domingo, 29 de janeiro de 2017

"Starry Eyes" (EUA, 2014) Um horrendo olhar através da elite pedófila & satanista que margeia a indústria das ilusões passageiras & promessas vazias.

- Esta resenha é dedicada à memória de Corey Ian Haim. - 

Assim como milhares de outras jovens anteriormente, Sarah (Alex Essoe) chegou a Hollywood movida pelo sonho do estrelato. Conforme estabelecido desde o início, somente encontrou a indiferença das promessas falsas e vazias, e o olhar gélido das pessoas "atrás das mesas", responsáveis pelas escolhas de casting,  nos processos de audição. Enquanto o convite para o papel definitivo não chega, Sarah trabalha como garçonete em uma diner chamada Big Tater's. Quando o filme começa, nós a vemos se examinando perante o espelho. A insegurança não se deve à paranoia, afinal, mesmo relativamente jovem (sua idade não deve chegar a mais de 25), seus melhores anos estão para se exaurir à medida que se aproxima dos trinta, sem ter realizado, durante o primor, parte dos objetivos. Enquanto navega pela cozinha da diner para trazer pratos sujos e levar os pedidos às mesas, Sarah se distrai checando o celular, na esperança de o currículo ter sido visualizado por algum estúdio, desejosa de um projeto, qualquer oportunidade que lhe proporcione a chance de revelar o talento dramático. Carl (Pat Healy), o chefe, lhe dispensa um tratamento paciente e compreensivo, ainda que Sarah não se encontre inteiramente investida nos afazeres. Ela lida com as responsabilidades da diner de forma desligada, um emprego temporário para ajudá-la a pagar as contas do apartamento onde mora com a amiga Tracy (Amanda Fuller), outra menina atraída a Hollywood pelas promessas vazias de estrelato. O filme nos apresenta uma palinha da rotina de Sarah, transitando entre as responsabilidades da lanchonete e audições para projetos que nunca se concretizam. Em um momento de desabafo após uma audição fracassada, Sarah revela sofrer de tricotilomania, o destrutivo hábito de puxar os cabelos após grandes frustrações. Nos primeiros minutos de projeção, os diretores de "Starry Eyes" fazem um belíssimo trabalho em resumir, apenas por imagens, a gravidade da encruzilhada vivida pela protagonista, jovem o suficiente para planejar o futuro, mas a cada dia mais descrente de um suposto "convite", jamais materializado.

À noite, Sarah comparece a festas descompromissadas onde encontramos outros jovens iniciantes e inexperientes, metidos no mesmo impasse, gente à espera de uma chance, desesperada por um bilhete ao estrelato. Embora fantasiem com superproduções, ganham algum sustento como figurantes em séries de TV, ou estrelando filmes independentes limitados ao circuito cult. Em uma dessas reuniões, o filme nos apresenta os colegas de Sarah: Poe (Shane Coffey) parece inclinado a elaborar roteiros - durante a festa, enquanto recita um trecho da peça, as pessoas presentes não poderiam se importar menos - Danny (Noah Segan) se dedica aos preparativos para dirigir um roteiro muito pessoal, e sua vocação reside atrás das câmeras como cineasta, ele também dá sinais de interesse romântico por Sarah; Erin (Fabianne Therese) nutre perceptível rivalidade pela protagonista, não apenas por competirem por papéis em comerciais ou produções menores: envolvida romanticamente com Danny, a menina pressente o sentimento do parceiro pela rival, o que inflama a sutil animosidade; e Ashley (Natalie Castillo), melhor amiga de Erin, e completamente desconhecedora da dinâmica do mundo. Ela parece servir como "ponta de lança" para Erin. Apesar de maliciosa, ocorre-nos a impressão de se comportar cruelmente por influência direta de Erin, essa sim familiarizada ao meio onde, quando as pessoas não se encontram procurando financiadores para projetos que jamais se realizarão, já estão combinando uma nova noitada do gênero. Embora veterana em um concorrido universo povoado por gente maquiavélica, Sarah conserva certa ingenuidade, e não parece se aperceber da inveja que desperta nas outras pessoas do convívio. Mesmo quando Erin "pede desculpas" por ter roubado o trabalho ao ficar com o papel no comercial, Sarah parece assimilar a revelação de modo benevolente, sem se ater à maldade por trás da estratégia da outra menina para provocá-la. Erin a convida a um sarau, e Sarah promete prestigiar o evento. "Gostei de seus sapatos", ela comenta para uma desatenta Sarah, depois da cortês despedida, fazendo a cínica ofensa soar como comentário casual. Por mais que os saraus se apresentem como oportunidade para vender a imagem, Sarah não consegue abaixar a guarda e relaxar. Ao passo que as outras meninas sempre interagem tão descontraídas, a ponto de darem escândalo graças ao álcool, Sarah não se sente à vontade, em razão da boa natureza, o que definitivamente inflama o interesse de Danny pela aspirante ao estrelato.

"Cuidado com aquilo que você deseja, pode acabar acontecendo", há quem diga. O aplicativo do celular de Sarah comunica a seleção do perfil da atriz para uma audição. O projeto, um filme de horror, soa legítimo, quem sabe a oportunidade de uma carreira sólida. Ela retornava para o motel, caminhando solitariamente pelas largas calçadas do centro, as ruas meio esvaziadas, principalmente tão tarde da noite, quando recebeu a chamada. Danny vinha logo atrás, a passos rápidos, para alcançá-la. Ao conseguir abordá-la, ele reitera o convite para o sarau, e propõe que faça parte da equipe do filme. Erin, Tracy e Ashley logo chegam à cena. Sarah nem parece escutá-los, e revela a razão da excitação: um estúdio a convidou para uma seleção. Naquela noite, ela tem um terrível pesadelo, onde se vê no meio do teste, e desempenha uma péssima apresentação, as letras do texto em mãos desaparecendo, sangue espirrando nas folhas. No dia do teste, Sarah encontra um monte de meninas da mesma faixa etária, no corredor, à espera da audição. A moça anterior à Sarah deixa o local aos prantos. Visivelmente excitada pela chance, a expectativa de Sarah mal pode ser comportada por trás da apreensão. A diretora de casting e o assistente, porém, não vestem expressões amistosas, e o contraste entre as esperanças da atriz e a indiferente frieza dos examinadores expõe o preço que os aspirantes ao sucesso em um negócio primordialmente assentado sobre a vaidade humana têm de pagar. Sarah menciona a foto que trouxe consigo, para o caso de desejarem anexá-la ao portfólio. O assistente desmerece a fotografia e responde com algo nas linhas de que será a performance no teste, não uma foto, o diferencial entre a escolhida para o papel e as centenas de atrizes fracassadas já experimentadas. O teste, excelente, expõe o talento dramático de Sarah. Ao final, contudo, mesmo tendo feito um encantador trabalho, ela sai desapontada com a apatia dos examinadores. Tomada por desespero, na saída, ela se tranca na cabine do banheiro, e desfere golpes na porta, chegando a arrancar os cabelos. Ao abrir a cabine, toma um susto ao se deparar com a diretora de casting. Aparentemente, a indiscrição da atriz valeu a atenção da mulher, que a convida a voltar à sala. Para a segunda oportunidade, a mulher e o assistente não querem saber de leitura de roteiro, instruindo-a a reviver, ali na frente, o ataque de pânico. Algo associado à suscetibilidade da moça agrada os executivos do estúdio. Sarah vai ao chão, gritando, arrancando chumaços do cabelo. Os examinadores reagem com surpresa, intrigados com a demonstração de puro horror. Eles prometem entrar em contato, nos próximos dias. Sarah chega abatida ao apartamento. Tracy lhe comunica os planos da turma para a noite e a convida a se juntar à reunião. Desapontada, Sarah dá uma desculpa esfarrapada e se recolhe ao quarto. Ali no breu, permanece por um tempão sentada na beira da cama, estudando com olhos pidões e tristes as fotos de estrelas a decorarem as paredes.


Sarah recebe uma ligação do assistente de casting. Os executivos pediram para vê-la, e querem agendar um novo encontro. Sem entrar em detalhes, ele antecipa que a próxima audição diferirá bastante da primeira. Com os ânimos reenergizados, Sarah não se importa quando Carl lhe chama a atenção por conta da distração. Ele a avisara a não trazer o celular para a diner, porque o aparelho a deixava desatenta aos serviços. Chamada ao escritório para uma conversa mais séria, ela escuta com aborrecimento às queixas do chefe. Ele não repreende a funcionária pelos sonhos de estrelato, apenas não quer que Sarah destoe do restante da equipe. Atender a demanda da diner pode não corresponder às fantasias sofisticadas da moça, mas muitas garotas dariam tudo por uma oportunidade de trabalho estável. Cheia de si após o convite do estúdio, Sarah retruca que a diner tem atrapalhado sua caminhada ao estrelato, e abre mão do cargo de garçonete. Desavisadamente, ainda engata que não é como as outras garotas as quais Carl se refere, aquelas que agradeceriam por um trabalho estável.

Quando Sarah comparece ao estúdio e é encaminhada à audição, o novo encontro, de fato, se prova totalmente diferente do que poderia imaginar. As luzes do auditório foram apagadas, excetuando-se um canhão que projeta o facho a um determinado ponto do palco, onde Sarah se posta para aguardar instruções. Pode-se ver silhuetas à mesa, atrás do canhão. Trata-se da diretora de casting e o assistente do encontro anterior. A atriz conta com a leitura de falas do roteiro, porém o assistente lhe informa que já conhece sua habilidade para memorizar textos. Deseja tentar algo diferente. Orientada a se despir, ela se livra completamente das roupas. No rosto, vê-se a hesitação por se apanhar em uma situação inesperada e imprevisível. O homem procura pô-la à vontade, e o canhão de luz passa a oscilar, criando um inquietante efeito estroboscópico, à medida que lhe é pedido que "procure se tornar uma pessoa diferente". A cada retorno do clarão, percebemos a mudança na expressão da moça, inicialmente retesada e desconfortável, agora solta, devassa e quase possuída. Ao sabor de uma batida eletrônica e macabra, nos moldes da trilha de "Corrente do Mal", essa sequência, muito marcante, parece reportar-se ao recorrente tema do "Projeto Monarch MK Ultra", a ser abordado mais adiante. Sarah deixa a audição extasiada. Ela não se dá conta do ninho de cobras onde se meteu.

Naquela tarde, ao voltar para o motel onde mora com Tracy, encontra os amigos Danny, Ashley, Poe e Erin. Acomodado com a máquina fotográfica na poltrona flutuante, Poe tira fotos de Ashley e Erin, as duas de biquíni, saltitando à beira da piscina, enquanto Danny, da cadeira para banho de sol, parece ocupado com qualquer outra coisa na máquina filmadora. A aparência de leveza e felicidade de Sarah chama a atenção do grupo, e Danny pergunta como a moça se saiu. Ela vocaliza a satisfação com o encontro, mostrando-se bastante esperançosa. A perspectiva do trabalho, claro, desperta a inveja de Erin, que, mesmo inocentemente, ventila palpites sobre a legitimidade do projeto e do estúdio. Danny aponta que a Astraeus, um dos principais de Hollywood, está por trás de um número impressionante de blockbusters. Sarah sobe ao apartamento, e cruza com Tracy, no caminho para a festa na área de lazer. A menina anima-se com as boas novas. Subitamente, escutam uma certa comoção vinda da piscina. Ashley escorregou na beirada e deu de cara com o chão. Ela quebrou o nariz, nada grave, mas muito bagunçado. O acidente a fez espirrar sangue por todos os lados. O caráter de Sarah, conforme acompanhamos nesse exato momento, passa por um processo de subversão, pois ela reage ao incidente com uma risadinha. Tracy estranha o flagrante, Sarah sempre lhe pareceu uma menina sensata. Como pode rir do horror de alguém? Ela imediatamente sufoca a risada com uma expressão mais sóbria e dura, policiando-se pelo lapso, mas deixando uma péssima impressão para a colega de quarto. Tracy desce as escadas para ajudar a socorrer a outra menina. Sarah tem sonhos esquisitos envolvendo a última audição, e acorda de madrugada, para espairecer um pouco do lado de fora, onde uma nova manhã já se principia sobre Hollywood. Ela recebe uma inesperada ligação da diretora de casting: o produtor deseja vê-la pessoalmente.


Sarah está "vestida para matar", linda em um vestido vermelho a realçar seu natural charme. Os colegas se reuniram no apartamento para assistir a filmes e comer pipoca, e quando ela desponta na porta da sala de estar, a caminho do encontro, os rapazes perdem o fôlego com tanta beleza. Jamais a viram tão radiante. Vem de Erin, lógico, a voz discordante, ao opinar que ela teria se excedido na sensualidade do vestido. Encorajada pelos demais, principalmente por Danny, Sarah não se deixa intimidar, e parte para a reunião com o criador da Astraeus. Ela é recebida no portão pela diretora de casting, que a acompanha para o gabinete do empresário. O cavalheiro, elegantemente trajado, aparenta idade suficiente para se passar por avô da menina. Ele reafirma a sorte da aspirante, pois poucas artistas tiveram a honra de serem recebidas no recinto. Convidada à mesa, Sarah escuta os planos do homem para aquele projeto cujo papel ela tanto almeja. O diretor o descreve como uma carta de amor a Hollywood, um lugar criado à base da ambição, "um sentimento primitivo, intrigante", e, consoante o próprio, razão pela qual Sarah se encontra sentada diante de si. Sarah encarava o projeto como um mero filme de horror. O criador da Astraeus o define como algo filosoficamente mais profundo, cujo motivo de existir se baseia na captura da feiura do espírito humano. O cavalheiro prova conhecê-la intimamente, ao citar os ataques de ansiedade, canalizadores do problema da tricotilomania. Sarah revela a incidência dos ataques, a acompanharem-na desde a infância, e descreve o gesto de puxar os cabelos como uma maneira de manter o foco. O produtor revela suas reais intenções ao determinar que, sim, a deseja para o papel, apenas à custa de um voto de confiança. Ele se senta ao lado da atriz e a toca entre as coxas. Ela o encara com pavor, e o cavalheiro declara que aquele instante representa a verdadeira audição. Sarah se apavora e deixa o gabinete às pressas. Recebida com olhares questionadores quanto ao resultado da noite, limita-se a sumarizar "Nada bem", e se tranca no quarto, onde chora sob os lençóis. Tracy, verdadeira amiga, a procura, e se esforça para confortá-la. A atriz revela as intenções do produtor de usá-la sexualmente. Em uma genuína, galante tentativa de reparar a autoestima da amiga, Tracy lhe lembra que Danny ainda a quer para o projeto do filme.


Na manhã seguinte, humilhada e abatida, Sarah presta uma visita a Carl. Ela pede desculpas pelo comportamento do outro dia. Embora volte atrás e lhe devolva o emprego, Carl enfia um pouco de senso na cabeça da menina. Assim como Sarah, ele conheceu centenas de outras pretendentes com histórias semelhantes, recém-chegadas a Hollywood com o estrelato na cabeça. Até a grande oportunidade vir, contudo, o emprego no Tater's permitiu a estabilidade financeira que lhes deu alguma liberdade de manejo. Ele ressalta que até conseguir seu nome na estrela da calçada da fama, Sarah terá de se adequar às regras da casa. Assim, a moça regressa à vida de antes, e uma tomada a capturá-la sentada no chão, do lado de fora da diner, com um copo de milkshake e sanduíche ao lado, a cabeça entre os joelhos, em um momento de desolação, mostra a total desesperança de alguém desavisada e ignorante, que associa valor próprio a ter ou não o nome em letras garrafais na marquise. Ao final da tarde, no quintal da casa alugada por alguns dos membros da trupe, Sarah se reúne aos colegas, onde alguém dedilha o violão e outros se esforçam para puxar uma modinha. A visão daquela gente jovem, vidas inteiras pela frente, perdendo tempo com inutilidades à espera do favor de terceiros dá o tom correto ao desespero a sublinhar o enredo do filme. Sarah se afasta e vai se sentar em uma poltrona de carro, modificada e remanejada para fora da van. Danny aproveita a circunstância para se aproximar e conversar melhor com a atriz. Ela lhe pergunta se Danny mora na van, estacionada no quintal da propriedade. De fato, a van foi equipada como um cômodo provisório, com a cama e facilidades como estante para livros. Danny põe as coisas sob perspectiva: por que deveria pagar 1.500 dólares por um quarto, quando pode reservar o dinheiro para outras necessidades mais prementes e dormir na van? Ele conta que Tracy revelou o ocorrido entre Sarah e o produtor da Astraeus, e lamenta pela constrangedora situação. Sarah retruca que ao ter retornado ao Tater's, acredita já ter vendido a alma. Danny dá mostra de fraqueza de caráter ao contemporizar que se Sarah crê ter vendido a alma ao pedir o emprego de volta, por que não pode dormir com o produtor por um papel? Ele faz um movimento com o braço, em direção à roda de amigos, e comenta que, diferente daquelas pessoas, que passam as tardes à espera de um milagre, talvez devessem agir e fazer algo de concreto pelos próprios sonhos. Após as palavras de encorajamento, o cineasta lhe oferece um "barato", uma nova droga. Sarah consome a pílula, e os dois voltam à festa para curtir uma noite na piscina.

