terça-feira, 30 de junho de 2015

"Área 51" & "Sobrenatural A Origem": Mal chegamos ao meio do ano, já temos muito para comemorar com estes dois charmosos filmes de Horror, concebidos sob muita expectativa. Conseguiram os diretores Oren Peli & Leigh Whannell entregar o produto que seus fãs esperavam? Leiam a resenha e descubram!

Ambas as franquias começaram quase na mesma época, "Atividade Paranormal" em 2009 & "Sobrenatural" em 2010. Desde então, os blockbusters do verão americano, usualmente os filmes de super-heróis, precisam disputar acirradamente a atenção com essas pequenas fantasias de Horror que de maneira inesperada conquistaram o imaginário do grande público. Desde "Tubarão", de Steven Spielberg, o gênero não via dois diretores alçando voos tão magníficos, James Wan com "Sobrenatural" & Oren Peli com "Atividade Paranormal". 2015 não desapontará os cinéfilos que aprenderam a reservar algum carinho a filmes do tipo. Embora James Wan não esteja de volta `a cadeira de diretor de "Sobrenatural: A Origem", o talentoso cineasta foi o produtor, e se prestarem muita atenção, terão uma grata surpresa, pois também foi algo mais... Ele faz uma ponta no elenco!A seu turno, Oren Peli retorna como diretor, todavia não em mais um título da franquia "Atividade Paranormal", e sim em um novo, ambicioso sucesso, o ótimo "Área 51". Seus filmes seguem criando enorme empatia e identificação com o público, o resultado não poderia ter sido melhor. Apresentarei os enredos de ambos os filmes, bem como minhas considerações acerca dos dois.

Reid, Darren & Ben são 3 melhores amigos fascinados com a Área 51. Quando o filme abre, aprendemos que o trio desapareceu misteriosamente ao se aventurar no deserto de Nevada. O filme nos mostra os eventos que antecederam o desaparecimento e a natureza da tragédia que se abateu sobre o grupo. Exibido no formato "found footage", "Área 51" começa com entrevistas com familiares e amigos de Reid, que o descrevem como um sujeito do Bem, um cara absolutamente comum que 3 meses antes do sumiço passou a mostrar incomum interesse por fenômenos ufológicos. Sua irmã & chefe oferecem observações semelhantes: apesar de se recordarem do rapaz pela generosidade, Reid tornou-se uma pessoa completamente diferente nos 3 meses anteriores ao desaparecimento em pleno deserto de Nevada. O chefe fala que o servidor dedicado se tornou um indivíduo relapso. Depois de sua saída, os colegas de trabalho encontraram impressões de artigos sobre discos-voadores, tirados da internet. A irmã oferece reminiscências parecidas, e mostra `a câmera os livros e filmes esquisitos que o irmão vinha lendo e assistindo.

Tudo começa de forma insuspeita, 3 meses antes, quando os rapazes vão a uma festa. Descontraídos, a noite transcorre agradavelmente, Reid inclusive obrigado a executar uma performance no karaokê, quando um blecaute mergulha a casa na escuridão, por alguns segundos. Quando as luzes voltam, não há sinal de Reid. Os amigos, claro, não se preocupam. "Alto" (alcoolizado) do jeito que estava, Reid decerto deu uma escapulida com alguma menina da festa para "comemorar" a sós. A festa continua sem sobressaltos, Ben inclusive tirando as roupas e saltando na piscina, alegre e fora de controle. Em determinado momento, os rapazes começam a sentir a falta de Reid, que já devia ter dado sinal. Darren & Ben acreditam vê-lo momentaneamente no quintal de casa, por trás de uma árvore, mas não podem ter certeza. Ao deixarem a festa e voltarem à estrada, os amigos mantêm o automóvel em baixa velocidade, procurando avistá-lo. Subitamente, Reid aparece no meio da estrada, confuso, incapaz de descrever o que aconteceu. Depois desta noite, começou a obsessão por OVNIs e Área 51.

Aparentemente, não há nada que sugira algo muito incomum quanto a Área 51. Localizada a cerca de 130 quilômetros a Noroeste de Las Vegas, no deserto de Nevada, a Área 51 aparentemente em nada difere de qualquer outra típica base norte-americana. Reza a lenda, no entanto, que a Área 51 é o lugar onde o Governo guarda seus mais bem-escondidos segredos no que importa OVNIs. Ali, seriam postos em prática testes de engenharia reversa em discos-voadores, com o intento de dominar a tecnologia de seres de tão avançada civilização, de visita a nosso mundo. Por razões desconhecidas, após o "blecaute" da festa, quando ressurgiu apenas horas depois, no meio da estrada, sem recordação alguma do sucedido, Reid se sente "atraído" para a região, quase como se a Área 51 o estivesse chamando. Com a ajuda dos amigos, Reid prepara uma detalhada operação com o impossível intento de penetrar na sinistra base e conhecer seus mistérios.

Vemos que os rapazes "fizeram o dever de casa", em preparação para a missão de suas vidas. A seu favor, pesa a parafernália de tecnologias e detalhes que esperam conduzi-los a salvo pelo deserto. Eles precisarão penetrar o perímetro da base, portanto levarão tecnologia capaz de derrubar sinais de celular. Além da vigilância ferrenha, uma vez cruzados os limites, o perímetro estará equipado com detectores de amônia, o que efetivamente deve entregar qualquer intruso, mesmo que vencidos as cercas e os alarmes. Precavido, o trio fará uso de tabletes para mascarar o teor de amônia do organismo. Para enxergarem na escuridão, atravessarão o deserto com visores noturnos. Para mostrar o quão a sério o Exército Norte-Americano leva a questão da segurança, Ben exibe um vídeo onde vemos terroristas iraquianos dentro do país, tentando orquestrar um ataque à Área 51. Eles se movem como que convictos de que não serão vistos, mas câmeras de calor registram toda a ação. Quando pensam que podem atacar, são eliminados por disparos de mísseis e metralhadoras automáticas que literalmente os pulverizam no deserto. Logisticamente, os amigos não estão nessa aventura sozinho, pois fizeram contato com Jelena Nik, filha de Lawrence Nik, um cientista que trabalhara na Área 51 e se suicidou na garagem de casa, alguns anos atrás, em 2009. Os amigos costumam navegar por um blog por onde se pode ter acesso a parte dos documentos de Nik

Ben recebe uma ligação de outro amigo. Reid aproveita para testar o equipamento, e enquanto espia o rapaz do corrimão, aciona o instrumento, que "quebra" a frequência do celular e encerra a ligação entre Ben e o rapaz. Quando pegam a autoestrada a caminho da aventura, os ânimos são os melhores, e Ben não hesita em brincar, afirmando que no dia da entrada, provavelmente serão derrubados por atiradores sniper antes de se aproximarem das cercas. Reid insiste que o máximo que poderá acontecer será os três irem presos, mas Ben crê que até mesmo assaltar o Banco Federal seja menos perigoso do que encarar a Área 51. Reid levanta um ponto interessante: espera-se que bandidos tentem assaltar bancos federais, daí a segurança envolvida, todavia quem imaginaria que americanos tentarão burlar a segurança da Área 51? Reid está contando, portanto, com o fator surpresa.

Ao final da tarde, chegam em grande algazarra a Las Vegas, o entreposto no caminho da aventura de suas vidas, e se hospedam em uma maravilhosa suíte cuja vista dá para o aeroporto internacional, mais especificamente para o terminal utilizado pelos funcionários do alto escalão que transitam todas as semanas pela base militar. Os amigos espairecem em um clube de strippers, e na manhã seguinte, dedicam-se "aos negócios". Não há mais tempo para diversões ou distrações.

