sexta-feira, 26 de setembro de 2014

"Afflicted" (Clif Prowse & Derek Lee, 2013) Produto da determinação de dois amigos - que rodaram o filme com ajuda de familiares - este extraordinário suspense é prova de que todos os sonhos são possíveis desde que você acredite o suficiente!

Derek Lee & Clif Prowse são melhores amigos, e estão para se meter na aventura de suas vidas!Quando o filme começa, a dupla está celebrando com amigos. Na manhã seguinte, Derek & Clif se despedirão de suas obrigações pelo período de um ano, para encararem uma viagem por todos os mais cobiçados pontos turísticos do mundo. No total, a dupla deverá estar perfazendo trinta países em seis continentes, com direito `a Torre Eiffel, as Pirâmides do Egito & a Grande Muralha da China. Será uma aventura épica, e Derek sabe que esperou a vida inteira por uma oportunidade semelhante. Derek & Clif se conhecem desde a adolescência. Desde então, Clif exercitava o talento artístico rodando filmes amadores, onde sempre havia um papel para o amigo Lee. Vemos imagens desses filmes caseiros, ambos muito jovens, aos quinze anos, em cenas meio toscas de ação filmadas por câmeras amadoras. Profissionalmente, Clif & Derek trilharam caminhos diferentes - Clif não se distanciou de seu amor pelo cinema, e fez dos filmes um meio de vida, como diretor de documentários; Derek se apaixonou por Tecnologia da Informação, e por cinco anos permaneceu focado no trabalho, até se dar conta de que chegara aos trinta e poucos e a ideia de permanecer sentado numa escrivaninha na frente de um monitor não representava necessariamente o que imaginava para si pelo resto da vida - todavia jamais deixaram que os laços de amizade e companheirismo que os unia se afrouxassem. Derek percebe que se quiser realizar seu sonho, a hora é esta.

A decisão de Derek - reservar um ano de sua vida para a viagem ao redor do mundo - é muito corajosa. Há alguns meses atrás, após sentir fortes dores de cabeça, Derek foi parar no hospital, onde médicos realizaram uma ressonância magnética e diagnosticaram um vaso sanguíneo hipertrofiado no cérebro, uma raríssima condição que poderia colocar sua vida em risco. As probabilidades de algo sério ocorrer são modestas, menos de 4%, no entanto, como o próprio irmão Jason observa, Derek estará jogando com a própria vida. Encorajado por Clif, Derek não se deixa intimidar. Se realmente deseja ver o mundo, não haverá momento melhor, afinal ainda é jovem e sempre poderá voltar mais tarde ao trabalho com Tecnologia de Informação. Por ora, Derek precisa se divertir e conhecer o mundo. Não quero olhar para trás mais tarde e desejar ter feito algo melhor! Ele confessa. Antes de partir, consulta seu médico, que apoia a decisão, porém pede que se mantenha atento aos sinais: se Derek sentir alguma dor de cabeça muito forte, deve procurar imediatamente o hospital mais próximo.

Clif documentará toda a espetacular jornada e postará vídeos e fotos no blog interativo "Back in one year" (De volta dentro de um ano!) para que os amigos acompanhem cada momento da aventura. A galera poderá fazer comentários ou pedidos, e o animado Clif explica melhor Por exemplo, quando estivermos no Camboja e quiserem ver o Derek comendo grilos, não tenham vergonha de pedir!Na festa de despedida, a turma faz muita gozação com a dupla. Um dos amigos propõe um brinde e lhes deseja sorte, com uma brincadeira que faz todo mundo dar gargalhada Rapaz, que bom que finalmente vocês dormirão juntos!Derek homenageia o amigo lhe dando de presente uma pedra jade. Conforme a tradição chinesa, a pedra jade afasta maus espíritos, e jamais pode ser comprada, somente ganha. Derek tira um sarro ao se ajoelhar para entregar a Clif a lembrança, tal qual um homem quando vai propor casamento a uma dama. O clima é de muita expectativa e descontração, todos certos de que a viagem será um sucesso!


Primeira parada: Barcelona. A dupla começa a cruzada pela Europa via Espanha. Clif trouxe consigo um verdadeiro "estúdio improvisado": munido de várias minúsculas câmeras, esses caras não vão deixar nenhum instante mágico da aventura se perder!A dupla anuncia oficialmente o começo da "viagem de um ano" em frente à famosa estátua de Cristovão Colombo em Barcelona. Eles resolveram começar por Barcelona por causa de dois grandes amigos, Zach & Edo, músicos da banda de rock Unalaska, de passagem pela cidade em grande turnê. Os quatro se reunirão, e daí seguirão juntos para a França, onde a Unalaska fará shows em Paris. Antes da noite chegar, concordam em conhecer melhor Barcelona por um meio nada convencional, mas muito divertido, sobre um GoKart, um carrinho europeu semelhante a um pequeno buggie. Por dois dias, o quarteto se diverte, dias sempre ensolarados, noites cheias de agitação e paquera, em baladas onde conhecem lindas moças. Clif anuncia que as filmagens capturadas são belíssimas, de tirar o fôlego, e o mais importante é que Derek parece bastante feliz e despreocupado. Os amigos estão realmente fazendo valer todos os momentos. Chegam a saltar de paraquedas!

Uma semana mais tarde, o quarteto explora a vida noturna às margens do Rio Sena, na encantadora Paris. Ei, Derek, se você não traçar uma francesa bem gostosa esta noite, é melhor voltarmos para casa, o amigo Clif brinca. Zach e Edo avisam que têm um pressentimento de que Derek se dará bem na balada. O confiante Zach presenteia seus companheiros com preservativos, convicto do sucesso com as francesas. Em um ponto da boemia parisiense, a banda Unalaska realiza sua apresentação, enquanto Clif & Derek azaram garotas no bar. Derek se aproxima de uma moça de olhos tristes que lhe chama a atenção. À distância, Clif observa a tudo, e logo fica claro que a garota corresponde o interesse de Derek. Os dois começam a se beijar apaixonadamente em um canto, enquanto as pessoas se divertem com o show. Clif e os amigos músicos combinam de pregar uma peça no rapaz, invadindo seu quarto para dar o flagra.

O filme então "começa a ficar estranho". Clif e os músicos invadem o quarto em algazarra, mas ao invés de encontrarem-no namorando, dão com Derek sujo de sangue e inconsciente. Derek desperta meio atordoado, sem lembranças claras do que se sucedeu. A garota, chamada Audrey, sumiu misteriosamente, deixando para trás roupas e bolsa. Os amigos contemplam levá-lo ao hospital, porém Derek os assegura de que está bem. Na manhã seguinte, os músicos os levam para a estação de trem, e Derek & Clif seguem para a próxima parada, a romântica Itália. Clif posta no blog um vídeo cuja vista é de tirar o fôlego, à beira de recifes que dão para o mar. Derek sente-se cansado, e assim que chega à pousada, desaba na cama para dormir. Clif não leva a situação muito a sério, e até mesmo faz piadas no vídeo, afirmando que a menina havia sido boa demais para Derek e agora partira seu coração ao deixá-lo. Dois dias se passam, Derek metido no quarto sem interagir. Clif abre as cortinas, anunciando que o amigo já dormiu o suficiente, porém a luz do sol parece incomodá-lo. Derek desperta faminto, e os dois vão almoçar em um belo restaurante erguido na costa dos recifes e sobre o Mediterrâneo. Derek devora um prato generoso de pasta, mas se sente mal e começa a vomitar. Constrangido, deixa o local correndo, e Clif o segue para ajudá-lo.

Clif aconselha o amigo a procurarem um hospital. Os sintomas apresentados por Derek levam a crer em algum tipo de infecção viral. Derek subestima as manifestações, e joga a culpa em intoxicação alimentar, algo passageiro e sem importância. Na manhã seguinte, Derek acorda bem disposto. A aventura do dia consistirá num passeio sobre trilhos pela vinícola de Bartolo, um gentil morador grande entendedor de vinhos. Ali, mesmo as mais humildes casinhas são servidas por tonéis nos porões, a degustação de vinho faz parte da cultura local. Clif prepara câmeras para capturar as belezas do passeio pelos contornos da suave costa da cidadezinha mediterrânea. Durante o passeio, novamente o sol deslumbrante machuca Derek, e Bartolo o percebe bastante avermelhado, quase queimado. Derek refugia-se dentro do casebre, e somente a escuridão lhe devolve alguma paz. Mais tarde, Clif conversa com a câmera sobre não compreender a extensão do ocorrido nas vinhas, mas que precisa convencer Derek a voltar aos Estados Unidos, onde médicos saberão o que fazer. Clif pede para que Derek procure compreendê-lo. Como amigo, não poderia ficar com a consciência tranquila se não vocalizasse suas preocupações ou deixasse de fazer algo para impedir o processo. Frustrado, Derek desfere um soco na parede, sem se dar conta de sua nova, extraordinária força. O golpe arranca um pedaço da parede como se a mesma fosse uma lâmina de gesso, e deixa ambos perplexos.

Os dois "tiram a teima" naquela mesma noite, em um terreno de construção. Derek hesita, mas Clif pede que vá adiante e procure quebrar o obstáculo. Aos pés de Derek, um bloco maciço de pedra. Ele desfere um golpe semelhante a aqueles de karatê, e desintegra a rocha como se fosse feita de madeira de bálsamo. Depois, suspende uma van pesada sem esforço algum. Derek também atinge velocidades impossíveis. Clif sobe na moto e disputa uma corrida com o amigo. Derek precisa apenas da rapidez das pernas para batê-lo facilmente. Clif está estupefato, e pergunta ao amigo a sensação de viver como super herói. Embora inicialmente tivessem considerado voltar aos Estados Unidos, agora que Derek guarda poderes sem limites, os dois resolvem que a viagem ao redor do globo seguirá.

