles', onde daria voz a Donatelo, e o escândalo lhe custou outros papéis em grandes filmes. A partir daí, só conseguiu trabalhar em lançamentos do mercado direto-para-vídeo. Feldman nunca mais voltou a ser procurado e famoso como outrora. O próximo alvo dos Illuminati seria Corey Haim. Uma vez preso, Feldman não foi o único rotulado de dependente químico. A imprensa fez o mesmo a Corey Haim. Toda vez que Feldman era atacado, Haim também merecia menção, no claro intento de fulminar as carreiras em simultâneo. Diferente de Feldman, contudo, Haim não aceitaria o castigo quieto, encontrando maneiras de reagir aos ataques. Ele arranjou um encontro com a imprensa, onde admitiu que usara drogas, mas abandonara o vício, o que era uma mentira. A imprensa expôs a mentira graças ao vazamento de gente de dentro da staff do astro, o que o deixou mortificado. Corey disse à elite que preferiria desistir da carreira e voltar para casa, no Canadá a lidar com a situação. Eles retrucaram que não existia 'voltar para casa', e faria um favor a si se apenas colaborasse. Contataram a mãe do ator, e recomendaram que o mantivesse sob controle para que não revelasse nada comprometedor sobre os bastidores da indústria. Haim montou uma reação quando soube que DJ Hollywood Hamilton faria um show anti-droga em frente a um público de milhares de adolescentes, a se dar em Knott's Berry Far. Haim resolveu aparecer no palco para aconselhar os fãs e limpar o nome, contudo, um desastre acabou por acontecer. Quando subiu ao palco, milhares de adolescentes entraram em frenesi e tentaram alcançá-lo, invadindo o espaço, derrubando guardas e seguranças e arruinando o evento. Os bombeiros presentes em Knott's Berry Farm salvaram a vida do ator ao evacuá-lo do complexo, pois Haim teria sido pisoteado. O incidente foi usado pela imprensa para renovar os ataques, com direito a testemunhos fantasiosos de farsantes. Um dia, os Illuminati apareceram na casa de Haim, e ele deixou o lugar em uma camisa de força, uma confusão que selou seu fim para grandes estúdios. A internação na clínica expôs as mentiras de Corey quanto a suposta libertação das drogas, e os fãs se revoltaram, enviando-lhe milhares de cartas raivosas. O amor dos fãs virou ressentimento. Ao deixar a clínica, Haim perdera o momentum da carreira. Os Illuminati lhe reservaram os estigmas de ovelha negra e juventude desperdiçada, e seu futuro foi roubado. Corey Haim fez o melhor para se reerguer, mas a dependência química sabotou as tentativas. A primeira investida, o documentário de 36 minutos intitulado 'Corey Haim - Me, Myself & I', não passava de autopromoção sobre sua teórica reabilitação, conversa fiada. A imprensa minou os esforços ao denunciar a hipocrisia e declarar que ele estivera sob efeito de drogas o documentário inteiro, uma verdade. Também fracassou a segunda tentativa, quando seus publicitários lançaram uma linha telefônica (serviço público) de acesso direto a Corey, através da qual orientava jovens a se manterem distantes do vício. A tentativa logo fracassou quando a imprensa o acusou de atender as ligações sob efeito de cocaína. A partir daí, Haim preferiu deixar de contra-atacar, e acatou a recomendação de Feldman, de silenciar até que o calor do escândalo fenecesse. Ele continuou a atuar em filmes, na verdade, dos anos 90 até a morte, apareceu em 19 filmes, a maior parte como protagonista. As produções, entretanto, circulavam somente no mercado direto-para-vídeo, e Haim mal ganhava dinheiro com as mesmas. Quando ganhava, gastava tudo com drogas. Durante essa época, Haim viveu como um dependente químico emocionalmente em frangalhos, sabotando todos os aspectos da vida privada. O que causou a briga entre Haim e Feldman aconteceu no set do filme 'Blown Away'. Na época, Haim namorava a atriz Nicole Eggert, com quem filmou cenas muito fortes de sexo, algumas delas legítimas. Durante as filmagens dessa produção perversa, Haim e Feldman se meteram em brigas desde o início. Os dois se atracaram ao realizarem uma determinada cena, e Feldman acabou lhe dando um murro no rosto. Isso aconteceu em 1991, e eles só voltaram a se falar em 1993, quando Haim foi preso por ter ameaçado de morte seu colega Michael Bass, com quem morava em uma mansão alugada. As finanças de Haim tinham sido tão vilipendiadas por causa do consumo de drogas que Feldman teve de aparecer na delegacia para depositar a fiança de 250 dólares. Por um tempo, a amizade pareceu reparada, até uma nova briga durante as filmagens de uma produção B chamada 'Busted', em 1997 (além de atuar, Feldman também dirigiu esse filme). No final dos anos 90, Corey Haim pediu falência, para tentar salvar o pouco do dinheiro que economizara. O ator entrou no novo milênio completamente quebrado. O dono de uma loja de penhor recorda-se de um bizarro encontro casual com Haim, quando ele entrou aleatoriamente no estabelecimento para pedir 3 dólares de modo que pudesse comprar um pedaço de pizza. As garotas, hoje mulheres, que o haviam amado no passado agora mal olhavam para sua cara ou se recordavam dele, e quando se lembravam, apenas riam com deboche. A última aparição digna de nota de Corey se deu no show 'The Two Coreys', produzido pelo canal A & E. Haim guardava ressentimento de Feldman, e Feldman só fez o reality show por dinheiro, pois não o considerava mais um amigo. Fazia sentido, todavia, aturarem-se, pois o reality show, a sua maneira, oferecia algum tipo de 'comeback'. As mágoas entre os dois ex-amigos corriam tão fundo, contudo, que eles quase se meteram em brigas durante vários momentos do show. 'The Two Coreys' logo teve de ser cancelado, pois Feldman não queria Haim na sua casa, ou na sua vida. O motivo do assassinato de Haim nas mãos dos Illuminati se deve a dois fatores: durante as filmagens de 'The Two Coreys', em dado momento, Haim confrontou Feldman quanto aos estupros a que fora submetido quando criança e lhe perguntou por que não lhe estendera uma mão de socorro. Acuado, Feldman abaixou a guarda e revelou que também estava sendo violentado por um produtor de 42 anos. O escancaramento do segredo por parte de Haim o deixou verdadeiramente marcado para a morte. 'The Two Coreys' foi cancelado em 2008, e Haim descreveu Feldman e a esposa como vendidos. Embora deixasse claro que sempre o amaria pelos bons tempos que haviam tido quando crianças, perdera o respeito pelo casal. E Haim estava certo: Feldman jamais desafiou a indústria Illuminati, apenas os obedeceu prontamente, enquanto Haim frequentemente se pôs em risco por contestá-los. Ao abrir o jogo sobre os abusos, a coragem de Haim lhe valeu renovado respeito dos novos executivos de estúdio. Não demorou a que roteiros começassem a chegar às suas mãos. A indústria, claro, ficou nervosa diante da perspectiva de um ressurgimento comercial, pois, para os Illuminati, o rapaz era carta fora do baralho. Desse modo, o pessoal dos Illuminati lhe prestou uma visita, em março de 2010. Ele foi assassinado, mas o cenário, adulterado, para apontar falecimento por causas naturais. Corey Haim tinha um real dom dado por Deus, e era mais brilhante do que as pessoas lhe davam crédito. Os Illuminati usaram suas qualidades para a maldade, e depois o jogaram fora como se nada fosse. Eis a típica <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">gratidão </span>de Hollywood</i>". Parte da história acima, eu conhecia. A exposição, entretanto, dá profundidade ao drama, e ilustra um contexto ao ocorrido na trágica vida de <i>Corey</i> <i>Haim</i>. Ao assistir a "<i>Starry Eyes</i>", um aviso de cautela sobre a inconstância de soluções fáceis, qualquer pessoa familiarizada `a trajetória de <i>Haim</i>, conseguirá enxergar paralelos entre uma trama tão opressiva e a realidade de uma alma atormentada que foi silenciada por agentes do mal. Gostaria de enfatizar uma parte da história, não explorada pelo Sr. <i>Michael Hur</i>. Quando <i>Corey</i> <i>Haim</i> morreu, em 10 de março de 2010, ele se encontrava empenhado no processo de juntar os cacos da própria vida. Depois de tantos anos perdido, finalmente encontrara um senso para o ocorrido, e amadurecera, pois precisava se manter forte para a mãe, que estava doente. Ambos viviam de aluguel no <i>The Oakwoods</i>, um condomínio muito procurado por atores iniciantes recém-chegados a Hollywood, dados os valores acessíveis e a proximidade aos estúdios da <i>Warner Brothers</i>, em Burbank. À época da morte, moradores partilharam reminiscências de <i>Haim</i>, e tiveram boas coisas a contar a seu respeito. Em síntese, lembravam-se de tê-lo visto com certa frequência nos últimos meses, ali pelo pátio, na área comum do condomínio, apenas andando sem destino certo, fumando cigarros, em busca de alguma companhia, só para conversar. Ele realmente apreciava quando alguém o abordava para cumprimentá-lo pelos filmes dos velhos tempos, e passava horas falando graciosamente sobre a experiência de fazê-los. No final da vida, não tinha como se locomover em Los Angeles, pois não possuía automóvel. Embora roteiros tivessem voltado a chegar às suas mãos, <i>Haim</i> não parecia muito investido nos projetos, como se estivesse deixando o coma, compreendendo que tudo aquilo – filmes, fama, fortuna – não passava de miragem. O fato de ter despertado para a maldade imposta a sua cabeça em tenra idade dá a essa história uma dimensão extra de tragédia. Na época da notícia, eu me lembro de ter lamentado o ocorrido, pois realmente acreditava que alguns anos a mais lhe teriam reservado um renascimento artístico. Hoje, sete anos mais tarde, eu enxergo o fato como uma tragédia de implicações ainda mais lamentáveis. Sabe o que teria sido melhor do que o "<i>renascimento artístico</i>"? Ele ter mandado às favas a carreira cinematográfica e qualquer envolvimento com a corrupção, regressado para o Canadá, se matriculado em uma universidade, retomado os estudos, tornado-se um engenheiro ou bombeiro, conhecido uma boa moça e ter construído para si uma família tradicional, preservada dentro de valores cristãos. Não era muito tarde para recomeçar, afinal ele tinha somente 38 anos de idade. Quantas pessoas se dão conta, tarde da vida, do verdadeiro propósito, e então o constroem sob alicerces sólidos, que lhes faltaram na juventude? Infelizmente, a história de <i>Haim</i> não encontrou seu final merecido. <i>Haim</i> foi uma alma inocente e atormentada cujo filme de maior sucesso serviu como apropriado epitáfio: "<i>Garoto perdido</i>". Nem todas as histórias de redenção, todavia, terminaram assim. Há pessoas que conheceram fortuna e poder, e que, depois de terem caído na real, conseguiram deixar a cidade a tempo. Seus poderosíssimos testemunhos encontram-se disponíveis na internet, para quem se interessar em se aprofundar no tema. Refiro-me aos casos do rapper/ator <i>DMX </i>e do comediante <i>David Chappelle</i>. Ambos tiveram dificuldades em lidar com as implicações de absurdo sucesso, e deram as costas para a indústria do entretenimento quando menos se esperava. <i>Chappelle </i>falou sobre sua jornada em entrevista a <i>James Lipton,</i> e, em muitos momentos da conversa, dada diante de uma platéia composta por estudantes de artes dramáticas, no "<i>Inside the Actor's Studios</i>", parece se referir aos Illuminati como a força-motriz por trás de Hollywood. Ele também dedica palavras de gratidão ao ator <i>Martin Lawrence</i>, que lhe deu a primeira grande chance em "<i>Blue Streak</i>", comédia de 1999. <i>Chappelle </i>toca num episódio dramático na vida de <i>Lawrence</i>, a época em que foi preso depois de correr nu pela driveway da mansão, munido com uma pistola, gritando "<i>Estão tentando me matar</i>". <i>Lawrence </i>foi desacreditado pela imprensa, em um ataque semelhante ao ocorrido a <i>Haim</i>. <i>Chappelle </i>defendeu o amigo <i>Martin</i>, e contou a <i>Lipton</i>, em entrevista: "<i>Quando fizemos 'Blue Streak', Martin teve uma síncope e entrou em coma. Ele quase morreu. Quando o vi novamente, perguntei, 'Oh, meu Deus, Martin, você está bem?', e ele me respondeu, 'Rapaz, tive a melhor noite de sono na minha vida!'. O Martin é durão assim! Explique-me isso: como um cara durão assim acaba nu, no meio da driveway, apontando a pistola para os lados, exclamando 'Estão tentando me matar'? O que está acontecendo? </i></span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Por que Martin agiu assim? Por que a Mariah Carey fecha um contrato de mais de 100 milhões de dólares, depois perde a cabeça e tira a roupa no Total Request Live MTV? </i><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Pessoas fora da indústria não têm ideia do que corre solto dentro do sistema. </i><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Então, o que acontece em Hollywood? Ninguém sabe. A pior coisa que você pode fazer a alguém é rotulá-la de louca. É um termo desdenhoso. 'Eu não entendo essa pessoa, então ela deve ser louca'. É bobagem, essas pessoas não são loucas, são indivíduos mentalmente sãos. Talvez o ambiente, este sim, esteja doente</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". Pela sensibilidade que lhe valeu a capacidade de discernir a maldade nos detalhes, <i>Chappelle </i>sempre vocalizou a malícia do sistema, como quando denunciou, no programa de <i>Oprah Winfrey</i> (que, na conversa, transparece um pouco de contrariedade, afinal de contas, compõe a "<i>elite</i>"), a insistência do show business em descaracterizar a masculinidade do homem negro, metendo-os em vestidos para efeito de comédia. Ele viveu semelhante impasse ao trabalhar em "<i>Blue Streak</i>", quando os produtores chegaram para o ator comunicando que haviam bolado uma "<i>maravilhosa</i>", inédita cena, onde, travestido de mulher, o personagem de <i>Chappelle </i>tiraria o personagem de <i>Lawrence </i>da cadeia. <i>Chappelle </i>se recusou: o roteiro original não envolvia nenhuma cena onde tinha de aparecer vestido de mulher, e ele confiava no próprio talento para fazer humor sem a necessidade do artifício. Mesmo diante da insistência do produtor, que tentou "<i>ganhá-lo</i>" com o argumento de que todos os grandes atores no passado já haviam se vestido de mulher, <i>Chappelle </i>lidou com a situação de modo resoluto, e não se permitiu convencer-se do contrário. Ao revelar o episódio na entrevista à <i>Oprah Winfrey</i>, o desconforto momentaneamente estampado no rosto da apresentadora entregou seu conhecimento de causa. Como peça na engrenagem, <i>Winfrey </i>sabe exatamente a que o ator se refere. E quando o comediante <i>Kevin Hart</i>, sensação do momento, foi questionado a respeito, em um material publicitário para promover seu <i>stand-up comedy </i>"<i>Let me Explain</i>", o desconforto da resposta denunciou a veracidade por trás da "<i>teoria da conspiração</i>" de que, de fato, os jovens astros negros são "<i>forçados</i>" a participar do ritual, uma estranha, bizarra tentativa de desmasculinizar, desautorizar o indivíduo. <i>DMX</i>, a seu turno, corrobora a declaração de <i>Chappelle</i>, e frisa que no meio do rap, também há uma série de etapas a serem cumpridas assim que você assina o nome com sangue. <i>DMX </i>conseguiu romper com a indústria, mas a rebeldia lhe valeu o ataque dos <i>Illuminati</i>, que, para todos os efeitos, o baniram como uma força da mídia. Depois da prisão, motivada por aquilo que <i>DMX </i>chama de cilada para destrui-lo, o ex-astro virou pastor, e sua experiência se encontra à distância de uma breve busca na internet. Mais velho, experiente, dócil e sábio, ele destaca que, quando viaja de carro, certifica-se de não precisar passar nem mesmo perto da Califórnia. Do lugar inteiro emana uma carga de corrupção e inocência vilipendiada tão imponderável que quem o conheceu e sobreviveu ao ataque das tentações prefere apagá-lo da história pessoal. <i>DMX </i>diz "<i>Eu rezo todas as noites, inclusive para meus inimigos, porque, para Deus, somos todos crianças, e, portanto, merecedores de sua graça</i>". Ao discorrer sobre a natureza de Hollywood, gostaria de complementar afirmando que nem toda a indústria foi comprometida por satanistas. A face realmente malvada encontra-se na casta, nas produções que mais parecem empreitadas, e custam centenas de milhões de dólares, estreladas por astros que valem dezenas. Hollywood produz títulos caríssimos com a expectativa de retorno financeiro, e é compreensível que o seleto grupo escolhido para brilhar nos mesmos deva adequar-se a um projeto mais profundo e filosófico que a mera manifestação artística. Nesse sentido, ainda creio na inocência, na pureza envolvida em realizar, digamos, aqueles filmes menores de ação ou horror, rodados por pura paixão dos envolvidos. Em contrapartida, eu jamais apreciei os grandes <i>blockbusters </i>de hoje. Raramente, vou ao cinema, pois me interesso por materiais que dificilmente acabarão nas salas de multiplexes. Claro, como exceção, eu admiro o diretor <i>James Wan</i>, o brilhante cineasta que se consagrou como um dínamo de talento, graças ao sucesso de "<i>Invocação do Mal</i>" & "<i>Sobrenatural</i>". Mesmo agora que comanda produções caríssimas, não consigo enxergar malícia ou maldade nesse rapaz. Creio que ele faça filmes por amor ao cinema, sem se atentar às implicações de se dispor de centenas de milhões para rodá-los. Eventualmente, despertará para a realidade quando tiver de filmar ideias conflitantes com seus princípios, pois enxergará o Diabo nos detalhes, ou melhor, nas entrelinhas. Honestamente, desejo-lhe o bem e espero que não tenha o coração despedaçado quando sofrer o choque de realidade. Se <i>Wan </i>se deparar com o dilema, só posso lhe desejar as palavras que <i>Cary Grant</i> forneceu a <i>Burt Reynolds</i>, nos anos 70, depois que <i>Burt </i>se tornara campeão de bilheteria, lugar onde permaneceria por cinco anos consecutivos. <i>Grant </i>disse "<i>Burt, when this stops being fun, just walk away</i>" (<i>Burt, quando isso começar a deixar de ser divertido, dê as costas e vá embora</i>). E, falando sobre <i>Burt Reynolds</i>, eis outro nome que jamais associei ao esquema maléfico. Sim, ele foi o campeão de bilheteria dos anos 70, o protótipo de astro antecessor da chegada do "<i>clube dos 20</i>", ícones de ação que comandariam salários na casa dos 20 milhões de dólares, como <i>Stallone </i>& <i>Schwarzenegger</i> no curso dos anos 80 & 90. No caso de <i>Burt Reynolds</i>, ainda no auge, ele sempre me pareceu um "<i>outsider</i>", alguém fora do sistema. Ele era um mero dublê quando chegou a Hollywood, e as coisas na sua vida meio que aconteceram acidentalmente, quando não estava preparado para a fama e o dinheiro. Ele era um bom rapaz, mas cheio de assuntos emocionais pendentes: o pai, herói da Segunda Grande Guerra, desaprovava a carreira artística, a que nominava uma grande bobagem, e teria preferido que o filho tivesse se dedicado a um trabalho de verdade, a mãe, uma mulher emocionalmente distante, só foi dizer que o amava já idosa, no final da vida, a irmã <i>Nancy </i>tampouco correspondia a sua devoção, por mais que tivesse passado a vida adulta, já astro, presenteando-a com carros, jóias e viagens. Se pegarmos os arrasa-quarteirões de seu tempo, - "<i>Agarra-me se Puderes</i>", "<i>Hooper - O Homem das Mil Façanhas</i>", "<i>Quem Não Corre, Voa</i>" - enxergaremos um padrão, uma consistência de entretenimento ingênuo e inofensivo. Não obstante o poder em mãos quando foi o astro n° 1 nas bilheterias, ele jamais se apercebeu das circunstâncias fora do alcance da vista, em todos aqueles maravilhosos cinco anos quando reinou absoluto. Sobre <i>Burt</i>, <i>Jon Voight</i> disse "<i>Muitas das decisões profissionais que ele tomou, quando super astro, foram baseadas em amizade (Voight se refere ao diretor Hal Needham), primordialmente, e não em interesse financeiro (Voight deve se referir aos papéis recusados por Reynolds: o do astronauta Garret Breedlove em 'Laços de Ternura', que valeu um Oscar a Jack Nicholson, o do herói John McLane, em 'Duro de Matar', que valeu o estrelato a Bruce Willis, e o do milionário Edward em 'Uma Linda Mulher', que deu novo fôlego à carreira de Richard Gere</i>". De muitas formas, <i>Burt Reynolds</i> me faz pensar em gente como <i>Jennifer Connelly</i>, <i>Steven Seagal</i>, <i>Van Damme</i>, <i>Scott Adkins</i>, <i>Rob Zombie</i>, <i>Vin Diesel</i>, <i>The Rock</i>, <i>Kristen Bell</i>, <i>Scout Taylor-Compton</i>... Eles não ganharam o Oscar, porém, quando me sinto cansado, após um dia de muito trabalho, ou interessado em algo para recuperar o humor, são pelos filmes dessa gente que eu procuro, e não pelo "<i>pessoal sério</i>". Eu jamais me interessei por coisas encabeçadas por vencedores de Oscar, artistas por quem jamais senti qualquer empatia ou identificação. Como a vida é muito curta para desperdiçarmos tempo com coisas com as quais não temos afinidade, sempre passei longe dos filmes desse "<i>pessoal sério</i>". Não tomem minha confidência como insulto, pois sei que muitos de vocês querem bem a vencedores do Oscar e os admiram, todavia apenas procuro ser fiel a meu coração ao declinar que não há correspondência entre meus gostos e os filmes desses medalhões. Não contesto o talento ou os merecidos prêmios das pessoas em questão, aposto que permanecerão ativos e prósperos por muitos anos, apenas não quero seus filmes dentro de minha casa. Por outro lado, em contrapartida, devo complementar que os DVDs das simplórias produções estreladas por <i>Seagal</i>, <i>Van Damme </i>e o restante da turma sempre se encontram ao alcance das minhas mãos, no criado-mudo. Por eles, faço questão de adquirir os DVDs e prestigiar seus esforços, e não trocaria o bom humor, leveza e simplicidade de suas aventuras por nada. Eu me alegro por todos, pois se sairam muito bem.<i> Steven Seagal</i> continua lançando uma média de três filmes ao ano, no mercado direto-para-DVD, e o próximo a chegar as prateleiras, "<i>Contract to Kill</i>", parece intrigante. Não é nada parecido com as produções caríssimas para a <i>Warner Brothers</i> que chegavam aos cinemas nas férias do meio do ano, em 1994, 1995, 1996 e 1997, e ajudaram a tornar a minha juventude um período mágico. Mesmo assim, <i>Steven </i>está bem, vivo, ativo e continua a fazer suas maluquices. Por mais que os esnobes desprezem seus lançamentos e os rotulem como arte inferior, a reprovação dos arrogantes só me faz apreciá-los ainda mais, pois em meu coração sempre tive horror aos prepotentes, e sei que milhares se sentem de maneira semelhante. <i>Burt Reynolds</i>, a seu turno, aparecerá em um projeto muito interessante, nesse ano, "<i>Dog Years</i>", sobre um ex-astro que a caminho de uma cerimônia para receber um prêmio pelo conjunto da obra, pede à motorista que desvie de rota, pois gostaria de passar pela cidade natal. A escolha o levará a uma jornada de autodescoberta, onde reatará com um antigo amor da juventude. Ainda, a motorista (no filme, vivida pela atriz <i>Ariel Winter</i>, de "<i>Modern Family</i>"), uma garota numa fase rebelde, absorverá certos valores de vida com os mais velhos. A trama traz todos os ingredientes de um filme descompromissado e emocionante, e farei questão de prestigiá-lo. <i>Chevy Chase</i> também participa do elenco, como o amigo do personagem vivido por <i>Burt</i>. Mais importante do que filmes, contudo, eu me preocupo com a vida pessoal do <i>Burt</i>. Aos 81 anos de idade, e, portanto, bem mais frágil, sempre me pergunto como se sente, e o que estaria fazendo. Eu sei que na velhice ele tem o cuidado e suporte dos amigos de infância, hoje na mesma faixa etária, pessoas que se tornaram médicos, ou professores ou treinadores de futebol, e jamais sentiram diferença de tratamento pelo fato de <i>Burt </i>ter virado estrela de cinema, e depois deixado Hollywood. Ele também conta com a companhia de uma nova parceira romântica, uma senhora um pouco mais jovem, corretora de imóveis. Quando você conhece sua trajetória e entende os percalços pelos quais passou, sai da experiência com um renovado senso de respeito pelo ser humano. De certo modo, sua história guarda paralelos com o arco de vida de<i> Mike Tyson</i>. Ambos tiveram suas "<i>Waterloos</i>": <i>Burt Reynolds</i>, ao ser acertado em cheio por uma cadeira de aço, acidentalmente, durante as filmagens de "<i>Cidade Ardente</i>", em 1984, o que fraturou a sua mandíbula e o deixou dependente de analgésicos: a perda de peso inflamou boatos de que ele estaria sofrendo de AIDS, numa época em que a doença representava uma sentença de morte, e, poucos anos depois, ele se casaria com <i>Loni Anderson</i>, o pior dos erros, sepultando em definitivo a chance de um ressurgimento; <i>Mike Tyson</i>, ao receber os três cruzados de <i>Buster Douglas</i> que o lançaram na lona da qual ele jamais conseguiu se levantar, em Tóquio, encerrando seu reinado como campeão peso-pesado, e o casamento com <i>Robin Givens</i>, outro horrível, horrível erro de julgamento. Sem dúvida, conhecemos a história de pessoas notórias que depois de um período no topo se viram obrigadas a descer do cume, por mais que permaneçam nas vizinhanças. Raramente, entretanto, você sabe de pessoas que alçaram voos ainda mais altos, - <i>Burt Reynolds</i> campeão de bilheteria por cinco anos consecutivos,<i> Mike Tyson</i> o incontestável campeão peso-pesado - para depois perderem absolutamente <i>tudo</i>. Eu tenho o respeito do mundo por esses caras, e desejo que tenham encontrado paz de espírito. Dia desses, assisti a um vídeo de um <i>Mike </i>ponderado e observador, em uma entrevista a um determinado programa. O entrevistador liberal tentava empurrar para cima dele a isca do racismo, perguntando "<i>Hillary ou Bernie?</i>", enumerando uma porção de falácias para ver se <i>Tyson </i>falava mal de <i>Donald </i>T<i>rump </i>e embarcava no trem dos ataques ao então candidato. <i>Tyson</i>, apoiador de <i>Trump</i>,<i> </i>foi gracioso e categórico, com a sagacidade que só se avizinha depois da experiência de vida, e respondeu que, assim como uma empresa, o país precisa da direção de um bom administrador. Foi além, explicando que as coisas menores, os momentos infelizes na fala do seu candidato não o definem como pessoa, pois absolutamente todos nós dizemos coisas das quais nos arrependemos, e isso não nos impede de trabalhar pelo bem comum e mover o país para a frente. A expressão de desapontamento do jornalista demonstra que ele não esperava a resposta. Ele havia pensado que estava conversando com a mesma pessoa de 30 anos atrás, quando <i>Tyson </i>foi campeão do mundo, e era jovem e imaturo para se enforcar com a corda fornecida pelos outros. Hoje experiente e vivo, <i>Tyson </i>basicamente devolveu a corda para que o próprio jornalista se enforcasse sozinho. É por isso que eu não lamento as dores pelas quais passamos, porque com a dor, chega a experiência. A experiência de vida é o maior aliado de um homem, mesmo os comuns. Assim como ocorre a <i>Burt </i>ou <i>Tyson</i>, também não temo pelo futuro da <i>Jennifer Connelly</i>, pois ela definitivamente criou para si uma sólida estrutura familiar, e jamais me pareceu afinada à loucura que ocorre com parte da indústria. Até pelo fato de ter procurado se desenvolver como artista, e nada desejado com estrelato, <i>Jennifer Connelly</i> passou longe das demandas a que se submeteram outros nomes, como <i>Jay Z</i>, <i>Beyonce</i>, e <i>Kanye West</i>. No período em que <i>Jennifer Connelly</i> poderia ter sido tentada pela banda podre, 2002, o ano em que ganhou o Oscar, estava bem resguardada. Se procurarem por registros da noite do Oscar de 2002, quando <i>Jennifer </i>venceu pelo seu excepcional desempenho em "<i>Uma Mente Brilhante</i>", verão um cavalheiro sempre ao seu lado. Trata-se do pai, a quem, inclusive, ela dedicou o prêmio. Ela sempre teve pais presentes e atentos, não só durante a primeira parte da carreira, quando atuou em "<i>Phenomena</i>", "<i>Labirinto</i>" e "<i>Construíndo uma Carreira</i>", como depois de chegar à terceira década de vida (a mãe aparece ao lado da filha, na premiere de "<i>House of Sand and Fog</i>", é impressionante como enxergamos semelhanças entre pais & filhos). O pai faleceu há alguns anos, mas ela conta com uma base muito sólida. Ao analisarmos os últimos desempenhos na filmografia de <i>Jennifer Connelly</i>, veremos títulos interessantes como "<i>Aloft</i>" e "<i>Shelter</i>". Ocorre que os filmes, mesmo excelentes, visam a um circuito mais alternativo, o cinema de arte. Em outras palavras, as produções não custaram quantias irreais de dinheiro, e, portanto, sobre as mesmas, não repousa qualquer pressão por retorno financeiro. A escolha da atriz por projetos que exigem mais de seu talento dramático a afastou das coisas maiores e ambiciosas que poderia ter estrelado. A opção pelo cinema de arte a livrou, assim, da parte macabra da indústria. Aos 47 anos, o auge já se foi, e ao passo que sua aparência tenha mudado com a idade, seu espírito continua 100% e livre, e ela não precisa tanto assim de filmes. Ainda que não tivesse deixado sua cidade natal, Catskill, para virar uma grande atriz, teria sido igualmente feliz, e realizado seu potencial ensinando teatro, por exemplo, para crianças com necessidas especiais, em uma escolinha, tudo por causa de bases firmes, raízes familiares. Houve apenas um único episódio, na brilhante carreira da <i>Jennifer Connelly</i>, onde ela se perdeu por um momento, não por maldade, mas por não ter sido bem-assessorada, e desconhecer a malícia envolvida na feitura de filmes. Em 2012, ela participou de uma comédia onde interpretava uma jovem mãe/esposa católica, e a ideia girava em torno de brincar com a fé das pessoas, no sentido de que os fiéis eram facilmente manipulados por um sacerdote pilantra feito pelo ator <i>Pierce Brosnan</i>. Não quero discutir o mérito técnico/artístico do filme, apenas discorrer sobre a má vontade por trás de semelhante projeto. Aqui, faço um aparte para trazer ao ponto um pouco de minha vida, para fundamentar melhor a análise. Quem aprecia o blog sabe que ao analisar o filme "<i>Kill List</i>", e abordar o tema do narcisismo maligno, citei minha história pessoal para explicar por que o tema se mostra, para mim, tão palpitante. Eu estive no fim recebedor dos jogos psicológicos dessa gente. As piores figuras fizeram grande dano, pois me assaltaram com essa bobagem narcisista quando eu era criança, incapaz de compreender a astúcia por trás da dramaticidade exagerada. Ao longo da vida, houve personagens narcisistas menores que, depois de adultos, procuraram causar mal, não tão agressivamente quanto as principais figuras, mas causar dor, de toda sorte. Duas dessas personagens menores, eu me lembro muito, pois surgiram lá atrás, no ensino fundamental. Um garoto e uma garota. O menino, ele remonta a 1987, a menina, provavelmente, a 1994 ou 1995, não sei ao certo. O garoto, ele era colega de turma. De fato, eu me recordo de o menino sempre ter comparecido a minhas festas de aniversário, naquele período em particular, 1987/1992, e de eu ter sido convidado, uma vez, ao sítio da família. Os pais dessa pessoa sempre foram amáveis, a mãe especialmente. Eu ainda consigo enxergar o rosto da mulher, certo que meio envolto pela névoa, pois faz muito, muito tempo. Recordo-me, porém, de como sempre estava à espera do filho, na saída do colégio, após o toque da sirene. Era uma senhora bonita e muito elegante. Porque minha memória sempre me serviu razoavelmente bem, ainda conservo imagens de uma tarde qualquer, em 1992, eu e os coleguinhas no sítio desse amigo, correndo e pulando na piscina, a criançada em grande algazarra, e eu deixando a piscina e sendo recebido pela mãe do garoto na beirada, com uma toalha para mim. Quanto à menina, eu não me recordo de quando cruzei seu caminho, mas não restam dúvidas de que ela já me conhecia há no mínimo vinte anos. Sabemos que o tempo passa e se encarrega de nos trazer novos amigos. Quando criança, temos, por exemplo, afinidade a uma outra com os mesmos gostos. O fato é que, na adolescência, surgem novos interesses, e então, inéditas amizades com pessoas de gostos distintos substituem velhos amigos, uma parte natural do crescimento. Tendo levado boas recordações dessa pessoa - seus pais sempre haviam sido tão generosos - eu nunca anteciparia, tantos anos mais tarde, a partir de 2004, que esse indivíduo estaria usando sua influência para me desabonar e prejudicar, de uma maneira muito clandestina, de forma semelhante à também praticada pela então menina, hoje mulher. Sem jamais terem se conhecido ou cruzado, essas duas personagens se assemelham no ódio que têm a minha pessoa, mas não somente nisso. Jovens (não devem ter mais de trinta e cinco anos), bem-sucedidos, muito bonitos, inteligentíssimos (passaram em concursos públicos disputados), vindos de famílias sólidas, e geralmente bem-quistos em seus respectivos meios, eles não deviam se ocupar da vida dos outros. Se você se pergunta por que devotam o tempo para se certificarem de que estão ajudando, direta ou indiretamente, a quebrar as pernas de alguém que nunca lhes fez ou desejou mal, quando deveriam estar preocupados em serem bons pais e mães para os filhos, lembre-se que aqui a lógica não se aplica. Não importa quão belas ou bem-sucedidas essas pessoas sejam. Do momento que o narcisista entra na sua vida, já tem um plano armado, e, diferente de como você se sente por boa parte da jornada até descobrir a natureza da perseguição, não se trata de algo inerentemente errado consigo a motivação para o ódio. Eles nos odeiam pelas coisas boas, não pelos defeitos. Se há uma maneira de lhes causar ferida narcisista, experimente melhorar, seja qual for a âmbito. Procure um relacionamento com Deus, caso não venha dando atenção à fé. Estude, caso tenha se acomodado. Coma melhor, caso tenha se descuidado da própria saúde. Faça-se respeitar e dispense imediatamente pessoas que quebrem suas regras, caso tenha sido demasiadamente gentil & leniente. Aprenda a ler, caso sequer tenha se alfabetizado. Para o seu narcisista, independente de quão próspero ou belo seja, mesmo algo tão simples como seu interesse pela compreensão do alfabeto o ofenderá como um duro golpe, uma ferida de morte, porém nada lhe causará maior insulto do que quando souber que você o vê justamente por aquilo que é. A perspectiva de ser enxergado como narcisista, e não um super herói, é tão cruel que você não tem escolhas, a não ser se afastar, pois então tornam-se perigosos e capazes de tudo. Deve cruzar-lhes a mente, o pensamento "<i>Seu filho da mãe. Você finalmente descobriu os meus estratagemas</i>". Retomando minhas considerações sobre o filme de 2012 da <i>Jennifer Connelly</i>: precisei trazer à baila a questão do narcisismo porque a engenharia por trás da malícia cabe ao caso. Permitam-me elaborar. No caso desse filme em particular, o único momento da atriz que realmente me desagradou, existia uma propaganda camuflada contra cristãos. Agindo subliminarmente, os criadores quiseram retratar pessoas cristãs como facilmente tripudiadas, ingênuas ou tolas. Os personagens se comportavam escandalosamente, e faziam papéis de estúpidos, corrompidos por sacerdotes malandros que degolariam a própria mãe por cinco dólares. Falávamos sobre a natureza política dos filmes, a perspicácia com a qual a elite os usa a favor de uma agenda. Ao tratarem cristãos como fracotes indignos de respeito, transformando-os em caricaturas, a estratégia me fez pensar na conduta de narcisistas, no sentido do expediente utilizado. Quando você torna uma pessoa mera caricatura (narcisistas fazem isso com as vítimas), você a está assassinando socialmente, pois ilegitima sua humanidade, e, por conseguinte, silencia o poder da fala, o mais básico componente de autoafirmação e defesa. Eu afirmo com convicção que, para a atriz, o papel a deve ter atraído pela possibilidade de experimentar com comédia, mas as pessoas por trás dos panos que bancam algo do gênero guardam interesses menos altruístas e mais perversos. Às vezes, incorremos em equívocos por falta de atenção, noutras, somos levados ao erro por terceiros. Por ter conduzido tão bem a própria vida, como mãe de três filhos e devota esposa, e enriquecido a carreira com performances belíssimas em produções interessantes, a <i>Jennifer Connelly</i> atingiu um patamar onde deve despertar todas as manhãs certa de que não precisa de mais nada para ser feliz. Apenas não pode perder de vista, como uma pessoa abençoada, o dever da vigilância e autopreservação, porque, no mundo, existe maldade, os malvados apreciam manipular pessoas boas e ingênuas para seus fins, e conforme escrevi acima, se há algo que o mal faz, é vagar pelo mundo atrás de oportunidades. Eu me senti no dever de abrir os parênteses, pois, embora odeie ataques camuflados a pilares que nos mantêm bondosos e mentalmente sãos, afirmo com convicção que ela certamente não coaduna com a perversidade do meio. Mesmo bela e bem-sucedida, acho que jamais agrediria emocionalmente alguém pelo propósito de causar sofrimento. Eu já disse tantas vezes, e volto à carga: se a <i>Jennifer Connelly</i> não tivesse procurado pelo cinema, teria sido feliz com as artes dramáticas até mesmo numa escolinha ensinando crianças, com uma gotinha preta de cola colorida na ponta do nariz e o bigodinho de gato desenhado na cara. Pessoalmente, eu seria hipócrita se afirmasse não precisar da sétima arte. Se assim o fosse, não separaria tempo para escrever sobre filmes, não criaria meus próprios roteiros<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, nascidos do amor pela expressão em imagens/sons. Como uma porção de outras coisas na vida, no entanto, aprendemos que há implicações em se amar algo tão perdidamente. Se, quando jovens, nossas únicas referências são o sabor do momento vivido, ao envelhecermos, a vida se encarrega de transcrever sobre um suporte a nossa história, que, como qualquer outra, precisa se amoldar a uma escala, uma escala a que convencionamos chamar de tempo, ou, se preferirem, a régua pela qual se mede a diferença entre a ilusão do que antes nos foi tão caro e a realidade de como as coisas se apresentam. Reza a lenda que, na Roma antiga, toda vez que um herói conquistador e seus soldados regressavam triunfantes de uma batalha, eles recebiam uma parada nas ruas, em meio a servos e bajuladores a festejarem os feitos de seu exército. Ao lado da carruagem do general, haveria um servo cuja função consistia em lhe sussurrar regularmente ao pé do ouvido palavras de cautela, "<i>Sic transit gloria mundi</i>", literalmente traduzidas para "<i>Toda glória desse mundo é transitória</i>". Ao final de "<i>Starry Eyes</i>", quando veste o colar diante do espelho, <i>Sarah </i>está a um passo da vida que sempre quis. Em concorridos eventos desfilando no tapete vermelho de estréias, <i>Sarah </i>receberá a bajulação e os aplausos dos servos e aduladores. Por mais altos que se assomem os assovios e as palmas, todavia, ela faria um favor a si, se cuidasse de manter por perto alguma voz dissonante que procurasse colocar um pouco de senso na sua cabeça, sobre as inconstâncias dos triunfos desse mundo, sussurrando-lhe "<i>Sic transit gloria mundi</i>". Provavelmente, <i>Sarah </i>não daria atenção às palavras de prudência, porque o rumor dos aplausos sufocaria o solitário discordante, e, principalmente, pois precisaria de alguns anos até ganhar perspectiva de vida e entender o horror de seus próprios atos. E aí reside o perigo, não? O tempo que permanecemos nessa Terra é uma grande incógnita, e pode não haver oportunidade para se reparar os males. A imprevisibilidade do destino deve ser aceita como um dos muitos mistérios da fé, e quem quer que busque a Deus eventualmente a acatará como natural parte da vida, diferente da angústia existencial que até o último dia acompanha aqueles que consigo preferiram carregar um caixão de culpas.</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/2JbO0eIc3jM/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/2JbO0eIc3jM?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><i style="background-color: #f3f3f3;">Todos os direitos autorais reservados a Dark Sky Pictures. O uso do trailer & imagens é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i></span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 246.85pt;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "arial" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
Anonymousnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-54833595101966782762016-10-26T21:30:00.000-07:002019-05-14T06:06:19.141-07:00"Kill List" (Reino Unido, 2011) Uma aterrorizante experiência de força incomum que nos convida a enxergar a absoluta maldade por trás das interrelações pessoais em nosso mundo. Este filme é um verdadeiro pesadelo, e você pensará nele por noites a fio.<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxj7HwrDyTX4xSWgmpUQaJgrRcyJh7pxkIixQRyxzJkF5_Hu1SMkZNjhSMv6VAJ3421KWRQuT8LDQNxb8cx_Z0eJCnrNGG9o2wo_ODMxf6juGP2VaQA9qDgrkWjNx_3bZ0wJsr-Xujc58/s1600/kill-list-movie-still-15.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="1273" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxj7HwrDyTX4xSWgmpUQaJgrRcyJh7pxkIixQRyxzJkF5_Hu1SMkZNjhSMv6VAJ3421KWRQuT8LDQNxb8cx_Z0eJCnrNGG9o2wo_ODMxf6juGP2VaQA9qDgrkWjNx_3bZ0wJsr-Xujc58/s400/kill-list-movie-still-15.jpg" width="400" /></a><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">(<i>Neil Maskell</i>) e a esposa <i>Shel </i>(<i>MyAnna Buring</i>) não vivem uma boa fase </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">no</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> casamento, e</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, desde a primeira cena, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a tensão a permear a interação </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">entre os </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">dois</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> acusa </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o cansaço de duas pessoas que se conhecem (e convivem sob o mesmo teto) </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">há muito tempo</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Como a <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">maior parte</span> das famílias britânicas de classe média, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e <i>Shel </i>lidam com o stress </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">dos muitos afazeres</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> que uma vida em comum implica. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pretende quitar o restante da instalação d</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">jacuzzi, nem que eles tenham de realocar uma parte do dinheiro </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">reservado às</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> férias para a conclusão do serviço</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">.</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> <i>Shel </i>defende que há necessidades mais prementes. O filme abre com uma típica discussão, com </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">perguntando </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">`</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a esposa como ela conseguiu gastar </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">quarenta </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mil libras em apenas um semestre, e ela retrucando que o marido não trabalha há aproximadamente <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">oito </span>meses. Até mesmo quando </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">volta do supermercado com as compras, precisa aturar os comentários da esposa, que lhe chama a atenção por detalhes sem importância, como o número excedente de garrafas de vinho, tendo preterido outros itens mais básicos da lista. Acontece que, naquela noite, eles oferecerão jantar e recepção a </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">(<i>Michael Smiley</i>), melhor amigo e parceiro de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Ele ficou de trazer a nova namorada para a reunião. Mais tarde, conheceremos o tipo de <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">trabalho </span>executado por </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, razão pela qual será implacavelmente marcado por um inimigo cuja periculosidade foge à compreensão humana. Apesar dos frequentes atritos, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e <i>Shel </i>não conseguem permanecer </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">brigados por muito tempo</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. O filhinho <i>Sam </i>(<i>Harry Simpson</i>), muito </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">apegado </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ao pai, é a razão pela qual <i>Shel </i>procura "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">pegar leve</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" com </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, mesmo diante de suas irritantes falhas humanas. Depois de desabafar em uma ligação para a casa dos pais, na Suécia (<i>Shel </i>integrava o Serviço Nacional de seu país, foi como conheceu </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, à época soldado do MI5 britânico, em operação conjunta às forças suecas), <i>Shel </i>"</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">baixa a bola</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" com </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">as </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">queixas, e quando menos se espera, vemos os </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">três </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">- marido, mulher e </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">filhinho </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">- brincando no quintal com espadas de esponja. Registrada em câmera lenta e </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">temperada com </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">uma melodia transcendental no "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">estilo Stanley Kubrick</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">cena guardará irônico significado, posteriormente. Antes de me aprofundar na trama, saliento que "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Kill List</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" foi filmado na cidadezinha (e arredores) de Sheffield, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">uma <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">localidade </span>inglesa <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">espraiada </span>em um vale entre <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sete </span>colinas, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">às margens da floresta de Notthinghamshire</span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, palco de outras inesquecíveis estórias de terror, como "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Threads</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", a obra-prima do medo que nos contava uma apavorante versão para os desdobramentos da Guerra Fria nos anos 80, uma tal onde a Terceira Guerra Mundial era, de fato, deflagrada, e o Reino Unido, brutalmente aniquilado por mísseis russos. O filme focava o drama de cidadãos de Sheffield, uma cidade essencialmente industrial que, acreditava-se, constava do topo da lista de alvos preferenciais da ex-União Soviética, no caso do pior. A fotografia de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Kill List</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", empenhada na criação/sustentação de uma atmosfera abstracionista, quase onírica, ensaia um flerte com a melancolia de céus nublados, rodovias molhadas, e luzes de neon inerente a coisas como "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Under the Skin</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", de <i>Jonathan Glazer</i>. Com o entardecer, e antes de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">chegar, testemunhamos um doce momento entre pai e filho, quando </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">vai pôr o menino para dormir. O comentário de <i>Sam </i>sobre os gritos da mãe evidencia o monumental stress depositado pelos inconsequentes pais sobre os ombros da criança</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXlnynGBnZF1QxNMDqGQV6OW7Ns5gaEqMQV-J0fY5GX-YfJjpmIZcLHAQl5ssfsQKER6DVhMdSiPY0e7IzJjoIWDlm3kiAX9nI3hKo7I8vSuKwEyMAYb9pMy-2jA6d3hwwLRSZFjDmLzs/s1600/kill-list-movie-still-8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="1271" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXlnynGBnZF1QxNMDqGQV6OW7Ns5gaEqMQV-J0fY5GX-YfJjpmIZcLHAQl5ssfsQKER6DVhMdSiPY0e7IzJjoIWDlm3kiAX9nI3hKo7I8vSuKwEyMAYb9pMy-2jA6d3hwwLRSZFjDmLzs/s320/kill-list-movie-still-8.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmZnZ-yFPOB1FkWuKEYZAlNRuRpw9XxyoDfv6vendxoa_lnQULsPjHgxhnhDcbbIU_hWbU9BGtvH5P5CaynQc-WFJXgB06rk4Lnz2kCxlf0xHAB6mRLw-6fNamKOS3dbPnupIPySqHeY4/s1600/kill-list-movie-still-10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="1273" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmZnZ-yFPOB1FkWuKEYZAlNRuRpw9XxyoDfv6vendxoa_lnQULsPjHgxhnhDcbbIU_hWbU9BGtvH5P5CaynQc-WFJXgB06rk4Lnz2kCxlf0xHAB6mRLw-6fNamKOS3dbPnupIPySqHeY4/s320/kill-list-movie-still-10.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">comparece ao jantar com a nova namorada <i>Fiona </i>(<i>Emma Fryer</i>), e seus modos bem à vontade para com os anfitriões indicam que o rapaz é "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">gente de casa</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". Ao </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se atentar às</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> fotos de <i>Shel </i></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">em </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">uniforme militar, e outra de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">& </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">juntos, é uma pergunta de <i>Fiona </i>que nos brinda com a oportunidade <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">para </span>conhecermos mais o passado do trio, basicamente amigos desde a época do serviço militar. Enquanto as mulheres terminam de preparar a mesa, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">trocam ideia </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">à beira </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de uma fogueira no quintal. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">traz uma proposta de serviço para o amigo. Descobrimos que, tendo servido juntos no MI5, após a baixa nas Forças Armadas, e, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">familiarizados com</span> táticas militares & uso de armas, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">& </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ganham a vida como assassinos de aluguel. Daí, a explicação </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sobre </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">trabalhar apenas semestralmente: ele executa um serviço, recebe uma soma suficientemente grande para que não precise se preocupar por, digamos, seis meses, o que lhe permite permanecer em casa com a família, e aguarda a poeira se assentar, até voltar à ativa. Quando </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pergunta a </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se ele falou a respeito da proposta com a esposa, e <i>Gal </i>frisa que apenas tocou na questão de modo </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">en passant</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, o filme nos mostra que <i>Shel </i>sabe da vida secreta do marido como "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">hit man</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", e não faz objeções à maneira como </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ganha o sustento </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">da </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">casa. No quintal com o amigo, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">cita <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a possibilidade da nova missão </span>como provável </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">razão para </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o recente antagonismo da esposa, e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">lhe lembra que, como homem de casa, deve saber o que precisa </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">fazer </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">para garantir o futuro do filho. À mesa, a tensão entre marido e mulher descamba em uma violenta briga, quando </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">perde a paciência após as constantes, sutis ferroadas com que <i>Shel </i>o tira do sério. Ela faz um comentário desnecessário sobre </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">não pensar na família quando some por três meses para um serviço, "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Eu me sinto como uma mãe solteira</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", ela </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">reclama</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Quando <i>Fiona </i>menciona o trabalho nos recursos humanos de uma empresa, e explica seu duro ofício de preparar listas de demissão, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">comenta que compreende a dificuldade <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">do dever</span>, principalmente por se tornar alvo </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">do </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ressentimento </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">das</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> pessoas demitidas e suas famílias. <i>Shel </i>o alfineta</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">: </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">E desde quando você se preocupa com família?</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". A "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Guerra Fria</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" entre marido e mulher se dá "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">sob o radar</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", sutilmente, perceptível apenas a olhos prontos, mas logo a situação </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sai dos trilhos</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">vira o prato, levanta-se, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">anuncia </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">que acabou de comer e arranca a toalha da mesa, exclamando "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Abracadabra!</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". Ele sobe ao quarto, enquanto <i>Shel </i>o segue, furiosa. Da cozinha, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e <i>Fiona </i>conseguem escutar a discussão a se dar na suíte do casal no piso de cima.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdiqJCBeMIa4gu5J2wNZ_EegiQxkLgDy2lWADI3d5biHE8JbFBHsSZCby8wxw5Noo0YuBXbo90zIPprFJEMXKpuEtKBkNh79G2hD1MmG6uX9mJjy3c0gghuvEd5nWQjQnNDtsQqEhANSw/s1600/kill-list-movie-still-11.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="1273" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdiqJCBeMIa4gu5J2wNZ_EegiQxkLgDy2lWADI3d5biHE8JbFBHsSZCby8wxw5Noo0YuBXbo90zIPprFJEMXKpuEtKBkNh79G2hD1MmG6uX9mJjy3c0gghuvEd5nWQjQnNDtsQqEhANSw/s320/kill-list-movie-still-11.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyvqshz-gdfZAUE-K5sYl3yNIQu4s5UopFFGWs8hEgGIEtR39fYjP62iSuxv2iD2KOtR-vGIOgsspqKfkLQsDaWQrE-XZ3S_10l8YZlrGz7m1_cwZ9_7TIpCR5W2balFmX13cFP-uLbTQ/s1600/kill-list-movie-still-7.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="541" data-original-width="1275" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyvqshz-gdfZAUE-K5sYl3yNIQu4s5UopFFGWs8hEgGIEtR39fYjP62iSuxv2iD2KOtR-vGIOgsspqKfkLQsDaWQrE-XZ3S_10l8YZlrGz7m1_cwZ9_7TIpCR5W2balFmX13cFP-uLbTQ/s320/kill-list-movie-still-7.jpg" width="320" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilrZM6XBHtjQer0jEiQ-vN8DUza6FS2ox3xSb-omhvpqPOjm7qN5kPduq5UnH5f-uS63j8UZ5fVemmGNxqN0kRFmJTxjxLpBKf3zE1DNeNghjtjWOLLf7onwWyuNMg06DrgekNx4BAF1Y/s1600/kill-list-movie-still-9.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="535" data-original-width="1273" height="134" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilrZM6XBHtjQer0jEiQ-vN8DUza6FS2ox3xSb-omhvpqPOjm7qN5kPduq5UnH5f-uS63j8UZ5fVemmGNxqN0kRFmJTxjxLpBKf3zE1DNeNghjtjWOLLf7onwWyuNMg06DrgekNx4BAF1Y/s320/kill-list-movie-still-9.jpg" width="320" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixcdZcC5GT-mHqEsLZSIm9BFx5a6CU57N_7LQsK3cWvGDarDxHEyur6Lvj1Wldo16E8GHLy_jAWabsKW_d8FBDSw-a8HiVBcCAsRTWfUGmYRhW_MgPNgxtYm1PBZQkLmWTb15ULe3BGXI/s1600/kill-list-movie-still-14.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="541" data-original-width="1273" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixcdZcC5GT-mHqEsLZSIm9BFx5a6CU57N_7LQsK3cWvGDarDxHEyur6Lvj1Wldo16E8GHLy_jAWabsKW_d8FBDSw-a8HiVBcCAsRTWfUGmYRhW_MgPNgxtYm1PBZQkLmWTb15ULe3BGXI/s320/kill-list-movie-still-14.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Sam </i>acorda com a comoção, e surge na porta da cozinha, confuso. Assertivo e sensível, <i>Gal </i>deixa calmamente <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">seu </span>lugar à mesa e põe o menininho no colo, para levá-lo de volta ao quarto, para dormir. Ele explica que os pais apenas beberam muito, e o faz prometer que, quando crescer, jamais porá álcool na boca. <i>Gal </i>permanece com a criança no quarto, por um tempo, e procura consolá-lo. "<i>Você tem amigos, e, às vezes, briga com seus amigos, mas logo fazem as pazes, certo? Pais e mães são assim também, brigam, mas fazem as pazes. E por isso são pais e mãos, pois são melhores amigos, entendeu?</i>", ele <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">põe as coisas sob perspectiva</span>. <i>Shel </i>reaparece na cozinha e pede desculpas a <i>Fiona</i>. Ela arruma a grande bagunça na mesa. <i>Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">encontra </span><i>Jay </i>na garagem, fumando um cigarro, visivelmente arrasado. <i>Jay </i>pede ao amigo detalhes dessa nova proposta de serviço. <i>Gal </i>explica que, em tese, o <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">trabalho </span>não deverá oferecer dificuldades<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. E</span>les terão de executar <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">três</span> nomes, todos em locais <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">do </span>Reino Unido. <i>Jay </i>usa a garagem para guardar <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">as</span> "<i>ferramentas</i>" de trabalho, pesadíssimas armas de fogo, como <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">um rifle de assalto conseguido</span> por <i>Shel</i>. Eles finalmente conseguem rir um pouco quando <i>Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">explica a forma como</span> conheceu <i>Fiona</i>. Foi numa academia de boxe, onde a executiva também treina. Em dado momento, <i>Gal </i>deixa as brincadeiras de lado, e aconselha o amigo a esquecer o ocorrido em Kiev, oito meses atrás, durante a última missão da dupla, um enorme trauma na vida de <i>Jay</i>, razão pela qual o vimos, no início do filme, engolindo pílulas para depressão. O filme jamais elucida <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a natureza do drama </span>de Kiev. Eu tenho algumas teorias, a serem <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">colocadas </span>no momento <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">oportuno</span>, nessa resenha. Os amigos se abraçam. "<i>A velha equipe junta novamente, os dois mosqueteiros</i>", <i>Gal </i>promete. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Conciliador, <i>Gal </i>toma <i>Jay </i>pela mão e o <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">leva </span>de volta à cozinha, onde encoraja o casal a fazer as pazes. Não custa ao bom humor incrementar o nível da noite, e logo todos parecem sossegados<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, </span>desfrutando bons momentos. <i>Jay </i>& <i>Shel </i>dançam uma música romântica, <i>Gal </i>e <i>Fiona </i>se beijam, rolando no gramado, em uma grande brincadeira, o quarteto ligeiramente "<i>alto</i>" após algumas doses de vinho a mais, como <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">acontece a</span> qualquer reunião de casais amigos. No instante da despedida, <i>Jay </i>e <i>Gal </i>até mesmo ensaiam uma luta de mentirinha. Depois que o amigo parte, <i>Jay </i>se senta na beirada do jacuzzi, apenas para espairecer e fumar um cigarro. Apesar do desgaste inicial, foi uma noite aprazível. Em determinado momento da reunião, todavia, houve um instante esquisito, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">por ora </span>incompreensível, quando, ainda no começo do jantar, <i>Fiona </i>se escusara para usar o banheiro. Ela retirou o espelho da parede e talhou um estranho símbolo no papelão atrás da lâmina, devolvendo o espelho ao lugar de modo que o trabalho não <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">fosse </span>descoberto. Conforme aprenderemos depois, a partir daquela noite, a família estava sendo rondada por uma força maléfica que ninguém poderia antecipar.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhPgkauacDCYbp8AhoLxr9olLicZTG8TqaTQF-KdKOtmDpbU9X2gkqPNGGxGoFYCC2A2VFibuTlguleAJfcemdD2GinY5kd3nzi8Sa8G5txOEWfBFAEtt8AkzMLWdfgkO7gdY5LuG_Pg8/s1600/kill-list-movie-still-19.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="541" data-original-width="1271" height="136" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhPgkauacDCYbp8AhoLxr9olLicZTG8TqaTQF-KdKOtmDpbU9X2gkqPNGGxGoFYCC2A2VFibuTlguleAJfcemdD2GinY5kd3nzi8Sa8G5txOEWfBFAEtt8AkzMLWdfgkO7gdY5LuG_Pg8/s320/kill-list-movie-still-19.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwUkDTQVjCBBimle9JqDJI4GZcfcdaDOb7xhUauUfcT2PWf-yg4CLsC2WBKh7szUc7f4vTGEWYB1KpRs5O4eF0Jhvfrf3qWwD7epvoKszqweMCZzu0_OZWh_C2dicc5FVEJLRAg1wFaRs/s1600/kill-list-movie-still-20.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="1273" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwUkDTQVjCBBimle9JqDJI4GZcfcdaDOb7xhUauUfcT2PWf-yg4CLsC2WBKh7szUc7f4vTGEWYB1KpRs5O4eF0Jhvfrf3qWwD7epvoKszqweMCZzu0_OZWh_C2dicc5FVEJLRAg1wFaRs/s320/kill-list-movie-still-20.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">é despertado pelo filho na manhã seguinte, e aproveita a oportunidade para pedir desculpas pela discussão com a mãe. Ele encontra um coelho morto pelo gato, no quintal. Habituado a missões na selva, da época do MI5, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">aproveita para cozinhar um </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">saboroso </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">guisado. Ele visita o amigo </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, ainda de ressaca graças </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">`</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">as taças de vinho viradas na noite anterior. Naquela manhã, os dois se apresentarão aos novos empregadores, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e lhes será fornecida</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> uma lista com três nomes a serem eliminados. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se abre com </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e conta que após terem passado a noite juntos, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Fiona </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se foi antes que despertasse. O homem parece definitivamente apaixonado. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">recomenda que o amigo trate de se vestir, afinal devem comparecer ao hotel ainda no período da manhã. Em um simpático hotel inglês interiorano</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> estilo<i> bed & break<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">f<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ast</span></span></i></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> de não mais que três andares, os parceiros encontram o novo patrão</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. O homem </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">permanecerá anônimo no curso do filme, sendo referido apenas como </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">O Cliente</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> (</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Struan Rodger</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">), no vazio salão de festas. Dali, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">O Cliente</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> os convida à suíte, onde os últimos acertos </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">serão </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">amarrados. Os assassinos recebem um vultuoso pagamento, e a lista com três nomes. Ao término do encontro, uma macabra surpresa: </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">justificando o ato como acordo de cavalheiros</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">O Cliente</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> subitamente puxa uma faca do bolso interno do paletó, corta a mão de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e, logo em seguida, a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">própria</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Ele puxa a mão do assassino para cima </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de uma folha em branco</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, de modo que o sangue goteje </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">bem sobre o papel</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. O </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Cliente </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pede desculpas pelos modos, mas reitera que o ritual deve ser obedecido. No calor do momento, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">chega a apontar a pistola, porém diante da serenidade do idoso, toma o ato como excentricidades </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de um ricaço qualquer</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Antes de se despedir, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">O Cliente</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> reporta-se vagamente ao passado recente dos dois matadores "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Eu soube que Kiev foi uma dureza</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">comenta, ainda assustado, "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Eu ainda estou me recuperando</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Bom. É importante aprender com os próprios erros</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Cliente</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> diz, e então se vai. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ajuda o amigo a lavar o corte, no lavabo da suíte, e a preparar um curativo, de modo a não despertarem suspeitas </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">na saída do hotel pelo lobby</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Ambos ficaram intrigados</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. C</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">omo </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">O Cliente</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> sabe da confusão em Kiev? </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">só tem uma certeza: ele diz ao amigo "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Ele queria que soubéssemos que conhece nosso passado</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">".</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqnTPDlL9FxvE91eowmvFnnrGP9HGoyL3JuRtHoNc-choyK_Y58-KcruUhBFmFlv4ygdJZWq5S4TrcnDG43n4kNB-AROAyFRH3yKZUItfx5mQ4aab-XJMoyV7CALHjpSlv0YH9u0heLsE/s1600/kill-list-movie-still-21.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="541" data-original-width="1271" height="136" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqnTPDlL9FxvE91eowmvFnnrGP9HGoyL3JuRtHoNc-choyK_Y58-KcruUhBFmFlv4ygdJZWq5S4TrcnDG43n4kNB-AROAyFRH3yKZUItfx5mQ4aab-XJMoyV7CALHjpSlv0YH9u0heLsE/s320/kill-list-movie-still-21.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgl32Nk3OJ3zx6kn18sfRJyowtoY9PYyT3rZ2AiDyPyus-cNFYt4oiFBijtfgd0o35fNY1kUJggNFl8rbgv2GSDSD3vRnzn5BCRP29ZV0CpPYq58DPZgWXF5NtPIMrY_SN7VfoVWghmz0A/s1600/kill-list-movie-still-22.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="543" data-original-width="1273" height="136" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgl32Nk3OJ3zx6kn18sfRJyowtoY9PYyT3rZ2AiDyPyus-cNFYt4oiFBijtfgd0o35fNY1kUJggNFl8rbgv2GSDSD3vRnzn5BCRP29ZV0CpPYq58DPZgWXF5NtPIMrY_SN7VfoVWghmz0A/s320/kill-list-movie-still-22.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Ao examinar a ferida, em casa, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">derrama um pouco de antisséptico sobre o corte, e toma mais alguns comprimidos, fato flagrado por </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. A esposa o orienta a não </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">consumir mais as</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> pílulas para depressão.</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A cena robustece a certeza de que seja lá qual for a natureza d</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a tragédia </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">em Kiev, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">saiu psicologicamente </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">transtornado</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. O matador de aluguel veste seu melhor terno, prepara as malas, e, como pai de família exempla</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">r</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, despede-se de esposa e filho. Assistimos à </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">acenando, com </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sam </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">no colo</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. A</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> imagem de mulher & criança se torna cada vez mais </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pequenina </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">à medida que o carro se afasta, enquanto uma melodia intrusiva e inquietante sugere que coisas horríveis apenas esperam o momento certo para </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">atropelá</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">-los. Eles </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ganham a estrada </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e partem para a cidadezinha onde se darão as mortes. A dupla se hospeda em um </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">motel à beira da rodovia</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. No momento de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">adiantar </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o pagamento da estadia, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> cartão de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">não é aceito, e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se encarrega de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">quitar as despesas em dinheiro</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. O homem também paquera descaradamente a recepcionista. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">liga para casa, para contar a </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">que o cartão foi recusado. Como profissionais em uma missão, eles não podem despertar suspeitas, e um cartão </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">rejeitado </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">chama a atenção. Uma vez acomodados, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">exibe a ficha do primeiro alvo, um padre de 45 anos</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, morador da casa n° 14, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">na rodovia Coldwater.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9BM6yHzi6J5f8vPzxnEZLohzjJWJalfaKxBiC-SvGkKrEJMVG4WeQReXRwoS6YGh7reTCYaAEolEkrX9vMpvx8b1qlVrMOibfjjgVRqfs-kuXnz1TiJuMaaXteCJMJ2Mr9DkqxldhLDI/s1600/kill-list-movie-still-24.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="1275" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9BM6yHzi6J5f8vPzxnEZLohzjJWJalfaKxBiC-SvGkKrEJMVG4WeQReXRwoS6YGh7reTCYaAEolEkrX9vMpvx8b1qlVrMOibfjjgVRqfs-kuXnz1TiJuMaaXteCJMJ2Mr9DkqxldhLDI/s320/kill-list-movie-still-24.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWqeSwh_AUe-F1KJumOW45nQVTKuq8dDlZrGpp94s9vDPY57CSQha3YjwztPy0NI6pBGbSUmTtNXbQIfQKq_3_QkdECrR6bgTlcuVk6TBuMeto-L7ObbdMUi7CNLljp5OLj5EWACcQ-jU/s1600/kill-list-movie-still-25.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="543" data-original-width="1269" height="136" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWqeSwh_AUe-F1KJumOW45nQVTKuq8dDlZrGpp94s9vDPY57CSQha3YjwztPy0NI6pBGbSUmTtNXbQIfQKq_3_QkdECrR6bgTlcuVk6TBuMeto-L7ObbdMUi7CNLljp5OLj5EWACcQ-jU/s320/kill-list-movie-still-25.jpg" width="320" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgio8oqeOMqCMwT_EjTjeE6G6ANAnaDwtG_43u_-siEPQ8B82wqfTOH3ddTLsxJ413dbB0gqAmqNN7J8oFRqbAwP-MePSu4F0RUc3EsXXb2dbV7VJykCkqwU6iPInRQ1kROcFjuI00aqXo/s1600/kill-list-movie-still-23.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="1269" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgio8oqeOMqCMwT_EjTjeE6G6ANAnaDwtG_43u_-siEPQ8B82wqfTOH3ddTLsxJ413dbB0gqAmqNN7J8oFRqbAwP-MePSu4F0RUc3EsXXb2dbV7VJykCkqwU6iPInRQ1kROcFjuI00aqXo/s320/kill-list-movie-still-23.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Ao cair da noite, os parceiros dão um passeio pelas vizinhanças da paróquia, próxima a um campinho de futebol, apenas para "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">sentirem o lugar</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" antes do trabalho, a se dar no dia seguinte. Reunidos para jantar no restaurante do hotel, encontram um salão quase vazio, não fosse </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pela modesta reunião de um</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> pequeno grupo de cristãos, sentados a algumas mesas longe da dos assassinos de aluguel. Esta cena se reveste de enorme </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">envergadura e relevância</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, dada a montanha-russa de horrores prestes a desabar sobre as cabeças dos protagonistas. À mesa, uma moça agradece a um dos rapazes pel</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a ajuda</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, pois desde que começou a orar e procurar por Deus, não sofre mais </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">os </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ataques de ansiedades. Cheios de escárnio, os matadores de aluguel ficam tartamudeando comentários </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sobre</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">não aguentarem escutar aqueles trouxas</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". Cheio de desprezo, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">confidencia a </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o desejo de matar cada uma daquelas pessoas, não a tiros, mas a facadas, e lentamente. Um dos membros da reunião puxa o violão e o grupo </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">confraterniza animadamente com<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> uma canção</span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sobre o amor de Deus. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se levanta da </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mesa</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, caminha </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">em direção aos cristãos</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e se comporta de modo terrível. Ele ameaça o rapaz do violão, que imediatamente se desculpa, e </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">explica </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Às vezes, o amor por Deus é demasiadamente grande para comportarmos em silêncio</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". Mesmo após </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a resposta generosa</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, o matador de aluguel não se dá por satisfeito, e renova </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">as </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ameaças tenebrosas. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">deixa o restaurante, e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o segue. Não satisfeito com a cena </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">protagonizada </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pelo parceiro, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ainda debocha um pouco mais</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">disparando uma ironia qualquer sobre Deus, "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Se encontrarem o Homem, peça para que interceda por nós, sim?</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". Nós os vemos lado a lado, ganhando o corredor a caminho do</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">s</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> quartos, ambos sorridentes e satisfeitos por terem se sentido importantes ao ameaçar um grupo indefeso. A cena será melhor discutida mais à frente</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. P</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">essoalmente, a partir deste momento, os dois protagonistas, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">& </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, perdem qualquer empatia que poderíamos nutrir pelas suas vidas, mesmo sabendo de antemão que ganhavam o sustento como assassinos de aluguel. Recolhidos aos respectivos </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">apartamentos</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, ocupam-se de afazeres relacionados ao serviço da manhã por vir, tudo ao sabor de uma tétrica melodia a prenunciar a tempestade, ganhando corpo com a inevitável e rápida progressão dos eventos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6bAKtRCDjTxMWswrkD5xfxjYAB0YpqiNIplxIEv9wcmwzkETDC6GMlZzAU3_BsN1BOEJPYPDn7OpBrZWijDzof1df-IKQIn46hBpgRkGxUKcFaWf1svTkBV_0_DyUeR06-ndu6nUyV1A/s1600/kill-list-movie-still-26.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="537" data-original-width="1271" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6bAKtRCDjTxMWswrkD5xfxjYAB0YpqiNIplxIEv9wcmwzkETDC6GMlZzAU3_BsN1BOEJPYPDn7OpBrZWijDzof1df-IKQIn46hBpgRkGxUKcFaWf1svTkBV_0_DyUeR06-ndu6nUyV1A/s320/kill-list-movie-still-26.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMlRaf6zEYelHbFtXeEF4ARSkFqLqyiUNkpsIRJcCtSa6AGxkS5J2-R6ozjZmpsc66QeSNCw618BHMreWjcvwwCDJU31CdUmibgsmY6mlQ8LjFtEpJoVF4uQnyuDhYWKt1eAbwpiUJSbo/s1600/kill-list-movie-still-27.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="1271" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMlRaf6zEYelHbFtXeEF4ARSkFqLqyiUNkpsIRJcCtSa6AGxkS5J2-R6ozjZmpsc66QeSNCw618BHMreWjcvwwCDJU31CdUmibgsmY6mlQ8LjFtEpJoVF4uQnyuDhYWKt1eAbwpiUJSbo/s320/kill-list-movie-still-27.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O filme</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> utiliza, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">então, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>card titles</i> para apresentar</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> cada segmento. A tela escurece, e vemos a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>card </i></span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">title </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"</span><b style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;"><i>O Padre</i></b><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">introduzir </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a primeira vítima da lista. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">observam a movimentação na casa n° 14, quando assistem a um homem trajado como sacerdote deixando a residência. Toda vez que abre a boca para falar sobre cristãos, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">lhes reserva alguma malícia agressiva. Ele confidencia a </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">que mataria padres "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">de graça</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", e que o homem provavelmente não passa de um pedófilo. Por pior que tenha parecido na noite anterior ao debochar d</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">as pessoas </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">à mesa no restaurante do hotel, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">prova conservar dentro de si alguma decência, pois ao entrar clandestinamente no escritório do sacerdote para preparar o ataque, posiciona-se diante dos símbolos da Santa Igreja e faz o sinal da cruz, perceptivelmente perturbado em levar a execução adiante. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, a seu turno, não exibe qualquer sinal de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">remorso</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, apenas malícia e humor. Ao final da missa, depois de se despedir dos fiéis e colocar a paróquia em ordem, o padre se surpreende ao se deparar com o escritório forrado por plásticos. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">haviam forrado o lugar para evitar acidentes com digitais e manchas de sangue. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">surge entre as cortinas do confessionário, e o padre não parece surpreso. Na verdade, ainda chega a dizer "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Obrigado</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o executa com um tiro na nuca. O corpo do sacerdote é enfiado dentro de um saco preto e atirado pela janela. Os assassinos </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">transportam </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o saco </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">no </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">porta-malas, e, mais tarde, livram-se das evidências o </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">atirando </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">dentro de um forno crematório.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXjHIxoDbV06PY_irUlRCXrIBz6rxbDn2AS-nj-B84NRbkfYt1ewmYCY3ChTGPhZvPVJyf75ymqwvJNt6SIOHmAkBPZ0bRUavHSK5mQicWTQ8ogESaXXccH3d86cp199nwhaDCj2DxGTQ/s1600/kill-list-movie-still-28.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="1277" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXjHIxoDbV06PY_irUlRCXrIBz6rxbDn2AS-nj-B84NRbkfYt1ewmYCY3ChTGPhZvPVJyf75ymqwvJNt6SIOHmAkBPZ0bRUavHSK5mQicWTQ8ogESaXXccH3d86cp199nwhaDCj2DxGTQ/s320/kill-list-movie-still-28.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYDPpqswKfJCPmi7lsBVaLYxYkaA5vDKNDBscGug18HRB7rsgsnvZ4PTtLGTomVVhf2LHZ_rmRrth4_wkEtxh8uSTCjD_nBTkRY3j44WMyzuMC6wAYNDqfviMMnq49U0pzLAg9uEZM0WA/s1600/kill-list-movie-still-29.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="1271" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYDPpqswKfJCPmi7lsBVaLYxYkaA5vDKNDBscGug18HRB7rsgsnvZ4PTtLGTomVVhf2LHZ_rmRrth4_wkEtxh8uSTCjD_nBTkRY3j44WMyzuMC6wAYNDqfviMMnq49U0pzLAg9uEZM0WA/s320/kill-list-movie-still-29.jpg" width="320" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFxMqReLmT5N9DwEC1J6hI7ajBgujx3bqQF3ZQsVcfpsshFjfBWeNkvJ-e6Qlqor-uyiAGuQzttSmUXEEsQVtQw8eP6cU6mdHeDN8RggNKdahRvbmfvdTOajXqzVzqoq7UlGT36uLCSL8/s1600/kill-list-movie-still-30.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="541" data-original-width="1271" height="136" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFxMqReLmT5N9DwEC1J6hI7ajBgujx3bqQF3ZQsVcfpsshFjfBWeNkvJ-e6Qlqor-uyiAGuQzttSmUXEEsQVtQw8eP6cU6mdHeDN8RggNKdahRvbmfvdTOajXqzVzqoq7UlGT36uLCSL8/s320/kill-list-movie-still-30.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Após o trabalho, a dupla volta ao hotel. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">liga para casa, para saber como anda a família. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">fala sobre o pesadelo que o filhinho teve, envolvendo o gato, e pergunta como </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a dupla </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">saiu</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">conta que o primeiro nome não ofereceu dificuldade alguma. A conversa deixa irrefutável a constatação de que </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">serve quase como </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">agenciadora </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">dos </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">talentos </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">do marido. Apesar de não apertar o gatilho, sua participação nos atos perpetrados por </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">não pode ser questionada. A mulher ainda revela que </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Fiona </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">apareceu </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">em casa</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, trazendo um presente para </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sam</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">acha a visita um pouco inesperada e esquisita. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">não teve uma boa impressão da moça, na noite do jantar, mas agora diz pensar diferente sobre a namorada de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">lembra "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Não a deixe ir perto da garagem</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Ele </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">não pode deixar que a natureza de seu trabalho seja descoberta. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O casal </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">troca declarações de amor, e se despede. Ao toque dos raios de sol do entardecer, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se prostra pensativo na cama, talvez a refletir sobre as últimas revelações. Vez ou outra, coloca-se diante da janela, e observa a movimentação no estacionamento, entre as cortinas, como se sentisse </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o cerco de</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> alguma coisa invisível. No seu quarto, na pia do banheiro, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">queima a ficha da primeira vítima, deletando quaisquer possíveis </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">provas </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">envolvimento</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> na execução do padre.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzT_S74zbdu5v_heybUgesc0pZ2x9syGjOt8fAQhSAN-AYqHADkEf-hjarESRxulKBmbhVY1lg9LJth1yCo5OL3-QHPNlViYwoB0v3OP6l_y3RVFNrBKJdv3S6aCmPLqnOupZfkLyR59I/s1600/kill-list-movie-still-32.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="537" data-original-width="1271" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzT_S74zbdu5v_heybUgesc0pZ2x9syGjOt8fAQhSAN-AYqHADkEf-hjarESRxulKBmbhVY1lg9LJth1yCo5OL3-QHPNlViYwoB0v3OP6l_y3RVFNrBKJdv3S6aCmPLqnOupZfkLyR59I/s320/kill-list-movie-still-32.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiX8oj_4DzHKfYdoeOHXDdSYb-c8txnACSylYKmHvx2dzM_z9MLrBYa7MygFhUmIKhtIoPCKi-NggtfZF-ejl-OqVCupPMk6RG1bxjDD0BXZmJmcrxRr3zfvYXUdgGgNaWiiNpJuLOtAN4/s1600/kill-list-movie-still-31.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="537" data-original-width="1265" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiX8oj_4DzHKfYdoeOHXDdSYb-c8txnACSylYKmHvx2dzM_z9MLrBYa7MygFhUmIKhtIoPCKi-NggtfZF-ejl-OqVCupPMk6RG1bxjDD0BXZmJmcrxRr3zfvYXUdgGgNaWiiNpJuLOtAN4/s320/kill-list-movie-still-31.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O segundo nome da lista diz respeito a "</span><b style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;"><i>O Bibliotecário</i></b><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". De prontidão dentro do automóvel, perante um depósito </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">aparentemente </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">abandonado, os amigos conversam, e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">comenta a semelhança entre a próxima vítima e um tio. Esforçando-se para </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">soar </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">casual, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pergunta se o amigo tem conversado com </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Fiona</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e revela que ela esteve visitando </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sam</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">É como se estivesse esperando por algo</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">comenta, e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pergunta, intrigado "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Por quem? Por mim?</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Bem, sim, imagino que sim</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", responde o amigo. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">recomenda "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal, dê-lhe um anel de noivado, eu não quero um fantasma de olhos brilhantes zanzando na minha sala<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span>de<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span>estar quando voltar para casa</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". Eles esperam a próxima vítima deixar o local, mas ao invés de o seguirem imediatamente </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> casa para eliminá-lo, preferem vasculhar o lugar. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">utiliza uma chave quebra-correntes para livrar o caminho. Em um contêiner utilizado como depósito, encontram quinquilharias e revistas pornográficas, nada de muito chocante, até </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se sentar diante de um computador desktop acomodado sobre uma mesa </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">servida por</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> caixas de DVDs piratas. Mesmo para um assassino experiente, o conteúdo dos DVDs, pura maldade imposta a crianças, apanha-o </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de guarda baixa </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e o deixa </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">boquiaberto</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Ao se juntar ao amigo para conferir o conteúdo, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, que tem um filho, chega a chorar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsjn5OWLeA_cIrxBqP-UxYjI4jEpiN7BSzOIAz8JljWIjwLnjhHv8x8yTExvRhDjRYfwEztzM-xr-0uu9rSQLG9hmpZJ0zVsv3aalXUtQINAlZWGI2pg2AHaZS1cRJWr6ZjgCTxsunM1Q/s1600/kill-list-movie-still-33.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="537" data-original-width="1267" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsjn5OWLeA_cIrxBqP-UxYjI4jEpiN7BSzOIAz8JljWIjwLnjhHv8x8yTExvRhDjRYfwEztzM-xr-0uu9rSQLG9hmpZJ0zVsv3aalXUtQINAlZWGI2pg2AHaZS1cRJWr6ZjgCTxsunM1Q/s320/kill-list-movie-still-33.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYZYei7gi-fAbLddoJNnq8BA_s8bWD-59jdEsE8mr9PKSojERnQBG25lwnS77O2qFUHbPeTDvc6vVxR72WEgXd5Ino3KfB-YSFs8i09aIpFh-ydiKJXlHpjpUiJ_gJPY7O0OsdO_d0o0E/s1600/kill-list-movie-still-36.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="1265" height="136" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYZYei7gi-fAbLddoJNnq8BA_s8bWD-59jdEsE8mr9PKSojERnQBG25lwnS77O2qFUHbPeTDvc6vVxR72WEgXd5Ino3KfB-YSFs8i09aIpFh-ydiKJXlHpjpUiJ_gJPY7O0OsdO_d0o0E/s320/kill-list-movie-still-36.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O bibliotecário, um sujeito insuspeito na casa dos 50 anos, é abordado em frente </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ao endereço</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, intimidado com um murro cheio na cara, e acompanhado para dentro, sob pontapés. Amarrado</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> a uma</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> cadeira, o homem escuta apavorado a explicação dos matadores sobre terem descoberto o conteúdo dos DVDs no depósito. Ele jura que é apenas o </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">arquivista</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">quer saber quem filmou a imundice. Quando o homem nega conhecimento, recebe mais uma saraivada de murros. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o tortura com a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ponta </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">do cigarro. Enquanto o pedófilo leva a pior surra de sua miserável vida, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">vai checar o andar de cima, para realizar a "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">limpa</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" no cofre. Além de libras esterlinas, encontra uma suspeita pasta. Finalmente, o homem desembucha o endereço do responsável pel</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">os estupro<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">s</span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Profundamente aviltado pela sujeira n</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">os DVDs</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">decide matá-lo ali mesmo. Assim como o padre anteriormente, o pedófilo agradece ao </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">carrasco</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">saca </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">um martelo da caixa de ferramentas e o enfia freneticamente no pedófilo, esmigalhando </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">joelho, depois os dedos, e, por fim, enterrando-o repetidamente no crânio até esfacelá-lo, enquanto grita e o xinga de pedófilo maldito, em uma cena absurdamente gráfica (chegamos a ver lascas de crânio se desprendendo a cada sobe-e-desce do martelo). </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se depara com a cena </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e fica surpreso quando o parceiro diz que não se satisfará até executar o outro </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">criminoso </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">responsável pelas </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">filmagens</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">não sabe como reagir ao incomum pedido do parceiro, afinal já eliminaram o alvo,</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> porém</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> acaba acatando a determinação.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdcdcXHmSTYKL02_zDGFNhIDEZM11jBpGU1YPzSZgaJ8fSt2vaXnD3pch-cyOpOpd655Bb5wUigaRURbMUISyemuzgTVGr7QpMGhAWj7HthrlINqtkKD9PPTlh0Kj02zbVyF_iBYmMLEg/s1600/kill-list-movie-still-37.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="1273" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdcdcXHmSTYKL02_zDGFNhIDEZM11jBpGU1YPzSZgaJ8fSt2vaXnD3pch-cyOpOpd655Bb5wUigaRURbMUISyemuzgTVGr7QpMGhAWj7HthrlINqtkKD9PPTlh0Kj02zbVyF_iBYmMLEg/s320/kill-list-movie-still-37.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimdDLgBmlbEqTj_zOoiofSNBQZtsxCvhyphenhyphenc31JOj1FWbAyYfF9BKfRLsQzcSUV3nyp0df43f6EdlJYXVvLfR5YLzM8nn0icrDO77CwFFriNjh-Q07lJe5IrIt6TSsIKwIr2O14AjjZI7Do/s1600/kill-list-movie-still-38.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="537" data-original-width="1279" height="134" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimdDLgBmlbEqTj_zOoiofSNBQZtsxCvhyphenhyphenc31JOj1FWbAyYfF9BKfRLsQzcSUV3nyp0df43f6EdlJYXVvLfR5YLzM8nn0icrDO77CwFFriNjh-Q07lJe5IrIt6TSsIKwIr2O14AjjZI7Do/s320/kill-list-movie-still-38.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Eles dirigem a um terreno ermo, de obras de construção. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">diz que não levará mais do que vinte minutos, e o amigo deve esperá-lo no carro. Distraído, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">não percebe quando um </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">automóve<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">l</span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> estaciona do outro lado da rua, como se o motorista os estivesse observando. A demora de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">leva o rapaz a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sair do carro<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> para encontrá-lo</span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Ao </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">atravessar o terreno baldio</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> e entrar pelos trailers,</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">encontra um homem e seu cachorro executados a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">tiros </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e, mais adiante, no porão, um outro rapaz, com o rosto </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">virado </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">para dentro</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", ainda sendo cruelmente </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">massacrado </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">por </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. O matador o finaliza com três tiros de pistola automática, disparados contra a cara. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">começa a temer pela sanidade do parceiro. Nas estradas vazias da madrugada, eles chegam a um posto onde abastecem o <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">tanque</span>, e dirigem a um local mais </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">remoto</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, no campo, onde constroem uma fogueira para cremar os cadáveres. "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Eles eram gente ruim, precisavam sofrer</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">justifica a própria selvageria. As chamas se avivam por causa das lenhas, e seu vigor nos faz pensar no próprio inferno. Um dos momentos mais tétricos do filme se sucede quando, de volta ao apartamento, à noite, como em transe, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se achega à janela para estudar, contemplativo, um amplo </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">espaço<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> atrás </span>do estacionamento</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> do hotel, e uma figura feminina, de camisola, acena, gesto devidamente correspondido pelo assassino. Uma tomada mais fechada individualiza <i>Fiona </i>como a mulher de camisola, uma arrepiante revelação.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCFcKKgSBg4XndZeXH2ELcpCFvGpCKXCZCLqYtwlu9eyHwWji6q2Dq7YuYewN0nIy-VekqgIZrhqy_wl5DRjOpvT1UxWLz6tjysmuA9S1uMo1w6YPYkmWwyld838ih-K0xokuSIJqRPZ0/s1600/kill-list-movie-still-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="537" data-original-width="1269" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCFcKKgSBg4XndZeXH2ELcpCFvGpCKXCZCLqYtwlu9eyHwWji6q2Dq7YuYewN0nIy-VekqgIZrhqy_wl5DRjOpvT1UxWLz6tjysmuA9S1uMo1w6YPYkmWwyld838ih-K0xokuSIJqRPZ0/s320/kill-list-movie-still-2.jpg" width="320" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNLwUcabpcjNRNsqM277LqgfmGR5UKq4VGSZzrbql9a6yA8cEb4FwSDRQzjgVbkFpOqddZuF2QvOQzZl4k3Bwkq3rWXexwtItOQBwIvPITtmpBlunmStY4-KQjK33NJdC066OVuFMpZTA/s1600/kill-list-movie-still-3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="1275" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNLwUcabpcjNRNsqM277LqgfmGR5UKq4VGSZzrbql9a6yA8cEb4FwSDRQzjgVbkFpOqddZuF2QvOQzZl4k3Bwkq3rWXexwtItOQBwIvPITtmpBlunmStY4-KQjK33NJdC066OVuFMpZTA/s320/kill-list-movie-still-3.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Só falta um nome para riscar, e a dupla resolve dar uma pausa. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">morre de saudades da família. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o deixa em casa, e </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a dupla </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">fica de retomar o serviço algum momento mais tarde. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">é recebido carinhosamente pela esposa, contudo, para sua surpresa, encontra </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Fiona </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">por ali, tomando vinho com </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Ele se porta atenciosamente, todavia, pelo olhar, podemos perceber a preocupação pelo assédio inusitado. Em casa por alguns dias, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">aceita ir a um médico para checar a ferida na mão. No consultório, um médico diferente do </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">habitual</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> o recebe, e enquanto o rapaz insiste no ferimento, o cavalheiro lhe diz que </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> mão vai bem, e não é de ordem física a natureza de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">seus problemas</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. A cena se desenrola de forma ambígua, e eu creio que sirva para ilustrar a confusão mental do protagonista, ainda sob controle, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">porém em vias de tê-lo obliterado pelo horror</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">também saiu dos últimos </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">eventos </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">visivelmente abalado</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Nós </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o vemos choroso, sentado no chão, afogando as mágoas no uísque, passando a vista por um maço de fotos esquisitas da dupla, tiradas durante a missão. Eles estiveram o tempo </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">inteiro </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sob a vigilância de uma terceira personagem. Pior, o dossiê também </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">reúne elementos e dados</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> sobre o lance em Kiev (que jamais </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">conheceremos</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">). </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">tira o marido de seu </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">torpor </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ao encontrar o gatinho morto. O amigo </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">chega pouco depois, também com más notícias, assustado com o dossiê encontrado no cofre do pedófilo. Ao passo que </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ainda deseja terminar o serviço e riscar o último nome da lista, o parceiro pensa </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">diferente</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Conseguimos grana na outra noite, vamos deixar o serviço pela metade. Tem fotos nossas rondando a casa do padre, Jay. Eles têm até uma pasta sobre Kiev! E onde conseguiram isso? Ouça, cara, vamos abandonar o caso. Não está fazendo bem a nossas cabeças. É só um serviço, não uma cruzada, está bem? Eu andei observando como você termina as coisas! Escute, não posso mais trabalhar contigo, se você ficar alucinado toda vez que tiver um martelo em mãos! Você está parecendo um maldito viciado em crack, o que está acontecendo?</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". Eles brigam, e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o põe para fora de casa. No caminho para a porta, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">é interpelado por uma chorosa </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Carinhosamente, ele leva as mãos ao rosto delicado da amiga e confidencia que o parceiro precisa de ajuda psicológica.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCjtOizDpDGDbCT2jQpbpmC-CrxgCz2Vf4H6CCrGhSGAGX2pnJt0xGMqxwm4ZOvEnxJkSDKW_nDDsasFJAUf73YwOwUMDpHheKwTnl3bs5_Y-SphIBJaZ4qspR1xT9oyNAWY4Ww25y7Gc/s1600/kill-list-movie-still-40.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="535" data-original-width="1265" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCjtOizDpDGDbCT2jQpbpmC-CrxgCz2Vf4H6CCrGhSGAGX2pnJt0xGMqxwm4ZOvEnxJkSDKW_nDDsasFJAUf73YwOwUMDpHheKwTnl3bs5_Y-SphIBJaZ4qspR1xT9oyNAWY4Ww25y7Gc/s320/kill-list-movie-still-40.jpg" width="320" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgimk3as7-6rFywodAKCC4hjEHlva0LrF1tlYmuThXjRYT9E6kbAalq3dguf9-ENoeM2Ldm3vaBLvVkBxxHWqOHaliXMrEYI5tj4TSwdpXOGpp6QtIfUk2As3-eonWyDeDDCbENdAbxEoE/s1600/kill-list-movie-still-41.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="537" data-original-width="1269" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgimk3as7-6rFywodAKCC4hjEHlva0LrF1tlYmuThXjRYT9E6kbAalq3dguf9-ENoeM2Ldm3vaBLvVkBxxHWqOHaliXMrEYI5tj4TSwdpXOGpp6QtIfUk2As3-eonWyDeDDCbENdAbxEoE/s320/kill-list-movie-still-41.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">enterra o gatinho, e leva o filho </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">um passeio </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">no parque. Ele promete presenteá-lo com um cachorrinho, quando o calor do momento se dissipar. O filho o questiona sobre a alma do </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">gato</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e, para tranquilizá-lo, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">afirma-se convicto de que o bicho foi para o céu dos </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">felinos</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Prostrado na cama, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">conversa com a mulher. Ela o aconselha a conversar com os empregadores, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">encontrar</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> uma maneira de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">rescindir o</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> contrato. O </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Cliente </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">os recebe em </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">um refinado salão</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, acompanhado por outros cavalheiros, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">soturnos </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">em seus ternos & gravatas elegantes. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">insiste que há matadores capazes de terminarem o serviço, e aproveitam para abrir mão da última parcela do pagamento, desde que os exonerem da obrigação. "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Se desistirem, nós os mataremos, depois iremos atrás das famílias</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">O Cliente </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ameaça</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, ao mesmo tempo que outro homem, presente à reunião, empurra maços e mais maços de dinheiro sobre a mesa, com um envelope </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">contendo detalhes para a próxima execução</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Por alguma razão, ocorre a </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">possibilidade </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ele e o parceiro já terem realizado trabalhos para</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> aquela gente</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. D</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e fato, a resposta enigmática de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Cliente </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">aponta nesse sentido. Os amigos deixam a reunião com o terrível dever de terminar </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a lista</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Acuada, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">decide levar o </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">menino </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">para o chalé, até que o marido finalize o trabalho.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgc7cj0PJPBnXPcqKvpmff9o_dNlSU9hb5ejtqSKeb9O0pW4hmB_ZqY3UR9qL8ZTAXGgP6BxxYFhUsQiLcNU8SPB10DC92PAc-lbUAHwJMpk6t4buPxG05WyNGeeJcJsHUX2zss_AO6boQ/s1600/kill-list-movie-still-12.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="537" data-original-width="1273" height="134" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgc7cj0PJPBnXPcqKvpmff9o_dNlSU9hb5ejtqSKeb9O0pW4hmB_ZqY3UR9qL8ZTAXGgP6BxxYFhUsQiLcNU8SPB10DC92PAc-lbUAHwJMpk6t4buPxG05WyNGeeJcJsHUX2zss_AO6boQ/s320/kill-list-movie-still-12.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvnbYGgh3iABfaMcGPaBhOYsjsSuo3ona1kt6els6igWbybRqlTlEoFAGI4pAO0fopworgZMetgm_cqfN4Sg5trz6JgASrCWGVQxecn1fjvVA111pL27aU7KLLpv_uv95MIYlnPkutynM/s1600/kill-list-movie-still-13.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="1271" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvnbYGgh3iABfaMcGPaBhOYsjsSuo3ona1kt6els6igWbybRqlTlEoFAGI4pAO0fopworgZMetgm_cqfN4Sg5trz6JgASrCWGVQxecn1fjvVA111pL27aU7KLLpv_uv95MIYlnPkutynM/s320/kill-list-movie-still-13.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">repassam os detalhes do próximo assassinato com muita atenção, afinal trata-se de um político importante, membro do Parlamento britânico. A dupla o eliminará em sua casa de campo, margeada por um vasto bosque. A tensão é </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">tremenda</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e quando </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">atiça<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o parceiro uma bobagem qualquer sobre </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">não saber escolher boas companheiras, os dois acabam trocando murros e rolando no tapete. Os amigos acabam caindo na real, e param com aquela tolice. Virando garrafas de cerveja, sentados no </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">assoalho </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">da sala, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">revisam </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">os últimos acontecimentos e tentam </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">fazer </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">algum sentido da retrospectiva. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">não consegue tirar </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Fiona </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">da cabeça. Enquanto </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">conta com o suporte de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sente-se compreensivelmente solitário. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">coloca as coisas sob perspectiva "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Você sequer a conhece, Gal</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". Os amigos partem para a última missão, e uma </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">card title</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> nos apresenta a vítima da vez, "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;"><b>O Membro do Parlamento</b></i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". A dupla encontra galerias subterrâneas, um facilitador </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">para a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">passagem entre as margens do denso bosque e o outro lado, serpenteado pela estrada vicinal onde deixarão o carro da fuga. Eles estabelecem um ponto onde montarão vigília sobre a propriedade de campo, e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">vai caçar algumas lebres para que possam comer durante a noite. A escuridão se avizinha sem sinais de movimentação do outro lado da propriedade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh36c6OM0Cr67OKiAfsNnHfs2znL2SyiNopzJwqLOZn5ipXLeKkehwECS1QZPiV7-HXS6gnFRV77hV3wrq9fNSmQkE_ChEIuLZlYyXd9PoG8i4KKtjUPsRpMLhPyvL0G9DT5o0-EgeAHyU/s1600/kill-list-movie-still-4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="543" data-original-width="1275" height="136" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh36c6OM0Cr67OKiAfsNnHfs2znL2SyiNopzJwqLOZn5ipXLeKkehwECS1QZPiV7-HXS6gnFRV77hV3wrq9fNSmQkE_ChEIuLZlYyXd9PoG8i4KKtjUPsRpMLhPyvL0G9DT5o0-EgeAHyU/s320/kill-list-movie-still-4.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNqKv9-SL8onFgwHaYka0EMo7EcNK27aqUWtMq3GS-zqAf5ftsSVZ6x_4v3ZQsMUi0vU82vxtGOu4caZjNiHrkd5MXA-PLCdIVqdJETbwdFT-0hIyGeHc1x3riDVZPexNeOsMCDZVcMCU/s1600/kill-list-movie-still-5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="541" data-original-width="1275" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNqKv9-SL8onFgwHaYka0EMo7EcNK27aqUWtMq3GS-zqAf5ftsSVZ6x_4v3ZQsMUi0vU82vxtGOu4caZjNiHrkd5MXA-PLCdIVqdJETbwdFT-0hIyGeHc1x3riDVZPexNeOsMCDZVcMCU/s320/kill-list-movie-still-5.jpg" width="320" /></a><br />
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifRjD25KOeUaNiN2ou3LPKLAz9LHaQmI38b3D1yBjqR2kvYiIwJgwQVFSg7qIB_s5MpHgHlrmNVKKj6e4iEWYRFaNjwIYcVoKQUj8C9Bs0x9H7DswjpKUlhivDiAqge6UKTU3WzrjIJXE/s1600/kill-list-movie-still-6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="1281" height="134" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifRjD25KOeUaNiN2ou3LPKLAz9LHaQmI38b3D1yBjqR2kvYiIwJgwQVFSg7qIB_s5MpHgHlrmNVKKj6e4iEWYRFaNjwIYcVoKQUj8C9Bs0x9H7DswjpKUlhivDiAqge6UKTU3WzrjIJXE/s320/kill-list-movie-still-6.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">desperta com os chamados de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Silenciosamente, a uma distância segura, eles acompanham estranhas pessoas munidas de tochas, algumas nuas, outras vestidas com batas brancas, em uma procissão através das veredas. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">seguem pela margem do lago, camuflados por uma camada de árvores, e continuam no rastro das pessoas de branco até a um ponto onde existe uma forca. Uma jovem loira sobe o cadafalso e voluntariamente veste a corda ao redor do pescoço. Sob batidas de tambor, a moça se atira da plataforma e estrebucha na ponta da corda. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">já viu o suficiente. Fazendo uso do rifle de assalto, abre fogo pesado contra os fanáticos, e a primeira pessoa atingida é o político britânico, terceiro e último nome da lista. O tiroteio principia uma grande comoção. Em que pese terem aberto fogo contra a seita, os integrantes investem destemidamente na direção da dupla, e os dois precisam correr para não morrer. Os dois chegam ao túnel previamente preparado para a fuga, e vestem lanternas de cabeça. Este talvez seja o </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">momento </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mais </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">aflitivo</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, graças ao desespero envolvido em uma fuga por galerias tão úmidas e escuras, o fato de se virem assediados por adoradores do diabo munidos de facas e, principalmente, a música inquietante ao sabor de esquizofrênicos violinos. Os amigos se perdem no emaranhado de túneis, pois passagens conhecidas foram apenas há pouco fechadas por tijolos ligados por cimento fresco. Eventualmente, conseguem retornar ao percurso original. Ao ficar um pouco para trás, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">acaba atingido na batata da perna. Uma mulher mascarada monta sobre seu corpo e o esfaqueia impiedosamente, na altura do abdômen. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">consegue eliminá-la com um tiro ao lado do rosto. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">chega ao ponto onde o parceiro foi derrubado e procura arrastá-lo através das galerias, enquanto gritos arrepiantes vindo de cima, semelhantes aos barulhos feitos pelas baleias, os lembram de que os adoradores se encontram logo acima no bosque, sempre por perto. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">deve alcançar o mais rápido possível a estrada vicinal para subir no carro e desaparecer. O intestino de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, exposto, mal pode ser devolvido `a cavidade abdominal. Ele se encontra </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">basicamente </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sentenciado a uma morte certa. Determinado a não deixá-lo à mercê de inimagináveis depravações, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">lhe dá um tiro de misericórdia, e finalmente consegue regressar para a superfície do bosque para alcançar o desejado trecho da pista e subir no carro.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRGX7uWwIST1xJqKoaZys-VbfW5i5bqkXowEwCB9cvP_jM0sGo8wAmilxw2J6b8iwLkF8VEwUqZHisfmgiHs3JmFQmdLA7hyWMEy7_UVfFdwQrjHNhUVRY_BWeQUIgehiQiKzCQE87B0A/s1600/kill-list-movie-still-16.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="535" data-original-width="1265" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRGX7uWwIST1xJqKoaZys-VbfW5i5bqkXowEwCB9cvP_jM0sGo8wAmilxw2J6b8iwLkF8VEwUqZHisfmgiHs3JmFQmdLA7hyWMEy7_UVfFdwQrjHNhUVRY_BWeQUIgehiQiKzCQE87B0A/s320/kill-list-movie-still-16.jpg" width="320" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUM5fWYSSbuvSN8gXgiypEVxGD3kMRh6d9Cdza1iXnJIW1Ms4RR_gxpX-HjEIBgKqVsbvRmVH9TOyCrpr5JrabGZRAMXpgnQbO6GjA_8FV8f7AOxMDzFSTKBOIBym5j6WU49Bz698py2o/s1600/kill-list-movie-still-39.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="1277" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUM5fWYSSbuvSN8gXgiypEVxGD3kMRh6d9Cdza1iXnJIW1Ms4RR_gxpX-HjEIBgKqVsbvRmVH9TOyCrpr5JrabGZRAMXpgnQbO6GjA_8FV8f7AOxMDzFSTKBOIBym5j6WU49Bz698py2o/s320/kill-list-movie-still-39.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">dirige pelas estradas do interior da Inglaterra, rodovias muito amplas, desertas e assustadoras, ao longo da madrugada. Vez ou outra, estaciona no acostamento para absorver melhor o impacto da morte do amigo e chorar, enquanto a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sequência </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sofre a intromissão de flashbacks de dias mais felizes, ao sabor de uma melodia triste e contundente. Só na noite do dia seguinte </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">consegue chegar ao chalé, onde reencontra mulher e filho. A felicidade do encontro logo se dissipa. Tochas acesas nas cercanias indicam que os membros do culto satânico se encontram na área. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">alimenta o rifle de assalto, e orienta a esposa a permanecer dentro de casa, para eliminar qualquer invasor. Ele efetua alguns disparos no sentido das árvores fechadas, como que para afugentar os visitantes, todavia uma coronhada vinda de trás o tira de combate. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">utiliza uma pistola com silenciador para eliminar a silhueta que se assoma à porta da suíte. O barulho de vidros estilhaçando chama a atenção de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">para o rés do chão, e a imagem escurece, de forma a não conhecermos imediatamente o destino da mulher e criança.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLsNj2oiKGnJ1613EzJ4DgC5HPUXktL8_9TkNWb9vlhBE4D-LKjKNLm5FnqfVX5iMe-3NCuMMngE7M1oc6DGg4mlKNrGlbU9Kkd66q7tvjI95dI11XZakBEjwtipEfgPLY7TVWD6bJbpE/s1600/kill-list-movie-still-34.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="1269" height="134" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLsNj2oiKGnJ1613EzJ4DgC5HPUXktL8_9TkNWb9vlhBE4D-LKjKNLm5FnqfVX5iMe-3NCuMMngE7M1oc6DGg4mlKNrGlbU9Kkd66q7tvjI95dI11XZakBEjwtipEfgPLY7TVWD6bJbpE/s320/kill-list-movie-still-34.jpg" width="320" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSifyjyi78CXG3n_ZGFRPNtmjcJ1qwj7gdftdbpA86yMxB3hQOdWr0nFezVaDgAnSAscRyk34kaZM7idAbrY5mdRIhlrvF9TwTsphaJyR_A9k_vsx41clT0yew-YgWUCN-tGHJJ1vMXL0/s1600/kill-list-movie-still-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="543" data-original-width="1273" height="136" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSifyjyi78CXG3n_ZGFRPNtmjcJ1qwj7gdftdbpA86yMxB3hQOdWr0nFezVaDgAnSAscRyk34kaZM7idAbrY5mdRIhlrvF9TwTsphaJyR_A9k_vsx41clT0yew-YgWUCN-tGHJJ1vMXL0/s320/kill-list-movie-still-1.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Uma nova </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">card title </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">nos surpreende com uma quarta vítima, até então inexistente, "</span><b style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;"><i>O Corcunda</i></b><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">é conduzido pelos membros da seita até a um círculo formado por gente </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mascarada</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, onde tem as roupas rasgadas, os olhos encobertos, o rosto servido por uma máscara de gravetos, e uma faca propositalmente depositada em uma das mãos. Uma outra pessoa, semelhante a um corcunda, igualmente mascarada, é guiada ao centro da arena. Os dois são obrigados a lutarem com facas, às cegas. Em dado momento, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">aproveita a vantagem para derrubar o adversário e montar nas costas. Ele desfere uma dezena de facadas nas costas do Corcunda, e se sagra vencedor do combate. O lençol é retirado para elucidar a identidade d</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a figura</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">apunhalou mulher e filho, e não um </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">oponente </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">desconhecido, muito embora o fato de a criança ter sido amarrada à mãe tenha criado a ilusão de que </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se postasse encurvada, o que criou o ardil. Ao ter o lençol tirado da frente do rosto, e perceber que lutou com o próprio marido, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ri, agonizante, e morre. Puro horror toma conta d</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a face </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, agraciado por </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">O Cliente</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> com uma coroa artesanal servida à cabeça, enquanto o estampido seco de aplausos impessoais dão ao macabro espetáculo um tom absurdo. Não há resolução ou redenção. A imagem subitamente escurece, e os créditos começam a subir.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIoyZ_kQByQO-HaDOZARTVpz0jywlkaQXZlYTFUUCGUsywggO7BqeegJUoeAMjmcDMBgA4qqVOEj68sH1GVCUv5MFutQ8zDS67JWvvS0PDE9hHKe_ADRdqzuP7dw1L0jSUD6RSq3qP4Qc/s1600/starry-eyes-poster.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1333" data-original-width="900" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIoyZ_kQByQO-HaDOZARTVpz0jywlkaQXZlYTFUUCGUsywggO7BqeegJUoeAMjmcDMBgA4qqVOEj68sH1GVCUv5MFutQ8zDS67JWvvS0PDE9hHKe_ADRdqzuP7dw1L0jSUD6RSq3qP4Qc/s320/starry-eyes-poster.jpg" width="216" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Eu costumo encontrar certa <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">resistência </span>para manter a constância na elaboração das resenhas, não por falta de paciência para trabalhar nas mesmas, pois qualquer processo criativo me agrada, e sim pelas rarefeitas oportunidades quando encontro filmes atuais encantadores, a ponto de despertarem meu interesse em arregaçar as mangas para escrever. Daí, compreende-se o fato de a maioria de meus escritos girar em torno de obras de outras épocas. Ocasionalmente, esbarro com um ou outro fenomenal filme, e não me canso de revê-los, pois sempre acho que jamais seria capaz de falar o suficiente de suas tramas, como "<i>w Delta z</i>" e "<i>Under the Skin</i>", sem descobrir antes a totalidade de seus maravilhosos segredos. Não faz muito tempo, assisti a um terror independente chamado "<i>Starry Eyes</i>", uma estória lúgubre e desesperançosa sobre uma moça bonita, aos vinte e tantos anos, que, assim como as outras meninas e rapazes de seu círculo de amizade, deseja o estrelato, e aguarda o convite que a tornará a nova grande estrela do cinema. À proporção que comparece a audições no submundo de agências de <i>casting </i>de quinta categoria, movida pela poderosa ilusão que dá à indústria uma falsa noção de sucesso e prosperidade, ela se vê obrigada a manter os pés firmados no chão, enquanto ganha a vida como simplória garçonete de uma diner em downtown Los Angeles. "<i>Starry Eyes</i>" me envolveu como lençóis sujos e molhados, porque, muito descompromissadamente, o diretor soube construir uma estória ideal para <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">viabilizar </span>a interseção de dois universos, um o do compreensível desespero de personagens transitando por um submundo de motéis e contas atrasadas, confundindo-se com um outro mundo, de promessas falsas e vazias, ferramentas com que a grande ilusão suga a alma dos inocentes com estrelas nos olhos. Embora a maior porção se ocupe dos dramas dos jovens que compõem o núcleo de relacionamentos da protagonista, "<i>Starry Eyes</i>" vira um filme genuinamente depressivo quando deriva para a hipótese de o ser humano perder a própria alma em nome de um determinado rito de passagem criado como salto para aclamação e riquezas passageiras e vazias. "<i>Starry Eyes</i>" esbanjava um clima opressivo e satanista, e quando busquei <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">tramas </span>similares, impressionei-me com a insistência das pessoas ao renderem homenagem a "<i>Kill List</i>". Após ver os dois filmes, eu compreendo as similitudes entre as duas aventuras, ambas sobre gente em momentos vulneráveis da vida - predicamento causado por suas próprias, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">terríveis </span>escolhas - sob o assédio de forças ocultas, até mesmo conceitualmente abstratas, cujo maior truque é atuar em cima das fragilidades de mentes predispostas a se perderem. Diferente das mais arejadas lições de moral, os diretores não utilizaram as premissas para revisitarem a clássica narrativa do triunfo do espírito humano sobre a sedução do Mal. Muito pelo contrário, como retribuição por suas ações abjetas, os protagonistas anti-heróis apenas têm o ângulo de suas quedas tornado mais <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">íngreme</span>, e os abismos onde perdem as almas, mais aprofundados. Em "<i>Starry Eyes</i>", a chacina à faca <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">cometida </span>pela protagonista precede a posse definitiva de sua alma pela elite satanista; em "<i>Kill List</i>", a hipocrisia com que o assassino de aluguel e sua "<i>Lady Macbeth</i>" sustentam vidas duplas franqueia ao Mal entrada <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">no </span>seio do lar, deixando-o livre para a invasão da diabolice, primeiro apenas sugestivamente, como o gatinho morto sem explicações, depois mais metafisicamente, como a aparição de <i>Fiona </i>de camisola acenando para <i>Jay</i>, de um terreno baldio. Em ambos os filmes, qualquer chance de redenção resta golpeada de morte pelas ações dos protagonistas. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Se formos utilizar como referencial o pessimismo com que <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">essas </span>melancólic<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span>s <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">tramas </span>trataram o destino dos protagonistas, devemos resgatar "<i>o original</i>", a primeira obra de horror macabro que ousou descer ao inferno, figurativa e literalmente, e nos levar junto <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span>o passeio, ao lado do personagem principal. "<i>Starry Eyes</i>" & "<i>Kill List</i>" são frutos da mesma árvore<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. N</span>enhum dos dois existiria, não fosse pelo "<i>tronco</i>" de onde partiram, o filme de 1987 dirigido por <i>Alan Parker</i>, estrelado por <i>Charlotte Rampling</i> & <i>Mickey Rourke</i>, "<i>Coração Satânico</i>", baseado no romance homônimo de <i>William Hjortsberg</i>, sobre um detetive medíocre contratado por um homem misterioso, no ano de 1955, para descobrir o paradeiro de um cantor chamado <i>Johnnie Favorite</i>, muito famoso na época da Segunda Guerra Mundial. Após regressar traumatizado do conflito, <i>Favorite </i>foi institucionalizado, e desapareceu após <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ter sido</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> visitado e levado a um passeio pela</span> ex-namorada, filha de um homem rico, sem que ninguém tivesse mais notícia de seu paradeiro. À medida que se aprofunda nas investigações e mergulha no submundo de Nova Orleans, o detetive esbarra com pessoas que conheceram <i>Favorite </i>e tremem de medo só de conjecturar <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">as circunstâncias do sumiço</span>. Embora não se recorde, o detetive também tem um poderoso pressentimento que conheceu seu empregador em algum momento do passado. A partir dessa ideia repleta de mistérios e pistas falsas, o diretor <i>Alan Parker</i> criou um fantástico e atmosférico suspense, uma jornada para dentro das entranhas de seitas satanistas e da própria noção de se vender a alma ao Diabo. Discriminados os paradigmas empregados como parâmetros para a construção de uma nova trama, e levados em conta os elementos emprestados na criação, será que "<i>Kill List</i>" nos oferece novidades? Sim. Talvez seja uma das mais eletrizantes obras sobre a "<i>febre satânica</i>", tema que experimentou um <i>revival </i>após o recente, instigante "<i>Regressão</i>", de <i>Alejandro Amenábar</i>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBr2pQ7wKEY9vmFsl5ggqkxkjFq8RT_VcwF_m13npQhbd1ldnXAndZ9HLztp-xk-AIEgAmjCbJBGGVsM9cSYTlFkwN4mDeFj2WfACnjRawyizoYiOaTtUAviq62LPxJqpd95VjW94OGUg/s1600/poster-kill-list.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="653" data-original-width="435" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBr2pQ7wKEY9vmFsl5ggqkxkjFq8RT_VcwF_m13npQhbd1ldnXAndZ9HLztp-xk-AIEgAmjCbJBGGVsM9cSYTlFkwN4mDeFj2WfACnjRawyizoYiOaTtUAviq62LPxJqpd95VjW94OGUg/s320/poster-kill-list.jpg" width="213" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Ao iniciar a análise, trouxe à baila "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Starry Eyes</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" e "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Coração Satânico</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", mas, em termos de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">storytelling</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Kill List</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" mostra mais pontos de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">contato </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">com "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Regressão</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. J</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">amais encontramos a figura do Diabo, manifestações sobrenaturais reduzem-se quase a um mínimo. O filme não tenta invocar a presença do Mal pela via do fantástico, como, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a título de exemplo</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, o apavorante segmento "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Parallel Monsters</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">V/H/S: Viral</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", onde víamos uma dimensão paralela quase simétrica, idêntica à nossa, com o terrível diferencial de que nesta outra versão do universo, o mundo era governado por aquilo que os adeptos da Nova Ordem Mundial chamam de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">luciferianismo</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", e mulheres tinham genitálias denteadas que </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">subiam </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">à altura do umbigo. No caso de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Kill List</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", o habilidoso diretor </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Ben Wheatley</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> fia-se exclusivamente na representação humana do Mal, ou melhor, na versão com rosto humano, imediata aos olhos, muito próxima e urgente. Apesar de não enxergarmos o Diabo em </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">carne </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">(como ocorre em "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Coração Satânico</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", quando o empregador de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Mickey Rourke</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, um cavalheiro chamado </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Louis Cypher</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, revela-se o próprio), a sugestão da maldade pela ação dos membros de um culto formado por satanistas basta para requentar a horrorosa sensação de impotência e tragédia, para o protagonista, e, por que não, para a gente também, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">companheiros de</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">na descida a aquele bosque fechado durante o asfixiante segmento final. A figura literal do Diabo, por conseguinte, deixa de importar, de merecer qualquer preocupação por parte dos criadores, pois a "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">cara humana</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", sua representação aqui no mundo físico, encapsulada pelo misterioso grupo de pessoas de robes brancos e máscaras artesanais, encarrega-se de provocar um tipo ímpar de aflição. Nesse </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">diapa<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">são</span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, ao passo que a esposa com dois amantes praticantes de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">swing </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">em um universo satanista de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Parallel Monsters</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" chegue a fazer arder os olhos, tamanha a perversidade de um conceito tão sinistro, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Wheatley </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">não precisou se servir do </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Deux ex machina</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> de um portal entre dimensões de inspiração tipicamente </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">cronenberguiana</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. A facilidade com que "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Kill List</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" vira um filme incrivelmente angustiante no espaço de 10 minutos após o início muito deve à tragédia da corrupção humana, à falibilidade da alma, à suscetibilidade do homem </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">para </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">cair diante </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">das</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> coisas ruins</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ao alcance dos olhos, elementos muito bem destrinchados pelo diretor/roteirista. A queda do homem, envergado pelo peso dos dramas diários, acumulados sobre a espinha até causar a ruptura, sempre se provou um excelente combustível para memoráveis e evocativas estórias de terror, desde que o cineasta trabalhe com a sensibilidade para não tornar os desdobramentos tacanhos ou forçados. Cito "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Session 9</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" como o perfeito exemplo de terror psicológico onde o processo de desmantelamento da mente de um bom homem, impotente em lidar com as demandas de chefe de família, dá o pontapé a uma inesquecível </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sucessão de tragédias </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">envolvendo um hospital psiquiátrico abandonado, assombrado por imponderável carga de tristeza e más energias, e a forma como este tipo de energia encontra um meio de interferir e arruinar as vidas de pessoas espiritualmente fracas & exaustas. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Não obstante</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Kill List</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">faça </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">constantes referências a satanismo, e "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Session 9</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" não, o ponto de contato dos dois filmes consiste no lento, aflitivo processo de desintegração/dissociação mental dos protagonistas. "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Session 9</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" lançou a carreira do diretor </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Brad Anderson</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, que desde então tem dirigido produções maiores estreladas por atores muito famosos, como "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Stonehearst Asylum</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" (</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Michael Caine</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Ben Kingsley</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Kate Beckinsale</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">) & "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">O Maquinista</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" (</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Christian Bale</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">). Apesar de reger filmes tão grandes, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Anderson </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">nunca mais reencontrou o brilhantismo que lhe permitiu criar uma autêntica obra-prima ("</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Session 9</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" foi rodado em 2001 - </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">como o tempo voa!</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">). </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O cineasta </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">trabalhou como um autêntico artesão ao criar "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Session 9</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", mas, sejamos honestos, parte do mérito recai sobre o belíssimo trabalho do elenco principal, em especial </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Peter Mullan</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, o homem por trás de uma das performances mais inesquecíveis que eu vi em minha vida. Tenho reparos quanto a afirmações muito categóricas, portanto quando me refiro ao trabalho de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Mullan</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, nada mais faço do que lhe dar o crédito devido: hei de ver outro desempenho a rivalizar a força bruta com que </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Mullan </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">criou o </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gordon Flemming</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Session 9</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Como se já não bastasse</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, o elenco secundário dá show, com </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">David Caruso</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> provando-se excelente ator no papel do melhor amigo do </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gordon</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Stephen Gevedon</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, que além de ter ajudado no roteiro, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">dá </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a seu personagem menor nuances que o tornam interessantíssimo & complexo (a partir do ponto de vista de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gevedon</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, através de rolos de tapes antigos contendo entrevistas de psiquiatra/paciente, somos apresentados ao caso de uma moça, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Mary Hobbes</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, que passara a vida inteira institucionalizada no hospital psiquiátrico, por, quando criança, ter esfaqueado pais & irmão, tendo inclusive morrido de idade avançada nas dependências, e cuja história reflete a </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">via crucis</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> atravessada pelo imigrante irlandês </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gordon</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, hoje, tantas décadas após os eventos contidos no </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">tape</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">). Teria</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;"> Ben Wheatley</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> contado com um elenco igualmente excitante para nos mostrar a sua versão de inferno?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheD-W3B-z1loUi9xRAk5kpjB3DQ8GyHFP8lJ38G0kJtF3yJK3vvysbeBsw7ZwwWZbCdt7if7X5CYc9Xb6OYJN5hAPyLIHnkuCR-JmJpePjgsizidWjnxWFhB_liLqOH1jkaXCkf5f7A6c/s1600/cast-director-kill-list.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="716" data-original-width="1000" height="229" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheD-W3B-z1loUi9xRAk5kpjB3DQ8GyHFP8lJ38G0kJtF3yJK3vvysbeBsw7ZwwWZbCdt7if7X5CYc9Xb6OYJN5hAPyLIHnkuCR-JmJpePjgsizidWjnxWFhB_liLqOH1jkaXCkf5f7A6c/s320/cast-director-kill-list.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A sua maneira, cada ator </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">deu uma contribuição pessoal </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">para afiar os personagens, dar-lhes identidades muito coloridas, sólidas. Seria incorreto exigir de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Neil Maskell</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> o dever de reproduzir o tipo de empatia evocada, por exemplo, por </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gordon</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> em "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Session 9</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Peter Mullan</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> vivia um imigrante irlandês, dono de um pequeno grupo de limpeza de asbestos Hazmat, lutando para "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">manter a cabeça fora d'água</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" e superar o stress financeiro a assolar a</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">classe média </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">blue collar</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, agora que a mulher, aos 40 e tantos anos, é mãe de um bebezinho, e ele, pai de primeira viagem. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Maskell </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">interpreta um personagem </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">no outro extremo do esp<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ectro</span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, que mais parece pertencer a filmes de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">gangsteres</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> britânicos dirigidos por </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Guy Ritchie</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> ou </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Nick Love</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, o tipo de papel que transformou </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Tamer Hassan</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> e </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Danny Dyer</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> em astros. Jovem, energético, durão e com uma tirada confortável e esperta para cada situação, não custa ao personagem de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Maskell </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">descobrir que quando pôs os pés naquele submundo, as regras de conduta que o haviam tornado um assassino de aluguel tão eficiente de nada mais </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">valiam</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Nós tendemos a nos identificar melhor com a luta de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gordon</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, mas nem por isso deixamos de compreender o dilema de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. À medida que a trama avança, e a fachada de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">bravatas </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">cai por terra, revelando um homem apavorado cercado por um Mal inimaginável, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Maskell </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">consegue dar ao desespero do personagem matizes humanizadoras de remorso, mesmo </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">levando em conta </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">seus terríveis pecados. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">MyAnna Buring</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, familiar a fãs do gênero pelo papel principal no excelente "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">The Descent</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Neil Marshall</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, de 2005, interpreta a esposa do personagem principal. Como mulher de um matador de aluguel, eventualmente fazendo as vezes de agenciadora, parece óbvio que </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">jamais se portaria como uma afável mãe de família dedicada a preservar o lar e as pessoas dentro. Ela é durona - quiçá melhor assim, afinal a provação vivida pela família demanda nervos de aço - </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">contudo, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">devo admitir que seus modos chegam ao ponto de dar nos nervos. Sua moral corrompida não ganha nenhum ponto conosco, não permite qualquer tipo de solidariedade. Eu a tomei como uma "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Lady Macbeth</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" do século XXI, versão anabolizada da personagem da tragédia "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Macbeth</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" escrita por </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">William Shakespeare</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">: </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Lady Macbeth</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> não tinha escrúpulos para alcançar os objetivos, e convence o marido a matar o rei; </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se empenha em instrumentalizar o ofício secreto do cônjuge, e em muitos momentos demonstra ascendência sobre o rapaz, a ponto de saber sobre um vindouro serviço antes mesmo do matador. Natural que quando o parceiro cai, ela desabe junto. É apenas uma pena que </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sam</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, uma criança inocente, pague pelos pecados de dois adultos idiotas e sem pista. No papel do melhor amigo e parceiro, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Michael Smiley</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> rouba o filme e traz para seu lado a torcida inteira. Sim, ele ganha a vida executando alvos, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">todavia</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, algo no jeito brincalhão, nos moldes de, digamos, um roqueiro aposentado, ao se pronunciar como a marca mais explícita de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, acaba por eximi-lo da gravidade das próprias ações. Ao me sentar para escrever este trabalho, percebi que apesar de termos visto o menino interagir bastante com o pai, é precisamente na cena em que </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o pega nos braços e o leva para cima, para o quarto, após a discussão daqueles dois tolos, que se risca uma faísca do esboço paterno naquele meio desordenado e corrompido. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">também cumpre a função de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Grilo Falante</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", e as sugestões mais lógicas partem de sua pessoa. Na cena em que </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">visita </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e os dois têm uma conversa na garagem, eu pensei em um dos melhores momentos de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Audition</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", de</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;"> Takashi Miike</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, quando o colega do protagonista, agindo como um verdadeiro amigo, tenta colocar senso na cabeça do protagonista, que se apaixonou por uma moça misteriosa cujas referências não batem com as investigações do amigo. Assim como o homem não dá ouvidos ao amigo e segue feliz & satisfeito dançando à beira do abismo, as </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">insistentes </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">advertências de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Gal </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">em "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Kill List</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" caem em ouvidos surdos. Em uma participação modesta, mas vital à trama, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Emma Fryer</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> nos brinda com enervantes aparições, uma espécie de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">sinal para os maus tempos</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">". A personagem se move como um tigre a estudar, de uma área mais alta, as zebras desatentas de um vale. "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Eu não gostei dela, no começo</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">explica ao marido, ao conversar com </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pelo skype. Interessante que o caráter de "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Lady Macbeth</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" insufla </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Shel </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">com </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">um poderoso sexto sentido quanto à malícia alheia. De fato, desde o começo, </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Fiona </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">marcara a família para o abate. Uma das cenas pivotais envolve a aparição de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Fiona</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, vestida em camisola, acenando para </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, que da janela do quarto vê somente uma figura feminina, sem fazer a conexão de que se trata da namorada do amigo. </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">In bonam partem</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, a narrativa corre pelos trilhos clássicos do suspense político, quase nos moldes de coisas setentistas, tipo "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">The Parallax View</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" (</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Wheatley </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">inclusive cita o filme de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Alan J. Pakula</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> como inspiração). Só em uma rápida passagem, "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Kill List</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">" tempera a jornada de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">com uma pitada fantástica, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">afinal </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">visita</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> de </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Fiona </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">jamais é explicada. Teria ela seguido os dois matadores até a cidadezinha, apenas para acenar para </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">? Como antever que o rapaz se posicionaria diante da janela? Melhor ainda, como adivinhar o número do apartamento? A escassez de informações muito básicas deixa o ar tão rarefeito que à nossa imaginação cabe fechar lacunas. Eu levantei algumas questões dignas de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">debate</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">: </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">qual a ligação entre as pessoas da lista e a seita satânica</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">? </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Por que um padre constava da lista</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">? </span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Por que as pessoas da lista evidenciavam um ar de alívio à visita do assassino, a ponto de o agradecerem por estarem sendo mortas, como se fosse uma honra</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Wheatley </i>nos confiou <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a tarefa </span>de conectarmos os pontos <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">segundo </span>nossas convicções. Eu creio que as pessoas da lista compunham as hostes do culto, e que morte pelas mãos de <i>Jay </i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">representava </span>uma honra, motivo de lisonja. No final, depois de esfaquear e matar mulher e filho, <i>Jay</i>, em estado catatônico, recebe uma coroa, sob os aplausos dos satanistas. Do instante em que <i>Fiona </i>sinalizou as costas do espelho, <i>Jay </i>estava "<i>na engorda</i>"<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. P</span>or mais que as aparências apresentassem o caso como mais um serviço, era óbvio que aquela gente da lista esperava pelos ataques, e sorria de satisfação sob a mira da pistola. A cada nova morte, <i>Jay </i>ganhava pontos dentro das hostes, de modo que apunhalar mulher e filho <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">cristalizava a </span>aclamação absoluta. Os satanistas queriam "<i>coroar o rei</i>", e por ter se permitido corromper, <i>Jay </i>perdeu sua alma. O papel do padre nos abre oportunidade para <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">considerações intrigantes</span>. Se ele conhecia e atuava no esquema do culto, sua existência poderia ser rastreada a um ataque do luciferianismo à sagrada instituição da igreja. Quando o <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">vimos </span>conduzindo preces <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">no </span>altar do presbitério, os fiéis <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">oravam </span>genuinamente tocados, mãos dadas na nave, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">alheios</span> à real face do "<i>agente infiltrado</i>". A verdadeira natureza do padre, portanto, reforçaria a tese de que o Mal encontra <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">variantes para</span> nos sabotar, indo ao extremo de ardilosamente adicionar farsantes nas nossas casas e instituições para nos destruir por dentro. <i>Fiona</i>, por sua vez, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pode ser interpretada</span> como o súcubo, um demônio de aparência feminina, prova contundente de que aquela gente imoral não somente apreciava comportamentos e coisas <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">negativas</span>, como também havia estabelecido uma conexão direta com o Diabo, representado na Terra por <i>Fiona</i>, o demônio. De qualquer forma, a ausência de respostas nos deixa aturdidos, perdidos em um <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">maranhado </span></span>de símbolos e imagens fortes. A própria menção ao "<i>ocorrido em Kiev</i>", ao trauma responsável por ter lançado o protagonista em <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">oito </span>meses de "<i>aposentadoria</i> <i>forçada</i>", engolindo pílulas para depressão, nos convida a refletir. Tenho suspeitas quanto ao acidente em Kiev, e vislumbro conexão entre os eventos em um lugar tão longínquo quanto a capital da Ucrânia, na Europa Oriental, e os fatos verificados em casa, na Grã-Bretanha. Durante a consecução do trabalho em Kiev, <i>Jay </i>deve ter acidentalmente matado uma criança, um imperdoável pecado, mesmo para um matador de aluguel. Se for o caso, seu inominável crime certamente assinalou o termo de venda da alma. Nesse caso, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">h</span>á <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">oito </span>meses, <i>Jay </i>já firmara a própria sentença, ainda que demandasse pouco mais de um semestre até que os planos do Diabo se pusessem em curso. Lembrem-se, <i>O Cliente</i> dá a entender <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a </span><i>Jay </i>e <i>Gal </i>que os matadores já lhe haviam oferecido seus préstimos no passado.</span></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O diretor de fotografia imbui "<i>Kill List</i>" de elegantes enquadramentos reminiscentes de <i>Stanley Kubrick </i>em "<i>O Iluminado</i>" & "<i>De Olhos Bem Fechados</i>"<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Os planos </span>capturam a essência do interior da Inglaterra, e a soma <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de </span>detalhes junta peças do quebra-cabeça, um amplo plano de fundo que vai desde bairros típicos do <i>working class</i> britânico, tão bem imortalizados pela poesia visual de <i>Ken Loach</i>, a terrenos de construção com contêineres onde segredos imundos <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">clamam por</span> ser<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">em</span> revelados, de motéis de cidadezinhas ao bosque às margens dos palácios dos ricos & privilegiados. Em contraponto ao plano de fundo (ou, melhor, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">justaposto </span>ao mesmo), <i>Laurie Rose</i> rascunha para <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o </span>diretor <i>Wheatley </i>construções verdadeiramente mefistofélicas, dignas de filmes igualmente perturbadores como "<i>Lords of Salem</i>", de <i>Rob Zombie</i>. O assassinato do membro do parlamento britânico, no bosque, utiliza visões similares às das obras de <i>Zombie</i>. Como sabemos, "<i>Lords of Salem</i>" nos choca com uma overdose de nudez frontal feminina, símbolos satânicos e representações pagãs. A sequência do bosque merece uma abordagem à parte, e ao introduzir a discussão, permitam-me pegar emprestada a trilha sonora de "<i>Kill List</i>", pois minha <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">análise </span>fará um <i>link </i>aos temas saídos da cabeça de <i>Jim Williams</i>, autor da mesma.</span></span></span></span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/_FMQgnN0jek/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/_FMQgnN0jek?feature=player_embedded" width="320"></iframe></span></span></span></span></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i style="background-color: #eeeeee;">Todos os direitos autorais reservados a Rook Films Ltda. O uso de parte da música é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i></span></span></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A trilha sonora de um filme pode ser <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">encarada como </span>metade do caminho <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">para se chegar</span> <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">aos corações das pessoas</span>. Não quero me limitar ao cinema, no que toca o ponto: quando sentimos saudades de <i>Ay</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>rton Senna</i>, que música nos ocorre quase automaticamente? O tema da vitória, a canção instrumental do maestro <i>Eduardo Souto Neto</i>. </span>O que teria sido de "<i>Rocky</i>", sem um compositor chamado <i>Bill Conti</i>? Alguns de vocês devem perguntar <i>Mas quem é Bill Conti</i>? Claro, vocês conhecem <i>Sylvester Stallone</i>, <i>Carl Weathers</i>, <i>Talia Shire</i>, <i>Dolph Lundgren </i>e <i>Burgess Meredith</i>, mas estranham o nome <i>Bill Conti</i>. Será que "<i>Rocky</i>" teria o mesmo impacto, não fosse a belíssima trilha que sublinha lindamente momentos cruciais, como quando <i>Rocky </i>sobe exultante os degraus do Museu de Arte da Filadélfia e ao final levanta os braços em celebração ("<i>Gonna Fly Now</i>"), ou o próprio desdobramento da luta, quando ele, mero pugilista de clubes vagabundos, encara o Campeão Mundial, e <i>Apollo</i>, que no começo não leva a luta a sério, logo passa a defender desesperadamente o título ao descobrir que, mesmo apesar de toda a surra imposta, não há nada que fará <i>Rocky </i>se entregar ("<i>Going the Distance</i>")? A trilha sonora ou catapulta um filme às estrelas, ou o afunda de vez. Filmes de horror precisam de mais do que imagens absurdas e apavorantes, elegante fotografia, enquadramentos caprichosos. A melodia a <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">cercar </span>a jornada possivelmente representa metade do caminho à <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">unanimidade de público & crítica</span>. "<i>Under the Skin</i>", a sinistra ficção<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span>científica dirigida por <i>Jonathan Glazer</i>, se serviu da trilha sonora de <i>Mica Levi</i> para reproduzir, melhor do que performances ou palavras, o sentimento de alienação, na estória de uma alienígena a<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">bdu<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">zindo </span></span>homens nas estradas do interior da Escócia. Eu mencionei anteriormente que, no caso de "<i>Kill List</i>", não nos custa nem 10 minutos para <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">prever </span>o horror prestes a desabar sobre a cabeça dos protagonistas como lâmina de guilhotina. Há dois momentos-chave que eu gostaria de individualizar na trilha acima. Primeiro, aos 11:52, eis o instante em que <i>Jay </i>se prostra na cama, banhado por um sol muito fraco de fim de tarde, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">cujos raios penetram</span> através do tecido puído das cortinas. Ele acabou de eliminar o primeiro nome da lista, e parece pensativo, com toda aquela breve conversa com <i>Shel</i>, depois de ela ter contado sobre a visita de <i>Fiona</i>. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Existe </span>algo na quietude da cena que trabalha como a calmaria antes da tempestade, e o matador de aluguel, cheio de saudade do filho pequeno, parece pressentir a tragédia <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">iminente.</span> Segundo, aos 19:10, temos a claustrofóbica descida pelas galerias subterrâneas ao bosque, quando os amigos são caçados por aquela gente estranha, dezenas de mulheres nuas com facas e instrumentos cortantes em mãos, avançando por espaços muito fechados, sem se deixarem intimidar pelos tiros do rifle de assalto de <i>Jay</i>. No instante em que os violinos passam a arranhar a melodia macabra, quando vi o filme pela primeira vez, senti como se o oxigênio <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">tivesse deixado</span> meu corpo<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. É</span> uma cena genuinamente inquietante, e ao sabor de violinos, consegue se agravar ainda mais. A fuga pelos túneis sob o bosque me lembra uma cena de outro filme, "<i>Estranhos Prazeres</i>", de 1996, de <i>David Cronenberg</i>, sobre um publicitário e sua esposa, arrastados a um mundo de fetiches habitado por narcisistas ainda mais malignos que os protagonistas, que atrelam o prazer do sexo ao "<i>rearranjo</i>" do corpo através de acidentes automobilísticos. Eles reconstituem desastres famosos, como as mortes de <i>James Dean</i> e <i>Jayne Mansfield</i>, e, no ato da encenação, obtêm gratificação sexual ao colocarem suas próprias vidas em jogo. Em dado momento, o personagem vivido por <i>James Spader</i> assiste, ao lado da médica interpretada por <i>Holly Hunter</i>, à recriação da batida causadora da morte de <i>James Dean</i>. Subitamente, a Polícia Aeroportuária realiza uma batida na pista (o grupo dos fetichistas costumava <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se servir d</span>o local, uma pista periférica, não exatamente dentro do aeroporto de Toronto, mas nas cercanias, para as aventuras), e a turma inteira debanda para dentro do bosque, evadindo-se das autoridades. Na cena, você vê as réguas de giroflex dos carros de Polícia varrendo o espaço com luzes aquosas coloridas de neon (azul & vermelho) ao longe, no sentido da floresta escura, e <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">as pessoas do seleto grupo</span> morrendo de rir, correndo para dentro do bosque fechado, felizes por terem conseguido enganar novamente os agentes portuários. Naquele momento, o personagem de <i>James Spader</i> contempla que acaba de cruzar um limite muito perigoso. Ele colocou os pés em um mundo <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">surreal, sem sentido</span>, um universo habitado por narcisistas muito, muito piores que o próprio <i>Spader</i>, que virão para cima com toda sorte de manipulação e joguinhos psicológicos conhecidos pela humanidade, mesmo pelos mais astutos sociopatas. Os americanos têm uma expressão para definir situações do tipo, "<i>All bets are off</i>", ou, "<i>Todas as apostas foram levantadas</i>", em outras palavras, qualquer resultado pode acontecer. A mesma ideia se aplica à dupla de "<i>Kill List</i>". Esqueçamos, por um minuto, a questão do Diabo. Independente da existência ou não do próprio Lúcifer, que em filmes como "<i>A Bruxa</i>" assume inicialmente a forma de um bode e depois mais se assemelha a um pirata, as pessoas acima das galerias são gente má. Ali, deve haver pedófilos, estupradores, maníacos, praticantes de sacrifícios, entusiastas da "<i>Nova Ordem Mundial</i>" e, pior, a nata da<i> high society</i>, pessoas conectadas a atores dos bastidores do poder, como empresários, políticos e magistrados. Lembrem-se, os dois acabam de executar um membro do Parlamento Britânico! O culto não somente pode apanhá-los ali no bosque para impor <i>Deus-sabe-o-quê</i> a seus corpos. Eles têm meios de arruinar as vidas dos opositores e saírem impunes, e o mundo não é grande o suficiente para escondê-los, <i>Jay </i>& família, por muito tempo. A cena nas galerias me deixou indelével impressão pois somente naquele instante caiu a ficha, para mim, que deixar o bosque com vida não significa coisa alguma, apenas o protelamento do clímax. Assim como acontece a "<i>Kill List</i>", ainda que o Diabo não fale como o bode "<i>Black Phillip</i>" de "<i>A Bruxa</i>" ou adquira a forma humana de pirata, as pessoas que acreditam em tamanha maldade, no mundo real, podem ser ainda piores que s<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ua referência </span>intelectual.</span></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">"</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Kill
List</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">" desperta recordações de dois notórios, pérfidos
escândalos, os casos de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Jimmy Savile</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> e "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Franklin Cover-up</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">".
</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Jimmy Savile</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> foi um dos mais poderosos apresentadores da televisão
britânica, e manteve-se sob os holofotes por muitas décadas, dos
anos 60 aos 90. Seu programa infantil "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Jim'll Fix It</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">"
(1975-1994) não passava de desculpa esfarrapada para deixá-lo mais
próximo de crianças desassistidas. Meu irmão, quinze anos mais
velho do que eu, lembra-se do programa deste cara, e já então
pressentia algo de errado com </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Savile</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. Ele gozava de livre trânsito
pelos círculos do poder, e suas conexões com </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Margaret Thatcher</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> (a
quem chamava de "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Maggie</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">") e a família real britânica eram
notórias, tendo inclusive lhe valido o título de "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Sir Jimmy
Savile</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">". A internet está repleta de fotos onde o
vemos na companhia do </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Príncipe Charles</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> e outros membros da elite. O
apresentador morreu em outubro de 2011, aos 84 anos, e
aproximadamente um ano após o falecimento, a Polícia inglesa
iniciou investigações acerca das denúncias de escândalos sexuais
envolvendo seu nome. A Scotland Yard afirma que </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Savile </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">estuprou
um número próximo a </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">trezentos </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">indivíduos (números não-oficiais apontam
</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">abusos sexuais da ordem de </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">quinhentos vulneráveis, a partir de crianças de
dois anos de idade, em diversas instituições, como os estúdios da
BBC, quatorze hospitais gerais e vinte hospitais para crianças espalhados
pelo Reino Unido), no curso de quase meio século. A verdade pode ser
muito pior e mais perturbadora. No grande esquema das coisas, o
apresentador não passava de peixe pequeno em uma rede de pedofilia
envolvendo gente responsável pelo destino de países. </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Savile </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">tinha
"</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">as costas largas</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">", graças a amigos poderosos cujas
carreiras podem ser rastreadas aos bastidores da Downing Street.
Muitas décadas antes da descoberta de seus horrendos segredos,
</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Savile </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">havia construído para si uma fachada de respeitabilidade,
cortesia dos trabalhos para caridade. Entre outras instituições,
ele arrecadou fundos para o Stoke Mandeville Hospital, Leeds General
Infirmary e Broadmoor Hospital. Nos anos 80, </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Savile</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> atuou ativamente
em duas instituições de caridade que levavam o seu nome. Nos
hospitais de Stoke Mandeville e Broadmoor, ele tinha seus próprios
aposentos. Das fotografias que denotam os laços de amizade entre
</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Savile</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> e "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Maggie</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">", a mais notória é uma onde aparecem em
um almoço para arrecadação de fundos para o Stoke Mandeville, em
1981. Crê-se hoje que, por trás da aparência da generosidade,
</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Savile</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> usava a posição privilegiada para pôr em prática seus
desejos doentios. Em 2012, o Daily Telegraph publicou uma matéria
sobre o caso, o depoimento de uma enfermeira da ala psiquiátrica de
Broadmoor, nos anos 80. Ela garantia ter conhecido uma paciente que,
à época, suplicou por socorro, dizendo-se vítima frequente do
assédio de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Savile</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. Em contrapartida, foi ridicularizada, porque
ninguém acreditava na palavra de uma pessoa comum. O inquérito
sobre o Broadmoor compilou denúncias de onze vítimas (seis
ex-pacientes, dois servidores e três crianças). Dois dos casos de
abuso sexual envolveram crianças do sexo masculino. Outra senhora,
paciente do Leeds General Infirmary, testemunhou ter flagrado </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Savile</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">
aproveitando-se de uma menina com paralisia cerebral, confinada em
uma cadeira de rodas. </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Savile</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> fingia prestar visita, mas se realizava
sexualmente graças à vulnerabilidade da paciente. Investigadores
apontam o Leeds General Infirmary como o hospital onde mais colheram
informações sólidas e incriminadoras. Mais de duzentas pessoas,
entre membros de staff e ex-pacientes, tiveram depoimentos tomados.
Os abusos cometidos variaram de comentários condescendentes e
sexualmente carregados a apalpões e agressão, além de três casos
confirmados de estupro. Alegações similares foram feitas sobre
</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Savile</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> quanto aos "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">trabalhos voluntários</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">" no Stoke
Mandeville. Uma mulher, </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Caroline Moore</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, afirma ter sido atacada aos
treze anos, quando esteve no hospital para tratar lesões na espinha,
em 1971. Ela diz "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Eu me encontrava do lado de fora do ginásio,
e ele chegou para mim e simplesmente enfiou a língua na minha boca e
através da minha garganta. Eu contei a minha família, na época,
mas eles não levaram a sério, pois ele era muito famoso</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">". Como
se vê, não obstante a avalanche de evidências contra o pedófilo,
as mesmas só foram veiculadas um ano após sua morte. A </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">timeline
</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">de conduta imprópria remonta a 1955, o primeiro incidente registrado
pela Polícia de Manchester. Em 1960, </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Savile</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> levou um menininho que
lhe pedira autógrafo para dentro </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">de um quarto</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> de hotel e o assaltou
sexualmente. Os estupros praticados no Leeds General Infirmary e no
Stoke Mandeville Hospital iniciaram-se em 1965. O período mais ativo
dos crimes começou em 1966, e se estendeu por uma década. No curso
desses dez anos, registros indicam que foi em 1970 que as meninas da
escola para garotas de Duncroft </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">denunciaram </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">as maldades cometidas
pelo apresentador, e em 1972 houve registros de conduta obscena
(carícias </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">a </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">um menino de 12 anos e duas garotinhas) durante a
gravação do programa, "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Top of the Pops</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">". Em algum momento
da década seguinte, anos 80, a Polícia Metropolitana recebeu a
queixa de uma moça, apalpada por </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Savile</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> no estacionamento da BBC de
Londres. Estranhamento, </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">a ficha do caso <span style="font-family: "arial" , sans-serif;">sumiu</span></span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, e a queixa foi </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">descartada</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. Nos anos 90, ele foi condecorado e recebeu o título
de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Sir Jimmy Savile</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. O pedófilo tentou sair de cena para se amoldar
a uma vida mais discret</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">a</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. Não surgiram novas denúncias envolvendo
seu nome. Em 2009, a Polícia de Surrey reabriu os casos pendentes de
Duncroft. Apenas dois anos mais tarde, em 29 de outubro de 2011,
</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Savile</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> morreu de causas naturais. Tendo em vista a </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">timeline</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">
acima exposta, foi em outubro de 2012, um ano após o falecimento,
portanto, que a emissora ITV exibiu um programa enriquecido por
depoimentos de diversas mulheres, vítimas de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Savile</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> quando meras
crianças. A matéria foi o estopim do tenebroso escândalo, quando
diversas outras vítimas ousaram se manifestar, trazendo semelhantes
</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">depoimentos </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">em grandes veículos. Até mesmo o então
primeiro-ministro </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">David Cameron</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> se pronunciou, e disse que a BBC,
como emissora de TV detentora de concessão pública, tinha muito a
explicar. A história do escândalo de Franklin, Nebraska, por sua </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">vez, </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">começou
com </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Lawrence E. King</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, importante figura local, diretor do Franklin
Federal Credit Union, nos anos 80, até ser avassalado por tenebrosas
acusações. As fontes de informação sobre o caso, escassas, podem
ser </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">contabilizadas </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">nos dedos de uma mão. Muitas pessoas ou tiveram as
vidas arruinadas ou morreram ao investigar a história. As bases para
a reconstituição do ocorrido se devem a quatro trabalhos: um
documentário produzido por um estúdio de TV de Yorkshire,
Inglaterra, cujos jornalistas viajaram para Franklin para desvendar
os segredos, e trabalharam com o pessoal do Discovery Channel,
intitulado "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Conspiracy of Silence</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">", um livro escrito pelo
jornalista investigativo </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Nick Bryant </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">chamado "</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">The Franklin
Scandal: A Story of Powerbrokers, Child Abuse and Betrayal</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">", um
trabalho escrito pelo ex-senador e advogado </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">John DeCamp</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> intitulado
"</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">The Franklin Cover-up</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">", e, finalmente, as transcrições
do depoimento da vítima de abuso </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Paul Bonacci</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, no julgamento de</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">
Lawrence E. King</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. Estrela do Partido Republicano (em 1988, durante a
Convenção Nacional Republicana, coube-lhe a distinção de cantar o
hino nacional), </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">King</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> vivia de aparências, entusiasta de um estilo
de vida repleto de festas extravagantes e viagens ao exterior,
assessorado por uma </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">entourage </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">de guarda-costas e secretários. O
papel de homem acima de suspeitas começou a ruir em novembro daquele
ano, 1988, quando investigações preliminares da Receita Federal
revelaram sua liderança no rombo de </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">quarenta </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">milhões de dólares no</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">s ativos </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">do Franklin Federal Credit Union (uma espécie de esquema
Ponzi), mas só viria abaixo pouco depois, sob a acusação de sete
crianças, que o reconheceram como mentor de abusos sexuais e lenocínio.
Logo, pessoas do círculo íntimo de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">King</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> também foram
desmascaradas. </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Jarret </i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">e </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Barbara Webb</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> (ele, membro da diretoria do
Franklin Credit, ela, prima de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">King</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">) tiveram suas problemáticas
vidas íntimas devassadas, quando se soube dos horríveis abusos
emocionais e físicos a que submetiam as crianças adotadas pelo
casal. Uma das meninas do lar dos </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Webb</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Eulice</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Washington</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">,
voluntariou-se para testemunhar que as crianças estavam sendo
</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">transportadas </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">a várias festas em diferentes áreas de Franklin, onde
</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Lawrence E. King</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> e outras importantes figuras da sociedade local as
violentavam. </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Eulice</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> revelou que </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">King</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> levava algumas crianças em
viagens através do país, em jatos particulares, para participarem
de orgias montadas por pedófilos. Submetida a vários testes em
detectores de mentira, </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Eulice</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> passou em todos os exames. A Foster
Care Review Board, uma espécie de ouvidoria para instituições de
adoção, atuou ativamente</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> na representação dos interesses das</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> crianças, escrevendo
muitas cartas para o Advogado Geral de Nebraska, recomendando
investigações, mas os pedidos foram negados. Rumores ganharam
robustez. </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">King</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> explorava as crianças de Boys Town, uma instituição
de caridade católica para órfãos. Testemunhos reconstituíram a
frequência de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">King</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> no campus, onde escolhia as vítimas para o
esquema. A diretoria negou conexões com </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">King</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, porém, documentos
comprovaram a ligação entre Boys Town e Franklin Federal Credit
Union. Gente importante do FBI fez telefonemas para encerrar as
diligências, declarando antecipadamente que as </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">queixas </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">não
tinham fundamento. As autoridades locais se eximiram da
responsabilidade com a desculpa de que haviam cumprido seu papel,
diante das </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">reclamações </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">apresentadas. Posteriormente, entretanto,
revelar-se-ia que nenhuma das autoridades entrevistara </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Eulice</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, ou
mesmo tomara apontamento dos testemunhos das outras crianças, pelo
menos até três anos após a formalização das queixas. Mesmo
assim, o Chefe de Polícia de Omaha afirmou à imprensa que o trâmite
administrativo fora cumprido. Na verdade, as crianças jamais foram
procuradas pelo Chefe de Polícia, mais tarde apontado por pelo menos
quatro meninos como participante das festas de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">King</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. Oficiais de
polícia de menor hierarquia se empenharam para manter o
inquérito sob segredo, ao menos por um tempo, porque pressentiram
que o Chefe de Polícia agiria no sentido de encerrar os trabalhos.