Reid acha que sabe de tudo sobre a Área 51. Mal imagina quão longe encontra-se da verdade. O trio encontra Jelena em uma cafeteria. Depois do suicídio de Lawrence, todos seus arquivos secretos & mapas da Base Militar chegaram às mãos da filha, que os guardou em um insuspeito lugar, um daqueles armazéns de depósitos onde se aluga os cômodos para guardar bugigangas das quais alguém não quer se livrar. Enquanto caminham entre os corredores do depósito, ela conta que na véspera do suicídio, o pai afirmou que seus telefones estavam grampeados. Ele pediu que na ocasião de sua morte, a filha levasse os documentos para algum lugar insuspeito. 24 horas após o suicídio, depois que a filha tinha transportado os documentos para um canto seguro, o Exército apareceu para confiscar quaisquer itens que julgasse uma ameaça para a Segurança Nacional. Já era tarde, contudo, pois os documentos estavam fora do alcance do Exército. Jelena avisa aos rapazes que por mais que estejam fascinados com o mistério da Base, vista a olhos nus uma vez que se atravessa o deserto, na verdade será somente no subterrâneo onde encontrarão os mais cabulosos segredos sobre OVNIs, mais especificamente uma seção secreta batizada de "S4". Evidente que vencer os perímetros da Área 51 será apenas o começo. Mesmo que consigam passar livremente, precisam resolver um detalhe fundamental: ganhar acesso `as diferentes seções no interior, coisa que somente um funcionário de dentro teria como fornecer. Enquanto vivo, o pai de Jelena espionou um determinado cavalheiro do alto escalão, tendo inclusive realizado fotos do homem sem o seu conhecimento.

Homens de alta hierarquia costumam realizar a ponte aérea no aeroporto de Las Vegas, diariamente. Claro que eles não moram na Base, apenas se deslocam para o deserto de Nevada para o exercício de suas funções na Área 51. Entre outros privilégios, gozam de livre passagem para o transporte rotineiro, do trabalho para casa e a volta para o trabalho, em voos aparentemente ordinários que não despertam atenção do grande público. Curiosamente, o Boeing que faz o transporte não tem matrícula, e o terminal de embarque e desembarque tampouco traz um número, apenas a sigla, JANET ("Just Another Non Existent Terminal", que significa "Apenas mais um Terminal Não-Existente"). Na tarde daquele dia, os amigos preparam a tocaia nas cercanias do aeroporto, e flagram o homem de alto escalão atravessando a cancela em um carro do governo, a caminho de casa. A uma certa distância, os rapazes não perdem o automóvel de vista, chegando ao endereço onde o agente mora com a família.

Paciente, a turma aguarda dentro do carro, do outro lado da calçada, `a espera da primeira oportunidade para entrar. Em dado momento da madrugada, o homem precisa momentaneamente se ausentar. Habilidoso, Reid espera que o cavalheiro se afaste com o carro, e entra a tempo de passar sob o portão automático da garagem. Por dentro, ele abre a porta da frente para Darren. Ben protesta quanto aos riscos, não acreditando na ousadia dos amigos. Eles cuidam para não fazer barulho ou causar maiores problemas, mas levam um baita susto quando o cachorro da família surge e avança. Darren consegue distrai-lo oferecendo petiscos. Estão ali única e exclusivamente para "clonar" o cartão magnético do agente da Área 51. Em um crescente clima de tensão, os rapazes começam a vasculhar os cômodos, quando são avisados por rádio que o homem está retornando para casa, acompanhado da família, após pouco tempo de ausência. Reid e Darren se escondem na banheira, por trás das cortinas, e por pouco a esposa e o filhinho, que entram para escovar os dentes, não os flagram. Eles esperam que a família se recolha para dormir, quando discretamente apanham o cartão magnético e uma loção pós-barba (de onde esperam colher digitais para os escâneres biométricos), concluindo com sucesso a missão.

À essa altura, Ben está furioso, convicto de que as câmeras de segurança da rua filmaram sua placa, que terá problemas para o resto da vida, pois para todos os efeitos cometeram um crime federal ao entrar clandestinamente na propriedade. Os riscos nos quais incorreram não parecem compensar. Do trio, Ben deve ser o único com o "pé atrás". Os amigos pegam a estrada na madrugada fechada e deixam Las Vegas. Em determinado momento, resolvem parar no acostamento para cochilar. Quando Ben & Darren despertam, não encontram o amigo, até que Ben o avista distraído, para os lados da estrada. Ben e Darren têm uma conversa onde o rapaz novamente expressa seus reparos. 

Eles se hospedam em uma cidadezinha muito próxima à Área 51. As filmagens que realizam dos moradores locais mostram o impacto da Área 51 sobre suas vidas. Ali, os cidadãos só pensam em discos voadores. Há mais turistas do que moradores, forasteiros movidos pelo mesmo desejo. As pessoas entrevistadas falam com convicção de que os "Cinza" existem. Um homem fala sobre abduções, sobre o fato de os alienígenas deixarem um implante que te deixa "marcado" até o fim da vida; outro, sobre a aparência das criaturas. Um cidadão de traços latinos dá um curioso depoimento, onde fala sobre a representação em pedra de deuses, no México, e menciona a aparência dos mesmos com astronautas. Mesmo a crença de que no instante da morte você caminha em direção à luz parece trazer algum significado no que se refere à vida extraterrestre. "Eles têm a própria Polícia, o próprio Governo. Área 51 significa que a Área é o Estado n° 51 dos Estados Unidos da América", o homem opina. 

Os rapazes chegaram ao segmento final da viagem, estão a menos de um dia de entrarem na Área 51. Dirigindo pelas estradas secundárias do deserto de Nevada, encontram em um determinado ponto do acostamento empoeirado Glen, o guia local. O homem lhes fala sobre os sensores ao redor da base, e mostra que são tão discretos que dificilmente os teriam diferenciado da vegetação rasteira. Não demora a uma camioneta aproximar-se e o motorista descer para perguntar o que o grupo faz naquelas redondezas. Eles deduzem que se trata de um agente disfarçado, de olho nos intrusos. A camioneta logo parte, desaparecendo na estrada de terra batida.

Naquela noite, quando Reid, Darren e Ben voltam ao trailer, tentam socializar com um dos moradores locais. Sentado em uma cadeira à beira da imensidão do deserto com seu binóculo, o homem não parece interessado em conversa. Os amigos encontram a porta do trailer aberta e imediatamente pensam que foram seguidos por militares. Na verdade, é Jelena quem deseja acompanhá-los na aventura. Ben está hesitante quanto a seguir adiante. Ele explica que só topou a empreitada porque jamais acreditou que as coisas chegariam àquele ponto. Uma batida na porta do lado de fora os deixa sobressaltados, mas a ausência de qualquer pessoa à porta os assusta ainda mais. Eles vestem uniformes próprios que camuflarão o calor (de modo a burlarem os leitores termodinâmicos do perímetro) e engolem os tabletes que devem baixar o nível de amônia. Mesmo certos de que têm agido com cautela, os amigos se sentem paranoicos. Eles ganham a estrada às altas horas. Ben os aguardará em um trecho que passa aos pés de uma colina menor cuja face dá para a Base.