Os olhos de Derek se transformam, pois agora pode enxergar no escuro. O apetite retorna, e o vemos devorando o que há na geladeira. Jason conversa com Clif pelo skype. A família está preocupada, e confia a Clif a missão de convencê-lo a voltar. Clif insiste que apesar de o ter aconselhado a retornar, Derek está determinado a prosseguir. Quando Clif vai procurá-lo no quarto, Derek prega um susto ao saltar da parede: agora, o rapaz também consegue escalar paredes, tal qual o "Homem Aranha". Apesar das mudanças radicais, Derek sente-se muito bem. Durante a madrugada, Derek o leva para a praça do centro histórico onde há muitos prédios. Inicialmente, Clif não compreende o que o amigo deseja lhe mostrar, mas então Derek desata a correr e salta pelas marquises da igreja. Ele escala a enorme construção como se fosse a coisa mais simples do mundo. Ele salta entre prédios e não sofre um único arranhão. Quando ao caminharem desatentamente pelas ruas do centro fazem um automóvel em alta velocidade desviar, os rapazes descem e bancam os valentões. Derek empurra um dos garotos, que sai voando, e depois cuida do outro. Depois de lidar com os valentões, Derek se dá conta de que há sangue nas mãos, e as lambe. Clif faz o upload desse material no blog. Derek forra a janela de seu quarto com jornais velhos, e Clif o chama para uma conversa séria. O cineasta começa a imaginar a natureza do problema do amigo. Derek vinha pensando na mesma coisa.

Juntos, os dois pesquisam sobre vampirismo na internet. Apesar de possuidor de todo esse poder extraordinário e da assustadora possibilidade de estar se tornando vampiro, em seu coração, Derek segue o mesmo bom rapaz. Ambos citam Audrey como a provável fonte de contágio, afinal de contas as manifestações começaram logo após a bizarra noite, quando a moça o mordeu e então o deixou desacordado. Derek deve saciar a sede, e agora precisa de Clif para lhe arrumar sangue. No décimo quarto dia, Derek não consegue mais conter a fome. Derek volta com uma garrafinha de sangue de boi, que conseguiu do açougue. A garrafinha não dá nem para aplacar o apetite, ademais Derek põe tudo para fora. Como vampiro, o único tipo de sangue que lhe serve é humano, e fresco.

À caça de sangue, os amigos discutem a ética envolvida em consumir um animal de estimação. O rapaz antecipa que o cachorro deva ter um dono, e que não estaria levando em consideração seus sentimentos caso simplesmente apanhasse o primeiro bichinho que visse. Derek e Clif retornam às vinhas de Bartolo, pois se lembram de que ele criava porcos. Na calada da noite, Derek entra no chiqueiro sem fazer barulho e apanha um porquinho. Mesmo coberto de remorso, não tem escolha a não ser consumi-lo. Apesar de ter aplacado um pouco a fome, suspeita que somente a saciará a partir do momento em que consumir sangue humano. Derek nem contempla a possibilidade de matar um ser humano, portanto adota a estratégia menos macabra possível: assaltar o banco de sangue do hospital local. Usando seus poderes, Derek invade o banco sem dificuldades, mas ao entrar, encontra policiais preparados. Derek evade-se do local com Clif. Aparentemente, mesmo a Polícia Local vinha acompanhando os vídeos postados no blog Back in One Year. Os dois não sabem mais como proceder para arrumar sangue, quando sirenes acusam a aproximação casual de uma ambulância. Derek impede a passagem do veículo, arranca o motorista do assento e entra. Com a maior cara de pau, Derek pergunta à paramédica se há um pouco de sangue por ali!A jovem não sabe falar inglês, e na confusão, Derek perde a paciência e faz menção de atacá-la. Clif consegue segurar o amigo e ajudá-lo a raciocinar corretamente, convencendo-o a simplesmente deixarem a ambulância. Enquanto correm, Derek faz uma constatação aterrorizante, ao confessar a Clif que por pouco não matou a paramédica. Prometa-me que se eu piorar, você se afastará antes que eu o machuque, Derek faz Clif jurar.

Derek piora muito ao entrar nos últimos estágios da transformação. Apesar do perigo que corre, Clif sabe que dentro daquele corpo há resquícios do amigo a quem aprendeu a amar como irmão, e não se afasta. Decidido a ajudá-lo, Clif abre um corte no próprio corpo para extrair sangue e ajudá-lo. Ao procurá-lo no quarto, dá com a janela escancarada. Derek foi à caça, e o primeiro lugar em que Clif pensa são as vinhas de Bartolo. No galpão de ferramentas, Clif o acha, e quando vai oferecer a garrafinha, é atacado. Agora vampiro completo, Derek não tem como resistir à sede, e mata o melhor amigo. Ao cair em si, consumido pela culpa, tenta o suicídio, atirando contra a própria cabeça.

Derek é um vampiro, e portanto não pode morrer. Ele jamais se perdoará por ter matado Clif, e sente que a única maneira de pôr termo ao pesadelo será retornando a Paris para rastrear Audrey, a causadora de sua transformação. Já se passaram 22 dias desde que Derek e Clif chegaram à Europa. Determinado a prestar um tributo a Clif, Derek pretende gravar os próximos passos para que eventualmente o material de sua impressionante jornada seja descoberto. Correndo contra o tempo, Derek também precisa despistar a Interpol, agora em seu encalço por conta da invasão ao banco de sangue e a confusão com a ambulância. Os agentes batem à porta da pousada, e Derek salta pela janela do terceiro andar. Os agentes não acreditam no que veem. Derek põe-se em movimento; além dos agentes, precisa se esquivar da luz do dia. Mesmo sob tiros, empreende espetacular fuga pelas vielas da cidadezinha italiana. Ao despistá-los, Derek descansa na escuridão de um beco até a noite chegar.

À pé, após caminhar por toda a noite em direção a Paris, Derek chega a uma cidade a leste de Nice. Derek entra como clandestino em um trem e chega mais tarde à estação ferroviária de Paris. Ele também encontra um porão abandonado que oferece o básico - água, eletricidade - para a sua permanência, ao menos por um tempo. No blog, amigos preocupados postam mensagens pedindo que o rapaz se entregue. No site da Interpol, há mandados de prisão expedidos em nome de Derek Lee & Clif Prowse.

Derek deve encontrar Audrey, e nem sabe por onde começar a procurar, até revisitar as filmagens do documentário de Clif, que filmara todos os momentos. No registro da noite em que Derek fora encontrado desacordado por Clif e os músicos, o melhor amigo capturou imagens das roupas e bolsa de Audrey. Dentro da bolsa, Audrey deixou o celular. Derek compreende que precisa voltar ao hotel para procurar o celular. Para sua sorte, o hotel oferece serviço de achados & perdidos, e Derek encontra o aparelho. De posse do celular, quando vai deixar o hotel pelo hall, encontra o irmão Jason. O rapaz veio com a Interpol, preocupadíssimo com Derek, suplicante para que deixe aquela loucura e os acompanhe de volta à América. Muito emocionado, Derek pede para que Jason não se envolva, pelo próprio bem. Ao sair, encontra carros de polícia, mas agora com seus super poderes, dá-lhes "um chapéu", saltando sobre os mesmos e escalando a fachada de uma enorme catedral. No topo da catedral, há um agente da Polícia Parisiense. Na confusão, o agente perde o equilíbrio, e se vê dependurado na beirada. Mesmo vampiro, Derek corre para ajudá-lo. Ele lhe estende a mão e por alguns segundos consegue segurá-lo. Lamentavelmente, o policial não consegue escalar a beirada e despenca para a morte. Com a tragédia, os demais agentes da Interpol, sem entenderem que na verdade Derek tentou ajudá-lo, abrem fogo. Depois de uma fuga espetacular, Derek grava um desabafo para a família, e jura que quando tudo estiver acabado, voltará para casa.

Derek sofre de "crise de abstinência", e recolhido a um depósito abandonado, manda text-messages para todas as pessoas na lista de contato, na esperança de que Audrey venha a seu encontro. Alguns dias se passam, quando um homem da lista de contato responde e marca encontro em uma praça. Derek comparece, mas não se apresenta. Ele se limita a observar o estranho, e quando este deixa a praça para apanhar o trem, Derek o segue até sua casa. Ele o surpreende e o amarra a uma cadeira. Derek vê uma marca de mordida no ombro do estranho, e conclui que o rapaz, chamado Maurice, também é mais uma vítima de Audrey. Agentes das Forças Especiais fazem uma batida no prédio, e mesmo alvejado por tiros de metralhadoras, Derek derrota todos.

Passaram-se 28 dias, quase um mês, desde o começo da viagem, quando Audrey finalmente ressurge. Derek insiste para que lhe aponte uma saída, uma cura, porém uma vez que você se torna vampiro, não há retorno. Ela o aconselha a se alimentar, mas Derek diz que não é de sua índole matar inocentes. Com os olhos marejados, Derek declara que não conseguirá assassinar alguém a cada dez dias. Revoltado, o rapaz a ataca, mas é facilmente dominado. Audrey procura explicar que Derek faria melhor aceitando sua nova condição. Ele precisará aprender a matar, não em período de dez em dez dias, mas no máximo de cinco em cinco. Se você não consumir sangue humano semanalmente, você se tornará um verdadeiro monstro, e aí será pior, pois ao invés de matar alguém toda semana, matará muitos, todos os dias! Audrey o avisa. Há um consolo para o dilema moral de Derek, e Audrey explica Você não tem escolha, precisará matar, todavia poderá escolher quem matar. Quando Audrey se prepara para deixá-lo, Derek pergunta por que o escolheu. Audrey explica que ficou com muita pena de Derek na noite em que se conheceram. O fato de ele conviver com uma condição no cérebro que poderia causar a morte fez com que Audrey se atraísse pelo rapaz e procurasse ajudá-lo, concedendo-lhe vida eterna. 