Sarah e os amigos mergulham na piscina, todos aparentemente sob o efeito de drogas. Ao submergir, a luz da lâmpada da piscina nos faz lembrar da segunda audição, quando Sarah foi submetida a uma experiência com contornos de controle mental. A droga a desinibe, e ela entende que se realmente quiser vencer em Hollywood, precisa dar aquele passo. Em um impulso, liga para a equipe do dono da Astraeus, e comunica a vontade de vê-lo novamente. Naquela mesma noite, Sarah se adorna com um sensual vestido, curiosamente preto, e toma o metrô rumo à mansão do velho. Antes de lhe franquear acesso ao gabinete, a diretora de casting admoesta "Não haverá uma terceira oportunidade, Sarah". Inicialmente intimidada diante da silente presença do produtor, ela gagueja perguntas sobre uma nova leitura do roteiro, até se desequilibrar e cair de joelhos no chão, ainda sob o efeito de narcóticos. No íntimo, Sarah sabe o que precisa ser feito. O homem se levanta e se posta diante da moça. Ele precisa saber a que ponto Sarah está disposta a abdicar da vida anterior por uma nova existência. O produtor determina que ela prove o compromisso. Sarah abaixa o zíper da calça do homem, para lhe oferecer gratificação oral. Ao pôr as mãos nos cabelos da moça para puxar o rosto para a frente de suas partes, o produtor revela a marca do pentagrama. "Mate sua vida anterior, Sarah. Enterre-a na terra e junte-se a nós nos céus", o homem apregoa, enquanto figuras encapuzadas e satânicas, cuja natureza permanece indeterminada, observam o desenrolar da cena a uma certa distância, na escuridão. Os desdobramentos do encontro satânico/sexual se embaralham na cabeça confusa da garota, e, quando desperta na manhã seguinte, ela se vê na cama do quarto, sem nítida lembrança do ocorrido.


Sarah não desempenha bem as funções na diner, e passa a impressão de estar alcoolizada. Carl se desaponta ao encontrá-la naquele estado, e recomenda que tire o restante do dia de folga. Quando ela se nega a sair, principia-se uma discussão que culmina com um tapa de Sarah no rosto de um surpreso, chocado Carl. Sem escolha, ele a demite no ato, e Sarah parte, cheia de remorso. Ao cair da noite, a moça se sente ainda mais estranha. Ela liga para a Astraeus Pictures, mas a chamada cai na secretaria eletrônica. Por não entender a dinâmica da transformação, Sarah atravessa um enorme pavor à medida que seu corpo começa a se desintegrar. Reunida com os amigos na pista de skate, ela passa mal, e quando Tracy intervém para impedir que Poe se aproveite da vulnerabilidade da amiga para filmá-la e usar a imagem mais tarde, a moça acaba se voltando justamente contra a colega, a empurrando. Depois da briga, Sarah parte solitariamente, engolida pelas sombras, deixando os amigos atônitos, na pista de skate. Aparecer no portão do produtor da Astraeus também não surte efeito, afinal ninguém aparece para recebê-la. Caminhando pelo centro de Los Angeles, ela se assemelha a uma jovem em franca crise de abstinência. Na cama, sofre solitariamente, ardendo em febre, enquanto consegue escutar ressoantes na cabeça as palavras do produtor, sobre enterrar a velha Sarah e juntar-se à elite como uma diferente pessoa. Tracy só tem noção da gravidade do problema da amiga ao acordar no outro dia e encontrá-la vomitando no banheiro, o cabelo caindo, uma péssima aparência geral. Ela se assemelha a uma pessoa possuída, e exala um odor terrível. Seu comportamento também mudou. Sarah culpa Tracy pelos problemas, a amaldiçoa por ter contado sobre a audição e o assédio do produtor aos demais, que inicialmente eram amigos de Tracy, e apenas conhecidos de Sarah. "Vocês são como veneno para mim, vivem de me drenar", ela critica. A verdade, todavia, não bate com as confusas fantasias. Foi Sarah quem não contribuiu com o aluguel pelos últimos dois meses. Ela se surpreende ao encontrar um envelope com a rubrica da Astraeus Pictures, cheio de maços de dinheiro. Sarah abre a porta e entrega o dinheiro para a colega, exclamando para não amolá-la mais. Pensativa, sob os lençóis, tenta compreender como a quantia apareceu ali.

Sarah é visitada pela diretora de casting. Antes que possa dizer algo, a mulher a amordaça e a orienta a dormir. Atormentada por terríveis visões, enxerga uma visão de si, apenas mais bela e glamourosa, uma autêntica estrela de cinema em uma outra versão da vida. A imagem subitamente se vai, e resta a parede com as fotos em preto e branco das estrelas de cinema a quem Sarah devotou parte da vida adulta. Em simultâneo ao processo de decadência física, dentro da casa, é vigiada, insuspeita, pelas entidades de capuz vistas no gabinete do produtor. Ela sangra como no período de menstruação, e seus cabelos se vão. Em absoluto desespero, consegue ligar para o número da Astraeus e ser atendida pelo produtor. A elite sabe exatamente a natureza da metamorfose. O homem lhe adianta "Você está, sim, morrendo. Pode ir para o chão e ser esquecida para sempre ou renascer. Será que você esperava que fosse indolor, que seria fácil, que simplesmente acordaria numa manhã com tudo o que sempre quis? Eu lhe disse, Sarah. Sonhos demandam sacrifício. E nós também. Eu posso lhe dar o que você quer. Mas você precisa abraçar quem você realmente é. É hora de se tornar um de nós. É hora de ser lembrada".


É noite fechada quando, em um blusão de moletom com capuz, Sarah chega silenciosamente à casa onde moram Erin, Ashley, Poe e Danny. Ela entra sorrateiramente para examinar os ocupantes. Poe dorme com Ashley em um cômodo, e Erin com Danny, no quarto improvisado dentro da van. Em um primeiro momento, ninguém dá pela presença da atriz. Erin se escusa para urinar, e promete retornar logo. Barulhos a atraem à cozinha, onde toma um susto ao encontrar a atriz em um canto. Protegida pelo capuz, ela acusa Erin de manipular Danny para ficar com o papel principal de seu projeto. Ela se defende, explicando que o conhece há muito tempo, e indaga se lhe ocorreu a hipótese de Danny ter lhe dado o papel por acreditar em sua capacidade. Erin diz lamentar a forma como a amiga enxerga o mundo. Sarah tenta sabotar a importância do projeto ao insultá-la, dizendo que lhe parece patético que imaginem que ela aceitaria participar de um filme amador. Erin responde à altura da malícia no discurso de Sarah. Ela abre o jogo ao expor que Tracy lhes contou sobre o envelope com dinheiro e insinua que Sarah não guarda estatura moral para julgá-la, não quando vende o corpo para ascender no ranking da elite. Até aquele momento, Erin não tem noção da degradação mental/física a assolar a amiga, pelo menos até acender a luz e observar melhor a cara da visitante. Movida por boas intenções, declara que precisa levá-la a um hospital. Quando Erin tenta abraçá-la, Sarah apanha uma faca do box da cozinha e desfere um golpe que fere violentamente a colega no rosto. Erin recua trôpega até cair no chão, e Sarah também abre espaço ao dar alguns passos para trás, talvez pela primeira vez ciente do que está para levar adiante. Sarah avança contra a menina e a esfaqueia três vezes na barriga. Poe aparece inocentemente no corredor, a caminho do banheiro. Como não chegou a escutar a confusão, nada lhe parece fora do comum, e, portanto, limita-se ao acenado sonolento com a cabeça, antes de fechar a porta do toalete. Com o quarto livre para a ação, a atriz se arma com um halteres, e sobe cuidadosamente na cama, de modo a não acordar Ashley antes do tempo certo. A menina só vai abrir os olhos quando Sarah já se encontra montada sobre sua cintura, de halteres em punho. Ela nem tem tempo para compreender o ataque, pois logo recebe um golpe fortíssimo na testa. Os golpes seguintes a apanham mais na parte central do rosto, afundando a face e tornando o travesseiro uma grande confusão de cabelos, massa encefálica, sangue e ossos. Ela estrebucha a cada descida de halteres. Sarahinterrompe o assalto após nada mais restar. O choque da brutalidade envolvida no ataque é tamanho que Poe, espectador da cena, mal consegue se mover, permanecendo ali, olhos tão esbugalhados e assustados quanto os de um veado no meio da estrada ao se dar pela aproximação de um carro, pelas luzes dos faróis. Quando finalmente rompe a inércia, escorrega no sangue do assoalho, dando à Sarah a chance de alcançá-lo e matá-lo ali mesmo, com estocadas na altura da espinha dorsal e rins. Severamente ferida, Erin rasteja com sacrifício, na tentativa de evadir-se da cozinha. Sarah envolve a cabeça da menina com um saco plástico, e a segura por trás, para estrangulá-la. As duas saem rolando pelo assoalho melado de sangue. As ex-amigas lutam por um tempo dolorosamente prolongado e agonizante, mas Erin não monta nenhuma reação significativa. A violência da hemorragia e a falta de oxigênio logo dão cabo de sua vida. Distraído deitado no "quarto improvisado", Danny não suspeita do terrível risco de permanecer nas cercanias. Ele abre a porta preparado para chamar a namorada dentro de casa, pois estranha a demora, porém se detém ao encontrar Sarah, sentada na poltrona, vestindo o capuz, contemplativa. Atencioso, pergunta o que ela faz no quintal, de madrugada, e fala sobre o quanto todos estão preocupados com seu estado psicológico. Ele promete que pode ajudá-la, apenas pede que se abra a respeito dos problemas. Quando Danny se aproxima para oferecer um abraço, leva uma facada no abdômen. Caído na poltrona, ele suplica para ter a vida poupada. Sarah levanta o capuz e revela sua aterrorizante face risonha. Ela segue o ataque inicial com mais cinco facadas na barriga. "Eu não tenho amigos. Só há uma coisa no mundo que eu realmente queira. E eles me darão", ela murmura.



Nisso, as entidades vistas nas sombras durante o encontro de Sarah com o produtor ressurgem. A elite comparece em peso, gente da indústria, pessoas elegantemente vestidas, munidas com velas, em um ritual satânico. Hipnotizada, Sarah é encaminhada a uma cova, onde é enterrada. Ao redor do túmulo, os membros da elite realizam seus passes diabólicos. Ao raiar do sol, Sarah emerge da terra, e encontra uma caixa de presente ao lado da cova, com um cartão onde lê "Feliz Aniversário", uma felicitação no mínimo emblemática, levando-se em conta a simbologia de se deixar o sepulcro como uma nova pessoa. Tracy desconhece os últimos acontecimentos, contudo, ao visitá-la no quarto e vê-la fulgurante, os olhos cor esmeralda, pressente que algo importante aconteceu. Sarah pede para Tracy deitar-se ao seu lado, e a trai com um beijo de Judas, que tira sua vida. Diante do espelho, ela estuda sua nova, perfeita aparência, uma autêntica estrela de cinema, alinhada com aquela gente das fotos a adornarem a parede. Sarah está preparada para deixar a vida anterior para se unir à nova família, a elite satânica & pedófila que escolhe quem terá ou não sucesso no show business. Ela pendura o pentagrama no pescoço, assinalando o próprio destino, e os créditos sobem.

Quem nunca quis se tornar estrela de cinema, para dar forma e substância a ilusões que, projetadas na tela prateada, guardam tão veemente influência sobre o imaginário das pessoas, sobretudo crianças? Mesmo ao inegociável custo de perdê-las mais tarde? É uma pena, quando nossos sonhos de criança se vão, irremediavelmente estilhaçados uma vez alcançada a idade para melhor discernimento dos fatos da vida. À medida que o tempo segue arrancando camadas e mais camadas de superficialidade até restar somente o essencial, conforme o ator Sylvester Stallone explicou certa feita a James Lipton, ocorre-nos a compreensão de que aparências estiveram em nosso caminho justamente para nos distanciar da verdade, mantê-la a uma distância segura, de modo que os poucos que a conheçam a usem com a maldade da manipulação. O ardil enraíza o veneno a todos os aspectos envolvidos no amadurecimento, não? Inicia-se quando descobrimos em tenra idade a fraude por trás de personagens queridos de contos de fadas, e segue se desdobrando em uma imprevisível vinheta de eventos que, no curso da infância, põe em xeque o confronto da inocência com`a indiferente realidade dos fatos. Não há nada mais alegórico da referida aprendizagem do que a jornada particular do sobrevivente de agressão emocional narcisista, daí o impacto desse filme sobre mim. Talvez, não por menos, o submundo retratado por "Starry Eyes", povoado por gente cuja maldade carrega elementos do mais palpitante narcisismo maligno, permita-me enxergar um pouco da minha própria ingenuidade naqueles amigos alheios à verdadeira natureza daquilo que julgam desejar. Como um brilhante, assertivo cavalheiro especializado no transtorno frisou anteriormente, abuso narcisista não difere de se voluntariar a uma volta no túnel do trem fantasma, ou casa de espelhos, como queira, sem conhecer sua razão de existir, e entrar ali esperando encontrar algo de genuíno ou real. Alguém experiente prestaria atenção na marquise do prédio e enxergaria em grandes letras "trem fantasma", de modo que, caso entrasse, saberia perfeitamente o que esperar de um entretenimento do tipo. Para os desconhecedores do mal, todavia, é como se a marquise não existisse, você se sentasse no carrinho, as portas se fechassem, e, ali dentro, depois de antecipar um mundo em ordem, enfiasse a cara na mais irrestrita insanidade. Ali, a ordem das coisas, ou melhor, as virtudes, parecem ter sido invertidas, e você se frustra ao se apegar a lógica para a análise. Quanto mais percebe que a mesma não se aplica, mais acredita que há algo de errado com a própria cabeça, e segue revisitando o túnel, tentando pinçar fatos para fazer sentido do quebra-cabeça das brincadeiras do trem, pelo menos até que finalmente a natureza do mal infligido sobre sua boa vontade seja trazida à luz, e entenda que não se pode esperar nada de real, concreto ou humano, falando-se de narcisistas malignos. Nada se pode fazer, que não fichar a experiência numa pasta que costumo chamar de "faculdade da vida", e seguir a regra da distância & não contato até seu último dia nesse mundo. Hollywood foi erguida por narcisistas, e embora nem todo narcisista necessariamente vire estrela de cinema, afinal a maioria desses sacripantas vive uma existência útil e produtiva, mesmo que apenas de fachada, não podemos perder de foco que a indústria do cinema fundamenta-se sobre o terrível sentimento que lhes é comum, a inveja. E é a "ascensão" ao estrelato, por lhes roubar a identidade assim que se vendem para atender a agendas específicas, que lhes dá o famigerado olhar analítico e indiferente, algo como o gorila entediado examinando uma fruta em mãos, comum aos psicopatas. Ninguém nesse mundo, nenhuma estrela de cinema, embolsaria somas tão irreais de dinheiro, dezenas de milhões de dólares, se não fizesse parte de um seletíssimo grupo cujo ingresso como membro demanda sacrifícios inimagináveis, dos quais a elite guarda provas. Como na própria máfia, onde você jamais será promovido a sentar-se à mesa com o chefe a menos que cometa um horrível crime ou inominável depravação dos quais eles guardem evidências para implicá-lo caso alimente ideias estúpidas de entregar o esquema inteiro, as estrelas de cinema obedecem à rigorosa hierarquia criada por quem organizou e financiou o negócio das ilusões. "Eu gostaria que todas as pessoas pudessem conquistar fama & fortuna, apenas para que entendessem que posses não são a solução para nada", disse, com melancólico conhecimento de vida, o ator Jim Carrey, apropriado da desenvoltura de quem sobrevive no meio há boa parte de quase 25 anos. Foi no verão de 1994, afinal de contas, que ele se tornava astro, do dia para a noite, com "Ace Ventura". Seu valioso conselho se reveste da autoridade de alguém que ao longo de duas décadas viu segredos das vísceras da indústria que a nós só cabe imaginar. Se apenas os personagens de "Starry Eyes" tivessem sido mais prudentes, ou alguém lhes tivesse reservado essas mesmas linhas sobre autopreservação...