As denúncias tinham gravidade tal que oficiais redigiam os
expedientes a mão, evitando o uso dos computadores e terminais do
Departamento de Polícia de Omaha. Os agentes da unidade chegaram a
mentir, quando o Chefe de Polícia os agraciou com uma visita
surpresa para lhes perguntar se estavam trabalhando no caso de
</span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Lawrence E. King</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. Não satisfeito, o Chefe de Polícia arranjou a
transferência de uma das mais combativas agentes, e a desacreditou
ao enviar um ofício ao diretor do Omaha Public Safety, recomendando
que a moça passasse por avaliação psiquiátrica. Muitos não
acataram a versão oficial de que as denúncias não valiam mais que
meras fantasias infantis. Um grupo de doze congressistas, encabeçado
pela senadora </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Loran Schmit</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, criou uma comissão paralela de
inquérito. Partindo da brilhante ideia de seguir o dinheiro
envolvido no esquema Ponzi de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">King</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, o grupo rastreou os valores a
despesas com festas sexuais. </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Loran Schmit</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> diz que na mesma época
recebeu uma ligação anônima, de um membro do Legislativo, que a
orientou a encerrar os trabalhos da comissão do escândalo do
Franklin Federal Credit Union, pois os efeitos colaterais
respingariam nas sujeiras íntimas de gente da casta do Partido
Republicano. A senadora largou o caso, e pôde se considerar bem
afortunada, pois o assédio não passou da esfera moral. Não
aconteceu o mesmo, por exemplo, ao investigador principal do comitê
no senado, </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Gary Caradori</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. Ele era membro do comitê escalado para
revisar os eventos em Nebraska. Patrulheiro aposentado e dono de uma
firma de investigação, </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Caradori</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> tinha um talento nato para
encontrar crianças desaparecidas. Em novembro e dezembro de 1989,
entrevistou três jovens aos seus 20 e poucos anos cujas infâncias
haviam sido </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">destr<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">uídas</span></span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> por</span><i style="font-family: arial, sans-serif;"> Lawrence E. King</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">. </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Caradori</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> gravou mais de
vinte horas de entrevista em fita. Os meninos entregaram o esquema
das orgias, e pessoas de muito prestígio social assustaram-se com a
possibilidade de vazamento. </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Caradori</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> havia voado para Chicago, onde
conseguira </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">fotografias </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">e provas das orgias. Antes de subir no avião para
retornar a Nebraska, avisou a mulher que as pessoas envolvidas não
teriam como negar seus papéis, as provas falavam por si. Ele
retornava para casa em um pequeno avião particular, com o filho
pequeno, quando a aeronave explodiu em pleno </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">ar</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, segundo os relatos
de testemunhas em terra. Reportagens da grande mídia, porém,
ventilaram uma versão diferente (o avião teria explodido no impacto
com a terra), certamente um complô para descaracterizar o óbvio
trabalho de sabotagem. A pasta pessoal de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Caradori</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, com as
fotografias, jamais foi encontrada, e sua memória e honra pessoal
sofreram viciosos ataques nos anos seguintes, uma tentativa de
desacreditá-lo. A morte de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Caradori</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> assustou as testemunhas, e o
caso foi progressivamente esquecido. O escândalo de Franklin,
todavia, continua a intrigar uma série de pessoas familiarizadas com
a lenda urbana. Como um vespeiro, quanto mais se mexe nos fatos, mais
coisas absurdas e loucas surgem com seus desdobramentos. O escândalo
de Franklin permanece intimamente ligado a um outro, tão sinistro
quanto, o da abdução de </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Johnny Gosch</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, em 1982. Se eu fosse falar
sobre o caso </span><i style="font-family: arial, sans-serif;">Johnny Gosch</i><span style="font-family: "arial" , sans-serif;">, a resenha derivaria, e perderia o foco, a
discussão sobre o filme. Basta dizer que é um dos desdobramentos
mais horríveis do escândalo de Franklin. Absolutamente
inacreditável.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Eu ilustrei o trabalho com as tétricas histórias acima para reiterar <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">uma </span>opinião: no caso dos personagens de "<i>Kill List</i>", a única coisa pior do que se perder a alma é a implicação das tempestades para onde pessoas insuspeitas caminham, quando deveriam saber melhor. Não difere tanto assim do protagonista de "<i>De Olhos Bem Fechados</i>", ao "<i>se convidar</i>" à festa na mansão Somerton, dos <i>Rothschild</i>, e entrar clandestinamente <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">na </span>orgia perpetrada pelos Illuminati. De uma hora à outra, você se descobre no horrível mundo real, bastante diferente da versão mentirosa que nos é enfiada goela abaixo. Refiro-me ao mundo por trás das cortinas, de onde poucas pessoas inescrupulosas dirigem os eventos do mundo e nos movem no sentido do caos. Faço proveito de uma brilhante linha de diálogo de um filme do grande <i>Sidney Lumet</i>, cena entre o veterano <i>Albert Finney</i> e um maravilhoso <i>character actor</i>, presença constante nos filmes de <i>Lumet</i>, já falecido, <i>Leonardo Cimino</i>. O personagem de <i>Finney </i>acaba de ter descortinado por <i>Cimino</i>, diante dos próprios olhos, o envolvimento dos filhos em uma tragédia familiar, seus papéis os de mentores do assalto que resultou na morte da esposa (e mãe dos rapazes), e ele desaba pesadamente sobre a cadeira, quase em estado de choque catatônico, arfando por ar. <i>Cimino </i>então lhe diz, de forma sabedora "<i>O mundo é um lugar terrível, Charlie. Algumas pessoas ganham dinheiro com isso, outras são quebradas ao meio</i>". Em "<i>Kill List</i>", <i>Gal </i>e <i>Jay </i>são atraiçoados pela falsa sensação de impunidade. A experiência nas Forças Armadas e o fato de virem <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">enriquecendo<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span></span>o currículo vitorioso com <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">serviços bem<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">-sucedidos (Kiev excetuado) </span></span>embargaram o sexto sentido de predador que, ironicamente, os levou longe na carreira pelo submundo. Embora <i>Gal </i>caia na real após o segundo assassinato e até sugira que deixem o trabalho, <i>Jay </i>se sente imbatível, acha que não há ninguém tão malvado quanto ele. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Mesmo <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">convicto da própria frieza</span></span>, lembremos que <i>Jay </i>chorou ao assistir aos vídeos do pedófilo no computador<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">M</span></span>esmo matador, ele ainda é chefe de família, afinal de contas,<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span>e não concebe violência <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">direcionada a</span> crianças. Nesse diapasão, <i>Jay </i>se esquece de que as pessoas atrás das câmeras, responsáveis pelo ato, não <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">nutrem </span>uma gota de remorso pelo cometimento dos abusos<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. V</span>iolência do gênero, para gente tão louca, não vale mais do que passeio no parque. Quando <i>Jay </i>transitou pelo submundo de satanistas e pedófilos, ele se arvorou no direito de encarar as trevas, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">iludido com a invencibilidade do passado. Ele acabou queimado</span>. <i>Jay </i>não esperava que as trevas o encarassem de volta. A conclusão não nos diz muito sobre o que será de <i>Jay</i>, mas o olhar demonstra claramente <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">um espírito quebrado</span>. Ele sai da experiência como cacos de vidro cujas partes jamais voltarão a se encontrar. Para os membros do culto, o resultado serviu como uma luva. A brincadeira se resumiu a um jogo de cartas marcadas, ao charme da espera. Quando você dança com o Diabo, não é o Diabo quem muda. O Diabo muda você.</span></span></span></span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/aqkqF--v1tg/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/aqkqF--v1tg?feature=player_embedded" width="320"></iframe></span></span></span></span></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i style="background-color: #eeeeee;">Todos os direitos autorais reservados a Optimum Releasing/Studio Canal UK. O uso do trailer & imagens fotográficas é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i></span></span></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i style="background-color: #eeeeee;"><br /></i></span></span></span></span></span></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9-Nz6oEnrzd5HJngiZeTd8JfWf8JelTBgbdk1lpuTsfJjxZmdOsSFx52qQUIS3uBnOS6y4CfImSjg8q3qhek4DBRBqFLg80cAEmx-PRjYG-pn4I1W98Aa57PCLmMd24C2gjrTwWojm38/s1600/Kill-list-poster.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="648" data-original-width="864" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9-Nz6oEnrzd5HJngiZeTd8JfWf8JelTBgbdk1lpuTsfJjxZmdOsSFx52qQUIS3uBnOS6y4CfImSjg8q3qhek4DBRBqFLg80cAEmx-PRjYG-pn4I1W98Aa57PCLmMd24C2gjrTwWojm38/s320/Kill-list-poster.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Eu deixei a discussão acerca <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">da mais importante e reveladora cena </span>de "<i>Kill List</i>" para o final da resenha. Sua releitura exige uma percepção com mais acuidade<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. U</span>ma vez <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">concluíd<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o o ato de assistir</span></span> ao filme, o motivo pelo qual <i>Ben Wheatley</i> a deixou na versão final <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">me parece </span>a pedra angular do arco dessas personagens. Eu me refiro à cena em que <i>Jay </i>se aproxima de um grupo de cristãos<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">,</span> e os humilha<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> com ameaças vazias</span>, deleitando-se com sua ascendência sobre gente pacífica, sem que nenhum deles esboce uma reação à altura, sequer levante o tom de voz. Depois de tantas desilusões e ciladas, quando a trama se desfecha e a cena em questão é relembrada, é interessante como nos atentamos mais facilmente que as pessoas à mesa, objeto do desprezo do protagonista, representavam a última tábua de <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">salvação </span>na curva da queda para onde os dois estavam sendo <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">cuidadosamente</span> <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">manobrados</span>, o único bastião <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">apto a </span>impedi-los de serem engolidos pela escuridão. Ainda assim, são justamente os cristãos os escolhidos por <i>Jay </i>para humilhar. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Paralelamente</span>, é revelador que a "<i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sagacidade</span></i>" do matador não funcion<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e</span> <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">tão bem quando aplicada aos </span>empregadores, os monstros por trás das cortinas. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A</span> malícia, a experiência e as armas de fogo <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">são </span>rechaçadas pelos satanistas, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">no </span>tempo certo. Eles não tinham pressa para dar o bote, e no momento do <i>Gran finale</i>, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">surpreenderam com a presença de espírito <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de </span>adicionar insulto à injúria, ao coroar </span>o "<i>herói</i>", <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">quando esfregam </span>na sua cara que a manipulação produzira o efeito desejado. <i>Jay </i>lutara com mulher & filho sem <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">muit<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a necessidade de convencimento</span></span>, e os apunhalara até a morte, apagando da face da Terra seu mais precioso <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">legado</span>, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o filho inocente</span>. Por fim, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a "<i>cereja do bolo</i>", a</span> coroa artesanal improvisada com gravetos, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">transveste o rito de passagem com a <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"<i>gozação das gozações</i>", a paródia </span></span>para aniquilar <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">quaisquer resquí<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">cios</span></span> de amor próprio do <i>super-homem nietzschiano</i>. É curioso, pois a comparação acusa gritante <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">disparidade</span>: desnudo e humilhado por satanistas, <i>Jay </i>veste a expressão <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">da </span>pura resignação. Aos insultos que lhe são proferidos, toma-os com <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a passividade e resignação de um<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a ovelha no <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">abat<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">edouro</span></span></span></span></span></span></span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. Antes disso, todavia, ele agiu diferente com os cristãos à mesa do restaurante do hotel, cujo erro imperdoável, aos seus olhos, foi o de vocalizar o amor a Deus através da música, não? O bullying verbal usado para intimidar nos agride pelo absurdo envolvido, afinal, será que o uso do violão justificaria tão velada hostilidade contra os mansos, os inofensivos? Será que <i>Jay </i>teria feito o mesmo se as pessoas conversando alto ao lado fossem os islâmicos, por exemplo? Acho que não. <i>Jay </i>me parece o tipo de gente cuja coragem é algo curiosamente seletivo & prudente. Quando protagonizam cenas daquela espécie, sabem onde pisam. Cristãos sempre foram perseguidos, pois não há nenhuma outra religião que ensine os fiéis a oferecerem a outra face. Sai <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">quase gratuito</span>, aterrorizar e humilhar pessoas que têm como um dos princípios amar os inimigos. Ninguém fez tão completo sentido no trato da questão quanto um senhor cujos vídeos eu acompanho, <i>Leonardo Bruno</i>. Ele descreveu, com <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">os incríveis </span>talento & eloquência que lhe <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">são habituais</span> <i>Os Cristãos são perseguidos justamente por aquilo que eles não são. Eles não são violentos, não são hostis, não são radicais e são extremamente tolerantes. Nós cristãos somos atacados pelas virtudes que nós temos, e não pelos nossos defeitos, ainda que nos sejam atribuídos defeitos que não existem entre nós, ou que são muito poucos, entre nós</i>. Eu me lembro então do sofrimento de Maria ao acompanhar e assistir às agressões feitas contra Jesus Cristo, e ao prestar atenção ao mundo que nos cerca, vejo que mesmo hoje, continuam a ser assaltados com malícia e animosidade. O volume acirrado e o baixo nível dos ataques às imagens de Jesus & Maria, o desrespeito a suas memórias comprovam que mais de 2000 anos desde a morte de Cristo, há uma tendência muito forte para eliminar traços das lições deixadas no rastro de sua passagem. Aos 37 anos, e, portanto, dono de uma melhor compreensão de mundo & pessoas da que eu tinha, digamos, aos 27 anos, meus olhos detêm uma sensibilidade mais aguçada para ler nas entrelinhas. Meu processo de despertar talvez tenha começado a um nível de micro consciência, íntimo (eu tinha a necessidade de compreender como & por quê algumas figuras adultas de meu passado haviam <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">agido </span>de determinada maneira; a nuvem só se dissipou quando comecei a ler extensivamente sobre transtorno da personalidade narcisista, e montar as peças do <i>modus operandi</i> dessa gente, a partir daí foi mais simples mover-me para frente com minha própria vida, sem olhar para trás), e somente então <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">evoluído </span>a uma consciência do macro (procurei desenvolver um senso crítico com mais afinco, para entender a dinâmica do mundo, a razão pela qual correntes seguem determinado sentido, foi quando estudei e compreendi coisas como marxismo cultural, algo verdadeiramente insidioso, pois imperceptível aos distraídos). Uma vez discernido o ardil<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, bem escondido </span>em meio `<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a malícia</span> característica do atual estado de coisas, pontua-se mais claramente o curso de ação <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">dedicado </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> minar </span>os pilares sobre os quais a sociedade ocidental se fundamenta: o direito romano, a filosofia grega e o cristianismo. O assalto se dá de <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">distintas</span> frentes, e simultaneamente. A televisão e a propaganda são ponta de lança, seu golpe o de relativizar as coisas que nos afastam de Deus a ponto de perdermos o senso da autocrítica. Há pouco tempo, atores e atrizes de uma emissora de televisão apareceram em um vídeo pró-aborto, com perucas azuis e barrigas postiças, uma imagem verdadeiramente agressiva, odiosa e debochada. A ideia defendida bastaria para criar aversão à maioria das pessoas, que mesmo canhoneada pela propaganda, recusa este tipo de maldade. Não satisfeitos em levantarem a bandeira, o nível do ataque, a intensidade do ódio no discurso emanava da televisão como quentura de pura vingança. A forma como se deturpa a história de Maria e se tenta atirá-la à lama para justificar uma ideia tão perversa valeu ao vídeo um número recorde de avaliações negativas, felizmente. Uma moça escreveu, com assertividade, denunciando a maquiavelice dos idealizadores da jogada <i>Parece que mesmo hoje, nos nossos dias, Herodes ainda quer as cabeças de nossos filhos</i>. Em paralelo aos ataques a uma religião fortemente definida pelo perdão & amor ao próximo, a tendência encoraja animosidades ao subir algumas notas o tom do politicamente correto dos discursos, estranhando-nos cada vez mais de nossas convicções pessoais, ou mesmo de verdades absolutas que existiam muito antes que tivéssemos posto os pés no mundo. A pessoa contemporânea se tornou dependente de <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">gente </span>com diplomas, compromissada com uma determinada agenda<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. A</span>quilo sentido na privacidade do íntimo, instintivamente, deixou de importar. Voltando ao ponto sobre o qual discorria, sobre a percepção do que me foi feito <i>vs.</i> percepção de mundo, parece-me intrigante como as coisas se reproduzem de modo similar, apenas em distintas escalas, quando deixam o micro para reverberar na compreensão particular do macro. Quando passei a me aprofundar na leitura sobre o transtorno da personalidade narcisista, e me identificar como alvo circunstancial da chantagem psicológica de pessoas do tipo, durante a segunda metade da infância até o fim da adolescência, mesmo que por um curto espaço de tempo, 4 semanas <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">para cada </span>ano, aprendi que transcender lembranças de desrespeitos sofridos requer a construção de todo um novo arcabouço moral, até porque as recordações que <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">trazemos </span>conosco <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">foram </span>viciadas. Uma das características mais pérfidas dessa gente é a habilidade <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de </span>incutir no sistema de crenças da vítima a falsa noção de que elas mesmas motivaram o castigo, as agressões, os abusos psicológicos, de que as vítimas, por alguma razão, trouxeram os problemas para si. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Transcender </span>narcisistas exige a eliminação de ilusões. Por mais que você revisite fatos e procure compreendê-los pela luz do racional, a simples, dolorosa constatação é a de que, do momento em que <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sua </span>narcisista entrou na sua vida, <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ela </span>trazia consigo um plano armado, sabia exatamente o que queria. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Ela </span>apenas foi <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">acrescentando</span> testes no caminho para descobrir a melhor maneira de obter suprimento emocional (drama), <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o único real interesse dos narcisistas</span>. Nesse sentido, vencer <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a </span>narcisista passa por um processo de travessia <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">através do </span>vale do luto, com direito aos cinco clássicos estágios do modelo de Kubler-Ross: Negação, Raiva, Negociação, Depressão & Aceitação. O luto se dá como <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">resposta natural à</span> "<i>morte</i>" de uma "<i>pessoa que nunca existiu</i>". Entender os mecanismos do narcisismo desarma as artimanhas com que nos aprisionam, uma delas a <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">enganosa </span>crença de que, de um jeito ou outro, mesmo quando <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">agem </span>com crueldade, se importam conosco. Eu me lembro de algo que um senhor disse, com brilhantismo, ao tecer considerações sobre o transtorno da personalidade narcisista. Assisto aos seus vídeos e aprendo um pouco mais a cada nova postagem. Com razão, ele comparava o calvário de relacionar-se com uma narcisista a um passeio de carrinho através da "<i>casa de espelhos</i>", no parque de diversão. Vocês devem conhecer uma "<i>casa de espelhos</i>", não? Nada dentro de uma "<i>casa de espelhos</i>" parece real. Na verdade, os criadores a bolaram com o intuito de <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">nos</span> divertirem, entreterem<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. No que tange a <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">verdade, porém,</span></span> vocês jamais a encontrarão ali dentro. Você entra na "<i>casa de espelhos</i>", assusta-se com os reflexos, admira-se com as fantasias visuais no percurso, da entrada até a saída, e aceita a proposta do lugar<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">:</span> distração. Quando uma narcisista te puxa para dentro dos jogos, acontece a mesma coisa, só que a pessoa marcada para sofrer os abusos psicológicos <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">embarca no trem d</span>aquela "<i>casa de espelhos</i>" com as melhores intenções, sem ideia d<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">e onde <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se enfiou</span></span>, esperando encontrar honestidade, verdade, amor e proteção, como qualquer pessoa saudável ao entrar em uma relação. Dentro da casa, porém, você só enxerga armadilhas, distrações, chantagens. Você não se conforma, esperneia para tentar encontrar alguma lógica na escuridão. Você sai momentaneamente frustrado da "<i>casa de espelhos</i>", mas jamais deixa de revisitá-la. Nos passeios seguintes, aplica ainda mais lógica à análise. Tenta encontrar verossimilhança, verdade, correspondência<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> e </span>afeto, e consegue <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">cruzar a linha de chegada</span> ainda mais confuso, duvidando de si mesmo, da capacidade de percepção, crê que há algo de errado na equação, não na "<i>casa de espelhos</i>", mas na própria conduta, uma culpa que <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">carregamos</span> conosco para a fase adulta, a cicatriz preferida imposta <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pela </span>narcisista. Este <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pessoal</span> necessita de alguma garantia de que jamais os esqueceremos, mesmo anos depois do "<i>descarte</i>". Assim como qualquer rito de passagem, compreender o transtorno da personalidade narcisista, penoso que seja, permite fazer as pazes com a constatação de que o tempo inteiro, você apenas <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">transitou dentro de </span>uma "<i>casa de espelhos</i>" projetada para <i>não </i>fazer sentido, e a culpa jamais <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">foi sua</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. T</span>rata-se da natureza da "<i>casa de espelhos</i>", <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">apenas </span>isso</span>. Não é nada pessoal, na verdade<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">. A</span> razão de existir do passeio atende somente <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">à finalidade </span>de entreter, chocar e divertir, simultaneamente, nada real, ou mais profundo ou sério. Você "<i>dá adeus</i>" ao narcisista, e a imagem fantasiosa se perde depois de um traumático rompimento. Uma vez substituída pela constatação de que nada daquilo foi <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">genuíno</span> e você foi escolhido e assediado pelas suas boas qualidades, a imagem se desmancha como uma fotografia borrada. Você consegue <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">reencontrar paz</span>, reconhecer ciladas, e jamais, <i>jamais </i>querer <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">qualquer envolvimento </span>com coisas do tipo. <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">É compreensível a raiva que <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">experimentamos </span>por um tempo após o despertar, contudo quando levamos em consideração que este joguinho começa na infância, quando somos crianças, entendemos que não havia nada que pudesse nos salvar das garras dessa gente, só o tempo. </span>Eu <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">me sinto </span>como o <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">homem cuja casa <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">esteve</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span>n<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a rota </span></span>d<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o</span> tornado: ele perde todas as posses, a vida é virada de cabeça para baixo, o interior ao avesso, as roupas rasgadas e a cara esfregada na lama, mas ele transcende a provação e sente uma felicidade incomparável por ter sobrevivido. Aos 37 anos, eu também cheguei à conclusão de que, assim como ocorre aos narcisistas, há mais ao mundo do que possamos capturar a olho nu, e quanto mais os anos passam, mais rapidamente percebo que, do mesmo jeito que fizeram comigo lá atrás, o próprio mundo, por vezes, se presta ao jogo de cenas onde as verdadeiras forças se aproveitam da corrente do momento para tentar "<i>nos ganhar</i>" através de barganha e truque. Eu tenho lido sobre a elevada temperatura da geopolítica mundial, por exemplo, pessoas ventilando as chances de um grande conflito mundial. O mundo nunca mais verá um <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">confronto </span>aberto com a mesma escala do de 1939-1945. O cenário delineado por coisas como "<i>O Dia Seguinte</i>" torna-se menos provável. A discussão, mais filosófica do que bélica, passa obrigatoriamente pelo crivo da salvação individual. Como o psicopata<i> Antonio Gramsci </i>explicou, "<i>o mundo civilizado tem sido saturado com cristianismo por 2000 anos, e um regime fundado em crenças e valores judaico-cristãos não pode ser derrubado até que as raízes sejam cortadas</i>". Com a inversão do processo revolucionário, com a realocação da estratégia, pinçada dos <i>fronts </i>e inserida nas mentes, <i>Gramsci </i>deu o diabólico salto evolutivo desapercebido pelos precursores, e salvou <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sua causa maldita</span>. Quando as pessoas tiverem sido alienadas a ponto de terem esquecido de onde vieram, ou perdido a noção de onde desejam chegar, as armas serão obsoletas, pois as ovelhas estarão dançando festejantes, à beira do abismo, até mesmo gratas aos escravizadores. Nada então poderá reverter o processo. Vocês não conseguem realmente enxergar uma conexão entre coisas como a propaganda de artistas pelo aborto & as instruções diabólicas descritas por <i>Gramsci</i>? O conflito se <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">dá </span>no tabuleiro das ideias, do arcabouço moral individual, das convicções pessoais, sem que uma bala precise ser disparada. A Terceira Guerra Mundial começou há muitos anos, quiç<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">á</span> nos anos 60. Hoje, encontra-se praticamente resolvida, apenas não na forma do <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">cl<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">í</span>max encenado pelos filmes</span>. Quando <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">me permito eventu<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">ais </span>recordações d</span>a "<i>casa de espelhos</i>", e noto quão <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">fácil as aventuras <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">passageiras ocorridas no meu parque se repetem com outras matizes no mundo para além da janela do quarto</span></span>, do micro ao macro, fico cada dia mais certo que todos nós nos encontramos sob um teste. Esta galáxia inteira é um teste. Que Deus nos proteja.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Amigos, gostaria de aproveitar a oportunidade para<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span>deixar meus votos de Feliz Natal & Próspero Ano Novo, caso não volte a <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">postar até dezembro</span>. Não posso agradecê-los o suficiente pela generosidade de acompanhar o trabalho no blog. Permitam-me desfechar a resenha com um trecho do livro "</span><i style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Introdução à Nova Ordem Mundial</i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">", do Sr. <i>Alexandre Costa</i>, cuja sensibilidade lhe permitiu descrever com <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">objetividade </span>parte dos temas explorados pelo filme:</span></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"<i>A NOVA ORDEM MUNDIAL SERÁ UMA DITADURA totalitária disfarçada </i></span><i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de democracia, mas sem alguns dos seus principais parâmetros. Não teremos </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">liberdade de expressão, presunção de inocência, igualdade de direitos perante a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">lei e outros direitos naturais. Continuarão existindo partidos, cargos e um sistema </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">eleitoral, mas só serão permitidos candidatos que estejam dentro de um espectro </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">político bem estreito, e mesmo seus extremos devem continuar dentro da </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">margem de segurança. Esta farsa já está em funcionamento em muitos países, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">inclusive no Brasil.</span></i></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><br /></i></span>
<i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">As liberdades individuais serão extintas, e os interesses da coletividade estarão </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sempre acima dos direitos individuais. O poder do governo será total e todas as </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">atitudes humanas serão controladas.</span></i></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><br /></i></span>
<i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Os valores serão invertidos, as virtudes serão perseguidas e os pecados </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">exaltados. A promiscuidade será regra, como previu Aldous Huxley em </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Admirável mundo novo.</span></i></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><br /></i></span>
<i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Família e laços de amizade incondicional serão proibidos ou vistos como </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">atrasados, 'não solidários' ou até mesmo como atos perniciosos. A educação </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">infantil será em tempo integral para permitir melhor condicionamento. Passarão </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o dia todo na escola e sua convivência com familiares se dará apenas nos finais </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">de semana sem atividades escolares programadas. As pessoas serão cooptadas </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pelo sistema desde a infância, da mesma forma e com os mesmos interesses que </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">os porcos raptaram os filhotes da cadela em A Revolução dos Bichos.</span></i></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><br /></i></span>
<i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Vigilância e controle estão na essência da Nova Ordem Mundial. Os </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">indivíduos serão vigiados no trabalho, nas ruas e em casa. Sob algum pretexto de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">segurança, serão obrigatórias câmeras nas residências, como no livro 1984 de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">George Orwell. Todos os objetos, pessoas e documentos serão rastreáveis. Os </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">chips indicarão tratamentos médicos obrigatórios. Todos serão obrigados a </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">exames freq<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">u</span>entes para prevenir 'doenças' ou possíveis comportamentos </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">inconvenientes ou 'perigosos'.</span></i></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><br /></i></span>
<i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O sistema financeiro internacional controlará a vida do indivíduo na medida </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">em que o dinheiro físico não mais existirá e o lastro não será nem mesmo </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">lembrado. O dinheiro eletrônico vai permitir o poder econômico absoluto em </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">pouco tempo, ou seja, ao produzir dinheiro do nada, os bancos internacionais </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">tendem a controlar todas as propriedades e recursos do planeta em não mais do </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">que algumas décadas após o fim do dinheiro em espécie.</span></i></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><br /></i></span>
<i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O chip de identificação (RFID), que já é uma realidade, será obrigatório. Seu </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">substituto natural será menos invasivo e talvez apenas uma marca na pele seja </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">suficiente. Próteses e implantes não serão mais acessórios indesejados e passarão </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a ser objeto do desejo e sinal de status. Como no livro Neuromancer, de Willian </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Gibson, implantes serão utilizados para amplificar a capacidade e a potência dos </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">sentidos e dos órgãos. Não será incomum pessoas amputarem seus membros </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">para substituí-los por próteses sofisticadas. O transumanismo fará parte do dia-a-dia, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">assim como a misturas genéticas entre humanos e animais. Implantes de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">órgãos sensoriais interligados com sistemas de informação poderão gravar e </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">transmitir todas as informações vividas e os aparatos de controle estarão dentro </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">do indivíduo.</span></i></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><br /></i></span>
<i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Rebeldes serão caçados por redes integradas de câmeras e sensores, ou </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">deletados do sistema e desta forma não poderão comprar, viajar nem entrar em </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">qualquer edifício. Qualquer resistência enfrentará o mais sofisticado sistema de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">repressão já conhecido, com poder e tecnologia inimagináveis.</span></i></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><br /></i></span>
<i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Todas as formas de comunicação serão efêmeras. Os registros da História </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">serão todos feitos em suporte digital, o que permitirá recontar fatos históricos de </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">acordo com a circunstância e o interesse do governo.</span></i></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><br /></i></span>
<i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">No início, apenas a religiosidade vazia será permitida. Mais tarde toda e </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">qualquer forma de manifestação religiosa será desmotivada, reprimida e punida. </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O ateísmo será a religião oficial, mas o objetivo dos planejadores da Nova </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Ordem Mundial é o satanismo, que eles costumam chamar de luciferianismo.</span></i></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i><br /></i></span>
<i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Estes são os desdobramentos que vejo para a situação atual. Minha previsão é </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">realmente negra. Acredito que se não acontecer uma interferência divina, </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">teremos um futuro macabro. Mas como a História é dinâmica, muita coisa pode </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">mudar, algumas podem atrasar, outras podem acelerar. Nada mais posso dizer </span></i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>sobre o futuro</i>".</span></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">(</span>COSTA, ALEXANDRE. <i>Introdução à Nova Ordem Mundial</i>. 2ª Edição. São Paulo: CEDET – Centro de Desenvolvimento Tecnológico e Profissional,
2015. 133 p.).</span></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"<i>Eu sou o Caminho, e a Verdade, e a Vida</i>". - Jesus Cristo.</span></span></span></span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "arial" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></span></span></div>
</div>
Anonymousnoreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-2420852314789254092016-09-09T14:22:00.001-07:002021-03-18T16:36:46.546-07:00O Vingador ("Murphy's Law", 1986, J. Lee Thompson). O canto do cisne da carreira de Bronson é um brutal banho de sangue motivado por vingança.<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4c_SPO3I-_BIm3JbySRYJvrKhY3xbNavLjJzAMij77lkZgjnr8g7_8jWXAD9OBVeuTxirQIBiejFjk4KtjKr0-GTS2KSRUWPsJf_dgMT4yOjxE0sEWRJUmFT_shiAb_hcBCJfe85gTeg/s1600/Murphys-law.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="768" data-original-width="515" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4c_SPO3I-_BIm3JbySRYJvrKhY3xbNavLjJzAMij77lkZgjnr8g7_8jWXAD9OBVeuTxirQIBiejFjk4KtjKr0-GTS2KSRUWPsJf_dgMT4yOjxE0sEWRJUmFT_shiAb_hcBCJfe85gTeg/s320/Murphys-law.jpg" width="214" /></span></a></div>
<span style="font-family: arial;"><i>Charles Bronson</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> interpreta </span><i>Jack Murphy</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, tira veterano da Força Policial de Los Angeles, e, quando o filme abre, só de vê-lo entrar em cena pela primeira vez, podemos deduzir que este cara já viu dias melhores. </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">deixa o supermercado com o saco de compras bem a tempo de flagrar uma jovem delinquente fazendo uma ligação direta no seu carro. Quando </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">abre a boca para exclamar "</span><i>É meu carro!</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", a moça já pisa no acelerador e deixa o estacionamento. </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">consegue atirar o saco de compras no vidro da frente, o que a atrapalha a ponto de perder o controle sobre o volante, atravessar uma vitrine e ir parar dentro de uma diner, onde fregueses são surpreendidos pelo inusitado acidente. Rápida e astuciosa, ela teria conseguido correr e despistá-lo</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, não fosse o azar de se meter em um beco sem saída. </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">dá um disparo de aviso, para o alto, apenas para que deixe de fugir e trate de se entregar. Quando <i>Murphy </i>abaixa a guarda por tomar a situação como inofensiva, a hábil ladra distrai o policial ao lhe perguntar "</span><i>Por que todos os homens da Força têm aquilo pequeno</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", pondo-o de quatro com um bem dado chute entre as pernas. Ela consegue escapar, mas seus caminhos se cruzarão um pouco mais tarde. Aprenderemos que eles se tornarão amigos & parceiros durante uma improvável fuga. Os créditos do filme abrem ao longo da sequência seguinte, por meio da qual somos apresentados ao ritual de despertar de </span><i>Murphy</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, e tiramos algumas acertadas conclusões a respeito do personagem. Ao lado do retrato de uma mulher bonita, há uma garrafa de Jack Daniels, e os detalhes no desleixo do quarto, a cama onde ele acorda solitariamente, nos sugerem que </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">foi deixado pela esposa, a mulher bonita da foto. O barulho do telefone o desperta do torpor, e ele é acionada para uma ocorrência, convidado a comparecer a uma cena de crime, as investigações já em curso. Muito contrariado e desanimado, o acompanhamos cumprindo os rituais matinais básicos de higiene enquanto tenta manter a aparência da sobriedade, por mais que os amigos da Força suspeitem de seu problema com álcool.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoPT9Nr751GuY8wMRAcJlrLollfms0l5v0Tfzl4kX79Ld0mz5dpt2KXWv-1td5Y2rABrkkKMhMJR4t1ylWkNQmZYToSxUWYmk4sxApzqvq4_1wSixr-gpsYYTp9FC0ix5Pq8XGmMHaGm0/s1600/murphys-law-jack-murphy-bronson.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="304" data-original-width="380" height="256" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoPT9Nr751GuY8wMRAcJlrLollfms0l5v0Tfzl4kX79Ld0mz5dpt2KXWv-1td5Y2rABrkkKMhMJR4t1ylWkNQmZYToSxUWYmk4sxApzqvq4_1wSixr-gpsYYTp9FC0ix5Pq8XGmMHaGm0/s320/murphys-law-jack-murphy-bronson.jpg" width="320" /></span></a></div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">A cena do crime, um túnel num local ermo, já foi isolada pela
polícia. Ele é recebido pelo amigo <i>Art </i>(<i>Robert F. Lyons</i>), que o
põe a par das informações, até aquele momento. Uma jovem
prostituta foi encontrada morta. <i>Murphy </i>pinça um detalhe do chão do túnel,
até então imperceptível aos demais, um colar. Há um nome grafado na
medalha, "<i>Anthony Alberto Vincenzo</i>". <i>Anthony </i>é o irmão mais
jovem de <i>Frank Vincenzo</i>, um notório gângster & narcotraficante distribuidor do cartel colombiano. Por mais que tenha ficado muito próximo de pegá-lo,
<i>Murphy </i>jamais reuniu provas para pô-lo definitivamente atrás das grades. O irmão,
<i>Anthony</i>, também não vale nada, e, diferente do primogênito, mais
centrado no negócio das drogas, circula socialmente como agente de
talentos, para abusar de mulheres. De posse do medalhão, a Polícia terá como conectá-lo ao homicídio. Sem desperdiçar a oportunidade de
azucrinar o irmão mais velho de <i>Anthony</i>, <i>Jack </i>visita o gângster no</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> restaurante de luxo preferido. Com muita satisfação, explica como
colocará o irmão na cadeia, exibindo o mandado e recomendando que
comece a falar sobre o paradeiro de </span><i>Anthony</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. </span><i>Frank </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">se esquiva afirmando que não
o vê há um bom tempo. Aqui, há uma interessante linha de diálogo que nomina o
filme. <i>Vincenzo </i>pergunta a </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">se o tira já ouviu falar na "</span><i>Lei de Murphy</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". Se algo puder dar errado, dará mesmo! Ele está ameaçando sutilmente o policial. </span><i>Murphy
</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">retruca, sem se intimidar, que a única "</span><i>Lei de Murphy</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" que conhece é a "</span><i>Lei de Jack Murphy</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", muito mais simples: </span><i>Não brinque com
Jack Murphy</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQ35SQ59xkFnut-8zbQCrRzShJSis0uNkfIl-SOoQWpGFdpMBOlkFZcb5PxXeuiMyZdnaUiNxuNLmrSQME5aefZSfOpaH26u4OAcKtfFhf1dBME1NSi50zgzg73Vyme0JUnxphYN6-RSo/s1600/murphys-law-movie-still-1.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQ35SQ59xkFnut-8zbQCrRzShJSis0uNkfIl-SOoQWpGFdpMBOlkFZcb5PxXeuiMyZdnaUiNxuNLmrSQME5aefZSfOpaH26u4OAcKtfFhf1dBME1NSi50zgzg73Vyme0JUnxphYN6-RSo/s320/murphys-law-movie-still-1.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxbHf3O5JWc-LKHYfFZRpWqfaux9zTGMn0TTJRwxFrByp1Y7_jIBs7_bBikIcyfRGSEoahcehjmKo0W9GCCsJq1jBtCotNr9S8vw77oS0fydr6O4cJ2yOc6-YVWC2wl41wb6EBftyRm3Q/s1600/murphys-law-movie-still-2.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxbHf3O5JWc-LKHYfFZRpWqfaux9zTGMn0TTJRwxFrByp1Y7_jIBs7_bBikIcyfRGSEoahcehjmKo0W9GCCsJq1jBtCotNr9S8vw77oS0fydr6O4cJ2yOc6-YVWC2wl41wb6EBftyRm3Q/s320/murphys-law-movie-still-2.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Naquela mesma noite, uma mulher loira chega a Los Angeles. Ainda não
sabemos nada sobre a estranha, chamada </span><i>Joan Freeman</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> (uma performance
vencedora de </span><i>Carrie Snodgress</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">), mas ela está de visita para acertar as contas com um número de pessoas. Ela se encontra com um detetive particular, a quem
dera a incumbência de rastrear os nomes de uma lista, e fornecer seus endereços &
telefones. Alguns nomes demandaram mais trabalho, então ele
sugere que o preço de seus serviços deva sofrer um incremento. A mulher e
o homem conversam em um banco, à beira do lago, e como o fazem a um horário bem avançado da noite, não há ninguém ali por perto.
O detetive não sabe com quem está lidando, e ao sugerir que vazará as informações para as
pessoas da lista, caso a demanda por honorários não seja atendida, assina a própria sentença de morte. Ela o distrai
prometendo pagar os dois mil dólares extra, mas ao invés da
carteira, saca da bolsa um revólver. O homem ainda tenta deixar a questão por menos, e dar as costas para partir, mas ela o orienta a
permanecer parado, caso não queira morrer. Instruindo-o a abrir a boca,
como em uma consulta médica, ela desliza o cano da arma para dentro e
atira. </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">recebe uma intimação para comparecer ao tribunal,
para finalizar o trâmite do divórcio. A razão pela qual tem vivido
uma existência desregrada, portanto, se deve ao fato de ter sido
deixado pela mulher, há pouco tempo. O divórcio será o menor dos
problemas, pois </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">logo se verá metido em um jogo muito mais
perigoso, bolado pela vingativa </span><i>Joan Freeman</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, que ressurgiu somente
agora para torturá-lo, revanche por um fato consumado há
mais de uma década, conforme saberemos, chegado o tempo certo. Ele recebe
uma ligação, e estranha quando uma voz feminina desconhecida lhe pergunta se se
trata de </span><i>Jack Murphy</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> do outro lado da linha. Assim que confirma,
a estranha desliga. Um segundo telefonema o deixa mais constrangido, a
ponto de perguntar se se trata de um jogo. Ela vai direto ao ponto, e
revela que o jogo está apenas começando. Ela promete matá-lo, não
sem antes fazê-lo passar uma temporada no inferno. </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">reage
surpreso com tanto ódio, e antes que possa esboçar uma resposta à altura,
</span><i>Joan </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">bate o fone com um sorriso malicioso e cheio de ideias
perigosas.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyMUr0HUSjyRs2gVHm3hef0adgUvRvGOpfmFBRShE9XHFjkgLf091kLKgVUVx4iBW_mHtMZ10MqQfGqPehVmjMZxRwFNMzLNNIEDyAmctRsAUCjF6b9FeKVOVDF_QeC9ybddXPdgpUsdM/s1600/murphys-law-movie-still-3.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyMUr0HUSjyRs2gVHm3hef0adgUvRvGOpfmFBRShE9XHFjkgLf091kLKgVUVx4iBW_mHtMZ10MqQfGqPehVmjMZxRwFNMzLNNIEDyAmctRsAUCjF6b9FeKVOVDF_QeC9ybddXPdgpUsdM/s320/murphys-law-movie-still-3.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJbXZEXVravVVcEyEbcqUpc2PGaZIcEvtdr1-6NLFkoygy3FzyQIpzeBXSL2aPM-XhEwyW3G8quyvhd2sjvZIzm7BTJztUNLcPs_alFyMQOv3MQ82PlkABSM0IwxvI_a6Q8VQ5puyGFYE/s1600/murphys-law-movie-still-4.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJbXZEXVravVVcEyEbcqUpc2PGaZIcEvtdr1-6NLFkoygy3FzyQIpzeBXSL2aPM-XhEwyW3G8quyvhd2sjvZIzm7BTJztUNLcPs_alFyMQOv3MQ82PlkABSM0IwxvI_a6Q8VQ5puyGFYE/s320/murphys-law-movie-still-4.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">A vida de <i>Murphy </i>está a um sopro de mudar, e na manhã seguinte,
ao sair de casa para o trabalho, não se apercebe da vigília que já
a partir daquele momento <i>Joan </i>faz sobre sua vida, como um
predador se preparando para o bote. No trabalho, ele é amolado
por <i>Ed</i>, um colega da Força, que o provoca com comentários sobre ter
visto a ex-mulher de <i>Murphy </i>em uma boate de <i>strip-tease</i> (ela ganha a
vida como dançarina, e deixou o casamento para se relacionar com
o dono da casa noturna). <i>Murphy </i>cai na armadilha e acerta o colega com um
murro, o que principia uma pequena confusão. Sargento <i>Nachman </i>o
chama para uma reunião a sós no gabinete, e lhe dá um sermão sobre
não ser o único homem divorciado da Força, pois cerca de ¾ dos tiras
passam pelo mesmo problema. Ele o aconselha a retomar as rédeas da própria vida
antes que se afunde em uma garrafa. <i>Art </i>dá a notícia a <i>Murphy</i>: a
segurança do aeroporto internacional acaba de avisá-los que <i>Anthony
Vincenzo</i> foi visto no salão de embarque, e o voo decolará dentro dos
próximos 20 minutos. Assim que reconhece os policiais, <i>Anthony
Vincenzo</i> saca da maleta um revólver e usa uma pobre aeromoça como refém. Filmes de ação dos anos 80 costumam ser deliciosamente exagerados, e, aqui, pelo menos hoje, muitos anos após o lançamento em vídeo, a forma como o momento foi orquestrado me causa algumas risadas involuntárias (o jeito com que <i>Anthony Vincenzo </i>adverte os policiais, em uma atuação tão sofrível quanto arranhar o quadro-negro com pregos, "<i>Stay away from me or I'll blow her fucking head off!</i>" & a reação aborrecida, porém nem tão preocupada assim de <i>Bronson</i>, como se seu gato tivesse apenas derrubado o abajur do criado-mudo e ele estivesse pensando "<i>Eu tô velho demais pra isso!</i>", ainda me fazem menear negativamente a cabeça, com um sorriso divertido). Prometendo executá-la caso os policiais se aproximem,
<i>Anthony </i>tenta despistá-los nos corredores que dão para os portões
de embarque. Em uma chocante novidade, mesmo para um filme violento
estrelado por <i>Charles Bronson</i>, o bandido estoura os miolos da
comissária e o corpo sem vida desliza pela parede deixando uma faixa de sangue, o que dá a <i>Murphy </i>o incentivo extra para usar força
bruta e resolver o impasse. Ele fuzila o bandido e o impacto das
balas atira o corpo de <i>Anthony </i>através do portão de vidro.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPD4BDb2rhZdhtuPreWTuHTAuFpKfjkIowddK4BCrsn3BTXfXJ1P7KnYtjl3a4JrHnRWw0YtiNLj3NEDPw8HScVZjMQes3ws2vcsroR5I8U4NcSw0APK4W5iwBSViESGz6edGJeNXZ8Vk/s1600/murphys-law-movie-still-23.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPD4BDb2rhZdhtuPreWTuHTAuFpKfjkIowddK4BCrsn3BTXfXJ1P7KnYtjl3a4JrHnRWw0YtiNLj3NEDPw8HScVZjMQes3ws2vcsroR5I8U4NcSw0APK4W5iwBSViESGz6edGJeNXZ8Vk/s320/murphys-law-movie-still-23.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKW825f2P8FeEaK0Q610JbsqgVznAeBDLmUiU5j4B3ezLEVfmqIuuEaKGfKi2UfxOoWkJx3rAcKJ_DItof_ZJ4fscaCZ-4l3V1s5ILA2OVbMxzuJl6gZTcZzCDb3XwKLfdtgOvDWdbgIY/s1600/murphys-law-movie-still-24.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKW825f2P8FeEaK0Q610JbsqgVznAeBDLmUiU5j4B3ezLEVfmqIuuEaKGfKi2UfxOoWkJx3rAcKJ_DItof_ZJ4fscaCZ-4l3V1s5ILA2OVbMxzuJl6gZTcZzCDb3XwKLfdtgOvDWdbgIY/s320/murphys-law-movie-still-24.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">A mãe dos irmãos <i>Vincenzo </i>faz seu filho mais velho, <i>Frank</i>, jurar
que arruinará a vida de <i>Murphy</i>,<i> </i>como represália pela morte do rapaz
("</span><i>Ele era um bom garoto, um garoto decente</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", a mulher lamenta, no
funeral, com um sotaque italiano, outro instante involuntariamente hilariante, dada a performance um tanto quanto forçada, uma das razões pelas quais tanto sentimos falta dos anos 80! "<i>Eu quero esse tira bastardo morto! Eu o quero crucificado!</i>", ela determina, e <i>Frank </i>a escuta com muita atenção, enquanto meus olhos se enchem de lágrimas por causa das risadas). Agora, <i>Murphy </i>figura na lista de
vingança de dois inimigos: não somente <i>Joan Freeman</i>
deseja crucificá-lo, agora a máfia quer sua cabeça. O policial não
consegue se ajudar, e, movido por uma crise de ciúmes, visita a casa
noturna onde a ex-mulher se apresenta. Ela o vê em um canto e se dirige à mesa
após a apresentação, mas a conversa não custa a azedar quando o
possessivo <i>Murphy </i>a admoesta por trabalhar em um local de tão baixo
nível. Ela se zanga e se sai com o argumento de que é uma dançarina, e não há nada de errado naquilo. <i>Murphy</i> espera pelo encerramento da boate, escondido na sombra
do interior do carro, e quando a ex-mulher sai com o atual
companheiro, ambos aos beijos e abraços, ele os segue a uma
distância segura. Parado do outro lado da rua, precisa de um gole de
uísque para anestesiar a dor por flagrá-los chegando ao
apartamento onde agora habitam como marido & mulher. Os hábitos de <i>Murphy </i>são cuidadosamente estudados pela sempre camuflada <i>Joan Freeman</i>, que usará a rotina do policial contra o próprio, para incriminá-lo.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjASsL3tAIe5Kg5fMDr2moe447EwK8rQEg6McwcmzIOESlC5cPbFfgjuEs9eN2ewxmSIeS33n21-4OpxABdAt_1X6K_lmIkK7RNWliIi_X29H-vXumo_Gk2O5_30LBtCu9Ym-MPSfSiL9Q/s1600/murphys-law-movie-still-5.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjASsL3tAIe5Kg5fMDr2moe447EwK8rQEg6McwcmzIOESlC5cPbFfgjuEs9eN2ewxmSIeS33n21-4OpxABdAt_1X6K_lmIkK7RNWliIi_X29H-vXumo_Gk2O5_30LBtCu9Ym-MPSfSiL9Q/s320/murphys-law-movie-still-5.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZNaIpDQoH5444PtqDLZvpRIZjgRO5YHSkpcCWfrXLVVBAy3aB8BY2LR57VLPTEOlbP2gtEvXANqDbiMpttyhOTmgoI0WsUYOo5CFdDTxtSXblwZzpIT6AEjZ9EjXPLex4D-jSKzbwQi8/s1600/murphys-law-movie-still-6.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZNaIpDQoH5444PtqDLZvpRIZjgRO5YHSkpcCWfrXLVVBAy3aB8BY2LR57VLPTEOlbP2gtEvXANqDbiMpttyhOTmgoI0WsUYOo5CFdDTxtSXblwZzpIT6AEjZ9EjXPLex4D-jSKzbwQi8/s320/murphys-law-movie-still-6.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Na venda de licor onde costuma comprar bebida, <i>Murphy </i>reconhece a
jovem ladra responsável pela tentativa de furto de seu carro, no
começo do filme. <i>Arabella </i>não tem a mesma sorte de antes, e
esconder-se dentro de uma cabine no banheiro feminino não impede o
policial de ir buscá-la dentro! Ela tenta a mesma manobra, o
chute entre as pernas, mas, dessa vez, <i>Murphy </i>atentou-se para não lhe
dar chance de livrar a cara. Cobrindo-o de palavrões, <i>Arabella </i>tenta
fazer o papel de vítima ao ser arrastada à delegacia, mas as desculpas
não colam, e ela permanece sob custódia. À noite, <i>Murphy </i>se tortura ao visitar a boate para ver os movimentos da
ex-mulher stripper, que dessa vez não o trata com paciência, e vai
logo declarando que não o suporta mais a espionando. Ela tenta acertá-lo
com um tapa, mas <i>Murphy</i> detém o punho no ar. Diante do novo companheiro
da ex-mulher, ele frisa que ali no palco, ela se parece com uma
vadia, e ele, seu cafetão. Desavisado, ao entrar no carro, <i>Murphy </i>é
golpeado na cabeça, e desmaia. <i>Joan </i>tem planos para implicá-lo no
assassinato que está para cometer. Atrás do volante do carro de
<i>Murphy</i>, vestida com casaco e chapéu, com o tira desmaiado, acomodado no banco do carona, <i>Joan </i>segue a ex-mulher e
o namorado. Antes que o insuspeito casal cruze a entrada, ela
se serve do revólver do policial desacordado para fuzilá-los
através da janela. Os dois são varados por disparos que também causam estardalhaço ao pulverizarem o vidro do lobby. Um morador da vizinhança,
alerta graças à comoção, chega a tempo de anotar a placa do
carro, que arranca logo após os tiros. Satisfeita com o sucesso do
plano, <i>Joan </i>guia o carro de <i>Murphy </i>de volta à casa do policial,
e ao deixá-lo, sorri ao vê-lo ainda meio grogue, alheio ao acontecido,
desconhecedor dos últimos gravíssimos eventos.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirI5fZU0vZ1dLqrbgYAX9ygv4f7eO57x10YKibvHzG4tpGRia8H68p9Il_DlXh5CETWoHsqX0WR60FJrGtMY54JR47mBs3zcXiXryAS91ARc2zhN3unQpgOwcXfg56aNQsA96cwBit6yQ/s1600/murphys-law-movie-still-29.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirI5fZU0vZ1dLqrbgYAX9ygv4f7eO57x10YKibvHzG4tpGRia8H68p9Il_DlXh5CETWoHsqX0WR60FJrGtMY54JR47mBs3zcXiXryAS91ARc2zhN3unQpgOwcXfg56aNQsA96cwBit6yQ/s320/murphys-law-movie-still-29.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDrdejH_8ge7DzhE4PEs4TtOHOmHY76bWAoR6UllwLgb-_bIx609oLonBJnjLJPmg1s0On0qy2GUBq5-JIvDFBr7ZLhkziPpuO9mZuzh7OjeSIwj2Y_bmAOwWwEgBXwqoMZNGvmYrFyTM/s1600/murphys-law-movie-still-30.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDrdejH_8ge7DzhE4PEs4TtOHOmHY76bWAoR6UllwLgb-_bIx609oLonBJnjLJPmg1s0On0qy2GUBq5-JIvDFBr7ZLhkziPpuO9mZuzh7OjeSIwj2Y_bmAOwWwEgBXwqoMZNGvmYrFyTM/s320/murphys-law-movie-still-30.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Como de se esperar, os colegas aparecem na
porta de <i>Murphy</i>, e o levam sob custódia. Para seu
azar, <i>Ed</i>, o colega com quem teve desavenças, compilou provas muito palpitantes que o colocam na cena do crime, no horário dos assassinatos. Para <i>Ed</i>, o homicídio está recheado de elementos de um típico caso passional: <i>Jack </i>não suportou o fato de a mulher
o ter deixado, e, em um acesso de fúria, a executou junto ao amante. Resultados da balística indicam a arma de
<i>Jack </i>como a utilizada no homicídio, e o deixam indefinitivamente atrás das grades. O
destino prega uma peça quando, sob custódia, é algemado à <i>Arabella</i>, a delinquente que atazanou sua vida no começo do filme.
<i>Murphy </i>bola uma estratégia para escapar da prisão temporária, e começa a
provocar a garota ao perguntar se ela já arrumou uma namorada. <i>Arabella </i>reage conforme o esperado, dando-lhe uma saraivada
de socos, o que distrai o guarda plantonista, forçando-o a abrir a cela para
interferir na briga. <i>Murphy</i>, claro, toma a arma do policial e com
um golpe bem dado na nuca, o deixa momentaneamente desacordado. A única saída
é "<i>para cima</i>". No hall de elevadores, <i>Murphy </i>chama um deles e o põe em descida, induzindo os tiras presentes no prédio a crerem que os
fugitivos estão a caminho. Ele praticamente a arrasta para o
heliporto. <i>Murphy </i>pilotava helicópteros na época da Guerra da
Coréia. Ele embarca no helicóptero da cobertura, e decola antes que o heliporto seja tomado pelos colegas, agora perseguidores.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDplwMx8ExyAIl7UHpL6JfCuBRFFa7x6tJTHNXjpupONqIxP3BgGU-akCmqfW3yp1BT60Rmx7yhZM4rxPgI__1FIFcu2uTbik-g_5QCbr0dtb8mU2KeZMF9jFGAWvcQdNoR-HkVZcZzlw/s1600/murphys-law-movie-still-27.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDplwMx8ExyAIl7UHpL6JfCuBRFFa7x6tJTHNXjpupONqIxP3BgGU-akCmqfW3yp1BT60Rmx7yhZM4rxPgI__1FIFcu2uTbik-g_5QCbr0dtb8mU2KeZMF9jFGAWvcQdNoR-HkVZcZzlw/s320/murphys-law-movie-still-27.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmwnThz-6N5xXcaUSkEXl_m9EcByZHZ1zf5Ury2QZmN38zq6wZy44K43icS6BWNp4ySJj24U6JIURMhwIkX9mBJYmM2YPyTAAUyc1oYii3FjSsaG5FMfIEAzA3hxo0KBzPs1TPaZlkjog/s1600/murphys-law-movie-still-28.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmwnThz-6N5xXcaUSkEXl_m9EcByZHZ1zf5Ury2QZmN38zq6wZy44K43icS6BWNp4ySJj24U6JIURMhwIkX9mBJYmM2YPyTAAUyc1oYii3FjSsaG5FMfIEAzA3hxo0KBzPs1TPaZlkjog/s320/murphys-law-movie-still-28.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">A Guarda Costeira é acionada;
oficialmente, </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">& </span><i>Arabella</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, que nada tinha a ver com a situação do tira, se tornam fugitivos & cúmplices aos olhos da lei. Sem combustível, </span><i>Murphy
</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">é obrigado a aterrissar sobre um celeiro. Após um divertido e perigoso encontro com os proprietários, meia dúzia de caipiras, chocados
com a inusitada descida de um helicóptero bem sobre a plantação
de drogas, o policial rapidamente os rende e toma suas armas. </span><i>Murphy
</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">consegue iniciar a ignição de uma caminhonete, e foge para uma
porção montanhosa afastada da cidade, para a cabine do velho
parceiro, </span><i>Ben Wilcove</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> (</span><i>Ben Henderson</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">). </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">desmaia no centro da sala, e </span><i>Arabella
</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">é surpreendida quando </span><i>Ben </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">surge com uma espingarda. Ela procura sumarizar a absurda situação,
e assim que </span><i>Ben </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">percebe de quem se trata, abaixa a arma e se encarrega de socorrê-los. Tendo
servido junto a </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">na Guerra da Coréia, ele sabe como atender as escoriações, basicamente um corte na testa. Enquanto </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">se recupera, </span><i>Ben </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">prepara algo para </span><i>Arabella </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">comer, e revela de onde os dois se conhecem. Além de terem servido juntos, também foram parceiros, até que um garoto de 16 anos forçou </span><i>Ben </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">a uma aposentadoria prematura ao lhe dar um tiro na coluna. Ali na cabine, </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">e </span><i>Arabella </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">fazem bom proveito da trégua na incansável perseguição imposta pela Polícia de Los Angeles. A paz não dura, e </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">acaba estragando a trégua com </span><i>Arabella</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, quando a ladra, muito prestativa, lhe prepara um omelete para o café da manhã, e o tira faz um comentário derrogatório. Ela devolve a indelicadeza atirando o prato em </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">("</span><i>Ótimo, então não coma, vista!</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", ela exclama) e deixando a cabine. </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">sabe que chegou a hora da despedida, e até que desvende o mistério sobre quem o implicou no homicídio da ex-mulher, precisará trabalhar em dupla com </span><i>Arabella</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. Como cúmplices, seus destinos permanecem entrelaçados. </span><i>Ben </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">procura suavizar os ânimos inflamados do amigo, e o presenteia com o velho revólver calibre 38. </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">precisará da arma de fogo. Os amigos se despedem. De volta à caminhonete, o tira logo encontra a ladra, um pouco mais à frente na estrada de terra batida, e, reunindo paciência, consegue pedir desculpas com humildade, convencendo-a de que precisam trabalhar juntos.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjggyyc7dshjrNh3BFg7KXZVt7wlBE2lsF69Vlkb4V8lkcuAjuH1BGMPc29ArWuiMCQXQ8HIYLE4666pn2bMZKntP5UmJc3S5_NtGVWxUvWvyfxydz4_SueO61i7pAHfIaokXZIJWb_8bs/s1600/murphys-law-movie-still-26.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjggyyc7dshjrNh3BFg7KXZVt7wlBE2lsF69Vlkb4V8lkcuAjuH1BGMPc29ArWuiMCQXQ8HIYLE4666pn2bMZKntP5UmJc3S5_NtGVWxUvWvyfxydz4_SueO61i7pAHfIaokXZIJWb_8bs/s320/murphys-law-movie-still-26.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjByO8yVn2S1BJga2AOENO_LkTQ_nWNqZ-5XG0FZcbu3KWuNsZY2ivS3adRBK5I8OFleMeC8Ifkdz1stkm_hVYyLvvi_nfgLEI7-0bk6wZ0GljWMs94-vEHF5dSo8koCzh-luT3CGRGUWY/s1600/murphys-law-movie-still-25.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjByO8yVn2S1BJga2AOENO_LkTQ_nWNqZ-5XG0FZcbu3KWuNsZY2ivS3adRBK5I8OFleMeC8Ifkdz1stkm_hVYyLvvi_nfgLEI7-0bk6wZ0GljWMs94-vEHF5dSo8koCzh-luT3CGRGUWY/s320/murphys-law-movie-still-25.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Sempre um passo à frente, <i>Joan </i>os seguiu até a cabine. Ela não atentou contra as vidas de <i>Murphy </i>& <i>Arabella </i>porque está se divertindo com o policial, como um gato a dar patadas no rato, antes de devorá-lo. Disposta a enriquecer a lista de mortes para pô-la nas costas do tira, ela espera que <i>Murphy </i>parta, para adicionar mais um crédito. <i>Ben </i>assiste à caminhonete se afastar. Ao voltar para dentro, parece se sentir observado à distância. Ele dá pela ausência de uma das espingardas do suporte, e antes que possa compreender a situação, é lançado ao chão quando alguém enfia agressivamente o cano contra as costas. Indefeso, por um instante, <i>Ben </i>reconhece a invasora. Os motivos pelos quais <i>Joan</i> deseja se vingar de <i>Murphy </i>também envolvem o pobre <i>Ben</i>, por um confronto do passado, a ser esmiuçado mais à frente. Por ora, basta frisar que <i>Murphy </i>nem se lembra mais da psicopata, e crê que só tem de se preocupar com <i>Vincenzo </i>e a Força Policial. <i>Joan</i> saboreia a confusão no rosto de <i>Ben</i>, e então aperta o gatilho. A força do tiro da espingarda é tão forte que lança respingos de sangue na face da assassina. <i>Murphy </i>& <i>Arabella </i>só ficam sabendo do assassinato quando, tendo voltado a Los Angeles e interrompido a correria para comerem em uma diner, a ladra se assusta ao reconhecer a foto do veterano,<i> </i>na página policial. <i>Murphy </i>se sente péssimo pela morte do ex-parceiro, e novamente cita <i>Vincenzo </i>como o provável autor do atentado. Ele recomenda que <i>Arabella</i> se afaste, mas a ladra explica que só se verá livre se <i>Murphy </i>também provar a inocência. Eles permanecerão juntos até o fim da aventura. O tira assevera que se quiser trabalhar em dupla, deverá escutar & seguir suas determinações.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgj7XUnJw7jyK51a3KsT8Vo4A_igcELlc1w86UhuySZp0wWK9QfdSrdQWEr0egvJzCEsZArtHt8Vgrt7XAYagoDGsXBYFwhVP7b1Enblakd9vZlrx3uksgGG99I3pnGmE28W_BM870zHLU/s1600/murphys-law-movie-still-13.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgj7XUnJw7jyK51a3KsT8Vo4A_igcELlc1w86UhuySZp0wWK9QfdSrdQWEr0egvJzCEsZArtHt8Vgrt7XAYagoDGsXBYFwhVP7b1Enblakd9vZlrx3uksgGG99I3pnGmE28W_BM870zHLU/s320/murphys-law-movie-still-13.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihQx4UjMVz3Us5jiZv1vSCvbMmfQj4UxNPYzEHugMZHjAZ7HSqrq4UPYVVGZV6yuk8O7U90iQniyMOnmD2hWLEPbYG6Z9ifGVIT9jpTdQk59bRv2_tA2jP7kz_r9JS95FByMvgJtDjDOA/s1600/murphys-law-movie-still-16.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihQx4UjMVz3Us5jiZv1vSCvbMmfQj4UxNPYzEHugMZHjAZ7HSqrq4UPYVVGZV6yuk8O7U90iQniyMOnmD2hWLEPbYG6Z9ifGVIT9jpTdQk59bRv2_tA2jP7kz_r9JS95FByMvgJtDjDOA/s320/murphys-law-movie-still-16.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><br />
<i>Joan Freeman</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> seduz o Juiz, </span><i>Kellerman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">(</span><i>Jerome Thor</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, veterano de thrillers de </span><i>Bronson</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">), propositalmente sentada em uma mesa de onde ele possa enxergá-la muito bem através do salão, no restaurante que ele costuma frequentar, todas as noites. Em determinado momento, ele se aproxima para cumprimentá-la. </span><i>Kellerman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">indaga se os dois já se viram anteriormente, afinal a mulher lhe parece muito familiar. Claro, eles já se cruzaram no passado, em terríveis circunstâncias. Se </span><i>Kellerman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">se lembrasse de </span><i>Joan Freeman</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, se manteria afastado. Ela finge muito bem não se recordar, mas pergunta se ele gostaria de acompanhá-la na sobremesa. O flerte inocente evolui para um encontro amoroso, quando o juiz a leva para casa. O nome do magistrado aparece na lista de "</span><i>acerto de contas</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" da psicopata, e embora até aquele instante os homicídios tenham sido cometidos com armas de fogo, este se dará pelas suas mãos nuas. As roupas espalhadas pelo chão e sobre cadeiras sugerem o momento posterior ao ato do sexo, e quando os reencontramos, os dois se encontram na banheira, </span><i>Kellerman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">totalmente dentro d'água, e ela sentada na beirada de modo a conseguir segurar suas pernas. Uma das forças da cena consiste na velocidade com que um instante de prazer vira uma desesperada batalha pela vida. Em um segundo, eles agem como dois amantes exaustos e felizes, após a relação, e no minuto seguinte, a mulher já está muito bem concentrada em afogá-lo sem lhe dar qualquer chance para reverter o horroroso predicamento em que se vê metido. </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">A partir daí, acreditamos no potencial para a maldade da vilã. Você pode imaginar que há coisas que ela seja incapaz de fazer, mas não há.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9TQVhM2WHDzqHuA09MbUthN8Ofi-8qbk8vFU6-SpqsijWoUZsa2SN1YwRlJoTuUETMPKZ8AO9g8OrfLD7gOkUcrOUYnTBy-KoAnB3oY8XWzJIYqvXzDCIXWDhvex1aflML8MJB1-3KIM/s1600/murphys-law-movie-still-8.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9TQVhM2WHDzqHuA09MbUthN8Ofi-8qbk8vFU6-SpqsijWoUZsa2SN1YwRlJoTuUETMPKZ8AO9g8OrfLD7gOkUcrOUYnTBy-KoAnB3oY8XWzJIYqvXzDCIXWDhvex1aflML8MJB1-3KIM/s320/murphys-law-movie-still-8.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmd9Z5zKktWfKuaJ9u9yWAUaiFuUQksU9_EgPs9YF5XGqH6lscEZKinrMK6637pB23UU-3Dk8upi-Z4nX4IrJjunmebdWXLOwsq0Ktf6lyIvjcWt7gJgjwmV1ZMNwM_SRKE9XSOaP14Bo/s1600/murphys-law-movie-still-7.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmd9Z5zKktWfKuaJ9u9yWAUaiFuUQksU9_EgPs9YF5XGqH6lscEZKinrMK6637pB23UU-3Dk8upi-Z4nX4IrJjunmebdWXLOwsq0Ktf6lyIvjcWt7gJgjwmV1ZMNwM_SRKE9XSOaP14Bo/s320/murphys-law-movie-still-7.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Murphy</i> resolve não esperar mais, e ao invés de aguardar novo ataque a sua vida, presta uma visita a <i>Vincenzo</i>. Ele traça um plano com <i>Arabella</i>, e a estratégia funciona. A moça aparece no lobby do hotel onde o mafioso mora, com uma conversa sobre um furo no pneu da caminhonete. Bonita, ela seduz os dois guardas a relaxarem. Enquanto um deles deixa o lobby para verificar a caminhonete, o outro é embaralhado pelas promessas vazias da moça, que lhe pergunta se há algum lugar onde possam ficar mais à vontade. <i>Murphy</i>, até então clandestino dentro da carroceria, nocauteia um dos homens, assim que ele se agacha para verificar o pneu. Ele tira o quepe e o uniforme do guarda desacordado, para facilitar a entrada no prédio sem chamar a atenção. O segundo oficial é surpreendido por <i>Murphy </i>no quarto onde imaginara que ficaria com <i>Arabella</i>. Uma vez livres pelo hall de elevadores, os dois alcançam a exclusiva cobertura habitada pelo mafioso. Distraindo os dois asseclas que vigiam a entrada, <i>Arabella </i>se apresenta como entregadora de pizza, até abrir a caixa e revelar uma arma. <i>Murphy </i>chega logo em seguida. <i>Vincenzo </i>está recebendo gratificação oral de uma prostituta, e nem percebe quando o tira chega por trás e põe o cano do revólver na sua têmpora. <i>Vincenzo </i>leva uma terrível surra. Mesmo depois de se submeter a um sádico jogo de roleta russa imposto por <i>Murphy</i>, o mafioso jura, choramingando, que não armou nada dos últimos acontecimentos. Mesmo sabendo do caráter viciado & maligno do gângster, <i>Murphy </i>percebe que não foi mesmo <i>Vincenzo </i>o autor dos atentados. Ele então o deixa escapar com vida. Agora que <i>Vincenzo </i>foi terrivelmente humilhado, não demorará a também "<i>mandar seus cachorros</i>" no encalço de <i>Murphy</i>. O policial faz novos inimigos a uma impressionante velocidade. <i>Vincenzo </i>ordena que seus homens coloquem "<i>a palavra na rua</i>": dez mil dólares para quem lhe der uma pista do paradeiro de <i>Murphy </i>& <i>Arabella</i>. Agora, ele irá à forra.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh50qFLRTxIV_9wsoP6n1ZsQpEl3Wyn3SpyMpqv9E2w1RkmkYNyxnoS84zE4rDVbKlLhnPqeYWagpSXuIucQENukgoJn0NhJPJen-YoZzZ9jSkrcw5-6rE9CKl5Ddodo6R-izfvf1BBA1E/s1600/murphys-law-movie-still-9.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh50qFLRTxIV_9wsoP6n1ZsQpEl3Wyn3SpyMpqv9E2w1RkmkYNyxnoS84zE4rDVbKlLhnPqeYWagpSXuIucQENukgoJn0NhJPJen-YoZzZ9jSkrcw5-6rE9CKl5Ddodo6R-izfvf1BBA1E/s320/murphys-law-movie-still-9.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVKnNgMBT3SQjrDQg3S1ZsQraG7TVYBMX1JqUtDJEQgmaMSYsYf3_yODut0Lo0H3gbuDRaTlOzEdbjmwp3gNqsEgJ_7N9LCnqzWXXeN96gLpjDjyVhKznsTg_18zLYLOQeb5hMTa1BGVo/s1600/murphys-law-movie-still-10.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVKnNgMBT3SQjrDQg3S1ZsQraG7TVYBMX1JqUtDJEQgmaMSYsYf3_yODut0Lo0H3gbuDRaTlOzEdbjmwp3gNqsEgJ_7N9LCnqzWXXeN96gLpjDjyVhKznsTg_18zLYLOQeb5hMTa1BGVo/s320/murphys-law-movie-still-10.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Determinado a encontrar a verdade sobre o inimigo oculto, <i>Murphy </i>sabe que precisará da ajuda de algum colega de dentro da polícia, e assim aparece na garagem do colega <i>Art</i>. Inicialmente hesitante em ajudar o amigo foragido, <i>Art </i>acaba cedendo, e promete compilar a lista de ocorrências atendidas por <i>Murphy </i>& o falecido <i>Wilcove</i>, alguém que tenha sido mandado à cadeia por muitos anos, e tenha deixado o presídio recentemente, com motivos para odiá-los tanto assim. O colega também aceita hospedá-los por uma noite. Na manhã seguinte, começamos a enxergar a atração entre <i>Murphy </i>& </span><i>Arabella</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. Enquanto ele faz a barba, a moça fica observando com interesse, até que o tira estraga tudo ao perguntar se ela não tem nada melhor para fazer. <i>Murphy </i>imediatamente tenta endireitar a situação ao se desculpar, o que lhe vale o respeito da moça</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. Os dois comem sanduíches à mesa da cozinha, e um incipiente flerte iniciado pela garota logo se estabelece. Ela lhe diz que <i>Murphy </i>não está tão mal, e seria ainda mais "</span><i>inteirão</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" se deixasse de beber. A paquera é interrompida, quando <i>Art </i>os contata. O amigo conseguiu 3 nomes. Os dois primeiros citados não chamam a atenção de <i>Murphy</i>, mas quando ele profere o de <i>Joan Freeman</i>, uma ocorrência antiga, de dez anos atrás, o tira tem um <i>insight</i>. No jornal daquela manhã, o afogamento de <i>Kellerman </i>causa grande comoção. <i>Art </i>comenta que <i>Kellerman </i>foi o juiz cuja sentença mandou a mulher para trás das grades, nos anos 70. A convicção de <i>Murphy </i>foi formada, e ele ruma ao Sunset, um antigo hotel no centro de Los Angeles onde, conforme o banco de dados, <i>Joan </i>foi acomodada após a saída do sistema carcerário.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjigVL1Y-MuADKzSHUQXTy1zGKGyRSle3i5zxqPJsNmdLp34eeVKs5m_Q3RxmqF7zuzoQCsTsRE_5CMAOw2hB0auB8A3BJOfiHJ48FmIK1uJpeH4DNKmwy0leeJ_94GdkthOmUt7vlUioQ/s1600/murphys-law-movie-still-11.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjigVL1Y-MuADKzSHUQXTy1zGKGyRSle3i5zxqPJsNmdLp34eeVKs5m_Q3RxmqF7zuzoQCsTsRE_5CMAOw2hB0auB8A3BJOfiHJ48FmIK1uJpeH4DNKmwy0leeJ_94GdkthOmUt7vlUioQ/s320/murphys-law-movie-still-11.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNCLKOKeYJdfvBZpO1-99TIhGtKljJZBAGVXG5KRtCp-lbCmvUMIest9t4vxR7fdeqHXiHT_YZaJP9HYuwRiO5UK_See_fTIsCHkMRcPhxf4uf3tCCafOheAd6sRyVcmPW33pkl_CK63o/s1600/murphys-law-movie-still-12.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNCLKOKeYJdfvBZpO1-99TIhGtKljJZBAGVXG5KRtCp-lbCmvUMIest9t4vxR7fdeqHXiHT_YZaJP9HYuwRiO5UK_See_fTIsCHkMRcPhxf4uf3tCCafOheAd6sRyVcmPW33pkl_CK63o/s320/murphys-law-movie-still-12.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">No apartamento, </span><i>Joan </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">levanta pesos diante do espelho, e impressiona pela dedicação e força. A agente da condicional (</span><i>Janet MacLachlan</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">) se encontra de visita, ignorante quanto aos tenebrosos crimes cometidos pela ex-prisioneira. A agente é surpreendida pelas novidades de </span><i>Joan</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. Não somente abriu mão de uma vaga de emprego, a sua espera desde a libertação, ela também confidencia que achou uma ocupação muito mais interessante. A agente pergunta se </span><i>Joan </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">poderia explicar melhor. A assassina abre um álbum com fotos das pessoas que já matou (a ex-mulher de </span><i>Murphy</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, </span><i>Ben Wilcove</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, </span><i>Kellerman</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">) e as que pretende matar. Ainda confusa, a mulher não se atenta ao perigo. </span><i>Joan </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">a prende rapidamente com um fio bem amarrado em torno do pescoço, e a mata estrangulada. "</span><i>Eles não deviam ter me soltado, eu sou mesmo louca</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", ela sussurra, enquanto a mata. </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">chega ao Sunset e consegue a chave do apartamento de </span><i>Joan </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">após ameaçar quebrar os dentes do recepcionista folgado. O homem então os reconhece pelas fotos no jornal, e aciona a polícia. </span><i>Joan </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">não se encontra em casa, e </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">bisbilhota seus pertences. O álbum de fotografias com registros das vítimas elimina quaisquer dúvidas. Ao mexer na porta da despensa, o corpo da agente de condicional desaba para fora. Quando os dois estão deixando o local, dois policiais aparecem no 6° andar. Há uma breve troca de tiros, sem que ninguém saia ferido, e </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">bola uma fuga através da escada de incêndio externa. Ele explica à </span><i>Arabella </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">que precisam chegar a Malibu o quanto antes.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqsBsuJZtI8l4B6zfDoGrX_abWRXPGVhPw8E3vssf0OMs9gobaUr_Rsu5Xi2Kg1zyqqgbAcY3ZXaCnEOWtT63gI7GIfmLhMM4zfvWuLt7kdd_7plFIIDFw_bc0jUWDN1QGo1Oo8QMB1Cs/s1600/murphys-law-movie-still-21.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="853" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqsBsuJZtI8l4B6zfDoGrX_abWRXPGVhPw8E3vssf0OMs9gobaUr_Rsu5Xi2Kg1zyqqgbAcY3ZXaCnEOWtT63gI7GIfmLhMM4zfvWuLt7kdd_7plFIIDFw_bc0jUWDN1QGo1Oo8QMB1Cs/s320/murphys-law-movie-still-21.jpeg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Murphy </i>& <i>Arabella </i>voltam à estrada para realizar a viagem para Malibu, quando finalmente o filme descortina as razões de <i>Joan Freeman</i>. <i>Murphy </i>conta a história à parceira. Ela era a namorada possessiva de um jovem segurança que trabalhava no Bradbury Hotel. Há 10 anos, ao visitá-lo uma manhã, acabou causando uma cena de ciúme, que logo escalou para briga. Ela puxou a arma do namorado e atirou à queima-roupa, em um instante de loucura. <i>Murphy </i>& <i>Wilcove </i>foram os dois policiais que primeiro chegaram ao Bradbury. <i>Freeman </i>havia subido para a cobertura com uma refém. O fato é que graças a <i>Murphy </i>& <i>Wilcove</i>, <i>Freeman </i>foi presa. O ex-parceiro & <i>Kellerman</i>, portanto, foram mortos por <i>Freeman </i>como vingança pessoal pela sua prisão. Agora, <i>Murphy </i>& <i>Arabella </i>precisam chegar a Malibu para conversar com <i>Albert Skinner</i>, o promotor original do caso e provável nome na lista de acerto de contas de <i>Joan</i>. Eles chegam `a casa de praia de <i>Skinner</i>, à noite, e se separam para encontrar o promotor. No andar de cima, <i>Arabella </i>é apanhada de surpresa por <i>Joan</i>, e apaga quando a vilã a segura por trás e força um lenço embebido com clorofórmio contra o rosto. Ela nem tem tempo de gritar para pedir socorro para o policial. Na sala de estar, sentado perante a lareira, <i>Murphy </i>encontra o corpo sem vida de <i>Skinner</i>, um saco plástico amarrado na cabeça. O silêncio da parceira o deixa preocupado, e ao tentar localizá-la no andar superior, topa com uma mensagem escrita a batom, no espelho da suíte: "<i>Nós estamos esperando por você no lugar onde tudo começou</i>". Ao telefonar para a Homicídios, <i>Murphy </i>não tem sorte, pois quem atende é <i>Ed</i>, o colega por quem nutre antipatia. Como não lhe restam alternativas, <i>Murphy </i>reporta a gravidade da situação para <i>Ed</i>. Ele explica que <i>Joan Freeman </i>o incriminou, e agora deseja desfechar o acerto de contas no Bradbury. <i>Ed </i>se encarrega de repassar a mensagem para os colegas da Força, de modo que todos possam se encontrar no Bradbury para ajudá-lo no impasse.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQEk-pQ6QB6IebW_etiL0N-NUmM_zsx0ltf5wvJW6yvrKo7IjRA_ztf6q_UOEVvBUpMzW_e1DnqNdIokXEFEKqP62D8WwCzfcAmtk-0p1Bn6R8ru-t6DKpIc7ePSL8cWDRdxKqfWNrJt0/s1600/murphys-law-movie-still-18.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQEk-pQ6QB6IebW_etiL0N-NUmM_zsx0ltf5wvJW6yvrKo7IjRA_ztf6q_UOEVvBUpMzW_e1DnqNdIokXEFEKqP62D8WwCzfcAmtk-0p1Bn6R8ru-t6DKpIc7ePSL8cWDRdxKqfWNrJt0/s320/murphys-law-movie-still-18.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4mNuookLhlSmI-WDFV4o2ySgjUH9jApq54uF7cQeXhLW7o4Nhigncj_6KAoZpcQdKTVUxDx7gYDkHQJT2QOBHLjIV8EcfjBsYRWCUaUTYfALba8DCV7hzLeudF2KPhCYMlAOSB3Az6d4/s1600/murphys-law-movie-still-17.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4mNuookLhlSmI-WDFV4o2ySgjUH9jApq54uF7cQeXhLW7o4Nhigncj_6KAoZpcQdKTVUxDx7gYDkHQJT2QOBHLjIV8EcfjBsYRWCUaUTYfALba8DCV7hzLeudF2KPhCYMlAOSB3Az6d4/s320/murphys-law-movie-still-17.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">O Bradbury Building, um personagem à parte, também serviu de palco para muitos outros célebres suspenses, como "</span><i>Blade Runner</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". Projetado nos estilos renascença italiana & romântica, seu interior, semelhante ao das catedrais, perenemente iluminado por uma imensa claraboia de vidro no alto, é fortemente caracterizado por vários mezaninos abertos a darem para um salão central, ladeado por torres de elevadores mecânicos estilo gaiolas, um charme que nos remete ao começo do século XX, quando foi levantado. </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">entra no prédio abandonado pelo átrio, e </span><i>Joan </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">o observa, imersa nas sombras. </span><i>Arabella </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">foi amordaçada, e teve as mãos e pés amarrados. Ela está aprisionada no fosso de um dos elevadores mecânicos, e não tem como se comunicar com o tira. Ele sobe cautelosamente pelas escadas, de arma em punho. Nisso, os mafiosos chegam ao Bradbury. </span><i>Ed </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">é um policial "</span><i>comprado</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", e ao invés de acionar os colegas da polícia, entregou a localização de </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">a </span><i>Vincenzo</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. </span><i>Ed </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">entra desacompanhado, e, por um momento, </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">acredita que ele trouxe reforços, conforme solicitara ao telefone. </span><i>Ed </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">mostra suas reais intenções ao sacar a arma para </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">e ironizar que</span><i> Frank Vincenzo</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> "</span><i>deseja conversar</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", do lado de fora. Subitamente, o policial corrupto tem o pescoço varado por uma flechada.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrjTSIXlrzAm9cvwa58ziA0hJA7Wg6jJuB71ZhAgzN2e-0t_wgu8gIDIGGQY2lsGT9c1zNBlPdWfW1Ik5Ob_RL5w0qWMhzXg-qxJI3qMKbq3VAcOsEuWUDXyjRn7iDXJQBMhVJi4XrliA/s1600/murphys-law-movie-still-20.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrjTSIXlrzAm9cvwa58ziA0hJA7Wg6jJuB71ZhAgzN2e-0t_wgu8gIDIGGQY2lsGT9c1zNBlPdWfW1Ik5Ob_RL5w0qWMhzXg-qxJI3qMKbq3VAcOsEuWUDXyjRn7iDXJQBMhVJi4XrliA/s320/murphys-law-movie-still-20.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBxKnsm4smZ7J1v_PY1iwgmbEtbYAbsDiPGvBKzgatudGAue7ZX5IUFRbVXMO0LQT3hc3y-BLZAXruZ0WAHtKfKi8nbT8E7DpO6vrlC5c3dAddOJWWZ9oE6RnGUi_biTNftTMXfnTVKwI/s1600/murphys-law-movie-still-19.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBxKnsm4smZ7J1v_PY1iwgmbEtbYAbsDiPGvBKzgatudGAue7ZX5IUFRbVXMO0LQT3hc3y-BLZAXruZ0WAHtKfKi8nbT8E7DpO6vrlC5c3dAddOJWWZ9oE6RnGUi_biTNftTMXfnTVKwI/s320/murphys-law-movie-still-19.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Joan</i> guarda excelente visão dos andares inferiores, pois se posicionou mais ao alto. Ela se armou com uma besta (arco-e-flecha), e seus disparos são precisos. <i>Murphy </i>se alberga como pode, porém ao tentar alcançar o revólver de <i>Ed</i>, deixado num canto, quase tem a mão varada por um preciso disparo. O impacto da ponta da flecha contra o cão do revólver o lança na escuridão abaixo. <i>Joan </i>se diverte com a delicada situação de <i>Murphy</i>, e não parece querer matá-lo tão cedo. Por causa da demora de <i>Ed</i>, <i>Vincenzo </i>e seus dois homens saem do carro para procurar pessoalmente por <i>Murphy</i>,<i> </i>dentro do Bradbury. Os mafiosos portam armas pesadas, tais como pistolas e escopetas. Da escuridão acima, <i>Joan </i>estuda o entrevero e aguarda. Os dois homens de <i>Vincenzo </i>se separam, cada qual varrendo mezaninos opostos. <i>Murphy </i>surpreende um dos bandidos com um murro, e antes de ser atingido pelo outro gângster, usa o cara como "<i>escudo</i>". De fato, o homem toma um tiro de escopeta nas costas, e <i>Murphy </i>sai ileso. Sobre a gaiola do elevador mecânico, <i>Murphy </i>pretende chegar ao topo. Sob fogo cerrado, ele consegue desembarcar a salvo em um dos últimos lances de escada. À espreita por trás de uma janela, <i>Murphy </i>espera pela passagem do segundo homem, para se lançar ao corredor e apanhá-lo com o impacto do peso. O bandido perde o equilíbrio, e <i>Murphy </i>toma sua escopeta, mas quando vai atirar, vê que o homem já foi fatalmente ferido ao cair com a cabeça em uma afiada lasca de vidro.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlYNBazeHNU6qWODk0FpkwhtJEu68tlmX-K8FBGtx0g6YbvYK0Ig3u8YJePVfSDteui8ZqLCxczHIM46o1M3JACzsKIwhq2XJzOrMnMzNODYYV3eysaOLGyes_C3KYajT3APfg0GTvPvY/s1600/murphys-law-still-1.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlYNBazeHNU6qWODk0FpkwhtJEu68tlmX-K8FBGtx0g6YbvYK0Ig3u8YJePVfSDteui8ZqLCxczHIM46o1M3JACzsKIwhq2XJzOrMnMzNODYYV3eysaOLGyes_C3KYajT3APfg0GTvPvY/s320/murphys-law-still-1.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFXPJXkLgx70NCntmVzZU_0yvbEyyo5Y15F7p55HLUEH4-QHuylvaV_01Y7oUGe8hcj2HhLJ6bJSmYbru_pfc6f2s_jszEBFeaBGm_-CcdI881bzUasNxFf9BxxiX0_2t4ukppmQUZTZA/s1600/murphys-law-still-2.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFXPJXkLgx70NCntmVzZU_0yvbEyyo5Y15F7p55HLUEH4-QHuylvaV_01Y7oUGe8hcj2HhLJ6bJSmYbru_pfc6f2s_jszEBFeaBGm_-CcdI881bzUasNxFf9BxxiX0_2t4ukppmQUZTZA/s320/murphys-law-still-2.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">chama </span><i>Vincenzo </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">para a briga, e o instiga a tentar matá-lo sem a ajuda de terceiros. O mafioso porta uma metralhadora. Ao, de relance, dar pela sombra de </span><i>Murphy</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, correndo, dispara uma saraivada de tiros em direção ao mezanino do andar superior. </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">faz uma encenação e finge ter sido alvejado. </span><i>Vincenzo </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">sobe as escadas para o mezanino, e ao encontrar um corpo de bruços, descarrega a metralhadora nas suas costas. Certo de que apanhou o rival, ele debocha "</span><i>Você se lembra do que eu te falei sobre a Lei de Murphy?</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". Ao virar o cadáver com um pontapé, tem um choque ao ver que não se trata de </span><i>Murphy</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, e sim de um de seus homens. Ele se volta por causa do clicar de uma arma engatilhada, e dá de cara com a figura de </span><i>Murphy</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, deixando as sombras, escopeta em mãos. "</span><i>Você se lembra do que eu te disse? Não brinque com Jack Murphy!</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", ele assinala, e atira. O impacto dos disparos de escopeta lançam o corpo de </span><i>Vincenzo </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">corredor afora. Agora que são só </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">& </span><i>Joan</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, a assassina aciona a descida do elevador, e o policial compreende que </span><i>Arabella </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">foi aprisionada no fundo do fosso. Em uma corrida contra o tempo, ele consegue arrombar a grade do canal e desatar os nós bem a tempo de arrancá-lo do fosso e escapar do peso da gaiola. </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">mal tem tempo de celebrar, pois </span><i>Arabella </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">é atingida por uma flechada nas costas, bem diante de seus olhos. Furioso, </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">grita e lança um olhar de ódio para </span><i>Joan</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, que assiste a tudo com perverso contentamento e o convida para cima, para o ajuste de contas.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKvvG2t8GAKQA2CECDZwthaQk_w5pg_YGoI2akvuTqtwYWST0NeechvdXZ1Sw7hyovDXhbu47h2gNQXBbbdWvxafNjP3b99jaFg6tp4Kz_J8WDeO_trfj5etFohnGH6EkXpaZ4clMsk4g/s1600/murphys-law-still-4.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKvvG2t8GAKQA2CECDZwthaQk_w5pg_YGoI2akvuTqtwYWST0NeechvdXZ1Sw7hyovDXhbu47h2gNQXBbbdWvxafNjP3b99jaFg6tp4Kz_J8WDeO_trfj5etFohnGH6EkXpaZ4clMsk4g/s320/murphys-law-still-4.jpg" width="320" /></span></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIePzdCRgDcivhmkuh75NEhVnDCbrx6wt8I8CjG7w7qxsqlw1dKCy65Uoy4hYKWcX7NRat1PbioN-H-G4Btty8SVwBnVotHmtOKzjo9pSICPHmAu0Tzp4nJE0MocqKiFluAl7kJwN5jSg/s1600/murphys-law-still-5.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1284" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIePzdCRgDcivhmkuh75NEhVnDCbrx6wt8I8CjG7w7qxsqlw1dKCy65Uoy4hYKWcX7NRat1PbioN-H-G4Btty8SVwBnVotHmtOKzjo9pSICPHmAu0Tzp4nJE0MocqKiFluAl7kJwN5jSg/s320/murphys-law-still-5.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><br />
<i>Murphy</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> sobe pelo elevador ao andar onde a viu pela última vez. Ele presta atenção ao redor, mas não encontra sinais da vilã. A falta do machado no quadro de bombeiros o deixa em alerta. </span><i>Joan </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">se aproxima cautelosamente, às costas do rival, de machado em mãos, só à espera de se achegar o suficiente para desferir um golpe fatal. </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">se vira a tempo de livrar a cabeça do semicírculo veloz traçado pela lâmina no vazio. </span><i>Joan </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">perde o equilíbrio com o empurrão de </span><i>Murphy</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, e rola escada abaixo de modo a bater com as costas no parapeito do mezanino. </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">segue com uma voadora que a atinge no peito, e a faz virar sobre a balaustrada, para o precipício, uma altíssima queda rumo ao lobby. </span><i>Joan </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">só não cai no mesmo instante pois a cabeça do machado, presa à balaustrada, impede o lançamento. Vestida com luvas de couro, </span><i>Joan </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">vai gradualmente perdendo a firmeza sobre o cabo de madeira. Ela suplica para que </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">a ajude, mas o tira viu o suficiente de sua brutalidade para cometer a tolice de estender uma mão salvadora. Impotente, ela ainda o xinga e amaldiçoa, até a gravidade selar seu destino e carregá-la a uma queda mortal. </span><i>Murphy </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">limpou seu nome, e não tem mais nada a temer. Na calçada do Bradbury, há ambulâncias e carros de polícia à espera dos dois heróis. </span><i>Arabella </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">também sobreviveu (a flecha a acertou no ombro, e não perfurou órgãos), e, como bons parceiros, o tira e a ladra descansam lado a lado na ambulância, exaustos, mas satisfeitos. Com bom humor, ele promete que assim que ambos se sentirem melhor, lavará a boca da ladra com sabão!</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSBSjacs1rNd1QR9L8ZH26ugYsY0l14r5myeFKOeol43vJ89j7WcuoKP-4lGD36JfR3WizGmlJli1orlgeEfUEHCuB5FraXFD9KnAPljMvUNPuxm5uJgDM-WyaACqZNzNoc4LFh9yrfg8/s1600/murphys_law_poster_01.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="418" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSBSjacs1rNd1QR9L8ZH26ugYsY0l14r5myeFKOeol43vJ89j7WcuoKP-4lGD36JfR3WizGmlJli1orlgeEfUEHCuB5FraXFD9KnAPljMvUNPuxm5uJgDM-WyaACqZNzNoc4LFh9yrfg8/s320/murphys_law_poster_01.jpg" width="209" /></span></a></div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">"</span><i>Murphy´s Law</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" faz parte do pacote de filmes que o astro </span><i>Charles Bronson</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, então em decadência profissional, fez para a </span><i>Cannon</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, o arrojado estúdio de produções de baixo orçamento, ainda hoje lembrado com muito carinho. Cinéfilos da minha faixa etária, 30-40, se recordarão com nostalgia dos filmes da </span><i>Cannon</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> (lançados no Brasil sob o selo da <i>América Vídeo</i>)</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, afinal, aqui no Brasil, a infância nos anos 80/começo dos anos 90 foi povoada por um fértil imaginário ilustrado por aventuras de </span><i>Chuck Norris</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> & </span><i>Van Damme</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, em um universo paralelo populado por heróis lutando para derrubar ditadores em países fictícios da América Latina ou agentes secretos se infiltrando em campeonatos clandestinos de kickboxer no submundo para derrubar vilões canastrões & maravilhosos, como <i>Martin Kove</i>, <i>Bolo Yeung</i>, <i>Matthias Hues</i> ou <i>Richard Lynch</i>! A história da </span><i>Cannon </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">merece um filme exclusivo, prova disso a existência do documentário "</span><i>Electric Boogaloo: The Wild, Untold Story of Cannon Films</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", um nostálgico, ora hilariante, ora tristonho passeio pelas alamedas das recordações, dos primeiros anos do grupo consolidado pelos produtores israelenses & primos </span><i>Menahem Golan</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">/</span><i>Yoram Globus</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> até seu último suspiro, quando os profissionais que haviam feito da </span><i>Cannon </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">uma mágica força cinematográfica precisaram assistir ao declínio, enquanto </span><i>blockbusters </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">cada vez mais luxuosos relegaram coisas de ação mais simplórias & ingênuas ao ostracismo (as atividades da </span><i>Cannon </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">duraram </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">14 anos, aproximadamente). Eu não poderia me aprofundar em "</span><i>Murphy’s Law</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" sem tecer algumas considerações sobre o sistema de trabalho do estúdio & o contexto da época em que se inserem filmes de </span><i>Bronson</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. A </span><i>Cannon </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Filmes ofereceu um repertório tão vasto durante os anos de funcionamento que custo a pensar em outra companhia que repita os mesmos feitos hoje (talvez a </span><i>Vertigo </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">ou a </span><i>Magnet Releasing</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">). Abençoados pelo selo do grupo </span><i>Golan</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">/</span><i>Globus</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, novatos em via de se tornarem astros tiveram suas primeiras grandes chances (caso de </span><i>Jean Claude Van Damme</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, cujos primeiros passos se deram em "</span><i>Cyborg: O Dragão do Futuro</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", de <i>Albert Pyun</i>, e "</span><i>O Grande Dragão Branco</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">"), carreiras de astros consolidados, mas em baixa, ganharam algum fôlego (como </span><i>Chuck Norris</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> e </span><i>Lee Marvin</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, heróis da extravagância "</span><i>Comando Delta</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">"), e projetos ambiciosos e arriscados demais, até mesmo para grandes estúdios, encontraram uma forma de transpor o limbo entre script & tela, nem sempre com bons resultados (por exemplo, o investimento de 50 milhões de dólares em uma tríade de filmes que seriam dirigidos por <i>Tobe Hooper</i>, à época na crista da onda, no lastro do sucesso do primeiro "<i>Poltergeist</i>", um filme regido, em boa parte, por <i>Spielberg</i>, que nos créditos oficialmente aparece apenas como produtor). Nos anos 80, após o reinado como astro internacional por um bom tempo, <i>Bronson </i>começava a "<i>descer a montanha</i>". Tendo iniciado a caminhada rumo ato final de sua carreira, ele assinou o contrato com a<i> Cannon </i>por um período relativamente longo, 1982-1989, descrito pelos fãs do astro como "<i>A Era Cannon</i>". Fãs não se entendem quanto ao mérito das aventuras estreladas por <i>Bronson </i>no curso desses 7 anos. Muitos as desprezam por crerem que o valor dos aspectos envolvidos na feitura de filmes padece de carências, principalmente quando comparados aos clássicos protagonizados no auge. Outros, que guardam certa nostalgia pelo cinema de ação daquela década, com direito a todos os seus maravilhosos exageros, defendem que as coisas filmadas na <i>Era Cannon</i> acabaram por prolongar um pouco a carreira do astro. Mesmo massacrados pelas resenhas nos jornais, thrillers policiais estrelados por <i>Bronson </i>encontravam uma forma de irem parar nas marquises dos cinemas (certo que com receitas modestas, <i>Bronson </i>não era mais campeão de bilheteria), e, mais tarde, quando lançados em vídeo, atendiam a seu verdadeiro, nascente nicho, o mercado das videolocadoras, em ascensão nos anos 80, quando faziam muito, muito giro de caixa para o estúdio (a <i>Cannon </i>essencialmente "<i>fazia negócios</i>" com o mercado em questão, recebendo do mesmo uma determinada soma de dinheiro como investimento e prometendo, como retorno, um número de filmes para abastecê-las). Pessoalmente, discordo dos críticos da qualidade do selo: para um ex-astro, os roteiros do estúdio de <i>Menahem Golan</i>/<i>Yoram Globus</i> traduziam-se como o único veículo através do qual <i>Bronson </i>tinha como protagonizar filmes de ação em uma década que assistia ao surgimento de <i>Stallone</i>, <i>Schwarzenegger</i>, <i>Van Damme</i>, <i>Seagal </i>e <i>Tom Cruise</i>, e o declínio dos durões dos anos 70, como <i>Burt Reynolds</i> e o próprio <i>Bronson, Eastwood </i>excetuado, graças à capacidade de se reinventar como diretor, escapando de um destino tão trágico quanto o de seus contemporâneos. Ademais, graças às locadoras, garotos crescendo naquele tempo tiveram a chance de serem apresentados ao trabalho do ator, efetivamente lhe valendo um novo público. O contrato com a <i>Cannon </i>brindou o estúdio com um filme estrelado por <i>Bronson</i>, por ano. Assim, no curso da década de 80, a geração do VHS se deliciou com clássicos nos moldes de "</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Desejo de Matar 2, 3 & 4</i>" (o mais maluco e divertido deles, definitivamente a terceira parte, um <i>mix </i>de "<i>Warriors</i>" com "</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>Jogos Mortais</i>"!), "<i>Kinjite: Desejos Proibidos</i>", "<i>Dez Minutos para Morrer</i>", "</span><i>O Mensageiro da Morte</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", "</span><i>Assassinato nos Estados Unidos</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" e, claro, "</span><i>Murphy’s Law</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", a melhor parceria de </span><i>Bronson </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">com o estúdio. A esmagadora maioria dessas aventuras guarda o mesmo denominador. Foram dirigidas pelo mesmo profissional, </span><i>J. Lee Thompson</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, uma presença constante na filmografia de </span><i>Bronson</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, a remontar seus anos de glória. </span><i>Bronson </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">apreciava o método de trabalho do cineasta, um veterano ciente dos aspectos envolvidos em se rodar um filme, que realizava seu ofício sem frescuras e tratava de pôr a produção nos trilhos para correr. Hoje, penso que essa rara dinâmica de se montar filmes possa ser vislumbrada somente nos trabalhos de <i>Clint Eastwood</i>, reverenciado por atores que fazem fila para trabalhar sob sua batuta. Experiente e à vontade, <i>Eastwood </i>sabe o que quer, dá liberdade ao elenco, cuida de fazer as filmagens andarem e geralmente termina o trabalho semanas antes do prazo assinalado no cronograma.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Em termos de qualidade/escala, o mesmo fenômeno observado no outono da carreira de <i>Bronson </i>pode ser hoje contrastado com o de <i>Steven Seagal</i>. Se prestarmos atenção no currículo de <i>Seagal</i>, notaremos uma "<i>Era Dourada</i>", quando estrelava as superproduções da Warner, blockbusters dos verões da década de 90, como "<i>A Força em Alerta 2</i>", e pinçaremos o ponto da reversão, do declínio, a se iniciar em 2002, quando os últimos grandes filmes ("<i>Ameaça Subterrânea</i>" & "<i>Glimmerman</i>"), tendo performado mal nas bilheterias, moveram a Warner a revogar o contrato, e seu nome, até então atrativo, foi retirado das marquises. O comportamento na esfera pessoal não o ajudou. Foi em 2002, após o fracasso de "<i>Half Past Dead</i>", que <i>Seagal </i>migrou para o mercado direto-para-vídeo, quando também se observam instantes bem distintos. As primeiras produções pós-2002 ainda gozavam de excelência, produtos muito atraentes em termos de orçamento (modestos, mas bem aplicados) & boa vontade do próprio astro, que parecia tentar fazer o melhor possível com o material. "<i>Resgate sem Limites</i>", lançado em DVD no Brasil pela Universal, não teria como competir com filmes exibidos nos multiplexes, ainda assim, levando-se em conta o mercado para o qual foi produzido, direto-para-vídeo, cumpria muito bem seu papel, e oferecia um entretenimento de primeira, com um <i>Seagal </i>ainda interessado, o suporte sempre confiável de um elenco secundário acima da média, mais especificamente do competente <i>Byron Mann</i> como o parceiro, e lindas locações na Tailândia. <i>Seagal </i>então embarcou em uma aventura muito semelhante ao envolvimento de <i>Bronson </i>com a <i>Cannon </i>nos anos 80. Ele assinou contrato com a <i>Nu Image</i>/<i>Millenium Films</i>, a companhia de produções independentes fundada em 1992, especializada em filmes de ação de baixo orçamento rodados na Bulgária e África do Sul por questões orçamentárias, e rodou a maioria dos títulos de sua recente filmografia, lançados quase sempre no Brasil sob o selo da <i>Califórnia Filmes</i>, com resultados aquém do esperado. No caso de <i>Bronson </i>& <i>Cannon</i>, na década de 80, por mais que o astro parecesse cansado, ele se esforçava para tratar o material com o mesmo carinho com o que fizera na fase áurea, seu magnetismo o suficiente para lhe valer algumas semanas de exibição na tela grande dos cinemas e, mais tarde, muito sucesso nas videolocadoras. <i>Seagal</i>, a seu turno, pareceu deixar de se importar com o resultado das produções. Embora eu o admire, não seria honesto se omitisse o desleixo dos filmes oriundos do contrato com a Nu Image: se nos atentarmos, pontuaremos falhas diretamente contabilizadas ao desinteresse do astro. Primeiro, em diferentes momentos, a voz "<i>não bate</i>". Sabemos que muito do diálogo é adicionado na pós-produção, e ao se dissociar dos filmes, <i>Seagal </i>metia seus diretores na sinuca de bico, quando precisavam se valer de outros atores (cujas vozes não soavam em nada parecidas `a do astro) para terminá-los. Segundo, cenas de luta ou ação filmadas em planos mais abertos denunciavam o truque do uso de dublês como compensação pela ausência de <i>Seagal</i>. Sobrepostas a sua presença autêntica, registrada por tomadas mais próximas de modo a mascarar o excesso de peso, vemos cenas "<i>sequestradas</i>" pelo dublê, disfarçado em casacos de couro como se o truque bastasse para iludir os fãs, capazes de notar o macete. Assim, a magia da edição cumpria seu trabalho de criar a ilusão de que <i>Steven Seagal</i> estivera o tempo inteiro presente, nada mais oposto da realidade. A pouca colaboratividade do astro azedou os ânimos da <i>Millenium</i>, e seus anos de trabalho com o estúdio geraram DVDs pouco elogiados pela crítica. Vejam bem, eu sempre apreciei e torci para os pequenos filmes de ação, pois nos mesmos vislumbro a magia, a doce ingenuidade que até me causa inveja, todavia, seria hipocrisia fechar os olhos para um rosário de falhas e desleixos engatilhados propositalmente pelo desinteresse de <i>Seagal</i>. Assim, filmes como "<i>Hoje Você Morre</i>", "<i>Lado a Lado com o Inimigo</i>", e "<i>Determinado a Matar</i>", entre outros, foram concebidos e lançados com um amálgama de problemas que, por fim, traça as distintas éticas de trabalho com que os dois astros, <i>Bronson </i>& <i>Seagal</i>, trataram o declínio das carreiras em duas épocas, este na década de 2000, aquele nos anos 80. À título de comparação, <i>Bronson </i>soube lidar com o ato final com mais dignidade. Seus filmes, mesmo mais simplistas, foram vistos na telona, e, no mercado para vídeo, reavivaram o interesse de uma geração nova demais para conhecê-lo dos tempos dos triunfos. Gostaria de aproveitar a oportunidade para clarificar: eu adquiri esses filmes de <i>Seagal </i>em DVD, e sempre me diverti com suas proezas</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, apenas creio - e isso deve ser compreendido como uma crítica construtiva de quem o admira - que se </span><i>Seagal </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">se empenhasse um pouquinho mais, teríamos um produto bem-acabado.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoXFi7xY9ZTJdMpefngeNLxZKq9LHq85W_4hXoKFXMxFgWr_ikTvnAXvv7ow-eiLRgBSuNHyXSOhQW6EbsOfF32HokAHOBoEs3P5XRp9ntb-rsreqlGii6k3UQDCphnoddGVF7xKwACyA/s1600/bronson-and-wilhoite.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="403" data-original-width="565" height="228" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoXFi7xY9ZTJdMpefngeNLxZKq9LHq85W_4hXoKFXMxFgWr_ikTvnAXvv7ow-eiLRgBSuNHyXSOhQW6EbsOfF32HokAHOBoEs3P5XRp9ntb-rsreqlGii6k3UQDCphnoddGVF7xKwACyA/s320/bronson-and-wilhoite.jpg" width="320" /></span></a></div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Escrito por <i>Gail Morgan Hickman</i>, autora do argumento de "</span><i>The Enforcer</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", o thriller policial de 1976 estrelado por </span><i>Clint Eastwood</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> no papel de </span><i>Dirty Harry</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, "</span><i>Murphy’s Law</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" costura os principais retalhos de um típico "</span><i>guilty pleasure</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" de seu tempo, com </span><i>Bronson </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">fazendo aquilo que sabe melhor, simultaneamente experimentando com pontuais inovações na fórmula que levam a trama a interessantes, novas direções. Mesmo visivelmente mais lento (</span><i>Bronson </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">tinha 65 anos quando das filmagens), por mais que seus dias de glória estivessem distantes no passado, "</span><i>Bronson ainda era Bronson</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", e bastava para imbuir qualquer produção de charme extra. Embora "</span><i>Murphy’s Law</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" se erga sobre os pilares do imenso magnetismo do ator principal, o filme também se destaca graças ao valoroso elenco secundário. </span><i>Kathleen Wilhoite</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> oferece um energético contraponto ao jeitão austero de </span><i>Bronson</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, temperando a seriedade e violência tão naturais ao colega com bom humor desbocado. Sobre a experiência, décadas depois, a atriz nos revelou reminiscências daquela ocasião, ao discorrer sobre o trabalho com </span><i>Bronson</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">: "</span><i>Eu me lembro das cenas que fizemos, dentro do carro, quando eramos só nós dois, por um longo período, e, do nada, ele me faria uma pergunta apenas para começar um bate-papo. Ele era um homem inteligente e bem-humorado. Eu me policiava a não falar com ele até que ele falasse primeiro. O pessoal da produção havia me aconselhado a não tentar demais, mas acabamos formando uma doce relação de trabalho. Eu me lembro que quando ele achava que a produção estava demorando, diria 'Let's shoooooooooot (Vamos logo filmar)'. Era divertido</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". Digno de nota, quando o projeto ainda se encontrava nas fases muito iniciais de concepção, uma das atrizes sondadas para o papel foi </span><i>Madonna</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, cuja carreira musical deslanchava. Ela ainda não era o fenômeno que viria a se tornar, mas seu passe já valia ouro. Na época, acabara de lançar uma música especialmente linda, "</span><i>Crazy for You</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", para a trilha sonora do filme "</span><i>Vision Quest</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", estrelado por <i>Matthew Modine</i>, e também aparecia em uma breve cena, cantando. O papel ficou entre <i>Madonna </i>e <i>Wilhoite</i>, e o altíssimo valor pedido pela cantora acabou pesando a favor da contratação da outra atriz. De qualquer jeito, a escolha por <i>Wilhoite </i>ajudou o filme: talentosa, se sai com personalidade, ao atuar ao lado de </span><i>Bronson</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, porém não chegando a ofuscá-lo. O arco do protagonista permanece central, e o elenco secundário serve ao veículo, sem se pôr à frente da estrela </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">(salvo </span><i>Snodgress</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, absoluta quando em cena)</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSAzyX5eW4FGArvifkxM6Afzz12jmRlu_H5-qFP9eCOjv36dQdu5GmDbDpaeMNHF3LbnIQ2nykSPEkX_c-z92qQELXTVUa9F5YjHijdvuKdvn7qnvbNSnPGKtUnc6-Qp6Q6Lr81J4-oG4/s1600/murphys-law-movie-poster-1986-1020356015.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="750" data-original-width="580" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSAzyX5eW4FGArvifkxM6Afzz12jmRlu_H5-qFP9eCOjv36dQdu5GmDbDpaeMNHF3LbnIQ2nykSPEkX_c-z92qQELXTVUa9F5YjHijdvuKdvn7qnvbNSnPGKtUnc6-Qp6Q6Lr81J4-oG4/s320/murphys-law-movie-poster-1986-1020356015.jpg" width="247" /></span></a></div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Em termos estruturais, "</span><i>Murphy’s Law</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" me fez pensar no tratamento dispensado por </span><i>Paul Verhoeven</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> a seus antagonistas. Em filmes de <i>Verhoeven</i>, ele generosamente delega a função de vilão a dois personagens, constantemente em atrito. Claro, com isso, sana uma habitual deficiência em tramas semelhantes, vilões unidimensionais, individuais e caricatos que "<i>abocanham mais do que podem mastigar</i>". Quando outorga a duas personagens o mesmo ofício, o diretor permite um melhor desenvolvimento psicológico, criando vilões intrigantes, pois coloridos, interessantes em seus antagonismos. Em "</span><i>Murphy’s Law</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", pela primeira vez, somos servidos com uma vilã meticulosamente concebida, na contramão da tendência maniqueísta dos <i>film-noir</i> que tendiam a restringir a complexidade de uma personagem feminina a luvas brancas, subidas até a altura dos cotovelos, e um cigarro entre os dedos. Para um filme policial de pequeno orçamento, "</span><i>Murphy’s Law</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" sacou da cartola um feito e tanto. Graças à performance e contribuição da veterana </span><i>Carrie Snodgress</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, </span><i>Bronson </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">não apenas precisou se lançar de encontro ao seu mais tenebroso vilão, o filme também está para ser rivalizado em sua delicada caracterização de uma excelente antagonista. Eu confesso que não me recordo de um papel feminino tão agressivo e brutal, salvo raras exceções, como </span><i>Selma Blair</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> em "</span><i>w Delta z</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", que poderíamos considerar um thriller do gênero policial, e </span><i>Clare Higgins</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> em "</span><i>Hellraiser 1 & 2</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" (apesar de seu caso derivar para a seara do horror erótico & fantástico, e não a dos thrillers policiais mais contundentes & realistas). Quando "</span><i>Murphy’s Law</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" entrou em produção, meados dos anos 80, </span><i>Carrie Snodgress</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> batalhava para retomar a carreira, deixada de lado há pouco mais de uma década. Há 15 anos, em 1970, </span><i>Snodgress</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, então aos 25 anos de idade, tomava os críticos de assalto com a fenomenal performance em "</span><i>Diary of a Mad Housewife</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", ao lado de </span><i>Richard Benjamin</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> & </span><i>Frank Langella</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. Ela interpretava uma jovem esposa frustrada que iniciava um romance com o escritor interpretado por </span><i>Langella</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. Naquele ano, </span><i>Snodgress </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">foi indicada aos principais prêmios, desde o Globo de Ouro ao Oscar de Melhor Atriz (ela perdeu para </span><i>Glenda Jackson</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, vencedora pelo seu papel na deliciosa extravagância "</span><i>Women in Love</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", do diretor </span><i>Ken Russell</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">), e seu agente se enrolava para filtrar uma avalanche de convites feitos pelos principais cineastas em atividade, verdadeiros <i>wunderkinds </i>loucos para tê-la em seus filmes (a título de exemplo, então um ator iniciante a um passo de se tornar estrela, </span><i>Sylvester Stallone</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> só faltou mover montanhas para trazer </span><i>Snodgress</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, a quem queria dar o papel da "</span><i>Adrian</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", para o seu "</span><i>Rocky</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">": na primeira versão do script, a </span><i>Adrian </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">e o irmão </span><i>Paulie </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">eram descendentes de irlandeses, </span><i>Stallone </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">tinha </span><i>Snodgress </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">em mente para a </span><i>Adrian</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, e para </span><i>Paulie</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, desejava </span><i>Harvey Keitel</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">). </span><i>Snodgress </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">abandonou tudo por amor, e foi viver em um rancho com o astro de rock & roll e compositor <i>Neil Young</i>, com quem teve um filho. As coisas, lamentavelmente, não aconteceram como esperava. O bebê sofreu um aneurisma cerebral durante o trabalho de parto, o que o deixou com quadro similar ao de paralisia cerebral, e o casamento com <i>Young </i>durou somente até 1974. Quando <i>Carrie </i>caiu na real, atrizes como </span><i>Jill Clayburgh</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> haviam ocupado a lacuna deixada pela sua partida alguns anos antes, em 1971, e estavam desempenhando papéis que, em outras circunstâncias, teriam sido primeiramente oferecidos a <i>Snodgress</i></span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. O restante da década de 70 trouxe pouca novidade para a carreira da atriz, que embora tenha se mantido ocupada, perdera o </span><i>momentum </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">gerado por uma indicação ao Oscar. Por mais que tivesse deixado passar chances monumentais, como o papel da </span><i>Adrian </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">de "</span><i>Rocky</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", conseguiu nos impactar mesmo nas coisas menores. Foi no esteio de seu inquestionável talento que a <i>Cannon </i>a incorporou ao elenco de "</span><i>Murphy’s Law</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", onde deu a maravilhosa performance pela qual o filme é imediatamente lembrado. Se por um lado uma das principais normas de uma produção encabeçada por </span><i>Bronson </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">é a de que ninguém capture as atenções, necessariamente reservadas ao astro, por outro, não se pode culpar </span><i>Snodgress </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">por ofuscar tão facilmente a envergadura do ator principal. Em momento algum, capturamos uma nota falsa, pois <i>Carrie </i>constrói para si, mesmo nos momentos silenciosos, um arcabouço de dores e mágoas requentadas. Mesmo transitando em um meio povoado por mafiosos perigosíssimos, dela emana uma aura de ameaça incomum e desinibida. </span><i>Snodgress </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">fez mais do que dar uma performance extraordinária. Pelo talento em comunicar emoções, a vilã desabrocha como indivíduo, e não clichê. Para clichês, bastaria o estereótipo da <i>femme-fatale</i>, com um revólver na bolsa para o trabalho sujo. Para este emocionante filme de <i>Bronson</i>, a atriz foi mais além. A atriz explica, em entrevista a </span><i>John Gallagher</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, que inicialmente, no roteiro, os homicídios perpetrados pela vilã </span><i>Joan Freeman </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">se davam pelo uso de armas de fogo. Por sua sugestão, foram reescritos para acomodar a agressividade e determinação cega de uma predadora em missão. </span><i>Carrie Snodgress</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> elabora: "</span><i>O que eu fiz foi que assim que eu conheci J. Lee Thompson, eu expliquei que, do jeito que estava escrito, havia falhas no roteiro, e as falhas consistiam no fato de que a maioria dos homicídios era perpetrada por arma de fogo, e eu acreditava que para alguém verdadeiramente insano e comprometido com esses atos de violência, apertar o gatilho era muito fácil. Então desenvolvemos o estrangulamento (ela se refere, obviamente, à cena em que Joan Freeman mata a agente da condicional), o afogamento... desenvolvemos ideias diferentes para essas mortes, porque eu acredito que estrangular alguém, aí há um compromisso, um senso de febre pelo ato de matar, em contraste a se ter uma distância entre você e outra pessoa (as mortes originais perpetradas por arma de fogo), ele (J. Lee Thompson) amou isso. Outro ponto de credibilidade que eu desenvolvi foi (a cena do) levantamento de peso, isso não estava no roteiro original. Eu levantei pesos por aproximadamente dois meses e meio, e eu creio que depois que você a vê levantando pesos, você acredita, a partir daí, que ela é capaz de cometer aqueles atos de violência</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". Contraditoriamente, quando se pensa em <i>Carrie Snodgress</i>, as pessoas tendem a se recordar da atriz pelos seus papéis de esposa/mãe sofrida, como em "<i>Diary of a Mad Housewife</i>" & "<i>Cavaleiro Solitário</i>", um papel que ela fez muito bem e, tragicamente, levou consigo na triste vida pessoal, repleta de atribulações. Ao menos para mim, todavia, é pelo papel da assassina fria e implacável pelo qual eu me recordo de seu legado. Atrizes a cujos olhares é própria certa tristeza parecem canalizar sem esforço uma espécie de violência mais primitiva que torna papéis assim tão surpreendentes e inesquecíveis. </span><i>Charles Bronson</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, </span><i>monstre sacré</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> do cinema, cravou duradoura sobrevida no imaginário dos fãs como um herói estoico de poucas palavras e excelente mira, destemido ao peitar os vilões mais tenebrosos e imorais possíveis. Ao longo da extensa filmografia, deve ter enfrentado um magnífico espectro de vilões, de serial killers a traficantes de drogas. Surpreende-me, portanto, como razoável conhecedor de sua obra, que tenha sido criada por uma mulher, uma atriz, a figura antagonista de mais indelével impressão, daquele determinado momento da carreira de </span><i>Bronson</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, quando protagonizava os filmes para a </span><i>Cannon</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. Em "</span><i>Murphy's Law</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", a parte da <i>vendeta </i>do mafioso </span><i>Frank Vincenzo</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> não bastaria para resgatar o filme do lugar comum, afinal soaria como mesmice de outros thrillers policiais estrelados por </span><i>Bronson</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. Ao conceber a personagem de uma mulher determinada a se vingar, e lhe confiar o tão pivotal papel da mente maquiavélica de onde nascem as mais ardilosas ideias para tornar a vida do protagonista um inferno, a roteirista <i>Gail Morgan Hickman</i> presenteia o diretor </span><i>J. Lee Thompson</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> com um fértil campo de maravilhosas oportunidades, do qual o cineasta tirou bons frutos (<i>Carrie </i>menciona na mesma entrevista que, como diretor sensível a atores, </span><i>Thompson </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">escutava a cada uma de suas sugestões, e não hesitava em pô-las em prática). Valendo-se do criativo roteiro, <i>Thompson </i>cria algo inédito, uma vilã psicopata, atípica às cansativas encarnações de gangsteres em tramas do tipo, e por mais que o mérito caiba à <i>Carrie</i>, com seu desempenho absolutamente petrificante, <i>J. Lee</i> também merece uma salva de palmas por tê-la usado tão magnificamente. Em "</span><i>Murphy's Law</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", podem-se perceber duas forças antagônicas bem paralelas: mafiosos & </span><i>Joan Freeman</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. A existência dos mafiosos serve à função de deixar os fãs de </span><i>Bronson </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">mais confortáveis, afinal, habituados ao ator dispensando chumbo grosso a bandidos, se divertirão com a constante movimentação de tiroteios entre o herói e a turma de </span><i>Vincenzo</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, até o explosivo final. </span><i>Joan Freeman</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, por sua vez, adicionada ao conjunto como carta fora do baralho, o elemento de desestabilização da fórmula cansada, promove bem-vinda reviravolta na maneira de se contar a mesma história, e reveste essa aventura</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, que tinha tudo para passar desapercebida entre similares do gênero, de brilho próprio, uma joia incrustada entre outros títulos apenas medianos. Nesse sentido, "</span><i>Murphy's Law</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" se parece bastante com um de meus filmes de horror preferidos, "</span><i>w Delta z</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". Neste, à primeira vista, há pouco a despertar o interesse, razão pela qual fez modesto sucesso comercial. Francamente, a rotina</span><i> tira traumatizado v. serial killer </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">rendeu sua cota de interpretações instigantes, comparadas, frequentemente, ao pioneiro da fórmula, "</span><i>Se7en</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". Imagino que, quando do início das filmagens de "</span><i>w Delta z</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", em 2006, as pessoas devem ter passado a vista pela premissa e a desacreditado "</span><i>Oh, não, não mais um clone de Se7en</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". Qual não foi a surpresa quando </span><i>Tom Shankland</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> executou um filme de alma própria, cuja menor escala não o impedia de projetar sombra mesmo sobre seu mais desenvolto antecessor, "</span><i>Se7en</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". Eu sempre tive um grande apreço por "</span><i>w Delta z</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", e o tomei como superior a demais títulos do gênero justamente por aquilo que o filme </span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><i>não </i>é. "</span><i>w Delta z</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" <i>não </i>é um filme extremamente violento, <i>não </i>é cínico, passa longe de ironias, e não tenta parecer mais esperto do que o público, ao contrário de "</span><i>Se7en</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". Desconsiderada a memorável fotografia de <i>Darius Khondji</i>, encontro dificuldade em investir meu tempo na jornada dos personagens do filme de</span><i> David Fincher</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">. Quando os protagonistas de um filme não conseguem te cativar, seja pela arrogância, seja pela presunção, seja por falarem pelos cotovelos, sirva-se da analogia da fundação comprometida & condenada de uma edificação. Por mais bonita que pareça a fachada, uma mera "</span><i>embalagem</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" não a salvará do trabalho gradual & paciente da gravidade. Para os personagens de "</span><i>Se7en</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", achei a tentativa de <i>Fincher </i>de "</span><i>tocar fogo no mundo</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" muito contraproducente. Quando percebi o fim a que empregava o incontestável talento, foi difícil emular qualquer empatia por um jovem detetive que se arvora de saber de tudo, mas não tem a menor noção de como o mundo funciona, ou pelo veterano caladão e deprimido que pouco mostra de si. Menor que seja, o filme de </span><i>Shankland</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, simplório & de baixo orçamento, foi muito mais honesto, com os personagens mais humanos e psicologicamente enobrecidos, vividos por </span><i>Stellan Skarsgard</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, </span><i>Selma Blair</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, <i>Melissa George</i> e <i>Ashley Walters</i>, com cujas histórias conseguíamos nos envolver, e lamentar pelos seus trágicos destinos individuais. Alguns nominariam a construção dos personagens de "</span><i>melosa</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", "</span><i>piegas</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">". Eu a tomei como uma lufada de ar fresco, afinal, em uma época onde cinismo é enaltecido via escárnio, a simplicidade de seres humanos reais lidando com encruzilhadas calça "</span><i>w Delta z</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" com o favoritismo dos honestos. Sim, há aspectos técnicos que teriam se servido de uma revisão mais detalhada, contudo, mesmo na simplicidade, o filme decola com a leveza que nos leva junto em suas asas para um voo. Sensibilidade com o trato dos personagens, a fotografia melancólica de </span><i>Morten Soborg</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">... </span><i>Shankland </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">mostrou que não se precisa de muito, quando seu coração se centra no lugar certo. Voltando `a análise de "</span><i>Murphy's Law</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", eis a similaridade entre os dois filmes. "</span><i>Murphy's Law</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" tinha tudo para se tornar mais um lançamento de </span><i>Bronson </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">em uma época, anos 80, quando seu nome não atraia o mesmo público de antigamente, todavia, pelas circunstâncias do destino, calhou de virar um suspense policial verdadeiramente ímpar, e o último grande momento de <i>Bronson </i>antes da morte, muitos anos depois, em 2003. Ao revisitar o filme para elaborar a resenha, eu me atentei que "</span><i>Murphy's Law</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">" caberia como uma luva a um diretor como <i>James Wan</i>, talvez o melhor cineasta em atividade. Uma de suas habilidades - trabalhar em cima de fórmulas batidas para, a partir de um modelo, criar algo novo e excitante - restou inquestionável após o magnífico "</span><i>Sentença de Morte</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", de 2007, uma espécie de <i>remake </i>de "</span><i>Desejo de Matar</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">", coincidentemente, o filme pelo qual <i>Bronson </i>virou astro, em 1974. Ao voltar ao filme para escrever este trabalho, e me distrair com ilações sobre quem deveria executar um determinado papel, consegui enxergar a </span><i>Reese Witherspoon</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"> no papel da </span><i>Joan Freeman</i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">, em uma versão para a década de 2010, porque quem a viu no recente "<i>Hot Pursuit</i>", onde interpreta uma policial, sabe que ela também pode projetar altivez & força, e arrisco afirmar que <i>James Wan </i>nos daria um eletrizante suspense à altura de seus clássicos, como "<i>Sentença de Morte</i>" & "<i>Insidious 1&2</i>". Faço um adendo para destacar que mais do que atuações, se um </span><i>remake </i><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">entrasse, de fato, em produção, eu assistiria ao filme especialmente para ver como <i>James Wan</i> recapturaria aquele período - meados dos anos 80, com seus cabelos, roupas, músicas, carros, armas de fogo - em toda sua glória & extravagância. Por um viés estritamente fotográfico, o visual provavelmente pareceria mais berrante & romantizado, talvez ainda mais excitante do que efetivamente o foi. O que há de especial em mexer com peças desse quebra cabeça do passado nem chega a ser a perspectiva da aparência da completude do quadro, tantos anos depois, mas a forma como reimaginamos uma realidade paralela para justificar a melancolia inerente a exercícios do gênero.</span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTmO0zGoUgWawJkWpTEFHnipKIN2f761vYx-shPsvYdv-sJB7MM81ewzj9bOmUiQQAfOvNhaae298FXXqpyFwvxKfk7jTKIWKXdbsFIHVJpsOW_GRTYSk4_lxgCtFmetLiDNgNvD8eDXE/s1600/carrie-snodgress.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="450" height="256" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTmO0zGoUgWawJkWpTEFHnipKIN2f761vYx-shPsvYdv-sJB7MM81ewzj9bOmUiQQAfOvNhaae298FXXqpyFwvxKfk7jTKIWKXdbsFIHVJpsOW_GRTYSk4_lxgCtFmetLiDNgNvD8eDXE/s320/carrie-snodgress.jpg" width="320" /></span></a></div>
<span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Afinal de contas, no contexto de uma época há 30 anos, existe melhor termo para quantificar o peso de "<i>Murphy's Law</i>" do que <i>melancolia</i>? Não só as tramas violentas, os estilos de roupas, os carros, o ritmo e o sentimento - hoje elementos vívidos somente nas lembranças daqueles que se predispuseram a se recordar, artifício típico a que lançam mão os mais sentimentais, qualquer coisa para sublimarem despedidas - ficaram para trás, perdidos na calada da madrugada. <i>Não</i>, parte do protagonismo, parte dos artistas que deram vida a delírios de carne & osso também cavalgaram estrada afora, rumo ao pôr-do-sol, nos deixando como segredo de polichinelo a melodramática e fatal constatação da verdadeira semântica da alcunha <i>estrela</i>, rótulo a que permanecem tão atrelados quando em vida. E o paradoxo sematológico é: em vida, por mais infalíveis que pareçam a nossas despreparadas impressões, no íntimo, veem-se como pessoas absolutamente comuns, desempenhando a mentira das mentiras, a arte de criar vidas em celuloide. Somente na morte, depois que se vão, efetivamente sobem como coisinhas cintilantes para polvilhar o manto de noites bem claras como, aí sim, <i>estrelas</i>. <i>Bronson </i>morreu em 2003, aos 81 anos, em decorrência de complicações do mal de Alzheimer. Quase um ano depois, em 2004, <i>Carrie Snodgress</i> também se foi, à espera de um transplante de fígado,aos 58 anos. Você jamais imaginaria, só de olhar, como pessoas que por uma ou outra razão te marcaram são diferentes de como as construiu, psicologicamente. Em "<i>Murphy's Law</i>", <i>Carrie Snodgress</i> se entrega tão cegamente ao papel que você não suporia que uma personagem tão poderosa, tão intimidadora, fisicamente intimidadora, poderia esconder uma mulher cuja vida fora tão difícil & triste. Nesse diapasão, <i>por que não</i>? Algumas pessoas têm histórias tristes de vida, certo? Vejam a história da <i>Clare Higgins</i>, a atriz britânica por trás de dois dos melhores filmes de horror de todos os tempos, "<i>Hellraiser</i>" & "<i>Hellbound: Hellraiser 2</i>". Em que pese o venerável destemor ao se entregar aos recantos mais inexplorados e negros da alma para interpretar uma vilã como <i>Julia</i>, a própria vida da atriz, diametralmente oposta da fantasia escrita por <i>Clive Barker</i>, sustenta sua cruz de tristezas, impasses e remorsos, que, uma vez conhecida, nos felicita com um novo olhar à mesma pessoa. Eu já escrevi extensamente sobre a vida da <i>Clare </i>antes, e, no caso da <i>Carrie Snodgress</i>, a vida também atirou uma porção de desafios no seu colo, talvez até mais do que uma mulher corajosa deva suportar. Acho que toda mãe ama o filho mais do que a si, aliás, dizem que, uma vez que nos tornamos pais ou mães, não podemos mais morrer. Antes, nos aventuramos com a intrepidez dos "<i>imortais</i>". Basta a chegada de um filho, porém, para tomarmos real medida da régua do tempo, da facilidade com que mesas são viradas contra nossos peitos, com consequências desastrosas. Repentinamente, descobrimos que não podemos mais morrer tão cedo. Ter um filho com paralisia cerebral, como foi o caso da <i>Carrie Snodgress</i>, deve ser algo terrível, não pela criança, afinal todo filho vem ao mundo como uma benção para os pais. Refiro-me à profunda transformação espiritual que as pessoas sofrem, ao perceberem que precisam permanecer vivas & bem, por causa da criança, como o protagonista de "<i>Freedomland</i>" desabafa, em uma cena emocionante, "<i>Agora, tudo o que eu quero é não abandoná-lo (o filho)</i>", e que não nos cabe antever nosso tempo. Ela também sofreu muito na esfera sentimental, porque não teve parceiros duradouros, ou companheiros que respeitassem sua individualidade. O casamento com <i>Neil Young </i>não durou, e <i>Carrie </i>se envolveu em uma nova relação turbulenta, com<i> Jack Nietzsche</i>, compositor de trilhas para filmes. O namorado foi preso e passou 3 anos na cadeia por agredi-la no rosto com o cabo de um revólver. Você assistiria a "<i>Murphy's Law</i>" e seria levado a crer que a mulher que manuseia com destreza um arco-e-flecha e afoga um homem maior com as próprias mãos quebraria com facilidade o pescoço de um ex-namorado que lhe levantasse a voz, mas a "<i>Joan Freeman do lado de lá da tela</i>" resume-se a uma performance muito técnica de uma atriz talentosa de vida complicada que só queria cuidar do filho, do mesmo jeito que a "<i>Julia do lado de lá da tela</i>" do filme de <i>Barker </i>se tornou real graças à dramaturgia da "<i>Julia do lado de cá</i>", <i>Clare Higgins</i>, outra atriz fantástica, que não suportava violência (deixou a premiere de "<i>Hellraiser</i>" 10 minutos após o início, ela simplesmente não conseguia assistir a filmes de horror) e, na esfera pessoal, sofria de remorso e tentava reconquistar o filho que aos 17 anos entregara para adoção. Sobre a <i>Carrie Snodgress</i>, impressiona-me como descobrimos tanto sobre uma pessoa, depois que ela se vai, principalmente em uma época em que o acesso à informação atinge a velocid</span><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">ade da luz. <i>Kathleen Wilhoite</i> também tem boas lembranças de conhecê-la em "<i>Murphy's Law</i>": "</span><span style="line-height: 100%;"><i>Eu me lembro da Carrie Snodgress. Ela era minha amiga. Ela era uma atriz maravilhosa,
e me ensinou a 'quebrar' o script em módulos para organizar as
minhas cenas. Ela era extremamente generosa comigo</i>".</span></span><br />
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="line-height: 100%;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyN6e_Gmr1Q7T-Cee1NTl-sfXI4g21L3idq1UHjsn25QVD2nxQbBmmaN8uLrcVbxV7ZHOo7gGM7wP3iFdo6zWKfDmWWk7O9DTn0RQj4PDTk22zkurmp9gtGFAk_u-_Y1G-BbrCw0X56Pw/s1600/encurralado-em-las-vegas-burt-reynolds.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="946" data-original-width="1200" height="252" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyN6e_Gmr1Q7T-Cee1NTl-sfXI4g21L3idq1UHjsn25QVD2nxQbBmmaN8uLrcVbxV7ZHOo7gGM7wP3iFdo6zWKfDmWWk7O9DTn0RQj4PDTk22zkurmp9gtGFAk_u-_Y1G-BbrCw0X56Pw/s320/encurralado-em-las-vegas-burt-reynolds.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: arial;"><span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif">Eu não teria como desfechar a resenha em uma nota tão emocional,
afinal de contas, filmes da <i>Cannon </i>encapsulam a ideia da diversão inofensiva,
seja pelos exageros, seja pela ingenuidade de uma irresgatável era, substituída por tempos mais cínicos & incertos.
Hoje, as fitas de vídeo da <i>América Filmes</i>, com suas capinhas azuis & estreladas, amontoam-se nos gabinetes de
colecionadores com motivos de sobra para se orgulharem, e muitas
dessas pessoas foram graciosas e gentis a ponto de escanearem as
saudosas capas de vídeo, para que aqueles acima de 30 anos se
afoguem em nostalgia! Vejam só, logo abaixo, a vinheta exibida no
início da fita, e "<i>façam sua tela pegar fogo</i>". Saquem
só <i>Burt Reynolds</i> em "<i>Encurralado em Las Vegas</i>",
aos 36 segundos!</span><br />
<br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: arial;"><iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/nA7UI1dRwR4/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/nA7UI1dRwR4?feature=player_embedded" width="320"></iframe></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWx8qYF9W-BMDFjED6ddBBl2q_Jg-YjIM0AoW247imkm3DSRtATlwYmPExojTHUOrKj1P-4JH1FdpmUEpWhucLqQvGbAy7tGazrcRd7MCh2Coi0e_LtoWQfQ9rCm8oom_g3CozLEIUvDIG/s1312/electric-boogaloo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="1312" data-original-width="922" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWx8qYF9W-BMDFjED6ddBBl2q_Jg-YjIM0AoW247imkm3DSRtATlwYmPExojTHUOrKj1P-4JH1FdpmUEpWhucLqQvGbAy7tGazrcRd7MCh2Coi0e_LtoWQfQ9rCm8oom_g3CozLEIUvDIG/w281-h400/electric-boogaloo.jpg" width="281" /></span></a></div><span style="font-family: arial;"><span style="background-color: white; color: #333333;"><br />Nós que temos idade para ter vivido aquela fantástica época sabemos como foi um tempo maravilhoso. Agora, imaginem escutar as recordações de pessoas que trabalharam dentro do estúdio, e ajudaram a criar a magia da qual sentimos falta! Quem falou sobre a experiência foi <i>Albert Pyun</i>, um dos mais celebrados diretores de filmes B em atividade nos anos 80/começo dos anos 90. Hoje, os mais jovens sequer conhecem o nome, mas quem amava filmes e era adolescente nos anos 90 se lembrará das sensacionais esquisitices de <i>Pyun </i>estreladas por gente como <i>Van Damme</i>, <i>Steven Seagal</i>, <i>Christopher Lambert</i>, <i>Ice T</i>, <i>Rob Lowe</i> e tantos outros. <i>Pyun </i>quase não trabalha mais. O tempo marcha, e a indústria não vê muito valor naqueles que por mais que amem criar, não participam do grande esquema. Recentemente acometido por uma moléstia degenerativa, seus fãs voltaram a falar do cineasta, o que lhe valeu um modesto <i>revival </i>dos clássicos mais antigos, como "<i>Sword and the Sorcerer</i>". Em uma série de entrevistas concedidas a blogs de cinema, <i>Pyun </i>rememorou, com muita dignidade, sua fase criativa na saudosa <i>Cannon</i>. Ele afirma, em entrevista a <i>Ronald Perrone</i>, para o blog <i>Radioactive Dreams</i>: "</span><i style="background-color: white; color: #333333;">Foi divertido, louco e barulhento! Ele (Menahem Golan) amava filmes e o mundo do cinema, e isso era excitante e contagiante. Um bom homem. Se você tivesse uma ideia, e fosse diretamente a ele para sugeri-la, seus olhos acenderiam, e ele diria 'Vá fazer! Eu quero ver esse filme!'. Ele era extraordinário para um jovem, maluco cineasta como eu, na época</i><span style="background-color: white; color: #333333;">". O cineasta ainda contrapõe o sistema dos estúdios de filmes de baixo orçamento </span><i style="background-color: white; color: #333333;">versus </i><span style="background-color: white; color: #333333;">o tipo de mercado que procurava atender: "</span><i style="background-color: white; color: #333333;">Havia um modo de se fazer filmes na Cannon, quando eu trabalhava lá. O estúdio utilizava junk bonds (títulos especulativos) para financiar os filmes. (Menahem Golan/Yoram Globus) foram uns dos primeiros a firmarem contrato com as companhias de vídeo, pelo qual basicamente realizavam a pré-venda dos títulos… As companhias de vídeo chegavam para eles e diziam 'Dê-nos os seus próximos 50 filmes, e te entregaremos uma determinada soma de dinheiro'. E então chegou ao ponto que eles pegavam boa parte desse dinheiro, investiam em coisas como 'Superman IV – Em Busca da Paz', os filmes de maior orçamento da casa, e então, depois, caiam na real 'Oh, Deus, nós não temos mais dinheiro suficiente para cumprir o acordo (de entregar o restante dos filmes). Gastamos o dinheiro que tínhamos para 50 filmes em apenas 5, e agora não temos o suficiente para os outros 45'. E era então que me procuravam dizendo 'Bem, temos de entregar para as companhias de vídeo todos esses outros filmes. Você poderia rodá-los por quase nenhum dinheiro, e filmá-los nesses outros países distantes onde temos crédito, de modo a não precisarmos tirar dos nossos bolsos?' Era selvagem mesmo!</i><span style="background-color: white; color: #333333;">". Sobre "</span><i style="background-color: white; color: #333333;">Superman 4 - Em Busca da Paz</i><span style="background-color: white; color: #333333;">", o estúdio, que separara 36 milhões para produzir o longa, precisou realocar metade desse valor para honrar os contratos com as empresas </span><i style="background-color: white; color: #333333;">home video</i><span style="background-color: white; color: #333333;">. A última aventura de </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Superman </i><span style="background-color: white; color: #333333;">estrelada por </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Christopher Reeve</i><span style="background-color: white; color: #333333;">, portanto, custou meros 17 milhões de dólares, e o produto final, muito aquém das aventuras épicas regidas por </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Richard Donner</i><span style="background-color: white; color: #333333;">, com </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Marlon Brando</i><span style="background-color: white; color: #333333;"> como abre-alas, ainda causa mal-estar aos fãs de </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Reeve</i><span style="background-color: white; color: #333333;">, o único & verdadeiro </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Superman</i><span style="background-color: white; color: #333333;">. Ele merecia uma despedida muito, muito mais épica. Apesar de se lembrar dos anos na </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Cannon </i><span style="background-color: white; color: #333333;">como selvagens e divertidos, quando o estúdio encerrou suas operações, </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Pyun </i><span style="background-color: white; color: #333333;">vocaliza a dor do fim de um ciclo: "</span><i style="background-color: white; color: #333333;">Uma vez que os problemas financeiros nos acertaram, deixou de ser divertido, e tornou-se incrivelmente triste</i><span style="background-color: white; color: #333333;">". Após a falência, o catálogo da </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Cannon </i><span style="background-color: white; color: #333333;">foi adquirido pela </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Metro-Goldwin Mayer</i><span style="background-color: white; color: #333333;">. Se vocês procurarem hoje por filmes da </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Cannon </i><span style="background-color: white; color: #333333;">em DVD, os encontrarão sob o selo da MGM, atual detentora dos direitos autorais. As adoráveis caixinhas azuis ilustradas por estrelas não existem mais, a não ser, claro, nas estantes dos colecionadores de VHS. Ao escrever sobre o ciclo da </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Cannon</i><span style="background-color: white; color: #333333;">, da origem ao fim, da maluquice à melancolia, da festa fervilhante ao silêncio sepulcral, eu pensei em "</span><i style="background-color: white; color: #333333;">Boogie Nights - Prazer sem Limites</i><span style="background-color: white; color: #333333;">". Entre tantas outras coisas, o drama de </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Paul Thomas Anderson</i><span style="background-color: white; color: #333333;"> contava uma história semelhante, através da ascensão & queda do astro pornô vivido por </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Mark Wahlberg</i><span style="background-color: white; color: #333333;">, nos anos 70. </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Burt Reynolds</i><span style="background-color: white; color: #333333;"> interpretava o diretor de filmes pornôs e figura paterna para a trupe, e através de seus olhos, </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Paul Thomas Anderson</i><span style="background-color: white; color: #333333;"> retratava o fim de uma época, quando o cinema pornô, até o início dos anos 80 aceito como um tipo de arte, merecedora de exibição nas telas grandes, marginal que fosse, se viu relegado ao vídeo, o que tirou a autonomia das pessoas que transitavam por aquele submundo tão transgressor para sobreviver. O personagem do </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Burt </i><span style="background-color: white; color: #333333;">encapsulava muito bem a frustração dos cineastas que, de uma hora para a outra, foram forçados a produzir o dobro por metade dos custos de outrora, para suprir as vídeolocadoras. A segunda metade do filme, portanto, torna-se mais sombria & pesarosa, quando aquela gente entra nos anos 80 e cada qual vai se perdendo por distintas razões: alguns se afundam nas drogas, outros no crime. Para completar, a indústria pornô estava às vésperas de ser acertada furiosamente por um golpe fulminante, uma doença prestes a emergir, a AIDS. Eu me recordei da segunda metade de "</span><i style="background-color: white; color: #333333;">Boogie Nights - Prazer sem Limites</i><span style="background-color: white; color: #333333;">" ao ler o trecho final da fala de </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Albert Pyun</i><span style="background-color: white; color: #333333;"> sobre o fechamento da </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Cannon</i><span style="background-color: white; color: #333333;">. Ao procurar pela antiga vinheta da </span><i style="background-color: white; color: #333333;">América Filmes</i><span style="background-color: white; color: #333333;">, e há vários vídeos com a vinheta em questão, temia parecer muito apegado ao passado, mas então li os comentários sob o vídeo. Muitas, muitas pessoas se sentem de modo semelhante. Por mais que sejamos tão diferentes, cada pessoa um universo, há elementos fundamentais a qualquer ser humano, como saudade, a maneira como reagimos à saudade. Como o psicanalista </span><i style="background-color: white; color: #333333;">Rubem Alves</i><span style="background-color: white; color: #333333;"> escreveu tão bem antes, quando a sentimos, aí está nossa alma apontando para onde gostaríamos de voltar.</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" style="font-family: arial;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif" style="font-family: arial;"><iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/7Ujo7IyeAn8/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/7Ujo7IyeAn8?feature=player_embedded" width="320"></iframe></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span face=""arial" , "helvetica" , sans-serif"><span style="font-family: arial;"><i style="background-color: #f3f3f3;">Todos os direitos autorais reservados a Metro-Goldwin Mayer. O uso do trailer & imagens é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i></span></span></div>
</div>
Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-90156839685098417532016-01-03T16:39:00.000-08:002019-03-14T07:03:47.123-07:00"Boulevard" (2014) & "Creep" (2014) & "The Conspiracy" & "A Entidade 2" (Sinister 2, 2015): Boas ações não costumam sair impunes. E, no caso dos personagens destes filmes, não sairão mesmo.<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyMSPiay8CcORd_7q-uXE8i4igRDz3A1YeonIqVCHgcT89n0SfO4EDQhnzNDcR75Y16ZrniVWJLwvgaaNDbbhk7yGwg2O2mAFYDjm1o6Ckw089XUDZ5n6XcsEyWJ5n_FNcv5t8GEjdAtc/s1600/Creep-movie-still.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyMSPiay8CcORd_7q-uXE8i4igRDz3A1YeonIqVCHgcT89n0SfO4EDQhnzNDcR75Y16ZrniVWJLwvgaaNDbbhk7yGwg2O2mAFYDjm1o6Ckw089XUDZ5n6XcsEyWJ5n_FNcv5t8GEjdAtc/s320/Creep-movie-still.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Mais um ano chega ao fim. Não bastasse 2015
ter oferecido filmes tão <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">interessantes</span>, obras que instantaneamente fizeram por
valer seus lugares ao lado de clássicos consagrados que vêm compondo meu imaginário por tanto tempo, o mês de
dezembro fecha o ano com chave de ouro, com 4 lançamentos nada menos do que
extraordinários. Os filmes sobre os quais discorrerei na resenha pertencem a
gêneros distintos: "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Sinister 2</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">" & "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Creep</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">" ilustram a opinião já tão ventilada nesse blog de que é
do time criativo da <i>Blumhouse Productions</i> de onde <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">partem </span>os melhores filmes de horror da atualidade, o independente "<i>The Conspiracy</i>" nos lembra de que do âmbito
do cinema independente os cineastas mais destemidos se revelam com estreias
contundentes; e, por fim, "<i>Boulevard</i>" nos permite olhar para um ícone do cinema sob uma
diferente perspectiva da que já havíamos nos acostumado<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">.</span> <i>Robin Williams</i> tem o
rosto <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">automaticamente </span>associado a comédias, e seu novo filme, objeto de parte
da resenha, lhe <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">proporcionou </span>a valiosa oportunidade de desconcertar o público cativo com uma
novidade que <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">traz </span>à tona diferentes <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">truques </span>de um incontestável talento. "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Sinister 2</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">", "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Creep</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">", e "<i>Boulevard</i>" são produções recentes, "<i>Boulevard</i>" inclusive o último
filme de <i>Williams </i>antes de sua morte em 2014, "<i>The Conspiracy</i>" foi rodado em
2012, porém como toda joia do circuito cult, somente foi descoberto alguns anos após o
lançamento, pela força dos rumores ventilados por <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">gente </span>que o conhecia e <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">lhe tecia elogios rasgados</span>, angariando interessados que se tornaram novos fãs. Eu cheguei a
"<i>The Conspiracy</i>" através de recomendações de fãs de "<i>Creep</i>"<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Essas pessoas enxergavam </span>nas duas
produções o tipo de energia rara nas coisas em cartaz nos multiplexes. Os filmes serão
exaustivamente esmiuçados mais adiante, porém é seguro afirmar que independente
de suas diferenças – tratam-se de gêneros & tramas bem específicos – as 4
obras guardam uma característica em comum, o ponto que lhes <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">vale </span>o estudo em um mesmo artigo: <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">as produções </span>permanecem fresc<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a</span>s na memória muito tempo após os termos visto,
por diferentes razões. Em tempo de coisas muito voláteis – boas, mas
voláteis – a afirmativa acima goza de ressonância, mas acreditem, eu apreciei
abordá-los justamente por conta dos detalhes sobre os quais vale à pena
discutir. Hoje, ao observamos um cinema cada vez mais atrelado a grandes efeitos e
espetáculo, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">escrever </span>sobre detalhes soa ridículo. Se a sustentação de interesse se
fundamenta justamente na grandiosidade de cenas concatenadas em êxtase virtual, como se pensar em
detalhe quando é o conjunto <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">que merece </span>importância? Ocorre que ao menos para mim os
detalhes sempre encontraram um jeito de capturar meu olhar, e se nenhum dos
filmes objeto da resenha evocam cenas visualmente bombásticas, pelo viés dos
detalhes sustentam o mistério e te envolvem como lençóis mornos sem que você se
dê conta até perceber que não consegue pensar em outra coisa.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfGy8pNaKEeWJs-U2O2cLMqt46DKXJDVf3i9b5BfIS8TeVebnwKyE4tnDrS1Fq0J4MiZpMJ4Yv3GrDfHaboviEfqSX6M9GbnVg1o67_J8jmWO_8VUt0L1tk6lXfTJPa7iqJG3hYpjJkBw/s1600/boulevard.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="755" data-original-width="510" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfGy8pNaKEeWJs-U2O2cLMqt46DKXJDVf3i9b5BfIS8TeVebnwKyE4tnDrS1Fq0J4MiZpMJ4Yv3GrDfHaboviEfqSX6M9GbnVg1o67_J8jmWO_8VUt0L1tk6lXfTJPa7iqJG3hYpjJkBw/s320/boulevard.jpg" width="216" /></a></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Quando </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Robin Williams</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;"> se foi em agosto
de 2014, as pessoas lamentaram sua perda, vez que por força de tantos filmes memoráveis e ensolarados,
haviam se acostumado a enxergá-lo como alguém de casa, uma pessoa do convívio, como um tio querido e engraçadão, ou mesmo
uma figura paterna substituta. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Williams </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">era um homem muito querido, apenas não tinha noção do alcance de seu apelo, afinal sabe-se hoje sobre a luta contra a depressão, uma guerra que
o astro lamentavelmente perdeu em agosto do ano passado. Os fãs se recordaram de </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Williams</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;"> pelos saudosos
blockbusters que o tornaram icônico, todavia eu não tive como evitar a decepção
ao constatar que embora tenha recebido o devido respeito, suas melhores
performances, encontradas justamente em coisas independentes, menores e
sombrias, rodadas a baixo orçamento, permanecem largamente ignoradas. Eu me refiro
a "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Retratos de uma Obsessão</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">", a "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Segredos na Noite</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">", a "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Violação de
Privacidade</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">" e a "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Boulevard</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">". Se os amigos sentem saudade de
</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Williams</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">, recomendo que deem uma chance aos filmes menores. Pouco viáveis
comercialmente, tiveram sobrevida no circuito de arte e depois em DVD. Agora, estão ao alcance dos fãs
dispostos a conferi-lo em seus momentos dramáticos mais contundentes, sombrios e
reveladores.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Nolan Mack</i> (<i>Robin Williams</i>) é um
executivo de estatura em um conceituado banco. Aos 60 anos, leva o trabalho
muito a sério, e conhece como poucos o intrincado funcionamento da
burocracia do sistema. Dotado de uma visão mais humanista, <i>Nolan </i>usa sua
posição na hierarquia para fazer a diferença na vida das pessoas a quem atende,
como quando por sua recomendação o banco aprova o financiamento do imóvel que um jovem casal gay pretende adquirir. No início do filme, o vemos visitar o
pai idoso e doente, hoje assistido em um asilo. Apesar das manifestações de
apreço do filho, o senhor se trancou em inexplicável mutismo há algum tempo.
Ao nos guiar pela rotina matinal de <i>Nolan</i>, o diretor nos abre uma janela para
dentro do dia a dia daquele homem absolutamente ordinário. Nós o vemos cumprir os rituais do despertar, tão
familiares a todos nós, e visitar a esposa <i>Joy</i> (<i>Kathy Baker</i>) no quarto. Embora se tratem
amorosamente e a cumplicidade entre os dois evidencie-se mesmo nos pequenos detalhes, <i>Nolan </i>e <i>Joy </i>se
habituaram a dormir em cômodos separados. Arrumado para o trabalho, <i>Nolan </i>leva
um chá para a esposa, que lê um livro na cama. Eles trocam palavras amáveis, impressões
sobre o livro, e se desejam um Bom Dia.</span></span><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheLcWBU2EbsTtL13gi6T92MxaEEYKF3Oat_qdxyS9qnyLE1k7ypjW8H3WXxwsnImfXqbI2JT4jpL2Kn9wbkoEZtsl_ITnLaDEfMXhYabGvxCUgetZL5um1qdv02Sdl78hbsuDXRwkixHU/s1600/boulevard-movie-still-4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1341" height="165" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheLcWBU2EbsTtL13gi6T92MxaEEYKF3Oat_qdxyS9qnyLE1k7ypjW8H3WXxwsnImfXqbI2JT4jpL2Kn9wbkoEZtsl_ITnLaDEfMXhYabGvxCUgetZL5um1qdv02Sdl78hbsuDXRwkixHU/s400/boulevard-movie-still-4.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 106%;">No escritório, </span><i style="line-height: 106%;">Nolan </i><span style="line-height: 106%;">atende a </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">um casal </span></span><span style="line-height: 16.96px;">homo afetivo</span><span style="line-height: 106%;">. Os rapazes darão um importante passo no compromisso:
adquirirão juntos um imóvel. Para isso, precisam da aprovação preliminar do banco para o empréstimo. Ao
recomendar ao diretor a transação, </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">dado o histórico de</span><span style="line-height: 106%;"> honestidade dos clientes, </span><i style="line-height: 106%;">Nolan</i><span style="line-height: 106%;"> torna o sonho do
casal possível. Quando leva a papelada para a assinatura do diretor, o
cavalheiro tece elogios à dedicação de </span><i style="line-height: 106%;">Nolan</i><span style="line-height: 106%;">, e </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">cita </span><span style="line-height: 106%;">os 25 anos ao longo
dos quais tem demonstrado fidelidade e eficiência </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">fora de série</span><span style="line-height: 106%;">. Ao perguntar
o que </span><i style="line-height: 106%;">Nolan </i><span style="line-height: 106%;">deseja mais para a vida, o Sr. </span><i style="line-height: 106%;">Beaumont </i><span style="line-height: 106%;">(</span><i style="line-height: 106%;">Henry Haggard</i><span style="line-height: 106%;">) emenda a questão com a novidade de que o banco abrirá uma nova perna de operações em
Belverde Park, de modo que </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">criará </span><span style="line-height: 106%;">a vaga para uma posição de enorme importância
no organograma. </span><i style="line-height: 106%;">Beaumont </i><span style="line-height: 106%;">deseja que </span><i style="line-height: 106%;">Nolan </i><span style="line-height: 106%;">assuma a cobiçada pasta da gerência. Tocado, ele responde que pensará a respeito. </span><i style="line-height: 106%;">Beaumont </i><span style="line-height: 106%;">conta que a
recomendação para a vaga se encontra na mesa do Presidente Regional, e sugere
um jantar entre amigos, com o Presidente Regional como convidado, para selar a
promoção. A secretária entrará em contato para acertar os detalhes.</span></span><br />
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj83yLAVKFuYWNoGdnu-wDEyL0FAvSrmIJmTEmDloMhFRscK8vIy7J3Ip6dm7rZhrk9oq5gkA5xiUVQi6xcs6wNOMPrdTTAdnYqzAsJdhkIXFrYsoN4Tvp3nmH5oeDF9tD4JgXyhOZ1Ku4/s1600/Boulevard-movie-still.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="380" data-original-width="675" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj83yLAVKFuYWNoGdnu-wDEyL0FAvSrmIJmTEmDloMhFRscK8vIy7J3Ip6dm7rZhrk9oq5gkA5xiUVQi6xcs6wNOMPrdTTAdnYqzAsJdhkIXFrYsoN4Tvp3nmH5oeDF9tD4JgXyhOZ1Ku4/s400/Boulevard-movie-still.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Naquela noite, <i>Joy </i>e <i>Nolan </i>receberão
Professor <i>Winston </i>(<i>Bob Odenkirk</i>), um querido amigo do casal, para jantar. A interação entre
os dois na cozinha, cuidando da comida no forno e demais preparativos, só destaca ainda mais a cumplicidade do
casal. A comida já está <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">no ponto</span>, mas <i>Joy </i>se esqueceu do vinho. <i>Nolan</i>
trata de buscar um da melhor safra<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>no supermercado local. Professor <i>Winston</i>
comparece ao jantar com a nova namorada, uma moça chamada <i>Patty</i>. Aparentando por volta de 30
anos, <i>Patty </i>é no mínimo duas décadas mais jovem do que <i>Winston</i>, no entanto eles se dão muito bem e parecem gostar da companhia um do outro. <i>Winston </i>anima o
jantar com um papo bem-humorado sobre miscelâneas da vida no campus. Ao falar
sobre um cruzeiro que fez recentemente com <i>Patty</i>, <i>Winston </i>dá uma boa ideia a
<i>Joy</i>, que comenta <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o</span></span> marido que adoraria realizar semelhante viagem com
<i>Nolan</i>. <i>Winston </i>brinca que nem imagina seu amigo tirando férias: ele sempre viveu
para o trabalho! O professor sugere que se <i>Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">se ausentar para o cruzeiro</span>, o banco irá à
falência, ou melhor, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">se até mesmo</span> aceitar a promoção e se mudar para a outra filial
em Belverde Park, o banco onde trabalha entrará em declínio do mesmo jeito. <i>Joy
</i>não sabia da novidade ainda, <i>Nolan </i>contou primeiro ao professor, não à
esposa.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Após a reunião, <i>Nolan </i>ajuda a esposa a
lavar a louça, e explica que falaria sobre a promoção mais tarde, pois ainda não tem certeza. Ele recebe
uma inesperada ligação do asilo. O pai sofreu uma emergência médica e se
encontra na UTI. Já é tarde da noite quando o pensativo <i>Nolan </i>deixa o hospital,
e ao passar por uma parte mais perigosa do centro, avista o passeio público onde
garotos de programa se vendem. O filme começa a nos revelar uma
porção de coisas sobre o personagem. Depois de um minuto de hesitação, <i>Nolan </i>executa o retorno, e passa rente à calçada para dar uma
melhor olhada nos garotos de programa. Distraído, dirigindo muito
vagarosamente, ele quase atropela um rapaz chamado <i>Leo</i> (<i>Roberto
Aguire</i>). Depois de vocalizar a frustração xingando <i>Nolan</i>, <i>Leo </i>se afasta. <i>Nolan
</i>pareia o carro com o rapaz, para insistir em seus pedidos de desculpas, o que
deixa <i>Leo</i> menos furioso. O garoto de programa pergunta se ele gostaria de lhe
oferecer uma carona, e <i>Nolan </i>o convida a entrar. Ao enxergar carros de Polícia
se aproximando do passeio público, <i>Leo </i>o aconselha a dirigir até a um lugar mais
sossegado. </span></span><br />
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></span><br />
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQ17oyj23vuMa1vWbMMOFikhB9Zhcb8BA3hcWSHbOcDqUjklTrbBAWv6jHUyjp9FcOxd5JRHy4ks0QUySXuFiQsY9h8_PZe3SrG33osPiUgcopU9K1hDtuOmOZ1encot5epqp4ifsjEMY/s1600/boulevard-movie-still-14.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1337" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQ17oyj23vuMa1vWbMMOFikhB9Zhcb8BA3hcWSHbOcDqUjklTrbBAWv6jHUyjp9FcOxd5JRHy4ks0QUySXuFiQsY9h8_PZe3SrG33osPiUgcopU9K1hDtuOmOZ1encot5epqp4ifsjEMY/s400/boulevard-movie-still-14.jpg" width="400" /></a><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">paga a diária em um típico motel de
beira de estrada. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Leo </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">se surpreende quando o homem se mostra um cliente
incomum: </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">não parece interessado em manter intimidades, apenas deseja a
companhia do rapaz por algumas horas. Obviamente, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Leo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;"> percebe que </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">jamais
fez um programa antes, e procura apenas algum conforto emocional. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">cita
coisas da vida pessoal, como o fato de a mãe ter morrido há seis meses. Por
alguma razão, encontra algum consolo ao desabafar com o rapaz. Após dar
uma carona a </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Leo </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">de volta ao passeio público, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">lhe dá mais dinheiro, e fornece o número do celular pessoal. O rapaz promete que o procurará. Eles se
despedem. Ao voltar para casa, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">entra cuidadosamente no quarto da esposa
para desligar a televisão e apagar a luz do abajur. Ela está dormindo. A partir desse
ponto, o filme estabelece a natureza do dilema do protagonista. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">jamais ficou em termos com a própria orientação, e mesmo hoje se sente culpado em até mesmo
pensar a respeito. Apesar de uma vida financeira confortável e uma companheira
que mais do que parceira é sua melhor amiga, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">jamais pôde se sentir
confortável pela pessoa que é. Ao contrário, vive uma existência onde luta para
se tornar a pessoa que os outros, nominalmente esposa & pai, esperam que ele seja.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Nolan </i>e <i>Winston </i>se encontram no bistrô
do campus para bater um papo. <i>Patty </i>trabalha ali, e o agradece pelo
fantástico jantar da outra noite. A conversa entre os dois revela que <i>Nolan </i>e <i>Winston </i>se
conhecem desde a adolescência, sempre foram bons amigos, e vieram de uma
cidadezinha modesta, onde nutriam planos para estudar em Nova York, e <i>Winston</i>
sonhava em escrever o grande romance norte-americano. "<i>O tempo voa</i>", <i>Winston
</i>observa. Ele revela que o namoro com <i>Patty </i>completará 4 meses, uma espécie de
recorde para o professor, avesso a relacionamentos mais duradouros. Ele comenta
que inteligente e capacitada como é, <i>Patty </i>eventualmente cairá na real que pode encontrar um sujeito melhor e mais jovem, e lhe dará um fora.
<i>Winston </i>aprecia a companhia da moça, porém se mantém realista. No banco, <i>Nolan
</i>fica estudando o celular, à espera de uma ligação de <i>Leo</i>. Dedicado ao extremo, ele permanece até mais tarde no escritório. O vigia fecha as luzes das demais salas. <i>Nolan </i>lhe deseja uma boa noite e explica que permanecerá para terminar um trabalho de última hora.
Ele faz uma ligação para <i>Joy</i>, e inventa uma desculpa qualquer para
permanecer no escritório até mais tarde. Claro que ele retorna ao passeio
público onde encontrou <i>Leo </i>pela primeira vez. Como esperado, o rapaz se
encontra por ali, e entra no carro assim que o vê. Quem assiste a tudo é o cafetão do rapaz,
que já sacou que o cliente nutre sentimentos por <i>Leo</i>. Inescrupuloso, resume-se
a uma questão de tempo até que bole alguma estratégia maquiavélica para
tirar proveito da situação.</span></span><br />
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKcGJCklEHVIz1o9W-GKtlgh7Pwl-CCwkCa8DPT9TdceVwcij6bPgU0rWykMoIEKBLdtZeNrXDMxdL9WIoclgVPJiQupccttNpxce0qsmpN6rvFxFBtmMnQU8cGprVxbScOQAW9GFGnUM/s1600/boulevard-movie-still-5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1339" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKcGJCklEHVIz1o9W-GKtlgh7Pwl-CCwkCa8DPT9TdceVwcij6bPgU0rWykMoIEKBLdtZeNrXDMxdL9WIoclgVPJiQupccttNpxce0qsmpN6rvFxFBtmMnQU8cGprVxbScOQAW9GFGnUM/s400/boulevard-movie-still-5.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi05LtWUp1yNx0GaZ-Uh55aXxbTFn94Qyd81z22Yv33uqQ2Kug0Fqvl-xEGeHwUog42aizXab4Cu6zsGcWsJm66ZVBE_IqZM-Te4woo7GdQ0Uf12gLvLUG29dv1ZOduEanhPMpVTZHZixg/s1600/boulevard-movie-still-6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="553" data-original-width="1339" height="165" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi05LtWUp1yNx0GaZ-Uh55aXxbTFn94Qyd81z22Yv33uqQ2Kug0Fqvl-xEGeHwUog42aizXab4Cu6zsGcWsJm66ZVBE_IqZM-Te4woo7GdQ0Uf12gLvLUG29dv1ZOduEanhPMpVTZHZixg/s400/boulevard-movie-still-6.jpg" width="400" /></a><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">o presenteia com um celular para
que possam manter contato mais frequentemente. Eles escolhem um quarto no mesmo
motel. Novamente, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">não parece inclinado a nenhuma intimidade, a natureza do conforto que busca é de outra ordem. Falando sobre
gostos pessoais e a infância, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">desabafa sobre o pai e os problemas de
saúde do idoso. Ele se abre e conta que sentiu saudades do rapaz. Quando volta
para casa, depois de meia noite, encontra a mulher no gabinete, navegando
na internet. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">novamente se desculpa com uma mentira: com a promoção em vias de se concretizar,
tem dado duro para fazer por merecer a vaga. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Joy </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">revela que tem consultado pacotes para
cruzeiros, e os preços nem parecem tão caros assim, considerando os serviços. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan
</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">parece aberto à aventura, e quando se despede da esposa para se recolher, ela
conta que tentou contatá-lo pelo telefone fixo do escritório, mas ninguém atendeu.