A jornada de autoconhecimento de Derek conclui com um triste monólogo para a câmera. O rapaz grava uma mensagem final às pessoas a quem mais ama, mãe, pai e irmão. Ele diz que espera que uma vez de posse das imagens, a família possa ter uma melhor ideia do que lhe ocorreu. Ele pede perdão por todas as preocupações causadas, e declara seu amor incondicional. Agora como vampiro, não poderá regressar para os Estados Unidos. Derek deixa para trás a vida que conhecia, e se torna uma criatura da noite parisiense. Mesmo vampiro, ainda se conduz dentro de um código de ética, pois já que precisa se alimentar, escolhe somente a escória do submundo, de modo a poupar gente inocente. O filme conclui com gravações de um grupo de adolescentes locais se metendo em confusão e invadindo as vinhas de Bartolo à noite. Tudo parece tranquilo, até que são atacados por um monstro apavorante, que descobrimos tratar-se de Clif Prowse, agora também uma criatura das trevas. Em seu desfecho, "Afflicted" deixa muitas aberturas para continuações, quem sabe os dois melhores amigos, agora criaturas da noite, enfrentando-se em um duelo de morte, Vampiro do Mal contra Vampiro do Bem?!

Muito raramente, um pequeno filme produzido sob condições impossíveis surge do nada para deixar a comunidade cinematográfica boquiaberta ao tomá-la de assalto. Os exemplos podem ser enumerados nos dedos da mão, e posso lhes citar alguns. Recordo-me de 1986, quando o então jovem escritor e enfant terrible britânico Clive Barker, aos 34 anos, adaptou a versão cinematográfica de seu romance "The Hellbound Heart". Hellraiser, um dos filmes mais importantes do século XX, foi rodado a um custo de pouco menos de um milhão de dólares, porém a sua autoridade há de ser rivalizada quase trinta anos desde o lançamento. Mais tarde, James Wan estabeleceu-se como força imaginativa com o maravilhoso Sobrenatural - Insidious, e o gênero Horror passou `a sua Era mais produtiva, nas mãos de determinados cineastas do circuito independente tais como Rob Zombie e o time criativo por trás dos impecáveis V/H/S 1 & 2 (e atenção, pessoal, V/H/S 3: Viral vem aí). Pois bem, aqui está o exemplo clássico de um filme que sai do nada e imediatamente se reveste da autoridade que o alavanca ao panteão dos melhores. Produto direto da força de vontade de dois grandes amigos, "Afflicted" vem levando todos os prêmios dos principais festivais do cinema fantástico e botando as superproduções do ano "na vergonha". Seus méritos foram laureados nos Festivais de Cinema de Sitges (Espanha), Toronto & Austin. Com um modesto orçamento de trezentos e dezoito mil dólares - parte desse dinheiro oriunda de amigos & familiares - Clif Prowse & Derek Lee, cuja experiência anterior restringia-se a curta-metragem, mandaram-se para a Europa, para filmagens em Barcelona, Paris & Itália.

Em tempos onde Vampiros tornaram-se tema de superproduções recheadas de efeitos, Derek Lee & Clif Prowse resgataram suas raízes românticas e melancólicas em um filme de gestação mais datada e à velha moda, curiosamente acomodado às modernidades do século XXI, tais como blogs & facebook. Apesar de seu ritmo ágil, "Afflicted" veste um tom gótico e "road movie" muito bem coadjuvado pela estupenda fotografia da vida boemia na Europa. O filme me fez pensar em Um Lobisomem Americano em Londres, o clássico de horror de 1981 sobre dois norte-americanos de férias em North Yorkshire, Inglaterra, que ao visitarem as belíssimas colinas da região, acabam se perdendo em uma encruzilhada e são atacados por um lobo enorme. Apenas um escapa com vida, trazendo consigo a maldição do lobisomem. Um Lobisomem Americano em Londres se tornou um filme bastante querido porque mesmo em sua proposta aterrorizante, encontrou oportunidades para criar um protagonista bondoso e de valor por quem torcemos, contou uma doce história de amor entre o herói e a enfermeira britânica, e até mesmo nos brindou com o bom humor que deixou a aventura mais humana e palatável. Com "Afflicted", o relacionamento entre Derek Lee & Clif Prowse também irradia da tela de forma tão sincera que não temos escolha a não ser torcer por esses caras. A naturalidade com que contracenam talvez se deva à amizade que gozam na vida real. Imagens das fitas produzidas por Clif Prowse, quando ambos não deviam ter mais do que 15 anos e faziam pequenos filmes de ação caseiros bem toscos, corroboram a ideia de que se tratam de dois melhores amigos da vida real que felizmente encontraram juntos o caminho para a consagração. Apesar de essencialmente um filme sobre "monstros" (vampiros), "Afflicted" jamais é "inumano". Mesmo a roteirização de Audrey, uma personagem secundária que aparece apenas em dois segmentos, início e conclusão, não cai na armadilha fácil do clichê de vilões do Horror. A principal motivação por trás de sua mordida não se deve ao desejo de causar mal, mas sim à pena que sentia por Derek em razão de sua precária condição de saúde. Impressiona-me como este humilde filme de "monstros" consegue falar sobre temas tão importantes - verdadeira amizade, compaixão, amor de família - enquanto a grande maioria, muitas vezes que nem "monstros" traz, se torna tão superficial e descartável. Em sua origem criaturas trágicas e romantizadas, os vampiros foram banalizados em superproduções que entre outras ideias nocivas chegaram a metê-los em guerra contra lobisomens, os dois lados munidos de metralhadoras e coisas igualmente inócuas. Desde a noiva hidrófoba vivida por Sadie Frost em Bram Stoker's Dracula (foto) - um grande filme que nesta personagem trazia a representação mais tétrica da figura mitológica - vampiros jamais estiveram tão bem representados quanto no personagem de Derek Lee deste "Afflicted".

Um dos mais importantes segredos é fugir da superexposição. Steven Spielberg pode atestar a assertiva pela forma como regeu o seu Tubarão. Apesar de dar nome ao filme, a criatura mal aparece, no entanto a mera referência a sua existência eleva o suspense à potência máxima. Quando Ridley Scott dirigiu Alien O Oitavo Passageiro, mostrou ter aprendido a lição com o filme de Spielberg, e seu alienígena magérrimo, alto e macabro não fez mais do que uma "participação especial", muito embora nas poucas cenas em que tenha surgido, sua imagem tenha se tornado icônica. Muitos filmes se seguiram, o mais notório deles Aliens O Resgate, de James Cameron, que canhoneou as pessoas com superexposição de criaturas e todos os tipos de efeitos. Apesar do mérito de suas cenas de ação, Aliens O Resgate nem chega perto do horror puro evocado pela sutileza e absoluta maestria de Ridley Scott com sequências como a dos túneis, por exemplo, quando Capitão Dallas percorre os dutos atrás da criatura, e seus amigos, que o acompanham pelo radar, gritam para que dê logo o fora dali pois a criatura está se aproximando!Por mais que as pessoas mencionem Cabeça de Pregos como a primeira coisa que lhes ocorre quando escutam o termo Hellraiser, esquecem-se de que os cenobitas ocupam segundo plano para a história de horror envolvendo o triângulo amoroso entre Julia, Frank & Larry. Barker sabia que metade do caminho para o sucesso consistia no desafio de manter o mistério sobre as criaturas da caixa. Ao longo dos dois primeiros filmes, os cenobitas não foram menos do que verdadeiros milagres da Era Moderna, criaturas especializadas na arte do prazer pela dor. Depois que os direitos autorais foram vendidos aos norte-americanos e outras continuações inúteis vieram, os cenobitas perderam aquilo que lhes tornava especiais: o mistério. Ao tratar desse assunto - mistério - lembro-me de um filme que eu adorava, o King Kong rodado nos anos 70. Todo mundo conhece a história do King Kong. Os americanos viajam até a essa ilha distante, e contra os conselhos dos habitantes locais, capturam o King Kong e o levam à América, para explorá-lo em shows. Depois que apanham o King Kong e o colocam dentro do petroleiro para levá-lo à América, havia essa cena em que o personagem de Jeff Bridges lamentava o ocorrido, e dizia algo nas linhas de Olha, fulano, daqui a alguns anos, quando voltarmos a essa ilha, encontraremos toda essa gente destruída pelo álcool, bebida e tédio. Quando vocês pegaram o King Kong e o levaram embora, vocês subtraíram o mistério, o mito, das vidas dessas pessoas. Agora, nada resta. Na época, não compreendia o significado dessas palavras, mas depois de alguns anos, sim. Todos nós precisamos do mistério, dos sonhos, do fantástico, da esperança de algo extraordinário e maior do que nós mesmos para sobreviver. King Kong também foi um filme especial porque como poucos me fez debulhar-me em lágrimas. Eu era criança quando o vi na TV, mas me recordo das duas cenas que me afetam ainda hoje. A primeira envolvia King Kong exibido no grande show, quando o vemos dopado e indefeso, dentro de uma jaula gigantesca, com uma coroa de rei fajuta na cabeça, toda aquela gente tirando fotos, e Ele com os olhos assustados e confusos. A segunda, no final, dava-se quando Kong havia escalado o Empire State Building, e os helicópteros chegavam para derrubá-lo. A personagem da Jessica Lange chorava desesperada, querendo abraçá-lo, para que assim os atiradores o poupassem, só que o monstro que viera a amá-la prefere afastá-la para tomar os tiros e morrer sozinho. Mesmo hoje esses momentos me comovem, e se você assistir ao filme ao meu lado, se prestar muita atenção, escutará um barulho semelhante a vidros sendo quebrados, e será o meu coração se partindo em pedaços. Mesmo criança, quando assisti ao filme pela primeira vez, conseguia me pôr no lugar da criatura e imaginar como devia estar se sentindo; hoje, tenho certeza que sei. Com "Afflicted" Clif & Derek executaram maravilhosamente as duas cartadas de mestre referidas acima - primeiro, o termo Vampiro somente vem a ser mencionado depois de uns bons 30 minutos de projeção, a mitologia jamais é banalizada; segundo, os cineastas nos deram um "monstro" com coração, uma criatura fantástica por quem torcer e amar. Derek Lee & Clif Prowse nos devolveram o mistério.