Escrito e dirigido por Kevin Kolsch & Dennis Wydmeier, "Starry Eyes" foi financiado no Kickstarter, e a concepção revela o amor de seus criadores pelo tema, reflexo das experiências dos próprios cineastas no competitivo mundo do cinema. Originalmente imaginado como uma produção menos ambiciosa, foi o interesse da produtora Dark Sky Films ("House of the Devil" & "Hotel da Morte") que incrementou o valor de custo e distribuição e, consequentemente, ampliou o alcance final, potencializado após a grande comoção deixada no rastro de sua passagem pelos principais festivais do gênero. Na première em Nova York, uma pessoa na audiência passou mal e desmaiou, para desespero dos acompanhantes, durante a sequência da chacina. A sessão precisou ser interrompida, e a garota, socorrida no lobby. Em Boston, outra pessoa, por não suportar o clímax, levantou-se e deixou o teatro lançando impropérios à tela. Como o diretor Kevin Kolsch explicou, em entrevista ao site de cinema "You've Got Red on You", o histórico de marcantes performances por onde foi exibido emprestou a "Starry Eyes" um "ar de perigo" que, a filmes do tipo, cria um ar de mistério em torno do marketing.

Tendo visto um número relativamente grande de filmes de horror, eu espero "algo a mais" para investir meu tempo na trama. No caso de "Starry Eyes", um dos muitos pontos sólidos foi o perfurante desalento evocado através do cuidado à atmosfera. Diferente de tantas outras histórias, os criadores preferiram empurrar a elite satanista para o plano de fundo, ao menos pela maior parte do tempo, ocupando-se de monstros mais próximos, familiares a qualquer pessoa que, nos dias de hoje, precise correr atrás dos objetivos: a impotência de vencer o círculo de apatia que nos prende à inação, o desespero ao se constatar o escoamento dos anos como areia entre os dedos, à medida que tempo vai marchando e os sonhos ficando cada vez menores. Kolsch & Wydmeier extraem horror da escassez financeira e espiritual daqueles jovens bem-intencionados, ignorantes, e moralmente falidos, submissos a qualquer humilhação desde que lhes traga a chance de integrar uma elite. Nesse sentido, o filme se alinha a outros pesadelos assentados na realidade, como "Réquiem para um Sonho", de Darren Aronofsky, o brutal drama sobre drogadição que revelou o talento de Jennifer Connelly. No filme de Aronofsky, primeiramente, o roteiro nos oferecia a chance de nos acostumarmos a aquela gente, os vermos por suas qualidades mais confortáveis, por mais falhos que o fossem, quando as drogas ainda não haviam se tornado a principal coisa de suas vidas, e as usavam com um cunho "mais recreativo". O diretor então engatava, na segunda metade, a descida ao inferno, quando a dependência adquiria contornos de puro desespero, um poder quase demoníaco, satânico. Ao pensar em "Réquiem para um Sonho", e elencar os elementos comuns ao drama de Darren Aronofsky, vejo semelhanças em ritmo & fórmula, porque em termos de ritmo, ambos se permitem o benefício do tempo para deixar o horror se sedimentar, e, no que interessa à execução, as duas experiências, absolutamente selvagens, não nos poupam do medo envolvido em se perder a cabeça para a loucura, uma jornada eletrizante. Embora "Starry Eyes" se destaque mais proeminentemente como uma história sobre a perda da alma para a corrupção, e o filme de Aronofsky não faça menção alguma às ciladas satânicas a cada curva da vida, o que seria a destruição de um lar, de uma família, por obra da droga, se não produto do toque do Diabo? Cruzou-me a mente agora um programa televisivo, que eu assisti há alguns anos, sobre moradores da cracolândia de São Paulo. Havia esse cavalheiro, entrevistado entre tantas outras almas perdidas. Ele perdera trabalho, família e casa, arruinado pelo vício. Ao travar uma conversa com o repórter, chamavam-me a atenção a educação e os bons modos de um homem que definitivamente vivera dias melhores. O cavalheiro oferecia as impressões sobre uma nova droga comercializada nas ruas, que chegara para substituir o crack, em razão do custo reduzido de produção, e discorria sobre seus efeitos devastadores, sobre o "portal" que parecia emular, por onde passavam toda sorte de visões e ideias bizarras: "Às vezes, eu acho que (a droga em questão) foi criada pessoalmente pelo Diabo". E da mesma forma que em "Réquiem para um Sonho" a personagem da Jennifer Connelly e seus amigos se viram envolvidos pela maldade quando já era tarde demais, as promessas vazias da "Cidade dos Anjos", em "Starry Eyes", gozam do insidioso veneno anestésico que impede as vítimas de agirem pela prudência enquanto há tempo. As pessoas foram tão ludibriadas pelas mentiras que seguem alheias aos sinais acusados pela intuição.

Essa questão do modus operandi da fama transitória sobre cabeças fracas me leva a um aspecto particularmente extraordinário do filme, a caracterização dos personagens. Um diretor de cinema pode trabalhar sob as mais adversas condições, e ainda assim criar uma magnífica obra. Baixo orçamento, um cronograma apertado, nada disso importa. Um artista verdadeiramente apaixonado pela ideia rodará sua obra-prima, e nenhuma limitação financeira o impedirá de deixar a marca pessoal no produto. Há um aspecto, todavia, que, caso ereto sobre pernas bambas, porá a estrutura inteira abaixo, e dinheiro nenhum no mundo o salvará. Refiro-me ao carinho e cuidado reservados aos personagens no momento da concepção. Se um cineasta consegue estabelecer o liame de causa & efeito entre as ações dos protagonistas e o julgamento de seu público, ele já nos tem fisgados, de anzol & linha. Quando Brad Anderson realizou "Session 9", um dos principais filmes dos últimos vinte anos, ele o fez dentro de um orçamento de 1.5 milhão. O jovem cineasta criou, não obstante, o inquestionável marco face ao qual as demais obras de sua filmografia seriam julgadas - e perderiam feio, por maiores que seus orçamentos tivessem se tornado, ou mais poderosas fossem as estrelas no elenco. Ainda hoje, Brad Anderson, competentíssimo cineasta, "patina no gelo", na tentativa infrutífera de recuperar o ápice criativo, imortalizado em "Session 9". O que o impediu de criar outra obra igualmente ímpar? O impasse não se restringe a dinheiro, pois hoje os maiores estúdios bancam seus projetos, tampouco elenco, afinal, grandes estrelas (como Michael Caine, Ben Kingsley e Kate Beckinsale) reverenciam suas instruções. Não, foi na caracterização da gente de "Session 9" onde Brad Anderson esgotou a "magia do primeiro amor", a generosidade do primeiro olhar. Ele nunca mais conseguiu imprimir aos filmes a empatia que dedicou a aqueles trabalhadores blue collar sob enorme stress, cada qual atormentado por um drama particular. Eles precisavam desfechar em tempo recorde de uma semana a limpeza de asbestos de um hospital psiquiátrico condenado pela prefeitura. Em minhas resenhas, costumo utilizar "Session 9" como paradigma. Eu escrevi um artigo sobre o filme de Brad Anderson, e os remeteria à leitura do texto, pois meu ponto lhes pareceria mais claro. Por ora, basta destacar que o melhor pilar de "Session 9" consiste na sensibilidade de nos oferecer, como heróis da trama, gente como a gente, que compreende os dilemas do cidadão comum, empenhado em trabalhar pelo sustento da família. Kolsch & Wydmeier também acertaram a mão ao apararem as arestas mais fantásticas do roteiro até que das páginas emanasse alguma sinceridade. Eu tenho lido opiniões sobre o filme, e quando passo a vista pelos interessantíssimos debates sobre o caráter final daquela gente, a discussão a respeito da natureza humana submetida a stress, vislumbro, nos detalhes, o cuidado dedicado pelos diretores no desenvolvimento dos garotos de "Starry Eyes". Assim como na vida, também no filme fica difícil julgá-los, quando consideramos que situações de falência moral só encorajam o lado mais feio e egoísta da personalidade. Na primeira parte, a trama cria situações para induzir nossa antipatia por Erin e aprovação por Danny: Erin age conforme um desagradável sentimento de inveja por Sarah, e parece desencorajá-la a cada nova oportunidade; Danny, ao contrário, passa a impressão do comprometimento, porque parece um amigo fiel, mesmo que pouco possa fazer pela carreira da moça. Ele também se ocupa de sobreviver, enquanto estúdios não descobrem seu talento como cineasta. A segunda metade, entretanto, cria oportunidades, através de percalços, para torná-los pessoas mais reais, e não meramente clichês. Erin pode não esconder muito bem a inveja, mas como culpá-la? Em Hollywood há anos, batalhando para chegar ao fim do mês com a sua parte do aluguel, desempenhando papéis em comerciais ou pontas, não passa de uma menina inexperiente. Se em filmes mais rasos Erin se revelaria a antagonista, aqui, em "Starry Eyes", foi tratada com a consideração de um ser humano. Eis a palavra-chave, ser humano. E, como qualquer outra criatura passível de falhas, Erin não é perversa, mas precisa de tempo para crescer. Ao passo que manifesta o odioso sentimento da inveja, também se compadece ao testemunhar o declínio de Sarah, aproximando-se da moça para tocá-la no brevíssimo minuto de redenção, o que lhe custa a facada no rosto, o pontapé inicial para a chacina seguinte. Simultaneamente, as imperfeições de Danny o afastam do cansativo, unidimensional destino de "cavaleiro branco". Embora atue consistentemente no sentido de reparar o ânimo de Sarah, principalmente quando as coisas não vão bem, foi de Danny de quem partiu a oferta do comprimido que a desinibiu, a ponto de Sarah, em dado momento da festa na piscina, ter se encorajado a contatar o produtor e pedir uma nova audição, onde sucumbiria aos desejos pervertidos. As outras pessoas do grupo parecem igualmente confusas, perdidas, e atordoadas, cada uma com seus problemas e anseios. De "Starry Eyes", assim como de "Réquiem para um Sonho", chega uma aura muito evocativa de tristeza, de sonhos perdidos, de oportunidades desperdiçadas. Eu poderia dedicar o meu texto inteiro a discorrer sobre os aspectos explicitamente satânicos da trama, todavia o que mais me atraiu foram momentos surpreendentemente comuns, mundanos, como o fim de tarde quando Sarah chega ao motel onde mora com Tracy, e encontra a galera na piscina, as garotas saltitando na beirada. Instantes assim detêm um poder subliminar muito mais reflexivo que os mais violentos, porque vibram com uma inacreditável sensação de impotência. Ali, vemos gente jovem, vidas inteira pela frente, pessoas que deveriam estar estudando, buscando as coisas boas de Deus, potencializando o tempo. Em oposição, eis os personagens metidos na letargia da ociosidade, as mentes ocupadas pela expectativa de noites improdutivas das quais não advirá saldo algum. Subtraiam a chacina do desfecho, e o destino daquela gente não teria incrementado muito. Somente dois resultados adviriam do predicamento. Ou realizariam o sonho do estrelato, ou perderiam o auge da vida (e juventude) perseguindo uma miragem, amargando uma existência desperdiçada em quartos baratos de motéis e pontas em filmes do underground. Tendo em vista o cenário acima delineado, ainda creio que seria preferível a não concretização do "estrelato", porque sempre haveria a probabilidade do desdobramento de que, um dia, despertassem para a verdade e restaurassem as próprias vidas. Ao contrário, no outro cenário, alcançado o "estrelato", e uma vez que tivessem se adaptado `a elite em seus papéis como "porta-vozes" da agenda diabólica e relativista, entenderiam o significado daquilo que Jim Carrey afirmou, "Eu gostaria que todas as pessoas pudessem conquistar fama & fortuna, apenas para que entendessem que posses não são a solução para nada". Experiência e tempo se encarregam de esmiuçar as escolhas, mesmo as mais mesquinhas, trazê-las à luz. Eventualmente, enxergaremos que há, sim, uma dimensão espiritual para toda ação colocada em prática nesse mundo. Uma batalha cujo preço será nossa própria salvação vem sendo travada diariamente, sem nos atentarmos. O Diabo, assim como mostrado no filme "Starry Eyes", tenta ferozmente deter o propósito e o destino por Deus dado. O Diabo procura "abortar" seu propósito, não só figurativamente, mas literalmente. Basta recordarmo-nos da publicidade demoníaca protagonizada por "artistas", metidos em perucas azuis e barrigas postiças, apregoando coisas como aborto, enquanto com caras & bocas faziam momices à imagem de Maria. O Brasil, felizmente ainda formado por gente contrária à imundice, repudiou veementemente a propaganda, tendo uma senhora, inclusive, comentado com muita perspicácia: "Parece que ainda hoje, Herodes está atrás de nossos filhos". Como escrito no Livro de Jó, o Diabo vive de "rodear a Terra e passear por ela", em busca de oportunidades para provocar a queda das pessoas. E, aqui, para fazer referência a outro filme mencionado na resenha e já abordado no blog, parafraseando uma linha, rememoro o desfecho de "Session 9", uma tomada aérea do hospital psiquiátrico deserto em uma tarde enfadonha qualquer, ao sabor de uma voz amassada de gravador no fundo, "Eu vivo nas pessoas fracas & feridas, doc". Em que pese seu tom muito opressivo, "Starry Eyes" deixa uma poderosa mensagem sobre a batalha por nossas almas, e a reveste de credibilidade ao adicionar à história elementos hodiernos do estranho senso de humor do destino, como quando Ashley e Erin caem bêbadas no chão da cozinha (mais tarde, Ashley escorregará na beira da piscina e quebrará o nariz, e, no final, uma agonizante Erin lutará pela vida no assoalho, enquanto se esvai em sangue e Sarah tenta asfixiá-la com um saco), ou quando Sarah recebe o telefonema da staff do produtor da Astraeus, a convidando para um novo encontro, e a câmera exibe, sobre o criado-mudo, o halteres com o qual ela esmagará o crânio de uma das amigas. No início, na porção mais plácida da trama, pessoas atentas notarão a gravura de um anjo, na cabeceira da cama de Sarah. Mais adiante, a referida gravura passará para o outro lado do quarto. Depois que o filme se transformar numa jornada sombria, máscaras venezianas, semelhantes às usadas por membros da elite durante a orgia em "De Olhos Bem Fechados", ocuparão o mesmo espaço.

Baseado em assertiva, inteligentíssima escrita, "Starry Eyes" não desperdiça a atmosfera de ameaça e decadência associada a um horror urbano do tipo. Somos colocados no encalço da angústia de vidas marginais, nos moldes de "A Garota Morta", de Karen Moncrieff, com direito a calçadas e rodovias capturadas nas mais avançadas horas da noite, lugares tristes e isolados, banhados pelo fraco manto dourado projetado por postes, ou o borrado neon de semáforos de cruzamentos, atravessados por poucos, desesperados, na maioria das vezes, durante a madrugada. Conquanto a violência me desagrade, e eu repudie o desserviço de excessos, reconheço que a agonizante sequência dos homicídios dentro da casa ofereceu um desafio aos cineastas. Eles precisavam fazer um manifesto sobre até onde a protagonista chegara. Kolsch & Wydmeier lidaram com o massacre com sensibilidade, maduros para não caírem na armadilha das extravagâncias, perspicazes ao preferirem filmar o ato realisticamente, suficiente para render um visceral segmento, sem muita exposição, apenas dolorosa honestidade. Ao desglamourizarem a violência, os diretores imprimem peso à escolha, e às consequências da ação. A chacina parece ter sido incendiada por um pequeno, desavisado entrevero. Erin quis socorrê-la, à força, Sarah não gostou, e o corte aberto no rosto trouxe à tona toda a maldade enrustida, requentada pela influência da elite satânica na mente da protagonista. O corte sinaliza a Sarah o "agora ou nunca", e a partir daí, os assassinatos se desenrolam com a dolorosa, irrefreável lentidão de um rito de passagem sangrento e implacável. O realismo da execução de Ashley, que tem o rosto afundado por golpes de halteres, nos lembra o brutal filme francês "Irreversível", de Gaspar Noè, sobre uma mulher que é selvagemente estuprada e espancada por um cafetão dentro de um túnel para pedestres de Paris, e a jornada pela noite empreendida por dois homens muito diferentes, o esquentado namorado e o mais centrado & pacifista ex-marido, ambos atrás de vingança. A noite aterrorizante os leva a uma boate do submundo, e culmina com a notória "surra do extintor". Quem assistiu a esse quase insuportável filme compreenderá as semelhanças entre "Irreversível" e "Starry Eyes", no que concerne ao assassinato por esmagamento. Entre outros amigos, terminamos sabendo pouca coisa de Poe, a não ser que os pais foram falhos, pois, caso contrário, o filho não habitaria aquele limbo de almas ociosas e enganadas. No momento da morte, sua humanidade transborda através do olhar aflito dirigido a Sarah, quando não consegue acreditar no ocorrido à Ashley, muito menos contemplar a própria mortalidade diante da proximidade do ataque. Quando Danny é pego, o que chama minha atenção é a fortuidade como o assalto ocorre. Ele vai se aproximar para tentar confortá-la, e recebe uma estocada na barriga. Não vemos a faca, não há sangue espirrando, apenas testemunhamos a rapidez com que Sarah desfere o golpe, quase como um soco na barriga, e é respondida com o grunhido do rapaz. Em termos de ritmo, de escolhas, a sequência do massacre me lembra "Os Imperdoáveis", o confronto final do pistoleiro aposentado interpretado por Clint Eastwood com o xerife vivido por Gene Hackman, dentro de um bar, em uma noite chuvosa, quando Eastwood entra soturno e solitário, sem se preocupar em esconder a identidade, e, bem no meio do salão, diante do atônito xerife e espantados asseclas, anuncia, de espingarda em mãos, "Eu vim aqui para te matar, Little Bill. Pelo que você fez ao Ned". Eastwood executa o massacre, quando seu personagem mata xerife e o bar inteiro praticamente, de modo seco, desglamourizado, e energético, ao sabor do ruflar de trovões. Em "Starry Eyes", o sacrifício também nos acerta em cheio, pela repelência das ações, sem atrativos, sem amenidades. Os cineastas a filmaram pela feiura inerente ao ato de matar, e embora não mostrem vísceras saltando para fora, um chocado grunhido de alguém ao receber uma furada inesperada consegue nos cativar ainda mais.