</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">explica que resolvera procurar o sossego da diner preferida, a Sub Stop,
para trabalhar nos documentos.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Nolan </i>visita o pai, e ele parece mais
estabilizado. A caminho do banco, passa pela Sub Stop, quando verifica que há um
cartaz na vitrine da diner. O lugar permanecerá fechado para obras por alguns meses. Ele
deduz que a esposa deve tê-lo flagrado na mentira, e se sente bastante
embaraçado. À noite, enquanto assiste a um programa de TV na sala de estar, recebe uma mensagem de texto de <i>Leo</i>, e discretamente escreve que no momento se encontra com
a mulher e conversarão mais tarde. Depois de se recolher, <i>Nolan </i>permanece
acordado por um tempo, esperando uma mensagem de texto. Na manhã seguinte, é <i>Joy </i>quem o
desperta. <i>Nolan</i> perdeu o horário. Ele chega atrasado ao banco, talvez pela
primeira vez em todos aqueles mais de 20 anos. <i>Nolan </i>se desculpa com o Sr. <i>Beaumont </i>e
promete que deslizes do tipo jamais se repetirão. Em dado momento da manhã, do
estacionamento do banco, <i>Nolan </i>faz uma ligação e convida <i>Leo </i>para jantar em
um excelente restaurante. Ninguém jamais tratou <i>Leo </i>daquela maneira. Ele revela que a única pessoa que fez algo semelhante foi a mãe, em seu
aniversário, quando criança. <i>Leo </i>deixou a casa há alguns anos, depois que a mãe começou a se
relacionar com um sujeito muito desagradável e o trouxe para dentro de casa. Ao
se escusar para o banheiro, <i>Nolan </i>cruza com <i>Beaumont</i>, ali acompanhado da esposa. Ele apresenta <i>Leo </i>como um sobrinho muito querido, e <i>Beaumont </i>o
parabeniza por tê-lo trazido ao elegante lugar "<i>Deve ser seu sobrinho
preferido</i>".</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnFweyR5mqej7kF4cqkclp2bNsjqUrxRWNhRQZKCHSjgy0ezWuEbgubu0aq-6vxWOamdRAWqy3cE-U0vQVYWROFJ5rm2QNdQdMpZ2ONVAFB1CRmmUuzhqTom2D7c8ym11jyf13X9EsyHI/s1600/boulevard-movie-still-10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="558" data-original-width="1339" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnFweyR5mqej7kF4cqkclp2bNsjqUrxRWNhRQZKCHSjgy0ezWuEbgubu0aq-6vxWOamdRAWqy3cE-U0vQVYWROFJ5rm2QNdQdMpZ2ONVAFB1CRmmUuzhqTom2D7c8ym11jyf13X9EsyHI/s400/boulevard-movie-still-10.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJjdqUuGH_v3EzPFI0zCBE5cfhLYc4AlQsn9kg_AuGILBnY89pR3zwNWvcp-QAQQ0GJbjzwxy8udwYQeC3T74fGkGx8QlRrDEranoIdwR7XUHu3oqqut_3vmi-pS-lPHop7BhRehqttY0/s1600/boulevard-movie-still-11.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1341" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJjdqUuGH_v3EzPFI0zCBE5cfhLYc4AlQsn9kg_AuGILBnY89pR3zwNWvcp-QAQQ0GJbjzwxy8udwYQeC3T74fGkGx8QlRrDEranoIdwR7XUHu3oqqut_3vmi-pS-lPHop7BhRehqttY0/s400/boulevard-movie-still-11.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Ao deixar </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Leo </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">no motel onde vive, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">espera até que ele entre em segurança, quando o cafetão aparece para cobrar o dinheiro pela noite. Ele se torna agressivo, e </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;"> descobre a coragem que jamais
julgara possuir quando sai do carro e pede para que o bandido o deixe em
paz. Ele dá todo o dinheiro na carteira para o cafetão, e apesar de o marginal deixá-lo em paz, só se satisfaz depois de desferir um soco que deixa <i>Nolan </i>de olho roxo</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">. O bancário entra com o rapaz no quarto e o ajuda com os
ferimentos. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">o atende tão bem que </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Leo </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">acaba pegando no sono.
Respeitosamente, ele divide a cama com </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Leo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">,</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;"> deitado de lado, em um espaço
desocupado, até ter certeza de que ele adormeceu. A madrugada se encontra em pleno
curso quando volta para casa, e embora permaneça silenciosa quando da
chegada do marido, de modo a não constrangê-lo, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Joy </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">escuta quando ele sobe a
escada, com uma expressão preocupada.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Durante os usuais encontros para café
da manhã com <i>Winston</i>, o amigo reage chocado ao vê-lo com o olho roxo. O professor tenta extrair a verdade sobre o ocorrido, mas <i>Nolan </i>se livra com uma
brincadeirinha qualquer. Ele pergunta se <i>Patty </i>faria o favor de conseguir uma vaga na cafeteria para um conhecido, e
fala sobre esse garoto, filho de um conhecido, em um mau momento da vida, para quem a oportunidade significaria o mundo. <i>Winston
</i>promete que falará com a namorada, e se conseguir qualquer coisa, entrará em
contato. Naquela noite, durante o jantar, ao escutar a eloquência com que a mulher trata um assunto qualquer, <i>Nolan </i>fica admirado com sua inteligência, e a
elogia com tocante sinceridade, afirmando não compreender como ela não está
lecionando em algum campus. Um pouco depois, ao visitá-la no quarto para desejar
Boa Noite, <i>Nolan </i>a encontra assistindo a um filme em preto & branco, e se
recorda de que se trata do mesmo que viram quando se conheceram em 1977, ambos muito jovens, em uma
sessão de cinema no Belas Artes. <i>Nolan </i>vai rememorando os elementos daquela tão distante data, para a alegria e bom humor da esposa, ela com seu jeito
intelectual discorrendo sobre cada cena do filme, os dois sentados em um bistrô
após a exibição. <i>Nolan </i>se abre e pede desculpas por ter mentido sobre o Sub
Stop. Ela reage grata que o marido finalmente tenha confessado o pecadilho, e o
desculpa instantaneamente. <i>Nolan </i>observa que <i>Joy </i>nota todos os detalhes, e ela
adianta que saca o que se passa na cabeça do marido justamente por amá-lo
tanto. Claro que <i>Joy </i>percebeu o olho roxo, antevê que o parceiro procura
esconder algo de sua percepção, e se sente bastante preocupada. Embora não
reconheça a natureza do dilema, <i>Joy </i>não quer vê-lo se machucar. Vivida e
experiente, crê acertadamente que <i>Nolan </i>está brincando com fogo.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Nolan </i>recebe uma ligação de <i>Leo </i>quando
já se encontra no banco. O rapaz conta que <i>Patty</i> telefonou e o convidou a se
apresentar para a oportunidade de emprego na diner, todavia não tem o traje apropriado para a
ocasião. <i>Nolan </i>não apenas compra roupas novas para <i>Leo</i>, nós o vemos orgulhoso
assistindo ao rapaz se preparar diante do espelho, para o trabalho. Ele ainda lhe entrega algum dinheiro, e <i>Leo </i>se sente desconcertado. Algo na
bondade de <i>Nolan </i>o constrange. Habituado a pessoas horrorosas, para <i>Leo</i>, <i>Nolan </i>foi a
primeira pessoa realmente decente e generosa a surgir no caminho, e muitas vezes não sabe
como reagir a sua bondade. No primeiro encontro, quando haviam conversado sobre gostos
pessoais, o bancário mencionara que uma das mais preciosas recordações da
infância remontava às ocasiões em que o pai o levava ao cinema para assistir a faroestes. <i>Leo </i>então exibe uma fita em VHS, um western, que comprou para <i>Nolan</i>.
Para a maioria das pessoas, uma fita de vídeo não representaria nada muito especial, porém aos olhos de <i>Nolan</i>, não há um presente mais caro. Em uma tocante cena, <i>Leo
</i>lhe pergunta por que jamais fazem sexo. Com franqueza, <i>Nolan </i>diz que
verdadeiramente não sabe, mas prefere assim.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">No banco, <i>Nolan </i>recebe a visita de
<i>Patty</i>. Meio constrangida, ela precisa lhe contar que <i>Leo</i> não compareceu naquela
manhã, durante o horário de pico, o período de almoço, e que infelizmente precisou ceder a
vaga a um outro candidato. <i>Nolan </i>agradece a oportunidade, e diz que a
compreende. À noite, visita o rapaz para saber o motivo pelo qual desperdiçou tamanha oportunidade. <i>Nolan </i>o interrompe bem no meio de um programa. Vê-se o
cuidado que dedica ao rapaz pela maneira como tenta colocar um pouco de senso
na sua cabeça, afinal aquilo não é meio de vida. Eles acabam brigando, porque <i>Nolan </i>não entende como o rapaz prefere ganhar dinheiro daquela maneira perigosa, preterindo uma genuína chance de trabalho. <i>Leo </i>praticamente o põe para fora. </span></span><br />
<br />
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsAASEB1Pq2sASUPxR63-ztvaph6JV6RuOX3OjeuRlqvRlMLrIreWOYm-hGrpvIbHCi_zIfqbHn7eQmK7-hywL4ooI3knELFoUVR38N0Uj7bD5rYdclOO6AqNPe35KauQbIzrDywVRNAk/s1600/boulevard-movie-still-12.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="1345" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsAASEB1Pq2sASUPxR63-ztvaph6JV6RuOX3OjeuRlqvRlMLrIreWOYm-hGrpvIbHCi_zIfqbHn7eQmK7-hywL4ooI3knELFoUVR38N0Uj7bD5rYdclOO6AqNPe35KauQbIzrDywVRNAk/s400/boulevard-movie-still-12.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Quando </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">visita o pai no hospital, sente-se determinado a se abrir. Apesar de o pai parecer aprisionado ao próprio
mundo à parte, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">crê que exista uma pequena chance de parte do idoso compreender o que
lhe dizem. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">rememora as férias de um ano em particular, 1965, quando aos
12 anos descobriu que gostava de garotos, e não moças. Ele desabafa que mesmo hoje aos 60 anos ainda se sente o mesmo menino inseguro de 12, porque sempre
guardou para si o segredo, e experimenta toda a confusão de quando originalmente se tocou da própria orientação. Em casa, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Joy </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">insiste no cruzeiro dos sonhos.
Ela também pede que ao invés de deixá-la dormir sozinha, permaneça ao seu lado
na cama. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Joy </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">o abraça por trás e eles ficam em paz. Ela pergunta "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Quem é?</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">".
Mesmo discreta, uma mulher sempre antecipa quando seu homem tem outra pessoa na mente & coração. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">minimiza, "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">alguém que conversa comigo, apenas isso</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">". "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Você poderia
falar comigo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">", ela retruca, lhe jurando amor, a que </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">corresponde.</span><br />
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3z7YFeY_SjgXOjN7rBzbWrjAUCPihyphenhyphen7BmP0nalUoDUX59DIGR5VAwlbGIWWToHlOKmT3TqKvaOC-FOwb0bQcXDdEKJ91Y3L7vAk1xWutjnmB4k3C87K-aGWIzT1JDAXHePQEoW_l3fBc/s1600/boulevard-movie-still-13.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1343" height="165" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3z7YFeY_SjgXOjN7rBzbWrjAUCPihyphenhyphen7BmP0nalUoDUX59DIGR5VAwlbGIWWToHlOKmT3TqKvaOC-FOwb0bQcXDdEKJ91Y3L7vAk1xWutjnmB4k3C87K-aGWIzT1JDAXHePQEoW_l3fBc/s400/boulevard-movie-still-13.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Na manhã seguinte, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Joy </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">prepara as malas
no hall. Ela deixará a casa por alguns dias para uma conferência, na companhia de uma amiga da família. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">se esquecera completamente da viagem da esposa. Eles se despedem, e antes de
partir, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Joy </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">conta que a companhia de turismo mandou um DVD sobre opções de
cruzeiro, caso ele se interesse. O amigo </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Winston</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;"> visita o bancário e o convida
a almoçarem juntos, pois está preocupado com seu comportamento. Quando vão sair para o
almoço, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Leo </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">aparece. Ele foi coagido pelo cafetão a procurá-lo na agência para
extorqui-lo. Ao defender </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Leo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">causa uma barulhenta confusão na calçada, o que chama a
atenção de seguranças e colegas. O cafetão os chama de bichas
enquanto policiais o escoltam ao carro. O segredo de </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">encontra-se por um
fio. O olhar intrigado de </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Winston </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">confirma que ele começa a fazer sentido das peças do quebra-cabeça. </span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga65g-qNtXL6zudceKdtCRnB78TpJEk6gWW-I1TsAn1ISvbO-tRh_sF01zTnd2LCg4_OdkNXFThMQnM-1zxdV1Y_dhNe6IM-ZsBh7RjAdkrcotUW6esKcCAYdshahaq8W8v5H3op6UgFM/s1600/boulevard-movie-still-9.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="551" data-original-width="1339" height="163" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga65g-qNtXL6zudceKdtCRnB78TpJEk6gWW-I1TsAn1ISvbO-tRh_sF01zTnd2LCg4_OdkNXFThMQnM-1zxdV1Y_dhNe6IM-ZsBh7RjAdkrcotUW6esKcCAYdshahaq8W8v5H3op6UgFM/s400/boulevard-movie-still-9.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqZputVnR9j1PrhNBHz6B4Qa_FaPGGOuErHiB7o_zBy_TDLxA9CW4T3dEjXbuL7sNDts_7cuAsu8BMF2f8EFVfyKBWHAwOMBhx4kIKAAi9RwBvIS4bASyxn5VzuCSga3tHoxQo0fo0zTI/s1600/boulevard-movie-still-8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1341" height="165" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqZputVnR9j1PrhNBHz6B4Qa_FaPGGOuErHiB7o_zBy_TDLxA9CW4T3dEjXbuL7sNDts_7cuAsu8BMF2f8EFVfyKBWHAwOMBhx4kIKAAi9RwBvIS4bASyxn5VzuCSga3tHoxQo0fo0zTI/s400/boulevard-movie-still-8.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Com </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Joy </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">em outra cidade por causa da conferência,
</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">sente-se à vontade para levar o rapaz para casa. Preparando um sanduíche
para </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Leo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">, arquiteta planos para o futuro. Ele poderia adquirir uma
diner, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Leo </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">trabalharia no lugar. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">também adoraria que </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Leo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;"> voltasse a
estudar. Ele conta que jamais foi um bom estudante, mas </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">coloca as
coisas sob perspectiva, afinal dessa vez pode ser diferente. Embora reconheça o valor
de </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">, sua natureza generosa, o rapaz, acostumado a um mundo habitado por gente impiedosa, não sabe exatamente como responder à bondade de estranhos. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan
</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">e </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Leo </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">assistem à fita do faroeste juntos. Como sempre, os dois não têm intimidade alguma. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">pega no sono, e desperta mais tarde quando </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Leo </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">entra no
quarto. O bancário dá um abraço no rapaz, sem maldade alguma. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Leo </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">desabafa,
revela que não se sente mais à vontade para aceitar o dinheiro e os conselhos que <i>Nolan </i>lhe dedica. O cuidado reservado</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;"> a sua pessoa o
deixa aterrorizado, o rapaz ainda parece aprisionado pela brutalidade que
experimenta nas ruas em uma base diária. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">pede que ele não se vá. Não foi por nada, afinal de
contas, que </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Leo </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">lhe deu a fita de vídeo, por exemplo. O rapaz afirma gostar muito de <i>Nolan </i>também, porém parte</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Joy </i>retorna na manhã seguinte, e eles
têm uma interação amável. No trabalho, Sr. <i>Beaumount </i>lembra a <i>Nolan </i>o jantar
para a noite seguinte com um dos diretores do banco. O sonho de <i>Nolan </i>– uma cobiçada
vaga de gerência – está cada vez mais perto. <i>Beaumount</i> adianta que não
compreende e tampouco lhe interessa o acontecido no estacionamento no outro
dia, todavia <i>Nolan </i>precisa se mostrar focado para as tratativas. A esposa o ajuda
a se vestir para o jantar, quando ele recebe uma ligação do hospital. Ele não
revela à esposa o ocorrido, porém lhe entrega o endereço da casa do diretor,
onde se dará o jantar, e pede para que vá na frente. <i>Nolan </i>chega aflito ao
hospital atrás de <i>Leo</i>, que sofreu uma overdose. O rapaz fornecera aos médicos o
número de telefone do bancário como a única pessoa na sua vida. Ao entrar no
quarto, <i>Nolan </i>não encontra mais sinais da passagem do rapaz pelo lugar. Ele se foi, e
deixou sobre a cama o celular, o presente de <i>Nolan</i>. <i>Joy </i>comparece ao jantar, e
embora passe adiante o recado de que houve um imprevisto e <i>Nolan</i> não pôde comparecer, o diretor parece desapontado. O bancário perde a vaga da gerência.</span></span><br />
<br />
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTuF1MdP0sa61ImLlveNWiODjWIlAJXtBEt6-xhSRpXT-cbLXl2Pjvy-JiMe7gwIwDzLaC743tYwyTCJ9UZ_dAfOLGYSq9fmijmuARhJrBcLEKBdpv5YPqmKdy_OqddZ1W2s3chjXhYcQ/s1600/boulevard-movie-still-1.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1351" height="165" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTuF1MdP0sa61ImLlveNWiODjWIlAJXtBEt6-xhSRpXT-cbLXl2Pjvy-JiMe7gwIwDzLaC743tYwyTCJ9UZ_dAfOLGYSq9fmijmuARhJrBcLEKBdpv5YPqmKdy_OqddZ1W2s3chjXhYcQ/s400/boulevard-movie-still-1.jpeg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Quando volta para casa, <i>Nolan</i> entende
que não pode se imiscuir mais de uma conversa mais franca com a esposa.
Previsivelmente, <i>Joy </i>pergunta "<i>o que ele tem feito que ela não sabe fazer
igualmente bem</i>". <i>Joy</i> já imaginava uma outra pessoa na equação, porém ao usar o
pronome "<i>Ele</i>", revela ainda mais perspicácia. Com muita coragem, <i>Nolan </i>lamenta
que tenha vivido uma mentira. Embora <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o casamento tenha chegado ao fim</span>, reitera que a
ama, apenas precisa viver uma existência real, e não uma versão
idealizada apenas, sustentada somente para agradar <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">terceiros</span>. <i>Joy </i>o alerta que <i>Nolan
</i>não conseguirá se sair bem, não sem alguém para cuidar dele. <i>Nolan </i>precisa dar
o primeiro passo rumo à vida que sempre desejou, e a encoraja a fazer o mesmo.</span><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3nJ3TWl6y9KZy5CSPGwnfmRx-P5b-IBQbec2WlPou_4Zcm7BK_6yfIBnh9TWiRPCC7TZ23qOFA7efBxINwwNjvitH7nXCwhVnMiFMi1cTW16KctiUkXhupD9CiFYGj4Rb-dShqGj7rhs/s1600/boulevard-movie-still-7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="556" data-original-width="1331" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3nJ3TWl6y9KZy5CSPGwnfmRx-P5b-IBQbec2WlPou_4Zcm7BK_6yfIBnh9TWiRPCC7TZ23qOFA7efBxINwwNjvitH7nXCwhVnMiFMi1cTW16KctiUkXhupD9CiFYGj4Rb-dShqGj7rhs/s400/boulevard-movie-still-7.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzrMLFu_sPO2WNfxBZhD9Z_rBTrMgXtyKeFmwtmu_EBYd5yBlslvZjDm-i29zJqa0TYLSef76C0ITEHppLD76I1SfcMFRVrPr4pGNA8t_U44A_wtLJs8kojpBI9AwwiJxa05Ps996ONsM/s1600/boulevard-movie-still-3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="555" data-original-width="1335" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzrMLFu_sPO2WNfxBZhD9Z_rBTrMgXtyKeFmwtmu_EBYd5yBlslvZjDm-i29zJqa0TYLSef76C0ITEHppLD76I1SfcMFRVrPr4pGNA8t_U44A_wtLJs8kojpBI9AwwiJxa05Ps996ONsM/s400/boulevard-movie-still-3.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Algum tempo se passa. De uma maneira ou
outra, <i>Joy </i>& <i>Nolan </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">conseguiram </span>algo de suas vidas mais próximo a aquilo que
um dia haviam desejado individualmente, na juventude. Ao se libertar de uma
vida conjugal forjada para agradar família & amigos, <i>Nolan </i>passa a viver
conforme as próprias convicções, e descobre que, diferente do que pensara, o
fato de ter se mostrado pelo que é não destruiu sua reputação, moral ou vida
social. <i>Winston </i>segue como seu melhor amigo, e recomenda "<i>Talvez nunca seja
tarde demais para se viver a vida que você realmente quer</i>". Embora <i>Nolan
</i>prefira deixar o banco, supomos que assumiu um outro cargo de mesma envergadura. Ao final, em uma cena discreta, vemos que está conhecendo uma pessoa
legal e de uma faixa etária mais próxima `a sua. <i>Joy </i>finalmente traz para si a
responsabilidade de ir adiante com o cruzeiro, e a vemos apertando a mão
de uma jovem e bonita operadora de uma agência de viagens com visível intimidade. Não se sabe o que houve com
<i>Leo</i>, mas podemos supor que ele tomou o caminho de volta para uma vida de
amarguras, brutalidade, abusos e sofrimento. Ele desaparece do passeio público
onde no começo do filme o vimos se prostituindo. Com a perspectiva de um futuro sombrio pela frente, as paragens de <i>Leo </i>terminam incertas, como <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">futuro </span></span>d<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">as pessoas </span>que fazem a vida naquele lugar triste.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O último filme de <i>Robin Williams</i> também
é um de seus trabalhos mais atípicos e interessantes. Verdadeiro patrimônio
nacional, cortesia de uma vencedora carreira repleta de grandes sucessos,
<i>Williams </i>conquistou um lugar no imaginário das pessoas graças a aventuras e filmes
bem-humorados, porém para aqueles que verdadeiramente desejam se aprofundar na
filmografia para conhecê-lo como artista, e não exclusivamente astro, devem saber que
são nos trabalhos menores e independentes onde a tristeza, já evidenciada mesmo nos
filmes mais leves, emerge com toda força por trás do sorriso sereno. As
obras mais pessoais e sombrias de <i>Williams </i>podem ser contadas nos dedos das
mãos. "<i>Retratos de uma Obsessão</i>", "<i>Segredos na Noite</i>" & "<i>Boulevard</i>" fazem
parte do seleto número de oportunidades que <i>Williams </i>teve para exercitar a amplitude magnífica do talento. Tragicamente, esse filme, "<i>Boulevard</i>", cuja trama contundente
machuca pela tristeza que emana de muitas passagens, precedeu a morte do astro, e
de várias formas documentou o período de sofrimento psicológico que o ator
vinha enfrentando na vida pessoal, à época das filmagens, e que, diferente do
personagem interpretado, infelizmente não teve como reverter. Em uma
performance que rivaliza com o desempenho sensacional visto em "<i>Retratos de uma
Obsessão</i>", aqui <i>Williams </i>é coadjuvado por outros trabalhos igualmente
comoventes, com especial destaque, claro, para a veterana<i> Kathy Baker</i> e o
talentoso novato <i>Roberto Aguire</i>.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Não fosse pelo envolvimento de <i>Robin
Williams</i>, é provável que eu jamais tivesse ouvido falar desse filme dirigido por <i>Dito Montiel</i> ("<i>A Guide to Recognizing your Saints</i>"). A premissa de
"<i>Boulevard</i>" não me soaria interessante, pois seu tipo de material e bagagem não exatamente me agrada (sou, afinal de contas, inveterado fã do Horror). O fato
de <i>Williams </i>– alguém que me surpreendeu e desconcertou em "<i>Retratos de uma
Obsessão</i>" – interpretar o papel principal nessa intrigante e inédita jornada de <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">auto descoberta</span> foi o atrativo maior, e eu não me arrependi de lhe ter dado
uma chance. Embora "<i>Retratos de uma Obsessão</i>" apresente-se investido das
melhores qualidades de um autêntico suspense psicológico, e "<i>Boulevard</i>" se
sirva de dilemas mais humanamente compreensíveis, ambos os filmes se sustentam
sobre o pilar da angústia existencial, seu peso ora depositado sobre os ombros
do <i>Sy </i>de "<i>Retratos de uma Obsessão</i>", ora sobre os do <i>Nolan Mack</i> em "<i>Boulevard</i>".
As vertentes obviamente variam – em "<i>Retratos de uma Obsessão</i>", seu personagem ansiava
por pertencer, ser recebido no seio de uma determinada família que se tornou a
coisa mais valiosa de sua existência por razões que cabe somente ao próprio
compreender; em "<i>Boulevard</i>", <i>Nolan Mack</i> precisava fugir, porque se sentia
sufocado, encurralado dentro de uma prisão que era uma paródia da vida, não a
vida real – porém, os dois trabalhos compartilham um tipo de tristeza elegante & existencial que
a dramas do tipo parece faltar. Ainda em comum, respeitadas as diferenças, <i>Sy
</i>e <i>Nolan </i>mostram pontos de contato, e são mais semelhantes do que a primeira
impressão leva a imaginar. Em "<i>Retratos de uma Obsessão</i>", embora a trama nos
leve a antecipar que o personagem de <i>Williams </i>se revelará um implacável stalker, a
verdade não poderia ser mais distinta. Por mais que não faça as escolhas mais
inteligentes, enxerga-se algo de doce, mesmo infantil, na maneira com que devota tempo e energia à família <i>Yorkin</i>. Em sua mente, não há malícia, pois não
cobiça a mulher, tampouco inveja o homem. Ele não lhes deseja mal. Em "<i>Boulevard</i>", apesar de o protagonista se ressentir da própria orientação, do respeito com que trata o sofrido personagem vivido por<i>
Roberto Aguire</i> emana uma dor tão contundente que eu percebi a versatilidade da obra. Usarei o exemplo de outro filme, para ilustrar minha observação.</span></span><br />
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Eu jamais compreendo quando pessoas se referem a "<i>Rocky</i>" como um filme de boxe. Será que elas não assistiram ao filme</span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 16.96px;">? Qual a premissa</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 16.96px;">? Um pugilista medíocre, mas de bom coração, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">descobre o próprio valor </span>quando por obra do destino o Campeão dos Pesos<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>Pesados o escolhe para uma luta de exibição, em comemoração ao bicentenário da independência dos Estados Unidos. Para <i>Apollo </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e os demais</span>, a luta não passa de uma <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">brincadeira de boa natureza<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">:</span></span> <i>Rocky </i>é apenas <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o </span>sortudo aleatório, ou ao menos <i>Apollo </i>assim esperava. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Conforme o plano, brincaria </span>um pouquinho com o boxeador desqualificado, levaria a luta por 3 assaltos e depois acabaria com a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">festa</span>. <i>Rocky </i>teria seus 15 minutos de fama, todos sairiam satisfeitos. A oportunidade de uma luta, porém, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">guarda </span>um significado diferente para ele. Aos 30 anos e envergado por um futuro sem perspectiva, <i>Rocky </i>é o tipo de cara que já apanhou tanto, física e moralmente, que uma chance com o Campeão Mundial equivale a uma típica história de Cinderela. Na arrancada a caminho da luta, descobre valores pessoais que jamais julgara reunir. Lembrem-se que ele era um perdedor sem moral, um detalhe imprescindível, <i>Rocky </i>era alijado de moral. Apesar do bom coração, aos olhos dos demais, não valia o esforço demandado para conhecê-lo melhor. Reporto-me à cena no primeiro filme, e as pessoas que amam a série tanto quanto eu se recordarão do instante imediatamente: <i>Rocky </i>escolta uma menina do bairro de volta para casa. Seu lado altruísta o leva a aconselhá-la a não se relacionar com vadios, a não fumar, a estudar. Ele explica que acabamos nos tornando como as pessoas com quem andamos. Ele é gracioso e gentil, desinteressadamente gentil, e a menina parece escutá-lo, porém assim que <i>Rocky </i>a deixa na porta de casa e vai se despedir, ela o insulta "<i>Ei, Rocky, dane-se, seu cretino</i>". <i>Sylvester Stallone</i> é um escritor tão talentoso, tão conhecedor da vida, que quando elaborou a trama do penúltimo filme, o de 2006, deu um jeitinho de <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">incorporar </span>a menina, agora uma mulher. Eles acabam desenvolvendo um sentimento platônico um pelo outro no curso do 6° filme. Quando ele nos reapresenta a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Marie</span>, 30 anos após o primeiro filme, a encontramos como uma mulher de meia idade, mãe solteira, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">garçonete </span>no bar <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">que <i>Rocky </i>frequentou no passado</span>. Ele não se recorda imediatamente <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">da moça</span>, e <i>Marie </i>o ajuda a se lembrar daquela noite, 30 anos antes, quando a escoltou até a casa e ela o mandou se danar. O brilhantismo da cena é a maneira como <i>Stallone </i>a reintroduz depois de tantos anos. Ela está mais humilde e madura, e se comporta desconcertada <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">quanto ao </span>ocorrido, realmente arrependida, o que é de se esperar de uma boa pessoa<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Nisso, </span>uma menina mal-educada, uma versão da própria <i>Marie </i>30 anos atrás, se aproxima inconveniente para pedir uma rodada de bebidas para a turma. <i>Marie </i>recomenda que a adolescente <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o deixe </span>tomar a cerveja em paz, e a menina profere uma série de insultos à mulher. <i>Rocky </i>diz para a menina algo nas linhas de "<i>Não faça papel de tola por aquele cara (o namorado)</i>" e lhe dá uma lição de moral, enquanto a câmera ocasionalmente retorna para o rosto de <i>Marie</i>, parada em um canto, assistindo a tudo, mordendo o lábio inferior, visivelmente dolorida por causa dos insultos que lhe foram atirados na cara. É uma cena discreta, que revela coisas sobre como a sabedoria da vida se aplica sobre nossas cabeças, e o papel do tempo no processo de aprendizagem. No primeiro filme, de 1976, <i>Rocky </i>era um homem digno, mas de moral vulnerabilizada. Sabemos que a melhor maneira de se aleijar um ser humano é o desumanizando, o destruindo moralmente, invalidando seus argumentos, subtraindo qualquer valor de seu discurso, de forma que sua fala não guarde significado algum. O fato é que a preparação para a luta com o Campeão é o catalisador do processo de reparação de <i>Rocky</i>, que descobre a própria dignidade. O que devia se desenrolar conforme o planejado, um espetáculo de alguns assaltos e a vitória fácil de <i>Apollo</i>, se torna uma luta feroz pela sobrevivência, quando o Campeão descobre o verdadeiro caráter do adversário, acorda para o fato de que aquilo acaba de se tornar uma luta muito real, e se foca em defender desesperadamente o título. Eu cito o exemplo de "<i>Rocky</i>" pois se os amigos substituírem o Boxe do roteiro original por qualquer outro esporte (Futebol Americano, Atletismo, Automobilismo, etc.), a espinha dorsal do filme, o cerne, permanecerá preservado. "<i>Rocky</i>" é um filme sobre muitas coisas - honra, desenvolvimento pessoal, renascimento espiritual por maiores que sejam as adversidades, por mais que as pessoas ao redor tentem insistentemente quebrá-lo moralmente, encontrar alguém digno de seu tempo & valor, construir uma base sólida junto a essas pessoas queridas ( <i>Adrian</i>, <i>Mickey</i>, <i>Paulie </i>e, conforme o último filme da série, de 2015, <i>Adonis</i>, o filho do <i>Apollo</i>) - <i><b>menos sobre Boxe</b></i>. "<i>Boulevard</i>" funciona na mesma frequência. No filme, assistimos ao drama de um homem em busca de uma saída, após se conscientizar da própria sexualidade e de que jamais viverá uma existência autêntica enquanto não enfrentar seus medos. No cerne, a proposta é bem mais ampla. Na essência, a ideia se sustenta sobre o trauma inerente aos decisivos momentos de transformação, sejam referidos momentos correspondentes `a morte de um ente querido, a um processo de enfermidade, ou a um rito de passagem. Eu creio que uma das razões de <i>Robin Williams</i> ter se saído tão bem se deva justamente à flexibilidade de temas que o núcleo admite. Na época, ele atravessava um processo de depressão, e sua angústia emana da performance e tristemente serve muito bem ao drama do personagem. Nas telas, <i>Nolan </i>luta para ficar em bons termos com a própria sexualidade, fora das telas <i>Williams </i>lidava com a depressão. Em ambos os lados, contudo, aqueles indivíduos atravessavam um momento transformador de crise, e a reação à dor guarda uma linguagem universal a que todos nós precisamos nos habituar em algum momento da vida. Quando <i>Nolan </i>fazia o bem ao personagem de <i>Roberto Aguire</i>, e repudiava qualquer intimidade de contato, priorizando um tipo de sentimento mais platônico, a reação parece similar às escolhas de qualquer outra pessoa quando se vê encurralada em um beco sem saída: a dor nos deixa mais suscetíveis ao ambiente, os canais mais abertos, as emoções mais a flor da pele, principalmente em relação aos sentimentos dos outros. O jeito com que <i>Nolan </i>cuida do personagem de Aguire não diferiria, por exemplo, do jeito com que o pai vivido por <i>Nanni Moretti </i>em "<i>O Quarto do Filho</i>" se afeiçoa gratuitamente por uma moça apenas de passagem na Itália a caminho da França, que apareceu somente para entregar um maço de fotos do falecido namorado (filho do psicanalista). No filme de <i>Moretti</i>, a família trata a ambos - visitante e novo namorado - tão bem, tão gratuitamente, que sabemos de onde vem o tocante carinho: da brutal necessidade de conforto após um evento tão definitivo quanto a perda de um filho querido. O respeito velado e a maneira como o <i>Nolan </i>de "<i>Boulevard</i>" tenta colocá-lo na direção de uma vida melhor guardam paralelos com a solidariedade do psicanalista e família à namorada do rapaz morto de "<i>O Quarto do Filho</i>", quando ao invés de meramente darem carona à mocinha & namorado à rodoviária, onde apanharão o ônibus para a França, acabam deixando o casal dormir confortavelmente no banco detrás, e <i>Moretti </i>dirige através da autoestrada e pela madrugada, em direção à fronteira com a França, quando na quietude do interior do carro tem a oportunidade de conversar mais calorosamente com a esposa pela primeira vez desde o afogamento do filho, e ambos acabam resolvendo suas desavenças e reafirmando seu amor. Tamanha a dedicação do ator <i>Robin Williams</i> ao papel, é difícil identificar onde termina o artista e começa o personagem, vez que as angústias existenciais de ambos permanecerão eternamente entrelaçadas, principalmente agora que ele se foi.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 16.96px;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 16.96px;"><i>Robin Williams</i> era um brilhante comediante cujo humor, por mais histérico que fosse, escondia uma qualidade inerente ao desespero existencial. Mesmo quando fazia rir, seus olhos transmitiam tocante tristeza, também constatável por trás do sorriso. Fazer rir provavelmente jamais foi a principal preocupação do astro. O expediente da comédia nunca foi um fim, mas um mecanismo de sobrevivência que talvez tenha aprendido a aprimorar, de modo que dor & humor convivessem dentro de uma certa harmonia, e ele conseguisse viver uma existência altamente funcional e produtiva, com os demônios anestesiados, silentes e em xeque pela maior parte do tempo, ao menos até seu último ano, quando a depressão emergiu para arruiná-lo de vez. </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 16.96px;"><i>Kathy Baker</i>, uma fenomenal atriz com uma longa, profícua carreira iniciada em 1983, completa a performance do colega <i>Williams</i>, e os dois gozam de cumplicidade perfeita. Eu me recordo de quando escrevi na minha análise de "<i>Hellraiser 2 - Renascido das Trevas</i>" que a presença de uma atriz talentosa como <i>Clare Higgins</i> torna seus colegas ainda mais empenhados em suas performances. Seus papéis se sobressaem ainda mais quando contrastados com a absoluta agressividade com que <i>Clare </i>vive a vilã principal. O mesmo acontece a "<i>Boulevard</i>", através da contribuição de <i>Baker</i>. A luta de um homem de 60 anos por uma guinada na vida parece suficientemente dramática, contudo com a participação dessa excelente atriz no papel da esposa, torna-se particularmente devastadora. <i>Baker </i>é uma típica "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 16.96px;">character actor</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 16.96px;">", artistas que fogem da exposição de estrelas, são multifacetados e habitam todos os papéis, verdadeiros camaleões. Os amigos certamente a viram antes em uma porção de filmes, sendo um de seus melhores desempenhos a contribuição como a mãe sofrida dos personagens de <i>Joaquin Phoenix</i> & <i>Billy Crudup</i> em "<i>Círculo de Paixões</i>", de 1996. Somente uma grande atriz comunica sentimentos talvez até mais poderosamente através do silêncio. Ela compõe a sua <i>Joy </i>com uma resignada serenidade que ao final eu me perguntei se ela não viveria semelhante drama, porém silenciara em favor da maravilhosa cumplicidade que regia sua relação com <i>Nolan</i>. Algo no desempenho de <i>Baker </i>me leva a crer que ela também era homossexual, uma energia distinta na cena em que avisa a <i>Nolan </i>que passará alguns dias fora e uma amiga a ajuda a dispor as malas no hall enquanto esperam o táxi, ou mesmo no final, quando resolve concretizar o sonho de viajar em um cruzeiro, e de seus modos com a moça da agência emane a quentura que embora caiba a duas pessoas cordiais, também serve a um incipiente flerte. <i>Roberto Aguire</i> começou a carreira muito recentemente. Conforme pesquisa no internet movie database, Seus primeiros créditos datam de 2011, e "<i>Boulevard</i>" deve ser o seu melhor momento até agora. Em sua primeira verdadeira chance no cinema, enriquece o papel da maneira correta, imbuindo-o da vulnerabilidade de um animal sem dono, o que faz do destino de <i>Leo </i>ainda mais trágico, porque alguém tão sensível jamais teria mesmo como sobreviver à brutalidade envolvida na vida de garoto de programa. Ele jamais viverá para amadurecer e deixar as ruas, será a vítima de algum monstro bem antes de crescer para saber melhor e abrir os olhos para a maldade que nos cerca. <i>O inferno</i>, dizia Sartre,<i> são os outros</i>.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWlWLXcJeLlx2QVkRBeXBAdOjBNow5OWGq8A5m5mYAO7qSICzwA7ERJLIrptILpaHNst0P0sXeROCenpgkU0Zq2DwvyhV2mvaMGYt8W8wGTpmtHqQpDHaJuYIwaLj4yb8In9tt8BMUTN0/s1600/Boulevard-movie-still-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWlWLXcJeLlx2QVkRBeXBAdOjBNow5OWGq8A5m5mYAO7qSICzwA7ERJLIrptILpaHNst0P0sXeROCenpgkU0Zq2DwvyhV2mvaMGYt8W8wGTpmtHqQpDHaJuYIwaLj4yb8In9tt8BMUTN0/s320/Boulevard-movie-still-2.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 16.96px;">"<i>Boulevard</i>" merece uma conferida mesmo por aqueles que a julgar pela premissa já o querem rotular como algo a se evitar. Eu também achei que não o apreciaria, mas pela execução perfeita, pela melancolia palpitante que se faz sentir através de uma fotografia que captura a tristeza de ruas e calçadas bem amplas pinceladas por luzes de neon ou de semáforos nos moldes do que <i>Morten Soborg</i> fez para o empolgante "<i>w Delta z</i>", pelo respeito com que o roteiro trata seus personagens, "<i>Boulevard</i>" recebe meus aplausos como uma imperdível adição à lista de trabalhos mais sérios e sombrios de <i>Williams</i>, onde vêm à tona suas melhores qualidades como artista. O filme é devastador dos dois lados da vida. Apesar de se explicitar mais aos nossos olhos o dilema do personagem da trama, não teremos como dissociar o papel do homem que lhe deu vida e, no âmbito privado, batalhava contra uma grave depressão. Em "<i>Boulevard</i>", <i>Nolan Mack</i> mereceu a chance de viver a existência que julgava melhor para si. Na vida real, as coisas não funcionaram muito bem para seu criador.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/HCdUubr70i8/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/HCdUubr70i8?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; line-height: 16.96px;"><i style="background-color: #eeeeee;">Todos os direitos autorais reservados a Starz. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEit0FlnmdApnBrzJH9x094hko66GFSY_8smpmroGM5mTphkxP3MlZUWraadBNqaWIvUMJvnhxsCUqcRzMTs7O8-Ma0hUg7bFEpcZyOGfD4ohscIkCLespcKRHXewvGBqGqKvfCLuHij2K4/s1600/Creep-poster.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="755" data-original-width="503" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEit0FlnmdApnBrzJH9x094hko66GFSY_8smpmroGM5mTphkxP3MlZUWraadBNqaWIvUMJvnhxsCUqcRzMTs7O8-Ma0hUg7bFEpcZyOGfD4ohscIkCLespcKRHXewvGBqGqKvfCLuHij2K4/s320/Creep-poster.jpg" width="213" /></a></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Semelhante ao segmento "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Second Honeymoon</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">" da coletânea "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">V/H/S</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">", "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Creep</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">" introduz a trama como se a mesma fosse um
autêntico "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Road movie</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">". <i>Aaron Franklin</i> (<i>Patrick Brice</i>, também diretor do filme) é um cineasta amador documentando a
viagem que faz em uma ampla rodovia que abre para a vista de uma gloriosa
cordilheira de serras à frente. <i>Aaron </i>respondeu a um anúncio no <i>Craigslist</i>, uma
oferta de trabalho pela qual um cavalheiro desembolsará U$ 1.000,00 por um dia
de realização de imagens em sua cabine nas serras. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"</span><i>Discrição seria enormemente
apreciada</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", </span>recomendava o anunciante, o que o deixou intrigado. A cabine se
localiza em uma cidadezinha no alto da serra, circundada por um lago de grande beleza turística. Tendo chegado por precaução mais cedo do que o combinado, <i>Aaron </i>não
encontra o empregador naquela remota cabine, cujas escadas são muito
grandes e precisam dar algumas voltas até chegar à casa. Ele se entretém ali no alpendre, à espera do proprietário, e quando o horário combinado passa,
escolhe aguardar dentro do carro. Cravado na base de um tronco de árvore
derrubado, um machado chama a atenção do cinegrafista amador. Ele não pensa
muito a respeito.</span><br />
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4hGN6WMczX08ZYFb2i0XrXmT8xFU9aa2GwiUwal_cxe3m9z7KHJoSE2TUV5xWNvkrZ6V2_HU9r-O39ChDo-mz7N4CBAF72rZNFpaqm-4kX7Mx0jfVPqwL4bWS62CHN9yWRCxrnV8YS-c/s1600/Creep-movie-still-6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="691" data-original-width="1229" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4hGN6WMczX08ZYFb2i0XrXmT8xFU9aa2GwiUwal_cxe3m9z7KHJoSE2TUV5xWNvkrZ6V2_HU9r-O39ChDo-mz7N4CBAF72rZNFpaqm-4kX7Mx0jfVPqwL4bWS62CHN9yWRCxrnV8YS-c/s320/Creep-movie-still-6.jpg" width="320" /></a></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Distraído, <i>Aaron </i>não percebe quando o
homem se achega à porta do carro para cumprimentá-lo, e toma um terrível susto,
pelo que o estranho se desculpa. Aprenderemos, no decorrer da fita, que o
expediente dos sustos se tornará uma das táticas preferidas do empregador
para azucrinar a vida do rapaz. <i>Josef </i>(<i>Mark Duplass</i>) parece um anfitrião apenas
um pouquinho diferente: ele começa dizendo que os dois terão um fantástico dia
de aventura pela frente, e o abraça forte, com a intimidade de um melhor amigo. Sim, <i>Aaron
</i>acha a situação meio incomum, mas até dá risadas e silencia o sexto sentido,
possivelmente o tomando como uma pessoa mais carente e ansiosa por calor
humano.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMUjMlB1DCWv6Lt7S-v9X_VxHTBX0tCpY6-L4xm4ymcsw43IkI58-NZNTg1Pve5ZjhSEbRYwQWMyk3P_gm66V4xGoYeOcPkiL33JOFZfcN7wx8UYyb9u8_Los4omQMja5H3dbZg1kcwaQ/s1600/Creep-movie-still-7.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="720" height="177" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMUjMlB1DCWv6Lt7S-v9X_VxHTBX0tCpY6-L4xm4ymcsw43IkI58-NZNTg1Pve5ZjhSEbRYwQWMyk3P_gm66V4xGoYeOcPkiL33JOFZfcN7wx8UYyb9u8_Los4omQMja5H3dbZg1kcwaQ/s320/Creep-movie-still-7.png" width="320" /></a></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Eles sobem as escadas, e já na
antessala, <i>Josef </i>faz questão de lhe entregar U$ 1.000,00. O empregador
apresenta o lugar como a cabine da família. Ele destrincha as razões de ter
chamado <i>Aaron </i>até ali, e revela a natureza do trabalho. <i>Josef </i>conta que há
alguns anos sobreviveu a um câncer que começara no fígado e se espalhara para
os pulmões. A quimioterapia o salvou por completo, e o câncer entrou em remissão.
Lamentavelmente, há dois meses, depois de sentir tonturas, ao voltar ao hospital, o médico diagnosticou um inoperável tumor cerebral, e lhe
deu de dois a 3 meses de vida. <i>Josef </i>se denomina otimista nato, e espera surpreender o
prognóstico com a força do pensamento positivo. Casado há 6 anos com <i>Ângela</i>,
<i>Josef </i>explica que será pai de primeira viagem. Inspirado por um filme, ele teve a
ideia de registrar momentos da própria vida, para que caso não sobreviva à
batalha contra o câncer seu filho possa conhecê-lo através das imagens. <i>Aaron
</i>será o homem por trás da câmera, aquele que o registrará para que mais tarde o
filho conheça quem foi seu pai. Tocado pela bela história, que em nenhum
momento cogita questionar, <i>Aaron </i>topa a empreitada, e <i>Josef </i>recomenda que comecem imediatamente.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Aaron </i>estranha quando <i>Josef </i>o convida para o andar de cima, onde revela que deseja que o rapaz o filme na banheira.
<i>Josef </i>tenta se justificar. Ele conta que quando criança um dos melhores momentos do dia acontecia quando o pai o levava para tomar banho. Como jamais terá a chance de fazer
o mesmo pelo filho, deseja realizar aquilo diante da lente, para que o garoto sinta que compartilhou com o pai o momento. Vejam, não há nada de errado
em um pai ou mãe levar um bebezinho para tomar banho. A menos que estejamos
falando de pedófilos ou maníacos, não há malícia alguma envolvida no ato. O que há de esquisito na cena não é o papo sobre pai & bebezinho na banheira, e sim a
insistência do cara em ser filmado por <i>Aaron</i>. Ora, ele poderia ter deixado a
câmera sobre um móvel e cuidado disso sozinho! O fato é que <i>Aaron </i>guarda suas
impressões para si, e atende as vontades de <i>Josef</i>, filmando-o dentro da banheira, como que com
o bebezinho nas mãos, lhe dando banho. As imagens são feitas, e em dado momento
o semblante de <i>Josef </i>parece escurecer. Ele desabafa que seria até mais simples
terminar aquele drama e se suicidar. <i>Josef </i>submerge na água, sob os protestos
de <i>Aaron </i>para que pare com aquela conversa. Quando o cinegrafista se aproxima
preparado para arrancá-lo à força, <i>Josef </i>emerge com um grito, e segue com
gargalhadas, pregando um novo, horroroso susto no rapaz. É a 2ª vez que ele
maneja o expediente, apenas para retomar com pedidos de desculpas, dizendo que
o clima lhe parecia muito depressivo, e portanto achara uma boa ideia pregar a peça.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Josef </i>agora o convida a fazer imagens
fora da cabine, e o orienta a procurar no guarda-roupas por botas e chapéus apropriados para o
frio. O 3° susto da manhã acontece quando ao abrir a cortina
<i>Aaron </i>dá de cara com uma máscara aterrorizante do Lobo Mau. <i>Josef </i>corre para
saber o que aconteceu, e ao ver que ele se assustou com a máscara, trata de
contar a história de "<i>Peachfuzz</i>", o "<i>Lobo Mau</i>", um personagem infantil
inventado pelo pai, que <i>Josef </i>guardou consigo por todos aqueles anos. Ele
veste a máscara e desempenha um número musical para a câmera de <i>Aaron</i>. Ao
tentar tornar a bizarra situação mais leve, <i>Josef </i>só consegue deixar as coisas
mais constrangedoras: a imagem daquele lobo aterrorizante cantando e ensaiando passos
é no mínimo enervante. No carro, depois de tomarem a estrada, <i>Josef </i>explica
que o levará a um ponto turístico que conheceu através de uma senhora
espanhola. A trilha os levará às "<i>águas milagrosas do coração</i>", um lugar onde,
consoante a lenda, todas as doenças podem ser misteriosamente curadas, desde que
as pessoas sejam puras de coração.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Eles correm pela trilha, e <i>Josef </i>se
esconde para preparar o 4° susto da manhã, ao saltar de trás de uma rocha para
alertá-lo com um grito. Desta vez, <i>Aaron </i>não gosta nada da brincadeira, e <i>Josef
</i>pede perdão. Ele diz que por um momento enxergou no olhar de <i>Aaron </i>a intenção
de agredi-lo. O cinegrafista minimiza a importância, o aborrecimento já passou.
<i>Josef </i>insiste que não se ofendeu, tratou-se de uma reação visceral. Ele
complementa que <i>Aaron </i>tem um "<i>Lobo Mau</i>", um "<i>Peachfuzz</i>" dentro de si, e nem
sabe ainda. <i>Josef </i>pergunta se <i>Aaron </i>precisa fazer as pazes com alguém neste
mundo, antes de partir, e <i>Aaron </i>menciona uma ex-namorada que o magoou
terrivelmente. <i>Josef </i>indaga se quando <i>Aaron </i>enxergou o machado cravado no
tronco chegou a considerar que poderia ser morto, e quando o relutante
cinegrafista responde que sim, <i>Josef </i>dá uma gargalhada.</span></span><br />
<br />
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKBMihijngBHjJtdiI_Zb8LWOQCW_-XUrC9oG4wrK0lOwFNTt83A9y92BiJO6Hpc7NPIBqwB7tBylAgf1R0DZCAhyphenhyphenB0V2LTJ34LZCBfzf8uxKCs_59ormZFvA0MuMqHRiiC6IbksJR8Hg/s1600/Creep-movie-still-4.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="671" data-original-width="1200" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKBMihijngBHjJtdiI_Zb8LWOQCW_-XUrC9oG4wrK0lOwFNTt83A9y92BiJO6Hpc7NPIBqwB7tBylAgf1R0DZCAhyphenhyphenB0V2LTJ34LZCBfzf8uxKCs_59ormZFvA0MuMqHRiiC6IbksJR8Hg/s320/Creep-movie-still-4.jpg" width="320" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNy89f8cIDg2EXKq-4Kxd3hsYuDB2tAqx_8tK6x6mDvZw2rD6LBnBf8J8W4-71SMzxDwhQeMpDyRUSQoGyCE4wz2cZ40CD14fEkjo3gXMel-HyCglb2-dc95biKsNc3YyQjC2m_vcVd2A/s1600/Creep-movie-still-3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="316" data-original-width="600" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNy89f8cIDg2EXKq-4Kxd3hsYuDB2tAqx_8tK6x6mDvZw2rD6LBnBf8J8W4-71SMzxDwhQeMpDyRUSQoGyCE4wz2cZ40CD14fEkjo3gXMel-HyCglb2-dc95biKsNc3YyQjC2m_vcVd2A/s320/Creep-movie-still-3.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Finalmente, os dois alcançam as <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"</span><i>águas
milagrosas no coração</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", </span>uma fenda nas rochas que, de fato, lembra o formato de um coração. O
cenário é belíssimo, típica serra com árvores cujas copas são muito altas, onde o rio corre entre formações rochosas. Eles parecem ter penetrado bastante na floresta. O frio rigoroso não os desencoraja de se banharem nas águas, e os dois parecem bastante animados aos pés
da cachoeira. <i>Josef </i>grafa em uma rocha o termo <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"</span><i>J. & A</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>.</i>" </span>dentro de um
coração. <i>Aaron </i>presume que o estranho se refere à esposa <i>Ângela</i>, claro. Depois
de se cansarem o bastante, <i>Josef </i>o convida a experimentar as saborosas panquecas do <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"</span><i>Billy
Bears</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, </span></span>a melhor diner da região. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"</span><i>Vamos ver o que há de bom aqui</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, </span></span><i>Josef
</i>comenta ao abrir o cardápio, a que <i>Aaron </i>comenta <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"</span><i>As panquecas. Você não disse
que costumava vir aqui com sua família</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>?</i>". </span><i>Josef </i>parece meio atrapalhado e
constrangido, e conserta o equívoco dizendo que sim, apenas gostaria de saber
se estão oferecendo novos pratos. Durante a conversa à mesa, <i>Josef </i>move o
papo no sentido de se abrirem sobre coisas das quais hoje teriam vergonha de confessar. <i>Aaron
</i>faz menção a um episódio da infância quando urinou nas calças na frente dos
amigos. Quando chega a vez de <i>Josef</i>, ele exibe fotos que <i>Aaron
</i>reconhece como suas, no celular, quando chegou pela primeira vez à cabine. <i>Josef </i>revela que as
tirou escondido, e que o fez porque assim o estaria conhecendo previamente, de
modo que quando se apresentasse <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"</span><i>pela primeira vez</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", </span>não se sentiria tão envergonhado. <i>Josef </i>gostaria de saber se <i>Aaron </i>tem como desconsiderar sua atitude.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A essa altura, qualquer pessoa de bom
senso agiria com mais prudência, mas <i>Aaron </i>novamente o perdoa. Quando os dois
regressam à cabine, é noite fechada. <i>Aaron </i>parece reunir bom senso o suficiente
para explicar a <i>Josef </i>que talvez tenha chegado a hora de partir. É uma cena
visualmente inquietante, porque apesar de alguma luz se deitar sobre as
escadas, já é noite, quando os arredores do bosque se tornam maiores e mais assustadores do que efetivamente o são. Ademais, não bastasse a <i>Aaron </i>encontrar-se em uma região desconhecida,
<i>Josef </i>opina que ele deveria aceitar o convite e tomar um drinque antes de
partir, sutilmente o coagindo a permanecer um pouco mais. <i>Josef </i>explica que como <i>Aaron </i>dirigirá pela autoestrada,
não levará mais do que 20 minutos para descer a serra, então não há motivo
algum para recusar o convite (exceto, evidentemente, pelo temor que o
comportamento macabro de <i>Josef </i>incute). Meio a contragosto, <i>Aaron </i>aceita tomar
uma bebida antes de partir em definitivo. <i>Josef </i>ganha rapidamente os últimos lances, e <i>Aaron </i>sobe em seu encalço. Ao entrar na cabana, <i>Josef </i>salta de dentro de um cômodo, novamente em algazarra, azucrinando-o com o 5° susto do dia
envolvendo gritos. <i>Aaron </i>rapidamente se recompõe, e <i>Josef </i>vai apanhar a garrafa
para que se sirvam à mesa da sala de estar<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">.</span></span></span><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6iSY_q6XpNNLNghLYDRGXZQzUST3DTf8RMMdbZgQheV38FjGLtH3vI9uc1naAroKs3-FUQpa2W5W3b5i4eSlQPVPT_GZH_a4NrOVLHAY7HAbRO6lpVRDDtVFQpewvYrsw-mHbaQuhKcc/s1600/Creep-movie-still-13.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="398" data-original-width="718" height="177" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6iSY_q6XpNNLNghLYDRGXZQzUST3DTf8RMMdbZgQheV38FjGLtH3vI9uc1naAroKs3-FUQpa2W5W3b5i4eSlQPVPT_GZH_a4NrOVLHAY7HAbRO6lpVRDDtVFQpewvYrsw-mHbaQuhKcc/s320/Creep-movie-still-13.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Aparentando descontração, <i>Josef
</i>discorre sobre como o dia foi perfeito, e sente que na pessoa de <i>Aaron </i>conheceu um
novo amigo. A fluidez do bate-papo os acaba levando à questão de dinheiro, e
<i>Josef </i>pergunta por que o rapaz aceitou o emprego oferecido no <i>Craigslist</i>.
Basicamente, <i>Aaron </i>precisava de grana, e U$ 1.000,00 por um dia apenas de
trabalho resolveria alguns problemas. Envergonhado em se aprofundar nos problemas financeiros,
<i>Aaron </i>acaba soltando que de fato precisa de dinheiro, habilidosamente manipulado pelo perspicaz <i>Josef</i>, que primeiro ganha sua confiança fingindo-se atencioso ouvidor, para
depois deixá-lo se abrir. Ele retoma com um papo estranho, que deixa o rapaz
com uma pulga atrás da orelha, ao decretar que adoraria ajudá-lo
financeiramente. Hesitante, <i>Aaron </i>o agradece pela oferta, mas a recusa. Quando se
levanta para apanhar a chave do carro para partir, <i>Josef </i>pede que não se vá
ainda. Sua expressão, até então descontraída, adquire linhas retesadas, e ele
retifica que mentiu sobre a origem de "<i>Peachfuzz</i>". Ele o chama de volta à mesa,
porém antes pede que desligue o equipamento. Antevendo a gravidade da revelação por
vir, <i>Aaron </i>apenas tampa a lente, no entanto continua a registrar o áudio da conversa.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjPABd2uC69sGGzgRanMezh2ovgLIrgb7OTTjwzlSkAxhdQ9RzC8y3yRzIaTdtV5ptTyM3ujmyb4t_Jx_5P_Eh1_zyyaNSsV4P3nGrZ8MRKEqjE_McvULA2A1Adh9ArGmrY5f4W_ROPLM/s1600/Creep-movie-still-11.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="398" data-original-width="715" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjPABd2uC69sGGzgRanMezh2ovgLIrgb7OTTjwzlSkAxhdQ9RzC8y3yRzIaTdtV5ptTyM3ujmyb4t_Jx_5P_Eh1_zyyaNSsV4P3nGrZ8MRKEqjE_McvULA2A1Adh9ArGmrY5f4W_ROPLM/s320/Creep-movie-still-11.jpg" width="320" /></a></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Em filmes de terror, usualmente há uma
cena definitiva pela qual você imediatamente passa a resgatar as outras imagens encadeadas para
recompor as lembranças de uma determinada obra. Em "<i>Creep</i>", mais do que
nunca, percebemos que não é pelo viés da violência ou excessos que um filme
deixa uma impressão duradoura em nossas mentes. É justamente no instante em que
só temos áudio, na verdade um monólogo, que a trama derruba nossa falsa sensação de segurança, e esse filme verdadeiramente se insinua para dentro de nossas cabeças. "<i>Creep</i>" é o tipo de coisa que
perdurará nos pensamentos enquanto você espera o sono chegar. <i>Josef </i>conta
que há cerca de 4 anos, a velocidade da internet doméstica decaiu bastante. Um colega de trabalho o orientou a apagar o histórico de navegações,
pois o mesmo poderia estar retardando a velocidade de carregamento das páginas.
Ao retornar para casa para examinar o computador, <i>Josef </i>conectou-se à internet
e descobriu coisas inomináveis no histórico do navegador, a maioria pornografia envolvendo animais. Só
duas pessoas – ele e <i>Ângela </i>– tinham acesso`a internet de casa, e <i>Josef </i>sabia
que não fora ele quem navegara atrás de coisas tão pervertidas. Ao confrontar a
esposa acerca da macabra descoberta, <i>Ângela </i>negou envolvimento. Os dois
começaram a se distanciar emocionalmente, até <i>Josef </i>convidá-la a passar um fim de
semana na cabine da serra. Durante o fim de semana, ele inventou uma emergência
qualquer de escritório, prometendo regressar na manhã seguinte. <i>Josef </i>estava
mentindo. Ele adquiriu a máscara do lobo em uma loja de fantasias, e 3 horas depois retornou para a cabine.
<i>Josef </i>invadiu o interior pela janela do banheiro, e encontrou a esposa dormindo. Amarrada enquanto ainda inconsciente, <i>Ângela </i>despertou com aquela figura monstruosa sobre seu corpo. <i>Josef </i>a violentou implacavelmente, certo de que a mulher não o reconheceria na escuridão e principalmente atrás da máscara. Depois da violência sexual, <i>Josef </i>a deixou desmaiada e fugiu. Ele retornou na
manhã seguinte, aparentando normalidade, como se tivesse cumprido com os
afazeres do trabalho. Na cabine, <i>Ângela </i>aparentava revigorada disposição e felicidade, e
vestia um sorrisinho misterioso e realizado no canto dos lábios. No espaço da
semana seguinte, a velocidade da internet recuperou o pique e voltou ao normal (ou
seja, <i>Ângela </i>parou de olhar para aqueles sites monstruosos de bestialismo, pois
fora sexualmente atendida) e o casal superou a crise conjugal. Eles jamais conversaram sobre
o ocorrido na serra.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Se anteriormente <i>Aaron </i>conseguira
manter em xeque o nervosismo, agora mal pode esperar para partir o quanto antes. O rapaz finge normalidade, porém se sente bastante intimidado quanto as coisas aterrorizantes que lhe foram confidenciadas. O nervosismo fica patente quando
<i>Aaron </i>não consegue encontrar a chave do carro e seus modos adquirem expressões mais inquietantes. <i>Josef </i>o persuade a deixar para
descer a serra na manhã seguinte. Mesmo que a encontre, o fato de ter bebido
alguns drinques o tornaria vulnerável caso resolvesse percorrer a sinuosa estrada à noite, sem
falar na Polícia Rodoviária, que poderia prendê-lo. <i>Aaron </i>aparentemente aceita a
oferta de <i>Josef</i>, e já que permanecerá mesmo na cabine para a noite, se
voluntaria para preparar uma nova rodada de drinques para a dupla. O rapaz volta da cozinha com as bebidas, e <i>Josef </i>toma sua dose em um único gole. Eles decidem encerrar os
trabalhos, e o homem se despede do filho que jamais conhecerá, reafirmando o quanto o ama para a câmera. <i>Josef </i>comenta o gosto esquisito do drinque, e então apaga. <i>Aaron
</i>"<i>batizou</i>" a bebida com um calmante encontrado em uma das gavetas. Aterrorizado, o rapaz só queria encontrar a
chave e deixar a cabine enquanto <i>Josef </i>não pudesse lhe causar mal. </span></span><br />
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixvzwqpAF0Rp9zHYu2o0Sgb_srw_ZQuquv6mYpEEkliVta6vmQB2Z9RzRGIYAkYpDNIpgHwH4WRICrHZwah0WiIPib8Nd3lhCAnT45105Ir632D3jCoIi84-xkcuS6G_wBwPezAy2f-tA/s1600/Creep-movie-still-10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="391" data-original-width="711" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixvzwqpAF0Rp9zHYu2o0Sgb_srw_ZQuquv6mYpEEkliVta6vmQB2Z9RzRGIYAkYpDNIpgHwH4WRICrHZwah0WiIPib8Nd3lhCAnT45105Ir632D3jCoIi84-xkcuS6G_wBwPezAy2f-tA/s320/Creep-movie-still-10.jpg" width="320" /></a></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Ele deduz que a chave só pode se
encontrar no bolso da camisa do homem. Repentinamente, o celular de <i>Josef
</i>começa a chamar, e <i>Aaron </i>corre com o aparelho em direção ao banheiro, para que ele não desperte de seu torpor. Em uma cena genuinamente arrepiante, <i>Aaron </i>escuta uma
voz feminina e sonolenta do outro lado da linha. "<i>Alô?</i>", diz a voz. <i>Aaron
</i>pergunta se se trata de <i>Ângela</i>. Ela responde que sim, e diz que gostaria de
falar com o irmão. <i>Aaron </i>explica que ele está dormindo, e ao se identificar
como cineasta rodando o filme de <i>Josef </i>para que seu filho o conheça depois da morte por causa do câncer, <i>Aaron </i>fica abismado com a resposta. "<i>Meu irmão
tem problemas</i>", ela anuncia, com uma voz triste, porém estranhamente monocórdia. <i>Ângela </i>não é
esposa de <i>Josef</i>, mas sim a irmã. Diferente do que utilizou como trunfo, <i>Josef </i>jamais teve câncer, tampouco a família possui qualquer chalé, a cabine foi alugada. A moça o orienta a deixar a
cabine e seguir caminhando. Ela pede o endereço do lugar, para que a família
possa chegar a <i>Josef </i>para finalmente interná-lo. "<i>Eu corro algum perigo aqui?</i>",
<i>Aaron </i>indaga, e ela é enfática "<i>Escute-me, saia dessa casa agora</i>". O sinal parece falhar,
e eles perdem a conexão.</span><br />
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF5XO6YmdCfuF-GQDHd84XqH7RhEpu1DovFusIZkoFhOBw0dbzJ34hBwkWhBY2p-03ipNvpkMKt6gUmrJ-2sif7lJo933bc5k6VqKhEzhiR4G6YY-uSxl1VVLR4H-6AAEFt9K4EQhLg3c/s1600/Creep-movie-still-12.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="396" data-original-width="716" height="176" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF5XO6YmdCfuF-GQDHd84XqH7RhEpu1DovFusIZkoFhOBw0dbzJ34hBwkWhBY2p-03ipNvpkMKt6gUmrJ-2sif7lJo933bc5k6VqKhEzhiR4G6YY-uSxl1VVLR4H-6AAEFt9K4EQhLg3c/s320/Creep-movie-still-12.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Ao voltar para a sala, <i>Aaron </i>não
encontra mais <i>Josef </i>deitado próximo à lareira. A tensão é imensa, pois ele não
sabe onde o estranho se meteu. Apesar de chamar pelo nome de <i>Josef</i>, <i>Aaron </i>não
obtém uma resposta. É quando deixa a cabine para a varanda que o homem o
surpreende. <i>Josef </i>reaparece choroso, com a ladainha "<i>Eu não quero morrer,
Aaron</i>". <i>Aaron </i>o abraça e o consola. Ele escancara que já sabe de parte da verdade, que
<i>Josef </i>não tem câncer algum, é apenas uma pessoa bastante problemática, e está
disposto a ajudá-lo. Ao revelar que conversou com <i>Ângela</i>, <i>Aaron </i>o deixa apavorado, e
<i>Josef </i>dispara em uma carreira, cabine adentro. Cautelosamente, o cinegrafista procura
chegar à porta para deixar o lugar, quando dá de cara com uma cena apavorante.
<i>Josef </i>se encontra parado de pé bem no meio da passagem, vestindo a máscara do
Lobo Mau, uma imagem genuinamente perturbadora. <i>Aaron </i>consegue reunir paciência
para perguntar por que ele age daquela maneira com alguém que não lhe causou nenhum mal. <i>Josef </i>limita-se a grunhir como um lobo, e passa a mover
ritmicamente o quadril, uma sinistra paródia de atração sexual, o que
efetivamente deixa o rapaz apavorado e o encoraja a partir para cima da porta para
fugir a qualquer custo, mesmo sobre o corpo de seu captor.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Quando reencontramos <i>Aaron</i>, ele
conseguiu descer a serra e se encontra devolvido à segurança do lar. Já se passaram
alguns dias desde os macabros eventos na cabine. Ele revela que depois de partir
para cima de <i>Josef</i>, o estranho simplesmente empreendeu fuga, de máscara e
tudo, e <i>Aaron </i>pôde chamar o reboque para tirar o carro do lugar e voltar
para a cidade. Depois de ter retomado a vida, o cinegrafista
dispusera-se a se esquecer do encontro, quando, um dia atrás, recebeu uma
encomenda dos Correios, um DVD, para ser mais exato. As imagens mostram <i>Josef
</i>cavando uma sepultura e atirando sacos pretos dentro. O DVD soa como uma ameaça de
morte, como se <i>Josef </i>estivesse prometendo retaliação. Ainda determinado a tirar por menos, esquecer o ocorrido e seguir com a vida, <i>Aaron </i>joga o disco no lixo e torce para nunca mais escutar falar de <i>Josef</i>.</span></span><br />
<br />
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjjNNbwazCk2xweQFlNPLEx-o57fGp8OmPeJFfAz09DM66E_FXRTSa_tZoSh81eLpz4x01gmRrkLjpmmCgWlfpnJVro568ZRYdL0Qq3BMJfXW9rSJKJgVrvcdYoiJWEHX8DAl1bn7k2VQ/s1600/Creep-movie-still-5.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="412" data-original-width="618" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjjNNbwazCk2xweQFlNPLEx-o57fGp8OmPeJFfAz09DM66E_FXRTSa_tZoSh81eLpz4x01gmRrkLjpmmCgWlfpnJVro568ZRYdL0Qq3BMJfXW9rSJKJgVrvcdYoiJWEHX8DAl1bn7k2VQ/s320/Creep-movie-still-5.png" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;"><i>Aaron </i>não sofreu nenhuma violência
física, no entanto o encontro deixou profundas cicatrizes psicológicas.
Uma noite, ele desperta coberto por uma película de suor, impressionado com um pesadelo muito
vívido. No pesadelo, ele se via de volta a aquela cachoeira, e estava na água
com <i>Josef</i>, o estranho vestindo a incômoda máscara do Lobo Mau. A água parecia
uma banheira quente. <i>Aaron </i>vestia uma máscara parecida, apenas menor: no sonho, ele
se via como filhote de lobo. <i>Josef </i>lhe dava banho com vinho, mas ao olhar para
baixo, <i>Aaron </i>notava que o riacho se tornara sangue. Ele narra o pesadelo bastante emocionado, e desabafa que precisa parar de pensar naquele cara. Na manhã
seguinte, enquanto toma banho, a campainha toca. Ele recebeu uma encomenda, uma
caixa enorme. <i>Aaron </i>hesita em abri-la, contudo eventualmente abre o pacote, e
examina os itens, um a um. Primeiro, encontra uma faca e um DVD, e ao alimentar o
aparelho com o disco, assiste a um recado gravado especialmente por <i>Josef</i>.
Ele se desculpa pelo DVD anterior (onde aparecia trabalhando em uma cova), e se
justifica, descrevendo o comportamento como compreensivo, considerando que <i>Aaron
</i>o drogara, o que o havia deixado furioso. Ele diz que com os presentes, pretende fazer as
pazes. Segundo, ao vasculhar a caixa mais cuidadosamente, <i>Aaron </i>acha um lobinho de
pelúcia. Na gravação, <i>Josef </i>discorre que admira lobos porque os compreende: lobos
amam muito, mas não sabem como expressar o sentimento, costumeiramente agem com
violência, e frequentemente matam o objeto de seu afeto. "<i>Esse lobinho é uma
gracinha, me faz pensar em ti, honestamente, naquele momento em que eu te
assustei na floresta e havia assassinato em seus olhos, mas um olhar assassino
próprio a filhotes, pois você ainda não está pronto para caçar. Dessa forma, quero
encorajá-lo a abraçar seu lobo interior, então tome para si o lobinho, e, mais
importante, a faca, e não relute em usá-la, pois quando você crava a faca em
algo, e arranca as entranhas e cava até dentro, eu não sei, cara, é lindo</i>".
<i>Aaron </i>assiste a tudo em estado de choque. Quando examina o bichinho de pelúcia, encontra
um pingente em forma de coração, com duas fotos dentro, <i>Josef </i>& <i>Aaron </i>(a
foto de <i>Aaron</i>, uma daquelas tiradas por <i>Josef</i>, às escondidas). Grafada no
coração, a promessa de amor "<i>J. & A. Para Sempre</i>".</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Aaron </i>deveria ter contatado a Polícia muito
antes do recebimento da encomenda, todavia, pela primeira vez, procura as
autoridades para denunciar o assédio e expor suas preocupações. O rapaz não
vocaliza muito bem a natureza do problema, irrita-se facilmente quando precisa
admitir que não sabe o sobrenome de <i>Josef</i>. Ele parece se esquecer de todas as
imagens do sociopata que realizou na serra, evidência o suficiente para a Polícia
tomar alguma medida mais energética. Ele paga um preço caro pela inocência,
pois naquela mesma noite, ao acordar de madrugada movido por um novo
pesadelo, o assédio se revela mais urgente, e <i>Aaron </i>entende que <i>Josef </i>se
encontra mais perto do que imagina quando uma forte pancada do lado de fora acusa
a presença de um visitante. <i>Aaron </i>se arma com uma faca, e enquanto fala para as
paredes anunciando que não hesitará em usá-la, não percebe que <i>Josef </i>o
observa com olhos cheios de apetite, pela porta, em uma cena muito arrepiante. Quando
resolve investigar do lado de fora, <i>Aaron </i>não encontra nada mais do que calçadas
vazias, no entanto, ao se atentar ao lixo revirado, erroneamente associa o
barulho que escutara com a obra de algum animal.</span></span><br />
<br />
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGOvfPoSye8BLX2Itvplo1zZZTY7JpnYcoXEGPuvmEjmxHbMGoI1JPxnhac_z5IVBOn-RGjUyQL5TqZx4t_ijWEWZgr3_3ilohIMh4cL3RwtHuokQX4J9-SYdEnHeyrZR9ouCjvjHE7KA/s1600/Creep-movie-still-9.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="391" data-original-width="711" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGOvfPoSye8BLX2Itvplo1zZZTY7JpnYcoXEGPuvmEjmxHbMGoI1JPxnhac_z5IVBOn-RGjUyQL5TqZx4t_ijWEWZgr3_3ilohIMh4cL3RwtHuokQX4J9-SYdEnHeyrZR9ouCjvjHE7KA/s320/Creep-movie-still-9.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Enquanto vasculhava a calçada e as
vizinhanças, <i>Aaron </i>não se deu pela ação de <i>Josef</i>, que de fato provocara o susto
e se aproveitara para entrar, para esperar que o cinegrafista dormisse, e cortar uma mecha de cabelo. Alguns dias se passam sem sobressaltos, até que em
uma determinada manhã <i>Aaron </i>encontra a janela do quarto quebrada e um novo DVD
de <i>Josef</i>. Desta vez, o sociopata fala de um píer à margem da localidade
turística onde se conheceram. A panorâmica dá para um belo
espetáculo visual. <i>Josef </i>mostra o disco que <i>Aaron </i>atirara no lixo. Ele diz que
pôde até entender seu gesto, <i>Aaron </i>provavelmente se assustara com a imagem de
<i>Josef </i>abrindo uma cova, porém o que realmente o deixou arrasado foi achar o
pingente dentro do saco. O coração do pingente representava "<i>o laço de amizade</i>" que teriam forjado durante a aventura, e ao perceber que <i>Aaron </i>não nutria consideração pela sua pessoa, <i>Josef </i>fora tomado por uma fúria que mais tarde o
convidou à reflexão. <i>Josef </i>explica que concorda com a opção do amigo em repudiar
qualquer contato, e decide revelar um pouco sobre si, ao admitir que procurou
psiquiatras para conseguir ajuda, e os médicos jamais conseguiram escolher
entre medicá-lo ou encorajá-lo a encontrar uma resposta por si. No começo,
<i>Josef </i>disse que tentou ser ator, pois atores ganham a vida mentindo,
"<i>fazendo de conta</i>". Descobriu que somente experimentaria verdadeiro
prazer se agisse como ator na vida real. Ele já vinha postando anúncios no
<i>Craigslist </i>e arrastando incautos para farsas do tipo há algum tempo, apenas
pela satisfação pessoal envolvida: "<i>A verdade é que eu não sei por que faço isso, eu sempre
faço essas coisas!</i>", ele anuncia, em dado momento. Ele segue explicando como seu
comportamento fez com que as irmãs e os pais se afastassem. <i>Josef </i>praticamente
não tem amigos, e <i>Aaron </i>é a última oportunidade de conhecer alguém que
genuinamente se importe. <i>Josef </i>apela para o coração bondoso do rapaz, e usa sua
ingenuidade contra o próprio.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Josef </i>compromete-se a deixá-lo em paz,
apenas insiste em uma última chance para dialogarem. Se após a conversa o
rapaz expressar que de fato não deseja mais a amizade, <i>Josef </i>o deixará em paz, desde
que antes lhe dê uma derradeira chance. <i>Aaron </i>fica pensativo, tentando sopesar as
escolhas. De se esperar, o coração generoso está para metê-lo
novamente em uma fria, pois ele sente pena de <i>Josef</i>, enxergando-o como um homem
incompreendido e solitário. Ele resolve lhe conceder uma nova oportunidade. O
lugar marcado para o encontro, um cenário turístico à margem do lago onde
originalmente haviam feito amizade, é um espaço público, e <i>Josef </i>jura que não lhe
fará mal algum. Na manhã do encontro, <i>Aaron</i> estaciona o carro de modo que a
frente dê para um espaço com bancos à beira do lago. Ele deixa a câmera ligada sobre o painel, filmando a linha dos bancos, por precaução. Por uma tomada realizada silenciosamente e à
distância, assistimos ao estúpido <i>Aaron</i> distraído, sentado no banco, à espera
de <i>Josef</i>, certo de que farão as pazes e tudo terminará bem, quando o sociopata surge nas suas costas, sem acusar presença. Ele
permanece um tempo observando <i>Aaron</i>, sem nada acrescentar, até vestir a máscara do
Lobo Mau, puxar um machado de dentro do casaco e executá-lo com dois golpes
certeiros no crânio. <i>Josef</i> vasculha o carro do rapaz e se apossa da câmera. Em
uma cena no interior da casa de <i>Josef</i>, vemos quando ele arquiva o DVD onde
conservou todas as filmagens de sua "<i>amizade</i>" com <i>Aaron</i>. Dirigindo-se à câmera, <i>Josef</i> declara eterno e incondicional amor ao rapaz, nominando-o seu "<i>preferido</i>". Ele diz que o admira pois até o último minuto <i>Aaron</i> nem se preocupou em olhar para trás. <i>Aaron</i> acreditara em <i>Josef</i> e o tomara como um homem problemático, mas incapaz de maldade, cego à malícia no seu coração, o que tragicamente lhe valeu um golpe de machado na cabeça. Entre uma porção de
outros discos, possivelmente vítimas anteriores do sociopata, ele destaca o filme de <i>Aaron</i>
com o desenho de um coração feito à caneta porosa. O filme conclui ao
escutarmos <i>Josef</i> ao telefone com um candidato que atraiu com
algum novo anúncio falso no <i>Craigslist</i>.</span></span><br />
<br />
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipfdEs4lFTo_duHLlTJs-0-WKtp-jjUKetGh1BotrLvExrHLOyGVKZc-co8GMkVRoOaPM_2edgLiIYaPYZKEqfiiqyts2erC1lAU1clBXjTO0en1ji2FiqTw-1ysxQ5ExPoAh6ko4P-bU/s1600/Creep-movie-still-8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="347" data-original-width="600" height="185" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipfdEs4lFTo_duHLlTJs-0-WKtp-jjUKetGh1BotrLvExrHLOyGVKZc-co8GMkVRoOaPM_2edgLiIYaPYZKEqfiiqyts2erC1lAU1clBXjTO0en1ji2FiqTw-1ysxQ5ExPoAh6ko4P-bU/s320/Creep-movie-still-8.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Filme tétrico, contundente, intimista e
apavorante, "<i>Creep</i>" veio para satisfazer a sede de gente que se aterrorizou com
"<i>Poughkeepsie Tape</i>s" e desde então procura por uma obra que retrate com
semelhante honestidade o mesmo tipo de personalidade psicopática. Enquanto "<i>Poughkeepsie
Tapes</i>" se desenrola como um "<i>mockumentary</i>" (pensem em um episódio do extinto
"<i>Linha Direta Especial</i>", tipo "<i>A Fera da Penha</i>"), "<i>Creep</i>" ousa com uma
abordagem mais "<i>in your face</i>": não há uma variedade em termos de elenco, você só verá os
protagonistas em uma jornada claustrofóbica de interação e
conhecimento. Se os amigos leram o meu trabalho sobre "<i>Poughkeepsie Tapes</i>" e
assistiram ao filme, provavelmente concordarão comigo que os mais interessantes
aspectos da obra de <i>John Erick Dowdle</i> são as intervenções de peritos forenses
e psiquiatras do FBI, quando expõem seus pontos de vista sobre a personalidade
do assassino serial fetichista e tentam esboçar um perfil. "<i>Creep</i>" não corre o
risco de beirar a verborragia, pois ao invés do expediente de intervenções de
terceiros, permite que o desenrolar dos fatos, ali à nossa frente, nos guie às
nossas próprias conclusões sobre as pessoas em torno de quem a trama gira. Com
pouquíssimos recursos, o diretor/ator <i>Patrick Brice</i> realizou um dos melhores
filmes de horror do ano, a partir de uma mera conversa entre amigos, um
bate-papo a partir do qual esboçaram a espinha dorsal do roteiro que se tornaria "<i>Creep</i>".
<i>Brice </i>& <i>Duplass</i>, mais familiarizados ao trabalho diante das câmeras do que
atrás das mesmas, foram atuando e criando cenas conforme seus instintos, e ao longo
da jornada os personagens ganharam forma e substância, um processo de criação
realmente diferente e inovador. Para polir o produto final, levaram o
filme bruto para <i>Jason Blum</i>, o timoneiro da <i>Blumhouse Pictures</i>, de onde vieram
as melhores produções de horror dos últimos anos, tais como "A Entidade" &
a franquia "<i>Atividade Paranormal</i>". Habituado ao paladar
do público do gênero, o pessoal da <i>Blumhouse </i>cortou as arestas certas, enxugou a trama, eliminou a
flacidez, e o produto final foi uma versão ágil e tensa que ao mesmo tempo em que
conserva o estilo independente de seus realizadores, reveste-se das
características que enchem as salas de cinema com gente que curte e torce a
cada verão por um novo filme "<i>Atividade Paranormal</i>" ou algo do gênero. A
relação do ator <i>Duplass </i>com o produtor <i>Jason Blum</i> deve-se ao fato de
pertencerem ao mesmo círculo, e serem todos amigos. O maravilhoso <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"</span><i>O Presente</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", </span>por exemplo, também produzido por <i>Jason Blum</i>, traz no elenco a atriz <i>Katie
Aselton</i> no papel da irmã do personagem de <i>Jason Bateman</i>. Na vida real, <i>Aselton
</i>é esposa de <i>Duplass</i>. Em que pese a semelhança de focos – "<i>Poughkeepsie Tapes</i>" & "<i>Creep</i>" nos guiam por recantos muito escuros envolvendo o funcionamento de
mentes psicopatas – "<i>Creep</i>" sobressai-se como mais digerível dos dois, o tipo
de coisa que, apesar de desconfortável, garante bilheteria e salas de cinema
cheias. Embora bem-feito e empolgante, "<i>Poughkeepsie Tapes</i>" é um filme mais
difícil – para não dizer impossível – de se vender. Destinado a se tornar cult
movie, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"</span><i>Poughkeepsie Tapes</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" </span>fez a fama do diretor<i> John Erick Dowdle</i>, que
recentemente realizou o excelente <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"</span><i>Horas de Desespero</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">porém</span></span> <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">habita </span>um limbo entre cinema marginal & obra de arte. Sua longevidade se deve ao
falatório que <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">provoca </span>entre aqueles que conseguiram uma cópia e se
impressionaram e os outros que desejam conferi-lo, mas não o encontram em lugar algum. Quem não estiver pronto para
algo como <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"</span><i>Poughkeepsie Tapes</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" </span>faria melhor começando por <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"</span><i>Creep</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". </span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Filmes são interessantes por uma série de razões, entre elas a maneira como os descobrimos e redescobrimos, um elemento
certamente inconstante. Algo muito dominante visto durante nossas infâncias não
traria a mesma agressividade, caso o revisitássemos na fase adulta; algo que nos
cativou possivelmente continuará a nos tocar por diferentes razões, pois apenas enxergaremos
diferentes aspectos que escaparam aos nossos olhos na infância. Eu creio que se tivesse assistido a "<i>Creep</i>" aos 15
anos, o teria apreciado bastante, mas aos 36, suponho que hoje eu veja detalhes
cruciais à compreensão, e conforme aprendemos com a vida, os detalhes não podem ser subestimados. "<i>Creep</i>" exige mais de uma exibição até que a ficha caia e você perceba que o
filme é tanto sobre sociopatas quanto sobre o sexto sentido e a capacidade
inerentes a pessoas comuns para antecipar e reagir a tempo de neutralizar a maldade que nos cerca.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">As situações em "<i>Creep</i>" soam
verossímeis, porque jamais testam nossa boa vontade. Ao contrário, acontecem em
um movimento constante e crescente como se diante de <i>Aaron </i>fossem impostos sucessivos testes,
cujos limites são constantemente desrespeitados por <i>Josef</i>, que em sua conduta subversiva busca
provocá-lo, compreendê-lo enquanto ser humano, descobrir quais botões apertar, como
conseguir essa ou aquela reação. Ao passar a vista pelos debates acirrados
nas message boards de "<i>Creep</i>", na internet movie database, vi que as pessoas discutem insistentemente acerca do mesmo ponto: afinal de contas, se você estivesse no lugar de <i>Aaron</i>, em
que momento teria "desistido" de <i>Josef</i>? Considerando todas as bandeiras
vermelhas que sua conduta imprópria sinaliza, quando teria dado as costas
e tratado de correr para bem longe? Pertinente, a questão também me parece o pilar do filme, sua razão de existir, principalmente depois de tê-lo visto inúmeras vezes. O debate provocado é um testamento à habilidade dos dois atores que
conseguiram transcender à fórmula de filmes sobre serial killers para criar
algo original.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Há um importante livro chamado "<i>The
Gift of Fear</i>", do autor <i>Gavin de Becker</i>, consultor de segurança cujos clientes
incluem agências governamentais federais e departamentos de polícia. O livro
ensina pessoas, mulheres na maioria, a reconhecerem sinais de potenciais
agressores, e tomarem medidas eficazes para evitar os ataques antes que os mesmos sejam deflagrados, ou retaliar, quando tarde demais. O livro, portanto, recomenda estratégias para lidar com os problemas antes que escalem para situações de vida ou morte. Segundo a obra, uma das armas dos
agressores é justamente o altruísmo dos candidatos a vítimas, que parecem
subestimar sinais em nome de um infundado receio em ofender um pretenso agressor. Por um viés diferente,
o filme "<i>Creep</i>", mesmo através da desculpa do entretenimento, não deixa de prestar semelhante serviço. Eu fiz menção ao impacto de um mesmo filme assistido em distintos
momentos da vida porque no caso de "<i>Creep</i>" eu imagino que se o tivesse visto
adolescente, não teriam saltado aos meus olhos os indícios da terrível cilada
urdida por <i>Josef </i>bem diante dos olhos de <i>Aaron</i>. Eu me surpreendi, porque se
levarmos em conta a faixa etária de <i>Aaron</i>, e supormos que ele se encontra na faixa dos
25-30 anos, já teria maturidade de sobra para interpretar a linguagem de <i>Josef</i>,
enxergar a malícia por trás da amabilidade. No entanto, o sociopata o testa incansavelmente até descobrir os limites de <i>Aaron</i>; infelizmente, a decência do
rapaz não lhe permite traçar um ponto a partir do qual não se permitirá ser machucado. <i>Josef </i>segue avançando os sinais e
sendo exaustivamente "<i>resgatado</i>" por <i>Aaron</i>, que se sente péssimo pelo estado
psicológico do estranho. Surpreendentemente, após cada pisada no calo, a vítima
segue perdoando, certo que gradualmente mais hesitante, mas sempre leniente.</span></span><br />
<br />
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpQMlVVBgoOjL0PanMHdZA66ZVBtleYzNkRQBn-4UwvEQ53EWO1x9p_QzvH_sadJtTL96jGifHlINg0kpN8DFM_YUKgDGLMqgKDWJREl8NUcRaA_QlS5RdI6pdTSda3sCuhoG-8jThlSE/s1600/peachfuzz.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="882" data-original-width="620" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpQMlVVBgoOjL0PanMHdZA66ZVBtleYzNkRQBn-4UwvEQ53EWO1x9p_QzvH_sadJtTL96jGifHlINg0kpN8DFM_YUKgDGLMqgKDWJREl8NUcRaA_QlS5RdI6pdTSda3sCuhoG-8jThlSE/s320/peachfuzz.jpg" width="224" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Logo no primeiro minuto do encontro,
<i>Josef </i>descobre que a ingenuidade de <i>Aaron </i>facilitará a prática de seus planos cruéis. Ele o recebe com um abraço forte, e a risada desconcertada de
<i>Aaron </i>indica que aceita o cumprimento como uma mostra do comportamento liberal
de <i>Josef</i>, a quem simultaneamente presume que se trata de um ser humano decente, incapaz de malícias. A partir do sucesso do primeiro teste, quando vê que
"<i>cruzou o sinal vermelho</i>" e <i>Aaron </i>não protestou, a sucessão de pequenas
provocações se segue interminavelmente. Depois de um papo furado envolvendo um filho por nascer e a baboseira sobre câncer, <i>Aaron </i>toma a conversa
como incontestável verdade. A mera menção ao termo "<i>câncer</i>" o lança ao cativeiro de um estado
emocional onde a mera suspeição do caráter de <i>Josef </i>engatilha um processo auto punitivo, como se pessoa alguma no mundo pudesse falsear um assunto tão sério. O vitimismo e a inversão de culpa que regem o movimento de peças no tabuleiro por parte de <i>Josef </i>provam-se jogadas de mestre. Em seguida, o assassino procura elastecer o senso
crítico do rapaz, e tira da manga o truque da filmagem na banheira, intentando
ganhar imediatamente sua confiança. Se <i>Aaron </i>morder a isca – como de fato morde,
porque concorda, apesar de estranhar – <i>Josef </i>sabe que dali para frente poderá
provocá-lo como bem entender. Ele é o gato divertindo-se com o rato, prolongando
ao máximo o momento do abate: divertir-se com a comida lhe interessa mais do
que simplesmente devorá-la. Ele atormenta o rapaz com sustos estúpidos quando salta por trás de portas e rochas apenas pelo prazer de tirá-lo de centro. Mais
tarde, na diner, confia na inocência de <i>Aaron </i>a ponto de exibir as fotos
tiradas em segredo, quando ele havia chegado à cabana. Em todas essas diferentes situações, <i>Aaron </i>escolhe não enxergar a maldade por trás da estranheza, e segue
marchando conforme a batida ditada pelo algoz, rumo ao precipício. Habilidoso, o sociopata sabe
como acessar as emoções fáceis e altruístas da presa, sendo prova da assertiva a
maneira como mesmo depois de deixar a cabine, o subconsciente de <i>Aaron </i>o pune, a cabeça povoada por
pesadelos horrorosos de cunho sexual, como quando se imagina como um
bebê, <i>Josef </i>lhe dando um banho com a máscara horrorosa do Lobo Mau, um detalhe
bastante emblemático, afinal de contas não há nada mais indefeso e puro do que
uma criança, e a antítese da alma cristalina e intocada de um bebê seria a
figura do lobo, o predador supremo, a representação da subversão e
perversidade. Ele criou um vínculo emocional indesejado com a vítima através de
um número de expedientes emocionais meticulosamente calculados para aquele fim, como o papo sobre câncer, o segredo
sobre a esposa interessada em fetiches relacionados a bestialismo, e o estupro... pouco
importa se apenas parte disso for real. <i>Josef </i>conseguiu cativá-lo, marcá-lo
psicologicamente. Para facilitar o "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">abate</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">", o predador embaralhou a cabeça do
homem fraco cujo calcanhar de Aquiles se dá pelo viés da compaixão. Já vimos algo parecido em outros veículos, não? Se assistirmos a
documentários sobre a vida selvagem, veremos como os predadores abatem as presas. Onças
ficam a espreita da manada de zebras, e antes de atacar, "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">marcam</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">" as mais indefesas, vulneráveis. Nesse sentido, diferente das representações extravagantes de
psicopatas em grandes filmes, a performance de <i>Duplass </i>goza de uma intimidade
constrangedora, já que real. Sempre calculista quanto aos passos, sua contenção
parece genuinamente crível e assustadora. Eu pensei no perturbador "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Estranhos
Prazeres</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">", de <i>David Cronenberg</i>, sobre o qual escrevi nesse blog. Ali, os atores "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">não devoravam o cenário</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">" (expressão que os americanos usam, "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">chew the scenery</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">", alusão a interpretações afetadas, desafinadas) ao encarnar seus personagens, não queriam
parecer maiores do que efetivamente o eram. Ocorre que no silêncio, no jogo de
olhares, na arte da manipulação e do sexo corrompido, você observa as
ferramentas de manipulação a que os protagonistas da aventura, sociopatas
perigosíssimos, lançam mão para a satisfação do hedonismo. Igualmente, o <i>Josef </i>de "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Creep</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">" não foi concebido com descuidos
de tintas fortes, o roteiro não devaneou. A verdade sempre nos acertará mais em
cheio do que a fantasia, daí minha admiração
pelo esmero criativo dos dois atores. Eles conceberam um pesadelo e o ambientaram
em um mundo muito real, com os horrores do dia a dia, tais como abusos sexuais, perversões e desvio de
personalidade, a serviço de um dos ditados mais certos e verificados por todos
os lados, nas diferentes searas, pelas mãos das pessoas que você conhece no
escritório onde trabalha até os amigos que faz: <i>nenhuma boa ação sai impune</i>.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTrB8awBtKJwHqjK_-7F1JtmwM7bpMuOfpJmea23U5jSToCvKvjHHigODaD5oht2wi53kuZkmtEmNsp-f3v1rw4cUFlX8oGWe6W_PTnENrN1OWpwLJPldrOTWlq1eA03Q6oFyutA8d3EY/s1600/Creep-movie-still-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="540" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTrB8awBtKJwHqjK_-7F1JtmwM7bpMuOfpJmea23U5jSToCvKvjHHigODaD5oht2wi53kuZkmtEmNsp-f3v1rw4cUFlX8oGWe6W_PTnENrN1OWpwLJPldrOTWlq1eA03Q6oFyutA8d3EY/s320/Creep-movie-still-2.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Também digno de nota, eu destaco o mistério,
as muitas perguntas que o filme se permite terminar sem endereçar. Muitas
pessoas costumam atribuir falta de respostas a um roteiro pífio. Eu discordo.
Dois artistas que bolaram um suspense tão sensacional sem que uma única gota de
sangue tivesse que ser derramada jamais falhariam na execução do script. A meu
ver, as lacunas foram deixadas propositalmente, e eu posso citar algumas
anotações mentais sobre diversas situações que durante o filme permitem interpretações dúbias. Chamou-me a atenção um dos momentos mais desconfortáveis
de "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Creep</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">", a ligação da irmã, enquanto <i>Josef </i>dorme após ingerir bebida
alcoólica com tranquilizantes. Eu poderia citar o tom
monocórdio da voz da mulher, que eriçou os cabelos de minha nuca (ela soava
calma, calma até demais), <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">no entanto </span>gostaria de focar na questão dos tranquilizantes.
<i>Aaron </i>encontra uma caixa de tranquilizantes <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">em uma das gavetas da cozinha</span>, e cuidadosamente
os esfarela dentro do drinque de <i>Josef</i>. Não consigo <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">deixar de pensar </span>que a caixa de comprimidos foi encontrada por <i>Aaron </i>na cabana de <i>Josef</i>. O
sociopata queria que <i>Josef </i>encontrasse os tranquilizantes, esperou que
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Aaron </i></span>esfarelasse os comprimidos e os polvilhasse no drinque. Nesse sentido,
portanto, os comprimidos não seriam necessariamente<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>tranquilizantes, podiam ser algo inócuo, mas<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span><i>Josef </i>queria criar tal ilusão na cabeça de <i>Aaron</i>. Creio que <i>Josef </i>não <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">foi</span> drogado, porém quis criar na cabeça da
vítima a ilusão de que <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">estava </span>dopado, justamente para manipulá-lo, pegá-lo com a
guarda baixa, incentivá-lo a alguma ação. Algo me diz que <i>Ângela </i>estava envolvida na jogada. Ela seria parceira
de <i>Josef</i>, por que não? Não deve ser mera coincidência <i>Ângela </i>ligar justamente quando <i>Josef </i>"<i>dorme</i>". S<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ua participação na cilada giraria em torno de </span>aterrorizar o desavisado rapaz ainda mais, incentivá-lo a deserdar a cabine,
talvez porque ela, <i>Ângela</i>, estivesse à espreita para lhe <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">fazer </span>mal do lado de
fora. Eu não poderia afirmar se <i>Ângela </i>seria ou não a irmã de <i>Aaron</i>, porém estou
inclinado a acreditar que há mais à trama do que nossos olhos conseguem absorver.
A propriedade de deixar pessoas discutindo a respeito do que viram é característica
dos grandes filmes. A julgar que "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Creep</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">" promete ser o primeiro de uma
trilogia, a <i>Blumhouse Productions</i> <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">realmente investiu n</span>o potencial do material de primeira<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> que tem </span>em mãos. As questões deixadas pelo primeiro, como o papel da mulher que
realiza a ligação, prometem ser respondidas nos próximos. Vamos esperar!</span><br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOXKvEQ2cP1XzjZjQVUd9nNSSFJmmZKatEetL8FdZfMHGNROGEOyVTeL4KQa3wG-bPFLqramq_y2qt0To8BpzXEutQCKHZbprE7Kstuh15kvAyNtYEWxV2ge6ILOVuullrviradnNNvFE/s1600/ElencoFirstStrike.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="433" data-original-width="1017" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOXKvEQ2cP1XzjZjQVUd9nNSSFJmmZKatEetL8FdZfMHGNROGEOyVTeL4KQa3wG-bPFLqramq_y2qt0To8BpzXEutQCKHZbprE7Kstuh15kvAyNtYEWxV2ge6ILOVuullrviradnNNvFE/s400/ElencoFirstStrike.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Além de um dos mais
interessantes filmes do ano, "<i>Creep</i>" me fez pensar no que eu teria feito com a
premissa, para onde eu a teria levado, as mudanças que eu teria promovido para tornar a trama mais
intrigante. Quando um filme me encanta, o meu fascínio pelo cinema me leva ao
exercício de imaginação através do qual exercito como eu teria usado o que conheço sobre filmes para fazer algo igualmente envolvente. Eu acho que comecei
a escrever não apenas por afeto à expressão através da escrita, mas como válvula de escape para o desejo primordial, que seria dirigir essas fantasias
delirantes e maravilhosas. Eu não acho que elaboraria uma melhor estória da que
</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 107%;">Duplass </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">& </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 107%;">Brice </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">bolaram, mas penso que ao fazer algumas coisas diferentes,
o resultado teria sido no mínimo bem interessante! Algo curioso aconteceu
quando eu assisti a "<i>Creep</i>", porque como o filme tem momentos de humor negro,
algo me fez pensar naquelas comédias românticas estreladas no final dos anos
80/começo dos anos 90 por <i>Tom Selleck</i>, estilo "<i>Adorável Sedutora</i>" & "<i>3
Solteirões & um Bebê</i>". A partir daí, as ideias foram me assaltando, então
escutem só a estrutura que eu teria montado: KIT MANNING (TOM SELLECK) é um ex-executivo de uma
poderosa empresa de <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">P</span>ublicidade & <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">P</span>ropaganda que após perder o emprego há 5 anos, também foi deixado pela
ex-mulher, e vive um momento financeiramente desconfortável da vida. <i>Kit </i>teve que voltar a morar na casa da avó, a única pessoa que realmente não o
abandonou quando as coisas ficaram ruins de uma hora para a outra. Em uma honesta tentativa de juntar os
cacos da própria vida, ele passa a trabalhar com filmagens de casamentos e
coisas do gênero. Um dia, recebe o telefonema de uma senhorita que pede especificamente pelos seus serviços de filmagem. <i>Kit </i>mal aceita o serviço, ele
recebe na porta de casa uma passagem aérea em seu nome, um voo para Las Vegas,
onde se dará a prestação do contrato. Intrigado, <i>Kit </i>se despede da avó e promete não se
demorar em Las Vegas. Em Vegas, <i>Kit </i>é recebido no aeroporto por DA SILVA
(ANDREW JACOBS, "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 107%;">Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">"), um rapaz escalado
especialmente para facilitar a estadia de Manning na cidade. <i>Da Silva</i> será
seu motorista, e providenciará tudo o que <i>Kit </i>julgar necessário. Instantaneamente,
<i>Kit </i>e o garoto, cerca de 15 anos mais jovem do que o protagonista, formam uma
bela amizade. <i>Kit </i>é levado ao hotel 5 estrelas onde seu empregador o
hospedou, e naquela mesma noite é apresentado a CHERYL CROSS (RACHEL McADAMS).
Ela foi a pessoa que requisitou especificamente pelos seus serviços de filmagem. Aos 30
e poucos, elegante, simpática, perspicaz e muito bonita, <i>Cheryl</i> é uma executiva muito importante e de sucesso, e consegue deixa-lo
à vontade. Algo no jeito desastrado e respeitador de <i>Kit </i>a deixa
encantada. Desde o começo, ele se surpreende com o sentimento de intimidade que ela cria: <i>Cheryl </i>o chama <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">bem-humoradamente </span>de "<i>Kit-Kat</i>". Fragilizado pela vida, <i>Kit </i>parece um homem muito mais maduro do
que seus 30 anos levam a crer (a título de imaginação, eu escrevi o roteiro para um <i>Tom
Selleck</i> na faixa etária correta), talvez porque já tenha sofrido bastante.
Naquele fim de semana em Las Vegas acontecerá o Campeonato Mundial de Karatê.
<i>Cheryl </i>faz parte do time norte-americano feminino. Ela explica a <i>Kit </i>que
apesar de casada e jovem mãe, embora tenha conquistado tudo o que havia a provar, profissionalmente falando, há um sonho <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">não concretizado</span> que finalmente poderá se
tornar realidade. <i>Cheryl</i> explica que gostava desse rapaz que estudou com ela há muitos
anos atrás, porém jamais pôde lhe dizer o quanto ele era importante. <i>Cheryl</i> diz que precisa dos serviços de filmagem de <i>Kit</i>, pois não somente pretende
mostrar ao referido rapaz as suas lutas, <i>Cheryl</i> também quer ganhar a medalha de
ouro para lhe dar de presente. <i>Kit </i>fica tocado que uma mulher tão
sofisticada vocalize um desejo tão cândido e puro, e eles selam o contrato com um
abraço. Como os amigos podem ver até agora, eu promovi algumas mudanças bem
profundas no roteiro original de "<i>Creep</i>" (aliás, na minha versão, teria um
outro nome, mas abordarei o ponto no momento adequado): <i>Josef </i>agora é uma
mulher e se chama <i>Cheryl</i>, <i>Aaron </i>agora se chama <i>Kit</i>, e sendo mais velho,
move-se com mais maturidade, mais presença e elegância. Eu introduzi novos personagens, e
mudei o plano de fundo para Las Vegas, durante o fim de semana onde
acontecerá o Campeonato Mundial de Karatê. O campeonato ocorrerá dali a dois
dias, então <i>Kit </i>e <i>Cheryl</i> acabam tendo tempo para se conhecerem melhor. O
filme, portanto, se desenvolve como uma comédia romântica, ao longo do primeiro
1/3 de projeção, pois entre situações cômicas & dramáticas, assistiremos
aos dois caminhando lado a lado em passeios públicos e transitando entre
jantares, em um verdadeiro estudo psicológico, mais sobre <i>Kit</i>, que <i>Cheryl</i> vem a conhecer melhor, já que ele é transparente. <i>Kit</i>, claro, deveria
saber melhor antes de falar sobre o padrasto que amava como pai ou a mãe
que se suicidou após sua morte, ou a avó que o criou como mãe. Ele fornece tão
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">desapegada </span>& <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">graciosamente </span>informações sobre a vida pessoal que dentro de dois
dias <i>Cheryl</i> já o conhece muito bem. O roteiro encontra um jeito, claro, de
incluir <i>Da Silva</i> em parte dessas cenas. De certa forma, <i>Da Silva</i> interpreta
o papel do "<i>sidekick</i>" engraçadinho. Ele se torna muito amigo do herói, alívio
cômico e, mais tarde, valioso aliado. Haveria um papel também para a <i>Kristen
Bell</i>. Ela faria o papel de uma <i>card dealer</i> de um cassino em Vegas chamada
ISABELE. Ao visitar um cassino durante a espera para o grande evento, <i>Kit </i>reconhece a <i>card dealer</i>, pois há 5 anos <i>Isabele </i>tinha estagiado na empresa de publicidade onde
ele era executivo. <i>Kit </i>fora uma pessoa generosa e cativante não apenas para
<i>Isabele </i>como também para toda a turma de estágio que havia passado pelo seu
setor naquela época. A participação de <i>Isabele </i>na trama fará mais
sentido posteriormente, no entanto, por ora, eles ficam muito felizes por terem
se reencontrado, e <i>Kit </i>explica que está em Vegas a trabalho para realizar
imagens de um importante evento. Na escalada até o grande dia, veremos
<i>Kit </i>e <i>Isabele </i>se encontrando ocasionalmente, quando o rapaz acha tempo vago para visitá-la durante as tardes. Quando chega o dia do Campeonato onde <i>Cheryl</i> lutará,
é claro que <i>Kit </i>& <i>Cheryl </i>já estão bem familiarizados um com o outro. Eu mencionei no
começo de minha exposição que o filme prestaria homenagem ao "<i>feeling</i>" daqueles
clássicos da adolescência que todos acima de 30 anos aprenderam a amar, então
uma porção das músicas daquele tempo, anos 80/90, seriam resgatadas para dar às
cenas o tom correto. Por exemplo, para abrir o filme com um sentimento alto
astral, sublinhando uma montagem de cenas do <i>Tom Selleck</i> trabalhando e
confraternizando com a galera do aeroporto (no filme, além de cinegrafista, ele trabalha meio<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>período descarregando carga no aeroporto), uma sequência poderosíssima, pois
mais tarde a trama se direcionará ao mais absoluto horror, usaríamos "<i>Always Thinking
of You</i>", de<i> Donna Delory</i>, que inclusive introduz a abertura de "<i>3 Solteirões e
uma Pequena Dama</i>". Nas cenas envolvendo o campeonato, a <i>Rachel McAdams</i>
competindo e vencendo as muitas lutas, gradualmente mais difíceis, aplicaríamos "<i>You’re the Best Around</i>",
de <i>Joe Esposito</i>, que carrega a sequência das lutas no final de "<i>Karatê Kid</i>". Vejam
bem, eu estou apenas traçando um "<i>outline</i>" para a trama, claro que há muitos
detalhes, não cabem a mim, estender-me. O fato é que mesmo depois de apanhar ao longo do campeonato (uma adversária inclusive conecta o cotovelo no nariz dela), a personagem da <i>Rachel McAdams</i> chega até a final, uma luta duríssima que precisa ir para o tempo extra para resolver quem será a vencedora, quando a primeira que acertar um golpe ganha a luta. Ela infelizmente perde, mas então quando as pessoas aplaudem os esforços das duas e <i>Kit </i>a abraça bem forte, para <i>Cheryl</i>, o segundo lugar se torna a coisa mais importante do mundo. A melhor cena, a "<i>calmaria antes do horror</i>", envolveria uma noite de comemorações que <i>Kit </i>e <i>Cheryl</i> teriam após o encerramento do campeonato. Há esse grande baile à fantasia em um importante e grandioso parque temático de Vegas, e como a cidade recebeu uma demanda enorme por causa do campeonato, é de se esperar que todas as pessoas que vieram para assistir às lutas também compareçam. Em outras palavras, será uma noite para recordar. <i>Kit </i>e <i>Cheryl</i> estão arrumando detalhes para a festa (em uma cena particularmente doce, ela ajuda o atrapalhado <i>Kit </i>com a gravata, que ele não sabe amarrar). Ela pede que <i>Kit </i>apanhe suas roupas no closet, e <i>Kit </i>topa com uma fantasia de super herói que por razões próprias lhe chama a atenção. Ele nada comenta, e quando <i>Cheryl</i> pergunta o que ele achou, <i>Kit </i>diz que ela está linda. Daí, rola a tal cena da festa à fantasia, e o momento é conduzido por "<i>Feel the Night</i>", de <i>Baxter Robertson</i>, uma montagem romântica importantíssima onde vemos os dois rindo e se divertindo e dançando... eles não se envolvem amorosamente, mas o que há de bonito na montagem é a pureza e doçura do clima de paquera envolvido: ambos passeando no rinque de gelo, e ela movendo os quadris, os dois brincando no kart, <i>Kit </i>acertando um tiro no alvo e e entregando à <i>Cheryl</i> um gatinho de pelúcia, e por aí vai. A cena funciona primordialmente por causa da música, que imprime a energia certa ao instante. Eu acrescentaria um lance em que antes de <i>Cheryl</i> lutar, <i>Kit </i>prometera que torceria bastante por ela, e inclusive rasparia o próprio bigode como uma promessa caso ela ganhasse o primeiro lugar. <i>Cheryl</i> e <i>Kit </i>chegam ao hotel depois da fervilhante festa à fantasia, e em uma atitude ousada, ele a leva à suíte no colo. Precisamos nos lembrar que apesar de os dois mal poderem se conter de alegria, ela está toda ferrada, o nariz arrebentado, um olho roxo, as costelas doídas, etc. Uma vez que ficam em silêncio, na suíte, <i>Cheryl</i> comenta que agora que ela perdeu, ele nem precisará tirar mais o bigode, e quando ela diz isso, seus olhos ficam muito tristes. <i>Kit </i>se escusa, tranca-se no banheiro para lhe fazer uma surpresa, e quando sai, ressurge com uma nova cara, sem bigode. Ele explica que não importa que lugar tirou, para <i>Kit</i>, ela sempre será número 1. Enfim, vocês podem ter uma ideia de para onde essa clima está levando, mas depois que ela começa a tirar apressadamente as botas, saltitando sobre um pé para tirá-la do outro, e também se livra da máscara, <i>Kit </i>a abraça de frente e eles ficam só nisso. Com a voz cheia de dor, Cheryl pede para que <i>Kit </i>não se vá. Ele permanece ao lado da moça, na cama, e a abraça sem malícia alguma, até ela dormir. Em determinado ponto da madrugada, depois que se certifica de que ela mergulhou em um sono profundo, <i>Kit </i>a cobre com o cobertor e, cuidadosamente, escreve uma carta em que afirma o quanto apreciou cada minuto ao seu lado, e o quanto faz votos para que seja sempre muito feliz ao lado da família. <i>Kit </i>também deixa ao lado da carta, na escrivaninha, a caixa com o DVD das filmagens das lutas de <i>Cheryl</i>, e dentro da caixa, o dinheiro que ela lhe pagou, porque ele gostou tanto da companhia dela que se sentiria mal caso aceitasse algum valor. <i>Kit </i>prefere quitar a estadia no hotel do próprio bolso, e <i>Da Silva</i>, que se encontra por ali, no estacionamento, lhe pergunta o que houve, intrigado ao vê-lo de malas. <i>Kit </i>explica que partirá de volta para casa naquela madrugada, e não quer deixar <i>Cheryl</i> triste, portanto preferiu ir embora enquanto ela dormia. Antes de partirem diretamente para o aeroporto internacional, <i>Kit </i>pede a <i>Da Silva</i> que dê uma passada no parque temático, pois crê que <i>Isabele</i> ainda se encontre por lá, e gostaria de se despedir dela também. Até agora, os amigos devem se perguntar: mas e o Horror</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 16.96px;">?</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 16.96px;"> Depois do desenvolvimento de atmosfera na primeira metade, o terror chegaria com toda força para a segunda metade, pois ao procurar <i>Isabele</i> para se despedir, ela lhe diz que precisam conversar sobre algo muito importante. Ela conta que inicialmente não teve certeza, contudo ao prestar mais atenção reconheceu a senhorita que estava a seu lado no parque. <i>Isabele </i>pergunta se <i>Kit </i>realmente não se lembra de <i>Cross</i>, porque ela o conhece há mais tempo do que <i>Kit </i>possa imaginar. <i>Isabele</i> rememora sua passagem pela empresa de publicidade, como estagiária, 5 anos antes. <i>Cross</i> ascendeu na hierarquia da empresa, mas entrou ali na mesma época em que <i>Kit </i>ingressou nos quadros, 5 anos atrás, e pelo que <i>Isabele</i> consegue se recordar, sabia muito bem quem <i>Kit </i>era. Como estagiária, <i>Isabele</i> transitava entre distintos setores, o que lhe valeu a chance de conhecê-la. <i>Isabele</i> revela que <i>Cheryl </i>dizia que havia estudado junto com <i>Kit</i>, quando ambos não deviam ter mais do que 15 anos. A maneira incisiva como falava de <i>Kit </i>a levava a crer que <i>Cheryl </i>tinha algo pessoal contra o rapaz, e embora intrigada pelo passado entre os dois e o que a levara a odiá-lo tão gratuitamente, <i>Isabele</i> preferira guardar consigo suas observações. <i>Kit </i>fica desconcertado, porque jamais imaginou que seus caminhos tivessem se cruzado anteriormente. Ele apreciou tanto os momentos que haviam passado juntos em Las Vegas que jamais teria suposto que <i>Cheryl </i>o odiasse ou quisesse seu mal. A parte de horror da trama fica reservada para a segunda metade do filme, depois que <i>Kit </i>regressa para Nova Jersey e, gradualmente, através de pesquisas na internet e uma visita ao colégio onde estudou, monta uma imagem diferente da amiga que pensou ter feito em Las Vegas. É claro que a segunda metade se serviria a desenvolver o mais puro horror. Existiria um paralelo entre as sugestões sexuais perversas que o <i>Josef </i>de "<i>Creep</i>" incute na cabeça de <i>Aaron</i>, nesta nova derivação da trama: enquanto em "<i>Creep</i>" <i>Josef </i>lança mão da baboseira da máscara do lobo e a esposa com fetiche por bestialismo, na minha versão, como <i>Cheryl </i>já trazia uma bagagem, uma história com <i>Kit</i>, por mais que ele verdadeiramente não se lembrasse, ela tinha acesso ao passado do rapaz. Não foi por acaso que o arrastou à festa à fantasia e se caracterizou com a fantasia de uma determinada heroína. <i>Cheryl </i>o conheceu originalmente aos 15 anos, e parte do adulto que <i>Kit </i>se tornou deve-se a um evento traumático acontecido na mesma época. Ao longo de 3 anos, quando criança, <i>Kit </i>foi abusado sexualmente por uma prima mais velha que ficou na sua casa. A questão do fetiche do uniforme de super herói - as botas, as luvas, a máscara que <i>Cheryl </i>usa para inebriá-lo - pode ser rastreada à natureza da primeira violência que <i>Kit</i>, quando criança, sofreu nos braços da prima, porque a primeira vez em que foi abusado, aconteceu após um baile à fantasia a que sua prima o levara. Ela vestia uma fantasia do mesmo tipo, e quando os dois voltaram para casa, ele ainda uma criança e ela no mínimo 10 anos mais velha, e alcoolizada, a prima cometeu a maldade. Ela viria a programá-lo de que tudo aquilo era uma coisa natural e saudável, e ao longo de 3 anos, <i>Kit </i>foi sistematicamente abusado. Como <i>Cheryl </i>saberia de um segredo tão sujo permanece um mistério para <i>Kit</i>, tão inexplicável quanto as razões que a levaram a mantê-lo no radar para saber de cada passo seu após o colégio. Por mais que <i>Cheryl </i>tenha conquistado por mérito uma relevância para poucos no mercado publicitário, por mais que tenha crescido, prosperado, por mais feliz que se sinta ao lado da família, ela não conseguiu deixar <i>Kit </i>para lá, e por motivos que ao roteiro não cabe elucidar, agora quer caçá-lo e arruiná-lo porque simplesmente pode. Cinco anos antes, fora <i>Cheryl </i>quem provocara a demissão de <i>Kit</i>, o que lhe custou o próprio casamento. Agora, ela consumirá a sua vida, sob o manto do álibi perfeito, pois como uma mulher exemplar e acima de qualquer suspeita, pode agir livremente para jogar com a cabeça da vítima até achar que sabe o suficiente sobre <i>Kit</i>, ao menos antes de matá-lo. Assim como ocorreu em "<i>Creep</i>", quando <i>Kit </i>volta para casa, já ciente da história com <i>Cheryl </i>graças à <i>Isabele</i>, apesar de tentar retomar a vida de onde deixou, é assolado por pesadelos terríveis envolvendo o fim de semana em Las Vegas e o estupro na infância. Ele recebe uma encomenda dos Correios, com a medalha de prata que <i>Cheryl </i>ganhou no campeonato e uma nota onde ela escreveu "<i>Eu ganhei para você</i>". A trama faz um "<i>link</i>" com a menção de <i>Cheryl </i>a ganhar uma medalha para essa pessoa de quem ela gostava muito desde o colegial. <i>Kit </i>não sabia então, mas ele era a tal pessoa. Ele resolve se livrar da medalha, e na mesma noite acorda após um pesadelo horroroso, onde via a si, como criança, só que ao invés de se encontrar nos braços da prima, era <i>Cheryl </i>quem o maltratava, vestida, claro, como super herói. Nisso, escuta um forte barulho vindo do lado de fora, como uma pancada na janela, e sai para investigar. Essas passagens acontecem similarmente ao que já vimos em "<i>Creep</i>": ela entra na casa enquanto <i>Kit </i>se encontra vasculhando as calçadas e o quintal, onde encontra o lixo revirado e atribui o fato a algum animal, esconde-se, espera que ele durma, e então corta uma mecha de seu cabelo. <i>Cheryl </i>manda uma nova encomenda, desta vez um DVD onde exibe a medalha de prata que encontrou no lixo, e diz que até consegue compreender por que ele quis se afastar, mas não pôde aceitar que tenha atirado a medalha fora, vez que emblemática da amizade que os dois haviam feito em Las Vegas. Eu também preservaria o discurso do lobo, e o lobinho de pelúcia com um pingente dentro, onde <i>Kit </i>encontraria uma foto sua, uma muito antiga, de meado dos anos 90, 1995, quando ele tinha 15 anos, ao lado da de <i>Cheryl</i>, com a mesma idade, dentro de um coração. A razão de existir da figura do lobo, além de simbolizar a crueldade pela qual <i>Kit </i>passou, quando criança, nas mãos de uma predadora, deve-se ao símbolo da equipe de karatê pela qual <i>Cheryl </i>competiu, por exemplo. Para a sequência das lutas, durante a primeira metade do filme, eu havia visualizado a <i>Rachel McAdams</i> vestindo aquela roupa <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">preta </span>igual a que os "<i>Cobra Kai</i>" vestem em "<i>Karatê Kid</i>", ou seja, sem mangas, o que realçaria os braços fortes, mas femininos da atriz, sendo a diferença o fato de nas costas haver um lobo ao invés de cobra. Eu encontraria uma forma de aproveitar <i>Da Silva</i> & <i>Isabele </i>no segundo segmento, quando o Horror substituísse a comédia romântica. Não pensei muito sobre algumas vertentes a explorar, a partir do retorno de <i>Kit </i>para casa. Escrever é um exercício de imaginação constante, e até terminar esse trabalho, as ideias discutidas acima representam tudo o que pensei a respeito de uma nova versão, que, aliás, eu chamaria de "<i>First Strike</i>". Lembram-se quando eu discorri sobre a passagem das lutas? Que a <i>Rachel McAdams</i> vai vencendo e vencendo, porém ao chegar à competição final a luta não consegue ser decidida no tempo regulamentado, e elas precisam ir para o tempo extra? Onde quem conectar o primeiro golpe ganha a luta? Muito bem, vamos supor que esse lance se chama "<i>First Strike</i>", ou "<i>Primeiro Golpe</i>". Daí a minha ideia de usar o termo como novo título. E então, comparada ao roteiro original, o que os amigos acharam da nova trama</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 16.96px;">?</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/Gp7tBypjwDo/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/Gp7tBypjwDo?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; line-height: 106%;"><i style="background-color: #eeeeee;">Todos os direitos autorais reservados a Blumhouse Productions. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMyV5KfclbDz5hKctg-m9YOsu3y3WfDsOe1fEmarlXdnisWYJ9TGptYj9uM4ZEg7e5UI9gqmO5f0DbVmUwtsWHVarTmjnIwxj9DvN51uwbpOIJCArclwKOaSr2zCkxNR4YK8QqEBhIh24/s1600/the-conspiracy-poster.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="640" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMyV5KfclbDz5hKctg-m9YOsu3y3WfDsOe1fEmarlXdnisWYJ9TGptYj9uM4ZEg7e5UI9gqmO5f0DbVmUwtsWHVarTmjnIwxj9DvN51uwbpOIJCArclwKOaSr2zCkxNR4YK8QqEBhIh24/s320/the-conspiracy-poster.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">"</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">O mundo é governado por personagens
muito distintos do que imaginamos</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">". – </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">Benjamin Disraeli, Primeiro Ministro
britânico, 1874-1880</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">. "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 106%;">The Conspiracy</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">" começa com a intrigante frase acima, e
no curso do filme, a compreenderemos melhor. Se vocês se arrepiaram com "<i>Creep</i>" e sua abordagem da mente sociopata, esperem para conferir "<i>The Conspiracy</i>", um olhar
corajoso à "Nova Ordem" e ao exclusivo, reservado mundo das sociedades secretas.
Se <i>Stanley Kubrick </i>já flertou com a questão em "<i>De Olhos Bem Fechados</i>", "<i>The
Conspiracy</i>" vai mais além, neste macabro "<i>mockumentary</i>" sobre dois amigos em busca
da verdade sobre um grupo secreto e a forma como são tragados a um submundo cuja profundidade mal conseguem compreender. Em julho de 2011, <i>Aaron Poole</i>
& <i>James Gilbert</i> (os atores usaram seus nomes reais para imprimir ainda mais
veracidade a esse filme que, frise-se desde já, deve ser visto como um "<i>mockumentary</i>", ou seja,
um documentário "<i>de mentirinha</i>", recurso que reveste a obra de uma elegância
quase jornalística e, no caso do gênero Horror, os deixa ainda mais autênticos)
são dois jovens cineastas que resolvem rodar um documentário sobre um
cavalheiro chamado "<i>Terrance G.</i>". No início do filme, uma série de takes de
tirar o fôlego nos exibe as fachadas de monólitos de Wall Street, enquanto escutamos a voz de
<i>Terrance G.</i> ressoar, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">pregando </span>que todos nós somos escravizados pela
mídia. <i>Terrance G. </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">defende</span><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span></i>uma porção de teorias da conspiração, fantásticas
demais para serem reais, contundentes demais para soarem unicamente como fantasias... ele
crê que os principais eventos da História Moderna foram <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ditados </span>por forças <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">alheias</span>. Tais forças pertenceriam a aquelas pessoas que
verdadeiramente ditam o rumo de nossa sociedade. Não me refiro a Presidentes ou
políticos, e sim a figuras que atuam exclusivamente nos bastidores e mantêm as
figuras públicas como títeres, nada mais. Os rapazes prestam uma visita ao
humilde apartamento de <i>Terrance</i>, e como todo bom conspirador, ele traz suas paredes forradas por uma série de recortes de notícias da política americana e mundial
que busca reinterpretar conforme suas crenças. Nada passa despercebido do crivo
do estudioso <i>Terrance</i>.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuzUm7DiZBte_Fr8WsgvxFVzOuMBWHX0JCzigEfKDOONiuYPsA7wqo_CruXojOGKdzXymZgE4Q-eY4e10JFNpnQUTM2Y_rMW6VxYQbfG6O2EKoGoMqSfKL99JuxAKfOYe_yU6Cl-I61XA/s1600/the-conspiracy-movie-still-3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="570" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuzUm7DiZBte_Fr8WsgvxFVzOuMBWHX0JCzigEfKDOONiuYPsA7wqo_CruXojOGKdzXymZgE4Q-eY4e10JFNpnQUTM2Y_rMW6VxYQbfG6O2EKoGoMqSfKL99JuxAKfOYe_yU6Cl-I61XA/s320/the-conspiracy-movie-still-3.jpg" width="320" /></a></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;"><i>Aaron </i>& <i>Jim </i>tiveram o contato
inicial com <i>Terrance </i>através de um outro amigo, que lhes <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">enviara </span>o link de um
vídeo onde ele <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">aparecia </span>doutrinando com o megafone bem no meio de um movimentado
cruzamento em Toronto. Inicialmente, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o</span>s rapazes não deram muita bola às teorias malucas, mas quando
leram os comentários abaixo do vídeo, surpreenderam-se como ao invés de
invalidarem os argumentos do cavalheiro as pessoas expressaram concordância,
como se parte delas imaginasse que as histórias guardassem mesmo um fundo de verdade e,
de fato, as engrenagens do mundo não funcionassem exatamente como as vemos e as
interpretamos.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqxDVoqVncihZjHkNQqxMJwarFiWKZT2eCPu7pvK3jrBjMTGTbp4MFNIoScN3QzSV4pQLF03UwWdWI02e4tqiQmXZ9CmxpBY_qvZ2GOjTkv-tPo7oZ0SBZJjUDvgxv8n822U7727AK5qE/s1600/the-conspiracy-movie-still-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="326" data-original-width="575" height="181" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqxDVoqVncihZjHkNQqxMJwarFiWKZT2eCPu7pvK3jrBjMTGTbp4MFNIoScN3QzSV4pQLF03UwWdWI02e4tqiQmXZ9CmxpBY_qvZ2GOjTkv-tPo7oZ0SBZJjUDvgxv8n822U7727AK5qE/s320/the-conspiracy-movie-still-1.jpg" width="320" /></a></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;"><i>Terrance G. </i>explica que aprofundar-se
nas questões apenas dentro de seu círculo de amizades jamais ajudaria a transformar o estado das coisas.
Ele precisa compilar as informações, os dados, e levá-los ao "<i>rebanho</i>", as "<i>ovelhas</i>", pessoas como a gente, que vivem suas vidas alheias ao que realmente
acontece acima da capacidade de compreensão. <i>Terrance G.</i> costuma levar
seu quadro negro para o meio de um parque, onde passa a expor suas versões para
acontecimentos notórios, para aqueles que <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">tirarem um tempo para ouvir</span>. Se somente <i>Terrance </i>for
o detentor do conhecimento, individualmente de nada <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">valerá</span>. Se outras pessoas despertarem para
o mundo da mesma maneira, todavia, elas se tornarão ameaças às forças macabras no Poder.
Depois de uma entrevista no dia 20 de julho de 2011, <i>Jim </i>e <i>Aaron </i>perdem o
contato com <i>Terrance G. </i>por 4 semanas. Ao procurarem pela Polícia, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e mais tarde </span>por
Hospitais, não <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">são </span>capazes de reunir informação alguma sobre o paradeiro do
homem. Uma visita ao apartamento de <i>Terrance </i>revela que o lugar foi revirado e suas coisas remexidas, como se ele tivesse <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">arrumado as malas e desaparecido, </span>da noite para o dia. <i>Aaron
</i>guarda os recortes e coisas de <i>Terrance </i>em um saco. Ele os quer levar consigo,
dar prosseguimento aos estudos e trabalhos do cientista.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1FCBcxeY3ojeDzt2HXBPkLNYq8D6T8kam5CJsBv6ljRd9iSTPZfsKVXy_zjjC1qDt-Y8LttRlnqENxzCwIXbgzfEs6AcnB-GohMZDgcd5dCfrLNxAV-uqOGs-xcC_nLxpTzMxquQo0zU/s1600/the-conspiracy-movie-still-6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="322" data-original-width="574" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1FCBcxeY3ojeDzt2HXBPkLNYq8D6T8kam5CJsBv6ljRd9iSTPZfsKVXy_zjjC1qDt-Y8LttRlnqENxzCwIXbgzfEs6AcnB-GohMZDgcd5dCfrLNxAV-uqOGs-xcC_nLxpTzMxquQo0zU/s320/the-conspiracy-movie-still-6.jpg" width="320" /></a></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Eles se aventuram em algumas incursões
por aquele mundo de estudiosos de teoria de conspiração. Visitam uma livraria
chamada <i>Conspiracy Cultural</i>, onde <i>Jim </i>deseja saber por que os proprietários se servem de
livros, quando a principal fonte de informações encontra-se online. O dono
explica que ao passo que a internet se prova uma ameaça a sociedades secretas,
também é sua maior arma, pois cada ação feita no meio pode ser monitorada, espionada.
"<i>George Orwell previu que o Big Brother estaria nos observando um dia, mas o
que ele não imaginou é que nós mesmos criaríamos o Big Brother e
voluntariamente nos entregaríamos ao mesmo</i>", ele sumariza. Realmente, as
palavras chave que utilizamos em mecanismos de pesquisa, os sites de
conspiração pelos quais navegamos, tudo deixa rastros. Em Ohio, um grupo de jovens
lança virais no Youtube, alguns deles com até mais de 200.000 visitas. Eles
treinam para uma guerra por vir. "<i>Algo está chegando</i>", um dos rapazes avisa, "<i>Eles não estão tirando nossos direitos e liberdades por nada</i>". Se
vocês prestarem atenção, o discurso dos adeptos da teoria da conspiração sempre
revolve uma luta contra "<i>Eles</i>". <i>Jim </i>questiona "<i>Nós ouvimos falar um monte de
gente falar sobre Eles, quem são Eles?</i>". As respostas, claro, variam de acordo com o ponto de vista: o Grupo
<i>Bilderberg</i>, os <i>Illuminati</i>, o Complexo Industrial Militar, os <i>Rothschild</i>, os
<i>Rockefeller</i>, a CIA, os britânicos através do MI6, o FMI, o Banco Mundial... os
rapazes também frequentam um meio virtual onde você pode interagir com muitas
pessoas ao redor do mundo naquela versão alternativa da realidade, em um salão
social.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">No dia da última entrevista de
<i>Terrance</i>, filmada em um bistrô qualquer do centro de Toronto, o cientista político discorria sobre os rapazes aprenderem a não engolir as versões que ele
ventilou apenas em razão de sua contundência. <i>Terrance </i>queria que os cineastas
aprendessem a enxergar o essencial pelos próprios olhos. Durante a conversa,
ele se aborrece quando teima que um ciclista de óculos e roupas escuras o está
vigiando. Ele não está somente passeando pela calçada, pois não é a primeira vez que <i>Terrance </i>o
avista. Agora que o amigo desapareceu, os rapazes assistem às imagens e se
perguntam se <i>Terrance </i>esteve sendo efetivamente perseguido. Filmagens da festa
de aniversário de <i>Jim </i>no mês seguinte, agosto, comprovam o quanto <i>Aaron </i>vem investindo o melhor de si
nas teorias de <i>Terrance</i>. Enquanto os amigos conversam animadamente, bebendo e dançando, <i>Aaron </i>se isola diante da televisão para assistir a imagens do momento
do choque dos aviões nas Torres Gêmeas, intrigado. Diferente de <i>Aaron</i>,
solteirão e independente, <i>Jim </i>tem uma esposa, e acaba de virar pai de primeira
viagem.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Sobre a questão do 11/09, <i>Aaron </i>fica
obcecado com o trabalho de <i>Terrance G.</i>, e assiste aos vídeos onde ele apregoava que
o ataque terrorista não passou de um trabalho interno, que o governo o deixou acontecer para justificar a invasão do Iraque que se daria dali a dois anos. Em uma cena tétrica, ele cita diversos casos para comprovar a tese de que são trabalhos internos secretos aqueles que antecedem o envolvimento da
América do Norte em grandes conflitos mundiais. Por exemplo, ele cita a Primeira Guerra
Mundial, em 1913, quando o assessor de <i>Woodrow Wilson</i>, <i>Edward House</i>, enviou deliberadamente um navio de passageiros, o <i>RMS Lusitânia</i>, para águas controladas
por alemães, com a intenção secreta de que fosse atingido por um submarino, o que aconteceu, arrastando a América para a Primeira Guerra Mundial; ou o
Incidente do Golfo de <i>Tonkin</i>, dois barcos dos Estados Unidos atacados por
3 embarcações vietnamitas, o que levou o país para o conflito do Vietnã; sabe-se que
em 2005 a NSA liberou um documento confidencial onde resta declinado que o
incidente do Golfo de <i>Tonkin </i>jamais existiu. Obcecado, <i>Aaron </i>pendura os
recortes de <i>Terrance G. </i>nas paredes de seu apartamento. <i>Jim </i>assiste a tudo com
preocupação. Apesar de respeitar <i>Terrance G.</i>, ele o achava meio desequilibrado.
Quando menos espera, <i>Aaron </i>começa a enxergar padrões em todos os eventos
aparentemente distintos da História.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Para chegar a um padrão, <i>Aaron </i>elenca
os referidos eventos, e depois os agrupa por datas. Ao dispor as datas em ordem
cronológica, ele rastreia uma notícia sobre um tal Clube Tarsus, uma espécie de
sociedade para políticos e líderes empresariais, grandes personalidades
mundiais. Um poderoso homem de negócios, <i>Murray Chance</i>, fundador da <i>Chance
Investments</i> e sócio do Clube <i>Tarsus</i>, tinha muitos escritórios no World Trade Center, Bloco 7. O artigo
se reporta a reuniões específicas do <i>Tarsus </i>em abril de 1946, maio de 1862 e
maio de 2001, ocorridas meses antes de grandes eventos mundiais. <i>Aaron
</i>finalmente encontrou um padrão, e desatou os nós, descobrindo o vínculo entre as pessoas
supostamente por trás de eventos tão determinantes na cronologia de eventos da humanidade.
No site oficial do <i>Tarsus </i>Club, não há nenhuma informação realmente concreta
sobre os objetivos da sociedade, e ao contatarem o número de telefone
discriminado, escutam somente uma voz feminina que se limita a repetir o número
de telefone da casa de <i>Aaron</i>. Intrigados, eles se focam no artigo da internet
sobre o <i>Tarsus </i>Club, e tentam localizar o autor do trabalho, um tal de <i>Mark Tucker</i>, sem
sucesso.</span></span><br />
<br />
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbgAe3-BqAzVvFFO2kXl3Bi2oBpOR94GxmaHu3uCejWmvLDzPQxdbujBMyDXz265YiW1sL6XkZfdCx-uUCilU6Ywa9WC9VZsLUsalaL5w3tY8sQI7I1IjZAKyrLiYsx9Iuf2anpezBvio/s1600/the-conspiracy-movie-still-5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="321" data-original-width="573" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbgAe3-BqAzVvFFO2kXl3Bi2oBpOR94GxmaHu3uCejWmvLDzPQxdbujBMyDXz265YiW1sL6XkZfdCx-uUCilU6Ywa9WC9VZsLUsalaL5w3tY8sQI7I1IjZAKyrLiYsx9Iuf2anpezBvio/s320/the-conspiracy-movie-still-5.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Durante os trabalhos de pesquisa, em um
momento de descontração, aprendemos que <i>Aaron </i>mantém o sonho de se juntar a uma
comunidade de pessoas que pretendem viver isoladas desse mundo cada vez mais
confuso, em um condomínio ao norte de Alberta, Canadá, onde poderão plantar a
própria comida, e ditar as regras de convivência. Esse detalhe – a ocasional vontade de
<i>Aaron </i>de "<i>sumir</i>" – virá a ser usada contra o ingênuo rapaz mais tarde. O fato é que através da internet,
do referido meio virtual onde interações se tornam mais fluidas, os dois amigos chegam à
figura de <i>Mark Tucker</i>, na verdade um pseudônimo utilizado pelo autor para evitar ameaças à própria vida. Segundo <i>Tucker</i>, seu trabalho representa o
único documento na internet sobre o <i>Tarsus </i>Club. <i>Tucker </i>explica que o artigo
original era muito mais ousado, porém o chefe o obrigara a editá-lo, até perder a
contundência. O pesquisador escrevia uma obra bibliográfica sobre o magnata <i>Murray
Chance</i>, e por acaso tropeçara no fato de que a família <i>Chance </i>havia comparecido
ao retiro anual do <i>Tarsus </i>Club por muitas gerações. Mudanças enormes no mercado
financeiro e até mesmo naquilo que tomamos como eventos aleatórios <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">coincidem</span> com esses retiros. De uma estranha maneira, o <i>Tarsus </i>Club até apreciou a existência do artigo
de <i>Tucker </i>online porque no frigir dos ovos o mínimo de informação sobre a sociedade se
faz necessário, principalmente para afastar os curiosos. O vácuo completo seria
preenchido por fantasias concebidas por imaginações férteis, nocivas aos planos
de dominação da sociedade. De tempo em tempo, precisam soltar alguma notícia que a menos sugira quão poderosos são. Conforme <i>Tucker</i>, a sociedade <i>Tarsus </i>busca
implementar a nova ordem mundial, um inédito modelo de dominação, onde um seleto grupo
de pessoas controlaria a economia, as riquezas & a política de diferentes nações, o poder
concentrado nas mãos dos poucos pertencentes à "<i>família</i>". Se prestarmos
atenção, veremos que em algum momento os principais governantes tais como
<i>Herbert Walker Bush</i>, <i>Gorbachev</i>, e <i>George Soros</i> fizeram menção à necessidade de uma nova ordem mundial, durante pronunciamentos.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Quando menos espera, <i>Aaron </i>se vê tão
absorvido pela busca que o mesmo homem que parecia assediar <i>Terrance G.</i> passa a
ser avistado pelos cineastas em muitos lugares que frequentam, como numa tarde quando tomam café no mesmo bistrô. Em
21 de outubro, ao retornar para casa, <i>Aaron </i>encontra o apartamento revirado.
Uma parte de <i>Jim </i>fica satisfeita, pois crê que assim o amigo se afastará das investigações, contudo o rapaz persevera. <i>Jim </i>e a esposa acolhem o amigo por
um tempo indeterminado. Eles realizam novas entrevistas com <i>Mark Tucker</i>, e o estranho os
coloca a par de detalhes dos encontros da elite, como o ritual observado a
partir de meia noite, quando soltam um touro para caçá-lo. O ritual é baseado
em um antigo e secreto conjunto de crenças referente ao culto de <i>Mithras</i>. A
intervenção de um professor elucida que o culto de <i>Mithras </i>foi tanto uma
sociedade quanto um culto religioso, focado na adoração de um deus chamado
<i>Mithras</i>, uma divindade que apareceu pela primeira vez na Pérsia, mais de 4.000
anos atrás. Consoante o mito, ele nasceu no dia 25 de dezembro, e morreu e
ressuscitou 3 dias depois. Isso ocorreu 2.000 anos antes do nascimento de <i>Jesus
Cristo</i>, e muitos estudiosos creem que foi <i>Mithras </i>a base do cristianismo. Por
slides, o filme nos apresenta a lugares como a <i>Caverna Mithraic</i>, onde eles
secretamente adoravam a divindade, e muitos outros pontos descobertos no curso
do Império Romano e, mais tarde, em escavações pelos mais díspares locais no planeta, da Escócia à Rússia, do Deserto do Saara ao coração da Índia. Os
adoradores de <i>Mithras </i>constituíram a primeira sociedade verdadeiramente secreta do mundo. As representações de <i>Mithras </i>o retratam como um nobre guerreiro
com lança que caça um feroz touro, uma imagem poderosíssima para a sociedade, tão emblemática para eles quanto a representação da crucificação para nós cristãos, a imagem central de um arcabouço de crenças. O touro reaparece em diversos ícones do mercado financeiro. Como sabemos, a
estátua do touro é o símbolo maior de Wall Street, por exemplo. <i>Tucker </i>revela
que mesmo o aperto de mãos entre membros da sociedade difere da etiqueta geral, e
os ensina a como desempenhar o cumprimento. Imagens de arquivo, onde grandes
líderes como <i>Putin </i>apertam as mãos entre si, coincidem tenebrosamente com o modo
retratado por <i>Tucker</i>.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O filme nos apresenta a uma jornalista freelance
chamada <i>Sarah Lalonde</i>, que fez imagens de gente importante, políticos em sua maioria, transitando pelo lobby do prédio da <i>Tarsus </i>no Canadá. Ela conserva o material para
arquivo pessoal, já que nenhum jornal ousaria escrever uma linha sequer sobre a sociedade
secreta. Entre suas imagens, chama a atenção a fotografia de pessoas à
distância banhadas pela luz de uma enorme fogueira. Ela conta que a foto foi
batida em 2002, em Praga, o único registro que se tem da caça ao touro. <i>Mark
</i>acha que a depender dos esforços, se alguém realmente quisesse, teria como se
infiltrar em um desses rituais. Vez ou outra, informações vazam, de modo que a variar do dinheiro para suborno, poder-se-ia chegar a informações sobre onde se
dará o próximo encontro do <i>Tarsus</i> com alguma antecedência. Antevendo o próximo passo
dos trabalhos, <i>Aaron </i>e <i>Jim </i>compram câmeras suficientemente pequenas, facilmente
confundíveis com botões de paletó, de modo a não levantarem suspeita.</span></span><br />
<br />
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwpEccIIwQ4mhU_YmxirZk0pDHhWdYSjlvPcLFNXGlUWwZKrKozm2pOdIZE_4UJfgyvSPUAiiqGENBBNgKsIKtKfrSryuGqdu_p7cFBShFlCUrEZKXcNNGNpCAhAcrK4llB5JLF3GYTWE/s1600/the-conspiracy-movie-still-4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="324" data-original-width="572" height="181" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwpEccIIwQ4mhU_YmxirZk0pDHhWdYSjlvPcLFNXGlUWwZKrKozm2pOdIZE_4UJfgyvSPUAiiqGENBBNgKsIKtKfrSryuGqdu_p7cFBShFlCUrEZKXcNNGNpCAhAcrK4llB5JLF3GYTWE/s320/the-conspiracy-movie-still-4.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Ao voltarem de carro para casa após
adquirirem as câmeras, são perseguidos por <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">uma van</span>, em uma evidente campanha de
intimidação. A esposa de <i>Jim </i>não gosta nada da situação, e ele vacila quanto a
ideia de continuar com as investigações. Se for verdade que há uma sociedade
secreta cujos membros decidem o curso da História, não serão dois meros cineastas que
transformarão o estado das coisas. Naquela mesma noite, através das persianas,
os amigos enxergam o mesmo carro estacionado do outro lado da rua. <i>Aaron </i>perde a cabeça e sai da casa
aos gritos, dizendo que não se intimidará. <i>Tucker </i>ressurge com novidades. Ele
conseguiu entrar em contato com um homem que trabalhará no cerimonial da
próxima reunião do <i>Tarsus </i>Club. Ele topou conversar com os cineastas próximo à
fronteira, onde poderão passar despercebidos. Ali, acertam que por uma
certa quantia em dinheiro, quando estiver a caminho do grande evento, o homem os aguardará com a camionete em um determinado ponto da estrada, cercada por
bosques, para colhê-los. A ideia gira em torno de introduzi-los desapercebidos, dentro de
sacos pretos usados para transportar uma variedade de materiais de serviço: os
amigos devem se preparar com ternos apropriados à <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">gala</span>, para não levantarem
suspeita ao "vazar" dos sacos na cozinha para se intrometer na festa sem alarde
algum. Prestes a embarcarem em uma viagem rumo ao desconhecido, <i>Tucker </i>pergunta
se eles estão convictos disso. Embora hesitantes, eles sabem que não haverá outra
oportunidade, e se preparam para a aventura mais perigosa de suas vidas.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3r-sYaJkZ7QVoayGaSA2RXu70sYnnJD-74q45VlhSz7HMqLuLCQoKB6VHAewjQAMkw8RdH6d30Cz2ChZM0MfZLYq0gw2FxoggPGFs5ad4r7vhnLV5MTDH1sxztfCfCbuo-OklHvHMp7c/s1600/the-conspiracy-movie-still-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="325" data-original-width="574" height="181" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3r-sYaJkZ7QVoayGaSA2RXu70sYnnJD-74q45VlhSz7HMqLuLCQoKB6VHAewjQAMkw8RdH6d30Cz2ChZM0MfZLYq0gw2FxoggPGFs5ad4r7vhnLV5MTDH1sxztfCfCbuo-OklHvHMp7c/s320/the-conspiracy-movie-still-2.jpg" width="320" /></a></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Os rapazes se preparam em um quarto de
motel de beira de estrada, e amigos o deixam em um inóspito ponto do bosque,
onde aguardam pela passagem do <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">contato </span>que os levará para dentro da festa.
Eles encontram uma <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">cabine </span>abandonada no bosque, e <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">acordam </span>de se servir do local como
ponto de encontro, caso acabem se separando durante a festa. Quando começa a
anoitecer, a camionete aparece e o motorista aguarda pelos cineastas no
acostamento. Eles deixam o bosque, entram nos sacos e ficam bem quietos na carroceria, entre os demais itens a serem estocados na cozinha da mansão que
receberá a grande festa da sociedade secreta. O filme corta para um antigo
pronunciamento do Presidente Kennedy, uma gravação autêntica, onde abordava a questão da subversão e grupos secretos que pretendem governar o mundo. Escutamos a fala
de Kennedy enquanto vemos cenas de seu assassinato. Teria sido ele morto pela
mesma sociedade? Os rapazes são "<i>desovados</i>" quando se veem a sós na sala
reservada para estoque de material & comida, e logo ganham os elegantes corredores
da mansão onde uma festa da alta sociedade se desenrola. Esforçando-se para se
manterem tranquilos, os rapazes se introduzem na festa, onde há pessoas
importantíssimas. Alguém dedilha melodias no piano de cauda. No bar, eles pedem
drinques, e se comportam como qualquer outro presente, apenas mais cautelosos.
Um cavalheiro de meia idade chega ao bar naquele ínterim e os cumprimenta com
festividade. Os rapazes ficam nervosos, claro, mas não perdem o controle, e
interagem com bom humor. Ele lhes pergunta se será sua primeira caçada. Os
cineastas respondem que sim. O cavalheiro se apresenta como membro dos "<i>Leões</i>".
Os mais jovens, aqueles que ensaiam os primeiros passos na sociedade,
enquadram-se no grupo dos "<i>Corvos</i>". Felizmente, o expansivo cavalheiro lhes estende a mão,
deseja-lhes uma boa caçada, e se mistura com os demais da festa. Ao perambular
pelos cômodos, um arranjo no gabinete lhes chama a atenção, uma mesa com facas
de diferentes tamanhos, expostas, em uma cena que ao menos para mim parece
reminiscente de "<i>Nightbreed</i>", de <i>Clive Barker</i>, quando descobrimos que o
Psiquiatra interpretado por <i>David Cronenberg</i> é um caçador de monstros que
passou a vida atrás das criaturas de Mídia, uma cidade mítica habitada pelos
seres mais macabros possíveis, que jamais poderiam viver em nossa civilização. Na
sala visitada pelos dois amigos, também há máscaras de corvos, preparadas numa
mesa ao lado. Um refinado membro do culto, de paletó bege, surge repentinamente
e lhes deseja uma Boa Noite. Ele se posiciona ao lado das facas, e pergunta se
não as acham fascinantes. Os rapazes respondem que sim. Apesar dos modos educados,
o cavalheiro de terno bege os deixa muito tensos.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A festa é interrompida pelo chamado dos
sinos. A sociedade se reúne no jardim para o ritual de batizado de novos
membros e a caça ao touro. A tensão é indescritível. <i>Aaron </i>e <i>Jim </i>não sabem como aquilo terminará. Os mais jovens, os "<i>Corvos</i>", são convidados a formar a fila
para o batizado. Tochas foram inflamadas ao longo de uma trilha que atravessa o jardim
em direção ao prédio onde efetivamente encontrarão o sacerdote que os graduará. Os "<i>corvos</i>" têm as mãos simbolicamente atadas por cordas. No instante do batizado, o
sacerdote deve rompê-las com um golpe de espada, e então vesti-los com as máscaras. O primeiro a ir na frente é <i>Jim</i>; <i>Aaron </i>entra em pânico ao ver
<i>Mark Tucker</i> de relance: o "<i>repórter</i>", na verdade, era o tempo inteiro um membro da
sociedade. Ele os atraiu propositalmente até ali. Os colegas "<i>Corvos</i>" o impedem de correr em
direção ao caminho das tochas, mas <i>Aaron </i>logo se acalma ao ver <i>Jim </i>retornando
calmamente pelo jardim, nada tendo lhe ocorrido. De volta ao interior da mansão,
<i>Jim </i>nota que os presentes agora vestem máscaras. O horror começa a dominá-lo. O cavalheiro de terno bege aproxima-se cordialmente
para parabenizá-lo. Ele pergunta o que ele achou da experiência de iniciação,
e <i>Jim </i>responde que jamais experimentou algo parecido. O cavalheiro concorda, "<i>A
experiência pode ser mesmo esmagadora. Você acaba de se juntar a um círculo que
jamais terá como romper. Uma irmandade. Uma família. Nem um pouco menos
importante do que, digamos, uma esposa e criança pequena</i>". A ameaça subliminar
soa evidente, e <i>Jim </i>compreende que a família corre risco. "<i>Gostaria de mostrar
algo</i>", o cavalheiro oferece, porém <i>Jim </i>se escusa com o argumento de que
precisa ir ao banheiro e estará de volta em questão de minutos. Apressadamente,
ele se afasta e desce as escadas que levam às galerias. Em pânico, <i>Jim </i>tecla o
número do celular da mulher, e para sua surpresa, escuta-o chamando de uma sala
contígua. Ao abrir a porta, descobre esposa e filho, rendidos pelos membros da
sociedade secreta, o cavalheiro de terno bege já ali.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O filme volta para a cerimônia de
batismo de <i>Aaron</i>. Ao se olhar no espelho, o rapaz percebe que, diferente do que
aconteceu aos demais, foi vestido com uma esquisita máscara de touro. Do caminho
de tochas, ele enxerga a mansão muito distante, os membros da sociedade
agregados em torno da fogueira, para o início da caça. O chamado do berrante
inicia a abertura do jogo. Subitamente, a terrível verdade escancara-se para
<i>Aaron</i>: ele é o touro. Centenas de homens puxam espadas e partem em direção ao
caminho das tochas. Apavorado, <i>Aaron </i>corre desesperadamente em direção ao
bosque, com a esperança de conseguir despistá-los em meio a árvores muito
altas. <i>Aaron </i>consegue chegar à cabana. Lembrem-se que <i>Aaron </i>combinara com <i>Jim
</i>que se algo desse errado e eles se separassem, a dupla se reencontraria no lugar. Quando <i>Aaron </i>abre a porta e encontra o amigo o esperando em um canto,
tudo parece bem. Ao olhar para uma parte menos iluminada da sala, ele enxerga
essas pessoas macabras com máscaras e adagas em mão, parecidas com monges. <i>Aaron </i>ainda tenta correr, mas é impiedosamente
esfaqueado e trucidado no bosque.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O filme conclui com uma entrevista de
um homem importante chamado <i>William Jensen</i>, CEO do <i>Tarsus </i>Club Internacional.
Ele insiste que graças à internet, teorias da conspiração acerca da sociedade
se alastraram como vírus, e a internet foi o substrato perfeito para a sobrevida das
fantasias sobre o clube. Uma senhora chamada <i>Nicole Higgins</i>, relações públicas
do <i>Tarsus</i>, também deprecia teorias do tipo, e afirma que as impressionantes imagens
encontradas, <i>Aaron </i>sendo supostamente esfaqueado, não passam de um grande susto.
Na verdade, a <i>Tarsus </i>se acostumou às investidas dos penetras, que insistem em
se meter nos encontros, e ocasionalmente prega peças do tipo, para matá-los de
susto e manter os curiosos distantes. <i>Jim </i>também depõe, e conta a sua versão para a noite. Segundo <i>Jim</i>, depois que entrou na sala e deu de cara com esposa e filhinho
rendidos pelo cavalheiro de terno bege, conta que foi levado a uma sala
separada, onde foi submetido a interrogatório por um bom tempo. <i>Jim </i>corrobora a
história da <i>Tarsus </i>Club, de que não passou de um grande susto. Na verdade, <i>Jim</i> conta que seu amigo saiu tão traumatizado da experiência que resolveu deixar a vida
pregressa para trás e se mudar para uma comunidade distante na Alberta
(lembram-se da cena no começo do filme? <i>Aaron </i>falando a respeito da vontade
secreta de sumir?). Nós sabemos, no entanto, a verdade. <i>Aaron </i>fora levado a
aquele lugar para morrer. Eles precisavam de uma testemunha, então deixaram o
<i>Jim </i>sobreviver, porque sabiam que como homem de família, tinha muito mais a perder do que <i>Aaron</i>,
e corroboraria qualquer versão advogada pelos criminosos. Livres para operar, a
sociedade prepara a nova ordem mundial, enquanto aqueles que se levantam para
denunciá-la jamais estiveram tão desacreditados.</span></span><br />
<br />
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMM9C_q3lq8UPC4tjQJk3bbVZx8AgkYgmfELTsS976-1lnEoEngp-32NB_UTnz9WC79JI_-OxqY-2bW5mEg5Zd1ZJQmEiBKWcwaf59oW34rAqNCWBM6DBqpUKSCP0tdhU4E1gmWViyH2M/s1600/the-conspiracy-movie-still-7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="383" data-original-width="574" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMM9C_q3lq8UPC4tjQJk3bbVZx8AgkYgmfELTsS976-1lnEoEngp-32NB_UTnz9WC79JI_-OxqY-2bW5mEg5Zd1ZJQmEiBKWcwaf59oW34rAqNCWBM6DBqpUKSCP0tdhU4E1gmWViyH2M/s320/the-conspiracy-movie-still-7.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Quem assistir a "<i>The Conspiracy</i>" instantaneamente fará a associação entre essa obscura curiosidade e o aclamado
"<i>De Olhos Bem Fechados</i>". Ambos brincam com fogo ao se aventurar pela escuridão
de sociedades secretas e teorias conspiratórias. A imersão do protagonista de
"<i>De Olhos Bem Fechados</i>" naquele submundo misterioso, a atmosférica orgia
perpetrada pela nata da elite, merece apenas uma parte do tempo de projeção,
mas em "<i>The Conspiracy</i>", do começo ao fim, os protagonistas mergulham de cabeça
naquele mundo de imagens surreais e macabras. Quem assistiu a
"<i>De Olhos Bem Fechados</i>" provavelmente o definiria como um autêntico filme de
arte, mas eu me recordo de ter lido o comentário de um usuário do internet
movie database que com muita propriedade o nominou uma das coisas mais
aterrorizantes já vistas, um autêntico espetáculo de Horror. Eu compartilho da
mesma percepção. Creio que ao mencionar o termo Horror, o resenhista tenha
obviamente pensado na incômoda sequência da orgia. Imaginar-se intruso naquele meio sem regras,
transitando entre aquela gente misteriosa sob o grave risco da descoberta, é um
dos cenários de suspense mais angustiantes que eu possa <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">conceber</span>. Quem viu o filme deve se recordar de quando o protagonista é apanhado em sua intromissão, e todas aquelas pessoas <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">mascaradas </span>o cercam. O sacerdote ordena que ele remova as roupas. O rapaz fica estupefato, em choque, sem saber o que fazer, quando uma das moças que participou da orgia oferece a própria vida para salvar a do médico. Eu não sei se os amigos pensaram a mesma coisa, mas eu sempre considerei... e se ela não tivesse aparecido? Ele teria sido morto? E antes da morte, teria sido estuprado, currado? "<i>The
Conspiracy</i>" deixa para o segmento final a imersão dos dois protagonistas
naquele limbo misterioso, no entanto, desde o início, palpita de excitamento graças à
enorme expectativa criada através do trabalho investigativo e as evidências
históricas, paradoxalmente logo ao nosso alcance, pela internet, por exemplo, contudo
simultaneamente distantes, em face de nosso embrutecimento e completa falta de atenção ao que
acontece à nossa volta. Enxergamos, porém não efetivamente vemos. Aqui,
lembro-me de um excelente filme de terror nipônico chamado "<i>Occult</i>", sobre o
ataque terrorista mais letal na história do Japão. O diretor<i> Kôji Shiraishi</i>
queria realizar algo esteticamente similar aos pavores amorfos evocados tão
bem na obra literário de <i>H.P. Lovecraft</i>, e havia essa cena onde ao realizar
imagens do fervilhante centro de Tóquio, o anti-herói capturava sombras
passeando por sobre fachadas e discos voadores acima dos arranha-céus. A grande
sacada do filme consistia na sobreposição casual de ordinário & extraordinário: as
pessoas estão tão absorvidas em suas preocupações diárias que nem imaginam quão esquizofrênica é a natureza do universo, e logo sobre suas
cabeças e por todos os lados paira a magia.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Embora o filme crie uma mitologia muito
rica para a sociedade secreta, assistir a "<i>The Conspiracy</i>" nos permite conhecer
as entranhas da organização do mesmo jeito que pareceria caminhar por um túnel
muito comprido onde apenas ocasionalmente as luzes se avivam. Nesse sentido, "<i>The
Conspiracy</i>" termina da mesma maneira que a trama começou: envolvido pela penumbra,
as muitas perguntas sem conclusões confortáveis. Ponderar a extensão e a
influência de semelhante sociedade não diferiria, por exemplo, de tentar
racionalizar os cenobitas de <i>Clive Barker</i>, ou a <i>Isserley </i>de "<i>Under the Skin</i>".