Graças a seu estilo "travelogue", nos sentimos como terceiro participante mochileiro desta fantástica e misteriosa caçada através da encantadora Europa. "Afflicted" serve como um impressionante cartão postal para aquelas belíssimas regiões do mundo. Após o filme, os amigos provavelmente terão muita vontade de caminhar pelas atrações por onde os protagonistas passaram!A cinematografia deslumbrante é reminiscente da fotografia de guerrilha de obras primas modernas como Session 9 & 28 Days Later, tendência preponderante entre darlings do circuito de arte. A maneira que Derek Lee & Clif Prowse encontraram para envolver a Interpol e as Forças Especiais Francesas dão à trama um gostinho meio A Identidade Bourne, o suspense de orçamento épico que também envolvia um protagonista metido numa correria pelos mais pitorescos recantos do Velho Continente. Guarnecidos pelos efeitos mais modernos que vultosas somas de dinheiro tinham como proporcionar, os filmes da série A Identidade Bourne se superaram a cada novo lançamento, recheados por sequências cada vez mais inacreditáveis. "Afflicted" me espantou pela habilidade de reproduzir sequências semelhantes - se não melhores - onde você perde o fôlego ao assistir a Derek Lee escalando catedrais, correndo pelas sacadas de coberturas, despistando agentes armados das Forças Especiais, realizando proezas nas alturas, tudo documentado por câmeras em ritmo frenético. Pode até ser que as cenas mais cinéticas tenham sofrido manipulação visual, todavia não há um único segundo em que você imagine tratar-se de efeitos digitais. As sequências parecem chocantemente reais, e "Afflicted" dá uma surra em A Identidade Bourne. Também digno de nota, ao reduzir marchas durante instantes mais introspectivos, o filme ensaia o retorno à atmosfera que fãs do Horror geralmente procuram em clássicos de Dario Argento como Suspiria & Phenomena. Se não me falha a memória, recentemente, só outro suspense foi igualmente bem sucedido ao filmar a elegante boemia de Paris pelos seus mais favoráveis ângulos: Estranha Obsessão (La femme du Vèmme), de Pawel Pawlikowski. Ao analisar separadamente todas essas distintas facetas de "Afflicted", a maestria com que acomoda intriga internacional, suspense, mistério e vampirismo em um todo coeso e interessantíssimo de meros 85 minutos de projeção é um testamento à habilidade desses dois grandes diretores, que se aqui já criaram algo fantástico dentro de um modesto orçamento, têm tudo para se tornarem tão grandes quanto James Wan nos próximos anos!Aguardarei com expectativa pelo próximo projeto da dupla, temeroso quanto à perfeição de "Afflicted". Penso no talentoso Brad Anderson, que criou um dos filmes de horror mais impecáveis, Session 9, e em como foi incapaz de sustentar a mesma excelência nos projetos seguintes. Talvez seja um receio infundado: mesmo que não atinjam o mesmo ápice, ao menos com "Afflicted", tocaram a superfície da perfeição. Poucas são as pessoas que conhecem seus ápices, realizam seus sonhos. A existência de "Afflicted" prova que às vezes as circunstâncias mais felizes do mundo simplesmente se alinham, e você não pode desperdiçar a oportunidade. O sucesso deste filme, o triunfo de dois cineastas iniciantes cheios de paixão que produziram algo tão memorável, fazem com que Cinderela pareça uma história triste!Derek & Clif, vocês trabalharam duro e fizeram um filme maravilhoso com coragem, garra e paixão. Todo a felicidade do mundo para os dois, e que este seja apenas o primeiro capítulo de sua história de sucesso!

Todos os direitos autorais reservados a IM Global. O uso do trailer é para efeito meramente ilustrativo desta resenha.

Dead Presidents (1995, Albert & Allen Hughes, EUA) Neste assalto, a única cor que importa é a do dinheiro.


Bronx, Nova York. Primavera de 1969. Anthony (Larenz Tate, em grande performance) e seus amigos Skip & José (Freddy Rodriguez & Chris Tucker) estão a um passo de se formar no colégio, e cada qual tem uma ideia diferente para o futuro. Eles estão pegando carona no caminhão que distribui leite nas vizinhanças do Bronx. Nós os vemos conversando sobre o futuro. Em sua ingenuidade, Anthony diz que gostaria de viajar e viver aventuras, e alistar-se para lutar no Vietnã parece a oportunidade certa. Apesar de avesso a estudo, Skip diz que não quer lutar uma "guerra de brancos", e que os vietnamitas não lhe fizeram mal algum para que se metesse em uma guerra que não é sua. Ele brinca com o latino José, dizendo que o amigo parece a vítima perfeita do Exército Americano e não custará a ser convocado "na marra". Você é um ticket apenas, José. Um ticket apenas de ida, Skip brinca.

Anthony desce com a caixa de garrafinhas de leite e vai deixá-la na porta de uma das casas da vizinhança. Quem mora ali é Juanita (Rose Jackson), a garota por quem é apaixonado, mas quem sempre o vê todas as manhãs é Delilah (N'Bushe Wright), a irmã. Anthony não desconfia de nada, mas Delilah secretamente nutre sentimentos românticos pelo rapaz. Nos tempos livres, Anthony frequenta o bar de Kirby (Keith David), um veterano durão que funciona como figura paterna para o rapaz, e mantém um negócio paralelo de jogatina e apostas. O velho lhe confia pequenos trabalhos e o remunera pelos serviços prestados. O clube de bilhar de Kirby é frequentado pelos gangsters locais, entre eles Cowboy (Terrence Howard). Anthony é humilhado pelo bandido após ganhar uma partida de sinuca. Kirby expulsa o delinquente e ordena que volte somente quando for para não arrumar mais confusão.

Kirby leva o garoto para um trabalho: cobrar grana de um cara que está lhe devendo. O garoto não tem carta de motorista, mas o veterano o deixa dirigir. No trato com devedores, Kirby é implacável. Anthony o vê lançando o cara pela janela. A filha do homem aponta uma arma para Kirby, que sem vacilar a toma muito rapidamente e a nocauteia com um soco. O assustado devedor agarra a perna do veterano, e pede que não lhe faça mal, sem se atentar que acabou apanhando a "perna errada" (Kirby é deficiente físico). Ele toma um susto quando a perna de Kirby "solta", mas o veterano logo a recupera e o manda ficar esperto e tratar de arrumar dinheiro para pagar. Ele volta saltitando para o automóvel, e depois de entrar, Anthony acelera. Da próxima vez que ele arrancar a minha perna, uso para lhe dar uma surra! Kirby promete. A bem humorada cena estabelece a dinâmica pai-e-filho existente entre os dois personagens.

Anthony vive com os pais e o irmão, uma harmoniosa família de classe média. O irmão, mais focado, mantém-se resoluto nos seus planos de ir para a faculdade, cursar Direito e formar-se; Anthony, a seu turno, precisa "se conhecer melhor", ou seja, viajar por um tempo, afastar-se de casa, viver uma grande aventura. Os pais querem o melhor para o filho, portanto quando Anthony fala em alistar-se, já não gostam. Quem procura consolá-lo é o pai, embora saiba que o filho cometerá um gravíssimo erro se se meter no Vietnã.

É noite do baile da graduação, todos compareceram e a festa só começou. José conta que assim que voltar da guerra se casará com Marisol, a namorada: isso mesmo, José foi recrutado na marra pelo Tio Sam, conforme Skip previra. Juanita convida Anthony para dançar, e enquanto bailam ao sabor de uma balada romântica, conta que os pais ficarão fora toda a noite, oportunidade para viverem a primeira noite de amor. Juanita praticamente expulsa a irmã Delilah do quarto. Eles fazem sexo, inicialmente um pouco constrangidos, logo mais à vontade. Depois de se amarem, conversam sobre viverem juntos depois que regressar do Vietnã. Abraçados, os jovens adormecem, e somente acordam na manhã seguinte, quando Delilah entra de supetão para avisar que a mãe chegou. Juanita manda a irmã distrai-la, enquanto Anthony se veste apressadamente para pular pela janela. Eles saem nas pontas dos pés, e há um doce momento quando se beijam apaixonadamente para se despedir. Em breve, instantes como esse ficarão apenas nas lembranças de Anthony, que está para se ver metido no inferno do Vietnã.

Província de Quing Tri. 16 de abril de 1971. Assim como uma porção de jovens de sua idade, Anthony deixa a segurança de sua vida pretérita pelos horrores do Vietnã.  Membro do Pelotão de Reconhecimento Cobra, Anthony encontra-se submetido à autoridade do Sargento Dugan, um militar kamikaze ótimo em tirar seus rapazes das mais temerosas frias. Ali, Anthony conhece uma variedade de novos companheiros, desde o sensível D'Ambrosio (Michael Imperioli) ao maluco Cleon (Bookem Woodbine). Cleon é um verdadeiro sociopata, uma máquina de matar sem quaisquer resquícios de remorso ou compaixão; mesmo seus amigos temem suas loucuras ou que surte e cometa alguma bobagem contra o próprio pelotão. Cleon é filho de pastor, e sente especial satisfação em matar comunistas. Agora você é bom, agora Jesus te ama, diz com um sorriso após estourar os miolos de um vietnamita. Depois de todas as considerações sobre ir para a faculdade, Skip acabou mesmo se juntando a Anthony, e serve na mesma unidade.