Parte de "Starry Eyes" rende homenagem aos primeiros, mais criativos anos da carreira de David Cronenberg, o inventor do "body horror", termo cunhado a partir de suas obras mais antigas, "Calafrios" & "Enraivecida - Na Fúria do Sexo". Cronenberg deixou indelével marca com tramas bizarras sobre parasitas transformando moradores de um condomínio de luxo em maníacos sedentos por sexo, em um banho de sangue carregado de estupros e orgias ("Calafrios"), uma mulher divorciada e neurótica submetida a uma revolucionária terapia psicossomática que a faz desenvolver um útero externo onde gera criaturas concebidas a partir dos ressentimentos de infância ("Filhos do Medo"), e outras ideias igualmente estranhas cujo denominador comum, a invasão do organismo/mente por um agente exógeno, seja vírus, seja parasita, o trauma da mutação, o desmonte da carne velha para a criação da novidade, o elevou ao panteão dos principais nomes do horror melancólico moderno, bem ao lado do de Clive Barker. Kolsch & Wydmeier reservam uma porção relativamente generosa para o processo de decadência física e desconstrução a recair sobre Sarah, e a atriz Alex Essoe dá vida à assustadora transformação como se ensaiasse uma agonizante crise de abstinência, o que, a seu turno, faz reverberar reminiscências da aterrorizante segunda metade de "Réquiem para um Sonho", ao som da pulsante trilha sonora eletrônica de Jonathan Snipes, declarada homenagem às melodias dos filmes de John Carpenter & Dario Argento, em toda sua glória de sintetizadores & teclados oitentistas. A fotografia de Adam Bricker serve ao propósito de mostrar uma Los Angeles distinta da versão mais mainstream. O icônico sinal de Hollywood jamais agracia a tela, pois as cores de downtown Los Angeles compõem a fachada de "outro mundo", não a do habitado pelos personagens de "Starry Eyes", lúgubre e cinzento. Adam Bricker tenta nos sequestrar para dentro da trama através de caminhadas por recantos mais tristes ou desnudados de graça, tais como as portas do fundo de uma diner, calçadas espaçosas e desertas na madrugada, e motéis simplórios onde jovens desperdiçam seu mais precioso bem, o tempo. Em termos de fotografia, vimos anteriormente a importância da correta captura do meio para manipulação de atmosfera. O filme que mais me despertou a atenção para o imprescindível trabalho desses talentosos profissionais foi a obra-prima "w Delta z", um dos principais (e largamente desconhecidos) filmes de horror da década passada, uma trama de segredos e vingança, sustentada, fundamentalmente, pela atmosfera perfeitamente emulada por Morten Soborg, o genial diretor de fotografia.

As performances sólidas atestam que um diretor não necessita de nomes de peso para contar uma boa história. Nada mais justo que um filme sobre almas perdidas e anônimas vagando pela cidade das mentiras fosse encabeçado por atores iniciantes e desconhecidos. Seus rostos dão um ar de inocência e veracidade à trama, que mostra, como nenhuma outra, a verdade sobre o culto à imagem. Alex Essoe impressiona ao coabitar tão naturalmente dois distintos estados de espírito. Primeiro, ela passa a vulnerabilidade que se espera encontrar de um animal de rua abandonado. Sente-se real compaixão pela garota, e, intuitivamente, sabe-se que nada de positivo pode recair sobre uma pessoa tão inofensiva. Depois, completada a transformação psíquica/física, provoca legítimos arrepios pela maneira como derruba, um a um, as pessoas dentro da casa. Noah Segan & Fabianne Therese compõem a linha de frente do elenco secundário, retratando muito bem as contradições envolvidas em se manter laços de amizade dentro de um ambiente naturalmente competitivo. O mais maduro entre os colegas de elenco, Pat Healy empresta equilíbrio e sensatez ao papel do veterano cansado e experiente que já viu incontáveis pretendentes ao estrelato entrarem na diner e saírem frustradas, ao longo dos anos, e que, mesmo diante da batalha diária para ganhar o sustento, consegue reservar conselhos à protagonista, em diversos momentos agindo com profunda generosidade, jamais respondida com gratidão. Marc Senter interpreta o inquietante assistente de casting, e ele permanece como uma incógnita até o final. A aura de mistério, porém, não o impediu de se destacar como uma das coisas mais memoráveis do filme. Eu imagino que pessoas calejadas por anos de sobrevivência em Hollywood devam conhecer o tipo. No primeiro encontro com a protagonista, ele age com deboche e cinismo, e é visto no ritual satânico ao fim. A performance de Marc Senter me fez pensar que o ator nasceu para viver no cinema o personagem Patrick Bateman, do romance "American Psycho", de Bret Easton Ellis, pois aqui em "Starry Eyes", parece fiel egresso das páginas de tratados científicos clássicos sobre narcisistas malignos/psicopatas. Li críticas ao trabalho do ator Louis Dezseran como o magnata do estúdio Astraeus. Há quem categorize sua performance como afetada por tintas fortes. Eu discordo. O desempenho extravagante foi proposital. De um jeito particular, Dezseran tentou incorporar elementos dos personagens bizarros e surreais comuns aos pesadelos cinematográficos de David Lynch. Seu trabalho de encantamento sobre Sarah, quando cada palavra proferida parece seriamente sopesada, de maneira a não assustar a garota antes de inexoravelmente corrompê-la, assemelha-se ao olhar hipnótico da cobra antes do bote. Sua figura recicla as bizarrices das tramas de David Lynch, e exibe traços de um certo personagem do filme de Stanley Kubrick, "De Olhos Bem Fechados" (foto), outra história sobre a elite satanista. Refiro-me ao elegante cavalheiro na festa que abre o filme. Você se recorda? Por um momento, a personagem da atriz Nicole Kidman repousa a taça na mesa, e o cavalheiro a toma e a leva à boca, como estratégia para quebrar o gelo e iniciar o trabalho de encantamento, que culminará numa lenta e íntima dança no salão. Olhar, inflexões, pedidos, apelos à lisonja... O cavalheiro lança mão de um impressionante rol de técnicas para dobrá-la, levá-la à cama. Seu esforço também veste ares de uma naja a paralisar a presa antes da mordida. Após compreendermos que o homem provavelmente compunha a elite e abraçava o estilo de vida satânico da turma que parece ditar o destino do mundo desde sempre, nos apanhamos pensativos, imaginando se já ali, durante a valsa no salão, estava pondo em prática técnicas de controle mental para incitar a mulher casada a atraiçoar o marido, a corromper-se, para se deitar na cama consigo ao mero convite. Dezseran imbui o papel do produtor de semelhante, hipnótica energia.