Munidos com câmeras e apetrechos, o trio desarma o sensor de movimento, e entre uma porção de ameaças como cobras rasteiras, esconde-se para burlar o facho de luz que os canhões do helicóptero deita sobre a colina. Vista de longe, a Área 51 mais lembra as pistas de um grande aeroporto internacional, mas de perto parece uma cidade de médio porte. Uma vez que alcançam as grades do perímetro, navegar dentro da Área 51 não é tão difícil quanto escapar à detecção das armadilhas deixadas no deserto, entre a estrada e o efetivo início da base, marcado pelas cercas. Mesmo assim, precisam falar baixinho, correr entre as sombras e se agrupar para descobrir por qual hangar devem entrar. Fazendo uso do cartão magnético e das digitais colhidas do vidro do perfume, o trio ganha acesso ao primeiro nível, um andar corrido que não difere tanto assim do andar de uma repartição, por exemplo. Agachados dentro de uma ilha de trabalho, escapam aos olhos de um funcionário da limpeza, e então aos de um segurança. Eles alcançam a escada que esperam que os levará aos túneis do subterrâneo.

Em uma sala reservada à esterilização, encontram trajes especiais para evitar exposição, um colete de balas parcialmente derretido e um walkie-talkie. Reid escuta um chiado terrível através do walkie-talkie, e seu nariz começa a sangrar. Para adentrarem em um novo nível, o complexo do "S2", o trio faz uso do visor sensível a calor, e quando um soldado pressiona a combinação do password para entrar, eles "leem" os "borrões" deixados pelas impressões das digitais nos botões, ganhando acesso à mina de ouro. No laboratório, encontram uma porção de itens que levam a crer que se trata de tecnologia alienígena. Eles veem um líquido dentro de uma centrífuga, dotado de volição, adquirindo as formas mais inesperadas, e uma pedra que gira no ar e sobre a qual a gravidade não atua. O líquido de inconstante forma subitamente tenta atacá-los,  e a pedra estilhaça o vidro e ricocheteia pelas paredes. Eles deixam o laboratório e continuam a descida.

Eles encontram um enorme hangar onde há uma aeronave alienígena em forma de disco. Fascinado ao examinar a aeronave, Reid percebe que a superfície é sentiente, e reage a seu toque como uma estrutura orgânica o faria. Embora Jelena tente provocar a mesma reação com suas mãos, a aeronave parece responder somente ao estímulo de Reid. Ao se dar por uma abertura no topo do disco voador, Reid salta para dentro. Ao entrar, a abertura fecha-se como se jamais tivesse existido. Reid explora o interior da nave, um ambiente transparente que permite uma absurda vista de 360° do ambiente circundante, enquanto que para seus amigos que ficaram de fora, não é possível enxergar através da superfície metálica. Reid deixa o disco voador e eles retomam as escadas através das quais pretendem chegar ao nível "S4".

A grande sorte do trio em não ser apanhado finalmente acaba, quando põem tudo a perder ao abrirem o portão para o "S4" e acionarem involuntariamente alarmes e sirenes que acusam a quebra de segurança. O trio é separado pelo fechamento do portão, Jelena & Reid presos no nível "S4", Darren do lado de fora. Soldados armados aparecem, e Darren bate em retirada. Sem outra alternativa a não ser seguir descendo, Reid e Jelena atravessam uma ampla passagem que dá para corredores muito estreitos onde a entrada de luz é muito limitada. Ali dentro, na antessala, ficam arrepiados ao enxergarem silhuetas de criaturas altas e muito magras, com cabeças grandes e olhos negros e enormes. O casal quase entra em pânico, mas Reid acalma a colega ao descobrir que não se tratam dos "Cinza", mas de trajes espaciais vestidos pelos seres, com quem felizmente ainda não cruzaram. Mais algumas dezenas de metros à frente, os dois descobrem a passagem para um sistema de cavernas, semelhantes a aqueles túneis para mineração. Ali, encontram pilhas de roupa e diversos objetos, como bichinhos de pelúcia e demais itens. Ao ter a atenção capturada por uma boneca, Jelena se toca de que se trata da mesma boneca que perdera quando criança. Possivelmente, mesmo que tenha se esquecido, Jelena já teve um encontro com os "Cinza" na infância.

Reid descobre uma gruta com uma porção de pods, na verdade uma colônia de extraterrestres habitando o interior da caverna. Repentinamente, um "Cinza" levanta-se de um pod aberto. Reid e Jelena precisam correr para escapar, e sem alternativas, escorregam por um grande canal que os leva por uma queda a um meio estéril e esbranquiçado, tomado por uma névoa que impede melhor a compreensão espacial. Nas paredes, Reid repara uma série de símbolos animados que se sobrepõem em anéis, em um movimento tridimensional que não compreendem muito bem. Distante do nível "S4", na superfície, o caos se instaurou na base. Os trabalhadores da Área 51 estão sendo evacuados pelas tropas. Escondendo-se como pode ao longo de corredores e salas de escritório, Darren enxerga uma enorme sombra que parece própria a uma criatura alienígena cujos braços mais lembram pinças gigantes. Um soldado o rende, e Darren tenta desesperadamente avisá-lo de que há um monstro à solta. Antes que o homem possa se atentar do risco, é atacado pela criatura, que não chegamos a enxergar tão bem. Darren se alberga dentro do refeitório e se esconde sob uma das muitas mesas. O tremor do chão indica o tamanho daquele monstro. Em uma cena realmente macabra, Darren enxerga por entre os espaços entre as tábuas um enorme olho aquoso, escuro como as trevas, olhando para o rapaz com interesse e apetite. Darren grita e consegue fugir a tempo de se proteger dentro de um elevador. Misturando-se aos demais trabalhadores do complexo mais acima, Darren consegue passar desapercebido entre as pessoas que estão sendo evacuadas. Ele salta o portão e foge pelo deserto, iniciando uma longa caminhada pelo restante da madrugada, rumo ao trecho da estrada secundária onde Ben aguarda o grupo.

Reid e Jelena ficam atônitos dentro daquele espaço infinito e esbranquiçado cuja mais apropriada descrição seria a de um "Maracanã tomado por névoa", ou seja, você sabe que se trata de algo grandioso, mas perenemente preenchido por uma neblina apaziguadora e esquisita. Quando os dois começam a girar no ar, percebem a horrorosa verdade. Estão dentro de um disco voador em pleno voo. Nos últimos 5 minutos, encontramos os dois grandes momentos que definem o destino dos personagens. A imagem do disco prateado ascendendo ao sabor do silvo da ventania, a se dar em pleno céu azul ensolarado, é simultaneamente bela e apavorante. É manhã, e Darren encontra o carro. Esbaforido, Darren conta aos gritos as coisas horríveis que viu na Área 51. Ben tenta dar partida, mas o motor não obedece. Os amigos enxergam uma gigantesca aeronave pairando sobre a estrada. Ao descer fascinado para observar, Darren é atingido por uma luz e tragado para o azul celeste. Ben ainda tenta se segurar dentro do carro, mas também desaparece, como que engolido pelo Sol. A espaçonave leva consigo os segredos da Área 51 e as pessoas que pagaram com suas vidas pela verdade.