O segmento no Vietnã começa com o Pelotão Cobra em apuros, protegendo-se como pode por entre ruínas de um templo abandonado. Os inimigos estão se aproximando perigosamente, e um dos garotos foi mortalmente atingido. Anthony procura consolá-lo, mas lamentavelmente o rapaz não resiste. Dugan contata a Força Aérea e dá as coordenadas da tropa de vietnamitas. Não custa a jatos realizarem um rasante na área e botarem a floresta das imediações abaixo com o bombardeio de napalm. Livres dos inimigos, Dugan comemora e convida os rapazes a darem o fora para o ponto de encontro, onde um helicóptero os recolherá de volta à base. Cleon protesta. Ele não quer voltar tão cedo `a base. Ele sugere que examinem os soldados mortos para assim buscarem por possíveis papéis de Inteligência.

Uma vez no cenário do bombardeio, Cleon é o desequilibrado de sempre, chegando a abrir fogo contra os cadáveres dos inimigos. Sargento Dugan descobre que um dos vietnamitas traz insígnias de hierarquia privilegiada, e arranca as medalhas para colecioná-las. Itens de inimigos mortos guardam muito valor entre soldados americanos. Dugan faz qualquer brincadeira com Cleon, dizendo-se sujeito de sorte por ter descoberto a medalha, e Cleon não. Insatisfeito, Cleon resolve levar o seu próprio memento mori: o cara se aproxima de um corpo estatelado na árvore, saca o facão, e sem um único segundo de hesitação, o decapita. Os demais assistem abismados à toda a loucura. Cleon arranca a cabeça do vietnamita e resolve guardá-la na mochila como amuleto de sorte. Nem mesmo Dugan tem coragem de protestar.

De volta à base, Anthony e Skip conversam sobre o que acabaram de testemunhar. Skip não tem dúvida alguma de que Cleon é um psicopata perigosíssimo e se arrepende profundamente por ter se alistado em uma "guerra de brancos". Filho da mãe, ficamos na floresta o dia inteiro!Amarelos pulando de todos os cantos em cima da gente o tempo inteiro, cara, eu não fui feito para isso! Skip desabafa. Sentados em um pequeno bar, Anthony e Skip fazem um brinde ao Bronx. Skip pergunta ao amigo se tem recebido cartas de Juanita, e Anthony conta que na noite do baile, os dois acabaram fazendo amor e Juanita engravidou. Skip o parabeniza e pede para ver uma foto da filha, mas Anthony explica que prefere não pensar na namorada ou em como era a vida no Bronx. Se sobreviveu por seis meses na floresta foi porque deixou de pensar nas pessoas amadas para se concentrar na sobrevivência. Anthony jamais respondeu as cartas de Juanita. A única pessoa em quem confia para desabafar é o amigo Kirby. Por uma carta redigida à luz do lampião, ele narra os horrores do dia a dia. Anthony se preocupa com Skip, acha que ele não pertence à Unidade Cobra, pois está sempre injetando heroína, tudo para suportar a carga de stress. Quanto a si, procura viver um dia de cada vez e não pensar muito em tudo o que abdicou. Vejo-o quando voltar ao Bronx, ele conclui a carta.

Dugan e seus rapazes são deixados pelo helicóptero em uma clareira. Reunidos no meio do mato enquanto aguardam ordens, Sargento Dugan toca no ponto que todos temem discutir: ninguém aguenta mais ver Cleon carregando a cabeça para onde vai dentro da mochila. Além de representar uma visão macabra, a cabeça em decomposição exala um cheiro terrível. O próprio médico do pelotão alerta o rapaz quanto aos perigos de contaminação por bactéria. Cleon retruca dizendo que a cabeça é o amuleto de sorte do Pelotão Cobra; desde que decapitou o vietnamita, ninguém na unidade sofreu um único arranhão. Se jogarem a cabeça fora, Cleon explica, todos estarão ferrados. Encorajada por Dugan, a turma faz coro, e pede a Cleon que enterre de vez aquela porcaria antes que os demais fiquem doentes. Dugan vai mais além: se não se livrar imediatamente da cabeça, reportará o rapaz à Corte Marcial assim que retornarem aos Estados Unidos. Mesmo a contragosto, Cleon não tem mais o que fazer, que não seguir as ordens do sargento e enterrar seu "amuleto".

A Unidade Cobra é contatada pelo rádio. Aparentemente, há uma patrulha de comunistas por perto, e a missão da turma é a de neutralizar os vietnamitas e interrogá-los no local sobre transporte de armamentos. Anthony dá pela falta de D'Ambrosio. Um amigo diz que o rapaz tinha pedido licença para se aliviar, porém desde então não havia voltado. Contrário ao protocolo, o colega não o acompanhou quando D'Ambrosio foi fazer as necessidades no mato. Dugan ordena que vistam as mochilas e se apressem, agora precisam encontrá-lo. Quando finalmente o acham, veem que o rapaz foi estripado e castrado; seus genitais enfiados na própria boca. D'Ambrosio ainda está vivo, mas seus intestinos encontram-se expostos. Ao lado do soldado, um folder. Anthony diz que se trata de uma mensagem, "Negros, vão para casa, essa não é sua guerra". Dugan fica furioso e ordena "Livre-se imediatamente desse lixo comunista!".

A turma se prepara para retomar o trajeto rumo ao ponto de encontro, D'Ambrosio sobre os ombros de Anthony. Durante o percurso, o soldado suplica para que Anthony o deixe morrer, pois não quer voltar inutilizado para casa. Cheio de angústia, o rapaz atende ao pedido do amigo, e quando o helicóptero está para pousar, aplica a injeção de morfina que o faz apagar. Mais tarde, em uma operação noturna, é a vez de o Pelotão perder Sargento Dugan, quando os soldados caem em uma emboscada dos vietnamitas. Quando um colega pisa numa armadilha e é mandado pelos ares em pedaços, Skip congela, e durante o tiroteio se esquece de dar cobertura a Sargento Dugan, que acaba atingido pelos disparos da bateria inimiga. Os demais escapam ilesos. Seis meses se passam. O Pelotão Cobra agora parece praticamente uma família, soldados unidos por laços forjados sob fogo no campo de batalha. Eles nada temem, nada mais pode chocá-los. Os rapazes estão rindo e bebendo cerveja, enquanto fazem gozações com os novatos.

Bronx, Nova York. 1973. Anthony retorna ao velho bairro como Herói de Guerra. As coisas parecem bem diferente. Da última vez que caminhou por aquelas calçadas, o bairro vivia a inocência dos anos 60. Agora, os anos 70 - drogas, sexo, discoteca, calças boca de sino - chegaram com força total para mudar hábitos. Anthony avista Skip sentado do lado de fora de um bar e pede ao motorista que pare. Louco de felicidade por rever seu velho amigo, cumprimenta-o com uma brincadeira, mas Skip está tão drogado que nem o reconhece. Anthony fica desapontado ao ver que Skip continua injetando heroína. Finalmente, Skip presta mais atenção e o reconhece. Os dois se abraçam em grande alegria.

Anthony e Skip caminham juntos pelo bairro, rememorando os velhos tempos. Skip dissipa as preocupações do amigo ao contar que está financeiramente confortável. Ele deixou o serviço militar com aposentadoria integral, e não precisará mais trabalhar. Anthony estranha, e Skip explica que voltou com algo no sangue. Os médicos não sabem explicar seu problema, tudo o que dizem é que suas células estão ferradas. Skip insiste que o amigo não o olhe com pena: financeiramente, está folgado, e agora que Anthony retornou para o Bronx, poderão aprontar, como nos velhos tempos. Eles se despedem e Skip recomenda que vá ver Juanita e a filha. A visita aos pais não vai bem. Durante o jantar, Anthony permanece caladão, sem vontade de discutir as terríveis experiências. A mãe está preocupada, porque muitos jovens retornaram viciados em drogas. Anthony dispersa os temores dos pais. Fora as horrorosas lembranças, nada mais trouxe consigo. Anthony se sente mais à vontade ao visitar o clube de bilhar e reencontrar os dois amigos que adora, Kirby e José.

Durante a guerra, José se tornou especialista em explosivos, mas foi dispensado após ferir gravemente uma das mãos. Entre goles de bebida, Kirby e Anthony compensam o tempo perdido. Kirby queixa-se da Polícia de Nova York, tiras corruptos que querem uma boquinha de seu negócio paralelo de jogatina. Não são tempos fáceis, e Anthony precisa arrumar logo um emprego. Saul, o gentil dono do açougue do bairro, lhe arruma uma vaga. Após conseguir o emprego, o rapaz procura Juanita. Quem abre a porta é Delilah. A irmã de Juanita se tornou uma mulher muito bonita, e bastante politizada. Ela é participante ativa do grupo Panteras Negras. Juanita chega em seguida, trazendo uma linda menininha no colo. Ao vê-lo na sala, seus olhos ficam marejados. Os dois se abraçam, e Juanita coloca a menininha no seu colo.

Anthony não sabe ainda "em que pé está" com Juanita. Os dois permaneceram muito tempo separados, e o rapaz jamais respondeu as cartas da ex-namorada. Juanita dá sinais de interesse, e os dois se beijam no automóvel enquanto a menininha dorme. Quem pareia com o carro é Cutty, uma espécie de malandro local. Cheio da grana, Cutty se comporta como gângster, e ao cumprimentar Juanita, o faz com intimidade. Ele diz que esteve no seu apartamento mais cedo, porém não a encontrou. A intimidade de Cutty nos revela que ele é um "pretendente". Enquanto Anthony esteve fora, "cortejou" a moça, comprou mimos para a bebê, porém não passou disso. Apesar de simpático e atencioso para com Juanita (chega a entregar um maço de dólares, para que ela compre presentes para a bebê), Cutty trata Anthony como se o rapaz não existisse. Juanita o convida a entrar, e Anthony parece meio constrangido. Juanita explica melhor a situação com Cutty, apenas um amigo, e revela-se ainda apaixonada pelo namorado. Os dois reatam.