Precisamos aprender a nos satisfazer com as pequenas aberturas que seus
criadores nos deram a seus indecifráveis segredos, e aceitar de boa-fé que aquilo
que permanece misterioso assim deve continuar, em favor da longevidade do
conjunto. Obras literárias ou cinematográficas que dissecam seus segredos são
como damas que se entregam cedo demais a aqueles que as cortejam: uma vez que
se perde o segredo, vai-se pelo ladrão o sabor da descoberta. Que se permita
alguma transparência de parte dos segredos, tudo bem. Que os cenobitas surjam
apenas de passagem em "<i>Hellraiser</i>" & "<i>Hellraiser 2</i>", de modo que os
vejamos somente brevemente em seus "<i>outfits</i>" sadomasoquistas de couro e seus cinturões de tortura, tudo bem. "<i>The Conspiracy</i>" faz algumas concessões, abre
algumas janelas para dentro das entranhas de seu enigma, porém jamais vai além,
o que é ótimo. O filme não é dado a vulgaridades.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 106%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Já que mencionei "<i>Hellraiser</i>", uma
outra semelhança entre o trabalho seminal de <i>Barker </i>e a sociedade secreta de
"<i>The Conspiracy</i>" consiste na representação misteriosa de grupos a parte da
sociedade que conhecemos, clérigos movidos por códigos de ética bem distintos. Em "<i>The
Conspiracy</i>", pelo pouco que vimos, há elementos de ordem, de hierarquia, de um
mecanismo cujas complexas engrenagens mal teríamos como vislumbrar inteiramente, posto em
movimento para a consecução de seu objetivo maior, a "<i>nova ordem mundial</i>". Em
"<i>Hellraiser</i>", os cenobitas, criaturas fantásticas e surreais, existem através de
uma fenda perpetrada pela manipulação de um certo quebra-cabeças, para além da passagem
entre o mundo como o conhecemos e um outro, erotizado, diabólico, fetichista e
sadomasoquista. Embora não assistamos às orgias que se dão nos encontros
secretos entre os membros do <i>Tarsus </i>Club, é seguro afirmar que as mesmas
ocorrem. O sexo também pode ser uma arma psicológica poderosíssima, uma macabra ferramenta de dominação, como os próprios filmes de <i>Cronenberg </i>estão aí para provar, instrumento invocador da mais pura submissão, e similarmente à malícia que rege o empenho dos hedonistas sobre a configuração de <i>Le Marchand</i> pelas "<i>maravilhas</i>" dos cenobitas imaginados por <i>Clive
Barker</i>, os corredores das mansões onde se observam os encontros da <i>Tarsus </i>escondem toda
sorte de intercurso sexual, desde a cópula cúmplice a aquele engatilhado pelos mais
diabólicos joguinhos psicológicos.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">O elenco, composto <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">exclusivamente </span>por atores desconhecidos e talentosos, chamou minha atenção pelos desempenhos
afinados, com especiais menções a <i>Alan C. Peterson</i> como "<i>Terrance G.</i>" e <i>James
Gilbert</i>, que eu já havia visto antes no extraordinário "<i>O Voo da Coruja</i>", e que
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">nesse </span>filme mostra versatilidade e magnetismo, os elementos de que um artista
precisa para deixar uma impressão. Aqui, ele me lembra um jovem<i> Bradley Cooper</i>.
A depender de suas futuras escolhas, podemos aguardar uma promissora carreira para
<i>Gilbert</i>. "<i>The Conspiracy</i>" foi o único filme rodado por <i>Christopher MacBride</i> (ele
dirigiu um curta-metragem, nada mais). Na montagem de um impressionante
suspense cuja linguagem beira o documental, sua habilidade me fez pensar em
<i>Joel Anderson</i>, um australiano que realizou o inesquecível "<i>O Segredo do Lago
Mungo</i>", cuja estética "<i>mockumentary</i>" parece reproduzida por "<i>The Conspiracy</i>", e,
lamentavelmente, após nos presentear com uma obra-prima, jamais nos ofereceu
nova amostra de seu talento. Rostos manipulados digitalmente e vozes robóticas servidas a depoimentos, como os de <i>Mark Tucker</i>, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">contribuem com a</span> proposta da "<i>falsa veracidade</i>", e a fotografia borrada, granulosa, nos remete aos tempos do VHS, quando as fitas de vídeo pareciam emular um saudoso sentimento de intimidade, algo importantíssimo para filmes do gênero. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">"<i>The Conspiracy</i>" honra seu objetivo, e nos entretém do começo ao fim. Em que pese não passar de uma obra de ficção, muitas informações veiculadas no curso do filme não são fictícias, e inclusive foram testemunhadas por muitos de nós no curso dos últimos anos. A sincronicidade com que os dados veiculados por <i>Terrance G.</i> se encaixam nos deixa pensativos: até que ponto as fantasias delirantes descritas pelo personagem de um filme fictício poderiam calhar de ser verdade?</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/6oVWcT6mVYQ/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/6oVWcT6mVYQ?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; line-height: 106%;"><i style="background-color: #eeeeee;">Todos os direitos autorais reservados a Resolute Films and Entertainment. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i></span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghLx6F5UEaMj8eeX3dwQadOEjBAiHP9xAbDzqY0aI88IdTrXk8odgCLDkiLTB9p-KeI_k7ez_GeEILi0dPhcso5q_DC5YXRCDxNi125tkiZtNB5VxOMqRt07t6ZDwkCWJ52qUeZfbNl9Q/s1600/Sinister-2_poster.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1120" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghLx6F5UEaMj8eeX3dwQadOEjBAiHP9xAbDzqY0aI88IdTrXk8odgCLDkiLTB9p-KeI_k7ez_GeEILi0dPhcso5q_DC5YXRCDxNi125tkiZtNB5VxOMqRt07t6ZDwkCWJ52qUeZfbNl9Q/s320/Sinister-2_poster.jpg" width="224" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 106%;">Não foi surpresa alguma quando em agosto de 2014 iniciaram-se as filmagens principais de "<i>A Entidade 2</i>". O original, produzido a módicos U$ 3.000.000,00, uma micharia para os padrões dos grandes estúdios, havia rendido aproximadamente U$ 50.000.000,00, e firmado a <i>Blumhouse Productions</i> como a força criativa por trás dos mais originais filmes de horror dos últimos anos. Mais importante que dividendos financeiros, "<i>A Entidade</i>" merecera o respeito dos fãs e críticos mais exigentes, que enxergaram a eficiente execução, um filme sustentado por atmosfera emulada pelos esquisitíssimos rolos de Super-8 recheados de imagens fortíssimas e macabras de famílias passando por mortes horrorosas em grupo, no curso de diferentes décadas, ao som de melodias inquietantes. </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Enquanto "<i>A Entidade</i>" abre com a inesquecível
imagem em Super 8 de uma família sendo atirada ao ar para morrer enforcada em
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">um galho de </span>árvore, "<i>A Entidade 2</i>" não deixa por menos, e nos mostra os membros de uma
outra encapuzados e amarrados a cruzes bem no meio de um milharal. Uma mão
aciona o isqueiro, e logo as chamas avançam para lamber aquelas pessoas
indefesas, barbaramente assassinadas. Um garotinho subitamente desperta, e
compreendemos que se trata de um pesadelo. Ele fica observando seu assustador
guarda-roupa, que parece adquirir vida quando as cruzetas se movem sozinhas, e
então das sombras emerge a figura de <i>Bagul</i>, o demônio do primeiro filme. Aprenderemos
que o menino se chama <i>Dylan</i>, e com o irmão <i>Zach </i>e a mãe <i>Courtney</i>, os 3 fugindo
do pai abusivo <i>Clint</i>, habita provisoriamente uma fazenda abandonada no meio
do nada.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioFyVA6xFHiz24zKgQ8fEPkEgJghf3b-8DfRYhP5Fnnj5JF27fUju6XlMWM5YmcCrqHdZake1c3Wjl0xcXEzzsHE5FuaaRM2YVUqI85uxCFQVl3jEoDIrE42OT6PQhDt5HiYRc1tJWZYE/s1600/sinister-2-movie-still-8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="420" data-original-width="638" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioFyVA6xFHiz24zKgQ8fEPkEgJghf3b-8DfRYhP5Fnnj5JF27fUju6XlMWM5YmcCrqHdZake1c3Wjl0xcXEzzsHE5FuaaRM2YVUqI85uxCFQVl3jEoDIrE42OT6PQhDt5HiYRc1tJWZYE/s320/sinister-2-movie-still-8.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Retornando do primeiro filme, agora em uma
participação mais central, o talentoso e eclético ator <i>James Ransone</i> interpreta
o papel do ex-policial "<i>Fulano de Tal</i>" (era o apelido dado por <i>Ethan Hawke</i> ao
rapaz, que o ajuda nas investigações, no filme anterior, jamais sabemos seu
verdadeiro nome). <i>Fulano de Tal</i> presenciou os tétricos eventos antecedentes ao assassinato
da família <i>Oswalt</i>. Pai, mãe e filho foram desmembrados a machadadas, e a
menininha desapareceu sem deixar vestígio. Se os amigos viram o primeiro filme,
sabem que os homicídios, embora praticados por crianças que drogam as famílias para incapacitá-las e trucidá-las a golpes de machado, </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">têm como ingrediente a influência de
um bizarro demônio chamado <i>Bagul</i>. Reza a lenda que <i>Bagul </i>existe em imagens, e
seu objetivo revolve abduzir crianças, isso depois de subvertê-las a ponto de
as incitarem a cometer os homicídios mais tenebrosos imagináveis. <i>Fulano de Tal</i> procura um sacerdote para se confessar. O padre o
reconhece como um dos oficiais encarregados do caso <i>Oswalt</i>. Ao desabafar,<i>
Fulano de Tal</i> pergunta se o padre acredita na existência do Mal. Ele deseja
escutar de um homem de Deus como proceder para enfrentá-lo eficazmente. O Padre o
surpreende, pois não apenas acredita piamente na existência de forças
sobrenaturais, também recomenda que <i>Fulano de Tal</i> se mantenha fora de todo o
imbróglio. Ele explica que não há como enfrentar o sobrenatural, apenas
se esquivar das forças que a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">capacidade </span>humana <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">não tem como confrontar</span>. Mesmo
diante das orientações do sacerdote, <i>Fulano de Tal</i> se focou em uma cruzada
contra <i>Bagul</i>: ele queimará os antigos lares de todas as famílias que caíram sob
o jugo do demônio. Como podemos nos lembrar, conforme o primeiro filme, <i>Bagul </i>atua
exclusivamente contra famílias que passam a habitar propriedades pertencentes a outras famílias anteriormente destruídas pelo demônio.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB0gCJ-HLp3bxvLQO0n3pw2zA5AV_p1ZtfAP6gvM_ckI5EAdqeDS77hQQie9qySnc-l5XkyJxO2Pppf_qtCKUng-ZgO1SZ2U5-llfTiCyNYTFzUrpS0uH9DluPXnIDbhTt4IqFCEQseYw/s1600/sinister-2-movie-still-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="396" data-original-width="638" height="198" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB0gCJ-HLp3bxvLQO0n3pw2zA5AV_p1ZtfAP6gvM_ckI5EAdqeDS77hQQie9qySnc-l5XkyJxO2Pppf_qtCKUng-ZgO1SZ2U5-llfTiCyNYTFzUrpS0uH9DluPXnIDbhTt4IqFCEQseYw/s320/sinister-2-movie-still-2.jpg" width="320" /></a></div>
<span lang="PT-BR" style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Courtney </i>é uma mulher que suporta mais problemas do
que uma pessoa comum conseguiria carregar. Não somente cuida sozinha dos filhos, ela também vive em
fuga, evadindo-se do ex-marido violento. Uma mera passagem pelo supermercado com
os meninos se torna um grande susto, quando ela nota que um cidadão, um "<i>olheiro</i>", decerto mandado pelo marido, bate fotos da moça com o celular, e ela precisa fugir
com os filhos para que o sujeito não os siga e descubra onde estão morando.
Embora não consiga segui-los a tempo, o detetive contata o ex-marido e anuncia
que a esposa está vivendo em Indiana, sem sombra de dúvida. A mãe parece ter
problemas com <i>Dylan</i>, o menino que guarda para si o monumental stress do
divórcio dos pais e as visões horrorosas das crianças mortas por <i>Bagul</i>, que
teimam em visitá-lo. Assoberbada por problemas, a mãe deixa passar
batido o preocupante estado psicológico do menino.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><i>Fulano de Tal</i> preparou um quadro com um mapa dos
Estados Unidos, onde traçados ilustram a ligação entre as famílias destruídas por
<i>Bagul </i>ao longo das décadas. O policial liga para um corretor de imóveis da região de Indiana, em busca da velha fazenda pertencente à família Jacob. Ele
faz de conta que tem um cliente interessado na propriedade, e suas perguntas são respondidas pelo corretor, que inclusive afirma que ninguém mais mora ali
(claro que ele não sabe que <i>Courtney </i>e os meninos habitam a propriedade
clandestinamente). <i>Fulano de Tal</i> se prepara para viajar até a região para pôr a
antiga residência dos <i>Jacob </i>abaixo, em uma tentativa de sanar o Mal. À noite,
coisas estranhas ocorrem à casa e à capela ao lado. <i>Dylan </i>sofre com visões inexplicáveis.
No assoalho da capela, por exemplo, enxerga muito sangue vazando do espaço
entre as tábuas. <i>Courtney </i>garante a <i>Zach </i>que a estadia naquele lugar tão remoto
não se prolongará. O menino vocaliza as preocupações com <i>Dylan</i>, que sempre se
comportou diferente. Quietinho em seu quarto, imerso na escuridão, <i>Dylan </i>recebe
a visita das "<i>crianças de Bagul</i>", que o procuram todas as noites para assistir
a filmes horríveis de famílias sendo assassinadas sem dó, tudo registrado por
câmera Super 8, sublinhado por melodias grudentas. Ele é conduzido ao porão por <i>Milo</i>, uma das "<i>crianças de
Bagul</i>". Os garotos preparam a sessão de cinema para <i>Dylan</i>. Inocente, o menino parece não
entender que seus amiguinhos estão todos mortos.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Um garotinho loiro chamado <i>Tim </i>aparece com um rolo
de filme e explica que aquelas imagens, foi ele quem as rodou. Vemos uma
família, pai, mãe e filhos, confraternizando em uma casa de lago, enquanto uma
melodia insistente de algumas notas de piano nos deixa ainda mais ansiosos. As
cenas de uma bela tarde cortam para a noite. 4 pessoas – os pais e dois irmãos
de <i>Tim </i>– podem ser vistos pendurados de ponta cabeça, um pouco acima do lago.
Não sabemos como o menino conseguiu armar a proeza para deixá-los naquela
posição comprometedora, porém ali estão os pais e irmãos. <i>Dylan </i>assiste a tudo com os
olhos cheios de horror. Não compreende muito bem o que se dará, quando
subitamente um crocodilo enorme emerge da água e morde uma daquelas pessoas
dependuradas, engolindo a cabeça inteira, praticamente. Os demais parecem
pressentir o que os aguarda, e começam a se debater desesperadamente. "<i>Não devíamos
estar assistindo a essas coisas, Milo, desligue isso agora!</i>", <i>Dylan </i>implora,
antes de deixar o porão. Ele se cobre sob os lençóis, bastante sacudido emocionalmente.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLbowzL5F0M0YDiBkkI6sKIQUjguSY8FAlGcYzbgEyn-F4X0RhtKflUcLyEUfZShRZAuKC1AAVkbEM6g_yqDHwNZESNIRYmX3MBlCplpjVN4TNroat16IFY2QuOaavDVCx2V98LGTW_A4/s1600/sinister-2-movie-still-3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="426" data-original-width="638" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLbowzL5F0M0YDiBkkI6sKIQUjguSY8FAlGcYzbgEyn-F4X0RhtKflUcLyEUfZShRZAuKC1AAVkbEM6g_yqDHwNZESNIRYmX3MBlCplpjVN4TNroat16IFY2QuOaavDVCx2V98LGTW_A4/s320/sinister-2-movie-still-3.jpg" width="320" /></a></div>
<span lang="PT-BR" style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Fulano de Tal</i> chega à propriedade com a falsa
impressão de que ninguém se encontra, e desce com gasolina e fósforos
para colocar fogo na casa. <i>Courtney </i>chega a tempo de evitar que ele atire
gasolina na propriedade, assustando o policial, que jamais teria imaginado que
uma família vivesse sob aquele teto. <i>Courtney </i>também parece equivocada, pois assume que
<i>Fulano de Tal</i> trabalha a serviço do ex-marido. Depois do mal-entendido inicial, ela
o convida a entrar para tomar uma xícara de café. Ao citar o caso <i>Oswalt</i>,
<i>Fulano de Tal</i> fica feliz que <i>Courtney </i>ao menos conheça a história. Ela sabe que
a capela ao lado foi palco de assassinatos semelhantes, porém não que os
crimes estão ligados pela presença diabólica de <i>Bagul</i>. <i>Fulano de Tal</i> exibe os
símbolos clássicos atribuídos à presença de <i>Bagul</i>, e pergunta se <i>Courtney </i>já viu
coisa parecida em algum lugar da localidade. Ela diz que não. <i>Courtney </i>não se
importa quando <i>Fulano de Tal </i>pergunta se poderia retornar na manhã seguinte, a única
condição que impõe é que o policial não fale sobre o passado da casa para os meninos. A preocupação de <i>Courtney </i>parece não ter fundamento, pois
quando vai pôr os filhos para dormir, mais tarde, um deles pergunta se <i>Fulano de
Tal</i> apareceu por ali por causa do ocorrido na capela.</span></span><span lang="PT-BR" style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"> <i>Courtney </i>não faz ideia de como <i>Dylan </i>sabe do acontecimento.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Hospedado em um motel de beira de estrada, <i>Fulano de
Tal </i>descobre mais sobre <i>Courtney </i>através de uma pesquisa na internet. Ele lê um
velho artigo sobre o casamento de <i>Clint </i>e <i>Courtney</i>, ele filho de um magnata
local, ela a namoradinha dos tempos de adolescência. Ele mal mexe no teclado, salta para uma
página que detalha o homicídio ocorrido na capela. Por mais que mova o mouse para sair
das páginas, a internet parece ter vida própria. Através do reflexo da tela,
ele enxerga a figura de <i>Bagul </i>se aproximando, mas o demônio some no próximo segundo.
Subitamente, o notebook, que fora desligado, aviva para revelar o símbolo
característico de <i>Bagul</i>. Para <i>Dylan</i>, o assédio continua. O espírito de <i>Milo</i> o
convida a descer o porão para ver filmes Super 8. O menino tem um pesadelo
muito vívido, que nos remete à sequência que abre "<i>A Entidade 2</i>". Ele vê a si
no meio do milharal enquanto pessoas encapuzadas aguardam para serem imoladas em
chamas. No porão, os espíritos das crianças prometem a <i>Dylan </i>que se ele
assistir a todos os rolos, seus pesadelos desaparecerão.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjck7_FORV8V4_LcOLwTIVflBWjC9MWBBhKGujDIfSP-0h5RM-Ysy1NJAjX0uHFk1DoNldvrpkfDIOURDGGNtInbZ2OGFdI3WD9LBEp2OcquOTNRK7UcrNYMyITK9K-hXZrJXiphDVqmHY/s1600/sinister-2-movie-still-7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="381" data-original-width="583" height="209" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjck7_FORV8V4_LcOLwTIVflBWjC9MWBBhKGujDIfSP-0h5RM-Ysy1NJAjX0uHFk1DoNldvrpkfDIOURDGGNtInbZ2OGFdI3WD9LBEp2OcquOTNRK7UcrNYMyITK9K-hXZrJXiphDVqmHY/s320/sinister-2-movie-still-7.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">O filme daquela noite gira em torno da véspera do
feriado de Natal. Uma família composta por pai, mãe e 3 filhos (um deles, uma menina, é quem faz as imagens, será ela quem os executará) parece ter uma tarde
espetacular aos pés de um lindo pinheiro, enquanto do lado de fora a
neve polvilha sem parar. O filme corta para o período da noite, algumas dezenas de
metros mais para longe da casa, onde 4 dos 5 membros surgem amarrados, imobilizados
dentro de valas, cobertos parcialmente por neves, enquanto a menina registra a lenta morte
por hipotermia. Os olhares em seus rostos são de pura confusão. <i>Dylan </i>se levanta e
avisa aos amigos que chega de filmes por aquela noite. Se antes só os enxergava
durante a noite, agora as crianças também o incomodam durante o dia. O irmão
<i>Zach </i>o aborda na soleira, naquela manhã, e avisa que agora também pode enxergá-las.
<i>Courtney </i>não escuta a conversa, e ao surgir na porta, vê a aproximação de um
carro: como acertado, <i>Fulano de Tal</i> retornou para fazer novas pesquisas no terreno. A mãe os lembra de só falarem aquilo que lhes forem perguntado. Durante
a caminhada pela igreja, <i>Courtney </i>lhe pergunta como as pessoas foram mortas.
Em nome do bem-estar psicológico da moça, ele prefere omitir os detalhes. De posse de fotos do arquivo policial, passa a vista por porções da igreja onde os
corpos foram encontrados. Explorando os corredores muito escuros,<i> Fulano de Tal</i>
bate de frente com uma momentânea materialização de <i>Bagul</i>. O susto o lança para trás, e ao seguir retrocedendo,
ele dá com as costas em um ponto da parede onde finalmente encontra o sinal. Quem
liga para <i>Fulano de Tal</i> é um cavalheiro chamado Dr. <i>Stomberg</i>. Ele trabalhava
com o Prof. <i>Jonas</i>, do primeiro filme, o homem que ajudou o personagem de <i>Ethan
Hawke</i> a compreender a mitologia envolvendo a entidade pagã. Segundo <i>Stomberg</i>, <i>Jonas
</i>desapareceu há algum tempo, e mais recentemente a Polícia resolveu encerrar as
buscas.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwPQ1ZJS2ibeyF-F9djIuXBEMHwxFjnR9s_TrQ2lgw-zv_IebV5wTyIZlerlp_KNKxIuwoPoSn9PfQBauYoF_wOP-7tQrZ9oJGblMzMC-X1qKBpjkIc8xlobY4VXe9QNxNe9-ghTWOtUw/s1600/sinister-2-movie-still-6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="423" data-original-width="640" height="211" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwPQ1ZJS2ibeyF-F9djIuXBEMHwxFjnR9s_TrQ2lgw-zv_IebV5wTyIZlerlp_KNKxIuwoPoSn9PfQBauYoF_wOP-7tQrZ9oJGblMzMC-X1qKBpjkIc8xlobY4VXe9QNxNe9-ghTWOtUw/s320/sinister-2-movie-still-6.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><i>Jonas </i>deixou algo para<i> Fulano de Tal</i>, e o policial
concorda em se encontrar com <i>Stomberg </i>para conversar. Após a investigação na
igreja, <i>Fulano de Tal </i>avista <i>Dylan </i>solitário no alpendre e se aproxima para conversar. O menino vocaliza os angústias de precisar morar em um lugar do tipo.
Pesadelos são um elemento que <i>Fulano de Tal</i> e o menino têm em comum. O policial
tenta ajudar as pessoas para libertar o mundo das coisas terríveis com
que sonha. Nisso, quem chega sem sobreaviso é o ex-marido de <i>Courtney </i>e pai dos
meninos, <i>Clint</i>. Em seguida, dois carros de Polícia aparecem como reforço. Os oficiais não tinham como imaginar que <i>Fulano de Tal</i>, também policial, conhecesse a lei melhor do que ninguém. O conhecimento e autoridade de
<i>Fulano de Tal</i> desencorajam os oficiais corruptos, e eles "baixam a bola",
deixando a mulher e os meninos em paz. Desapontado, <i>Clint </i>fica possesso, e
<i>Fulano de Tal</i> angaria a antipatia instantânea do ex-marido.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAz9z4PaDC_8NvLq33NaLZg3oDBMvXcwxU9zTjdtUzZpesXATU4qzAa9EmGr9eKoNf05ncZ_s2wjmgn1-nClblfFeRPSYJzVYOa-8VBI7VBZappwNnp-4XURfoey2rLKcVrc4a4OyYXNY/s1600/sinister-2-movie-still-9.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="401" data-original-width="534" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAz9z4PaDC_8NvLq33NaLZg3oDBMvXcwxU9zTjdtUzZpesXATU4qzAa9EmGr9eKoNf05ncZ_s2wjmgn1-nClblfFeRPSYJzVYOa-8VBI7VBZappwNnp-4XURfoey2rLKcVrc4a4OyYXNY/s320/sinister-2-movie-still-9.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><i>Courtney </i>considera fugir. <i>Fulano de Tal </i>explica que
agora que o pai sabe onde os meninos se encontram, se <i>Courtney </i>fugir, <i>Clint
</i>terá um caso contra a ex-mulher e recuperará a custódia dos garotos. <i>Courtney
</i>pede que o policial fique, ao menos para o jantar, e ele topa. Durante o
jantar, ele revela que não é mais policial, desistiu daquela vida. As crianças
parecem gostar de <i>Fulano de Tal</i>. Após o jantar, o rapaz ajuda <i>Courtney </i>a lavar
as louças. Ela insiste que não parta, e quando <i>Dylan </i>faz coro, <i>Fulano de Tal</i>
aceita dormir na propriedade por uma noite. Ao passar a lupa sobre fotografias da cena do
crime na igreja, <i>Fulano de Tal</i> enxerga muito bem a imagem de <i>Bagul </i>nas sombras.
<i>Courtney </i>escuta alguém na cozinha, e o encontra ali desperto, passando a vista
por fotos. Eles acabam conversando no alpendre, e <i>Courtney </i>parece genuinamente
interessada. Eles terminam se beijando na cozinha, após algum tempo
nos balanços do lado de fora. Como ocorre toda noite, <i>Milo </i>aparece para chamar
<i>Dylan </i>para a sessão de cinema. O crime em questão envolve a morte de uma
família eletrocutada. Depois de drogar os pais, o menino os amarrou nos móveis
e deixou as torneiras derramarem água até alagar a cozinha. Depois, arrancou os
fios da tomada e os eletrocutou. <i>Milo </i>começa a procurar o outro menino, <i>Zach</i>, e
explica que se ele quiser fazer parte do grupinho, terá de cometer um
assassinato parecido. Na manhã seguinte, <i>Courtney </i>se despede de <i>Fulano de Tal</i> e lhe entrega uma
garrafa térmica de café. Ela é amável e atenciosa, e <i>Fulano de Tal</i> fica de
retornar dali a alguns dias. Ele precisa se encontrar com <i>Stomberg</i>.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Os dois se encontram no campus, e <i>Stomberg </i>parece nervoso. Na sala, há um rádio transmissor antigo. <i>Stomberg </i>aponta para o rádio e lhe conta uma história real que ocorreu nos anos 70, uma noite, quando vários rádios do tipo receberam uma inexplicável transmissão através de uma frequência pouco usada. A transmissão consistia nas notas de um piano para criança. Ao longo dos anos seguintes à primeira transmissão, ocasionalmente, a música do piano infantil ressurgiria, até que um dia, já no final da década de 70, alguém conseguiu gravar a mesma. <i>Stomberg </i>reproduz no notebook a arrepiante gravação, alguém dedilhando o piano, e uma voz de menininha lendo uma porção de números. Depois, os gemidos esquisitíssimos de alguém sendo morto. Os números consistiam em coordenadas para uma fazenda no meio da Noruega, onde uma família inteira foi trucidada em 1973. <i>Fulano de Tal</i> pergunta a <i>Stomberg </i>se no caso da Noruega alguma criança desapareceu, e <i>Stomberg </i>confirma. As características batem com um típico trabalho do demônio <i>Bagul</i>. <i>Stomberg </i>aperta o play e prossegue com a exposição. Agora, uma menina fala uma porção de coisas incongruentes, e em dado momento diz claramente "<i>Bagul... Bagul</i>". <i>Stomberg </i>afirma que 3 elementos já parecem claros quanto a casos envolvendo o demônio: primeiro, uma família sempre é sacrificada, segundo, uma criança escapa do massacre, mas desaparece, e terceiro, as cenas do crime mais se assemelham a representações artísticas à custa do sangue <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">dos </span>inocentes. A manifestação artística no calor dos <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">assassinatos </span>- imagem, literatura, música - parece uma exigência d<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a entidade pagã</span>. No caso da família da Noruega, <i>Stomberg </i>cita o dedilhado no piano infantil. Ele então traduz para <i>Fulano de Tal</i> a frase que escapa da boca da menina do vídeo enquanto executa os pais "<i>Fiquem quietos, senão Bagul não escutará minha música</i>". O rádio subitamente ganha vida, e insiste "<i>Os meninos... ele quer os meninos... os meninos... ele quer os meninos</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Na fazenda, <i>Dylan </i>e <i>Zach </i>estão brigando mais frequentemente, a animosidade fomentada pelos espíritos das crianças. Elas tentam incutir na cabeça de <i>Dylan </i>o ódio pela mãe e pai, culpando-os pelos infortúnios de sua vida. Os espíritos o incentivam a fazer os culpados pagarem. À noite, a harmonia entre <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">mãe e filhos azeda, e o menino mais novo chega a chamar a mãe de vadia. Ela o põe de castigo e o deixa trancado no quarto. <i>Dylan </i>tem um terrível pesadelo onde enxerga momentos da chacina na igreja, e depois se vê no meio do milharal. Quando desperta, encontra as crianças mort<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">as ao redor o convidando para uma nova sessão. <i>Milo </i>promete a <i>D<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">y</span>lan </i>que aquele ser<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a o mais emocionante vídeo de todos, pois foi ele, <i>Milo</i>, quem <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">perpetrou o homicídio. Descobrimos que a chacina na igreja ao lado foi orquest<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">rada por <i>Milo</i>. Pelo expediente da droga no vinho, o garoto os<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> deixou vulneráveis a sua ação. Pelo Super 8, acompanhamos o desenrolar da ação: <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e</span>le os <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">deita </span>no assoalho e <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">forma </span>um círculo. 5 pessoas <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">são </span>presas ao chão <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">com pregos enormes cravados bem na altura dos pulsos, mas ainda se encontram vivos. <i>Bagul </i>aparece no <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">púlpito, e abre os braços <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">para convidar uma ninhada de ratos famintos. O menino os cozinha vivos com carvão em brasa, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o que atrai os ratos famin<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">tos que terminam de matá-los a dentadas<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">.</span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1x4qsU1DpTm6s7j01jZe1v_Z0SWG7Xd4TFCNwUKsUUSfW5tMzOr_JKWA6GLMEQgfgey7hjj4trQSc5qvu7iRJjAc2BWqGsCKapMzSWed8fkMhYPfQzAp1xqgHG6pz0R-kzHBDf465HTk/s1600/sinister-2-movie-still-5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="424" data-original-width="638" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1x4qsU1DpTm6s7j01jZe1v_Z0SWG7Xd4TFCNwUKsUUSfW5tMzOr_JKWA6GLMEQgfgey7hjj4trQSc5qvu7iRJjAc2BWqGsCKapMzSWed8fkMhYPfQzAp1xqgHG6pz0R-kzHBDf465HTk/s320/sinister-2-movie-still-5.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Farto de toda aquela insanidade, o garoto foge, contra os protestos das crianças que insistem em um último rolo de Super 8. Ao buscar guarida no cele</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">iro, é perseguido por <i>Bagul</i>, mas se tranca na oficina a tempo de evitá-lo<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Os espíritos de materializam ali dentro e avisam que não há problema algum: <i>Dylan </i>jamais foi o objeto principal do assédio de <i>Bagul</i>. O que o demônio e as crianças mortas realmente queriam era mexer com a cabeça do menor, <i>Zach</i>, amadurecê-lo <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">para o próximo massacre. De fato, ao voltar ao porão, encontra <i>Zach </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">assistindo ao último rolo de filme, um massacre onde <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">membros de uma família são eliminados como se <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">se encontrassem em uma consulta dentária. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O assassino usa uma broca para arrebentar os dentes d<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">as gengivas. <i>Milo </i>jura a <i>Dylan </i>que se ele contar o que viu à mãe, lhe fará algum terrível mal. Na manhã seguinte, <i>Clint </i>aparece com a polícia, dessa vez com um mandado judicial para pegar as crianças. Ele faz uma ameaça velada. A única forma de <i>Courtney </i>permanecer com as crianças será voltando para <i>Clint</i>. <i>Courtney </i>vê que não tem saída, a não ser voltar para o marido abusivo e compartilhar a guarda. Assim, aceita o convite de <i>Clint </i>para jantar na sua casa. Quando <i>Fulano de Tal</i> aparece na fazenda à noite e não encontra a mãe e os filhos, desespera-se. Ele a aconselhara a permanecer na propriedade. A entidade costuma armar o ataque justamente quando famílias deixam as propriedades por novos endereços.</span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXNyc2subE1v103f6WXwaBWKFsXp8Q_6cCaTLaMGck7DsN1rQ-5rkXJe5kMTq1mHxF6cEVBVQe1U4l0res80eA9e1OspmdPnnedDnqv0VUsJuNJ_SAqAhS4ViFggHUKmluC7qgqn-RtfU/s1600/sinister-2-movie-still-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="424" data-original-width="638" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXNyc2subE1v103f6WXwaBWKFsXp8Q_6cCaTLaMGck7DsN1rQ-5rkXJe5kMTq1mHxF6cEVBVQe1U4l0res80eA9e1OspmdPnnedDnqv0VUsJuNJ_SAqAhS4ViFggHUKmluC7qgqn-RtfU/s320/sinister-2-movie-still-1.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;">Durante o jantar, <i>Clint </i>acaba perdendo o temperamento com a família, e age agressivamente com <i>Dylan</i>. Ele mantém a paciência em xeque quando a mulher protesta. Para todos os efeitos, voltaram a morar sob o mesmo teto. <i>Fulano de Tal </i>aparece na casa de <i>Clint </i>com a importante recomendação que retornem à fazenda antes que a entidade arquitete seu assalto, mas o marido não quer saber de conversa e o manda embora. Na manhã seguinte, vemos <i>Zach </i>escondido no milharal, com as crianças mortas semeando pensamentos ruins na cabeça sugestionável. <i>Zach </i>manipula uma câmera Super 8 e filma pai, mãe e irmão fazendo piquenique em uma clareira. <i>Milo </i>pergunta se <i>Zach </i>está preparado para cumprir com a missão (assassinar a própria família). Ele põe droga no suco. Pai e mãe bebem insuspeitos, contudo <i>Dylan </i>antecipa que há algo de errado. Ele apanha o celular da mãe e manda uma mensagem de texto para <i>Fulano de Tal</i>, pedindo socorro.</span></span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh069JlPjjwpeI6FQvFC7AZVCgUMeNb5XvC8iDcaDHR_kixQuKE9W9yK-rTHMrUSNz6oTX0tSLrYK8XyJfEaaKXf4alrT2HN97ruOYFbXRfGqnoQCSSUBms3L9l8of-1DF8nIo9aL_E5G4/s1600/sinister-2-movie-still-4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="383" data-original-width="638" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh069JlPjjwpeI6FQvFC7AZVCgUMeNb5XvC8iDcaDHR_kixQuKE9W9yK-rTHMrUSNz6oTX0tSLrYK8XyJfEaaKXf4alrT2HN97ruOYFbXRfGqnoQCSSUBms3L9l8of-1DF8nIo9aL_E5G4/s320/sinister-2-movie-still-4.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;">A noite chega, e no meio do milharal, amarrados a postes, encontramos <i>Clint</i>, <i>Courtney </i>e <i>Dylan</i>, todos encapuzados. O menino primeiro ateia fogo ao pai. Escutamos seus gritos e o vemos se contorcer desesperadamente até as chamas o consumirem por completo. Quando <i>Fulano de Tal</i> chega à propriedade, e avista a duma amarelada distante. Antes que o menino engolfe <i>Courtney </i>e <i>Dylan </i>em fogo, o ex-policial chega bem a tempo de abalrroar o carro no lado do menino, não gravemente, apenas o suficiente para tirar seu equilíbrio. Ele desamarra mãe e filho, e <i>Zach</i>, possuído, parte para cima do trio com uma foice. Eles chegam à casa a tempo, mas <i>Zach </i>também consegue entrar na propriedade, e agora conta com a ajuda dos espíritos de todas aquelas crianças corrompidas por <i>Bagul</i>. Para <i>Courtney </i>e <i>Fulano de Tal</i>, eles enxergam somente objetos e móveis sendo atirados por uma força invisível, como fenômenos de poltergeist, mas para os meninos, a imagem das crianças parece clara. <i>Zach </i>teria matado mãe e irmão, não fosse por <i>Fulano de Tal</i>, que chega a tempo de arrebentar a filmadora Super 8. O menino se desespera, e desce ao porão, onde as demais crianças contam que agora que o equipamento foi danificado, não terão como concluir o trabalho. <i>Bagul </i>chega por trás do menino, e magicamente o transporta para o outro lado da tela, que pega fogo. <i>Fulano de Tal</i> sabe que não há nada a ser feito pelo garoto, e antes que a casa inteira seja engolida pelas chamas, consegue tirá-los a tempo. Mais tarde, quando o vemos a sós no quarto de motel, um velho rádio subitamente se aviva sozinho, e <i>Fulano de Tal</i> pode escutar as crianças mortas. A face de <i>Bagul </i>subitamente entra no enquadramento, e as luzes se apagam.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;">Ninguém esperava que a sequência de "<i>A Entidade</i>" superasse o antecessor, e o lançamento da nova aventura prova correta a assertiva. O original guarda o charme da descoberta, pois como pioneiro, introduziu o imaginário que envolve a figura do misterioso <i>Bagul</i>, e contou com a performance vencedora de <i>Ethan Hawke</i>. Filmado praticamente no espaço interior de uma casa onde aconteceu um tenebroso assassinato, a trama era trabalhada como um mistério investigativo imerso em horror, de sorte que você se sentia um voyeur enquanto o escritor interpretado por <i>Hawke </i>montava peças de um quebra-cabeça que apontava para a existência de um estranho demônio vinculado a fotografias e filmes. "<i>A Entidade 2</i>" move-se para fora de uma casa, a trama transitando entre cenários e situações diversas, nos mesmos moldes do salto entre os excelentes "<i>Uma Noite de Crime</i>" & "<i>Uma Noite de Crime 2</i>", apenas não consegue reproduzir a empolgação própria ao prazer da descoberta. "<i>A Entidade 2</i>" é excelente, apenas não emula o frescor do primeiro, que por mais limitado que fosse em termos de espaço (passava-se exclusivamente no interior e cercanias de uma propriedade), envolvia melhor do que a sequência. </span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;">Considerando que continuações tendem a ser péssimos filmes, "<i>A Entidade 2</i>" é uma amena brisa fresca, porque honra o padrão estabelecido pelo antecessor, embora não ofereça nada de concretamente inédito. Quando os produtores anunciaram planos para uma continuação, acreditei que explorariam a origem de </span><i style="line-height: 17.12px;">Bagul</i><span style="line-height: 17.12px;">, se divertiriam com a concepção de uma mitologia. Pouquíssimas continuações foram capazes de superar os originais, e de cabeça eu posso citar "</span><i style="line-height: 17.12px;">Hellraiser 2 - Renascido das Trevas</i><span style="line-height: 17.12px;">" & "</span><i style="line-height: 17.12px;">Atividade Paranormal Marcados pelo Mal</i><span style="line-height: 17.12px;">". Ambos partiram da premissa estabelecida pelos originais, porém ousaram esmiuçar melhor suas mitologias em nome da descoberta de novas linhas narrativas. "</span><i style="line-height: 17.12px;">A Entidade 2</i><span style="line-height: 17.12px;">" baseia-se numa trama interessante - mãe e filhos fugindo de um pai abusivo, a suscetibilidade de crianças ao assédio de forças sobrenaturais - mas não elucida as origens de </span><i style="line-height: 17.12px;">Bagul</i><span style="line-height: 17.12px;">, tampouco cria oportunidades para tão sinistra figura desenvolver um histórico, um passado, uma voz. Claro que para filmes de horror a superexposição reflete um imperdoável pecado, o beijo da morte, no entanto, deve-se chegar a um meio termo. Aqui em "</span><i style="line-height: 17.12px;">A Entidade 2</i><span style="line-height: 17.12px;">", </span><i style="line-height: 17.12px;">Bagul </i><span style="line-height: 17.12px;">mais parece fazer uma "</span><i style="line-height: 17.12px;">participação especial</i><span style="line-height: 17.12px;">", pois creio que seu tempo total diante das câmeras não ultrapasse a marca dos 5 minutos! </span><i style="line-height: 17.12px;">Barker</i><span style="line-height: 17.12px;">, o artista definitivo do século XX, não perdeu de vista o meio termo ao abordar os cenobitas no primeiro "</span><i style="line-height: 17.12px;">Hellraiser</i><span style="line-height: 17.12px;">". Sim, eles apontam escassamente, mas tais aparições encontram-se cadenciadas ao longo do tempo de projeção, e apesar de eu não ter me preocupado em pôr na ponta do lápis a duração, surgem bem mais do que parcos 5 minutos. Nesse diapasão, aproveitando a menção a "<i>Hellraiser</i>", andei pensando na função do menino <i>Milo </i>em "<i>A Entidade 2</i>". Exercendo uma liderança natural entre as demais crianças mortas, vem de <i>Milo </i>o assédio sobre as mentes sugestionáveis de <i>Zach </i>& <i>Dylan</i>, ao passo que <i>Bagul</i>, apesar de "<i>dirigir a ação</i>", apenas observa distante e nas sombras. Ora, em "<i>Hellraiser</i>", os cenobitas não podem ser tomados como vilões. Imparciais e indiferentes, eles surgem quando a configuração é manipulada corretamente, e submetem seus exploradores ao prazer, que diverge do conceito que nós humanos reservamos ao termo. Sabemos que é <i>Julia </i>a vilã mais atuante, aliás, a trama, um conto sobre amores não-correspondidos, fetichismo, sadomasoquismo, e as porções mais sombrias e inconfessáveis da psique feminina, é carregada pela talentosíssima <i>Clare Higgins</i>, que a suporta sobre os ombros. Não obstante os cenobitas aparecerem ao fundo, <i>Julia </i>comete os assassinatos a marteladas ali na frente, nos moldes do "<i>Milo</i>" de "<i>A Entidade 2</i>", plantando sugestões nocivas na cabeça dos meninos, particularmente na de <i>Zach</i>, ferramenta em potencial para o cometimento dos assassinatos, enquanto <i>Bagul </i>descansa ao fundo para observar a ação. A dinâmica entre vilões de escalas diferentes foi um interessante toque, afinal no primeiro os espíritos das crianças resumiam-se a meros observadores. Penso, no entanto, que foi um equívoco reduzir tão significantemente a participação de <i>Bagul</i>. "<i>A Entidade 2</i>" também deixou um gostinho azedo familiar a minha boca, um sabor que eu já provei depois de ver o ótimo, empolgante "<i>Imagens do Além</i>": a conclusão me pareceu "<i>um pouco apressada</i>". "<i>Imagens do Além</i>" cometia o mesmo pecado. Refilmagem do tailandês "<i>Espíritos A Morte Está ao Lado</i>", os produtores americanos sentiram que para garantir a salutar "<i>tradução</i>" das ideias originais para o mercado ocidental, precisavam deixar o tempo de projeção dentro de 80 minutos, o que praticamente obrigou o diretor a atropelar os eventos na perna final da trama. Não prejudicou a obra como um todo, ao menos não fatalmente, todavia para olhos mais treinados, a montagem fica "<i>truncada</i>". No caso de "<i>A Entidade 2</i>", após os eventos na fazenda, quando <i>Fulano de Tal</i> tira <i>Courtney </i>e <i>Dylan </i>da casa em chamas, parece que a turma não soube como concluir a aventura dentro dos poucos minutos restantes, e simplesmente atropelou cenas até o desfecho apressado. Após os eventos na fazenda, creio que no mínimo 10 minutos fariam um enorme bem ao conjunto, pois permitiriam que a trama se fechasse mais redondinha para os principais envolvidos. Após termos nos investido emocionalmente nos personagens, nós fãs merecíamos no mínimo uma satisfação.</span></span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZTntY5gZi4uRzVP3E5cbP0rynH8xLfWhI6u82F1HVe8hdM4a1mLIlDl4Q9syMZ0e25mHa9Tm_hLudI7CUiyn8zgkPGSthCZiB1-RGdZxq4a0iVCBXZoF2z5OqpO67qsSu2rcrm_wdW50/s1600/sinister-2-movie-still-10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="640" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZTntY5gZi4uRzVP3E5cbP0rynH8xLfWhI6u82F1HVe8hdM4a1mLIlDl4Q9syMZ0e25mHa9Tm_hLudI7CUiyn8zgkPGSthCZiB1-RGdZxq4a0iVCBXZoF2z5OqpO67qsSu2rcrm_wdW50/s320/sinister-2-movie-still-10.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 17.12px;">Tendo discorrido sobre alguns reparos quanto ao filme, que é excelente, permitam-me tecer considerações sobre seus pontos mais sólidos. Todo mundo ama uma boa estória de fantasma. Escutar a uma estória assustadora de fantasma ao redor de uma fogueira quando criança é ainda melhor! Depois que crescemos, perdemos a capacidade de processar o mesmo friozinho na barriga, uma das muitas posses mágicas do "<i>mundo de cá</i>", da infância, que o tempo se encarrega de subtrair à medida que realizamos a transição para o "<i>mundo de lá</i>", o dos adultos. Eu me recordo do maravilhoso "<i>El Espinazo del Diablo</i>", de <i>Guillermo del Toro</i>. Em 2000, a consagração do cineasta ainda o aguardava alguns anos mais à frente, porém mesmo ali, em um filme menor espanhol, dava mostras de sua excepcional força visual e criativa. O filme revolvia um orfanato perdido no meio de um deserto escaldante durante o último ano da Guerra Civil Espanhola (tema que o diretor revisitaria em "<i>O Labirinto do Fauno</i>", em 2007), e seus protagonistas eram crianças, alheias à brutalidade que acontecia ao país e mesmo às relações viciadas e perturbadoras entre os adultos que comandam seu universo, o do orfanato. A bem-intencionada diretora <i>Carmen </i>mantém encontros sexuais com o servente <i>Jacinto </i>(que crescera no orfanato, o que nos leva a crer que <i>Carmen </i>o usa sexualmente desde o tempo em que Jacinto era criança, isso explicaria seu estado psicológico confuso e raivoso), Prof. <i>Casares </i>é secretamente apaixonado por <i>Carmen</i>, e por aí vai... as crianças comentam que o orfanato é assombrado pelo espírito de um menino chamado <i>Santi</i>, que desapareceu misteriosamente na noite em que uma bomba caiu bem no pátio do orfanato (e não detonou). A imagem surreal da cauda daquela bomba, pronunciada para o alto, encapsula as tensões que regem o orfanato: com a aproximação do exército do General <i>Francisco Franco</i>, o lugar mais se assemelha a uma bomba prestes a explodir. A sensibilidade lírica com que <i>del Toro</i> conduz essa empoeirada, nostálgica estória sobre fantasmas e a inocência da infância arruinada por toda espécie de subversão psicológica & sexual de adultos falíveis & diabólicos catapulta "<i>El Espinazo del Diablo</i>" ao panteão dos melhores filmes de fantasmas de todos os tempos, ali ao lado de "<i>The Innocents</i>" (1961), de <i>Jack Clayton</i>. <i>Ciarán Foy</i>, o diretor de "<i>A Entidade 2</i>" não exibe a mesma sensibilidade de <i>del Toro</i> no trato da infância, mas como poderíamos culpá-lo? Aqui, dirige a continuação para uma possível franquia, e <i>Scott Derrickson</i>, que comandou o primeiro, escreveu um roteiro que se move muito rapidamente; <i>del Toro</i> fez um filme de arte europeu, com ritmo & humores mais comuns ao Velho Mundo. Ademais, como trabalho solo, não havia expectativa alguma depositada sobre "<i>El Espinazo del Diablo</i>", de forma que o filme pôde desenvolver sua própria identidade. Por menos espaço e mais limitações que teve, ao menos, <i>Foy </i>incorporou as crianças à mitologia de <i>Bagul</i>, e fez um belo trabalho em dirigir os atores mirins nas cenas mais desgastantes.</span><br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR6XnR1MZ38olYNyI4ZWr75nve23unUGULpJv4hmcKHxKDjUgK5kgH6u_x8iHqnezBJvwAfpYaYyjz5x4OWbMekqyreO_vyf3UH61IGAVKOplgR_pLn6u1NLmcpi0rZ3As1aLFe-Mvlno/s1600/James-Ransone.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="450" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR6XnR1MZ38olYNyI4ZWr75nve23unUGULpJv4hmcKHxKDjUgK5kgH6u_x8iHqnezBJvwAfpYaYyjz5x4OWbMekqyreO_vyf3UH61IGAVKOplgR_pLn6u1NLmcpi0rZ3As1aLFe-Mvlno/s320/James-Ransone.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;"><i>James Ransone</i> & <i>Shannyn Sossamon</i> protagonizam "<i>A Entidade 2</i>" como <i>Fulano de Tal</i> & <i>Courtney</i>. A atriz se sai bem no clássico papel da mãe em perigo lutando para manter os filhos unidos. <i>Derrickson</i>, o roteirista, encontrou uma forma de adicionar a já pesada trama o difícil tema do divórcio, da ruptura familiar, o que dá personalidade extra ao conjunto. <i>James Ransone</i>, uma contribuição maravilhosa ao primeiro filme, um ator que por mais reduzido que seja seu tempo de exposição alavanca toda obra com sua participação, retorna como protagonista, e com muita naturalidade transita entre o bom humor e o jeitão meio atrapalhado que o fizeram tão especial no anterior. <i>Ransone</i>, um excelente ator que aqui me lembra um jovem <i>Christian Bale</i>, carrega o filme nos ombros, e em cena exibe o carisma que lhe deve valer mais papéis como protagonista. Além de brilhante ator, <i>Ransone </i>é um herói na vida real: em 2006, salvou a vizinha de um estupro, quando escutou os gritos vindo do apartamento ao lado, pôs abaixo uma porta de vidro e acertou o estuprador com golpes de barra de ferro nas costas. A Polícia ficou tão admirada com seu heroísmo que tentou convencê-lo a se juntar à Força. Disseram que poderia ser ator de dia, e tira à noite! Semelhante curiosidade, que explicita a natureza heroica de alguém, sempre merece menção.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;">O grande charme do primeiro filme consistia na bizarra combinação de músicas esquisitíssimas a imagens de filmes granulados Super 8. Os homicídios perpetrados pelas crianças já eram suficientemente macabros, todavia a adição de melodias absolutamente horrorosas e melosas dava ao conjunto um ar satânico & surreal. <i>Derrickson </i>reconheceu o potencial do recurso, e criou para <i>Foy </i>uma série de segmentos onde ele pôde "<i>se divertir</i>" criando imagens em Super 8, inesquecíveis, pelas mais tétricas razões. É difícil explicar em palavras a inquietante sensação experimentada uma vez que assistimos às intromissões do Super 8. A coisa mais próxima que eu poderia citar seriam os vídeos de um cavalheiro chamado <i>Chris Hanson</i>, no Youtube. Ele pôs vídeos sobre crimes reais ocorridos no curso dos anos 60 & 70, e adicionou melodias assustadoras a imagens já memoráveis, criando um sentimento de "<i>vintage footage</i>" que fará seus cabelos da nuca eriçarem. Salvo engano, os vídeos podem ser facilmente encontrados através de uma busca no Youtube pelas palavras chaves, tipo "<i>Chris Hanson</i>" e "<i>True Crime</i>". Como os vídeos já datam de muitos anos atrás, os mais recentes colocados há 4 anos, pergunto-me se o diretor <i>Scott Derrickson</i> teria se inspirado nos mesmos para escrever o primeiro "<i>A Entidade</i>"!</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;">O roteiro pode não inovar, não criar novos parâmetros para filmes de terror, todavia apanha o que havia de melhor no anterior, recicla os sustos, e os aproveita em uma trama que comunga o típico thriller investigativo (através do trabalho de <i>Fulano de Tal</i> e sua busca pela fazenda onde ocorreu a chacina) com drama familiar (<i>Courtney </i>fazendo o melhor para cuidar dos filhos, um deles sensitivo, durante o período de maior vulnerabilidade de sua vida, a separação de um marido abusivo e ciumento). Se um dos grandes charmes do original era juntar ao lado de <i>Ethan Hawke</i> as peças do quebra-cabeças, de modo a descobrir um quadro aterrorizante no último minuto (quando os <i>Oswalt </i>são mortos pela filha caçula), não podemos realmente culpar o novo diretor por não conseguir oferecer a mesma atmosfera de antecipação intimista & esquisita que caracteriza o original. Quem apreciou o primeiro, gostará muito da segunda parte. A julgar pelo sucesso de bilheteria (o filme custou U$ 10.000.000,00 e gerou U$ 63.000.000,00), em breve teremos um terceiro capítulo. Minha sugestão? Focar nas origens do demônio. Até lá, o grande trunfo da franquia, os vídeos em Super 8, poderá dar sinais de cansaço. Um truque funciona até um determinado ponto, e depois... o terceiro filme precisa nos apresentar algo inédito e criar uma mitologia. A minha sugestão seria a de que o time criativo assistisse ao primeiro "<i>Hellraiser</i>" e depois ao segundo, "<i>Hellraiser 2 Renascido das Trevas</i>": eis a fórmula para criar uma mitologia sem agredir o original, buscar coisas inéditas, mas a partir do olhar para dentro da mitologia.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;">Amigos, um Feliz Natal & Próspero Ano Novo. Espero neste ano de 2016 publicar o meu romance "<i>Valsa na Escuridão</i>" (um dos 3 roteiros que eu escrevi) neste blog. A demora se deve ao trabalho de revisão (o original é extenso, com mais de 1.100 páginas só no processador do Word, em fonte Times New Roman, "<i>10</i>"), e à adição de um novo e último capítulo. De todos os roteiros, é o meu preferido, pois foi um trabalho que começou em 2002, o que tornou seus personagens, ao menos na minha cabeça, muito reais para mim. Paralelamente, sempre revisito os dois roteiros anteriores, "<i>Nenhum Passo em Falso</i>" & "<i>Nosebleed</i>", para fazer pequenas edições, nada muito especial - melhorar o Português, adicionar uma ou outra coisa. Também venho dedicando a mesma atenção às resenhas mais velhas, dei uma polida em "<i>Hellraiser</i>", "<i>w Delta z</i>"... a maioria, eu diria. Vim a descobrir os incalculáveis benefícios que escrever um blog fez por mim. O blog te obriga a melhorar em todos os sentidos: expressar-se melhor, compreender o mundo melhor. Dia desses, um amigo foi muito gracioso ao elogiar uma determinada resenha. Eu lhe disse, e com honestidade, que qualquer pessoa faria muito, muito melhor, basta querer. São suficientes a prática, a paixão e, mais do que nunca, a humildade. Você escreve e tenta fazer o melhor. Você vê que errou, e tenta novamente e erra... e eventualmente você acerta. Eu me lembro de algo que Sylvester <i>Stallone </i>disse em uma entrevista. Aproximadamente em 2005, ele apresentou esse reality show chamado "<i>The Contender</i>", onde pugilistas de diversas alçadas da vida lutavam em um campeonato de boxe para chegar a aquele que teria a chance de disputar um grande título em Las Vegas. Eu me recordo que naquele ano em particular, um brilhante boxeador chamado Sérgio Mora levou o grande prêmio. De toda sorte, em uma entrevista com o ator, lhe perguntaram se no seu entendimento Sérgio Mora "<i>era o Rocky</i>". <i>Sylvester Stallone</i> deu uma resposta inteligentíssima. <i>Stallone </i>disse que não, Sérgio Mora não era o <i>Rocky</i>, quem era o <i>Rocky </i>era um outro cara, um rapaz chamado Peter Manfredo. No reality, Manfredo não conseguira se qualificar: ele se esforçou, mas perdeu, e deixou o reality show. Por força da desistência de um outro participante, teve a oportunidade de regressar, e tentar novamente. Ele perseverou, tentou duramente, fez um esforço nobre & galante, e ao final perdeu para o Mora. Manfredo não era o cara que vencera ao final, no entanto era quem perseverara. "<i>Mora não é o Rocky, o Manfredo é o Rocky, porque ele tenta, ele cai, e se levanta novamente</i>". Jamais me esqueci disso, guardei na minha cabeça. Determinei que aplicaria o aprendizado na minha vida pessoal. Quem revisita os meus artigos provavelmente já deve ter notado paulatinas diferenças. Além do projeto de publicar "<i>Valsa na Escuridão</i>" até meados de 2016 em 15 postagens (cada postagem um capítulo), se eu encontrar tempo, adorarei apanhar "<i>Nenhum Passo em Falso</i>" & "<i>Nosebleed</i>" e torná-los romances ainda maiores. Eu os amo muito, todavia ao lê-los sempre penso "<i>Rapaz, por que não pensei nisso ou aquilo...</i>". Por ora, dedico-me a revisar "<i>Uma Valsa na Escuridão</i>" a tempo de publicá-lo antes de 2017. Quem sabe eu consiga? Eu sou um homem cheio de surpresas. E a melhor delas, eu reservei para o final.</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/fChx_YZUAR0/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/fChx_YZUAR0?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; line-height: 17.12px;"><i style="background-color: #eeeeee;">Todos os direitos autorais reservados a Blumhouse Productions. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i></span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-36701886031942324712015-12-03T14:20:00.000-08:002019-03-14T05:49:07.836-07:00"Horas de Desespero" ("No Escape", Tailândia, 2015): Depois de nos guiar a uma incursão a uma cidadezinha ao norte de Nova York assombrada por um serial killer fetichista e às catacumbas nas entranhas de Paris em busca da Pedra Filosofal, o diretor de "Poughkeepsie Tapes" & "As Above so Below" nos leva a uma aventura aterrorizante através de um país asiático em pleno coup d'État! <div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8wGsUqHZUM1GCRg5oMpxW-mJCrJDnmI6pwtGcI6jxwcUWTH0gfjOxyKpR9_DWBkGzLcM4TWIEwLmtaFizCv9sq8M58xUWw5xs-LyM4v5HnqCsfYFRlmYr0zVPbCgyMRY73nIkYwsaI6s/s1600/no_escape_ver7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="755" data-original-width="509" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8wGsUqHZUM1GCRg5oMpxW-mJCrJDnmI6pwtGcI6jxwcUWTH0gfjOxyKpR9_DWBkGzLcM4TWIEwLmtaFizCv9sq8M58xUWw5xs-LyM4v5HnqCsfYFRlmYr0zVPbCgyMRY73nIkYwsaI6s/s320/no_escape_ver7.jpg" width="215" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Em
um país inominado <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">do Sudeste da </span>Ásia, o </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Primeiro<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>Ministro </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">recebe o diretor de uma construtora
multinacional. A construtora Cardiff visualiza <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ambiciosos projetos para o</span> lugar, a
começar pela <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">realização </span>de uma <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">barragem </span>de grande envergadura. </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Primeiro Ministro </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">e
</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">empresário </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">brindam à ocasião, porém logo após o término da bem-sucedida visita, a
situação foge de controle. O guarda-costas pessoal do </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Primeiro Ministro </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">se escusa do
palácio por um momento para acompanhar o cavalheiro a seu carro, conforme o
protocolo. Assim que o diretor da construtora parte, o guarda-costas escuta
disparos deflagrados n<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o interior </span>do palácio. Ao correr em direção à entrada,
ele descobre que a mesma foi lacrada por dentro, e precisa realizar uma rota
alternativa, pela ala de serviços. As dançarinas que haviam desempenhado
um número em homenagem ao visitante choram e correm pelo corredor. Ao alcançar
o salão, o guarda-costas encontra o corpo de um colega baleado, e, mais à
frente, o </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Primeiro Ministro </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">assassinado. Ao redor, há homens fortemente armados,
metidos em indumentárias de guerrilheiros, os rostos <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">mascarados </span>por panos
vermelhos. O guarda-costas compreende que um Golpe de Estado se encontra em
pleno curso. Ele apanha uma faquinha, destemidamente, pronto para enfrentá-los, mesmo que não tenha chance alguma contra tantos <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">rebeldes</span>,
todavia, ao se dar conta que nada <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">deterá</span> <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o movimento revolucionário</span>, antevendo o caos
político a que seu país será lançado, corta o próprio pescoço e comete
suicídio,<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> a morte uma melhor alternativa</span>.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO689lrc6yygzdDh3R_htd73GIXlX6I5RYccTAmjlFTi1uVc6c5W8NFDDloUPyrOUcWFY2qzWZyBXyeNeMPFs41q5LEbGs1kRYKt2FzqKjVefG0CkwSEOXaqRJS6xbVyYF-2WPXVwzMdk/s1600/noescape.jpe" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="478" data-original-width="680" height="224" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO689lrc6yygzdDh3R_htd73GIXlX6I5RYccTAmjlFTi1uVc6c5W8NFDDloUPyrOUcWFY2qzWZyBXyeNeMPFs41q5LEbGs1kRYKt2FzqKjVefG0CkwSEOXaqRJS6xbVyYF-2WPXVwzMdk/s320/noescape.jpe" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">O
filme então volta 17 horas atrás, antes da confusão, para nos apresentar
aos protagonistas desta aventura, os <i>Dwyer</i>, a família norte-americana composta pelos pais <i>Jack </i>& Annie (<i>Owen WIlson</i> & <i>Lake Bell</i>) e as meninas <i>Lucy </i>& <i>Beeze </i>(<i>Sterling Jerins</i> & <i>Claire Geare</i>). Eles encaram um voo intercontinental de quase 11 horas em direção ao país onde planos para uma gravíssima revolução são urdidos<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> na </span>surdina. <i>Jack </i>& <i>Annie </i>são jovens pais, e a dinâmica entre <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">os dois </span>me faz pensar nos personagens de <i>Louis </i>& <i>Rachel Creed</i> de "<i>Pet Sematary</i>": aos 30 e poucos, aprendem ao longo do caminho a serem bons pais enquanto cuidam de manter a chama da paixão avivada. Aprendemos que <i>Jack </i>é um importante engenheiro da multinacional Cardiff, tendo realocado a família para o país por tempo indeterminado até a conclusão das obras da <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">barragem</span>. Ao perder a boneca, uma das meninas a recebe das mãos do cavalheiro sentado no assento <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">detrás</span>, um britânico chamado <i>Hammond </i>(<i>Pierce Brosnan</i>, dando o desempenho excepcional deste maravilhoso filme, em um de seus melhores papéis nos últimos anos). Ao chegarem ao aeroporto, <i>Hammond </i>lhes oferece uma carona, afinal de contas se hospedarão no mesmo hotel, o Imperial Lotus. Eles se conhecem melhor. <i>Hammond </i>ama <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">aquela exótica parte do mundo</span>, já <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a </span>tendo visitado 15 vezes anteriormente. O britânico sente-se meio protetor em relação aos norte-americanos, porque sabe que como turistas "<i>verdes</i>"<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> que</span> jamais andaram por aquele lugar, tendem a ser explorados por taxistas e malandros locais. <i>Hammond </i>os apresenta a seu divertido amigo motorista, que aparece dirigindo um ônibus jardineira caindo aos pedaços. Ao proferir <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o</span> nome quando se apresenta aos americanos, ele deixa <i>Jack </i>confuso com a extensão do mesmo, mas o rapaz avisa que se preferir pode chamá-lo de "<i>Kenny Rogers</i>". Isso mesmo, o rapaz é fã do cantor <i>Kenny Rogers</i>, e sua jardineira foi caracterizada como um pequeno altar para o <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">astro </span>americano! O percurso do aeroporto ao hotel é uma grande brincadeira, <i>Hammond </i>& <i>Kenny Rogers</i> <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">arranhando </span>grandes sucessos do astro da música, <i>Jack </i>& <i>Annie </i>trocando olhares assustados ao sabor do sacolejo da jardineira, todos em ótimos espíritos. Nesta cena - a chegada da turma à noite, a jardineira atravessando as <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ruas </span>daquele lugar cuja noite sempre parece fervilhante - o filme evoca a atmosfera de um <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">outro intrigante suspense</span> ambientado na Tailândia, "<i>Only God Forgives</i>", estrelado por<i> Ryan Gosling</i>. Apesar de jamais nominar explicitamente o país onde a trama de "<i>Horas de Desespero</i>" se desenrola, a todo tempo o diretor evoca o mesmo tipo de sentimento - <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">vidas marginais expostas em paralelo ao movimento de turistas</span>, cultura exótica, luzes de neon - <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">de </span>"<i>Only God Forgives</i>", este sim passado na Tailândia. Durante o passeio em direção ao hotel, <i>Jack </i>& <i>Annie </i>acham esquisito quando ao passarem próximo ao Palácio Presidencial enxergam uma certa inquietação, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">movimentação</span>. Decerto, naquele exato <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ponto da noite</span>, observava-se o primeiro assalto dos guerrilheiros ao governo, conforme visto na sequência que <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">abriu </span>o filme.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlrbp2b36yr6pWefgOH0FsFlsrVJM6mbHYw6mbhNnkYYXGNmySfOpvv0G0penD9UbChMYnQunZkQOPOb19wbwb3lmvs9ercxu1F1s_TQjJmUtCj501VuMu3qyC8nwV68_UO5XxQfqYoOU/s1600/noescape13.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlrbp2b36yr6pWefgOH0FsFlsrVJM6mbHYw6mbhNnkYYXGNmySfOpvv0G0penD9UbChMYnQunZkQOPOb19wbwb3lmvs9ercxu1F1s_TQjJmUtCj501VuMu3qyC8nwV68_UO5XxQfqYoOU/s320/noescape13.jpg" width="320" /></a></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">No <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">lobby</span>, o cerimonial do hotel <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">organizou </span>as boas vindas aos <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">engenheiros </span>da construtora Cardiff. A construção da <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">barragem </span>é uma grande novidade, todos os cidadãos sabem sobre a visita dos americanos à capital. <i>Jack </i>& <i>Annie </i>se "<i>aclimatam</i>" ao quarto de hotel. Para <i>Lucy</i> & <i>Beeze</i>, nem parece que realizaram uma viagem tão cansativa e demorada, parecem cheias de energia. <i>Jack </i>estranha quando ao tentar sintonizar um canal, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">não h<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">á sinal</span></span>. O telefone também não <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">funciona</span>. Ao reportar os problemas na recepção, o rapaz explica que de uma hora para a outra a cidade inteira se viu sem linhas telefônicas ou sinais de celular ou TV. Não se sabe ainda a natureza do problema. Evidentemente, temos conhecimento do drama a se suceder no Palácio Presidencial, mas nenhum civil <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">antevê </span>ainda a revolução em vias de explodir.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><i>Jack </i>dá uma passada no bar do <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">lounge.</span> <i>Hammond </i>está "<i>um pouquinho alto</i>" depois de algumas doses de Whisky, ensaiando músicas no karaokê, enquanto <i>Kenny Rogers</i> e algumas garotas bonitas aplaudem e riem sentados à mesa, todos metidos em uma gostosa descontração. <i>Hammond </i>e <i>Jack </i>conversam <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ao pé do </span>bar, e aprendemos um pouco mais sobre os dois personagens. Embora não saibamos muito de <i>Hammond </i>ainda, ele parece um homem com um passado triste. Ao ser <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">questionado </span>sobre filhos, ele explica que não os tem mais. Teriam os filhos morridos? A mulher foi embora <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e os carregou </span>consigo? A seu turno, <i>Jack </i>revela que goza de uma enorme envergadura na Cardiff: ele inventou uma excelente válvula, a ser <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">testada </span>nas obras de<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">barragem</span></span>, e finalmente parece ter encontrado o sucesso, principalmente após ter sentido na pele a dor do fracasso quando a última empresa em que trabalhou faliu. Eles se despedem, <i>Hammond </i>animado para curtir a noite. Aqui, há um discreto, magnífico instante, espécie de presságio do terror por vir, quando <i>Jack</i>, pensativo no bar para acabar o chope solitariamente e voltar <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a</span>o quarto, presta atenção em um inocente, pueril brinquedo <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">da fonte</span>, um bonequinho de madeira a perenemente <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">girar </span>a manivela de um poço d'água em miniatura, enquanto a água flui incessante. Ao fundo, o brinquedo produz um barulho semelhante ao do tique-taque de um relógio, que poderíamos associar a uma bomba prestes a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ser deflagrada</span>. <i>Jack </i>parece pressentir algo de terrível, no entanto volta <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">à suíte </span>e afasta pensamentos tão absurdos da mente.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Durante a madrugada, desperta com o ruflar semelhante ao de trovões. Checa pela janela, e nada encontra. Mal imagina que se <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">trata </span>de uma explosão distante. Ele encontra a esposa sentada no banheiro, chorosa. Ele a compreende: a viagem significa uma grande mudança <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">de vida</span>, deixaram a América <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">por </span>um outro lugar cuja língua ou cultura <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">sequer </span>compreendem bem. Ela não responsabiliza o marido, apenas precisa extravasar a eletricidade emocional, e <i>Jack </i>respeita o espaço da esposa. Na manhã seguinte, ao procurar <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o rapaz da </span>recepção, este novamente lhe <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">avisa </span>que não há recado dos executivos da Cardiff. Ao pedir por um jornal do dia, um novo fato estranho: os jornais não circularam naquela <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">data</span>. O rapaz o orienta a procurar por uma tabacaria no centro da cidade, onde decerto encontrará <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">diários</span> locais e internacionais. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Não há dúvidas que a capital é um paraíso turístico, e mesmo ao sair pelos pacatos jardins do <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Imperial Lotus </span>para a caminhada, nada sinaliza que o lugar se tornou um <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">inconstante </span>barril de pólvora. No mercado central, há quiosques onde os comerciantes preparam os peixes e oferecem toda sorte de iguarias. Neste momento, "<i>Horas de Desespero</i>" nos remete ao excelente "<i>Skin Trade</i>", um filmaço de ação também ambientado na Tailândia, o lugar que para diretores de fotografia deve representar o paraíso, dadas as infinitas possibilidades e riqueza da cultura daquela gente de vida palpitante. Ele chega à tabacaria, mas no que se refere a jornais internacionais, os mais recentes datam de 3 dias atrás. <i>Jack</i>, que sofrera um interessante presságio na noite anterior, agora sabe que algo ainda invisível se encontra em curso nas ruas <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">da capital</span>.</span><br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNWaQGhSzR8ciCyWijuvO7OsaQQgQMZyjoD29ApJmHhONSdBWnYZ7PqW-qoZRZrKF5lo7GEBkdn3oMnteNKLsLThD8EeR9lZVlHECcrikCkXDCsrniDf8eigbwLDWEq6fm_Nw7VwHYU7g/s1600/noescape3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNWaQGhSzR8ciCyWijuvO7OsaQQgQMZyjoD29ApJmHhONSdBWnYZ7PqW-qoZRZrKF5lo7GEBkdn3oMnteNKLsLThD8EeR9lZVlHECcrikCkXDCsrniDf8eigbwLDWEq6fm_Nw7VwHYU7g/s320/noescape3.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Conforme esperava, ao caminhar intrigado pelas calçadas, é assaltado por uma cena horripilante: de uma das extremidades do quarteirão, marcha a tropa de choque, centenas de policiais militares vestidos com escudos e cassetetes. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Vindos da </span>outra, homens metidos em roupas de guerrilha, pedaços de pau em mãos, preparados para a revolução, avançam no sentido contrário. Como em uma paródia macabra das batalhas em "<i>Coração Valente</i>", as duas massas partem para o "<i>mano a mano</i>", enquanto <i>Jack </i>trata de correr para longe da concentração. Apesar de fortemente armados, os soldados da tropa de choque são atropelados. Correndo por vielas muito estreitas de uma favela, <i>Jack </i>consegue evadir-se e passar desapercebido. Ao longe, enxerga a marquise do Imperial Lotus Hotel, e tenta se guiar apenas visualmente. Quando se encontra a apenas algumas quadras, testemunha a execução sumária de um cavalheiro que embora se identifique como norte-americano, toma um tiro de execução na nuca. Não se sabem ainda as intenções dos guerrilheiros, no entanto é seguro afirmar que qualquer pessoa estrangeira flagrada pela revolução sofrerá o mesmo destino. Os revolucionários enxergam <i>Jack</i>, mas ele consegue ser mais rápido ao subir uma escada externa e entrar no Imperial Lotus Hotel ao quebrar uma janela. Ele se intromete bem no meio de uma apresentação no salão de conferências, as pessoas ainda alheias ao drama do lado de fora.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8XNTGOG9QsN0yNup3421KxfKAtrrD5IzQFelji9pICnnv7PrwU6JeRn7s80CGCRidndcswnbPhvmX_VFXKMYVVsCrD9dZ2lGVBL0sMX874biYLB7Ya1hG_DCT5sR943thnZshOI8Shyphenhypheng/s1600/noescape14.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="347" data-original-width="634" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8XNTGOG9QsN0yNup3421KxfKAtrrD5IzQFelji9pICnnv7PrwU6JeRn7s80CGCRidndcswnbPhvmX_VFXKMYVVsCrD9dZ2lGVBL0sMX874biYLB7Ya1hG_DCT5sR943thnZshOI8Shyphenhypheng/s320/noescape14.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">No lobby, os funcionários lacram o acesso ao interior e preparam barricadas, enquanto a horda de guerrilheiros bate nas portas para quebrar os vidros. Não custa a os guerrilheiros vencerem as barricadas, e invadirem de metralhadoras em punho, atirando. <i>Jack </i>passa o cartão no elevador (que só funciona com a identificação) e alcança o 8° andar. Na suíte, a esposa e uma das meninas, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ainda ignorantes</span>, vestem maiôs para tomar banho na piscina. Exasperado e molhado de suor, <i>Jack </i>procura colocar em poucas palavras o perigo que correm. Quando dá pela ausência de <i>Lucy</i>, o pai pergunta pela menina, e <i>Beeze</i> conta que a irmã se adiantou e já desceu para a área de lazer, que fica no 4° andar. <i>Jack </i>as orienta a fecharem as portas e aguardarem em silêncio, tratará de apanhar a menina. A caminho da piscina, ele enxerga por entre os corrimões os guerrilheiros pondo portas de quartos abaixo e fuzilando hóspedes<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">,</span> sem hesitação. De posse de um mapa do interior do complexo, que arranca da parede, <i>Jack </i>vai traçando um caminho através das áreas de serviço (cozinha, lavanderias, casa de máquina) em direção à piscina. No quarto, <i>Annie </i>veste roupas para a fuga, e calça a filha. Pelo olho mágico, testemunha a carnificina que os guerrilheiros cometem no apartamento da frente, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">armados com facões</span>. Do quarto ao lado, chega o choro de uma mulher sendo impiedosamente estuprada.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Ao alcançar a piscina, <i>Jack </i>fica chocado ao se deparar com <i>Lucy</i> mergulhando e nadando como se nada tivesse <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">acontecido</span>. Distraída em seu próprio mundo, ela jamais teria <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">pressentido </span>o caos que se aproxima. O pai a pega pelos braços e a arranca d'água. Ele lança um olhar em direção ao lobby, onde os selvagens massacram os recepcionistas a golpes de <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">porretes e foices</span>. Quando avistam o americano e a menina pequena, correm para a área da piscina, mas <i>Jack </i>é mais rápido: ele usa uma boia para encerrar a passagem entre lobby e área de lazer, e empreende fuga com a criança. <i>Jack </i>sobe as escadas de serviço com <i>Lucy</i>, quando subitamente um guerrilheiro mascarado aparece à frente. Momentaneamente, tudo parece perdido, porém é <i>Hammond </i>quem aparece para salvar o dia: ele se lança sobre o bandido e o incapacita. Ordena que o americano suba à cobertura. <i>Hammond </i>esmaga a cabeça do vilão com a porta, e depois atira o corpo escada abaixo, atrapalhando os planos dos guerrilheiros que vinham no encalço de pai & filha bloqueando momentaneamente a passagem. No apartamento, </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><i>Jack </i>reencontra <i>Annie </i>& <i>Beeze</i>. As duas choram de alegria ao ver que eles conseguiram. <i>Annie </i>fala que devem permanecer no quarto, <i>Jack </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">retruca </span>que eventualmente os bandidos conseguirão entrar. Se há uma salvação, só a encontrarão na cobertura com os demais sobreviventes. Eles ganham os corredores rumo às escadas de serviço. Por pouco não são alvejados por disparos de metralhadoras. A família atinge a cobertura, e os demais turistas sobreviventes, ali reunidos, encerram a passagem que dá para o telhado, isolando o caos abaixo. Por ora, os <i>Dwyer</i> estão a salvo.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij2CF5WMDUx_VEAgbXaMTOh2q_CccdDFvYgyYwQD6weF9-SdxFjEMf7mKcsJ0jm2fwkJRnGmNOLLyhimyxeOL_qz1j7oYgcsw6O9Nb3VlgKLhnMsMMYwg6BdZaw1yis3DNYMBhOv7c03g/s1600/noescape6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="574" data-original-width="860" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij2CF5WMDUx_VEAgbXaMTOh2q_CccdDFvYgyYwQD6weF9-SdxFjEMf7mKcsJ0jm2fwkJRnGmNOLLyhimyxeOL_qz1j7oYgcsw6O9Nb3VlgKLhnMsMMYwg6BdZaw1yis3DNYMBhOv7c03g/s320/noescape6.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">As pessoas de bem reunidas naquele espaço procuram <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">compreender a origem</span> do caos reinante. Um cidadão com sotaque australiano orienta <i>Jack </i>a não se aproximar do parapeito, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">porque </span>os guerrilheiros responderão com tiros. Um <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">turista </span>francês que entende a língua <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">do país</span> explica que os guerrilheiros entoam gritos de "<i>Sangue por água</i>". Inicialmente, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">n</span>inguém compreende o sentido daquilo, contudo um recepcionista sobrevivente opina que provavelmente os guerrilheiros queiram se refer<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ir</span> ao recente contrato entre a multinacional Cardiff e o Governo. Os guerrilheiros ficaram possessos, pois <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">tomaram </span>o <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">acerto <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">como uma </span></span>afronta à soberania d<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a nação</span>. Eles derrubaram o governo movidos pelo inconformismo, e agora prometem executar qualquer estrangeiro dentro das fronteiras. Subitamente, o rumor de hélices indica que um helicóptero executa uma aproximação, e os sobreviventes comemoram, certos de que o resgate chegou. Quando o mesmo se torna mais nítido aos olhos das pessoas <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">da </span>cobertura, percebem não se tratar de uma Força de Resgate da ONU, e sim <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">dos </span>próprios rebeldes. Antes que os turistas consigam correr, um guerrilheiro a bordo saca a metralhadora e abre fogo, matando várias pessoas no processo. <i>Jack</i>, <i>Annie </i>e as meninas se abaixam bem a tempo de escapar <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">da saraivada de tiros</span>. O piloto executa uma manobra que dá ao atirador novos ângulos para disparos, e ele segue metralhando os turistas remanescentes. Em uma sequência de tirar o fôlego, possivelmente inspirada em "<i>Cliffhanger</i>", do diretor <i>Renny Harlin</i>, o piloto acidentalmente deixa que as pás da cauda se choquem contra a marquise do Imperial Lotus, perdendo o controle sobre o aparelho. O helicóptero entra em parafuso, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">caindo </span>sobre a cobertura e quase <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">avançando </span>sobre <i>Jack </i>e família, que se protegem por trás de um pilar mais <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">resistente</span>.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij2CF5WMDUx_VEAgbXaMTOh2q_CccdDFvYgyYwQD6weF9-SdxFjEMf7mKcsJ0jm2fwkJRnGmNOLLyhimyxeOL_qz1j7oYgcsw6O9Nb3VlgKLhnMsMMYwg6BdZaw1yis3DNYMBhOv7c03g/s1600/noescape6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="574" data-original-width="860" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij2CF5WMDUx_VEAgbXaMTOh2q_CccdDFvYgyYwQD6weF9-SdxFjEMf7mKcsJ0jm2fwkJRnGmNOLLyhimyxeOL_qz1j7oYgcsw6O9Nb3VlgKLhnMsMMYwg6BdZaw1yis3DNYMBhOv7c03g/s320/noescape6.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Em uma das cenas mais aflitivas, <i>Jack </i>vê que eles foram encurralados na cobertura, pois os bandidos rompem a passagem de acesso. Só há uma chance: saltar para a cobertura seguinte, a cobertura de um prédio menor <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">vizinho</span>. A <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">vista </span>das ruas abaixo, a denunciar a altura a que se encontram, é de <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">provocar</span> vertigens. <i>Annie </i>salta primeiro, e rala os braços e joelhos ao cair na outra cobertura. <i>Jack </i>apanha a menorzinha e sem nada avisar<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>para não deixá-la assustada, a atira no ar, de modo que <i>Beeze</i> <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">cai nos braços da mãe</span>. O grande susto se dá quando <i>Jack </i>vai arremessar a <i>Lucy</i>, que se segura ao pescoço do pai no último segundo e quase provoca <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a queda de ambos</span>. O pai consegue acalmá-la, e então a joga com sucesso. O último a saltar é <i>Jack</i>. A salvo, ele ainda lança um olhar para o Imperial Lotus. Quem o está observando com <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ares de</span> predador é o suposto líder do movimento, que exibe o cartaz deixado no lobby: ele sinaliza que sabe que <i>Jack </i>é um dos engenheiros da <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Cardiff</span>, e que cedo ou tarde conseguirá alcançá-lo.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9DHG-W5JDsed5m308NtiiT01lSTvNZmEulTsXmIlf88jlPlRXnVZvuproMrkG84bm2fMLYyCI58LveyBH8efM48r2xJwYjw3iTFdBQWgKIFjCo_PTwLL4m9F3cdFWa1KuCSVGR4AgbFE/s1600/noescape10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="346" data-original-width="634" height="174" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9DHG-W5JDsed5m308NtiiT01lSTvNZmEulTsXmIlf88jlPlRXnVZvuproMrkG84bm2fMLYyCI58LveyBH8efM48r2xJwYjw3iTFdBQWgKIFjCo_PTwLL4m9F3cdFWa1KuCSVGR4AgbFE/s320/noescape10.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRju2qIvn8kjnssrXNjShCde7Y7DFnokBDsirv-3zgSHIRH13lrM80LGq9wwROZME3C0OLed4zLxRtAYfHODBIWFdvyfM-8HmRUvjkyar9xMkpfyJKy_un2L9A0qjAARGQfDrv6jx_-mw/s1600/noescape9.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRju2qIvn8kjnssrXNjShCde7Y7DFnokBDsirv-3zgSHIRH13lrM80LGq9wwROZME3C0OLed4zLxRtAYfHODBIWFdvyfM-8HmRUvjkyar9xMkpfyJKy_un2L9A0qjAARGQfDrv6jx_-mw/s320/noescape9.jpg" width="320" /></a><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;">Pelas janelas do novo prédio, aparentemente uma repartição pública, <i>Jack </i>avista a chegada de um tanque de guerra. Um disparo contra a fachada quase o põe abaixo. Muitos funcionários públicos morrem instantaneamente. <i>Jack </i>reúne a esposa e as filhas e eles se escondem sob os <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">cadáveres</span>, de modo a se passarem por mortos. Ele vê quando soldados fazem o reconhecimento da sala e executam os funcionários ainda vivos. <i>Jack </i>e família permanecem silentes e imóveis até os homens <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">partirem</span>. Começa a escurecer. A sós na sala abandonada daquela repartição pública em um decadente prédio do centro, eles têm um doce momento, quando o pai procura encorajar as filhas. <i>Annie </i>encontra um mapa, ela sabe que devem alcançar a embaixada norte-americana o quanto antes. Ignorante quanto a<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> língua</span>, não faz ideia de onde se encontra a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">embaixada</span>, mas uma das filhas aponta a bandeira norte-americana em um determinado ponto do mapa. Eles sabem para onde ir. Cauteloso, da sacada, <i>Jack </i>assiste `a cruel execução de prisioneiros de guerra enfileirados de joelhos na rua. Quando esperamos pelos disparos na nuca, na verdade é um caminhão dirigido pelos rebeldes que vem com toda a velocidade e os apanha em cheio, executando-os por atropelamento. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">As cenas de barbárie apenas se sucedem interminavelmente.</span></span></span><br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmT71Rx0i7yY47yqBDBx-nJZ67M_3HDJVsL1Bhb7Tb6rSXgtfSzvKHJmljJO8NHdjX1bPRFhxRTnB_4IWOAKRnnSUHuZiDYm3N8DGhyphenhyphenluFmD_yn01KsHOOzzXttLWqFm3hma46-nK6hKQ/s1600/noescape4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmT71Rx0i7yY47yqBDBx-nJZ67M_3HDJVsL1Bhb7Tb6rSXgtfSzvKHJmljJO8NHdjX1bPRFhxRTnB_4IWOAKRnnSUHuZiDYm3N8DGhyphenhyphenluFmD_yn01KsHOOzzXttLWqFm3hma46-nK6hKQ/s320/noescape4.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;">Um mercenário desarmado e mais jovem perambula pelos corredores e acaba indo parar na sala onde <i>Jack </i>e família se esconderam. Ele tenta gritar, porém o americano, agora tomado pela adrenalina, não hesita em matá-lo com duríssimos golpes de luminária n<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a cabeça</span>. <i>Annie </i>testemunha <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o massacre</span>, chocada. A violência do marido, no entanto, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">justifica-se</span> pelas terríveis circunstâncias em que se veem metidos. <i>Jack </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">recolhe </span>roupas e se caracteriza como um dos guerrilheiros, tudo para passar despercebido. Esposa e filha também vestem roupas típicas da gente mais <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">humilde </span>da cidade. Friamente, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o engenheiro </span>encontra uma viela cheia de motocicletas de soldados, e mesmo entre "<i>companheiros</i>", consegue manter a tranquilidade <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">para </span>interpretar muito bem. Ele encontra uma moto, e mais distante, assovia à esposa e meninas para embarcarem. Faltam apenas alguns blocos até a embaixada. Transitando por vias desertas, a família testemunha a extensão do ataque. A estátua do <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Primeiro Ministro</span>? derrubada. As lojinhas do centro? <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">v</span>andalizadas. Os hotéis turísticos? <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">c</span>hamas os consomem em uma sequência de incêndios que sinalizam a anarquia completa e total ausência do <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Estado</span>.</span></span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEju3TbCrQhwne3k5ggNzuNnJ4WV5ZM8dlB9CA20uMalk0LgfmiypUE0SzD5gEv85CAwsZB9IWMest3EY_0eK0F3cUEIK6pHw4M51AT1CNxWpJb3f5KZFL8cVPwtiP9mzv5NQoYy8fjpfc8/s1600/noescape16.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEju3TbCrQhwne3k5ggNzuNnJ4WV5ZM8dlB9CA20uMalk0LgfmiypUE0SzD5gEv85CAwsZB9IWMest3EY_0eK0F3cUEIK6pHw4M51AT1CNxWpJb3f5KZFL8cVPwtiP9mzv5NQoYy8fjpfc8/s320/noescape16.jpg" width="320" /></a></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Em uma cena para deixar os nervos em frangalhos, quando poucas dezenas de metros os separam da embaixada, a família enxerga uma manada de guerrilheiros, todos celebrando alcoolizados, exibindo metralhadoras, atirando para cima. <i>Annie </i>quase tem um princípio de pânico, e quando barulhos semelhantes a disparos rasgam a rua, ela pede para que <i>Jack </i>dê meia volta e saiam dali. O marido, contudo, compreende a importância de "<i>interpretar o papel</i>" e não levantar suspeitas. Eles percebem que os barulhos <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">vieram </span>de fogos de artifício, e não tiros. Vão passando com a moto vagarosamente entre aqueles selvagens, que não lhes dispensam muita atenção, felizmente. Um jipe dirigido por revolucionários em marcha lenta arrasta os corpos horrivelmente mutilados de cidadãos estrangeiros. Os homens parecem desfilar com um boneco enorme vermelho <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">de </span>chifres, uma representação do Diabo. Há um instante memorável, quando <i>Jack </i>e a família perdem momentaneamente o equilíbrio, e um mercenário presta socorro, para levantar a moto. Eles trocam olhares, e o rapaz nota que os tênis, a cor dos olhos e cabelos do "<i>companheiro</i>" em nada se assemelham ao biotipo <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">de um autêntico revolucionário</span>. Ainda assim, o rapaz parece guardar suas opiniões para si. Jamais sabemos se ele deixou o pressentimento por menos, ou se realmente percebeu se tratar de uma família <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">estrangeira</span>, desesperada para sobreviver e chegar à embaixada, e portanto, por mais <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">dedicado </span>que <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">fosse à causa</span>, resolveu não denunciá-los aos comparsas, poupando-os <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">da maldade coletiva</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span>.</span><br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipfrwD2rTH2eTvGCHzVEC0ciTcVHSt9WBmZNJVIPiXGCcbFroQPYpm26hRgPVbQd1HaOAy3cP_kHKgs5uzPiG7O1OeiNBFfOD6wOc7plkWB6NURmvMM5c2-uYMF2vM9DxEcvRWAPrAJJQ/s1600/noescape8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="507" data-original-width="900" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipfrwD2rTH2eTvGCHzVEC0ciTcVHSt9WBmZNJVIPiXGCcbFroQPYpm26hRgPVbQd1HaOAy3cP_kHKgs5uzPiG7O1OeiNBFfOD6wOc7plkWB6NURmvMM5c2-uYMF2vM9DxEcvRWAPrAJJQ/s320/noescape8.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">A embaixada norte-americana "<i>caiu</i>". Os soldados americanos<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> estão</span> todos mortos, e o caos reinante indica que os rebeldes conquistaram o último bastião de esperança para os <i>Dwyer</i>. Um grupo de bandidos que deixa o prédio naquele exato momento enxerga <i>Jack</i>, e o teriam matado no ato, não fosse a explosão preparada pelos próprios guerrilheiros, que os faz se distraírem<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, permitindo</span> que o americano fuja. Entre vielas de uma favela, eles chegam à porta de um idoso que aceita lhes dar guarida. Os mercenários não custam a chegar e a varrer o jardim com sinalizadores para <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">descobrirem </span>a família fugitiva. Eles dominam <i>Jack </i>& <i>Annie</i>. Para a mulher, eles têm estupro em mente. Quando estão para barbarizá-los, quem <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ressurge </span>com muita comoção é <i>Hammond</i>. Ele dá uma de assustado, pede que não atirem, se comporta meio extravagante, e quando os guerrilheiros abaixam a guarda, o britânico saca <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a </span>pistola e os acerta implacavelmente, tiros certeiros nas <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">testas</span>. Um dos "<i>mercenários</i>" que o ajudou a derrubar aqueles maníacos, que <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">apenas fingia </span>compor a horda, é seu melhor amigo <i>Kenny Rogers</i>. Ficamos felizes de ver a corja tomar aquilo que merece. <i>Kenny Rogers</i> avista de relance a um dos covardes <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">empreendendo </span>fuga<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Puxa </span>casualmente o rifle e o executa com um tiro certeiro. <i>Jack </i>e <i>Annie </i>se abraçam, emocionados, gratos pela chegada de <i>Hammond </i>& <i>Kenny Rogers</i>. Os americanos vocalizam a satisfação em vê-los, mas <i>Hammond </i>lhes lembra que não têm tempo para cenas emotivas. Eles precisam dar o fora dali! Quando <i>Lucy</i> começa a chorar, <i>Hammond </i>se agacha na frente da menina e <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">reitera </span>que não há tempo para lágrimas. Ele tira o pingente do pescoço e o coloca na criança. <i>Hammond </i>explica que fora <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a </span>filha quem lhe dera o pingente, e dissera que enquanto o usasse, nada de <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ruim </span>lhe ocorreria. Agora, <i>Hammond </i>repassa <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o </span>amuleto <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">da </span>sorte à menina e lhe garante que nenhum mal recairá sobre sua pessoa ou aos pais.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><i>Hammond </i>os leva a um lugar semelhante a um prostíbulo. Apesar da decadência do <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">local</span>, o britânico se sente entre amigos. Ali, terão como descansar em paz. Ele os guia até uma caixa d'água que oferece uma <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">vista mais ampla</span> do rio. <i>Hammond </i>senta-se com as meninas ao redor de uma fogueira, onde <i>Kenny Rogers</i> assa uma galinha. Depois de pedir que as meninas se alimentem, o britânico chama <i>Jack </i>& <i>Annie </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">em um canto reservado para</span> explicar o plano. Da caixa d'água, ele estende o braço em direção ao rio, prateado ao toque do luar. Se descerem o rio, eventualmente chegarão à fronteira com o Vietnã, onde certamente lhes darão guarida e os livrarão daquele inferno: os rebeldes não terão como lhes causar mal, não uma vez que se <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">encontrem </span>em território vietnamita. <i>Hammond </i>revela que não é apenas mais um turista afoito pela palpitante vida noturna daquele país asiático. Como <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">agente secreto<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span></span>a serviço de Sua Majestade, sua função revolve se infiltrar em locais instáveis como aquele para estudar sua gente e cultura, e preparar terreno para a "<i>invasão</i>" de multinacionais americanas & europ<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e</span>ias como a Cardiff. As construtoras chegam, constroem barragens & represas, o <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">país </span>não tem como pagar <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">pela </span>obra, e então <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o outro país invasor</span> "<i>se <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">apropria</span></i>" economicamente de interesses nacionais estratégicos. Os povos usualmente não percebem esse jogo de interesses, mas, por alguma razão, quando a Cardiff fechou o contrato com o <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Primeiro Ministro </span>para instalar uma <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">barragem</span>, os cidadãos se revoltaram a ponto de derrubar o <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Governo </span>e promover o Golpe de Estado. <i>Jack </i>não imaginava a política envolvida por trás da construção da <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">barragem</span>, e entre <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">os demais envolvidos</span>, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">parece</span> o mais inocente. <i>Hammond </i>aconselha o pai de família a dormir, pois estarão partindo dentro de 4 horas. <i>Jack </i>e <i>Annie </i>não conseguem <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">relaxar</span>, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">mas </span>têm um pouco de paz para conversarem. Ele a agradece por tê-lo apoiado ao longo de todos aqueles anos. <i>Annie </i>responde que não se arrepende da devoção à família, e que sem <i>Jack</i>, jamais <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">teria sido </span>mãe daquelas meninas a quem tanto ama.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjA9lmf8MwC8O6zC94HyBG7spPY3iFhvy_J9W8H6T9iF2EfV8TiqdxBdp7Xr-v0akMakvIyS4f3ysjguDTsiqrz0Bv8Q3lvEGy7-obKzd7LAECdpFMa3wSsTlNg4rkevKPWrTC1alE03N8/s1600/noescape2.jpe" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="478" data-original-width="680" height="224" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjA9lmf8MwC8O6zC94HyBG7spPY3iFhvy_J9W8H6T9iF2EfV8TiqdxBdp7Xr-v0akMakvIyS4f3ysjguDTsiqrz0Bv8Q3lvEGy7-obKzd7LAECdpFMa3wSsTlNg4rkevKPWrTC1alE03N8/s320/noescape2.jpe" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Quando <i>Jack </i>e <i>Annie </i>finalmente pegam no sono, o americano desperta horas <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">mais tarde </span>ao escutar <i>Hammond </i>e <i>Kenny Rogers</i> à espreita da sacada. Eles sinalizam que não faça barulho, mas então alguém começa a atirar na caixa d'água, acordando <i>Annie </i>e as crianças. <i>Hammond </i>explica que há 4 atiradores em uma torre de observação, e que precisam deixar a caixa d'água e ganhar o caminho para o rio para a arrancada final rumo à fronteira <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">com o </span>Vietnã. <i>Kenny Rogers</i> é atingido na cabeça, porém <i>Hammond </i>põe o vilão abaixo com um tiro na <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">testa</span>. Outro bandido acerta um disparo no lado do britânico, mas ele mantém a compostura, e mesmo à distância estoura seus miolos. Eles alcançam a rua, e certo de que não conseguirá escapar com os americanos, <i>Hammond </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">recusa a </span>ajuda de <i>Jack</i>. A família quer arrastá-lo dali com vida, porém <i>Hammond </i>prefere que escapem sozinhos. Quando um caminhão aponta no começo da rua e sinaliza que investirá à toda velocidade contra os sobreviventes, <i>Hammond </i>tem uma atitude de impressionante valentia e nobreza ao se colocar bem no meio da <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">via</span>, ficar na <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">trajetória</span>, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">apontar </span>a pistola e <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">fuzilar o</span> motorista. O disparo vara a testa do bandido, e o caminhão <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">capota e explode</span>. Com o seu sacrifício, <i>Hammond </i>livrou o caminho dos <i>Dwyer</i> até o rio. Tragicamente, conforme explicara p<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ara <i>Lucy</i></span>, quando a filha lhe dera o pingente, lhe garantira que nada lhe aconteceria, e ao entregá-lo à <i>Lucy</i>, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">prometera </span>que <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">seria </span>a criança <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">quem </span>agora <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">estaria </span>protegida por um escudo invisível. E ele estava certo. <i>Hammond </i>jamais voltará para casa, mas os <i>Dwyer</i> ainda têm uma chance.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8xIL0uKTk82vkQHoWLEkI6rgk_Fhczrgj85tvtNeQA1UcZB3kmTeegy9E-aX7mQnNxU_prI5KL2h3CqsL9j4EyLHWLqsh0dw3NHYn92d8pUgmBodsaTwRQTuKoG_rGl5zg4kb5H92MNA/s1600/noescape11.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1068" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8xIL0uKTk82vkQHoWLEkI6rgk_Fhczrgj85tvtNeQA1UcZB3kmTeegy9E-aX7mQnNxU_prI5KL2h3CqsL9j4EyLHWLqsh0dw3NHYn92d8pUgmBodsaTwRQTuKoG_rGl5zg4kb5H92MNA/s320/noescape11.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;">Ao atingirem as margens do rio, <i>Jack </i>tem um momento de fraqueza. Ele pensa em desistir da jornada, as chances batem na casa do <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">zero</span>. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A </span>esposa consegue trazê-lo de volta ao equilíbrio, e o rapaz recupera a firmeza para concluir a aventura. Em vias de conseguir um barquinho para descer o rio, 4 bandidos fazendo a varredura na favela ribeirinha o flagram escondido debaixo de uma canoa. <i>Jack </i>luta com os homens, mas eventualmente acaba rendido. <i>Lucy</i> se desespera e sai do esconderijo. O líder do grupo se diverte, colocando uma arma na mão da criança para ver se <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a garota </span>tem coragem de fazer mal ao pai. Não há limites para a selvageria dos revolucionários. Depois de alguns minutos de puro sadismo, pai e filha indefesos nas mãos dos guerrilheiros, Annie chega por trás, e derruba o líder com um golpe de remo na cabeça. <i>Jack </i>toma um revólver e abre fogo à queima roupa contra os demais. Furiosa, com todo o ódio acumulado por aquela gente, <i>Annie </i>segue golpeando o líder, já desfalecido no chão, pancadas fortíssimas na cabeça<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> em um<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> interminável sobe<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>e<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>desce, </span></span>até esfacelar o crânio do mercenário.</span></span><br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6fhF0IPPrgkhP4OsqmzKs5ocPA0zj1kAgNjC_-5INF8kkbk9X3FYMqKLzBJikCrfl5oB_43C8eKAeAJc31F1sB-95J4O1CY4EnuF2wX6iXnL0mvePCvylziB4TYtbiKxriUdfCIfvofk/s1600/noescape12.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="721" data-original-width="1280" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6fhF0IPPrgkhP4OsqmzKs5ocPA0zj1kAgNjC_-5INF8kkbk9X3FYMqKLzBJikCrfl5oB_43C8eKAeAJc31F1sB-95J4O1CY4EnuF2wX6iXnL0mvePCvylziB4TYtbiKxriUdfCIfvofk/s320/noescape12.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;">A família <i>Dwyer</i> <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">embarca <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">na canoa </span></span>e desce o rio. A fronteira com o Vietnã já pode ser vista a olhos nus. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">C</span>anhões de <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">luz</span> são subitamente acesos, e <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">soldados</span> vietnamitas ordenam que parem <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">de remar</span>. <i>Jack </i>exclama que buscam asilo, são uma família de norte-americanos cujas vidas correm graves riscos do outro lado da fronteira. Nisso, os guerrilheiros aparecem às margens e apontam os rifles ao <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">barquinho</span>. Os <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">soldados </span>vietnamitas determinam que os americanos agora se encontram no lado do Vietnã, e que se os rebeldes <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ousarem disparar</span>, executarão uma manobra equivalente a um ato de declaração de guerra. Os revolucionários sabem que agora não estão apenas atormentando uma família indefesa. Eles se meteram com as Forças Armadas de um outro país. Os "<i>valentões</i>" guerrilheiros, assim como qualquer covarde, "<i>colocam o rabo entre as pernas</i>", abaixam as armas e saem. Acolhidos por barcos da Guarda Costeira, a família se abraça, finalmente absolvida daquele pesadelo. Um tempo depois, os reencontramos em uma gloriosa manhã recuperando-se em paz em um arejado quarto de hospital, todos reunidos na mesma cama. <i>Jack </i>conta uma linda história sobre <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> nascimento de <i>Lucy</i></span></span>. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ele e <i>Annie</i> </span>estavam tão felizes que não notaram que a bebezinha não respirava. <i>Jack </i>filmava o parto, pensava que seria o <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">mais importante momento </span>d<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a </span>vida, porém <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">de um minuto para outro </span>o médico o aconselhou a parar, pois parecia haver algo de errado com a filha, e <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o engenheiro </span>foi tomado por muita angústia e expectativa. Logo, outros médicos apareceram na sala de <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">cirurgia </span>para reanimar <i>Lucy</i>, mas então <i>Jack </i>simplesmente lhe sussurrou, "<i>Respire, Lucy, respire</i>", e como mágica, o bebê voltou a respirar e tudo <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">terminou </span>bem. <i>Jack </i>jurou naquele momento que protegeria as mulheres de sua vida e sempre as manteria fora de perigo... e ele honrou a promessa.</span></span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9FnAkb1otrA3STsqhz_mPBquCUdlHeU_tJW40JnciJe4tvA-h6E2ssBIkwIG4Qh0VWOsO2mkE00dCBLA8BSgR5dh_nehUACBmxxN3Z9bhYD3ifnCLLYrtGLWwFxEx5A0Sa6gupGC2mkc/s1600/noescape.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="366" data-original-width="548" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9FnAkb1otrA3STsqhz_mPBquCUdlHeU_tJW40JnciJe4tvA-h6E2ssBIkwIG4Qh0VWOsO2mkE00dCBLA8BSgR5dh_nehUACBmxxN3Z9bhYD3ifnCLLYrtGLWwFxEx5A0Sa6gupGC2mkc/s320/noescape.jpg" width="320" /></a></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><i>John
Erick Dowdle</i>, um dos mais excitantes diretores do horror, retorna às telas de
cinema com esse empolgante suspense que parte de uma consagrada fórmula e a
expande a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">novos, interessantes horizonte</span>s. O talentoso cineasta, que já no filme de
estreia "<i>Poughkeepsie Tapes</i>" sinalizava coisas grandiosas por vir, sustenta o
excelente momento na carreira, seguindo o sucesso de <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">público </span>& crítica
de "<i>As Above so Below</i>" com uma nova aventura em um país estrangeiro. Se antes
seus heróis viveram uma fuga aterrorizante através das catacumbas <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">sob </span>Paris, <i>Dowdle
</i>agora aterrissa em um país inominado <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">do Sudeste da Ásia</span> para mais um espetáculo d<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e puro terror</span>.
"<i>Horas de Desespero</i>" não somente representa um momento feliz na <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">filmografia </span>do cineasta,
como também permite a seus atores, todos artistas consagrados <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">vindos de </span>gêneros tão
distintos, reinventarem-se neste implacável, claustrofóbico conto<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>que os lançará a uma terra longínqua e estranha onde a Lei como a conhecemos
não se aplica. Curiosamente, a minha observação <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">revisita a novidade</span> iniciada com
o último filme analisado no blog, o extraordinário "<i>O Presente</i>", dirigido/estrelado
por <i>Joel Edgerton</i>: se em "<i>O Presente</i>" tivemos o prazer de assistir a<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>Jason Bateman, tão familiarizado a comédias inteligentes, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">entregar</span>
uma performance perfeita em um thriller de mistério, desta vez é <i>Owen Wilson</i>,
um ator muito querido que conquistou fãs em filmes dramáticos/românticos
como "<i>Marley & Eu</i>", quem passa pelo teste do fogo em uma obra de absoluta
desesperança & horror, e sai vitorioso ao final. Coadjuvado pelo astro<i>
Pierce Brosnan</i>, que há muito tempo não se divertia tanto, <i>Wilson </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">prova a vers<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">atilidade</span></span>, silenciando os críticos que o associam
primordialmente a comédias românticas, comandando agora a atenção no papel de um
pai de família hesitante, mas heroico, por quem torcemos do começo ao explosivo
fim. Ele interpreta o tipo de papel que tornou <i>Harrison Ford</i> <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">famoso</span>: o herói relutante cuja empatia com o público se dá pelo viés da identificação. Conhecido pelo jeitão bem-humorado & simpático com que conduz suas performances, <i>Owen Wilson</i> traz à vida um bom pai & marido que mesmo vacilante descobre dentro de si o heroísmo para ir superando os obstáculos que aparecem no caminho até a fronteira com o Vietnã. Apesar das proezas impressionantes que consegue realizar no caminho, <i>Wilson </i>jamais nos é apresentado como um super herói imbatível. Seu charme reside nos instantes de vulnerabilidade que emulam<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> o tão importante realismo</span>, como na cena quando se encontram a apenas algumas dezenas de metros do rio, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e ele</span> tem um momento altamente emocional e chora. Sua performance funciona como uma espécie de releitura do que o astro <i>Jon Voight</i> fez tão maravilhosamente em "<i>Deliverance</i>", de 1972, do diretor <i>John Boorman</i>. <i>Brosnan</i>, por sua vez, se diverte como nunca. Eu imagino que ele deva ter encarado a oportunidade de interpretar <i>Hammond </i>como uma revisita ao seu papel mais famoso: <i>Hammond </i>é um ex-agente secreto britânico<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, e a</span>o vê-lo em cena com camisa havaiana, barba por fazer, meio alcoolizado e com uma protuberante barriga, eu não tive como deixar de imaginá-lo como uma versão alternativa de 007, ou melhor, James Bond após a aposentadoria! Eu imagino o 007 meio barrigudo e de barba rala namorando as garotas locais em nightclubs de algum país asiático, ou mesmo da América do Sul, quem sabe o Brasil, e se divertindo entre rodadas de drinques e partidas <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">de </span>karaokê<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">.</span> No instante da grande virada, quando <i>Annie </i>está em vias de ser estuprada por bandidos malévolos e cruéis, e<i> Pierce Brosnan</i> subitamente saca a arma e <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">elimina o</span>s <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">vilões </span>e<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">m um piscar de olho<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">s</span></span>, não temos como deixar de torcer e aplaudir, pois associamos imediatamente o personagem ao papel heroico que o tornou um astro muito querido. Assim como ocorre a Rocky, Rambo<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, Superman & Os Vingadores, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">James Bond <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">compõe o imaginário de heróis queridos por quem amamos torcer. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Sempre é <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">fantástico assistir a vilões <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">levando o castigo que merecem, mas vê-los encontrando um fim pelas mãos de um ícone é ainda melhor!</span></span></span></span></span></span></span><br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7vdWM1oY_LXSodAo9X3-Z5Cow1zfl3FBk6Dc5hYKmkhY3AQt8DJoGK6755_w1jkDjBcGzkNkLreYAbw8RGrKHmGVrvm04x3KqOV-khcUPhy5S_cQAIdH-RRQbSAlFCsBuH-7pGHTfch8/s1600/0002802d_medium.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="426" data-original-width="639" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7vdWM1oY_LXSodAo9X3-Z5Cow1zfl3FBk6Dc5hYKmkhY3AQt8DJoGK6755_w1jkDjBcGzkNkLreYAbw8RGrKHmGVrvm04x3KqOV-khcUPhy5S_cQAIdH-RRQbSAlFCsBuH-7pGHTfch8/s320/0002802d_medium.jpeg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;">Com "<i>Horas de Desespero</i>", o diretor <i>John Erick Dowdle</i> reciclou a saudosa fórmula dos filmes de <i>George Romero</i> ("<i>A Noite dos Mortos-Vivo</i>s" & "<i>Dia dos Mortos</i>"), e a partir da vencedora premissa - a luta pela sobrevivência contra uma horda incontrolável e maciça de zumbis - derivou a trama com sensacionais sacadas que imbuíram o trabalho de um ar de sofisticação e novidade. Enquanto nos filmes de <i>George Romero</i> os protagonistas se viam cercados por mortos-vivos movidos unicamente pelo apetite, o diretor <i>Dowdle </i>substituiu a massa de zumbis por uma outra composta por monstros com faces humanas, dotados de inteligência. Nesse sentido, ao passo em que nos clássicos a questão resumia-se à sobrevivência de pessoas comuns em situações extraordinárias envolvendo mortos-vivos imparciais e selvagens, os monstros do filme de <i>Dowdle </i>são "<i>politizados</i>", dotados da inteligência que lhes permite fazer algo mais do que simplesmente avançar em direção às vítimas ou mesmo demonstrar incongruente compaixão (quando apesar de identificá-los como estrangeiros, um revolucionário omite a descoberta movido por uma consciência). Os protagonistas de "<i>Horas de Desespero</i>" não apenas precisam sobreviver a uma multidão de pessoas furiosas, também devem contar com a inteligência para se evadir de todos os becos sem saída a que os guerrilheiros tentam empurrá-los ao longo da jornada. Quando assistimos a algo como o excitante "<i>Madrugada dos Mortos</i>", de 2004 (por sua vez um remake do original de <i>Romero</i>, "<i>Dawn of the Dead</i>", de 1978), os sobreviventes enclausurados dentro de um shopping center deserto enquanto do lado de fora milhares de zumbis se agregam para invadir, podemos assumir que por mais absurda que pareça a diferença numérica entre os monstros e os poucos sobreviventes, os heróis podem confiar no próprio raciocínio lógico para armar uma estratégia apta a compensar a brutal desigualdade. A regra não se aplica a "<i>Horas de Desespero</i>", pois os inimigos não apenas estão em pé de igualdade com a presa, no que se refere à capacidade de raciocinar, eles são cidadãos locais, conhecedores das rotas de escoamento da região. O filme tem recebido críticas de "<i>unidimensional</i>". Para os detratores, os asiáticos ou são exibidos como selvagens sanguinolentos ou bucha de canhão. Eu gostaria de defender o diretor e mencionar que em aproximadamente 100 minutos ele precisa eleger as prioridades. Imagino que <i>Dowdle </i>teria apreciado mais tempo para destrinchar os guerrilheiros, ou parte deles, todavia sabe que precisa olhar para seus protagonistas, a família norte-americana, com mais cuidado. A extensão da caracterização dos revolucionários deixa a desejar. De fato, devem ser vistos como um todo só, uma grande massa destruidora, talvez nos mesmos moldes do que <i>Clive Barker</i> escreveu em "<i>In the Hills, the Cities</i>". Não exclusivamente as obras de <i>George Romero</i> parecem ter influenciado o diretor <i>Dowdle</i>. Ao examinarmos o plano de fundo da trama - o fim de qualquer resquício de ordem social, uma sociedade mergulhada no caos, a inutilidade de normas e regras - "<i>Horas de Desespero</i>" nos devolve ao mesmo cenário da eletrizante franquia "<i>Uma Noite de Crime</i>", sobre a qual discorri extensivamente neste blog. Mais especificamente, o formato da aventura de <i>John Erick Dowdle</i> pega emprestado muitos elementos de "<i>Uma Noite de Crime 2</i>", que também lança os personagens em uma selvagem batalha pela sobrevivência tendo downtown Los Angeles como palco. Ironicamente, somos levados a crer que ao menos em downtown Los Angeles aquela gente se sentiria ao menos familiarizada com o bairro, certo? Pois saibam que não. Levantado o peso das regras inibitórias do Estado, as normas atiradas ao cesto de lixo, downtown Los Angeles parece um coliseu de batalha alienígena e misterioso, tão indecifrável e imprevisível quanto um país qualquer do Sudeste da Ásia. A visão apocalíptica de uma cidade em caos, a seu turno, presta homenagem a "<i>Extermínio 2</i>", de <i>Juan Carlos</i> <i>Fresnadillo</i>, estrelando <i>Rose Byrne</i>, sobre uma Londres em quarentena em razão de um vírus potencializado da Raiva, e os soldados (<i>Rose Byrne</i> & <i>Jeremy Renner</i>) que lutam para tirar duas crianças sãs & salvas daquele inferno de infectados. Diferente de "<i>Extermínio 2</i>", onde infelizmente o diretor <i>Fresnadillo </i>não consegue tornar envolvente a relação entre os personagens, dos protagonistas de "<i>Horas de Desespero</i>" emana um senso de família unida, da primeira à última cena, e os laços de amizade que fazem com <i>Kenny Rogers</i> & <i>Hammond </i>parecem críveis e sinceros, cheios de passagens contundentes, como quando o personagem de <i>Pierce Brosnan</i> passa à <i>Lucy</i> sua mais valiosa posse, o pingente. Sob um ponto de vista mais realista, o plano de fundo para a trama não se deve exclusivamente à fantasia. Algo no tom da produção de <i>John Erick Dowdle</i> me fez pensar no assombroso "<i>The Killing Fields</i>", a produção de 1984 vencedora de diversos Oscar que reconta um determinado período de horror da História Cambojana, cidadãos aprisionados a um pesadelo, de 1975 a 1979, anos que envolveram a escalada ao poder e posterior queda do Regime do Khmer Rouge. Em muitos documentários sobre o holocausto cambojano, podemos assistir a imagens reais daquela manhã de 17 de abril de 1975 quando o Khmer Rouge marchou vitorioso para dentro de Phnom Penh. Inicialmente, as pessoas os receberam com aplausos e manifestações de carinho, todavia em questão de horas os revolucionários mostraram suas verdadeiras intenções, ao tanger aquela gente inocente como gado, agrupando-a para a marcha, através da qual esvaziariam a capital e as levariam a viver em fazendas coletivas onde seriam submetidas a toda sorte de lavagem cerebral, tortura e sofrimento psicológico. O filme "<i>The Killing Fields</i>" reconta essa macabra história com riqueza de detalhes, vista através dos olhos de <i>Dith Pran</i>, jornalista & intérprete cambojano a serviço do The New York Post que se vê arrastado de uma hora à outra a aquele turbilhão quando o Khmer Rouge sobe ao poder. O papel valeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante ao Dr. <i>Haing S. Ngor</i> (um médico na vida real, que sentiu na pele os horrores do Regime). Na ocasião do recebimento da estatueta disse que seu coração finalmente se sentia em paz, pois acreditava que realizara algo perfeito ao denunciar, com seu filme, os horrores perpetrados por aqueles monstros. Talvez, a força da obra se deva à exposição à esmagadora indiferença fatalista do destino: imagine encontrar-se em Phnom Penh bem na manhã daquele golpe. O que você faria para se evadir da manada? "<i>Horas de Desespero</i>" provoca a desafiadora questão, com um adendo: é claro que ninguém gostaria de dar um passo em direção ao mais absoluto totalitarismo, no entanto considerem ver-se encurralado em tamanha cilada ao lado de pessoas que você ama, esposa e filhos por exemplo. Só a premissa soa suficientemente angustiante. Não se trata apenas de seu bem-estar, a equação envolve as pessoas que você mais ama. </span>Curiosamente, ainda no que importa à inspiração em fatos verídicos, <i>John Erick Dowdle</i> usou como massa de modelar um evento do passado, quando criança: seu pai o havia levado à Tailândia com o irmão Drew, quando sem sobreaviso um <i>coup d'État</i> derrubou o Primeiro Ministro. Claro, os eventos não se desdobraram da maneira tenebrosa que assistimos no filme, porém <i>Dowdle </i>menciona que se recorda da atmosfera de inquietação e incerteza nas ruas, um sentimento geral de impotência diante de circunstâncias políticas imprevisíveis. Ao longo de todos aqueles anos, ele se perguntou o que teria acontecido se as coisas tivessem de fato saído dos trilhos, e o resultado foi o roteiro e mais tarde o filme, ambos fundamentados em um episódio marcante da infância, o período de nossas vidas em que nossos maiores horrores são formados.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 17.12px;">Tecnicamente, "<i>Horas de Desespero</i>" não deve ter sido um filme fácil de rodar. Ao assistir a produções recheadas de cenas de batalha, seja guerrilha urbana, sejam embates à espada estilo "<i>Excalibur</i>", sequências de grandes conflitos sempre me deixaram intrigado, pois não consigo sequer imaginar a dificuldade para conceber coreografias tão complicadas, a envolver o trabalho coordenado de uma infinidade de pessoas. Se dirigir uma cena de ação típica demanda de um cineasta e equipe dias até parecer esteticamente bela para as câmeras, imaginem a mesma coisa, rodada sob uma escala infinitamente maior, e ao invés de dois atores no "<i>mano a mano</i>", multidões se digladiando impiedosamente, estilo "<i>Coração Valente</i>"</span><span style="line-height: 17.12px;">?</span><span style="line-height: 17.12px;"> A guerrilha em "<i>Horas de Desespero</i>" segue o estilo e a dinâmica do recente "<i>5 Dias de Guerra</i>", do diretor <i>Renny Harlin</i>, uma aventura sobre o recente conflito Rússia/Geórgia em 2008 estrelado por <i>Rupert Friend</i> e grande elenco. Assim como ocorre na produção de <i>Harlin</i>, no filme de <i>John Erick Dowdle</i>, enxergamos tanques marchando pelas ruas, caminhões de milícia, prédios decadentes carcomidos pelo conflito bélico a se dar em plenas vias públicas e, de maneira geral, a atmosfera de completo desespero, apropriada a circunstâncias tão dramáticas que mesmo hoje ainda compõem parte da História Moderna. A realização de cenas semelhantes deve demandar uma sincronia invejável de diversos profissionais, e em "<i>Horas de Desespero</i>" as situações de conflito urbano gozam do realismo que não abre espaço a dúvidas quanto a gravidade do prognóstico político e instabilidade nas ruas. Em cenas do tipo, eu costumo não prestar muita atenção ao foco, ou melhor, aos protagonistas, e sim ao plano de fundo, para verificar se o caos parece real, e enquanto <i>Owen Wilson</i> ocupa o primeiro plano, atrás do herói e por todos os lados a revolução parece muito autêntica. "<i>Horas de Desespero</i>" te arrastará a uma zona de guerra como poucos filmes fizeram antes.</span></span><br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgf60nJkY6zIjAkymWpwYbqd_Kk_SZBs2Selpiga95R9SEEd7ajp45CF9SCl4-8Kb3f4xxmEejGszanHVKq9AbJ6vUVupb-flfoPZLXi7YNFp47d51qekS6fqgQOAay64soX2-YJONWsVU/s1600/No-Escape-Movie-2015-Owen-Wilson.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="422" data-original-width="600" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgf60nJkY6zIjAkymWpwYbqd_Kk_SZBs2Selpiga95R9SEEd7ajp45CF9SCl4-8Kb3f4xxmEejGszanHVKq9AbJ6vUVupb-flfoPZLXi7YNFp47d51qekS6fqgQOAay64soX2-YJONWsVU/s320/No-Escape-Movie-2015-Owen-Wilson.jpg" width="320" /></a><span style="line-height: 17.12px;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Incrivelmente eletrizante, "<i>Horas de Desespero</i>" é um dos filmes mais completos de 2015, pois cobre um amplo espectro, oferecendo a todos um pouco do que gostariam de ver no cinema: quem sente falta da tensão incessante de "<i>Extermínio</i>", "<i>Madrugada dos Mortos</i>" e os clássicos de George Romero encontrará uma intrigante variação da consagrada fórmula "<i>sobreviventes vs. mortos-vi</i><i>vos</i>"; quem há muito deseja ver um thriller como os de antigamente, sobre protagonistas hostilizados em um meio que ignoram, estilo "<i>Deliverance</i>" & "<i>Sob o Domínio do Medo</i>", admirará a habilidade com que <i>Dowdle </i>acessa a paranoia de se encontrar em uma terra misteriosa e ameaçadora; aqueles que preferem não pensar bastante, apenas se desligarem por 100 minutos com um filme de ação revestido dos melhores valores dos sucessos do passado também apreciarão "<i>Horas de Desespero</i>". De toda sorte, considerando o termômetro mundial e o conturbado período da geopolítica que o planeta atravessa, tramas como a do filme de <i>John Erick Dowdle</i> jamais pareceram tão sinistramente possíveis & próximas.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 17.12px;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span> <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/m5Wvi0LsukI/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/m5Wvi0LsukI?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 17.12px;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><i style="background-color: #eeeeee;">Todos os direitos autorais reservados a Weinstein Company. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-53515937311470308602015-09-30T19:58:00.000-07:002019-03-19T08:07:52.208-07:00"Big Game" (Alemanha, 2014) – Samuel L. Jackson, um dos melhores e mais queridos astros de ação, é o Presidente dos Estados Unidos, e ele nunca se divertiu tanto quanto neste passeio cheio de bom humor, emoção & aventura através do túnel do tempo! Desta vez, a melhor chance do Presidente reside nas mãos de um garotinho de 13 anos armado com arco-e-flecha & atitude!<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUGgt_rqaRJPAbfOPs-srSsK-uNVrSMIV66MiLF7rITyZ7z9BvJqDt70axbwv11KyRKYi3kMgnBeCSY_AVMeAncuO9fNC_fd4RvtSa3JkFewj9QohL3vpmzM3ld-kNSCNn3-S-3zu0R0Q/s1600/biggametrailer2-novoposter01.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="609" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUGgt_rqaRJPAbfOPs-srSsK-uNVrSMIV66MiLF7rITyZ7z9BvJqDt70axbwv11KyRKYi3kMgnBeCSY_AVMeAncuO9fNC_fd4RvtSa3JkFewj9QohL3vpmzM3ld-kNSCNn3-S-3zu0R0Q/s320/biggametrailer2-novoposter01.jpg" width="216" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Vocês se lembram de quando os filmes de ação realmente nos cativavam, a
ponto de torcermos e reagirmos conforme o rumo que a
aventura nos levava? Vocês se recordam de um modo de se fazer cinema que hoje
parece extinto, e apenas ocasionalmente você reencontra em joias lançadas no
mercado direto-para-DVD estilo "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Skin
Trade</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" e "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Outlander Guerreiro vs. Predador</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"? Fiquem
de olhos abertos para não perderem um dos melhores filmes de ação de 2015. Se
você foi uma criança nos anos 80 ou veio depois, mas aprendeu a cultivar
amor pelos filmes daquela Era, fique certo de que em 2015 não encontrará
melhor oportunidade para dar uma deliciosa volta através do túnel do tempo.
Senhoras e senhores, conheçam "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Big
Game</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"!</span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
<i>Oskari</i> (<i>Onni Tommila</i>) acaba de completar 13 anos de idade, e
conforme a tradição de uma vila de caçadores na inóspita imensidão das
montanhas na Finlândia, terá de mostrar o valor em uma espécie de rito de
passagem a que os homens devem se submeter. Os adultos o deixarão a sós na
natureza selvagem, para que dentro de um dia regresse à vila com uma grande
caça, de modo a provar que de fato cumpriu a transição da infância para a maturidade. <i>Oskari</i> e seu pai, o respeitado caçador <i>Tapio</i>, visitam a cabana reservada a passar adiante a memória daqueles que já se submeteram
à prova de fogo. As fotos mostram os cidadãos da vila, ainda jovens, orgulhosos
ao exibirem seus troféus, sejam cabeças de ursos ou chifres de veados. <i>Oskari</i>
apanha a foto do pai, batida quando <i>Tapio</i>
tinha a mesma idade do garoto, em 1968, e a guarda dentro do bolso, certo de
que a inspirará a dar seu melhor. No caminho para a entrada da cordilheira, <i>Tapio</i> entrega um mapa ao filho e chama a
atenção para um círculo feito com caneta porosa vermelha. Ele explica ao menino
que faria melhor procurando os cervos naquela porção da cordilheira. <i>Tapio</i> o orienta a se pôr de pé antes mesmo
do amanhecer e sempre se guiar pela direção do vento.</span><br />
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghQN9HKP1hjK9QI_9d8nRw2L-FoMZ6LhobQF51blxooSp3Gp4fsUEXOqysFujnzHwTdd-hrAo_z_DwNYBCZkHz3VlfpsO8cKSTW6WiGLXy2x-l4qtlvKfZkuu_ET4Md6sjbVpoGjyJ4tI/s1600/big-game2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghQN9HKP1hjK9QI_9d8nRw2L-FoMZ6LhobQF51blxooSp3Gp4fsUEXOqysFujnzHwTdd-hrAo_z_DwNYBCZkHz3VlfpsO8cKSTW6WiGLXy2x-l4qtlvKfZkuu_ET4Md6sjbVpoGjyJ4tI/s320/big-game2.jpg" width="320" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJjOBHhPXNNHAl6pnmAlvjRozAYZC0UQTUPnbka61LMvG1S8HZX1dYF5SricUhZf-EhKiSQGQJxirVOpoBeIiwZsRyUF8rjjEGHbcPp129a97M4nKO6VOOpU76cBMgUcMnu9a2Gss4_9E/s1600/big-game1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJjOBHhPXNNHAl6pnmAlvjRozAYZC0UQTUPnbka61LMvG1S8HZX1dYF5SricUhZf-EhKiSQGQJxirVOpoBeIiwZsRyUF8rjjEGHbcPp129a97M4nKO6VOOpU76cBMgUcMnu9a2Gss4_9E/s320/big-game1.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Durante a abertura da cerimônia presidida por <i>Hamara</i>, o mais velho dos caçadores, <i>Oskari</i> é convidado a manusear
o arco para exibir a força, uma forma de atestar que se encontra preparado para
os desafios que as montanhas imporão. Quando para a vergonha de <i>Tapio</i> e principalmente do menino ele não
consegue reunir forças para puxar totalmente a corda para trás, o veterano
orienta o pai a desistir da
empreitada: o menino não parece pronto. <i>Tapio</i>
insiste que o filho os surpreenderá positivamente. Os demais caçadores se
agregam na clareira para acampar e esperar pelo retorno do menino no dia
seguinte, preferencialmente com uma impressionante caça. <i>Tapio</i> mostra ao filho como guiar a motocicleta e a carroceria acoplada. Em
um discurso diante de seus homens, <i>Hamara</i>
lembra, enquanto o menino parte para a missão: "<i>A floresta é uma
rigorosa juíza de valores. Ela dá conforme o mérito. Nada é dado gratuitamente,
na verdade exige força e luta. Um garoto acaba de rumar para a natureza
selvagem, mas voltará um homem!</i>".</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhyi3bARapimmLF6Pte_RwwzflYL0sBLJbax-_7gdYsVYaW-wmm4g3XrsmUF9xH0YIWj1ANg1x3uAEaTbp3JcHpaSGPuCgN1po5izd80j0LLgUTcu7d1HkoJDj-fjxyPffhwKD-5MORgc/s1600/big-game3.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhyi3bARapimmLF6Pte_RwwzflYL0sBLJbax-_7gdYsVYaW-wmm4g3XrsmUF9xH0YIWj1ANg1x3uAEaTbp3JcHpaSGPuCgN1po5izd80j0LLgUTcu7d1HkoJDj-fjxyPffhwKD-5MORgc/s320/big-game3.jpg" width="320" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQzKg9ogfLijYbNv7MbfQeWk6acqRTdV3GQE48iYXEr2LEJuZy_qbSgrqCgsDiHayAWCOpm46JehHCwFtj5viZsauli7Dkelge8FLTHKHpwax3-CB2PF5wbnjyM2GJ10vTXgkAl7bNG7A/s1600/big-game4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQzKg9ogfLijYbNv7MbfQeWk6acqRTdV3GQE48iYXEr2LEJuZy_qbSgrqCgsDiHayAWCOpm46JehHCwFtj5viZsauli7Dkelge8FLTHKHpwax3-CB2PF5wbnjyM2GJ10vTXgkAl7bNG7A/s320/big-game4.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A muitas milhas dali, um cavalheiro faz a barba diante do espelho. Ele passa os
dedos sobre uma cicatriz no peito, típica de quem passou por uma cirurgia
cardíaca de gravidade. O grandalhão se chama Agente <i>Morris</i> (<i>Ray
Stevenson</i>) e ele é o guarda-costas mais próximo do Presidente dos Estados
Unidos. Uma tomada externa nos mostra o enorme avião Força Aérea Um ladeado por
caças de guerra. <i>Morris</i> veste o colete com certa dor e mastiga
analgésicos. Ao passear pelos corredores do Força Aérea Um, ele avisa ao staff do
Presidente que deverão pousar em Helsinque dentro da próxima hora. <i>Morris</i>
se reúne ao Presidente <i>William Alan Moore</i> (<i>Samuel L. Jackson</i>) na cabine. Os
dois têm uma longa história juntos: no passado, <i>Morris</i> se meteu na
frente do Presidente para tomar uma bala e salvar a vida do chefe (daí a marca no
peito). A heroica ação lamentavelmente deixou sequelas, pois por uma questão de
precaução os cirurgiões jamais retiraram os fragmentos do projétil. Sabe-se que
um dia os fragmentos se aproximarão do coração a ponto de provocar um infarto
fulminante. Em razão de sua condição inconstante, apesar da estima que
tem pelo guarda-costas, o Presidente <i>Moore </i>não tem outra alternativa, que não o
aposentar, o que deverá acontecer ao regressarem da viagem para Helsinque. <i>Moore</i>
folheia um jornal, desanimado. Sua presidência vive o pior momento político, e
a última coisa que deseja é aturar a chatice de uma conferência em Helsinque. <i>Morris</i>
vê que o Presidente escondeu os biscoitos de chocolate que a Primeira Dama o
proibiu de beliscar. Brincalhão, o guarda-costas recomenda que seu patrão não
se negue o prazer & coma enquanto há tempo. Eles interagem como amigos, porém algo no olhar
de <i>Morris</i> indica que um plano traiçoeiro foi urdido. O guarda-costas
avisa que se encontrarão de meia hora, e se despede.</span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJR_4O4lbnzYjh5_GdC13qkSp4rjPZHCaYrQ1xs8LA3YDhJemeJhb0K6sucttFnseC_-toAizmxAeWygB_KTN9V59nJUq5_MKyd6o1FEjkTf08j4fulLf4za03j0lvKzCimwa0OgyXDJk/s1600/big-game5.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJR_4O4lbnzYjh5_GdC13qkSp4rjPZHCaYrQ1xs8LA3YDhJemeJhb0K6sucttFnseC_-toAizmxAeWygB_KTN9V59nJUq5_MKyd6o1FEjkTf08j4fulLf4za03j0lvKzCimwa0OgyXDJk/s320/big-game5.jpg" width="320" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiU_6cqEzJ4qqA6IA9mVyEpI6Zt9pGkBX0KqVpjmif_isGfSqaP4ol7xMpV7Y1faEPz1kHDEJmlxGzu4B2XJUL3cC-DA3P3YzsyxiOtFjSBrEa-XEiFUfBf1l6_tPPyZnk_NHMKuDBAv1A/s1600/big-game6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiU_6cqEzJ4qqA6IA9mVyEpI6Zt9pGkBX0KqVpjmif_isGfSqaP4ol7xMpV7Y1faEPz1kHDEJmlxGzu4B2XJUL3cC-DA3P3YzsyxiOtFjSBrEa-XEiFUfBf1l6_tPPyZnk_NHMKuDBAv1A/s320/big-game6.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Oskari</i> monta acampamento às margens de um córrego, e sobe e desce o curso do mesmo na
esperança de topar com um grande cervo. Treinando o arco e flecha, ele se sente
frustrado por não conseguir puxar a corda ainda, e mesmo quando esboça um disparo, a
flechada não parece contundente o suficiente para penetrar o tronco. <i>Oskari</i>
fantasia derrubar um cervo, cortá-lo com uma faca de caçador e, como os homens
da vila, comer o coração da presa para marcar a transição para a fase
adulta. Para seu azar, a caça ainda não deixou o fértil terreno da fantasia infantil. Naquelas
redondezas, um helicóptero de safari transporta um cavalheiro e 3 secretários, rente às copas das árvores. O guia os levará a uma área onde o cliente terá a
oportunidade de encontrar as melhores caças. Ao chegarem, o cavalheiro, chamado
<i>Hazam </i>(<i>Mehmet Kurtulus</i>), escolhe um platô mais elevado que abre para um vale
ladeado por pinheiros e, ao longe, oferece uma espetacular vista da abertura
entre as cordilheiras. Os "<i>secretários</i>" descarregam os "<i>equipamentos</i>",
na verdade lança-mísseis chineses capazes de derrubar aviões comerciais. O guia
se assusta com a cena e pergunta se são terroristas. <i>Hazam </i>sugere que o homem
trate de correr, e, apavorado, o guia empreende fuga bem à vista dos
terroristas. <i>Hazam </i>deseja testar seu lança-mísseis. Depois que a vítima se
afasta o suficiente, <i>Hazam </i>efetua um disparo certeiro. A arma está pronta para
fazer estrago.</span><br />
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbA5gZGZTawbaUX6eUlaL4Y7UiLXNs8T3np9I_HJ7Dq5GwuYoNgt_MjCyW_MgxVcqqUtlp28GBhlLKlS4rKjJrTlCWYifRSGHHVCV1rjq5KA21S7qr2tkoUwDW7xDfsKD9xDQ2JjOYa5Q/s1600/biggame19.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbA5gZGZTawbaUX6eUlaL4Y7UiLXNs8T3np9I_HJ7Dq5GwuYoNgt_MjCyW_MgxVcqqUtlp28GBhlLKlS4rKjJrTlCWYifRSGHHVCV1rjq5KA21S7qr2tkoUwDW7xDfsKD9xDQ2JjOYa5Q/s320/biggame19.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPB_XRkmpoKphdtqFbWRH2Iclqc7z08IKRyj9er2ppd4r0o3HnSTcWvIAx9A_jJ_44mtgIoGLYRzLvD5UL0D7li1ydItT2jVE-iHt-5I2wORQzZBjf7sRCjm3UXVPsae3hfa7ymk44DpM/s1600/biggame4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPB_XRkmpoKphdtqFbWRH2Iclqc7z08IKRyj9er2ppd4r0o3HnSTcWvIAx9A_jJ_44mtgIoGLYRzLvD5UL0D7li1ydItT2jVE-iHt-5I2wORQzZBjf7sRCjm3UXVPsae3hfa7ymk44DpM/s320/biggame4.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Morris</i> realiza uma visita ao cockpit. Os ânimos são os melhores, o avião
deve chegar a Helsinque em menos de 45 minutos. <i>Morris</i> consulta o relógio
de pulso, como que esperando por um determinado evento. Subitamente, o staff reporta que o Força
Aérea Um encontra-se sob a mira a laser de armas em terra. Os pilotos dos caças
reportam a mesma situação. Ao tentarem adotar as medidas adequadas a rechaçar o
ataque, o staff descobre que o sistema sofreu inexplicável pane. <i>Morris</i>
lembra os companheiros que devem dar prioridade ao Presidente, e
praticamente o arrasta à força até a cápsula de fuga. O Presidente tenta argumentar com seu guarda-costas, mas <i>Morris</i> é enfático. Ele alerta que estão sob
ataque. A cápsula será ejetada em segurança, e quando chegar à terra firme, o
Presidente deve aguardar pela chegada de <i>Morris</i> e os
demais agentes do serviço secreto. O Presidente é atirado em segurança para fora do Força
Aérea Um. Os colegas de <i>Morris</i> vestem os paraquedas e tratam de saltar. Na boca do cargueiro, um dos rapazes comenta que
os paraquedas não estão abrindo, e seus companheiros estão caindo para a morte certa. Antes que
o rapaz entenda a cilada em andamento, <i>Morris</i> saca uma pistola e atira à queima-roupa. Em seguida, veste o único paraquedas realmente
funcional, e pula tranquilamente, bem a tempo de escapar do Força Aérea Um, que é
atingido irreversivelmente por mísseis, assim como o são os caças.</span><br />
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhemCR_E74gCnhJ7VZ6Gbw1rk-YcsgyzwbPOdnzyUhTgdtA5YXOby1h09pu54IH0P7U8x-tksAbo-lb0ZE1jk0fzz32czYnDDMlIz_VhQafhw78js4zDGgZk_-Axyq9Rrto5_kAetc5Znc/s1600/big-game7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhemCR_E74gCnhJ7VZ6Gbw1rk-YcsgyzwbPOdnzyUhTgdtA5YXOby1h09pu54IH0P7U8x-tksAbo-lb0ZE1jk0fzz32czYnDDMlIz_VhQafhw78js4zDGgZk_-Axyq9Rrto5_kAetc5Znc/s320/big-game7.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Nas montanhas, ao final da tarde, não custa a escurecer. <i>Oskari </i>cruza a
floresta em sua motocicleta quando subitamente se assusta com luzes vermelhas
vindo de cima e a súbita mudança no sentido do vento. Acho que qualquer pessoa no lugar do garoto imaginaria algo
como OVNI, mas o que <i>Oskari </i>enxerga é o enorme Boeing vindo abaixo em
plena floresta, deslizando "<i>de barriga</i>" e perdendo parte da fuselagem no processo,
deixando um rastro de destruição até parar em um lugar indeterminado. Claro que o Presidente não se encontra mais
ali dentro, lembrem-se de que ele foi ejetado na cápsula. No
Pentágono, na sala de controle, uma unidade antiterror logo se forma. O
Vice-Presidente (<i>Victor Garber</i>) está presente à reunião, assim como General
<i>Underwood </i>(<i>Ted Levine</i>) e o especialista em terrorismo <i>Fred Herbert</i> (<i>Jim
Broadbent</i>). Perspicaz, é <i>Herbert </i>quem ventila que o ataque partiu "<i>de
dentro</i>". O Força Aérea Um é um avião preparado para todas as ameaças
externas. A equipe teria tempo para preparar as medidas para impedir que os
mísseis atingissem o avião. Alguém da própria equipe deve ter sabotado o
sistema de defesa. Ele lembra que o avião se preparava para aterrissar, descendendo em uma rota de
pouso rumo ao aeroporto de Helsinque. Mísseis teleguiados, superfície para ar, teriam
como causar estrago. A sala de controle programa os satélites norte-americanos para
aquela distante região na Finlândia, e organiza a desencontrada missão de resgate.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span> <br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEip9493OCxfGj1P5a8mxO0GcIe0AJfZatNDw1Wwq4J29AtYpDik-hGC50O9wUESL-TwPFBJ0vmxOZ7E1hs_dKIej7SToJ2g8l-t9Ykm-3SEaZqITN-mYC0E4SaUy9Ugkhvw32lRTzO-uLA/s1600/big-game8.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEip9493OCxfGj1P5a8mxO0GcIe0AJfZatNDw1Wwq4J29AtYpDik-hGC50O9wUESL-TwPFBJ0vmxOZ7E1hs_dKIej7SToJ2g8l-t9Ykm-3SEaZqITN-mYC0E4SaUy9Ugkhvw32lRTzO-uLA/s320/big-game8.jpg" width="320" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYkc4OzN8JZp5zVC-QQgidGU5aMVN01_pe1mN8p5bhJPU75QM_gmyQznIWlkGTMmVmWXjGYNwQKE_tqmP9m38lkLQw79BvXLM6WpFqv3QoPrUBBHubu623GwbaZ2GbQacT9fP0eSY0SRg/s1600/big-game9.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYkc4OzN8JZp5zVC-QQgidGU5aMVN01_pe1mN8p5bhJPU75QM_gmyQznIWlkGTMmVmWXjGYNwQKE_tqmP9m38lkLQw79BvXLM6WpFqv3QoPrUBBHubu623GwbaZ2GbQacT9fP0eSY0SRg/s320/big-game9.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Morris</i> pousa em segurança em algum ponto da floresta. Ele se identifica
no rádio, "<i>aqui é agente Echo-Mike, alguém me recebe?</i>".
Ninguém responde, afinal nenhum dos outros agentes, alheios à trama macabra,
sobreviveu à queda. Em outro lugar, <i>Oskari</i> se depara com a
cápsula presidencial. O Presidente precisa que alguém acione, do lado de fora, a
sequência correta para destravar a pesada porta. Ele escreve com o dedo na janelinha a sequência correta, "<i>1492</i>", e o menino a põe no teclado,
liberando a abertura. <i>Oskari</i> sai correndo, ainda assustado, e observa o
Presidente emergir, à distância. O Presidente <i>William Alan Moore</i> risca o
sinalizador e pede para que seu salvador mostre a cara. <i>Oskari</i> arremessa
seu rudimentar "<i>telefone</i>", na verdade dois copinhos ligados
por um cordão. "<i>De que planeta você vem?</i>", é a primeira
pergunta do menino. O Presidente responde "<i>Eu sou da Terra! É uma
criança que está falando?</i>". <i>Oskari</i> finalmente decide aparecer,
e pergunta quem <i>William </i>é. O Presidente fica surpreso ao não ser reconhecido, porém apresenta o passaporte e ganha a confiança do menino. Na sala de controle do Pentágono, há uma prematura comemoração quando os helicópteros do resgate
comunicam a proximidade do sinal emitido pelo transponder. Eles acabam realizando uma
"<i>batida</i>" em um humilde rancho perdido na vastidão da Noruega:
o transponder havia sido apartado da cápsula e plantado em outro lugar, que
nada tinha a ver com o ponto da queda, justamente para enganar as forças de
resgate e ganhar tempo para os terroristas.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /><i>
Herbert</i>, o consultor da CIA, reitera que pelos elementos colhidos, trata-se da
ação de um "<i>chacal solitário</i>", um homem dissociado de qualquer
ideologia radical, movido exclusivamente por razões bem pessoais. Embora na
sala de controle o consenso seja de que o Presidente tenha sido morto, <i>Herbert
</i>lembra que o intento dos vilões pode ser capturá-lo com vida para se vangloriarem
na internet e enumerar exigências absurdas. Descobrimos que o amargurado <i>Morris</i>
trabalha para <i>Hazam</i>. Quando <i>Hazam</i>, <i>Morris</i> e seus asseclas chegam ao
exato ponto da queda da cápsula, mal contêm a alegria, <i>Hazam </i>até mesmo pedindo a um dos subordinados para preparar a máquina fotográfica para o grande momento,
a retirada do Presidente. Para surpresa geral e especial fúria de <i>Morris</i>, não
encontram <i>William Alan Moore</i> ali dentro. Longe dali, <i>Oskari</i> e <i>William
</i>se conhecem melhor. O garoto fala da enorme sorte em o Presidente ter sido encontrado,
pois a cápsula caíra em uma região inóspita das montanhas, particularmente
frequentada por ursos. Quando <i>William </i>pergunta a <i>Oskari</i> se o menino consegue matar
um urso, o garoto titubeia, e insiste que um dia virá a ser tão admirado quanto
o pai <i>Tapio</i>. <i>Oskari</i> determina
que passará a chamar o novo amigo de "<i>Presidente</i>", e pede para que <i>William </i>o chame
de "<i>Ranger</i>". <i>William </i>não acredita na sorte ao se deparar com a
motocicleta de <i>Oskari</i>, uma alternativa até que chegue `a cidade mais
próxima. <i>Oskari</i>, no entanto, não quer saber. <i>William </i>insiste. "<i>Meu jovem,
trata-se de uma emergência nacional, preciso confiscar seu veículo</i>",
tenta arrazoar, o Presidente, porém o menino retruca "<i>E trata-se de meu
aniversário. A floresta é enorme, e, sozinho, você vai se perder. Minha
floresta, minhas regras. Sente-se aí atrá</i>s", <i>Oskari</i> ordena, e em
uma cena bem-humorada, <i>William </i>engole o orgulho e vai se sentar na carroceria, <i>Oskari</i>
no comando da motocicleta.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
<i>Morris</i> e <i>Hazam </i>tentam compreender como o Presidente conseguiu se evadir
da cápsula. As pegadas de <i>Oskari</i> chamam a atenção do agente, que deduz
que outra pessoa, surpreendentemente uma criança, o ajudou a fugir. <i>Hazam
</i>faz um sinal com a cabeça para um de seus homens, mas <i>Morris</i> é mais
rápido. O agente saca a arma e mata o subordinado de <i>Hazam</i>. Furioso, esbraveja
que o plano continuará o mesmo: ele entregará o Presidente com vida a <i>Hazam</i>, e
o terrorista efetuará um depósito milionário na sua conta bancária. <i>Hazam </i>pergunta se
tudo correrá como planejado, e <i>Morris</i> explica que até que o Pentágono
junte as peças do "<i>trabalho interno</i>" envolvido na derrubada do Força
Aérea Um e remaneje os Seals para o local correto, terão tempo para agir. Na sala de
controle, <i>Herbert </i>continua a disparar suas assertivas deduções:
parte dos terroristas deve ter se infiltrado sem chamar atenção ao contratar os serviços turísticos de transporte e caça na Finlândia. Deste modo, puderam
embarcar com armas em um helicóptero sem levantar suspeita. Os mais potentes
satélites são reprogramados para unirem forças sobre a região onde o drama está
se desenrolando.</span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXqptlWWHSWAQIWFd1KhmA7MTXTEtkXokWeXI7qI_i67kKnpi6U5EF-0kTtkVnvMAGdKUFLSdF4LcHazH6cj1U2nOKGWLLpbIalporKN9PY1MkOrNViAd27qP5jZ3a4IZ_BZV43uRaScw/s1600/biggame7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXqptlWWHSWAQIWFd1KhmA7MTXTEtkXokWeXI7qI_i67kKnpi6U5EF-0kTtkVnvMAGdKUFLSdF4LcHazH6cj1U2nOKGWLLpbIalporKN9PY1MkOrNViAd27qP5jZ3a4IZ_BZV43uRaScw/s320/biggame7.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ao chegar ao vale, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> consulta o mapa, e parece
animado. Ele conta que </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Tapio</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">
sinalizara o ponto como a passagem onde o trânsito de veados <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">se intensifica</span>. Eles devem aguardar atentos até as primeiras horas da manhã,
quando provavelmente uma excelente caça surgirá diante da mira de seu arco e
flecha. <i>William</i>, claro, acha tudo uma maluquice, porém de uma maneira doce vem
a se acostumar às excentricidades do jovem caçador! Aqui, vale mencionar que as
imagens que são exibidas na tela tiram o fôlego <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">tamanha sua riqueza</span>, e ao invés de
escrever laudas e mais laudas sobre a simplicidade e beleza lírica de dois
estranhos agora amigos comendo e conversando às margens de uma fogueira sob
uma noite de manto estrelado, prefiro que os amigos confiram o lindíssimo take acima. Demonstrando profundidade, o diretor <i>Jalmari</i> <i>Helander</i>, também roteirista, presenteia seus
personagens, interpretados tão impecavelmente, com linhas e mais linhas de diálogo
cheias de contundência e verdade. "<i>Como é ser poderoso?</i>",
"<i>Ranger</i>" pergunta, ambos provando salsichas ao gosto da fogueira.
"<i>Poder é efêmero</i>", <i>William </i>analisa, "<i>algumas horas atrás, eu
poderia ordenar que a maior força bélica do planeta invadisse e conquistasse
qualquer outro país neste mundo, agora não consigo nem pedir pizza</i>". </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">
fala sobre o significado daquele rito de passagem na sua vida, e exibe
orgulhoso uma foto de </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Tapio</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">,
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">em </span>1968, aos 13 anos, retornando triunfante com a cabeça enorme de
um urso. O Presidente comenta a semelhança entre </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Tapio</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> na foto e </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> hoje. "<i>Quando eu voltar, ninguém
mais vai rir de mim. Você precisa ser duro na Finlândia</i>", </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">
observa. <i>William </i>coloca sua posição, "<i>Às vezes, basta parecer duro</i>",
e prossegue contando a história de uma vez em que foi fazer um importantíssimo
pronunciamento e o mundo inteiro estava de olho em sua pessoa. Ele havia ido
urinar, e sem querer, feito uma trapalhada ao fechar o zíper. "<i>Procure o
vídeo no Youtube, veja se você nota a forma como eu casualmente seguro as notas
na frente da calça, mas também preste atenção que enquanto faço o
pronunciamento, minha voz não hesita, minhas mãos não tremem, eu comando todas
as atenções. Por dentro, eu estou em frangalhos, aterrorizado com a
possibilidade de ser lembrado pela História como o Presidente que urinou nas calças,
porém por fora sou uma rocha</i>".</span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Na manhã seguinte, o Presidente desperta assustado, mas se tranquiliza
ao ver o menino mais à frente, imitando um cervo para atrair os veados. <i>Oskari</i>
avisa que o sentido do vento encontra-se a favor da rota. "<i>Feliz aniversário, por
falar nisso</i>", o Presidente o parabeniza. <i>Oskari</i> encontra um sapato
e o mostra a <i>William</i>, afirmando que deve se tratar do par perdido do Presidente. Ao descer um
pouco mais pela trilha, o garoto é surpreendido por um refrigerador, ali no meio do nada, alimentado por um gerador. <i>Oskari</i> encontra a cabeça de
um cervo e uma carta do pai dentro, lhe desejando feliz aniversário.