Há muito o cinema nos deve um filme interessante sobre a Área 51. O mais próximo que chegamos da misteriosa base no deserto de Nevada foi o intrigante "The Signal", com Olivia Cooke. Com "Área 51", temos o filme que nos leva definitivamente para dentro de seus segredos, em uma história dividida em dois atos atmosféricos e envolventes. Dirigido por Oren Peli, o cineasta que criou "Atividade Paranormal", "Área 51" foi orçado em meros 5 milhões de dólares, novamente comprovando a ideia de que o melhor amigo de um diretor e seus atores é trabalhar em cima de um orçamento limitado, pois as adversidades botam a criatividade para funcionar como locomotiva. Enquanto "The Signal" não poupou cenas visualmente extravagantes, na verdade épicas, "Área 51" trata os mistérios da presença extraterrestre pela sugestão, e apenas indiretamente. Confrontar um enigma de tamanha envergadura foge tanto às limitações da mente humana que Oren Peli conclui que somente indiretamente se poderia abordar a questão seriamente.

"Área 51" começa excitante, mas já se pressente o problema que enfrentará mais adiante: usualmente, quando a primeira hora de um suspense é tão atmosférica e perfilhada de tensão, a segunda tende a mover-se anti-climática. Não difere muito de um passeio na montanha-russa, quando a interminável subida do carrinho parece mais apavorante do que a própria queda. Alguns ótimos filmes de Horror ilustram a máxima. "Os Estranhos", por exemplo, tem os primeiros 40 minutos bastante envolventes, antes que o trio de assassinos se mostre como os monstros da história. Ao contrário, na sutileza e quietude de instantes como quando uma das meninas bate à porta do casal, às 04:00 da madrugada, perguntando se "Tamara está em casa", pouco antes de o trio iniciar o assédio, o diretor Bryan Bertino prepara uma inesquecível volta na montanha-russa. Ocorre que, lamentavelmente, melhor do que a volta em si foi a promessa, a subida, o período que antecedeu a descida ao abismo, os sinais que os monstros deram antes de iniciar o assalto. Quando o trio de mascarados - duas mulheres e um homem - partem para o ataque, o filme não sustenta o ritmo, algo dos quarenta minutos não fica bem amarrado na segunda metade. Há algo inerente ao silêncio antes da tempestade que eriça os cabelos de uma maneira que nem mesmo a urgência do perigo o faz. "O Dia Seguinte" deveria ser usado como exemplo clássico da discussão. Neste filme de 1983, sobre a crise que leva União Soviética e Estados Unidos ao embate nuclear, o diretor Nicholas Meyer divide a história em dois atos muito bem definidos. Na primeira hora, o filme é um crescente de tensão e angústia, os muitos personagens tentando levar suas vidas enquanto pela televisão e rádio chegam notícias cada vez mais preocupantes do agravamento das relações diplomáticas entre as duas potências, em face de uma questão fronteiriça entre Alemanha Oriental & Ocidental. O drama se descortina aos olhos do mundo e, a título de narrativa, aos olhos das personagens que compõem os diferentes núcleos. Há o personagem do médico professor universitário vivido por Jason Robards, sua família e colegas; há os personagens que participam do núcleo do campus da universidade em Kansas; e  há a família do fazendeiro vivido por John Cullum. O modo como as pessoas tentam manter suas relações intactas e famílias unidas durante a imprevisibilidade dos eventos cria uma atmosfera de claustrofobia insuportável, que imprime a "O Dia Seguinte" uma das melhores primeiras horas em qualquer filme da História. O problema é que após a trocação nuclear, quando chega a segunda hora, tudo o que vem depois não te cativa com a mesma força da anterior. No caso de "Área 51", Oren Peli realiza um feito monumental. Ele não torna o segundo ato mais cansativo ou menos interessante do que o primeiro. Como um todo, o filme te envolve na jornada que leva os amigos de Las Vegas ao deserto de Nevada e então para dentro da Área 51, onde os mais horrorosos segredos estão para ser escancarados.

O uso do estilo "found footage" cria um sentimento que me fez pensar no segmento "Second Honeymoon" do excelente "V/H/S", a história de um casal que viaja pelo deserto do Arizona durante as férias, em comemoração da "segunda lua de mel", quando passam a ser o alvo do assédio de uma misteriosa garota. Em "Área 51", a sucessão de motéis à beira de estrada e a jornada através do deserto de Nevada já criam um delicioso gostinho de aventura e expectativa antes que um passo sequer tenha sido dado dentro da base. É eletrizante vê-los à véspera da noite da invasão, discutindo detalhes, repassando planos. O segundo ato, a descoberta dos segredos da Área 51, oferece um espetáculo à parte. O que poderia vir a ser uma grande tolice jamais decepciona, e com muita imaginação, Oren Peli concebe revelações perturbadoras que vingam pelos seus tétricos detalhes. A representação de vida extraterrestre não diverge da mitologia dos "Cinza", que vimos anteriormente no ótimo "Os Escolhidos", porém as aparições dos alienígenas ensinam uma ou duas coisas a cineastas que ainda não aprenderam que "menos é mais". A simplicidade macabra dos inertes trajes espaciais pendurados no cabideiro, ali ao alcance do casal, ou do enorme olho aquoso e escuro como as trevas piscando delicadamente conquistam um lugar ao lado das mais chocantes representações de vida extraterrestre já capturadas em filme. Também digna de nota a maneira como o diretor retrata a tecnologia alienígena. Oren Peli teria dado um tiro no pé caso não tivesse resistido à tentação de ilustrar o disco voador do modo mais extravagante possível. Ao contrário, a nave parece exatamente um disco voador prateado, a imagem que tanto vimos em fotos ao longo dos anos, algumas dessas jamais explicadas. Internamente, nada de maquinário ou arrojados aparelhos de aerodinâmica. Não há absolutamente coisa alguma no interior, creio que em razão do grau de evolução de vida extraterrestre, que não precisaria mesmo de engenharia hidráulica ou espacial para colocar tamanho milagre nos céus, apenas da força de suas mentes, talvez.

Há um filme baseado em fatos reais, "Fogo no Céu", sobre a abdução de um lenhador por um disco voador, logo acima da floresta de White Mountains, no Arizona, em 1975. O ambiente estéril e envolto por névoa no interior da nave de "Área 51" tem um design semelhante ao visto em "Fogo no Céu". Aproveito a oportunidade para recomendar "Fogo no Céu", um filme baseado em fatos reais, exclusivamente apoiado em performances e focado nas investigações posteriores sobre o mistério, o que reitera a necessidade de não se partir para uma produção do tipo contando-se única e exclusivamente com efeitos especiais ou a ação em troca de uma boa história. Atmosfera & trama representam nada menos do que metade do caminho, no mínimo, e as criaturas & o fenômeno dos OVNI apenas uma pequenina parcela. Assim como vale para os cenobitas do primeiro "Hellraiser", para que se materialize a magia, "menos é mais". Contenção. Discrição. Elegância. Se você os perde de vista, seu filme vai junto para o buraco.

Oren Peli rende homenagem aos clássicos do Horror que decerto o ajudaram a encontrar o batuque certo para o suspense. Quando o filme chega ao segmento final, e o grupo se separa, Peli concebe o inesquecível momento emulando as angustiantes atmosferas evocadas por "Dia dos Mortos" (1985), de George Romero, e "Alien O 8° Passageiro". A fuga desesperada de Darren ao longo de corredores muito estreitos e escuros, seguido por luzes vermelhas dos giroflex ao sabor da cacofonia dos berros insistentes de alarme, remete à sequência em que a protagonista de "Alien O 8° Passageiro" aciona a contagem regressiva para a autodestruição da Nostromo, e tem algumas dezenas de segundo para encontrar o caminho à nave de fuga, tudo enquanto o alienígena se encontra em seu encalço. Simultaneamente, quando Reid e Jelena se metem em túneis que mais parecem cavernas, vemos que as grutas são muito mal iluminados por lampiões, e é ali dentro onde encontram pessoalmente uma forma de vida alienígena, subitamente se levantando do leito. Pois bem. Quem se recorda do filme de George Romero sabe que o grupo daquela trama precisava chegar `a superfície através de antigos túneis subterrâneos usados para mineração. A todo tempo, há os zumbis distribuídos em vários pontos daqueles canais muito apertados, e eles surgem do escuro para tentar agarrar os sobreviventes em uma sequência de tirar o fôlego, rumo à escada que dá à superfície e ao heliporto onde o grupo espera driblar a invasão dos infectados e escapar por helicóptero. Certamente, há mais referências a se descobrir, mas os dois filmes acima saltam aos olhos.