Cowboy e Anthony estão disputando uma partida de sinuca, Anthony levando a melhor. De péssimo humor, Cowboy tem a infeliz ideia de provocar o adversário. Ele começa afirmando que foi tolice envolver-se na Guerra do Vietnã, pois depois de lutar e sofrer por quase cinco anos, não recebeu nada em troca. Não bastasse o desprezo do governo para com veteranos, Anthony se distanciou de Juanita, criando oportunidade para que Cutty, patrão de Cowboy, a "traçasse". Quando Cowboy insinua que o patrão dormiu com Juanita, Anthony perde a cabeça. Ele o põe para baixo com um golpe de taco, e se vinga da humilhação de anos antes. É Kirby quem tem de intervir e impedir que Anthony continue surrando Cowboy.

Anthony e Juanita estão casados, e uma vez que a rotina se assenta, as intrigas conjugais se amontoam. Juanita engravida, e logo o casal precisará alimentar mais uma criança. Juanita vocaliza seus temores. Ela gostaria que Anthony arrumasse um emprego melhor, e o rapaz se compromete a achar algo que pague mais, porém o resto da noite azeda quando Juanita faz um comentário inconsequente que o magoa profundamente: Caso não tenha notado, você vive agora no mundo real. Não há almoço grátis como havia no Exército! Anthony protesta, retrucando que a esposa nem poderia imaginar o que passou, e que no Vietnã, nada foi de graça. Cheio de preocupações na cabeça, Anthony passa a beber cada vez mais. José aproxima-se de Anthony e Kirby com uma ideia arriscadíssima que, caso vingue, poderá resolver os problemas de todos de uma só vez. Os três estão passeando à noite no automóvel de Kirby, quando José se aprofunda melhor no plano.

Um carro forte costuma fazer a parada mensal no Federal Reserve Bank na Noble Street do Bronx, antes de seguir para Washington. José tem estudado a rota do carro forte, e contabilizou quatro guardas, dois na frente, dois atrás, um deles com arma pesada. Os amigos discutem a viabilidade de um assalto. Eles parecem temerosos. Se toparem, terão de estudar melhor a abordagem, as variáveis envolvidas... Em casa, a vida conjugal se revela cada vez mais complicada. Anthony sofre com pesadelos horrorosos, um deles envolvendo soldado D'Ambrosio revisitando-o, coberto de sangue e com as tripas para fora. Anthony acorda assustado, empapado de suor. Atormentado pelas imagens de D'ambrosio, não consegue cumprir com seu papel de marido. Ele e Juanita quase não fazem mais amor.

A situação se agrava quando Saul anuncia a falência do açougue, e que precisará dispensá-lo. Na despedida, Saul separa as melhores peças de carne e as dá de presente a Anthony, que fica tocado pelo gesto do amigo. O velhinho lhe deseja sorte. Em casa, Anthony e Cutty se cruzam nas escadas, o gangster deixando o apartamento justamente quando o rapaz chegava do trabalho. Cutty é irônico e malicioso, e surpreende Anthony com uma coronhada que o faz tombar escada abaixo. Juanita também não lhe mostra respeito. Quando o marido ordena que devolva o dinheiro para o gangster, responde que enquanto o rapaz não encontrar um emprego que remunere melhor, aceitará os galanteios de Cutty. Ela novamente vai bem na ferida - o desemprego - e diz algo nas linhas de Você é Anthony, o grande herói de guerra sem emprego!Você não tem dinheiro, não dorme comigo, eu só consigo abraçá-lo quando tem um desses pesadelos de araque! Depois disso, Anthony perde a cabeça. Ele a empurra contra a parede e com a mão na garganta, responde que Juanita jamais poderia contemplar os horrores que vivenciou na floresta. Eles têm uma violenta briga, e enquanto Juanita se debulha em lágrimas, Anthony a deixa para trás no apartamento. O que antes parecia uma ideia distante - o assalto ao carro forte - adquire matizes mais definidas quando Anthony percebe que a única saída fácil para os graves problemas financeiros consiste no esquema de José. Ele procura por Delilah no quartel dos Panteras Negras, e a convida para comer qualquer coisa em uma lanchonete, onde terão oportunidade de conversar melhor. Anthony já conta com quatro companheiros para o assalto ao carro forte: Kirby, José, Delilah e Skip reúnem-se no clube de bilhar onde Anthony faz a preleção.

Kirby deverá se posicionar no carro da fuga, que aguardará na esquina, de onde o veterano contará com amplo campo de visão; Anthony e José esperarão pela chegada dos guardas sob a rampa de acesso à porta de onde saem com o dinheiro; Delilah deverá se posicionar dentro do depósito de lixo defronte à rampa de acesso; Skip fará a cobertura a dez pés da rampa de acesso, também da esquina. Se durante a ação um deles for pego, deverá permanecer quieto e não abrir o bico, pois sua parte irá para a família. Kirby ainda não gosta do plano. Ele sugere mais um homem, que deverá ficar do outro lado da rua. Skip não gosta, quanto mais pessoas trouxerem para a ação, pior. Devíamos colocar uma droga de anúncio nos Classificados! Ele reclama. Delilah diz que consegue alguém dos Panteras Negras, mas Kirby não quer saber de revolucionários no grupo.

Adivinhem a quem Anthony recorre para fechar a ação?Desde o fim da guerra, Cleon mudou de vida. Hoje pastor na igreja de seu pai, cita seu exemplo como prova da maneira como Deus pode transformar a vida de um homem. Anthony aparece em uma das pregações e aguarda até o fim da cerimônia para que possam conversar. Cleon reage com incredulidade. Tem muito a perder caso a ação dê errado. Também o desagrada, quando Anthony revela que Skip integrará o grupo. Cleon ainda se recorda do preço do surto de Skip durante a guerra, quando congelou, e nisso Sargento Dugan foi fuzilado pelos vietnamitas. Apesar de relutante, Cleon acaba seduzido para o esquema.

Manhã do assalto. A rua do Banco federal parece deserta, mas Anthony e José espreitam sob a rampa, armados de escopetas, e Delilah aguarda dentro do depósito que dá para a porta. Eles trazem seus rostos pintados por tinta branca, e se vestem de preto. O carro forte se aproxima, insuspeito. Cleon e Skip estão parados de pé em calçadas opostas. Kirby observa de seu carro. Dois guardas descem para apanhar o dinheiro. Tudo está se sucedendo conforme o previsto, até que um elemento inesperado altera toda a dinâmica: um jovem guarda de trânsito se aproxima casualmente de Cleon, perguntando se pode ajudá-lo. Ele percebeu que Cleon vestia uma jaqueta de veterano do Vietnã, e o aborda dizendo que sempre está disposto a ajudar um companheiro de farda. Cleon procura se sair com a desculpa de que está esperado o ônibus da linha 11, mas o guarda responde que o ônibus não passa na região tão cedo, e oferece-se para contatar a central e dirimir a dúvida.

Nisso, do outro lado da rua, os guardas estão deixando o Banco Federal com os malotes. Anthony e José esgueiram-se para fora da rampa, para abordar os guardas, quando o motorista os enxerga pelo retrovisor e anuncia emboscada. Anthony rende o primeiro guarda, José assalta o segundo e já sai correndo com um dos sacos.  Quando um dos guardas faz menção de sacar a arma, Delilah salta para fora do depósito de lixo com duas automáticas. Ela elimina o primeiro guarda. Anthony se distrai, e o segundo homem luta para tirar a escopeta de suas mãos. Anthony quebra o nariz do guarda com uma cabeçada e o derruba fazendo uso do cabo para golpeá-lo. O guarda de trânsito que conversava com Cleon fica estupefato, e sai correndo para ajudar os oficiais do carro forte. Kirby deixa o automóvel de fuga e procura acertá-lo, dando início a uma troca de tiros em pleno cruzamento. Kirby é atingido de raspão, Skip chega por trás do guarda de trânsito e estoura seus miolos.

O motorista do carro forte arranca, mas José ainda tem a iniciativa de preparar o explosivo que acionará por controle remoto. Mesmo ferido, Kirby acelera para deixar o carro bem no cruzamento, para bloquear a passagem do carro forte. José aciona o transmissor e manda o carro forte pelos ares. Anthony assiste a tudo abismado, e nem repara quando outro guarda aparece apontando uma arma. Delilah grita para o parceiro, e troca tiros com o oficial, que a acaba atingindo. Anthony o derruba com um tiro de escopeta na perna, aproxima-se, puxa o revólver e o descarrega no peito, à queima roupa. Quando o outro faz menção de reagir, Anthony o mata a golpes de coronhada. A forte explosão arrebentou o cofre do carro forte, mas há muitos malotes de dinheiro ao alcance da turma, e eles pegam o que podem. O grupo empreende fuga em plena luz do dia, mas José não tem sorte. Ao entrar em um beco próximo `as docas, é encurralado por um carro de polícia, e morre atropelado.

A turma se reúne no clube de bilhar. Sobre a mesa, maços e mais maços de dinheiro. Eles discutem o ocorrido, Anthony visivelmente abalado com a morte de Delilah. Kirby está contando dinheiro para separá-lo. A parte de José ficará para Marisol. Após o barulho causado pela ação, os amigos combinam de agir com discrição até que o lance caia no esquecimento. Eles devem retomar suas vidas como se nada tivessem a ver com o crime. Vemos Skip injetando heroína na veia enquanto escuta na rádio as últimas informações sobre a investigação do assalto; Anthony aparece pensativo, ainda com as atrocidades do Vietnã passando na cabeça como filme. Honrando o desejo de Delilah, Anthony e Skip gastam a sua parte comprando perus e brinquedos e os distribuindo para crianças carentes de uma área particularmente barra pesada do Bronx.