Subitamente, fica claro ao menino por que <i>Tapio</i>
insistiu para que se deslocasse para o ponto grafado no mapa. <i>Tapio </i>havia
preparado o freezer com a cabeça do cervo. Apesar de compreender a boa intenção
do pai, <i>Oskari</i> se sente humilhado. É como se <i>Tapio </i>jamais tivesse
acreditado na capacidade do filho de abater um veado daquele tamanho. Mais
acima, <i>William </i>encontra os corpos dos agentes estatelados nas rochas. Um
exame mais atencioso dos paraquedas revela que os cabos haviam sido
criminosamente incapacitados por alguém do grupo. O Presidente começa a
somar as peças, a perceber que algo de estranho se sucedeu, e apanha a
metralhadora de um dos corpos. Presidente e caçador parecem alheios ao perigo. <i>Morris</i>,
<i>Hazam </i>e os terroristas são atraídos pela réstia de fumaça a escapar da fogueira
do ponto onde a dupla passou a noite. Quando camuflado por trás de uma rocha o
Presidente enxerga <i>Morris</i> ao lado do notório terrorista, deduz que foi
o agente secreto o mentor da traição. Exibindo a caixinha de suco, <i>Morris</i> anuncia que
<i>William </i>deve estar próximo. <i>Hazam </i>ordena que os rapazes chamem o helicóptero.</span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnAAHUHvX3cPEDmftpsXG8zSni-CefshhDh3w43P3LHJeFqejBRDTDXaloIvJ00Z_w89s-KQDkVKzFKToSSTjv_eOSIXUPPEKyIEJw6xenaqs2Ngx0yLXrMObG55ukdsQdZvD-ISZ5u0M/s1600/biggame18.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnAAHUHvX3cPEDmftpsXG8zSni-CefshhDh3w43P3LHJeFqejBRDTDXaloIvJ00Z_w89s-KQDkVKzFKToSSTjv_eOSIXUPPEKyIEJw6xenaqs2Ngx0yLXrMObG55ukdsQdZvD-ISZ5u0M/s320/biggame18.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEevUiOanLwYk2ecEnapTr_TXn0GXGPst0y_BEy0EOGMT-ABD6Xut8pfR05DClcHnUEQlonN0dtDiFkfDWaoqc1m4QLZD1WUpi8YSqQeNGn4hdaHn9b8-hGBWmABSG_JQlOVe77uUGZfU/s1600/biggame11.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEevUiOanLwYk2ecEnapTr_TXn0GXGPst0y_BEy0EOGMT-ABD6Xut8pfR05DClcHnUEQlonN0dtDiFkfDWaoqc1m4QLZD1WUpi8YSqQeNGn4hdaHn9b8-hGBWmABSG_JQlOVe77uUGZfU/s320/biggame11.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>William </i>corre atrás de </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> e o encontra chorando, sentado em
cima do freezer. O garoto desabafa e conta que nem mesmo o pai acredita no seu
potencial. <i>William </i>procura consolá-lo, e o presenteia com um broche com as
cores da bandeira americana. "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">É um lembrete de que você me encontrou,
me resgatou e me ajudou... e que eu acredito em você</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", <i>William </i>o
consola. O Presidente explica ao menino que a derrubada do Força Aérea Um não foi acidental, e
que homens muito malvados estão a caminho. Determinado <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a</span> preservar a vida da
criança, <i>William </i>explica que eles precisam se separar. O garoto deve se afastar
o máximo possível do Presidente, e deixar as montanhas em segurança. <i>William </i>promete que <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">saberá tomar </span>conta de
si. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, no entanto, não abandonará seu novo amigo. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">
aparece, com a ladainha sobre estar impressionado com a resiliência do
Presidente, e que se ele tivesse sido um líder melhor, nada daquilo teria
acontecido. <i>William </i>pede que os bandidos deixem a criança fora daquilo, mas </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">
novamente sinaliza que não vai dar as costas. Ele tenta atirar com o arco e
flecha, mas o disparo sai errado, e </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> faz pouco da habilidade do
jovem caçador. O <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">agente secreto</span> se aproxima ameaçador, e <i>William
</i>aponta a metralhadora, ordenando que pare, senão atirará. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> toma a
metralhadora das mãos do Presidente e o humilha dizendo que primeiro precisa
aprender a destravar a arma para atirar. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> aproveita-se da vantagem e <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o derruba </span>com alguns golpes. Embora saibamos que eventualmente o Bem
triunfará sobre o Mal, ao menos naquele instante tudo parece perdido. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">
obedece a ordem de <i>William </i>e parece se afastar da situação, subindo o paredão e apenas aparentemente deixando o
vale.</span><br />
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi03ObwcFjhT7VUiSZ5oFo80JYz2KZTsRo7-L5Epn69g4VRlSMm0ohujh49LdMgL1uv-ZpSic99zxldTgumPVoBW15yUJwTXiaShp_rUzaCiI5csdokfdWDykqlHFZ4tSe2DVUEMebFaIA/s1600/biggame12.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi03ObwcFjhT7VUiSZ5oFo80JYz2KZTsRo7-L5Epn69g4VRlSMm0ohujh49LdMgL1uv-ZpSic99zxldTgumPVoBW15yUJwTXiaShp_rUzaCiI5csdokfdWDykqlHFZ4tSe2DVUEMebFaIA/s320/biggame12.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMFt2Ckb7z9D08-QYHckDoEvFqala6VEnJ5zQbVyChqltDsXx_dP1iyv0vfR15dy4ZBIoCRXc_DMVA6yiqmjDMjsPdhTrEdwm0_cNgWpIjYROZ3QwBzutt5rs9_yEMmR-sz5q47vPh9Tk/s1600/biggame13.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMFt2Ckb7z9D08-QYHckDoEvFqala6VEnJ5zQbVyChqltDsXx_dP1iyv0vfR15dy4ZBIoCRXc_DMVA6yiqmjDMjsPdhTrEdwm0_cNgWpIjYROZ3QwBzutt5rs9_yEMmR-sz5q47vPh9Tk/s320/biggame13.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Hazam </i>e seus asseclas chegam de helicóptero. Eles aproveitarão o
freezer para "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">guardar</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" o Presidente e transportá-lo até o
cativeiro. Ele é aprisionado no freezer, e içado pelo helicóptero. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">,
que observa o drama à distância, encontra dentro de si a coragem para agir, e
quando o helicóptero está para carregar o freezer, executa um salto nas
alturas. Por pouco consegue se segurar, "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">pegando uma carona</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"
em pleno voo. Quando o piloto enxerga a incrível cena do menino agarrado ao
freezer, <i>Hazam </i>o aconselha a aproximar o helicóptero dos pinheiros em uma
tentativa de derrubar o jovem caçador. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> se dependura do lado do helicóptero e
abre fogo contra os dois. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> puxa a faca e arrebenta a corda,
liberando o freezer do helicóptero. O garoto entra no freezer junto ao amigo
para escapar dos tiros de </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, que está pairando sobre a
clareira. Os dois começam a sacudir o freezer para fazê-lo se mover, e o
mesmo sai rolando encosta abaixo, até chegar a um rio! Na sala de controle,
no Pentágono, os oficiais, que assistem à aventura por satélite, mal conseguem
acreditar na loucura, o Vice-Presidente particularmente atônito com o duríssimo
combate que <i>William </i>e o caçador local estão impondo aos terroristas. A corredeira
se encarrega de levá-los a um enorme lago, que descobrem ter sido o destino final do Força Aérea Um, parcialmente imerso, mas ainda ao alcance.</span><br />
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgm5kNMGjeFvOWgoBghiE8RCPaqCXAazzQar6xf7GPac5c9NBcBMQTiYRRrNQytnDqvhhYxMoyvjxXWrIEclIp_B8_tEzSWKWWR5bwbj9ODc1ig6pO2ZY5QBUmGDIyYWUdU8rTJIasmjOw/s1600/biggame16.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgm5kNMGjeFvOWgoBghiE8RCPaqCXAazzQar6xf7GPac5c9NBcBMQTiYRRrNQytnDqvhhYxMoyvjxXWrIEclIp_B8_tEzSWKWWR5bwbj9ODc1ig6pO2ZY5QBUmGDIyYWUdU8rTJIasmjOw/s320/biggame16.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgopqbt-XFMMwUf2_3_ln6Au_eDRpM4TSAkdXzc_A6-6OTcJMsD42YcO_-KnwpN1vCz6NH3QAs7tl59iuFcDlZ6cLR93qhxSI3NWnvaheXylxDYAgZ9XjwGWGwzAgrrUfz8MmTsh0VME8E/s1600/biggame17.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgopqbt-XFMMwUf2_3_ln6Au_eDRpM4TSAkdXzc_A6-6OTcJMsD42YcO_-KnwpN1vCz6NH3QAs7tl59iuFcDlZ6cLR93qhxSI3NWnvaheXylxDYAgZ9XjwGWGwzAgrrUfz8MmTsh0VME8E/s320/biggame17.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">São 08:00 da manhã. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> menciona que seu pai e os caçadores
devem estar à espera na entrada da cordilheira. Mesmo em meio ao céu muito
nublado, o Presidente identifica o helicóptero executando a manobra de
aproximação pelo rio, então recomenda ao garoto que procurem se abrigar dentro
do Força Aérea Um para esperar pela chegada dos Navy Seals. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> e
<i>William </i>mergulham e nadam em direção ao avião. Eles conseguem entrar no Força
Aérea Um por uma das passagens submersas abertas. Conforme esperado, apesar de
parcialmente imerso, o deck superior encontra-se acima do nível do rio. Passos
são acusados na fuselagem do Força Aérea Um, e a dupla entende que se trata de algum terrorista. Há uma súbita explosão na fuselagem, e <i>Hazam </i>entra no Força
Aérea Um por uma corda. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> parece momentaneamente inconsciente, mas
<i>William </i>está bem acordado. <i>Hazam </i>arma uma bomba, e inicia-se a contagem
regressiva de 7 minutos, ao final da qual o Força Aérea Um irá pelos ares.
<i>Hazam </i>acha que será içado em segurança ao helicóptero por </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Qual
não é a sua surpresa, a corda é cortada pelo agente e agora <i>Hazam </i>se vê
aprisionado ao avião em vias de explodir. <i>William </i>tira uma onda com o
terrorista: "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">É, rapaz, eu imagino como se sente</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". Furioso,
<i>Hazam </i>saca a faca e os dois começam a lutar. <i>Hazam </i>mantém a vantagem sobre o
Presidente e força seu rosto para dentro d’água. Quando está para matá-lo,
escuta uma espécie de mugido esquisito. Ao olhar para os lados perguntando-se o
que é aquilo, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> surge com um extintor. Enfia-o na cara de <i>Hazam </i>e
esclarece "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Isso é um cervo!</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". O terrorista ergue a metralhadora
em direção ao menino. <i>William </i>golpeia o bandido com um chute entre as pernas,
fazendo a metralhadora voar das mãos do terrorista e parar nas suas. O
Presidente destrava a metralhadora e exclama "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Primeiro, você precisa
aprender a destravar, seu filho da puta</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". <i>William </i>abre fogo e
<i>Hazam </i>sai voando, projetado para trás pela força dos tiros.</span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_-YqPdGz91JaB_qpi-31wPPIpnzGgWHZ6BDY3Vp8ZjR87ZScRYRgPw79kXc0MIRHZBAqwJWOuTohIQokw0zyi7qDTNU0l6_54Qu8YPHcvbWSh0Bix7ZH2lB29mesPTGRZzcAbB2XOpAQ/s1600/biggame2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_-YqPdGz91JaB_qpi-31wPPIpnzGgWHZ6BDY3Vp8ZjR87ZScRYRgPw79kXc0MIRHZBAqwJWOuTohIQokw0zyi7qDTNU0l6_54Qu8YPHcvbWSh0Bix7ZH2lB29mesPTGRZzcAbB2XOpAQ/s320/biggame2.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhm-EsRCeJvC25YRDi6rOcPwr0t9zU4zFLsdlDX4PFGngoZcnMBDsnq3N5Irk3DOpqTQMqOvtfKLMVjNbP49M_n7FGHvsj34BZab11ku8fqK3HKGMMBvfnSra1xLnSVtKG8cbjIwcZfEUM/s1600/biggame1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhm-EsRCeJvC25YRDi6rOcPwr0t9zU4zFLsdlDX4PFGngoZcnMBDsnq3N5Irk3DOpqTQMqOvtfKLMVjNbP49M_n7FGHvsj34BZab11ku8fqK3HKGMMBvfnSra1xLnSVtKG8cbjIwcZfEUM/s320/biggame1.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O contador aproxima-se do zero. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> pergunta se terão tempo
de nadar para longe dali, no entanto </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> continua acima do lago, no
helicóptero. Se deixarem o Força Aérea Um pela água, serão <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">alvos fáceis</span>. <i>William </i>ressalta que os dois só têm uma alternativa:
ejetar a cabine. Eles apertam os cintos, nos assentos do cockpit, e o
Presidente puxa a alavanca que os arremessa violentamente para as alturas. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">
assiste a tudo do helicóptero, incrédulo. Os assentos ascendem como foguete,
levando menino & homem. Os paraquedas são abertos, e o assento parece
momentaneamente bailar no ar. Logo mais à frente, na mesma altura, encontra-se o
helicóptero com </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> dependurado, metralhadora em punho. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">
finalmente consegue puxar inteiramente a corda de seu arco para trás, e a
trajetória da flecha é perfeita, atravessando o enorme espaço entre os assentos
e o helicóptero. O colete de </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> acaba detendo a flecha, e o vilão
sorri com deboche, levantando a metralhadora para atirar. Repentinamente, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> leva a mão ao peito, cheio de dor. A
flecha pode não ter atravessado o peito, mas estimulou os estilhaços da bala no
coração a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">penetrarem<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span></span>mortalmente no órgão e levá-lo a um maciço infarto. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">
despenca para fora do helicóptero, e enquanto o agente secreto cai a uma
enorme altura em direção ao lago, o Força Aérea Um explode, a massa de ar
ascendendo e apanhando os paraquedas <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">do assento ejetado</span>, atirando Presidente &
caçador para mais acima ainda.</span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiPvqHCF1IXVvSZOEq9iK8OFyMa-COzAy9B3RALCBvdk3Dhvm6elC2CDaGp6IoLewMDHvax58HLoyRVyiKX1lX-V7QyIHItuAQ-9Se_mSTtnEYZJmPMNtNpjRBB7lgyXow9S2ZfmOUkZw/s1600/biggame8.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiPvqHCF1IXVvSZOEq9iK8OFyMa-COzAy9B3RALCBvdk3Dhvm6elC2CDaGp6IoLewMDHvax58HLoyRVyiKX1lX-V7QyIHItuAQ-9Se_mSTtnEYZJmPMNtNpjRBB7lgyXow9S2ZfmOUkZw/s320/biggame8.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzjmlUEULhtv5aDceEvjpP6gfGKdQpyKHJKcS7j6d2hiYQkk4OOt0gEthrFKgpVItU6CFEZjLim5Fc8k0Mt2s6SSBuqa8771MtRvpp7soqbMjCTQhnWQQe0z3E1PImMnZtB69JBVViBQQ/s1600/biggame10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzjmlUEULhtv5aDceEvjpP6gfGKdQpyKHJKcS7j6d2hiYQkk4OOt0gEthrFKgpVItU6CFEZjLim5Fc8k0Mt2s6SSBuqa8771MtRvpp7soqbMjCTQhnWQQe0z3E1PImMnZtB69JBVViBQQ/s320/biggame10.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Na sala de controle, o Vice-Presidente está para ser empossado, quando
os Navy Seals, que tinham acabado de chegar à entrada das montanhas e aguardavam pelos heróis ao lado dos caçadores locais, anunciam <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">orgulhosamente </span>que Presidente e menino
ainda estão vivos. Com os olhos cheios de orgulho, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Tapio</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> vê </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> surgir à frente do Presidente <i>William Alan
Moore</i>. Ele corre para receber o filho, e </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> apresenta o Presidente
como <i>Bill</i>. <i>William </i>o parabeniza pelo filho maravilhoso, "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">o homem mais
corajoso que conheci</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", elogia. Um dos Navy Seals pergunta se o
Presidente se sente melhor. <i>William </i>fala "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Considerando tudo pelo que
passei, inclusive ser ejetado duas vezes do mesmo avião, sim, eu estou bem!</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">".
No Pentágono, nos é revelado que o Vice-Presidente e <i>Herbert </i>sabiam o tempo
inteiro do atentado. Tratava-se de uma conspiração para que o Presidente fosse
assassinado e <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o vice</span> assumisse a cadeira. No banheiro, distantes dos outros olhos, <i>Herbert </i>dá uma rasteira no Vice-Presidente,
que ao cair de mau jeito tem o pescoço partido. <i>Herbert </i>forja uma cena de modo a
encenar que o Vice-Presidente escorregou. Agora que <i>Hazam</i>, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> e o
Vice-Presidente estão mortos, ninguém associará os eventos a <i>Herbert</i>, o mentor oculto de
todo o esquema. Na casinha dos caçadores, a foto de </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> & <i>William
</i>passa a ocupar o lugar central <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">da </span>parede, imortalizando a aventura que os dois - um dia estranhos, depois melhores amigos - viveram nas montanhas.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSKNg7UaQc2phHOoXoo_KOYb7NRrr8_HiBwcWAKWaKyuewrMyFVii78mP355ZQ5G1PVyVumRLVo5XbdX6YHPmHn3MIBvwQdEAmpMz054QCt1X8g47JSI0X4k3TnnpM8CxYGBKlJPPbnYc/s1600/biggame9.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSKNg7UaQc2phHOoXoo_KOYb7NRrr8_HiBwcWAKWaKyuewrMyFVii78mP355ZQ5G1PVyVumRLVo5XbdX6YHPmHn3MIBvwQdEAmpMz054QCt1X8g47JSI0X4k3TnnpM8CxYGBKlJPPbnYc/s320/biggame9.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">No transcorrer de uma brilhante carreira que começou em 1972, <i>Samuel L.
Jackson</i> conquistou o estrelato em 1994, com "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Pulp Fiction</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", e
desde então tem se mantido como um dos astros mais queridos e ocupados de sua
geração. Comédia, romance, drama, filmes de horror, ação... não há nada que
o astro não consiga fazer com excelência. Embora famoso pelos personagens
durões, é justamente quando reveste suas criações de inesperada
vulnerabilidade que realmente comanda a atenção. A facilidade com que ganha o público deve-se à facilidade com que faz parecer real e próximo o drama das pessoas
a quem dá vida. Talvez seu melhor desempenho, no pouquíssimo conhecido "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Freedomland</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">",
encapsule o poder da performance quando encarna seres humanos falhos movidos
por nobres intenções. Em "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Freedomland</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", <i>Samuel L. Jackson</i>
interpretava um veterano policial que investiga o desaparecimento do filho
menor de uma mãe solteira. Ele mesmo luta com seus próprios demônios,
o remorso de se sentir um perdedor, pela tragédia do próprio filho já adulto, que vive entrando e saindo do sistema prisional. Finalmente, descobre-se que
foi a mãe quem matou o garoto, acidentalmente, quando lhe dera comprimidos em
excesso para dormir, para se encontrar com o namorado numa noite em que o
menininho dava trabalho. É claro que o detetive sente pena da moça, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">entristecido </span>por tudo o que lhe aconteceu, e há
uma cena no final quando <i>Samuel L. Jackson</i> a visita no presídio e tem esse monólogo
poderosíssimo sobre como ele mesmo não foi um bom pai e tudo o que quer agora é
não desperdiçar o tempo e abandonar o filho, uma cena verdadeiramente
eletrizante que lamentavelmente poucas pessoas tiveram o prazer de conhecer. Em "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Big Game</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", o astro retorna à ação,
um terreno que sempre explorou tão bem, mas aqui na forma de um herói relutante e
falível que em honesta e compreensível humanidade nos ganha facilmente para
a torcida. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Onni Tommila</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> interpreta </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, o herói deste filme, e
apesar de tornar críveis <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">os conflitos gerados pelo rito do crescimento</span>, o "<i>pulo do gato</i>"
consiste em como <i>Jackson </i>e </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Tommila</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> interagem e triunfam sobre o Mal através da força que vem com a soma de seus respectivos defeitos e qualidades. Em
síntese um passeio na montanha-russa cheio de ferocidade, impressiona-me como
<i>Jackson </i>e </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Tommila</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> conseguiram criar uma relação tão genuína, doce
e invejável, tudo no curso da ação! Eles são introduzidos como completos estranhos,
mas a natureza selvagem se encarrega de torná-los parceiros até o fim. A química
entre os dois heróis, que durante o processo de conhecimento acessam um amplo
espectro de emoções, do riso às lágrimas, me fez pensar em "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Um Tira
& 1/2</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", com <i>Burt Reynolds</i> como o tira veterano que precisa aturar
como parceiro o garotinho que cresceu assistindo a filmes policiais, vivido por
<i>Norman D. Golden II</i>, vez que a criança testemunhou um importante crime e só
cooperará se o integrarem à Força Policial. <i>Ray Stevenson</i> interpreta </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">,
o traidor amargurado movido por pura inveja, e ao acompanhar o desenvolvimento
de sua evolução dramática, - inicialmente um aliado, uma pessoa de confiança,
que cresce para virar um completo <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">demônio </span>- percebi a diferença que um grande e
talentoso ator faz, principalmente quando tantas coisas diferentes estão
acontecendo na trama e precisa passar o recado <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">em </span>poucas cenas.
Refiro-me a olhares, à postura, à linguagem corporal... um vilão não precisa de
páginas e mais páginas de monólogo<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. N</span>o entanto, se do vilão não emanar
espontaneamente a malvadeza, mesmo em discretos gestos pequenos como abrir uma <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">garrafa </span>de champanhe, o filme de ação naufraga antes mesmo de estabelecer
as peças no tabuleiro. <i>Stevenson </i>provou seu valor anos atrás em um outro filme
de ação que infelizmente não foi bem-sucedido, "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Justiceiro: Em Zona de
Guerra</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". Sua encarnação do Justiceiro foi apontada pelos fãs puritanos
como a materialização definitiva do personagem dos quadrinhos, e eu tenho de
concordar. Apesar de ter herdado a adaptação estrelada por </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Dolph
Lundgren</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> no filme de 1990, e <i>Thomas Jane</i> no filme de 2004, a versão da
diretora <i>Lexi Alexander</i>, um banho de sangue, retratava a visão sombria e
macabra que as pessoas queriam ver quando da transposição da revista para tela. Diferente das encarnações anteriores, o Justiceiro de <i>Stevenson </i>era um
pitbull grandalhão, envelhecido, pesadão, corpulento, que despachava a escória
com golpes de artes marciais, que entre ossos fraturados e sangue vertido chegavam a afundar os rostos dos bandidos (um amigo meu me comentou, na época em que
o filme saiu, "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Rapaz, isso parece Jogos Mortais!</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"). Parece
paradoxal, a necessidade do <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">olhar diferenciado feminino</span>, no caso o da diretora
<i>Lexi Alexander</i>, para uma tão sensacional e diferente incursão pela violência<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, tão própria ao universo masculino do "<i>Justiceiro</i>"</span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, contudo
ao ler um pouco sobre <i>Lexi </i>e descobrir que além de cineasta também foi campeã
mundial de Karatê, compreende-se a sensibilidade em retratar violência com um
senso de intimidade digno de poucos, mesmo homens. <i>Alexander </i>não apenas criou
uma obra especial pelo próprio talento. A escolha de <i>Ray Stevenson</i> para o papel
do Justiceiro foi divisora de águas, tanto em relação a escolhas de heróis para filmes do
tipo quanto ao fato de as pessoas terem levantado sérias dúvidas assim que a cineasta anunciara o artista para ocupar tão importante vaga. Depois, claro, as pessoas se
desculparam e renderam homenagem a performances tidas como definitivas. Do mesmo jeito que aconteceu em "<i>Justiceiro: Em Zona de Guerra</i>", <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e</span>m
"</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Big Game</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", a sua presença intimidadora dispensa o suporte de
demais vilões, e mesmo que <i>Hazam</i>, o Vice-Presidente e <i>Herbert </i>surjam no plano
de fundo na maquiavélica trama de usurpação do Poder, é sobre os ombros de <i>Ray Stevenson</i> <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">onde repousa<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">m as</span></span> atenções<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Ele </span> deixa claro que "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">quem manda naquela parada</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"
é o seu personagem </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Alto, pesadão e violento, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> surge
nas telas como uma força malevolente da natureza, nos moldes dos mais clássicos vilões do
cinema. Mesmo no início do filme, quando ele visita o Presidente na cabine do
Força Aérea Um, e nada se sabe sobre seu envolvimento em uma trama macabra
posta à surdina em movimento, <i>Stevenson </i>entrega através de olhares e inflexões a inveja
que guia suas <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">escolhas</span>. Com o sotaque britânico e a presença
magnética, o porte e as táticas psicológicas de um bully, <i>Stevenson </i>se
assemelha a um "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Russell Crowe do Mal</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". Um herói precisa de um
obstáculo enorme para escalar e vencer, e </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> consegue se impor simbolicamente como uma montanha a transpor, ainda maior do que aquelas que cercam o
Presidente <i>William Allen</i> e </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. O vilão vivido por <i>Ray Stevenson</i>
merece o tipo de temor e reverência que <i>Clare Higgins</i>, por exemplo, fez por
merecer em "<i>Hellraiser 2</i>", pela agressividade e violência da antagonista. O elenco periférico conta com gente do naipe do vencedor do Oscar
<i>Jim Broadbent</i>, <i>Ted Levine</i>, talentoso artista, notório pelo seu apavorante
retrato do monstro<i> Búfalo Bill </i>em "<i>O Silêncio dos Inocentes</i>", e
<i>Victor Garber</i>, de<i> </i>"<i>Titanic</i>". Falarei sobre os mesmos ao tratar de um outro ponto de "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Big Game</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", mais abaixo.</span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
Quando assisti a "<i>Big Game</i>",
notei que o talentoso e seguro diretor <i>Jalmari Helander</i> exibia um estilo que
lembrava os clássicos filmes de ação visualmente perfeitos e arrebatadores
dos anos 90. Ocorreu-me que o outro diretor com quem mais parecia alinhado,
em termos de interessantes escolhas fotográficas e ritmo, era um conterrâneo seu,
o também finlandês <i>Renny Harlin</i>, um homem de visão que tendo criado alguns
filmes definitivos para aquela época ("<i>Risco Total</i>", "<i>Duro de Matar
2</i>"), perdeu-se com superproduções inflacionadas de mínimo retorno
financeiro ("<i>A Ilha da Garganta Cortada</i>"). <i>Harlin </i>só foi reencontrar seu
verdadeiro chamado artístico espiritual ao retomar a estrada de volta aos filmes B, onde recuperou o
velho balanço com trabalhos muito empolgantes como "<i>5 Dias de Guerra</i>" e
"<i>Caçadores de Mentes</i>". Do mesmo jeito que fiz em outras resenhas, importante declinar que a semântica do termo "<i>filmes B</i>" não se traduz em
obras inferiores ou ruins. Ao contrário, "<i>filmes B</i>" reporta-se a um
estilo de cinema mais ligado a um jeito de se fazer filmes com a cara dos anos 80 e 90, um tempo mais simplório e menos sombrio, que hoje, a olhos
"<i>sofisticados</i>", parece datado e superado. Para
milhões, no entanto, eu inclusive, simboliza uma lufada de ar fresco em uma época
lamentavelmente cínica e hostil. Em sua hora e meia de projeção, "<i>Big Game</i>" flui com a facilidade
despreocupada típica a coisas que hoje, para matarmos a saudade, temos de ver em
DVD, ou ocasionalmente, com lançamentos estilo "<i>Skin Trade</i>" e este
"<i>Big Game</i>". E no que
importa o diretor <i>Renny Harlin</i>, <i>Jalmary Helander</i> rende uma homenagem ao colega cineasta na sequência em que <i>Samuel L. Jackson</i> & <i>Onni Tommila</i>
ejetam do Força Aérea Um. Vocês se recordarão que o herói de "<i>Duro de
Matar 2</i>" fez a mesma coisa. Ademais, um dos
melhores trabalhos de <i>Harlin</i>, "<i>Cliffhanger</i>", de 1993, com <i>Sylvester Stallone</i>,
elegeu cordilheiras como palco para a trama. <i>Harlin </i>não é o único homenageado.
Ao dividir o Mal em duas forças distintas, muitas vezes em confronto entre si (<i>Morris</i>
versus <i>Hazam</i>), <i>Helander </i>parece brincar com um dos artifícios mais utilizados
pelo veterano holandês <i>Paul Verhoeven</i>, que costumeiramente jamais concentra a
figura do vilão em uma pessoa apenas, mas a partilha entre dois personagens,
geralmente um chefe & seu subordinado (<i>Dick Jones</i> & <i>Clarence
Bodicker</i> no "<i>Robocop</i>" original, de 1987) ou mestre & aprendiz
(<i>Cristal Connors</i> & <i>Nomi Malone</i> em "<i>Showgirls</i>", de 1995).</span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik2jbTqHJlY9bqucbcGrUqsqATq3WfveLVWD2-6WpsdZGUT-YyTwWELc3k20RrZdcyjjvRbwqvzZXqA8EVCx9Uu97pwU6X6_8jMqeXWjgnx3WIpjQkrJCLCAcRbbhN6ALxKKNZTcd-jh8/s1600/biggame5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik2jbTqHJlY9bqucbcGrUqsqATq3WfveLVWD2-6WpsdZGUT-YyTwWELc3k20RrZdcyjjvRbwqvzZXqA8EVCx9Uu97pwU6X6_8jMqeXWjgnx3WIpjQkrJCLCAcRbbhN6ALxKKNZTcd-jh8/s320/biggame5.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0Y0mqptyutWXVJQdb4TK-azNzfTw5yEwc-tBFnILP7yovcG2XOeIxnvoUIWAd-xtIL4SsShh-OZ8f_G-e-Rz0kjgnzKQq5MDQhYtXnW9PSnUBMh8UilzzegVPgBNtGdyoLXsMoOT4uIM/s1600/biggame6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0Y0mqptyutWXVJQdb4TK-azNzfTw5yEwc-tBFnILP7yovcG2XOeIxnvoUIWAd-xtIL4SsShh-OZ8f_G-e-Rz0kjgnzKQq5MDQhYtXnW9PSnUBMh8UilzzegVPgBNtGdyoLXsMoOT4uIM/s320/biggame6.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Os impressionantes efeitos especiais se prestam a ilustrar as sequências mais inesquecíveis, e
entre diversos cenários de ação, digna de nota é a evacuação pelo Agente <i>Morris</i>
do Força Aérea Um, antes que os caças e o próprio avião sejam acertados pelos
mísseis teleguiados. Em uma visão de tirar o fôlego, acompanhamos <i>Morris</i>
afastando-se em queda livre, de costas para a Terra. À medida que vai se
distanciando do Boeing, subitamente, em sentido contrário, ascendente, cruza com os mísseis que passam quase ao lado. Ao exibir apenas um surreal
fulgor para acima das nuvens, apenas sugerindo o abatimento dos aviões e não
mostrando o impacto propriamente dito, <i>Jalmari Helander</i> mostra o mesmo gosto por estilo de
alguém como <i>Gareth Edwards</i>, o criativo cineasta por trás do primeiro
"<i>Monsters</i>", que desde as primeiras experiências exibia elegância e
discrição no trato de sequências envolvendo efeitos especiais. Pelo caminho
do talento, vimos que tanto em filmes de horror ("<i>Monsters</i>") quanto
de ação ("<i>Big Game</i>"), há
mil e uma formas de se utilizar as belezas e encantamentos que os efeitos
visuais podem operar. Na questão do encantamento, além de "<i>acenar com o chapéu</i>" para "<i>Duro de Matar 2</i>", a subida do assento ejetado emana uma aura de pura fantasia saída dos mais adoráveis
blockbusters de nossa infância, estilo "<i>Goonies</i>" & "<i>ET O
Extraterrestre</i>"!</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNDTE-FnI22lA7RE4hAeragYiYZRqPH4MIzv-ijWPImWsWBt_vB6tviFSlEqTMf2KDyhGbMa6uQDT8jI_SBjf6jPgOzypFQWn0UOqavKl_ea7spqdlWMd10wHmnvdxbCazjK2ac6QjUhs/s1600/biggame3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNDTE-FnI22lA7RE4hAeragYiYZRqPH4MIzv-ijWPImWsWBt_vB6tviFSlEqTMf2KDyhGbMa6uQDT8jI_SBjf6jPgOzypFQWn0UOqavKl_ea7spqdlWMd10wHmnvdxbCazjK2ac6QjUhs/s320/biggame3.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Embora ambientado na Finlândia, o filme foi rodado na Alemanha. Parte da
geografia do relevo germânico envolve as montanhas nevadas dos alpes bávaros,
ao sul. Uma pesquisa na internet revelará uma região rica em lagos, rios, pastos
alpinos, minas e, claro, montanhas, cujos picos às vezes atingem 3 mil metros.
O cenário estonteante é frequentemente tocado por chuva e neve. <i>Helander </i>contou
com o olhar primoroso de<i> Mika Orasmaa</i>, seu diretor de fotografia, que do começo
ao fim cuidou de manter as câmeras do cineasta apontadas aos cantos mais generosamente
privilegiados de uma geografia que como um todo consagra facilmente os alpes bávaros
como um dos lugares mais belos do mundo. A fotografia de "<i>Big Game</i>" é tão protagonista da
aventura quanto o Presidente e menino. Uma fotografia fiel à atmosfera proposta pela trama sempre imprimirá um charme a mais. Quando a sustentação de
atmosfera faz parte das preocupações do time criativo, é melhor que este tenha um
profissional à altura. Como atesta "<i>w Delta z</i>", um dos mais
importantes filmes de horror dos últimos 10 anos, nem mesmo a melhor
performance no mundo ou a mais habilidosa direção teriam completamente suprido a
importantíssima função de luzes de neon, ruas bem vazias, e o cais
abandonado. Graças à fotografia de <i>Morten Sorborg</i>, <i>Tom Shankland</i>, diretor de
"<i>w Delta z</i>", pôde dirigir sua obra despreocupadamente, pois soube que a essência
da trama, o sentimento absoluto de melancolia, restaria preservado sob os
cuidados (ou melhor, as lentes), de <i>Sorborg</i>. No mesmo esteio, um dos cineastas vivos mais
importantes dos últimos 100 anos, o britânico <i>John Boorman </i>também se fez respeitar pelas imagens extasiantes que o consagraram como um dos artistas
mais visualmente espetaculares e interessantes do século XX, tendo inclusive se
tornado "<i>darling</i>" de
formadores de opiniões como a americana <i>Pauline Kael</i>. Ao longo da carreira
de <i>Boorman</i>, mesmo nos momentos quando todos os outros críticos de cinema
caíram como guilhotina sobre sua cabeça ao fracassar (como no caso de "<i>O
Exorcista 2</i>", em 1977), <i>Kael </i>esteve ao lado de <i>Boorman</i>, mais especificamente ressaltando suas imagens riquíssimas em criatividade. Quando você assiste a "<i>Deliverance</i>", uma das obras mais
relevantes da década de 1970, quando <i>Boorman </i>te arrasta para a jornada ao longo
do rio rumo ao desconhecido, junto aos personagens de <i>Jon Voight</i>,<i> Ned Beatty</i>,
<i>Ronny Cox</i> &<i> Burt Reynolds</i>, a paisagem selvagem e misteriosa que te
acompanha só parece apavorante pelo cuidado visual com que o cineasta o tratou, esmero tornado
possível graças à assistência do premiadíssimo diretor de fotografia <i>Vilmos
Zsigmond</i>, que emprestaria suas inspirações a outros clássicos do cinema americano como
"<i>Contatos Imediatos de 3° Grau</i>"
e "<i>The Deer Hunter</i>". No
caso de "<i>Big Game</i>" e o
trabalho conjunto de <i>Jalmari Helander</i> e <i>Mika Orasmaa</i>, o resultado é uma
sucessão interminável de tomadas que capturam com elegância os alpes bávaros, na
trama fazendo as vezes de uma passagem entre montanhas na Finlândia, revisitando temas que <i>Boorman</i>, por exemplo,<i> </i>estabelecera tão magistralmente em
"<i>Deliverance</i>", quase 40 anos antes: homem versus
natureza, em um terreno inóspito onde normas não se aplicam.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><o:p></o:p></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj37k0BPGQ-YMh1-OarS3TXnLAhE4CGZ66oRufVSCou7LkbLCj7Xr60HSI2VISr_GTQ8ApqQ6WQ72yU9da7C3CPwTdQPI22V_YsUMVDH51B6u7gv95HKrhQ7_Y7H9TL7UIzoPnEukzZ4Qc/s1600/biggame14.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj37k0BPGQ-YMh1-OarS3TXnLAhE4CGZ66oRufVSCou7LkbLCj7Xr60HSI2VISr_GTQ8ApqQ6WQ72yU9da7C3CPwTdQPI22V_YsUMVDH51B6u7gv95HKrhQ7_Y7H9TL7UIzoPnEukzZ4Qc/s320/biggame14.jpg" width="320" /></a></div>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Tematicamente, "<i>Big Game</i>"
aborda uma série de tópicos muito pertinentes ao rito de passagem pelo qual
todos nós temos de passar, em diálogos muito reveladores entre homem e menino.
Apoiado na performance sempre excepcional de<i> Samuel L. Jackson</i> e a desenvoltura
do garoto <i>Onni Tommila</i> diante do veterano, o drama trará uma ressonância
íntima a pessoas que em determinados momentos de suas vidas também se sentiram como o
garoto <i>Oskari</i>. O tema do rito de passagem é universal, e muitos filmes
maravilhosos, por mais díspares que à primeira vista pareçam, exploraram-no de uma forma ou de outra.
O que caracteriza "<i>Big Game</i>" como um veículo que faz o mesmo, apenas melhor, é o excelente roteiro do próprio
<i>Jalmari Helander</i>, que ao invés de apresentar o Presidente conforme o estilo mais apetecível ao astro <i>Samuel L. Jackson</i> - descolado, cabeça fria, preparado,
destemido - e escrevê-lo como um homem comum que assim como qualquer outro ser humano
sente medo, frio e fome, <i></i>cria momentos muito reveladores pelo viés da interação
entre Presidente e caçador, quando ambos descobrem coisas sobre si que
talvez individualmente não teriam percebido. O Presidente fala sobre a
dicotomia entre se sentir poderoso, no comando, em oposição a como realmente se sente às vezes por dentro. Ele diz que independente de suas inseguranças, a vida não lhe
dá escolhas que não parecer seguro, comandar as atenções, fazer-se respeitar. <i>Oskari</i>,
a seu turno, desabafa e reclama que nem mesmo o pai acredita em seu
potencial. Com honestidade, o menino diz que jamais deixará a sombra projetada pelo legado de <i>Tapio</i>. Toca-me a forma como duas pessoas vindas de realidades tão
distintas conseguem amortecer suas dores apenas por perspectivas individuais: por
mais que nos momentos mais baixos da vida você guarde uma opinião muito
negativa sobre si, a leitura que outra pessoa faz de sua conduta revelará coisas muito profundas e bonitas que provavelmente nos falte enxergar, seja por baixa estima, por apego ou pelo envolvimento emocional que embarga a sensibilidade,
o que não ocorre ao imparcial observador. O fato é que mesmo em seus
dissabores, o menino consegue enxergar no hesitante Presidente qualidades
alheias ao próprio, e o Presidente ressalta que mesmo que o pai tenha
duvidado da capacidade do garoto, o fato de <i>Oskari</i> tê-lo resgatado da
cápsula e o ajudado até ali o tornava um menino corajoso e de bom coração. É
claro que a partir dali, os dois amigos serão postos em contínuas provas de
fogo que trarão o melhor de dentro de seus espíritos. Como a criança diz em
dado momento, às vezes não basta parecer valente e seguro por fora,
precisamos efetivamente ser corajosos por dentro. O Presidente exibirá valentia ao derrotar o
terrorista <i>Hazam </i>dentro do Força Aérea Um e ejetar o assento ao lado de <i>Oskari</i>.
O garoto finalmente "<i>abaterá</i>" sua grande caça ao disparar a flecha
que derrubará <i>Morris</i> bem sobre a explosão no meio do lago. Ambos
descobrirão seus verdadeiros valores, superando obstáculos que inicialmente
julgavam intransponíveis. O cerne da questão, no entanto, não revolve
exclusivamente a emersão de suas melhores qualidades quando colocados sob teste.
Saltou-me aos olhos, na verdade, a dinâmica do relacionamento, a medida que em suas diferenças se complementam e aperfeiçoam ao longo do caminho, porque ao
final, se você pode afirmar que ambos terminaram melhores, muito devem ao que
aprenderam um com o outro. <i>Samuel L. Jackson</i> exibe uma adorável faceta nos instantes em que revela preocupação com o menino, durante a aventura e especificamente no desfecho, quando os dois se reúnem a <i>Tapio</i>, e ele o elogia pelo filho
maravilhoso. Você enxerga o orgulho nos olhos do pai, e é impossível não
engasgar de emoção. Em "<i>Big Game</i>",
o astro <i>Samuel L. Jackson</i> nos prova que mesmo tão hábil em blockbusters, pode ser ainda melhor quando os roteiros lhe permitem parecer justamente o que deve ser na vida real: um homem correto, bom e, afinal de contas, comum... gente
como a gente. Se vocês desejam vê-lo sob esta luz, quero recomendar duas
outras performances que seguem os mesmos moldes, e os farão admirá-lo ainda mais: "<i>Freedomland</i>" (lançado no Brasil em DVD como "<i>A Cor de um
Crime</i>") & "<i>Destinos Ligados</i>". Aqui, neste parágrafo de minha
análise sobre "<i>Big Game</i>",
gostaria de tecer considerações sobre um outro astro de ação, <i>Steven Seagal</i>,
pois o comentário a <i>Jackson </i>também lhe serve muito bem. No curso de uma carreira tão longa
quanto a de <i>Samuel L. Jackson</i>, por mais que tenha atuado em filmes de ação que anos mais tarde ainda guardam valor quando comparados aos lançamentos
modernos, a <i>Steven Seagal</i> jamais foi concedida a chance de interpretar,
realmente interpretar, um personagem com ambições, temores, incertezas... um
herói que soasse real. Não obstante tenha se tornado pelo próprio talento um
longevo ícone da ação, conforme eu escrevi certa feita ao fazer a resenha de
"<i>Outlander Guerreiro versus Predador</i>",
infelizmente, nenhum roteirista lhe ofereceu uma trama onde pudesse
fazer mais do que atirar ou bater ou ter de parecer tão implacável o tempo
inteiro. Por trás do estoicismo, há emoções e conflitos que se confiados a <i>Seagal
</i>trariam do astro interpretações no mínimo intrigantes, pela força da novidade. Talvez até renovassem o interesse das pessoas pelo seu trabalho. Os filmes de <i>Seagal </i>são muito retilíneos: o astro começa e termina a jornada como a mesma pessoa, os inimigos jamais têm uma chance, não há propriamente uma
ameaça, afinal ninguém lhe projeta sombra. Em coisas como "<i>Big Game</i>", ao contrário, a trama se move em um arco, as
pessoas iniciam e concluem suas jornadas diferentes, movidas pela experiência.
"<i>Big Game</i>" jamais teria
funcionado caso <i>Oskari</i> tivesse sido introduzido como o melhor dos caçadores, ou
o Presidente como o mais confiante dos líderes. Eles precisavam atravessar o processo de crescimento infligido pela dor para se tornarem maiores, e a
transformação, a se dar diante de nossos olhos, torna a jornada muito mais
impressionante e imprevisível. Aqui, acho pertinente trazer algo que <i>John
Boorman</i> disse, em relação a "<i>Deliverance</i>". Há uma cena que
ficou de fora do corte final, tida pelo próprio <i>Burt Reynolds</i> como o melhor
desempenho dramático de sua carreira. Depois que eles se perdem nas
corredeiras, o personagem de <i>Burt </i>sofre uma fratura exposta e <i>Jon Voight</i>, <i>Burt
</i>e <i>Ned Beatty</i> se veem no fundo da garganta, com o montanhense sobrevivente à
espreita acima, armado com a espingarda para matá-los, fica decidido que <i>Jon</i>, o
mais fisicamente apto, terá de subir a garganta, durante a madrugada, e esperar escondido em uma
árvore até que o montanhense surja às margens do abismo, para matá-lo com um
disparo de arco e flecha. Na noite anterior, <i>Burt </i>tem uma conversa com <i>Jon</i>, e
entoa um monólogo, encorajando-o a subir a garganta. De toda sorte, a cena
ficou de fora, e <i>Boorman </i>explicou a <i>Reynolds </i>que a cena não funcionaria porque
<i>Jon</i>, que no início da viagem simbolizava o homem mais civilizado,
tinha de descobrir dentro de si a coragem para subir a montanha e eliminar o
inimigo. Ele tinha de extrair solitariamente e de dentro de si a força para
vencer as trevas, e não apenas recebê-la "<i>de mão beijada</i>" de
<i>Reynolds</i>, conforme <i>Boorman </i>explicou. O diretor compreendia
a necessidade de dar a <i>Voight </i>a oportunidade de desenvolver seu personagem,
criar sua própria transformação pela via da performance. Falta a <i>Seagal</i>
o roteirista que lhe oferecerá a trama ideal para acomodar tamanha surpresa...
talvez seu melhor trabalho esteja por vir!</span><br />
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0a-3G01pGYH9f-F0BzBkBRls0ngx_vMK7e9mjkFjLdvpLeHfFZxzIdAdQtLA-1YymqZOn5EKCHZDJEOPI0J55bcszb9ou6p4pxVXGLVwg2eoBywy6IEmBjASSGNSlDsd4cA5soEFKcq0/s1600/biggametrailer2-novoposter02.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1050" data-original-width="1400" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0a-3G01pGYH9f-F0BzBkBRls0ngx_vMK7e9mjkFjLdvpLeHfFZxzIdAdQtLA-1YymqZOn5EKCHZDJEOPI0J55bcszb9ou6p4pxVXGLVwg2eoBywy6IEmBjASSGNSlDsd4cA5soEFKcq0/s320/biggametrailer2-novoposter02.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Com 90 minutos de
projeção, "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Big Game</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" passa voando. Quanto maior a duração,
mais árduo se torna para a equipe cuidar de não perder o interesse do público. Meu
único reparo em relação a "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Big Game</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" reside justamente na
questão do aproveitamento do tempo. Como em todos os outros aspectos - estilo, cuidado, fator de
entretenimento, simplicidade e doçura - "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Big Game</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" deixa claro que
é "<i>farinha do mesmo saco</i>" que filmaços clássicos dos anos 80
& 90 ou lançamentos direto-para-DVD estilo "<i>Skin Trade</i>", eu
pensei em todos os outros atores que sempre tornam as produções similares tão
maravilhosas, e percebi que <i>Jalmari Helander</i> perdeu a oportunidade de esticar
um pouquinho sua obra, quem sabe em até meia hora, para usar o pessoal em questão. Creio que com 30 minutos a mais, se
<i>Helander </i>tivesse esquecido as constantes intromissões do Pentágono (que apenas retardam momentaneamente <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a marcha</span>), deletado o ângulo da conspiração dentro da Casa Branca, e resumido o conflito à eterna luta entre Bem e Mal
(sintetizado pela inveja de </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morris</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">), teria um generoso espaço de tempo para
adicionar cenários e papéis mais relevantes onde astros consagrados dos filmes
de ação poderiam brilhar também. O elenco secundário é formado por atores talentosos vencedores ou indicados ao Oscar (<i>Jim Broadbent</i> e <i>Felicity Huffman</i> respectivamente), mas por que não usar o espaço melhor? Ou esquecê-los inteiramente, em favor de outro elenco secundário, composto por caras da ação, como <i>Christopher Lambert</i> e <i>Dolph Lundgren</i>? "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Outlander
Guerreiro versus Predador</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" & "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Big Game</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" não
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">possuem </span>em comum apenas a qualidade de nostálgica ação & fantasia: a
utilização da natureza, fotografada em toda glória, também salta aos olhos como
uma das estrelas. Apesar de rodadas em lugares distintos ("</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Outlander</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" em Newfoundland, Canadá
e "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Big Game</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" nos alpes bávaros), ambas as produções têm um
charme nórdico de Velho Mundo que as imbui de elegante frescor. "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Big
Game</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" teria encontrado valiosa utilidade para o astro <i>Ron Perlman</i>, por exemplo, que
em "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Outlander</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" interpretou
um guerreiro gigantesco munido de duas marretas, e, quem sabe, em "<i>Big
Game</i>", daria uma estupenda contribuição como, digamos, um pescador local
alcoólatra que se recolhe aos alpes para se suicidar, e acaba involuntariamente
se unindo a Presidente e menino para enfrentar os terroristas,
redescobrindo o amor à vida. Claro que o roteiro teria de oferecer mais </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">set
pieces</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> para viabilizar novas lutas entre o trio de heróis e os terroristas,
quem sabe combate mão a mão, <i>Perlman </i>munido com um tacape, um pedaço de pau ou
dois martelos gigantes, em lutas que provocariam inveja a "<i>Conan, O
Bárbaro</i>"! E mesmo que<i> Samuel L. Jackson</i> tenha nascido para interpretar o
papel do Presidente, vocês já imaginaram uma mulher presidente?! Os amigos
devem se recordar que <i>Geena Davis</i> já interpretou a Presidente nos Estados
Unidos na série de TV "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Commander in
Chief</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", então não seria uma má ideia, uma mulher Presidente. Nesta
minha reimaginação de "<i>Big Game</i>", <i>Jennifer Connelly</i> seria a Presidente
dos Estados Unidos, e eu acho que assim como ocorreu a<i> Samuel L. Jackson</i> e </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Onni
Tommila</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, o desenvolvimento da amizade entre a <i>Jennifer Connelly</i>, uma mulher
adulta, e o garotinho, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Onni Tommila</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, também renderia momentos comoventes
cheio de ternura, até porque, como mulher, ela seria movida por um instinto
materno em face da criança. E imaginem só o pôster do filme! Deem uma olhada aí na
foto do início do parágrafo, e procurem substituir mentalmente a imagem de <i>Samuel L.
Jackson</i> pela figura apoteótica e surreal da <i>Jennifer Connelly</i>, vestindo um
tailleur xadrez com shoulder pads, os cabelos desgrenhados, o rosto um
pouquinho encardido, descalça, segurado uma metralhadora, o molequinho ao lado
com o arco e flecha, <i>Ron Perlman</i> adicionado com a camisa rasgada, um choro de
êxtase & luta na cara e dois martelos gigantes nas mãos, os 3 lado a lado
como um time, uma enorme explosão <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">próxima </span>às montanhas como plano de fundo, e, em
cima do título "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Big Game</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">",
no cartaz, haveria apenas a frase "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Jennifer Connelly é a Presidente dos
Estados Unidos</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"! Do jeito que foi realizado, todavia, "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Big Game</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" se destaca entre os
outros filmes neste ano, e se vocês lhe derem uma chance, descobrirão como é
maravilhoso afastar o ceticismo <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">demandado </span>pelo <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">dia a dia</span> para se permitir encantar
por essa inofensiva fantasia, ainda mais especial pela facilidade com que nos cativa a
partir da amizade entre o Presidente <i>William Alan</i> & </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oskari</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> e as
mensagens positivas. É o que os americanos
costumam denominar de "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">the kindness of strangers</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", a generosidade de estranhos, gente com quem você esbarra por mera casualidade. Em um
momento de vulnerabilidade, em troca de absolutamente nada, vem de um
desconhecido a mão que te ajuda a se levantar. Ao conferir "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Big Game</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", eu me senti igual a como
quando hoje vejo aqueles mesmos filmes que tanto me encantavam quando criança,
e ainda hoje me influenciam na minha muito limitada vontade de expressar as
ideias através da escrita. Assistir a aqueles filmes me devolvia a minha
inocência, a uma época mais simples e feliz de minha vida. Quando eu via a
<i>Jennifer Connelly</i> e <i>Burt Reynolds</i>, eu tinha 15 anos novamente. "<i>Big Game</i>" fará o mesmo para vocês!</span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/vR-0mwLXiow/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/vR-0mwLXiow?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<i style="background-color: #cccccc;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: x-small;">Todos os direitos autorais reservados a Anchor Bay Entertainment. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<o:p></o:p></div>
</div>
</div>
</div>
Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-83901084949497935222015-08-31T08:13:00.000-07:002019-03-14T03:58:47.796-07:00"Midnight Meat Train" & "Dread" & "Book of Blood": de Clive Barker, criador de "Hellraiser", chegam 3 novas razões para se temer a noite.<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggCnrqIrIFlGpdf_x6P6tmZi3mS4qvlwzMbwC2JzUszwypD3m8brBsA9sSVXNqUcETYUYGTw_SA6TBLjcNjAe0gNuXKPRvEEsXo3B7NpzcPRjxlCz88d5p4zlx-ts7u1wnG6oztEzJl0c/s1600/Dread.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="573" data-original-width="1033" height="177" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggCnrqIrIFlGpdf_x6P6tmZi3mS4qvlwzMbwC2JzUszwypD3m8brBsA9sSVXNqUcETYUYGTw_SA6TBLjcNjAe0gNuXKPRvEEsXo3B7NpzcPRjxlCz88d5p4zlx-ts7u1wnG6oztEzJl0c/s320/Dread.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Há inconfundíveis mestres da literatura
de Horror e então há toda uma classe exclusivamente ocupada por <i>Clive Barker</i>. Senhor
de visões muito distintas, fortes e passionais, incapazes de serem reproduzidas pelas mentes de outros artistas, <i>Barker</i> reúne
as melhores qualidades de <i>Edgar Allan Poe</i>, mas apenas as toma como ponto de
partida, vez que suas fervilhantes fantasias, usualmente carregadas de agressivo erotismo, o mantêm muitos passos à frente de qualquer outro autor ou
artista. As suas obras, particularmente os contos, fogem a qualquer fórmula, pela habilidade de <i>Barker</i> em temperar as tramas mais aparentemente ordinárias com elementos oníricos & fantásticos que lhe permitem imaginar coisas tão macabras como um casal de turistas que se perde ao viajar por uma estrada no extremo Leste europeu (algo ordinário) e topa com um bizarro evento, duas cidadezinhas remotas, Popolac & Poduvejo, no interior da Iugoslávia, que costumam competir a cade dez anos de uma forma incomum, quando seus cidadãos, mais de 40 mil por cidade, se agregam em uma erótica e sinistra coreografia, amarrados em tiras de borracha para compor em uma complicadíssima arquitetura nada menos que gigantes descomunais que praticamente tocam as nuvens e lutam até que haja apenas um colosso de pé (elemento fantástico). Lamentavelmente, as particularidades que tornaram <i>Barker </i>um dos luminares do horror também atrapalharam a fiel tradução de suas ideias às telas, pois mesmo quando surge alguém corajoso o bastante para criar um roteiro a partir de seus conceitos, os elementos mais palpitantes da fonte original perigam ser perdidos em algum momento da transposição de palavras para imagens. "<i>Hellraiser 1 & 2</i>", "<i>Nightbreed</i>" & "<i>O Mestre das Ilusões</i>", filmes absolutamente fantásticos, diferente de tudo o que você viu no gênero, saíram da mente de <i>Barker</i>, que esteve envolvido em todos os passos da produção. Ao contrário, adaptações que apenas "<i>pegaram emprestado</i>" a envergadura de seu nome e apenas remotamente as ideias, e não contaram ou mesmo dispensaram o aval de <i>Barker </i>("<i>Hellraiser 3</i>") jamais deixaram o lugar comum da mediocridade. Felizmente, a partir da segunda metade da década de 2000, alguns cineastas muito talentosos que parecem não apenas impressionados com o peso do nome de <i>Clive Barker</i>, mas também conhecedores de sua obra resolveram oferecer suas versões cinematográficas para alguns dos mais fantásticos contos da coletânea "<i>Books of Blood</i>", muito embora as mais desafiadoras e melancólicas tramas estejam por vir, uma delas, inclusive, em vias de começar a ser rodada, "<i>Jacqueline Ess</i>", estrelando<i> Lena Headey</i>. Levando em conta que a coletânea "<i>Books of Blood</i>" contempla aproximadamente 30 histórias, e pouquíssimo disso tenha gerado filmes, é natural compreender a relutância com que diretores apaixonados pelo gênero tratam o desafio de mergulhar seus dentes na obra literária do mestre do Horror. Eles não têm reparo algum com <i>Barker</i>, na verdade lhe reservam o mais profundo respeito e admiração, ocorre que temem bancar as implicações e polêmicas de suas intrincadas, dificílimas premissas. O próprio <i>Barker </i>explica os obstáculos oferecidos pela sua visão particular a aqueles que tentam filmá-la. Em uma entrevista para <i>Nigel Floyd</i>, em 1987, muito antes que seus principais contos fossem adaptados para o cinema, <i>Barker </i>já falava das crenças pessoais intrínsecas às histórias, uma espécie de filosofia que se tornou uma constante na bibliografia<span style="background-color: white;">: "<o:p></o:p></span></span><span style="background-color: white;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Há um conto chamado ‘Jacqueline Ess’, sobre
uma mulher que só descobre poderes extraordinários quando à beira de cometer o
suicídio. O que me interessa é a ideia de personagens que confrontam o
ordinário, e encontram um novo significado no extraordinário, ao invés de
simplesmente acharem criaturas ou forças que devam erradicar ou exorcizar para
retornar ao paradigma de onde partiram. Eu creio que meus contos têm finais
felizes, por mais perverso que pareça, porque usualmente concluem com cenas de
revelação, personagens compreendendo melhor a si mesmos, percebendo por que precisam
da carne em suas vidas.</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span></i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>(...) Em ‘Midnight
Meat Train’, (Leon) Kaufman é um protagonista à margem da vida, um contador banal cuja
vida nada vale, até entender que há forças maiores atuantes secretamente neste
mundo. E eis um conto, eu creio, com uma conclusão perfeitamente feliz: ele
atravessa o inferno e sai profundamente transformado... e no final de ‘In the
Hills, the Cities’, os dois protagonistas morrem, todavia, ganham novo,
extraordinário entendimento, entendimento que talvez não se queira celebrar...
é ambíguo. Mas quando eles avistam os gigantes nas colinas, aquele tipo de
visão lhes é apresentado de forma que até aquele instante jamais foram capazes
de imaginar... eu realmente aprecio a ambiguidade e ambivalência de momentos
que podem ser simultaneamente terríveis e cheios de significado, da mesma
maneira que muitos instantes pivotais em nossas vidas são ritos de passagem,
momentos em que coisas são perdidas para jamais poderem ser recapturadas. No
entanto, há uma estrada pela frente que só pelo mérito da novidade,
também pode parecer excitante e extraordinária</i>".</span></span><br />
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="background-color: white;">Artista único, do tipo que surge uma só vez no espaço de uma vida, não apenas na arte em suas diversas formas de expressão, como na vida pessoal, <i>Clive Barker</i> mais se assemelha a um meteoro queimando na estratosfera. Um complicadíssimo homem de excessos, <i>Barker </i>é movido pela necessidade de se expressar, e para seu intelecto, não há veículos o suficiente. Ele nos presenteou com visões espetaculares no cinema, na literatura, na arte, e agora nos videogames, escrevendo o mote para jogos polêmicos e aterrorizantes como "<i>Undying</i>". Uma das mais autoexplicativas evidências de que <i>Barker </i>sempre se encontra um passo à frente de seus colegas pode ser rastreada na longevidade de "<i>Hellraiser</i>". "<i>Hellraiser 1 & 2</i>" redefiniram o gênero, mesmo que nada semelhante tenha voltado a agraciar as telas desde então. Quando <i>Barker </i>apanhou o mundo de surpresa com suas bizarrices, diretores que assistiram boquiabertos aos dois filmes reconheceram que estavam testemunhando o tipo de assombro que ocorre uma só vez dentro de, digamos, 100 anos. Ao tentarem dar prosseguimento ao legado, fracassaram retumbantes, a partir do fiasco de "<i>Hellraiser 3</i>", passando por tudo o que veio após a mediana continuação dirigida pelo comumente esforçado <i>Anthony Hickox</i>, em 1992. A meu ver, o que ocorreu com os dois primeiros "<i>Hellraiser</i>" e as continuações tão criticadas pode ser estudado como um fenômeno mais comum do que imaginamos, no cinema. Vimos acontecer com <i>José Padilha</i>, por exemplo, o talentoso diretor de "<i>Tropa de Elite</i>". O estilo quase documental e de guerrilha, a agressividade imposta a "<i>Tropa de Elite 1 & 2</i>" chamaram a atenção dos grandes estúdios de Hollywood, e produtores ficaram encantados com a atmosfera claustrofóbica e cinética dos filmes brasileiros, algo que não se via desde os gloriosos, findos dias de suspenses setentistas estilo "<i>Operação França</i>" e os thrillers de <i>John Frankenheimer</i>. O talento de <i>Padilha</i> lhe valeu a vaga de diretor do remake de "<i>Robocop</i>", no entanto ali o brasileiro descobriu tarde demais que para cada sugestão sua, os produtores impunham restrições que o amarravam de maneira tal que não teve como calibrar as suas melhores qualidades, a paixão que lhe permitiu criar as duas obras-primas anteriores, "<i>Tropa de Elite 1 & 2</i>", agora podada por um estúdio preocupado em garantir uma censura "<i>PG-13</i>" ("<i>Parental Guidance</i>"). Não obstante um filme muito interessante e movimentado, o novo "<i>Robocop</i>" não foi exatamente concebido conforme a visão com que <i>Padilha </i>enxergou as infinitas possibilidades, e sim consoante os ditames do estúdio. A contradição reside neste paradoxo: escolheram <i>José Padilha</i> pela ousadia, contudo depois que o conseguiram, precisaram enquadrá-lo numa fórmula que apesar de comumente gerar dividendos na bilheteria, aleija o artista, impedido de experimentar com suas ideias e paixões. Se o estúdio tivesse permitido o autêntico "<i>Robocop de José Padilha</i>", quem sabe, teríamos tido um suspense bem mais contundente, forte e memorável. Dadas as suas minúcias, poderia até não trazer para casa os mesmos dividendos financeiros, mas certamente pareceria muito, muito interessante, artisticamente falando. Com "<i>Hellraiser</i>", o mundo foi tomado de surpresa com uma obra muito sombria, um filme que mergulhava profundamente em recantos muito assustadores da psique humana. Sacudidos com a experiência que os dois primeiros filmes haviam oferecido, quando novos diretores tentaram recolher os cacos a partir de onde <i>Barker </i>deixara, ao final de "<i>Hellraiser 2 Renascido das Trevas</i>", inseguros ao se aventurarem pelos mesmos perigosos temas, procuraram levar os cenobitas a uma nova direção, imprópria aos tons de fetiche & sadomasoquismo da fonte original. Mesmo hoje, tantas décadas após as improdutivas tentativas de reinterpretação do material de <i>Barker</i>, agora que a Dimension pretende produzir a refilmagem do primeiro "<i>Hellraiser</i>", as forças criativas não parecem ter entrado em acordo, e quem mais sofre com a falta de boa vontade dos produtores é justamente a figura do diretor. Tomem como exemplo o cineasta <i>Pascal Laugier</i>, que nos deu o belíssimo "<i>O Homem das Sombras</i>" ("<i>The Tall Man</i>"). Criativamente, <i>Laugier </i>foi uma das crianças que cresceu sob a influência da poderosa força e sombra que "<i>Hellraiser 1 & 2</i>" projetaram sobre seu crescimento enquanto pessoa e artista, no entanto quando se voluntariou a filmar um remake que respeitasse e talvez reciclasse a explosiva filosofia de "<i>The Hellbound Heart</i>", o romance de <i>Barker</i>, acabou por abandonar o projeto, vocalizando a frustração com os produtores, obtusos ao podar cada ideia durante o processo criativo. <i>Laugier</i> preferiu abrir mão de um sonho de infância a filmar algo que apenas levaria o título "<i>Hellraiser</i>", contudo em nada honraria os pilares sobre os quais a figura dos cenobitas foi concebida. Não devemos nos esquecer de que a tendência atual consiste em anestesiar o público com efeitos especiais, e, em filmes de horror, com espetaculares monstros. Quando <i>Clive Barker</i> escreveu <i>"The Hellbound Heart</i>" e depois filmou "<i>Hellraiser</i>", estava contando uma história de desejos proibidos, paixões não correspondidas, sadomasoquismo, fetiches, e uma série de outros aspectos muito perversos e desagradáveis da alma humana. Os "<i>monstros</i>", os cenobitas, eram "<i>convidados de última hora</i>", que ocasionalmente surgiam no plano de fundo, a serviço da trama principal, o triângulo amoroso entre <i>Frank</i>, <i>Larry </i>& <i>Julia</i>. Nada melhor do que as palavras do próprio escritor britânico para ilustrar o que pretendia com sua delirante fantasia. Em entrevista a <i>Stephen Jones</i>, disse "</span><i>É sobre desejos, sobre pessoas desejando algo que não
podem ter, e as consequências de desejos levados aos limites, e então através
dos mesmos. Hellraiser é sobre um homem que faz um acordo com o Diabo – ou forças
além de nossa compreensão – e então é despedaçado. Sua amante, que acontece de
ser a esposa do irmão, decide assassinar homens para que seus nutrientes sejam
transferidos para o amante. Ela o faz por amor. Há uma tendência de enfraquecer o horror, um desejo de suavizar os
golpes. Eu espero que desta vez possamos mostrar algo muito agressivo. Hellraiser
move-se rápido, é inteligente e cheio de imagens de demônios, casa assombrada,
coisas voltando dos mortos... é uma história sobre amor após a morte</i>". Não apenas os aspectos da trama diferem da norma, o tratamento que <i>Barker</i> dispensa a monstros também é único. O mestre falou, em entrevista a <i>Phil Edwards</i>: "<i>Geralmente, em filmes do tipo, monstros não discorrem
sobre sua condição – a condição de monstro. O que eu gostaria era que Frank
declamasse linhas de diálogo em cena, mesmo em momentos românticos com Julia. Eu
queria que Frank se portasse como uma pessoa que falasse sobre suas
ambições e desejos, porque creio que aquilo que monstros têm a dizer
sobre si é tão interessante quanto o que seres humanos têm. É por isso
que em slash movies, e sinto que lhes falta toda uma metade das histórias.
Essas criaturas simplesmente se tornam, de um jeito entediante, abstrações do
Mal. O Mal jamais é algo abstrato. Mal é algo concreto, sempre particular, sempre percebido individualmente. Negar a essas criaturas a individualidade e o direito
de falar, de expor suas colocações, é perverso – eu quero escutar o que Diabo tem a falar. Eu gosto da ideia de que o lado sombrio tem seu ponto de vista</i>". Ao discutirmos um "<i>remake</i>" de "<i>Hellraiser</i>", é de minha humilde compreensão que uma releitura da fonte só teria como funcionar pelo viés do cinema alternativo. Neste sentido,
o orçamento do remake não deveria ultrapassar a casa dos 10 milhões de dólares,
por exemplo, o que lhe daria longevidade no circuito de arte, onde o retorno
financeiro seria garantido. O diretor deveria ser um sujeito completamente
apaixonado pelo original – e inteiramente destemido. Falo de um artista com
alma romântica que não tema pincelar a arte com as tintas carregadas de sua própria vida,
traumas, obsessões e dores. Eu jamais soube muito sobre a carreira musical de <i>Rob
Zombie</i>, o conheci unicamente pelos filmes, e sempre me impressionou seu
tocante amor pelo gênero através das homenagens implícitas que permeiam cada
uma de suas produções, a dedicação com que escala nomes consagrados do
passado, hoje meio esquecidos, lhes dando a chance de brilhar novamente. Quando
presto atenção na interpretação muito pessoal que <i>Zombie </i>fez de "<i>Halloween A
Noite do Terror</i>" com as suas duas adaptações de 2007 & 2009, sei que
somente um artista tão fiel às fobias de infância teria como emular a
mágica que por ora só temos como encontrar nas páginas de um paperback qualquer
de "<i>The Hellbound Heart</i>". Como alguém que
ama o cinema e procura na escrita a vazão que eu teria adorado expressar em
imagens & sons, eu imagino que dirigir um remake de "<i>Hellraiser</i>", para mim,
representaria um sonho pelo qual eu faria tudo o que estivesse ao meu controle,
menos abdicar das minhas ideias malucas para reimaginar a trama, em favor de
limitações forçadas por um estúdio. Porque só há uma coisa mais adorável do que
uma balzaca britânica aos 30 e poucos vestindo <i>shoulder pads</i> e fumando cigarros
sensualmente enquanto seduz homens para matá-los a marteladas ou lhes drenar os
nutrientes: uma <i>Jennifer Connelly</i> norte-americana balzaca aos 40 e tantos,
vestindo os mesmos <i>shoulder pads</i> e fazendo um sotaque britânico ao falar coisas
como "<i>Are you sure this is what you want</i>?", enquanto comete as mesmas
atrocidades. Partindo da premissa de que a adaptação das obras de <i>Barker</i> oferece
inúmeros desafios, os 3 filmes aqui analisados nos
dão motivos para comemorar. Bem distintas em questão de tom, o ponto em comum
das 3 produções é a forma sensacional como seus cineastas conseguiram enxergar a filosofia dos contos de <i>Barker</i>. Eles conseguiram
transpor os limites das páginas para levar ao ecrã as imagens horrorosas das
tramas macabras com apenas uma ou outra variação que não chega a agredir a
originalidade dos livros. "<i>Midnight Meat Train</i>", "<i>Dread</i>" & "<i>Book of Blood</i>" foram concebidos muito próximos, entre 2008 e 2009, os diretores tendo buscado na coletânea "<i>Books of Blood</i>" as tramas perfeitas para nos aterrorizar com um tipo diferente de terror. Os 3 filmes serão analisados separadamente, mas sempre merecerão menção em diferentes momentos da resenha, para a compreensão daquilo que realmente pauta este trabalho, não exclusivamente 3 filmes, e sim as ideias mais amplas da obra de <i>Barker</i>.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlj8iigQPjlm4T5-PyZ0SeBMnwAA3SezWn4a8r9ursw4xyhuimHdVgw7CrMd4IgD2qaxS9YzcRqiZ_3jYp6hHRRYQImp54gS-JRVUE1wEyYrTA1bbi2a_B76TJLzugSl__r7lIvxa8dkM/s1600/Bradley-Cooper-The-Midnight-Meat-Train-bradley-cooper-10737865-1024-576.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="576" data-original-width="1024" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlj8iigQPjlm4T5-PyZ0SeBMnwAA3SezWn4a8r9ursw4xyhuimHdVgw7CrMd4IgD2qaxS9YzcRqiZ_3jYp6hHRRYQImp54gS-JRVUE1wEyYrTA1bbi2a_B76TJLzugSl__r7lIvxa8dkM/s320/Bradley-Cooper-The-Midnight-Meat-Train-bradley-cooper-10737865-1024-576.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Reza a lenda que
as pessoas que ousam pegar o metrô em Nova York muitas vezes jamais são vistas
novamente, e que é um estranho silencioso, sempre impecavelmente vestido e
munido de uma valise onde carrega um enorme martelo, quem despacha os azarados. No início do filme, vemos um rapaz despertando sobressaltado dentro de um vagão. Ele pegou no sono, e portanto perdeu a última parada, é o último passageiro a bordo. Intrigado, levanta-se atrás de falar com o maquinista. Ele escorrega em um líquido viscoso no corredor e descobre sangue. Apavorado, o passageiro procura se </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">levantar, e pela janela da porta que leva ao carro seguinte, enxerga um "<i>açougueiro</i>" trabalhando com seu martelo em um cadáver. Antes que consiga gritar, o filme corta para o título, "<i>Midnight Meat Train</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqMRJyg0yNXb_2eBP7xsKVjFlq6yDLtPRiovnvcXrH-pwpsxdN9TcHULVoH3iQV4ch0f3ztYiec3MHQU_o-ok92NfTw7na8rMIl9RjZEfnmBpDQnUEdEVcTMAeP2HRtTi1C3ukGoBjBsE/s1600/the-midnight-meat-train-225461l.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1067" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqMRJyg0yNXb_2eBP7xsKVjFlq6yDLtPRiovnvcXrH-pwpsxdN9TcHULVoH3iQV4ch0f3ztYiec3MHQU_o-ok92NfTw7na8rMIl9RjZEfnmBpDQnUEdEVcTMAeP2HRtTi1C3ukGoBjBsE/s320/the-midnight-meat-train-225461l.jpg" width="213" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Leon </i>(<i>Bradley
Cooper</i>, a apenas alguns anos antes do estrelato, já exibindo as melhores
qualidades de um protagonista) é um fotógrafo amador em busca de um estilo
próprio. Ele mora em um apartamento com a namorada <i>Maya</i>. Fascinado com a vida noturna nova-iorquina, seu agente <i>Jurgis </i>(<i>Roger
Bart</i>) o apresenta a uma prestigiosa curadora da alta sociedade, <i>Susan Hoff</i> (participação especial da atriz <i>Brooke Shields</i>, que apesar de aparecer pouco, praticamente rouba o filme com sua típica vilã de obras de <i>Clive Barker</i>). Há uma cena interessante, <i>Jurgis </i>e <i>Leon </i>distraindo-se observando algumas das telas expostas, à espera de <i>Susan Hoff</i>, quando <i>Jurgis</i> dá uma dica ao amigo e pede que não mencione a namorada. "<i>Susan gosta de empregados, jovens, homens, e solteiros</i>", e depois de uma pausa, corrige-se "<i>Quer saber? ela gosta de seus empregados jovens e solteiros</i>", uma sugestão de que <i>Susan </i>é bissexual. Ela chega ao encontro, e quando <i>Leon</i> pede desculpas pelo atraso, <i>Susan </i>recomenda que jamais se desculpe por atrasos. "<i>Eu soube que Basquiat era um gênio quando apareceu 3 dias mais tarde para o almoço!</i>", brinca. Quando <i>Leon</i> coloca para a curadora os motivos pelos quais a fotografia o encanta, enquanto <i>Susan </i>passa a vista por alguns de seus trabalhos, <i>Leon </i>conta que deseja fotografar a verdadeira Nova York, de um jeito anteriormente jamais capturado. <i>Susan</i> comenta que ele está falhando. Para explicar seu ponto de vista, exibe a foto de um mendigo dormindo ao lado de um homem de negócios. O executivo parece incomodado. <i>Susan </i>descreve o registro como melodramático: o que realmente interessa as pessoas não é a escória ao lado de um homem de negócios, e sim a reação do executivo quando a escória o toca, justamente o que <i>Leon </i>deixou de fotografar. "<i>Quando voltar ao coração da cidade, seja bravo, e continue fotografando. E então, me procure</i>", <i>Susan </i>finaliza o encontro.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Leon </i>decide se aventurar na estação de trem, altas horas da noite,
para capturar miscelâneas da cidade que não dorme. Naquela primeira noite, estranhamente, é acordado por um pesadelo onde se vê dentro de um vagão com ganchos pendurados. É madrugada e a namorada dorme. Mesmo assim, <i>Leon </i>veste as roupas, prepara a máquina e procura as ruas. O diretor <i>Ryuhei Kitamura</i> retrata com invejável elegância a batida de Nova York, o ritmo após a meia noite, quando ainda há pessoas nas calçadas banhadas pelo neon. <i>Leon </i>desce pelas escadas ao metrô (a fotografia é impecável, o cineasta parece nos arrastar a uma jornada pela escuridão ao lado do protagonista, em meio a aquele ambiente muito estéril, frio, de enormes escadas rolantes e plataformas, onde não se sabe o que vai saltar dos cantos).</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhFC7sp3U1B0-oZT1fu9lpqJ7jLiNXHoZyDe2t0VEB6ydDqS1T4DCbc2u-HWmqFlxtWBKfpDQTGL8exg8zZvWZtYbzFBXhsZuAUdch_Vy7dU3Cjlqp298kKbIFXvJkWvCQRF656voJhOQ/s1600/fhd008mmt_nora_003.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="544" data-original-width="1280" height="136" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhFC7sp3U1B0-oZT1fu9lpqJ7jLiNXHoZyDe2t0VEB6ydDqS1T4DCbc2u-HWmqFlxtWBKfpDQTGL8exg8zZvWZtYbzFBXhsZuAUdch_Vy7dU3Cjlqp298kKbIFXvJkWvCQRF656voJhOQ/s320/fhd008mmt_nora_003.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Leon </i>acidentalmente topa com uma cena insólita aos pés da escada rolante, 3 homens de gangue aterrorizando uma modelo, os marginais com estupro em mente, quando <i>Leon</i> começa a tirar fotos. O líder se aproxima ameaçador, todavia o fotógrafo não retrocede. Quando o bandido está a um passo de alcançá-lo, <i>Leon </i>ordena que pare, e aponta para uma das muitas câmeras de vigilância da estação. Ao perceber que a ação da gangue está sendo registrada, o que pode lhes causar problemas, o marginal orienta os amigos a deixarem a moça em paz, e eles obedecem. A moça abraça o fotógrafo e o agradece. Bem humorado, <i>Leon</i> ainda bate uma última foto da modelo, quando ela está para embarcar no trem. A mulher sorri e entra, tendo a porta automática segurada por um cavalheiro que não enxergamos muito bem. Dentro do carro, visivelmente aliviada, ela veste fones de ouvido para se distrair com uma música, enquanto ao fundo vemos o cavalheiro sacar da mala um martelo para carne e se aproximar cautelosamente. Sem sobreaviso, o homem subitamente desfere um golpe na modelo, fazendo sua cabeça girar sobre o pescoço, em um ângulo irreal, matando-a instantaneamente.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Durante o café da manhã, <i>Maya</i> desperta com o rumor do namorado trabalhando na revelação dos filmes, e fica impressionada com a contundência das imagens. Naquela manhã, vemos o fotógrafo folheando o jornal na lanchonete onde <i>Maya </i>trabalha. Ali, fica horrorizado ao encontrar nas páginas policiais uma notícia envolvendo a modelo que salvara na noite anterior. <i>Leon</i> a identifica pela foto impressa. A manchete declina "<i>Mulher desaparece nas primeiras horas da madrugada</i>". Ele conta o inusitado fato para a namorada, e resolve procurar o distrito policial mais próximo. Uma detetive escuta a versão de <i>Leon</i>, mas parece meio descrente, até mesmo desconfiada do pobre fotógrafo, que só tem boas intenções. Apesar de meio desanimada quanto às observações de <i>Leon</i>, ela lhe fornece o cartão pessoal, e pede que ligue caso descubra fatos novos. Ao levar as fotos da noite anterior à <i>Susan</i>, ele finalmente ganha o respeito da curadora. Ao estudar os filmes, <i>Susan</i> parece perder o fôlego, e diz "<i>Uau!</i>". <i>Leon </i>ri e comenta "<i>Você não parece o tipo de mulher que diz Uau tão fácil</i>". Ela responde "<i>E não digo mesmo. Desde o tempo de colégio</i>". A performance dos dois atores cria uma certa tensão sexual entre os personagens, uma eletricidade que jamais compreendemos muito bem, mas que existe. <i>Hoff</i> promete que se <i>Leon</i> conseguir mais duas imagens igualmente fortes, o incluirá na vernissage que dará dali a 3 semanas.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ao celebrar com <i>Maya </i>e <i>Jurgis</i>, à noite, depois que a lanchonete fecha as portas, <i>Leon </i>os agradece pelo suporte, e explica por que não pode ficar: <i>Susan </i>lhe pediu duas novas imagens poderosas, e ele não pode perder tempo. Longe dali, dentro do metrô, 3 executivos - dois rapazes e uma moça - parecem meio tensos, a garota em particular. Com as lendas urbanas envolvendo o metrô, altas horas da noite, só querem chegar logo a suas casas. Os rapazes não prestam atenção quando o cavalheiro bem vestido entra no vagão. O primeiro a morrer leva uma terrível marretada na nuca. A força do golpe lança um de seus olhos para fora do soquete. O segundo homem leva uma martelada no abdômen que o lança às alturas. A mulher sofre o pior destino, a cabeça separada do tronco quando a marretada encontra seu rosto. A cabeça voa longe, e por alguns segundos, ainda viva, ela tem consciência de que foi separada do corpo.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjohv4lydQm-FX0eLWrG1U7Q8pcs6ybPiFl0RLtWDMTMKVfEkrM23R_kY9zIw-tJb-GYd6ttwhiS1rN6pd8CSlsymSKp6cukPeZ050AzzIESXa48ejlgIb60GbnevM6ApWAdOf1izpkDww/s1600/midnight_meat_train_05.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjohv4lydQm-FX0eLWrG1U7Q8pcs6ybPiFl0RLtWDMTMKVfEkrM23R_kY9zIw-tJb-GYd6ttwhiS1rN6pd8CSlsymSKp6cukPeZ050AzzIESXa48ejlgIb60GbnevM6ApWAdOf1izpkDww/s320/midnight_meat_train_05.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Enquanto isso, <i>Leon</i> vaga pelas calçadas de Nova York. Por uma razão qualquer, ele se senta em um banco diante da saída da estação de trem, quando um homem bem vestido, que na verdade se chama <i>Mahogany</i>, ganha sua atenção, ao emergir às ruas. <i>Leon </i>começa a segui-lo à distância, quando <i>Mahogany </i>dá pela presença do "<i>fã</i>" e ameaçadoramente detém o fotógrafo pelo braço. <i>Leon </i>enxerga o bizarro anel vestido pelo estranho, uma estrela de 8 pontas. <i>Leon </i>se desculpa com uma bobagem qualquer, e <i>Mahogany </i>o deixa partir. Mais cauteloso, ainda consegue acompanhá-lo até o hotel decadente onde <i>Mahogany </i>mora, no centro. Em um derradeiro instante, o misterioso cavalheiro ainda se vira e lança um olhar para o outro lado da rua, que faz <i>Leon</i> se arrepiar. A trama se complica naquela mesma noite, quando o rapaz revela as fotos. Ao revisitar os registros da ocasião em que a modelo desapareceu, <i>Leon </i>presta atenção na última foto tomada da mulher, quando ela sorriu antes de embarcar. A mão que segurou a porta automática exibe o mesmo anel de 8 pontas. <i>Leon</i> percebe que <i>Mahogany </i>era o homem dentro do vagão na noite em que a modelo desapareceu. A descoberta reforça a crença de que o estranho é o assassino.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">No dia seguinte, ao se preparar para o trabalho, <i>Mahogany </i>não percebe que <i>Leon </i>está do lado de fora, na calçada, o esperando. Desta maneira, o fotógrafo descobre que o elegante cavalheiro trabalha como açougueiro. Do mesmo jeito que o acompanhou durante o dia, <i>Leon</i> o faz durante a noite. Na estação, observa que o estranho jamais embarca nas linhas que partem mais cedo. Ele sempre espera pelo último trem. Quando <i>Mahogany </i>sobe na última linha, e <i>Leon </i>tenta acompanhá-lo, um policial o aborda e pergunta se pode vasculhar seus equipamentos fotográfico. Claro que <i>Leon </i>não se opõe, mas nisso perde a chance de continuar no encalço de <i>Mahogany</i>. Quem embarca no último trem é um valentão. Ao se deparar com o bem-vestido e caladão passageiro, ele "<i>tira uma onda</i>" com <i>Mahogany</i>, o desprezando: "<i>É isso aí, cara, a vida é mesmo como uma caixa de chocolates</i>", uma referência à semelhança entre o carrancudo açougueiro e o personagem <i>Forrest Gump</i>, em uma cena realmente engraçada que alivia um pouco a tensão. Ao dar as costas para <i>Mahogany</i>, o valentão é subitamente surpreendido por uma marretada nas costas. Inesperadamente, o homem parece não se intimidar, e parte para cima do açougueiro, que também toma uma surra. É o condutor do trem que ao escutar a comoção aparece no carro e "<i>salva o dia</i>", derrubando o homem com um tiro. Depois de tanto tempo fazendo vítimas no último trem, <i>Mahogany</i> parece dar sinais de cansaço, e o condutor lhe dá uma reprimenda.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8nNG_ZSsEkQWK-CeFBL8POfqLV9iQw8TtlWYgwobVf_5JOvhbZAHZXipAhod2ob3d0yxn6lbmVBDJcpaIioY-XcZOagI1qKKsF54boEXgC8_FKpoCtHzLC9MoADVYoWDIvsmhu-X46wE/s1600/midnight_meat_train_11.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1067" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8nNG_ZSsEkQWK-CeFBL8POfqLV9iQw8TtlWYgwobVf_5JOvhbZAHZXipAhod2ob3d0yxn6lbmVBDJcpaIioY-XcZOagI1qKKsF54boEXgC8_FKpoCtHzLC9MoADVYoWDIvsmhu-X46wE/s320/midnight_meat_train_11.jpg" width="213" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Leon </i>surpreende a namorada com uma aliança de compromisso, e eles fazem amor. O fotógrafo sofre um horroroso pesadelo, onde se imagina amarrado de ponta cabeça. Um assassino se aproxima e passa a faca na garganta. <i>Leon </i>vê a si mesmo como o próprio executor. Ele acorda gritando. Por algum motivo, ocorre-lhe vasculhar o arquivo de jornais novaiorquinos. Em uma notícia datada de novembro de 1895, a imprensa escreveu sobre um homicídio cometido por um certo açougueiro. <i>Leon </i>acha esquisito. Pela lógica, seria impossível que o açougueiro do caso em 1895 e <i>Mahogany </i>fossem a mesma pessoa, certo? Ousado, <i>Leon </i>se infiltra no açougue com uma farda furtada. Em seu tacanho trabalho de espionagem, é flagrado por <i>Mahogany</i>. Por pouco o fotógrafo consegue escapar. <i>Jurgis </i>e <i>Leon </i>se encontram na lanchonete, e ao ver o amigo comendo um bife mal passado, o apetite do fotógrafo é renovado. Em casa, mapas e fotos espalhados no assoalho e parede assustam a companheira, que tem uma noção de como <i>Leon </i>está obcecado pelo estranho. <i>Leon </i>fez um levantamento de todos os desaparecimentos no metrô, datando do século XIX. Apesar de soar loucura, <i>Leon </i>acredita que <i>Mahogany</i> abduz passageiros desde 1895. Chorosa, <i>Maya </i>suplica para que o noivo se desapegue daquela busca assustadora. Apesar de tentar se comprometer, tudo em que consegue pensar é no açougueiro e o trem da meia noite. Brigados, somente fazem as pazes mais tarde, quando <i>Leon </i>aparece na lanchonete para se justificar. Lamentavelmente, agora é tarde: <i>Leon </i>passou de caçador a caçado, e repara pela vitrine que <i>Mahogany </i>o espia da calçada.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh02H32S76Y_Q11OYw0wkiss1at69wZxIxb9h0j1WcFYxwyjZ6SXlVr5IEjVlK9RhyHSRn-BxGgNkpHnzN1JRsoJJHOzqAOs2mY4_7S-5LAe1jPTVcvw5dPS7wl93w6maFNLbvK3P8SRL8/s1600/Bradley-Cooper-The-Midnight-Meat-Train-bradley-cooper-10738261-1024-576.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="576" data-original-width="1024" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh02H32S76Y_Q11OYw0wkiss1at69wZxIxb9h0j1WcFYxwyjZ6SXlVr5IEjVlK9RhyHSRn-BxGgNkpHnzN1JRsoJJHOzqAOs2mY4_7S-5LAe1jPTVcvw5dPS7wl93w6maFNLbvK3P8SRL8/s320/Bradley-Cooper-The-Midnight-Meat-Train-bradley-cooper-10738261-1024-576.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Leon </i>segue <i>Mahogany </i>até a plataforma. Dois meninos entram no vagão e perguntam se o açougueiro deseja comprar chocolate. O fotógrafo, que está assistindo a tudo escondido no vagão anterior, fica na expectativa de que <i>Mahogany </i>ataque os dois. Para seu alívio, o vê apenas sacando alguns dólares para comprar guloseimas. Quando o trem começa a esvaziar, e o açougueiro crê erroneamente que são apenas ele e alguns caras no trem, inicia a chacina, testemunhada por <i>Leon</i>. O fotógrafo registra com suas lentes o macabro ritual inteiro, até ser visto. <i>Leon </i>parte em disparada, correndo de vagão a vagão, suplicando para que o maquinista pare na próxima plataforma, mas é apanhado em cheio e perde os sentidos. Ele acorda atônito, no subterrâneo, sem lembrança de como foi parar ali, e emerge no açougue, de manhã. <i>Leon </i>volta para casa com alguns ferimentos, deixando <i>Maya </i>assustada. Calado, o fotógrafo ignora a saraivada de perguntas da parceira. Ao se trancar no banheiro e examinar o peito, <i>Leon </i>encontra símbolos satânicos grafados na pele. Enquanto esteve no subterrâneo, teve um pesadelo surreal onde monstros semelhantes a répteis passaram as patas enormes e afiadas pelo seu corpo. Só um sonho?</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Leon</i> abre o jogo e conta à <i>Maya </i>o banho de sangue que aconteceu. O fotógrafo perdeu a câmera, e junto aos rolos de filme qualquer prova das coisas apavorantes testemunhadas no trem. Decidida a agir por conta própria, <i>Maya </i>usa como ponto de partida uma foto onde à frente de <i>Mahogany </i>lê-se o nome do hotel onde o açougueiro mora. Ela pede a ajuda de <i>Jurgis</i>, que se une à amiga com o intento de entrar no apartamento de <i>Mahogany </i>para recuperar a câmera. Como o açougueiro está saindo para o trabalho, <i>Jurgis </i>e <i>Maya </i>acham que não terão problema. Ao vasculhar as gavetas do quarto, <i>Maya</i> encontra as mais esquisitas ferramentas. <i>Mahogany </i>regressa ao apartamento silenciosamente. No guarda roupa da suíte, entre os ternos, <i>Jurgis</i> encontra a máquina fotográfica. <i>Mahogany </i>surge às costas de <i>Jurgis</i> e o rende com um golpe. Bulindo em tickets antiquíssimos, <i>Maya</i> encontra um folder com horários que remonta ao ano de 1911. O noivo tinha razão, o açougueiro atua na região dos metrôs há séculos. Ao constatar que <i>Jurgis </i>não está respondendo a seus chamados e pressentir que <i>Mahogany </i>se encontra ali dentro, <i>Maya </i>foge correndo.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbD0cxL3baKf5zzVECDEOnxpDrGVDn7vbPhJVvn2v9jIBBPKAHW86PqwOIRInZBKxUQBWkCeHLZUckJXXbbfe7z4KHOOzRw0KVvRRSDWJ-zE8i_pXbT_3k7VR_sGJpkJZmV9ZmbBZog7w/s1600/midnight_meat_train_07.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbD0cxL3baKf5zzVECDEOnxpDrGVDn7vbPhJVvn2v9jIBBPKAHW86PqwOIRInZBKxUQBWkCeHLZUckJXXbbfe7z4KHOOzRw0KVvRRSDWJ-zE8i_pXbT_3k7VR_sGJpkJZmV9ZmbBZog7w/s320/midnight_meat_train_07.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">De posse do cartão de visitas da detetive, <i>Maya </i>a procura no distrito policial. A detetive não tem boas novas: ao visitar o hotel, encontrou o apartamento abandonado, como se ninguém jamais tivesse morado ali. Apesar de confidenciar seus temores convincentemente, <i>Maya</i> não tem a Polícia a seu favor. A detetive explica que <i>Maya </i>e <i>Jurgis </i>invadiram propriedade particular. Só por aquela razão, se desejasse, a detetive teria base para detê-la por uma noite. A vernissage é um sucesso, mas <i>Leon</i> parece não se importar. Embora <i>Susan Hoff</i> tente seduzi-lo, <i>Leon </i>deixa o encontro, determinado a voltar à estação. Convencida de que ninguém os ajudará, <i>Maya</i> regressa à lanchonete para apanhar sua arma de fogo. Da calçada, liga para o apartamento e deixa um recado na secretária eletrônica, revelando o que se sucedeu a <i>Jurgis</i>. Previamente, <i>Maya </i>mencionara à detetive um livro de notas onde constava registrada a "carreira" de <i>Mahogany </i>ao longo dos séculos. Subitamente, quem surge das sombras é a detetive, e quando ela pede que <i>Maya </i>entregue o livro de notas, a moça aponta o revólver, convencida de que a mulher faz parte da sujeira. A detetive revela o paradeiro de <i>Jurgis</i>: ele estará no trem que parte às 02:00 da madrugada.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4WXlHPb1dU_LecYAjcKFuxXAhGKZTy4UP8t5Nti9e5vyMocVUczjroRCr1AAXrCjF2dBCbqpM2bSKf1LVsFyUaHE0T5GNQROZOoBzDmCUi7wmBoYW49j8nomy4SA16SKIwRARPzdpQYw/s1600/midnight_meat_train_10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4WXlHPb1dU_LecYAjcKFuxXAhGKZTy4UP8t5Nti9e5vyMocVUczjroRCr1AAXrCjF2dBCbqpM2bSKf1LVsFyUaHE0T5GNQROZOoBzDmCUi7wmBoYW49j8nomy4SA16SKIwRARPzdpQYw/s320/midnight_meat_train_10.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Antes de descer para a estação, <i>Leon</i> visita o açougue e se mune de toda sorte de facas. Sozinho dentro do trem, <i>Maya </i>não imagina o risco que a ronda. <i>Leon </i>desce ao ponto dos túneis onde acordou da última vez, e enxerga a aproximação do trem. Utilizando-se de um gancho, prende-se ao último carro, e eventualmente consegue entrar. Enquanto isso, <i>Maya </i>visita um vagão cheio de corpos nus dependurados. <i>Jurgis</i> encontra-se no meio daqueles corpos, ainda vivo e bastante confuso. <i>Maya </i>aponta o revólver para <i>Mahogany</i>. Nervosa, erra os disparos. O açougueiro lança sua marreta e consegue acertá-la no dorso, tirando seu equilíbrio. Antes que consiga desferir o golpe fatal, <i>Mahogany </i>é interrompido por <i>Leon</i>. Eles dão início a um dos duelos mais sanguinolentos imagináveis, <i>Leon </i>armado com uma peixeira, <i>Mahogany </i>com o martelo. Como o corredor encontra-se abarrotado de cadáveres, a cada golpe errado, lâmina e martelo penetram coxas, braços, arrancam cabeças... uma sequência grotesca que nada deve a filmes como "<i>Conan O Bárbaro</i>". A câmera do diretor <i>Kitamura </i>é fluida, e captura a ação com movimentos suaves e incessantes, ora dentro do vagão, ora passeando em torno do carro. Por pouco, <i>Mahogany </i>não corta o pescoço de <i>Leon</i>, que detém o golpe com o antebraço, atravessado pela lâmina da peixeira. O fotógrafo puxa uma outra faca menor e a crava no pé do açougueiro. As portas automáticas se abrem, e o trem encontra-se à toda velocidade. <i>Leon </i>tenta chutá-lo para fora, mas <i>Mahogany </i>se sustenta ali dentro, desferindo um golpe que acerta <i>Jurgis </i>no abdômen e rasga sua barriga, expondo os intestinos.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdkJL3oQWMy2CQGLhy6Taj2bkMWObmncryzIkXKczrFFP58KQ45RktDkFqRqEhABx6k4dxhN4yFwdUD0g7tgz2dF_9l8Emlg9V1y3QS4nBRYbOrNdynfG056kKbjIHeJmtOZV256ESiMo/s1600/midnight_meat_train_08.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1107" data-original-width="1600" height="221" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdkJL3oQWMy2CQGLhy6Taj2bkMWObmncryzIkXKczrFFP58KQ45RktDkFqRqEhABx6k4dxhN4yFwdUD0g7tgz2dF_9l8Emlg9V1y3QS4nBRYbOrNdynfG056kKbjIHeJmtOZV256ESiMo/s320/midnight_meat_train_08.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Leon </i>consegue tirar o equilíbrio de <i>Mahogany </i>ao esmigalhar seus dedos com uma martelada. O açougueiro acaba lançado para fora. O trem estaciona em um aterrorizante lugar do subterrâneo. O condutor aparece e educadamente solicita que <i>Leon </i>e <i>Maya </i>se afastem da carne. O casal testemunha a chegada de criaturas que confraternizam nos vagões para fazer um banquete com os cadáveres. Tão chocados estão, não percebem de imediato que <i>Mahogany </i>ainda se encontra vivo. O açougueiro investe contra <i>Leon</i>, e eles lutam usando como armas tudo o que conseguem encontrar, como ossos e crânios. <i>Leon </i>perfura o abdômen de <i>Mahogany </i>com um pedaço de fêmur talhado, e então arranca o osso da barriga para cravá-lo mais acima, na garganta do açougueiro. É o fim de <i>Mahogany</i>. Antes de morrer, ele dá as boas vindas a <i>Leon</i>. Após o duelo, o condutor oficializa a "<i>transmissão</i>" do cargo. A partir de agora, <i>Leon </i>será o novo fornecedor de carne para os monstros do subterrâneo de Nova York.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghK_uYuXkAuKlRMYvdPjXTQi2SS0Z4dgCO2vHtwXAUBWRjW2jSHgtIgMAGfBpJFfc_HzRBRYlFTaiblvV1g04Q5hQDne2g1X26TjUT8fR3i8YEkkGTTIV4RA036DAHapeuB9JBXER2xMg/s1600/Bradley-Cooper-The-Midnight-Meat-Train-bradley-cooper-10737738-1024-576.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="576" data-original-width="1024" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghK_uYuXkAuKlRMYvdPjXTQi2SS0Z4dgCO2vHtwXAUBWRjW2jSHgtIgMAGfBpJFfc_HzRBRYlFTaiblvV1g04Q5hQDne2g1X26TjUT8fR3i8YEkkGTTIV4RA036DAHapeuB9JBXER2xMg/s320/Bradley-Cooper-The-Midnight-Meat-Train-bradley-cooper-10737738-1024-576.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O condutor extirpa e devora a língua do novo empregado, para mantê-lo aprisionado ao silêncio, e depois apunhala <i>Maya </i>na altura do peito, arrancando seu ainda palpitante coração. Tempo depois, vemos um cavalheiro finamente trajado, arrumando-se com esmero para o primeiro dia de trabalho. A detetive que vimos no início do filme lhe entrega uma caderneta com os horários dos trens. Ele apanha a maleta e parte. A câmera revela que o novo açougueiro a serviço dos monstros é <i>Leon</i>. Com o desfecho, o filme nos convida a considerar o passado de <i>Mahogany</i>: será que ele sempre foi um monstro? Ou, há dois séculos atrás, foi um homem tão comum e inocente quanto <i>Leon</i>, arrastado àquela posição pelas criaturas das trevas, tendo perdido a humanidade através dos séculos?</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxcMmqsVUgyb-SKu1MiMekGHuWQvuTCB9rZUuoHPkdmfHQhG7z_ceU4pVon67FbxyP9a_bGWc7VRfyMGV9dbjA75I1R-Hqw9vIqjzK58yZBiXZX5O_OReI5O36TWeGJd-I34oJTx5Ot18/s1600/wdeltazposter.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="421" data-original-width="562" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxcMmqsVUgyb-SKu1MiMekGHuWQvuTCB9rZUuoHPkdmfHQhG7z_ceU4pVon67FbxyP9a_bGWc7VRfyMGV9dbjA75I1R-Hqw9vIqjzK58yZBiXZX5O_OReI5O36TWeGJd-I34oJTx5Ot18/s320/wdeltazposter.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Uma das melhores adaptações para uma obra de<i> Clive Barker</i>, "<i>Midnight Meat Train</i>" é um impecável suspense. Ainda que reúna as peculiaridades difíceis e indigestas do escritor britânico, o filme funciona muito bem individualmente como thriller moderno, digno das melhores salas de cinema. Dirigido por <i>Ryuhei Kitamura</i>, o cineasta conseguiu energizá-lo com uma energia cinética que lhe valeu elogios de <i>Barker</i>, usualmente cético quanto a adaptações cinematográficas, quando não regidas pelo próprio. Como poucos filmes fizeram antes ou mesmo desde então, este suspense nos levará através da noite novaiorquina durante a "<i>hora morta</i>", a partir de meia noite. Com muita habilidade, familiarizado à atmosfera, o diretor <i>Kitamura </i>evita os pontos mais famosos da cidade que nunca dorme, afinal de contas já cansamos de vê-los em tantos outros filmes. <i>Kitamura </i>sabiamente prefere calçadas, ruas decadentes e vazias, e a estação de trem, o lugar que pela maior parte do tempo ocupa o plano de fundo. Tendo chamado atenção pela brutalidade envolvida, curiosamente, são nos mais graciosos instantes, dados na calada da madrugada, que "<i>Midnight Meat Train</i>" nos envolve com a simulação de que somos cúmplices de uma jornada. Muitas vezes, quando "<i>pouco</i>" acontece, na verdade "<i>muito</i>" está se desenrolando. Como qualquer ator experiente dirá a um inexperiente, o veterano o aconselhará: "<i>faça menos</i>". A raiva e a extravagância são ciladas onde muitos caem, vez que emoções fáceis de serem acessadas. Os medíocres sempre pensam em tintas fortes antes de interpretarem. A extravagância não os torna melhores atores, e sim a facilidade com que se expressa dor ou outro sentimento quando nada se precisa afirmar. Eis a qualidade de um grande ator. Vejam, por exemplo, a maestria com que "<i>w Delta z</i>" <i><span style="font-size: x-small;">(foto)</span></i>, um suspense que sempre revisito e utilizo como referência nas resenhas, utiliza o silêncio e quietude a favor da trama. O diretor <i>Tom Shankland</i> não precisa se preocupar com nada a não ser manter a câmera nos atores principais,<i> Stellan Skarsgard</i> & <i>Ashley Walters</i>, para criar momentos que te sugam para dentro do dilema vivido pelos personagens. Na história,<i> Stellan Skarsgard</i> interpreta um tira desiludido que já viu quase tudo na carreira, até que os membros de uma gangue local passam a aparecer mortos como moscas. <i>Ashley Walters </i>vive um delinquente que serve como informante do tira. À medida que se aprofunda nas investigações, o detetive monta as peças do quebra-cabeças que remete a um caso de estupro & homicídio ocorrido alguns anos antes, envolvendo os membros da mesma gangue. De toda sorte, há um instante em que os dois conversam no píer, e baseado apenas em discrição, o diretor só precisa manter a lente nos rostos dos artistas, enquanto eles desempenham as poucas linhas de diálogo de um jeito que arrepiará seus cabelos. "<i>Eu acho que é ela, Daniel. Eu acho que é a Jean Lerner</i>". Para os amigos que ainda não assistiram a "<i>w Delta z</i>" e preferem descobrir o segredo, peço que se abstenham de ler o trecho a seguir. Para aqueles que não se importam, vocês devem saber que a <i>Jean Lerner</i> do diálogo, a personagem interpretada por<i> Selma Blair</i>, foi a moça impiedosamente estuprada e sodomizada pela gangue (tendo sido inclusive violada com uma garrafa por parte da única mulher no grupo, uma viciada em crack). Torturada pelos assaltantes, eles puseram um revólver em suas mãos e lhe deram uma escolha. Se apertasse o gatilho e estourasse os miolos da mãe, a gangue a deixaria viva. Se não quisesse efetuar o disparo, poderia cometer suicídio ao invés de atirar na mãe, e a idosa seria poupada. Em estado de choque, <i>Jean</i> aperta o gatilho, mata a mãe, e, conforme prometido, sai viva. O tira interpretado por <i>Stellan Skarsgard</i> foi quem originalmente atendeu a ocorrência, o homem por quem <i>Jean</i> veio a desenvolver um bonito sentimento de amizade. <i>Ashley Walters</i> interpreta um rapaz inconsequente que esteve presente na casa durante o assalto, mas não tomou parte na ação. Ele era basicamente um jovem que se envolveu com a turma barra pesada. A gangue o induziu à situação sem que ele imaginasse o que ocorreria. Quando assistiu à brutalidade, por temor ao líder da gangue, não foi capaz de confrontá-lo, e nada fez para evitar o crime. Uma questão envolvendo provas viciadas acaba pondo os assaltantes na rua. Na noite do veredito, <i>Jean </i>presta uma visita ao tira para agradecê-lo pelo empenho, mesmo que os estupradores não tenham sido condenados. Através da janela, ela flagra o policial e o rapaz em um encontro romântico. O tira passou a vida "<i>no armário</i>", e <i>Jean </i>descobre seu segredo mais íntimo. Por mais revoltado que se sinta em relação à selvageria praticada contra <i>Jean</i>, ele sabia que se o caso fosse a julgamento, o namorado seria arrastado para a sujeira. Assim, para inocentar o amante, o tira "<i>batizou</i>" as provas, fez secretamente uma grande bagunça na cena do crime, de modo que as mesmas não "<i>colassem</i>" durante o julgamento. Apesar de ter salvado o namorado, lamentavelmente permitiu que os verdadeiros culpados saíssem pela porta da frente do tribunal. Quando o tira deduz que o autor dos assassinatos em série é a moça, sabe que junto ao namorado consta da lista negra de <i>Jean Lerner</i>. Triste, borrado e angustiante, "<i>w Delta z</i>" decola nos momentos mais quietos, quando muito pode ser revelado por um mero olhar ou inflexão. Na conversa no píer, o diálogo cria o presságio para o fim dos dois protagonistas no curso do terço final da trama. A ferramenta do "<i>menos por mais</i>" também vale para outros aspectos envolvidos na feitura de um thriller, não apenas para atuação. Na sucessão sem fim da ação, um diretor põe em risco a disposição das pessoas em se investirem. Quando as trata como seres inteligentes, o diretor sabe que há ouro por trás do comedimento e da eficiente criação e sustentação de atmosfera. Voltando a "<i>Midnight Meat Train</i>", <i>Ryuhei Kitamura</i> prefere estabelecer momentos intrigantes observados na calmaria aparente de estações à meia noite, passeios públicos pouco iluminados pelo fraco amarelado projetado pelos postes das partes mais desfavorecidas do centro. Ele recria no celuloide a magia que nas páginas dos livros, no texto dos contos, consagra <i>Clive Barker</i> como o artista mais criativamente abençoado nascido no século XX, o homem que veio para segurar a tocha deixada por <i>Edgar Allan Poe</i>. Por mais que <i>Kitamura </i>e time não meçam esforços para conceber imagens memoráveis (aos montes), será pela simplicidade de coisas como <i>Mahogany </i>lançando um olhar ilegível para <i>Leon</i>, do outro lado da rua deserta, diante do hotel decadente onde mora, que "<i>Midnight Meat Train</i>" deixará muita saudade a quem o vir uma única vez. No começo do filme, <i>Brooke Shields</i> fala algo sobre capturar o coração da cidade, a verdadeira Nova York. O diretor de fotografia <i>Jonathan Sela</i> banha as cenas internas com o atraente neon do film noir, e as tomadas externas com o desespero & desolação que nos remetem à busca do detetive <i>Harry Angel</i> em "<i>Coração Satânico</i>", de <i>Alan Parker</i>. Sim, <i>Susan</i>, a verdadeira Nova York foi capturada.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKozNgDt4qYeEmq28kbPdT6dzlcaaq-oT9igSld8vvqzYq7x4kDbJYsG1T2sO8w8OxfDkRShyphenhyphenLdG99nCt2nVAeIoxpgRY9l0ZgRNNUUDadhH-JV6yQN4NvABoutQFHTlETcSlf2jNE28M/s1600/midnight_meat_train_09.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKozNgDt4qYeEmq28kbPdT6dzlcaaq-oT9igSld8vvqzYq7x4kDbJYsG1T2sO8w8OxfDkRShyphenhyphenLdG99nCt2nVAeIoxpgRY9l0ZgRNNUUDadhH-JV6yQN4NvABoutQFHTlETcSlf2jNE28M/s320/midnight_meat_train_09.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Entre os outros dois filmes estudados neste trabalho, "<i>Midnight Meat Train</i>" tem tudo para ganhar a predileção das pessoas que associam <i>Barker </i>a "<i>Hellraiser</i>" mais automaticamente. Novamente, nesta sua trama, "<i>Midnight Meat Train</i>", por trás da aparência da normalidade, <i>Barker </i>se diverte criando uma sociedade paralela, um espaço onde túneis de metrô construídos há mais de um século para servir à cidade que jamais dorme coexiste com o portal através do qual criaturas fantásticas demais para serem descritas vêm apanhar a "<i>comida</i>" trazida pelo condutor & açougueiro do último trem. Nenhum escritor consegue conceber tão bem bizarrices tão absolutas, ao mesmo tempo em que consegue retratar com sobriedade e até poético romantismo as pessoas que habitam a superfície, um mundo ordinário e sem novidades, que entre rachaduras de calçadas está pronto para assaltar seus personagens com as reviravoltas mais fantásticas imagináveis, seus monstros conjurados pelas mais inconfessáveis facetas da psique de gente psicologicamente danificada - em "<i>Hellraiser</i>", a incessante busca de <i>Frank </i>por prazeres sem limite, em "<i>Midnight Meat Train</i>" a ambição que arrasta <i>Leon </i>ao labirinto abaixo de Nova York onde um perigosíssimo maníaco desce martelos sobre cabeças com a mesma paixão com que a <i>Julia </i>de "<i>Hellraiser</i>" "<i>processava</i>" a "<i>carne</i>" para levar "<i>comida</i>" ao amante que é uma poça de pus, sangue e músculos em um chavascal mantido longe dos olhos do marido traído, no sótão. Em "<i>Hellraiser</i>", para além das janelas da casa em Ludovico Street, londrinos continuam seguindo com suas rotinas corridas, em "<i>Midnight Meat Train</i>", acima dos trilhos, perdura um mundo em suspensão, na calada da madrugada, onde luzes de neon emanam de vitrines em downtown Manhattan.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwMLNB771uXiIWJbLuy5HESIrQ4eC7hAR_sCD-8Y5cMg7422-ZZtH15AEncMa1au-1PcYITfTFgyBj2AapOwR_8q013d6yYcKGtigBYV8ldVto6kDiGgJbySSQPeZfb6B4e6akB2DuGIo/s1600/e3751c3ef64db3340e90cdaa34a304b7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="873" data-original-width="681" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwMLNB771uXiIWJbLuy5HESIrQ4eC7hAR_sCD-8Y5cMg7422-ZZtH15AEncMa1au-1PcYITfTFgyBj2AapOwR_8q013d6yYcKGtigBYV8ldVto6kDiGgJbySSQPeZfb6B4e6akB2DuGIo/s320/e3751c3ef64db3340e90cdaa34a304b7.jpg" width="249" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">s atuações unanimemente sólidas tornam complicado pinçar uma performance para rotulá-la como a definitiva. <i>Vinnie Jones</i> e seu jeitão "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">hooligan britânico</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" pintam seu <i>Mahogany </i>de um estoicismo que nos faz pensar em <i>Arnold Schwarzenegger</i> no primeiro "<i>Exterminador do Futuro</i>". Apesar de marcar presença na maior parte das cenas, <i>Vinnie Jones</i> precisa de algo mais que linhas de diálogo para mostrar a que veio. Sem explicar razões, <i>Mahogany </i>deixa que as ações atestem sua conduta, e <i>Vinnie Jones</i> utiliza muito bem olhares petrificadores que o definem como o monstro em controle, comandando respeito mesmo ao se limitar a lançar um olhar do outro lado da rua, para <i>Bradley Cooper</i>, em frente a um atemporal hotel perdido ali no meio do nada, entre vias primordialmente transitórias, onde ninguém é de ninguém. <i>Brooke Shields</i> <i><span style="font-size: x-small;">(foto, ao lado de Burt Reynolds, no início dos anos 80, quando ambos ainda estavam no topo de seus jogos)</span></i>, hoje tantas décadas após seu ápice, quando não comanda a mesma atenção que um dia o fez, no auge da beleza, personifica a típica femme fatale de ego fragilizado que <i>Barker</i> adora escrever, e suas poucas cenas onde aparece jogando com a cabeça sugestionável de <i>Bradley Cooper</i> são uma delícia de se assistir.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Com uma trama envolvente e um elenco de primeira, <i>Ryuhei Kitamura</i> poderia ter feito ainda melhor se apenas tivesse conseguido afastar a extravagância do derramamento de sangue. Inicialmente, a violência apenas casualmente mostra a cara feia durante a primeira metade da trama, que se desenrola como um suspense estilo <i>Hitchcock</i>, porém, depois, descamba para a escatologia completa em um clímax recheado de facadas, golpes de martelo, ossos perfurados e toda espécie de crueldade gráfica, minando o conjunto da sofisticação da primeira hora. As melhores versões cinematográficas de obras & textos de <i>Clive Barker</i> homenagearam um tipo de maldade embrulhado pelo erotismo, uma brutalidade não exatamente patente, apenas inflamada por vias secundárias, pela ferocidade que só se pode compreender alegoricamente, aos poucos e indiretamente. "<i>Hellraiser</i>" não precisa explorar a facada que <i>Frank</i> desfere em <i>Julia</i>, quando este a trai, ao final, no entanto sua agressividade visceral não se reporta à lâmina que a penetra na linha do abdômen, mas ao choro de dor e absoluta tristeza que ela emite ao compreender que seu amor foi apenas usado pelo amante cafajeste de magnético charme, por quem morreria eternamente se ele apenas voltasse a pedir. "<i>Hellraiser 2 Renascido das Trevas</i>" tratou a violência semelhante e até criou um padrão próprio: concebeu imagens abstratas e surreais de pura maldade (a forma em tetraedro prateado em permanente giro sobre um labirinto infinito, a que chamamos de "<i>Leviatã</i>"), e retratou a morte com a mesma ousadia maliciosa que <i>Barker </i>fizera com o anterior (a morte do jovem psiquiatra nas mãos de <i>Julia</i> pela via da drenagem, retratada em um simples movimento de câmera que prefere filmar a comoção apenas vagamente, e deixar que o choro da vítima e as listras de sangue escorrendo das narinas e de um dos ouvidos transmitam uma batelada de informações pelo tempo de duração do horroroso processo). "<i>Midnight Meat Train</i>" é um festival de duelos de armas brancas que chega a superar a violentíssima meia hora final de "<i>Hunted</i>", de <i>William Friedkin</i>, onde o clímax também se dá com a disputa entre dois homens altamente treinados em artes marciais e munidos de facas. Não resta dúvida que o diretor <i>Kitamura </i>é um talentoso cineasta com contribuições fantásticas ao já riquíssimo manancial de <i>Clive Barker</i>, o tipo de mente astuciosa apropriada para traduzir a prosa do escritor britânico para em imagens em movimento, no entanto, e aqui humildemente ofereço meu reparo pessoal, imagino que o resultado teria sido ainda mais poderoso se tivesse exercitado a elegância estilística de um <i>Brian De Palma</i>, por exemplo. Claro que em determinado momento as cortinas teriam de ser abertas, evidente que precisaríamos enxergar os monstros, sangue tinha de ser derramado, mas por que não indiretamente? Na seara da discrição é onde resta preservado o mistério, e um filme de horror jamais deve permitir que o mistério se vá. Não podemos olvidar, contudo, do engenho de <i>Ryuhei Kitamura</i>, mais um artista com arrojadas visões importado por Hollywood, a exemplo do que foi feito antes com <i>Hideo Nakata</i> ("<i>O Chamado</i>") & <i>Masayuki Ochiai</i> ("<i>Imagens do Além</i>").</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Lançado em 19 de julho de 2008, no Festival de Fantasia de Montreal, público & crítica o receberam muito bem. <i>Barker </i>vocalizou seu desapontamento com a Lionsgate, que adotou uma estratégia de mercado mais cautelosa: limitou "<i>Midnight Meat Train</i>" `a exibição em apenas 100 salas de cinema, ao invés de lhe permitir uma maior abertura, e logo o relançou no mercado de DVD. Independente dos percalços enfrentados, o filme inaugurou um período que, esperamos, veio para ficar. Novas histórias da coletânea "<i>Books of Blood</i>" foram optadas para adaptações cinematográficas. Quase um ano após o lançamento de "<i>Midnight Meat Train</i>", foi a vez de "<i>Dread</i>" nos oferecer uma visão muito interessante de um dos seus mais horripilantes contos.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgK-ksgoh10_LczuSLg2fsTZRDhYUvp5OBnIGYkfUPgjuCY0j-NVJHnajcmXdejX7VKw1iJcNer-hsMSbPL6An9_-emZ1yN_50mCf5tsdV7Z-aL74rKeQnIZfual73SE_4mRbsBhB7tl0c/s1600/dread1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="450" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgK-ksgoh10_LczuSLg2fsTZRDhYUvp5OBnIGYkfUPgjuCY0j-NVJHnajcmXdejX7VKw1iJcNer-hsMSbPL6An9_-emZ1yN_50mCf5tsdV7Z-aL74rKeQnIZfual73SE_4mRbsBhB7tl0c/s320/dread1.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O universitário </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Stephen Grace</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> (</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jackson Rathborne</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">) conhece casualmente um misterioso rapaz chamado </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Quaid </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">(</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Shaun Evans</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">) quando este lhe pede um cigarro. Os dois já tinham se cruzado anteriormente na classe de Filosofia. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Quaid </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">despreza a teoria ministrada pelos professores, crê que Filosofia passa obrigatoriamente por um conceito a que batizou de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">a Besta</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". Para </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Quaid</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, a Besta pode ser lida como a real natureza do medo, que apesar de distinto para cada pessoa, está intrinsecamente associado à condição humana. Quando nascemos, nossos destinos foram selados, afinal vamos todos morrer um dia, e no entanto este medo nos acompanha mais ou menos palpitante no curso da vida. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Quaid </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o convida a tomar cerveja no pub do campus, e naquele primeiro encontro </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Stephen </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">revela que perdeu o irmão quando tinha apenas 15 anos, vítima de um acidente automobilístico. Apesar do trauma, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Stephen </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">revela que não teme a morte como consequência da tragédia pessoal. Nas suas próprias palavras, ele crê que vive uma existência muito banal. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Quaid </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">mora sozinho em uma casa na Pilgrim Street, e aprendemos que toma remédios para dormir. Enquanto cumpre seu ritual de pílulas, o vemos sofrendo flashbacks que remontam à infância. Quando pequeno, testemunhou o assassinato dos pais. O traumático encontro envolveu um estranho munido de machado, que bateu à porta e sem oferecer maiores explicações os trucidou sem dar chance de defesa. A mãe inclusive foi quem mais sofreu, morta com um golpe que dividiu a face em metades. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Quaid </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">jamais entendeu por que ao invés de matá-lo o invasor apenas parou diante da criança aterrorizada, exibiu o machado e afirmou "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Eis a sua mãe, a sua mãe não passa disso</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", erguendo a cunha e a lâmina cheias de sangue e fios de cabelo.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">No campus, a melhor amiga de <i>Stephen </i>é uma tímida garota chamada <i>Abby </i>(<i>Laura Donnelly</i>). Ela conta que um rapaz esteve à procura de <i>Stephen</i> mais cedo. Trata-se de <i>Quaid</i>, que o convida a visitar sua casa naquela noite para conversarem a respeito de uma proposta sobre a qual nada acrescenta. Quando a garota gentilmente se despede com "<i>Foi um prazer conhecê-lo</i>", <i>Quaid </i>responde "<i>Bela marca de nascença, por falar nisso</i>". Apesar de inteligente, feliz, bonita e saudável, <i>Abby </i>carrega um sinal de nascença que ocupa parte do rosto, e embora os colegas não façam diferença, a moça sofre com aquela pouco importante imperfeição. À noite, <i>Stephen </i>o encontra compenetrado no porão com sua arte. À vontade, pinta uma modelo que se exibe nua sobre um colchão, para o prazer do estudante. <i>Quaid </i>interrompe a sessão para tratar de negócios com <i>Stephen</i>.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZxBb4Y7Q9RBY5Ko_rhHKQHT7FODHWGJuqn4YbFXT2kEHhX4R9hBQ_fnidrF1lR0DO1Gz7YBDGiRj2vIS_iZz9C59de_BmqzgWX1BTUfsPpTaiwLPjlVRFzYwOd1nd42oMKumDxPoxTic/s1600/dread2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="720" height="177" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZxBb4Y7Q9RBY5Ko_rhHKQHT7FODHWGJuqn4YbFXT2kEHhX4R9hBQ_fnidrF1lR0DO1Gz7YBDGiRj2vIS_iZz9C59de_BmqzgWX1BTUfsPpTaiwLPjlVRFzYwOd1nd42oMKumDxPoxTic/s320/dread2.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ele explica que gostaria de desenvolver um estudo sobre o medo. Teriam acesso aos equipamentos necessários através do programa estudantil, e o tema parece perfeito para a tese de <i>Stephen</i>. Por alguma razão, o rapaz menciona que no verão em que seu irmão foi morto, ele havia comprado o carro que o mataria. <i>Stephen </i>conta que apesar de não ter desabafado quando a tragédia aconteceu, o primeiro pensamento foi que podia ter estado ao lado do irmão. Ao perceber que o medo também faz parte de sua vida, ele topa a empreitada. <i>Quaid </i>e <i>Stephen</i> partem para comemorar e uma boate underground onde conhecem duas garotas e as levam para casa. Por vários momentos, o diretor <i>Anthony DiBlasi</i> insinua uma desagradável tensão homoerótica entre os dois. Primeiro, quando foi vê-lo em casa pela primeira vez, <i>Quaid </i>praticamente tomou banho na frente de um constrangido <i>Stephen</i>, e agora, ele pratica sexo oral em uma garota que conheceu no clube, ali na cama próxima ao sofá onde o amigo fica com outra menina.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Com o intento de realizar um projeto de qualidade, <i>Stephen </i>convida a amiga <i>Cheryl </i>(<i>Hanne Steen</i>) para a vaga de editora do curta-metragem. Ao escutar aquela conversa sobre medo, <i>Cheryl </i>acha o conceito bem intrigante, e embarca no projeto. Diligentes, preparam a sala onde conduzirão as entrevistas, e espalham panfletos, convidando colegas a prestarem depoimentos. Depois de uma série de entrevistas, <i>Quaid </i>parece desanimado. O que as pessoas lhe trazem são temores bobos, infundados. O universitário está em busca de algo tão profundo e severo quanto o crime que testemunhou na infância. À mesa de uma lanchonete, <i>Stephen </i>e <i>Cheryl</i> parecem curtir a companhia um do outro, a moça particularmente investida. Ela solta um discreto comentário sobre sua história pessoal, que terá ressonância logo mais, ao afirmar que o hambúrguer do colega tem um jeito de embrulhar seu estômago. <i>Cheryl </i>odeia carne.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhu3hvBelNkGU45M9dQ8OIdnNLSVWMRu13YMNPdoU5heGrO0EFaT5M8M5mQvnrV4iM1mhV9jz9p87Jaqdfh-YweyNW-7TF1ghsdI5cnrB0CchiqdBFfoZepsc9mauzDDOL30vXYsjPGFto/s1600/dread3.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="493" data-original-width="740" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhu3hvBelNkGU45M9dQ8OIdnNLSVWMRu13YMNPdoU5heGrO0EFaT5M8M5mQvnrV4iM1mhV9jz9p87Jaqdfh-YweyNW-7TF1ghsdI5cnrB0CchiqdBFfoZepsc9mauzDDOL30vXYsjPGFto/s320/dread3.png" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Quaid </i>comporta-se ranzinza quando o casal volta para casa, para a edição do projeto. Os rapazes têm uma briga de empurrões, e <i>Cheryl</i> tranquiliza os ânimos. Também desapontada com a natureza dos depoimentos tolos que capturaram a semana inteira, a moça revela que tem algo muito íntimo e doloroso para revelar, e pede que os amigos preparem as câmeras. <i>Cheryl </i>explica que nasceu e cresceu em uma cidadezinha ao norte de Nova York. A mãe trabalhava em um mercadinho, o pai em um grande açougue. Ele chegava tarde do trabalho, de modo que ao voltar, a esposa estava sempre dormindo. <i>Cheryl </i>se recorda da batida que as botas faziam ao forçar as tábuas do assoalho. O fato é que por toda a infância e adolescência, o pai a forçava a manter relações sexuais, e quando a estuprava, o odor de carne assaltava as narinas. Hoje, mesmo tantos anos depois, <i>Cheryl </i>ainda não consegue aturar o fedor de carne. <i>Quaid </i>a elogia pela coragem de "<i>tocar a Besta</i>", revelar seu mais inconfessável segredo. Quando ela tenta conseguir de <i>Quaid </i>confiança para se abrir, o rapaz prefere deixar a sala e fugir do confronto. Ele ainda não consegue conversar a respeito do que houve com os pais.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Determinado a vencer os medos, em um impulso, <i>Quaid </i>joga as pílulas fora, e tenta se preparar para uma noite normal de sono. <i>Stephen </i>se despede do amigo. Ele dormirá em um outro cômodo da casa. Naquela noite, <i>Quaid </i>escuta pisadas vindo de baixo. Ele reencontra o homem com o machado, o sujeito que estraçalhou seus pais, trabalhando no cadáver do pai, decepando-o aos poucos, enquanto um <i>Quaid </i>ainda criança brinca ao lado da mãe morta. Convicto de que retornou para pegá-lo, <i>Quaid</i> grita por <i>Stephen </i>e avisa que o assassino se encontra dentro de casa. Ele subitamente desperta aos gritos, percebendo que não passou de um pesadelo. Apesar de pedir a <i>Stephen</i> que volte a dormir, o rapaz não quer saber, e exige que <i>Quaid </i>conte o que o atormenta. Ele decide falar a respeito de seu passado sombrio. Ao terminar de explicar como os pais morrerem, diz algo nas linhas de que tratou de fugir, "<i>e tenho fugido desde então</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOnyoPuxCIVf_51GyCSq1t_-vAObHGOwvxf0jTdDfnxxZGcmOKmwuSRJJoMMfMlIdCcbvJXP-V2iE8J975BLVASf_DSBv4No4fHO5g5CBHTchNNAmdBD39iRDgd1X0_53oQLV6m7De94M/s1600/dread5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="386" data-original-width="900" height="137" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOnyoPuxCIVf_51GyCSq1t_-vAObHGOwvxf0jTdDfnxxZGcmOKmwuSRJJoMMfMlIdCcbvJXP-V2iE8J975BLVASf_DSBv4No4fHO5g5CBHTchNNAmdBD39iRDgd1X0_53oQLV6m7De94M/s320/dread5.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Stephen </i>está arrumando os livros na estante da biblioteca, quando <i>Abby </i>se aproxima para conversar. Ela revela que <i>Quaid </i>a procurou naquela manhã para convidá-la a posar nua. Lisonjeada, <i>Abby </i>recursou, mas parece tocada pelo interesse que supostamente despertou em <i>Quaid</i>. Os 3 conhecem um garoto chamado <i>Joshua</i>. Entre todas as pessoas que entrevistaram, <i>Joshua</i> é o único que lhes dá uma genuína história de trauma. Quando criança, foi atropelado por um automóvel, e o acidente lhe custou a audição por um determinado período. Ele explica que foi assustador, ver aquelas pessoas a sua volta falando sem que conseguisse compreender coisa alguma. <i>Joshua </i>se sentia à parte, em uma versão alternativa e silenciosa da realidade. Mesmo depois que a audição voltou, explica que passou um tempo preocupado se a perderia novamente. A confidência de <i>Joshua</i> toca <i>Quaid </i>de forma especial.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Quaid </i>visita o clube de strippers onde escolhe as mais belas garotas para posar para seus quadros. Enquanto uma moça dança sedutoramente a sua frente, só consegue prestar atenção em um homem do outro lado do palco, ao fundo, o maníaco que trucidou seus pais. Claro que <i>Quaid </i>está enxergando coisas, concebidas exclusivamente pela sua imaginação. Aterrorizado, deixa o clube. A relação entre <i>Stephen </i>e <i>Cheryl </i>se estreita, e ela lhe dá um relógio de presente para compensar aquele que <i>Quaid </i>quebrara quando os dois haviam brigado. <i>Stephen </i>não sabe ainda, porém quem nutre sentimentos por sua pessoa é a amiga platônica <i>Abby</i>. Ela comenta que adoraria participar do projeto, prestar seu depoimento, no entanto só se sente confortável se falar para <i>Stephen</i>, e não para <i>Cheryl</i> ou <i>Quaid</i>. Previsivelmente, o trauma de <i>Abby </i>envolve a marca de nascença no rosto. Ela fala que a primeira vez que compreendeu a extensão do problema foi quando um coleguinha de turma lhe perguntou o que havia de errado com a face. Durante o encontro, bastante emocional, <i>Abby </i>se levanta e abre o robe. Ela se diz apaixonada por <i>Stephen</i>, mas não sabe que ele está comprometido com <i>Cheryl</i>. O rapaz procura explicar que seu coração pertence a uma outra pessoa, por ora.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Stephen </i>não aprendeu a lição. Ele procura <i>Quaid </i>e inocentemente conta tudo o que aconteceu entre os dois. Na manhã seguinte, <i>Quaid </i>visita o quarto da garota e os dois conversam. Ele afirma que a acha sexy, e aos poucos ganha sua confiança. <i>Quaid </i>a seduz, eles se divertem em uma boate e depois fazem amor. Em uma montagem exibida simultaneamente à noite na boate, vemos que <i>Stephen </i>e <i>Cheryl </i>finalmente ficaram íntimos. Eles têm uma noite de amor na praia. A relação entre <i>Quaid </i>e <i>Stephen </i>fica fragilizada quando os dois trocam acusações, depois que ele expulsa uma garota a quem flagrou dando um depoimento mentiroso. Cego de fúria, <i>Quaid </i>quebra os equipamentos com golpes de taco. <i>Cheryl </i>e <i>Stephen </i>viram o suficiente, e partem. Antes de deixar a casa, <i>Stephen </i>dá um murro na cara de <i>Quaid</i>.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Na mesma noite, ele procura <i>Stephen</i>, quando ele está a caminho do prédio do dormitório. <i>Quaid </i>deseja se desculpar, e <i>Stephen</i>, que sempre dá novas oportunidades a um sujeito claramente instável, aceita uma carona.O papo não custa a voltar ao dilema do medo. <i>Quaid </i>pisa no acelerador, com o intento de reproduzir o cenário da morte do irmão, de modo que <i>Stephen </i>vença seu medo. Por pouco eles não se acidentam. <i>Stephen </i>salta do carro, e pede para que <i>Quaid </i>não o procure mais. <i>Cheryl </i>não tem a mesma sorte. Enquanto <i>Quaid </i>volta para casa, ela, que voltou para recolher os equipamentos quebrados, se depara com o porão onde ele conserva suas perturbadoras pinturas. As pinturas unanimemente retratam mulheres deformadas por ferimentos provocados por machado. <i>Cheryl </i>tenta não transparecer medo quando <i>Quaid </i>a encurrala, mas o colega a prende ali dentro.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Quaid </i>prepara o porão para seu experimento. Ainda não sabemos o que fará à <i>Cheryl</i>. <i>Stephen </i>falha miseravelmente nas tentativas de contactá-la. <i>Abby </i>procura <i>Stephen </i>para fazer as pazes. Já que entrará de férias na manhã seguinte, não quer partir brigada. Eles voltam a ser amigos, mas ao deixarem a sala juntos para investigar de que se trata uma certa comoção no hall, descobrem a exibição de um vídeo que <i>Quaid</i> deixou por ali. Ele fez imagens de <i>Abby </i>em seu mais vulnerável momento, e exibe uma pintura que fez da garota. No vídeo, <i>Quaid </i>surge com um pincel e passa tinta preta no rosto da figura. Ele mostra um cartaz onde se lê "<i>Essa é a sua realidade, você jamais será normal</i>". A moça fica bastante consternada e foge, humilhada. Obcecada em se livrar do sinal, entra em uma banheira com produtos químicos de limpeza. Ainda faz uma ligação para <i>Stephen</i> para revelar seu intento. Em um outro lugar, <i>Quaid </i>atraiu o inocente <i>Joshua </i>para uma cilada. Com uma pancada, desacorda o rapaz. <i>Quaid </i>pretende filmá-lo enfrentando seu maior temor. Ele incapacita a audição do garoto estourando seus tímpanos, de modo que <i>Joshua</i> seja assaltado pelas recordações da infância, do acidente que custou um dos sentidos. Depois de se divertir bastante com o horror do inocente garoto, ele o deixa em uma viela qualquer, atordoado.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Stephen </i>chega desesperado ao dormitório da melhor amiga, e a encontra coberta de sangue, vagando pelo corredor. Desesperado, a abraça e cobre, e grita para que tratem de chamar uma ambulância. <i>Joshua </i>desperta em um leito de hospital, profundamente traumatizado com as malvadezas de <i>Quaid</i>. Confuso após a experiência, <i>Joshua</i> só pensa em vingança. <i>Stephen </i>também tem vingança em mente, e conhecedor do trauma de <i>Quaid</i>, resolve acertar as contas da maneira apropriada. Ele põe as mãos em um machado, e entra na casa disposto a matá-lo. Ao ver <i>Stephen </i>com a arma, <i>Quaid </i>é bombardeado por lembranças e foge para o quarto.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Apesar de inicialmente furioso, <i>Stephen </i>não traz dentro de si a mesma natureza predatória de <i>Quaid</i>. Ao vacilar por um momento, é rendido pelo colega, que exibe um revólver. Com uma coronhada, o põe para dormir. Ao despertar, <i>Stephen</i> se vê amarrado na cadeira, na sala de projeção. <i>Quaid </i>exibe imagens de <i>Cheryl </i>aprisionada dentro do porão. <i>Quaid </i>explica que forçou <i>Cheryl</i> a enfrentar seu maior medo, o sabor e o cheiro da carne. <i>Quaid </i>a deixou presa por muitos dias, e documentou o processo com suas câmeras. Por um tempo, <i>Cheryl</i> resistiu, determinada a não tocar a carne que ironicamente se tornava mais repugnante com o avanço da semana, vez que as moscas punham os ovos e o bife começava a se decompor. Finalmente, <i>Cheryl </i>acaba cedendo e mordendo a carne salpicada de ovos, enfrentando seu temor mais incrustado.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBCdzJeGBYsLQ9JJWaPZkbDhw8xl8HldkjtJ-WmmYfZ6XJ5MKZ2QVNQpOb32u46fk_8Rnz9yGBErDNKdfuDlBfNwfGW4JjbLw3u0eKw_KWuBJIrPf9zmW14b0kWqV7TZHWgxH0s9V5K3A/s1600/dread4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="402" data-original-width="604" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBCdzJeGBYsLQ9JJWaPZkbDhw8xl8HldkjtJ-WmmYfZ6XJ5MKZ2QVNQpOb32u46fk_8Rnz9yGBErDNKdfuDlBfNwfGW4JjbLw3u0eKw_KWuBJIrPf9zmW14b0kWqV7TZHWgxH0s9V5K3A/s320/dread4.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Durante a exibição do filme, <i>Quaid </i>escuta uma movimentação do lado de baixo. É <i>Joshua</i>, bastante confuso, quem apareceu por ali. Ele topa com o machado que <i>Stephen </i>deixou no chão, e se apodera da arma. <i>Stephen </i>desce as escadas, ignorante quanto ao risco que corre. Vagando pelos corredores em busca da saída, <i>Stephen </i>é subitamente golpeado acidentalmente por <i>Joshua</i>, que enterra o machado de maneira a dividir a caixa torácica em duas partes e romper uma importante artéria. <i>Stephen </i>morre instantaneamente, e <i>Joshua</i> é assassinado com um tiro na cabeça efetuado por <i>Quaid</i>. Ao escapar impune de suas maldades, ele arrasta o corpo de <i>Stephen</i> para o porão. <i>Cheryl</i> ainda está morando ali dentro. <i>Quaid </i>avisa que se ela quiser sobreviver, agora precisará consumir o cadáver.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Das 3 produções tratadas na resenha, "<i>Dread</i>" é o "<i>patinho feio</i>", o que não significa que eu o considero um filme fraco. Ao contrário, excelente suspense, "<i>Dread</i>" só expõe suas carências aos olhos dos leitores do conto homônimo publicado no 2° volume de "<i>Books of Blood</i>". Encorajado pelo suporte incondicional de <i>Clive Barker</i>, o diretor <i>Anthony DiBlasi </i>promoveu algumas mudanças na estrutura do enredo, alterações que ao menos ao meu ver não o serviram tão bem quanto se imaginava. Teríamos um filme mais interessante se as linhas do romancista tivessem sido encenadas do jeito que lemos no livro. <i>Barker</i>, todavia, parece pensar diferente. Em entrevista a Phil & Sara Stokes, <i>Clive</i> elogiou a nova reimaginação cinematográfica, afirmando: "<i>Ele (o diretor Anthony DiBlasi) expandiu os personagens e tornou o tom mais sombrio, para falar a verdade. Eu creio que por mais sombrio que o conto seja, está ainda mais agora. Eu creio que o filme será mais macabro que o conto. No filme, você não está mais dentro da cabeça dos personagens da mesma maneira que no conto. Você lhes assiste de fora, e há tanta crueldade e loucura. Todos que assistirem ao filme se perguntarão 'o que será que Quaid descobriria dentro de mim? Eu sobreviveria aos meus medos?'. É bastante diferente do que acontece com Jogos Mortais. Primeiro, claro, porque eu escrevi o conto 20 anos antes! A premissa de Jogos Mortais difere da minha história. (Jogos Mortais) trata de uma premissa de vingança. Quaid, a seu turno, está essencialmente pesquisando o medo, ele pesquisa a natureza do horror, Jigsaw em Jogos Mortais não está interessado nisso, ele está interessado em ver os espíritos das pessoas quebrarem. Uma das cenas mais memoráveis em Dread é a da carne, a menina que odeia o cheiro de carne e é enclausurada com um bife que lentamente está se decompondo e parecendo mais repulsivo. À medida que os dias se passam e ela se desespera, você percebe que sua chance de sobreviver, comer o bife, está ficando cada vez mais degradante. Isso não é algo próprio a filmes do estilo Jogos Mortais. Eu não sei o que Jogos Mortais faria no lugar - provavelmente algo como colocar uma bomba na comida. Eu gosto de pensar em Dread como um filme de horror elegante. Eu também perdi minha audição por um determinado período em minha vida, e também tenho ojeriza a certos tipos de carne, a ponto de me dar ânsia de vômito pelo simples odor</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Não obstante minha reverência à opinião de <i>Barker</i>, penso de maneira distinta. Creio que a intenção do cineasta movia por uma modernização da trama, acomodação ao ritmo menos letárgico dos filmes de hoje, principalmente considerando que o conto foi concebido no início dos anos 80, e a versão para cinema buscava atender um público alvo que hoje se encontra na casa dos 20, e portanto não reage com muita benevolência à ambientação mais clássica, a uma história mais psicologicamente profunda. Ainda que as mudanças tenham furtado dos personagens o charme que naturalmente emana tão fácil das páginas de "<i>Books of Blood</i>", o produto final parece polido e estiloso, o que faz de "<i>Dread</i>" um exemplar muito superior a similares como "<i>Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado</i>". O cineasta explicou melhor suas intenções em entrevista a James Grainger, quando traçou um paralelo entre os elementos que no conto compunham sua espinha dorsal e o sentido a que <i>DiBlasi </i>tentava levar sua versão: "<i>A história está centrada nessa gente que você encontra diariamente, e por isso Dread é um dos contos mais apavorantes do Clive. Ensina que monstros nem sempre nascem, muitas vezes são criados pelas circunstâncias. E eles, monstros, andam entre a gente e geralmente parecem conosco. Eu categorizo Dread como uma trama clássica de rito de passagem. Os protagonistas veem-se naquela idade em que tentam encontrar um atalho para a fase adulta</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">No frigir dos ovos, <i>DiBlasi </i>conseguiu utilizar como sustentáculo para sua aventura uma trama mais macabra do que a média, difícil de se vender, para, a partir da mesma, desenvolver o suspense que embora superior a similares, sacrifica a originalidade de <i>Barker </i>em favor de elementos mais apetecíveis ao grande público, nominalmente o romance entre herói e mocinha, na obra literária inexistente, e a criação de muitos pequenos "<i>draminhas</i>" paralelos que estorvam a soma das partes. A discussão acerca dos pontos não tão bons do filme demanda que eu me reporte ao conto, de modo que as distinções pareçam mais explícitas.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixH5OwoT2iaaBoPDfushBQb_wFsI3JT4MpqYnqXwkcQG12O7eFkXEJbdPq8RULVp_9LQ7HC4wqn9e-iLkP9UH75NMkf6qrP3AayJTWZjmWyGQqg156jvQb5O_MnfrYF7SLKCiMspHNMnc/s1600/dreadmovie.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="565" data-original-width="961" height="188" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixH5OwoT2iaaBoPDfushBQb_wFsI3JT4MpqYnqXwkcQG12O7eFkXEJbdPq8RULVp_9LQ7HC4wqn9e-iLkP9UH75NMkf6qrP3AayJTWZjmWyGQqg156jvQb5O_MnfrYF7SLKCiMspHNMnc/s320/dreadmovie.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O conto "<i>Dread</i>" foi lançado entre os anos de 1984 & 1985. Tudo o que se vê de modernizado no filme foi uma tentativa do diretor de tornar a trama misteriosa um suspense mais acessível. Se visto a salvo das cobranças dos puristas, o filme merece elogios. Prende a atenção, e consegue esticar uma premissa simplista ao longo do tempo de projeção. Para os entusiastas de <i>Barker</i>, no entanto, muita coisa parece perdida no "<i>salto</i>". Não é a primeira vez que o problema acontece. Tomem como exemplo "<i>A History of Violence</i>", o filme de <i>David Cronenberg</i>. Quando o vi no cinema, em 2005, eu o achei fantástico, um retorno à velha boa forma do mestre do horror orgânico, o homem de cuja mente haviam brotado coisas como "<i>Dead Ringers</i>" & "<i>M. Butterfly</i>". 5 anos mais tarde, quando tive acesso à fonte, a graphic novel homônima escrita por <i>John Wagner</i> e ilustrada por <i>Vince Locke</i>, a minha estima pelo filme decresceu alguns pontos (apenas um pouquinho). Começou por "<i>o melhor filme do ano</i>" quando deixei a sala de cinema em 2005, e terminou com "<i>poderia ter sido muito, muito melhor</i>", em 2010, depois que adquiri a graphic novel na amazon e a li de cabo a rabo. O trabalho de <i>Wagner</i> me marcou tanto, a melancolia de sua bela trama trazida à vida em páginas de elegante preto e branco e traçados rabiscados de <i>Vince Locke</i>, que muito devo aos dois a história que eu escrevi mais tarde, "<i>Nosebleed</i>", diversos aspectos que me tocaram naquelas folhas gastas, amareladas pelo tempo, e que <i>Cronenberg </i>infelizmente não se permitiu enxergar. Mais recentemente, eu compreendi a charada. Como genial artista, <i>Cronenberg </i>nunca teria deixado de identificar a mágica nas páginas ilustradas por <i>Locke</i>. Ocorre que em uma entrevista ele confessou que jamais lera a graphic novel. Em linhas simples, quando sentou na cadeira de diretor, recebeu um roteiro com tudo pronto, uma adaptação finalizada, de forma que não se incomodou em ir atrás da fonte. Nisso, <i>Cronenberg </i>perdeu, e muito. O filme faz parte da minha seleta lista de favoritos, porém se o cineasta tivesse lido e compreendido as ideias de <i>Wagner </i>pertinentes à tristeza das circunstâncias - a vovó do personagem principal, uma idosa doente do coração, o melhor amigo Richie, que arquiteta um assalto ao restaurante onde os mafiosos se reúnem quando ele e <i>Joey </i>são só dois adolescentes no bairro, os prédios pequenos e bem decadentes do Brooklyn em um verão particularmente escaldante - a versão cinematográfica teria arrebatado a maioria dos principais prêmios da Academia naquele ano. Quanto a "<i>Dread</i>", o conto, o romance "<i>água com açúcar</i>" entre <i>Cheryl</i> & <i>Stephen</i> que vemos no filme jamais existiu. Não há menção a projeto estudantil algum sobre medo. <i>Quaid</i>, o vilão, apenas engata uma amizade com <i>Stephen</i>, um rapaz muito inocente que paga caro pela ingenuidade. A atriz <i>Hanne Steen</i> compõe uma mocinha durona e difícil de quebrar, todavia, no conto, é uma moça esnobe e orgulhosa que apesar de fingir odiar <i>Quaid</i>, vai para a cama com ele na primeira oportunidade, quando ele dá o bote que a faz engolir o orgulho e aprender uma lição. Antes que <i>Quaid </i>faça mal à moça, <i>Stephen </i>experimenta o "<i>... curioso pressentimento de que Quaid estava cortejando Cheryl por suas próprias e misteriosas razões. O sexo não era o que atraía Quaid, estava certo disso. Tampouco era seu respeito pela inteligência de Cheryl o que o fazia mostrar-se tão atento. Não, de algum modo, a estava encurralando, isso era o que lhe dizia seu instinto. Estava preparando Cheryl Fromm para a morte</i>". Adiante, o mestre <i>Barker </i>descreve:</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"<i>Não era difícil apreciar. Na foto seguinte, estava de pé, tranquila, com os olhos longe da tentação da comida, todo seu corpo tenso ante o dilema.</i></span><br />
<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- Você a está matando de fome.</span></i><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Pode-se suportar facilmente 10 dias sem comer. Os gordos são frequentes em qualquer país civilizado, Steve. 6 por cento da população britânica está obesa do ponto de vista clínico em um momento ou outro. De qualquer forma, ela estava muito gorda.</i></span><br />
<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Dezoito (<span style="font-size: x-small;">nota deste resenhista - o número reporta-se, no conto, à ordem em que as fotos estão sendo apresentadas a Stephen</span>): a garota gorda está sentada no canto do quarto, chorando.</span></i><br />
<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- Aí começou a ter alucinações. Pequenos tiques mentais. Acreditava sentir algo no cabelo ou no dorso da mão. Às vezes, ficava olhando para o ar sem ver nada.</span></i><br />
<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Dezenove: lava-se. Está nua até a cintura, tem os peitos cheios, a cara desprovida de expressão. A carne de boi apresenta um tom mais escuro que nas fotos anteriores.</span></i><br />
<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- Lavava-se com regularidade. Nunca passavam 12 horas sem que se asseasse da cabeça à ponta dos pés.</span></i><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- A carne parece...</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Passada?</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Escura.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Faz calor no quarto, e há algumas moscas com ela. Encontraram a carne e depositaram seus ovos. Sim, está maturando perfeitamente.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Isso fazia parte do plano?</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Claro. Se a carne lhe enojava quando estava fresca, qual não será sua repugnância ante uma carne podre? Este é o ponto crucial de seu dilema, não? Quanto mais espera para comer, mais nojo lhe dará o que tem para alimentar-se. De um lado está presa por seu horror da carne, e de outro por seu terror da morte. Qual dos dois cederá primeiro? Steve estava tão preso como ela. Por um lado, esta brincadeira começava a ficar muito pesada, e o experimento de Quaid se converteu em um exercício de sadismo. Por outro lado, queria saber até onde chegaria a história. Havia algo sem dúvida fascinante em ver uma mulher sofrer.</i></span><br />
<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">As 7 fotos seguintes - 20, 21, 22, 23, 24,25, 26 - refletiam a mesma rotina. Dormir, lavar-se, fazer as necessidades, olhar a carne. Dormir, lavar-se... e logo veio a 27.</span></i><br />
<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- Está vendo?</span></i><br />
<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ela agarra a carne. Sim, agarrava-a, com a cara cheia de horror. A pata de boi parece mais que passada, está salpicada de ovos de mosca. Torcida. Na fotografia seguinte tem a cara afundada na carne. Steve acreditou sentir o sabor da carne podre na garganta. Sua mente imaginou um fedor apropriado e criou um molho de podridão para saborear com a língua. Como Cheryl pôde fazer isso?</span></i><br />
<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">29: está vomitando na caixa do canto do quarto. 30: está sentada e olhando a mesa. Está vazia. Atirou a jarra d'água contra a parede. O prato está quebrado. O boi está atirado ao chão em um atoleiro putrefato. 31: dorme. Tem a cabeça escondida entre os braços. 32: está de pé. Olhando outra vez para a carne, desafiando-a. A fome que sente está aparente no rosto. O nojo também. 33: dorme.</span></i><br />
<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- Quantos dias agora? - perguntou Steve.</span></i><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- 5 dias. Não, 6. 6 dias.</i></span><br />
<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">34: é uma forma imprecisa que aparentemente se equilibra contra uma parede. Ou melhor, a golpeia com a cabeça, Steve não pôde distinguir. Não tinha nenhuma intenção de perguntar. Algo nele não queria saber. 35: dorme de novo, desta vez debaixo da mesa. O saco de dormir está em pedaços, farrapos de roupa e partes de estopa cobrem o quarto. 36: fala com a porta, a quem está do outro lado, sabendo que não obterá resposta. 37: come a carne rançosa. Senta-se tranquilamente sob a mesa, como um homem primitivo em sua cova, e morde a carne com os incisivos. Seu rosto volta a ficar sem expressão, todas as suas energias se concentram na decisão que tomou. Comer. Comer até que a fome desapareça, até que a angústia de seu estômago e o enjoo de sua cabeça desapareçam. Steve contemplou a foto.</span></i><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i><br /></i></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Ela me surpreendeu. - comentou Quaid. - o súbito de sua derrota. Em um momento parecia estar tão resistente como sempre. O monólogo que recitou em frente a porta era a mesma mescla de ameaças e desculpas que proferia dia sim dia não. E então veio abaixo. Assim, de repente. Sentou-se sobre a mesa e comeu a carne até o osso como se fosse um prato fino.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i><br /></i></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>38: dorme. A porta está aberta. Entra luz. 39: o quarto está vazio. </i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i><br /></i></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Para onde foi?</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Desceu as escadas. Entrou na cozinha, bebeu vários copos d'água e se sentou em uma cadeira 3 ou 4 horas sem dizer uma só palavra.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Falou com você?</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Como no passado. Quando começou a sair de seu estado amnésico. O experimento tinha acabado. Não quis lhe fazer mal.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- O que ela disse?</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Nada.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Nada?</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Absolutamente nada. Durante muito tempo acredito que nem sequer percebeu que eu estava no quarto. Depois cozinhei umas batatas e ela comeu.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Não tentou chamar a polícia?</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Não.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Nada de violência?</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Nada. Sabia o que eu tinha feito e por quê. Não foi premeditado, mas tínhamos falado de experimentos parecidos em conversas abstratas. Na realidade não tinha sofrido nenhum dano. Talvez tenha perdido um pouco de peso, mas isso foi tudo.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Onde ela está agora?</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Foi embora no dia seguinte. Não sei para onde.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- E o que tudo isso demonstrou?</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Absolutamente nada, mas me deu um interessante ponto de partida para minhas investigações.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Ponto de partida? Foi só um ponto de partida?</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i><br /></i></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Havia um asco manifesto no tom que Steve empregou com Quaid.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i><br /></i></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Stephen...</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Podia tê-la matado!</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Não.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Ela podia ter enlouquecido. Desequilibrada para sempre.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Possível, mas improvável. Era uma mulher de muito caráter.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Mas você pôde com ela.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Sim. Era um passo que estava disposta a dar. Tínhamos falado que enfrentasse o seu medo. Assim aí estava eu, permitindo que Cheryl fizesse justamente isso. Nada importante, na realidade.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Obrigou-a a fazê-lo. Senão, ela não teria passado por isso.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Certo. Foi instrutivo.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Ou seja, agora é professor.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i><br /></i></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Steve teria desejado evitar aquele tom sarcástico, mas não pôde. Sentia-se invadido pelo sarcasmo e a cólera, e experimentava um pouco de medo.</i></span><br />
<i><br /></i>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>- Sim, sou professor. - Quaid observou Steve, de soslaio. - Ensino terror às pessoas</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>DiBlasi</i> teceu um roteiro que intrincou desastradamente uma trama perfeita em sua sádica simplicidade. A estrutura do conto de <i>Barker </i>é clara: primeiro, <i>Quaid </i>realiza o experimento da carne com <i>Cheryl</i>, a deixa partir (diferente do filme, onde <i>Quaid </i>a aprisiona no cativeiro para sempre), depois rende <i>Stephen </i>e o submete a seu próprio medo. Lembram que no filme há um rapaz chamado <i>Joshua</i>, com o horror de ficar surdo novamente? Pois no conto original, o temor diz respeito a <i>Stephen</i>, não há nenhum <i>Joshua</i>. <i>Quaid </i>se diverte com o medo do rapaz, aprisionando-o em um duto claustrofóbico, cobrindo olhos e ouvidos para, com o tempo, simular o horrível sentimento da sinestesia. <i>Quaid </i>o solta, mas <i>Stephen </i>fica louco. Regressa para a casa em Pilgrim Street e trucida o rapaz a machadadas, dando-lhe um gosto de seu próprio medo. A sequência de eventos pode parecer simplista, contudo não lemos um conto aterrorizante ou assistimos a um suspense de roer as unhas apenas pelo final da jornada. Nós o fazemos pela execução. A execução da caneta de <i>Barker </i>é impecável, sua prosa memorável descrevendo imagens que ao invés de flagradas por câmeras, quando concebidas apenas no fértil terreno da criatividade, tornam-se mais apavorantes pelo abstracionismo envolvido. Vejam o trecho a seguir, que se dá quando <i>Stephen </i>acaba de ser absolvido de seu cárcere, a maneira como <i>Barker </i>descreve o colapso mental, e os detalhes sórdidos, como o fato de <i>Quaid</i> reaparecer vestindo uma máscara de <i>Mickey Mouse</i>, coisinhas aleatórias que nos agridem e terminam de arruinar a mente alquebrada do personagem, finalmente rendido à loucura:</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"<i>Quando por fim a luz apareceu, levantou o olhar para a pessoa que estava na porta, com uma máscara do camundongo Mickey, e sorriu. Foi um sorriso de menino, de agradecimento para com seu salvador engraçado. Deixou que o homem o agarrasse pelos tornozelos e o tirasse de rastros da grande habitação redonda em que estava curvado. Tinha as calças molhadas e sabia que se sujara enquanto dormia. Mas por isso mesmo o camundongo divertido lhe daria um beijo ainda maior. A cabeça dançava sobre os ombros quando o tirou da câmara de tortura. No chão, ao lado de sua cabeça, havia um sapato. A uns dois metros e meio acima dele se encontrava o ralo de que tinha caído. Aquilo já não significava nada para ele. Deixou que o camundongo o sentasse em um quarto iluminado. Deixou que lhe devolvesse a audição, embora na realidade não a queria para nada. Era divertido contemplar o mundo sem som, o fazia rir. bebeu um pouco de água e comeu um pouco de bolo doce. Estava cansado, Queria dormir. Queria a sua mãe. Mas o camundongo não parecia compreendê-lo, assim chorou e chutou a mesa e atirou os pratos e as taças ao chão. Logo correu para o quarto contíguo e atirou para o ar todos os papéis que encontrou. Era bonito vê-los voar para acima e cair revoando. Alguns caiam para baixo, outros para cima. Alguns estavam escritos. Outros eram fotos. Fotos horríveis. Fotos que lhe causavam uma sensação muito estranha. Absolutamente todas as fotos eram de gente morta. Algumas, de meninos pequenos, outras, de meninos já crescidos. Estavam caídos ou meio sentados, e tinham profundos cortes no rosto e no corpo, cortes que revelavam algo asqueroso, uma espécie de confusão de pedaços brilhantes e pedaços que supuravam. E ao redor dos mortos havia uma pintura negra. Não eram manchas definidas, mas salpicadas, com impressões digitais e marcas de mãos e tudo muito caótico. Em 3 ou 4 fotos se via o instrumento que tinha realizado os cortes. Sabia como se chamava. Machado. A cara de uma mulher tinha um machado afundado quase até o cabo. Havia um machado na perna de um homem, e outro atirado no chão de uma cozinha junto a um bebê morto. Aquele homem colecionava fotos de mortos e de machados, coisa que a Steve pareceu estranha. Essa foi sua última ideia até que o aroma muito familiar do clorofórmio invadiu sua cabeça e ele perdeu a consciência</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Note-se ainda que no mesmo conto, jamais se escuta da boca de <i>Quaid </i>que ele viu os pais assassinados a machadadas. Ao contrário, e brilhantemente, <i>Barker</i> apenas cita a obsessão do rapaz, encapsulada nas fotos de gente morta a machadadas. Para bom entendedor, meia palavra basta. <i>Barker</i> não precisa declinar. A menção de fotos e mais fotos colecionadas por <i>Quaid </i>sugerem as coisas horrorosas pelas quais passou quando criança. Ao render minha homenagem a "<i>History of Violence</i>", de <i>Wagner</i>, ao explicar como a melancolia da graphic novel me inspirou a escrever "<i>Nosebleed</i>", passa por uma questão de princípios também citar a maneira que a imaginação de <i>Barker</i> respingou na expressão da minha escrita. Do conto "<i>Dread</i>", as imagens que permaneceram comigo - <i>Quaid </i>com a máscara de <i>Mickey Mouse</i>, <i>Stephen </i>retornando com o machado em mãos e a descrição dos golpes, a sequência de estruturas ósseas que a cunha rompe - foram mais ou menos reproduzidas nos dramas de meus próprios personagens. Quando Robyn regressa para a casa do ex-namorado pintor que descobre ter lhe transmitido AIDS, ela veste a máscara de <i>Mickey Mouse</i> para tornar sua aparição ainda mais atormentadora ao subir as escadas. O erotismo elegante com que tentei guiar o enredo a uma seara mais adulta e sombria não saiu apenas das impressões que os filmes mais antigos de <i>Cronenberg </i>depositaram sobre meus ombros, já em tenra idade, quando ainda era criança e não tinha ferramentas psicológicas para absorver coisas como "<i>Dead Ringers</i>", mas também da escrita do próprio <i>Barker</i>, em muitos de seus contos, sobretudo "<i>The Life of Death</i>", quando <i>Elaine Rider</i> redescobre a própria sexualidade ao estudar o corpo nu em frente ao espelho, após uma aventura nas catacumbas logo abaixo de uma igreja que está para ser derrubada, ou quando "<i>Jacqueline Ess</i>" sutilmente ameaça <i>Titus Pettifer</i> de morte, apenas nas entrelinhas, enquanto o faz chorar como um bebê. Sobre erotismo, teremos oportunidade de compreender melhor como <i>Barker </i>o utiliza magistralmente quando passarmos para a análise de "<i>Book of Blood</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Com uma fotografia saturada que enverga a atmosfera pelo peso, "<i>Dread</i>" jamais determina em que lugar se passa, no entanto a ambientação de tonalidades mais agressivas e o campus de linhas góticas, tão características da meca de estudos do Reino Unido, Oxford, parece sugerir que o drama se desenrola na Inglaterra, uma grata escolha, vez que o ritmo, o erotismo, a violência e a melancolia das histórias de <i>Clive Barker</i> encontram no Velho Mundo o solo ideal para fecundar. Algo na paleta de cores de "<i>Dread</i>" me sugeriu alguma familiaridade, e ao pesquisar os nomes nos créditos, vi que a fotografia se deve a <i>Sam McCurdy</i>, o homem por trás do visual das principais obras de <i>Neil Marshall</i>, talvez o grande nome do horror britânico, diretor de "<i>Dog Soldiers</i>", "<i>The Descent</i>" e o incompreendido "<i>Doomsday</i>", onde reciclou seu amor pelas ficções de <i>John Carpenter</i> e o gênero punk apocalíptico que regeu as produções italianas exploitation de um período bem maluco na primeira metade dos anos 80.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAAwuSSh9gPZgx0tzY-kVFaz_nFW8iC19vA67SnWuA1mepRYScZ-y2DgxfldAHyQDSxOS-MR8gYUvVjJXh1VsjDraFEeDSYZoIXZ0k4W5B9BiR0OcDwqCM3TOqU7h8oZ5tr74on5mSRGc/s1600/bookofblood3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="612" data-original-width="920" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAAwuSSh9gPZgx0tzY-kVFaz_nFW8iC19vA67SnWuA1mepRYScZ-y2DgxfldAHyQDSxOS-MR8gYUvVjJXh1VsjDraFEeDSYZoIXZ0k4W5B9BiR0OcDwqCM3TOqU7h8oZ5tr74on5mSRGc/s320/bookofblood3.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Em "<i>Midnight Meat Train</i>" vimos como <i>Clive Barker</i> falou sobre sociedades secretas e um mundo paralelo de magia, nos moldes de "<i>Hellraiser</i>". Em "<i>Dread</i>", ele descreveu personalidades psicopáticas e o joguinho onde o sexo é a moeda. Em "<i>Book of Blood</i>", seremos apresentado ao erotismo sensual que sublinha o ato da morte. </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Um andarilho muito debilitado encontra-se em uma diner de beira de estrada tentando se alimentar. Ele parece ferido e não fala muito. Um homem chamado <i>Wyburd </i>(<i>Clive Russel</i>) o observa de perto, à espera do momento certo para dar o bote. Quando o rapaz se aproxima do caixa para pagar, o estranho "<i>vai a seu socorro</i>", fingindo estar ali para ajudá-lo. Ele o auxilia a entrar no carro, e guia até uma cabine afastada, em uma região de bosques. <i>Wyburd</i> revela que é um mercenário, a serviço de uma mulher rica chamada <i>Mary Florescu</i> (<i>Sophie Ward</i>). Quando o rapaz desperta, vê que foi amarrado. O mercenário conta que a cliente lhe pagou um bom dinheiro para extrair a pele do garoto, que se chama <i>Simon McNeal </i>(<i>Jonas Armstrong</i>). Frio e indiferente, o mercenário não parece dar a mínima para o destino de <i>Simon</i>. Ao prestar atenção ao corpo todo grafado por palavras, pede que <i>Simon</i> conte sua história antes de ser morto. <i>Simon </i>começa: "<i>Os mortos têm estradas, estradas que levam a intersecções, e intersecções que entram em nosso mundo, e se você se encontrar em uma dessas intersecções, tem que parar e escutar, porque os mortos têm histórias para contar</i>". O filme então volta ao passado, para nos explicar como aqueles personagens foram parar ali.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Em uma determinada casa na Inglaterra, tida como um dos endereços mais assombrados da Europa, vemos um casal batendo à porta do quarto da filha, aterrorizado com os gritos da menina. Uma força invisível a sacode para todos os lados. Quando finalmente conseguem pôr a porta abaixo, os pais encontram a menina morta. <i>Mary Florescu</i> é uma professora de parapsicologia fascinada com a residência. Depois que os pais da menina morta põem a casa à venda, <i>Mary </i>e seu parceiro <i>Reg</i> decidem usá-la para o experimento. Obcecada com fenômenos paranormais, a professora acredita que o lugar finalmente lhe dará provas da existência do sobrenatural. A propriedade pertenceu originalmente a <i>J.J. Tollington</i> (participação especial de<i> Doug Bradley</i>, o Cabeça de Pregos de "<i>Hellraiser</i>"), um empresário milionário que a comprou na época da grande depressão. <i>Tollington</i> era um ocultista que se julgava capaz de conversar com os mortos. Reza a lenda que <i>Tollington</i> foi morto em uma sessão espírita, arremessado contra a parede com tanta força que morreu de hemorragia. Uma mensagem foi deixada em sangue na porta do armário, "<i>Não zombe de nós</i>". Semelhante mensagem também foi encontrada no quarto da garota assassinada. <i>Mary </i>afirma que a adolescente também costumava levar os amigos para tentar contatar espíritos. Mesmo naquela primeira visita de <i>Reg</i> e <i>Mary</i>, coisas estranham ocorrem. Os pisos rangem com tábuas velhas e gastas, e a porta do armário subitamente se fecha sozinha.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiG9Vc3FduSvDp3gJXCs0MIifFf7g1vGB5qVOBcZhvA14rgaHRxhbEs_1N_B5cbvPeljLOcqbpW21jaEcqf3AHm01CWytpjNr9qh7u4tWRVw2CVB9cAJog-SbHaW1LfN0etRJfT2RY9idY/s1600/bookofblood1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="917" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiG9Vc3FduSvDp3gJXCs0MIifFf7g1vGB5qVOBcZhvA14rgaHRxhbEs_1N_B5cbvPeljLOcqbpW21jaEcqf3AHm01CWytpjNr9qh7u4tWRVw2CVB9cAJog-SbHaW1LfN0etRJfT2RY9idY/s320/bookofblood1.jpg" width="209" /></a></div>