"Área 51" é uma boa pedida para os fãs de filmes sobre discos-voadores, e nesta oportunidade aproveito para recomendar "uma outra área", a "Área Q", uma maravilhosa produção brasileira que não passa vergonha diante de filmes americanos semelhantes, utiliza maravilhosamente a fotografia da bela e mística Quixadá, e não cai na armadilha fácil dos excessos, tratando seus mistérios com a classe que a boa elegância recomenda!
Todos os direitos autorais reservados a IM Global. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.

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Alguns anos antes da assombração da família Lambert, Elise Rainier, a personagem da atriz Lin Shaye, é procurada pela adolescente Quinn Brenner (Stefanie Scott). Elise deixou de fazer leituras psíquicas há algum tempo, mais exatamente desde o suicídio do marido, que sofria de depressão. Hoje, mora sozinha com o cachorro Warren. Não bastasse o luto, Elise é casualmente perseguida por uma entidade, a "Noiva de Preto". Tocada pela história da menina, que deseja comunicar-se com a mãe, falecida de câncer, Elise abre uma exceção. Quinn afirma sentir a presença de um espírito que julga ser a mãe. Ela conta que muitas vezes encontra seu diário em um lugar completamente diferente de onde havia deixado, crê que seja a mãe tentando se comunicar. Ao entrar em transe, Elise escuta uma voz demoníaca, e ao voltar do transe pede que a menina cesse imediatamente as tentativas de comunicação com o mundo espiritual. Aparentemente, a dor da saudade da adolescente acabou por atrair um espírito ruim. "Quando você tenta falar com uma pessoa morta, muitas outras podem ouvir também", Elise alerta.

Não custa ao assédio do espírito escalar, inicialmente discreto, como um distante sussurro, à noite. Deitada, Quinn pergunta "Você está aí?". Ela sobe na cabeceira da cama para examinar o túnel de ventilação, de onde pensa ter vindo o sussurro. A manhã seguinte é muito importante, pois Quinn está tentando memorizar linhas e mais linhas de diálogo para tentar uma bolsa de estudos na Academia de Artes em Nova York. O filme nos apresenta a Sean (Dermot Mulroney), o pai eletricista, ocupado com os aborrecimentos do trabalho enquanto tenta preparar os meninos para a escola. Obviamente, sem o suporte da mulher, está naufragando na difícil missão de ser pai. Devido à rotina estressante do trabalho, muitas vezes, Sean precisa delegar à Quinn parte das atribuições que seriam suas, como acordar o irmão Alex e garantir que esteja pronto para a escola. Quinn sublima suas decepções através do amor pelo teatro e o sonho de tentar uma vida nova em Nova York.

No caminho para a escola, Quinn e Alex cruzam com Hector, um adolescente morador do mesmo prédio apaixonado pela menina. Também somos apresentado a um casal de idosos. A senhora parece gostar da garota, e sempre lhe diz coisas que à primeira vista não fazem muito sentido. Seu marido pede que a menina não dê ouvidos, pois decerto a esposa as fala pela idade avançada. Aguardando nos bastidores, antes de atravessar as cortinas para o palco, Quinn nota a silhueta de uma estranha figura entre os canhões de luz, acenando. No próximo segundo, não há mais sinal da pessoa. Ligeiramente assustada, ela sobe ao palco meio nervosa. As cadeiras na audiência encontram-se praticamente vazias, não fosse pelo diretor (James Wan, em uma divertida participação especial) e sua assistente, que são gentis e dizem para não se preocupar. Quinn acaba se esquecendo do monólogo, e naquela mesma noite encontra a melhor amiga Maggie, a quem confidencia seus desencantos, sobretudo as queixas do pai, que lhe parece sempre tão exigente e alheio aos sonhos da filha. Quando atravessam a rua deserta, Quinn enxerga a mesma silhueta, acenando lentamente. Intrigada, ela se distrai e fica no meio da rua contemplando aquela esquisita visão. Um carro a colhe. Apesar de fortemente atingida, Quinn sofre apenas algumas fraturas.

Ao dar entrada no Hospital, inconsciente, Quinn tem um breve encontro com o espírito macabro que a persegue. Ela se vê em um ambiente escuro, quando a entidade salta do escuro para agarrá-la, e ela desperta. O acidente a deixa na cadeira de rodas e com as pernas engessadas, por um tempo. 3 semanas depois, ao voltar para casa, Quinn é paparicada e tem seu gesso assinado por Hector. No hall, a menina tem um novo encontro com a idosa, que enigmaticamente avisa "O homem que não consegue respirar. O homem que vive nos túneis de ventilação. Eu o escutei dizendo o seu nome, na noite anterior. Eu o escutei no seu quarto, enquanto não estava em casa. Ele está no seu quarto neste exato momento. De pé no seu quarto". Durante a festinha de recepção, atendida pela amiga Maggie e os vizinhos, Quinn olha pensativa para a porta entreaberta do quarto, e pensa nas palavras da idosa. Hector assina o gesso e deixa um recadinho especial. Sean se esforça para reparar o relacionamento com a filha, e lhe dá uma cesta com guloseimas e presentes, entre os itens um sino, para que chame o pai sempre que precisar, durante o processo de recuperação.

Mais tarde ao ir se deitar, ao virar de lado, a câmera mostra uma sombra ao pé da cama, estudando a menina. O pai vai checá-la, e Quinn, desatenta, diz que se sente melhor. Em outro lugar, Elise vai dormir, e como sempre faz, dá Boa Noite ao marido olhando para sua foto. Subitamente, ela desperta apavorada, como que pressentindo algo horroroso. Ela apanha seu livro, chamado "Book of Seeing", ou "Livro das Aparições", onde descreve as imagens que lhe ocorrem na cabeça. A médium sente que a menina está em apuros. De volta ao apartamento dos Brenner, Quinn escuta batidas na parede, do lado da cabeceira. Deduzindo que se trata de Hector, dá algumas batidas com os nós dos dedos, que são ritmicamente correspondidas. Ela manda uma mensagem para o rapaz, no What's Up, e pergunta se ele a acha realmente "linda de parar o tráfego". Quando ele explica que está dormindo na casa da avó e não no apartamento, Quinn descobre que não se trata do garoto respondendo as batidas. Temerosa de que alguém esteja querendo pregar uma peça, ela fecha as luzes para tentar dormir. Um braço subitamente surge do alto e a toca no ombro. Quinn dá um grito, e quando Sean abre a porta assustado, repara uma rachadura no teto do quarto.