Kirby, Skip e Anthony discutem o que fazer, quando chega a seus ouvidos a notícia de que Cleon anda fazendo bobagem. O primo de Kirby, que mora na mesma região de Cleon, contou que o pastor havia comprado um Cadilac novo e andava distribuindo notas de cem dólares aos fiéis, dizendo que Deus lhe dera toda a grana. Ele está chamando atenção para si, e Kirby teme que a polícia chegue a Cleon para investigar a história mais a fundo. Kirby se oferece para "apagá-lo" antes que Cleon os dedure, mas Anthony o convence a deixar conversar com o rapaz primeiro. A espera se revelará um grave erro, pois quando Anthony finalmente o procura, vê-lo sendo escoltado pelos detetives para fora da paróquia. No interrogatório, a polícia o aperta, os tiras determinados a fazê-lo ceder sob pressão. Cleon acaba entregando os parceiros em troca de um acordo oferecido pela promotoria. Desesperado e cheio de remorsos, Skip se mata com uma overdose no apartamento, antes de ser pego.

Kirby e Anthony ainda se encontram no clube de bilhar para preparar malas para fugir, quando os tiras aparecem e os rendem. Anthony vai a julgamento, e em suas considerações finais, declara que apesar de compreender a gravidade do erro, só agiu daquela forma pois estava desesperado, tinha uma família para criar, e todas as portas vinham sendo fechadas na sua cara. O advogado ainda pede que o Juiz leve em consideração os serviços prestados por Anthony no Vietnã, mas ambos são humilhados quando o Magistrado responde que também foi herói, de uma "guerra de verdade", a Segunda Grande Guerra, e que Anthony não passa de uma desgraça ao Serviço Militar. Sentenciado `a prisão perpétua, Anthony fica perplexo, assim como seus pais, irmão e Juanita, que assiste a tudo esvaindo-se em lágrimas. Isso é o que recebo da Justiça depois de tudo o que fiz por este maldito país?!Ao inferno! Ele grita ao levantar a cadeira e arremessá-la com toda força contra o Juiz. Algemado ao lado de outros prisioneiros, nós o vemos dentro do ônibus, transportado ao Presídio onde permanecerá pelo resto da vida. A seu lado, outras pessoas semelhantes ao próprio Anthony, minorias que lutaram pelo país contra comunistas em uma sangrenta guerra e não receberam nada ao voltar, que não desprezo e ingratidão. 

Mesmo tantos anos depois, este sombrio, pouco visto suspense de 1995 representa o melhor momento da carreira dos irmãos Albert & Allen Hughes, que ironicamente só cairiam na graça de crítica e público seis anos mais tarde, ao rodar Do Inferno. Outros filmes seguiriam, os irmãos Hughes comandariam produções grandiosas, tais como O Livro de Eli, mas jamais recapturariam a glória daquele longínquo outubro de 1995. Ao revisitar Dead Presidents tantos anos mais tarde, a escolha do estúdio pelos irmãos Hughes para dirigir Do Inferno parece autoexplicativa. Baseado na graphic novel de Alan Moore, Do Inferno rompeu os limites dos quadrinhos para aclamação como uma das principais obras literárias do século XX. Ao contar a história do surgimento de Jack, O Estripador, Moore costurou um empolgante mistério que ia desde intrigas entre membros da Família Real britânica às ruas empobrecidas de uma Londres pós Revolução Industrial, explorando um emaranhado de relações viciadas e doentias sem jamais perder o senso de foco e direção. Não tive como deixar de notar a similitude de textura e estilo narrativo, entre Dead Presidents, o filme dos irmãos Hughes que antecedeu Do Inferno, e outras graphic novels poeirentas em preto e branco, mais especificamente a maravilhosa A History of Violence, de John Wagner, ilustrada por Vince Locke. Toda a energia a emanar das ruas e pequenos prédios do Bronx, brilhantemente capturada pelo traçado da caneta de Locke e o texto de Wagner, salta aos olhos em cada frame de Dead Presidents. Sim, são duas histórias diferentes, porém moldadas dentro de um mesmo modelo: dramas urbanos, tragédias da cidade grande, vidas marginais, o sol escaldante cuja luz é refletida por vidros de vitrines de decadentes prédios do Bronx. A violência, aqui ou acolá, jamais é utilizada de maneira vulgar, mas quando acontece, é brutal. Eu creio que a 20th Century Fox, estúdio responsável por Do Inferno, tenha enxergado a habilidade dos irmãos Hughes com Dead Presidents, daí a escolha da dupla para comandar a versão cinematográfica da obra de Alan Moore.

Livre de pretensões - o que aos olhos da crítica o torna menos "importante" do que clássicos como O Franco-Atirador & Os Bons Companheiros - mas sério demais para ser rotulado como puro filme de ação, Dead Presidents é o senhor absoluto do limbo que habita, o melhor de dois mundos. Rodado em grande escala, o que o aproxima dos épicos cinematográficos sobre o submundo do crime ou as consequências da Guerra, não se faz de rogado ao transitar facilmente entre drama social ao mais puro e simples exercício da ação. Assim, uma vez visto, nos deixa a recompensa da originalidade: um filme sombrio que ousa tocar em questões muito sérias, os efeitos do Vietnã no espírito do norte-americano, porém que simultaneamente alterna seu tom dramático por um mais energético ao flertar com uma ação que pareceria mais à vontade em filmes de Isaac Florentine, ou com uma violência grotesca encontrada mais frequentemente na obra de David Cronenberg, ou com uma paleta de cores melancólicas e nostálgicas semelhante à aplicada ao traçado que Vince Locke usa para dar vida à prosa de John Wagner.

Enquanto filme de ação, Dead Presidents a traz em dois momentos muito claros. Primeiro, no Vietnã, quando não somos poupados da brutalidade envolvida no conflito, e cenas de decapitação, explosão, execução `a queima roupa, homens indo aos ares em pedaços após pisarem em minas e toda sorte de barbaridade desfilam na tela como uma dança macabra. Mais tarde, no Bronx, quando a tomada do carro forte, que deveria ser um trabalho fácil, se torna um sangrento e prolongado tiroteio em plena luz do dia. Os instantes um pouco anteriores ao clímax também merecem elogios, pois através da discussão que antecede o evento, os diretores criam a atmosfera de eletricidade que torna o desfecho ainda mais contundente.

Enquanto drama relevante, Dead Presidents toca na ferida que não quer cicatrizar. Direta ou indiretamente explorado em filmes anteriores, o drama dos soldados que voltaram do Vietnã como párias vez ou outra encontra o caminho de volta `as telas, sendo alguns de seus expoentes O Franco Atirador, de Michael Cimino, Coming Home, de Hal Ashby, e o mais sensível In Country, de Norman Jewinson. Durante a década de 90, Dead Presidents foi a primeira grande produção a revisitar o tema. Contando o drama dos veteranos pela ótica dos negros - que lutaram por um país que até então os tratava com preconceito, por mais velado que o fosse - Dead Presidents é baseado na história real de Haywood T. Kirkland, um herói de guerra que ao retornar aos Estados Unidos somente deu com portas fechadas e, desesperado, cometeu o assalto a um carro forte. Escrito pelos próprios irmãos Hughes, o roteiro pega muito emprestado do livro Blood: An Oral History of the Vietnam War by Black Veterans, de Wallace Terry, sobre os eventos envolvendo Kirkland e o assalto. Importante mencionar que na época, internamente, os Estados Unidos estava dividido entre favoráveis e opositores, a mais notória voz entre os dissidentes a do pugilista Muhammad Ali, que recusou servir ao Exército quando do recrutamento e disparou a frase Não tenho problema com vietcongues. Nenhum vietcongue jamais me chamou de negro, uma alusão ao racismo que acreditava experimentar dentro do próprio país. Se no frigir dos ovos o envolvimento norte-americano provou-se ou não um grande equívoco nem é a questão principal. Através da história de Anthony, o filme está contando a de todos os outros que voltaram para casa para serem recebidos com animosidade. Guardadas as diferenças, ao menos no cerne, o primeiro Rambo narrava uma história semelhante, sobre um veterano deslocado que não consegue se ajustar à vida normal e enlouquece. Apesar de lembrado pelas cenas de ação excelentemente executadas, seu melhor momento se dá ao final, quando Rambo tem esse tocante momento com Coronel Trautman e desabafa aos gritos sobre a dificuldade em se readaptar. Lá (Vietnã) eu pilotava helicópteros, dirigia máquinas, fazia de tudo, aqui não consigo arrumar uma droga de emprego em lava-rápido! Ele desabafa, chorando. O segredo da identificação com o público do filme de Sylvester Stallone me parece a homenagem que presta aos veteranos, que finalmente enxergavam na tela um herói que dava vazão à toda a dor que sentiam mas não tinham o veículo para exteriorizar. Com o velho radicalismo esquerdista em voga nos anos 60 & 70, bem representado por hippies e gente como "Hanoi" Jane Fonda & Tom Hayden, não é de se admirar que muitas dessas pessoas tenham se entregado ao álcool e ao desespero após a queda de Saigon e o retorno aos Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que chamaram soldados norte-americanos de assassinos de bebês, os liberais convenientemente se esqueceram de que foi após a saída dos Estados Unidos do Sudeste da Ásia que aberrações como o Khmer Vermelho aconteceram. Em linhas muito resumidas, em 1975, quando o então Presidente Ford batalhou para conseguir ajuda financeira para o governo pró América de Lon Nol, no Camboja, vozes de liberais radicais como Hanoi Jane capitanearam o movimento contrário, apregoando a "liberação" do Sudeste da Ásia e denunciando quem se opusesse à vitória comunista no Camboja e Vietnã. Ford alertou sobre o horror e a tragédia que se abateriam sobre o Camboja caso os americanos se omitissem, e não fornecessem armamentos e dinheiro para o exército da resistência de Lon Nol. Intimidado pelos liberais anti guerra, o Congresso Norte Americano deixou de aprovar a verba que teria viabilizado a resistência, deixando o Camboja entregue à própria sorte, sob a crença de que uma vitória do Khmer Vermelho traria paz e prosperidade para a região.