<i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Simon McNeal</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> é um jovem introvertido que se matricula na turma da professora Florescu. Sempre reservado, o rapaz chama a atenção da mulher mais velha. Uma noite, em um pub do campus, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Reg</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Mary </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">conversam sobre o potencial da casa assombrada. Ela soa meio desencantada, e naquela mesma noite chuvosa, ao pegar o carro, enxerga o rapaz voltando solitariamente para casa a pé. Quando ela lhe oferece carona, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Simon </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">diz que é melhor não, e recomenda que tenha cuidado. Minutos depois, a professora quase sofre um acidente na estrada. Em casa, ela analisa a ficha de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Simon </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">enquanto toma um drinque. Ela não apenas ficou chocada com a intuição do garoto, como está genuinamente interessada em saber mais sobre seu passado. Na manhã seguinte, enquanto caminha com </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Reg</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Mary </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">afirma que quando criança </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Simon </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">sofreu um terrível trauma: seu irmão caiu com a picape dentro de uma vala e atravessou o para-brisa de cabeça. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Simon </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">viu tudo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" na mente, pois simplesmente entrou na cozinha e contou aos pais que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Steffan</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, o irmão, estava morto, quando nem tinha como saber. A professora crê que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Simon </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">possa ser útil na condução da pesquisa.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ao término da aula, <i>Mary </i>convida <i>Simon</i> para conversar. À mesa do pub, o rapaz explica que as visões simplesmente lhe ocorrem, sem sobreaviso. Aos 11 anos, vizinhos passaram a visitar a casa dos pais, tomando-o como clarividente. Para amenizar o tom da conversa séria, <i>Simon </i>coloca uma moeda na jukebox, e ao som de uma música romântica, a tira para dançar. Embora inicialmente constrangida, <i>Mary</i> acaba se abrindo à presença do rapaz. Pela primeira vez ela cita a casa de <i>Tollington</i>, e o convida para trabalhar no caso. <i>Mary </i>o aconselha a não desperdiçar o dom e pede que a ajude a compreender o que aconteceu naquele lugar. Mais tarde, de volta ao flat, <i>Mary </i>desperta com risadas e peraltices de crianças, vindas do jardim. Ao investigar pela janela, enxerga meninas brincando de roda. As crianças deixam a brincadeira e a encaram de um jeito esquisito, antes de desaparecerem. <i>Mary</i> e <i>Reg</i> já estão movendo seus equipamentos para dentro da casa de <i>Tollington</i>. <i>Reg </i>parece aborrecido com a ideia de trazer uma terceira pessoa e <i>Simon </i>o escuta quando ele tece um comentário maldoso.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXY4ruwDF4ZFqffHFSc-Brxa4wGoQnBTfQcVJ2DrQ6GpAD8ORTTZ75eFBbz9d6teFUr_WruUc4tcUJwxrww8VMf46hc5UrAH_b5gPrGAbgBsuAIyat_Ya2E0jYSUHgoHk8Y3j-nIxOFmA/s1600/bookofblood2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="624" data-original-width="920" height="217" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXY4ruwDF4ZFqffHFSc-Brxa4wGoQnBTfQcVJ2DrQ6GpAD8ORTTZ75eFBbz9d6teFUr_WruUc4tcUJwxrww8VMf46hc5UrAH_b5gPrGAbgBsuAIyat_Ya2E0jYSUHgoHk8Y3j-nIxOFmA/s320/bookofblood2.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Enquanto realizam a mudança, os dois rapazes que movem os equipamentos tem "<i>um encontro</i>" com a força sobrenatural. Ocorre que estão somente brincando, pregando uma peça. Um dos rapazes da mudança é interpretado por <i>Simon Banford</i>, veterano de outros filmes de <i>Clive Barker</i>: ele fez o papel do cenobita gorducho de "<i>Hellraiser 1 & 2</i>" e uma das criaturas de Mídia em "<i>Nightbreed</i>". Antes de se recolher, <i>Mary </i>tem algumas palavras com <i>McNeal</i>. Ele ficará no quarto onde as atividades são mais intensas, enquanto <i>Mary</i> dormirá no quarto abaixo. A caminho da porta, a professora o enxerga se despindo de relance. Ela parece sexualmente atraída, e ao se dar conta da atração, o garoto atiça o jogo. Ao cruzar com <i>Reg</i> nos corredores, ele comenta intrigado para a professora que os microfones não estão capturando sequer ruídos de outros bichos, tão comuns em uma propriedade antiga. É como se ratos e baratas tivessem deserdado o lugar. Praticamente, há câmeras instaladas em todos os cômodos. Naquela madrugada, vestindo apenas camisola, <i>Mary </i>aparece no quarto para checar <i>Simon</i>. Quando está para fechar a porta, o garoto anuncia que está acordado e diz "<i>também não consigo dormir</i>". Ele se queixa de febre, desculpa perfeita para que <i>Mary </i>se achegue à cama para cuidar dele. <i>Mary </i>comenta que quando criança, a mãe costumava lhe dar leite quente, o que imediatamente remediava a insônia. <i>Simon</i> explica que quando não consegue adormecer, costuma se masturbar. Ele guia a mão da professora por sob os lençóis, e eles começam a fazer sexo. Tudo se revela um sonho, produto do inconsciente de <i>Mary</i>, que secretamente alimenta desejos pelo menino. Os seus gemidos ali sozinha na cama despertam a atenção de <i>Simon </i>e ele pergunta se a professora se sente bem. Envergonhado, ela responde que sim, e pede para que feche a porta.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Na primeira reunião do dia, <i>Reg </i>coloca suas preocupações. Como especialista em investigações do tipo, e reverente à formação acadêmica de <i>Mary</i>, <i>Reg</i> crê que não há lugar naquela casa para <i>Simon</i>. <i>Mary </i>responde que o jovem a ajudará a abrir a casa, a que o empregado comenta "<i>Espero que a ajude a abrir somente a casa</i>", em referência à real atração sexual entre o rapaz e a professora. <i>Mary </i>não aceita a observação, e afirma que se ele não está satisfeito com a forma como conduz os trabalhos, pode deixar. <i>Reg</i> se encontra na sala de controle, atento aos 4 monitores, quando escuta um sussurro distante perguntando "<i>O que está fazendo?</i>". Ao investigar um dos corredores, <i>Reg </i>escuta mais vozes, sussurros e batidas na porta, o rumor de comoção que não consegue entender bem. As vozes subitamente silenciam, e embora creia ter capturado o fenômeno, ao reportar o aterrorizante encontro à <i>Mary</i>, descobre que nada foi gravado. Repentinamente, os dois escutam os gritos de <i>Simon</i>, que se diz preso. Ao entrarem no quarto, o encontram com o peito cortado. Apesar de chocado, <i>Reg</i> procura manter-se frio e lógico. Dentro do closet, encontra terríveis palavras grafadas, coisas como "<i>Eu sou a morte</i>" e "<i>Eu sirvo o inferno</i>". As palavras inesperadamente se inflamam, tocadas por chamas que rapidamente se apagam. Reunido com <i>Reg</i> na cozinha, a professora tenta fazer sentido do ocorrido. O assistente fala que de fato jamais viu algo semelhante, no entanto lembra que tampouco sabe como <i>David Copperfield</i> faz um elefante desaparecer. Seu ponto é que o menino pode estar por trás dos fenômenos. Uma encenação.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0Div8JG5NCTG4BLJSOIAN82aLonAOszstXtiLaltVBf8NkOPu07gTyo013QPQT5JUGVIkN7rdKIJKL7jat3GqcM-ZBg5alNjfpL7ygd_-XEDeS2lnRoHRi9KCNhjrv-hV6BlrgemQQEA/s1600/bookofblood5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="348" data-original-width="640" height="174" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0Div8JG5NCTG4BLJSOIAN82aLonAOszstXtiLaltVBf8NkOPu07gTyo013QPQT5JUGVIkN7rdKIJKL7jat3GqcM-ZBg5alNjfpL7ygd_-XEDeS2lnRoHRi9KCNhjrv-hV6BlrgemQQEA/s320/bookofblood5.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Mary </i>está dormindo no sofá da sala quando desperta com a voz de uma criança chamando o pai. Ao verificar o quarto de <i>Simon</i>, agora desocupado pelo hóspede, <i>Mary </i>flagra <i>Reg </i>colhendo material para a perícia. A professora leva as pistas para <i>Nigel</i>, um amigo do laboratório. No campus da universidade, <i>Mary </i>enxerga o jovem <i>Simon</i>, a uma certa distância. Ela o vê entregando dinheiro para um rapaz e recebendo um pacote em troca. Com a supervisão de <i>Mary</i>, <i>Reg </i>vasculha a mala do garoto sob o olhar do próprio, que nunca gostou da intromissão do homem mais velho. Mais tarde, distraída com sua leitura, <i>Mary </i>não percebe pelo monitor que <i>Simon </i>está passando mal. <i>Reg </i>nota a oscilação de tensão elétrica, e a casa começa a sacudir. Do quarto de <i>Simon</i>, chegam vozes do rapaz e de pessoas zangadas. <i>Simon </i>suplica para que o deixem em paz, pois jamais escarnecerá os mortos novamente. Desnudo no chão, <i>Simon</i> é encontrado coberto de sangue. O adolescente aterrorizado murmura que "<i>dessa vez foi real, não foi como antes</i>". <i>Reg</i> se depara com linhas e mais linhas escritas ao longo das paredes, sangue usado como tinta. As caligrafias diferentes indicam que muitas pessoas estiveram por ali. Dentro do armário, o aviso: "<i>não insulte os mortos</i>". <i>Reg </i>vota para que deixem a residência, <i>Mary </i>acha que a sensibilidade do garoto está canalizando a vinda dos espíritos.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A professora cuida das feridas do menino, e <i>Simon </i>abre o jogo. Ele quer que <i>Mary </i>compreenda: naquela noite, as manifestações espirituais foram genuínas. <i>Mary </i>responde que o adolescente foi o milagre que deu voz aos mortos, e o mundo inteiro precisa saber que há algo mais além da morte. A tensão sexual finalmente se torna insuportável, e eles fazem amor. Uma libélula se insinua para dentro do quarto, despertando a professora, que inicialmente parece sofrer de um estado de paralisia noturna. Mesmo acordada, não consegue se mover. Escuta vozes distintas, uma pessoa se queixando de que não fora sua hora, outra que conta ter sido levada ao bosque para morrer. <i>Mary</i> é levitada por uma força invisível e carregada à janela, de onde enxerga espíritos de crianças brincando na fonte. <i>Reg </i>exibe imagens realizadas pelas câmeras, sem que ela consiga entender o que aconteceu. <i>Simon</i> pergunta à professora por que o chafariz lhe parece um lugar tão importante. <i>Mary</i> explica que aos 10 anos, houve um tempo quando começou a acordar de madrugada, atraída por risadas e brincadeiras de um chafariz parecido, que estaria sempre jorrando ao receber crianças que não conhecia. Estranhamente, todas as manhãs, <i>Mary </i>constatava que o mesmo se encontrava seco, intocado pela água. Tempo depois, quando a prefeitura pôs o chafariz abaixo em favor de um novo projeto, os pedreiros encontraram o corpo de uma menininha, enterrado sob a fonte. A menina havia sido estuprada, torturada e morta por um homem que morava na mesma rua, sua identidade exposta graças ao exame de DNA. Quando a polícia finalmente pôs as mãos no maníaco, ele já havia feito novas vítimas, todas crianças. Ainda hoje <i>Mary</i> se sente arrependida, pois se tivesse contado sobre suas visões aos pais mais cedo, talvez o homem tivesse sido detido antes de ter matado as crianças. <i>Reg </i>procura consolá-la, e eles se abraçam.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Por ora, <i>Mary </i>resolve se afastar da casa de <i>Tollington</i>, para descansar, no entanto mesmo em seu flat escuta vozes de crianças. Ao averiguar, vê que <i>Simon</i> a seguiu até ali. Do mesmo jeito que a professora fez antes, agora é <i>Simon </i>quem deseja se abrir. Apesar de suas inexplicáveis experiências, como quando previra a morte do irmão, o rapaz crê que perdeu a habilidade aos 13 anos. Ao topar a aventura, a sensibilidade de <i>Simon</i> foi reavivada. Ele jamais teve um contato tão palpitante com o sobrenatural. Ele não apenas vem apreciando o renascimento de seu dom, também não quer se afastar da professora. Os dois se envolvem romanticamente, e o livro de <i>Mary</i>, sobre as experiências na casa de <i>Tollington</i>, é lançado para absoluta aclamação de público e crítica. O casal é abordado por duas senhores com cópias. Enquanto <i>Simon</i> assina as contracapas, <i>Mary </i>recebe uma ligação de <i>Nigel</i>. O resultado da perícia finalmente saiu. O material indica pólvora em sua composição, uma pólvora bastante utilizada em truques antigos de mágica. <i>Mary</i> não quer acreditar que o namorado foi capaz de enganá-la. Confrontado com as provas, entre elas carvão e enxofre, o rapaz admite envergonhado que forjou parte das manifestações. Vejam que ele admite a encenação de apenas parte das manifestações, ou seja, houve coisas esquisitas que em nada foram simuladas. <i>Mary </i>recebe a verdade com muita dor, e o que mais a magoa é o fato de ele ter sido capaz de afrouxar os pinos dos pneus, naquela noite chuvosa. <i>Simon </i>tenta fazer as pazes, insiste que na segunda experiência o que aconteceu foi real, mas <i>Mary</i> não quer saber.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Confrontada com a solidão depois que <i>Simon</i> parte, <i>Mary </i>sente saudade e bebe para anestesiar a dor sentimental. A garrafa é atirada no chão por uma força invisível. Ao escutar vozes semelhantes a preces no andar onde <i>Simon </i>dormia, a professora tem a visão de um elegante cavalheiro, <i>Tollington </i>na verdade, presidindo uma sessão espírita, e sendo morto. Ele também enxerga em flashbacks a morte de uma menina, filha do casal que morou ali pela última vez. <i>Reg </i>apresenta à <i>Mary </i>uma variedade de itens que o rapaz usou para seus truques. O assistente acredita que tudo o que houve na casa não passou de sugestão. <i>Simon</i> aparece na porta, molhado de chuva. Ele reitera que não é um charlatão, e que a casa lhe devolveu o dom de se comunicar com os espíritos. Ele se despe e sobe as escadas, em direção ao quarto, avisando que finalmente lhes dará a prova de que a casa de <i>Tollington</i> é assombrada. Isolado dentro do cômodo, <i>Simon</i> é assaltado pelos espíritos, que riscam suas mensagens no corpo, talhando recados sem se importarem com suas súplicas. <i>Mary</i> e <i>Reg </i>têm uma visão aterradora dos fantasmas, milhares deles, alguns descendo as escadas em fila, muito lentamente. <i>Reg </i>perde o equilíbrio e cai do segundo andar, quebrando o pescoço e morrendo instantaneamente. Ao abrir a porta, a professora vê que o quarto "<i>deixou de existir</i>". À frente, há uma sombria encruzilhada tomada por almas, espíritos esperando para grafar suas mensagens no corpo de <i>Simon</i>. Ele implora por ajuda, mas <i>Mary</i> parece mais interessada nos recados que os mortos têm para dar. <i>Mary </i>se ajoelha ao lado de <i>Simon </i>e diz "<i>Eles esperavam por alguém que ouvisse suas histórias</i>". Ela lança um olhar para os milhares de espíritos e afirma que passará suas queixas ao mundo. O quarto recupera a aparência normal, e a fenda entre os dois mundos é selada.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Mary</i> salva a vida de <i>Simon</i>, e o aprisiona para usá-lo como interface para que os mortos rabisquem suas histórias. Foi por isso que ele fugiu de <i>Mary</i>. Agora, a trama volta ao presente, para a cabana onde o garoto foi aprisionado por <i>Wyburd</i>. Quando chega a hora de o mercenário executar o serviço, <i>Simon </i>pede para que ele seja rápido. Crente de que tudo terminou bem e receberá uma fortuna, o mercenário resolve esperar <i>Mary</i> por ali na cabana, até que o lugar começa a ser invadido por um fluxo constante de sangue, vindo da maleta onde o mercenário estocou a pele. Aprisionado dentro da cabana, ele morre afogado em um rio de sangue. Quando <i>Mary</i> chega, não há sinal de sangue, mas o mercenário jaz morto no chão. A professora se apodera do tecido que é a pele de <i>Simon</i>, ainda grafado por mãos invisíveis em um processo constante de transformação, tal qual uma lousa. Ao final, vemos o espírito do garoto se juntar às almas do limbo.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHpuuijsnU6y-7WXXuKQgJCAiD1LvWDww7wqPKCxKslZGQiBIDkhVl4Nszr0taMNGa6PziB0ZagDB4s7RMU9DAdSZ2GRvhII-R3yVqmosuMh4pXoKGr2PJY6gpsGG1hq36aBI6lCF2QHI/s1600/bookofblood7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="348" data-original-width="640" height="174" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHpuuijsnU6y-7WXXuKQgJCAiD1LvWDww7wqPKCxKslZGQiBIDkhVl4Nszr0taMNGa6PziB0ZagDB4s7RMU9DAdSZ2GRvhII-R3yVqmosuMh4pXoKGr2PJY6gpsGG1hq36aBI6lCF2QHI/s320/bookofblood7.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O mais sóbrio e elegante dos filmes recentes baseados em fantasias de <i>Clive Barker</i>, apesar de não tão extravagante ou violento quanto "<i>Dread</i>" & "<i>Midnight Meat Train</i>", "<i>Book of Blood</i>" goza da elegância que fez do primeiro "<i>Hellraiser</i>" uma obra tão íntima, querida e ressoante. Dirigido por <i>John Harrison</i>, um cineasta que mostrou competência nas rédeas da ambiciosa adaptação de "<i>Duna</i>", de <i>Frank Herbert</i>, para a televisão, e com um elenco desconhecido de competentes atores, que dá à produção arestas quase teatrais, "<i>Book of Blood</i>" estreou no festival de Hamburgo de 2009, portanto o último dos 3 filmes analisados por este trabalho. Passou algumas semanas em cartaz, em salas de cinema no Reino Unido no final daquele ano, e chegou ao Brasil muito quieto, como "<i>Livro de Sangue</i>", lançado diretamente no mercado de DVD pela PlayArte, o selo que atualmente lança o que há de melhor no gênero.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTDNUEUU3Io7-nsOLchYwzT3Szxm3lmGZm801dHGINoNRUUc-hhrBxhas6L3nFfM56CnkHDUOO1Xb3w4Dv5I36aKp559CScVrXq854xCS2Py7WX9B7IuIzTEIYmc92Jj9sG2LSJAEWv1s/s1600/bookofblood6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="691" data-original-width="920" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTDNUEUU3Io7-nsOLchYwzT3Szxm3lmGZm801dHGINoNRUUc-hhrBxhas6L3nFfM56CnkHDUOO1Xb3w4Dv5I36aKp559CScVrXq854xCS2Py7WX9B7IuIzTEIYmc92Jj9sG2LSJAEWv1s/s320/bookofblood6.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Desprovido da ferocidade & sanguinolência de "<i>Midnight Meat Train</i>", nem de longe tão violento quanto "<i>Dread</i>", o filme de<i> John Harrison</i> é um "<i>slow burner</i>", que em sua hora e meia de projeção me fez pensar nas saudosas, há muito extintas produções da Hammer, o símbolo máximo do horror europeu entre os anos de 1934 e 1979, quando assistimos aos tempos áureos de Drácula, Frankenstein e a Múmia, em filmes que se vistos hoje nos remetem ao período em que o gênero gozava de requinte. Em termos de atmosfera e proposta, "<i>Book of Blood</i>" reúne as melhores qualidades do subgênero "<i>casa mal-assombrada</i>". Não obstante a maioria associe o fantástico "<i>Invocação do Mal</i>" ao referido subgênero, em que pese sua supremacia sobre os filmes de horror mais novos, a obra de <i>James Wan</i> nos acerta com uma velocidade que não parece própria das antiquadas e melancólicas produções da Hammer. Se coisas como "<i>Invocação do Mal</i>" & "<i>Sobrenatural</i>" nos seguram na beira da poltrona roendo unhas, filmes como "<i>Book of Blood</i>" nos convidam a acomodar as costas: não nos fazem roer unhas, porém, gradualmente, nos envolvem como lençóis molhados, e a sensação de tragédia e confusão trabalha sem pressa para crescer em nossos corações. Em horrores do tipo, como "<i>Hellraiser</i>", não há de se falar em sustos ou trilhas espalhafatosas, não funciona por esse viés. As tramas preferem nos capturar mais sutilmente, de uma maneira que não sintamos. Só vamos nos dar conta quando a sucessão de cenários macabros se tornou atordoante demais para que possamos organizar uma reação. Em "<i>Sobrenatural</i>" & "<i>Invocação do Mal</i>", as cenas impactantes tornam a leitura de nossas batidas um gráfico semelhante ao de abalos sísmicos: em "<i>Sobrenatural 2</i>", a "<i>Mãe de Parker Crane</i>" costuma aparecer do nada e literalmente se materializar na frente da personagem de <i>Rose Byrne</i> para gritar "<i>Não ouse!</i>" e nocauteá-la com tapas. Em "<i>Invocação do Mal</i>", <i>Patrick Wilson</i> & <i>Vera Farmiga</i> conversam nas cercanias da propriedade assombrada da família Perron, quando ao pararem ao lado de uma árvore muito alta, a câmera de <i>James Wan </i>nos revela que pelo ponto de vista da atriz, há pés pendurados acima dos ombros de <i>Patrick Wilson</i>, o espectro de alguém que morreu enforcado naquele lugar. Em "<i>Hellraiser</i>", "<i>Book of Blood</i>" e por que não o restante da obra de <i>Clive Barker</i>, ou mesmo nos thrillers psicológicos dirigidos por <i>Brian De Palma</i> no auge de sua força criativa, nos anos 70 & 80, ou em parte dos filmes que tornaram <i>Roy Scheider</i> astro, como "<i>Last Embrace</i>", de 1979, acompanhar o desenrolar da trama não difere de virar as páginas de um romance altamente envolvente. Você quase torce para que a diversão não acabe tão cedo, e geralmente, quando termina, precisa revisitar o filme (ou livro) para resgatar a eletricidade que conseguiu tão bem criar, não em instantes pontuais, mas na soma de suas melhores qualidades. Mesmo que exija um investimento inicial, "<i>Book of Blood</i>" compensa a atenção dedicada, e o retorno se dá pelo melhor rendimento, não o rendimento do choque, e sim gradualmente, em cenas pequeninas e interessantes que vão se somando para conceber a proposta de tragédia e fatalismo que envolve os corajosos exploradores da "<i>Casa de Tollington</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhikk1pCk6Ml5Xt-e1W8ZeVn13dirNFRZA1rlIsCVYqsx-DFbcM1VpTnhdH6BFb33ViupFt5aJVoK8-tdDDAfc69cvS1Ttj8hhFF2w7BjDimlPAmGGx0YKi4JZdhvzNq0qSV6L-wblREIE/s1600/bookofblood4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="662" data-original-width="920" height="230" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhikk1pCk6Ml5Xt-e1W8ZeVn13dirNFRZA1rlIsCVYqsx-DFbcM1VpTnhdH6BFb33ViupFt5aJVoK8-tdDDAfc69cvS1Ttj8hhFF2w7BjDimlPAmGGx0YKi4JZdhvzNq0qSV6L-wblREIE/s320/bookofblood4.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Exemplo das pequeninas e interessantes cenas podem ser encontrados aos montes. A visão das crianças brincando à noite ao redor do chafariz, o segredo que conecta o passado de <i>Mary Florescu</i> aos espectros, o trabalho que <i>Simon </i>dedica às artimanhas secretas para criar apenas em um primeiro momento as provas tão desejadas por <i>Mary</i>, e logo mais se mesclam e são engolidas pelas manifestações muito reais de atividades paranormais, quando os investigadores descobrem que o lugar é uma "<i>encruzilhada</i>" no outro plano, no limbo, ponto de peregrinação frequentado por espíritos, milhares deles, todos os dias. Apimentado por um perspicaz erotismo elegante, sensual e gótico que também sublinha os contos de <i>Barker</i>, "<i>Book of Blood</i>" decola pela química entre <i>Jonas Armstrong</i> &<i> Sophie Ward</i>, e a sensibilidade com que o diretor <i>John Harrison</i> se delicia com o jogo de sedução entre professor & aluno, incrementando a tensão sexual até que ambos não vejam alternativa que não dar vazão à expressão de um insuportável desejo carnal, além de suas capacidades humanas negar a rendição ao pecado. Ao traçarmos um paralelo entre <i>Sophie Ward</i> & <i>Clare Higgins</i>, as duas parecem mais semelhantes do que poderíamos imaginar. Em "<i>Book of Blood</i>", a professora <i>Mary Florescu</i> (<i>Sophie Ward</i>) começa como uma personagem frígida, movida por obsessões pessoais. Em "<i>Hellraiser</i>", <i>Julia </i>(<i>Clare Higgins</i>) apenas cumpre com o papel de esposa e madrasta ao se mudar com o marido para a casa anteriormente ocupada pelo cunhado, mas esconde por trás da fachada de contentamento a tristeza e insatisfação de acompanhar um homem que já não ama. No curso das duas tramas, a sensualidade vulcânica dessas mulheres maduras, que já há algum tempo perderam seu ápice, o esplendor com que comandavam as atenções masculinas ao entrarem em um salão, por exemplo, emerge através da concretização de desejos proibidos catalisados pelos seus piores verdugos, as respectivas inseguranças. À medida que as obsessões estorvam o senso de julgamento dessas "<i>princesas sem reino</i>", <i>Mary </i>& <i>Julia </i>gradualmente vão abrindo precedentes cada vez mais perigosos, para justificar desde o sexo com adolescente (no caso de <i>Mary</i>) e transas com o cunhado (no caso de <i>Julia</i>) ao esfolamento do estudante & parceiro sexual (no caso de <i>Mary</i>) e homicídios a marteladas no crânio por parte de <i>Julia</i>. Em entrevista a <i>Paul Kane</i>, <i>Barker </i>explicou as similaridades entre as personagens: "<i>Era muito importante que tivéssemos dois artistas absolutamente destemidos, em termos de não temerem expor seus sentimentos ou corpos, e fomos abençoados. Primeiramente, tínhamos dois jovens bonitos, duas pessoas absolutamente destemidas em termos do que apresentar para as câmeras. Eu duvido que haja um filme de horror tão sexy quando este... eu tenho noção de que Mary tem algo em comum com Julia, que ela é uma mulher que tem uma vida amoroso disfuncional, e estende a mão em busca do conforto de alguém a quem possa amar e confiar, apesar de este parceiro se mostrar um mentiroso e farsante. Eu penso que é interessante</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"<i>Book of Blood</i>" foi filmado em Glasgow & Edimburgo, e conforme a intrigante ficção-científica "<i>Under the Skin</i>" fizera antes, atesta o infinito potencial de sua gélida e lúgubre paisagem para acomodar aventuras aterrorizantes. Como mais legítimo sucessor de <i>Edgar Allan Poe</i>, <i>Barker </i>jamais honraria seu antecessor se não soubesse trabalhar a melancolia gótica do atormentado poeta que, diga-se de passagem, em vida, apesar de escrever sobre terror, amava gatos e os recolhia das ruas: acredita-se hoje, aliás, que <i>Poe </i>morreu de raiva humana. Aqui, servido pelo cinza da Grã-Bretanha como plano de fundo, <i>John Harrison</i> ambienta um filme de fantasma no melhor estilo Hammer. Apesar do tempo de projeção relativamente longo, principalmente levando em conta a menor escala dos dois contos usado como fundamento, "<i>On Jerusalem Street</i>" & "<i>Book of Blood</i>", ao rechear as lacunas entre as cenas assustadoras com a fotografia que o torna visualmente charmoso e interessante, <i>Harrison</i> jamais deixa sua obra perder fôlego, desde que o tomemos pela sua natureza de criativo experimento, justaposição de dois momentos distintos da história do cinema britânico, a Era de Ouro da Hammer & a nostalgia que impeliu um cineasta a renovar velhas fórmulas em tempos modernos, para servir o público cujo gosto tende para algo mais dinâmico.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiswLwacYIProllskIHnOP62Tp-SuFjdIV2qb-7mS4UyiBkt-5kigRmCq05_HCWkxraHwPG2WUvrD-931SvrdK0Ke6hqbWd1eYm6nYr3eQ6uMJz_SCtibK5ZUvigqa2gleJAM-dxuBJz_8/s1600/NIGHTBREEDDIRCUT1STDETNEWS1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="627" data-original-width="450" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiswLwacYIProllskIHnOP62Tp-SuFjdIV2qb-7mS4UyiBkt-5kigRmCq05_HCWkxraHwPG2WUvrD-931SvrdK0Ke6hqbWd1eYm6nYr3eQ6uMJz_SCtibK5ZUvigqa2gleJAM-dxuBJz_8/s320/NIGHTBREEDDIRCUT1STDETNEWS1.jpg" width="229" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">E </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">não há nada de errado com o sentido para o qual o cinema moderno caminha (ou corre). Acontece que mesmo os jovens cinéfilos que por alguma razão chegaram a este blog fariam melhor dando uma oportunidade ao que veio anteriormente. Há um mundo maior do que aquele que vocês hoje veem nas salas de multiplex. O acesso praticamente ilimitado à informação torna a busca dos jovens de hoje muito mais simples de quando eu tinha 14 anos, por exemplo. Para conseguir assistir à fita em VHS de "<i>Gêmeos Mórbida Semelhança</i>", com o selo da extinta F.J. Lucas, lembro que tive de insistir para a minha mãe por um bom tempo. Foi meu presente de aniversário de 15 anos! Evidentemente, uma porção de coisas da história escapou da minha compreensão infantil de mundo, à época. O mesmo ocorreu com "<i>Estranhos Prazeres</i>". Por mais que uma criança não consiga processar 90% da sutil filosofia embutida e macabra daquelas tramas tão apavorantes, as imagens fortíssimas queimaram em minhas recordações. Não bastasse a atual simplicidade de acesso à informação, clássicos do passado ganham nova roupagem em espetaculares edições em blu-ray que nos abrem as portas para um mundo mais rico que jamais pensávamos existir. Mais recentemente, tive a satisfação de adquirir o blu-ray de um de meus filmes preferidos da infância, dirigido por <i>Barker</i>, "<i>Nightbreed</i>" <i><span style="font-size: x-small;">(foto)</span></i>, baseado em seu romance "<i>Cabal</i>": tê-lo com uma qualidade superior de imagem & áudio bastaria para torná-lo um item obrigatório na minha coleção, mas os caras da Shout Factory, que tornaram a edição possível, foram mais além. Eles intercederam junto ao estúdio que tinha o corte original, a versão integral de <i>Barker</i>, e restauraram os negativos de modo a nos apresentar sua versão, livre dos severos cortes com que a produção chegou aos cinemas em 16 de fevereiro de 1990. Agora, os blockbusters são concebidos aos olhos dos fãs, e foi a interação da internet que derrubou obstáculos entre estúdio e consumidor. Produtores & astros sabem o que as pessoas que fazem filas ao redor do quarteirão do cinema querem, e assim o verão sempre se torna a temporada dos sucessos. Não poderíamos ter imaginado jamais, porém, que até os filmes antigos rodados na "<i>época do mistério</i>", quando não havia internet e pouco se sabia sobre sua concepção, retornariam com semelhante interatividade, graças aos fãs apaixonados que justificam os esforços de selos como o da Shout Factory em resgatar as lembranças. Contraditoriamente, ainda não sei como me sentir a respeito da suposta transparência. Se por um lado é fantástico conhecer pelo avesso coisas que um dia foram as mais importantes de minha vida, por outro, a falta de limites inerente à obtenção de informações arranca de nossas mãos uma das mais caras bênçãos: a incógnita envolvida em não se conhecer inteiramente algo que por razões alheias você amou tanto quanto amava a si.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Hoje, recuperar o negativo de um filme de quase 20 anos atrás para relançá-lo em Blu-Ray é apenas uma amostra do que os fãs são capazes de pôr em movimento. Há um magnífico documentário chamado "<i>Leviathan: The Story of Hellraiser and Hellbound: Hellraiser II</i>", fruto do interesse das pessoas pelos dois filmes, que financiaram o projeto e produziram uma obra de quase 8 horas de duração. Para os fãs dos dois clássicos, que através dos anos precisaram aprender sobre sua concepção por fontes variadas, o documentário foi a concretização de um sonho, repleto de lembranças maravilhosas da turma por trás da feitura, desde os artistas (<i>Clare Higgins</i>, <i>Imogen Boorman</i>, <i>William Hope</i>, <i>Doug Bradley</i>, <i>Ken Cranham</i>, entre outros) aos técnicos que criaram o imaginário sensual e apavorante dos seres sadomasoquistas, o labirinto, e Leviatã, o "<i>Deus da Fome, Carne e Desejo</i>". Os fatos são riquíssimos. Por mais que tenha protagonizado dois dos filmes mais importantes do Horror, <i>Clare Higgins</i> jamais assistiu a nenhuma das aventuras de uma só vez, pois morre de medo de terror!Ela o conhece por partes, justamente pela natureza brutal de sua performance. <i>Ken Cranham</i> estava fazendo uma peça no teatro em Londres com o ator <i>Gary Oldman</i>, que ficou com uma pontinha de inveja, pois sempre quis trabalhar no gênero. Curiosamente, anos mais tarde, <i>Oldman</i> teria sua chance em "<i>Drácula de Bram Stoker</i>". <i>Imogen Boorman</i> fala sobre como gostou de trabalhar com <i>Ashley Laurence</i> e entre muitas recordações engraçadas da colega, revela que não tem histórias a contar sobre <i>Clare</i>, já que as duas pouco conversaram durante as filmagens, o que não é por menos, pois <i>Clare Higgins</i> interpretava <i>Julia</i>, a vilã, e <i>Imogen</i> a mocinha autista amiga da heroína. O set parecia dividido, portanto, em dois times: um do Bem (<i>Ashley Laurence </i>como <i>Kirsty</i>, <i>Imogen Boorman</i> como <i>Tiffany</i>, <i>William Hope</i> como <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o psiquiatra</span>) & outro do Mal (<i>Clare Higgins</i>, <i>Cranham</i>, <i>Doug Bradley</i> como o Cabeça de Pregos e o restante da turma dos cenobitas: <i>Barbie Wilde</i>, <i>Nicholas Vince</i> & <i>Simon Bamford</i>).<i> William Hope</i> rememora que na época também estava com uma peça de teatro quando seu agente ligou oferecendo o papel de <i>Kyle</i>. <i>Hope </i>não pensou muito a respeito. Como jovem ator, quanto mais oportunidades de trabalho, melhor. Ele literalmente terminava o trabalho na peça todas as tardes e saia do teatro direto para os estúdios Pinewood. A agressividade que emanava do roteiro era tão avassaladora, ele relembra na entrevista, que durante os intervalos, ele e <i>Cranham </i>brincavam de todas as maneiras possíveis, mais como uma forma de aliviar suas cabeças da violência psicológica incomum forçada goela abaixo sempre que o diretor <i>Tony Randel </i>dizia "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ação</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". Na versão final, <i>Kirsty</i> & <i>Kyle </i>são apenas amigos platônicos, mas <i>Randel </i>chegou a filmar uma cena em que angustiados pelo que está por vir, os dois se beijam. <i>Hope </i>conta que como um cineasta bastante técnico, <i>Randel</i> não teve a sensibilidade para criar uma atmosfera que tornasse a feitura da cena mais fácil, de sorte que <i>Hope </i>e <i>Laurence </i>tentaram apenas uma vez, e como a filmagem não saiu legal, acabou cortada. A reminiscência mais divertida de <i>Hope </i>refere-se a um dia quando a sogra o visitou em Londres com seu sobrinho pequeno. Quando o menino soube que o tio estava trabalhando em um filme de horror, pediu para acompanhá-lo em um dia de trabalho. <i>Hope </i>atendeu o pedido, e levou a sogra e o menino. Adivinhem a cena realizada naquele dia? A da ressurreição no colchão, <i>Julia </i>só músculos e carne ressurgindo de dentro do colchão, envolvendo com pernas e braços o doente mental que está morrendo de hemorragia após ter se estraçalhado com um bisturi, e se alimentando da pobre vítima, enquanto <i>Kyle </i>assiste a tudo, detrás da cortina. A sogra não gostou do que viu, mas o menino o achou o melhor tio do mundo! Retomando o tema da descoberta, jovens de hoje quiçá interessados no que o mundo conheceu de melhor há apenas algumas décadas, é válido lembrar que os mestres atuais, homens como <i>James Wan</i>, diretor de "<i>Velozes & Furiosos 7</i>" & "<i>Invocação do Mal</i>" que vocês devem conhecer, aproveitaram muito do que viram naquilo que hoje escapa aos olhos de quem tem a vida inteira pela frente. Eu fico surpreso quando um adolescente ou mesmo uma pessoa aos seus 20 e poucos cita o talentoso cineasta <i>Quentin Tarantino</i> como seu diretor favorito, porém jamais ouviu falar do cinema exploitation dos anos 70, não faz ideia do que formou esse cineasta em particular, do que moldou sua forma de enxergar o mundo. Todo processo de estudo sempre parece delicioso, e se uma educação na história do cinema soa como um passeio que você adoraria fazer, imagine-o com os recursos de hoje, quando você pode ver o filme e depois assistir às pessoas envolvidas com a execução falando sobre tornar possível um mundo infinito de sonhos!</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbKMToe80aRm8ZL2ZWyYQmaqXC4noLMy2oCwt_j8FxbS3YuufaQYM-gM4R4-_ItSKo5vZ-9QhQ1ZauUAkhwfScJp6QUy5hgW-GoFcmYqNyfAOqmzDiOzL2fWXjN9q9arWQkun8nZN-BOU/s1600/knock_knock_ver3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="755" data-original-width="509" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbKMToe80aRm8ZL2ZWyYQmaqXC4noLMy2oCwt_j8FxbS3YuufaQYM-gM4R4-_ItSKo5vZ-9QhQ1ZauUAkhwfScJp6QUy5hgW-GoFcmYqNyfAOqmzDiOzL2fWXjN9q9arWQkun8nZN-BOU/s320/knock_knock_ver3.jpg" width="215" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUBrvfA112p_62N-TJ12iHNozOHn6N61FIPb9Hu25Shc54N0csIuE8uaO0CIWrYEE4L16pQsz8G7jjLQc827J9SzPqJokmfPjFcAJlAIUeFUuSUjzaRUj3yU7QfRTJGu1vspXNDXwkfVQ/s1600/knock_knock_ver4.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="755" data-original-width="509" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUBrvfA112p_62N-TJ12iHNozOHn6N61FIPb9Hu25Shc54N0csIuE8uaO0CIWrYEE4L16pQsz8G7jjLQc827J9SzPqJokmfPjFcAJlAIUeFUuSUjzaRUj3yU7QfRTJGu1vspXNDXwkfVQ/s320/knock_knock_ver4.jpg" width="215" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Eu gostaria de
terminar a resenha fazendo referência a dois excelentes filmes de terror em
vias de chegarem aos cinemas. Eu escrevi anteriormente sobre o primeiro, "<i>Knock
Knock</i>", a respeito de um arquiteto assediado por duas psicopatas depois que a esposa e filhos
partem para passar o fim de semana fora. Dirigido por <i>Eli Roth</i>, o filme ganhou
um título para o lançamento no Brasil no próximo dia 17 de setembro, "<i>Bata Antes de Entrar</i>". Na semana
passada, o estúdio lançou o material publicitário para a divulgação, entre eles
os fantásticos pôsteres conceituais, que nesta oportunidade gostaria de
apresentar. O tipo de coisa que deixaria <i>Brian De Palma</i> com inveja, "<i>Bata Antes de
Entrar</i>" denota o amadurecimento do cineasta <i>Eli Roth</i>, notório pela
sanguinolência, aqui realizando seu trabalho mais contido e eletrizante,
estrelado por <i>Keanu Reeves</i> (o arquiteto), <i>Lorenza Izzo</i> (esposa do diretor na
vida real) e <i>Ana de Armas</i>, as duas atrizes nos papéis das assassinas.</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> Por fim, permitam-me sugerir que fiquem de olho em um horror chamado "<i>The Witch</i>", ou "<i>A Bruxa</i>", que causou comoção por onde passou. O filme dirigido por <i>Robert Eggers</i> estreou no festival de Sundance este ano e seguiu recebendo elogios nos festivais de Melbourne & Toronto. Rodado em pequena escala, "<i>The Witch</i>" tem tudo para se tornar um novo "<i>Corrente do Mal</i>", outro horror independente que se tornou um estrondoso sucesso. "<i>The Witch</i>" conta a história de uma família de puritanos no Século XVII, expulsa da vila por razões que no curso do filme permanecem misteriosas. Composta pelo pai, mãe (que sofre de problemas graves relacionados à depressão) e 5 filhos (o mais novo um bebezinho), a família precisa recomeçar na vastidão de New England, às margens de um enorme bosque. Um dia, enquanto vigia o irmãozinho, a filha adolescente se distrai por um segundo, e ao abrir os olhos, não encontra mais o bebê. À medida que ao insucesso da colheita e percalços da vida em plena natureza selvagem soma-se o desaparecimento do bebê, os membros da família começam a se voltar uns contra os outros, enquanto uma força macabra da floresta próxima parece assediá-los, antevendo cada passo. Referido como macabro e genuinamente arrepiante pelas pessoas que o viram, "<i>The Witch</i>" parece se conduzir com um estilo mais elegante, cerebral e psicologicamente devastador, nas linhas de "<i>Anticristo</i>", de <i>Lars von Trier</i>, e, claro, "<i>Lords of Salem</i>", de <i>Rob Zombie</i>. Deixo o trailer para os amigos. Com uma data programada de estreia apenas muito vaga (o estúdio A24 apenas se comprometeu a lançar a obra em 2016), por um tempo, o trailer será tudo o que teremos para amenizar nossas ansiedades! Se me permitem a recomendação, prestem atenção na trilha que sublinha o trailer, e vejam como melodia & sutileza são próprios a apenas os mais amedrontadores filmes de horror. Aqui, neste trailer, mal há cenas violentas. No entanto, a panorâmica aterrorizante de um amplo bosque, o olhar preocupado que o marido dispensa à mulher, uma senhora mais madura que sofre de problemas psiquiátricos, quando ela se atira na cova que ele está preparando para um dos filhos mortos, o garotinho brincando e reproduzindo o balido da cabra, e o pé de uma mulher nua, na verdade uma das bruxas do convento, se insinuando para fora da cabana no meio da floresta nos assaltam pela garganta, apenas pela força da sugestão. O mistério é a metade do caminho.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/iQXmlf3Sefg/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/iQXmlf3Sefg?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><i style="background-color: #cccccc;">Todos os direitos autorais reservados a A24. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo desta resenha.</i></span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Aharoni;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: #f2f2f2; color: #161d4c; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 11.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
</div>
Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-52419905774895168112015-07-30T15:30:00.001-07:002019-03-13T10:39:41.084-07:00"Skin Trade", "Assassinatos em Boston" & "Ressurreição Retalhos de um Crime": Dois ícones da Ação nas 3 produções independentes do Horror que lhes deram a oportunidade de brilhar. Redescubra-as!<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDEfIeFVfCVQn8LIfesCqFYwC0jVyEDXWxt-RNHelwagjAEu7jLm9QXogcnacNUQQZVKvfOdLEswmyXY4WTIOIoxyKNuVm6H5VaYl55iTRdSbZHv8anPfCcZPgr5yyUR_oin_zOvoqLsM/s1600/skintrade2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1359" height="163" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDEfIeFVfCVQn8LIfesCqFYwC0jVyEDXWxt-RNHelwagjAEu7jLm9QXogcnacNUQQZVKvfOdLEswmyXY4WTIOIoxyKNuVm6H5VaYl55iTRdSbZHv8anPfCcZPgr5yyUR_oin_zOvoqLsM/s400/skintrade2.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">O tempo passa e o cinema parece viver de tendências, cada época com a sua. Houve o tempo certo para os remakes de filmes de horror japoneses, fase inaugurada com "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">O Chamado</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", em 2002, e que foi dar sinais de cansaço em 2009, com o lançamento morno de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">O Mistério das Duas Irmãs</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", houve a época para as fantasias capa &
espada estilo "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">O Senhor dos Anéis</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", e agora assistimos ao desabrochar dos blockbusters
de super-heróis, produções fazendo muito dinheiro e ocupando o imaginário das pessoas, realmente fascinadas com o encanto envolvido em tão delirantes fantasias. Períodos se sucedem junto às gerações, e obras que na época pareceram
muito importantes precisam abrir espaço para as novas sensações do momento. Há
filmes e pessoas, todavia, que dada sua longevidade, parecem atemporais, como
velhos, bons amigos que por mais que faça um bom tempo que não os veja, uma
vez que você os reencontra, parece que foi ontem a última vez.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Quem for velho o suficiente, viveu e se recorda dos bons tempos das fitas de vídeo, reconhecerá, com muito
saudosismo, os nomes dos dois homens de ação objeto desta resenha,
<i>Christopher Lambert</i> & <i>Dolph Lundgren</i>. Marcados eternamente pelo charme da
ação & suspense dos anos 80 & 90, um tempo descomplicado e menos cínico,
<i>Lambert</i> & <i>Lundgren</i> são dois dinossauros que já viram e fizeram de tudo.
Mesmo para quem não guarda seus nomes, basta vê-los na televisão para dizer "<i>eu
já vi esse cara antes!</i>". <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Tendo
atravessado tantas gerações, <i>Lambert</i> lançado ao estrelato em 1986
com "<i>Highlander</i>" &<i> Lundgren</i> com "<i>Rocky IV</i>", ambos são sobreviventes da
rapidez com que tendências & gostos se sucedem, e astros do show business são aclamados apenas para serem impiedosamente esquecidos mais tarde. Atuantes ainda hoje, em coisas menores
feitas para o mercado de vídeo, eles merecem todo o nosso respeito, carinho e
admiração, pelos filmes maravilhosos que acompanharam a infância e
adolescência de muitos, mas sobretudo por terem visto e aguentado de tudo,
por terem "<i>fechado o círculo</i>". Esses caras começaram do nada, tornaram-se
astros, depois sobreviveram ao declínio de suas estrelas e precisaram se
reinventar em obras mais simples e menos relevantes. Toda essa jornada, de suas origens
humildes ao estrelato, terminando justamente onde começaram, as produções mais simplórias,
lhes reveste de profundidade e autoridade que mesmo em filmes lançados direto para DVD
trazem charme & dignidade extras graças a suas meras presenças.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Conhecidos pelos filmes de ação que faziam
das locadoras de vídeo os lugares mais frequentados nas noites de sábado nos
anos 80 & 90, os filmes tratados na resenha se destacam nas carreiras de seus astros pela atipicidade do material e a qualidade de suas performances. Desconhecidas,
as 3 produções representam uma joia para os completistas das filmografias de
<i>Christopher Lambert</i> & <i>Dolph Lundgren</i>, e para os cinéfilos que não os
conhecem também, pois mesmo que assistam a todos os grandes, maravilhosos filmes que ocupam os
multiplexes, devem se lembrar de que não há nada de errado em pagar tributo `a gente que veio antes das sensações do momento. Não é porque as pessoas merecidamente lotam as salas de cinema e aplaudem os grandes blockbusters que
não podem curtir também a troca de marchas para algo de gestação mais antiquada
e datada. A soma de estilos tão distintos torna o cinema a relevante ferramenta
de expressão artística, o viés através do qual as diferentes facetas de nossa
personalidade são atendidas e bem-servidas, ao nosso alcance, nas telas dos blockbusters, e também nos aparelhos de TV nos filmes direto-para-DVD. As
aventuras dos Vingadores da Marvel oferecem uma sucessão de emoções no estilo
montanha-russa, mas talvez na simplicidade atmosférica de um herói procurando
desvendar o assassinato do irmão e portanto mergulhando de cabeça na sordidez
do submundo do sadomasoquismo encontre-se o contraponto perfeito `a tanta
grandiosidade. O contraste nos ajuda a perceber que ambos os estilos são faces da mesma
moeda. Enquanto nós cinéfilos temos muita sorte pelas maravilhas que os
efeitos especiais puderam nos proporcionar, não devemos perder de mente de que há vezes em que "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">menos é mais</i>". Abrirei a
resenha oferecendo as sinopses dos 3 filmes, e então os abordarei,
ora individualmente, ora dentro de um contexto. Espero que este humilde trabalho
traga aos leitores renovado interesse na obra dos 2 maravilhosos
ícones da ação homenageados, e para os mais jovens incite a descoberta através de suas melhores performances.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"<i>Skin Trade</i>" começa de uma forma tão
pacata que não teríamos como imaginar a montanha-russa de emoções que virá a seguir.
Uma adolescente de um humilde vilarejo no Camboja aproveita que seus pais estão
dormindo e, de mala pronta, deixa a casa silenciosamente, impressionada com o
sonho de se tornar uma estrela em Bangkok. Ao chegar `a rodoviária, é acolhida
por um "<i>agenciador de talentos</i>", mas descobre tarde demais que na verdade está nas mãos de
predadores. Os homens a drogam, levam a um armazém e a estupram diante das
câmeras para rodar um snuff-movie. A impactante introdução estabelece o tema
macabro: o tráfico humano e o mercado de pedofilia que o justifica.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUrD8i3QusAl-G2YldIFzWH4Mdjrx_5lfneb0ZqUs8gbvcGIp0_vUe7Nozl3Iz-LKIviGMXVB5O956xquvDdqvnSGWfdG0r1CTQm-bHE58YBfa_9_pudnZDh0cM9exWTW_JAGCnzCegbg/s1600/skin.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="723" data-original-width="1177" height="196" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUrD8i3QusAl-G2YldIFzWH4Mdjrx_5lfneb0ZqUs8gbvcGIp0_vUe7Nozl3Iz-LKIviGMXVB5O956xquvDdqvnSGWfdG0r1CTQm-bHE58YBfa_9_pudnZDh0cM9exWTW_JAGCnzCegbg/s320/skin.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Em Newark, Nova Jersey, <i>Nick</i> <i>Cassidy</i> (</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Dolph
Lundgren</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, em sua melhor performance em anos) é um tira veterano e que ao capturar um delinquente medíocre chega `a pista que pode levá-lo a um peixe
grande, o impiedoso e poderosíssimo gângster sérvio <i>Viktor</i> <i>Dragovic</i> (</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ron
Perlman</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, um dos pilares sobre os quais o filme se apoia). Simultaneamente,
na Ásia, o filme nos apresenta ao outro herói da história, <i>Tony </i></span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Vitayakul</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> (</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Tony
Jaa</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">), um tira tão incorruptível e corajoso quanto <i>Nick</i>, atuante no perigoso
submundo da Tailândia. Nós o vemos na cobertura de um luxuoso prédio,
negociando valores com um mafioso qualquer especializado em tráfico de crianças. <i>Tony </i>finge que é um comprador, e traz malas de dinheiro para "<i>adquirir</i>" uma escrava. Cismado, o mafioso ordena que <i>Tony </i>faça sexo com a
menina ali na sua frente. Quer certificar-se de que não se trata de um tira.
<i>Tony </i>tira o cinto, como se fosse se preparar para o ato do sexo, quando inesperadamente o usa como arma, e ataca 3 homens fortemente armados de uma só vez, matando a
todos. O ator </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Tony Jaa</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> é uma força da natureza: mesmo com a baixa estatura, a velocidade
com que parte para cima de 3 brutamontes e os derrota como se nada fossem é
de deixar os fãs boquiabertos!O mafioso se acovarda. <i>Tony </i>o prende pela canela com o cinto e o suspende da sacada. O covarde, claro, conta tudo o que sabe
sobre <i>Viktor</i> <i>Dragovic</i>, e ao final pede clemência. Ele oferece meninas para a
satisfação sexual gratuita de <i>Tony</i>, o que enfurece o agente. <i>Tony </i>o
solta e o pedófilo despenca, caindo "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">de cabeça no inferno</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". <i>Tony </i>estende a mão
para a garotinha, explica que é policial, e apanha uma parte daquele dinheiro
para ajudá-la. Ele pede para que a menina volte para casa e jamais confie
inteiramente nas pessoas.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_9JeOVwPEP6rQw_1tmHaAH7k3px45-guKJZC3d2ouawkBdB1aHZ_XbIzihAyEHelmucG6f1QIj7tyg_xsWT2ail2Ku5XrUvI_1jdBIgfuXDQmrtXtbHepFpTcbnnxwtT4p6LhbanGS78/s1600/skin2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="723" data-original-width="1181" height="195" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_9JeOVwPEP6rQw_1tmHaAH7k3px45-guKJZC3d2ouawkBdB1aHZ_XbIzihAyEHelmucG6f1QIj7tyg_xsWT2ail2Ku5XrUvI_1jdBIgfuXDQmrtXtbHepFpTcbnnxwtT4p6LhbanGS78/s320/skin2.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">No Departamento de Polícia de Newark, uma
ambiciosa operação está sendo organizada pelo durão Capitão <i>Costello</i> (</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Peter
Weller</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, o eterno "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Robocop</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", uma maravilhosa adição ao elenco) e Agente <i>Reed
</i>(</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Michael Jai White</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, lenda dos filmes de ação). Através da preleção de Capitão
<i>Costello</i>, aprendemos que <i>Viktor</i> <i>Dragovic</i> é a personificação da Maldade neste
mundo. O tráfico de crianças só é um dos mais lucrativos do submundo
graças `a mente criminosamente brilhante do gângster sérvio, que não apenas
comanda o negócio com mão de ferro, também conta com o suporte dos 4
filhos, <i>Goran</i> & <i>Ivan</i>, que dirigem as operações no Oriente Médio &
Sudeste da Ásia respectivamente, <i>Janko</i>, o meio irmão que usa o nightclub como fachada
para operações ilegais, e o novato <i>Andrei</i>, o mais jovem, a quem <i>Dragovic</i>
pretende iniciar nas atividades da família. Uma de suas "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">cargas</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", meninas destinadas ao mercado de pedófilos, chegará clandestinamente
ao porto de Newark naquela mesma noite, e <i>Costello</i> & turma sabem que não haverá melhor
oportunidade para prender o mafioso. Tragicamente, <i>Dragovic</i> escolhe
aquela noite para iniciar o filho, sem imaginar que a polícia está `a espreita
para realizar uma batida.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE5qFmAxNBxneIIq6qEPGIGVfga4G1QdEj5tzntrlYuzAXUJFDRmI6-VXOlKHY1bLLa890Icsg9t4taeZEjuCmJkVT1wj_yAmLVQNKAG-Y-SE02jFV6t5euTW8r1q4AdEQI5ItNfAUerk/s1600/skintrade13.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="553" data-original-width="1363" height="161" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE5qFmAxNBxneIIq6qEPGIGVfga4G1QdEj5tzntrlYuzAXUJFDRmI6-VXOlKHY1bLLa890Icsg9t4taeZEjuCmJkVT1wj_yAmLVQNKAG-Y-SE02jFV6t5euTW8r1q4AdEQI5ItNfAUerk/s400/skintrade13.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRGXbIod1tqljfYSDAJcfx9NaCe0kBn7j-Qvst2adCaYGo6UEXEFgHsGEr0xlfObyHsd5dtmuJPtHL8XvHfEL161G815Iu88DdfUZ9HGaGOBDE5V3aFw-6I7k6RYXIB-iG70FDWpA25cU/s1600/skintrade12.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1347" height="165" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRGXbIod1tqljfYSDAJcfx9NaCe0kBn7j-Qvst2adCaYGo6UEXEFgHsGEr0xlfObyHsd5dtmuJPtHL8XvHfEL161G815Iu88DdfUZ9HGaGOBDE5V3aFw-6I7k6RYXIB-iG70FDWpA25cU/s400/skintrade12.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Uma força especial com atiradores à espera de autorização assiste a </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> chegando `as docas, `a noite, para receber a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">carga</i><span style="font-family: trebuchet ms, sans-serif;">". O contêiner é aberto, e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> parece enojado com o que enxerga. Os homens da
operação não têm como saber ainda o que ele viu para chocá-lo tanto.
Furioso, o sérvio pede ao filho </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Andrei </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">para que prove ter o sangue do pai e
execute o comandante do navio, a quem responsabiliza pelos danos na mercadoria. O rapaz hesita, e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: trebuchet ms, sans-serif;"> abre fogo, matando o comandante. Os
policiais entram em ação, e um grandioso tiroteio se inicia entre tiras e bandidos pelos contêineres da doca. Enquanto os homens de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> caem durante a troca de tiros com a
força policial, o sérvio e seu filho encontram um modo de se protegerem entre as cargas, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Andrei </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">chegando a atingir um soldado da SWAT na perna.
Determinado a deixar seu pai orgulhoso, contra os avisos do velho, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Andrei
</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">resolve "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">bancar o valente</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" e enfrentar </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Cassidy</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> diretamente, que responde os tiros e fuzila o rapaz. Tomado pela dor, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> se ajoelha ao lado do corpo e pede para que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Cassidy</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> o mate de vez. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> age conforme as regras e
leva o sérvio preso. Ao poupá-lo, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> cometeu um grave erro. O gângster
executará sua terrível vingança na primeira oportunidade. Após o fim da
operação, Capitão </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Costello</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & Agente </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Reed
</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">parecem horrorizados ao contemplar o interior do cargueiro, nada menos do que
dezenas de meninas, crianças na verdade, empilhadas mortas por inanição. O mercado do
tráfico humano não conhece limites para a depravação. As conexões certas com
gente do alto escalão do governo russo e a habilidade de um advogado
inescrupuloso atrapalham os planos da força policial. Mesmo tendo sido
apanhado cometendo uma porção de crimes seriíssimos, durante o interrogatório,
</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> não parece preocupado.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4p53Sp0ve5b9KkqyrqxLmM0cdY2bDrkI8ojVWIyIIzB8GHAphsfd2P_xG1ZXFVEf_GEyhqtfGup2bctox_CByC5R2ZtT4No8o1b9McIvXZmp1yoi7_cVzSZIcQBrE1PRWu5PBRwOScC0/s1600/skintrade11.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1353" height="163" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4p53Sp0ve5b9KkqyrqxLmM0cdY2bDrkI8ojVWIyIIzB8GHAphsfd2P_xG1ZXFVEf_GEyhqtfGup2bctox_CByC5R2ZtT4No8o1b9McIvXZmp1yoi7_cVzSZIcQBrE1PRWu5PBRwOScC0/s400/skintrade11.jpg" width="400" /></a><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> é um pai amoroso, e ao voltar para casa
naquela noite, assistimos `a sua doce interação com a filha, uma linda menina de
19 anos, e a amorosa esposa. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> faz amor com a mulher e dorme em seus braços. Ele desperta de madrugada com o chamado insistente do celular. Soando preocupado, Capitão </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Costello</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> avisa a </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> usou de sua influência para deixar o distrito em liberdade provisória, e provavelmente está a caminho para fazer mal a </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. O tira só tem tempo de abrir as cortinas: vê homens saltando de uma van, bandidos armados até os dentes, os homens de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOKWx98j9s4Atk_OH384HUoIZq4ePVaLLJ9qyBvRLfSxaBr61e6fAKfsc3LIjH6c0LLdhMYO9I86Fuo_CyD5KPrqonxcNXJg6P5D0iA6bqhrOSh4NtlT72RhC3QoY4N0EvrbrQtEpplJU/s1600/skintrade14.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="553" data-original-width="1357" height="162" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOKWx98j9s4Atk_OH384HUoIZq4ePVaLLJ9qyBvRLfSxaBr61e6fAKfsc3LIjH6c0LLdhMYO9I86Fuo_CyD5KPrqonxcNXJg6P5D0iA6bqhrOSh4NtlT72RhC3QoY4N0EvrbrQtEpplJU/s400/skintrade14.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Vemos que os vilões por trás do ataque são na verdade </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ivan</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Goran</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, filhos do gângster. Eles apontam o lança-mísseis diretamente para a janela do quarto, e antes que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Cassidy</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> possa alertar a mulher, é apanhado em cheio pela explosão. Rendido pelo choque, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Cassidy</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> assiste impotente à execução sumária da esposa amada, morta com um tiro de escopeta. A filha é trazida para o quarto, e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Cassidy</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> implora que não a machuquem. Ele toma dois tiros nas costas e é deixado para trás, aparentemente morto. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ivan</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Goran</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> ateiam fogo na casa e partem, certos de terem eliminado o policial, único verdadero obstáculo para as operações do pai na América do Norte. </span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /><span style="font-size: small;">
<i>Cassidy</i> sobrevive. Visitado por <i>Costello</i> e Agente <i>Reed</i>, <i>Nick</i> escuta com muita dor a notícia de que valendo-se da imunidade que as conexões com gente poderosa lhe valeram, <i>Dragovic</i> deixou o país após pagar fiança. Agora que não tem mais nada a perder, <i>Cassidy</i> resolve fazer justiça com as próprias mãos. <span style="line-height: 107%;"><i>Nick</i> se automedica com uma dose de morfina e discretamente veste as
roupas para deixar o hospital na calada da noite. Ele visita a casa, em ruínas
após o ataque dos homens de <i>Dragovic</i>, mas recupera de um compartimento secreto
da suíte uma maleta com suas armas de fogo pessoais, armas pesadas. <i>Nick</i>
aparece em um dos restaurantes de <i>Dragovic</i>, frequentado por toda a escória envolvida com seu negócio de tráfico de gente, e abre fogo contra os asseclas. Uma das pessoas que executa a tiro de escopeta é o advogado corrupto que o colocou em liberdade. Para
finalizar, deixa o gás aberto e manda o lugar pelos ares. Enquanto isso se
sucede na América, vemos que <i>Dragovic</i> conseguiu se aclimatar bem no Cambodja,
sob a benção de um dos homens poderosos que tem na lista de subornos, Senador <i>Khat</i>
(<i>Cary Hiroyuki Tagawa</i>). Senador <i>Khat</i> anda meio relutante em permitir que
<i>Dragovic</i> permaneça por tanto tempo no Cambodja, pode haver consequências políticas, os Estados Unidos o tem pressionado para entregar o gângster após o fiasco do ataque contra a família do detetive americano. <i>Dragovic</i>
não apenas suborna as autoridades de diferentes países, ele também sempre conserva
consigo uma vantagem. No caso de Senador <i>Khat</i>, a indiscrição do político com
uma jovem garota com idade para ser sua filha valeu a </span><span style="line-height: 107%;"><i>Dragovic</i> as
fotos que utiliza agora para coagi-lo a oferecer a cobertura para
que permaneça no Cambodja. Sem escolhas, Senador <i>Khat</i> concorda em mantê-lo na
fronteira por apenas mais duas semanas, o que lhe dará tempo de repartir suas operações criminosas entre os filhos <i>Goran</i> & <i>Ivan</i>, para depois escapulir para o Laos.</span></span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span></span></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLUwO5ohTxEbQIBXzID3M6_LcFIDEi1EGZf3TLdc1xZ6APjZaZ88JqrAsFNvjl7uICUeBcandjakz1oSqjgfXEpZzKu4Jj01-bNEwQ41LQrZYrUgUU3s3KqmO5ybeEqW8VYVXE0zCCeHc/s1600/skin3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="649" data-original-width="1098" height="189" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLUwO5ohTxEbQIBXzID3M6_LcFIDEi1EGZf3TLdc1xZ6APjZaZ88JqrAsFNvjl7uICUeBcandjakz1oSqjgfXEpZzKu4Jj01-bNEwQ41LQrZYrUgUU3s3KqmO5ybeEqW8VYVXE0zCCeHc/s320/skin3.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;">Em Bangkok, <i>Tony </i>visita sua namorada Min (<i>Celina Jade</i>). Ela trabalha disfarçada em um dos clubes de <i>Dragovic</i> em Bangkok. Ela ama <i>Tony </i>e tem motivos pessoais para ajudá-lo a desbaratar o império do crime do sérvio, pois aos 12 anos foi vendida pela mãe a pedófilos pelo valor de 700 dólares. <i>Cassidy</i> chega a Tailândia para satisfazer sua vingança contra o gângster, mas terá outros problemas além do gângster. Agente <i>Reed </i>já procurou <i>Tony </i>e o parceiro <i>Nung</i>, solicitando ajuda de ambos para capturá-lo. Mesmo de boné e agindo discretamente, <i>Nick</i> não consegue chegar tranquilamente, pois <i>Tony </i>não custa a identificá-lo entre as outras pessoas no aeroporto, e rapidamente se inicia uma perseguição. "<i>Skin Trade</i>" é um filme visualmente bem acabado, bem filmado. As cenas dentro do aeroporto internacional fluem com uma graça que você esperaria ver em grandes filmes no cinema, no entanto você tem um produto do mercado direto-para-DVD com a mesma seriedade & profissionalismo. Em detalhes, o diretor sabe como criar empatia pelos personagens, como na cena em que depois de deslizar pelo lado da escada rolante, para correr atrás de <i>Nick</i>, <i>Tony </i>esbarra acidentalmente em uma senhorinha e deixa a corrida de lado por coisa de 1, 2 segundos, para fazer um gesto com as mãos sinalizando desculpas! São coisas simples assim que alavancam o valor do filme.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEja43wwPhv9tA4-_y1n-6Mp5SN2C1UC-Q5_LBPquVxrUK-nIZ0lnt1T6kgF32-SeNcv2VE51BeciZ9_sp9VL4G8PtFHM0-5maK8j-XMaO5gyn2duQFuxXr5aAAQb6i4PNa1PMDHzk2xYsQ/s1600/MJW-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="479" data-original-width="720" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEja43wwPhv9tA4-_y1n-6Mp5SN2C1UC-Q5_LBPquVxrUK-nIZ0lnt1T6kgF32-SeNcv2VE51BeciZ9_sp9VL4G8PtFHM0-5maK8j-XMaO5gyn2duQFuxXr5aAAQb6i4PNa1PMDHzk2xYsQ/s320/MJW-2.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Em uma cena muito parecida à outra de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Sentença de Morte</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">James Wan</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, a perseguição se estica para o estacionamento de vários níveis do aeroporto internacional tailandês. Quem viu o filme de James Wan compreenderá do que eu estou falando. De qualquer forma, a cena estabelece </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Reed </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">como membro do grupo dos vilões. Comprado por </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Reed </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">usa de seu livre trânsito como agente federal para tentar manter o gângster sempre um passo à frente de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Cassidy</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Ardiloso, quando </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Reed </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">& </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nung</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> veem-se momentaneamente a sós, o agente federal dá um tiro à queima-roupa em </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nung</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, matando-o, aponta a arma para si e atira contra o colete (claro que para forjar seu álibi) e então arremessa a arma para </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Cassidy</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, que cai como pato e põe as mãos na pistola. Quando </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">chega à cena, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Reed </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">faz toda a encenação dizendo que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Cassidy</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> matou covardemente o rapaz e por pouco não o matou também. Ele cria a animosidade perfeita para que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">queira pôr as mãos em </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> para "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">fazer o trabalho sujo</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", quando na verdade é ele, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Reed</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, quem tirou a vida de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nung</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;">O que vem a seguir serve de lição a cineastas que recorrem a efeitos especiais para criar os momentos mais importantes. A magia reside na simplicidade, e para uma das sequências mais impressionantes de "<i>Skin Trade</i>" o diretor <i>Uekrongtham </i>e seus dois astros filmaram a cena "<i>na raça</i>", nada de adição de efeitos. Os caras encararam o desafio "<i>no braço</i>". A cena começa com <i>Nick</i> saltando da passarela para a carroceria de um caminhão de passagem. Quando agente <i>Vitayakul</i> vê que não conseguirá acertá-lo, salta da ponte sobre uma grua de construção, e corre e desce através da mesma com uma desenvoltura que vai te deixar de boca aberta. A fluidez da câmera, que captura a ação também em movimento apenas a torna mais sólida. <i>Vitayakul</i> corre atrás do caminhão, e quando o motorista freia, <i>Nick</i> é lançado para frente e acaba caindo. Ele aproveita o escorregão de um motoqueiro e toma a moto. <i>Tony </i>continua a pé, correndo implacavelmente atrás de <i>Nick</i>, agora na moto. Como a perseguição se dá em uma parte muito populosa da cidade, <i>Tony </i>fica frustrado. Ele não é louco de abrir fogo, porque não quer acabar atingindo pessoas inocentes. <i>Vitayakul</i> precisa apegar-se unicamente à velocidade e, claro, a habilidade com as artes marciais. Quando os becos se tornam muito fechados, abarrotados de gente, <i>Tony </i>não hesita em saltar para cima, e seguir com a perseguição sobre os telhados da favela, um momento de tirar o fôlego. Também dignas de aplausos são as acrobacias de <i>Nick</i> sobre a moto. Ele salta de rampas, atravessa bares, cruza de uma viela para a próxima, põe quitandas abaixo... e simplesmente continua fugindo!</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9Ub9XblCXuEDCNOScwwGD9U37IJnseIUjFrnCYy1MsfoHcz2Xt2CGTPBDXWBOqNWLFY3MP7Fh0qpOPhH3PlE0Vtj_P2YXkL_hg5nV0zUdEqKCepHaZPjK3_xPb_zAWJz1GP8bZLgHNxY/s1600/lundgren1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="639" data-original-width="960" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9Ub9XblCXuEDCNOScwwGD9U37IJnseIUjFrnCYy1MsfoHcz2Xt2CGTPBDXWBOqNWLFY3MP7Fh0qpOPhH3PlE0Vtj_P2YXkL_hg5nV0zUdEqKCepHaZPjK3_xPb_zAWJz1GP8bZLgHNxY/s320/lundgren1.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOX5h5xBQMKAhG2uq7RQ09SSCGsq0QvXb1ES0SxXDcvG45j7d41Dm3O6nTdMhDIIgQM1z_lpvWz9dpUaibAR-LacIJor5scB9fJQYo4saGQZ8e-MBMEwK2GKy-iqYBuWPYq-mFG5va6-o/s1600/355359.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1065" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOX5h5xBQMKAhG2uq7RQ09SSCGsq0QvXb1ES0SxXDcvG45j7d41Dm3O6nTdMhDIIgQM1z_lpvWz9dpUaibAR-LacIJor5scB9fJQYo4saGQZ8e-MBMEwK2GKy-iqYBuWPYq-mFG5va6-o/s320/355359.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">A sorte de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> termina quando se mete em um beco sem saída. Ao fim da rua, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">fecha a passagem. Enquanto </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> esquenta o motor, preparando-se para acelerar para fora dali, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">corre como um trem, de encontro à moto e sem nenhum tipo de medo. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">consegue saltar sobre </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> e arrancá-lo da moto. Eles quase partem para o "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">mano a mano</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". Aqui, o diretor </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Uekrongtham </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">nos dá apenas uma palinha da luta entre </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony Jaa</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dolph Lundgren</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Eles só chegarão às vias de fato mais tarde, no entanto aquele primeiro encontro sugere o que está por vir. Enquanto </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">ataca tão furiosamente que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> nem tem como saber o que o atingiu, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> usa a força bruta como vantagem. De qualquer modo, depois de levar uma sequência de socos e chutes desferidos à irreal velocidade, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> consegue dar um empurrão em </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, desvencilhar-se do policial tailandês, tirar um motorista de dentro do carro e fugir.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;"><i>Nick</i> dirige até Poipet em busca de um dos nightclubs de <i>Dragovic</i>. Ele rende o gerente e pergunta por <i>Janko</i>. Coagido, o bandido entrega o endereço do armazém utilizado para as operações do grupo criminoso de <i>Dragovic</i>. <i>Tony </i>e <i>Reed </i>chegam ao nightclub, e <i>Min</i> conta ao namorado que viu o americano entrar no escritório. <i>Nick</i> não tem piedado do gerente, e enfia uma espátula no pescoço. Com um violento chute, manda o pedófilo pelos ares. O corpo voa através de janelas e despenca sobre o palco de apresentação das strippers. <i>Tony </i>assiste a tudo. Um tiroteio se inicia dentro do clube, mas logo <i>Nick</i> se põe em movimento. Tudo o que quer é se preservar para assaltar o armazém de <i>Janko</i> mais tarde. <i>Tony </i>chega a tempo de atrapalhar os planos de <i>Cassidy</i>. Os dois acabam ficando frente a frente em uma fábrica de trigo. <i>Nick</i> tem uma oportunidade para dizer que não foi ele quem atirou em <i>Nung</i>, o que deixa o policial confuso. Quando uma saca de sementes cai sobre o americano, <i>Nick</i> perde a arma e <i>Tony </i>parte para a luta. Aqui, <i>Dolph Lundgren</i> & <i>Tony Jaa</i> partem para o confronto franco, que mais ou menos segue a dinâmica da primeira briga, <i>Dolph</i> com os seus mais de 2 metros de altura e força bruta, <i>Tony Jaa</i> baixinho e magro, porém rápido como um leopardo. Enquanto <i>Dolph</i> acerta poucos golpes, quando os conecta, lança <i>Tony </i>longe. <i>Vitayakul</i>, por sua vez, cobre o americano com combinações de socos e chutes, rápidos demais para que os olhos acompanhem. Em várias ocasiões, em um salto apenas, ele lança de 2 a 3 voadoras no peito que fazem <i>Dolph Lundgren</i> literalmente atravessar paredes. A luta é bastante equilibrada, poré podemos afirmar que o <i>Tony Jaa</i> ganha do <i>Dolph</i>. Ocorre que por um deslize, <i>Nick</i> recupera a arma. Por um instante, <i>Vitayakul</i> acha que <i>Nick</i> atirará, contudo o americano apenas dispara no interruptor, para apagar as luzes e fugir. <i>Tony </i>fica surpreso que o inimigo tenha poupado sua vida, e pela primeira vez considera que o americano seja inocente.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtxyEUx7281hBFEmODzxgxElwddycpPB2u3uM_cvzMWi9iL9dHOpG1AKfvgzhB6_bdHgly8h3brGZ0mzv27YK2VT0zyWDA5qAvKUj9AOpkvT6sZOWSS7h5NGkbBWiZSbLYTE_I0sniYPI/s1600/TJ3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1065" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtxyEUx7281hBFEmODzxgxElwddycpPB2u3uM_cvzMWi9iL9dHOpG1AKfvgzhB6_bdHgly8h3brGZ0mzv27YK2VT0zyWDA5qAvKUj9AOpkvT6sZOWSS7h5NGkbBWiZSbLYTE_I0sniYPI/s320/TJ3.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Reed </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">e seus homens chegam à fábrica de trigo. Não há mais sinal de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, apenas </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Vitayakul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, cabisbaixo, exausto e pensativo. Ainda confuso pelas últimas revelações, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">não percebe quando ao fingir solidariedade para abraçá-lo e afirmar que "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">logo pegaremos esse cara</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Reed </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">"</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">afana</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" seu celular, de modo a descobrir reservadamente os números de seus contatos, revelar quem de dentro da organização de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> vem dando pistas à Polícia. A vida de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Min</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> corre perigo. Sem ter para onde ir, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Cassidy</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> acaba indo parar dentro de uma casinha muito simples de uma favela à beira do rio. Aquela família nada sabe sobre o americano grandalhão, no entanto o acolhem com carinho. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Vitayakul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> retorna ao nightclub, em busca de pistas. Para sua sorte, descobre uma câmera oculta no escritório do gerente. O canalha filmava secretamente um encontro sexual com uma menor de idade, quando </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> entrou, salvou a menina e quebrou a cara do estuprador. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Vitayakul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> escuta o diálogo travado entre os dois. Na ocasião, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Cassidy</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> exigia que o criminoso lhe fornecesse a localização do armazém de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Janko</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">sabe que será o armazém que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> atacará a seguir, e assim todos partem para armar a batida.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;"><i>Cassidy</i> se infiltra cuidadosamente no armazém de <i>Janko</i>. Vigiado por homens
fortemente armados, o armazém está recebendo um caminhão de meninas, naquela
noite. Ao se esgueirar para dentro de uma das salas, <i>Nick</i> encontra uma porção
de escravas sexuais, e gesticula para que permaneçam em silêncio. Quando dois
mercenários entram na sala com estupro em mente, <i>Nick</i> subitamente os
surpreende, mata ambos e toma suas armas. Ele orienta as meninas a permanecerem por
ali até que termine com os criminosos. Os bandidos sabem que alguém de fora
invadiu o armazém, e <i>Janko</i> põe seus asseclas de prontidão. De posse de uma metralhadora, <i>Nick</i> vai derrubando
os soldados, um a um. <i>Janko</i>, que sempre foi um
covarde, prefere tentar a sorte e fugir, mas não chega muito longe. Ele está para
escapar do armazém, quando dá de cara com o carro de <i>Goran</i> & <i>Ivan</i> <i>Dragovic</i>.
<i>Janko</i> pensa que seus irmãos o salvarão, mas eles o executam no ato, sob o
pretexto de que não é irmão de sangue, apenas um meio-irmão, filho de uma
vadia. <i>Vitayakul</i> e os agentes assistem a tudo de binóculos, à distância,
preparando-se para invadir. Dentro do armazém, <i>Nick</i> fica atônito com o que vê,"</span><i style="line-height: 107%;">gaiolas</i><span style="line-height: 107%;">" e mais "</span><i style="line-height: 107%;">gaiolas</i><span style="line-height: 107%;">" de meninas muito novas, basicamente crianças, todas destinadas
a atender o mercado internacional de pedófilos ricos.</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;">Ao deixar o armazém, <i>Cassidy</i> ainda segura o agonizante <i>Janko</i> pelo braço
e pede para que revele o paradeiro do pai. Asseclas de <i>Ivan</i> & <i>Goran</i>
chegam em outro grande veículo e descem disparando as metralhadoras. <i>Cassidy</i>
aponta sua arma e responde com fogo. <i>Tony </i>chega à cena com uma escopeta em mãos
e também abre fogo contra os criminosos, botando dois deles para baixo com
tiros certeiros. Assim como <i>Nick</i>, <i>Vitayakul</i> não tem mais nenhuma compaixão
daquela gente. Eles estão lidando com traficantes de escravos & pedófilos, o lixo da humanidade. Ele já chega atirando e sequer dá uma oportunidade para que os
bandidos se entreguem. <i>Nick</i> está agachado para carregar a pistola, quando
escuta o barulho que a escopeta faz ao ser alimentada. <i>Vitayakul</i> diz que o
homem que ele matou, <i>Nung</i>, tinha esposa e filha. <i>Nick</i> insiste que foi <i>Reed </i>quem
armou a cena para incriminá-lo, e então empurra o agente <i>Vitayakul</i>, salvando-o
de tomar um tiro disparado por <i>Reed</i>. O policial finalmente compreende que
Agente <i>Reed </i>é corrupto e serve ao lorde do crime <i>Viktor</i> <i>Dragovic</i>. <i>Vitayakul</i> se
encarrega de <i>Reed</i>, e os dois saem trocando tiros ao longo do armazém, entre
os pilares e colunas. Eventualmente, a munição acaba, e resolvem terminar o que
começaram com os próprios punhos. <i>Reed </i>é interpretado pelo excelente ator
<i>Michael Jai White</i>, protagonista de muitos filmes interessantes de ação, então
não é surpresa alguma que consiga dar muito trabalho a <i>Tony Jaa</i>. Inicialmente,
<i>Reed </i>derruba <i>Vitayakul</i> com chutes e socos, mas <i>Tony </i>consegue virar o jogo. Eles
sobem escadas trocando voadoras e partindo corrimões. A luta acaba indo para dentro
(e através) de uma oficina, onde estantes são colocadas abaixo, e janelas
arrebentadas a cada golpe. Eles voltam para o exterior. <i>Vitayakul</i> dá um salto e
conecta uma joelhada nas costas que faz <i>Reed </i>voar com a cabeça contra o vidro
de uma janela, tirando-o de combate. Simultaneamente, <i>Nick</i> está por perto,
derrubando os últimos asseclas no fogo cruzado. Ele consegue de <i>Janko</i> a informação sobre
o paradeiro de <i>Viktor</i> <i>Dragovic</i>.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJVHXRlIwZfC-rorz_vCmHi2P7uT8qclJeFHy1UlbvTf9nJRzKrbSZx58U6U90aT7t62ki4yOdfQge5dqjRIeHDVeRDiek0gjoMvPuhsvUTu9aUKnFFTHLzNjTgwntCEUa8_9bvWZuCn4/s1600/dolphlundgren.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJVHXRlIwZfC-rorz_vCmHi2P7uT8qclJeFHy1UlbvTf9nJRzKrbSZx58U6U90aT7t62ki4yOdfQge5dqjRIeHDVeRDiek0gjoMvPuhsvUTu9aUKnFFTHLzNjTgwntCEUa8_9bvWZuCn4/s320/dolphlundgren.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Vitayakul </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">perguntam a </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Reed </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">quando ele se vendeu a </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">,
e o agente responde que todo homem tem seu preço. Revoltado, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Vitayakul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> o executa com
um tiro de escopeta. Eles libertam as crianças, que lhes fazem o sinal de
agradecimento com as mãos. Comovidos, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Vitayakul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> percebem que apesar
de suas diferenças têm mais em comum do que imaginam, e para derrotar o poderosíssimo inimigo,
que inclusive subornou um setor corrupto do exército tailandês, precisam se
unir. Com um tiro de raspão na pele, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> tem a ferida cuidada por </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. A
caminho da fronteira para o duelo final com </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, eles conversam sobre suas
motivações, e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Vitayakul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> se abre ao falar do passado da namorada, que conheceu
na pele, durante a infância, os horrores do comércio de escravas sexuais. A fotografia
deslumbrante aproveita o potencial do cenário do interior da Tailândia. A
paisagem é realmente fantástica, ainda mais quando fotografada tão
caprichosamente, uma ótima "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">troca de marcha</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" e redução na velocidade que nos
permite recuperar o fôlego antes do grande clímax. Na base militar na fronteira
sob a administração do corrupto senador </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Khat</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> sente-se em casa. Ele
sabe que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Min</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> é seu grande trunfo, pois ela é o ponto fraco do agente </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Vitayakul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">.
Em uma cena reveladora, vemos entre as fichas do manifesto de escravas sexuais
uma foto 3x4 da filha de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Sofia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Cassidy</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> não morreu naquela noite do ataque. Ao
contrário, o filho de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Viktor</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> a poupou para usá-la como mais um produto para o
mercado sexual.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgj7IoiYNK5kQAtDPotpiG12pPdbTDJktB6GUFNcwfyPjRW5FIf6IvOAe26TujYtf4EHbv9BRhTNirP_iJqQrFYrEhDqsJ4_DgRb0AGVw2yWHD_pdDNa4MVpzMfXlR0K7XtwIgvcPG-D3A/s1600/skintrade8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="565" data-original-width="1349" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgj7IoiYNK5kQAtDPotpiG12pPdbTDJktB6GUFNcwfyPjRW5FIf6IvOAe26TujYtf4EHbv9BRhTNirP_iJqQrFYrEhDqsJ4_DgRb0AGVw2yWHD_pdDNa4MVpzMfXlR0K7XtwIgvcPG-D3A/s400/skintrade8.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxChtFFrtQ-1CfIPy481H5aQn6eyayWdBAuurSK6vP9X23o6i8wHt9kp9l_OBGPWlLCPqLJgmLYCf26ziRZRbbmTg3zHlhGvq5b8XT1Tic0KsoUT5zikhbYrUM01b_sftFtSwLTSVnjCs/s1600/skintrade7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1351" height="165" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxChtFFrtQ-1CfIPy481H5aQn6eyayWdBAuurSK6vP9X23o6i8wHt9kp9l_OBGPWlLCPqLJgmLYCf26ziRZRbbmTg3zHlhGvq5b8XT1Tic0KsoUT5zikhbYrUM01b_sftFtSwLTSVnjCs/s400/skintrade7.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Senador </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Khat</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> chega à base de helicóptero. Tudo parece em ordem para que
o gângster deixe a fronteira são & salvo, quando um míssil literalmente faz
um veículo voar pelos ares. A explosão lança os soldados para longe, e os
vilões percebem que estão sob o ataque de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Vitayakul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Cassidy</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">derruba o soldado que ameaçava sua namorada com um tiro de escopeta. Os soldados
fortemente armados de Senador </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Khat</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> abrem fogo contra o americano. Por trás de
jipes do exército e com o suporte de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> os vai derrubando. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Goran</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> &
</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Viktor</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> se reorganizam atrás de um carro para traçar um plano para escapar dali.
</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Goran</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> pede que seu pai fuja no helicóptero, pois ficará para trás para lhe dar
cobertura. Um dos homens mortos após o ataque com o míssil foi Senador </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Khat</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Vitayakul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">
dá um tiro que não chega a acertar </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Goran</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, mas evita que ele atinja </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Goran</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> procura
por </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Min</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> no cativeiro, mas descobre que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">a libertou. Dentro do hangar dos
veículos, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Vitayakul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> derrota os demais soldados, alguns com chutes, outros
com tiros. Ao final, dá de cara com </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Goran</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, o revólver apontado para a
cabeça de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Min</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Com um movimento de artes marciais, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Min</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> se livra do abraço de
</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Goran</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, abrindo espaço para que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">acabe com o gangster. Em mais uma exibição
de sua perícia, o ator </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony Jaa</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> cria uma curiosa coreografia, onde com o apoio
das laterais dos carros ganha impulso para voar contra o inimigo e o acertar
com toda sorte de joelhadas de todas as direções. Ele quebra o braço do bandido e o finaliza com uma
voadora que quebra o pescoço do filho mais velho de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi04OHuVYneuaaqeyHNcBErAOgIp-gJ0YzEgOgQoUDG7mPpMUktysRNLE1NbYDZmfz72C1cttU6jmdVPxrF95V0x6vTTz9_RUlUtH1ahK_sNoVjHLkXZ5r-xZG9bBL_gZKMDsMSetF_Cl8/s1600/skintrade5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="555" data-original-width="1359" height="162" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi04OHuVYneuaaqeyHNcBErAOgIp-gJ0YzEgOgQoUDG7mPpMUktysRNLE1NbYDZmfz72C1cttU6jmdVPxrF95V0x6vTTz9_RUlUtH1ahK_sNoVjHLkXZ5r-xZG9bBL_gZKMDsMSetF_Cl8/s400/skintrade5.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1xzt9-q2O_xBm20ArJlVLqA7EznUVzCyWLkJXiTYxOaZj00qWBdfdtVTNoJCB1ND8p5BvlSdPDxON-NWVQpmqfgSMyycAkopcaUVJJr62t0mugOUYOaqRMuC-jf0jlyvYcDhxkZcj2vY/s1600/skintrade6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="563" data-original-width="1357" height="165" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1xzt9-q2O_xBm20ArJlVLqA7EznUVzCyWLkJXiTYxOaZj00qWBdfdtVTNoJCB1ND8p5BvlSdPDxON-NWVQpmqfgSMyycAkopcaUVJJr62t0mugOUYOaqRMuC-jf0jlyvYcDhxkZcj2vY/s400/skintrade6.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">O helicóptero está levantando voo. Ao ser atingido por uma saraivada de
tiros de metralhadora, por </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, o piloto termina alvejado no peito e os rotores do
helicóptero acabam entrando em colapso. O helicóptero perde o controle e gira em torno do próprio eixo, em uma cena fantástica, filmada do lado de dentro para nos dar
a perspectiva de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. O helicóptero encontra o chão com estardalhaço. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">
se aproxima, certo de que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> não resistiu ao impacto, quando o gângster
sérvio o surpreende com um duro golpe de barra de ferro. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> puxa uma faca
e consegue enterrá-la no abdômen de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. O desejo de vingança do americano
ainda está tão palpitante que ele consegue tirá-la da barriga e cravá-la no peito
do mafioso, em um golpe ainda mais duro e mortal. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> cai no chão
agonizante, e antes de morrer revela que a filha de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Cassidy</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> foi vendida
como escrava sexual. Algum tempo se passa, e em uma praça na Tailândia, vemos
</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> dizendo adeus a seus amigos </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony Vitayakul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Min</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Ele precisa
encontrar a filha, e, portanto, seguirá as pistas do manifesto. O americano
sabe que sempre poderá contar com a ajuda dos dois amigos. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">& </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Min</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">
assistem a </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> partir com tristeza e preocupação nos olhos. A trama fecha
de uma maneira doce, pois rumo ao desconhecido, dentro do trem, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> procura
esconder parte de seu rosto queimado para não assustar uma garotinha que
sentou ali na sua frente, e a menininha se levanta para colocar a mãozinha na cara
de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> e a afagar, em um gesto de pureza que indica que a aparência do
americano não a incomoda. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> faz uma expressão de alívio e esperança, tocado
pela inocência & pureza da criança, ainda mais convicto de que para escória
como </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dragovic</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, gente que vive de sugar os incautos, só há um tratamento
adequado: o tratamento da arma.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i><br /></i>
<i>Dolph Lundgren</i> jamais esteve melhor do que
no extraordinário "<i>Skin Trade</i>". Considerando-se que <i>Lundgren</i> participou dos 3
filmes da franquia "<i>Mercenários</i>", a afirmativa a seguir exige firmeza, mas não tenho
dúvidas ao lhes garantir que "<i>Skin Trade</i>" consegue superar a franquia mais
famosa. Lançado no mercado direto-para-DVD, o filme do diretor <i>Ekachai
Uekrongtham</i> é uma fantasia delirante para os fãs de ação. Ao contrário de "<i>Mercenários 3</i>", uma produção maior que precisou atender a uma série de
requisitos em favor do salutar retorno financeiro, por exemplo contenção quanto a
cenas mais violentas de modo a garantir uma censura "<i>Parental Guidancer Under
13</i>", em sua mais reduzida escala, "<i>Skin Trade</i>" pôde ousar com ideias mais
interessantes que a um filme muito caro seria impossível.</span></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]-->
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves/>
<w:TrackFormatting/>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:DoNotPromoteQF/>
<w:LidThemeOther>PT-BR</w:LidThemeOther>
<w:LidThemeAsian>JA</w:LidThemeAsian>
<w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:SplitPgBreakAndParaMark/>
<w:EnableOpenTypeKerning/>
<w:DontFlipMirrorIndents/>
<w:OverrideTableStyleHps/>
<w:UseFELayout/>
</w:Compatibility>
<m:mathPr>
<m:mathFont m:val="Cambria Math"/>
<m:brkBin m:val="before"/>
<m:brkBinSub m:val="--"/>
<m:smallFrac m:val="off"/>
<m:dispDef/>
<m:lMargin m:val="0"/>
<m:rMargin m:val="0"/>
<m:defJc m:val="centerGroup"/>
<m:wrapIndent m:val="1440"/>
<m:intLim m:val="subSup"/>
<m:naryLim m:val="undOvr"/>
</m:mathPr></w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
DefSemiHidden="true" DefQFormat="false" DefPriority="99"
LatentStyleCount="276">
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Normal"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="heading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="35" QFormat="true" Name="caption"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="10" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" Name="Default Paragraph Font"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" Name="Body Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="11" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtitle"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="22" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Strong"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="20" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="59" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Table Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Placeholder Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="No Spacing"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Revision"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="34" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="List Paragraph"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="29" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="30" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="19" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="21" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="31" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="32" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="33" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Book Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="37" Name="Bibliography"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" QFormat="true" Name="TOC Heading"/>
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Table Normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;}
</style>
<![endif]--><!--StartFragment--><!--EndFragment--></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Lundgren</i> assina o roteiro, escrito com o suporte de <i>Gabriel Dowrick</i>, <i>Steven Elder</i> & <i>John Hyams</i>, e aqui conta com o
melhor time de suporte que poderia desejar para protagonizar seu próprio épico. Se para "<i>Mercenários 3</i>" <i>Sylvester Stallone</i> teve ao lado um grande elenco e orçamento
milionário, o diretor <i>Ekachai Uekrongtham </i>fez com que seus
9 milhões de dólares rendessem cenas de tirar o fôlego que sugerem uma
produção no mínimo 5 vezes maior. Fãs da Ação sabem que o mercado
direto-para-DVD é a mina de ouro onde podem encontrar a soma de estilos, liberdade e
estrutura dos anos 80&90. Não fosse pelo mercado dos "<i>filmes B</i>", a ingenuidade
daquelas produções queridas jamais teria perdurado nos dias de hoje, época
mais cínica onde filmes deixaram de lembrar filmes, mais se assemelhando a
grandes empreitadas, empreendimentos que custam centenas de milhões e mal
parecem ter sido dirigidos por cineastas com uma paixão, mas por uma diretoria de analistas financeiros. Os
filmes direto-para-DVD não apenas projetaram novos astros como <i>Michael Jai White</i>,
<i>Gary Daniels</i> & <i>Steve Austin</i>, também acolheram grandes nomes do cinema do
passado que entre um grande filme e outro, quando em baixa, conseguem encontrar nas produções menores a
oportunidade para se reinventarem, como <i>Peter Weller</i> & <i>Ron Perlman</i>. "<i>Skin
Trade</i>" traz todos os ingredientes de um glorioso Filme B, tão divertido e bem-cuidado quanto "<i>Outlander. Guerreiro vs. Predador</i>", o exemplo máximo de como paixão e talento por trás e à frente das câmeras podem tornar mesmo uma produção sem ambições, e que visa ao mercado de DVD um espetáculo de primeira grandeza, um produto classudo. Em suas medidas menores, contam com um charme a mais, algo que as grandes produções não nos dão mais, provavelmente a "<i>ingenuidade do primeiro amor</i>". As pessoas envolvidas realmente fazem seu melhor, e quanto mais dificuldades o processo de rodar filmes lhes imponha, mais a equipe se esforça para encontrar as soluções ao alcance, de modo que suas visões cheguem às telas com o máximo de fidelidade às ideias.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
"<i>Skin Trade</i>" é a consagração da carreira de <i>Lundgren</i>, que viveu distintos períodos na evolução do gênero. Seus filmes nos anos 80 & 90 gozam da simplicidade & ingenuidade que tornaram possível sentir saudades do mercado de vídeo, pois só sentimos falta do que realmente amamos. Os cinéfilos que conheceram os tempos do vídeo-cassete se recordam com saudosismo das fitas daquela época, onde as tramas usualmente giravam em torno de submundos onde campeonatos ilegais de kickboxing eram disputados entre lutadores impiedosos, e o protagonista, geralmente um tira de passado traumático especialista em artes marciais em busca de aceitação (tipo a cena em que o velho grita para o <i>Jean Claude Van Damme</i>, "<i>Você não é um Tanaka!</i>", em "<i>O Grande Dragão Branco</i>"), infiltrava-se no torneio para derrubar algum mega chefão do narcotráfico. Nestes filmes, não faltavam cenas dramáticas risíveis, mulheres voluptuosas em trajes sumários, lutas exageradas, o parceiro engraçadinho que balanceava a ação com uma pitadinha de comédia & se ferrava para motivar o herói para o duelo final, e atuações exageradas onde veteranos como <i>Richard Lynch</i> & <i>Billy Drago</i> & <i>Cary Hiroyuki Tagawa</i> & <i>Matthias</i> <i>Hues </i>& <i>Bolo Yeung</i> davam vida a vilões cheios de malvadeza, previsivelmente filmados maquinando planos com os asseclas enquanto consumiam charutos e tragavam tentando parecer sempre ameaçadores, fazendo o melhor para uma vez tendo traçado seus planos diabólicos darem aquela típica gargalhada estilo "<i>Ei, olhem para mim e vejam como eu sou malvado!</i>". Para nos garantir que os caras são verdadeiros monstros desprovidos de moral, os diretores só faltavam adicionar que além dos planos perversos da trama principal, ainda pretendiam sequestrar o Papa e exigir um resgate bilionário nas horas vagas!Aqueles filmes tão antigos e queridos que aprendemos a amar também evoluíram conosco, cresceram conosco. Hoje, o mercado direto-para-DVD guarda uma sofisticação que tornou o produto muito aprimorado.<i> Dolph Lundgren</i> fez parte da Primeira Era do Mercado-para-Vídeo, e hoje estrela produções da Fase de Ouro, onde as produções revestem-se de mais luxo, muito mais ambiciosas, bem-acabadas e, claro, divertidas!</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOBdaIaTCD57Sxs2AGtjVCzZTjPcR5ZdB0tVe1VCDqI15vm_8-actf98AJxtOpn-ZnIwb6YT5-qF4sk4uEd30-AYIta-CLsYSljQLIo1njZG1CISMBiT6poZVdioRTAVcDT0jRxCCFIa8/s1600/skintrade9.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="553" data-original-width="1359" height="162" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOBdaIaTCD57Sxs2AGtjVCzZTjPcR5ZdB0tVe1VCDqI15vm_8-actf98AJxtOpn-ZnIwb6YT5-qF4sk4uEd30-AYIta-CLsYSljQLIo1njZG1CISMBiT6poZVdioRTAVcDT0jRxCCFIa8/s400/skintrade9.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif; line-height: 107%;">Em sua estreia no mercado americano, <i>Tony Jaa</i> é um milagre de se testemunhar. Quem
o viu anteriormente em "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif; line-height: 107%;">Ong Bak</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif; line-height: 107%;">" sabe do que <i>Jaa</i> é capaz. Suas cenas de luta
desafiam as leis da gravidade, e às habilidades incomuns, <i>Jaa</i> agrega o que há de
melhor do carisma que se espera de um astro de ação, e nos faz pensar no homem
que começou toda essa história, Bruce Lee, falecido prematuramente em 1973.
Assim como Lee, que inclusive é um de seus ídolos pessoais, <i>Tony Jaa</i> demostra
seu magnetismo em generosas, equilibradas doses de bom humor, ameaça e
letal habilidade, que o tornam uma presença invejável, impossível de se
ignorar. Mesmo baixinho, é o tipo de cara que quando entra num lugar
atrai as atenções e ganha o respeito dos presentes, nos mesmos moldes de um
<i>John Wayne</i>, por exemplo. Prova de seu enorme talento, fiquei gratamente
surpreso ao ler que <i>Tony Jaa</i> participava do elenco de "<i>Fast 7</i>", o novo filme da
franquia "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif; line-height: 107%;">Velozes & Furiosos</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif; line-height: 107%;">" dirigido pelo grande <i>James Wan</i>. Não tive a
oportunidade de assistir a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif; line-height: 107%;">Fast 7</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif; line-height: 107%;">", mas espero vê-lo em breve. <i>Jaa</i> também foi
escolhido pelo diretor <i>Gareth Evans</i> para estrelar "<i>Operação Invasão 3</i>", a
terceira parte da série nascida na Indonésia, tida como a franquia definitiva
de ação dessa nova década, laureada por grandes nomes do
gênero, <i>Sylvester Stallone</i> inclusive, que queria o diretor <i>Gareth Evans</i> para
comandar "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif; line-height: 107%;">Mercenários 3</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif; line-height: 107%;">" (no final, o diretor acabou sendo outra pessoa). Não
há dúvida que os grandes diretores deduziram que se <i>Jaa</i> cria mágica mesmo em
produções limitadas, o cara vai absolutamente incendiar as telas com orçamentos generosos. Tendo superado uma infância paupérrima na Tailândia às custas do esforço pessoal, talento e disciplina, esse ator é um exemplo de conduta e um cara que veio para ficar. É
esperar para ver!</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif; line-height: 107%;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirDwIPPIHtGBMi_QScIRupivfjic9jDj6UhhbvN5Lnf5Qct4EHHxEm7ENFr4MwMtbil76GznmEBm8UAxS8zQXM6JuqmnKHmpw_ZIOcSEISLTs69dlbfBA80FsrehYZzwF53dEKhrSs71M/s1600/skintrade10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1357" height="163" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirDwIPPIHtGBMi_QScIRupivfjic9jDj6UhhbvN5Lnf5Qct4EHHxEm7ENFr4MwMtbil76GznmEBm8UAxS8zQXM6JuqmnKHmpw_ZIOcSEISLTs69dlbfBA80FsrehYZzwF53dEKhrSs71M/s400/skintrade10.jpg" width="400" /></a><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Celina
Jade</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> interpreta a companheira de Detetive </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Vitayakul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, e ao mesmo tempo que
consegue soar destemida o bastante para transitar em um mundo tão caótico e
incerto, injeta o tipo de vulnerabilidade que nos faz compreender
por que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">faria de tudo para vê-la sempre bem. O momento onde os dois
conversam após namorarem, e ela fala sobre como sua mãe a vendeu por 700 dólares
enquanto um devastado </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">examina os cortes no seu ombro não custou ao diretor
mais do que 5 minutos, no entanto contribuiu e muito em nos aproximar de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Min</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Vitayakul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> a um nível humano & pessoal, fazendo da vulnerabilidade
feminina uma característica paradoxalmente intrínseca a uma mulher tão valente
e determinada. Parceiros em uma luta contra um inimigo monstruoso e por vezes
invisível, o submundo da pedofilia & tráfico de escravas, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tony Jaa</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> &
</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Celina Jade</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> têm uma química tão natural e espontânea que se tentássemos,
conseguiríamos plenamente imaginar um novo filme encabeçado pelos dois apenas, talvez combatendo uma nova grande ameaça. Personagens secundários interessantes e
humanos & vilões horrorosos demandam um bom roteiro para soarem críveis, no
entanto cabe mencionar a naturalidade com que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Celina Jade</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> aborda o
material e a torna uma personagem só sua.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvlj5psA5eOYu3JVEVvn1aChouue6oTYNYvvoF7A-t2v9HXuYlSjQNsc5HRhLpr1hlVruBld3NUxO5z1f4MmFbHTHwfKyRv-g1IxO2ZluNjOKzazwFbJ5tFPJ3uW53zV73zijjjF_8f1E/s1600/10710278_1558001774415885_1082375039167315480_o.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1068" data-original-width="1600" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvlj5psA5eOYu3JVEVvn1aChouue6oTYNYvvoF7A-t2v9HXuYlSjQNsc5HRhLpr1hlVruBld3NUxO5z1f4MmFbHTHwfKyRv-g1IxO2ZluNjOKzazwFbJ5tFPJ3uW53zV73zijjjF_8f1E/s400/10710278_1558001774415885_1082375039167315480_o.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif; line-height: 107%;"><i>Ron Perlman</i> </span><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif; line-height: 107%;">(<i>foto, ao centro, divertindo-se com seus colegas de elento Michael Jai White & Tony Jaa</i>) </span><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif; line-height: 107%;">foi uma aquisição inestimável ao elenco. O veterano
ator, que não dá nada menos do que seu absoluto melhor a todo material, é um
dos grandes nomes do cinema, e a sua presença facilita o trabalho do
diretor e elenco. Ao escalá-lo para o papel de <i>Viktor</i> <i>Dragovic</i>, <i>Lundgren</i> dá
a face certa ao monstruoso e perverso lorde do mercado do sexo, desafio
perfeito para que os heróis testem a coragem. Torcer para <i>Lundgren</i> & <i>Tony Jaa</i>
não faria sentido algum se não existisse um adversário à altura. Tomem o
exemplo de uma produção de 007 chamada "<i>Quantum of Solace</i>". Apesar de vivido
por um ator talentosíssimo, <i>Mathieu Amalric</i>, o vilão daquela aventura em particular
foi muito criticado, porque dele não emanava a ameaça que torna as tramas tão interessantes. Quando ele surge para lutar com o herói, as pessoas simplesmente
não conseguem crer que 007 encontre tanta dificuldade para vencer um sujeito
tão fracote. Para os amigos terem uma ideia, se ao clímax, ao invés de <i>Mathieu Amalric</i>, o agente secreto tivesse lutado com a <i>Jennifer Connelly</i>, no papel de si mesma, teria sido ainda mais difícil para James Bond! A figura grandalhona, o rosto carrancudo e a voz grossa de <i>Perlman</i>
fazem do ator o tipo ideal para dar vida a vilões cruéis, e apesar de "<i>Skin
Trade</i>" ser um triunfo conjunto, seu grande diferencial reside na performance
fenomenal do veterano como o macabro, impiedoso <i>Dragovic</i>. A adição do astro ao
time de qualquer produção só traz um único contratempo: você sempre acredita que os
diretores poderiam tê-lo usado mais, você deseja que seu personagem tivesse
mais exposição. Quase sempre, <i>Perlman</i> projeta sua sombra sobre os
protagonistas, rouba os filmes e os leva sob um dos braços, de tão
talentoso! Como fã do ator <i>Burt Reynold</i>s, eu me sinto feliz de dizer que ele & <i>Ron Perlman</i> trabalharam juntos na aventura capa & espada "<i>Em Nome do Rei</i>". Em um dos extras do DVD, o making-of, você os vê conversando e brincando quando o elenco se reúne para tirar a foto em grupo, <i>Burt Reynolds </i>sentado bem na frente e no centro. <i>Ron Perlman</i> chega e fica de pé bem na frente do <i>Burt </i>para tomar seu lugar principal na foto, e os dois dão boas risadas, brincando. Eu torço muito pelo <i>Ron Perlman</i>, um brilhante ator, um grande cara. Sua aquisição é a metade do caminho para que se tenha um excelente filme.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;">Um dos filmes </span><span style="line-height: 107%;">mais pessoais da carreira do astro sueco, <i>Lundgren</i> começou a trabalhar no roteiro em 2006, quase 10 anos antes de efetivamente rodá-lo. Sobre o projeto, <i>Lundgren</i> disse em uma entrevista para o site broadwayworld "</span><i style="line-height: 107%;">Este projeto é mais especial para mim do que qualquer outro filme que eu tenha feito. Eu trabalhei no script por 7 anos. Agora, temos um elenco multi talentoso e a equipe técnica necessários para criarmos um emocionante filme sobre crimes contra a humanidade, baseado em protagonistas com profundidade</i><span style="line-height: 107%;">". Prova de sua devoção à história, suas cenas de luta com <i>Jaa</i> demandaram duas semanas de ensaio, e mais duas semanas para filmagens. Ambos os astros tiveram liberdade para sugerir novidades na coreografia. Sobre as cenas de luta, em uma entrevista para Austin Trunick, do site Under the Radar, <i>Lundgren</i> contou "</span><i style="line-height: 107%;">Não se trata apenas de troca de socos e chutes sem sentido. Penso que em um filme menos sofisticado, esses personagens lutariam para sempre, sobre telhados, na rua, sobre o ônibus... tudo bem fazer isso em uma comédia. Mas em uma briga real? É por isso que os filmes da série Rocky são fantásticos: há uma história, uma trama entre as lutas. Quem ganha, quem está na vantagem no começo, e então isso muda, e então alguém se machuca, e outra pessoa assume. Há começo, meio e fim para toda luta. É disso que você precisa. Você precisa planejar toda essa questão antes de desferir o primeiro golpe nas filmagens</i><span style="line-height: 107%;">". "<i>Skin Trade</i>" é mais um grande filme que se tornou possível graças a Magnet Releasing, de onde vêm os melhores produtos independentes de horror & ação. Feito com muito cuidado, carinho e profissionalismo, "<i>Skin Trade</i>" merece toda a atenção & sucesso que conseguir. Julgando a recepção positiva, devemos torcer para que <i>Lundgren</i> siga adiante com o projeto de "<i>Skin Trade 2</i>", que deverá abordar o mercado do tráfico de órgãos, um desejo que o próprio astro vocalizou. E já que não custa sonhar, será que não daria para arrumar um lugar para <i>Jean Claude Van Damme</i> como o implacável lorde do mercado negro de órgãos? E <i>Steven Seagal</i> como o agente da Interpol que se alia ao <i>Dolph Lundgren</i> para desbaratar a rede do tráfico, principalmente depois que seu filho pequeno morre à espera de um transplante e ele se ressente de criminosos do tipo, que se aproveitam do desespero das pessoas em seus mais vulneráveis momentos? Como eu disse, não custa sonhar!</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhk4Xp12JZi1ZWnbi2CWW4a1Hu6Xy8YM1kUEc4hSy5HYwwFGrnLIfERpKQoIRoufH8RNaml6bht603UFw1yP3SwVbIYDzF_yAV7ZRyXRC5svjFs_GWXAD0jZIGYiMA1XdFQMzTSDJ7mKY0/s1600/jill-rips5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="768" data-original-width="506" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhk4Xp12JZi1ZWnbi2CWW4a1Hu6Xy8YM1kUEc4hSy5HYwwFGrnLIfERpKQoIRoufH8RNaml6bht603UFw1yP3SwVbIYDzF_yAV7ZRyXRC5svjFs_GWXAD0jZIGYiMA1XdFQMzTSDJ7mKY0/s320/jill-rips5.jpg" width="210" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Se "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Skin Trade</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" coroou uma longa, vitoriosa vida dedicada a filmes de ação, por que não olhar um pouquinho para trás, para uma época quando apesar de mais primitivos, os filmes eram tão ou mais excitantes? O convite nos levará a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Assassinatos em Boston</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". Duas crianças brincam distraidamente no cais do porto. É uma manhã gloriosa, e com a chegada do Sol, o rio começou a degelar. Os meninos enxergam um cadáver amarrado e despido, e quando a perícia chega à cena do crime, o detetive </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Eddie</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> (</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Richard Fitzpatrick</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">), o investigador encarregado do caso, reconhece a vítima. Uma legenda nos informa que o filme se passa em Boston, no ano de 1977, mas o figurino e a ambientação já haviam deixado explícito que se trata de uma trama ambientada nos anos 70. Na missa realizada pela alma de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Michael</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Sorenson</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, um estranho de capus observa a movimentação e o comportamento dos presentes a uma distância segura. Ele é </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Matt</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Sorenson</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> (</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dolph Lundgren</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">), um ex-tira & boxeador amargurado e devastado pelo alcoolismo, um homem que tem suas razões para não se mostrar em um primeiro momento. Quem o reconhece é o detetive </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Eddie</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Matt</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> promete que se verão mais tarde, quando voltar para casa, para a cerimônia do luto. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Sorenson</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> parece ser apenas tolerado e não exatamente bem-vindo pela mãe. Intrigado com o mistério do homicídio, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Matt</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> presta atenção às reações dos colegas e velhos conhecidos que comparecem à casa para a cerimônia. Um dos visitantes é o Prefeito </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Conway</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, um homem poderoso que teve suas diferenças com </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Michael</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Sorenson</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Aparentemente, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Michael</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> impôs empecilhos ao projeto do Prefeito </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Conway</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, que pretendia construir um túnel em um local geologicamente inviável. Ocorre que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Conway</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> investira 30 milhões no grandioso projeto que consumira 3 anos até o final das obras, e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Michael</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> pretendia impedi-lo legalmente de seguir adiante com as escavações. Claro que o detalhe deixa </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Matt</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> incomodado, mas ele prefere não deixar sua má impressão tão evidente, para investigar mais livremente depois. Uma mulher bonita chama sua atenção durante a recepção. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Eddie</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> revela que a moça se trata de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Irene</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, a viúva de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Michael</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Mais tarde, depois que as visitas se foram e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Matt</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> está com os olhos marejados pensando no irmão, eles têm a oportunidade de conversar melhor. Estavam casados há apenas 6 meses, quando a tragédia aconteceu.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiteS7pZBxpOMf0k4q75Pik_rpnjpSU3WcEOEarBXSjxkri_4SsrTim_Rhl9g9vwrMXDqoAFSe2iKS2voaO9E50JoeRxF3KdcrY-CghZ9vikjrCcS6w4lomPHj3jjzL8z_7KLylC0QQ9wA/s1600/jilrip00_02.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="512" data-original-width="704" height="232" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiteS7pZBxpOMf0k4q75Pik_rpnjpSU3WcEOEarBXSjxkri_4SsrTim_Rhl9g9vwrMXDqoAFSe2iKS2voaO9E50JoeRxF3KdcrY-CghZ9vikjrCcS6w4lomPHj3jjzL8z_7KLylC0QQ9wA/s320/jilrip00_02.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Conforme os planos do Prefeito </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Conway</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, o túnel é inaugurado em uma cerimônia em que se dirige aos presentes, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Matt</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> inclusive, sobre as diferenças entre os dois, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Conway</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Sorenson</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, em vida. Ele explica que apesar dos reparos na seara das ideias, sente-se honrado em passar a tesoura na faixa e dedicar a obra ao falecido </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Michael</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, batizando-a de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">The Sorenson Tunnel</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". Durante o passeio, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Matt</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> acaba por ficar propositalmente para trás. À distância, depois que os convidados se foram, ele testemunha o Prefeito </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Conway</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> conversando com um homem mal encarado, ambos envolvidos pela névoa. Quando pensa estar sozinho, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Matt</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> é atacado pelo mesmo homem, que deve saber de fatos sobre sua vida, pois depois de derrubá-lo, menciona algo sobre seu passado como tira, e avisa que se voltar a se meter ali clandestinamente, apanhará mais seriamente.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
Naquela noite, <i>Matt</i> e <i>Irene</i> têm a oportunidade de se conhecerem. Ele pergunta se ela tem planos para a vida, agora que está viúva, se pretende retornar para Nova York. Ela explica que seus pais eram da área, Boston, e que não pensa em voltar para Nova York. O café é interrompido pela chegada de Detetive <i>Peerse</i>, um dos tiras da Força Policial. Como de se esperar, deu uma passada apenas para lembrá-lo a não se envolver. Sua investigação clandestina no túnel chegou aos ouvidos de terceiros, e agora muitas pessoas sabem que <i>Matt</i> voltou para se aprofundar no mistério por conta própria. Há gente poderosa envolvida na tragédia, e obviamente eles não querem que <i>Matt</i> lhes cause dor de cabeça. Detetive <i>Peerse </i>está deixando a casa quando escuta no rádio que um novo corpo foi encontrado no pier. <i>Matt</i> resolve segui-lo. A cena do crime é repugnante. O cadáver encontrado segue o mesmo padrão do corpo de <i>Michael</i>, despido e amarrado, a cabeça esmagada. <i>Matt</i> só confia em um único homem da força, Detetive <i>Eddie</i>.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
Reunidos para drinques, <i>Eddie</i> lhe conta tudo o que sabe sobre o caso do irmão. Os federais já estavam de olho no Prefeito <i>Conway</i> por causa da questão da construção do túnel. Embora não tenham levantado nenhuma sujeira, <i>Eddie</i> se lembra de uma festa que <i>Conway</i> realizou duas semanas antes da morte de <i>Michael</i>. De tocaia para vigiar o comportamento do prefeito, ele se lembra de ter visto <i>Michael</i> e <i>Irene</i> na festa. <i>Irene</i> inclusive deixou a festa mais cedo, e parecia chateada. <i>Matt</i> menciona o homem mal encarado que viu em companhia de <i>Conway</i>. Ele tinha sotaque polonês e uma aparência peculiar. <i>Eddie</i> o conhece: ele se chama <i>Joe Jujavia</i>, um notório cafetão que agencia garotas conhecidas como "<i>leather women</i>", mulheres de couro: fetiches, chicotes, peças apertadas de couro, sadomasoquismo, submissão & humilhação. <i>Joe Jujavia</i> é velho conhecido da Força Policial desde que espancou até a morte uma de suas prostitutas, uma tal de "<i>Anette</i>", muitos anos antes, com uma barra de ferro. Não caiu dentro do sistema prisional graças ao depoimento de uma outra mulher, <i>Mary O.</i> <i>Matt</i> sabe que se encontrar <i>Mary O.</i>, conseguirá mais informações sobre <i>Joe Jujavia</i>. Talvez até consiga compreender o que um homem poderoso como <i>Conway</i> faz na companhia de um cafetão, e de que forma as peças se encaixam no quebra-cabeça da morte de <i>Michael</i>.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
<i>Matt</i> socializa em um clube de quinta categoria que <i>Mary O.</i> costumava frequentar. Ele conhece uma prostituta que explica que <i>Mary O.</i> não atende mais naquele nightclub. Por uma certa quantia de dinheiro, aceita lhe dizer onde <i>Mary O.</i> recebe os clientes. Na saída do clube, <i>Matt</i> é interpelado por alguns homens de <i>Joe Jujavia</i>, mas os derrota facilmente com os punhos. Para o último assecla, ele pede que transmita o recado a <i>Conway</i> e o avise de que só parará quando descobrir a verdade. <i>Sorenson</i> chega a um motel decadente de 2 andares, e rende <i>Mary O.</i> em seu quarto, justamente quando ela está atendendo um homem, metida em um uniforme de enfermeira, tudo para satisfazer os fetiches de seus peculiares "<i>namorados</i>". Para a surpresa de <i>Matt</i>, ele não foi o primeiro a procurá-la. <i>Mary O.</i> fala sobre uma loira de cabelos platinados que prestou uma visita para perguntar sobre <i>Joe Jujavia</i>, e o que ela sabia sobre a morte de "<i>Anette</i>", 20 anos antes. <i>Mary O.</i> não apenas serviu de álibi para livrar o cafetão da pena. Por remorso, depois do assassinato de Anette, ficou um tempo com as duas filhas pequenas da prostituta até que fossem adotadas.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
Ao deixá-la, <i>Matt</i> casualmente põe as mãos no jornal daquele dia. A imprensa nomeia a assassina "<i>Jill The Ripper</i>". <i>Matt</i> teme que a mãe leia o jornal e saiba mais sobre as circunstâncias da morte de <i>Michael</i>. Ele não chega a tempo de evitar o pior, e ao voltar para casa, consegue escutá-la chorando. <i>Irene</i> se aproxima e conta que a idosa infelizmente leu os detalhes macabros no jornal. <i>Matt</i> decide fechar o cerco sobre <i>Conway</i>, e quando ele entra insuspeito na traseira da limusine, não percebe que é <i>Sorenson</i> quem está por trás do volante. Ele pisa no acelerador enquanto exige que <i>Conway</i> conte tudo o que sabe a respeito do assassinato. Depois de um grande susto, em que <i>Sorenson</i> dirige como louco e à toda velocidade através do pier, ele topa revelar o que sabe.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
<i>Conway</i> o leva ao escritório. Ele explica como consegue coagir seus adversários políticos. A aliança com <i>Joe Jujavia</i> lhe valeu a instalação de câmeras por trás dos espelhos nos apartamentos onde suas "<i>leather women</i>" atendem os clientes. Envergonhados de seus fetiches, os homens não tinham como imaginar que estavam sendo "<i>flagrados</i>" em seus momentos mais indiscretos. Quando alguém fazia algo que ia de encontro aos interesses de <i>Conway</i>, o político usava as imagens para forçar os adversários políticos a recuarem. Ele vai mais além, e diz que <i>Matt</i> não conhecia completamente o irmão. <i>Conway</i> fecha as luzes e prepara um dos rolos de filme na máquina antiga de projeção. <i>Matt</i> fica chocado ao ver o irmão pendurado de ponta cabeça e completamente imobilizado por cordas. Aqui, somos apresentados a uma sinistra dominatrix cujo uniforme vermelho de couro nos faz pensar no "<i>Demolidor</i>". <i>Matt</i> assiste às imagens macabras e ao final da projeção se vira para perguntar a <i>Conway</i> o nome da mulher. Ele encontra uma porção de gângsters e leva uma surra. <i>Joe Jujavia</i> surge e o "<i>coloca para dormir</i>" com um golpe de pá.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
Na mais memorável cena, <i>Sorenson</i> tem um terrível pesadelo. Ele sonha que <i>Joe Jujavia</i> o está arrastando pela corda ao longo do canal gelado. Subitamente, surge a dominatrix mascarada, que parece estar à espera de sua nova presa. O contraste entre a neve e a figura esguia e vermelha cria um visual impressionante. A dominatrix se aproxima com uma faca nas mãos e o golpeia no peito. <i>Matt</i> desperta aos gritos. Ele se vê na verdade próximo aos trilhos, e nos braços de <i>Irene</i>, que o encontrou desacordado. Ela explica que um anônimo ligou para casa e a orientou a pegá-lo ali. Tambem recomendou que Matt deixasse a cidade, caso contrário não seria encontrado da próxima vez. Depois que voltam para casa, acidentalmente, <i>Matt</i> flagra a cunhada na banheira, e enxerga suas costas cheias de cicatrizes. Eles têm uma briga quando <i>Sorenson</i> pergunta por que ela não disse antes que o irmão curtia sadomasoquismo.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
<i>Matt</i> & <i>Irene</i> fazem as pazes logo depois. Ela conta que só soube daquele lado mais sombrio de <i>Michael</i> depois do casamento, porém que mesmo assim não se sentiu tão escandalizada. Mais do que violência pelo sexo, <i>Irene</i> explica que a fantasia de <i>Michael</i> envolvia o ato de se permitir perder o controle nos braços de uma mulher. Ele, que na vida diária tomava decisões importantes e exercia autoridade sobre os empregados, encontrava no fetiche a oportunidade de se oferecer no seu instante mais vulnerável aos braços de uma parceira, permitindo que ela conhecesse o que tinha de mais secreto e inofensivo, em uma inversão de valores que tornava a equação interessante. <i>Irene</i> disse que também era cúmplice dos fetiches. Por mais que não compreendesse o vínculo entre prazer & dor, conta que sempre quis encontrar a maneira de lhe proporcionar a experiência que buscava. <i>Matt</i> a coloca a par do que descobriu, até o momento. Através de <i>Mary O.</i>, aprendeu sobre a "<i>loira platinada</i>" que aparece de vez em quando para perguntar sobre <i>Joe Jujavia</i>. <i>Sorenson</i> crê que só possa ser uma das duas filhas de Anette, a prostituta brutalmente assassinada. Pelas imagens que viu nos filmes de <i>Conway</i>, ele acha que a dominatrix seria uma das filhas, agora mais velha e em busca de vingança contra <i>Jujavia</i>.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
<i>Matt</i> visita uma
casa de prostituição com o intento de encontrar a loira. Ele menciona a mulher de cabelos platinados, mas a
cafetina parece evitar as perguntas. A garota que o atende, que não
é a mulher do filme, reage assustada quando <i>Matt</i> menciona o nome de <i>Michael</i>
<i>Sorenson</i>. O segurança grandalhão entra para colocá-lo para fora, e
eles chegam a trocar alguns socos, quando o homem reconhece <i>Matt</i> dos
tempos em que era pugilista. Deixam a briga de lado, e se sentam para
conversar. O velho amigo de <i>Matt</i> faz questão de explicar que só
é um funcionário, mas pessoalmente sente asco daquela maluquice de
fetiches & couro & sadomasoquismo. Ele acredita que a mulher
procurada seja uma profissional "<i>independente</i>".
Ela não trabalha mais no nightclub.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
<i>Matt</i> se
prepara para atocaiar a loira. Na calçada do outro lado da rua, a vê
quando chega em um táxi ao edifício. Ainda incerto de que seja a mesma mulher a quem <i>Mary O.</i> se referia, <i>Sorenson</i> presta uma nova
visita à prostituta, põe abaixo a porta e a leva consigo, para que
reconheça se afinal de contas se trata ou não da mesma pessoa.
Enquanto <i>Mary O.</i> aguarda no carro, <i>Matt</i> interfona o apartamento da
garota de programa misteriosa. Como ninguém responde, ela chega a
abrir um vão nas cortinas para pôr a cara para fora. <i>Mary O.</i> dá uma boa
olhada, no entanto não tem como se assegurar. <i>Matt</i> tem sorte quando
um morador entra e consegue ser rápido o suficiente para
acompanhá-lo antes que a porta se feche. Há uma porção de caixas
postais para os moradores, e um nome em particular chama a atenção,
"<i>F. Reed</i>".
Em uma das conversas com <i>Irene</i>, ele se recorda de quando a viúva revelara seu nome de solteira: "<i>Reed</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
<i>Matt</i> é
abordado por um conhecido da Polícia, ali para prendê-lo, o susto
que ele deu em <i>Conway</i> o motivo da prisão. Como <i>Conway</i> não prestou
queixa, a Polícia não tem como mantê-lo no distrito por muito
tempo. Quem o encontra casualmente nos corredores é <i>Eddie</i>, que apesar de não
aturá-lo mais, quebra um galho e dá um jeitinho de abrir as venezianas
da sala de reunião para que <i>Sorenson</i> assista ao novo filme da
dominatrix de vermelho humilhando sua nova vítima, ironicamente um
dos corpos que foi encontrado no porto. Seria a dominatrix a
assassina? As evidências apontam que sim. Quando <i>Matt</i> e <i>Irene</i> se veem,
ele vai direto ao ponto: ele crê que <i>Francis Reed</i> seja irmã de
<i>Irene</i>. As duas eram as filhas de Anette, a prostituta assassinada por
<i>Joe Jujavia</i>. As lágrimas de <i>Irene</i> entregam que <i>Sorenson</i> está na pista
certa. <i>Irene</i> se abre com <i>Matt</i>, e conta como foi crescer no lar
dos <i>Reed</i>, em Boston. <i>Frances </i>era estuprada diariamente, e antes que
o casal pudesse fazer o mesmo a <i>Irene</i>, ela fugiu de casa. Em Nova York,
construiu uma nova vida para si, e só foi reencontrar a irmã quando
<i>Frances </i>a procurou. Ela estava ganhando dinheiro como prostituta, e
começava a dar sinais de que "<i>aperfeiçoaria</i>" seu ato,
dedicando-se a coisas mais "<i>hardcore</i>",
de fetiche. Na mesma época, <i>Irene</i> conheceu o irmão de <i>Matt</i>.
Casaram-se, e ela voltou para Boston. Bizarramente, <i>Frances </i>os
seguiu. Quando <i>Irene</i> conheceu o lado mais sombrio do marido e sua
predileção por bondage, temerosa em perdê-lo, apresentou-o à
irmã, e <i>Frances </i>& <i>Michael</i> começaram a se relacionar.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
<i>Matt</i> recebe um telefonema. <i>Eddie</i> precisa de sua confirmação. Um homem foi
encontrado morto, e o detetive quer saber se se trata de algum cavalheiro que viu no
nightclub. Cheio de dúvida, <i>Matt</i> não tem como se certificar, o que deixa <i>Eddie</i>
furioso, pois assim não conseguirá o mandato do juiz para entrar no apartamento
de <i>F. Reed</i>. <i>Matt</i> o convence a agir por conta própria, e mesmo relutante, o
amigo policial topa. <i>Matt</i> aproxima-se da loira como um cliente em potencial,
enquanto <i>Eddie</i> observa à distância. Ele preparou aparelhos de escuta no
amigo, portanto quando <i>Matt</i> e a garota de programa deixam o clube para o
encontro sexual, <i>Eddie</i> está no encalço da dupla a uma distância segura,
preparado para agir. A dominatrix o leva a seu apartamento, o imobiliza com
cordas e o põe de ponta cabeça. Ela se veste com o tenebroso uniforme vermelho,
e dá início à sessão de humilhação.<span style="line-height: 107%;"> </span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;">Incapacitado
por uma venda, <i>Matt</i> começa a ficar nervoso. Chicoteado, <i>Sorenson</i> exige que a
dominatrix o desamarre, mas ela reage o amordaçando. Escutando a comoção pelo
grampo, <i>Eddie</i> decide intervir. Quando ela leva o braço para trás, para golpeá-lo com algo
que não enxergamos bem, <i>Eddie</i> põe a porta abaixo e abre fogo contra a
dominatrix. O detetive o ajuda a se livrar das amarras, mas quando vão verificar
a dominatrix morta, descobrem que ela portava uma bobagem qualquer para a
satisfação de fetiches, e não um punhal, como tinham pensado. Aparentemente, a
dominatrix não ia matá-lo. Por trás de um amplo espelho, todavia, <i>Matt</i> encontra
câmeras ocultas. Apesar de não ter ameaçado sua vida, <i>Frances </i>era a mulher de
vermelho nos filmes que vira, e, portanto, para todos os efeitos, a assassina. Precavido,
<i>Eddie</i> forja uma prova contra <i>Frances</i>, deixando uma faca "</span><i style="line-height: 107%;">plantada</i><span style="line-height: 107%;">" em uma das mãos.
<i>Matt</i> & <i>Eddie</i> também eliminam o rolo de filme que capturou toda a ação do
tira entrando e abrindo fogo.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;">Carros
de Polícia e a Perícia tomam conta das calçadas. <i>Matt</i> encontra <i>Irene</i> na rua.
Emocionada, ela pergunta se a irmã foi morta, e <i>Sorenson</i> precisa responder que
sim. Eles se abraçam e finalmente exteriorizam a tensão sexual que sentem um pelo outro desde o começo do filme. Diz o ditado que quando se fica diante do abismo
e olha para dentro, o abismo olha de volta para você, e é verdade. Enquanto a
beija e abraça na cama, <i>Sorenson</i> é bombardeado por cenas de
perversões & fantasias sexuais, traumas ainda muito frescos na sua cabeça. Eles
fazem amor intensamente, e após o ato, relaxam juntos na cama, <i>Matt</i> de bruços e
<i>Irene</i> sobre suas costas, prendendo-o entre as pernas. Mais permissivo a
joguinhos sexuais, <i>Matt</i> se permite ter as mãos atadas, e enquanto
<i>Irene</i> o massageia, oferece suas impressões sobre os motivos de <i>Frances</i>.
<i>Matt</i> crê que quando a dominatrix matava as suas presas naquelas terríveis
circunstâncias, sentia-se punindo o cafetão <i>Joe Jujavia</i> através de homens a
quem julgava tão ou mais pervertidos. As palavras parecem surtir efeito sobre
<i>Irene</i>, pois seus olhos ficam marejados. Sem dar motivos, o deixa ali na cama
amarrado e vai embora.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;">Quando <i>Matt</i> volta para casa, a mãe conta que <i>Irene</i> fez as malas e se
despediu. Intrigado, ele visita o quarto do irmão, e ao mexer em suas coisas
encaixotadas, encontra uma peruca loira platinada. <i>Matt</i> imediatamente percebe
que a assassina de cabelos loiros sobre a qual <i>Mary O.</i> falara, que inclusive
estivera no seu apartamento buscando por informações de <i>Joe Jujavia</i>, pode não
ter sido <i>Frances</i>, mas a própria <i>Irene</i>. Ele apanha um porta-retratos onde <i>Irene</i>
aparece com o irmão, e vai atrás de <i>Mary O.</i> <i>Matt</i> exibe a foto e pede que <i>Mary
</i>preste muita atenção. Ela acaba reconhecendo <i>Irene</i> como a mulher que estivera ali,
vestida com uma peruca loira. Certo de que <i>Irene</i> procurará <i>Joe Jujavia</i> para matá-lo,
<i>Sorenson</i> pergunta agressivamente à <i>Mary O.</i> onde o cafetão se meteu. Enquanto
vasculha as gavetas, <i>Matt</i> quase é acertado por um tiro da prostituta, que reaparece com um revólver. Sem escolhas, ele acerta um tiro certeiro em seu coração.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;"><i>Matt</i> raciocina que <i>Irene</i> procurará acertar as contas com <i>Jujavia </i>no "</span><i style="line-height: 107%;">The Sorenson Tunnel</i><span style="line-height: 107%;">", e como esperado, a encontra ali dentro com
uma faca em mãos. Ele afirma que não
pode deixá-la satisfazer a vingança, e que precisa cumprir pena pelos
assassinatos que cometeu, por mais que o monstro em que tenha se tornado deva-se a toda sorte de abuso na infância. <i>Joe Jujavia</i> surge em meio à névoa do túnel, e
<i>Irene</i> parte para atacá-lo. Ela é atingida por um golpe de barra de ferro, e
quando o cafetão a levanta para desferir uma pancada mortal, <i>Sorenson</i> o derruba com um
tiro. <i>Matt</i> & <i>Irene</i> se abraçam. Quem os salva dos homicídios de <i>Mary O.</i>
& <i>Jujavia </i>é <i>Eddie</i>, que remove o corpo do cafetão e o coloca na cena do
crime, o apartamento de <i>Mary O.</i> Ele organiza o cenário de modo a fazer parecer
um crime passional: <i>Mary O.</i> o atingiu no peito, <i>Jujavia </i>a acertou no coração.
Livres da atenção da Polícia, <i>Matt</i> e <i>Irene</i> podem seguir suas vidas, todavia quando ele
espera encontrá-la em casa, a mãe lhe conta que <i>Irene</i> partiu por uma segunda vez,
desta vez definitivamente. O filme termina com <i>Matt</i> subindo tristemente as
escadas e sentando-se na poltrona do quarto, defronte à janela, como que
esperando pela sua volta.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgggayQe5Qacjys9ZkhvOYMcbL6-rr6TwMVexVWcA_0wJbixuBUkqm4-ZUUii6rQWBY-Z5i4MXIpbiVug7CkDLzb-eTYuaJtbCPghAC6U-IB_HN-JjHTBi30ohJms9GZ4o9nC1BaVv8Kt4/s1600/jill-rips4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="468" data-original-width="403" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgggayQe5Qacjys9ZkhvOYMcbL6-rr6TwMVexVWcA_0wJbixuBUkqm4-ZUUii6rQWBY-Z5i4MXIpbiVug7CkDLzb-eTYuaJtbCPghAC6U-IB_HN-JjHTBi30ohJms9GZ4o9nC1BaVv8Kt4/s320/jill-rips4.jpg" width="275" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Baseado no romance de Fredric Lindsay, "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Assassinatos em Boston</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" representa uma anomalia na filmografia de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dolph Lundgren</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Parte dos fãs do ator costuma odiar esse pequeno, esquisito thriller. Curiosamente, a outra parte o ama pelas mesmas razões. Dirigido pelo britânico </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Anthony Hickox</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Assassinatos em Boston</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" jamais parece um filme feito na medida para o astro sueco. Não por menos, originalmente, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Lundgren </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">nada tinha a ver com o projeto. Enquanto a esmagadora maioria de suas produções são escritas e dirigidas de modo a servirem a seu perfil & ritmo, em "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Assassinatos em Boston</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" o astro ocupou a vaga deixada pelo artista escalado, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tom Berenger</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Quando do lançamento no mercado direto-para-vídeo, "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Assassinatos em Boston</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" foi sumariamente ignorado, principalmente porque na época </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Lundgren</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> costumava lançar 2, 3 DVDs por ano, e este thriller saiu na mesma época que os mais formuláicos & acessíveis "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Agente Vermelho</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", de 2000, e "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Conspiração Fatal</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", de 1999 (curiosamente também dirigido por </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hickox</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">). "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Assassinatos em Boston</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" só foi redescoberto alguns anos mais tarde, tornando-se uma espécie de cult movie, "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dolph Lundgren tentando ser sombrio</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", dentro do reservado círculo de pessoas que o conhecem.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWuA7DV7Ww1plmgUOUSnoSegwypMf9RJyb2-rNQSW2pNokvT5fnJlr92FWzKaj2zJhWJWCWrsgMIlZGNA1FaChrkGSAY8dNgIYi_FWyD8RBJZtGj_Zl3pOO2AK4oPhn9Nv-FtjGKr658g/s1600/jill-rips6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="338" data-original-width="502" height="215" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWuA7DV7Ww1plmgUOUSnoSegwypMf9RJyb2-rNQSW2pNokvT5fnJlr92FWzKaj2zJhWJWCWrsgMIlZGNA1FaChrkGSAY8dNgIYi_FWyD8RBJZtGj_Zl3pOO2AK4oPhn9Nv-FtjGKr658g/s320/jill-rips6.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">A meu ver, "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Assassinatos em Boston</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" funciona como uma releitura do polêmico e difícil "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Parceiros da Noite</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">William</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Friedkin</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Embora não tenha como se comparar ao quilate do antecessor de 1980, seus mais palpitantes elementos são bastante semelhantes, sendo apenas a roupagem a diferença, o filme de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Friedkin</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> uma super produção comandada por um cineasta no topo do jogo & o filme de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hickox</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> uma simplicidade B ambiciosa e esquisita. Em que pese a direção de um diretor da envergadura de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Friedkin</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> e a atuação de</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> Al Pacino</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">"Parceiros da Noite</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" não encontrou um público certo, sofrendo um destino trágico que lançou diretor & ator em crise criativa. Se uma produção de tamanha envergadura não gozou do sucesso que ao menos no roteiro prometia atear fogo aos cinemas, não é de se admirar que o destino de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Assassinatos em Boston</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", seu "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">primo pobre</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", tenha sido similar. A história do filme de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hickox</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> transita por becos muito sombrios da mente humana, uma descida `a subcultura de um mundo à parte povoado por escravos sexuais, roupas de couro, encontros casuais, fetiches por enfermeiras e submissão. Reinando sobre a depravação, uma dominatrix mascarada em justíssimo traje vermelho, que a deixaria ainda mais à vontade entre os cenobitas de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Clive Barker</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Como plano de fundo, a tragédia de duas irmãs sobrevivendo a um mundo de adultos corrompidos incapazes de resistir a seus macabros impulsos sexuais, e o horror que torna uma delas uma implacável justiceira, à caça no submundo.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYjAyZ09lkCePbcFMydGLVBtdv0mSqJLjIbLYYe_PYqX7UZBbobKZsrBBU5yXWlwHalx-JMB29kD9j_niiPpi3TztEgtv-dEB_j3lU0HGa0Mwvf91o8Shra_8YMIblK-KVNUz9zRhlec8/s1600/jill-rips1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="460" data-original-width="393" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYjAyZ09lkCePbcFMydGLVBtdv0mSqJLjIbLYYe_PYqX7UZBbobKZsrBBU5yXWlwHalx-JMB29kD9j_niiPpi3TztEgtv-dEB_j3lU0HGa0Mwvf91o8Shra_8YMIblK-KVNUz9zRhlec8/s320/jill-rips1.jpg" width="273" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Se "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Assassinatos em Boston</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" não mereceu mais do que menções passageiras em revistas de vídeo, na época em que chegou às prateleiras, "<i>Parceiros da Noite</i>" causou muita polêmica ao estrear nos cinemas no início dos anos 80. No filme, o tira novato interpretado por Al Pacino era pessoalmente incumbido pelo chefe de Polícia para se infiltrar na comunidade gay de Nova York, de modo a deter um serial killer de homossexuais a tempo.`A medida que se permitir mergulhar em um universo sem regras, sua mente entra em parafuso, e ele passa a questionar a própria identidade. Repleto de imagens impressionantes, "<i>Parceiros da Noite</i>" cavou um buraco para si, e a ousadia foi o cutelo do verdugo: o público pagante não se interessou pelas indecifráveis, macabras discussões propostas por <i>Friedkin</i>, principalmente uma geração que dentro de um ano assistiria `a introdução da pandemia da AIDS, o vírus que para sempre transformaria o estilo de vida da subcultura objeto da trama. Hoje, tantas décadas após seu lançamento, podemos enxergá-lo como um interessante, misterioso suspense, com péssimo senso de timing, culpa do destino. "<i>Parceiros da Noite</i>" apenas calhou de vir na época errada. Ao se aventurar por recantos igualmente arriscados, o novo tratamento que <i>Anthony</i> <i>Hickox</i> dá a "<i>Assassinatos em Boston</i>", o imbui de um charme retrô que rende homenagem a "<i>Parceiros da Noite</i>", charme surpreendentemente enriquecido pela fórmula típica de produções B "<i>direto-para-vídeo</i>", ingrediente que serve muito bem ao conjunto. Embora não tão brutal ou tétrico quanto o thriller de <i>Friedkin</i>, o sensual "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">desleixo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" de cinema independente lhe dá um ar nostálgico, típico de "<i>filmes de Supercine</i>", quando éramos pequenos demais para ver coisas tão fortes, e não obstante nos esforçávamos para permanecer acordados nas noites de sábado, para não perder um minuto sequer. O "<i>fracasso</i>" do filme de <i>Hickox</i> não produziu o mesmo estrondo que o fiasco de "<i>Parceiros da Noite</i>" deixou após o naufrágio nas bilheterias em 1980, no entanto o formato clássico de Filme B fez um melhor, mais desinibido uso da atmosfera erótica de devassidão e perigo. Apesar de "<i>Boca do Lixo</i>", a pecha de maldito lhe reveste de um ar proibido & marginal que tem tudo a ver com o plano de fundo da história, nightclubs decadentes no submundo de Boston no final dos anos 70.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIiIOtvZ396NCGLGMU7njhXyXnMCcvEn_DwawhElLTYg1W5Z1Zbu9UwJgw14caxX_8-CmtiZRjT1it3yX1A3OYgFe1PYCaCMjqxIM36Rq1A65guA8Dj1OAde8mSizGiPf8RzHuWFcqaC8/s1600/jill-rips2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="457" data-original-width="539" height="271" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIiIOtvZ396NCGLGMU7njhXyXnMCcvEn_DwawhElLTYg1W5Z1Zbu9UwJgw14caxX_8-CmtiZRjT1it3yX1A3OYgFe1PYCaCMjqxIM36Rq1A65guA8Dj1OAde8mSizGiPf8RzHuWFcqaC8/s320/jill-rips2.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Lundgren </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">ainda conduz seu personagem com a </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">persona </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">de herói de ação, mas aqui suas lutas, limitadíssimas, ocorrem em um contexto mais dramático & ordinário, e usualmente são filmadas em um plano mais tacanho, de modo a criar o descuido que as tornam mais realistas e brutais. Em que pese não se negar a indissociabilidade da aura de herói clássico à figura enorme e cheia de presença de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Lundgren</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, o estilo de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Matt</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Sorenson</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> foge `as regras do universo de seus personagens usuais. Ele é o homem relutante e ordinário metido em uma situação extraordinária, o tipo de personagem que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Harrison Ford </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">passou a carreira interpretando. Neste sentido, embora as tintas fortes de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Assassinatos em Boston</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" remetam a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Parceiros da Noite</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", a jornada de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Matt</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> por um mundo que encontra formas de envolvê-lo vagarosa e mortalmente como areia movediça nos fazem pensar em "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">8 Milímetros</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", o suspense sobre um detetive particular que ao investigar as origens de um snuff movie mergulha de cabeça nos bastidores de filmes pornôs, um meio povoado por pedófilos, fetichistas e toda sorte de gente psicologicamente danificada, onde abuso sexual & morte não passam de um típico dia de trabalho. A ambientação nos anos 70, a seu turno, remete a outra joia desconhecida, um impressionante thriller chamado "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">The Limbic Region</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", com </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Edward James Olmos</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> no papel de um detetive de San Francisco que jamais se perdoou por não ter chegado à identidade de um serial killer 20 anos atrás, e agora, padecendo de uma doença terminal e com apenas alguns meses de vida, resolver finalizar o que começou.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigUvMXA3MfLIGgTPVoyhYFPtGNEuxlpOq4bCkRqtSzBbIa7baKp0DbzGt0zJcMzIJQQbKAkvwVIt0JZDyxKbr_8Zdj9nfokWw01UBjJIQykOOYTP4tiffRFVOVNAB6JX2Ke9FkqzobZJ4/s1600/jill-rips3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="372" data-original-width="624" height="190" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigUvMXA3MfLIGgTPVoyhYFPtGNEuxlpOq4bCkRqtSzBbIa7baKp0DbzGt0zJcMzIJQQbKAkvwVIt0JZDyxKbr_8Zdj9nfokWw01UBjJIQykOOYTP4tiffRFVOVNAB6JX2Ke9FkqzobZJ4/s320/jill-rips3.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tido como "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">chato</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" pelos fãs acostumados à fórmula, o ritmo lento mais familiar a filmes dinamarqueses de arte e a iluminação quase natural dão a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Assassinatos em Boston</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" a sensação onírica que embora pouco faça a título de energia cinética, cria as condições para nos envolver com a lassidão de um pesadelo onde cada camada puxada revela outra mais feia, em uma sucessão sem fim. Talvez aí resida o problema de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Assassinatos em Boston</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". Como típico Filme B, incorpora muitos sub-enredos, e ao tentar adotar um tom mais sério e ambicioso, próprio a coisas como "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Zodíaco</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">David Fincher</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, se sabota com pequenas escolhas e equívocos que nos lembram a todo instante que de fato estamos assistindo a um filme direto-para-DVD produzido na segunda metade dos anos 90, quando produções independentes não vestiam o mesmo glamour e elegância que seus similares dez anos mais tarde. Possivelmente, o grande charme de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Assassinatos em Boston</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" consista na adição dos elementos clássicos dos filmes sobre serial killers dos anos 70 a todo um contexto "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Boca do Lixo</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". De mais maneiras que eu poderia citar, apesar de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Assassinatos em Boston</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" ter sido rodado em 1999, também poderia ter sido feito em 1981. A sobreposição de enredos menores era uma tendência dos filmes policiais daquela época. Se como em um passe de mágica tivesse como trocar </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dolph Lundgren</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Danielle Brett</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> em 1999 por </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Burt Reynolds</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ally Sheedy </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">em 1981, você teria um filme tão interessante quanto, talvez até melhor, vez que o final da década de 70 acolheu como nenhuma outra década os trabalhos subversivos, os tendo tratado como arte. Basta lembrar que foi nesse período de tempo em que cineastas como </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">De Palma</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Argento</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> foram catapultados para o auge do sucesso criativo.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
Respeitado entre os cineastas do mercado direto-para-DVD, <i>Anthony Hickox</i> sempre multiplica os poucos recursos que tem para trabalhar, e compensa a carência de orçamento com a criatividade que o torna visualmente interessante. Sua carreira está repleta de filmes onde estilo e habilidade se destacam, por mais que as produções tenham parecido zonas de guerra para o esforçado diretor. Quando no início da década de 90 os direitos de "<i>Hellraiser</i>" foram adquiridos pela Dimension Films, <i>Anthony</i> <i>Hickox</i> foi o nome escolhido pelos produtores para comandar o projeto. Ele possuia uma certa experiência, seu primeiro filme "<i>Waxwork</i>" tendo causado forte impressão apenas alguns anos antes (1988), e sabia como criar um espetáculo visualmente excitante com pouco dinheiro. As pessoas que conhecem a obra de <i>Clive Barker</i> e amam "<i>Hellraiser</i>" sabem que só há dois filmes verdadeiramente fiéis aos perigosíssimos conceitos do autor, o primeiro e segundo. O terceiro marcou a passagem dos direitos autorais, da New World, que rodou os dois primeiros na Inglaterra, para a Dimension Films, que procurou diluir as ideias difíceis e comercialmente inviáveis de <i>Barker</i>, de modo a chegar a um sabor mais palatável que servisse ao novo mercado que procurava conquistar. Claro que a empreitada não deu certo. Com a nova roupagem, os americanos estavam tentando agregar charme comercial a uma ideia que desde o início fora concebido no berço cult. Apesar de meus reparos quanto a "<i>Hellraiser 3</i>", vejo o filme como um "<i>fracasso interessante</i>", pois mostrou a habilidade de <i>Hickox</i> em fornecer um produto visualmente interessante com um pequeno orçamento e exíguo período para filmagens. Sem dúvida, sua escolha para rodar "<i>Assassinatos em Boston</i>" deve-se ao currículo a que os produtores tiveram acesso, filmografia da qual "<i>Hellraiser 3</i>", um dos poucos trabalhos de <i>Hickox</i> que foi aos cinemas, faz parte.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
Em se falando de "<i>Hellraiser 3</i>", não parece ter sido por acaso que o projeto de "<i>Assassinatos em Boston</i>" tenha parado em suas mãos. Dos dois primeiros filmes de <i>Barker</i> e da fonte original "<i>The Hellbound Heart</i>" transbordam erotismo sadomasoquista. <i>Hickox</i>, que dirigiu o terceiro, novamente revisita as vestes de couro e os chicotes, em "<i>Assassinatos em Boston</i>", só que ao contrário dos cenobitas da Configuração da Lamentação, ele tem uma dominatrix sedenta por vingança. Rodado 8 anos depois de "<i>Hellraiser 3</i>", o cineasta demonstra amadurecimento com a direção de "<i>Assassinatos em Boston</i>". Ele fez algumas escolhas interessantes, como ambientar a história nos anos 70 para recriar o senso de estilo & vida daquele fervilhante time frame, uma excelente janela para histórias sobre serial killers. Seus pequenos vícios, trazidos do tempo em que rodava produções menores dentro de um cronograma impossível, acabam por funcionar em prol do resultado final, um bizarro e empolgante thriller sobre mulheres assassinas, a contracultura dos fetiches e o submundo onde sobrevive graças a aqueles que se predispõem a viver perigosamente, contado através do ponto de vista de câmeras que capturam a ação com a mesma deliciosa incompetência da cartilha dos Filmes B. "<i>Assassinatos em Boston</i>" veste essa desarrumação como troféu pessoal, pois pelo seu desarranjo exibe a agressividade e o desleixo úteis no trato de uma trama tão impenetrável.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /><i>
Dolph Lundgren</i> se esforça para dar a melhor performance possível, claramente investido na oportunidade de criar algo diferente. Ele compõe muito bem a figura do ex-tira & ex-boxeador alcoólatra que forja à custa de socos e chutes seu caminho entre os monstros do submundo. Vê-lo `a mercê de uma dominatrix é uma posição em que jamais o imaginaríamos, no entanto seu desempenho, baseado em introspecção, jamais deixa que instantes assim soem ridículos, por mais que ao diretor <i>Hickox</i> falte a elegância de um <i>De Palma</i>, por exemplo. <i>Danielle Brett</i> interpreta <i>Irene</i>, e em iguais doses tanto parece vulnerável quanto misteriosa. Ela faz o papel da vilã, e contra um grandalhão como <i>Dolph Lundgren</i>, precisa mais do que estatura e força para soar convincente. Ao seu lado, conta com o passado que o roteiro cria para sua personagem. De fato, a tragédia envolvida em sua história pessoal a torna uma memorável antagonista neste confronto que pode custar a sanidade do personagem de <i>Lundgren</i>.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
Mesmo honorável em seu justo esforço de compor uma trágica vilã, "<i>Assassinatos em Boston</i>" apenas emula uma pequena parte do impacto de "<i>w Delta z</i>", um filme fantástico que sempre recomendei exaustivamente e jamais deixei de elogiar. "<i>w Delta z</i>" foi um suspense produzido em pequena escala que tratou sua trama e personagens com a elegância de uma produção Classe A. A melhor maneira de descrevê-lo seria como uma inspiradíssima incursão de um diretor que reproduzisse as melhores qualidades de <i>Brian De Palma</i> & <i>David Cronenberg</i>, em uma trama que embora possa ser descrita como uma versão gay de "<i>Desejo de Mata</i>r", emana atmosfera e melancolia em suas luzes borradas de neon em noites frias sem fim, cortesia da cidade de Edimburgo, lugar onde foi filmado e de cujas calçadas e ruas e prédios e píer brota um poderosíssimo senso de nostalgia, tristeza, segredos e oportunidades perdidas. Em "<i>w Delta z</i>", uma série de assassinatos recai sobre os membros de uma gangue, um a um abduzidos de suas casas com os entes mais queridos. Eles têm a escolha de morrer no lugar de alguém da família, ou sobreviver, mas apertando o gatilho do revólver que matará a pessoa amada. À medida que se aprofunda nas investigações, o detetive vivido por Stellan Skarsgard começa a perceber que os crimes guardam relação com o caso de uma moça que foi impiedosamente sodomizada por membros da gangue, inclusive forçada a apertar o gatilho e matar a própria mãe, e agora procura resolver o impasse filosófico - preservar-se tirando a vida de uma pessoa amada ou sacrificar-se altruisticamente - com os integrantes da gangue que a colocaram em tão tenebroso dilema em primeira lugar, agora seus ex-algozes experimentando o sabor de estarem sob a mira da escopeta. Em "<i>Assassinatos em Boston</i>", conhecemos apenas superficialmente o Horror do passado que tornou <i>Irene</i> uma dominatrix. "<i>w Delta z</i>" foi mais cuidadoso, e criou uma vilã mais bem definida, por quem sentimos empatia, principalmente por conhecermos os eventos macabros que a transformaram em um monstro. Se a premissa de "<i>Assassinatos em Boston</i>" os agradou, aproveitem para conferir também "<i>w Delta z</i>", ainda o melhor do gênero.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9OIBOzEB6bt_RbD1cJx3IIDGJK9WDUrOfa0Rw28MEMMsTQKHqXAo5VzR9ROmmNoZk7JBmGMKqkWQeCwsdi9aBSP1GMXoRm9bh9LiAymqNFaebttIr-cqek2l7aJSpnDexzzSCMdvaIQQ/s1600/resurrection1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="266" data-original-width="401" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9OIBOzEB6bt_RbD1cJx3IIDGJK9WDUrOfa0Rw28MEMMsTQKHqXAo5VzR9ROmmNoZk7JBmGMKqkWQeCwsdi9aBSP1GMXoRm9bh9LiAymqNFaebttIr-cqek2l7aJSpnDexzzSCMdvaIQQ/s320/resurrection1.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Depois que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dolph Lundgren</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> teve sua chance em "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Assassinatos em Boston</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", foi a vez de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Christopher Lambert</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> encarar a escuridão do abismo com "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ressurreição - Retalhos de um Crime</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". Para a sorte de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Lambert</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, o astro contou com a direção de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Russell Mulcahy</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, o homem que o tornou astro em 1986 com "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Highlander</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". De cara, os amigos encontrarão uma certa semelhança entre "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Assassinatos em Boston</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" & "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ressurreição - Retalhos de um Crime</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", e não é para menos. Ambos os filmes foram filmados em Toronto, Canadá, uma cidade muito procurada pelo seu charmoso </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">outline </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">e sedutora arquitetura urbana, que oferece a cineastas amplos espaços para locação e uma taxa de câmbio que potencializa os dólares norte-americanos. Embora ambos nos arrastem a uma descida a cantos muito inexplorados da mente, "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ressurreição - Retalhos de um Crime</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" usa como espinha dorsal a fórmula clássica dos filmes sobre caçadas a serial killers. Comparado a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Se7en</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ressurreição - Retalhos de um Crime</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" não se movimenta com a desenvoltura do filme de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">David Fincher</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, no entanto para o padrão dos filmes B, destaca-se pelo enredo contado de modo envolvente, a direção segura de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Mulcahy</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> e as performances de um grande elenco, com destaque para o aclamado diretor canadense </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">David Cronenberg</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, aqui interpretando o importante papel de um padre.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVQ2GrC1oSfUGRXIDaC7pn7WCHiXoKVg2F6l1L1rUSmVfV4ughJCpeLq6RQAcHCZN3-dxdrbHeKemdOnW87gB6tITwBBTU2r8Wmr6EFJrzY6gRoiJre_T2THljRB78VxvlAbdspCS_5sA/s1600/resurrection3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="517" data-original-width="800" height="206" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVQ2GrC1oSfUGRXIDaC7pn7WCHiXoKVg2F6l1L1rUSmVfV4ughJCpeLq6RQAcHCZN3-dxdrbHeKemdOnW87gB6tITwBBTU2r8Wmr6EFJrzY6gRoiJre_T2THljRB78VxvlAbdspCS_5sA/s320/resurrection3.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">John <i>Prudhome</i> (</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Christopher Lambert</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">) é um brilhante detetive da Força Policial de Chicago. Transferido de Nova Orleans, <i>Prudhome</i> não vive um período fácil, pois o filme nos sugere que o detetive e a esposa passaram por uma perda recente. A impressão será importante mais tarde. <i>Hollinsworth</i> (<i>Leland Orser</i>, uma das grandes performances do filme), seu fiel parceiro, parece ser o único tira disposto a aturar o estilo "<i>caxias</i>", durão e reservado de <i>Prudhome</i>, balanceando sua seriedade com muito bom humor. No começo do filme, <i>Prudhome</i> é despertado por uma ligação do chefe de polícia, e se torna um dos primeiros a atender uma determinada ocorrência. Ao exibir uma Chicago sempre sob chuva, a fotografia de "<i>Ressurreição Retalhos de um Crime</i>" nos indica que "<i>Se7en</i>", de <i>David Fincher</i>, emprestou muito ao diretor <i>Russell Mulcahy </i>em termos de visual. <i>Prudhome</i> encontra o parceiro <i>Hollinsworth</i> e o pessoal de Perícia, pela calçada e dentro da residência. A vítima teve seu braço extirpado quando ainda viva, prova do sadismo do assassino. O sangue que salpicou pelas paredes aponta claramente que seu coração batia no momento do ato. Um dos rapazes da Perícia adianta a <i>Prudhome</i> que o homem se chamava <i>Peter</i>, 33 anos, dono de uma frota de barcos pesqueiros. Em razão do breu na cena do crime, <i>Prudhome</i> pede que abram as cortinas, quando encontram um recado escrito à sangue na janela: "<i>Ele está voltando</i>". <i>Prudhome</i> e <i>Hollinsworth</i> assumem a dianteira do caso, e quando as investigações estão para começar, o chefe de polícia diz que recebeu queixas de seus colegas, que se julgavam no direito de conduzi-las. O fato é que apesar de seu jeitão difícil, <i>Prudhome</i> tem o instinto que o ajuda a compreender como ninguém mais a mente de um serial killer. Ele é o homem ideal para o caso.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
Almoçando em um bar de culinária tipicamente sulista, de onde <i>John</i> veio, os dois trocam impressões sobre a cena do crime. <i>Hollinsworth</i> ainda não vê nada de incomum no homicídio, não procura ler significados. Até onde sabe, o cara é apenas mais um maluco. Apesar de contar com uma esposa amorosa, quando ela lhe pergunta sobre seu dia e diz que viu no telejornal sobre o assassinato, <i>John</i> parece fechado em seu próprio mundo, sempre emocionalmente distante. Reunidos com o médico legista, <i>Prudhome</i> e <i>Hollinsworth</i> aprendem mais sobre as circunstâncias da morte de <i>Peter</i>. O médico lhes conta que o braço foi cortado com precisão cirúrgica, e que em um dos ombros e no pescoço o serial killer deixou alguns termos grafados. No ombro, chama a atenção uma sequência de números romanos, e no pescoço um recorte de pele que reproduz a forma de uma chave, encontrada na cena do crime. Um exame mais atencioso prova que a chave se reporta a um guarda-volumes na estação do trem, e é para lá que os parceiros se dirigem. Só há uma flor seca dentro do guarda-volume, mas a mesma oferece um novo mistério. Originária da Austrália, não se encontra semelhante flor tão facilmente em Chicago, o que os convence a partir para o Jardim Botânico. Ali, um espaço de terra revolvido chama a atenção dos policiais, e com pouco esforço encontram uma nova vítima, também sem um dos braços. O exame mais apurado do corpo revela nova grafia em números romanos. O banco de dados os leva à identidade da segunda vítima, um homem de 33 anos chamado <i>Matthew</i>, ex-servidor da Receita Federal. Na reunião entre os detetives, recebem uma ligação do pessoal da Perícia. O sangue encontrado na janela da casa da primeira vítima não era de <i>Peter</i>, mas de um cordeiro.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAc9sFxSaHFb7SDQ7nsGde-g4yx1A7Q3ZscQB-oplje3EYXXGNi7LUI6u-Gow7nlYODSBkaCvXtxFRBElZdrpgdo-Jj3gNpmUjqKhMVaZcdjkmxgjnWFX8D1Br5raJ5RaGg5_vsXUvcjU/s1600/resurrection2.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="325" data-original-width="612" height="169" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAc9sFxSaHFb7SDQ7nsGde-g4yx1A7Q3ZscQB-oplje3EYXXGNi7LUI6u-Gow7nlYODSBkaCvXtxFRBElZdrpgdo-Jj3gNpmUjqKhMVaZcdjkmxgjnWFX8D1Br5raJ5RaGg5_vsXUvcjU/s320/resurrection2.JPG" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Em uma sequência onde vemos </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Prudhome</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> introspectivo, metido em suas recordações,
entendemos melhor a natureza de seu luto. Ele se sente responsável pela
tragédia que custou a vida do filho, apenas por ter deixado a bicicleta
escapar entre os dedos ao esbarrar acidentalmente em um skatista. O filho e a
bicicleta foram parar no meio da rua, onde um carro os colheu na frente de
</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Prudhome</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Sara</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Além da direção do experiente </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Mulcahy</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, um dos pontos
fortes de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ressurreição Retalhos de um Crime</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" é a melodia que serve `a trama em
seus mais imperativos momentos, e do mesmo jeito que ocorre em outras partes, aqui, na recordação de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Prudhome</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, a trilha evoca um sentimento contundente de perda
& tristeza que dá a uma história que muitos considerariam batida identidade própria. Em uma manhã chuvosa, em uma região particularmente violenta
e decadente da cidade, uma nova vítima é encontrada, em circunstâncias ainda
mais desumanas. Seu corpo teve a cabeça decepada, e assim como ocorreu às duas
vítimas anteriores, o homem sofreu antes de morrer. Ao se deparar com a
horrorosa cena, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hollinsworth</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> perde momentaneamente a compostura. Os homens da
perícia encontram a identidade da vítima, um homem de 33 anos chamado </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Thiago</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">,
morto na sala ao lado por hemorragia, e depois carregado à cadeira onde foi
encontrado sem a cabeça. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hollinsworth</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> não se conforma que um crime tão brutal
não tenha deixado testemunhas. No distrito policial, os rapazes chegam a uma
interessante conclusão no que importa a datas. Há um espaço de uma semana
entre cada uma das vítimas, o que indica que o serial killer parece obedecer a um determinado ritmo
próprio. No banco de dados da Força Policial, o registro fotográfico de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Thiago </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">lança
</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Prudhome</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> em um rumo investigativo, porque lhe chama a atenção a aparência do
rosto do rapaz morto, cabelos compridos & barba, com a imagem clássica de
Jesus Cristo. Trabalhando em cima dos números romanos grafados nos cadáveres,
</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Prudhome</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> atravessa a madrugada no distrito, pensativo, metido em análises, até
chegar a uma impressionante conclusão: os números reportam-se a capítulos &
versículos na Bíblia Sagrada. As vítimas – </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Peter</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Matthew</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Thiago </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">– não foram
escolhidas aleatoriamente. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Pedro</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Mateus </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">& </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tiago </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">eram apóstolos. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Pedro </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">era
pescador, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Mateus </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">cobrador de impostos. Há um paralelo entre as vítimas e a
história dos apóstolos, afinal de contas </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Peter </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">era o dono de uma frota de barcos
pesqueiros, e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Matthew</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> trabalhava para o Estado, cobrando impostos (servidor da
Receita Federal). As vítimas tinham 33 anos, mortas em sextas-feiras distintas,
separadas por uma semana. Jesus Cristo foi morto em uma sexta-feira aos 33
anos. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Prudhome</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> confidencia a </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hollinsworth</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> que acredita que o serial killer
pretende reconstruir o corpo de Cristo, daí leva consigo braços, cabeça, etc. O
espaço de uma semana indica que o serial killer tem mais 3 semanas (portanto,
mais 3 vítimas) até a Páscoa, a Ressurreição de Cristo.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
<i>P</i><span style="line-height: 107%;"><i>rudhome</i> separa os homens em duplas, de modo a aproveitar melhor o exíguo tempo. Alguns deverão revisitar as cenas dos crimes anteriores em busca
de testemunhas, outros as paróquias atrás de algum fanático que faça o
perfil. Naquela noite, ao voltar para casa, <i>Prudhome</i> encontra a esposa
conversando com Padre <i>Rousell</i> (participação especial do cineasta <i>David
Cronenberg</i>). Padre <i>Rousell</i> é um velho amigo da família, e veio visitá-los porque
faz 6 meses que <i>John</i> não comparece à igreja. Quando Padre <i>Rousell</i> o aconselha
a não dar as costas à fé, <i>John</i> responde que Deus não ouviu suas preces e
nada fez pelo filho, que morreu após agonizar 5 dias em coma. Ele deixa a sala,
furioso. <i>Sara</i> se desculpa pelo marido, Padre <i>Rousell</i> responde que compreende
sua frustração. Aos choros, ela exige que o marido a escute, e insiste que ele
não foi o único a perder um filho. Na manhã seguinte, <i>Hollinsworth</i> &
<i>Prudhome</i> recebem a visita de <i>Wingate</i> (<i>Robert Joy</i>), um psiquiatra forense
do FBI que deseja ajudá-los. Os detetives não parecem abertos aos "<i>pitacos</i>" de
<i>Wingate</i>, mas o psiquiatra oferece alguns interessantes pontos de vista, como a
motivação do serial killer em manter as vítimas vivas até o último segundo:
Cristo morreu na cruz, ele quer que as vítimas sofram. Durante a reunião, um
fax chega para <i>Prudhome</i>. Algo no texto parece sugerir que os homens devem procurar saber o que
havia no interior da 3ª vítima, e ao conversarem com o legista, aprendem que de
fato seu estômago estava cheio de ervilhas, uma menção ao termo "<i>Oliveiras</i>".