Acompanhado pelo síndico, Sean investiga o apartamento do 4° andar, que deveria estar abandonado. Não é o que mostram as pegadas oleosas negras que veem por todo o assoalho. O relacionamento entre pai e filha continua "na mesma", Sean sempre estressado, Quinn metida em seu próprio mundo. Uma manhã, ela desabafa, e revela ao pai que foi procurar uma médium, porque crê que a mãe esteja tentando se comunicar. Sean pede para que a filha tome cuidado. O pai tem uma opinião depreciativa sobre médiuns, e acha que são pagos apenas para dar falsas esperanças. Quinn o acusa de secretamente adorar o grande caos que o lar virou, pois assim não pensa na mãe. Magoado, ele diz que a vê sempre que olha para a filha.

Naquela noite, quando se recolhe para dormir, o olhar pidão de seu cãozinho a convence a realizar solitariamente uma sessão de modo a conversar com Lili Brenner, a mãe de Quinn, para quem pedirá proteção à filha. Quem surge das trevas é o demônio. Ele se mostra como uma figura decrépita que veste uma máscara de oxigênio e parece banhado por um líquido viscoso semelhante a petróleo. As pegadas a levam ao porão de casa. Elise abre a porta e pergunta olhando para a escuridão o que a entidade deseja da menina. Ela explica que já sacou a estratégia do demônio, o lance de se passar pela mãe para conquistar a atenção e a confiança da adolescente, mas que sua genialidade não vai "colar" com Elise, que avisa não temer demônio algum. Em uma cena que parece homenagear "Invocação do Mal", a médium desce as escadas munida de uma lanterna, e fica cara a cara com "o homem que não consegue respirar". O demônio aparece de cabeça para baixo, como um morcego, e a pega pelo pescoço. Elise se desvencilha a tempo, e deixa o sótão. Aos prantos, diz para si que não conseguirá enfrentar o demônio.

Maggie conta à amiga as novidades da escola pelo skype. Enquanto estão conversando, Maggie pergunta se a pessoa atrás é o Alex. Quinn não compreende, pois não há ninguém por ali, mas então a sessão do Skype cai. Quinn olha para os lados, e por trás das cortinas, banhadas pela luz enfraquecida da tarde, enxerga "o homem que não consegue respirar". Jogada ao ar por uma força invisível, Quinn cai de bruços, impossibilitada de se mexer. Pelo vão entre cama e assoalho, enxerga as pernas muito magras da entidade, que fecha cortinas e porta para deixar o ambiente o mais escuro possível. Quando Sean chega com as compras, escuta os gritos da filha. Ela está inconsolável, e após a queda, torceu o pescoço. Quinn explica ao pai que viu o demônio. No início, ela achou que fosse a mãe, mas agora tem certeza de que não é. Sean a consola, mas não parece acreditar inteiramente na história, atribuindo o "demônio" à fértil imaginação da filha. No hall, Sean vê o morador vizinho respondendo a algumas perguntas dos socorristas. Choroso, conta que a esposa morreu, e que apesar de muitos a terem tomado como louca, ela significava o mundo para a família.

Em um encontro mais agressivo, Quinn é carregada pelo demônio ao andar de cima, onde enxerga uma monstruosidade sem pés e mãos, rastejando pelo chão. A coisa parece uma versão da própria Quinn, com o rosto apagado. Sean é despertado pela comoção, e as pegadas oleosas deixadas no corredor o levam ao apartamento abandonado. Um morador parece ter se atirado do quarto andar, e quando Quinn se escora na janela para examinar a calçada, é puxada pela entidade. Não fosse o pai, que a segurou pelas pernas, a menina teria despencado. A gravidade da situação convence Sean a procurar pela ajuda de Elise, que continua relutante quanto a ideia de se aventurar no limbo. Eles têm uma boa conversa, quando conhecemos melhor a história de Elise, sua dor por todas as coisas que não teve tempo de dizer ao falecido marido. Inconformada com a morte, Elise se aventurou no "limbo", em busca do marido, e ao voltar, "algo mais" voltou no seu encalço. Ela está falando sobre a "Noiva de Preto".

O pai pede `a médium que ao menos o acompanhe e converse com a menina. Elise a encontra muito mal, prostrada na cama. Ela conta que no dia em que Quinn a procurou pela primeira vez, naquela noite, tentou conversar com a mãe morta, mas só encontrou a entidade demoníaca. De mãos dadas à Quinn e Sean, Elise entra em transe, e mergulha momentaneamente no limbo. Caminhando ao longo de um estreito e longo corredor escuro com uma lamparina, Elise enxerga uma porta vermelha ao fim. Ali, a médium encontra uma porção de espíritos infelizes. Para uma moça chorosa com as roupas molhadas, Elise pergunta se sabe onde está "o homem que não consegue respirar". A porta vermelha se abre, revelando-se um elevador, que a leva a um outro nível, ainda mais escuro. Ela chega a uma casa aparentemente comum. Em uma das cenas mais memoráveis, ao entrar, Elise encontra uma mulher sentada no sofá, diante da TV, com um sorriso maléfico. A mulher sorridente aponta para um ponto da sala, e ao averiguar, Elise é agredida pela "Noiva de Preto", que procura estrangulá-la. Por muito pouco a médium escapa, e volta a si, na sala do lar da família Brenner. Apavorada, deixa o apartamento às pressas.

Sem saber a quem recorrer, com a ajuda do filho Alex, Sean descobre 2 blogueiros que dizem viver de investigar fenômenos paranormais. Mesmo que não pareçam remotamente profissionais, a família Brenner não tem mais a quem recorrer. Dividido entre se afastar do problema de Quinn e encarar de vez seus próprios temores, Elise tem uma crise de consciência e consulta a opinião de Carl (que já vimos anteriormente em "Sobrenatural 2"), com quem se encontra em um restaurante chinês. Eles revisitam o calhamaço de fotos de Josh Lambert, quando criança, onde enxergamos a "Noiva de Preto" sempre ao fundo. Carl consola a colega. Há tantos anos ajudando pessoas a lidarem com espíritos ruins, era de se esperar que um dia uma daquelas entidades a seguisse de volta ao mundo dos vivos. Carl insiste que Elise é mais forte do que os demônios. "Se uma pessoa é atacada na rua, ela procura a Polícia. Se atacada por uma Força que não consegue enxergar, compreender, precisa de alguém como a gente", Carl afirma. Algo nas palavras de conforto do velho amigo permite que Elise escute seu verdadeiro chamado: ajudar as pessoas espiritualmente vulneráveis. No apartamento dos Brenner, Specs e Tuck não conseguem se impor diante dos problemas, não têm experiência para enfrentar a força verdadeiramente paranormal. Em determinado momento da noite, a energia oscila até as luzes apagarem. Ao entrar no quarto de Quinn, os 3 são duramente atacados pela menina com uma chave de fenda. Ela chuta as pernas da cama para quebrar o gesso, e volta a caminhar. Influenciada pelo demônio, ela apanha um estilete e ameaça cortar o próprio pescoço, mas o pai a segura a tempo, e Specs e Tuck o ajudam a dominá-la. Furioso, Sean acusa o amadorismo da dupla, que jamais lidara com investigações sérias. Quando está para pô-los na rua, surpreendem-se com a chegada de Elisa, que se voluntaria a ajudá-los.