Se tenho algum reparo, ousaria nominar o segmento do "renascimento espiritual" de Sarah. Até o momento dos homicídios, os diretores conduzem a trama com muita desenvoltura e habilidade, jamais perdendo as rédeas muito fugidias de um desfecho que em mãos menos habilidosas poderia ter caído no ridículo dos excessos. Eles chegam a reintroduzir as estranhas figuras vistas nas sombras quando Sarah desempenhou gratificação oral no produtor, no "rito de passagem" ao vender a alma. Baseado na segunda audição com luzes estroboscópicas, imaginei que o filme derivaria para algo alinhado ao controle mental promovido pelo terrível Projeto MK Ultra. A promessa, todavia, ficou na sugestão. Quando começamos a estudar a verdade por trás das aparências, o Projeto MK Ultra invariavelmente surge inserto no contexto da nata de Hollywood. Se levarmos em conta que a indústria cinematográfica é uma força de manipulação regida por interesses além da compreensão do homem ordinário, soa muito apropriado que essa gente aplique técnicas do controle mental Monarca sobre peões do xadrez. De fato, muitas de suas estrelas manifestam alteração de personas, "falhascapturadas de um segundo ao outro, consoante amplamente encontrado em vídeos na internet. Astros da música & cinema sofreriam, portanto, de múltiplas personalidades, cisão facilitada pelo fato de muitas dessas pessoas virem de infâncias ricas em abuso, como se já estivessem sendo preparadas para assumir seus "cargos privilegiados". O projeto MK Ultra foi o viés através do qual cientistas buscaram aperfeiçoar aquela que seria a mais definitiva arma de combate, a guerrilha psicológica. Sua origem remonta à Alemanha nazista, a uma filosofia do governo chamada "weltenshunkrieg", ou "visão mundial de guerrilha". Sua ideia consistia em impor, pelo caminho do menor esforço, a ideologia nazista sobre os cidadãos dos territórios ocupados. A Inteligência Norte-americana apreciou a ideia e a importou para os Estados Unidos, para adaptá-la à realidade do país, batizando-a de "guerrilha psicológica", nada mais que o uso de propaganda e outros meios com o intuito de influenciar ou confundir o pensamento e minar a autoestima do inimigo. Ao final da Segunda Guerra Mundial, a Inteligência preocupou-se em instrumentalizar o controle absoluto do governo, tanto sobre o indivíduo quanto sobre a grande massa. Anistiados pelos Estados Unidos, cientistas oriundos da Alemanha nazista e Itália fascista foram trazidos para o país, em 1946, com a graça do Presidente Truman, em um projeto orquestrado pela CIA, batizado de "Operation Paperclip". A Inteligência sabia que se não "adotasse" e trouxesse para perto aquelas mentes brilhantes, o novo inimigo, nominalmente a União Soviética, os acolheria e tomaria posse dos estudos, pesquisas e projetos. Eram mais de 700 cientistas estudiosos de propulsão de foguetes (estes foram realocados para o programa espacial), e 600, especialistas em controle de mente (acomodados no complexo industrial militar, inclusive colégios e universidades). O MK Ultra foi a "nova roupagem" dada aos americanos ao programa originalmente concebido pelos nazistas, a tentativa da CIA de experimentar com controle mental aplicado a interrogatórios e sobre seus próprios agentes, de modo que se tornassem imunes à tortura dos inimigos. A CIA fez experimentos, inicialmente, com soldados do próprio exército, ao lhes fornecer drogas alucinógenas sem prévio conhecimento, e depois, a partir dos anos 50, com civis, mais especificamente pacientes psiquiátricos do Allan Memorial Institute em Montreal, através de lavagem cerebral como ferramenta de doutrinação e transformação radical das crenças e posturas individuais. Os cruéis experimentos foram dirigidos por um médico chamado Ewen Cameron, pioneiro no uso de técnicas com sons repetitivos para quebrar padrões de pensamento, de modo que mensagens predeterminadas pudessem ser naturalmente gravadas nas suas mentes. Experimentos envolvendo privação sensorial, abusos (inclusive estupros), intimidação verbal e outras formas de manipulação psicológica foram aplicados com o aval da CIA. A partir do Projeto MK Ultra, descobriu-se a possibilidade de alterar comportamentos com quase nenhum contato físico, uma ótima maneira de manipular sem deixar vestígios. O projeto gerou desdobramentos, e foi aplicado com fins políticos, até entrar em declínio depois que agentes da CIA envolvidos nos estudos perderam o controle sobre a besta que haviam criado, e logo caíram em um espiral de festas privadas para consumo de LSD e depravações sexuais. Um dos agentes, Frank Olson, saltou voluntariamente da janela de um quarto de hotel no décimo terceiro andar após ter sido drogado com LSD, dias antes. Pouco se sabe do MK Ultra, porque, oficialmente, o programa se encerrou em 1973. Foi em 1977, quando o Comitê de Inteligência do Senado revisitou os arquivos daquela época sombria, que resmas e mais resmas a somarem mais de vinte mil laudas contendo resultados de experimentos expuseram os sórdidos segredos da agência. No curso do reinado de terror, mais de trinta universidades e instituições estiveram envolvidas em testes e experimentos baseados em drogar clandestinamente cidadãos comuns. Muitos dos testes se deram pela administração de LSD. O Projeto MK Ultra costuma emergir quando se fala sobre a Nova Ordem Mundial, pois, mesmo ignorantes a respeito, a profissionais do cinema foi reservada uma função clara. Eles são adequados a posições estratégicas, para desenvolverem manifestações artísticas atreladas a propósitos, como degradar, de modo sutil, valores familiares gravemente ameaçados, mas ainda resistentes. Sem a secularização de valores, o que se entende como Nova Ordem jamais passará do plano das intenções para a realidade ao alcance dos olhos, por mais que elementos dessa terrível utopia diabólica já se encontrem em pleno movimento na locomotiva da geopolítica. Se eu tiver conseguido aguçar o interesse dos senhores pelo assunto, recomendo que acessem os vídeos de "whistleblowers" sem os quais esses horrorosos pecados teriam permanecido secretos. Cathy O'Brien, talvez a mais célebre das denunciantes, falou incansavelmente sobre o passado traumático, a começar da infância, quando foi submetida a abusos perpetrados pelo pai, até ser "vendida" à elite de Washington, personificada por Gerald Ford, 38º Presidente dos Estados Unidos, comandante máximo da nação entre 1974/1977. Forçada pela CIA a participar do Projeto MK Ultra, ela foi transformada em escrava sexual, e conheceu as entranhas da outra História Americana não contada nos livros. Vítimas do programa eram adestradas e se tornavam prostitutas, garotas de recado ou assassinas. Cathy realiza palestras denunciando a perversão predominante nos bastidores do alto escalão, onde decisões que alterarão o curso da História são tomadas. A mensagem que essa senhora nos trouxe serve de alerta para que abramos os olhos `a realidade do meio que nos cerca, desde propagandas que ditam tendências `as artimanhas a nos afastarem de Deus. A grande mídia move absurdos esforços para desacreditar as vozes acusadoras do muito real e diabólico processo contemporâneo de globalização via "Cavalos de Troia", especificamente o multiculturalismo, que embaralha a identidade de países, mina a moral interna e vira os valores de ponta-cabeça. Isso se encontra em fase de implementação na Europa: países como Suécia, Alemanha e França perderam, há muito, a configuração original. Seus políticos/cidadãos, tolos sem raízes, não estão sabendo como lidar com o problema, pois até falar sobre a questão os deixa acovardados, temerosos de não estarem sendo politicamente corretos. A candidata derrotada da eleição norte-americana, por quem muitos se solidarizaram, cruzou o caminho de Cathy O’Brien, em outra época, 1983. Dela, O'Brien guarda horripilantes lembranças. Ela fala sobre ter sido levada à presença da então esposa do Governador Clinton, pela mulher de seu handler/encarregado Bill Hall, sem compreender por quê. Embora a conhecesse de passagem, como Primeira-dama do Arkansas, nunca haviam conversado formalmente. Sem dispensar um olhar sequer para a moça, tratando-a como uma peça de carne oferecida no rodízio, H. se dirigiu à mulher de Hall e perguntou se Cathy mantinha-se limpa, eufemismo para doenças venéreas. A operadora explicou que Cathy recebera o selo de "Presidential model". Passada de mão em mão pelos membros da alta casta, fora sempre tratada com muito cuidado para permanecer saudável. Seus abusadores jamais precisavam se preocupar com preservativos, pois o status de "Presidential model" equivalia, ironicamente, à mais alta honra, em termos de conservação, que uma escrava sexual podia receber. H. estava deitada, espreguiçando-se na cama da suíte, numa cabine do Swiss Villa-Lampe, Missouri, quando Cathy foi levada a sua presença. Ela partiu para cima da moça, devorando-a sem pudores, ali mesmo diante de terceiros, sem se deixar intimidar. Consoante narrativa da própria Cathy, na autobiografia "Trance Formation of America", Bill subitamente bateu à porta e entrou, sem dar valor algum à cena. Quando viu a esposa "trabalhando" em cima da pobre vítima, deu com os ombros, um arremedo simbólico e casual para o "c'est la vie". Totalmente concentrada no assalto à moça, consumindo-a de todas as maneiras, a Primeira-dama do Arkansas levantou o rosto, até então bem inserido entre as coxas de Cathy, e lançou um olhar interrogativo para o marido, apenas para perguntar como fora a reunião. Clinton respondeu com algo sobre sentir-se exausto. Entediado, atirou o paletó na cadeira e anunciou que tiraria um cochilo no aposento ao lado, até que a esposa "terminasse", reagindo ao episódio como se a tivesse flagrado vagamente metida em ocupações de cozinha. A derrota dessa mulher no último sufrágio eleitoral, que chegou ao grande dia da eleição vestindo garbosamente o chapéu de favorita pela grande mídia para dar continuidade ao câncer globalista que desfigura paulatinamente a sociedade ocidental, foi recebida com temor pela elite, que não esperava assistir a tanta gente saindo do torpor, `a manifestação da suprema vontade da maioria silenciosa. Por trás dos panos, os rios de dinheiro revertidos para sua campanha vieram das fundações de George Soros, o megainvestidor especialista em fazer fortunas manipulando o câmbio, falindo nações, e alimentando grupos de ódio, como Planed Parenthood, numa ardilosa cartilha de dividir para conquistar. Hoje, estamos vivenciando um importante momento da História, agora que o mundo parece inclinado a dar uma guinada na direção correta, contra forças malévolas que tendem a puxá-lo de volta às trevas do conformismo. Lembro-me daquilo que o Sr. Alexandre Costa escreveu, no seu esplêndido "Introdução à Nova Ordem Mundial", no desfecho, após ter espraiado um cenário verdadeiramente satânico ao discorrer sobre os desejos dos planejadores da Nova Ordem. Para nosso alívio, ele contrapõe o cenário com uma lufada de esperança: "Mas, como a História é dinâmica, muita coisa pode mudar". Eu citei o Projeto MK Ultra pois há um breve momento, no filme, em que fui levado a crer na exploração do mesmo como vertente da cena do segundo teste na Astraeus, quando a moça é bombardeada pelo canhão de luz estroboscópica e, aos poucos, vai revelando um espectro de expressões - da timidez, ao prazer, ao demoníaco - chegando a flertar com a verídica dissociação de personalidades, forte ingrediente do programa de controle mental, espinha dorsal do que Richard Condon descreveu há tantas décadas em "The Manchurian Candidate". Muitas das mais disputadas "celebridades" têm seus nomes vinculados ao controle mental, e não deixa de ser curioso que a campanha presidencial da referida senhora tenha contado com a participação entusiasmadas de artistas "da elite" que patrocinaram a causa como se suas vidas dependessem do resultado das eleições. Mesmo após o chocante resultado, sem se darem por vencidos, estrelas habitantes de um "mundo à parte", condomínios exclusivos e fechados, reagruparam-se em vídeos onde praticamente se humilharam com súplicas para que o colégio eleitoral revertesse a decisão. A reação veio da maioria silenciosa, as pessoas que efetivamente levantaram os Estados Unidos com o valor do trabalho individual, e hoje se veem assoladas por violência e desemprego crescentes. Cidadãos comuns reagiram com profundo repúdio à manobra, negativando o vídeo/mensagem até que a contagem fosse desabilitada pelos postadores originais. Como se vê, há um liame entre ascender ao topo, servir como fantoche à ideologia de uma determinada agenda política e reverenciar coisas malévolas. "Starry Eyes" quase derivou para essa eletrizante possibilidade. Ao final, todavia, nada fez com a proposta, o que é uma pena, porque, ainda que tenhamos um filme de horror devotado ao Projeto MK Ultra ("Banshee Chapter"), nada há sobre a conexão do programa de controle mental com as figuras mais poderosas da indústria dos prazeres passageiros. Kolsch & Wydmeier optaram por unicamente explorar o ângulo do culto satanista como a força por trás da loucura da menina, o que, a seu modo, não deixa de ter relação com Projeto MK Ultra e indústria cinematográfica, apenas não tão ostensivamente. Ademais, como culpá-los? Tal ambição jamais seria bancada por estúdio algum. Por que fariam prova contra si? Os diretores se preocuparam, ao menos através da sugestão, em criar uma zona cinzenta onde o mundo sobrenatural coexiste com o dos interesses políticos. Um exemplo ocorre depois que Sarah acabou de massacrar jovens inocentes, espalhando sangue e provas pelos cômodos da casa. A parte diabólica sai de cena para a entrada da corrupção e perversidade desse mundo. Obviamente, a elite possui meios para garantir que os homicídios sairão impunes. Em algum momento, os pais dos jovens começarão a fazer perguntas sobre o paradeiro dos filhos. Não obstante a natureza agressiva do crime, gente infiltrada em instituições do Estado cuidaria de sumir com as pistas do horror, como se nada tivesse acontecido, limpando a cena, ou mesmo direcionando a investigação para algum trouxa útil. Depois de um tempo, não passariam de cabeças de vento que tinham resolvido se aventurar e usar drogas, e nunca mais retornaram. Cito "De Olhos Bem Fechados" novamente, porque a única cena cortada da versão original reitera a assertiva. No segmento da orgia na Mentmore Towers dos Rothschild, o personagem principal, clandestino por trás de uma máscara veneziana e capa, explora cômodos, frequentemente testemunhando coisas horríveis, gente poderosíssima cometendo os atos mais vis. Em dado momento, ao percorrer o corredor, ele se detém diante de uma porta semiaberta que dá para um aposento mergulhado no breu. Ali, muito rapidamente, mira o chão, e vê um pentagrama desenhado nas tábuas. Essa cena não dura sequer um minuto, mas estudiosos do filme lamentam a subtração do instante. Breve que fosse, denotava a verdadeira natureza daquele pessoal mascarado. Eles estavam obviamente metidos com adoração do Diabo. Numa festa de depravação para a troca de "energia sexual", o pentagrama aponta as implicações luciferianas da filosofia por trás da orgia. Aquele estúpido, desavisado homem se meteu em uma situação para a qual ninguém está preparado, tal qual o personagem de James Spader em "Crash Estranhos Prazeres", de David Cronenberg, durante a encenação do desastre automobilístico de James Dean nas pistas vicinais do aeroporto de Toronto. Para ambos, a ficha cai quando já se veem apanhados até o pescoço. "All bets are off". Ou "A whole new ball game", como diria o personagem de "Carlito's Way", depois que seu advogado, sem sobreaviso, assassina um mafioso e seu filho a golpes de remo nos crânios e os atira ao mar, os metendo numa situação impossível para a qual não sairão mental & fisicamente ilesos. Carlito Brigante, que apenas cometera a burrada de embarcar dentro do iate para ajudá-lo a resgatar os dois gângsteres de uma boia e levá-los à terra firme, e não imaginava que o amigo cometeria tamanha loucura, o avisa que por mais que se julgue valente, nada os salvará dos outros mafiosos, assim que derem pela morte dos dois homens:  "Parabéns, David. Você não é mais um advogado. Agora, é um gângster. Um jogo de bola completamente diferente. Não se aprende na escola. E tampouco se começa de velho". Na orgia de "De Olhos Bem Fechados", dois mundos coexistem, em frágil harmonia, ameaçando destronarem-se a cada minuto, um o da depravação humana representada pelo sexo corrompido, e o outro, sobrenatural e metafísico, simbolizado pelo pentagrama, ausente na versão final vista nos cinemas. Os dois braços fortes do Mal - satanismo & corrupção tangível - atuam em conjunto, até se devorando, em curiosa autofagia, não somente nessa história, mas também na nossa realidade, por uma mera aplicação de desdobramento lógico sobre a matéria: a candidata à presidência preparada pelos globalistas e financiada por George Soros conta com o incondicional suporte de astros cujas fortunas encontram-se na casa das centenas de milhões, e investigações reforçam a estreita ligação dos mesmos com uma artista performativa da alta sociedade chamada Marina Abramovic. Se vocês não se familiarizaram ao nome, procurem pelo termo "spirit cooking" e deem uma olhada nas estrelas de cinema presentes às exposições dessa mulher. Abram os olhos para o mundo real e as pessoas dentro dele, cavalheiros. A versão falaciosa, o sofisma com o qual fomos induzidos a crer em pérfida engenharia social não condiz com a verdade, e por mais dolorosa que seja, a realidade sempre será preferível à tripudiação.