Não sei se os amigos já leram sobre o Khmer Vermelho, mas se vocês têm alguma dúvida sobre a existência do Diabo, é porque jamais conheceram o genocídio cambojano observado entre os anos de 1975 e 1979. Comandado por Pol Pot, vulgo Irmão n° 1, o regime do Khmer Vermelho ceifou a vida de mais de dois milhões de pessoas, um terço da população cambojana. Comunista extremista, Pol Pot estudou as ideias marxistas com os radicais de Paris e voltou ao Camboja certo de que a revolução social só se daria se a sociedade regredisse à economia camponesa, o Estado desprovido de cidades, posses, moedas, indústrias; seus cidadãos, de identidade. Organizou a guerrilha contra o governo de Lon Nol no início dos anos 70. Por um tempo, os embates ficaram restritos às montanhas. Quando os Estados Unidos deixou o Sudeste da Ásia, Pol Pot e seus asseclas partiram para a arrancada final rumo à capital Phnom Penh. A chegada do Khmer Vermelho à cidade é recontada de forma arrepiante no premiado filme britânico The Killing Fields, de Rolland Joffé. Naquela tarde do dia 17 de abril de 1975, quando soldados de Pol Pot foram recebidos nas ruas sob aplausos, os cidadãos não imaginavam o horror que cairia sobre suas cabeças como martelo. Qualquer resquício de esperança logo foi eliminado quando os soldados reagiram com agressividade e ordenaram que todos deixassem suas casas. Como gado, as pessoas foram cercadas e conduzidas sob ameaça a fazendas coletivas de trabalho forçado, onde Pol Pot esperava pôr em prática seu macabro projeto de engenharia social. O que se seguiu foi um período de absoluto horror, homens, mulheres e crianças submetidos a terrores inomináveis imortalizados no Museu de Tuol Sleng, com crânios de vítimas ainda hoje expostos no memorial para que novas gerações não se esqueçam. Quando esse canalha morreu em 1998, lembro-me de ter visto uma charge no jornal – Pol Pot aguardando a vez para entrar no inferno, porém ali no portão o Diabo em pessoa, afirmando Espere aí, aqui você não entra. Mesmo no inferno, temos nossos padrões, uma referência ao fato de que o ditador cretino fora um sujeito tão execrável que mesmo o inferno lhe seria pouco. Na época, não consegui interpretar a ilustração, mas ao ler sobre o período, entendo que o desenhista estava coberto de razão. A trajetória do Khmer Vermelho não é tão conhecida como outros genocídios tais como o Holocausto Judeu ou as matanças na China Maoista, mas representa um dos capítulos mais horrendos da História do Século XX. The Killing Fields foi lançado no Brasil e pode ser encontrado em DVD sob o título Os Gritos do Silêncio. Se os amigos se interessarem em saber mais do que os livros de História contam, procurem pelo DVD. A força do filme é incomum; mesmo hoje, assisto ao segmento em que o Khmer Vermelho marcha pela cidade e as pessoas inocentemente o aclamam com a mesma angústia da primeira vez. Era questão de tempo, algumas horas na verdade, para que soldados engrossassem o tom e ordenassem que as pessoas juntassem as coisas para marchar, um instante de absoluto terror, uma nação inteira sob a mira de armas, em vias de dar um passo rumo à escuridão do mais completo totalitarismo, literalmente de um dia para o outro. Citei o caso do Khmer Vermelho para ilustrar o meu ponto: há a versão oficial segundo a qual os Estados Unidos se meteu em uma guerra onde não pertencia e foi merecidamente derrotado, os comunistas deixados em paz para governar com harmonia e alavancar seus países rumo à prosperidade; e há a verdade, regimes totalitários que causaram o tipo de matança e sofrimento que filmes de horror nem têm como ambicionar reproduzir. Mesmo desprovido da relevância dramática ou importância histórica de The Killing Fields, Dead Presidents merece um lugar entre corajosos filmes que deram rosto ao genocídio no Sudeste da Ásia e denunciaram a hipocrisia envolvida no tratamento concedido a soldados que haviam colocado as vidas na linha de fogo em nome do país.

Larenz Tate protagoniza Dead Presidents e a sua performance merece aplausos. Através de um desempenho de primeira, ele torna a transformação de Anthony - que começa como um jovem americano cheio de ilusões e que ainda enxerga a vida sob um prisma generoso e termina como um homem amargurado e cheio de revolta por todas as armadilhas que o levaram ao inferno do Vietnã e finalmente à prisão perpétua – uma jornada que apreciamos realizar juntamente ao personagem. Chris Tucker se tornou um astro muito famoso de filmes de ação, mas assim como acontece a uma porção de atores de ação, esse pequeno drama, filmado em 1994-1995, quando ainda não tinha fama, perdura como seu melhor momento, o primeiro papel dramático, o tipo de personagem cheio de nuances que diretores lamentavelmente jamais voltariam a lhe confiar. Rose Jackson é um prazer de se assistir, como a garota da vizinhança e namoradinha do protagonista, que mais tarde se torna mãe/esposa desiludida e sofredora. Ela veste uma qualidade que poucas atrizes guardam – dessa nova geração, só me vem à mente a Kristen Bell – e ocupa muito à vontade o papel da girl next door: ela é linda & adorável, mas jamais sofisticada demais para nos lembrar que estamos diante de uma superestrela de cinema. Muito pelo contrário, são a sua naturalidade & charme suave que a tornam encantadora, o tipo de garota que você realmente acredita que poderia ter sido a menina por quem se apaixonou nos tempos de colégio, e então foram amadurecendo e crescendo juntos, daí se casaram e filhos se seguiram. A grande surpresa vem através da interpretação de Bookem Woodbine. Presença constante em filmes mais modestos de ação, ele rouba as cenas em que aparece como o perigosíssimo psicopata Cleon. A alegria estampada no rosto enquanto causa todo tipo de destruição no Vietnã chega a parecer cômica!A energia de sua interpretação revisita o tipo de vilão anteriormente aperfeiçoado pelo ator Joe Pesci em Os Bons Companheiros & Cassino: louco, imprevisível, engraçado e assustador, tudo ao mesmo tempo. Cleon nos faz dar gargalhadas com uma tirada engraçada, mas no próximo segundo está decepando a cabeça de uma pessoa com um facão ou explodindo os miolos de um vietnamita enquanto cita passagens bíblicas. Woodbine realmente ofusca os personagens principais enquanto em cena. Curiosamente, tive o prazer de ver parte da turma de Dead Presidents junta nas telas em Ray, de 2004, estrelado por Jamie Foxx. Em Ray, temos a grata satisfação de encontrar Larenz Tate, o Anthony, no papel do compositor Quincy Jones, bem como muitos outros nomes do elenco original. Bookem Woodbine faz um dos personagens secundários, e há performances de Terrence Howard e Clifton Powell!Além de bom filme, Ray pôde trazer parte da turma de volta, muito embora a meus olhos sempre serão o Pelotão de Reconhecimento Cobra.

A passagem de tantos anos desde seu pouco alardeado lançamento naquele outubro de 1995 serviu-lhe bem, afinal não há prazer como o de descobrir uma joia cinematográfica do passado. Assim como os fãs do gênero precisam redescobrir obras como O Mestre das Ilusões, de Clive Barker, ou Showgirls, de Paul Verhoeven, Dead Presidents faz parte desta seleção. Parte drama de guerra, parte empolgante thriller de ação, o filme flui naturalmente com seus muito temas, a ponto de nem vermos o tempo passar, tão envolvido ficamos com a narrativa. Épico e longo, Dead Presidents é dono de uma elegância que nem mesmo ao filmar Do Inferno os irmãos Hughes conseguiram repetir. Quem conhece a graphic novel A History of Violence concordará que o grande David Cronenberg rodou uma magistral versão para cinema, ocorre que algo foi perdido na tradução dos quadrinhos em preto e branco para as telas. Um importante segmento do filme - a infância do personagem principal Tom McKeena nas ruas do Bronx nos anos 60 - foi subtraído do roteiro para suavizar o tempo de projeção. Ironicamente, Dead Presidents, que nada tem a ver com a obra de John Wagner, redime todo o segmento deixado de fora por Cronenberg, através da saga de Anthony & seus amigos. O ponto alto da graphic novel - as ruas do Bronx, a inocência de se crescer em uma época mais libertária, enquanto gangsters compunham a dinâmica social do bairro, dias escaldantes, prédios pequenos e decadentes, calçadas iluminadas pelos raios do sol forte em tardes abrasivas, enquanto meninos brincam de baseball nas ruas ou mesmo fazem a festa graças ao hidrante quebrado, a ingenuidade do primeiro amor, a completa imprevisibilidade da violência - ensaia um retorno triunfal ao écran, graças às lentes dos irmãos Hughes, neste filme que até hoje perdura como a obra cinematográfica que mais próxima chegou do espírito e estilo de uma graphic novel noir. As imagens deste filme dos irmãos Hughes e as páginas abarrotadas e em preto e branco de A History of Violence guardam uma influência enorme sobre o meu imaginário, e quando escrevi Nosebleed, procurei capturar um pouco o espírito de todas essas coisinhas que me marcaram. Para os amigos que desejam conhecer uma parte pouco conhecida da guerra do Vietnã, Dead Presidents tem muito a agregar; para aqueles que não querem ler muito nas entrelinhas e apenas desligar o cérebro com um suspense eletrizante que te agarra pelo pescoço e não solta, também é a opção correta. Guarnecido por uma das melhores trilhas sonoras já concebidas para um filme, Dead Presidents é um excitante passeio pelo túnel do tempo, uma janela para os anos 70, para dias em que se usava calças boca de sino e camisas abertas até o peito, drogas e discoteca eram tendência, Barry White cantava Just The Way You Are, e Burt Reynolds era Rei.