A médium revela a natureza do problema que aflige a menina. Habitado por espíritos infelizes e demônios ardilosos, o limbo é uma zona de guerra. Enquanto os espíritos maquinam como possuir os vivos para terem uma nova chance "do lado de cá", os demônios possuem outros interesses. Os demônios sentem prazer em arrastar incautos para o limbo, para que possam torturá-las. Essa é a natureza da entidade que se apegou à menina. Elise vai mais além, e conta que na ocasião do acidente, enquanto esteve inconsciente, parte da alma de Quinn foi tomada pela entidade, que para conseguir puxá-la por completo, precisará da segunda metade, a Quinn que está no mundo dos vivos. Elise traça um plano ao lado de Specs & Tuck. Ela fará a imersão no limbo para salvar a outra metade da alma da menina. Tuck deve realizar imagens da sala, registrar o desenrolar do ritual. Mais à vontade com a escrita, Specs se encarrega de anotar o que Elise disser. Se os amigos assistiram aos dois filmes anteriores, verão que essas informações batem com suas tramas. De fato, dentro da dinâmica do grupo, Elise sempre foi a "líder", Specs o escritor e Tuck o realizador de imagens. Durante a sessão de "mergulho", Elise reencontra a moça morta, vítima do "homem que não consegue respirar", e pede para que aponte seu esconderijo. Navegando entre os cômodos de um lugar muito escuro, Elise é surpreendida pela "Noiva de Preto". O espírito ruim momentaneamente parece levar vantagem, todavia Elise se recorda das palavras de Carl, quando disse que apesar de achar a "Noiva de Preto" um inimigo tão terrível, é Elise quem na verdade é mais forte. Ela usa o poder da fé para empurrar o espírito, e de fato percebe-se muito mais forte, pois a "Noiva de Preto" voa longe.

O demônio assume a forma do marido de Elise, para "desarmá-la" psicologicamente. A médium lhe fala sobre o quanto queria tê-lo de volta, mas quando ele pede que Elise se junte ao limbo, ela desfere um golpe de navalha na figura, exclamando que o marido jamais pediria algo parecido. O demônio começa a rir maliciosamente, "pego de calças curtas". Ele ainda tem domínio sobre parte da alma de Quinn, representada pela figura sem face. Enquanto Elise, Tuck, Specs e Sean dão as mãos e suplicam para que Quinn resista, a sala sacode como em um terremoto. A outra parte de sua alma, ainda no limbo, passa a ganhar traços e feições, sinal de que está perdendo a batalha e "escorregando" definitivamente para o lado do demônio.

Em um instante decisivo, Elise escuta a voz da idosa sensitiva que morreu naquele condomínio alguns dias atrás. A senhora os orienta a procurar o diário de Quinn. Antes de morrer, a mãe havia deixado uma carta, que esperava que a filha descobrisse na ocasião da graduação. A força das palavras subitamente viram o jogo, e o demônio começa a perder a influência sobre a menina. O espírito da mãe, uma mulher bonita e serena, surge para se juntar aos demais na luta. Quinn recobra o domínio e arranca a máscara de respirar do demônio. "O homem que não respira" finalmente sucumbe e é atirado de volta ao limbo, derrotado. Antes de partir para o Céu, a mãe diz à filha que esteve presente no teatro, em um dos lugares vagos, na noite em que ela fez a audição no teatro, e conta que a achou magnífica!A família finalmente é deixada em paz, libertada do demônio e, principalmente, do luto, agora que finalmente puderam resolver a confusão gerada por sentimentos até então mal resolvidos. Elise a lembra a jamais tentar se comunicar com o mundo dos mortos. Ela não precisa procurar pela mãe porque, conforme Elise, ela sempre permanecerá ao seu lado, Quinn apenas não a poderá enxergá-la. Se prestar muita atenção, todavia, terá como senti-la. Vitoriosos, Specs, Tuck & Elise resolvem unir forças, formando o trio de "caça-fantasmas".

"Insidious" chega ao "número da zebra". Foi no "número 3" que "Hellraiser" caiu e arruinou o legado dos dois primeiros, no "número 3" a franquia "Atividade Paranormal" entrou em um período de vacas magras. Quando havia chances de a série "Insidious" se perder, ou ao menos demonstrar sinais de cansaço e necessidade de renovação, Leigh Whannell, habitual colaborador de James Wan e membro do elenco dos dois anteriores filmes, estreia como diretor do excelente "Sobrenatural: A Origem", uma "prequel" dos eventos a que assistimos nos dois primeiros. Dirigir um filme pela primeira vez pode ser assustador, David Cronenberg que o diga. Suas reminiscências do primeiro filme, "Calafrios", de 1975, mostram que mesmo gênios não estão imunizados a momentos de fraqueza e insegurança. O grande Clive Barker passou por semelhante "síndrome do pânico" dias antes de rodar "Hellraiser". Barker era um escritor, talvez o melhor que eu tenha visto, mas em 1986, não um cineasta, jamais mexera em uma câmera antes. Algumas semanas antes de começarem as filmagens, ele disse que procurou algum manual sobre como dirigir filmes na biblioteca local. Barker disse algo nas linhas de "Rapaz, eu estava ferrado!Na biblioteca, só havia um livro do tipo, e ainda estava alugado!". Felizmente, parece-me seguro afirmar que a estreia de Whannell não foi tão dramática assim!Apoiado por quase todo o time criativo e elenco dos dois filmes anteriores, Whannell pode não ser ainda um James Wan, no entanto demonstra personalidade e senso de estilo próprio, conferindo a "Sobrenatural: A Origem" uma identidade.

Whannell possibilita a renovação que traz uma nova trama, novos ares. Simultaneamente, jamais rompe com o imaginário criado nos dois filmes de James Wan. Depois de sua importante contribuição a "Sobrenatural 1 & 2", Lin Shaye volta a interpretar a médium Elise Rainier, que se torna foco da história. Os eventos a que assistimos em "Sobrenatural: A Origem" antecedem aqueles que vimos nos dois anteriores, e Whannell concebe uma maravilhosa explicação para como o trio de "caça-fantasmas" se formou, também reverenciando seus antecessores com referência ao drama da família Lambert. Aqui ou acolá, Whannell conecta os pontos entre o terceiro filme e a mitologia previamente, sugerindo o famoso demônio de rosto vermelho, e as aparições horrorosas da "Noiva de preto", a "velha" que aparecia nas fotos de Josh Lambert enquanto crescia, e que na verdade era o fantasma de um travesti serial killer que se vestia de noiva para matar mulheres, tudo por causa dos traumas pesadíssimos de infância incutidos pela mãe louca, a vilã de "Sobrenatural 2", a notória "Mãe de Parker Crane", vivida por Danielle Bisutti, que faz falta em "Sobrenatural: A Origem".