"Starry Eyes" utiliza muito bem os símbolos para dar profundidade ao sugestionado estado psicológico da protagonista. A fantástica sacada de ilustrar o simplório quarto com fotografias em preto e branco de estrelas de cinema da Era de Ouro parece servir ao propósito. Os diretores quiseram insinuar, levemente, a consistência de atribulações vivenciadas por aquela gente do passado, e por Sarah, no presente, na etérea jornada do ser humano para atingir o estrelato e ganhar a imortalidade, quando, na verdade, o Senhor Jesus já nos deu todas essas coisas em sua infinita bondade. Independente da semelhança ou não de circunstâncias, imagens icônicas têm um enorme peso nessa história. As câmeras as capturam com facilidade, expostas nos espelhos e paredes ao alcance de nossos olhos, objetivando romper o limitado alcance dos sentidos. A aflição da personagem desabrocha à vista, mas só até certo ponto; depois, detalhes como as fotos ao fundo nos contam, mesmo subliminarmente, de onde essa menina veio e para onde deseja ir. Há uma forte ligação entre o indivíduo e as imagens que o acompanham. Eu me recordo de algo que li em um fórum sobre cinema, uma senhorita dizendo algo sobre admirar uma determinada estrela. Ela contava que, quando criança, recortava matérias sobre Lady Diana, arquivava as fotos, e decorava o caderno e o quarto com as mesmas. Ela falava sobre como existia algo de peculiar em seu olhar, uma certa tristeza, que não lhe dera outra escolha, quando criança, a não ser admirá-la, tomá-la como alguém íntima, mesmo que platônica e inofensivamente. Uma imagem jamais se limita a um instante capturado em ecrã. Por natureza, ícones não podem existir por si, e sua sobrevida depende do exercício mental associativo que terceiros fazem sobre a imagem. Há uma história por trás de imagens. Ao assistir ao filme novamente para escrever a resenha, não tive como deixar de pensar na história de vida de um ator muito celebrado em sua época, anos 80/início dos 90, cuja trajetória me lembra a saga da personagem Sarah. Quando se fala sobre a maldade em Hollywood, não há como não citar, mesmo que de passagem, a história de Corey Haim. Os mais velhos se recordarão do nome. Quem cresceu nos anos 80 provavelmente se lembrará do garotinho de cabelos loiros, sorriso fácil e boca quase sempre meio aberta, em filmes queridos como "A Inocência do Primeiro Amor" e "Sem Licença para Dirigir". Haim e seu habitual parceiro de cena Corey Feldman se apossaram de um tipo de fama semelhante à dos astros de franquias "da hora", como a saga "Crepúsculo". Segundo a versão oficial, depois de alguns anos de sólido trabalho em filmes bem-sucedidos, Haim entrou "mal das pernas" na década seguinte, anos 90, por causa dos problemas com as drogas. Grandes estúdios não quiseram mais contratá-lo, e, a partir daí, a filmografia acumulou somente filmes B dispensáveis e desprovidos de qualquer mérito artístico. A partir de julho de 2007 a junho de 2008, o canal A&E produziu o reality show "The Two Coreys", no ar por duas temporadas. A ideia revolvia reunir os dois Coreys, muitos anos após o reinado nas bilheterias nos anos 80. Corey Haim se mudava para a casa do amigo Feldman, agora um homem casado, e tentava juntar as peças da vida para se reinventar como artista, e voltar aos trilhos. A proposta soava inofensiva, leve, e até mesmo cheia de bom humor, porém, o olhar mais conhecedor capturaria as trevas do verdadeiro drama por trás do show. Quem assistiu aos episódios pôde conhecer um pouco, só um pouquinho, da vida de Haim, apenas um vislumbre de relance dos reais motivos por trás do declínio profissional e da alma atormentada. Sabe-se sobre sua luta para se libertar das drogas, sobretudo de um relaxante muscular com efeito sedativo chamado Soma, sobre o abuso sexual sofrido aos 15 anos no set de "A Inocência do Primeiro Amor", e sobre os problemas financeiros, todavia a outra parte da verdade permaneceu encoberta por proposital campanha de desinformação, vez que envolvia gente muito poderosa da indústria. Mesmo os leigos sabem que Haim e Feldman foram passados de mão em mão por pedófilos, e o próprio Feldman nos brindou com um revelador testemunho ao contar que, após a morte de Haim, em 2010, ao repassar a vista por fotos antigas para se recordar do amigo, chamou-lhe a atenção uma em particular, instante em que teve uma epifania. Tratava-se de uma fotografia da festa de aniversário de 15 anos de Feldman, e ele se lembrava de que a mesma havia se dado na agência de casting do pai. Na foto, Feldman e Haim apareciam sentados no sofá, tendo aos lados e ao fundo uma porção de amigos, todos adultos, profissionais do cinema, como agentes, maquiadores e relações públicas. Ao passar a vista pela foto, lhe ocorreu que, sem exceção, cada uma daquelas pessoas seria, no curso das próximas décadas, pega em algum escândalo sexual envolvendo menores. Feldman sumariza: "Estávamos rodeados por pedófilos. Rodeados. E nem sabíamos. Eles estavam por todas as partes, como vultos". O grande público, entretanto, não sabe que os problemas de Haim datam de antes das filmagens de "A Inocência do Primeiro Amor". Haim já havia sido "marcado" desde tenra idade, ao ser introduzido àquele meio à força. Sua irmã, Carol, também o acompanhou nas primeiras audições, não tanto por pretensões artísticas próprias, e sim para mantê-lo sob controle. Eu colaciono à resenha trechos da fala de Michael Hur, um pesquisador das nefastas influências por trás dos maiores estúdios. É de se pensar até que ponto a análise de Hur confere com a verdade. Eu temo que tenha acertado a maioria dos pontos. Hur conta "A vida da família de Corey era disfuncional. Seus pais discutiam constantemente, e o tratavam como se pertencesse a outra família. Corey Haim não tinha ideia que seus pais o haviam vendido a Satã (assinalado um contrato com a casta dos Illuminati pelo qual abdicavam do filho por uma vida de riquezas) quando ainda era bebê. À medida que foi crescendo, sua mãe o matriculou em aulas de drama. Depois que o menino completou 10 anos, ela foi avisada pelo contato nos Illuminati para levar o garoto a um determinado processo de casting, onde já estava acertado que ele receberia seu primeiro papel como ator mirim, na série canadense de TV The Edison Twins. No início, quando a mãe e a irmã o informaram de que trabalharia no cinema, ele não quis ir, porque não gostava de atuar. Como qualquer garoto da idade, colecionava revistas em quadrinho, dedilhava o teclado compondo música e era um jogador de hockey júnior, mas a mãe o forçou a comparecer à audição. Assim, ele foi, e ganhou o papel na série de TV". Sobre o processo de ingresso de Haim na indústria, Hur prossegue "Logo, os executivos de Hollywood membros do 'Baphomet' (Illuminati satanista) vieram para liquidar a fatura do trato com Judy (a mãe). Um dia, Judy entrou no quarto do menino e começou a preparar as malas e acomodá-las no carro. Ao assistir à cena, Corey ficou confuso e muito assustado. Ele insistiu em perguntar repetidamente o que ela estava fazendo, mas ela nada adiantou. Uma vez que as malas estavam prontas, seus pais o levaram para o aeroporto, e voaram para Nova York. Corey foi levado a um set de filmagem, onde Judy apresentou o filho aos executivos Illuminati, que o olharam como se ele não passasse de um pedaço de carne, afinal eram pedófilos. Depois desse primeiro encontro, os pais de Corey foram convidados a uma festa, onde ele recebeu um papel no filme 'Firstborn', também estrelando Sarah Jessica Parker, Robert Downey Jr. e Peter Weller, o homem que interpretou 'Robocop'. Corey começou a chorar, pois sentia que havia algo errado. Seus pais sabiam por que ele estava chorando, mas tentaram confundir sua cabeça, manipulando-o a achar que tudo se encontrava em ordem. Seus pais iam, na verdade, deixá-lo por ali na festa, com os Illuminati. Os pais logo se socializaram com as estrelas presentes, e começaram a dançar, enquanto Corey assistia a tudo de um canto, e chorava. Os pais foram abordados por Sarah Jessica Parker e Robert Downey Jr., integrantes do projeto de controle mental dos Illuminati. Eles começaram a lhes falar sobre os planos da organização de Satã para a vida do menino. Depois desse encontro, Corey perdeu os pais de vista, pois eles basicamente 'o esqueceram' ali. Sarah Jessica se aproximou, enquanto ele chorava procurando os pais, e o levou para o lado de fora da festa, para confortá-lo, insistindo que tudo ficaria bem. Na verdade, nada jamais ficaria bem. Downey Jr., namorado de Parker na época, apareceu e lhe explicou, de maneira sucinta, que juntos fariam um filme, e que agora ele pertencia à indústria Illuminati, porque era especial & escolhido. Robert lhe explicou que o menino moraria com os dois em um loft. Downey Jr. e Parker prepararam o quarto de hóspedes, montaram uma lâmpada-bola de led giratória, arrumaram a cama, e lhe deram dinheiro, comida, rádio, televisão e brinquedos. Quando Corey trabalhou em 'Firstborn', ele morou com Parker e Downey Jr. por dois meses, e ao longo desses dois meses, os astros de Hollywood ensinaram a Haim práticas de adoração satânica, bem como se vestir de acordo com a moda e fumar Cannabis. Também o estimularam a ser sexualmente imoral e permissivo. Vez ou outra, para dar um ar de normalidade à situação, a mãe de Haim o visitava para ver se tudo corria bem". Aproximadamente na mesma época, Haim foi sexualmente violado. Hur expõe o ocorrido "Nestes dois meses, Corey foi gravemente corrompido por satanistas. Seu pai se tornou seu agente, e ele só tinha preocupações quanto ao dinheiro a fazer em cima da fama do filho. Isso resultou em atritos entre o pai e a mãe pelo patrimônio de Corey, e os dois logo se divorciaram por conta do egoísta, perverso motivo. No primeiro dia de trabalho de Corey, no set de 'Firstborn', ele tinha de fazer uma cena com o amargurado ator Peter Weller. Depois de concluída a cena, por respeito e admiração, Corey foi até a Peter para cumprimentá-lo, e assim que o fez, Peter se levantou da cadeira e o agarrou violentamente pela gola da camisa. Ele o sacou do chão, o atirou contra a parede e começou a gritar ferozmente com o menino para que nunca mais lhe dirigisse a palavra depois de um take. Foi preciso a intervenção de 3 membros da equipe para arrancá-lo de cima do garoto. A experiência o chocou profundamente, e Haim ficou aterrorizado em trabalhar com Weller. É importante frisar que nem Parker, nem Downey Jr. se importavam com Haim. Eles estavam apenas fazendo o papel de corromper um menino impressionável para direcioná-lo a uma vida de adoração satânica, imoralidade sexual e drogas. Foi com Parker que Haim perdeu a virgindade, às vésperas de completar 11 anos. Ele só tinha 10 anos quando o abuso aconteceu. Experiências do tipo em uma idade tão tenra traumatizariam qualquer um, e foi o caso de Corey. Seu sofrimento estava apenas por começar". Hur segue reconstituindo os primeiros anos da carreira do ator: "Depois de terminadas as filmagens, a mãe de Corey o levou a Los Angeles. Ali, Corey seria, aos 11 anos, submetido ao 'Baphomet', abusado sexualmente e integrado ao programa de controle mental. Corey Haim foi alguém que a indústria Illuminati drenou até a última gota. Ele era um ator naturalmente talentoso, que tinha um espírito jovial e maravilhosa personalidade, por isso os satanistas quiseram usar os dons de Corey para subvertê-los e reutilizá-los para corromper a juventude. Para lidar com a dor da humilhação e se sentir melhor, Corey começou a consumir drogas cada vez mais pesadas. Entre 1985 e 1986, Corey apareceu em filmes menores, como 'Secret Admirer' e 'Murphy's Romance', ao lado da atriz Sally Field, também uma ocultista. Ele ainda atuou em um filme para TV chamado 'A Time to Live' como o filho doente de Liza Minnelli. O filme que o tornou famoso foi 'A Inocência do Primeiro Amor', também estrelado por Kerry Green, Charlie Sheen e Winona Ryder, todos os três também membros do 'Baphomet'". Hur, então, aborda a transição de ator mirim para estrelato "O papel de Lucas (em 'A Inocência do Primeiro Amor') não apenas lhe valeu uma carreira promissora, mas também o reconhecimento da indústria como um excepcional, metódico talento. Nessa época, Corey Haim conheceu um outro aspirante que também havia se juntado ao 'Baphomet' no começo da vida e fora usado pelos pais na indústria. Ele vinha de uma família Illuminati, muito influente no meio. Essa pessoa era Corey Feldman. Quando Haim conheceu Feldman, os dois rapidamente se deram muito bem, e viraram bons amigos. Eles geralmente iam a festas e consumiam drogas juntos. Quando Haim completou 14 anos, ele já estava namorando e fazendo sexo com mulheres de 18 a 26 anos. 'A Inocência do Primeiro Amor' estreou nos cinemas, e o filme foi aclamado especificamente pela brilhante performance de Haim. Roger Ebert lhe escreveu uma generosa resenha, chamando-o de 'o próximo grande ator de sua geração'. Logo, Hollywood inteira falava sobre Corey Haim, e isso fez com que Feldman o invejasse, por mais que jamais tivesse mostrado o sentimento ao amigo. Secretamente, Feldman requentava ressentimento pelo sucesso do outro Corey. Pouco depois, Haim trabalharia no filme 'Os Garotos Perdidos', que os transformariam, Haim & Feldman, em astros mundiais. As filmagens foram realizadas, na maior parte, nas praias de Santa Cruz, Califórnia, um notório ponto de encontro de jovens satanistas e adolescentes fugitivos. Além dos dois Coreys, os atores Kiefer Sutherland, Jason Patric e Jamie Gertz compunham o elenco. Na folga entre filmagens, os dois Coreys celebravam intensamente no hotel onde haviam sido acomodados, e também participavam de festas com o pessoal do ponto de encontro na praia de Santa Cruz, um lugar nada seguro de se visitar, se você não conhecesse alguém de dentro. A época das filmagens de 'Os Garotos Perdidos' é descrita como o melhor período da vida de Haim. O filme foi lançado em meados de 1987, e se tornou um grande hit. A partir daí, Corey Haim viraria um dos mais bem pagos atores adolescentes da indústria. Os dois Coreys passaram a frequentar um lugar chamado Alphy Soda Pop Club, um point exclusivo para estrelas menores de idade. Esse clube localizava-se no Hollywood Roosevelt Hotel, e entre os frequentadores incluíam-se nomes como os de Drew Barrymore, Debbie Gibson, Alyssa Milano, Kirk Cameron e sua irmã Candice. Praticamente todos os astros menores de idade daquele tempo se encontravam no lugar para usar drogas. Eles eram jovens, vivendo uma existência satânica e desregrada, e ali achavam momentânea libertação da dor de não representarem mais do que posse para a indústria. O dinheiro ganho por Corey Haim fez de seus pais pessoas ricas, e os Illuminati administravam os ganhos e despesas do ator. Naquela época, após o debut de 'Os Garotos Perdidos', o rosto de Haim ilustrava as capas das revistas e ele apreciava o status de símbolo sexual para jovens influenciadas pela idolatria. No mesmo período, Haim experimentou crack, e se reuniu com Feldman, ainda invejoso do sucesso do amigo, para capitalizar o sucesso de 'Os Garotos Perdidos' com o hit de 1988 'Sem Licença para Dirigir'. Durante a produção, o diretor Greg Beeman teve constantes atritos com Feldman e Haim por causa da indulgência da dupla por trás das câmeras. Eles compareciam diariamente ao set de filmagem, contudo logo desapareciam para consumir crack, cocaína e Canabis. Em 1988, atuaram juntos em 'Dream a Little Dream'. A trama baseava-se na crença satânica de que quando alguém se torna espírito, pode possuir alguém mais jovem e viver através dessa pessoa. No curso das filmagens, os dois Coreys se envolveram pesadamente no esquema das festas de Hollywood, e usaram drogas constantemente. O filme chegou às telas em 1989 e foi recebido com muito sucesso, tendo como música tema o hit de Michael Damian, 'Rock On', n. 1 no Billboard. A dupla era um fenômeno mundial, modelo de comportamento para seus pares, redefinindo o estilo da cultura pop, à medida que tal cultura adotava sua atitude e estilo". Hur explica o declínio da dupla e levanta suspeitas quanto as circunstâncias da morte de Haim: "Quando o ataque dos Illuminati estava para ser perpetrado sobre a cabeça de Haim, ele se encontrava no topo como o mais popular ídolo jovem do mundo. Garotas o rondavam, e ele recebia milhares de cartas, a maioria de fãs obcecadas. Muitas vezes, coisas aterrorizantes aconteciam a Haim nas ruas de Los Angeles. Graças à obsessão pelo ídolo, quando as fãs não conseguiam autógrafos, elas o atacavam e rasgavam sua camisa. Por vezes, lançavam seus carros contra o de Haim. Experiências do tipo perturbavam e assustavam o ator. Enquanto haviam permanecido na graça dos Illuminati, a lei fora bastante flexível com a dupla. Agora, a mesma lei seria voltada contra os dois durante o ataque. Primeiro, foram atrás de Corey Feldman. Ele namorava Drew Barrymore, que rotineiramente ia a festas com os dois Coreys. Um dia, Feldman dirigia com Drew no banco carona, e ele levava consigo muita cocaína. A Polícia os parou, e ordenou que saíssem do carro. Uma breve revista bastou para que descobrissem a cocaína. O que Feldman não sabia era que o cara de quem comprara a droga era informante da polícia e espião a serviço dos Illuminati. Ele reportava à elite as peripécias dos astros menores de idade. Depois que Feldman comprara a cocaína e deixara o nightclub com Drew, o informante havia ligado para a Polícia para dedurá-lo, armar o flagrante e destruir sua carreira. Depois que ele foi preso, os membros de sua família receberam instruções para não se intrometerem, e não o fizeram, pois foram financeiramente compensados. Após a prisão, a mídia o desacreditou como um modelo nocivo à juventude. O vicioso ataque feriu de morte sua carreira. Feldman perdeu o emprego no segundo filme da franquia 'Teenage Mutant Ninja Turtles', onde daria voz a Donatelo, e o escândalo lhe custou outros papéis em grandes filmes. A partir daí, só conseguiu trabalhar em lançamentos do mercado direto-para-vídeo. Feldman nunca mais voltou a ser procurado e famoso como outrora. O próximo alvo dos Illuminati seria Corey Haim. Uma vez preso, Feldman não foi o único rotulado de dependente químico. A imprensa fez o mesmo a Corey Haim. Toda vez que Feldman era atacado, Haim também merecia menção, no claro intento de fulminar as carreiras em simultâneo. Diferente de Feldman, contudo, Haim não aceitaria o castigo quieto, encontrando maneiras de reagir aos ataques. Ele arranjou um encontro com a imprensa, onde admitiu que usara drogas, mas abandonara o vício, o que era uma mentira. A imprensa expôs a mentira graças ao vazamento de gente de dentro da staff do astro, o que o deixou mortificado. Corey disse à elite que preferiria desistir da carreira e voltar para