<i>Wingate</i> fornece à dupla seu número de celular, voluntariando-se a ajudá-los caso julguem conveniente. Em uma conversa na pizzaria, <i>Prudhome</i> vocaliza sua
admiração pela inteligência, pelo trabalho do serial killer em concluir sua obra.
<i>Hollinsworth</i> teme que não o peguem a tempo, que chegue a época da Páscoa e o serial
killer desapareça sem que os crimes tenham sido solucionados, nos moldes do
assassino do Zodíaco.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;">Sem conseguir dormir, pensativo quanto ao enigmático conteúdo do fax,
principalmente à menção de um esquisito termo, "<i>Boanerges</i>", <i>Prudhome</i> resolve
procurar Padre <i>Rousell</i>. Aqui, há um momento discreto e interessante, pois apesar de Padre
<i>Rousell</i> abrir as portas da paróquia para ajudá-lo, <i>Prudhome</i> não
consegue pisar no solo da igreja. Seu ressentimento por Deus ainda está tão
palpitante que não quer colocar os pés para dentro. Sentindo muito pelo dilema
do detetive, Padre <i>Rousell</i> resolve esclarecer as dúvidas do lado de fora. Ele conta que "<i>Boanerges</i>" nada mais é do que um epíteto, que significa "<i>Filhos do trovão</i>", conferido a <i>Thiago
</i>& <i>João</i>, filhos de Zebedeu. <i>Prudhome</i> percebe na hora que o serial killer irá
atrás do irmão da última vítima, <i>Thiago</i>, pois o rapaz se chama "<i>John</i>" ("<i>João</i>").
Ele agradece o padre pela ajuda, e parte da paróquia à toda velocidade. Ele
liga para <i>Hollinsworth</i> e pede que a Polícia se dirija imediatamente ao endereço
de <i>John</i>, um estúdio fotográfico. <i>Hollinsworth</i> entra em contato com <i>John</i> por telefone e recomenda que tranque as portas, pois se encontra em sério risco de vida. Ao
chegar ao estúdio em plena noite fechada e chuvosa, o lugar, um enorme prédio antigo e abandonado, parece silencioso até demais. Entre quadros cobertos por plásticos,
<i>Prudhome</i> não enxerga o assassino mascarado, mas encontra a nova vítima, ainda
viva, esvaindo-se em sangue por uma importante artéria da perna, já separada do corpo. A perna extirpada não está tão longe, e foi deixada em um canto, ou seja, o
assassino ainda não a recolheu. <i>Prudhome</i> fica desesperado para ajudar o rapaz, mas
este morre antes que possa fazer algo. Ao dar pela perna esquecida, <i>Prudhome</i>
chama <i>Hollinsworth</i> pelo rádio e avisa que o assassino ainda está por ali.
De fato, o serial killer arranca em direção às escadas e tira o equilíbrio de
<i>Hollinsworth</i> com um chute, conseguindo deixar o estúdio.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;">A caçada chega aos becos muito estreitos entre os prédios. O reforço chega, mas <i>Prudhome</i> e <i>Hollinsworth</i> se separam. <i>Hollinsworth</i> é atacado pelo assassino, que o deixa momentaneamente fora de combate com uma arma taser. <i>Prudhome</i> recebe os colegas do reforço policial. São surpreendidos quando uma figura solitária mascarada subitamente surge cambaleando para fora do beco com uma arma em mãos. <i>Prudhome</i> pressente que há algo de errado, mas no calor do momento não consegue agir a tempo de evitar que um dos homens efetue o disparo de escopeta na perna do "<i>assassino</i>". <i>John</i> se aproxima da cena, e para seu horror, ao arrancar a máscara, descobre <i>Hollinsworth</i> amordaçado. O serial killer havia preparado uma cilada para que <i>Hollinsworth</i> fosse atingido pelos seus pares. Os policiais ficam chocados. Uma ambulância é imediatamente acionada, e no percurso até o hospital, <i>Prudhome</i> permanece ao lado do parceiro. O tiro da escopeta fragmentou o osso, e a possibilidade de perder a perna o deixa aterrorizado. Os dois têm um tocante momento, quando <i>Prudhome</i> segura a mão do parceiro, sem saber exatamente como consolá-lo.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;">O capitão está a um sopro de tirar <i>John</i> do caso, mas a determinação de <i>Prudhome</i> em rastrear o assassino o toca de uma maneira que o convence do contrário. <i>John</i> recebe um telefonema do hospital. Um dos enfermeiros responsáveis pelo expurgo do lixo hospitalar foi nocauteado, e a perna amputada de <i>Hollinsworth</i> carregada. <i>Prudhome</i> visita o parceiro. Apesar de consciente, <i>Hollinsworth</i> mergulhou em profunda depressão. Ele explica que até onde consegue se lembrar sempre quis ser um policial para ajudar as pessoas. Não sabe o que fará agora que perdeu a perna. Sem rumo, <i>Prudhome</i> entra em contato com <i>Wingate</i>, o psiquiatra do FBI, à espera de uma nova perspectiva. <i>Wingate</i> crê que <i>Prudhome</i> deva se focar no modus operandi do serial killer, desistir de entender por quê está querendo reconstruir o corpo de Cristo a tempo da Páscoa e concentrar-se nas pistas.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;"><i>Prudhome</i> recebe uma fita cassete com a voz do assassino prometendo retaliação pela via da esposa. <i>John</i> desespera-se e com toda a força policial retorna para casa às pressas. Ele se depara com a sala coberta de sangue e vê o corpo de uma mulher estendida no chão. No início, acha que é a esposa, porém ao prestar mais atenção vê que é a melhor amiga da esposa. Mesmo arrasado, encontra algum conforto com o fato de não ter sido a <i>Sara</i>. Ela chega a casa e vê a comoção. Não entende o que ocorreu. Quando o marido a abraça, entende que algo horroroso se sucedeu à amiga, e grita cheia de tristeza. Mais tarde, depois que <i>Prudhome</i> conseguiu lhe dar algo para se tranquilizar, <i>Sara</i> explica que havia saído para comprar uma comida especial para o jantar, e a amiga ficou sozinha em casa, para descanzar, exausta de viagem. O assassino a pegou certo de que estava executando a mulher de <i>Prudhome</i>. <i>John</i> orienta a esposa a ficar com a mãe até que finalize o caso. Naquela noite, o noticiário veicula trechos da fita onde se pode escutar a voz do serial killer.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;">A próxima pista chega através de uma senhora que diz reconhecer a voz e mora em downtown Chicago. <i>Prudhome</i> e mais 3 colegas prestam uma visita ao decadente hotel para conversar com a mulher. A idosa explica que está convicta de que a voz é a de um cavalheiro que mora em um apartamento do térreo. De arma em punho, os agentes se preparam para o pior, contudo o homem abre a porta cooperativo. De fato, a voz na fita corresponde à do morador, mas não significa que ele seja o assassino. Ele lembra que conheceu um senhor na pracinha, que lhe pagou 50 dólares para ler um texto, sob o pretexto de que estava rodando um fillme. Quando os detetives estão deixando o prédio, um colega chega apressado aos pés da escada contando que encontraram a quinta vítima. Em um lamentável estado, de ponta cabeça no frigorífico, o corpo teve a perna extirpada. No distrito policial, quando um colega pergunta a <i>Prudhome</i> se tem moedas para a máquina de refrigerantes, um insight lhe ocorre. Ao passar a vista pelos relatórios das 5 vítimas, <i>John</i> atenta-se ao quase imperceptível detalhe de que cada uma delas foi encontrada com uma moeda de 5 centavos. Ora, falta apenas mais uma vítima até a Páscoa. 6 moedas de 5 centavos somam 30, o número de moedas pelas quais Judas traiu Cristo. Um dos rapazes comenta que acabou de receber um informe gentilmente levantado pelo FBI. Aparentemente, coisa de alguns anos atrás, o corpo de um sujeito chamado <i>Felipe </i>(nome de apóstolo) foi encontrado decapitado, em uma aparente tentativa amadora do mesmo serial killer de montar o corpo de Jesus quando ainda estava "<i>engatinhando</i>" na arte de matar.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;"><i>Prudhome</i> vocaliza o desapontamento que só agora o FBI, através de Agente <i>Wingate</i>, tenha mandado as informações que pedira há 3 semanas atrás. O colega disse que não sabe do
que <i>Prudhome</i> está falando, eles só pediram as informações ao FBI há 3 dias, e
não 3 semanas. <i>Prudhome</i> aparece no prédio da Polícia Federal, e ao pedir para
conversar com o Agente <i>Wingate</i>, outro homem aparece. Com horror, Prudhome
compreende que o "<i>Agente Wingate</i>" com quem conversou e de quem recebeu
dicas jamais existiu, ou melhor, falou com um farsante, enquanto o
verdadeiro <i>Wingate </i>de nada soube. Certos de que o farsante é o serial killer, os
policiais bolam um plano para prendê-lo. <i>Prudhome</i> liga para o celular de "<i>Agente
Wingate</i>" e insiste para que se encontrem na pizzaria onde conversaram pela
primeira vez. Os rapazes preparam a tocaia, policiais à paisana nas calçadas e
dentro da lanchonete armados até os dentes! Quando "<i>Wingate</i>" desce de um táxi para
atravessar a rua, os rapazes sacam as pistolas e o rendem ali mesmo na calçada.
Aqui, a maestria de um experiente cineasta novamente salta aos olhos, pois <i>Mulcahy</i> filma a
cena em câmera lenta, e a combinação de trilha & performance em um ritmo
mais lento a torna um dos grandes momentos que o alavanca do modesto patamar de
produções B para algo mais sofisticado.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;"><i>Prudhome</i> confronta o estranho durante o interrogatório, e explica que mesmo que se recuse a falar, logo as digitais os levarão a sua verdadeira identidade. O assassino procura tirá-lo de centro mencionando o acidente de <i>Hollinsworth</i>, e por pouco <i>Prudhome</i> não o ataca. Se a Força não conseguir nenhuma pista mais concreta que justifique a prisão preventiva, ele deverá ser colocado em liberdade em 48 horas. Manobras do advogado devolvem o perigosíssimo assassino às ruas. O distrito fica em polvorosa. Depois que a polícia estampa o rosto de "<i>Wingate</i>" nos jornais, são atropelados por ligações de gente que diz conhecê-lo, mas não se pode ter certeza. Apesar de devolvido à liberdade, os agentes permanecerão na sua cola. Eles o seguem quando o estranho sobe em um táxi em direção à estação de trem. No meio tempo, o xerife de uma cidadezinha no Tennessee onde o corpo sem cabeça foi encontrado anos antes revela conhecê-lo. Ele se chama <i>Gerald Demus</i>, e o xerife se recorda de que era um perdedor local, conhecido por ter atacado o pastor da cidade.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;"><i>Demus</i> recolhe uma mala do guarda-volumes da estação, e troca de roupas no toalete. Ele dá um jeito de burlar o cerco dos policiais que até então o seguiam de perto, e assim consegue se misturar às pessoas em trânsito na estação. Os detetives correm para a plataforma dos trens. O número de pessoas de trânsito torna a missão de encontrá-lo tão complexa quanto achar um fio no palheiro. No último segundo, <i>Prudhome</i> pontua as costas de <i>Demus</i> na multidão. Ele responde ao chamado abrindo fogo, gerando uma confusão generalizada. <i>Demus</i> consegue embarcar em um trem de saída, e <i>Prudhome</i> é obrigado a assistir ao serial killer desaparecer. Os policiais compilam todo o passado obscuro de <i>Demus</i>, inclusive sua estadia de 2 anos em uma instituição psiquiátrica, de onde fugiu há apenas 3 meses. Mesmo agora que os detetives estão na trilha certa, <i>Demus</i> não se intimida e volta a atacar. Da última vítima, pretende conseguir o "<i>tronco</i>" para aproximar-se da montagem de seu Cristo.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
Um colega comenta a cobertura da imprensa, que publicou fotos dos
locais cenário dos assassinatos. Uma casa vitoriana chama a atenção de
<i>Prudhome</i>, porque a foto, recente, exibe uma das janelas abertas, e sabe-se que
quando os policiais isolaram o lugar, cerraram portas e janelas também. O lugar mais
seguro onde <i>Demus</i> poderia se ocultar seria justamente em um dos locais palco de assassinato, afinal de contas
seria o último lugar em que os policiais pensariam em procurá-lo. <i>Prudhome</i> e um
destacamento da SWAT não custam a chegar ao lugar e pôr a porta abaixo. Não
encontram <i>Demus</i>, e sim a "<i>obra em andamento</i>" do assassino, o "<i>corpo montado</i>" de
Cristo. A visão deixa a todos com ânsia de vômito. Em um cômodo, <i>Demus</i> deixou
fitas de vídeo onde declama seus delírios. Na manhã seguinte é Páscoa, e com
sua astúcia <i>Prudhome</i> sabe que só falta um coração à "<i>obra</i>". <i>Demus</i> procurará
alguma mulher que dê à luz um bebezinho após a meia-noite, e que se chame
<i>Maria</i>. <i>Demus</i> não hesitará em arrancar de um bebezinho indefeso seu coração. <i>Prudhome</i> e
seus amigos estão determinados a não deixar que <i>Demus</i> termine o trabalho.</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;">Uma Maria entrou em trabalho de parto no Hospital Memorial. <i>Prudhome</i> e outro
detetive se mandam imediatamente para o lugar onde <i>Demus</i> deverá atacar.
De fato, ao chegarem, encontram a Emergência à meia luz. Ao procurarem o hall
de entrada, dão com uma enfermeira esfaqueada, e mais para frente no corredor,
outra funcionária morta. No berçário, os detetives veem que falta o
bebê de uma "<i>Maria Domingues</i>", e quando um "<i>enfermeiro</i>" deixa apressadamente a
sala com o neném, <i>Prudhome</i> faz mira e o manda parar. Claro que se trata de
<i>Demus</i>. O serial killer lança-se numa fuga desesperada com o bebê a tiracolo. Ao
bater com um carrinho de ferramentas médicas, o amigo de <i>Prudhome</i> fica de fora
da ação, cabendo apenas a <i>John</i> dar cabo do psicopata. <i>Prudhome</i> o persegue até a
cobertura. É uma noite chuvosa e hostil. <i>Demus</i> tenta acertá-lo com os tiros,
mas apenas desperdiça seu pente. <i>John</i> faz mira e o manda soltar o
bebê. Está tudo terminado. Gerald se recusa a se entregar, e perigosamente na
sacada, guarda a vantagem sobre <i>Prudhome</i>, que não pode agir enquanto tem o
bebê em mãos. <i>John</i> abaixa a arma, e explica que dentro de um ano ninguém mais
se lembrará de <i>Demus</i>. Ele é apenas mais um perdedor cujo legado não passará de uma nota de rodapé em algum jornal sensacionalista. O serial killer responde que
se atirar o bebê da sacada, as pessoas se recordarão. Desesperado, <i>Prudhome</i>
toma o bebezinho das mãos do assassino, mas leva uma facada na mão, no processo. Atingido
gravemente, <i>Prudhome</i> cai no chão, aliviado por ter salvado o bebê das
mãos de <i>Demus</i>. Ele recupera a arma e estoura os miolos do serial
killer, que despenca da enorme altura para a rua.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="line-height: 107%;"><i>Prudhome</i> jamais se conformou com a morte do filho por sentir em seu
âmago que se não tivesse vacilado naquela fatídica manhã, o menino não teria
sido atropelado. Ao salvar o bebezinho das mãos de um verdadeiro monstro, parece recuperar o gosto pela vida. Significantemente, depois que <i>Maria
Domingues</i> recebe seu filhinho são & salvo, ela e o marido agradecem o
detetive pelo heroísmo, <i>Maria</i> o presenteando com uma corrente com a imagem
de Cristo. Apesar de ter voltado suas costas a Deus, a quem julgou indiferente ao
drama do filho, aquele encontro parece
lhe devolver subitamente a fé perdida. Emocionado, <i>Prudhome</i> os agradece, a
mulher <i>Sara</i> ali por perto para testemunhar o tocante momento. Licenciado por 3
meses para se recuperar dos eventos, <i>Prudhome</i> sorri e comenta com o capitão que fará bom
uso das férias, pois finalmente juntará os estilhaços de sua vida ao lado da
esposa. Ao final, o vemos visitando o amigo <i>Hollinsworth</i>. Embora também tenha
passado pela sua cota de sofrimento, <i>Hollinsworth</i> voltou a ser o cara
brincalhão cheio de energia. Ele está ensaiando novos passos com a nova
prótese, e disse que em breve estará de volta ao trabalho. Ele conta que viu um
cara correr a maratona de Boston com uma prótese no lugar da perna, e se o
sujeito conseguiu, por que não ele? <i>Prudhome</i> & <i>Hollinsworth</i> se abraçam, e a
história termina com um tom otimista e ensolarado.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
Não há como negar que <i>David Fincher </i>gozou de amplo suporte e condições para filmar "<i>Se7en</i>", mas tampouco se pode ignorar que as limitações de "<i>Ressurreição - Retalhos de um Crime</i>" foram balanceadas pelo olhar zeloso de <i>Mulcahy</i> e o carisma de <i>Lambert</i>. O filme é um projeto muito pessoal para o ator principal e o diretor, que na verdade tinham outro projeto em mente, até que conceberam a trama de "<i>Ressurreição</i>" e preferiram abandonar o velho projeto para se dedicar ao filme que nasceu do entusiasmo compartilhado. Lançado com êxito nos cinemas dos mercados fora dos Estados Unidos, principalmente na Europa, onde se encontra o público base de <i>Christopher Lambert</i>, "<i>Ressurreição</i>" não mereceu o mesmo respeito dentro do país, onde chegou às prateleiras de DVDs discretamente, uma pena para os cinéfilos que apreciam histórias de horror & suspense e querem ver outros atores nos papéis, não a mesmice que assola o gênero.</span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
A todo instante emprestando sofisticação artística ao filme, <i>Russell Mulcahy</i> cria imagens assombrosas recorrentes, como <i>Hollinsworth</i> emergindo a passos trôpegos do beco, vendado e de braços atados, enquanto seus colegas fazem mira, ou os cortes muito rápidos que nos lembram que ele veio do mercado dos videoclipes. Fazendo ótimo proveito do tempo perenemente nublado de Toronto, <i>Mulcahy</i> cria uma "<i>Chicago</i>" sob chuva, e utiliza o tempo deprimente a favor do melancólico tom adequado à obra. Interiores de delegacias, minúcias da prática forense e a camaradagem entre os tiras conferem autenticidade à trama e nos aproximam de uma realista caçada policial.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
"<i>Ressurreição - Retalhos de um Crime</i>" não afronta ou oferece ameaça à supremacia de uma produção tão maior e grandioso quanto "<i>Se7en</i>", porém neste bem-produzido e decente thriller pinçam-se pontos onde consegue bater e mesmo superar aspectos do trabalho de <i>David Fincher</i>. O grande diferencial que valeu a "<i>Ressurreição - Retalhos de um Crime</i>" um lugar no meu coração foi o carinho com que tratou seu personagem principal, o detetive vivido por <i>Christopher Lambert</i>. No filme de <i>Fincher</i>, os detetives interpretados por <i>Morgan Freeman</i> & <i>Brad Pitt</i> revelam suas complexidades e diferenças ao longo da jornada e à medida que confrontam seus distintos métodos, quando aprendemos sobre os motivos da solidão de Detetive <i>Sommerset </i>(personagem do ator <i>Morgan Freeman</i>) & o amor ainda presente, mas desajeitado entre Detetive <i>Mils </i>e a esposa <i>Tracy</i>. As convicções dos detetives se transformam à medida que a escuridão da investigação sobre a identidade do serial killer os envolve. No caso do filme de <i>Russell Mulcahy</i>, o roteiro trata o <i>Christopher Lambert</i> com mais carinho & empatia. Apesar de não o vermos interagir muito com a esposa, sabemos o suficiente. Ele é um homem profundamente traumatizado pela morte do filho, cuja responsabilidade atribui a si. Desta forma, a trama passa pela tragédia pessoal de um homem amagurado, e a aventura aterrorizante se torna também o caminho pelo qual alcançará a redenção. Diferente de "<i>Se7en</i>", uma história sobre o drama "<i>dos outros</i>", "<i>Ressurreição</i>" olha com mais cuidado para seu herói. As circunstâncias que o levam ao final não parecem coincidências forçadas, e a conclusão desfecha muito bem o drama do protagonista, que após toda a escuridão encontra a paz. Enquanto "<i>Se7en</i>" termina em uma nota pessimista, o filme de <i>Mulcahy</i> vai pela outra vertente para fechar a trama de modo otimista. Pela sua ingenuidade & doçura, mesmo mais modesto e de menor desenvoltura, "<i>Ressurreição Retalhos de um Crime</i>" sempre foi um filme a que tive o prazer de revisitar, diferente de "<i>Se7en</i>", excelente, mas demasiadamente doloroso e amargo.</span><br />
<span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Os 3 filmes tratados na resenham podem ser obtidos de distintas maneiras
no Brasil. Encontrar "<i>Ressurreição Retalhos de um Crime</i>" em DVD é relativamente
fácil, pois o filme foi lançado no Brasil pela Flashstar em VHS & DVD, no
início do ano 2000. Houve uma época, por volta de 2007, quando era muito fácil encontrá-lo
nas Lojas Americanas por um valor em conta, apenas R$ 19,99. Não sei se ainda se encontra tão acessível hoje, afinal a tendência é que as distribuidoras
deixem de lançar novas edições do mesmo filme uma vez que se acaba o estoque ou
mesmo o mercado demonstre pouco interesse, mas se não nas Lojas Americanas,
você sempre pode encontrar o DVD facilmente online. Lamentavelmente, "<i>Assassinatos
em Boston</i>" restringiu-se ao tratamento em VHS, e diferente do que aconteceu nos
Estados Unidos e outros países, jamais deu o salto para o DVD no Brasil. As locadoras
mais antigas ou os sebos de fitas velhas certamente o têm no acervo, e, para
falar a verdade, talvez assistir ao filme no vídeo cassete guarde um encanto a mais. "Skin
Trade" pode ser obtido na amazon por video-on-demand. O lançamento em
DVD & Blu-Ray está programado para o final de agosto, quando certamente
fará bastante sucesso ao abastecer as locadoras. Obtê-los em DVD ou VHS é uma
justa maneira de honrar os esforços dessa gente que nos proporciona grandes
momentos, afinal a sobrevivência do mercado depende diretamente do público que desembolsa
para consumir seus produtos. Os grandes blockbusters pouco dependem da
transição para DVD & Blu-Ray, recuperam seu custo "<i>n</i>" vezes mais durante
uma semana apenas no começo de sua temporada nas salas de cinema, no entanto as
produções mais simples que hoje deixam saudade dependem primordialmente de um
certo lugar de nossas infâncias que talvez os amigos se recordem, as velhas
locadoras de bairro, quando as pessoas se conheciam por nome e o atendente
camarada colocava seu nome no topo da lista para te ligar assim que a fita de
vídeo de "<i>O Grande Dragão Branco</i>" fosse retornada!</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Ao finalizar a resenha, gostaria de deixar claro que o termo "<i>filme B</i>" não se reporta à inferior qualidade. Na verdade, sua semântica nada tem de pejorativa. Leia-se "<i>filmes B</i>" a um modo menos cínico e mais simples de
se montar & contar histórias, e não a um produto mais precário. Ao
contrário, diferente dos grandes sucessos atuais nos cinemas, há na
simplicidade da ação para o mercado direto-para-DVD um esmero & carinho que
evoca extraordinária empatia conosco. Para esmiuçar o significado de minha
fala, eu gostaria de mencionar os filmes de super-herói, por exemplo. Mesmo que ótimos filmes, há um ponto todavia que sempre me impressionou quanto aos blockbusters de
super-heróis: com o tempo, viraram mais empreitada do que filme. Rodar um filme
de super-herói ho<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">je </span>não diferiria, por exemplo, de trazer um estaleiro para a orla.
Estamos falando de um empreendimento vultuoso onde há centenas de milhões de
dólares envolvidos, e deve-se esperar um retorno financeiro garantido. Assim,
os filmes deixaram de contar com um diretor, e mais parece que são regidos por
uma "<i>diretoria</i>" de analistas financeiros. Claro que há um roteiro, mas o filme
parece acabado antes que o diretor grite "<i>Ação!</i>" pela primeira vez<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O</span></span>s
movimentos de câmera foram ensaiados & definidos, a fórmula está ali para
ser respeitada & seguida, não há espaços para aventuras. Os estúdios não
querem um cineasta com paixão, precisam de um homem que se conforme &
adapte-se às regras do jogo, afinal de contas o
empreendimento é mais importante que a paixão que uma ideia possa comportar. O exemplo pode
ser ilustrado com um exercício de imaginação: deixe de ler a resenha agora, e
pergunte-se, você sabe o nome do diretor de "<i>Thor 2</i>"? De "<i>Capitão América 1</i>"?
Ou mesmo do "<i>Capitão América 2</i>"? Simultaneamente, quando você assiste a "<i>Hellraiser</i>",
você sabe que foi <i>Clive Barker</i> quem o dirigiu. A escatologia de "<i>A Mosca</i>" imprime o nome de <i>David Cronenberg</i> a sua mente. As cores berrantes & a extravagância
de "<i>Suspiria</i>" evidenciam a concepção dentro da mente de <i>Dario Argento</i>. O voyeurismo
de "<i>Vestida para Matar</i>" aponta para o olhar de <i>Brian De Palma</i>. As câmeras ágeis
e a ação ininterrupta tornaram <i>Quentin Tarantino</i> um dos mais importantes
cineastas da atualidade. E vejam que coisa interessante.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Os amigos devem saber que o fértil imaginário de <i>Quentin Tarantino</i>, a
espinha dorsal de sua formação enquanto artista não remonta aos anos em que teria
passado em uma escola para cinema, visto que jamais cursou mesmo cinema. A sua paixão pode ser rastreada ao período da vida quando fui um humilde atendente de uma locadora de
vídeos, onde entrou em contato e aprendeu a amar não apenas estes filmes mais
simplórios, de fantasias fervilhantes, a que condicionamos chamar de filmes B,
como também a nutrir um carinho maravilhoso pela talentosa gente envolvida. Eu aprecio filmes de horror, e os trabalhos de <i>Quentin Tarantino</i>, todos
excelentes, não me apetecem por uma mera questão de gênero, no entanto ainda
assim reservo muito respeito & admiração à pessoa do cineasta, entre uma
porção de razões pelo amor que jamais se envergonhou de admitir, o carinho pelos
filmes B do passado e seus astros, e a sensacional habilidade com que recicla
aquele material para a geração atual. Prova da contradição dos críticos esnobes
que torcem o nariz para o mercado direto-para-DVD reside no paradoxo de que
embora rendam homenagens a <i>Quentin Tarantino</i> como um dos diretores mais
talentosos atuantes, esquecem-se de que foram dos filmes a que julgam "<i>inferiores</i>"
de onde o excelente cineasta retirou a paleta de cores e o pincel com que
constrói seus imortais clássicos. Ele também mostra seu carinho aos artistas
que deram vida aos personagens nos filmes B, e em cada novo trabalho, estende a
mão para algum ator ou atriz esquecido, generosamente lhes oferecendo a
chance de brilhar em maravilhosos papéis. No topo de seu jogo, poderia escolher
os mais ricos astros a dedo, e olhem só o que faz: consegue recuperar gente que
há muito perdeu sua glória, atores que se reinventam da noite para o dia e dão
a um típico filme de <i>Tarantino </i>um gosto de "<i>ajuste de contas</i>", quando a cultura
pop reciclada torna algo antigo & datado em novo & refrescante. Ele
literalmente sopra vida à massa de modelar, e por si sua generosidade & a
maneira como ignora os esnobes & soberbos lhe valem meu respeito.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">Na seara do horror, o diretor que instantaneamente me ocorre ao pensar
em um artista tão vinculado ao passado quanto <i>Quentin Tarantino</i> é o polêmico <i>Rob
Zombie</i>. Na essência, suas criações, esquisitas e indigestas, difíceis de serem
categorizadas, reproduzem elementos e ideias do cinema exploitation dos anos
70, e seu elenco, sempre um show à parte, é um sonho para as pessoas que cresceram
amando coisas do tipo. O diretor ainda estava aprendendo a engatinhar, quando
gente como <i>Ken Foree</i> ("<i>Dawn of the Dead</i>"), <i>Malcolm MacDowell</i> ("<i>A Clockwork
Orange</i>"), <i>Michael Berryman</i> ("<i>The Hills Have Eyes</i>"), <i>Sid Haig</i> ("<i>House of 1000
Corpses</i>"), <i>Judy Geeson</i> ("<i>Fear in the Night</i>"), <i>Meg Foster</i> ("<i>Emerald Forest</i>"), <i>Dee
Wallace</i> ("<i>Cujo</i>"), <i>Patricia Quinn</i> ("<i>The Rocky Horror Picture Show</i>") &
<i>Caroline Williams</i> ("<i>The Texas Chainsaw Massacre II</i>") aparecia em filmes
impressionantes de terror que lotavam os drive-in no sul dos Estados Unidos ou
os teatros especializados em grindhouse em Nova York. Hoje, reúne esse pessoal,
tão vital à sua expressão artística, os põe sob suas<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>asas e os lança aos
holofotes para que brilhem novamente. Eu amo o cinema e gosto de imaginar que
se fosse um cineasta, conseguiria dirigir as coisas que o <i>Rob Zombie</i> faz. Eu
tenho sérias dúvidas de que chegaria a ter mesmo uma ínfima fração do talento
dessa gente que eu aprendi a admirar e torcer – <i>Zombie</i>, <i>Brian De Palma</i>, <i>David
Cronenberg</i>, <i>John Boorman</i>, <i>Brad Anderson</i> – mas de uma coisa não tenho dúvidas:
se tivesse a oportunidade, eu também faria o mesmo que ele, em termos de casting. Seria
como revisitar um mundo mágico por onde você caminhou, quando criança, e pareceu
muito grande, maravilhoso e assustador – <i>Julia </i>(<i>Clare Higgins</i>) aos 30, vestindo
seu terno preto com <i>shoulder pads</i> estilo anos 80, sobre uma camisa amarela,
seduzindo homens em bares pra mat<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">á</span>-los a marteladas, em "<i>Hellraiser</i>"; <i>Genevieve Bujold</i> com os braços amarrados com
tiras de borracha nas grades da cama enquanto faz amor com <i>Jeremy Irons</i> em "<i>Dead
Ringers</i>"; <i>Burt Reynolds</i> lançando um olhar para <i>Rachel Ward</i> quando ela sai do
elevador, em "<i>Sharky’s Machine</i>"; os monstros <i>Peloquin </i>(<i>Oliver Parker</i>) & <i>Kinski
</i>(<i>Nicholas Vince</i>) rendendo <i>Aaron Boone</i> (<i>Craig Sheffer</i>) quando ele ultrapassa os
limites e entra no cemitério em Calgary onde no subterrâneo vivem as
criaturas, em "<i>Nightbreed</i>", de <i>Clive Barker</i>; Detetive <i>Eddie Argo</i> (<i>Stellan
Skarsgard</i>) e <i>Daniel Leone</i> (<i>Ashley Walters</i>), com os olhos assustados,
conversando no píer, tentando fazer sentido do assassinatos dos membros de uma
gangue, e Eddie se abrindo "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 107%;">Eu acho que é ela, Daniel. Eu acho que é a Jean
Lerner</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">", em "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 107%;">w Delta z</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; line-height: 107%;">"; e tantas, tantas outras cenas. Agora como adulto e
conhecedor, o mesmo mundo parecerá diferente, mas se você prestar muita
atenção, algo da eletricidade permaneceu preservado. É quando você mensura a distância entre estes dois mundos, todavia, que se dá conta de
quantos anos há entre os distintos momentos. E aqui eu me lembro de uma cena em um
filme maravilhoso chamado "<i>A Teoria de Tudo</i>", quando o professor interpretado
pelo ator <i>David Thewlis</i> apresenta Professor <i>Stephen Hawking</i> (<i>Eddie Redmayne</i>) na
palestra, rememorando quando se conheceram tantas décadas antes, a jornada que
<i>Hawking </i>fizera para estar ali, e depois de terminar, dá uma pausa e assinala:
<i>Tempo. Para onde ele vai?</i></span></div>
</div>
Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-23490125567987555992015-06-30T18:49:00.001-07:002019-03-13T09:45:54.676-07:00"Área 51" & "Sobrenatural A Origem": Mal chegamos ao meio do ano, já temos muito para comemorar com estes dois charmosos filmes de Horror, concebidos sob muita expectativa. Conseguiram os diretores Oren Peli & Leigh Whannell entregar o produto que seus fãs esperavam? Leiam a resenha e descubram!<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJxObla6xt6JRn1GZ8QCmx1xnASaSolgEk0HQwkZBZFLPXNboJiIplubfpXlbrw9YsJDrl29nByLlsZDhBGaeF7ZiHdoZKQfTJWsAAh32kc3W11-7o9WONMIJOScr6lWdZn0QRcUXfbBQ/s1600/posters.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="422" data-original-width="648" height="208" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJxObla6xt6JRn1GZ8QCmx1xnASaSolgEk0HQwkZBZFLPXNboJiIplubfpXlbrw9YsJDrl29nByLlsZDhBGaeF7ZiHdoZKQfTJWsAAh32kc3W11-7o9WONMIJOScr6lWdZn0QRcUXfbBQ/s320/posters.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ambas as franquias começaram quase na mesma
época, "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Atividade Paranormal</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" em 2009 & "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Sobrenatural</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" em 2010. Desde
então, os blockbusters do verão americano<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">,</span> usualmente os filmes de super-heróis, precisam disputar acirradamente a atenção com
essas pequenas fantasias de Horror que de maneira inesperada conquistaram o
imaginário do grande público. Desde "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Tubarão</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", de </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Steven Spielberg</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, o gênero
não via dois diretores alçando voos tão magníficos, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">James Wan</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> com "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Sobrenatural</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" & </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oren Peli</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> com "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Atividade Paranormal</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". 2015 não desapontará
os cinéfilos que aprenderam a reservar algum carinho a filmes do tipo. Embora
</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">James Wan</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> não esteja de volta `a cadeira de diretor de "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Sobrenatural: A Origem</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", o
talentoso cineasta foi o produtor, e se prestarem muita atenção, terão uma
grata surpresa, pois </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">também foi algo mais... Ele faz uma ponta no elenco!A seu
turno, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oren Peli</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> retorna como diretor, todavia não em mais um título da
franquia "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Atividade Paranormal</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", e sim em um novo, ambicioso sucesso, o
ótimo "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Área 51</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". Seus filmes seguem criando enorme empatia e
identificação com o público, o resultado não poderia ter sido melhor.
Apresentarei os enredos de ambos os filmes, bem como minhas considerações acerca dos dois.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqOkDD11vaPfOwyp0F5irbUcOK0CW3TAL9D-YtZAMk6d6wZ7eXPOu2bSqSl572u7of5FQ5QDtjg93vMcDjx_U28zy8-KFF7JTZ8Bn_x21XmegcptQvzamCjl_r2FBoWxr3kLdS-_gqQw4/s1600/area3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="565" data-original-width="1023" height="176" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqOkDD11vaPfOwyp0F5irbUcOK0CW3TAL9D-YtZAMk6d6wZ7eXPOu2bSqSl572u7of5FQ5QDtjg93vMcDjx_U28zy8-KFF7JTZ8Bn_x21XmegcptQvzamCjl_r2FBoWxr3kLdS-_gqQw4/s320/area3.jpg" width="320" /></a></div>
<i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Reid</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, <i>Darren</i> & <i>Ben </i>são 3 melhores amigos
fascinados com a Área 51. Quando o filme abre, aprendemos que o trio
desapareceu misteriosamente ao se aventurar no deserto de Nevada. O filme nos
mostra os eventos que antecederam o desaparecimento e a natureza da tragédia
que se abateu sobre o grupo. Exibido no formato "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">found footage</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Área 51</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" começa com entrevistas com familiares e amigos de </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Reid</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, que o descrevem como um
sujeito do Bem, um cara absolutamente comum que 3 meses antes
do sumiço passou a mostrar incomum interesse por fenômenos ufológicos. Sua irmã
& chefe oferecem observações semelhantes: apesar de se recordarem do rapaz
pela generosidade, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Reid </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">tornou-se uma pessoa completamente diferente nos 3
meses anteriores ao desaparecimento em pleno deserto de Nevada. O chefe fala que o
servidor dedicado se tornou um indivíduo relapso. Depois de sua saída, os
colegas de trabalho encontraram impressões de artigos sobre discos-voadores, tirados da internet. A
irmã oferece reminiscências parecidas, e mostra `a câmera os livros e
filmes esquisitos que o irmão vinha lendo e assistindo.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Tudo começa de forma insuspeita, 3 meses antes, quando os rapazes vão a uma festa. Descontraídos, a noite transcorre agradavelmente, <i>Reid </i>inclusive obrigado a executar uma performance no karaokê,
quando um blecaute mergulha a casa na escuridão, por alguns segundos. Quando as
luzes voltam, não há sinal de <i>Reid</i>. Os amigos, claro, não se preocupam. "<i>Alto</i>" (alcoolizado) do jeito que estava, <i>Reid </i>decerto deu uma escapulida com
alguma menina da festa para "<i>comemorar</i>" a sós. A festa continua sem sobressaltos, <i>Ben </i>inclusive
tirando as roupas e saltando na piscina, alegre e fora de controle. Em determinado
momento, os rapazes começam a sentir a falta de <i>Reid</i>, que já devia ter dado
sinal. <i>Darren</i> & <i>Ben </i>acreditam vê-lo momentaneamente no quintal de casa, por trás de uma árvore, mas
não podem ter certeza. Ao deixarem a festa e voltarem à estrada, os
amigos mantêm o automóvel em baixa velocidade, procurando avistá-lo. Subitamente,
<i>Reid </i>aparece no meio da estrada, confuso, incapaz de descrever o que aconteceu. Depois desta noite, começou a obsessão por OVNIs e Área 51.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Aparentemente, não há nada que sugira algo
muito incomum quanto a Área 51. Localizada a cerca de 130 quilômetros a Noroeste de
Las Vegas, no deserto de Nevada, a Área 51 aparentemente em nada difere de qualquer outra típica base norte-americana. Reza a lenda, no entanto, que a Área 51 é o lugar
onde o Governo guarda seus mais bem-escondidos segredos no que importa OVNIs.
Ali, seriam postos em prática testes de engenharia reversa em discos-voadores, com o intento
de dominar a tecnologia de seres de tão avançada civilização, de visita a nosso mundo. Por razões desconhecidas, após o "<i>blecaute</i>" da festa, quando
ressurgiu apenas horas depois, no meio da estrada, sem recordação alguma do
sucedido, <i>Reid </i>se sente "<i>atraído</i>" para a região, quase como se a Área 51 o
estivesse chamando. Com a ajuda dos amigos, <i>Reid </i>prepara uma detalhada
operação com o impossível intento de penetrar na sinistra base e conhecer
seus mistérios.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Vemos que os rapazes "<i>fizeram o dever de
casa</i>", em preparação para a missão de suas vidas. A seu favor, pesa a parafernália de
tecnologias e detalhes que esperam conduzi-los a salvo pelo deserto.
Eles precisarão penetrar o perímetro da base, portanto levarão tecnologia
capaz de derrubar sinais de celular. Além da vigilância ferrenha, uma vez cruzados os limites, o perímetro estará equipado com detectores de amônia, o que
efetivamente deve entregar qualquer intruso, mesmo que vencidos as cercas e os alarmes. Precavido, o trio fará uso de tabletes para mascarar o teor de amônia
do organismo. Para enxergarem na escuridão, atravessarão o deserto com
visores noturnos. Para mostrar o quão a sério o Exército Norte-Americano leva a questão da segurança, <i>Ben </i>exibe um vídeo onde vemos terroristas iraquianos dentro do país, tentando orquestrar um ataque à Área 51. Eles se movem como que convictos de que não serão vistos, mas câmeras de calor registram toda a ação. Quando pensam que podem atacar, são eliminados por disparos de mísseis e metralhadoras automáticas que literalmente os pulverizam no deserto. Logisticamente, o</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">s amigos não estão nessa aventura sozinho, pois fizeram contato com <i>Jelena Nik</i>, filha de<i> Lawrence Nik</i>, um cientista que trabalhara na Área 51 e se suicidou na garagem de casa, alguns anos atrás, em 2009. Os amigos costumam navegar por um blog por onde se pode ter acesso a parte dos documentos de <i>Nik</i>. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Ben </i>recebe uma ligação de outro amigo. <i>Reid </i>aproveita para testar o equipamento, e enquanto espia o rapaz do corrimão, aciona o instrumento, que "<i>quebra</i>" a frequência do celular e encerra a ligação entre <i>Ben </i>e o rapaz. Quando pegam a autoestrada a caminho da aventura, os ânimos são os melhores, e <i>Ben </i>não hesita em brincar, afirmando que no dia da entrada, provavelmente serão derrubados por atiradores sniper antes de se aproximarem das cercas. <i>Reid </i>insiste que o máximo que poderá acontecer será os três irem presos, mas <i>Ben </i>crê que até mesmo assaltar o Banco Federal seja menos perigoso do que encarar a Área 51. <i>Reid </i>levanta um ponto interessante: espera-se que bandidos tentem assaltar bancos federais, daí a segurança envolvida, todavia quem imaginaria que americanos tentarão burlar a segurança da Área 51</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">? <i>Reid </i>está contando, portanto, com o fator surpresa.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ao final da tarde, chegam em grande algazarra a Las Vegas, o entreposto no caminho da aventura de suas vidas, e se hospedam em uma maravilhosa suíte cuja vista dá para o aeroporto internacional, mais especificamente para o terminal utilizado pelos funcionários do alto escalão que transitam todas as semanas pela base militar. Os amigos espairecem em um clube de strippers, e na manhã seguinte, dedicam-se "<i>aos negócios</i>". Não há mais tempo para diversões ou distrações.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4aDAJyNLTMB1n6zPNU2JP6iajylE0qbcfWvepDTRg327rMJzDV5GbO8teQvu5flMBNpnVG5NaTe9DLpUFyBgVTFtSnNJMlie1X03CP9f0Lyq10hm8fuve6bEFvy0X2wPeVjhewNsV5bM/s1600/area5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="1033" height="172" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4aDAJyNLTMB1n6zPNU2JP6iajylE0qbcfWvepDTRg327rMJzDV5GbO8teQvu5flMBNpnVG5NaTe9DLpUFyBgVTFtSnNJMlie1X03CP9f0Lyq10hm8fuve6bEFvy0X2wPeVjhewNsV5bM/s320/area5.jpg" width="320" /></a></div>
<i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Reid </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">acha que sabe de tudo sobre a Área 51.
Mal imagina quão longe encontra-se da verdade. O trio encontra </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Jelena</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> em uma cafeteria</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Depois do suicídio de <i>Lawrence</i>, todos seus arquivos secretos & mapas da Base Militar chegaram às mãos da filha,
que os guardou em um insuspeito lugar, um daqueles armazéns de depósitos onde se aluga os cômodos para guardar bugigangas das quais alguém não quer se livrar. Enquanto caminham entre os corredores do depósito, ela conta que na véspera do suicídio, o pai afirmou que seus telefones estavam grampeados. Ele pediu que na ocasião de sua morte, a filha levasse os documentos para algum lugar insuspeito. 24 horas após o suicídio, depois que a filha tinha transportado os documentos para um canto seguro, o Exército apareceu para confiscar quaisquer itens que julgasse uma ameaça para a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">S</span>egurança <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">N</span>acional.<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> J</span>á era tarde, <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">contudo, </span>pois os documentos estavam fora do alcance do Exército. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Jelena
</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">avisa aos rapazes que por mais que estejam fascinados com o mistério da Base,
vista a olhos nus uma vez que se atravessa o deserto, na verdade será somente no subterrâneo
onde encontrarão os mais cabulosos segredos sobre OVNIs, mais especificamente
uma seção secreta batizada de "<i>S4</i>". Evidente que vencer os
perímetros da Área 51 será apenas o começo. Mesmo que consigam passar livremente, precisam resolver um detalhe fundamental: ganhar acesso `as
diferentes seções no interior, coisa que somente um funcionário de dentro teria como fornecer. Enquanto vivo, o pai de </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Jelena </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">espionou um
determinado cavalheiro do alto escalão, tendo inclusive realizado fotos do
homem sem o seu conhecimento.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZBjYcLUcszlTZhwyxGwm2IpDRF5_e4tpgGTqgLVTBdihgz6lWLsPM3W-H_WRGKn2T4lYV-9iukyLjbBtr87489RZQc2LgTPhqBcWqLjitoagNg2k65t1hbtOvwa-9qFcWc6d8BHN9oJM/s1600/area4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="567" data-original-width="1013" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZBjYcLUcszlTZhwyxGwm2IpDRF5_e4tpgGTqgLVTBdihgz6lWLsPM3W-H_WRGKn2T4lYV-9iukyLjbBtr87489RZQc2LgTPhqBcWqLjitoagNg2k65t1hbtOvwa-9qFcWc6d8BHN9oJM/s320/area4.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Homens de alta hierarquia costumam realizar
a ponte aérea no aeroporto de Las Vegas, diariamente. Claro que eles não
moram na Base, apenas se deslocam para o deserto de Nevada para o exercício de suas funções na Área 51. Entre outros privilégios, gozam de livre passagem para o transporte rotineiro, do trabalho
para casa e a volta para o trabalho, em voos aparentemente ordinários que não despertam atenção do grande público. Curiosamente, o Boeing que
faz o transporte não tem matrícula, e o terminal de embarque e desembarque tampouco
traz um número, apenas a sigla, JANET ("</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Just Another Non Existent Terminal</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", que
significa "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Apenas mais um Terminal Não-Existente</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">"). Na tarde daquele dia, os amigos preparam a tocaia nas cercanias do aeroporto, e flagram o
homem de alto escalão atravessando a cancela em um carro do governo, a caminho de casa. A uma
certa distância, os rapazes não perdem o automóvel de vista, chegando ao
endereço onde o agente mora com a família.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Paciente, a turma aguarda dentro do carro,
do outro lado da calçada, `a espera da primeira oportunidade para entrar. Em
dado momento da madrugada, o homem precisa momentaneamente se ausentar. Habilidoso,
<i>Reid </i>espera que o cavalheiro se afaste com o carro, e entra a tempo de passar sob <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o portão automático<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> da garagem</span></span>. Por dentro, ele abre a porta da frente para <i>Darren</i>. <i>Ben </i>protesta quanto aos riscos, não acreditando na ousadia dos amigos. Eles
cuidam para não fazer barulho ou causar maiores problemas, mas levam um baita susto quando o cachorro da família surge e avança. <i>Darren</i> consegue distrai-lo oferecendo petiscos. Estão ali única e
exclusivamente para "<i>clonar</i>" o cartão magnético do agente da Área 51. Em um
crescente clima de tensão, os rapazes começam a vasculhar os cômodos, quando são
avisados por rá<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">dio </span>que o homem está retornando para casa, acompanhado da família, após pouco tempo de ausência. <i>Reid </i>e <i>Darren</i> se escondem na banheira, por trás das cortinas, e por pouco a esposa e o filhinho, que entram para escovar os dentes, não os flagram. Eles esperam que a família se recolha <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">para dormir</span>, quando discretamente apanham o cartão magnético e uma loção pós-barba (de onde esperam colher digitais para os escâneres biométricos), concluindo com sucesso a missão.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">À essa altura, <i>Ben </i>está furioso, convicto de que as câmeras de segurança da rua filmaram sua placa, que terá problemas para o resto da vida, pois para todos os efeitos cometeram um crime federal ao entrar clandestinamente na propriedade. Os riscos nos quais incorreram não parecem compensar. Do trio, <i>Ben </i>deve ser o único com o "<i>pé atrás</i>". Os amigos pegam a estrada na madrugada fechada e deixam Las Vegas. Em determinado momento, resolvem parar no acostamento para cochilar. Quando <i>Ben </i>& <i>Darren</i> despertam, não encontram o amigo, até que <i>Ben </i>o avista distraído, para os lados da estrada. <i>Ben </i>e <i>Darren</i> têm uma conversa onde o rapaz novamente expressa seus reparos. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Eles se hospedam em uma cidadezinha muito próxima à Área 51. As filmagens que realizam dos moradores locais mostram o impacto da Área 51 sobre suas vidas. Ali, os cidadãos só pensam em discos voadores. Há mais turistas do que moradores, forasteiros movidos pelo mesmo desejo. As pessoas entrevistadas falam com convicção de que os "<i>Cinza</i>" existem. Um homem fala sobre abduções, sobre o fato de os alienígenas deixarem um implante que te deixa "<i>marcado</i>" até o fim da vida; outro, sobre a aparência das criaturas. Um cidadão de traços latinos dá um curioso depoimento, onde fala sobre a representação em pedra de deuses, no México, e menciona a aparência dos mesmos com astronautas. Mesmo a crença de que no instante da morte você caminha em direção à luz parece trazer algum significado no que se refere à vida extraterrestre. "<i>Eles têm a própria Polícia, o próprio Governo. Área 51 significa que a Área é o Estado n° 51 dos Estados Unidos da América</i>", o homem opina. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Os rapazes chegaram ao segmento final da viagem, estão a menos de um dia de entrarem na Área 51. Dirigindo pelas estradas secundárias do deserto de Nevada, encontram em um determinado ponto do acostamento empoeirado <i>Glen</i>, o guia local</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. O homem</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> lhes fala sobre os sensores ao redor da base, e mostra que são tão discretos que dificilmente os teriam diferenciado da vegetação rasteira. Não demora a uma camioneta aproximar-se e o motorista descer para perguntar o que o grupo faz naquelas redondezas. Eles deduzem que se trata de um agente disfarçado, de olho nos intrusos. A camioneta logo parte, desaparecendo na estrada de terra batida.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Naquela noite, quando <i>Reid</i>, <i>Darren</i> e <i>Ben </i>voltam ao trailer, tentam socializar com um dos moradores locais. Sentado em uma cadeira à beira da imensidão do deserto com seu binóculo, o homem não parece interessado em conversa. Os amigos encontram a porta do trailer aberta e imediatamente pensam que foram seguidos por militares. Na verdade, é <i>Jelena </i>quem deseja acompanhá-los na aventura. <i>Ben </i>está hesitante quanto a seguir adiante. Ele explica que só topou a empreitada porque jamais acreditou que as coisas chegariam àquele ponto. Uma batida na porta do lado de fora<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>os deixa sobressaltados, mas a ausência de qualquer pessoa à porta os assusta ainda mais. Eles vestem uniformes próprios que camuflarão o calor (de modo a burlarem os leitores termodinâmicos do perímetro) e engolem os tabletes que devem baixar o nível de amônia. </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mesmo certos de que têm agido com cautela, os amigos se sentem paranoicos. Eles ganham a estrada às altas horas. <i>Ben </i>os aguardará em um trecho que passa aos pés de uma colina menor cuja face dá para a Base.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Munidos com câmeras e apetrechos, o trio desarma o sensor de movimento, e entre uma porção de ameaças como cobras rasteiras, esconde-se para burlar o facho de luz que os canhões do helicóptero deita sobre a colina. Vista de longe, a Área 51 mais lembra as pistas de um grande aeroporto internacional, mas de perto parece uma cidade de médio porte. Uma vez que alcançam as grades do perímetro, navegar dentro da Área 51 não é <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">t</span>ão difícil quanto escapar à detecção das armadilhas deixadas no deserto, entre a estrada e o efetivo início da base, marcado pelas cercas. Mesmo assim, precisam falar baixinho, correr entre as sombras e se agrupar para descobrir por qual hangar devem entrar. Fazendo uso do cartão magnético e das digitais colhidas d<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o vidro do perfume</span>, o trio ganha acesso ao primeiro nível, um andar corrido que não difere tanto assim do andar de uma repartição, por exemplo. Agachados dentro de uma ilha de trabalho, escapam aos olhos de um funcionário da limpeza, e então <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">aos </span>de um segurança. Eles alcançam a escada que esperam <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">que os levará</span> aos túneis do subterrâneo.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Em uma sala
reservada à esterilização, encontram trajes especiais para evitar exposição, um colete de balas parcialmente derretido e
um walkie-talkie. <i>Reid </i>escuta um chiado terrível através do walkie-talkie, e seu
nariz começa a sangrar. Para adentrarem em um novo nível, o complexo do "<i>S2</i>", o trio faz uso do visor sensível a calor, e quando um soldado pressiona a combinação do password para entrar, eles "<i>leem</i>" os "<i>borrões</i>" deixados pelas impressões das digitais nos botões, ganhando acesso à mina de ouro. No laboratório, encontram uma porção de itens que levam a crer que se trata de tecnologia alienígena. Eles veem um
líquido dentro de uma centrífuga, dotado de volição, adquirindo as
formas mais inesperadas, e uma pedra que gira no ar e sobre a qual a gravidade
não atua. O líquido de inconstante forma subitamente tenta atacá-los, </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e a pedra estilhaça o vidro e ricocheteia
pelas paredes.</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Eles deixam o laboratório
e continuam a descida.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Eles encontram um enorme hangar onde há uma aeronave alienígena em
forma de disco. Fascinado ao examinar a aeronave, <i>Reid </i>percebe que a
superfície é sentiente, e reage a seu toque como uma estrutura orgânica o faria.
Embora <i>Jelena </i>tente provocar a mesma reação com suas mãos, a aeronave parece
responder somente ao estímulo de <i>Reid</i>. Ao se dar por uma abertura no topo do disco voador, <i>Reid
</i>salta para dentro. Ao entrar, a abertura fecha-se como se jamais tivesse
existido. <i>Reid </i>explora o interior da nave, um ambiente transparente que </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">permite
uma absurda vista de 360° do ambiente circundante, enquanto que para seus amigos
que ficaram de fora, não é possível enxergar através da superfície metálica</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. <i>Reid </i>deixa o disco voador e eles retomam as escadas através
das quais pretendem chegar ao nível "<i>S4</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A grande sorte do trio em não ser apanhado finalmente acaba, quando põem tudo a perder ao abrirem o portão para o "<i>S4</i>" e acionarem involuntariamente alarmes e sirenes que acusam a
quebra de segurança. O trio é separado pelo fechamento do portão, <i>Jelena </i>&
<i>Reid </i>presos no nível "<i>S4</i>", <i>Darren</i> do lado de fora. Soldados armados aparecem, e <i>Darren</i> bate em retirada. Sem outra alternativa a não ser seguir
descendo, <i>Reid </i>e <i>Jelena </i>atravessam uma ampla passagem que dá para corredores
muito estreitos onde a entrada de luz é muito limitada. Ali dentro, na antessala, ficam arrepiados ao enxergarem silhuetas de criaturas altas e muito
magras, com cabeças grandes e olhos negros e enormes. O casal quase entra em
pânico, mas <i>Reid </i>acalma a colega ao descobrir que não se tratam dos "<i>Cinza</i>",
mas de trajes espaciais vestidos pelos seres, com quem felizmente ainda não
cruzaram. Mais algumas dezenas de metros à frente, os dois descobrem a passagem
para um sistema de cavernas, semelhantes a aqueles túneis para mineração. Ali,
encontram pilhas de roupa e diversos objetos, como bichinhos de pelúcia e
demais itens. Ao ter a atenção capturada por uma boneca, <i>Jelena </i>se toca de que
se trata da mesma boneca que perdera quando </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">criança. Possivelmente, mesmo que tenha se esquecido, <i>Jelena</i> já teve um encontro com os "<i>Cinza</i>" na infância.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLq6MRg3jfGnFfmCOC2RlRseLC3_dDgEK8Mht082llLrvCWhdZpirqdk2ukwoGZ1LmQ4EXUS9_-aNvPV5quRB9ZKjyHrwEe_MXNz0bIF_BEYc6ttoePIOIsKXHd71nSCdU8kIAfQIOqyY/s1600/area7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="585" data-original-width="1029" height="181" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLq6MRg3jfGnFfmCOC2RlRseLC3_dDgEK8Mht082llLrvCWhdZpirqdk2ukwoGZ1LmQ4EXUS9_-aNvPV5quRB9ZKjyHrwEe_MXNz0bIF_BEYc6ttoePIOIsKXHd71nSCdU8kIAfQIOqyY/s320/area7.jpg" width="320" /></a></div>
<i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Reid </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">descobre uma gruta com uma porção de pods, na verdade uma colônia
de extraterrestres habitando o interior da caverna. Repentinamente, um "<i>Cinza</i>" levanta-se de um pod
aberto. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Reid </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Jelena </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">precisam correr para escapar, e sem alternativas,
escorregam por um grande canal que os leva por uma queda a um meio estéril e esbranquiçado, tomado por uma névoa que impede melhor a compreensão espacial. Nas paredes, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Reid </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">repara uma série de símbolos animados que
se sobrepõem em anéis, em um movimento tridimensional que não compreendem muito bem.
Distante do nível "<i>S4</i>", na superfície, o caos se instaurou na base. Os
trabalhadores da Área 51 estão sendo evacuados pelas tropas. Escondendo-se como
pode ao longo de corredores e salas de escritório, <i>Darren</i> enxerga uma enorme sombra que parece
própria a uma criatura alienígena cujos braços mais lembram pinças gigantes. Um soldado o rende, e <i>Darren</i> tenta
desesperadamente avisá-lo de que há um monstro à solta. Antes que o homem possa se
atentar do risco, é atacado pela criatura, que não chegamos a enxergar tão bem. <i>Darren</i> se alberga dentro do refeitório e se esconde sob uma das muitas mesas. O tremor do chão indica o tamanho daquele monstro. Em uma cena realmente
macabra, <i>Darren</i> enxerga por entre os espaços entre as tábuas<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>um
enorme olho aquoso, escuro como as trevas, olhando para o rapaz com interesse e apetite. <i>Darren</i> grita e consegue
fugir a tempo de se proteger dentro de um elevador. Misturando-se aos demais trabalhadores do complexo mais acima, <i>Darren</i> consegue passar desapercebido entre as pessoas que estão sendo evacuadas. Ele salta o portão e foge pelo deserto, iniciando uma longa caminhada pelo restante da madrugada, rumo ao trecho da estrada secundária onde <i>Ben </i>aguarda o grupo.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrVzRaRBwiA2T4TgbPA6Acb0DlQ1PBOBlnEIYwNulxLARW1d7LztZgf-bN3JS2-dipjHjygBbGbwfboVl7tfsRxT30yp-B7Dowu79_dxnmaLVPNAldBhY8lleXlXR-x5SdDad3jzYNmB8/s1600/area2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="563" data-original-width="1021" height="176" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrVzRaRBwiA2T4TgbPA6Acb0DlQ1PBOBlnEIYwNulxLARW1d7LztZgf-bN3JS2-dipjHjygBbGbwfboVl7tfsRxT30yp-B7Dowu79_dxnmaLVPNAldBhY8lleXlXR-x5SdDad3jzYNmB8/s320/area2.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Reid </i>e <i>Jelena</i> ficam atônitos dentro daquele espaço infinito e esbranquiçado cuja mais apropriada descrição seria a de um "<i>Maracanã tomado por névoa</i>", ou seja, você sabe que se trata de algo grandioso, mas perenemente preenchido por uma neblina apaziguadora e esquisita. Quando os dois começam a girar no ar, percebem a horrorosa verdade<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. E</span>stão dentro de um disco voador em pleno voo. Nos últimos 5 minutos, encontramos os dois grandes momentos que definem o destino dos personagens. A imagem do disco prateado ascendendo ao sabor do silvo da ventania, a se dar em pleno céu azul ensolarado<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">,</span> é simultaneamente bela e apavorante. É manhã, e <i>Darren</i> encontra o carro. Esbaforido, <i>Darren</i> conta aos gritos as coisas horríveis que viu na Área 51. <i>Ben </i>tenta dar partida, mas o motor não obedece. Os amigos enxergam uma gigantesca aeronave pairando sobre a estrada. Ao descer fascinado para observar, <i>Darren</i> é atingido por uma luz e tragado para o azul celeste. <i>Ben </i>ainda tenta se segurar dentro do carro, mas também desaparece, como que engolido pelo Sol. A espaçonave leva consigo os segredos da Área 51 e as pessoas que pagaram com suas vidas pela verdade.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiq0M1LdKfVGgZSDx7Q12FOoFYDJnGB3liAITT1vgO9L47agpaflWB_DrCAhJCC-fqqKXFA8va3-699MB2M3GtAAPxkhbetxzxypt-dKG9FxzqV-HmiavBgO4tFG-yZNeNuNJ24Wwmf14/s1600/area8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="555" data-original-width="1027" height="172" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiq0M1LdKfVGgZSDx7Q12FOoFYDJnGB3liAITT1vgO9L47agpaflWB_DrCAhJCC-fqqKXFA8va3-699MB2M3GtAAPxkhbetxzxypt-dKG9FxzqV-HmiavBgO4tFG-yZNeNuNJ24Wwmf14/s320/area8.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Há muito o cinema nos deve um filme</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> interessante sobre a Área 51. O mais próximo que chegamos da misteriosa base no deserto de Nevada foi o intrigante "<i>The Signal</i>", com <i>Olivia Cooke</i>. Com "<i>Área 51</i>", temos o filme que nos leva definitivamente para dentro de seus segredos, em uma história dividida em dois atos atmosféricos e envol<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ventes</span>. Dirigido por <i>Oren Peli</i>, o cineasta que criou "<i>Atividade Paranormal</i>", "<i>Área 51</i>" foi orçado em meros 5 milhões de dólares, novamente comprovando<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>a ideia de que o melhor amigo de um diretor e seus atores é trabalhar em cima de um orçamento limitado, pois as adversidades botam a criatividade para funcionar <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">como locomotiva</span>. Enquanto "<i>The Signal</i>" não <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">p</span>oupou cenas visualmente extravagantes, na verdade épicas, "<i>Área 51</i>" trata <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">os </span>mistérios da presença extraterrestre pela sugestão, e apenas indiretamente. Confrontar um enigma de tamanha envergadur<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a foge </span>tanto às limitações da mente humana que <i>Oren Peli</i> conclui que somente indiretamente se poderia abordar a questão seriamente.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"<i>Área 51</i>" começa excitante, mas já se pressente o problema que enfrentará mais adiante: usualmente, quando a primeira hora de um suspense é tão atmosférica e perfilhada de tensão, a segunda tende a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">mover-se anti-climática</span>. Não difere muito de um<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> passeio </span>na montanha-russa, quando a interminável subida do carrinho parece mais apavorante do que a própria queda. Alguns ótimos filmes de Horror ilustram a máxima. "<i>Os Estranho</i>s", por exemplo, tem os primeiros 40 minutos bastante envolventes, antes que o trio de assassinos se mostre como os monstros da história. Ao contrário, na sutileza e quietude de instantes como quando uma das meninas bate à porta do<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> casal, </span>às 04:00 da madrugada, perguntando se "<i>Tamara está em casa</i>", pouco antes de o trio iniciar o assédio, o diretor <i>Bryan Bertino</i> prepara uma inesquecível volta na montanha-russa. Ocorre que, lamentavelmente, melhor do que a volta em si foi a promessa, a subida, o período que antecedeu a descida ao abismo<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, os sinais que os monstros deram antes de iniciar o assalto. </span>Quando o trio de mascarados - duas mulheres e um homem - partem para o ataque, o filme não sustenta o ritmo, algo dos quarenta minutos não fica bem amarrado <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">na segunda metade</span>. Há algo inerente ao silêncio antes da tempestade que eriça os cabelos de uma maneira que nem mesmo a urgência do perigo o faz. "<i>O Dia Seguinte</i>" deveria ser usado como exemplo clássico da discussão. Neste filme de 1983, sobre a crise que leva União Soviética e Estados Unidos ao embate nuclear, o diretor <i>Nicholas Meyer</i> divide a história em dois atos muito bem definidos. Na primeira hora, o filme é um crescente de tensão e angústia, os muitos personagens tentando levar suas vidas enquanto pela televisão e rádio chegam notícias cada vez mais preocupantes do agravamento das relações diplomáticas entre as duas potências, em face de uma questão fronteiriça entre Alemanha Oriental & Ocidental. O drama se descortina aos olhos do mundo e, a título de <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">narrativa</span>, aos olhos das personagens que compõem os diferentes núcleos<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. H</span>á o personagem do médico professor universitário vivido por <i>Jason Robards</i>, sua família e colegas; há os personagens que participam do núcleo do campus da universidade em Kansas; e há a família do fazendeiro vivido por <i>John Cullum</i>. O modo como as pessoas tentam manter suas relações intactas e famílias unidas durante a imprevisibilidade dos eventos cria uma atmosfera de claustrofobia insuportável, que imprime a "<i>O Dia Seguinte</i>" uma das melhores primeiras horas em qualquer filme da História. O problema é que após a trocação nuclear, quando chega a segunda hora, tudo o que vem depois não te cativa com a mesma força da anterior. No caso de "<i>Área 51</i>", <i>Oren Peli</i> realiza um feito monumental. Ele não torna o segundo ato mais cansativo ou menos interessante do que o primeiro. Como um todo, o filme te envolve na jornada que leva os amigos de Las Vegas ao deserto de Nevada e então para dentro da Área 51, onde os mais horrorosos segredos estão para ser escancarados.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3CcWsmU3LUNGxmVXWEbBp3yPcOXa6-N42ud3BceCCI6tH-d5D9QgVz7XqyzaxdvB2HhxiTlz3gldHaXTN3sgTcoV7B4MNSH3wF7XQeUou34F8rE0cTzmj4JZKA2cuz4_ZmawaAMQkGNQ/s1600/area1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="563" data-original-width="1027" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3CcWsmU3LUNGxmVXWEbBp3yPcOXa6-N42ud3BceCCI6tH-d5D9QgVz7XqyzaxdvB2HhxiTlz3gldHaXTN3sgTcoV7B4MNSH3wF7XQeUou34F8rE0cTzmj4JZKA2cuz4_ZmawaAMQkGNQ/s320/area1.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">O uso do estilo "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">found footage</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" cria um sentimento que me fez pensar no segmento "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Second Honeymoon</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" do excelente "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">V/H/S</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", a história de um casal que viaja pelo deserto do Arizona durante as férias, em comemoração da "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">segunda lua de mel</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", quando passam a ser o alvo do assédio de uma misteriosa garota. Em "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Área 51</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", a sucessão de motéis à beira de estrada e a jornada através do deserto de Nevada já criam um delicioso gostinho de aventura e expectativa antes que um passo sequer tenha sido dado dentro da base. É eletrizante vê-los à véspera da noite da invasão, discutindo detalhes, repassando planos. O segundo ato, a descoberta dos segredos da Área 51, oferece um espetáculo à parte. O que poderia vir a ser uma grande tolice jamais decepciona, e com muita imaginação, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Oren Peli</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> concebe revelações perturbadoras que vingam pelos seus tétricos detalhes. A representação de vida extraterrestre não diverge da mitologia dos "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Cinza</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", que vimos anteriormente no ótimo "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Os Escolhidos</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", porém as aparições dos alienígenas ensinam uma ou duas coisas a cineastas que ainda não aprenderam que "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">menos é mais</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". A simplicidade macabra dos inertes trajes espaciais pendurados no cabideiro, ali ao alcance do casal, ou do enorme olho aquoso e escuro como as trevas piscando delicadamente conquistam um lugar ao lado das mais chocantes representações de vida extraterrestre já capturadas em filme. Também digna de nota a maneira como o diretor retrata a tecnologia alienígena. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Oren Peli</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> teria dado um tiro no pé caso não tivesse resistido à tentação de ilustrar o disco voador do modo mais extravagante possível. Ao contrário, a nave parece exatamente um disco voador prateado, a imagem que tanto vimos em fotos ao longo dos anos, algumas dessas jamais explicadas. Internamente, nada de maquinário ou arrojados aparelhos de aerodinâmica. Não há absolutamente coisa alguma no interior, creio que em razão do grau de evolução de vida extraterrestre, que não precisaria mesmo de engenharia hidráulica ou espacial para colocar tamanho milagre nos céus, apenas da força de suas mentes, talvez.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjihAb2YgmvTZvQ9uUob2g3Hhh9Y9Suy0l86lYfMyK7e8dbwwdnBB8Zv2q9BEbVHzM3mirkrIiRrQ6g0p3256RsWssHMWiC75-w_ezvE_zUFzrhjxqizKADxMLVAGSPkVw19uLpa8fkeh8/s1600/23h7pcg.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="868" data-original-width="580" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjihAb2YgmvTZvQ9uUob2g3Hhh9Y9Suy0l86lYfMyK7e8dbwwdnBB8Zv2q9BEbVHzM3mirkrIiRrQ6g0p3256RsWssHMWiC75-w_ezvE_zUFzrhjxqizKADxMLVAGSPkVw19uLpa8fkeh8/s320/23h7pcg.jpg" width="213" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Há um filme baseado em fatos reais, "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Fogo no Céu</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", sobre a abdução de um lenhador por um disco voador, logo acima da floresta de White Mountains, no Arizona, em 1975. O ambiente estéril e envolto por névoa no interior da nave de "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Área 51</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" tem um design semelhante ao visto em "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Fogo no Céu</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". Aproveito a oportunidade para recomendar "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Fogo no Céu</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", um filme baseado em fatos reais, exclusivamente apoiado em performances e focado nas investigações posteriores sobre o mistério, o que reitera a necessidade de não se partir para uma produção do tipo contando-se única e exclusivamente com efeitos especiais ou a ação em troca de uma boa história. Atmosfera & trama representam nada menos do que metade do caminho, no mínimo, e as criaturas & o fenômeno dos OVNI apenas uma pequenina parcela. Assim como vale para os cenobitas do primeiro "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Hellraiser</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", para que se materialize a magia, "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">menos é mais</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". Contenção. Discrição. Elegância. Se você os perde de vista, seu filme vai junto para o buraco.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRPEA8xLeOtmQJNdHS-VZeFM8SrUDMcuke3MyaptoCtU31rKnWtBdlY8JFJtbV3y8v4rJE5S0F4Nym95Tt9iG8Sf4CgjRZHdYIM9pwTBYczsy-92UtSTPoJSXPbnzvOEm6VLWDRT1Ymrg/s1600/area6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="571" data-original-width="1009" height="181" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRPEA8xLeOtmQJNdHS-VZeFM8SrUDMcuke3MyaptoCtU31rKnWtBdlY8JFJtbV3y8v4rJE5S0F4Nym95Tt9iG8Sf4CgjRZHdYIM9pwTBYczsy-92UtSTPoJSXPbnzvOEm6VLWDRT1Ymrg/s320/area6.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Oren Peli</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> rende homenagem aos clássicos do Horror que decerto o ajudaram a encontrar o batuque certo para o suspense. Quando o filme chega ao segmento final, e o grupo se separa, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Peli </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">concebe o inesquecível momento emulando as angustiantes atmosferas evocadas por "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Dia dos Mortos</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" (1985), de </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">George Romero</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, e "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Alien O 8° Passageiro</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". A fuga desesperada de </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Darren</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> ao longo de corredores muito estreitos e escuros, seguido por luzes vermelhas dos giroflex ao sabor da cacofonia dos berros insistentes de alarme, remete à sequência em que a protagonista de "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Alien O 8° Passageiro</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" aciona a contagem regressiva para a autodestruição da Nostromo, e tem algumas dezenas de segundo para encontrar o caminho à nave de fuga, tudo enquanto o alienígena se encontra em seu encalço. Simultaneamente, quando </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Reid </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Jelena </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">se metem em túneis que mais parecem cavernas, vemos que as grutas são muito mal iluminados por lampiões, e é ali dentro onde encontram pessoalmente uma forma de vida alienígena, subitamente se levantando do leito. Pois bem. Quem se recorda do filme de </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">George Romero</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> sabe que o grupo daquela trama precisava chegar `a superfície através de antigos túneis subterrâneos usados para mineração. A todo tempo, há os zumbis distribuídos em vários pontos daqueles canais muito apertados, e eles surgem do escuro para tentar agarrar os sobreviventes em uma sequência de tirar o fôlego, rumo à escada que dá à superfície e ao heliporto onde o grupo espera driblar a invasão dos infectados e escapar por helicóptero. Certamente, há mais referências a se descobrir, mas os dois filmes acima saltam aos olhos.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"<i>Área 51</i>" é uma boa pedida para os fãs de filmes sobre discos-voadores, e nesta oportunidade aproveito para recomendar "<i>uma outra área</i>", a "<i>Área Q</i>", uma maravilhosa produção brasileira que não passa vergonha diante de filmes americanos semelhantes, utiliza maravilhosamente a fotografia da bela e mística Quixadá, e não cai na armadilha fácil dos excessos, tratando seus mistérios com a classe que a boa elegância recomenda! </span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/jg1Jt2Ft6xg/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/jg1Jt2Ft6xg?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><i style="background-color: #cccccc;">Todos os direitos autorais reservados a IM Global. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">___________________________________________________________________________</span><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpT4uzeF_Db43Nv_yBzgRSTwcfOIz9DS-OKyYaoTNPkEePZwXwGV-AXOIwrB0ixFfy5G3J6uzU09XaSbmlOUbPONPhza4cp1v0RTYxxbaK0X_xinGqUvMG7ZHz7_1qaZPl7gYQX4Gi95w/s1600/insidious_chapter_three_ver7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="401" data-original-width="535" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpT4uzeF_Db43Nv_yBzgRSTwcfOIz9DS-OKyYaoTNPkEePZwXwGV-AXOIwrB0ixFfy5G3J6uzU09XaSbmlOUbPONPhza4cp1v0RTYxxbaK0X_xinGqUvMG7ZHz7_1qaZPl7gYQX4Gi95w/s320/insidious_chapter_three_ver7.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alguns anos antes da assombração da família <i>Lambert</i>, <i>Elise Rainier</i>, a personagem da atriz <i>Lin Shaye</i>, é procurada pela adolescente <i>Quinn</i> <i>Brenner</i> (<i>Stefanie Scott</i>). <i>Elise</i> deixou de fazer leituras psíquicas há algum tempo, mais exatamente desde o suicídio do marido, que sofria de depressão. Hoje, mora sozinha com o cachorro Warren. Não bastasse o luto, <i>Elise</i> é casualmente perseguida por uma entidade, a "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Noiva de Preto</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". Tocada pela história da menina, que deseja comunicar-se com a mãe, falecida de câncer, <i>Elise</i> abre uma exceção. <i>Quinn</i> afirma sentir a presença de um espírito que julga ser a mãe. Ela conta que muitas vezes encontra seu diário em um lugar completamente diferente de onde havia deixado, crê que seja a mãe tentando se comunicar. Ao entrar em transe, <i>Elise</i> escuta uma voz demoníaca, e ao voltar do transe pede que a menina cesse imediatamente as tentativas de <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">comunicação </span>com o mundo espiritual. Aparentemente, a dor da saudade da adolescente acabou por atrair um espírito ruim. "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Quando você tenta falar com uma pessoa morta, muitas outras podem ouvir</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> <i>também</i>", <i>Elise</i> alerta.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjt1xDgvgtJTO8Vk0-QajLWUhhDvYT1otAN53MA_Grk_EivHfcFG0iSh2yInqanwRe8VFzZkiVKt3m_fVS00nP2Lnqgx6A1-s0eB6Qf5d_F-3JB-aOkIDs3u83xtJ0bptsrHjF2P2um6Xw/s1600/MV5BMTQzMzc1MTU1M15BMl5BanBnXkFtZTgwNTE4MDE1NTE%2540._V1_SX640_SY720_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="427" data-original-width="640" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjt1xDgvgtJTO8Vk0-QajLWUhhDvYT1otAN53MA_Grk_EivHfcFG0iSh2yInqanwRe8VFzZkiVKt3m_fVS00nP2Lnqgx6A1-s0eB6Qf5d_F-3JB-aOkIDs3u83xtJ0bptsrHjF2P2um6Xw/s320/MV5BMTQzMzc1MTU1M15BMl5BanBnXkFtZTgwNTE4MDE1NTE%2540._V1_SX640_SY720_.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Não custa ao assédio do espírito escalar, inicialmente discreto, como um distante sussurro, à noite. Deitada, <i>Quinn</i> pergunta "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Você está aí?</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". Ela sobe na cabeceira da cama para examinar o túnel de ventilação, de onde pensa ter vindo<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span>o sussurro. A manhã seguinte é muito importante, pois <i>Quinn</i> está tentando memorizar linhas e mais linhas de diálogo para tentar uma bolsa de estudos na Academia de Arte<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">s</span> em Nova York. O filme nos apresenta a <i>Sean</i> (<i>Dermot Mulroney</i>), o pai eletricista, ocupado com os aborrecimentos do trabalho enquanto tenta preparar os meninos para a escola. Obviamente, sem o suporte da mulher, está naufragando na difícil missão de ser pai. Devido à rotina estressante do trabalho, muitas vezes, <i>Sean</i> precisa delegar à <i>Quinn</i> parte das atribuições que seriam suas, como acordar o irmão <i>Alex</i> e garantir que esteja pronto para a escola. <i>Quinn</i> sublima suas decepções através do amor pelo teatro e o sonho de tentar uma vida nova em Nova York.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">No caminho para a escola, <i>Quinn</i> e <i>Alex</i> cruzam com <i>Hector</i>, um adolescente morador do mesmo prédio apaixonado pela menina. Também somos apresentado a um casal de idosos. A senhora parece gostar da garota, e sempre lhe diz coisas que à primeira vista não fazem muito sentido. Seu marido pede que a menina não dê ouvidos, pois decerto a esposa as fala pela idade avançada. Aguardando nos bastidores, antes de atravessar as cortinas para o palco, <i>Quinn</i> nota a silhueta de uma estranha figura entre os canhões de luz, acenando. No próximo segundo, não há mais sinal da pessoa. Ligeiramente assustada, ela sobe ao palco meio nervosa. As cadeiras na audiência encontram-se praticamente vazias, não fosse pelo diretor (<i>James Wan</i>, em uma divertida participação especial) e sua assistente, que são gentis e dizem para não se preocupar. <i>Quinn</i> acaba se esquecendo do monólogo, e naquela mesma noite encontra a melhor amiga Maggie, a quem confidencia seus desencantos, sobretudo as queixas do pai, que lhe parece sempre tão exigente e alheio aos sonhos da filha. Quando atravessam a rua deserta, <i>Quinn</i> enxerga a mesma silhueta, acenando lentamente. Intrigada, ela se distrai e fica no meio da rua contemplando aquela esquisita visão. Um carro a colhe. Apesar de fortemente atingida, <i>Quinn</i> sofre apenas algumas fraturas.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_dW5uN3vOkzuGyMKTpqKsvA3JSUbmR_zvVTEe0RdwWpu0g5evkATSOh8ZCwfXQhKfG1TMvS0Fy0Xohvbs9tQ-5z6Z_tLobc2wJi_G3i5Dj24ct0C8-TAt9fORiPD21pmNHUIMGb-ZQak/s1600/insidious-chapter-3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="376" data-original-width="622" height="193" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_dW5uN3vOkzuGyMKTpqKsvA3JSUbmR_zvVTEe0RdwWpu0g5evkATSOh8ZCwfXQhKfG1TMvS0Fy0Xohvbs9tQ-5z6Z_tLobc2wJi_G3i5Dj24ct0C8-TAt9fORiPD21pmNHUIMGb-ZQak/s320/insidious-chapter-3.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ao dar entrada no Hospital, inconsciente, <i>Quinn</i> tem um breve encontro com o espírito macabro que a persegue. Ela se vê em um ambiente escuro, quando a entidade salta do escuro para agarrá-la, e ela desperta. O acidente a deixa na cadeira de rodas e com as pernas engessadas, por um tempo. 3 semanas depois, ao voltar para casa, <i>Quinn</i> é paparicada e tem seu gesso assinado por <i>Hector</i>. No hall, a menina tem um novo encontro com a idosa, que enigmaticamente avisa "<i>O homem que não consegue respirar. O homem que vive nos túneis de ventilação. Eu o escutei dizendo o seu nome, na noite anterior. Eu o escutei no seu quarto, enquanto não estava em casa. Ele está no seu quarto neste exato momento. De pé no seu quarto</i>". Durante a festinha de recepção, atendida pela amiga Maggie e os vizinhos, <i>Quinn</i> olha pensativa para a porta entreaberta do quarto, e pensa nas palavras da idosa. <i>Hector</i> assina o gesso e deixa um recadinho especial. <i>Sean</i> se esforça para reparar o relacionamento com a filha, e lhe dá uma cesta com guloseimas e presentes, entre os itens um sino, para que chame o pai sempre que precisar, durante o processo de recuperação.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcPBbtbz-Eux80AMe5Gju75BFLRa00KoaNeT6uh5IRbl1zks0ygAi0T4JGMV7zhManG1vsUsG7Y0tk4nE6zpMTKE3Ti78q7wLXEbQX5TeP5NILcOtpQVRbBxBlCywxPUVmV8vvANt7Fwk/s1600/MV5BMTQ5Nzk0OTUyNl5BMl5BanBnXkFtZTgwNDE4MDE1NTE%2540._V1_SX640_SY720_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="427" data-original-width="640" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcPBbtbz-Eux80AMe5Gju75BFLRa00KoaNeT6uh5IRbl1zks0ygAi0T4JGMV7zhManG1vsUsG7Y0tk4nE6zpMTKE3Ti78q7wLXEbQX5TeP5NILcOtpQVRbBxBlCywxPUVmV8vvANt7Fwk/s320/MV5BMTQ5Nzk0OTUyNl5BMl5BanBnXkFtZTgwNDE4MDE1NTE%2540._V1_SX640_SY720_.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mais tarde ao ir se deitar, ao virar de lado, a câmera mostra uma sombra ao pé da cama, estudando a menina. O pai vai checá-la, e <i>Quinn</i>, desatenta, diz que se sente melhor. Em outro lugar, <i>Elise</i> vai <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">dormir</span>, e como sempre faz, dá Boa Noite ao marido olhando para sua foto. Subitamente, ela desperta apavorada, como que pressentindo algo horroroso. Ela apanha seu livro, chamado "<i>Book of Seeing</i>", ou "<i>Livro das Aparições</i>", onde descreve as imagens que lhe ocorrem na cabeça. A médium sente que a menina está em apuros. De volta ao apartamento dos <i>Brenner</i>, <i>Quinn</i> escuta batidas na parede, do lado da cabeceira. Deduzindo que se trata de <i>Hector</i>, dá algumas batidas com os nós dos dedos, que são ritmicamente correspondidas. Ela manda uma mensagem para o rapaz, no What's Up, e pergunta se ele a acha realmente "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">linda de parar o tráfego</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". Quando ele explica que está dormindo na casa da avó e não no apartamento, <i>Quinn</i> descobre que não se trata do garoto respondendo as batidas. Temerosa de que alguém esteja querendo pregar uma peça, ela fecha as luzes para tentar dormir. Um braço subitamente surge do alto e a toca no ombro. <i>Quinn</i> dá um grito, e quando <i>Sean</i> abre a porta assustado, repar<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a </span>uma rachadura no teto do quarto.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Acompanhado pelo síndico, <i>Sean</i> investiga o apartamento do 4° andar, que deveria estar abandonado. Não é o que mostram as pegadas oleosas negras que veem por todo o assoalho. O relacionamento entre pai e filha continua "<i>na mesma</i>", <i>Sean</i> sempre estressado, <i>Quinn</i> metida em seu próprio mundo. Uma manhã, ela desabafa, e revela ao pai que foi procurar uma médium, porque crê que a mãe esteja tentando se comunicar. <i>Sean</i> pede para que a filha tome cuidado. O pai tem uma opinião depreciativa sobre médiuns, e acha que são pagos apenas para dar falsas esperanças. <i>Quinn</i> o acusa de secretamente adorar o grande caos que o lar virou, pois assim não pensa na mãe. Magoado, ele diz que a vê sempre que olha para a filha.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Naquela noite, quando se recolhe para dormir, o olhar pidão de seu cãozinho a convence a realizar solitariamente uma sessão de modo a conversar com <i>Lili Brenner</i>, a mãe de <i>Quinn</i>, para quem pedirá proteção à filha. Quem surge das trevas é o demônio. Ele </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">se mostra como uma figura decrépita que veste uma máscara de oxigênio e parece banhado por um líquido viscoso semelhante a petróleo. As pegadas a levam ao porão de casa. <i>Elise</i> abre a porta e pergunta olhando para a escuridão o que a entidade deseja da menina. Ela explica que já sacou a estratégia do demônio, o lance de se passar pela mãe para conquistar a atenção e a confiança da adolescente, mas que sua genialidade não vai "colar" com <i>Elise</i>, que avisa não temer demônio algum. Em uma cena que parece homenagear "Invocação do Mal", a médium desce as escadas munida de uma lanterna, e fica cara a cara com "<i>o homem que não consegue respirar</i>". O demônio aparece de cabeça para baixo, como um morcego, e a pega pelo pescoço. <i>Elise</i> se desvencilha a tempo, e deixa o sótão. Aos prantos, diz para si que não conseguirá enfrentar o demônio.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Maggie </i>conta à amiga as novidades da escola pelo skype. Enquanto estão conversando, <i>Maggie </i>pergunta se a pessoa atrás é o <i>Alex</i>. <i>Quinn</i> não compreende, pois não há ninguém por ali, mas então a sessão do Skype cai. <i>Quinn</i> olha para os lados, e por trás das cortinas, banhadas pela luz enfraquecida da tarde, enxerga "<i>o homem que não consegue respirar</i>". Jogada ao ar por uma força invisível, <i>Quinn</i> cai de bruços, impossibilitada de se mexer. Pelo vão entre cama e assoalho, enxerga as pernas muito magras da entidade, que fecha cortinas e porta para deixar o ambiente o mais escuro possível. Quando <i>Sean</i> chega com as compras, escuta os gritos da filha. Ela está inconsolável, e após a queda, torceu o pescoço. <i>Quinn</i> explica ao pai que viu o demônio. No início, ela achou que fosse a mãe, mas agora tem certeza de que não é. <i>Sean</i> a consola, mas não parece acreditar inteiramente na história, atribuindo o "<i>demônio</i>" à fértil imaginação da filha. No hall, <i>Sean</i> vê o morador vizinho respondendo a algumas perguntas dos socorristas. Choroso, conta que a esposa morreu, e que apesar de muitos a terem tomado como louca, ela significava o mundo para a família.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi69biIoOx9JKLVuIWEILHnNtPKknmlE9PoSea-oQYuNA5NWJU_b7F8pb0SZmD3hzsCdiZw-cfDBpvhyLVzYxaQ1ADH9t-Yk0sZcFOMMo6AXlNj9f2ImMx_WSeFhWoH-ssiRxJXekFqVX4/s1600/MV5BMTk0MjQ3MzAxMl5BMl5BanBnXkFtZTgwOTA4MDE1NTE%2540._V1_SX640_SY720_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="427" data-original-width="640" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi69biIoOx9JKLVuIWEILHnNtPKknmlE9PoSea-oQYuNA5NWJU_b7F8pb0SZmD3hzsCdiZw-cfDBpvhyLVzYxaQ1ADH9t-Yk0sZcFOMMo6AXlNj9f2ImMx_WSeFhWoH-ssiRxJXekFqVX4/s320/MV5BMTk0MjQ3MzAxMl5BMl5BanBnXkFtZTgwOTA4MDE1NTE%2540._V1_SX640_SY720_.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Em um encontro mais agressivo, <i>Quinn</i> é carregada pelo demônio ao andar de cima, onde enxerga uma monstruosidade sem pés e mãos, rastejando pelo chão. A coisa parece uma versão da própria <i>Quinn</i>, com o rosto apagado. <i>Sean</i> é despertado pela comoção, e as pegadas oleosas deixadas no corredor o levam ao apartamento abandonado. Um morador parece ter se atirado do quarto andar, e quando <i>Quinn</i> se escora na janela para examinar a calçada, é puxada pela entidade. Não fosse o pai, que a segurou pelas pernas, a menina teria despencado. A gravidade da situação convence <i>Sean</i> a procurar pela ajuda de <i>Elise</i>, que continua relutante quanto a ideia de se aventurar no limbo. Eles têm uma boa conversa, quando conhecemos melhor a história de <i>Elise</i>, sua dor por todas as coisas que não teve tempo de dizer ao falecido marido. Inconformada com a morte, <i>Elise</i> se aventurou no "<i>limbo</i>", em busca do marido, e ao voltar, "<i>algo mais</i>" voltou no seu encalço. Ela está falando sobre a "<i>Noiva de Preto</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd1V-amHpMExTK5ReFWsBFXfuqZNXIuUtyK2tPDMxb8lVGSwOx5fQ6WCNftFDIAZVUbvMqgooqizOVDUcJ2dxFHFvH_QoGTyY6sD-lY1__besrWvPrFfhUtPl0yMZV-IpeZzp8E2nCnDI/s1600/insidious-chapter-.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="375" data-original-width="617" height="194" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd1V-amHpMExTK5ReFWsBFXfuqZNXIuUtyK2tPDMxb8lVGSwOx5fQ6WCNftFDIAZVUbvMqgooqizOVDUcJ2dxFHFvH_QoGTyY6sD-lY1__besrWvPrFfhUtPl0yMZV-IpeZzp8E2nCnDI/s320/insidious-chapter-.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O pai pede `a médium que ao menos o acompanhe e converse com a menina. <i>Elise</i> a encontra muito mal, prostrada na cama. Ela conta que no dia em que <i>Quinn</i> a procurou pela primeira vez, naquela noite, tentou conversar com a mãe morta, mas só encontrou a entidade demoníaca. De mãos dadas à <i>Quinn</i> e <i>Sean</i>, <i>Elise</i> entra em transe, e mergulha momentaneamente no limbo. Caminhando ao longo de um estreito e longo corredor escuro com uma lamparina, <i>Elise</i> enxerga uma porta vermelha ao fim. Ali, a médium encontra uma porção de espíritos infelizes. Para uma moça chorosa com as roupas molhadas, <i>Elise</i> pergunta se sabe onde está "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">o homem que não consegue respirar</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". A porta vermelha se abre, revelando-se um elevador, que <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a leva a</span> um outro nível, ainda mais escuro. Ela chega a uma casa apar<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e</span>ntemente comum. Em uma das cenas mais memoráveis, ao entrar, <i>Elise</i> encontra uma mulher sentada no sofá<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, </span>diante da TV, com um sorriso maléfico. A mulher sorridente aponta para um ponto da sala, e ao averiguar, <i>Elise</i> é agredida pela "<i>Noiva de Preto</i>", que procura estrangulá-la. Por muito pouco a médium escapa, e volta a si, na sala do lar da família <i>Brenner</i>. Apavorada, deixa o apartamento às pressas.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxyuKYW99GwuGjm20VTmecVK-8OsB_DpJ-HaWg9lz-R5F8UhQlcnTnURAVEnUxh7ZwbBmPjeLLBy7t5lhowwbydag2cd9M4o80xlZcNwqiNQEOIZiOkX0gHZLhEGFYzYfi2_RCnzPQYaQ/s1600/MV5BNjMzNDA2MzYxMl5BMl5BanBnXkFtZTgwODA4MDE1NTE%2540._V1_SX640_SY720_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="427" data-original-width="640" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxyuKYW99GwuGjm20VTmecVK-8OsB_DpJ-HaWg9lz-R5F8UhQlcnTnURAVEnUxh7ZwbBmPjeLLBy7t5lhowwbydag2cd9M4o80xlZcNwqiNQEOIZiOkX0gHZLhEGFYzYfi2_RCnzPQYaQ/s320/MV5BNjMzNDA2MzYxMl5BMl5BanBnXkFtZTgwODA4MDE1NTE%2540._V1_SX640_SY720_.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Sem saber a quem recorrer, com a ajuda do filho <i>Alex</i>, <i>Sean</i> descobre 2 blogueiros que dizem viver de investigar fenômenos paranormais. Mesmo que não pareçam remotamente profissionais, a família <i>Brenner</i> não tem mais <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">a quem</span> recorrer. Dividido entre se afastar do problema de <i>Quinn</i> e encarar de vez seus próprios temores, <i>Elise</i> tem uma crise de consciência e consulta a opinião de <i>Carl</i> (que já vimos anteriormente em "<i>Sobrenatural 2</i>"), com quem se encontra em um restaurante chinês. Eles revisitam o calhamaço de fotos de <i>Josh Lambert</i>, quando criança, onde enxergamos a "<i>Noiva de Preto</i>" sempre ao fundo. <i>Carl</i> consola a colega. Há tantos anos ajudando pessoas a lidarem com espíritos rui<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ns</span>, era de se esperar que um dia uma daquelas entidades a seguisse de volta ao mundo dos vivos. <i>Carl</i> insiste que <i>Elise</i> é mais forte do que os demônios. "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Se uma pessoa é atacada na rua, ela procura a Polícia. Se atacada por uma Força que não consegue enxergar, compreender, precisa de alguém como a gente</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", <i>Carl</i> afirma. Algo nas palavras de conforto do velho amigo permite que <i>Elise</i> escute seu verdadeiro chamado<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">:</span> ajudar as pessoas espiritualmente vulneráveis. No apartamento dos <i>Brenner</i>, <i>Specs</i> e <i>Tuck </i>não conseguem se impor diante dos problemas, não têm experiência para enfrentar a força verdadeiramente paranormal. Em determinado momento da noite, a energia oscila até as luzes apagarem. Ao entrar no quarto de <i>Quinn</i>, os 3 são duramente atacados pela menina com uma chave de fenda. Ela chuta as pernas da cama para quebrar o gesso, e volta a caminhar. Influenciada pelo demônio, ela apanha um estilete e ameaça cortar o próprio pescoço, mas o pai a segura a tempo, e <i>Specs</i> e <i>Tuck</i> o ajudam a dominá-la. Furioso, <i>Sean</i> acusa o amadorismo da dupla, que jamais lidara com investigações sérias. Quando está para pô-los na rua, surpreendem-se com a chegada de Elisa, que se voluntaria a ajudá-los.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiy2ci0MdovU-oZexh2Uex8ZcbbEupgLusNIPxsqguFSQ2SRIx6JHL1G98jiHWiekUrsZ0fT9iRjZjS-1TVgIKfM3HzabMe1vQwgNWDMNTOhy5U26wtbRp3vpWPtuyBdW_tmxwK2HSg11k/s1600/MV5BODEzMDc3MjYyOV5BMl5BanBnXkFtZTgwMjE4MDE1NTE%2540._V1_SX640_SY720_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="406" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiy2ci0MdovU-oZexh2Uex8ZcbbEupgLusNIPxsqguFSQ2SRIx6JHL1G98jiHWiekUrsZ0fT9iRjZjS-1TVgIKfM3HzabMe1vQwgNWDMNTOhy5U26wtbRp3vpWPtuyBdW_tmxwK2HSg11k/s320/MV5BODEzMDc3MjYyOV5BMl5BanBnXkFtZTgwMjE4MDE1NTE%2540._V1_SX640_SY720_.jpg" width="180" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A médium revela a natureza do problema que aflige a menina. Habitado por espíritos infelizes e demônios ardilosos, o limbo é uma zona de guerra. Enquanto os espíritos maquinam como possuir os vivos para terem uma nova chance "<i>do lado de cá</i>", os demônios possuem outros interesses. Os demônios sentem prazer em arrastar incautos para o limbo, para que possam torturá-las. Essa é a natureza da entidade que se apegou à menina. <i>Elise</i> vai mais além, e conta que na ocasião do acidente, enquanto esteve inconsciente, parte da alma de <i>Quinn</i> foi tomada pela entidade, que para conseguir puxá-la por completo, precisará da segunda metade, a <i>Quinn</i> que está no mundo dos vivos. <i>Elise</i> traça um plano ao lado de <i>Specs</i> & <i>Tuck</i>. Ela fará a imersão no limbo para salvar a outra metade da alma da menina. <i>Tuck</i> deve realizar imagens da sala, registrar o desenrolar do ritual. Mais à vontade com a escrita, <i>Specs</i> se encarrega de anotar o que <i>Elise</i> disser. Se os amigos assistiram aos dois filmes anteriores, verão que essas informações batem com suas tramas. De fato, dentro da dinâmica do grupo, <i>Elise</i> sempre foi a "<i>líder</i>", <i>Specs</i> o escritor e <i>Tuck</i> o realizador de imagens. Durante a sessão de "<i>mergulho</i>", <i>Elise</i> reencontra a moça morta, vítima do "homem que não consegue respirar", e pede para que aponte seu esconderijo. Navegando entre os cômodos de um lugar muito escuro, <i>Elise</i> é surpreendida pela "<i>Noiva de Preto</i>". O espírito ruim momentaneamente parece levar vantagem, todavia <i>Elise</i> se recorda das palavras de <i>Carl</i>, quando disse que apesar de achar a "<i>Noiva de Preto</i>" um inimigo tão terrível, é <i>Elise</i> quem na verdade é mais forte. Ela usa o poder da fé para empurrar o espírito, e de fato percebe-se muito mais forte, pois a "<i>Noiva de Preto</i>" voa longe.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixBWkStX2KDuc8YKhnUQ0wZmE44zebxlBz2o6Fx54IIpX-_sraWn7uMMXOP3-lNhrDFQSzYHltGkU9tsbchFTJGsODtDrSIe4Nuh01u_2ygtjxwvR9iYmC73AwCThJALiYLRseq7QFN-A/s1600/insidious3thumb-1426707112443_1280w.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixBWkStX2KDuc8YKhnUQ0wZmE44zebxlBz2o6Fx54IIpX-_sraWn7uMMXOP3-lNhrDFQSzYHltGkU9tsbchFTJGsODtDrSIe4Nuh01u_2ygtjxwvR9iYmC73AwCThJALiYLRseq7QFN-A/s320/insidious3thumb-1426707112443_1280w.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O demônio assume a forma do marido de <i>Elise</i>, para "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">desarmá-la</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" psicologicamente. A médium lhe fala sobre o quanto queria tê-lo de volta, mas quando ele pede que <i>Elise</i> se junte ao limbo, ela desfere um golpe de navalha na figura, exclamando que o marido jamais pediria algo parecido. O demônio começa a rir maliciosamente, "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">pego de calças curtas</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". Ele ainda tem domínio sobre parte da alma de <i>Quinn</i>, representada pela figura sem face. Enquanto <i>Elise</i>, <i>Tuck</i>, <i>Specs</i> e <i>Sean</i> dão as mãos e suplicam para que <i>Quinn</i> resista, a sala sacode como em um terremoto. A outra parte de sua alma, ainda no limbo, passa a ganhar traços e feições, sinal de que está perdendo a batalha e "<i>escorregando</i>" definitivamente para o lado do demônio.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Em um instante decisivo, <i>Elise</i> escuta a voz da idosa sensitiva que morreu naquele condomínio alguns dias atrás. A senhora os orienta a procurar o diário de <i>Quinn</i>. Antes de morrer, a mãe havia deixado uma carta, que esperava que a filha descobrisse na ocasião da graduação. A força das palavras subitamente viram o jogo, e o demônio começa a perder a influência sobre a menina. O espírito da mãe, uma mulher bonita e serena, surge para se juntar aos demais na luta. <i>Quinn</i> recobra o domínio e arranca a máscara de respirar do demônio. "<i>O homem que não respira</i>" finalmente sucumbe e é atirado de volta ao limbo, derrotado. Antes de partir para o Céu, a mãe diz à filha que esteve presente no teatro, em um dos lugares vagos, na noite em que ela fez a audição no teatro, e conta que a achou magnífica!A família finalmente é deixada em paz, libertada do demônio e, principalmente, do luto, agora que finalmente puderam resolver a confusão gerada por sentimentos até então mal resolvidos. <i>Elise</i> a lembra a jamais tentar se comunicar com o mundo dos mortos. Ela não precisa procurar pela mãe porque, conforme <i>Elise</i>, ela sempre permanecerá ao seu lado, <i>Quinn</i> apenas não a poderá enxergá-la. Se prestar muita atenção, todavia, terá como senti-la. Vitoriosos, <i>Specs</i>, <i>Tuck</i> & <i>Elise</i> resolvem unir forças, formando o trio de "<i>caça-fantasma</i>s".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"<i>Insidious</i>" chega ao "<i>número da zebra</i>". Foi no "<i>número 3</i>" que "<i>Hellraiser</i>" caiu e arruinou o legado dos dois primeiros, no "<i>número 3</i>" a franquia "<i>Atividade Paranormal</i>" entrou em um período de vacas magras. Quando havia chances de a série "<i>Insidious</i>" se perder, ou ao menos demonstrar sinais de cansaço e necessidade de renovação, <i>Leigh Whannell</i>, habitual colaborador de <i>James Wan</i> e membro do elenco dos dois anteriores filmes, estreia como diretor do excelente "<i>Sobrenatural: A Origem</i>", uma "<i>prequel</i>" dos eventos a que assistimos nos dois primeiros. Dirigir um filme pela primeira vez pode ser assustador, David Cronenberg que o diga. Suas reminiscências do primeiro filme, "<i>Calafrios</i>", de 1975, mostram que mesmo gênios não estão imunizados a momentos de fraqueza e insegurança. O grande <i>Clive Barker</i> passou por semelhante "<i>síndrome do pânico</i>" dias antes de rodar "<i>Hellraiser</i>". <i>Barker </i>era um escritor, talvez o melhor que eu tenha visto, mas em 1986, não um cineasta, jamais mexera em uma câmera antes. Algumas semanas antes de começarem as filmagens, ele disse que procurou algum manual sobre como dirigir filmes na biblioteca local. <i>Barker </i>disse algo nas linhas de "<i>Rapaz, eu estava ferrado!Na biblioteca, só havia um livro do tipo, e ainda estava alugado!</i>". Felizmente, parece-me seguro afirmar que a estreia de <i>Whannell </i>não foi tão dramática assim!Apoiado por quase todo o time criativo e elenco dos dois filmes anteriores, <i>Whannell </i>pode não ser ainda um <i>James Wan</i>, no entanto demonstra personalidade e senso de estilo próprio, conferindo a "<i>Sobrenatural: A Origem</i>" uma identidade.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Whannell </i>possibilita a renovação que traz uma nova trama, novos ares. Simultaneamente, jamais rompe com o imaginário criado nos dois filmes de <i>James Wan</i>. Depois de sua importante contribuição a "<i>Sobrenatural 1 & 2</i>", <i>Lin Shaye</i> volta a interpretar a médium <i>Elise Rainier</i>, que se torna foco da história. Os eventos a que assistimos em "<i>Sobrenatural: A Origem</i>" antecedem aqueles que vimos nos dois anteriores, e <i>Whannell </i>concebe uma maravilhosa explicação para como o trio de "caça-fantasmas" se formou, também reverenciando seus antecessores com referência ao drama da família <i>Lambert</i>. Aqui ou acolá, <i>Whannell </i>conecta os pontos entre o terceiro filme e a mitologia previamente, sugerindo o famoso demônio de rosto vermelho, e as aparições horrorosas da "<i>Noiva de preto</i>", a "<i>velha</i>" que aparecia nas fotos de <i>Josh Lambert </i>enquanto crescia, e que na verdade era o fantasma de um travesti serial killer que se vestia de noiva para matar mulheres, tudo por causa dos traumas pesadíssimos de infância incutidos pela mãe louca, a vilã de "<i>Sobrenatural 2</i>", a notória "<i>Mãe de Parker Crane</i>", vivida por<i> Danielle Bisutti</i>, que faz falta em "<i>Sobrenatural: A Origem</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjg-17dN3_bPSmrvovC9OUm19zVTF8xq1DRC322ajpvPrZYWLzgnbEDAxf6XaIw2Dw6J9uOQ119N1Xldxx3F0H_Esl-m6z0f3yVaQxWEbedg8RPG_x8W7L_QZOHetQeo0fNO02Ftdv6uXU/s1600/audition.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjg-17dN3_bPSmrvovC9OUm19zVTF8xq1DRC322ajpvPrZYWLzgnbEDAxf6XaIw2Dw6J9uOQ119N1Xldxx3F0H_Esl-m6z0f3yVaQxWEbedg8RPG_x8W7L_QZOHetQeo0fNO02Ftdv6uXU/s320/audition.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>James Wan</i> sempre foi um artesão de poderosíssimas imagens. Mesmo seus filmes menores, como "<i>Dead Silence</i>", de 2006, trazem cenas ímpares de terror que se provam uma constante ao longo da carreira. Mesmo em "<i>Sentença de Morte</i>", um thriller que nada tem de sobrenatural, <i>Wan </i>se serviu de composição, atmosfera e fotografia para nos puxar para dentro do enredo e jamais nos soltar. Em "<i>Sobrenatural</i>", uma caixinha surpresa de demônios e fantasmas com toques da imaginação própria à infância, <i>Wan </i>pôde como jamais anteriormente exercitar a verve artística com impressionantes fantasias, tais como o demônio de unhas enormes que as amola em uma lima gigantesca, ou a família com sorrisos estampados, habitantes do limbo, ou a própria ideia do referido limbo como uma espécie de entreposto entre o mundo dos vivos e mortos. Com o suporte do experiente <i>Wan</i>, que em "<i>Sobrenatural: A Origem</i>" volta como produtor (e aparece como ator!), <i>Whannell </i>cria momentos inesquecíveis, e também reconhece e resgata os detalhes que nos outros dois lhes permitiram tanto charme e elegância, como o violino estridente introdutório e o toque de humor que serve para trocar as marchas em meio ao Horror absoluto, meio pelo qual recuperamos o fôlego, mas apenas um pouquinho!Humilde ao reconhecer que não há como superar o original de 2010, <i>Whannell </i>aproveita parte da delirante fantasia de <i>James Wan</i>, e assim, para nossa sorte (e arrepios), aparições memoráveis como uma das meninas da família sorridente dá as caras novamente nesta terceira parte, ao lado de um novo, interessante vilão, o "<i>demônio que não respira</i>", uma forma decrépita que emite um chiado originado da máscara de oxigênio que veste. Ele também rende homenagem a outro clássico do Terror que deve ter influenciado sua arte, "<i>Audition</i>" <i><span style="font-size: x-small;">(foto)</span></i>, de <i>Takashi Miike</i>. A referência consiste em uma das visões que perturbam a heroína, uma versão de si, que engatinha de quatro, sem pés ou mãos. Quem conhece o filme de <i>Miike</i> compreenderá a referência. Em "<i>Audition</i>", um cavalheiro viúvo há 7 anos resolve restaurar a vida sentimental. Para isso, seu amigo mais próximo organiza um processo de seleção de atrizes para um projeto fajuto, tudo para que o viúvo veja se alguma das moças o encanta de modo especial. Ele se apaixona por uma garota que se diz bailarina, e cego pela atração, deixa de enxergar os sinais que indicam a cilada em que está se metendo. O amigo tenta abrir seus olhos ao alertar que as referências que a senhorita deu não batem quando confrontadas com a realidade. O homem comete o grave erro de se relacionar intimamente com a bailarina, que desaparece logo em seguida. À medida que vai se aprofundando na busca, o filme muda de tom. "<i>Audition</i>", que começa como uma espécie de comédia romântica com elementos dramáticos, tipo os filmes de <i>Rachel McAdams</i>, se torna um pesadelo esquizofrênico de <i>David Cronenberg</i>,<i> </i>sobre humilhação, sadomasoquismo e morte. Voltando ao ponto, a referência a "<i>Auditon</i>" se deve ao fato de que entre outras bizarrices, a bailarina, uma perigosíssima serial killer, costumava guardar o ex-namorado que tentara abandoná-la em um saco de lona. Ela amputou suas pernas, braços e língua, para que dependesse da "<i>mestra</i>" pelo resto da vida inútil. Ao ex-namorado, a moça oferecia seu próprio vômito em uma tigela, sua única fonte de nutrição. O monstro que vimos em "<i>Audition</i>" parece ter sido adaptado para "<i>Sobrenatural: A Origem</i>", não há dúvidas de que o filme de <i>Miike</i> compôs parte do imaginário de <i>Whannell</i>.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Parte do elenco de apoio de "<i>Sobrenatural 1 & 2</i>" está de volta, com especial menção, claro, à atriz<i> Lin Shaye</i> como <i>Elise</i> e <i>Leigh Whannell</i> & <i>Angus Sampson</i> como <i>Specs</i> & <i>Tuck</i>, respectivamente. <i>Tom Fitzpatrick</i> é uma grata surpresa, aparecendo para nos lembrar que segundo a cronologia dos eventos, a "<i>Noiva de Preto</i>" viria a se tornar a grande antagonista, quando assombraria a casa da família <i>Lambert</i>. A força do núcleo familiar sempre representou um dos pilares de "<i>Sobrenatural 1 & 2</i>". Claro que o público desejava primordialmente ser assustado dentro do cinema, mas ao escrever a família <i>Lambert </i>como pessoas tão boas e unidas, <i>James Wan</i> mexia com nossos sentimentos, movendo-nos a nos identificar com seus dramas, fosse com o pai vivido por <i>Patrick Wilson</i>, com a mãe, por <i>Rose Byrne</i>, ou qualquer um dos meninos, semelhante ao que <i>Steven Spielberg</i>, o pai dos "<i>blockbusters com alma</i>" fizera anteriormente em filmes como "<i>ET O Extraterrestre</i>". Não há nada de mal nisso, na verdade uma escolha louvável que dá rosto ao clássico arrasa-quarteirões do Horror, no sentido de que mesmo em meio a sustos, reserva-se espaço para imbuir sua história de doçura e valores nobres com que podemos nos identificar. Aqui, a família <i>Brenner </i>ocupa a lacuna deixada pela família <i>Lambert</i>.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A família <i>Brenner</i>, nova adição à franquia, traz novos, competentíssimos nomes para agregar valor à terceira parte. <i>Dermot Mulroney</i>, mais conhecido pelo seu papel na comédia romântica "<i>O Casamento do Meu Melhor Amigo</i>", suporta com dignidade o peso das demandas diárias como o viúvo que busca manter a família, composta pelos filhos <i>Quinn</i> & <i>Alex</i>, unida, enquanto precisa sustentar a casa e colher os cacos emocionais que o prematuro falecimento da esposa, levada pelo câncer, deixou. A performance de <i>Mulroney</i> muito lembra o trabalho do ator <i>Kevin Bacon</i> no ótimo "<i>Ecos do Além</i>", onde também dava vida a um pai de família e trabalhador <i>blue collar</i> lutando para cuidar da mulher e filho pequeno, às voltas com o assédio do espírito de uma menina do bairro, assassinada em circunstâncias misteriosas. Por vezes pai compreensível, por vezes ausente e confuso, independente de suas falhas humanas, <i>Mulroney</i> não deixa dúvidas de que seu personagem os ama e sofre silenciosamente ao internalizar a perda da mulher, o evento que sacudiu as fundações do relacionamento com a menina, e mesmo quando comete deslizes, o faz pensando no seu bem. <i>Stefanie Scott</i> interpreta a adolescente <i>Quinn</i> <i>Brenner</i>, a protagonista. Enquanto no filme original as atenções tenham se concentrado sobre o mundo dos adultos, sobre os pais vividos por <i>Rose Byrne</i> & <i>Patrick Wilson</i>, <i>Leigh Whannell </i>arriscou suas chances em trazer os holofotes sobre a personagem da adolescente. Pela segurança com que a atriz se conduz em cena, trata-se de uma aposta que vingou.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwnavWM0GC-Q5-I7SEJMw-La-K8yxUq-ucKKxLbjmEOZ0vWaWF5bUbEI8fGD5eFx7PZwJ4BpCDcgrbcCGVWCEcSfxqJ8CFXL-Wg7scBWdJRfa4ZbtKbzxmBltg6nPSNf4dV-yU0G9AFSc/s1600/MV5BMTc3OTg3ODMwMF5BMl5BanBnXkFtZTgwNTUwMTE5NTE%2540._V1_SX640_SY720_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="513" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwnavWM0GC-Q5-I7SEJMw-La-K8yxUq-ucKKxLbjmEOZ0vWaWF5bUbEI8fGD5eFx7PZwJ4BpCDcgrbcCGVWCEcSfxqJ8CFXL-Wg7scBWdJRfa4ZbtKbzxmBltg6nPSNf4dV-yU0G9AFSc/s320/MV5BMTc3OTg3ODMwMF5BMl5BanBnXkFtZTgwNTUwMTE5NTE%2540._V1_SX640_SY720_.jpg" width="228" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Não podemos falar sobre performances sem reconhecer a liberalidade de <i>Leigh Whannell</i>. Ao dirigir o filme, foi incrivelmente generoso ao escolher não concentrar as atenções sobre si, com muita dignidade ocupando o segundo plano para que seus colegas, sobretudo <i>Lin Shaye</i> <i><span style="font-size: x-small;">(foto, com o excelente ator Tom Fitzpatrick, a "Noiva de Preto")</span></i>, pudessem brilhar mais intensamente. Veterana de tantos filmes do gênero, é emblemático que no período mais maduro de sua carreira esteja finalmente recebendo o reconhecimento do público e de seus pares, no papel que tornou só seu. Assim como ocorreu a <i>Tobin Bell</i>, o "<i>Jigsaw</i>" de "<i>Jogos Mortais</i>", foi somente mais tarde na vida em que seu talento foi descoberto mais amplamente. Desde então, <i>Shaye </i>tem explorado a nova fase de sua carreira, tendo aparecido em grandes filmes como "<i>The Signal</i>" e "<i>Ouija</i>", onde voltou a interpretar uma personagem muito semelhante à <i>Elise</i> de "<i>Sobrenatural</i>". A química entre os 3 "<i>caça-fantasmas</i>" não poderia parecer mais espontânea, sendo o testamento do carisma desses atores maravilhosos a facilidade com que conseguem extrair um sorriso de nossos rostos quando em cena.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_ZTV6n-R_rRMDeEZIEiZ2Mq3JFCJhchb5rrWFhYIIZ9GslG_24siJ9SqrpSb-0bvKH4gGbvfvC2VGu6yYkmw4FXgIEa4_aQ1P2FrodZxF8jmvTUWo0Mbxg1tSXUloemF4l4T2gE3CfgI/s1600/kq_wan-and-whannell-insidious_wide-620x349.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="349" data-original-width="620" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_ZTV6n-R_rRMDeEZIEiZ2Mq3JFCJhchb5rrWFhYIIZ9GslG_24siJ9SqrpSb-0bvKH4gGbvfvC2VGu6yYkmw4FXgIEa4_aQ1P2FrodZxF8jmvTUWo0Mbxg1tSXUloemF4l4T2gE3CfgI/s320/kq_wan-and-whannell-insidious_wide-620x349.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Será que a espera valeu à pena?Sim, definitivamente. "<i>Sobrenatural: A Origem</i>" ainda não se dissociou do grande barato dos filmes anteriores de <i>James Wan</i>. Embora possamos afirmar que cedo ou tarde a franquia vá eventualmente perder o fôlego, em "<i>Sobrenatural: A Origem</i>" a turma ainda está à frente do jogo. Quem for ao cinema para assistir a "<i>Sobrenatural: A Origem</i>" pode esperar que sejam satisfeitas todas as características de uma grande sessão de cinema entre amigos. Sustos, tensão, algum humor e, claro, o agridoce papel reservado à família, objeto do assédio de uma ameaça exógena, unidade que pelo mérito da união consegue prevalecer sobre o Mal ao final. É seguro afirmar que tudo que traz o envolvimento de <i>James Wan</i> <i><span style="font-size: x-small;">(foto, ao lado de Leigh Whannell)</span></i>, o "<i>novo Steven Spielberg</i>", entrega o que seus filmes antecessores padronizaram: entretenimento de alto nível e à velha moda, dos tempos em que o Horror ainda não precisava ser tão agressivo, e as pessoas tão cínicas.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/3HxEXnVSr1w/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/3HxEXnVSr1w?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><i style="background-color: #cccccc;">Todos os direitos autorais reservados a Gramercy Pictures. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i></span></div>
</div>
Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-62051255160616851272015-05-18T13:56:00.002-07:002019-03-13T09:26:36.219-07:00Corrente do Mal ("It Follows", 2014) O melhor filme de Horror americano de 2015 é uma atmosférica alegoria dos primeiros, mais aterrorizantes anos da pandemia global de um certo vírus que mataria mais de 30 milhões de pessoas.<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWrBjyJiI_t5Lv0dCwlyO4ZPdjNyiKjDa2o0FVQMuBaS3I11MdOWShjPLWVMQ-slQB-VT4nKdd95HmpFvcCWGl2Roq5w6ZKkosl6bkTNU_GdvvljXewa54B0EY7m2jaLA2dS5WsPuYYFM/s1600/corrente-do-mail-still-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWrBjyJiI_t5Lv0dCwlyO4ZPdjNyiKjDa2o0FVQMuBaS3I11MdOWShjPLWVMQ-slQB-VT4nKdd95HmpFvcCWGl2Roq5w6ZKkosl6bkTNU_GdvvljXewa54B0EY7m2jaLA2dS5WsPuYYFM/s400/corrente-do-mail-still-1.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Uma garota parece ver algo terrível, algo que somente ela consegue enxergar. A menina deixa a casa pela porta da frente e corre para o meio da rua do que parece ser um típico bairro americano de classe média, algo no fim do quarteirão a deixa em pânico. Perturbada demais para responder ao pai, que pergunta o que está acontecendo, ela apanha a chave do carro e parte. Agora está anoitecendo, e enquanto dirige, olha para trás, temerosa de que a Coisa que a apavorou no bairro e que ninguém mais viu esteja no seu encalço. Ela dirige até a uma praia. Em uma cena contundente graças `a solidão envolvida, nós a vemos desolada, sentada nas dunas, com o mar ao fundo, em um ponto deserto, ligando para o pai, pedindo desculpas por todas as vezes em que não o escutou ou não foi uma boa filha. Ela desceu do carro mas o deixou com o motor ligado, de modo a permitir que seus faróis iluminassem aquele trecho da praia. A menina sabe que vai morrer, e precisa se desculpar com a família. Quando olha em direção ao carro, enxerga uma figura misteriosa no banco do motorista. Na manhã seguinte, ela é encontrada morta na praia, as pernas quebradas em uma posição irreal.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O filme então nos apresenta `a protagonista do filme. <i>Jay</i> (<i>Maika Monroe</i>, na performance que provavelmente lhe valerá uma grande carreira no cinema) é uma adolescente aos seus 18, 19 anos. Ela está distraída na piscina, pensativa, quando uma vizinha a chama para assistir a um filme. <i>Jay</i> explica que não pode, pois logo mais encontrará <i>Hugh</i>, um rapaz boa praça por quem está caidinha. O mundo de <i>Jay</i> está para virar de cabeça para baixo, e o diretor sugere o perigo por vir ao mostrá-la observando um esquilo correndo sobre os fios de um poste aproximando-se de um passarinho. Claro que, `aquela altura, <i>Jay</i> nem imagina que seu mundo está para desmoronar. Ela ainda nutre sonhos sobre o primeiro amor, e aos 18, sua vida inteira a aguarda. Ao entrar em casa para se preparar para o cinema, somos apresentados a seus 3 melhores amigos, <i>Paul</i>, a irmã <i>Kelly</i>, e <i>Yara</i>. De frente ao espelho, <i>Jay</i> se veste e se penteia com muito esmero, para parecer linda para o pretendente.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2PhyFuDNqTGBujIgPKLc3i27Xut7vzD5OgRfbyNo5_qXozNAoP01VyFdGyYeudU7DS2boElHLEfxETHwadSCdAvwS291eS7mkAb8Fz8s4HPYjXCHrFSfKoiNjdZstxHmRRTv2blzxcPk/s1600/corrente-do-mail-still-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2PhyFuDNqTGBujIgPKLc3i27Xut7vzD5OgRfbyNo5_qXozNAoP01VyFdGyYeudU7DS2boElHLEfxETHwadSCdAvwS291eS7mkAb8Fz8s4HPYjXCHrFSfKoiNjdZstxHmRRTv2blzxcPk/s400/corrente-do-mail-still-2.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ3fu5gMS3GoOzo0lllfnh3mabpMysWb4p7l_0585zsOLNJ1DRJU8faZv-mXALTwJFQf8FGTa1Y7aTF96haGilbG_lllRQ4OPV3QN5QILgnRVJl6RYVu9eNN2ShHe1h35tjAbdP_Yakp4/s1600/corrente-do-mail-still-3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ3fu5gMS3GoOzo0lllfnh3mabpMysWb4p7l_0585zsOLNJ1DRJU8faZv-mXALTwJFQf8FGTa1Y7aTF96haGilbG_lllRQ4OPV3QN5QILgnRVJl6RYVu9eNN2ShHe1h35tjAbdP_Yakp4/s400/corrente-do-mail-still-3.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">O primeiro encontro é bastante revelador. Na fila para o cinema, eles conversam sobre quem gostariam de ser se lhes fosse dada a oportunidade de trocar lugares. Quando </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hugh</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> aponta para um menininho com os pais e diz que inveja a bênção de se ter toda a vida pela frente, ele revela indiretamente que anda deprimido. De fato, aos 20 e poucos anos, soa esquisito falar com nostalgia sobre o passado. Sentados em seus lugares `a espera do início da sessão, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> diz que agora é sua vez, e pede que o pretendente adivinhe com quem ela trocaria de lugar. Uma moça de pé ao fim da galley chama a atenção de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hugh</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, e ele não hesita em apontar para a garota de amarelo. Ocorre que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> não enxerga ninguém no corredor. Subitamente, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hugh</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> fica lívido, e diz que não se sente bem. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hugh</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> deixam o cinema apressados. Ela não suspeita de nada mais grave que não um mal-estar por parte do namorado. Logo descobrirá a verdade. Mais tarde, eles paqueram `a mesa de uma lanchonete. Nada muito íntimo acontece entre </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hugh</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> naquela primeira noite, mas sem dúvida há atração e a menina parece genuinamente interessada no rapaz. Os primeiros 10 minutos do filme nos mostram o talento do diretor </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">David Robert Mitchell</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> para sustentar atmosfera. "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">It Follows</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" tem como uma de suas forças a fotografia cheia de vida, e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">David Robert Mitchell</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> sabe usar a máximo efeito céus nublados e calçadas espaçosas e diners e cinemas… O filme é uma delícia de se assistir, e mesmo quando pouco acontece, incute tremenda inquietação. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Na manhã seguinte, <i>Jay</i> & <i>Kelly</i> caminham pela calçada do bairro, e ela comenta o primeiro encontro, o estado psicológico depressivo e tenso do rapaz tendo chamado sua atenção. Na segunda noite, <i>Jay</i> & <i>Hugh</i> finalmente ficam íntimos, e fazem amor dentro do carro, no estacionamento de um prédio que parece ser o de uma escola abandonada. Depois da intimidade no banco traseiro, os dois relaxam e conversam. <i>Jay</i> fica de bruços, tocando uma rosa com as pontas dos dedos, falando sobre o quanto o ato significou, quando <i>Hugh</i> chega insuspeito por trás e a bota para dormir com um pano molhado com clorofórmio. Em um primeiro momento, cremos que <i>Hugh</i> se revelará um estuprador ou coisa pior, se é que existe coisa pior, mas não é nada disso. Na verdade, <i>Hugh</i> não quer fazer mal a <i>Jay</i>, porém precisa colocá-la momentaneamente para dormir.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiG-qdGHKcfRjr0CMkKs0kVQtGzPS9AiW4O1qSan76GV21GPE59caWzXyhSlxfSaH5_RLwsyDCO3hGXekeaDexWDNb2RWmWD9rYKlq6M4elEpJ2BRfRJAOc6NXrcqQ88zzw9QXPwZVFGs4/s1600/corrente-do-mail-still-4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiG-qdGHKcfRjr0CMkKs0kVQtGzPS9AiW4O1qSan76GV21GPE59caWzXyhSlxfSaH5_RLwsyDCO3hGXekeaDexWDNb2RWmWD9rYKlq6M4elEpJ2BRfRJAOc6NXrcqQ88zzw9QXPwZVFGs4/s400/corrente-do-mail-still-4.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Quando <i>Jay</i> desperta, ela se vê amarrada a uma cadeira de roda. Inicialmente confusa, ela é consolada por <i>Hugh</i>, que pede para que se acalme e lhe dê a oportunidade de explicar melhor por que a prendeu. Ele pede desculpa e diz que não a machucará. De posse de uma lanterna, <i>Hugh</i> pede toda sua atenção, e começa a explicar: "<i>Essa coisa… Ela vai te seguir. Alguém passou a coisa para mim, e eu a passei para você, no carro. Pode parecer com alguém que conhece ou um estranho. Qualquer pessoa que esteja se aproximando. Pode parecer com quem quer que seja, mas é uma Entidade só. Algumas vezes, penso que a Coisa assume a forma de alguém que você ama apenas para te machucar</i>". Subitamente, <i>Hugh</i> lança um facho de luz ao estacionamento, e diz que já consegue enxergar a Coisa. Ele apanha a cadeira de rodas e coloca <i>Jay</i> na beirada do segundo nível, para que a moça veja a "<i>Entidade</i>" também. <i>Jay</i> não compreende: ela enxerga uma garota aparentemente comum, sem roupas, com um olhar muito vago, caminhando a passos lentos em direção ao prédio. No ouvido de <i>Jay</i>, <i>Hugh</i> suplica "<i>Apenas durma com outra pessoa e passe a praga adiante, que se verá livre. Se a Coisa te pegar e matar antes, então ela volta a me atormentar. Passe a Coisa adiante!</i>". </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A visão daquela garota nua e apática surgindo entre as colunas do segundo piso abandonado avançando lentamente em direção a <i>Jay</i> a deixa mortificada. Ela pergunta o que a garota quer, porém não recebe uma resposta sequer. A Coisa simplesmente caminha em sua direção sem oferecer motivos ou explicações. Não há respostas, apenas a certeza que <i>Jay</i> sente nas entranhas que se a "<i>Entidade</i>" colocar as mãos em seu corpo, causará toda sorte de violência até matá-la. <i>Hugh</i> explica que só está fazendo aquilo para que <i>Jay</i> compreenda que não se trata de um joguinho. A maldição é muito real. Finalmente, quando a menina se encontra a poucos metros de <i>Jay</i>, <i>Hugh</i> apanha a cadeira de rodas e trata de fugir daquela escola abandonada. "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Nunca entre em um lugar com uma saída apenas. A Coisa é muito lenta, mas obstinada</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", ele vai orientando enquanto a empurra.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggezuRbLs7QKDYcCIwBvpYMZMxFLIgB8OCOQkf22KS60IQKfvtRbQKl81QFauiiisN0rfEN-PQ29aEkWtb-KBOQzfQWvgpe0oXvaVy0cb4UhN88XRs9gbhtUxHE6NS7Vo8OPwepsyjY0s/s1600/corrente-do-mail-still-5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggezuRbLs7QKDYcCIwBvpYMZMxFLIgB8OCOQkf22KS60IQKfvtRbQKl81QFauiiisN0rfEN-PQ29aEkWtb-KBOQzfQWvgpe0oXvaVy0cb4UhN88XRs9gbhtUxHE6NS7Vo8OPwepsyjY0s/s400/corrente-do-mail-still-5.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1yXL-qyfes39kZ1rjTghaDQ344_FQPVMGmb3YwlPCRE9pItVWvtZcWVqgqRuViCDr7-IYOGgQkg3DnNEWQgFgWG719WY2EDOCM0igpbqsguagAjlblCvocf6_GnSUR-iKggVQFLa6QhY/s1600/corrente-do-mail-still-6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1yXL-qyfes39kZ1rjTghaDQ344_FQPVMGmb3YwlPCRE9pItVWvtZcWVqgqRuViCDr7-IYOGgQkg3DnNEWQgFgWG719WY2EDOCM0igpbqsguagAjlblCvocf6_GnSUR-iKggVQFLa6QhY/s400/corrente-do-mail-still-6.jpg" width="400" /></a><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Paul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Kelly</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Yara</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> estão se distraindo com um jogo de cartas no alpendre, altas horas da noite, quando </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hugh</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> encosta o carro no meio fio. Ele ajuda </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> a sair, e a deixa largada na calçada, arrancando com o automóvel antes que lhe possam perguntar o que houve. Ao verem-na em estado de choque, evidentemente pensam em estupro. Polícia e paramédicos são chamados. Para a surpresa geral, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> conta que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hugh</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> não lhe fez mal algum, e revela o lance da menina nua que apareceu no estacionamento. Os policiais perguntam se </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> sabe onde ele mora, mas </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hugh</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> costumava dizer que tinha vergonha da própria casa, então </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> jamais lhe perguntou novamente. Ela é levada ao hospital onde passa a noite, mas na manhã seguinte é liberada. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Greg</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> é o garoto vizinho da frente, e ele e a mãe assistiram `a comoção da noite anterior. Através de uma conversa entre a mãe de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Greg</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> e a outra vizinha, aprendemos que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hugh</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> havia premeditado o esquema, pois até a casa onde afirmava morar havia sido alugada por uma temporada, e não havia mais sinal da passagem do rapaz pelo imóvel.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_AyjgqGeVRLxqOe_Dg1zl6kJMqraEGyu5vD4P55Om9v8qNql-MxKEit8zW3IPxBV7W0Y0KAdKEFTl0PvmCE2c_lioPMwMC-1hhrgDgsdiqk_7cIQkJgyjUajeTH6dtTGI2olX24vNfBs/s1600/corrente-do-mail-still-7.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_AyjgqGeVRLxqOe_Dg1zl6kJMqraEGyu5vD4P55Om9v8qNql-MxKEit8zW3IPxBV7W0Y0KAdKEFTl0PvmCE2c_lioPMwMC-1hhrgDgsdiqk_7cIQkJgyjUajeTH6dtTGI2olX24vNfBs/s400/corrente-do-mail-still-7.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdyYitjsHnhkd1ptv9UZaR1lsZpBBXJTIQ8Qzitl_hZjdYl6T7_0jYa6rm73YzdPODW755cP4V-kbwFHbTG2XjxhT6_2sSyIwTdEbtWODo7icrYxP-mCi1lsLKm3eVsjj6WqcM_7nj2l8/s1600/corrente-do-mail-still-8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdyYitjsHnhkd1ptv9UZaR1lsZpBBXJTIQ8Qzitl_hZjdYl6T7_0jYa6rm73YzdPODW755cP4V-kbwFHbTG2XjxhT6_2sSyIwTdEbtWODo7icrYxP-mCi1lsLKm3eVsjj6WqcM_7nj2l8/s400/corrente-do-mail-still-8.jpg" width="400" /></a><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> procura retomar a vida, ainda bastante traumatizada pelos acontecimentos. No colégio, a professora lê um poema para os alunos. Distraída, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> lança o olhar para fora da sala, para o campus muito amplo e cheio de prédios. Ela nota uma velhinha de camisola caminhando pelo gramado sem sequer ser notada pelos demais estudantes. A cena é particularmente enervante, pois curiosamente o poema lido na sala refere-se a Lázaro, aquele que voltou dos mortos. A idosa de camisola avança em direção `a janela, até que, assaltada pela certeza de que se trata da "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Entidade</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> pega os livros e deixa a sala. Nos corredores, a idosa ressurge vagando como um zumbi em direção a </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Ela tenta conversar, mas não há como barganhar com a Coisa. Se você não correr e A Coisa te apanhar, já era.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ela visita <i>Paul</i> & <i>Kelly</i> no trabalho. Os irmãos trabalham em uma sorveteria. Angustiada, <i>Jay</i> fala sobre a visão da Coisa, mas os amigos não conseguem compreender o encontro aterrorizante. <i>Paul</i> a convida a passar a noite em casa, e <i>Jay</i> acha uma excelente ideia. Eles deixarão todas as portas trancadas e permanecerão de vigília caso algum visitante surja. <i>Yara</i> também aparece para dormir com o grupo. Na sala de estar, <i>Paul</i> dá início `a vigília. Comendo de um balde de pipocas, ele se acomoda no sofá para assistir a um filme e suportar a madrugada. Em determinado momento da noite, <i>Jay</i> desce as escadas queixando-se de insônia. <i>Paul</i> a convida a se sentar no sofá. Os dois trocam lembranças de quando eram menores. A conversa dá a entender que quando mais novos, <i>Paul</i> fora apaixonado por <i>Jay</i>.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtCZuOwIf0SsccXCjm3B_3X-phnNG7zEwWLdvvwc-KVTfPydHZb10TFVyzxhd6TBEGTXPBmoJB1oetrOviXcPTFklgPgd_h65U6PhvqRBZ74JsAU6der5LSmKqpme-tjhTcU1nHKh7jA8/s1600/corrente-do-mail-still-9.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="437" data-original-width="983" height="177" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtCZuOwIf0SsccXCjm3B_3X-phnNG7zEwWLdvvwc-KVTfPydHZb10TFVyzxhd6TBEGTXPBmoJB1oetrOviXcPTFklgPgd_h65U6PhvqRBZ74JsAU6der5LSmKqpme-tjhTcU1nHKh7jA8/s400/corrente-do-mail-still-9.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEju1Peb3ZrVzjSvyOpclMzupG1nx5YvhypbvFeWVmQYvgYAN-Oh2apnLUd5O2Dgg8f74PYK9b5FfuMNFiK-fe8y3I5PBBVjo8lsxnYsDLe7oKdvLQoZNJRM2wPpqBqkt_LxtITule0IoIM/s1600/corrente-do-mail-still-10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEju1Peb3ZrVzjSvyOpclMzupG1nx5YvhypbvFeWVmQYvgYAN-Oh2apnLUd5O2Dgg8f74PYK9b5FfuMNFiK-fe8y3I5PBBVjo8lsxnYsDLe7oKdvLQoZNJRM2wPpqBqkt_LxtITule0IoIM/s400/corrente-do-mail-still-10.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Barulho de vidro quebrado deixa ambos sobressaltados. Ao investigar, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Paul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> encontra a janela da cozinha quebrada, como se alguém tivesse atirado uma pedra do lado de fora e então sumido. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Paul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> a deixa momentaneamente para chamar a irmã </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Kelly</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Sozinha, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> resolve espiar a cozinha, e o que encontra é uma visão de arrepiar. No início, ela observa apenas a silhueta de uma garota ordinária, mas ao se aproximar a invasora se revela melhor. Ela veste apenas saia e meia, a meia em apenas um dos pés, e não tem os dentes da frente. A invasora aproxima-se com um olhar vago, e enquanto caminha, vai deixando o rastro de urina entre as pernas. Uma cena realmente perturbadora e surreal. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> sobe as escadas quase tropeçando nas próprias pernas tamanho o medo. Ela se tranca em um dos quartos até que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Paul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Kelly</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> batem `a porta. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Paul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Kelly</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> vasculharam a casa, não encontraram sinal de coisa alguma, o que não é de se espantar, afinal a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Entidade</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" aparece apenas para as pessoas tocadas pela maldição. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> chora e diz que há algo de errado em sua vida. Quando eles escutam uma batida seguida por uma voz feminina, relutam em abrir, mas descobrem se tratar de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Yara</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Repentinamente, logo atrás de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Yara</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> enxerga um homem muito alto e magro, praticamente um gigante, ganhando o corredor a passos rápidos para buscá-la. A "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Entidade</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" assume formas cada vez mais agressivas em bizarrice. Ela salta pela janela aos gritos e foge, para o choque dos amigos, que nada conseguem ver.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">`Aquelas horas, <i>Greg</i> está namorando fora de casa, dentro do automóvel de uma garota, ambos fumando cigarros e relaxando. Ele vê quando <i>Jay</i> salta pela janela, monta na bicicleta e foge. <i>Jay</i> nem sabe para onde ir, mas acaba parando no parquinho. Ela se senta no balanço, e espera que a "<i>Entidade</i>' venha logo pegá-la. A Coisa não surge, mas a turma não custa a aparecer. Até então ignorante quanto ao drama na vida de <i>Jay</i>, <i>Greg</i> também se junta ao grupo no parquinho, e aprende sobre o que está se sucedendo. <i>Jay</i> crê que somente encontrará as respostas quando rastrear <i>Hugh</i>. O ex-namorado lhe deve explicações. <i>Greg</i> chama os demais para entrar no carro, e eles partem pela madrugada com a missão de encontrar o velho endereço do <i>Hugh</i>. Aqui, assim como em tantos outros distintos momentos de "<i>It Follows</i>", as estrelas são trilha sonora & fotografia. A melodia muito enervante apenas realça as imagens das vias bem largas e calçadas vazias do centro de Detroit, no curso da madrugada. Há muito tempo desde que vi a "<i>w Delta z</i>" não assistia a algo tão propriamente atmosférico.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Hugh</i> não morava na residência indicada conforme se acreditava, apenas a alugara enquanto não resolvia a questão da "<i>Entidade</i>", ou melhor, enquanto não passava a maldição para outra pessoa e "<i>tirava o dele da reta</i>". O interior revela a paranóia com que esse cara teve de conviver enquanto lidou com o assédio da Coisa, tendo pendurado garrafinhas como apanhadores de sonhos, de modo a acusar qualquer movimentação dentro da residência pelo tilintar das latas. No andar de cima, <i>Paul</i> encontra sob o colchão várias revistas de mulheres peladas. As capas sugerem revistas dos anos 80, talvez 1988, 1989, mas jamais temos certeza. Entre as páginas de uma daquelas edições, <i>Paul</i> encontra a foto de "<i>Hugh</i>" com uma moça. Se prestarmos atenção, perceberemos que a menina da foto é a mesma que vimos no início do filme, a garota que fugiu para a praia e ali foi morta pela "<i>Entidade</i>". Parece seguro afirmar que ela foi o "<i>Paciente Zero</i>", tendo passado o mesmo trágico destino para o namorado, "<i>Hugh</i>". Quando <i>Jay</i> e os amigos pedem informações na coordenação e solicitam os livros com as fotos dos formandos dos últimos anos, encontram uma foto do rapaz, e, pasmem, "<i>Hugh</i>" na verdade é um cara chamado "<i>Jeff</i>". Até mesmo quanto ao nome ele mentiu, para se aproximar de <i>Jay</i> sem levantar suspeitas e conseguir sua confiança, de modo a passar a maldição para a frente e desaparecer facilmente.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPb2Q4YzL7GFuyQdQt6O0jFQTgVb0rucaO80nNGpjd-R5CFvem49EKcZke2ZwBB8ngG3dZYVfyorUTR7iDv5VhYARsq-Aa6dlQ63tlmiGQTzighuYP9vjbn3uaCJzi3WKMX69unQMV4mk/s1600/corrente-do-mail-still-11.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPb2Q4YzL7GFuyQdQt6O0jFQTgVb0rucaO80nNGpjd-R5CFvem49EKcZke2ZwBB8ngG3dZYVfyorUTR7iDv5VhYARsq-Aa6dlQ63tlmiGQTzighuYP9vjbn3uaCJzi3WKMX69unQMV4mk/s400/corrente-do-mail-still-11.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQ_2TorovsfBsGxFf6zqWtYVw294ziWCs_LzVOTs9gVludIU5mu_Zv4HWlq9q6GQFLK-ftsDmQ21dVuOVMRdsirL8bpaGuAdjmZK8c7XSOsb_2a6JDrGXpBNdW80RxFthzxSWetzv_M7E/s1600/corrente-do-mail-still-12.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQ_2TorovsfBsGxFf6zqWtYVw294ziWCs_LzVOTs9gVludIU5mu_Zv4HWlq9q6GQFLK-ftsDmQ21dVuOVMRdsirL8bpaGuAdjmZK8c7XSOsb_2a6JDrGXpBNdW80RxFthzxSWetzv_M7E/s400/corrente-do-mail-still-12.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Agora que a turma tem o verdadeiro nome do rapaz, eles partem para prestar uma visita a </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jeff</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Dentro do carro, há um momento em que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Greg</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> toca </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> no ombro de uma maneira carinhosa. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Paul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> parece incomodado, uma pequena prova de seus verdadeiros sentimentos por </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Eles são recebidos pela mãe do </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jeff</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. O rapaz aceita conversar, e eles se sentam no gramado para que o rapaz explique melhor a natureza do mistério. Assim como </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, ele não sabe por quê ou onde o lance da maldição começou. Ele apenas "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">ganhou a Entidade de presente</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" da garota e passou adiante. Apesar de a Coisa ter deixado de persegui-lo, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jeff</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> ainda consegue vê-la ocasionalmente. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Greg</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> hesita em acreditar. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jeff</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> se desculpa para </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, e diz que sua intenção jamais fora machucá-la. Mesmo hoje, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jeff</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> ainda lida com o trauma da situação. Quando uma moça atravessa o gramado segurando uma bola de basquete a caminho da quadra, ele aponta para a menina e pergunta se a turma a enxerga também. Claro que eles a veem, não se trata da Entidade… Ainda.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLVUSnArOc_f5YzYUp4_jXWMSGfC2GRQKnhHcLJFu5lRfO9-cWftIpPYGolEEG4xQKynl3DzcO5xMTjP2pH05s5gEgkO9RDVQO22rJ6Y-vY6MEaLoVpI3obmZD1KhEO-EZLhxfA1D_2C8/s1600/corrente-do-mail-still-13.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLVUSnArOc_f5YzYUp4_jXWMSGfC2GRQKnhHcLJFu5lRfO9-cWftIpPYGolEEG4xQKynl3DzcO5xMTjP2pH05s5gEgkO9RDVQO22rJ6Y-vY6MEaLoVpI3obmZD1KhEO-EZLhxfA1D_2C8/s400/corrente-do-mail-still-13.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">A família de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Greg</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> tem uma bela cabine na praia, e o garoto sugere que passem uma noite no lugar, pois oferece a privacidade para que discutam o plano para vencer a maldição. É noite, e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> parece entristecida e calada, nos braços da amiga no banco detrás. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Kelly</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> pergunta se </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> não pensa em passar a maldição adiante para se livrar, mas a menina nada diz. Eles preparam a casa para que acuse qualquer intromissão, pendurando latinhas nas portas e janelas. Na primeira noite, nada acontece, e conseguem dormir em paz. Na manhã seguinte, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Greg</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> pega a arma de fogo da família para ensinar </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> a atirar. Eles praticam tiro com latas velhas. Sentados `a beira do mar, eles espairecem tomando latinhas de cerveja, quando o aterrorizante poltergeist acusa presença, puxando os cabelos de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Para os amigos, é como se uma força invisível a estivesse suspendendo no ar pelo cabelo. Pela primeira vez, o fenômeno interagirá com o restante da turma, pois quando </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Paul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> tenta acertar o poltergeist com uma cadeira, é atingido por um coice que o faz voar longe.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRNZwUegfKurKe1YHhwUtogrsjO9XvvwJTzXFmiMxOMx_lt38YbiUqKcUWdPk-smJG9v7J-lYEjPOWpy5xDHGZwRg-RIFBxttcnyWNOVRw8YciVH9fOxFKh-looWT3Ioy07KoebtiUslQ/s1600/corrente-do-mail-still-14.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRNZwUegfKurKe1YHhwUtogrsjO9XvvwJTzXFmiMxOMx_lt38YbiUqKcUWdPk-smJG9v7J-lYEjPOWpy5xDHGZwRg-RIFBxttcnyWNOVRw8YciVH9fOxFKh-looWT3Ioy07KoebtiUslQ/s400/corrente-do-mail-still-14.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxKCmKiA6rH_CiY4V7YFOMFxlS36JRfzN-MGZQS5RK0nWsbQ7rFE8Yx_lzgl8q0Yikk6XZ0OlASDIolURxNWQ2iTnIeKv8AxHhbtMN0t6gsHvRSQzcviIe4Hxz08NSyaeOWw2MBxtIXCg/s1600/corrente-do-mail-still-15.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxKCmKiA6rH_CiY4V7YFOMFxlS36JRfzN-MGZQS5RK0nWsbQ7rFE8Yx_lzgl8q0Yikk6XZ0OlASDIolURxNWQ2iTnIeKv8AxHhbtMN0t6gsHvRSQzcviIe4Hxz08NSyaeOWw2MBxtIXCg/s400/corrente-do-mail-still-15.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">As meninas e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Paul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> correm da "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Entidade</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Greg</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, que havia ficado para trás, parte no encalço da turma. Eles se refugiam dentro da casa dos barcos, e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> apanha o revólver. Ela afasta a porta da casa e abre fogo contra a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Entidade</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". A menina parece ser atingida no pescoço e vai ao chão, mas logo se levanta, como se nada tivesse acontecido, avançando com aquele mesmo olhar indiferente e aterrorizante. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> e a turma se trancam, e pela janelinha, a garota vê quando um gigante passa momentaneamente ao lado: a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Entidade</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" já mudou de forma, antes a menina, agora o gigante magrelo que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> encontrou previamente dentro da casa de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Paul</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Kelly</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. A porta é arrebentada a golpes invisíveis, e quem enfia a cabeça para dentro é um moleque com dentes enormes, outra novidade do "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">canivete suíço</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" de imagens bizarras da "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Entidade</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> foge pelo outro lado, e de posse da chave, arranca com o carro. Tão aterrorizada em sua fuga pela estrada da praia, não percebe que uma camioneta está dando a ré. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> desvia no último segundo, o carro é lançado em um milharal, e ela desmaia</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-LhaNjwaL2JrsmjAEQ3Kel4-bqQGv4T7_Se4vzXWlPjTK6m8f5-JRa5_7JA2UfQCDggNxakPa6_TaBXZDk7dKALZsL4fVQgTwEITJiwI1DcjjhmGf0-x4mD2RDp_nwYOH-bSMVDVOrRo/s1600/corrente-do-mail-still-16.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-LhaNjwaL2JrsmjAEQ3Kel4-bqQGv4T7_Se4vzXWlPjTK6m8f5-JRa5_7JA2UfQCDggNxakPa6_TaBXZDk7dKALZsL4fVQgTwEITJiwI1DcjjhmGf0-x4mD2RDp_nwYOH-bSMVDVOrRo/s400/corrente-do-mail-still-16.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi34T5RB7WDmSXSWd8-kZH1Y1RajdArXPYg5uubi0981JT1f9VE7lDmD1cFIB8mTFVS__0ggHdUvDPE20mfsd5jSQt2poYisBW8p-GHwbLYoKRgJret9ekiW9dY9oZvXo9_K4bep6XBh7k/s1600/corrente-do-mail-still-17.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi34T5RB7WDmSXSWd8-kZH1Y1RajdArXPYg5uubi0981JT1f9VE7lDmD1cFIB8mTFVS__0ggHdUvDPE20mfsd5jSQt2poYisBW8p-GHwbLYoKRgJret9ekiW9dY9oZvXo9_K4bep6XBh7k/s400/corrente-do-mail-still-17.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Jay</i> sofreu algumas concussões. Quando desperta, vê-se no hospital cercada pelos amigos. Ao escutar passos no corredor, se sobressalta, imaginando tratar-se da Coisa. Apenas uma enfermeira. A vida de <i>Jay</i> está perfilada de medo. Naquela mesma noite, <i>Greg</i> a visita e os dois se trancam. Eles mantêm relações sexuais, <i>Jay</i> supostamente se livrando da maldição e a passando ao rapaz, que desde o início não acreditou muito na história e se dispôs a dar esse passo para ajudá-la. <i>Greg</i> volta `a vida normal, e o vemos interagindo normalmente com as meninas da escola. 3 dias se passam, e quando <i>Greg</i> a visita no hospital, conta que até agora nada o tem perseguido. Ele crê que a maldição finalmente foi posta para descansar. <i>Jay</i> tem uma manhã normal na piscina, e dentro de casa nada incomum acontece. <i>Greg</i> visita a turma, e novamente diz que até agora, passados poucos dias, o fenômeno ainda não se manifestou.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2ZJ9CjhPuaRclobagseyyeM-0_v3D3IwYX99mdh0yw8VTJSLy8YfjgIkhVDa7fxQjt7lgEsQAV70j_FGMO3q3lGpK30iMJ0Dxtbd1YqBA09qj6KKNt6mjc5R_iTbU5H2oSMFlFnAe9fY/s1600/corrente-do-mail-still-18.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2ZJ9CjhPuaRclobagseyyeM-0_v3D3IwYX99mdh0yw8VTJSLy8YfjgIkhVDa7fxQjt7lgEsQAV70j_FGMO3q3lGpK30iMJ0Dxtbd1YqBA09qj6KKNt6mjc5R_iTbU5H2oSMFlFnAe9fY/s400/corrente-do-mail-still-18.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0ck0QrHesQdRI1n-qc8iGN4acJ8idG_kkd1QB8qOJTqWFGuDtANcOppBQfM6pe3RkJjyzufwyMaJCkd2Ta4SmqYEdoqiAQASVstGNA8D8Js64oBlnwhnPClV1_02koviV5NtjsAvtJjc/s1600/corrente-do-mail-still-19.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1280" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0ck0QrHesQdRI1n-qc8iGN4acJ8idG_kkd1QB8qOJTqWFGuDtANcOppBQfM6pe3RkJjyzufwyMaJCkd2Ta4SmqYEdoqiAQASVstGNA8D8Js64oBlnwhnPClV1_02koviV5NtjsAvtJjc/s400/corrente-do-mail-still-19.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">`A noite, contemplativa `a janela, <i>Jay</i> se distrai observando a <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">tranquilidade </span>no quarteirão, quando sorri ao enxergar <i>Greg</i> aparentemente realizando uma caminhada noturna pelas calçadas. Quando "<i>Greg</i>" bate `a porta e depois arremessa uma pedra contra a janela para entrar "<i>na marra</i>", ela percebe que não se trata do rapaz, mas da Coisa, que assumiu a forma do próprio. Em vão, <i>Jay</i> tenta <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">avisá-lo</span>, a ligação caindo na caixa postal. Desesperada para avisar o amigo, ela atravessa a rua e entra na casa para tentar chegar a tempo. Na melhor, mais memorável cena do filme, ela dá de cara com a mãe de <i>Greg</i>, a forma assumida pela "<i>Entidade</i>", batendo `a porta do filho. O rapaz abre a porta, insuspeito, e encontra a mãe ali na sua frente, com um olhar incompreensível, a camisola aberta de forma a revelar parte de um dos seios. Ele não tem tempo de processar o que está acontecendo, pois a "<i>Entidade</i>" salta sobre o rapaz e o domina com facilidade. No corredor, muito chocada, <i>Jay</i> custa a reagir. Da porta aberta, clarões semelhantes a eletricidade emanam de dentro do quarto. Ao vencer a surpresa e se aproximar para ver o que houve, <i>Jay</i> enxerga a "<i>mãe</i>" de <i>Greg</i> montada sobre o corpo do rapaz desacordado, como que o violando sexualmente. A cena é filmada como um encontro romântico e sensual, mas quando a câmera se aproxima e mostra a forma como ela segura o seu braço, entre uma porção de detalhes sórdidos, fica claro que a "<i>Entidade</i>" está consumindo a vítima. O poltergeist não apenas drena a vida de seus portadores, ele os mata da forma mais cruel possível. Ao assumir a forma da mãe para atacá-lo e possui-lo sexualmente, a Coisa parece fazê-lo apenas para adicionar injúria `a ferida, tornando a experiência ainda mais emocionalmente dolorosa. A cena em que <i>Greg</i> é abusado sexualmente e consumido não me pareceu estranha, até que eu finalmente me lembrei de um filme amedrontador que assisti quando criança, "<i>A Casa das Almas Perdidas</i>", a história verídica de uma família americana perseguida implacavelmente por fenômenos parecidos. Há uma cena em que o pai está assistindo `a televisão na sala de estar, na calada da noite, quando o fenômeno subitamente se materializa como uma mulher e o assalta, "<i>montando</i>" sobre seu corpo para estuprá-lo. P</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ela dinâmica do ataque e o uso de luz que emana como ondas, a</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> forma como <i>David Robert Mitchell</i> filma a morte de <i>Greg</i> remete `a cena de "<i>A Casa das Almas Perdidas</i>". O "<i>estupro</i>" de "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">It Follows</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", no entanto, vai mais além, direto na jugular, pois realça a brutalidade com um corrompido senso de erotismo.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Jay</i> foge no carro, e ainda consegue enxergar a Coisa deixando a casa, caminhando para o meio da rua. Agora que <i>Greg</i> está morto, ela voltou `a estaca zero. Acolhida pelas amigas <i>Kelly</i> & <i>Yara</i>, <i>Jay</i> é acordada na manhã seguinte por batidas na porta. Ela e <i>Paul</i> têm uma conversa privada, quando o rapaz fala sobre seus sentimentos. Ele sempre fora apaixonado por <i>Jay</i>. Ao olhar casualmente a uma foto da garota na piscina do ginásio, ele tem uma ideia. Agora que nada mais tem a perder, todas as sugestões são bem vindas por <i>Jay</i>. A turma preparará a piscina do ginásio abandonado para "<i>eletrocutar</i>" o poltergeist. A ideia faz sentido: <i>Jay</i> deve atrair o fenômeno para dentro da piscina. Os amigos estarão presente. Ela deve subir as escadas a tempo, deixando a piscina o mais rápido possível, quando a turma arremessará uma variedade de eletrodomésticos ligados `as tomadas dentro d'água, criando o curto circuito que supostamente colocará um ponto final `a maldição. Quando deixa a casa para se preparar para invadir o ginásio com os amigos, <i>Jay</i> ainda enxerga, sobre o telhado, um homem nu a encarando.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Eles preparam a piscina para a guerra, os eletrodomésticos - luminárias, televisores, abajur - na borda, prontos para serem arremessados para dentro. <i>Jay</i> veste um maiô preto e mergulha na piscina, enquanto os amigos ficam `a espreita, só aguardando que a Coisa dê as caras. O fenômeno toma a forma ideal para abalar a garota, aparecendo como seu falecido pai. Os amigos nada enxergam, todavia quando a Coisa começa a erguer as luminárias e coisas para atirar em <i>Jay</i>, a turma fica <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">boquiaberta</span> ao enxergar todos aqueles itens "<i>flutuando</i>" no ar. <i>Paul</i> pega o revólver dentro da mochila, e grita para que <i>Jay</i> aponte para onde enxerga a "<i>Entidade</i>". Ela precisa mergulhar para escapar das coisas atiradas pelo poltergeist. <i>Kelly</i> arremessa um lençol que acaba por acusar a silhueta da Coisa. <i>Paul</i> faz mira e atira certeiro. A "<i>Entidade</i>" cai dentro da piscina, mas antes que <i>Jay</i> salte para fora, consegue segurar a garota pelo pé. Atingida por mais um tiro, a Coisa a deixa escapar, e <i>Jay</i> é puxada para a segurança da beirada.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A turma parece ter momentaneamente derrotado a "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Entidade</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", mas não se sabe se voltará. <i>Paul</i> & <i>Jay</i> fazem amor, o garoto disposto a trazer a maldição para si de modo a livrá-la em definitivo. O problema com <i>Greg</i> fora que apesar de ter "<i>assumido a bronca</i>", ele não fora diligente, e ao se deixar ser morto, a Coisa voltou a atormentar a menina. <i>Paul</i> será mais cuidadoso. Depois da relação, eles conversam no sossego do quarto, enquanto chove muito do lado de fora. Ao voltar para casa, <i>Paul</i> observa duas meninas ao passar com o automóvel pela esquina, e podemos até imaginar o que se passa em sua cabeça, certamente considerando se se tratam de duas garotas ou a Coisa tomando forma. </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Paul</i> & <i>Jay</i> se envolvem romanticamente e se tornam namorados. É a manhã de um novo dia, e embora passeiem de mãos dadas e com expressões aliviadas, bem atrás e distante na calçada, pode-se enxergar a figura de um rapaz acompanhando o casal. Pode ser um menino da vizinhança apenas passeando pelo bairro, ou a "<i>Entidade</i>". O que há de tão horrível na maldição é que nunca se sabe...