James Wan sempre foi um artesão de poderosíssimas imagens. Mesmo seus filmes menores, como "Dead Silence", de 2006, trazem cenas ímpares de terror que se provam uma constante ao longo da carreira. Mesmo em "Sentença de Morte", um thriller que nada tem de sobrenatural, Wan se serviu de composição, atmosfera e fotografia para nos puxar para dentro do enredo e jamais nos soltar. Em "Sobrenatural", uma caixinha surpresa de demônios e fantasmas com toques da imaginação própria à infância, Wan pôde como jamais anteriormente exercitar a verve artística com impressionantes fantasias, tais como o demônio de unhas enormes que as amola em uma lima gigantesca, ou a família com sorrisos estampados, habitantes do limbo, ou a própria ideia do referido limbo como uma espécie de entreposto entre o mundo dos vivos e mortos. Com o suporte do experiente Wan, que em "Sobrenatural: A Origem" volta como produtor (e aparece como ator!), Whannell cria momentos inesquecíveis, e também reconhece e resgata os detalhes que nos outros dois lhes permitiram tanto charme e elegância, como o violino estridente introdutório e o toque de humor que serve para trocar as marchas em meio ao Horror absoluto, meio pelo qual recuperamos o fôlego, mas apenas um pouquinho!Humilde ao reconhecer que não há como superar o original de 2010, Whannell aproveita parte da delirante fantasia de James Wan, e assim, para nossa sorte (e arrepios), aparições memoráveis como uma das meninas da família sorridente dá as caras novamente nesta terceira parte, ao lado de um novo, interessante vilão, o "demônio que não respira", uma forma decrépita que emite um chiado originado da máscara de oxigênio que veste. Ele também rende homenagem a outro clássico do Terror que deve ter influenciado sua arte, "Audition" (foto), de Takashi Miike. A referência consiste em uma das visões que perturbam a heroína, uma versão de si, que engatinha de quatro, sem pés ou mãos. Quem conhece o filme de Miike compreenderá a referência. Em "Audition", um cavalheiro viúvo há 7 anos resolve restaurar a vida sentimental. Para isso, seu amigo mais próximo organiza um processo de seleção de atrizes para um projeto fajuto, tudo para que o viúvo veja se alguma das moças o encanta de modo especial. Ele se apaixona por uma garota que se diz bailarina, e cego pela atração, deixa de enxergar os sinais que indicam a cilada em que está se metendo. O amigo tenta abrir seus olhos ao alertar que as referências que a senhorita deu não batem quando confrontadas com a realidade. O homem comete o grave erro de se relacionar intimamente com a bailarina, que desaparece logo em seguida. À medida que vai se aprofundando na busca, o filme muda de tom. "Audition", que começa como uma espécie de comédia romântica com elementos dramáticos, tipo os filmes de Rachel McAdams, se torna um pesadelo esquizofrênico de David Cronenberg, sobre humilhação, sadomasoquismo e morte. Voltando ao ponto, a referência a "Auditon" se deve ao fato de que entre outras bizarrices, a bailarina, uma perigosíssima serial killer, costumava guardar o ex-namorado que tentara abandoná-la em um saco de lona. Ela amputou suas pernas, braços e língua, para que dependesse da "mestra" pelo resto da vida inútil. Ao ex-namorado, a moça oferecia seu próprio vômito em uma tigela, sua única fonte de nutrição. O monstro que vimos em "Audition" parece ter sido adaptado para "Sobrenatural: A Origem", não há dúvidas de que o filme de Miike compôs parte do imaginário de Whannell.

Parte do elenco de apoio de "Sobrenatural 1 & 2" está de volta, com especial menção, claro, à atriz Lin Shaye como Elise e Leigh Whannell & Angus Sampson como Specs & Tuck, respectivamente. Tom Fitzpatrick é uma grata surpresa, aparecendo para nos lembrar que segundo a cronologia dos eventos, a "Noiva de Preto" viria a se tornar a grande antagonista, quando assombraria a casa da família Lambert. A força do núcleo familiar sempre representou um dos pilares de "Sobrenatural 1 & 2". Claro que o público desejava primordialmente ser assustado dentro do cinema, mas ao escrever a família Lambert como pessoas tão boas e unidas, James Wan mexia com nossos sentimentos, movendo-nos a nos identificar com seus dramas, fosse com o pai vivido por Patrick Wilson, com a mãe, por Rose Byrne, ou qualquer um dos meninos, semelhante ao que Steven Spielberg, o pai dos "blockbusters com alma" fizera anteriormente em filmes como "ET O Extraterrestre". Não há nada de mal nisso, na verdade uma escolha louvável que dá rosto ao clássico arrasa-quarteirões do Horror, no sentido de que mesmo em meio a sustos, reserva-se espaço para imbuir sua história de doçura e valores nobres com que podemos nos identificar. Aqui, a família Brenner ocupa a lacuna deixada pela família Lambert.

A família Brenner, nova adição à franquia, traz novos, competentíssimos nomes para agregar valor à terceira parte. Dermot Mulroney, mais conhecido pelo seu papel na comédia romântica "O Casamento do Meu Melhor Amigo", suporta com dignidade o peso das demandas diárias como o viúvo que busca manter a família, composta pelos filhos Quinn & Alex, unida, enquanto precisa sustentar a casa e colher os cacos emocionais que o prematuro falecimento da esposa, levada pelo câncer, deixou. A performance de Mulroney muito lembra o trabalho do ator Kevin Bacon no ótimo "Ecos do Além", onde também dava vida a um pai de família e trabalhador blue collar lutando para cuidar da mulher e filho pequeno, às voltas com o assédio do espírito de uma menina do bairro, assassinada em circunstâncias misteriosas. Por vezes pai compreensível, por vezes ausente e confuso, independente de suas falhas humanas, Mulroney não deixa dúvidas de que seu personagem os ama e sofre silenciosamente ao internalizar a perda da mulher, o evento que sacudiu as fundações do relacionamento com a menina, e mesmo quando comete deslizes, o faz pensando no seu bem. Stefanie Scott interpreta a adolescente Quinn Brenner, a protagonista. Enquanto no filme original as atenções tenham se concentrado sobre o mundo dos adultos, sobre os pais vividos por Rose Byrne & Patrick Wilson, Leigh Whannell arriscou suas chances em trazer os holofotes sobre a personagem da adolescente. Pela segurança com que a atriz se conduz em cena, trata-se de uma aposta que vingou.

Não podemos falar sobre performances sem reconhecer a liberalidade de Leigh Whannell. Ao dirigir o filme, foi incrivelmente generoso ao escolher não concentrar as atenções sobre si, com muita dignidade ocupando o segundo plano para que seus colegas, sobretudo Lin Shaye (foto, com o excelente ator Tom Fitzpatrick, a "Noiva de Preto"), pudessem brilhar mais intensamente. Veterana de tantos filmes do gênero, é emblemático que no período mais maduro de sua carreira esteja finalmente recebendo o reconhecimento do público e de seus pares, no papel que tornou só seu. Assim como ocorreu a Tobin Bell, o "Jigsaw" de "Jogos Mortais", foi somente mais tarde na vida em que seu talento foi descoberto mais amplamente. Desde então, Shaye tem explorado a nova fase de sua carreira, tendo aparecido em grandes filmes como "The Signal" e "Ouija", onde voltou a interpretar uma personagem muito semelhante à Elise de "Sobrenatural". A química entre os 3 "caça-fantasmas" não poderia parecer mais espontânea, sendo o testamento do carisma desses atores maravilhosos a facilidade com que conseguem extrair um sorriso de nossos rostos quando em cena.

Será que a espera valeu à pena?Sim, definitivamente. "Sobrenatural: A Origem" ainda não se dissociou do grande barato dos filmes anteriores de James Wan. Embora possamos afirmar que cedo ou tarde a franquia vá eventualmente perder o fôlego, em "Sobrenatural: A Origem" a turma ainda está à frente do jogo. Quem for ao cinema para assistir a "Sobrenatural: A Origem" pode esperar que sejam satisfeitas todas as características de uma grande sessão de cinema entre amigos. Sustos, tensão, algum humor e, claro, o agridoce papel reservado à família, objeto do assédio de uma ameaça exógena, unidade que pelo mérito da união consegue prevalecer sobre o Mal ao final. É seguro afirmar que tudo que traz o envolvimento de James Wan (foto, ao lado de Leigh Whannell), o "novo Steven Spielberg", entrega o que seus filmes antecessores padronizaram: entretenimento de alto nível e à velha moda, dos tempos em que o Horror ainda não precisava ser tão agressivo, e as pessoas tão cínicas.
Todos os direitos autorais reservados a Gramercy Pictures. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo da resenha.