casa, no Canadá a lidar com a situação. Eles retrucaram que não existia 'voltar para casa', e faria um favor a si se apenas colaborasse. Contataram a mãe do ator, e recomendaram que o mantivesse sob controle para que não revelasse nada comprometedor sobre os bastidores da indústria. Haim montou uma reação quando soube que DJ Hollywood Hamilton faria um show anti-droga em frente a um público de milhares de adolescentes, a se dar em Knott's Berry Far. Haim resolveu aparecer no palco para aconselhar os fãs e limpar o nome, contudo, um desastre acabou por acontecer. Quando subiu ao palco, milhares de adolescentes entraram em frenesi e tentaram alcançá-lo, invadindo o espaço, derrubando guardas e seguranças e arruinando o evento. Os bombeiros presentes em Knott's Berry Farm salvaram a vida do ator ao evacuá-lo do complexo, pois Haim teria sido pisoteado. O incidente foi usado pela imprensa para renovar os ataques, com direito a testemunhos fantasiosos de farsantes. Um dia, os Illuminati apareceram na casa de Haim, e ele deixou o lugar em uma camisa de força, uma confusão que selou seu fim para grandes estúdios. A internação na clínica expôs as mentiras de Corey quanto a suposta libertação das drogas, e os fãs se revoltaram, enviando-lhe milhares de cartas raivosas. O amor dos fãs virou ressentimento. Ao deixar a clínica, Haim perdera o momentum da carreira. Os Illuminati lhe reservaram os estigmas de ovelha negra e juventude desperdiçada, e seu futuro foi roubado. Corey Haim fez o melhor para se reerguer, mas a dependência química sabotou as tentativas. A primeira investida, o documentário de 36 minutos intitulado 'Corey Haim - Me, Myself & I', não passava de autopromoção sobre sua teórica reabilitação, conversa fiada. A imprensa minou os esforços ao denunciar a hipocrisia e declarar que ele estivera sob efeito de drogas o documentário inteiro, uma verdade. Também fracassou a segunda tentativa, quando seus publicitários lançaram uma linha telefônica (serviço público) de acesso direto a Corey, através da qual orientava jovens a se manterem distantes do vício. A tentativa logo fracassou quando a imprensa o acusou de atender as ligações sob efeito de cocaína. A partir daí, Haim preferiu deixar de contra-atacar, e acatou a recomendação de Feldman, de silenciar até que o calor do escândalo fenecesse. Ele continuou a atuar em filmes, na verdade, dos anos 90 até a morte, apareceu em 19 filmes, a maior parte como protagonista. As produções, entretanto, circulavam somente no mercado direto-para-vídeo, e Haim mal ganhava dinheiro com as mesmas. Quando ganhava, gastava tudo com drogas. Durante essa época, Haim viveu como um dependente químico emocionalmente em frangalhos, sabotando todos os aspectos da vida privada. O que causou a briga entre Haim e Feldman aconteceu no set do filme 'Blown Away'. Na época, Haim namorava a atriz Nicole Eggert, com quem filmou cenas muito fortes de sexo, algumas delas legítimas. Durante as filmagens dessa produção perversa, Haim e Feldman se meteram em brigas desde o início. Os dois se atracaram ao realizarem uma determinada cena, e Feldman acabou lhe dando um murro no rosto. Isso aconteceu em 1991, e eles só voltaram a se falar em 1993, quando Haim foi preso por ter ameaçado de morte seu colega Michael Bass, com quem morava em uma mansão alugada. As finanças de Haim tinham sido tão vilipendiadas por causa do consumo de drogas que Feldman teve de aparecer na delegacia para depositar a fiança de 250 dólares. Por um tempo, a amizade pareceu reparada, até uma nova briga durante as filmagens de uma produção B chamada 'Busted', em 1997 (além de atuar, Feldman também dirigiu esse filme). No final dos anos 90, Corey Haim pediu falência, para tentar salvar o pouco do dinheiro que economizara. O ator entrou no novo milênio completamente quebrado. O dono de uma loja de penhor recorda-se de um bizarro encontro casual com Haim, quando ele entrou aleatoriamente no estabelecimento para pedir 3 dólares de modo que pudesse comprar um pedaço de pizza. As garotas, hoje mulheres, que o haviam amado no passado agora mal olhavam para sua cara ou se recordavam dele, e quando se lembravam, apenas riam com deboche. A última aparição digna de nota de Corey se deu no show 'The Two Coreys', produzido pelo canal A & E. Haim guardava ressentimento de Feldman, e Feldman só fez o reality show por dinheiro, pois não o considerava mais um amigo. Fazia sentido, todavia, aturarem-se, pois o reality show, a sua maneira, oferecia algum tipo de 'comeback'. As mágoas entre os dois ex-amigos corriam tão fundo, contudo, que eles quase se meteram em brigas durante vários momentos do show. 'The Two Coreys' logo teve de ser cancelado, pois Feldman não queria Haim na sua casa, ou na sua vida. O motivo do assassinato de Haim nas mãos dos Illuminati se deve a dois fatores: durante as filmagens de 'The Two Coreys', em dado momento, Haim confrontou Feldman quanto aos estupros a que fora submetido quando criança e lhe perguntou por que não lhe estendera uma mão de socorro. Acuado, Feldman abaixou a guarda e revelou que também estava sendo violentado por um produtor de 42 anos. O escancaramento do segredo por parte de Haim o deixou verdadeiramente marcado para a morte. 'The Two Coreys' foi cancelado em 2008, e Haim descreveu Feldman e a esposa como vendidos. Embora deixasse claro que sempre o amaria pelos bons tempos que haviam tido quando crianças, perdera o respeito pelo casal. E Haim estava certo: Feldman jamais desafiou a indústria Illuminati, apenas os obedeceu prontamente, enquanto Haim frequentemente se pôs em risco por contestá-los. Ao abrir o jogo sobre os abusos, a coragem de Haim lhe valeu renovado respeito dos novos executivos de estúdio. Não demorou a que roteiros começassem a chegar às suas mãos. A indústria, claro, ficou nervosa diante da perspectiva de um ressurgimento comercial, pois, para os Illuminati, o rapaz era carta fora do baralho. Desse modo, o pessoal dos Illuminati lhe prestou uma visita, em março de 2010. Ele foi assassinado, mas o cenário, adulterado, para apontar falecimento por causas naturais. Corey Haim tinha um real dom dado por Deus, e era mais brilhante do que as pessoas lhe davam crédito. Os Illuminati usaram suas qualidades para a maldade, e depois o jogaram fora como se nada fosse. Eis a típica gratidão de Hollywood". Parte da história acima, eu conhecia. A exposição, entretanto, dá profundidade ao drama, e ilustra um contexto ao ocorrido na trágica vida de Corey Haim. Ao assistir a "Starry Eyes", um aviso de cautela sobre a inconstância de soluções fáceis, qualquer pessoa familiarizada `a trajetória de Haim, conseguirá enxergar paralelos entre uma trama tão opressiva e a realidade de uma alma atormentada que foi silenciada por agentes do mal. Gostaria de enfatizar uma parte da história, não explorada pelo Sr. Michael Hur. Quando Corey Haim morreu, em 10 de março de 2010, ele se encontrava empenhado no processo de juntar os cacos da própria vida. Depois de tantos anos perdido, finalmente encontrara um senso para o ocorrido, e amadurecera, pois precisava se manter forte para a mãe, que estava doente. Ambos viviam de aluguel no The Oakwoods, um condomínio muito procurado por atores iniciantes recém-chegados a Hollywood, dados os valores acessíveis e a proximidade aos estúdios da Warner Brothers, em Burbank. À época da morte, moradores partilharam reminiscências de Haim, e tiveram boas coisas a contar a seu respeito. Em síntese, lembravam-se de tê-lo visto com certa frequência nos últimos meses, ali pelo pátio, na área comum do condomínio, apenas andando sem destino certo, fumando cigarros, em busca de alguma companhia, só para conversar. Ele realmente apreciava quando alguém o abordava para cumprimentá-lo pelos filmes dos velhos tempos, e passava horas falando graciosamente sobre a experiência de fazê-los. No final da vida, não tinha como se locomover em Los Angeles, pois não possuía automóvel. Embora roteiros tivessem voltado a chegar às suas mãos, Haim não parecia muito investido nos projetos, como se estivesse deixando o coma, compreendendo que tudo aquilo – filmes, fama, fortuna – não passava de miragem. O fato de ter despertado para a maldade imposta a sua cabeça em tenra idade dá a essa história uma dimensão extra de tragédia. Na época da notícia, eu me lembro de ter lamentado o ocorrido, pois realmente acreditava que alguns anos a mais lhe teriam reservado um renascimento artístico. Hoje, sete anos mais tarde, eu enxergo o fato como uma tragédia de implicações ainda mais lamentáveis. Sabe o que teria sido melhor do que o "renascimento artístico"? Ele ter mandado às favas a carreira cinematográfica e qualquer envolvimento com a corrupção, regressado para o Canadá, se matriculado em uma universidade, retomado os estudos, tornado-se um engenheiro ou bombeiro, conhecido uma boa moça e ter construído para si uma família tradicional, preservada dentro de valores cristãos. Não era muito tarde para recomeçar, afinal ele tinha somente 38 anos de idade. Quantas pessoas se dão conta, tarde da vida, do verdadeiro propósito, e então o constroem sob alicerces sólidos, que lhes faltaram na juventude? Infelizmente, a história de Haim não encontrou seu final merecido. Haim foi uma alma inocente e atormentada cujo filme de maior sucesso serviu como apropriado epitáfio: "Garoto perdido". Nem todas as histórias de redenção, todavia, terminaram assim. Há pessoas que conheceram fortuna e poder, e que, depois de terem caído na real, conseguiram deixar a cidade a tempo. Seus poderosíssimos testemunhos encontram-se disponíveis na internet, para quem se interessar em se aprofundar no tema. Refiro-me aos casos do rapper/ator DMX e do comediante David Chappelle. Ambos tiveram dificuldades em lidar com as implicações de absurdo sucesso, e deram as costas para a indústria do entretenimento quando menos se esperava. Chappelle falou sobre sua jornada em entrevista a James Lipton, e, em muitos momentos da conversa, dada diante de uma platéia composta por estudantes de artes dramáticas, no "Inside the Actor's Studios", parece se referir aos Illuminati como a força-motriz por trás de Hollywood. Ele também dedica palavras de gratidão ao ator Martin Lawrence, que lhe deu a primeira grande chance em "Blue Streak", comédia de 1999. Chappelle toca num episódio dramático na vida de Lawrence, a época em que foi preso depois de correr nu pela driveway da mansão, munido com uma pistola, gritando "Estão tentando me matar". Lawrence foi desacreditado pela imprensa, em um ataque semelhante ao ocorrido a Haim. Chappelle defendeu o amigo Martin, e contou a Lipton, em entrevista: "Quando fizemos 'Blue Streak', Martin teve uma síncope e entrou em coma. Ele quase morreu. Quando o vi novamente, perguntei, 'Oh, meu Deus, Martin, você está bem?', e ele me respondeu, 'Rapaz, tive a melhor noite de sono na minha vida!'. O Martin é durão assim! Explique-me isso: como um cara durão assim acaba nu, no meio da driveway, apontando a pistola para os lados, exclamando 'Estão tentando me matar'? O que está acontecendo? Por que Martin agiu assim? Por que a Mariah Carey fecha um contrato de mais de 100 milhões de dólares, depois perde a cabeça e tira a roupa no Total Request Live MTV? Pessoas fora da indústria não têm ideia do que corre solto dentro do sistema. Então, o que acontece em Hollywood? Ninguém sabe. A pior coisa que você pode fazer a alguém é rotulá-la de louca. É um termo desdenhoso. 'Eu não entendo essa pessoa, então ela deve ser louca'. É bobagem, essas pessoas não são loucas, são indivíduos mentalmente sãos. Talvez o ambiente, este sim, esteja doente". Pela sensibilidade que lhe valeu a capacidade de discernir a maldade nos detalhes, Chappelle sempre vocalizou a malícia do sistema, como quando denunciou, no programa de Oprah Winfrey (que, na conversa, transparece um pouco de contrariedade, afinal de contas, compõe a "elite"), a insistência do show business em descaracterizar a masculinidade do homem negro, metendo-os em vestidos para efeito de comédia. Ele viveu semelhante impasse ao trabalhar em "Blue Streak", quando os produtores chegaram para o ator comunicando que haviam bolado uma "maravilhosa", inédita cena, onde, travestido de mulher, o personagem de Chappelle tiraria o personagem de Lawrence da cadeia. Chappelle se recusou: o roteiro original não envolvia nenhuma cena onde tinha de aparecer vestido de mulher, e ele confiava no próprio talento para fazer humor sem a necessidade do artifício. Mesmo diante da insistência do produtor, que tentou "ganhá-lo" com o argumento de que todos os grandes atores no passado já haviam se vestido de mulher, Chappelle lidou com a situação de modo resoluto, e não se permitiu convencer-se do contrário. Ao revelar o episódio na entrevista à Oprah Winfrey, o desconforto momentaneamente estampado no rosto da apresentadora entregou seu conhecimento de causa. Como peça na engrenagem, Winfrey sabe exatamente a que o ator se refere. E quando o comediante Kevin Hart, sensação do momento, foi questionado a respeito, em um material publicitário para promover seu stand-up comedy "Let me Explain", o desconforto da resposta denunciou a veracidade por trás da "teoria da conspiração" de que, de fato, os jovens astros negros são "forçados" a participar do ritual, uma estranha, bizarra tentativa de desmasculinizar, desautorizar o indivíduo. DMX, a seu turno, corrobora a declaração de Chappelle, e frisa que no meio do rap, também há uma série de etapas a serem cumpridas assim que você assina o nome com sangue. DMX conseguiu romper com a indústria, mas a rebeldia lhe valeu o ataque dos Illuminati, que, para todos os efeitos, o baniram como uma força da mídia. Depois da prisão, motivada por aquilo que DMX chama de cilada para destrui-lo, o ex-astro virou pastor, e sua experiência se encontra à distância de uma breve busca na internet. Mais velho, experiente, dócil e sábio, ele destaca que, quando viaja de carro, certifica-se de não precisar passar nem mesmo perto da Califórnia. Do lugar inteiro emana uma carga de corrupção e inocência vilipendiada tão imponderável que quem o conheceu e sobreviveu ao ataque das tentações prefere apagá-lo da história pessoal. DMX diz "Eu rezo todas as noites, inclusive para meus inimigos, porque, para Deus, somos todos crianças, e, portanto, merecedores de sua graça". Ao discorrer sobre a natureza de Hollywood, gostaria de complementar afirmando que nem toda a indústria foi comprometida por satanistas. A face realmente malvada encontra-se na casta, nas produções que mais parecem empreitadas, e custam centenas de milhões de dólares, estreladas por astros que valem dezenas. Hollywood produz títulos caríssimos com a expectativa de retorno financeiro, e é compreensível que o seleto grupo escolhido para brilhar nos mesmos deva adequar-se a um projeto mais profundo e filosófico que a mera manifestação artística. Nesse sentido, ainda creio na inocência, na pureza envolvida em realizar, digamos, aqueles filmes menores de ação ou horror, rodados por pura paixão dos envolvidos. Em contrapartida, eu jamais apreciei os grandes blockbusters de hoje. Raramente, vou ao cinema, pois me interesso por materiais que dificilmente acabarão nas salas de multiplexes. Claro, como exceção, eu admiro o diretor James Wan, o brilhante cineasta que se consagrou como um dínamo de talento, graças ao sucesso de "Invocação do Mal" & "Sobrenatural". Mesmo agora que comanda produções caríssimas, não consigo enxergar malícia ou maldade nesse rapaz. Creio que ele faça filmes por amor ao cinema, sem se atentar às implicações de se dispor de centenas de milhões para rodá-los. Eventualmente, despertará para a realidade quando tiver de filmar ideias conflitantes com seus princípios, pois enxergará o Diabo nos detalhes, ou melhor, nas entrelinhas. Honestamente, desejo-lhe o bem e espero que não tenha o coração despedaçado quando sofrer o choque de realidade. Se Wan se deparar com o dilema, só posso lhe desejar as palavras que Cary Grant forneceu a Burt Reynolds, nos anos 70, depois que Burt se tornara campeão de bilheteria, lugar onde permaneceria por cinco anos consecutivos. Grant disse "Burt, when this stops being fun, just walk away" (Burt, quando isso começar a deixar de ser divertido, dê as costas e vá embora). E, falando sobre Burt Reynolds, eis outro nome que jamais associei ao esquema maléfico. Sim, ele foi o campeão de bilheteria dos anos 70, o protótipo de astro antecessor da chegada do "clube dos 20", ícones de ação que comandariam salários na casa dos 20 milhões de dólares, como Stallone & Schwarzenegger no curso dos anos 80 & 90. No caso de Burt Reynolds, ainda no auge, ele sempre me pareceu um "outsider", alguém fora do sistema. Ele era um mero dublê quando chegou a Hollywood, e as coisas na sua vida meio que aconteceram acidentalmente, quando não estava preparado para a fama e o dinheiro. Ele era um bom rapaz, mas cheio de assuntos emocionais pendentes: o pai, herói da Segunda Grande Guerra, desaprovava a carreira artística, a que nominava uma grande bobagem, e teria preferido que o filho tivesse se dedicado a um trabalho de verdade, a mãe, uma mulher emocionalmente distante, só foi dizer que o amava já idosa, no final da vida, a irmã Nancy tampouco correspondia a sua devoção, por mais que tivesse passado a vida adulta, já astro, presenteando-a com carros, jóias e viagens. Se pegarmos os arrasa-quarteirões de seu tempo, - "Agarra-me se Puderes", "Hooper - O Homem das Mil Façanhas", "Quem Não Corre, Voa" - enxergaremos um padrão, uma consistência de entretenimento ingênuo e inofensivo. Não obstante o poder em mãos quando foi o astro n° 1 nas bilheterias, ele jamais se apercebeu das circunstâncias fora do alcance da vista, em todos aqueles maravilhosos cinco anos quando reinou absoluto. Sobre Burt, Jon Voight disse "Muitas das decisões profissionais que ele tomou, quando super astro, foram baseadas em amizade (Voight se refere ao diretor Hal Needham), primordialmente, e não em interesse financeiro (Voight deve se referir aos papéis recusados por Reynolds: o do astronauta Garret Breedlove em 'Laços de Ternura', que valeu um Oscar a Jack Nicholson, o do herói John McLane, em 'Duro de Matar', que valeu o estrelato a Bruce Willis, e o do milionário Edward em 'Uma Linda Mulher', que deu novo fôlego à carreira de Richard Gere". De muitas formas, Burt Reynolds me faz pensar em gente como Jennifer ConnellySteven Seagal, Van Damme, Scott Adkins, Rob ZombieVin Diesel, The Rock, Kristen Bell, Scout Taylor-Compton... Eles não ganharam o Oscar, porém, quando me sinto cansado, após um dia de muito trabalho, ou interessado em algo para recuperar o humor, são pelos filmes dessa gente que eu procuro, e não pelo "pessoal sério". Eu jamais me interessei por coisas