</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Apenas muito raramente testemunhamos o surgimento de talentos fora de série em filmes que realmente fazem a diferença e reinventam estilos, e que mesmo lançados independentemente, merecem tantos elogios que acabam por vencer suas limitações para se tornarem blockbusters. Eu poderia citar muitos exemplos mas nada seria mais emblemático do que mencionar o clássico com que "<i>It Follows</i>" guarda impressionantes semelhanças, "<i>Halloween</i>", de <i>John Carpenter</i>. Antes que "<i>It Follows</i>" merecesse elogios da crítica especializada, foi o pequeno suspense de <i>John Carpenter</i> rodado em 1978 a um custo simbólico que estabeleceu as fundações para que quase quarenta anos mais tarde o cineasta <i>David Robert Mitchell</i> revisitasse o formato para criar seu próprio clássico "<i>It Follows</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Quando um jovem cineasta resolve fazer um filme fazendo referência aos clássicos do passado, o resultado varia pela imprevisibilidade. Enquanto <i>James Wan</i>, o magistral diretor de "<i>Invocação do Mal</i>", conseguiu conciliar seu estilo e personalidade com o apelo de público, produzindo dividendos impressionantes nas bilheterias, outros diretores, como <i>Rob Zombie</i> & <i>Ti West</i>, têm encontrado muitas dificuldades para traduzir seus excitantes pontos de vista em dividendos financeiros. Embora talentosíssimos mestres do Horror, <i>Rob Zombie</i> & <i>Ti West</i> ainda procuram refinar seus olhares de modo a conseguir alcançar o tipo de sucesso que lhes daria carta branca para que rodassem coisas ainda mais grandiosas e excitantes. Levando-se em conta o retorno financeiro baseado exclusivamente nos elogios ao pé do ouvido e burburinho causado pela passagem nos festivais, parece-me que o diretor <i>David Robert Mitchell</i> não apenas criou algo diferente e encantador, sua visão também foi generosamente abraçada pelo grande público, que há muito não via algo semelhante. Depois do sucesso de "<i>It Follows</i>", resta esperar e ver se ele conseguirá fazer a mesma transição de <i>James Wan</i>, de filmes pessoais para grandes blockbusters dotados de personalidade.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Sempre me pareceu que há uma maneira certa para se assistir a um excitante filme de Horror. Se existe algo que mereça ser visto no escurinho do quarto, preferencialmente com o sossego que somente se encontra às horas mais adiantadas da noite, vocês não precisam procurar mais, "<i>It Follows</i>" é sua pedida. Assistir ao filme os levará de volta a um tempo em que o gênero valorizava atmosfera pelo minimalismo, e dependia de muito pouco para dar o recado. São muitas as maneiras com que "<i>It Follows</i>" & "<i>Halloween</i>" se parecem, mas discorrer somente sobre suas semelhanças poderia estigmatizá-lo como uma "<i>sessão nostalgia</i>", um equívoco, pois apesar de acenar para os clássicos que vieram anteriormente, dá uma polida e aperfeiçoa os elementos que nos fizeram amá-los, os clássicos, em primeiro lugar. Não se pode falar sobre "<i>It Follows</i>", todavia, sem revisitar o suspense de <i>Carpenter</i>, e refrescar a memória para que nos lembremos de todas as coisas de "<i>Halloween</i>" que deixaram saudade.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh70hJq73_-efDAKpYXkxjcfh56bvALgIjqhyZ4LzgOv5kB54dXRRvjZjkd8nmbMu_1y-_ouzh1PyQN_AYdiTjSkSeB9g1WbkUFV3AXfDxAEztCeenzMb9R88YRLszlrelPp1cFOup71gY/s1600/Halloween-Feature.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="710" data-original-width="1200" height="189" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh70hJq73_-efDAKpYXkxjcfh56bvALgIjqhyZ4LzgOv5kB54dXRRvjZjkd8nmbMu_1y-_ouzh1PyQN_AYdiTjSkSeB9g1WbkUFV3AXfDxAEztCeenzMb9R88YRLszlrelPp1cFOup71gY/s320/Halloween-Feature.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">No filme de <i>Carpenter</i>, um menino de 6 anos esfaqueia e mata a irmã mais velha, no Dia das Bruxas do ano de 1963. 15 anos mais tarde, ele escapa do hospital psiquiátrico e volta para a cidadezinha de Haddonfield. O filme se passa no curso de uma noite, o Dia das Bruxas, quando o assassino aterroriza uma jovem chamada <i>Laurie</i> (<i>Jamie Lee Curtis</i>) e suas amigas, enquanto o psiquiatra Dr. <i>Loomis</i> (<i>Donald Pleasence</i>), o homem que mais conhece sua mente perturbada, corre contra o tempo para impedir que ele deixe um novo rastro de matanças. Sucesso absoluto de bilheteria, tendo rendido ao estúdio 70 milhões de dólares frente a um custo de apenas 300 mil, "<i>Halloween</i>" deu origem a uma infinidade de imitações e transformou a atriz <i>Jamie Lee Curtis</i> em estrela. Lançado ao cruel teste do tempo, "<i>Halloween</i>" provou-se um vencedor mesmo tantas décadas desde sua estreia, sendo considerado pelo Chicago Film Critics Association o 3˚ filme mais apavorante de todos os tempos. Após tantas continuações, é fácil incorrer no pecado de desmerecê-lo, contudo quem estiver disposto a revisitar o primeiro, o original, de 1978, estará se permitindo redescobrir um dos suspenses mais tensos e originais de todos os tempos. </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Aqueles que guardam uma recordação mais cristalina do filme de <i>John Carpenter</i> provavelmente compreenderão a minha análise melhor. Se os amigos não se lembram do primeiro, antes de assistirem a "<i>It Follows</i>", não deixem de conferir o suspense de <i>John Carpenter</i>. Acreditem, mesmo diferentes, os dois filmes parecem obra de uma mesma mente!</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Não obstante as pessoas amarem-no ("<i>It Follows</i>") pelas mais diferentes razões, uma constante nas análises que tenho lido refere-se ao sentimento de nostalgia que o diretor <i>David Robert Mitchell</i> impõe a seu filme. Amantes do gênero Horror que tenham uma certa idade conseguirão enxergar melhor os elementos com que <i>Mitchell</i> comunica o saudosismo que permeia a história do começo ao fim. A trilha sonora de uma obra pode ser considerada sua alma, prova disso o fato de nos lembrarmos imediatamente de nossos filmes mais queridos pelas suas melodias, por exemplo as tristíssimas trilhas sonoras compostas por Ennio Morricone para "<i>Nuovo Cinema Paradiso</i>" & "<i>Malena</i>"& "<i>Lolita</i>"& "<i>Love Affair</i>". Em uma época em que trilhas sonoras soavam exclusivamente orquestrais, <i>Carpenter</i> criou um novo estilo através do uso de teclados e sintetizadores eletrônicos com batidas lentas e ritmadas, o que revestiu suas histórias de um senso de angústia e inexorabilidade quase claustrofóbico. Como sei que não conseguiria explicar as diferentes emoções que a trilha sonora evoca, eis um trecho da tétrica melodia composta pelo próprio <i>Carpenter</i>:</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/nqSGQg2hV9k/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/nqSGQg2hV9k?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;"><i style="background-color: #cccccc;">Todos os direitos autorais reservados a Varese Sarabande. O uso da faixa é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i></span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"<i>It Follows</i>" não perde tempo ao apresentar logo de cara um estilo de trilha fortemente influenciado pelos teclados e sintetizadores, assinada por <i>Rich Vreeland</i>. O compositor parece ter expandido o potencial da revolução de <i>Carpenter</i>. Não obstante a melodia de "<i>Halloween</i>" possa soar como música de uma nota só, principalmente quando esticada ao longo do filme, <i>Vreeland</i> cria um conjunto de derivadas enriquecedoras. Ora triste, ora arrepiante, a música de <i>Vreeland</i> expande o leque de emoções, até porque composta quase 40 anos após o filme de <i>Carpenter</i> e portanto com muito mais recursos. "<i>It Follows</i>" está permeado de melodias marcantes e contundentes, em grande parte diretamente responsáveis pela expectativa dos momentos mais calmos e contemplativos, e pelo Horror absoluto que emana dos encontros de <i>Jay</i> com a "<i>Entidade</i>". Abaixo, segue um trecho da trilha sonora. Os amigos certamente poderão perceber as semelhanças entre as batidas:</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/pyACdmYe-4A/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/pyACdmYe-4A?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;"><i style="background-color: #cccccc;">Todos os direitos autorais reservados a Milan Records. O uso da faixa é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i></span></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O metabolismo dos dois filmes também coincide em termos de ritmo de desenvolvimento. Apesar de tétricos e angustiantes, nenhum dos dois ficou notório por ação absoluta ou ininterrupta. Ao contrário, as pessoas que não os apreciam costumam rotulá-los de chatos justamente por lhes faltar a característica da montagem cinética tão apropriada a épicos grandiosos de super-heróis, por exemplo. Quando disse que "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">It Follows</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" mais agradará as pessoas mais velhas que portanto tiveram a oportunidade de assistir a coisas como "<i>Halloween</i>" em VHS, é porque o diretor <i>David Robert Mitchell</i> corteja a todo instante referências a uma época em que suspenses sabiam como muito sutilmente incutir medo, genuíno medo, com pouquíssimos, simplistas e eficientes recursos.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Não há nada mais horripilante que a ideia de um monstro que avança em sua direção implacavelmente, sem pressa alguma para colocar as mãos sobre você. Pessoas guardam distintas recordações do primeiro "<i>Halloween</i>", mas quando eu o vi pela primeira vez, quando criança, me recordo que o elemento que permaneceria na minha cabeça anos por vir foi a imagem de seu monstro, o psicopata de máscara branca avançando em direção `a protagonista com a tranquilidade que sequer lhe permitia correr. Ele caminhava calma e obstinadamente, e por mais que o cobrissem de tiros, seguia marchando, como imagens de um pesadelo absolvido de lógica. Há algo de bastante inquietante na maneira como <i>Carpenter</i> apresenta o seu "<i>monstro</i>", um senso de inevitabilidade angustiante que somado `a trilha composta pelo próprio diretor nos faz continuar pensando no filme muito tempo depois de o termos visto. Em "<i>It Follows</i>", a aproximação vagarosa da "<i>Entidade</i>" transforma a espera em uma angustiante e prolongada perseguição que dura do começo ao fim. O fato de a Coisa não correr para alcançar sua presa apenas reforça a tese de que uma vez que você foi tocado pela maldição, não adianta correr ou espernear, querendo ou não, trata-se de uma questão de tempo até que sucumba a seus mistérios. Não apenas a marcha dos dois monstros se assemelham, ambos matam desprovidos de quaisquer emoções ou motivações, máquinas de matar indiferentes a tentativas de barganha, tão despolitizadas quanto um vírus (mais sobre minha comparação depois).</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOxa298rtr-SP3d2Kqe-70u1KS3foYn8V2kY_x0xEyhDGmqrJN-MqvMM1qkKoq1WnhYY3yTNVMAG3Qs8QMl6WjORhpLCXdzkZQZZHuEU4jt-bWgwQcK7osNaEwXx3B7951gZ7GTX52XHk/s1600/corrente-do-mail-still-20.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="387" data-original-width="923" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOxa298rtr-SP3d2Kqe-70u1KS3foYn8V2kY_x0xEyhDGmqrJN-MqvMM1qkKoq1WnhYY3yTNVMAG3Qs8QMl6WjORhpLCXdzkZQZZHuEU4jt-bWgwQcK7osNaEwXx3B7951gZ7GTX52XHk/s400/corrente-do-mail-still-20.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">A maneira como o Mal é representado pode determinar de cara se você terá ou não um filme instigante. As produções maiores dão um tiro no pé ao retratar o Mal da maneira mais extravagante possível, cortesia dos efeitos especiais de ponta. Esquecem-se de coisas marcantes como por exemplo a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Sadako</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Ringu</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". Tudo de que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hideo Nakata</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> precisa para incutir puro medo é de uma voz ao telefone e uma menininha cujos cabelos compridos sempre cobrem a frente do rosto. Também parecem não ter aprendido a lição do mestre </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Clive Barker</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> com seus cenobitas em "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hellraiser</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", os seres misteriosos charmosos pela enorme melancolia, vestidos em surreais trajes fetichistas de couro, estilo sadomasoquista "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">bondage</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">David Robert Mitchell</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> não apenas homenageou os clássicos do passado como provou seu amor pelos mestres que vieram anteriormente, dando `a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Entidade</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" um ar de mistério que cria imagens verdadeiramente macabras em suas peculiaridades. O coração quase vai `a boca de susto em cenas como quando </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> vê a moça desdentada urinando na saia dentro da cozinha, ou quando </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Greg</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> abre a porta para a macabra imagem da mãe, de camisola, com um olhar ilegível, na verdade mais uma das muitas formas assumidas pela "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Coisa</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". O diretor não precisou de efeitos para criar as representações da "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Entidade</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". Quando a vemos, nós a enxergamos como uma moça desdentada, ou uma criança, ou uma mulher exibindo sensualmente um dos seios. Detalhes como o olhar distante e perdido, o fato de na maioria das vezes estarem despidos e a marcha lenta operam o milagre que os efeitos especiais apenas avacalhariam.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7q3KKMeZ9G6ppqvxgQywpm4mFRpaxJxE6moW5yLUClAoBe6UK2qnT-5PM2bYmyJJ3e4XAtvuz3vQmb4h6VC0N4rj0fGOZ-BtcDgL67P3pBUbFN_rnttHL7nL9nwYbSHaw9EN4_1xpAzg/s1600/MPW-37790.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="738" data-original-width="500" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7q3KKMeZ9G6ppqvxgQywpm4mFRpaxJxE6moW5yLUClAoBe6UK2qnT-5PM2bYmyJJ3e4XAtvuz3vQmb4h6VC0N4rj0fGOZ-BtcDgL67P3pBUbFN_rnttHL7nL9nwYbSHaw9EN4_1xpAzg/s400/MPW-37790.jpg" width="270" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Em sua imprecisão de tempo, "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">It Follows</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" também foi impecavelmente ambientado. Ao término do filme, não podemos realmente afirmar o período em que se deu a história, que tanto pode ter ocorrido nos anos 80, quanto nos 90, quanto na década de 2000. Filmado em Detroit, sobre o filme pesa a atmosfera pesada concebida pela fotografia opressiva e cinzenta. Há instantes propositalmente criados para nos desconcertar, porque carros, penteados e figurinos sugerem o final dos anos 80, talvez início dos anos 90 como o provável cenário para o desenrolar dessa história de Horror. Eu me recordo de quando tinha 11 anos e assisti a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Rocky V</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" </span><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif; font-size: x-small;"><i>(foto)</i></span><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> nos cinemas, no começo de 1991. A sinopse era a de que depois de voltar da Rússia como herói, após ter vencido Drago, Rocky perde todo o dinheiro e se vê obrigado a voltar ao velho bairro com a família. As pessoas que assistiram ao filme sabe o que acontece. Ele se torna treinador na decadente academia deixada pelo velhinho que era seu manager, e acaba ajudando um jovem aspirante que ao se tornar o novo campeão mundial é manipulado por um promotor inescrupuloso para se voltar contra o próprio Rocky. Assistindo a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">It Follows</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", me recordei bastante de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Rocky V</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" no que se refere a figurinos, fotografia, visual, carros, a batida de vida que pulsava na quase sempre nublada Filadélfia naquele "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">time frame</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" em particular, desta vez realocada para Detroit em "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">It Follows</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">"… É como se </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">David Robert Mitchell</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> tivesse procurado recapturar um momento, revisitar o mundo preservado como o fora no início da década de 90. Não raras vezes, vemos televisores antigos exibindo filmes datados. No começo de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">It Follows</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", quando </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jay</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> ainda está começando a conhecer </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hugh</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, a sair com o pretendente, e o casal passeia no cinema, se prestarmos atenção na marquise do teatro, quando os dois deixam apressadamente o prédio, veremos que o filme em cartaz é "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Charada</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", com </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Audrey Hepburn & Cary Grant</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, algo antigo que você jamais imaginaria interessar a jovens de hoje em dia. Ao me tocar do detalhe, imaginei que teria sido ainda melhor se </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">David Robert Mitchell</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> tivesse colocado "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Rocky V</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" naquela marquise, porque então, ao menos indiretamente, o diretor estaria nos remetendo a 1990/1991, o período em que tudo deve ter ocorrido dentro da trama.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O diretor <i>M. Night Shyamalan</i> tentou algo semelhante no seu melhor filme, "<i>Sinais</i>". Poucas pessoas perceberam, mas "<i>Sinais</i>" parece se esforçar para criar um sentimento de alienação ao se recusar a fornecer uma referência de espaço & tempo, um expediente que assim como ocorre a "<i>It Follows</i>" estimula a sensação de se viver em uma fantasia, um mundo de irrealidade e sonhos, semelhantes a aqueles bem confusos que temos ao tirar o cochilo após o almoço. Em "<i>Sinais</i>", há uma brevíssima cena durante o segmento final em que o pastor, seu irmão e os filhos pequenos assistem ao telejornal, momentos antes da invasão do mundo por alienígenas. Se os amigos revisitarem o filme, e prestarem muita, muita atenção neste segmento em particular, observarão que as roupas, a fotografia, as matizes da imagem e a própria interpretação do ator que faz o jornalista parecem… Eu não imagino um termo melhor do que "<i>incongruentes</i>", como se repentinamente estivéssemos caminhando ao longo de um túnel do tempo para assistir a algo tão "<i>vintage</i>" que pareceria mais `a vontade em algo dos anos 60. Em termos de atmosfera, ao falar sobre sua inspiração, o diretor <i>Shyamalan</i> citou "<i>A Noite dos Mortos-Vivos</i>", de <i>George Romero</i>, de 1968, e ao assistir a "<i>Sinais</i>" novamente, uma vez compreendidas suas intenções, pude enxergar com mais clareza o que <i>Shyamalan</i> pretendia por trás de suas peculiaridades. <i>David Robert Mitchell</i> apenas levou a ideia mais longe.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Tecnicamente, o filme é um primor de técnica e competência. <i>David Robert Mitchell</i> toma muitos riscos ao optar por <i>tracking shots</i> ininterruptas e demoradas que deixariam veteranos como <i>Brian De Palma</i> orgulhosos. Basicamente, ao escolher <i>tracking shots</i>, o diretor põe uma tremenda responsabilidade e cobrança extras sobre os próprios ombros e os de seu elenco. A ação é capturada em um take apenas sem interrupções, se algo dá errado no curso da ação, não há cortes para poupar a "<i>parte boa</i>". <i>Paul Thomas Anderson</i> abre "<i>Boogie Nights Prazer Sem Limites</i>" com uma <i>tracking shot </i>que começa na marquise de um cinema onde se lê o nome do filme, desce e atravessa a rua de um quarteirão em San Fernando Valley, em 1977, até chegar `as calçadas do outro lado onde acompanha os personagens de <i>Burt Reynolds</i> & <i>Julianne Moore</i> entrando na boate, também apresentando os demais personagens daquele trama. <i>De Palma</i>, o mestre do thriller erótico, aperfeiçoou o uso de <i>tracking shots</i>, e a introdução a "<i>Snake Eyes</i>" tornou-se uma das cenas mais impressionantes de todos os tempos no que diz respeito `a técnica. Mesmo hoje nem se pode começar a imaginar a dificuldade de se rodar algo tão grandioso e demorado em um take de tirar o fôlego quanto quando o personagem principal entra na arena onde se dará a disputa do campeonato pelo cinturão dos pesos pesados logo mais. Cineastas talentosos fazem mágica com <i>tracking shots</i>, <i>David Robert Mitchell</i> é um estreante que ao escolher a técnica arriscou dar um tiro no pé. Ele se sai extraordinário, e a usa em favor do gênero como poucas vezes visto antes. Eu me recordo de ter visto o recurso empregado nos thrillers de<i> Brian De Palma</i>, mas poucas vezes no gênero Horror, o único exemplo que me vem `a mente a cena em "<i>Hellbound: Hellraiser 2</i>" em que <i>Clare Higgins</i> mata o jovem psiquiatra. O recurso é baseado inteiramente em uma tomada apenas, sem cortes, e portanto trabalhoso: a câmera começa capturando a comoção lateralmente, vai para atrás da atriz, de modo a mostrar que suas costas, anteriormente expostas em carne viva, agora estão completamente cicatrizadas por conta do nutriente e sangue que está drenando da vítima, continua com seu movimento ao redor do casal, mostrando a força de seus braços, e finalmente estaciona ao lado dos dois, quando mostra o estado lamentável do rapaz, sangue escorrendo do nariz, ouvido e boca, terrivelmente ferido, enquanto ela o beija com a passionalidade de uma amante que lhe quer muito bem. Em sua simplicidade e ousadia, a cena agrega tantas informações simultaneamente - a pele das costas reparada, os braços femininos porém fortes, o choro de dor da vítima, sangue escorrendo pelo nariz e ouvido - que exercita um tipo de agressividade incapaz de se emular não fossem pela técnica da <i>tracking shot</i> e a coragem e talento dos atores envolvidos. "<i>It Follows</i>" usa o mesmo recurso em diferentes momentos, e sempre os aproveita muito bem.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"<i>It Follows</i>" pode ser interpretado de muitas formas, todas válidas vez que a leitura depende dos olhos do observador. Partindo da premissa de que o tormento toma a vida de uma pessoa após a intimidade das relações sexuais, eu o tomei como uma angustiante releitura da histeria da AIDS nos primeiros anos de seu surgimento, no começo dos anos 80. Em muitos momentos, assistindo a "<i>It Follows</i>", me recordei de um documentário chamado "<i>Estávamos Aqui</i>", que revisita os primeiros momentos da catástrofe, relembrados pelos olhos das pessoas no epicentro da tragédia, em São Francisco, naquele período em particular. A AIDS chegou a São Francisco nas comemorações do feriado da Independência Americana em 1976, mas só mostrou a cara feia 4 anos mais tarde, no início dos anos 80, 1980&1981, o tempo de incubação do vírus, quando os primeiros casos de pneumocistose e um raro câncer de pele chamado Sarcoma de Kaposi foram registrados. Quando se percebeu que algo letal de fato estava `a solta, mais da metade dos cidadãos da comunidade estava contaminada e, naquele tempo, sentenciada a uma pena de morte. O tipo de confusão que a personagem principal experimenta, desde a negação e revolta passando pela aceitação até a maneira como procura lidar com a terrível situação, em muito guarda paralelos com o que aconteceu com aquelas pessoas nos anos 80, a mercê de um monstro invisível contra o qual médicos não tinham nenhum tipo de arsenal. </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Creio que outra interpretação igualmente válida seria ler o poltergeist como a soma de todas as ações, boas ou más, que você cometeu no curso de sua vida até o presente momento, principalmente quando se é razoavelmente jovem e não se compreende como as coisas efetivamente funcionam em oposição a como gostaríamos que fosse. Por esse viés, a "<i>Entidade</i>" representaria a soma das recordações de pessoas que você intencionalmente ou não machucou ou injustiçou, as más escolhas que agora pesam sobre seus ombros, os laços mal atados de um passado relativamente recente que dada a oportunidade você adoraria amarrar melhor. Essa linha de raciocínio bate com a revelação de um breve momento, no começo do filme, quando o deprimido e angustiado <i>Hugh</i> aponta para o menininho no cinema e diz que adoraria trocar de lugares com a criança e sua vida inteira pela frente, quando ele mesmo tem 20 e poucos anos, também um futuro por vir, mas não parece perceber em razão de todos os problemas que se tornaram maiores do que consiga suportar sozinho. Seja qual for a interpretação que os amigos tirem do desfecho, é muito seguro afirmar que não encontrarão outro filme de Horror que os convide tanto `a reflexão quanto "<i>It Follows</i>" este ano.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikYeAwTJ1ZMzWTbkg4f_sgOsqCJ4PqWs1X5cMFrxL54R1K1mA4XlwMSq87xEbWXDkDJl6shYcbBA9F0FgvhDBy3_1oBs8aU_l5BnhvPPg3HMt8_Ltyi6v-Ie4YGhoRrYRXmUUSW73QKP0/s1600/knock-knock-keanu-reeves.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="750" data-original-width="1000" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikYeAwTJ1ZMzWTbkg4f_sgOsqCJ4PqWs1X5cMFrxL54R1K1mA4XlwMSq87xEbWXDkDJl6shYcbBA9F0FgvhDBy3_1oBs8aU_l5BnhvPPg3HMt8_Ltyi6v-Ie4YGhoRrYRXmUUSW73QKP0/s320/knock-knock-keanu-reeves.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Aproveitando o ensejo sobre o que 2015 ainda nos reserva, quero deixá-los a par de um Horror chamado "<i>Knock Knock</i>", dirigido pelo cineasta <i>Eli Roth</i>, e estrelando <i>Keanu Reeves</i>.<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span><i>Keanu Reeves</i> interpreta um arquiteto bem sucedido e casado que ficou em casa para trabalhar enquanto a mulher e os filhos se ausentaram para passar o fim de semana na praia. Uma noite de chuva, ele escuta batidas na porta e encontra duas garotas aparentemente comuns que pedem para entrar e usar o telefone. Ele deixa que as moças entrem, e embora o encontro comece cordial, logo se transforma em um jogo de morte para o arquiteto, porque as duas estranhas se revelam psicopatas, ali com o único intento de se divertirem com o seu terror até resolverem matá-lo. Pessoas que viram o filme o elogiaram bastante. O diretor <i>Eli Roth</i> ficou conhecido pela violência de suas imagens, mas aqui parece ter amadurecido bastante, pois dizem que há pouco em termos de sanguinolência. Ele parece ter exercitado a contenção, amadurecido, e feito algo que alguém como <i>Brian De Palma</i> teria se saído excelente. Abaixo do trailer <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">de<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span></span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"<i>It Follows</i>"<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> voc<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ês poderão conferi<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">r o teaser de </span></span></span></span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"<i>Knock Knock</i>". </span></span></span></span></span></span>Agora, sobra-nos a parte mais difícil (ou mais saborosa, dependendo do seu ponto de vista)… Esperar!<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/OaRx7iR9kXg/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/OaRx7iR9kXg?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;"><span style="background-color: #cccccc;"><i>Todos os direitos autorais reservados a RADiUS-TWC. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</i></span></span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/P_VttzIh8TI/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/P_VttzIh8TI?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;"><i style="background-color: #cccccc;">Todos os direitos autorais reservados a Lionsgate. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha. </i></span></div>
</div>
Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-15598194217670451162015-04-29T14:45:00.000-07:002019-03-14T03:57:59.550-07:00"Monsters" & "Monsters: Dark Continent" Se vocês gostaram do último "Godzilla", conheçam os dois triunfos do cinema independente que devolveram integridade aos filmes de monstro!<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFl1h6uhs_3NYyFszcjQoGR9gxF_3UK-468F2UIdqiuurB7JX3gLHpwzEf_DExQIkb5_JzdpFZ2DRMcHa6jcxkq3ZlOFRXQ2eq7dlB-aNmlbVSlPBqBzQ0IEpjY3VZ97MilShA1S-lHRA/s1600/03.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="596" data-original-width="1400" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFl1h6uhs_3NYyFszcjQoGR9gxF_3UK-468F2UIdqiuurB7JX3gLHpwzEf_DExQIkb5_JzdpFZ2DRMcHa6jcxkq3ZlOFRXQ2eq7dlB-aNmlbVSlPBqBzQ0IEpjY3VZ97MilShA1S-lHRA/s400/03.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Há 6 anos, uma sonda da NASA caiu na América Central, trazendo consigo germes de vida extraterrestre. Em pouco tempo, os esporos geraram os monstros, criaturas alienígenas enormes portadoras de tentáculos semelhantes a grandes lulas, de cujos corpos emana uma fantasmagórica e encantadora fosforescência avermelhada. Os monstros passam a se reproduzir ao Norte do México, próximo à fronteira com os Estados Unidos, o que leva a América do Norte a erguer uma enorme muralha em uma tentativa de isolar o problema. Os Estados Unidos mandam tropas para lutarem na região, e dia e noite, as cidades ao Norte são submetidas aos bombardeios dos aliados e à destruição das confusas criaturas, em uma guerra sem fim.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEil-CHANj48SZHmCAMZbBMUJMnmq_bJIoxzUEYMMl2np7hpjYgcFmUgvouko6YhJIGKogJalf9p2OmUDialFK0mliYnxRfORKA6rObVSppN8DO5ClzmAyjaRNH5Aja6mkPilLkE24YEGhk/s1600/02.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="590" data-original-width="1400" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEil-CHANj48SZHmCAMZbBMUJMnmq_bJIoxzUEYMMl2np7hpjYgcFmUgvouko6YhJIGKogJalf9p2OmUDialFK0mliYnxRfORKA6rObVSppN8DO5ClzmAyjaRNH5Aja6mkPilLkE24YEGhk/s400/02.jpg" width="400" /></a><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Andrew</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Kaulder</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> (</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Scoot McNairy</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">) é um jovem fotógrafo americano realizando imagens da zona de conflito. O México se tornou uma terra surreal, pois mesmo em meio ao cenário de pesadelo, há resquícios de ordem, alguma presença do Estado. Pessoas humildes tentam ganhar a vida em uma zona sobre a qual jatos e helicópteros passam o dia sobrevoando, e Monstros casualmente se aproximam para causar toda sorte de prejuízos, destruindo prédios e provocando mortes de civis em sua passagem. Aqui, importa mencionar o talento do cineasta </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Gareth Edwards</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> para fotografia. As tomadas do México sob quarentena nos fazem pensar nas imagens que vemos diariamente do drama da Palestina. Tirando máximo proveito de locações (a produção foi rodada em Belize, México, Guatemala & Costa Rica), </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Edwards</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> as utiliza como ferramentas para nos situar no contexto da história. A rotina massacrante de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Kaulder</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> é interrompida quando recebe inusitadas ordens de seu chefe: ele deve afastar-se de suas ocupações por alguns dias para encontrar a filha, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samantha Wynden</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> (</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Whitney Able</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, esposa do ator</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> Scoot McNairy</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> na vida real), e trazê-la sã e salva aos Estados Unidos. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Andrew</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> a localiza em um hospital, onde a moça recebe tratamento para uma torção no punho, e após alguma insistência de um colega de trabalho, acata as instruções do patrão. A dupla embarca no próximo trem. A noite chega, e enquanto o trem segue vagarosamente a jornada, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Kaulder</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> tira fotografias das colinas por trás das quais emanam um fulgor dourado, produto do bombardeio dos jatos sobre os Monstros.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Para a má sorte dos dois, chegam informes durante a noite que os Monstros danificaram os trilhos mais à frente, obrigando-os a desembarcar e encontrar uma nova saída. Eles saltam do vagão em plena noite fechada, e encontram guarida na casinha de uma humilde família de um vilarejo. Para agravar a situação, a solícita e gentil senhora lhes revela que dentro de 48 horas qualquer travessia, por água, terra ou ar, será bloqueada por um período não inferior a 6 meses. O jeito fácil de <i>Sam </i>& <i>Kaulder</i> para com as crianças fazem a senhora perguntar se os dois são casados. <i>Kaulder</i> explica que ele e <i>Samantha</i> são apenas amigos, mas sentimos um doce flerte entre os dois. Na manhã seguinte, <i>Andrew</i> & <i>Samantha</i> se põem a caminho. Eles precisam alcançar o entreposto a pé. Na viagem, contam com a solidariedade de cidadãos locais, acostumados com as adversidades da vida naquela perigosa região. Os colonos lhes dão carona até a rodoviária, de onde apanham um ônibus. <i>Gareth Edwards</i> dirige essas miscelâneas da travessia com impressionante segurança, e em instante algum parece que estamos assistindo a uma obra de ficção. A interação entre os personagens e situações parecem muito autênticas e reais, a miséria, a simplicidade daquela gente… Quase como um documentário. Em meio ao rio, testemunham sinais da guerra entre humanos e vida extraterrestre nas ferragens de um tanque destruído e abandonado, ao alcance de uma população ribeirinha.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ao chegar `a cidade portuária, <i>Andrew</i> & <i>Samantha</i> procuram o encarregado da administração de passagens por terra & água. Fortificada por cercas elétricas que mantêm as criaturas distante, mais lembra um complexo de casinhas e serviços de condições muito primitivas, uma espécie de grande favela. Há um vai-e-vem constante de helicópteros e ônibus. Aproveitando-se do fato de estar tratando com dois norte-americanos, o encarregado dá um preço super inflacionado, 5 mil dólares. Viajar pelo rio é luxo para poucos, a maioria dos cidadãos mais pobres precisa tentar a sorte na zona infectada. O casal usa o dinheiro do pai rico de <i>Samantha</i> para comprar bilhetes para a balsa que partirá muito cedo na manhã seguinte. <i>Andrew</i> e <i>Samantha</i> se hospedam em quartos separados de um pequeno hotel. Pela televisão, as últimas notícias do bombardeio local não param de chegar. Enquanto <i>Samantha</i> toma banho, vemos o fotógrafo fazendo um telefonema para o filho. Resultado de um breve namoro, o filho cresceu longe do pai, e <i>Kaulder</i> se sente culpado. <i>Samantha</i> também guarda seus dramas, sobre os quais aprenderemos mais tarde. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A vida noturna na fronteira é muito agitada. Transitória por natureza, frequentada por pessoas de passagem, </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">não faltam alternativas para </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">quem busca sexo sem compromisso ou um pouco do esquecimento que o conhaque e o uísque têm a oferecer. De clubes noturnos de quinta categoria a biroscas, as portas nunca se fecham. <i>Samantha</i> & <i>Andrew</i> se divertem, experimentando as comidas locais e circulando em meio `a animada feirinha de pratos típicos. Mais tarde, assistem a uma procissão com velas, em homenagem `as mais de 5 mil pessoas mortas no conflito. Detalhe: não foram os Monstros os causadores do Horror, mas os bombardeios dos caças americanos. Depois de um desentendimento bobo, <i>Andrew</i> e <i>Samantha</i> se despedem pelo resto da noite, e o fotógrafo resolve se divertir com uma garota de programa, apenas para descobrir, na manhã seguinte, que a mulher esperou que caísse no sono para furtar os bilhetes. <i>Samantha</i> vai acordá-lo, apologética. Pela linguagem corporal parece arrependida pela discussão da noite anterior. Ela o convida para tomar café da manhã, antes de subir na balsa, no entanto ao vê-lo com outra mulher dentro do quarto, fica chateada. O clima de aproximação entre os dois azeda, e <i>Samantha</i> sai andando, entristecida. <i>Kaulder</i> parte em seu encalço e consegue detê-la, mas nisso a prostituta já "<i>embolsou</i>" o bilhete e caiu fora. <i>Kaulder</i> dá pela falta do bilhete tarde demais.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
<i>Samantha</i> perde a chance de voltar aos Estados Unidos pela balsa, e agora precisa empenhar o anel de noivado para duas passagens por uma travessia mais em conta, a se dar por terra e por dentro da zona de quarentena. Há todo um esquema necessário para se cruzar a zona infectada, desde dinheiro para subornar oficiais ao pagamento dos guias por terra, que os levarão até o "<i>paredão</i>", a muralha que separa o México do sul do Texas. Quando <i>Samantha</i> troca o anel pelos bilhetes, fica claro que seu drama pessoal gira em torno do noivado, em crise. O relacionamento não anda bem das pernas. Valiosíssimo e incrustado de diamantes, o anel lhes custeia a jornada ao longo da faixa sob quarentena. Oficiais corruptos do Ministério da Saúde permitem sua passagem, e o casal é levado de camioneta `a beira de um riacho, onde sobe em um precário barquinho para cumprir parte da jornada por água.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O percurso pelo rio é tedioso e demorado. No caminho, o casal assiste aos reflexos da guerra, bem retratados por construções abandonadas e destruídas, por vilas de pessoas muito humildes, pelos restos de aviões e maquinário de guerra. O barquinho volta `a margem para abastecimento, e <i>Samantha</i> aproveita para se aliviar, urinando no mato. Eles escutam, mesmo muito distante, ao primeiro sinal da presença de Monstros na localidade. As criaturas emanam um choro gutural e entristecido. Embora distantes, os choros incutem nos homens a necessidade de terminarem de abastecer para voltarem ao rio o quanto antes.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ao longo da travessia pelo rio, <i>Samantha</i> & <i>Andrew</i> têm a chance de se conhecerem melhor. Ele fala sobre o filho de 6 anos. A mãe era uma moça que <i>Kaulder</i> conheceu. Os dois se relacionaram por pouco tempo, 2 meses, até que alguns anos mais tarde ela ligou do nada lhe contando sobre a existência do filho. <i>Andrew</i> pediu para vê-lo, mas a ex-namorada fez a ressalva de que embora aceitasse a reaproximação, <i>Andrew</i> jamais seria "<i>o pai</i>", para todos os efeitos seu atual companheiro. <i>Samantha</i> parece tocada com a história. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Em determinado momento daquela tarde, o motor do barco quebra, e eles se veem forçados a unir forças para consertá-lo. Eles passam uma noite muito tensa, e de madrugada, bem a tempo de o motor volta a funcionar, enxergam um fulgor vindo das profundezas d'água. Testemunham tentáculos subindo para apanhar os destroços de um jato e carregá-los ao fundo. Os viajantes se põem em movimento, e se afastam daquele ponto do rio, que acaba de se tornar extremamente perigoso. O dia começa a amanhecer, e `as margens <i>Andrew</i> & <i>Samantha</i> são apresentados ao grupo de guerrilheiros que os levará pelo último segmento da jornada `a muralha. Por um instante, congelam de Horror ao escutar um rumor muito próximo, mas respiram aliviados ao reconhecer que foi apenas uma vaca.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgX6UL7TTr_4KdkTRGQi-RxD531lR30yqxGRjF3Twj4_BCQooaQ_Vf1SY9MGnSdlpVIOYpbUa2ODQrAZrsq_lcr9dN0m-C1cvdGdgp_8c46Su9dynw6ItkyCKVi_T0YWBcwubwSx7hwVSY/s1600/09.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="591" data-original-width="1400" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgX6UL7TTr_4KdkTRGQi-RxD531lR30yqxGRjF3Twj4_BCQooaQ_Vf1SY9MGnSdlpVIOYpbUa2ODQrAZrsq_lcr9dN0m-C1cvdGdgp_8c46Su9dynw6ItkyCKVi_T0YWBcwubwSx7hwVSY/s400/09.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">`A noite, acendem uma fogueira e trocam histórias sobre os Monstros. Um dos guerrilheiros conta sobre uma ocasião em que enxergou um OVNI enorme, cerca de 150 metros de diâmetro. Os mercenários dizem que se encontram em um ponto da floresta particularmente infestado. Vez ou outra, caças dão rasante para despejar arma química. Até mesmo as árvores estão infectadas, os guerrilheiros dizem, e então mostram a </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Kaulder</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samantha</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> que os troncos parecem cobertos por um fungo sensitivo, na verdade a etapa que antecede a reprodução dos Monstros. Cansados, parte dos homens dorme ao redor da fogueira, enquanto a outra fica de vigília. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Kaulder</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samantha</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> têm um momento a dois, e ele se desculpa pela garota de programa da outra noite, pedindo para que não pense nele como um sujeito devasso e canalha.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Durante a madrugada</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, acordam assustados. Eles precisam continuar a jornada, e rápido. Por rádio, companheiros de guerrilha alertam o grupo para a presença de um Monstro enorme nas redondezas. Já se escuta o ronco dos motores de jatos executando voos sobre aquela parte da mata. <i>Andrew</i> & <i>Samantha</i> sobem na camioneta, e o comboio parte `a toda velocidade para tentar vencer o trecho até a fronteira. Para azar, um dos carros da frente morre. <i>Andrew</i> & <i>Samantha </i>recebem máscaras de proteção contra agente biológico. Repentinamente, a criatura gigantesca surge do nada, apanhando com os tentáculos a camioneta `a frente e a levantando como pluma ao ar. Os guerrilheiros do outro carro descem com as metralhadoras para enfrentar a "<i>lula gigante</i>", e também são mortos. <i>Andrew</i> & <i>Samantha </i>assistem a tudo do carro. O Monstro não lhes dispensa atenção, e parte, sumindo entre a névoa e as árvores mais altas.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A manhã chega, não há sinal de Monstro. <i>Kaulder</i> & <i>Samantha</i> descem e se deparam com o estrago deixado pela passagem do alienígena. Há corpos e pedaços de veículos por todas as partes. <i>Kaulder</i> fica surpreso ao reconhecer um dos corpos, a garota de programa com quem dormira dias antes. Ele deduz que a garota roubara a passagem não para si, mas para que algum filho ou ente querido tivesse a oportunidade de partir pelo meio seguro, a balsa, enquanto preferira tentar as chances na travessia mais arriscada. <i>Kaulder</i> se sente mal pelo ocorrido, colhe um par de flores e as deixa ao lado do corpo. O percurso final é vencido `a pé, o casal enfrentando a trilha ao longo de uma exaustiva tarde.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCDpphbCyoWcaOSgKIQdjrv6LaJbZJO8PISTxNDL4CcGo0JMq0DAw6v0aczq_mvTVhIQ5Lnv6_tonmIPArc_lG94f-CpxjBy8CoLcg7Vt6X3gnAcCb6ebM59bpX0Z9DQiIUUqtFfWBfF4/s1600/12.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="596" data-original-width="1400" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCDpphbCyoWcaOSgKIQdjrv6LaJbZJO8PISTxNDL4CcGo0JMq0DAw6v0aczq_mvTVhIQ5Lnv6_tonmIPArc_lG94f-CpxjBy8CoLcg7Vt6X3gnAcCb6ebM59bpX0Z9DQiIUUqtFfWBfF4/s400/12.jpg" width="400" /></a></div>
<i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Andrew</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samantha</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> avistam uma ruína maia, e ao escalá-la, surpreendem-se ao finalmente enxergar, logo do outro lado do rio raso, a enorme muralha que separa México dos Estados Unidos. Sentados no topo para observar aquela maravilha arquitetônica, eles parecem contemplativos, transformados pelas experiências que passaram. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Kaulder</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> pondera "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">É diferente olhar para a América do lado de fora, sentarmos aqui fora e olhar para dentro. Chegaremos em casa e será tão fácil esquecer tudo o que se passou. Amanhã retomaremos nossas vidas separadas, em nossas casas separadas, tudo pelo que passamos não importará mais"</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Kaulder</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> se pergunta quantos anos teria uma das meninas mortas que vira na floresta. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samantha</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> também parece emocionada.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Eles passam a noite nas ruínas, e no dia seguinte realizam a travessia, chegando ao outro lado e efetivamente pisando em solo norte-americano. O Texas virou uma terra de ninguém, uma cidade fantasma, deserdada por pessoas e fora da ingerência do governo. `A vista, apenas a ampla rodovia de acesso, e um silencioso vazio. Algumas casas estão destruídas, provavelmente resultado dos bombardeios. Uma senhora empurrando um carrinho subitamente surge, e quando <i>Samantha</i> lhe dirige a palavra, a mulher responde gritando, tendo obviamente perdido a cabeça. <i>Samantha</i> a observa se afastando com um olhar triste.</span><br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrHgLLjjIykojb9rSSAOqVP9YO02KjW9yRIV_IueF4EjJ0td5aXMvfa3gIqsEvr-30oi1d-D677LcfAfXXk4aD6Se_eBEZWu9KnJhzp8Vu2psITnnYzk3h2ERFgXBY760vjnAujji-vuc/s1600/monsters1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="496" data-original-width="961" height="206" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrHgLLjjIykojb9rSSAOqVP9YO02KjW9yRIV_IueF4EjJ0td5aXMvfa3gIqsEvr-30oi1d-D677LcfAfXXk4aD6Se_eBEZWu9KnJhzp8Vu2psITnnYzk3h2ERFgXBY760vjnAujji-vuc/s400/monsters1.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ao final da tarde, após terem seguido com obstinação pela <i>freeway</i>, encontram um posto de gasolina abandonado, e conseguem contatar o Exército Norte-Americano. Eles fornecem a localização do posto, e a telefonista lhes pede que aguardem pelo Resgate, que logo estar<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">á</span> ali para retirá-los. Agora
que a jornada chegou ao fim, <i>Samantha </i>& <i>Andrew</i> resolvem ligar
para seus familiares mais próximos. Está muito tarde, mas <i>Andrew</i>
consegue falar com o filhinho. É a madrugada do dia de seu
aniversário, e <i>Andrew</i> liga apenas para o felicitar e
dizer o quanto sente saudade. Ao telefone, acaba se emocionando
quando escuta a criança falando empolgada sobre o presente que ganhou. Em
seu entusiasmo inocente, o menino não percebe que enquanto fala o
pai chora silenciosamente. <i>Samantha</i> conversa com o noivo e diz que
precisam conversar quando se encontrarem. Apesar da usual troca de
"<i>eu te amo</i>", ao final da ligação, <i>Samantha</i> parece ter perdido,
há muito, o encanto do primeiro amor. <i>Andrew</i> deita ao lado de uma
das bombas de gasolina, pensativo. Ele é
o primeiro a enxergar o enorme Monstro que silenciosamente se
aproxima e fica bem sobre o posto: dentro do estabelecimento,
<i>Samantha</i> só vai percebê-lo quando os tentáculos entram pela janela.
Apesar de certa de que o Monstro a apanhará, surpreende-se quando
seus tentáculos apenas afagam a televisão. As criaturas são
atraídas por eletricidade, de modo que ao desligar o aparelho,
<i>Samantha</i> deixa o Monstro desinteressado. A criatura se afasta, e nisso o casal se encontra do lado de fora para testemunhar
o espetáculo. Há uma segunda criatura. Envoltos pelo breu, os
Monstros emanam um fulgor avermelhado ao se deslocarem. As criaturas se
tocam pelos tentáculos, e parecem chorar ao sabor do contato. Por um
momento, é como se estivessem a bailar, um ritual de acasalamento.
Depois de algum tempo de conexão, as solitárias, patéticas e
tristes criaturas desaparecem engolidas pela noite, como se jamais
tivessem existido, o estrondo de seus passos cada vez mais longínquo.
<i>Samantha</i> & <i>Andrew</i> assistem àquela incomum cena de amor com
lágrimas nos olhos, e entendem que humanos e
alienígenas são muito semelhantes mesmo em suas diferenças,
especialmente na ex<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">pectativa de amar e ser amado</span>. O casal se beija,
e o filme termina.</span><br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O grande blockbuster de 2014 "<i>Godzilla</i>" lançou os filmes-catástrofes de monstros `a estratosfera, e seu retumbante sucesso de público & crítica valeu a<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o </span>diretor, <i>Gareth Edwards</i>,
o convite para rodar uma continuação ainda mais grandiosa, a lançar seu
monstro principal, Godzilla, num confronto contra a Mothra & King
Ghidorah. 2018 ainda parece distante, mas há muita gente salivando pela
oportunidade de ver o que <i>Edwards</i> fará com o suporte de um grande
estúdio, disposto a apoiar a sua visão, seja lá qual for. Antes de 2014,
todavia, quando <i>Gareth Edwards</i> ainda se aperfeiçoava como especialista
de efeitos visuais em documentários como "<i>Na Sombra da Lua</i>", foi o
seu primeiro relevante trabalho como diretor, um pequeno filme
independente produzido pela Vertigo a um custo de oitocentos mil
dólares, que despertou fãs de ficção científica e grandes estúdios à
sensibilidade & talento do cineasta. <i>Edwards</i> foi indicado a muitos
prêmios importantes, o mais valioso deles o BAFTA, uma espécie de Oscar
britânico, como Melhor Cineasta Estreante. "<i>Monstros</i>" não foi um sucesso
estrondoso, mas assim como outras maravilhosas produções da Vertigo,
como "<i>w Delta z</i>", mereceu uma espetacular carreira no circuito
cult, e abriu as portas dos grandes estúdios para <i>Edwards</i>, que seria o
homem responsável pelo renascimento de Godzilla.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjy_3MpyDM-19xQ54YYeluDRXONeJ9DunUECEETGZeX9_hNuLpYiLK3HuWIO4Opfd-VL6tkzIDBGbvzIWmgJRPQK7b33azrudEVWBMv2FUie_041Qsy3s8qfHK-JUWRz7RcQo2tfmUGR4g/s1600/Monsters-Dark-Continent_poster_goldposter_com_11.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="603" data-original-width="800" height="241" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjy_3MpyDM-19xQ54YYeluDRXONeJ9DunUECEETGZeX9_hNuLpYiLK3HuWIO4Opfd-VL6tkzIDBGbvzIWmgJRPQK7b33azrudEVWBMv2FUie_041Qsy3s8qfHK-JUWRz7RcQo2tfmUGR4g/s320/Monsters-Dark-Continent_poster_goldposter_com_11.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">4 anos após o lançamento de "<i>Monsters</i>", o filme ganhou uma continuação. Aqueles que realmente haviam amado o primeiro não esperavam muito de uma sequência filmada nas mais adversas circunstâncias. Seria difícil reproduzir os pontos fortes que tinham tornado o primeiro tão especial, e sua história de amor, espinha dorsal e parte do motivo pelo qual o original soava tão pessoal, não teria como ser revisitada, vez que o destino de seus protagonistas terminara bem resolvido. Eis que o praticamente estreante <i>Tom Green</i> conseguiu realizar uma obra que embora prestigiasse o original, agregava novos, próprios valores ao amplo imaginário do anterior. Embora distinto, a mesma brisa de frescor do original agracia a continuação, mais especificamente o ar elegante e artístico que o torna revestido de um estilo que o aproxima do cinema de arte europeu. Os filmes não dividem a m<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">esma história, mas não há dúvida que pertencem ao mesmo pacote.</span></span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alguns
anos após os eventos do primeiro filme, a quarentena imposta à
América Latina falhou, e as formas de vida trazidas pela sonda da NASA vazaram para o restante do mundo. Quando o Oriente
Médio passa a ser assolado pelos Monstros, agora maiores após o processo de seleção natural, assim como anteriormente feito com o
México, os Estados Unidos enviam tropas para
conter a ameaça. Caracterizada por um forte sentimento <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">antiocidental</span>, aquela região do Oriente Médio oferece riscos não apenas pelos Monstros, que parecem alheios e desinteressados, mas pelos insurgentes, que passam a sabotar o trabalho das tropas americanas. O
que antes começa como uma missão de contenção se torna uma luta
diária contra guerrilheiros locais. Veterano Sargento <i>Frater</i> (<i>Johnny
Harris</i>) é <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">o</span> epítome do obstinado atirador de elite. Ele serve na Força há 17 anos, e se voluntariou a 8 <i>tours </i>pela zona de guerra. Preciso e
silencioso, está à frente do combate aos guerrilheiros, e no
início do filme, nós o vemos eliminando friamente mais um alvo, apertando o gatilho da cobertura de um prédio qualquer,
em uma região violenta de um típico centro populacional do Oriente
Médio.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdymAPzaQCK6JsG6qkuvLnm0oSxK-atTNTxPIPf_hReEttFx9wCZGkaJpzADPE_Ntd3n76RyZGO4jhq4QIoCdkwlUd6m8mmELE5dZn0eucjz0PX_PwVK7hIakdBxdgL8Vxt-hDA8uLLvI/s1600/Monsters.Dark.Continent.2014.1080p.WEB-DL.DD5.1.H264-FGT.avi_snapshot_00.09.20_%255B2015.04.28_08.54.11%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="663" data-original-width="1600" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdymAPzaQCK6JsG6qkuvLnm0oSxK-atTNTxPIPf_hReEttFx9wCZGkaJpzADPE_Ntd3n76RyZGO4jhq4QIoCdkwlUd6m8mmELE5dZn0eucjz0PX_PwVK7hIakdBxdgL8Vxt-hDA8uLLvI/s320/Monsters.Dark.Continent.2014.1080p.WEB-DL.DD5.1.H264-FGT.avi_snapshot_00.09.20_%255B2015.04.28_08.54.11%255D.jpg" width="320" /></a><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Michael</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> (</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Sam Keeley</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">), </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frankie </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">(</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Joe Dempsie</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">), </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Williams </i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">(</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Parker Sawyers</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">) e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Inkelaar</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> (</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Kyle Soller</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">) são 4 jovens melhores amigos que diante da pouca perspectiva de vida para os nascidos naquele bairro pobre de Detroit decidem se alistar nas Forças Armadas. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Michael</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> conhece </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frankie</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> desde pequeno, quando o amigo costumava defendê-lo dos outros meninos, quando estes o provocavam dizendo que não tinha pais (</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Michael</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> cresceu em um orfanato). Hoje, adultos, são como irmãos. Quando o filme começa, a turma está a um dia de embarcar no avião que os levará para a Base do Exército no Oriente Médio. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Michael</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> vai apanhar </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frankie</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> para levá-lo à "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">despedida de solteiro</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" e flagra o amigo fazendo amor com a namorada. Irreverente, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frankie</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> pouco parece se importar. Em um outro lugar da vizinhança, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Williams</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> passa por um sufoco. Ele está consolando a esposa, que naquela manhã está dando à luz um lindo bebezinho. Para sua sorte, conta com o suporte de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Inkelaar</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, estudante de Medicina e o mais inteligente do quarteto. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Williams</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> não terá oportunidade de aproveitar melhor o filho, pois em menos de 24 horas precisará se despedir para partir para seu "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">tour</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" pela zona dos Monstros. Como uma família unida, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Michael</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frankie</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> assistem ao parto.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Eles jogam basquete na quadra do quarteirão, e <i>Michael</i> e <i>Frankie</i> trocam impressões sobre a jornada por vir. Ambos falam sobre os tempos em que apoiavam um ao outro, e se comprometem a se ajudar mutuamente no Oriente Médio. Aprontando e tirando sarro uns com os outros, os quatro mostram o quanto são unidos, e que ali entre os membros do grupo não há nenhuma espécie de reserva. Eles comparecem a uma "<i>rinha</i>", onde a galera barra pesada do bairro põe cachorros para brigar com Monstros menores e faz apostas, e depois "<i>tomam todas</i>" em um bar local onde arrumam prostitutas. Em um quarto de motel barato, os rapazes se divertem com as meninas e consomem toda sorte de drogas para relaxar e tirar a cabeça da aventura por vir.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi09fhqT9GFgna031vfvFy5myNMuxNwhKj4aeSIsGzHe9Jynmwmx7rKLaw4kNoSGs0DnsnI893hMtsH7AQKuct67cCT3m5PWSzpZODtXL2_QoYxYY7vel8ZlZiCmhC-X8h1wK7F3_QqBYQ/s1600/Monsters.Dark.Continent.2014.1080p.WEB-DL.DD5.1.H264-FGT.avi_snapshot_00.20.06_%255B2015.04.28_08.52.45%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="663" data-original-width="1600" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi09fhqT9GFgna031vfvFy5myNMuxNwhKj4aeSIsGzHe9Jynmwmx7rKLaw4kNoSGs0DnsnI893hMtsH7AQKuct67cCT3m5PWSzpZODtXL2_QoYxYY7vel8ZlZiCmhC-X8h1wK7F3_QqBYQ/s320/Monsters.Dark.Continent.2014.1080p.WEB-DL.DD5.1.H264-FGT.avi_snapshot_00.20.06_%255B2015.04.28_08.52.45%255D.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkTJV2yn_fo9RdGlJ9AcS0zJTFCmhTHscnQkp2I8dCjzk3r5X8GdKE03b2AOEYnUBS21QazORIimFHpmGxw6Ip-pT3EGrInN_3TcON6KIXF4DAyXFhBiydx1UIpZAIG2vkmT9JIKqvY_8/s1600/Monsters.Dark.Continent.2014.1080p.WEB-DL.DD5.1.H264-FGT.avi_snapshot_00.21.18_%255B2015.04.28_08.52.59%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="663" data-original-width="1600" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkTJV2yn_fo9RdGlJ9AcS0zJTFCmhTHscnQkp2I8dCjzk3r5X8GdKE03b2AOEYnUBS21QazORIimFHpmGxw6Ip-pT3EGrInN_3TcON6KIXF4DAyXFhBiydx1UIpZAIG2vkmT9JIKqvY_8/s320/Monsters.Dark.Continent.2014.1080p.WEB-DL.DD5.1.H264-FGT.avi_snapshot_00.21.18_%255B2015.04.28_08.52.59%255D.jpg" width="320" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7pLXTWgkfMxBJh3cl_DBx-1LY4Rqhibv-6lwVRrbtcmGKhiFnCx-YXjSz_SVwr1K2lSONDLCPkllAi5ykgfiuCh3yyuW1ifW2Uq5Y16VC7mxb0Zsj98UH1TGyF-8c0GBcFKemWQwNHtQ/s1600/Monsters.Dark.Continent.2014.1080p.WEB-DL.DD5.1.H264-FGT.avi_snapshot_00.22.46_%255B2015.04.28_08.53.13%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="663" data-original-width="1600" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7pLXTWgkfMxBJh3cl_DBx-1LY4Rqhibv-6lwVRrbtcmGKhiFnCx-YXjSz_SVwr1K2lSONDLCPkllAi5ykgfiuCh3yyuW1ifW2Uq5Y16VC7mxb0Zsj98UH1TGyF-8c0GBcFKemWQwNHtQ/s320/Monsters.Dark.Continent.2014.1080p.WEB-DL.DD5.1.H264-FGT.avi_snapshot_00.22.46_%255B2015.04.28_08.53.13%255D.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Levados à base por helicópteros de guerra, os amigos ficam pasmos ao enxergar o tamanho das criaturas, agora parte do hostil, escaldante deserto. Os Monstros guardam em média a mesma altura de um edifício de 20 andares. As criaturas se sustentam sobre várias pernas, e suas cabeças são compridas e esticadas, como uma tromba. Apesar da visão apocalíptica, os amigos parecem excitados com a aventura, e acham que terão os dias de suas vidas ali no Oriente Médio. Um movimento desavisado de uma das criaturas quase faz o helicóptero perder o controle, mas logo o piloto o estabiliza, sob os gritos de alegria do quarteto. Depois de se distanciarem da zona, eles veem quando outros helicópteros executam o reconhecimento e jogam bombas sobre os Monstros. Na base, são apresentados a </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frater</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> e Sargento </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Forrest</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> (</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Nicholas Pinnock</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, uma das grandes performances do filme, aqui criando um personagem divertido e energético que muito lembra </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Denzel Washington</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> em "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Dia de Treinamento</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">"). </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frater</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> os enquadra no novo esquema, e reitera que aquele que deixar as próprias emoções controlá-lo estará condenando-se à morte. Se </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frater</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> parece duro, é porque os meninos não conhecem o Sargento </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Forrest</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. O Sargento lhes explica a gravidade da situação. Quando os Monstros primeiro apareceram, o Exército Americano bombardeou as montanhas para pôr fim à praga. Claro que as bombas também mataram cidadãos locais, o que inflamou o ódio dos jihadistas. Assim, a guerra aos Monstros foi substituída por uma nova guerra contra fundamentalistas, suicidas e terroristas. O objetivo maior da unidade é infiltrar-se entre membros da população local e eliminar qualquer célula insurgente.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHzgZvExEJrfKuhkzuW_OXW3yhIo7rGsi3Lcke4g7bYKAEYhNavt9EwLs4k_pM5QduHAbXZMfV7mfXNGsB1CLiJs1EZ1oQ-5Qh5go7W7Nfj4h065Oe3bwwy6edMN87NzL_waveKRXw2RY/s1600/Monsters.Dark.Continent.2014.1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="663" data-original-width="1600" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHzgZvExEJrfKuhkzuW_OXW3yhIo7rGsi3Lcke4g7bYKAEYhNavt9EwLs4k_pM5QduHAbXZMfV7mfXNGsB1CLiJs1EZ1oQ-5Qh5go7W7Nfj4h065Oe3bwwy6edMN87NzL_waveKRXw2RY/s320/Monsters.Dark.Continent.2014.1.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfOYlgZKLvKfJgDEJJf7S0V9juaToXYq0wWRnOr93YpRHyXEnLLzV8LQrbai5z2FKE7Y5n4f1ObS6BewjymM9sQcxPSkAIo_QBH-RuKQ9k6B5WPW-onYOy3rEjjtL7205wKxxJXVIl03c/s1600/Monsters.Dark.Continent.2014.2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="663" data-original-width="1600" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfOYlgZKLvKfJgDEJJf7S0V9juaToXYq0wWRnOr93YpRHyXEnLLzV8LQrbai5z2FKE7Y5n4f1ObS6BewjymM9sQcxPSkAIo_QBH-RuKQ9k6B5WPW-onYOy3rEjjtL7205wKxxJXVIl03c/s320/Monsters.Dark.Continent.2014.2.jpg" width="320" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhogtu9Hua1a5P2jcunvuHCKhn4clj8s75HMMGETrH_Qeugfq_dLTCGEIRNf7lsknf-g-rZV4w-VTNGzIacnOLznae8rLwl02Km-niZdG5dU-IRfDwFhyphenhyphenIrecvkzsZuBiByh1C7cxL0HtU/s1600/Monsters.Dark.Continent.2014.3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="663" data-original-width="1600" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhogtu9Hua1a5P2jcunvuHCKhn4clj8s75HMMGETrH_Qeugfq_dLTCGEIRNf7lsknf-g-rZV4w-VTNGzIacnOLznae8rLwl02Km-niZdG5dU-IRfDwFhyphenhyphenIrecvkzsZuBiByh1C7cxL0HtU/s320/Monsters.Dark.Continent.2014.3.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Quando </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Inkelaar</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frankie</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> se entreolham com sorrisinhos, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Forrest</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> fica louco da vida e tira uma onda com todos os quatro. Ele os reduz a pó, com seus xingamentos. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Inkelaar</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> é seu alvo predileto. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Forrest</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> grita algo nas linhas de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">E você, seu filho da puta de olhos tristes... Por que tá com essa cara de quem quer chorar?Como quem gostaria de estar em outro lugar?Você não está!Faz parte de um time agora!</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". Apesar do tom hostil, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Forrest</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> precisa ser durão para mantê-los unidos. Os rapazes precisarão endurecer para suportar o stress da missão. Não custam a se sentirem em casa, e logo estão disputando partidas de futebol americano nas horas vagas. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Forrest</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> não custa a se tornar mais próximo dos rapazes, e durante a viagem do comboio rememoram as namoradas, que deixaram para trás. No centro populacional para reconhecimento, a atmosfera é de tensão. Entre transeuntes e homens sentados na varanda, qualquer um pode se revelar jihadista. Cidadãos são entrevistados e fotografados, e em um momento muito bonito, as crianças e adolescentes locais provam-se livres de quaisquer preconceitos odiosos ao receber os rapazes com risos e abraços.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A unidade chega a um sítio afastado, supostamente utilizado como ponto estratégico para atividades terroristas. <i>Frater</i> e os garotos esperam a noite chegar, e quando tudo parece quieto, invadem com visores noturnos. Não há mais jihadista algum na propriedade, apenas um senhor idoso que parece revoltado. Ele se queixa da morte do filho, cuja vida fora perdida após um dos bombardeios. Explica que não é terrorista, apenas um homem comum que vive da terra. Naquele momento, à frente das colinas, <i>Frater</i> e os demais avistam um Monstro enorme se aproximando muito vagarosamente. Agitado, o velho causa toda sorte de problemas, até levar uma coronhada que o silencia. <i>Frater</i> e os rapazes apanham as armas mais pesadas e derrubam o Monstro a tiros. Ao retornarem para a Base, levam uma dura do Sargento. Ele os acusa de não terem agido mais rapidamente com o velho, e que tiveram sorte de que não se tratava de um homem-bomba. Da próxima vez, poderão lidar com um suicida com bombas atadas ao corpo. <i>Frater</i> tem uma filha em casa, e quer voltar vivo para os Estados Unidos. Os soldados jamais o viram tão exaltado. "<i>Essa guerra é real, metam isso nas suas cabeças de uma vez por toda!</i>", ele grita. Mais tarde, <i>Forrest</i> presta uma visita a <i>Frater</i>, e até consegue fazê-lo sorrir ao contar de maneira brincalhona sobre a noite de amor com a esposa na última vez que esteve em casa. Vemos o Sargento no corredor, realizando uma ligação para os Estados Unidos. A mulher soa fria e distante, o casamento não vai bem, porém tudo o que <i>Frater</i> deseja é escutar a voz da filhinha, o que acontece e o deixa com os olhos cheios de lágrimas.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJggjn7cuegAHxKrALXEvskkUHJQmbLwrmUgqYN6spO63aVc3FC3WOaXoSgbSKk6qdYgEZNIYW8R95Q1lLc-B7Opt3r3K27TewGrL_CuKyodDe14Fjz33FC5UW3rTrw0nk_oqXH7BvDNM/s1600/Monsters.Dark.Continent.2014.4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="663" data-original-width="1600" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJggjn7cuegAHxKrALXEvskkUHJQmbLwrmUgqYN6spO63aVc3FC3WOaXoSgbSKk6qdYgEZNIYW8R95Q1lLc-B7Opt3r3K27TewGrL_CuKyodDe14Fjz33FC5UW3rTrw0nk_oqXH7BvDNM/s320/Monsters.Dark.Continent.2014.4.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Naquela manhã, tendo sido o primeiro a despertar, na linha do horizonte e contra o Sol nascente, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Michael</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> assiste ao movimento das gigantescas trombas muito distantes, impressionantes pela envergadura. Eles terão um dia difícil, conforme a preleção de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frater</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Há 5 horas atrás, a Base perdeu contato com outra unidade, em um vale notório pela população repleta de jihadistas. O trabalho do grupo será o de descer o vale, encontrá-los e tirá-los. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frater</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> lhes mostra pastas com as fotos dos soldados desaparecidos e pede para que as gravem na cabeça. Não voltarão para casa enquanto não os salvarem. Antes da partida, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Inkelaar</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> tira uma foto do grupo, unido. Eles embarcam no helicóptero e são deixados em um ponto a partir do qual seguirão por terra, em comboio. O ânimo está ótimo, todos prontos para a ação. Aqui, há um dos momentos mais visualmente fantásticos do filme, quando em alta velocidade seus carros são acompanhados e ladeados por uma vertente diferente de Monstros, semelhantes a ágeis búfalos, com cabeças muito estreitas e compridas, o que lhes confere maior agilidade na corrida.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO-IXHVidx_4BEYIBbOY6hrpj1fiHiIKCxjg-ZcwBDPu97ntXw7tWaMLf6NovDiYXJE8NygU4moU5EupyRC3TyJfhwEfAU_84Aw7wav45Q3NBOWZ_Ov_wgZtHQLgmq47sWwCD-nmNghqo/s1600/Monsters.Dark.Continent.2014.5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="663" data-original-width="1600" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO-IXHVidx_4BEYIBbOY6hrpj1fiHiIKCxjg-ZcwBDPu97ntXw7tWaMLf6NovDiYXJE8NygU4moU5EupyRC3TyJfhwEfAU_84Aw7wav45Q3NBOWZ_Ov_wgZtHQLgmq47sWwCD-nmNghqo/s320/Monsters.Dark.Continent.2014.5.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnH8XSHIyylPOWrCz4jUmRqJiJ4MXi4UHrQDsN3WTW80VJVMkowwRlTJXtY_ZNkazUwoLCKUz-2O0FvvUUzizBEAGvX7IepF-Dcdl0OZbBlzTostOc9QQx0PHsmfGGo6joTazKulN2-C0/s1600/Monsters.Dark.Continent.2014.6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="663" data-original-width="1600" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnH8XSHIyylPOWrCz4jUmRqJiJ4MXi4UHrQDsN3WTW80VJVMkowwRlTJXtY_ZNkazUwoLCKUz-2O0FvvUUzizBEAGvX7IepF-Dcdl0OZbBlzTostOc9QQx0PHsmfGGo6joTazKulN2-C0/s320/Monsters.Dark.Continent.2014.6.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Um dos carros subitamente passa por cima de uma mina. <i>Frater</i>, <i>Michael</i> e <i>Inkelaar</i> dão a sorte de estarem no outro carro. <i>Williams</i> sofre graves ferimentos da cintura para baixo, e ao procurar se afastar dos destroços em chamas, pisa em uma nova mina, desta vez perdendo as pernas. Dentro do carro, <i>Forrest</i> está morto. Jihadistas os cercam, protegidos por trás de escombros e abrindo fogo. <i>Frater</i> devolve os tiros e cobre seus homens, que conseguem arrastar o ferido <i>Williams</i> para uma construção abandonada. <i>Inkelaar</i> usa sua perícia para tentar manter o amigo vivo, mas <i>Williams</i> está lentamente deslizando para a inconsciência. Fortemente armados, os jihadistas usam um lança foguetes para explodir o outro carro. Agora, só há <i>Frater</i>, <i>Inkelaar</i>, <i>Williams</i> & <i>Frankie</i>. Não há salvação para <i>Williams</i>, e os rapazes logo o veem morrer. Cercados por todos os lados, os sobreviventes realizam uma resistência heroica, pondo abaixo uma porção de jihadistas. Agora, precisam deixar o c<span style="font-size: small;">orpo de <i>Williams</i> e seguir para o ponto de extração, a se dar na vila onde a outra unidade foi vista pela última vez. Suporte aéreo joga bombas sobre a faixa onde se encontram os inimigos, e os rapazes conseguem correr até um novo prédio, aparentemente vazio.</span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Os homens cometem o grave erro de relaxar do lado de fora. Uma bala vara a cabeça de <i>Inkelaar</i>, matando-o instantaneamente. <i>Frankie</i> também é atingido. Subitamente, muitos jihadistas surgem e assaltam a construção, tomando-os como reféns. <i>Frater</i> sussurra a <i>Michael</i> que não perca a cabeça e tenha paciência. Os 3 sobreviventes são levados à central de operações dos jihadistas. Amarrados nas cadeiras e submetidos a interrogatórios, só lhes resta esperar. Lamentavelmente, <i>Frankie</i> sangra até a morte, para a desolação dos companheiros. A noite chega, e tremores de terra sinalizam que os Monstros estão se aproximando. A maioria dos jihadistas sobe nas camionetas, e os veículos arrancam. Sobram apenas alguns guerrilheiros na base, incluíndo o líder da célula, que foi o mais cruel de todos. <i>Frater</i> usa o ombro para tirar momentaneamente o equilíbrio de um dos guerrilheiros, e quando o jihadista cai, quebra-lhe a cara e o pescoço sob o peso de suas botas. <i>Frater</i> ajuda o companheiro <i>Michael</i> a se desamarrar. É o próprio <i>Michael</i> que tomado de fúria satisfaz a vingança sobre o líder terrorista. Surpreendido, o terrorista ainda tenta esboçar uma reação, mas <i>Michael</i> usa um cano para golpeá-lo até a morte, em uma cena violentíssima. </span></span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><i>Michael</i> corre para fora do prédio, e enxerga o Monstro vagando perigosamente ao lado da construção. Os clarões vindo de dentro indicam que <i>Frater</i> está fuzilando os jihadistas retardatários</span>. Os americanos encontram duas motos e partem pelo deserto, em direção ao vale.</span><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> <i>Michael</i> não suporta mais a pressão, e chega a descer da moto e se ajoelhar no chão louco para desistir. <i>Frater</i> insiste que não perca a cabeça. Eles seguem com a jornada em meio a uma tempestade de areia, e quando começa a entardecer, alcançam trilhos no entorno de um canal. O vagão certamente foi mais uma casualidade dos bombardeios. Ainda inteiro, oferece guarida para que passem a noite com segurança. Pela primeira vez, <i>Frater</i> se abre um pouco, discorrendo sobre como os tours pela zona o transformaram por dentro. Da última vez que voltou para casa, sentiu-se, por um breve momento, pelo olhar da filha, um completo estranho. Ela não parecia reconhecê-lo mais. <i>Frater</i> está cheio de remorsos e acha que se encontra há tantos anos no meio daquela confusão no Oriente Médio que pensa estar se tornando um desconhecido para a família.</span></span></span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">No dia seguinte, encontram os restos de um Monstro, derrubado na noite anterior por bombas americanas. Como efeito colateral, o ataque também atingiu um ônibus de refugiados que procurava deixar o canal. <i>Frater</i> & <i>Michael</i> encontram uma criança, ainda viva. O Sargento explica que o mais humano a fazer seria a eutanásia, mas <i>Michael</i> o impede de finalizar o garoto. Repentinamente, jihadistas a cavalo aparecem, e os colegas veem que não terão chances caso os inimigos queiram lutar. Para sua surpresa, os jihadistas não lhe fazem mal. Sob o pano, percebe-se que a líder dos homens é uma jovem mulher, mãe do garoto. <i>Michael</i> entrega a criança nos braços. Os jihadistas abaixam as armas.</span></span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5Hhp-Ran4RYJ3CfZ7Lan9jHaksQ25j6_xViWxrFAmbjnS8Y9qPgWqskn-gJCLN_zB31PCOV-BF0KTvlkxobsoWNLCa5X8krGSliaIAgFTrntcQaB3tHH4GzBxw8rz0xwA2yuO0LiHJ8o/s1600/Monsters.Dark.Continent.2014.7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="663" data-original-width="1600" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5Hhp-Ran4RYJ3CfZ7Lan9jHaksQ25j6_xViWxrFAmbjnS8Y9qPgWqskn-gJCLN_zB31PCOV-BF0KTvlkxobsoWNLCa5X8krGSliaIAgFTrntcQaB3tHH4GzBxw8rz0xwA2yuO0LiHJ8o/s320/Monsters.Dark.Continent.2014.7.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3u9vw4P46cbdBPg0t7hPUV5tJnmzKXxfD9-OleEWYEBL0RHtzpj4X684xK8tTIT8oPNzAvzmOCkSEQljHuU1DzOXRuajSYWtifdWVZGEk7jOoxBO8THJ9n2igwM-LKQZBMIkIv-bIuUA/s1600/Monsters.Dark.Continent.2014.8.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="663" data-original-width="1600" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3u9vw4P46cbdBPg0t7hPUV5tJnmzKXxfD9-OleEWYEBL0RHtzpj4X684xK8tTIT8oPNzAvzmOCkSEQljHuU1DzOXRuajSYWtifdWVZGEk7jOoxBO8THJ9n2igwM-LKQZBMIkIv-bIuUA/s320/Monsters.Dark.Continent.2014.8.jpg" width="320" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkhamEVa6uFG7OgCJjbzmItmLir8qK3A1NO_33C9nfzMNP2ArVcdfl2q-aG-DilS2Tpa3SmvztEK7oVlCPBCiynqvn4jtaejDrNj5MOoTjKahxMkV6EUr7Ho3O7yCZQjhSjKUnGC8tRcs/s1600/Monsters.Dark.Continent.2014.9.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="663" data-original-width="1600" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkhamEVa6uFG7OgCJjbzmItmLir8qK3A1NO_33C9nfzMNP2ArVcdfl2q-aG-DilS2Tpa3SmvztEK7oVlCPBCiynqvn4jtaejDrNj5MOoTjKahxMkV6EUr7Ho3O7yCZQjhSjKUnGC8tRcs/s320/Monsters.Dark.Continent.2014.9.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Os nativos os conduzem a um riacho, e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frater</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Michael</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> saciam a sede e deixam que a água cristalina lave as feridas. Limpos e descansados, se sentam com os nômades ao redor de fogueiras, e são recebidos com respeito e carinho. Um menininho estende a mão para os americanos. Não há qualquer sinal de animosidade por parte daquela gente sofrida. Chega a noite. As mulheres se preparam para o ritual de despedida. O garotinho não resistiu e morreu. Elas levam seu corpo e lampiões, bem para o meio do canal onde o ônibus foi originalmente encontrado. Quando </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frater</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> vai verificar o colega na tenda, dá pela sua falta. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Michael</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> está acompanhando as mulheres de longe, participando da cerimônia do Adeus. O corpo da criança é repousado no chão. A cena a seguir não apenas é visualmente impecável, é emocionalmente massacrante. A combinação de imagens e trilha cria o melhor momento de toda a série, algo realmente lindo de se assistir. As mulheres repousam os lampiões no chão, e um Monstro gigantesco aparece no canal. Ao se deparar com o corpo da criatura morta, o Monstro solta um choro de partir o coração. Subitamente, libera os esporos, organismos semelhantes a minúsculas águas vivas, e é como se uma chuva de polens azulados descendesse sobre o deserto inteiro. Do mesmo jeito que no primeiro filme o encontro dos Monstros é apresentado como analogia para o amor em formação entre </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Andrew</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samantha</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, o diretor </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tom Green</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> traça um paralelo entre humanos e criaturas, a dor do Monstro ao perder a criatura semelhante à dor daquela moça ao perder o filho. Monstros & seres humanos não são tão diferentes, apenas lados opostos das mesmas trágicas circunstâncias.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Na manhã seguinte, <i>Frater</i> & <i>Michael</i> têm uma discussão acalorada. O Sargento não quer que o soldado se envolva com aquela gente, principalmente no segmento final da missão. Ele explica que precisam seguir caminho, e assim se põem à pé rumo ao vale, o local onde acreditam que encontrarão a unidade perdida, o ponto de extração. Mesmo no meio daquela paisagem quente e inóspita, os americanos encontram um inocente menininho local mexendo com uma latinha. Ao abri-la, nos revela uma nova manifestação de vida alienígena, desta vez uma colorida, bela libélula. A libélula tem uma cabeça com pequeninas trombas, uma espécie de rascunho da versão adulta. Ela bate as asas e voa, e ao pousar na areia, se divide em várias fitas, que penetram na terra e desaparecem. Mesmo tendo puxado a pistola para atirar, <i>Frater</i> não o faz, encantado com a criatura, e talvez, pela primeira vez, movido por todo o drama.</span></span></span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSLj58GOxTeCl8dqQD6UUeacEdcPkJF3DEfCZypoOUSp2Xz-5H9JTH0gnaUDPm85Gb10CISAi_VRnwQY5_DeGW-NVxolgsAWBoBs3JYFRQQyYA2HwQO5fTiQL7HAD35i2MVbD21Ll_8AY/s1600/Monsters.Dark.Continent.2014.10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="663" data-original-width="1600" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSLj58GOxTeCl8dqQD6UUeacEdcPkJF3DEfCZypoOUSp2Xz-5H9JTH0gnaUDPm85Gb10CISAi_VRnwQY5_DeGW-NVxolgsAWBoBs3JYFRQQyYA2HwQO5fTiQL7HAD35i2MVbD21Ll_8AY/s320/Monsters.Dark.Continent.2014.10.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8aiPqOO04-TCyPig0Tfb9RlTUeWln-x-7OsHKqFBhgm6hyrIwdBLpjUeLsAlu56E3SefrFAVaFfXvmrisc3G7NUY-F9BFS0v7Zo1HY8hlvpyq7hiW35vh_MlTtbzAIpNg7wM21RsnuE4/s1600/Monsters.Dark.Continent.2014.11.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="663" data-original-width="1600" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8aiPqOO04-TCyPig0Tfb9RlTUeWln-x-7OsHKqFBhgm6hyrIwdBLpjUeLsAlu56E3SefrFAVaFfXvmrisc3G7NUY-F9BFS0v7Zo1HY8hlvpyq7hiW35vh_MlTtbzAIpNg7wM21RsnuE4/s320/Monsters.Dark.Continent.2014.11.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Por sobre a colina, os soldados guardam um visual muito amplo e revelador do vale abaixo, várias casas alinhadas em ruas arranjadas de modo bem simples. O sinal de destruição ao redor indica que aquela gente há muito se vê refém dos bombardeios. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frater</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> na frente, a dupla vai realizando a vasculha entre vielas bem estreitas, até que tem a atenção capturada por uma criança no meio da rua, brincando com um capacete do Exército. Furioso, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frater</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> exige que o menino lhe conte onde arrumou o capacete. Outras crianças locais exibem uma metralhadora. O Sargento segura um dos meninos pela gola e o força a apontar onde arrumou as coisas. Ele os leva a uma construção, um casebre muito humilde, onde uma idosa ora ao lado dos corpos dos membros da unidade perdida. Até onde sabemos, os soldados podem ter sido vítimas de um ataque aéreo, "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">fogo amigo</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", mas </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frater</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> não quer saber. Ele está com "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">sangue nos olhos</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" e matará toda a gente daquela vila por vingança. O Sargento finalmente parece ter cedido à loucura, e se comporta como um cão raivoso.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEix9U3xsjiHGLOHjOpNSFgGbqxcCdua4XZfLYuQNq0uJCSy_Buq38JtxfzjeU-XuorO8zFoabmO0jNFT5hKuSGR2VJf-y3SNNKqLaL38Z90zu-hYEvBykj2whlde4_ZEzeSbP3jlh5Vs7k/s1600/Monsters.Dark.Continent.2014.12.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="663" data-original-width="1600" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEix9U3xsjiHGLOHjOpNSFgGbqxcCdua4XZfLYuQNq0uJCSy_Buq38JtxfzjeU-XuorO8zFoabmO0jNFT5hKuSGR2VJf-y3SNNKqLaL38Z90zu-hYEvBykj2whlde4_ZEzeSbP3jlh5Vs7k/s320/Monsters.Dark.Continent.2014.12.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Na primeira casa que encontra pela frente, apanha uma família de idosos e pessoas inofensivas. Aponta a metralhadora para o patriarca e estoura seus miolos sem pensar duas vezes. O próximo em quem faz mira é uma criança indefesa. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Michael</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> saca a pistola e suplica para que o amigo não cometa tamanha loucura. Quando entende que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frater</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> perdeu a cabeça e seguirá matando, não resta outra saída que não disparar. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frater</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> é atingido nas costas. Ele ainda sai cambaleante pelas ruas em direção ao vale que se estende à sua frente, uma revoada de pássaros simbolizando a volta para casa, que para </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Frater</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> jamais virá. Eventualmente, o Sargento cai de joelhos e morre. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Michael</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">, que o acompanha a uma distância, se detém diante da planície que se estende até ao horizonte, sendo posta abaixo por bombas. Também agonizantes, aqueles gigantes, tão distantes de seu planeta, se despedem. O helicóptero se aproxima para levar </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Michael</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> para casa.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Enquanto o cinema independente gerou fenômenos como "<i>V/H/S</i>" & "<i>The Babadook</i>", oxigenando o gêne</span></span>ro Horror como os "<i>abre-alas</i>" de uma década que promete ser tão produtiva e imperdível quanto a dos anos 70, a Ficção-Científica também atravessa um processo de amadurecimento e reaproximação a raízes mais sérias, com filmes como "<i>Europa Report</i>" & "<i>Under the Skin</i>". "<i>Monsters</i>" & "<i>Monsters: Dark Continent</i>" pertencem a esta mesma safra, e prova de seu valor é o fato de <i>Gareth Edwards</i> ter sido imediatamente "<i>sequestrado</i>" pelos grandes estúdios para realizar aquilo que toda a soma do mundo não consegue criar: imprimir aos blockbusters um sabor de identidade, personalidade, algo que o torne notável em meio a tantas histórias esquecíveis produzidas e lançadas nos cinemas. Incrivelmente originais, "<i>Monster</i>" & "<i>Monsters: Dark Continent</i>" se complementam de maneira perfeita, em que pese a distinção entre enredos & personagens. Da fonte original, "<i>Monsters: Dark Continent</i>" leva consigo a matriz, mas se aventura com a premissa por outro viés. Aqui, não há de se falar no melhor filme, porque em suas diferenças parecem individualmente perfeitos, mas sempre frutos da mesma árvore.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
Filmado a um custo de 500 mil dólares, o primeiro "<i>Monsters</i>" deixou os fãs atônitos com o que se é possível produzir com pouco dinheiro e muita paixão. <i>Edwards</i> partiu de uma premissa cansativa - a invasão de alienígenas - e criou um universo de ricos detalhes, o que alavancou sua visão, destacando-a pela originalidade, separando-a da maioria de ficções-científicas aprisionadas ao lugar comum. Difícil de categorizar, parece injusto pensar em "<i>Monsters</i>" como filme de Horror. Lembro-me de uma excelente resenha que o ilustrou como uma versão mais sombria de "<i>Antes do Amanhecer</i>", a obra-prima de <i>Richard Linklater</i> sobre dois jovens que se encontram em um trem e aproveitam ao máximo uma romântica madrugada em Viena, vez que na manhã seguinte precisarão dizer Adeus. Ímpar e eletrizante no senso de urgência criado, "<i>Antes do Amanhecer</i>" bem serve para se definir, ao menos em parte, o significado que <i>Edwards</i> queria imprimir a "<i>Monsters</i>". Muitas coisas ao mesmo tempo, por mais intrigante que pareça, "<i>Monsters</i>" busca em última análise o desenvolvimento de uma história de amor, contada no estilo de um autêntico, melancólico, internacional e transitório "<i>road movie</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
Tendo traçado considerações sobre o primeiro, para que se compreenda o mérito do segundo, faz-se necessário um aparte. Agora que enxergamos o valor do trabalho de <i>Gareth Edwards</i>, sua contribuição ao processo de renovação pelo qual atravessa o gênero de ficção-científica, voltemos um pouco no tempo, ao ano de 2003, quando após uma sucessão de desapontamentos, o diretor britânico <i>Danny Boyle</i> fez "<i>28 Days Later</i>", redimindo a carreira e fazendo ressurgir como a fênix das cinzas o filão dos "<i>mortos-vivos</i>". Apesar do sucesso fenomenal de "<i>28 Days Later</i>", <i>Danny Boyle</i> criou "<i>28 Days Later</i>" como algo íntimo, um filme de arte pela definição literal da palavra. Encabeçado por atores de muita coragem e talento, `a época largamente desconhecido, "<i>28 Days Later</i>" emanava um senso de estilo que o tornava mais experimento do que típica produção de Horror. Em suas peculiaridades e diferenças, o filme de <i>Boyle</i> "<i>matava a bola no peito</i>" e corria com a mesma, como artilheiro, levando a ideia a lugares magníficos, sacadas geniais. Não obstante em seu cerne apenas requentar um dos maiores temores da humanidade - o colapso da sociedade como a conhecemos durante uma crise mundial incontrolável, no caso a disseminação de um letal, potencializado vírus da Raiva, acidentalmente vazado de um laboratório na Grã-Bretanha por ativistas do Greenpeace, - <i>Boyle</i> reinventou a fórmula, contando a mesma história por um novo prisma, mais apropriado a filmes de arte europeus. Enriquecido por algumas das cenas mais plasticamente belas possíveis, que tornam a experiência parecida a algo como admirar uma exposição de obras de arte, uma trilha de batida contundente e angustiante, uma fotografia granulada que captura Londres e o interior da Inglaterra como alguns dos recantos mais chuvosos, frios, cinza e sombrios da face da Terra, "<i>28 Days Later</i>" nasceu do amor do diretor <i>Danny Boyle</i> e do cuidado do roteirista <i>Alex Garland</i>, que pelo modesto orçamento, 8 milhões de dólares, jamais esperavam criar um blockbuster. Queriam, isso sim, apenas concretizar aquilo que estava em seus corações, cuidar do desenvolvimento daquela "<i>criança</i>", o filme por assim dizer, da maneira que melhor compreendessem. Quis o destino que "<i>28 Days Later</i>" caísse na graça do grande público, um feito raro e apenas para poucos.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
Era inevitável que o estúdio desse carta branca para a continuação, a ser produzida em grande escala, e em 2007 chegou aos cinemas "<i>28 Weeks Later</i>". As pessoas que tinham amado o primeiro, com direito a todas as "<i>esquisitices</i>" do <i>Danny Boyle</i>, não souberam como reagir diante de "<i>28 Weeks Later</i>". Não obstante escrito como continuação direta, focando-se nos efeitos da disseminação do vírus da Raiva, que torna os infectados máquinas de matar, e na luta dos norte-americanos para restaurar a ordem em uma Inglaterra destruída, o filme não possuía nem de longe uma pequena parte do charme do original. Quando falo sobre a dificuldade de se criar magia, sempre cito o exemplo do filme de <i>Danny Boyle</i>. O sucesso de "<i>28 Days Later</i>" encorajou um grande estúdio a não poupar esforços para produzir algo ainda maior, e de fato, com "<i>28 Weeks Later</i>", a ação e os efeitos e a escala foram potencializados. Ocorre que tudo o que tornara o primeiro tão especial, tão aterrorizante, tão único, jamais poderia ser reproduzido, por mais dinheiro que o estúdio estivesse disposto a investir. No final, apesar de oficialmente parte de uma mesma história, "<i>28 Weeks Later</i>" não pareceu mais do que um regular filme de ação, algumas cenas bem feitas, mas comum demais para deixar alguma marca, gozar de alguma relevância. Retomando os eventos do primeiro, o diretor <i>Juan Carlos Fresnadillo</i> se provou um excelente "<i>diretor de filmes de James Bond</i>". Soube onde colocar as câmeras, seguiu a cartilha, fez as suas cenas de ação grandiosas. Apenas se esqueceu daquilo que jamais falta a um <i>Cronenberg </i>ou a um <i>De Palma</i> ou a um <i>Clive Barker</i> ou a um <i>James Wan</i>. Pura paixão. A coragem para correr riscos, destemor completo em expressar qualquer desejo ou obsessão, traduzindo dores muito pessoais em imagens para as telas.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
Eu precisei da comparação acima para ilustrar quão fácil teria sido para os criadores de "<i>Monsters</i>" caírem na mesma armadilha. Assim como "<i>28 Days Later</i>", "<i>Monsters</i>" ganhou status de cult pois foi crescendo nos corações das pessoas pelo tom incomum com que o diretor <i>Gareth Edwards</i> contou a história de amor para seus tão bem escritos personagens e a honestidade com que tratou os "<i>Monstros</i>", nos sugerindo o cenário mais plausível para a vinda de seres extraterrestres `a Terra. Considerando a importância do original, a concepção de uma sequência parecia uma péssima ideia antes mesmo que algo sobre o enredo tivesse sido veiculado. Quando "<i>Monsters: Dark Continent</i>" entrou em gestação, eu mesmo imaginei que teríamos uma ficção científica frouxa e barulhenta que em nada homenagearia a paixão e o frescor tão marcantes no anterior. Qual foi a surpresa, o segundo filme apenas agregou mais originalidade e valor `a premissa.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br />
Apesar de diversificados em enfoque, para ambos os filmes o plano de fundo segue imutável, qual seja a vida extraterrestre em sua mais extravagante, melancólica forma. Não apenas se repete o plano de fundo, mas também o tratamento que os cineastas <i>Gareth Edwards</i> & <i>Tom Green</i> dispensam a seus mistérios, mantendo-os nas sombras, respeitando-os, retratando-os em sua divindade e magia com muita discrição. Eu prefiro tratar sobre pontos tão importantes fazendo um comparativo entre os filmes objeto de minha resenha e os grandes clássicos a partir dos quais parece mais fácil falar sobre tudo o que veio depois. Assim, <i>Gareth </i>& <i>Tom </i>devem ter aprendido com <i>Clive Barker</i> e sua obra seminal "<i>Hellraiser</i>" que "<i>menos é mais</i>", e que o beijo da morte para qualquer filme de Horror acontece quando seus monstros ou maravilhosos encantos perdem o mistério pelo pecado da super exposição, o tiro no pé que mais derruba histórias do tipo. Ao contrário, quanto menos se mostra, e mais crédito se dá `a criatividade humana para preencher as lacunas, eis o caminho para um grande filme de Terror. Cinéfilos que amam os Monstros verão uma representação fantástica e surreal de vida alienígena. Deslumbrantes e enormes e poéticas, as criaturas fogem a qualquer categorização, difícil explicar. Lembro-me de um conto do grande <i>Clive Barker</i>, "<i>The Skin of Their Fathers</i>", onde descreve monstros do tipo como enormes e extravagantes, "<i>um pássaro desenhado por um esquizofrênico</i>". Alguém precisaria da genialidade de <i>Clive Barker</i> para procurar reproduzir o impacto de tão impressionantes criações, em uma resenha, portanto tomo a liberdade de transcrever um trecho para que pela leitura de sua prosa tenham uma noção da poesia envolvida na concepção dos Monstros dos dois filmes. Mesmo obras distintas - o conto de <i>Barker </i>& os filmes de <i>Edwards</i> & <i>Green </i>- o tratamento ao elemento da fantasia é o mesmo:</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="color: #212121;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="color: #212121;">"</span><i><span style="color: #212121;">Fora da casa,
Lucy tinha ouvido o diálogo. Abandonou o refúgio de sua choça, sabendo o que
ia ver contra o céu deslumbrante, mas nem por isso menos atraída</span> </i></span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span style="color: #212121;">pelas
monumentais criaturas que se reuniram em torno da casa. Sentiu angústia ao recordar
as alegrias perdidas daquele dia, seis anos antes. Ali estavam todas aquelas
criaturas inesquecíveis, uma incrível seleção de formas...</span></i><br />
<div style="background: white; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="color: #212121;">Cabeças
piramidais coloridas de rosa, torsos de uma proporção clássica, que caíam
em franjas de carne murcha. Uma beleza chapada e acéfala cujos seis braços de
madrepérola brotavam em torno de uma boca que ronronava e pulsava. Uma
criatura parecida com uma onda de corrente elétrica, em constante movimento,
que emitia um som doce e modulado. Criaturas muito fantásticas para serem
reais, muito reais para duvidar, anjos caídos. Tinha uma cabeça que
balançava para frente e para trás sobre um pescoço muito fino, como se fosse
um pêndulo absurdo, azul como o céu de uma noite que chega antes de tempo, e
salpicado de uma dúzia de olhos como outros tantos sóis. O corpo de outro pai
se parecia com um leque que se abria e fechava de excitação, e cuja carne
laranja se avermelhou ainda mais quando soou de novo a voz do menino. </span><o:p></o:p></span></i></div>
<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]-->
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves/>
<w:TrackFormatting/>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:DoNotPromoteQF/>
<w:LidThemeOther>PT-BR</w:LidThemeOther>
<w:LidThemeAsian>JA</w:LidThemeAsian>
<w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:SplitPgBreakAndParaMark/>
<w:EnableOpenTypeKerning/>
<w:DontFlipMirrorIndents/>
<w:OverrideTableStyleHps/>
<w:UseFELayout/>
</w:Compatibility>
<m:mathPr>
<m:mathFont m:val="Cambria Math"/>
<m:brkBin m:val="before"/>
<m:brkBinSub m:val="--"/>
<m:smallFrac m:val="off"/>
<m:dispDef/>
<m:lMargin m:val="0"/>
<m:rMargin m:val="0"/>
<m:defJc m:val="centerGroup"/>
<m:wrapIndent m:val="1440"/>
<m:intLim m:val="subSup"/>
<m:naryLim m:val="undOvr"/>
</m:mathPr></w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
DefSemiHidden="true" DefQFormat="false" DefPriority="99"
LatentStyleCount="276">
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Normal"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="heading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="35" QFormat="true" Name="caption"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="10" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" Name="Default Paragraph Font"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="11" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtitle"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="22" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Strong"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="20" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="59" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Table Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Placeholder Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="No Spacing"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Revision"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="34" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="List Paragraph"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="29" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="30" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="19" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="21" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="31" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="32" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="33" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Book Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="37" Name="Bibliography"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" QFormat="true" Name="TOC Heading"/>
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]-->
<!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Table Normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;}
</style>
<![endif]-->
<!--StartFragment-->
<!--EndFragment--><br />
<div style="background: white; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #212121; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>– Papai!</i>" (<i>Clive Barker</i>, Livros de Sangue, "<i>As Peles dos Pais</i>")</span></div>
<div style="background: white; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #212121; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="background: white; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #212121; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">No texto acima, há um elemento de fantástico, de conto de fadas, e ao se falar na representação das criaturas de "<i>Monsters</i>", semelhante tratamento se aplica. No primeiro "<i>Monsters</i>", as criaturas guardam um certo padrão, lulas gigantes grandalhonas, mas não tão enormes assim, cheias de tentáculos, emitindo uma charmosa fosforescência. Para a continuação, o diretor <i>Tom Green</i> procurou trabalhar em cima de um maior leque criativo, com monstros que atingem o tamanho de prédios de 20 andares, aproximadamente, outros menores, que correm como búfalos em manada, e alguns semelhantes a libélulas, capazes de serem guardados dentro de caixinhas. Em ambos os filmes, as criaturas inspiram um poderoso sentimento de tristeza. Ali estão os monstros, primeiramente na América Central, depois no deserto do Oriente Médio, confusos, em um mundo que não o seu. As criaturas não pediram pela guerra, foram arrastadas para o confronto forçadas por um acidente com a sonda da NASA, que trouxe os esporos. A vida daqueles seres misteriosos resume-se a perambular por cenários desolados enquanto são incansavelmente perseguidas e odiadas. Atrapalhadas e irracionais, guiadas por puro instinto de sobrevivência, não diferem quase em nada de um animal selvagem, por exemplo, solto na civilização. Dia desses, estava assistindo a um filme de um ator até hoje muito querido, <i>Christopher Lambert</i>. Quando eu tinha 14, 15 anos, eu me lembro que <i>Christopher Lambert</i> fazia aqueles filmes de ação que costumavam passar nos cinemas, estilo "<i>Marcado para Morrer</i>" & "<i>Os Franco-Atiradores</i>". Eu não os perdia, jamais, do mesmo jeito que não deixava de conferir as coisas que o <i>Steven Seagal</i> e o <i>Van Damme</i> lançavam todos as férias de meio de ano. Estamos falando de 1994, 1995, eram outros tempos, mais simples, e as pessoas ainda não haviam se tornado tão cínicas. Enfim, nessa proposta nostálgica, eu me recordo do primeiro filme do <i>Christopher Lambert</i>, que o tornou astro, nos anos 80, um drama histórico chamado "<i>Greystoke</i>", a lenda de Tarzan. <i>Christopher Lambert</i> interpretava o protagonista tirado das selvas e trazido de volta ao convívio da sociedade britânica depois de ter passado toda a vida na natureza selvagem e feito dos animais selvagens sua família. Ao visitar um zoológico, ele reconhece o gorila que na selva fora seu pai, e o animal selvagem também o reconhece. Decidido a ajudá-lo, ele abre a jaula e o ajuda a escapar, mas quando ambos são encurralados em um parque e o animal sobe na árvore para se proteger, é abatido a tiros, para o desespero do personagem do <i>Christopher Lambert</i>, que chora e diz que aquele era seu pai. Essa cena permaneceu na minha cabeça, por todos esses anos, e a acho emblemática para definir a tragédia das criaturas de "<i>Monsters</i>" & "<i>Monsters: Dark Continent</i>": incompreendidas, no lugar errado, afastadas de seu habitat natural, perseguidas, odiadas, amedrontadas, acuadas. A destruição causada, a razão primordial do Horror, não se deve a nenhum senso de antagonismo ou maldade, apenas ao medo e `a incongruência do convívio entre seres tão enormes e incompreensíveis em um mundo de seres humanos míopes e odiosos.</span><br />
<br />
"<span style="color: #212121; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Monsters:
Dark Continent</i>" utiliza os Monstros com o mesmo propósito, como o
onipresente elemento fantástico indiferente, no plano de fundo, observadores imparciais dos dramas de gente comum em uma
terra onde impera a magia. Como drama central, o diretor <i>Tom Green</i>
realizou o tipo de filmes que as pessoas que apreciaram "<i>Guerra ao
Terror</i>" vão salivar diante do prospecto. Ambientado no Oriente
Médio, "<i>Monsters: Dark Continent</i>" atira um grupo de amigos
norte-americanos e nós juntos em uma jornada pelo coração dos
mais desoladores, perigosos recantos. Os Monstros, aqui diferentes e
evoluídos desde que os vimos pela primeira vez, não são a maior
preocupação dos heróis. Visto como suspense de guerra, "<i>Monsters:
Dark Continent</i>" em nada fica devendo a "<i>Guerra ao Terror</i>", e assim como
o premiado filme de <i>Kathryn Bigelow</i>, parte do bom desenvolvimento dos
personagens para criar algum sentimento de empatia e identificação. Do momento em que "<i>compramos</i>" essa turma
como autênticos amigos e sabemos identificá-los por suas diferentes personalidades, o diretor <i>Tom Green</i> nos
"<i>coloca no bolso</i>", e nos carrega juntos para a linha de fogo.
Sabemos que a maioria daqueles rapazes não resistirá até o final, mas a antecipação de quem será o próximo a
cair torna a experiência um "<i>ataque cardíaco</i>" de aproximadamente duas horas de duração. Enquanto o trunfo de <i>Gareth Edwards</i> tenha sido o desenrolar de uma história de amor, uma espécie de "<i>Antes
do Amanhecer</i>" sombrio e aterrorizante, o diretor <i>Tom Green</i> reúne
tudo o que há de melhor nos filmes de guerra e nos conta como um
conflito pode transformar a dinâmica de relacionamentos e os
espíritos dos soldados, imbuindo sua sequência com um ar de "<i>Heart
of Darkness</i>" de <i>Joseph Conrad</i>, onde ao invés do misterioso rio, os homens
precisam atravessar vales desertificados para cumprir a missão.
Vocês veem como os dois filmes se complementam muito bem. Apesar de
não retomar a continuação exatamente a partir de onde a história deixara os
protagonistas, "<i>Monsters: Dark Continent</i>" obedece o <i>modus
operandi</i> do original, respeitando a mitologia de suas criaturas, mas explorando outros terrenos. <i>Edwards</i>, que volta como produtor executivo do segundo filme, não podia ser mais generoso ao colega <i>Green</i>, tendo lhe concedido a liberdade para escrever sobre o que quisesse. O cineasta sempre disse que um dos aspectos que mais o fascinara no primeiro era a intervenção do Estado e a administração da crise, a ocupação militar de americanos em terras estrangeiras. Fica patente a razão por que <i>Green</i> seguiu a proposta de soldados no Oriente Médio.</span><br />
<br />
<span style="color: #212121; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Edwards</i> & <i>Green </i>merecem reconhecimento pela sensibilidade com que trataram o "<i>diferente</i>". Apesar de seus Monstros renderem cenas inesquecíveis em termos de visual e impressionantes efeitos, as criaturas exercem um papel muito claro nos dois filmes, permanecendo a maior parte do tempo vagando ao fundo, enquanto os protagonistas humanos que tanto temem as criaturas se veem mais vítimas de seus próprios sentimentos ou da maldade dos semelhantes do que da presença de vida extraterrestre. Não foi a primeira vez que a ideia foi explorada, e ultimamente tivemos excelentes suspenses sobre a visita de alienígenas, o mais notório deles "<i>Os Escolhidos</i>". "<i>Monsters 1&2</i>" se destacam por ousarem experimentar com a premissa, contar uma história de amor fadada ao término assim que o fim da jornada chegar, por exemplo, no primeiro, ou sobre como soldados voltam tão diferentes para casa após suas guerras, a externa, da qual escapam com vida, e interna, que precisarão carregar consigo para sempre, no segundo. Pela ousadia, destacam-se como os dois melhores filmes de monstros da última década. De certa forma, não diferem muito de "<i>Ôdishon</i>", de <i>Takashi Miike</i>. O filme de <i>Miike </i>começa como drama, o herói perdendo a esposa para o câncer e amargando 7 anos de viuvez, depois adquire cores dos típicos romances açucarados com leves momentos de humor estrelados por <i>Rachel McAdams</i>, quando o amigo do herói o incentiva a encontrar uma namorada a partir de um processo de audição de atrizes para um filme, e o cara conhece uma misteriosa bailarina de olhos tristes, e finalmente vira um pesadelo "<i>cronenberguiano</i>" quando as informações dadas pela moça naquele dia da audição não batem com a realidade, e o protagonista passa a desconfiar de que ela é uma serial killer. Os filmes de <i>Edwards</i>, <i>Green </i>& <i>Miike </i>exploram arcos narrativos e correm riscos, e em uma época de pouca a nenhuma ousadia, verdadeiros artistas surgem em poucas luas. Aproveitem.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/Ol6j9xlQN1w/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/Ol6j9xlQN1w?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/8cadxeA__v4/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/8cadxeA__v4?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<span style="color: #212121; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="background-color: #cccccc;"><i><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Todos os direitos autorais reservados a Vertigo Filmes. O uso dos trailers é para efeito meramente ilustrativo da resenha.</span></i></span> </span></div>
</div>
Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1399449559431873888.post-50377313423451315002015-03-31T06:07:00.000-07:002019-03-13T08:08:36.683-07:00"The Babadook" (Jennifer Kent, Austrália, 2014) A dor da perda como o pior dos monstros.<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvDc-CcGI57E2sFHwgFdBTmP7nerpmrvZb3VbgT8fhyphenhyphennpJK3zHywpWDIUbmBhfhu2GrrOws4OT-LWKthEfL6oxRzsKYGniS47dnPDGTgEO_-DPx1zAs9aW_wjYJleFT-o0SkTYfcYbOZs/s1600/jennifer-kent-babadook-2014-05-06-004.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="504" data-original-width="1198" height="134" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvDc-CcGI57E2sFHwgFdBTmP7nerpmrvZb3VbgT8fhyphenhyphennpJK3zHywpWDIUbmBhfhu2GrrOws4OT-LWKthEfL6oxRzsKYGniS47dnPDGTgEO_-DPx1zAs9aW_wjYJleFT-o0SkTYfcYbOZs/s320/jennifer-kent-babadook-2014-05-06-004.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Em uma noite há 7 anos, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> (</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Essie Davis</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">) e seu marido corriam desesperadamente pela estrada, e não era para menos: ela estava em trabalho de parto, e o marido temia que não chegassem a tempo ao hospital. Tragicamente, um carro os colhe no caminho. Apesar de perder o marido e sofrer ferimentos, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> escapa com vida, e o bebê nasce sadio. Ela o chama de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samuel</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. O filme abre com um flashback da terrível noite do acidente automobilístico, e ao final da sequência, vemos </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">retornando para o corpo</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", ou melhor, "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">caindo de volta</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" `a cama, onde acorda do pesadelo. O filhinho </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samuel</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> a desperta com as reclamações usuais. Ele afirma que há um monstro no armário. Acostumada com os temores do menino, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> lhe mostra que não existe coisa alguma sob a cama ou dentro do armário. Ela lê uma historinha e o leva para dormir no seu quarto.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvNqoOImi1nrYtURInHWVPb_UODcrZEzksGLPJ_7y2UPR5qJmAckVlCBC9NmrdDWlAgA9aw_eliywDWoPzVIh2X6KI40NRHOm7uDB3ghHT6NMH_XclfzZb6wvJn5uecC3egV0P4Y_D8p0/s1600/babadook.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="618" height="207" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvNqoOImi1nrYtURInHWVPb_UODcrZEzksGLPJ_7y2UPR5qJmAckVlCBC9NmrdDWlAgA9aw_eliywDWoPzVIh2X6KI40NRHOm7uDB3ghHT6NMH_XclfzZb6wvJn5uecC3egV0P4Y_D8p0/s320/babadook.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">A vida de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> obviamente não é fácil. Ela trabalha como cuidadora em um asilo para idosos. Todas as manhãs, precisa sair muito cedo de casa, e ainda encontrar tempo para dar atenção ao menininho. Dono de uma riquíssima imaginação, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samuel</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> bola as "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">armas</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" mais incríveis com seus brinquedos e bugigangas, em preparação para quando o "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Babadook</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" aparecer. Aprendemos que a raiz de todos os males da criança sintetiza-se na figura do monstro a quem </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samuel</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> chama "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Babadook</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samuel</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> também gosta muito de mágica, e antes que a mãe o leve para a escola, lhe apresenta seu mais novo truque. Ao ser abraçada com muito carinho e um pouco mais de força, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> reage aborrecida, mas imediatamente parece arrependida por perder o temperamento. Apesar de amá-lo, aqueles 7 anos desde o acidente certamente começaram a pesar sobre seus ombros.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0u2FPUnp4eRihxw7oDrpxOHc81rMugReg83TOLxudU5VNiqhlFmJfE1DPNv7_ORgFbuq9iMLaXrLLxTSDtgzRjogLLPGo_GAI0JHdaFJqmP6QOnAX22taT6Um9IVC55mSbE5QCufGLgc/s1600/151187-3df4ffb0-dbf7-11e3-8125-0ad81a58de5e.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="366" data-original-width="650" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0u2FPUnp4eRihxw7oDrpxOHc81rMugReg83TOLxudU5VNiqhlFmJfE1DPNv7_ORgFbuq9iMLaXrLLxTSDtgzRjogLLPGo_GAI0JHdaFJqmP6QOnAX22taT6Um9IVC55mSbE5QCufGLgc/s320/151187-3df4ffb0-dbf7-11e3-8125-0ad81a58de5e.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">O comportamento de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samuel</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> também não tem ajudado a harmonia em casa. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> é chamada pela direção do colégio quando seus professores encontram uma arma branca nas mãos do menino. A coordenação sugere a visita de uma assistente social, mas algo no tom dos diretores a deixa profundamente ofendida. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> interrompe a conversa, promete tirar o filho do colégio e deixa os supervisores falando sozinhos ao se retirar da reunião. Em um tocante cena, testemunhamos a inocência de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samuel</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, quando ao ser levado pela mãe para as compras, começa a conversar com uma menina, e a mãe da garotinha se aproxima para irem embora. Ela diz para a garotinha algo nas linhas de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Vamos, filha, seu pai está nos esperando</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samuel</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> observa inocentemente "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Meu pai mora no cemitério</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". Ele segue falando sobre as circunstâncias da morte do pai. A mulher escuta a tudo pega de surpresa, e reage com compaixão, claramente tocada pela espontaneidade da criança. Ao deixar, declara "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Sua mamãe tem muita sorte de tê-lo</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Amelia</i> o leva ao parquinho, onde encontra a irmã <i>Clare</i>. Não sabemos muito sobre o passado das duas, mas já que se passou tanto tempo desde a morte do marido, deduzimos que <i>Clare</i> cansou das necessidades da problemática <i>Amelia</i>. Sente-se uma hostilidade no tom com que <i>Clare</i> se dirige `a irmã. <i>Clare</i> explica que, diferente dos outros anos, pretende realizar o aniversário de <i>Ruby</i> separadamente ao de <i>Samuel</i>. <i>Amelia</i> reage com aceitação, mas <i>Clare</i> soa genuinamente ressentida, reiterando que só queria que <i>Amelia</i> fosse feliz novamente. Enquanto brinca no parquinho, <i>Samuel</i> exclama que quando o monstro vier, esmagará a sua cabeça. <i>Clare</i> assiste a tudo com uma expressão incomodada. Distraídas, as duas irmãs não veem quando <i>Samuel</i> escala um brinquedo mais alto e quase cai.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuJ2zXQ7Iz9N7ROKMJZvvXpSkUHQPzCx0T3yDEtuu0vQjg2v2HwIAhNIj8EGWqh1ODqTt4ZBRKMO6z0BVgRf-AcqsQGrzUVKqjUFfhW65VyYvfcLKXQB5fCBz1IscGtjAzW5BEwfwXOsM/s1600/babadook_36836959.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="465" data-original-width="620" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuJ2zXQ7Iz9N7ROKMJZvvXpSkUHQPzCx0T3yDEtuu0vQjg2v2HwIAhNIj8EGWqh1ODqTt4ZBRKMO6z0BVgRf-AcqsQGrzUVKqjUFfhW65VyYvfcLKXQB5fCBz1IscGtjAzW5BEwfwXOsM/s320/babadook_36836959.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">A vizinha, uma simpática velhinha, nutre especial carinho por </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samuel</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. Talvez pela experiência de vida consiga enxergar a dor que impera na casa ao lado. O primeiro sinal da presença de uma força desconhecida no lar de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> se dá quando observa o animal de estimação, um cachorrinho, arranhando a porta que dá para o porão. Naquela noite, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samuel</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> mostra `a </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> o livro escolhido para a leitura antes de dormir. Ela não se lembra de tê-lo visto na estante anteriormente. O livro se chama "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Mister Babadook</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", obedece o formato de obras infantis em relevo (cada página, quando aberta, revela uma montagem, as figuras ganhando vida pelo mero ato de folhear), e apesar de dirigido a crianças, seu conteúdo soa sinistro. A história revolve o tal "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Babadook</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", um monstro de cartola que só pode ser visto desde que você realmente preste atenção. Todos estes detalhes - </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> não se recordar de um livro que existia na sua própria estante, a necessidade de se observar com atenção para se individualizar o "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Babadook</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" - serão importantes, mais tarde. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samuel</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> cai no pranto, assustado com o "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Babadook</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> o consola e o põe para dormir. Intrigada, depois que o menino dorme, apanha o livro para uma segunda vistoria. Para sua surpresa, há folhas em branco, como se o final da história do "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Babadook</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" estivesse para ser escrito. Também digno de nota, não há referências no corpo da obra - editora, autor, absolutamente nada. Até onde se sabe, a história pode ter sido ilustrada por um artista anônimo.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Samuel</i> assusta a mãe saltando sobre a cama e exclamando que o "<i>Babadook</i>" apareceu no quarto. <i>Amelia</i> o conforta até fazê-lo dormir, porém de alguma forma aquela história também começa a afetá-la. Quando vai deitar, uma pancada vinda da porta a deixa ligeiramente enervada. O trabalho que <i>Samuel</i> dá acaba por lhe custar preciosas horas de sono. Ela chega um pouco mais tarde no asilo de idosos. <i>Robbie</i>, um colega de trabalho, procura se aproximar de <i>Amelia</i>. Genuinamente preocupado com a amiga, parece interessado em envolvimento amoroso. Em um turbulento momento da vida, porém, <i>Amelia</i> não parece inclinada a recomeçar a vida sentimental. Distraída, somente mais tarde dá pelas 10 ligações da irmã. Ao chegar `a casa de <i>Clare</i>, encontra o menininho sentado no jardim, e <i>Clare</i> com <i>Ruby</i> no colo. <i>Clare</i> explica que o menino assustou a filha com suas histórias sobre "<i>Babadook</i>". O menino desafia a tia e retruca que o monstro é bastante real.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Em casa, o comportamento de <i>Samuel</i> piora. Ele furta a chave do porão e apanha um porta-retratos com fotos do pai. O menino está criando uma espécie de armadilha, e vestindo a capa de mágico, brinca com espoletas enquanto brada para seu cachorrinho como derrotará o monstro quando este finalmente der as caras. <i>Robbie</i> presta uma visita e traz flores para <i>Amelia</i>. Ele não tinha noção da gravidade dos problemas no lar, mas uma vez ali, compreende que <i>Amelia </i>tem razões de sobra para sempre parecer triste. Quando <i>Samuel</i> aparece e <i>Robbie</i> lhe entrega um presente, o menininho desata a explicar que odeia a mãe por não deixá-lo mexer nas coisas do pai. Ao examinar o porão, <i>Amelia</i> o encontra ornamentado com as fotos do falecido marido, tiradas do álbum. Certa de que o livro tem mexido com a cabeça do menino, <i>Amelia</i> rasga "<i>Mister Babadook</i>" e arremessa os pedaços na cesta de lixo do jardim.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Amelia</i> e <i>Samuel</i> comparecem `a festa de aniversário de <i>Ruby</i>. A presença dos dois parece motivo de desagrado para <i>Clare</i>, e até mesmo suas amigas a olham diferenciado. As duas irmãs procuram se entender, mas apenas pioram as coisas. <i>Amelia</i> a acusa de jamais se importar, e <i>Clare </i>responde com lágrimas nos olhos que não é verdade, apenas não tolera ficar perto do menino, a quem julga uma grave ameaça. <i>Amelia</i> reage profundamente ofendida. Nisso, atazanado pela menina chata na casinha da árvore, <i>Samuel</i> a empurra e <i>Ruby</i> machuca o nariz, o que efetivamente azeda a festa e faz com que <i>Amelia</i> resolva partir com o filho. No caminho para casa, o menino sofre convulsões dentro do automóvel, insistindo que o monstro se encontra ali.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O pediatra não consegue individualizar um problema específico com a saúde de <i>Samuel</i>. Ao contrário, ele pensa que os sintomas se devam a um generalizado quadro de ansiedade. O médico receita antidepressivos. `A noite, <i>Samuel</i> conversa com a mãe e, choroso, explica que não quer que <i>Amelia</i> morra. Ela minimiza seus temores e lhe dá um calmante. Na manhã seguinte, uma batida na porta chama a atenção de <i>Amelia</i>. Ao abrir, não há ninguém ali… Apenas o livro, "<i>Mister Babadook</i>", que alguém não apenas se deu o trabalho de emendar as páginas de volta, como também escrever nas folhas em branco, exibindo, em gravuras, a tirinha de uma mulher enlouquecida matando o cachorro e o filho, e depois cometendo suicídio com uma faca. <i>Amelia </i>fica apavorada. Naquela mesma manhã, recebe a ligação de alguém que não se identifica, apenas murmura, com uma voz sinistra, "<i>Ba-ba-dook-dook</i>". A polícia não a leva muito a sério quando insiste que ela e o filho estão sendo vítimas de um <i>stalker</i>. Em seu frágil estado psicológico, <i>Amelia</i> enxerga uma capa e cartola penduradas, e imediatamente as associa`a figura do "<i>Babadook</i>". Ela deixa a delegacia sem formalizar queixa.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Quando <i>Amelia</i> volta para casa, no final da tarde, encontra o filho com a velhinha que mora ao lado. <i>Samuel</i> se dá muito bem com a idosa, a única pessoa com sensibilidade e paciência para escutar tudo o que ele tem para dizer. Naquela tarde, <i>Amelia</i> recebe a visita de dois assistentes sociais. Apesar de se esforçar para aparentar normalidade, não consegue mascarar a atmosfera de tensão e tristeza que permeia o ambiente. A primeira vez que o "<i>Babadook</i>" se materializa diante dos olhos de <i>Amelia</i>, ela está lavando louça, com uma expressão cansada e distante. Ao lançar o olhar para a janela da vizinha, enxerga muito rapidamente o "<i>Babadook</i>" em um canto escuro da sala da vizinha. Ao piscar os olhos, <i>Amelia</i> não encontra a figura de cartola mais por ali. Na mesma noite, a figura macabra presta uma visita. <i>Amelia</i> enxerga aquele corpanzil envolvido pela escuridão se insinuar pelo quarto, subir para o teto, e repentinamente cair sobre seu corpo enquanto parece em transe. Ao vencer o transe, <i>Amelia</i> liga as luzes, desperta o menino, e o carrega no colo para a sala. O intento é o de permanecerem acordados, livres da influência daquela entidade inexplicável. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Acredita-se que todo filme de Terror tenha um momento definitivo pelo qual passa a ser celebrado. Em "<i>O Exorcista</i>", a cena mais contundente se dá quando <i>Karras </i>sonha com a mãe ascendendo para as calçadas do Brooklyn, pelas escadas do metrô, ao menos por um breve instante, e o jovem padre gritando desesperadamente para que o espere. A velhinha volta a descer, desaparecendo de seu campo de visão. <i>Friedkin </i>roda a cena subtraindo-lhe qualquer som, o que a torna ainda mais notável. No caso de "<i>The</i> <i>Babadook</i>", penso que a cena a seguir permanecerá na minha mente por muitos anos. <i>Amelia</i> senta-se na sala, disposta a aguentar a noite acordada, e a partir de determinado momento as imagens que se sucedem na TV passam a fazer menos e menos sentido. A sequência de imagens em preto e branco reflete o frágil estado mental de <i>Amelia</i>, quando assistimos a cenas muito borradas, tais quais as de um filme da Era do Cinema em Preto & Branco, onde um mágico realiza truques e revela a figura antiquada, mesmo patética e triste, do "<i>Babadook</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i>Amelia</i> perde mais um dia de trabalho, e na manhã seguinte, também a paciência com o filho. Cheia de remorsos, tenta fazer as pazes com o garotinho. Ela se esforça para ter um dia normal com o menino, até mesmo o levando para tomar sorvete. Na sorveteria, a algazarra de crianças com os pais na mesa ao lado a ajuda a pensar em dias mais ensolarados. Na volta para casa, <i>Amelia</i> bate o carro, nada muito grave, mas o suficiente para deixá-los mais atordoados. Eles retomam o caminho para casa antes que o motorista do outro automóvel pergunte se estão bem. A velhinha que mora ao lado os vê quando retornam, e sente que o menino corre perigo. Força dos calmantes, <i>Amelia</i> não demora a cochilar, e quando desperta, de madrugada, tem a atenção capturada por rumores de vozes chegando da cozinha: <i>Samuel</i> está conversando com a vizinha pelo telefone, obviamente falando de suas preocupações e o medo de que a mãe atente contra sua vida. <i>Amelia</i> toma o telefone e desculpa-se com a senhora, pedindo que não se preocupe com a fértil imaginação do garoto.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Furiosa, <i>Amelia</i> apanha uma faca de cozinha e corta o fio do telefone. A situação está prestes a sair dos trilhos. O menino apenas finge tomar as pílulas para dormir, porque sabe que a mãe o matará se pegar no sono. <i>Amelia</i> tem visões horrorosas. Ela enxerga o filho com a garganta cortada, o corpinho estirado no sofá. Por um momento, desespera-se ao acreditar que finalmente matou o menino em um momento de loucura, porém percebe se tratar de uma alucinação. Ela sofre outras visões, como por exemplo assiste a uma reportagem na TV sobre o bárbaro homicídio de uma mãe que matou filho e cachorro, e foi morta a tiros quando os policiais atenderam a ocorrência. Durante a reportagem, enquanto enxerga policiais retirando os corpos, há uma mulher sorridente por trás das cortinas, a própria <i>Amelia</i>, com um sorrisinho malicioso. Claro que <i>Amelia</i> desperta da alucinação, mas entende que está perdendo a sensatez.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0Y3Aar3relS_KZpbFNnI3S6-QiIF9zinHu1Vlur8ZAyCEWePaMRzEWtYjkKghvmEnHb1aB4M0Xk8lCDsdi1GRoXlKtC9qFcTf3M5_OT_3Xy-5xVnoPPKiyeyAH6aKj-_jtfGgUg9ZPac/s1600/babadook3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="953" data-original-width="1500" height="203" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0Y3Aar3relS_KZpbFNnI3S6-QiIF9zinHu1Vlur8ZAyCEWePaMRzEWtYjkKghvmEnHb1aB4M0Xk8lCDsdi1GRoXlKtC9qFcTf3M5_OT_3Xy-5xVnoPPKiyeyAH6aKj-_jtfGgUg9ZPac/s320/babadook3.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Atraída ao sótão, ela pensa enxergar o falecido marido, até compreender que se trata do "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Babadook</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", tendo adotado a forma do rapaz para brincar com sua cabeça. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> se refugia no quarto, mas nada parece manter o "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Babadook</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" do lado de fora. A criatura toma posse de sua mente, e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> mata o cachorrinho. Certo de que a mãe também o matará, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samuel</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> utiliza as armadilhas preparadas para o "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Babadook</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" para incapacitá-la. Ele a atrai ao porão, e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> tropeça em uma corda propositalmente deixada nos degraus. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samuel</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> a amarra, e suplica que a mãe resista aos impulsos homicidas provocados por aquela energia ruim. Enquanto estrangula o filho com as próprias mãos, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> reganha a humanidade quando o menininho afaga carinhosamente seu rosto. </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> vomita um líquido negro, a representação do "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Babadook</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" que tomara morada dentro de seu corpo. Em um confronto final, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> desafia o espírito e ordena que deixe aquela casa. Ao expulsá-lo de sua vida, o demônio parece retroceder ao porão e se esconder ali dentro. Ao chão, caem pesadamente casaco e cartola, as vestes do "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">monstro</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Samuel</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> e </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> finalmente foram deixados em paz.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Algum tempo se passa. <i>Amelia</i> voltou a ser uma mulher bem humorada e bonita, interessada no trabalho e no futuro de sua família. Depois de muito tempo, o sorriso finalmente retornou a seu ainda jovem rosto. <i>Samuel</i> conservou a mesma doçura, e parece cheio de ânimo e sonhos. Mãe e filho comemoram o aniversário com a presença da velhinha que mora ao lado e agora se tornou parte da família. <i>Samuel</i> mostra `a mãe um truque novo, fazendo surgir uma pomba branca, e a mãe fica realmente impressionada. Vemos <i>Amelia</i> e <i>Samuel</i> catando minhocas no jardim, e depois a mãe descendo ao porão. Aprendemos que apesar de o "<i>Babadook</i>" ter deixado a família em paz, e tomado morada no porão, A Coisa precisa ser alimentada de vez em quando. <i>Amelia</i> deixa o porão e se reúne ao filho no jardim. Eles estão em paz e mais unidos do que nunca.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Tendo colecionado indicações aos prêmios mais importantes do cinema fantástico de 2014, talvez o maior legado de "<i>The Babadook</i>" não seja nenhum desses merecidos reconhecimentos de crítica, mas as generosas palavras de ninguém menos que <i>William Friedkin</i>, um dos mais importantes cineastas, diretor de "<i>O Exorcista</i>", que sobre "<i>The Babadook</i>" escreveu, em seu <i>twitter: </i>"<i>Jamais vi um filme tão aterrorizante quanto este!</i>". Dirigido por <i>Jennifer Kent</i>, uma diretora praticamente estreante, esse perturbador thriller psicológico pulsa com a energia que aos filmes de suspense de grandes estúdios parece rarear a cada nova tentativa. Neste espaço de um ano, "<i>The Babadook</i>" permanece como um dos filmes mais comentados de 2014/2015, ao lado de um outro, igualmente intrigante, sobre o qual tecerei comentários ao final da resenha, chamado "<i>It Follows</i>". Por ora, fiquemos com "<i>The Babadook</i>".</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Em uma Era onde o cinema tem sido mais sobre sustentação visual do que histórias sobre seres humanos, a diretora <i>Jennifer Kent</i> conseguiu realizar um feito realmente monumental: ela contou uma história muito apavorante, mas também sensível, que apesar de não temer nos arrastar a uma jornada muito sombria, não tem vergonha alguma de tratar com muito carinho sua espinha dorsal, o amor de um filho pela mãe e como tentam sobreviver ao assédio de uma presença misteriosa, na verdade uma representação das devastadoras consequências do luto. "<i>The Babadook</i>" conta com a performance de uma carreira por parte da veterana <i>Essie Davis</i>, e revela o talento do maravilhoso <i>Noah Wiseman</i>. As pessoas mais velhas que assistiram a "<i>O Sexto Sentido</i>" nos cinemas em 1999 e saíram encantadas com a performance de <i>Haley Joel Osment</i> não sabem o que lhes é reservado com "<i>The Babadook</i>". Pouquíssimas vezes no cinema de Horror a infância foi retratada com tão agridoce realismo. A devastadora atuação de <i>Noah Wiseman</i> estilhaçará seu coração como uma marretada contra uma vulnerável película de vidro. "<i>The Babadook</i>" levou um banho de indicações a prêmios importantíssimos, desde <i>New York Film Critics Circle</i> ao notório <i>Saturn Awards</i> (o mais respeitado prêmio concedido a obras do gênero Horror), a maioria das indicações revolvendo as poderosas performances de <i>Essie Davis & Noah Wiseman</i>.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMvgI9CNNw2Zj9OYzQ-T-3VrbvGVvWCsPq51wu7yuBPsWYruqrRnOJ18C5VDhhriFLqSqweIo-eKKCJ1bCOyhnPPoiAemPglvtHxIcfFTGJZGNwdtj2VzQvOqJsREwWrS7pONJgXESvZw/s1600/20715196.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="580" data-original-width="400" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMvgI9CNNw2Zj9OYzQ-T-3VrbvGVvWCsPq51wu7yuBPsWYruqrRnOJ18C5VDhhriFLqSqweIo-eKKCJ1bCOyhnPPoiAemPglvtHxIcfFTGJZGNwdtj2VzQvOqJsREwWrS7pONJgXESvZw/s320/20715196.jpg" width="220" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Como poucos diretores conseguiram antes, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jennifer Kent</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> fez do tom minimalista de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">The Babadook</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" seu maior trunfo. Com modestos efeitos especiais - e mesmo assim aqueles existentes básicos e elementares - são as escolhas de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Kent</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> por </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">takes</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> e música que dão `as suas cenas a sobrevida que o tornará um filme memorável e comentado, anos por vir. Mais do que nunca, a simplicidade da combinação de uma cartola com casaco prova-se muito mais contundente e ressoante que imagens exageradas concebidas por efeitos especiais extravagantes. Como os grandes diretores de Horror certamente atestariam a seu favor, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Clive Barker</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> com os cenobitas de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Hellraiser 1&2</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" & </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Spielberg</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> com o Tubarão do filme homônimo, </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jennifer Kent</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> não poderia ter feito melhor escolha do que empurrar seu monstro para um cantinho do enquadramento, até mesmo mantê-lo imerso em sombras, exibindo o mínimo para mover o enredo. A força das imagens reside no mistério, e nada feriria mais o mistério do que excessos, do que a falta de refinamento e elegância.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Em se tratando de um drama muito sério sobr<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e</span> <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">as consequências </span>do luto, fundamentado sobre imagens & simbolismos, qualquer variação imprópria na percepção da ameaça tornaria o conjunto menos impactante ou até mesmo tolo. Aqui, mais do que nunca, vale a tese de que "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Menos é mais</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">". O "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Babadook</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" parece aterrorizante, não em uma riqueza de detalhes esdrúxulos, e sim na sua datada, antiquada e macabra representação teatral. Ele mais se assemelha a um <i>Nosferatu</i> sorridente de cartola, uma aberração circense e atemporal, nada mais do que o somatório de todas as frustrações e tristezas de sua heroína, que calha de se materializar naquela "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Coisa</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" da qual a mãe jamais conseguirá totalmente se dissociar. Por esse viés, poderíamos interpretar o "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Babadook</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">" como as lembranças do marido, alimentadas pelo luto de </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Amelia</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">. Interessante que o casaco e a cartola caídos sobre o assoalho, que ao longo do filme caracterizaram a figura do "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Babadook</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", sejam, em última análise, parte do espólio do falecido marido, roupas deixadas para trás, após sua trágica morte. Lembram-se quando falei sobre o livro infantil "<i>Mister Babadook</i>", deixado na porta de casa?Durante o filme, descobrimos que um dos trabalhos de <i>Amelia</i>, antes da depressão, era o de ilustradora. Ora, foi ela quem escreveu "<i>Mister Babadook</i>", ela quem o deixou na porta de casa!Este filme não deve ser visto <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">de modo literal, exige interpretação.</span></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Creio que o filme se prove uma experiência ainda mais valiosa para as pessoas que se prepararem para enxergá-lo além das aparências. Apesar de aterrorizante, não é pela pretensa existência de um bicho papão onipresente que a história agride, e sim pelo reflexo muito real do fraturado psicológico de uma mulher atravessando um severo colapso nervoso. Poucos filmes de Horror elegeram o luto como plano de fundo para suas tramas. Eu me recordo de "<i>O Segredo do Lago Mungo</i>", porém de nenhum outro que o tenha feito com a mesma propriedade. Talvez por oferecerem muito trabalho para seus diretores, que precisariam dar um jeito para que Horror & Luto se complementassem coordenadamente, obras do tipo aconteçam apenas raramente. Assim como ocorre com "<i>O Segredo do Lago Mungo</i>", "<i>The Babadook</i>" merece elogios pela facilidade com que cria momentos realmente inesquecíveis, e pela dignidade com que trata seus personagens. Por soarem muito honestos e falíveis, por se portarem como gente como a gente, o filme se torna cada vez mais desesperador, porque diferente do que ocorre com tantos outros thrillers, por essa mãe & filho em particular aprendemos a nutrir muito carinho e lhes desejar o bem. Em termos de estrutura, semelhante trama pode ser encontrada nas páginas de "<i>O Iluminado</i>", de <i>Stephen King</i>, que com sua genialidade criou uma história nos mesmos moldes, também sobre doenças mentais, também sobre os devastadores efeitos de uma energia malévola atuando na psique de pessoas vulneráveis, e a tocante história de amor entre pais falíveis & filhos emocionalmente instáveis.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Similarmente ao que ocorre em "<i>The Babadook</i>", <i>King</i> desenrola a história de Horror sobre um hotel construído em território indígena, na remota região das Serras Nevadas, utilizando como espinha dorsal o drama familiar. <i>Jack Torrance </i>ama o filhinho <i>Danny </i>mais do que a própria vida, mas, vulnerabilizado pelo alcoolismo, não demora a ser arrastado a um turbilhão de confusão mental e maldade, graças à energia ruim preponderante no lugar. No filme de<i> Stanley Kubrick</i>, que <i>Stephen King</i> não gosta, o amor entre pai & filho quase passa despercebido, pelo fato de <i>Kubrick </i>ter preterido o tema em favor do exercício de estilos. <i>Stephen King </i>chegou a produzir uma minissérie em 1997 porque desejava que seu romance fosse traduzido mais literalmente para as telas. Na excelente minissérie, o cerne da obra literária de <i>King</i> resta preservado, de modo que o produto final, embora não tão extravagante e estilístico quanto o filme de <i>Kubrick</i>, goza da redenção que ao original de 1980 faltou. A jornada dos dois protagonistas - <i>Amelia</i> em "<i>The Babadook</i>" & <i>Jack Torrance</i> em "<i>O Iluminado</i>" - se dá em meio a um vívido, insano imaginário de demônios & fantasmas, que logo os joga `a beira de um precipício que dá para a insanidade. Uma vez que a barreira é ultrapassada, não há volta, a irretroatividade da tragédia muito bem encapsulada pelo infanticídio, a ameaça a pairar sobre suas cabeças durante todo o filme/romance. Enquanto no livro de <i>Stephen King</i> o "<i>Babadook</i>" de <i>Jack Torrance</i> é a tentação do alcoolismo, no filme de <i>Kent</i> o monstro toma forma na dor da perda e as implicações da ausência do marido na criação do filhinho, uma criança doce de fértil imaginação que infelizmente tem de pagar caro pela tragédia/pecados dos adultos. Os dois heróis são pais falhos, comuns. Muitas vezes, <i>Torrance </i>& <i>Amelia</i> soam estúpidos e agem como irresponsáveis, todavia no instante seguinte desmancham-se em poças de dor ao se debulharem em lágrimas para suplicar perdão aos filhos. Mesmo que os odiemos, o fazemos apenas por um curto espaço de tempo, porque logo nos é lembrado que afinal de contas são humanos passíveis de todas as falibilidades, e amam seus filhos mais do que a si mesmos.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_PGi6AoV4n4UxrrSr-ASHUCPxzaiZgPXkjJzvgKur4u_J4f7ryeoM2Pmv9MecDHM-WRSgOj728SFIbStLPw9tPJ094nacieKMkAjUcsbgd9mGTnDpZTe2E6R9dJu5dkVex09jKFOH-ik/s1600/bigwm-0751708001419453075.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="870" data-original-width="1600" height="174" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_PGi6AoV4n4UxrrSr-ASHUCPxzaiZgPXkjJzvgKur4u_J4f7ryeoM2Pmv9MecDHM-WRSgOj728SFIbStLPw9tPJ094nacieKMkAjUcsbgd9mGTnDpZTe2E6R9dJu5dkVex09jKFOH-ik/s320/bigwm-0751708001419453075.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Também em análogo, ambas as histórias se permitem <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">uma espécie de </span>redenção depois de tanta dor. No romance de <i>Stephen King</i>, <i>Torrance</i> conta com um último momento, um instante de lucidez, quando silencia as vozes que o deixavam louco, diz ao filho <i>Danny</i> que sempre vai amá-lo, pede para que o menininho corra, e morre heroicamente ao subir a temperatura da caldeira para mandar o hotel amaldiçoado pelos ares. No filme de <i>Jennifer Kent</i>, os afagos de <i>Samuel</i> conseguem acender dentro de sua cabeça perturbada uma centelha em meio `a loucura, e o amor de mãe finalmente consegue expurgar o demônio "<i>Babadook</i>", na verdade o imponderável sentimento da solidão, pondo termo ao pesadelo de assombrações e imagens tenebrosas. No desfecho escrito especialmente para a </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">minissérie produzida por <i>King</i>, o autor deixa explícito o peso do relacionamento entre pai & filho na fonte original, porque conclui com uma cena alguns anos após os eventos no Hotel, quando aprendemos que <i>Danny</i> está se formando com louvor. Apesar das angústias da infância, cresceu para se tornar um homem estudioso, bem humorado, gentil e de muito valor. Na audiência, assistindo `a entrega do diploma, vemos a mãe <i>Wendy </i>e o velho <i>Hallorann</i> (o único amigo de <i>Danny</i>, quando criança, durante a aventura no Hotel). <i>Danny</i> é chamado para recebê-lo, as pessoas presentes aplaudem, e há um brevíssimo instante quando sente a presença do pai. <i>Danny</i> olha, e de fato enxerga o fantasma do pai <i>Jack</i>, jovem<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> e</span> feliz, livre daquela energia horrorosa do Hotel. Cheio de orgulho e com os olhos marejados, o fantasma do pai diz, "<i>Belo trabalho, doc</i>". Com um momento tão doce e emocionante assim, <i>King</i> sinaliza que apesar de ter se empenhado em nos apavorar durante a jornada, desde o começo seu objetivo foi o de encontrar mesmo em meio ao Horror lugar para compaixão e esperança.</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> O olhar assertivo que <i>King</i> dedica `a inocência da infância ganha semelhante vida em carne e osso pela performance de <i>Noah Wiseman</i>. O grande <i>James Wan</i>, a quem eu costumo nominar de "</span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">O Novo Steven Spielberg</i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">", porque creio que se consagrará como uma das mais importantes forças criativas de Hollywood na próxima década, soube retratar o mundo sempre mágico e por vezes aterrorizante da infância com "<i>Sobrenatural 1 & 2</i>", mas a figura triste de <i>Samuel</i> é ainda mais impactante do que as crianças de "<i>Sobrenatural</i>", possivelmente porque o filme de <i>Jennifer Kent</i>, menor em escala, fundamente-se em traumas mais dolorosamente humanos e próximos `a nossa realidade, enquanto o de <i>Wan </i>tome a liberdade de sonhar <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">mais além</span>. Ainda sobre "<i>The Babadook</i>", em que pese sua trama depressiva por natureza, <i>Jennifer Kent</i> a fecha com uma bela, realista conclusão. Parece-me que ao indicar que o "<i>Babadook</i>" ainda toma morada naquela casa, em algum lugar escuro do porão, respeitando o acordo de não mexer mais com as vidas de <i>Samuel </i>& <i>Amelia</i> desde que alimentado de vez em quando, <i>Kent</i> está nos mostrando que na verdade foi a depressão de <i>Amelia</i> o "<i>monstro</i>" empurrado para o porão, para o lugar de difícil acesso. Em distintos momentos da vida, todos nós passamos por perdas ou experiências terríveis, e não obstante as marcas deixadas, conseguimos empurrar a amargura para um ponto menos acessível de nossas almas, afastar tais recordações ou frustrações para um canto mais remoto de nossos corações, de modo a nos permitirmos a felicidade e o prazer pelas coisas boas do dia a dia. Torna-se novamente possível planejar o futuro, e seguir em frente com nossos projetos, mesmo levando-se em conta tudo o que passou. O ser humano guarda uma capacidade impressionante para recomeçar e perseverar, e "<i>The Babadook</i>" apenas reitera a resiliência do espírito para a superação. <i>Amelia</i> sofreu, e provavelmente carregará consigo uma pequenina parte daquela amargura, que pode ser rastreada `a noite do acidente automobilístico. Acontece que finalmente foi capaz de empurrar a tristeza para um porão, um lugar mais discreto de seu coração, para finalmente focar-se nas coisas boas da vida. Ela ainda é jovem, despertou o interesse de um rapaz de valor, o colega de trabalho - eis a possibilidade para recomeçar uma nova família e viver inéditas experiências ao lado de um companheiro - e o seu filhinho é uma inocente, doce criança de imaginação fértil e inteligência fora do comum, que certamente construirá um amanhã ainda melhor para si. A dor da perda de <i>Amelia</i> pod<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e</span> ser devastadora, mas os motivos para <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">voltar a sorrir</span> são ainda maiores. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Acho que se pensarmos em nossas infâncias, nos lembraremos que então o mundo parecia bem maior. Quando crianças, nossos sentidos estão tão aguçados que somos receptores, amplificadores, absorvemos tudo o que nos cerca como esponja, nada escapa `a percepção. A passagem dos anos chega para amortecer a maneira como as ações dos adultos reverberam nos nossos ossos, até porque nos tornamos tão adultos quanto eles. São poucos os filmes que capturaram a infância em toda sua glória, em todos suas pequenas alegrias e incomensuráveis desencantos. A história de "<i>The Babadook</i>" abre um canivete suiço de possibilidades perfeitas para que seus protagonistas explorem o fértil terreno da infância, desde as dores de se crescer sem a referência paterna aos monstros originados pela somatização de tantas angústias. Não obstante o elemento fantástico, esta é uma história com que muitas pessoas poderão vir a se identificar, seja na qualidade de pai, seja na da criança que todos um dia fomos, perdida em um mundo cheio de mistérios, o universo interpretado e rearranjado pela mente infantil. <i>Guillermo del Toro</i> conseguiu trabalhar o tema como tempero para a fórmula, dando a sua história de fantasmas "<i>El Espinazo del Diablo</i>" uma relevância ainda mais pronunciada e trágica do que a teria em diferentes circunstâncias. Ao recontar os eventos acerca do misterioso desaparecimento de um menino e a forma como seu espírito passa a assombrar um orfanato perdido no meio de um escaldante deserto na Espanha, tudo visto através da perspectiva das crianças que habitam aquele mundo, durante a Guerra Civil, <i>del Toro</i> prefere enxergar o elemento sobrenatural filtrado pelo mais gentil, romântico e fantástico prisma infantil, o que torna o resultado muito mais cativante. "<i>The Babadook</i>" acessa semelhante energia, um conto triste e sombrio sobre fantasma, visto sob a perspectiva de uma mãe doente e seu filhinho impressionável, duas pessoas sozinhas em um mundo enorme que nos faz pensar na inconstância e efemeridade da vida.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzj6feAZlypvALaJI_kJAmhNXpOd4PLqXR9rLxMr5ZGa4oCv9gangKZqv-uByNmeBQ62rTVrSS0JD96tlpwH0kpLVCY2qYruocbe5kC7kf6YKPGAQA8WG2HUA9_jhTocSP5Dhu25eiqkk/s1600/it-follows.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1125" data-original-width="1500" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzj6feAZlypvALaJI_kJAmhNXpOd4PLqXR9rLxMr5ZGa4oCv9gangKZqv-uByNmeBQ62rTVrSS0JD96tlpwH0kpLVCY2qYruocbe5kC7kf6YKPGAQA8WG2HUA9_jhTocSP5Dhu25eiqkk/s320/it-follows.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Amigos, gostaria de concluir a resenha mencionando um filme que certamente os interessará. Trata-se de "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">It Follows</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", a ser lançado no Brasil como "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Corrente do Mal</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". Este pequeno thriller independente vem ganhando prêmios pelos festivais de cinema por onde tem passado, talvez o mais importante o grande prêmio dos críticos para seu diretor </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">David Robert Mitchell</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, no festival de Cannes do ano passado. Elogiado pelo seu estilo retrô, desde trilha sonora com sintetizadores `a atmosfera, o filme tem sido descrito como uma homenagem aos climáticos, saudosos suspenses dos anos 70/80. Não por menos, "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">It Follows</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" venha merecendo insistentes comparações com o primeiro "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Halloween</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">John Carpenter</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">. "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">It Follows</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" traz uma premissa muito intrigante, assim como "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">The Babadook</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" tratando seu monstro com o abstracionismo que o torna aberto a um leque de inteligentes e interessantes discussões. O filme fala sobre uma garota que após sua primeira noite de amor, herda uma "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">maldição</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", uma entidade que se materializa como uma pessoa na multidão, por exemplo, e te segue ameaçadoramente. A garota reúne seus amigos com o intento de desvendar o segredo da maldição e escapar de seu destino. Bastante aclamado, as pessoas têm discutido bastante sobre o simbolismo envolvido, que parece uma metáfora sobre doenças venéreas, ou até mesmo algo maior. Enquanto a tese de doença venérea soa aplicável ao quebra-cabeça, graças `a ligação entre sexo desprotegido e AIDS, você também poderia interpretar a "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Coisa</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">" por um viés mais amplo, como a soma das coisas que você fez, e na época pareceram inconsequentes, e que encontraram um jeito de voltar para te morder. Por esse enfoque de causa/consequência, a interpretação obedeceria as linhas do que </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Stephen King</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> escreveu no seu romance "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Pet Sematary</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", quando o personagem de </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Jud Crandall</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">, o velho conhecedor da magia reinante naquela terra indígena e quem primeiro orienta o médico </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Louis Creed</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> a enterrar o gato </span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Church </i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">no "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Cemitério Maldito</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">", para trazê-lo de volta, diz "</span><i style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Um homem planta o que pode, e colhe aquilo que planta… E tudo o que é seu encontra um jeito de voltar para você</i><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">". </span></div>
Anonymousnoreply@blogger.com0