encabeçadas por vencedores de Oscar, artistas por quem jamais senti qualquer empatia ou identificação. Como a vida é muito curta para desperdiçarmos tempo com coisas com as quais não temos afinidade, sempre passei longe dos filmes desse "pessoal sério". Não tomem minha confidência como insulto, pois sei que muitos de vocês querem bem a vencedores do Oscar e os admiram, todavia apenas procuro ser fiel a meu coração ao declinar que não há correspondência entre meus gostos e os filmes desses medalhões. Não contesto o talento ou os merecidos prêmios das pessoas em questão, aposto que permanecerão ativos e prósperos por muitos anos, apenas não quero seus filmes dentro de minha casa. Por outro lado, em contrapartida, devo complementar que os DVDs das simplórias produções estreladas por Seagal, Van Damme e o restante da turma sempre se encontram ao alcance das minhas mãos, no criado-mudo. Por eles, faço questão de adquirir os DVDs e prestigiar seus esforços, e não trocaria o bom humor, leveza e simplicidade de suas aventuras por nada. Eu me alegro por todos, pois se sairam muito bem. Steven Seagal continua lançando uma média de três filmes ao ano, no mercado direto-para-DVD, e o próximo a chegar as prateleiras, "Contract to Kill", parece intrigante. Não é nada parecido com as produções caríssimas para a Warner Brothers que chegavam aos cinemas nas férias do meio do ano, em 1994, 1995, 1996 e 1997, e ajudaram a tornar a minha juventude um período mágico. Mesmo assim, Steven está bem, vivo, ativo e continua a fazer suas maluquices. Por mais que os esnobes desprezem seus lançamentos e os rotulem como arte inferior, a reprovação dos arrogantes só me faz apreciá-los ainda mais, pois em meu coração sempre tive horror aos prepotentes, e sei que milhares se sentem de maneira semelhante. Burt Reynolds, a seu turno, aparecerá em um projeto muito interessante, nesse ano, "Dog Years", sobre um ex-astro que a caminho de uma cerimônia para receber um prêmio pelo conjunto da obra, pede à motorista que desvie de rota, pois gostaria de passar pela cidade natal. A escolha o levará a uma jornada de autodescoberta, onde reatará com um antigo amor da juventude. Ainda, a motorista (no filme, vivida pela atriz Ariel Winter, de "Modern Family"), uma garota numa fase rebelde, absorverá certos valores de vida com os mais velhos. A trama traz todos os ingredientes de um filme descompromissado e emocionante, e farei questão de prestigiá-lo. Chevy Chase também participa do elenco, como o amigo do personagem vivido por Burt. Mais importante do que filmes, contudo, eu me preocupo com a vida pessoal do Burt. Aos 81 anos de idade, e, portanto, bem mais frágil, sempre me pergunto como se sente, e o que estaria fazendo. Eu sei que na velhice ele tem o cuidado e suporte dos amigos de infância, hoje na mesma faixa etária, pessoas que se tornaram médicos, ou professores ou treinadores de futebol, e jamais sentiram diferença de tratamento pelo fato de Burt ter virado estrela de cinema, e depois deixado Hollywood. Ele também conta com a companhia de uma nova parceira romântica, uma senhora um pouco mais jovem, corretora de imóveis. Quando você conhece sua trajetória e entende os percalços pelos quais passou, sai da experiência com um renovado senso de respeito pelo ser humano. De certo modo, sua história guarda paralelos com o arco de vida de Mike Tyson. Ambos tiveram suas "Waterloos": Burt Reynolds, ao ser acertado em cheio por uma cadeira de aço, acidentalmente, durante as filmagens de "Cidade Ardente", em 1984, o que fraturou a sua mandíbula e o deixou dependente de analgésicos: a perda de peso inflamou boatos de que ele estaria sofrendo de AIDS, numa época em que a doença representava uma sentença de morte, e, poucos anos depois, ele se casaria com Loni Anderson, o pior dos erros, sepultando em definitivo a chance de um ressurgimento; Mike Tyson, ao receber os três cruzados de Buster Douglas que o lançaram na lona da qual ele jamais conseguiu se levantar, em Tóquio, encerrando seu reinado como campeão peso-pesado, e o casamento com Robin Givens, outro horrível, horrível erro de julgamento. Sem dúvida, conhecemos a história de pessoas notórias que depois de um período no topo se viram obrigadas a descer do cume, por mais que permaneçam nas vizinhanças. Raramente, entretanto, você sabe de pessoas que alçaram voos ainda mais altos, - Burt Reynolds campeão de bilheteria por cinco anos consecutivos, Mike Tyson o incontestável campeão peso-pesado - para depois perderem absolutamente tudo. Eu tenho o respeito do mundo por esses caras, e desejo que tenham encontrado paz de espírito. Dia desses, assisti a um vídeo de um Mike ponderado e observador, em uma entrevista a um determinado programa. O entrevistador liberal tentava empurrar para cima dele a isca do racismo, perguntando "Hillary ou Bernie?", enumerando uma porção de falácias para ver se Tyson falava mal de Donald Trump e embarcava no trem dos ataques ao então candidato. Tyson, apoiador de Trump, foi gracioso e categórico, com a sagacidade que só se avizinha depois da experiência de vida, e respondeu que, assim como uma empresa, o país precisa da direção de um bom administrador. Foi além, explicando que as coisas menores, os momentos infelizes na fala do seu candidato não o definem como pessoa, pois absolutamente todos nós dizemos coisas das quais nos arrependemos, e isso não nos impede de trabalhar pelo bem comum e mover o país para a frente. A expressão de desapontamento do jornalista demonstra que ele não esperava a resposta. Ele havia pensado que estava conversando com a mesma pessoa de 30 anos atrás, quando Tyson foi campeão do mundo, e era jovem e imaturo para se enforcar com a corda fornecida pelos outros. Hoje experiente e vivo, Tyson basicamente devolveu a corda para que o próprio jornalista se enforcasse sozinho. É por isso que eu não lamento as dores pelas quais passamos, porque com a dor, chega a experiência. A experiência de vida é o maior aliado de um homem, mesmo os comuns. Assim como ocorre a Burt ou Tyson, também não temo pelo futuro da Jennifer Connelly, pois ela definitivamente criou para si uma sólida estrutura familiar, e jamais me pareceu afinada à loucura que ocorre com parte da indústria. Até pelo fato de ter procurado se desenvolver como artista, e nada desejado com estrelato, Jennifer Connelly passou longe das demandas a que se submeteram outros nomes, como Jay Z, Beyonce, e Kanye West. No período em que Jennifer Connelly poderia ter sido tentada pela banda podre, 2002, o ano em que ganhou o Oscar, estava bem resguardada. Se procurarem por registros da noite do Oscar de 2002, quando Jennifer venceu pelo seu excepcional desempenho em "Uma Mente Brilhante", verão um cavalheiro sempre ao seu lado. Trata-se do pai, a quem, inclusive, ela dedicou o prêmio. Ela sempre teve pais presentes e atentos, não só durante a primeira parte da carreira, quando atuou em "Phenomena", "Labirinto" e "Construíndo uma Carreira", como depois de chegar à terceira década de vida (a mãe aparece ao lado da filha, na premiere de "House of Sand and Fog", é impressionante como enxergamos semelhanças entre pais & filhos). O pai faleceu há alguns anos, mas ela conta com uma base muito sólida. Ao analisarmos os últimos desempenhos na filmografia de Jennifer Connelly, veremos títulos interessantes como "Aloft" e "Shelter". Ocorre que os filmes, mesmo excelentes, visam a um circuito mais alternativo, o cinema de arte. Em outras palavras, as produções não custaram quantias irreais de dinheiro, e, portanto, sobre as mesmas, não repousa qualquer pressão por retorno financeiro. A escolha da atriz por projetos que exigem mais de seu talento dramático a afastou das coisas maiores e ambiciosas que poderia ter estrelado. A opção pelo cinema de arte a livrou, assim, da parte macabra da indústria. Aos 47 anos, o auge já se foi, e ao passo que sua aparência tenha mudado com a idade, seu espírito continua 100% e livre, e ela não precisa tanto assim de filmes. Ainda que não tivesse deixado sua cidade natal, Catskill, para virar uma grande atriz, teria sido igualmente feliz, e realizado seu potencial ensinando teatro, por exemplo, para crianças com necessidas especiais, em uma escolinha, tudo por causa de bases firmes, raízes familiares. Houve apenas um único episódio, na brilhante carreira da Jennifer Connelly, onde ela se perdeu por um momento, não por maldade, mas por não ter sido bem-assessorada, e desconhecer a malícia envolvida na feitura de filmes. Em 2012, ela participou de uma comédia onde interpretava uma jovem mãe/esposa católica, e a ideia girava em torno de brincar com a fé das pessoas, no sentido de que os fiéis eram facilmente manipulados por um sacerdote pilantra feito pelo ator Pierce Brosnan. Não quero discutir o mérito técnico/artístico do filme, apenas discorrer sobre a má vontade por trás de semelhante projeto. Aqui, faço um aparte para trazer ao ponto um pouco de minha vida, para fundamentar melhor a análise. Quem aprecia o blog sabe que ao analisar o filme "Kill List", e abordar o tema do narcisismo maligno, citei minha história pessoal para explicar por que o tema se mostra, para mim, tão palpitante. Eu estive no fim recebedor dos jogos psicológicos dessa gente. As piores figuras fizeram grande dano, pois me assaltaram com essa bobagem narcisista quando eu era criança, incapaz de compreender a astúcia por trás da dramaticidade exagerada. Ao longo da vida, houve personagens narcisistas menores que, depois de adultos, procuraram causar mal, não tão agressivamente quanto as principais figuras, mas causar dor, de toda sorte. Duas dessas personagens menores, eu me lembro muito, pois surgiram lá atrás, no ensino fundamental. Um garoto e uma garota. O menino, ele remonta a 1987, a menina, provavelmente, a 1994 ou 1995, não sei ao certo. O garoto, ele era colega de turma. De fato, eu me recordo de o menino sempre ter comparecido a minhas festas de aniversário, naquele período em particular, 1987/1992, e de eu ter sido convidado, uma vez, ao sítio da família. Os pais dessa pessoa sempre foram amáveis, a mãe especialmente. Eu ainda consigo enxergar o rosto da mulher, certo que meio envolto pela névoa, pois faz muito, muito tempo. Recordo-me, porém, de como sempre estava à espera do filho, na saída do colégio, após o toque da sirene. Era uma senhora bonita e muito elegante. Porque minha memória sempre me serviu razoavelmente bem, ainda conservo imagens de uma tarde qualquer, em 1992, eu e os coleguinhas no sítio desse amigo, correndo e pulando na piscina, a criançada em grande algazarra, e eu deixando a piscina e sendo recebido pela mãe do garoto na beirada, com uma toalha para mim. Quanto à menina, eu não me recordo de quando cruzei seu caminho, mas não restam dúvidas de que ela já me conhecia há no mínimo vinte anos. Sabemos que o tempo passa e se encarrega de nos trazer novos amigos. Quando criança, temos, por exemplo, afinidade a uma outra com os mesmos gostos. O fato é que, na adolescência, surgem novos interesses, e então, inéditas amizades com pessoas de gostos distintos substituem velhos amigos, uma parte natural do crescimento. Tendo levado boas recordações dessa pessoa - seus pais sempre haviam sido tão generosos - eu nunca anteciparia, tantos anos mais tarde, a partir de 2004, que esse indivíduo estaria usando sua influência para me desabonar e prejudicar, de uma maneira muito clandestina, de forma semelhante à também praticada pela então menina, hoje mulher. Sem jamais terem se conhecido ou cruzado, essas duas personagens se assemelham no ódio que têm a minha pessoa, mas não somente nisso. Jovens (não devem ter mais de trinta e cinco anos), bem-sucedidos, muito bonitos, inteligentíssimos (passaram em concursos públicos disputados), vindos de famílias sólidas, e geralmente bem-quistos em seus respectivos meios, eles não deviam se ocupar da vida dos outros. Se você se pergunta por que devotam o tempo para se certificarem de que estão ajudando, direta ou indiretamente, a quebrar as pernas de alguém que nunca lhes fez ou desejou mal, quando deveriam estar preocupados em serem bons pais e mães para os filhos, lembre-se que aqui a lógica não se aplica. Não importa quão belas ou bem-sucedidas essas pessoas sejam. Do momento que o narcisista entra na sua vida, já tem um plano armado, e, diferente de como você se sente por boa parte da jornada até descobrir a natureza da perseguição, não se trata de algo inerentemente errado consigo a motivação para o ódio. Eles nos odeiam pelas coisas boas, não pelos defeitos. Se há uma maneira de lhes causar ferida narcisista, experimente melhorar, seja qual for a âmbito. Procure um relacionamento com Deus, caso não venha dando atenção à fé. Estude, caso tenha se acomodado. Coma melhor, caso tenha se descuidado da própria saúde. Faça-se respeitar e dispense imediatamente pessoas que quebrem suas regras, caso tenha sido demasiadamente gentil & leniente. Aprenda a ler, caso sequer tenha se alfabetizado. Para o seu narcisista, independente de quão próspero ou belo seja, mesmo algo tão simples como seu interesse pela compreensão do alfabeto o ofenderá como um duro golpe, uma ferida de morte, porém nada lhe causará maior insulto do que quando souber que você o vê justamente por aquilo que é. A perspectiva de ser enxergado como narcisista, e não um super herói, é tão cruel que você não tem escolhas, a não ser se afastar, pois então tornam-se perigosos e capazes de tudo. Deve cruzar-lhes a mente, o pensamento "Seu filho da mãe. Você finalmente descobriu os meus estratagemas". Retomando minhas considerações sobre o filme de 2012 da Jennifer Connelly: precisei trazer à baila a questão do narcisismo porque a engenharia por trás da malícia cabe ao caso. Permitam-me elaborar. No caso desse filme em particular, o único momento da atriz que realmente me desagradou, existia uma propaganda camuflada contra cristãos. Agindo subliminarmente, os criadores quiseram retratar pessoas cristãs como facilmente tripudiadas, ingênuas ou tolas. Os personagens se comportavam escandalosamente, e faziam papéis de estúpidos, corrompidos por sacerdotes malandros que degolariam a própria mãe por cinco dólares. Falávamos sobre a natureza política dos filmes, a perspicácia com a qual a elite os usa a favor de uma agenda. Ao tratarem cristãos como fracotes indignos de respeito, transformando-os em caricaturas, a estratégia me fez pensar na conduta de narcisistas, no sentido do expediente utilizado. Quando você torna uma pessoa mera caricatura (narcisistas fazem isso com as vítimas), você a está assassinando socialmente, pois ilegitima sua humanidade, e, por conseguinte, silencia o poder da fala, o mais básico componente de autoafirmação e defesa. Eu afirmo com convicção que, para a atriz, o papel a deve ter atraído pela possibilidade de experimentar com comédia, mas as pessoas por trás dos panos que bancam algo do gênero guardam interesses menos altruístas e mais perversos. Às vezes, incorremos em equívocos por falta de atenção, noutras, somos levados ao erro por terceiros. Por ter conduzido tão bem a própria vida, como mãe de três filhos e devota esposa, e enriquecido a carreira com performances belíssimas em produções interessantes, a Jennifer Connelly atingiu um patamar onde deve despertar todas as manhãs certa de que não precisa de mais nada para ser feliz. Apenas não pode perder de vista, como uma pessoa abençoada, o dever da vigilância e autopreservação, porque, no mundo, existe maldade, os malvados apreciam manipular pessoas boas e ingênuas para seus fins, e conforme escrevi acima, se há algo que o mal faz, é vagar pelo mundo atrás de oportunidades. Eu me senti no dever de abrir os parênteses, pois, embora odeie ataques camuflados a pilares que nos mantêm bondosos e mentalmente sãos, afirmo com convicção que ela certamente não coaduna com a perversidade do meio. Mesmo bela e bem-sucedida, acho que jamais agrediria emocionalmente alguém pelo propósito de causar sofrimento. Eu já disse tantas vezes, e volto à carga: se a Jennifer Connelly não tivesse procurado pelo cinema, teria sido feliz com as artes dramáticas até mesmo numa escolinha ensinando crianças, com uma gotinha preta de cola colorida na ponta do nariz e o bigodinho de gato desenhado na cara. Pessoalmente, eu seria hipócrita se afirmasse não precisar da sétima arte. Se assim o fosse, não separaria tempo para escrever sobre filmes, não criaria meus próprios roteiros, nascidos do amor pela expressão em imagens/sons. Como uma porção de outras coisas na vida, no entanto, aprendemos que há implicações em se amar algo tão perdidamente. Se, quando jovens, nossas únicas referências são o sabor do momento vivido, ao envelhecermos, a vida se encarrega de transcrever sobre um suporte a nossa história, que, como qualquer outra, precisa se amoldar a uma escala, uma escala a que convencionamos chamar de tempo, ou, se preferirem, a régua pela qual se mede a diferença entre a ilusão do que antes nos foi tão caro e a realidade de como as coisas se apresentam. Reza a lenda que, na Roma antiga, toda vez que um herói conquistador e seus soldados regressavam triunfantes de uma batalha, eles recebiam uma parada nas ruas, em meio a servos e bajuladores a festejarem os feitos de seu exército. Ao lado da carruagem do general, haveria um servo cuja função consistia em lhe sussurrar regularmente ao pé do ouvido palavras de cautela, "Sic transit gloria mundi", literalmente traduzidas para "Toda glória desse mundo é transitória". Ao final de "Starry Eyes", quando veste o colar diante do espelho, Sarah está a um passo da vida que sempre quis. Em concorridos eventos desfilando no tapete vermelho de estréias, Sarah receberá a bajulação e os aplausos dos servos e aduladores. Por mais altos que se assomem os assovios e as palmas, todavia, ela faria um favor a si, se cuidasse de manter por perto alguma voz dissonante que procurasse colocar um pouco de senso na sua cabeça, sobre as inconstâncias dos triunfos desse mundo, sussurrando-lhe "Sic transit gloria mundi". Provavelmente, Sarah não daria atenção às palavras de prudência, porque o rumor dos aplausos sufocaria o solitário discordante, e, principalmente, pois precisaria de alguns anos até ganhar perspectiva de vida e entender o horror de seus próprios atos. E aí reside o perigo, não? O tempo que permanecemos nessa Terra é uma grande incógnita, e pode não haver oportunidade para se reparar os males. A imprevisibilidade do destino deve ser aceita como um dos muitos mistérios da fé, e quem quer que busque a Deus eventualmente a acatará como natural parte da vida, diferente da angústia existencial que até o último dia acompanha aqueles que consigo preferiram carregar um caixão de culpas.
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